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Globalização e Medicalização Suely Rozenfeld 10 nov 2008 rozenfel@ensp.fiocruz.br DEUS ME LIVRE DE SER NORMAL ! Prof Hermógenes

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Globalização e MedicalizaçãoSuely Rozenfeld

10 nov [email protected]

DEUS ME LIVRE DE SER NORMAL ! Prof Hermógenes

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CENÁRIOS

CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

CENÁRIO II – Medicalização: alguns exemplos

CENÁRIO III – Terapia Hormonal. Um caso sério!!!

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Do individualismo ao consumismo

Individualismo - conquista do iluminismo na segunda metade do século XVII virou tragédia no século XXI

Fim do século XIX = Da produção, do trabalhador ao consumo, ao consumidor (Revolução industrial )

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Cultura consumista, nascida no último quarto do século XIX: prazer passageiro, satisfação instantânea, parcerias temporárias

Consumismo: não é acumular bens mas usá-los e descartá-los para abrir espaço para outros bens

Consumidor = dominado, controlado, preso ao seu senhor: “O Mercado”

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Consumidor é cool= distante, conservador, com expectativas rebaixadas e compulsão elevada

A integração social se dá pelo consumo: é preciso “pertencer“ a alguma comunidade de consumidores

As comunidades (de portadores de doença, de “curadeiros”, de serviços, de produtos) surgem e desaparecem

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Velocidade substitui permanência Mais importante do que definir para onde se vai

é importante ir (estabilidade=fracasso) A solidez, a permanência, a constância estão

fora de moda. Coalizões flutuantes e inimizades à deriva se aglutinam por curtos períodos de tempo

A seta do tempo não tem trajetória numa economia política continuamente replanejada: o capital está impaciente, quer retorno rápido

Quando se esquia sobre gelo fino, a salvação está na velocidade (Emerson in Bauman, 2003)

Quando se esquia sobre gelo fino, a salvaçãoestá na velocidade (Emerson in Bauman, 2003)

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

A midia – tv, rádio, jornais, internet - colabora...

Quem se lembra dos planos de governo do último governo?

Defensores da globalização: é atrasado entender que é preciso ter compromissos duradouros e retirar lições do passado

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Contradições passam “despercebidas”!!!

Gastos da indústria de alimentos (EUA)= 21 bi dólares/ano para promover produtos sofisticados

Faturamento da indústria de produtos dietéticos (EUA)=32 bi de dólares

Los Angeles= habitantes pagam 800 bi de dólares/ano para queimar petróleo

Los Angeles=asma, bronquite e problemas respiratórios causados por poluição são causas importantes de internação

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

A quantidade substitui a qualidade No mundo globalizado há duas autoridades que

dão segurança: os expertos e os números

Os números estão em alta, as reflexões em baixa

A propaganda, como demiurgo, serve à criação e manutenção do prestígio de ambos

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Do “direito às diferenças” a “cada um come o que gosta“

Justiça social Respeito às diferenças culturais

Demandas por reconhecimento “libertadas” do conteúdo de justiça social e retiradas da área política

Demandas por reconhecimento “libertadas” do conteúdo de justiça social e retiradas da área política

+ Crescimento selvagem da desigualdade Crescimento selvagem da desigualdade

= COLAPSO DAS DEMANDAS COLETIVAS POR

REDISTRIBUIÇÃO E PELA IGUALDADE COLAPSO DAS DEMANDAS COLETIVAS POR

REDISTRIBUIÇÃO E PELA IGUALDADE

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Quem sai ganhando? (com esse modelo de globalização consumista)

Poderes econômicos extra-territoriais Mas ... eles viajaram na companhia, entre

outros, dos intelectuais... “Coragem (para levantar-se contra o status quo)

é uma qualidade que os intelectuais, outrora famosos pelo seu radicalismo estrepitoso, perderam na busca de seus novos papéis e nichos como expertos, pesquisadores acadêmicos ou celebridades da mídia“ (Bauman, 2001)

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

O estado abriu mão de presidir o processo de integração social ou manejo sistêmico

A regulação normativa e a construção da idéia de nação, foram tarefas que saíram da sua jurisdição e foram delegadas

Agências, Fundações, ONGs: livres para criar e independentes

Regulação normativa perde o sentido, diante dos poderes sedutores do excesso, da liberdade de consumir

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CENÁRIO I - Globalização – como e para quem?

Consolidar ações, estabelecer o rumo, pensar o conjunto,

fiscalizar, punir, programar a

longo prazo, liderança

Atividades meio vs atividades fim Atividades meio vs atividades fim

+ Soluções biográficas para contradições sistêmicas Soluções biográficas para contradições sistêmicas

= COLAPSO DAS DEMANDAS COLETIVAS POR JUSTIÇA

CONTRA CRIMES CORPORATIVOS COLAPSO DAS DEMANDAS COLETIVAS POR JUSTIÇA

CONTRA CRIMES CORPORATIVOS

Reunir, participar de seminários, fazer projetos, criar normas, viajar, aplicar

recursos, executar orçamento, criar um site, participar de um chat, trabalho em

equipe

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CENÁRIO II – Medicalização

„Negociando“ doenças (diseases mongering)

Alargamento do limite das doenças, tal como definidos cientificamente

Convencer pessoas saudáveis que elas estão doentes e convencer pessoas que estão um pouco doentes que elas estão muito doentes Aumento do mercado para vendedores e

administradores de insumos (medicamentos, equipamentos, exames laboratoriais, etc)

PlosMedicine, 2006PlosMedicine, 2006

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CENÁRIO II – Medicalização

Exploração da ansiedade diante da nossa fragilidade e da nossa fé nos avanços científicos e na inovação

Os departamentos de marketing da indústria farmacêutica contratam agências de publicidade qualificadas para promover a criação de novos distúrbios médicos e disfunções

Os departamentos de marketing da indústria farmacêutica contratam agências de publicidade qualificadas para promover a criação de novos distúrbios médicos e disfunções

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 1- Disfunção erétil

Sexualidade – muita repressão no passado vs supervalorização no presente. Mito da performance. Busca de soluções mágicas.

Site da Pfizer : 50% de homens na população acima de 40 anos tem dificuldades para obter e manter a ereção (conclusão baseada em estudo de pacientes em clínica urológica de centro universitário!!!!)

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 1- Disfunção erétil

Viagra da Pfizer (1998)- produto para disfunção erétil (em casos de diabetes e lesões na coluna vertebral) se transforma em produto para aumentar a capacidade/duração da ereção em homens normais. Inclusão de mulheres nos problema - de 1997 a 2004

Efeitos adversos: dor de cabeça, dispepsia, distúrbios visuais, rinite, IAM(?)

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 2- Déficit de atenção

Déficit de atenção com hiperatividade na infância (DAH):

Reconhecido como doença - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais para classificação das doenças (Associação de Psiquiatria Norte-americana)

Empresas farmacêuticas tem usado a Internet para ter acesso a professores de escolas. Professores: mediadores da relação familia e complexo médico-industrial

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 2- Déficit de atenção

Tratamento farmacológico - psicoestimulantes (Ritalina: metilfenidato)

Efeitos adversos – insônia, nervosismo (comuns),cefaléia, sonolência (ocasionais) visão embaçada, angina, distúrbio de crescimento (raras). Dependência física ou psíquica.

Mecanismo de ação não é claramente conhecido

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 2- Déficit de atenção

Estratégia da indústria ~ propagandistas junto aos estudantes de medicina

Novartis (fabricante da Ritalina) tem sites educacionais com informações específicas para professores, em página intitulada „Se os pais perguntarem...)

Discussão sobre ética na venda de fast-food nas escolas vs consequências da infiltração da indústria farmacêutica nas escolas

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

Anúncio na TV (2002) logo depois da concessão de registro da olanzapina da Eli Lilly, para tratamento de mania....

Mulheres em situações de humor distintas, tratadas com anti-depressivos. Definição de distúrbio bipolar. Sem menção de fármacos. Divulgação de site da Lilly com questionário sobre distúrbios de humor

Variações normais de humor vs doença

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

Litio – pós década de 1950: tratamento do M da PMD; profilaxia de crises de PMD

O termo „estabilizador de humor“ nasce em 1995!

TB – incluido no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (1980). Diagnóstico incluía internação por episódio de mania

A era do anticonvulsivantes

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

Bipolar disorder is often a lifelong illness needing lifelong treatment; symptoms come and go, but the illness stays; people feel better because the medication is working; almost everyone who stops taking the medication will get ill again and the more episodes you have, the more difficult they are to treat (Eli Lilly- fabricante da olanzapina)

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

Medicines are crucially important in the treatment of bipolar disorders. Studies over the past twenty years have shown beyond the shadow of doubt that people who receive the appropriate drugs are better off in the long term than those who receive no medicine (Janssen- fabricante da risperidona)

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

Evidência de efetividade - apenas alguma para litio e olanzepina

Contrafacção antipsicóticos: aumento da

mortalidade, suicídios, discinesia tardia. Aumento, em série temporal, da prevalência de internação por TB, apesar do tratamento

antidepressivos: tendência suicídio

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Ensaios com estabilizadores de humor para prevenção de

episódios MD e risco de suicídio

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CENÁRIO II – Medicalização Exemplo 3- Transtorno bipolar

O LIVRO THE BIPOLAR CHILD, LANÇADO NOS EUA EM 2000, VENDEU

70000 CÓPIAS EM 6 MESES!!! APÓS LER O LIVRO, UMA MÃE

CONSEGUIU CONVENCER O MÉDICO QUE SUA FILHA DE 2 ANOS DE IDADE ERA PORTADORA DE TRANSTORNO

BIPOLAR E FOSSE MEDICADA!!!!

O LIVRO THE BIPOLAR CHILD, LANÇADO NOS EUA EM 2000, VENDEU

70000 CÓPIAS EM 6 MESES!!! APÓS LER O LIVRO, UMA MÃE

CONSEGUIU CONVENCER O MÉDICO QUE SUA FILHA DE 2 ANOS DE IDADE ERA PORTADORA DE TRANSTORNO

BIPOLAR E FOSSE MEDICADA!!!!

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Táticas para negociar doenças

1. Fazer com que uma função normal pareça ter algo errado e deva ser tratada

2.Criar sofrimento onde não necessariamente existe

3.Definir uma população tão grande quanto possível para sofrer a „doença

4.Definir a condição como deficiência ou desequilibrio hormonal

5. Conseguir os „spin doctors“ certos

6. Criar contextos de forma particular

7. Usar seletivamente as estatísticas para exagerar os benefícios do tratamento

8.Usar o desfecho errado

9. Promover tecnologia como mágica sem riscos

10-Atribuir a um sintoma comum um significado especial e fazê-lo parecer um sinal de doença séria

Lynn Payer, PlosMedicine, 2006

Lynn Payer, PlosMedicine, 2006

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CENÁRIO II – Medicalização e globalização

CONSIDERANDO:

Do individualismo ao consumismo

A velocidade substitui a permanência

Contradições passam “despercebidas”!!!

A quantidade substitui a qualidade

Do “direito às diferenças” a “cada um come o que gosta“

Quem sai ganhando? (com esse modelo de globalização consumista)

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CENÁRIO II – Medicalização e globalização

CONSIDERANDO:

O Estado abriu mão de presidir o processo de integração social, regular os entes econômicos, construir a idéia de nação

Delegou a Agências, Fundações, ONGs tarefas essenciais e anteriormente privativas do Estado

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CENÁRIO II – Medicalização e globalização

AS ORGANIZAÇÕES TEM CONDIÇÕES DE

Enfrentar os desafios de incorporar tecnologias do conhecimento?

Conduzir, protagonizar e levar adiante o processo de promoção da saúde e de prevenção de doença, maximizando os benefícios e reduzindo ao máximo os danos causados pela iatrogenia e pela fome de lucros?

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CENÁRIO III – Terapia Hormonal. Um caso sério!

Women's Health Initiative Randomized Controlled Trial

Objetivo: avaliar benefícios e riscos mais importantes das preparações hormonais mais usadas nos EUA

Desenho: ensaio randomizado, controlado, de prevenção

primária, planejado para durar 8,5 anos

16 608 mulheres na pós menopausa (50-79a) foram recrutadas por 40 clinicas entre 1993-1998

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CENÁRIO III – Terapia Hormonal. Um caso sério!

cont. Intervenção: estrógenos equinos conjugados

0,625 mg/d+acetato de medroxiprogesterona 2,5 mg/d, comp. (n = 8506) ou placebo (n = 8102).

Resultados: maio 2002 (após 5.2 anos de seguimento), o

comitê de monitoramento recomendou interromper o ensaio

os testes estatísticos para câncer invasivo de mama excediam os limites de interrupção para efeitos adversos. Os riscos excediam os benefícios

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CENÁRIO III – Terapia Hormonal. Um caso sério! cont.

Excesso de risco absoluto por 10 000 pessoas ano ATRIBUÍVEIS AO PRODUTO:

7 casos de eventos coronarianos a mais 8 casos de derrames a mais 8 casos de embolias pulmonares a mais 8 casos de câncer de mama invasivos a mais

Reduções de risco absoluto por 10 000 pessoas ano ATRIBUÍVEIS AO PRODUTO:

6 casos de câncer colorretal a menos 5 casos de fratura de quadril a menos

Excesso de risco absoluto de eventos: 19 por 10000 pessoas-ano

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Propostas

Os mercados não toleram a economia do não mercado. É preciso estimular os meios de subsistência não monetários. Não definir os cidadãos pelo que são capazes de consumir

Aproximar a produção acadêmica da vida real Os profissionas de saúde têm muito a dizer (e a

fazer!!). Em particular os epidemiologistas, os gestores, os cientistas sociais, os da regulação

A ética deve ocupar o lugar da estética

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Propostas

Consumistas e não consumistas são ficções, estereótipos, os lados de um long playing: vale a pena minar o Lado B de cada um de nós.

É preciso reverter a fluidez, a fragilidade e a transitoriedade

O ciberespaço é cheio de não política. Não abusar!

Não resolver a angústia rebaixando as expectativas: vamos querer o melhor!!