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GÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides, que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora nem todas válidas ou aceitas, incluem-se principalmente formas micófagas, ou seja, que se nutrem basica e exclusivamente de fungos. Umas poucas, todavia, além da micofagia, desenvolveram a habilidade de parasitar plantas (no geral, tecidos dos seus órgãos aéreos ), chegando a causar danos e perdas consideráveis em muitos casos. Entre tais espécies consideradas fitoparasitas de interesse, estão quatro, a saber, Aphelenchoides besseyi, A. fragariae, A. ritzemabosi e A. arachidis, das quais apenas esta última não ocorre no Brasil. Em anos recentes, tornou-se especialmente relevante a associação de espécies de Aphelenchoides com sementes de gramíneas forrageiras produzidas no Brasil. Isso porque apreciáveis quantidades delas têm sido destinadas à exportação e os principais países importadores estabeleceram rígidas medidas de quarentena visando a coibir a entrada de tais nematoides em seus territórios. Portanto, a identificação correta dos táxons de Aphelenchoides ganhou grande interesse e atualidade em vista dos elevados valores econômicos envolvidos em tal tipo de comércio. Daí, a importância do estudo mais detalhado da taxonomia desses nematoides. Como a identificação, aqui tratada, pelo método clássico – morfológico/morfométrico – é tida como difícil no caso de Aphelenchoides, por várias razões, tem-se mostrado essencial a sua integração com a análise do material também por técnicas biomoleculares (Oliveira et al., 2009). Na sequência, serão enfocadas tanto as espécies que apresentam reconhecido valor como formas fitoparasitas prejudiciais a produtores de morangueiro, arroz e plantas ornamentais diversas, entre outras culturas econômicas, como aquelas que, mesmo sem causar danos a plantas cultivadas, têm sido encontradas com certa frequência associadas a sementes de gramíneas forrageiras, “contaminando-as” do ponto de vista comercial e inviabilizando-lhes a exportação. O estudo de Favoreto et al. (2011), citado como referência mais à frente, foi utilizado como fonte de subsídios e, em especial, de boas ilustrações sobre o assunto, merecendo justo destaque.

GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

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Page 1: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

GÊNERO APHELENCHOIDES

Considerações preliminares

No gênero Aphelenchoides, que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

nem todas válidas ou aceitas, incluem-se principalmente formas micófagas, ou seja, que se nutrem

basica e exclusivamente de fungos. Umas poucas, todavia, além da micofagia, desenvolveram a

habilidade de parasitar plantas (no geral, tecidos dos seus órgãos aéreos), chegando a causar danos

e perdas consideráveis em muitos casos. Entre tais espécies consideradas fitoparasitas de interesse,

estão quatro, a saber, Aphelenchoides besseyi, A. fragariae, A. ritzemabosi e A. arachidis, das quais

apenas esta última não ocorre no Brasil.

Em anos recentes, tornou-se especialmente relevante a associação de espécies de Aphelenchoides

com sementes de gramíneas forrageiras produzidas no Brasil. Isso porque apreciáveis quantidades

delas têm sido destinadas à exportação e os principais países importadores estabeleceram rígidas

medidas de quarentena visando a coibir a entrada de tais nematoides em seus territórios. Portanto,

a identificação correta dos táxons de Aphelenchoides ganhou grande interesse e atualidade em

vista dos elevados valores econômicos envolvidos em tal tipo de comércio. Daí, a importância do

estudo mais detalhado da taxonomia desses nematoides.

Como a identificação, aqui tratada, pelo método clássico – morfológico/morfométrico – é tida

como difícil no caso de Aphelenchoides, por várias razões, tem-se mostrado essencial a sua

integração com a análise do material também por técnicas biomoleculares (Oliveira et al., 2009).

Na sequência, serão enfocadas tanto as espécies que apresentam reconhecido valor como formas

fitoparasitas prejudiciais a produtores de morangueiro, arroz e plantas ornamentais diversas, entre

outras culturas econômicas, como aquelas que, mesmo sem causar danos a plantas cultivadas, têm

sido encontradas com certa frequência associadas a sementes de gramíneas forrageiras,

“contaminando-as” do ponto de vista comercial e inviabilizando-lhes a exportação. O estudo de

Favoreto et al. (2011), citado como referência mais à frente, foi utilizado como fonte de subsídios e,

em especial, de boas ilustrações sobre o assunto, merecendo justo destaque.

Page 2: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

CHAVE ILUSTRADA PARA IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE

APHELENCHOIDES JÁ ASSINALADAS NO BRASIL

[ baseada em características das fêmeas]

01 . Campo lateral com banda central delimitada por duas incisuras................................................................ 2

Campo lateral com mais de duas incisuras (três, quatro ou seis) ...................................................................... 3

02. Término caudal gradualmente afilado, sem mucros pontiagudos; L = 0,45-0,80 mm ............... A. fragariae

Término caudal típico, bifurcado, com um mucro curto e outro mais longo, pontiagudos; L = 0,38-0,47 mm . .

........................................................................................................................................................ A. bicaudatus

03 . Ausência de machos na espécie (partenogenética); campo lateral com seis incisuras ..... A. sexlineatus

Machos comuns na espécie (bissexual); campo lateral com três ou quatro insuras ......................................... 4

04 . Campo lateral com duas bandas delimitadas por três incisuras; término caudal hemisférico com mucro

único, pontiagudo ou digitiforme ................................................................................................... A. subtenuis

Campo lateral com quatro incisuras; término caudal conoide com dois a quatro mucros muito semelhantes

entre si partindo praticamente do mesmo ponto ............................................................................................ 5

05 . Saco pós-vulvar de extensão igual à metade, ou mais, da distância da vulva ao ânus; L = 0,77-1,20 mm ...

...................................................................................................................................................... A. ritzemabosi

Saco pós-vulvar pouco desenvolvido, de extensão inferior a um terço da distância da vulva ao ânus; L = 0,62-

0,88 mm .............................................................................................................................................. A. besseyi

Obs.: os machos são comuns na maioria das espécies constantes na chave e podem também ser

úteis à identificação específica, particularmente quando se examinam caracteres ligados aos anexos

do sistema reprodutor masculino (espículos, em especial).

É oportuno ressaltar a grande dificuldade encontrada frequentemente na identificação de tais

nematoides obtidos de sementes devido ao fato de que eles entram em estado de anidrobiose para

subsistir naquela condição ambiental muito desfavorável e apenas se reidratam durante o processo

de extração, ficando o exame morfológico muito prejudicado. Seguem ilustrações das espécies e

fotos obtidas ao microscópio convencional (micrografias) e ao eletrônico de varredura (MEV).

Page 3: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 01A . Aphelenchoides besseyibesseyi: fêmea (A-F; H; L-N) e macho (G; I-K) [de Franklin & Siddiqi, 1972].

K) [de Franklin & Siddiqi, 1972].

Page 4: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 01B . Aphelenchoides besseyi

ponta da cauda com três mucros (D); ao MEV, campo lateral com

Figura 02A . Aphelenchoides subtenuis

Aphelenchoides besseyi: micrografias da fêmea - região esofagiana (A), saco pós

ponta da cauda com três mucros (D); ao MEV, campo lateral com quatro incisuras (de Favoreto

Aphelenchoides subtenuis: vistas da fêmea (A, C-E) e do macho (B, F) [de Deimi

região esofagiana (A), saco pós-vulvar (C) e

incisuras (de Favoreto et al., 2011)

E) e do macho (B, F) [de Deimi et al., 2006].

Page 5: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 02B . Aphelenchoides subtenuis

Não encontrada durante o estudo de Favoreto et al. (2011),

90% das amostras coletadas na rizosfera de

(Sharma et al., 2001), constituindo este o relato

Figura 03A . Aphelenchoides bicaudatus

Aphelenchoides subtenuis: fêmea – campo lateral e término caudal [de Deimi

Não encontrada durante o estudo de Favoreto et al. (2011), A. subtenuis foi identificada em mais de

90% das amostras coletadas na rizosfera de Brachiaria brizantha ‘Marandu’

, constituindo este o relato original da espécie no Brasil.

Aphelenchoides bicaudatus: J1-J4, fêmea (+ campo lateral e ovo) e macho (de Siddiqi, 1976).

campo lateral e término caudal [de Deimi et al., 2006].

foi identificada em mais de

‘Marandu’ no estado do Acre

J4, fêmea (+ campo lateral e ovo) e macho (de Siddiqi, 1976).

Page 6: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 03B . Aphelenchoides bicaudatus

típico da espécie, com um mucro curto e outro mais longo (a = ânus) [de Favoreto

Figura 04A . Aphelenchoides fragariae

Aphelenchoides bicaudatus: região posterior (♀) evidenciando o término caudal bifurcado

típico da espécie, com um mucro curto e outro mais longo (a = ânus) [de Favoreto et al

Aphelenchoides fragariae: morfologia geral da fêmea e do macho (de Siddiqi, 1975).

) evidenciando o término caudal bifurcado

et al., 2011; Siddiqi, 1976].

: morfologia geral da fêmea e do macho (de Siddiqi, 1975).

Page 7: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 04B . Aphelenchoides fragariae

término digitiforme curto sem mucros pontiagudos

Figura 5 . Aphelenchoides ritzemabosi

Aphelenchoides fragariae: caudas da fêmea (esq.) e macho (dir.); em destaque, na fêmea, o

sem mucros pontiagudos, e, no macho, o espículo em forma de espinho de roseira

(a = ânus) [de Favoreto et al., 2011].

Aphelenchoides ritzemabosi: morfologia geral da fêmea e do macho (de Siddiqi, 1974).

: caudas da fêmea (esq.) e macho (dir.); em destaque, na fêmea, o

, e, no macho, o espículo em forma de espinho de roseira

: morfologia geral da fêmea e do macho (de Siddiqi, 1974).

Page 8: GÊNERO APHELENCHOIDESGÊNERO APHELENCHOIDES Considerações preliminares No gênero Aphelenchoides , que encerra cerca de duas centenas de espécies propostas, embora

Figura 6 . Aphelenchoides sexlineatus

cauda com mucros no término, visto

Literatura utilizada e sugerida para eventual consulta

Deimi, A.M.; Z.T. Maafi; J.E.P. Rius & P. Castillo, 2006.

Steiner & Buhrer, 1932 (Nematoda: Aphelenchoididae) from Iran

metric characterisation. Nematology

Favoreto, L. 2004. Estudo de fitonematóides em

de Mestrado). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias

Jaboticabal (SP), 43 p.

Favoreto, L.; J.M. Santos; S.A. Calzavara & L.A. Lara, 2011

Taxonomia de Nematoides encontrados em Sementes de Gramíneas Forrageiras no Brasil.

Nematologia Brasileira 35 (1/2): 20

Oliveira, C.M.G.; T.Y Kanazawa & E.A. Consoli, 2009.

besseyi em sementes de forrageiras

http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=119

Sharma, R.D., M.J.B. Cavalcanti & J.F. Valentin.

Estado do Acre. Embrapa Cerrados, Planaltina, 4 p.

Aphelenchoides sexlineatus: fêmea – campo lateral com seis incisuras (H)

vistos ao MEV (E) e ao microscópio comum (C) (de Favoreto

Literatura utilizada e sugerida para eventual consulta

Deimi, A.M.; Z.T. Maafi; J.E.P. Rius & P. Castillo, 2006. Aphelenchoides subtenuis

Steiner & Buhrer, 1932 (Nematoda: Aphelenchoididae) from Iran with morphological

Nematology 8 (6): 903-908.

Favoreto, L. 2004. Estudo de fitonematóides em sementes de gramíneas forrageiras. (Dissertação

Mestrado). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - Universidade Esta

Favoreto, L.; J.M. Santos; S.A. Calzavara & L.A. Lara, 2011. Estudo Fitossanitário, Multiplicação e

Taxonomia de Nematoides encontrados em Sementes de Gramíneas Forrageiras no Brasil.

: 20-35.

Oliveira, C.M.G.; T.Y Kanazawa & E.A. Consoli, 2009. Identificação molecular de

em sementes de forrageiras. Disponível para consulta em 19 de novembro de 2009 em

http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=119

Sharma, R.D., M.J.B. Cavalcanti & J.F. Valentin. 2001. Nematóides associados ao capim Marandú no

rados, Planaltina, 4 p. (Comunicado Técnico).

(H), típico da espécie, e

(de Favoreto et al., 2011).

des subtenuis (Cobb, 1926)

with morphological and morpho-

sementes de gramíneas forrageiras. (Dissertação

Universidade Estadual Paulista,

Estudo Fitossanitário, Multiplicação e

Taxonomia de Nematoides encontrados em Sementes de Gramíneas Forrageiras no Brasil.

Identificação molecular de Aphelenchoides

em 19 de novembro de 2009 em

2001. Nematóides associados ao capim Marandú no