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Gêneros discursivos e sequências textuais INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA II PROF. DR. PAULO ROBERTO GONÇALVES SEGUNDO – 07.08 E 09.08.2017

Gêneros discursivos e sequências textuais

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Page 1: Gêneros discursivos e sequências textuais

Gêneros discursivos

e sequências

textuaisINTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA II

PROF. DR. PAULO ROBERTO GONÇALVES SEGUNDO – 07.08 E 09.08.2017

Page 2: Gêneros discursivos e sequências textuais

Introduzindo a noção de gênero

discursivoGêneros discursivos (genres) consistem em modos de ação sociossemióticos, ou seja,em padrões de ação linguística socialmente motivados e funcionalmente coesos queestruturam, parcialmente, a produção de sentido.

Motivação social diz respeito às demandas comunicacionais e práticas inerentesaos diversos campos de atividade humana. Ex.: educação, jornalismo, publicidade,ciência, direito, etc.

Coesão funcional relaciona-se à relativa estabilidade do gênero no que se refereaos padrões linguísticos que realizam determinadas funções intrínsecas à realizaçãode determinadas atividades.

Gêneros são padrões acionais; em outros termos, consistem em coerções sociais esemióticas que embasam a produção linguística. Entretanto, a produção real semprepõe em risco a integridade do gênero, colocando-o numa tensão entre estabilidadee dinamicidade.

Page 3: Gêneros discursivos e sequências textuais

Perspectivas sobre gênero discursivo

Retórica; Bakhtin

Kabatek; Miller

Hasan; Martin

Marcuschi

+ Estrutural

+ Funcional

+ Estabilidade + Dinamicidade

Page 4: Gêneros discursivos e sequências textuais

Círculo de Bakhtin

Bakhtin (2003: 262) define gênero discursivo como “tipos relativamente estáveis deenunciado”, determinados pelas especificidades de uma dada esfera (ou campo) daatividade humana, cuja realização se manifesta na construção ou formacomposicional, na temática e no estilo.

Esfera/campo: cada esfera delimita um modo específico de refratar a realidade,especialmente no que tange às demandas de base socioeconômica, orientando-a àsua própria maneira, visto que cada esfera tem uma função determinada na vidasocial. Dessa forma, o campo se constitui em “um espaço de refração que condicionaa relação enunciado/objeto de sentido, enunciado/enunciado, enunciado/co-enunciadores” (GRILLO, 2005: 175).

Forma composicional: refere-se à estrutura da obra, que funciona como agenteorganizador do material discursivo em um determinado gênero.

Temática: entende-se por temática de um gênero os princípios de seleção dos assuntos,as formas definidas de ver e conceituar a realidade, o que inclui a profundidade e aorientação da abordagem.

Estilo: seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais de uma língua,aplicados a um texto, sob a coerção da forma composicional e da temática, elementosque, por sua vez, determinam o grau de liberdade expressiva concernente a umdeterminado gênero.

Page 5: Gêneros discursivos e sequências textuais

Marcuschi

Marcuschi (2008) propõe que os gêneros sejam tratados a partir dos seguintes traços e características:

a. são históricos e têm origem em práticas sociais;

b. têm caráter sociocomunicativo;

c. estabilizam determinadas rotinas de ação;

d. tendem a possuir uma forma característica;

e. não podem ser definidos apenas por seu aspecto formal;

f. a funcionalidade consiste em seu traço central e consiste no elemento que lhes dá maleabilidade e definição;

g. são eventos com contrapartes tanto orais quanto escritas.

O autor também destaca a questão do suporte, entendido como o “lócusfísico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente defixação do gênero materializado como texto” (MARCUSCHI, 2008, p. 174; itálicodo autor).

VÍDEO

Page 6: Gêneros discursivos e sequências textuais

Gêneros x Sequências textuais

Sequências ou tipos textuais são construtos teóricos e abstratos definidos porpropriedades linguísticas. Não se constituem em textos empíricos econfiguram-se em um número limitado de categorias.

SEQUÊNCIAS TEXTUAIS ENTRAM NA CONSTITUIÇÃO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS.

Adam propõe cinco tipos textuais:

a. Narração

b. Descrição

c. Argumentação

d. Injunção

e. Exposição

O autor reformulou certos aspectos

da teoria em obra recente.

Entretanto, procuraremos nos ater à

formulação inicial, apenas focando

em alguns elementos da nova

proposta.

Page 7: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA NARRATIVA

(sucessão temporal e causal)

Situação Inicial (Orientação)

Nó Desencadeador

Reação ou Avaliação

Desenlace (Resolução)

Situação Final (+ Avaliação

Moral)

Page 8: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA NARRATIVAA CIGARRA E A FORMIGA (A FORMIGA BOA)

Monteiro Lobato

Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé do formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu

divertimento era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.

Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas, Os animais todos, arrepiados, passavam o dia cochilando nas tocas.

A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.

Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu – tique, tique, tique...

Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina.

— Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.

— Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...

A formiga olhou-a de alto a baixo.

— E que fez durante o bom tempo que não construí a sua casa.

A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse.

— Eu cantava, bem sabe...

— Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então que cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para

encher as tulhas?

— Isso mesmo, era eu...

— Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos

distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui terá

cama e mesa durante todo o mau tempo.

A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.

Page 9: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA NARRATIVADaí você está dentro do táxi, se preparando pra ir embora, pede pro taxista encostar. Você olha pro lado

esquerdo e vê um carro ultrapassando o seu táxi parado, buzinando e xingando. Você acha isso estranho, mas até

aí tudo bem, você mora no Rio de Janeiro, todo mundo é estressado no trânsito, é normal.

Daí você olha pra frente e o carro que te ultrapassou parou, o motorista saiu do carro PUTO, xingando o taxista e

começou a falar um bando de merda para o taxista que eu não consegui ouvir. Só sei que o taxista resolveu

responder ao senhor mal humorado. O cara não ficou muito feliz com a resposta, foi lá e entrou no carro deu uma

ré, bateu no táxi e saiu. Eu e Samu estávamos dentro do táxi. Completamente sem reação, só sei que pagamos dez

reais pro taxista e ele foi atrás do cara sabe se lá pra que.

Daí você fica nervoso na hora, relaxa depois, vai lá e come sua comida e na volta pra casa no outro táxi você

resolve ser simpático e contar essa história pro taxista. O cara acha um absurdo, fala que tem gente que tem o

demônio no corpo e tudo e tal. Daí 100 metros depois a gente fica preso na rua porque tem um caminhão tirando

uma caçamba da rua e bloqueou a rua por uns 5 minutos, até que o taxista se cansou e deu a volta pelo

caminhão e resolveu se enturmar e contou a história dele: "Teve uma vez que aconteceu um negócio parecido

comigo com esse negócio aí do táxi de vocês e parecido também com o caminhão. Eu fui deixar o passageiro

numa boate, encostei o carro direitinho, deixei o passageiro, tinha espaço pra manobrar, tudo tranquilo. Daí veio

um playboy bombadinho que tava atrás de mim, saiu do carro cheio de moral e veio reclamar do meu carro. Daí

eu fui conversei com o maluco, ele veio querendo arrumar confusão, então eu fui, peguei a minha pistola" (Nisso eu

percebi a tensão no olhar do Samuka) " apontei pra ele e falei " tu só não vai morrer aqui porque tá cheio de gente

aqui na rua vendo pq senão vc rodava, maluco" "

Depois disso pedimos pra descer do táxi, meio tensos. O cara percebeu e falou que desde esse episódio ele não

anda mais com a pistola no carro pra não fazer besteira. Acho que é isso por hoje.

Page 10: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO DESCRITIVO

Apresentação de propriedades, de características, de

componentes

Realização de analogias

(comparação e metáfora)

Presença de conectivos e articuladores espaciais e situacionais

Predomínio de verbos no Presente e no

Pretérito Imperfeito

Descrição perceptual (sinestésica) x

Descrição epistêmica (conhecimento)

Page 11: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO DESCRITIVO

Produto da Semana – Slim Shake Mundo Verde Seleção

22/7/2013

O Slim Shake Mundo Verde Seleção é um alimento rico em fibras, elaborado paraauxiliar em um emagrecimento saudável e progressivo. Possuem em suaformulação proteínas, vitaminas e minerais que tornam o produto nutricionalmentebalanceado, para ser utilizado como substituto de até 2 refeições diárias.Seu diferencial é o alto teor de fibras, apresentando 4,5g de fibras por porção, ouseja, 18% da quantidade diária recomendada para esse nutriente que promove asensação de saciedade e contribui para o bom funcionamento intestinal.Os Shakes Mundo Verde Seleção são encontrados nos sabores: baunilha, morangoe chocolate.

Fonte: Bruna MurtaNutricionista da rede Mundo Verde

http://www.mundoverde.com.br/Noticia/2013/07/22/Produto-da-Semana-%96-Slim-Shake-Mundo-Verde-Selecao/

Page 12: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO INJUNTIVO

Imperativo ou

Formas modais

Encadeamento sequencial-

temporal

Prescrição de comportamento

Page 13: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO INJUNTIVOSegredos da beleza indiana

Corpo macio e descansado

Banho relaxante

Na banheira

5 gotas de cada óleo essencial: camomila, erva-doce, lavanda, cedro e sálvia

1 colher (sopa) de óleo-base

Dilua as cinco gotas de cada óleo essencial no óleo-base. Preencha a banheira

com água quente e adicione a mistura de óleos. Permaneça em imersão durante

15 a 20 minutos. Se desejar, pode acrescentar flores de ação medicinal (exemplos:

camomila ou rosas).

No chuveiro:

Óleo de gergelim (o suficiente para o corpo todo)

Após o banho, feche o chuveiro e, com a pele úmida, realize uma automassagem,

com movimentos circulares e ascendentes, por todo o corpo, usando o óleo de

gergelim. Retire o excesso com água e enxugue-se suavemente.

Page 14: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO INJUNTIVO

Page 15: Gêneros discursivos e sequências textuais

Combinação (composicionalidade

sintagmática) de sequências textuaisEstimule todos os músculos do seu corpo sem sair do lugar!

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Page 16: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO EXPOSITIVO

Análise ou síntese de representações conceituaisnuma ordenação lógica

Predomínio do Presente, Futuro do Presente, Pretérito Imperfeito

Encadeamento lógico preferencial. Funçãoreferencial se destaca.

Page 17: Gêneros discursivos e sequências textuais

TIPO EXPOSITIVOMartin e White (2005, p. 29-31), a partir dos estudos de Poynton (1985), explicam que ao eixo vertical Poder relaciona-

se a noção de Status, que envolve variações de igualdade, reciprocidade ou diferença nas formas de tratamento, por

exemplo. Etnia, geração, gênero, classe e tipo de relação são fatores que interferem na variação de posições de

dominância ou deferência, afetando o modo de construção das relações sociais no sentido de quem pode e como pode

se expressar perante o outro. Por sua vez, ao eixo horizontal Solidariedade relaciona-se a noção de contato, referente à

negociação de intimidade e distância, realizada segundo os princípios de Proliferação e Contração, relacionados

respectivamente à ideia de que, quanto mais próximo se é de alguém, mais significados estão disponíveis para troca e

mais a intimidade se desenvolve, e à ideia de que, quanto mais se conhece alguém, menos explicitação é necessária

para trocar significados, por haver um partilhamento de vivências e interações anteriores, de tal modo que nem todas as

informações precisem ser expressas verbalmente para que a compreensão se faça.

A solidariedade não existe apenas em questões de concordância ou discordância, mas também de tolerância para

pontos de vista alternativos, permitindo ao falante/escritor indicar que reconhece a existência da diversidade de pontos

de vista e que está aberto para se envolver com aqueles que sustentam a uma posição diferente (MARTIN; WHITE, 2005).

Nesse caso, levam-se em conta as formas pelas quais o falante/escritor busca se alinhar com o leitor ideal, considerando

modo como valida ou invalida pontos de vista.

Trata-se de uma atividade de negociação que, segundo Martin e Rose (2007), concerne à interação como troca

entre os falantes (à forma como se adotam e se atribuem funções de fala) e à forma de estruturar e realizar a troca (por

meio de declarações, perguntas, ofertas ou comandos).

Uma vez que atua com recursos para negociar Relações, especialmente Solidariedade, o ENVOLVIMENTO é aqui

entendido como um processo de gerenciamento das relações interpessoais para efetuar a solidariedade, mobilizado por

princípios de tração e/ou de atração, forças que configuram a dinâmica do processo e movimentam a relação produtor-

texto-consumidor.

(GONÇALVES-SEGUNDO; RIBEIRO, 2016, p. 214-215)

Page 18: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA ARGUMENTATIVA

Dados Logo, Qualificação [Alegação]

(D) (Q) (A)

já que a menos que

Garantia Refutação

(W) (R)

por conta de,

baseado em

Apoio

(B)

Page 19: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA ARGUMENTATIVAa. Dados (D): Os Dados, por sua vez, consistem nos “fatos aos quais recorremos como fundamentos para

a alegação” (Toulmin, 2006: 140); em outros termos, trata-se de “declarações que especificam fatosparticulares sobre uma situação” (Toulmin, Rieke e Janik, 1984: 37), aceitas como verdadeiras pordeterminados grupos sociais, constituindo-se, portanto, no ponto de partida para que uma alegaçãoseja proposta.

b. Alegação (C): Alegações podem ser definidas como “asserções apresentadas publicamente para aaceitação geral”, o que implica “haver ‘razões’ subjacentes para que se possa mostrar que são ‘bemfundamentadas’ e, portanto, passíveis de ser aceitas de modo geral”.

c. Garantia (W): Garantias são proposições gerais que estabelecem raciocínios hipotéticos que permitemlegitimar o passo de D para C.

d. Apoio (B): Apoios são considerações de suporte, de caráter campo-dependente, que tornam explícitoo conjunto de experiências e de conhecimentos que nos permite confiar na garantia.

e. Refutação (R): Refutações são “tipos de circunstâncias excepcionais que, em casos específicos,podem refutar as suposições criadas pela garantia” (Toulmin, 2006: 153). Entretanto, a Refutação podetambém se aplicar a outros componentes do modelo, como D e B. O que parece defini-la é apossibilidade de minar a força do argumento como um todo, invalidando, parcial ou totalmente, aAlegação.

f. Qualificação (Q): A Qualificação refere-se ao grau de comprometimento ou validação autoral sobrea Alegação, tendo em vista a força de convencimento da garantia para estabelecer o vínculo D-C.

Page 20: Gêneros discursivos e sequências textuais

SEQUÊNCIA ARGUMENTATIVA“Agora você é professor da USP; deve estar rico”.

X é professor da USP portanto, provavelmente X é rico

Já que: a USP é uma Universidade de ponta; A menos que: ele sustente 3 filhos

Instituições de ponta tendem a pagar bem; ele seja viciado em y

Quem trabalha na USP é/fica rico ele seja professor assistente