13

Goma Laca 2014 Libreto

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Goma-Laca-2014-Libreto

Citation preview

  • Goma-Laca um ncleo de descobertas sobre a msica brasileira da primeira metade do Sculo XX, registrada nos antigos discos que giravam a 78 rotaes por minuto. Produzidas no Brasil en-tre 1902 e 1964, as chapas eram fabricadas a partir de uma mistura de cera de carnaba e goma-laca em p. Desde 2009, o Goma-Laca busca o intercmbio entre acervos e geraes propondo olhares e investigando contextos e contemporaneidades.

    Sob direo musical de Letieres Leite, o disco Goma-Laca apresenta rein-venes a partir de temas do candombl, capoeira, emboladas, jongos e maracatus gravados originalmente entre as decadas de 20 a 50.

    No site www.goma-laca.com voc encontra levantamento indito dos primeiros discos de msica afrobrasileira, audio e download gratuito do lbum que voc tem em mos, gravaes originais em 78 rpm, programas de rdio, entrevistas, artigos, vdeos e fotos.

    GOMA-LACA AfrobrasilIdades em 78 RPM

  • A partir de pescarias em acervos digitais, relanamentos em vinil e CD e arquivos de colees particulares disponveis em blogs e redes gramofnicas, criamos o repertrio deste disco sem colocar para girar nenhuma chapa. difcil pegar um 78 rpm para escutar. Bom saber que em tempos digitais a msica j pode resistir poeira, quedas, riscos, mudanas e netos desapegados.

    Assim como os discos, a inspirao musical dos africanos escravizados no Brasil e seus descendentes resiste tambm. Em tempos em que a prtica musical afrobrasi-leira era motivo de dura perseguio policial, desde as rodas de capoeira at os cultos religiosos, as histrias contadas por Joo da Baiana, J.B. de Carvalho, Almirante e M-rio de Andrade mostram o desafio de revelar no disco, no rdio, no palco ou na rua, o mexemexer dos atabaques ancestrais. Sem intenes etnolgicas musicais ou religio-sas, buscamos um recorte fonogrfico, procura de rastros da msica de tradio oral na indstria do disco que acabava de nascer. Cantigas de longe, no relgio e no mapa.

    A busca pelos discos e suas histrias comeou no acervo da Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural So Paulo, a casa do Goma-Laca. Idealizada por Mrio de Andrade em 1935, a Discoteca tinha a misso de formar msicos e composito-res a partir do acesso msica folclrica e de concerto. A pesquisa seguiu pelas

    colees particulares de dois grandes guardies da msica tradicional popular em tempos de gramofone: Almirante (MIS-RJ) e Mrio de Andrade (IEB-USP). No acer-vo de Almirante, alm dos discos, estavam as fotografias da gravao do programa Curiosidades Musicais, em que o msico e radialista levou para o estdio da Rdio Nacional o brbaro e curioso berimbau. Da coleo de Mrio conhecemos os fa-mosos encartes de cartolina em que o poeta-musiclogo escrevia suas impresses sobre cada disco, e escutamos a verso reprovada do batuque africano Baba Mi-loqu, de Josu de Barros, ainda mais experimental e provocadora. Uma tarde com Vanja Orico, no Flamengo, despertou uma escuta-conversa sobre Z do Norte e Caymmi, mensageiros da tradio popular que vinha do Nordeste para desembar-car no disco. As chapas que faltavam foram encontradas nos acervos particulares dos amigos de chiado Dijalma Cndido, Miguel Nirez e Gilberto Incio Gonalves. Completado o lbum, os discos estavam prontos para o ritual Goma-Laca.

    No estdio, o maestro danarino senta, escuta o 78 rpm em mp3 e reconhece alguma coisa de l. P. Joelho gira. A msica veste os braos e alcana os dedos que danam. Partculas pulsam pelos ares, e o velho disco recomea a girar numa rbita ainda mais furiosa que as 78 por minuto. Obrigada a todos que conduziram esta msica de longe at aqui, viva e nova.

    Tabaque mexemexia acertado num ritmo que manejou toda procisso.

    Mrio de Andrade Macunama Macumba

    NOVAS RBITAS: 78 RPM

    biancamaria binazzi

  • Criar junto uma experincia ntima. Compartilhar inspiraes e realizaes deman-da no apenas confiana como simbiose. Exerccio de entrega e ateno, criao es-pontnea de acordo com momento, emoes, parceiro. As sesses de gravao do disco Goma-Laca, durante alguns dias no estdio Traquitana, aconteceram sob clima mgico e calor. Canalizando sensibilidades e sonoridades, o maestro Letieres Leite desenhou arranjos a partir do encontro com cada msico, da personalidade de cada cantor, de inflexes de cada cano, da vontade de cada clave rtmica.

    Estudo clssico e metodologia formal fazem parte da linguagem de Letieres, mas sua formao e abordagem vem embebidas da tradio oral que sobrevive os ritmos ancestrais inesgotavelmente influentes para a msica popular contempo-rnea. Liderando a banda com seu gan e sua flauta, como um Abigail Moura ou um Moacir Santos em verso de cmara, Letieres montou temas para pequena banda com unssonos de baixo acstico e piano eltrico, sobre bateria enrgica e elegantes claves de percusso afrobaiana. Sonoridade spiritual jazz de elemen-tos passados e presente, sacros e profanos.

    Foi uma semana intensa dentro do estdio, entre sesses de criao e gravao. Coletivo inspirado: banda se conhecendo, se ouvindo e se respondendo, aprendendo e ensinando, com maestro a um milho por hora. Arranjos nascendo da energia so-mada regida por Letieres, sobrepondo ostinatos de contrabaixo e mo esquerda do

    piano, liderando o cortejo do ritmo, danando intenes, passeando por convenes e variaes, criando riffs e solos e especiais, solfejando partes, moldando mapas, jo-gando ideias para msicos e cantores e sentindo o que gerava o atrito criativo.

    Para captar vera o que surgia, gravamos moda antiga, sem exagerar a microfo-nao, em menos de 16 canais, com a banda na mesma sala, se olhando, quase sem fone de ouvido, som quente, tudo ao vivo, tocando todo mundo junto, incluindo a voz. Ateno, silncio no estdio, gravando, tocvamos no mximo dois ou trs takes e o bom valia. Quase sempre o primeiro inteiro j foi o valendo, pronto.

    Deu caldo juntar o maestro baiano com a banda especialmente formada, msicos instigantes de So Paulo, cantores passionais e repertrio escolhido com cari-nho. Emocionante assistir o solo de bateria de Sergio Machado de tirar o flego na abertura de Minervina, a expressividade de Marcos Paiva ao contrabaixo na parte B de Ogum, o batuque de piano em Batuque ou o incrvel solo em Do Pil de Hercules Gomes, o solo de flauta em G de Letieres em Ogum, a percus-so aristocrtica do mestre Gabi Guedes por todo o disco.

    Juntos na viagem, intrpretes que se jogaram sem rede de proteo no descobrimen-to musical. Corrente de criatividade buscando as origens e atualidades das canes e encontrando juntos novos significados. Lucas Santtana vontade, malandro e casual relendo nosso dolo Almirante, na ponte entre embolada e rap cantado. Karina Buhr representando vento e passarinho fora da gaiola, girando a lua com cantos imbudos dentro da gente. Russo Passapusso em ponto de bala de sensibilidade e talento, be-bendo com sede e personalidade tudo entre candombl e afox, jazz e funk, ragga e capoeira, Bahia, Brasil, So Paulo e Mundo. Juara Maral cada vez mais no auge de sua voz, cantando com Russo e liderando o ritual amoroso. Toda msica sagrada.

    SO PAULO, FEVEREIRO 2014

    Ronaldo Evangelista

  • Exu (BX - RNA -14-00001)(Domnio Pblico) Antigo e poderoso, o Canto de Ech foi lanado em janeiro de 1931 pelos Filhos de Nag, com direo de Felippe Nery da Conceio (Parlophon 13254-B). O fonograma integra o 78 rpm Candombl, registro histrico de grande valor etnogrfico, um dos primeiros discos comerciais brasileiros cantados em iorub. Evitando adaptaes na letra, ritmo e harmonia, prtica muito comum neste perodo de nascimento da indstria fonogrfica, a gravao busca registrar com fidelidade a musicalidade dos rituais. O mesmo canto tambm foi documentado em Salvador entre 1941 e 1942 por Jean Melville e Frances Shapiro Herskovits, na gravao Ketu for Eshu, e lanado no lbum Afro-Bahian Religious Songs, disponvel no acervo da Diviso de Msica da Biblioteca do Congresso norteamericano. O motivo Exu Tiriri tambm aparece em gravao realizada no Terreiro do Gantois na Bahia em 1961 por Salomo Scliar, den-tro da srie Documentos Folclricos Brasileiros da Editora Xau. Em saudao ao orix do princpio e da transformao, Juara Maral abre o disco citando tambm o canto Imbarab e a banda segue girando o arranjo mntrico.

    batuque (BX - RNA -14-00002)(Domnio Pblico) *com citao de Ponte de Safena, de Russo Passapusso A crtica da chapa, no jornal O Pas em 1929, revelava a sonoridade de um universo des-conhecido: Batuque monumental. Quem o ouve adquire a impresso exata de estar presente, sem que ningum o veja, s prodigiosas festas ntimas dos negros, verdadeiras reunies privativas dessa raa nas quais ela passa momentos de completa independn-cia e d largas sua natureza meio selvagem. Nessa msica temos a frica tornada brasileira e revemos os tempos em que o negro nas suas reunies privadas, s vezes de carter algo religioso, dava expanso sua revolta contra a tirania exercida pelo branco. Lanado em disco em 1929 pela cantora e folclorista pernambucana Stefana de Macedo em arranjo para duo de violes, Batuque (Columbia 5.093-A) apontava no selo sua ori-gem no Sculo XVII: Dana do Quilombo dos Palmares. Enquanto Hercules Gomes faz de seu piano o atabaque ancestral, Russo Passapusso revive o lamento negro e impro-visa sobre o canto de resistncia e libertao.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia e Gan | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Juara Maral Voz

    Letieres Leite Arranjo, Regncia e Atabaque | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Russo Passapusso Voz

  • Minervina (BX - RNA -14-00003)(Domnio Pblico) A toada nordestina registrada pela atriz e cantora Vanja Orico em disco de 1954 (RCA Victor 80.1257-B) integra a trilha sonora do filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, lanado em 1953. A seleo musical do filme apresenta temas do cangao recolhidos e/ou com-postos pelo msico e radialista paraibano Z do Norte, que tambm assina canes como Sodade meu bem, sodade, Lua Bonita e Mulher Rendeira. No 78 rpm, as violas do serto so substitudas por um inusitado rgo eltrico que contrabalana com o singelo acalanto de Vanja. Em 1976, Milton Nascimento gravou no disco Geraes parte do tema de Minervina com o ttulo A Lua Girou, em adaptao sua do tema popular que j ganhou diversas leituras. Karina Buhr resgata a doura maliciosa da cano, embalada pelo arranjo lunar da flauta de Letieres Leite. Inspirado solo de bateria de Serginho Machado na abertura da faixa desperta e chama pra ver a lua, enquanto no rgo Farfisa Hercules Gomes d continuidade aos experimentalismos eltricos do disco original.

    Do pil (BX - RNA -14-00004)(Jararaca, Augusto Calheiros e Z do Bambo) *Todamrica Edies LTDA O municpio de Pilar fica em Macei, na Alagoas natal de Jararaca e Augusto Calheiros. Lanado em 1938, o rojo nortista Do Pil foi gravado pelo trio vocal de Jararaca, Augusto Calheiros e Z do Bambo, acompanhados pelo grupo do bandolinista pernambucano Lu-perce Miranda (Odeon 11.582-A). Alm de nos levar s conversas-caminhadas dos cantado-res da regio, a gravao original tambm tem forte inspirao pernambucana, talvez pela atuao dos intrpretes em grupos como Turunas Pernambucanos (Jararaca) e Turunas da Mauricia (Augusto Calheiros e Luperce Miranda). Em 1950, o rojo Do Pil tambm foi gravado (Continental 16.227-A) pelo Trio Melodia, formado por Nuno Roland, Paulo Tapajs e Albertino Fortuna. Em 1976, Tom Jobim universalizou o tema, incorporando o refro na sua obra O Bto, lanada no disco Urubu. Na reinveno do quinteto com Letieres, Karina Buhr traz na lngua o sotaque dos Turunas e sustenta a pisada, cheia de fitas, no caminho do serto, com momento de brilhante solo de piano de Hercules.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia, Ferros e Flauta em G | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes e rgo Farfisa | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Karina Buhr Voz

    Letieres Leite Arranjo, Regncia, Agog e Flautas | Gabi Guedes Atabaques e Agog | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Bruno Morais, Ronaldo Evangelista e Dcio 7 Coro | Karina Buhr Voz

  • Passarinho bateu aza (BX - RNA -14-00005)(Motivo popular adaptado por Donga e Almirante) *Direitos Reservados Originalmente, o samba Passarinho Bateu Asas, de autoria atribuda a Donga, foi gravado por Francisco Alves em 1928 (Odeon 10160-A). Em 1940, Almirante o identificou como motivo popular e relanou o tema, com novos versos, na chapa Passarinho Bateu Aza (Odeon 11875-A). Dois anos depois, o maestro Leopold Stokowski aportava no Rio de Ja-neiro em misso etnogrfica que anunciava gravar a mais legtima msica brasileira toca-da primorosamente por msicos nativos, em um estdio montado dentro do navio Uru-guai, que rendeu o disco Native Brazilian Music (Columbia 36508). Lanada neste lbum internacional est Passarinho Bateu Asa, pela dupla Z e Zilda, com versos semelhantes aos de Francisco Alves: meu benzinho diga, diga / de tua boca confesse / se j encontrou no mundo / quem tanto amor lhe quisesse. Versos, alis, bem mais antigos, identificados em recolhimentos em Sergipe, Rio Grande e Cear citados por Silvio Romero no livro Can-tos Populares do Brasil em 1883 e por Leonardo Mota no livro Cantadores em 1921. Em pleno voo musical, Lucas Santanna senta praa no batalho do amor, v a morena na roda e canta a verso alada e ligeira de Almirante, acompanhado de piano sabor choro.

    Vou vender meu barco ( BX - RNA -14-00006)(Valentim dos Santos e Marinho Costa Lima) *Direitos Reservados Formado pelos gachos Alberto Ruschell, Francisco Pacheco, Luiz Bonf e Luiz Telles, o Quarteto Quitandinha interpretava, principalmente, ritmos rurais tpicos, como toadas, aboios e rancheiras. Gravado como samba-jongo em 1946, Vou vender meu barco (Continental 15.701-A), tem gosto de canto de tradio popu-lar. A gravao traz tambm leves ecos da melodia de Ogum assinada por Milton Bittencourt e gravada pelo conjunto vocal Quarteto de Bronze em 1945 (Odeon 12566-B), um ano antes dos Quitandinhas. Com o mote Vou vender meu barco, a cano tambm interpretada pelo cantor de 90 anos da Ilha do Maraj Mestre Laurentino, com alguns versos e trechos diferentes do quarteto Quitandinha. Tema de praias do Rio Grande do Sul Ilha ao Par. Aproveitando o mote da cano praieira, Lucas Santtana e o quinteto com Letieres na flauta experimentam arranjo impressionista, navegando sonoridade de mares e tempestades.

    Letieres Leite Arranjo e Regncia | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Lucas Santtana Voz

    Letieres Leite Arranjo, Regncia, Ferros e Flauta | Gabi Guedes Atabaques e Caxixis Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico Sergio Machado Bateria | Lucas Santtana Voz

  • ogum (BX - RNA -14-00007)(Domnio Pblico) Tema de Ogum registrado em disco pelos Filhos de Nag em 1931, sob direo de Felippe Nery da Conceio, no lbum Candombl (PARLOPHON 13254-B). To impactante que o jornal Correio da Manh, em nota sobre o lanamento do disco poca, comentava a selvageria dos batucadores. Uma adaptao lrica do tema foi gravada em 1948 pela soprano Bid Sayo e o pianista norteamericano Milne Charnley no disco Folk Songs of Brazil (Columbia), com harmonizao de Ernani Braga, como Ogund Uarer. Canto africano intercontinental, tambm encontrado em Cuba em 1957, gravado pelo grupo de Cndido Martinez (Song for Ogun), em registros que fazem parte da Biblioteca do Congresso dos EUA. Expressivo tema que nos anos 60 chegou ainda ser interpretado pelo jazzista John Coltrane e em 1973 ganhou verso sublime em adaptadao de Dadi-nho e Mateus Aleluia com o grupo vocal baiano Tincos. Seguindo o ostinato profundo e a batida forte, Juara entra arrepiando a nuca e cortando rente. Letieres responde o dilogo com solo elevado de flauta em sol, som clssico e contemporneo.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia, Gan e Flauta em G | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Juara Maral Voz

  • Babao Miloqu (BX - RNA -14-00008)(Josu de Barros) *Direitos reservados Batuque gravado pelo violonista e compositor baiano Josu de Barros em 1929 com a Orquestra Victor Brasileira (Victor 33253-A). Originalmente, Josu havia gravado o ba-tuque de inspirao africana com o ttulo Congo Malab. Ainda mais rstica e inventiva, a verso foi reprovada e adaptada para o Baba Miloqu. Sempre de ouvidos atentos a quem fazia coisa nova desencavando passados, o poeta-musiclogo Mrio de Andra-de descreve a chapa como uma das grandes vitrias da discografia nacional. Em 1977, cantando a Patuscada de Gandhi, do afox Filhos de Gandhy, Gilberto Gil em seu disco Refavela revive elementos que inspiraram Josu de Barros - de Mam Maim, Bab / Baba Miloqu, Joc para Mori Mori, Bab / Baba Quilox, Joc. No rastro daquela msica admirvel como carter, tradio, inveno e riqueza de combinao instrumental, Russo Passapusso explora a vibrao da voz e das peles percutidas por Gabi Guedes e tranquilamente todos vo aonde a msica pede.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia, Ferros e Atabaque | Gabi Guedes Atabaques e Ferros Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico Sergio Machado Bateria | Russo Passapusso Voz

  • GURIAT (BX - RNA -14-00009)(Domnio Pblico) Cantiga do Norte do Brasil registrada em 1930 por Ratinho (Severino Rangel) como Guriat de Coqueiro com os Batutas do Norte (Odeon 10656-A). Em 1933, a soprano e pesquisadora brasileira Elsie Houston gravou, na Frana, um arranjo prprio para o coco Juriatan - Paroles et musique du folklore (Gramophone Company), acompanha-da por Carlitos e sua Orquestra Brasileira. Dois anos depois, Heitor Villa-Lobos indica a composio como um tema sertanejo tradicional recolhido por Ratinho na partitura manuscrita de Pssaro Fugitivo, gravada com a soprano alem Beate Rosenkreutzer. Em sua conferncia literria Msica de feitiaria no Brasil, Mrio de Andrade refora o aspecto de cano de inspirao popular e aponta no Guriat de Coqueiro fiapos de linha da entidade Mestre Carlos, do catimb: essa melodia est mesmo to vul-garizada no Nordeste que algumas das suas frases se tornaram verdadeiras frases--feitas da meldica nordestina. Na nova verso do tema que Mrio chama de um dos mais bonitos discos populares que possumos, Karina Buhr veste a alfaia e canta o passarinho remedador e suas inspiraes afroindgenas.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia e Flauta | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Karina Buhr Voz e Alfaia

  • no tenho medo, no (BX - RNA -14-00010)(Almirante e Chico Catol) *Direitos reservados As emboladas eram especialidade de Almirante desde o incio de sua carreira musi-cal, quando cantava com o Bando de Tangars, ao lado de Noel Rosa, Joo de Barro, Henrique Brito e Alvinho. Em 1936, Almirante gravou No tenho medo no, uma parceria com Chico Catol, acompanhado pelo Regional de Benedito Lacerda (Vic-tor 34045). Com letra de autoafirmao bem humorada, Almirante esbanja grias da urbanidade carioca, e, de navalha na mo, desafia at Lampio com seu vocabulrio afiado na lngua da malandragem. Causo urbano em primeira pessoa, brigas contra as arrelias, sem medo de valento, bem armado de palavras. Captando o proto-rap imbudo no ritmo da fala e velocidade dos versos da embolada, Lucas calmo e sem medo se joga na rinha, enquanto a banda se complementa e se responde sob a regncia de Letieres, com direito a final de susto, ateno.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia e Flauta | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Bruno Morais, Ronaldo Evangelista, Dcio 7, Cris Scabello e Mauricio Fleury Coro | Lucas Santtana Voz

    calA bocA menino (BX - RNA -14-00011)(Tema de capoeira da Bahia adaptado por Dorival Caymmi) *Editora Rosa Morena *com citao de Paraquedas de Russo Passapusso Minha no , mas eu assumo!, respondeu Dorival Caymmi em 1973 pergunta de Joo Do-nato sobre quem era o autor da cano que estava gravando, Cala boca menino (ensinada a Donato por Nana Caymmi). J quase quatro dcadas antes, Almirante contava na Rdio Na-cional que tratava-se de um tema tradicional de capoeira, com o nhem-nhem-nhem imitando o choro de criana. Na edio de 20 de junho de 1938 do programa Curiosidades Musicais, sobre manifestaes do folclore brasileiro, Almirante levou ao estdio, pela primeira vez na histria do Rdio, o berimbau, rudimentar e brbaro instrumento afro-brasileiro. At 1940, a prtica de capoeira era considerada crime por vadiagem pelo Decreto 487 (Dos Vadios e Capoeiras), de 11 de outubro de 1890. No programa, o radialista cantava e comentava can-tigas e histrias da capoeira da Bahia, acompanhado pelos berimbaus dos capoeiras baianos Geraldo Conceio e Valter Vasconcelos (foto). Letieres Leite incorpora o balano ps-Do-nato com Hercules no Fender Rhodes para o eletrizante encontro de Juara Maral e Russo Passapusso pela primeira vez dividindo o microfone, de bom motivo e paraquedas na citao.

    Letieres Leite Arranjo, Regncia e Gan | Gabi Guedes Atabaques | Hercules Gomes Piano Eltrico Fender Rhodes | Marcos Paiva Contrabaixo Acstico | Sergio Machado Bateria | Juara Maral e Russo Passapusso Vozes

  • Rtulos dos discosCanto de Ech - Instituto de Estudos Brasileiros IEB/USP - Fundo Mrio de Andrade

    Batuque -Discoteca Oneyda Alvarenga / Centro Cultural So Paulo / SMC/ PMSP. Minervina - Discoteca Oneyda Alvarenga / Centro Cultural So Paulo / SMC/ PMSP.

    Do Pil - Coleo Particular Dijalma M. Cndido - So PauloPassarinho bateu Aza (Almirante) Coleo Almirante - Fundao Museu da Imagem e do Som - MIS/RJ

    Passarinho Bateu Asas (Native Brazilian Music) Coleo Particular Dijalma M. Cndido - So PauloVou vender meu barco Coleo particular Miguel Angelo de Azevedo Nirez Fortaleza

    Ogum - Instituto de Estudos Brasileiros IEB/USP Fundo Mrio de AndradeBaba Miloqu / Congo Malab - Instituto de Estudos Brasileiros IEB/USP Fundo Mrio de Andrade

    Guriat de coqueiro - Discoteca Oneyda Alvarenga / Centro Cultural So Paulo / SMC/ PMSP. Juriat - Coleo Particular Dijalma M. Cndido So Paulo

    No tenho medo, no - Discoteca Oneyda Alvarenga / Centro Cultural So Paulo / SMC/ PMSP.

    Manuscritos Mrio de Andrade nas capas dos discosBaba Miloqu e Candombl Instituto de Estudos Brasileiros IEB/USP Fundo Mrio de Andrade

    Manuscrito Heitor Villa Lobos Pssaro Fugitivo Museu Villa Lobos / Rio de Janeiro

    Artigos de JornalFilhos de Nag - Recorte Correio da Manh (15/03/1931) Hemeroteca Digital Brasileira/

    Fundao Biblioteca Nacional

    Fotos Capoeira: Gravao do programa radiofnico Curiosidades Musicais, de Almirante, na Rdio

    Nacional, em 1938. Nos berimbaus, Geraldo Conceio e Valter Vasconcelos (Direitos Reservados) Coleo Almirante Fundao Museu da Imagem e do Som - MIS/RJ

    ICONOGRAFIA GOMA-LACAAfrobrasilidades em 78 RPM (2014)

    Concepo e Pesquisa: Goma-Laca/Biancamaria Binazzi e Ronaldo EvangelistaDireo Musical de Letieres Leite

    Produzido por Ronaldo EvangelistaGravado no Estdio Traquitana, SP, nos dias 10, 11 e 12 de fevereiro

    de 2014, por Evaldo Luna, Dcio 7 e Junior Zorato.Mixado por Gustavo Lenza

    Masterizado por Felipe TichauerDireo de Arte: Janaina Pinho e Henry Kage

    Produo Grfica: Valria HeviaImpresso: Indstria Grfica Brasileira

    Vdeos: Eugnio VieiraRdioDocumentrio: Biancamaria Binazzi

    Produo Executiva: Agog Cultural/Tatiana Dascal e Emilie BlochRealizado com o apoio do Projeto de Ao Cultural 2013.

    www.goma-laca.com

    Obrigado a Marcio Yonamine, Juliano Gentile, Jssica Barreto, Alosio Nogueira, Antonio Dantas, Chico Santos, Edson Maral, Vav, Jackson, Adriane Bertini e toda a equipe do Centro Cultural So Paulo e Discoteca Oneyda Alvarenga Carlos Augusto de Andrade Camargo e a equipe do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) Anna Paes, Luiz Antonio de Almeida e o Museu da Imagem e do Som (MIS/RJ) Museu Villa-Lobos (RJ) Os

    colecionadores Miguel Nirez, Dijalma M. Candido, Marcelo Bonavides, Gilberto Incio Gonalves e toda a Confraria do Chiado Bruno Morais, Marcelo Pretto, Luisa Maita, Emicida, Rodrigo Brando, Thiago Frana, Kiko Dinucci,

    Marcelo Cabral, Samba Sam, Wellington Moreira Pimpa, Pipo Pegoraro, Fernanda Shidomi Cesar de Paula Junior, Marcelo Perez Tomasiello e equipe da Rede Interferncia Guido e Enrico Rimini e Indstria Grfica

    Brasileira Monica Coelho Duarte, Ilsa Coelho Duarte, Claudia Rimini, Annamaria Binazzi, Silvana Rimini Binazzi, Piero Binazzi Vanja Orico, Joo Donato, Danilo Caymmi, Mateus Aleluia, Julia Alves, Enrique Menezes, Fernanda Perez, Andressa Trivelli, Anna Tereza Menezes, Dagoberto Alves, Mercedes Tristo, Gisela Ferrari, Ligia Meneghello

    e Sesc Vila Mariana, Tambores Z Benedito e Caverna, Mauricio Fleury, Josu dos Santos, Pedro Palhares e Estdio Varanda, Fabiana Marques, Marcio Mesk Blau, Silvestre Garcia Junior, Kika Carvalho e Fernando Faro.

  • GOMA-LACAAfrobrasilIdades em 78 RPM

    01 Juara Maral Exu (5:37) 02 Russo Passapusso Batuque (3:44)

    03 Karina Buhr Minervina (7:05) 04 Karina Buhr Do Pil (4:53)

    05 Lucas Santtana Passarinho bateu aza (3:28)06 Lucas Santtana Vou vender meu barco (6:40)

    07 Juara Maral Ogum (6:05) 08 Russo Passapusso Baba Miloqu (4:40)

    09 Karina Buhr Guriat (5:54) 10 Lucas Santtana No tenho medo no (2:45)

    11 Juara Maral e Russo Passapusso Cala boca menino (4:43)

    LETIERES LEITE DIREO MUSICAL, ARRANJOS E FLAUTA HERCULES GOMES PIANO ELTRICO

    MARCOS PAIVA CONTRABAIXO ACSTICO SERGIO MACHADO BATERIAGABI GUEDES ATABAQUES

    GravaoProduo Exec. IMPRESSORealizao