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www.simpurb2013.com.br A PRODUÇÃO DA CIDADE COMO CENÁRIO, UM MOMENTO NECESSÁRIO DO ESPAÇO ESPETACULAR. 1 Glauco Roberto Gonçalves Universidade de São Paulo Resumo Tentarei neste artigo abordar as relações entre forma e função na Arquitetura Moderna Brasileira, com destaque para seu maior expoente, Oscar Niemeyer,e suas contribuições à produção da cidade como cenário. Em seguida tratarei das relações constitutivas da produção da cidade como cenário trazendo à tona a imprescindível contribuição dos Situacionistas, bem como de Henri Lefebvre. Por fim, buscarei evidenciar o inerente e necessário entrelaçamento entre a alienação espacial e à queda tendencial do valor de uso, ambos em estágio avançado no espaço espetacular. Palavras-chave: Produção da cidade como cenário; alienação espacial; queda tendencial do valor de uso. Grupo de Trabalho nº 9 A produção do urbano: abordagens e métodos de análise 1 Este trabalho é parte da pesquisa de doutoramento em curso no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, sob orientação da professora Odette Carvalho de Lima Seabra.

GONÇALVEZ. a Produção Do Espaço Espetacular

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    A PRODUO DA CIDADE COMO CENRIO, UM MOMENTO

    NECESSRIO DO ESPAO ESPETACULAR.1

    Glauco Roberto Gonalves

    Universidade de So Paulo

    Resumo

    Tentarei neste artigo abordar as relaes entre forma e funo na Arquitetura Moderna

    Brasileira, com destaque para seu maior expoente, Oscar Niemeyer,e suas contribuies

    produo da cidade como cenrio. Em seguida tratarei das relaes constitutivas da

    produo da cidade como cenrio trazendo tona a imprescindvel contribuio dos

    Situacionistas, bem como de Henri Lefebvre. Por fim, buscarei evidenciar o inerente e

    necessrio entrelaamento entre a alienao espacial e queda tendencial do valor de

    uso, ambos em estgio avanado no espao espetacular.

    Palavras-chave: Produo da cidade como cenrio; alienao espacial; queda

    tendencial do valor de uso.

    Grupo de Trabalho n 9

    A produo do urbano: abordagens e mtodos de anlise

    1 Este trabalho parte da pesquisa de doutoramento em curso no Departamento de Geografia da

    Universidade de So Paulo, sob orientao da professora Odette Carvalho de Lima Seabra.

  • 2

    " Quando uma forma cria beleza tem na beleza sua prpria justificativa." ( NIEMEYER, 1980)

    Desde ento, ela sabe que a beleza um mundo trado. S possvel encontr-la quando seus

    perseguidores a esquecem por engano em algum lugar. A beleza est escondida atrs da decorao

    de um desfile de 1 de maio. Para encontr-la preciso rasgar a tela do cenrio. (KUNDERA,

    1985: 116)

    1. A forma como a nica funo: a Arquitetura Moderna Brasileira e

    suas contribuies ao espao espetacular

    A forma s esfora por existir em estado puro, como abstrao mental e como coisa social... O

    esforo da forma em busca de pureza, que impe sua lei e seu rigor, forma parte de sua fora. D-

    lhe uma fora: sua capacidade terrorista. (LEFEBVRE, 1964: 182/183)

    Ofereo aqui algumas consideraes sobre a tentativa de partir do problema em

    seu momento atual (cidade cenrio) em busca dos movimentos e processos que o

    antecederam. Neste percurso se torna de extrema relevncia abordar- ainda que com

    menor aprofundamento do que mereceria a imensido do tema- como a Arquitetura

    Moderna Brasileira, sobretudo seu maior expoente Oscar Niemeyer, pensava e propunha

    a forma na produo do espao urbano. Tomo como premissa as relaes e influncias

    que a escola brasileira tinha com o funcionalismo, sobretudo com Le Corbusier, visto

    que a relao forma e funo esteve onipresente no debate da arquitetura moderna no

    mundo todo. Entretanto, preciso avanar para alm do simples entendimento de que a

    arquitetura moderna realizou sua mxima na forma-funo, pois -como tentarei mostrar

    com o caso brasileiro ocorreu um deslocamento, um deslize que tornou a forma a

    prpria funo pondo de cabea para baixo a frase sntese de Le Corbusier.

    A forma no s expresso de um contedo no qual se adere, ou seu

    reflexo, mais que isso, sintetiza mais de um contedo em movimento,

    reunidos, reduzidos, reinterpretados pela forma, como se ela fosse um

    filtro. Pois a forma , ao contrrio dos contedos, que se do na

    dimenso do tempo, do movimento, a codificao, a formulao

    lgica, no limite ltimo, num sentido mais abstrato, a liberao

    aparente dos tempos do contedo ou dos contedos redefinidos e

    reorientados. A forma, por isso, pode dissimular contedos, agir seletivamente, tentar autonomizar-se frente a eles, purificada. Inversamente, ela pode antecipar e potencializar o que do mbitos

    dos contedos. (DAMIANI, 1999:52)

  • 3

    No tenho a menor pretenso (menor ainda aptido) em realizar uma crtica de

    arquitetura, o que se tenta buscar a compreenso da produo do espao e de sua atual

    fase espetacular, e por este caminho que a Arquitetura Moderna Brasileira e seu

    elevado vis esttico se tornam objeto desta anlise. Acredito que a magnitude e

    importncia que galgou a forma no/do espao urbano prpria do momento em que as

    relaes sociais esto inteiramente mediadas por imagens (DEBORD, 1997). Portanto,

    me debruo aqui sobre a questo da forma no debate arquitetural pois penso que sua

    elevao como questo central no espao urbano e na sua produo, oferece indcios,

    at mesmo evidncias do processo de espetacularizao do espao.

    Os camaradas que reivindicam uma nova arquitetura, uma arquitetura

    livre, tm de compreender que essa nova arquitetura no agir, no

    incio, sobre linhas e formas livre, poticas - no sentido que dado

    hoje a essas palavras pela pintura de abstrao lrica- mas sobre os

    efeitos de atmosfera dos aposentos, corredores, ruas, atmosfera ligada

    aos gestos que ela contm. A arquitetura deve avanar tomando como

    matria situaes emocionantes, mais do que formas emocionantes

    (DEBORD, 1957).

    De pronto, preciso dizer, embora tenha que voltar no tema para aprofund-lo,

    que quando se refere noo de espao espetacular no se pretende inventar

    absolutamente nada, mas dar nfase ao processo de espetacularizao, prprio de toda a

    sociedade, tambm se realizando no espao. O espao espetacular no nada mais do

    que a condio espacial prpria da Sociedade do Espetculo.

    A centralidade e elevao da forma sobrepondo-se funo (e para alm da

    funo aos demais usos possveis) d pistas da ampliao e do aprofundamento da

    organizao da aparncia ocupando totalmente a produo da cidade.

    A crtica da arquitetura, ao se mirar nos resultados aparentemente concretos

    dessa produo (a parede, o edifcio, o parque, o plano) inevitavelmente abandona as

    relaes sociais que os determinam e que por ela so determinada, desprezando assim,

    as formas sociais impostas pelo modo de produo (CARRASCO, 2011: 78).

    Tambm preciso dizer que a critica que tentarei fazer ao predomnio da forma

    sobre a funo na produo do espao pelos arquitetos modernos brasileiros

    (notoriamente e sobretudo Oscar Niemeyer) no vislumbra louvar a funo; muito

    pelo contrrio. A funo jamais foi capaz de salvar a forma, muito menos apresentar

    toda a potencialidade suficiente e prpria do vvido como tambm tentarei mostrar

  • 4

    aqui2. Os funcionalistas, pensaram a funo, mas esqueceram o uso e o desejo (desse

    modo contriburam ativamente com a queda tendencial do valor de uso), estes

    empecilhos tornariam terrvel o ato de planejar. evidentemente mais fcil pensar a

    tarefa, a obrigao. Entretanto, a vida no estritamente funo, e se fosse no seria a

    vida.

    Tambm preciso alertar de pronto o quo empobrecedor foi o entendimento

    funcionalista da cidade. Pois a cidade:

    [...]rene todos os nveis da realidade e da conscincia os grupos e

    suas estratgias, os sub-conjuntos ou sistemas sociais, a vida cotidiana

    e a festa, comportando um grande nmero de funes, a mais

    importante das quais esquecidas pelos funcionalistas que a funo

    ldica. Engloba coaes imperiosas e apropriaes rigorosas do tempo

    e do espao, da vida fsica e dos desejos(...) a cidade produto do

    possvel[...] LEFEBVRE, 1969: 164-165)

    Mas se a funo j seria pouco o que dizer da autonomizao radical3 (

    ARANTES, 2001) entre a forma e a funo, com ntido predomnio da forma?

    Definitivamente a utopia esttica, louvada e elevada ao extremo por Oscar

    Niemeyer, mostrou-se ineficaz no combate que o prprio discurso que esta mesma

    arquitetura propunha solucionar. A evoluo do capitalismo captura a esttica do

    edifcio e do monumento, e os vende no bojo dessa nova mercadoria que o espao.

    Mais do que isso a esttica do edifcio e do monumento so a sua prpria razo de ser. A

    argumentao de que as belas formas seriam transformadoras4 j no encontra lugar no

    discurso, e ainda menos da prtica. O que se sabe, com alguma clareza, que belas

    formas so mais atrativas e, de forma geral, se potencializam como mercadoria e

    potencializam o fetiche da mercadoria, sendo que por meio delas se procura preencher o

    vazio deixado pela drstica reduo das possibilidades de uso.

    possvel identificar j desde os primeiros anos de realizao da arquitetura

    moderna brasileira uma eminente preferncia pela forma puramente decorativa. Se faz

    2 Partindo, sobretudo, das numerosas crticas e anlises traadas pelos situacionistas sobre o funcionalimo

    e os funcionalistas. 3 No entanto, essa autonomia [da arquitetura e do arquiteto como sujeito do processo social] somente

    seria possvel de se realizar no campo da aparncia, pois, de fato, a arquitetura, assim como as demais

    atividades produtivas, segundo Marx (1983), aparecem como autonomizadas do sistema social. (CARRASCO, 2011:80) 4 Transformadoras de relaes sociais, pois no sentido imposto pelo mercado as belas formas, o que se

    produz e se intitula como tal- seguem sendo transformadoras do espao em valor de troca, de moradias

    em negcios, de fragmentos urbanos que ascendem, precificados, como referncia de cidade, por

    exemplo.

  • 5

    notrio, nesse sentido, a apresentao de Max Bill em So Paulo no ano de 1954 (BILL:

    2003), pois o expositor j naquele momento classifica o uso da forma livre na

    arquitetura brasileira no com o sentido de tornar mais til o edifcio (esses seriam

    casos excepcionais), mas com uma finalidade exclusivamente esttica e decorativa, em

    nada tem a ver com arquitetura sria. (BILL: 2003:159). A forma livre no Brasil

    esteve, desde muito cedo, livre da obrigao de ser feita para ser usada e apropriada.

    Ainda segundo Bill, a arquitetura brasileira buscou de toda maneira reproduzir sem

    pensar os preceitos corbusianos sem nenhuma atualizao ou crtica. Para ele, o carter

    anti-social dessa produo diz respeito a impossibilidade de realizar uma arquitetura

    moderna em um pas que no figura entre os pases centrais e que o processo de

    modernizao no alcanou os nveis de desenvolvimento das foras produtivas.

    (CARRASCO, 2011:103)

    profunda a constatao de Bill5 -ainda na dcada de 50- sobre a carter

    meramente decorativo da arquitetura moderna brasileira. Atravs dela, possvel

    localizar, desde seus primrdios, a esttica e a aparncia como fundamentos centrais

    desta escola arquitetural (funcionalismo) que reinou absoluta ao longo do sculo vinte.

    Ao que tudo indica, por aqui a mtrica da forma-funo se realizou quase que

    exclusivamente como funo decorativa da forma.

    A arquitetura brasileira para ser moderna realizou uma fratura entre a forma e o

    contedo, chegando possibilidade de compreende-la na contraposio de um ao outro,

    sendo que as formas eram efetivamente modernas, mas os contedos eram do atraso,

    como mostrou -de modo impecvel- ARANTES, 2001.

    No texto intitulado Formas e Funo da Arquitetura (NIEMEYER, 1980:57-

    60) Niemeyer faz uma notria defesa da forma livre e d o tom do que, ao nosso ver,

    caracteriza os fundamentos formais da moderna arquitetura brasileira sujeitada forma

    e sua esttica.

    [..]liberdade plstica quase ilimitada, liberdade que no se subordine

    servilmente s razes de determinadas tcnicas ou do funcionalismo,

    mas que constitua, em primeiro lugar, um convite imaginao, s

    coisas novas e belas, capazes de surpreender e emocionar pelo que

    representam de novo (NIEMEYER, 1980:57)

    Sem titubear Niemeyer marca seu lugar (e de algum modo o lugar da arquitetura

    5 No desconsideramos aqui que a crtica de Bill ao formalismo brasileiro eminentemente formalista.

    ver CARRASCO, 2011:105.

  • 6

    brasileira) dentro do funcionalismo sem funo, um funcionalismo de formas, aonde a

    forma funciona convencendo sem necessariamente ter funo. A forma de Niemeyer

    antes de ser livre ou bela o caminho persuasivo que constitui a operao fundamental

    de desprendimento entre ela e sua suposta funo. A arquitetura de Niemeyer se no

    inaugura radicaliza - um marco-; no processo de espetacularizao do espao. A forma

    um em si. A forma o prprio contedo. Sua funo: convencer e ludibriar.

    Sabe-se que a histria da Arquitetura Moderna Brasileira e de todos seus

    perodos e arquitetos problemticas, contraditria, e no pode ser resumida ou limitada

    ao que se procura abordar neste texto; entrentao de interessa relevante compreender a

    importncia que a forma, sua autonomizao radical, alcanou e se propagou. Alm

    disso, procura-se mostrar aqui no um histrico da Arquitetura Moderna Brasileira, mas

    o processo de autonomizao da forma colocada em curso antes mesmo de Braslia,

    dando evidncias elevao brutal das formas. Pois se a pretenso aqui discorrer

    sobre o desenvolvimento da cidade como cenrio no poderia ser deixado para trs a

    busca por seus elementos fundantes na realidade brasileira.

    Alm do mais, se no tnhamos uma base material, produtiva e social

    nos moldes requeridos por essa arquitetura, logo desenvolvemos uma

    tecnologia que parecia no ter outra finalidade do que a de facultar tais

    arroubos formais: a tecnologia do concreto, a mais avanada do

    mundo. Um caso tpico em que os meios tomam o lugar dos fins,

    ainda uma confirmao de que na sociedade atual a tcnica reduzida a

    fim em si mesmo transforma o til em seu contrrio. Uma tal

    arquitetura, ao tentar realizar os ideais estticos de uma obra

    autnoma, pura construo, facilitada pelos recursos tecnolgicos

    disponveis, no caso a tcnica do concreto armado, no contaminada

    por nenhuma considerao de ordem prtica ou utilitria, nada mais

    fez do que reproduzir, na pureza dos seus procedimentos, a lgica da prpria produo tecnolgica heternoma; e a finalidade sem fim, involuntariamente parodiada, passou a exprimir a falsidade do processo social no seu conjunto, ao qual em principio devia se opor. O

    vis esttico que se quis preservar na arquitetura brasileira, deslocado

    do social e, aparentemente, como toda a obra de arte que se preze, sem

    funo, acabou virando fetiche. Mais do que isso, acabou

    precisamente naquilo que alguns querem ver como desvio (positivo,

    claro), anti-racionalismo, ou originalidade, quem sabe at genialidade

    ou milagre (a expresso de Lcio Costa) na verdade, virtuosismo que trs plenamente luz (tropical) do dia o formalismo da Arquitetura Moderna. O que se viu por aqui talvez simplesmente

    tenha se apresentado como maior nitidez do que nos pases centrais:

    utopia modernista que, realizada, logo deixaria mostra o seu fundo

    falso enfim, os compromissos sistmicos que a exauriram, tanto quanto o modelo de desenvolvimento de que era caudatria (ARANTES,2001:108/109)

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    Mas a guinada rumo a forma em si, no exclusiva da Moderna Arquitetura

    Brasileira. No avanarei aqui, mas segundo Artigas o prprio Le Corbusier

    abandonava os princpios do racionalismo; refugiava-se nos termos estritos de sua

    definio de arquitetura e orientava os arquitetos do mundo inteiro, conhecido o seu

    prestgio, na direo de um tratamento exclusivamente plstico das formas (ARTIGAS,

    1986: 97)

    Nesse contexto, a forma plstica, o sistema construtivo, o programa de

    necessidades, a inteno simblica funcionaram como libis para

    justificar o isolamento das obras e sua aparente autonomia, ao

    contrrio do que argumentava Vilanova Artigas. A arquitetura aparece

    transmitindo a imagem de que as relaes que determinam a produo

    de suas obras nada tm a ver com as formas sociais determinadas pelo

    modo de produo vigente ou pelo modelo assumido pelo Estado

    naquele momento, ou, ainda, transmitindo a imagem que essas obras

    poderiam, por meio de mtodos prprios, constituir algum processo de

    transformao do mundo, caracterizando uma abordagem pautada pelo

    fetichismo da mercadoria, segundo a elaborao clssica de Marx.

    (CARRASCO,2011: 118)

    A crtica a forma que procuramos realizar no quela em seus padres estticos

    ou ainda sua ciso com a funo (estamos cientes de que a funo muito pouco!).

    Interessa a esta pesquisa identificar o processo em que a forma (do espao, dos

    edifcios, da cidade) tornou-se crucial reproduo forma da mercadoria. Estou em

    busca desta operao em que a forma prescinde dos contedos para se realizar como

    mercadoria, ou melhor a forma torna-se, dialticamente, o prprio contedo da

    mercadoria. preciso lembrar que s em uma sociedade aonde o fetiche da mercadoria

    atingiu um elevado e profundo grau de efetivao possvel pensar na existncia das

    formas arquiteturais se realizando e realizando a mercadoria prescindindo do valor de

    uso e da funo. Na sociedade do espetculo a arquitetura deve aparecer, para (no) ser.

    Ou melhor, aparecer sua prpria razo de ser. A concretude da arquitetura passa a

    realiz-la enquanto abstrao real6. Ou seja, a elevao da forma no foi uma escolha

    movida por padres de beleza7, ou gosto, ou ainda mesmo pelo racional, isso ocorreu

    pois desse modo se viabilizou uma possvel e potente forma de reproduo do capital:

    o vis esttico enaltecido como marca nacional expunha afinal luz (tropical) do dia o

    6 O ttulo de um dos textos da tese de Andr CARRASCO (2011): O concreto como abstrato, deixa

    isso claro. 7 A realizao da arquitetura no consistia, portanto, na construo do belo ou do racional, como

    avaliavam os crticos tradicionais, mas na realizao dos produtos enquanto mercadorias, cujo sentido da

    produo , conscientemente ou no, a reproduo do capital. ( CARRASCO, 2011:123)

  • 8

    formalismo integral a abstrao mesma do espao ordenado pelo capital

    contrabandeada no fundo falso do Movimento Moderno (ARANTES, 1997:128).

    Portanto, a associao entre forma e funo foi perdendo sua paridade ainda

    dentro da realizao arquitetura moderna. Nota-se em arquitetos modernistas uma

    sobreposio das formas sobre as estruturas, sendo talvez Oscar Niemayer quem levou

    a cabo com maior fora a elevao da forma em detrimento da funo. No momento

    atual, a forma elevada a um estgio fantasmagrico e seu atrelamento , em muitos

    casos, mais profundo com a imagem de si mesma do que com a funo que

    supostamente a preencheria. Convm certamente apontar que a crise do trabalho pe em

    questo a necessidade da funo. Porque os espaos (edifcios, prdios, etc.) j no

    precisam ter funcionalidade (serem produtivos) no momento em que o dinheiro se

    movimenta por si s; desassociado da produo, e portanto da necessidade de

    funcionalidade do espao construdo. A proposta de Le Corbusier digna dos tempos

    em que a reproduo do capital se dava por meio da produo de mercadorias e da

    extrao de mais-valia (posta em cheque pela ficcionalizao?). Nesse estgio o

    casamento entre forma e funo era imprescindvel (vide o taylorismo). O processo que

    culminou na elevao do dinheiro aos cus (KURZ, 2011) recondicionou a relao

    forma e funo, elevando o espetculo a nveis ainda maiores. O automovimento do

    dinheiro atrela-se imagem autonomizada do espao urbano, reduzindo a forma a

    aparncia separando-a da funo. O capital fictcio se espacializa e o espao se

    ficcionaliza.

    A forma to essencial essncia quanto esta essencial a si mesma,

    no se pode apreender e exprimir a essncia como essncia apenas,

    isto , como substncia imediata ou pura auto-intuio do divino.

    Deve exprimir-se igualmente como forma e em toda a riqueza da

    forma desenvolvida, pois s assim a essncia captada e expressa

    como algo efetivo. (HEGEL, 1992:30)

    2. A produo da cidade como cenrio: queda tendencial do valor de

    uso, alienao espacial e planejamento espetacular

    possvel que o urbanismo seja capaz de fundir todas as antigas formas de

    publicidades em uma nica publicidade do urbanismo. ( Internacional Situacionista

    n.6 de 1961)

  • 9

    A noo de cidade como cenrio no nova, nem foi inventada aqui. possvel

    se deparar com ela em mais de um texto dos Situacionistas. Inclusive, em um destes

    textos a cidade cenarizada foi utilizada pelos Situacionistas para se referir e criticar a

    arquitetura de Braslia e, evidentemente, sua participao na arquitetura moderna e no

    projeto funcionalista.

    Em Braslia a arquitetura funcional se revela, em seu pleno

    desenvolvimento, como a arquitetura dos funcionrios, o instrumento

    e o microcosmos da Weltanschauung burocrtica. Se pode notar que,

    onde o capitalismo burocrtico e planificador j construiu o seu

    cenrio, o condicionamento est to aperfeioado, a margem de

    escolha dos indivduos e to pequena, que a prtica to essencial para

    ele, como a publicidade, que correspondeu a um estgio mais

    anrquico da concorrncia, tende a desaparecer na maioria de suas

    formas e suportes. (INTERNACIONAL SITUACIONISTA n.6 de

    1961, p.177)

    A noo de cenrio aparece mais uma vez nos textos situacionistas da revista

    nmero 6. no texto; Crtica del urbanismo (sem declarao autoral) escrevem:

    [...]la sociedad burocrtica de consumo, comienza a modelar por todas

    partes su propio escenario. Esta sociedad construye con las nuevas

    ciudades el terreno que la representa exactamente, que rene las

    condiciones ms adecuadas para su buen funcionamiento; al mismo

    tiempo que traduce en el espacio, en el lenguaje claro de la

    organizacin de la vida cotidiana, su principio fundamental de

    alienacin y de coaccin. Por tanto, es igualmente ah donde van a

    manifestarse con ms nitidez los nuevos aspectos de la crisis.

    (INTERNACIONAL SITUACIONISTA n.6, 1961:176. Grifo deles).

    Neste potente texto, uma das crticas mais vorazes j escritas sobre urbanismo,

    os situacionistas afirmam ainda que aqueles que falam do poder do urbanismo tentam

    fazer esquecer que no fazem mais do que o urbanismo do poder. Para eles o

    urbanismo um inimigo da vida urbana. um fragmento do poder social que pretende

    representar uma totalidade coerente, sendo o lugar por excelncia da mentira social, do

    espetculo organizado organizando a cidade. Tais observaes so bastante elucidativas

    para pensar nas atuais condies da reproduo do urbano e das estratgia de

    planificao em curso para a Copa de 2014, j que mais que transformaes espaciais

    estas obras produzem e vendem expectativas ilusrias. As mentiras envoltas na

    produo do espao produzem o espao como mentira A alienao espacial

  • 10

    reintegrada sob -supostos- novos pilares.

    J em Comentrios contra o urbanismo Raoul Vaneigem afirma: Esta vez se

    trata de organizar escnicamente el espetculo em la vida cotidiana[...] (I.S n.6, 1961,

    p.201). Nota-se que a idia de cenrio abordada por alguns situacionistas, e presente em

    mais de um texto da revista nmero 6, no destinada exclusivamente forma da

    cidade, ou a seu uso pelo sistema miditico de falsa comunicao, o cenrio a que se

    referem, e Vaneigem deixa evidente na frase exposta acima, avana por todos os lados e

    momentos do cotidiano; o cenrio como o entendimento e a forma de vivenciar o espao

    na proposio (e imposio) do espetculo. O cenrio como uma forma de impor

    contedos, no como uma paisagem inerte, neutra. Assim: La educacin capitalista del

    espacio es la educacin en un espacio donde perdemos nuestra sombra, donde acabamos

    perdindonos a fuerza de buscarnos en lo que no somos. (I.S n.6, 1961, p.201). A

    noo de cenrio atrelada sobrevivncia ampliada, ao domnio completo da

    mercadoria sobre a cotidianidade e seus espaos de realizao; trata-se do pice do

    processo de organizao da aparncia em todos os nveis da espacialidade e do vvido.

    Por isso, insisto que a produo da cidade como cenrio no uma proposio

    nova e nem to pouco de minha autoria, se trata de uma apropriao dos debates

    situacionistas, sobretudo daqueles que podem ser considerados iniciados na revista

    nmero 6, ps sada de Constant (bem como de Gallizio e Jorn). Convm rapidamente

    ressaltar que com a sada do chamado grupo dos artistas, nitidamente marcado na

    revista nmero 5 da I.S, os Situacionistas aprofundam a crtica ao urbanismo, tambm

    por isso a revista seguinte (n.6) carregada por este debate.

    O entendimento de espao espetacular, bem como de cidade como cenrio, que

    ser proposto aqui, deve percorrer o caminho de entendimento da produo do urbano

    posta no bojo da reproduo das relaes de produo como apontou Henri Lefebvre.

    Ento, o urbano no pode mais ser entendido exclusivamente como um viabilizador da

    reproduo ampliada do capital; ele prprio torna-se um meio para tal. A produo do

    urbano como mercadoria, salientou tambm Lefebvre (2000), no pode ser entendido se

    considerado como uma outra mercadoria qualquer. Mas, ao mesmo tempo, a produo

    do urbano j no pode mais ser compreendida se descartada a potncia da

    espetacularizao da sociedade e das suas relaes de produo. O espao espetacular

    no pode ser compreendido sem a produo do espao, nos termos postos por Henri

    Lefebvre. Entretanto, no s a do urbano, mas toda as formas de produo e de

  • 11

    reproduo se espetacularizam8. Isso quer dizer que, seja nas relaes sociais ou de

    produo, a sofisticao e a dimenso da realizao do fetiche da mercadoria avanaram

    por todos os momentos e em todos os lugares do planeta. Nenhuma produo, muito

    menos a do urbano, poder ser compreendida se descartada a realizao do espetculo

    na totalidade do processo social. A produo do espao espetacular pois todas as

    produes o so. Quando se fala aqui de espao espetacular - insisto- no busco nenhum

    privilgio ou inovao, mas sim o devido destaque inerente e inevitvel relao entre

    os termos. A produo do espao espetacular se d no momento em que a reproduo

    das relaes sociais, bem como das relaes de produo, so postas espetacularmente.

    A cidade posta como cenrio no inaugura a relao do capital com o espao,

    nem to pouco a fixao do capital no espao. A cenarizao recondiciona a forma de

    efetivao do capital no espao.

    Para obter algum xito na busca que aqui me proponho, convm insistir no

    esforo feito por Lefebvre na busca pelo entendimento da problemtica do espao. Isso

    porque o entendimento do espao espetacular no se d pelo entendimento de certos

    objetos no espao. Seria impossvel desvendar a cidade como cenrio enumerando

    objetos (prdios, esttuas, lugares cartes postais) no espao. A problemtica da cidade

    cenrio a problemtica do espao, da sua produo. As novas relaes espaciais que se

    desenvolvem com a constituio da cidade como cenrio, no podem ser entendidas

    atravs de uma coleo de particularidades ou casos especficos9, e aqui fica claro um

    encontro, um compartilhamento entre a necessidade de compreender a produo do

    espao (seu movimento, suas contradies, e no o espao como um em si) elaborada

    por Lefebvre e a necessidade de compreender a sociedade do espetculo como uma

    totalidade, um conjunto de relaes sociais e espaciais (e no s pelo que passa nos

    canais de comunicao em massa, ou em determinados momentos em que tornam-se

    gritantes a autonomia da imagem) desenvolvida por Debord. De modo que [...] o

    8 Considerado em sua totalidade, o espetculo ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de

    produo existente. No um suplemento do mundo real, uma decorao que lhe acrescentada. o

    mago do irrealismmo da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares -informao, ou

    propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos-, o espetculo constitui o modelo atual da

    vida dominante na sociedade. a afirmao onipresente da escolha j feita na produo, e o consumo que

    decorre desta escolha. Forma e contedo do espetculo so, de modo idntico, a justificativa total das

    condies e dos fins do sistema existente. O espetculo tambm a presena permanente dessa

    justificativa, como ocupao da maior parte do tempo vivido fora da produo moderna. (DEBORD, 1997:14/15) 9 Embora tambm os casos especficos e particulares sejam poderosos, at mesmo fundamentais, para o

    entendimento da totalidade, mas sempre quando postos em relao de inerncia com ela. Isolados, em si,

    no explicam nada.

  • 12

    capital passa a ser representado na forma de uma paisagem fsica, criada sua prpria

    imagem[...] (HARVEY, 2005:53) Trata-se da condio posta por uma sociedade que

    separa a razo do sujeito da atividade que ele produz e de seu prprio tempo

    (DEBORD,1997:49).

    Tambm a alienao espacial condio fundamental no entendimento da cidade

    tornada cenrio. A separao do sujeito do espao, e de suas possibilidades de uso e

    apropriao o sujeitam a um grau brutal de ciso entre ele e o espao que ocupa. A

    produo do espao espetacular aprofunda substancialmente tal ciso e a

    impossibilidade de apropriao e de uso reduzida ao nvel do olhar e do olho. No

    qualquer olhar, mas quele do qual j falava Marx nos Manuscritos de Paris:

    O olho se tornou olho humano, tanto subjetiva, como objetivamente.

    O olho se tornou um objeto social, humano, proveniente do homem

    para o homem. Por isso, imediatamente em sua prxis, os sentidos se

    tornaram teorticos. Relacionam-se com a coisa por querer a coisa,

    mas a coisa mesma um comportamento humano objetivo consigo

    prpria e com o homem, e vice-versa. Eu s posso, em termos

    prticos, relacionar-me humanamente com a coisa se a coisa se

    relaciona humanamente com o homem. [] Da mesma maneira, os sentidos e o esprito do outro homem se

    tornaram a minha prpria apropriao. Alm desses rgos imediatos

    formaram-se, por isso, rgos sociais, na forma da sociedade, logo,

    por exemplo, a atividade em imediata sociedade com outros etc.,

    tornou-se um rgo da minha externao de vida e de um modo de

    apropriao da vida humana. ( MARX, 2004:109)

    possvel identificar nos Manuscritos de Marx algumas das primeiras

    decorrncias da alienao espacial oriundas da ciso entre o produtor e seu produto que

    culminam na separao espacial entre o produtor e o produzido, fazendo com que

    aquele sequer se d conta para aonde e para quem vai este. De forma que possvel

    afirmar que a alienao espacial surge e se desenvolve como parte imanente da

    alienao prpria da modernidade, do desenvolvimento industrial. A complexidade que

    assume o moderno sistema produtor de mercadoria ao longo das ltimas dcadas amplia

    no s as noes de produo e de mercadoria, mas tambm a de alienao espacial. O

    produtor se v destitudo de muito mais do que o que produz; v todos os momentos de

    sua vida produzida como mercadoria; sendo que sua insero no espao social

    recoberta por uma infinidade sobreposta de mercadorias sendo produzidas e

    reproduzidas, dificultando ainda mais o que poderamos chamar de conscincia

    espacial. A sofisticao adquirida pela reproduo social no exclusivamente a de

  • 13

    seus produtos (e das tecnologias neles aplicadas), mas tambm e principalmente- a

    sofisticao envolta na reproduo da sociedade enquanto tal. A alienao espacial pode

    ento ser posicionada como parte relevante, parte intrnseca, da reproduo social e das

    relaes sociais de produo. Seu devido entendimento deve atingir o lugar ocupado

    pelo cotidiano no mundo da mercadoria, bem como o processo de urbanizao da

    sociedade e da crise da cidade.

    A alienao espacial tambm d mostras da queda tendencial do valor de uso, o

    espao tornado mercadoria repele o uso, como tem sido tendencial s demais

    mercadorias, tambm o espao porta fatias cada vez menores de valor de uso,

    ampliando assim abruptamente o processo de alienao espacial pois inviabiliza a

    apropriao. na separao entre valor de troca e de uso que a dialtica entre

    necessidades e desejos (que moveu a parte da preocupao e dos estudos de Henri

    Lefebvre em Critique de la Vie Quotidienne vol.2) ganha substncia e se torna

    elementar para a realizao da sociedade espetacular. Se a reproduo da mercadoria j

    no movida pela sua utilidade o que a move ento? E quando falamos do espao

    enquanto mercadoria, se oferecido e vendido no mais por suas possibilidades de uso,

    o que vende o espao se no a possibilidade de us-lo? Seria possvel a reproduo

    dessas mercadorias em uma sociedade que no produzisse o fetiche ao reproduzi-las?

    A alienao espacial se exemplifica em todos os objetos que representam o

    espao no lugar do espao, mas para muito alm disso, ela se reproduz convencendo de

    que o ver igual (melhor do que ) ao usar. tentativa de compreender a alienao

    espacial posta por Debord deve se juntar outra preocupao deste mesmo autor quela

    com a queda tendencial do valor de uso. A alienao espacial se realiza na era da

    reprodutibilidade tcnica do cotidiano que coloca a inviabilidade do uso em questo. O

    espetculo se realiza inviabilizando o uso e o valor de uso. A cidade vendida como

    imagem autonomizada da materialidade concreta permite pensar novos percursos e

    inseres da trade de Lefebvre10

    que envolve as representaes do espao, os espaos

    de representao e a prtica espacial.11

    O espao espetacular, sua produo, no se faz necessariamente com uma

    produo fsica, com uma construo. A produo do espao espetacular, em muitos

    10

    Ver La production de l'espace(LEFEBVRE, 2000: 48/49) 11

    Ver Cludio Duarte em sua tese de doutoramento trs elementos que auxiliam no pensamento de uma

    dialtica negativa do espao e na realizao do tempo tornando-se realidade do espao abstrato (DUARTE, 2010). Lukcs (2003) afirma que o emprego do tempo importante na compreenso da

    espacialidade. O conceito de tempo espacializado tambm redirecionado na autonomizao do espao

    como imagem.

  • 14

    casos, no requer nem um nico tijolo, nem um nico engenheiro, arquiteto ou pedreiro.

    Os publicitrios aparecem como novos urbanistas do espao tornado cenrio. Os

    marqueteiros ganham o estatus de engenheiro da cidade reduzida imagem. O vivido

    reduzido ao visto.

    A produo do espao espetacular se faz muito mais da produo de relaes

    sociais mediadas por imagens e de um discurso sobre o espao do que sobre a produo

    do espao propriamente dito, embora no necessariamente a exclua. Os ramos que

    comercializam o espao, sobretudo o turismo a propaganda e o urbanismo, se

    beneficiam profundamente deste processo que se instala, pois j abandonam a misso

    impossvel de convencer os consumidores de que estes vivero grandes emoes e que

    suas vidas tero momentos potentes e irradiantes se viajarem a determinado lugar. Os

    comerciantes do espao, talvez cientes da impossibilidade de viver, passam a vender o

    direito, o prazer de ver ao vivo. O fetiche de estar em determinados lugares est

    profundamente dissociado da possibilidade de us-lo, limita-se ao v-lo ao registro

    imagtico (fotogrfico ou em vdeo)12

    .

    Deturpando Newton: Os corpos s existem assistindo o espao.

    A identificao da/e com a cidade tornada cenrio pode ser medida, no plano do

    cotidiano, pela profuso dos registros imagticos do espao urbano. cada vez maior e

    mais comum a realizao de fotos e de vdeos nos mais diferentes lugares, chegando ao

    ponto em que acontecimentos banais passam a ser sistematicamente registrados ou

    casos em que o sujeito est presente (num jogo de futebol, num show, numa exposio)

    mas v tudo pela cmara de filmar/fotografar.

    Se o espetculo faz do vivido pura representao; o espao, a cidade,

    inevitavelmente s pode se realizar como cenrio. O movimento tautolgico do

    espetculo desqualifica as potencialidades do lugar, colocando-o o tempo todo em sua

    recolocao como imagem de si mesmo, de modo que a imagem passa a dar mais

    significado ao lugar do que propriamente o lugar, do que o prprio lugar. Por isso,

    muitas vezes, e possivelmente cada vez mais, o turismo satisfaz menos13

    . A construo

    fetichista que foi feita do lugar no corresponde ao que o lugar. O lugar torna-se

    menos potente que o conjunto de imagens que dele se constituiu14

    . Sendo o cotidiano,

    12

    At pouco tempo serem vistas em muros de So Paulo, inclusive nos muros do shopping Eldorado-

    rogavam por ver a cidade num apelo que sintetizou bem a alienao posta como elucidao. Como se ver a cidade no fosse tudo o que restou, mas algo a ser buscado. 13

    Sobre isto imprescindvel recorrer DEBORD, 1957 14

    O tempo da sobrevivncia moderna deve, no espetculo, tanto mais vangloriar-se quanto menor for

  • 15

    sua realizao, inerente ao plano do lugar, o que j era abismo agora pode ser

    naturalmente preenchido de vazio15

    . A alienao espacial fere de morte o espao

    apropriado.

    Tudo o que era vivido diretamente tornou-se representao, fazendo a vida das

    sociedades modernas uma imensa acumulao de espetculos (DEBORD, 1997:13).

    Isso porque: [...]o mundo real se transforma em simples imagens[...] o mundo j no

    pode se tocar diretamente, serve-se da viso como sentido privilegiado da pessoa

    humana. (DEBORD, 1997:18)

    No texto que apresentei ao XIISIMBURB (GONALVES, 2011) procurei

    avanar no entendimento do atual estgio da alienao espacial, relacionando-a com o

    atual momento crtico de reproduo do capitalismo que se debrua sobre o espao em

    busca de lucro, e que para isso no se importa de por fim, por exemplo, relaes de

    vizinhana ou formas de apropriao dos lugares. A lgica abstrata da mercadoria

    abstrai as condies e caractersticas do espao (apropriado, vivido) tornando-o espao

    abstrato. As estratgias de revitalizao urbana, ou as chamadas operaes urbanas so

    exemplos gritantes da forma de planejar o espao assentadas na alienao espacial, visto

    que ignoram que a vida e os corpos ocupam e atuam sobre um espao real, tornado

    apropriado por meio de aes, ao longo de um transcorrer temporal, posto em

    movimento e constitudo por relaes entre seres humanos.

    No obstante as decorrncias da alienao espacial na contemporaneidade no

    cessam por a. A cenarizao impe novos caminhos, sobrepe alienaes, ratificando

    outras estratgias, e novas alienaes, por cima das j existentes. A alienao espacial se

    realiza agora negando tambm a materialidade do espao, o espao concreto. Isso por

    meio do convencimento de uma nova concepo do espao; um espao imagtico, no

    espacial, simplesmente visual. A alienao espacial atingiu tal grau de complexidade

    que prescinde do espao (real) para se realizar. O espetculo atua fazendo crer que

    espao tudo aquilo que se pode ver16. A especializao das imagens do mundo se

    realiza no mundo da imagem autonomizada (DEBORD, 1997:13).

    A fragmentao do espao adentra novas condies de existncia e de realizao

    seu valor de uso. A realidade do tempo foi substituda pela publicidade do tempo. (DEBORD, 1997:106) 15

    No toa que os Situacionistas falaram em: Sociedade do consumo do vazio (INTERNACIONAL SITUACIONISTA, SESSO ITALIANA, 2007:239) 16

    O espetculo na sociedade corresponde a uma fabricao concreta da alienao. (DEBORD, 1997:24)

  • 16

    no urbano17

    pois como imagem a ser exposta em tela as partes desconexas ganham

    novos sentidos e so imbricadas de acordo com as sensaes, sentidos e sentimentos

    que se quer passar (vender).Enquanto cenrio, a cidade s pode se realizar enquanto

    fragmentos, dispersos e ilusriamente reunidos.

    Se o aprofundamento da cidade como cenrio trs fragmentao nova

    existncia, a segregao tambm adquire nova condio, e para alegria dos tecnocratas

    envaidecidos, lugares segregados deixam de existir nas cidades em que a exposio das

    imagens mais real que a realidade. Isso porque por meio da edio de imagens,

    tcnicos de vdeo e de edio, por exemplo, conseguem com facilidade eliminar lugares

    da cidade realizando o sonho de urbanistas e sanitaristas de eliminar as formas

    esteticamente inadequadas no cenrio urbano: leia-se, em geral, pobreza.

    A paisagem tambm resignificada ganhando um status significativo, no

    aquele que rogavam os fenomenlogos, pois ela agora deve ser lida numa complexa

    simbiose que une a vitrine mercadoria exposta por ela. A cidade reduzida cenrio

    submete o espao paisagem. A autonomizao da paisagem fundindo a vitrine ao

    produto trs novas derivaes espacialidade enquanto mercadoria.

    A busca pela produo de lugares espetaculares a busca pela valorizao

    (precificao18

    ) do espao tornado, reduzido imagem. Ento, possvel falar em uma

    assim chamada acumulao primitiva do espao espetacular, pois atravs da

    expropriao dos contedos e da incessante exposio de imagens de um certo lugar ou

    edifico (eliminando seu pulso real, autonomizando a imagem, criando um iderio e

    17

    A separao o alfa e o omega do espetculo. (DEBORD, 1997:21) 18

    O prprio termo valorizao deve ser repensado. Levando em conta as premissas desenvolvidas por Marx nos Grundrisse (MARX, 2011) assim como no Capital (MARX, 1985), a produo de valor se d

    na relao entre capital e trabalho, ou seja, o trabalho a substncia do valor. Kurz (KURZ, 2004)

    enftico ao afirmar que o crescente desenvolvimento das foras produtivas minou a capacidade do capital

    explorar trabalho o que gerou uma crise da valorizao do valor atrelada queda tendencial da taxa de

    lucro. Ainda segundo Kurz (KURZ, 2004) est crise leva a um processo de automovimento do dinheiro,

    fazendo com que a reproduo do capital seja realizada de forma fictcia. Cabe a ns durante esta

    pesquisa buscar o aprofundamento do entendimento desta problemtica por meio do estudo da produo

    do espao urbano para a Copa de 2014. At que ponto, nas transformaes urbanas voltadas Copa de

    2014, os fundamentos de reproduo do capital esto dados pela relao entre capital e trabalho? At que

    ponto as cidades como cenrio no so um dos meios para realizar o movimento autnomo (e tautolgico)

    do dinheiro e do capital fictcio? Por isso, bem provvel que o termo valorizao no seja o mais

    adequado para designar o aumento de preos do espao urbano brasileiro voltado para a Copa de 2014, j

    que o aumento dos preos das propriedades urbanas no esto necessariamente sendo gerados pela

    relao capital-trabalho. Tendo isso em vista optamos, ainda que provisoriamente, neste projeto de

    pesquisa pela utilizao do termo precificao, em detrimento do conceito de valorizao; buscando

    assim evidenciar que o aumento dos preos das propriedades nas cidades que sero sede na Copa de 2014

    no se d pelo processo de valorizao, mas envolto pela especulao imobiliria, agora tambm se

    fazendo valer da imagem, para mover o aumento dos preos de maneira desvinculada da produo do

    valor.

  • 17

    uma forma de ver) que se produz a espetacularizao do espao. Assim, quanto maior

    for a profuso de imagens autonomizadas atreladas expropriao de contedos e usos

    maior a potncia (e o preo!!) do lugar-cenrio. No seria a pasteurizao uma condio

    inerente da produo espetacular?

    O processo vai do espao abstrato abstrao do espao. A abstrao real

    abstraindo a realidade: o real reduzido imagem.

    A produo do urbano como cenrio reitera o fim da cidade.

    A realidade passa a existir depois de tornada e mediada pela imagem.

    A noo de cidade, sua unidade e realizao s so possveis no plano da

    aparncia organizada, pois o processo de industrializao gerou a imploso-exploso

    (Lefebvre revoluo urbana). A cidade ento s pode existir como iluso espetacular por

    meio de uma operao de monoplio da aparncia (DEBORD, 1997). O mundo

    produzido como imagem no mais uma construo no espao. A cidade agora apenas

    uma imagem desenhada num papel publicitrio. Trata-se de uma arquitetura de

    imagens. (PEIXOTO, 1997:40)

    A solidificao da imagem a rarefao do que sobrou da cidade. Certos

    museus, praas, centros culturais e esportivos, estdios, parques,etc.; possuem a

    capacidade de elevar a cidade aos cus, elevando alguns de seus fragmentos, ao

    mesmo tempo, que no plano do discurso imagtico constri, a partir destes fragmentos

    uma falsa unidade. O que a exploso-imploso fez com a cidade a sua produo como

    cenrio procura desfazer. A anlise da cidade cenarizada passa necessariamente pela

    compreenso de novas formas de realizao do lugar urbano fragmentado e da cidade

    como conjunto. H uma nova dialtica entre o fragmentos e o conjunto e sua relao

    posta ilusoriamente pela cenarizao.

    Definitivamente o urbanismo em sua fase espetacular desistiu do urbano em sua

    totalidade19

    . Ento, por meio de uma operao que s mesmo a espetacularizao das

    relaes sociais e de produo poderia ter permitido, o urbanismo se detm a produzir

    os fragmentos falsamente enquanto totalidade. Tal condio no pode se compreendida

    sem a noo de imploso-exploso da cidade posta por Henri Lefebvre, isso porque

    desse processo que realmente a cidade e seu iderio de conjunto convalescem dando

    lugar a uma urbanizao fragmentria e totalitria. A maior obra do urbanismo

    19

    O fragmento elegido em totalidade o totalitrio. (VANEIGEM, 1962:317) En un fragmento erigido en totalidad, cada parcela es ella misma totalitaria. (VANEIGEM, 1962:318) En la perspectiva de la praxis todo fragmento es totalidad. (VANEIGEM, 1962:319)

  • 18

    espetacular (em tamanho e em qualidade) , sem dvida, a autonomizao dos

    fragmentos -falsamente- como totalidade.

    O planejamento espetacular a falsa resposta ao verdadeiro problema da

    urbanizao crtica nos termos de Amlia Luisa Damiani. Tambm aqui, como no caso

    da espao espetacular (ou da produo espetacular do espao) no se trata de uma

    descoberta ou de uma novidade, mas sobretudo de dar nfase processos j postos pela

    Sociedade do Espetculo. O planejamento espetacular um momento necessrio da

    produo da cidade como cenrio, e isso, como j foi dito, pode passar por uma forma

    de produo do espao realizada muito mais por publicitrios do que por engenheiros e

    arquitetos. Visto que no cerne da noo de planejamento espetacular est a produo do

    espao abstrato e do espao como abstrao. O conjunto de aes que move o

    planejamento espetacular no cessa nas intervenes e projetos espaciais, pelo

    contrrio, avana persuasivamente como propaganda. O planejamento espetacular

    aquele que produz o espao no conjunto das relaes sociais mediadas por imagens.

    Mais do que produzir propriamente o espao deve produzir uma imagem atraente e

    supostamente coerente dele. No h planejamento espetacular sem um discurso sobre o

    espao. Todo planejamento espetacular tambm uma tentativa de reproduzir o capital

    em sua fase crtica.

    Se a urbanizao crtica evidenciou os limites do planejamento, a possibilidade

    de realiz-lo como fragmento que se coloca falsamente como totalidade ativou sua nova

    fase espetacular. O que a realidade crtica do urbano inviabilizou, a realizao do

    espetculo e suas decorrncias no espao urbano trouxeram tona. O planejamento

    espetacular anuncia o fim e a impossibilidade do planejamento.

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