130
FACULDADE NOVOS HORIZONTES Programa de Pós-graduação em Administração Mestrado GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em cooperativas de crédito de Belo Horizonte Edgard Gonçalves da Costa Belo Horizonte 2015

GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

FACULDADE NOVOS HORIZONTES

Programa de Pós-graduação em Administração

Mestrado

GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em

cooperativas de crédito de Belo Horizonte

Edgard Gonçalves da Costa

Belo Horizonte

2015

Page 2: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

Edgard Gonçalves da Costa

GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em cooperativas de crédito de Belo Horizonte

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Faculdade Novos Horizontes, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Administração. Professor: Dr. Alfredo Alves de Oliveira Melo. Linha de pesquisa: Tecnologias de Gestão e Competitividade. Área de Concentração: Organização e Estratégia

Belo Horizonte

2015

Page 3: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

ATA DE DEFESA

Page 4: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

DECLARAÇÃO DE REVISÃO DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Page 5: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

Em nome do pai e do filho, ao Edgard.

Page 6: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

AGRADECIMENTOS

Ao professor Alfredo, pelas valorosas dicas e palavras de incentivo.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho,

especialmente, ao Alex José.

Page 7: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo investigar os conflitos de agência nas cooperativas de crédito de Belo Horizonte. Destacaram-se no referencial teórico deste trabalho as contribuições de Jensen e Meckling (1976), Tosini; Bastos (2008), Ventura (2009), Moura Costa; Azevedo (2010), Trindade; Bialoskorski Neto (2012), Lima (2014) e Francisco (2014), dentre outros autores utilizados para compor as reflexões sobre os temas governança corporativa e conflito de agência. A pesquisa é descritiva e a metodologia aplicada é a abordagem qualitativa a partir de estudo de casos em duas cooperativas de crédito que adotam a gestão por delegação. Utilizou-se como instrumento de pesquisa, a realização de entrevista com cooperados, visando entender quais conflitos apontados na literatura estão presentes nas cooperativas de crédito de Belo Horizonte. Assim, como os demais tipos cooperativistas, as cooperativas de crédito se apresentam como alternativa a este processo de construção da cidadania, uma vez que busca inserir os marginalizados na economia, enquanto sujeitos capazes de fazer valer sua capacidade empreendedora e de obtenção de crédito. As cooperativas são organizações complexas cuja propriedade é difusa, dificultando a participação direta de todos os seus membros no processo de gestão e de tomada de decisão. Neste contexto, em virtude da assimetria de informações, dificuldade de monitoramento das ações dos gestores e divergência de interesses entre o agente e o principal, ocorre o processo de delegação de competências para outros membros, permitindo que terceiros exerçam em seu nome o controle formal da instituição. Palavras chaves: Cooperativas de crédito. Conflitos de agência. Delegação de competência.

Page 8: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

ABSTRACT

This study aimed to investigate the agency conflicts in the Belo Horizonte credit unions. They stood out in the theoretical framework of this work the contributions of Jensen e Meckling (1976), Tosini; Bastos (2008), Ventura (2009), Moura Costa; Azevedo (2010), Trinidad; Bialoskorski Neto (2012), Lima (2014) and Francisco (2014), among others have used to compose the reflections on the topics corporate governance and agency conflict. The research is descriptive and the applied methodology is the qualitative approach from case studies in two credit unions that have adopted management by delegation. It was used as a research tool, conducting interviews with members, in order to understand what conflicts identified in literature are present in the Belo Horizonte credit unions. Thus, like other cooperative types, credit unions present themselves as an alternative to this process of building citizenship, since seeking to enter the marginalized in the economy, as subjects able to enforce their entrepreneurship and obtaining credit. Cooperatives are complex organizations whose property is diffuse, making the direct participation of all its members in the management and decision-making process. In this context, because of information asymmetry, difficulty in monitoring the actions of managers and divergence of interests between the agent and the principal, is the powers delegated process for other members, allowing third parties to exercise on their behalf the formal control institution. Key words: credit unions. Conflicts of agency. Delegation of powers.

Page 9: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

LISTA DE SIGLAS

ACI - Aliança Cooperativa Internacional AGE - Assembleia Geral BACEN - Banco Central do Brasil BANCOOB - Banco Cooperativo do Brasil CRESOL - Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária EUA - Estados Unidos da América FRENCOOP - Frente Parlamentar do Cooperativismo ICBA - Associação Internacional dos Bancos Cooperativos OCA - Organização das Cooperativas da América OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCEs - Organizações das Cooperativas Estaduais OQS - Organização do Quadro Social SENAES - Secretaria Nacional de Economia Solidária SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SICOOB - Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil SICREDIPIONEIRA - Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Pioneira da Serra Gaúcha UNICRED - Conjunto de instituições financeiras cooperativas

Page 10: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 9 1.1 Contextualização .............................................................................................. 11

1.2 Problematização ............................................................................................... 14

1.3 Problema de pesquisa ...................................................................................... 15

1.4 Objetivos .......................................................................................................... 15

1.4.1 Objetivo geral ................................................................................................... 15

1.4.2 Objetivos específicos........................................................................................ 16

1.5 Justificativa ....................................................................................................... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................... ................................... 19

2.1 Governança corporativa ................................................................................... 19

2.1.1 Governança corporativa no Brasil .................................................................... 22

2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ........................................ 23

2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito ....................................... 26

2.2 Cooperativas de crédito .................................................................................... 28

2.2.1 O sistema cooperativo brasileiro ...................................................................... 31

2.2.2 As cooperativas de crédito no Brasil ................................................................ 33

2.2.3 Perspectivas atuais do cooperativismo no Brasil e no mundo .......................... 36

2.3 A teoria da agência .......................................................................................... 40

2.3.1 Os conflitos de agência em cooperativas de crédito ........................................ 44

2.3.2 Separação entre controle e propriedade .......................................................... 47

2.3.3 Separação entre controle e propriedade em cooperativas de crédito .............. 49

3 AMBIÊNCIA DO ESTUDO ......................... ................................... 53 4 METODOLOGIA DA PESQUISA ..................... ............................. 57

4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem ............................................................. 57

4.2 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa ....................................................... 59

4.3 Técnicas de coleta de dados ............................................................................. 60

4.4 Técnicas de análise de dados ........................................................................... 65

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........ ............ 70

5.1 Caracterização do processo administrativo ........................................................ 70

5.2 Caracterização do processo político das cooperativas ...................................... 81

5.3 Conflitos de interesses identificados .................................................................. 92

5.4 Utilização de informações no processo decisório ............................................. 104

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................... ................................ 106

REFERÊNCIAS ............................................................................ 114

APÊNDICES................................................................................. 126

Page 11: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

9

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho versa sobre os conflitos de agência em cooperativas de crédito de

Belo Horizonte, tomando como referência os princípios da governança corporativa

bem como da teoria da agência.

A governança corporativa se expressa por um sistema de relações entre os diversos

interessados (stakeholders). Por tratar das estruturas e processos para a gestão e

controle das empresas, a governança corporativa contribui para o desenvolvimento

econômico sustentável, melhorando o desempenho das empresas e proporcionando

maior acesso a fontes externas de capital, bem como minimizam os problemas de

agência (ANDRADE; ROSSETTI, 2007).

O problema de agência aparece quando o bem-estar do principal (proprietário)

depende das decisões tomadas pelo agente (gestor). Considerando que o agente

pode ter um comportamento oportunista de cunho financeiro ou não, nem sempre

suas decisões beneficiariam o principal. Desta forma, para que estes oportunismos

sejam mitigados, os mecanismos de governança corporativa podem atuar para

tentar preservar os direitos legais das partes sobre a empresa (CARVALHO, 2007).

Em empresas, embora, por um lado, a pouca transparência possa ser um

condicionante para o sucesso (ex.: opções de investimentos altamente

confidenciais), o contexto atual do ambiente empresarial, principalmente a partir da

Lei Sarbanes-Oxley (governança corporativa), sancionada em 2002 pelos Estados

Unidos da América (EUA), vem exigindo práticas diferenciadas de gestão, com

aplicação dos princípios da governança corporativa, visando aumentar a vantagem

competitiva das organizações (JÚNIOR; COSTA, 2005).

Assim, a falta de ética, a ausência de responsabilidade social e a pouca

transparência em empresas de capital aberto além de afugentar a entrada de novos

acionistas e inviabilizar a obtenção de fontes de financiamento, pode causar

dificuldades para sobrevivência das organizações (CARVALHO, 2007; JÚNIOR;

COSTA, 2005).

Page 12: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

10

Trazendo a discussão para o ambiente financeiro, observa-se que a ausência ou a

pouca divulgação de regras de governança ocasionam problemas de agência, o que

pode comprometer a existência das instituições financeiras e, particularmente, das

cooperativas de crédito (VENTURA, 2009; DESROCHERS; FISCHER, 2002).

As cooperativas baseiam-se em valores de ajuda mútua, responsabilidade,

democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Já seus membros acreditam em

valores éticos que incluem a honestidade, transparência, responsabilidade social e

preocupação pelo seu semelhante (SOARES, 2006). As cooperativas de crédito

também se inserem na visão da economia participativa, apresentando-se como

alternativa à lógica capitalista, numa tentativa de criação de mecanismos propícios à

ressignificação do trabalhador e de sua emancipação (FRANÇA FILHO, 2008).

Não obstante se pretenda estudar duas cooperativas de crédito voltadas para um

público específico, o cooperativismo de crédito, de forma geral, conforme apontado

por Gonçalves (2007) permite o acesso da população mais carente a serviços

financeiros, haja vista que as cooperativas podem assumir o papel de

impulsionadoras do microcrédito, aliando a inclusão social ao desenvolvimento

econômico, de forma democrática, solidária, igualitária e responsável.

Nestes empreendimentos, conforme Ventura (2009), também ocorrem os problemas

de agência entre o principal (associado) e o agente (gestor), sendo necessária a

adoção dos princípios da governança corporativa conforme apresentado nas

subseções seguintes, que trazem além da contextualização e da problematização, a

pergunta de pesquisa, os objetivos, a justificativa e a estrutura do estudo.

Segundo Lima (2014), como as sobras são distribuídas aos associados

proporcionalmente às operações de cada um deles, o principal conflito observado

nas cooperativas de crédito em geral é o tomador versus poupador, onde cada

interessado tenta maximizar seus benefícios. O primeiro objetiva menores taxas nos

empréstimos, enquanto o segundo maiores rendimentos. Por sua vez, o conflito

associado versus gerência seria relevante na realidade de delegação de poderes.

Page 13: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

11

1.1 Contextualização

Experiências cooperativistas são observadas na Inglaterra e na França desde o

século XVIII. Contudo, coube aos socialistas utópicos defender uma versão

revolucionária, em que se pleiteava a máxima autonomia comunitária e

reestruturação da sociedade (LECHATII, 2005). A tendência atual do movimento

cooperativista é trazer as questões sociais e a solidariedade para dentro da

discussão do capital como fator de produção (BIALOSKORSKI NETO, 2006).

Existem diversos empreendimentos cooperativistas voltados para o crédito que

movimentam valores expressivos e reúnem milhões de cooperados. Segundo o

Portal do Cooperativismo de Crédito (2014), não estando incluídos os dados da

Associação Internacional dos Bancos Cooperativos (ICBA), mas apenas os dados

da Associação Europeia dos Bancos Cooperativos (EACB), as cooperativas de

crédito contavam com 181 milhões de clientes (dos quais 61 milhões eram

associados), de 22 diferentes países e de 5.040 instituições financeiras

cooperativas.

Dados de jun./2013 do BACEN davam conta da existência de 1.195 Cooperativas de

Crédito no Brasil que administravam ativos totais de R$115 bilhões. Somando-se a

este valor os ativos do Banco SICREDI S.A. e os do BANCOOB, os ativos totais

elevam-se para R$155 bilhões no ramo crédito, o que representa uma participação

de mercado de 2,44% no total de ativos do mercado financeiro brasileiro.

Desta forma, as cooperativas de crédito ocupam a 6ª posição no ranking das

maiores instituições financeiras do país. As operações de crédito totais atingiram

R$65 bilhões em jun./2013, e os depósitos de R$76 bilhões representavam 4,21%.

O Portal das Cooperativas de Crédito (2013) aponta ainda que, no Brasil, na

comparação por Estados, levando-se em consideração operações de crédito,

patrimônio líquido, depósitos e sobras, tomando como base os dados de 2009,

Minas Gerais figurava em terceiro lugar na lista dos Estados com maior volume de

Ativos dentre os R$52,5 bilhões do total, operados por suas 230 cooperativas.

Page 14: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

12

Os sistemas de cooperativas de Crédito no Brasil se organizam, basicamente, pelos

sistemas SICOOB (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil), SICREDI (Atual

Sicredi Pioneira RS), UNICRED (Conjunto de instituições financeiras cooperativas) e

CRESOL (Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária),

ligadas a uma Confederação ou Central. Existem, também,Cooperativas

Independentes ou solteiras (GONÇALVES, 2007; PORTAL DAS COOPERATIVAS

DE CRÉDITO, 2014).

O Portal do Cooperativismo de Crédito (2014) aponta que, no Brasil, as regiões Sul

e Sudeste concentram 2/3 das cooperativas. Em nov./2014, o sítio do Bacen

mostrava que Minas Gerais tinha 202 cooperativas de crédito em funcionamento.

Belo Horizonte contava com cerca de 31 destas entidades.

Apesar da reconhecida importância dos empreendimentos cooperativistas, para o

caso brasileiro, Souza (2009) defende que o estabelecimento da globalização da

solidariedade e da “cooperação qualificada”, pensada a partir de políticas públicas

nacionais, apesar de terem favorecido a sua implementação e expansão, os projetos

de cooperação e intercooperação dentro do sistema cooperativo ocorreram de forma

mais formal que real.

Conforme Albert (2005), para o desenvolvimento do movimento cooperativo é

necessário retomar, na atualidade, os elementos essenciais que o identificam e que

constituem sua base (democracia, mutualismo, cooperação, igualdade etc.), como

uma alternativa aos problemas proporcionados pela globalização como a pobreza, o

desemprego e a exploração.

Não obstante pretender ser um empreendimento democrático ocorrem, também, nas

cooperativas, conflitos de agência entre os agentes (gestores) e os principais

(associados), o que origina custos de agência (VENTURA, 2009), que, conforme

Jensen e Meckling (1976) são a assimetria de informações, a dificuldade de

monitoramento das ações dos agentes, os contratos incompletos e o risco moral.

Especificamente para o segmento cooperativista brasileiro, um conflito de agência

estaria ligado à distribuição das sobras líquidas, feitas proporcionalmente às

Page 15: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

13

operações de cada associado e, não, aos gestores como participação nos lucros

(BIALOSKORSKI NETO; BARROSO; REZENDE, 2008).

O conflito entre cooperados e gestores é uma questão que pode comprometer a

governança nas cooperativas de crédito (CUEVAS; FISCHER, 2006). Por outro lado,

o efeito carona ou free rider é outro problema visível nas cooperativas de crédito e

ocorre quando as pessoas acreditam que sua contribuição individual é pouco

representativa para a organização (SOARES; VENTURA, 2008).

Dentre os conflitos de agência apontados pela literatura, a assimetria de informação

e a dificuldade de monitoramento das ações dos agentes são as dimensões

principais investigadas neste estudo. Os custos de agência se originam nas

cooperativas de crédito, devido à tentativa dos associados em participar mais

efetivamente das atividades da organização (FRANCISCO, 2014; VENTURA, 2009).

Reduzir a assimetria de informações exige tempo e participação nas decisões

coletivas e no exercício do controle interno, com cobrança e acompanhamento das

atividades da cooperativa (FRANCISCO, 2014; VENTURA, 2009).

No âmbito das cooperativas de crédito, a literatura referente a estes

empreendimentos aponta que quanto mais difusa a estrutura de propriedade e

quanto maior o número de cooperados, maior a probabilidade de que os direitos de

controle e, consequentemente, o acompanhamento da gestão sejam delegados a

outros membros (MOURA COSTA; AZEVEDO, 2010).

Porém, esta decisão seria influenciada ainda por outros fatores como: a) Reputação

do agente, pois se espera que o conselho de administração atue de forma alinhada

aos interesses dos cooperados; b) percepção do esforço do agente no

desenvolvimento de suas atividades, que visam à captação de informações sobre as

decisões a serem tomadas (BAKER; GIBBONS; MURPHY, 1999; AGHION; TIROLE,

1997).

Na próxima subseção apresenta-se a problematização do estudo.

Page 16: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

14

1.2 Problematização

Não obstante as cooperativas serem geridas pelos proprietários, tal fato não impede

que surjam problemas de agência na relação entre cooperados (principal) e gestores

(agentes), pois nem todos os envolvidos têm o mesmo nível de informação, podendo

também ser divergentes os objetivos e interesses quando da gestão do negócio. A

dificuldade de participação direta nas decisões faz surgir o problema clássico de

governança, pois, o processo de gestão gera diferença no conhecimento do negócio

entre os agentes (gestores) e os principais (cooperados). Ademais, nas

cooperativas, uma mesma pessoa pode ao mesmo tempo ser proprietária, gestora e

cliente (VENTURA, 2009).

Apesar de o cooperativismo pressupor a participação direta e democrática de seus

cooperados, contando inclusive com as Assembleias, a ausência de outros espaços

institucionais formais que viabilizem a participação, a falta de informação e a

informação deficiente são fatores impeditivos à efetiva participação dos associados

na gestão da organização (FREITAS et al., 2010).

Tosini e Bastos (2008), ao analisarem a percepção do associado sobre as ações da

cooperativa, apontam que a falta de divulgação da realização da assembleia e a

ausência de instrumentos formais estão entre os motivos impeditivos para assegurar

a participação do associado. Por outro lado, fatores pessoais diversos determinam o

não envolvimento direto dos associados nas atividades diárias das cooperativas de

crédito. As principais motivações se relacionam a: não fazer diferença ir à

assembleia; o tempo gasto ser muito grande; dificuldade de deslocamento;

confiança na administração da cooperativa; falta de tempo; falta de interesse,

horário; data e distância incompatível.

Para Hu e Hwang (2005), Bebchuck (1999) e Demsetz e Lehn (1985), dada a

dificuldade de monitoramento pelo principal (proprietário) das atividades

desenvolvidas pelo agente (gestor), estes se beneficiam de sua posição, exercendo

influência sobre as decisões estratégicas da empresa.

Page 17: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

15

Porém, a confiança entre os agentes (principal e gestor) pode ser aumentada,

reduzindo-se o processo de monitoramento, caso o principal perceba que a

reputação do agente contribui para que este trabalhe em prol dos interesses do

proprietário. As sinalizações emitidas pelo agente podem influenciar na

probabilidade de delegação pelo principal (AGHION; TIROLE, 1997).

Portanto, no cenário que foi descrito, oportuniza-se a realização deste estudo para

compreender se os conflitos de agência apontados pela literatura estão presentes

nas duas cooperativas de crédito de Belo Horizonte selecionadas e que adotam o

processo de gestão por delegação.

O problema de pesquisa é descrito na subseção que segue.

1.3 Problema de pesquisa

Este estudo pretende responder a seguinte pergunta de pesquisa: tomando como

referência os princípios da governança corporativa e partindo da perspectiva da

teoria da agência, quais conflitos apontados pela literatura estão presentes nas

cooperativas de crédito de Belo Horizonte? A essa pergunta central, são também

feitas indagações conforme objetivos informados abaixo.

1.4 Objetivos

Nesta subseção, aborda-se o objetivo geral e apresentam-se os objetivos em que

ela se subdivide.

1.4.1 Objetivo geral

Buscando responder à questão de pesquisa, foi definido o seguinte objetivo geral:

Identificar e analisar a presença de conflitos de agência em duas cooperativas de

crédito situadas em Belo Horizonte, que adotam a gestão por delegação.

Page 18: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

16

1.4.2 Objetivos específicos

Para o alcance do objetivo geral, foram estabelecidos os seguintes objetivos

específicos:

a) Analisar como a delegação pode ser usada pelas cooperativas para reduzir o

conflito de agência entre gestores (agentes) e associados (principais);

b) Identificar, entre os conflitos de agência apontados na literatura, quais são

apontados pelos associados como importantes para ocorrer a separação entre a

propriedade e o controle;

c) Investigar se a assimetria de informações e a dificuldade em monitorar as ações

dos agentes são compreendidas pelos cooperados como condicionantes para

surgimento do conflito de agência.

As justificativas relacionadas ao estudo são apresentadas na próxima subseção.

1.5 Justificativa

No plano acadêmico, identifica-se que o tema cooperativismo de crédito no Brasil

tem sido pouco explorado conforme TAB. 1, que demonstra o número de

publicações de artigos, ocorridas de 2010 a 2014. As bases SPELL, SCIELLO,

FGVSB, ANPAD e CAPES retornaram, respectivamente, um total de onze, sete,

seis, três e dezenove publicações acadêmicas (excluídas as cooperativas de crédito

rurais), no período pesquisado.

Tabela 1 – Pesquisa de publicações de artigos – SPE LL, SCIELLO, FGVSB,

ANPAD e CAPES

Ano Número de artigos publicados nos últimos cinco anos

SPELL/SCIELO/FGVSB/ANPAD/CAPES

2010 2/1/0/1/5

2011 2/1/0/0/4

2012 4/2/5/0/5

2013 1/1/0/2/2

2014 2/2/1/0/3

Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

Page 19: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

17

Souza (2009) chama a atenção para o fato de que o estudo do cooperativismo no

Brasil se restringe à academia e a alguns cooperados e técnicos do setor, não

fazendo parte do ensino formal. Para Lima e Amaral (2011), as cooperativas de

crédito estão entre as instituições financeiras menos estudadas.

Sob a ótica organizacional, torna-se relevante uma pesquisa que aborde os conflitos

de agência nas cooperativas de crédito, visto que estes empreendimentos

contribuem para a valorização do indivíduo bem como para o desenvolvimento da

economia. O presente trabalho contribui para que as demais cooperativas, a partir

das informações apresentadas, identifiquem quais conflitos de agência estão

presentes nestes empreendimentos, visando estabelecer sistemas de controles para

monitorar ou mitigar os conflitos identificados (FRANÇA FILHO, 2008).

Na dimensão social, a sociedade vê de forma positiva práticas econômicas distintas

da lógica capitalista, nas quais os fatores humanos favoreçam as relações, com

valorização do laço social, por meio da reciprocidade e adoção de formas

comunitárias de propriedade (LECHATII, 2005). Este estudo procura, à luz da

literatura sobre cooperativismo de crédito produzida atualmente, confirmar esta

percepção.

O presente trabalho se estrutura em sete capítulos. O primeiro inclui a introdução, na

qual foi apresentada uma visão geral do estudo realizado. O segundo capítulo traz o

referencial teórico que embasará todo o trabalho, enfocando os seguintes temas:

governança corporativa, governança corporativa no Brasil, governança corporativa

em instituições financeiras, governança corporativa em cooperativas de crédito,

cooperativismo de crédito, o sistema cooperativista brasileiro, as cooperativas de

crédito no Brasil, as perspectivas atuais do cooperativismo no Brasil e no mundo, a

teoria da agência, os conflitos de agência em cooperativas de crédito, a separação

entre controle e propriedade e a separação entre controle e propriedade em

cooperativas de crédito. O terceiro capítulo apresenta a ambiência do estudo. O

quarto capítulo consiste na descrição da metodologia utilizada para desenvolver e

concluir a pesquisa. O quinto capítulo consiste na apresentação e análise dos

resultados da pesquisa. O sexto capítulo traz as considerações finais da pesquisa.

Page 20: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

18

Este trabalho se encerra com a apresentação das referências (sétimo capítulo) e os

apêndices.

No próximo capítulo, apresenta-se o referencial teórico.

Page 21: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo aborda-se o conceito de governança corporativa bem como a

influência de seus princípios como alternativa à redução dos problemas de agência.

Procede-se, ainda, à apresentação e conceituação da governança corporativa no

Brasil, e, particularmente, à definição da governança corporativa em instituições

financeiras e em cooperativas de crédito. Faz-se uma apresentação do

cooperativismo de crédito, destacando-se o sistema cooperativista brasileiro, as

cooperativas de crédito no Brasil e as perspectivas atuais do cooperativismo nos

cenários brasileiro e mundial. Também, são trazidos os conceitos da teoria da

agência, com destaque para a ocorrência dos conflitos de agência em cooperativas

de crédito. Por fim, apresenta-se a separação entre controle e propriedade em

organizações e, especificamente, em cooperativas de crédito, com o objetivo de

embasar teoricamente os aspectos da pesquisa.

A subseção seguinte apresenta o conceito de governança corporativa.

2.1 Governança corporativa

Segundo Holanda (sd), o verbo governar corresponde ao ato de gerir ou ter

autoridade sobre algo. Por consequência, governança seria o processo de

administração, implicando, conforme Carvalhal da Silva (2004; 2007), na distribuição

de poderes na organização societária.

Não obstante a governança tratar da questão da distribuição de poder em uma

organização, a governança corporativa visa, por meio de seus princípios, à boa

governabilidade dessas organizações, dando ênfase não apenas aos interessados

internos, mas se preocupando com todos os agentes envolvidos na condução dos

negócios, principalmente, os acionistas minoritários e demais stakeholders

(CARVALHAL DA SILVA, 2004; 2007).

Andrade e Rossetti (2007) ressaltam que o tema governança corporativa não é

apenas de um modismo, mas se baseia em fundamentos sólidos definidos a partir

de princípios éticos aplicados na condução do negócio. Tendo razões macro e

Page 22: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

20

microeconômicas, independente dos princípios e propósitos de cada modelo, a

governança corporativa (apesar de poder envolver diversos interessados) se

expressa por um sistema de relações entre pelo menos três atores: a propriedade, o

conselho de administração e a diretoria executiva.

Carvalho (2007) aponta que os mecanismos ou os princípios da governança

corporativa minimizam os problemas de agência. O problema de agência ou

problema agente-principal aparece quando o bem-estar de uma parte, denominada

principal, depende das decisões tomadas por outra, denominada agente. Nem

sempre as decisões dos agentes beneficiam o principal, dado que o agente pode ter

um comportamento oportunista (moral hazard ou oportunismo). Para que estes

oportunismos sejam mitigados, os mecanismos de governança corporativa atuariam

para preservar os direitos legais das partes sobre a empresa.

A elevada concentração acionária aparece como solução às baixas estruturas de

proteções legais ao investidor, sendo que países cujas regras legais se originaram

“na tradição da common law tendem a proteger os investidores consideravelmente

mais do que os países cujas leis originaram-se no civil-law; e, especialmente, na

tradição do Franch-civil-law“ (LA PORTA et al.,1998, p. 151).

Desta forma, ocorre uma mudança de paradigma, competindo à governança

corporativa não mais proteger os interesses dos acionistas, mas, sim, evitar que os

controladores expropriem os minoritários. Então, percebeu-se que governança

corporativa poderia ser definida de várias maneiras, dependendo do problema de

agência considerado. Em virtude de problemas de assimetria de informação, os

empreendedores disporiam de mais informação sobre o potencial e a performance

dos projetos que as partes financiadoras. Esta situação faz com que os recursos

possam ser direcionados a projetos menos produtivos, porém com poucos

problemas informacionais, o que faria com que o potencial de crescimento de uma

nação fosse desperdiçado (LA PORTA et. al., 1998).

Considerando que o grau de desenvolvimento da intermediação financeira e do

mercado de capitais é promotor de crescimento econômico, há que se buscar um

nível de garantia maior, para que seja aumentada a confiança e proteção dos

Page 23: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

21

investidores minoritários, com consequente aumento da liquidez via negociação de

papéis emitidos por empresas (CARVALHO, 2007).

A proteção aos minoritários depende fortemente da disclosure (avaliar se os direitos

estão sendo observados) e enforcement (garantia dos direitos legais, eficiência e

integridade do sistema judiciário e redução ou eliminação da corrupção), mas,

também, deve contar com o conjunto de regras/leis (governança corporativa) (IBGC,

2009).

Neste prisma, Carvalho (2007) conclui que se a proteção legal afugenta os

minoritários e torna os créditos mais caros, a governança corporativa consistiria no

conjunto de mecanismos que asseguraria retornos adequados sobre os

investimentos tanto para os minoritários quanto para os financiadores. Contudo, em

empresas a pouca transparência pode ser um condicionante para o sucesso (ex.:

opções de investimentos altamente confidenciais).

A expressão governança corporativa não estaria internalizada pelo mundo

corporativo, pois além de ser ainda recente, empregada pela primeira vez em 1991

por R. Monks, nos EUA, suas práticas admitem várias acepções como as questões

legais, financeiras, modelos de gestão e decisões estratégicas. O primeiro código de

melhores práticas de governança corporativa, conhecido por Caldbury Report, foi

definido em 1992, na Inglaterra. Em 1995, foi editado o primeiro livro com o título

Corporate Govervance, dos autores R. Monks e N. Minow. O relatório Caldbury

tornou os investidores institucionais mais ativos nas corporações, fortaleceu os

canais de comunicação da empresa e garantiu maior envolvimento do governo no

mercado aliado a uma autorregulamentação (ANDRADE; ROSSETTI, 2007).

Entretanto, Andrade e Rossetti (2007) dizem que somente em 1999, com a edição

dos Principles of Corporate Governance, da OCDE, um organismo multilateral,

procurou-se difundir os princípios da boa governança e a evidenciação de seus

efeitos positivos sobre o desenvolvimento dos mercados, das corporações e o

crescimento econômico das nações. Contudo, não impediu o surgimento de vários

escândalos e fraudes corporativas no início do século XXI.

Page 24: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

22

Para Lodi (2000), na governança corporativa, a ética deixa de ser um tratamento

jurídico (compliance) ou de ações de um determinado setor ou departamento,

tornando-se elemento primordial no resguardo da reputação da empresa. Em virtude

de fraudes, os mercados sofreram regulamentações mais rígidas como a Lei norte

americana Sarbanes-Oxley, de 2002, cuja premissa básica foi determinar que a boa

governança e a ética nos negócios sejam leis e não mais requintes.

Na subseção seguinte é tratada a governança corporativa no Brasil, sendo

evidenciada a importância dos seus princípios para a perenidade e o aumento do

valor da empresa.

2.1.1 Governança corporativa no Brasil

No Brasil, o tema governança corporativa é relativamente novo, cabendo ao Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e à Bolsa de Valores, Mercadorias e

Futuro S/A (BM&FBOVESPA) impulsionarem o movimento (FRANCISCO, 2014).

Para a BM&FBovespa (2014), governança empresarial se constitui num conjunto de

mecanismos de incentivo e controle, utilizados para garantir que as decisões

estejam alinhadas com os objetivos de longo prazo das organizações. Busca-se

assegurar que investidores não controladores (acionistas minoritários e credores)

tenham à sua disposição mecanismos para limitar a expropriação. A qualidade da

governança empresarial depende de: disclosure (disponibilidade de um fluxo

contínuo de informações relevantes); mecanismos e regras de conduta para a

empresa e arranjos que garantam a observância das regras (enforcement).

O IBGC (2009), Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, organização que se

dedica à promoção da governança corporativa no Brasil, na quarta versão do Código

Brasileiro das Melhores Práticas da Governança Corporativa, define o termo como

sendo o sistema por meio do qual as sociedades são dirigidas e monitoradas,

envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Cotistas, Conselho de

Administração, Diretoria, Auditoria Independente e o Conselho Fiscal. As boas

práticas de governança corporativa objetivam aumentar o valor da sociedade,

facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.

Page 25: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

23

Entende Carvalhal da Silva (2007) que, se não fosse a ausência de transparência na

gestão e de instrumentos adequados de supervisão, o mercado acionário brasileiro

seria mais rico em termos de financiamento da produção e incentivo a novos

investimentos. A partir do momento que a governança corporativa é assumida como

um elemento essencial para a gestão estratégica da firma, esta passa a produzir

informações que são captadas pelo mercado como sendo de maior qualidade. Este

fato é imprescindível para diminuição das incertezas no processo de avaliação e

risco, e, consequentemente, alavancagem dos negócios da companhia, contribuindo

sobremaneira para que o mercado se torne mais forte, por meio de uma legislação

rígida em termos de proteção aos direitos dos acionistas.

Ferreira de Mello (2007) considera que o modelo brasileiro de governança

corporativa seria representado como um paralelo aos modelos alemão e japonês,

com grande concentração de propriedade e existência de propriedade cruzada,

grande presença de ações preferenciais e baixa liquidez.

O objetivo central do Código de Governança do IBGC (2009) é fazer com que as

sociedades consigam aumentar o valor da sociedade, melhorando seu desempenho

e, consequentemente, contribuindo para uma sociedade mais justa, responsável e

transparente.

Segundo Francisco (2014), o mercado se tornou mais exigente, assim, a

necessidade de novas informações e de maior transparência lançam um grande

desafio para as empresas brasileiras, que, ao adotarem os princípios de governança

corporativa, não devem se ater apenas à publicação de balanços com resultados

favoráveis, maximização de lucros e distribuição dos dividendos.

Apresenta-se, na sequência, a governança corporativa em instituições financeiras.

2.1.2 Governança corporativa em instituições financ eiras

Os estudos e as pesquisas na área de governança corporativa de instituições

financeiras, apesar de terem se desenvolvido mais intensamente em período

Page 26: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

24

recente, permitiram significativa evolução dos processos de gestão de riscos dessas

instituições (BACEN, 2015).

A literatura sobre governança se interessa pelos bancos, cujo sistema legal e

regulatório a eles afeto torna-se um exemplo de mecanismo externo de governança

corporativa, mesmo porque, uma perturbação nos bancos pode comprometer todas

as outras entidades do sistema (ALVES; FILHO, 2010).

Oliveira et al. (2013) apontam que, embora o setor bancário brasileiro seja

reconhecidamente sólido, tendo inclusive resistido às crises de 2008 e 2009, pouco

são conhecidas as práticas de governança corporativa deste setor no Brasil. Esta

opinião é compartilhada por Moura e Domingos (2012) que constaram serem as

empresas listadas no setor bancário da BM&FBovespa, em sua maioria, em relação

ao conselho de administração, dotadas de um nível baixo de divulgação das boas

práticas de governança corporativa.

Oliveira et al. (2013) identificaram, na percepção dos diretores dos bancos

brasileiros, que as principais barreiras à adoção de melhores práticas de governança

corporativa seriam nesta ordem: a manutenção de poder e status; apego à

propriedade e ao controle; direito de voto às ações preferenciais em matéria de alta

relevância; resistência cultural a medidas que visam à maior transparência e

emissão apenas de ações ordinárias.

Para Desrochers e Fischer (2002), os problemas de governança se apresentam

como a principal razão da quebra de instituições financeiras, devido à existência do

risco moral (moral harzard), definido como os diversos riscos de posição como, risco

de crédito, risco das taxas de juros, risco de liquidez e risco de off balance

(informações que não estão evidenciadas no balanço). Certamente, tais riscos são

inerentes à atividade financeira, mas, por outro lado, a decisão dos gestores traz em

sua essência conflitos de agência entre credores e acionistas.

Segundo Kreps (1990), o risco moral ocorre quando há probabilidade de

comportamento oportunista após um evento contratual. Assim, haveria desvio de

comportamento ético (risco moral), fazendo com que o agente, após a contratação,

Page 27: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

25

agisse de forma diferente de como agiria se fosse o único beneficiário de seus

esforços. A existência de propensão diferente para agir de forma oportunista,

dificulta que seja assegurado o comportamento ético dos agentes econômicos,

impedindo que tal comportamento seja governado por regras (TOSINI; BASTOS,

2008).

Existem iniciativas de práticas de governança corporativa específicas para bancos,

como o documento Enhancing Corporate Governance for Banking Organisations,

divulgado pelo Comitê da Basiléia em 1999 e atualizado em 2006, cuja aplicação

independe do controle da instituição ser pública ou privada (BCBS, 2006).

A expansão da assimetria de informação pode ocorrer ainda entre depositantes,

tomadores de empréstimos, outras instituições financeiras e gerentes. Por outro

lado, a alavancagem de estrutura de capital implica pressões diferenciadas segundo

o volume de recursos tomado ou aplicado nas instituições pelos clientes (VENTURA,

2009).

Trazendo estas questões para o setor cooperativista, Ventura (2009) aponta que:

a) Caso os gestores decidam maximizar o retorno para os credores, poderão

prejudicar o grupo de tomadores líquidos e vice-versa;

b) A qualidade de associado do dirigente pode representar menos que sua condição

de executivo na confirmação de seus interesses pessoais (até mesmo do desejo

de manter sua posição de prestígio);

c) Como as cooperativas não participam do mercado acionário, não estariam

sujeitas ao escrutínio dos investidores, aumentando a necessidade de possuir

boa governança;

d) Em sistemas fechados, como as cooperativas, que operam com seus próprios

associados, há diferentes interesses e poder de influência dos cooperados.

Em pesquisa realizada por Araújo et al. (2007, p. 15), foram identificadas para as

cooperativas, como condicionantes para a governança corporativa, a transparência

das informações, as prestações de contas e a justiça com os minoritários (nos

processos de eleição dos conselhos e no cumprimento das leis). Estes

Page 28: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

26

condicionantes, estando alinhados com os princípios cooperativos, reduzem o risco,

garantindo maior segurança aos demais associados. Partindo destas considerações

iniciais, na subseção seguinte, é apresentado o conceito de governança corporativa

relacionado às cooperativas de crédito.

2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de cré dito

O interesse do Banco Central pelo tema governança corporativa em cooperativas de

crédito teve como alicerce o projeto estratégico desenvolvido na segunda metade da

década passada (2006-2009), intitulado “Projeto Governança Cooperativa: diretrizes

e mecanismos para o fortalecimento da governança em cooperativas de crédito”,

implicando inclusive no aprimoramento da legislação e da regulação desses

empreendimentos, particularmente a Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de

2009, e a Resolução CMN nº 3.859, de 27 de maio de 2010 (BACEN, 2015).

O projeto de governança corporativa do Banco Central, voltado para as cooperativas

de crédito, desenvolveu-se em paralelo à intensificação do interesse sobre o tema

aplicado ao campo corporativo. Os problemas de governança, particularmente, nas

instituições financeiras, evidenciaram pouca participação efetiva de conselheiros no

monitoramento da gestão financeira, fragilidade de prestação de informações e de

controle externo e mecanismos salariais aos executivos, dissociados de objetivos de

longo prazo das companhias (VENTURA, 2009).

Uma atuação estratégica mais forte do conselho de administração pode melhorar o

resultado organizacional. Contudo, a vinculação da governança corporativa com

gestão baseada em valor é imprescindível. Merecem, destaque o investimento em

treinamento, a incorporação entre os membros da cooperativa de crédito de

profissionais liberais em áreas técnicas específicas e, por fim, uma maior interação

com os acionistas, o que pode ser conseguido por meio da eleição de delegados,

promovendo-se mais transparência para se atingir melhores práticas de governança

(FRANCISCO, 2014).

A existência de um Conselho de Administração independente da gestão bem como

de comitês especializados (coordenados por esse Conselho), é essencial, pois com

Page 29: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

27

essa estrutura os proprietários podem ser representados na gestão da organização,

uma vez que é favorecida a criação de um grupo dedicado e responsável por

aprofundar o conhecimento sobre os negócios, contando com o suporte político da

maioria (VENTURA, 2009).

Por meio da Resolução nº 3.859, de 27/05/2010, o Banco Central determinou que as

cooperativas de crédito devem observar padrões de governança corporativa, que

incluam: detalhamento da estrutura de incentivos e da política de remuneração dos

administradores, abordando os aspectos de representatividade e participação;

direção estratégica; gestão executiva; fiscalização; controle; segregação de funções

na administração; transparência; equidade; ética; educação cooperativista,

responsabilidade corporativa, divulgação de informações e prestação de contas

corporativa (BACEN, 2010).

Para o seguimento cooperativista de crédito, Ventura (2009) traça as seguintes

diretrizes de boa governança:

a) Equilibrar os sistemas externos e internos de controle de forma que se

minimizem custos e melhore a efetividade;

b) Reduzir o custo de decisão coletiva e melhorar o processo decisório dos

proprietários;

c) Assegurar a gestão eficiente e monitorar a atuação dos gestores;

d) Promover o alinhamento de interesse dos gestores e dos técnicos com as

prioridades da cooperativa;

e) Preservar a equidade no tratamento dos interesses dos diversos associados.

A partir destas considerações, Ventura (2009, p. 69) propõe o conceito de

governança corporativa atinente às cooperativas como sendo o “conjunto de

mecanismos e controles, internos e externos”, que permite aos cooperados

definirem e assegurarem a execução dos objetivos da cooperativa, “contribuindo

para sua continuidade e para fortalecimento dos princípios cooperativistas”.

Ao serem aplicados os princípios da governança, surgem benefícios como maior

segurança das cooperativas singulares e do sistema; aumento da participação e do

Page 30: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

28

controle interno; desenvolvimento da visão cooperativista; redução de custos

operacionais; fortalecimento dos conselhos; e, mais estímulo ao desenvolvimento

profissional (FILHO; VENTURA; MARUCCI, 2007).

A redução da assimetria de informações exige tempo e participação nas decisões

coletivas e no exercício do controle interno, com cobrança e acompanhamento das

atividades da cooperativa. Assim, as estruturas e processos de decisão coletiva

devem ser capazes de capturar a expectativa dos cooperados, que necessitam ser

bem informados e ser representativos das diversas correntes de ideais e interesses.

Não significando reinventar modelos consolidados, mas registrar e difundir bons

exemplos das boas práticas de governança (VENTURA, 2009).

Silveira (2002) defende que uma alternativa para que sejam limitadas as

divergências oriundas da relação entre acionistas e gestores seria o monitoramento

das atividades dos executivos, aliado ao estabelecimento de incentivos contratuais

apropriados. Porém, os acionistas incorreriam nos custos de agência nesta tentativa

de alinhamento de interesses.

Finalizada a apresentação da governança corporativa, na próxima subseção

apresentam-se as cooperativas de crédito.

2.2 Cooperativas de crédito

Conforme Lechatii (2005), os estudos sobre as cooperativas têm uma longa tradição,

que começam com importantes elementos conceituais desde o século XV. O autor

informa ainda que os fundamentos teóricos e metodológicos da cooperativa e sua

inserção na dinâmica da economia mundial têm sido uma das principais questões

abordadas pelas ciências econômicas e sociais que transcende até os dias de hoje.

Citando Paul Singer, Lechatii (2005) apresenta que, na Europa, os idealizadores do

cooperativismo revolucionário foram os socialistas utópicos nomeados por Karl Marx,

os quais buscavam máxima autonomia comunitária dentro de uma reestruturação da

sociedade. Ao longo da história, o cooperativismo se mostrou como um importante

mecanismo de combate ao desemprego e à criação de alternativas de

Page 31: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

29

desenvolvimento (LOURENÇO, 2008). Consequentemente, as cooperativas de

crédito se inserem nessa visão da economia participativa e de sua proposta de

consecução de alternativas à economia capitalista (FRANÇA FILHO, 2008).

A busca do projeto de cooperação, sabidamente imprescindível para a

transformação da sociedade, busca a ressignificação do indivíduo enquanto sujeito,

numa articulação solidária entre as dimensões econômicas, social e política,

integrando, conforme França Filho (2008), suas ações com vistas à sustentabilidade

dos empreendimentos e do local em que se insere.

Segundo Monje-Reyes (2011, p. 708), a prática e a concepção da cooperação

aparecem desde as primeiras ações coletivas dos seres humanos, o que

corresponderia a uma “vocação natural ou busca de proteção e amparo, frente às

forças da natureza e a ação de outros homens”. O homem coopera “como uma

necessidade de sua existência e desenvolvimento”. Na América, as economias dos

povos pré-colombianos eram eminentemente de caráter cooperativos tanto em sua

organização como na produção. De forma diversa, Costa (2007) observa que,

embora sejam encontradas experiências cooperativistas e associativistas em

períodos bastante remotos, tais experiências não passaram de manifestações de

sociabilidade característica do homem enquanto um ser social.

Para Monje-Reyes (2011), os antecedentes do cooperativismo na Europa se iniciam

no século XVII, com o trabalho intitulado “Proposições para a criação de uma

associação de trabalho de todas as indústrias úteis e da agricultura”, de John Bellers

(1695). No início, as cooperativas se apresentaram como um modelo reformista do

sistema capitalista conforme pensamento dos socialistas utópicos do século XIX. Na

sociedade socialista de base comunitária, destacariam-se as ações cooperativas

como forma principal de organização da sociedade (ABREU, 1989, p. 67).

Conforme Soares (2006), a experiência exitosa e os princípios do Cooperativismo de

Consumo da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (distrito de Lancashire,

Inglaterra), fruto da iniciativa de 28 tecelões, em 1844, passaram a constituir os

fundamentos da doutrina cooperativista, tornando-se símbolo e fonte de inspiração

para os movimentos do mundo inteiro. Em 1895, é criada em Londres a Aliança

Page 32: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

30

Cooperativa Internacional (ACI), responsável por difundir e promover os princípios

de Rochdale, os quais foram ratificados em 1937 (Viena), em 1966 (Londres) e em

1995, (Manchester). A Assembleia Geral da ACI, realizada em novembro de 2011,

em Cancun/México, reconheceu a cidade de Rochdale, na Inglaterra, como a Capital

Mundial do Cooperativismo (MONJE-REYES, 2011).

As cooperativas estão organizadas internacionalmente pela Aliança Cooperativa

Internacional (ACI), sediada em Genebra, Suíça, que é uma organização não

governamental independente que congrega, representa e presta assistência às

organizações cooperativas mundiais (PINHEIRO, 2006). A Organização das

Cooperativas da América (OCA), fundada em 1963, com sede em Bogotá, Colômbia,

integra as representações de países no continente americano, inclusive do Brasil

(GONÇALVES, 2007).

Não há concordância entre os autores pesquisados quanto à data e ao local de

surgimento da primeira cooperativa de crédito no mundo.

Enquanto Gonçalves (2007) aponta o ano de 1848, Campos (2003) dirá que tal

experiência nasceu em 1849. Não obstante a divergência quanto à data, defendem

que Friedrich Wilhelm Raiffeisen, na cidade alemã de Flammersfeld, fundou uma

caixa de socorro para fomentar o crédito aos agricultores. Por sua vez, Pinheiro

(2006) argumenta que foi em 1847 que Raiffeisen criou a primeira associação de

apoio para a população rural, e, embora, em sua opinião, não se tratasse de uma

cooperativa, esta associação serviu de base para a futura atividade cooperativista de

Raiffeisen.

No meio urbano, Heman Schulze, na cidade alemã de Delitzch, teria iniciado o

cooperativismo de crédito no ano de 1856, em que organizou sua primeira

associação de dinheiro antecipado, atualmente conhecida como bancos populares

(PINHEIRO, 2006). Port (2012) afirma que o ano da criação desta cooperativa foi

1852.

Conforme Monje-Reyes (2011), a sociedade dos “Equitativos Pioneiros de Rochdale

de 1844”, foi a primeira empresa cooperativa moderna, tendo fundado os sete

Page 33: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

31

princípios fundamentais do movimento cooperativo: a) livre ingresso e livre saída; b)

controle democrático; c) neutralidade política, racial e religiosa; d) venda em

dinheiro; e) participação limitada sobre o capital e f) educação contínua.

Os princípios do cooperativismo apontados em Soares (2006) seriam: a) adesão

voluntária e livre; b) gestão e controle democrático pelos membros; c) participação

econômica dos membros; d) autonomia e independência; e) educação, formação e

informação; f) intercooperação e g) interesse pela comunidade.

As cooperativas se baseiam em valores de ajuda mútua e responsabilidade,

democracia, igualdade, equidade e solidariedade, sendo que seus membros

acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social,

preocupação pelo seu semelhante, autogestão, democracia, participação,

igualitarismo, cooperação, autossustentação e desenvolvimento humano (SOARES,

2006; SILVA JÚNIOR, 2004). A cooperativa, segundo Vainer (2010), é uma

organização ambígua, dado ser o trabalhador também empresário.

As cooperativas se definem como uma associação que preza a autonomia das

pessoas, as quais, voluntariamente, se unem para satisfazerem aspirações e

necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de

propriedade coletiva e democraticamente gerida (SOARES, 2006).

No Brasil, o início da experiência cooperativista remota ao século XIX, contudo sua

regulamentação ocorreu apenas no século XX conforme demonstrado na subseção

que segue.

2.2.1 O sistema cooperativo brasileiro

Embora o início da experiência coletiva no Brasil seja datado de 1847, com a

Colônia Tereza Cristina, Paraná, foi somente no final do século XIX que surgiu o

cooperativismo propriamente dito, na zona rural do país. O Decreto 169-A, de 19 de

janeiro de 1890, foi o primeiro ato do Poder Público destinado a regular e amparar o

cooperativismo no Brasil, tendo criado o crédito móvel e o bilhete de mercadorias.

Porém, a primeira norma a disciplinar o funcionamento das cooperativas no Brasil foi

Page 34: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

32

o Decreto Legislativo nº 1.637, de 05 de janeiro de 1907, que criou conceitos até

então inexistentes para o segmento (CAMPOS, 2003).

As cooperativas de trabalho surgem a partir de 1932 influenciadas pelas

cooperativas operárias de produção europeias. A partir da metade da década de 60,

profissionais liberais passaram a organizar suas próprias cooperativas, “retirando-se

da figura dos cooperados o estigma de mão de obra semi-qualificada.” (ROCHA-

PINTO; IRIGARAY, 2008, p. 111).

O sistema cooperativista brasileiro é representado pela Organização das

Cooperativas Brasileiras (OCB), criada em dezembro de 1969, com sede em

Brasília, atuando como órgão técnico consultivo junto ao Governo, na defesa dos

interesses cooperativistas em busca do desenvolvimento e da justiça social no país.

Em nível estadual, têm-se as Organizações das Cooperativas Estaduais (OCEs).

Ambas as organizações são auxiliadas pela Frente Parlamentar do Cooperativismo -

FRENCOOP e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo-

SESCOOP (GONÇALVES, 2007).

As sociedades cooperativistas são hoje reguladas pela Lei 5.764, de 16 de

dezembro de 1971, que determina em seu artigo 107 que as cooperativas, para seu

funcionamento, registrem-se na Organização das Cooperativas Brasileiras ou,

quando houver, na entidade estadual, mediante apresentação dos estatutos sociais

e suas alterações posteriores. Campos (2003) argumenta que esta norma encontra-

se parcialmente em vigor, posto ter sido derrogada pela atual Lei Maior de 1988.

O artigo 6º da Lei 5.764/71 classifica as cooperativas da seguinte forma:

a) Singulares ou de 1º grau: constituídas por um número mínimo de vinte pessoas

que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas

físicas, ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos;

b) Centrais/Federações ou de 2º grau: constituídas por um número mínimo de três

cooperativas singulares, podendo excepcionalmente admitir associados individuais;

c) Confederações ou de 3º grau: constituídas por um número mínimo de três

federações de cooperativas ou cooperativas centras, da mesma ou de diferentes

modalidades.

Page 35: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

33

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) dispõe em seu artigo 174, parágrafo 2º, que

a lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. O

atual Código Civil brasileiro, na parte correspondente à sociedade cooperativa,

estabelece normas gerais. Porém, quando estas normas forem omissas, deverá ser

observada a Lei 5.764/71 (PINHEIRO, 2006). Conforme Quirino, Cunha e Coelho

(2008, p. 59-60), a partir da metade da década de 90, há um ressurgimento da

economia participativa no Brasil, impulsionado pela exclusão social, devido

desemprego e a precarização das condições e relações de trabalho.

No que se refere à formação e educação continuada dos cooperados, foi criado, em

1998, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP), cujo

foco principal é capacitação do público jovem, a fim de que este se insira no sistema

de forma qualificada. Atualmente, de maneira geral, o cooperativismo brasileiro

“caminha em busca de autonomia e independência, apesar de, ao longo de sua

existência ter mantido laços e relações estreitas com o Estado”. A maioria das

cooperativas se concentra nas regiões sudeste e sul do Brasil. Há diversas

cooperativas em todos os setores e ramos da economia (WESTPHAL, 2008, p. 47).

São abordadas na próxima subseção as cooperativas de crédito brasileiras, que se

inserem no contexto das microfinanças.

2.2.2 As cooperativas de crédito no Brasil

A atividade de microcrédito se insere no contexto das microfinanças e se caracteriza

pela concessão de crédito para o financiamento de pequenos empreendimentos e a

determinados grupos sociais. O conceito de microfinanças relaciona-se com a

prestação de serviços financeiros de maneira adequada e sustentável para a

população menos favorecida economicamente, tradicionalmente excluída do sistema

financeiro tradicional (ALVES; SOARES, 2004).

Tratando especificamente da cooperativa de crédito, Schardong (2002) a entende

como uma espécie do gênero cooperativa, tendo como objetivo a promoção da

captação de recursos financeiros para o financiamento das atividades econômicas

Page 36: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

34

de seus membros, a administração das suas poupanças e a prestação dos serviços

de natureza bancária por eles demandada.

Segundo Gonçalves (2007, p. 15), a cooperativa de crédito ”é uma instituição

financeira privada, com personalidade jurídica própria, sem fins lucrativos e não

sujeita à falência, constituída com o objetivo de propiciar e prestar serviços aos seus

associados”.

No Brasil, parece consenso entre os autores que a primeira sociedade a ter em sua

denominação a expressão “cooperativa” foi, provavelmente, a Sociedade

Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, fundada em 27 de

outubro de 1889, em Ouro Preto, capital da província de Minas (PINHEIRO, 2006).

Dois anos após a fundação da primeira cooperativa de crédito das Américas, em

Quebec,no Canadá,a primeira cooperativa de crédito brasileira surgiria na localidade

de Linha Imperial, município de Nova Petrópolis (RS), em 28 de dezembro de 1902.

Dezenove colonos liderados pelo Padre Jesuíta, Theodor Amstad, vindo da Suíça,

fundou a Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, para atuar entre os colonos do

Rio Grande do Sul (PNHEIRO, 2006; GONÇALVES, 2007). Esta teria sido a primeira

cooperativa da América Latina, hoje ainda em atividade sob a denominação de

SICREDIPIONEIRA (GONÇALVES, 2007).

A Lei de Reforma Bancária (Lei 4.595/64), além de ter criado o Banco Central do

Brasil (Bacen), equiparou, por meio do seu artigo 17, as cooperativas de crédito às

demais instituições financeiras. A partir desta mudança, o Bacen ganhou atribuições

para autorizar, regular e fiscalizar estes tipos de cooperativas. Definiu a cooperativa

como uma sociedade de pessoas e sendo de natureza civil. Após a reforma

bancária, diversos normativos foram sancionados, visando disciplinar melhor as

cooperativas de crédito (SOARES; SOBRINHO, 2008).

Atualmente, as cooperativas de crédito, além do seu Estatuto Social, regem-se pelo

disposto nas Leis 5.764/71 e 4.595/1964, pelos atos normativos baixados pelo

Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Banco Central do Brasil (GONÇALVES,

2007).

Page 37: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

35

O objetivo final desse tipo de cooperativa seria a concessão de crédito e a prestação

de serviços financeiros a seus associados de forma mais vantajosa, quando

comparadas aos bancos e financeiras. Nestes empreendimentos, ocorre

remuneração das aplicações a taxas maiores, cobram-se taxas menores e faz-se

menos exigências quando da concessão do crédito. Qualquer pessoa física ou

jurídica pode participar de uma Cooperativa de Crédito, bastando, para tanto, que

cumpra algumas exigências para assumir a qualidade de associado. Assim, o

interessado deverá ter seu nome aprovado pelo Conselho de Administração,

subscrever e integralizar as quotas parte sociais e assinar o livro ou ficha de

matrícula (GONÇALVES, 2007).

A Resolução 4.434, de 05 de agosto de 2015 dispõe, além de outras questões,

sobre o funcionamento das cooperativas de crédito, disciplinando em seu artigo 26

sobre a política de governança corporativa. A estrutura de governança necessita ser

aprovada pela assembleia geral e deve abordar aspectos como representatividade,

participação, direção estratégica, gestão executiva, fiscalização, controle,

segregação de funções na administração, remuneração dos membros dos órgãos

estatutários, transparência, equidade, ética, educação cooperativista,

responsabilidade corporativa e prestação de contas.

Esta Resolução 4.434/2015 em seu artigo 29 estabelece que o prazo de mandato

não poderá ser superior a 4 anos, permitida a reeleição.

Quanto à classificação das cooperativas de crédito singular, de acordo com as

operações praticadas, estas se classificam nas categorias plena, clássica e de

capital e empréstimo.

Art. 15. A cooperativa de crédito singular, de acordo com as operações praticadas, se classifica nas seguintes categorias: I - cooperativa de crédito plena: a autorizada a realizar as operações previstas no art. 17; II - cooperativa de crédito clássica: a autorizada a realizar as operações previstas no art. 17, observadas as restrições contidas no art. 18; e III - cooperativa de crédito de capital e empréstimo: a autorizada a realizar as operações previstas no art. 17, exceto as previstas em seu inciso I, observadas as restrições contidas no art. 18 (RESOLUÇÃO 4.434/2015, ART. 15).

Page 38: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

36

O cenário atual do cooperativismo no Brasil e no mundo é apresentado na próxima

subseção.

2.2.3 Perspectivas atuais do cooperativismo no Bras il e no mundo

Conforme apontado anteriormente, a tendência atual do movimento cooperativista

mundial é travar uma discussão do capital como fator de produção, respeitando a

dimensão social e a solidariedade (BIALOSKORSKI NETO, 2006).

Economias mais maduras utilizam, há muito tempo, o cooperativismo de crédito

como instrumento impulsionador de setores econômicos estratégicos. Os principais

exemplos de cooperativismos são encontrados especialmente em alguns países da

Europa, como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda e Portugal. Fora deste

eixo, destacam-se as experiências americana, canadense e japonesa (BACEN, SD).

O relatório anual da European Association of Co-Operative Banks destaca a

importância do papel dos bancos cooperativos no continente europeu, visto que

elesatingem180 milhões de clientes, 60 milhões de associados, com uma

participação de mercado de cerca de 20% do mercado de depósitos (BACEN, SD).

Conforme Portal do Cooperativismo de Crédito (2014) seriam estes os estágios do

cooperativismo em alguns países:

a) França - O sistema encontra-se consolidado. As caixas cooperativas agrícolas

ocupam o sétimo lugar mundial no sistema bancário e de crédito;

b) Canadá - Em cada três habitantes, um é membro de uma Caixa Cooperativa de

Crédito;

c) Holanda - O Cooperativismo de crédito é bem estruturado e responde por

expressiva parcela do movimento financeiro do país. Mantém agências de apoio

em países em desenvolvimento;

d) Itália - O sistema é aberto e funciona como banco, com grande participação no

mercado financeiro italiano;

e) Países da Ásia - Situação similar à da Europa, com o Cooperativismo alcançando

bons resultados na Índia e grande expressividade no Japão.

Page 39: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

37

f) Estados Unidos - Primeira Cooperativa fundada em 1909. Hoje têm grande

participação na economia - 93 milhões de americanos são associados -, assim

como no Canadá;

g) Alemanha - O país conta com cerca de 18 milhões de pessoas associadas e 30

milhões de correntistas, numa população de cerca de 85 milhões de habitantes.

O volume de recursos movimentados corresponde a mais de 18% do mercado

financeiro alemão;

h) Portugal - É um dos países da União Europeia que consagrou

constitucionalmente a importância econômica do cooperativismo e fez dele um

setor estrutural do desenvolvimento nacional.

O Portal do Cooperativismo (2014) destaca ainda que entre os 50 maiores sistemas

bancários do mundo, seis são bancos cooperativos, representados por:

CreditAgricole, Rabobank, Natixis, Norinchukin Bank, Dz Bank e CreditMutuel.

Conforme Port (2012, p. 69), “nos países em que o cooperativismo está mais

desenvolvido, as cooperativas sujeitam-se às legislações relativas às instituições

financeiras em geral”. O autor aponta ainda que não há que se falar na existência de

um modelo certo ou errado, importando o objetivo pelo qual a cooperativa de crédito

foi criada.

Souza (2009) aponta para o caso brasileiro alguns problemas que impedem o

desenvolvimento do Cooperativismo, especialmente do Cooperativismo de Crédito,

como:

a) Falta de profissionalismo na administração e, consequentemente, no corpo

funcional das Cooperativas;

b) Políticas governamentais restritivas;

c) Legislação em descompasso com o avanço da sociedade brasileira;

d) A diversidade de órgãos de representação;

e) A atual estrutura do sistema cooperativista de crédito.

Cada região do país viveu momentos históricos variados, o que resultou numa

diversidade cultural, com reflexos no processo de desenvolvimento do

cooperativismo de crédito, que, enquanto ajuntamento de cooperativas, não se

Page 40: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

38

apresenta como algo uniforme. Assim, a superação dessas desigualdades sociais e

econômicas regionais talvez seja o maior desafio que o Brasil enfrenta (SOUZA,

2009).

Albert (2005) destaca como principais entraves para desenvolvimento do

cooperativismo o déficit educativo experimentado nos últimos anos, com falta de

planejamento sistemático da produção, transmissão e renovação da cultura

cooperativista.

Francisco (2014) defende, dentre outros aspectos, que a educação cooperativista

seria um dos mecanismos para boa prática da governança corporativa. Os

processos educacionais para serem mais efetivos devem permitir a adequada

participação do associado na cooperativa. Numa complementação à educação

cooperativa e financeira, os projetos educativos devem abordar outras temáticas,

ofertando cursos de caráter mais técnico, como contabilidade, direito e governança

(BACEN, 2015).

Embora aponte a educação como um problema que permeia o movimento

cooperativista mundial, Souza (2009) entende que este seria um dos mais eficientes

instrumentos de correção dos contrastes assinalados. Quanto ao processo de

gestão, entende que os dirigentes das cooperativas, escolhidos democraticamente

entre o seu quadro social, devido às suas origens, não trazem consigo experiências

significativas em gestão de instituições financeiras.

No tocante às cooperativas de crédito, Souza (2009) identificou que apenas cerca de

3% da população brasileira participava de cooperativa, fato que reforça a

necessidade de divulgação das peculiaridades das cooperativas de crédito, tanto

para a população escolarizada quanto para os analfabetos funcionais e as pessoas

de baixo nível escolar, que ajudavam a compor os 60% da força de trabalho

informal.

Ademais, a Lei Cooperativista, promulgada no contexto da Ditadura Militar,

distancia-a das exigências atuais do movimento. Por não exigir a filiação a uma

Confederação ou Federação, faz proliferar o número de cooperativas isoladas do

Page 41: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

39

sistema, chamadas “independentes”, fragmentando ainda mais a imagem do sistema

cooperativista de crédito. Esta Lei não considera uma Auditoria obrigatória para todo

o Cooperativismo Brasileiro em comum, o que assegura o controle obrigatório

somente do setor de crédito. Esta exigência poderia contribuir para aumentar a

transparência e credibilidade de todo sistema (SOUZA 2009).

Em pesquisa realizada em cooperativas de crédito brasileiras, Tosini e Bastos

(2008) identificaram que 74,48% não possuíam estrutura de auditoria interna, o que,

em parte, pode ser explicado pela transferência desse serviço às cooperativas

centrais.

Por sua vez, Lima (2014) identificou que em 81 cooperativas de crédito brasileiras,

apenas 63,8% dos respondentes afirmaram não existir estrutura própria de auditoria

interna, o que sinaliza deficiências nos controles internos dessas cooperativas.

Para manter ou ampliar sua fatia no mercado financeiro, mesmo que aumentando os

problemas de agência e o risco moral, o segmento de crédito cooperativo tem como

desafio melhorar suas práticas de governança, especialmente adotando

instrumentos de fiscalização e controle interno e externo mais eficiente (TOSINI;

BASTOS, 2008, VENTURA, 2009).

Não obstante alguns problemas percebidos no cooperativismo, o ano de 2012

tornou-se especial para o cooperativismo mundial, tendo sido declarado pela

Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional das Cooperativas.

O slogan escolhido é ”empresas cooperativas constroem um mundo melhor” (PORT,

2012).

A importância deste empreendimento se expressa no total de pessoas ligadas a

cooperativas, que, segundo o relatório “Global Business Ownership 2012”, chegava

a 1 bilhão, superando o total de acionistas de empresas com capital, que era de 328

milhões. As maiores populações cooperativas localizavam-se na Índia (242 milhões),

China (160 milhões) e Estados Unidos da América-EUA (120 milhões), sendo que

uma em cada cinco pessoas nas Américas era membro de uma cooperativa. A

Page 42: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

40

estimativa é que em 2020 as cooperativas possam ser o modelo de negócio de

maior crescimento (PORT, 2012).

Conforme apresentado, as cooperativas de crédito concorrem com as demais

instituições bancárias na capitação de clientes, via concessão de crédito. O contexto

brasileiro em que estão inseridas mostra um amadurecimento do setor em termos

normativos, necessitando, porém,de mecanismos que garantam uma maior

participação dos cooperados, principalmente, com investimento em educação

cooperativista. A melhoria na governança corporativa é fator que pode aumentar a

credibilidade e, consequentemente, o afluxo de fontes de financiamento, via

captação de recursos (VENTURA, 2009).

A próxima subseção apresenta os conceitos básicos da Teoria da Agência.

2.3 A Teoria da agência

A Teoria da Agência ou Teoria do Agente-Principal, desenvolvida por Jensen e

Meckling (1976), tendo sua raiz no utilitarismo econômico de Ross, adota como

premissa básica a existência de um mercado regido por contratos firmados entre os

agentes econômicos (empresas, governo ou pessoas físicas). Neste prisma, toda a

atividade econômica seria reduzida a uma série de contratos bilaterais passíveis de

serem firmados ou rompidos a qualquer momento por qualquer uma das partes.

O agente dispõe de informações privilegiadas, logo suas ações afetam o bem-estar

entre as partes, sendo dificilmente observáveis pelo principal. Esta situação gera o

problema de assimetria de informações entre o agente (gestor) e o principal

(proprietário), beneficiando o primeiro em detrimento do segundo (JENSEN e

MECKLING, 1976; EISENHARDT, 1989).

Considerando que existe dificuldade no monitoramento de esforço dos atores

econômicos envolvidos em uma transação, a elaboração dos contratos torna-se

complexa, exigindo a inclusão de incentivos baseados na performance observada, o

que acaba levando ao enfrentamento de trade off entre incentivos ótimos e

repartição de riscos ótima (JENSEN; MECKLING, 1976).

Page 43: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

41

Para Simon, citado por Moura Costa (2008), o homem, possui racionalidade limitada,

o que restringe sua capacidade para diversas atividades relacionadas às transações

econômicas. A partir desta constatação, estaria comprometida a capacidade

humana de prever todas as possibilidades e alternativas possíveis de ocorrência no

futuro, fazendo com que os contratos reais sejam imperfeitos, uma vez que existem

informações privadas não conhecidas por todos. Portanto, seria impossível que

houvesse um contrato completo, reconhecendo-se a existência de informações

assimétricas entre as partes contratantes (MILGROM; ROBERTS, 1992).

Silveira (2002) defende que uma alternativa para que sejam limitadas as

divergências oriundas da relação entre acionistas e gestores, seria o monitoramento

das atividades dos executivos, aliado ao estabelecimento de incentivos contratuais

apropriados. Porém, ressalta que tais diretrizes fariam com que os acionistas

incorressem em custos nesta tentativa de alinhamento dos interesses dos gestores

aos seus, levando à ocorrência de custos de agência.

Jensen e Meckling (1976) mencionam que os custos de agência seriam a soma de:

a) Custos de criação e estruturação de contratos entre o principal e o agente;

b) Gastos de monitoramento das atividades dos gestores pelo principal;

c) Gastos promovidos pelo próprio agente, para mostrar ao principal que seus atos

não serão prejudiciais ao mesmo;

d) Perdas residuais, decorrentes da diminuição da riqueza do principal, por

eventuais divergências entre as decisões do agente e as decisões que iriam

maximizar a riqueza do principal.

Complementarmente, o risco moral pode ser visto como: a) um problema de

informação (informações distorcidas, insuficientes ou imperfeitas); b) falta de

alinhamento de interesses (interesses privados e diferentes níveis de conhecimento

para delegação) e c) dificuldades de monitoramento das ações dos agentes

(dificuldades ligadas ao acompanhamento dos esforços dos agentes econômicos ou

decorrentes da falta de incentivos no contrato) (VARIAN, 2010; SALANIÉ, 1997;

MILGROM; ROBERTS, 1992).

Page 44: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

42

A dificuldade no estabelecimento de contratos perfeitos, em virtude da assimetria de

informação, leva à seleção adversa (Screening) e ao risco moral (moral hazard),

fatores que impedem o bom funcionamento dos mercados financeiros, com

consequente racionamento do crédito para os demandantes. A seleção adversa,

derivada do custo de acesso à informação, consiste no fato de que a escolha do

produto ocorre antes da transação ser efetivada. Ofertantes e demandantes têm

expectativas diferentes, sendo, portanto, adversas. Por outro lado, o risco moral se

baseia nas ações dos agentes causadoras de problemas após ocorrência da

transação (CARVALHO et al., 2002).

Para que sejam diminuídas as assimetrias e, consequentemente, o oportunismo que

antecede o acordo contratual, Williamson (1985) defende que devem ser emitidos

sinais e informações (signaling) por aqueles que as detém. Ademais, deve haver

uma busca (screening), por meio de incentivos apropriados, de mais informações,

além das que estejam disponíveis.

A definição dos postos de trabalho se parametriza a partir do padrão médio de

comportamento dos trabalhadores, haja vista o reconhecimento por parte das

organizações, dos altos custos envolvidos numa seleção ótima, sendo, portanto, a

seleção adversa e o risco moral, problemas diários que enfrentam as organizações.

A Teoria da Agência parece ideologicamente incapaz de tratar igualmente as partes

contratantes, pois além de não reconhecer a assimetria do poder e de recursos

dentro da organização, também, não considera relevantes os aspectos cooperativos

mais amplos da vida social (PERROW1, 1991 citado por LIMA; ARAÚJO; AMARAL,

2008).

A nomeação do dirigente (agente) pelo capitalista (principal) se baseia em variáveis

como: proporção do capital detido pelo dirigente; taxas de distribuição dos lucros;

taxa de retirada pelos dirigentes e custos de indenização. Contudo, por mais

adequado que sejam os incentivos, sempre existirão margens para ações

discricionárias dos gestores, que não podem ser eliminadas completamente

(LOUVET; TARAMASCO, 2007).

1 PERROW, C. Sociologia de las organizaciones. España: McGraw-Hill, 1991. 369 p.

Page 45: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

43

Na visão contratual, a firma é entendida como um nexo de contratos entre clientes,

trabalhadores, executivos e acionistas de material e capital. O contrato assinado

entre executivos e acionistas conteria as diretrizes do que deveria ser feito pelos

gestores quando da disponibilização dos recursos da empresa (SILVEIRA, 2002).

Os contratos completos são inviáveis, pois, dada a possibilidade de ocorrência de

eventos não esperados, nem todos podem ser cumpridos. Isto obriga que os

gestores tomem decisões em circunstâncias não previstas previamente, exigindo

que tenham uma experiência e competência compatível com as decisões que

precisam ser tomadas, mesmo porque, estes possuem mais conhecimento do

negócio do que os acionistas, tendo melhores condições de alocar, de forma mais

eficiente, os recursos da empresa (SILVEIRA, 2002).

Uma possível solução para mitigar o problema do direito residual de controle dos

executivos, apontado por Jensen e Meckling (1976), seria a concessão, aos

gestores, de incentivo ex-ante de longo prazo.

Por outro lado, em Shleifer e Vishny (1996), encontra-se a informação de que o

principal problema dos contratos de incentivo é o fato de eles criarem um enorme

potencial para ganhos extras por parte dos gestores, principalmente, quando eles

negociam seus contratos de incentivo com conselhos de administração passivos ou

por eles dominados. Tal situação ocorreria porque, ao definir os termos do contrato,

já seriam conhecedores do comportamento dos lucros durante certo período

ou,simplesmente, manipulariam os dados contábeis e a política de investimento da

companhia.

Nas empresas privadas, o controle é exercido pelo grupo detentor da maioria dos

votos do conselho, permitindo que os custos de transação declinem rapidamente.

Contudo, a maioria dos proprietários não tem controle, sendo este exercido por

quem têm uma parcela pequena da propriedade total, o que permite dizer que o

controle estaria separado da propriedade, ficando nas mãos da própria

administração, que acaba perpetuando sua posição (BERLE; MEANS, 1984).

Page 46: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

44

Finalizada a apresentação da Teoria da Agência, abordam-se, na sequência os

conflitos de agência em cooperativas de crédito.

2.3.1 Os conflitos de agência em cooperativas de cr édito

Em relação às cooperativas de crédito, dentre as vantagens deste tipo de

organização está a solução natural dos problemas da seleção adversa do mercado

financeiro tradicional. Estes problemas resultam no racionamento do crédito, pois o

mutualismo permite o acesso aos serviços financeiros para agentes de forma mais

facilitada (CUEVAS; FISCHER, 2006).

As características peculiares das cooperativas geridas pelos proprietários parecem

sugerir que estaria afastado o problema de agência na relação entre proprietário

(principal) e gestores (agentes). Contudo, nem todos os sócios têm o mesmo nível

de informação, sendo divergentes também os objetivos e interesses, fazendo surgir

conflitos devido à segmentação natural entre os gestores e demais associados.

Portanto, o processo de delegação das decisões a um grupo restrito eleito faz surgir

o problema clássico de governança. Neste prisma, as cooperativas de crédito

precisam pautar seu funcionamento nos princípios e valores do projeto de

governança corporativa, pois em seu funcionamento há delegação de funções

executivas a um profissional ou grupo, cooperado ou não, o que gera diferença no

conhecimento do negócio pelos proprietários ou cooperados (VENTURA, 2009).

Ressalte-se que uma das características das cooperativas não é o lucro individual,

mas, sim, alcançar objetivos econômicos e sociais do grupo, com oferta de mais

vantagens aos seus cooperados (BRESSAN; BRAGA; BRESSAN, 2012a).

Branch e Baker (2000) apresentam que o principal problema de agência em

cooperativas, embora não seja restrito a estas organizações, deriva do fato de que,

muitas vezes, não há uma clara separação entre os proprietários (associados) e os

tomadores de decisão (gerentes) da instituição. As cooperativas de crédito também

possuem outras características peculiares como: os proprietários (associados) são

também seus clientes; os clientes (proprietários) podem ser poupadores ou

Page 47: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

45

tomadores; cada associado equivale a um voto, independente da quantia investida e

falta experiência empresarial e conhecimento financeiro aos associados.

Cuevas e Fischer (2006) apresentam como conflitos principais de agência que

dominam as cooperativas de crédito, o conflito tomador de empréstimo versus

poupador e o conflito associado versus gerência.

Na relação entre tomador de empréstimo versus poupador, há forte evidência

empírica de que este conflito tenha contribuído por muitos fracassos encontrados

nas cooperativas de crédito latino americanas. Este fracasso pode ser explicado

pelo grande número de distorções, que acabam contribuindo para criar um viés em

direção aos tomadores de empréstimo. Para minorar este problema, torna-se

imprescindível a proteção dos interesses tanto dos poupadores quanto dos

tomadores de empréstimos, objetivando impedir o controle da direção pelos

interesses dos tomadores de empréstimo. Portanto, devem ser praticados os

princípios da gestão e controle democráticos, visando garantir a autonomia e

independência necessárias na condução das atividades da cooperativa (LIMA;

ARAÚJO; AMARAL, 2008).

As cooperativas que oferecem baixas taxas sobre os empréstimos e baixas taxas de

remuneração sobre os depósitos são dominadas pelos tomadores. Já os

empreendimentos que praticam altas taxas para remunerar os depósitos e altas

taxas sobre os empréstimos são dominadas pelos aplicadores (BRESSAN; BRAGA;

BRESSAN, 2012a).

Existe uma tendência dos tomadores de empréstimo em dominar a direção da

cooperativa de crédito, administrando-a conforme seus interesses. Isto faz com que

as pessoas, ao se associarem, tenham como intuito principal tomar empréstimos

mais vantajosos, e não o depósito de recursos, propiciando o aumento da

inadimplência (WESTLEY; BRANCH, 2000).

O papel da cooperativa de crédito seria o de intermediador do conflito entre os

interesses dos cooperados e dos aplicadores e tomadores de recursos. Buscaria

desta forma, prover taxas mais elevadas para as aplicações e taxas mais baixas

Page 48: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

46

para os empréstimos do que aquelas praticadas pelo sistema financeiro tradicional

(BRESSAN et al., 2012b). Na prática, o benefício e o valor produzido por uma

cooperativa são revertidos para seus proprietários/associados por meio das relações

entre cooperados e a cooperativa (PELLERVO, 2000).

Contudo, Bressan, Braga e Bressan (2012a) ao estudarem o comportamento de

dominação nas cooperativas de crédito mineiras, identificaram que as cooperativas

de crédito filiadas ao Sicoob Crediminas são dominadas por membros tomadores,

indicando que os cooperados preocupam-se mais com a obtenção do que com a

aplicação de recursos financeiros.

A solução desses problemas de agência depende de definições claras das regras

que determinam as responsabilidades de cada um dos envolvidos na gestão da

cooperativa (WESTLEY; BRANCH, 2000).

Para minorar o conflito associado versus gerência, deve haver redução da

assimetria de informações. Isto exige tempo e participação nas decisões coletivas e

no exercício do controle interno, com cobrança e acompanhamento das atividades

da cooperativa. As estruturas e processos de decisão coletiva devem representar as

diversas correntes de ideais e interesses, capturando a expectativa dos cooperados,

que necessitam ser bem informados. Não há que se falar na reinvenção de modelos

consolidados, mas, sim, registrar e difundir bons exemplos das boas práticas de

governança (VENTURA, 2009).

Também, para superação dos conflitos de agência nas cooperativas de crédito há

que serem tomadas algumas providências, que são aplicadas às empresas

tradicionais, como: regras de governança bem definidas; controles internos eficazes;

adequação dos serviços prestados; adoção de regulamentações prudenciais e

supervisão externa (BRANCH; BAKER, 2000).

Organizações grandes e complexas como as cooperativas podem adotar como boas

práticas de governança eficientes controles internos e mecanismos que facilitem a

tomada de decisões como a separação entre o controle e a propriedade conforme

visto na subseção seguinte.

Page 49: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

47

2.3.2 Separação entre controle e propriedade

Conforme Saito e Silveira (2008), a estrutura de propriedade e os conflitos de

interesse na gestão das organizações sempre ganharam destaque nas discussões

sobre governança corporativa. A relevância do estudo relativo à estrutura de

propriedade das empresas de capital aberto resultaria da análise do comportamento

dos agentes em relação ao risco (COUTINHO; AMARAL; BERTUCCI, 2006, p. 197).

A pulverização do controle da empresa em virtude do próprio processo de

desenvolvimento dos mercados de capitais ocorreu de forma mais rápida e intensa

nos países que, entre outros fatores, ofereceram maior proteção legal aos

investidores por meio de garantias legais e regras de mercado claras (SILVEIRA,

2002).

Por sua vez, nos países em desenvolvimento e na Europa continental, o potencial

para que ocorra a expropriação dos minoritários pelos controladores apresenta-se

como principal problema de agência, “implicando custos que excederiam os

benefícios que a concentração da propriedade e do controle poderia acarretar em

termos de monitoramento e de custos de transação” (ALDRIGHI; NETO, 2005, p.

116). No Brasil, há proteção legal ruim para os investidores, o que favorece a

ocorrência de expropriação dos minoritários (BORGERTH, 2007).

Para Andrade e Rossetti (2007), a tendência em todos os países é a busca por

processos e governança de alta eficácia, em que se almejariam os objetivos da

promoção do empowerment do conselho de administração, o desenvolvimento da

diretoria executiva, o monitoramento estratégico e criação de condições para

conversação entre as três âncoras da governança: acionistas-conselho-direção.

Berle e Means (1984) apontam que com a dispersão da riqueza em ações, a

propriedade e o controle sobre a riqueza deixaram de estar nas mesmas mãos. O

controle pertenceria ao indivíduo ou grupo detentor de poderes para selecionar ou

influenciar o conselho de diretores, utilizando, para tanto, como estratégias de

escolha, o poder efetivo (controle minoritário e controle administrativo) ou o direito

Page 50: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

48

legal (posse quase total, controle majoritário e dispositivo legal sem propriedade

majoritária).

Saito e Silveira (2008), não obstante admitirem que o processo de distribuição de

ações seja resultado de características corporativas diversas, observam, com base

nos trabalhos de Jensen e Meckling (1976)2 e Morck, Shleifer e Vishny (1988)3, que

a partir do momento em que os gestores são também os proprietários majoritários, a

tendência é ocorrer maior alinhamento de interesses.

Contudo, uma maior concentração de ações pode levar a um entrincheiramento dos

gestores, com implicações negativas no valor da organização (MORCK; SHLEIFER;

VISHNY, 1988 citado por SAITO; SILVEIRA, 2008). Ademais, os benefícios de

controlar uma dada companhia são contrapostos ao maior risco oriundo da

concentração de recursos em determinadas ações (COUTINHO; AMARAL;

BERTUCCI, 2006).

As firmas adquirem comando sobre um determinado conjunto de recursos

prometendo retornos futuros para os ofertantes de capital financeiro, que nem

sempre exercem ou desejam exercer diretamente o controle das atividades

organizacionais (ALCHIAN; DEMSETZ, 1972).

A separação da propriedade e controle teria sido responsável pelo surgimento da

necessidade de mecanismos que alinhassem os interesses dos agentes aos dos

principais, a fim de fazer com que os primeiros procurassem sempre agir no melhor

interesse de todos os acionistas, maximizando a riqueza do investimento (SILVEIRA,

2002).

Organizações complexas e de propriedade difusa aumentam a probabilidade de

sobreviverem com a separação entre propriedade e decisão de gestão, mitigando os

problemas de agência, o shirking e os custos de tomada de decisão coletiva com

baixo nível de informação (MOURA COSTA; AZEVEDO, 2010). 2 JENSEN, M.; MECKLING, W. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, v. 3, n. 4, p. 305-360, 1976. 3 MORCK, R.; SHLEIFER, A.; VISHNY, R. W. Management ownership and market valuation: an empirical analysis. Journal of Financial Economics, v. 20, n. 1/2, p. 293-315. 1988.

Page 51: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

49

Para Alchian e Demsetz (1972), o shirk ocorre quando o funcionário não

desempenha suas tarefas da forma correta e visa a seus próprios benefícios, o que

exige monitoramento de seu desempenho, para alcance dos objetivos do principal.

Conforme Coutinho, Amaral e Bertucci (2006), os principais delegam o poder

decisório aos agentes, cuja função principal seria negociar e gerenciar os outros

fatores de produção. Contudo, apesar do controle fornecido pelo ambiente

competitivo e pelo monitoramento por parte dos acionistas e pelo mercado, os

gestores tomam decisões que nem sempre estão em consonância com os

interesses dos proprietários. Esta é uma situação típica de ambientes nos quais

ocorre delegação de poder decisório (relação de agência), em que o futuro da firma

é decidido por seus gerentes e não por seus proprietários.

Os direitos assimétricos existentes entre minoritários e majoritários produzem custos

de agência, colocando a necessidade de mecanismos ex-ante, para monitoramento

e controle internos (ex. estrutura de propriedade) e externos (mercado competitivo e

os padrões contábeis exigidos) de tais custos (DAMI; ROGERS; RIBEIRO, 2007)

Na visão de Borgerth (2007), os agentes de governança corporativa têm de encarar

suas posições não como uma chancela de poder, mas como um compromisso com a

empresa e seus usuários da informação contábil.

Na próxima subseção, é apresentada a separação entre controle e propriedade em

cooperativas de crédito.

2.3.3 Separação entre controle e propriedade em coo perativas de crédito

A abdicação do direito de controle consiste em delegar parte desse direito,

renunciando ao controle formal da organização sobre as regras de alocação dos

ativos e dos instrumentos de incentivos, que culmina na autoridade para nomear e

destituir o agente responsável pela gestão (MOURA COSTA; AZEVEDO, 2010).

Trindade e Bialoskorski Neto (2012) entendem que quando o número de

proprietários é grande, faz-se necessário haver separação entre a propriedade e a

Page 52: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

50

gestão. Assim, considerando o fato dos contratos serem incompletos, seria

impossível a elaboração de um contrato que prevenisse todas as possibilidades de

futuras ocorrências. Portanto, tornam-se imprescindíveis mecanismos de

governança corporativa para manter, controlar e monitorar o alinhamento de

interesse das partes, reduzindo os conflitos de agência.

Apesar de não ser comum o proprietário abdicar do direito ao resultado líquido, a

abdicação dos direitos de controle da firma é indicada para organizações de

propriedade difusa como as cooperativas (ALCHIAN; DEMSETZ, 1972).

Nesta mesma linha de pensamento, Demsetz e Lehn (1985) informam que quanto

mais difusa for a estrutura de propriedade, maior será o número de cooperados,

aumentando-se a probabilidade de delegação dos direitos de controle formal.

Porém, esta decisão seria influenciada ainda por outros fatores como: a) reputação

do agente, pois se espera que o conselho de administração atue de forma alinhada

aos interesses dos cooperados e b) percepção do esforço do agente no

desenvolvimento de suas atividades na captação de informações sobre as decisões

a serem tomadas (BAKER; GIBBONS; MURPHY, 1999; AGHION; TIROLE, 1997).

Ventura (2009) assevera que sólidos controles internos asseguram uma governança

corporativa eficaz nestas instituições, dando estabilidade e continuidade às

atividades individuais e àquelas de todo o Sistema Financeiro Nacional.

Ademais, como o proprietário é a parte mais interessada nos negócios da

cooperativa, a administração tem o dever de criar instrumentos para assegurar sua

participação, evitando o chamado efeito carona (free rider). Esse comportamento

(efeito carona) se relaciona diretamente ao sentimento de pertencimento e

propriedade dos associados e “se manifesta quando as pessoas sentem que sua

contribuição individual representa pouco para o todo ou não lhe permite capturar

benefícios individuais” (TOSINI; BASTOS, 2008, p.78).

Sistemas internos de controle frágeis e dificuldade de monitoramento por parte dos

associados fazem com que o associado pondere sobre a importância de participar

da gestão frente aos benefícios que pode obter pela melhoria obtida por essa

Page 53: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

51

supervisão. Há a possibilidade de ocorrer o entendimento de que não há espaço

para melhorar a gestão ou que sua participação não é relevante. A não participação

limita a tomada de consciência e a importância do papel do associado, gerando um

ciclo que enfraquece o controle interno pelos associados (TOSINI; BASTOS, 2008).

Trindade e Bialoskorski Neto (2012) apontam que para o Bacen a profissionalização

da gestão e a separação entre a propriedade e a gestão da organização se

apresentam como aspectos relevantes de governança corporativa no tocante às

cooperativas de crédito. A tomada de decisões de maneira coletiva se torna inviável,

então parte do poder de decisão e controle são delegados a gestores, originando um

contexto de separação entre propriedade e controle, havendo possibilidade de

inclusão de pautas pelos associados em Assembleias Gerais.

No caso das cooperativas, “a ausência de mecanismos formais que permitam aos

associados ou delegados incluírem itens nas pautas das assembleias também

contribui para tornar o controle e a fiscalização ineficientes” (TOSINI; BASTOS,

2008, p.83). Sendo o gestor, ao mesmo tempo, o principal e o agente, embora

possa, em tese, implicar o afastamento do problema de agência, constata-se,

entretanto, que os associados podem não ter os mesmos objetivos e interesses,

havendo segmentação entre os gestores e demais associados, comprometendo o

papel do conselho de definir as estratégias cooperativas (SOARES; VENTURA,

2008).

Para os cooperados, o direito sobre o valor residual dependerá das transações

realizadas com a cooperativa no período, mas seu voto não, pois um homem

equivale a um voto. Assim, cooperados que se envolvem intensamente e que

assumem os riscos associados ao desempenho da cooperativa, podem ter o mesmo

poder de influência que outro cooperado que participe apenas eventualmente das

atividades da cooperativa (HANSMANN, 1996; BIALOSKORSKI NETO, 2006).

Sabidamente, para que a participação seja efetivada, deve ser praticado o princípio

da transparência, almejando que os cooperados tenham conhecimento e capacidade

de decisão a partir de informações que melhorem sua opinião. Torna-se

Page 54: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

52

imprescindível a criação de um canal formal para divulgação de informações

importantes e também para acolhimento de críticas e sugestões (VENTURA, 2009).

Contudo, quando os benefícios pecuniários ou não pecuniários advindos da posição

de controlador da organização tendem a se tornar maiores em função da dificuldade

de monitoramento pelo principal das atividades desenvolvidas pelo agente,

predomina a visão de que o controle não será delegado (HU; HWANG, 2005;

BEBCHUCK, 1999; DEMSETZ; LEHN, 1985).

A não distinção entre o órgão de decisão estratégica e o de execução é exemplo

clássico no Brasil. Ventura (2009) aponta que:

1) Os conselheiros que não ocupam cargos executivos podem ter dificuldade em

acompanhar as propostas e as decisões, já que os executivos têm acesso

facilitado à informação e conhecem melhor as práticas e as operações da

cooperativa;

2) Há participação bastante restrita dos associados que entendem que sua

contribuição individual representa pouco para o todo ou que não lhe

proporcionaria benefícios particulares (efeito carona);

3) Evidencia-se existir um clima de confiança entre associados e gestores eleitos,

reduzindo a participação e fragilizando os mecanismos de controle uma vez que

há percepção de menos necessidade de acompanhamento e fiscalização.

Soares e Ventura (2008, p. 17-18) constataram existir problemas clássicos de

governança devido à “restrição legal de contratação de diretores executivos

estatutários não eleitos em assembleia e não associados, bem como da não

existência de dois órgãos de administração independentes”, um com funções

estratégicas (Conselho de Administração) e outro com funções executivas (Diretoria

Executiva). Visando impedir a concentração de poder e a assimetria de informações,

torna-se necessária, no ambiente do crédito cooperativo brasileiro, a separação

destas funções.

Finalizado o referencial teórico, no capítulo seguinte apresenta-se a ambiência do

estudo.

Page 55: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

53

3 AMBIÊNCIA DO ESTUDO

As cooperativas investigadas (unidades de análise)4 fazem parte do Sistema de

Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). Serão identificadas ao longo do estudo

com os nomes fictícios de Cooperativa de Crédito Alfa ou, simplesmente,

Cooperativa Alfa, e Cooperativa de Crédito Beta ou, simplesmente, Cooperativa

Beta.

Os empreendimentos são filiados à Central das Cooperativas de Crédito do Estado

de Minas Gerais (atual SICOOB Central Cecremge). Desta forma, utilizam os

serviços de compensação bancária do Banco Cooperativo (Bancoob). As

Cooperativas permitem que seus clientes formem pequenas poupanças na forma de

capital social.

O Sicoob é o maior sistema financeiro cooperativo do país com mais de 2,9 milhões

de associados, 2,2 mil pontos de atendimento, distribuídos em 25 estados e no

Distrito Federal. Esse sistema procura oferecer produtos e serviços bancários e

garantias para o patrimônio dos seus associados (SICOOB, 2015).

As organizações (unidades de análise) apresentam sua natureza jurídica como uma

instituição financeira não bancária, sendo uma sociedade cooperativa de

responsabilidade limitada, de pessoas, de natureza simples e sem fins lucrativos

(COOPERATIVA ALFA, 2015; COOPERATIVA BETA, 2015).

Dentre o negócio ou objeto social das Cooperativas Alfa e Beta, além de outras

operações que venham a ser permitidas às sociedades cooperativas de crédito,

incluem-se:

a) Desenvolvimento de programas de poupança, de uso adequado do crédito e de

prestação de serviços;

b) Prover, através da mutualidade, prestação de serviços financeiros a seus

associados;

4 Não constam nas referências, pois não serão feitas identificações das cooperativas pesquisadas.

Page 56: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

54

c) Formação educacional de seus associados, no sentido de fomentar o

cooperativismo.

As estruturas de governança corporativa das unidades de análise são compostas

pelos seguintes órgãos sociais: a) Assembleia Geral; b) Conselho de Administração;

c) Diretoria Executiva e e) Conselho Fiscal.

As Assembleias Gerais (ordinária ou extraordinária) são os órgãos supremos das

Cooperativas objeto de estudo. Suas decisões, quando de interesse social e

amparadas na Lei e no seu Estatuto Social, vinculam a todos os associados (mesmo

que ausentes ou discordantes) de forma indistinta (COOPERATIVA ALFA, 2015;

COOPERATIVA BETA, 2015).

Os Conselhos de Administração (CA) e as Diretorias Executivas (DE) compõem os

órgãos de administração das Cooperativas Alfa e Beta. Os Conselhos de

Administração (CA) têm atribuições estratégicas, orientadoras, eletivas e

supervisoras, não abrangendo funções operacionais ou executivas. A Diretoria

Executiva (DE) subordina-se ao Conselho de Administração (COOPERATIVA ALFA,

2015; COOPERATIVA BETA, 2015).

Os Conselhos Fiscais, dentre outras atribuições, cuidarão das questões financeiras

e contábeis. Também, se preocuparão com questões de controle e avaliação da

execução da política de risco de crédito das Cooperativas. Além do órgão de

governança corporativa, as Cooperativas Alfa e Beta, para melhor desempenho de

suas atividades, contam ainda com os delegados, eleitos de forma democrática

pelos cooperados. Os delegados têm como missão representar os interesses de

todos os grupos de associados, visando tornar os processos decisórios cada vez

mais participativos (COOPERATIVA ALFA, 2015; COOPERATIVA BETA, 2015).

Page 57: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

55

COOPERATIVA DE CRÉDITO ALFA

Fundada em meados de 1996, a Cooperativa Alfa iniciou suas operações em

mar./1999. No segundo semestre de 2008, o empreendimento adotou uma nova

identidade, a identidade nacional do SICOOB BRASIL. Tem foro jurídico na Capital

do estado mineiro, mas atua em outras cidades da Região Metropolitana de Belo

Horizonte (COOPERATIVA ALFA, 2015).

A Cooperativa Alfa apresenta como missão ser uma instituição financeira que

associa produtos e serviços a um atendimento humano e solidário aos seus

cooperados. Tem como visão tornar-se a principal instituição financeira cooperativa

do público para a qual foi criada, ofertando produtos e serviços financeiros

competitivos, proporcionando a participação dos cooperados nos seus negócios

(COOPERATIVA ALFA, 2015).

A cooperativa Alfa tem os seguintes valores, que estão em consonância com os

princípios cooperativistas:

a) Respeito aos ideais do cooperativismo e em especial aos do cooperativismo de

crédito;

b) Transparência;

c) Ética no trato ao cooperado;

d) Ética no relacionamento com outras entidades cooperativistas;

e) Imparcialidade nos negócios;

f) Respeito ao Capital Social da cooperativa e de cada cooperado;

g) Confidencialidade dos negócios;

h) Desenvolvimento pessoal dos cooperados;

i) Promoção da distribuição de renda e da participação de todos;

j) Respeito ao trabalho e aos direitos dos funcionários.

O Conselho de Administração (CA) é composto por 11 membros e a Diretoria

Executiva (DE) é formada por um Diretor Presidente, um Diretor Administrativo, um

Diretor Financeiro e um Diretor de Relações Institucionais. O Conselho Fiscal conta

Page 58: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

56

com três membros efetivos e três suplentes. Há, na organização, 55 delegados

efetivos e dois suplentes (COOPERATIVA ALFA, 2015).

COOPERATIVA DE CRÉDITO BETA

No sítio da organização, constam como objetivos organizacionais a oferta de

empréstimos a juros mais baixos e remuneração melhor das aplicações, com

consequente aumento do poder aquisitivo dos seus associados (COOPERATIVA

BETA).

A Cooperativa foi criada em novembro de 1996, com uma política operacional

baseada na ajuda mútua e melhoria na qualidade de vida, cumprindo o papel de

promover uma economia social e solidária. Apesar de ter foro jurídico na cidade de

Belo Horizonte, atua em várias cidades de Minas Gerais (COOPERATIVA BETA).

A missão da Cooperativa Beta é promover intermediação financeira, com base na

mutualidade e no baixo custo, buscando garantir segurança financeira e bem estar

social aos seus associados. O Empreendimento tem como visão ser a principal

instituição de intermediação de serviços financeiros para os cooperados.

A Cooperativa Beta tem os seguintes valores, que também estão em consonância

com os princípios cooperativistas:

a) Equidade;

b) Integridade;

c) Transparência;

d) Valorização das pessoas.

O Conselho de Administração (CA) é composto por 11 membros. A Diretoria

Executiva (DE) é formada por um Diretor Coordenador, como principal diretor

executivo da Cooperativa, um Diretor Administrativo e um Diretor Financeiro. O

Conselho Fiscal é composto por três membros efetivos e três suplentes, e conta,

ainda, com os delegados (81 efetivos e três suplentes).

No próximo capítulo é apresentada a metodologia.

Page 59: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

57

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

Segundo Bruyne, Herman e Schoutheete (1991), a metodologia é a lógica dos

procedimentos científicos que não se reduz a uma “metrologia” ou tecnologia da

medida dos fatos científicos. Segundo Strauss e Corbin (2008), o método de

pesquisa é um conjunto de procedimentos e técnicas para se coletar e analisar os

dados.

Neste capítulo, detalha-se a metodologia utilizada para o desenvolvimento desta

pesquisa: o tipo de pesquisa e a abordagem, a finalidade e os meios utilizados

para sua realização; o método de coleta de dados e, por fim, o modo como foi

realizado o tratamento e a análise das informações obtidas.

Para Strauss e Corbin (2008), o método de pesquisa é um conjunto de

procedimentos e técnicas utilizados para se coletar e analisar os dados. Em posição

concordante com esses autores, Silverman (1994) aponta que o método

corresponde apenas às várias maneiras de coleta e/ou análise dos dados.

O modelo teórico utilizado nesta pesquisa tomou como base as diretrizes e

mecanismos para fortalecimento da governança em cooperativas de crédito

definidos em 2009, pelo Banco Central do Brasil. Dentre os custos de agência

apontados por Jensen e Meckling (1976), a assimetria de informação e a dificuldade

de monitoramento das ações dos agentes são as dimensões principais investigadas

neste estudo.

Na subseção seguinte, apresenta-se o tipo de pesquisa quanto à abordagem.

4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem

Quanto ao enfoque epistemológico, a pesquisa desenvolvida é qualitativa. Por meio

deste método, permite-se compreender o comportamento e os estados subjetivos

dos sujeitos da pesquisa, partindo de um foco mais interpretativo e livre de

adequações ao método científico, uma vez que se busca construir a realidade sem a

Page 60: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

58

preocupação em quantificá-la, permitindo, portanto, trabalhar com o universo de

crenças, valores, significados e outros construtos profundos das relações que não

podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2003).

Para Vergara (2003), a análise qualitativa destaca a codificação de dados e sua

apresentação de forma mais estruturada. Segundo Günther (2006), perguntas

qualitativas permitem compreender o comportamento e os estados subjetivos, tendo

tanto vantagens quanto desvantagens, as quais se ligam à qualidade, obtenção,

utilização e análise dos dados. Este processo investigatório, na visão de Triviños

(1987), é específico, pois considera a interpretação do resultado com base na

percepção de um fenômeno de forma especulativa, em um dado contexto.

A pesquisa proposta é descritiva, por meio de estudos de casos. Vergara (2003)

entende que a pesquisa descritiva expõe as características de determinada

população ou fenômeno, estabelecendo correlações entre variáveis e definindo sua

natureza. Embora não tenha o compromisso de explicar os fenômenos que

descreve, serva de base para tal. Portanto, o objetivo desta pesquisa é identificar a

presença de conflitos de agência em duas cooperativas de crédito situadas em Belo

Horizonte, que adotam a gestão por delegação.

Para Triviños (1987), por meio do processo descritivo pretende-se descrever os fatos

e fenômenos de determinada realidade com exatidão. Contudo, um sistema

descritivo (mais próximo da quantitativa) não está totalmente livre de perspectivas,

valores e emoções (GÜNTHER, 2006).

Conforme Collis e Hussey (2005), por meio da construção de sistemas descritivos,

espera-se que seja possível fazer o elo com a interpretação dos dados e o

consequente apoio à interpretação do fenômeno, o que é feito na pesquisa aqui

proposta em relação ao processo de delegação de competências, na percepção dos

cooperados das cooperativas de crédito pesquisadas.

Nesta pesquisa, foram feitos estudos de casos em duas cooperativas de crédito

situadas em Belo Horizonte, que adotam a gestão por delegação, tendo como

pressuposto básico identificar a presença de conflitos de agência.

Page 61: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

59

A opção pelo método do estudo de casos é adequada a este trabalho, pois a

natureza desta abordagem está inserida num contexto que implica, muitas

vezes, baixo controle de uma situação ou situações específicas por parte do

investigador (YIN, 2010). Segundo Vergara (2003), o estudo de caso é

circunscrito a uma ou poucas unidades podendo ser uma pessoa, uma família,

um produto, uma empresa, um órgão público, uma comunidade ou mesmo um

país.

A abordagem de estudo de caso implica uma única unidade de análise, podendo ser

uma empresa, um grupo de trabalhadores, um acontecimento, um processo ou até

um individuo (COLLIS; HUSSEY, 2005).

Na próxima subseção, apresentam-se a unidade de análise, a unidade de

observação e os sujeitos que interessam à pesquisa.

4.2 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa

Para esta pesquisa, as unidades de análise são constituídas por duas

cooperativas de crédito situadas em Belo Horizonte.

Conforme Collis e Hussey (2005), uma unidade de análise é o tipo de caso ao qual

as variáveis e o problema de pesquisa se referem. Segundo Godoy (2006), as

unidades de análise estabelecem as fronteiras de interesse do pesquisador e os

ambientes em que o estudo será realizado.

Foram eleitos como sujeitos da pesquisa 10 associados de cada Cooperativa, que

exercem ou não função na área estratégica e no processo da gestão e que

forneceram os dados para a pesquisa. Os sujeitos da pesquisa, quando se referem

às pessoas, às vezes, confundem-se com o universo e a amostra. Entre os

cooperados, para a realização das entrevistas, foram escolhidas 20 pessoas com

base no critério de conveniência e acessibilidade. Este critério, por estar despojado

de qualquer processo estatístico, parte da facilidade de acesso para seleção dos

elementos (VERGARA, 2003).

Page 62: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

60

Acredita-se que a escolha de 10 entrevistados por unidade de análise possa

proporcionar a saturação teórica. Portanto, a inclusão de novos participantes se

torna desnecessária, visto que os dados obtidos passam a apresentar uma certa

redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de

dados (FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008; THIRY CHERQUES, 2009).

Como critérios para seleção dos associados a serem entrevistados, considerou-se o

envolvimento com a gestão da cooperativa e o conhecimento/utilização de algum

serviço básico ofertado pelo empreendimento.

Para o primeiro critério, esse envolvimento implica a participação direta do

cooperado no processo de gestão da organização, visando-se colher depoimentos

de quem, acredita-se, tenha ciência das políticas e estratégias adotadas pela

cooperativa no desenvolvimento de suas atividades.

Portanto, nesse caso, para as Cooperativas Alva e Beta foram entrevistados, para

cada empreendimento, cinco delegados.

No segundo critério, foram entrevistados tanto para a Cooperativa Alva quanto para

Cooperativa Beta cinco cooperados que não exercem função de delegado ou cargo

de direção na organização.

Muitos cooperados fazem apenas a contribuição mensal, visto que os estatutos

preveem a capitalização continuada ao capital social.

Caracterizada a unidade de análise e os sujeitos da pesquisa, na próxima subseção

são apresentadas as técnicas de coleta de dados.

4.3 Técnicas de coleta de dados

Para Vergara (2003), a técnica de coleta de dados é a forma como se obtém os

dados necessários para responder à pergunta, sendo o estudo de caso um meio

a ser utilizado para investigação dos dados. Afirma Yin (2010), que o estudo de

caso não é apenas uma tática para coleta, mas, acima de tudo, uma estratégia

Page 63: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

61

de pesquisa abrangente. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro de

2015 a julho de 2015, sendo realizada por meio de entrevistas (abordagem

qualitativa), com o objetivo de identificar o conflito de agência existente nas

cooperativas pesquisadas.

O roteiro de entrevista (semiestruturado) aplicado tem viés qualitativo, utilizando-se

a técnica da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977).

Como técnicas na coleta de dados, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas.

Conforme Collis e Hussey (2005, p. 160), a entrevista é um método de coleta de

dados por meio do qual são feitas perguntas a participantes previamente

selecionados, objetivando descobrir o que fazem, pensam ou sentem. “Facilitam a

comparação de respostas e podem ser feitas pessoalmente, por telefone ou

computador”.

Para Gil (1989), a entrevista é uma forma de interação social ou, mais

especificamente, uma forma de diálogo assimétrico, em que o entrevistador recorre

ao entrevistado para coletar dados, diagnóstico e orientação que interessem à

investigação. É uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas pelas ciências

sociais.

Nesta pesquisa, foram utilizadas entrevistas individualizadas, que, segundo Fraser e

Gondim (2004, p. 149), aplicadas aos estudos de caso, “constituem-se em uma

interação de díade, indicada quando o objetivo da pesquisa é conhecer em

profundidade os significados e a visão da pessoa”.

Não obstante tenha-se preparado um roteiro para padronização das perguntas, foi

utilizada a técnica de entrevista semiestruturada, visando, segundo Collis e Hussey

(2005), a um melhor entendimento do construto que os entrevistados usam para

suas opiniões sobre determinada questão, deixando-os à vontade para expressar

sua sinceridade e precisão relativa aos assuntos abordados.

Page 64: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

62

Essa técnica assemelha-se à entrevista por pautas proposta por Gil (1989), por

apresentar certo grau de estruturação, sendo que o entrevistador faz poucas

perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente, à medida que reporta às

pautas assinaladas. A estruturação excessiva pode inibir a livre manifestação do

entrevistado, dificultando a compreensão de sistemas de valores e significados de

um grupo social, permitindo a autorreflexão (FRASER; GONDIM, 2004).

Segundo Bauer e Gaskell (2002), a entrevista qualitativa pode oferecer ao

pesquisador uma compreensão em maior profundidade, apresentando informação

contextual de grande valor para explicar alguns achados específicos. Portanto,

objetivando alcançar uma compreensão em profundidade, optou-se pela técnica da

análise de conteúdo popularizada por Laurence Bardin (1977).

O apêndice A traz o roteiro de entrevista aplicado aos cooperados, visando obter

informação contextualizada para explicação de alguns achados específicos da

pesquisa. O roteiro de entrevistas visou colher informações sobre: o processo

político, o processo administrativo, conflitos de agência e o processo decisório.

Em relação às entrevistas, gravadas e, posteriormente, transcritas, foram

colhidos depoimentos de vinte entrevistados. Portanto, foram ouvidas, para cada

cooperativa, dez pessoas, sendo cinco associados não delegados e cinco

delegados.

Conforme estatuto das cooperativas estudadas, os associados não delegados

apesar de poderem participar da Assembleias Gerais (AGs) não terão direito a voto

e voz, cabendo aos delegados a função de representação. Porém os delegados não

podem votar nos assuntos em que tenham interesse direto ou indireto, embora

possam participar dos debates. As decisões nas AGs são tomadas por maioria de

voto dos delegados presentes com direito a votar, sendo que a cada delegado terá

direito a apenas um voto (COOPERATIVA ALFA, 2015; COOPERATIVA BETA,

2015),

Page 65: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

63

Foi observado que os representantes delegados das cooperativas pesquisadas

também pertencem ao grupo de associados, não podendo compor os conselhos de

administração, fiscal e direção.

Portanto, no total, foram ouvidas 20 pessoas, sendo que destas, 10 são delegados

conforme TAB. 2 e 3.

Nas tabelas apresentadas neste trabalho, o gênero masculino foi identificado com a

letra M, e o gênero feminino, com a letra F. A grande maioria (16 entrevistados) tem

ensino superior completo, sendo que somente dois associados da Cooperativa Alfa

têm apenas o ensino médio.

Cooperativa Alfa

Tabela 2 - Identificação dos entrevistados da Coope rativa Alfa

Entrevistado Vínculo Escolaridade Conhece estatuto Gênero Tempo

associação C1 Associado Ensino médio Não F 5 a 10

C2 Associado Ensino médio Não M 3 a 5

C3 Associado Superior Completo Não M 1 a 2

C4 Conselho Adm. Pós-graduação Sim M 10 a 15

C5 Associado Superior Completo Não M 1

D1 Delegado Pós- graduação Sim F 5 a 10

D2 Delegado Superior Completo Sim M 4

D3 Delegado Superior Completo Sim M 5

D4 Delegado Pós-graduação Sim M 5 a 6

D5 Delegado Superior Completo Sim M 12

Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

Na Cooperativa Alfa, o entrevistado C4 (conselheiro de administração) e o delegado

D1 já exerceram funções de conselheiro fiscal. Dentre os 10 entrevistados, apenas

um associado e um delegado pertencem ao gênero feminino. Seis entrevistados não

souberam precisar o tempo de associação à cooperativa de crédito.

Todos os entrevistados apontaram que tomaram a decisão de se associar após

receberem convites de outros associados que já participavam da cooperativa de

crédito. Alguns entrevistados informaram que a possibilidade de obtenção de

empréstimos a custos baixos figurou como a principal motivação.

Page 66: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

64

Primeiro pela divulgação dos colegas de trabalho e, principalmente, pela necessidade (risos) de pegar dinheiro emprestado. Eu precisava de empréstimo, aí o pessoal falou que tinha a cooperativa, que era consignado, desconto em folha, bem mais em conta os juros. Foi por este o motivo (ENTREVISTADO C1). Bom, eu, no momento que eu, é, até tinha conversado com meu pai. Meu pai tinha associado, ele me deu uma a (a) informação, que eu tava precisando de dinheiro, então eu fui pra, mais por causa do dinheiro mesmo, pra solicitar um empréstimo, pra fazer pagamentos que eu tava, de umas despesas que eu estava devendo (ENTREVISTADO C3). É.., sim a possibilidade de crédito. E também de fazer parte de uma (de uma) função com vantagens futuras (ENTREVISTADO C4).

O entrevistado D1, apesar de ter recorrido a empréstimos, não enxerga que este

deva ser o objetivo principal da Cooperativa. Contudo o próprio estatuto da

Cooperativa Alfa traz a opção de empréstimos como um de seus objetivos. Inclusive,

no sítio da organização consta a informação de que a constituição da cooperativa

visou coibir a ação de agiotas.

Cooperativa Beta

Tabela 2 - Identificação dos entrevistados da Coope rativa Beta

Entrevistado Vínculo Escolaridade Conhece estatuto Gênero Tempo

associação C6 Associado Superior Completo Sim F 13

C7 Associado Superior Completo Não F 7

C8 Associado Superior Completo Sim F 10

C9 Associado Superior Completo Não M 15

C10 Associado Superior Completo Sim M 11

D6 Delegado Superior Completo Sim F 7

D7 Delegado Superior Completo Sim M 12

D8 Delegado Superior Completo Sim M 16

D9 Delegado Mestrado Sim M 10

D10 Delegado Pós-graduação Sim F 16

Fonte: Elaborada pelo autor, 2015.

Na Cooperativa Beta, todos os entrevistados apontaram que tomaram a decisão de

se associar após receberem convites de outros associados que já participavam da

cooperativa de crédito. Contudo, o delegado D8 acredita que muitas pessoas

cooperativadas apenas utilizam a instituição para aplicar ou pedir empréstimo, e não

pelo sentido do que é uma cooperativa.

Page 67: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

65

Os entrevistados das Cooperativas Alfa e Beta utilizam as organizações como uma

instituição bancária, em que a realização de investimentos e pagamento de contas

são serviços aproveitados pelos cooperados, mesmo porque há a percepção de que

os ganhos obtidos pela cooperativa com os serviços que esta oferece acabam se

revertendo para todos os associados.

Finalizada a apresentação das técnicas de coleta de dados, a subseção seguinte

traz as técnicas utilizadas na análise dos dados coletados.

4.4 Técnicas de análise de dados

Quanto aos dados, deve-se justificar a pertinência do tratamento destes para os

propósitos da pesquisa, fazendo correlação entre os objetivos e as formas de atingi-

los. Os objetivos são alcançados com a coleta, o tratamento e a interpretação dos

dados (VERGARA, 2003).

Segundo Collis e Hussey (2005), o tratamento e análise dos dados é a etapa mais

importante do processo de pesquisa. Para Minayo (1994), a fase de análise de

dados na pesquisa social reúne três finalidades: estabelecer uma compreensão dos

dados coletados; confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às

questões formuladas e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado,

articulando-o ao contexto cultural do qual faz parte.

Como técnica de análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo proposta por

Bardin. Conforme Franco (2008), a preocupação com a Análise do Conteúdo das

mensagens, dos enunciados dos discursos e das informações, além de antigo,

precede a reflexão que se ocupa da formalização de seus pressupostos

(epistemológicos, teóricos e, até mesmo, operacionais).

Segundo Bardin (1979), o objeto da análise de conteúdo é a linguagem ou o aspecto

individual constituído por um método empírico, formado por um conjunto de

instrumentos de cunho metodológico, que, aperfeiçoados constantemente, se

Page 68: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

66

aplicam a discursos variados, fazendo uso de procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

Embora não se possa afirmar que essa técnica de análise de dados seja a mais

oportuna e favorável, ela, sem dúvida, se configura como uma técnica de uso

cada vez mais frequente e legitimada, principalmente, nos estudos qualitativos

no campo da administração (MOZZATO; GRZYBOVSKI, 2011).

Para Bardin (1979), a análise de conteúdo abarca as iniciativas de explicitação,

sistematização e expressão do conteúdo de mensagens, com o intuito de realizar

deduções lógicas e justificadas a respeito da origem das mensagens. Esse

método de análise constitui-se de algumas etapas para sua consecução,

organizadas em três fases: pré-análise; exploração do material e tratamento dos

resultados, inferência e interpretação.

A análise de conteúdo abrange as iniciativas de explicitação, sistematização e

expressão do conteúdo de mensagens, objetivando possibilitar deduções lógicas

e justificadas a respeito da origem dessas mensagens, no que se refere ao seu

emissor, o contexto em que foram emitidas e/ou quais efeitos delas se pretende

obter. Ao utilizar procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens, a análise de conteúdo intenciona a inferência de

conhecimentos referentes às condições de produção e, eventualmente, recepção

(BARDIN, 1979).

Uma vez que o pesquisador tenha decidido utilizar a análise de conteúdo, deverá

escolher a unidade de análise (de registro e de contexto) que aplicará em sua

pesquisa. A unidade de registro “é a menor parte do conteúdo, cuja ocorrência é

registrada de acordo com as categorias levantadas” (FRANCO, 2008, p. 41).

O tema constante em cada pergunta do roteiro de entrevista foi utilizado como

unidade de registro, visando-se analisar e interpretar o conteúdo de cada resposta

em seu sentido individualizado. O tema é a mais útil unidade de registro, em análise

Page 69: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

67

de conteúdo, indispensável em estudos como de opiniões, expectativas, valores,

atitudes e crenças (FRANCO, 2008).

Para análise e interpretação das mensagens constantes nas entrevistas desta

pesquisa, foi utilizada a unidade de contexto, para que se possa atingir a

necessária diferenciação entre os conceitos de significado e de sentido. A unidade

de contexto deve ser considerada para compreensão da codificação da unidade de

registro, visando à compreensão do significado exato da unidade de registro

(FRANCO, 2008).

Como pré-análise aplicou-se a regra de homogeneidade, sendo que as entrevistas

realizadas deverão captar mensagens sobre o tema escolhido, utilizando-se

perguntas semelhantes (FRANCO, 2008). Conforme Bardin (1979, p. 98), esta regra

pode ser utilizada quando o objetivo for “obter resultados globais ou comparar entre

si os resultados individuais”.

Para a validação do processo comunicativo, quando necessário, esclareceu-se a

pergunta quando esta não foi bem entendida pelo entrevistado ou o próprio

participante da pesquisa perguntou ao pesquisador se houve entendimento correto

da mensagem transmitida (GÜNTHER, 2006).

A análise de categoria utilizou o critério semântico (categorias temáticas). Segundo

Franco (2008), a categorização utiliza analogias, a partir de critérios definidos,

visando a um reagrupamento dos elementos formadores de um conjunto, constitui-

se no ponto crucial da análise de conteúdo. Conforme Bardin (1979), a maior parte

das técnicas propostas é do tipo temático e de frequência. A partir de critérios

previamente definidos, classificam-se os elementos de um conjunto, utilizando-se a

diferenciação, seguida por reagrupamento segundo o gênero (analogia).

As categorias, espécies de rubricas ou classes, reúnem um grupo de elementos

(unidades de registro) sob um título genérico, partindo de seus caracteres comuns.

Estabelecidas as categorias, inicia-se a análise da enunciação, que se apoia na

concepção da comunicação como processo, e não como dado (BARDIN, 1979).

Page 70: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

68

As etapas da análise categorial consistem em: recuperação; análise do significado

pragmático da conversação; validação; montagem da consolidação das falas e

análise de conjuntos. A recuperação consiste em transcrever as entrevistas

atentamente, anotando, preliminarmente, os significados que parecem surgir para

análise posterior. A análise do significado pragmático da conversação é realizada

nas primeiras leituras e audiência do texto transcrito. Nessa leitura preliminar,

observa-se o desenrolar do contexto pragmático do diálogo, atentando-se para o

que aconteceu nas entrevistas e como o assunto se desenvolveu (MATTOS, 2005).

Foi feita, posteriormente, nova leitura e audiência do texto transcrito, objetivando

analisar cada pergunta-resposta transcrita. Procurou-se compreender o significado

principal e incidente das respostas bem como as suposições implícitas a respeito do

contexto organizacional, técnico, estratégico etc. A validação visou confirmar o

significado principal de cada resposta, entendido pelo entrevistador por meio do

próprio entrevistado. Já a montagem da consolidação das falas objetivou dar suporte

à fase seguinte (análise de conjuntos) para consolidação dos significados nucleares

das respostas, criando-se uma “matriz de consolidação”, de dupla entrada (em uma,

os entrevistados, em outra, as perguntas). Na etapa análise de conjuntos, são

produzidos os resultados gerais da análise (MATTOS, 2005, p. 842).

Para este estudo foram exploradas nas entrevistas algumas categorias de análise,

destacando-se: sucessão, monitoramento, treinamento, educação, comunicação e

delegação.

Como subsídio às análises, utilizaram-se como base teórica as diretrizes apontadas

pelo Bacen, tendo Ventura (2009) como organizadora, indicadas para a boa prática

de governança em cooperativas de crédito, especialmente, os critérios de

representação, participação, fiscalização e controle.

Esta subseção encerra a apresentação da metodologia utilizada na pesquisa,

restando claro que a pesquisa estabeleceu uma abordagem, qualitativa (entrevista

semiestruturada). A proposta é descritiva, utilizando-se o estudo de casos. Como

técnicas de coleta de dados, foram feitas entrevistas semiestruturadas com os

Page 71: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

69

associados previamente selecionados. A etapa final da pesquisa constituiu-se na

análise dos dados coletados. A análise de conteúdo foi utilizada como técnica de

análise.

No próximo capítulo é feita a apresentação e análise dos resultados.

Page 72: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

70

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo apresenta os resultados encontrados após a realização das entrevistas

e também traz a análise dos resultados, tomando como referência a literatura e

outras pesquisas relacionadas ao conflito de agência, em especial, nas cooperativas

de crédito.

A caracterização dos participantes foi apresentada em tabelas para facilitar a leitura

dos dados, tendo, posteriormente, sido verificado se as respostas encontradas

corroboram ou não os achados de outras pesquisas e os apontamentos constantes

na literatura.

5.1 Caracterização do processo administrativo

As cooperativas Alfa e Beta, inseridas no sistema cooperativista de crédito como um

todo, segundo percepção dos entrevistados, foram avaliadas como boas.

a) Organização, treinamento e educação cooperativis ta

Objetiva-se, neste item, entender como os entrevistados avaliam as Cooperativas,

especialmente, em relação ao atendimento oferecido aos associados. Também,

intenciona-se verificar se os Empreendimentos oferecem, direta ou indiretamente,

treinamento específico para conselheiros (fiscal e administrativo) e delegados bem

como se as Cooperativas incentivam ou promovem, diretamente, programas de

educação cooperativista.

Cooperativa Alfa

A cooperativa Alfa foi considerada organizada, sendo vista como bem estruturada,

por ter sede própria.

(...) E é muito organizada a cooperativa Alfa, tá organizadinha, assim, o atendimento é bom (ENTREVISTADO D1).

Page 73: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

71

É, ela é (a), é uma cooperativa [pequena pausa] boa. (...). É uma cooperativa boa que ajuda bastante o pessoal, entendeu? (...) (ENTREVISTADO C3). (...) A (a) cooperativa está bem estruturada, hoje tem sede própria, tem um (um) quadro é (é) suficiente de... (de) empregados. E, e na verdade os empregados não são cooperados, né (ENTREVISTADO C4).

Contudo, apesar de o atendimento oferecido pela Cooperativa Alfa, de forma geral,

ter sido considerado satisfatório, o entrevistado C3 apontou problemas no acesso

aos caixas eletrônicos do sistema cooperativista de crédito, e, mesmo tendo relatado

o problema à cooperativa estudada, não obteve retorno.

É, eu tive um grande problema sô, com a cooperativa a respeito do caixa eletrônico deles. Eu também não consigo mexer naquele caixa eletrônico da cooperativa de forma alguma [demonstrou decepção na fala]; Já fui, em hospital geralmente tem esses bancos aí, do Sicoob, né, que é (que é) uma rede, né, das cooperativas. Cara, eu coloco meu cartão lá e o cartão, tem hora que o cartão não lê. Eu coloco meu cartão e ele pede senha. Eu coloco senha e ele fala que não existe (risos). Então, eu tive uma grande dificuldade nisso. Inclusive eu fui, eu mandei até e-mail pra cooperativa disso, explicando sobre isso, mas até hoje eu não obtive retorno, não. Eu tenho até (tenho até) que olhar porque eu tenho um cartão lá. Eu tenho cartão de débito. Eu te falei que de crédito eu não quis. Eu acho até interessante você ter, você movimentar essa conta que você um dia também vai ter aquele fundo de reserva, que você vai querer utilizar. Então, é bom você ter, né. Então fica registrado isso, eu não consegui mexer no caixa eletrônico, de jeito nenhum da cooperativa, de forma alguma [desolação] (ENTREVISTADO C3).

No que se refere à preocupação com a qualificação dos membros dos conselheiros

(fiscal e administrativo) e delegados, os cooperados não souberam emitir opinião,

por não acompanharem o dia a dia da cooperativa. Por sua vez, os delegados

entenderam que esse treinamento tem acontecido. Contudo, um delegado

(entrevistado D5) enfatizou a necessidade de que ele seja oferecido com maior

frequência, para, inclusive, ampliar o contato com outros delegados. Quando à

promoção da educação continuada, a quase totalidade dos entrevistados (nove)

informou que a Cooperativa se preocupa com esta questão, seja colocando

informativos em seu sítio, seja promovendo eventos.

A promoção de ações efetivas de educação cooperativa e de fomento a novas

lideranças é importante para que a cooperativa desenvolva ações sustentáveis

(BACEN, 2015).

Page 74: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

72

Cooperativa Beta

Não obstante a Cooperativa Beta ter incorporado vários outros cooperados, esta foi

considerada uma instituição sólida, atendendo aos anseios dos associados.

Sempre que eu precisei de alguma coisa eu consegui (ENTREVISTADO C8). (...) os cooperados não têm interesse nas coisas administrativas, né. (...) desde que eu conheço a cooperativa eu nunca ouvi falar nada que a desmerecesse (ENTREVISTADO C8).

Ela já passou por vários procedimentos de incorporação, né, entre outras cooperativas e acho que ela tem solidez (ENTREVISTADO D9).

No que se refere à preocupação com a qualificação de conselheiros e delegados,

dentre os cinco cooperados, apenas o entrevistado C10 afirmou saber que os

treinamentos acontecem. Quanto aos delegados, apenas o entrevistado D6 afirmou

que não há investimento em qualificação, sendo que os demais delegados além de

conhecerem, já participaram de alguma espécie de curso. Em relação à promoção

de educação cooperativista, a maioria dos entrevistados apontou que a Cooperativa

incentiva diretamente estes programas, utilizando, inclusive, para tanto, o sítio e os

boletins informativos da instituição.

Uma qualificação maior dos associados é fator positivo para a cooperativa, pois esta

pode, caso necessite, buscar em seu quadro de associados, pessoas com

preparação e capacidade crítica e de análise. Estas características são

imprescindíveis para qualquer empreendimento.

Não se pode perder de vista, também, que cabe à própria cooperativa investir na

qualificação de seus associados, principalmente daqueles que exercem funções de

representação, tornando-a mais apta a crescer neste mercado sabidamente

competitivo e difícil.

Contudo, Albert (2005) entende que, para ser efetiva, a educação cooperativista

deve tomar um caráter geral e ser direcionada inclusive para o público em geral. Não

é demais lembrar que a educação contínua constitui um dos princípios do

movimento cooperativista, devendo os processos educacionais incluir temáticas

Page 75: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

73

diversas necessárias à adequada participação do associado na cooperativa

(BACEN, 2015).

b) Eficácia dos delegados e dos conselhos

De uma maneira geral, os entrevistados das Cooperativas Alfa e Beta não souberam

avaliar se os delegados e conselheiros exercem com eficácia o papel de

monitoramento das ações dos gestores nos empreendimentos pesquisados.

Cooperativa Alfa

Os delegados entrevistados, de maneira quase unânime, consideram que o trabalho

desempenhado pelos delegados e conselheiros é tímido ou devagar, havendo,

portanto, espaço para que se expanda, especificamente, o trabalho dos delegados.

Ah, eu acho que é ainda, é, é, um pouco, é, tímida (...), então, eu acho que está evoluindo. O pessoal tem, hoje, tem cobrado mais do conselho administrativo (ENTREVISTADO D1). (...) Então, tem muito a desenvolver ainda. É uma iniciativa muito positiva. (...). É um aprendizado pra nós que estamos na posição de delegados (ENTREVISTADO D5).

O entrevistado C1 demonstrou, inclusive, desolação por não saber como esse

trabalho é realizado.

É..., como eu desconheço, né, o trabalho que é realizado, é... é..., eu fico, não tenho como eu falar da, da, da, como os delegados agem [pausa pequena], por desconhecimento (ENTREVISTADO C1).

Cooperativa Beta

Em relação à Cooperativa Beta, a falta de entendimento das atividades a serem

desenvolvidas pelos delegados e conselheiros é fator que impediu que a maioria dos

entrevistados (não delegados) soubesse avaliar a eficácia desses representantes.

Ademais, apesar de reconhecer a importância dos delegados, a atuação destes

estaria condicionada aos termos constantes no próprio estatuto, havendo, portanto,

autonomia limitada para atuação conforme apontou o entrevistado D9.

Page 76: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

74

Não obstante a falta de avaliação positiva relativa ao trabalho dos delegados e

conselheiros o BACEN (2015) aponta uma melhor qualidade relacionada à

representação em regime de delegação.

c) Existência de estrutura de auditoria interna

Buscou-se verificar se os entrevistados têm conhecimento da existência de estrutura

própria de auditoria interna.

Cooperativa Alfa

Quanto à existência de auditoria interna, todos os 10 entrevistados afirmaram

desconhecer que essa forma de controle exista na Cooperativa Alfa.

O entrevistado D3 informou que, nas assembleias, nunca foi apontado quem seria o

auditor interno. Ele acredita que este não exista. Já o entrevistado D4 disse que

essa é uma questão ainda um pouco tímida no empreendimento

Na Cooperativa Alfa, o agente de controle interno da própria cooperativa (espécie de

auditor permanente)5 e os auditores da central de cooperativas são os responsáveis

por exercer a função de auditoria.

Conforme já apresentado, Tosini e Bastos (2008) e Lima (2014) apontaram que a

maioria das cooperativas por eles estudadas não possuía este tipo de controle, ou

seja, uma auditoria interna estruturada. A ausência de mecanismos formais que

permitam aos associados ou delegados incluírem itens nas pautas das assembleias

também contribui para tornar o controle e a fiscalização ineficientes.

Cooperativa Beta

Dentre os 10 entrevistados da Cooperativa Beta, apenas os entrevistados C6 e C7

afirmaram desconhecer a existência desse mecanismo de controle no

5 A implementação de estrutura de gerenciamento do risco operacional em instituições financeiras é disciplinada pela Resolução 3.380/2006, do Banco Central.

Page 77: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

75

empreendimento. O processo de auditoria interna além de existir foi apontado como

permanente pelo entrevistado D8.

Tosini e Bastos (2008) asseveram que a falta de controle dos associados é

preocupante uma vez que nas cooperativas de crédito, como os usuários dos

serviços são também os donos do negócio, eles assumem riscos e

responsabilidades que extrapolam as de um simples usuário de serviços financeiros.

Embora a responsabilidade principal pelo bom funcionamento dos instrumentos de

controle e fiscalização seja do Conselho de Administração e da gestão executiva,

estes instrumentos, além dos formalmente disciplinados, podem ser constituídos

pelos agentes (partes interessadas) da cooperativa, incluindo-se entre estes: os

associados, o conselho fiscal, os auditores internos e os empregados (TOSINI e

BASTOS, 2008).

A Resolução nº 3.859/2010, do Banco Central é o normativo que estabelece a

necessidade de existência de adequados controles internos nas cooperativas de

crédito, “com mecanismos que garantam adequada supervisão por parte da

administração e a efetiva utilização de auditoria interna e externa como instrumentos

de controle”.

Art. 3º A constituição de cooperativa de crédito subordina-se às seguintes condições, cujo atendimento será verificado pelo Banco Central do Brasil: I - comprovação das possibilidades de reunião, controle, realização de operações e prestação de serviços na área de atuação pretendida, bem como de manifestação da respectiva cooperativa central ou confederação na hipótese de existência de compromisso de filiação a cooperativa central ou a confederação. III - apresentação de plano de negócios, abrangendo um horizonte de, no mínimo, três anos de funcionamento, contemplando os seguintes aspectos, além daqueles definidos nos §§ 1º e 2º deste artigo... d) definição da estrutura dos controles internos, com mecanismos que garantam adequada supervisão por parte da administração e a efetiva utilização de auditoria interna e externa como instrumentos de controle;

A implementação de estrutura de gerenciamento do risco operacional em instituições

financeiras é disciplinada pela Resolução 3.380/2006, do Banco Central, que

Page 78: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

76

estabelece que esta atividade deve ser executada por unidade específica da

organização.

Art. 5º A estrutura de gerenciamento do risco operacional deve estar capacitada a identificar, avaliar, monitorar, controlar e mitigar os riscos associados a cada instituição individualmente, ao conglomerado financeiro, conforme o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional - Cosif, bem como a identificar e acompanhar os riscos associados às demais empresas integrantes do consolidado econômico-financeiro, definido na Resolução 2.723, de 31 de maio de 2000 (...). Art. 6º A atividade de gerenciamento do risco operacional deve ser executada por unidade específica nas instituições mencionadas no art. 1º (...). Art. 9º A estrutura de gerenciamento do risco operacional deverá ser implementada até 31 de dezembro de 2007, com a observância do seguinte cronograma (...).

Em complementação ao papel da auditoria externa, a organização sistêmica

(estrutura em rede) é um importante instrumento de controle externo para as

cooperativas de crédito. Contudo, se as cooperativas estiverem vinculadas a um

sistema cooperativista ou a uma cooperativa central que possui mecanismos de

autorregulação e supervisão próprios, isso complementaria a estrutura existente nas

cooperativas singulares, contribuindo para a boa governança dessas instituições,

pois se pressupõe haver liderança pelas centrais na conciliação das estratégias

individuais de governança (TOSINI; BASTOS, 2008). Na cooperativa estudada, a

auditoria externa e a supervisão auxiliar são feitas pela Confederação Nacional de

Auditoria Cooperativa (CNAC) e Central das Cooperativas de Economia e Crédito de

Minas Gerais Ltda. (CECREMGE), respectivamente.

A partir da pesquisa realizada por Tosini e Bastos (2008) e da responsabilidade que

a legislação brasileira imputa aos associados, propõe-se que a administração das

cooperativas assegure canais institucionais para que eles exerçam efetivamente seu

direito-dever de fiscalizar e controlar os negócios da cooperativa, uma vez que em

cooperativas os sócios possuem responsabilidades legais.

Ressalve-se que é permitido que as atividades de auditoria interna sejam

executadas por empresas terceiras especializadas, contratadas pelas próprias

singulares ou pelas centrais (visando ganhos de escala e padronização). Em

Page 79: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

77

pesquisa realizada pelo BACEN, 86,4% das cooperativas informaram que a

contratação de auditores internos é atribuição da central (BACEN, 2015).

d) Mecanismos formais para avaliação periódica e pr oposição de temas

Busca-se neste item, verificar se os Empreendimentos estudados utilizam

mecanismos formais para avaliação periódica dos conselhos, delegados e diretores.

Também objetiva-se saber se as Cooperativas estudadas contam com mecanismos

formais que permitam aos cooperados ou delegados proporem itens nas pautas das

assembleias antes de sua realização.

Cooperativa Alfa

Questionados se a Cooperativa Alfa realiza avaliação periódica dos conselhos,

delegados e diretores, a maioria dos entrevistados não soube informar quanto à

existência ou não desse mecanismo formal de avaliação. Somente um delegado

(entrevistado D3) afirmou a não existência, visto que nunca teria sido colocada essa

questão para os delegados. Por sua vez, dois delegados acreditaram na

possibilidade dessa existência embora não tiveram certeza na resposta conforme

relatos abaixo:

Isso eu não tô lembrando não. Porque, normalmente, esse tipo de avaliação é feita nas (nas) capacitações, nas assembleias, né, que a gente tem todo ano. (...) E aí, lá costuma quebrar o pau, viu, o pessoal não está bobo mais não (ENTREVISTADO D1). Eu acredito que dos diretores, eu acredito que sim. Dos delegados eu sei que tem. Eu acho que (que) dos conselheiros e dos diretores, tem também, tem sim, eu acho que tem sim (ENTREVISTADO D4).

Em relação à existência de canais formais para proposição de itens nas pautas das

assembleias, antes delas serem realizadas, apenas o entrevistado C3 afirmou,

mesmo sem demonstrar convicção, que esta possibilidade inexiste. Os demais

cooperados (não delegados) não souberam avaliar.

Já entre os delegados, todos afirmaram que a cooperativa incentiva a proposição de

temas a serem discutidos antes das reuniões preparatórias. Porém, esta

Page 80: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

78

comunicação não chega a todos os cooperados, sendo realizada por correio

eletrônico.

(...) Eles colocam, a gente conversa, a gente estuda. Inclusive é estudado antes com a gente. Tem, sim (ENTREVISTADO D2). Sim. Isto existe sim. Nós, como delegados, inclusive, recebemos um e-mail agora (...), que embora foi ordem que ela mandou e dizendo que hoje seria o último dia para a gente mandar (ENTREVISTADO D3). Existem. Normalmente, a gente recebe a comunicação das assembleias com bastante antecedência, a gente recebe por e-mail. A secretária da Cooperativa Alfa telefonam pra gente também, informando a data, confirmando a presença. Então, existe sim ter a possibilidade de (de), (da) gente ter algum tipo de intervenção antes mesmo da assembleia acontecer (ENTREVISTADO D5).

Cooperativa Beta

Entre os cooperados não delegados, apenas o entrevistado C6 afirmou que existiria

mecanismo formal de avaliação periódica de ocupantes de funções e cargos na

Cooperativa Beta. Porém, entre os delegados, os entrevistados D6, D8 e D10

disseram que essa avaliação aconteceria nas assembleias que ocorrem todo ano,

sendo, porém, difícil sua ocorrência em relação aos delegados conforme relato de

um deles.

Dos conselheiros e dos diretores, eu acho que a assembleia, é, é ir por aí. Agora, o delegado fica difícil de ser avaliado, porque quem deveria avaliar o delegado são os seus representados, aqueles que votaram e elegeram o seu delegado. Então, você só vai saber que dessa avaliação, individualmente, pessoa a pessoa, uma que reclama outra que parabeniza, né. Mas, é pelo andar das coisas da cooperativa, pela, o, a boa aceitação dos seus trabalhos, que a gente, eu, principalmente, meço, as nossas intervenções em assembleias e na vida, na, é, financeiras entidades (ENTREVISTADO D8)

Três entrevistados (C6, C8 e C9) não souberam dizer, e outro (C7) afirmou ser

impossível a proposição de itens nas pautas das assembleias antes de suas

realizações. Contudo, o entrevistado C10 e todos os delegados informaram ser

possível a inclusão nas pautas, visando, inclusive, dar maior celeridade às

discussões quando da realização das assembleias.

É, até eu, é, como é, até, buscando essa informação, até com o meu delegado, e a que (que) vai ter uma reunião com os delegados, eles comunicam, né. Pra gente fazer exatamente essas perguntas pra ele levar nas assembleias, né (ENTREVISTADO C10).

Page 81: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

79

Olha, quando tem convocação da assembleia, vem a pauta. A gente pode usar o e-mail e colocar alguma coisa. Embora eu ache que quase ninguém faça isso. Acaba sendo as mesmas que participam muito nas assembleias, que dão muitos palpites e questionam (...). Acho que são as mesmas pessoas que tão sempre debatendo alguma coisa, trazendo alguma coisa, é..dos cooperados, do local, em que elas foram eleitas (ENTREVISTADO D7).

Quanto aos processos de autoavaliação, avaliação por pares ou por terceiros, o

BACEN (2015) identificou que se destaca é a ausência de avaliação periódica em

pelo menos 75% das cooperativas de crédito pesquisadas no período de 2013 e

2014.

Ainda segundo o BACEN (2015, p. 16), “aproximadamente 91% das cooperativas

informaram que entre 2011 e 2013 inexistiu inclusão de assunto na pauta de AG por

demanda de associados”.

e) Realização de pré-assembleias

As pré-assembleias utilizadas pelas Cooperativas estudadas foram encaradas como

instâncias para discussões prévias de assuntos de interesses para os associados e

as Entidades.

Cooperativa Alfa

De maneira geral, a maioria dos associados da Cooperativa Alfa não soube dizer se

a cooperativa de crédito realiza ou não pré-assembleias. Nos depoimentos, chama

atenção o fato de mesmo entre delegados não haver unanimidade quanto à

realização ou não deste mecanismo de participação.

Embora tenha dito que as pré-assembleias existam na cooperativa pesquisada, o

entrevistado D1 admite que elas não ocorrem há muito tempo. O entrevistado

enxerga-a mais como uma instância de discussão e formação.

Pois é. Tem. Pré-assembleia existe. É uma instância que eles fazem um primeiro encontro. Que é uma instância muito mais de discussão e formação. E aí chamam convidados. Pessoal do Credicom. Eu já vim em palestras da Cecremge. E órgãos que são assim, é (pausa). Que fortalecem, né, o cooperativismo, então, eles dão muito esta visão de qual é

Page 82: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

80

a importância disso. Onde você pode chegar. Então essa, a Credicom, que é uma cooperativa forte no país é interessante ver como ela surgiu e como ela está hoje e a força que ela ganhou (ENTREVISTADO D1).

O próprio entrevistado D1, mesmo exercendo a função de delegado, considera que

nem sempre participa das assembleias, embora as veja com bons olhos. O

entrevistado C4, membro do conselho de administração, participa ativamente das

assembleias e considera que estas instâncias, além de permitirem participar das

decisões, possibilitam levar suas opiniões sobre o caminho que a cooperativa vai

seguir.

O entrevistado C1 apesar de entender que a participação dos cooperados devesse

ser mais efetiva, concorda que esta participação fica somente na intenção, pois ela

própria não participa de nada. Porém, atribui esta não participação à falta de

divulgação e ao não envolvimento dos associados pela cooperativa. Este foi o

motivo apontado também pelo entrevistado C3.

Cooperativa Beta

De forma unânime, os entrevistados da Cooperativa Beta demonstraram ter

conhecimento da realização de pré-assembleias, apontando, conforme já

assinalado, que estas funcionam como instâncias para discussões prévias de

assuntos de interesses para os associados e a instituição.

Sim. A gente, normalmente, adota o sistema de uma pré-reunião, antes das assembleias. Ou seja, pra discutir as polêmicas. Amarrar mais porque, às vezes, o tempo nas assembleias são curtos pra fazer, pra promover discussões mais aprofundadas (ENTREVISTADO D8).

Conforme Albert (2005), o caráter democrático de tomada de decisão via assembleia

pode encorajar soluções mais sustentáveis.

Entre os motivos apontados por Tosini e Bastos (2008) para a baixa participação,

que se referem à percepção do associado sobre as ações da cooperativa, está a

falta de divulgação da realização da assembleia. A administração tem o dever de

criar instrumentos para assegurar sua participação e, assim, evitar o chamado efeito

carona (free rider).

Page 83: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

81

Conforme Tosini e Bastos (2008), as principais motivações estão relacionadas a

fatores pessoais como: não fazer diferença ir à assembleia; o tempo gasto ser muito

grande; dificuldade de deslocamento; confiança na administração da cooperativa;

falta de tempo, falta de interesse, horário, data ou distância incompatível.

O desconhecimento do processo de participação nas assembleias também foi

apontado como motivo para não participação deste mecanismo de gestão, o que

pode ser inserido dentre os motivos apontados pela literatura, como falta de

interesse. Merece atenção, a utilização do processo da representação por

delegação.

A não participação direta dos associados aumenta a responsabilidade dos

delegados enquanto representantes formais dos associados, haja vista se esperar

que, além de reservarem tempo para se inteirar das atividades da cooperativa,

invistam em leituras ou cursos de qualificação, de forma a capacitá-los para melhor

desempenhar as funções que lhes foram delegadas. Ainda mais que nas

assembleias os gestores são levados a representar grupos dentro da cooperativa,

acabando por potencializar os conflitos de agência (LIMA, 2014).

O BACEN (2015, p.15) observou-se “que 77,4% das cooperativas registraram

inexistir qualquer rotina prévia às AGs de alerta aos associados sobre a

possibilidade de incluir assuntos em pautas”.

O BACEN (2015) destaca ainda que a realização de pré-assembleias é tão ou mais

importante em caso de cooperativas que adotaram regime de delegação, sendo que

os delegados têm de manter comunicação constante com seus representados.

Finalizada a apresentação do processo administrativo, na sequência é apresentada

a caracterização do processo político das cooperativas pesquisadas.

5.2 Caracterização do processo político das coopera tivas

Page 84: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

82

Nesta subseção, a intenção foi colher depoimentos dos entrevistados em relação ao

processo eleitoral promovido pelas Cooperativas Alfa e Beta para escolha dos

representantes (delegados, conselheiros e diretores) bem como saber se os

delegados e os conselheiros são independentes para tomar decisões.

a) Processo de escolha de delegados

Os processos de escolha dos delegados promovidos pelas Cooperativas objeto de

estudo foram considerados democráticos e respeitaram as regras previstas nos

estatutos e editais de votação.

Cooperativa Alfa

Apesar de a participação dos cooperados não ser efetiva e de ter sido apontada a

necessidade de melhoria com maior divulgação do processo de votação, a eleição

para escolha dos delegados, embora tenha sido a primeira experiência na

Cooperativa Alfa, foi considerada democrática.

É [risos]. É, eu acho que se tiver pessoas interessadas, ele pudesse abrir mais, mas eu acho que hoje é difícil você conseguir pessoas que estejam interessadas em participar disso, entendeu? (ENTREVISTADO D1). Eu, é (é), uma (uma) democracia porque um delegado, ele é indicado pelos próprios cooperados. Ele (ele) é (é) retirado dos próprios delegados. Dentro de (dentro dos) cooperados. Entre os delegados, entre os cooperados, aquele que se, é (é), que tem interesse em ser delegado, se manifesta, e, é, ah, ah, os demais cooperados depositam confiança nesse cooperado de se tornar delegado. Então, não há assim, o processo democrático é (é) transparente, é representativo e vem funcionando (ENTREVISTADO C4).

Cooperativa Beta

O processo de escolha dos delegados também foi considerado democrático, tendo

cumprido todas as regras estatutárias.

É democrático. Eu sempre recebo [pequena pausa] as correspondências avisando. Eu acho que ele é democrático (ENTREVISTADO C7).

Sim. Pelo Processo eleitoral. Cumprindo todas as regras estatutárias e cada um tem de fazer sua campanha. (...) (ENTREVISTADO D8).

Page 85: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

83

No caso da Cooperativa Beta, percebe-se um envolvimento maior dos entrevistados,

mesmo daqueles que não são delegados. Para o BACEN (2015), o processo de

eleição de membros de órgãos estatutários de cooperativas de crédito possibilita

ganhos de governança.

b) Independência de delegados e conselheiros

Neste item, a intenção foi verificar se os entrevistados consideram que os delegados

e os conselheiros são independentes para tomar decisões.

Cooperativa Alfa

Não obstante o entrevistado D3 ter apontado que as estruturas de poder existentes

impeçam que os delegados e conselheiros tenham independência para tomar suas

decisões, a maior parte dos entrevistados acredita ou espera que tal independência

exista, visto ser esta salutar para todo e qualquer processo democrático.

Cooperativa Beta

Embora dois relatos apontem para uma indepedência relativa ou inexistente, uma

vez que as decisões precisam ser tomadas em conjunto, observando os anseios de

todos os associados, percebe-se que a maioria dos entrevistados considerou que

tanto os delegados quantos os conslheiros têm independência em suas atuações.

Contudo, o entrevistado D8, apontou a necessidade dos delegados procurarem se

inteirar dos assuntos que estão sendo discutidos, visando evitar que sejam

manipulados. Por sua vez, o entrevistado D9 enfatizou que necessita observar

algumas regras para que não haja suspeição ou impedimento para sua eleição e

atuação, citando como exemplo o fato de não poder ter relação íntima (amorosa) ou

de parentesco com os dirigentes.

c) Indicação ou Convite para Candidatura

Page 86: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

84

Objetivou-se saber se a indicação ou convite seria fator preponderante para

candidatura a funções ou cargos na cooperativa.

Cooperativa Alfa

Os entrevistados, unanimemente, responderam que o convite é um fator importante

e seria a motivação principal para tomarem a decisão de ocupar funções ou cargos

na Cooperativa Alfa. Contudo, a crença no projeto cooperativista tem também peso

na aceitação ou não da indicação conforme a fala de um entrevistado. Também, a

possibilidade de obter conhecimento e o fator social são fatores que contribuem para

ocupação das funções de representação. Ressalte-se que a função de delegado não

é remunerada, já a de conselheiro, sim, embora o entrevistado C4 entenda que o

benefício financeiro não seja compatível com as funções que ele executa.

Eu acho que é mais social (...). É, assim, uma forma também, vou dizer assim, uma gratidão com colegas de trajetória que investem muito mais nisso do que eu e que quanto me convidam, eu fico sensibilizada, entendeu? (ENTREVISTADO D1). Tem a questão de conhecimento, interação, ah, ah..., o que eu disse, é um..., apesar de ser tão antigo como o cooperativismo não é de poder, é conhecido por poucos. Então, de certo ponto chega a ser um privilégio ter esta oportunidade aí de conhecimento (ENTREVISTADO C4).

De forma diversa, o entrevistado D5 entende que a indicação é uma questão

delicada, pois especificamente para os cargos de direção, nem sempre a pessoa

possuirá expertise necessária para exercer essa função, o que não impossibilita que,

com o tempo, a Cooperativa evolua para estabelecer um processo de escolha dos

membros para fazerem parte do corpo diretivo conforme apontou o entrevistado D5.

Cooperativa Beta

Para a maioria dos entrevistados da Cooperativa Beta, a indicação ou convite

também seria fator preponderante para candidatura às funções de representação.

Contudo três entrevistados discordaram que a indicação seja um procedimento

correto, visto que é importante que o associado acompanhe as atividades da

organização e tenham entendimento do que representa o movimento cooperativista.

Há que ser trabalhada, opcionalmente, sua condição de candidato, dentro do próprio

Page 87: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

85

processo, visto que a opcionalidade é a garantia de existência de democracia no

empreendimento conforme ressaltou o entrevistado D8.

Não obstante a escolha para os cargos de direção executiva se basear em

dimensões técnicas, a Lei Complementar 130, de 2009, apoia a profissionalização

de diretorias executivas, permitindo a contratação e a ocupação de tais posições por

pessoas não pertencentes ao grupo associativo.

d) Tempo de ligação como condicionante para ocupar funções ou cargos

Questionados se o tempo de ligação com a cooperativa seria fator determinante

para indicação ou ocupação de funções ou cargos nas Cooperativas, os

entrevistados apresentaram respostas divergentes em relação a esta questão.

Cooperativa Alfa

Para aqueles que concordaram que haja relação entre o tempo de associação e

ocupação de funções ou cargos, a credibilidade, o acúmulo de conhecimento, a

possibilidade de entendimento da lógica da cooperativa e o fato de se tornar

conhecido seriam fatores que favoreceriam os interessados nestes postos de

representação.

Sim. Acho que sim. Porque a credibilidade é algo que tem de, se vai conquistar, se eu vou indicar é alguém que eu acredito. Alguém que eu acredito é aquele que tá ali há muito tempo, que já conhece os objetivos e vai lutar em prol dos objetivos (ENTREVISTADO C1). Ah, eu creio que sim. Porque tem a (a) pessoa que tá ali cooperado há mais tempo, é (é), automaticamente, é lógico, ela tem, ele si, ela (ela) contribuiu para aquela cooperativa por mais tempo, e eu acho que até o grau de conhecimento dela , independente dela ter (ter) obtido informação de lá ou não é até maior do que da pessoa que chegou lá hoje e já tá contribuindo, entendeu, que tá ali, chegou hoje está como cooperado, com certeza, tempo, acho que é condição sim (ENTREVISTADO C3).

O entrevistado D1 embora não considere que seja determinante, entende que o

tempo de ligação é fator que ajuda efetivamente, pois o cooperado pode fazer parte

de um grupo e se inteirar mais da vida da organização, demonstrando interesse e

participação mais ativa. Certamente, um maior envolvimento garante melhor

Page 88: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

86

qualificação ao associado, sendo natural que este seja um candidato em potencial

às funções ou cargos, evitando-se, inclusive, a entrada de aventureiros e pessoas

que não entendem o projeto cooperativista conforme falas abaixo.

Determina, eu acho que não. Ele pode ajudar, mas determinar acho que não porque você pode entrar prum grupo lá e se inteirar, se interessar mais, participar mais e assumir uma função desta (ENTREVISTADO D1). Não, não [ênfase]. Hoje, a questão de indicação ver mais a questão da qualificação, interesse, potencialidade desse cooperados pra participar dos conselhos, delegados e até mesmo da diretoria (ENTREVISTADO C4). Não. Não, isso não. [ênfase na resposta]. Isso aí do, vai da qualificação da pessoa, enfim, do interesse que ela tem, e do tempo que ela tem disponível pra se dedicar aquilo, né, o, (o), essa questão do tempo pra mim não tem sentido, significado pra isso (ENTREVISTADO C5).

Cooperativa Beta

Entre aqueles que concordam (maioria) que o tempo seja fator determinante para

que um associado pleiteie candidatar-se a cargos eletivos, foi apontada a

importância de se acompanhar a evolução da cooperativa (sua história) bem como

acumular conhecimento sobre o cooperativismo, adquirindo experiência e se

profissionalizando.

Entre os discordantes, destaca-se a fala do entrevistado D9, que aponta o risco de

uma pessoa ser excluída por ter pouco tempo de associação, embora seja possuidor

de vasta experiência com o cooperativismo ou outros ambientes, deixando de

contribuir e beneficiar a Cooperativa.

Inegavelmente, um maior tempo de participação pode tornar os cooperados mais

conhecidos por outros associados bem como pode permitir aos interessados

conhecer melhor o dia a dia da cooperativa. Os estatutos das cooperativas de

crédito pesquisadas dispõem que, dentre os direitos dos associados, está o de ser

votado nos cargos sociais, observando-se apenas os impedimentos legais ou

regulamentares pertinentes, não sendo feita qualquer referência a tempo de

associação.

e) Incentivo a Candidatura

Page 89: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

87

Neste item, busca-se saber se as cooperativas incentivam a candidatura dos

cooperados aos conselhos, diretorias e delegados, visando preservar a

representatividade.

Cooperativa Alfa

Apenas quatro entrevistados afirmaram que há incentivo a candidaturas. Contudo,

destes, os entrevistados D3 e D5 enfatizaram que tal incentivo ocorre apenas para a

função de delegado, não havendo renovação da chapa que concorre aos cargos de

direção, impedindo a alternância de poder.

Cooperativa Beta

Dentre os dez entrevistados, nove apontaram que a Cooperativa Beta incentiva a

candidatura dos associados aos cargos eletivos. Apenas o entrevistado D8 teve

posição discordante, tendo relatado, inclusive, que teve sua candidatura a um cargo

de direção vetada, no último pleito. Disse que há sempre uma chapa que se reúne

antes do pleito e que concorre à eleição.

f) Divulgação do nome e o perfil dos candidatos aos cargos eletivos

Neste item, intenciona-se saber se o nome e o perfil dos candidatos aos cargos

eletivos (delegados, conselheiros e diretoria) são previamente divulgados antes de

sua escolha.

Cooperativa Alfa

Em relação ao nome e ao perfil dos candidatos para ocupação de cargos eletivos,

houve indicação, por parte da maioria dos entrevistados, de que a Cooperativa Alfa

promove a divulgação dos participantes do pleito. O entrevistado D5 entendeu,

porém, que precisa ser melhorado o processo, divulgando melhor os perfis dos

associados. Apenas o entrevistado D3 acredita que não há divulgação, não sendo

dadas maiores informações de quem são os membros que compõem a chapa.

Page 90: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

88

Enfatizou que somente ocorre conhecimento dos gestores depois que estes já foram

eleitos e já estão nos cargos.

Cooperativa Beta

Todos os entrevistados disseram que a Cooperativa Beta divulga previamente os

nomes e perfis dos associados que participam do processo eletivo. Antes, é aberto

um edital, e, como todo sistema eleitoral, as pessoas registram seus nomes,

respeitando as regras previstas no estatuto da Cooperativa e as normas de

convocação para a eleição.

g) Limitação formal para o número de reeleições

Neste item, a intenção é saber se os entrevistados sabem se existe limitação formal

para o número de reeleições de um mesmo membro dos conselhos, delegados e

diretorias.

Cooperativa Alfa

Quanto à limitação formal para o número de reeleições de um mesmo membro dos

conselhos, delegados e diretorias, apenas o entrevistado D3 afirmou que esta existe

e está prevista no estatuto da Cooperativa Alfa.

Embora a quase totalidade dos entrevistados desconheça se há impedimentos ou

não para que um associado se reeleja, estes, em sua maioria, apontaram a

permanência, por longo prazo, em cargos de direção na Cooperativa como algo

negativo, pois além de não permitir a renovação do quadro gestor, direciona as

decisões para uma mesma linha de pensamento, confundindo, em uma instância, o

cargo com a pessoa.

Eu acho que isto não é bom em situação nenhuma, mas, no caso lá da Cooperativa Alfa, tem um diretor que já está nuns dois ou três mandatos. Aí, agora, como tem assembleia, que foi estabelecido e criado a estrutura de delegados, e acho não vai poder mais. Acho que é só mais 1 vez vai poder reeleger, mas eu acho que não é bom não. Tem de oxigenar, né, as

Page 91: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

89

organizações. As estruturas não podem ser as mesmas pessoas sempre (ENTREVISTADO D1). É, eu não vejo de forma salutar. Né, é...., eu, numa opinião particular, é tanto no conselho de administração ou no conselho fiscal, né, na diretoria, eu sugiro que, por ser cooperativa mesmo, buscar a participação de todos, ah, ... a... rotatividade aí, eu vejo como salutar. Claro, considerando aqueles critérios que já falamos várias vezes aí, questão de (de) interesse, participação, profissionalismo, né, idoneidade, acredito que a rotatividade seria salutar, sim (ENTREVISTADO C4). Negativamente. É..., ah..., é..., os cargos eletivos, eles têm, ah, como pressuposto a alternância. Então, é..., a continuidade no poder por longo tempo de um, numa cooperativa que é algo coletivo, ah,,,, como, (como) pressuposto a coisa coletiva, não e bom pra, é, pra, (pra) dar, pra legitimar a instituição como, (como) cooperativa, como algo coletivo mesmo (ENTREVISTADO C5).

Um entrevistado considerou como válida esta permanência por mais tempo nos

cargos, citando inclusive que permitiu o crescimento da Cooperativa Alfa.

Ah, eu acho que [pausa pequena na fala] que é válido, né [não demonstrou convicção na resposta]. Se o cara tá desempenhando o papel dele. A cooperativa tá crescendo. Que eu (que eu), no caso, que eu vejo da cooperativa Alfa, que ela cresceu, entendeu, pelo menos, eu tenho 1 ano, 2 anos, que eu 1 ano e meio mais ou menos que eu estou participando da cooperativa. Mas, eu entrei, tô trabalhando na Entidade X, eu via a cooperativa muito pequena. Hoje, ela já é uma cooperativa muito maior, já, né, tem espaço físico e também em número de cooperados. Eu que ela é (tem), eu acho que tem de ter isso. Tem de ter uma pessoa que já está lá há mais tempo e é melhor. Acho que é considerável, é certo. Eu avalio como, eu avalio como uma coisa certa, tranquila, entendeu (ENTREVISTADO C3).

Os delegados além de exercerem a função de representação, têm competência para

convocar a Assembleia Geral, desde que exercida por 1/5 (um quinto) dos

delegados.

Não obstante o processo eleitoral ser regido por regulamento próprio, o estatuto da

Cooperativa Alfa disciplina que os delegados serão eleitos para mandatos de quatro

anos, com possibilidade de reeleição, sendo que para efeito da representação, o

quadro social será dividido em grupos seccionais de 1/100 (um cem avos) de

associados. Enquanto forem delegados, os associados não podem ser eleitos para

outros cargos (COOPERATIVA ALFA, 2015).

Page 92: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

90

Em relação aos conselheiros fiscais, a eleição ocorrerá a cada três anos, com

possibilidade de reeleição. A cada eleição quatro membros serão substituídos,

sendo, no mínimo, um efetivo e um suplente. Para o Conselho de Administração, o

mandato será de quatro anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 (um

terço) de seus membros. O prazo de mandato dos membros da Diretoria Executiva

será de quatro anos, podendo haver, a critério do Conselho de Administração

recondução (COOPERATIVA ALFA, 2015).

Cooperativa Beta

A maioria (sete entrevistados) da Cooperativa Beta não soube dizer se há limitação

para que um associado se reeleja aos cargos. Apenas três delegados disseram que

existe esta limitação. Sendo que o próprio entrevistado D8 afirmou que está em seu

terceiro mandato como delegado e que não enxerga essa situação como

problemática, enfatizando que a própria presidência não se renova. A Cooperativa

Beta tem o mesmo presidente desde sua fundação.

Para o entrevistado D9 há previsão de renovação para conselhos, embora não

acredite que essa seja uma situação sine qua non para se ter eficiência na gestão

de uma cooperativa, visto que poderia tirar profissionais que têm afinidade,

competência e capacidade de administração.

Sobre a representatividade em Conselho de Administração/Diretoria, quanto à sua

composição em relação ao perfil do corpo associativo, 60,8% das cooperativas de

crédito não mantêm critério formalizado, sendo que a menor parte das entidades

promove, normativamente, a aderência da composição desses órgãos aos

interesses dos associados (BACEN, 2015).

Segundo Lima (2014), 91,8% das cooperativas pesquisadas não teriam limitação

formal para o número de reeleições de um mesmo membro dos órgãos estatutários,

o que pode aumentar o conflito de agência entre gestores e associados.

Page 93: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

91

Os delegados além de exercerem a função de representação, têm competência para

convocar a Assembleia Geral, desde que exercida por 2/3 (dois terços) dos

delegados.

O processo eleitoral é regido por regulamento próprio, sendo que o estatuto da

Cooperativa Beta disciplina que os delegados serão eleitos para mandatos de três

anos, com possibilidade de reeleição, sendo que para efeito da representação, o

quadro social será dividido em grupos seccionais de 1/200 (um duzentos avos) de

associados. Enquanto forem delegados, os associados não podem ser eleitos para

outros cargos (COOPERATIVA BETA, 2015).

“Para comparecimento à Assembleia Geral, os delegados terão cobertura financeira

da Cooperativa para passagens, diárias de hotel, traslados e auxílio deslocamento,

ficando a definição do valor a critério do Conselho de Administração”

(COOPERATIVA BETA, 2015).

Os conselheiros fiscais, todos associados, serão eleitos a cada três anos. Em cada

eleição, pelo menos dois membros do Conselho Fiscal serão substituídos, sendo, no

mínimo, um efetivo e um suplente, permitida a reeleição dos demais. O mandato do

Conselho de Administração é de quatro anos, sendo obrigatória, ao término de cada

período, a renovação de, no mínimo, 1/3 (um terço) de seus membros. O prazo de

mandato dos membros da Diretoria Executiva será de quatro anos, podendo haver,

a critério do Conselho de Administração, recondução (COOPERATIVA BETA, 2015).

É admitida a acumulação de cargos de conselheiro de administração e de diretor

executivo para somente um dos membros do Conselho de Administração, sendo

vedada a acumulação da presidência do Conselho de Administração com o principal

diretor executivo da Cooperativa (Diretor Coordenador), a qualquer tempo

(COOPERATIVA BETA, 2015).

Tanto para a Cooperativa Alfa quanto para a Cooperativa Beta o Bacen deve

aprovar o processo eleitoral de membros do Conselho de Administração, do

Conselho Fiscal e da Diretoria Executiva, observando-se que os diretores executivos

Page 94: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

92

não precisam ser associados da Cooperativa (COOPERATIVA ALFA, 2015;

COOPERATIVA BETA, 2015).

Entre as condições para ocupar cargos de administração nas cooperativas

pesquisadas, não podem compor a mesma Diretoria Executiva ou Conselho de

Administração, os parentes entre si até 2º (segundo) grau, em linha reta ou colateral,

bem como cônjuges e companheiros (COOPERATIVA ALFA, 2015; COOPERATIVA

BETA, 2015).

Finalizada a apresentação do processo político das cooperativas, apresentam-se, na

sequência, as considerações relativas aos conflitos de agência identificados pelos

entrevistados.

5.3 Conflitos de agência identificados

Esta subseção visa obter relatos dos entrevistados relacionados aos conflitos de

agência, analisando-se a disponibilidade de informações, a realização de reuniões, a

prestação de contas, o processo de comunicação, o processo de delegação e a

dificuldade de monitoração das ações dos gestores.

a) Acesso individualizado e ilimitado a documentos e informações

Procura-se, neste item, saber se os membros do conselho fiscal e administrativo têm

acesso individualizado e ilimitado a todos os documentos e às informações

necessárias para desempenho de suas funções.

Cooperativa Alfa

Os entrevistados da Cooperativa não souberam dizer se delegados e conselheiros

teriam acesso ilimitado ou individualizado a documentações caso necessitassem.

Não sei. Não sei te dizer. Eu acho que não [risos]. Acesso ilimitado eu acho que não [risos], né (ENTREVISTADO D1). Boa pergunta [ficou pensativa], não sei. Quando eu era do conselho fiscal a gente tinha acesso às documentações. A gente solicitava tudo. Como

Page 95: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

93

delegada eu não sei. Mas acho que sim. Se (se) os delegados colocar e for votado, eu acho que sim (ENTREVISTADO D1). Eu não sei te responder isso porque eu nunca precisei de fazer este tipo de consulta. Não tenho conhecimento do critério se eu quiser alguns documentos lá, eu, é, na minha..., é..., no meu entendimento, acredito que os documentos é tem aceso ao conselho, individualizada, é..., eu acredito que (que) não, mas eu não tenho certeza, eu acho, eu nunca precisei é..., eu nunca tive esta necessidade (ENTREVISTADO C4).

Apenas o entrevistado D3 afirmou que, como delegado, não tem acesso a

documentos.

Cooperativa Beta

Os entrevistados acreditam que as informações sejam disponibilizadas para aqueles

que delas necessitam, principalmente para os membros dos conselhos, cuja

atuação, diferenciada em relação aos delegados, depende de acesso a variados

tipos de documentos.

O conselho fiscal, eu tenho conhecidos membros e eu sei que funciona do ponto de vista, que na hora de fazer a apresentação, eles pedem documentos (aqueles que são financeiros e inerentes à prestação de contas) (ENTREVISTADO D8). (…) no conselho fiscal e administrativo (…), o que eu sei é que eles fazem a leitura deles, do parecer deles. O que eu percebo é que eles efetivamente tiveram acesso a todas as informações necessárias pra que pudessem fazer a aprovação deles (ENTREVISTADO D9).

Quanto à disponibilidade de documentos aos associados, o BACEN (2015)

identificou que os resultados encontrados ofereceram qualidade mais razoável

quanto ao atendimento à exigência regulamentar, sendo que apenas 5,4% das

cooperativas pesquisadas informaram inexistir relatório de administração/gestão.

b) Realização de reuniões periódicas e sistemáticas

Tanto na Cooperativa Alfa quanto na Cooperativa Beta, a maioria dos entrevistados

assinalou que as reuniões ocorrem, geralmente, nas assembleias, uma vez que a

participação direta de todos os associados torna-se um processo difícil, seja devido

ao número elevado de cooperados seja devido à necessidade de existir nas

Page 96: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

94

cooperativas uma estrutura muito grande. Razão pela qual se torna imprescindível a

existência do processo de delegação.

Sim (...) É... os delegados porque, tantos cooperados teria de ter uma estrutura muito grande, e... é uma coisa difícil. Porque existe os delegados. Porque exatamente, os delegados é a conexão entre os cooperados e a cooperativa. E aí, existe, sim, as reuniões (ENTREVISTADO D4, COOPERATIVA ALFA). (..) com os cooperados, não. Pela, (pela), (a),(a), a inadimplência das pessoas participarem das assembleias e, aí, o próprio Banco Central indicou o corpo de delegados, que, no nosso caso, hoje são 80, representando todos os filiados. É...quando a gente discute os assuntos da cooperativa de uma forma mais coletiva (...) (ENTREVISTADO D8, COOPERATIVA BETA).

Inclusive, nas assembleias, o diretor presidente, pessoalmente, presta contas

formalmente de suas atividades aos conselhos ou demais diretores. O BACEN

(2015) ressalta que a prestação de contas é uma função executiva importante para a

boa governança.

c) Processo de comunicação

Este item apresenta a análise dos entrevistados quanto ao processo de

comunicação estabelecido entre as cooperativas e os associados.

Cooperativa Alfa

O processo de comunicação estabelecido entre a Cooperativa de Crédito Alfa e os

associados foi avaliado como deficitário.

A fala de um entrevistado exemplifica esta constatação, ao apontar a desconfiança

das pessoas em desejar se tornar associado, sentimento que persiste em virtude da

limitação do trabalho de apresentação da cooperativa de crédito, que, por não ser

efetivo e eficiente, acaba não sendo convincente.

(....) eu acho que o que peca hoje é a divulgação. Eles ainda não descobriram o caminho. É, e esta coisa de servidor, de quebrar, porque hoje ela tem um número de cooperados que numa, que é pouco representativo do universo de servidores. Então, eu acho que se você tem um grupo, né, que e que tá ali pronto, né, preparado, porque não (não) atuar. Quando eu

Page 97: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

95

tava na secretaria W, a menina foi um dia lá pra poder fazer este trabalho. Eu achei que foi tímido (ENTREVISTADO D1).

Questionado se a divulgação da cooperativa visando atrair mais associados está

deficiente, complementou que a cooperativa precisa investir mais neste processo

que ainda é tímido, a fim de se tornar a organização mais forte. Apontou que esta é

uma dificuldade inerente ao trabalho de convencimento de outras pessoas a fazer

parte como associado.

Tá, tá. A gente sempre fala isso pra cooperativa. Precisa investir mais neste processo. Acho que ela podia ser mais forte. Ela pode ser mais forte, né. Aí (aí) tem todo um (um) processo, né. As pessoas acreditam muito, é, em cooperativa, em cooperativismo, não sei no Brasil isso é tão ainda, é, eu acho que é um pouco tímido, né. É essa luta de classe, você sabe. Ela é uma luta difícil. As pessoas, não se, (se), (se) envolvem, né. Com as discussões nem quando ela afeta diretamente seu salário. Você tem disponibilidade para ir nas reuniões, discutir e tudo e a gente é às vezes toma uns caminhos, assim, equivocados, igual o sindicato que acaba. Eu já fui muito participativa em um sindicato e acabei é percebendo, me desencantando, porque eu percebi que eles estavam ali fazendo carreira. Fazendo do daquilo ali um degrau pra carreira política deles, né, e muitos hoje são, né, da área política, pelo menos na (na) minha categoria que é do magistério. Muitos (muitos) chegaram inclusive foram bem longe. Mas, acho que ainda por esta razão as pessoas ou o processo de mudança ele é sempre difícil. Ele é sempre muito complicado, chegar no outro, convencer o outro, né. Fazer este corpo a corpo aí pra ganhar cooperados é um trabalho difícil. É, mas, eu acho que a cooperativa, ela ainda não, no caso da Cooperativa Alfa, ela ainda não encontrou o caminho legal para fazer isto. Como ele chega no servidor e motiva este servidor a fazer parte (ENTREVISTADO D1).

Um dos entrevistados apontou que a cooperativa, ciente desta deficiência no

processo de comunicação com os potenciais associados, criou, em 2014, uma

gerência para cuidar especificamente do trabalho de divulgação dos serviços e

atividades que são desenvolvidos pela cooperativa, almejando, assim, conseguir

aumentar o número de cooperados.

A cooperativa Alfa passou por um período que nós denominamos de... acomodação, né, que tinha uma número satisfatório de cooperados [pausa pequena]. E.., um..., uma oferta básica de serviços. Então, agora em 2014, houve um, um..., uma reformulação disso, onde que [pausa pequena] foi criada uma nova gerência dentro da cooperativa pra é... divulgar, de forma mais ampla os serviços, da cooperativa, visando é..., tornar público, sim, as atividades dela e de surtir interesse de (de) dos serviços de compor a cooperativa. Então, é um processo constante, de (de) melhora. E estamos caminhando pra (pra), é nesse sentido, de sempre melhorar a oferta, a, o chamamento, foi chamar assim de novos cooperados e de oferta de serviços (ENTREVISTADO C4).

Page 98: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

96

Dentre os empecilhos à participação dos cooperados nas ações e decisões das

cooperativas, Freitas et al. (2010) apontam a falta e/ou a prestação de informações

não qualificadas e a ausência de espaços institucionais formais que viabilizem a

participação dos cooperados.

Um bom processo de comunicação além de viabilizar a participação dos cooperados

deve contar com mecanismos institucionais que garantam aos membros a

possibilidade de assumir conjuntamente as decisões coletivas da cooperativa

(VALADARES6, 1995 citado por FREITAS et al., 2010).

A página de Internet, não obstante poder ser usada pela cooperativa como mais um

canal de comunicação com o cooperado e público em geral, foi considerada

deficiente ou simplesmente apresentava informações básicas, com ausência de

acessos que pudessem facilitar a navegação e localização de temas de interesse

geral.

Tá bem a desejar, né, eu acho. Não tem nada de mais interessante não. Não tem chamadas. Ela tá básica, mas tá contemplado todos os primórdios. Só não tá muito chamativa, né (ENTREVISTADO C1). Acho que ela pode melhorar. Não vou dizer que é ruim, mas acho que pode melhorar em alguns aspectos, né. Ah, não sei, mas acho que em alguns acessos mesmo, que facilitem, né? (ENTREVISTADO D1).

Há relatos, inclusive que apontam dificuldades em obter informações de serviços

que estão sendo criados (como plano de aposentadoria privada), embora a

aparência visual seja apontada por alguns entrevistados como boa.

O entrevistado C5 disse que após ser convidado para se associar, entrou no sítio da

cooperativa de crédito e realizou o pré-cadastro, inserindo suas informações

pessoais, como nome, número de documentos, endereço etc. Relatou que ao

chegar ao guichê de atendimento acreditou que apenas seriam cobradas as

documentações para arquivamento junto à instituição. Porém, para sua surpresa,

todos os dados inseridos no dia anterior foram perdidos, sendo que o atendente não

soube falar o motivo e foi necessário refazer todo o processo. 6 VALADARES, J. H. Participação e poder: o comitê educativo na cooperativa agropecuária. 1995. 86 p. Dissertação (Mestrado em Administração Rural) - Universidade Federal de Lavras. Lavras, 1995.

Page 99: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

97

Uai. Eu..., é, pois é. Eu usei. Inclusive quando eu fui fazer é..., é, o procedimento pra me tornar cooperado eu usei o site. Só que é, o, (o) dado, é, os dados de cadastro que eu inseri, é..., na medida que eu tive de , (tive de) fazer, é, presencialmente, porque esse dados era um pré-cadastro. É..., eu fiz o procedimento, e logo depois, no outro dia, eu fui na cooperativa pra formalizar aquilo. Ah, esses dados não forma... capturadas, eles foram perdidos, não foram usado. Então, assim, ah, é tem de melhorar algumas coisas, é, ainda, né, no, nos serviços que são oferecidos pelo, (pelo) site da cooperativa (ENTREVISTADO C5).

O entrevistado C3, mesmo tendo criado previamente a senha de acesso à sua conta

junto à cooperativa, demonstrou frustração e acabou desistindo de usar este serviço,

pois nem mesmo o pessoal do setor administrativo conseguiu ajudá-lo a sanar o

problema.

Foi até bom você falar. Você acredita que eu não consegui acessar o site da cooperativa, não consegui [ênfase na resposta]. Tentei, entrei com a minha conta, aí eu ligava pra cooperativa, perguntava pro pessoal, qual que é a senha? Ah, a senha e, é, a senha você (você) tem de criar, é, como é que a menina falou? A senha você tem de utilizar a sua e automaticamente você cria outra. Eu entrei, tente e acabei desistindo [risos]. Deixei pra lá [risos] (ENTREVISTADO C3). (...) Eu (eu) tentei ligar pra lá, mas parece que o pessoal lá, pelo menos o pessoal da retaguarda lá, num (não) soube me responder não (ENTREVISTADO C3).

Este mesmo entrevistado C3 apontou também problemas no acesso aos caixas

eletrônicos do sistema cooperativista de crédito, e mesmo tendo relatado o problema

à cooperativa estudada, não obteve retorno.

É, eu tive um grande problema sô, com a cooperativa a respeito do caixa eletrônico deles. Eu também não consigo mexer naquele caixa eletrônico da cooperativa de forma alguma [demonstrou decepção na fala]; Já fui, em hospital geralmente tem esses bancos aí, do Sicoob, né, que é (que é) uma rede, né, das cooperativas. Cara, eu coloco meu cartão lá e o cartão, tem hora que o cartão não lê. Eu coloco meu cartão e ele pede senha. Eu coloco senha e ele fala que não existe [risos]. Então, eu tive uma grande dificuldade nisso. Inclusive eu fui, eu mandei até e-mail pra cooperativa disso, explicando sobre isso, mas até hoje eu não obtive retorno, não. Eu tenho até (tenho até) que olhar porque eu tenho um cartão lá. Eu tenho cartão de débito. Eu te falei que de crédito eu não quis. Eu acho até interessante você ter, você movimentar essa conta que você um dia também vai ter aquele fundo de reserva, que você vai querer utilizar. Então, é bom você ter, né. Então fica registrado isso, eu não consegui mexer no caixa eletrônico, de jeito nenhum da cooperativa, de forma alguma [desolação]. (ENTREVISTADO C3).

Page 100: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

98

A atualização de informações relevantes disponibilizadas no sítio da cooperativa de

crédito também foi apontada como deficiente, sendo motivo de cobrança dos

membros do conselho de administração à direção da cooperativa de crédito.

(...) o layout é... [pequena pausa] bem interessante, a, as indicações de informações são interessantes, porém... eu questiono atualização de dados. E (e) sempre eu como membro do conselho fiscal ou conselho fiscal vem cobrando, minto, o conselho de administração vem cobrando, um investimento maior na, na informação, na atualização, na modernização de (da) página da internet (ENTREVISTADO C4).

Cooperativa Beta

Quanto ao processo de comunicação da Cooperativa Beta, este foi considerado bom

pela grande maioria dos entrevistados, aumentando a transparência e confiança na

gestão do empreendimento. Como mecanismo informacional são utilizadas

correspondências, boletins, sites, seminários e até mesmo acesso direto aos

gerentes da Cooperativa.

Ah, isso eu há transparência. Porque isso é divulgado. Quer dizer, tá aberto. Realmente, eles disponibilizam, né, informativos. Tá no site. Então, relatório, eles disponibilização (...). Se não tem conhecimento, não é porque a cooperativa não disponibilizou (...) (ENTREVISTADO C6).

É muito bom [ênfase]. Eu só tenho a elogiar (ENTREVISTADO C8). Muito boa, viu [ênfase]. Comigo, eu não tenho nada a reclamar com eles, viu (ENTREVISTADO C9).

Não é demais assinalar que o nível e a quantidade de informação dos cooperados

sobre as atividades da cooperativa afeta positivamente a delegação do direito de

controle ou autoridade àqueles para os quais são transferidos os direitos formais de

representação (MOURA COSTA; AZEVEDO, 2009).

O processo democrático passa também pela divulgação de informes tempestivos e

relevantes sobre a organização, sendo que os proprietários podem adquirir

informações sobre as atividades desenvolvidas pela cooperativa por meio do

tamanho do conselho de administração e monitoramento via assembleias gerais

ordinárias e extraordinárias (MOURA COSTA; AZEVEDO, 2009).

Page 101: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

99

Já quanto à divulgação proativa dos relatórios de administração/gestão antes de

AGs, repete-se o limitado alcance dos procedimentos dedicados.

d) Delegação como mecanismo para reduzir a assimetr ia de informações

Os entrevistados tanto da Cooperativa Alfa quanto da Cooperativa Beta, de forma

geral, acreditam que o processo de delegação é utilizado como mecanismo para

reduzir a assimetria de informações entre gestores e cooperados, melhorando

inclusive, a representação.

Acredito que sim. Porque pela delegação, tanto nós que somos delegados, quanto os cooperados que estão em nossa base de trabalho, a gente pode ter acesso a uma informação mais nivelada, a um volume de informações maior e a uma qualidade de informações maior, que é o mais importante (ENTREVISTADO D5, COOPERATIVA ALFA).

Sim. Os delegados funcionam como ponte. Porque eles vêm até a gente, sabe, fazendo reivindicações e a gente, automaticamente, passa pro diretor e muitas das vezes são resolvidos a tempo e a hora (ENTREVISTADO D10, COOPERATIVA BETA).

Contudo, conforme já assinalado, a maioria dos entrevistados não acredita que os

delegados e conselheiros sejam eficientes para monitorar as ações dos gestores.

Portanto, a delegação a terceiros de seu direito formal de participação pode denotar

certo comodismo por parte dos cooperados, que, assim, se eximem de ter uma

participação mais direta e efetiva nas assembleias e no dia a dia da cooperativa de

crédito conforme se percebe nas falas abaixo.

Pois é. Exatamente por não participar de nada [risos], é, eu acredito, sei lá, eu tô confiando no trabalho deles. Não tenho nada a acrescentar ou subtrair do trabalho deles. Há uma relação de confiança (ENTREVISTADO C1, COOPERATIVA ALFA). Bom, é, é, era interessante que houvesse participação efetiva, né, dos cooperados, né. E, é, a intenção é que todos participem porque afinal é de todos, mas isto só fica na intenção, porque eu nunca participei, nem sei das decisões. Não sei de nada [risos] (ENTREVISTADO C1, COOPERATIVA ALFA). Eu recebo as cartas das assembleias, mas eu nunca participei não (ENTREVISTADO C8, COOPERATIVA BETA).

Apesar da confiança demonstrada pelos cooperados no trabalho dos representantes

delegados, estes admitem que haja espaço para melhorar sua atuação,

Page 102: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

100

necessitando, porém, conciliar melhor suas atividades profissionais diárias com a

função de delegados.

Chama atenção o depoimento de dois delegados, que admitem ser tímido seu

trabalho de representante, o que está ligada à pouca disponibilidade para fazer um

acompanhamento mais efetivo do trabalho dos gestores. O entrevistado D1

(Cooperativa Alfa) afirma que suas ações se concentram na aprovação de

deliberações e emissão de pareceres. Já o entrevistado D6 (Cooperativa Beta)

afirma que nem sempre tem as informações que lhes são demandadas pelos

cooperados, em virtude de sua atuação ser pouco efetiva.

Acho que ainda é tímida (“tô” falando por mim) porque minha (meu trabalho) nesse sentido, ele é, vai muito. (desligou?). Meu trabalho vai muito nesta lógica de aprovar, dar parecer e tudo, eu não tenho muita disponibilidade para fazer um acompanhamento mais efetivo lá. Eu que, eu observo é nos encontros de assembleia, que eles prestam contas, que dão todas as informações (ENTREVISTADO D1, COOPERATIVA ALFA). Eu atuo muito pouco. Não auto como deveria. Entendeu? Tanto que eu... as pessoas procuram informações e eu procuro mais na frente, quando há alguma dúvida, entendeu? Pra eu mesma no entender o processo, das informação, eu sou muito crua ainda, entendeu? (ENTREVISTADO D6, COOPERATIVA BETA).

Embora seja minoria, é importante referenciar o entendimento daqueles que não

concordaram que os delegados possam ser agentes efetivos nesse processo de

redução de assimetria de informações, o que abre caminho para que as

cooperativas pesquisadas invistam em programas para esclarecer a importância dos

delegados na gestão do negócio.

Eu acredito que não. Não acho que seja feita essa, essa redução de informações, não (ENTREVISTADO D2, COOPERATIVA ALFA). Eu acredito que não. Eu acredito que como eles não nos envolvem. Então, a gente não está sendo representado pelo delegado. E da mesma forma, então, fica só que os delegados decidem lá, né. Que a gente não está se sentindo representado por alguém que a gente não conhece (ENTREVISTADO C1, COOPERATIVA ALFA). Não, não. Enquanto procurado, nós tempos poucas informações disponíveis (ENTREVISTADO D6, COOPERATIVA BETA).

Page 103: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

101

Conforme o BACEN (2015), as cooperativas que adotam o regime de delegação

registraram nível mais alto de participação quantitativa em Assembleias Gerais,

melhorando a representatividade.

e) A dificuldade em monitorar as ações dos agentes e a delegação

Para a maioria dos entrevistados das Cooperativas Alfa e Beta, a dificuldade em

monitorar as ações dos agentes influenciaria na delegação de controle formal por

parte dos cooperados.

Na cooperativa Alfa, a possibilidade de poder contar com os delegados

representantes dos demais associados é de suma importância, pois os cooperados

que não são delegados ou conselheiros não se sentem motivados a participar da

Assembleia Geral (AGE), visto que não entendem que há incentivo à participação

dos cooperados, bem como não percebem a existência de mecanismos formais para

proposição de temas.

Em relação à Cooperativa Beta, dentre os cinco associados que não ocupam função

de delegação, três informaram já ter participado de alguma assembleia. Embora

não tenha havido unanimidade, a maioria dos entrevistados entendeu que a

dificuldade em monitorar as ações dos agentes influenciaria na delegação de

controle formal, uma vez que os delegados têm acesso mais facilitado às

informações. Ademais, as pessoas que não estão próximas fisicamente da

cooperativa necessitam da atuação direta dos delegados conforme relatado pelo

entrevistado C6.

Segundo Bebchuck (1999) e Demsetz e Lehn (1985), quem adquire o controle na

organização se beneficia de sua posição, assim, os proprietários que compõe o

conselho de administração obtêm benefícios pecuniários ou não pecuniários, como

informação privilegiada, remuneração adicional pelo exercício da função, influência

sobre as decisões estratégicas da empresa. Dessa forma, quanto mais difícil o

monitoramento feito pelo principal das atividades desenvolvidas pelo agente,

maiores serão os benefícios.

Page 104: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

102

Para exercer de fato o direito de participar efetivamente dos destinos da cooperativa,

os associados precisam ter clareza quanto às regras que disciplinam o processo de

escolha dos representantes, bem como a divulgação prévia dos perfis dos

candidatos às funções de representação.

A maioria dos entrevistados das Cooperativas Alfa e Beta afirmou conhecer o diretor

principal ou algum outro membro do corpo diretivo. Entrevistados da Cooperativa

Beta disseram que além da facilidade de acesso às informações, eles se reportam

diretamente aos gestores quando necessitam de algo.

Esse resultado, aparentemente está em acordo com os encontrados por Bialoskorski

Neto (2004 7 , citado por Moura Costa e Azevedo (2009), que aponta para a

importância dos contratos relacionais como instrumento de influência nas

cooperativas agropecuárias brasileiras. Em outras palavras, a assembleia geral

poderia não estar sendo usada, necessariamente, pelos associados comuns para

monitorar o desempenho dos delegados, conselhos e diretoria.

Embora Moura Costa e Azevedo (2009) apontem que ambientes informais de troca

de informação entre cooperado e integrantes dos conselhos podem acabar

propiciando maior aquisição de informação sobre as atividades desenvolvidas pelas

cooperativas, esta troca pode ser dada também com outros representantes da

organização, como delegados e dirigentes, principalmente, se houver percepção da

inexpressividade da atuação do conselho fiscal bem como dificuldade de

monitoração das ações dos agentes pelos cooperados, o que pode levar à exigência

de escolha de delegados cuja reputação lhes pareça apropriadas.

Tal constatação contribui para aumentar a responsabilidade dos representantes

delegados, pois os entrevistados, de maneira, geral, consideram que seus esforços

influenciam a manutenção da confiança e da delegação por parte dos demais

cooperados.

7 BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Economia das organizações cooperativas: uma análise da influência da cultura e das instituições. 2004. 177 f. Tese (Livre Docência em Economia das Organizações) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004.

Page 105: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

103

Não foi descartada a possibilidade dos representantes virem a sofrer algum tipo de

pressão ou influência na condução dos rumos da cooperativa, assim como ocorre

em qualquer ambiente corporativo. Nenhum processo é completamente isento de

interferência, mas isto faz parte do ambiente democrático que se espera caracterizar

as cooperativas. Esta democracia, por ser um processo que envolve disputas, uma

vez conquistada, precisa ser continuamente reforçada e fiscalizada.

A reputação é importante para o processo de delegação de decisão a outros

agentes, que, portanto, além de conduta ética, devem pautar suas ações

respeitando todos os princípios do cooperativismo, inclusive se predispondo, caso

seja uma regra vigente nas cooperativas, a ser o agente fiscalizador das decisões

dos conselheiros fiscais.

Os entrevistados das Cooperativas Alfa e Beta consideraram, de forma unânime,

que os representantes estão interessados na perenidade das Cooperativas de

Crédito pesquisadas. Desta forma, estes procuram não tomar decisões

irresponsáveis ou que possam colocar em risco a instituição, desestruturando-a,

pois, se a instituição não estiver bem, dada suas características (fiscalizada pelo

Bacen e conselhos), todos acabariam perdendo.

Conforme Baker, Gibbons e Murphy. (1999), se o principal percebe a reputação do

agente em agir em prol de seus interesses, há aumento na probabilidade da

delegação dos direitos decisórios.

Ademais, a existência de delegados e conselhos acaba gerando certa tranquilidade

e acomodação nos cooperados, que, em sua maioria, devem considerar as

assembleias como instâncias que eles não precisam participar. Embora estas

estejam abertas à participação de todos os interessados, a participação direta de

todos deve inviabilizar as discussões e retardar as decisões, comprometendo as

atividades da organização.

Estas considerações aumentam a responsabilidade dos delegados, que, imbuídos

da importância do seu papel como agente de liderança, tornam-se facilitadores da

interlocução entre representantes e representados.

Page 106: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

104

Finalizada a apresentação dos conflitos de agência observados nas cooperativas, na

sequência é abordada a utilização de informações como parte do processo decisório

dos delegados.

5.4 Utilização de informações no processo decisório

Os entrevistados que exercem a função de delegado nas Cooperativas Alfa e Beta

apontaram que, antes de tomar decisões, eles, além de buscarem por informações,

analisam as que lhes pareçam mais relevantes, focando naquelas informações

fundamentais, de sorte a tornar as decisões mais efetivas e que priorizem o

processo analítico em detrimento do intuitivo.

Os entrevistados que ocupam funções de representação (delegados) afirmaram que

buscam por informações antes de adotar qualquer ação, fazendo leituras ou estudos

prévios dos assuntos que serão discutidos. Foi apontado pelos delegados

entrevistados que as cooperativas Alfa e Beta disponibilizam material e que são

estabelecidas discussões com o corpo técnico das organizações quando necessário.

Buscam informações relevantes, por meio de leituras e estudos, visando preparar-se

para uma situação específica e por eles percebida como tal.

Uso. Eu busco assim, não é nem grandes informações. Eu busco ler do que que se trata com antecedência, né, inteirar, que que eu vou fazer ali. Eu tô sendo convidada, eles mandam o material. Então, eu, pelo menos, me inteirar e, é, conversar com pessoas que eu conheço que são também delegas (ENTREVISTADO D1, COOPERATIVA ALFA). Ele deve estar próximo, lendo, estudando, fazendo um curso, se inteirando da vida da cooperativa (ENTREVISTADO D8, COOPERATIVA BETA).

No âmbito das cooperativas de crédito, a literatura aponta que, quanto mais difusa a

estrutura de propriedade e quanto maior o número de cooperados, aumenta a

probabilidade de delegação dos direitos de controle formal. Porém, esta decisão

seria influenciada ainda por outros fatores como reputação do agente e percepção

do esforço do agente no desenvolvimento de suas atividades na captação de

informações sobre as decisões a serem tomadas (DEMSETZ; LEHN, 1985).

Page 107: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

105

Para Tosini e Bastos (2008), ao serem criados instrumentos de controle e

fiscalização, as cooperativas devem considerar que esses resultam de um processo

de arbitragem entre os custos/perdas provocados pelos comportamentos

oportunistas dos diversos agentes envolvidos com a organização e os custos de

controle desses comportamentos.

Não obstante Tosini e Bastos (2008) fazerem referência à cooperativa quando

afirmam que esta deve fazer ponderação entre o custo e o benefício da informação

bem como à sua capacidade financeira, pode-se inferir que também o delegado

deve se atentar para estas questões, visto que, pelo menos para os representantes

da Cooperativa Alfa, os delegados não obtêm nenhum benefício pecuniário na

execução de suas atividades.

Finalizada a apresentação e análise dos resultados, no próximo capítulo são trazidas

as considerações finais da pesquisa.

Page 108: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

106

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A solidariedade passa pela promoção do desenvolvimento local, em que as soluções

não podem se ater às capacidades empreendedoras de caráter individual, mas

fundamenta-se em outra economia (FRANÇA FILHO, 2008). Nesta outra economia,

haveria uma construção conjunta da oferta e da demanda, a partir de iniciativas

associativas e cooperativas, que envolvem moradores em sua realidade cotidiana e

local (FRANÇA FILHO, 2008). Para estas iniciativas, não se pode perder de vista o

estímulo à integração de relações socioeconômicas entre produtores/prestadores de

serviços e consumidores/usuários de serviço, sendo permitida a sustentabilidade

desses empreendimentos e o fortalecimento do potencial de um dado território

(FRANÇA FILHO, 2008).

Não se pode negar que existem dificuldades naturais impeditivas para o crescimento

das práticas do cooperativismo em um ambiente permeado por carências que

entravam o acesso a fundamentos basilares da cidadania, como educação, justiça e

informação.

Contudo, por adotar uma forma que privilegia a igualdade e o social, o

cooperativismo acaba sendo aceito e reconhecido por todos os governos como uma

alternativa verdadeira para a mitigação dos problemas socioeconômicos.

Não obstante este trabalho ter estudado duas cooperativas voltadas para um público

específico, o cooperativismo de crédito, de forma geral, conforme apontado por

Gonçalves (2007) permite o acesso da população mais carente a serviços

financeiros, haja vista que estes empreendimentos podem assumir o papel de

impulsionadoras do microcrédito, aliando a inclusão social ao desenvolvimento

econômico, de forma democrática, solidária, igualitária e responsável.

A cooperativa de crédito além da intermediação entre a poupança e as demandas

por serviços financeiros de uma região, promove a correção das desigualdades

regionais de uma maneira que não dependa da interferência direta do poder público,

apesar da fiscalização e autorização partirem do Bacen (ALVES; SOARES, 2004).

Page 109: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

107

No caso das cooperativas estudadas, além de concessão de empréstimos a custos

baixos, estas se preocupam também em permitir a seus associados a concentração

de suas pequenas poupanças, economias e aplicações financeiras, tendo como

objetivo maior a formação financeira dos seus cooperados.

Para as Cooperativas analisadas, apesar de ter sido apontado pelos entrevistados

que a motivação principal para alguém decidir se associar seja a possibilidade de

obter empréstimos a taxas menores que as praticadas pela rede bancária

tradicional, as organizações têm buscado ofertar outros tipos de serviços ou

produtos como consórcios, seguros, cartão de crédito etc. Embora pretenda praticar

taxas mais atrativas que as instituições financeiras tradicionais, esses outros

serviços permitem que as cooperativas se apresentem para o público em geral como

uma organização que está preocupada em ser muito mais do que uma mera

provedora de recursos, que, em geral, são utilizados pelos demandantes para quitar

outros compromissos financeiros.

a) Processos administrativos

Em relação aos processos administrativos, as Cooperativas Alfa e Beta, inseridas no

sistema cooperativista de crédito como um todo, foram avaliadas como boas e têm

preocupação em ofertar treinamento específico para conselheiros (fiscal e

administrativo) e delegados. Também, há promoção ou incentivo de programas

voltados para a educação cooperativista. Segundo os delegados, a assembleia geral

é utilizada como mecanismo formal nas Cooperativas estudadas para avaliação

periódica dos conselhos, delegados e diretores. Quanto à auditoria interna, somente

a Cooperativa Beta possui esta estrutura formal de controle. Na Cooperativa Alfa,

esta função é exercida pelo agente de controle interno.

Os delegados das Cooperativas Alfa e Beta afirmaram que ocorre incentivo à

proposição de temas a serem discutidos antes das reuniões preparatórias. Porém, a

comunicação utilizada pode não atingir todos os cooperados, pois além de serem

realizadas por correio eletrônico, geralmente, são endereçadas apenas aos

delegados.

Page 110: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

108

b) Processo político

Quanto ao processo político, tanto para os entrevistados da Cooperativa Alfa quanto

para os entrevistados da Cooperativa Beta, o sistema de escolha de delegado foi

considerado democrático, visto que é feito por eleição e dentro das regras previstas

nos normativos. Há divulgação dos nomes e perfis dos candidatos apresentados em

uma espécie de minicurrículos.

Os entrevistados da Cooperativa Beta afirmaram que há incentivos para candidatura

aos cargos eletivos. Por sua vez, a maioria dos entrevistados da Cooperativa Alfa

disse que este incentivo ocorre apenas para os cargos de delegado.

Em ambas as Cooperativas, para os cargos diretivos não há regras que limitem

reeleições de um mesmo membro, estando os diretores principais nos cargos há

muito tempo. Assim, o poder e a influência pessoal exercida por eles podem

determinar os rumos do processo decisório nas Cooperativas de Crédito, como

ocorre em qualquer ambiente corporativo. Os entrevistados, de forma geral,

consideram que os delegados e conselheiros têm independência em seu processo

de tomada de decisões, fato que pode funcionar como espécie de limitação ao poder

excessivo dos gestores das Cooperativas estudadas.

c) Conflitos identificados

Diferentemente do apontado pelos entrevistados da Cooperativa Beta, os

entrevistados da Cooperativa Alfa não souberam analisar se os membros do

conselho fiscal e administrativo têm acesso individualizado e ilimitado a todos os

documentos e às informações necessárias para desempenho de suas funções.

As Cooperativas realizam reuniões periódicas com os associados, geralmente, nas

assembleias, uma vez que a participação direta de todos os associados é

impraticável, razão pela qual se torna imprescindível a existência do processo de

delegação. Nestas assembleias são feitas as prestações de contas formais das

atividades desempenhadas pelos diretores principais.

Page 111: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

109

Foi percebido que o convite feito por conhecidos que já eram associados prevaleceu

como forma de ingresso de novos interessados nas Cooperativas.

No caso da Cooperativa Alfa, esta informação demonstra a limitação da organização

em traçar uma estratégia eficiente de divulgação de seus propósitos junto aos

potenciais associados, limitação esta que é fruto de um processo ineficiente de

comunicação institucional da cooperativa conforme percebido nas falas dos

entrevistados, que demonstraram desapontamento com o distanciamento existente

entre a organização e as pessoas que já são cooperadas.

Pelo visto, o problema de comunicação é algo que acompanha a realidade da

Cooperativa Alfa desde sua fundação. Esta constatação exige que os gestores deem

uma atenção especial à melhoria do processo de divulgação da organização,

aumentando a confiança dos associados na instituição.

Não obstante terem demonstrado frustração com o processo de comunicação da

Cooperativa Alfa com os associados, alguns entrevistados reconhecem que não

tomam a iniciativa de procurar a organização. Sentem-se desolados por não fazê-lo,

justificando falta de tempo.

O processo de comunicação da Cooperativa Beta foi considerado bom pelos

entrevistados, que afirmaram, inclusive, que têm facilidade de buscar informações

no sítio da cooperativa ou diretamente com os gestores da organização.

Excluindo os delegados e o conselheiro de administração, os demais entrevistados

da Cooperativa Alfa, independente do seu tempo de ligação com a cooperativa, por

razões diversas, não se sentem motivados a participar do processo de escolha para

ocupação de funções de representação. O próprio entrevistado D1, embora exerça

função de delegado, afirmou não ter interesse em ocupar cargo de direção.

Em relação à Cooperativa Beta, os entrevistados demonstraram maior preocupação

em acompanhar os rumos da organização, participando de assembleias e buscando

informações diversas sobre a organização. O entrevistado D8 demonstrou estar

interessado em ocupar função na gestão.

Page 112: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

110

Para as Cooperativas Alfa e Beta, embora a quantidade de anos como associado

possa contribuir com os critérios de escolha para atividades de representação, não

há elementos suficientes para afirmar que o tempo como cooperado seja fator

determinante. Os representantes delegados das Cooperativas pesquisadas, assim

como demais ocupantes de funções de representação, devem pertencer ao quadro

de associados, contudo, os delegados não podem acumular funções, não

compondo, portanto, o conselho de administração, o conselho fiscal e os postos de

direção.

A página da Internet e o jornal ou boletim informativo foi apontado como importante

canal de comunicação entre as Cooperativas (Alfa e Beta) e os associados,

tornando-se um grande meio de obtenção de informação.

Porém, para a Cooperativa Alfa, o processo de comunicação foi avaliado como

deficitário. A própria página da Internet que poderia suprir este distanciamento físico

entre a instituição e os associados bem como complementar outras formas de

divulgação, foi apontada como um mecanismo que apresenta certas limitações como

quantidade de informações disponibilizadas, atualização de assuntos e inexistência

de acessos a certos temas. Este problema comunicacional foi apontado por alguns

entrevistados como o principal entrave para uma participação efetiva nas atividades

da cooperativa.

Em relação à Cooperativa Beta, não houve relatos de problemas relacionados à

página da Internet, sendo esta utilizada com meio de obtenção de informações.

Na Cooperativa Alfa, a preponderância da falta de tempo como opção para que o

cooperado decida por delegar seu poder de representação formal a um delegado

corrobora os apontamentos da literatura, os quais apontam que a baixa participação

liga-se a motivações pessoais, como as apontadas pela cooperativa pesquisada, o

que aumenta o dever da administração em criar instrumentos para assegurar

participação e, assim, evitar o chamado efeito carona (free rider).

Não houve relatos dos entrevistados da Cooperativa Beta relacionadas à questão da

falta de tempo.

Page 113: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

111

Também, abre-se oportunidade para que as Cooperativas incentivem a educação

continuada dos associados, cumprindo um dos princípios norteadores do

cooperativismo mundial, capacitando-os a entender melhor esta forma de

organização e os mecanismos utilizados pelas Cooperativas estudadas na condução

de seus negócios. Para as Cooperativas Alfa e Beta, os relatos apontam

preocupação em serem promovidos treinamentos e educação cooperativista.

Contudo, estes programas voltam-se exclusivamente para os ocupantes de funções

de representação.

O instrumento de delegação que as Cooperativas estudadas utilizam poderia

justificar a baixa participação direta dos associados (não delegados) nas

assembleias. A delegação é utilizada como mecanismo para reduzir a assimetria de

informações entre gestores e cooperados

A maioria dos entrevistados tanto da Cooperativa Alfa quanto da Cooperativa Beta

considera que a dificuldade em monitorar as ações dos agentes influencia na

decisão de delegação de controle formal por parte dos cooperados. Da mesma

forma, a maioria entende que os esforços dos delegados influenciam a manutenção

da confiança e da delegação por parte dos demais cooperados.

Ressalte-se que a não participação direta dos associados aumenta a

responsabilidade dos delegados enquanto representantes formais dos associados,

haja vista se esperar que, além de reservarem tempo para se inteirar das atividades

da cooperativa, invistam em leituras ou cursos de qualificação, de forma a capacitá-

los para melhor desempenhar as funções que lhes foram delegadas.

Os entrevistados das Cooperativas pesquisadas consideraram, em sua maioria, que

delegados, conselheiros e diretores estão preocupados com o crescimento e

perenidade da cooperativa de crédito estudada bem como com os objetivos comuns

dos associados. Além disso, os entrevistados não perceberam que os gestores

estariam preocupados com seus objetivos pessoais.

Para as duas Cooperativas analisadas, os relatos demonstraram confiança nos

trabalhos que estão sendo executados pelos gestores, apesar de serem apontadas

Page 114: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

112

as falhas nos processos de divulgação dos critérios de escolha dos representantes

bem como a possibilidade de uso de influência pessoal para candidatura e

continuidade nestes cargos.

Pode-se entender que o processo de delegação esteja inserido nos instrumentos de

fiscalização e controle das Cooperativas Alfa e Beta. Desta forma, a percepção da

eficácia da atuação dos delegados está fortemente associada à quantidade e

qualidade das informações disponibilizadas aos agentes responsáveis por esta

função.

Conclui-se, que, nas duas Cooperativas estudadas, o processo de delegação

existente é utilizado como mecanismo para reduzir o conflito de agência entre os

gestores (agentes) e os associados (principais).

Nas Cooperativas Alfa e Beta, entre os conflitos de agência apontados na literatura,

identificou-se nos relatos dos entrevistados, que a assimetria de informações entre

agentes e principais tem significativa importância para que ocorra a separação entre

a propriedade e controle. Embora presente também nas Cooperativas estudadas, o

conflito tomador versus poupador não se apresentou como fator importante para

ocorrer esta separação.

A assimetria de informações e a dificuldade em monitorar as ações dos gestores são

compreendidas pelos cooperados como condicionantes para o surgimento do

conflito de agência, razão pela qual os associados decidem delegar a terceiros o

direito de participação formal nos empreendimentos.

Vale ressaltar que a boa reputação dos candidatos a delegados, os esforços dos

agentes cooperados sobre as atividades da cooperativa e a dificuldade em monitorar

os representantes afetam, positivamente, a delegação do direito de controle ou

autoridade àqueles para os quais são transferidos os direitos formais de

representação junto às Cooperativas de Crédito pesquisadas.

Portanto, visando reduzir os conflitos de agência as Cooperativas Alfa e Beta devem

seguir as Diretrizes de Governança Corporativa do Banco Central, melhorando,

Page 115: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

113

continuamente, e de forma particular, os critérios de representatividade,

participação, comunicação, fiscalização e controle, visando tornar as Instituições

bem governadas, de sorte a garantir o crescimento e perenidade do negócios.

Como limitações deste estudo têm-se o fato que este foi realizado somente em duas

cooperativas de crédito. Além disso, foram entrevistadas apenas dez pessoas de

cada cooperativa. Ademais, quanto à utilização de informações no processo

decisório, a entrevista, por não ter sido feita com membros dos conselhos e com a

diretoria, permitiu colher depoimento apenas dos delegados. Apesar destas

limitações, os achados estão condizentes com a literatura e outras pesquisas

atinentes ao assunto.

Recomenda-se, para pesquisas futuras, expandir o estudo para um número maior de

cooperativas bem como analisar empreendimentos de outros municípios e estados.

Indica-se a realização de estudos em cooperativas que porventura remunerem os

delegados das cooperativas de crédito. O intuito seria verificar se o incentivo

financeiro melhora a participação dos delegados, com conseqüente redução da

assimetria de informações entre gestores (agentes) e associados (principais). Além

disso, em estudos futuros, seria oportuno identificar os custos de gerenciamento

advindos dos conflitos de agência bem como analisar a questão do poder, ouvindo,

neste caso, principalmente, os conselheiros.

Page 116: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

114

REFERÊNCIAS

ABREU, Janio Caetano de. Comunidades do movimento alternativo: uma perspectiva autogestionária. 1989. 247 f. (Mestrado em Administração) - Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1989. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000156&pid=S0103-2070200100010001100002&lng=en>. Acesso em: 05 nov. 2013. AGHION, Philippe; TIROLE, Jean. Formal and real authority in organizations.The Journal of Political Economy, Chicago, v. 105, n. 1, p. 1-29, fev. 1997. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/2138869?seq=1#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 25 mar. 2015. ALBERT, Consuelo E. Izquierdo. El cooperativismo una alternativa de desarrollo a La globalización neoliberal para América Latina: una visión desde la identidade cooperativa. 2005. Disponível em:<http://www.eumed.net/libros-gratis/2005/ceia/1ab.htm>. Acesso em: 02 jan. 2013. ALCHIAN, Armen A.; DEMSETZ, Harold. Production, information costs, and economic organization.The American Economic Review, v. 62, n. 5, p. 777-795, dez. 1972. Disponível em: <http://www.jstor.org/discover/10.2307/1815199?sid=21105820177011&uid= 2&uid=4>. Acesso em: 25 mar. 2015. ALDRIGHI, Dante Mendes; NETO, Roberto Mazzer. Estrutura de propriedade e de Controle das empresas de capital aberto no Brasil. Revista de Economia Política, v. 25, n. 2, p. 115-137, abr./jun. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rep/v25n2/a09v25n2.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2015. ALVES, Carlos André de Melo; FILHO, Cláudio Antonio Pinheiro Machado. Governança corporativa e divulgação das atribuições de ouvidorias: um estudo em instituições bancárias públicas e privadas à luz da regulamentação brasileira. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. EnANPAD, 34., 25-29 set. 2010, Rio de Janeiro. Anais....Rio de Janeiro: ANPAD , 2010. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/eso2781.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2014.

ALVES, Sérgio Darcy da Silva; SOARES, Marden Marques. Democratização do crédito no Brasil. Atuação do banco central. In: III Seminário Banco Central Sobre Microfinanças. 2004. Goiânia. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 15 ago. 2005.

ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. 3. ed. atual. e ampl. São Paulo: Atlas. 2007. 584 p.

Page 117: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

115

ARAÚJO, Zilda Aparecida Soares de; SIQUEIRA, Elisabete Stradiotto; BINOTTO, Erlaine; SIMIONI, Flávio Jose. A complementariedade entre governança corporativa e cooperativismo: os deslocamentos entre a dimensão estratégica e a cotidiana. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. EnANPAD, 31., 22-26 set. 2007. Rio de Janeiro. Anais. .. Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/APS-A2143.pdf >. Acesso em: 11 nov. 2013. Banco Central do Brasil (BACEN). História do cooperativismo de crédito no Brasil. Sd. Disponível em: <http://www.ineparcred.com.br/cartilha_cooperativas_credito.pdf>. Acesso em: 24 maio 2010. Banco Central do Brasil (BACEN). Democratização do crédito no Brasil. atuação do Banco Central. 2010. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/public/microcredito/democrat.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. Banco Central do Brasil (BACEN). Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/normativo.asp?tipo=res&ano=2010&numero=3859>. Acesso em: 10 out. 2014. Banco Central do Brasil (BACEN). Fortalecimento da governança cooperativa no Brasil: pesquisa governança em cooperativas de crédito 2013/2014. 2015. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 2015. Banco Central do Brasil (BACEN). Relação de instituições em funcionamento no país. 2014. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?RELINST>. Acesso em: 05 nov. 2014. Banco Central do Brasil (BACEN). Resolução nº 4.434, de 05 de agosto de 2015. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/48507/Res_4434_v1_O.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2015. BAKER, George; GIBBONS Robert; MURPHY, Kevin J. Informal authority in organizations.The Journal of Law, Economics, & Organizations, Cary, v. 15, n. 1, p. 56-73, 1999.Disponívelem: <http://www.wiwi.uni-bonn.de/kraehmer/Lehre/SeminarSS09/papiere/baker_et_al_informal_authority.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto & Augusto. Pinheiro.Lisboa: Edições 70, 1979. 281 p. BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION (BCBS).International convergence of capital measurement and capital stan dards: a revised framework. Bank for International Settlements, jun. 2006. Disponível em: <http://www.bis.org/publ/bcbs128.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2014.

Page 118: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

116

BAUER, Martin W.; GASKELL, George (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. 448 p. BEBCHUCK, Lucian A. A rent-protection theory of corporate ownership and control. Cambridge: Harvard Law School, 1999. 47 p. (DiscussionPaper, n. 260). Disponível em: <http://www.law.harvard.edu/faculty/bebchuk/pdfs/nber7203.99.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. BERLE, Adolf Augustus; MEANS, Gardiner C. A moderna sociedade anônima e a propriedade privada. Tradução de Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Abril Cultural, 1984. 335 p. BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Aspectos econômicos das cooperativas. Belo Horizonte: Mandamentos. 2006. 222 p. BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo; BARROSO, Marcelo F. G.; REZENDE, Amaury José. Governança corporativa e sistemas gerenciais: um ensaio utilizando-se da ótica da teoria de agency. In: V ENCONTRO DE PESQUISADORES LATINO-AMERICANO DE COOPERATIVISMO, 06-08 ago. 2008, Ribeirão Preto. Anais... Ribeirão Preto: FEA-RP USP, 2008. Disponível em: <http://www.fundace.org.br/cooperativismo/arquivos_pesquisa_ica_la_2008/107-bialoskorskineto.pdf>. Acesso em: 13 dez. 2014. BM&FBOVESPA. Diretrizes de governança corporativa. 2014. Disponível em: <Http://ri.bmfbovespa.com.br/fck_temp/26_2/Diretrizes_de_Governanca_Corporativa_da_BMFBOVESPA.pdf>. Acesso em: 25 out. 2014. BORGERTH, Vânia Maria da Costa. Sox: entendendo a lei sarbanes-oxley: um caminho para a informação transparente. São Paulo. Thomson. 2007. 95 p. BRANCH, Brian, BAKER, Christopher. Chapter 11: Overcoming credit union governance problems. In: WESTLEY, Glenn D., BRANCH, Brian (org.). Safe money: building effective credit unions in Latin America. Washington: InterAmerican Development Bank and World Council of Credit Unions, 2000.Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.201.859&rep=rep1&type=pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. BRASIL. Lei Complementar 130, 17 de abril de 2009. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 17 abr. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp130.htm>. Acesso em: 05 maio 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da república federativa brasileira de 1988. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao /constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 05 maio 2010. BRASIL. Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 16 dez. 1971. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5764.htm>. Acesso em: 05 maio 2010.

Page 119: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

117

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria Nacional de Economia Solidária. A economia solidária no ministério de trabalho e em prego. Disponível em:<http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/secretaria_nacional_apresentacao.asp>. Acesso em: 04 jan. 2013. BRESSAN, Valéria Gama Fully; BRAGA, Marcelo José; BRESSAN, Aureliano Angel. Análise da dominação de membros tomadores ou poupadores de recursos nas cooperativas de crédito mineiras. Economia Aplicada, v. 16, n. 2, p. 339-59, 2012a. Disponível em:<http://www.sober.org.br/palestra/15/206.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2015. BRESSAN, Valéria Gama Fully; BRAGA, Marcelo José; BRESSAN, Aureliano Angel; RESENDE FILHO, Moisés de Andrade. O seguro depósito induz ao risco moral nas cooperativas de crédito brasileiras? Um estudo com dados em painel. Revista Brasileira de Economia, v. 66, n. 2, p. 167-85, abr./jun. 2012b. Disponível em:<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/view/3802>. Acesso em: 15 out. 2014. BRUYNE, Paul de; HERMAN, Jacques; SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. 5.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. 252 p. CAMPOS, Armando. Plexo normativo das cooperativas de crédito. Brasília, DF: OAB Editora, 2003. 186 p. CARVALHAL DA SILVA, André Luiz. Governança corporativa, valor, alavancagem e política de dividendos das empresas brasileiras. RA USP, v. 39, n. 4, out./dez. 2004, p. 348-361. Disponível em: <http://www.rausp.usp/busca/artigogeral-resultasp??>. Acesso em: 05 dez. 2013. CARVALHAL DA SILVA, André Luiz. Governança corporativa, valor; alavancagem e política de dividendos das empresas brasileiras. In: CARVALHAL DA SILVA, André Luiz; LEAL, Ricardo Pereira Câmara (organizadores): Governança corporativa: evidências empíricas no Brasil. São Paulo. Atlas. 2007. Cap. 7, p. 107-129. CARVALHO, Antônio Gledson de. Governança corporativa no Brasil em perspectiva. In: CARVALHAL DA SILVA, André Luiz; LEAL, Ricardo Pereira Câmara (organizadores). Governança corporativa: evidências empíricas no Brasil. São Paulo: Atlas. 2007. 264 p. Cap. 2, p. 22-45. CARVALHO, Fernando Cardim de; SOUZA, Francisco Eduardo Pires de; SICSÚ, João; PAULA, Luiz Fernando Rodrigues; STUDART, Rogério. Economia monetária e financeira: teoria e prática. Rio de Janeiro: Campus. 2002. 454 p. COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. Trad. Lucia Simonini. 2. ed. Porto Alegre: Bookman. 2005. 349 p. COSTA, Luciano de Souza. O cooperativismo: uma breve reflexão teórica. Revista Ciências Sociais em Perspectiva, v. 6, n. 11, 2. sem. 2007. Disponível em:

Page 120: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

118

<http://www.unioeste.br/ campi/cascavel/ccsa/VISeminario/ Artigos%...>. Acesso em: 05 maio 2010. COUTINHO, Eduardo Senra; AMARAL, Hudson Fernandes; BERTUCCI, Luiz Alberto. O impacto da estrutura de propriedade no valor de mercado de empresas brasileiras. RA USP, v. 41, n. 2, abr./maio 2006. Disponível em: <http://www.rausp.usp.br/download.asp?File=V4102197.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2015. CUEVAS, Carlos E., FISCHER, Klaus p. Cooperative financial institutions: issues in governance, regulation, and supervision. Washington: The World Bank. WorkingPaper n. 82, 2006.74 p. Disponível em: <https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/7107/368100Cooperat101Official0Use0Only1.pdf?sequence=1>. Acesso em: 25 mar. 2015. DAMI, Anamélia Borges Tannus; ROGERS, Pablo; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa. Estrutura de propriedade no Brasil: evidências empíricas no grau de concentração acionária. Revista Contemporânea de Economia e Gestão, v. 5, n. 2, jul./dez. 2007, p. 21-30. Disponível em: <http://200.129.29.202/index.php/contextus/article/viewFile/602/583>. Acesso em: 03 jun. 2015. DEMSETZ, Harold; LEHN, Kenneth.The Structure of corporate ownership: causes and consequences. The Journal of Political Economy , v. 93, n. 6, p. 1155-1177, dez. 1985. Disponível em: <https://www.aeaweb.org/aer/top20/62.5.777-795.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. DESROCHERS, Martin; FIRCHER, Klaus P. Corporate governance and depository institutions failure: the case of an emerging market economy. Social Research Network. Jul. 2002. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=345980>. Acesso em: 25 mar. 2015. EISENHARDT, K. M. Agency theory: an assessment and review. Academy of Management Review, v. 15, n. 1, p. 57-74. 1989. Disponível em: <http://www.toorenburg.net/timbv/adviesgebieden/outsourcing/agency-theory/agency-theory-an-assessment-and-review>. Acesso em: 25 mar. 2015.

FERREIRA DE MELLO, Juliana Salvador. O impacto da governança corporativa no valor de mercado das companhias de capital abert o no Brasil: uma reaplicação. 2007. 107 f. Dissertação (Mestrado em Administração). Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/EOSA-747GQX/1/juliana_salvador.pdf>. Acesso em: 05 de mar. 2015. FILHO, Joaquim Rubens Fontes; VENTURA, Elvira Cruvinel Ferreira; MARUCCI, José Carlos. Governança corporativa e o papel dos conselhos de administração: um estudo no contexto das cooperativas de crédito. In: V

Page 121: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

119

International Conference of the Iberoamerican Academy of Management. Santo Domingo (República Dominicana), dez. 2007. FONTANELLA, Bruno José Barcellos; RICAS, Janete; TURATO, Egberto Ribeiro. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n.1. Jan. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2011000200020>. Acesso em 15 jun. 2015.

FRANCISCO, José Roberto de Souza. Índice de governança corporativa: criação de valor e desempenho nas cooperativas de crédito. 2014. 321 f. Tese (Doutorado em Administração)- Centro de Pós-graduação e Pesquisas em Administração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUOS-9MBKV6/tese_mat._2009752036_jos_roberto_de_souza_francisco.pdf?...>. Acesso em: 25 maio 2015. FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de conteúdo. 3. ed. Brasília: Liber Livro Editora, 2008. 80 p. FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho de. A via sustentável-solidária no desenvolvimento local. O&S, v. 15, n. 45, art. 15, p. 219-232,abr./jun. 2008. Disponível em: <http://www.revistaoes.ufba.br/include.ufba.br/include ?id=453&article...>. Acesso em: 05 maio 2010. FRASER, Márcia Tourinho Dantas; GONDIM, Sônia Maria Guedes. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia, v. 14, n. 28, p. 139-52. 2004. FREITAS, Alair Ferreira de; FREITAS, Alan Ferreira de; SAMPAIO, Danilo de Oliveira; MÁXIMO, Marina Silveira. Organização do quadro social (oqs): uma inovação institucional na gestão social de cooperativas. PAGS, Viçosa, v. 2, n. 1, p. 45-66. Jan./mar. 2010. Disponível em: <www.spell.org.br>. Acesso em: 02 jan. 2013. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas. 1989. 200 p. GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In: GODOI, C. K.; BANDEIRA-DE-MELLO, R.;SILVA, A. B. da (Org.). Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 1, p. 17-52. GONÇALVES, Cidlene Vieira. O cooperativismo de crédito no Brasil. 2007. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Auditoria Externa) – Programa de Pós-Graduação em Auditoria Externa, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

Page 122: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

120

GÜNTHER, Hartmut: Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 22, n. 2, p. 201-210, mai./Ago. 2006. HANSMANN, Henry. The ownership of enterprise. Belknap Press of Harvard University Press, 1996.372 p. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt....>. Acesso em: 25 mar. 2015. HOLANDA, Aurélio Buarque de. Dicionário online. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com>. Acesso em: 11 ago. 2014. HU, Bill; HWANG, Joon Ho. Private benefits: ownership vs. control. Social Science Research Network (SSRN), 2005. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=549983>. Acesso em: 25 mar. 2015. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA (IBGC). Código das melhores práticas de governança corporativa. 4. ed. São Paulo: IBGC, 2009. 73 p. JENSEN, M., MECKLING, W. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs, and ownership structure. Journal of Financial Economics, n. 3, p. 305-360, out. 1976. Disponível em: <http://www.sfu.ca/~wainwrig/Econ400/jensen-meckling.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. JÚNIOR, Antônio Carlos; COSTA, Edgard Gonçalves da. Microcrédito: a importância do papel do estado no desenvolvimento de políticas para financiamento de micronegócios e geração de emprego e renda. 2005. 77 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão Estratégica/Finanças) - Programa de Pós-Graduação em Gestão Estratégica, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. KREPS, David. A course in microeconomic theory. Princeton: Princeton University Press. 1990. 839 p. Disponível em: <http://listinet.com/bibliografia-comuna/Cdu338-A25B.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. LA PORTA, R., LOPEZ-DE-SILANES, F.; SHLEIFER, A.; VISHNY, R. Law and Finance. Journal of Political Economy, Chicago, v. 106, n. 6, p. 1113-1155, dez. 1998. Disponível em: <http://faculty.som.yale.edu/zhiwuchen/EmergingMarkets/LawAndFinance.pdf>. Acesso em: 11 out. 2014. LECHATII, Noëlle Marie Paule. As raízes históricas da economia solidária e seu aparecimento no Brasil. Leituras cotidianas, n. 152, 16 mar. 2005. Disponível em: <http://www.itcp.usp.br/drupal/node/250>.Acesso em: 05 maio 2010. LIMA, Romeu Eugênio; AMARAL, Hudson Fernandes. Inadimplência nas cooperativas de crédito de livre admissão. Revista de Contabilidade e Organizações, v. 5, n. 2, p. 72-89, 2011. Disponível em: <http://www.rco.usp.br/index.php/rco/article/view/175>. Acesso em: 04 jan. 2013.

Page 123: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

121

LIMA, Romeu Eugênio; ARAÚJO, Marcelo Bicalho Viturino; AMARAL, Hudson Fernandes; BRASIL, Banco central do. Conflitos de agência: um estudo comparativo dos aspectos inerentes a empresas tradicionais e cooperativas de crédito. Revista de Contabilidade e Organizações, v. 2, n. 4, p. 148-157, set./dez. 2008. Disponível em: <http:// www.revistas.usp.br/rco/article/download/34726/37464>. Acesso em: 25 mar. 2015. LIMA, Romeu Eugênio. Conflitos de agência nas cooperativas de crédito brasileiras. 2014. 249 f. Tese (Doutorado em Administração)- Centro de Pós-graduação e Pesquisas em Administração, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/BUOS-9MCLAR>. Acesso em: 25 maio 2015. LODI, João Bosco. Governança corporativa: o governo da empresa e o conselho de administração. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 224 p. LOURENÇO, Mariane Lemos. Cooperativismo e subjetividade: um estudo das dimensões da autogestão, do tempo e da cultura solidária. Curitiba: Juruá, 2008. 93 p. LOUVET, Pascal, TARAMASCO, Ollivier. Stock-based pay: an incentive for performance or a compensation for competence? How to compensate a manager when he is competent?"07 nov. 2007. Disponível em: <http://ssrn.com/abstract=1028250>. Acesso em: 25. Mar. 2015. MATTOS, Pedro Lincoln C. L. de. A entrevista não-estruturada como forma de conversação: razões e sugestões para sua análise. RAP, Rio de Janeiro, v. 39, n. 4, p 823-847, jul./ago. 2005. MILGROM, Paul; ROBERTS, John. Economics, organization & management. New Jersey: Prentice Hall, 1992.621 p. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 103 p. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1994. 269 p. MONJE-REYES, Pablo. Economía solidaria, cooperativismo y descentralización: La gestión social puesta en prática. Caderno Ebape.br, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, art. 2, p. 704-723, set. 2011. Disponível em: <www.spell.org.br>. Acesso em: 04 jan. 2013. MOURA, André Aroldo Freitas de, DOMINGOS,Sylvia Rejane Magalhães. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. EnANPAD, 36., 22-26 set. 2012, Rio de Janeiro. Anais....Rio de Janeiro: ANPAD , 2012. Disponível em:<http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2012_CON1688.pdf>. Acesso em: 15 abril 2014.

Page 124: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

122

MOURA COSTA, Davi Rogério de. Moral hazard na relação contratual entre cooperativa e cooperado. RCO - Revista de Contabilidade e Organizações - FEARP/USP, v. 2, n. 4, p. 55-74, set./dez. 2008. Disponível em: <Http://www.google.com.br/url?url=http://www.rco.usp.br/index.php/rco/article/downlodo/56/57&rct=j&frm=1&q=&esrc=s&sa=U&ved=0CBQQFjAAahUKEwj887ufso3HAhVHAh4KHdytBxo&usg=AFQjCNHjhyjGPyAlUWRZssDQXFGDUaeneg>. Acesso em: 25 out. 2014. MOURA COSTA, Davi Rogério de. AZEVEDO, Paulo Furquim de. Determinantes da delegação do direito de controle formal nas coop erativas agropecuárias brasileiras. 48. Congresso SOBER. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Campo Grande/MS, 25-28 jul. 2010. Disponível em:<http://www.sober.org.br/palestra/15/148.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2014. MOZZATO, A. R; GRZYBOVSKI, D. Análise de Conteúdo como técnica de análise dedados qualitativos no campo da administração: potencial e desafios. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 15, n. 4, p. 731-747. Jul./ago. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rac/v15n4/a10v15n4.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2015. ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS (OCB). Institucional. Disponível em: <http://www.ocb.org.br/site/ocb/index.asp?CodIdioma=1>. Acesso em: 15 ago. 2014. OLIVEIRA, Maria Aurizélia Coelho de; OLIVEIRA, Oderlene Vieira de; STEFE, Rodrigo; MORAES, Paulo André Barbosa. Governança corporativa no setor bancário brasileiro: identificação das principais barreiras à adoção de melhores práticas de governança corporativa. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO. EnANPAD, 37., 07-11 set. 2013, Rio de Janeiro. Anais. ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2013. Disponível em: <file:///C:/Documents%20and%20Settings/st02389/Meus%20documentos/Downloads/2013_EnANPAD_ESO2059%20(1).pdf>. Acesso em: 11 ago. 2014. PELLERVO, CONFEDERATION OF FINNISH COOPERATIVES. Corporate governance and management control in cooperative. Nov. 2000. 25 p. Disponível em: <http://www.pellervo.fi/cg/raportti.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015. PINHEIRO, Marcos Antônio Henriques. Cooperativas de crédito: história da evolução normativa no Brasil. 4. ed. Brasília: BCB. 2006, 66 p. PORTAL DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO. Cenário mundial. Disponível em: <http://cooperativismodecredito.coop.br/>. Acesso em: 05 mar. 2014. PORTAL DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO. Fusões de cooperativas de crédito. 22 fev. 2013. Disponível em: <http://cooperativismodecredito.coop.br/>. Acesso em: 05 mar. 2014. PORT, Márcio. 2012 – Ano internacional das cooperativas. In: MEINEN, Ênio; PORT, Márcio. O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã. Brasília: Confebrás, 2012. Cap. 11, p. 409-418.

Page 125: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

123

QUIRINO, Solange; CUNHA, Nina Rosa; COELHO, France Maria Gontijo. Cooperativismo de base solidária: uma experiência de incubação que pode dar certo? Revista da Micro e Pequena Empresa, Campo Limpo Paulista, v.2, n.1, p. 57-71, 2008. Disponível em: <www.spell.org.br>. Acesso em: 04 jan. 2013. ROCHA-PINTO, Sandra Regina da; IRIGARAY, Hélio Arthur.A instrumentalização do terceiro setor. Revista Gestão.Org., Pernambuco, v. 6, n. 1, p. 109-122, 2008. Disponível em: <www.spell.org.br>. Acesso em: 04 jan. 2013. SAITO, Richard; SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da. Governança corporativa: custos de agência e estrutura de propriedade. RAE, v. 48, n. 2, abr./jun. 2008, p. 79-86. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v48n2/v48n2a07.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2015.

SALANIÉ, B. The economics of contracts: primer. London: Cambridge: The Massachusetts Institute of Technology Press.1997. 223 p. SCHARDONG, Ademar. Cooperativa de crédito : instrumento de organização econômica da sociedade. Porto Alegre: Rigel. 2002. 128 p.

SHLEIFER, Andrei; VISHNY, Robert W.A Survey of Corporate Governance. Social Science Research Network. Working Paper n. w5554, abr. 1996. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=10182>. Acesso em: 25 nov. 2014. SISTEMA DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO DO BRASIL. Institucional. Disponível em:<http://www.sicoob.com.br/o-sicoob>. Acesso em: 25 maio 2015. SILVA JÚNIOR, Jeová Torres. Gestão, fato associativo & economia solidária: a experiência da ASMOCONP/Banco Palmas. 2004. 101 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Núcleo de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004. Disponível em: <http://www.adm.ufba.br/pt-br/publicacao/gestao-fato-associativo-economia-solidaria-experiencia-asmoconp-banco-palmas>. Acesso em: 13 maio 2010. SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da. Governança corporativa, desempenho e valor da empresa no Brasil. 2002. 152f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-04122002-102056/>. Acesso em: 11 ago. 2014. SILVERMAN, D. Interpreting qualitative data: methods for analyzing talk, text and interaction. Londres: Sage, 1994. 221 p. SOARES, Daniel Miranda. Cooperativismo, associativismo e estado . São Paulo: Scortecci. 2006. 128 p. SOARES, Marden Marques; SOBRINHO, Abelardo Duarte de Melo. Microfinanças: o papel do Banco Central do Brasil e a importância do cooperativismo de crédito.

Page 126: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

124

Brasília: BCB. 2008. 202 p. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/public/ internet.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2013. SOARES, Marden Marques; VENTURA, Elvira Cruvinel Ferreira. Governança Cooperativa: as funções estratégicas e executivas em cooperativas de crédito no Brasil. In: V Encontro de Pesquisadores Latino-Americanos de Cooperativismo. Identidade, valores e governança das cooperativas . 06-08 ago. 2008, Ribeirão Preto. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/microfinancas/coopcar/pdf/artfiscalcontrole.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2014. SOUZA, Carlos Soares de. Condicionantes ao desenvolvimento do cooperativismo de crédito no Brasil e modos de supe rá-los. um contributo. 2009. 69 f. Dissertação (Mestrado em Gestão de Empresas) – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa, 2009. Disponível em: <http://www.sicoobcecremef.com.br/wp-content/uploads/2012/06/dissertacaocarlos soares.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2013. STRAUSS, Anselm L.; CORBIN, Juliet M. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. 2. ed. Porto Alegre: Artmed. 2008. 288 p. THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. Saturação em pesquisa qualitativa: estimativa empírica de dimensionamento. Revista PMKT, n. 3, p. 20-27, set. 2009. Disponível em: <http://www.revistapmkt.com.br/Portals/9/Edicoes/Revista_PMKT_003_02.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015. TOSINI, Maria de Fátima Cavalcante; BASTOS, Alexandre Martins. Governança cooperativa: as funções de fiscalização e controle em cooperativas de crédito no Brasil. In: V Encontro de Pesquisadores Latino-americanos de Cooperativismo. Ribeirão Preto, 06-08 ago. 2008. Disponível em: <http://www.fundace.org.br/cooperativismo/arquivos_pesquisa_ica_la_2008/113-trindade.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2013. TRINDADE, Luana Zanetti; BIALOSKORSKI NETO, Sigismundo. Uma análise da separação entre a propriedade e a gestão nas cooperativas de crédito brasileiras. Revista de Contabilidade e Organizações, Ribeirão Preto, v. 6, n. 16, p. 95-118, set./dez. 2012. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 175 p. VARIAN, Hal R. Intermediate microeconomics. 8. ed. New York: W.W. Norton & Company. 2010.739 p. Disponível em: <https://www.st-drews.ac.uk/~mlm/EC2001/VarianIntermediateMicroeconomics.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2015.

Page 127: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

125

VAINER, Carlos. O presente de um futuro possível. In: GUIMARÃES, Gonçalo (org.): Sindicalismo &cooperativismo: a economia solidária em debate. transformações no mundo do trabalho. São Paulo. UNITRABALHO. 2010?. P. 37-61. VENTURA, Elvira Cruvinel (coord. geral). Governança corporativa: diretrizes e mecanismos para fortalecimento da governança em cooperativas de crédito. Brasília, BCB, 2009, 256 p. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 93 p. VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de pesquisa em administração . 2. ed. São Paulo. Atlas, 2006. 287 p. WESTLEY, Glenn D., BRANCH, Brian (org.). Safe money: building effective credit unions in Latin America. Washington: Inter-American Development Bank and World Council of Credit Unions, 2000. 321 p. Disponível em: <http://publications.iadb.org/handle/11319/433?locale-attribute=en>. Acesso em 25 mar. 2015. WESTPHAL, Vera Herweg. Os sistemas cooperativistas brasileiro e alemão: aspectos comparativos. Revista de Contabilidade e Organizações, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 40-54. Set./dez. 2008. Disponível em: <www.spell.org.br>. Acesso em: 02 jan. 2013. WILLIAMSON, Oliver E. The Economic Institutions of Capitalism: firm, markets, relational contracting. New York: Free Press, 1985. 453 p. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookmann, 2010. 248 p.

Page 128: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

126

APÊNDICES

Apêndice A – Roteiro de Entrevista 1 - Qual sua avaliação sobre a eficácia dos delegados e dos conselhos em monitorar as ações dos gestores? 2 - Como você avalia o processo de escolha de delegados? Ele é democrático? 3 - Você considera que delegados e conselheiros são independentes para tomar decisões? 4 - Você considera que a indicação ou convite seria fator preponderante para candidatar-se a funções ou cargos na cooperativa? 5 - O tempo de ligação com a cooperativa é fator determinante para indicação/ocupação de funções ou cargos na cooperativa? 6 - Existe mecanismo formal na cooperativa para avaliação periódica dos conselhos, delegados e diretores? 7 - A cooperativa incentiva a candidatura dos cooperados aos conselhos, diretorias e delegados, visando preservar a representatividade? 8 - A cooperativa oferece, direta ou indiretamente, treinamento específico para conselheiros (fiscal e administrativo) e delegados? 9 - Existe estrutura própria de auditoria interna? 10 - Os membros do conselho fiscal e administrativo têm acesso individualizado e ilimitado a todos os documentos e às informações necessárias para desempenho de suas funções? 11 - A cooperativa realiza reuniões periódicas e sistemáticas com seus cooperados? 12 - Há mecanismos formais que permitem aos cooperados ou delegados proporem itens nas pautas das assembleias antes de sua realização? 13 - O nome e o perfil dos candidatos aos cargos eletivos (delegados, conselheiros e diretoria) são previamente divulgados antes de sua escolha? 14 - A cooperativa incentiva ou promove diretamente programas de educação cooperativista? 15 - Existe limitação formal para o número de reeleições de um mesmo membro dos conselhos, delegados e diretorias?

Page 129: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

127

16 - O diretor presidente ou executivo presta contas formalmente de suas atividades aos conselhos ou demais diretores? 17 - Como você avalia o processo de comunicação entre a cooperativa e os demais associados? 18 - O processo de delegação é utilizado como mecanismo para reduzir a assimetria de informações entre gestores e cooperados? 19 - A dificuldade em monitorar as ações dos agentes influenciaria na delegação de controle formal por parte dos cooperados?

Page 130: GOVERNANÇA CORPORATIVA: conflitos de agência em ... · 2.1.2 Governança corporativa em instituições financeiras ..... 23 2.1.3 Governança corporativa em cooperativas de crédito

128

APÊNDICE B - Relação entre objetivos específicos, p erguntas do roteiro de entrevista e referencial teórico

OBJETIVO ESPECÍFICO PERGUNTA AUTOR BASE

Analisar como a delegação pode ser usada pelas cooperativas para reduzir o conflito de agência entre gestores (associados) e agentes (principais).

O processo de delegação é utilizado como mecanismo para reduzir a assimetria de informações entre gestores e cooperados?

AGHION; TIROLE (1997), COUTINHO, AMARAL; BERTUCCI (2006), SOARES; VENTURA (2008), VENTURA (2009), TRINDADE; BIALOSKORSKI (2012), FRANCISCO (2014); BACEN (2015)

Como você avalia o processo de escolha de delegados? Ele é democrático? Você considera que delegados e conselheiros são independentes para tomar decisões?

A dificuldade em monitorar as ações dos agentes influenciaria na delegação de controle formal por parte dos cooperados?

Qual é a sua avaliação sobre a eficácia dos delegados e dos conselhos em monitorar as ações dos gestores?

Identificar, entre os conflitos de agência apontados na literatura, quais são apontados pelos associados como importantes para ocorrer a separação entre a propriedade e o controle.

Existe mecanismo formal na cooperativa para avaliação periódica dos conselhos, delegados e diretores?

BRANCH; BAKER (2000), DEMSETZ; LEHN (1985), BERLE; MEANS (1984), MOURA COSTA; AZEVEDO (2010), ALCHIAN; DEMSETZ (1972), BAKER, GIBBONS; MURPHY (1999), AGHION; TIROLE (1997), VENTURA (2009), LIMA (2014), BACEN (2015)

A cooperativa incentiva a candidatura dos cooperados aos conselhos, diretorias e delegados, visando preservar a representatividade? O diretor presidente ou executivo presta contas formalmente de suas atividades aos conselhos ou demais diretores?

Investigar se a assimetria de informações e a dificuldade em monitorar as ações dos agentes são compreendidas pelos cooperados como condicionantes para surgimento do conflito de agência.

A cooperativa oferece, direta ou indiretamente, treinamento específico para conselheiros (fiscal e administrativo) e delegados?

VENTURA (2009), TOSINI; BASTOS (2008), HU; HWANG (2005), BEBECHUCK (1999), DEMSETZ; LEHN (1985); LIMA (2014), BACEN (2015)

A cooperativa realiza reuniões periódicas e sistemáticas com seus cooperados? Os membros do conselho fiscal e administrativo têm acesso individualizado e ilimitado a todos os documentos e às informações necessárias para desempenho de suas funções? Como você avalia o processo de comunicação entre a cooperativa e os demais associados?