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Adcontar, Belém, v. 5, n.1. p. 15-34, junho, 2004 1 GOVERNO ELETRÔNICO: UMA PROPOSTA DE CIDADANIA, DEMOCRACIA E INCLUSÃO NA “ERA DIGITAL” 1 Hélio Santos de O. Goes 2 José Carlos dos S. Damasceno 3 RESUMO: Este artigo apresenta a origem, conceitos, meios, atores e suas respectivas relações, assim como as funções e estratégias do Governo Eletrônico (GE) enquanto proposta de cidadania, democracia e inclusão do cidadão na era digital. Discute os avanços do GE e os entraves para sua efetivação. Tal contextualização objetiva ampliar as discussões sobre a inclusão digital no âmbito da sociedade, propiciando, desta forma, elementos que avaliem a importância das tecnologias de comunicação e informação ora existentes. Considera, ainda, a importância do GE, não só no sentido de disponibilizar serviços públicos via internet, mas, acima de tudo, no de propiciar a democratização da informação a toda sociedade. Sugere a implementação de políticas públicas e programas governamentais em todas as esferas de governo a fim de reduzir as diferenças sociais e promover a geração de renda e trabalho. Apresenta experiências desenvolvidas em unidades da federação concernentes à inclusão digital, como no caso dos Telecentros. Por fim, aborda a questão da educação formal como agente propiciador da cidadania, pelo fato de esta educação auxiliar a inserção do indivíduo na era digital. Conclui procurando mostrar que o acesso à informação e à comunicação são direitos fundamentais do cidadão e, por isto, devem ser garantidos e promovidos pelo Estado. PALAVRAS-CHAVE: Governo Eletrônico; Democracia; Inclusão Digital; Internet; Serviços Públicos; Políticas públicas. 1 O presente artigo é uma versão modificada de nossa monografia de pós-graduação em gestão pública. Agradecemos ao Prof. Milton Cordeiro Farias Filho pela orientação e incentivo para publicação. Falhas eventualmente remanescentes são de respon- sabilidade dos autores. 2 Contador, Gerente de Contabilidade da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado do Pará, especialista em Gestão Pública pelo Centro Universitário do Pará – CESUPA. 3 Economista, Assessor Técnico da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado do Pará, especialista em Gestão Pública pelo Centro Universitário do Pará – CESUPA.

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GOVERNO ELETRÔNICO: UMAPROPOSTA DE CIDADANIA,DEMOCRACIA E INCLUSÃO

NA “ERA DIGITAL”1

Hélio Santos de O. Goes2

José Carlos dos S. Damasceno 3

RESUMO: Este artigo apresenta a origem, conceitos, meios, atores e suas respectivasrelações, assim como as funções e estratégias do Governo Eletrônico (GE) enquantoproposta de cidadania, democracia e inclusão do cidadão na era digital. Discute osavanços do GE e os entraves para sua efetivação. Tal contextualização objetiva ampliaras discussões sobre a inclusão digital no âmbito da sociedade, propiciando, desta forma,elementos que avaliem a importância das tecnologias de comunicação e informação oraexistentes. Considera, ainda, a importância do GE, não só no sentido de disponibilizarserviços públicos via internet, mas, acima de tudo, no de propiciar a democratização dainformação a toda sociedade. Sugere a implementação de políticas públicas e programasgovernamentais em todas as esferas de governo a fim de reduzir as diferenças sociais epromover a geração de renda e trabalho. Apresenta experiências desenvolvidas emunidades da federação concernentes à inclusão digital, como no caso dos Telecentros.Por fim, aborda a questão da educação formal como agente propiciador da cidadania,pelo fato de esta educação auxiliar a inserção do indivíduo na era digital. Concluiprocurando mostrar que o acesso à informação e à comunicação são direitos fundamentaisdo cidadão e, por isto, devem ser garantidos e promovidos pelo Estado.

PALAVRAS-CHAVE: Governo Eletrônico; Democracia; Inclusão Digital; Internet; ServiçosPúblicos; Políticas públicas.

1 O presente artigo é uma versão modificada de nossa monografia de pós-graduação em gestão pública. Agradecemos ao Prof.Milton Cordeiro Farias Filho pela orientação e incentivo para publicação. Falhas eventualmente remanescentes são de respon-sabilidade dos autores.

2 Contador, Gerente de Contabilidade da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado do Pará,especialista em Gestão Pública pelo Centro Universitário do Pará – CESUPA.

3 Economista, Assessor Técnico da Secretaria Especial de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado do Pará, especialistaem Gestão Pública pelo Centro Universitário do Pará – CESUPA.

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INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea brasileiratem-se mobilizando no sentido de cobrar dos ad-ministradores públicos uma maior transparênciade suas ações. Para responder melhor aos novostempos e exigências do cidadão, os governos es-tão introduzindo uma série de modificações, taiscomo o uso intensivo da tecnologia da informa-ção e da Internet. A essas ações governamentaischamamos de “Governo Eletrônico” (GE).

A tecnologia da informação e a comu-nicação no “Governo Eletrônico” têm o objetivomaior de ampliar e estimular o processo de in-serção do Brasil no novo modelo de desenvolvi-mento baseado na sociedade da informação, sem-pre com o foco no cidadão. Portanto, toda a es-trutura do GE deve integrar-se, organizando-asa fim de viabilizar formas de atendimento maiseficientes e transparentes, além de estimular aparticipação social no seu próprio funcionamen-to.

Dado essas demandas, o artigo buscouresponder aos seguintes questionamentos: a) Quala contribuição do Governo Eletrônico (GE) paraefetivar a redução dos desperdícios de recursospúblicos? b) Que estratégia o GE deve-se valerpara otimizar o fornecimento de serviços públi-cos de qualidade com a agilidade necessária àsua utilização pela sociedade? c) Como efetivara democratização e universalização do acesso àinformação, comunicação e conhecimento porparte do cidadão, bem como a transparência dosatos da administração pública do Estado?

Optamos por desenvolver um estudosobre o Governo Eletrônico voltado para a cida-dania, para o cidadão participativo, focalizandoo cidadão sem particularização ou definição degrupos ou faixas, como forma de ampliar discus-sões a fim de democratizar o acesso à informa-ção na geração do conhecimento e serviços dis-poníveis a todas as camadas da população, prin-cipalmente as mais carentes.

O enfoque principal está voltado parabusca de eficiência, transparência, democratiza-ção, impessoalidade e publicidade dos atos daadministração pública. A escolha do tema deve-se a sua atualidade e ao processo de engajamentoda tecnologia em prol do bem-estar da socieda-de. Os governos na esfera subnacional e federaltem a obrigação de utilizar a ciência da informa-ção no sentido de proporcionar transparência nasprestações de contas, serviços públicos com efi-ciência e democracia participativa.

Nosso objetivo principal é apresentarproposta visando o desenvolvimento de estudoscomo forma de ampliar discussões, para subsi-diar e estimular a geração de idéias, propiciandoelementos que torne mais eficiente a administra-ção pública e principalmente democratize euniversalize a informação através do uso intensi-vo das tecnologias de informação e comunicaçãoe da Internet. O presente artigo está dividido emseis partes e uma conclusão.

1- GOVERNO ELETRÔNICO: UMAVISÃO GERAL

Em diversos países do mundo, principal-mente naqueles que já alcançaram um certo graude desenvolvimento econômico, político,tecnológico e social, a prática do governo eletrô-nico vem adquirindo categoria de política públicaprioritária por entenderem como uma das for-mas mais eficazes de se relacionar, não só inter-namente, como também no seu processo de apro-ximação com a sociedade.

No Brasil, como forma efetiva da buscade estreitamento da relação Governo–Cidadão,o governo eletrônico só passa institucionalmentea fazer parte da agenda política de Estado a par-tir da criação, por Decreto Presidencial, em 03de abril de 2000, do Grupo de Trabalho deTecnologia e Informação – GTTI4 . A sua finali-dade principal estava na realização de estudos e

4 O GTTI é formado por representantes dos Ministérios, da Ciência e Tecnologia, das Comunicações, do Desenvolvimentoda Indústria e Comércio Exterior, da Justiça, do Planejamento, da Casa Civil, além dos representantes do Gabinete deSegurança Institucional, e posteriormente a este grupo foram incorporados representantes dos ministérios da Saúde, daEducação, da Fazenda e da Agência Nacional de Telecomunicações.

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diagnósticos, que possibilitassem a identificaçãoe execução de serviços e informações governa-mentais a serem disponibilizados à sociedade peloGoverno Federal.

Entretanto, o que vem a ser governo ele-trônico ou e-governo? Quais os elementos políti-cos, sociais e econômicos que possibilitarão a suacrescente implantação no Brasil, não só peloGoverno Federal, mas também nas demais esfe-ras públicas? Vista de uma forma mais simples,governo eletrônico não é apenas páginas de go-vernos na internet, que possibilitam, através darede mundial de computadores, a prestação deserviços e informações governamentais para ci-dadãos, fornecedores e servidores. Como citadopor Fernandes e Afonso (2001), é um conceitomais abrangente. E-governo envolve uma gamaenorme de atividades e procedimentos que exce-de a simples plotagem de páginas de governos nainternet; sua abrangência envolve muito mais quesimples atividades que buscam integrar açõesinter e intragovernamentais, que objetivam amelhoria dos processos, racionalização de gas-tos e equacionamento mais eficaz de entraves daadministração pública. O e-governo cria não sóa possibilidade de transparência da gestão fiscaldo setor público, como também permite a ampli-ação do controle social das ações governamen-tais, ou seja, o e-governo possibilita, através deum único instrumento, a interação (governo ? go-verno) e (governo ? sociedade) a efetividade des-sas relações, na medida em que aproxima o Es-tado da sociedade podendo contribuir de formadireta para a melhoria da administração pública.

Quanto aos meios necessários parainteração entre Estado e sociedade, o governo ele-trônico não só se utiliza da rede mundial de com-putadores, como na maioria das vezes é pensa-do. Ele se estende aos diversos modelos de tele-fonias, televisão digital, call centers e outros ti-pos de aplicações ligadas aos computadores pes-soais. São as tecnologias de informações e co-municação envolvidas nesse processo.

No âmbito do governo eletrônico, osatores institucionais são: 1. Governo « Governo,que envolve o próprio governo, na sua relaçãohorizontal com seus próprios órgãos (ministéri-

os, secretarias, departamentos etc.) e na sua re-lação vertical entre governo de esferas diferen-tes (União, estados, municípios); 2. Governo «Empresas, que corresponde à relação que o go-verno tem com as empresas, de que são exem-plos a aquisição de bens e serviços junto ao setorprodutivo, via meios eletrônicos, os chamadospregões eletrônicos; 3. Governo « Cidadão, dizrespeito às ações que o governo realiza no senti-do de colocar à disposição, por meio eletrônico,ao cidadão, serviços e informações pertinentes àesfera pública.

De acordo com Fernandes e Afonso(2001), o governo eletrônico tem as seguintes fun-ções: prestação de informações e serviços pormeio eletrônico; regulamentação das redes deinformação, envolvendo principalmentegovernança, certificação e tributação; prestaçãode informações relativas à administração públi-ca, no sentido de fazer com que a sociedade pos-sa acompanhar a execução orçamentária e finan-ceira, ou seja, é o exercício da transparência dasações de governo, buscando assim uma maiorinteratividade e elevar o seu nível degovernabilidade perante a sociedade;disponibilização à população de acervos educa-cionais e culturais, referindo-se também ao en-sino à distância e alfabetização digital; e-procurement, que diz respeito à aquisição de bense serviços via internet, de que são exemplos ospregões eletrônicos, as licitações públicas, car-tões de compras governamentais; e-negócios re-lacionados à criação de ambientes virtuais propí-cios para comercialização de produtos oriundosdas pequenas e médias empresas.

Até atingir a sua plenitude como instru-mento de interação governo-sociedade, a implan-tação do e-governo pode até ultrapassar as eta-pas iniciais, passando assim por quatro estágios,quais sejam: i) em seu estágio inicial, o e-gover-no envolve apenas a criação de sites, que temcomo objetivo principal a divulgação de informa-ções relativas aos mais diversos órgãos do go-verno. Algumas vezes são reunidos em um únicoportal contendo endereços eletrônicos dos órgãosgovernamentais e funciona como um catálogo deendereços de órgãos públicos. Nesse estágio, a

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interação, a relação eletrônica governo-cidadãoe governo-empresas é apenas unilateral, não exis-tem espaços nos sites que permitam o retorno dacomunicação de cidadãos e empresas em dire-ção ao Governo. ii) quando alcança o seu segun-do estágio de desenvolvimento, o site já permitea inter-relação do governo com os demais atoresdo e-governo; a relação já é uma via de mão du-pla. Nesse estágio o contribuinte já envia viainternet ou por telefone sua declaração de im-posto, troca de endereço, etc. No sentido de ser-vir como uma espécie de ouvidoria virtual, o go-verno também disponibiliza em seus sites espa-ços para que cidadãos e empresas se pronunci-em quanto à qualidade dos serviços recebidos,denúncias e outros assuntos que afetam a vida dasociedade; além do espaço na rede de computa-dores, são disponibilizadas linhas telefônicas es-pecialmente para esses fins. iii) no terceiro está-gio, as relações do e-governo tornaram-se aindamais complexas. Além de envolverem informa-ções e prestações de serviços, são possíveis arealização de pagamentos de impostos, as com-pras de materiais, a efetivação de matrículas narede pública, etc. iv) no estágio mais avançadodo e-governo, as informações, serviços e transa-ções não são mais disponibilizadas por órgãospúblicos, e sim por funções ou por temas; dessaforma, ao demandar por serviços, empresas ecidadãos não acionam, nos espaços virtuais, umórgão específico, e sim, pelas demandas, comopor exemplo: para abrir uma empresa o cidadãonão precisa mais percorrer diversos órgãos nainternet para efetivar a abertura; no mesmo es-paço virtual, se localizam os órgãos de todas asesferas públicas para atender tal demanda.

A colocação do governo eletrônico comouma das prioridades na agenda do setor públicobrasileiro é oriunda das modificações pela qual asociedade vem passando nas últimas três déca-das. De um lado, a volta dos regimes políticosdemocráticos, que fizeram com que a sociedadecivil requeira maior interatividade com o Esta-do, reivindicando maior participação em todosos processos inerentes à administração pública,criando demandas para melhoria da prestação dosserviços públicos; de outro, a evolução datecnologia da informação, que fez surgir novas

demandas da sociedade dirigidas ao setor públi-co no que diz respeito ao seu próprio funciona-mento e sua forma de interagir com os demaissetores governamentais e não governamentais,exigindo por parte do governo uma crescenteuniversalização do acesso e uso de meios eletrô-nicos para a geração de serviços e informações,além da disponibilização e contribuição das mes-mas para a efetivação de uma administração maistransparente e de maior controle social, o que sesomou ao declínio do estado do bem-estar sociale contribuiu para a reforma do Estado, que terápapel fundamental para a evolução do governoeletrônico no Brasil.

2- GOVERNO ELETRÔNICO COMORESULTADO DAS MUDANÇAS ES-TRUTURAIS NO APARELHO DOESTADO BRASILEIRO

A reforma do Estado no Brasil buscouequilibrar as contas públicas através do controlede gastos e da retirada do Estado de áreas quepudessem ser exercidas pela iniciativa privada;também procurou remover os entraves burocrá-ticos e redirecionar a administração pública paraum modelo gerencial que vise a melhoria dosserviços prestados a sociedade, tendo o cidadãocomo foco, além de buscar ampliar o canal deinteração do governo com a sociedade. Dentrodessa perspectiva, o GE vem ocupando,gradativamente, destaque na nova administraçãopública.

No que diz respeito à descentralizaçãoadministrativa, tanto interna quanto externa, o go-verno eletrônico vem obtendo papel destacávelnesse processo. No que diz respeito àdescentralização interna, o uso de sistemascorporativos como instrumentos de integraçãoentre ministérios/secretarias e seus órgãos vin-culados, vem ganhando cada vez mais espaço den-tro da administração pública, principalmente pelaquase eliminação de atividades repetitivas, queenvolvia um elevado número de pessoas sem,contudo, obter um produto final de qualidade comtempestividade. Dessa forma, a implantação des-

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ses sistemas fez com que o corpo funcionaldirecionasse sua atenção muito mais para análi-se de atividades e relatórios, em vez de se ocu-par com ações rotineiras de processamento, im-portantes apenas na administração pública buro-crática. Ou seja, o foco passa a ser o produto/cliente e não somente os processos. Assim, umdeterminado número de servidores é liberado dasatividades-meio para o atendimento às ativida-des finalísticas da administração pública, no sen-tido de cumprir a missão da instituição. Dentrodesse mesmo pensamento, o governo eletrônicotambém contribui para a diminuição daburocratização no serviço público, uma vez que,além de diminuir os processos, permite que ocidadão e empresas acessem determinados ser-viços públicos sem precisar dirigir-se a determi-nado órgão. Isso se torna ainda mais ágil quandoo governo eletrônico alcança o seu quarto estágiode desenvolvimento, onde são encontrados todosos serviços disponíveis para a solução de umadeterminada demanda da sociedade.

Quanto à sua utilização nadescentralização externa, o ponto fundamental dautilização do e-governo é o acompanhamento e aavaliação da execução de programas para osquais foram repassados recursos às esferassubnacionais.

Essas contribuições do e-governo para aadministração pública gerencial vem sendo tam-bém de fundamental importância para a eleva-ção da governança administrativa e financeira,na medida em que permite a melhoria do que seconvencionou chamar accontability, ou elevaçãodo processo de acompanhamento das políticaspúblicas, com vistas a avaliar se os resultadosesperados estão sendo efetivamente alcançados.

O e-governo também viabiliza a diminui-ção dos gastos da administração pública, uma vezque o setor público deixa de direcionar recursosfinanceiros para construção e/ou manutenção deprédios, destinados a disponibilizar informaçõese serviços à sociedade, e que pelas suas peculia-ridades de pouca agregação de valor ao processoadministrativo podem ser realizados por meioeletrônico a qualquer hora, fato que seria inviáveleconomicamente; além disso, a racionalização

dos gastos públicos dá-se também pela utilizaçãode menor número de servidores e/ou terceirizadospara realização de atividades burocráticas. Essaótica faz com que o e-governo vá ao encontro danova visão do papel da administração pública noseu relacionamento com a sociedade. Trata-se,assim, pelo lado dos gastos, da diminuição do ta-manho do Estado, sem, contudo, diminuir suarelevância perante a sociedade.

Um dos pontos fundamentais para a cres-cente utilização do e-governo, como importanteinstrumento de gestão pública, é a sua clara pos-sibilidade de servir como elemento de controlesocial. Como citam Fernandes e Afonso (2001,p. 22), “o aspecto fundamental do e-governo dizrespeito à transparência fiscal. O uso da internetna função pública cria possibilidades extraordi-nárias de ampliar o controle da gestão fiscal porparte da população, facilitando o exercício da-quilo que se convencionou chamar accountabiliy,isto é, a obrigatoriedade de prestação de contasao cidadão”. Assim o e-governo pode contribuirde forma efetiva para o aprimoramento da ges-tão dos recursos públicos, na medida em que se-jam criados canais eletrônicos contínuos de in-formações ao cidadão sobre a administração pú-blica.

3- GOVERNO ELETRÔNICO: UM INS-TRUMENTO PARA A DEMOCRA-CIA, CIDADANIA E INCLUSÃODIGITAL

A utilização do instrumental da internetcomo recurso de comunicação e agente de infor-mação e conhecimento avançou de forma efetivana adoção da informação como instrumento dedisseminação de propostas comunicativas de na-tureza interativa. O enorme abismo existenteentre a sociedade virtual e os excluídostecnológicos cresceu enormemente. Em 1993, ainternet possuía aproximadamente quatro milhõesde usuários, atualmente possuí em torno de cemmilhões. Se este crescimento de internautas éconsiderado significativo, já existem projeçõespara 2005 de algo próximo de um bilhão de usuá-

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rios. Tal alteração no número de usuários darede, num período de tempo pequeno, aponta ainternet e os produtos comunicativos nela vincu-lados como integrantes de um fenômeno sócio-histórico cujas proporções e implicações come-çamos a vislumbrar, de forma mais articulada,nos últimos três anos. Nos últimos anos tem sidopossível verificar a consolidação de inúmerasexperiências nas quais a internet se apresentacomo mediação imprescindível aos processos deformação humana.

Neste estudo, também procuraremosmostrar a internet como propulsora do GovernoEletrônico para alcançar todos os cidadãos, noque se refere à democracia digital euniversalização da informação para formação doconhecimento, além de possibilitar oportunida-des fazendo com que todos possam participar ati-vamente desse mundo virtual que, na maioria dasvezes, não é contemplado em propostas específi-cas que visam à inclusão social.

Os direitos ao acesso à informação e àcomunicação são direitos não alienáveis eintransferíveis do ser humano e, por isso, o aces-so às Tecnologias de Informação e Comunicação(TIC’s) e a produção da informação com seu usodevem ser compreendidos como um novo direitohumano fundamental, garantidos e promovidospelo Estado brasileiro.

Com base nos dados levantados peloIBGE, através da PNAD (Pesquisa Nacional deAmostras por Domicílios) para o ano de 2001, eda amostra do Censo Demográfico 2000, chega-mos ao seguinte mapa que traça o perfil dobinômio inclusão/exclusão digital: em termospercentuais, 12,46% da população brasileira dis-põe de acesso a computador, e 8,31% de acessoà internet. Os dados apurados através do CensoDemográfico do IBGE no ano de 2000 apontampara uma população total de 169.872.856 habi-tantes; deste montante, apenas 17.328.185 dehabitantes são considerados incluídos digitais, oque representa uma taxa de inclusão na ordemde 10,20%.

A partir de tais constatações, conside-ramos que a inclusão digital e a produção de co-nhecimento são elementos fundamentais e que

formam a base, o alicerce para o desenvolvimentoeconômico, cultural, político e social de qualquerpaís. Nesse contexto, a inclusão digital (entendi-da como acesso universal ao uso das tecnologiasde informação e comunicação e usufruto univer-sal dos benefícios trazidos por essas tecnologias)é imprescindível.

Exclusão digital, alfabetização digital,cibercultura, leitor virtual, hiato tecnológico, in-clusão digital, tecnocultura, ciberespaço, eapartheid digital representam algumas das expres-sões empregadas com a finalidade de buscar en-tendimento da importância quanto às mudançasenvolvendo cultura, informação, sujeito e medi-ação tecnológica.

A incorporação, o avanço e a rápida di-fusão desses novos termos direcionam para rápi-das mudanças e transformações de ordem soci-ais, políticas, técnicas e culturais com bastanteintensidade. O curso frenético dessas transfor-mações é tão forte que não permite a formaçãode terminologia própria, que esteja de acordo comos fenômenos experimentados atualmente. As-sim sendo, as tentativas de denominação dessesfenômenos faz com que tenhamos que recorrer ametáforas e neologismos.

A expressão cultura digital correspondea esse momento. Cultura digital tem sido utiliza-da para denominar a fase correspondente aosprocessos de digitalização das informações. De-signa e engloba as diversas transformações decaráter cultural, social, político e técnico queenvolvem a mudança de uma matriz tecnológicaà outra. Em função disso, reflete ainda certa flui-dez conceitual. Em virtude dessas transforma-ções, tornou-se cada vez mais necessário o de-senvolvimento de propostas que tenham por ob-jetivo apoiar a inclusão dos segmentos historica-mente alijados da sociedade.

Nesse sentido, para a obtenção de re-sultados permanentes e positivos será necessáriodefinir uma política de disseminação da comuni-cação pública que leve em conta a importânciade ações de inclusão digital, assim como umapolítica de fomento aos produtos de tecnologia deinformação e de comunicação produzidos no Bra-sil. É necessário aperfeiçoar no que for possível

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a política de incentivos fiscais, com acesso am-plo e democrático, com a finalidade de contri-buir para a inclusão digital.

Neste contexto, o poder de compra go-vernamental deve ser utilizado como um impor-tante mecanismo de inovação e redução de cus-tos em tecnologia da informação, bem como parapossibilitar um avanço importante e fundamentalpara a indústria nacional de tecnologias da infor-mação. Isto representa uma redução da influên-cia e grau de dependência da tecnologia de ou-tros mercados, proporcionando uma evolução in-terna neste segmento.

Dentro deste cenário, o Estado deve darprioridade às políticas públicas que visem odirecionamento para a inclusão digital dos gru-pos excluídos, com políticas bem definidas paraa população em geral, respeitando a igualdadede gênero, a acessibilidade de pessoas com defi-ciências, os idosos e as questões de raça e etnia.É importante definir os segmentos da sociedadeprioritários para a inclusão digital e suas neces-sidades específicas. Partindo dessas constataçõespara superar os obstáculos para o efetivoenvolvimento da sociedade em ações de inclusãodigital, se faz necessário criar estratégias parauma melhor informação da maioria dos atores,produzindo instrumentos de coordenação e arti-culação entre as diferentes ações.

Achamos pertinente que para garantira descentralização das ações com o necessárioenvolvimento da sociedade são indispensáveisações empreendidas pela própria sociedade civilno sentido de monitorar a execução das políticaspúblicas, dar continuidade aos mecanismos deconstrução conjunta de políticas públicas e esti-mular e incentivar a constituição de redes públi-cas de Internet e troca de experiências.

As ações de inclusão digital devem serrealizadas em nível local, buscando-se a articu-lação das políticas públicas de inclusão digitalentre os governos federal, estadual e municipalcomo executores e indutores dessas práticas,dando um tratamento diferenciado aos pequenosmunicípios com Índice de Desenvolvimento Hu-mano (IDH) mais baixo. Deve-se fomentar odesenvolvimento de soluções alternativas de

tecnologia de informação e comunicação e darsubsídios para a descentralização das redes (au-mento da capilaridade da rede para municípiosde baixa densidade populacional e baixo IDH).Isso pode ser explicado se levarmos em contaque um dos principais motivos que induzem enti-dades governamentais a implantar programas deinclusão digital é o alcance e a familiarização departe maior da população com as novastecnologias, visando à maior utilização de servi-ços ao cidadão disponibilizados pelo programasde Governo Eletrônico.

A inclusão digital (ID) representa umalinha bem direcionada no sentido da igualdade deoportunidades da nossa desigualdade social emplena era da informação do conhecimento. Ela écada vez mais parceira da cidadania a da inclu-são social. Mas, do apertar na tecla para votarnas urnas eletrônicas aos cartões eletrônicos doprojeto Bolsa-Escola, passando pelo contato ini-cial do jovem com o computador como passapor-te ao primeiro emprego, existem poucos diag-nósticos no contexto brasileiro sobre o binômioinclusão/exclusão digital. O objetivo é proporci-onar uma perspectiva de atuação integrada comoutras ações que visam combater a miséria e adesigualdade e elevar o nível de bem-estar socialde maneira sustentável.

A formulação de parcerias é fatordeterminante para o melhor envolvimento da so-ciedade nos projetos de inclusão digital. É neces-sário pactuar os entendimentos entre os atoressobre o que se pretende com inclusão digital. Épreciso estabelecer papéis e pontos de integraçãodas ações dos diversos atores, governo, empre-sas, sociedade civil (comunidades, universidades,ONG’ss) com interesses comuns. Neste contex-to, para a descentralização e o envolvimento dasociedade e dos governos, deve-se criar umFórum Nacional de Inclusão Digital e a criaçãode fóruns locais e regionais orientados sobre otema, que contemplem um portal na Internet quepossibilite a articulação das ações de inclusãodigital e facilite o acesso a organizações e expe-riências. Devemos dar maior ênfase à institui-ção de programas de disseminação de melhorespráticas, assim como mapeamento e integraçãode recursos e projetos existentes nos diversos

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segmentos.

Dentro deste cenário, temos comoexemplo a experiência do programa de GovernoEletrônico mineiro, que abarca dois projetos deinclusão digital que valem serem citados, atécomo forma de estimular ações votadas à inclu-são digital por outros Estados, principalmente noEstado do Pará. São os projetos Internet Comu-nitária e o Internet Sênior.

No programa Internet Comunitária, aProdemge - Empresa de Processamento de Da-dos do Estado de Minas Gerais - procura aproxi-mar possíveis doadores de equipamentos e servi-ços de entidades interessadas em montar e gerirunidades de acesso público à internet em comu-nidades carentes.

O segundo programa de inclusão digi-tal, mantido também pela Prodemge, é o InternetSênior. Trata-se de um projeto que atende a umpúblico específico, ou seja, pessoas da terceiraidade. Esse projeto tem como princípio básico odesenvolvimento de ações com a finalidade devalorizar a população idosa e da sua capacidadeprodutiva; a idéia é montar um Telecentro exclu-sivo para a terceira idade. O programa foi im-plantado em abril de 2001 e é pioneiro no Brasil eno mundo pela especificidade de seu público.

Diante do exposto, devemos ter o en-tendimento que as ações de inclusão digital de-vem ser permanentemente articuladas com asações de governos eletrônicos, principalmente noque se refere à relação governo x cidadão.

Os programas para a promoção da in-clusão digital devem ter estratégias diversas definanciamento por parte do setor público, das or-ganizações que compõem o sistema financeiro,do setor privado, incluindo-se aí até pequenos emédios empreendimentos.

Os recursos públicos têm origem denatureza federal, estadual ou municipal diretosou via agências de fomento. É premissa que osprincipais critérios de escolha de projetos parapromoção da inclusão digital nesta linha devamse pautar fundamentalmente no retorno social quese configura em retorno do investimento em proldo cidadão na geração de exterioridades, e quetenham como características a inovação gerandonovos produtos. O objetivo dessas políticas é nãosó o volume de capital transferido, mas a sua taxade retorno individual e social. Os mecanismosde acompanhamento dessas políticas devem aten-der aos parâmetros legais, aos critérios da fontede recursos e devem ser sensíveis àsespecificidades de cada projeto.

Neste contexto, identificamos comouma importante solução, e recomendamos inclu-sive a sua reestruturação, a imediata aplicaçãodos recursos do FUST5 na implantação de açõesde inclusão digital em nível nacional. Estes re-cursos representam importante fonte de financi-amento e fomento das ações para promoção dademocratização do acesso à informação para osdiversos níveis de atores que participam do pro-cesso de socialização digital.

Todos os programas governamentais decombate à exclusão digital devem conter meca-nismos de prevenção que garantam o controlesocial dos projetos, sem engessá-los, tornando-se, assim, dinâmicos e objetivos. As regras de-vem ser bastante claras, prevendo prestações decontas e avaliações dos impactos sociais dos pro-jetos, sem com isso inviabilizá-los. Dentro dessecontexto, é de fundamental importânciadisponibilizar maior fatia dos recursos orçamen-tários previstos para os projetos de inclusão digi-tal, prevendo linhas de créditos, fomento e in-centivo à população de baixa renda na aquisição

5 FUST – Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicação, fundado em agosto de 2000, representa o maisimportante programa federal na luta contra a exclusão digital. Tem o propósito de suprir a acesso às novas tecnologias pormeio da introdução de computadores nas salas de aula, bibliotecas, centros de saúde e museus. O objetivo foi modernizartodas as escolas com mais de 600 alunos no final de 2001 e o restante no final de 2002. O FUST é, portanto, um projetoambicioso que instalará computadores em 12 mil escolas médias, alcançando 6,5 milhões de estudantes, 280 mil professorese 5.000 municípios. Todas as companhias de telecomunicações, por lei, devem contribuir com 1% de seus lucros ao FUST.Infelizmente os recursos do FUST têm ficado retidos para financiar o ajuste fiscal brasileiro, descaracterizando a sua funçãooriginal.

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de equipamento de informática, como tambémestimular as organizações e entidades sem finslucrativos a fazer uso desses instrumentos, as-sim como as empresas em geral a atuarem comopromotores em parceria com as esferas gover-namentais em ações de inclusão digital.

A utilização da capacidade de investi-mento do sistema financeiro viabilizará econo-micamente projetos de inclusão digital; portanto,é recomendável a realização de investimento emconectividade para inclusão digital, como forma:a) de capilarizar o acesso ao sistema financeiro;b) financiamentos sociais por parte das institui-ções do sistema financeiro, a juros zero em pro-jetos replicáveis para infra-estrutura, gestão ecusteio; e c) incentivo a linhas de crédito paraaquisição de computadores pessoais.

Em relação ao setor privado, cabe to-mar iniciativas no sentido da criação de progra-mas de doação de equipamentos de informática einfra-estrutura de acesso que não sejam mais uti-lizados ou estejam obsoletos para empresa, masem perfeitas condições de uso em atividades so-ciais, tais como nos Telecentros, item que abor-daremos mais à frente.

Disponibilizar recursos humanos etransferir tecnologia para capacitação, manuten-ção e gestão de programas de inclusão digitalcomo forma de disseminação do conhecimentose faz necessário. Disponibilizar, também, re-cursos financeiros para manter, criar e capaci-tar equipes para manutenção do programa. Tam-bém é possível uma ação interna, criando pro-gramas de inclusão digital dentro das empresascomo iniciativa de estímulo ao aprendizado daferramenta, que resulta em melhoria do cidadãono processo de democracia digital e nas ativida-des profissionais na própria empresa.

Deve-se incentivar fundos, como é ocaso do FUST ou outros a serem instituídos, parapromover apoio a projetos de ONG’s. Comoexemplo, temos a iniciativa do CDI6 , a criaçãode modelos abertos de parcerias replicáveis, opatrocínio de projetos culturais e o estímulo daprodução de conteúdo das comunidades.

Independente das ações comunitárias,é dever do Estado garantir o direito à informaçãoe à liberdade de expressão previstos na constitui-ção. Como ação complementar, é possível bus-car recursos nas empresas locais, tais como pe-queno comércio, empresas nas redondezas, etc.Deve-se incentivar o acesso e a utilização de fon-tes financeiras multilaterais para projetos de in-clusão digital.

Por fim, a articulação das ações, qual-quer que seja a fonte, visando à otimização douso dos recursos, evitando o desperdício esuperposição de objetivos, deve ser uma preocu-pação permanente. Por isso, deve-se estimular acriação de fóruns de publicização de boas práti-cas e projetos de inclusão digital.

No Brasil, as ações de redistribuiçãode renda e combate à pobreza deveriam ter lu-gar de destaque. A desigualdade cria necessida-des de demandas por essas políticas; no entanto,devido à nossa histórica instabilidade, devería-mos ter avançado mais na implementação de po-líticas estruturais, indutoras de um reforço doestoque de riqueza dos pobres. O resultado é umapolítica social cujos efeitos são transitórios.

Neste sentido, vamos apresentar umadiscussão sobre os canais de operação de dife-rentes políticas de forma a oferecer uma visãogeral da inserção de políticas de inclusão digital.De uma forma geral, as políticas sociais podemser organizadas em dois grupos: Políticas Com-

6 CDI é o Comitê para Democratização da Informática. É uma organização sem fins lucrativos e não-governamental estabelecidapara dar às crianças e aos adolescentes de baixa renda a oportunidade para participar do mundo dos computadores. O CDI foia primeira ONG brasileira a criar escolas de informática e de direitos civis em favelas do Rio de Janeiro, ensinandoinformática para os menos privilegiados. Um princípio fundamental das atividades do CDI é investir na capacidade dascomunidades de efetuar seu projeto sócio-educacional em uma base sustentável. Uma vez que uma comunidade decida criaruma escola de informática e de direitos civis, o CDI fornece o equipamento – computador –, o software, treinamento dosinstrutores locais, suporte administrativo, material educacional e planos de estudo para necessidades específicas da comuni-dade, como também o monitoramento dos processos.

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pensatórias (frentes de trabalho, programa deimposto de renda negativo, seguro-desemprego,previdência social, distribuição de cestas bási-cas, etc.) e Políticas Estruturais (inclusão soci-al, regularização fundiária, moradia, educação,reforma agrária, saúde, investimentos em infra-estrutura básica, etc).

A principal vantagem de uma políticacompensatória é o retorno de forma imediata deseus efeitos. Por exemplo, reajuste do saláriomínimo que é sentido no próximo contra-chequeou no benefício previdenciário, reduz a pobrezade forma instantânea. Entretanto, seus efeitos,de forma geral, são incipientes e transitórios, poisna medida que ocorre a retirada desse incrementodo fluxo de renda, a situação dos grupos afetadostende a voltar à situação original.

De forma contrária se manifesta naspolíticas estruturais; ou seja, propicia-se umacapacidade de geração permanente de renda,entretanto os efeitos se observam de forma lentae demoram a ser sentidos. Por exemplo, as polí-ticas educacionais tradicionais em infraestruturaapresentam longas defasagens no processo dematuração dos investimentos realizados. Algunsprogramas estruturais de regularização fundiária,ou cursos de informática associados a créditosou doação de equipamentos, surtem efeitos maisimediatos. Em outras palavras, o persistente podeser instantâneo. Em suma, separamos políticasde transferência de renda compensatórias daque-las que aumentam a renda per capita permanen-te dos indivíduos pela transferência de capitalatravés de provisão pública de educação digital,políticas de micro-crédito digital ou doação decomputadores. O impacto de longo prazo de trans-ferências de renda condicionadas é comparávelao da transferência de ativos. A inclusão digitalalavanca os efeitos dessas políticas. É necessá-rio ir além do óbvio, como a baixa renda, paraentender a pobreza; é necessário entender maispor que os pobres recebem menos. A brecha di-gital tende a explicar cada vez mais a desigual-dade de renda.

Aprofundando nosso estudo sobre aquestão da geração de renda e trabalho no pro-cesso de inclusão digital, vamos abordar o con-

ceito de Capital Digital a partir dos três tipos decapitais a seguir:

Capital Físico:

Financeiro (formado de ativos e passi-vos financeiros e de seguros privados e sociais);Moradia (habitação, direito de propriedade); Ca-pital Produtivo (máquinas, capital de giro e etc.);Capital Público (infra-estrutura – comunicação etransporte) e acesso a serviços públicos – (águae luz).

Capital Humano (escolaridade formal,cursos técnicos, experiência profissional e saú-de).

Capital Social (estrutura familiar, par-ticipação política, associação de moradores, sin-dicatos, cooperativismo micro-empresarial e as-pectos culturais).

Neste momento, conceitua-se capitalsocial entendido como uma variedade de institui-ções determinantes dos retornos privados e soci-ais do acesso à informática. A complementaridadeentre os vários tipos de recursos é essencial parao entendimento do conceito proposto. Por exem-plo, a organização dos fatores de produção seráum determinante-chave para os retornos obtidosde uma dada quantidade de recursos tecnológicosacumulados, como no caso do cooperativismo depequenos produtores. Este processo passa não sópela mobilização interna da comunidade, comotambém pela sua capacidade de articulação comoutros níveis da sociedade através doassociativismo, do poder de pressão e da solida-riedade interna. Um verdadeiro modelo de de-senvolvimento, com inclusão digital, não é sócomposto a partir da mera soma de equipamen-tos e conhecimentos isolados. É preciso buscarintegração ampla destas entre si, e colocá-las aserviço das necessidades do cidadão e da coleti-vidade. O aspecto compensatório continuado nãodeixa raiz na vida das pessoas. Isto é, se inter-rompidos os programas, a clientela volta à con-dição de marginalizado original. A inclusão digi-tal estabelece as raízes dos indivíduos na era doconhecimento.

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A questão principal abordada neste mo-mento é o papel desempenhado pela inclusão di-gital nas condições de vida. Um passo fundamen-tal nessa direção é estudar a relação entre a in-clusão digital, a posse de outros ativos e a gera-ção de renda de famílias pobres. Entretanto, estenão é o único aspecto a ser considerado, mas quala nossa estratégia de construção do chamado ca-pital digital a partir dos impactos do mesmo so-bre as condições de vida e o bem-estar social.

5- OS TELECENTROS COMO PRO-POSTA DE CENTROS DE INFOR-MAÇÃO PARA A CIDADANIA

O combate à exclusão digital só é possí-vel se a tarefa for encarada pelos governos comouma política pública. A desigualdade tecnológicae o acesso à informação aumentam o abismo en-tre ricos e pobres, sendo a mais nova face daexclusão social.

Diante deste quadro, diversas entidadese esferas de governo em todo Brasil estão efetu-ando estudos na elaboração de planos para a in-clusão digital, também conhecido como e-cida-dania, que consiste em implantar telecentros nasáreas mais carentes das cidades, além de açõesde aprendizagem da informática, cidadania e bomuso das ferramentas da rede mundial de compu-tadores.

Os telecentros representam uma soluçãoa essas demandas, são espaços de uso comparti-lhado de tecnologias de informação e comunica-ção dedicadas ao desenvolvimento pessoal e co-munitário, devem ter como princípios fundamen-tais o acesso livre e universal. Funcionam no sen-tido de contribuir para a melhoria da qualidadede vida e para o desenvolvimento social,instrumentalizando as comunidades para encami-nhar seus problemas, facilitando o acesso a pro-gramas sociais, estimulando oempreendedorismo, promovendo a educação,oferecendo serviços e potencializando a comuni-cação, a mobilização e a articulação entre pes-soas e comunidades, devem ser implantadas a

partir de uma política pública orientadora.

Os telecentros devem ser implantadoscom o envolvimento de diversos agentes locais,levando em conta as lideranças e agentes da co-munidade, promovendo um estreito relaciona-mento entre eles, envolvendo a comunidade, emespaços que tenham credibilidade, liderança erespeito da comunidade. A comunidade deve es-tar sensibilizada e mobilizada para recebê-los e,principalmente, devem ser implantados por meiode parcerias nos diversos setores. A sua gestãodeve ser realizada através de conselhos gestorescom a participação de membros representativosda comunidade. Os monitores devem, de prefe-rência, ter formação na própria comunidade.

Os objetivos principais dos telecentrossão:

• Capacitação profissional;

• Diminuir os índices de exclusão digi-tal e social;

• Requalificação do espaço do entornoda unidade, através do aumento do flu-xo de pessoas nas ruas da região;

• Disseminação de softwares livres; e

• Participação popular, através dos con-selhos gestores.

Dentro dessas perspectivas, é importan-te analisarmos como funcionam os telecentros:

a) São espaços com computadoresconectados à internet banda larga;

b) Cada unidade possui entre 10 a 20micros;

c) O uso livre de equipamentos, cursosde informática básica e oficinas espe-ciais são as principais atividades ofe-recidas à população;

d) Cada telecentro possui um conselhogestor, formado e escolhido por mem-bros da comunidade, que ajudam osfuncionários na fiscalização e gestãodo espaço;

e) O uso livre dos equipamentos é a úni-

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ca forma do cidadão aprender a utili-zar tecnologia, suprindo suas necessi-dades;

f) O único conteúdo estritamente proibi-do é a pornografia. De resto, as pes-soas podem navegar livremente pelaweb, fazer pesquisas, ler notícias, par-ticipar de salas de bate-papo, jogar on-line, digitar documentos e currículos,enviar e-mails e aproveitar todos osoutros recursos da rede.

É importante citar experiências já emfuncionamento, como forma de disseminar paraoutros Estados a importância das ações desen-volvidas neste contexto. Temos, no caso, a cida-de de São Paulo, que já possui dezenas detelecentros, sendo alguns de administração dire-ta e outros conveniados, espalhados por todas asregiões metropolitanas. Até o final de 2003, eram107 unidades em funcionamento. A escolha doslocais foi feita a partir do Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH) da cidade. As regiões depior qualidade de vida e menor presença do Esta-do foram as escolhidas. Onde a Prefeitura nãopossuía prédios, parcerias com entidades e ONGsforam firmadas. A modalidade na forma de ad-ministração direta é quando o telecentro é admi-nistrado pela própria entidade governamental. Sãoquando prédios públicos subutilizados ou abando-nados são reformados e preparados para rece-ber um telecentro, revitalizando as ruas do en-torno. Os de administração conveniada sãotelecentros considerados comunitários, instaladosem espaços cedidos por entidades da sociedadecivil ou organizações não-governamentais. Aimplantação é feita em parceria com a entidadegovernamental, que, por sua vez, entrega equi-pamentos, funcionários e verba de manutenção.

O sistema operacional livre a ser utiliza-do nos telecentros é o GNU/Linux7 . A interface

gráfica do sistema é o GNOME8 , de fácil manu-seio. Os aplicativos disponíveis no sistema estãodentro do pacote OPENOFFICE. ORG9 , que pos-sibilita ao usuário a execução das principais ta-refas desenvolvidas em escritórios. OOPENOFFICE.ORG possui um processador detextos (OpenWriter) e uma planilha de cálculo(OpenCalc). Ambos são similares aos programasexistentes no sistema operacional Windows. O G-Paint é o aplicativo usado para a produção dedesenhos.

Com a intenção de oferecer aos usuáriosdos telecentros um ambiente propício ao apren-dizado, a Prefeitura de São Paulo adotou umaestratégia de trabalho baseada na aquisição deequipamentos de qualidade por baixos custos.Números levantados informam que o custo dainstalação de um novo telecentro, com a refor-ma do local, é cerca de R$ 130 mil, e para aconstrução de um telecentro, incluindo o espaçofísico, é de R$ 275 mil. Caso os programas usa-dos nos equipamentos das unidades não fossemsoftwares livres, como o sistema operacionalGNU/Linux, este custo aumentaria em pelo me-nos 50%, pois a escolha de softwares livres per-mite a aquisição de computadores com hardwarede menor capacidade, menos potente, portantomais baratos, tendo um aproveitamento igual ahardwares superiores, mais caros, utilizandoWindows.

A capacitação dos envolvidos é fator deimportância fundamental nas ações de inclusãodigital. Deve-se partir da realidade e da culturalocal, desenvolvendo projetos aplicados específi-cos à área envolvida, abrangendo aspectos técni-cos, pedagógicos e de gestão. A comunidade deveestimular o desenvolvimento pessoal e comuni-tário, respeitando a diversidade, promovendo odesenvolvimento de potencialidades da comuni-dade e dos sujeitos sociais.

7 GNU/Linux – É um sistema operacional de computador livre, ou seja, com o código fonte aberto e de livre distribuição. Foicriado pela GNU, da Free Software Foundation. Tem o núcleo criado por Linus Torvalds.

8 GNOME – É uma interface gráfica de usuário, com código fonte livre para utilização nos sistemas operacionais padrãoUNIX.

9 OPENOFFICE.ORG – Representa um projeto de código aberto para criar a suíte Office (pacote de escritório) internacional,que rodará na maioria das plataformas livres para todos os usuários.

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Os agentes de capacitação envolvidosnas ações de inclusão digital devem ter domíniode aspectos didáticos, conhecimento dastecnologias de informação e comunicação, per-cepção sociocultural, capacidade de agregar pes-soas, estimular vínculos comunitários, dominartécnicas de protagonismo e empreendedorismo10

e serem capazes de estruturar redes comunitári-as. Devem, também, serem capazes de orientare estimular a criação e edição de conteúdos dacomunidade (do seu interesse).

Por outro lado, as comunidades devemter capacidade de utilizar os sistemas operacionaise aplicativos básicos, sendo, assim, capazes debuscar serviços e informações disponíveis naInternet.

As metodologias de formação de agen-tes de capacitação envolvidos nas ações de inclu-são digital devem ser objeto de grupos de pesqui-sa e discussão. As organizações que trabalhamem inclusão digital devem formar uma rede decooperação, promovendo encontros regionaispara capacitação de multiplicadores, favorecen-do o intercâmbio de experiências.

6-EDUCAÇÃO FORMAL E SUASRELAÇÕES COM A INCLUSÃODIGITAL: UMA PROPOSTA DECIDADANIA

É necessário mapear, sistematizar,otimizar, monitorar e avaliar os recursos e açõesque já existem na estrutura educacional, facili-tando a operacionalização e a incorporação dastecnologias de informação e comunicação em suareal função, conceito e objetivos na estrutura edu-cacional, acarretando assim um maior volumede informação, conhecimento, atualização, tro-ca e potencialidades. Assim, irá se assegurar umamelhor condição do corpo educacional na rela-ção professor e aluno, e um maior entendimentode cidadania, com troca de experiências e de pro-

dução de conhecimento.

É oportuno abordar nesse estudo que amelhor forma de combater a exclusão digital alongo prazo é investir diretamente nas escolas,de modo que os alunos possam ter acesso desdecedo às novas tecnologias. A promoção da inclu-são digital provoca melhoras no desempenho es-colar e dá oportunidade ao estudante para enfren-tar o mercado de trabalho.

O estudo do acesso à tecnologia da infor-mação nas escolas foi desenvolvido pelo InstitutoNacional de Estudos e Pesquisas Educacionais(INEP), do Ministério da Educação (MEC). Érealizado anualmente o Censo Escolar, que é umlevantamento de informações estatístico-educa-cionais em nível nacional. O Censo Escolarabrange a educação básica, em diversos níveis emodalidades. A escola é a unidade de informa-ção, e o diretor ou o responsável de cada unidadeescolar é o informante. As informações são com-postas de matrícula inicial por série e idade noano corrente, matrícula inicial de repetentes porsérie, o movimento escolar e o resultado. O CensoEscolar fornece dados relativos à matrícula epercentual de alunos em escolas com laboratóriode informática e acesso à internet. Esses dadospermitem saber o quanto estão incluídas digital-mente as escolas e também os alunos. A escolaconstitui o principal canal de acesso das criançase adolescentes brasileiros que não dispõem decomputador em casa ao conhecimento digital. Elapermite integrar o acesso ao capital físico, hu-mano e social, fazendo o investimento se repro-duzir.

Dados mostram que do total de alunosmatriculados no ensino fundamental regular, em1997, apenas 10,8% estavam em escolas comlaboratório de informática. Já em 2001 esse nú-mero aumentou para 23,9%. No caso dos alunosmatriculados no ensino médio regular, em 1997,29,1% dos alunos estava em escolas com labora-tórios de informática. Em 2001 esse número sobepara 55,9%, ou seja, pouco mais de metade detodos os alunos do ensino regular médio já tinham

10 Representa o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que possibilitam a formação e o desenvolvimento. É umaatitude pessoal de inquietação, ousadia e proatividade que leva a ganhos econômicos e sociais.

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Tabela 1- As unidades da federação com escolas com maior e menorgrau de inclusão digital no ensino fundamental regular – 2001

Fonte: Censo Escolar 2001/ INEP

acesso a laboratórios de informática em 2001.Nesse ano, do total de alunos matriculados noensino fundamental regular, 25,4% estavam ma-triculados em escolas com acesso à informática.No ensino médio regular, este número é de45,6%.

Analisando os dados do Censo Es-colar 2001 referentes ao número de matrículasde alunos do ensino fundamental regular em es-colas com laboratório de informática, através dasunidades da federação conforme os dados da Ta-bela 1, verificamos os cinco Estados com maiore menor índice de inclusão digital. Nesta Tabela,identificamos que o Estado de maior grau de IDno ensino fundamental regular de 2001 é São Pau-lo, com 3.025.007 alunos matriculados incluídosdigitalmente, representando 49,7% do universototal de 6.092.455 de alunos matriculados, segui-do do Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sule do Distrito Federal.

Matrícula Inicial no Ensino Fundamental Regular

Com Laboratório de Informática

UNIDADE DA FEDERAÇÃO

(maior grau de inclusão digital)

Total

Números % São Paulo 6.092.455 3.025.007 49,7 Paraná 1.691.131 628.854 37,2 Rio de Janeiro 2.463.074 846.147 34,4 Rio Grande do Sul 1.721.726 545.927 31,7 Distrito Federal 380.614 113.671 29,9

Matrícula Inicial no Ensino Fundamental Regular

Com Laboratório de Informática

UNIDADE DA FEDERAÇÃO (menor grau

de inclusão digital) Total

Números % Tocantins 297.561 23.165 7,8 Maranhão 1.608.923 129.359 8,0 Paraíba 869.261 74.323 8,6 Pará 1.609.733 140.478 8,7 Piauí 802.238 70.284 8,8

Tabela 2 – Taxa de acesso a computador einternet conforme anos de estudo

Fonte: CPS/FGV elaborado a partir dos microdados da PNAD/IBGE

Já na Tabela 2 verificamos o Estado doTocantins com o menor grau de ID no ensino fun-

damental regular em2001, com 7,8% dos alu-nos matriculados, segui-do na seguinte ordem:Maranhão, Paraíba,Pará e Piauí. Vale des-tacar, de forma negati-va, a posição ocupadapelo Estado do Pará,com 8,7% dos alunosmatriculados, represen-tando 140.478 de alunosmatriculados incluídosno mundo digital numuniverso de 1.609.733,chegando a um saldo dealunos excluídos da eradigital na ordem de1.469.255.

Dentro destecenário e reforçando oquanto é fundamental aeducação formal no pro-cesso de inclusão digital,em relação ao atributoanos de estudo, indivídu-

Anos de Estudo Taxa de Acesso

a Computador

Taxa de Acesso

à Internet

0 anos 4,06% 3,45%

1 a 4 anos 4,84% 2,79%

4 a 8 anos 7,60% 4,33%

8 a 12 anos 17,58% 10,74%

Mais de 12 anos 58,92% 46,81%

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os que possuem até quatro anos de estudo têmuma menor participação na população de IDD(Incluídos Digitais nos Domicílios)11 do que a po-pulação total.

De acordo com os dados da Tabela 2, ataxa de acesso a computador para os indivíduoscom mais de 12 anos de estudo é de 58,92% ,e ade acesso à internet é 46,81%. Estas taxas redu-zem para 4,06% e 3,45%, respectivamente, nocaso dos analfabetos, resultando na seguinte con-clusão: a chance condicional de um analfabetopossuir um computador em seu domicílio é99,95% menor do que para um indivíduo commais de 12 anos de estudo, e de possuir acesso àinternet é de 99,96% menor.

Os diferencias educacionais de IDDobservados eram de se esperar, uma vez que osindivíduos que investem mais em capital huma-no, acumulando mais anos de estudo, tendem areceber rendas superiores ao restante da popula-ção e, conseqüentemente, possuir meios finan-ceiros para adquirir acesso a computador einternet.

Dentro deste cenário, o mapeamento dosrecursos disponíveis e das ações que já existemna área da educação formal deve facilitar a arti-culação de ações da inclusão digital com a socie-dade civil, dando continuidade às ações de suces-so. Deve-se compartilhar a infraestrutura edu-cacional com a sociedade, propiciando o acessopúblico. É preciso criar ações de sensibilizaçãopara a inclusão digital junto às secretarias de edu-cação de estados e municípios, às lideranças po-líticas, educacionais e da comunidade. Propõe-se a utilização das tecnologias da informação paraabrir a escola e dar suporte à construção e dis-cussão de novos modelos educacionais.

Os alunos envolvidos com as tecnologiasde informação e comunicação podem ser agen-tes de inclusão digital em suas comunidades, pro-movendo sua transformação em multiplicadorescomunitários, por meio de uma maior participa-ção ativa, protagonista e política, de uma rela-

ção mais estreita com a comunidade, fazendo comque o aluno se sinta e se construa dentro destecontexto. Um dos pontos fortes das atuais pro-postas educacionais, e que deve ser apoiado, é aexistência de coordenadores de tecnologias de in-formação e comunicação para acompanhar pro-fessores no uso de computador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na era do conhecimento, o universo di-gital e virtual vem provocando as transformaçõesprofundas nas diversas esferas da vida social. Atecnologia da comunicação e informação, ou seja,a informática, deu origem a novas formas depensar, interpretar e gerar o conhecimento hu-mano. Neste contexto, o cidadão que se encontrasem acesso a este universo digital fica totalmen-te desprovido de ferramentas fundamentais paraparticipar e compreender de forma efetiva omundo atual, gerando, por que não dizer, até di-ficuldades para a sua sobrevivência. Hoje quemnão domina esta ferramenta fica à margem domercado de trabalho, da informação e do conhe-cimento.

Essa importância que o mundo digitalganhou é traduzida por diversas ações do homemmoderno; no pagamento de impostos e contribui-ções, na realização da comunicação de formainstantânea dentro do País e fora dele; na reali-zação de transações bancárias; na compra e ven-da; para conhecer lugares sem sair de casa; re-ceber e enviar além de trocar e armazenar ima-gens, textos e sons... Nunca foi imaginado quetantos serviços fossem reunidos em um mínimoespaço. Os computadores possuem essa capaci-dade e entraram para o dia-dia das grandes me-trópoles de forma irreversível. O ciberespaçorealiza a interligação das empresas, das pesso-as, dos interesses e de caminhos; ou seja, hoje édifícil imaginar a vida humana sem algum auxí-lio dos meios eletrônicos de comunicação.

11 Dados da PNAD – Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios, que traça um perfil da inclusão digital para o ano de2001, levantada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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Nesse mundo “digitalizado”, o segmen-to mais carente da sociedade de baixa renda ficamuito prejudicado, sem condições de acompanharas mudanças que ocorrem de forma rápida, semperspectiva de absorver as novas tecnologias.Para agravar essa situação, verificamos que osinvestimentos por parte do governo são escassosem programas de formação e inclusão social des-se público, assim como os investimentos dasempresas e da própria sociedade. Esses sujeitos,pela própria condição e oportunidades, passarampor uma experiência educacional sofrível. Entre-tanto, como os demais cidadãos, eles são cons-tantemente solicitados a responderem às novasdemandas da chamada “sociedade da informa-ção”. Por isso que é de importância fundamentala promoção da universalização da inclusão digi-tal e, por conseguinte, a inclusão social de todosos cidadãos, principalmente os que são coloca-dos à margem da sociedade e dos processoseducativos.

A realização de estudos e experiênciaspostas em prática de forma concreta possibilita-rá compreender como a democratização do aces-so à informática e particularmente à internet seapresenta como uma forte possibilidadeformativa, cultural e educativa para todos os seg-mentos da sociedade.

Os projetos relativos às políticas públi-cas de inclusão digital, para a utilização das no-vas tecnologias, funcionam como um incentivo àcompreensão dos novos tempos. Por meio dainternet, o cidadão manifesta seus interesses so-bre fatos, se forma como sujeito participativo,melhora em sua atividade profissional, busca oconhecimento e, fundamentalmente, busca oaprendizado de forma permanente e constante.

A informatização da sociedade, acom-panhada pelo advento das redes telemáticas –notadamente a internet – é, para alguns, a gran-de promessa de democratização do acesso e pro-dução de informações e de conhecimento. Asnovas tecnologias modificam a estrutura do pen-samento, ampliam a mente, aproximam as pes-soas, promovem a união entre as nações. Fala-se até na emergência de uma nova sociedade ci-vil, que se configura graças à internet.

Como foi mencionado acima, não bas-ta apenas criar condições físicas estruturais paraa evolução do governo eletrônico, é necessárioque haja todo um comprometimento de todos ossegmentos da sociedade, e principalmente doPoder Público, em todas as esferas, para queconjuntamente promovam políticas públicas, nosentido de superar as barreiras sociais e econô-micas da grande maioria da população, que seencontra em condições mínimas de vida, e quesem a superação das mesmas é impossível aefetivação do governo eletrônico como instrumen-to gestão pública e de incentivo ao exercício dacidadania.

REFERÊNCIAS

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