44

Grandes Culturas - Cultivar 174

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Novembro de 2013

Citation preview

Page 1: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 2: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 3: Grandes Culturas - Cultivar 174

Via alternativa...........................16Como manejar o bicudo-do-algodoeiro sem contar com inseticidas à base de endosulfan

Ferramenta protetora..................08O papel de fungicidas protetores no combate a doenças e em programas antirresistência

Efeito inibitório.........................28Uso de fungicidas à base de triazóis e estrobilurinas contra a antracnose em soja

Destaques

Índice

Diretas 04

Fungicidas protetores no manejo de doenças 08

Informe empresarial - Manejo Estratégico de Pragas 14

Manejo do bicudo-do-algodoeiro 16

Rotação de inseticidas contra a mosca branca 19

Nossa capa - Controle integrado contra H. armigera 22

Efeito de fungicidas na antracnose em soja 28

Helicoverpa armigera em algodoeiro 32

Mofo branco em algodão 36

Eventos - Syngenta lança Plano Global no Brasil 39

Coluna ANPII 40

Coluna Agronegócios 41

Mercado Agrícola 42

Tempo de acertar.................................22O que é possível aprender com o manejo de outras pragas conhecidas dos brasileiros para enfrentar Helicoverpa armigera

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 174 • Novembro 2013 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 187,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 210,00Euros 180,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Karine GobbiRocheli Wachholz

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer

• VendasSedeli FeijóJosé Luis AlvesRithiéli Barcelos

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assinaturas

Natália RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

• ExpediçãoEdson Krause

Germison Vital Tomquelski

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Page 4: Grandes Culturas - Cultivar 174

04 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Diretas

SoluçõesA Basf apresentou durante o XVIII Congresso Brasileiro de Sementes o Seed Solutions. O serviço reúne proteção de sementes e plântulas, benefícios AgCelence, serviços customizados, tecnologias e a busca pela excelência no tratamento de sementes industrial. Para o gerente de Negócios de Tratamento de Sementes da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil, Fernando Arantes, trata-se de uma solução inovadora que vem para contribuir com a profissionalização no tratamento de sementes industrial.

ParticipaçãoO gerente de Projetos R&D da Basf, Carlos Antonio Medei-ros, participou do Congresso Brasileiro de Sementes, onde acompanhou a apresentação do Seed Solutions e do fungi-cida e inseticida Standak Top. O produto acaba de receber autorização para inclusão de registro em sete novas cul-turas: milho, algodão, feijão, trigo, cevada, sorgo e amen-doim.

ProteçãoA Bayer CropScience apresentou no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes o conceito de proteção de sementes SeedGrowth. De acordo com o gerente de Portfólio SeedGrowth, Luís Henrique Feijó, há dois anos a Bayer percebeu a necessidade da agricultura brasileira em trabalhar com sementes de maior qualidade e produtividade, sem ficar refém de doenças e pragas. Por isso investiu todos os esforços para desenvolver o SeedGrowth. “Isso reforça o comprometimento da Bayer em oferecer as melhores soluções e que atendam as neces-sidades dos nossos clientes”, ressaltou Feijó.

DiagnósticoA EnviroLogix, empresa de fabricação de kits para diag-nósticos de sementes, grãos, plantas, água, alimentos, rações e saúde animal, esteve presente no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes, com o seu port-fólio de produtos. Um dos destaques foi o Kit QuickScan, que integra tecnologia de ima-gem digital com um avançado processamento matemático e fornece completa solução de hardware e software que inclui netbook e scanner.

TbitA equipe da Tbit (Tecnologias de Sistema), empresa incubada na Inbatec/Ufla, participou do XVIII Congresso Brasileiro de Sementes, onde apresentou o SAS, sistema de análises de grãos, sementes e plân-tulas. De acordo com o sócio da Tbit, Igor Chalfoun, a participação no Congresso excedeu as expectativas. “Foi a oportunidade perfeita para encontrarmos clientes e parceiros, tanto em empresas quanto em órgãos governamentais, além de reforçarmos as parcerias já realizadas e ainda foi possível reforçar a marca SAS junto ao setor, o que facilitará as abordagens comerciais futuras”, concluiu Chalfoun.

PalestranteO gerente de Desenvolvimento Técnico de Mercado Brasil/Saps/BMT da Basf, Ser-gio Zambon, pales-trou no XVIII Con-gresso Brasileiro de Sementes a respei-to da contribuição da Basf ao Trata-mento Industrial de Sementes, com ênfase para o Seed Solutions. Zambon participou, ainda, como debatedor de mesa-redonda cujo tema foi o Trata-mento Industrial de Semente.

Carlos Antonio Medeiros

Sergio Zambon

Page 5: Grandes Culturas - Cultivar 174

www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013 05

ProgramaA equipe da Milenia apresentou no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes o programa “Melhor Escolha Milenia”. O projeto compre-ende o tratamento de sementes Milenia protegendo contra as prin-cipais pragas e doenças que atacam sementes e plântulas com amplo espectro de controle através dos produtos: fungicida não sistêmico CaptanSC, fungicida sistêmico Bendazol e inseticida Shelter.

UmidadeA Agrosystem destacou durante o Congresso Brasileiro de Sementes o determinador de umidade de grãos GAC 2100. Este modelo efetua

análise totalmente au-tomatizada dos níveis de umidade em grãos com alta tecnologia e comunicação, oti-mizando a exatidão e o desempenho do processo de análise. O GAC 2100 oferece uma análise pratica-mente livre de contato direto com a amos-tra, o que lhe confere maior confiabilidade.

AnáliseA equipe da Incotec participou do XVIII Congresso Brasileiro de Semen-tes e mostrou aos visitantes a extensa gama de produtos e serviços da empresa. A Incotec realiza serviços para recobrimento, beneficiamento e testes para análise genética e controle de qualidade de sementes. O grupo Incotec oferece soluções em quatro áreas de negócios: Grandes Culturas, Hortaliças, Ornamentais e Serviços Analíticos.

InovaçõesA equipe da Ihara apresentou na 18ª edição do Congresso Brasileiro de Sementes os produtos Pirâmide e Certeza. Registrado para o trata-mento de sementes, o fungicida Certeza atua no controle do patógeno que causa o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) nas culturas de soja e feijão e também controla as outras tradicionais doenças da soja: an-tracnose, phomopsis, rizoctonia e podridão-de-fusarium. Já o Pirâmide é um inseticida utilizado no tratamento de sementes para controle de pragas sugadoras e lagartas nas fases iniciais das lavouras.

SementesA Sementes Adriana, que atua em culturas como soja, milheto e crota-lária, participou com sua equipe da 18ª edição do Congresso Brasileiro de Sementes. A empresa mostrou de forma institucional o seu portfólio de produtos, serviços, controle de qualidade e pesquisa, responsabilidade socioambiental, gestão de pessoas e programa Novos Talentos.

PortfólioA equipe da BioGene apresentou no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes o portfólio de produtos da empresa, além de aproveitar a oportunidade para conversar com os participantes sobre o cresci-mento da marca no mercado de milho e soja. Foram destacadas as variedades de soja BG4272, BG4184 e BG4284 para as chamadas Zonas Ambientais Homogêneas (ZAHs).

Page 6: Grandes Culturas - Cultivar 174

06 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

LinhaA Rigrantec participou do XVIII Congresso Brasileiro de Sementes, com destaque à sua linha de produtos Polyseed CF e Polyseed 70, que fixam o revestimento das sementes de girassol, canola, alfafa, ervilha, milho, trigo, soja e algodão, reduzindo a perda de ingredientes ativos por lixiviação. Esta ação resulta maior período de proteção mesmo em regimes de chuvas acentuadas.

PowercoreA Dow AgroSciences e a Morgan Sementes e Biotecnologia participa-ram do XVIII Congresso Brasileiro de Sementes. Durante o evento, ambas receberam em seus estandes técnicos, produtores, empresários, pesquisadores, docentes e estudantes do setor de sementes que pude-ram conhecer as vantagens e as principais características da tecnologia Powercore. Primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil, o Powercore atua contra as principais pragas e plantas daninhas da cultura.

Pesquisa em sojaHilton Grimm e Flavio Reina Abib, ambos do Instituto Federal Sul-rio-grandense, campus Pelotas-Visconde da Graça, apresentaram trabalho no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes, com o tema Desempenho de Plantas de Soja em Função do Vigor das Sementes e do Estresse Hídrico em Balsas/Maranhão.

VisãoIvo Claudino Frare, da Sementes Mutuca e Grupo de Agrôno-mos e Técnicos de Tibagi (Gatt), esteve presente no XVIII Congresso Brasileiro de Sementes pales-trando sobre a Visão dos Produtores em Relação à Sanidade de Sementes e Mu-das.

InstitucionalDe 16 a 19 de setembro, a DuPont Pioneer marcou presença no 18º Congresso Brasileiro de Sementes. Seu objetivo foi reforçar a imagem da marca entre técnicos, produtores, empresários de vários setores, pesquisadores, docentes e estudantes de graduação e pós-graduação vinculados ao setor de sementes.

Canal on-lineA Arysta coloca à disposição dos produtores brasileiros o canal on-line interativo Arysta no Campo, ferramenta que pode ser acessada pelo endereço www.arystanocampo.com.br. Um dos tópicos é o Especial Ervas Resistentes, com o objetivo de fomentar a discussão sobre a resistência de plantas daninhas ao glifosato. Para o diretor técnico regional da Arysta, Gustavo Yépez Gil, hoje, as soluções passam,

necessariamente, pela utili-zação de uma variedade de herbicidas seletivos, com modos de ação diferentes. Um dos exemplos é o herbi-cida Select 240 EC. Com seu princípio ativo clethodim, trata-se de um graminici-da altamente seletivo, que pode ser utilizado em várias culturas. Outras medidas complementares também são indicadas, como a frequência de aplicação e a atenção à dose. “A consultoria técnica de um especialista é sempre indicada, para recomendar o melhor produto para o problema específico de cada área”, acrescenta Gil.

Ivo Claudino Frare

Gustavo Yépez GilHilton Grimm e Flavio Reina Abib

Page 7: Grandes Culturas - Cultivar 174

FitopatologiaA FMC participou do Congresso Brasileiro de Fitopatologia. O gerente de fungicidas da empresa, Flávio Centola, destacou a importância do evento. “Participar do Congresso é também uma excelente oportunidade de nos aproximarmos dos pesquisadores, clientes e estudantes. Estamos investindo nossos recursos para crescer no segmento de fungicidas. Recentemente fizemos duas aquisições e dois licenciamentos de moléculas patenteadas, o que corrobora a intenção da FMC em se tornar grande provedor de tecnologias fungicidas”, informou. No Congresso, ocorreu o lançamento do Manual de Identificação das Doenças da Soja, de autoria de Paulo Saran.

PesquisasO gerente de Marketing da Novozymes Marcos Calobrizi Navai e o assistente técnico de Tratamento de Sementes Diego Casarin participa-ram do 18º Congresso Brasileiro de Sementes, onde acompanharam os estudos e as pesquisas mais recentes sobre o segmento de sementes.

Mesa-redondaDurante o 18º Congresso Brasileiro de Sementes, o gerente de Tecno-logia de Suporte Técnico para a América Latina do Instituto Seedcare, da Syngenta, João Carlos Nunes, participou de mesa-redonda sobre Tratamento Industrial de Sementes.

FeromônioA FMC, em parceria com a Plato Industry, acaba de lançar o fero-mônio Plato para Helicoverpa armigera. Trata-se de uma substância muito específica que atrai apenas a mariposa da lagarta (forma adulta) para uma armadilha, facilitando a identificação e o dia a dia do produtor. Com essa ferramenta será possível definir o melhor manejo a ser adotado. “Agora, o produtor vai saber realmente com quem ele está lutando”, opinou o gerente de Produtos Inseticidas da FMC, Adriano Carneiro Roland.

Diego Casarin e Marcos Calobrizi Navai

João Carlos Nunes

Page 8: Grandes Culturas - Cultivar 174

08 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Doenças

Depois de perder espaço para novos grupos químicos os fungicidas protetores voltam a ganhar terreno como

importantes aliados de triazóis e estrobilurinas no combate a doenças e no manejo antirresistência

Com o desenvolvimento e lan-çamento no mercado de novos grupos químicos de fungicidas

com maior atividade residual e muitos com atividade sistêmica, os fungicidas protetores perderam espaço, especialmente em grandes culturas. O primeiro fungicida sistêmico registrado a assumir papel impor-tante na agricultura mundial foi o benomil, que a partir da década de 1970 passou a ser amplamente utilizado. O diferencial do benomil em relação aos demais produtos utilizados na época era sua atividade sis-têmica, que proporcionava controle sobre

doenças também nos primeiros estágios infectivos após a penetração dos fungos na parede celular das plantas, além da atividade protetora.

O benomil pertence ao grupo dos benzimidazóis e age na biossíntese da beta-tubulina durante a divisão celular dos fungos. Esse modo de ação sítio-específico classifica o benomil como de alto risco para o surgimento de indivíduos resis-tentes. Os primeiros casos aparentes de desenvolvimento de resistência de fungos a fungicidas surgiram no início da década de 1970, principalmente a partir do uso

extensivo de defensivos com modo de ação sítio-específico. Até então, os produ-tores utilizavam rotineiramente fungicidas protetores, como zineb e mancozeb, sem observar queda na eficiência de controle mesmo com sucessivas aplicações.

Posteriormente ao benomil, grande parte dos fungicidas registrados para uso comercial passou a contar com modo de ação sítio-específico e, consequentemente, apresenta risco de resistência. Entre os principais grupos de fungicidas com essa característica podem-se citar os triazóis e as estrobilurinas, extensivamente utiliza-dos para o controle de doenças de grandes culturas como a soja. Um dos exemplos é a ferrugem asiática, que em média de-manda, por safra, de duas a três aplicações dessa mistura (há extremos em que são realizadas até quatro ou cinco aplicações). Nessas condições, a pressão de seleção so-bre o patógeno e o risco de surgimento de populações resistentes/tolerantes é maior. É prudente ressaltar que os triazóis e as estrobilurinas são classificados pelo Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas (Frac) como sendo de médio e alto risco de surgi-mento de resistência, respectivamente.

O desenvolvimento da resistência a fungicidas pode ser entendido como uma adaptação genética dos fungos, estável e he-reditária, que resulta na diminuição da sua

Ferramenta protetora

Page 9: Grandes Culturas - Cultivar 174

sensibilidade a uma determinada molécula fungicida (Reis et al, 2001). Maior será o risco de surgimento de resistência quanto menor o número de genes envolvidos. Essa informação é extremamente relevante, uma vez que fungicidas que atuam sobre vários sítios do fungo interagem com um número maior de genes e, como consequência, o risco de surgimento de resistência é menor. Um bom exemplo fungicida que possui modo de ação multissítio é o mancozeb, conhecido e presente no mercado há décadas.

O mancozeb foi lançado comercial-

mente em 1961 e, desde então, tem sido extensivamente utilizado para o controle de doenças de plantas em cultivos meno-res, devido, principalmente, ao seu amplo espectro de ação e baixo risco de seleção de patógenos resistentes (Frac). Esse princípio ativo pertence aos etilenobisditiocarba-matos, que é um subgrupo dos ditiocar-bamatos; é formado por um complexo de manganês e zinco, que além da ação antifúngica, apresenta em algumas cultu-ras como alho e cebola o chamado efeito tônico (Amorin et al, 2011). A presença de zinco na formulação também diminui

Marcelo Madalosso

Tabela 1 - Modo de ação dos principais grupos de fungicidas e risco de surgimento de resistênciaGrupo químicoBenzimidazóisDicarboximidas

Triazóis, PirimidinasFenilamidasMorfolinas

CarboxamidasAnilinopirimidinas

EstrobilurinasMBI-R e MBI-D

Amidas do ácido carboxílicoInorgânicos

DitiocarbamatosFtalimidas

Modo de ação/inibiçãoBiossíntese da betatubulina

NADH citocromo “c” redutase em lipídiosDemetilação do C-14 na biossíntese de esteróis

RNA polimeraseIsomerase e redutase na biossíntese de esteróis

Oxidação do ácido succínicoBiossíntese de metionina

Biossíntese mitocondrial no citocromo bc1Biossíntese de melanina (2 sítios)

Formação da parede celular em oomicetoscontato / multisítiocontato / multisítiocontato / multisítio

Risco de resistênciaaltoalto

médioalto

baixo-médiomédiomédioalto

médiobaixo-médio

baixobaixobaixo

Fonte: FRAC

Page 10: Grandes Culturas - Cultivar 174

10 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

o efeito fitotóxico às plantas.A Tabela 1 apresenta alguns dos princi-

pais grupos químicos de fungicidas utiliza-dos atualmente e a respectiva classificação do Frac quanto ao risco de surgimento de indivíduos resistentes.

A situação atual da agricultura brasi-leira confronta a necessidade constante de ampliação da produtividade e da área cultivada, buscando atender um mercado consumidor cada vez mais exigente, ao mesmo tempo em que se depara com uma diversidade e agressividade crescente de problemas. Essa condição impõe, em mui-tos casos, a utilização intensa e de forma indiscriminada de fungicidas, o que pode resultar no surgimento de populações de patógenos resistentes/tolerantes aos pro-dutos disponíveis no mercado.

Como alternativa, a reinserção de fungicidas protetores – multissítio – em programas de manejo de doenças desponta como uma ferramenta importante, pois além de agregar eficiência pode prolongar a vida útil dos demais fungicidas, evitando o surgimento de populações de patógenos resistentes/tolerantes.

REsulTADOs DE PEsquIsAO desenvolvimento de pesquisas acer-

ca da inserção do mancozeb em progra-mas de controle de doenças é necessário a fim de compreender as relações entre os fatores envolvidos, gerando assim subsídios para que se possa fazer uso correto e racional dessa ferramenta. Al-guns experimentos foram desenvolvidos, com o objetivo de estudar o controle de doenças proporcionado pelo mancozeb quando aplicado de forma isolada ou em associação com outros fungicidas. Os ensaios foram conduzidos a campo no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal com as culturas de soja, milho e algodão, durante a safra agrícola 2012/13.

Em soja, foi conduzido ensaio em Itaara/Rio Grande do Sul, avaliando-se a severidade da ferrugem asiática e a pro-dutividade da soja submetida a diferentes tratamentos, formados pela aplicação de fungicidas comerciais com a mistura triazol + estrobilurina, de forma isolada ou em associação com mancozeb. Foram realizadas três aplicações de cada trata-mento nos estádios R1, R1 + 14 dias e R1 + 28 dias.

O ensaio de milho foi conduzido em Planaltina/Distrito Federal, para avaliar a severidade da mancha branca no híbrido DKB390RR2 PRO sob os mesmos trata-

Figura 3 - Área abaixo da curva de progresso da mancha de ramulária (AACPMR) em algodão BRs 293, submetido a diferentes tratamentos fungicidas. Planaltina (DF), safra 2012/13

Mzeb = Mancozeb.

mentos utilizados na ferrugem da soja. As aplicações foram realizadas nos estádios V8, pré-pendoamento e 20 dias após.

O ensaio de algodão também foi conduzido em Planaltina/DF, testando a aplicação de diferentes doses de mancozeb aplicado de forma isolada para o controle da mancha de ramulária. A cultivar utili-zada foi a BRS 293 e as aplicações foram realizadas nos estádios F4, F6 e F8.

Nos três ensaios foram realizadas ava-liações semanais da severidade das doenças a partir da primeira aplicação até 28 dias após a última pulverização. Os dados de severidade das doenças foram utilizados para o cálculo da área abaixo da curva de progresso da doença.

Os resultados obtidos evidenciam me-lhora na eficácia de controle das doenças estudadas quando o mancozeb é inserido no programa de controle. A redução mé-dia na AACPD pela adição de mancozeb à mistura triazol + estrobilurina foi de 29,1% para ferrugem em soja e 31,9% para mancha branca em milho (Figuras 1 e 2). Para o controle da mancha de ramulária em algodão, a redução na AACPD variou de 21,6% a 41,7%, da menor para a maior dose, respectivamente (Figura 3). Ainda que a melhora no controle das doenças pelo

Em situações extremas a ferrugem asiática pode demandar até cinco aplicações de fungicidas por safra

Figura 1 - Área abaixo da curva de progresso da ferrugem (AACPF) em soja BMX Potên-cia RR, submetida a diferentes tratamentos fungicidas. Itaara/Rs, safra 2012/13

Figura 2 - Área abaixo da curva de progresso da mancha branca (AACPMB) em milho DKB390R-R2PRO, submetido a diferentes tratamentos fungicidas. Planaltina/DF, safra 2012/13

*TZ = Triazol; sT = Estrobilurina; MZ = Mancozeb. *TZ = Triazol; sT = Estrobilurina; MZ = Mancozeb.

Mar

celo

Mad

alos

so

Page 11: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 12: Grandes Culturas - Cultivar 174

12 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Nedio Tormen,Universidade de BrasíliaMarcelo Madalosso,Instituto Phytus/URI SantiagoMônica Debortoli eDiogo Patias,Instituto PhytusJonas Dammer eRicardo Balardin,Univ. Federal de Santa Maria

uso do mancozeb seja bastante clara, esse não é o principal fator que qualifica o man-cozeb como uma ferramenta importante para o controle químico de doenças.

A utilização de produtos de amplo espectro, que agem sobre diversos sítios do patógeno e em consequência apresentam menor risco de surgimento de indivíduos resistentes/tolerantes, pode não apenas melhorar a eficácia de controle de doen-ças, mas também prolongar a vida útil dos fungicidas existentes no mercado. Essa analogia pode ser estendida para outros patossistemas.

Apesar de ainda não possuir registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para utilização em grandes culturas como soja, milho e algodão, já existem alguns produtos à base de mancozeb em fase de testes para tal finalidade. Diversos trabalhos realizados nessas culturas têm mostrado controle eficiente de doenças, principalmente quando o mancozeb é empregado em um programa de manejo de forma integrada a outros fungicidas. Adicionalmente, destaca-se como um dos mais eficientes para algumas doen-ças mesmo quando utilizado de forma isolada, como é caso do complexo da mancha branca na cultura do milho. A ocorrência dessa doença foi por muito tempo associada ao fungo Phaeosphae-ria maydis, porém, apesar de não haver consenso, atualmente admite-se como agente causal a bactéria Pantoea ananatis. Os fungicidas sistêmicos mais comumen-te utilizados não possuem bom controle sobre essa doença.

Por mais de 50 anos, o mancozeb tem sido uma ferramenta interessante para que os produtores do mundo inteiro possam combater doenças e assim produzir alimen-to. Dessa forma, o mancozeb apresenta-se

como uma ferramenta para o manejo de doenças nas culturas, agregando eficácia de controle, estratégia de manejo antirresis-tência e, como consequência, manutenção da eficácia de produtos modernos e menos agressivos ao meio ambiente. A utilização do produto de forma racional e dentro do conceito de manejo integrado de doenças é indispensável para a manutenção dessa tecnologia. CC

O complexo mancha branca é um dos limitantes na cultura do milho

Folha de algodoeiro com sintomas de incidência da mancha de ramulária

Foto

s M

arce

lo M

adal

osso

Page 13: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 14: Grandes Culturas - Cultivar 174

Informe empresarial

Manejo estratégicoModelo para controlar infestações de lagartas na safra e na

safrinha é apresentado pela Syngenta para diferentes culturas

A Syngenta apresenta aos produ-tores o Manejo Estratégico de Pragas (MEP), para o controle

antecipado de infestações de lagartas como a Helicoverpa armigera. A intenção é obter a maior eficiência possível por meio de ações preventivas para três momentos fundamentais da agricultura: durante o cultivo da safra principal (soja e algodão), na safrinha (milho, algodão, trigo, feijão ou girassol, por exemplo) e na fase de pré-plantio, de modo a evitar que o agri-cultor inicie a plantação já sob a pressão de pragas.

As ações buscam potencializar re-sultados positivos. “São práticas como o monitoramento ininterrupto das cultu-ras, aplicações no cedo (com lagartas no tamanho adequado), rotação de ativos, barreira fisiológica e manejo químico entre safras e no pré-plantio. O emprego de recursos biotecnológicos na safrinha, como variedades geneticamente modifica-das, e, para o milho, Agrisure Viptera 3, também faz parte do protocolo”, explica Aimar Pedrini, gerente de Inseticidas da Syngenta.

O crescimento das áreas ocupadas com soja (quatro vezes maior desde o começo dos anos 1980) e com as culturas

Pedrini explica estratégia do Manejo Estratégico de Pragas (MEP)

14 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

da safrinha (duas vezes maior nos últimos quatro anos) tem provocado em várias regiões a migração das pragas por cultivos diferentes, mudanças comportamentais das espécies, com novos efeitos nocivos

nas plantas, e o aumento da diversidade de espécies danosas. “O agricultor, diante deste cenário, tende a aumentar o número de aplicações, a dosagem e as misturas de inseticidas, atitudes nem sempre eficien-tes e que implicam na elevação do custo e na longevidade das moléculas”, afirma Pedrini.

O MEP foi planejado em parceria com especialistas do Seag (Syngenta Entomolo-gical Advisory Group). O desenvolvimen-to e a validação do conceito ocorreram durante as duas últimas safras em áreas piloto do Cerrado brasileiro. O lançamento oficial foi feito durante o Encontro Téc-nico da Fundação MT. Entre os meses de julho e outubro, o projeto foi divulgado a consultores, distribuidores e produtores por meio de palestras e apresentações, em aproximadamente 160 eventos, com im-pacto em cerca de cinco mil profissionais, abrangendo mais de 90% da área de plantio de grandes culturas no Brasil.

Dir

ceu

Gas

sen

Syng

enta

Page 15: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 16: Grandes Culturas - Cultivar 174

Algodão

16 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

harmoniosamente coordenadas em uma estra-tégia de manejo baseada em análises de custo e benefício que levam em conta os interesses dos produtores, e impactos na sociedade e no meio ambiente” (Kogan, 1996).

Nas duas últimas safras, principalmente no oeste da Bahia, a nova praga Helicoverpa armigera, que vem causando muitos danos às culturas de algodão, soja e feijão, foi o centro das atenções fitossanitárias dos produtores e pesquisadores. Entretanto, o bicudo-do-algodoeiro continuou atacando as lavouras,

causando muitos prejuízos e proporcionando dificuldades de controle. Apesar das preo-cupações e dificuldades com a nova lagarta, o maior número de aplicações realizadas no algodoeiro ainda foi efetuado para o controle do bicudo, com média de 17 aplicações contra 11 aplicações para conter Helicoverpa armigera (Figura 1).

O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, é um pequeno besouro da família dos Curculionídeos e originário da América Central. Possui um rostro (“bico”) bastante

Via alternativa

A cultura do algodoeiro está, entre as plantas cultivadas, como uma das mais atacadas pelas pragas, sendo

que cerca de 20 diferentes espécies podem causar sérios danos à cultura. A ocorrência deste grande número de pragas atacando a cultura em todas as fases de desenvolvimento da lavoura torna extremamente necessária a implementação do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é um “Sistema de apoio de decisões para a seleção e uso de táticas de controle de pragas, usadas individualmente ou

Sem poder contar com produtos à base de endosulfan contra o bicudo-do-algodoeiro, produtores brasileiros precisam lançar mão de novas ferramentas para efetuar o manejo

dessa praga, que ainda domina o maior número de aplicações de inseticidas na cultura do algodão. Sem perder de vista que o controle químico não deve ser empregado de modo

isolado, o uso de chlorantraniliprole + thiamethoxam é uma das estratégias para proteger os botões florais da ação deste inseto

Foto

s F.

J. C

elot

o

Page 17: Grandes Culturas - Cultivar 174

os 70 dias após a emergência, passando para 10% dos 70 aos 100 dias e 15% de ataque a partir dos 100 dias após a emergência.

O sucesso no manejo do bicudo é a integração de métodos, a fim de diminuir a população da praga e reduzir a infestação na safra seguinte. Entre as medidas principais, a destruição da soqueira logo após a colheita e o controle eficiente das tigueras (“plantas voluntárias”), além de definição, de acordo com as características de cada região, de um calendário de semeadura, serão fundamentais para a sustentabilidade da cotonicultura em áreas com a presença do bicudo. Aplicação de inseticidas nas bordaduras da área com o aparecimento dos primeiros botões florais também auxilia a retardar a entrada do bicudo na área. Em áreas menores, a catação e a des-truição de botões florais caídos constituem-se em uma medida importante de redução de adultos.

CoNtRole quíMiCo Um dos erros frequentes no combate a

pragas é o de não adotar nenhuma medida de redução ou diminuição da infestação das pra-gas e deixar todo o controle para o uso sequen-cial de inseticidas, ou seja, cultiva-se de forma a facilitar a reprodução e estabelecimento das pragas e utiliza-se o controle químico como única medida de redução ou controle.

No caso do bicudo-do-algodoeiro o controle químico é essencial, mas sempre

integrado a outras medidas de manejo.No controle químico do bicudo utilizava-

se predominantemente o inseticida endosulfan até 80 dias de idade da lavoura e, após este pe-ríodo, predominava o uso de piretroides. Com esta medida, buscava-se evitar o desequilíbrio precoce em favor dos ácaros devido ao uso de piretroides. Com a descontinuidade dos inseti-cidas à base de endosulfan, determinada pelos órgãos regulatórios, as opções de inseticidas para o controle inicial do bicudo tornaram-se escassas. Assim, buscou-se encontrar novas alternativas químicas para o controle inicial do bicudo (até 80 dias de idade da lavoura) ou mesmo para rotacionar com os inseticidas piretroides empregados após os 80 dias de idade da lavoura.

NOvOs INsETICIDAsAcompanhando a evolução tecnológica

pela qual passa todo o setor produtivo, a indús-tria de defensivos vive um período de grande modernização de seus produtos, introduzindo no mercado inseticidas e acaricidas menos tóxicos, com menor persistência no ambiente, mais seletivos em relação aos mamíferos e aos inimigos naturais das pragas e que atuam sobre sistemas ou enzimas exclusivas dos ar-trópodes, tornando possível a integração dos diferentes métodos de controle, com o uso de defensivos de forma a eliminar ou atenuar significativamente os efeitos adversos causa-dos. Isto vem contribuindo para um manejo

alongado, com mandíbulas afiadas e grande capacidade reprodutiva. A fêmea perfura os botões com o rostro (Figura 2), depositando um ovo por orifício. Coloca em média 100 ovos a 300 ovos durante sua vida. As larvas se desenvolvem dentro dos botões florais que caem ao solo. Os adultos também se ali-mentam dos botões florais, mas na ausência destes, sob forte pressão populacional, pas-sam a se alimentar das maçãs do algodoeiro. Com o fim da safra, alguns adultos migram para refúgios e podem entrar em diapausa (“hibernação”), principalmente em países de inverno rigoroso, por períodos que variam de 150 dias a 180 dias, até que comece a nova safra.

A fase crítica de ataque do bicudo para o algodoeiro compreende o período entre os 40 e 90 dias após a emergência. O inseto provoca intensa queda de botões devido à sua alimen-tação. Botões florais que receberam postura também caem ao solo, onde permanecem em condições ótimas de umidade, proporcionan-do desenvolvimento e proteção para a larva.

Para o monitoramento do bicudo, o uso de armadilha de feromônio é um método útil e confiável. A captura de mais de dois bicudos por armadilha por semana indica a necessidade da realização de três aplicações de inseticidas registrados para a espécie na cul-tura do algodoeiro; a partir do primeiro botão floral, entre dois e um bicudos capturados por armadilha por semana, duas aplicações; entre um e zero bicudo capturado por armadilha por semana, uma aplicação e se não ocorrer captura de bicudos nas armadilhas, não rea-lizar aplicação.

Além do uso de armadilhas, amostragens manuais inspecionando-se os botões florais das plantas, iniciadas nas bordaduras da área, principalmente próximo aos locais de refúgio (matas) são importantes para retardar a en-trada da praga na lavoura. O nível de controle considerado é de 5% de botões danificados até

17www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

tabela 1 - efeito do inseticida chlorantraniprole + thiamethoxam 300 SC, no controle do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, na cultura do algodão. Porcentagem média de botões florais danificados (BD) por tratamento aos 5 dias após a primeira e segunda aplicação e aos 5, 10 e 15 dias após a terceira aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro/Março 2008

Prévia%BD2,0 a1,5 a1,0 a0,0 a0,5 a

Tratamentos

1. testemunha2. chlorantraniliprole + thiamethoxam 3. chlorantraniliprole + thiamethoxam 4. chlorantraniliprole + thiamethoxam

5. Endosulfan

Dose (g i.a./ha)

--15 + 3020 + 4025 + 50

700

5 daa (1ª aplic.)%BD2,5 a1,0 a0,5 a0,0 a1,5 a

5 daa (2ª aplic.)%BD4,5 a0,0 b0,0 b0,5 b 3.5 b

5 daa (3ª aplic.)%BD6,0 a0,5 b0,0 b1,0 b3.5 ab

10 daa (3ª aplic.)%BD8,5 a2,5 b2,0 bc1,5 c5,5 a

15 daa (3ª aplic.)%BD

12,0 a6,5 b5,0 b5,0 b7,0 ab

Figura 1 - Número médio de pulverizações específicas para cada espécie de praga nas safras 2011/12 e 2012/13

Com o fim da safra, insetos adultos do bicudo costumam migrarpara refúgios e podem entrar em diapausa ("hibernação")

Page 18: Grandes Culturas - Cultivar 174

18 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

mais racional no controle de pragas e maior segurança aos agricultores, iniciando-se uma substituição gradativa dos grupos químicos de pesticidas mais tóxicos e de amplo espec-tro de ação por grupos menos tóxicos e mais seletivos, como os reguladores de crescimento de insetos, neonicotinoides, bloqueadores de canais de sódio (oxadiazinas), moduladores de receptores de acetilcolina (naturalytes), cetoenoles (inibidores da biossíntese de lipí-deos), moduladores de receptores da rianodina (diamidas antranilicas), modificadores de comportamento alimentar (piridina azome-tina), entre outros.

BloqueADoR Seletivo De AliMeNtAçãoDesenvolvido inicialmente para o con-

trole de insetos sugadores, os bloqueadores seletivos da alimentação afetam o compor-tamento alimentar dos insetos. Sua ação é rápida, provocando a imediata paralisação da alimentação devido ao bloqueio neural do aparelho sugador. Não apresentam efeito de choque. O mecanismo de ação ocorre pela ligação da molécula aos recep-tores neurais, ocorrendo a liberação de serotonina nos espaços sinápticos. Devido à presença de serotonina nos espaços sinápticos, seus respectivos receptores inibem o sistema nervoso do aparelho bucal do inseto, ocasionando uma rápida e irreversível paralisação da sucção, seguida da retração do estilete e movimentação descoordenada do inseto, levando-o à morte por fraqueza e falta de alimento e, consequentemente, redução significativa na transmissão de vírus persistentes. Em insetos mastigadores a ação deste grupo inseticida é pouco conhecida, porém, foi constatado haver ação na locomoção e co-ordenação motora dos insetos tratados com inseticidas deste grupo. Em estudos com o bicudo, constatou-se que os adultos têm a locomoção prejudicada, principalmente

Figura 2 - efeito do inseticida Pimetrozine (Chess 500 WG) no controle do bicudo, Anthonomus grandis, em algodão. Porcentagem de botões atacados aos 5 dias após a quarta aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro 2011

Figura 3 - efeito do inseticida Pimetrozine (Chess 500 WG) no controle do bicudo, Anthonomus grandis, em algodão. Número de adultos emergidos 12 dias após a quarta aplicação. Selvíria (MS). Fevereiro 2011

pelo travamento das pernas posteriores, ocasionando redução na locomoção, me-nor permanência na planta (os bicudos caem ao solo constantemente) e menor reprodução.

Com o objetivo de avaliar o desem-penho desta nova molécula química de perfil toxicológico favorável (pimetrozine) pertencente ao grupo dos bloqueadores se-letivos de alimentação, em aplicações folia-res, no controle do bicudo-do-algodoeiro, foi instalado um experimento na Fazenda Experimental da Unesp de Ilha Solteira, localizada em Selvíria, Mato Grosso do Sul. Foram realizadas quatro aplicações, com intervalo de cinco dias. Constatou-se que o inseticida pimetrozine, nas doses de 100g i.a/ha e 200g i.a./ha, foi eficiente na proteção dos botões florais do algodoeiro contra o ataque do bicudo e reduziu a emergência de adultos (Figuras 3 e 4).

DIAMIDAs ANTRANIlICAs E NEONICOTINOIDEsO grupo inseticida das diamidas está

entre as mais recentes descobertas e possui

duas moléculas em uso no Brasil (fluben-diamide e chlorantraniliprole). Possui perfil toxicológico favorável aos mamíferos e ao ambiente e excelente ação lagarticida. O mecanismo de ação ocorre através da ligação destas moléculas inseticidas aos receptores de rianodina nas miofibrilas dos músculos do inseto. Em consequên-cia, grandes quantidades de cálcio fluem do retículo sarcoplasmático, que atua como depósito de cálcio dos músculos, para as miofibrilas, fazendo com que os filamentos de miosina deslizem por entre os filamentos da actina. As miofibrilas se encurtam e o músculo se contrai, perma-nentemente, causando paralisia de toda a atividade muscular, levando o inseto à morte. O chlorantraniliprole misturado ao neonicotinoide thiamethoxam foi estuda-do no controle do bicudo e proporcionou proteção aos botões florais contra o ataque do bicudo. (Tabela 1)

CC

Geraldo Papa,Fernando J. Celoto eJoão Antonio Zanardi Júnior, Unesp

Botões florais do algodoeiro são perfurados pela praga, cujas larvas se desenvolvem em seu interior levando-os à queda

CC

Foto

s F.

J. C

elot

o

Page 19: Grandes Culturas - Cultivar 174

19www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

Pragas

A mosca branca, Bemisia taba-ci (Hemiptera: Aleyrodidae), é considerada pela maioria dos

pesquisadores um grupo complexo de biótipos (Gill e Brown, 2010), enquanto outros têm proposto ser um complexo de 24 ou mais espécies (De Barro et al, 2011). Entretanto, como ainda não há consenso para uma nova nomenclatura, o nome de B. tabaci biótipo B será usado nesse artigo.

Este inseto tão frágil e diminuto (1mm) tem causado prejuízos alarmantes à agri-cultura brasileira. Os danos diretos são causados pela sucção da seiva das plantas e injeção de toxinas, causando debilidades às plantas. Ao sugar a seiva, causam danos indiretos pela excreção de substância açu-carada, que favorece a formação de fumagi-na, responsável por redução da área fotos-sintética e do valor comercial da produção. Além disso, B. tabaci é vetora de mais de

100 espécies de vírus, principalmente do gênero Begomovirus. Os vírus deste gênero têm limitado significativamente o cultivo de tomate e feijão especialmente em clima quente e seco (Faria, 1994).

Além do seu alto potencial reprodutivo (uma fêmea pode colocar até 300 ovos), a mosca branca apresenta grande plasticida-de genética (grande variação morfológica de ninfas e várias raças ou biótipos), desen-volvimento rápido, resistência aos insetici-das sintéticos, ampla gama de hospedeiros, grande habilidade de adaptação a novas zonas geográficas, mesmo em latitudes e altitudes mais frias e grande mobilidade (Oliveira, 2005).

Esta praga cosmopolita alimenta-se de mais de 600 espécies de plantas pertencentes a mais de 70 famílias botânicas e a gama de plantas hospedeiras tem aumentado no decorrer do tempo, o que tem sido atribuído,

entre outras razões, ao uso de práticas agrí-colas de monocultivo irrigado. Este grande número de hospedeiros tem permitido que a mosca branca reproduza e migre de forma rápida tanto nos vários hospedeiros silvestres como nos cultivados como o algodoeiro, soja, tomate, feijoeiro, batata etc. Nuvens do inseto têm sido observadas no Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraná, Mato Grosso e Goiás, provocando perdas de 30% a 100% em diversos cultivos, incluindo feijoeiro, soja, algodão, tomate, melão e várias olerícolas. Recentemente, a mosca branca foi também observada em gramíneas, completando seu ciclo (ovo a adulto) em plantas de milho. A constatação da presença da mosca branca em gramíneas e das perdas econômicas observadas em diversos cultivos tem gerado nos agriculto-res um grande temor, levando a um aumento considerável nas aplicações de inseticidas para seu controle.

De tamanho extremamente reduzido e aspecto frágil a mosca branca tem causado prejuízos alarmantes às lavouras brasileiras de culturas como feijão, soja e algodão. Seu manejo implica na adoção de medidas integradas e em estratégias como a correta rotação de inseticidas, que tem na liberação de novos grupos químicos um importante aliado para melhorar a eficiência e aumentar a

vida útil das tecnologias disponíveis no mercado

Diminuta e letal

Luci

a V

ivan

Page 20: Grandes Culturas - Cultivar 174

20 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

com piretroides, constitui-se na principal ferramenta utilizada no controle de adultos da mosca branca. Esta exposição frequente da mosca branca a este grupo químico trouxe como consequência uma redução na eficiência e no poder residual.

Desta forma, a rotação de inseticidas com grupos químicos de diferentes modos de ação, acompanhada de outras táticas de controle, é importante para redução de populações de mosca branca e para evitar a seleção de indi-víduos resistentes. A recente liberação para comercialização do inseticida clorantranilipro-le + thiametoxam é uma opção importante para rotação de inseticidas, pois este produto tem demonstrado alta eficiência no controle de adultos da mosca branca. Além disso, clorantraniliprole + thiametoxam, quando misturado ao óleo de nimbus (0,25%), tem causado mortalidades significativas de nin-fas, principalmente do primeiro e segundo instares.

uSo De óleoSVárias outras táticas de controle da mosca

vAzio SANitÁRio Do FeijoeiRo Na safra 2012/13, em decorrência da

alta incidência de mosca branca e do vírus do mosaico-dourado na cultura do feijoeiro comum, bem como sua alta população nas lavouras de soja, algodão, tomate e hortaliças no Distrito Federal, Goiás e no-roeste de Minas Gerais, os danos atingiram proporções alarmantes, comprometendo e inviabilizando a consolidação da agricultu-ra regional. Nestas regiões as perdas pela mosca branca/geminivírus foram estimadas em 69% da produção (1,7 bilhão somente em feijoeiro e soja). Desta forma, a partir de iniciativas do setor produtivo e com o apoio de várias Instituições governamen-tais, foram estabelecidas várias ações emer-genciais para o manejo integrado da mosca branca com ênfase no vazio sanitário para o feijoeiro comum. O vazio sanitário (15 de setembro a 25 de outubro), totalizando 40 dias, ficou estabelecido para o Distrito Federal (Portaria 54, de 1° de julho de 2013) e para os municípios do noroeste de Minas Gerais (Portaria Nº 1.322, de 28 de junho de 2013) – (Arinos, Bonfinópolis de Minas, Brasilândia de Minas, Buritis, Cabeceira Grande, Chapada Gaúcha, Dom Bosco, Formoso, Guarda-Mor, João Pinheiro, Lagoa Grande, Natalândia, Para-catu, Riachinho, Unaí, Uruana de Minas, Urucuia e Varzante).

MéTODOs DE CONTROlE Para o manejo da mosca branca e, conse-

quentemente, das doenças, o ideal é a com-binação de diversos métodos de controle, de forma que a população da mosca branca seja mantida abaixo do seu nível de dano econô-mico. Uma vez fora de controle, dificilmente

qualquer que seja a medida utilizada terá um resultado satisfatório.

CoNtRole quíMiCoO controle químico é uma importante

ferramenta no manejo da mosca branca, principalmente em cultivos em que o inseto transmite vírus. Desta forma, o uso de inse-ticidas sintéticos continua sendo o principal método de controle de mosca branca, que são aplicados várias vezes praticamente durante todo o ano, nas diversas culturas. Um nú-mero aproximado de 23 princípios ativos está registrado para o controle da mosca branca B. tabaci, entretanto, poucos deles têm se mostrado eficientes. Estudos demonstraram a seleção de indivíduos de B. tabaci resistentes aos inseticidas dos grupos químicos de organo-fosforado, carbamato, piretroide e ciclodieno. Os inseticidas que estão sendo mais utilizados são as misturas de neonicotinoides + pire-troides, neonicotinoides isolados, juvenoides e inibidores de síntese de quitina. Devido à falta de outros princípios ativos, o uso de neonicotinoides, isoladamente ou em mistura

Mortalidade de adultos de mosca branca, B. Tabaci, biótipo B por Clorantraniliprole + thiame-toxam pulverizado a 200ml/ha + 0,25% de óleo de nimbus em plantas de feijoeiro

Mortalidade de ninfas de mosca branca, B. tabaci, biótipo B, por Clorantraniliprole + thiametoxam a 200ml/ha sem adição de óleo e com óleo de nimbus a 0,25% em plantas de feijoeiro

A) Adultos de mosca branca B. tabaci em folha de feijão; B) Planta de feijão infectada com ovírus do mosaico-dourado do feijoeiro; C) Planta de tomate com fumagina em folhas e frutos

A) B) C)

Foto

s El

iane

D. Q

uint

ela

Page 21: Grandes Culturas - Cultivar 174

21www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

branca vêm sendo estudadas como alter-nativas aos inseticidas sintéticos, em que se inclui o uso de produtos biorracionais como os óleos vegetais e minerais. Estes produtos podem ser empregados contra B. tabaci na agricultura convencional, principalmente em programas de manejo da resistência aos inseticidas. Adicionalmente, os óleos vegetais podem ser utilizados em agricultura de base ecológica. Vários óleos vegetais e minerais com atividade inseticida vêm sendo estudados para o controle de ninfas de B. tabaci biótipo B. Os óleos interferem no metabolismo, na respiração do inseto, restringem a oviposição, repelem os adultos e são letais a ovos, ninfas e adultos de mosca branca. Como não são sistêmicos na planta, as pulverizações destes óleos devem ser direcionadas para a face inferior das folhas, onde as ninfas da mosca branca se estabelecem. Cuidados na utilização dos óleos, com relação à dose correta e à hora da aplicação, devem ser adotados para evitar problemas de fitotoxicidade.

CoNtRole BiolóGiCoNo Brasil, os inimigos naturais da

mosca branca são pouco conhecidos e explorados e os resultados de pesquisa que comprovem a efetividade de predadores, parasitoides e patógenos para o controle deste inseto são escassos. Entretanto, existe uma diversidade grande de inimigos naturais no campo que podem ter potencial para serem utilizados no controle da mosca branca. Arnó et al (2010) relatou mais de 150 espécies de predadores, 72 espécies de parasitoides e 11 espécies de fungos de ocorrência natural associados a B. tabaci ao redor do mundo.

Vários fungos entomopatogênicos têm sido reconhecidos como importantes agentes de controle biológico de aleirodídeos-praga e são os únicos patógenos capazes de infectar ativamente pela cutícula seus hospedeiros, uma vantagem para o manejo de insetos sugadores. O potencial epizoótico de certos fungos em populações de mosca branca limi-ta o crescimento populacional dessa praga, como é o caso do Isaria sp., que tem exercido importante papel como agente de mortalida-de natural. Na safra 2012/2013, epizootias (grande número de insetos mortos) de Isaria sp. foram observadas sobre ninfas e adultos da mosca branca em feijoeiro, soja, tomate e goiabeira no Distrito Federal e em Goiás. Es-tes isolados foram testados sobre ninfas, com excelentes resultados de controle. No Brasil, não há ainda registro de micoinseticidas des-tinados ao controle de moscas brancas, o que implica em uma oportunidade para estudos de seleção, produção e formulação de fungos entomopatogênicos eficientes a essa praga.

éPOCA DE sEMEADuRAA época de semeadura é uma das princi-

pais táticas de controle cultural que compõe o manejo integrado de pragas. Por isso, reco-menda-se efetuar a semeadura dos cultivos no menor espaço de tempo possível, procurando obter maior concentração e uniformidade da época de semeadura

CONTROlE CulTuRAlOutra prática importante a ser adotada é a

manutenção dos campos no limpo, eliminan-do-se as plantas espontâneas hospedeiras da mosca branca e de fontes dos vírus. Deve-se também eliminar soqueiras e rebrotas de

Eliane D. Quintela,Flavia Rabelo Barbosa eGabriel Moura Mascarin,Embrapa Arroz e FeijãoMiriam de Almeida Marques,Universidade Federal de Goiás

algodão, tigueras de soja, feijoeiro comum e outras culturas hospedeiras após a colheita, a fim de reduzir a população de B. tabaci e dos vírus remanescentes nas áreas. As lavouras abandonadas ou com ciclo interrompido e as plantas voluntárias deverão ser destruídas imediatamente.

EsFORçO CONCENTRADOA Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-

cuária, com o apoio de várias instituições (se-cretarias de Agricultura, universidades, órgãos de extensão rural, cooperativas, sindicatos ru-rais etc), tem concentrado esforços para que as várias ações de manejo da mosca branca e dos vírus que estão sendo planejadas possam estar disponíveis para o setor produtivo. Um hotsite sobre a mosca branca está sendo oferecido na página principal da Embrapa, que terá como objetivo abrigar um sistema de alerta (mosca branca/geminivírus) e fornecer informações sobre o manejo da mosca branca e dos vírus. Ações para a formação de multiplicadores estão sendo intensificadas para estimular maior adoção do manejo integrado de pragas (identificação de pragas e inimigos naturais, manejo da resistência de insetos a inseticidas, tecnologia de aplicação de produtos, rotação de culturas, controle biológico etc) no sistema de produção agrícola. A meta é implementar estes métodos através de ações conjuntas com a comunidade, incluindo atividades educacio-nais e de extensão.

Mortalidade de ninfas de 2º. instar de mosca branca, B. tabaci Biótipo B, por diferentes óleos testados a 1% em plantas de feijoeiro. o detergente foi misturado a 2% para emulsificar os óleos de mamona e gergelim

Mortalidade de ninfas de 2º instar de mosca branca, B. tabaci Biótipo B, por Isaria sp. pulverizado na concentração de 1x107 conídios/ml

CC

Page 22: Grandes Culturas - Cultivar 174

22 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Tempo de acertarAinda há muito para ser desvendado na batalha contra insetos como a lagarta Helicoverpa

armigera, recentemente identificada no Brasil. Contudo, é preciso buscar errar menos, a partir do que é possível aprender com exemplos passados. Cada vez mais o manejo integrado ganha força, com atenção redobrada ao monitoramento, características dos sistemas de produção e ação de

inseticidas e de outras ferramentas disponíveis no mercado

O agroecossistema utilizado no Centro-Oeste é um ambiente que tem apresentado novas

pragas e desafios ao longo das safras. Um dos pontos a serem analisados são as ex-tensas áreas de soja, principal cultura a se estabelecer na grande maioria das áreas, podendo ser rotacionada com algodoeiro, milho, feijoeiro ou como único cultivo. Após a colheita normalmente o produtor opta por plantar uma cultura de cobertura, ou mesmo deixar o solo em pousio. Desta forma, com a cultura da soja, culturas subsequentes e a presença das plantas da-ninhas existem hospedeiros para as pragas durante o ano todo, além de outros fatores como condições climáticas favoráveis, de altas temperaturas e de invernos amenos, também se tornam ideais para a multipli-cação dos insetos.

O MIP associa diversas estratégias de controle e deve considerar o custo do

manejo e o impacto sobre o ambiente. Um dos pilares no MIP é o monitoramento que, em função da ocorrência de novas pragas, como o caso da Helicoverpa armigera, deve ser tratado de modo diferente. O uso de armadilhas luminosas ou feromônios per-mite conhecer a flutuação populacional das pragas e indicar aos técnicos e produtores, que um possível surto de praga possa vir a ocorrer no campo. Ou seja, a armadilha não substituirá o monitoramento a campo, que deve ser o mais representativo possível. No caso de Heliothis virescens e H. armigera no início da lavoura o amostrador deverá amostrar todas as plantas em um metro de linha da cultura. É preciso lembrar que muitas lagartas encontram-se escon-didas nas folhas novas, o que demanda desenrolá-las para a inspeção, em função da eficiência das estratégias ser maior em controle de lagartas pequenas (até 7mm).

Na safra 2012/2013 foram implantadas

algumas armadilhas na região dos Chapa-dões, para coleta e identificação de maripo-sas, em parceria com a empresa Bayer.

As mariposas são atraídas à noite pela luminosidade da armadilha, onde ficam aprisionadas no recipiente de coleta de forma que é possível a realização da se-paração e contagem dos insetos. Outras armadilhas são as de feromônios que podem ser utilizadas pelos produtores na fazenda, alocando-as em pontos es-tratégicos, a fim de levantar as possíveis entradas e mesmo a detecção da praga na área.

As mariposas capturadas nas arma-dilhas podem ser retiradas a cada um a três dias, conforme a praticidade dentro da propriedade, realizando a contagem e a identificação das espécies. No armadi-lhamento luminoso realizado na região dos Chapadões observou-se aumento considerável do número de mariposas

Foto

s G

erm

ison

Vit

al T

omqu

elsk

i

Page 23: Grandes Culturas - Cultivar 174

inversamente proporcionais, vindo a se comportar de forma semelhante a partir do final de maio, sofrendo decréscimo.

Diante dos dados, fatos e alertas comunicados via e-mail ou ligações, os produtores conseguiram adotar medidas contra a praga, sendo que a melhor ob-servação da lavoura é fundamental para o sucesso do programa.

Diante disto, na safra 2013/2014, dentre as táticas adotadas pelo programa de manejo da Fundação Chapadão, o controle da primeira população destas novas pragas torna-se importante no

MIP. Muitas vezes o início da semeadura coincide com o começo da infestação das pragas. No entanto, algumas pragas po-dem vir a se desenvolver antes na área. As pragas iniciais devem ser monitoradas, para que possíveis medidas sejam adota-das antes da semeadura. Entre as pragas iniciais, corós, lagarta-elasmo, Spodopte-ras e outras, estão presentes comumente na região do Cerrado. Algumas técnicas como o Tratamento de Sementes (TS) e o manejo de dessecação são estratégias conhecidas e seletivas quando aplicadas com critérios. O TS é uma aplicação

Helicoverpa spp. no comparativo entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. A maior população de Spodoptera frugiperda ocorreu no mês de dezembro de 2012 se-melhante a outros insetos capturados.

Em alguns meses ocorreu aumento de 47% para algumas mariposas de Helico-verpa spp e de 2% para Chrysodeixis inclu-dens. No mesmo período houve redução de 6% para Spodoptera frugiperda.

A espécie C. includens apresentou aumento nos meses de janeiro e fevereiro. Notou-se ainda que no mês de março a população das duas espécies foram

À esquerda armadilha luminosa e à direita emdetalhe uma visão noturna do mesmo equipamento

Page 24: Grandes Culturas - Cultivar 174

24 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

considerada seletiva aos inimigos natu-rais, em função da não exposição destes agentes ao inseticida. Já em relação a inseticida em dessecação, alguns grupos químicos têm se encaixado dentro do MIP, como é o caso dos carbamatos e os fisiológicos.

Os carbamatos se destacam por diminuírem a infestação de lagartas presentes na área, sendo que em alguns casos podem controlar até mesmo la-gartas grandes (maiores que 1cm). Já os fisiológicos controlam lagartas pequenas, além de pragas que, porventura, estejam a infestar a área, em função de um po-der residual maior quando comparado aos carbamatos, além da questão da seletividade maior a inimigos naturais, deixando com que o povoamento dos inimigos naturais ocorra sem qualquer disrupção.

No quesito do manejo da primeira infestação deve-se destacar a possibilida-de desta estratégia a ser adotada para H. armigera, em função de que os inseticidas carbamatos têm ação rápida de choque, podendo controlar também parte da população de mariposas presentes nas áreas, e possível eficiência sobre ovos das mariposas, além do que, os fisiológicos e os carbamatos podem promover também o controle de parte da infestação de la-gartas presentes na área. Esta estratégia

pode ser um complemento semelhante ao MIP realizado em outros países que fazem a destruição da última população da safra, em que os produtores realizam a destruição mecânica, a fim de diminuir o número de pupas viáveis e indivíduos para a próxima safra. Esta tática no Brasil é impossível de se realizar por conta da grande quantidade de chuvas, sendo necessário que as áreas apresentem o sistema de plantio direto, além do que, o sistema ainda promove vários outros be-nefícios que poderiam ser comentados.

A destruição de plantas tigueras é de fundamental importância, por hospe-darem a praga, de uma safra a outra, na chamada ponte-verde. Nas culturas em sucessão, se analisadas com a dinâmica de pragas, observa-se que algumas tive-ram papel importante na multiplicação

de insetos. A mosca branca é um caso já observado, principalmente em região com pivô central, que apresenta uma sucessão intensa de cultivos. Mas no caso de uma praga nova como H. armi-gera observa-se que mesmo em culturas como nabo-forrageiro, milheto, crotalá-ria, milho safrinha, sorgo, soqueiras de algodoeiro, entre outras, foi observada a sua presença. Desta forma, se não manejada (controle da praga na cultura sucessora) ou não determinado um vazio sanitário, poderá haver falhas de manejo do sistema produtivo.

Comumente o manejo das pragas foi realizado baseado no químico. No entanto, nesta safra, o MIP voltou ao patamar de maior importância dentro do manejo da cultura, tanto na soja, como algodoeiro, milho, entre outras culturas.

Detalhe de lagarta de Helicoverpa em milheto

Figura 1 - Porcentagem de mariposas capturadas na região dos chapadões em dezembro de 2012 Figura 2 - Média de mariposas de Helicoverpa spp e C. includens na região dos Chapadões de Dez/12 à Mar/13

Figura 3 - Média de mariposas de Helicoverpa spp e C. includens na região dos Chapadões de Dez/12 à Mar/13

Detalhe da armadilha de feromônio

Mariposas capturadas pela armadilha luminosa de biocontrole

Foto

s G

erm

ison

Vit

al T

omqu

elsk

i

Page 25: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 26: Grandes Culturas - Cultivar 174

26 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

No manejo, a rotação de inseticidas é outro fator importante, pois pode aju-dar no maior controle da praga, além de preservar as moléculas que estão sendo utilizadas. Além do grupo químico das diamidas (flubendiamide e clorantra-niliprole), destacam-se para o caso de H. armigera as espinosinas (spinosad), oxadiazinas (indoxacarb), e análogos do pirazol (clorfenapir). Em alguns casos, pode ser utilizada, ainda, a bifentrina ou mesmo o clorpirifós. Outros inseticidas como metomil e tiodicarb, muito utili-zado em pragas como falsa-medideira e Spodoptera, podem ser empregados no manejo, em casos de adultos e mesmo de ovos. Sem esquecer que a tecnologia de aplicação é imprescindível.

Muitas questões ainda precisam ser trabalhadas, no entanto, é preciso bus-car errar menos, a partir de exemplos passados, podendo assim vencer essa nova e grande dificuldade da agricultura brasileira.Germison Vital Tomquelski,Lennis Afraire Rodrigues eRafael Costa Leite,Fundação Chapadão/UFMS

Com a chegada de H. armigera sabe-se que as estratégias de controle devem ser realizadas com lagartas de até 7mm, para a melhor ação dos inseticidas no merca-do. Em lagartas grandes normalmente é mais difícil eliminá-las do sistema, em função da necessidade de ingestão de maior quantidade de inseticidas em relação a outras lagartas. A utilização de outros controles como o biológico não será possível ainda na grande dimensão das áreas brasileiras, em função da oferta de produto, haja vista que o Brasil está importando os baculovírus para uso em Helicoverpa. Assim, é preciso ser assertivo com as aplicações, evitar entradas desne-cessárias, além de entradas atrasadas. O monitoramento de ovos pode também ajudar a programar melhor as aplicações do produtor, sabendo-se que em média ele dura três dias, e as lagartas de dois a três dias, com os primeiros instares den-tro de uma semana. Se não ocorrer a ação de inimigos naturais, se fará necessário

CC

utilizar alguma medida de manejo.A safra 2013/2014 já está implan-

tada em várias regiões, com proporções variáveis em diversas regiões. No en-tanto, se o produtor não for seletivo na fase inicial da cultura, poderá provocar um problema de ressurgência de pragas notável. Desta forma, se necessário, optar por produtos como diamidas com boa eficiência de controle. Entretanto, esses produtos podem não resultar em bom residual, como em outras aplica-ções, quando a soja e outras culturas apresentam maior enfolhamento. Um dos quesitos interessantes é ressaltado no trabalho de Guerra (2013), que observou que em algumas regiões do Brasil uma mosca da família Tachinidae inviabiliza até 39% da população de H. armigera. Da mesma forma, diversos são os inimigos naturais que também podem ajudar no manejo desta praga como per-cevejos do gênero Podisus, Geocorideos, aranhas, entre outros.

Nabo-forrageiro atacado por lagartas de Helicoverpa

Detalhe de lagartas grandes com dificuldade de controle

Ovos depositados pela praga sobre as folhas de soja

Detalhe do inimigo natural proveniente do ataque a H. armigera

Foto

s G

erm

ison

Vit

al T

omqu

elsk

i

Page 27: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 28: Grandes Culturas - Cultivar 174

28 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Efeito inibitórioA antracnose é uma doença agressiva, com poder para levar lavouras inteiras de soja à perda total da produção. Sua maior intensidade é verificada nas condições de cultivo dos cerrados, no Brasil.

Para inibir o crescimento micelial do fungo Colletotrichum truncatum, o controle químico, através de misturas de fungicidas dos grupos químicos triazóis e estrobilurinas, tem apresentado bons resultados

A antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum truncatum, é uma das principais doenças da soja nas

regiões dos cerrados. Sob condições de alta umidade, causa apodrecimento e queda das vagens, abertura das vagens imaturas e ger-minação dos grãos em formação. Pode causar perda total da produção, mas, com maior frequência, causa alta redução do número de vagens e induz a planta à retenção foliar e haste verde (Embrapa, 2003).

Em plântulas a antracnose pode causar morte, necrose dos pecíolos e manchas nas fo-lhas e hastes. Originado de semente infectada ou de inóculo produzido em restos culturais da safra anterior, o fungo desenvolve-se, de forma latente, no interior do tecido cortical e pode não se expressar até o final do ciclo, dependen-do das condições climáticas, da fertilidade e da densidade de semeadura. Pode causar queda total das vagens ou deterioração das sementes em colheita retardada. As sementes infectadas apresentam manchas deprimidas, de colora-ção castanho-escura. Plântulas originadas de sementes infectadas apresentam necrose dos

cotilédones, que pode se estender para o hipo-cótilo, causando o tombamento (Almeida et al, 1997). Sintomas mais característicos podem ser observados em nervuras, pecíolos e ramos tenros das partes sombreadas e em vagens em início de formação (Yorinori, 1997).

vAGEM INFECTADAAs vagens infectadas nos estádios R3-R4

adquirem coloração castanho-escura a negra e ficam retorcidas; nas vagens em granação, as lesões iniciam-se por estrias de anasarca e evo-luem para manchas negras e deprimidas. As nervuras, os pecíolos e os ramos contaminados apresentam lesões de coloração avermelhada. Em períodos de alta umidade, as partes infec-tadas ficam cobertas por pontuações negras que são as frutificações do fungo (Almeida et al, 1997; Yorinori, 1997).

sINTOMAs EM RAMOs E hAsTEsA maior intensidade da antracnose

nos cerrados pode ser atribuída à elevada precipitação e às altas temperaturas. O uso de sementes infectadas e as deficiências

nutricionais, principalmente de potássio, também contribuem para maior ocorrência da doença. Portanto, para se ter baixa inci-dência da antracnose na soja é necessária a realização de manejo adequado da doença. Alguns manejos que se tem conhecimento se dão através de rotação de culturas, maior espaçamento entre as linhas, população adequada, tratamento químico de semen-tes e manejo adequado do solo, principal-mente em relação à adubação potássica e ao uso de fungicidas (Embrapa, 2009).

Qual a classe de fungicida utilizar? Que

Dir

ceu

Gas

sen

Tabela 1 - Fungicidas e grupo químico, utilizados. ufla, lavras (MG), 2013

TratamentosEpoxiconazol (trat. 1)

Flutriafol (trat. 2)Tetraconazole (trat. 3)Azoxistrobina (trat. 4)Piraclostrobina (trat. 5)Cyproconazol (trat. 6)Picoxistrobina (trat. 7)testemunha (trat. 8)

Grupo quimicoTriazolTriazolTriazol

EstrobilurinaEstrobilurina

TriazolEstrobilurinaMeio Malte

Page 29: Grandes Culturas - Cultivar 174

(Tabela 1) no meio de cultura, realizou-se a agitação para sua homogeneização. Em seguida, foram vertidos em placas de Petri. Após a solidificação do meio, discos de 7mm de diâmetro foram retirados do meio de cul-tura contendo micélio do fungo e colocados no centro das placas de Petri com fungicidas. As placas foram incubadas em BOD a 25°C, com fotoperíodo de 12 horas.

O delineamento experimental foi o intei-ramente casualizado (DIC) com oito trata-mentos (Tabela 1) e quatro repetições, sendo cada parcela constituída por uma placa de Petri totalizando 32 parcelas experimentais.

Foram realizadas quatro avaliações de cres-cimento micelial do fungo em dois sentidos,

princípio ativo tem melhor efeito nesse contro-le? Qual molécula é mais eficaz? No controle químico recomenda-se o uso de sementes tra-tadas com mistura de fungicidas sistêmicos do grupo dos benzimidazóis (tiofanato metílico, carbendazim e thiabendazol) e de fungicidas de contato (thiram e captan) (Almeida et al, 1997; Yorinori, 1997; Cassetari Neto et al, 2001). O controle químico da antracnose na parte aérea da soja tem sido avaliado nas condições do Mato Grosso (Cassetari Neto et al, 2001; Fornarolli et al, 2002), destacando a eficiência de fungicidas sistêmicos (benzi-midazóis).

As misturas de fungicidas dos grupos químicos triazóis e estrobilurinas, em uma primeira avaliação, têm apresentado resul-tados promissores na redução das perdas provocadas por Colletotrichum truncatum em soja, apesar da ação individual de cada um desses princípios ativos ser inferior à ação dos benzimidazóis no controle da antracnose em soja. Estes trabalhos têm evidenciado a extrema necessidade do monitoramento da lavoura para a tomada de decisão quanto à época de aplicação de fungicidas, uma vez que a antracnose não deve ser considerada como doença de final de ciclo na cultura da soja. (Cassetari Neto et al, 2001; Fornarolli et al, 2002).

Figura 1 - Ciclo do Colletotrichum truncatum

o eXPeRiMeNtoPara avaliar o potencial de atividade de di-

ferentes fungicidas, triazóis e estrobilurinas no controle do fungo Colletotrichum truncatum, causador da antracnose da soja, um bioensaio foi realizado incorporando-se as moléculas ao meio de cultura, adotando-se a técnica descrita por Edgington et al (1971), modificada. A téc-nica consiste em dissolver o fungicida em 1ml de água destilada e, posteriormente, procede-se a adição de 40ml de meio malte fundente (45°C – 50°C), produzindo a concentração desejada (350ppm). Utilizou-se uma concen-tração única para todas as moléculas, a fim de conseguir identificar o potencial fungitóxico de cada uma. Após adicionar os fungicidas

Page 30: Grandes Culturas - Cultivar 174

30 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

perpendiculares, com auxílio de uma régua graduada em milímetros (mm) durante 12 dias, com intervalos de três dias. Os dados foram submetidos à analise de variância (p < 0,05) e as variáveis significativas no teste F foram submetidas ao teste Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade, com auxílio do programa Sisvar (Ferreira, 2000).

Os dados do crescimento micelial foram utilizados no cálculo do índice de velocidade de crescimento micelial, conforme fórmula descrita por Oliveira (1991).

iNiBição Do CReSCiMeNto MiCeliAlObservou-se diferença significativa em to-

das as avaliações. Na primeira avaliação (15/3) os tratamentos picoxistrobin, piraclostrobina e ciproconazol apresentaram valores de médias estatisticamente iguais à testemunha, 1,12cm, 0,9cm e 1cm, respectivamente. A maior ini-bição ocorreu nos tratamentos epoxiconazol (0,7), flutriafol (0,72), tetraconazol (0,77) e azoxistrobina (0,78).

Na segunda avaliação (18/3) o tra-tamento com epoxiconazol foi o que apresentou o maior efeito inibitório (0,7). Na terceira avaliação (21/3) o tratamento picoxistrobina (4,22) diferenciou-se pela primeira vez da testemunha (4,97). Na última avaliação o tratamento com epo-xiconazol (1,82) apresentou menor valor de média significativamente dos demais, seguido pelos tratamentos piraclostrobina (3,07), cyproconazol (3,1) (Tabela 2).

Segundo Cassetari Neto et al, 2001; For-narolli et al, 2002, as misturas de fungicidas dos grupos químicos triazóis e estrobilurinas

têm apresentado resultados promissores na redução das perdas provocadas por Colleto-trichum truncatum em soja. No entanto, o presente trabalho demonstrou que o controle em grande parte provém do sinergismo das moléculas. Pois não se observou diferença entre os modos de ação e sim entre as mo-léculas.

Cintra (2009) comparando o efeito inibitório in vitro entre piraclostrobina e carbendazin em diferentes concentrações em C. acutatum constatou baixa eficiência de carbendazin mesmo em altas concentrações do fungicida, enquanto que na presença de piraclostrobina, os isolados foram igualmente sensíveis às diferentes dosagens, ou seja, não houve crescimento micelial. O que corrobora os resultados aqui obtidos onde a piraclos-trobina apresentou inibição de 52,33% do crescimento, eficiência esta inferior apenas ao epoxiconazol, com 71,71% de inibição

(Figura 2).Nas condições em que este trabalho foi

realizado, conclui-se que o uso de fungicidas para o controle do fungo Colletotrichum truncatum é efetivo contra o crescimento ace-lerado deste fungo, mostrando que moléculas diversas possuem diferentes graus de eficiência neste controle.

O epoxiconazol apresentou menor cresci-mento quando comparado aos demais produ-tos utilizados. E também maior porcentagem de inibição. O tratamento sem fungicida (testemunha) apresentou maior crescimento como esperado.

Figura 2 - Porcentagem de inibição de Colletotrichum truncatum

CC

A soja contribui significativamente para a economia brasileira, posi-

cionando o País como o maior produtor mundial, com 83,5 milhões de toneladas, na frente dos Estados Unidos, com 82,1 milhões de toneladas (USDA, 2013). Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás são os estados brasileiros com maior produção. Na safra 2012/2013 a produção brasileira foi de 82 milhões de toneladas, com média de 2.968kg/ha (Conab, 2013).

No campo, a cultura é atacada por grande número de doenças fúngicas, bacterianas e viróticas, além de nematoi-des. Dentre estas, as doenças causadas por fungos são consideradas muito im-portantes, não somente por aparecerem em maior número, como pelos prejuízos causados em termos de rendimento e qualidade das sementes. (França Neto & Henning, 1984).

doeNçAS

Tabela 2 Efeito das diferentes moléculas no controle do crescimento do fungo Colletotrichum truncatum, avaliados. ufla, lavras (MG), 2013

18/030,7000 a2,2750 b1,9250 b1,9750 b 1,7125 b2,1750 b2,8875 c3,0875 c

13,41

24/031,8250 a4,9750 c4,1000 c4,4750 c3,0750 b3,1000 b5,6500 d6,4500 d

16,74

As médias seguidas pelas mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si pelo teste Scott - Knott a 5% de probabilidade.

21/031,0250 a3,6750 d2,9000 c3,3625 d2,3375 b2,8500 c4,2250 e4,9750 f

13,83

Tratamentos

Epoxiconazole (trat. 1)Flutriafol (trat. 2)

Tetraconazole (trat. 3)Azoxistrobina (trat. 4)Piraclostrobina (trat. 5)Cyproconazol (trat. 6)Picoxistrobina (trat. 7)testemunha (trat. 8)

C.v (%)

15/030,7000 a0,7250 a0,7750 a0,7875 a0,9000 b1,0000 b1,1250 d1,2000 d

9,65

AvAliAçÕeS

Leandro Alvarenga Santos, Fernando Francelin e Paulo Estevão de Souza,DFP/Ufla

Page 31: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 32: Grandes Culturas - Cultivar 174

Algodão

32 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

e não Bt, submetidas a manejo químico inten-sivo para controle da praga durante a safra 2012/13. O trabalho foi conduzido em três localidades: Fazenda São Francisco (Riachão das Neves/Bahia), Fazenda Marechal Rondon (Luís Eduardo Magalhães/Bahia) e Campo de Validação, da Círculo Verde Assessoria Agro-nômica e Pesquisa (Luís Eduardo Magalhães/Bahia) no período de 5 a 19 de julho de 2013. As áreas de algodão foram implantadas em sistema de preparo convencional do solo, com manejo químico de plantas daninhas, pragas e doenças baseadas em critérios próprios adotados em cada localidade.

As avaliações foram conduzidas em 15 pontos/cultivar nas fazendas Marechal Rondon (2 talhões = 111ha/cultivar) e São Francisco (1 talhão = 8ha/cultivar) e 16 pontos/cultivar (85m2/cultivar) no Campo de Validação (Tabela 1). Em cada ponto, a cama-da superficial do solo (1cm de profundidade) foi removida com enxada para visualização das galerias de emergência de H. armigera e estas escavadas, determinando-se: a) número de galerias/m2; b) número de pupas vivas,

mortas e exúvias/m2; c) número de lagartas vivas e mortas/m2; d) profundidade das pupas e lagartas (cm). Cada ponto amostral corres-pondeu à área compreendida entre duas linhas de cultivo (0,76cm) por 1,32m de extensão, totalizando 1m2/ponto.

ReSultADoS e DiSCuSSãoNas três localidades, houve diferença

expressiva entre cultivares para a quantidade de galerias de pupação produzidas por H. ar-migera no solo, principalmente na comparação entre cultivares com presença ou ausência de genes de Bacillus thuringiensis, também conhe-cidas com cultivares Bt. Na Fazenda Marechal Rondon o número médio foi de 3,07 galerias/m2 para FM 910 (não Bt) e de 0,47 galerias/m2 para FM 975 WS (WideStrike = Cry1Ac + Cry1F), correspondendo a seis vezes mais galerias no talhão FM 910 (não Bt) mesmo este com o dobro de aplicações inseticidas para controle de H. armigera no ciclo. Situ-ação semelhante foi observada na Fazenda São Francisco, cujas duas cultivares Bt, a DP 555 (Bollgard I = Cry 1Ac) e a FM 975 WS, ambas com 0,40 galerias/m2, apresentaram quantidade quatro vezes menor comparadas à Delta Opal (não Bt = 1,70 galerias/m2). No Campo de Validação as três cultivares Bt (DP 555 e NuOpal = Bollgard I; FM 975 WS = WideStrike), como nas demais localidades, apresentaram menores quantidades de gale-rias (0,00 a 0,38 galerias/m2) comparadas aos materiais desprovidos da tecnologia Bt (Delta Opal, FM 993, 944 GL, FM 951 LL e FM

Exame minucioso

Helicoverpa armigera (Lepidoptera; Noctuidae) é uma praga polífaga recém-introduzida no Brasil e que

ocasionou prejuízos expressivos às culturas da soja e algodão no cerrado do oeste da Bahia nas safras 2011/12 e 2012/13. As medidas de controle estão sendo discutidas no âmbito do “Grupo Técnico para o Manejo da Helicover-pa spp. no Oeste da Bahia”, através da ação voluntária de diversos profissionais do setor agrícola regional e sob apoio das principais entidades do agronegócio do estado.

Conhecer aspectos da biologia de H. armigera em âmbito regional, assim como esta-belecer parâmetros que permitam mensurar a contribuição das tecnologias para combate ao inseto, é imprescindível para a fundamentação das medidas a serem recomendadas para uso nas lavouras do oeste da Bahia.

Uma pesquisa foi realizada com o objetivo de compreender os aspectos relativos à fase pupal de H. armigera em áreas de algodão em sistema convencional de preparo do solo, como também de estimar a quantidade de H. armigera completando o ciclo em cultivares Bt

Lavouras de soja e de algodão estão entre as mais afetadas por Helicoverpa armigera no oeste da Bahia durante as safras 2011/12 e 2012/13. Situação que tem obrigado entidades de

pesquisa a somarem esforços na tentativa de combater a praga. Conhecer aspectos da biologia de H. armigera em âmbito regional, assim como estabelecer parâmetros que permitam mensurar a contribuição das tecnologias para controle do inseto, é imprescindível para a fundamentação

das medidas a serem recomendadas para uso nas lavouras

Remoção da camada superficial do solo com uso de enxada para visualização das galerias de emergência

Foto

s C

írcu

lo V

erde

Pes

quis

a

Page 33: Grandes Culturas - Cultivar 174

câmaras pupais, contudo, nenhum adulto vivo ou morto foi encontrado. Considerando as cinco áreas das Fazendas Marechal Rondon e São Francisco, cujas avaliações ocorreram nos dias 16 e 19 de julho, e onde houve infestação elevada pela praga, em média 84% das gale-rias continham exúvias em seu interior, 15% pupas vivas e apenas 1% pupas mortas; e em nenhuma das cultivares atingiu-se o valor de uma pupa viva/m2 (Tabela 2). A presença de pupas mortas nestas áreas foi muito reduzida em todas as cultivares (≤ 0,13 pupa morta/m2), tendo como possível fator de mortalidade a dificuldade da lagarta em escavar e pupar em solo com baixa umidade nos meses de junho e julho/2013. A presença de lagartas vivas sob o solo ou escavando as galerias (≤ 0,07 lagarta/m2) revela que a infestação pela praga estende-se até próximo à colheita da cultura, exigindo, consequentemente, o monitoramento contí-nuo de suas populações para prevenção de danos às estruturas frutíferas da planta.

No Campo de Validação em 5 de julho, aproximadamente 76% das galerias conti-nham exuvias, 21% pupas vivas e 3% pupas mortas, proporções muito semelhantes às das fazendas São Francisco e Marechal Rondon (Tabela 2). Também no Campo de Validação a quantidade de lagartas vivas no solo era muito

reduzida (≤ 0,13 lagarta/m2) (Tabela 2).Os resultados descritos neste trabalho

fazem parte do programa de estudos de H. armigera no oeste da Bahia, uma parceria en-tre Universidade do Estado da Bahia (Uneb, Campus IX); Círculo Verde Assessoria Agro-nômica e Pesquisa; Inovação Agrícola Pesqui-sa, Desenvolvimento Agrícola e Consultoria; Kasuya Consultoria Agronômica e Pesquisa e JCO Assessoria Agronômica e Pesquisa.

982 GL) (Tabela 2).A profundidade média de pupação de

H. armigera foi de 3,1cm considerando as 78 pupas das fazendas Marechal Rondon e São Francisco, cujo sistema de cultivo foi de sequeiro; a profundidade mínima de pupação foi de 1cm e máxima de 6cm, cuja distribuição no perfil do solo foi de 25,6% das pupações (0cm a 2cm de profundidade), 53,8% (2,1cm a 4cm) e 20,5% (4,1cm a 6cm). Já para a área do Campo de Validação, com “irrigação de salvamento”, a profundidade média foi 5,2cm considerando as 59 pupas encontradas, mínimo de 2,5cm e máximo de 9cm, com distribuição de 47,5% das pupações (2,1cm a 4cm de profundidade), 22,0% (4,1cm a 6cm), 23,7% (6,1cm a 8cm) e 6,8% (8,1cm a 9cm). Comparativamente, o Campo de Validação apresentou pupação localizada 2cm mais profunda, em média, que nas demais localidades, além da ausência de sinais de pupação no extrato até 2cm e presença em profundidades superiores a 6cm. Quando se considera a média por cultivar separadamente, a pupação variou em profundidade de 2,67cm (Fazenda Marechal Rondon = FM 910) a 7,5cm (Campo de Validação = NuOpal) (Tabela 2).

O interior das galerias continha a presença de pupas vivas, mortas ou exúvias deixadas pelo surgimento dos adultos no interior das

33www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

Mônica Cagnin Martins, Genivaldo Batista dos Santos,Elisangela Kischel,Fernando Pianezzola Fumagalli e Pedro Brugnera,Círculo Verde Ass. Agron. e Pesq.Marco Antonio Tamai, Uneb Severo Amoreli,Fazenda São Francisco Luciano Biancini,Fazenda Marechal Rondon

Tabela 1 - locais de estudo de pupas de Helicoverpa armigera e respectivos cultivares de algodão transgênico ou não, no Cerrado do oeste da Bahia, julho/2013

Transgenia Bt----

WideStrike1

----Bollgard I2

WideStrike--------------------

Bollgard IBollgard IWideStrike

1WideStrike (Cry1Ac + Cry1F); 2Bollgard I (Cry 1Ac).

local1 Fazenda Marechal Rondon

2 Fazenda são Francisco

3 Campo validação CvP

CultivarFiber Max 910

Fiber Max 975 WSDelta Opal

DP 555Fiber Max 975 WS

Delta OpalFiber Max 993

944 GlFiber Max 951 llFiber Max 982 Gl

DP 555NuOpal

Fiber Max 975 WS

Tabela 2 - Informações dos locais de estudo de pupas de Helicoverpa armigera em áreas de algodão no Cerrado do oeste da Bahia, julho/2013

Galeria(m2)3,070,471,700,400,400,810,750,690,630,500,380,130,00

1WideStrike (Cry1Ac + Cry1F); 2Bollgard I (Cry 1Ac).

local

1 Fazenda Marechal Rondon

2 Fazenda são Francisco

3 Campo validação CvP

Cultivar

Fiber Max 910Fiber Max 975 WS

Delta OpalDP 555

Fiber Max 975 WSDelta Opal

Fiber Max 993944 Gl

Fiber Max 951 llFiber Max 982 Gl

DP 555NuOpal

Fiber Max 975 WS

Prof. (cm)2,673,713,802,754,004,004,195,185,805,006,177,50----

viva (m2)0,600,070,200,000,100,250,250,190,060,190,000,000,00

Morta (m2)0,130,000,000,000,000,060,060,000,000,000,000,000,00

exuvia (m2)2,270,331,500,400,300,440,310,500,560,310,380,130,00

lagartas(m2)0,070,070,000,000,000,060,130,000,000,000,000,000,00

Pupas

Visualização da extremidade superior das galerias de emergência de H. armigera

Profundidade do solo onde foi encontrada a pupa de H. armigera

Pupa viva deH. armigera

Exúvia pupal deH. armigera

CC

Page 34: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 35: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 36: Grandes Culturas - Cultivar 174

Algodão

36 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

seminado nas principais regiões produtoras de algodão, tanto em áreas irrigadas como de sequeiro. As principais fontes de introdução do mofo branco em novas áreas agrícolas foram sementes de nabo forrageiro, canola, feijão, girassol, soja e algodão contaminadas com escleródios, bem como a utilização de máquinas agrícolas procedentes de áreas com a doença. O aumento da utilização de sementes próprias (mal ou não beneficiadas) e de sementes piratas também contribuiu de forma significativa para a introdução do mofo branco em áreas indenes, principalmente nas regiões do cerrado brasileiro.

MétoDoS De DeteCçãoA semente de algodão assume papel fun-

damental na transmissão (tanto na forma de micélio dormente quanto por escleródios mis-turados a ela) e introdução de S. sclerotiorum em novas áreas, bem como na reinfestação de locais onde já se faz o manejo do mofo branco. Neste contexto, uma das mais importantes es-tratégias de manejo da doença é o diagnóstico precoce e preciso da presença desse patógeno quando ainda está nas sementes.

No âmbito do controle de qualidade de sementes, o teste de sanidade é utilizado para definir o perfil de qualidade de um lote ao lado de outros testes que indicam a condição de

germinabilidade, vigor, pureza física e iden-tidade genética. Para cada teste pode existir um ou mais métodos, que são desenvolvidos, lançando-se mão de diferentes princípios/fundamentos. A opção de escolha por um ou por outro método irá depender, em princípio, do objetivo do teste.

Os critérios utilizados para a detecção de fungos em sementes seguem, de modo geral, as mesmas regras adotadas pela International Seed Testing Association (Ista) e, em sua maioria, consistem em estimular os microrganismos a produzirem estruturas, ou metabólitos, que permitam a sua identificação.

Especificamente para S. sclerotiorum existem vários métodos para detecção desse patógeno na semente, com variações na sensibilidade, reprodutibilidade, repetibilida-de, economicidade e rapidez de resultados. Segundo a Ista, responsável pela validação dos testes de sementes, a sensibilidade (que é a capacidade do método em detectar o pató-geno presente na semente) e a repetibilidade (que indica que na repetição do método os resultados serão semelhantes ou com variação tolerável) são consideradas como fatores im-portantes na aprovação de um procedimento. Considerando esse fungo, a observação visual da presença de escleródios deve ser aliada a outras técnicas. Assim, para a detecção desse patógeno, são recomendados pelas Regras de Análise de Sementes (SAS) o teste de papel de filtro (blotter test) modificado, o método do rolo de papel modificado e o método de incu-bação em meio agar-bromofenol (Neon).

TEsTE DO PAPEl DE FIlTRO(BlOTTER TEsT) MODIFICADOQuatrocentas sementes são distribuídas

em caixas gerbox medindo 11cm x 11cm, contendo três folhas de papel de filtro qua-litativo previamente umedecidas em solução de 2,4 D a 0,02% (2,4-diclorofenoxiacetato de sódio - herbicida 2,4-D). O objetivo do 2,4 D é inibir a germinação das sementes e facilitar a leitura do teste. As sementes são incubadas por 14 dias em temperaturas entre 10ºC e 18ºC, sob escuro contínuo. Se necessário, durante o transcorrer do teste, proceder o umedecimento adicional do substrato. Após o período de incubação as sementes são exa-

Detecção e controle

O fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary é um dos fito-patógenos mais antigos relacio-

nados a doenças de plantas. No Brasil, seu primeiro relato ocorreu em 1921, na cultura da batata. Os danos da doença variam de acordo com os níveis de suscetibilidade das culturas, com as condições climáticas e com o manejo empregado. Como fungo polífago, S. sclerotiourm ataca mais de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies, tendo sido reportado no Brasil, principalmente, nas culturas de feijão, soja, girassol, algodão, canola, batata, tomate, alface, dentre outras.

A cultura do algodoeiro é atacada por um grande número de doenças fúngicas. A maioria das que possuem importância econô-mica é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Atualmente, em função do seu alto potencial destrutivo, vem merecendo destaque o mofo branco, causado pelo fungo S. sclerotiorum. Esta doença vem, a cada ano que passa, preocupando ainda mais os cotonicultores do Brasil, uma vez que sua abrangência tem aumentado gradativamen-te, atingindo, até então, áreas isentas desta enfermidade. O mofo branco foi constatado, pela primeira vez na cultura do algodoeiro, em 1996, na cultivar Deltapine, em Paracatu, Minas Gerais. Atualmente, encontra-se dis-

O mofo branco é uma doença altamente destrutiva na cultura do algodoeiro. Com fácil transmissão e introdução em áreas novas de cultivo, através das sementes, o fungo demanda

muita atenção. Na batalha para controlá-lo, adotar o método adequado de detecção e o tratamento correto, com o uso de fungicidas, é indispensável

And

reia

Qui

xabe

ira

Mac

hado

Page 37: Grandes Culturas - Cultivar 174

10mm ao redor das sementes infectadas.

iNCuBAção eM Meio AGAR-BROMOFENOl (NEON)O princípio básico desse método para a

detecção do patógeno está na mudança de coloração do meio, que ocorre na presença de substâncias ácidas (ácido oxálico) liberadas

corporados ao BDA fundido (50ºC) após autoclavagem. Distribuir 18ml do meio por placa de Petri de 9cm de diâmetro. As placas devem ser expostas a luz negra, com 12 horas de fotoperíodo, a 20ºC por 5-8 dias. A partir do terceiro dia de incubação, observações devem ser realizadas para verificar a formação de halos amarelo-avermelhados ao redor das

minadas individualmente, pela ocorrência de frutificações típicas do crescimento de S. scle-rotiorum (micélio branco de aspecto cotonoso com presença de escleródios).

MéTODO DO ROlO DE PAPEl MODIFICADOEsse método tem o mesmo princípio do

teste padrão de germinação das sementes. Por teste, são utilizadas 400 sementes, distribuídas em oito rolos contendo, cada uma, 50 semen-tes. Estas são distribuídas uniformemente sobre duas folhas de papel de germinação, tamanho 44cm x 34cm, umedecidas com água destilada, em seguida cobertas com uma terceira folha umedecida e daí procedendo-se ao enrolamento dos conjuntos. Os rolos contendo as sementes são acondicionados em sacos de polietileno com pequenas perfurações no topo ou outro recipiente na posição vertical e, em seguida, colocados em câmaras de incu-bação com atmosfera próxima à saturação, no escuro, a 15ºC a 20ºC, pelo período de 14 dias. O uso de sacos plásticos pretos com perfura-ções pode dispensar o ambiente de saturação da câmara de incubação. Após o período de incubação as sementes são examinadas in-dividualmente, observando-se a presença de micélio tipicamente branco de S. sclerotiorum com formação de escleródios negros, forma esférica, irregulares e tamanho de 2mm a

Teste do papel de filtro (blotter test) modificado - sementes de algodão Método do rolo de papel modificado - sementes de algodão

Figura 1 - Incidência de sclerotinia sclerotiorum em sementes de algodão (Rolo de papel e Blotter Test), plantas mortas devido ao ataque do patógeno em função dos diferentes fungicidas usados no tratamento de sementes

37www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

pelo fungo S. sclero-tiorum durante seu crescimento. As se-mentes são colocadas em meio BDA (ba-tata-dextrose-ágar) contendo 150mg/l de azul de bromofenol, 150mg/l de sulfato de estreptomicina e 150mg/l de penicilina G. Como alternativa ao uso dos antibióti-cos sulfato de estrep-tomicina e penicilina G pode-se usar 50g de cloranfenicol. O pH final deve ser ajustado para 4,7 com HCl ou NaOH. O azul de bromofenol e os antibióticos são in-

Foto

s A

ugus

to C

ésar

Per

eira

Gou

lart

Page 38: Grandes Culturas - Cultivar 174

38 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

sementes. Para a confirmação da presença de Sclerotinia sclerotiorum, observar as placas sobre uma base de vidro transparente com luz branca na base. Este procedimento tornará mais fácil a visualização de micélio superficial sobre o meio na zona do halo amarelado, partindo das sementes, confirmando assim a presença do fungo em foco. Este método é específico para detecção de Sclerotinia sclerotiorum, porém, algumas espécies de Aspergillus, Rhizopus, Sclerotium e Trichoderma podem também provocar alteração da cor do meio. Nestes casos a formação de frutificações típicas dessas espécies podem ser facilmente distinguidas de Sclerotinia.

Considerando os três métodos descri-tos, quando comparados entre si, apresen-tam vantagens e desvantagens na escolha de um ou outro. Por exemplo, os métodos do papel de filtro (blotter test) modificado e do rolo de papel modificado são rápidos e de baixo custo, mas têm a desvantagem do longo período de incubação. Por outro lado, o método do Neon possibilita rápida de-tecção do patógeno (período de incubação menor em comparação aos demais), porém apresenta o inconveniente de maior custo (uso de antibióticos e do azul de bromofe-nol) e maior dificuldade operacional (cali-bração do pH a 4,7 e adição dos reagentes após a esterilização do meio). Devido a esse fato, diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos visando reduzir o custo e facilitar a elaboração do meio.

Tem sido observado em diversos trabalhos de pesquisa que, ao se trabalhar com sementes oriundas de áreas com ocorrência do mofo branco (sementes naturalmente infectadas, onde a incidência do patógeno normalmente é baixa), os resultados obtidos, independen-temente do método de detecção do fungo uti-lizado, são inconsistentes, não apresentando repetitividade e confiabilidade, ao contrário do que geralmente ocorre quando são usadas

sementes inoculadas com o patógeno. Devido à dificuldade na detecção de S. sclerotiorum em sementes naturalmente infectadas, ressalta-se a importância de maiores estudos relaciona-dos à adequação dos métodos de detecção utilizados em análises laboratoriais além de outros aspectos relacionados à amostragem e ao número de sementes testadas.

TRATAMENTO DE sEMENTEsCom relação ao controle de S. sclerotio-

rum, o uso de sementes livres do patógeno é a principal maneira de evitar a sua introdução em áreas indenes. Entretanto, considerando que nem sempre é possível obter sementes isentas desse patógeno, o tratamento de sementes com fungicidas deve ser adotado como medida de segurança com o objetivo de impedir ou retardar a disseminação desse fungo nas lavouras. Esta prática é considera-da uma das mais eficazes e econômicas, sendo ainda utilizada para garantir boa emergência, quando a semeadura coincide com períodos adversos, evitando, na maioria das vezes, a necessidade da ressemeadura. Na escolha correta de um fungicida, o primeiro aspecto que deve ser considerado é o organismo-alvo do tratamento, uma vez que os fungicidas diferem entre si quanto ao espectro de ação ou especificidade. A ação combinada de fungicidas sistêmicos (principalmente aqueles do grupo dos benzimidazóis) com protetores/contato tem sido uma estratégia das mais eficazes no controle desse patógeno das sementes. Deve-se ressaltar que o efeito principal do tratamento de sementes com fungicidas é observado na fase inicial do desenvolvimento da cultura. Nesse período, ocorre uma eficiente proteção da plântula, obtendo-se populações adequadas em função da uniformidade na germinação e emergên-cia. Entretanto, deve-se ressaltar que, caso as condições climáticas sejam favoráveis após este período de proteção, alguns fungos

poderão se instalar nas plântulas – o que é normal - em decorrência da perda do poder residual dos fungicidas, o que não significa que o tratamento foi ineficiente.

Na Figura 1 encontram-se os resultados de incidência de S. sclerotiorum (%) no teste do rolo de papel modificado e no blotter test modificado e de plântulas infectadas pelo patógeno (%) em função dos diferentes fungi-cidas aplicados nas sementes de algodão.

Considerando os dois métodos de detec-ção de S. sclerotiorum usados neste trabalho, os resultados obtidos mostraram a exequibilidade de utilização com o propósito de avaliação da eficácia de fungicidas no controle desse pató-geno, inoculado nas sementes de algodão. O método mais sensível na detecção do fungo foi o do Rolo de Papel Modificado (RPM), uma vez que este método, em comparação ao Blotter Test Modificado (BTM), proporcionou a recuperação de maior porcentagem do pató-geno nas sementes quando comparado com os resultados obtidos no outro método.

Os resultados mostraram que os fungici-das mais eficientes no controle de S. sclerotio-rum nas sementes de algodão foram Derosal Plus + Monceren + Baytan, Maxim Advan-ced, Certeza e Standak Top, erradicando o patógeno das sementes de algodão (100% de controle), seguidos de Tiofanil. Considerando que a eficiência de transmissão do patógeno é um fator diretamente relacionado com a sua incidência nas sementes, os tratamentos mais eficientes em reduzir e/ou bloquear esta trans-missão foram os mesmos discutidos anterior-mente e que apresentaram eficiente controle do patógeno nas sementes. Esta transmissão deu-se pela presença de plântulas mortas. Assim, ficou comprovado neste trabalho o papel epidemiológico das sementes de algodão na transmissão de S. sclerotiorum para a parte aérea das plântulas de algodoeiro.

Método de incubação em meio agar-bromofenol (Neon) sintomas de mofo branco em plântulas de algodão emergidas de sementes infectadas

Augusto César Pereira Goulart,Embrapa Agropecuária Oeste

CC

Foto

s A

ugus

to C

ésar

Per

eira

Gou

lart

Page 39: Grandes Culturas - Cultivar 174

Eventos

39www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

Iniciativa ambiciosaSyngenta lança iniciativa global, batizada de The Good Growth Plan, com metas que vão desde o aumento da produtividade para alimentar a população mundial até a capacitação de 100

mil agricultores familiares no Brasil

Participantes puderam contribuir com sugestões para a iniciativa

A Syngenta apresentou em Brasília, na sede da Embrapa, uma iniciativa global, para o fomento de práticas

sustentáveis na agricultura. Batizada de The Good Growth Plan a ação engloba seis com-promissos que tratam de desafios críticos para o planeta e sua população. O mesmo evento aconteceu simultaneamente em Zurique (Su-íça), Bruxelas (Bélgica), Jacarta (Indonésia) e Washington (Estados Unidos). Estiveram presentes autoridades, ambientalistas, agri-cultores, ONGs e imprensa. Os participantes puderam discutir e apontar novas ideias para o desenvolvimento da iniciativa.

O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Maurício Lopes, traçou breve histórico da evolução da agricultura no Brasil nos últimos 40 anos. “O Brasil soube criar um conceito em agricultura baseada em ciência”, defendeu. Lopes desta-cou três importantes aspectos na “Revolução Verde” brasileira que tirou o País da condi-ção de importador de alimentos. “Primeiro houve a transformação de solos ácidos em férteis, principalmente no Cerrado, segundo a adaptação de sistemas de produção animal e vegetal às condições tropicais, e, terceiro, a plataforma de práticas sustentáveis como o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio e o controle biológico de pragas”, lembrou. Lopes também enfatizou a importância das parcerias e a necessidade da Embrapa e seus parceiros se prepararem para as mudanças de paradigmas nas próximas décadas, conciliando desenvolvimento econômico e sustentabilida-de com inteligência.

O Good Growth Plan reflete a visão da Syngenta de que a produtividade agrícola necessita mais eficiência para a árdua tarefa de alimentar uma população global que cresce em média 200 mil pessoas por dia. Ao mesmo tempo, terras cultiváveis estão sendo degradadas pela urbanização e erosão do solo, enquanto recursos hídricos sofrem enorme pressão. As comunidades rurais, responsáveis por cultivar alimentos, estão em muitos casos sofrendo com a pobreza. Para enfrentar cada desafio, foram estabelecidos seis compromissos com metas específicas e mensuráveis (veja o Box).

“Essa é a iniciativa mais ambiciosa e abrangente já lançada por uma empresa do segmento para enfrentar o desafio da segu-rança alimentar”, avaliou o presidente para a América Latina da Syngenta, Antonio Carlos Guimarães. “O Good Growth Plan cria oportunidades de dialogar e trabalhar em conjunto com diversos públicos para alcançar os objetivos comuns”, explicou Guimarães.

O executivo defendeu a soma de esforços e a adequação da iniciativa às características locais. “Para que nossos objetivos sejam alcan-çados até 2020, é notória a necessidade de en-gajamento com mais membros da sociedade, assim como moldar o plano global da Syngenta à realidade brasileira”, disse.

Interessados em acompanhar os resul-tados e conhecer o conteúdo integral dos compromissos da Syngenta estabelecidos no Good Growth Plan podem acessar www.goodgrowthplan.com CC

Foto

s Se

deli

- Tornar as culturas mais eficientes: aumentar em 20% a produtividade em soja, milho, cana e café sem usar mais terra, água ou insumos;

- Recuperar mais terras cultiváveis: recuperar 50 mil hectares de pastagens degradadas, convertendo-as em terras cultiváveis;

- Promover a biodiversidade: proteger as áreas com habitats para insetos poli-nizadores;

- Capacitar pequenos agricultores: acessar diretamente e capacitar 100 mil pequenos agricultores para o uso res-ponsável de tecnologias, aumentando a produtividade em 50%;

- Ajudar as pessoas a se manterem seguras: treinar 160 mil agricultores em boas práticas agrícolas e uso responsável das tecnologias ;

- Cuidar de cada trabalhador, garantir condições justas de trabalho para toda a cadeia de fornecedores.

objetIVoS eSpeCífICoS do Good Growth plAN

Page 40: Grandes Culturas - Cultivar 174

40 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

Resistência ao novo

Uma das tendências do ser humano é se apegar a situações confortáveis

e resistir às mudanças que possam perturbar seu status, seus conheci-mentos adquiridos e tidos como ver-dades, evitando ter de encarar novas situações, correr riscos e aprender novos conceitos. Isso ocorre com grande parte da população, mas, por sorte, existem indivíduos que não se contentam em permanecer dentro de “jaulas mentais” e partem em busca de novos rumos, novos caminhos, novos conceitos, mesmo com a possibilidade de encontrar dificuldades no novo

solos de fixar este elemento químico, transformando-o em formas não as-similáveis pelas plantas. Bactérias e fungos podem tornar este nutriente mais prontamente disponível para as culturas.

Há também estudos mostrando que a microbiologia é uma poderosa ferramenta para controlar doenças oriundas de solo e sementes e, mais instigante ainda, agir como indutor de resistência a doenças nas plantas. Isto sem falar no uso de microrganis-mos, vírus, fungos e bactérias, que controlam nematoides e insetos de forma muito eficaz, contribuindo para otimizar os efeitos dos agroquímicos. A mistura de diferentes bactérias em produtos ou processos de aplicação que tragam sinergia entre si também abre fantásticas possibilidades que poderão revolucionar as práticas até agora vigentes.

Estes novos conceitos exigirão atitudes inovadoras, com as pessoas envolvidas abrindo a cabeça para os novos rumos, sem ficar cristalizadas em antigas posições. Infelizmente, mesmo que as novas tecnologias mi-crobiológicas ainda estejam em início, já há vozes se levantando contra,

Solon de Araujo Consultor da ANPII

vozes ainda levantam dúvidas sobre sua viabilidade, sempre como fruto da não aceitação do novo, como tentativa de parar a evolução.

As empresas produtoras de inocu-lante filiadas à ANPII, muitas delas já com inoculante para gramíneas em seu portfólio, mantêm um amplo tra-balho de pesquisa junto com órgãos oficiais, procurando sempre melhorar o desempenho de um produto que já é muito bom, mas, como tudo na vida, sempre pode ser melhorado. O espírito inovador das empresas, junto com pesquisadores de alto nível na área de microbiologia do solo, fará com que o produto venha a se firmar cada vez mais no cenário agrícola nacional. A história da humanidade mostra que as novas tecnologias (em-bora no início sofram contestações por parcelas mais conservadoras da sociedade) acabam por se firmar e se constituem em grandes aliados no desenvolvimento.

A humanidade caminha para frente e nunca para trás.

O ser humano, por natureza, é um tanto avesso a mudanças e novidades. E com a Fixação Biológica de Nitrogênio não poderia ser diferente. Contudo, essa tecnologia

se firma cada vez mais como aliada imprescindível da agricultura brasileira

CC

Infelizmente, mesmo que as novas tecnologias microbiológicas ainda estejam em início, já há vozes se levantando contra, sempre com medo de perder status, de tentar coisas novas

caminho. Isto ocorre em todos os setores

da vida humana e a agricultura não foge à regra. Seguidamente encon-tramos pessoas conformadas com níveis medíocres de produtividade, mas que não se arriscam a introduzir mudanças mais radicais. Por outro lado, há os que não temem enfrentar situações novas, adotando procedi-mentos pioneiros e com isto levando a produtividade das lavouras brasileiras a elevados patamares.

Todos os indicadores mostram que novas mudanças, de conceitos e de práticas, se avizinham no setor agrícola, que necessitarão grande dis-posição de pesquisadores, consultores e agricultores para que sejam imple-mentadas. Desde os descobrimentos de que as plantas se alimentam de minerais, fortes conceitos se consoli-daram no sentido de que, quanto mais adubo colocado na lavoura maior é a produtividade. Sem dúvida nenhuma a colocação em prática deste conceito contribuiu de forma decisiva para os grandes aumentos de produtividade e, por consequência, de produção de alimentos. Mas está na hora de começarmos a rever os fundamentos

e estudar a agricultura de forma mais ampla. Logicamente que não há nada o que mudar no conceito da nutrição mineral de plantas, mas sim na forma de ofertar os nutrientes.

A ampliação dos estudos de micro-biologia dos solos, restrita por muitos anos à vitoriosa inoculação da soja, hoje se amplia para outras culturas e novos horizontes já são vislumbrados com o uso de bactérias não somente fixadoras de nitrogênio, mas também que aumentam a oferta de outros nutrientes, entre eles o fósforo, ele-mento grandemente desperdiçado pelo elevado poder que tem nossos

sempre com medo de perder status, de tentar coisas novas.

Um exemplo disto é a tecnologia de aplicação da bactéria Azospirillum em gramíneas, uma técnica com mais de 40 anos de pesquisa e com quatro anos de mercado, totalmente vitoriosa, com média de aumentos de produtividade de oito sacas por hectare e já utilizada em mais de dois milhões e meio de hectares em todo o Brasil. Mesmo com laudos oficiais comprovando sua contribuição para o aumento de pro-dutividade, mesmo com dezenas de experimentos científicos com resulta-dos positivos incontestáveis, algumas

Page 41: Grandes Culturas - Cultivar 174

quanto através de bactérias endofíticas, que são microrganismos que habitam o interior de plantas, colonizando-as sem causar alterações morfológicas e fisiológicas. Elas diferem das bactérias epifíticas, que estão presentes na superfície exterior das plantas. As bactérias endofíticas que atuam na FBN são chamadas de N2-endofíticas, e estão presentes em vegetais como cana-de-açúcar, cereais e gramíneas forrageiras.

Grãos com alto teor de proteína, como é o caso da soja (40%) e do feijão (25%), apresentam alta demanda de nitrogênio, pois, em média, o nitrogênio responde por 16% da composição química das proteínas. Uma conta simples, usando a produtivida-de média de 3.000kg/ha, da safra brasileira de soja 2012/13, mostra que a lavoura de soja produz cerca de 1,2 mil kg/ha de proteína, requerendo 192kg de nitrogênio, apenas para os grãos. Considerando as demandas para outras partes da planta, os estudiosos estimam que, para essa pro-dutividade, seriam necessários 240kg de nitrogênio. Como a eficiência dos adubos nitrogenados é estimada em 50%, no caso de adubação química, este valor sobe para

estima-se que o custo de produção seria acres-cido em mais de 50%, estreitando as margens dos agricultores e, seguramente, diminuindo a demanda global de soja, porque o seu preço ficaria mais caro, para poder compensar o custo de produção mais elevado.

Nos últimos anos, a produtividade de soja tem crescido entre 1,5% e 2% ao ano, no Brasil. Há 50 anos, produzíamos 1.127kg/ha; na safra 2012/13 produzimos 2.938kg/ha, um crescimento de 160%. Mais que isto, as edições recentes do Desafio Cesb de Máxima Produtividade de Soja tem como vencedores agricultores produzindo acima de 6.600kg/ha. Sobreveio, então, a dúvida: a FBN teria capacidade de fornecer todo o nitrogênio de-mandado pela soja, mesmo em produtividades muito elevadas?

SANANDo AS DúviDASPara tirar a dúvida, o assunto foi estudado

pela Embrapa, ao longo dos últimos anos, com mais de 100 experimentos. Sua conclusão: independentemente de produtividade, ciclo da planta, tipo de crescimento ou localização geográfica, os resultados obtidos com FBN sempre foram superiores aos da adubação

A soja e o feijão, assim como outras leguminosas, possuem um diferencial que as tornam

altamente competitivas, enquanto grãos com alto teor de proteína dispensam o uso de adubos nitrogenados. Sabe-se que essa classe de fertilizantes é muito cara e, para sua produção, há demanda de petróleo tan-to como matéria-prima quanto na forma de energia, o que resulta em emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas globais.

Há muito tempo foi descoberta a capa-cidade de alguns organismos para retirar da atmosfera o nitrogênio do qual necessitam. Algumas bactérias, fixadoras de nitrogênio (como as do gênero Bradyrhizobium), e cianobactérias (algas azuis), possuem uma enzima chamada nitrogenase, que possibi-lita capturar o nitrogênio atmosférico (80% da atmosfera é composta de nitrogênio) e torná-lo disponível para as plantas. Nas bactérias, o nitrogênio passa para a forma de amônio, que é solúvel em água, permi-tindo ser absorvido pela planta, por um processo denominado Fixação Biológica de nitrogênio (FBN). O nitrogênio fixado

pelas bactérias também pode ser liberado no solo e transformado em nitrato, ficando disponível para as plantas.

o NitRoGêNio NAS PlANtASO nitrogênio é essencial para a vida.

Está presente nos aminoácidos e nas pro-teínas, no código genético (DNA, RNA) e em outras substâncias que compõem as células e os tecidos. As plantas são a fonte primária de nitrogênio na cadeia alimentar, normalmente absorvendo-o do solo. Neste caso, ou o nitrogênio já está presente, por reciclagem e decomposição de matéria orgânica, ou é fornecido pela FBN. Uma vez transformado em proteínas, o ciclo do nitrogênio prossegue na cadeia alimentar, provendo diretamente os níveis tróficos superiores (herbívoros) ou servindo como alimento para animais intermediários, que atendem as necessidades alimentares de outros seres vivos (carnívoros).

A importância da FBN está na possibi-lidade de capturar diretamente o nitrogênio da sua maior fonte, que é a atmosfera. O processo tanto pode ocorrer por formação de nódulos nas raízes de plantas leguminosas,

480kg/ha de N.A FBN é perfeitamente capaz de suprir

esta demanda de nitrogênio para a soja e outras leguminosas. Porém, apesar de existirem nos solos bactérias nativas ou mesmo espécimes remanescentes de cultivos anteriores, é fun-damental que a bactéria seja adicionada às sementes, a cada novo plantio, pela inoculação. O processo é extremamente simples: o agricul-tor compra um inoculante, que é misturado com as sementes na hora do plantio, para recobri-las com as bactérias que formarão os nódulos, assim que as raízes forem emitidas. É no interior destes nódulos, que são colônias de bactérias, que ocorrem a captura, a fixação e o repasse do nitrogênio para as plantas.

DIsPENsA FERTIlIZANTEsTodo o produtor sabe que, atualmente, o

componente que mais pesa no custo de pro-dução das lavouras é o fertilizante, em especial quando se planta milho, trigo, cana ou algodão, que necessitam de adubações elevadas com adubos nitrogenados - os mais caros. No caso de soja e do feijão não há necessidade de adu-bos nitrogenados, pois a demanda é suprida pela FBN. Não fosse esse processo biológico,

nitrogenada. O Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb),

que organiza os Desafios de Produtividade, solicitou aos seus parceiros que investigassem, nas próprias lavouras de agricultores, a neces-sidade de adubação nitrogenada, aplicada em forma líquida ou granulada, em diferentes momentos do ciclo da soja. Em 80% das situações estudadas, a aplicação de adubo nitrogenado adicional não trouxe benefícios à produtividade. Nas demais, embora houvesse um pequeno ganho, restaram muitas dúvidas quanto à correta utilização do inoculante, se todos os procedimentos recomendados foram adotados e se o teor de micronutrientes do solo, como cobalto e molibdênio, que são essenciais para a perfeita FBN, estavam nos teores adequados.

Por razões econômicas ou ambientais, o uso da Fixação Biológica de Nitrogênio comprovou-se, uma vez mais, como a melhor opção para o agricultor fornecer à planta de soja todo o nitrogênio que necessita.

Coluna Agronegócios

41www.revistacultivar.com.br • Novembro 2013

Fixação Biológica de Nitrogênio

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

CC

Por razões econômicas ou ambientais, o uso da Fixação Biológica de Nitrogênio comprovou-se, como a melhor opção para o agricultor fornecer à planta de soja todo o nitrogênio que necessita

Page 42: Grandes Culturas - Cultivar 174

Coluna Mercado Agrícola

Brasil prepara-se para plantar mais uma supersafra

TRIGO - O mercado do tritícola brasileiro voltou a sofrer perdas em outubro. Chuvas em excesso em locais que tinham o grão pronto e granizo em outras áreas complicaram o cenário. A safra real ainda é uma incógnita, mas tudo aponta que será muito abaixo de quatro milhões de toneladas. O produto segue bem valorizado e as importações se mantêm aquecidas. Os indicativos são de que o produto nacional alcançará de R$ 750,00 a R$ 1.000,00 nestes próximos meses. A colheita da safra do Sul deve avançar para o final em novembro. O consumo interno deverá atingir algo próximo de 11 milhões de toneladas e a Conab não tem estoques. Esse cenário obriga as indústrias à compra de trigo dos produtores locais ou a realizarem importações. Será um bom ano para os produtores que tiverem trigo para negociar.

algodão - O mercado manteve estabilidade neste último mês, com negócios pon-tuais e fechamento da colheita da Bahia e também do Mato Grosso. Há pouco produto para ser negociado de agora em diante, com sinais de que o mercado poderá andar mais forte e descasado do mercado externo nestes próximos meses e pagar mais pelo produto nacional do que valerá na exportação. Os indicativos que circulam atualmente apontam para um crescimento entre 25% e 30% no novo plantio da safra de verão. Também se estima avanço forte no plantio da safrinha, porque o milho está com valores baixos e os produtores do Mato Grosso já preparam-se para aumentar o cultivo de algodão em áreas que antes recebiam milho. As cotações internacionais estão mais favoráveis neste ano do que nos dois últimos. Há expectativas de boa lucratividade.

chIna - As compras de grãos continuaram fortes em outubro e os chineses foram espertos e aproveitaram o “apagão de informações” com a falta de divulgação

MIlhOProdutor exerce opções no Mato Grosso A safrinha se encaminha em grande estilo para o

mercado mundial, com grandes volumes embarcados em agosto. Setembro chegou a 3,4 milhões de toneladas e já acumulava vendas de 15,6 milhões de toneladas, caminhando para fechar o ano com mais de 22 milhões de toneladas de milho exportadas, escoando grande parte dos excedentes que os produtores brasileiros conseguiram com a grande safrinha colhida neste ano. O mercado do milho tem permanecido estabilizado, porque os grandes consumidores do setor de ração seguem abastecidos e, quando necessitam de algum volume de milho à demanda curta, compram para atender ao consumo imediato, sem pressão para formar estoques, porque sabem que ainda há um bom volume de milho nas regiões produtoras a ser negociado. Os produtores têm forçado poucas vendas nestas últimas semanas, porque apostam na comercialização do come-ço do novo ano como uma alternativa para obter maior renda, já que as cotações do momento estão abaixo do almejado. Em novembro vencem os contratos de Opções que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) leiloou em junho e, como o mercado do Mato Grosso não chegou aos patamares de R$ 13,00, a maior parte deverá ser entregue aos estoques da Conab, que divulgou os armazéns credenciados para os produtores colocarem o milho. Nesta fase sairá do mercado um volume próximo de 1,8 milhão de toneladas de milho que foi negociado via contratos de Opções e que irão para os estoques oficiais. Recebendo, este volume deverá chegar próximo de 2,3 milhões de toneladas de milho em poder da Conab, sendo que a maior parte ou

mais de 90% estará no Mato Grosso. A safra de verão tem plantio indo para o final e mostra a menor área em cerca de 30 anos. Esse cenário pode ser favorável ao que resta da safrinha, porque haverá menor oferta de milho da safra de verão (que está nos campos).

SojAPouca soja e cotações fortes O mercado da soja no Brasil seguirá firme até a

chegada da nova safra na segunda quinzena de fevereiro. Assim, o quadro interno segue de mercado firme. Com menos de 7% da safra para ser negociada de agora em diante, manterá os produtores como pontos de formação das cotações. O Brasil seguirá com níveis internos maiores que os valores que vierem de Chicago. O plantio da safra avança forte em novembro, com grandes chances de o País passar dos 30 milhões de hectares plantados, contra níveis de 28 milhões de hectares plantados neste último ano. A safra promete ser maior que a dos EUA e, desta forma, o Brasil, pela primeira vez, efetivamente poderá ser o maior produtor mundial do grão. Da safra nova até agora, aproximadamente 40% de cerca de 88 milhões de toneladas previstas já estão negociadas. Esse percentual fica um pouco abaixo da média, que neste período é de 45%, mas em volume já ultrapassou. Sinal de que os produtores já estão seguros, com excelentes vendas e boa margem de lucros.

FeijãoCom pouco feijão em novembro O mercado do feijão vem sendo favorável aos pro-

dutores, com indicativos de avanços em outubro e de um bom mês pela frente, porque novembro seguirá com mais

demanda que oferta. Assim, há espaço para novamente operar acima dos R$ 150,00 por saca. Segue com indica-tivos altos para o produto importado, com patamar acima de R$ 170,00 no porto de Paranaguá, o que abre fôlego para manter as cotações firmes neste novo mês. A safra de verão está nos campos e apresenta pouca alteração em relação ao ano passado. Com esse cenário, não se espera por grande oferta do produto e isso começa a indicar que haverá novamente um bom ano pela frente.

ARROZLeilões do governo seguraram o arrozO mercado do arroz andou na linha da estabilidade

em outubro, com produtores mais interessados em plantar que em vender. O produto gaúcho se manteve estável, o que também se verifica em relação ao arroz beneficiado. Com briga das indústrias para garantir espaço nas gôn-dolas e cotações baixas no varejo, houve dificuldade de tentativas de alta. Nas poucas vezes em que o mercado mostrou fôlego para crescer, o governo acionou o pregão de Estoques e abafou as tentativas de alta. Com um milhão de toneladas em estoque no Rio Grande do Sul a Conab continua com fôlego para segurar o movimento altista do arroz. Contudo, pode haver algum avanço nestes últimos momentos do ano. O varejo tem espaço para crescer, mas aparentemente as indústrias não estão fazendo força para isso. O arroz segue como o alimento mais barato que os consumidores têm nas gôndolas. A safra está em plantio e os produtores apontam para leve avanço na área plantada, com aposta nas boas condições de água no Sul. Desta forma, o Brasil já abre a safra com potencial para colher 12 milhões de toneladas (mesmo número previsto para o consumo de 2014).

CURTAS E BOASde negócios pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), para comprar forte e garantir boas cotações para milho e para soja. Há notícias de que tenham comprado mais de três milhões de toneladas de soja no período em que o USDA esteve fechado devido à não votação do orçamento americano (que se deu somente no dia 16, à noite). Deste modo, por quase três semanas o USDA esteve fechado e sem trazer informações das lavouras, da oferta, da demanda e, princi-palmente, das exportações americanas (que normalmente servem para balizar as negociações em Chicago). Os chineses seguem comprando forte porque sofreram na safra de verão e agora sentem os efeitos da seca na safra de outono/inverno do trigo, o que os obriga a aumentar as importações para controlar a inflação local (que tem andando com as “manguinhas de fora” e tentando crescer, principalmente em relação a alimentos). Tudo sinaliza que seguirão importando forte para controlar este mal que afeta qualquer economia.

meRcOsul - Os primeiros plantios da Argentina já ocorreram e novamente o país começa a sofrer os efeitos da seca, sendo que várias províncias vêm registrando poucas chuvas, com atraso no cultivo do milho e problemas nas lavouras de trigo. A safra tem início com riscos e agora em novembro o plantio da soja dependerá de precipitações regulares para poder andar em bom ritmo. Mas há indicativos de que o mês será de chuvas escassas e isso pode prejudicar a safra, que tem apontamentos iniciais estimados em 50 milhões de toneladas de soja. Há previsão de que o milho alcance acima de 30 milhões de toneladas, embora outras estimativas menos otimistas indiquem números inferiores a esse patamar.

42 Novembro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

O Brasil prepara-se para plantar a maior safra de grãos, em área, de sua história, com indicativos de alcançar a casa de 56 milhões de hectares, com avanço importante de mais de três milhões de hectares frente à safra passada. O crescimento, desta vez, está atrelado somente ao avanço em áreas de pastagens degradadas que estão sendo transformadas para receber grãos e boa parte terá como destinação agricultura e pecuária, coligadas. Esse modelo trará maiores ganhos aos pecuaristas, que melhorarão as condições de alimentação de seus animais, e dará ao Brasil maior poder de atendimento do mercado internacional de grãos como soja e milho e também espaço para algumas vendas de arroz e feijão. Com expectativa de que o país alcance a marca de 195 milhões de toneladas, contra pouco mais de 186 milhões colhidas neste ano. O cenário é de crescimento e se o clima for muito favorável, será possível atingir números de produção próximos da marca de 200 milhões de toneladas, porque os produ-tores estão capitalizados, investindo em melhores tecnologias para colher o máximo que as lavouras podem fornecer, além de buscar mais qualidade do produto final. O Brasil segue crescendo como grande fornecedor de alimentos para o mundo e com avanço interno no volume produzido e mais potencial de exportação abre espaço para garantir novos mercados consumidores, que deverão ser abertos nestes próximos anos, como novos compradores asiáticos e principalmente africanos. Já há boa presença no mercado europeu e também forte participação no mercado chinês. Ambos tendem a se manter grandes, mas com ritmo de crescimento não tão volumoso quanto vinha ocorrendo nos últimos anos. Mesmo assim, o País tem fôlego para atender novos consumidores que devem surgir. O otimismo dos produtores é importante nesta fase de plantio e condução das lavouras, porque isso faz com que dirijam as plantações de maneira profissional e consigam melhores produtividades. Está começando aquele que pode ser o ano em que o Brasil alcançará a façanha de maior produtor mundial de soja e em que haverá novamente recorde histórico de produção de grãos.

Page 43: Grandes Culturas - Cultivar 174
Page 44: Grandes Culturas - Cultivar 174