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7/31/2019 [Griffin 02] - Como Fisgar Um Marido (CH 400) http://slidepdf.com/reader/full/griffin-02-como-fisgar-um-marido-ch-400 1/175 Como Fisgar Um Marido An Invitation to Sin An Invitation to Sin Suzanne Enoch 2º livro da série Família Griffin Inglaterra, 1812 Infalível sedução! Para Zachary Griffin, nada pode ser mais interessante do que ensinar às lindas irmãs Witfeld algumas técnicas especiais pára conquistar o coração de um homem e levá-lo ao altar...Além disso, instigar a encantadora Caroline à tentação será incrivelmente delicioso! Caroline é mais inteligente e a menos fútil das irmãs, mas Zachary ainda não se deu conta de que os insistentes olhares dela nada têm a ver com atração e sim com a oportunidade de ser admitida num ateliê de arte. Se ela conseguir retratar na tela aquele rosto másculo, aquela expressão aristocrática e aqueles ombros fortes, talvez seu sonho se torne realidade. Caroline, porém, logo começa a ter

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Como Fisgar Um

MaridoAn Invitation to SinAn Invitation to Sin

Suzanne Enoch

2º livro da série Família Griffin

Inglaterra, 1812Infalível sedução!

Para Zachary Griffin, nada pode ser mais interessante do que ensinar àslindas irmãs Witfeld algumas técnicas especiais pára conquistar o coração de umhomem e levá-lo ao altar...Além disso, instigar a encantadora Caroline à tentaçãoserá incrivelmente delicioso!

Caroline é mais inteligente e a menos fútil das irmãs, mas Zachary ainda nãose deu conta de que os insistentes olhares dela nada têm a ver com atração e simcom a oportunidade de ser admitida num ateliê de arte. Se ela conseguir retratarna tela aquele rosto másculo, aquela expressão aristocrática e aqueles ombrosfortes, talvez seu sonho se torne realidade. Caroline, porém, logo começa a ter

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

Capítulo I

— Por Deus, depressa com isso — murmurou para si lorde Zachary Griffinum segundo antes de, sem tirar os olhos do par que rodopiava pelo recinto,servir-se de uma taça de clarete da bandeja que o criado lhe oferecia.

Embora outros trinta casais dançassem no salão de baile de Tamberlake, eracomo se Zachary não os visse. Assim como também mal reparava no grupinho de jovens que, coladas à parede, vinham se aproximando dele aos pouquinhos. Emcircunstâncias normais, dançar com mocinhas encantadoras seria a ordem do dianum evento como aquele. Nessa noite, porém, a prioridade era outra. Dançar

ficaria para mais tarde.Do outro lado do salão, seus irmãos mais velhos, Sebastian, o duque de

Melbourne, e Charlemagne, também haviam declinado da valsa. Ambosconversavam com lorde Harvey, certamente finalizando as negociações quevisavam à aquisição da participação do visconde na empresa de navegação ma-rítima da família. Mas, por mais que desejasse que tudo corresse bem, só deimaginar o emaranhado de cifras e percentagens típicas de uma transação comoaquela, Zachary já sentia dor de cabeça.

A valsa afinal chegou ao fim. A maioria dos dançarinos retornou para juntode seus acompanhantes ou se encaminhou para a mesa de petiscos, e o par em queele havia grudado os olhos só foi se separar diante das taças de creme dechocolate. Após uma última espiadela nos irmãos, Zachary se aproximou da mesae, colocando a mão sobre o ombro agasalhado pelo vistoso uniforme vermelho docavalheiro, observou:

— É uma satisfação saber que o senhor ainda se encontra em Londres,major.

Virando-se para ele, John Tracey o cumprimentou:— Zachary. — Então lhe estendeu a mão.

— O senhor me parece muito bem. — Zachary apertou a mão dele com força.

— E por que motivo não haveria de estar? Isto é, tirando o fato de sua irmã ter decidido que não queria casar-se comigo.

— Ninguém contava com aquele imprevisto. — Zachary sentiu o sorrisomurchar. Praga de Eleanor. Ele já tinha complicações de sobra naquela noite. — Àexceção de Melbourne, talvez. Parece que ele sempre sabe de tudo.

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— Nesse caso, seu irmão bem que podia ter me avisado de que lady Eleanorpretendia casar-se com o marquês de Deverill antes de me perguntar se eugostaria de me unir à família.

Sem conseguir formar uma idéia do quanto o major lorde John Tracey

estava de fato amofinado pelos últimos acontecimentos, Zachary resolveu usarde sinceridade:

— Ela fugiu para casar com Deverill. Até chegamos a localizá-los, mas entãoos dois escapuliram novamente e, depois disso, não havia muito que fazer. Juntos,Eleanor e Valentino são irrefreáveis.

— Foi o que imaginei. Mas então, em que posso lhe ser útil? Por certo oassunto não tem nada a ver com casamento, não? Até onde sei, vocês não têmoutra irmã para me empurrar, e a filha de Melbourne está com quê, oito anos?

— Peep fez seis — esclareceu Zachary. — Na verdade, eu gostaria de lhepedir um favor.

— Então peça.

— Eu gostaria de me alistar num regimento e partir para a Península comWellington.

— Ah. — O major riu. — Pensei que estivesse falando serio.

— É claro que estava. — Diacho, parecia que ninguém acreditava nele. Ainda

bem que havia escolhido ter aquela conversa com o major longe dos ouvidos deMelbourne. Já lhe bastavam as zombarias que tivera de ouvir de sua própriafamília.

— Sendo assim, peço que me desculpe — disse Tracey. — Mas, Zachary, ébom estar ciente de que, após ingressar no Exército, você não terá mais comomudar de idéia. Não sem que isso acarrete sérias conseqüências.

— Eu sei. — Ele começou a se irritar com o menosprezo à sua resolução. —Não estou perguntando se o senhor acha se devo ou não me alistar; o que eu

gostaria de saber era qual regimento me daria a melhor oportunidade de par-ticipar das ações. Não quero acabar como encarregado da armazenagem dostonéis de uísque num canto qualquer a mais de trinta quilômetros das frentes debatalha.

— Nesse caso, é no meu regimento que você está interessado: aquadragésima quinta infantaria. E já que está realmente decidido a se unir a nós,posso dar uma palavrinha com o general Picton. Não que, com o nome e aexcelente reputação da sua família, você vá precisar de qualquer tipo derecomendação, evidentemente.

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— Agradeço-lhe de antemão se o senhor puder conversar com o general. —Confiando em suas qualidades, Zachary preferiu ignorar o elogio à sua família. —Se tiver como me apresentar a ele, nem sei como eu poderia demonstrar minhagratidão.

— Se prometer nunca mais colocar meu nome e a palavra "casamento" namesma frase, pode considerar sua gratidão expressa e aceita. — Tracey tornou asorrir.

Com o cantinho do olho, Zachary reparou que seus irmãos e lorde Harveypareciam dar por encerradas as negociações.

Mais do que depressa, ele voltou a apertar a mão de Tracey, despedindo-se:

— Está prometido. Obrigado pela sua atenção.

— Mandarei avisá-lo assim que conseguir combinar uma reunião com ogeneral. E como ele e eu retornaremos à Espanha dentro de quinze dias, esseencontro será marcado para breve.

— Ficarei à espera.

Assim que deu as costas ao major, Zachary viu que Melbourne o observava.Então, após cumprimentar o irmão com um leve soerguer de sobrancelha, partiu àprocura de um par para dançar. Se sua família como um todo, e seu irmão maisvelho em particular, tinham se decidido por levá-lo a sério ou não, isso pouco lhe

importava. Iria tratar do seu futuro e, naquela noite, já havia dado um grandepasso nessa direção. Agora... Bem, agora faltava encontrar uma mocinhasimpática com quem se distrair um pouquinho.

Na manhã seguinte, Zachary sentou-se à mesa do desjejum para ler amensagem que o major Tracey havia lhe enviado. O bilhete dizia que o generalThomas Picton se mostrara muito interessado em adicionar um Griffin ao seuquadro de funcionários, e que Picton e o major iriam almoçar no White's. Depoisde dobrar a nota e guardá-la no bolso, Zachary voltou sua atenção ao já um poucoamarfanhado exemplar do The London Times que estava à sua espera. A julgar

pelo estado do jornal, não era difícil presumir que Melbourne ou Charlemagne játinham tomado o café da manhã. Ou ambos, o que parecia mais provável,considerando-se as dobraduras do papel.

— Bom dia, tio Zachary — cumprimentou a pequena Penélope ao entrar, todaempinada, na sala destinada ao desjejum.

— Olá, Peep. — Ele se inclinou para lhe depositar um beijo no rostinhocorado. — O jornal está dizendo que Eleanor e Valentino foram passear degôndola a semana passada.

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Com o auxílio do mordomo, Peep escolheu seu desjejum entre as opçõesdispostas sobre o aparador, depois foi se acomodar à mesa ao lado do tio.

— Eu também vou visitar Veneza — observou a menina, muito séria. — Sequiser, você pode vir comigo.

— Hoje vou almoçar no White's na companhia de amigos — retrucouZachary, dissimulando uma risadinha. — Mas amanhã não tenho nenhumcompromisso.

— Eu não estava falando de agora. — Peep revirou os olhos acinzentados emsinal de impaciência — É quando crescer que eu vou a Veneza.

— Ah. Bem, nesse caso creio que terei como ir junto.

— Que bom. — Ela mordiscou um pêssego. — Papai e tio Shay são severos

demais para se ter por companhia.— E eu não sou?

— Tio Zach, você me deixou provar do seu uísque.

— Mas nós combinamos que não iríamos mais falar sobre isso, lembra?

— Eu tinha esquecido. — Ela sorriu. — Papai vai me levar para cavalgarButtercup hoje. Você pode vir também, se quiser.

Antes que ele tivesse tempo para responder, o pai de Peep entrou na sala.

Sebastian, o duque de Melbourne, tinha toda a aparência do que de fato era aostrinta e quatro anos de idade, um dos homens mais poderosos e influentes daInglaterra, além de chefe de uma família ilustre. No entanto, parecia teresquecido o traje de montaria.

— Eu já começava a me indagar se um de vocês iria dar o ar de sua graça. —Melbourne se aproximou para beijar a testa da filha.

— Fui dormir tarde. — Recostando-se ao espaldar da cadeira, Zacharyachou melhor não comentar que dançar bem uma valsa era somente um dos

inúmeros talentos de lady Amelia Bradley.— Tive de vestir a Sra. Hooligan — disse Peep, erguendo o rosto para o pai.— Ela quer ir passear a cavalo também.

— Desculpe-me, Peep, mas recebi um chamado de Carlton House. — O duqueafagava os cachinhos castanhos da menina. — Vou ter de ir até lá.

— Você vai ver o príncipe? — Ela se empoleirou na cadeira.

— É bem provável. — Melbourne endireitou-se. — Talvez tio Zachary possalevar você e sua boneca para passear.

— E por que não tio Shay? — Zachary tentou não soar rabugento.

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— Sim, estou certo de que Shay não iria se recusar — observou o duque,porém seu tom era igualmente cordial. — Você tem algum compromisso?

— Ele vai almoçar no White's — Peep se antecipou ao tio, antes de dar umamordida na sua torrada com mel.

— Sei. — Melbourne se virou em direção à porta. — Você tem um minutinho,Zach?

Fazendo que sim com a cabeça, Zachary se levantou e olhou para a sobrinha.

— Nada de atacar meus morangos, Peep.

Em resposta, a menina deu uma risadinha marota.

Já desconfiado de que Eleanor não brincava quando dizia que Melbournetinha o dom de ler pensamentos, Zachary acompanhou o irmão até o gabinete dele

e, tão logo entrou, foi se colocar junto à janela. A porta se fechou com um leveestalido às suas costas, em seguida Melbourne anunciou:

— Tenho uma tarefa para você.

— Levarei Peep andar a cavalo amanhã — Zachary retrucou. —Já expliquei aela que hoje tenho um compromisso.

O duque se acomodou à sua imponente escrivaninha de mogno. Zacharycontinuou espiando pela janela, de onde avistava parte dos jardins da MansãoGriffin, dizendo a si mesmo que, por mais poder que Sebastian tivesse sobre orestante do mundo, para ele tratava-se apenas do seu irmão mais velho.

— Tenho um assunto para discutir com você — declarou o duque sem maispreâmbulos.

Virando-se, Zachary apoiou o quadril no peitoril da janela.

— Estou ouvindo.

— Tia Gladys precisa que alguém a acompanhe numa viagem. A gota voltou aincomodá-la, e ela quer ir às termas em Bath e ficar por lá até o fim da

temporada, se for possível. Eu disse à nossa tia que você se sentiria muitohonrado em acompanhá-la.

Apesar de sentir que já tinha a resposta na ponta da língua, Zachary aindalevou alguns segundos para proferi-la:

— Não.

— Peço-lhe que...

— Diga a Charlemagne para ir com ela. Tenho outros planos.

— Preciso de Shay em Brighton para finalizar a compra de outra meia dúziade navios cargueiros. E você nunca tem planos para nada.

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— Pois agora tenho.

— Será que se importaria de me dizer quais são? — Melbourne se recostou àpoltrona.

— Já disse. — Zachary se esforçava por manter a voz num tom natural. Nãohavia por que se alterar. Sua decisão já estava tomada. — O que houve foi quevocê preferiu não me levar a sério.

Por um bom lapso de tempo o aposento permaneceu tão silente que erapossível se ouvir Peep tagarelando com o mordomo lá no hall. Embora Sebastiannem se movesse, Zachary tinha a impressão de vê-lo repassar mentalmenteconversas recentes que ambos haviam tido, avaliando respostas, calculando aforma de abordar o assunto do ponto de vista que mais favorecesse suasopiniões. Havia um bom motivo pelo qual nunca jogava xadrez com Melbourne: a

derrota era certa. Agora, porém, o que estava em jogo não era o rei no tabuleiro,e sim a vida dele.

— Então me diga — o duque afinal se manifestava —, por que esse súbitoimpulso de se alistar no Exército?

— Minha decisão não foi repentina; faz tempo que venho pensando nisso. Eaté tentei lhe falar sobre esse assunto há cerca de um mês, mas você nãodemonstrou o menor interesse pelo que eu tinha a dizer.

— Pois agora estou me mostrando interessado.

—Pensei que você tivesse uma reunião em Carlton House.

— Zachary, não quero vê-lo no Exército.

— Então o que quer que eu faça? — Resistindo ao ímpeto de pôr-se em pé,Zachary apoiou as costas à janela. — Que continue bancando o pajem de Eleanor?Espere, ela agora está casada, não precisa mais da minha companhia. O que medeixa com a possibilidade de escolher entre levar Peep a festinhas infantis ouacompanhar tia Gladys nas viagens que ela inventa. É isso?

— Não se trata de nenhuma invenção; ela quer ir às termas porque voltou ater crises de gota. Além disso, sempre há...

— Os negócios? Isso fica entre você e Shay. E é bom que seja assim, afinalessa coisa de comprar e vender seja lá o que for por motivos que escapam àminha compreensão me dá vontade de me internar num hospício.

— Tenho certeza de que você iria gostar de...

— É você quem gosta de transações comerciais, Seb. Você e Shay, não eu.Quero mais para mim. Quero algum tipo de encargo, de responsabilidade. E se

isso me trouxer um pouco de estímulo e uma pitada de glória, melhor ainda.

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Após bater de leve no batente da porta aberta, o mordomo chamou:

— Vossa Graça?

— Que foi, Stanton? — Melbourne o interpelou, visivelmente irritado.

— A carruagem está pronta, Vossa Graça.— Já estou indo.

Endireitando-se, Zachary se afastou da janela.

— Parece que vamos ter de terminar esta conversa numa outra ocasião.

— Prefiro fazê-lo agora — o duque foi incisivo.

— Mas você...

— Não, é minha vez de falar. — Melbourne reassumira aquele tom

autoritário que seus irmãos detestavam. — O que me diz de quando você resolveureceber o sacramento da ordem?

— Na verdade, eu não pretendia abraçar o sacerdócio. Apenas...

— Certo, foi por isso que sua decisão não durou mais de uma semana. Paradar lugar à idéia de criar e adestrar cavalos de corrida.

— Não é justo que você...

— Um empreendimento que se esgotou em menos de dois meses. E o projeto

de se dedicar à administração de terras rurais?— A culpa foi sua, Seb. — Zachary deixou escapar um suspiro desanimado.

— O Solar Bromley é a menos importante de todas as suas propriedades. Nuncaacontece nada de interessante por lá.

— O canal de irrigação foi uma boa idéia... Ou melhor, teria sido, se vocêtivesse se dado o trabalho de concluí-lo.

— O que significa que sou um inútil. — Zachary olhou duro para ele. — É issoo que está tentando me dizer?

— O que estou tentando é lhe mostrar que você não tem paciência paranada. Basta uma atividade satisfazer suas necessidades imediatas, pronto, você apõe de lado. E caso se trate de um empreendimento que dá trabalho, aí você logose desinteressa.

— Olhe, eu...

— Se quer responsabilidades, arrume um cão. Se está entediado, dedique-seà pintura. Não é preciso ir desfilar pela Península num garboso uniforme vermelhode modo a fazer com que algum maldito francês lhe meta uma bala no peito.

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— Muito obrigado pela crença inabalável na minha completa estupidez eabsoluta incompetência.

— Não se trata nem de estupidez nem de incompetência, e você sabe muitobem disso — rebateu Melbourne. — Sua falta de paciência para lidar com o que

quer que seja não iria ajudá-lo nem um pouco no Exército, Zachary. Agora, sejacomo for, você não vai comprar uma patente, se é isso o que está planejando. Nãopermitirei que o faça, e você está farto de saber que tenho como impedi-lo.

Com os olhos a ponto de soltarem faíscas e o maxilar tão rijo que chegava adoer, Zachary assinalou:

— Sou o terceiro filho de uma família de aristocratas, Seb. Meus direitos...

— São mais do que suficientes e serão respeitados, se você fizer uma opçãoe persistir nela.

— Pois saiba que já fiz. E, desde já, agradeço seus conselhos. — Ele seencaminhou para a porta.

— Zachary, você...

— Eu o quê, Sebastian? Chegamos a um impasse, não? Pois se você tem comoevitar que um Griffin vá servir no Exército, eu posso me fazer passar por outrapessoa. — Percebendo que havia falado o que não devia, Zachary encarou o irmão.— Sei do que você tem medo. E lamento muito pela morte de Charlotte. Sei o

quanto você a amava. Mas acontece que...— Chega! — O ímpeto com que Melbourne se levantou por pouco não fez apoltrona tombar para trás. — A morte da minha esposa não tem nada a ver comisto.

— Ela era tudo o...

—Você vai levar tia Gladys para Bath.—A irritação fazia os olhosacinzentados de Melbourne cintilarem. — Quando estiver de volta, e se meprovar que nesse intervalo de tempo aprendeu como ser mais paciente, menos

impulsivo e relativamente responsável, caso ainda estiver interessado emingressar no Exército, continuaremos com esta conversa.

Zachary respirou fundo. Como sempre, perdera as estribeiras e dissera oque não devia. Para piorar, agora que Melbourne decretara sua sentença, nãohavia muito mais que fazer.

— Devo-lhe um pedido de desculpas, Sebastian.

— Esqueça.

Ao ver o irmão mais velho caminhar até a porta e em seguida retornar para junto da escrivaninha, Zachary logo presumiu que o gesto aparentemente

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atabalhoado era, no fundo, uma maneira de Sebastian tentar recuperar a calma.Assim, baixou o tom de voz que vinha usando até então para observar:

— O que eu ia dizer, Seb, é que você não pode, em nome da nossa segurançae do nosso bem-estar, manter-nos a todos em redomas de vidro e esperar que

não tentemos escapar.— Sugiro que vá preparar suas roupas e seus pertences — retrucou o duque.

— Você irá partir dentro de uma hora.

— Muito bem, assim o farei. Mas um dia, Melbourne, você dará uma de suasordens e então irá descobrir que seus soldados desertaram. Todos eles. —Apesar de saber que a ameaça não tinha lá muito fundamento, Zachary sentiu-seum pouco mais aliviado por colocá-la em palavras.

De tanto que pressionava o lápis sobre o bloco de desenho, Caroline Witfeldfez a ponta do grafite lascar.

— Grace, quer fazer o favor de parar quieta?

— A culpa não é minha. — A irmã dela tornou a coçar a orelha. — Estechapéu está me pinicando.

— Não é chapéu, é um turbante. E, por favor, tente ficar imóvel. Preciso sóde mais dois minutinhos.

— Você disse isso dez minutos atrás, Carol. E esta coisa está me dando

comichões.Caroline fechou os olhos por um momento. O esforço que fazia para se

concentrar num modelo que mudava de posição de dois em dois segundoscomeçava a lhe dar dor de cabeça. Mas não que isso fosse levá-la a desistir, ah!,não. A paciência, que para todos era uma virtude, no seu caso havia se tornadouma exigência inescapável.

— Estou demorando porque você não pára de se mexer. Além do mais, a idéiade posar como uma princesa persa foi sua.

Um alvoroço de vozes muito agudas se ergueu do vestíbulo dois pisos abaixoda sala onde as duas irmãs se encontravam.

— Grace! Estamos de saída! Depressa!

Maldição. Tomando de outro lápis, Caroline apressou os movimentos quefazia sobre o papel, concentrando-os nas mechas dos cabelos loiros da irmã queescapavam em delicados anéis do turbante de seda. Depois se ocuparia do ade-reço de cabeça.

— Espere só um pouquinho, Grace — murmurou entre os lábiossemicerrados. — Você prometeu que...

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Mas os cachinhos dourados já se encaminhavam para a porta. Com turbantee tudo o mais.

— Elas vão acabar indo sem mim, Carol, e eu preciso de um chapéu de palhanovo.

— Grace...

— Desculpe-me, sim? — O turbante ficou largado sobre uma cadeira, e a jovenzinha ainda avisou lá do corredor: — Depois do almoço, estou de volta!

Pondo o lápis de lado, Caroline levantou e esticou as costas. Bem, talvezpudesse recrutar outra de suas irmãs... Mas, ao se aproximar da janela e espiarlá embaixo, contou seis cabeças protegidas por toucas de tecido se apertando nacaleche dos Witfeld. Pelo visto, todas as suas irmãs precisavam de chapéusnovos.

Evidente que a urgência que as acometia por ir a Trowbridge tinha a ver comque fosse terça-feira... e com o fato de que Martin, o filho da Sra. Williamsrecentemente chegado da Criméia, ajudasse a reabastecer os estoques da loja detecidos da mãe justamente naquele dia da semana. Caroline sorriu. Pobre Martin.Mais três meses de terças-feiras como aquela, e o moço certamente acabariaescolhendo cuidar dos estoques após o expediente.

Afastando-se da janela, ela retornou para junto do bloco de papel em quefazia seus esboços. Era bem provável que soubesse desenhar qualquer uma desuas irmãs de memória, só que uma leve inclinação da cabeça, a luminosidade dedeterminada expressão do rosto... De fato, seria impossível transmitir essesdetalhes ao papel sem que tivesse o modelo bem diante de seus olhos.

— Carol?

Surpresa, ela pestanejou.

— Estou aqui em cima, papai. No estúdio.

Um minuto depois seu pai entrava na sala trazendo uma lixa de madeira

repleta de colunas em miniatura e falsos blocos de pedra, feitos de papel machê.— E então, o que acha? — indagou ele. — A proporção não está em escala, é

claro.

Edmund Witfeld era exatamente como ela imaginaria um pai de sete filhas:as pontas dos dedos manchadas de tinta de tanto fazer cálculos à busca dedescobrir como fazer para providenciar sete dotes, os cabelos grisalhoscomeçando a clarear agora que cinco daquelas filhas se achavam em idade de secasar, o paletó algo largo nos ombros e meio apertado ao redor da cintura, quase

um reflexo da preocupação e também de incapacidade de encontrar uma solução

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para tantos problemas. Afinal de contas, era um só homem em meio a umaprofusão de mulheres.

Depois de estudar meticulosamente a representação esquemática, Carolineindicou um par de colunas partidas, tombadas junto ao leito do rio pintado na

miniatura, assimilando:— Estas são novas.

— São, sim. — Ele sorriu. — Achei que adicionar a sexta e a sétima coluna nolado norte contrabalançaria o muro do quadrante sul.

Parece que está começando a lembrar o Partenon de Atenas em ruínas... Oumelhor, como eu imagino que seja o Partenon: clássico e romântico.

— Ah-ah! Era exatamente isso o que eu queria. Amanhã mesmo vou

providenciar as duas colunas extras para a obra ao ar livre. — Após beijar o rostoda filha, Edmund rumou para o corredor com a caixa nos braços. Dois segundosdepois, porém, reaparecia no vão da porta para dizer: — Quase esqueci de avisarque o rapaz do correio acabou de passar. Ele deixou uma carta para você.

Com o corpo todo gelado, Caroline indagou:

— E uma resposta?

— Acho que sim. Espere... — Ele levou uma das mãos ao bolso. — Ah, aquiestá.

De tanto que tremia ela quase deixou a carta cair. Então, tomando oenvelope entre ambas as mãos para não deixá-lo escapar, ficou olhando para oendereço do remetente.

— E? — o pai a interpelou, mesmo sabendo do que se tratava.

— Veio de Viena. Da escola de arte de Tannberg.

— Abra, Carol.

Enquanto murmurava uma prece, ela passou o dedo sob o lacre de cera e

tirou a carta do envelope. Desdobrando-a com cuidado, pôs-se a ler a mensagem.— Oh, meu Deus... — Se antes seu coração parecia lhe martelar o peito,

agora estava a ponto de lhe saltar à garganta. — Oh, meu bom Deus... Oh...

— E então? — Edmund colocou a caixa com a miniatura no chão. — Você foiaceita? Já era hora de alguém demonstrar um pouco de bom senso.

Limpando a garganta, Caroline leu a carta para o pai:

S. Witfeld, grato pela série de retratos encaminhada em anexo ao seu requerimento por uma vaga no meu ateliê. Não há por que lhe negar admissão ao 

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

escolas de pintura, ou pelo fato de ser mulher ou porque o estúdio já tivesse umnúmero excessivo de candidatos ou simplesmente porque não podia arcar com oscustos do curso, não eram nada se comparadas à possibilidade de ver-se obrigadahá se tornar uma governanta. Se isso viesse a acontecer, iria ter de guardar seus

pincéis e seguramente jamais voltaria a tocar neles. Adeus à pintura, adeusàquela indescritível sensação que assomava em seu íntimo quando conseguiacapturar na tela algo da essência de uma pessoa. Seria o mesmo que ter seucoração partido ao meio.

Ainda bem que seu pai havia lhe dito quais seriam as conseqüências de umnovo fracasso. Agora, restava-lhe convencer lorde e lady Eades a vestir seuselegantes trajes do dia-a-dia, pois assim certamente seria aceita como aprendizno Ateliê Tannberg.

Não havia outra opção.— Zachary, se esse endiabrado morder o dedo do meu pé mais uma vez, vou

dar um jeito para que alguém o coloque na panela.

— Perdão, titia. — Com um suspiro, ele se curvou para apanhar o cãozinhopelo cangote a fim de colocá-lo novamente sobre o assento, ao seu lado.

Lady Gladys Tremaine olhou para o novo companheirinho de seu sobrinho.

— Afinal, que raça que é essa?

— Acho que uma mistura de perdigueiro e setter irlandês.— Zachary pôs-se a mover os dedos diante do focinho do filhote no intuitode fazê-lo esquecer o pé de sua tia.

— E por que foi mesmo que você o comprou?

— Melbourne disse que eu deveria arrumar um cachorro. Ou muito meengano, ou ele acredita que isso seja prova de paciência e responsabilidade. —Fazendo uma careta à mordida que acabara de levar na ponta do dedo, eleacrescentou:

— Dei-lhe o nome de Harold.— Mas esse é o segundo nome do seu irmão.

— Mesmo? Que coincidência.

Tia Gladys virou o bastidor que prendia seu bordado e, levando-o à boca,cortou com o dente o fio de linha que acabara de usar. Ato contínuo, tirou umameada de fios verdes da caixa de costura e, separando um fio, usou novamentedos dentes para parti-lo.

— Se a senhora quiser, tenho um canivete — comentou Zachary, zombeteiro.— E um cãozinho com dentes bem afiados.

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— Assim é mais rápido. — Após passar o fio pela agulha, ela retomou seubordado.

— Se continuar forçando a vista para bordar numa carruagem emmovimento, a senhora vai chegar a Bath estrábica. E banguela de tanto cortar

linha com os dentes.Ela riu.

— Faço isto desde antes de você nascer, Zachary. É melhor do que ler parapassar o tempo durante uma viagem. E ajuda a não pensar que um cãozinhoendemoninhado possa se pôr a mastigar os dedos do meu pé a qualquer momento.

Não sem admitir que tia Gladys tinha certa razão, ele olhou para o livro queseu irmão Charlemagne tinha lhe empurrado na manhã do dia anterior, quandohaviam partido de Londres. Ora, como se duas dúzias de poemas de Byronpudessem compensar o súbito exílio em Bath... Até Harold concordava com ele,tanto que já tinha roído a capa do exemplar.

Mas, não fazia mal. A estratégia de Melbourne não ia dar certo. Podia lheroubar uma semana ou um mês, porém não seria suficiente para detê-lo. Precisavade algo novo em sua vida e, a menos que o clã Griffin aparecesse com algum planomilagroso, iria unir-se às forças de Wellington na Península. Lá, pelo menos,poderia ser mais do que o insignificante terceiro irmão, o reserva do reserva, oacompanhante das damas da família, mais reconhecido pelo paladar apurado e

pela popularidade junto às mocinhas do que por qualquer outro atributo ouinteresse que pudesse ter.

— Sabe que eu ia lhe sugerir tirar uma soneca? — disse ele ao perceber quetia Gladys o observava atentamente.

— E você podia seguir viagem a cavalo — devolveu ela —, já que fez tantaquestão de trazer sua montaria. Mas, obrigada, não estou com sono.

Tirando o relógio do bolso, Zachary examinou o mostrador.

— Temos mais uma hora até chegar à hospedaria, tia Gladys. Se a senhoranão se importar, Harold e eu vamos ficar por aqui mesmo.

— Ah, ia me esquecendo... — Ela se ajeitou melhor sobre o coxim. — Eu dissea Phipps que fizesse um pequeno desvio na rota original.

— Que tipo de desvio? — Foi a vez de ele se endireitar. Só lhe faltavaMelbourne ter resolvido trancafiá-lo em algum mosteiro.

— Achei que poderíamos passar uma semana ou duas no Solar Witfeld, assimeu faria uma visitinha à minha amiga Sally.

Zachary olhou bem para ela antes de indagar:

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— Por acaso Sally Witfeld não tem uma jovem filha solteira, tem? — eleindagou um segundo antes de a carruagem se deter.

— Não.

— Ótimo.Soprando e bufando, um mordomo de formas volumosas veio abrir a porta doveículo. Com o incentivo de Zachary e Harold às suas costas, mais a ajuda dabengala e o apoio do braço do mordomo, custou, mas tia Gladys foi parar no chão.Então, virando-se para o sobrinho com um ar maroto, a rotunda senhoraassinalou:

— Ela tem sete.

— Sete o quê? — perguntou Zachary, apesar da desagradável impressão de

saber perfeitamente bem ao que sua tia se referia.Um assomo de risadinhas nervosas irrompeu à janela que, pelo visto, devia

pertencer a alguma sala do piso térreo do casarão. Um instante depois, umaprofusão de jovenzinhas escapava pelas portas duplas à entrada da residêncianum esvoaçante arco-íris de babados e musselina.

Harold desatou a latir. Embora fosse tarde demais para se enfiarnovamente na carruagem e tentar escapar dali, Zachary ainda chegou a aventartal possibilidade. Mas então, ao lembrar que cuidar de tia Gladys seria uma prova

descomunal de responsabilidade e paciência, resolveu que não iria se render antea primeira dificuldade. Ainda que essa dificuldade se concretizasse na forma desete jovenzinhas... Santo Deus.

Decidindo-se por deixar a reprimenda destinada à sua tia para quando nãoestivessem ambos rodeados por uma pequena multidão, ele tratou de colocar umsorriso nos lábios enquanto se colocava ao lado da carruagem. Porém antes quepudesse cobrar um mínimo de civilidade de Harold, o cãozinho já havia partido emdesembestada perseguição a um trio de galinhas que ciscava junto ao passeiodiante da moradia.

As mocinhas pareciam conhecer a tia dele bastante bem: o entusiasmadoalarido com que recebiam a velha senhora, em que se sobressaíam interjeiçõesextasiadas e gritinhos de "lady Gladys!", por pouco não abafava a algazarra pro-movida por Harold e as galinhas.

— Meninas, meninas! Como têm passado? — retribuía Gladys Tremaine,sorrindo de orelha a orelha enquanto tinha as faces gorduchas cobertas debeijos. — Olhem, este é meu sobrinho, lorde Zachary Griffin.

— Lorde Zachary. — O pelotão feminino se curvava numa onda de mesuras.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— No seu caso, isso é verdade. — Anne beijou o rosto dela, depois selevantou. — Eu, por outro lado, não sei pintar.

— Isso quer dizer que vai se unir à caça à raposa?

— Bem, alguém tem de apanhar essa raposa.— Mm... Boa sorte, então.

Caroline esperou a irmã sumir porta afora para deixar escapar o suspiro quetinha preso na garganta. Se suas irmãs viam o casamento como uma meta de vida,o que não era o caso dela, que fossem felizes com seus sonhos. De sua parte, só oque importava era que os belos traços da "raposa" estivessem registrados àperfeição na tela que iria chegar a Viena por volta do dia vinte daquele mês.

Caroline Witfeld estava outra vez a examiná-lo. Zachary tentava ignorar tal

fato, o que não seria nada difícil em meio a barafunda de perguntas que vinha emsua direção, porém, a cada vez que olhava ao redor da mesa no intuito de nãoexcluir de suas atenções nenhum membro da numerosa família, deparava comaquele par de olhos verdes cravado nele. Daria menos na vista se ela participasseda conversa, no entanto a bela jovem parecia mais interessada em simplesmenteobservá-lo. Quase sem piscar.

— Lorde Zachary, é verdade que você tem dois irmãos mais velhos? —indagou uma das gêmeas.

— Sim. — Ele engoliu o pedaço de frango assado. — Charlemagne e Melb...— E vocês três são solteiros?

Não era de se admirar que todos à mesa, menos ele, já tivessem terminadode jantar. Afinal, mal lhe davam tempo para mastigar.

— Melbourne é viúvo, mas, sim, estamos os três...

— Mamãe falou que a sua irmã casou-se recentemente com o marquês deDeverill. É verdade?

— Sim. — Ele suspirou. — No mês passado, na Escóc...— Está gostando do frango, lorde Zachary?

— Está uma delícia. — Os dois pedaços que tinha conseguido levar à boca jáestavam frios quando terminara de cortá-los. — Obrigado por perg...

— Frango é o meu prato favorito também, não é mesmo, Anne? Você gostade dançar valsa?

— Sim. — E a irmã mais velha continuava a encará-lo. — Na verdade, gostomuito de...

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— Tivemos um preceptor que nos ensinou todos os tipos de danças. Ossalões de festas de Trowbridge são excelentes para bailes e saraus. Eles osenfeitam com balões e festões prateados.

Mas Zachary já discutia consigo próprio se seria mais rude fitá-las e não

dizer nada ou simplesmente pedir que parassem com aquilo. Apreciava uma boaconversa, e mais ainda uma ótima refeição como aquela, mas assim já era demais.Além do quê, o olhar incisivo e insistente da Srta. Witfeld começava a incomodá-lo.

— Lorde Zachary, o que...

— Lorde Zachary, como...

— Meu lorde, quando...

Apoiando os talheres na borda do prato, ele se virou para interpelá-la:— Algum problema, Srta. Witfeld?

— Não, meu lorde. — Os lábios dela curvaram-se de leve, os olhos verdesnem pestanejaram.

Zachary afinal percebeu que o restante das moças havia parado debombardeá-lo com perguntas e estavam agora todas caladas. Até mesmo o Sr.Witfeld, que vinha ignorando a balbúrdia, parou com o garfo repleto de purê debatatas a meio caminho da boca.

Desconcertado pelo abrupto silêncio, Zachary retomou seu jantar. O caosreiniciou antes mesmo que ele recomeçasse a mastigar.

— Lorde Zachary, qual é o nome do seu cavalo?

— Sagramore.

— Como o cavaleiro da lenda do rei Arthur?

— Sim.

— E como chama seu cãozinho?

— Harold.

A irmã mais velha não só seguia a examiná-lo como também continuava a nãoparticipar da conversa.

— Lorde Zach...

— Por que está olhando desse modo para mim, Srta. Witfeld?

— Estou estudando suas orelhas, meu lorde — ela respondeu de pronto,absolutamente séria.

— Minhas... — Por essa ele não esperava. — Minhas orelhas?

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

pranchas com rodinhas tanto na parte de cima como de baixo, potes de argila comfeixes de feno seco saindo pela boca, miniaturas de colunas gregas feitas do queparecia ser papel machê, o aposento estava repleto daquilo até quase as vigas doteto.

— Sente-se, meu lorde. — Para desocupar uma poltrona, o Sr. Witfeldcolocou no chão uma espécie de armadilha redonda feita de ripas.

— Obrigado. — Admirado da profusão de objetos à sua volta, Zachary abriucaminho em meio à desordem. — Será que posso lhe fazer uma pergunta?

— Se estiver me pedindo uma explicação, saiba que não tenho o menorcontrole sobre as meninas. Eu pretendia ter dois filhos. Minha esposa teimou queteriam de ser meninos e disse que não iria sossegar até que eles viessem.

— Então vocês ainda estão...

— Por Deus, não. Um homem tem sua cota de sofrimento neste mundo antesde optar pelo suicídio. Mais uma criança, seja de que sexo for, e eu me dou umtiro de espingarda. — Apesar do comentário sombrio, Edmund Witfeld deu umarisadinha. — Vinho ou conhaque?

— Conhaque, por favor.

O sr. Witfeld serviu a bebida em dois cálices, entregou um deles a Zacharye então tomou um bom trago do seu.

— Espero que Carol não o tenha ofendido com os comentários acerca dassuas orelhas. Ela é uma moça muito... sincera. Herdou isso de mim, acho.

— Não me ofendi com as observações da sua filha. De modo algum.

— Obrigado. Creia-me: Caroline é uma das duas únicas que têm um pouco dediscernimento. As outras são tão bobinhas... Não sei o que fazer com elas.

— Se me permite perguntar, por que nenhuma delas ainda não se casou?

— Por acaso não reparou como elas quase o fizeram em pedaços quando você

chegou? — Witfeld riu. — Imagine só a situação do pobre do sujeito que viessefazer a corte a uma delas. Nenhum rapaz solteiro se arriscaria tanto.

Zachary logo calculou que, se não fosse por tia Gladys, ele mesmo inventariauma boa desculpa para ir embora dali assim que o sol nascesse. Mas como era umGriffin, e os Griffin perdiam um braço, mas não perdiam a educação, assinalou:

— Elas são muito amáveis. Para quem convive com o artificialismo deLondres, isso é muito bem-vindo.

— É você quem está dizendo. — Witfeld tomou mais um gole de conhaque. —

Por mim, estou mais do que satisfeito por poder me refugiar neste meulugarzinho sagrado.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Por falar nisso, o senhor tem uma coleção de objetos um tanto inusitadospor aqui. — Zachary se inclinou para passar o dedo pela peça que antes ocupara acadeira em que ele estava sentado. — O que é isto aqui?

— Não se trata de uma coleção. — Edmund abarcou o aposento com um olhar

repleto de orgulho. — São minhas invenções.— Invenções?

— Sim. Essa aí, por exemplo, é um coletor de ovos.

— Sei... — Zachary não se sentia muito convencido. — E como funciona?

Após largar o cálice vazio sobre a escrivaninha, Witfeld foi tomar a peçaentre as mãos e, abrindo uma espécie de tampa igualmente feita de ripas,explicou:

— Como pode ver, há uma segunda esfera dentro da primeira. A idéia écolocar a esfera maior sob o ninho de uma galinha, que já tem um furo no meio. Oovo que ela põe cai aqui dentro, e seu peso faz a esfera rolar por uma rampa atéuma cesta.

Sem saber se deveria estar intrigado, admirado ou preocupado, Zacharyindagou:

— E dá certo?

— De certo modo, sim. O problema é que, caso você não tenha uma sógalinha, as esferas terminam por se chocar umas com as outras e os ovos acabamse espatifando. — Com um suspiro, Witfeld tornou a colocar o aparato no chão. —Preciso pensar numa solução.

— E quanto às demais invenções?

—Algumas são meras experiências, porém outras já estão cm funcionamentopela propriedade. Se quiser, amanhã posso levá-lo para dar uma olhadinha.

— Iremos, sim. — Que mal iria fazer? Indagou-se Zachary antes de voltar a

examinar a esfera de madeira junto de seu pé. — O senhor já cogitou de colocaruma série de rampas curtas conectadas a uma rampa principal? Desse modo, nãofaria diferença qual galinha botasse primeiro.

Edmund Witfeld ficou olhando para ele. Habituado a receber olhares comoaqueles dos seus irmãos um instante antes de ser chamado de idiota ou cabeça-dura, Zachary ficou esperando pelo pior.

— Como não pensei nisso antes? — Indo tirar uma folha de papel da gavetada escrivaninha, Witfeld pôs-se a fazer algumas anotações. — Sou mesmo umestúpido.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Se o senhor está dizendo... Quer que eu providencie alguma coisa, meulorde?

Hum. Fosse o que fosse que a Srta. Witfeld planejava para a manhã seguinte, precisava estar preparado.

— Separe meu paletó cinza, por favor — ele bateu na coxa para chamar aatenção do cãozinho. — E esteja aqui às sete horas. Tenho um compromisso logocedo.

— Pois não, meu lorde, a não ser pelo fato de que...

— Que o quê, Reed? Venha cá, Harold. Aqui.

— Acontece que seu... que Harold... destroçou seu paletó de passeio cinza.

Zachary olhou do cãozinho para o criado de quarto.

— O que foi que você disse?

— Bem, na verdade não foi o traje inteiro, e sim a manga direita. Tirei opaletó do guarda-roupa para passá-lo, meu lorde, mas acho que o bichinho pensouque eu estivesse brincando ou...

— Não faz mal — interrompeu Zachary, evitando prolongar o aborrecimento.— Separe o cor de ferrugem, então.

— Certamente, meu lorde. Cuidarei de enviar o outro a um alfaiate. Talvez

tenha conserto.Com um gesto assertivo, Zachary apanhou o livro de poemas que

Charlemagne lhe emprestara antes de ir se afundar na poltrona de leitura junto à janela. E, assim que Reed se foi, olhou feio para Harold.

— Pare de comer as minhas coisas.

O cãozinho meneou a cauda, o que seu dono tomou por um gesto de anuência.

Zachary já se deixava mergulhar na poesia de Byron quando alguém bateu deleve à porta do quarto. Descartando a hipótese de ser Caroline, afinal ela já haviamarcado o encontro para a manhã seguinte, ele se endireitou na poltrona.

— Entre.

Tão logo o fez, tia Gladys o acusou:

— Covarde. — Após fechar a porta com a ponta da bengala, ela se aproximoude dedo em riste. — Como foi decepcionar quase uma dezena de jovens queesperavam ansiosamente por você lá embaixo?

— Eu estava cansado. E tinha de ensinar um pouco de disciplina a Harold.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Há um, sim, no hall atrás da sala de estar. Não gosto muito dele, maspapai fez questão de que houvesse um retrato de cada membro da famíliaespalhado pela casa.

— É justo. — Ele se aproximou um passo. — Quer dizer então que você

costuma retratar quem vem visitá-los?— Quase sempre. — Caroline sentiu uma estranha opressão no peito ao vê-lo

se acercar outro passo.

— Pois muito bem, então me desenhe. Onde quer que eu fique?

Recusando-se a pensar que não acharia mau se lorde Zachary a beijasse denovo, ela respondeu:

—Junto à janela, talvez... Para começar. Vou fazer apenas um esboço, um

tracejado preliminar, assim poderemos testar várias poses.— Estou ao seu dispor. Quer que eu me sente ou fique em pé?

— Em pé. — Tomada por nova onda de euforia, ela pegou o bloco de desenhoe os lápis, depois levou seu banco para o meio da sala em busca de um bom ângulo.— O que acha de olhar para os campos lá ao longe?

— Como preferir. Faço o que for preciso para ter uma boa reprodução domeu rosto, assim meus irmãos poderão atirar dardos nela depois que meinternarem no hospício.

— Vocês três não se dão bem? — Começando pelos olhos dele, Caroline jáfazia os primeiros traços sobre o papel.

— No geral, nós nos damos bem até demais. Eles são meus melhores amigos.

— Então por que iriam atirar dardos no seu retrato?

— Ah, coisas de família. — Evitando mover a cabeça, Zachary tentava olharpara ela com o canto dos olhos. — Acha que poderia me retratar usando umuniforme militar?

— Por que não? — Praga. Mais outro excêntrico, como o conde e a condessaEades. Bem, pelo menos ele não queria posar com uma máscara de macaco ou umatoga de deus grego.

— Ótimo. Quando o retrato estiver pronto, vou mandá-lo para Melbourne.Ele vai ter um ataque apop...

— Não!

Zachary virou o rosto para encará-la, o que a obrigou a interromper suaslapisadas.

— Por que não? — ele quis saber.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

tempo junto ao seu modelo para apreender o mais ínfimo detalhe das feições, dapostura, do modo de ser dele. Era por isso que tinha concordado em acompanhá-los naquele passeio a Trowbridge, não era?

Sem sombra de dúvida, mas... Também havia o fato de que a presença dele,

alegre, revigorante e um pouco traquinas, provocasse uma sensação semelhanteàquela invocada pela tépida brisa de uma tarde de verão. A bem da verdade, tinhade admitir que não contava com que um Griffin pudesse ser tão bem-humorado,tão espirituoso. O modo austero como o duque de Melbourne ajudava naimplementação das políticas de governo e conduzia seus próprios negócios levavaa pensar que tanto ele como as pessoas de seu convívio fossem uns ranhetas demeia-idade com hábitos severos e mania de fumar charutos. Bem, talvez o duqueaté fosse assim, porém Zachary...

— No que você tanto pensa, Carol? — quis saber Anne, Montada diante dela.— Eu?...

Enquanto arquitetava uma boa resposta, Caroline reparou que ele,aparentemente estava absorto em contemplar a paisagem, agora cavalgava atrásda caleche. Foi então que Violet observou:

— Eu também estava pensando... Seria bom ajudarmos Carol a ir para Viena,assim mamãe e papai poderiam se dedicar a casar o restante de nós.

— Oh, sim, eu também irei sentir muito a sua falta — retrucou Caroline,tanto aliviada por poder mudar de assunto corno um pouco ressentida pelaspalavras da irmã.

— Por que não nos alternamos num esquema de horários para desfrutar dacompanhia de lorde Zachary? — propôs Anne. — Assim ele não tem de ficardando atenção a todo mundo ao mesmo tempo, e todas nós teremos nossa chance.

— Ela bateu de leve no joelho da irmã mais velha. — Queremos que você vápara Viena porque assim poderemos ir visitá-la lá, viu?

Caroline endereçou um sorriso grato a Anne antes de dizer:

— Só não dividam os horários em porções muito pequenas, ou não tereitempo para pintá-lo.

— Vou lhe dar um dos meus turnos — ofereceu Violet, muito séria. — Nãoera minha intenção ser rude com você, Carol.

— Eu sei; entendi o que você quis dizer — respondeu ela, embora no fundonão estivesse tão segura disso.

— Mas, Violet, você tem só quinze anos—interveio Grace.

— Não me parece correto que você, ou mesmo Anne, fiquem o sós com ele.

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Se não temesse que aquilo pudesse ser um ultraje ao conceito deprofissionalismo que um aristocrata como Zachary Griffin devia ter, Carolinedaria com a testa no bloco de desenho.

— Joanna, por favor, não fique na frente de lorde Zachary — ela pediu pela

terceira vez, falando por entre os dentes cerrados.— Estamos conversando, Carol. — Joanna olhou para ela por cima do ombro.

— Como vou conversar com lorde Zachary se estiver às costas dele? Não seriaeducado.

Depois de soprar o ar dos pulmões por entre os lábios, Caroline se levantoue, pela quarta vez, arrastou o banco pelo gramado em busca de um lugar de ondepudesse enxergar seu modelo. Quase sempre precisava recorrer ao suborno paraconvencer qualquer uma de suas irmãs a posar para uma sessão de desenho;

naquele dia, nenhuma delas saía da sua frente.— Que perfil você prefere? — Sentado num banco de pedras em meio às

 jovens Witfeld, Zachary virou o rosto para a direita e para a esquerda.

— Se é comigo que está falando, saiba que estou desenhando suas mãos.Faça o que quiser com a cabeça.

— Carol! — Julia a repreendeu. — Não ligue para ela, lorde Zachary. Olhe, osdois lados do seu rosto são muito bonitos.

O irmão do duque, porém, preferiu provocar Caroline, ainda queindiretamente:

— Digam-me, minhas damas, a Srta. Witfeld sempre fala com seusretratados desse modo tão... franco?

— Não — Violet foi enfática. — Ela costuma ser extremamente profissional.

Interessante.

— Peço que me desculpe. — Caroline enfim reconhecia que seu tom soaraaustero demais. — Mas, Grace, você faria o favor de...

— Com licença, Srta. Witfeld — disse o mordomo, vindo do passeio depedras junto ao casarão —, mas sua mãe tem visita. Ela pediu que todas vocêsentrassem. E o senhor também, meu lorde.

— Quem veio nos ver, Barling? — Susan foi a primeira a se levantar.

Bastou-lhe ver um tique nervoso repuxar a boca de Barling para Carolinededuzir quem era a tal visita.

— A Sra. Gorman, aposto. — Com um gesto desanimado, ela prendeu o lápis

atrás da orelha. Praga. Quando Portia Gorman afinal resolvesse ir embora, o sol já estaria a ponto de sumir no horizonte.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Melbourne me deu uma missão, e eu pretendo cumpri-la. — Zacharycobriu a mão da tia com a dele. — Além do quê, aprecio muito a sua companhia. Sóirei embora daqui quando a senhora for.

— Pensei que você fosse ficar embevecido com tantas e tão belas mocinhas

a cobri-lo de atenções enquanto trocam cotoveladas por sua causa. — Tia Gladysdeu um sorrisinho maroto. — Tem certeza de que não é por elas que está dis-posto a continuar aqui?

Em parte, era, sim. Só que não pelos motivos que tia Gladys estavaimaginando.

— Tenho um plano, titia.

— E que plano é esse?

— Fique tranqüila. Ao término desta nossa visitinha, todas as irmãs Witfeldme serão imensamente gratas.

— Oh, meu Deus... Mas você vai posar para o retrato de Caroline, não vai?

— Claro. Ela até já está trabalhando nos esboços das minhas orelhas e dasminhas mãos. Só não sei como irá fazer para desenhar meu joelho, agora que asenhora o quebrou com a sua bengala. — Zachary deu um beijo na tia, e depoislevantou. Ainda bem que Caroline o prevenira para sair daquela sala na primeiraoportunidade.—Peço que me dêem licença por um instante, damas — disse ele a

ninguém em especial antes de retirar do aposento fazendo força para nãomancar.

Nem bem chegou ao hall, uma certa mão agarrou-lhe o braço para puxá-lopara um canto. Surpreso, Zachary se virou na esperança de deparar com Caroline.

Não era ela.

— Shh — fez o Sr. Witfeld. — Venha comigo, rapaz.

— Mas eu...

O patriarca da família mostrou a porta da rua.— Depressa, antes que elas venham atrás de você. Apesar de saber que oSr. Witfeld estava brincando,

Zachary não pôde deixar de lançar um olhar pelo corredor. E assim queBarling lhes abriu a porta, ele e o pai da brigada feminina se lançaram ao jardim.

— Obrigado por ter me salvado, Sr. Witfeld.

— Não há de quê. De qualquer modo, eu tinha prometido lhe mostrar minhasinvenções.

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— Seja como for, por que não mandá-la para estudar em Bath, apesar doesnobismo que existe por lá, ou mesmo para Londres, onde ninguém se admirariadiante de uma artista do sexo feminino? Ela poderia levar uma irmã comocompanhia.

— Eu bem que gostaria, mas o acordo que tenho com a Sally é que oumandamos as sete meninas para Londres para que elas debutem na sociedade etodas aquelas tolices, ou não mandamos nenhuma. E a verdade é que não podemosarcar com tamanha despesa. Além do quê, não posso escolher esta ou aquela e tertodas as outras reclamando no meu ouvido.

Era uma pena, pensou Zachary, que um honrado fazendeiro, neto de umvisconde como era o caso de Witfeld, não tivesse meios para apresentar cadauma das filhas à sociedade londrina.

— É melhor voltarmos para casa — observou o zeloso pai. — Se eu for oresponsável pelas meninas perderem alguns minutos da sua companhia, possoacabar crucificado.

Depois de contornar uma colina toda arborizada, chegaram a uma extensaclareira perto de pictórica lagoa. Estrategicamente disposta no centro desseespaço aberto havia uma profusão de pilares e velhos arcos de mármores parti-dos, além de partes de um muro de pedra e granito, sobre o qual se enroscavauma trepadeira. Por um átimo, Zachary teve a impressão de se ver diante do

Partenon de Atenas.— Mas o que...

— Oh, essas são as minhas ruínas. — Mais uma vez, a voz de Witfeld traziauma nota de sobranceria. — E então, gostou? É claro que ainda falta o que fazer.

— É... impressionante. — Olhando com mais atenção, Zachary pôde percebera engenhosa disposição das colunas quebradas, a cuidadosa distribuição dasvideiras e grupos de samambaias. Era realmente extraordinário.

— Obrigado. Você diria que são romanas ou gregas?

— Gregas, sem sombra de dúvida.

— Muito bem. Você entende do assunto, meu lorde.

— Zachary, por favor. — Afinal, ele estava pensando em seduzir a filha dobom homem... Ou melhor, em convencê-la a lhe incentivar a seduzi-la.

— Então me trate por Edmund.

— Nesse caso, Edmund, diga-me com sinceridade, você acha que a sra.Gorman e a srta. Mary vão ficar para jantar conosco?

— Por Deus, espero que não.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Mamãe pensou que tivessem seqüestrado lorde Zachary — interpôs Anne,reprimindo uma risadinha.

— Diabos — resmungou Edmund. — É melhor voltarmos para casa, ou só eusei o que vou ter de ouvir.

Assim que os quatro tomaram o caminho de volta ao casarão, Caroline achoupor bem avisar:

— A propósito, lorde Zachary, seu cãozinho está destruindo nosso jardim.

— Está? Que coisa. Eu disse a Reed para ficar de olho nele.

— Oh, pensei que Harold pertencesse a você. Zachary, que seguia à frentedelas ao lado de Witfeld, olhou para Caroline por cima do ombro para afirmar:

— Ele é meu, sim. E ainda hoje vou ensiná-lo a ficar longe dos canteiros de

flores.— Vai? — retrucou ela, tentando soar mais admirada do que incrédula.

— Já adestrei vários cavalos. Um filhotinho de cachorro não deve ser maisdifícil de treinar.

— Oh, claro. — Melhor não desanimá-lo, afinal Zachary estava fazendo umfavor tanto a ela como a seu pai.

No instante em que Barling abriu a porta para eles, Sally Witfeld vinha

descendo a escada. O grito que ela deu fez Caroline se encolher, indagando-se oque o ilustre hóspede não iria pensar.

— Lorde Zachary! Deus seja louvado! Pensamos que tivesse sido assassinado!— Com um suspiro, a Sra. Witfeld desabou desmaiada ao pé da escadaria.

— Deus meu... — murmurou o marido dela, antes de seguir para seu gabinete.

Por um breve momento pareceu que o hóspede antes desaparecido fosseseguir nos calcanhares do dono da casa. Mas então, ajeitando os ombros, Zacharyabriu espaço por entre as irmãs que já começavam a se acotovelar ao redor da

mãe desacordada.— Senhoritas, com licença, por favor.

Em meio a ofegos e gritinhos, ele tomou a Sra. Witfeld nos braços paracarregá-la escada acima. Quando o viu chegar ao segundo piso, Carolinepestanejou ao se dar conta de que linha os olhos grudados naquelas costas largas,na força emanada por aqueles ombros firmes, no movimento que os músculosdaquelas pernas longas faziam sob a calça de gabardine... Céus. Era evidente queprecisava conhecer um pouco melhor as formas masculinas ocultas pelos trajes

elegantes para fazer justiça ao seu modelo, afinal era imperativo levar para a

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Capítulo III

Quando desceu ao piso térreo do casarão na manhã seguinte, Carolineencontrou-o em completa ebulição. Mas se na noite anterior suas irmãs tinhamficado até a meia-noite deliberando acerca da tal agenda de horários de lorde

Zachary, o que lhe garantira duas horas na companhia dele naquela manhã, o quepoderia ter colocado a casa em polvorosa?

Mas nem bem havia respirado fundo para chamar Barling a fim de pedir umaexplicação a respeito do tumulto, ela reparou que sua mãe se encontrava à soleirada porta da sala destinada ao desjejum entretida em trocar idéias com o sr.Henneker, o floricultor local.

— O que houve? — indagou uma voz masculina alguns degraus acima daqueleem que Caroline se achava.

— Preparativos para o sarau — respondeu ela, tentando ignorar o arrepioque lhe percorria a espinha.

— Mas o sarau não será no salão de festas de Trowbridge?

— Sim, mas sempre que há um evento na cidade, mamãe manda enfeitar acasa para não se sentir sobrepujada

— Ah.

Com um nó impecável na gravata branca que lhe ressaltava o paletó marrom

e o colete mostarda, ele parecia recém saído de um dos mais elegantes salões deLondres. Perfeito, perfeito, perfeito.

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— Você não pode... Eu... Vista isso!

— Não se preocupe; não vou me desnudar. — Com o cuidado de manter um arsolene, ele desabotoou os punhos da camisa e começou a enrolar as mangas. — Amenos, é claro, que você queira.

Ela também se levantou, só que para se afastar.

— Eu insisto, lorde Zachary. Este não é um comportamento apropriado.

Por mais que fingisse ignorá-la, ele prestava atenção a cada sílaba do queCaroline dizia... e também à mudança de tom da voz dela. Entretanto, mesmocalculando que pudesse estar mexendo num vespeiro, terminou de enrolar as man-gas da camisa até os cotovelos e tornou a se sentar. Para sua surpresa, Carolinelargou o bloco de desenho sobre o banco e se aproximou. Detendo-se à suafrente, e com os olhos nos seus braços nus e não no seu rosto, ela observou:

— Eu sempre quis saber por que as mulheres são incentivadas a expor osbraços e o colo, enquanto dos homens se espera que escondam o corpo quaseinteirinho.

— Posso ser sincero? — Zachary perscrutava o interesse que via nosexpressivos olhos verdes. — Porque as mulheres estão como numa vitrine, e oshomens querem examiná-las antes de fazer suas aquisições.

— Talvez você tenha razão. — Devagarzinho, Caroline passou um dedo pelo

dorso da mão dele, seguindo para o pulso e dali até a dobra do braço.Zachary não sabia se tinha ou não tinha razão, e isso pouco lhe importava.Porque o sangue parecia borbulhar em suas veias sob a pele que o dedo dela iadeixando para trás. Por um instante chegou a se perguntar quem estariaseduzindo quem, mas então lhe bastou examinar o semblante absorto que ocontemplava para descobrir a resposta: ali, naquele momento, ele era apenas umbraço. Músculos, tendões, nervos.

— E então, o que acha?

— É... Você... tem um braço muito bonito. — Caroline voltou a se afastar.— Bonito? — Mais como uma tentativa de recobrar a naturalidade, Zachary

ergueu o membro em questão. — Por que não "forte" ou "musculoso"?

— É forte, sim. E a musculatura é bem delineada. Aliás, todo o seu físico é...bem desenvolvido.

Após prender a respiração por um instante, ele se pôs a desabotoar ocolete. Não apenas por mera brincadeira, mas também como forma de fazê-laembarcar no seu jogo de sedução.

— Mas... o que está fazendo? Por Deus, não...

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— Não quer ver se suas suposições estão corretas? E se meus ombrosforem mais magros do que imagina? Nesse caso, você iria querer procurar outrapessoa para retratar, não iria?

— Pare de brincar comigo, sim? Vamos, sente-se e me deixe desenhá-lo.

— Foi você mesma quem disse que eu não precisava ficar parado. Só estouquerendo ajudá-la. — Largando o colete sobre o paletó, Zachary começou adesfazer o intricado nó da gravata.

— Oh, está bem. — Caroline deu um daqueles sorrisos que tanto o cativava.— Em nome da arte.

— Está falando sério?

— A não ser que você acha que seus ombros não passam por um exame mais

minucioso.Aquilo também já era demais. Era ele quem devia estar no comando das

brincadeiras.

— Pois saiba que já me disseram que tenho um físico notável. Praticopugilismo e treino esgrima. Além de equitação, é claro. — Zachary continuava abrigar com o nó da gravata. Maldito Reed. O sujeito podia arrumar emprego comopreparador de laços para os condenados à forca.

— Quer ajuda?

Ele bufou. Era evidente que havia se enganado redondamente com CarolineWitfeld. Qualquer outra mocinha teria um desmaio diante de um homem queameaçasse se despir; Caroline, porém, não parecia a ponto de desmaiar. Longedisso, após retomar o lápis e o bloco de papel, ela começou a desenhá-lo tentandoarrancar a gravata.

O barulho de uma porta que se fechava no hall lá embaixo fez Zachary sesobressaltar. Se alguém viesse pegá-lo ali, em pé junto à janela com a camisa parafora da calça, estaria casado antes que o sol se pusesse. Ele olhou para Caroline.

— Será que...— Não. — Os olhos dela resvalaram pelo relógio sobre a moldura da lareira.

— Ninguém entrará aqui nos próximos vinte minutos.

— Como pode ter tanta certeza?

— E impressão minha, ou você está nervoso? — Examinando seu modelo, elatombou a cabeça de lado. — A idéia de despir-se foi sua, meu lorde. Digo,Zachary.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Pode se sentir reverenciado, meu lorde. Deve fazer uns doze anos queJulia não sobe à garupa de uma montaria. — Antes que ele encontrasse o quedizer, a jovenzinha apanhou a cesta do chão. — Vamos?

Depois de tomar o cesto de vime da mão dela, Zachary lhe ofereceu o outro

braço, indagando:— Não seremos acompanhados por uma aia?

— Ninguém faz companhia a você e Carol. Esplêndido.

— A aia dela fica sentada no corredor durante as sessões de desenho noestúdio. Além do quê, minha tia me disse que era para eu me comportar, e tenhopor hábito seguir todos os conselhos que ela me dá.

— Eu só estava me certificando. — A jovenzinha olhou para o casarão. —

Trisha!Uma criada apareceu junto ao muro recoberto de videiras.

— Estou aqui, Srta. Anne.

Com a aia nos calcanhares deles, Zachary deixou que Anne lhe indicasse ocaminho até a lagoa. Em poucos minutos de conversa, uma coisa ficou clara: elairia lhe dar mais trabalho do que as duas outras irmãs. Como Edmund Witfeldhavia apontado, duas de suas filhas tinham juízo, e Anne era uma delas. A outrapor certo se achava enclausurada com seus lápis no ateliê.

— Como está sendo a sua manhã? — quis saber Anne.— Interessante. Posei, caminhei, passeei a cavalo, agora vou fazer uma bela

refeição... e tudo com hora marcada.

— Hum. Vejo que já está sabendo da divisão de horários.

— Que, se não me engano, foi elaborada por você. Mas antes que pense queestou a recriminá-la, aproveito para lhe dizer que, por mais que eu goste dacompanhia de todas vocês, para mim é mais fácil conversar com uma de cada vez

do que com meia dúzia ao mesmo tempo.— Sei como é isso. — Anne deu uma risadinha. — Há noites em que vou paraa cama com os ouvidos zumbindo. E olhe que eu cresci junto delas.

— Eu também vivo cercado de parentes: dois irmãos, uma irmã que nosdeixou há pouco porque se casou e uma sobrinha de seis anos. Há cerca de ummês, morávamos todos juntos.

— Mas por que você e seus irmãos vivem na mesma casa, se os Griffincertamente possuem várias residências em Londres?

— De fato, Shay... Charlemagne e eu temos nossos próprios apartamentosem Mayfair. Ainda assim, Melbourne nos convenceu a retornar à Mansão Griffin,

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O que, de qualquer maneira, era ainda mais desconcertante. Cristo. Havia sepreparado para lidar com um punhado de mocinhas tontas que riam à toa, não comuma jovem determinada que fazia questão de dizer o que pretendia.

Ao vê-la indicar o lugar onde iriam ficar, Zachary estendeu sobre a relva a

manta que estava sobre a cesta, ajudou-a a sentar-se e se acomodou ao lado dela,indagando:

— Sabe pescar?

— Pescar? Não. Mas já vi pessoas pescando.

— Então conhece os fundamentos do passatempo. —Após se certificar deque a aia se detivera perto dali, ele aceitou o sanduíche que Anne lhe oferecia. —Assim, deve saber que quem vai pescar não se atira no lago brandindo uma clavapara depois se pôr a golpear a água.

— De fato, seria contraproducente. Aceita um pêssego?

— Sim, obrigado. Bem, o que eu queria dizer era, pesca-se muito mais emelhor com vara e anzol do que com uma clava.

Pensativa, ela ficou a mastigar e a olhá-lo por um bom lapso de tempo antesde afirmar:

— Tenho um bom número de concorrentes no meu próprio lar.

— Só seria uma competição se todas vocês disputassem o mesmo homem. —Ele respirou fundo. — Por exemplo, ainda que quisesse, eu não poderia me casarcom todas as sete. Ou melhor, com as seis.

— E o que temos de fazer, tirar a sorte?

— De modo algum. No meu modo de ver, você devia, em primeiro lugar,tentar uma truta que quer ser pescada e, em segundo, uma truta que quer serpescada por você.

— Você não é nada daquilo que eu imaginava.

— Espero que isso seja um elogio.— É, sim. Anne sorriu. — As páginas do jornal que tratam da sociedade

estão repletas de histórias sobre você e de sua família, histórias que envolvemapostas, corridas de cavalo, pugilismo... Mas Carol disse que você não só gostacomo entende bastante de arte. E eu arriscaria dizer que você também pareceter muito bom senso.

Caroline havia dito que ele entendia de arte? Ora. Aquele era um dos maisprazerosos elogios que já recebera em toda a vida... Obrigando-se a prestar

atenção à conversa, Zachary observou:

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— Parece comigo. — Zachary se inclinou um pouco mais sobre ela. — Gosteido nó na gravata. Você o reproduziu à perfeição.

— Obrigada. — Caroline tentou não fazer caso de que o hálito adocicado junto ao seu rosto lhe afogueava a alma. — Mas é que... Não consigo captar o que

sua expressão está me dizendo.— E deveria dizer alguma coisa?

— Claro. Afinal fui eu quem a desenhou.

— Seja como for, qualquer pessoa pode atestar que esse aí sou eu. Sequiser, posso tentar fazer um ar mais compenetrado, mas continuo não vendonenhum problema com o desenho.

Incapaz de continuar a senti-lo assim tão perto, Caroline se levantou. Pois

apesar de testemunhar a falta de habilidade e firmeza com que Zachary tentavaadestrar Harold e o modo como ele alegava estar louco para se alistar noExército e continuava placidamente instalado em Wiltshire, desejavaardentemente que seu hóspede, e modelo do mais importante retrato de sua vida,a beijasse de novo.

— Por favor, vá se sentar. Meu tempo com você é contado, esqueceu?

Enquanto Zachary ia retomar sua pose na poltrona, Caroline voltou a sesentar e, apagando uma linha no contorno do ombro dele, tornou a refazê-la um

tantinho mais para baixo. Mas... Não, não era isso. O problema estava no rosto.— Por que não me fala de sua família? Onde vocês moram?

— No Melbourne Park, em Devonshire, ou na Mansão Griffin, quandoestamos em Londres.

— Anne disse que você tem sua própria residência em Londres. — Ela fez umsinal para lhe pedir que baixasse um pouco a cabeça.

— Tanto Shay como eu temos nossos apartamentos na cidade, porémvoltamos para a residência da família a pedido de Sebastian. Mesmo assim,

mantenho alguns criados tomando conta de casa e, de vez em quando, vou passaralguns dias por lá.

— Hã-hã.

— A morte de Charlotte, esposa de Sebastian, pegou-nos a todos desurpresa. Ela estava bem, de repente começou a emagrecer e sentir cansaço...Um mês depois, foi para a cama e não mais acordou. Nós... — Zachary limpou agarganta. — Sebastian ficou devastado e, se não tivesse a pequena Peep...Penélope, para cuidar, não sei o que seria dele. Assim, quando ele nos pediu para

voltarmos para casa, Shay e eu fomos.

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Então o solicitador tinha dançado com Caroline, que, de acordo com suasirmãs, quase nunca freqüentava a área do salão destinada ao baile propriamentedito... Pois muito bem, estava decidido: ele e Caroline iriam dançar uma músicanaquela noite.

— Oh, lá estão lorde e lady Eades! — exclamou a Sra. Witfeld. — Comlicença, Sr. Anderton. Venha, meu lorde, preciso apresentá-los a você. Carolinegosta muito desse casal, sabe? Eles lhe ofereceram um emprego como governantade seus filhos.

Emprego de governanta? Como, se a família inteira parecia convencida deque a filha mais velha estaria em Viena no final do verão? Além do quê, não haviacomo comparar uma carreira como artista ao trabalho de uma governanta... Amenos que ele não tivesse perdido algum dado da equação, o que, aliás, era bem

freqüente em se tratando dos Witfeld.— Lorde e lady Eades. — Sem largar o braço de Zachary, Sally curvou-se

numa mesura tão exagerada que quase fez ambos perderem o equilíbrio. —Permitam-me apresentá-los a lorde Zachary Griffin, irmão caçula do duque deMelbourne.

— É um prazer. — Zachary cumprimentou-os bem mais discretamente.

Tanto o conde como sua esposa usavam empoadas cabeleiras postiças, ummodismo em voga em meio à aristocracia... dez anos atrás. Por muito pouco o

irmão caçula do duque de Melbourne não torceu o nariz. Bem, provavelmente jáfazia um bom tempo que o casal não ia até Londres.

— Igualmente, meu lorde — devolveu Eades num timbre nasal. — Venha nosfazer uma visitinha.

— Irei, sim. — Quando nevar no inferno.

— Esperaremos ansiosos. Com a sua licença, por favor.

— Quantos anos tem o conde? — Zachary perguntou à Sra. Witfeld assimque viu os Eades se afastarem.

— Uns quarenta e cinco, imagino.

— E por que os dois estão trajados desse modo tão... solene?

— Oh, eles são a elegância em pessoa, não são? Não há quem não almeje umdia se ver no mesmo nível dos Eades.

Pois ele preferia ansiar pela morte.

O salão de festas estava tão cheio que parecia não haver mais espaço paraninguém se mover. No entanto, quando a orquestra começou a tocar, a áreadestinada à dança se esvaziou como por milagre.

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— Claro que não. Você, melhor do que ninguém, sabe perfeitamente bem quetenho tratado suas irmãs com amizade e consideração.

— Sim, mas...

— O que fiz foi dar a entender, a cada uma em separado, que devia haveralgum rapaz na região a quem ela admirasse e que possivelmente esse jovemtambém se sentisse atraído por ela.

— Só que todas se decidiram pelo mesmo candidato.

— E avançaram sobre ele como uma manada de búfalos...

— Minhas irmãs podem ser ingênuas e até mal orientadas, mas eu jamaisusaria "uma manada de búfalos" como forma de descrevê-las.

— Não tome a expressão ao pé da letra, Caroline, pois não foi isso o que eu

quis dizer.— Srta. Witfeld, por favor. Pela última vez não lhe dei permissão para me

tratar pelo meu nome de batismo.

Ao perceber que a noite que tinha tudo para ser divertida e relaxanteameaçava escapar ao controle, ele tomou a mão de Caroline na sua.

— Peço que me perdoe. Não era minha intenção ofendê-la.

— Não foi a mim que você insultou. — Ela puxou a mão de encontro ao peito.

— Com licença, lorde Zachary.Tentando não fazer conta do suave gingado do quadril arredondado e do

perfume de limão nos cabelos cor de mel, ele ficou a observá-la se afastar dali.Que um raio o partisse em dois... Mas, ora bolas, Caroline conhecia muito bem asirmãs que tinha e sabia que ele, apesar da infeliz escolha de palavras, não disseranenhuma mentira.

— Caroline!

E ela, que tinha passado as duas últimas horas evitando Zachary, não viu

outra opção senão abrir caminho em meio à multidão para ir se colocar diante damãe... e seu hóspede ilustre.

— Sim, mamãe? A senhora está cansada? Quer ir embora?

— Imagine! Lorde Zachary acabou de comentar comigo que dançou comtodas as irmãs Witfeld, menos com você.

No mesmo instante, uma certa mão cálida deslizou pelo braço dela até ir lheprender os dedos.

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suas irmãs não lhe dessem um minuto de sossego. Bem, restava ainda apossibilidade de...

A porta do estúdio se abriu de chofre, provocando-lhe um sobressalto.

— Eu queria fazer uma pergunta a lorde Zachary — Joanna foi dizendoenquanto entrava na sala. — É só um instant... Onde está ele?

— Lorde Zachary ainda não veio. Por que você não aproveita para perguntarseja lá o que for quando estiver almoçando com ele?

— Não seja tão egoísta, Carol. Você tem três horas na companhia dele estamanhã; eu só tenho uma.

— Não fui eu quem organizou a tabela de horários. Com a qual vocêsconcordaram.

— Isso foi antes de lorde Zachary ter nos instigado a abordar MartinWilliams. Você sabia que Martin alegou estar com dor de cabeça e foi emboradepois de dançar só três músicas? Acho que agora nenhuma de nós vai conseguirficar com ele.

— Caso isso ocorra, não será de se estranhar. Vocês sempre se acercam domoço como uma turba de moleques atrás de uma bolinha de críquete escapada docampo.

— Pode ser. Mas pelo menos eu não fico à espera de um queridinho que nem

se dá ao trabalho de aparecer.— Ele não é meu queridinho coisa nenhuma. — Caroline se levantou. — Quer

saber do que mais? Vou ver onde Zachary se meteu, isso sim. O tempo estápassando.

Joanna correu atrás dela.

Ao chegar ao pé da escada, Caroline deparou com o mordomo, que acabavade fechar a porta da rua.

— Barling, por acaso você sabe onde posso encontrar lorde Zachary?— Ele saiu, Srta. Witfeld.

— Saiu? Como assim?

— Ele, o Sr. e o Sr. Anderton foram pescar. E prometeram trazer um balaiode trutas para o jantar. A Sra. Landis já está preparando o molho de manteiga.

Ele tinha sumido. Justamente na manhã em que ela escolhera começar oretrato. Tinha ido pescar.

— Papai disse quando eles estariam de volta? — indagou Joanna com um arpesaroso.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Ora, assim você me lisonjeia.

Com mais a cesta que haviam deixado com Frank Anderton ao passarem pelopovoado, os três tinham pescado o suficiente para alimentar duas famílias com aprole dos Witfeld e todos os seus criados. Porém mesmo que não tivesse

apanhado um só peixe, Zachary estaria satisfeito. Nada de moçoilas casadoiras arodeá-lo, nada de perguntas sobre suas intenções matrimoniais... Que sossego.

— Se o senhor me der licença, vou ver como está minha tia. Obrigado umavez mais por me convidar.

— Fique à vontade, Zachary. O prazer foi todo meu. Depois de conversarcom a tia, tinha de procurar Caroline também, para expor sua idéia de que umatela plana em nada se comparava a alguém de carne e osso. Ah, tudo isso semfalar que precisava de um bom banho.

Ao entrar no casarão, ele estranhou o silêncio que pairava pelo ambiente e,como não encontrasse nem mesmo o sempre solícito Barling por ali, subiu aescadaria para ir bater à porta dos aposentos de tia Gladys.

— Entre. — Acomodada numa poltrona estofada ao lado da janela, ela largouo livro de poemas sobre o colo.

Tão logo o fez, Zachary quis saber:

— Onde está todo mundo?

— Sally está trancada na sala de estar, discutindo a arrumação da casa comBarling, e seis das meninas foram a Trowbridge.

— Então é melhor eu ir falar com a Srta. Witfeld. Parece que ela pretendiacomeçar a usar tinta a óleo hoje.

— Carol também não se encontra por aqui. Acho que ela foi dar uma voltapela propriedade.

— É mesmo? Bem, nesse caso vou me banhar e trocar de roupa... Ah, esperoque a senhora esteja com vontade de comer truta.

Tornando a erguer o livro entre as mãos, tia Gladys observou:

— E eu espero que você não tenha perdido o apetite quando o jantar forservido.

A meio caminho da porta, Zachary parou para olhar para ela.

— O que a senhora quer dizer com isso?

— Não demora muito e você vai saber.

Mulheres. Qual delas não daria um braço em troca de fazer um pouco demistério acerca de qualquer assunto?

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Vá se alistar no Exército, lorde Zachary. — Ela mantinha o olhar fixo nohóspede ilustre. — Mas vá depressa. Assim, quem sabe? Não se faz útil servindode adubo à terra caso tome um tiro no peito.

— Caroline!

Com um último soluço, ela se virou e deixou o aposento. Imóvel, Zachary malse apercebia da multidão que, entre balbuciantes pedidos de desculpas, pôs-se aescoar em direção ao corredor para lhe dar um pouco de privacidade. E quandoafinal atinou que a porta havia se fechado, arrancou a toalha úmida do corpo paraatirá-la com toda a força no chão.

Adubo? Adubo? Ora, se nem sequer imaginava quais eram seus objetivos devida, como Caroline se atrevia a criticar o modo como ele tratava de atingir suasmetas? Não tinha abandonado o projeto de fazer carreira militar, e prestar um

favor a Melbourne e a tia Gladys não significava que tivesse borboletas no lugardos miolos, mas sim que agia com educação e responsabilidade. E quanto aHarold... Ora, mal tinham lhe dado dez minutos para se dedicar ao seu cãozinhode estimação. O que era que ela queria?

Não era um inútil, não era uma nulidade e menos ainda adubo à espera de sercolocado a sete palmos do chão para cultivar repolho ou qualquer outro legume.

Tia Gladys estava bem do lado da porta quando Zachary a abriu de um sógolpe.

— Que bom que a senhora está aqui. Arrume sua bagagem.— Não. Você e Caroline vão pedir desculpas um ao outro, e nós vamos jantar

como pessoas civiliz...

— Muito bem, então vou sozinho. Nós nos veremos em Bath. — Fechando aporta do quarto da tia, ele se dirigiu ao seu criado: — Reed, você vem atrás commeus pertences. Harold!

Após deixar seu refúgio embaixo da cama, o cãozinho foi rastejando até ocorredor e dali seguiu seu dono escada abaixo.

Embora o hall estivesse tomado pela ala feminina dos Witfeld, Zachary nãolhes dirigiu um só olhar. E já contando com que o ilustre hóspede estivesse aponto de botar a porta da rua abaixo, Barling correu a abri-la ao vê-lo seaproximar.

Assim que chegou à cocheira, Zachary ordenou ao cavalariço:

— Sele meu cavalo.

— O meu também.

Virando-se, ele deparou com Edmund Witfeld.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Quero que saiba que sou grato ao senhor e à Sra. Witfeld pelahospitalidade. Agora, se me der licença, seguirei viagem para Bath.

— Vou até Trowbridge com você.

— Como preferir.Dez minutos depois, os dois deixavam o passeio de pedras diante do solarcom Harold se esforçando para acompanhar o trote de suas montarias.

— Sei que você não está para conversa, meu rapaz, mas há certas coisasque... Bem, o fato é que não tenho mais como manter Caroline conosco depois queo verão acabar.

Apesar de surpreso, Zachary não respondeu.

— Nos últimos três anos, ela tentou se inscrever como aluna em vinte e sete

academias e ateliês. Tannberg foi o único a lhe oferecer uma chance... Isso se elapassar no processo de admissão.

— O senhor fala como se eu não tivesse me disposto a ajudar.

— A reação da minha filha foi exagerada, concordo. Tanto que quero medesculpar em nome dela.

— Não é preciso.

— Muito bem, rapaz. Se você não está interessado nos problemas dela,

vamos falar dos seus.—Meus?—Zachary olhou para ele. — Não tenho nenhum problema. Vou para

Bath e, se tia Gladys não aparecer por lá dentro de uma semana, voltarei paraLondres para comprar minha patente militar.

— Eu também me alistei no Exército, sabia? O pai de Sally me disse que, seeu quisesse desposá-la, teria de provar ser capaz de sustentá-la. Casei-me comela usando o uniforme do meu regimento. E me empenhei para mostrar ao pai delaque poderia manter um lar. — Edmund limpou a garganta. — Era como se eu só

viesse para casa para engravidá-la antes de retornar ao campo de batalha... Comodeve imaginar, o serviço da ativa é muito mais bem remunerado.

Como não soubesse o que dizer, Zachary resignou-se a ficar calado.

— Pouco depois que minha quinta filha nasceu, levei um tiro na perna, o queme obrigou a voltar para casa em caráter definitivo. Só que eu não tinha comomanter uma família com metade do soldo, por isso tive de vender minha patente.Isso, porém, não me impediu de ficar pensando que, caso fosse solteiro, teriacomo me sustentar até que o ferimento sarasse para depois retomar minhacarreira no Exército.

— Sinto muito que...

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Deixe-me terminar, sim? — Witfeld respirou fundo. — Eu odiava ficarpor aqui, em meio a um bando de crianças barulhentas, enquanto meus antigoscompanheiros ainda viviam suas aventuras. Assim, terminei por me trancar noestúdio à procura de um refúgio e ali comecei a criar coisas, calculando que o

pagamento por uma boa invenção fosse pavimentar meu caminho para longe deWiltshire. Construí ruínas gregas para me imaginar vivendo uma outra vida.Tentei me manter ocupado para não pensar que tive de abrir mão daoportunidade de perseguir a glória e o reconhecimento.

— E deu certo?

— O que houve foi que acabei por descobrir que eu gostava do que fazia, dasminhas invenções. E quando Caroline começou a vir ao estúdio para pintar,também me dei conta de que possuía uma família. — Um sorriso iluminou o

semblante do velho fazendeiro. — Você tinha de vê-la quando ela tinha doze,treze anos. Bastavam umas pinceladas de nada na tela, e lá estava uma flor.Perfeitinha, como se recém colhida do jardim... Mas o que eu queria dizer era queou seguia na carreira militar, e talvez agora estivesse morto, com um grandemonumento em homenagem à minha bravura, ou então tinha sete filhas que euadoro apesar de suas bobices. Além da chance de talvez um dia inventar algo quepossa ser útil para elas ou para os filhos delas.

Agora estava claro o porquê de o patriarca não querer que as filhas seenvolvessem com militares. Zachary fez menção de falar, porém o olhar que o Sr.

Witfeld lhe endereçou o instigou a ouvir a conclusão de todas aquelasobservações.

— Por isso, meu rapaz, eu gostaria de lhe perguntar será que você quermesmo correr atrás da glória efêmera num campo de guerra e, como eu, jogarmais de uma década fora até constatar o que realmente é importante nesta vida?

Zachary tentou engolir o nó que se formara em sua garganta. Pois agoraentendia que de fato corria o risco de se tornar aquele maldito invólucro deadubo. Assim como Melbourne, Caroline estava certa. Ele não tinha objetivos

concretos, apenas um enorme desejo de ser outro alguém que não o reserva doreserva, o substituto do substituto, o terceiro irmão.

— O senhor acha que as trutas que pescamos estão prontas?

— Se ainda não estiverem, vão estar quando chegarmos em casa —respondeu Edmund, mal dissimulando um sorriso de alívio.

— Ainda bem. Estou faminto.

Sentada num canto da sala, Caroline tapou os ouvidos com as mãos, mas nem

assim a gritaria à sua volta arrefeceu. Sua mãe e pelo menos três de suas irmãspareciam se acharem pleno surto histérico, enquanto Susan não parava de soluçar

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

 junto à janela. Anne gritava com Joanna e Julia para que parassem de dizer quehaviam perdido a última esperança de um futuro feliz, ao mesmo tempo em queGrace repetia a plenos pulmões "Você o chamou de adubo? Você o chamou deadubo?".

Caroline estremeceu. Culpa sua ou não, Zachary tinha ido embora, e agoraera preciso convencer lorde Eades a não só posar para ela como também escreveruma carta de louvor ao seu trabalho. E algo lhe dizia que ele preferia tê-la comoprofessora de pintura de Theodore a vê-la feliz da vida fazendo seu curso emViena.

— Eu disse, chega!

Ela não sabia dizer quantas vezes seu pai havia pedido silêncio, pois de fatosó ouvira aquela última, e, pelo visto, o mesmo se passava com o restante da

família. Por um instante, a calmaria que se abateu sobre o recinto parecia maisestrondosa do que o berreiro que a precedera.

— Todas vocês, vão se trocar para o jantar e estejam de volta em vinteminutos — disse o patriarca. — Até lá, não quero ouvir mais um pio. Fui claro?Não falem; balancem a cabeça.

Uma a uma, todas fizeram que sim.

— E você, Caroline, venha comigo ao meu gabinete. Agora. Ao vê-lo rumarpara a saleta atrás da cozinha, ela tratou de ir atrás fingindo ignorar os olharesde reprovação às suas costas. Nada do que suas irmãs pudessem dizer ou fazerconseguiria deixá-la mais desalentada do que já se sentia.

Diante do seu escritório, Edmund esperou a filha entrar e fechou a porta.Nem bem tinha se indagado o que ele pretendia ao deixá-la ali sozinha, Carolineviu Harold se aproximar para tentar lhe lamber a mão. Perplexa, ela ergueu acabeça... e só então atentou para a silhueta em pé ao lado da escrivaninha.

— Lorde... Eu... Zachary, eu...

— Se fizer um esboço do retrato esta noite e começar a pintar logo cedopela manhã, acha que é capaz de terminar o trabalho no prazo exigido pelo ateliêem Viena?

Embora sentisse o sangue lhe fugir do rosto, Caroline não conseguia semover nem falar nem fazer nada a não ser repetir para si que ele haviaretornado. Mais ainda, estava lhe dando outra chance.

— Por Deus. — Zachary foi ao encontro dela para fazê-la sentar-se numacadeira. — Respire fundo, Caroline. — Após lhe dar alguns tapinhas nas costas,ele indagou: — Melhorou?

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— Sim, obrigada.—Ela tornou a inspirar profundamente. — Pensei que vocêtivesse ido para Bath.

— Acho que mereci parte do que você me disse. Parte. Mas agora não querofalar disso. — Ele se encaminhou para a porta. — Nós nos veremos no jantar.

— Sim, sim. Eu... Obrigada, Zachary. Muito, muito obrigada.

Um segundo depois de ele ter saído, Edmund entrou na saleta e foi logoperguntando:

— Está tudo resolvido?

— Ele falou que iria posar para o retrato... — Ainda meio zonza, Carolinepercebeu que a gritaria lá fora havia recomeçado. Decerto suas irmãs acabavamde inteirar-se de que Zachary havia retornado. — Não tenho muito tempo, papai.

Agora que fiquei sem meus desenhos, vou ter de preparar pelo menos um esboçopreliminar antes de trabalhar com tinta sobre tela.

— Por que tive de convidar Zachary para pescar justo hoje?... Qual de suasirmãs fez a tal relação de horários?

— Anne.

— Sei. Bem, vou refazer a bendita agenda.

— Mas...

— Você precisa desse retrato, Carol. Se Tannberg não a aceitar como aluna,não será porque você não teve a oportunidade de tentar.

— Obrigada, papai.

— Mm-hm. Ande, vá se aprontar para o jantar.

Agora mais calma, ela correu para seu quarto. Santo Deus, talvez nãohouvesse uma só emoção que não tivesse experimentando ao longo daquele dia:expectativa, raiva, resignação, medo, frustração, ira, desalento, esperança...

Quando desceu à sala de refeições, Caroline encontrou todos à mesa. Masninguém ali parecia ter notado sua presença, todos os olhos estavam voltadospara Zachary e assim permaneceram.

Lá pelo meio da refeição, o pai dela bateu com o garfo na taça de vinho.

— Tenho um aviso para todas vocês. A partir de amanhã e por todo o tempoque for preciso para que Caroline faça o retrato de lorde Zachary, as demaisirmãs deverão deixá-los em paz.

— Mas, papai, temos uma tabela de...

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— Vocês poderão importuná-lo o quanto ele tolerar durante as refeições e ànoite; mas enquanto houver claridade adequada à pintura, tratem de se manterafastadas dos dois.

Em meio ao burburinho e às cotoveladas que eclodiram ao redor da mesa,

Zachary, colocando o guardanapo ao lado do prato, afastou a cadeira da mesa.— Prometi que iria posar para Caroline esta noite, assim ela terá como

substituir alguns dos esboços que Harold estragou, depois disso irei adestrá-lo.Antes disso, se não se importam, eu gostaria de trocar algumas palavrinhas comminha tia.

Enquanto as irmãs trocavam a tristeza de se verem privadas da companhiado hóspede ilustre pela alegria por tê-lo de volta, ele concluiu:

— Por favor, levem meus cumprimentos à cozinheira. A truta estavadeliciosa; uma das melhores que já provei na vida.

Após um instante de hesitação, lady Gladys Tremaine também se pôs em pé.

— Boa noite, meninas; Sr. Witfeld.

Caroline juntou-se ao coro que desejava bons sonhos à idosa dama, entãonão conteve um suspiro. A noite ia ser longa.

— Não viemos planejar uma escapada no meio da noite, viemos? — indagoutia Gladys depois de se acomodar na sua poltrona ao lado da janela e descansar os

pés inchados sobre uma banqueta acolchoada.— A senhora ouviu a discussão que tive com Caroline? — Zachary desatou a

caminhar pelo aposento.

— Ouvi vozes alteradas e algo a respeito de adubo. Depois disso, voltei parao meu quarto. — Como não recebesse o sorriso que esperava, a tia dele se rendeu.— Zachary, não importa o que Caroline disse; você não tem nada de que seenvergonhar ou de que se arrepender. Você é um excelente rapaz. Educado,afetuoso, amável, bem-humo...

— Sei como sou, afinal é esse o papel que me cabe na família — ele ainterrompeu, fazendo uma careta. — Sebastian é o ranzinza que quase nunca ri,Charlemagne é o obstinado e ambicioso, Eleanor é a rebelde cheia de vida e eusou o simpático despreocupado.

— Você fala como se isso fosse algum pecado.

— Não, mas é muito pouco para quem tem a vida inteira pela frente. —Zachary suspirou. — Quero me sentir profundamente interessado por algumacoisa e ardentemente envolvido com ela, titia. Só que não faço a menor idéia de

que coisa é essa.

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— Você tem só vinte e quatro anos, meu filho. Tal seria se tivesse respostapara tudo.

— Com ou sem respostas, estou farto, aliás como todos, do modo como inicioalgum projeto para depois abandoná-lo.

Pensei que o Exército... — Detendo-se ao lado da cama, elo se largou sobre abeirada do colchão. — Mas me enganei. Pronto, mais um projeto que estouabandonando.

Tia Gladys engoliu a vontade de gritar "Graças a Deus!" para fazer um gestoassertivo com a cabeça.

— Por favor, tia, não diga nada a Melbourne; eu mesmo me encarregarei defazê-lo no momento oportuno.

— Zachary, não há por que se sentir derrotado. Você se interessa por umasérie de coisas, e se ainda não descobriu com qual delas quer se envolver deverdade e com paixão, isso não tardará a acontecer.

— Seja como for, uma certeza eu tenho vou fazer o que for possível paraque Caroline termine aquele retrato e o envie a Viena antes do prazo final.

— Uma atitude louvável.

— Sim, bem, e também tenho um cãozinho para adestrar. — Olhos nos olhosda tia, ele tombou a cabeça de lado. — Eu gostaria de ficar aqui até o fim do mês.

A senhora se importa?— De modo algum. Wiltshire tem feito bem à minha gota, e eu gosto de

estar numa casa repleta de mulheres.

— Ótimo. — Erguendo-se, Zachary foi dar um beijo no rosto da venhasenhora. — Vou posar para substituir alguns dos esboços que...

— Eu sei.

Depois que ele se foi, Gladys recostou a cabeça no espaldar da cadeira,

satisfeita por ter se recolhido a seus aposentos mais cedo naquela noite. Não erasó seu sobrinho querido que tinha alguns assuntos sobre os quais refletir.

Capítulo IV

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— Perfeito. Só vire um pouquinho mais o rosto na direção da lagoa... Isso.Assim mesmo.

— Tem certeza de que não vou parecer um conquistador ou qualquer coisa dotipo? Alexandre, o Grande, de Wiltshire?

Ela deu uma daquelas risadinhas. E como era exatamente isso o que elequeria, Zachary sorriu com gosto. Se fosse agir segundo os ditames de seuorgulho e da sua linhagem, não somente jamais a perdoaria por aquele malditobate-boca como também teria dado Harold de presente à primeira pessoa que lheaparecesse pela frente. Em vez disso, passara três horas dando mostras de umapaciência que julgava não ter, treinando o cãozinho para sentar a uma ordem suae, do fundo do coração, não nutria o menor rancor por Caroline por conta do queela havia lhe dito. Mais estranho ainda: isso lhe trazia um enorme bem-estar.

— Vai fazer os primeiros traços a lápis?— Vou, sim — ela confirmou. — Mas só as linhas principais, já que a

luminosidade varia no decorrer da manhã, e também porque você vai querermudar de posição de quando em quando.

— Prometo ficar firme como uma rocha por todo o tempo que for preciso.

— Ah, isso é o que vamos ver.

Meia hora mais tarde, tempo que Caroline levou para preparar o esboço final

enquanto os dois conversavam sobre amenidades, ela, enfim trocando o lápis pelopincel, sugeriu:

— Não quer caminhar até a clareira para se movimentar um pouco? Agoraque a pose está registrada na tela, será fácil retomá-la.

Graças a Deus. Após apoiar ambos os pés no chão e fazer alguns movimentosde rotação com os ombros, ele indagou:

— Posso ver como ficou?

— Ainda não há muito que ver, mas se fizer questão... Zachary gostou do

resultado preliminar. Lá estava ele, ou melhor, um esmaecido contorno dele, comuma perna dobrada sobre uma linha, a mão direita sobre a coxa e a esquerda riobolso do paletó; ruínas espalhavam-se à sua volta; no fundo do cenário, à suaesquerda, estava um trecho da margem da lagoa e, à direita, reses pastando.

—Até pareço o senhor do reino — ele comentou. — Melhor dizendo, do reinodo seu pai.

— Era exatamente isso o que eu queria: captar essa aristocrática aura desegurança e naturalidade que você evoca.

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Entre constrangido e orgulhoso, Zachary, pigarreando, voltou os olhos aolago e ao gado que pastava ali perto. Sua atenção se concentrou num animal emparticular.

— Aquela ali não é a vaca preferida do seu pai? A quem você deu o nome de

Dimidius?Acompanhando o olhar dele, Caroline confirmou:

— É, sim. Achei que papai gostaria que eu a colocasse no retrato mais, nãohá um ditado que diz que a espera adoça o porvir ou qualquer coisa assim?

— Acho que você acabou de inventar esse provérbio... — Um pouco sem ar,Caroline deu uma risadinha acanhada. — Não gostaria de me fazer o imenso favorde voltar para junto da coluna?

Enquanto retomava a pose, ele tentou se concentrar em imagens de jovenshorrendas e legumes estragados. Ficar em pé ali e não deixá-la perceber o quantoestava fisicamente excitado não ia ser nada fácil... Diacho. No que era mesmo queestava pensando antes que ela lhe acariciasse o peito e pedisse aulas deanatomia?

— Vacas.

— O que foi que disse? — indagou Caroline, que já começara a pintar.

— Dimidius. — Ele limpou a garganta. — Como seu pai organizou o programa

de criação do gado leiteiro?— Não é bem um programa... Nossos recursos só deram para comprar duas

vacas Jérsei e um touro Devon mestiço. Dimidius nasceu da cruza desses animais,e depois dela só tivemos uma outra novilha, cujo pai é um devon puro quepertence a um antigo companheiro de farda de papai.

De novo a questão financeira, pensou Zachary.

— É possível que a cria de Dimidius não tenha a capacidade de produzirtanto leite quanto a mãe — prosseguiu Caroline. — Temos de esperar ao menos

mais um ano para saber.— E os outros fazendeiros da região? Seus vizinhos não estariam dispostos

a investir num tipo de gado que pode vir a ser altamente lucrativo? Só a produçãode queijo e manteiga de primeira já compensaria o investimento.

— Na verdade, papai é conhecido em Trowbridge como uma pessoa umtanto... extravagante. — Encolhendo os ombros, ela mergulhou o pincel na tintacinza, depois o girou de leve sobre um fundo de marrom. — Sobretudo depois queexplodiu o topo daquele moinho de vento.

— E verdade que ela dá duas vezes mais leite do que uma vaca comum?

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— E de excelente qualidade. O queijo e a manteiga feitos do leite delatambém são ótimos. — Ao voltar os olhos para Zachary, ela largou a paleta paralhe ajeitar a gravata. — Dimidius é muito mansinha. Ela adora maçã.

Admirando as mãos delicadas junto de seu peito, ele observou:

— Posso chamar meu criado de quarto, se você quiser outro tipo de nó.

— Não, não. Eu só queria deixar o peitilho da sua camisa mais visível. —Caroline se pôs a alisar o tórax dele.

Após hesitar um instante, Zachary deixou que seu instinto falasse mais alto:tomou-lhe o rosto entre as mãos e beijou aqueles lábios que tinham gosto demorango e paixão. Ciente de que a aia dormitava do outro lado da clareira, elesuspirou antes de dar mais ardor e veemência ao beijo, estremecendo de desejoao sentir as mãos de Caroline deslizarem para os seus ombros antes de irem lheafagar os cabelos. Mas, provavelmente pela primeira vez na vida, não sucumbiu àforte onda de excitação sensual que lhe percorria o corpo todo. E já arrependidoe pesaroso, deu fim ao beijo para dizer num sussurro:

— Foi... muito bom.

— Eu gostaria de ter mais uma aula de anatomia — ela devolveu no mesmotom.

Deus do céu. Ele tornou a beijá-la, então murmurou de encontro aos lábios

trêmulos:— Terei imenso prazer em lhe dar essa aula. Depois que você terminar seutrabalho e não tiver nenhum motivo para ser grata ou gentil comigo. — Ao vê-larecolher as mãos com que lhe acariciava os cabelos, Zachary tomou uma delas nasua. — Não me entenda mal, Caroline. É claro que quero tê-la em meus braços e...O que não quero é ser responsabilizado por você se atrasar com a feitura doretrato. Além do

— O moinho de... — Bem, isso não vinha ao caso no momento. Pois apesar deter se posto a falar de vacas como uma forma de não pensar em Caroline, o fatoera que agora ele estava realmente interessado no assunto. Já havia criadocavalos, ou pelo menos prestara consultoria sobre como fazê-lo, e um dos animaisque adestrara tinha vencido o Derby, a grande corrida anual em Epson, no anopassado. — Sabe? Acaba de me ocorrer que Dimidius poderia ser uma grandeoportunidade de...

— É preciso muita paciência para criar gado. — Depois de colocar um poucode amarelo na paleta, Caroline o misturou ao azul. — E papai se interessa pormuitas outras coisas.

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Na hora do almoço, as irmãs Witfeld surgiram por entre os arbustos comofadas de jardim e, enquanto as seis se ocupavam de contar a Zachary o quetinham feito no decorrer da manhã, Caroline aproveitou para se recriminar umavez mais. Não por ter correspondido ardentemente ao beijo dele ou por ter lhe

pedido aulas de anatomia, mas sim por alguma besteira que fizera sem notar. PorDeus, só isso explicaria o fato de Zachary ter desatado a falar de... vacas.

Pois a verdade era que, desde que o vira sem camisa, não conseguia pensarem outra coisa que não fosse fazer amor com ele. Já que não pretendia se casar,e em Viena não poderia se arriscar numa aventura que arruinasse tanto suareputação como sua carreira, Zachary Griffin era a melhor e mais discretachance que teria para saber como era estar com um homem. Afinal de contas,depois que o retrato deixasse Wiltshire, lá se iria o modelo... e ela também.

Seguindo junto ao grupo que se dirigia ao casarão, Caroline concluiu que,após aquela conversa acerca das vacas, já não estava mais tão segura quanto aoque ele pretendia fazer. Isso, porém, não fazia muita diferença, já que o seuprojeto de vida não iria se alterar por nada no mundo. Sim, seu plano com relaçãoa Zachary era perfeito. Absolutamente perfeito. Nada de sentimentos, nada decomplicações. Só um pecadilho e muito deleite.

Assim que se acomodaram à mesa, Grace se lembrou de perguntar:

— Mamãe, mesmo com Caroline tomando todo o tempo de lorde Zachary, nós

temos todo o período da noite para ficar com ele, não temos?Caroline se preparava para apontar que as noites do insigne hóspede eramdele e que dele devia partir a iniciativa de declarar se queria a companhia dasirmãs Witfeld após o jantar, porém Zachary já ia dizendo:

— Na verdade, estive pensando numa espécie de jogo para fazermos estanoite, se todos estiverem de acordo.

— Oh, sim! — veio o coro ao redor da mesa.

— Que tipo de jogo é esse? — quis saber Susan, colocando sua mão sobre a

dele.— Ah, vocês terão de esperar até a noite para saber — retrucou Zachary

com um sorriso. — Porque depois de posar para a Srta. Witfeld, tenho umcompromisso com Harold.

— Com o seu cachorro? — Violet deu-se ares de amuada.

— Quando o comprei, assumi a responsabilidade de adestrá-lo para fazerdele um cão bem-educado. Lamento, minhas jovens, mas não posso maisnegligenciar meus deveres.

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Caroline suspirou. Zachary não só não cedera aos apelos de suas irmãs comotambém mantivera o compromisso assumido com ela... e com Harold.

— Sabem? — disse Joanna, cortando um pedaço de bolo. — Eu também achoa arte um ofício maravilhoso, tanto que também estou fazendo um quadro.

— Você? — Caroline deixou escapar.

— Sim. Estou pintando Apolo e Psiquê. Eu sou Psiquê. E gostaria que lordeZachary posasse para mim como Apolo. Joanna o contemplou com os olhos baixos.— Isto é, se ele quiser.

— Eu, hum...

— Eu também estou pintando! — anunciou Grace, largando o garfo sobre oprato para se recostar ao espaldar da cadeira.

— Eu também — emendou Violet, um tom mais alto. Não falta mais nada.Caroline fechou os olhos por um instante. Seria risível se não fosse deplorável.De todas as suas irmãs, nem mesmo Anne jamais havia demonstrado o mínimointeresse por qualquer manifestação artística.

— Eu gostaria de ver o trabalho de vocês — disse Zachary, os olhosbrincalhões num semblante solene. — Depois que tiver terminado de ajudar com oretrato da Srta. Witfeld e de treinar Harold.

Graças ao Senhor. O senso de humor dele sobrevivera àquele pequeno

desastre.— Estive pensando, meninas... — interveio lady Gladys. — Em vez de eu

enviar seus presentes de Natal, poderíamos ir a Trowbridge para que vocêsmesmas os escolhessem. A loja da Sra. Williams tem catálogos, não tem?

Oh, que Deus abençoasse a bondosa senhora. Em meio ao coro de vivas,Caroline endereçou um olhar de gratidão à tia de Zachary.

Mas tão logo se ergueram da mesa, as irmãs dela se lembraram do repentinosurto de amor pela arte.

— Carol — Joanna lhe sussurrou —, você tem telas sobrando?

Ela suspirou antes de afirmar:

— No armário atrás da porta do estúdio.

— Preciso de um bloco de desenho. — Violet segurava no braço dela.

— Estão empilhados junto à parede dos fundos.

— Obrigada, Carol! — Todas se foram num farfalhar de saias e saiotes.

— Vamos voltar para as ruínas? — convidou Zachary, colocando a mão delaem seu braço.

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Ignorando o arrepio que lhe percorrera a espinha, Caroline concordou:

— Vamos, sim. Deixei a pobre Molly à nossa espera.

—Aposto que sua aia ainda está dormindo... — Ele baixou um pouco mais a

voz para dizer: — Que seja sempre assim!— Tente não me distrair, sim? Eu odiaria ter de gastar tempo consertandoos erros que fiz ao pintar.

— Ah, mas quero lhe contar o que vai acontecer um segundo depois que vocêlargar de vez o pincel e a paleta. Quero lhe falar de como pretendo arrancar seuvestido, tirar os grampos dos seus cabelos e cobrir a sua pele de beijos.

Ela pensou que fosse desmaiar. Tinham chegado ao passeio que circundava alagoa e levava às ruínas. E seguiam por entre os olmos e salgueiros perfilados à

margem d'água quando, de súbito, Zachary a fez deter-se para colar os lábiosaos dela.

Sim, refletiu Caroline, o relacionamento deles tinha se transformado nasúltimas vinte e quatro horas. Essa idéia, porém, não perdurou por mais do que umátimo entre seus pensamentos, pois sua mente de súbito deixava de funcionar, eo raciocínio lógico foi substituído por uma miríade de sensações: o apelo da bocadele junto à sua, a excitação, a urgência, o desejo ardente que parecia fluir entreos corpos de ambos, o calor das mãos que deslizavam por suas costas, o modocomo ele a apertava de encontro ao peito.

Passando os braços pelo pescoço de Zachary, ela amoldou-se ao físico fortee teso que parecia querer devorá-la. O beijo ganhou intensidade e veemênciaquando suas línguas se encontraram para em seguida se enroscarem numa dançasôfrega e sensual. Caroline ouviu-se gemer. Paixão... A sensação era inequívoca,indelével, inesquecível.

— Carol — Zachary sussurrou de encontro aos lábios dela. O retrato.Precisava terminar o retrato dentro do prazo estipulado pelo ateliê de Tannberg.Reunindo o pouco autocontrole que lhe restava, Caroline deixou os braços caírem

ao longo do corpo e afastou-se dele, depois, com um sorriso tímido, ajeitou-lhe oscabelos.

— Venha; quero trabalhar no seu rosto antes que o sol da tarde incidadiretamente sobre as ruínas. — Mas aquela voz nem parecia a sua...

Ao chegarem à excêntrica obra com que Edmund Witfeld buscarareproduzir o Partenon de Atenas, Zachary foi se colocar no lugar onde posarapela manhã enquanto ela se punha diante do cavalete.

— Assim? — ele indagou, apoiando o pé na coluna tombada sobre a relva.

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— Tive uma idéia... — Ele se sentou na cadeira que o Sr. Witfeld indicava. —Com respeito a Dimidius.

— Minha vaca?

— Sim. Estive falando com Caroline, e ela me disse que o senhor tem tidocerta dificuldade em adquirir os animais da raça adequada para dar início a umprograma de criação de gado leiteiro.

O semblante de Edmund se enrijeceu.

— Você deve tê-la compreendido mal, meu lorde. Não estamos precisando decaridade.

— Nem é caridade o que estou lhe oferecendo, e sim uma parceria.

— Parceria? Poderia explicar melhor?

— Evidentemente. O senhor tem uma vaca que dá duas vezes mais leite doque um animal comum. Eu tenho recursos financeiros que poderiam ajudá-lo acriar um bom rebanho de vacas como Dimidius.

— E o que você ganharia com isso?

— Creio que uma parte dos lucros seria um ganho justo. Terei de escrever aMelbourne, que é o chefe da família, solicitando que ele aprove minhas idéias,porém isso é mero ato de consideração. — Zachary puxou a cadeira para a fren-te. — Se o senhor conseguir produzir mais animais como Dimidius, não haverá umsó fazendeiro em toda a Inglaterra que não irá querer ter seu próprio rebanhode vacas como ela. Nós lhes forneceríamos as vacas já adultas ou touros damesma linhagem para reprodução e, desse modo, eles iriam poupar anos doprocesso de criação dessa espécie de animal.

— Esse não é um projeto de curto prazo, meu rapaz.

— Eu sei.

Edmund olhou bem para ele.

— Quer dizer, então, que você desistiu de se alistar no Exército?— Para ser sincero, alguém me convenceu de que eu não devia jogar minha

vida fora em troca da glória. — Zachary deu-lhe uma piscadela. — Já estivemetido com criação de cavalos, porém acredito que o nosso projeto pode vir a seralgo muito mais grandioso e producente. Além do mais, estou farto de meenvolver superficialmente com uma determinada atividade; quero mecomprometer até o pescoço.

— E se o duque não concordar?

— Já disse, isso não seria problema. Tenho recursos próprios de que dispor.

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Após pensar por um instante, Edmund fez um gesto assertivo.

— Faz anos que venho querendo fazer uma coisa assim; aliás, foi com essaidéia em mente que investi no processo de criação de Dimidius. Mas, como vocêmesmo assinalou na escala em que estou trabalhando, o máximo que vou conseguir

será um rebanho com umas doze cabeças e leite só para o mercado da região. —Ele estendeu a mão. — Por Deus, rapaz, se você conseguir o que precisa, o negócioestá feito. E nós seremos sócios.

Zachary apertou a mão dele com força e um sorriso de orelha a orelha.

— Escreverei ao meu irmão ainda hoje. O senhor não vai se arrepender.

— Por favor, papai, não prenda Zachary a noite inteira aí com o senhor. —Joanna batia de leve à porta fechada. — Nós também queremos um bocadinho dotempo dele.

Retribuindo o sorriso de Zachary, Witfeld observou:

— Eu não vou me arrepender, agora você...

Havia ainda um outro assunto que ele queria resolver de uma vez por todasantes de se lançar de corpo e alma à atividade de criar gado. Assim, Zacharydeixou Edmund fazendo algumas anotações e, na companhia de Joanna e Julia,subiu à sala de estar no segundo piso do casarão.

As garotas estavam todas reunidas ali, inclusive Caroline. Depois de inclinar

a cabeça para tia Gladys e a sra. Witfeld, que continuavam a conversar num cantodo aposento, ele ergueu a mão para silenciar a torrente de súplicas e exigênciasque lhe eram dirigidas.

— Grato pela atenção. Antes de tudo, eu queria me desculpar por qualquercontratempo que possa ter provocado no baile em Trowbridge, pois...

— Oh, não, lorde Zachary — Sally o interrompeu, levando a mão ao peito. —Você foi tão gentil, dançando com todas as minhas meninas...

— Obrigado, Sra. Witfeld. No entanto, creio ter dado um mau, ou

incompleto, conselho às suas filhas. Por isso, gostaria de retificá-lo.— Sim, você nos disse para irmos atrás de Martin Williams — concordou

Anne.

— Não percebi... Não prestei a devida atenção à conversa que tive comvocês, e assim não me dei conta de que todas tinham escolhido o mesmo rapaz.

— Eu ainda prefiro você, lorde Zachary—declarou Grace, corando.

— Pois bem, esse é mais um assunto que eu queria esclarecer. Não vim aqui

com a intenção de me casar. Com ninguém.— Mas...

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— Shh, Violet — Anne a repreendeu. — Deixe-o terminar de falar.

— Agora, o que eu realmente queria fazer — prosseguiu ele — era lhes daralgumas idéias para ajudá-las a compreender o modo masculino de pensar e agir.Quem sabe isso não as ajudaria no momento de vocês se aproximarem de um

rapaz por quem se sintam interessadas?A sra. Witfeld limpou a garganta. Pondo-se em pé, tia Gladys olhou para ela.

— Sally, por que não me mostra alguns daqueles bordados de que me falou?Assim nós duas não atrapalhamos a conversa dos mais jovens, não é verdade?

— Eu...

— Venha, querida. De tanto eu ficar sentada, meu joelho já começou a doer.Além do quê, você sabe que o meu sobrinho é um perfeito cavalheiro.

Assim que as duas senhoras se foram, Zachary retomou sua preleção.— Primeiro vocês precisam entender que não podem ter todas o mesmo

rapaz.

— Mas como faremos para decidir quem irá ficar com o tal moço? — Julia ointerpelou. — E não diga que deve ser por ordem de idade, porque isso não seria justo.

— Na verdade, segundo a tradição, é justo, sim — rebateu ele. — Mas nãosou eu quem tem de decidir isso, são vocês.

Pegando-o de surpresa, Caroline interpôs outra questão:

— O rapaz não deveria ter o direito de escolher também?

— Bem colocado. Para isso, ficaria muito mais fácil se vocês o abordaremuma por vez, não todas ao mesmo tempo. Agora, eu gostaria de lhes dizer trêscoisas que qualquer homem iria adorar ouvir.

— São só três? — perguntou outra vez Caroline, erguendo uma sobrancelha.

Apesar de a presença dela lhe excitar todos os músculos do corpo, Zacharycomeçou a desejar que a irmã mais velha fosse trabalhar no seu retrato.

— Logicamente não são apenas três, porém estas são as mais simples e comcerteza despertarão a atenção de qualquer rapaz. As demais ficam por conta devocês.

— E quais são essas coisas? — perguntou Violet.

— Primeiro convidem-no para tomar um refresco com vocês. Ou comer umpetisco.

— E se não estivermos num sarau? — quis saber Grace. — E se estivermosnuma loja?

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Pelo visto, uma delas ainda estava interessada em Martin Williams.

— Nesse caso, usem a segunda opção digam que ele está com um ar absorto,e que vocês gostariam muito de saber o que ele está pensando. Isso deixaráimplícito que o consideram uma pessoa inteligente e cheia de idéias, e que valori-

zam a opinião dele. Essa tática é muito lisonjeira, acreditem.Até Anne começava a mostrar-se interessada. Ótimo. Afinal, eram todas

 jovens encantadoras, apesar de um pouco desmioladas; não era culpa delasverem-se forçadas a viver em constante estado de competição com outras seis...cinco irmãs. E já que tinham uma mãe que não possuía o domínio das sutilezas dotrato em sociedade, somado ao fato de nunca terem estado em Londres ou numinternato para moças, alguém precisava orientá-las.

— Qual é o terceiro ponto? — perguntou Susan.

Após se desculpar mentalmente com todos os homens da Inglaterra, ou pelomenos de Wiltshire, pelo que estava prestes a despejar sobre eles, Zacharyafirmou:

— Digam-lhe que, ao vê-lo, de pronto se lembram de uma torta de pêssegoou de um pudim ou de um biscoito amanteigado, enfim, de uma guloseima quevocês adoram. Depois, perguntem se ele gostaria de levar um pouco desse petiscona próxima vez em que for pescar.

— Pescar? Temos de ir pescar?

— Não, vocês oferecerão o doce para que ele leve quando for pescar. Nãoimporta se ele aceita ou não; o que conta é que, quando estiver numa pescaria oumesmo cogitando de ir pescar, o rapaz irá se lembrar de vocês. Se o moço quevocês escolherem tiver outro passatempo, caçar ou cavalgar ou seja lá o que for,substituam a pescaria pelo tal entretenimento.

— Brilhante — ofegou Susan.

— Aproveito para lhes sugerir que escrevam o nome dos rapazes que maislhes interessam em papeizinhos para depois sorteá-los entre vocês. É claro quepodem trocar mais tarde, caso mudem de idéia ou percebam que se dão melhorcom esse ou aquele rapaz. Agora, não posso deixar de assinalar que, se as seisirmãs forem atrás do mesmo jovem, ou ele acabará fugindo de todas ou uma devocês fará as demais sofrerem.

— Grace, vá buscar papel — disse Anne.

— É hora de eu me retirar. — Caroline se levantou. — Vou trabalhar naminha tela.

— E eu vou cuidar da minha correspondência. — Zachary também se pôs empé. — Meninas, até amanhã.

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— Boa noite, Zachary — respondeu o coro.

A sós com ele no corredor, Caroline comentou:

— Tenho a impressão de que seus conselhos foram úteis. Ou pelo menos

mais proveitosos do que a idéia de emboscar o pobre Martin Williams no baile emTrowbridge.

— Eu não falei para ninguém emboscar ninguém. Mas gostaria de lheconfessar um segredo. — Junto ao lance de degraus que levava ao terceiro pisodo casarão, Zachary segurou a mão dela. — Tenho inveja de você, Caroline.

— E por que cargas d'água você haveria de me invejar?

— Porque você não só sempre soube o que queria da vida como tambémtomou as atitudes necessárias para alcançar seus intentos. — Ele sorriu. — Você

tem me ensinado uma série de coisas importantes; em troca, vou lhe ensinar algu-mas coisinhas também.

Com a garganta subitamente seca, ela murmurou:

— Não vejo a hora.

Sebastian, duque de Melbourne, terminava o café da manhã quando omordomo reapareceu com sua correspondência empilhada numa salva. Fazendosinal para o criado deixar a pequena bandeja de prata ao alcance de seu braço,ele agradeceu:

— Obrigado, Stanton.

— Pois não, Vossa Graça.

Com os pensamentos voltados ao encontro que teria com o primeiro-ministroantes do almoço, Melbourne pôs-se a separar as cartas. As malditas das novastarifas estavam estrangulando seus negócios com a América. E as antigascolônias também não iriam agüentá-las por muito tempo.

— Tem carta para mim, papai? — perguntou Peep, sentada à direita dele.— Há um convite de lady Jeffers para você ir com ela e a filha num passeio

pelo Hyde Park amanhã.

— Eu gosto de Alice — disse a menina, olhando para o cartão. — Mas achoque lady Jeffers quer casar com você.

Sebastian olhou para a filha.

— E isso não é bom, Peep?

— Ela vive rindo, e eu não sei por quê.

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— Ah. Mas ao passeio você quer ir, não quer?

— Oh, sim. Os acrobatas estarão lá.

Reconhecendo a caligrafia de Zachary numa das mensagens, Sebastian

rompeu o lacre de cera e desdobrou a folha de papel, lendo para si:

Melbourne, estive conversando com Edmund Witfeld, aqui em Wiltshire. Ele possui uma vaca que dá duas vezes mais leite do que uma Jérsei comum, e de excelente qualidade. Você não estaria interessado em investir nesse tipo de  gado? Precisamos promover a reprodução de Dimidius para ter certeza de que não se trata de um feliz acaso.

Zachary 

O duque passou a mão pelo rosto. Dimidius devia ser a vaca em questão, eaquela era a primeira carta que seu irmão caçula lhe escrevia desde que partirade Londres. Duas semanas atrás, Zachary pretendia se alistar no Exército com orisco praticamente certo de vir a morrer numa frente de batalha. Agora eragado... Isso sem falar que uma das filhas de Witfeld estava pintando o retratodele com um propósito qualquer. Ah, se ao menos as cartas de tia Gladyscontivessem alguns detalhes um pouco mais úteis...

— Essa é a letra do tio Zachary, não é? — Penélope se aboletara à beiradada mesa. — O que ele disse?

— Que descobriu uma vaca.

— Uma vaca? Mas o que tio Zachary vai fazer com uma vaca? Tia Gladys nãoescreveu que ele tinha comprado um cachorro?

— Não faço a menor idéia do que possa estar acontecendo, filhinha.—Tornando a dobrar a mensagem, Sebastian guardou-a no bolso. Criar gado podiase tornar um empreendimento dispendioso e de longuíssimo prazo, e ele não tinha

a mínima intenção de afundar seus recursos num projeto extravagante comoaquele. Além do mais, quando cismava com alguma coisa, quase sempre Zachary ofazia por mero capricho. Bem, pelo menos ele havia desistido de se matar naguerra. Por quanto tempo, isso só Deus sabia.

No dia seguinte, quando Caroline e Zachary deixaram o casarão após oalmoço, ele arriscou perguntar:

— Você nunca pensou em se casar? Nem mesmo quando tinha seis, seteanos?

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Fingindo não notar que as mãos de ambos se tocavam enquanto seguiam rumoà lagoa e dali para as ruínas, ela deu de ombros.

— Acho que devo ter pensando, sim. Mas, naquele tempo, eu vivia com acabeça repleta de fantasias de menina.

Embora não soubesse muito bem por que, Zachary sentiu-se incomodado coma resposta. Assim, preferiu mudar de assunto:

— Você está dentro do prazo para entregar o retrato, não está?

— Sim. Se tudo correr bem, amanhã a tela estará pronta e, depois deamanhã, embalada para ser enviada a Viena.

— Ótimo. — Colocando uma mecha de cabelos atrás da orelha dela, Zacharysentiu o cerne de sua virilidade pulsar ao perceber que seu gesto a fizera

estremecer.Ao contemplar o retrato recém-terminado, ela teve certeza de que

conseguira transportar para a tela a essência de Zachary Griffin. Sugerido pelaexótica locação, o espírito aventureiro e confiante que o animava estavaregistrado tanto na fisionomia como no olhar. O resultado não poderia ter sidomelhor e, no calor do verão, na tarde do dia seguinte a tinta estaria praticamenteseca. Então só faltaria acondicionar o retrato no estojo de madeira já separadopara esse fim.

Após assinar seu nome num canto da tela, Caroline ainda examinou sua obrapor mais alguns instantes antes de interpelar seu modelo.

— Quer dar uma olhadinha?

— Já? — Ele se dobrou sobre a perna apoiada na coluna para esticar ascostas. — Você terminou?

Ela respirou fundo.

— Terminei.

Depois de uma olhadela de relance para Molly, que roncava plácidamente nobanco atrás das roseiras, Zachary foi ver seu retrato. E tanto se demorou emadmirá-lo que Caroline começou a pensar que tivesse cometido algum erro crasso,invisível aos seus olhos porém flagrante para qualquer pessoa que examinasse aobra.

Ao cabo de torturante minuto, ele enfim declarou:

— Excelente, Caroline. Caso eu não soubesse que foi você quem o pintou,diria tratar-se de um trabalho de Joshua Reynolds.

— Ora...

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— Por favor, estou falando sério. Se souber reconhecer um talento,monsieur Tannberg não hesitará um instante em tomá-la como aluna.

— Obrigada.

— Não tem por que me agradecer. Eu só fiquei parado ali; o trabalho foitodo seu. Agora, para nos... para lhe poupar um pouco mais de tempo... — Ele lheentregou o papel que acabava de tirar do bolso interno do paletó.

Caroline desdobrou a folha. Endereçada a monsieur Tannberg, a mensagemem termos simples e diretos afirmava não só a satisfação de Zachary com a obracomo também o prazer que ele tivera em posar para uma artista talentosa, que otratara com cordialidade e profissionalismo.

Profundamente sensibilizada, ela murmurou:

— Nem sei o que dizer.— Agora que estou diante do retrato pronto, fico contente por não ter

escrito elogios desnecessários. Sua pintura fala por si só.

Caroline tornou a dobrar a carta com muito cuidado, depois a encaixou nocavalete. Queria tanto se atirar nos braços de Zachary... Decerto ele iria pensarque era um gesto de gratidão, e não estaria de todo enganado, no entanto não setratava apenas disso, mas também de uma comemoração, uma celebração àconclusão de um trabalho que assinalava que a vida que ela até então conhecia não

existia mais.— Quanto tempo ainda tem de esperar até poder colocar a tela no estojoque seguirá para o Continente? — Zachary se abaixou para apanhar do chão amanta com que ela protegia as pernas do friozinho das primeiras horas da manhã.

— Vou deixá-la secando aqui fora; amanhã à tarde estará tudo pronto.

Após mais uma espiadela em Molly, ele passou um dedo pelo laço no decotedo vestido de Caroline para trazê-la para junto de seu peito. E tão logo a sentiuacomodar-se entre seus braços, não perdeu tempo a lhe tomar os lábios num

beijo. A avassaladora onda de calor que lhe percorreu todo o corpo, ela enfiou osdedos por entre os cabelos quase negros, saboreando a veemência da boca que sedeleitava com a sua.

De súbito, Zachary interrompeu o beijo. E, fazendo um sinal com a cabeçapara indicar a aia que dormia a sono solto, segurou na mão de Caroline para levá-la até a falsa coluna grega caída e dali para trás de uma fileira de arbustosvoltados para a lagoa. Quando se deu conta, ela estava novamente entre osbraços que a estreitavam de encontro a um tórax largo e rijo, arfando àpalpitação que lhe afogueava o peito e a garganta. Como era possível que umsimples encontro de lábios e línguas pudesse ser tão eletrizante?

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Mais eletrizante ainda, porém, eram as sensações provocadas pelas mãosafoitas que lhe acariciavam ambos os seios.

Deus do céu. Uma tensão ardorosa e aflita começou a se formar no alto desuas coxas. Como a lhe mostrar que só beijos não bastavam, que seu corpo e sua

alma ansiavam por mais. Sim, mais. Mais...— Caroline — Zachary murmurou de encontro ao seu pescoço —, tem

certeza de que quer mesmo...? Seja sincera.

Ela buscou fitá-lo nos olhos.

— Não é justo que um homem possa fazer o que deseja, desde que sejadiscreto, e uma mulher, ainda que tendo escolhido uma vida de serena e decentesolteirice, não possa. Tenho o direito de escolher o que quero para mim.

— Isso é um "sim"?Soltando os cabelos com uma das mãos, Caroline colocou a outra sobre a

dele, que ainda lhe abarcava o seio. E quando sentiu suas madeixas cor de mel sederramarem por suas costas, pôs-se a desfazer o primeiro dos cinco pequenoslaços no decote do vestido sem tirar a outra mão da de Zachary, afirmando:

— Sim. E um "sim" irrevogável.

Enquanto voltava a beijá-la, ele se encarregou de desfazer os demais laçosnum segundo. Dessa vez Caroline sentiu os joelhos bambearem. Lábios, bocas,

línguas, mãos... Céus, como uma mulher poderia renunciar a tantas delícias só por-que havia decidido não se casar?... Colando o corpo ao corpo dele, sentiu avirilidade túrgida de encontro ao seu ventre, então percebeu que tinha arespiração entrecortada e o coração, descompassado.

— Zachary, alguém pode aparecer...

— Temos ainda vinte minutos até o almoço — retrucou ele no mesmo soprode voz, separando as duas partes do vestido que se encontravam no peito deCaroline. — Não é muito tempo, mas não nos resta alternativa senão nos con-

tentar com o que temos.Assim que Zachary fez o vestido deslizar por seus ombros, ela sentiu um

calafrio; não por causa da brisa em sua pele nua, mas sim num antegozo do queestava por vir. Com dedos trêmulos, Caroline desabotoou o colete de seda cinza-chumbo, depois colocou a camisa dele para fora da calça enquanto ouvia todas aspalavras, doces e instigantes, que sonhara escutar num momento como aquele.

Afastando-se por um instante, ele estendeu na relva a manta que havia jogado por sobre um dos ombros, depois so pôs de joelho para ajudá-la a sentar e

a deitar-se no cobertor. Então, afastando o vestido e a roupa branca do peito que

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— Ficou muito bom, Carol. Monsieur Tannberg vai adorar.

— Obrigada — agradeceu Caroline. — Por que vocês não vão indo? Tenho detirar a tela do cavalete e levá-la para casa para que termine de secar.

— Eu ajudo você, Srta. Witfeld. — Atribuindo a seus nervos a impressão deque Anne o olhava de um modo estranho, ele esperou que as seis irmãs seafastassem em meio a queixas e resmungos para se acercar de Caroline.

— Não consegui encontrar meus sapatos — sussurrou ela enquanto encaixavaa tela numa moldura provisória para poder carregá-la sem tocar na tinta.

— Vou procurá-los.

Tratando de ignorar a nova e intensa onda de desejo que o acometia, ele foisaltar sobre a coluna caída e começou a vasculhar as imediações até encontrar

um par de sapatos de tecido verde. A manta amarfanhada se achava ali perto e,por um instante, Zachary ficou a contemplá-la com a sensação de que algo alémdo óbvio havia acontecido sobre aquele cobertor. O quê, exatamente, ele nãosabia dizer, porém a sensação era quase tangível... Um sobressalto o fez apanhara manta do chão para dobrá-la e colocá-la junto ao tronco de uma árvore. Assimpareceria que ele ou Caroline a tinham esquecido ali.

De volta à clareira, colocou o par de sapatos diante de Caroline antes de lheendereçar um sorriso.

— Obrigada.— Obrigado a você, por não ter... — ele limpou a garganta — ...entrado empânico quando suas irmãs apareceram. — Não era bem isso o que pretendia dizer,no entanto alguém tinha de falar alguma coisa.

— Não, sou eu quem deve agradecer pela magnífica aula de anatomia. —Caroline mostrou a tela. — Você se importaria de levar isto para mim?

Tomando o retrato, Zachary ficou esperando que ela reunisse o material depintura. Mas não demorou a sentir que o silêncio acabaria por asfixiá-lo.

— Caroline, eu...— Não quero que imagine que vou me tornar sua amante ou qualquer coisa

assim; tínhamos um acordo, e você cumpriu sua parte com louvor — ela observou ameia voz, depois partiu em direção ao passeio que levava ao casarão. — Vamos,meu lorde? Molly, venha conosco, sim?

Zachary fez sinal para a aia seguir à frente deles e, segurando Caroline pelobraço, esperou a criada se afastar alguns metros para declarar:

— Nunca me passou pela cabeça pedir a você que se tornasse minha amante.De onde foi tirar idéia tão execrável?

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— Não, ao que parece essa é a legislação que regula o direito de patente depesquisas e projetos. — Caroline continuou: — Quer que eu o auxilie a dar umaolhadinha?

— Está se oferecendo para me ajudar? — Zachary sentia os dedos

comicharem da vontade de afastar uma mecha dos cabelos cor de mel do rostodela, de lhe afagar a pele acetinada.

— Tenho quase uma quinzena até receber uma resposta de Viena. Seria umaforma de retribuir o tanto que você me ajudou.

— Aceito.

— Se vocês dois já acabaram de trocar amabilidades — interveio Joannacom grande sarcasmo —, venha ver minha obra, Carol. E o retrato de JohnThomas.

Atendendo ao pedido da irmã, Caroline foi ver a tela. E após alguns instantesde um exame em que nem mesmo suas sobrancelhas se moviam, observou comtoda a naturalidade de que foi capaz:

— Oh, mas está muito bom. Você fez um excelente uso de cores. E suaspinceladas são tão delicadas...

— É mesmo? — Joanna tinha o peito estufado como o de um pássaro canoro.— Vou mostrá-lo a Julia. Ela derrubou chá no rapaz que escolheu para

pretendente lá na confeitaria de Trowbridge, você sabia?Mas antes que Caroline tivesse tempo para responder, a jovem e sua obra járumavam para a porta.

Atento à aia que cerzia meias num canto da sala, Zachary passou os dedospelo dorso da mão de Caroline.

— Obrigado por me oferecer ajuda.

— Não tem de quê — retrucou ela com um sorriso. Agora, antes que eu meesqueça para quantos retratos você está posando?

— Comecei com quatro, mas, depois que elas foram passar a tarde na cidadeontem, parece que deixei de ser o centro das atenções.

— Que bom.

Seria possível que ela estivesse com ciúme?

— E então, teve notícias de seu irmão acerca do projeto de criação de gadoleiteiro?

— Ainda não. Melbourne sempre demora a se decidir por algum tipo de

investimento, mas teria de ser um grande tolo para não se interessar por este. Ede tolo ele não tem nada.

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Tomando o livro da mão de Zachary, ela se sentou na poltrona mais próximae o abriu sobre o colo.

— O que devo procurar?

— Creio que... — Ele pensou por um instante. — Qualquer coisa que se refiraà proteção legal de pesquisas.

Largando-se na poltrona diante da escrivaninha de Sebastian, Charlemagnecolocou um maço de cartas e contas sobre o tampo de mogno do móvel.

— Há uma mensagem de tia Gladys para você — avisou Shay, antes deromper o lacre de uma correspondência endereçada a ele.

— Estou ocupado. — O duque de Melbourne nem tirou os olhos do livro decontabilidade.

Sem deixar de ler sua carta, Charlemagne observou:— Eu só queria saber se nossa tia tem alguma novidade a respeito de vacas.

Ou do próprio Zach.

— Longe de mim insuflar sua curiosidade. — Com um ar contrariado,Sebastian procurou a carta em questão e, depois de desfazer o lacre de cera como abridor de cartas, arremessou-a na direção do irmão mais novo. — Leia paramim.

Deixando sua correspondência de lado, Charlemagne pôs-se a ler amensagem da tia em voz alta:

— "Querido Melbourne, é com imensa satisfação que lhe relato que o tempo aqui em Wiltshire tem estado uma maravilha. Caroline, a filha mais velha dos 

Witfeld, como eu já via mencionado, terminou o retrato de Zachary, que foi enviado para Charlemagne. Espero que aquele patife já o tenha mandado para 

Viena." Ora, é claro que já cuidei disso.

— Continue.

— "Creio que Zachary já deve tê-lo informado acerca da nova obsessão dele: vacas." — Ele olhou para Melbourne. — em que eu queria dizer a eles doistudo o que penso com respeito a esse assunto, Seb.

— Não perca seu tempo.

Após profundo suspiro, Charlemagne prosseguiu:

— "Ele convenceu seis fazendeiros das imediações a participar do 

empreendimento, e amanhã irá até Heddington para comprar cerca de meia dúzia de vacas, com as quais espera repetir a bem-sucedida experiência de Edmund." 

Shay começou a ler a lista dos proprietários de terra que viam se associado aoprograma de criação de gado leiteiro, porém Sebastian, absorto com a

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possibilidade de que Zachary estivesse realmente estar levando tudo aquilo asério, mal o escutava.

— Seb? Sebastian?

— Hum... Sim?— Quer ouvir o resto ou não?

— Claro. Prossiga.

— "Resolvi desistir de Bath para ficar aqui em Wiltshire por tempo indeterminado. Zachary também decidiu ficar, ou pelo menos até que Caroline 

receba notícias do estúdio em Viena. Você devia encomendar um retrato a ela,Melbourne. Além de talentosa, Carol é muito inteligente. Ela tem ajudado muito 

Zachary com os assuntos do projeto dele. Por favor, agradeça a Shay pelo livro 

de poesia que deu para Zachary trazer e pergunte a ele se posso emprestá-lo para Caroline; ao contrário das irmãs, ela sabe apreciar a boa leitura. Prometo que o livro será devolvido em perfeitas condições, a não ser pela capa, que Harold 

mastigou. De um beijo em Peep por mim, GT." — Shay devolveu a carta ao irmãomais velho. — Diga a ela que pode ficar com o livro Eloisa Harding me deu outroigualzinho de presente... Em condições bastante românticas, devo acrescentar.

— Poupe-me dos detalhes de sua vida íntima, Shay. Melbourne passou osolhos pela carta da tia. — Maldição.

— Ora, é só um livro de poemas. O que me admira é ole ainda não terperdido o cachorro.

Com um suspiro desanimado, Sebastian se levantou. Embora Charlemagnetivesse excelente cabeça para negociou, em outras áreas sua inteligência deixavamuito a desejar.

— Dê um jeito de se desembaraçar dos seus compromissos pelos próximosquinze dias, Shay. No final da semana estaremos em Wiltshire.

— Que raios vamos fazer em Wiltshire? Você não esta pensando que

Zachary possa levar a sério esse negócio com as malditas vacas, está?— Não é com as vacas que estou preocupado. É com... -Ele tornou a passar os

olhos pela carta. — A "talentosa e muito inteligente" Caroline Witfeld.

— Ora, mas o que...

Melbourne, porém, já se encaminhava para a porta. As rotineiras cartas detia Gladys haviam deixado bem claro que os Witfeld tinham sete filhas loucaspara se casarem; em face disso, não seria nenhum absurdo supor que o súbitointeresse de Zachary por gado de leite tivesse sido instigado por um rabo-de-

saia. Ciente ou não das maquinações das irmãs Witfeld, o fato era que Zachcorria o risco de, ao se embrenhar pelo interior à procura de vacas, acabasse

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caindo na armadilha de um casamento desastroso. Com um empurrãozinho de tiaGladys, o que era pior.

Mas se aquela velhinha casamenteira calculara que a distância entre Londrese Wiltshire fosse lhe proporcionar uma proteção segura para fazer das suas e

envolver o irmão dele com a filha de um dono de terras, tinha errado nas contas.Por muito.

— Você não precisa da minha companhia — observou Caroline, no primeirodegrau da escada.

— É que eu gostaria de ter uma segunda opinião.

Ela ficou a admirá-lo. Por que agora, após os momentos de intimidade quehaviam compartilhado, sentia a respiração contrita sempre que se achava próximaa Zachary Griffin? Por que seu coração se punha a bater com tanta força sempreque Zachary lhe dirigia a palavra naquele tom baixo e sereno que era tãocaracterístico dele? Por que fazia quatro noites que sonhava que ele estava emsua cama, amando-a como daquela vez sobre a relva?

— Pois bem, o que quero é a sua companhia. — Zachary segurou a mão dela.— Eu queria passar um dia com você sem ter que ficar com o pé apoiado numafalsa coluna grega.

— Mas ontem ficamos duas horas juntos na biblioteca.

— Sim, com uma mesa e uma pilha de livros e documentos entre nós dois.Baixando os olhos, ela se pôs a alisar as saias.

— Eu queria dar uma olhadinha nos meus esboços para escolher os que voulevar para Viena comigo e...

— Caroline, olhe para mim. — Quando ela o fez, Zachary indagou: — Vamospassar o resto do tempo que você e eu ficarmos aqui cada qual no seu canto?

No entanto, ele não lhe deu tempo para responder colocando as mãos sobreseus ombros, trouxe-a para mais perto e a beijou. Não um simples beijo de

namorico, como vários outros que já haviam trocado, mas sim um beijo intenso,ardente, ansioso, que deixava bem claro o quanto ele a desejava.

— Zachary, você está pronto?

Vinda da caleche diante do casarão, a voz do Sr. Witfeld os fez sesepararem.

— Venha conosco, Caroline — pediu Zachary num sussurro. — Venha passar odia com seu pai e comigo. O ar fresco vai fazer bem a nós dois.

— O ar do campo pode ser muito benéfico, mas ficar na sua companhia comcerteza...

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— Prometo ser tão prudente e comedido quanto você. Além do quê, você temum conhecimento acerca dos moradores desta região que eu não tenho. Ajude-mea fazer este projeto dar certo, sim?

Mesmo sem nem sequer imaginar como ele podia passar dos beijos

apaixonados às suas teorias acerca da criação de gado, Caroline aquiesceu:— Oh, está bem. Mas trate de se comportar.

— Prometo que vou tentar.

Aos vinte e quatro anos de idade, com inúmeras admiradoras e quase umadezena de antigas amantes plenamente satisfeitas em sua biografia, ZacharyGriffin imaginava que não tinha muito mais a aprender com uma jovem. CarolineWitfeld, porém, parecia decidida a provar que ele estava redondamenteenganado.

Quando resolvera se alistar no Exército, praticamente tinha abdicado daidéia de casar, afinal conhecia algumas viúvas da guerra e não pretendia deixarninguém naquela situação. E mais as mulheres faziam tanta questão de adular eencher de atenções um Griffin solteiro e desimpedido que chegava a cansar. Nãoapenas isso, mas a...

— Já descobriu quem é, lorde Zachary? — Violet interrompeu as divagaçõesdele.

Obrigando-se a prestar atenção à brincadeira, ele fixou o olhar novamenteem tia Gladys, que enchia as bochechas de ar enquanto abria os braços.

— Tudo o que sei é que estou muito feliz por não fazer parte da equipe daminha tia — respondeu ele com uma risadinha.

— Espere até chegar a sua vez de encenar uma charada — devolveu a amávelsenhora, fingindo comer a coxa de algum animal para depois jogá-la por cima doombro. — Aliás, suas imitações também deixam muito a desejar.

Sentada diante dele, Caroline estava a ponto de cair sobre Joanna de tanto

rir. Logo ela, que em lugar da gargalhada desabrida preferia sempre aquela risadasuave que tinha por hábito cobrir com a mão. Caroline era diferente de qualqueroutra mulher que ele conhecia... além de possuir uma agudeza de espírito muitomais incisiva do que a sua. Em se tratando de descobrir o que queria da vida etentar viver o objetivo sonhado, ela estava quilômetros à sua frente. Quandoenfim se decidira pelo Exército, fizera-o baseado num impulso imediatista e sempesar as conseqüências daquela escolha; com a criação de gado, embora numritmo mais lento e sem a menor exaltação, era possível que trouxesse melhorias àvida de inúmeras pessoas, inclusive a dele.

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Hum... Mas Caroline aprendera algo com ele, sim... e ainda havia muito, muitomais que gostaria de poder ensinar a ela. E, não, não a considerava cansativa;muito pelo contrário, a companhia dela era sempre revigorante, instigante,prazerosa. Agora, o mais importante de tudo Caroline Witfeld não só o levara,

indiretamente, a decidir-se por uma carreira; ela o tinha transformado. Em quemedida, ainda não conseguira avaliar por completo. O que sabia, com toda acerteza, era que não queria voltar a ser o homem que tinha sido.

Gostava da atenção com que Edmund o ouvia esboçar seus planos. Gostavaque os fazendeiros da região a quem convencera a participar do seu projetoviessem procurá-lo para esclarecer dúvidas. E gostava mais ainda porque tinharespostas para todos os seus parceiros. A euforia inicial que experimentara poraquela guinada em sua vida começava a se tornar uma satisfação serena ecotidiana, uma sensação que nunca antes havia experimentado. Agora não só nãoqueria desistir de tudo aquilo, como também sabia a quem devia agradecer porter lhe aberto os olhos.

O olhar de Caroline cruzou com o dele por um instante, então ela olhou emoutra direção. Não, jamais iria vê-la como uma pessoa enfadonha. Fosse comomulher, como artista ou como esposa... Jesus. De onde tinha vindo aquela idéia? Osalto parecia grande demais, deixar de buscar a fama e a glória para abraçar avida de casado.

— Perdão. — Com o peito tomado por uma mescla de pânico e euforia, ele se

levantou. Que importava que tia Gladys estivesse imitando Henrique VIII? —Estou com um pouco de dor de cabeça, mas creio que um pouco de ar fresco mefará bem. Não me demoro.

Driblando o mordomo Barling, Zachary seguiu direto para a porta da rua.Sob a claridade da lua cheia, o passeio que levava à lagoa e ao pasto perto dalireluzia em tons de cinza e violeta, e foi para lá que ele se dirigiu.

Enquanto caminhava, tentou aclarar os pensamentos em polvorosa. O fato decogitar a hipótese de casar não significava que estava decidido a casar-se. E

gostar de Caroline e admirá-la profundamente não significava que pretendia ca-sar com ela. Aliás, mesmo que pretendesse, ela não iria querer ser sua esposa.Não, Caroline estava de partida para Viena. Em menos de uma semana ela se iriade lá. E sem nem sequer olhar para trás.

Não, era óbvio que não queria casar-se. Mudanças produziam idéias sobrenovas mudanças, que traziam mais idéias de mudança, e assim seguia o mundo.Aventar a possibilidade de casar não significava ter de colocar isso em prática.Absorto em suas reflexões, ele se apoiou à cerca que demarcava os limites do

pasto. Dimidius, na certa esperando ganhar uma cenoura ou uma maçã, veio aoencontro dele, e Zachary lhe coçou a orelha, distraído. Era estranho demais

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

pensar que descobrira seu futuro numa vaca. Uma vaca muito bonita, eraverdade, mas nem por isso menos quadrúpede.

Zachary olhou-a de esguelha.

— Você quer mesmo saber a minha opinião a respeito do Partenon?— Se eu não quisesse, não teria pedido—devolveu Caroline.

— Mas seu pai praticamente o recriou. Os dois seguiam pela estradinha todasulcada que levava a pequena propriedade de Vincent Powell: ele à garupa de uminquieto Sagramore, ela em sua égua bem mais sossegada, Heather.

— Papai trabalhou a partir de desenhos e, sei que não digo nenhuma mentira,com muito pouca imaginação. Eu queria saber como realmente são as ruínas deAtenas.

— Lembro que o dia estava quente e seco quando fui visitá-las. — Zacharyfechou os olhos. — Grandes pilares brancos cercados por uma área em decliveformada por pedras claras e terra. Tudo muito calmo, muito silencioso, a não serpela troca de opiniões entre os turistas e o canto de passarinhos... Ainda assim, asensação que tive era a de que algo estava por acontecer. — Voltando a abrir osolhos, ele deu uma risadinha.—Não que eu esperasse que Apolo ou Athena fossemaparecer de repente.

Caroline ficou a admirá-lo por um bom lapso de tempo, então comentou:

— Senti como se eu estivesse lá. Deve ter sido uma experiênciaextraordinária. — Limpando a garganta, ela desviou o olhar.

Ao lhe lançar um olhar furtivo, Zachary sentiu-se estremecer ante o perfildelicado que o chapéu sobre os cabelos cor de mel ressaltava e a silhueta esguiadela, envolta num traje de montaria verde-escuro. A vontade que ele tinha depossuí-la ali mesmo chegava a doer. Mas como isso estivesse absolutamente forade cogitação, apenas declarou no tom mais natural que conseguiu dar à voz:

— Eu queria lhe fazer uma pergunta.

— Sim?Vá com calma, Zach. Você sabe exatamente o que não pode perguntar.

— Que tipo de acomodações monsieur Tannberg oferece aos alunos eartistas que estudam no ateliê dele? Você não vai ter de dormir num banco, vai?

Caroline deu uma daquelas suas risadinhas antes de responder:

— Ele possui um prédio pequeno e aluga os apartamentos por um preçomódico.

— E você acha que será feliz vivendo num apartamento em Viena?

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— Estarei fazendo o que sempre sonhei fazer, por isso acho que serei muitofeliz, sim.

— É uma mudança considerável, afinal você está habituada a conviver comoutras oito pessoas.

— Na maior parte do tempo, minha família nem se da conta de que estou poraqui... Não que eu esteja me queixando, é só uma constatação. Todos têm suasvidas, seus sonhos, seus objetivos... Que não são os meus.

— Está dizendo que suas irmãs só pensam em arrumar um marido?

— É a verdade, não?

Por mais que se indagasse se não estava maluco por levar a conversa paraaquele assunto, Zachary arriscou mais uma pergunta:

— Você consideraria a idéia de casar-se, se seu futuro marido fosse umpatrono das artes ou um pintor ou qualquer coisa assim?

— Com que finalidade?

— Amor, companheiris...

— Quando meus pais se casaram, minha mãe, que havia estudado numinternato para moças com a sua tia, descobriu que o que de mais útil tinhaaprendido era bordar, organizar saraus e, de vez em quando, tocar piano, tudoisso relevado ao segundo plano diante da aptidão que ela tinha para procriar. Nãoquero uma vida assim para mim.

— Apesar de tudo, ela parece ser feliz. Caroline olhou feio para ele.

— Minha mãe transformou a impotência e a histeria numa arte. Eu escolhime dedicar a um outro tipo de expressão artística.

Antes que ela se amargurasse com tudo aquilo, Zachary resolveu ser maisobjetivo:

— Digamos que, como uma hipótese, eu a pedisse em casamento. — No

mesmo instante, ele rezou aos céus para que Caroline não identificasse a nota deseriedade em sua voz. — Você... estaria interessada?

— Claro que não. Casar com um Griffin seria ainda pior do que continuarpresa a Wiltshire.

Não que aquela resposta o surpreendesse, aliás, até se sentia um poucoaliviado, mas, que coisa, parecia que uma abelha a tivesse picado... Fazendo dastripas coração para soar como se o insulto à sua estirpe mais o divertisse do queo magoasse, Zachary quis saber:

— Por quê?

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— A qualquer momento devo receber a resposta dele. Se Melbourne fizerum investimento no projeto, provavelmente vamos duplicar o rebanho com o qualiniciaremos o programa de criação. Caso contrário, bem, essas serão todas asJérseis com que você poderá contar pelos próximos seis meses.

— Está de muito bom tamanho. — Powell deu um sorriso largo. — Obrigado,Zachary.

— Mal começamos. E ainda me falta calcular se vamos precisar de maisterras para pastagem e a quantia de grãos e outros suprimentos que tenho demandar para todos os associados.

— Ah, mas eu já estou otimista e entusiasmado.

Mesmo aborrecido com ela, Zachary segurou no braço de Caroline antes depedir ao fazendeiro:

— Não gostaria de me mostrar sua propriedade, Powell?

Ao entrar no estúdio e deparar com Zachary andando de lá para cá, Carolinefranziu a testa.

— E impressão minha ou você realmente estava à minha espera?

Ele estacou no lugar para encará-la.

— Caroline, estive pensando... Tem certeza de que jamais irá se casar? Nemmesmo sob a mais perfeita das circunstâncias?

Por um momento ela teve a sensação de não conseguir respirar. Logo emseguida, porém, tratou de colocar a cabeça no lugar.

— Eu queria que alguém a quem considero um amigo nunca me fizesse talpergunta, porque um amigo saberia não só o que desejo da vida, mas também queo casamento iria me impedir de conquistar o que almejo.

— Eu quero criar gado. — Sem tirar os olhos dos dela, Zachary foi seaproximando devagarzinho. — Isso não me impede de acrescentar outros itens à

minha lista de interesses. Como você bem sabe, uma pessoa pode ter mais de umafonte de satisfação na vida.

— Você pode; é homem, é nobre, é um Griffin. Eu sou uma Witfeld deWiltshire, bisneta de um visconde. E tenho pavor só de pensar numa vida em queo que mais gosto de fazer no mundo seja considerado um passatempo que mereçaser desdenhado. Ou meramente tolerado... Ou, pior ainda, desencorajado ouproibido sob a alegação de que possa vir a prejudicar o nome do meu marido ou dafamília dele.

— Mas...

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

Colocando-se ao lado de Zachary junto à janela, ela viu a grande carruagem

toda negra, com um brasão pintado em vermelho nas portas, estacionada bem emfrente à entrada do casarão. Um coche menor, que vinha logo atrás, parou acerca de dois metros do primeiro.

— Sua família?

— E com bagagem — confirmou Zachary. Deus do céu.

— O... o duque?

— Pode ser. Mas como tudo o que pedi a Melbourne foi uma mensagem de

aprovação ao meu projeto, não creio que o fato de ele ou Charlemagne terem seabalado até Wiltshire em plena temporada possa ser um bom presságio.

Suspirando, Zachary deixou o estúdio para rumar para a escadaria.Enquanto descia os degraus logo atrás dele, Caroline já podia ouvir a mãegorjeando na sala de visita. Assim, foi para lá que os dois se encaminharam.

— Oh, não, não é incômodo nenhum — ia dizendo Sally Witfeld em meio arisadinhas nervosas. — Gladys é uma amiga muito querida, e lorde Zachary temsido uma companhia adorável.

Assim que Caroline entrou na sala, dois cavalheiros finamente trajadospuseram-se em pé. A Sra. Witfeld também se levantou, no exato instante em queZachary se detinha às costas da filha dela.

— Carol, querida! Veja! O duque de Melbourne e seu irmão, lordeCharlemagne, vieram até Wiltshire para nos visitar!

Eles estavam ali por causa da tia e do irmão caçula, pensou Caroline, quepreferiu não corrigir a mãe. De fato, era impossível não presumir que se tratassedos irmãos de Zachary, os dois tinham os mesmos cabelos quase negros, os

mesmos belos olhos acinzentados, o mesmo físico esguio. Ao reparar que o maisalto deles, o primeiro que sua mãe havia indicado, olhava atentamente para ela,Caroline curvou-se numa mesura.

— Vossa Graça, meu lorde.

— Srta. Witfeld. Então é você a artista?

— Sim, Vossa Graça.

— Que raios vocês dois estão fazendo aqui? — quis saber Zachary, passandoà frente dela.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Olá para você também, Zach. — O irmão do meio, Charlemagne, adiantou-se para tomá-lo num abraço.

Zachary afastou-o para interpelar o outro irmão:

— E então?— Você me mandou uma carta — respondeu o duque com uma entonaçãoabsolutamente serena. — Vim ver do que se tratava.

— Você veio até Wiltshire para ver vacas — Zachary devolveu com o cuidadode fazer a frase soar como uma afirmação, e não como uma pergunta.

Sebastian passou à frente das irmãs de Caroline, que o examinavam comolhares repletos de admiração e sorrisinhos infantis, para sugerir:

— Por que não mostra essa Dimidius de que tanto ouvi falar?

— Sim — disse Charlemagne. — Enquanto isso... Quem foi mesmo disse quegostaria de me mostrar seus bordados?

Caroline colou-se à parede enquanto Zachary e o duque deixavam o aposentoe suas irmãs se lançavam sobre o outro irmão como um enxame de mariposasextasiadas. Pelo visto as lições que Zachary havia lhes dado sobre como abordarum cavalheiro e lhe conquistar a simpatia não se aplicavam quando havia umGriffin por perto.

Bem, talvez fosse hora de ir começar a arrumar as malas para a viagem aViena. Sim, separar o que iria levar. E não pensar em tudo o que Zachary havia lhedito.

— Tive a impressão de que tia Gladys está bem melhor — comentouMelbourne, seguindo ao lado do irmão caçula pelo passeio de pedras.

— É o que parece, sim — concordou Zachary, não apenas desconfiado dapresença dos irmãos ali como também calculando que os dois não podiam terescolhido hora pior para chegar. — Como está Peep?

— Zangada por ter ficado em Londres com a Sra. Beacham. Ela mandou um"olá" e disse que quer conhecer sua vaca.

— Dimidius não é minha. Ela pertence ao Sr. Witfeld.

— É verdade. Mas você não detalhou o projeto na sua carta. Do que se trata,exatamente?

Tratando de tirar Caroline dos pensamentos, Zachary explicou as linhasmestras do seu programa de criação de gado leiteiro, sem deixar de incluir ospormenores pertinentes, como o tamanho do rebanho, o planejamento das cruzas,

os custos estimados para o primeiro ano. E tão logo se aproximaram da áreadestinada à pastagem, apontou Dimidius e sua novilha.

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— Zachary...

— Melhor dizendo, Sebastian considere-se desconvidado a se unir a nós.

Pelo visto as notícias corriam com o vento no condado de Wiltshire, reparou

Sebastian. Não fazia nem duas horas que ele e Shay estavam ali, e outros novemoradores da cidadezinha de Trowbridge e imediações já tinham se lembrado defazer uma visitinha ao Solar Witfeld. Isso para não falar das duas ou três filhasdos anfitriões que não paravam de bater as pestanas para ele e seu irmão.

Sentado na poltrona diante da dele na sala de visita, Charlemagneinclinando-se para apanhar a xícara de chá sobre a mesa, aproveitou paraperguntar:

— Que diabo estamos fazendo aqui mesmo, Melbourne? E Zachary, onde foique ele se meteu?

Depois da frieza com que o irmão caçula o recebera, Sebastian começava ater sérias dúvidas quanto às possíveis respostas a ambas as perguntas. De umacoisa, porém, tinha certeza absoluta outros planos além daquele relacionado àcriação de gado estavam em jogo naquele lugar e, com sete jovens Witfeldaparentemente no encalço de qualquer homem solteiro no condado, ele não iriaarredar pé dali até se assegurar de que Zachary não corresse nenhum perigo.

— Estamos fazendo algumas averiguações — disse o duque a meia voz. — EZach... está por aí.

Evidente que a fonte de informações mais confiável seria tia Gladys, noentanto ainda não lhe fora possível ficar um único instante a sós com ela. Bem,talvez não fosse má idéia arriscar uma das irmãs... Sim, decerto a Sra. Witfeldnão oporia a menor objeção ao seu pedido para conversar com uma das filhasdela.

Fazendo sinal para Charlemagne ficar onde estava, Sebastian se levantoupara perguntar à dona da casa:

— Onde posso encontrar a Srta. Witfeld? Eu gostaria de ver algumas obrasque ela pintou.

— Ela deve estar no estúdio — respondeu a Sra. Witfeld, abanando a mão. —Mas conversar com Caroline é perda de tempo; ela vai para Viena dentro de unspoucos dias e nem quer ouvir falar de casamento. Você devia conversar comJoanna, aqui; além de simpática, ela é muito prendada.

— É mesmo? — Com a sensação de que o nó da gravata estava lheincomodando, ele olhou ao redor. — Alguém me mostraria onde fica o estúdio?

— Eu, Vossa Graça — disse outra jovem, que correu a se levantar.— E você é? — Sebastian se pôs nos calcanhares dela.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Anne. Não sei pintar nem bordar.

Com a nítida sensação de que ela acabava de subir no seu conceito, o duquegracejou:

— Nem eu.— Você cria gado?

— Tenho rebanhos em várias das minhas propriedades.

— Aposto que nenhuma das suas vacas dá tanto leite quanto Dimidius.

— Hum... acredito. Bem, mas a verdade é que não vim a Wiltshire para falarde gado.

— Você veio tratar de outros assuntos.

Sebastian preferiu não responder. Parecia que nem todas as Witfeld eramobtusas como ele tinha imaginado. Interessante.

— Na verdade, estamos numa região onde se criam ovelhas — prosseguiuAnne, afetando indiferença ao silêncio dele.

— Sim, eu sei.

— Por aqui também há muitas olarias. E Trowbridge é famosa pelos tecidosde excelente qualidade.

— Ouvi dizer. — Embora parecesse que ela sentia certo prazer emimportuná-lo com aquela conversa tola, aquele talvez fosse um bom momento paracavar alguma informação útil. — Se o condado é reconhecido pela qualidade desuas ovelhas e olarias e tecidos, por que seu pai decidiu criar gado?

— Você resolveu que quer voltar a falar sobre gado? Após respirar fundo,Sebastian disse somente:

— Sim.

— Pois não. A bem da verdade, ele não decidiu criar gado. Papai tinha uma

teoria acerca da combinação de raças; foi lorde Zachary quem percebeu aimportância de Dimidius, por isso convenceu cinco ou seis fazendeiros eproprietários de terras da região a usar parte de suas pastagens para ajudar aaprimorar uma raça de gado leiteiro.

— Parece que todos vocês apreciam a companhia de Zach e tia Gladys.

— Claro que sim. Além do mais, se lorde Zachary não tivesse posado para oretrato de Carol, ela teria de recorrer a lorde e lady Eades. — Detendo-se nomeio da escada, Anne olhou para o duque por sob o braço. — Os dois adoram ves-tirem-se como figuras históricas, e eu não sei como o estúdio de arte iriaentender uma pintura dessas.

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

— Realmente.

No corredor após o último degrau, Anne parou diante da primeira porta,batendo de leve antes de chamar:

— Carol? O duque de Melbourne quer ver seus trabalhos. Não se passaramnem dois segundos e a porta se abriu.

— Claro — disse a jovem esguia com cabelos cor de mel, dando um passoatrás para que eles pudessem entrar.

Com um sólido assoalho de carvalho, a sala tinha boa parte de sua estruturatomada por janelas curvadas para o lado de fora, sob as quais se alinhavamassentos recobertos por coxins. Nos fundos do aposento, prateleiras e organiza-das fileiras de livros e blocos de desenhos ocupavam todos os espaços enquanto,à direita dele, mal se via a parede de tantos quadros que a cobriam.Aproximando-se das telas, Sebastian deparou com retratos de família, paisagens,imagens de cachorros, gatos e galinhas, pessoas que ele reconheceu entre osvisitantes que tinham estado ali mais cedo e outras que julgou serem vizinhos,parentes ou amigos.

Ao ouvir a autora de tantas obras se acercar, o duque, fazendo um arcompenetrado, esperou que ela desse início ao discurso de praxe, desculpandoesse ou aquele detalhe, justificando modelos um tanto esquisitos. Mas como otempo foi passando e a Srta. Witfeld não se manifestasse, ele se viu na

obrigação de dizer alguma coisa:— Esses são todos os seus trabalhos?

— Não. Alguns estão espalhados pela casa, outros estão com as famílias aquem retratei.

— Entendo.

Nada de risinhos tolos, nada de falsa modéstia. Sebastian examinou aspinturas mais de perto. Boa parte dos mais aclamados artistas daquela geraçãofazia de tudo para se aproximar dele; quase sempre porque precisavam de umpatrono ou de um cliente. E ele possuía uma pequena coleção de obras-primas,produzidas pelos melhores pintores britânicos, como uma espécie de contribuiçãoà comunidade artística.

— Você tem talento. — Após uma rápida olhada em direção a Anne, quecontinuava junto à porta, o duque pôs-se a caminhar diante dos trabalhos.

— Obrigada.

— Mas — ele parou para encará-la —, verdade seja dita, não sou muito fã de

pinturas que reproduzem animais.

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— Bem, nesse caso pode me considerar um eunuco. — Charlemagne torceu onariz. — Seja como for, tia Gladys não iria permitir que você avançasse os limitesdo bom tom.

Shay que pensasse o que bem entendesse. Ele que não iria contar ao irmão

nem a ninguém a importância que Caroline havia assumido na sua vida. Ainda maisagora, quando deixá-la partir parecia ser o que de melhor podia fazer por ela.

— Mas, Edmund...

— Por mais que você pense que isso iria aumentar nosso prestígio junto aosnossos vizinhos, Sally, não podemos nos dar ao luxo de fazer uma festa só porqueum duque veio bater, sem ser convidado, à nossa porta!

Prestes a entrar no gabinete do pai, Caroline ainda chegou a dar meia-voltana esperança de que não a tivessem visto. Doce ilusão.

— Caroline!

Maldição. Tornando a se virar, ela foi se colocar à soleira da porta.

— Sim, papai?

— Sua mãe acha que devemos organizar um sarau para dar as boas vindas aoduque de Melbourne. O que você acha?

— Não creio que o duque e lorde Charlemagne pretendam ficar em Wiltshireo tempo necessário para se preparar uma festa, afinal nem um nem outro devemestar lá muito confortáveis nos aposentos de Grace e Violet. Além disso, Anne eSusan não estão nada satisfeitas por terem de dividir seu dormitório com elas.

— Mas, se dermos uma festa, eles vão ter de ficar! — argumentou Sally,torcendo um lencinho rendado entre os dedos. — Quem mais por aqui já acolheutrês nobres ao mesmo tempo em sua casa?

— Mamãe, não me parece que...

— Oh, Carol, você e suas irmãs tiveram um mês para fazer lorde Zachary se

apaixonar por uma das sete, e no que foi que isso deu? Ele só fala de vacas!— Mas a senhora não está vendo que esse projeto pode ser extremamentebenéfico para nossa família?

— Não perca seu tempo, Carol — interveio o Sr. Witfeld, abrindo o livro decontabilidade. — Sua mãe quer um genro, não qualidade de vida.

— Eu quero ambas as coisas! — Erguendo a cabeça, Sally deixou a salapisando duro.

— Lamento que você tivesse de testemunhar uma cena dessas, filha —

observou Edmund, evidentemente indiferente aos queixumes da esposa. — Olhe, já separei vinte libras para qualquer despesa extra que você venha a ter na via-

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CHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne EnochCHE 400 – Como Fisgar um Marido – Suzanne Enoch

gem... ou para o caso de preferir comprar um vestido novo para causar boaimpressão ao dono da academia.

— Ainda nem recebi uma resposta, papai. — Ela se afundou na poltronadiante da escrivaninha. — Obrigada pelo seu zelo, mas não estou em condições de

pedir mais nada.— Ora, você sabe que pode me pedir o que quiser.

Caroline sentiu os olhos úmidos. O fato de saber perfeitamente bem o quevinte libras significavam para a família tornava ainda mais fácil o que precisavadizer ao pai.

— Creio que sei por que Melbourne está aqui, papai.

— Não é por causa de Dimidius?

— Acho que é por minha causa.Tornando a fechar o livro-caixa, Edmund colocou a mão sobre a mão com que

Caroline brincava com o abridor de cartas dele.

— Posso ter andado um tanto ocupado ultimamente, querida, mas não soucego. Estou sabendo que Sua Graça não veio aqui por causa das vacas. — Eleapertou de leve a mão da filha. — Agora me conte o que você quer me contar;prometo ouvir com atenção e ser razoável.

Oh, Deus.

— Zachary pediu... pediu, não, sugeriu... Ele... ele deu a entender que talvezgostaria de casar-se comigo.

Após um bom lapso de tempo em que tudo o que se ouvia era o tique-taquedo relógio lá na biblioteca, Edmund limpou a garganta.

— Sei. E qual foi sua resposta?

— Eu disse que queria ser retratista e que isso não seria possível seestivesse casada, por isso pedi a ele que nem chegasse a me propor casamento.

— E ele aceitou?— Sim. Mas eu queria que o senhor soubesse que... que Sua Graça

provavelmente suspeita de alguma coisa e quer se assegurar de que um Griffinnão vá se casar com alguém que não compartilhe da posição social deles.

— Caroline, eu poderia compará-la a qualquer fidalga da Inglaterra e vocêsairia ganhando. Mas não quero vê-la infeliz nem mesmo no mais vantajoso detodos os casamentos.

Era esse o cerne da questão. O duque de Melbourne certamente não iriapermitir na família uma pintora que insistia em ter não apenas seu ateliê e seus

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— Bom dia, Srta. Witfeld.

Ao erguer os olhos, Caroline agradeceu aos céus por não ser Zachary quemfalara com ela do vestíbulo. Já bastava toda a dor que vinha lhe oprimindo o peitonos últimos dias.

— Lorde Charlemagne. — Ela terminou de descer a escada.

— Zachary me disse que há uma série de lugares para se pescar pelasredondezas.

— É verdade. O rio Wyler fica a poucos quilômetros daqui. Além do rio,todos os riachos e córregos da região são bons para a pesca.

— Quem sabe não vou até um deles? A propósito, você viu meus irmãos?

— Parece-me que Sua Graça está na biblioteca. Hoje ainda não vi lorde

Zachary.Na verdade, Caroline praticamente não o vira nos últimos três dias, não por

culpa dele, mas sim porque estivera a evitá-lo. Perdida entre a mais pura euforiae o mais profundo dos desesperos, mal conseguia dormir desde que ele lhedeclarara seu amor. Se ao menos Zachary fosse um pintor sem eira nem beiracomo ela... Se ao menos ele morasse em Viena... Se ao menos não fosse umGriffin.

A porta da rua abriu-se de chofre e por pouco não fez lorde Charlemagne

aterrissar sobre a mesinha de canto.— Carol! — gritou Anne ao vê-la ao pé da escada. — Chegou! Chegou!

— O que...

O pai dela surgiu no vão da porta trazendo um grande pacote nos braços.

— Veio de Viena — anunciou Edmund com a voz embargada e um sorrisoradiante.

Oh. Oh, Deus. Oh, meu Deus. De tanto que suas mãos tremiam, Caroline teve

de apertar uma com a outra. Seria o retrato? Era provável, afinal todos ostrabalhos que havia enviado para avaliação junto com o pedido por uma vaga nocurso tinham sido devolvidos. Não só o retrato de Zachary pertencia a Zacharycomo certamente o ateliê de Tannberg não devia ter espaço para acomodar todasas obras de seus alunos.

— Vamos para a sala de visita? — sugeriu o Sr. Witfeld.

— Sim, sim — concordou Caroline, arrancando-se da expectativa quechegava a lhe amolecer as pernas. — Anne, vá chamar a mamãe.

Meio entorpecida, ela seguiu o pai até a sala. O fato de a resposta ter vindoum dia antes do previsto não devia ser motivo para que se sentisse feito uma

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tonta, sem nem ao menos saber o que dizer, no entanto era exatamente assim queestava se sentindo. Céus, se não começasse a se controlar, acabaria debulhando-se em lágrimas antes mesmo de ler a carta de monsieur Tannberg.

Assim que Caroline se sentou, Edmund colocou o pacote sobre o colo dela e,

após lhe beijar a testa, acomodou-se na poltrona mais próxima. Enquanto elaabria a parte de cima do embrulho, a sala foi se enchendo de gente. Em questãode segundos, estavam todos ali: sua família inteira, tia Gladys, o duque, lordeCharlemagne... e Zachary.

— Ande com isso, minha filha! — implorou a Sra. Witfeld, revirando os olhosde aflição. — Estou a ponto de desmaiar de tanta ansiedade!

Respirando fundo, Caroline olhou pela abertura que havia feito no pacote.Sobre o tecido acolchoado com que havia embalado o retrato de Zachary havia

uma carta. Após apanhar o papel dobrado em dois, ela colocou a tela no chão,apoiada à cadeira em que estava sentada. Então, sem parar de tremer um sósegundo, rompeu o lacre de cera que protegia a mensagem e desdobrou a folha depapel.

— Leia em voz alta, Carol — pediu Anne, colocando-se na ponta dos dedos dopé.

Caroline limpou a garganta.

Prezada Srta. Witfeld,

Quando recebi seu requerimento solicitando uma vaga como aprendiz no 

meu ateliê, julguei que a solicitação viesse de um cavalheiro, uma vez que este estabelecimento não tem por costume contratar senhoras ou senhoritas.

Mesmo ante a impressão de que a voz ameaçava lhe faltar e a sensação de que seu pior pesadelo começava a tomar forma, ela se obrigou a seguir adiante.

Seu estilo denota aptidão e seus traços indicam perícia, no entanto, com 

uma falta de sensibilidade tipicamente feminina, você idealizou seu modelo muito além do que no geral se consideraria tolerável. Ao nosso ponto de vista, você tem uma boa dose de talento, por isso lhe sugerimos a profissão de professora de arte para crianças, que é também muito mais adequada a uma artista do seu sexo.Com os meus respeitos.

Monsieur Raoul Tannberg, Ateliê Tannberg, Viena 

Pronto. Estava tudo acabado. Sem fanfarra, sem novas expectativas, sem

chance de uma futura aprovação. Bem-feito para ela, que, após vinte e seisrecusas, havia se apresentado ao estúdio vienense como S. Witfeld. Resolvera

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escrever apenas "S" no lugar de "Srta." na esperança de que, impressionados como seu trabalho, eles pouco se importassem se se tratava de um homem ou de umamulher. Pelo visto, enganara-se redondamente.

— Oh, Edmund! — exclamou a mãe dela, antes de cair desmaiada.

No caos que se seguiu, Caroline continuou sentada ali, lendo e relendo amensagem. Sentia-se entorpecida, como se, após a primeira punhalada, mais nadafosse capaz de atingi-la. Até entendia que, no mundo em que vivia, uma escola dearte preferisse não admitir uma mulher, mas dizer que ela havia idealizado seumodelo era simplesmente ridículo. Tinha desenhado e pintado Zacharyexatamente como ele era. Não era culpa sua se, além de excepcionalmentebonito, ele também evocava confiança em si próprio e inspirava admiração.

Uma mão tocou o ombro dela.

— Caroline? Zachary. Oh, Deus...

Sentando-se ao seu lado, ele lhe tomou os punhos cerrados entre as mãos. Oque pretendia dizer? Que, posta diante da perspectiva iminente de trabalharpara os Eades como governanta, ela não tinha outra escolha senão desposá-lo?Caroline fechou os olhos por um instante. Não sabia mais o que pensar, o quefazer, o que sentir. Queria que ele sumisse da sua frente. Queria que ele ficassepara sempre ao seu lado.

— Sinto muito, Caroline.

— Sente?

— É lógico que sinto, afinal sei o quanto você almejava esse curso. Olhe,posso escrever para Tannberg; quem sabe o nome Griffin não o...

— Não. — Ela se levantou.

— Escute, você não precisa...

— Com licença — interrompeu o duque de Melbourne. — Depois de admirarseu trabalho naquele dia, Srta. Witfeld, tomei a liberdade de escrever a um

amigo para mencionar o seu talento. — Tirando uma carta do bolso, Sebastian en-tregou-a a Caroline. — Eis a resposta dele.

Perfeito. Na certa o duque tinha uma prestigiosa ocupação para ela comogovernanta nos cafundós de Yorkshire. Qualquer coisa que servisse para impediruma Witfeld de casar com um Griffin. Com um suspiro, ela abriu a mensagem. Epor pouco não gritou ao ver a assinatura no pé da folha de papel.

— Quem escreveu isto foi Thomas Lawrence... — Caroline ofegou, o torporse transformando numa onda de calor que lhe afogueava o rosto.

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— Lawrence gostaria de lhe oferecer uma vaga de aprendiz no ateliê deleem Londres. — O duque parecia mais interessado na reação de Zachary do que nadela. — Com a condição de que você inicie suas aulas antes do fim do mês.

Antes do fim do mês. Isso lhe daria três dias para arrumar sua bagagem e

partir para Londres.— Eu já tinha enviado uma carta a sir Thomas — retrucou Caroline, num

esforço para não perder o senso de realidade. — Mas o secretário delerespondeu afirmando que sir Thomas não aceitava alunos, menos ainda no caso demulheres.

— Por certo sou mais persuasivo do que você — foi tudo o que Melbournerespondeu.

— Mas...

— Srta. Witfeld, não foi você mesma quem me disse, dias atrás, queobstáculo algum iria demovê-la de tentar realizar o sonho de se tornar umaartista profissional? Eu a recomendei a Lawrence, mas agora está em suas mãosprovar a ele que tem talento.

— Quanta generosidade, Melbourne — observou Zachary num tom soturno.— No entanto, eu gostaria de saber por que você resolveu usar da sua influênciapara ajudar a Srta. Witfeld.

— Ora, você a tem ajudado desde que chegou aqui — devolveu Sebastiancom a mesma aspereza. — Eu também quis fazer a minha parte.

— É claro que não. E eu não vou...

— Chega! — Caroline os repreendeu.

Melbourne estava praticamente a desafiá-la a admitir que sua conversasobre não medir esforços para concretizar o sonho da sua vida não passava defalácia, enquanto Zachary parecia disposto a consolá-la com um casamento comalguém que toleraria sua arte como mero passatempo. De modo que, agora, ela se

via diante de três opções: trabalhar como governanta dos Eades, casar-se comZachary ou estudar com Thomas Lawrence. Sendo que as duas primeiras seriam omesmo que reconhecer que seu sonho era inatingível, jamais se realizaria eestava definitivamente enterrado.

Caroline olhou para o rosto ansioso de seus familiares. E já se preparavapara anunciar o que havia decidido quando Zachary lhe soprou sobre ombro.

— Por favor, pense com calma antes de...

— É melhor eu ir arrumar minha bagagem — ela o interrompeu, apertando a

mensagem de Lawrence de encontro ao peito. — Tenho de estar em Londresdentro de três dias.

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Suas irmãs começaram a fazer uma algazarra, porém era em Zachary queela tinha o olhar. Com um leve gesto de anuência e o queixo rígido, ele virou-se edeixou a sala.

— Você não tinha o direito!

— Baixe o tom de voz, Zach — retrucou Melbourne de sua poltrona junto àlareira da biblioteca.

Sebastian não perdera tempo a sentir-se extremamente à vontade no SolarWitfeld, reparou Zachary. Bem, pelo menos ele tinha pedido para Shay deixá-losa sós. Já era alguma coisa.

— Perdoe-me se eu estiver errado — prosseguiu Melbourne —, mas tive aimpressão de que você estava incentivando o empenho artístico da Srta. Witfeld.

— Não se trata disso. Eu... Ora, você nem a conhece direito — Zacharyrosnou por entre os dentes. — Droga, por que nem ao menos tentou se inteirar doque estava acontecendo antes de vir se meter nos meus assuntos?

— Seus assuntos? Eu fiz um favor à Srta. Witfeld. Seus assuntos, nomomento, são as vacas, não?

— Faça-se de tonto o quanto lhe aprouver, Sebastian. Quero me casar comaquela mulher. Eu amo Caroline.

O duque ficou olhando para ele com uma expressão inefável até que, por

fim, indagou:— Ela sabe disso?

— Claro que sabe.

— Então não entendo por que você está me culpando. Ela aceitou o convitede Lawrence, não fui eu que a forcei.

Era verdade. E era por isso também que Zachary ainda não se sentia calmo osuficiente para ir falar com Caroline. Descontar a raiva em Sebastian parecia

bem mais fácil. Agora, que seu irmão mais velho tinha sua dose de responsabi-lidade em tudo aquilo, ah!, Isso só um insano iria negar.

— Você podia ter dado a ela um pouco de tempo para pensar antes deaparecer com a tal oferta de Lawrence e praticamente desafiá-la a recusar aoportunidade, Seb.

— Não vou me desculpar por seja lá o que for. E, a propósito, nossa tiaresolveu seguir viagem para Bath; você irá acompanhá-la.

— Não irei, não. Tenho um compromisso com os moradores daqui. Comecei

um programa de criação de gado e vou levá-lo até o fim.

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— Como ousa? Poucas semanas atrás, você ia se alistar no Exército. O quefoi antes disso? A Marinha? O sacerdócio? Criar cavalos? Dedicar-se à jogatina?Comprar galinhas? O que o faz pensar que está habilitado a me dizer o que é umameta ou o que é a vida?

— Pelo menos, tento manter minha mente aberta a qualquer possibilidade etrato de aprender com meus erros. Tanto que escolhi um futuro para mim. Equero você nele.

— Depois de tudo o que me disse? Pois eu não me casaria com você nem quea alternativa fosse produzir tijolos. Deixe-me sozinha, por favor.

Por um instante, tremendo de raiva e frustração, Zachary não se moveu.Mas então lhe deu as costas para rumar em direção à porta.

— Seja feliz com a droga da vida que arrumou para si, Caroline. Espero queela seja tudo o que você sempre sonhou.

Depois de quase derrubar a assustada criada que aguardava do outro ladoda porta, ele desceu à sala no piso térreo, onde tia Gladys confabulava com aagora risonha Sally Witfeld acerca da súbita e inesperada mudança no futuro deCaroline.

— Tia Gladys, pretendo partir antes do anoitecer.

Era óbvio que Melbourne já a avisara a respeito do papel que ela tinha a

desempenhar, pois a amável senhora correu a menear a cabeça num gestoassertivo.

Por mais que odiasse dar a Melbourne aquela satisfação, restava uma pessoaa quem ele ainda precisava comunicar sua partida. Assim, após dizer ao criado dequarto que preparasse sua bagagem, colocou a guia na coleira de Harold e foiprocurar Edmund nas imediações da lagoa, pois era lá que Barling havia lhe ditoque poderia encontrar o dono da casa.

Deparou com o pai de Caroline sentado num matacão à beira d'água. Comuma vara de pescar na mão e um balde de peixes do lado, o cordato senhor era aimagem da serenidade campestre.

— A confusão lá em casa me deu vontade de pescar — explicou o Sr.Witfeld, evidentemente sem a menor necessidade de fazê-lo.

Ao ver Harold fazer menção de atacar o balde, Zachary deu um assobio. Nomesmo instante, o cãozinho se sentou sobre as patinhas traseiras.

— Tia Gladys quer ir para Bath, e eu tenho a obrigação moral de acompanhá-la. — Ele resolvera não fazer rodeios. — Independentemente de qualquer coisa,

nosso projeto está de pé, e eu espero me corresponder com o senhor a fim detrocarmos informações e avaliações.

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tirara essa idéia absurda dos pensamentos a tempo. Pelo visto, fizera muito bem.Aquele homem insuportável. O arrogante. O cheio de si.

Caroline se afastou da janela antes mesmo que a segunda carruagempartisse. Tinha mais o que fazer e material de pintura e telas para embalar,

afinal sir Thomas Lawrence decerto iria querer ver seu trabalho... inclusive oretrato de Zachary, evidentemente. Ia tirá-lo... tirar todos os Griffin, dospensamentos. Ora, como se precisasse de um homem em sua vida para sentir-secompleta e feliz. Estava a caminho de se tornar uma retratista no maisconceituado dos ateliês de pintura da Inglaterra. Não havia mais nada no mundoque quisesse além disso. Nada. Ninguém. E se tinha os olhos marejados agora erasó porque...

— Carol?

Ela passou o dorso da mão pelos olhos antes de se virar para a porta.— Sim?

— Eles foram embora — disse Anne.

— Eu sei. Vi daqui de cima.

— Gostei do duque; ele me pareceu muito seguro. —Antes cabisbaixa, Anne já levantava o rosto. — E lorde Charlemagne disse que, quando estiver nasproximidades de Wiltshire, virá nos visitar.

— Imagino.— E Zachary também vai voltar aqui, é claro. Ele me falou que viria dentro

de três meses, mas acho que será antes disso.

Caroline preferiu manter a boca fechada.

— Se eu tiver um pouco de sorte — prosseguiu a jovem —, uma ou duas deminhas irmãs já estarão noivas quando ele vier. E então o caminho estará livrepara mim.

— Anne, se está tentando me deixar com ciúme, não perca seu tempo. Nãoquero nem saber de Zachary. Estou indo para Londres e aposto que meus diasserão tão corridos que mal terei tempo para lembrar que ele existe.

— Se não quer mais saber dele, por que está chorando? Caroline voltou aenxugar os olhos com as mãos.

— Porque quando for embora de Wiltshire, irei me separar de papai e devocê.

Aproximando-se, Anne enlaçou a cintura dela pelas costas.

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— Talvez não seja por muito tempo, Carol. Se os planos de papai e deZachary derem certo, teremos condições para ir visitar você em Londres. Quemsabe já no Natal. E nós escreveremos uma à outra todos os dias.

— Sim. Vou querer saber como o projeto de papai está indo.

— Só isso?

— Também irei querer notícias da família, é lógico. E saber se lorde e ladyEades já encontraram alguém para cuidar dos monstrinhos dos filhos deles.

Anne deu uma risadinha antes de dizer.

— Prometo mantê-la informada a respeito de todos os mexericos da região.Agora, vamos descer para jantar. Mamãe está louca para lhe dizer outra vez quevocê é a filha preferida dela.

— Então vamos logo, antes que ela mude de idéia... como de costume.À sua escrivaninha, Zachary ergueu o olhar para admirar o aguaceiro que

investia contra a vidraça da janela. Não só tinha chovido a semana inteirinhacomo, nos dois últimos meses, era raro que não caísse um pé d'água dia sim, dianão. Em Bath só se falava que, se a chuva não parasse, a cidade acabaria sendolevada pelas águas do rio Avon. De sua parte, ele estava mais do que satisfeito:além de gostar daquele clima, os temporais eram uma boa desculpa para não iraos saraus e às partidas de pôquer.

Assim que ele voltou os olhos ao último relatório de Edmund, a porta do seugabinete se abriu e, deitado diante da lareira, Harold levantou a cabeça, abanou acauda e voltou a dormir. Mas não era Andrews, o mordomo, que vinha com o chá, esim tia Gladys.

— Carta de Edmund? — ela quis saber, enquanto ajeitava a bandeja sobre aescrivaninha.

— Hum-hum. Atingimos nossa meta de trinta e cinco vacas para o primeiroano do projeto. Nove delas têm uma genealogia semelhante à da novilha de

Dimidius, e ele está quase certo de que pelo menos doze estão prenhes.— Você vai ter uma primavera bastante agitada, ao que parece.

— Sim. É justamente nas crias que estou mais interessado.

— Sei. E Sally, como está?

— Em estado de graça. Susan se casa no sábado, e Julia e Grace ficaramnoivas.

— Três de sete... Sally deve estar mesmo muito contente. Vou escrever para

parabenizá-la.

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Ele não preferiu corrigir a conta da tia, pois lembrá-la que só seis das irmãsWitfeld pretendiam casar seria uma forma, ainda que indireta, de admitir quecontinuava pensando em Caroline, obsessivamente, noite e dia. Em vez disso,ignorou a xícara de chá sobre a bandeja para tomar mais um gole do uísque do

outro lado da escrivaninha.— Quanto tempo mais vamos ficar nesta inundação? — indagou tia Gladys

após ruidoso suspiro. — Minha crise de gota se foi, e agora é com minha cabeçaque estou preocupada, pois não estou mais suportando tanto tédio e tanta umi-dade... Quero voltar para Londres.

Zachary sentiu um arrepio na espinha. Ela estava em Londres. Até então eletinha dado um jeito de evitar notícias a respeito de Caroline, e tudo o que sabiaera que Lawrence a tinha admitido em seu ateliê e que ela recebera a encomenda

de vários retratos.— E mais fácil trabalhar aqui, titia, sem nada nem ninguém para

interromper.

— Zachary, se continuar chovendo assim por mais uma semana, vamos acabartodos carregados pela enxurrada até o oceano Atlântico... Se você quisercontinuar neste dilúvio, muito que bem; eu vou partir para Londres amanhã cedo.Na carruagem, o que significa que você terá de voltar na garupa de Sagramore. —Tia Gladys se encaminhou para a porta. — Cuide-se para não pegar uma

pneumonia.Foi a vez de ele suspirar profundamente.

— Vá se preparar para o seu jogo de cartas desta noite com lady Haldridge,titia, enquanto preparo minha papelada. Vou escrever para Witfeld para lhecomunicar meu endereço em Londres, depois prepararei uma mensagem paraavisar Melbourne de que chegaremos no sábado.

Bem, agora era rezar para que Sebastian resolvesse, como sempre, passar oinverno em Melbourne Park. Porque se seu irmão não quisesse ir para Devonshire,

ele iria. De qualquer maneira.— Eles vão voltar? — Peep bateu palmas. — Viva!

— Já não era sem tempo — murmurou Charlemagne para si, antes de sedirigir ao irmão — Vou até a sala de jogos para tomar uma taça de clarete antesde dormir; quer uma também?

— Prepare um conhaque para mim. — Sebastian esperou que Shay deixasse asala de estar, então pegou a filha no colo. — E você, minha pequena, está mais doque atrasada para ir para a cama.

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Não que tivesse motivos para ficar tristonha, ela quis se convencer. O Sr.Francis Henning, modelo do retrato que acabara de pintar, ficara muito bemimpressionado com seu trabalho, tanto que lhe garantira que não iria demorarnada a que todos os conhecidos dele fossem bater às portas do ateliê para

encomendar novas telas. E sir Thomas, embora um pouco reservado, vinha dandomostras de ser bom professor, dando-lhe a oportunidade de aprimorar seutrabalho, de viver uma experiência única e de garimpar seu lugar comoprofissional da pintura. E não era exatamente isso tudo o que ela queria?

Terminado o jantar, Caroline foi reler a carta de Anne que recebera naqueledia.

Querida Carol,

Você não vai acreditar, mas Peter Redford pediu Julia em casamento, e ela

aceitou. Mamãe ficou tão emocionada que agora está tentando convencer papai adar às demais irmãs algumas semanas em Londres na próxima temporada. Podeimaginar uma coisa dessas?

— Muito bem — Caroline comentou para si com um sorriso.

Decerto não era o número menor de filhas solteiras que iria dissuadir o paidelas a levar a família para uma temporada em Londres, e sim os recursosrecebidos de Zachary como pagamento pela supervisão do projeto de criação degado. A quantia era generosa, sem sombra de dúvida, mas se havia alguém que

merecia não ter de se preocupar com dinheiro, essa pessoa era Edmund Witfeld.— Srta. Witfeld — era Molly, que vinha buscar os pratos do jantar —, quer

tomar um chazinho?

— Sim, obrigada. Depois você faria o favor de preparar minha cama? Estoutão cansada... Não que eu esteja me queixando, Molly. Na verdade, estoucontente demais com as minhas atribulações.

— Pois não, senhorita.

Caroline não conseguiu impedir que seu olhar se dirigisse à pequena lareirano aposento, sobre a qual, numa bonita moldura de mogno, estava o retrato quefizera de Zachary. Até onde sabia, ele continuava em Bath. E ela... Ela fora aoencontro de seu sonho e, mesmo assim, toda noite se sentava junto à janela paraespreitar a escuridão lá fora, inquieta demais para dormir, sem saber o que fazerpara dar fim àquela profunda sensação de ausência e incompletude.

Uma lágrima tombou sobre sua face, e Caroline enxugou-a com impaciência.Não era estar sozinha que a incomodava, não era que precisasse de um homem emsua vida para ser feliz. Por Deus, nunca tivera homem nenhum até três meses

atrás. Não, era daquele homem que sentia falta, era com Zachary que queriaconversar, era ele quem desejava afagar, era só ele que...

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— Você é uma tola, Caroline — murmurou para si, dobrando a carta que haviarelido tantas vezes. — Pensou que tinha muito que ensinar a ele, no entanto foiele quem lhe deu a maior lição da sua vida.

E agora era tarde demais para colocar em prática tudo o que havia

aprendido.Melbourne virou mais uma página do último relatório de Zachary.

— Essa estimativa é moderada?

— Digamos que sim. — Sentado do peitoril da janela do gabinete do duque,Zachary pôs-se a bater com o calcanhar da bota contra a parede. — Pesquisei ospreços da carne e do leite nos últimos seis anos e fiz a média pelo valor maisbaixo, depois incluí os custos de produção de creme e manteiga, e mais asdespesas de transporte e abate.

— Eu gostaria não só de investir no seu projeto como também de expandi-lo.

— O investimento é bem-vindo, mas ainda é cedo para a expansão. Há muitosfatores a serem considerados em todo o programa. Primeiro, temos de esperarque as novas bezerras atinjam a idade de reproduzir e comecem a dar leite, poissó assim teremos como saber se encontrei a combinação exata das raças. Depoispoderemos expandir a criação.

— Mas...

—Não estou com pressa, Seb. Quero fazer tudo direitinho, como está noplanejamento. Witfeld é quem responde por tudo no momento e ele concordacomigo.

— Muito bem. — Sebastian colocou o relatório sobre a mesa. — Se tudo dercerto, receberei a escritura da propriedade em Primton nos próximos dias; comisso pronto, poderemos partir para Melbourne Park.

Ciente de que seu irmão esperava uma resposta, Zachary deixou de olhar aspróprias mãos para encará-lo.

— Está bem.— Shay lhe disse que os Huntley ainda estão na cidade? Eles nos convidaram

para uma reunião amanhã à noite.

Zachary rumou para a porta; no mesmo instante, Harold se colocou noscalcanhares do dono. Detendo-se, ele se curvou para fazer um afago na orelha docão enquanto dizia:

— Transmita a eles as minhas desculpas. Tenho trabalho a fazer.

— Diabos, Zachary, esse seu amuo não vai mudar nada. Sente-se, vamosconversar.

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Ele se endireitou para olhar para o irmão. —Não estou amuado, Sebastian.Gosto do que faço e estou tratando de me manter ocupado. O que há de erradonisso?

— Você sabe por que eu quis separá-lo da Srta. Witfeld, não sabe?

— Sei perfeitamente bem que você acha que o nome Griffin não deve semisturar ao de uma jovem que pretende ter uma profissão e um lugar só dela nomundo. Agora, sinto decepcioná-lo, Seb, mas não foi você quem me separou dela;Caroline quis assim. De acordo com ela, de uma mulher casada só se deve esperarque promova chás beneficentes, borde bem, vista-se com apuro, tenha filhos eleve uma vida de completa inutilidade. — Ele levou a mão à maçaneta da porta. —É incrível como os pontos de vista de Caroline sejam tão semelhantes aos seus,não?

— Zach...— Com licença. Tenho de mandar uma carta para Witfeld ainda hoje.

Enquanto se dirigia à escadaria, com Harold no seu encalço, Zachary pôs-sea pensar. Caroline estava em Londres, ele estava em Londres... Talvez nãoconseguisse convencê-la a casar-se com ele, mas pelo menos poderia tentar. E, setivesse sorte, poderia abraçá-la uma vez mais, beijá-la nem que fosse por um sósegundo, conversar com ela. E se tivesse muita sorte...

Uma onda de ardente energia percorreu-o de cima a baixo. Trocando decorredor, ele foi para o hall e ali apanhou as luvas e o chapéu.

— Stanton — disse ao mordomo junto à porta — preciso sair. Tome conta deHarold para mim... Enquanto eu estiver fora, sim? mas pelo menos ela teria aoportunidade de quebrar um pouco a modorrenta rotina dos últimos dias. E oendereço ficava em Mayfair, um bairro excelente e muito respeitável.

— Pois não, lorde Zachary.

Oh, que Deus o ajudasse. Que Deus o ajudasse.

Depois de mergulhar o pincel em uma vasilha contendo álcool, Carolinelimpou cuidadosamente as cerdas num pedaço de pano e, colocando-o de lado,pegou o próximo.

Pintar. Adorava a pintura, o cheiro de tinta, as texturas, o magnífico arco-íris de tons e matizes. Apesar de tudo, nas últimas semanas começara a entendero que Zachary havia tentado lhe dizer naquele dia em Wiltshire, no final das con-tas, as pessoas que conhecera, a arte que criava, a existência que construíra parasi, enfim, eram apenas... uma parte de sua existência. E, ao compreender isso,dera-se conta também de que havia perdido o homem mais vibrante e mais cheiode vida que tinha conhecido. Oh, Deus, sentia tanto a falta dele... Da voz, da

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Ao chegar à calçada, Caroline contratou o serviço de um coche de aluguel edeu ao condutor o endereço escrito no pedaço de papel. Vinte minutos depois, oveículo se detinha junto ao meio-fio, e o cocheiro bateu na capota para avisar.

— Chegamos, senhorita. São cinco xelins.

Era caro, porém ela não tinha a menor disposição para se envolver num bate-boca por causa de dinheiro. Assim, entregou-lhe as moedas, guardou o troco nabolsa e, enquanto o homem voltava a se misturar ao tráfego de carruagens ecavalos, virou-se para o outro lado da calçada.

Santo Deus. Achava-se diante de um elegantíssimo conjunto de prédiosresidenciais, cada qual contendo dois ou três apartamentos privativos. Umaversão muito mais requintada.

Após verificar o endereço no papel uma vez mais, Caroline localizou onúmero e, subindo um lance de três degraus, foi bater a bonita aldrava de bronzede uma porta de madeira entalhada. Não demorou nem dez segundos a que umsenhor usando libré viesse atender.

— Pois não?

— Estou aqui para ver lorde Hogarty. Foi sir Thomas Lawrence quem meenviou.

— Estávamos à sua espera. — O mordomo deu um passo para o lado. —

Entre, por favor.Saber que como uma dama da aristocracia ela jamais poderia entrar naresidência de um estranho sem a companhia de uma aia, porém como pintora essebenefício lhe era concedido sem que ninguém se indignasse com isso não foi obastante para fazê-la sentir-se melhor. Agora, essas tolices não faziam maismuita diferença.

— Por aqui, senhorita. — O mordomo abriu a porta do que parecia uma salade estar. Apesar de a tarde já ir adiantada, a claridade que imperava peloambiente era toda proporcionada pela luz natural. — Pode colocar seu material depintura sobre a mesa. Lorde Hogarty virá recebê-la dentro de instantes.

Caroline gostou do que via. Talvez faltasse um pouco mais de decoraçãoàquela sala, mas, tendo em conta a descrição que Bradley e sir Thomas tinhamfeito de lorde Hogarty, isso não a surpreendia. Deixando seus apetrechos sobrea mesa baixa, ela foi examinar as vistosas ânforas gregas em cima da moldura dalareira.

Graças ao interesse de seu pai pelas ruínas de Atenas, falsas ouverdadeiras, Caroline tinha pesquisado bastante acerca da arte grega. E, a menosque estivesse muito enganada, aquelas três ânforas eram peças genuínas, muito

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bem preservadas e de valor incalculável. Zachary com certeza saberia dizer.Além de ter visitado a Grécia, ele tinha uma compreensão aguda da naturezaíntima de uma obra de arte.

A porta se abriu às costas dela. Afastando-se da lareira, Caroline virou o

rosto para o seu novo cliente. E sentiu-se gelar. A soleira, Zachary Griffin aolhava com ar indecifrável. O coração dela parou. Tudo parou.

— O... o que você está fazendo aqui?

— Eu sou John Hogarty. E este apartamento é meu.

— Não... Claro que não. — Como a aclarar as idéias, Caroline sacudiu acabeça. — Sir Thomas disse que já havia pintado lorde Hogarty e que ele podiavir a ser...

— Fui eu quem pediu a Lawrence para lhe falar aquilo.— Então o meu mestre acha que vim participar de... de algum tipo de

encontro íntimo com um homem solteiro que...

— Ele não está pensando nada disso. Eu disse a Lawrence que sua famíliaestava aqui em Londres e queria lhe fazer uma surpresa. — Zachary se aproximouum passo. — Peço que me perdoe pelo artifício. Eu queria vê-la outra vez e nãosabia se você iria concordar.

— Não, eu não iria — mentiu Caroline. Ele estava ali. E queria vê-la outra

vez.Parado à frente do vão da porta, com a garganta seca e o coração a ponto de

estourar, Zachary deu-se conta de que alguns minutos junto dela não seriamsuficientes. Uma vida inteira não seria bastante. Talvez só a eternidade fossecapaz de satisfazê-lo. Melhor ainda, a eternidade e mais um dia...

Ao vê-lo fechar a porta, Caroline pôs-se a recolher a tela em branco e orestante do material que deixara sobre a mesa. Não podia continuar ali. Nãopodia. Porque, se ficasse... Ela se endireitou ao senti-lo ao seu lado. E, evitando

olhá-lo nos olhos, fez menção de partir em direção à porta. Mais rápido, Zacharysegurou-a pelos ombros para trazê-la de encontro ao peito e lhe capturou oslábios num beijo ardente e apaixonado. Num primeiro momento, a reação dela foide surpresa; no instante seguinte, porém, Caroline retribuía seu beijo com amesma volúpia voraz que o assaltava. O estojo de tintas foi parar no chão e seabriu, fazendo voar vermelhos e amarelos e verdes e azuis para todos os lados.

— Oh!

— Shh... — Zachary tirou a tela da mão dela para largá-la sobre as tintas,

depois voltou a beijá-la, agora lhe acariciando todas as partes do corpo que suas

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mãos conseguiam alcançar. E quando se sentiu prestes a perder o fôlego, afastou-se apenas o suficiente para indagar: — Você quer mesmo ir embora?

Ela o fitou demoradamente antes de responder.

— Não.Levando Caroline com ele, Zachary foi se largando até o chão enquanto elalhe tirava o paletó. Sua gravata foi a próxima a se ir e, sem perda de tempo, elese pôs a abrir o que lhe parecia os mais de mil botõezinhos que fechavam a partedianteira do vestido de lã lilás. Precisava acariciá-la, tinha de se sentir dentrodela...

— Senti tanto a sua falta — sussurrou de encontro aos lábios de Caroline,voltando a beijá-la ao mesmo tempo em que empurrava o vestido pelos ombrosdelicados.

— Eu também morri de saudade — devolveu ela, despindo-o da camisa parapassar as mãos por todo o torso dele.

Tão logo terminou de desnudá-la, Zachary arrancou as botas e se livrou dascalças. Quando tornou a se virar para ela, terminou por apoiar a mão espalmadabem em cima da enorme mancha de tinta vermelha espalhada pelo piso.

— Droga.

— Tomara que a tinta não saia nunca mais... — Caroline riu.

— Ah, é? — Fechando a mão de tinta sobre a coxa dela, Zachary a trouxepara sob seu corpo. — Pronto; assim está melhor.

Então ajeitou as pernas de Caroline ao redor do seu quadril e, engolindo umgemido, fixou seus olhos nos dela enquanto a penetrava lentamente. Assim que sesentiu agasalhado pelas entranhas úmidas que se acomodavam à sua virilidade,sujou a outra mão na tinta amarela e, deitando-a sobre um seio túmido de desejo,gravou sobre a pele muito clara as marcas de sua palma e de seus dedos. Depois,com a mão manchada de vermelho, fez o mesmo com o outro seio dela antes de

cobri-lo de carícias.— Zach... Oh... — gemeu Caroline quando ele, com os olhos fechados e as

mãos agora apoiadas no chão, começou a se mover dentro dela. E, sem deixar dese entregar à paixão que fazia seu corpo estremecer, lambuzou a mão na tintaantes de lhe acariciar o peito, os ombros e os braços.

Em resposta, Zachary intensificou o ritmo de seus movimentos e,acomodando-se sobre o corpo que o deixava louco de desejo, misturou o azul emseu peito ao vermelho e ao amarelo nos seios dela. Ao abraçá-lo com força

enquanto erguia o quadril para receber as investidas da masculinidade túrgida,Caroline terminou por sujar as costas e as nádegas dele de azul.

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Quando enfim atingiram o clímax, ambos tinham por todo o corpo umamescla de cores das mais variadas tonalidades. Voltaram então a trocar umardente beijo e, tão logo sentiu que sua respiração se acalmava, Zachary,mantendo-a presa junto ao seu peito, rolou pelo soalho até ficar sob ela.

— Você está mais encantadora do que a Mona Lisa.— Seja como for, a verdade é que usamos muito mais cores do que Da Vinci.

— Caroline pôs-se sentada sobre o ventre dele. —Agora, o que você não imagina éo trabalho que será limpar tudo isso.

Com um ar pensativo, Zachary começou a desenhar pequenos círculos sobreos seios tão belos quanto sujos de tinta.

— Não quero que você pare de pintar, Caroline. — Então a segurou pelascoxas para evitar que seus corpos se separassem. — Você sabe que eu jamais lhepediria uma coisa dessas, não sabe?

— Nem seria preciso. — Ela deixou escapar um profundo suspiro. — Aesposa de um Griffin...

— Pode fazer o que bem entender e pronto. Ou acha que alguém teria aaudácia de criticá-la em público? — Zachary acabou por se sentar para quepudessem conversar cara a cara. — Trabalhe para Lawrence, ou então abra seupróprio ateliê. Aqui mesmo, se quiser; esta sala recebe a luz do sol o dia inteiro.Mas, por Deus, entenda eu jamais iria esperar que você bordasse meus lenços,que...

Caroline colocou a ponta do dedo sobre os lábios dele para silenciá-lo.

— Senti tanta saudade... — Então o beijou com suavidade e, quando seafastou, tinha a boca manchada de azul. — Agora compreendo o que você quis medizer quando falou que eu não iria ter uma existência plena vivendo somente paraa pintura.

— De verdade? — O coração de Zachary, que já batia acelerado, agorarufava como um tambor de fanfarra. — Isso significa que, se eu... se eu tornar apedi-la em casamento, você irá aceitar?

Ela fez que sim.

— Então... Quer se casar comigo, Caroline?

— Sim. Não há nada no mundo que eu queira mais do que isso.

Ele a estreitou junto do peito. E estava prestes a beijá-la quando a aldravada porta da rua começou a soar com estridência.

— Não se preocupe. — Ao senti-la estremecer, Zachary esfregou o nariz nodela. — Hogarty foi atender.

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— Hogarty?

— Meu mordomo. John Hogarty. Eu precisava de um nome, não precisava?

— E eu acho que vou precisar torcer o seu pescoço...

— Meu lorde? — chamou o mordomo do outro lado da porta. — O duque deMelbourne deseja vê-lo.

— Diacho... Peça a ele para esperar na sala de visita. — Sabendo quedemoraria horas para se livrar de todas aquelas marcas de tinta, ele afagou oscabelos de Caroline antes de apanhar a calça que largara no chão.

Pela primeira vez na vida, Sebastian não sabia muito bem o que dizer aoirmão mais novo. Mas, fosse como fosse, o que não podia era ignorar o fato deque, passados dois dias, Zachary ainda continuava em sua antiga residência.

Assim, mesmo preocupado até a medula, ele obrigou-se a não se pôr a andar deum lado para o outro da sala.

— Que houve, Melbourne? — indagou Zachary à entrada do aposento.

— Eu queria saber... — O duque tirou os olhos do belo quadro na parede dosfundos para se virar para o irmão. — O que houve pergunto eu?

— Nada. Por quê?

— Mas você está todo... colorido.

— É?Ao examinar melhor o rosto manchado de azul do irmão caçula, Sebastian

teve a sensação de começar a entender o que estava se passando.

— Você está pensando em se mudar outra vez da Mansão Griffin para esteapartamento?

— Talvez seja hora.

— Sei. — Sebastian pensou por um instante. — Mas vai passar o inverno emMelbourne Park conosco, não vai?

— Depende de você, Seb.

— De mim?

Uma porta se abriu no fim do corredor e, segundos depois, Caroline Witfeldfoi se colocar ao lado do irmão dele. Pronto. A última peça do quebra-cabeçaestava encaixada. Ela também estava toda pintada de uma miríade de cores etons.

— Srta. Witfeld. — Melbourne curvou-se de leve.

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