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Acta Scientiae Veterinariae ISSN: 1678-0345 [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil Silva Boos, Gisele; Assis Casagrande, Renata; Machado Rolim, Veronica; Negrão Watanabe, Tatiane Terumi; Wouters, Flademir; Oltramari de Souza, Suyene; Ramos Filho, Osmar; Driemeier, David Carcinossarcoma mamário em uma gata: caracterização anatomopatológica e imuno-histoquímica Acta Scientiae Veterinariae, vol. 39, núm. 4, 2011, pp. 1-4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=289022118012 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Acta Scientiae Veterinariae

ISSN: 1678-0345

[email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Brasil

Silva Boos, Gisele; Assis Casagrande, Renata; Machado Rolim, Veronica; Negrão Watanabe, Tatiane

Terumi; Wouters, Flademir; Oltramari de Souza, Suyene; Ramos Filho, Osmar; Driemeier, David

Carcinossarcoma mamário em uma gata: caracterização anatomopatológica e imuno-histoquímica

Acta Scientiae Veterinariae, vol. 39, núm. 4, 2011, pp. 1-4

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Porto Alegre, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=289022118012

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G.S. Boos, R.A. Casagrande, V.M. Rolim, et al. 2011. Carcinossarcoma mamário em uma gata: caracterização ana-tomopatológica e imuno-histoquímica. Acta Scientiae Veterinariae. 39(4): 1000.Acta Scientiae Veterinariae, 2011. 39(4): 1000.

CASE REPORTPub. 1000

ISSN 1679-9216 (Online)

Carcinossarcoma mamário em uma gata: caracterização anatomopatológica e imuno-histoquímica

Mammary Carcinosarcoma in a Cat: Anatomopathological and Immunohistochemical Characterization

Gisele Silva Boos¹, Renata Assis Casagrande¹, Veronica Machado Rolim¹, Tatiane Terumi Negrão Watanabe¹, Flademir Wouters¹, Suyene Oltramari de Souza², Osmar Ramos Filho³ & David Driemeier¹

ABSTRACT

Background: Mammary tumor is uncommon in cats. In felines is most frequently observed in old animals and Siamese breed. Apparently there is no relation between the age of the animal at the time of spay how is observed in dogs, although the progression from a focal hyperplasia to an adenoma or a carcinoma is known. The ratio between malignant and benign tumors is estimated between 9:1 and 4:1, most of them are adenocarcinomas and highly metastatic behavior. Mammary carcinosarcoma is rare in felines. The objective of this work was to describe a case of carcinosarcoma in a female cat.Case: Mammary gland mass from a 13-year-old, intact female Siamese cat was submitted for biopsy. The tumor was obser-ved recently by the owners, who reported that the animal never received contraceptives. Macroscopically, it was observed focally extensive poorly demarcated, whitened, fi rm mass measuring 4.0 x 3.0 x 1.5 cm, recovered by skin with central round area of ulceration measuring 2.0 cm in diameter. Histologically, the neoplasm was composed of epithelial cells and spindle mesenquimal cells with bone and cartilaginous differentiation. Immunohistochemistry for cytokeratin AE1/AE3 and 8/18 were stained intracitoplasmatic positive, accentuated (+++) and moderate (++), respectively in tubular epithelia in more than 50% of the cells. There was immunostaining for vimentin in the cytoplasm of mesenchymal neoplastic cells, cartilaginous and tubular epithelial cells with moderate intensity (++) in less than 50% of the cells. Discussion: Carcinosarcoma is a rare neoplasm in cats and have being reported in the mammary gland and in the lungs. The neoplasm is characterized by mesenchymal and epithelial cells. In many cases the histological exam is insuffi cient to determinate the diagnosis, being necessary to do the immunohistochemistry (IHC) exam to verify vimentin and cytokeratin coexpression in neoplasic cells. Histologically, was observed epithelial and mesenchymal characteristics, confi rmed by IHC. In another paper, carcinosarcoma demonstrated similar arranged, as heterogenic cellular composition and infi ltrative proliferation of mesenchymal cells. In this case report was also observed cartilaginous and osseous differentiation. Some carcinosarcoma can present differentiated mesenchymal tissue and a mixture of all carcinomatosos and sarcomatosos elements in the same neoplasic mass. Histogenesis of carcinosarcoma remains uncertain thus far, although two theories suggest its origin: a multiclonal and other monoclonal. The fi rst one suggests that mesenchymal and epithelial cells are originated from two or more different base cells. The second theory suggests that the tumors behavior is the result of a totipotent ability of neoplasic cells to differ and be histologically recognizable as epithelial and mesenchymal structures. In this study, tubular epithelial cells were positive stained for cytokeratins (AE1/AE3 and 8/18) and to vimentin, which suggest a monoclonal origin, because it was observed epithelial and mesenchymal differentiation. According to localization, morphology features and immunohistochemistry evaluation, the present study reports a rare case of carcinosarcoma in a cat.

Keywords: mammary neoplasm, feline, immunohistochemistry.

Descritores: neoplasia mamária, felino, imuno-histoquímica.

Received: May 2011 www.ufrgs.br/actavet Accepted: July 2011

¹Setor de Patologia Veterinária (SPV) Departamento de Patologia Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária (FaVet), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. ²Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil. ³M.V., Clínica Veterinária Imbé, Imbé, RS, Brasil. CORRESPONDÊNCIA: D. Driemeier [[email protected] - TEL: +55 (51) 3308-6107]. Faculdade de Veterinária - UFRGS, Av. Bento Gonçalves n. 9090, Bairro Agronomia. CEP 91540-000 Porto Alegre, RS, Brasil.

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G.S. Boos, R.A. Casagrande, V.M. Rolim, et al. 2011. Carcinossarcoma mamário em uma gata: caracterização ana-tomopatológica e imuno-histoquímica. Acta Scientiae Veterinariae. 39(4): 1000.

INTRODUÇÃO

A neoplasia mamária em gatos é incomum [2]. Essa é mais frequente em animais idosos [1,5] e na raça Siamês [1]. Aparentemente não existe a mesma relação da idade do animal no momento da castração como observado em cães, porém, a progressão de uma hiperplasia focal para um adenoma ou um carcinoma é reconhecida [2].

A razão entre a malignidade e a benignidade dos tumores em gatos é estimada entre 9:1 e 4:1 [5], a maior parte são adenocarcinomas e exibem comportamento altamente metastático [1]. Carcinossarcoma mamário é raro em felinos [3].

O objetivo deste trabalho é descrever um caso de carcinossarcoma em uma gata.

RELATO DO CASO

Uma biópsia de mama proveniente de uma mastectomia total de uma gata de 13 anos da raça Siamês foi enviada ao Setor de Patologia Veterinária (SPV) da Faculdade de Veterinária (FaVet) da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fragmentos da massa tumoral, fi xados em solução formalina a 10%, foram processados pela técnica de rotina histológica e coloração em hematoxilina-eosina (HE).

As amostras foram também submetidas à técnica de imuno-histoquímica (IHQ) pelo método estreptavidina-biotina ligada à peroxidase1. O bloqueio da atividade da peroxidase endógena foi realizado com a incubação dos cortes dos tecidos numa solução a 10% de peróxido de hidrogênio (30 vol.). Para a recuperação antigênica utilizou-se calor com tampão citrato, pH 6,0 para o anticorpo primário monoclonal anticitoqueratina AE1/AE32 e anticorpo monoclonal antivimentina V9³, e proteinase K para anticorpo primário monoclonal anticitoqueratina 8/18 4. Os anticorpos anticitoqueratina AE1/AE3, anticitoqueratina 8/18 e antivimentina V9 fo-ram diluídos em 1:80, 1:40 e 1:200, respectivamente. O cromógeno utilizado para a revelação das citoqueratinas foi o 3,3’diaminobenzidina (DAB)5 e da vimentina o 3-amino-9-etilcarbazol (AEC)6. Para a contra coloração das citoqueratinas empregou-se a hematoxilina de Harris e da vimentina a hematoxilina de Mayer. Um carcinoma de células escamosas e um carcinoma transicional de bexiga foram utilizados como controles positivos para a citoqueratina AE1/AE3 e a 8/18, respectivamente, e um melanocitoma para a vimentina.

O tumor de mama foi observado pelos pro-prietários recentemente, relatando-se que a mesma nunca recebera contraceptivos e não era castrada. Macroscopicamente a massa apresentava 4,0 x 3,0 x 1,5 cm, era recoberta por pele com ulceração central de 2,0 cm de diâmetro, difusamente brancacento e de consistência fi rme (Figura 1).

Figura 1. Gata: carcinossarcoma de mama. Massa difusamente brancacenta e de consistência fi rme de 4,0 x 3,0 x 1,5 cm recoberta por pele.

Figura 2. Gata: carcinossarcoma de mama. Proliferação de células epite-liais com arranjo tubular e de células mesenquimais fusiformes de núcleo alongado, com diferenciação cartilaginosa. (HE, Obj. 10x).

Na avaliação microscópica, observou-se proliferação de células epiteliais com arranjo tubular contendo áreas cribriformes. Essas células apresenta-vam núcleo arredondado a ovoide, central, cromatina vesicular, 1 a 2 nucléolos evidentes e citoplasma eosinofílico moderado. Em meio às células epiteliais evidenciou-se proliferação de células mesenquimais fusiformes de núcleo alongado, com diferenciação cartilaginosa e óssea (Figura 2). Observou-se necrose central extensa, infi ltrado infl amatório mononuclear multifocal moderado, dilatação de vasos linfáticos

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com invasão de células tumorais, trombose, infi ltração tumoral no estroma e pele adjacente, além de ulcera-ção localmente extensa da epiderme, com infi ltrado infl amatório misto moderado.

Na avaliação IHQ, a citoqueratina AE1/AE3 e 8/18 apresentaram marcação intracitoplasmática acentuada (+++) (Figura 3) e moderada (++) respec-tivamente, nos epitélios tubulares em mais de 50% das células. Quanto à vimentina, houve imunomarcação no citoplasma das células mesenquimais neoplásicas, cartilaginosas e nas células epiteliais tubulares com intensidade moderada (++) em menos de 50% das células (Figura 4).

Figura 3. Gata: carcinossarcoma de mama. Marcação para citoqueratina AE1+AE3 intracitoplasmática acentuada (+++) nas células epiteliais tubulares. Estreptavidina-biotina-peroxidase. (Hematoxilina de Harrys, obj. 20x).

Figura 4. Gata: carcinossarcoma de mama. Marcação para vimentina intracitoplasmática moderada (++) nas células mesenquimais neoplási-cas e nas células epiteliais tubulares. Estreptavidina-biotina-peroxidase. (Hematoxilina de Mayer, obj. 40x).

celulares, com proliferação de células mesenquimais e epiteliais [5]. Em muitos casos a análise histológica é insufi ciente para determinar o diagnóstico dessa ne-oplasia, sendo necessário realizar a análise IHQ para verifi car a coexpressão de vimentina e citoqueratina nas células neoplásicas [6]. No caso relatado, o exame histológico por HE demonstrou que a massa continha tanto características epiteliais quanto mesenquimais, confi rmadas pela IHQ.

Em um trabalho os carcinossarcomas apre-sentaram arranjos similares, como a composição heterogênea celular e a proliferação infi ltrativa de células mesenquimais [6]. No presente relato, além da proliferação mesenquimal, observou-se diferen-ciação cartilaginosa e óssea. Alguns carcinossarcomas podem apresentar tecido mesenquimal diferenciado e a mistura de todos os componentes carcinomatosos e sarcomatosos podem ser reconhecidas em uma mesma massa [5].

A histogênese dos carcinossarcomas permane-ce incerta, porém, duas teorias sugerem sua origem: uma multiclonal e outra monoclonal. A primeira sugere que as partes mesenquimal e epitelial originam-se de duas ou mais células base diferentes. Já a segunda su-gere que o desenvolvimento dos tumores seja resultado de uma habilidade totipotente das células neoplásicas em se diferenciar e ser histologicamente reconhecíveis como elementos epiteliais e mesenquimais [5,7].

No presente relato, as células epiteliais tubu-lares apresentaram marcação para as citoqueratinas (AE1/AE3 e 8/18) e para a vimentina, o que sugere uma origem monoclonal, ou seja, totipotente dessas células, pois apresentam diferenciação epitelial e mesenquimal.

De acordo com a localização, os achados morfológicos e o perfi l imuno-histoquímico, o qual demonstrou reação dos componentes neoplásicos tanto com a vimentina (sarcomatoso) quanto com as citoqueratinas (carcinomatoso), conclui-se que o presente relato trata de um carcinossarcoma de mama em felino. Apesar de rara em felinos, esta neoplasia mamária deve ser incluída no diagnóstico diferencial de neoplasias mamárias pouco diferenciadas em gatos.

NOTAS INFORMATIVAS¹kit LSAB-HRP, K0690, DakoCytomation, Carpinteria, CA, USA.

²clone AE1/AE3, M3515 Dako Cytomation, Carpinteria, CA, USA.

³clone V9, 18-0052, Zymed, Carlsbad, CA, USA.

DISCUSSÃO

O carcinossarcoma é um neoplasma raro em gatos [5], sendo relatado na mama [6] e nos pulmões [4]. É caracterizado por conter mistura de populações

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4clone 5D3, Novocastra, Benton Lane, Newcastle, UK.5K368, DakoCytomation, Carpinteria, CA, USA.6K3469, DakoCytomation, Carpinteria, CA, USA.

REFERÊNCIAS

1 Chun R. & Garret L. 2005. Urogenital and mammary gland tumors. In: Ettinger S.J. & Feldman E.C. (Eds). Textbook of veterinary internal medicine. 6th edn. v.1. St. Louis: Saunders Elsevier, pp.788-789.

2 Foster R.A. 2009. Sistema reprodutivo da fêmea. In: McGavin M.D. & Zachary J.F. (Eds). Bases da patologia em vet-erinária. 4.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, pp.1263-1315.

3 Fusaro L., Panarese S., Brunetti B., Zambelli D., Benazzi C. & Sarli G. 2009. Quantitative analysis of telomerase in feline mammary tissues. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. 21(3): 369-373.

4 Ghisleni G., Grieco V., Mazzotti M., Caniatti M., Roccabianca P. & Scanziani E. 2003. Pulmonary carcinosarcoma in a cat. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. 15(2): 170-173.

5 Misdorp W. 2002. Tumours of the mammary gland. In: Meuten D.J. (Ed). Tumours in domestic animals. 4th edn. Ames: Iowa State Press, pp.575-606.

6 Paniago J.D.G., Vieira A.L.S., Ocarino N.M., França S.A., Malm C., Cassali G.D. & Serakides R. 2010. Mammary carcinosarcoma in cat: a case report. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. 62(4): 812-815.

7 Sánchez J., Buendía A.J., Vilafranca M., Velarde R., Altimara J., Martínez C.M. & Navarro J.A. 2005. Canine carcinosarcomas in the head. Veterinary Pathology. 42(6): 828-833.

Declaration of interest. The authors report no confl icts of interest. The authors alone are responsible for the content and writing of the paper.

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