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Problemáticas: > A Estética > A experiência estética > O belo e o feio – os juízos estéticos > A criação artística e a obra de arte > A arte > A arte através dos tempos > Políticas de gestão do espaço habitado > Arte, ontem e hoje – conceito, caracterização e classificação Consolidação de competências: > Trabalho de projeto: “Álbum – As minhas experiências estéticas” > Avaliação global > Para saber mais – Bibliografia, Webgrafia e Filmes A obra de arte é, no Mundo de hoje, o único tipo de objeto que corresponde ao modelo ideal cujo valor humano se mantém através do tempo. Além disso, estimulando o Homem a formular juízos de valor, potenciando a sua capacidade consciente-crítica, a arte opõe-se ao sistema desumanizador que tende a deteriorar todos os objetos para forçar a rapidez do consumo ilimitado. Ao longo de toda a História, a experiência estética constitui um componente necessário da experiência global da realidade. A imaginação é uma necessidade da criatividade humana, e se as técnicas e as linguagens artísticas se sucedem é porque o Homem continua ávido de imagens significativas. Por isso, uma das avaliações mais profundas sobre a arte é a enunciada por Paul Klee com estas palavras tão simples “A arte não expressa o visível, mas torna visível”. Arte abstrata e figurativa, Biblioteca Salvat de Grandes Temas, 1979 16 12 14 10 8 5 25 30 28 26 © AREAL EDITORES 32

> A Estética 5 8

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Page 1: > A Estética 5 8

Problemáticas:

> A Estética

> A experiência estética

> O belo e o feio – os juízos estéticos

> A criação artística e a obra de arte

> A arte

> A arte através dos tempos

> Políticas de gestão do espaço habitado

> Arte, ontem e hoje – conceito, caracterização e classificação

consolidação de competências:

> Trabalho de projeto: “Álbum – As minhas experiências estéticas”

> Avaliação global

> Para saber mais – Bibliografia, Webgrafia e Filmes

A obra de arte é, no Mundo de hoje, o único tipo de objeto que corresponde ao modelo ideal cujo valor humano se mantém através do tempo. Além disso, estimulando o Homem a formular juízos de valor, potenciando a sua capacidade consciente-crítica, a arte opõe-se ao sistema desumanizador que tende a deteriorar todos os objetos para forçar a rapidez do consumo ilimitado.

Ao longo de toda a História, a experiência estética constitui um componente necessário da experiência global da realidade. A imaginação é uma necessidade da criatividade humana, e se as técnicas e as linguagens artísticas se sucedem é porque o Homem continua ávido de imagens significativas. Por isso, uma das avaliações mais profundas sobre a arte é a enunciada por Paul Klee com estas palavras tão simples “A arte não expressa o visível, mas torna visível”.

Arte abstrata e figurativa, Biblioteca Salvat de Grandes Temas, 1979

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A arte

A arte é uma das atividades fundamentais ao ser humano, desde os primór-dios da Humanidade. Por isso, o significado da arte é o significado do pró-prio ser humano e do Mundo. Neste sentido, a arte é expressão,

comunicação, compreensão e realização da subjetividade do artista e da objetivi-dade do Mundo.

Direta ou indiretamente, a arte reflete as inquietações e os desassossegos, os anseios e as angústias, os problemas e as dúvidas, as ideias e os devaneios do ser humano na sua relação com o outro, com a sociedade e com a Natureza que o envolve, num contexto histórico, cultural, social, político, religioso, etc., ou seja, num contexto civilizacional.

cONcEITOsArte – com origem no latim ars, refere-se a um conjunto de técnicas e normas aplicadas à realização de uma obra com destreza e perfeição.

10. Explica, a partir da leitura do texto, o papel da arte para o ser humano.

11. Observa as figuras 7 e 8.

11.1. Identifica os tipos de arte representados.

11.2. Explica o sentido de se poder afirmar que a figura 8 apresenta uma dupla arte.

FiG. 07 | Pintor de rua em Montmartre, Paris, França.

FiG. 08 | Estátua de Wolfgang Amadeus Mozart, criada por Victor Tilgner em 1896, Viena, Áustria.

14 TEMA-PROBLEMA | 9.2 A FORMAÇÃO DA SENSIBILIDADE CULTURAL E A TRANSFIGURAÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A ESTÉTICA

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Para bem compreender o papel da arte, não é inútil interrogarmo-nos sobre o que caracteriza o Homem, o que o distingue essencialmente do animal, o que lhe dá a posição cimeira na cadeia dos seres, o que faz a sua dignidade e nobreza.

O Homem quer conhecer e julgar as motivações dos seus atos, a razão das coisas e dos factos que o rodeiam e se repercutem nele.

Para que serve conhecer, se não é para agir sobre o que existe, agir sobre o que há de existir? Construir o presente e o futuro? Mas do que serviria conquistar o poder, se fosse apenas para o empregar ao acaso? Temos que saber o que queremos, esco-lher o que queremos. Ora, escolher implica que julguemos o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio. Assim, a esta primeira faculdade própria do Homem, o conhecimento lúcido, acrescenta-se outra: o sentido da qualidade, o desejo de melhorar o mundo e de nos melhorarmos. A moral e a arte, a ética e a estética fundaram-se ao mesmo tempo.

Mas se a moral conduz as nossas ações, a arte aplica-se às nossas criações. Nos dois casos, é para lhes conferir a qualidade que só o Homem tem o dom de conceber espontaneamente e de buscar lucidamente.

Conhecer o que foi, o que é e o que pode ser: criar o melhor, eis o que é próprio do Homem e a sua grandeza.

O Homem aprende a conhecer-se melhor, a saber o que foi ao longo de séculos, tal como se refletiu, no testemunho direto, inegável e sempre vivo das suas obras, tal como existe também na natureza profunda e eterna, porque nada melhor do que a arte permite sondar a sensibilidade e o espírito, as profundezas do Homem.

Adaptado de: René Huyghe, Sentido e destino da arte, Coleção Arte & Comunicação, Edições 70, 1986

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12. Lê atentamente as frases apresentadas no primeiro documento.

12.1. Desenvolve a tua noção de arte.

13. Comenta a frase sublinhada no segundo documento, partindo dos conhecimentos adquiridos sobre a arte.

14. Emite uma opinião sobre as obras de arte apresentadas nas figuras 9, 10 e 11.

FiG. 09 | Catedral de Notre-Dame, Paris, França (construída no século XII, sofreu alterações ao longo do século XVII, por influência de Luís XIV).

FiG. 10 | Basílica de Notre-Dame, Saigão, Vietname (construída por colonos franceses entre 1863 e 1880).

“A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.”Eça de Queirós

“A arte é a ideia da obra, a

ideia que existe sem matéria.”

Aristóteles

“A arte começa onde a

imitação acaba.

A finalidade da arte é,

simplesmente, criar um

estudo da alma.”

Oscar Wilde

“É na arte que o Homem se ultrapassa definitivamente.”Simone de Beauvoir

“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como

são sentidas, como se sente que são.

A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós

sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes

a nossa personalidade para especial libertação.”

Fernando Pessoa

“A arte diz o indizível; exprime

o inexprimível, traduz o

intraduzível.

A lei suprema da arte é a

representação do belo.”

Leonardo da Vinci

FiG. 11 | Capela de Notre-Dame du Haut, Ronchamp, França (do arquiteto Le Corbusier, concluída em 1955).

“Não existe meio mais seguro

para fugir do mundo do que a

arte, e não há forma mais segura

de se unir a ele do que a arte.”

Johann Goethe

A arte tem sido definida por muitos como expressão de sentimentos, o que não é falso, embora seja demasiado restrito. A arte exprime não apenas sentimentos, mas também impressões, impulsos da vontade e o reino inabar-cável da vida interior. Além disso, representa o Mundo exterior e constrói novos mundos. A arte gera-se como uma forma de participação, como uma linguagem.

A arte pode ser compreendida como uma linguagem ampliada e generalizada. Começa onde a linguagem falha, de súbito aparecem nas cartas de Beethoven notas musicais quando as palavras não bastam; reciprocamente, os grandes poetas enriquecem a linguagem. Em lugar de um número finito de sons e letras, o artista dispõe de uma quantidade ilimitada de sons, cores, linhas e materiais plásticos.

As linguagens artísticas sem palavras distinguem-se das linguagens naturais por não serem discursivas.Isto concede às obras de arte interpretação livre e ilimitada e, até, a possibilidade de ser mal interpretada.

Adaptado de: Heinemann, A Filosofia do Século XX, Fundação Calouste Gulbenkian

15ÁREA 3 – O MUNDO | UNIDADE TEMÁTICA 9 – A DESCOBERTA DA CRÍTICA: O UNIVERSO DOS VALORES

Estudo de caso 1O que é a arte?

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Arte, ontem e hoje – conceito, caracterização e classificação

26 TEMA-PROBLEMA | 9.2 A FORMAÇÃO DA SENSIBILIDADE CULTURAL E A TRANSFIGURAÇÃO DA EXPERIÊNCIA: A ESTÉTICA

ANTIGUIDADE clÁssIcA IDADE méDIA

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Pont du Gard, aqueduto de Provença, França.

Coliseu, Roma, Itália.

Catedral de Milão, Itália.

Interior do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, Portugal.

Atividade do ser humano que se opunha à natureza.

técnica especializada com cânones específicos.

A arte era encarada como uma disciplina intelectual e de grande conhecimento.

técnica especializada com cânones específicos.

não existe uma verdadeira classificação das artes sendo estas diferenciadas por técnicas, tais como:

• produção – estátuas e bustos;

• construção – habitações, templos, coliseus, pontes, barcos, aquedutos, etc.;

• fabricação – objetos do quotidiano; condução de exércitos;

• retórica – produção de grandes discursos.

Distinção entre artes liberais (mentais), mecânicas (esforço físico) e menores (artesãos).

• Artes liberais – retórica, dialética, gramática, aritmética, astronomia, geometria e música (teoria).

• Artes mecânicas – arquitetura, teatro, medicina e arte militar.

• Artes menores – ourivesaria, cerâmica, cestaria, escultura, pintura, cantaria (trabalho na pedra), ferraria, etc.

As diferentes artes tinham o mesmo estatuto, não se sobrepondo umas às outras. Dependiam unicamente das diferentes destrezas do ser humano na aplicação das técnicas e procedimentos.

As artes podiam ser transmitidas, ensinadas e aprendidas, passando entre mestres e aprendizes.

confundiam-se, muitas vezes, os artistas com os artífices, principalmente pela utilização das mesmas técnicas e da imitação e reprodução das mesmas formas.

A composição musical e a poesia não eram considera-das artes, pois não tinham técnica. eram fruto da inspiração – teoria da inspiração.

Só a arte escolarizada era considerada arte (dos mosteiros e, mais tarde, das universidades) e dividida em disciplinas.

As artes liberais e mecânicas eram pertença da elite pela necessária escolarização que exigiam, enquanto as artes menores eram mais populares (artífices e oficinas) e podiam ser transmitidas e aprendidas.

A música e a poesia continuavam a não ser consideradas artes, mas fruto da inspiração – teoria da inspiração.

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27ÁREA 3 – O MUNDO | UNIDADE TEMÁTICA 9 – A DESCOBERTA DA CRÍTICA: O UNIVERSO DOS VALORES

IDADE mODERNA IDADE cONTEmPORâNEA

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A arte era genial, porque passou a ser uma questão de criação do artista génio e não uma questão de técnica.

Só os génios criam obras de arte, que são únicas e inigualá-veis, consideradas como verdadeiras obras-primas.

A obra de arte era aquela que era criada por pura preocupa-ção estética e não como objeto útil.

A arte era cada vez mais elitista.

As artes diferenciavam-se. Assim, a arquitetura, a pintura e a escultura separaram-se das artes técnicas.

Castelo Neuschwanstein, Baviera, Alemanha.

Cúpula da Basílica de

S. Pedro, Vaticano.

La Pedrera, de Antoni Gaudí, Barcelona, Espanha.

Catedral da Sagrada Família, Antoni Gaudí, Barcelona, Espanha.

A arte era considerada uma criação genial e desinteressada do artista, que era considerado um génio.

A arte era sinónimo de beleza.

o artesão não era considerado artista, mesmo que produzisse objetos belos.

O conceito de arte e de obra de arte está em crise, assim como a sua classificação.

A antiarte, o interculturalismo, a arte comprometida, a estetização do real, a arte e a ciência, a arte e as tecnologias, tomaram poder por si só, desmistificando o antigo valor da arte, porque a arte agora pensa-se.

A arte passa a ser abstrata e conceptual, em detrimento da arte figurativa.

As artes dividiam-se em:

• Artes liberais, que são sete: pintura, escultura, arquitetura, gravura, música, poesia e eloquência;

• Artes menores, que têm como função a utilidade: cestaria, serralharia, vidro, joias, cerâmica, etc.

Distinguiu-se a arte (como sinónimo de produção de beleza) da ciência (como sinónimo de produção de conhecimento).

não existe uma classificação das artes, passando a existir designações diferentes, tais como: artes visuais, artes decorativas, artes gráficas, artes aplicadas, etc.

Artes anteriormente consideradas menores passam a ter estatuto de arte – moda, design, joias, mobiliário, etc.

As consideradas sete artes, desde o século XIX, (pintura, escultura, arquitetura, dança, música, poesia e eloquência) passam a integrar o cinema (considerada a 7.ª arte) saindo a eloquência do rol das sete artes.

Os movimentos vanguardistas são muitos (Impressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, etc.) e surgem novas artes com a generalização da reprodução por serigrafias, fotocópias, etc.

contra o elitismo, alguns artistas têm a visão da arte para as massas, criando uma rutura entre belas-artes e artes úteis.

em reação à democratização das artes surge um movimento a favor da arte para minorias elitistas.

os valores e critérios estéticos de outras épocas perderam significado e a obra de arte passa a ser, muitas vezes, mera mercadoria e espetáculo.

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