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1 GT. Nº 10 - MIGRAÇÃO, DESLOCAMENTOS E TRASNFORMAÇÕES SOCIOESPACIAS EMIGRAÇÕES DE CLARO DOS POÇÕES-MG: CENSO DEMOGRÁFICO 2010 SILVA, Jailson Alves da * [email protected] FONSECA, Gildette Soares [email protected] RESUMO: A migração faz parte do processo de formação da sociedade brasileira, atrelada aos fatores econômicos. Especialmente a migração interna tem em pleno século XXI, volume significativo, pois o território brasileiro é extenso e com grandes disparidades socioeconômicas. Existem municípios com grande atração populacional e outros que são apenas expulsores, uma vez que não apresentam dinâmica econômica para fixar o homem no espaço de naturalidade. Neste contexto, este artigo tem por objetivo apresentar as emigrações da população de Claro dos Poções, inserido na mesorregião do Norte de Minas. A base de dados foi o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. A abordagem metodológica se baseou em levantamento bibliográfico, tratamento dos dados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) e elaboração de mapas. O quesito utilizado foi data fixa, lugar de residência cinco anos antes do Censo, aspecto importante, pois no Brasil os censos demográficos acontecem de dez em dez anos. Os resultados apontam que emigraram 695 pessoas do município de Claro dos Poções, a nível intrarregional, intraestadual e interestadual. A maioria emigrou para o Norte de Minas, portanto o fator proximidade com o espaço conhecido tem importância, o que também desconstrói a ideia do Norte de Minas, apenas como área de evasão populacional. Palavras - Chave: Emigração. Claro dos Poções. Censo Demográfico, IBGE. EMIGRATION OF CLAROS DOS POÇÕES – MG: 2010 DEMOGRAPHIC CENSUS SUMMARY Migration is part of the process of Brazilian society formation linked to economic factors. Especially internal migration has significant volume in the XXI century due to the extensive Brazilian territory and significant socioeconomic disparities. There are municipalities with high population attraction and others which are just ejectors, since they do not present economic dynamics to make their inhabitants stay in their natural space. In this context, this article aims to present the emigration of the population of Claros dos Poções, inserted in the mesoregion of the North of Minas Gerais. The database was the 2010 Demographic Census of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The methodological approach was based on literature survey, data processing using the software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) and map elaboration. The Question used was the fixed date, place of residence five years before the Census, an important aspect, because in Brazil the Demographic censuses take place every ten years. The results show that 695 people emigrated from the city of Claros dos Graduado em Geografia - Universidade Estadual de Montes Claros- MG (Unimontes). · Doutoranda em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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GT. Nº 10 - MIGRAÇÃO, DESLOCAMENTOS E TRASNFORMAÇÕES SOCIOESPACIAS

EMIGRAÇÕES DE CLARO DOS POÇÕES-MG: CENSO DEMOGRÁFICO 2010

SILVA, Jailson Alves da∗ [email protected]

FONSECA, Gildette Soares•

[email protected]

RESUMO:A migração faz parte do processo de formação da sociedade brasileira, atrelada aos fatores econômicos. Especialmente a migração interna tem em pleno século XXI, volume significativo, pois o território brasileiro é extenso e com grandes disparidades socioeconômicas. Existem municípios com grande atração populacional e outros que são apenas expulsores, uma vez que não apresentam dinâmica econômica para fixar o homem no espaço de naturalidade. Neste contexto, este artigo tem por objetivo apresentar as emigrações da população de Claro dos Poções, inserido na mesorregião do Norte de Minas. A base de dados foi o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. A abordagem metodológica se baseou em levantamento bibliográfico, tratamento dos dados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) e elaboração de mapas. O quesito utilizado foi data fixa, lugar de residência cinco anos antes do Censo, aspecto importante, pois no Brasil os censos demográficos acontecem de dez em dez anos. Os resultados apontam que emigraram 695 pessoas do município de Claro dos Poções, a nível intrarregional, intraestadual e interestadual. A maioria emigrou para o Norte de Minas, portanto o fator proximidade com o espaço conhecido tem importância, o que também desconstrói a ideia do Norte de Minas, apenas como área de evasão populacional.

Palavras - Chave: Emigração. Claro dos Poções. Censo Demográfico, IBGE.

EMIGRATION OF CLAROS DOS POÇÕES – MG: 2010 DEMOGRAPHIC CENSUS

SUMMARY Migration is part of the process of Brazilian society formation linked to economic factors. Especially internal migration has significant volume in the XXI century due to the extensive Brazilian territory and significant socioeconomic disparities. There are municipalities with high population attraction and others which are just ejectors, since they do not present economic dynamics to make their inhabitants stay in their natural space. In this context, this article aims to present the emigration of the population of Claros dos Poções, inserted in the mesoregion of the North of Minas Gerais. The database was the 2010 Demographic Census of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The methodological approach was based on literature survey, data processing using the software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) and map elaboration. The Question used was the fixed date, place of residence five years before the Census, an important aspect, because in Brazil the Demographic censuses take place every ten years. The results show that 695 people emigrated from the city of Claros dos

Graduado em Geografia - Universidade Estadual de Montes Claros- MG (Unimontes). · Doutoranda em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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Poções in the intra-regional, intrastate and interstate level. The majority emigrated to the North of Minas Gerais, so the proximity factor with the space they know has importance, which also deconstructs the idea of the North of Minas Gerais, just as an area of population evasion.

Keywords: Emigration. Claros dos Poções. Demographic Census, IBGE.

INTRODUÇÃO

O processo de transformação socioespacial do Brasil se deve a migração interna,

em geral, o fator motivador é o econômico, ou seja, a busca por melhores condições de

vida. O que reflete as desigualdades regionais estabelecidas ao longo dos séculos, para

De Paula e Júnior (2002, p.4):

O modo de produção capitalista, desde o capitalismo mercantilista, privilegiava determinado produto de exportação em detrimento de outros produtos. Com o capitalismo Industrial também não foi diferente, a polarização em determinadas regiões aumentou as disparidades regionais, elevando o fluxo migratório em direção aos centros urbanos.

A extensão territorial do Brasil, quase continental, facilita a migração da

população, seja no âmbito intraestadual, interestadual, intrarregional ou interregional,

além do intenso fluxo de deslocamento pendular. Especificamente, na mesorregião

Norte de Minas, há municípios com evasão populacional, em função das condições

físicas (irregularidade pluviométrica), mas, principalmente pelas questões

socioeconômicas.

No município de Claro dos Poções, por exemplo, a emigração faz parte da

trajetória de várias famílias, que primeiro migraram para o espaço urbano, contudo

quando não encontram trabalho migram para outros municípios. Neste contexto, este

estudo apresenta as emigrações da população de Claro dos Poções, tendo como fonte de

dados o Censo Demográfico de 2010, quesito data fixa (lugar de residência cinco anos

antes do Censo). A abordagem metodológica se baseou em pesquisa bibliográfica,

tratamento dos dados no SPSS e elaboração de mapas. A emigração da população de

Claro dos Poções é mais significativa a curta distância, ou seja, para municípios do

Norte de Minas, principalmente para Montes Claros.

1- A GEOGRAFICIDADE DE CLARO DOS POÇÕES-MG

O município de Claro dos Poções está situado na mesorregião Norte de Minas

(Figura 1), limita-se com os municípios de Coração de Jesus (ao norte), Francisco

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Dumont (ao sul), Montes Claros e Engenheiro Navarro (ao leste) e Jequitaí e São João

da Lagoa (ao oeste). O marco do município está localizado à 17º4’46’’ “latitude Sul e

44º12’30” de longitude Oeste. No que se refere à distância em relação a capital de

Minas Gerais, Belo Horizonte, fica a 462 Km e de Montes Claros, polo regional, 79

Km, com acesso pela BR 365.

Figura 1: Claro dos Poções no Norte de Minas.

Fonte: IBGE, 2010.

O processo de ocupação e formação de Claro dos Poções foi marcado pela

atividade pecuária, uma vez que servia de “caminho do gado”. A origem do nome está

relacionada às características físicas, local desprovido de vegetação, com espelhos

d’água, onde os animais gostavam de se refugiarem. Para Santos (2005, p 26):

Nas confluências das fazendas Santo Antônio, Cachoeira e São José (Mocambinho) havia um local onde a vegetação era escassa, mas com a existência de poços nos rios, conservando grande volume de água por todo período das secas, o que servia de atração para o gado.

Assim, o local passou a ser utilizado pelos fazendeiros que buscavam os

rebanhos nos “claros” ou “poções”onde, posteriormente, iniciou o povoado com

pequenos estabelecimentos comerciais. Entretanto, a emancipação política de Claro dos

Poções ocorreu em 30 de dezembro de 1962 - Lei nº 2.764, quando se desmembrou do

município de Jequitaí. O registro em Cartório foi 03 de março de 1963, data da

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comemoração do aniversário do município. Acredita-se que a emancipação esteve

associada à mobilização da população, que havia solicitado dos gestores de Jequitaí a

construção de uma escola; como o pedido não foi atendido, iniciaram o movimento pela

emancipação, tal aspecto representa a importância da participação do povo na

construção da democracia.

Em relação às características físicas do município, pode-se pontuar que faz parte

da bacia hidrográfica do Rio São Francisco. Importantes cursos de rios percorrem o

município: o rio São Lamberto, o rio Traíras, o rio Jequitaí, além de vários córregos. O

clima é tropical subúmido, com temperaturas elevadas, caracterizado por ter duas

estações bem definidas, verão quente e chuvoso, inverno seco e relativamente frio,

característico do cerrado; vegetação natural, que apesar da devastação ainda apresenta

resquícios. As temperaturas médias anuais de Claro dos Poções ficam em torno de 23º

C, ao passo que o índice pluviométrico anual é 1.100 mm (CARVALHO; PEREIRA;

TAUCCE,1998).

De acordo com Fonseca (2004), Claro dos Poções está inserido em duas

unidades geomorfológicas – a Serra do Espinhaço, responsável pelas maiores altitudes;

e o Chapadão, formado sobre uma camada quase horizontal do grupo Bambuí. O relevo

pertencente à depressão San-Franciscana, com predomínio de plano-ondulado, a altitude

varia de 1.012 m (próximo à nascente do córrego Lajinha) a 575 m (na intercessão dos

rios São Lamberto e Jequitaí). Em relação à sede municipal, o ponto máximo é de 632

m de altitude. Em razão da natureza das rochas, os solos apresentam textura média

arenosa, (60%), e argiloso (40%), com tipos predominantes de latossolo vermelho-

escuros e amarelos. A caracterização física do município é importante neste estudo, uma

vez que longos períodos de estiagem impulsionam a migração, portanto não é possível

analisar os aspectos humanos sem entender em que ambiente vive a população.

No que se refere ao número de pessoas que vivem em Claro dos Poções o Censo

Demográfico do IBGE (2010) apontou 7.781 habitantes. Sendo que viviam na sede

5.257 habitantes, distribuídos nos bairros: Vista Alegre, Mandacaru, Renascer, Nossa

Senhora de Fátima, de Andrades, São Vicente, Centro e Rubens Duartes de Andrade. O

restante da população, ou seja, 2.524 residiam no Distrito de Vista Alegre, nos

povoados de Pouso Alto, Boa Sorte, Claraval, Cassianópolis e nas comunidades de

Santa Fé, Santo Antônio, Riachinho, Boqueirão, Lagoa dos Freitas, Três Irmãos, Olaria,

Pé-de-Serra, Capão Dantas, Mata Égua, Atoleiro Grande, Candeias, Funil, São José do

Mucambo, União da Barra, Quebra-Ovo, Brejão e Pedro Coelho. As estimativas do

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IBGE (2013) apontam que Claro dos Poções teve um pequeno aumento da população

total, saindo de 7.781 (dado de 2010) para 7.909; no entanto, ao observar o Gráfico 1

percebe-se redução da população total no período de 1970 a 2010.

Gráfico 1: População de Claro dos Poções - Censo de 1970 a 2010

Fonte: IBGE, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 Org: SILVA, J.A, 2013

A leitura do Gráfico 1 permite inferir que ocorreu redução na população total do

município no período avaliado, além de deixar claro que a população rural migrou para

a área urbana. Em 1970 a população rural era de 6.497 habitantes, sendo que o Censo de

1980 apontou um total 4.684, em 1991 chegou a 3.798 e em 2010 como já foi

mencionado são apenas 2.524 indivíduos.

Assim, a taxa de urbanização de Claro dos Poções é alta, como em outros locais

do Brasil. De acordo com o IPEA (2013), em 1991 a taxa de urbanização era de

53,90%, em 2000 passou para 61,72% e em 2010 chegou a 67,54% - indicador que

reforça o abandono do campo para a cidade. Tal situação requer atenção dos gestores

públicos com políticas de planejamento urbano e ações para fixarem o homem no

campo. Pereira e Almeida (2004, p. 76) pontuam que “[...] cidade é simultaneamente,

um conjunto de objetos e relações e o lugar de existência das pessoas, constituindo não

apenas um arranjo de objetos tecnicamente orientado, mas o espaço do cotidiano do

vivido”.

Ao analisar os dados da população conforme o Censo de 2010, percebe-se

algumas particularidades, a saber, existem mais homens que mulheres, sendo que são

3.963 indivíduos do sexo masculino e 3.812 do sexo feminino, aspecto que não é tão

comum em outros municípios do Brasil. A Tabela 1 apresenta a população por faixa

etária/sexo conforme o Censo de 2010.

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Tabela 1: População por faixa etária / sexo 2010Faixa etária Masc Fem0 a 4 anos 270 2255 a 9 anos 293 26310 a 14 anos 343 37615 a 19 anos 406 40120 a 24 anos 367 31125 a 29 anos 296 26430 a 34 anos 289 27635 a 39 anos 276 28440 a 44 anos 289 24445 a 49 anos 260 21850 a 54 anos 216 20055 a 59 anos 181 17760 a 64 anos 131 16065 a 69 anos 119 13970 a 74 anos 109 11175 a 79 anos 67 7980 anos e mais 51 84Total 3.963 3.812

Fonte: IBGE, Censo 2010 Org: SILVA, J.A, 2014

Com base na Tabela 1, pode-se inferir que a população jovem feminina supera a

masculina apenas nas faixas de 10 a 14, de 35 a 39 anos e de forma sequencial na

terceira idade. No que se refere a População Economicamente ativa, também prevalece

pessoas do sexo masculino. Quanto aos indicadores sociais e econômicos de Claro dos

Poções, analisou-se o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) que

varia de 0 a 1. O parâmetro para leitura é 0,499 (muito baixo); 0,500 a 0,599 (baixo);

0600 a 0,699 (médio); 0,700 a 0,799 (alto); 0,800 a 1(muito alto) (PNUD, 2013).

Em 1991, o IDH de Claro dos Poções era de 0,591 (baixo), em 2000 aumentou

para 0,685 (médio) e em 2010 queda (0,670), contudo manteve-se na categoria médio.

O Gráfico 2 apresenta o IDH de Claro dos Poções em relação ao Brasil e Minas Gerais.

Gráfico 2: IDH Brasil, Minas Gerais e Claro dos Poções 1991, 2000 e 2010

Fonte: PNUD, 2003 e 2013. Org: SILVA, J.A, 2014

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Os dados do Gráfico 2 evidenciam o crescimento do IDH de 1991 para 2000 e a

queda de 2000 para 2010, mas também mostra que Claro dos Poções fica sempre abaixo

da média nacional e estadual. Também foi avaliado o parâmetro internacional, o Índice

Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, para medir o grau de concentração

de renda. O Índice Gini aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos

mais ricos, numericamente, varia de 0 a 1 (alguns apresentam de zero a cem), sendo que

zero implica equanimidade (PNUD, 2013). Claro dos Poções apresentou em 2010 índice

de 0,41, em anos anteriores 0,51 (1991) e 0,52 (2000), houve, portanto, redução, mas

aqui de forma positiva.

Em relação à renda per capita, tendo como base R$151,001 tanto em 1991 e

2000, o município de Claro dos Poções apresentou em 1991 renda per capita de

R$67,80, em 2000 a renda per capita foi de R$107,7. Em 2010, o valor base foi R$

510,002, sendo que a renda per capita do município chegou ao patamar de R$ 337,07.

Portanto, a renda per capita de Claro dos Poções esteve sempre abaixo do salário

mínimo nos anos avaliados.

Em Claro dos Poções a infraestrutura tanto na cidade como na área rural é

precária em vários aspectos, o que pode ser fator determinante da emigração,

especialmente para Montes Claros, geograficamente próximo e com melhor

infraestrutura. No Centro da cidade onde se encontram os pontos comerciais, praças,

agência dos Correios, a Prefeitura, Câmara Municipal, agência do Banco Bradesco,

Casa Lotérica, farmácias, todas as ruas são pavimentadas, mas nos demais bairros, a

pavimentação diminui. O acesso ao Distrito e às Comunidades é por estradas sem

pavimentação; no Distrito de Vista Alegre e na Comunidade de Boa Sorte algumas ruas

são pavimentadas. A Tabela 2 apresenta dados referentes ao quesito habitação.

Tabela 2: Habitação de Claro dos Poções em relação Brasil e Minas Gerais

-2010Indicadores Claro dos

PoçõesMinas Gerais

Brasil

% de habitação com água encanada 89.53 94,44 92,72% domicílios com banheiros e água encanada 86.21 94,91 87,16% domicílios com coleta de lixo 94,89 97,85 97,02% domicílios com energia elétrica 96,84 99,35 98,58% pessoas em domicílios com sistema de esgotos e abastecimento de água inadequado

4,56 1,84 6,12%

Fonte: IPEA, 2013 Org: : SILVA, J.A, 2013

1 Valor do salário mínimo vigente em 2000.2 Valor do salário mínimo vigente em 2010.

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A Tabela 2 apresenta Claro dos Poções abaixo dos percentuais de Minas Gerais

e do Brasil, exceto no percentual de pessoas em domicílios com sistema de esgoto e

abastecimento de água inadequados, um indicador ruim para estar superior. Em todo o

Brasil, existe necessidade de melhorias nas condições de saneamento básico,

especialmente no que diz respeito a água tratada e ao destino do lixo produzido.

Na cidade de Claro dos Poções a Companhia de Saneamento de Minas Gerais

(COPASA) tem a concessão na distribuição e tratamento de água. A água é captada do

lençol subterrâneo e o município conta com Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).

No entanto, a maior parte da população não tem acesso a rede de esgoto, que é lançado

em fossa séptica. A população do Distrito Vista Alegre e das Comunidades utilizam

água de “cisternas”, poços tubulares e dos rios e fossas sépticas sem qualquer

tratamento. O abastecimento de energia no município é de responsabilidade da

Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), mas há residências sem energia

elétrica, como mostra a Tabela 2.

Em relação à limpeza urbana, no Distrito e na sede esta é realizada pela

Prefeitura Municipal, em dois dias alternados na semana, sendo utilizado um caminhão /

carroceria, um trator e caçamba - próprios para o serviço. Os resíduos sólidos são

depositados em um lixão a céu aberto. Nas Comunidades a limpeza fica a cargo da

população, que queimam ou lançam os dejetos em locais muitas vezes inadequados.

Concernente ao atendimento médico - hospitalar existem dois Centros de Saúde

na sede, sendo que o atendimento é direcionado a consultas, tratamento odontológico,

exames parasitológicos e coleta de sangue (enviados para laboratórios de Montes Claros

para análise). Também são realizados na cidade eletrocardiogramas, cujos resultados

são aferidos via on-line pelo sistema de telemedicina “Minas Telecárdio”, desenvolvido

pela Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG) em parceria com a Universidade

Estadual de Montes Claros (Unimontes).

No Distrito de Vista Alegre há um Posto de Atendimento Médico que funciona

diariamente; nas Comunidades de Boa Sorte e Pouso Alto o atendimento é esporádico.

O município conta com o Programa Saúde da Família (PSF), entretanto, demais

atendimentos médicos hospitalares são encaminhados à Coração de Jesus, Pirapora e

Montes Claros. Para Pereira (2007, p. 58), “[...] Montes Claros desempenha a função de

centralizar o serviço de saúde, educação, suporte administrativo e serviços financeiros”.

Sabe-se que o atendimento de claropocenses nestas cidades é facilitado pelo Sistema

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Único de Saúde Fácil (SUSFÁCIL) e pelo Sistema Único de Saúde Municipal

(SUSMUNICIPAL).

Quanto à educação escolar, o município conta com cinco escolas municipais,

que atendem a demanda do ensino fundamental e duas escolas estaduais, que ofertam o

ensino fundamental e médio. É valido mencionar que encontra-se em fase de

implantação a Escola de Tempo Integral, voltada para a educação básica, sua construção

iniciou-se em julho de 2008, com previsão de completa efetivação no ano de 2012, mas

até o primeiro semestre do ano de 2014 a obra não foi concluída. A adoção de escolas

em tempo integral constitui uma importante decisão para melhorar o ensino escolar,

pois, “[...] quanto mais tempo as crianças puderem ficar nas escolas, mais longe ficarão

das drogas e das marginalidades e melhor será seu desenvolvimento intelectual e moral”

(MORAES 2006, p. 47).

O poder público de Claro dos Poções mantém convênio com uma instituição de

ensino técnico em enfermagem, Centro Educacional Corjesus de Coração de Jesus;

todavia, estudantes que pretendem fazer outros cursos técnicos ou ingressarem no

ensino superior em instituições estadual e/ou federal fazem diariamente o movimento

pendular de Claro dos Poções para Montes Claros, custeando todas as despesas do

deslocamento. Muitos jovens não têm condições financeiras de se deslocarem

diariamente, desta forma migram para Montes Claros, Belo Horizonte, Uberlândia,

Lavras e outras cidades, onde estudam e trabalham. Existem jovens que ficam à margem

dos dois processos, mantendo-se no município onde exercem atividades ligadas ao

comércio e à agropecuária, ou migram temporariamente para outras regiões de Minas

Gerais e/ou do Brasil, conforme a oferta de trabalho3.

A geração de postos de trabalho para suprir toda a demanda, tem sido problema

no município. A economia é voltada para o setor agropecuário, predominantemente de

subsistência - com comercialização esporádica do excedente, em geral pequeno. A partir

de 1970, o município implantou a monocultura de algodão, subsequente o cultivo de

abóbora híbrida. Desde 2013 destaca-se na produção da banana, comercializada em

Montes Claros e Belo Horizonte. Existem vinte e três associações comunitárias e um

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR), que exercem grande

importância na produção coletiva de alimentos para subsistência das famílias

associadas, bem como para comercialização de parte dos produtos com a socialização

3 Informações obtidas no município com a população.

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dos lucros obtidos. As atividades que mais absorvem mão de obra no município

pertencem ao setor primário – agricultura familiar (EMATER4, 2008).

Na Comunidade do Brejão vivem cinquenta famílias, que em 2006, através da

Associação, participaram de cursos de formação profissional ministrados pelo Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e passaram a produzir farinha. A

Comunidade investiu no plantio coletivo de mandioca em uma área de cinco hectares,

com produção de cem toneladas por ano. São fabricados, em média, 150 quilos de

farinha vendidos na região, 30% da produção vai para Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB). O município também faz parte do Programa Economia

Solidária - do governo federal vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego. O

referido Programa atua na promoção de cooperação, autogestão e solidariedade, assim

busca desenvolver ações sustentáveis com geração de trabalho e distribuição de renda.

Em relação ao plantio de feijão é produzido em pequena escala, sendo consumido e / ou

comercializado no município (EMATER, 2008).

A cana-de-açúcar é produzida para alimentação do rebanho no período de

estiagem prolongada e o restante processado em alambiques (cachaça) comercializado

no mercado através de cooperativas organizadas pelos produtores. O milho é plantado

em grande parte das propriedades, o produto é usado tanto para comercialização no

centro urbano quanto na produção de rações para a alimentação dos animais nos sítios e

nas fazendas. A laranja e o café são produtos para consumo dos pequenos produtores,

no caso das associações a colheita é dividida entre os membros associados, em outras

situações são vendidos nas feiras que acontecem no domingo. É válido ressaltar que a

bovinocultura claropocense está divida entre gado de leite e de corte, sem

predominância clara de uma das atividades. Os demais rebanhos são pouco expressivos,

utilizados no consumo familiar, ou como animais de trabalho nas propriedades rurais.

(EMATER, 2008).

A Tabela 3 apresenta o percentual da população nos setores produtivos de Claro

dos Poções.

4 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Minas Gerais.

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Tabela 3: Claro dos Poções trabalho por setor 2010Indicador Valor% da renda proveniente de rendimentos do trabalho

62,84

% dos ocupados no setor agropecuário - 18 anos ou mais

51,60

% de empregados sem carteira - 18 anos ou mais

31,19

% de empregados com carteira - 18 anos ou mais

19,06

% de trabalhadores por conta própria - 18 anos ou mais

19,07

% de trabalhadores do setor público - 18 anos ou mais

10,72

% dos ocupados no setor comércio - 18 anos ou mais

7,88

% dos ocupados na indústria de transformação - 18 anos ou mais

6,81

% dos ocupados no setor de construção - 18 anos ou mais

5,89

Fonte: IPEA, 2013 Org: : SILVA, J.A, 2014

Do total da população do município 62,84% tem renda proveniente de trabalho,

sendo 19,06%, empregados com carteira, mas 31,19% sem carteira. O setor público

absorve 10,72% da população e 19,07 trabalha por conta própria. O setor agropecuário

absorve 51,60% da população, o setor de construção 5,80% e 7,88% da população ativa

exerce atividade no comércio. Portanto, o setor que mais emprega é o primário, ou seja,

a agropecuária, fator que pode propiciar a migração de jovens, uma vez que muitos não

gostam das atividades ligadas ao campo. Para Santos (2005, p.28), “[...] a economia do

município é voltada para o setor agropecuário. Porém, sofre influência dos recursos

advindos das rendas do funcionalismo público estadual e municipal, bem como do

comércio varejista”.

Em função da falta de opção de trabalho em Claro dos Poções associada à

disponibilidade de mão de obra, reduz-se a expectativa de melhores salários daqueles

que estão empregados, portanto o crescimento da produtividade não significa melhora

salarial. Assim, há também a exploração dos trabalhadores com prolongadas horas de

trabalho, baixos salários, enfim, não existe respeito para regras da Consolidação das

Leis do Trabalho (CLT). A desvalorização do trabalhador acontece tanto no setor

comercial como no setor público municipal, aspectos que favorecem a emigração,

migram em busca de melhores condições.

Em relação à cultura do povo claropocense é fortemente marcada pelas festas da

Igreja Católica, tanto na cidade como na área rural. Acontecem procissão, missa,

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novenas e leilões, folias; na sede a festa que mais se destaca é a do Bom Jesus –

padroeiro -, ocorre no mês de agosto. No Distrito de Vista Alegre, acontece em janeiro a

festa de Santos Reis; no mês de maio é realizada a festa de Nossa Senhora; em junho as

tradicionais festas de São João, São Pedro e Santo Antônio e em dezembro a festa

natalina. É comum o retorno da população que vive em outros municípios, sejam de

Minas Gerais ou das demais Unidades da Federação, para participar das festas, inclusive

dos migrantes temporários, como abordado por Jesus (2009) no trabalho intitulado

“Migração temporária de Claro dos Poções-MG para Itupiranga-PA”. No estudo foi

identificado o retorno dos migrantes temporários no período de algumas festas, os

trabalhadores exerciam atividades em Itupiranga-PA.

Os festejos religiosos são bastante expressivos nos municípios do Norte de

Minas, Claro dos Poções não foge a regra. Para Fonseca (2009), é muito importante a

preservação da cultura, mas o fato de a maioria das festas ser religiosa comprova o

pouco dinamismo econômico, uma vez que em outros locais do Estado as festas estão

relacionadas a produção, a saber, Festa do Milho em Patos de Minas. A população do

município de Claro dos Poções nem sempre encontra meios de sobrevivência no

município, o que pode ocasionar a migração. Na sequência aborda-se o destino dos

emigrantes de Claro dos Poções.

2. ESPACIALIZAÇÕES DAS EMIGRAÇÕES

De acordo como IBGE (2010) emigraram 695 pessoas de Claro dos Poções,

sendo que 599 indivíduos foram para municípios de Minas Gerais; destes, a maioria

(425) emigrou para a mesorregião Norte de Minas. Para o Triângulo Mineiro/ Alto

Paranaíba foram 120 pessoas, quantidade expressiva considerando-se o total (fato pelo

qual optou-se isolar em um mapa específico); apenas 54 pessoas emigraram para

municípios das mesorregiões: Metropolitana de Belo Horizonte, Central Mineira,

Jequitinhonha e para o Noroeste de Minas. Para outras Unidades da Federação

emigraram 96 pessoas, São Paulo e Goiás foram os principais destinos. A Figura 2

mostra os destinos dos emigrantes no Norte de Minas Gerais.

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Figura 2: Emigrantes de Claro dos Poções para municípios do Norte de Minas

Fonte: IBGE, Censo 2010

A dinâmica de emigração de Claro dos Poções dentro da mesorregião Norte de

Minas ocorre entre os municípios de Montes Claros (277); Bocaiuva (82); Francisco

Dumont (24); Jequitaí (23); Itacambira (11) e Francisco Sá (oito). Acredita-se que a

maior quantidade seja para Montes Claros, devido à oferta de emprego nos setores

industrial e comercial, além de a cidade possuir uma infraestrutura na área educacional,

hospitalar, financeira, entre outras. Na saúde destacam-se, os serviços médicos

especializados, várias clínicas e hospitais, sendo referência regional. As inúmeras

escolas técnicas, faculdades privadas e universidades (estadual e federal) presentes em

Montes Claros, também são fatores de atração populacional, principalmente para os

jovens que concluíram o ensino médio e desejam cursar ensino técnico ou superior. A

Figura 3 apresenta o destino dos emigrantes no Triângulo Mineiro / Alto Paranaíba.

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Figura 3: Emigrantes de Claro dos Poções para municípios do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba.

Fonte: IBGE, Censo 2010.

As emigrações de Claro dos Poções para o Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba

foram para o município de Estrela do Sul (nove 9); Romaria (12); Iraí de Minas (44);

Perdizes (21) e Uberlândia (34). O município de Uberlândia se destaca em atração

populacional pela dinâmica da indústria, comércio e infraestrutura educacional. A

Figura 4 representa o destino dos emigrantes para as outras mesorregiões de Minas

Gerais.

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Figura 4: Emigrantes de Claro dos Poções para demais mesorregiões de Minas Gerais.

Fonte: IBGE, Censo 2010

Os claropocenses emigram para os municípios da mesorregião Metropolitana

de Belo Horizonte: Betim (21) e Vespasiano (12). Um fator interessante é que a capital

mineira não aparece como área de atração de pessoas de Claro dos Poções no período

avaliado. Os claropocenses, emigraram para os municípios de Buenopólis (sete

indivíduos) e Inimutaba (quatro pessoas), inseridos na mesorregião Central Mineira; já

para a mesorregião do Jequitinhonha emigraram apenas oito pessoas para Diamantina; e

por fim, para a mesorregião do Noroeste de Minas, somente o município de São

Gonçalo do Abaeté recebeu duas pessoas de Claro dos Poções. Em relação ao destino

dos 96 migrantes que foram para outros Estados, tem-se a espacialização dos dados na

Figura 5.

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Figura 5: Emigrantes de Claro dos Poções para outras Unidades da Federação

Fonte: IBGE, Censo 2010.

Os Estado de São Paulo e Goiás receberam migrantes de Claro dos Poções no

período avaliado. Os municípios que receberam os claropocenses foram:

Itaquaquecetuba-SP (47), Santa Cruz das Palmeiras-SP (33) e Catalão-GO (16). O

município de Itaquaquecetuba se localiza na região da grande São Paulo, local de

inúmeras indústrias e redes de comércios; Santa Cruz das Palmeiras está localizada no

interior paulista, também com setor industrial e de comércio desenvolvido. Catalão

detém o quinto maior PIB e a terceira renda per capta do estado goiano, economia

industrial forte, setor de serviços, comércios e agronegócio bastante desenvolvidos,

enfim, espaço de atração populacional (SIQUEIRA, 2009).

Em geral os locais de destinos apresentam melhores indicadores

socioeconômicos do que Claro dos Poções. A renda per capta de Claro dos Poções é

superior apenas a Itacambira (Norte de Minas). No que se refere ao percentual de renda

proveniente de rendimento do trabalho, todos os municípios superam Claro dos Poções

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(62,84%), com exceção de Itacambira (59,57%). Quanto o percentual de pessoas

empregadas sem carteira assinada, apenas Francisco Sá (36,99%) apresenta dado

superior a Claro dos Poções (31,19). No setor agropecuário Claro dos Poções se

apresenta com maior percentual, com exceção de Itacambira. No entanto, empregados

nos setores de comércio, indústria de transformação e servidores públicos, Claro dos

Poções se apresenta com menores percentuais do que os demais municípios, com raras

exceções, sendo respectivamente, 7.88%; 6,81% e 10,72%.

As exceções no setor de indústria de transformação: Francisco Sá (3,01%); de

Jequitaí (1,96%); Itacambira (2,65%); Estrela do Sul (4,35%); Iraí de Minas (3,10%);

Perdizes (5,45%); Diamantina (3,62%); São Gonçalo do Abaeté (1,43%) e Buenopólis

(3,63%). No setor comercial apenas Itacambira (4,99%) é exceção. Em relação a

ocupação de servidores públicos apresentam-se menores percentuais em relação a Claro

dos Poções: Francisco Sá (8,71%); Bocaiuva (9,41%); Jequitaí (8,83%); Montes Claros

(9,69%); Perdizes (9,38%); Uberlândia (5,78%); Diamantina (10,53%); Inimutaba

(5,49%); Vespasiano (4,57%); Betim (4,75%); Santa Cruz das Palmeiras (1,52%);

Itaquaquecetuba (2,82%) e Catalão (5,61%). Dados que comprovam que nos municípios

o setor público absorve menos pessoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Claro dos Poções se originou da chegada dos tropeiros, ou seja,

a pecuária foi a atividade econômica de atração populacional. Com o passar dos tempos

a economia diversificou, mas o setor primário permanece como o maior gerador de

emprego, fator que propiciar a migração de jovens, uma vez que muitos não gostam das

atividades ligadas ao campo. Além do que, os postos de trabalho disponibilizados no

município não atendem a demanda.

A migração aparece como estratégia de reprodução social, muitas famílias

dependem do trabalho como migrante para investir na melhoria de suas casas, aquisição

de bens imóveis e móveis e acima de tudo prover o alimento da família. A emigração é

motivada por fatores socioeconômicos, os trabalhadores de menor escolaridade, que não

se inserem no mercado de trabalho local, buscam atividades temporárias. Outros

claropocenses migram para trabalhar em atividades indústrias, comerciais e prestação de

serviços. A busca por qualificação também impulsiona a migração para municípios que

ofertam educação técnica e superior.

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Os resultados apontam que prevalece a emigração dentro da mesorregião Norte

de Minas, para os municípios de Montes Claros; Bocaiuva; Francisco Dumont; Jequitaí;

Itacambira e Francisco Sá. Os fluxos para outros municípios do Estado são para Betim;

Vespasiano; Buenopólis; Inimutaba; Diamantina; São Gonçalo do Abaeté; Estrela do

Sul; Romaria; Iraí de Minas; Perdizes e Uberlândia. A migração interestadual ocorre

para municípios de São Paulo (municípios Itaquaquecetuba e Santa Cruz das Palmeiras)

e Goiás (municípios de Catalão). Na construção do “imaginário” dos emigrantes, o

local de destino dará a eles melhores condições de vida, o que nem sempre acontece.

Cabe, portanto, ao poder público atentar para políticas que atendam as necessidades da

população.

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