72
VIII Encontro da ANDHEP Políticas Públicas para a Segurança Pública e Direitos HumanosGT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanos 28 a 30 de abril de 2014 São Paulo SP Faculdade de Direito da USP ISSN: 2317-0255 Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255 1287

GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

VIII Encontro da ANDHEP

“Políticas Públicas para a Segurança

Pública e Direitos Humanos”

GT05

Estatísticas, Segurança

Pública e Direitos Humanos

28 a 30 de abril de 2014

São Paulo – SP

Faculdade de Direito da USP

ISSN: 2317-0255

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1287

Page 2: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL DE

EGRESSOS DO SISTEMA PROSIONAL EM MINAS GERAIS

Talita Egevardt de Castro1

Letícia Alves Tadeu Santiago2

Felippe Clemente3

1. INTRODUÇÃO

Uma análise das estatísticas da criminalidade no Brasil revela o quão

preocupante tornou-se esta temática. Waiselfisz (2013) aponta que de 1980 a 2010

cerca de 800 mil pessoas morreram por arma de fogo, um crescimento de 346,5%. O

maior impulsionador do crescimento desta estatística foi o homicídio, que aumentou

502,8%. Em relação às regiões brasileiras, apenas a região Sudeste apresentou uma

diminuição na mortalidade por armas de fogo, entre 2000 e 2012. Entretanto, Minas

Gerais foi o único estado desta região que apresentou significativo aumento de óbitos

dessa natureza, um crescimento de 64,2%, contudo, a partir de 2007 houve uma

inflexão nesta tendência.

A figura 1 evidencia a evolução histórica da taxa de encarceramento no estado

de Minas Gerais. Ela mostra que, entre 1993 e 2006, a taxa saltou de 68 presos por

100 mil habitantes para 163 por 100 mil, representando um crescimento superior a

140%. O ritmo de ascensão da taxa acelerou-se entre 1998 e 2002, mantendo-se no

mesmo patamar no quadriênio seguinte.

1 Estudante de mestrado em Economia Aplicada do Departamento de Economia Rural da Universidade

Federal de Viçosa (DER/UFV). E-mail: [email protected].

2 Estudante de Mestrado em Economia Aplicada do Departamento de Economia Rural da Universidade

Federal de Viçosa (DER/UFV). E-mail: [email protected].

3 Estudante de Doutorado em Economia Aplicada do Departamento de Economia Rural da Universidade

Federal de Viçosa (DER/UFV). E-mail: [email protected].

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1288

Page 3: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Figura 1 – Evolução da taxa de encarceramento – Minas Gerais, 1993-2006

Fonte: Sapori (2012).

O problema da criminalidade tornou-se de tal proporção que tem sido objeto de

estudos de diversas ciências, tais como, Economia, Direito e Sociologia, que têm em

comum a elaboração de políticas públicas que, de fato mitiguem o problema. São

necessárias ações coordenadas do estado e da sociedade que visem propor políticas

públicas sejam capazes de estimular o desenvolvimento econômico e social,

promovendo o aumento do Bem-estar social.

Prover segurança pública é o grande desafio do Estado e da sociedade. Parte

deste desafio relaciona-se com o sistema prisional brasileiro, que não fornece

condições de reinserção4 e reeducação do egresso à sociedade. Sabe-se que a

reincidência no Brasil é alta e levantamentos apontam para uma taxa entre 60 e 70%

(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇAO, 2009).

Nesse sentido, faz-se necessário, políticas públicas direcionadas para a

segurança, que mitiguem o problema da criminalidade, bem como, da reincidência

criminal.

As políticas públicas que visam a prevenção da criminalidade atuam em três

níveis: a prevenção primária que consiste em fazer intervenções em localidades com

maior incidência de crimes, com medidas socioeducativas e de prevenção; a

prevenção secundária possibilita às pessoas que cometeram crimes, cumprirem penas

ou medidas alternativas em instituições sociais como uma medida de redução da

reincidência; enquanto a prevenção terciária direciona-se para a redução da

4 Por reinserção social entende-se como a ajuda dada a infratores durante o reingresso na sociedade

e/ou ainda, o período que vai desde a acusação até a libertação (NAÇÕES UNIDAS, 2010).

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1993 1998 2002 2003 2004 2005 2006

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1289

Page 4: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

reincidência, trabalhando diretamente com aqueles que se envolveram com a violência

(SEDS, 2014).

Assim, algumas intervenções que objetivam o controle e prevenção da

criminalidade são: Operação Cease Fire em Boston, Programa Tolerância Zero em

Nova York, Programa Segurança Cidadã na Colômbia, e no Brasil destacam-se os

programas Fica Vivo, Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional

(PRESP), Paz nas Escolas, Bolsa Família, Programa Associação de Proteção e

Assistência aos Condenados (APAC), Programa Patrulha de Prevenção Ativa (PPA),

dentre outros.

Observa-se que certas intervenções têm obtido êxito na redução da

criminalidade e/ou da reincidência. Braga et al. (2001) analisaram o efeito da operação

Cease Fire em Boston, cujo objetivo é reduzir a violência com armas de fogo e os

homicídios de jovens. Os autores constataram uma redução mensal de 63% no

número de homicídios de jovens e de 25% no número de assaltos com armas em toda

a cidade.

Tollenaar et. al. (2013) estimaram o impacto da medida ISD5 (Inrichting voor

Stelselmatige Daders) na Holanda, no período de 2004 a 2008. Os autores

observaram que a intervenção contribui para a redução da reincidência e do crime.

Julião (2010) avaliou o impacto da educação e do trabalho como programas de

reinserção social no Rio de Janeiro. O autor identificou que o trabalho e o estudo têm

importantes contribuições na reinserção social de apenados, contribuindo com a

redução da reincidência.

Andrade e Peixoto (2007) realizaram uma avaliação econômica de nove

programas dessa natureza. Os resultados obtidos apontaram que, no geral, os

programas de prevenção secundária apresentam os menores dispêndios por crimes

sérios evitados seguidos do programa PPA. O programa Bolsa Família apresentou um

dispêndio por crime sério evitado de cerca de R$ 11.000,00, esse alto valor pode ser

explicado pelo tempo de duração do programa e por ele assistir uma grande parcela

da população pobre brasileira. Dos programas de prevenção terciária, o APAC foi o

mais custoso. Entretanto, ao se comparar os custos do condenado nesse programa ao

custo do sistema prisional tradicional revela-se que o custo da APAC é cerca de um

quinto do custo do sistema prisional tradicional. Isso mostra que programas voltados

para o controle e a prevenção da criminalidade têm um custo benefício considerável

aos cofres públicos e a população, pois além de custarem menos do que a

5 Para maiores detalhes ver Tollenaar et. al. (2013).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1290

Page 5: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

manutenção de presos nas penitenciarias, oferecem maior bem estar às pessoas, uma

vez que menos crimes são praticados.

Peixoto et al. (2008) analisou especificamente o impacto do Programa Fica

Vivo na prevenção e controle da criminalidade. O objetivo principal do programa é a

redução dos homicídios em áreas de alta concentração. Os resultados mostraram que

o programa tem impacto positivo na maior parte das áreas tratadas, sendo que, em

algumas áreas sua atuação determina uma redução da taxa de homicídios e em

outras desacelera o crescimento. O local onde o resultado do Fica Vivo apresentou-se

mais efetivo foi na área piloto de implantação, Morro das Pedras, que registrou de 12 a

18 homicídios evitados a cada cem mil habitantes, no primeiro semestre, em relação

ao grupo de comparação.

O estado de São Paulo apresentou na última década uma significativa redução

dos índices de criminalidade, especificamente na taxa de homicídios (GOERTZER e

KAHN, 2009, CERQUEIRA, 2010 e SANTOS, 2012). Dentre as causas para a redução

dos homicídios, Santos (2012) menciona a política de desarmamento, executada em

2001 e ampliada pelo Estatuto do Desarmamento, em 2003; melhoria do desempenho

da política e melhoria nas condições econômicas, como a redução do desemprego e

aumento do salário real. A melhoria das condições do mercado de trabalho reduz o

custo de oportunidade do crime e pode também reduzir a reincidência criminal.

Além das políticas de controle da criminalidade, são necessárias políticas

voltadas para os egressos do sistema prisional, fornecendo-lhes condições de

socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas Gerais, o Programa

de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PRESP), que visa promover

condições para a inclusão social dos egressos do sistema prisional distanciando-os

das condições que contribuem com a reincidência. O programa tem por objetivo

diminuir as exclusões e estigmas decorrentes da experiência de reclusão, promovendo

condições para a retomada da vida em liberdade.

Com isso, esta pesquisa tem como objetivo avaliar o impacto do PRESP na

reincidência dos municípios em que o programa está ativo e verificar se o programa

contribui com a integração social dos egressos, de modo que o programa possa ser

replicado em outras localidades.

Ações como esta são muito importantes para criar a possibilidade de uma

diminuição das condições favoráveis a permanência ou inserção dos indivíduos na

vida criminosa, por isso acredita-se que o PRESP contribuiu com a diminuição dos

índices de criminalidade no estado de Minas Gerais, e através dessa motivação

objetiva-se analisar o real impacto desse programa nos índices de crimes contra o

patrinômio e contra as pessoas, em que o programa está ativo.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1291

Page 6: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Esta pesquisa, além desta introdução contém outras 5 seções. Na seção

seguinte é apresentada uma descrição do programa, enquanto na seção 3 faz-se um

breve comentário acerca da teoria pertinente à criminalidade. Na seção 4 é

apresentado o método utilizado para a estimação. Posteriormente, são descritos os

resultados, culminando com as considerações finais desta pesquisa.

2. O PROGRAMA DE INCLUSÃO SOCIAL DE EGRESSOS DO SISTEMA

PRISIONAL

De acordo com a Comissão de Formação Teórica e Prática do PRESP (2013),

o programa foi fundado em 2003, a partir do decreto 3.498, com suas atividades

iniciadas nos municípios de Ribeirão das Neves, Contagem e Juiz de Fora. A partir do

segundo semestre de 2005 o Termo de Parceria entre a Secretaria de Estado de

Defesa Social (SEDS) e o Instituto Elo, o programa foi expandido para mais oito

municípios mineiros: Belo Horizonte, Betim, Santa Luzia, Ipatinga, Governador

Valadares, Montes Claros, Uberlândia e Uberaba.

O Centro de Defesa da Cidadania (2014) menciona que o PRESP atua na

prevenção terciária, isto é, especificamente para pessoas que sofreram processos de

criminalização e cerceamento de liberdade, e visa diminuir as exclusões e estigmas

decorrentes dessa experiência, promovendo condições para sua retomada à vida

social, mediante inclusão do indivíduo e de sua família. Para isso o programa conta

com uma equipe composta por profissionais e estagiários das áreas de Direito,

Psicologia e Serviço Social. O Programa busca ir além da determinação legal, porém

parte desta como obrigação mínima sob sua responsabilidade. De acordo com a Lei

de Execução Penal - LEP2/:

Art 25. A assistência ao egresso consiste:

I – na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;

II – na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento

adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses;

Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma

única vez, comprovado, por declaração do assistente social, o emprenho na obtenção

de emprego.

Em 2010, houve 16.826 atendimentos e, em 2011, 17.966. Já em 2012, esse

número passou para 20.082. De acordo com a SEDS (2014), todos os anos, cerca de

3.200 novos egressos do sistema prisional mineiro se inscrevem no programa.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1292

Page 7: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

A Lei 18.401, de 2009, possibilita ao governo de Minas Gerais subsidiar

empresas que empregarem pessoas egressas do sistema prisional do Estado com um

repasse de dois salários mínimos mensais para cada ex-detento durante período de

24 meses. A cada ano, desde sua criação, o projeto vem beneficiando cada vez mais

pessoas. Em 2010, 223 egressos foram encaminhados às empresas parceiras; em

2011, 350; em 2012, esse número subiu para 623 (SEDS, 2014).

O trabalho do programa é realizado em parceria com as demais políticas

setoriais como educação, saúde, assistência, trabalho, cultura, entre outros, pois se

compreende que em traços gerais o público atendido é também público das demais

políticas sociais e, por essa razão, a intersetorialidade para o trabalho é determinante

(CENTRO DE DEFESA DA CIDADANIA, 2014).

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Cerqueira e Lobão (2003), os estudos sobre as causas da

criminalidade se desenvolveram em duas principais direções: as motivações

individuais e os processos que levariam as pessoas a se tornarem criminosas e as

variações culturais e organizações sociais. Em relação às motivações individuais, os

autores observam que estas podem estar ligadas a possíveis patologias, na qual se

acredita que pessoas com determinados traços genéticos ou adquiridos seriam mais

propensas a cometerem crimes. Esta teoria foi muito abordada por Lombroso (1893),

mas no final da 2ª Guerra Mundial perdeu espaço devido ao seu caráter discriminante.

Já a segunda linha, que tenta justificar as causas da criminalidade, está ligada

a desordem social, que relaciona o ambiente que o indivíduo vive. De acordo com

essa linha existem sistemas de redes, formais ou informais, tais como as relações de

amizades, parentesco, dentre outros. Essas relações seriam condicionadas por

diversas variáveis, como: desagregação familiar, status econômico, heterogeneidade

étnica, urbanização e mobilidade residencial. Sendo assim, a criminalidade evolui

como consequência de efeitos indesejáveis na organização dessas redes de contato

em nível comunitário e das vizinhanças.

Outras abordagens sobre as causas da criminalidade também foram

difundidas, tais como, a teoria da anomia, teoria das atividades rotineiras, teoria

econômica da escolha racional6, entre outras. Contudo, devido ao seu caráter

multissetorial, não há uma teoria que julgue ser a mais correta para explicar tal

6 Para maiores detalhes ver Durkheim (1897), Merton (1938), Cohen e Felson (1979) e Becker (1968).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1293

Page 8: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

comportamento, o que se sabe de fato é que esses estudos lançam luz sobre os

possíveis fatores que podem ser trabalhados pelos policy makers para prover aos

cidadãos maior qualidade de vida e consequentemente desenvolvimento social e

econômico.

No que tange o sistema carcerário, Helena e Marques (2014), arguiram que

com o entendimento garantista do crime, passou-se a considerá-lo como uma

descrição legal da conduta, sendo considerada criminosa a pessoa que viola o ajuste

social e a pena seria o limite retributivo de intervenção do Estado na liberdade do

sujeito. Já a questão da reincidência que no Código Penal não é mostrado o conceito,

mas somente a indicação das condições de sua verificabilidade (art. 63 Código Penal

(CP), e seus efeitos (art. 64 CP), as justificativas são dadas por inúmeras correntes,

que são: a teoria da dupla lesão; a teoria da periculosidade presumida; a teoria da

culpabilidade do ato; a teoria criminológica deriva do positivismo, sendo considerada a

que melhor explicita o modelo justificador.

De acordo com Homem (2013), um dos primeiros relatos sobre pena é muito

antigo, os indícios vieram da Lei de Talião e foram encontrados no Código de

Hamurabi por volta de 1.700 a.C. no reino da Babilônia. Estas penas estavam muito

ligadas a religião. Já a pena privativa de liberdade como pena principal apareceu pela

primeira vez na Idade Média, no final do século XVIII. O confinamento passou a

suceder a pena de morte, e a entidade carcerária passou a ter natureza de sanção

coerciva de caráter corregedor. Os registros do século XX apontam para a concepção

de projetos de ressocialização dos privados de liberdade, em que o sistema prisional

passa a ter uma visão mais crítica em relação a eles.

Segundo Baratta (2014), a reforma dos sistemas penitenciários vistos na

metade dos anos 70, deu-se sob a influência da ressocialização ou do “tratamento”

reeducativo e ressocializador como fim último da pena. Mas a realidade prisional está

muito distante daquilo que é necessário para fazer cumprir as funções de

ressocialização e os estudos dos efeitos da cadeia na vida criminal (atestam o alto

índice de reincidência) têm invalidado a hipótese da ressocialização do infrator através

da prisão.

O autor cita alguns pontos que podem servir como alternativa a prática

tradicional, de forma a corrigir a técnica do tratamento e ressocialização dos presos,

sendo um desses o cuidado à implementação dos benefícios proporcionados aos

condenados e ex-condenados, para tornar mais adequadas as condições de vida na

família, na sociedade e à estrutura das relações sociais para onde o apenado

regressa. É necessária a promoção de oportunidades de reinserção “assistida” em

outro meio diferente do original. Comprometer os organismos institucionais e

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1294

Page 9: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

comunitários com o trabalho de assegurar a qualificação profissional e a ocupação dos

ex-presos. E incentivar, na comunidade, a formação de posturas favoráveis à

reintegração dos ex-detentos.

4. METODOLOGIA

O principal desafio da avaliação de impacto de políticas públicas é definir o que

ocorreria se o grupo que recebeu o programa não o tivesse recebido (KHANDKER et

al., 2010). Nesta pesquisa, isso implica em determinar a taxa de reincidência nos

municípios que receberam o PRESP, na ausência desta política.

Para avaliar o impacto do PRESP será utilizado, o Propensity Score Matching

(PSM), que fará a escolha de um grupo de comparação, de acordo com as

características observadas que não são afetadas pelo programa. Segundo Peixoto

(2008), o uso do PSM permite minimizar o viés das características observáveis e de

ausência de suporte comum.

Dado que, o grupo de tratamento não é obtido de um experimento aleatório,

não é possível considerar os indivíduos que não receberam o programa como

contrafactual dos indivíduos que o receberam (PEIXOTO, 2008; BRYSON et al., 2002;

ROSENBAUM e RUBIN, 1983). Para tanto, deve-se selecionar um grupo que seja o

mais próximo possível de um grupo cujas escolhas foram aleatórias (KHANDKER et

al, 2010).

O PSM, desenvolvido inicialmente por Rosenbaum e Rubin (1983), consiste em

estabelecer um grupo de comparação tendo por base características observadas que

não são afetadas pelo programa. Segundo Gertler et. al. (2011), a partir destas

características observadas pode-se construir o melhor grupo de comparação para um

determinado grupo de tratamento. Desta forma, o PSM estabelece um grupo de

comparação a partir de um modelo de probabilidade de participação no tratamento T

condicionado a características observadas X: P(X) = Pr (T = 1│X) (KHANDKER et al.,

2010).

De acordo com Pinto (2012) a hipótese central do PSM é de que no vetor de

características observadas X estão contidas todas as informações relacionadas a um

possível resultado na ausência da intervenção Y(0) quando o indivíduo decide

participar ou não do tratamento: Yi(0) Ti│Xi. Uma segunda hipótese deste

método é a da sobreposição, isto é, o vetor de características observadas X dos

indivíduos tratados também representa as características dos indivíduos que não

receberam a intervenção: Pr[Ti = 1│Xi] < 1 (PINTO, 2012).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1295

Page 10: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Será utilizando um modelo Probit para calcular a probabilidade de um

determinado município participar do programa, para que posteriormente seja feito o

pareamento. A variável dependente é uma dummy que indicará se o município

participa ou não do programa (T = 1 para os municípios que participam e T = 0 para os

municípios que não participam). Os resultados representam a estimação da

probabilidade de participação no programa ( (X/T = 1) = (X)).

Para o modelo Probit, a seguinte equação foi estimada:

= (1)

Onde: = variável binária com 1 para os municípios que possuem o PRESP e 0

caso contrário; = gastos per capita com segurança pública = renda per capita = taxa de emprego no setor formal = reincidência = crimes contra a pessoa = crimes contra o patrimônio = erro aleatório

Depois de estimado o modelo Probit, o PSM fará o pareamento dos municípios

que possuem probabilidades semelhantes de participar no programa. Os critérios mais

utilizados segundo Kandheker et. al. (2010) para o pareamento são: Nearest-neighbor

matching (NNM), Radius a matching (RM), Stratification Matching (SM) and Kernel

Matching (KM). O critério que será utilizado para o pareamento é o de Kernel, pois um

risco que pode ocorrer com os demais métodos é que apenas um pequeno

subconjunto de indivíduos não tratados satisfaça a hipótese de pertencer a região de

suporte comum. Por outro lado, o KM utiliza uma média ponderada dos municípios que

não participam do programa para estabelecer o contrafactual de cada participante

(KHANDKER et. al., 2010).

Assim, segundo Khandker et. al. (2010) o efeito médio do tratamento será dado

por:

ATE = (2)

Onde:

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1296

Page 11: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Nt é o número de participantes i e ω(i, j) é o peso usado para agregar os

resultados dos não participantes pareados j.

Da equação (2) infere-se que o efeito do tratamento médio é dado pela

diferença nos resultados do grupo tratado e do grupo de controle com o pareamento.

O grupo de tratamento é composto por todos os municípios que já receberam o

programa: Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ribeirão das Neves, Santa Luzia,

Governador Valadares, Juiz de Fora, Ipatinga, Montes Claros, Uberaba e Uberlândia.

Enquanto que, o grupo de controle é composto pelos municípios com população

superior a cem mil habitantes, no ano de 2011, são eles: Araguari, Barbacena,

Conselheiro Lafaiete, Coronel Fabriciano, Divinópolis, Ibirité, Itabira, Muriaé, Passos,

Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sabará, Sete Lagoas, Teófilo Otoni,

Ubá, Varginha e Vespasiano. A escolha dos indivíduos que farão parte do grupo de

comparação será feita utilizando o PSM.

4.1 Fonte e tratamento dos dados

Os dados utilizados na presente pesquisa foram obtidos do Índice Mineiro de

Responsabilidade Social da Fundação João Pinheiro, para o ano de 2011. Foram

selecionadas as seguintes variáveis: gastos per-capita com segurança pública

(GPSP), renda per-capita (RPC), taxa de emprego do setor formal (TXE), reincidência

(reinc), taxa de crimes contra a pessoa por cem mil habitantes (CCPE) e taxa de

crimes contra o patrimônio por cem mil habitantes (CCPA).

A reincidência foi calculada com base na informação do Conselho Nacional de

Justiça (2014), de que o índice de reincidência é aproximadamente 70% no Brasil.

Assim, calculamos 70% do total de pessoas presas nos municípios.

5. RESULTADOS

Inicialmente são apresentadas as estatísticas descritivas do modelo, que estão

resumidas na tabela 1. As estatísticas mostram valores muito dispersos com relação

aos municípios.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1297

Page 12: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 1: Resumo das variáveis independentes

Variáveis explicativas Média Desvio-padrão

Máximo Mínimo

Gastos per-capita com segurança pública 3,84 7,39 25,86 0,00 Renda per-capita 345,11 203,32 1.163,61 94,51 Taxa de emprego do setor formal 35,93 13,14 81,11 13,18 Taxa de reincidência 0,82 3,05 16,10 0,00 Crimes contra a pessoa 58,04 37,79 176,31 10,39 Crimes contra o patrimônio 261,35 211,04 907,71 57,81

Fonte: elaborado pelos autores.

Nota-se que os gastos per capita em segurança pública variam de 0 a

aproximadamente R$ 26,00. Isso evidencia o descaso de algumas cidades com

relação à segurança dos seus habitantes. A variável renda per-capita também mostrou

valores bem dispersos (de R$ 94,51 a R$ 1.163,61). Isso pode impactar nos índices

de criminalidade dos municípios, uma vez que regiões mais ricas tornam-se

economicamente mais atrativas a roubos e furtos. A taxa de emprego no setor formal,

com média de 35,93, foi bem ampla, tendo municípios com taxa de 13% e outros com

81%. O efeito desta variável é ambíguo, pois mais emprego implica em custo de

oportunidade para o crime maior, no entanto, também implica em uma maior renda, o

que torna as vítimas mais atrativas. Com relação aos crimes, evidencia-se que o crime

contra o patrimônio tem uma média bem mais alta (261,35) do que os crimes contra a

pessoa (58,04). Os valores máximos e mínimos também estiveram em um intervalo

bem extenso. Isso pode ser explicado pelo fato dos crimes contra o patrimônio serem

mais notificados que os crimes contra a pessoa, devido às exigências das seguradoras

para o reembolso. Além disso, diversas vítimas não realizam a denúncia por

desacreditarem na eficiência do Estado para a punição do infrator ou por medo de

sofrerem novas perseguições.

Posteriormente, realizou-se a avaliação de impacto do PRESP, através da

estimação da probabilidade de receber o programa para posteriormente fazer o

pareamento dos municípios que receberam e dos que não receberam o programa. Na

tabela 2 estão descritas as estimativas do modelo Probit, considerando como variável

dependente igual a 1, o município que possui o programa e 0, caso contrário.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1298

Page 13: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 2: Estimativa da probabilidade de participação no PRESP Variáveis explicativas Coeficiente Efeito Marginal

Gastos per-capita com segurança pública 0,0600NS 0,0235NS

(0,72) (0,46) Renda per-capita 0,1641* 0,0064NS

(1,29) (0,54) Taxa de emprego do setor formal -0,2215* -0,0870NS

(-1,40) (-0,54) Taxa de reincidência -0,8199NS -0,3220NS

(-0,07) (-0,06) Crimes contra a pessoa -0,0323** -0,0127NS

(-1,78) (-0,56) Crimes contra o patrimônio 0,0222*** 0,0087NS

(2,25) (0,57) Fonte: elaborado pelos autores. *** Significância de 5%; ** Significância de 10%; * Significância de 20%; NS: não significativo. Nota: o Efeito Marginal no ponto médio foi estimado através do comando mfx do Stata 12.

Nota-se que os sinais obtidos dos coeficientes da renda per-capita, taxa de

emprego, crimes contra a pessoa e crimes contra o patrimônio foram os esperados.

Na literatura o efeito da renda é ambíguo, tendo em vista que, com uma renda maior, o

custo de oportunidade do indivíduo em cometer um delito é maior, no entanto, uma

renda per-capita mais alta torna as vítimas economicamente mais atrativas. A taxa de

emprego do setor formal com um coeficiente de -0,2215 indica que quanto maior a

taxa de emprego, menor a probabilidade do município receber o programa e, portanto,

ter uma taxa de reincidência mais alta. O coeficiente da variável de crimes contra a

pessoa, de -0,323 aponta que quanto maior este indicador, menor a probabilidade de

receber o programa. Uma justificativa para isso é que a possibilidade de

aprisionamento para crimes contra a pessoa é maior, pois, há maior esforço em

solucionar esse tipo de crime. Por outro lado, a variável crimes contra o patrimônio

apresentou um coeficiente de 0,0222 indicando que há uma maior probabilidade de

receber o programa. Uma justificativa é que em locais com maior numero de crimes

contra o patrimônio, pode haver maior organização por parte da sociedade, em exigir

uma solução para este evento.

As variáveis gastos per-capita em segurança pública e a taxa de reincidência,

bem como os efeitos marginais apresentaram coeficientes não significativos. Uma das

justificativas para este resultado relaciona-se ao banco de dados disponível para esta

pesquisa, que impossibilitou uma análise desagregada destes indicadores. Acredita-se

que uma análise desagregada em nível de bairros, por exemplo, poderia apontar

coeficientes mais robustos.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1299

Page 14: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

A etapa seguinte consistiu em avaliar o impacto do PRESP na reincidência dos

municípios que já o receberam, através do cálculo do Efeito do Tratamento Médio

sobre o Tratado (ETMT). Após o pareamento, a amostra resultante constituiu-se de

seis municípios que não receberam o tratamento, que são igualmente comparáveis

com os onze municípios tratados. Os resultados podem ser observados na tabela 2.

Tabela 3: Estimativa do tratamento médio sobre os tratados (ETMT) em Minas Gerais no ano de 2011

Variável de resposta Diferença Erro-padrão t-stat p-valor

Taxa de reincidência 1,8450 1,4429 1,279 0,318NS

Fonte: elaborado pelos autores. (1) ETMT estimado pelo método de Kernel; (2) P-Valor obtido pelo erro-padrão estimado por bootstrap de 50 repetições; (3)NS: não significativo; (4) Hipótese nula: há diferenças entre a função de densidade dos grupos de tratamento e de controle com relação à variável de interesse.

Observa-se que a diferença entre o grupo de tratamento e de controle é 1,845,

porém esta não é significativa, rejeitando a hipótese nula de que existem diferenças

entre a função de densidade dos grupos de tratamento e de controle com relação a

variável de interesse. O resultado ao esperado pode ser justificado pelo banco de

dados disponível no estado.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma das limitações de trabalhos na área de criminalidade consiste na

precariedade dos bancos de dados, que por vezes, têm qualidade duvidosa. Além

disso, há uma alta sub-notificação dos crimes, principalmente de roubo, furto e

estupro. Um outro problema concerne às informações de reincidência, sabe-se que no

Brasil esta taxa é alta, mas raras são as fontes desta informação. O Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) está finalizando o trabalho de reincidência

criminal demandando pelo Conselho Nacional de Justiça. Tão logo esses dados sejam

liberados, será realizada a atualização dos dados desse artigo. O estado de Minas

Gerais possui tais informações, entretanto os dados estão desatualizados e não são

muito confiáveis.

Como alternativa para trabalhos posteriores, seria considerar outras variáveis

socioeconômicas, tais como educação, que possibilitaria avaliar o impacto desta na

reincidência. Além disso, considerar um número maior de municípios do Estado

poderia ser uma alternativa para encontrar uma diferença entre o grupo tratado e o

grupo de controle. Outra análise poderia ser feita comparando a reincidência de Minas

Gerais com os demais estados da federação. Por fim, acredita-se que uma análise

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1300

Page 15: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

mais desagregada, em nível de bairros, ou setores censitários, poderia implicar em

resultados mais robustos.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. V, e PEIXOTO, B. T., Avaliação Econômica de Programas de Prevenção e Controle da Criminalidade no Brasil. Texto para discussão nº 311. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2007.

AZEVEDO, J. P., ANDRADE, M. V, PEIXOTO, B. T., Prevenção e Controle de Homicídios: Uma Avaliação de Impacto no Brasil. Texto para discussão nº 337. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2008.

BARATTA, A. Ressocialização ou Controle Social. Uma abordagem crítica da “reintegração social” do sentenciado. Disponível em: http://www.juareztavares.com/textos/baratta_ressocializacao.pdf . Acessado em : 04/2014.

BECKER, G. S. Crime and Punishment: An Economic Approach. Columbia University. Journal of Political Economy, 1968. BRAGA, A. A. et al. Problem oriented policing, deterrence, and youth violence: na evaluation of Boston’s operation CeaseFire. Journal of Research in Crime and Delinquency, 2001.

BRYSON, A.; DORSETT, R; PURDON, S. The use of propensity score matching in the evaluation of active labour market policies. Working Paper Number 4, Policy Studies Institute and National Centre for Social Research, 2002.

CENTRO DE DEFESA DA CIDADANIA. Disponível em: http://www.ijucimg.org.br/principal.php. Acesso em: 01/2014.

CERQUEIRA, D. R. de C., Causas e Conseqüências do Crime no Brasil. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, Outubro de 2010.

CERQUEIRA, D. LOBÃO, W. Determinantes da criminalidade: uma resenha dos modelos teóricos e resultados empíricos. IPEA. Rio de Janeiro: 2003.

COHEN, L.; FELSON, M. Social change and crime rate trends: A routine activities approach. American Sociological Review, v. 44, p. 588-608, 1979. Começar de Novo – Plano do Projeto. Acesso em: 15/04/2014.

COMISSÃO DE FORMAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA DO PRESP. O egresso do sistema prisional: do estigma à inclusão social. Belo Horizonte: Instituto Elo, 2013.

DURKHEIM, E. Le Suicide: Etude de Sociologie. Félix Alcan Éditeur. Paris, 1897.

GERTLER, P. J., et al. Impact evaluation in practice. The World Bank, 2010.

GOERTZEL, T. KAHN, T. The Great São Paulo Homicide Drop. Homicide Studies 13 (4), p. 398 – 410, 2009.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1301

Page 16: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

HELENA, M. A. S. e SOARES, S. C. Reincidência e Antecendes Criminais: Resenha Crítica. Disponível em: http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=529&idAreaSel=4&seeArt=yes . Acessado em: 04/2014.

HOMEM, K. R., Análise das Ferramentas Estudo e Trabalho como Meio de Ressocialização – Reincidência Criminal – Estudo de Caso Penitenciária de São Pedro de Alcântara. Florianópolis, CR, 2013. http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/7793/projetocomecardenovosite.pdf?sequence=3

JULIÃO, E. F. O impacto da educação e do trabalho como programas de reinserção social na política de execução penal do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Educação, v. 15, 2010.

KHANDKER, S. R.; KOOLWAL, G. B.; SAMAD, H. A. Handbook on Impact Evaluation: Quantitative Methods and Practices. The World Bank, 2010.

LOMBROSO, C., FERRERO, G. La donna delinquente; la prostituta e la donna normale. Torino, E. Roux & C., 1893.

MERTON, R. K. Social Structure and Anomie. American Sociological Review, v. 3, p. 672-682, 1938.

NAÇÕES UNIDAS. Ferramenta de avaliação de prevenção ao crime: kit de ferramentas de avaliação da justiça criminal. UNODC. ONU-HABITAT.Nova Iorque, 2010.

PEIXOTO, B. T. Uma contribuição para a prevenção da criminalidade. Tese de Doutorado. Orientadora: Mônica Viegas Andrade. CEDEPLAR/UFMG, 2008.

PINTO, C.C. X. Pareamento. In: MENEZES-FILHO, N. (org.). Avaliação econômica de projetos sociais. 1 ed. São Paulo: Dinâmica, 2012, p. 85-105.

ROSENBAUM, P. R.; RUBIN, D. B. The Central role of the Propensity Score in observational studies for causal effects. Biometrika, v. 70, n.1, p. 41 – 55, 1983.

SANTOS, M. J., Uma Abordagem Econômica das Causas da Criminalidade: Evidências para a Cidade de São Paulo. Tese de doutorado. ESALQ-USP. Orientadora: Dra. Ana Lúcia Kassouf, 2012.

SAPORI, L.F. Segurança pública no Brasil – Desafios e Perspectivas. Editora FGV. 2012. 207 p.

SECRETARIA DE ESTADO E DEFESA SOCIAL. SEDS. 2014. Minas Gerais. Acesso em: março de 2014. Disponível em: https://www.seds.mg.gov.br/.

TOLLENAAR, N. et. al. Effectiveness of a prolonged incarceration and rehabilitation measure for high-frequency offenders. Springer Science. Business Media Dordrecht. 2013.

WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2013: Mortes matadas por armas de fogo. Cebela, 2013.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1302

Page 17: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Prof. Antônio Roberto Santos Júnior, M.Sc. (Universidade Federal do Pará)

Prof. Edson Marcos Leal Soares Ramos, Dr. (Universidade Federal do Pará)

Profa. Maria Betânia Moraes Lisboa, M.Sc. (Universidade Federal do Pará)

Profa. Adrilayne dos Reis Araújo, M.Sc. (Universidade Federal do Pará)

Profa. Silvia dos Santos de Almeida, Dra. (Universidade Federal do Pará)

Desafio da Metodologia Informacional e a Gestão do Policiamento Preventivo da

Região Metropolitana da Grande São Luís – Maranhão

Palavras-chave: Métodos Estatístico-Informacionais, Políticas Preventivas, Gestão do

Policiamento.

Introdução

A ação preventiva a partir do policiamento ostensivo e de preservação da

ordem pública vem representar objetivos marcantes da Polícia Militar do Maranhão

(PMMA). Para atingir esses objetivos são necessários estudos e pesquisas além da

elaboração de um planejamento eficiente e eficaz nos diversos níveis dentro da

organização, por meio de dados catalogados e trabalhados de uma forma sistemática,

possibilitando, dentre outros, o mapeamento criminal da Região Metropolitana da

Grande São Luís (RMGSL).

É fundamental para a PMMA o tratamento adequado das informações

criminais, devido sua importância para a atividade policial, sendo que as diretrizes

propostas pelo Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), por sua vez, devem

estar de acordo com estas. Em outras palavras, representa um olhar para o passado e

presente, com intuito de melhorar a prestação do serviço de segurança pública e a

confiabilidade por parte da comunidade.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1303

Page 18: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

O crescimento sistemático da criminalidade no Estado do Maranhão e, em

particular na RMGSL, constatado a partir dos indicadores de crimes da última década,

é um dos fenômenos sociais que mais tem chamado atenção na sociedade

maranhense. Não se imaginava que o aumento da criminalidade nas suas múltiplas

modalidades pudesse gerar tanta preocupação social no sentido de se encontrar uma

forma de enfrentar esse grave problema social que atinge a população das cidades

membros da RMGSL (SANTOS, 2003).

Daí a necessidade de se buscar análises mais profundas baseadas em

todo o conhecimento teórico existente, de forma a se produzir informações fidedignas

as quais reiteram o real valor da sociedade, dos elementos que a compõem e do

ambiente no qual se está inserido.

Neste contexto, a PMMA deve procurar aprimorar e aperfeiçoar a utilização

de seus recursos de modo geral, dentre eles se têm as análises estatísticas a partir de

seus diversos métodos que são utilizadas para embasar os planejamentos de

policiamento e os diagnósticos da forma como se encontra a criminalidade na

sociedade local.

Os dados estatísticos criminais são meios que permitem verificar

tendências dos crimes, identificar modus operandi de criminosos, determinar quais os

locais, dias e horas e crimes que mais acontecem. Portanto, eles dão uma radiografia

da criminalidade em determinado local, o que possibilita a produção de planejamento

do policiamento mais coerente, dando prioridades a áreas mais afetadas pela violência

em consequência da criminalidade.

Sabe-se que uma avaliação consistente só poderá ser feita se existir um

tipo de marco referencial, que é o parâmetro, com critérios de julgamento da realidade,

e para tal se tem na proposta deste trabalho, a utilização do Centro Integrado de

Operações Policiais de Segurança (CIOPS) do Estado do Maranhão, como órgão

básico de captação de informações para utilização dessa ferramenta na atuação do

profissional policial militar.

A necessidade social busca atuação efetiva do aparelho estatal. Esta faz

com que as metodologias estatístico-informacionais aos poucos passem a fazer parte

de políticas públicas, auxiliando nos processos de organização e distribuição das

forças de segurança.

No Brasil, é recente a informação de que se passou a ter acesso integrado

a bases de dados de setores públicos de diversos entes, apesar desta não ser uma

tecnologia tão atual, ainda se têm órgãos policiais que muitas vezes usam anotações

em arquivos de papel e fundamentos empíricos para suas operações diárias (VIEIRA,

2001).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1304

Page 19: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

O eixo central deste trabalho é desenvolver estudo na área de utilização

dos dados (métodos estatístico-informacionais) e da gestão desse conhecimento na

instituição PMMA em prol da atuação dos policiais militares, ambientados com o

mundo tecnológico e da informação, bem como do planejamento operacional

compatível com as conclusões retiradas dos dados observados. Com isto, o policial

militar não seria mais condenado a desenvolver seu trabalho repetindo procedimentos

arcaicos, empíricos, e de atuação muitas vezes fracassada, desgastando o policial e a

logística que está a sua disposição.

Método

Entre as atribuições do CIOPS está a integração das ações das Polícias

Militar e Civil e do Corpo de Bombeiros Militar para atendimento de ocorrências de

emergências, solicitadas pela população, bem com a centralização das informações

decorrentes deste serviço de forma a subsidiar as Unidades Operacionais no

planejamento, na tomada de decisões e na efetiva ação desses órgãos, contribuindo

para uma maior agilidade no atendimento ao cidadão e para consequente melhoria

dos serviços prestados à sociedade.

Além disso, o CIOPS é uma rica fonte estatística, já que todos os dados

recebidos são dispostos organizadamente, sendo separados por tipo, local, hora, área,

etc., podendo ainda, realizar cruzamento de dados, sendo muito útil dentro do

planejamento operacional da Polícia Militar. Assim podem ser observados e

identificados os locais mais problemáticos e com maiores índices de criminalidade,

possibilitando o desenvolvimento de ações mais eficientes e direcionadas aqueles

locais e problemas mais conhecidos. Deste modo, pode ser dito que o CIOPS é um

tipo de termômetro do crime e da criminalidade.

No CIOPS encontra-se a Central de Operações da Polícia Militar que

representa uma extensão do Comando de Policiamento Metropolitano, sendo

responsável pelo atendimento das solicitações de emergências geradas a partir do

telefone 190 relacionadas à PMMA.

Cada solicitação pelo telefone, fica registrada nos sistemas de

computadores do CIOPS, constituindo, assim, a partir das informações da sociedade

ao uso do 190 e por meio das comunicações com os policiais das viaturas da PMMA,

formando um conjunto de dados e informações sobre as ocorrências em determinado

período de tempo, constituindo a primeira base de dados oficiais e estatísticos da

Polícia Militar que posteriormente, por meio de exposições e análise dos resultados, e

expostos e por intermédio de relatórios, constituirão a Estatística Criminal do CPM.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1305

Page 20: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

O CIOPS, de forma complementar, realiza o apoio estratégico nas ações

de policiamento, em que no âmbito administrativo agrega os serviços de

geoprocessamento das ocorrências com levantamento estatístico dos dados. Não se

pode, entretanto, usar esses registros apenas como depósitos de dados para consulta

eventual ou para apresentação de relatórios estatísticos aos escalões superiores.

A capacidade de descrever apropriadamente diversos atributos de um

conjunto, apresentando e caracterizando seus dados é a característica da análise

descritiva. As medidas de posição, dispersão e associação são as estatísticas mais

utilizadas para descrever os dados. Neste trabalho é utilizada estatística descritiva,

basicamente via tabelas e gráficos estatísticos (LEVINE et al., 1998).

Para Bussab e Morettin (2011), na estatística existem inúmeras

ferramentas descritivas, como gráficos, tabelas e medidas de síntese, como

porcentagens, índices e médias para organização e resumo dos dados, sendo que as

mais utilizadas são séries estatísticas, conhecidas também por tabelas, que tem por

finalidade, resumir em um quadro de laterais abertas um conjunto de observações,

conseguindo expor sinteticamente os resultados dos dados analisados relacionados a

fatores como tempo, local, fenômeno e especificação, e ainda, os gráficos que tem

como objetivo principal produzir no leitor uma impressão mais rápida e viva dos dados

de uma tabela, podendo ser na forma de barras, colunas, setores e linhas. Já as

medidas de tendência central ou de posição fornece uma descrição mais rápida e

compacta dos resultados para variáveis quantitativas.

No ano de 1935 surgiram as primeiras considerações acerca da Análise de

Correspondência (AC). Tais considerações influenciaram nos procedimentos

numéricos e algébricos que começaram a ser aplicados em diferentes contextos. Anos

depois, mais precisamente na década de 1960, o método foi redescoberto na França

onde até hoje é extensivamente utilizado como um método gráfico de análise de

dados. A partir de 1975, a técnica vem sendo utilizada em diversas áreas do

conhecimento, com publicações em diversos idiomas.

Análise de correspondência (AC) consiste em uma técnica de análise

exploratória de dados adequada para analisar tabelas de duas entradas ou tabelas de

múltiplas entradas, levando em conta algumas medidas de correspondência entre

linhas e colunas. O método, basicamente, converte uma matriz de dados não

negativos em um tipo particular de representação gráfica em que as linhas e colunas

da matriz são simultaneamente representadas em dimensão reduzida, isto é, por

pontos no gráfico (CUNHA JR, 1997).

Entre as diversas técnicas relacionadas com mapas perceptuais a AC

ocupa posição de destaque pela fácil aplicação e interpretação, além da versatilidade

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1306

Page 21: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

no tratamento de variáveis categóricas. Um mapa gráfico é gerado e permite o analista

visualizar as proximidades (similaridade ou dissimilaridades) entre os estímulos

propostos. As linhas e colunas de uma tabela são transformadas em unidades

correspondentes, o que acaba por dar nome à técnica “Análise de Correspondência",

modo que facilita sua representação conjunta (RAMOS et al., 2008).

A AC produz gráficos ricos em informação permitindo que o pesquisador

interprete facilmente as relações entre variáveis. O algoritmo da AC gera uma série de

matrizes que são aplicadas às linhas e às colunas de uma tabela de contingencia para

que sejam produzidas distancias interpontos, as quais possibilitam que o gráfico em

dimensões reduzidas seja gerado (HOFFMAN; FRANKE, 1986). Smith (1990)

demonstra que, as distancias entre as categorias-linha e as categorias-coluna

possibilitam a criação do gráfico de AC que representa as múltiplas relações

depreendidas em uma tabela.

Em estudos acerca de planejamento e governo desenvolvidos no Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Matus (1997) deixa bem claro que “ou

planejamos ou seremos eternos escravos das circunstâncias", uma vez que planejar é

sinônimo de conduzir conscientemente. Deixar o planejamento em segundo plano é

negar a possibilidade de escolher o futuro, é aceita-lo seja qual for.

Na visão de Jannuzzi (2004) os órgãos de segurança se tornam reféns da

improvisação uma vez que se rejeita o planejamento nas atividades governamentais.

Apela-se para o voluntarismo e a instituição cai em descrédito diante da opinião

pública. Contesta-se de imediato a eficiência das ações estatais no exercício de suas

funções, bem como seu compromisso com o bem estar da população. Dessa forma, a

produção de um diagnóstico socioeconômico revela a real situação de determinada

população e sua região, com análises descritivas e de correspondência, tabelas de

dados, georreferenciamento e, especialmente, indicadores específicos sobre vários

aspectos da realidade do local estudado.

Os primeiros estudos de Carley (1985) conceituam Indicador como uma

medida em geral quantitativa usada para substituir, quantificar ou operacionalizar um

conceito abstrato, seja para pesquisa acadêmica com interesse teórico seja para a

formulação de políticas, com caráter programático. Para este autor, os indicadores

permitem, a partir das escolhas teóricas e políticas anteriores, indicar, aproximar e

traduzir, em termos operacionais as dimensões sociais, econômicas ou de segurança.

Mediante o monitoramento das condições de vida, da conjuntura econômica e

qualidade de vida da população, os Indicadores possibilitam subsidiar o planejamento

público por meio da formulação de políticas.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1307

Page 22: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Bailey (1996) comenta que é necessário um conjunto independente de

indicadores para cada área de atividade das forças policiais, indicadores da atividade

operacional e indicadores da atividade investigativa. No caso específico do uso para

políticas preventivas resumem-se em indicadores de policiamento e de criminalidade.

Em seus estudos o autor mostra que em vários países as polícias realizam o trabalho

ostensivo preventivo passando boa parte do tempo em atividades que não se

relacionam diretamente ao controle do delito.

Os indicadores de atividade policial militar são modalidades que revelam a

atividade policial sob a ótica da prestação de serviço realizada de maneira planejada e

responsavelmente mensurada a partir de valores numéricos. Tais indicadores dizem

respeito à aplicação do policiamento na respectiva área geográfica.

Os indicadores de criminalidade são capazes de mensurar a atividade

criminosa em determinado espaço geográfico (Região Metropolitana, Zonas ou

Bairros). Para a construção desses indicadores os crimes são separados em

categorias e estas enumeradas para mensurar a incidência dos crimes por grupos de

100.000 (cem mil) habitantes. Os indicadores podem ser calculados em grupos

sociais, localidades específicas ou quaisquer outros critérios geográficos e sociais.

Jannuzzi (2004) mostra como são obtidos os Índices de Policial por

Habitante (IPH), o Índice de Homicídio (IH), o Índice de Roubo (IR) e o Índice de

Tráfico de Entorpecentes (ITE), indicando a relação existente entre o número total de

homicídios, roubos e tráfico de entorpecentes ocorridos em determinado território pelo

número total da população do referido espaço geográfico, tomando-se por grupos de

100.000 (cem mil) habitantes.

Para o presente estudo se utilizou como universo a RMGSL, também

conhecida como Grande São Luís, é composta por 8 (oito) municípios, a saber: São

Luís, São José de Ribamar, Raposa, Paço do Lumiar, Alcântara, Bacabeira, Rosário e

Santa Rita situados no estado do Maranhão. Juntos, perfazem uma população de

1.414.793 habitantes (IBGE, 2010).

Serão considerados apenas os 4 (quatro) municípios contínuos (São Luís,

São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar), visto que estão subordinados ao

Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), ou seja, sob as mesmas forças

policiais da capital, ficando os demais municípios sob a competência do Comando de

Policiamento do Interior.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1308

Page 23: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Resultado e Discussão

Para exemplificar a aplicação das técnicas Análise Descritiva e Análise de

Correspondência estarão descritas estatisticamente as variáveis necessárias para

analisar o perfil dos delitos de homicídio, roubo e tráfico de entorpecentes na RMGSL,

no ano de 2011.

A Tabela 1 apresenta o percentual dos delitos de homicídio, roubo e tráfico

de entorpecentes ocorridos nas Zonas da RMGSL. Nela observa-se que a maior parte

dos homicídios (41,72%) e tráfico de entorpecentes (31,36%) ocorre na Zona Leste.

Entretanto, a maior parte do delito roubo ocorre na Zona Norte (30,72%).

O elevado grau de incidência de homicídios na Zona Leste se dá pelo fato

de que apenas 04 dos seus 142 bairros (Cidade Olímpica, Estiva, São Raimundo e

Cidade Operária) são responsáveis pelo registro de 54 (cinquenta e quatro) dos 429

homicídios em estudo no ano de 2011. Percentualmente somente esses bairros

representam 12,58% dos homicídios de toda a RMGSL.

Tabela 1 Percentual de Ocorrências Registradas pelo CIOPS do Maranhão, na RMGSL, em 2011, por Tipo de Delito versus Zona de Ocorrência.

Tipo de Delito Zona

Total Norte Sul Leste Oeste

Homicídio 17,95 19,58 41,72 20,75 100,00 Roubo 30,72 18,08 23,53 27,67 100,00

Tráfico de Entorpecentes 21,33 19,14 31,36 28,17 100,00

Do mesmo modo ocorre com o crime de tráfico de entorpecentes. Na Zona

Leste apenas 05 dos 142 bairros (Cidade Olímpica, Estiva, São Raimundo, Cidade

Operária e Jardim São Cristóvão) são responsáveis pelos 823 (oitocentos e vinte e

três) dos 7.601 registros de tráfico de entorpecentes. Percentualmente somente esses

bairros representam 10,82% dos registros de tráfico de entorpecentes de toda a

RMGSL.

A cada dia fica mais evidente o vínculo da ocorrência de homicídios e os

registros de tráfico de entorpecentes. Os elevados níveis de violência associados à

atuação de gangues de traficantes em favelas das grandes cidades brasileiras

agregou uma maior complexidade ao fenômeno dos homicídios. Essa vinculação

afastou a ideia de que as mortes se davam prioritariamente em decorrência de

conflitos de âmbito comunitário, trazendo ao foco o estudo de homicídios ligados aos

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1309

Page 24: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

processos de estruturação de atividades criminosas do tráfico de entorpecentes,

bastante difíceis de serem plenamente compreendidos e apurados (BEATO FILHO,

2010).

A Tabela 2 apresenta as estatísticas preliminares resultantes da técnica

Análise de Correspondência, considerando-se as variáveis Tipo de Delito, Zona, Dia

da Semana, Turno e Bairro. Nela são apresentados os resultados dos testes para

verificar a dependência das variáveis em estudo referentes às ocorrências registradas

no CIOPS do Maranhão, a partir do valor do qui-quadrado (x²), nível descritivo (p),

número de linhas (l) e colunas (c) e critério β. Inicialmente, realizaram-se o teste qui-

quadrado e o cálculo do critério β para verificar a dependência entre as variáveis,

condições necessárias para a aplicação da técnica.

Diante da realização dos testes preliminares, verificou-se que todas as

variáveis encontram-se aptas para a aplicação da técnica Análise de Correspondência,

pois os valores do nível descritivo (p), são menores que 0,05 (5% de significância) e o

critério β é maior que 3 (Tabela 2).

Tabela 2 Resultado do Teste para Verificar a Dependência das Variáveis Referentes às Ocorrências Registradas pelo CIOPS do Maranhão, na RMGSL, em 2011.

Variáveis x² p l c β Tipo de Delito e Área 485,25 0,000 6 4 121,42

Tipo de Delito e Dia da Semana 525,61 0,000 6 7 90,49 Tipo de Delito e Bairros 468,66 0,000 6 4 117,13 Tipo de Delito e Turnos 162,57 0,000 6 4 38,10

A Análise de Correspondência, por ser técnica que envolve mais de uma

variável, ou seja, conjuga informações de mais de uma entrada, reflete de forma mais

próxima a sensação da ocorrência de determinado crime nas áreas. Ao analisar os

índices de criminalidade nos diversos bairros, verifica-se que a proximidade entre as

variáveis Homicídio e Tráfico de Entorpecentes e Zona Leste, além de Roubo e Zona

Norte, refletem diretamente o fato de que nessas Zonas a maioria dos bairros

possuem índices moderados e altos em relação a cada crime mencionado.

Os resultados apresentados na Tabela 3 e Figura 1 corroboram com a

Análise Descritiva, mencionando que os homicídios ocorrem frequentemente na Zona

Leste, contudo, existe uma fraca tendência de ocorrência na Zona Sul. O delito roubo

ocorre geralmente na Zona Norte. Já o tráfico de entorpecentes sucede na Zona

Leste, no entanto, existe uma moderada incidência na Zona Sul. Além disso, os baixos

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1310

Page 25: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

valores dos resíduos e das probabilidades observados para a Zona Oeste indicam que

os delitos homicídio, roubo e tráfico de entorpecentes ocorrem de forma significativa

nesta Zona (Tabela 3).

Tabela 3 Resíduos e Níveis de Confiança Resultantes da Aplicação da Análise de Correspondência às Variáveis Tipo de Delito versus Zona, de Ocorrências Registradas pelo CIOPS do Maranhão, na RMGSL, em 2011.

Tipo de Delito Zona

Norte Sul Leste Oeste Homicídio -3,16 0,38 5,60 -2,84

(0,00) 29,83 (100,00) (0,00)

Roubo 9,68 -1,57 7,46 -0,59

(100,00) 0,00 (0,00) (0,00)

Tráfico de Entorpecentes -7,50 0,73 6,35 0,29 (0,00) 53,50 (100,00) (22,81)

Figura 1 Mapa Perceptual da Aplicação da Análise de Correspondência às Variáveis Tipo de Delito versus Zona, de Ocorrências Registradas pelo CIOPS do Maranhão, na RMGSL, em 2011.

Diante da aplicação das técnicas acima descritas, verifica-se que a mesma

metodologia pode ser aplicada a todas as variáveis inicialmente mencionadas na

Tabela 02.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1311

Page 26: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Inicialmente, pelo fato da área de estudo ser a RMGSL, é importante que

se sejam apresentados os dados populacionais oficiais fornecidos pelo IBGE, bem

como a distribuição dos crimes em estudo pelos municípios da ilha de Upaon Açú,

suas Zonas e bairros que apresentaram os maiores índices de criminalidade dentro

dos delitos em estudo, a partir dos dados criminais fornecidos pelo próprio

CIOPS/SSPMA. A Tabela 4 mostra as variáveis necessárias para a obtenção dos

indicadores de criminalidade em estudo.

Tabela 4 Quantidade de Habitantes, Número de Policiais e Distribuição de Delitos nos Municípios, Zonas e Bairros da RMGSL, em 2011.

A Tabela 5 mostra os indicadores de criminalidade obtidos por municípios

da RMGSL. Nela, verifica-se que o município de São José de Ribamar possui o maior

Índice de Homicídio da RMGSL com a incidência de 0,356 para cada 1.000 (um mil)

habitantes; seguido dos municípios de São Luís, Paço do Lumiar e Raposa como

0,291; 0,285 e 0,190, respectivamente.

Quando se trata do crime de Roubo, o município de São Luís possui o

maior Índice da RMGSL com 7,464 para cada 1.000 (um mil) habitantes; seguido dos

municípios de Paço do Lumiar, São José de Ribamar e Raposa como 3,720; 3,073 e

1,405, respectivamente. Porém, para o crime de Tráfico de Entorpecentes o município

de São Luís apresenta o maior índice da RMGSL com 5,560 ocorrências de Trafico de

Entorpecentes para cada 1.000 (um mil) habitantes, seguido dos municípios de São

José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa com 4,361; 3,805 e 2,735,

respectivamente.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1312

Page 27: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 5 Índices de Policial por Habitante, de Homicídio, de Roubo e de Tráfico de Entorpecentes nos Municípios, Zonas e Bairros da RMGSL, em 2011.

O indicador da relação habitante por policial é um fator importante para a

análise de segurança pública e bastante debatido no seio das instituições que

compõem o sistema. A média dos Estados brasileiros é de 432 habitantes para cada

policial, sendo a média da Região Nordeste de 530 (SENASP/MJ, 2013).

Apenas o Distrito Federal (168 habitantes/policial) e o Estado do Amapá

(190 habitantes/policial) estão situados dentro do parâmetro estabelecido pela ONU. O

Estado do Maranhão encontra-se muito distante das médias da própria Região

Nordeste em que se insere e da própria média nacional, sendo com relação a esta

última mais que o dobro.

Dentre os 08 (oito) locais referenciados e analisados o que possui situação

menos catastrófica é o bairro Madre Deus/Macaúba (862 habitantes/policial) detém

uma proporção de quase que o dobro da média nacional. As Zonas Sul e Oeste

possuem índices superiores a 5 mil habitantes por policial, além da própria RMGSL

com índice de 5796,15 habitantes/policial.

Na análise dos indicadores de homicídios, pertinentes são as observações

de Gomes e Loche (2011) mencionando que no ano de 2010 o Estado de Alagoas

apresentou índice de 0,713 Homicídios para cada 1.000 (um mil) habitantes, o maior

registro por Estado a nível nacional. No mesmo período o Estado de São Paulo

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1313

Page 28: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

apresentou IH de 0,145 para cada 1.000 (um mil) habitantes, o menor registro entre os

Estados brasileiros.

Souza e Reis (2006) permitem realizar estudo comparativo com Estados

que desenvolveram políticas preventivas por meio do Controle Científico da Polícia.

Percebe-se que no ano de 2006 o Estado de Minas Gerais possuía valor de referência

aceitável de 0,198 homicídios para cada 1.000 (um mil) habitantes. Valor este que já

direcionava as ações para a meta de redução para 0,140 no ano de 2011.

Dentre os 08 (oito) locais referenciados e analisados todos possuem IH

bastante superiores ás referencias de locais que realizam policiamento preventivo por

meio de planejamento científico e com utilização de metodologias estatístico-

informacionais. O bairro da Madre Deus/Macaúba detém o índice mais elevado, 1,74

homicídios para cada 1.000 (um mil) habitantes. É de fato um indicador muito elevado,

principalmente levando em consideração a comparação com o Estado de Alagoas que

apresentou índice de 0,713 homicídios para cada 1.000 (um mil) habitantes, o maior

índice estadual dos Estados Brasileiros.

Quando se trata do crime de Roubo o impacto social é também elevado,

uma vez que a subtração do patrimônio por meio do emprego de violência gera

sensação de insegurança e impotência social diante da volatilidade do fruto do

trabalho das pessoas. De acordo com pesquisas realizadas pelo Ministério da Justiça,

na Região Nordeste 80,80% da população possui muito medo de ser vítima de roubo

(SENASP/MJ, 2013).

Segundo Souza e Reis (2006) para as polícias que possuem indicadores

de resultados finalísticos, como a PMMG, os valores de referência aceitáveis eram de

2,939 roubos para cada 1.000 habitantes até o ano de 2006. A meta de redução para

o ano de 2011 era de 2,22 roubos para cada 1.000 habitantes. Valores esses

alcançados ao longo de 04 (quatro) anos de aplicação da política do Controle

Científico da Polícia.

Dentre os 08 (oito) locais referenciados e analisados todos possuem IR

bastante superiores ás referencias de locais que realizam policiamento preventivo por

meio de planejamento científico e com utilização de metodologias estatístico-

informacionais. O bairro do Centro detém o índice mais elevado com 67,35 roubos

para cada 1.000 (um mil) habitantes.

É de fato um indicador muito elevado, principalmente levando em

consideração a conclusão de que por média geral, diante do Índice obtido, no Centro

de São Luís, a cada 100 pessoas mais de 06 são roubadas diariamente. O bairro

Madre Deus/Macaúba também possui IR bastante elevado com 37,7 roubos para cada

1.000 (um mil) habitantes.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1314

Page 29: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

A abordagem quanto ao crime de Tráfico de Entorpecentes é um pouco

diferente dos demais crimes anteriormente estudados. O crime em questão contém

alcance periférico muito maior em relação às demais modalidades delituosas. Isso

porque o tráfico de entorpecentes, particularmente a cocaína, crack e maconha, vem

seguindo a mesma trilha dos jogos de azar, ou seja, está se transformando em um

grande negócio à mercê da incapacidade, descaso e falta de vontade das autoridades

de afrontar esse problema que afeta a sociedade (ESPÍRITO SANTO, MEIRELES,

2003, p. 131).

O tráfico de drogas associa-se à realização de outros crimes. Segundo

Zaluar (2004, p.59) “muitas das vezes esses criminosos encontram nos assaltos e

demais crimes contra o patrimônio a saída para obtenção de dinheiro para pagar o

dinheiro devido ao traficante". Para Beato Filho (2001, p. 3), grande parte dos

homicídios ocorridos em Belo Horizonte está ligada ao tráfico de drogas ilícitas, mais

especialmente às brigas entre gangues rivais disputando o domínio por pontos de

venda de drogas ilegais.

As Figuras 2 a 4 mostram a aplicação geográfica da distribuição dos

Índices de Homicídio, Roubo e Tráfico de Entorpecentes nos bairros do município de

São Luís, utilizando-se a mesma metodologia aplicada anteriormente.

Figura 2 Distribuição Espacial dos Índices de Homicídio no Município de São Luís, em 2011.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1315

Page 30: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Figura 3 Distribuição Espacial dos Índices de Roubo no Município de São Luís, em 2011.

Figura 4 Distribuição Espacial dos Índices de Tráfico de Entorpecentes no Município de São Luís, em 2011.

A confecção de mapas de criminalidade permite a análise dos crimes a

partir de uma visualização prática, inclusive da dinâmica geográfica de distribuição

delituosa. Do ponto de vista teórico, isto significa uma análise dos processos de

tomada de decisão por parte dos gestores da segurança pública em relação à escolha

de locais e alvos viáveis para a realização de determinados tipos de crime.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1316

Page 31: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Abordagens espaciais são particularmente apropriadas para a

demonstração dos componentes racionais da atividade criminosa, bem como

referendam modelos afins à teoria das oportunidades do crime (GLAESER et al.,

1996).

Finalmente, A gestão por meio da implementação de políticas públicas

preventivas de combate à criminalidade requer a identificação das comunidades e

locais que serão objeto da ação assistencialista e preventiva (SHERMAN et al; 1997).

Comumente, a literatura sobre políticas públicas de combate à criminalidade tem

enfatizado crescentemente a busca por soluções locais e descentralizadas, o que

conduz necessariamente à identificação de problemas nos contextos específicos de

sua ocorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma análise simples e prática permite as seguintes conclusões:

O policiamento da RMGSL é em sua grande totalidade desenvolvido por

viaturas do tipo carro que possuem sempre 02 (dois) policiais militares independente

do local a ser coberto. O policiamento desenvolvido por viaturas do tipo motocicletas é

existente em apenas algumas unidades e não é utilizado pelo turno da noite.

Os Postos Fixos não realizam atendimento de ocorrências, apenas

recebem chamadas da população, sendo obrigados a solicitar a ação da viatura da

área para o atendimento da demanda. As ações de presença dos Postos Fixos não

caracterizam diretamente ações preventivas, uma vez que a ação criminosa está cada

dia mais dinâmica.

A maior preocupação dos Comandos de Unidades Operacionais está em

possuir veículos com alcance em toda a área de sua circunscrição (uma viatura com

02 policiais), mesmo que isso não esteja em consonância com os dados estatísticos

de distribuição da incidência criminal.

As transformações sociais e espaciais pelas quais tem passado a RMGSL

devem ser acompanhadas pela PMMA, que necessita tratar adequadamente as

informações criminais por meio do Comando de Policiamento Metropolitano (CPM),

com intuito de melhorar a prestação do serviço de segurança pública e a confiabilidade

por parte da população.

A cientificidade faz com que a instituição evite ações imediatistas, cujos

resultados pouco interferem no contexto, visando às verdadeiras causas da

criminalidade e não somente seus efeitos. Por meio das análises estatísticas e seus

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1317

Page 32: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

diversos métodos embasam-se os planejamentos de policiamento e os diagnósticos

de forma precisa a criminalidade na sociedade local.

A avaliação de desempenho em segurança pública passa pela percepção

dos indicadores.

Desse modo, prover a segurança e a qualidade de vida da população é o

objetivo de qualquer instituição de segurança pública. Reduzir a incidência de crimes e

atos de desordem visa a manutenção da ordem. Mensurar a eficácia das instituições

de segurança pública é verificar se a intervenção de alguma política ou programa

alcançou as metas estabelecidas ou cumpriu os objetivos pré-determinados no

trabalho executado.

O mapeamento dos delitos foi utilizado para analisar a dinâmica dos

crimes de Homicídio, Roubo e Tráfico de Entorpecentes durante todo o ano de 2011

na RMGSL. A espacialização das ocorrências permitiu visualizar que a distribuição dos

delitos não é uniforme e a aplicação das técnicas de Análise Descritiva e Análise de

Correspondência permitem verificar a distribuição absoluta dos delitos assim como o

grau de dependência entre as variáveis estudadas.

O Índice de Policiamento estudado mostra que o Estado do Maranhão e

todas suas subdivisões geográficas estudadas possuem os piores Índices de Policial

de Serviço por Habitante do Brasil, sendo estes dezenas e até centena de vezes

superior em relação ao padrão recomendado pelos órgãos oficiais.

Conclui-se que a aplicação dos métodos estatísticos-informacionais frente

aos dados disponíveis no CIOPS possibilitará à PMMA o desenvolvimento de políticas

institucionais eficientes de planejamento operacional preventivo à criminalidade na

RMGSL. Os métodos estatísticos de Análise Descritiva, Análise de Correspondência,

Indicadores de Policiamento e Criminalidade e Georreferenciamento são eficazes

quando aplicados aos bancos de dados dos órgãos de segurança, possibilitando uma

atuação menos empírica da PMMA.

A gestão da informação permite a formulação de políticas institucionais

pela PMMA de planejamento operacional preventivo na RMGSL, principalmente

quando se confronta as informações do CIOPS, analisadas por meio da aplicação das

metodologias apresentadas, formulando indicadores de policiamento e de

criminalidade, georeferenciando e adequando a distribuição do policiamento nas ações

policiais e prevenção de crimes.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1318

Page 33: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Referências

BAILEY, D. H. Measuring Overall Effectivenessor, Police-Force show and tell. In: HOOVER, L.T. Quantifying Quality in policing. Washington, DC.: Police Executive Research Forum, 1996. BEATO FILHO, C. C. Crime e Cidades [tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); 2010. BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística Básica. 7. ed., São Paulo: Saraiva, 2011. CARLEY, M. Indicadores sociais: teoria e prática. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. CUNHA JÚNIOR, M. Análise Multidimensional de Dados Categóricos: A Aplicação das Análises de Correspondência Simples e Múltipla em Marketing e Sua Integração com Técnicas de Análise de Dados Quantitativos. Porto Alegre: Cadernos de Estudos do PPGA, UFRGS, 16/97, 1997. ESPÍRITO SANTO, L. E.; MEIRELES, A. Entendendo nossa Insegurança. 1. ed. Belo Horizonte: Instituto Brasileiro de Policiologia, 2003. GLAESER, E. L.; SACERDOTE, B.; SCHEINKMAN, J. A. S. Crime and Social Interactions, Quarterly Journal of Economics, vol. 111, 507-548. 1996. GOMES, L. F.; LOCHE, A. A falácia do efetivo policial e a segurança pública. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n.2793, 23 fev. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/18542>. Acesso em: 22 mai. 2013. HOFFMAN, D. L., FRANKE, G. R. Correspondence Analysis: Graphical Representation of Categorical Data in Marketing Research. Journal of Marketing Research, 23, 213-227. 1986. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades. Censo 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.html>. Acesso em: 20 abr. 2013. JANNUZZI, P. M. Indicadores sociais no Brasil. Campinas: Alínea, 2004. LEVINE, D. M.; BERENSON, M. L.; STEFHAN, D. Estatística: teoria e aplicações, usando Microsoft Excel em português. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1998. MATUS, C. Política, Planejamento e Governo. Brasília: IPEA, 1997. (Tomo I). RAMOS, E. M. L. S.; ALMEIDA, S. S.; ARA_UJO, A. R. Segurança Pública: Uma abordagem estatística e computacional. Belém: Grupo de Estudos e Pesquisas Estatísticas e Computacionais (GEPEC). Belém: Editora Universitária - UFPA, 2008. SANTOS, M. A Influencia da Estatística Criminal na formulação de Estratégicas pela Polícia Militar do Maranhão no controle da Violência e Criminalidade em São Luís. Monografia apresentada no Curso de Formação de Oficiais, São Luís, 2003.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1319

Page 34: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

SENASP/MJ - Secretaria Nacional de Segurança Pública/Ministério da Justiça. Pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ1C5BF609PTBRNN.htm>. Acesso em: 20 abr. 2013. SHERMAN, L. W.; STRANG, H.; BARNES, G. C. The RISE Working Papers: the Canberra Reintegrative Shaming Experiments. Canberra, Australia: Law Program, Research School for Social Sciences, Australian National University. 1997. SOUZA, R. V.; REIS, G. P. O controle da polícia no Brasil: uma introdução ao “Controle Científico da Polícia”. IN: Revista O Alferes, n. 58. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e Pós-Graduação da polícia Militar de Minas Gerais. Jul-dez, p.11-61. 2006. SMITH, D. R. A synopsis of the sawflies (Hymen optera, Symphita) of America South of the United States: Pergidae. Revista Brasileira de Entomologia, São Paulo, 34 (1): 7-200. 1990. VIEIRA, M. A. Planejamento Estratégico e o alinhamento da Polícia Militar com o futuro: um estudo Exploratório. Florianópolis. 2001. ZALUAR, A. Integração perversa: pobreza e tráfico de drogas / Alba Zaluar. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 440p. - (Violência, cultura e poder) 2004.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1320

Page 35: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

1. Introdução

A proposta deste artigo é apresentar os resultados quantitativos e qualitativos da pesquisa

realizada no Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional de Belo

Horizonte (CIA-BH). O objetivo do estudo foi analisar a possível relação entre perfil do jovem

apreendido, atos infracionais atribuídos, decisões judiciais proferidas e a reincidência infracional.

Inicialmente caracterizo brevemente o fluxo de funcionamento da instituição para posteriormente

apresentar algumas análises estatísticas de dados referentes a 38.360 entradas de adolescentes

registradas no período compreendido entre os anos de 2009 a 2012.

O CIA-BH é um modelo inovador de funcionamento do sistema de justiça juvenil brasileiro

que estabelece novo modus operandi de atendimento ao adolescente em conflito com a lei. Antes

da criação do CIA-BH, as instituições públicas envolvidas no atendimento ao adolescente em

conflito com a lei em Belo Horizonte diagnosticaram que o modelo tradicional de justiça, fundado

nas práticas burocráticas institucionais, contribuía para o aumento do número de adolescentes

reincidentes e do clima de insegurança social e, consequentemente, para o aumento da

impressão social generalizada de ineficácia do sistema legal de responsabilização penal juvenil,

situação que acarretava, inclusive, a desnecessária privação da liberdade de um grande número

de jovens em conflito com a lei.

A desarticulação entre os órgãos responsáveis pelo atendimento inicial ao adolescente

infrator era um dos principais fatores desencadeantes do aumento da criminalidade envolvendo

este público. Antes da criação do CIA-BH, cerca de 60% dos adolescentes que eram

processados, apesar de devidamente citados, não compareciam para a audiência de

apresentação. Assim, decorria-se um lapso temporal muito grande entre a prática do ato

infracional e a intervenção da justiça, tornando-se, na maioria das vezes, ineficaz a aplicação de

qualquer medida socioeducativa e/ou protetiva.

O CIA-BH foi criado através de uma conjugação de esforços dos operadores do sistema de

justiça da infância e da juventude provenientes do Poder Judiciário, do Ministério Público, da

Defensoria Pública, da Subsecretaria de Estado de Atendimento às Medidas Socioeducativas

(SUASE), da Prefeitura Municipal e das Polícias Civil e Militar, visando o funcionamento integrado

num mesmo espaço físico. A instituição tem como objetivo maior agilizar e conferir maior

efetividade à jurisdição penal juvenil, ampliando e facilitando o acesso dos jurisdicionados, tanto

na área de apuração da prática de atos infracionais, quanto na aplicação e execução das medidas

socioeducativas.

O modelo integrado configurou um novo fluxo de funcionamento da justiça juvenil no

município. O adolescente apreendido pela polícia militar (PM) ou guarda municipal em flagrante de

ato infracional é imediatamente encaminhado para o CIA-BH, onde é lavrado o Registro de Evento

de Defesa Social (REDS). Feito isso, a PM repassa o adolescente para delegacia de polícia civil

PRODUÇÃO DE DADOS NA JUSTIÇA JUVENIL: A EXPERIÊNCIA DO CIA-BH

Autor: Gustavo de Melo Silva - UniBH

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1321

Page 36: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

que lavra o auto de apreensão e entra em contato com os pais ou responsável legal do

adolescente para que compareçam na instituição.

Finalizada as providências necessárias pela autoridade policial, o adolescente é levado à

presença do juiz de direito, onde será realizada audiência preliminar junto aos representantes do

Ministério Público, da Defensoria Pública ou advogado constituído, além dos pais ou responsável.

Na audiência preliminar é realizada a oitiva informal do adolescente e, sendo possível, a

oitiva do representante legal pelo Ministério Público, a partir da qual são adotadas as seguintes

medidas, isolada ou cumulativamente: arquivamento; concessão de remissão extintiva (exclusão

do processo); aplicação de medida protetiva; oferecimento de representação (denúncia) oral pelo

MP cumulada com a aplicação de uma das medidas socioeducativas em meio aberto, quais

sejam: advertência, obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade ou

liberdade assistida.

Nas hipóteses em que não couber a aplicação das medidas acima elencadas em audiência

preliminar, seja em razão da complexidade e/ou gravidade do ato infracional ou da negativa de

autoria, outras duas situações são possíveis: o adolescente ser acautelado provisoriamente e

seguir para um dos centros de internação provisória onde aguarda a promulgação da sentença ou,

no caso de ser liberado, o jovem e seu representante legal serem cientificados da data de

realização da audiência de apresentação (interrogatório). O processo pode ser resolvido em

audiência de apresentação e uma medida socioeducativa ser aplicada. Entretanto, caso

necessário, designa-se ainda uma terceira audiência de continuação visando à instrução e

julgamento e, ao final, prolata-se uma sentença.

A integração operacional das instituições públicas que compõem o sistema de justiça

juvenil num mesmo espaço físico promoveu a diminuição do custo de acesso à justiça e a maior

agilidade e presteza no atendimento ao público em questão, por meio de um conjunto de ações

articuladas que permitem a materialização do princípio constitucional da prioridade absoluta.

Compete ao CIA-BH oferecer a infra-estrutura necessária para articular a atuação dos

órgãos governamentais, assegurando o pronto atendimento de cada adolescente apresentado;

garantir ao jovem envolvido em ato infracional atendimento e encaminhamento individualizado

mediante abordagem e assistência que preservem sua dignidade; coletar, sistematizar e analisar

dados que caracterizem os atendimentos prestados pela instituição a fim de subsidiar as diversas

instituições envolvidas nas políticas de proteção à criança e ao adolescente, além de outras

atribuições.

2. Metodologia

No período de 01/01/2009 a 31/12/2012 policiais civis, funcionários da SUASE e servidores

da Vara Infracional da Infância e da Juventude, através do Setor de Pesquisa Infracional (SEPI)

coletaram informações sobre os adolescentes que foram encaminhados para o CIA-BH. Essa

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1322

Page 37: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

coleta ocorreu primeiramente na Delegacia de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente

(DOPCAD) por meio de variáveis sobre a caracterização geral do adolescente como nome, sexo,

idade, filiação, bairro de residência e bairro do ato infracional, etc.; de questionários

socioeconômicos aplicados pela SUASE junto a vários adolescentes que aguardavam audiência e

responderam questões relacionadas à raça/cor, situação de trabalho, escolaridade, moradia, uso

de drogas, etc.; além de informações coletadas pelo SEPI, extraídas das atas de audiência

preliminar e do Sistema de Informatização dos Serviços das Comarcas (SISCOM), tais como: dia

da audiência, ato infracional atribuído, número do processo, número de reentradas, endereço do

fato, decisões judiciais proferidas, medidas socioeducativas e protetivas aplicadas e sentenças

prolatadas ao final do processo.

A metodologia utilizada neste estudo constitui-se da descrição das informações e de

análises conjuntas realizadas através do teste estatístico de hipóteses que possibilita verificar se

os dados amostrais trazem evidências ou não que apóiem as conjecturas iniciais.

Ressalta-se que os dados extraídos dos registros oficiais não refletem toda a realidade a

respeito da criminalidade e da violência que ocorre na sociedade, constituindo-se apenas em uma

estimativa, retrato do processo social de notificação. Assim, a análise dos dados apresentados

refere-se apenas aos atos infracionais atribuídos que são objetos da apreensão policial e para os

quais existe informação coletada, excluindo-se os que a polícia e o sistema de justiça não tomam

conhecimento. A despeito das limitações apresentadas, as estatísticas criminais são regularmente

utilizadas com fins de acompanhamento e avaliação das estratégias e ações de segurança

pública.

Nos próximos tópicos serão apresentados os principais resultados da pesquisa, com foco

no fluxo de funcionamento e tomada de decisões por parte dos atores jurídicos envolvidos no

processamento do ato infracional.

3. Resultados

A Tabela 1 aponta que, nos anos de 2009 a 2012, as entradas de adolescentes no CIA-BH

somaram 38.360 casos. O ano de 2010 foi o que registrou o maior número de entradas (9.864) e a

média de atendimentos no período foi de 26 adolescentes por dia e 799 por mês.

Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Tabela 1 – Número de entradas de adolescentes por ano: 2009 a 2012

Frequência Percentagem

Percentagem

válida

Percentagem

acumulada

2009 9605 25,0 25,0 25,0

2010 9864 25,7 25,7 50,7

2011 9109 23,8 23,8 74,5

2012 9782 25,5 25,5 100,0

Total 38360 100,0 100,0

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1323

Page 38: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

A tabela 2 apresenta a distribuição percentual dos atendimentos realizados por dia da

semana para os anos de 2009 a 2012. Neste período, os atendimentos se concentraram nos dias

de quarta e quinta-feira1, com queda nos finais de semana. No cruzamento entre ato infracional e

dia da semana2 ficou demonstrado que não existe um dia em específico para o qual ocorra algum

tipo de infração com maior freqüência. Não há evidência, nesta amostra, de associação entre ato

infracional e dia da semana (valor-p: 0,138)3, nem mesmo quando analisados apenas os atos

infracionais considerados violentos4.

Tabela 2 - Distribuição percentual de entradas de adolescentes

por dia da semana: 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

Quarta-feira 5731 14,9 16,3 16,3

Quinta-feira 5722 14,9 16,3 32,7

Sexta-feira 5360 14,0 15,3 47,9

Terça-feira 5299 13,8 15,1 63,1

Sábado 4683 12,2 13,4 76,4

Segunda-feira 4314 11,2 12,3 88,7

Domingo 3960 10,3 11,3 100,0

Total 35069 91,4 100,0

Sem informação 3291 8,6

Total 38360 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

A Tabela 3 aponta que, para os casos que contém informação, grande parte dos

adolescentes em conflito com a lei (73,4%) encontra-se entre as idades de 15 a 17 anos5. Os

adolescentes entre 12 e 13 anos somam 11,2% dos casos e os jovens com 18 anos ou mais

somam 1,5% dos casos6. No cruzamento entre ato infracional atribuído e idade do adolescente, os

dados corroboram que quanto maior a idade, maior o número de infrações. Com 99% de

confiança, existem evidências, nesta amostra, de associação entre a idade e o ato infracional

atribuído (valor-p: 0,000)7.

1 Para o cálculo do dia de atendimento na semana foi utilizada a data de entrada do adolescente no CIA-BH. 2 Tabela não apresentada por falta de espaço na formatação A4. 3 Correlação de Pearson: 0,009. 4 Os atos infracionais considerados graves são: tentativa de homicídio, homicídio, furto, roubo, tráfico de drogas e porte de arma de fogo. 5 Para todos os cálculos relativos ao perfil do adolescente em conflito com a lei foram suprimidas as entradas repetidas pelo mesmo jovem no intuito de se evitar a sobreposição de informações. 6 Jovens com idade acima de 18 anos são trazidos ao CIA-BH através de mandados de busca e apreensão ou provenientes dos centros de internação, nos quais podem ficar acautelados até os 21 anos de idade. 7 Correlação de Pearson: 0,120.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1324

Page 39: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 3 - Distribuição percentual da idade dos adolescentes: 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

17 5042 25,1 27,8 27,8

16 4651 23,1 25,6 53,4

15 3637 18,1 20,0 73,4

14 2505 12,5 13,8 87,2

13 1388 6,9 7,6 94,9

12 652 3,2 3,6 98,5

18 197 1,0 1,1 99,6

19 63 ,3 ,3 99,9

20 16 ,1 ,1 100,0

21 1 ,0 ,0 100,0

Total 18152 90,3 100,0

Sem informação 1948 9,7

Total 20100 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

A distribuição percentual de entradas por sexo do adolescente aponta que 83% deles

(16.692 casos) pertencem ao sexo masculino e 17% (3.408) pertencem ao sexo feminino. No

cruzamento entre ato infracional atribuído e sexo do adolescente, os dados indicam que 19,9%

das adolescentes femininas foram processadas por lesão corporal; 16,6% por tráfico de drogas;

12,8% por furto; 11,1% por vias de fato; 9,8% por uso de drogas e 8,5% por ameaça. No caso dos

adolescentes masculinos, a distribuição dos atos infracionais atribuídos é de 25,5% para o tráfico

de drogas; 19,8% por uso de drogas; 11,3% por furto; 10,6% por roubo; 4,8 por lesão corporal e

4,1% por porte de arma de fogo. Assim, a análise descritiva indica maior envolvimento dos

meninos com atos infracionais ligados às drogas, furto e roubo, em comparação com as meninas.

A Tabela 4 apresenta a distribuição da escolaridade dos adolescentes. Os dados

demonstram que a maioria dos jovens atendidos pelo CIA-BH no período analisado encontra-se

entre a 5ª e a 8ª série do ensino fundamental. Demonstram ainda a baixa percentagem de

adolescentes estudantes do ensino médio. No total de 15.522 casos analisados, a 8ª série teve o

maior percentual com 20,3%, seguida da 6ª e 7ª séries, com 18,6% e 16,8% respectivamente.

Na Tabela 5 observa-se que, no cruzamento entre as variáveis freqüência à escola e ato

infracional violento, para uma amostra de 7.792 adolescentes entrevistados, os percentuais não

apontam grande diferenciação entre estar ou não estudando, o que aponta para a hipótese de que

os jovens em conflito com a lei conferem pouca importância para a escola, devido a diversos

motivos como pouco incentivo familiar, uso de drogas, metodologias de ensino inadequadas,

arcaicas e pouco interessantes, falta de acompanhamento, etc. Entretanto, essas são apenas

conjecturas que carecem de análises qualitativas mais profundas para serem testadas.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1325

Page 40: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 4 - Distribuição percentual da escolaridade dos adolescentes: 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

8ª série do ensino fundamental 3151 15,7 20,3 20,3

6ª série do ensino fundamental 2887 14,4 18,6 38,9

7ª série do ensino fundamental 2612 13,0 16,8 55,7

5ª série do ensino fundamental 2169 10,8 14,0 69,7

1º ano do ensino médio 1387 6,9 8,9 78,6

4ª série do ensino fundamental 957 4,8 6,2 84,8

2º ano do ensino médio 783 3,9 5,0 89,8

Não estuda 662 3,3 4,3 94,1

3º ano do ensino médio 376 1,9 2,4 96,5

Não sabe/não respondeu 291 1,4 1,9 98,4

3ª série do ensino fundamental 98 ,5 ,6 99,0

1ª série do ensino fundamental 86 ,4 ,6 99,6

2ª série do ensino fundamental 41 ,2 ,3 99,9

Analfabeto 22 ,1 ,1 100,0

Total 15522 77,2 100,0

Sem informação 4578 22,8

Total 20100 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Tabela 5 - Distribuição percentual por ato infracional violento e frequência à escola: 2009 a 2012

ESTUDA ATUALMENTE

Total Sim Não

Porte de arma 366 234 600

61,0% 39,0% 100,0%

Tráfico de drogas 2068 1752 3820

54,1% 45,9% 100,0%

Roubo 953 797 1750

54,5% 45,5% 100,0%

Furto 620 608 1228

50,5% 49,5% 100,0%

Homicídio 27 30 57

47,4% 52,6% 100,0%

Tentativa de homicídio 29 22 51

56,9% 43,1% 100,0%

Lesão corporal 181 105 286

63,3% 36,7% 100,0%

Total 4244 3548 7792

54,5% 45,5% 100,0%

Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1326

Page 41: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

No quadriênio 2009-2012, a SUASE realizou entrevistas para obtenção de dados

socioeconômicos com pouco mais de 12.000 adolescentes apreendidos, sendo que alguns foram

entrevistados mais de uma vez. Quando perguntados sobre a frequência à escola, mais do que a

metade (53,1%) informou que estuda atualmente, sendo que 46,5% informaram que não estudam.

Dentre os que estudam, 99% estão matriculados em escola pública e apenas 1% em escola

privada.

A análise descritiva dos dados socioeconômicos demonstrou ainda a maioria se declarou

da raça/cor8 pardo (40,1%) seguidos pelos que se declararam pretos (29%), brancos (17,9%),

indígenas (3,9%) e amarelos (3,3%). 5,8% não souberam ou não responderam. Numa amostra9

de 5.090 casos com informação, não existem evidências de associação entre ato infracional

atribuído e raça/cor (valor-p: 0,833)10. Também não existem evidências, nesta mesma amostra, de

associação entre decisão judicial em audiência preliminar e raça/cor (valor-p: 0,802)11, bem como

não existem evidências de associação entre sentença ao final do processo e raça/cor (valor-p:

0,994)12, sugerindo que os atores jurídicos envolvidos no processo de julgamento do ato

infracional em Belo Horizonte não se utilizam do critério raça/cor para aplicação das medidas

socioeducativas.

Entretanto, em pesquisa de mestrado realizada no CIA-BH demonstrei que diversas

respostas são acionadas pelos atores jurídicos durante o julgamento de um adolescente. Apesar

de predominar a dimensão jurídica, questões subjetivas estão também presentes neste momento.

Cada adolescente que chega traz consigo uma história e desperta neles um sentimento diferente,

provocando uma resposta que se reflete na sentença (MELO SILVA, 2010).

Os atores jurídicos trabalham com a capacidade de cumprimento da medida por parte do

adolescente, o que demanda um maior conhecimento sobre a vida dele. Os juízes procuram

conversar com o jovem e seus pais no intuito de apreenderem qual a medida mais adequada para

cada caso. Conforme demonstrado em outros estudos, a atenção às particularidades das

situações necessita de uma sensibilidade especial por parte dos juízes, um feeling, que é tomado

como critério importante de condução dos procedimentos judiciais. O feeling é um atributo

subjetivo que o agente judicial possui. Assim, além dos critérios mais formalmente legais,

vinculados aos enunciados jurídicos formais, atua uma sensibilidade pessoal, que possibilita uma

classificação do caso a ser julgado e conduzido pelo juiz (SCHUCH, 2005; ARAÚJO, 2006).

Em diversas observações participantes, pude perceber que quando o adolescente está

passando pelo sistema de Justiça Juvenil pela primeira vez, tem bom rendimento escolar e família

8 As categorias utilizadas são as mesmas do IBGE: branco, pardo, preto, amarelo e indígena. Para o perfil do adolescente em conflito com a lei foi considerada somente uma das entrevistas realizadas, excluídas todas as entradas repetidas pelo mesmo jovem. 9 Para o cálculo desta amostra foram retiradas todas as entradas repetidas pelo mesmo adolescente no período de 2009 a 2012. 10 Correlação de Pearson: 0,003. 11 Correlação de Pearson: 0,002. 12 Correlação de Pearson: 0,000.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1327

Page 42: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

que o acompanha e exerce autoridade sobre ele, geralmente o ato infracional atribuído é

arquivado ou o jovem recebe uma medida mais branda, caracterizando, na prática cotidiana de

uma agência de controle social, o caráter pedagógico do Estatuto da Criança e do Adolescente,

embora não para todos. A presença dos pais do adolescente na audiência conta como ponto

positivo, além do vínculo com a escola e a relação série/idade serem também considerados.

Entretanto, o contrário também parece ser verdadeiro, ou seja, para jovens provenientes

de famílias consideradas “desorganizadas” (sem acompanhamento efetivo por parte dos pais);

que estão passando pelo sistema pela segunda ou terceira vez e apresentam rendimento escolar

deficiente, as medidas aplicadas são geralmente mais graves, o que demonstra que as funções

retributiva e sancionatória também estão presentes na operacionalização prática do ECA. Assim,

primeiramente aplica-se uma medida mais branda na tentativa de educar este jovem, haja vista

que é sua primeira passagem pelo sistema. Noutros casos, porém, constatada a pouca eficácia da

medida aplicada anteriormente, os atores jurídicos costumam responder com maior rigor na

aplicação das mesmas, com intuito de fazer com que o adolescente seja responsabilizado de

alguma forma pelo dano causado à sociedade, apesar dos aspectos pedagógicos também

estarem presentes.

A presença da família é um fator fundamental que explicita a necessidade ou não do

Estado intervir de modo mais enérgico ou mais brando na vida do adolescente. A gravidade do ato

é um indicativo da perda de controle por parte da família. Porém, são também considerados

fatores como a personalidade do adolescente, o contexto social e econômico, as conseqüências

do fato, inserção e freqüência escolar, a reincidência, dentre outros.

Na visão de alguns dos atores jurídicos entrevistados, o adolescente socioeducando tem

oportunidades que ele não teria no “mundo lá fora”, como acesso à escola, à profissionalização,

ao lazer, à saúde, etc. Para um dos entrevistados entrevistado, a aplicação das medidas

socioeducativas é de certa forma justificada no intuito de suprimir deficiências por parte do Estado

e seriam como que “um grande benefício”. Por outro lado, uma promotora de justiça afirma que a

tentativa de compensação da falta de políticas públicas com a aplicação de medida

socioeducativa não é “um grande benefício” e sim um “grande problema”, um desafio para os

atores jurídicos que aplicam a lei (MELO SILVA, 2010).

Voltando aos dados socioeconômicos, quando perguntados sobre o estado civil, 95,5% se

declaram solteiros e 4,4% mantêm união estável, sendo que 7% deles alegaram ter filhos. Em

relação ao tipo de moradia, 80,6% dos adolescentes informaram residir em casa; 9,5% em

barracão; 6,7% em apartamento; 1,9% residem nas ruas e 1,4% em abrigo. Os que moram em

residência própria somam 76,3%; em residência alugada 19,8%; em moradia cedida 3,5%; em

moradia ocupada 0,4%. O número de moradores por residência variou de 1 a 27, sendo a média

de 5 moradores por residência e a moda (número que mais apareceu) de 4 moradores por

residência.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1328

Page 43: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Os adolescentes foram também sondados sobre a participação em atividades grupais,

sendo que 29,5% alegaram participar de escolas de esportes; 25,5% participam de grupos de

jovens na igreja; 16,8% do Programa Fica Vivo13; 10,1% de dança de rua; 6,2% participam de

grupos de teatro e 5,4% de banda de música. Participações menos expressivas também surgiram

como associação estudantil (0,8%); Pró-Jovem (0,4%) e; Poupança Jovem (0,2%).

Em relação ao uso de drogas, dos 5.403 adolescentes entrevistados uma única vez no

período 2009-2012, 70,7% alegaram fazer uso de álcool; 55,8% uso de tabaco; 55,6% uso de

maconha; 26,6% uso de cocaína; 3,9% uso de crack e 1,4% uso de psicofármacos.

A Tabela 6 aponta que ao longo do período de 2005 a 2008 as infrações foram migrando

do furto e do roubo para o uso e tráfico de drogas. No mesmo período, observa-se uma queda nos

homicídios e nas lesões corporais.

Tabela 6 – Distribuição por tipo de ato infracional atribuído: 2005 a 2008

2005 2006 2007 2008

Mas. Fem. Total Mas. Fem. Total Mas. Fem. Total Mas. Fem. Total

Ameaça 122 16 138 196 43 239 119 124 143 75 20 95

Contravenção 98 23 121 147 43 190 7 2 9 13 10 23

Danos Morais 108 9 117 264 36 300 90 12 102 104 11 115

Desacato 24 1 25 34 13 47 12 6 18 17 2 19

Estupro 16 0 16 12 1 13 5 0 5 5 0 5

Furto 771 84 855 685 72 757 347 53 400 234 20 254

Homicídio 141 4 145 183 9 192 123 7 130 87 3 90 Infração de trânsito 46 1 47 72 0 72 32 0 32 8 0 8

Lesão corporal 143 46 189 265 46 311 117 30 147 60 28 88 Posse ou porte de arma 483 15 498 629 23 652 623 18 641 403 20 423 Formação de Quadrilha 29 6 35 27 6 33 41 4 45 15 0 15

Roubo 945 39 984 1129 66 1195 816 56 872 616 41 657

Sequestro 0 0 0 0 0 0 3 0 3 0 0 0 Tráfico de drogas 449 36 485 897 83 980 1022 90 1112 1501 204 1705

Uso de drogas 318 29 347 718 50 768 387 22 409 219 11 230

Outros 363 46 409 468 54 522 270 36 306 167 19 186

Total 4.056 355 4.411 5.726 545 6.271 4.014 360 4.374 3.524 389 3.913

Fonte: SEPI, 2009.

A Tabela 7 traz a distribuição dos atos infracionais atribuídos no quadriênio 2009-2012

aponta que o tráfico de drogas é o que conta com o maior número de apreensões (24,4%),

seguido do uso de drogas (18,6%), furto (11,5%), roubo (9,8%), lesão corporal (6,6%), ameaça

4,3%, vias de fato 3,4% e dano 3,3%.

13 Programa do governo estadual que visa reduzir o número de homicídios nas áreas mais vulneráveis da cidade.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1329

Page 44: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 7 - Distribuição por tipo de ato infracional atribuído: 2009 a 2012

ANO DE ENTRADA

Total 2009 2010 2011 2012

Atípico 20 0 0 0 20

Ameaça 373 333 305 389 1400

Rixa 45 23 6 16 90

Vias de fato 300 332 227 224 1083

Lesão corporal 736 540 394 462 2132

Tentativa de homicídio 22 24 30 34 110

Homicídio 43 32 36 21 132

Dano 438 205 204 220 1067

Pichação 114 230 92 96 532

Furto 1129 855 782 931 3697

Roubo 846 637 775 908 3166

Receptação 52 73 80 176 381

Uso de drogas 1908 1483 1277 1325 5993

Tráfico de drogas 1868 2182 1972 1863 7885

Porte de arma 313 303 285 344 1245

Desacato 158 104 126 105 493

Mandado de busca e apreensão 293 0 0 5 298

Outros 480 219 198 170 1067

Direção sem habilitação 202 159 180 224 765

Porte de munição 28 44 0 0 72

Desobediência 0 47 0 41 88

Tentativa de roubo 0 56 24 51 131

Extorsão 0 88 12 1 101

Estupro/ato libidinoso 0 34 11 15 60

Porte de arma branca 0 0 49 27 76

Estelionato 0 6 8 2 16

Entrega de veículo à pessoa não

habilitada

0 0 1 0 1

Violação de direito autoral 0 0 17 8 25

Informante no tráfico de drogas 0 0 9 10 19

Perigo para vida ou saúde de outrem 0 0 9 7 16

Associação para o tráfico 0 0 26 31 57

Ato obsceno 0 0 8 5 13

Falsificação de documento público 0 0 4 2 6

Estupro de vulnerável 0 0 3 31 34

Sequestro e cárcere privado 0 0 0 6 6

Falsificação de documento particular 0 0 2 1 3

Latrocínio 0 0 0 1 1

Total 9368 8009 7152 7752 32281

Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1330

Page 45: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

As respectivas regionais e bairros de cometimento do ato infracional também foram

analisados. As Regionais de Belo Horizonte são espécies de subprefeituras, encarregadas dos

bairros de cada uma das nove regiões em que o município está subdividido administrativamente.

Criadas em 1983, a jurisdição das unidades administrativas regionais levam em conta a posição

geográfica e a história de ocupação. São elas: Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordeste, Noroeste,

Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova.

A Tabela 8 apresenta a distribuição percentual das regionais de cometimento do ato

infracional no período de 2009 a 2012. Embora com muitos casos sem informação, os dados

apontam que a regional com o maior número de adolescentes apreendidos foi a Centro-Sul

(13,5%), seguida pela regional Noroeste (9,1%) e Venda Nova (8%). As regionais que

apresentaram menor percentual foram: Pampulha (4,3%), Norte (5,9%) e Leste (6,4%).

Tabela 8 - Distribuição por regional ato infracional atribuído – 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

Sem informação 11913 31,1 31,1 31,1

Centro-Sul 5186 13,5 13,5 44,6

Noroeste 3486 9,1 9,1 53,7

Venda Nova 3086 8,0 8,0 61,7

Barreiro 2882 7,5 7,5 69,2

Oeste 2831 7,4 7,4 76,6

Nordeste 2631 6,9 6,9 83,5

Leste 2458 6,4 6,4 89,9

Norte 2252 5,9 5,9 95,7

Pampulha 1635 4,3 4,3 100,0

Total 38360 100,0 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Ao se analisar os bairros de moradia dos adolescentes, a análise descritiva dos dados

apontou que a Serra obteve a maior freqüência14 no período de 2009 a 2012, com 1.039

apreensões. Entretanto, os dados apontam a cidade de Contagem em segundo lugar, que

pertence à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e apresentou um total de 973

adolescentes residentes, seguida da cidade de Ribeirão das Neves (RMBH), com 717

adolescentes residentes. Em quarto lugar vêm os bairros Jardim América (521), Alto Vera Cruz

(514), cidade de Santa Luzia (488) (RMBH), Taquaril (477), Tupi (425), Cabana do Pai Tomaz

(407), Jardim Felicidade (385), Goiânia (382), Aparecida (365), Céu Azul (360), Jardim Vitória

(359), cidade de Vespasiano (353), cidade de Ibirité (350), Santa Cruz (345), Jardim Leblon (344),

14 O corte foi de bairros com mais de 300 adolescentes residentes.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1331

Page 46: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Jaqueline (340), Jardim dos Comerciários (339), Santo André (329), Santa Mônica (325), São

João Batista (318), Vera Cruz (316), Lagoa (311), Santa Sofia (310) e Horto (305).

A distribuição de todos os atos infracionais atribuídos por bairro de Belo Horizonte no

período de 2009 a 2012 apontou as seguintes freqüências15: Centro (2501), Serra (483), Caiçara

(385), Santa Efigênia (372), Horto16 (361), Savassi (342), Aparecida (336), Barreiro (332), Venda

Nova (329), Vera Cruz (303), Jardim América (299), Santa Lúcia (297), Cabana do Pai Tomás

(278), Jardim dos Comerciários (276), Goiânia (271), Jaqueline (270), Santa Cruz (260), São João

Batista (254), Céu Azul (247), Santa Tereza (226), Padre Eustáquio (225), Betânia (221), União

(220), São Francisco (216), São Gabriel (214), Tupi (214), Santa Mônica (213), Itaipu (207),

Jardim Leblon (205), Pedreira Prado Lopes (199), Santa Terezinha (197), Taquaril (192), Boa

Vista (190) e Jardim Vitória (190).

Na análise do ato infracional atribuído considerado violento17, os que apresentaram

maior freqüência18 no quadriênio foram: Centro (1459), Serra (335), Santa Efigênia (252), Savassi

(242), Venda Nova (207), Caiçara (199), Aparecida (192), Santa Lúcia (191), Jardim América

(183), Santa Cruz (174), Barreiro (171), Horto (171), Goiânia (168), Vera Cruz (166), Cabana do

Pai Tomás (159), Itaipu (157), Pedreira Prado Lopes (154), São João Batista (143), São Francisco

(137), União (135), Jardim dos Comerciários (131), Jardim Leblon (125), São Gabriel (125), Jardim

Vitória (123), Jaqueline (120), Céu Azul (119), Tupi (119), Padre Eustáquio (116), Taquaril (116),

Lagoa (115), Vista Alegre (113), Primeiro de Maio (112), Betânia (111), São Cristóvão (109),

Milionários (108), Santa Tereza (108), Santa Terezinha (104), Funcionários (102), Jardim

Felicidade (101), Santo André (100), Independência (97), Piratininga (96), Cachoeirinha (92),

Mantiqueira (92), Alto Vera Cruz (91), Europa (91), Pindorama (91), Santa Mônica (91) e Glória

(90).

O tráfico de drogas contabilizou 7.885 ocorrências no quadriênio 2009-2012 e apresenta

distribuição por diversos bairros do município de Belo Horizonte. Entretanto, os bairros que mais

se destacaram19 foram: Centro (536), Aparecida (145), Itaipu (135), Pedreira Prado Lopes (121),

Santa Cruz (116), Serra (113), Vera Cruz (111), Cabana do Pai Tomás (103), São Francisco (99),

São João Batista (99), Jardim América (97), Goiânia (93), Santa Lúcia (88), Jardim dos

Comerciários (88), Jardim Leblon (85), Jardim Vitória (77), São Cristovão (76), Lagoa (72) e Santo

André (72), São Gabriel (69), Jardim Felicidade (67), Independência (66), Vista Alegre (62),

Caiçara (61) e Primeiro de Maio (61).

15 O corte considerado foi de bairros com freqüência maior ou igual a 190 ocorrências ao longo dos quatro anos analisados. 16 Bairro onde funciona o Centro de Internação Provisória Dom Bosco. 17 Atos infracionais considerados violentos: homicídio, tentativa de homicídio, lesão corporal, furto, roubo e roubo à mão armada (somados juntos), porte de arma de fogo e tráfico de drogas. Outros atos como estupro, seqüestro, latrocínio, podem ser considerados violentos, mas não foram aqui analisados devido à baixa freqüência que apresentaram. 18 O corte considerado foi de bairros com freqüência maior ou igual a 90 ocorrências ao longo dos quatro anos analisados. 19 O corte considerado foi acima de 60 ocorrências ao longo dos quatro anos analisados.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1332

Page 47: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1333

Page 48: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1334

Page 49: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Especificamente para os atos infracionais de roubo e roubo à mão armada (os dois foram

somados juntos) os bairros com maior freqüência no período 2009-2012 foram20: Centro (297),

Savassi (62), Santa Efigênia (62), Barreiro (50), Serra (43), Venda Nova (42), Caiçara (38), União

(38), Tirol (36), Santo Agostinho (28), Buritis (28), Santa Cruz (27), Sagrada Família (26), Padre

Eustáquio (26), Floramar (25), Planalto (25) e Floresta (25).

Nos período de 2009 a 2013 foram contabilizadas 145 registros de homicídios, 150

registros de tentativas de homicídios, 4.339 registros de roubos, 4.688 registros de furtos e 9.530

registros de tráfico de drogas. Quando considerados somente esses atos, o tráfico de drogas

corresponde a 50,5% dos registros de apreensões.

Tabela 9 - Distribuição por tipo de ato infracional violento - 2009 a 2013

Ato infracional Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

Homicídio 145 ,8 ,8 ,8

Tentativa de homicídio 150 ,8 ,8 1,6

Roubo 4339 23,0 23,0 24,6

Furto 4688 24,9 24,9 49,5

Tráfico de drogas 9530 50,5 50,5 100,0

Total 18852 100,0 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Na análise das decisões em audiência preliminar, a tabela 10 demonstra que a remissão

extintiva cumulada com advertência soma 26,9%; internação provisória soma 20,5%; responder o

processo em liberdade conta com 16,8%, remissão extintiva 10,2%, remissão suspensiva

cumulada com prestação de serviços à comunidade 9,7%, remissão suspensiva cumulada com

liberdade assistida 7,7% e arquivamento 5%. Vale ressaltar que 20,7% (7.947) dos casos não tem

informação sobre a decisão em audiência preliminar. Com 95% de confiança, existem evidências,

nesta amostra, de associação entre decisão em audiência preliminar e ato infracional cometido

(valor-p: 0,047)21, o que sugere que para cada ato em específico existem algumas medidas

socioeducativas que são mais comumente aplicadas.

Os adolescentes que não tiveram uma decisão judicial proferida audiência preliminar

participam de mais uma ou duas audiências (apresentação e continuação), situações nas quais

são realizadas oitivas dos autores, vítimas e testemunhas e, ao final da instrução, são aplicadas

sentenças. A Tabela 11 apresenta a distribuição das sentenças ao final do processo de

julgamento do adolescente no período de 2009 a 2012.

20 O corte considerado foi acima de 25 ocorrências ao longo dos quatro anos analisados. 21

Correlação de Pearson: -0,010

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1335

Page 50: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Tabela 10 – Distribuição de freqüência por decisão em audiência preliminar: 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

Remissão extintiva/advertência 8168 26,9 26,9 26,9

Internação provisória 6236 20,5 20,5 47,4

Responder processo em liberdade 5100 16,8 16,8 64,1

Remissão extintiva 3101 10,2 10,2 74,3

Remissão suspensiva/PSC 2955 9,7 9,7 84,0

Remissão suspensiva/LA 2328 7,7 7,7 91,7

Arquivamento 1534 5,0 5,0 96,7

Retorno dos autos à delegacia 389 1,3 1,3 98,0

Não compareceu à audiência 343 1,1 1,1 99,1

Remissão suspensiva/reparação de dano 208 ,7 ,7 99,8

Retorno à semiliberdade 26 ,1 ,1 99,9

Retorno ao cumprimento de PSC 13 ,0 ,0 100,0

Retorno ao CEIP 11 ,0 ,0 100,0

Retorno ao cumprimento de LA 1 ,0 ,0 100,0

Total 30413 100,0 100,0

Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Tabela 11 - Distribuição de sentença ao final do processo - 2009 a 2012

Frequência Porcentagem

Porcentagem

válida

Porcentagem

acumulada

Remissão extintiva 4344 27,1 27,1 27,1

Liberdade Assistida 2672 16,7 16,7 43,8

Prestação de Serviços à Comunidade 2651 16,5 16,5 60,3

Advertência 2031 12,7 12,7 73,0

Absolvição 1110 6,9 6,9 79,9

Semiliberdade 1015 6,3 6,3 86,3

Extinção do processo 766 4,8 4,8 91,0

Internação 682 4,3 4,3 95,3

Arquivamento 584 3,6 3,6 98,9

Extinção por morte 148 ,9 ,9 99,9

Reparação de dano 12 ,1 ,1 99,9

Extinção por prescrição 10 ,1 ,1 100,0

Total 16025 100,0 100,0 Fonte: SEPI / SUASE / DOPCAD

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1336

Page 51: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Observou-se que, no período de 2009 a 2012, do total de 38.360 entradas de

adolescentes, 33,6% deles retornaram uma vez uma CIA-BH; 18,8% retornaram duas vezes;

11,9% retornaram três vezes; 8% retornaram quatro vezes; 5,5% retornaram cinco vezes; 3,8%

retornaram seis vezes e 2,76% retornaram ao CIA-BH sete vezes. Assim, a taxa de reiteração22

aponta que 33,6% do total de 20.100 adolescentes que passaram pelo CIA-BH retornaram uma ou

mais vezes à instituição.

O cálculo da taxa de reincidência jurídica23 foi feito com base no número de adolescentes

que deram mais de uma entrada no CIA-BH, em cujos processos foram proferidas sentenças,

tanto em sede de audiência preliminar, quanto ao final da instrução. Ressalte-se que foram

consideradas todas as sentenças, com exceção das seguintes: extinção do processo por

maioridade, extinção de punibilidade por prescrição, extinção do processo por morte do agente,

extinção do processo, arquivamento homologado, absolvição e remissão extintiva.

Em 2009 o número total de entradas de adolescentes no CIA-BH foi de 9.605 e o número

total de adolescentes 6.887. Os adolescentes juridicamente reincidentes somaram 859, o que

aponta para uma taxa de reincidência jurídica em 2009 de 12,5%.

No ano de 2010 o número total de entradas de adolescentes no CIA-BH foi de 9.864 e o

número total de adolescentes 6.887. Os adolescentes juridicamente reincidentes somaram 1.020,

o que aponta para uma taxa de reincidência jurídica em 2010 de 15%.

Em 2011 o número total de entradas de adolescentes no CIA-BH foi de 9.109 e o número

total de adolescentes 6.250. Os adolescentes juridicamente reincidentes somaram 852, o que

aponta para uma taxa de reincidência jurídica em 2011 de 13,6%.

4. Conclusões

Este artigo buscou apresentar os resultados quantitativos e qualitativos da pesquisa

realizada no CIA-BH, no escopo de analisar a possível relação entre perfil do jovem apreendido,

atos infracionais atribuídos, decisões judiciais proferidas e a reincidência infracional. A análise

descritiva dos dados referentes aos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 apontou que o jovem em

conflito com a lei no município de Belo Horizonte apresenta um perfil com características muito

semelhantes ao longo dos anos: sexo masculino, idade entre 15 e 17 anos, baixa escolaridade,

usuário de drogas, pardos ou pretos, moradores de aglomerados e regiões pobres da cidade,

envolvidos principalmente nos atos infracionais de tráfico de drogas, uso de drogas, furto e roubo.

Constatou-se que 43,4% dos atos infracionais atribuídos estão relacionados às drogas

(tráfico, uso, informante no tráfico e associação para tráfico), corroborando a hipótese de que

muitos adolescentes têm se envolvido reiteradamente nestes atos, mesmo depois de passarem

22 Reiteração foi considerada como mais de uma entrada pelo mesmo adolescente no CIA-BH. 23 Reincidência jurídica Reiteração foi considerada como o cometimento de novo crime após sentença condenatória transitada em julgado (Art. 63 do Código Penal Brasileiro).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1337

Page 52: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

algumas vezes pelo sistema de justiça juvenil. Neste sentido, há que se perguntar sobre os reais

efeitos das políticas de segurança pública brasileiras, ainda muito focadas na repressão e com

incipientes iniciativas de prevenção ao uso e abuso de drogas.

Os dados apontam que, em relação ao uso de drogas, dos 5.403 adolescentes

entrevistados no período 2009-2012, 70,7% alegaram fazer uso de álcool; 55,8% uso de tabaco;

55,6% uso de maconha; 26,6% uso de cocaína; 3,9% uso de crack e 1,4% uso de psicofármacos.

Embora existam estudos sobre o panorama do uso de drogas no Brasil, os dados disponíveis nem

sempre são suficientes para avaliações específicas. O uso de drogas é algo dinâmico,

constantemente variando de um lugar a outro e até mesmo num determinado lugar. Deste modo,

permanentes de pesquisas são necessárias para que novas tendências possam ser detectadas e

programas de prevenção e intervenção sejam adequadamente desenvolvidos.

No que diz respeito à regional de moradia, Nordeste foi a apresentou o maior número de

adolescentes residentes (12,6%) e Pampulha a que apresentou o menor percentual (5,1%). A

Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) representa 9% do total de adolescentes

residentes que deram entrada na instituição ao longo dos quatro anos analisados. Entretanto,

observa-se que muitos adolescentes são provenientes das cidades de Contagem, Ribeirão das

Neves, Santa Luzia, Vespasiano e Ibirité.

Os bairros do suposto cometimento do ato infracional estão, em sua maioria, localizados

em regiões de favelas e aglomerados e contam com altos índices de violência e vulnerabilidades

diversas, fatores que aumentam a exclusão das oportunidades e a probabilidade de envolvimento

em atos criminosos.

Apurou-se nas decisões proferidas em audiência preliminar que a remissão extintiva

cumulada com advertência soma 26,9%, a internação provisória 20,5%, responder o processo em

liberdade conta com 21,2%, remissão extintiva 10,2%, remissão suspensiva cumulada com

prestação de serviços à comunidade 9,7%, remissão suspensiva cumulada com liberdade

assistida 7,7% e arquivamento 5,0%. Assim, ficou evidenciado que 60,3% dos casos que chegam

ao CIA-BH são resolvidos em audiência preliminar, numa tentativa da justiça de agilizar o

processamento do ato infracional e responsabilizar de imediato o adolescente em conflito com a

lei.

No período de 2009 a 2012, do total de 20.100 adolescentes que passaram pelo CIA-BH,

33,6% retornaram ao CIA-BH uma vez; 18,8% retornaram duas vezes; 11,9% retornaram três

vezes; 8% retornaram quatro vezes; 5,5% retornaram cinco vezes; 3,8% retornaram seis vezes e

2,76% retornaram ao CIA-BH sete vezes.

O cálculo da taxa de reincidência jurídica24 foi feito com base no número de adolescentes

que deram mais de uma entrada em cada ano (2009, 2010 e 2011), em cujos processos foram

24 Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença

que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1338

Page 53: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

proferidas sentenças, tanto em sede de audiência preliminar, quanto ao final da instrução do

processo. Ressalte-se que foram consideradas todas as sentenças para as quais havia

informação, com exceção das seguintes: extinção do processo por maioridade, extinção de

punibilidade por prescrição, extinção do processo por morte do agente, extinção do processo,

arquivamento, absolvição e remissão extintiva.

Destarte, para o ano de 2009, considerando o número total de adolescentes de 6.887 e o

número de adolescentes juridicamente reincidentes de 859, a taxa de reincidência jurídica em

2009 foi de 12,5%.

A reincidência jurídica para o ano de 2010: múmero total de adolescentes: 6.787. Número

de adolescentes juridicamente reincidentes: 1.020. Taxa de reincidência jurídica em 2010: 15,0%

Reincidência jurídica para o ano de 2011: número total de adolescentes: 6.250. Número de

adolescentes juridicamente reincidentes: 852. Taxa de reincidência jurídica em 2011: 13,6%

Por fim, diante dos resultados apresentados, algumas características do adolescente em

conflito com a lei e do funcionamento do sistema de justiça juvenil belohorizontino puderam ser

conhecidos. Os dados indicam alguns padrões e, para que se avance no conhecimento deste

universo, fazem-se necessárias pesquisas de cunho mais qualitativo que possam elucidar

indagações como: que tipo de política pública preventiva tem maior impacto na contenção dos

atos infracionais, principalmente daqueles ligados às drogas? Qual é a eficácia das medidas

socioeducativas no desestímulo ao cometimento de novos atos infracionais? Os programas e

instituições de execução das medidas socioeducativas existentes no município têm sido

suficientes para atender a demanda? O novo paradigma da Justiça Restaurativa pode reduzir o

número de reincidentes?

A coleta, sistematização e análise dos dados será útil se servir como parâmetro para

formulação, implementação e avaliação de políticas públicas que levem em consideração o perfil

dos adolescentes em conflito com a lei, os principais atos por eles cometidos, o modo como são

tratados pelo sistema de justiça, bem como as demandas por acesso aos serviços públicos de

qualidade que de fato promovam sua (re)inserção social e pleno exercício da cidadania.

5. Referências:

ARAUJO, Sandra M. B. Pai, aproxima de mim esse cálice: significações de juízes e promotores sobre a função paterna no contexto da justiça. Tese (Doutorado em Psicologia). Universidade de Brasília, Brasília – DF, 2006.

MELO SILVA, Gustavo de. Ato Infracional: fluxo do Sistema de Justiça Juvenil em Belo Horizonte. 2010. 161f. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

SCHUCH, Patrice. Práticas de Justiça: uma etnografia do campo de atenção ao adolescente infrator no Rio Grande do Sul depois do Estatuto da Criança e do Adolescente. 2005. 345 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1339

Page 54: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

A CRIMINALIDADE E SUAS MOTIVAÇÕES

Thais Ferreira Sousa Aguiar¹

Jarsen Luis Castro Guimarães²

Shelly Yasmine do Carmo Sillva³

RESUMO

A busca de soluções para o problema criminalidade tem despertado o interesse de estudiosos de diversas áreas do conhecimento. A Região Norte do Brasil apresenta, em termos relativos, o maior crescimento da marginalidade. Diante disso, este trabalho faz uso de modelos econométricos probit para estudar a relação entre categorias de crimes e variáveis socioeconômicas, na Região Oeste do Pará, com foco no município de Santarém, para verificar a motivação de crimes por categorias, com base em pesquisa desenvolvida na Penitenciária Silvio Hall de Moura. Utiliza também a metodologia desenvolvida por Heckman relativo à correção do viés de seleção. Como resultado, traça-se um perfil dos presos por categorias de crimes, observa-se que a motivação básica para o preso cometer crimes é diferente entre as quatro categorias pesquisadas: Nos crimes contra a vida observou-se a interação social como a principal motivação; nos crimes contra os costumes a interação social e a herança familiar; nos crimes contra o patrimônio a condição econômica do indivíduo e; a motivação do preso por tráfico de entorpecentes encontrou apoio nas questões econômicas, na interação social e na herança familiar do indivíduo.

Palavras-Chave: Motivações, Criminalidade; Procedimento de Heckman.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1340

Page 55: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

ECONOMIA E CRIMINALIDADE: ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS

I. INTRODUÇÃO

A criminalidade e suas causas são estudadas há bastante tempo. Para

Cerqueira e Lobão (2003 a), o estudo sobre as causas da criminalidade tem se

desenvolvido em duas direções. A primeira aborda o aspecto das motivações individuais

e os procedimentos que levariam as pessoas a se tornarem criminosas. A segunda

estuda as relações entre as taxa de crime em função das variações nas culturas e nas

organizações sociais.

Beato Filho (1998), concordando com os anteriores, entende que as

causas da criminalidade são provenientes de fatores de natureza econômica (privação de

oportunidades, desigualdade social, etc.) ou são simplesmente atos criminosos

consistentes em uma agressão ao consenso moral e normativo da sociedade, sem

qualquer finalidade econômica. Para Cressey (1968) o comportamento criminoso deveria

levar em conta a compreensão das motivações e do comportamento individual e a

epidemiologia associada a tais comportamentos.

Diante disso, este trabalho faz uso de modelos econométricos probit para

estudar a relação entre categorias de crimes e variáveis socioeconômicas, na Região,

com foco no município de Santarém. Utiliza também a metodologia desenvolvida por

Heckman (1968) relativo à correção do viés de seleção.

II. METODOLOGIA

Neste trabalho procura-se entender o comportamento do indivíduo

envolvido na atividade criminosa, por categoria de crimes, analisando-se resultados

obtidos com a aplicação de modelos econométricos, comparados aos previstos nas

teorias revisadas. A base de dados foi obtida com aplicação de 353 questionários, pelo

autor, entre os reclusos do sexo masculino da Penitenciaria de Santarém-Pa, nos meses

de novembro de 2004 a abril de 2005.

A parte econométrica segue a metodologia utilizada por Mendonça et alii

(2003 a), Shikida et alii (2005) e Shikida et alii (2006), chegando-se a um modelo de

variável qualitativa tipo Probit (Johnston e Dinaro, 2001), com aplicação do procedimento

de Heckman (1979) relativo à correção de viés de seleção. Como a variável dependente

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1341

Page 56: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

é qualitativa, trabalha-se com o modelo probit1. De acordo com Johnston e Dinaro (2001),

os modelos Probit são utilizados quando as variáveis dependentes são qualitativas,

representadas por variáveis binárias 1 e 0. Será 1 se o evento ocorrer, caso contrário, 0.

A probabilidade de ocorrência do evento pode ser relacionada com as variáveis

independentes segundo a forma funcional:

prob Yi = 1 =Φ Xi� = ∫ √2Π exp −�2 dz ( 1 )

A transformação normal tradicional Φ (·) faz com que a probabilidade

permaneça entre 0 e 1, ou seja, � � = 0 ( 2 )

O modelo procura estimar quais variáveis teriam influência sobre a

probabilidade de se cometer determinada categoria de crimes. Entre essas variáveis

destacam-se: a) Variáveis socioeconômicas: idade, estado civil, bairro de residência,

escolaridade do preso, emprego formal, residência própria, preso anteriormente; b)

variáveis de herança familiar: estado civil dos pais, categoria de chefe da família,

escolaridade do chefe da família, existência de indivíduo (s) preso (s) na família, registro

de violência na infância/adolescência e; c) variáveis de interação social: bairro e local do

crime, número de indivíduos no imóvel. Exceto as variáveis “idade” e “número de

indivíduos no imóvel”, todas as variáveis são dummy`s.

Como os dados da amostra foram coletados somente por meio de

informações dos indivíduos presos, segue-se a metodologia proposta por Heckman

(1979), com o objetivo de corrigir o viés de seleção. A equação primária objetiva mostrar

a relação entre a categoria de crimes e os seus determinantes, definida por:

Yi = xi’ + i , ( 3 ),

onde Y é observado (representa a categoria de crimes a ser analisada) e

Xi a matriz de variáveis explicativas de Y e ε o termo de erro estocástico ou perturbação

estocástica. Após estimação, de um modelo geral, são retidas apenas as variáveis que

apresentam coeficientes estatisticamente significativos.

O segundo estágio consiste em definir a equação de comportamento que

mostra a predisposição do agente à prática de um delito da categoria de crimes analisada.

1 No modelo probit é assumida uma distribuição normal, já no modelo logit assume-se uma distribuição

logística. A distribuição logística é similar à normal, exceto pelas caudas. Para valores intermediários as duas

distribuições tendem a gerar probabilidades similares (ver Greene, p. 637-638 – 2ª Ed., 1993). Por

similaridade e por ter sido adotada em análises similares foi escolhida a distribuição normal.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1342

Page 57: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Assim, seleciona-se uma variável latente z* que pode representar a relação com a índole,

ou com a formação, ou ainda, com a situação econômica do indivíduo, variando em

relação à hipótese.

De forma parametrizada pode-se afirmar que se z* > 0, a categoria de

crimes estudada possui a característica determinada como hipótese, e z* < 0, não possui.

Além do mais, existe um vetor de variáveis observadas w que determina z*. Dessa forma

tem-se a seguinte equação comportamental para o indivíduo i.

zi* = y’ wi + ui ( 4 )

A idéia é que u e ε sejam correlacionados, com a hipótese de que u e ε

tenham distribuição normal bivariada com média 0 (zero) e correlação ρ. Assim, conforme

Greene (1993),

onde, ( 5 )

( 6 )

Nesse caso e Ф representam a função de densidade e distribuição de

uma normal, respectivamente. Assim, tem-se que:

( 7 ),

sendo vi um distúrbio com média 0 (zero) e variância constante.

Por meio do teste de razão de máxima verossimilhança, verifica-se a

correlação entre os distúrbios das duas equações (ε e u, distúrbios das equações

primária e comportamental, respectivamente), representado por ρ, se é nula. A hipótese

trabalhada é aceita caso se consiga mostrar que existe correlação estatística de sinal

negativo entre os resíduos dessas duas equações.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1343

Page 58: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

III. TEORIAS DE CAUSALIDADE DA CRIMINALIDADE

Para enquadrar os diversos estudos sobre a temática da criminalidade,

dividimos as teorias de causalidade do crime em quatro grandes grupos:

1) Grupo das teorias de caráter biológico - Nesse grupo são destacadas as

teorias focadas nas patologias individuais. As causas do crime estariam relacionadas a

questões biológicas. Os autores têm como base os estudos de Lombroso [1893; 1910

(editado em 1968)], nos quais patologias individuais como formação óssea do crânio,

formato das orelhas, entre outras características físicas, são considerados identificadores

da patologia criminosa. Tal visão inspirou trabalhos, como Healy (1915), Glueck (1918),

Hakeem (1958), Crassey (1968) e Daly e Margo (1983, 1988 e 1999). Essas teorias

caíram em desuso pela falta de consistência e não são consideradas no trabalho.

2) Grupo de teorias de caráter de herança familiar - Nesse grupo

destacam-se as teorias do autocontrole e interacional.

a) Teoria do autocontrole. Desenvolvida por Gottfredson e Hirschi (1990),

enfatiza que a diferença existente entre indivíduos que possuem comportamentos

desviantes ou desenvolvem vícios e os outros indivíduos, decorre de deformações no

processo de socialização da criança, causadas pela ineficácia da conduta educacional

ministrada pelos pais na fase entre dois e três anos até a fase pré-adolescente.

Destacam-se os trabalhos de Arnekley et alii ( 1993), Polakowski (1994) e Gibbs et alii

(1998).

Donohue e Levitt (2001) estudaram as causas da criminalidade nos

Estados Unidos, fazendo comparações entre cidades onde o aborto foi legalizado, no

início da década de 70, e cidades em que a legalização se deu posteriormente. Os

autores observaram que nos anos 90 houve uma significante redução da taxa de

criminalidade concernente aos crimes de propriedade e crimes violentos nas cidades

onde o aborto foi permitido antes de 1973. Esse impacto da legalização do aborto sobre o

crime estaria relacionado principalmente à ocorrência da gravidez não intencional de

adolescentes, mulheres solteiras e mulheres pobres.

b) Teoria interacional. Inspirada nas Teorias de Associação Diferencial e do

Controle Social. A delinqüência é entendida como causa e conseqüência de uma

variedade de relações recíprocas desenvolvidas ao longo do tempo. Segundo Entorf e

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1344

Page 59: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Spengler (2002), dois elementos consubstanciam essa teoria: a) a perspectiva

evolucionária, segundo a qual a atividade criminosa não seria uma constante na vida do

indivíduo, todavia seria um processo que se inicia por volta dos 12 ou 13 anos, aumenta

o seu envolvimento em tais atividades aos 16 ou 17 anos, terminando esse processo até

os 30 anos; b) os efeitos recíprocos, que esclareceriam as virtuais relações de

endogeneidade das variáveis explicativa e dependente.

3) Grupo de teorias de interação social - Fazem parte desse grupo as

teorias do controle social, aprendizado social e desorganização social.

a) Teoria do controle social. Procura estudar o porquê de as pessoas

absterem-se de cometer crime. A idéia principal reside no sentido de ligação do indivíduo

com a sociedade. Assim, quanto maior for o envolvimento do cidadão com a sociedade e

quanto mais ele concordar com os valores e normas vigentes, menor será a chance de

tornar-se um criminoso. Destacam-se os trabalhos de Agnew (1991), Agnew e White

(1992), Junger-Tas (1992), Agnew (1993), Paternoster e Mazerolle (1994) e Horney et alii

(1995).

b) Teoria do aprendizado social ou teoria de associação diferencial.

Desenvolvida por Sutherland (1942), busca explicar o processo pelo qual jovens moldam

seus comportamentos a partir de interações e experiências pessoais com relação às

situações de conflito, tendo como base o processo de comunicação. Nessa área

destacam-se os trabalhos de Matsueda (1982), Bruinsma (1992) e McCarthy (1996) e

Currie e Tekin.

c) Teoria da desorganização social. Abordagem sistêmica, cujo enfoque

gira em torno das relações sociais que contribuem para o processo de socialização e

aculturação do indivíduo, como relações de amizade e parentesco, condicionadas por

fatores estruturais, a exemplo do status econômico. Nesse sentido, Sampson e Groves

(1989), observaram heterogeneidade social, estabilidade social, desagregação familiar,

urbanização, redes de amizade local, grupos de adolescentes sem supervisão e

participação organizacional, como variáveis explicativas da criminalidade. Conforme

Sampson (1997), a organização e a desorganização sociais constituem laços

inextricáveis de redes sistêmicas para facilitar ou inibir o controle das relações sociais.

Nesse sentido a criminalidade emergiria como conseqüência de falhas na organização

dessas relações sociais em nível comunitário e das vizinhanças, a exemplo de redes de

amizades esparsas ou baixa participação social (Entorf e Spengler, 2002). Miethe et alii

(1991), utilizando registros policiais de 584 cidades americanas relativos aos anos de

1960, 1970 e 1980, trabalharam com dados de painel a fim de testar variáveis

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1345

Page 60: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

explicativas para homicídios, roubos e arrombamentos. Como variáveis significantes

destacaram a taxa de desemprego, a heterogeneidade étnica e a mobilidade residencial,

o controle institucional e a existência de mais de um morador por cômodo.

4) Teorias de caráter econômico - Esse grupo enfoca três teorias: anomia,

estilo de vida e teoria econômica da escolha racional.

a) Anomia. Desenvolvida por Merton (1938), propõe que a motivação para

a delinqüência decorre da impossibilidade de o indivíduo atingir metas desejadas por ele.

Na operacionalização dessa teoria surgiram três perspectivas distintas: a) expectativa de

realização: o processo de anomia decorreria da diferença entre as aspirações individuais

e as reais expectativas dos indivíduos; b) oportunidades bloqueadas: desenvolvida por

Agnew (1987) e Burton e Cullen (1992): o foco de divergências das normas instituídas

passa a existir a partir do momento em que o indivíduo percebe que o insucesso decorre

de condições externas a sua vontade; e c) privação coletiva [Burton et alii (1994)]:

enfatiza a distância entre o ideal de sucesso da sociedade e a situação específica em

que o indivíduo se encontra. Como trabalhos nesse campo cita-se os de Reiss e Rhodes

(1963), Elliot e Voss (1974), Greenberg (1977), Blau e Blau (1982), Agnew (1984), Burton

et alii (1994) e Agnew (1992) .

b) Teoria do estilo de vida. Nessa teoria trabalha-se com a existência de

três elementos: vítima em potencial, agressor em potencial e tecnologia de proteção, esta

ditada pelo estilo de vida da vítima em potencial. Leva-se em consideração o nível de

proteção da possível vítima e os custos do delinqüente para o crime ser cometido. A

possível vítima, ao recorrer a mais alta tecnologia de segurança, inibe o agressor devido

ao alto custo necessário para perpetrar o crime. Trabalhos como de Messner e Blau

(1987), Miethe et alii (1987), Miethe et alii (1991), Roncek e Maier (1991) e Tremblay e

Tremblay (1998), mostraram a relação empírica entre estilo de vida da vítima e

criminalidade.

c) Teoria econômica da escolha racional. Tem como referência o trabalho

desenvolvido por Becker (1968), aplicado à questão da criminalidade. Estabelece um

modelo formal no qual o ato criminoso resulta de uma avaliação racional em torno dos

benefícios e dos custos esperados pelos envolvidos. A decisão de cometer crime ou não

decorreria de um processo de maximização de utilidade esperada.

A partir da exposição de diversas teorias que procuram explicar a

criminalidade, fica evidente tratar-se de um fenômeno complexo e multifacetado. As

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1346

Page 61: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

pesquisas empíricas nessa área evidenciam a dificuldade e talvez impossibilidade de se

conseguirem resultados generalizados.

IV. MODELO DE VARIÁVEL QUALITATIVA PARA A CRIMINALIDADE

Exceto as variáveis “idade” e “número de indivíduos no imóvel”, todas as

variáveis empregadas são dummy’s. As informações referem-se ao período que antecede

o delito. Para cada categoria apresenta-se o modelo geral, de que se retiram somente as

variáveis estatisticamente significantes em um nível de 5%.

4.1. MODELO DE VARIÁVEL QUALITATIVA PARA A CATEGORIA DE CRIMES

CONTRA A VIDA

a) Equação primária

Categoria de crime contra a vida = f [escolaridade (até 4 anos de estudo, mais de 4 até 8 anos de estudo), prisão anterior, uso de droga (s), crime cometido em outra cidade, bairro de residência (periférico), local do crime (bar, local via pública)].

A equação de comportamento associará uma variável que retrata boa

formação do indivíduo preso com seus determinantes. O objetivo é demonstrar que a

pessoa de boa formação tende a agir de modo menos violento. Para escolher variáveis

proxies de boa formação tem-se como referência o trabalho de Shikida et alii (2005) e

Mendonça et alii (2003 a) que obtém resultados mais confiáveis estatisticamente quando

as proxies de “travas morais”, são “ser católico” e/ou “acreditar em Deus”. Dessa forma,

trabalha-se com a variável “religião” que assumirá o valor 1 se o indivíduo tiver religião,

caso contrário será 0 (zero).

Baseado em Mendonça et alii (2003 a) três variáveis podem atuar como

regressores da equação comportamental: “relacionamento dos pais é união estável”;

“reside com pai e mãe” e se “existe(m) preso(s) na família”. A equação comportamental

fica assim estabelecida.

b) Equação comportamental

Religião = f [com quem residia (reside com pai e mãe), estado civil dos pais (união estável), preso(s) na família].

Os resultados estimados podem ser vistos na Tabela 1.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1347

Page 62: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

TABELA 1

Estimativa de parâmetros das variáveis e resultado final do modelo econométrico para a categoria de crimes contra vida com seleção de amostra –

Modelo probit.

Número de observações: 344

Observações censuradas: 95

Observações não censuradas: 249

Wald chi2 (8) = 350,20

Log likelihood = -372,7273

Prob. > chi2 = 0,0000

Coeficiente Z Prob. > Z

Equação primária (crimes contra a vida)

Até 4 anos de estudo

Mais de 4 até 8 anos de estudo

Prisão anterior

Uso de droga (s)

Bairro crime outra cidade

Bairro resid. periférico

Local bar

Local via pública

Equação de comportamento

Preso(s) na família

Reside com pai e mãe

Relacionamento dos pais união estável

ρ

Teste de razão de Máxima verossimilhança

Ho: ρ = 0

Chi2 (1) = 8,03

Prob. > chi2 = 0,0009

-0,473

-0,317

-0,246

0,197

0,366

0,318

0,433

0,324

0,301

-0,813

0,407

-0,575

4,34

2,89

-4,18

3,37

4,60

4,09

3,32

5,68

1,96

-4,17

1,28

0,006

0,020

0,000

0,001

0,000

0,000

0,000

0,000

0,050

0,000

0,002

Os sinais dos parâmetros das variáveis que representam a “escolaridade

do indivíduo” sinalizam para o fato de que ter uma boa criação e educação, isto é, uma

boa interação familiar, reduz a probabilidade de o preso cometer tais crimes. Esses

resultados estão de acordo com apresentados por Fajnzylber e Araújo Jr. (2001) e

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1348

Page 63: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Andrade et alii (2003). Cada infrator que possui “prisão anterior” reduz a expectativa de

cometer crimes dessa natureza. Esse resultado contradiz os encontrados por Cerqueira e

Lobão (2003 b) e Andrade et alii (2003) ao observarem as experiências em penitenciárias

como um estímulo aos crimes de homicídio e roubo. As variáveis “uso de droga (s)”,

“bairro de residência periférico”, “crime cometido em outra cidade”, “local bar” e “via

pública”, aumentam a probabilidade de o preso cometer crimes contra a vida. Observa-se

ainda que os crimes contra a vida parecem não encontrar respaldo em motivos de ordem

econômica e as variáveis que retratam boa interação familiar reduzem a possibilidade de

o preso cometer esses tipos de crimes.

Com relação à hipótese estabelecida percebe-se que a correlação entre os

distúrbios das duas equações quando nula é rejeitada, isto é, ρ ≠ 0 (Prob > Chi2 = 0,0009)

e o coeficiente de correlação entre os resíduos das equações primária e comportamental

apresenta sinal negativo. Todas as variáveis são estatisticamente significantes em um

nível de 5% (Prob. > Z) e o modelo e consistente no seu teste (Prob. > Chi2 = 0,0000).

Assim, o modelo mostra que indivíduos com religião têm tendência menor de se

envolverem em crimes dessa natureza e que esse tipo de delito está relacionado a

fatores de interação social.

4.2. MODELO DE VARIÁVEL QUALITATIVA PARA A CATEGORIA DE CRIMES

CONTRA O PATRIMÔNIO

a) Equação primária

Categoria de crime contra o patrimônio = f[local do crime (via pública, local casa alheia,

local outros), prisão anterior, uso de drogas, estado civil dos pais (casados)].

Para escolher variáveis proxies da situação econômica do indivíduo, as

referências são os trabalhos de Becker (1968) e Fernandez e Maldonado (1999),

segundo os quais uma das formas de se combater o crime é dar uma melhor distribuição

de recursos. Conforme Pezzin (1986), Miethe et alii (1991) e Mendonça et alii (2003) a

pobreza contribui para a ocorrência de crimes contra o patrimônio. O mesmo se aplica a

Beato Filho (1998). Assim, escolheu-se como proxy a variável “possui residência própria”.

Para regressores da equação de comportamento buscou-se proxys condizentes com a

situação econômica do indivíduo. Dessa forma, as variáveis “tem emprego”, “estado civil

casado”, “nível de escolaridade mais de 4 até 8 anos de estudo”, amparadas pelo estudo

de Fajnzylber e Araújo Jr. (2001). Trabalha-se ainda com a variável “bairro de residência

periférico”.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1349

Page 64: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

b) Equação comportamental

Residência própria = f [possui emprego, estado civil (casado), bairro de residência

(periférico), escolaridade (mais de 4 até 8 anos de estudo)].

TABELA 2

Estimativa de parâmetros das variáveis e resultado final do modelo econométrico para a categoria de crimes contra o patrimônio com seleção de

amostra -

Modelo probit.

Número de observações: 344

Observações censuradas: 90

Observações não censuradas: 254

Wald chi2 (6) = 125,72

Log likelihood = -359,8775

Prob. > chi2 = 0,0000

Coeficiente Z Prob. > Z

Equação primária (crimes contra o patrimônio)

Local via pública

Local casa alheia

Local outro(s)

Prisão anterior

Uso de droga (s)

Pais casados

Equação de comportamento

Casado

Possui emprego

Bairro resid. periférico

Mais de 4 até 8 anos de estudo

ρ

Teste de razão de Máxima verossimilhança

Ho: ρ = 0

Chi2 (1) = 3,44

Prob. > chi2 = 0,0063

0,205

0,369

0,528

0,376

-0,131

0,102

0,517

0,334

0,502

0,498

-0,513

3,08

4,49

5,10

6,62

-2,21

1,83

2,56

1,28

4,43

3,53

0,002

0,000

0,000

0,000

0,027

0,047

0,010

0,006

0,000

0,000

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1350

Page 65: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Ao analisar as variáveis estatisticamente significantes a 5% (Valor – P),

fatores relacionados a questões não econômicas do indivíduo apresentam resultados de

maior influência na criminalidade, destacando-se “pais casados”, “local do crime casa

alheia” e “local do crime” ( via pública, casa alheia e outros locais).

O sinal do parâmetro da variável “uso de droga (s)” reduz a probabilidade

de o preso cometer crimes contra o patrimônio. Já o das variáveis “prisão anterior”, “local

via pública”, “local casa alheia”, “local outros” e “pais casados” aumentam a probabilidade

de o infrator cometer crimes dessa natureza. Esse resultado está de acordo com os

encontrados por Cerqueira e Lobão (2003b), Andrade et alii (2003), e Kume (2005).

Observa-se que todas as variáveis do modelo são significantes em um

nível de 5% (Prob. > Z), bem como o modelo, Prob > Chi2 = 0,0000. Assim, num nível de

significância de 5%, a hipótese estabelecida de que a correlação entre os distúrbios das

duas equações seja nula é rejeitada, ou seja, ρ ≠ 0, ou seja, Prob. > Chi2 = 0,0063. Nota-

se também que o sinal do coeficiente de correlação entre os resíduos das duas equações

(primária e comportamental) é negativo. Dessa forma pode-se constatar que a motivação

da criminalidade para o indivíduo preso por crime contra o patrimônio é diferente dos

demais inclusos em outras categorias e que aquele tipo de delito está relacionado à

condição econômica do indivíduo.

4.3 MODELO DE VARIÁVEL QUALITATIVA PARA A CATEGORIA DE CRIMES

CONTRA OS COSTUMES

a) Equação primária

Categoria de crime contra os costumes = f[idade, prisão anterior, registro de violência na

infância/adolescência, escolaridade (até 4 anos de estudo, mais de 4 até 8 anos de

estudo), preso(s) na família].

Após definição da equação primária, procura-se definir a de

comportamento. A variável dependente da equação de comportamento escolhida como

proxy de boa formação do preso tem como referência o trabalho de Sutherland (1942),

Gottfredson e Hirschi (1990), Agnew (1991) e Sampson (1997), os quais acreditam que a

propensão do indivíduo ao crime é resultado de um ambiente familiar instável, pertinente

a má concepção do caráter dessa pessoa. Dessa forma, trabalha-se como proxy de boa

formação a variável “estado civil dos pais união estável”. O critério de escolha dos

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1351

Page 66: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

regressores é análogo ao verificado na categoria de crimes contra a vida. A diferença

consiste em acrescentar ao modelo variáveis que representem questões relacionadas à

herança familiar do indivíduo.

b) Equação comportamental

Estado civil dos pais é união estável = f[tipo de religião (católica), com

quem residia ( pai e mãe), chefe da família( mãe)].

Os resultados estimados podem ser vistos na Tabela 3.

TABELA 3

Estimativa de parâmetros das variáveis e resultado final do modelo econométrico para a categoria de crimes contra os costumes com seleção de

amostra

Modelo probit.

Número de observações: 344

Observações censuradas: 323

Observações não censuradas: 21

Wald chi2 (6) = 36,82

Log likelihood = -145,7809

Prob. > chi2 = 0,0000

Coeficiente Z Prob. > Z

Equação primária (crimes contra os costumes)

Idade

Prisão anterior

Registro de violência na infância/adolescência

Até 4 anos de estudo

Mais de 4 ate 8 anos de estudo

Preso(s) na família

Equação de comportamento

Reside com pai e mãe

Religião católica

Chefe de família mãe

0,018

-0,019

0,495

-1,363

-1,300

-0,547

-0,897

-1,330

-1,471

-0,738

-3,85

-3,85

3,81

1,78

1,71

-0,87

-4,18

-8,64

-4,82

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1352

Page 67: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

ρ

Teste de razão de Máxima verossimilhança

Ho: ρ = 0

Chi2 (1) = 4,76

Prob. > chi2 = 0,0002

Conforme os resultados da Tabela 3, na prática desses crimes os fatores

relacionados a questões de interação social e herança familiar apresentam resultados de

maior influência na delinqüência, como “idade”, “registro de violência na

infância/adolescência”, “prisão anterior” e “preso(s) na família”. Os sinais dos parâmetros

das variáveis “prisão anterior” e “preso(s) na família” indicam uma redução da

probabilidade do preso cometer crimes dessa natureza, já os das variáveis “idade” e

“registro de violência na infância/adolescência” aumentam a probabilidade de o delituoso

cometer crimes dessa categoria.

O nível de escolaridade do detento (“até 4 anos de estudo” e “mais de 4

até 8 anos de estudo”) diminuem a expectativa de o preso cometer esses delitos. Esses

resultados são referendados por Fajnzylber e Araújo Jr. (2001) segundo os quais maiores

níveis educacionais reduzem a taxa de crimes contra a pessoa.

Para o delituoso preso anteriormente, a probabilidade de cometer esse tipo

de crime é reduzida. Já para cada indivíduo que apresenta “registro de violência na

infância/adolescência” a probabilidade de cometer delitos dessa natureza aumenta. No

que tange a violência na infância/adolescência, que Currie e Tekin (2006), em estudos da

economia do crime, chegam a conclusões parecidas.

A hipótese estabelecida de que a correlação entre os distúrbios das duas

equações seja nula é rejeitada. O coeficiente de correlação entre os resíduos das

equações primária e comportamental apresenta sinal negativo. De acordo com o teste de

razão de verossimilhança, observa-se que ρ ≠ 0, ou seja, os indivíduos da categoria de

crimes contra os costumes possuem uma motivação para a criminalidade distinta da dos

demais presos (Prob. > Chi2 = 0,0002). A idéia aqui é que tanto as questões de interação

social quanto as de herança familiar têm influência direta nessa categoria de crimes.

Assim, quanto maior for o elo e a integração dos infratores com as normas da sociedade

e quanto mais estável for a sua família, menor será a probabilidade de delinqüirem.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1353

Page 68: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

4.4 MODELO DE VARIÁVEL QUALITATIVA PARA A CATEGORIA DE CRIMES DE

TRÁFICO DE ENTORPECENTES

Conforme Mendonça et alii (2003 a), a causa que leva o indivíduo a

praticar esse tipo de delito pode ser atribuída a diversos fatores, destacando-se os de

ordem econômica e o custeio do próprio vício. Soares et alii (2005) observam motivos

mais do que econômicos para a entrada dos agentes nessa categoria, como a

discriminação racial. Fernandez e Maldonado (1999) ressaltam as causas determinantes

da prática desse tipo de delito. Elas podem ser tanto de origem individual como de cunho

social.

a) Equação primária

Categoria de crime de tráfico de entorpecentes = f [local do crime (própria casa), uso de

droga, registro de violência na infância/adolescência, não tem emprego, não possui filho,

com quem reside (sozinho), residência própria].

TABELA 7

Equação primária: Estimativas de parâmetros das variáveis para a categoria de crimes de tráfico de entorpecentes com seleção de amostra – Modelo probit.

Número de observações: 338

LR chi2 (45) = 106,63

Log likelihood = -82,9793

Prob. > chi2 = 0,0000

Pseudo R2 = 0,3912

Coeficiente Desvio Padrão

Valor-P

Equação primária (crimes de tráfico de entorpecentes)

Local própria casa

Uso de droga (s)

Registro de violência na infância/adolescência

Não tem emprego

Não possui filho

Reside sozinho

1,315

-0,705

-0,906

1,475

-0,693

-2,379

-0,544

0,43

0,28

0,51

0,89

0,30

1,19

0,29

0,002

0,014

0,050

0,041

0,025

0,046

0,052

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1354

Page 69: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

Residência própria

Ao serem analisados os sinais dos parâmetros das variáveis

estatisticamente significantes em nível de 5%, verifica-se a influência tanto das que

retratam a situação econômica do indivíduo quanto às de interação social e herança

familiar, como motivadoras desses crimes. Porém para a categoria de crimes de tráfico

de drogas não foi possível determinar se a motivação para a prática desses delitos é

igual ou diferente da motivação das outras categorias, pois as variáveis comportamentais

que poderiam ser utilizadas não distinguiriam este grupo das já analisadas. Outro fator

agravante é que do ponto de vista estatístico o respaldo na literatura é muito insuficiente

nessa área.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho buscou estudar a motivação que levou o indivíduo preso, a

cometer crime. É uma análise que parte das teorias existentes sobre a criminalidade

relacionando-a as características socioeconômicas do preso, herança familiar e de

interação social, que pretende contribuir para um maior entendimento da criminalidade na

região. Para tanto, utilizou-se a metodologia proposta por Heckman (1979). Buscou-se

identificar a motivação do crime e para isso os delitos foram divididos em quatro

categorias: contra a vida, contra o patrimônio, contra os costumes e tráfico de

entorpecentes.

De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, constata-se que a

motivação básica é diferente para o preso cometer crimes contra a vida, contra os

costumes e contra o patrimônio, não sendo possível identificar a motivação para os

crimes de tráfico de drogas. Nos crimes contra a vida observou-se a interação social

como a principal motivação. Crimes contra os costumes encontraram motivação na

interação social e na herança familiar. Os Crimes contra o patrimônio foram explicados

com base na condição econômica do indivíduo. Para se chegar a tais conclusões foram

feitos testes de hipóteses, os quais, de acordo com o teste de razão de máxima

verossimilhança, apresentaram uma correlação de resíduos negativa, ou seja, correlação

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1355

Page 70: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

dos resíduos da equação primária com os da equação comportamental diferente de zero,

isto é, ρ ≠ 0. Como as categorias de crimes contra a vida, patrimônio e costumes

apresentaram ρ ≠ 0, significa dizer que cada categoria de crime possui uma motivação

básica diferenciada para a criminalidade.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1356

Page 71: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

REFERÊNCIAS

AGNEW, R. Goal achievement and delinquency. Sociology and Social Research, v.68, 1987.

AGNEW, R. & WHITE, H.R. Na empirical test of general strain theory. Criminology, v.30, 1992.

ANDRADE, M.V. & MACHADO, A.F. & GUIMARÃES, C. & TELLO, R. Perfil ocupacional das vítimas e criminosos no Município de Belo Horizonte: um estudo exploratório. Texto para discussão N. 195, UFMG/Cedeplar, 2003.

BEATO FILHO, C.C. & ASSUNÇÃO, R. & SANTOS, M. A. & SANTO, L.E.E. & SAPORI, L.F. & BATITUCCI, E. & MORAIS, P.C.C. & SILVA, S.L.F. 1998. Criminalidade violenta em Minas Gerais. Confere com http://www.crisp.ufmg.br/cvmg.pdf . Acesso em 28/02/2007.

BECKER, G. Crime and punishment: an economic approach. Journal of Political Economy, v.101, 1968.

BURTON Jr. & V.S. & CULLEN, F.T. The empirical status of strain theory. Crime and Justice, v.15, 1992.

CERQUEIRA, D. & LOBÃO, W. Determinantes da criminalidade: Uma resenha dos modelos teóricos e resultados empíricos. Rio de Janeiro: IPEA, 2003 a.

__________ Condicionantes sociais, poder de polícia e o setor de produção criminal. Rio de Janeiro: IPEA, 2003 b.

CRESSEY, D.P. Crime: Causes of crime in international enciclopedia of the social sciences, v.3. The Macmillian CompanY & The Free Press Ed. (David l. Sills ed.), 1968.

CURRIE, J. & TEKIN, E. Does child abuse cause crime. NBER Working Paper N.12171. Abril, 2006.

DONOHUE, JOHN J., III & LEVITT, STEVEN D. The impact of legalized abortion on crime. Quartely journal of economics, 2001, v. 116 (2, may).

EHRLICH, I. Crime, punishment, and the market for offenses. Journal of Economic Perspectives, v. 10, 1998.

ENTORF, H. & SPENGLER, H. Socioeconomic and demographic factors of crime in Germany: evidence from panel data of the German states. International Review of Law and Economics, v.20, 2000.

FAJNZYLBER, P. & ARAUJO JR, ARY. Violência e Criminalidade. Belo Horizonte: Cedeplar/Face/UFMG, 2001.

FERNANDEZ, J.C. & MALDONADO, G.E.C. A economia do narcotráfico: uma abordagem a partir da experiência boliviana. Belo Horizonte: Bela Economia, V.9, n. 2, dezembro de 1999.

GOTTFREDSON, D.C. & HIRSCHI, T. A general theory of crime. Stanford, CA: Stanford University Press, 1990.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1357

Page 72: GT05 Estatísticas, Segurança Pública e Direitos Humanosandhep.org.br/anais/arquivos/VIIIencontro/GT05.pdf · socialização. Desta forma, foi criado em 2003, no estado de Minas

HECKMAN, J. Sample selection bias as a specification error. Econometrica, v.47,n.1, 1979.

MENDONÇA, M.J.C. & LOUREIRO, P.R.A. & SACHSIDA, A. Criminalidade e interação social. Rio de Janeiro: IPEA, 2003 a.

__________ Criminalidade e desigualdade social no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2003 b.

MERTON, R.K. Social structure and anomie. American Sociological Review, v.3, 1938.

SAMPSON, R.T. Collective regulation of adolescent misbehavior: validation results from eighty Chicago neighborhoods. Journal of Adolescent Research, v.12, 1997.

SAMPSON, R.J. & GROVES, W.B. Community structure and crime: testing social- disorganization theory. American Journal of Sociology, v.94, 1989.

SCHAEFER, GILBERTO JOSÉ & SHIKIDA, PERY F. ASSIS. Economia do crime: elementos teóricos e evidências empíricas. Revista análise econômica, ano 19, n.36, set. 2001

SHIKIDA, CLÁUDIO D. & JÚNIOR, ARI F.A. & SHIKIDA, PERY F.A. A moral importa ? IBmec MG Working paper – WP31, 2005.

SHIKIDA, CLÁUDIO D. & JÚNIOR, ARI F.A. & SHIKIDA, PERY F.A. & BORILLI, SALETE P. Determinantes do comportamento criminoso: um estudo econométrico nas penitenciárias central, estadual e feminina de Piraquara – Paraná. Pesquisas & Debates, São Paulo, Vol. 17, 2006.

SOARES, LUIS EDUARDO & BILL, MV & ATHAYDE, CELSO. Cabeça de porco. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2005.

SUTHERLAND, E.H. Development of the theory. In: SCHUESSLER, K. (ed.) Edwin Sutherland on analyzing crime. [Private Paper published posthoumously]. Chicago, IL: Chicago University Press, 1942/1973 (revised edition)

TREMBLAY, M. & TREMBLAY, P. Social structure, interaction oppurtunities and the direction of violent offenses. Journal of Research in Crime and Delinquency, v.35, 1998.

WARNER, B.D. & PIERCE, L. Reexamining social disorganization theory using calls to the police as a measure of crime. Criminology, v.31, 1993.

Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

1358