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BRUNO TORQUETTI MORAES GUARDA COMUNITÁRIA: Reflexão sobre a melhor Guarda que pode ser oferecida aos munícipes de Belo Horizonte Belo Horizonte Escola Superior Dom Helder Câmara 2007

GUARDA COMUNITÁRIA

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BRUNO TORQUETTI MORAES

GUARDA COMUNITÁRIA: Reflexão sobre a melhor Guarda que pode ser oferecida aos munícipes de Belo Horizo nte

Belo Horizonte Escola Superior Dom Helder Câmara

2007

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BRUNO TORQUETTI MORAES

GUARDA COMUNITÁRIA: Reflexão sobre a melhor Guarda que pode ser oferecida aos munícipes de Belo Horizo nte

Polícia Comunitária

Projeto da Monografia apresentado ao Curso de Pós-Graduação lato sensu em Segurança Pública e Direitos Humanos promovido pela Escola Superior Dom Helder Câmara como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Segurança Pública e Direitos Humanos

Orientador: Prof. Dr. Virgílio de Mattos

Belo Horizonte Escola Superior Dom Helder Câmara

2007

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Ao inestimável Dr. Bezerra de Menezes, Pai Antônio e ao Sr. Exu Zé Pretrinho A humana e justa Dra. Márcia Martini

Ao nobre e leal Major PMMG Ricardo Eustáquio Maia

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AGRADECIMENTOS

Tenho que agradecer a inúmeras pessoas, para que eu possa ficar em tranqüilidade com minha consciência, pois se estas pessoas não houvessem me ajudado dificilmente estaria nesta fase final de monografia. Como não agradecer ao Carlinhos Costa, da Guarda Municipal de Belo Horizonte, que me avisou da inscrição do curso na Dom Helder faltando dois dias para se encerarem as inscrições. Como não agradecer aos professores da banca examinadora que de certa forma depositaram em mim confiança profissional. Como não agradecer a todos os alunos da sala de aula, onde fui tratado sempre com respeito e amizade. Será impossível não lembrar com alegria e saudade dos amigos que lá conquistei, entre eles o agente da PCMG Túlio Tissot e a Ten PMMG Ana Paula de Oliveira como amigos saudosos da sala de aula e a Sgt Bombeiro Militar Claudilene Ferreira, companhia agradabilíssima no ponto de ônibus. Para ser justo teria de dizer o nome de todos os(as) amigos(as). Como o nome da Dra. Márcia Martini (Superintendente de Integração de Política de Direitos Humanos da Subsecretaria de Direitos Humanos na Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais) que desde o primeiro dia conquistou minha admiração e respeito por ser uma pessoa tão importante no cenário estadual e nacional em prol dos Direitos Humanos. Sendo ao mesmo tempo tão simples e prestativa a todas as pessoas que lhe batam a porta do vosso auxílio profissional e humano, sempre respondendo de maneira nobre e justa, amiga e verdadeira, valores lendários, para tal alta posição governamental, da conjuntura atual de nossa realidade Social. Que me ajudou pessoalmente a desenvolver e apresentar um seminário a respeito da utilização da arma de fogo ao Cel PMMG Martinho Comandante da Guarda Municipal. Ao Major PMMG Marcos da Costa Negraes, que me auxiliou na confecção do perfil profissiográfico para a Guarda Municipal de Belo Horizonte o que foi encaminhado ao Secretário da Guarda Cel PMMG Genedempsey Bicalho Cruz. Como também na indicação de nomes relevantes para o seminário mencionado acima. Com saudades lembramos dos queridos amigos Ten Cel PMMG Sérgio Ricardo Bueno, sem sua intervenção operacional a pedido do honrado prof. Dr. Virgílio não estaria aqui. Ao Dr. Delegado PCMG Oswaldo Wermann Junior por sua estima e consideração demonstrada em todas as aulas do curso e, ao verdadeiro Dr. Ricardo Venâncio (Delegado de Polícia Federal), que sempre me incentiva a lutar por aquilo que busco, demonstrando a mim mesmo minhas qualidades latentes. Em suma; são pessoas de altíssima capacidade profissional e ao mesmo tempo possuidoras de humildade e honra. Como não agradecer ao inestimável Gabriel Borges, da Guarda Municipal, que enviou-me materiais pertinentes à Guarda Municipal. Peço perdão se aqui não inclui nem a metade dos nomes daqueles que tenho de agradecer, porém distribuo a todos eles alegria e paz, gratidão e luz do meu coração.

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“A ignorância estabelece o cativeiro, mas a sabedoria oferece a liberdade” (irmão X)

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RESUMO

Guarda Cidadã, Guarda Comunitária, é uma proposta de atuação para as Guardas Civis onde o enfoque de suas atuações é pautado pela prevenção em detrimento do modelo repressivo da criminalidade. Suas ações serão amparadas pela ética e pelos Direitos Humanos. Seu enfoque estará em realizar projetos à infância e adolescência, proporcionando assim a desestruturação da mão de obra do tráfico de drogas, carro chefe da criminalidade e violência nos dias atuais. Interagindo com a comunidade proporcionando bem estar e segurança.

Palavras-chave: Guarda cidadã, comunitária, prevenção, ética, direitos humanos, projetos à infância e adolescência, tráfico, comunidade.

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RESUMEN

Guarde a ciudadano, protector de Communitarian, es una oferta del funcionamiento para los protectores civiles donde está pautado el acercamiento de sus funcionamientos por la prevención en el detrimento del modelo represivo del crimen. Su acción será apoyada por el ética y los derechos humanos. Su acercamiento consistirá en llevar con proyectos a la infancia y a la adolescencia, así proporcionando el desestruturação de la mano de la ejecución del tráfico de drogas, del jefe del coche del crimen y de la violencia en los días actuales. El obrar recíprocamente con la comunidad que proporciona a protector del bienestar y de seguridad.

Palabras claves: Guarde el ciudadano, la prevención communitarian, humana, el ética, las derechas, los proyectos a la infancia y la adolescencia, tráfico, comunidad.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Saltos do Self ....................................................................................... 60

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Próprios a serem Atendidos pela Guarda............................................. 45

TABELA 2 - Visitas Preventivas .............................................................................. 45

TABELA 3 - Número de Intervenções por Regionais de Belo Horizonte .................. 46

TABELA 4 - Média Mensal de Visitas Preventivas .................................................. 46

TABELA 5 - Número de Visitas nos Principais Tipos de Próprios ........................... 47

TABELA 6 - Número de Visitas por Regional .......................................................... 47

TABELA 7 – Principais tipos de intervenções nos Centros de Saúde sendo vítimas

funcionários (2006)................................................................................................... 48

TABELA 8 - Número de Intervenções por Tipicidade .............................................. 49

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Organograma da Guarda Civil de Belo Horizonte.............................. 31

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO _______________________________________ __________ 13

1 A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA____ ____ 16

1.1 PEQUENO RETROSPECTO DA ATUAÇÃO PREVENTIVA______ ________ 16

1.2 ASPECTOS SINGULARES DA ATUAÇÃO PREVENTIVA______ _________ 18

1.3 FATORES IMPORTANTES NA AÇÃO COMUNITÁRIA ________ _________ 20

1.4 PERFIL INTELECTUAL E ÉTICO DO AGENTE COMUNITÁRI O: ROMPENDO “PRÉ-CONCEITOS” ____________________________________ ___________ 23

1.5 PREVENÇÃO COMUNITÁRIA MUITO ALÉM DA PREVENÇÃO D E SEGURANÇA PÚBLICA __________________________________ __________ 26

2 A GUARDA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE _______________ ______ 28

2.1 ESTRUTURAÇÃO GERENCIAL DA GUARDA CIVIL DE BELO HORIZONTE.29

2.1.1 ORGANOGRAMA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SEGURA NÇA URBANA E PATRIMONIAL - SMSEG E DA GUARDA CIVIL DE B ELO HORIZONTE _____________________________________________________ 31

2.2 ATUAÇÕES E ATRIBUIÇÕES DA GUARDA CIVIL DE BELO HORIZONTE_ 32

2.2.1 COMPETÊNCIAS DA GUARDA MUNICIPAL DE BELO HORI ZONTE ____ 32

2.2.2 DEVERES DO GUARDA MUNICIPAL __________________ ___________ 34

2.2.3 OCORRÊNCIAS TÍPICAS_______________________________________ 37

2.3 REGISTROS E ENCAMINHAMENTOS DIVERSOS ____________________ 39

2.4 ATUAÇÃO NOS LOCAIS DE OCORRÊNCIAS______________ __________ 42

2.5 DADOS ESTATÍSTICOS RELEVANTES A RESPEITO DA ATU AÇÃO DA GUARDA CIVIL DE BELO HORIZONTE_____________________ ___________ 44

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2.5. 1. DADOS ESTATÍSTICOS_______________________________________ 44

3 ATIVIDADES DA GUARDA CIDADÃ________________________ _______ 50

3.1 A GUARDA TEM EMBASAMENTO PRÓPRIO PARA SER PREVENTIVA __ 50

3.2 TRABALHOS DE PREVENÇÃO NA PARCERIA DO ACIONAMEN TO PELAS GUARDAS MUNICIPAIS _________________________________ ___________ 52

3.3 CRIAÇÃO DE UMA GERÊNCIA ESPECÍFICA À GUARDA COM UNITÁRIA_ 55

3.4 PREVENÇÃO AO SELF _________________________________________ 57

3.5 POSSIBILIDADES DE AVANÇO_______________________ ____________ 61

3.5.1PREVENÇÃO SÓ SE CONCRETIZA EM PROL DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NUMA VISÃO MAIS APROFUNDADA DO SISTEMA DA CRIMINALIDADE______________________________________ ____________ 62

3.5.2 PROJETOS DESTINADOS PRINCIPALMENTE À INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA E APERFEIÇOAMENTOS INSTITUCIONAIS ESPE CÍFICOS EM PROL DA GUARDA COMUNITÁRIA _________________________ _________ 67

3.5.3 OBJETIVOS DO PROJETO: ________________________ ____________ 69

3.5.4. REQUISITOS ESSENCIAIS_____________________________________ 70

3.6 REFLEXÕES OPORTUNAS ______________________________________ 71

3.6.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA GUARDA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE NO SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA DE MINAS GERAIS ____ _________ 73

3.6.2 A INTERFERÊNCIA POLÍTICA NO ASPECTO DA SEGURANÇA PÚBLICA. AS GUARDAS NÃO DEVERIAM SER MINIS ____________________________ 75

4 CONCLUSÃO _________________________________________________ 76

5 REFERÊNCIAS________________________________________________ 78

6 ANEXO I - SUCINTA HOMENAGEM À ANTIGA GUARDA CIVIL, SAUDADES... ____________________________________________________ 81

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Apresentação

Este trabalho monográfico é resultado final do Curso de Pós-Graduação lato sensu

em Segurança Pública e Direitos Humanos, promovido pela Escola Superior Dom Helder

Câmara, integrando a Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública -RENAESP,

sob acompanhamento e financiamento da Secretaria Nacional de Segurança Pública -

SENASP, Ministério da Justiça; a partir de convênio celebrado em 2006.

As atribuições legais referente às Guardas Civis estão sendo debatidas, podendo

resultar numa ampliação da legalização de suas atribuições já definidas pela Constituição de

1988 no art. 144, § 8º. Em síntese, há na atual conjuntura três âmbitos de possíveis

modificações a serem reformulados. Tais modificações ainda se encontram em trâmite no

Poder Legislativo Federal.

O primeiro e o mais irrelevante aspecto seria que as Guardas se configurassem única

e exclusivamente na proteção do patrimônio público, uma espécie de vigilantes concursados.

Essa é a única função realmente legalizada com amparo Federal no momento, para a atuação

das Guardas Municipais e desta forma assim continuaria sem maior modificação e relevância.

A segunda direção na qual a Guarda Civil está se delineando é para uma espécie de

mini PM. Possui uma característica comum, onde todos os seus comandantes são ex-oficiais

das Polícias Militares, e se pauta por um trabalho ostensivo, regidos pela disciplina e

hierarquização das atribuições internas. Dentro desta opção haveria uma sub-opção sendo um

misto entre vigilante concursado e mini PMs.

Nesta opção, haveria várias implicações negativas em sua operacionalização, que

denotaria do prejuízo a uma reformulação constitucional. Implicariam em grande dificuldade

na definição de quais seriam as atribuições próprias às Guardas Civis, sem que sobrepusesse

às atribuições dos órgãos de segurança públicos já constituídos. Em suma; representaria uma

celeuma entre atribuições e instituições policiais.

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Na terceira e última opção, as Guardas Civis teriam uma característica Comunitária.

Esta opção estaria pautada numa fundamentação filosófica sobre as polícias comunitárias de

todo o mundo. Tais experiências demonstram que os órgãos de segurança pública possuem

maior eficácia quando mais articulados e integrados com a comunidade, possibilitando um

trabalho focado na prevenção da criminalidade e não sobre o sistema da reatividade ao crime.

Analisaremos que a terceira opção, ou seja, a da Guarda Comunitária, é uma opção

mais segura e eficiente, além de moderna. Haveria, por certo, desvantagens por se tratar de

um desafio a ser travado e construído, onde erros e tentativas estariam muito próximos, porém

a Guarda Cidadã resultaria em muitas vantagens na operacionalidade da segurança.

Teríamos uma confluência institucional saudável entre as instituições encarregadas

da segurança pública. Estas não entrariam em conflitos referentes à área de atuação, e

atribuições específicas. Pelo contrário estariam integradas em suas atuações, respeitando suas

particularidades. Diminuiria a burocratização sobre a referida segunda opção. A partir das

próprias deficiências do modelo reativo de polícia, se configuraria em prol da prevenção. A

prevenção com Direitos Humanos seria o perfil da atuação da Guarda Comunitária, Guarda

Cidadã.

A sociedade teria mais um órgão de segurança que diagnosticaria suas demandas

sociais interdisciplinarmente com a segurança pública de cada localidade. Um trabalho que

analisasse as deficiências de cada aglomerado, de cada região nobre, e estaria buscando a

resolução, ou melhor, a diminuição dos indices de criminalidade não apenas num âmbito

patrimonial, mas também de uma forma geral.

Neste intuito realizasse a presente monografia, para ser mais uma semente no

objetivo de demonstrar o benefício do trabalho preventivo, aumentando a colheita de

aprimoramento e eficiência na área da Segurança Pública Municipal.

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Este trabalho irá traçar, no primeiro capítulo, alguns apontamentos sobre a

importância da sistematização organizacional e operacional do trabalho preventivo. No

segundo capítulo, iremos abordar atribuições e atividades realizadas pela Guarda Municipal

de Belo Horizonte, constatando que a Guarda belo horizontina já realiza um trabalho de certa

forma preventivo. No terceiro e último capítulo, iremos apontar alguns pontos que irão

aprimorar a atuação preventiva da Guarda Municipal, principalmente no que se refere aos

projetos a serem desenvolvidos na área da infância e adolescência.

É necessário propormos, ações que abrandem os conflitos e minorarem as

deficiências da segurança para beneficiarmos mais amplamente os munícipes. Tais ações

devem ser desenvolvidas juntamente com as forças policiais já constituídas, não se tornando

mais uma força policial, mas um órgão de auxílio aos demais já instituídos legalmente para

desempenhar tais atribuições.

A Guarda Municipal de Belo Horizonte não usa armas, usa o diálogo; não utiliza

a intimidação, utiliza de energia com nobreza; e assim deve continuar e ser lapidada. Desde o

candidato à Guarda Municipal, passando pelo curso de formação, avançando em

aprimoramentos periódicos e sistemáticos durante sua atuação pública, até o dia de sua

aposentaria nesta profissão ímpar. Mesmo que a Guarda use a arma letal (que será provável,

porém não em todas as atribuições e locais de atuação) o seu foco não será jamais esta arma, e

sim a competência do potencial humano que esta na ponta da linha, manejando tais

instrumentos.

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1 A importância da Prevenção em Segurança Pública

1.1 Pequeno retrospecto da atuação preventiva

Torna-se extremamente importante ampliar ao máximo o que venha a ser atuar de

forma preventiva. É exatamente este o embasamento do título do presente trabalho

acadêmico. Para isso é preciso rever algumas atuações, planos e metas desenvolvidas na

atuação de segurança pública junto à sociedade de cunho preventivo e integrado. Para tal

recorte nos inspiramos nas páginas do livro: A Síndrome da Rainha Vermelha de autoria de

Marcos Rolim e outras anotações.

No Japão que prima por atuações distritais, localizadas, ou seja, de forma muito

próxima das guardas municipais, o agente de segurança pública conhece em detalhes a

comunidade em que está inserido, pois vive e convive com os seus moradores. Fica à

disposição de tal comunidade, evitando e contornando situações que, se não tivessem sua

intervenção, poderiam alcançar um patamar bem mais sério, que nos meios policias

denominamos de crises de alta complexidade.

Nos Estados Unidos, o pensamento de policiamento comunitário está constituído

com tamanho destaque que criaram a Lei Criminal, em 1994, visando arrecadar fundos para a

contratação de 100 mil policiais voltados à atuação comunitária.

Nos relatórios da polícia da Irlanda do Norte, uma das mais importantes

recomendações é que a atuação policial deva ser pautada no viés comunitário.

Na Noruega, há vários documentos valorizando a atuação do policiamento

comunitário. Como também na Dinamarca, Suécia, Finlândia, Inglaterra. A Polícia Montada

do Canadá é ganhadora de vários prêmios internacionais como polícia cumpridora dos

Direitos Humanos e de cunho comunitário. Em Cingapura, que realiza-se a intervenção

comunitária de forma integral para toda a rede policial, e não apenas isoladamente em um

setor ou numa guarnição. Como podemos observar, esta nova abordagem policial é parecida

com uma corrente quântica, ou seja, todo o mundo, em todos os lugares, começa a pensar e

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direcionar seus esforços na mesma direção e no mesmo objetivo; o modelo reativo perde o

foco em relação ao modelo preventivo. Cada localidade, ao seu tempo, com ações e estudos

não permite o retrocesso na discussão em prol de uma segurança com mais eficiência e

humanidade. A visão comunitária consegue conceber segurança pública de forma holística em

todos os âmbitos heterogêneos interligados de uma sociedade capitalista com todos seus

meandros. O Brasil segue a mesma direção.

Poderemos dizer que este pensamento de atuação junto às comunidades de cunho

preventivo inseriu-se nos debates brasileiros por volta de 1980, principalmente com a

Constituição Federal de 1988, no seu artigo 144 onde se lê:

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:.” (grifos nossos).

As polícias mineiras, em especial a militar, têm realizado verdadeiras conquistas,

inovações e, de certa forma, constituindo como grande vanguardista em ações de cunho

preventivo, perpassando suas estratégias desde a formação dos encarregados de segurança

publica até a atuação na ponta linha com a sociedade.

Sabemos que a lei e suas normas primárias e secundárias, nos requisitos

normativos e valorativos, que dela derivam, muito antes de serem constituídas na

materialidade, elas já ocorrem de grande forma nas mentes das pessoas. Tais pessoas as vêem

com antecipação, e de certo modo direcionam os legisladores a materializarem-nas anos antes

em diversos âmbitos da sociedade, e no critério de segurança pública não é diferente.

Ressaltamos que todos os avanços realizados nas polícias do Brasil, em grande escala partem

dos próprios policiais como expressa Marcos Rolim:

“Na maior parte das vezes, os esforços em favor do policiamento comunitário em nosso país estão diretamente vinculados ao papel desempenhado por alguns policiais, (...) que têm procurado, sem qualquer apoio governamental, desenvolver novas abordagens de policiamento a partir de crítica ao “modelo reativo”.” (ROLIM, 2006, p.68).

As Guardas Civis não são exceções, também seguem a mesma cartilha de

construção e expansão de seus potenciais. A questão é que ainda os legisladores não

especificaram quais seriam as atribuições das Guardas Civis detidamente, retirando toda a

celeuma interpretativa do vácuo legal, como diria Soares:

“O fato é que, hoje, no Brasil, a segurança municipal, em função das ambigüidades que caracterizam as Guardas Civis, encontram-se numa espécie de vácuo legal, cercada e perplexidade e de iniciativas que oscilam entre a criatividade promissora e a réplica do pior que nosso passado nos legou em matéria policial.” (SOARES, 2006, p.104).

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1.2 Aspectos singulares da atuação preventiva

Podemos perceber que vários teóricos, estudiosos e operadores chegaram à

conclusão que segurança pública só se faz com eficiência em parceria com a própria

comunidade e de cunho preventivo.

“Uma força policial que não troca idéias com a população na poderá ser

eficiente”(Scarman, 1982).

“A polícia é o público e o público é a polícia” (Robert Peel)

“O maior erro da história do policiamento moderno foi o de ter dado às polícias a

responsabilidade plena pela segurança; pela simples razão de que as organizações

policiais não podem, por melhor que sejam, produzir, elas próprias, uma resposta

satisfatória”. (Rosenbaum, 2002.p.39).

“A primeira coisa para se entender é que paz pública das cidades – a paz nas

calçadas e nas ruas – não é mantida pelas policias, mesmo que elas sejam

necessárias. É mantida, em primeiro lugar, por uma rede intricada e quase

inconsciente de controles e padrões voluntários entre as próprias pessoas, que elas

próprias se encarregam de fazer com que sejam cumpridas.”(Jacobs, 2002).

Nesta construção de parceria e entrosamento entre comunidade e policiamento

comunitário é imprescindível varias ações na estruturação da atuação policial. Podemos

destacar algumas:

- Maior empenho no patrulhamento a pé, o que favorecerá a construção do vinculo

de confiança e amizade, resultando na diminuição de chamados ao serviço 190, como foi

verificado em Flint, Michigan segundo Trojanowicz, 1983 e expressado por Rolim (2006,

p.80).

- Descentralização dos serviços policiais, como minidelegacias ou postos policiais,

favorecendo pontos de referência à população e ao mesmo tempo constituindo postos

logísticos à patrulha.

- O agente comunitário terá uma atribuição específica de coleta de informações

para a prevenção de crimes, num trabalho de inteligência preventiva. Tudo aquilo que saia da

normalidade da comunidade de sua atuação é matéria de pesquisa.

- Este trabalho será feito em parceria com todos os demais órgãos de poder da

comunidade em questão, constituindo uma corrente entre setores do Estado, instituições não

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governamentais, empresários e entidades da sociedade civil, como associações e lideranças de

bairros.

Tais estratégias de segurança comunitária devem ter sempre um foco determinado:

aprimorar a imagem, confiança e respaldo destes órgãos em relação à própria comunidade, e

para isso ser possível a legitimidade destas ações. Segundo Rolim é preciso seguir três

aspectos:

“1) faz aceitar sua autoridade, inclusive o uso da força; 2) oferece respostas aos usuários nos diversos serviços que presta; 3) está próxima à população e não parece uma força estranha a ela.”( Rolim, p. 83, 2006).

Estas ações estratégicas serão, a cada dia, aprimoradas pelos próprios agentes de

segurança pública, gerando no cidadão um sentimento de aquisição da polícia para si

mesmo(a), um sentimento de que tais órgãos estão realmente aos seus préstimos.

Podemos aprofundar nossas reflexões sobre as ações singulares na atuação

preventiva segundo o periódico da própria Polícia Militar de MG intitulado: A filosofia de

Polícia Comunitária na Polícia Militar de Minas Gerais. Diretriz para a produção de serviços

de Segurança Pública nº04/2.002 – CG de dezembro de 2002, (para citação será referido

como Filosofia) na qual faremos vários recortes, apontando os seguintes:

“a) ouvir a todos indistintamente (principalmente os mais críticos); b) neutralizar grupos específicos que querem obter privilégios da ação policial; c) compartilhar informações com a comunidade, transformando-as em ações preventivas e educativas. Quando o assunto exigir sigilo explicar o motivo, demonstrando a sua importância para a segurança da própria comunidade; d) “os parceiros da polícia” não são apenas as pessoas com posse ou ascendência na comunidade, mas todos: do mais humilde ao mais culto. Portanto, estimular a participação de todos é importante no processo porque promove confiança e respeito; e) demonstrar e discutir os erros com a comunidade, pode propiciar a evolução e interesse na integração. Devemos lembrar que a instituição policial é constituída por pessoas, cidadãos que também tem interesses sociais; f) ao cobrar ações e fornecer informações a polícia, a comunidade, seus líderes e os conselhos representativos devem observar o bem comum (o coletivo); Interesses eleitoreiros ou político-partidários não combinam com polícia comunitária que deve ser polícia, apartidária e não ideológica. (Filosofia, p.17, 2002). Grifos nossos.

Podemos perceber com clareza que na atuação do policiamento comunitário não

há espaço para preconceitos e muito menos para trocas de influência, o que compromete o

senso de nobreza e justiça da instituição.

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1.3 Fatores importantes na ação comunitária

São os seguintes os aspectos sobre os quais o policial comunitário ou agente

comunitário deve sempre se empenhar:

“a) estreitar os laços com a comunidade local no intuito de conquistar sua confiança e, consequentemente passar a receber informações que refletirão diretamente em uma melhoria na prestação do serviço policial; b) no contato com a comunidade local, tentar conscientizá-la sobre a responsabilidade de cada um na prevenção indireta dos ilícitos; c) transmitir orientações ao cidadão, de forma a despertar o espírito de cidadania; d) zelar constantemente pelo bem estar e qualidade de vida da comunidade local; e) despertar no cidadão o interesse pela solução em conjunto, através da ajuda mútua frente aos problemas comuns; f) instruir a população sobre os seus direitos sobre cidadão e como acionar o poder público para solução de seus problemas e da coletividade; g) incentivar a participação da comunidade local nas atividades cívicas, culturais e sociais; h) desenvolver atividades de cidadania, voltadas para a comunidade, principalmente infantil e juvenil, tendo como premissa contribuir para a formação do cidadão do futuro;” (Filosofia, p.23, 2002). Grifos nossos.

Com certeza, o grande foco da prevenção é a infância e juventude, remetendo-nos a

um trabalho não esporádico ou sazonal, mas constante e ininterrupto.

“i) lembre-se que a polícia comunitária não se executa somente com viaturas sendo muitas vezes mais eficaz, quando efetuado a pé, ou mesmo, com motonetas em lugares planos e de clima ameno, de bicicleta. A proximidade física com a comunidade, estreita os laços; j) registrar os nomes das pessoas contatadas durante o desenvolvimento da polícia comunitária, os quais deverão ser relacionados e controlados pelo policiamento local, visto tratarem-se de aliados em potencial ao sistema; k) enviar todos os seus esforços para conhecer a rotina de seu setor de trabalho, aprimorando-se para chamar as pessoas pelo nome, criando um vínculo de amizade e respeito mútuo. (Lembre-se, evite apelidos, até o cachorro gosta de ser chamado pelo nome);” (Filosofia, p.23, 2002). Grifos nossos.

No aspecto do policiamento a pé já nos referimos no estudo de Trojanowicz,

possibilitando a criação deste vínculo de amizade e respeito.

“l) convidar a comunidade local para participar das reuniões comunitárias e conhecer o policiamento e sua área de atuação; m) conhecer as forças vivas de sua comunidade local, principalmente os presidentes de associação de moradores, Lions, Rotary, maçonaria, clubes de serviços, etc; os quais são importantes fontes de informações em decorrência de suas reprentatividades;

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n) tratar o cidadão como um aliado, exercitando-se para dele se aproximar para “quebrar o gelo”. Lembre-se que antes de ser um policial militar, você também é um cidadão; o) tratar os pequenos delitos com a sua importância devida. Às vezes, o pequeno delito é o que realmente afligi a comunidade local; p) nos locais onde houver incidência de furto ou outros delitos efetuar pequenas reuniões com a comunidade para orientá-la e mantê-la vigilante para acionar a polícia corretamente; as pessoas comuns muitas vezes não desconfiam e não sabem evitar os delitos, desta forma o policial estará desenvolvendo a mútua colaboração; q) utilizar pequenos espaços de reuniões das igrejas, Lions, Rotary, maçonarias, clubes de serviços, câmara municipal, associações de bairros e outros, para divulgar e prestar contas dos serviços que vem desenvolvendo, tudo de comum acordo entre o Cmt dos postos de policiamento comunitário e o responsável pelos órgãos, evitando sempre se tornar inconveniente em razão do tempo;” (Filosofia, p.24, 2002). Grifos nossos.

Podemos constatar um fator crucial nos aspectos a serem observados pelo agente

comunitário. Ele deve ser desprovido de “pré-conceitos”. Em suma tal perfil profissional deva

estar muito acima dos valores éticos da comunidade em qual convivemos atualmente. Por

isso, o critério de formação deste agente deve ser diferenciado e aprimorado constantemente.

Além de se reunir com a comunidade pedindo auxílio em sua função, o agente

comunitário, também deve prestar contas a ela, ou seja, demonstrar que tais auxílios estão

dando bons frutos, o que não deixa de ser um incentivo na continuação e fortalecimento do

auxílio da comunidade.

“r) atentar para os eventos que ocorrem na sua área ou estão programados, para se mostrar presente e preocupado com a segurança dos freqüentadores e de seus veículos, tudo dentro das normas da corporação; s) nas entrevistas e participações nas reuniões sempre agradecer a participação da comunidade nunca divulgar a fonte da informação que redundou em prisões, etc; t) evitar que as pessoas denunciem traficantes e outros criminosos publicamente em reuniões. O ideal é ter uma a uma, garantindo o anonimato nas reuniões, urnas essas que poderão ser espalhadas nos locais de freqüência do público, como bancos, correios, postos e gasolinas e serem recolhidas às mensagens pelo Cmt de base, com posterior resposta aos cidadãos; u) a grande vantagem do policial comunitário é que dada a confiança as denúncias não são anônimas “baseada na confiança e na segurança da fonte”. Isto impede que pessoas ligadas a traficantes e outros delitos fiquem telefonando de orelhões anonimamente e desgastando a polícia para correr de um lado para o outro com contra informação;” (Filosofia, p.24, 2002). Grifos nossos.

Podemos destacar neste recorte o senso elevado de organização e grupos do agente

comunitário. Tal agente deve ser possuidor de uma dinâmica grupal que proporcione e

intercale atitudes de um líder facilitador e de um membro participante. Em suma, o agente

comunitário requer treinamento constante em relacionamentos grupais; deve ter uma perícia

técnica equiparada à de um psicólogo de grupo ou um sociólogo grupal.

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Neste último recorte, também podemos pensar que se trata de algo muito perigoso e

delicado; pois poderia estimular um denuncismo sistemático, o que acarretaria em muitos

prejuízos na relação de confiança e seriedade da atuação do policial comunitário. Perderia o

foco de prevenção integrada com a sociedade para uma espécie de repressão disfarçada e

dissimulada. A intervenção policial perderia sua filosofia de uma prevenção prudente para

uma filosofia do dedo duro. Recorte este que não podemos concordar para a Guarda

Comunitária.

“v) na estrada e saída das escolas, procure se fazer presente com sorriso para as crianças, distribua carinho e respeito, não fique isolado. Converse com os pais, procure para falar de seu trabalho com orgulho; x) evite falar das ocorrências mais graves ou de vulto, a menos que seja perguntado, pois estas causam medo e insegurança à população; y) colher sempre informações para abordar as pessoas que precisam ser abordadas para estas informações para outros patrulheiros que não estão na polícia comunitária, para que eles também possam acertar o alvo correto, sem desgastar desnecessariamente a imagem da polícia, as que dependem de obtenção de dados transmiti-las ao policiamento velado para registro e acompanhamento, que dependendo da gravidade atuarão em conjunto com as forças táticas e outras, lembrando que hoje o cidadão quer se sentir seguro, mas não gosta de ser molestado;” (Filosofia, p.24-25, 2002). Grifos nossos.

Tais atitudes, à primeira vista, parecem insignificantes e totalmente

despretensiosas. Porém, com um olhar mais cauteloso poderemos observar grandes mudanças

no aspecto de respeito, confiança, boa estima e consideração relacionadas ao agente

comunitário.

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23

1.4 Perfil intelectual e ético do agente comunitári o: rompendo “pré-conceitos”

O perfil do agente de segurança comunitário é um perfil diferenciado em vários

aspectos. Sua atuação eficiente só se verifica quando a norma diária é pautada pelo

cumprimento dos Direitos Humanos.

Quando nos referimos a Direitos Humanos, reportamo-nos aos conceitos contidos

na Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH, que foi adotada pela ONU em 10 de

dezembro de 1948. É exatamente sobre os conceitos expressos na DUDH, que se funda o

perfil do agente e guarda comunitário. É inconcebível que tais profissionais insistam em ações

fundamentadas em preconceitos, pois os pré conceitos induzem a erros catastróficos.

Preconceitos que se fazem presentes contra os próprios agentes de segurança pública.

Podemos constatar que policiais militares e civis são preconcebidos como torturadores,

truculentos, ignorantes, corruptos. Há pessoas que quando estão a conversar com um policial

num colóquio de grande teor acadêmico e ético, ao saberem que seu interlocutor é policial

dizem, sem conter a estupefação: Mas você é um policial? como pode?, coitado(a), está

desperdiçado(a). São preconceitos instituídos na geração ainda vigente, construídos na

geração anterior. Segundo Platão, o tempo para se desconstruir uma idéia acrisolada no ser é

de um tempo e meio para sua construção. Como só temos cerca de 22 anos depois período

ditadura, falta cerca de 10 anos para reais mudanças.

Sabemos que a policia civil possui no seu corpo profissiográfico vários

profissionais com formação superior, pós graduação, com mestrado e/ou doutorado e não nos

referimos aos chefes de seções administrativas e sim a escrivães, agentes investigadores,

delegados e peritos, ou seja a ponta da linha... Com muita tranqüilidade podemos encontrar o

mesmo na Policia Militar. São soldados, cabos, sargentos, sem precisarmos nos alongarmos

nas incríveis e ilógicas 16 hierarquias militares, que possuem cursos e mais cursos inclusive

na área de Direitos Humanos.

Em suma, o preconceito é visível nos dois lados da moeda, tanto por parte dos

responsáveis pela segurança pública quanto dos tutelares dos direitos humanos, e do poder

judiciário, e estão sendo desconstruídos a cada ano, a peso de trabalho e profissionalismo.

Pontuamos tal aspecto, por um motivo muito simples, como realizar verdadeiramente uma

Page 24: GUARDA COMUNITÁRIA

24

ação de segurança comunitária que em seu fundamento básico necessita da integração das

comunidades e dos demais órgãos do Estado se entre estes órgãos ainda há visões pré-

concebidas de caráter discriminatório?

Na própria Guarda Municipal, também se constata um grande número de

funcionários com cursos superiores completos, e há dezenas que estão em plena graduação

universitária. Inclusive em áreas correlatas à segurança pública como direito, administração,

pedagogia, psicologia, sociologia, filosofia, história, e muitas outras, mesmo que no edital de

seleção cobre-se apenas o 1º grau completo (antiga 8ª serie) dificilmente encontraremos

guardas com apenas a 8ª série.

O Guarda comunitário deve se pautar sempre pelo diálogo, por raciocínio rápido,

pelo bom senso, pelo carisma incontestável. Os agentes de segurança pública, atualmente, em

suas atividades diárias, são muito mais pedagogos, conciliadores de conflitos do que

propriamente repressivos, ou cumpridores e aplicadores da teoria do direito puro, como diria

Hans Kelsen. Muitas ocorrências são resolvidas ou estabilizadas com um simples sorriso de

empatia, com um simples dizer “Em que posso ajudar meu(minha) irmão (ã).” Quem não

sabe dessa realidade é convidado a passar uma semana na rua na prática ostensiva de qualquer

órgão de segurança pública de Belo Horizonte e aproveitar a oportunidade para rever

conceitos, ou melhor, seus pre-conceitos.

“Esse policial estará permanentemente em contato com a comunidade e deverá ser respeitado pelos moradores. Isso é muito diferente de ser temido por eles.”(Rolim, p. 80, 2006).

Não apenas o perfil do agente comunitário é diferenciado como sugere Braiden,

mas até a sua formação e o próprio recrutamento, ratificando Rolim.

“Uma estratégia e PC deve evitar tanto a ausência de controle quanto a falta de criatividade. O policial comunitário terá seu espaço de discricionariedade aumentado. Para todos os efeitos, é como se seu mandato fosse ‘alargado’. Caberá a ele, diariamente, tomar decisões que, no modelo tradicional, não seriam de sua alçada” (Braiden, 1992). “Assim, o policial comunitário deverá, necessariamente, gozar de um novo status. Isso exige uma nova preparação, uma formação de outro tipo e, especialmente, critérios distintos de recrutamento.”(Rolim, p. 80, 2006).

Indo além deste aspecto, é possível ver com clareza a importância do apoio dos

supervisores hierárquicos sobre o agente comunitário que trabalha diretamente com a

comunidade, como forma de manter um diálogo diferencial a ponto de terem uma liberdade

Page 25: GUARDA COMUNITÁRIA

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maior em suas ações e ao mesmo tempo não serem vistos como insubordinados aos seus

superiores.

“O que pressupõem, também, uma mudança no papel dos administradores e oficiais superiores. Em vez de comandarem cada ação, dominando-as por completo com suas instruções, deverão cumprir um papel de orientadores, certificando-se de que os policiais da patrulha tenham o apoio necessário para implementar as medida que vão formulando em conjunto com a comunidade.” .”(Rolim, p. 82, 2006).

Em suma, o Guarda Comunitário deve sempre pautar em seus atos pela

tolerância, encontrando no profissionalismo a eficiência talhada pelo respeito e vivenciando

em todas as ações a coerência com os Direitos Humanos.

Page 26: GUARDA COMUNITÁRIA

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1.5 Prevenção comunitária muito além da prevenção d e segurança pública

Atuações comunitárias de cunho integrado, em Belo Horizonte, está se

configurando de forma mais sistemática e mensurável através dos órgãos do sistema de

defesa social integrados, em busca de soluções mais práticas e reais.

É fácil chegar à conclusão de que segurança pública não é caso de polícia, não é

restrito apenas à atuação de órgãos policiais, mas infelizmente, no Brasil, ainda se vê em

grandes aglomerados as polícias sendo os únicos órgãos do Estado a “subir o morro”.

É imprescindível a integração de todos os órgãos e comunidades, de forma a

proporcionar políticas públicas de qualidade e transparência, nas ações. Se assim não ocorrer

haverá descrédito o Estado, desde a destinação do dinheiro público até a falta de respeito nos

momentos mais difíceis da vida o cidadão (saúde, alimentação escola).

Podemos analisar que se o cidadão não conta com uma rede escolar de qualidade

para si mesmo e para seus filhos; não teve condições básicas de subsistência: água,

alimentação, saneamento básico, luz elétrica, serviços de telefonia, isso gera uma constante

humilhação ao seu self, um sentimento de um zero a esquerda na rede social, proporcionando

a este cidadão indiferença social, recrudescimento de valores morais, culminando em revolta,

para si próprio ou para outrem. Este desenvolvimento sistemático de inutilidade causa

verdadeiros germes nefastos na psiquê humana, ocasionando violência externa (assaltos e

inclusão na empresa do tráfico de drogas) ou violência interna (suicídios e lares

desestruturados). Materializam-se no aumento da criminalidade, fortalecendo um ciclo

vicioso pautado pelo descaso do Estado e perda de valores éticos sociais. Nas palavras de

Martin Luter King jr. “privar um homem de emprego na sociedade em que vivemos equivale

a assassiná-lo psicologicamente”. Sem ter uma fonte de renda, que possibilite a manutenção

da família, tudo o mais é apenas discurso político e em nada melhora a situação dos guetos e

da criminalidade.

“Sem esse reconhecimento terminaremos com soluções que não resolvem, respostas que não respondem e explicações que não explicam” (King, p.151, 2006).

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O Estado Democrático de Direito tem que ser uma realidade e não apenas uma

fachada, com grande teor de verniz social, em madeira putrefada, como diria o célebre

pensador e escritor francês Michael Foucault no seu livro Vigiar e Punir. Vigiar e punir os

mais pobres e deserdados do Estado, utilizando o próprio Estado como máquina perversa e

hipócrita.

Em suma, Segurança pública é caso de todos os órgãos do Estado Democrático de

Direito e de toda a comunidade, não apenas de polícia, por mais preventiva que esta possa se

pautar em suas estratégias operacionais.

“Compete ao poder público (Federal, Estadual e Municipal) incentivar e promover os modos desta articulação fazer-se de forma produtiva, posto que, agindo automaticamente essas comunidades poderão sucumbir à tentação de querer substituir o Estado no uso da força, acarretando o surgimento de grupos de justiçamentos clandestinos e a proliferação de calúnia, da difamação e da delação.” (SILVA, 1990).

Somente depois de todas essas condições estabelecidas numa sociedade dita

civilizada é que entraria a questão policial que tem que ser de cunho humano e eficiente,

gerando respeitabilidade e confiança na população.

Entende-se com isso duas coisas, em primeiro lugar que as atividades básicas do

Estado expressas na Constituição Federal, em seu artigo 5º, é vital para não haja

desenvolvimentos de patologias psíquicas de cunho anti-social não seno preciso adentrar em

patologias físicas, pois tais sonegações de serviços públicos resultarão muito além do que os

parcos recursos visuais podem alcançar em seus campos restritos de visão direta. Em segundo

lugar, é preciso reconhecer que os órgãos de segurança pública estão realizando esforços e

conquistas sobre-humanos em relação a outras instituições. Mas esse pensamento não se faz

para cruzarmos os braços, já que está se fazendo muito mais que em outros órgãos, e sim para

seguirmos em frente, confiando no potencial de sua guarnição de serviço em prol da cidadania

da nação brasileira.

A Guarda Municipal entraria nesse âmbito junto aos demais órgãos de segurança

onde realizaria atribuições vinculadas ao engrandecimento social. No item seguinte,

entraremos em maiores detalhes sobre a integração da Guarda Municipal e a importância de

uma cadeira para ela junto ao Sistema Integrado de Defesa Social.

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2 A Guarda Municipal de Belo Horizonte

A Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte realiza ações amparadas legalmente

nos três âmbitos legisladores do nosso Estado Democrático de Direito; nos âmbitos Federal,

Estadual e Municipal. No âmbito Federal, na Constituição Federal de 1988, art. 144, § 8º; no

âmbito Estadual, na Constituição Estadual, art. 138; no âmbito Municipal, na Lei nº 8.486, de

20 janeiro de 2003, na Lei nº 9.011, de 01 janeiro de 2005, e no Estatuto da Guarda Municipal

Lei de n. 9.319 de 19 de Janeiro de 2007.

A Guarda Municipal de Belo Horizonte foi criada em 20 de janeiro de 2003,

completando recentemente 4 anos de criação. Formou sua primeira turma em 29 de dezembro

de 2003, com efetivo de 276 guardas, reservistas do Exército e da Aeronáutica do Brasil,

começando a atuar operativamente em 31 de dezembro de 2003.

A Guarda Municipal consta atualmente com cerca de 1200 guardas, sendo 250 não

concursados, e tem como objetivo alcançar a meta de 3000 guardas concursados até 2008.

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2.1 Estruturação Gerencial da Guarda Civil de Belo Horizonte.

A estruturação formação e modo de atuação da Guarda Civil de Belo Horizonte têm

servido de modelos para outras cidades, de Minas e Brasil. O Decreto de nº 12.639 de 23 de

fevereiro de 2007, em seus art. 2º ao 4º, dispõe que a Secretaria Municipal de Segurança

Urbana e Patrimonial - SMSEG, está estruturada em gerências, escalonadas em até três

subníveis. São eles:

Art. 2º - As gerências e os demais subníveis da Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Patrimonial são os seguintes: I - Gerência de Pesquisas, de 1º nível; II - Gerência de Projetos, de 1º nível; III - Gerência de Programas Setoriais, de 1º nível; IV - Gerência de Relações Institucionais, de 1º nível; V - Gerência Administrativo-Financeira, de 1º nível: V.1 - Gerência de Recursos Humanos, de 2º nível: V.1.1 - Gerência de Controle de Pessoal, de 3º nível; V.2 - Gerência de Controle Orçamentário e Financeiro, de 2º nível; V.3 - Gerência de Serviços Gerais, de 2º nível; V.4 - Gerência de Logística Operacional, de 2º nível; VI - Gerência de Saúde e Trabalho, de 1º nível; VII - Gerência de Atividades Culturais e Educação Continuada, de 1º nível: VII.1 - Gerência de Qualificação Profissional, de 2º nível; VII.2 - Gerência de Atividades Musicais, de 2º nível. Art. 3º - As gerências e os demais subníveis da Guarda Municipal de Belo Horizonte são os seguintes: I - Gerência de Execução Operacional, de 1º nível: I.1 - Gerência de Atividades Especiais I, de 2º nível; I.2 - Gerência de Atividades Especiais II, de 2º nível; I.3 - Gerência da Coordenação Operacional, de 2º nível; I.4 - Gerência de Suporte Regional I - Regionais Pampulha, Venda Nova e Norte, de 2º nível; I.5 - Gerência de Suporte Regional II - Regionais Pampulha, Venda Nova e Norte, de 2º nível; I.6 - Gerência de Suporte Regional I - Regionais Noroeste, Oeste e Barreiro, de 2º nível; I.7 - Gerência de Suporte Regional II - Regionais Noroeste, Oeste e Barreiro, de 2º nível; I.8 - Gerência de Suporte Regional I - Regionais Centro-Sul, Leste e Nordeste, de 2º nível; I.9 - Gerência de Suporte Regional II - Regionais Centro-Sul, Leste e Nordeste, de 2º nível; II - Gerência de Controle Institucional, de 1º nível: II.1 - Gerência de Inteligência, de 2º nível: II.1.1 - Gerência de Documentos e Arquivos, de 3º nível;

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II.1.2 - Gerência de Segurança Interna, de 3º nível; II.1.3 - Gerência de Defesa Urbana, de 3º nível; II.1.4 - Gerência de Apoio Técnico, de 3º nível; III - Gerência Técnico-Operacional, de 1º nível: III.1 - Gerência de Análise Operacional, de 2º nível; III.2 - Gerência de Estatística, de 2º nível; III.3 - Gerência de Segurança Física, de 2º nível: III.3.1 - Gerência de Segurança Patrimonial, de 3º nível. Art. 4º - As gerências e os demais subníveis da Corregedoria da Guarda Municipal de Belo Horizonte são as seguintes: I - Gerência Administrativa e de Atividades Correicionais, de 1º nível: I.1 - Gerência de Feitos Correicionais, de 2º nível: I.1.1 - Gerência de Desenvolvimento de Feitos, de 3º nível; I.1.2 - Gerência de Registro e Arquivo de Feitos, de 3º nível; II - Gerência Correicional, de 1º nível: II.1 - Gerência de Desenvolvimento Correcional, de 2º nível: II.1.1 - Gerência de Suporte Correicional , de 3º nível; II.2 - Gerência de Assuntos Internos, de 2º nível.

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2.1.1 Organograma da Secretaria Municipal de Segura nça Urbana e Patrimonial - SMSEG e da Guarda Civil de Belo Horiz onte

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2.2 Atuações e atribuições da Guarda Civil de Belo Horizonte

As atribuições da Guarda Municipal de Belo Horizonte são definidas pela Lei n.º

8486, de 20 de janeiro e 2003.

2.2.1 Competências da Guarda Municipal de Belo Hori zonte

- Proteção aos bens e instalações do patrimônio público de Belo Horizonte;

- Serviços de vigilância de portaria das administrações direta e indireta;

- Auxiliar nas ações de defesa civil sempre que em risco de bens, serviços e instalações

municipais e, em situações excepcionais a critério do Prefeito;

- Auxiliar permanentemente o exercício da fiscalização municipal, sempre que estiver em

risco bens, serviços e instalações municipais e, temporariamente, diante de situações

excepcionais, a critério do Prefeito;

- Manter a guarda e a segurança dos materiais, prédios e serviços públicos municipais de

conformidade com os planos e ordens emanados do seu comando;

- Prevenir a ocorrência de crimes e contravenções em sintonia com órgãos policiais

componentes e de acordo com os planos e ordens;

- Proteger a vida e as instalações sob sua responsabilidade;

- Prestar os primeiros socorros às vítimas de acidentes ocorridos em sua área ou setor de

atuação;

- Manter permanente ligação com seu imediato e com os companheiros de serviço;

- Reprimir 1 desordens e agitações na sua área ou setor, de atribuição;

_______________________________________

1. Na palavra reprimir destacada acima, poderíamos entender que a palavra prevenir

entraria em total consonância sem alterar o sentido prático deste tipo de ocorrência e pelo

contrário demonstraria maior tirocínio, bom senso, e inteligência.

Page 33: GUARDA COMUNITÁRIA

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- Apoiar os órgãos de Defesa Civil e de fiscalização municipail no desempenho de suas

atividades, quando solicitado e mediante ordem;

- Executar outras missões ou atribuições, conforme determinação do Prefeito Municipal.

- Manter atividade fiscalizadora junto ao trânsito2 dentro dos perímetros do município,

sendo este grupo da Guarda Municipal especializado e autorizado para realizar tal função.

_______________________________________

2. Essa atividade fiscalizadora junto ao trânsito está ainda em debates na área

legislativa no âmbito municipal e estadual, pois até o presente momento é inconstitucional.

Porém, está previsto para meados do ano vindouro um efetivo de 500 guardas civis só para

esta atribuição.

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2.2.2 Deveres do Guarda Municipal

- Causar boa impressão sempre;

- Cuidar da higiene pessoal e do seu uniforme, como prova de respeito e educação;

- Não utilizar bebida alcoólica durante o exercício de sua função;

- Primar pela pontualidade. Em caso de impedimento justificável, comunicar com

antecedência para que sua substituição seja providenciada;

- Estar sempre atento ao serviço, zelando pela segurança no posto de serviço e

colocando em prática as ordens e instruções específicas do local, procurando intervir com

presteza, prontidão e proatividade1;

- Ao perceber qualquer anormalidade, comunicá-la ao seu imediato (inspetor).

- Não tomar decisões que estejam fora da sua competência;

- Manter a segurança dos Bens, Serviços e Instalações e poderá de acordo com

contingência específica efetuar prisão2.

- Orientar as pessoas quando solicitado, a respeito da localização e do

funcionamento dos diversos órgãos municipais;

- Dar segurança aos servidores lotados nos órgãos ali instalados, bem como todos os

usuários ali prestados, enquanto permanecerem no interior das instalações;

- Solicitar reforço para as situações de anormalidade ou de maior complexidade;

___________________________________

1. Pro atividade: Conforme o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, de

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, na sua 2ª edição revisada e ampliada da editora Nova

Fronteira de 1986, a partícula pro que vem do grego pró sugere a idéia de movimento pra

diante, posição em frente; visando uma ação com antecipação do fato em si. Em suma,

proatividade encaixa-se perfeitamente no critério de prevenção da atividade do crime.

2. Conforme está no texto do Código de Processo Penal - CPP: Decreto Lei 3689/41

no seu Art. 301, onde se lê:

“Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”.

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Imediatamente o Guarda Civil deverá acionar a Polícia Militar de Minas Gerais –PMMG,

para as medidas subseqüentes (entre elas a condução do infrator para a delegacia).

- Conhecer todas as dependências dos órgãos, observando condições de segurança

como vias de acessos, saídas de emergências, localização dos equipamentos de combate a

incêndio, chave geral de energia elétrica, registro geral hidráulico, interruptores e outros3.

- Abordar as pessoas encontradas no interior dos próprios de atuação que se

encontrem indecisas quanto ao seu destino encaminhando-as ou providenciando a sua

retirada;

- Orientar em caso de emergência, a evacuação das instalações, procedendo à

verificação de todas as repartições;

- Preservar as instalações quanto a toda e qualquer tipo de invasão, depredação ou

vandalismo;

- Acionar a Polícia e ou os Bombeiros para as situações que exijam sua atuação;

- Suplementar a segurança do chefe do executivo e de outras autoridades nas

situações de grande afluxo de público no interior das instalações;

- Monitorar, comunicar ao setor pertinente e registrar em relatório as infrações ao

código de posturas municipais verificadas;

- Utilizar o diálogo, a persuasão e a advertência para conter os usuários que se

apresentem mais exaltados, só usando da força física em último caso e de acordo com a

proporcionalidade da resistência do mesmo;

- impedir o acesso ao estabelecimento de pessoas, que se apresentem armado, exceto

os que possuem o porte de arma legal, providenciando o acionamento da Polícia Militar.

- Preencher adequadamente os relatórios de serviço e fazer seu encaminhamento da

forma e no prazo recomendados;

___________________________________

3. Esta medida; de coleta de informações é de suma importância não apenas para o

conhecimento do local de atuação do Guarda Civil em ocorrências operacionais, mas também

na agilização de informações pertinentes ao comando do teatro de operações, numa uma crise

de alta complexidade, como nos orienta o Cap. Gilmar Luciano Santos da PMMG em sua

apostila “Como vejo a crise” de 2005.

Page 36: GUARDA COMUNITÁRIA

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- Adotar as primeiras providências pertinentes, no caso de prática de crime

(preservação do local de crime)4 contravenção penal ou sinistro, verificadas nos interior das

instalações, quando necessário até a chegada das autoridades competentes;

- Coibir o tráfico e o uso de drogas ilegais promovendo a prisão dos infratores, nos

casos em que couber e ou orientar os usuários para cessarem tais atividades em locais

públicos.

___________________________________

4. Em prédios públicos onde haja guarda civil, muito provavelmente este será a

primeira autoridade de segurança pública que chegará ao local de crime, por isso é necessário

que ele preserve e isole o local de crime a ponto de resguardar os vestígios que poderão se

tornar indícios, conforme o laudo da perícia técnica da Polícia Civil. Caso tal atribuição não

for seguida o guarda civil poderá responder processo administrativo por crime. Conforme

encontramos no texto do Código do Processo Penal Brasileiro - CPP, no seu Art. 169, no

parágrafo único onde se lê:

“Os peritos registrarão no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos”.

Page 37: GUARDA COMUNITÁRIA

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2.2.3 Ocorrências Típicas

As ocorrências em que a Guarda Municipal - GM de Belo Horizonte atua está no

âmbito patrimonial e no âmbito de abrangência dos próprios servidores e usuários do serviço

público.

I) Patrimônio:

1) Dano: (art. 163 CPB) acontece principalmente ocorrência ligada a danos ao

patrimônio.

2) Do Furto: (art. 155CPB).

3) Roubo: (art. 157 CPB) acontece, porém com menor freqüência.

II) Aos Servidores e Usuários.

1) Ultraje público ao pudor (art. 233CPB) - A Guarda Municipal atua em locais

de grande circulação de transeuntes, como parques ecológicos e praças públicas, o que de

certa forma facilita o registro de infrações penais dessa natureza.

2) Ato Obsceno (art. 233).

3) Crimes praticados por particular contra a administração em geral.

Este item é de grande relevância visto que ocorre de maneira diária nos órgãos

públicos, principalmente no que se refere à ameaça.

a) Ameaça (art. 329 CPB).

b) Coação no curso do processo (art. 344 CPB).

c) Desobediência (art. 330 CPB).

d) Desacato (art. 331CPB).

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4) Crimes de perigo comum.

O Guarda Civil precisa estar sempre atento para infrações desta natureza mesmo

que de forma culposa; cometida pelo próprio servidor público, ou em situações de origem

natural.

a) Incêndio (art. 520 CPB).

b) Explosão (art. 251 CPB).

c) Uso de gás tóxico ou asfixiante (art. 252 CPB).

d) Fabrico fornecimento, aquisição posse ou transporte de explosivos ou gás

tóxico, ou asfixiante (art. 253 CPB).

e) Inundação (art. 254 CPB).

f) Perigo de inundação (art. 255 CPB).

g) Desabamento ou desmoronamento (art. 256 CPB).

h) Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento (art. 257

CPB).

3. Observações pertinentes:

- Muitas ocorrências de crimes de perigo comum podem ser evitadas, ou

amenizadas pelo serviço público; com um pouco mais de agilidade burocrática, melhor

infra-estrutura material, pessoal, e física, por isso a importância do relatório dos guardas

civis.

Page 39: GUARDA COMUNITÁRIA

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2.3 Registros e Encaminhamentos Diversos

Os registros e encaminhamentos diversos são realizados de três formas

operacionais:

1) Boletim de Intervenção - BI

Sempre será realizado pelo Guarda que presenciar o ocorrido ou quando solicitado

por um(a) servidor(a) ou usuário(a) do local.

O Guarda Municipal deve preencher todos os campos do BI.

É importante que o Guarda Civil, depois de colhidas as informações básicas para o

preenchimento e antes mesmo de “passar a limpo” o BI já se comunique com a CECOGE –

Central de Coordenação Geral, para:

- solicitar o número do referido BI,

- repassar as informações básicas do ocorrido,

- confirmar o código da classificação da ocorrência.

- definir se haverá ou não necessidade do apoio logístico ou de intervenção da

ronda motorizada.

Havendo a presença da Polícia Militar de Minas Gerais, é necessário registrar o

número do Boletim de Ocorrência - BO, o número e a placa da viatura, e o nome do

responsável pela mesma.

Havendo a presença do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU é

necessário registrar para onde está sendo encaminhada a vítima, o número e placa da viatura,

e o nome do responsável pela mesma.

Havendo a presença da Polícia Civil de Minas Gerais é necessário o número e

placa da viatura, e o nome do responsável pela mesma.

A postura do Guarda Municipal perante tais autoridades será sempre pautada pelo

respeito e colaboração, desde a prestação de informações até o auxílio de tarefas, como por

exemplo, ajudar no trânsito enquanto viatura do SAMU atende a vítima. É importante

ressaltar que tais autoridades devem ser acionadas de preferência pelo próprio Guarda

Municipal, podendo ser pela CECOGE ou, de acordo com o grau de agilização da ocorrência,

solicitar transeuntes que o façam.

Page 40: GUARDA COMUNITÁRIA

40

No caso de vários Guardas se encontrem no mesmo local de ocorrência, o BI será

realizado pelo guarda que chegou primeiro ao local. O bom senso é necessário, em cada

situação, pois muitas das vezes este guarda tem que dividir funções entre os outros em razão

do da ocorrência. Por exemplo, atropelamento de usuário em frente escola de atuação do

Guarda Municipal. Ele pode estar acompanhando os sinais vitais da vítima, enquanto o outro

estará acionando o SAMU, e o outro viabilizando e conduzindo o trânsito. Quando não

houver outros Guardas, em situação semelhante, solicitar tais atitudes dos próprios

transeuntes do local.

Em casos em que um dos envolvidos solicitar uma cópia do BI, será importante

que o Guarda Municipal o oriente a realizar um pedido formal ao comando da guarda,

informando no seu pedido dia, local e situação ocorrida. No mais tardar em 72 horas terá uma

cópia disponível.

2) Relatório

É utilizado pelo Guarda Municipal principalmente quando:

- está assumindo as atividades de um próprio (local da atividade de trabalho do

Guarda) onde não havia presença anteriormente de Guarda Municipal. No relatório deverá

constar todas as informações pertinentes ao novo local de atuação do Guarda, perpassando por

pontos vulneráveis do local: irregularidades infra–estruturais, como objetos danificados na

área elétrica, hidráulica, portas, janelas, portões, cercas, e do próprio estabelecimento;

localização de hidrantes, extintores, caixa elétrica. Informar se há necessidade de determinado

apoio logístico; rádio, bateria, base da bateria, colete, telefone, banheiro, vestiário, maior

número de guardas etc.;

- visa informar aos superiores situações arbitrárias sofridas pelos gerentes e

funcionários do próprio, sejam eles concursados ou contratados. Relatar pormenores

atividades que o guarda está sendo forçado a tomar ou o exercício de funções que não são

predeterminadas e autorizadas por seus superiores hierárquicos, algumas até de teor ilegal;

- houver ocorrência por parte de funcionários e usuários do próprio na ausência do

guarda;

- for constatada sonegação ou omissão de informações de ocorrências acontecidas

mesmo no horário e presença do Guarda por interesses particulares dos funcionários e ou

usuários.

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- o Guarda constatar situações que poderão resultar no favorecimento da

criminalidade e propor medidas que devem ser tomadas para o encaminhamento de situações

específicas. Como por exemplo: falta de limpeza, muramento em terrenos baldios, tráfico e

uso de rogas, riscos de desabamento, vazamento de água ou gás, imóveis abandonados,

O relatório, em suma, tem como objetivos: prestar informações de acontecimentos

relevantes ao local de atuação, encaminhando-as a quem de direito (supervisor hierárquico e

Comando) para tomarem providências cabíveis e, de certa forma se resguardando de

qualquer empecilho futuro.

3) Solicitações

São utilizadas principalmente em questões particulares do Guarda, podendo ser

por vários assuntos e com vários motivos diferentes, como por exemplo:

- mudança ou permuta de horário de serviço;

- mudança ou permuta de dia de serviço;

- mudança ou permuta de troca de próprio de serviço;

- a troca de material de vestimenta de serviço;

- outros

Importante ressaltar que:

- não basta apenas comunicar a quem de direito dentro da organização das

gerências da Guarda Municipal. É imprescindível o retorno da resposta deferindo ou

indeferindo a solicitação pretendida, que demora até 48 horas, de acordo com a situação.

- O guarda deve procurar já trazer a solução para seu problema, pois assim

conseguirá maior rapidez e impedimento nenhum terá para o deferimento do seu pedido,

desde que dentro dos parâmetros legais. Exemplo disso é a troca de posto de serviço, se o GM

já tiver em comum acordo com o outro GM do posto pretendido. Se esta situação não ocorrer

(a solução para o seu problema) haverá necessidade de maior paciência e compreensão do

guarda solicitante, pois não se poderá passar por cima dos demais interesses de outros

guardas, por um capricho pessoal, por mais meritório que este se constitua. A não ser é óbvio,

quando amparado legalmente para tais modificações. Como, por exemplo, nos casos de curso

universitário e especializações acadêmicas e profissionais.

Page 42: GUARDA COMUNITÁRIA

42

2.4 Atuação nos Locais de Ocorrências

As atuações da Guarda Municipal nos locais de ocorrência se fazem de duas

maneiras:

1) Preventivo:

O Guarda Municipal deverá primar sempre pela prevenção em sua atuação em

todos locais que estiver. A prevenção perpassará:

- pela política de boa vizinhança;

- pela postura, compostura, respeito, gentileza, educação, profissionalismo com

conhecimento de causa de suas ações tanto para os funcionários como para os usuários do

mesmo;

- pelo conhecimento das atividades e movimentos sociais do local; igrejas,

associações, áreas recreativas-esportistas, saúde, escola, policiamento, bancos, comércios,

empresas etc;

- pelo conhecimento da circunvizinhança do próprio; dos tipos e freqüência de

ocorrências policiais, proximidades de pontos de drogas, nível econômico, nível de instrução

etc;

- pelo uso do bom senso, paciência e racionalidade na análise das situações que

podem surgir;

- pela informação aos funcionários e usuários de comportamentos favoráveis para

o a redução de ocorrências, como colocar bolsas e objetos de valores fora do campo de acesso

de terceiros: como comportar-se perante pessoa agressiva, bêbada, drogada, armada, a fim de

que não agrave a ocorrência: não esconder ou camuflar ocorrências de campo restrito a

determinado setor de trabalho etc;

- pelo plano de evacuação de incêndio, como constatação para providências

necessárias quanto a irregularidades nos ECI – Equipamentos de Combate a Incêndio.

Page 43: GUARDA COMUNITÁRIA

43

2) Repressivo:

O Guarda Municipal deve estar preparado para, de acordo com situações que

infligem a lei, tomar atitudes contra usuários ou funcionários do local; desde detenção,

apreensão de objetos que constituem o flagrante da ocorrência, preservação do local de

crime, e prisão, sendo que o deslocamento do infrator só será realizado pela Polícia Militar de

Minas Gerais ao órgão de direito, juntamente com o Guarda Municipal.

O Guarda Municipal deve sempre estar vigilante para se pautar dentro dos padrões

do uso da força legalmente permitido para cada situação, conforme as normas de Direitos

Humanos.

Page 44: GUARDA COMUNITÁRIA

44

2.5 Dados estatísticos relevantes a respeito da atu ação da Guarda Civil de Belo Horizonte

2.5. 1. Dados Estatísticos

Podemos fazer um retrospecto de 2004 a 2006 da Guarda Municipal de Belo

Horizonte, em suas diversas atuações.

1. Efetivo:

A Guarda possuía um efetivo de apenas 276 guardas em janeiro 2004 com

nenhum inspetor. No mesmo ano, em agosto, já possuía um total de 451 guardas, com 11

inspetores, totalizando 462 guardas. Em abril de 2006 tínha-se 386 guardas, com 21

inspetores totalizando 407 guardas municipais contratados, sendo estes ex servidores das

forças armadas brasileiras.

2. Material de Apoio Logístico

- viaturas de quatro rodas 27 entre elas: Gol 14, Doblo 4, Pálio 9.

- 14 motos;

- 3 Sprinter;

- 350 armas (leves) – em estoque;

- 225 coletes a prova de balas (calibre 38 e 9 mm);

- 200 capas para coletes;

- 440 algemas;

- 217 rádios HT.

- 217 bases de rádio HT

Page 45: GUARDA COMUNITÁRIA

45

3 Próprios (Estabelecimentos Públicos Municipais) a serem atendidos pela

Guarda Municipal de Belo Horizonte.

Próprio – Estabelecimentos Públicos Municipais

Quantidade Guarda Municipal Porcentagem (%)

Escolas 18 39 21,5

Unidade Municipal de Educação Infantil

(UMEI) 33 16 48,48

Centro de Saúde (C.S). 139 38 27,34

Unidade de Pronto Atendimento (UPAs) 6 54 100,00

Nesta tabela, além do número de postos; estabelecimentos públicos também

denominados de próprio a serem atendidos em cada especificidade do Município sendo

possível constatar a relação da distribuição dos Guardas Municipais nos mesmos. Assim,

podemos perceber o quanto estava defasado a presença da Guarda na Rede Regular de Ensino

Escolar Municipal. (Dados até 2006).

4 Visitas Preventivas

2004 2005 2006 Regional

Absoluto % Absoluto % Absoluto %

Barreiro 492 15,98 434 14,45 196 15,43

Cento Sul 600 19,49 731 24,33 257 20,21

Leste 145 4,71 142 4,72 102 8,00

Nordeste 286 9,29 234 7,79 121 9,57

Noroeste 208 6,76 195 6,49 55 4,38

Norte 292 9,48 301 10,02 134 10,56

Oeste 303 9,84 230 7,66 110 8,66

Pampulha 415 13,48 367 12,22 144 11,39

Venda Nova 338 10,98 370 12,32 150 11,80

Total 3079 100,00 3004 100,00 1269 100,00

Este item é de grande interesse na política de segurança preventiva. A visita

preventiva alcança vários objetivos como a quantificação de ocorrências as quais entrariam na

denominada faixa negra; ocorrências que não são mensuradas pelas estatísticas, o

Page 46: GUARDA COMUNITÁRIA

46

acolhimento de demandas e sugestões para evitar determinadas ocorrências, e orientações

pertinentes, em cada caso singular, aos usuários funcionários e gestores específicos.

4.1. Número de Intervenções por Regionais de Belo Horizonte

Número e Intervenções por Regionais de Belo Horizon te

Regional Absoluto

2004 Absoluto

2005 Absoluto

2006 Absoluto

20071 Barreiro 492 432 604 571 Centro Sul 600 733 965 988 Leste 145 141 264 456 Nordeste 286 235 409 397 Noroeste 208 200 262 599 Norte 292 290 456 326 Oeste 303 231 326 385 Pampulha 415 373 570 467 Venda Nova 338 365 517 364 TOTAL 3.079 3.000 4.373 4.553

5. Média Mensal de Visitas Preventivas

Próprio – Estabelecimentos Públicos Municipais

2004 2005 Porcentagem (%)

Escola 12,72 7,79 8,26

Centro de Saúde (C.S). 12,57 9,11 11,05

Unidade de Pronto Atendimento (UPAs) 54,24 98,24 89,58

Importante se faz salientar que tais visitas, em sua maior parte são realizadas por

iniciativa periódica da própria Guarda Municipal. Mas muitas, também, são realizadas através

de solicitações dos usuários, funcionários contratados e gestores. Dados de 2006 até 30 de

abril.

A partir de julho de 2007, começou a ser apurado e dimensionado separadamente

das visitas em si, criando-se a nomenclatura específica de G – 15: visita tranqüilizadora.

________________________

1. Dados apurados até o dia 21 de outubro de 2007.

Page 47: GUARDA COMUNITÁRIA

47

5.1 Número de Visitas nos Principais Tipos de Próprios – Estabelecimentos

Públicos Municipais

Nº de Visitas nos Principais Tipos de Próprios

Próprio – Estabelecimentos Públicos 2004 2005 2006 2007*

Escola 27.619 13.152 15.121 8.204

Centro de Saúde - C.S 20.359 11.265 14.465 5.620

Unidade de Pronto Atendimento - UPA 3.905 3.410 6.848 2.207

Parque 4.291 2.993 4.403 5.639

Rodoviária 381 356 612 229

Praça 553 798 145 321 Unidade Municipal de Educação Infantil - UMEI - 713 1.183 743

Cento e Apoio Comunitário - CAC 1.376 633 648 576

Serviço de Atendimento ao Cidadão - SAC 907 558 292 406

Regional 1.167 468 953 804

Total 60.558 21.194 44.670 24.749

Podemos perceber que a Guarda Municipal de Belo Horizonte está inserida em

setores da população de riquíssimas informações além dos já mencionados temos: Centro de

Referência em Saúde do Trabalho – CERSAT, Centro de Referência de Saúde Mental –

CERSAN, Centro de Referência a Infância e Adolescência – CRIA, Núcleo de Apoio a

Família – NAF, Centro de Educação Infantil – CEI, que podem resultar em estratégias

incomensuráveis ao trabalho preventivo de forma real e produtiva.

5.2 Número de Visitas por Regional

Número de Visitas por Regional Regional 2004 2005 2006 2007 Barreiro 10.561 5859 6219 4202

Centro Sul 6.133 4244 10225 6469 Leste 6.176 4360 5022 4123

Nordeste 6.108 4209 5764 3063 Noroeste 7.551 3008 8134 5811

Norte 8.765 4748 6513 3636 Oeste 9.025 3282 5168 3983

Pampulha 7.366 4512 6257 4309 Venda Nova 7.559 5030 5535 3194

TOTAL 69.244 39.252 58.837 38.790

Page 48: GUARDA COMUNITÁRIA

48

6. Principais tipos de intervenções nos Centros de Saúde sendo vítimas

funcionários (2006).

Tipos de Ocorrência Absoluto Porcentagem (%)

Ameaça 25 28,74

Furto 13 14,94

Vias de Fato / Agressão 8 9,20

Atrito Verbal 30 34,48

Dano ao Patrimônio 3 3,45

É importante ressaltar que estes dados demonstram perspectivas que devem ser

explorados pelos gestores da Guarda, visto ser possível detectar com exatidão os tipos de

ocorrência em cada setor. Assim sendo, é imprescindível a elaboração de um plano de

atendimento específico a cada caso. Nesta tabela podemos traçar várias hipóteses e realizar

várias reflexões à ótica preventiva. Em todos estes delitos mencionados são do âmbito à

qualidade do atendimento aos usuários do serviço de saúde pública municipal.

É possível detectar o perfil mais freqüente das vítimas e autores, o horário mais

usual de tais crimes, e principalmente o porquê, a causa que gera o número tão grande de

ameaças. A partir das causas relacionadas (demora no atendimento, falta de médicos, falta de

medicação, grosseria no atendimento, falta de informação segura, acomodações impróprias e

sem conforto etc.). Poderia realizar com esses dados, sugestões de mudança junto à gerência

do Centro de Saúde específico e, se for esse o caso, a toda à rede de Saúde do Município, e

assim sucessivamente para os demais estabelecimentos públicos municipais específicos. Essas

ações também fazem parte da Guarda Comunitária, esta seria uma grande contribuição da

Guarda Comunitária aos Munícipes de Belo Horizonte.

Page 49: GUARDA COMUNITÁRIA

49

7. Número de Intervenções por Tipicidade

Número de Intervenções por Tipicidade Número de Intervenções

Tipo de Intervenção Catalogada em Boletim de Intervenções Absoluto

2004 Absoluto

2005 Absoluto

2006 Absoluto

2007* Acidente de trânsito 133 124 242 203 Ameaça 224 213 357 313 Apoio à pessoa baleada/esfaqueada

197 271 221 374

Aquisição/posse ou guarda para uso próprio de substância entorpecente

98 190 117

Atrito Verbal 78 61 139 Averiguação de pessoa suspeita 161 75 97 84 Cobertura a eventos diversos (festas, reuniões, etc)

226

Dano ao patrimônio público 219 273 457 539 Desacato 40 68 118 150 Doente Mental 50 73 Embriaguez 56 Estouro de bomba 45 60 91 Furto 361 361 421 555 Furto qualificado (arrombamento)

63

Invasão (Esbulho Possessório) 131 83 83 62

Lesão corporal 89 99

Paciente alterado causando transtorno

139 117

Parturiente, pessoa ferida ou enferma

106 210 326 292

Perturbação do trabalho/sossego 208 142 326 224

Porte de arma 36 Roubo 74 89 96 74

Uso de substância entorpecente 161

Vias de fato/agressão 281 314 353 369 Outras 465 355 694 809 Total 3.079 3.000 4.373 4.553

Page 50: GUARDA COMUNITÁRIA

50

3 Atividades da Guarda Cidadã

3.1 A Guarda tem embasamento próprio para ser preventiva

É imprescindível que a Guarda Municipal de Belo Horizonte, como todas as

demais em nível nacional, que atualmente alcançam a expressão significativa de 80.000

Guardas Civis distribuídas em 640 municípios, primem por ações preventivas ao invés de

ações repressivas ou simplesmente de vigilância ao patrimônio, por mais nobre que esta o

seja.

No Estatuto da Guarda Municipal de Belo Horizonte, (Lei nº 9.319, de 19 de

janeiro de 2007), as atribuições de ordem preventivas contidas estão no art. 5º, inc. XIII, onde

se lê:

“-atuar de forma preventiva nas áreas de sua circunscrição, onde se presuma ser possível à quebra de situação de normalidade;” (grifos de minha autoria)

Nesta citação, abre-se grande campo de discussões e ações que poderão ser

implantadas ou ampliadas pela Guarda Municipal de Belo Horizonte. Como vimos no item

2.5, e que veremos no item 3.2, a Guarda já realiza um trabalho de prevenção e parceria em

segurança pública. O que iremos propor neste trabalho é uma sistematização de projetos a

serem ampliados e realizados.

No intuito de aumentar estas discussões fazemos referência ao recorte da página

eletrônica da Prefeitura de Belo Horizonte1, a respeito de políticas de atuação da Guarda

Municipal, no âmbito das Políticas de Segurança Social. As funções são:

_______________________

1.http://portal1.pbh.gov.br/pbh/index.html?idNv2=672&idConteudoNv2=12553&emConstrucaoNv2=N&verServicoNv2=S&idNivel1Nv2=103&nivel3=

Page 51: GUARDA COMUNITÁRIA

51

- Financiar estudos e desenvolver projetos voltados à segurança, em parceria com a comunidade, órgãos públicos e entidades da sociedade civil; - Planejar a operacionalidade das políticas públicas de segurança social, em conjunto com órgãos municipais, visando à diminuição da criminalidade; - Formular e aplicar, diretamente ou em colaboração com órgãos municipais, métodos preventivos para reduzir a violência e a sensação de insegurança.(grifos nossos).

Retornando ao Estatuto da Guarda Municipal de Belo Horizonte, também podemos

perceber os seguintes amparos legais como forma de incentivo para trabalhos de caráter

preventivo, em seu art. 5º, inc. XIV:

“Atuar com prudência, firmeza e efetividade, na sua área de responsabilidade, visando ao restabelecimento da situação de normalidade, precedendo eventual emprego da Força Pública Estadual;”

Para preceder determinados eventos, o guarda já deve ter tomados todas as medidas

relativas ao seu campo de atuação. Quando as medidas que devam ser tomadas estão acima de

suas atribuições legais, deverá acionar as forças de segurança em escala estadual. O guarda já

repassará um relato de seus esforços perante determinada situação, favorecendo a agilização

do processo policial como na aquisição de informações pertinentes ao andamento do

processo.

Page 52: GUARDA COMUNITÁRIA

52

3.2 Trabalhos de prevenção na parceria do acionamen to pelas Guardas Municipais

Uma grande vitória para a Guarda Comunitária seria alcançar uma cadeira

definitiva junto o Sistema Integrado de Defesa Social do Estado de Minas Gerais. A atuação

da Guarda Municipal vem aprimorando-se gradativamente para melhor cumprir suas funções

legais, já fazendo por merecer tal cadeira junto ao Sistema Integrado de Defesa Social. Mas

para tal conquista, como diria o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante palestra em um

dos estados brasileiros, no mês de agosto de 2007:

“Não importa se o Prefeito não gosta do Governador, se o Governador não gosta do

Presidente, o importante é que todos trabalhem unidos para o Povo Brasileiro, pois

depois quem vai ser prejudicado não será o Prefeito, nem o Governador e muito

menos o Presidente, e sim o Povo.”

O perfil das Guardas de certa maneira já é de cunho descentralizado e integrado à

sociedade visto que as guardas ficam ostensivamente nos locais públicos diariamente, em

pleno contato com a comunidade.

As Guardas vêm ao encontro de tudo o que se busca ter nas polícias comunitárias,

como ostensividade a pé, aumentando o contato com as pessoas, consolidando a transparência

das atividades que são desempenhadas junto à população; atuação como pedagogo, como

solucionador de conflitos, evitando que uma ocorrência ocasional transforme-se numa crise de

alta complexidade. Crise de alta complexidade que pode ser definida como sendo:

“Todo fato de origem humana ou natural que, alterando a ´Ordem Pública`, supere a capacidade de resposta dos esforços ordinários e/ou extraordinários de polícia/ órgãos de defesa social, exigindo a intervenção por meio de estruturação de ações e /ou operações de polícia ou o bombeiro-militar, com o objetivo de proteger e socorrer o cidadão.” (Santos. 2006).

Trabalhando de forma preventiva, a guarda já realiza tais funções, conforme se

depreende dos Boletins de Intervenção (BI) que ela emite diariamente ns quatro anos de sua

existência. Quantas ocorrências de crises foram contornadas, juntos aos usuários públicos, em

postos de saúde, escolas, parques ecológicos, órgãos de cunhos administrativos?

Além disso, com a presença da Guarda Civil, quanto ganhou em eficiência o

trabalho da polícia ostensiva, em função da rapidez da chamada do atendimento? Sabemos

Page 53: GUARDA COMUNITÁRIA

53

que depois de cinco minutos do fato criminal ter ocorrido a polícia ostensiva se reduz em

muito a eficiência de sua atuação repressiva.

“Quando a polícia chega antes de 4 minutos após a chamada, ela prende os responsáveis em 15,3% das vezes. Quando polícia chega após 6 minutos, sua taxa de sucesso cai para 8,2%.” (ROLIM, 2006, p.56).

Imaginemos, então, para quanto poderá aumentar o poder da polícia ostensiva com

o auxílio do Guarda Municipal em parceria direta com as demais polícias. Muitas das

chamadas realizadas pelos guardas municipais são feitas durante o momento exato que o

crime está ocorrendo, ou em vias de ocorrer, como no caso de tumultos generalizados em

postos de saúde, cemitérios (acerto de contas) ou crimes em patrimônio público, constituindo

mais um aspecto a ser considerado.

Uma chamada realizada por um Guarda Municipal que se identifica torna-se muito mais

inspirador de fidedignidade do que uma ligação realizada de forma anônima.

“Segundo matéria de José Luiz Costa no jornal Zero Hora, em 13 de fevereiro de 2004, estatísticas gaúchas apontaram que 56,98% das ligações ao 190 feitas em Porto Alegre, em 2003, forma notícias falsas, chamadas para brincadeiras e ofensas a atendentes. Dos 1.413.264 telefonemas recebidos, apenas 53.286 (3,77%) foram pedidos reais de socorro.” (ROLIM, 2006, p.71).

De forma estatística, podemos ter uma idéia da economia e eficiência do trabalho

reativo policial, considerando apenas o acionamento de chamadas em tempo real, e sua

garantia de necessidade.

“Nos EUA, o tempo médio transcorrido entre o crime e a realização da chamada é de 41 minutos. Quando se deparam com esse dados, colhidos inicialmente em Kanbsas City, os chefes de polícia do Fórum Executivo de Pesquisa Policial afirmaram que os cidadãos de suas comunidades não levariam tanto tempo assim para efetuar uma chamada. A pesquisa foi então repetida em outra 4 cidades com mais de 4 mil casos avaliados, e o tempo médio encontrado foi o mesmo. As possibilidades de prisão naqueles crimes sérios forma de 29 para cada mil casos, dos quais 75% só foram descobertos pelas vítimas muito tempo depois de terem sido cometidos. Apenas em 25% das vezes, quando há envolvimento direto da vítima, o tempo médio para a chamada à polícia é menor, e em metade desses casos a vítima consegue completar uma ligação em pouco mais de que 5 minutos. Ora, nos EUA, por exemplo, a maioria das cidades possui uma estrutura de policiamento de tal ordem que toda e qualquer emergência será atendida no tempo máximo de 5 minutos. Em outras palavras, o tempo de comunicação do fato delituoso à polícia tenderá a ser, também nesses casos , superior ao tempo que a polícia levará para atender ao chamado. O que as pesquisas demonstraram é que passados 9 minutos desde o cometimento do crime, não existe qualquer relação entre tempo transcorrido para o atendimento de uma chamada e a possibilidade de prisão. A partir desse limite de tempo, as chances de prisão em flagrante podem ser direcionadas para efeito estatístico e a maior ou menor rapidez da chegada dos policiais só poderá ter algum sentido em termos de facilidade para o contato com eventuais testemunhas e para o recolhimento mais seguro de evidências.” (ROLIM, 2006, p.55).

Page 54: GUARDA COMUNITÁRIA

54

Em suma, pode-se perceber que o guarda municipal, apenas no aspecto do

acionamento da força policial em tempo real de uma ocorrência, está e tem muito a contribuir

com a sociedade sendo que:

“O que se aceita mais amplamente é que o tempo de resposta às chamadas de emergência só faz sentido para crimes em andamento.” (ROLIM, 2006, p.55).

Page 55: GUARDA COMUNITÁRIA

55

3.3 Criação de uma Gerência específica à Guarda Com unitária

A guarda tem muito a contribuir com estas questões de políticas preventivas de

forma integrada com a sociedade.

“ A grande contribuição dos municípios à segurança e a mais original será na esfera das políticas preventivas, isto é, das ações sociais e culturais voltadas para disputar menino a menino com o crime. Ações que possam gerar fontes de atração de jovens, com capacidade de encantamento e sedução, valorizando-os educando-os e os divertindo. Essas ações sociais funcionariam como centros gravitacionais. 1. Os municípios é a esfera mais apropriada às políticas de prevenção da violência.. 2. Essas políticas são intersetoriais e podem ser implementadas com o sem Guardas Civis – preferencialmente com elas. 3. O êxito depende da capacidade de diagnosticar, em cada bairro, os processos sociais que levam `a reprodução das práticas violentas e criminosas, porque esses processos é que constituem o alvo a ser interceptado. 4. Delimitar territorialmente cada conjunto de ação. É preciso que o fato de morar naquele lugar seja motivo de orgulho. 5. A política preventiva eficiente é aquela que interrompe o abastecimento de mão-de-obra para o crime. 6. O beneficiário preferencial de políticas preventivas eficientes é o jovem, e o foco, sua auto-estima. A disputa pelo recrutamento dos jovens se dá, antes de mais nada, em seu coração. 7. O segredo das boas políticas está na capacidade de transformar círculos viciosos em círculos virtuosos. 8. Não há êxito sustentável sem avaliação regular e monitoramento corretivo com participação popular e transparência. 9. Finalmente, é indispensável a cooperação com as polícias e as políticas estaduais. (SOARES, p. 106. 2006).

A Guarda Municipal poderia realizar vários trabalhos preventivos, (veja item

3.4.2) com os jovens moradores de áreas críticas de segurança pública. Em todos estes

projetos relacionados no item citado, UTILIZAR-SE-IA OS PRÓPRIOS GUARDAS, POIS

ATRAVÉS DO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO REALIZADO EM 20071 PODE-SE

VERIFICAR TAIS COMPETÊNCIAS JÁ CONSTITUÍDAS ENTRE OS GUARDAS.

Em síntese, não seriam programas isolados e sim integrados. Essas modalidades

de atuação não ocorreriam num âmbito de voluntariado (como atualmente se dá) e sim numa

atribuição específica de dedicação integral do seu turno de serviço. Numa Palavra, seria

o trabalho do guarda municipal dedicando-se em seu tempo integral de serviço e não nos

horários de almoço, finais de semana, dias de folga, férias etc.

____________________________

1. Perfil Profissiográfico realizado em 2007, no qual fiz parte da comissão para

sua elaboração.

Page 56: GUARDA COMUNITÁRIA

56

Desta forma a participação em tais projetos constituiria um verdadeiro

incentivador a aprimorar-se diariamente e constantemente, através de cursos, palestras,

seminários, artigos acadêmicos etc., ou seja, aprimoramentos curriculares em sua respectiva

atuação preventiva.

Necessitaríamos a princípio, para iniciarmos sua implantação de maneira

organizada e otimizada, cerca de 100 guardas e dez inspetores destinados a todas esses

projetos. Sabendo que cada inspetor ficaria sendo responsável por projetos específicos e tendo

em sua equipe dez guardas, é possível hipotetizar que em um ano já se poderia colher frutos

modestos, porém promissores.

Disposição não falta nos Guardas e Gestores da Guarda Municipal, na realização

destes e de outros projetos que virão ao seu turno.

Seria muito importante ao invés de termos 500 guardas para lavrar auto de

infração de trânsito em BH no ano de 2008-2009, termos apenas 400 guardas multando

(desde que confirmada a constitucionalidade deste ato).

O ideal, futuramente seria que, desde a realização do concurso público, guardas

fossem destinados a esta área especifica. Sendo que ao passar dos anos, uma porcentagem de

10% do montante total dos Guardas Municipais ficaria destinada à Guarda Comunitária,

Guarda Cidadã no âmbito dos projetos, propriamente dito. Sendo que os guardas comunitários

contassem com 50% de mulheres e 10% de deficientes físicos.

Page 57: GUARDA COMUNITÁRIA

57

3.4 Prevenção ao Self

A questão da prevenção em segurança pública através de projetos interativos com

o público alvo deve passar sempre por despertar o self, “da consciência profunda.” pois um

projeto de cunho preventivo e social só agrega valor real se for algo construído com objetivos

que também perpassem pela questão psíquica. Poderíamos definir o self, para que o leitor

alcance maior compreensão da proposta, como:

“O notável psiquiatra Carl G. Jung definiu o self como sendo ‘a totalidade da psique consciente e inconsciente’ acrescentando que ‘essa totalidade transcende a nossa visão porque, na medida em que o inconsciente existe, não é definível; sua existência é um mero postulado e não se pode dizer absolutamente nada a respeito de seus possíveis conteúdos.’ Esse arquétipo, imagem original ou imago Dei, que vige no ser humano e concede-lhe a abrangência da consciência e da inconsciência, respondendo pela sua totalidade, procede do Arquétipo Primordial, Consciência Cósmica, Deus ou Causalidade Absoluta. O self, na condição de um arquétipo primordial, preside ao processo de desenvolvimento que lhe é [ao ser humano] imperioso alcançar, mediante as experiências que fazem parte dos estatutos da Vida. O self não é uma página em branco, na qual irão ser escritos os caracteres das necessidades humanas. Herdeiro do psiquismo ínsito no inconsciente coletivo, é portador do seu próprio inconsciente pessoal. Herdeiro de si mesmo, o self é mais um arquétipo, sendo o próprio ser espiritual precedente ao berço e sobrevivente ao túmulo. O Self é, portanto, herdeiro de tôo esse patrimônio conseguido através das centenas de milhões de anos. Para ser penetrado na sua grandeza e totalidade é necessário que se mergulhe o olhar para entro de si mesmo, a fim de se poder identificar com o numinoso, a grande meta para as experiências transpessoais.” (Franco. 2002).

No intuito de resplandecer o self é importante que os projetos sejam respaldados

em três aspectos: no âmbito individual, familiar e social.

Sendo o individual (sucinto, didaticamente): os desejos de cunho particular, os

traumas, os conflitos pertinentes a esta criatura, as ambições, os sonhos, a inteligência

intelectual, emocional e espiritual – religiosidade.

“O indivíduo é a medida das suas realizações interiores e de toda a herança que carrega no seu inconsciente, o que equivale dizer que é o resultado inevitável da sua longa jornada evolutiva, na qual, passa a passo, se liberta do instinto, mediante o uso correto da razão, desta passando para a intuição. Cada indivíduo é portador da herança dos próprios atos, que passam a constituir-lhe o patrimônio da evolução permanente. Se erra, recomeça a experiência; quando acerta e se incumbe a contento do compromisso, incorpora-o ao patrimônio já conquistado.” (Franco, 2002).

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No aspecto familiar (sucinto, didaticamente): a estruturação familiar, os valores,

os costumes. Poderíamos dizer que é o mais importante do ser humano, já que muitos grandes

homens e mulheres conseguiram sobrepujar dificuldades gigantescas mesmo sem o auxílio da

instrução acadêmica, mas ainda se faz por encontrar os que se tornaram grandes homens e ou

mulheres sem a acolhida familiar, seja ela qual for. Poderemos definir o conceito de Família

sendo:

“Conceito – Grupamento de raça, de caracteres e gêneros semelhantes, resultado de agregações afins, a família, genericamente, representa o clã social ou de sintonia por identidade que reúne espécimes dentro da mesma classificação. Juridicamente, porém, a família se deriva da união de dois seres que se elegem para uma vida em comum, através de um contrato, dando origem à genitura da mesma espécie. Pequena república fundamental para o equilíbrio da grande república humana representada pela nação. A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de bom comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre os seus membros, favorável à perfeita harmonia que dever vigir sob o mesmo teto em que se agasalha os que se consorciam. a casa são a argamassa, os tijolos a cobertura, os alicerces e os móveis, enquanto o lar são a renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consangüíneo, decorrente da união. A família é mais do que o resultante genético... são os ideais, os sonhos, os anelos, as lutas e árduas tarefas, os sofrimentos e as aspirações, as tradições morais elevadas que se cimentam nos liames da concessão divina.” (Franco,. 2002).

No aspecto social (sucinto, didaticamente): poderemos constatar o nível e grau da

qualidade educacional, da saúde, do nível econômico, de questões de sobrevivência, da

assimilação das leis que regem o Estado Democrático de Direito, religião - religiosidade,

relacionamentos afetivos, amigos(as) etc.

“A sociedade é constituída por pessoas de gostos e idéias diferentes, de estruturas psicológicas diversas, que se harmonizam em favor do todo. A sociedade equilibrada deve funcionar como uma orquestra afinada executando especial obra sinfônica, na qual predomina a harmonia dos movimentos e das notas musicais sob a regência feliz do ideal que proporciona alegria e paz.” (Franco, 2002).

Os três fatores: individual, familiar e social se encontra absolutamente interligados

com a primazia do familiar. Este é o fator de sustentabilidade, equacionalizador e

direcionador dos demais aspectos profundos do self. Ao mesmo tempo os demais (individual

e social) os circunscrevem e o transpassam-no.

Sendo assim, os trabalhos da Guarda Comunitária, Guarda Cidadã devem ir ao

encontro do familiar, abrangendo o individual e social.

Devemos realizar propostas de atuação junto ao jovem, à esta criança, ao idoso, indo direto

aos seus anseios por uma vertente social, que pode ser um projeto, uma palestra, um teatro

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etc., como uma atuação de conscientização sobre os usos e conseqüência das drogas em

escolas de grande índice de uso e tráfico.

A palestra deve ser elaborada de uma forma a abranger conhecimentos acadêmicos e

psicológicos; nos desejos e anseios deste jovem, a fim de tirar de dentro deste o

conhecimento e as angústias que ele já possui. Assim o conduziremos para um campo mental

neutro onde ele poderá refletir, obter ao seu auto conhecimento e aprimoramento como

cidadão.

Utilizando os três aspectos individual, familiar e social, possibilitaríamos aos

jovens e às crianças a conscientização (racionalização, conscientização – ser consciente) do

subconsciente (emoções, desejos) e do inconsciente profundo (sagrado) deixando-os aflorar

através de atividades lúdicas, artísticas e didáticas, afim de que pudesse avançar ao

superconsciente –inconsciente superior (espiritual, transcendência ética) de seu valores

éticos-morais, proporcionando mudanças comportamentais.

Dessa resultante (superconsciente, o espiritual – moral e ético) criaríamos um

campo de reflexão, um círculo em espiral do self, o qual que o proporcionaria um salto

evolutivo, salto este que perpassa desde seu modo de se posicionar na vida e em si mesmo(a),

passando por experiências em campo meditativo, traçando suas metas, analisando os riscos,

diminuindo o orgulho e egoísmo de sua personalidade através de suas escolhas, aumentando o

conhecimento e iluminação de si próprio(a) e constituindo-se num homem de bem (como

esclarece o emérito pedagogo francês Hypolite Léon Dénizard Rivail).

Numa palavra, trabalho preventivo real só se faz com psicologia profunda, caso

contrário estaremos apenas maquiando-maquinando e desviando as estatísticas criminais de

localidade e ou tipicidade.

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Saltos do Self

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3.5 Possibilidades de Avanço

Neste item relacionamos alguns pontos essenciais em prol dos trabalhos de cunho

preventivo para que a Guarda Cidadã, Guarda Comunitária começasse a ganhar vida, e vida

em abundância, se tais apontamentos fossem verdadeiramente implantados. São eles:

- Desenvolver a integração entre os conselhos municipais de segurança pública de

âmbito municipal, como os estaduais e federais, tendo participação ativa da Guarda

Municipal;

- Propor seminários, congressos, intercâmbios e convênios, nas esferas municipais,

estaduais e internacionais;

- Desenvolver periódicos mensais, ou trimestrais das atividades das Guardas

municipais do Brasil e suas atuações de ordem preventiva e de caráter de aprimoramento

profissional, no aspecto científico filosófico;

- Proporcionar aprimoramento profissional constante em treinamentos e reciclagens

técnicas sempre focando na atuação preventiva;

- Ampliar o número de agentes comunitários e multiplicadores da Guarda

Comunitária.

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62

3.5.1Prevenção só se concretiza em prol da Infância e Adolescência numa visão mais aprofundada do sistema da criminalidade

Não há como discursar seriamente sobre prevenção em segurança pública sem

focarem os esforços operacionais e organizacionais estratégicos em prol da infância e

adolescência. Inconcebível se torna atualmente qualquer gestão de segurança pública que não

destina os maiores esforços e as maiores verbas em prol desta demanda específica. Por um

motivo muito simples e infelizmente muito prático. O Tráfico de Drogas é o verdadeiro

dragão da criminalidade. O verdadeiro diabo lá se corporifica. Dele se emana verdadeiro

vulcão fumegante com sua lava diversificada de crimes interligados e correlacionados numa

raiz única. Não basta combater efeitos, é indispensável eliminar as causas que geram estes

efeitos.

Bilhões de dólares são gastos por todos os países, todos os anos, destinados a

combater o tráfico e drogas em diversas áreas de atuação. Em contrapartida, a menor taxa

gasta é em projetos sociais que inviabilizariam a mão-de-obra do baixo escalão do

narcotráfico, ou seja, as crianças e jovens de aglomerados.

A mão de obra do tráfico, conforme se vê no documentário Crianças do Tráfico é

reabastecido,e renovado diariamente por crianças e jovens. No tráfico de drogas, a mão-de-

obra infantil é abundante; a demanda causaria deslumbramento em qualquer grande

empresário mundial, e desta forma o trabalho escravo avança em todos os morros das grandes

cidades do Brasil.

A empresa do tráfico de drogas está sempre de portas abertas para o ingresso de mais

um trabalhador, e nesta empresa não há obstáculos quanto à contratação, seja referente à

idade, formação acadêmica, preparo profissional, e experiência de mercado; todos são

aproveitados, até a última gota de seu sangue e última filigrama de seus sonhos.

Em sua organização nefasta e inescrupulosa, o tráfico tem essas crianças e jovens

como testas de ferro; são os mantenedores operacionais de suas ações demoníacas; são cartas

descartáveis; são escravos sem almas; são os iludidos do sistema de vitória fácil capitalista,

dos 15 minutos de fama; são os joguetes do holocausto do prazer ilegal, fantoches repostos

automaticamente a cada baixa, como uma verdadeira linha de produção (ou melhor, de

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aniquilação) para nenhum fordista ou taylorista (ou melhor, nazista de Auschwitz) botar

defeito.

Sabemos que quando um dono de boca é assassinado ou preso, aquele que era o seu

braço direito assume imediatamente o posto, subindo assim de hierarquia e mando. Para obter

tal promoção este deve ser um empregado exemplar, possuidor de um currículo invejável,

com atos covardes e maldosos como diversos assassinatos e roubos, experiência curricular

conseguida em tempo recorde; um verdadeiro treiner do antigo patrão, a ponto de inspirar

temor e admiração nos comparsas de outras facções rivais. Garantindo, assim, por mais

tempo, sua permanência no cargo tão concorrido e disputado a bala, literalmente falando, por

dezenas de centenas de jovens dos aglomerados.

Desta forma, analisando a estrutura criminosa do tráfico, a única maneira de

destruirmos sua estrutura criminógena, que hoje constitui uma verdadeira pandemia, só

retirando os seus agentes operacionais: os aviõezinhos, os fogueteiros, os futuros donos de

boca, os distribuidores. Sim, trata-se de uma pandemia e para combater uma pandemia

virótica é necessário cortar o contágio a outras pessoas (antes mesmo de achar a cura), ou

seja, cortar a mão de obra do tráfico, pois a droga não chegará a outras pessoas, de forma tão

fácil.

O narcotraficante que se preza sabe muito bem qual é o ponto vulnerável da sua

empresa multinacional. Sabe muito bem que se não houver mão-de-obra barata e em

abundância, ou seja, crianças e jovens, ele conhecerá a falência em poucos anos. Dessa forma,

não terá condições de manter a máquina empresarial a todo o vapor; terá quedas

orçamentárias desesperadoras; terá de expor a cada dia peças mais importantes do seu xadrez

mortal a maiores riscos nas bolsas instáveis de corrupções especializadas dentro do próprio

sistema, resultando da diminuição na qualidade do pronto atendimento. A máquina

empresarial, com seus tênues e muitos meandros, se romperia como fios de aranha perante o

sacudir de um pássaro que anseia e luta por liberdade. Os gastos alimentarão o sistema

corrupto para sua manutenção às escondidas; seus investimentos demandarão maiores

ousadias, desafiando ao limite a omissão dos justos, na manutenção a peso de ouro da lerdeza

burocrática e incoerência legisladora que dificulte a penalização de seus investidores fiéis-

usuários. Ele começará a sentir estresse, fadiga, depressão, irritações repentinas, paranóia,

delírios, fobias, sensação de inutilidade. Como o mundo é redondo, ele começará a ter os

mesmos sintomas de muitos policiais que anos a fio em vão se esforçam para realizarem um

trabalho do qual se possa colher frutos espinhos; sentir-se-á um enxugador de gelo. Por outro

lado, começaremos a subir no organograma de sua empresa, desestabilizando e desativando

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peças importantes de seu esquema sinistro. Nesta altura os que estão acima dele estariam

cobrando do narco às metas traçadas; o narco estaria provando o copo de seu próprio veneno.

O traficante, dono do morro, sempre faz um levantamento detalhado das

potencialidades de sua localidade. Possui um RH para nenhuma empresa auto sustentável

botar defeito. Tem-se uma equipe de verdadeiros psicólogos das trevas que analisam,

selecionam e quantificam os traços de personalidade de cada criança e jovem do morro, para

sua promissora empresa.

Os mais agressivos são selecionados para serem os futuros donos de boca; os mais

frios, para serem os cérebros e conselheiros dos anteriores; os com maiores dificuldades

cognoscentes, porém sem vícios, também serão aproveitados como empacotadores; os

deficientes físicos seriam os camuflados; os com grande Q.E. – quociente de inteligência

emocional serão destinados para atuarem nas escolas, nas festas, e até mesmo em igrejas; os

possuidores de um Q.I - quociente de inteligência, bem acima da média são selecionados com

muita sagacidade, pois constituem o grande futuro do tráfico e da criminalidade. Para os olhos

ensaneguecidos de um bom traficante são os futuros juizes, políticos, defensores dos direitos

humanos, agentes de segurança publica. Em suma: completariam o mega sistema do tráfico, o

grande escalão, o estado maior.

Um grande traficante tem olhos de águia, de um grande líder; sabe exatamente o

potencial e a destinação de cada empregado, sem dizer das promoções e especializações a

inspirar dedicação e empenho, em suma, horas extras. Promoções estas que podem ocorrer em

qualquer madrugada mais agitada, visto que a empresa apresenta muitas baixas e devem ser

repostas na mesmo rítmo.

Não pensar na infância e adolescência para amenizar a violência pública e a

criminalidade que tem como carro chefe o tráfico, é algo que cheira a dupla intenção.

Dizer que a infância e adolescência não são de altíssima importância nas medidas de

prevenção da violência é porque querem que tais atos continuem a acontecer. Como se dizem

por aí: A MISÉRIA DÁ LUCRO.

Infelizmente, sabemos que toda emenda parlamentar que encontrar impedimento

orçamentário sofrerá cortes imediatos nos programas da infância e da juventude como

aconteceu no 2º turno para aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação

Financeira - CPMF.

‘Na tentativa de desobstruir a pauta do plenário da Câmara para aprovar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) até 2011, o governo federal aceitou tirar da medida provisória que criou o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública)” (www.folha.com.br de 09 de outubro).

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Numa palavra: o sistema é hipócrita e o narcotraficante não gosta de crianças e

investe pesado no sistema. Há muitas comprovações de que a prevenção é mais lucrativa para

os cofres públicos. Neste mesmo jornal on-line, neste mesmo mês, e no dia 07 havia

publicado:

“A prevenção dos delitos será um dos focos do programa. Os jovens em situação de risco das regiões escolhidas serão inseridos em programas de inclusão social. As famílias destes jovens também receberão atenção especial. Os jovens entre 14 e 29 anos que estão presos receberão acompanhamento por parte do governo federal com a adoção de programas de alfabetização, ensino e cursos profissionalizantes para os que se encontram presos. Um dos projetos prevê ainda a remição de pena para cada três dias de estudo, a exemplo do que já acontece com os presos que trabalham. A política de estímulo à prevenção é amparada por números. Segundo o Ministério da Justiça, o custo médio de um crime para o estado é de R$ 2,5 mil, entre internação, perda de produtividade, e outros indicadores. Para evitá-lo com ações preventivas, o custo cai para R$ 600. Já a ação de repressão ao delito não sai por menos de R$ 6 mil aos cofres públicos.” (grifos nossos)

Neste sentido posicionou-se o Presidente da República Federativa do Brasil, Sr. Luiz

Inácio Lula da Silva:

“Estou convencido de que, se todos nós, governadores de estados, prefeitos, gente especializada em segurança pública, em direitos humanos, gente do conselho tutelar, ou seja, tem muita gente no Brasil preocupada com isso. Se nós criarmos em torno do programa uma corrente positiva, não há por que não dar certo”. (dia 20 de agosto de 2007 – Agência do Brasil).

O Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, no dia 20 de agosto de 2007, na

Agência do Brasil, afirmou:

“Esses recursos, que já foram anunciados pelo ministro Tarso Genro já foram negociados com a equipe econômica do governo. Sem dúvida nenhuma, estarão no orçamento dos próximos anos.” (grifos nossos).

Sem especular o que venha a ocorrer nos próximos anos, vemos que o corte cirúrgico

é preciso. Dos 72 programas do Pronasci, foram cortados exatamente os relacionados às

questões sociais preventivas da criminalidade1:

“Plenário conclui votação da MP que cria o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. O relator excluiu os três programas de intervenção social direcionados à reintegração de jovens e defende que o Poder Executivo envie ao Congresso um projeto de lei sobre o tema. A matéria segue agora para o Senado. O Reservista-Cidadão é destinado à capacitação de jovens recém-licenciados do serviço militar obrigatório. Eles atuarão como líderes comunitários nas áreas abrangidas pelo Pronasci. Esse trabalho terá duração de 12 meses, e os participantes receberão formação para atuar diretamente em suas próprias comunidades.

___________________________

1. Sobre a Medida Provisória de n.º 384/07, como se vê na página eletrônica da

Câmara dos Deputados Federal (http://www2.camara.gov.br/).

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O Protejo (Projeto de Proteção dos Jovens em Território Vulnerável) é destinado à formação e inclusão social de jovens e adolescentes que se encontrem em situação infracional ou em conflito com a lei, e expostos à violência doméstica ou urbana. Também com duração de um ano, o programa terá foco no resgate da auto-estima e na reestruturação da vida desses jovens. Os participantes desses dois primeiros programas receberão auxílio no valor de R$ 100. Já o Projeto Mães da Paz é destinado à capacitação de mulheres líderes comunitárias. Esse trabalho deverá articular a participação dos jovens e adolescentes no Pronasci. Para as participantes, o auxílio será de R$ 190, e em nenhum caso será possível acumular mais de uma bolsa ou outro benefício do governo federal.”

A alegação dos deputados federais é que, num aspecto, tais medidas sociais são

pontos que geram polêmica, e que não estão muito claras, e no segundo aspecto “se o governo

abre mão delas é porque são desnecessárias, não são tão importantes assim” 2.

Os líderes da nação conseguirão redirecionar outras verbas para projetos específicos e

semelhantes a estes, ou seja, projetos destinados a preservar a infância e adolescência. Mas,

como diria Weber “Quer ser ético não seja político”, ou citando o próprio Maquiavel “A

política se afasta da moralidade, pois cria-se um campo próprio.”

É importante retomar a discussão a respeito do tráfico poder se constituir um poder

alternativo. Sobre isso muitos dizem que o tráfico já constitui este poder alternativo, o que

Max Weber não aceitaria, pois o crime organizado não poderia se estruturar fora do Estado, já

que não seria eficaz. Outros diriam que apenas por um déficit de inteligência e coesão o

tráfico não toma conta do Rio de Janeiro. Preferimos debruçar mais sobre Max Weber, pois se

trata exatamente de uma questão de inteligência não tomar o Rio de Janeiro (como ponto de

partida ou afronta) pois constituir Estado daria muito trabalho; é muito mais rentável explorar

e alimentar-se das brechas perniciosas do Sistema.

___________________________

2. Entrevista concedida em rede de televisão nacional, pelo deputado federal Onyx

Lorenzoni (DEM - RS).

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3.5.2 Projetos destinados principalmente à infância e adolescência e aperfeiçoamentos institucionais específicos em prol da Guarda Comunitária

a) Projetos destinados principalmente à infância e adolescência:

- Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD (em

parceria com a PMMG e PC). Programa de palestras esclarecedoras sobre o uso de drogas e

suas implicações, seria um projeto diário nas escolas da Rede de Ensino Regular Municipal de

Belo Horizonte;

- Anjos da Escola (em parceria com a PMMG );

- peças teatrais com enfoque na segurança (drogas ilícitas, lares desestruturados:

violência familiar, alcoolismo, abuso sexual-sexualidade, etc);

- ampliação do trabalho de escotismo (utilizando os próprios parques municipais,

como já é feito de forma modesta);

- trabalhos esportivos, como artes marciais, futebol, voleibol, handibol,

basquetebol, o esporte do momento Lepaku e outros. Sempre voltando estas atividades

esportivas para questões pertinentes ao engrandecimento do ser humano, desenvolvendo e

estimulando o senso de disciplina, responsabilidade, aprender a perder e a ganhar,

pensamento de equipe, boa convivência, auto-estima, respeito à diversidade, e principalmente

valorização do ser em relação ao ter, entre outros.

- reforço escolar a crianças de grande déficit econômico, como também aulas de

idiomas e cursos profissionalizantes;

- desenvolver uma grande biblioteca na sede da Guarda com acesso de crianças,

jovens e idosos para realização de seus trabalhos escolares e incentivos à cultura;

- atividades artísticas: como música (com a própria banda da guarda municipal,

que desmembraria os músicos e faría um trabalho ao menos em cada regional), dança e

pintura;

- doutores do riso (em parceria ou semelhante a este), em hospitais, creches e nos

eventos da comunidade;

- auxílio jurídico;

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- auxílio psicológico (além de assistência aos pais, de grupos de Alcoólicos

Anônimos e Narcóticos anônimos, que poderia ajudar muito na diminuição da violência

doméstica e vinculações com instituições de tratamento de internação);

- trabalho em parceria com o Programa Nacional de Segurança Pública com

Cidadania (Pronasci);

- sugestões de mudança junto às gerências do Município, conforme explicitado

no item 2.5 sub item de número 8;

- buscar verbas e incentivos às ações preventivas e sociais, em órgãos públicos,

privados e não governamentais, nacionais e internacionais;

b) Aperfeiçoamentos institucionais específicos em prol da Guarda

Comunitária:

- - gerência específica para a Guarda Comunitária, na Guarda Municipal, com

contingente destinado para tal;

- realização de cursos, palestras, seminários, intercâmbio, material didático,

voltados para o aperfeiçoamento do Guarda Comunitário em suas atividades específicas sem

prejuízo das demais atividades de formação da Guarda Municipal convencional.

- cadeira cativa no Sistema Integrado de Defesa Social Estadual;

Sabemos que tais projetos são ousados, projetos preventivos que vão muito além

da função restrita da reatividade e da própria prevenção policial atual. São sugestões que

darão grandes resultados, em favor da desconstrução do ideal temerário e das autoridades

encarregadas da segurança pública, vigente em nossa sociedade.

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3.5.3 Objetivos do Projeto:

- integração da população;

- corte do abastecimento do capital humano ao tráfico de drogas;

- preenchimento do tempo com atividades enriquecedores e construtoras dda

cidadania;

- respeito e confiança em relação ao agente de segurança.

Temos consciência de que, numa primeira ponderação do leitor, o pensamento que

poderá, surgir será: isso não é função de guarda, ou melhor, isso não é função de nenhum

órgão de segurança pública.

Talvez o leitor tenha certo grau de razão, porém por que não pensar que num

órgão de segurança pública tais atividades poderão dar os melhores resultados, por causa de

seu sistema disciplinador e de seriedade em suas ações. Desta forma, deve-se investir na

infância e aguardar os frutos que virão em poucas décadas, para só a posteriori, concluir se foi

ou não eficaz ter sido mais ousado na preservação da infância e adolescência.

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3.5.4. Requisitos Essenciais

É importante ressaltar que teremos um grande avanço nos trabalhos preventivos

desenvolvidos pela Guarda Municipal, quando:

- a Guarda Comunitária não estiver restrita a uma filosofia sem ação,

- não constituir uma estratégia desconhecida do Guarda que está na ponta da linha

do dia a dia;

- não estiver restrita a uma repartição, ou a guardas destinados a realizar tais

atribuições sem o contato das experiências em suas atuações;

- o agir preventivamente for um critério adotado por todo o sistema organizacional

e doutrinário da Guarda Municipal.

Essa visão não restringe as atuações vigentes da Guarda, mas abre-se o campo e

proporciona o aprimoramento da atuação. Ou seja, o guarda poderá estar na sua atividade

cotidiana em um parque ecológico por exemplo, desenvolvendo suas atribuições de segurança

aos bens, serviços e instalações conjuntamente aos usuários do mesmo, porém terá ampliado o

seu leque mental a respeito de segurança e atitudes preventivas, em parceria com a

comunidade local.

Deve-se criar mecanismos destinados a equacionar de forma avaliativa o

desenvolvimento da atuação preventiva da Guarda Cidadã, em toda a sua abrangência, através

de vários mecanismos como questionários, relatórios, entrevistas em vários aspectos, como:

- dos usuários dos órgãos municipais;

- dos integrantes da Guarda Cidadão, Guarda Comunitária;

- no âmbito gerencial municipal, e demais funcionários municipais;

- e do próprio Guarda Municipal, integrante de um trabalho específico da

prevenção ou não.

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3.6 Reflexões Oportunas

Há muito tempo faço alguns questionamentos, e quem sabe através de

questionários e estatísticas mensuráveis poderemos responder às seguintes perguntas. Em

quanto a Guarda Municipal tem ajudado a polícia investigativa, a Polícia Civil, em

preservação de locais de crimes? Em quanto a Guarda Municipal tem ajudado a polícia

ostensiva, a Polícia Militar, em dados colhidos, para levantamento de BOs, na apreensão de

suspeitos, na resolução de conflitos que ocasionariam seu acionamento, disponibilizando

assim recurso precioso? Em quanto está sendo útil no levantamento de ocorrências que

ficariam nas estatísticas da esfera da cifra negra, na orientação de usuários de drogas, e

apreensão de drogas, no deslocamento e evitando furtos e roubos? Em quanto tem ajudado

com visitas tranqüilizadoras?

Pode estar atrapalhando em alguns casos? Ou, como no dizer dos críticos de

plantão, em muitos casos? É possível. Mas me adianto a pressupor que em muito a Guarda

tem contribuído com esta parceria com as demais polícias.

O que dizer dos chamados crimes de oportunidade que estão sendo evitados por

uma presença mais ostensiva. A pessoa que busca cometer um crime, segundo esta teoria

inglesa, quantifica o esforço que será exigido para a sua realização, ou seja, os fatores de risco

e o ganho recompensador oferecido pelo seu êxito. Com um guarda mais próximo e integrado

com a sociedade fica mais difícil tal atitude criminosa.

Sabemos que o fator preponderante que quantifica a eficiência da segurança

pública é o da acessibilidade, a empatia e confiança recíproca entre agentes de segurança

pública com a sociedade civil.

A figura do guarda é cativante e estimuladora para ocorrer tal empatia com a

sociedade, pois ele se encontra em contato direto e diário com a sociedade civil (escolas,

parque, postos de saúde, órgãos administrativos etc.);

Para que este contato não se perca, é imprescindível que o Guarda:

- dispa-se de preconceitos, de estereotipias; sua conduta deve ser a mesma para

todos;

- não se paute, em sua atuação preventiva, por vestimentas ou linguajar dos

usuários, criando assim um campo neutro de confiança e profissionalismo a fim de que de

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certa forma estabeleça um vínculo de respeito e estima entre os moradores de forma que

favoreça a colaboração.

Ou seja, o encarregado de segurança pública que não se pautar pelo comprimento

dos Direitos Humanos só tem a perder nas suas próprias tarefas. Ele deverá estender suas

ações até mesmo e inclusive e de preferência ao infrator, ao que realiza crimes, ou

contravenções penais, que deverá ser mantido e tratado com o maior respeito e cidadania

possível. Deve evitar, a todo custo, linchamentos por parte da população. Em suma é um

verdadeiro embaixador da paz e da justiça como é cantado no Hino da Guarda.

O guarda sabe (ou tem obrigação de saber e de ser ensinado a ele):

- até onde vai suas atribuições específicas;

- respeitar integralmente todos os órgãos e agentes de segurança pública;

- trabalhar em senso de equipe, e respeitabilidade a todos.

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3.6.1 Contextualização da Guarda Municipal de Belo Horizonte no Sistema de Segurança Pública de Minas Gerais

Ações ostensivas são atribuições das Polícias Militares e ações investigativas de

caráter judiciário são ações instituídas às Polícias Civis. Atualmente está se corrigindo um

desvio de função gigantesca entre ambas as corporações, pois chegou-se ao ponto de a Policia

Militar desenvolver grande número de investigações e de a Polícia Civil destinar vários de

seus recursos Humanos para os cuidados com infratores.

Nesta regularização de atribuições, patenteia-se publicamente o trabalho em

conjunto de ambas as polícias desde atuações preventivas junto à sociedade aos trabalhos

repressivos. Digo patenteia-se, pois as polícias mineiras sempre trabalharam interligadas. A

questão de integração entre as polícias já é feito há décadas sendo mais recente no âmbito

belo horizontino. É muito significativo o entrelaçamento institucional de cunho integrado,

pois vem dar sustentação teórica e prática de maneira formal e oficial, às ações das duas

instituições, favorecendo o expurgo dos preconceitos e estereótipos que ainda respiravam

entre as duas polícias.

É preciso entender as grandes vantagens de utilizar a Guarda Municipal

juntamente com os demais órgãos policias, pois teríamos facilidades no que concerne à

integração social e ações preventivas.

Uma grande vantagem e nem sempre a mais visada é a receptividade de tais

modificações pela própria organização que fica na ponta da linha. É importante salientar que,

na tarefa de guarda cidadã ou comunitária, não haveria o preconceito dos próprios policiais

em relação aos colegas que fossem destinadas a estas atribuições mais especificadamente,

como ocorreu e ainda ocorre em menor grau com os policiais militares que iniciaram o

trabalho das ações preventivas junto à comunidade.

O preconceito dificultou o avanço da polícia comunitária dentro da própria

PMMG, por algum tempo, pois muitos dos policiais que aderiram à prevenção junto à

comunidade eram taxados como policias de menor vigor, ou policiais de mentirinha ou de faz

conta, enquanto seus colegas se julgavam policiais de verdade, por realizarem tarefas mais

arriscadas. Não refletindo em profundidade em suas próprias críticas aos companheiros do

policiamento comunitário, pois este também é repressivo em muitas ações. Mas graças aos

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que preservaram este ideal humanitário hoje a PMMG está na frente de todas as Polícias

Militares do Brasil no que se refere a polícia comunitária e em trabalhos de integração à

Polícia Civil.

A Guarda é integrada a todos os órgãos de Segurança Pública desde a sua formação

na Academia da Polícia Militar, onde recebe aulas com vários polícias militares e policiais

civis, policiais bombeiros militares, e membros da sociedade civil. O Guarda Municipal é

tratado com respeito e consideração por todas as forças policias de Minas Gerais e também de

cunho da federação. Este senso de respeito é inquestionável e recíproco, basta verificar nas

ruas de Belo Horizonte o carinho e estima entre os membros dos órgãos de segurança pública

e dos membros das Guardas Municipais (ponta da linha). Este senso de união e respeito deve

ser aproveitado pelos gestores da melhor maneira possível em parcerias de atuações

preventivas.

Page 75: GUARDA COMUNITÁRIA

75

3.6.2 A interferência Política no Aspecto da Segurança Pública. As Guardas não deveriam ser MINIS

É muito importante que a Guarda Civil não seja reduzida a um trabalho de mini

PM, ou mini civil, ou outras minis. Aqui nem se coloca em pauta de discussão a idéia restrita

das guardas serem apenas um órgão de vigilantes concursados, como infelizmente ainda se

ouve, pois só há amparo legal para essa função no presente momento.

A criação da Guarda Municipal a partir de 1988 com a Constituição Federal em

seu artigo 144 no parágrafo 8º, será complementada em breve, no máximo em dois anos, nas

leis que estão em tramitação no Senado Federal e na Câmara Federal.

Até o presente momento, cada Guarda funciona de acordo com o critério de cada

Prefeito, o que não deixa de ser antiético e perigoso, pois é um poder sem regulamentação

legal. O que poderá ocasionar um verdadeiro transtorno nas áreas do Direito,

inconstitucionalidade, principalmente onerando os cofres públicos no pagamento de danos

morais na área Civil.

Se as guardas municipais tivessem funções de Polícias Militares ou de Policias

Civis, iria se tornar uma verdadeira celeuma. Aprendamos com os erros dos outros, e ninguém

melhor para errar em termos de segurança pública como os EUA. Haja vista que nos EUA

existem dezenas de centenas de órgãos policiais, somando os âmbitos distritais e o maior

número de presidiários do mundo cerca de 25% da população carcerária mundial encontra-se

só nos EUA. Em síntese, o modelo de polícia reativa está fadado ao fracasso, e a criação de

mais policias distritais (municipais) no Brasil só iria complicar ainda mais a situação. Em

suma: quanto mais as guardas estiverem parecidas com o modelo reativo das polícias já

constituídas maior a possibilidade de cometer os mesmos erros e desatinos.

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4 Conclusão

A Guarda Comunitária, Guarda Cidadã, sendo construída logo no nascedouro da

Guarda Civil de Belo Horizonte colherá muitos frutos de cidadania e de bem estar social.

Será muito improvável vermos a truculência de um oficial como Bull Connor do

Estado de Alabama contra o movimento da conquista dos Direitos Civis aos negros. Liderada

pelo arauto Luther King, que em suas passeatas e sermões memoráveis, encontrou várias

vezes a desumanidade de Bulls Connors; que utilizava de seu cargo policial para reprimir de

forma violenta tais manifestações pacíficas. É verdade que estas forças de segurança não

utilizavam armas letais, porém usavam cães, jatos de água, e deixavam que as pessoas

também preconceituosas e violentas os linchassem com pedras, garrafadas, mesmo contra

mulheres, crianças e velhos, enquanto os mártires da não-violência entoavam hinos e orações.

Com estes preceitos de integração com a comunidade, e atuação com os Direitos

Humanos, nunca veremos atitude semelhante ao acontecido na Índia contra o movimento da

filosofia da não-violência (Ahimsa) e da ação não-violência (Satyagasaha) de Mohandas

Karamchand Gandhi, onde a força policial ainda mais violenta e arbitrária do que nos EUA,

utilizava de cassetetes e muitas vezes armas letais, contra pessoas em movimentos de cunho

pacífico, como diria Mahatma( grande alma) Gandhi:

“Para combater o fetiche da força, há um único meio: empregar táticas completamente diferentes das que estão em voga entre os puros adoradores da força bruta.” (Merton, p.48,1967).

Se tais atitudes foram usadas contra passeatas pacíficas aonde poderia chegar à

insanidade de tais encarregados em manter a segurança pública, se fosse conter uma

manifestação de cunho violento? Um genocídio, provável.

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77

Aqui mesmo no Brasil, temos um exemplo, de um extermínio. O massacre de

Eldorado dos Carajás, que ocorreu durante o conflito de 17 de abril de 1996, no sul do Pará,

resultando em dezenove sem-terra mortos pela Polícia Militar, numa intervenção desastrosa,

onde se comprovou atos de extermínio, de execução dos manifestantes pelos agentes

promovedores de segurança pública.

A Guarda Municipal delineando-se com objetividade além de suas atribuições já

legalizadas constitucionalmente até o presente momento, em trabalhos preventivos,

principalmente com a infância e adolescência, cortando a mão de obra do tráfico de drogas,

favorecerá grandemente as demais forças de segurança pública. A Guarda Cidadã é uma força

de Segurança que angariará grandes parcerias e aprendizagens frutíferas, favorecendo o bem

estar social dos munícipes.

Numa Palavra: A Guarda Municipal de Belo Horizonte demonstra indícios

efetivos que ela caminhe para essa atuação comunitária o que resultaria numa identidade

própria e inviolável; a Guarda Comunitária; a Guarda da Paz a Guarda Ágape.

Page 78: GUARDA COMUNITÁRIA

78

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6 Anexo I - Sucinta Homenagem à Antiga Guarda Civil , Saudades...

A Guarda Civil de Minas Gerais, principalmente aqui mesmo em Belo Horizonte

até a década de 60 foi a vanguardeira do Brasil, no critério de cidadania, e prevenção de

criminalidade com ações integradas com a sociedade. Não há alguém que tenha algo contra tal

Guarda Civil, saudosa, que de certa forma nos chama a responsabilidade (os guardas

municipais atuais) de manter ações no comprimento da civilidade, ética, nobreza e bom senso

ao cidadão.

Tal Guarda Civil era vinculada a Polícia Civil, por causa das reformas do século

XX do sistema policial, que por sua vez também executava o policiamento de forma

ostensivo, uniformizado, e em junção aos policias militares.

Infelizmente na dita cuja revolução de 1964, por interesses de controle e opressão

ao povo brasileiro de acordo com os interesses norte americanos, as Guardas Civis também

não foram palpadas. As guardas civis foram extintas e infelizmente as polícias militares da

época tiveram que aceitar o papel fiscalizador do Estado sendo a Polícia Militar de todos os

Estados comandados por oficiais do próprio Exército Brasileiro.

Quando lembramos da Guarda Civil, como não sentirmos saudades? Atualmente

encontramos não com pouca freqüência, vários chefes de seções administrativas, dezenas de

policiais dos vários órgãos estaduais e federais, políticos de renome nacional, empresários,

pensadores, escritores e pessoas donos de restaurantes, bares, padarias. Em suma; pessoas do

povo, que são filhos e netos dos guardas civis, e guardam com carinho retratos e homenagens

merecidamente feito aos valorosos guardas civis.

A Guarda Municipal de Belo Horizonte e também mineira e Nacional está

ressuscitando a Guarda Civil. Principalmente no que concerne aos atos de cidadania. E quem

sabe poderá aprimorar-se a ponto de fazer ainda mais bonito criando uma secretaria voltada

para à comunidade em ações preventivas e integradas com a mesma, em âmbito de cada

município e do estado e da federação.