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Guardião: série Neblina e Escuridão

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Ellene finalmente enfrenta o homem de seus pesadelos e descobre que os dois têm mais em comum do que esperava. Ao mesmo tempo, o Guardião Millosh, determinado a recuperar sua rainha e a segurança de seu reino, se vê sozinho ao deparar-se com traições e precisa confiar em seu inimigo para continuar a busca por respostas. Unidos pelo passado, Millosh e Ellene são surpreendidos por um sentimento poderoso, impossível... e inesquecível. A determinação deles será colocada à prova, bem como a lealdade à raça. E lhes resta apenas a coragem ao se deparar com as revelações que os aguardam. No segundo livro da destacada série Neblina e Escuridão, amor e consciência não deveriam seguir o mesmo caminho.

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São Paulo · 2015

g u a r d i a o

m a r i s c o t t i

s é r i e n e b l i n a e e s c u r i d a o

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Guardião: Livro 2 - série Neblina e EscuridãoCopyright © 2015 by Mari ScottiCopyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

Lindsay Gois

editorial

João Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisições

Renata de Mello do Vale

assistente de aquisições

Acácio Alves

auxiliar de produção

Luís Pereira

preparação

Vânia Valente

diagramação

Luís Pereira

revisão

Daniela Georgeto

capa

Dimitry Uziel

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Scotti, MariGuardião: Livro 2 - série Neblina e EscuridãoMari Scotti; Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015.

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série

15-06116 cdd-869.3

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.3

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009.

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Este sonho não seria real se minha família não acreditasse comigo. Dedico a vocês: Célia

Maria Rech, Ricardo Scotti, Ignez Scotti, Priscila Scotti, Paulo Scotti e Ligia Scotti.

Amo vocês!

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Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por estar ao meu lado em todos os

planejamentos e conquistas.

Existem pessoas que, mesmo que agradeçamos todos os dias, ainda assim as

palavras se fazem insuficientes para o quanto somos realmente gratos, por isso vou

simplesmente deixar meu abraço e uma frase: Tia Célia, Ricardo Scotti, Ignez

Scotti, Paulo Scotti, Priscila Scotti, Ligia Scotti. Muito obrigada! Vocês são minha

força e meu alicerce. Amo vocês!

Tenho muitos leitores que querem me matar ao finalizar o primeiro livro da

série, outros com desejos igualmente homicidas e, não tenho culpa de que a história

precisou terminar daquele jeito ou talvez eu tenha haha! Mas existe uma leitora

em especial, e que preciso citar neste espaço, que quis me esganar, mas tomou uma

atitude que eu não esperava, principalmente porque nem nos conhecíamos direito:

a Nathália Novikovas. Ela não aceitou ter de aguardar para ler o próximo livro,

arregaçou as mangas e disse: “Não vou esperar, eu vou pedir!” Criou um evento

no facebook e movimentou a blogosfera e os leitores para pedirem a continuação

à editora, e isso não só nos tornou amigas, como me ajudou a manter os pés firmes

no chão e ter fé de que mais este sonho se concretizaria. E se realizou! Então,

obrigada por me empurrar para cima com seu otimismo e sua força de vontade.

Obrigada por sua amizade também! Espero sempre fazer parte da sua vida.

Aos meus colegas de trabalho que me aguentam todos os dias. O apoio de

vocês têm sido fundamental para mais esta conquista. Marilyn Grabalos, Aline

Dantas, Alexsandra Gonçalves, Paula Regina, Erika Trenti, Marcos Vasconcelos e

Marcos Logrado.A literatura me trouxe algo que pouco vivi e que me surpreende

a g r a d e c i m e n t o s

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todos os dias: amizades. Quero agradecer a estes que se aproximaram por causa de

um livro, mas que ficaram devido a esse laço ainda maior. Não vou citar nomes

para não me esquecer de ninguém, mas sintam-se agradecidos e abraçados!

Em especial às leitoras betas que leram antes do ponto final e me ajudaram

a aperfeiçoar a obra: Samara Santos, Faby RG, Carol Mraz, Paula Regina Karger,

Bruna Souza, Alexsandra Gonçalves, Lari Azevedo, Ana Carolina da Costa, Keila

Gon, Ana Zuky, Michelle Ladislau, Ligia Colares, Li Ferreira, Mariana Pestana,

Thaís Snape e Fernanda Reis.

Agradeço aos profissionais da Editora Novo Século por mais uma vez acre-

ditarem junto comigo!

E sempre serei grata à escritora que, mesmo sem me conhecer, fez brotar

no meu coração o desejo de voltar a criar histórias. Stephenie Meyer, obrigada

por sua inspiração.

São muitas as pessoas que me ajudaram a trilhar este caminho e espero que

o meu amor e a minha gratidão alcancem a todos. Obrigada!

Com amor, Mari Scotti

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Por: Milosh

Acredito que, estejam se questionando por que deixei uma carta para vocês

enquanto aguardo para saber se a ruivinha maluca me ajudará ou me matará na-

quela Catedral. Pois bem, vou explicar.

Aqueles que leram Híbrida, na primeira edição, me conheceram como Milosh

Maundreall e preciso contar que – pausa para respirar fundo, guardar a espada e

não ameaçar a escritora: MUDARAM O MEU SOBRENOME!

Fiquem indignados, eu também fiquei, mas no fim entendi e vocês certa-

mente concordarão.

Após a publicação do primeiro livro, descobrimos que existe outro vampiro

literário com nome e sobrenome semelhantes ao meu e, para evitarmos difamações

– pois não houve plágio no nome, apenas uma infeliz coincidência –, a escritora

e a editora Novo Século decidiram que o melhor seria modificar o meu. Afinal,

fui criado depois.

Foi feita uma pesquisa para evitar uma nova coincidência literária e, então,

fizeram a alteração. Confesso que demorei a me acostumar, mas já gosto muito

do sobrenome escolhido: Vasille.

Espero que tenham gostado também e que me ajudem a desvendar todo o

mistério que ronda o desaparecimento da rainha e a belíssima ruiva que me largou

sozinho na Catedral Ortodoxa de São Paulo.

Boa leitura!

Milosh Vasille

c a r t a a o s l e i t o r e s

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O mundo parecia de pernas para o ar. Tudo em que passou a vida inteira

acreditando estava errado. Pessoas em quem confiava pareciam tão falsas que não

suportava nem conviver com elas. Tomás estava em seu quarto desde que chegou

do baile dos vampiros e qualquer um que tentasse algum tipo de aproximação era

tratado com hostilidade e agressão.

Incomodava o fato de sua melhor amiga e garota por quem estava apaixonado

não ser exatamente quem dizia e ter escondido isso dele. Também não acreditava

que Jacó e sua família não sabiam que Ellene era meio vampira, afinal, a alimen-

tavam com suco de groselha batizado com sangue.

Todos os dias!

Aquela madrugada foi reveladora! Depois de testemunhar a híbrida adentrar

em um baile exclusivo para vampiros e acompanhada de um, aceitou que certa-

mente ela tinha conhecimento sobre o que era e apenas escondia a verdade. Como

todos de sua família. Afinal, de onde conhecia aquele vampiro se há menos de um

mês Ellene mal saía de casa? Foi enganado a vida toda! Amava uma vampira! Uma

mentirosa! Não conseguia conceber que a criaram como se fosse parte da alcateia.

Mentiras eram perdoáveis e aprendeu desde menino que perdoar era algo

para pessoas de caráter, porém, esconder uma vampira entre um bando de lobiso-

mens – raça naturalmente inimiga dos sugadores de sangue – não era apenas uma

mentira, era traição. Uma traição sem tamanho.

Sabia que era questão de tempo até perceberem que algo estava errado com

a família De Moraes e serem julgados por seus atos, pois logo se espalharia a infor-

mação sobre a briga entre ele e Jacó, obrigando-os a contar o motivo aos anciões.

Contava com isso.

Seu quarto estava escuro, a porta fechada e os vãos da janela lacrados com

um lençol. Não era suficiente, por isso entrou embaixo das cobertas, cobrindo-se

c a p í t u l o 1

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totalmente. Era a forma de tentar manter a calmaria em um momento tempes-

tuoso. Tomás os julgava como todos o fariam, mas, ao mesmo tempo, a culpa

o desnorteava, pois, apesar de tudo, Ellene era sua melhor amiga e o suportou

em tempos difíceis, mesmo não se recordando deles, pois era ainda uma criança

na época.

– Traição é traição – bradou para si mesmo como justificativa.

Horas antes vigiou o baile dos vampiros ao lado do seu bando. Era uma

festa em comemoração ao retorno da rainha que estava desaparecida. O intuito

era manter a ordem para que não atacassem nenhum humano. Apenas isso. Mas

foi surpreendido ao ver sua amiga – que até então era considerada um lobiso-

mem – entrar naquela festa de braço dado com um vampiro antigo, portando-se

como eles. Para Tom, estava óbvio que ela era vampira, e não apenas isso, era uma

convidada. Aquele era seu mundo e novamente entendia o motivo de ela não ter

se transformado em lobisomem.

Ellene não era um.

Tom lamentou, ouvindo um grunhido animal escapar de seus lábios ao

mesmo tempo. Seu coração estava batendo tão forte que sentia o peito se mover

e o som retumbar em seus tímpanos. Era raiva. Se não fosse passível de punição,

já teria extravasado, caçando alguns vampiros, mesmo que não estivessem agindo

contra as regras.

A garota ruiva, sua melhor amiga e paixão dos últimos anos, era uma men-

tira. Uma mentira que a família dela criou e eles mereciam ser penitenciados.

Ela também.

Batidas na porta o despertaram de seus pensamentos. Tomás rangeu os dentes,

ouvindo o som ecoar no ambiente como se ali morasse um cão raivoso. Não se

deu ao trabalho de descobrir a cabeça para ver quem o perturbava.

– Tomás, a Carolina está aqui para vê-lo, meu filho. Abra a porta.

O tom da mãe deixou claro que deveria recebê-la ou a porta seria arrombada.

Era sutilmente áspero, apesar do modo gentil com que falou. Fátima chamou pela

terceira vez e, sem obter resposta, simplesmente entrou, recebendo um rosnado

insatisfeito do filho.

– Me respeita, moleque! – Irritou-se.

– Não quero falar com ninguém! – vociferou, fechando-se ainda mais dentro

da coberta.

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– Filho… – Começou mais branda, mas foi interrompida por outro ros-

nado. O filho tendia a rosnar quando estava descontrolado. Era como se o lobo

dominasse, mesmo em sua forma humana.

– Deixa, dona Fátima, eu falo com ele – sussurrou Carolina.

Ouvia tudo sem prestar realmente atenção. Encolheu-se e se enrolou no

cobertor, enfiando o rosto por baixo do próprio braço, tentando abafar a conversa

entre a mãe e sua ex. Escutou a porta se fechar e sentiu a cama afundar com o

peso de alguém. Inevitavelmente recordou-se do costume de Ellene em aguardá-

-lo acordar, sentada embaixo de sua janela. Levantou rapidamente, arrancou o

lençol das frestas, escancarou a janela e olhou para baixo à procura dela. Reclamou

ao perceber que não havia ninguém e voltou à realidade dos fatos: talvez jamais

vivessem essa rotina de novo.

Carol se colocou entre ele e a janela, puxou violentamente a madeira,

fechando-o dentro do quarto mais uma vez.

– O que acha que está fazendo? – bradou, encarando-a. Suas mãos em punho

para controlar seus impulsos.

Em resposta à sua hostilidade, Carolina colocou as mãos nos quadris, profe-

rindo as palavras no mesmo tom que ele. Seus olhos pareciam tão ferozes quanto

a raiva que ele estava sentindo.

– Cuidando de você, o que acha?

– Não preciso que cuide de mim. Saia daqui! – ordenou. Deitou novamente

e cobriu a cabeça, escondendo-se dela.

– Você e eu sabemos que não vou obedecer – sussurrou e estava mais próxima

do que ele imaginava. A voz soou ao lado de sua cabeça. Tom soltou o ar, pois

conhecia bem Carolina e sabia que, quando cismava com algo, não desistia fácil.

– Por que ela mentiu para mim? – lamentou, vencido, depois de alguns

segundos.

Sentiu a movimentação e, quando a cama afundou novamente, a garota o

puxou para si, como se quisesse confortá-lo. Precisava daquele consolo, por isso

se acomodou em seu colo. Os dedos pequenos eram leves sobre sua cabeça, acari-

ciando os fios de cabelo sem pressa, aliviando as tensões do lobo, mas deixando-o

mais vulnerável do que gostaria que alguém notasse.

Fechou bem os olhos, empurrando para dentro de si as lágrimas que se

acumulavam.

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– Mentiu sobre o quê? Conhecer vampiros? – sussurrou a garota.

– Você é cega ou o quê? – rugiu com raiva mais uma vez e enfatizou: – Ela

é um vampiro.

– De onde tirou essa ideia? – O tom duvidoso o obrigou a se sentar e encará-

-la. – A Ellene não é um vampiro, se liga. Ela não te atacou, lembra? – Carolina

parecia irritada com ele.

Ele soltou lentamente o ar e, em vez de descontar sua raiva na morena, decidiu

compartilhar o que sabia. Relatou alguns acontecimentos, desde o amadurecimento

físico e mental de Ellene, até finalizar com a noite anterior, a do baile. Não teve

pressa, falou ininterruptamente por quase duas horas. Percebia seus olhares, ora

espantado, ora tentando acompanhar o que ele contava. E viu a certeza se formar

no rosto dela conforme compreendia, como chegou àquela conclusão.

– Então… no dia em que brigamos eu tinha feito um teste. Me cortei, mas

ela não me atacou, como você bem lembrou. Acho que sangue de lobo não os

atrai mesmo… – confidenciou, cansado.

Ambos estavam encostados à parede com as pernas esticadas sobre a cama.

Carolina pensativa e ele esperando alguma reação.

– Você acha mesmo que o Jacó sabia disso?

– Tenho certeza, pois me disse que desconfiavam. Deveria tê-la tirado daqui!

– Indignou-se mais uma vez.

– A Elle faz parte da família deles, Tom. Foi criada como filha. É normal que

queiram protegê-la – abrandou.

– Existem regras rígidas que nos guiam e você sabe que um vampiro não

deve ser recebido sem o conhecimento de todos. Quanto mais morar aqui!

– De todos não, do líder. Se Jacó sabia, não houve violação das regras.

Por um momento ele ponderou a afirmação dela, assentiu e se deitou com a

cabeça sobre as pernas da morena. Imediatamente sentiu a carícia em seus cabelos.

– Não sei mais o que pensar… – confessou com um fio de voz.

– Descansa um pouco. Quando acordar, as coisas parecerão mais leves.

Confia em mim. – Beijou-o a têmpora, mantendo o carinho tão familiar e

saudoso que o convenceu. Em poucos segundos, o cansaço o recolheu para o

mundo dos sonhos.

Despertou assustado, ouvindo uma movimentação no quarto. Logo reco-

nheceu o perfume de Carolina, um aroma de terra lembrando a antecedência

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da chuva. Resolveu fingir que ainda dormia. Estava cobrindo os olhos com um

dos braços e o outro jogado preguiçosamente sobre seu abdômen, descoberto. A

cama afundou um pouco e sentiu a respiração dela batendo em seu rosto. Podia

jurar que estava ajoelhada ao lado da cama, com os braços apoiados no colchão,

observando-o. Ela permaneceu nessa posição por vários segundos, deixando-o

com uma sensação estranha na boca do estômago, como se o tempo de repente

tivesse voltado para quando estavam namorando.

– Vai ficar me olhando? – Tom falou de repente, ouvindo em resposta um

gritinho agudo. Carolina se levantou com o susto. Ele sorriu, afastando o braço

do rosto. – O que fazia aí?

– N-nada, só olhando você dormir. – Fez uma careta e acrescentou: – Porque

você não estava bem.

– Ah, sei. – Tinha despertado mais bem humorado e, enquanto ignorasse os

acontecimentos, permaneceria assim. Sentou-se e a chamou, batendo no espaço

vazio ao seu lado esquerdo.

Assim que obedeceu, a envolveu com os braços, acomodando-a junto a

seu peito. Carolina sempre se encaixava no lugar certo, como ele gostava, e isso

o incomodou, mas não demonstrou, dedicando-se a ajeitar alguns fios de cabelo

que estavam soltos. Ellene também se encaixava em seus braços, mas era diferente.

Sempre que ficavam tão próximos, ela fugia.

– Por que você tem que gostar dela? – A morena parecia ler seus pensamentos.

– Talvez eu não goste – sussurrou. Talvez fosse apenas porque queria gostar de

outra… Argumentou consigo mesmo.

– Pode ser que não mesmo. Isso já é obsessão.

Ele franziu a testa e encostou os lábios na cabeça dela, sentindo o aroma que

tanto sentiu falta nos últimos anos. E, apesar disso, não conseguiu deixar de pensar

em Ellene, que o abandonou sem prévio aviso e com tantas inverdades entre eles.

Suspirou cansado de pensar nas perdas que viveu em seus anos de vida.

– Fica comigo, Carol? – falou de repente, muito baixo.

– Fico.

Era a segunda vez que ela o deixava com o estômago gelado e com a sensação

de que estava traindo Ellene. Fechou os olhos rapidamente e a encarou, levando

antes um sorriso divertido aos lábios.

– Estava brincando – disfarçou.

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– Ah, eu sei. – Carol pareceu hesitar e em seguida o fitou também. – Mas

não ligo se você me usar para esquecê-la – acrescentou, dando de ombros.

– Não sou esse tipo de cara. – Irritou-se, soltando o abraço. – E nem você

esse tipo de mulher.

– Eu sei! É que voltei achando que ficaríamos juntos, mas você estava apai-

xonado por outra! Não me conformo com isso ainda. Me guardei para você, Tom.

Meu coração nunca pertenceu a outro!

Ele a encarou desacreditando que finalmente teriam aquela conversa. Evitou

isso por tanto tempo e, justo no momento em que não queria mais problemas, o

assunto surgiu, lembrando-o dos anos de amargura.

Soltou, rancoroso, logo em seguida:

– E seu corpo?

Carolina o fitou por alguns segundos, parecendo ponderar em como respon-

der, então baixou a voz e se levantou.

– Beijei outro cara, namorei… Foram anos, e não dias, e você não me dava

retorno. Não respondia às cartas, nem às ligações… Só tinha olhos para aquela

vampira sanguessuga. – Ele imediatamente sentiu um aperto no peito. Fez uma

careta que externou exatamente o que sentia. – É só um apelido idiota – desculpou-

-se, voltando para perto dele e ficando em pé entre suas pernas, pois ele havia se

sentado. Deslizou a mão em seus cabelos, enrolando os fios na ponta dos dedos.

– Não é mais um apelido – murmurou Tom, fingindo pouca importância.

– Mas nunca respondi às cartas nem atendi às ligações porque estava magoado.

Depois, já era tarde demais para atender ou responder… – Antes que ela comentasse

o fato, se apressou. – Carol, foi você quem terminou comigo antes de ir embora

daqui. Se me apaixonei por outra, a culpa é inteiramente sua!

Sentia raiva por amar Ellene, uma vampira! Era mais fácil encontrar um

responsável para suas frustrações.

– Eu sei… – Carolina admitiu, baixando o olhar e dando puxõezinhos no cabelo

dele. Tomás se acalmou um pouco. – Sinto sua falta… Isso me deixa puta de raiva. E

os beijos que trocamos ontem… Não consigo parar de pensar neles… – resmungou.

Ele sentiu o sabor de cereja na boca quando lembrou, mas resolveu mudar

de assunto.

– Reinaldo gosta de você.

– Que Reinaldo?

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– O coadjuvante – brincou falando sobre o segundo líder deles –, que logo

será nosso líder, assim que expulsarem a família dela daqui.

– Ele é bonito, sexy, mas muito mal-humorado. E espero que não expulsem

ninguém daqui. – Encarou Tomás, reprovando-o.

O rapaz apenas apertou os lábios.

– Se a Elle mentiu mesmo e eles acobertaram, devem ser expulsos.

– Você é um idiota rancoroso. – Afastou-se, mas com um gesto automático

ele a deteve, puxando-a de volta para si. Carol caiu, derrubando ambos sobre o

colchão. Não houve tempo para respirar ou pensar. Em um segundo os lábios

dela pressionavam os dele. Exigentes, ávidos e ainda mais possessivos que na

noite anterior.

Tom arfou pela surpresa, segurou-a firme nos quadris e, com um impulso,

inverteu as posições.

– Você é mesmo uma ca-chor-ra – grunhiu, ouvindo o riso divertido dela em

seguida, pois era uma frase que ele sempre usava quando estavam juntos e ela o

pegava desprevenido.

– Au-au – brincou, e, por um momento, ele sentiu como se o tempo não

tivesse passado.

Observou-a. Ela era linda e os anos só aumentavam sua beleza. Sempre a

desejou e, quando voltou do exterior, se pegou pensando várias vezes nos mo-

mentos que quase os levaram a ter sua primeira vez. Foram poucos, mas íntimos

o suficiente para fazê-lo perder o controle e desejá-la mais uma vez.

Ergueu os braços dela sobre a cabeça. Prendeu-lhe os pulsos com uma ca-

miseta que estava amarrotada embaixo de seu travesseiro e a encarou diretamente

nos olhos, enquanto se deixava levar por aquelas lembranças.

– Focinho calado – ordenou, sorrindo traiçoeiro.

Carol estava ofegante e seu coração batia frenético, assim como o dele. Gos-

tavam de brincadeiras, mas não passavam de brincadeiras ousadas. Tom afastou as

pernas dela, que estavam visíveis, pois usava um short jeans e coturno de cano

médio. Passou a língua em seus lábios e a mão por sua perna torneada. Sua pele

era quente e firme. A morena possuía mais curvas que Ellene, o que o agradava

bastante. Ele desejou apagar os anos e aproveitar aquele momento, sem pensar

em nada além.

– Caralho, como você está gostosa! – soltou com uma lufada.

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Ela estreitou os olhos, mas respondeu a provocação com um sonoro suspiro.

– Lambe, auauzinho, só assim vai saber se está certo – provocou.

Lentamente, Tomás ergueu o olhar, mordendo o canto do próprio lábio.

Quando falou, seu tom era áspero, carregado de um desejo que desistiu de controlar.

– Mandei calar o fo-ci-nho.

Carolina gargalhou.

– Vem calar.

Tom apenas a encarou. Gostava de brincar tanto quanto ela e o mais prazeroso

era ouvi-la implorar, por isso arrastou a mão bem pesada pela perna feminina até

chegar à coxa novamente. Com o corpo sobre o dela, provocou, levando os lábios

até seu pescoço, mordiscando sua pele macia e cheirosa.

De repente sentiu os dedos dela se enroscando em seus cabelos e os puxando

com força, chegando a arder o couro cabeludo. Foi como se o tirasse daquele

torpor. O despertasse da vontade de esquecer os problemas e reviver um passado

que, infelizmente, tinha sido interrompido. Imediatamente a encarou e, sem dizer

nada, se levantou da cama, afastando-se alguns passos.

– Vai pra casinha, cansei de brincar – caçoou, tentando manter um clima

ameno. Deu-lhe as costas, fingindo procurar algo na escrivaninha.

– Ai, essa doeu – Carol riu timidamente. Ele sabia que a risada era apenas

para não piorar a situação e não precisou olhar para saber que a tinha ferido. Logo

sentiu os braços pequenos envolvendo sua cintura. – Quero ficar com você…

De verdade.

A pele dela parecia fogo que consome, fervendo sobre a dele. Tentando

ignorar, Tomás correu os dedos nos dela, que estavam entrelaçados sobre seu

abdômen.

– Eu também sinto vontade, mas não posso te usar, Carol. Não sou um canalha.

– Mas você… O que acabou de acontecer aqui?

– Eu sinto vontade… – repetiu, preferindo não dizer que era saudade também,

pois não sabia exatamente o que sentia. Evitou todas as aproximações justamente

para não ter que enfrentar o conflito de sentimentos que se acumulavam. – Ainda

bem que você não ficou parada, senão eu teria, sei lá… Porra! Sou homem! Você

é linda. Mexe comigo de um jeito que nem a Ellene consegue. Nós temos uma

história – admitiu –, mas não encostarei em você. É errado e eu não vou te usar

para esquecer os problemas – decidiu.

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– Não diz isso… – Carol choramingou e o apertou no abraço. – Você ad-

mitiu que ainda sente algo por mim. Por que insistir no que não vai dar certo?

– sussurrou. Tomás resmungou, pois sabia que ela tinha razão. – Sério, quero sua

boca, seu corpo, seu cheiro. Você.

– Você não sabe o que diz – tentou soar divertido, ignorando seu corpo e as

vontades que reacenderam com aquelas palavras.

– Já sou adulta, sei bem o que digo e faço. – Carol mordeu-lhe as costas

carinhosamente e Tom imediatamente sentiu sua pele arrepiar. Ele puxou o ar

entre os dentes e soltou uma lufada.

– Não provoca. Hoje estou no meu limite, Carolina.

– Você tem um limite? – continuou provocando, dando beijos úmidos no

mesmo local em que tinha mordido. Ele apertou os dedos sobre os dela, como se

assim fosse possível fazer seu corpo obedecer.

– Tenho… E depois de tudo o que houve, está difícil saber o que estou

fazendo.

– Você não parece não saber o que está fazendo. – Carol lentamente arras-

tou os lábios por suas costas, o fervor demorou a apagar de sua pele e só piorou

quando ela chegou à nuca, onde deu leves mordidas. Inevitavelmente seu corpo

reagiu e ele percebeu que estava com os joelhos flexionados, ajudando a garota

a provocá-lo. Motivo de sobra para qualquer uma desacreditar de sua negativa.

– Não sei não… não estou lúcido. – Manteve o foco. Sentia certa veracidade

em suas palavras, porém tinha medo de agir apenas por carência.

– Vem, Tom, vem… vem enlouquecer comigo. – Ambos riram.

– Louco você já está me deixando… – falou baixinho. Ao virar, enroscou a

mão nos cabelos dela e puxou com força para trás, a obrigando a olhá-lo. Mordeu

seu queixo carinhosamente e em seguida sussurrou: – Não vai rolar nada. Eu te

amo demais para brincar com você. – Respirou aquele aroma do passado e rapi-

damente a levou até a porta do quarto. – Vai antes que… Sei lá. Vai.

– Você me ama. Ponto pra mim. – Ela sorriu forçado. Pelo olhar, sabia

que a tinha magoado, mas era melhor que cometer um deslize e piorar tudo

entre eles.

Carolina tinha um jeito peculiar de andar quando estava chateada, seus passos

tornavam-se audíveis. Ouviu passo a passo até que saiu do seu quarto e chegou à

porta da sala. A garota olhou-o e acenou, deixando-o sozinho novamente.

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Tomás suspirou aliviado quando se viu separado dela pela porta de entrada.

Seu coração estava disparado e a mente fervilhando de dúvidas, receoso com as

reações de seu corpo diante da garota. Precisava lembrar-se de não ficar sozinho

com ela novamente, pois sabia que não eram os sentimentos que o guiavam, mas

a mágoa. Ele não tinha o direito de usá-la na tentativa de esquecer Ellene.

Adentrou o quarto e se deitou. No mesmo instante foi invadido pelas amar-

gas memórias dos últimos dias. Por mais que Ellene sempre demonstrasse apenas

amizade, a lembrança dos beijos trocados e das poucas carícias pesavam em seu

peito, deixando-o novamente agitado e com raiva.

Respirou bem fundo e olhou no relógio do celular, constatando que estava

quase na hora do almoço e que Carolina tinha preenchido boa parte do seu dia.

Apesar da distração e de precisar urgentemente de um banho gelado, deixar as

indagações de lado não o estava ajudando.

Por que Ellene nunca confiou em mim para contar sobre seu passado? Para com-

partilhar o que é? Será mesmo metade lobisomem e metade vampira? Fez uma careta

ao imaginar um lobisomem e um vampiro fazendo amor. Não conseguia nem

conceber tal aberração. Ao mesmo tempo outro pensamento o levou mais pró-

ximo da ruiva. Talvez por esse motivo nunca tenha aceitado ficar realmente comigo,

pois já sabia o que era…

Ouviu duas batidas na porta e olhou em sua direção. Dona Fátima sorriu,

tinha as bochechas rosadas e os cabelos brancos desgrenhados no penteado de

dona de casa.

– O almoço está pronto – avisou.

– Estou indo. Obrigado, mãe.

Ela fechou a porta, mas antes percorreu o quarto com os olhos e os pousou

em Tomás, deixando-o constrangido por estar notório o quanto Carolina ainda

mexia com ele. Então Tom vestiu uma bermuda mais larga, uma regata e saiu,

sentando-se à mesa.

– Lavou as mãos? – questionou dona Fátima com um sorriso nos lábios que

o animou um pouco.

Tom se levantou e lavou as mãos na pia da cozinha. Enxugou-as no avental

que ela estava usando e se sentou novamente, servindo-se de arroz, feijão e um

grande filé malpassado.

– Obrigado… – falou, ao ser servido de um copo com suco de laranja.

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Dona Fátima também se sentou. Deram as mãos, como de costume, e ela

fez uma oração, agradecendo pelo alimento e por seu filho estar vivo depois da

missão perigosa da noite anterior. Comeram em silêncio. Tom percebeu que sua

mãe queria perguntar algo, mas manteve os olhos voltados para o prato de comida.

– Voltou com a Carol? – soltou de repente, fazendo-o encolher os ombros.

– Não. – Enfiou mais comida na boca.

– Vocês pareceram bem íntimos hoje. – Ele ergueu os olhos a tempo de

perceber um sorrisinho no rosto da mãe, que o encarou.

– Ela quer, mas eu… Não sei. Amo a Ellene, a senhora sabe disso – falou

pesaroso, assim como se sentia por saber que, apesar da sua raça, o sentimento

persistia, caçoando dele.

– Mas a Ellene não te ama desse modo. Por que não dá uma chance para

você e a Carolzinha recuperarem o tempo perdido?

Tom ponderou, mas negou lentamente com a cabeça, terminando de engolir

a comida.

– A Carol foi embora mesmo eu pedindo que ficasse… Não tenho culpa

do que sinto agora.

– Ganhar uma bolsa de estudos no exterior é como ganhar na loteria!

Ela fez muito bem em ir – repetiu o que ele ouvia sempre que reclamava so-

bre isso com a mãe. Não retrucou, sabia que não deveria. Terminou o almoço

e levantou-se para lavar a louça enquanto dona Fátima recolhia a mesa. – Eu

ainda acho que você não ama a Ellene, só confundiu os sentimentos porque a

Carol foi embora…

– Achei que já tinha esquecido esse assunto! – reclamou, depois virou para a

mãe. – Eu sinto algo pela Carol, talvez porque tenha sido meu primeiro amor…

ou porque estou sozinho… – Corou. – E a Ellene é diferente – pausou –, é tão

inocente às vezes! Eu adoro isso nela – comentou mais baixo ainda. A mulher se

aproximou e tocou o rosto do filho.

– Você sabe que faço gosto que fique com a Carol… Tem algo de sombrio

na Ellene que não me deixa confiar nela.

– Se a senhora soubesse… – falou para si mesmo e ergueu os olhos. – Mãe,

jura que não comenta com ninguém? Apesar de que eu queria mesmo é que se

espalhasse, mas enfim… – Quando a mãe concordou, ele finalizou: – A Ellene é

metade vampira.

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A mulher não pareceu surpresa, mas o oposto. Soltou o ar parecendo aliviada.

Tomás estranhou aquilo e a encarou interrogativo.

– Eu desconfiava de algo do tipo… Não cheguei a cogitar vampira, mas

sempre achei que não era normal um lobisomem demorar tanto a se desenvolver

ou possuir todos aqueles poderes.

– Por que nunca comentou comigo?

– Porque eram suposições, e não fatos. Nunca quis saber, apenas tinha minhas

teorias. Antes de a trazerem para cá, o Manoel fez uma reunião com todos os adultos

e apresentou a situação. Disse que a mãe corria perigo e pediu abrigo para a filha.

Informou que Ellene ficaria com os De Moraes por tempo indeterminado. Todos

foram a favor, afinal era apenas uma criança e juraram que aqui os perseguidores da

mãe dela não a achariam. Com o tempo, percebemos que a criança era diferente

e que a mãe não aparecia mais… Mas ninguém comentou nada.

– Você acha que eles sabiam?

– Que ela era diferente?

– Isso. – Terminaram de arrumar a cozinha e foram se sentar na sala, ficando

a mãe estendida no sofá e Tom na poltrona menor.

– Acho que desconfiavam também, porque a Dulce vivia com medo da mãe

dela voltar e levar a menina. Também tinha medo da filha não crescer e morrer…

Se soubesse que era uma criança vampira, não precisaria ter medo de uma doença

terminal, como imaginou ser.

– Mas eles sabiam que a Ellene demoraria a crescer…

Fátima ficou pensativa, concordando lentamente.

– Sim, mas não exime nenhuma mãe de fantasiar o pior – comentou. – Ser

vampiro é quase o raciocínio lógico! Existem lendas que falam sobre crianças com

sede de sangue, que não se desenvolviam caso não se alimentassem… – Levantou-se

e ele a seguiu, sabia para onde iria. A mulher continuou falando enquanto tirava o

avental e prendia melhor o cabelo. – Acho que tenho um livro que fala sobre isso…

Estava sol, apesar das pesadas nuvens acinzentadas que cobriam boa parte

da paisagem. Tom a seguiu em silêncio, ouvindo enquanto a mãe explicava mais

baixo para não chamar a atenção.

– Elas possuíam poderes também, mas não eram doces como a… ela. Eram

más, cruéis…

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– Cruéis? Ellene pode se tornar cruel? – sussurrou, lembrando que afirmou

por telefone que a mataria se atacasse um humano. Suspirou, sentindo-se impo-

tente diante da possibilidade.

Fátima seguiu pelo caminho de terra por dentro da horta até chegarem

à outra extremidade do vilarejo. Ali as casas eram exatamente iguais, todas de

alvenaria, térreas e com a floresta em volta, protegendo-os de serem facilmente

localizados. Ela não respondeu à pergunta, cumprimentando algumas senhoras

que passaram por eles.

A biblioteca ficava nas dependências do colégio, que estava em recesso por

causa das festas de final de ano e também dos recentes ataques de vampiros. O

prédio ficava sempre destrancado, pois confiavam uns nos outros. Lembrava uma

escola comum, com parede de tijolinho e uma enorme placa acima da portaria

principal com o nome do colégio: Escola Prof. Cândido Mattos. Ao olhar a placa,

lembrou-se das explicações sobre o nome escolhido ser a fundição dos patriarcas

daquela vila. Os ancestrais de Carol e dele próprio.

Fátima abriu a grande porta de madeira da entrada e avançou pelo corredor

escuro, deixando-o para trás por poucos segundos. O frio no interior do prédio

o arrepiou por completo, mas, ao mesmo tempo, a apreensão do que descobriria

deixou-o com calor.

No corredor havia várias portas fechadas onde, ele sabia, eram as salas de

aula comuns, para alunos do infantil ao último ano do Ensino Médio. A escola

funcionava como todas as outras, com as matérias obrigatórias por lei, porém no

subsolo havia salas especiais de treinamento. A mãe de Ellene era uma das pro-

fessoras do maternal.

A biblioteca também era especial, com os livros didáticos e com um anexo

escondido para os livros secretos, caso algum inspetor do governo resolvesse

fazer uma visita. Seguindo a mãe por entre as fileiras de estantes de madeira

abarrotadas de livros e desviando das inúmeras mesas da sala, localizaram uma

escada em espiral com cerca de quinze degraus. Ao subirem, viu que dona

Fátima retirou uma chave do bolso da saia jeans e destrancou uma porta gros-

sa, com uma placa escrito “depósito”. Ao ser aberta, o aroma forte de papel

antigo o fez torcer o nariz.

O anexo era um dos locais mais visitados por ele quando mais novo, pois

costumeiramente passava os dias com a mãe depois do horário da escola. O aroma

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o fazia lembrar também do pai, que ainda era vivo naquela época. Tomás respirou

fundo, avançando silenciosamente, afastando a nostalgia.

As mesas eram como tablados para experimentos, retangulares, com bancos

mais altos para que os usuários utilizassem a bancada em pé ou sentados. O espa-

ço era para os livros mais antigos, pois não podiam ser manuseados de qualquer

forma, para não desmancharem.

Os volumes estavam em prateleiras protegidas por vidros esverdeados e

outras por vidros mais escuros. Alguns tão antigos que mal se compreendia o que

dizia a capa.

Dona Fátima retirou de uma das prateleiras um livro grosso e em sua capa de

couro marrom com letras em dourado quase apagadas podia-se ler: Demônios Infantis.

– Se não me engano, foi neste livro que li… – comentou pensativa.

– Demônios? – arfou Tom, lembrando-se dos olhos de Ellene avermelhados

na noite de lua cheia. – Ela é um… demônio?

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