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 GUARDIÕES DA IDENTIDADE Precisamos refletir sempre mais sobre a nossa Identidade e nos aprofundar nela continuamente. Afinal, é a Identidade que nos distingue, é ela que diz quem somos, é o que mostra até mesmo a razão de ser do nosso Movimento. Por ocasião do I Fórum para líderes promovido pela RCCBRASIL, na cidade de Luziânia - GO, em janeiro/2009, nosso querido irmão Reinaldo Beserra, um líder referencial para a Renovação Carismática Católica dizia assim: “parecemos um povo monotemático, porque só falamos ou ao menos falamos muito de nossa Identidade. Entretanto, o povo que se perde em sua Identidade está fadado a acabar, a se dispersar. Se fugirmos da nossa Identidade, descaracterizamo-nos. O Senhor deu-nos uma especificidade que quer ver manifesta.  A graça é para toda a Igreja, mas a nós deu-nos como ofício próprio.”  Por isso, somos corresponsáveis por esta maravilhosa e cuidadosa tarefa de guardarmos a nossa Identidade para que não nos dispersemos. E essa Identidade, objeto de nossa constante reflexão e aprofundamento, deve ser demonstrada sem reservas em cada um de nossos mais de vinte mil Grupos de Oração espalhados pelo Brasil. Demonstrar nossa Identidade significa, antes de tudo, vivê-la de forma contundente, encarná-la, assumi-la como um modo de viver. Ao nos olharem, as pessoas precisam ver o “rosto, sinal e memória de Pentecostes”[1] em nós, em cada um de nossos Grupos de Oração. Essa expressão emblemática de nosso amado Papa João Paulo II nos leva a tecer algumas considerações: o rosto é a expressão máxima do ser, demonstra as caracterí sticas fundamentais de alguém, é a “janela” de visualização da pessoa; precisamos ter essa face pentecostal. Já sinal é algo que chama a atenção, que alerta as pessoas, que denota presença. Poderíamos comparar a um farol marítimo que de longe é visualizado pelos marinheiros, gerando segurança, confiabilidade, alegria de não estar perdido no mar. Nossos Grupos de Oração precisam ser esse sinal que chama a atenção com o “barulho santo” de Pentecostes. Ao mesmo tempo, somos chamados a ser memória de Pentecoste s.  A memória guarda o conceito, perpetua para a posteridade, recorda e atualiza a todo momento. Ao fazer uma leitura toda especial e atual de Pentecostes, a Renovação Carismática Católica está perpetuando e recordando aos homens uma Promessa de Deus que estava um tanto “esquecida” ou mesmo minimizada com o decorrer d o tempo... Há algum tempo atrás nossa querida irmã Michelle Moran  Presidente do ICCRS (Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica)  denunciou um fato que requer nossa máxima atenção e reflexão. Dizia ela: “em alguns lugares do mundo a RCC já é um fato histórico” . Em outras palavras, a RCC daqueles lugares foi uma corrente de graça que não foi alicerçada, cultivada, guardada, refletida continuamente e, por isso mesmo, passou, diluiu, se perdeu. Não que Deus tivesse “economizado” no derramamento da sua graça, do seu Espírito, mas porque os carismáticos desses lugares não tinham a coesão gerada por uma Identidade conhecida de forma cada vez mais aprofundada e vivida em todas as suas consequências.

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GUARDIÕES DA IDENTIDADE

Precisamos refletir sempre mais sobre a nossa Identidade e nos aprofundar nelacontinuamente. Afinal, é a Identidade que nos distingue, é ela que diz quem somos, é o quemostra até mesmo a razão de ser do nosso Movimento. Por ocasião do I Fórum para líderespromovido pela RCCBRASIL, na cidade de Luziânia - GO, em janeiro/2009, nosso queridoirmão Reinaldo Beserra, um líder referencial para a Renovação Carismática Católica diziaassim: “parecemos um povo monotemático, porque só falamos ou ao menos falamos muitode nossa Identidade. Entretanto, o povo que se perde em sua Identidade está fadado aacabar, a se dispersar. Se fugirmos da nossa Identidade, descaracterizamo-nos. O Senhordeu-nos uma especificidade que quer ver manifesta. A graça é para toda a Igreja, mas anós deu- nos como ofício próprio.” Por isso, somos corresponsáveis por esta maravilhosa ecuidadosa tarefa de guardarmos a nossa Identidade para que não nos dispersemos.

E essa Identidade, objeto de nossa constante reflexão e aprofundamento, deve serdemonstrada sem reservas em cada um de nossos mais de vinte mil Grupos de Oraçãoespalhados pelo Brasil. Demonstrar nossa Identidade significa, antes de tudo, vivê-la deforma contundente, encarná-la, assumi-la como um modo de viver. Ao nos olharem, aspessoas precisam ver o “rosto, sinal e memória de Pentecostes ”[1] em nós, em cada um denossos Grupos de Oração. Essa expressão emblemática de nosso amado Papa João Paulo IInos leva a tecer algumas considerações:o rosto é a expressão máxima do ser, demonstra as

características fundamentais de alguém, é a “janela” de visualização da pessoa; precisamoster essa face pentecostal. Jásinal é algo que chama a atenção, que alerta as pessoas, quedenota presença. Poderíamos comparar a um farol marítimo que de longe é visualizadopelos marinheiros, gerando segurança, confiabilidade, alegria de não estar perdido no mar.Nossos Grupos de Oração precisam ser esse sinal que chama a atenção com o “barulhosanto” de Pentecostes. Ao mesmo tempo, somos chamados a ser memória de Pentecoste s. Amemória guarda o conceito, perpetua para a posteridade, recorda e atualiza a todomomento. Ao fazer uma leitura toda especial e atual de Pentecostes, a RenovaçãoCarismática Católica está perpetuando e recordando aos homens uma Promessa de Deusque estava um tanto “esquecida” ou mesmo minimizada com o decorrer do tempo...

Há algum tempo atrás nossa querida irmã Michelle Moran– Presidente do ICCRS (ServiçoInternacional da Renovação Carismática Católica)– denunciou um fato que requer nossamáxima atenção e reflexão. Dizia ela:“em alguns lugares do mundo a RCC já é um fatohistórico” . Em outras palavras, a RCC daqueles lugares foi uma corrente de graça que nãofoi alicerçada, cultivada, guardada, refletida continuamente e, por isso mesmo, passou,diluiu, se perdeu. Não que Deus tivesse “economizado” no derramamento da sua graça, doseu Espírito, mas porque os carismáticos desses lugares não tinham a coesão gerada poruma Identidade conhecida de forma cada vez mais aprofundada e vivida em todas as suas

consequências.

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Percebam, pois, como é importante cultivarmos, alimentarmos, guardarmos e nosaprofundarmos continuamente nossa Identidade. Sobretudo os líderes da Renovação

Carismática Católica nos mais diversos Grupos de Oração, somos os guardiões e ospropagadores de nossa Identidade. Note-se que muitos servos já passaram pela RCCinflamados, mas hoje já não estão mais no Movimento e até mesmo na Igreja. O que faltou?Muito possivelmente, a centralidade na Identidade. Os Bispos da América Latina e doCaribe, por ocasião da V Conferência Episcopal, em Aparecida, durante o mês de maio de2007, nos exortaram dizendo que seria conveniente convidar alguns movimentos a renovarseu carisma original.” [2] Ora, no tocante à Renovação Carismática Católica, renovar seucarisma original significa guardar, aprofundar, vivenciar e, em alguns lugares e situações,até mesmo retomar a nossa Identidade. Um movimento será tão mais útil e mais fértilquanto mais próximo estiver do seu carisma original. Do contrário, corre imenso risco de sedescaracterizar.

Por isso, precisamos nos perguntar hoje: Como estão nossos Grupos de Oração?Permanecem fieis à identidade da Renovação Carismática? Sabemos que o Grupo deOração é a célula principal da RCC; é a porta de entrada no Movimento e para muitos, é aporta de entrada na Igreja e mesmo no céu. É a porta que o Filho de Davi abriu e queninguém pode fechar[3]. Tudo na RCC, inclusive todos os ministérios, convergem para oGrupo de Oração. O Grupo de Oração é a menina dos olhos de Deus, em se tratando deRCC. Portanto, deve estar profundamente alicerçado na Identidade do nosso Movimento,

vivendo-a com todas as suas consequências, refletindo-a para o mundo.

Sabemos que a nossa Identidade é baseada num tripé[4]: Batismo no EspíritoSanto, Prática dos carismas e Vivência fraterna. Reflitamos um pouco sobre cadaum desses componentes fundamentais, mais detidamente sobre o segundo:

Batismo no Espírito Santo– acerca deste, um recente Documento escrito epublicado pela Comissão Doutrinal do ICCRS nos ensina assim:“o batismo no Espírito Santo é uma graça para toda a Igreja e não meramente para a Renovação Carismática Católica; é uma graça que renova toda a vida cristã... Obatismo no Espírito Santo é uma experiência transformadora de vida com o amorde Deus derramado no coração da pessoa pelo Espírito Santo, recebido através dasubmissão ao senhorio de Jesus Cristo. Ele atualiza o Batismo e o Crismasacramentais, aprofunda a comunhão com Deus e com os outros cristãos, reavivao fervor evangelístico e equipa as pessoas com carismas para o serviço e a missão. Este operar de Deus, que está presente desde o início da Igreja não pode serlimitado a uma corrente ou movimento... Através do batismo no Espírito, aexperiência do primeiro Pentecostes está presente de maneira nova em nossostempos. ” [5] “ Ser batizado no Espírito é ser preenchido com o Amor que

eternamente flui entre o Pai e o Filho na Trindade Santa, um amor que torna as pessoas, no nível mais profundo de seu ser, capazes de amar a Deus em resposta.

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Os cristãos fazem, portanto, a experiência do mistério pascal de Cristo como uma fonte presente de graça e poder... Isso é verdadeiro para cada batizado(sacramentalmente) cristão, mas através do batismo no Espírito ele se torna umarealidade vivenciada .” [6]

Nesse sentido, o batismo no Espírito Santo, ou ainda, efusão do Espírito Santo, é umaexperiência que nos introduz na vida no Espírito, isto é, uma vida totalmente aberta à açãoe mover do Espírito Santo, uma vez que pelo batismo no Espírito, Ele não só vem à pessoade um modo novo, mas opera nela uma verdadeira mudança. “ A sua vida se tornadiferente, porque o seu relacionamento com Deus se modificou. Deus está nela de umamaneira que não estava antes... O Espírito guia-a, fala-lhe, ensina-lhe, fá-la conhecer a Deus e saber que Deus a ama. ” [7]

Podemos dizer que a experiência do batismo no Espírito Santo é um divisor de águas em

nossa vida, um ponto de decisão, o livre encontro de duas liberdades: a de Deus (graça) e ahumana (livre arbítrio). Quando há o encontro destas duas liberdades, o Espírito Santopenetra, se expande e opera em nossas entranhas livremente, santificando-nos, mudandonossos paradigmas, ordenando todas as coisas, capacitando-nos para a missão. Precisamos,portanto, pedir uma nova efusão do Espírito Santo a cada momento de nossas vidas, emcada um de nossos Grupos de Oração, sem reservas, pois se nós que somos maus damos boas coisas a nossos filhos, quanto mais o Pai Celeste dará o Espírito Santo àqueles que lhepedirem.[8]

Prática dos Carismas– Do grego, Chárisma (graça em ação), carisma significa alivre manifestação do Espírito em nosso meio, para o bem dos homens, para o bemcomum. Favor de Deus, presente dado por Ele para a nossa edificação eimplantação de seu Reino. Acerca dos carismas, diz-nos o Documento doICCRS:“Nos lugares em que a Renovação é saudável e o exercício dos carismas émaduro, a ênfase não está na natureza milagrosa ou extraordinária destes dons,mas sim na sua capacidade de mediar o amor de Deus e edificar o corpo deCri sto. ” [9]

Aqui nos deteremos de forma especial. Essa seja talvez a característica que mais nos

identifica no tecido eclesial: a leitura atual e viva que fazemos dos carismas. Além disso, verifica-se uma maior fragilidade neste componente de nossa Identidade. Muitos Grupos deOração estão carecendo de prática dos carismas. Acerca dos carismas, o então CardealRatzinger, hoje Papa Emérito Bento XVI, se expressou assim:"O que traz muita esperançaa toda a igreja universal – mesmo no meio da crise que a Igreja atravessa no mundoocidental – é o surgimento de novos movimentos que ninguém planejou e que ninguémtrouxe, mas que simplesmente emergem da vitalidade interna da fé. O que está setornando aparente nesses movimentos é algo muito similar a um tempo Pentecostal na Igreja. No coração de um mundo dessecado pelo ceticismo racionalista, uma nova

experiência do Espírito Santo surgiu, tornando-se um movimento mundial derenovação. O que o Novo Testamento descreve com referência aos carismas,

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Aqui cabe uma observação importante: os carismas precisam ser cultivados, é necessárioabrir-se sempre mais a eles, nutri-los (aprofundar o conhecimento deles para melhor abrir-se). Devemos exercitá-los não somente no Grupo de Oração, mas no dia a dia. Aliás, oGrupo de Oração é o extravasamento daquilo que eu vivencio ao longo da semana na minha

oração pessoal. Se oro em línguas no meu cotidiano, a oração em línguas em comunidadeserá um grande coral para Deus juntamente com meus irmãos; se escuto a Deus em minhacasa, escutarei bem a Palavra de Profecia, a Palavra de Ciência e de Sabedoria e aproclamarei para a edificação dos irmãos; se procuro aplicar o discernimento dos espíritosem minha vida pessoal com a luz do Espírito Santo, eu o aplicarei quando estiver, porexemplo, conduzindo uma Reunião de Oração; se nutro uma fé expectante (carismática)nas diversas situações da vida, ela será porta aberta para que aconteçam curas e milagrespela imposição das minhas mãos e assim por diante.

Certa vez o Papa Paulo VI exclamou:“Que Deus conceda que o Senhor deixe novamentecair uma chuva de carismas, para fazer a Igreja fértil, bela, admirável, capaz de comover,de atrair a atenção maravilhada até do mundo profano com sua tendência aosecularismo ” [14] . Clamemos, pois, esta chuva de carismas sobre nossos Grupos de Oração!

Vivência Fraterna– Esse componente traduz o amor verdadeiro gerado pelo verdadeiro Pentecostes. Acolhimento cristão, promoção do outro, perdão recíproco,pastoreio efetivo, unidade na diversidade. Aqui, aliás, podemos notar uma estreitaligação com o tema que nos norteará durante o ano da graça de 2014:“Conservar aunidade do Espírito pelo vínculo da paz. ” [15] Jesus é o nosso vínculo de paz com os

irmãos; Ele é o nosso parâmetro de amor, de esvaziamento de si mesmo em prol dooutro, de amor entranhado que nos leva ao serviço do irmão. E tudo isso só épossível pela ação do Espírito Santo em nós. Cresçamos, portanto, em vivênciaefetivamente fraterna de um modo todo especial durante o ano de 2014, cujo tema éparticularmente propício.

Caríssimos, o Ministério de Formação é convocado a ser guardião da Identidade, isto é,aqueles que resgatam, protegem e com fidelidade propagam-na. Reflitamos sobre isso:formadores, guardiões da Identidade!

Vinícius Rodrigues SimõesG.O Jesus Senhor

[1] Papa João Paulo II durante Encontro com os Movimentos Eclesiais e NovasComunidades, na Praça de São Pedro, em 1998.

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[2] Cf. Doc. Aparecida, 311

[3] Cf. Ap. 3, 7-11– Palavra dada pelo Senhor ao Conselho Nacional durante o ENF/2007,aos 40 anos da RCC no mundo.

[4] Cf. Apostila I do Módulo Básico de Formação da RCCBRASIL

[5] ICCRS, Comissão Doutrinal– Batismo no Espírito Santo, 2013. p. 15

[6] Idem, pp. 67-68

[7] Grupo de Reflexão Teológico-Pastoral da RCCBRASIL. Seminário sobre Batismo noEspírito Santo. 2012. pp. 37-38

[8] Cf. Lc. 11, 13

[9] ICCRS, Comissão Doutrinal– Batismo no Espírito Santo, 2013. p. 22

[10] Papa Bento XVI, Trecho do livro-entrevista A fé em crise. Repetido no discurso de SuaSantidade aos participantes de um Encontro organizado pela Fraternidade Católica de Associações Carismáticas, em Roma, outubro/2008.

[11] Catec. n. 800

[12] CV II. Constituição Dogmática Lumen Gentium , 12

[13] CV II. Decreto Apostolicam Actuasitatem, 3

[14] Oração do Papa Paulo VI em 10 de outubro de 1974.

[15] Cf. Ef. 4, 3