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Guerra Do Contestado

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Guerra do ContestadoConflitos Nacionais

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ConteúdoPáginas

Guerra do Contestado 1Guerra de Canudos 10Percival Farquhar 18

ReferênciasFontes e Editores da Página 28Fontes, Licenças e Editores da Imagem 29

Licenças das páginasLicença 30

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Guerra do Contestado

Guerra do Contestado

Guerra civilData 22 de outubro de 1912 - Agosto de 1916

Local Região do Contestado, entre Paraná e Santa Catarina sul do Brasil

Resultado Acordo de limites entre os governos de Paraná e Santa Catarina

Combatentes

Rebeldes Brasil

Comandantes

José Maria de Santo Agostinho Maria Rosa AdeodatoManoel Ramos

João Gualberto Gomes de Sá Filho Carlos Fredericode Mesquita

Tertuliano Potiguara Marechal Hermes da Fonseca

Forças

10.000 soldados do Exército Encantado deSão Sebastião

7.000 soldados do Exército Brasileiro 1.000 soldados do regimento de segurança doParaná PMPR e 1.000 civis contratados

Baixas

5.000-8.000 entre mortos, feridos e desaparecidos 800-1.000 entre mortos, feridos ou desertores

A Guerra do Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual efederal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira,disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras e dainsatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, o embate foiagravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclosrevoltados, de que se tratava de uma guerra santa.A região fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado devido ao fato de queos agricultores contestaram a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à Southern Brazil Lumber &Colonization Company. Como foi uma região de muitos conflitos, ficou conhecida como Contestado, por ser umaregião de disputas de limites entre os dois estados brasileiros.

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AntecedentesAntes dos acontecimentos que culminaram na guerra, houve:• Ação judicial de Santa Catarina contra o Paraná em 1900, por limites• Decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal pró-Santa Catarina em 1904, 1909 e 1910• Revolta do ex-maragato Demétrio Ramos na zona do Timbó, em 1905 e 1906• Construção da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, de 1908 a 1910• Criação dos municípios de Canoinhas, Itaiópolis e Três Barras em Santa Catarina, e de Timbó no Paraná.• Instalação da Southern Brazil Lumber & Colonization Company em Calmon (1908) e em Três Barras (1912)•• Construção do ramal de São Francisco, a partir de 1911• 1911: Revolta do ex-maragato Aleixo Gonçalves de Lima em Canoinhas•• 1910 - 1912: Questão de terras da fazenda Irani e da Cia. Frigorífica e Pastoril• Batalha do Irani em 22 de outubro de 1912•• 1911: Escrituração de glebas de terras devolutas do Contestado para a EFSPRG•• Disputas pela exploração dos ervais - concessões de estados e municípios• Vendas suspeitas de terras no Contestado, do Estado para especuladores – bendegós•• Disputas eleitorais entre os coronéis da região pelos domínios políticos nos municípios• Espírito guerreiro do caboclo pardo (Revolução Farroupilha e Revolução Federalista) Wikipedia:Por favor seja

claro•• Religiosidade: messianismo, misticismo e fanatismo da população cabocla• Ideologia nacionalista – civilismo na República – construção do exército

Preliminares: o poder dos mongesPara entender-se bem a guerra sertaneja , é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor da figura de trêsmonges da região. O primeiro monge que galgou fama foi João Maria, um homem de origem italiana, que peregrinoupregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética eforma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que nãoexerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Mariamorreu em 1870, em Sorocaba, estado de São Paulo.O segundo monge adotou o codinome (alcunha) de João Maria,[1] mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf,provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma posturafirme e uma posição messiânica. Sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou,inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. Éde destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto de estes esperarem a sua volta através daressurreição, após seu desaparecimento em 1908.As entrelinhas do que estava por vir estavam se amarrando entre si. A espera dos fiéis acabou em 1912, quandoapareceu publicamente a figura do terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas,tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da políciada Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nomeMiguel Lucena de Boaventura.Como ninguém conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não lhe foi difícil granjearem pouco tempo a admiração e a confiança do povo. Um dos fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de terressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica. Supostamente também recobrou asaúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de uma doença incurável. Com este episódio, o mongeganha ainda mais fama e credibilidade ao rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido,lhe queria oferecer.

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A partir daí, José Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para curar e tratar osdoentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler eescrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com oconsentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de farmácia do povo,onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem querque o visitasse.

Os confrontos se iniciam

Araucária, uma das riquezas exploradas nasmargens da ferrovia do Contestado, aindaexistente na Floresta Nacional de Caçador.

Após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de FerroSão Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company, querecebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia,[2] iniciou adesapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseiros que viviam naregião entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmaro contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área comodevoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras.[3] "A áreatotal assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar emconta sesmarias nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros,ou seja, quinze para cada lado"..[4] Isso, e até mesmo a própria outorgada concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada

Lei de Terras de 1850. Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão,como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, então vice-presidente do estado.[5]

Esses camponeses que viram o direito às terras que ocupavam ser usurpado, e os trabalhadores que foram demitidospela companhia (1910), decidiram então ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual organizaram umacomunidade. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras - que foram declaradas "terrasdevolutas" pelo governo brasileiro no contrato firmado com a ferrovia - cada vez mais passou-se a contestar alegalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavamperdendo terras para o grupo de Farquhar, bem como para os coronéis manda-chuvas da região.

Bandeira da "Monarquia Celestial". Branca comuma cruz verde, evoca os estandartes das antigas

ordens monástico militares como as dostemplários.

A união destas pessoas em torno de um ideal, levou à organização dogrupo armado, com funções distribuídas entre si. O messianismoadquiria corpo. A vida era comunitária, com locais de culto eprocissões, denominados redutos. Tudo pertencia a todos. O comércioconvencional foi abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo aspregações do líder, o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraísoestava próximo. Ninguém deveria ter medo de morrer porqueressuscitaria após o combate final. É de destacar a importânciaatribuída às mulheres nesta sociedade. A virgindade eraparticularmente valorizada.

O "santo monge" José Maria rebelou-se, então, contra a recém formadarepública brasileira e decidiu dar status de governo independente àcomunidade que comandava. Para ele, a república era a "lei do diabo". Nomeou "imperador do Brasil" um fazendeiroanalfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros queintitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média.

Os camponeses uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo. Cada povoado seria comouma "monarquia celeste", com ordem própria, à semelhança do que Antônio Conselheiro fizera em Canudos.

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Convidado a participar da festa do Senhor do Bom Jesus, na localidade de Taquaruçu (município de Curitibanos), omonge foi acompanhado de cerca de 300 fiéis, e lá permaneceu por várias semanas, atendendo aos doentes eprescrevendo remédios.Desconfiado com o que acontecia, e com medo de perder o mando da situação local em Curitibanos, o coronelFrancisco de Albuquerque, rival do coronel Almeida, enviou um telegrama para a capital do estado pedindo auxíliocontra "rebeldes que proclamaram a monarquia em Taquaruçu"'.

Primeiras mortes

Marechal Hermes da Fonseca.

O governo brasileiro, então comandado pelo marechal Hermes da Fonseca,responsável pela Política das Salvações, caracterizada por intervençõespolítico-militares que em diversos Estados do país pretendiam eliminar seusadversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiureprimi-lo, enviando tropas para "acalmar" os ânimos.

Antevendo o que estava por vir, José Maria parte imediatamente para alocalidade de Irani com todo o seu carente séquito. A localidade nesta épocapertencia a Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná, e que tinha comSanta Catarina questões jurídicas não resolvidas por conta de divisasterritoriais, e acabou vendo nessa grande movimentação uma estratégia deocupação daquelas terras.

A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa de suas terras, váriastropas do Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fimde obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina. Estamos em outubro de1912.

Placa no Museu do Contestado, em Caçador.

Mas as coisas ocorrem bem diferente do planejado. Tem início umconfronto sangrento entre tropas do governo e fiéis do Contestado nolugar chamado "Banhado Grande". Ao término da luta, estão sem vidadezenas de pessoas, de ambos os lados. Morreram no confronto ocoronel João Gualberto, que comandava as tropas, e também o mongeJosé Maria, mas os partidários do contestado tinham conseguido a suaprimeira vitória.

José Maria foi enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitara sua ressurreição, já que os caboclos acreditavam que esteressuscitaria acompanhado de um "exército encantado", vulgarmentechamado de "Exército de São Sebastião", que os ajudaria a fortalecer a "monarquia celeste" e a derrubar a república,que cada vez mais acreditava-se ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.

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Mais confrontos, ataques e contra-ataquesEm 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado aTaquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito naempreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que oscaboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de20.000 pessoas.Os fiéis que mudaram para Caraguatá, interior do atual município de Lebon Régis, eram chefiadas por Maria Rosa,uma jovem com quinze anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que"combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelose no fuzil". Após a morte de José Maria, Maria Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do mesmo, o que afez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, então cerca de 6.000 homens.De março a maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de março de 1914, embaladaspela vitória de Taquaruçu, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas aí odesastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de ânimo.O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas tambématinge em cheio ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.Como cada vez mais pessoas engajavam-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para oarrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São entãofundados os redutos de Bom Sossego e São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2.000 pessoas.Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os fanáticos passaram aocontra-ataque. Em 2 de setembro, lançaram um documento que intitulou-se "Manifesto Monarquista",deflagrando-se, a partir de então, o que chamavam de a guerra santa, caracterizada por saques e invasões depropriedades de coronéis e por um discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo da República.Invadiam as fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as necessidades do reduto.Além disso, amparados nas vitórias que tiveram, atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde osalvos eram invariavelmente os cartórios, locais onde se encontravam os registros das terras que antes a elespertenciam. Não bastasse isso, num outro ataque na localidade de Calmon, destruíram completamente a segundaserraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora para explorar a madeira da faixa de terra de 30quilômetros (15 quilômetros de cada lado) às margens da ferrovia.

O controle começa a mudar de lado

Placa no local onde, em janeiro de 1914, oExército Brasileiro construiu o Campo da

Aviação de Rio Caçador.

Com a ordem social cada vez mais caótica na região, o governo centraldesignou o general Carlos Frederico de Mesquita, veterano deCanudos, para comandar uma ação contra os rebeldes. Inicialmentetentou, sem êxito, um acordo para dispensar os revoltosos; a seguiratacou duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. Oreduto de Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugiremperseguidas por revoltosos, tem agora de ser abandonada às pressaspelos mesmos revoltosos devido a uma grande epidemia de tifo.Considerando, equivocadamente, dispersos os revoltosos, o generalMesquita dá a luta por encerrada.

Mas a calmaria terminaria logo. Os revoltosos rapidamente sereagrupam e se organizam na localidade de Santa Maria, interior norte

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do município de Lebon Régis, intensificando os ataques: tomam e incendeiam a estação de Calmon; dizimam a vilade São João (Matos Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória, cuja população abandona acidade em desespero.

Capitão Ricardo Kirk, patrono daaviação do Exército Brasileiro.

Os boatos chegam até Ponta Grossa e dizem que os revoltosos e seu exércitopretendem marchar até o Rio de Janeiro para depor o presidente. Os rebeldes jádominam, nesta altura dos acontecimentos, cerca de 250 km² da região doContestado.

O governo federal jogou uma outra, e ainda mais dura, cartada: nomeou ogeneral Fernando Setembrino de Carvalho para o comando das operações contraos contestadores. Este chegou a Curitiba em setembro de 1914, chefiando cercade 7000 homens, com ordens de sufocar a rebelião e pacificar a região aqualquer custo. Sua primeira providência foi restabelecer as ligaçõesferroviárias e guarnecê-las para evitar novos ataques.

Nas proximidades da ferrovia, o exército construiu o Campo da Aviação de RioCaçador, onde hoje existe o município homônimo. Como apoio de operações deguerra, pela primeira vez na história do Brasil foram usados dois aviões parafins de reconhecimento. Em um acidente durante as operações, morreu o capitãoRicardo Kirk, primeiro aviador militar do Brasil.

Astutamente, Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de terras para quem seentregasse pacificamente. Garantia também, por outro lado, um tratamento hostil e severo para quem resolvessecontinuar em luta contra o governo.

Mudança de estratégia

Marcos históricos da Guerra do Contestado.(Museu do Contestado)

Com o passar do tempo, general Fernando Setembrino de Carvalhoadotou uma nova postura de guerra, evitando o combate direto, que erao que os revoltosos esperavam e para o que estavam se preparando,optando por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos oslados, evitando que entrassem ou saíssem da região onde estavam. Paraisto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas com nomes dosquatro pontos cardeais e, gradativamente, foi avançando e destruindoqualquer resistência que encontrasse pelo caminho.

Com esta nova estratégia, rapidamente começou a faltar comida nosacampamentos dos revoltosos. Isto teve como consequência imediata arendição de dezenas de caboclos. Contudo, a maioria dos que se

entregavam eram velhos, mulheres e crianças - talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comidaaos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa.Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato",considerado pelos historiadores como o último líder dos contestadores. Adeodato transferiu o núcleo dos revoltosospara o vale de Santa Maria, que contava ainda com cerca de 50.000 homens. Só que aí, à medida que ia faltando oalimento, Adeodato passou a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam,aplicava sem dó a pena de morte.Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de fevereiro de 1915 aala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegou a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bemarmadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, mas famintos e sem ânimo para resistir muitotempo. A luta inicial foi intensa e, à noite, o tenente-coronel ordenou a retirada, afinal, já contabilizara só no seu lado

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30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes.

Museu Histórico e Antropológico da Região doContestado, em Caçador. O edifício é umareconstituição da estação ferroviária de Rio

Caçador.

Em 28 de março de 1915, o capitão Tertuliano Potyguara parte da vilade Reinchardt com 1.085 homens em direção a Santa Maria, perdendosó em emboscadas durante o trajeto, 24 homens. Depois de váriosconfrontos, num deles Maria Rosa, a líder espiritual dos rebeldes,morre às margens do rio Caçador. Em 3 de abril, as tropas de Estillac ePotyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a SantaMaria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pelafome.

Em 5 de abril, depois do grande assalto a Santa Maria, o generalEstillac registra que "tudo foi destruído, subindo o número dehabitações destruídas a 5.000 (…) as mulheres que se bateram comohomens foram mortas em combate (…) o número de jagunços mortoseleva-se a 600. Os redutos de Caçador e de Santa Maria estão extintos.Não posso garantir que todos os bandidos que infestam o Contestado tenham desaparecido, mas a missão confiada aoexercito está cumprida". Os rebeldes sobreviventes se dispersaram em muitas cidades.

Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos revoltosos foi devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodatofugiu, vagando com tropas no seu encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido,ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição semtrégua, fizeram com que Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, aGuerra do Contestado.Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso, Adeodatofoi morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga.

Estatísticas do confronto•• Área conflagrada: 20.000 km²•• População da época envolvida na área de conflito: aproximadamente 40.000 habitantes• Municípios do Paraná, na época: Rio Negro, Itaiópolis, Três Barras, União da Vitória e Palmas• Municípios de Santa Catarina, na época: Lages, Curitibanos, Campos Novos, Canoinhas e Porto União

Consequências imediatas• 20 de outubro de 1916: Assinatura do Acordo de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de Janeiro;•• 7 de novembro de 1916: Manifestações nos municípios do Contestado-Paranaense contra o acordo;•• De maio a agosto de 1917: Sublevação popular no Contestado-Paranaense, pró Estado das Missões;•• Maio e junho de 1917: Ascensão e assassinato do monge Jesus Nazareno;•• 3 de agosto de 1917: Homologação final do Acordo de Limites;• Setembro de 1917: Instalação dos municípios de Mafra, Joaçaba (então Cruzeiro), Chapecó e de Porto União;• 1918: Reinício da colonização no Centro-Oeste Catarinense, por empresas particulares;•• Janeiro e maio de 1920: Revolta política em Erval e Cruzeiro;• Março de 1921: Revolta de caboclos contra medição de terras, entre Catanduvas e Capinzal.

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Mais dados importantes•• Início da Guerra: 22 de outubro de 1912•• Tempo da Guerra: 46 meses (out/1912 a ago/1916)• Auge da Guerra: Março-abril de 1915, em Santa Maria, na Serra do Espigão•• Final da Guerra: Agosto de 1916, com a captura de Adeodato, o último líder do Contestado•• Combatentes militares no auge da Guerra: 8.000 homens, sendo 7.000 soldados do Exército Brasileiro, do

Regimento de Segurança do Paraná, do Regimento de Segurança de Santa Catarina, mais 1.000 civis contratados.•• Exército Encantado de São Sebastião: 10.000 combatentes envolvidos durante a Guerra.•• Baixas nos efetivos legalistas militares e civis: de 800 a 1.000, entre mortos, feridos e desertores•• Baixas na população civil revoltada: de 5.000 a 8.000, entre mortos, feridos e desaparecidos•• Custo da Guerra para a União: cerca de 3.000:000$000, mais soldados militares• A Guerra do Contestado durou mais tempo que a Guerra de Canudos, outro conflito semelhante em terras do

Brasil.[6][7]

•• Em quatro anos de guerra, 9 mil casas foram queimadas e 20 mil pessoas mortas.

Representações na cultura•• BORELLI, Romario José. "O CONTESTADO" . Teatro. 1972. Orion Editora, PR, 2006. Literatura• VASCONCELLOS, Aulo Sanford. Chica Pelega. Florianópolis: Insular, 2002.• VASCONCELLOS, Aulo Sanford. O Dragão Vermelho do Contestado. Florianópolis: Insular, 2000.

Cinema• A Guerra dos Pelados, de Silvio Back. 1970•• Olhar Contestado: desvendando códigos de um conflito, de Fernando Severo, Fabianne Balvedi Luciane Stocco e

Jean Gabriell. 2012. Entrevistando: Nilson Cesar Fraga, Rafael Ginane, Paulo Moretti e Dorothy Jansson.

Bibliografia•• ALMEIDA JR., Jair de. A Religião Contestada. São Paulo: Fonte Editorial, 2011. ISBN 9788563607515• FRAGA, N. C. (Org.). Contestado em Guerra, 100 anos do massacre insepulto do Brasil - 1912-2012.

Florianópolis, Ed. Insular, 2012.• FRAGA, N. C. Território e silêncio. Contributos reflexivos entre o empírico e o teórico. In: FRAGA, N. C. (Org).

Territórios e Fronteiras: (Re) Arranjos e Perspectivas. Florianópolis: Insular, 2011.• FRAGA, N. C. Vale da Morte: o Contestado visto e sentido. Entre a cruz de Santa Catarina e a espada do

Paraná. Blumenau: Ed. Hemisfério Sul, 2010.• FRAGA, N. C. (Org.). Contestado, o território silenciado. Florianópolis, Ed. Insular, 2009.• FRAGA, N. C. Contestado: A Grande Guerra Civil Brasileira. In: REZENDE, C. J.; TRICHES, I. Paraná,

Espaço e Memória – diversos olhares histórico-geográficos. Curitiba: Ed. Bagozzi, 2005, p. 228-255.• FRAGA, N. C., LUDKA, V. M. 100 ANOS DA GUERRA DO CONTESTADO, A MAIOR GUERRA

CAMPONESA NA AMÉRICA DO SUL (1912/2012): UMA ANÁLISE DOS EFEITOS SOBRE O TERRITÓRIOSUL-BRASILEIRO. [8]: Bogotá, Colômbia. XII Colóquio Internacional Geocrítica.7 a 11 de mayo de 2012.Universidad Nacional de Colômbia.

• FRAGA, Nilson Cesar. e Permanências na Rede Viária do Contestado [9]: uma abordagem acerca da formaçãoterritorial no sul do Brasil. Curitiba: Tese de Doutorado apresentada para obtenção do título de Doutor em MeioAmbiente e Desenvolvimento, Universidade Federal do Paraná, 2006.

• FROTA, Guilherme de Andrea. 500 Anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2000.• Grandes Acontecimentos da História - Revista da Editora 3, nº 4 (setembro de 1973).

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• MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas. Campinas:UNICAMP, 2004.

• MONTEIRO, Duglas Teixeira. Os errantes do novo século. São Paulo: Duas Cidades, 1974.• SANTOS, Walmor. Contestado: A guerra dos equívocos. V. 1: O poder da fé. São Paulo: Record, 2009. ISBN

978-85-01-08445-3.• SCHÜLER, Donaldo. Império Caboclo. Porto Alegre: Movimento, 1994.• THOMÉ, Nilson. A Política no Contestado: do curral da fazenda ao pátio da fábrica. Caçador: Universidade do

Contestado, 2002.• VALENTINI, Delmir José. Da cidade à corte celeste: memórias de sertanejos e a guerra do Contestado. Caçador:

Universidade do Contestado, 1998.• VINHAS DE QUEIROZ, Maurício. Messianismo e conflito social: a guerra sertaneja do Contestado (1912-1916).

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

Ligações externas• O Contestado [10] (em português) Galeria de fotos e bibliografia• A Guerra do Contestado [11]

• Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil". Faculdade de Educação - UNICAMP.Guerra do Contestado [12].

• FRAGA, Nilson Cesar. CONTESTADO – 100 ANOS DA INSURREIÇÃO XUCRA - PROTEGIDOS DAPRINCESA. [13]

• THOME, Nilson. A Formação do homem do Contestado e a educação escolar : República Velha [14]. Unicamp.

Referências[1][1] AURAS, Marli. Guerra do Contestado: a organização da Irmandade Cabocla. Florianópolis: UFSC, Assembleia Legislativa; São Paulo:

Cortez Editora e Livraria, 1984.[2] A Ferrovia do Contestado. (http:/ / www. histedbr. fae. unicamp. br/ img1_16. pdf)[3] ANGELO, Vitor Amorim de. Guerra do Contestado: Conflito alcançou enormes proporções. UOL Educação, Especial para a Página 3

Pedagogia & Comunicação Reproducão. (http:/ / educacao. uol. com. br/ historia-brasil/ guerra-do-contestado. jhtm)[4] QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e Conflito Social – A Guerra Sertaneja do Contestado: 1912/1916. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1966.[5][5] THOMÉ, N. PR e SC Disputam Território. Curitiba: Gazeta do Povo, Suplemento, 2003.[6][6] Benjamin A.Junior e Isabel M.M.Alexandre "Canudos" Ed. SENAC 1997 ISBN 8573590181 pág.58, 2º§[7] Leslie Bethell (organizador) "História da América Latina; Vol. V, 1870-1930" EDUSP 2008 ISBN 9788531406515 Capítulo 16 "Brasil:

Estrutura Social e Política da Primeira República, 1889-1930", por Boris Fausto[8] http:/ / www. ub. edu/ geocrit/ coloquio2012/ actas/ 09-N-Fraga. pdf[9] http:/ / dspace. c3sl. ufpr. br/ dspace/ bitstream/ 1884/ 3486/ 1/ TESENILSONCESARFRAGA. pdf''Mudanças[10] http:/ / www. alca-bloco. com. br/ ocontestado/ historia. htm[11] http:/ / contestadoaguerradesconhecida. blogspot. com/[12] http:/ / www. histedbr. fae. unicamp. br/ img4_16. pdf[13] http:/ / www. nilsonfraga. com. br/ post. php?POS_RowID=69[14] http:/ / cutter. unicamp. br/ document/ ?code=vtls000411820& fd=y

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Guerra de Canudos 10

Guerra de Canudos

Guerra de Canudos

Data 7 de novembro de 1896 - 5 de outubro de 1897

Local Interior do sertão baiano

Resultado Vitória das tropas federais e destruição total da cidade de Canudos

Combatentes

Conselheiristas República Brasileira

Comandantes

AntônioConselheiroJoão AbadePajeúJoaquimMacambiraPedrão

Virgílio Pereira de AlmeidaManoel da Silva PiresFerreiraFebronio de BritoAntônio Moreira CésarArtur Oscar

Forças

25 000 (estimado) 12 000

Baixas

20 000 (estimado) 5 000 (estimado)

Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos[1] foi o confronto entre o Exército Brasileiro e os integrantes deum movimento popular de fundo sócio-religioso liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, naentão comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia, no nordeste do Brasil.A região, historicamente caracterizada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico, passavapor uma grave crise econômica e social. Milhares de sertanejos e ex-escravos partiram para Canudos, cidadelaliderada pelo peregrino Antônio Conselheiro, unidos na crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildeshabitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social.

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Os grandes fazendeiros da região, unindo-se à Igreja, iniciaram um forte grupo de pressão junto à Repúblicarecém-instaurada, pedindo que fossem tomadas providências contra Antônio Conselheiro e seus seguidores.Criaram-se rumores de que Canudos se armava para atacar cidades vizinhas e partir em direção à capital para depor ogoverno republicano e reinstalar a Monarquia.Apesar de não haver nenhuma prova para estes rumores, o Exército foi mandado para Canudos.[2] Três expediçõesmilitares contra Canudos saíram derrotadas, o que apavorou a opinião pública, que acabou exigindo a destruição doarraial, dando legitimidade ao massacre de até vinte mil sertanejos. Além disso, estima-se que cinco mil militarestenham morrido. A guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola de muitos prisioneiros de guerra, eo incêndio de todas as casas do arraial.

Antecedentes

A figura de Antônio Conselheiro

Mapa da localização de Canudos.

Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado de "AntônioConselheiro", nascido em Quixeramobim (CE) em 13 de março de1830, de tradicional família que vivia nos sertões entreQuixeramobim e Boa Viagem, fora comerciante, professor eadvogado prático nos sertões de Ipu e Sobral. Após a sua esposatê-lo abandonado em favor de um sargento da força pública,passou a vagar pelos sertões em uma andança de vinte e cincoanos. Chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial eatraindo milhares de pessoas. Acreditava que a República,recém-implantada no país, era a materialização do reino doAnti-Cristo na Terra, uma vez que o governo eleito seria umaprofanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar osgovernantes. A cobrança de impostos efetuada de forma violenta, acelebração do casamento civil e a separação entre Igreja e Estadoeram provas cabais da proximidade do "fim do mundo".

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Caricatura na Revista Ilustrada, retratando Antônio Conselheiro, com um séquitode bufões armados com antigos bacamartes, tentando "barrar" a República.

Arraial de Canudos

Canudos era uma pequena aldeia que surgiudurante o século XVIII nos arredores daFazenda Canudos, às margens do rioVaza-Barris. Com a chegada de AntônioConselheiro em 1893 passou a crescervertiginosamente, em poucos anos chegandoa contar por volta de 25 000 habitantes.Antônio Conselheiro rebatizou o local deBelo Monte, apesar de estar situado numvale, entre colinas.

A imprensa, o clero e os latifundiários daregião incomodaram-se com a nova cidadeindependente e com a constante migração depessoas e valores para aquele novo local.Aos poucos, construiu-se uma imagem deAntônio Conselheiro como "perigosomonarquista" a serviço de potênciasestrangeiras, querendo restaurar no país aforma de governo monárquica. Difundida

através da imprensa, esta imagem manipulada ganhou o apoio da opinião pública do país para justificar a guerramovida contra os habitantes do arraial de Canudos.

Situação social

O governo da República recém-instaurada precisava de dinheiro para materializar seus planos, e só se fazia presenteno Sertão pela cobrança de impostos. A escravidão havia acabado poucos anos antes no país, e pelas estradas esertões, grupos de ex-escravos vagavam, excluídos do acesso à terra e com reduzidas oportunidades de trabalho.Assim como os caboclos sertanejos, essa gente paupérrima agrupou-se em torno do discurso do peregrino AntônioConselheiro, acreditando que ele poderia libertá-los da situação de extrema pobreza ou garantir-lhes a salvaçãoeterna na outra vida.[3]

Cronologia do conflito

Canudos em 1897. Fotografia de Flávio deBarros, fotógrafo do Exército.

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“Apareceu no sertão do Norte um indivíduo, que se diz chamar Antônio Conselheiro e que exerce grande influência no espírito das classespopulares. Deixou crescer a barba e os cabelos, veste uma túnica de algodão e alimenta-se tenuemente, sendo quase uma múmia. Acompanhadode duas professas, vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e dar conselhos às multidões, que reúne onde lhes permitem os párocos.”

— Descrição da Folhinha Laemmert, de 1877, reproduzida por Euclides da Cunha em Os Sertões, 1902.

O estopim e a primeira expedição

• Outubro de 1896 – Ocorre o episódio que desencadeia a Guerra de Canudos. Antônio Conselheiro haviaencomendado uma remessa de madeira, vinda de Juazeiro, para a construção da igreja nova, mas a madeira nãofoi entregue, apesar de ter sido paga. Surgem então rumores de que os conselheiristas viriam buscar a madeira àforça, o que leva as autoridades de Juazeiro a enviar um pedido de assistência ao governo estadual baiano, quemanda um destacamento policial de cem praças, sob comando do Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Apósvários dias de espera em Juazeiro, vendo que o rumor era falso, o destacamento policial decide partir em direção àCanudos, em 24 de novembro. Mas a tropa é surpreendida durante a madrugada em Uauá pelos seguidores deAntônio Conselheiro, que estavam sob o comando de Pajeú e João Abade. Vinham como quem vinha para reza,ou para a guerra. Foram recebidos a bala pelos sentinelas semi-adormecidos e surpresos. Era a guerra. ManoelNeto assim descreve: "Estabelecia-se, sangrento, o 1º fogo previsto pelo Conselheiro, e a pacata Uauátransformava-se em violento território de combate. O próprio Tenente Pires Ferreira descreve o ataque destacandoa "incrível ferocidade" dos assaltantes e a forma pouco convencional como organizavam suas manobras, isto é,usando apitos. A celeridade e a rapidez com que a luta se deu propiciou vantagem inicial aos conselheiristas.Adentraram ao arraial onde ocuparam algumas casas. A lógica, entretanto, prevaleceu. Armados e municiadoscom equipamentos mais modernos e letais, os soldados do 9º Batalhão de Infantaria impuseram pesadas baixas asforças belomontenses. A crueza do combate foi inegável, sendo que o uso de armas como "facões de folha-larga,chuços de vaqueiro, ferrões ou guiadas de três metros de comprimentos, foices, varapaus e forquilhas, sob ocomando de Quinquim Coiam" utilizados em lutas de corpo a corpo produziam cenas dantescas. Foram entre 4 e5 horas de pânico, sangue, horror e gestos de bravura e pânico. Contabilizadas as baixas de ambas facções, osnúmeros determinava a vitória militar das tropas governamentais. No relatório oficial, Pires Ferreira informa quepereceram na batalha, dentre as hostes conselheiristas "cento e cinqüenta, fora os feridos". (Neto, Manoel. idem )

Passadas várias horas de combate, os canudenses, comandados por João Abade, resolveram se retirar, deixando paratrás um quadro desolador.Apesar da aparente vitória, a expedição estava derrotada, pois não tinha mais forças nem coragem para atacarCanudos. Naquela mesma tarde, saqueou e incendiou Uauá e retornou para Juazeiro, com o saldo de 10 mortos (umoficial, sete soldados e os dois guias) e 17 feridos.Estas perdas, embora consideradas "insignificantes quanto ao número" nas palavras do comandante, ocasionaram aretirada das tropas.[4]

A segunda expedição

• Janeiro de 1897 - Enquanto aguardavam uma nova investida do governo, os jagunços fortificavam os acessos aoarraial. Comandada pelo major Febrônio de Brito, depois de atravessar a serra do Cambaio, uma segundaexpedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos conselheiristas, quese abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem ehabilidade militar, enquanto Antônio Conselheiro ocupava-se da esfera civil e religiosa.

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Pintura retratando Canudos antes da guerra.

A terceira expedição

• Março de 1897 - Na capital do país, diante dasperdas e a pressão de políticos florianistas que viamem Canudos um perigoso foco monarquista, ogoverno federal assumiu a repressão, preparando aprimeira expedição regular, cujo comando confiouao coronel Antônio Moreira César, consideradopelos militares um herói do exército brasileiro, epopularmente conhecido como "corta-cabeças" porter mandado executar mais de cem pessoas a sanguefrio na repressão à Revolução Federalista em SantaCatarina. A notícia da chegada de tropas militares à

região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam de várias áreas do Nordeste e iam em defesa do"homem Santo". Em 2 de março, depois de ter sofrido pesadas baixas, causadas pela guerra de guerrilhas natravessia das serras, a força, que inicialmente se compunha de 1.300 homens, assaltou o arraial. Moreira César foimorto em combate, tendo o comando sido passado para o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo, quetambém tombou no mesmo dia. Abalada, a expedição foi obrigada a retroceder. Entre os chefes militaressertanejos destacaram-se Pajeú, Pedrão, que depois comandou os conselheiristas na travessia de Cocorobó,Joaquim Macambira e João Abade, braço direito de Antônio Conselheiro, que comandou os jagunços em Uauá.

A quarta expedição

General Arthur Oscar.

• Abril de 1897 - No Rio de Janeiro, a repercussão da derrota foienorme, principalmente porque se atribuía ao Conselheiro aintenção de restaurar a monarquia. Jornais monarquistas foramempastelados e Gentil José de Castro, gerente de dois deles,assassinado. Em abril de 1897, o ministro da Guerra, marechalCarlos Machado Bittencourt preparou uma expedição, sob ocomando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, compostade duas colunas, comandadas pelos generais João da Silva Barbosae Cláudio do Amaral Savaget, ambas com mais de quatro milsoldados equipados com as mais modernas armas da época.

• Junho de 1897 - O primeiro combate verificou-se em Cocorobó, em25 de junho, com a coluna Savaget. No dia 27, depois de sofreremperdas consideráveis, os atacantes chegaram a Canudos. Durante osprimeiros meses, as tropas conseguem pouco resultado. Ossertanejos estão bem armados com armas abandonadas pelaexpedição anterior, e o exército não tem a infra-estrutura necessáriapara alimentar suas tropas, que passam fome.

• Agosto de 1897 - O próprio ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, seguiu para o sertãobaiano e se instalou em Monte Santo, com o intuito de colocar um fim ao caos em que estava o abastecimento dastropas. Monte Santo se torna base das operações.[5]

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Mulheres e crianças, seguidoras de AntônioConselheiro, presas durante os últimos dias da

guerra.

• Setembro de 1897 - Após várias batalhas, a tropa conseguiu fechar ocerco sobre o arraial. Antônio Conselheiro morreu em 22 desetembro, supostamente em decorrência de uma disenteria. Apósreceber promessas de que a República lhes garantiria a vida, umaparte da população sobrevivente se rendeu com bandeira branca,enquanto um último reduto resistia na praça central do povoado.Apesar das promessas, todos os homens presos, e também grupos demulheres e crianças acabaram sendo degolados - uma execuçãosumária que se apelidou de "gravata vermelha".[6] Com isto, aGuerra de Canudos acabou se constituindo num dos maiores crimesjá praticados em território brasileiro.[7]

• Outubro de 1897 - O arraial resistiu até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores.O cadáver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. No dia 6, quando o arraial foiarrasado e incendiado, o Exército registrou ter contado 5.200 casebres.[8]

ResultadoO conflito de Canudos mobilizou aproximadamente doze mil soldados oriundos de dezessete estados brasileiros,distribuídos em quatro expedições militares. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial,mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por voltade 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

Na cultura popular

Literatura

Antônio Conselheiro morto, em sua única fotoconhecida, tirada por Flávio de Barros no dia 6 de

outubro de 1897.

Logo após o final da guerra, foram publicadas uma série de obrasescritas por testemunhas oculares - militares, jornalistas e médicos.Entre outros (em ordem cronológica):• Canudos, história em versos, 1898, do poeta Manuel Pedro das

Dores Bombinho, que participou como militar da Quarta Expediçãocontra o arraial.[9]

• Descrição de uma Viagem a Canudos, 1899, de Alvim MartinsHorcades, estudante de medicina a serviço do Exército, quedescreve suas experiências no campo de batalha e denuncia a degolaem massa dos presos - velhos, mulheres e crianças.

• Libelo republicano, acompanhado de comentários sobre a campanha de Canudos, publicado em 1899 por Wolsey(pseudônimo de César Zama), Bahia: Typ. e Encadernação do “Diário da Bahia”, 1899.

• O Rei dos Jagunços, 1899, de Manoel Benício, correspondente de guerra do Jornal do Commercio - um livro desemi-ficção sobre os acontecimentos de Canudos e costumes sertanejos.[10]

• A Guerra de Canudos, 1902, do tenente Henrique Duque-Estrada de Macedo Soares, militar na a últimaexpedição contra Canudos.[11]

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Caricatura de Euclides da Cunha feita porRaul Pederneiras (1903).

• Os Sertões, 1902, de Euclides da Cunha, que passou três semanas nolocal do conflito como correspondente do jornal O Estado de São Paulo- um livro no qual procurou vingar os mortos no massacre: "Aquelacampanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significaçãointegral da palavra, um crime. Denunciemo-lo".

Os Sertões de Euclides da Cunha acabou por tornar-se um dos maisimportantes marcos da literatura brasileira, e como tal inspirou uma sériede obras baseadas no conflito de Canudos, escritas no mundo todo. Osmais conhecidos são A Brazilian Mystic (Um Místico Brasileiro), 1919, dobritânico R. B. Cunninghame Graham;[12] Le Mage du Sertão (O Mago doSertão), 1952, do sociólogo belga Lucien Marchal;[13] Veredicto emCanudos, 1970, do húngaro Sándor Márai; A Primeira Veste, 1975, doescritor geórgio Guram Dochanashvili; e A Guerra do Fim do Mundo,1980, do escritor peruano Mario Vargas Llosa.[14]

Cinema

Além disso, a guerra inspirou muitos filmes também:• Guerra de Canudos. Longa-metragem de ficção de Sérgio Rezende,

com José Wilker, Cláudia Abreu, Paulo Betti, e Marieta Severo. Brasil,1997.[15]

• Sobreviventes - Os Filhos da Guerra de Canudos. Documentário dePaulo Fontenelle. Produzido por Canal Imaginário, 2004/2005.[16]

• Canudos. Documentário de Ipojuca Pontes, com Walmor Chagas, Brasil, 1978.[17]

• Os Sete Sacramentos de Canudos (Die Sieben Sakramente von Canudos). Filme produzido por Peter Przygoddapara a ZDF Alemã, com participação dos diretores brasileiros Joel de Almeida, Jorge Furtado, Otto Guerra, LuísAlberto Pereira, Pola Ribeiro, Ralf Tambke e Sandra Werneck, 1996.[18]

Imagem do filme "A Matadeira" de JorgeFurtado, referindo ao canhão Withworth 32 usado

na última expedição militar contra Canudos.

Teatro

• O Teatro Oficina de São Paulo realiza adaptação teatral da sagasertaneja, iniciada em 2001, com 25 horas de encenação. Éapresentada em 3 partes: a Terra, o Homem (I e II) e a Luta (I e II).A peça foi também apresentada no Festival de Teatro deRecklinghausen, na Alemanha, e na Volksbühne de Berlim.

• Outra importante adaptação da Guerra de Canudos teve o nome deO Evangelho Segundo Zebedeu, texto de César Vieira (pseudônimode Idibal Piveta), realizada em 1971 pelo Teatro União e Olho Vivode São Paulo [19].

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Bibliografia• Edmundo Moniz. Canudos A Luta Pela Terra. Ed. Gaia / Global, 2001.• Edmundo Moniz. A Guerra Social de Canudos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. Rio de Janeiro: Elo,

1987.[1] CALASANS, José. No Tempo de Antônio Conselheiro. Salvador, Livraria Progresso Editora, 1959.[2] GALVÃO, Walnice Nogueira. No Calor da Hora - a guerra de Canudos nos jornais. São Paulo, Editora Ática, 1977[3][3] ARINOS, Afonso. Os Jagunços.[4] PIRES FERREIRA, Manuel da Silva. Relatório do Tenente Pires Ferreira, comandante da 1a Expedição contra Canudos. Quartel da Palma,

10 de dezembro de 1896.[5][5] J. da Costa Palmeira. A Campanha do Conselheiro - 1ª edição: Rio de Janeiro, Calvino, 1934, 212 p., il.[6] HORCADES, Alvim Martins. Descrição de uma viagem a Canudos. Salvador: EDUFBA. 2a. edição 1996[7][7] Arinos de Belém. História de Antônio Conselheiro - Campanha de Canudos. Belém, Casa Editora de Francisco Lopes, 1940.[8] CUNHA, Euclides. Os Sertões - Campanha de Canudos. 1ª edição: Rio de Janeiro, Laemmert, 1902.[9] BOMBINHO, Manuel das Dores. Canudos, história em versos. São Paulo: Hedra, Imprensa Oficial do Estado e Editora da Universidade

Federal de São Carlos, 2a. edição, 2002[10] BENÍCIO, Manoel. O Rei dos Jagunços. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas. 2a. edição, 1997[11] MACEDO SOARES, Henrique Duque-Estrada de. A Guerra de Canudos.Rio de Janeiro: Typ. Altiva, 1902[12] CUNNINGHAME GRAHAM, R. B. A Brazilian Mystic. Dial Press, 1919.[13] MARCHAL, Lucien. Le Mage du Sertão. Paris, 1952[14] LLOSA, Mario Vargas. La guerra del fin del mundo. Barcelona: Seix Barral, 1981[15] A Guerra de Canudos (http:/ / www. imdb. com/ title/ tt0130748/ ) - página do filme no IMDb.[16] Sobreviventes (http:/ / www. canalimaginario. com. br/ index. php?module=pagemaster& PAGE_user_op=view_page& PAGE_id=8) -

Canal Imaginário, página do filme.[17] Canudos (http:/ / www. imdb. com/ title/ tt0194735/ ) - página do documentário no IMDb.[18] Os Sete Sacramentos de Canudos (http:/ / www. imdb. com/ title/ tt1351304/ ) - página do filme no IMDb[19] http:/ / www. portfolium. com. br/ Sites/ Canudos/ lista. asp?IDSecao=34

Ligações externas• Portfolium, o maior acervo online sobre a Guerra de Canudos (http:/ / canudos. portfolium. com. br/ )

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Percival Farquhar 18

Percival Farquhar

Percival Farquhar.

Percival Farquhar (Iorque, 1864 — Nova Iorque, 4 de agosto de1953) foi um empresário estadunidense.

Nascido numa abastada família quacre da Pensilvânia, completou seusestudos na Universidade de Yale, um dos centros da eliteestadunidense, onde se formou em Engenharia.

Foi vice-presidente da Atlantic Coast Electric Railway Co. e da StatenIsland Electric Railway Co., que controlavam o serviço de bondes emNova Iorque e sócio e diretor da Companhia de Electricidade de Cuba,além da vice-presidente da Guatemala Railway.

Explorou negócios em Cuba e na América Central. Teve ferrovias eminas na Rússia e negociou pessoalmente com Lenin. No Brasil,explorou diversos empreendimentos ferroviários, principalmente no suldo país, além de construir o porto de Belém[1]. Sua mais espetacularobra brasileira foi a impossível Ferrovia Madeira Mamoré, no atualEstado de Rondônia.

A historia de Percival Farquhar foi retratada por vários autores quedivergem entre si, uns fazendo-lhe louvações, outros tecendo-lhecríticas as mais severas.

Em 2011, o Governo do Estado de Rondônia condecorou in memoriam com a comenda Marechal Rondon, PercivalFaquhar e os 876 americanos que comandaram a construção da ferrovia.

Visionário e polêmicoVisionário, controvertido, audacioso e polêmico, Farquhar tornou-se o maior investidor privado do Brasil entre 1905e 1918. Segundo o escritor e ex-ministro Ronaldo Costa Couto, o seu império só rivalizou com o do Conde FranciscoMatarazzo e com o de Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá.A edição de 22 de setembro de 1912 do The New York Times, num artigo intulado Two New Yorkers Try to'Harrimanize' South America" confirma que o sonho de Farquhar era dominar todo o transporte ferroviário daAmérica Latina: Percival Farquhar e Dr. F. S. Pearson pretendem consolidar as ferrovias lá (na América Latina)num grande sistema transcontinetal do Canadá ao Cabo Horn [2].

Sua historiografia é repleta de contradições, o que torna muito difícil expurgar de sua verdadeira história todas aslendas, louvações e libelos ali contidos:

...as informações sobre Farqhuar na historiografia brasileira são totalmente desencontradas. No livroChatô -- O Rei do Brasil [3], do jornalista Fernando Morais, o americano é apresentado como dono daRio Light, da Companhia Telefônica Brasileira e de um grande número de ferrovias no Brasil, deestradas de ferro na Rússia e minas de carvão na Europa Central, além de engenhos de açúcar emCuba.

Segundo o professor Steven Topik, especialista em história do Brasil e do México, no Brasil do início do século XX,por outro lado, "apenas ocasionalmente companhias estrangeiras se tornavam tão grandes e evidentes que geravamsentimentos antitruste. As companhias às quais o empresário estadunidense Percival Farquhar estava associado, aBrazil Railroad, Amazon Steamship Line, Itabira Mining Company, and Brazilian Light and Power provocavam irana imprensa, e por vezes nas ruas. Mas nos anos anteriores a 1930 o governo não tomou nenhuma medida paraagradar a esses nacionalistas" [4].

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O professor Francisco Foot Hardman [5] em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, declara:Não dá para dizer que Farquhar era um satanás, mas também não podemos adotar um postura apologética,tornando-o um grande ícone do empreendedorismo.... [6]

Sua biografia mais profunda [7] - é O Último Titã - Um Empreendedor Americano na América Latina [8] - umadissertação feita por Charles A. Gauld para a Universidade de Stanford, sob a supervisão do professor Ronald Hilton[9].A Revista Exame [10], fazendo uma resenha desse livro, assim se manifestou:

Embora exagere na admiração ao personagem, tratando-o sempre como um capitalista iluminado e cheio deboas intenções, Charles Gauld apoiou-se numa extraordinária riqueza de documentos e fontes deinformações....

É certo que criou e dirigiu inúmeros negócios na região latino-americana, incontáveis deles no Brasil, que poderia tertrocado pela Argentina ou outro país da região ou de outro lugar do mundo. Suas atividades estavam freqüentementeligadas a concessões governamentais - e a garantias de juros governamentais para o capítal investido.Destemido e arrojado financista, com grande trânsito pelo mercado de capitais da Europa, dizia-se "capaz definanciar qualquer coisa", segundo Gauld [8].O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, interrompeu sua fonte de recursos a financiamentos e o já precárioimpério de Farquhar - que fora criado a poder de contrair dívidas sobre dívidas - altamente endividado,desmoronou-se. Suas empresas entraram em concordata em outubro de 1914. Seus financiadores perderam todo ocapital investido. Farquhar acabou arruinado. Apesar disso, ainda assim se re-ergueria novamente, após o término daguerra para tornar a quebrar na crise de 1929. Após a revolução de 1930 viu seus espaços contidos, durante ogoverno [[Getúlio Vargas.Ávido especulador, especulou fortemente com os papéis de suas próprias empresas. No início de 1913 Farquharficou sabendo que estava arruinado.Parte da imprensa mostra suas ações como sendo "exemplo de um capitalista norte-americano altamente bemsucedido, um verdadeiro ícone do empreendedorismo estadunidense", razão pela qual deixou muitos admiradores.Dentre esses destaca-se Assis Chateaubriand, Rei do Brasil, que se tornou o dono da maior rede jornalística do país.Essa amizade muito contribuiu para a ampla repercussão favorável de suas atividades. (Chateaubriand tornou-se oproprietário do O Jornal, em 1924, comprando-o com dinheiro fornecido por Farquhar, alegadamente a título depagamento de honorários advocatícios.)

Empreendimentos hoteleirosPercival Farquhar acreditava que nenhum país do mundo poderia se desenvolver adequadamente sem contar combons hotéis e cozinheiros refinados.Para suprir essas lacunas no Brasil do início do século XX, construiu em São Paulo a elegante Rotisserie Sportsmane importou, do famoso Elisée Palace Hotel de Paris, o chef Henri Galon[11].

Grand Hôtel de la Plage

Adquiriu em 1911 da firma Prado, Chaves & Cia. o controle da Companhia Balneária de Santo Amaro, empresafundada em 1892 que, sob a liderança do Conselheiro Antonio Prado fora criada para organizar um conjunto turísticoe balneário onde hoje fica o centro do Guarujá. A nova empresa de Farquhar passou a se denominar CompanhiaGuarujá[12].Logo encomendou ao escritório técnico Ramos de Azevedo a construção de um hotel de grandes proporções a sererguido no local onde funcionara, até 1910, o Grand Hôtel de la Plage, construído no final do século XIX por EliasFausto Pacheco Jordão, gerente e engenheiro do grupo Prado, Chaves.

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Inaugurou, em 1912, o novo Grand Hôtel de la Plage que era composto por quatro grandes edifícios, de três e quatroandares servidos por elevadores, contando com 220 apartamentos, muitos deles com terraço, de onde se desfrutavauma bela vista para o mar. Novidade para a época: todos os apartamentos dispunham de aparelhos telefônicos.Havia um pavilhão para banhistas, com 100 cabines, um local para o exercício de ginástica sueca, duas piscinas deágua doce, dois parques junto às áreas ainda florestadas, além de um jardim zoológico.Com suas iniciativas no turismo incipiente do Brasil, criou centenas de empregos e estimulou a concorrência nosetor, como paradigma da elegância e bons serviços.

Um visionário da finança internacionalFarquhar veio ao Brasil no início do século XX, logo após a primeira grande moratória da dívida externa de nossopaís, renegociada com a Família Rothschild, após a assinatura do Tratado de Petrópolis, de anexação do Acre aoBrasil.Sua chegada ao Brasil pode não ter sido um mero acidente. É provável que sua vinda tenha sido relacionada aodistrato com o Bolivian Syndicate e ao compromisso assumido pelo governo brasileiro de construir a Estrada deFerro Madeira-Mamoré. Farquhar logo se cercou de amigos importantes, como Alexandre Mackenzie e RuyBarbosa. O empresário Joaquim Catrambi obteve junto ao Governo Rodrigues Alves a concessão para a construçãoda ferrovia em 1906 e no ano seguinte, incapaz de tocar o empreendimento, repassou-a à empresa de Farqhuar, aMadeira-Mamoré Railway Company, fundada em Boston (EUA), em agosto de 1907.Depois de duas tentativas fracassadas no século XIX, espalhou-se o mito que a ferrovia na Amazônia era impossível,e que nem com todo o dinheiro do mundo e metade de sua população trabalhando na obra seria possível construí-la.H. A. Bromberger [13], um jornalista francês, incrédulo, descreve Farquhar como sendo o resposável por:

"esse empreendimento obscuro e assombroso, anárquico e absurdo, (que) possui o poder precioso, por simesmo, de emitir em quantidade prodigiosa títulos sobre títulos, ações sobre ações, obrigações sobreobrigações. (...) a Brazil Railway Company aparece-nos como o empreendimento o mais temerário que tenhajamais saído dum cérebro yankee..." [14]

Madeira-Mamoré Railway CompanyA conta final que Farquhar apresentou ao governo brasileiro pela construção da ferrovia teve um aumento de 62 milcontos de réis - sobre os 40 mil contos de réis inicialmente orçados e já pagos, justificado pela insperada necessidadede lastrear quase toda a ferrovia, construída perte nos pântanos da região. Depois de muita discussão, o governoconcordou em pagar mais 22 mil contos, o que representava um reajuste de 55% sobre o contrato original, e encerroua questão. Farquhar nunca se conformou com esse prejuízo.Os banqueiros e investidores ingleses e norte-americanos que proveram seu financiamento também auferiram bonsrendimentos. As indústrias exportadoras dos países industrializados se beneficiaram com as encomendas deequipamentos e material ferroviário.Com a construção da ferrovia, o Brasil cumpriu o Tratado de Petrópolis -- e evitou uma guerra com a Bolívia --,garantiu a fronteira com o país vizinho e colonizou vasta áreas do território amazônico a partir de Porto Velho eGuajará-Mirim.Na década de 1930, os arrendatários ingleses da Madeira-Mamoré, já desinteressados do negócio, romperamunilateralmente o contrato de exploração da ferrovia e a devolveram ao Governo, praticamente sucateada. Durante a2ª Guerra Mundial, a ferrovia ganhou novamente valor estratégico para o transporte da borracha amazônica, queserviria à máquina de guerra aliada, para a qual o fornecimento da Malásia, grande pordutora do látex na época, foracortado pelo japoneses ao invadirem aquele país do oriente.Em 1970 a ferrovia foi completamente desativada.

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A Ferrovia do ContestadoO engenheiro João Teixeira Soares, nascido em Formiga, Minas Gerais, projetou, em 1887, o traçado de umaestrada-de-ferro entre Itararé (SP) e Santa Maria (RS), com 1.403 km de extensão, para ligar as então províncias deSão Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul pelo interior, o que permitiria a conexão, por ferrovia, do Riode Janeiro à Argentina e ao Uruguai[15].Em 9 de novembro de 1889, poucos dias antes da proclamação da república brasileira, o Imperador D. Pedro IIoutorgou a concessão dessa estrada-de-ferro a Teixeira Soares.Sua construção teve início em 1897, no sentido norte-sul, tendo o trecho de 264 km entre Itararé e Rio Iguaçu (emPorto União) sido concluído em 1905.Em 1908 Percival Farquhar, através de sua holding Brazil Railway Company, adquiriu o controle da Companhia deEstrada de Ferro São Paulo-Rio Grande - EFSPRG. Antevendo o enorme potencial de lucro que poderia obter com aexportação de madeira das densas florestas centenárias de araucária existentes na região (sob a copa das araucáriashavia imbuias com mais de 10 metros de circunferência) - em terras que viria a receber como doação do governofederal, nos termos do contrato de concessão da ferrovia - já fundara, anteriormente, a Southern Brazil Lumber &Colonization Company, que se tornou conhecida como a Lumber.Farquhar incumbiu o engenheiro Achilles Stenghel de chefiar o ousado empreendimento. Este mandou recrutar, nasprincipais cidades brasileiras e até no exterior 4.000 operários - mediante a oferta de altos salários e boas condiçõesde trabalho - para aumentar o contigente de mão de obra, que chegou a atingir 8.000 trabalhadores, distribuídos aolongo de 372 km da ferrovia.O trecho de Porto União a Taquaral Liso foi inaugurado em 3 de abril de 1909 pelo presidente Afonso Pena.A estrada-de-ferro foi solenemente inaugurada em 17 de dezembro de 1910. Uma enchente ocorrida em maio de1911 derrubou a ponte provisória, de madeira, sobre o Rio Uruguai, interrompendo seu tráfego, que só voltou a sertotalmente restabelecido quando da instalação, em 1912, da ponte de aço que se encontra em serviço até hoje.O engenheiro Achilles Stenghel correspondeu às expectativas de Farquhar: construindo a estrada-de-ferropraticamente a poder de pás e picaretas, sem dispor de maquinários, fez a construção da ferrovia avançar a um ritmoalucinante de 516 metros por dia.A União garantiu, por contrato, à Brazil Railway Company uma subvenção de 30 contos de réis por quilómetroconstruído e, ainda mais, garantiu juros de 6% a.a sobre todo o capital que fosse investido pela concessionária naobra. Como a Brazil Railway Company, contratualmente, recebia por quilómetro, cuidou de alongar ao máximo alinha, fazendo curvas desnecessárias e economizando assim em aterros, pontes, viadutos e túneis.A companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia, iniciou adesapropriação de 6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694 alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseirosque viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a BrazilRailway Company, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras [16]. A áreatotal assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de umazona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado.[17]. Isso, e até mesmo a própria outorga da concessãofeita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada Lei de Terras de 1850 . Não obstante, o governo do Paranáreconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, entãovice-presidente do Estado [18].Essas terras foram oficialmente consideradas, pelo governo, pela Justiça do Paraná, e pela concessionária, comosendo terras devolutas e desabitadas. A realidade dos fatos era, entretanto, bem outra. Seu povoamento tivera iníciojá no século XVIII, com o comércio de gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, quando ali surgiram osprimeiros locais de pouso.Durante muito tempo os milhares de habitantes desses longínquos rincões viveram, semi-isolados, da criação extensiva de gado, da coleta de erva mate e da extração rudimentar de madeira para seu próprio consumo. A erva

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mate podia ser vendida na região do rio da Prata.[19]

Se por um lado não se poderá isentar, totalmente, Farquhar na culpa pelos trágicos episódios que vieram a suceder naregião do Contestado - como veremos adiante - por outro lado o governo federal, ao doar à Brazil Railway Company- mediante um contrato de concessão de serviços públicos - terras que eram ocupadas há séculos por brasileiroscomo se fossem terra de ninguém, destacou-se como o principal causador dos graves conflitos ali ocorridos.Enquanto houve emprego disponível na construção da ferrovia não ocorreram maiores problemas. Ao término dasobras, a Brazil Railway Company, por razões que se desconhece, não cumpriu seu compromisso de pagar a viagemde volta às suas cidades de origem para os 4.000 operários que arregimentara Brasil afora. Esses, desempregados, esem meios para retornar a seus lares, juntaram-se aos demais nativos que foram demitidos da obra e começaram aperambular pela região, carentes de meios de subsistência. Foi lançada aí a primeira semente do que acabaria setornando a Guerra do Contestado.Todo o complexo da Brazil Railway Company acabou sendo dominado pela corrupção, indo à concordata em 1917.Em 1940 o governo Getúlio Vargas encampou todos os bens da Brazil Railway Company, incorporando o acervo daferrovia à RVPSC - Rede Viação Paraná-Santa Catarina. Esta, por sua vez, foi incorporada à RFFSA - RedeFerroviária Federal S/A em 1957.

Southern Brazil Lumber & Colonization CompanyTerminadas as obras da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, Farquhar se dedica à segunda etapa de seu grandeplano. Construiu um ramal ferroviário ligando Porto União à cidade de Três Barras, SC onde instalou, em 1913, asede da Lumber, para explorar a madeira das matas ao redor da ferrovia.A Lumber transformou-se em uma das maiores serraria da América Latina e suas dimensões, mesmo nos padrões dehoje, são consideradas gigantescas .A indústria madeireira ocupava uma área de 60 hectares e empregou 800 operários na sua fase inicial, número quechegaria dobrar. O complexo madeireiro se transformou em uma verdadeira cidade, com 214 casas para osempregados superiores, que dispunham de água encanada, energia elétrica, aquecimento central e água quente,proveniente das caldeiras que moviam a serraria. Até uma fábrica de gelo foi ali instalada. Para a diversão dosoperários, utilizou o 3º projetor cinematográfico trazido para o Brasil, o único ao sul de São Paulo, algumas poucascasas, o cinema, o escritório central e alguns pavilhões, foram preservados pelo Exército Brasileiro que assumiu aárea da madeireira em 1950, onde hoje funciona a sede do Campo de Instrução Marechal Hermes.A Lumber de Três Barras constituía um mundo à parte nesse país. Era muito bem guardada por pistoleiros armadosaté os dentes, trazidos dos Estados Unidos, e que tinham ordem para atirar nos operários descontentes[20].Possuia quadras de tênis para uso exclusivo dos diretores e de seus filhos. No museu da cidade de Três Barras aindase pode ver um filme mudo, produzido na década de 20, que mostra uma visita de Farquhar à cidade. Idoso esimpático, já a caminho da falência, cumprimenta seus funcionários e sorri.[21]O site oficial do Município de Três Barras, SC assim descreve a ação da Lumber em sua região:

"A ação da empresa foi devastadora: toda a madeira extraída dos 180.000ha das terras do município foiexportada..."

"O progresso, porém, custou caro: a Lumber tinha suas próprias leis e funcionava como um territórionorte-americano dentro do Brasil. Pistoleiros vindos dos Estados Unidos tinham ordem de atirar nosempregados descontentes. Em 1938, Getúlio Vargas estatizou a madeireira, que tinha desviado 2.000.000 delibras esterlinas e pedira concordata. Cerca de 1.800 trabalhadores ficaram desempregados."

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Sorocabana Railway CompanyEm 1906, em sociedade com o banqueiro francês H. Legru, Farquhar arrendou do governo do estado de São Paulo aslinhas que foram da Companhia União Sorocabana e Ituana, denominando a nova empresa Sorocabana RailwayCompany.Lucrativa até 1912, sua situação começa se deteriorar gravemente no final dessa década.A princípio Fraquhar conseguiu expandir e operar a rede da ferrovia, que chegou a contar em 1911 com 3.061empregados, atingindo 4.767 em 1918 no último ano antes de ser encampada.Em meados da década de 1910, entretanto, inúmeras reclamações dos usuários começaram a ser feitas pela imprensae chegaram a repercutir na Câmara de Deputados Estaduais.Em 1914, discursando no plenário da Câmara, o deputado estadual João Martins, apoiado por Campos Vergueiro,declarou possuir notas com informações suficientes para provar:

"com dados oficiais, a incorreção dos diretores dessa companhia e a lesão enorme, a lesão injustificável queestaria sofrendo o estado de São Paulo com o arredamento da ferrovia à Sorocabana Railway Company".[22]

Finalmente o governo do estado de São Paulo, na gestão Altino Arantes, resolve encampar a Sorocabana RailwayCompany, no dia 9 de setembro de 1919, assumindo novamente sua gestão.C. de Paula Souza, o inspetor geral da Sorocabana, nomeado pelo governo do estado para fazer um laudo derecebimento da ferrovia, assim descreveu a situação da operação em agosto de 1919:

os armazéns estavam repletos de mercadorias aguardando para serem despachadas, havia frequentesinterrupções de tráfego devido ao mau estado de conservação das locomotivas, os trens ficavamparados nas estações por falta de água...o leito da ferrovia não oferecia segurança...(CompanhiaSorocabana; 1920, p. 3-4)

Itabira Iron Ore Company

IntroduçãoEm 1904 foi inaugurada o primeiro trecho da Estrada de Ferro Vitória a Minas (CEFVM) ligando Cariacica aAlfredo Maia. Seu objetivo era chegar a cidade mineira de Diamantina, mas com a descoberta das jazidas de minériona região de Itabira/MG, os controladores da Companhia Estrada de Ferro Vítória a Minas solicitaram a alteraçao dalinha de Diamantina para Itabira. Sua construção chamou a atenção de grupos inglêses para utilizá-la comoinstrumento de transporte do minério de ferro da região. Estes grupos adquiriram grandes áreas de terra na região deItabira, MG e fundaram, em 1909, o Brazilian Hematite Syndicate. Adquiriram também a maioria das ações daestrada de ferro em 1910.Durante o XI Congresso Geológico e Mineralógico, realizado em Estocolmo, na Suécia, em 1910, o mundo tomaconhecimento dessas reservas, que têm alto teor de ferro e são estimadas em 2 bilhões de toneladas.Em 1919 Percival Farquhar adquiriu a Itabira Iron Ore Co., empresa criada em 1911 pelo Brazilian HematiteSyndicate, com o objetivo de explorar e exportar o minério da região de Itabira.

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O Projeto

Farquhar pretendia extrair o minério de ferro de Itabira para exportá-lo - ao ritmo de cerca de 4 milhões detoneladas/ano - através de Santa Cruz, Aracruz, ES, onde construiria uma pequena usina siderúrgica (com capacidadede 150 mil toneladas/ano), capaz de produzir materiais siderúrgicos mais básicos tais como trilhos, perfis, chapasgrossas e vigas.Navios do Sindicato Farquhar levariam o minério de ferro aos países industrializados e retornariam carregados decarvão mineral, oriundo dos Estados Unidos e da Europa, suprindo assim a ausência desse insumo essencial noBrasil.Esse ousado e gigantesco projeto, orçado em 80 milhões de dólares, obteve toda a simpatia do presidente darepública Epitácio Pessoa, que assinou o famoso Contrato Itabira de 1920. Imediatamente Farquhar passaria a sofreruma feroz oposição de Arthur Bernardes, presidente do estado, então quase autônomo, de Minas Gerais.Ambos tinham visões conflitantes e irreconcilíáveis: Arthur Bernardes pretendia implantar na região um impériosiderúrgico, sonhando com uma nova Região do Ruhr em seu estado, enquanto as prioridades de Farquhar seconcentravam na exportação do minério bruto e na atividade ferroviária e marítima relacionadas a seu transporte.A partir de então as opiniões políticas, no Brasil todo, passaram a se polarizar entre essas duas alternativas. Gruposde tendências mais liberais, adeptos do laissez-faire defendiam, com veemência, o projeto de Farquhar enquantogrupos nacionalistas, entre os quais se incluiam os tenentes e os intelectuais, defendendiam ardorosamente a posiçãode Arthur Bernardes.Os que apoiavam Farquhar alegavam que o consumo de aço no Brasil jamais justificaria a instalação de umasiderúrgica de grande porte e que os investimentos governamentais deveriam se concentrar no social. Deixando paraa iniciativa privada a função dos investimentos de risco.Os que apoiavam a posição de Arthur Bernardes protestavam, clamavando que Minas não poderia repetir o mesmoerro cometido 200 anos antes, quando todo o ouro que ali havia foi levado embora pelos portuguêses, restando paraMinas Gerais apenas os buracos.Farquhar colocou-se assim, deliberadamente, no fulcro de uma calorosa e violenta polêmica nacional, que duraria até1941 e que certamente lhe rendeu muitos inimigos.

Os percalços

Farquhar sofre seu primeiro tropeço quando Arthur Bernardes se torna presidente da república, em 1922, e promulgauma lei que taxava em 3 mil réis por tonelada o minério de ferro que fosse exportado em bruto, inviabilizando assimo negócio.Em 1930 Getúlio Vargas, de forte discurso e tendência nacionalista, contando com o apoio dos tenentes, assume opoder no Brasil à frente da revolução de 30.

A Encampação

Em 1937, é outorgada uma nova constituição para o Estado Novo, determinando que a exploração das jazidasminerais no Brasil passe a depender de prévia concessão do governo federal, a qual só poderá ser outorgada aempresas brasileiras, cujos acionistas sejam brasileiros.em 1938 caducou o contrato da Itabira Iron Ore. Como saída, Farquhar criou a Companhia Brasileira de Mineração eSiderurgia (CBMS),em 1939, numa jogada para continuar seus projetos. Essa empresa se apresentou como nacional,dirigida por brasileiros. O que não foi ventilado era que Percival detinha 47% das ações da nova empresa. A novaempresa tinha por missão explorar e exportar o minério de ferro e construir uma siderúrgica. A CBMS recebeu dogoverno a concessão para operar a Vitória a Minas, que a partir desse ano deixou de ser uma empresa e passou a serum departamento da nova compnhia.

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Em 1941 Farquhar consegue caminhar com seus projetos, inclusive ter liberação e financiamento o término daEstrada de Ferro Vitória a Minas, que ainda não havia chegado ao Pico do Cauê, local da mina em Itabira. Com oadvento da II Guerra Mundial, novamente escassearam-se os recursos financeiros externos. Para consegui-los nóBrasil e capitalizar sua nova empresa, Farquhar criou a Companhia Itabira de Mineração, reponsável pela extraçãodo minério de ferro.Esse expediente tardio não surtiu o resultado imaginado por Farquhar.Negociando habilmente com o governo estadunidense - que precisava sua autorização para operar aviões militaresnas bases aéreas do nordeste brasileiro, durante a 2ª Guerra Mundial, Getúlio Vargas conseguiu obter o beneplácitoestadunidense para a construção de uma siderúrgica de grande porte no Brasil - que se tornaria a CompanhiaSiderúrgica Nacional - CSN e, mais ainda, conseguiu fazer com que os estadunidenses intercedessem junto aogoverno inglês no sentido de evitar quaisquer objeções à encampação das reservas de minério de ferro ainda empoder de Farquhar.Sofrendo pressões por parte dos seus grupos apoiadores, os nacionalistas e militares, Getúlio Vargas é impelido atomar uma decisão a respeito da qeustão da exploração e exportação do minério de ferro. Assim, por meio dedecreto, confiscou todo o patrimônio de Percival Farquhar nesse setor e formou uma nova empresa, estatal. Estesentendimentos foram denominados os Acordos de Washington [23], em decorrência dos quais Getúlio Vargas assinao decreto-lei nº 4.352 de 1º de junho de 1942 criando a Companhia Vale do Rio Doce. A nova empresa, constituídacomo uma sociedade anônima de economia mista, encampa as empresas de Farquhar e assume o controle da Estradade Ferro Vitória a Minas, com o objetivo assegurar o suprimento estratégico de minério de ferro para a recém-criadaCompanhia Siderúrgica Nacional - CSN, bem como para dedicar-se à exportação de minério de ferro.À guisa de curiosidade: a foto tirada na fundação da Companhia Vale do Rio Doce mostra Getúlio, ao assinar a ata,tendo de um lado o embaixador estadunidense e de outro o embaixador inglês.

Na cultura popularPercival Farquhar foi retratado na minissérie Mad Maria, da Rede Globo sendo interpretado pelo ator Tony Ramos.

Bibliografia• GAULD, Charles. Farquhar, o último titã: um empreendedor americano na América Latina. São Paulo: Editora

de Cultura, 2006. Tradução Eliana do Vale.• FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder, volume 2. Ed. Globo: São Paulo, 1998 (13ª edição)• FERREIRA, Manoel Rodrigues. A Ferrovia do Diabo. Ed. Melhoramentos: São Paulo, 1959 e 2005.

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Notas↑ Hagiografia: biografia ou estudo sobre biografia de santos. Por extensão de sentido, biografia excessivamenteelogiosa.

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Fontes e Editores da Página 28

Fontes e Editores da PáginaGuerra do Contestado  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=39566974  Contribuidores: 200-205-218-236.dial-up.telesp.net.br, 28082008Guru, 333, AJVEIGA, Adailton, Adriao,Alaiyo, Augustofrlima, Belanidia, Bisbis, Braswiki, Carlos Eduardo Ramos, Carlos Luis M C da Cruz, Carlos28, Carlosguitar, Cesarious, ChristianH, Cláudio Aarão Rangel, Colaborador Z,CommonsDelinker, Crisandrew, DARIO SEVERI, DGuy, Daemorris, Dantadd, Darwinius, Davemustaine, Davi175, Dcolli, Defender, Denistav, Der kenner, Derfel73, Deyvid Aleksandr RaffoSetti, Dison, Dvulture, Eamaral, Eleefecosta, Espírito de Minas, FSogumo, Fabiobarros, FarinhaDasNazarés, Fasouzafreitas, Felipemwendt, Frajolex, GOE, GRS73, Gbiten, Gdamasceno, GeorgeWashington, Giro720, Guilmann, HVL, HisBis, Hudninz, Ingowilges, Izahias, JCMA, Jml3, Jorge, João Carvalho, Kaktus Kid, Leandro Drudo, Leonardo Alves, Levs, Lgrave, Lgtrapp, Luan,LucianoVann, Luiza Teles, Lépton, Manuel Anastácio, Marco Berquó, MarioSánchezAlba, Melancolicsphere, Meloaraujo, Meriade, MetalBrasil, Milieh, Mirelli Navarra, Mosca, Mozan,Mschlindwein, Muriel Gottrop, Mvdiogo, NH, NazaréSemFarinhas, Nice poa, Nuno Tavares, O CoRVo, OS2Warp, Patrick, PatríciaR, Pedrassani, Pedro Aguiar, PedroPVZ, Picture Master,Pikolas, Pristecf, RafaAzevedo, Ramonne, Rautopia, Rei-artur, Renatokeshet, Renavaz, Reynaldo, Ricardo Felipini, Rizzatti, Ródi, Santana-freitas, Santista1982, Stuckkey, Sturm, Sulista, Teles,Tertius, Theus PR, Thiago1303, Tm, Tonyjeff, Um IP, Ungoliant MMDCCLXIV, Unnicked, Vanthorn, Varlaam, Victor R12, Vini 175, Viniciusmc, Vitor Mazuco, Xandi, Yanguas, YoneFernandes, Zoldyick, Épico, Érico Júnior Wouters, 488 edições anónimas

Guerra de Canudos  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=39691516  Contribuidores: !Silent, Alchimista, Alex Mattos Cabral, Alexanderps, Alexandrepastre, André Koehne, AriSilveira, Arley, Arnaldo Hase, Arthemius x, Belanidia, Benito, Bisbis, Caiolokudao, Canudosnet, Carlos Eduardo Ramos, Carlos Luis M C da Cruz, Carlos28, Cesarious, ChristianH, ClaudioRogerio Carvalho Filho, Cléééston, Colaborador Z, CommonsDelinker, Creardo, Cícero, Daemorris, Daimore, Daniel LJ96, Darwinius, Davemustaine, Der kenner, Dison, Dr.hurf, Dédi's,Eamaral, Eduardofeld, Eleefecosta, Erico Tachizawa, Euclidesite, FML, FSogumo, Fasouzafreitas, Felipe P, Fillipe Ramos, Frajolex, GOE, GOE2, GRS73, Galois, Gbiten, George Washington,Get It, Giro720, Gunnex, HVL, Holdfz, Izahias, JSSX, Jml3, Joaopchagas2, Jorge, Jotapecarvalho, João Carvalho, JuNiOr, Kim richard, Leandromartinez, Lechatjaune, Levs, Lflrocha, Lgrave,Lgtrapp, LiaC, Lijealso, Luan, Lucasmendesorg, Luciaccoelho, Luckas Blade, Luiza Teles, Manuel Anastácio, Marcos Elias de Oliveira Júnior, Marcos dias de oliveira, Matheus-sma, Maurício I,Mosca, Muandre, Muriel Gottrop, Nice poa, Nuno Tavares, OS2Warp, Papel, PauloEduardo, Pedro Aguiar, Picture Master, Pikolas, RafaAzevedo, Rjclaudio, Robson correa de camargo,Rodrigolopes, Rui Silva, Ruy Pugliesi, Ródi, Salamat, Santana-freitas, SingingEye, Sitenl, Sofrenildo, Stuckkey, Sturm, Sulista, SuperBraulio13, Teles, Theus PR, ThiagoRuiz, Tilgon, Tonyjeff,Tumnus, Umburana, Vanthorn, Victor R12, Vini 175, Viniciusmc, Vitor Mazuco, Yandeara, Yanguas, Yone Fernandes, Zoldyick, Érico Júnior Wouters, 492 edições anónimas

Percival Farquhar  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?oldid=39415164  Contribuidores: Adiuson Luiz Baran, Aparecido Borges da Silva, Ariel C.M.K., Bisbis, Bruno N. Campos,COBAR, Capmo, Carlos Luis M C da Cruz, Cditadi, CommonsDelinker, Crítico, Daimore, Dantadd, Dpc01, Eamaral, Espírito de Minas, Fasouzafreitas, Gerbilo, Giro720, Guru2001, HVL, HumMilhão, Izahias, Jbribeiro1, Joaopchagas2, JotaCartas, João Carvalho, João Vítor Vieira, Kaktus Kid, LeonardoG, NazaréDasFarinhas, OS2Warp, Pagesmoms, Picture Master, Pikolas,Rachmaninoff, Ricardo Rondônia, Ródi, Varlaam, Victor R12, Vini 175, Whooligan, WikiLord, 113 edições anónimas

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Fontes, Licenças e Editores da ImagemImagem:Bandeira do Contestado.svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Bandeira_do_Contestado.svg  Licença: Public Domain  Contribuidores: André Koehne, E2m,Quissamã, 1 edições anónimasImagem:Flag of Brazil (1889-1960).svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Flag_of_Brazil_(1889-1960).svg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Cycn, FSII,Fry1989, Guilherme Paula, Homo lupus, Marcos Elias de Oliveira Júnior, Pixeltoo, Shadowxfox, The ed17, TigerTjäder, XufancFicheiro:Bandeira do Paraná.svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Bandeira_do_Paraná.svg  Licença: Public Domain  Contribuidores: FXXXImagem:Floresta Nacional de Caçador SC - Araucárias 6.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Floresta_Nacional_de_Caçador_SC_-_Araucárias_6.jpg  Licença:Creative Commons Attribution-Sharealike 3.0  Contribuidores: FastilyClone, Gunnex, Morning Sunshine, PdellaniImagem:Bandeira_do_Contestado.svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Bandeira_do_Contestado.svg  Licença: Public Domain  Contribuidores: André Koehne, E2m,Quissamã, 1 edições anónimasFicheiro:HermesFonseca.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:HermesFonseca.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Chico, Dantadd, 1 edições anónimasImagem:Contestado-war01.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Contestado-war01.jpg  Licença: Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 Unported Contribuidores: Pedrassani, 1 edições anónimasImagem:Kirk-monument-contestado02.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Kirk-monument-contestado02.jpg  Licença: Creative Commons Attribution-ShareAlike3.0 Unported  Contribuidores: Pedrassani, 1 edições anónimasImagem:Ricakirk1.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Ricakirk1.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Denistav, Frank C. Müller, Man vyi, ÖImagem:Contestado-war02.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Contestado-war02.jpg  Licença: Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 Unported Contribuidores: Pedrassani, 1 edições anónimasImagem:Museum-Contestado.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Museum-Contestado.jpg  Licença: Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 Unported Contribuidores: Allgood, Pedrassani, Picture MasterImagem:40th infantry batallion canudos 1897.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:40th_infantry_batallion_canudos_1897.jpg  Licença: Public Domain Contribuidores: Flávio de BarrosImagem:Flag_of_Empire_of_Brazil_(1870-1889).svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Flag_of_Empire_of_Brazil_(1870-1889).svg  Licença: Public Domain Contribuidores: Tonyjeff, based on work of Jean-Baptiste DebretFicheiro:Flag of Brazil (1889-1960).svg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Flag_of_Brazil_(1889-1960).svg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Cycn, FSII,Fry1989, Guilherme Paula, Homo lupus, Marcos Elias de Oliveira Júnior, Pixeltoo, Shadowxfox, The ed17, TigerTjäder, XufancImagem:Canudos-map.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Canudos-map.jpg  Licença: GNU Free Documentation License  Contribuidores: Original uploader wasRsabbatini at en.wikipediaImagem:Conselheiro Revista Ilustrada.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Conselheiro_Revista_Ilustrada.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: AndréKoehne, Fredou, JotaCartas, Picture Master, Tonyjeff, Umburana, 1 edições anónimasImagem:Canudos village.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Canudos_village.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Original uploader was Rsabbatini aten.wikipediaImagem:Canudos.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Canudos.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Dornicke, Luan, Maksim, Quissamã, 1 edições anónimasFicheiro:Arthur Oscar.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Arthur_Oscar.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Picture MasterImagem:Canudos rebels.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Canudos_rebels.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Flávio de BarrosImagem:Antonio Conselheiro.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Antonio_Conselheiro.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Flávio de BarrosImagem:Caricaturaeuclides.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Caricaturaeuclides.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Chile1853, Infrogmation, Lobo,Panarria, Wolfmann, 1 edições anónimasImagem:A matadeira.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:A_matadeira.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Original uploader was Rsabbatini aten.wikipediaFicheiro:Percival Farquhar.jpg  Fonte: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Percival_Farquhar.jpg  Licença: Public Domain  Contribuidores: Mu, Whooligan, 1 edições anónimas

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