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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR · Minutas 69 Identificação do ... retorna à regra contida no art.º 51.º do Estatuto ... com uma aproximação ao regime laboral

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GUIA DE APOIO ÀS

ESCOLAS EM

MATÉRIA DISCIPLINAR

INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

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FICHA TÉCNICA

Título Guia de Apoio às Escolas em Matéria Disciplinar

Autoria Inspecção-Geral da Educação Alexandre Pereira (Direcção de Serviços Jurídicos)

Edição © Inspecção-Geral da Educação (IGE) Av. 24 de Julho, 136 1350–346 LISBOA Tel.: 213 924 800 / 213 924 801 Fax: 213 924 950 / 213 924 960 e-mail: [email protected] URL: http://www.ige.min-edu.pt

Coordenação editorial, copidesque, design gráfico, revisão tipográfica e divulgação IGE — Divisão de Comunicação e Documentação (DCD)

Impressão e acabamento Reprografia da Secretaria-Geral do Ministério da Educação Av. 24 de Julho, 136 – 1.º 1350-346 LISBOA Dezembro 2007

Tiragem 500 exemplares

Depósito Legal 268541/07

ISBN 978-972-8429-79-9

Catalogação na publicação Portugal. Inspecção-Geral da Educação Guia de apoio às escolas em matéria disciplinar. - Lisboa : IGE, 2007 ISBN 978-972-8429-79-9 CDU 371.12(469)(094.5) 351.83(469) 349.2(469)

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

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Índice

Introdução 5

Objectivos 7

Princípios gerais 9

Âmbito de aplicação 13

Deveres gerais 15

Prescrição do procedimento disciplinar 17

Poder disciplinar 23

Penas disciplinares 25

Circunstâncias atenuantes, agravantes e dirimentes 29

Suspensão e prescrição das penas 33

Formas, natureza e instauração 35

Instrução 39

Acusação 45

Defesa 49

Relatório final 53

Decisão 57

Impugnação 63

Minutas 69

Identificação do processo Autuação Auto de notícia Despacho de instauração Ofício de comunicação à IGE para pessoal docente Ofício de comunicação à IGE para pessoal não docente Despacho de nomeação do instrutor Comunicação ao arguido, ao participante e à entidade que nomeou o instrutor do início da instrução Termo de compromisso de honra Termo de apensação Despachos Auto de inquirição do participante Auto de declarações do arguido Notificação de testemunha para depor Auto de não comparência Auto de inquirição de testemunhas Auto de acareação

71 71 71 71 72 72 72

72 73 73 73 74 74 74 75 75 75

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Auto de exame Auto de diligências Nota de culpa para pessoal docente Nota de culpa para pessoal não docente Notificação pessoal da acusação Ofício de notificação da acusação Aviso para citação em Diário da República Termo de consulta Modelo de relatório final Certidão de notificação pessoal de decisão para pessoal docente Certidão de notificação pessoal de decisão para pessoal não docente Ofício com notificação de decisão disciplinar para pessoal docente Ofício com notificação de decisão disciplinar para pessoal não docente Termo de conclusão e remessa

76 76 77 78 78 79 79 79 80 80 80 80 81 81

Siglas e Abreviaturas 83

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Introdução

Complementarmente à disponibilização na sua página, a Inspecção-Geral da Educação (IGE) edita agora em suporte papel o Guia de Apoio às Escolas em Matéria Disciplinar. Este guia, onde se incluem minutas de documentos e ligações aos diplomas legais e normativos necessários nas diversas fases do processo, surge na sequência da entrada em vigor do novo Estatuto da Carreira Docente (ECD), com a redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, que atribuiu aos dirigentes das escolas a responsabilidade da nomeação de instrutor dos processos disciplinares ao pessoal docente por si instaurados, tarefa que antes cabia à IGE. Saliente-se, ainda, que as escolas já tinham, desde a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho, a competência da nomeação de instrutor dos processos disciplinares ao pessoal não docente.

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Objectivos

Na sequência da entrada em vigor do novo Estatuto da Carreira Docente, com a redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, onde se retorna à regra contida no art.º 51.º do Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local (ED), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 26 de Janeiro, de que quem instaura o processo nomeia o respectivo instrutor, tarefa que estava cometida, no ECD revogado, à IGE (para o pessoal não docente, a instrução dos processos disciplinares é igualmente, de acordo com o Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho, da competência das escolas), apresenta-se aqui um conjunto de informações que visa servir de apoio às escolas em matéria disciplinar.

Porém, numa altura em que o Governo se prepara – por força da reforma dos regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores da Administração Pública – para proceder à revisão, já em curso, do actual ED (com a consequente revisão da legislação disciplinar existente para trabalhadores da Administração Pública com contrato de trabalho)1, com uma aproximação ao regime laboral comum do Código do Trabalho, devidamente adaptada, que será aplicável a todos os trabalhadores da Administração Pública, com um elenco de deveres comuns e as especificidades que pontualmente se justifiquem quanto aos procedimentos disciplinares e quanto às sanções aplicáveis em cada tipo de vínculo – nomeação e contrato de trabalho (Proposta de Lei n.º 316/2007, de 12 de Junho) –, tudo aconselha a que se aguarde a publicação desta nova legislação disciplinar, para sua oportuna avaliação.

Sem prejuízo, contudo, de se dotarem, desde já, as escolas de todos os elementos necessários à boa instrução dos processos disciplinares, que, embora devam ser adaptados ao novo regime disciplinar, se mantêm, no essencial, aplicáveis. Com esta finalidade, procede-se nesta obra a uma explanação das principais fases e dos principais institutos do processo disciplinar, através de uma análise sequencial do actual ED (ainda o processo comum na Administração Pública), seguida das competentes minutas de toda a tramitação processual, desde a instauração do processo até à sua decisão final.

1 Caso do Despacho n.º 17 460/2006, de 7 de Agosto, que homologa o Regulamento Interno do Pessoal não Docente com Contrato de Trabalho, onde se fixam as regras relativas à disciplina.

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Princípios gerais

Príncipios gerais do Código do Procedimento Administrativo aplicados ao processo disciplinar

Como procedimento administrativo, se bem que especial porque sancionatório, e por isso previsto em lei especial, com uma concreta tramitação, deve o procedimento disciplinar igualmente obediência aos princípios gerais – a que deve estar sujeita qualquer actuação da Administração – contidos no Código do Procedimento Administrativo (CPA) e portanto também aplicáveis ao processo disciplinar.

Princípio da legalidade Começando pelo princípio da legalidade (art.º 3.º)2, tal significa que a Administração

está subordinada, no exercício da acção disciplinar, à Lei e ao Direito. Ou seja, leis, decretos-lei, portarias, despachos, etc., bem como aos princípios gerais do Direito.

No fundo a juridicidade, e não já a mera legalidade, da sua actuação será aferida ao Direito em sentido amplo, a um bloco de legalidade que, além do direito positivo, engloba igualmente estes princípios.

O que se pretende dizer é que uma decisão administrativa pode ser legal, no sentido de que não viola norma legal, e ser, mesmo assim, inválida, por violar, isso sim, princípios gerais.

Princípio da prossecução do interesse público e da protecção dos direitos e interesses dos cidadãos

Quanto ao princípio da prossecução do interesse público e da protecção dos direitos e interesses dos cidadãos (art.º 4.º)3, ele é bem claro: interesse público como vector orientador da acção da Administração e sempre no respeito dos direitos e interesses de todos quantos estabelecem uma relação com ela. É mais uma vez a conformidade dos actos da Administração ao Direito em sentido amplo.

Ver-se-á, a propósito dos deveres dos funcionários e agentes da Administração, que toda a sua actuação deve estar exclusivamente ao serviço do interesse público, que pode ser considerado como a impressão digital de toda a função administrativa, aquilo que ela tem de mais intrinsecamente seu e que não pode ser usurpado por ninguém, salvo no caso limite de erro grosseiro nessa avaliação, abrindo assim caminho à intervenção dos tribunais, pois estes têm o dever de fazer cumprir a lei que a Administração incumpriu.

Poderá dizer-se, talvez de forma simples, que este interesse público é o resultado da ponderação dos prós e contras de uma medida administrativa concreta. Será a solução mais conveniente à luz dos critérios de política administrativa para o caso concreto e nos limites impostos por lei.

É claro que este interesse público deve ser sempre prosseguido no respeito dos direitos e interesses dos particulares, aos quais deve ser sobreposto só nos casos e pelas formas previstas na lei.

2 CPA, art.º 3: «Os órgãos da Administração Pública devem actuar em obediência à lei e ao direito, dentro dos limites dos poderes que lhes estejam atribuídos e em conformidade com os fins para que os mesmos poderes lhes forem conferidos».

3 CPA, art.º 4.º: «Compete aos órgãos administrativos prosseguir o interesse público, no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos».

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Princípio da igualdade e da proporcionalidade

No que respeita ao princípio da igualdade e da proporcionalidade (art.º 5.º)4, exige-se um tratamento igual de situações de facto iguais e um tratamento diverso de situações de facto diferentes. Portanto, se as situações, sendo iguais, forem tratadas desigualmente ou se, sendo desiguais, forem tratadas igualmente, há então violação deste princípio.

Reclama a proporcionalidade que a actividade da Administração seja proporcional aos fins que prossegue. Esta proporcionalidade, também conhecida pelo princípio da proibição do excesso, o que pretende afinal é que as decisões administrativas, sejam elas quais forem, não apresentem inconvenientes excessivos relativamente às vantagens que delas se espera5.

Princípio da justiça e da imparcialidade Passando agora ao princípio da justiça e da imparcialidade (art.º 6.º)6, não vislumbramos

na lei qualquer conceito de justiça. Parece até que, neste segmento, esta disposição legal quer dizer tudo sem dizer nada, deixando ao aplicador do direito a tarefa de densificação deste comando normativo. Daí este reparo: parte-se de uma referência abstracta a este princípio, quando sabemos que a justiça só se alcança quando referida ao caso concreto. No que concerne à imparcialidade, que é um dever geral de qualquer agente administrativo, como veremos adiante ao falarmos dos deveres do art.º 3.º do Estatuto Disciplinar, o que se pretende é proibir favoritismos ou perseguições e vedar a intervenção de certos agentes públicos em decisões em que se sejam parte interessada (a sua violação pode ser causa de um pedido de suspeição de instrutor, de que falaremos adiante, quando nos debruçarmos sobre esta matéria (art.º 52.º do ED).

Princípio da boa-fé

Relativamente ao princípio da boa-fé (art.º 6.º-A)7, o que se quer dizer é que a Administração e o particular, quando estabelecem uma relação, devem pautar o seu comportamento segundo as regras da boa-fé. Trata-se de uma referência aos valores fundamentais do direito relevantes face ao caso concreto, nomeadamente no que respeita à confiança que deve existir inter partes.

4 CPA, art.º 5.º: «1. Nas suas relações com os particulares, a Administração Pública deve reger-se pelo princípio da igualdade, não podendo privilegiar, beneficiar, prejudicar, privar de qualquer direito ou isentar de qualquer dever nenhum administrado em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social. 2. As decisões da Administração que colidam com direitos subjectivos ou interesses legalmente protegidos dos particulares só podem afectar essas posições em termos adequados e proporcionais aos objectivos a realizar».

5 Em sede das penas disciplinares o princípio da proporcionalidade reclama a adequação da pena aplicada à gravidade dos factos objecto da acusação. A medida disciplinar aplicada deve, pois, ser apta ou idónea aos fins a atingir e mostrar-se como a menos gravosa para o arguido. É o princípio da intervenção mínima, que impõe à administração que escolha, de entre as penas disciplinares que se mostrem adequadas à satisfação ou prossecução do interesse público, objectivado na acção disciplinar, aquela que se revela menos lesiva da esfera jurídica do arguido.

6 CPA, art.º 6.º: «No exercício da sua actividade, a Administração Pública deve tratar de forma justa e imparcial todos os que com ela entrem em relação».

7 CPA, art.º 6-A: «1. No exercício da actividade administrativa e em todas as suas formas e fases, a Administração Pública e os particulares devem agir e relacionar-se segundo as regras da boa-fé. 2. No cumprimento do disposto no número anterior, devem ponderar-se os valores fundamentais do direito, relevantes em face das situações consideradas, e, em especial: a) A confiança suscitada na contraparte pela actuação em causa; b) O objectivo a alcançar com a actuação empreendida».

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Princípio da colaboração da Administração com os particulares

Quanto ao princípio da colaboração da Administração com os particulares (art.º 7.º)8, pode dizer-se que ele é recente na prática administrativa. Consagra-se aqui o dever da Administração de cooperar com o particular, de o informar e esclarecer, quando este solicite a informação ou quando a Administração pratique ou assuma, no decurso de qualquer procedimento, algum acto ou conduta que possa lesar a esfera jurídica do particular.

Princípio da participação

No tocante ao princípio da participação (art.º 8.º)9, foi com o CPA que o legislador ordinário consagrou pela primeira vez este princípio, contido fundamentalmente no seu art.º 100.º, como sendo a audiência dos interessados. O que se pretende com este princípio é garantir um mecanismo de controlo da Administração na fase da preparação das decisões. A defesa do arguido em processo disciplinar no ED, anterior ao CPA, não é mais do que a consagração deste direito de audiência antes da tomada de decisão neste foro específico, que é o disciplinar10.

Princípio da decisão

No que respeita ao princípio da decisão (art.º 9.º)11, este constitui um dever geral de decidir e exige que a Administração se pronuncie sempre que seja solicitada. A excepção está no n.º 2, pois este dever de decidir cessa se a Administração já se tiver pronunciado sobre o mesmo pedido sem alteração da sua fundamentação de facto e de direito nos últimos dois anos.

Princípios da desburocratização e da eficiência, da gratuitidade e do acesso à justiça

Quanto aos restantes princípios: da desburocratização e da eficiência, da gratuitidade e do acesso à justiça, previstos nos art.os 10.º a 12.º do CPA, remete-se para a sua simples leitura, pois não colocam problemas especiais em matéria disciplinar. Sem prejuízo de se chamar a atenção para a necessidade de que o processo disciplinar seja célere, com cumprimento dos prazos previstos pela lei para as suas diferentes fases (início, instrução e decisão), para que assim se possa emprestar eficiência às decisões em sede disciplinar.

8 CPA, art.º 7: «Os órgãos da Administração Pública devem actuar em estreita colaboração com os particulares, procurando assegurar a sua adequada participação no desempenho da função administrativa, cumprindo-lhes, designadamente: a) Prestar aos particulares as informações e os esclarecimentos de que careçam; b) Apoiar e estimular as iniciativas dos particulares e receber as suas sugestões e informações. 2. A Administração Pública é responsável pelas informações prestadas por escrito aos particulares, ainda que não obrigatórias».

9 CPA, art.º 8.º: «1. Os órgãos da Administração Pública devem assegurar a participação dos particulares, bem como das associações que tenham por objecto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que lhes disserem respeito, designadamente através da respectiva audiência nos termos deste Código».

10 Segundo a jurisprudência dominante do STA, o art.º 100.º do CPA não é aplicável no caso de processo disciplinar, pois neste processo a audiência dos interessados está organizada de forma especial. A defesa da posição do arguido não exige uma sistemática nova audição entre o relatório final e a decisão punitiva, satisfazendo-se com a audição posterior à acusação e com a obrigatoriedade de ser notificado das novas diligências probatórias realizadas em fase posterior à defesa, quando se trate de diligências complementares ordenadas oficiosamente pelo instrutor, e que se traduzam, por exemplo, na junção de documentos, informações dos serviços e depoimentos de testemunhas, que relevem em desfavor do arguido no juízo de censura efectuado.

11 CPA, art.º 9.º: «1. Os órgãos administrativos têm, nos termos regulados neste Código, o dever de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua competência que lhes sejam apresentados pelos particulares, e nomeadamente: a) Sobre os assuntos que lhes disserem directamente respeito; b) Sobre quaisquer petições, representações, reclamações ou queixas formuladas em defesa da Constituição, das leis ou do interesse geral. 2. Não existe o dever de decisão quando, há menos de dois anos contados da data da apresentação do requerimento, o órgão competente tenha praticado um acto administrativo sobre o mesmo pedido formulado pelo mesmo particular com os mesmos fundamentos».

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Âmbito de aplicação

Decorre do art.º 1º do Estatuto Disciplinar que a regra é a de que ficam abrangidos pelos seus normativos todos os funcionários e agentes da Administração Central e Regional e das Autarquias Locais, onde se inclui o pessoal docente e não docente12. A excepção reporta-se a todos os que possuam estatuto especial (ex: juízes, militares, etc.).

Responsabilidade Disciplinar Do n.º 1 do art.º 2.º do ED resulta que o funcionário ou agente deve obediência a uma

série de regras que regem as relações hierárquicas e a que podemos chamar disciplina, visando a eficiência e a organização dos serviços públicos, necessárias à realização dos fins que lhes estão cometidos. O fim desta disciplina é assim conseguir a ordem e a justiça nos serviços, proporcionando aos trabalhadores a segurança contra os abusos das chefias e a estas os meios de se defenderem contra as faltas dos trabalhadores.

Infracção Disciplinar

Nos termos do art.º 3.º do ED, a infracção disciplinar é o facto, ainda que meramente culposo, praticado pelo funcionário ou agente com violação de algum dos deveres gerais ou especiais (específicos) da função que exerce.

Elementos essenciais

São assim elementos essenciais da infracção disciplinar:

• O funcionário ou agente: sujeitos activos da infracção disciplinar só podem ser funcionários ou agentes, considerando-se como funcionários os indivíduos que se encontram vinculados à Administração por uma relação de serviço, para exercerem funções correspondentes a necessidades permanentes da Administração, ocupando normalmente um lugar no respectivo quadro. Enquanto que o agente é nomeado para o exercício de certo cargo por tempo determinado ou a título precário: substituição de funcionários, prestação de certas tarefas temporárias, etc. Tem que se tratar, pois, de um funcionário ou agente, sendo que o Estado é o sujeito passivo e o titular do interesse ofendido;

• Uma conduta do funcionário ou agente: a infracção disciplinar é meramente formal ou de simples conduta. A sua verificação não depende da produção de resultados prejudiciais ao serviço, a não ser que a lei assim o exija. Infringir disciplinarmente é desrespeitar um dever geral ou especial decorrente da função exercida. A conduta do agente pode ser uma acção ou omissão (um facere ou um non facere). Como exemplos, temos a tesoureira de uma escola que furta dinheiro à sua guarda (facere); um professor que assiste sem nada fazer à agressão entre dois alunos na sua sala de aula (non facere); um professor que se apresenta embriagado ao serviço (facere) ou um funcionário que deixa de passar dentro dos prazos legais, sem justificação, as certidões que lhes sejam requeridas (non facere);

12 No que agora nos interessa, por pessoal docente entende-se aquele que é portador de habilitação profissional para o desempenho de funções docentes de educação e de ensino, com carácter permanente, sequencial e sistemático, ou, a título temporário, após aprovação em prova de conhecimentos e de competências (art.º 2.º do Estatuto da Carreira Docente). E por pessoal não docente entende-se o conjunto de funcionários e agentes que, no âmbito das respectivas funções, contribuem para apoiar a organização e a gestão, bem como a actividade socioeducativa (n.º 1 do art.º 2.º do EPND).

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• A ilicitude – ou seja, a contrariedade do facto à lei, ou a inobservância de deveres gerais ou especiais inerentes à função exercida. No exercício das suas funções, o pessoal docente e o pessoal não docente estão obrigados ao cumprimento dos deveres gerais estabelecidos nos n.os 2 a 12 do ED e demais deveres (profissionais, específicos ou especiais) decorrentes, respectivamente, da aplicação do ECD (art.º 10.º, n.º 2, com alcance genérico ou transversal perante as diferentes vertentes da sua ligação funcional com a Administração Educativa e, em particular, com o projecto educativo das escolas; art.º 10.º-A, deveres para com os alunos; art.º 10.º-B, deveres para com a escola e os outros docentes; e art.º 10.º-C, deveres para com os pais e encarregados de educação) e da aplicação do Estatuto do Aluno do Ensino Não Superior13 e do Estatuto do Pessoal Não Docente (EPND) (art.º 4.º).

Podem também existir os chamados deveres da vida privada, cuja violação é susceptível de gerar responsabilidade disciplinar por parte deste pessoal da Administração Pública. Mas esta vida privada, para efeitos disciplinares, deve ser entendida apenas como as manifestações da sua vida particular que, por se revestirem de publicidade, possam originar escândalo e pôr em causa a dignidade e o prestígio do funcionário ou da função exercida. Mas não já a vida íntima deste, que só ao mesmo importa, como é evidente. Mais adiante veremos a este respeito os art.os 25.º, n.º 1 e 26.º, nº 3, do ED, disposições conotadas com tais deveres extra funcionais.

13 Em especial os art.os 5.º, 13.º e 38.º

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Deveres gerais

Vejamos agora cada um destes deveres gerais, com uma breve referência aos n.os 2 e 3 do art.º 3.º onde se consagram dois princípios constitucionais:

a) subordinação ao interesse público, ou seja, a acção da Administração deve sempre nortear-se pelo bem da comunidade (art.º 269.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa – CRP);

b) imparcialidade, isto é, tratar igualmente todos os cidadãos (art.º 266.º, n.º 2, da CRP).

Dever de isenção O primeiro dos deveres gerais elencados no Estatuto Disciplinar é o dever de isenção

[art.º 3.º, n.º 4, alínea a) e n.º 5]. É um dever que está relacionado com o valor da honestidade e está intimamente ligado ao princípio constitucional da subordinação ao interesse público (exemplos, art.os 24.º, n.º 1, alínea f), 25º, n.º 2, alínea b), e 26.º, n.º 4, alíneas b), d) e f), 1.ª parte).

Dever de zelo Quanto ao dever de zelo (art.º 3.º, n.º 4, alínea b) e n.º 6), a sua definição legal parece,

quando se refere ao possuir e aperfeiçoar conhecimentos técnicos, englobar no mesmo dever o zelo e a competência, mas que devem ser diferenciados. Há funcionários sabedores mas não zelosos e vice-versa (exemplos, art.os 23.º, n.os 1 e 2, alíneas a) e e), e 24.º, n.º 1, alíneas d) e e)).

Dever de obediência Da violação do dever de obediência (art.º 3.º, n.º 4, alínea c) e n.º 7) nasce a

desobediência. Fora da hierarquia não é devida obediência. A ordem ou instrução apenas obriga quando vem de legítimo superior hierárquico. E superior hierárquico é aquele a quem a lei atribui todos ou alguns dos poderes de direcção, de inspecção, de superintendência e de disciplina. Portanto, apenas há exclusão da responsabilidade disciplinar do inferior quando este cumpra uma ordem que considere ilegal somente após ter da mesma reclamado. Ou depois de ter exigido a transmissão a escrito da ordem à qual imputa essa ilegalidade, conforme disposto no n.º 2 do art.º 271.º da CRP. A esta reclamação se chamava anteriormente o direito de respeitosa representação. Caso não venha a ter resposta, o subalterno deve cumprir, não sendo responsável disciplinarmente pelo cumprimento da ordem recebida. Se a ordem for para cumprir imediatamente, então o funcionário deve cumprir, mas de seguida adoptar o procedimento atrás referido. E não há dever de obediência quando o cumprimento da ordem ou instrução implique a prática de qualquer crime (n.º 3 do art.º 271.º da CRP). Aqui o funcionário simplesmente não deve cumprir, não sendo responsabilizado disciplinarmente por esse facto (exemplos, art.os 23.º, n.º 2, alínea b) e 24.º, n.º 1, alínea h)).

Dever de lealdade

O dever de lealdade (art.º 3.º, n.º 4, alínea d), e n.º 8) deriva, de certo modo, do princípio constitucional da subordinação ao interesse público (exemplo, art.º 26.º, n.º 2, alíneas b) e d)).

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Dever de sigilo

A lei fala de dever de sigilo (art.º 3.º, n.º 4, alínea e), e n.º 9) a respeito do dever de segredo profissional e inconfidência (exemplos, art.ºs 24.º, n.º 1, alínea g), e 26.º, n.º 4, alínea a)). O dever de sigilo em sentido amplo abrange assim o segredo profissional e a confidência. A violação do segredo profissional, que incide sobre matéria reservada ou classificada é, em princípio, punida de forma mais grave, com demissão. Enquanto a inconfidência pode ser punida com suspensão ou demissão, consoante se verifiquem ou não prejuízos materiais ou morais para o Estado ou para terceiro.

Dever de correcção

O dever de correcção (art.º 3.º, n.º 4, alínea f), e n.º 10) aparece aqui como cortesia, boa educação, polidez e urbanidade (exemplos, art.ºs 23.º, n.º 2, alínea d), 25º, n.º 2, alínea a), e 26.º, n.º 2, alínea a)).

Deveres de assiduidade e de pontualidade

Quanto aos deveres de assiduidade e de pontualidade, eles estão previstos no art.º 3.º, n.º 4, alíneas g) e h), e n.ºs 11 e 12. São deveres complementares, pois dizem ambos respeito à comparência ao serviço, mas em todo o caso distintos. Na verdade, um funcionário pode ser assíduo mas não pontual. E vice-versa.

O nexo de imputação traduz-se na censurabilidade da conduta, a título de dolo ou culpa. Para que haja infracção disciplinar é ainda preciso, para além do facto e da sua ilicitude, que se possa demonstrar que o facto (acto ou omissão) pode ser imputado ao arguido a título de dolo (intenção) ou mera culpa (negligência)14. Trata-se da distinção clássica entre a intenção e a culpa. A intenção pressupõe uma conduta adoptada no sentido de produzir determinado resultado, em si mesmo ilegal. A culpa ou negligência verifica-se quando o funcionário ou agente, estando consciente e possuindo liberdade para se conduzir, haja deixado de cumprir um dever, ainda que por simples distracção, inconsideração, leviandade, falta de conhecimento das normas aplicáveis, etc.

14 Ac. do Supremo Tribunal Administrativo, de 02-10-97, Proc.º 041951: «No processo disciplinar vigora o princípio da culpa, que, assim, se apresenta como um pressuposto subjectivo da infracção disciplinar. O juízo valorativo da conduta do arguido em processo disciplinar não pode, por isso, passar sem a imputação subjectiva da responsabilidade, não bastando a mera demonstração da efectiva existência de um comportamento contrário à lei».

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Prescrição do procedimento disciplinar

O art.º 4.º do Estatuto Disciplinar refere-se à prescrição em processo disciplinar. O decurso de determinado lapso de tempo faz desaparecer as exigências de efectivação da pena, que deixou de ter actualidade, uma vez que a entidade competente renunciou ao seu direito de punir.

Merecem aqui referência os prazos de prescrição do direito de instaurar o procedimento disciplinar. Nos termos da lei, tal direito prescreve nas seguintes situações.

A prescrição de longo prazo (três anos)

Decorridos três anos sobre a data em que a falta houver sido cometida (n.º 1). Aqui o que importa dizer é que o procedimento disciplinar prescreve passados três anos sobre a data em que a falta houver sido cometida. Mas é de salientar que, neste caso, não há conhecimento por parte do dirigente máximo do serviço em momento anterior a este prazo de três anos. Porque, se assim for, passamos para o n.º 2 deste artigo, ou seja, para um novo e curto prazo de prescrição, que é de três meses.

A prescrição de curto prazo (três meses)

Decorridos três meses sobre a data em que o dirigente máximo do serviço teve conhecimento da falta, não tendo sido instaurado o competente processo disciplinar (n.º 2). Nesta matéria a jurisprudência do STA vem afirmando que o mero conhecimento dos factos na sua materialidade não é suficiente para se poder iniciar o decurso do prazo de prescrição do procedimento disciplinar, nos termos do n.º 2 do art.º 4.º do Estatuto Disciplinar. É ainda necessário o conhecimento das circunstâncias concretas em que ocorreram esses factos, para que seja possível formular um juízo de probabilidade de configurarem uma infracção disciplinar.

E compreende-se que assim deva ser. Deve tratar-se, na verdade, de um conhecimento real, certo e não presumido, a partir do qual se deve contar o prazo de três meses (prescrição de curto prazo). Normalmente – não quer dizer que tenha que ser sempre assim – este conhecimento é alcançado através de outros procedimentos, que não o disciplinar, que lhe são prévios (exemplo do inquérito e das averiguações)15.

Note-se que o n.º 2 do art.º 4.º alude a falta e não a factos. Querendo com isto significar que só o conhecimento dos factos e circunstâncias de que se rodeiam, susceptíveis de lhe conferir relevância jurídico-disciplinar (a citada falta), releva para efeitos da prescrição referida. O simples conhecimento dos factos é por vezes inconclusivo quanto à sua relevância disciplinar. E, portanto, o termo falta usado pelo legislador encerra já um juízo de censura, que só é possível quando se refere a factos cujos contornos disciplinares se apresentam já bem definidos, quer no que respeita à sua autoria, quer no que se refere à sua materialidade, ou seja, o facto em si e as circunstâncias que rodearam a sua prática. E é por isso que, se é conhecida a falta, se deve actuar no prazo de três meses, com risco de prescrição se assim não se proceder16.

15 Ac. do STA, de 03-11-92, Proc.º n.º 029372: «Para efeitos de prescrição de curto prazo, não basta o simples conhecimento dos factos na sua materialidade para que, a partir dele, se inicie a contagem do prazo prescricional do procedimento disciplinar ou das respectivas faltas, pois importa o conhecimento destas e do condicionalismo que as rodearam por forma a tornar possível um juízo fundado de que integrem infracção disciplinar. Compreende-se que neste domínio a Administração seja prudente na instauração de processos disciplinares contra os seus funcionários ou agentes pois os mesmos têm graves reflexos na sua esfera pessoal».

16 Ac. do STA, de 20-01-98, Proc.º n.º 031105: «Falta, para efeitos do conhecimento referido no nº 2 do artº 4º do ED, é o facto que faça suspeitar, seriamente, de que é qualificável como infracção disciplinar, ou seja, quando existe uma razoável suspeita que certo funcionário ou agente praticou determinada infracção disciplinar».

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Este prazo de prescrição de três meses é autónomo em relação ao prazo de três anos. Significa isto que a prescrição de curto prazo ocorrerá sempre no prazo de três meses se, conhecida a falta pelo dirigente máximo do serviço, não for instaurado procedimento disciplinar neste prazo. O mesmo é dizer que a prescrição chamada de longo prazo (três ou mais anos) só pode verificar-se na ausência do conhecimento da falta pelo dirigente máximo do serviço17.

A prorrogação penal da prescrição em processo disciplinar

No caso das infracções disciplinares que constituem simultaneamente infracções penais, sendo o prazo prescricional da lei penal superior a três anos, aplicar-se-á ao processo disciplinar o prazo estabelecido na lei penal (n.º 3)18. E para que estes prazos de prescrição do penal, que constam do art.º 118.º do Código Penal (CP), sejam aplicáveis ao processo disciplinar, apenas importa indagar da pena máxima abstractamente cominada na lei para o tipo legal de crime (parte especial do Código Penal), em cuja previsão os factos disciplinarmente relevantes sejam, igualmente, em abstracto, susceptíveis de subsunção19.

Mas assim sendo, torna-se necessário que o instrutor use da necessária cautela nesta sua emissão de um juízo jurídico-penal dos factos (para poder beneficiar da prorrogação penal) que virão eventualmente a constituir a sua acusação em processo disciplinar, pois que, a existir erro nesta matéria, tal prorrogação é indevida, podendo comprometer, em via de recurso, a legalidade do acto decisório do procedimento disciplinar (por prescrição).

Feita a participação destes factos ao Ministério Público (MP), nos termos do art.º 8.º do ED, o instrutor não fica vinculado na sua instrução, em termos de questão prejudicial, a aguardar a decisão judicial que irá caracterizar em termos definitivos e penais os factos participados. E isto com especial acuidade nos casos em que já se encontrava esgotado o prazo de três anos do n.º 1 do art.º 4.º do ED. Questão prejudicial que, não sendo necessária como se disse, serviria para o instrutor saber se podia ou não continuar com a instrução do processo, sendo esta a jurisprudência relevante na matéria20.

Ainda a propósito desta comunicação ao Ministério Público, e em matéria da referida prorrogação penal, pode colocar-se a seguinte questão: é duvidoso que o juízo administrativo do instrutor, exigível por lei para aplicar um prazo criminal à prescrição do processo disciplinar, seja um juízo meramente abstracto, de pura lógica jurídica e sem qualquer necessidade de avaliação criminal por parte dos tribunais. O propósito da prorrogação penal é evitar a incongruência (incompatibilidade, inexactidão, impropriedade) jurídica que representa um funcionário poder ser criminalmente punido por facto

17 Ac. do STA, de 31-01-89, Proc.º n.º 026230: «Este prazo de prescrição de 3 meses é autónomo em relação ao prazo de 3 ou mais anos. Isto é: seja ou não a infracção disciplinar também considerada penal, a prescrição operar-se-á no prazo de 3 meses se, conhecida a falta pelo dirigente máximo do serviço, não for instaurado procedimento disciplinar durante tal prazo. Assim, a prescrição de prazo longo – 3 ou mais anos – só ocorrerá na ausência de conhecimento da falta pelo dirigente máximo do serviço».

18 Ac. do STA, de 21-02-96, Proc.º n.º 036573: «Não se verifica a prescrição do procedimento disciplinar se tal procedimento for instaurado antes do termo do prazo de prescrição do procedimento criminal, desde que superior a três anos e correspondente ao tipo legal de crime preenchido também por tal infracção disciplinar».

19 Ac. do STA, de 20-04-93, Proc.º n.º 030877: «Para que seja aplicável ao procedimento disciplinar o prazo prescricional mais longo correspondente ao procedimento judicial-penal, nos termos do disposto no n.º 3 do art.º 4.º do ED, apenas importa indagar da pena máxima abstractamente cominada na lei penal para o tipo legal de crime em cuja previsão os factos disciplinarmente relevantes sejam, igualmente em abstracto, susceptíveis de subsunção».

20 Ac. do STA, de 19-10-99, Proc.º n.º 042460: «Sendo imputado ao arguido na nota de culpa faltas que constam total ou parcialmente de participação remetida a tribunal ou de acusação deduzida em processo crime, não está a autoridade com competência disciplinar vinculada a suspender o processo disciplinar até que, no processo crime, seja proferida decisão final, já que aquele é autónomo deste. A qualificação como crime dos factos disciplinarmente relevantes feita pela Administração, nomeadamente para apreciar a respectiva prescrição nos termos do artº 4º do ED, insere-se no âmbito das suas competências próprias não constituindo usurpação dos poderes dos tribunais, que mantêm todos os seus poderes em relação ao apuramento e enquadramento jurídico-criminal dos mesmos factos».

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relacionado com os seus deveres profissionais (por exemplo, peculato) e já não estar sob a alçada do poder disciplinar por esses mesmos factos. Ou seja, tratando-se de faltas disciplinares graves que são também crimes, não faria sentido aplicar-se uma sanção penal e já não poder aplicar-se a sanção disciplinar, que se mantém assim necessária e actual. E é precisamente para obviar a esta incongruência jurídica que há uma correspondência no prazo das duas prescrições, que impede estas situações absurdas. Portanto, o prazo de prescrição do crime será sempre o do processo disciplinar.

Mas, se assim deve ser, então para que esta avaliação criminal opere é preciso que haja uma sentença judicial incriminatória do arguido, que diga que o facto é crime, ou que haja pelo menos um acto destinado a averiguar criminalmente essa conduta, que pode ser, por exemplo, a abertura de um inquérito pelo Ministério Público na sequência da participação ou queixa prevista no art.º 8.º do ED. É que este juízo criminal do instrutor só pode ser fundamento deste alargamento se e enquanto for possível que os factos possam ser objecto ainda de uma avaliação criminal.

Dito de outra forma: se houver prescrição do crime, já não pode haver processo disciplinar. Ou seja, a referida actualidade ou operatividade alargada da responsabilidade disciplinar depende, bem vistas as coisas, da actualidade ou operatividade da responsabilidade criminal quando os factos forem simultaneamente infracção disciplinar e penal. Se a sanção criminal já não é possível por prescrição, então a Administração já não pode beneficiar da prorrogação penal.

Caso contrário, estaria o instrutor arvorado em juiz criminal. Quem verifica ou controla a exactidão do juízo criminal do instrutor para saber se o prazo prescricional seguido é o certo e até se os factos são ou não crime é, num primeiro momento, o MP e depois o Tribunal. Mas, se a participação da Administração não for atempada, então não haverá lugar a esta confirmação e haverá usurpação administrativa de poderes judiciais, pois a Administração estaria assim a substituir-se aos tribunais para sancionar alguém pela prática de um crime, que não foi avaliado na sede competente, que são os tribunais criminais.

Esta matéria tem uma importância decisiva nas averiguações e inquéritos que suspendem, ou melhor, interrompem (art.os 120.º e 121.º do Código Penal) o prazo de prescrição disciplinar. Mas não têm esse efeito na prescrição do crime, que continua a correr e que tem as suas próprias regras no Código Penal (exemplo de factos que são infracção disciplinar e penal e que são descobertos pela Administração ao fim de quatro anos, sendo que a prescrição penal é de cinco anos). Para obviar à prescrição disciplinar e porque é necessário averiguar os factos participados, instauram-se averiguações, seguidas eventualmente de inquérito, para apuramento da responsabilidade disciplinar. E finalmente, terminado o inquérito, instaura-se processo disciplinar com participação ao MP, ao abrigo do art.º 8.º do ED, mas já após os cinco anos da prescrição penal. Neste caso, não pode haver prorrogação criminal da prescrição disciplinar, pois já não é possível uma reacção criminal, em nada tendo aproveitado a suspensão operada pelas averiguações a um mês da prescrição penal – aos 4 anos e 11 meses.

Pelo que se deve admitir que esta participação criminal seja feita em sede de processos prévios ao processo disciplinar, quanto tal se mostre necessário para acautelar uma provável prescrição do procedimento disciplinar. Tem que se alcançar um qualquer acto que suspenda a prescrição criminal para que se possa continuar com o processo disciplinar e punir o agente antes ou após decisão do tribunal.

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

A prescrição por inexistência de actos de instrução

Se alguns actos instrutórios com efectiva incidência na marcha do processo tiverem lugar, a respeito da infracção, antes de decorrido o prazo de três anos, a prescrição conta-se desde o dia em que tiver sido praticado o último acto. Quer isto dizer que, instaurado o processo disciplinar, este não pode estar parado por mais de três anos, se não prescreve nos termos deste n.º 421.

A suspensão da prescrição

Suspendem o prazo de prescrição: a instauração do processo de sindicância aos serviços e do mero processo de averiguações e ainda a instauração dos processos de inquérito e disciplinar. Estes casos de suspensão do prazo hão-de revelar uma inequívoca vontade de exercitar o procedimento disciplinar, pela necessidade de melhor averiguação dos factos participados, nomeadamente do seu enquadramento jurídico-disciplinar, não podendo contemplar situações de encobrimento de pura inércia, ainda que encapotada pelo uso de expedientes legais, só que dilatórios e desnecessários.

E portanto não suspenderá o prazo prescricional a instauração de processo de averiguações ou de inquéritos que não sejam necessários (e é esta a tónica), por ser possível, no momento da sua instauração, afirmar-se já que determinado comportamento, imputável a certo funcionário ou agente, integra falta disciplinar, subsumível a certa previsão jurídico-disciplinar e as circunstâncias em que ela se verificou. Caso em que deverá instaurar-se antes processo disciplinar, sob pena de se não verificar a suspensão do prazo prescricional22.

Os efeitos da infracção continuada/permanente na prescrição

A propósito, ainda, da prescrição, importa também falar da infracção continuada, não existindo no ED qualquer indicação sobre esta matéria. E por isso o STA tem entendido que se aplica aqui o conceito do Direito Penal, que é direito supletivamente aplicável (art.º 9.º do ED). Diz assim o n.º 2 do art.º 30.º do CP «constitui um só crime continuado a realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime que fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico, executada por forma essencialmente homogénea e no quadro da solicitação de uma mesma situação exterior que diminua consideravelmente a culpa do agente». Porém, de acordo com o n.º 3 deste normativo, estão excluídos os crimes praticados contra bens eminentemente pessoais, salvo tratando-se da mesma vítima.

Transposto este conceito para o direito disciplinar, o que é que o instrutor tem de fazer? Terá que averiguar, em face deste tipo de infracção – é claro, depois de ter subsumido, reconduzido os factos a este conceito – qual a data da prática do último acto que integra essa conduta, que o instrutor já caracterizou como continuada por aplicação deste normativo legal do CP, pois é só a partir desse momento, ou seja, da prática do último acto da actividade caracterizada como continuada, que se iniciam os prazos da prescrição do procedimento disciplinar.

Na infracção permanente, que não é o mesmo que infracção continuada, o que se passa é que só quando esta infracção termina é que se inicia a prescrição. Só que aqui o agente não

21 Ac. do STA, de 22-05-90, Proc.º n.º 027611: «Iniciado o procedimento disciplinar [...] toda a demora posterior na conclusão do processo apenas releva no âmbito do prazo geral da prescrição (3 anos), contado a partir do momento em que o facto houver sido cometido ou da prática do último acto instrutório com efectiva incidência na marcha do processo, face ao que se dispõe nos n.ºs 1 e 3 do citado art.º 4.º».

22 Ac. do STA, de 28-05-99, Proc.º n.º 032164: «O simples conhecimento dos factos e respectivo circuns-tancialismo é por vezes inconclusivo quanto à sua relevância jurídico-disciplinar. Justifica-se nesse caso que se proceda a averiguações ou se instaure inquérito no intuito de apurar da relevância da conduta. Nessa hipótese, a instauração de processo de averiguações ou de inquérito suspende o decurso do prazo de prescrição, por imperativo do n.º 5 do art.º 4.º do ED».

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procede à realização plúrima de um facto ilícito, como sucede na infracção continuada. Ele realiza uma conduta ilícita inicial e, enquanto não agir de forma a acabar com essa desconformidade com o direito, mantém-se permanentemente em infracção (exemplo do funcionário que leva para sua casa um computador portátil do serviço sem qualquer autorização. Enquanto não o devolver está permanentemente em falta)23.

23 Ac. do STA, de 30-06-98, Proc.º n.º 039835: «Na ausência de definição de infracção continuada e de infracção permanente no direito disciplinar, tais noções devem retirar-se, a título subsidiário, do direito penal. Na infracção continuada temos uma pluralidade de actos singulares unificados pela mesma disposição exterior das circunstâncias que determina a diminuição da culpa do agente. A infracção permanente ou duradoura é a omissão duradoura do cumprimento do dever de restaurar a situação de legalidade perturbada por um acto ilícito inicial do mesmo agente. Tanto o carácter continuado como o carácter permanente da conduta do infractor, implica que só com a cessação da mesma tenha lugar o início do cômputo do prazo de prescrição do procedimento disciplinar».

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Poder disciplinar

Sujeição ao poder disciplinar. A efectividade de funções

O art.º 5.º do Estatuto Disciplinar trata da sujeição ao poder disciplinar. A regra é a de que os funcionários e agentes ficam sujeitos ao poder disciplinar desde a data da posse, ou, se a posse não for exigida, desde a data do início do exercício das suas funções. Ou seja, é disciplinarmente responsável quem serve, e enquanto serve, a função pública e unicamente por factos consumados durante o respectivo exercício. Do ED em vigor desapareceu a possibilidade, anteriormente existente, de a Administração proceder em termos disciplinares quanto a factos ocorridos antes do início das funções ou depois do seu termo, exceptuando todos os casos ocorridos antes da posse ou início de funções, constitutivos de crimes que gerem incapacidade para o exercício de funções públicas.

A exoneração ou mudança de situação do funcionário Do n.º 2 deste art.º 5.º do ED resulta que, se o funcionário vier a ser exonerado ou mudar

de situação, poderá sempre vir a ser punido pelas infracções cometidas durante o exercício de funções. E a questão que a este respeito se pode colocar é saber se, a propósito de uma infracção disciplinar cometida no exercício de funções públicas mas só descoberta após a cessação desse mesmo vínculo, por exemplo, por exoneração ou aposentação do funcionário, ainda é possível a instauração de processo disciplinar, quando se sabe que a competência disciplinar é uma consequência lógica da existência de uma relação hierárquica entre aquele que o instaura e o respectivo subordinado, pelo que, onde não exista tal relação hierárquica ou subordinação, deve considerar-se extinta a possibilidade dessa instauração.

A resposta deve ser positiva, com salvaguarda da existência de eventual prescrição. Nos termos do n.º 1 do art.º 5.º do ED «os funcionários e agentes ficam sujeitos ao poder disciplinar desde [...] a data do início do exercício de funções». Ora, se no momento da prática da infracção o arguido detinha ainda a qualidade de funcionário ou agente da Administração, nessa data era ainda responsável disciplinarmente pelo cumprimento dos seus deveres.

A este propósito, não é lícito pensar-se que o termo punição referido no n.º 2 apenas se refere ao momento da própria aplicação da pena disciplinar, mas já não ao processo conducente ao apuramento dessa responsabilidade, regra geral o processo disciplinar. O termo punição abrange tudo aquilo que seja necessário à efectivação da responsabilidade disciplinar do funcionário ou agente, sendo que esta pode ocorrer só depois de estes deixarem de estar em actividade ou mesmo já depois de terem perdido essa qualidade. Na verdade, acontece com frequência que só algum tempo depois de ocorridos os factos eles são conhecidos e podem ser apreciados. Quando essa apreciação conduzir à conclusão de ter havido infracção punível, o facto de o responsável já não estar ao serviço ou já não ser funcionário ou agente não impede a aplicação de sanções justas. Mas, se assim deve ser, temos de admitir a instauração de processo disciplinar para apurar a responsabilidade do infractor, que pode já não ser funcionário ou agente, mas por factos praticados no exercício das suas funções, embora só conhecidos algum tempo depois.

Efeitos da pronúncia do arguido em processo penal

No n.º 1 do art.º 6.º do ED, relativo aos efeitos da pronúncia do arguido em processo-crime e aos seus efeitos no processo disciplinar, prevê-se uma dupla suspensão (de funções e de vencimento) que pode ser muito gravosa para o arguido, mesmo que venha a ser absolvido no crime, pois esta suspensão estende-se até à decisão final absolutória ou à

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decisão final condenatória. Para maiores aprofundamentos quanto à actual competência do tribunal que anteriormente julgava os processos de querela, havendo assim que adaptar o ED ao novo Código de Processo Penal, o que não está feito (veja-se Leal Henriques, a fls. 79 da sua 3.ª edição do Procedimento Disciplinar, de 1997). Nos termos do n.º 3, a secretaria do tribunal por onde corre o processo, tem 24 horas para enviar ao Ministério Público cópia do despacho de pronúncia, que este fará seguir para o superior hierárquico do arguido, para execução por parte da Administração daqueles efeitos. E, se o arguido vier a ser absolvido da infracção criminal ou beneficiar de alguma amnistia, será reparado do vencimento de exercício, sem prejuízo de lhe ser instaurado processo disciplinar, atenta a independência já falada entre o processo disciplinar e o criminal.

Efeitos da condenação em processo penal

O art.º 7.º do ED determina que, no caso de condenação do funcionário, a secretaria entrega ao Ministério Público certidão da sentença que será remetida ao organismo de que depende o funcionário. É o princípio da dupla responsabilidade disciplinar e penal, derivada da independência destes ramos do direito. Não havendo, pois, violação do princípio non bis in idem, ou seja, de que ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo facto. Tendo o novo Código Penal eliminado a pena de demissão como censura de carácter penal, remetendo-a para o domínio do direito disciplinar, tem de considerar-se revogado o n.º 3 deste artigo. Assim, os n.ºs 1 e 2 funcionam relativamente a funcionário condenado em crime, cabendo à Administração dar execução imediata à condenação penal que imponha ou produza efeitos disciplinares, que agora nunca será a demissão, mas a proibição do exercício de funções, verificados os requisitos do art.º 66.º do Código Penal Português24.

Comunicação do instrutor ao Ministério Público

O art.º 8.º do ED trata da comunicação obrigatória que o instrutor deve fazer ao Ministério Público, que tem o exercício da acção penal, de todos os factos de que tome conhecimento na instrução dos processos e que indiciem a prática de infracção criminal, com a cautela já anteriormente referida a propósito da prescrição.

Aplicação supletiva do Código Penal O art.º 9.º do ED dispõe que em tudo o que não estiver regulado no presente Estatuto

quanto à suspensão ou demissão por efeito de pena imposta nos tribunais competentes são aplicáveis as disposições do CP. Portanto, esta norma tem que ser hoje conjugada com os art.os 65.º, n.º 1, 66.º, 67.º e 68.º do CP.

Exclusão da responsabilidade disciplinar no cumprimento de ordens ou instruções superiores

O art.º 10.º do ED trata da exclusão da responsabilidade disciplinar, matéria já explanada a propósito do dever de obediência, para onde se remete.

24 Art.º 9.º do ED: «Em tudo o que não estiver regulado no presente Estatuto quanto à suspensão ou demissão por efeito de pena imposta nos tribunais competentes são aplicáveis as disposições do Código Penal».

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Penas disciplinares

As penas aplicáveis aos funcionários e agentes são as mencionadas nas alíneas a) a f) do n.º 1 e n.º 2 do art.º 11.º do Estatuto Disciplinar: repreensão escrita, multa, suspensão, inactividade, aposentação compulsiva, demissão e cessação da comissão de serviço. Dizer-se que a pena ou sanção disciplinar é típica quer significar que quem goza do direito de punir tem à sua disposição um rol de penas que está fixado na lei, cabendo-lhe escolher em cada caso, de acordo com a gravidade dos factos, uma dessas penas. O que significa que a enumeração da lei é taxativa e, diga-se, também, feita por ordem crescente de gravidade (as penas do n.º 1 do art.º 11.º). O que quer dizer ainda que a entidade com competência para punir não pode criar outras penas para além das legalmente fixadas.

Caracterização e efeitos das penas

A caracterização destas penas consta do art.º 12.º do ED. A aplicação de algumas destas penas levanta problemas delicados, que serão abordados na devida altura, nomeadamente as mais gravosas que implicam a demissão ou a passagem à situação de aposentado.

Os efeitos das penas estão no art.º 13.º do ED. Verifica-se que nele se não estabelece qualquer efeito para a repreensão escrita e para a multa, mas apenas para as demais penas (para um maior aprofundamento ver fls. 114 e seguintes de Leal Henriques, na 3.ª edição do Procedimento Disciplinar, de 1997, onde se contêm doutrina e Parecer da Procuradoria-Geral da República sobre a matéria).

Unidade e acumulação de infracções

Relativamente ao art.º 14.º do ED, que versa sobre a unidade e acumulação de infracções, há várias questões que se podem colocar. Diz-nos este normativo que, sem prejuízo da excepção à regra da unidade da sanção do n.º 2 do art.º 27.º, que veremos adiante, onde se admite uma pena a mais no elenco das penas do art.º 11.º para o pessoal dirigente, quando este for sancionado com pena igual ou superior a multa, que é a da cessação da comissão de serviço, não pode aplicar-se ao arguido – e é esta a regra geral – mais de uma pena por cada infracção ou pelas infracções acumuladas, que sejam apreciadas num só processo. E que o assim disposto vale igualmente para infracções apreciadas em processos apensados, segundo as regras do art.º 48.º. Este art.º 14.º prevê três situações distintas, tendo o princípio da unidade que estar presente em todas elas. Regula, em primeiro lugar, a aplicação da sanção disciplinar ao funcionário arguido de uma só infracção (1.ª situação). Ou a aplicação de uma só pena disciplinar em caso de infracções acumuladas que sejam apreciadas num só processo (2.ª situação), como podem ser os exemplos do funcionário que, ao mesmo tempo, agride um colega de trabalho e furta dinheiro da secretaria de uma escola, ou de um professor que, estando embriagado, agride um aluno e não lecciona a matéria reservada para aquela aula. Ou então a aplicação de uma só pena no caso de infracções apreciadas em mais de um processo, quando apensados (3.ª situação), sendo disto exemplo o caso do funcionário a quem foi instaurado processo disciplinar por falta de assiduidade e que, durante essa sua ausência injustificada mas ainda não punida em processo disciplinar, lhe vem a ser instaurado um novo processo por se ter dirigido à sua escola e agredido um seu colega de trabalho, processo que agora vai ser apensado, segundo as regras do art.º 48.º do ED, para aplicação de pena única (unidade).

Penas aplicáveis a aposentados

O art.º 15.º do ED, que se refere a penas disciplinares aplicadas a aposentados (que não perdem pela aposentação a qualidade de funcionário, qualidade que os obriga, pois, ao respeito de certos deveres de conduta na sua vida privada, embora reduzidos, dada a sua condição de dispensado do exercício de funções, ou mesmo por terem praticado a infracção

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ainda no activo, mas apenas virem a ser punidos já como aposentados), determina que as penas de suspensão e de inactividade serão substituídas pela perda da pensão por igual tempo e a de multa por perda da pensão que não excederá 20 dias de pensão. E que, sendo a pena aplicada a de aposentação compulsiva ou de demissão, então o aposentado perderá, respectivamente, três ou quatro anos de pensão.

Competência para aplicação das penas No art.º 16.º do ED, refere-se que a competência disciplinar dos superiores envolve

sempre a dos seus inferiores hierárquicos dentro do serviço. É uma visão hierarquizada da Administração Pública, no modelo piramidal, onde no topo, ao nível do Governo, deve estar a última palavra da Administração. Do que se trata aqui é apenas da competência para aplicar sanções e não já da competência para a instauração dos processos disciplinares, pois esta está prevista no art.º 39.º do ED. Esta competência (para punir) é mais restrita, por ser a punição um dos momentos mais importantes e de maior responsabilidade do domínio disciplinar. É a partir daqui que o funcionário ou agente ficará efectivamente lesado na sua esfera jurídica. E é por isso que as penas mais graves – as expulsivas – até só podem ser aplicadas pelo Governo. Já para instaurar um processo, essa competência pertence a qualquer superior hierárquico do arguido.

A repartição desta competência/escala das penas

O art.º 17.º do ED estabelece a competência para a aplicação de cada uma das penas disciplinares do art.º 11.º. Para a repreensão escrita, qualquer funcionário ou agente em relação ao seu subordinado. Para a multa, suspensão e inactividade são competentes os secretários-gerais e os directores-gerais e equiparados ou responsáveis por serviços directamente dependentes do Governo, com delegação deste. Para as penas de aposentação compulsiva e demissão (expulsivas), são competentes os secretários regionais nas regiões Autónomas e o Governo (Governo da República, Governo Central).

Quanto aos art.ºs 18.º a 21.º do ED, não merecem aqui qualquer referência por se reportarem à competência disciplinar sobre funcionários ou agentes das autarquias locais ou das associações e federações de municípios, sobre o pessoal dos serviços municipalizados, pessoal das assembleias distritais e funcionários dos governos civis.

Factos a que são aplicáveis as penas disciplinares

Nos art.os 22.º a 27.º constam os factos a que são aplicáveis as várias penas já elencadas no art.º 11.º do ED (repreensão escrita, multa, suspensão, inactividade, aposentação compulsiva e demissão), acrescidas de uma outra aplicável só ao pessoal dirigente (cessação da comissão de serviço). Mas antes, e para uma melhor compreensão desta matéria, importa que previamente vejamos como é que o legislador do ED de 1984 pensou a infracção disciplinar e como a traduziu em lei, tendo em consideração toda a riqueza de relações que se podem estabelecer entre os funcionários e agentes e a Administração.

Atipicidade (ou tipicidade aberta) da infracção disciplinar Ao invés do direito penal, onde vigora o princípio da tipicidade, a infracção disciplinar é

atípica, no sentido de que a lei não contém a descrição de todas as condutas consideradas ilícitas, nem o poderia fazer. Na verdade, o legislador do ED, atentas as características deste ramo do direito, procede à definição das infracções através da indicação de cláusulas gerais punitivas (art.º 22.º, n.ºs 1 dos art.os 23.º a 25.º e n.ºs 1 e 3 do art.º 26.º), tipificando apenas algumas dessas infracções, que são meras emanações de natureza exemplificativa das previsões dessas cláusulas gerais, com o objectivo de servirem de padrão ao intérprete – como é o caso das alíneas a) a e) do n.º 2 do art.º 23.º, alíneas a) a h) do art.º 24.º, alíneas a) a g) do n.º 2 do art.º 25.º, alíneas a) a h) do n.º 2 e alíneas a) a f) do n.º 4, ambos do art.º 26.º, todos do ED.

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Dito de outra forma: existe uma atipicidade ou, melhor dizendo, tipicidade aberta que é a da cláusula genérica, estabelecida em nome da enorme diversidade de situações infraccionais que podem surgir no direito disciplinar, com peso especial para a salvaguarda do prestígio e dignidade dos serviços. O legislador opta por tipos de infracção não rígidos ou fechados, com definição dos deveres gerais e especiais dos funcionários cuja violação acarreta infracção. E depois, relativamente a cada pena (dos art.os 22.º a 26.º), ajustam-se as condutas respectivas (as mencionadas exemplificações) através destas cláusulas gerais punitivas. É esta a sistemática dos art.os 23.º a 26.º do ED: primeiro, a cláusula geral punitiva (tipicidade nuclear ou aberta, pois a recondução dos factos a estas cláusulas não é alheia a critérios, definindo a lei nexos entre infracções e sanção aplicável, pelo que não se pode arbitrariamente aplicar qualquer das penas a qualquer infracção, mas só as penas que estejam em correlação com os vários tipos de faltas que a lei enumera); depois a exemplificação, ou infracções típicas, mas que não são exaustivas (neste sentido, as expressões designadamente e nomeadamente).

A repreensão escrita Segundo o art.º 22.º do ED a repreensão escrita é aplicável a faltas leves de serviço.

Existe no ED (art.º 38.º) um processo simplificado para a aplicação desta pena disciplinar.

A multa

A multa, prevista no art.º 23.º do ED, é aplicável a casos de negligência e má compreensão dos deveres funcionais. No corpo do artigo temos a cláusula genérica onde tudo o que pode consubstanciar um caso de negligência e má compreensão dos deveres funcionais pode ser subsumido, constituindo as diversas alíneas do n.º 2 as tais exemplificações que muito auxiliam o instrutor a compreender correctamente estes conceitos.

A suspensão A pena de suspensão está prevista no art.º 24.º do ED, também com a sua cláusula geral

no n.º 1 e exemplificações nas alíneas seguintes. Na suspensão estão indicados dois escalões, se assim podemos dizer: 20 a 120 dias, para os casos das alíneas a) a e); e 121 a 240 dias para os restantes casos.

A inactividade

No art.º 25.º do ED temos a inactividade, uma vez mais com a mesma situação: cláusula geral no corpo do artigo e exemplificações nas diversas alíneas do n.º 2.

A aposentação compulsiva e a demissão As penas expulsivas estão no art.º 26.º do ED. Estas penas só devem ter lugar em caso

de comprovada inviabilização da manutenção da relação funcional. Essa demonstração tem que estar bem-feita nos autos, porque se assim não for pode o tribunal vir a anular o acto punitivo. Temos de novo a cláusula geral no n.º 1 do artigo e as exemplificações, que são abertas, no n.º 2. Mas aqui como em todos os artigos anteriores, não basta que os factos se encaixem numa dessas exemplificações. É também necessário, para se aplicar a pena expulsiva, como em todos os outros casos, que esse comportamento não seja visto divorciado da cláusula geral. No caso do artigo em análise, tal significa que o comportamento assumido pelo arguido deve reflectir, traduzir, acarretar a impossibilidade de este se manter ao serviço, pois só assim se justifica a sua expulsão. A mesma doutrina tem pleno cabimento para a outra numeração exemplificativa contida neste artigo, desta vez no seu n.º 4. Nos termos do n.º 3 deste artigo, provada que esteja a incompetência profissional ou a falta de idoneidade moral para o exercício das funções, será o arguido aposentado compulsivamente.

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A propósito do n.º 5 deste mesmo artigo, pode colocar-se a questão seguinte: diz o normativo que se o arguido, devendo ser aposentado compulsivamente, não reunir para tal os requisitos mínimos exigidos no Estatuto da Aposentação, então será demitido. E a questão controversa é esta: para uns, a aplicação deste n.º 5 pode traduzir uma negação das garantias de defesa do arguido, que se defendeu de uma acusação em que os factos apontavam para a aposentação compulsiva e não de uma acusação que obrigava à demissão, como são os casos do n.º 4. Referem o caso do n.º 3 deste artigo, onde claramente se diz que a pena aplicável em caso de incompetência profissional e de falta de idoneidade para o exercício das funções é a aposentação compulsiva. E, portanto, o máximo que se podia admitir, para aqueles que isto defendem, é que a possibilidade prevista no final do n.º 5 só poderia ser aplicada aos casos das alíneas do n.º 2, pois aí está em causa a aplicação de qualquer uma destas penas.

Para outros, que entendem que assim não deve ser, o arguido deve sempre defender-se em todos os casos das duas hipóteses: aposentação compulsiva e demissão. É que na cláusula geral do n.º 1, aplicável a todo o artigo, se fala destas duas penas. Pretenderiam aqueles outros, perguntam estes, que no caso de não ser possível aplicar ao arguido, por exemplo, por incompetência profissional, a pena de aposentação compulsiva, lhe fosse aplicada uma pena não expulsiva? Se tal fosse possível, que não é, estavam afectados os princípios da culpa e da proporcionalidade.

A razão está do lado desta segunda posição. Na verdade, o art.º 37.º do Estatuto da Aposentação, no seu n.º 2, diz que a aposentação ordinária é possível por aplicação de pena disciplinar quando o arguido tem pelo menos 5 anos de serviço como subscritor da Caixa Geral de Aposentações.

A cessação da comissão de serviço para o pessoal dirigente

Dito isto, resta referir a pena acrescida para o pessoal dirigente, que não consta do elenco das penas mencionadas no art.º 11.º do ED, que é a cessação da comissão de serviço, referida no art.º 27.º do ED. Ela é aplicada em todos os casos em que o dirigente seja punido com pena igual ou superior à de multa.

Medida e graduação das penas

O art.º 28.º do ED trata da matéria da medida e graduação das penas. O que aqui se quer afirmar é que o instrutor, na sua proposta de punição, deve ter sempre em conta, não só os critérios apontados nos art.os 22.º a 27.º do ED, mas também, em relação ao arguido, é relevante saber:

a) qual a natureza do seu serviço;

b) a sua categoria profissional;

c) o seu grau de culpa;

d) a sua personalidade;

e) e todas as circunstâncias que rodearam o cometimento da infracção e que sejam contra ou a seu favor.

Pois não é a mesma coisa termos perante nós funcionário ou agente que exerce funções em serviço público de alta responsabilidade e no qual a sua actuação pode ter graves consequências e um outro em funções num serviço de diminuta responsabilidade; como não é o mesmo ser o arguido detentor ou não de uma categoria superior no seu local de trabalho, sendo que é destes que se espera que venha algum exemplo de conduta relativamente aos seus subordinados; como não é indiferente a forma como se praticou a infracção, se com intenção (dolo), se com mera negligência; como a personalidade do infractor deve também condicionar a determinação da pena, pois não é igual punir um infractor ocasional mas normalmente respeitador dos seus deveres e aquele que, por sistema, manifesta uma constante tendência para a violação dos seus deveres.

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Circunstâncias atenuantes, agravantes e dirimentes

As circunstâncias atenuantes especiais

As circunstância atenuantes especiais da infracção estão previstas no art.º 29.º do Estatuto Disciplinar. Mas existem, também, circunstâncias atenuantes gerais, que não as previstas neste artigo, que são todas as circunstâncias que se apresentem em favor do arguido, como, por exemplo, a falta de cadastro disciplinar e um bom desempenho profissional, podendo, até, em alguns casos, ser reconduzidas às circunstâncias do art.º 28.º do ED.

A prestação de mais de 10 anos de serviço com exemplar comportamento e zelo

A prestação de mais de 10 anos de serviço com exemplar comportamento e zelo25, prevista na alínea a), é referida com frequência pelo arguido na defesa apresentada em processo disciplinar, tendo em vista desagravar o seu comportamento. Acontece, porém, que com alguma frequência se verifica, igualmente, não resultar dos autos que tenha sido feita prova da citada exemplaridade, que constitui a previsão legal. E, portanto, não pode, nestas condições, relevar, em sede disciplinar, a referência a esta circunstância atenuante, pois o bom comportamento e o zelo só relevam quando exemplares, ou seja, se tiverem sido melhores do que o comum dos funcionários ou agentes da categoria do arguido, prova que deve resultar nos autos quer pelo registo biográfico quer por meio de quaisquer outros elementos trazidos para o processo. Parece ser de aceitar, a título de exemplo, o registo de louvores, o bom exercício das funções em condições precárias, a regularidade com que determinado funcionário ou agente exerce as suas funções, mesmo para além do seu horário, sem contrapartida, apenas lhe interessando a eficácia do seu serviço e elevadas notações profissionais. Note-se, também, que esta circunstância tem que ser ponderada à data da prática do acto delituoso e não em data posterior, como, por exemplo, à data da elaboração da nota de culpa, que pode ocorrer muito para além da ocorrência do ilícito disciplinar.

A confissão espontânea da infracção

A confissão espontânea da infracção26, constante da alínea b), apenas releva para efeitos disciplinares se contribuir decisivamente para a descoberta da verdade, isto é, a confissão só será espontânea se não estiver já provada a infracção disciplinar. Não é assim, por

25 Ac. do STA, de 07-05-98, Proc.º 037312: «[...] o tempo de serviço por mais de 10 anos, para poder funcionar como atenuante especial, nos termos do art.º 29.º do ED, tem de consistir em tempo de serviço com exemplar comportamento e zelo. Não satisfaz esta condição, o tempo de serviço relativamente ao qual o cadastro do arguido não contém qualquer elemento favorável ou desfavorável»;

Ac. do STA, de 14-03-01, Proc.º n.º 038664: «Para que exista a atenuante especial derivada de exemplar comportamento e zelo [...] é necessário não só que esse comportamento e zelo se prolonguem por mais de 10 anos, mas também que possam ser considerados um modelo para os restantes funcionários, o que supõe que sejam qualitativamente superiores aos deveres gerais destes, não bastando que o funcionário tenha obtido a classificação de Muito Bom num ano, e a classificação de Bom em dois anos imediatos».

26 Ac. do STA, de 19-10-95, Proc.º n.º 028205: «A confissão é tida como relevante e espontânea quando for feita de maneira a contribuir decisivamente para a descoberta da verdade».

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exemplo, na falta de assiduidade quando esta fica provada, desde logo, por prova documental, nomeadamente através do mapa de faltas, livro de ponto, etc. E pode ser obtida em qualquer fase do processo. Se for na instrução, deve constar da acusação, como se verá mais adiante.

A prestação de serviços relevantes ao povo português/actuação com mérito na defesa da liberdade e da democracia

A prestação de serviços relevantes ao povo português e a actuação com mérito na defesa da liberdade e da democracia, referidas na alínea c), têm que ser apreciadas caso a caso. Só perante o caso concreto é que se pode proceder a essa avaliação. O mesmo é dizer que não há um catálogo onde nos possamos socorrer para efeitos da subsunção destas condutas. Porém, da jurisprudência do STA existente nesta matéria resulta a verificação desta atenuante em casos de prestações que se revistam de uma importância invulgar, de um significado notável no plano nacional e não de actos meramente louváveis ou meritórios.

A provocação

A provocação, referida na alínea d), só deve relevar disciplinarmente quando se verifique uma certa proporção (adequação) entre o facto provocador e a infracção cometida. Ou seja, a reacção contrária aos deveres funcionais a que se encontra vinculado o provocado (o arguido) tem de ser consequência adequada do facto injusto de terceiro, que lhe diminuiu a liberdade de avaliação e determinação – a título de exemplo, não pode um professor que agrediu à palmada uma aluna, depois de lhe ter pedido a aula inteira, sem sucesso, para estar calada no seu lugar sem perturbar os seus colegas, vir alegar provocação por ter assumido esta conduta (agressão física) sob o domínio de influência externa que lhe alterou o ânimo, predispondo-o para a prática desta infracção.

O acatamento bem-intencionado de ordem superior

Quanto ao acatamento bem-intencionado de ordem de superior a que não fosse devida obediência, vigora aqui tudo o que se disse atrás sobre o art.º 10.º do ED, relativo à exclusão da responsabilidade disciplinar, para onde se remete.

Atenuação extraordinária da pena disciplinar

A atenuação extraordinária da pena (art.º 30.º do ED), que se traduz na aplicação de pena disciplinar de escalão inferior à prevista para os factos acusatórios, só é possível em presença de circunstâncias que diminuam substancialmente a culpa do agente. Têm que ser, pois, circunstâncias fortemente mitigadoras da culpa e não qualquer circunstância. Pense-se, por exemplo, num funcionário ou agente responsável por dinheiros públicos que, no exercício das suas funções, furta determinada quantia, que veio a repor a tempo de prestar contas, para fazer face a assistência médica inadiável de um seu familiar vítima de doença terminal.

As circunstâncias agravantes especiais

As circunstâncias agravantes especiais da responsabilidade disciplinar do arguido estão mencionadas no art.º 31.º do ED:

O dolo directo

O dolo, como vontade determinada de produzir prejuízo com a sua conduta (alínea a)).

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A produção efectiva de prejuízos com dolo necessário

A produção efectiva de prejuízos, não com dolo directo, como em a), mas com dolo necessário, pois o resultado prejudicial era previsível pelo arguido (alínea b)) Trata-se de um grau de dolo menos intenso que o directo.

A premeditação

A premeditação, da alínea c) (definida no n.º 2 como sendo o desígnio formado 24 horas antes, pelo menos, da prática da infracção, ou seja, reflectir sobre a prática de determinado facto e a forma de o consumar – o mesmo é dizer «identificar os meios a empregar» –, no mínimo 24 horas antes da sua ocorrência).

O conluio O conluio, traduzido na vontade do arguido de, com terceiros, praticar a infracção

disciplinar (alínea d)).

A infracção praticada em período de cumprimento ou suspensão de pena

A prática de nova infracção disciplinar quando o arguido ainda estava a cumprir pena anterior ou se encontrava em período de suspensão da pena (alínea e)). É o caso, por exemplo, do arguido que, estando há seis meses a cumprir uma pena de um ano de inactividade ou encontrando-se a seis meses de terminar o período de um ano de suspensão da execução desta pena de inactividade, comete uma nova infracção disciplinar.

A reincidência

A reincidência dá-se quando a infracção é cometida antes de decorrido um ano sobre o dia em que tiver findado o cumprimento da pena imposta por virtude de infracção anterior (alínea f)). De realçar que as infracções em causa não têm que ser da mesma natureza (ex: agressão física com posterior desobediência). As penas de repreensão escrita, multa, aposentação compulsiva e demissão consideram-se cumpridas, para efeitos da reincidência, no dia seguinte ao da notificação ao arguido ou no 15.º dia após publicação da decisão no Diário da República, enquanto que as penas de suspensão e de inactividade consideram-se cumpridas no último dia do prazo considerado.

A acumulação de infracções

A acumulação de infracções, da alínea g), dá-se quando duas ou mais infracções são cometidas na mesma ocasião (1.ª parte) ou quando uma é cometida antes de ter sido punida a anterior (2.ª parte). No primeiro caso, temos o funcionário ou agente que em certo período de tempo faltou injustificadamente ao serviço, tendo-se deslocado, nesse período de ausência, ao seu local de trabalho para aí agredir fisicamente um terceiro. Na segunda situação, temos o mesmo funcionário ou agente a quem foi instaurado processo disciplinar por falta de assiduidade e que no decurso da instrução desse processo se apresentou ao serviço completamente embriagado.

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As circunstâncias dirimentes da responsabilidade disciplinar

Nos termos do art.º 32.º do ED, são circunstâncias dirimentes da responsabilidade disciplinar:

a) A coacção física;

b) A privação acidental e involuntária do exercício das faculdades intelectuais no momen-to da prática do acto ilícito;

c) A legítima defesa, própria ou alheia;

d) A não exigibilidade de conduta diversa;

e) O exercício de um direito ou o cumprimento de um dever.

As circunstâncias dirimentes são aquelas que afastam a responsabilidade disciplinar pela existência de causas que excluem a ilicitude (caso da legítima defesa, do exercício de um direito ou cumprimento de um dever e da actuação no cumprimento de ordens ou instruções prevista no n.º 1 do art.º 10.º do ED, mas que se contém na anterior), ou que afastam a culpa (caso da coacção física, da privação acidental e involuntária do exercício das faculdades intelectuais no momento da prática do facto e da não exigibilidade de conduta diversa). Desta forma, ocorrida uma destas circunstâncias dirimentes, não há lugar à responsabilidade disciplinar por não se verificar a prática de uma infracção disciplinar.

A coação física, as faculdades intelectuais do arguido à data da prática dos factos e a não exigibilidade de conduta diversa como causas da exclusão da culpa

Na coacção física, o agente é compelido fisicamente à prática do facto (que é ilícito) não o conseguindo evitar, não sendo mais do que um instrumento nas mãos do verdadeiro autor que o coage à prática da infracção (por exemplo, infracção praticada com ameaça de arma de fogo). Na privação acidental e involuntária do exercício das faculdades intelectuais no momento da prática do acto ilícito, o agente está incapaz de avaliar a sua conduta e de se determinar de acordo com essa avaliação (situações de desequilíbrios psíquicos graves, com falta de discernimento relativamente aos factos praticados e sua avaliação, como sucede, por exemplo, nestas condições, com a falta de entrega de atestado médico justificativo da situação de doença). Na não exigibilidade de conduta diversa, o agente não dispõe, agora, de liberdade para se comportar de modo diverso (exemplo do diplomata que é colocado em consulado no exterior sem quaisquer condições, pois o hotel em que tem que residir não tem água nem luz, etc., e que por isso mesmo se recusa a exercer as suas funções).

A legítima defesa, o exercício de um direito ou o cumprimento de um dever e a actuação no cumprimento de ordens ou instruções como causas de exclusão da ilicitude

A legítima defesa pode ser própria ou alheia, ou seja, em defesa de um terceiro, para repelir agressão actual e ilícita de interesses do arguido ou de terceiros, praticando assim um acto lícito (caso de uma agressão física praticada pelo arguido a um colega de trabalho para repelir uma outra agressão de que está a ser vítima). Quanto ao exercício de um direito ou o cumprimento de um dever, podemos exemplificar, no primeiro caso, com o funcionário ou agente que no seu horário de trabalho tem que trabalhar ao domingo mas que, por ser dia de eleições, não vai trabalhar e vai votar; e na segunda situação, podemos dar o caso da obediência de um inferior para com o superior relativamente a ordem dada sob forma legal e em matéria de serviço.

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Suspensão e prescrição das penas

A suspensão das penas e seus requisitos legais

Nos termos do n.º 1 do art.º 33.º do Estatuto Disciplinar, «as penas disciplinares das alíneas b) a d) do n.º 1 do art.º 11.º podem ser suspensas, ponderados o grau de culpabilidade e o comportamento do arguido, bem como as circunstâncias da infracção». Verifica-se, pois, que as penas de multa, suspensão e inactividade podem ser suspensas sempre que, ponderados os requisitos de que fala a lei, seja possível extrair do processo disciplinar que o aviso que constitui para o arguido o procedimento disciplinar é suficiente para o levar de futuro a actuar de acordo com o direito (prevenção especial). E que está acautelado que tal suspensão não levará os demais funcionários e agentes a concluírem que a infracção compensa (prevenção geral). A suspensão não será inferior a um ano nem superior a três (n.º 2), sendo que, relativamente à pena de repreensão escrita, se pode suspender o respectivo registo, atentos os critérios apontados em 1 (n.º 3). A suspensão caduca se o arguido vier a ser, no seu decurso, novamente condenado em processo disciplinar (n.º 4).

A suspensão do registo da repreensão escrita e da multa versus a reabilitação

Nesta matéria, tem-se colocado a questão de saber como se articula o disposto no art.º 33.º do ED com o que consta do art.º 84.º deste Estatuto, em matéria de reabilitação. As dúvidas levantam-se quando, tendo havido suspensão (da pena ou do registo), o prazo para que se possa pedir a reabilitação termine antes do período de suspensão, podendo tal acontecer quanto à pena de repreensão e de multa.

A pena de repreensão escrita é excluída da possibilidade de suspensão, pelo n.º 1 do art.º 33.º do ED. A regra sobre a duração da suspensão, constante do n.º 2 deste preceito, refere-se directamente à suspensão a que alude o n.º 1. Por isso é, desde logo, de questionar se a suspensão do registo da repreensão tem, ou não, prazo e, se o tem, qual é ou pode ser esse prazo, sendo certo que é da própria essência da suspensão que não possa vigorar ilimitadamente. Mesmo quando vigore por tempo indeterminado, há sempre um facto, ainda que de verificação incerta, que a fará cessar. No caso da suspensão do registo, por maior razão terá de haver um prazo. O funcionário ou agente punido não pode ficar toda a vida sob o risco de ver registada uma repreensão aplicada cinco, dez ou trinta anos antes. O próprio princípio da proporcionalidade (a infracção passível de repreensão é, por definição, a menos grave) faz repudiar essa solução. Parece, assim, que a única interpretação que pressupõe que o legislador escolheu a solução mais acertada (n.º 3 do art.º 10.º do Código Civil) é a que conduz a que se entenda que o regime da suspensão referida no n.º 3 do art.º 33.º tem o regime da referida nos n.os 1 e 2, apenas diferindo no seu objecto (trata-se do registo e não da pena).

Afigura-se evidente que a razão por que a pena de repreensão escrita não pode ser suspensa é a de que a sua aplicação esgota a sua execução e não se pode suspender o que já está por natureza executado. Aliás, suspendendo-se o registo e se a suspensão não caducar, a repreensão transmuta-se, na prática, numa verdadeira repreensão oral. Ora, se o prazo da suspensão do registo da repreensão escrita é o indicado no n.º 2 do art.º 33.º, é possível a suspensão por três ou dois anos. Mas, passado que seja um ano sobre a aplicação (ou seja, ainda dentro do prazo da suspensão) é possível pedir e ser concedida a reabilitação, nos termos da alínea a) do n.º 3 do art.º 84.º do Estatuto Disciplinar, sendo este o problema a que urge dar resposta. E situação paralela se pode verificar com a pena de multa, suspensa que seja por três anos.

Mas não tem qualquer sentido conceder uma reabilitação em relação a uma infracção sancionada com uma pena que ainda pode vir a ser cumprida. Uma solução admissível para esta questão seria a de não conceder suspensão da pena por período superior àquele após

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o qual pode ser pedida a reabilitação, isto é, suspensão do registo da repreensão escrita por apenas um ano e suspensão da pena de multa só por um ou dois anos. É que só após o decurso do prazo da suspensão a pena pode-se considerar cumprida e só a partir daí conta o prazo para a reabilitação.

Entende-se igualmente que a referência a aplicação ou cumprimento no n.º 3 do art.º 84.º do ED, não exprime qualquer alternativa de livre opção, pois isso seria incompreensível. O que se pode concluir é que a aplicação se refere unicamente à pena de repreensão, cuja aplicação envolve a execução. Mas apenas em relação à repreensão registada, pois, como se disse, só o registo confere o efeito prático diverso duma mera repreensão oral. Também aqui, portanto, se deverá entender que a suspensão do registo integra a própria sanção. Assim, no caso dessa suspensão, já não relevará a aplicação mas o cumprimento, que só terá lugar com o decurso, bem-sucedido, do prazo de suspensão, ou com o efectivo registo, se a suspensão caducar. Só num destes momentos começará então a correr o prazo de um ano para que a reabilitação possa ser pedida.

A prescrição das penas O art.º 34.º do ED refere que, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do art.º 5.º (as penas

previstas nas alíneas b) a f) do n.º 1 e no n.º 2 do art.º 11.º serão executadas desde que os funcionários ou agentes voltem à actividade ou passem à situação de aposentados), as penas disciplinares prescrevem nos prazos seguintes, contados da data em que a decisão se tornou irrecorrível:

a) 6 meses, para as penas de repreensão escrita e de multa;

b) 3 anos, para as penas de suspensão, de inactividade e de cessação da comissão de serviço;

c) 5 anos, para as penas de aposentação compulsiva e de demissão.

Não se deve confundir esta prescrição com a prescrição do procedimento disciplinar a que atrás se fez referência. Aqui há uma pena aplicada mas cujo cumprimento por qualquer razão não ocorreu. Ali não se chegou sequer a apurar a existência dos factos que vinham indiciados como infracção disciplinar e o seu autor. É matéria que não coloca problemas de difícil interpretação, sendo apenas de salientar que a prescrição das penas se deve contar a partir do momento em que a decisão disciplinar se torna firme, ou seja, irrecorrível por não impugnação administrativa ou contenciosa nos prazos legalmente previstos ou por decisão judicial transitada em julgado.

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Formas, natureza e instauração

As formas de processo (comum e especial)

As formas de processo disciplinar estão contidas no art.º 35.º do Estatuto Disciplinar. Para o processo comum regem as disposições dos art.os 45.º e seguintes. Para os especiais rege a regulamentação própria de cada um deles. No que não esteja previsto aplica-se a tramitação comum. Para a descoberta da verdade, referida no n.º 4, pode o instrutor lançar mão de todas as providências. E em caso omisso deve recorrer aos princípios do direito penal, o que faz todo o sentido, pois são estes que constitucionalmente melhores garantias oferecem ao arguido.

A título de exemplo refere-se o princípio do in dubio pro reo. O arguido em processo disciplinar tem direito a um processo justo, o que passa, designadamente, pela aplicação de algumas das regras e princípios de defesa constitucionalmente estabelecidos para o processo penal, como é o caso do citado princípio acolhido no n.º 2 do art.º 32.º da CRP. Na verdade, a tendência que se tem verificado para a progressiva autonomização do direito disciplinar relativamente ao direito penal é contrabalançada pelo progressivo alargamento das garantias do direito penal ao direito disciplinar. O mencionado princípio tem como um dos seus principais corolários a proibição da inversão do ónus da prova em detrimento do arguido, o que acarreta, designadamente, a ilegalidade de qualquer tipo de presunção de culpa em desfavor do arguido. Temos, assim, que o princípio da presunção de inocência do arguido se assume, também, numa das suas vertentes, como uma regra válida em matéria probatória (princípio in dubio pro reo).

Do exposto, decorre não só não impender sobre o arguido em processo disciplinar o ónus de reunir as provas indispensáveis para a decisão a proferir, em especial, em sede da comprovação dos factos que lhe são imputados (ónus esse que recai sobre a Administração). Como também tal decisão terá de ser favorável ao arguido, sempre que se não puder formular um juízo de certeza sobre a prática dos referidos factos por parte do arguido. Isto é, não sendo os indícios recolhidos no processo disciplinar suficientes para formar uma convicção segura da materialidade dos factos, por a punição ter que assentar em factos que permitam um juízo de certeza sobre a prática da infracção pelo arguido, não lhe pode ser imputada a conduta disciplinarmente reprovada, sendo certo que a existência de dúvidas (non liquet) em matéria probatória se resolve a favor do arguido por aplicação deste princípio.

A natureza secreta do processo

Nos termos do art.º 37.º do ED, o processo disciplinar tem natureza secreta até à acusação. O arguido pode, nesta fase, consultar o processo mas não o pode divulgar, pois se o fizer pode incorrer em novo processo disciplinar. Mas diz a lei que o instrutor pode indeferir este pedido de consulta do processo feito pelo arguido, desde que fundamente esta sua decisão. Pode, na verdade, fazer sentido indeferir. Mas só em casos em que haja o receio comprovado de o arguido poder vir perturbar a instrução do processo ou sonegar ou dificultar a obtenção da prova das infracções que lhe são imputadas. O carácter secreto do processo disciplinar até à notificação da acusação destina-se a proteger o êxito das investigações, em ordem a permitir o apuramento total dos factos susceptíveis de constituírem infracção disciplinar. Quando o arguido pode pôr em risco esta finalidade, então faz sentido não lhe facultar o processo para consulta. Mas este carácter secreto do processo, nesta fase, não exclui que o instrutor se socorra de peritos, ou de outros funcionários, que o auxiliem na investigação. O que se passa nestes casos, é que sobre estas pessoas passa a recair também o dever de sigilo que está referido neste normativo.

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A constituição de advogado

O arguido pode (n.º 6) constituir advogado em qualquer fase do processo, o qual pode assistir, querendo, ao seu interrogatório. Trata-se, portanto, de uma mera faculdade e não de uma obrigação, quer a constituição de advogado pelo arguido, quer a assistência ao interrogatório do seu cliente. Mas, tendo o arguido constituído advogado, deve o instrutor proceder à sua notificação para, querendo, estar presente ao seu interrogatório, pois deve considerar-se que tal presença constitui uma das faculdades integradas no seu direito de defesa, pelo que se lhe deve proporcionar a possibilidade de a exercer, de acordo com a estratégia defensiva que tenha delineado. Se o instrutor não notificar o advogado do arguido, este fica impedido de optar por estar ou não presente na referida diligência, o que impossibilita o arguido de exercer o seu direito de defesa pela forma que entender mais conveniente. Constituindo tal facto uma omissão de uma formalidade essencial a uma defesa adequada, resulta daí nulidade do procedimento disciplinar por ofensa do conteúdo essencial do direito fundamental de defesa.

Obrigatoriedade de processo disciplinar para aplicação da pena. O caso especial da repreensão escrita

A regra geral, por força do disposto no art.º 38.º do ED, é que a aplicação de uma pena disciplinar seja precedida obrigatoriamente de um processo disciplinar, onde se apurará a responsabilidade disciplinar do arguido. Mas, tratando-se de faltas leves ao serviço, isto é, estando em causa apenas a aplicação da pena de repreensão escrita, então consente-se que essa pena seja aplicada sem dependência de processo, mas sempre com audiência e defesa do arguido. É claro que se já está instaurado processo disciplinar e nesse se venha a enquadrar os factos na repreensão escrita, então esta pena será aplicada nesse processo disciplinar. Este normativo funciona apenas para os casos em que, quando comunicada uma infracção ao superior hierárquico do funcionário infractor, este decida logo exercer o direito de punir com a pena de repreensão escrita. Só neste caso, em que não haverá lugar a processo disciplinar, é que tem lugar o n.º 3 deste artigo, isto é, a pedido do visado é lavrado auto na presença de duas testemunhas por si indicadas das diligências relativas à sua audiência e defesa. Pode ainda o arguido, se assim desejar, nos termos do n.º 4, solicitar a sua defesa por escrito, para o que terá um prazo máximo de 48 horas.

A competência para a instauração do processo. Sua repartição

O art.º 39.º do ED trata da competência para instauração do processo.

Pessoal docente

Esta matéria está tratada nos n.os 1 a 3 do art.º 115.º do Estatuto da Carreira Docente:

a) A instauração de processo disciplinar é da competência do órgão de administração e gestão do estabelecimento de educação ou de ensino;

b) Sendo o arguido membro do órgão de administração e gestão do estabelecimento de educação ou de ensino, a competência cabe ao director regional de educação;

c) A instauração de processo disciplinar em consequência de acções inspectivas da Inspecção-Geral da Educação é da competência do inspector-geral da educação27, com possibilidade de delegação nos termos gerais.

27 Cf. alínea e) do art. 5.º do Decreto Regulamentar n.º 81-B/2007, de 31 de Julho, que aprova a orgânica da IGE.

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Pessoal não docente

Esta matéria está tratada nos n.os 1 a 3 do art.º 37.º do EPND:

a) A instauração de processo disciplinar é da competência do órgão executivo da escola ou do agrupamento de escolas, salvo o disposto nos números seguintes.

b) Sendo o arguido membro de órgão de administração do estabelecimento de educação ou de ensino, a competência referida no número anterior cabe ao director regional de educação respectivo;

c) A instauração de processo disciplinar em consequência de acções inspectivas da Inspecção-Geral da Educação é da competência do inspector-geral da educação, com possibilidade de delegação nos termos gerais.

A nomeação do instrutor

Uma vez proferido o despacho de instauração do processo disciplinar, é necessário nomear um instrutor que proceda à sua instrução. A nomeação do instrutor (regra geral) é da competência da entidade que mandou instaurar o processo disciplinar, nos termos do art.º 51.º do ED, com as especialidades previstas nos art.os 115.º e 38.º, respectivamente, do ECD e do Estatuto do Pessoal Não Docente:

Nos processos disciplinares instaurados a pessoal docente

A nomeação do instrutor do pessoal docente é da competência do órgão de administração e de gestão do estabelecimento de educação ou de ensino (n.ºs 1 e 4), do director regional de educação (n.os 2 e 4) e do inspector-geral da educação, quer nos processos disciplinares por si instaurados em consequência de acções inspectivas da IGE (n.ºs 3 e 4), quer a título excepcional e com fundamento na manifesta impossibilidade da nomeação do instrutor (que deve ser aferida, exclusivamente, em face da norma do art.º 51.º do ED, ou seja, ou porque se trata de matéria de tecnicidade específica ou porque não existe no serviço quem possa ser nomeado instrutor), através da respectiva Delegação Regional e a pedido do órgão de direcção executiva ou do director regional (n.os 1, 2 e 6).

Nos processos disciplinares instaurados a pessoal não docente

A nomeação do instrutor do pessoal não docente é da competência do órgão executivo da escola ou do agrupamento de escolas (n.os 1 dos art.os 37.º e 38.º), do director regional de Educação (n.º 2 do art.º 37 e n.º 1 do art.º 38.º) e do inspector-geral da educação (n.º 3 do art. 37.º e n.º 1 do art.º 38.º). Ou seja, segue-se a regra geral do art.º 51.º do ED (a entidade que instaurar o processo disciplinar nomeia o instrutor). Mas nos casos de processos disciplinares instaurados pelo órgão executivo da escola ou do agrupamento de escolas, respeitantes a casos de negligência grave ou de grave desinteresse pelo cumprimento de deveres profissionais, de procedimentos que atentem gravemente contra a dignidade e prestígio do funcionário ou agente ou da função e de infracções que inviabilizem a manutenção da relação funcional (excluída a falta de assiduidade dos art.os 71.º e seguintes do ED), a competência para nomeação do instrutor compete ao director regional de educação respectivo.

Contudo, impressiona o facto de o legislador ter utilizado para a repartição desta competência a caracterização (apriorística) das faltas (desde a falta leve ao serviço até à inviabilização da manutenção da relação funcional) no momento da instauração do processo por parte das escolas, quando o que ainda existe (exceptuadas as situações, que sempre podem ocorrer, de instauração de processos prévios ao disciplinar e dos quais pode resultar uma melhor qualificação da matéria disciplinar) são meros indícios da prática de factos com contornos disciplinares, sendo em função da instrução a realizar que se fará mais tarde (na acusação) o seu enquadramento jurídico-disciplinar. Pelo que, em caso de fundadas dúvidas, no momento da instauração do processo, quanto à recondução dos factos a um dos art.os 22.º a 26.º do ED, deve seguir-se a regra geral do n.º 1 do art.º 51.º do ED, acolhida no n.º 1 do art.º 38.º do EPND.

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Comunicação da instauração do processo à IGE

De acordo com o previsto no n.º 5 do art.º 115.º e no n.º 4 do art.º 37.º, respectivamente, do ECD e do EPND, o despacho de instauração do procedimento disciplinar, deve, nos termos do n.º 1, ser imediatamente comunicado à respectiva delegação regional da IGE, à qual pode ser solicitado o apoio técnico-jurídico considerado necessário.

Arguido em exercício acumulativo de funções e mudança de situação na pendência do processo. Seus efeitos na instrução

No que respeita aos art.os 40.º e 41.º do ED, importa referir que, no primeiro caso, se um funcionário ou agente em acumulação de funções em vários serviços sofrer num deles um processo disciplinar, disso serão informados os restantes serviços, bem como da decisão final, sendo que se na pendência deste primeiro processo lhe vier a ser instaurado um segundo ou mais processos, serão todos apensados ao primeiro, para instrução por um único instrutor escolhido por consenso entre todos os serviços lesados, sendo o julgamento final também realizado em conjunto; no segundo caso, é mais uma vez a afirmação de que o exercício do poder disciplinar – agora na vertente da aplicação das penas – depende da existência de hierarquia administrativa entre o arguido e a entidade que à data da prática do acto punitivo é o seu superior hierárquico. Ou seja, não há poder disciplinar onde inexista hierarquia administrativa. Portanto e apesar de o processo ter sido instruído em serviço diferente daquele onde actualmente o arguido exerce funções, é ao seu actual superior hierárquico que compete decidir o processo disciplinar, arquivando o processo ou punindo o infractor.

Poder-se-á a este respeito colocar a seguinte questão: se a instrução do processo não está completa – ou nem sequer se iniciou, que é outra possibilidade – à data da mudança de situação do funcionário, a quem compete iniciar ou completar essa instrução? Ao serviço onde ocorreram os factos ou ao novo serviço onde o arguido vai prestar funções? É de considerar que este normativo se preocupa apenas com a entidade competente para a aplicação da pena. Relativamente a tudo o mais, o princípio terá que ser este: a competência instrutória disciplinar fixa-se no momento da prática da infracção na hierarquia a que, nesse momento, o seu autor se encontre subordinado, pelo que deve a instrução do processo disciplinar ser iniciada ou concluída no âmbito dos serviços em que o arguido exercia funções à data da infracção

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Instrução

Início e termo da instrução. Prazos. Contagem

De acordo com o art.º 45.º do Estatuto Disciplinar, a instrução inicia-se no prazo de 10 dias a contar da notificação ao instrutor do despacho que o nomeou e deve estar concluída em 45 dias a partir da data em que dê início a essa instrução, prazo que só pode ser excedido com autorização da entidade que o nomeou e em casos de excepcional complexidade. Estes prazos são contados nos termos do art.º 72.º do Código do Procedimento Administrativo, ou seja, em dias úteis28.

Prazos meramente ordenadores

Aqui são os prazos de instrução que são meramente ordenadores, porque preocupados apenas com o andamento do processo, e não já peremptórios, imperativos. Ou seja, perfeitamente inócuos em termos de consequências processuais, não invalidando os actos que sejam praticados no procedimento fora destes prazos. A jurisprudência dos tribunais administrativos é unânime nesta matéria, ao afirmar que estes prazos — relativos a toda a instrução do processo, antes e após a defesa do arguido, mesmo os relativos a procedimentos prévios ao próprio processo disciplinar, como sejam as averiguações — são meramente ordenadores no sentido que já ficou exposto29.

É nesta fase de instrução que se vão investigar os factos, que se vai proceder à sua valoração, enquadramento e à identificação do seu autor e verificar a exigência de se lhe pedir responsabilidade disciplinar.

A autuação como primeiro acto de instrução

O início da instrução deve ter lugar no prazo de 10 dias a contar da notificação ao instrutor do despacho que o tenha nomeado, sendo a autuação o primeiro acto de instrução, nos termos do n.º 1 do art.º 55.º do ED. E o que é que se autua? O despacho de instauração, os actos de nomeação do instrutor e do secretário e demais documentação atinente ao caso, designadamente a participação, queixa ou auto e manda imediatamente juntar aos autos o registo biográfico do arguido.

Comunicações do início da instrução

E a instrução deve ultimar-se no prazo de 45 dias após as comunicações que o instrutor tem de fazer ao arguido, ao participante e a quem o nomeou de que vai iniciar a sua instrução (n.º 3 do art.º 45.º do ED). Este prazo de 45 dias pode ser prorrogado pela entidade que tenha instaurado o processo sob proposta fundamentada do instrutor (n.º 1 do art.º 45.º do ED).

28 Conforme síntese em matéria de aplicação do CPA ao procedimento disciplinar (v. p. 59-61). 29 Ac. do STA, de 16-01-03, Proc.º n.º 0604/02: «Os prazos referidos nos art.os 45.º (10 e 45 dias), 57.º (5 e 10 dias),

64.º (20 e 40 dias), 65.º (24 horas, 2, 5 e 20 dias) e 66.º (10 e 30 dias) do ED têm natureza ordenadora e disciplinadora do procedimento e o seu excesso não determina a caducidade do procedimento ou a extinção do direito de punir»;

Ac. do STA, de 05-11-03, Proc.º n.º 01053/03: «Os prazos previstos nos art.os 45.º, n.º 1, 65.º, n.ºs 1 e 3, e 66.º, n.º 2 do ED, são ordenadores ou disciplinadores, pelo que a sua inobservância não extingue a possibilidade da prática do acto nem constitui vício procedimental susceptível de se repercutir no acto final do processo disciplinar. A inobservância desses prazos não significa que a Administração tenha reconhecido a inoportunidade do processo disciplinar ou a existência de uma situação em que não se justificava a aplicação da pena, pelo que esta aplicação não viola o princípio da boa-fé.

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Recolha da prova. O princípio da livre apreciação da prova

Após a autuação e as comunicações referidas, segue-se a fase da recolha da prova para apuramento da responsabilidade disciplinar do arguido. Para o efeito, o instrutor poderá ordenar oficiosamente as diligências e actos necessários à descoberta da verdade material (art.º 55.º do ED), sendo admissíveis todas as provas que não forem proibidas por lei. É isto que o art.º 125.º do Código de Processo Penal (CPP)30 designa legalidade da prova, aplicável ao processo disciplinar. E é livre a sua apreciação por parte do instrutor (art.º 127.º do CPP)31.

Prova testemunhal. O depoimento indirecto. Seu valor

Em matéria de recolha de prova testemunhal nada nos diz o ED. Nada obsta a que se sigam as regras próprias do processo penal (art.os 128.º e seguintes do CPP). Mas adaptadas, por aligeiramento, ao processo disciplinar, dado o carácter informal e sumário que o legislador quis imprimir à tramitação do processo disciplinar. A testemunha é inquirida sobre factos de que possua conhecimento directo e que constituam objecto da prova. É isto que diz o art.º 128.º do CPP32. Mas existe também o depoimento indirecto em que a testemunha refere o que ouviu dizer a pessoas determinadas. Este tipo de depoimento indirecto só releva se forem também ouvidas estas pessoas, conforme o art.º 129.º do CPP33. Podem, também, as testemunhas ser acompanhadas de advogado, mas que não seja o do arguido no processo, não podendo intervir na inquirição34.

Recusa da inquirição de testemunhas indicadas pelo arguido com fundamento no carácter desnecessário e impertinente da diligência

Nesta fase da instrução o número de testemunhas é ilimitado. São as necessárias para se apurar devidamente a responsabilidade disciplinar do arguido (art.º 56.º do ED). É claro que o instrutor pode recusar, fundamentando, a inquirição de testemunhas indicadas pelo arguido, quando entender que os factos estão provados. É o que resulta do n.º 4 do art.º 55.º do ED35. Contudo, chama-se a atenção para o facto de a diligência (inquirição de testemunhas, junção de documentação, etc.) ser claramente desnecessária ou impertinente, pois em caso de dúvida, o melhor é fazer a diligência. Se não é falta de audiência do arguido.

Formas de convocação das testemunhas As testemunhas podem ser convocadas por qualquer meio que lhes dê conhecimento

desse facto, incluindo o contacto telefónico. Ou podem ser notificadas por contacto pessoal ou via postal com aviso de recepção (art.os 112.º e 113.º do CPP).

30 CPP, art.º 125.º: «são admissíveis as provas que não forem proibidas por lei». 31 CPP, art.º 127.º: «salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência

e a livre convicção da entidade competente». 32 CPP, n.º 1 do art.º 128.º: «a testemunha é inquirida sobre factos de que possua conhecimento directo e que

constituam objecto da prova». 33 CPP, art.º 129.º: «1. Se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a pessoas determinadas, o juiz pode chamar

estas a depor. Se o não fizer, o depoimento produzido não pode, naquela parte, servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas indicadas não for possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas. 2. O disposto no número anterior aplica-se ao caso em que o depoimento resultar da leitura de documento da autoria de pessoa diversa da testemunha».

34 CPP, art.º 132: «4. Sempre que deva prestar depoimento, ainda que no decurso de acto vedado ao público, a testemunha pode fazer-se acompanhar de advogado, que a informa, quando entender necessário, dos direitos que lhe assistem, sem intervir na inquirição. 5. Não pode acompanhar testemunha, nos termos do n.º anterior, o advogado que seja defensor de arguido no processo».

35 ED, art.º 55.º: «3. Durante a fase de instrução do processo poderá o arguido requerer do instrutor que promova as diligências para que tenha competência e consideradas por aquele essenciais para apuramento da verdade. 4. Quando o instrutor julgue suficiente a prova produzida, poderá indeferir o requerimento referido no número anterior».

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Não ajuramentação das testemunhas. Os costumes. Quem pode recusar prestar depoimento. Relações de parentesco e de afinidade

Nos termos do art.º 91.º do CPP36 as testemunhas, perante autoridade judiciária, devem prestar juramento «juro, por minha honra, dizer toda a verdade e só a verdade». Contudo, o instrutor não é esta autoridade judiciária, pois nos termos da alínea b) do n.º 1 do art.º 1.º do CPP37, autoridade judiciária é o juiz, o juiz de instrução e o Ministério Público e, portanto, não pode ajuramentar as testemunhas38. Deve apenas dizer que a testemunha está obrigada a contribuir para a descoberta da verdade e deve abster-se de mentir ou omitir factos relevantes de que tenha conhecimento.

Deve a testemunha ser perguntada aos costumes: se é amigo, inimigo, parente, etc., do arguido. É importante para se avaliar correctamente o depoimento. Se bem que, atento o disposto no n.º 1 do art.º 131.º do CPP e art.º 616.º do Código do Processo Civil, tenha capacidade para ser testemunha qualquer pessoa que não se encontre interdita por anomalia psíquica. Há certas pessoas que se podem recusar a depor, tal como se prevê no art.º 134.º do CPP: os descendentes, os ascendentes, irmãos, afins até ao 2.º grau, os adoptantes, os adoptados, o cônjuge do arguido (n.º 1, alínea a)) e quem tiver sido cônjuge do arguido ou quem sendo de outro ou do mesmo sexo com ele conviver ou tiver convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação (n.º 1, alínea b)). Estas relações de parentesco e afinidade serão adiante mais bem esclarecidas em matéria de suspeição do instrutor.

Prova pericial. O caso da incompetência profissional

Na instrução cabem também testes de natureza profissional, através da execução pelo arguido de trabalhos preparados por dois peritos, quando o arguido é acusado de incompetência profissional (n.os 6 e 7 do art.º 55.º do ED). São situações em que são exigidos conhecimentos técnicos e científicos ou artísticos. Quando a convicção do instrutor for divergente da prova pericial tem de fundamentar, conforme o n.º 2 do art.º 163.º do CPP39.

Prova documental

A prova documental consta dos art.os 164 e seguintes do CPP, para os quais se remete tendo em vista um maior aprofundamento, sendo certo que não existem especialidades dignas de relevo, nem levanta problemas que sejam de assinalar.

36 CPP, art.º 91.º: «1. As testemunhas prestam a seguinte juramento: Juro, por minha honra, dizer toda a verdade e só a verdade. 2. [...]. 3. O juramento [...] é prestado perante a autoridade judiciária competente [...]».

37 CPP, alínea b) do n.º 1 do art.º 1.º: «Autoridade judiciária: o juiz, o juiz de instrução e o Ministério Público, cada um relativamente aos actos processuais que cabem na sua competência».

38 OS n.º 11/IGE/98: «1. Por força do despacho de "Homologo", exarado em 18.02.98, pelo Senhor Secretário de Estado da Administração Educativa, sobre o parecer n.º 16/98 da Auditoria Jurídica do Ministério da Educação, devem os senhores instrutores de procedimentos disciplinares dar cumprimento ao seguinte: 1. Nos termos do n.º 4 do art.º 35.º do ED [...] nos casos omissos pode o instrutor adoptar as providências que se afigurarem convenientes para a descoberta da verdade, em conformidade com os princípios gerais de direito processual penal, que decorrem em primeira linha das normas do processo penal. 2. Segundo dispõe o art.º 91.º n.º 3 do Código de Processo Penal vigente, o juramento das testemunhas só deve ser prestado perante autoridade judiciária, como tal definida no art.º 1 n.º 1 alínea b) do mesmo Código. 3. Não sendo, em processo disciplinar, os depoimentos prestados perante autoridade judiciária, as testemunhas não deverão prestar juramento, o que não retira tutela penal a eventual falso testemunho, face ao art.º 360.º do Código Penal"). Nestes termos, recomenda-se aos senhores instrutores que passem a alertar as testemunhas dos procedimentos disciplinares de que as mesmas têm o dever de contribuir para a descoberta da verdade, abstendo-se de mentir ou de omitir factos relevantes de que têm conhecimento directo e pessoal, seguindo-se as demais formalidades da inquirição».

39 CPP, n.º 2 do art.º 163.º: «2. Sempre que a convicção do julgador divergir do juízo contido no parecer dos peritos, deve aquele fundamentar a divergência»

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

A acareação

Nos termos do n.º 2 do art.º 55.º do ED e do n.º 3 do art.º 146.º do CPP, a acareação pode ser realizada oficiosamente ou a pedido do arguido. Portanto, pode haver acareação do arguido com testemunhas e/ou participante e só entre testemunhas. A acareação justifica-se sempre que exista contradição nas declarações prestadas pelas pessoas a acarear e a diligência se afigure importante para a descoberta da verdade.

Audição do arguido. A irrelevância disciplinar das falsas declarações

Em matéria de audição do arguido antes da acusação, este deve ser ouvido se o requerer e sempre que o instrutor assim entender (n.º 2 do art.º 55.º do ED). O arguido, por maioria de razão, também não pode ser ajuramentado. Mas aqui o fundamental é saber que as suas falsas declarações nunca são passíveis de responsabilidade disciplinar. Este não está obrigado a dizer a verdade.

A suspensão preventiva do arguido. Requisitos legais. Competência para a sua solicitação e decisão

Durante a instrução, pode vir a ser colocada a questão da suspensão preventiva do arguido. Está prevista no art.º 54.º do ED, com as especialidades constantes dos n.os 7 e 8 do art.º 115.º do ECD e n.os 1 e 2 do art.º 39.º do Estatuto do Pessoal Não Docente.

Consiste na possibilidade de suspender o arguido, ainda antes da decisão final, quando a sua presença é inconveniente para o serviço ou para o apuramento da verdade40. Pode ser pedida pela entidade que instaurou o processo e pelo instrutor e é decidida pelo membro do Governo competente ou membro do órgão executivo. Será o membro do Governo se o arguido for membro do órgão executivo. Será o director regional de educação nos restantes casos. Neste sentido, o disposto no n.º 7 do art.º 115.º do ECD estipula:

Para o pessoal docente:

a suspensão preventiva é proposta pelo órgão de administração e gestão da escola ou pelo instrutor do processo e decidida pelo director regional de educação ou pelo Ministro da Educação, conforme o arguido seja docente ou membro do órgão de administração e gestão do estabelecimento de educação ou de ensino;

Por sua vez, o disposto no n.º 1 do art.º 39.º do EPND estipula:

Para o pessoal não docente:

a suspensão preventiva é proposta pelo órgão executivo da escola ou do agrupamento de escolas ou pelo instrutor do processo e decidida pelo membro do Governo competente ou pelo director regional de educação, conforme o arguido seja ou não membro de um órgão de administração e gestão do estabelecimento de educação ou de ensino.

40 A decisão de suspender preventivamente o arguido necessita de ser bem fundamentada. Assim, na proposta de suspensão, deverá levar-se ao conhecimento da entidade com competência para a decretar a matéria de facto necessária para se poder formar um correcto juízo sobre a verificação dos pressupostos. Nesta conformidade, não basta alegar, de modo tabular, a inconveniência para o serviço ou a inconveniência para a descoberta da verdade. É necessário alegar factos que possam suportar tais juízos conclusivos

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Prazo da suspensão preventiva. Sua prorrogação até ao termo do ano lectivo

O prazo é de 90 dias com possibilidade de ser prorrogado até final do ano lectivo, sob proposta da entidade competente para instaurar o processo disciplinar – para o pessoal docente (n.º 8 do art.º 115.º do Estatuto da Carreira Docente) e para o pessoal não docente (n.º 2 do art.º 39.º do EPND) – e com os fundamentos da inconveniência para o serviço (requisito funcional) ou para a descoberta da verdade (requisito processual). A suspensão preventiva só pode ter lugar se o enquadramento abstracto da infracção for igual ou superior a suspensão, exigindo-se, num juízo de prognose, um certo grau de gravidade da conduta.

Efeitos da suspensão preventiva

A suspensão preventiva implica a proibição da presença do arguido no serviço, bem como o desconto no vencimento de exercício (um sexto). Este desconto será reparado (recuperado/reembolsado) no caso de decisão absolutória. No caso de decisão condenatória, será levado em conta nessa ocasião. O arguido suspenso preventivamente não perde o direito de ser admitido a concurso (art.º 44.º do ED), aplicando-se a mesma doutrina a todas as mudanças funcionais.

As regras da apensação de processos

A apensação de processos está regulada no art.º 48.º do ED. Resulta daqui que se tiverem sido instaurados vários processos ao arguido estes devem ser apensados. A apensação faz-se ao processo que contenha a infracção mais grave praticada pelo arguido. Ou se as infracções dos vários processos tiveram todas a mesma gravidade, a apensação será feita ao processo que primeiro tiver sido instaurado.

A suspeição do instrutor. Seus fundamentos

O art.º 52.º trata da suspeição do instrutor. O fim da lei é que o instrutor deve actuar com isenção e imparcialidade no apuramento dos factos. Para que isto seja respeitado, a lei prevê certos fundamentos para se pedir a suspeição:

a) interesse – o instrutor ser directa ou indirectamente atingido pela infracção;

b) parentesco – o instrutor ser parente na linha recta em qualquer grau (diz-se na linha recta quando as pessoas descendem umas das outras, caso dos bisavós, avós, pais, filhos, netos, etc.) do arguido, participante ou do ofendido ou parente de alguém que viva em economia comum com estas pessoas, ou então ser parente na linha colateral ou transversal (aqui as pessoas não descendem umas das outras mas provêm de um progenitor comum) até ao 3.º grau (para este efeito, contam-se todos os parentes na linha recta das pessoas cujo grau se quer determinar até ao progenitor comum, descontando-se um). Assim, se, por exemplo, o arguido for sobrinho do instrutor, temos tio – pai (progenitor comum) – irmão – sobrinho. São quatro pessoas; desconta-se uma e ficam três. Portanto, o instrutor e o arguido, neste caso, são parentes na linha colateral no 3.º grau;

c) ligação processual – estar pendente em tribunal civil ou criminal processo em que o instrutor e o arguido ou o participante sejam parte;

d) dependência económica – se o instrutor for credor ou devedor do arguido ou do participante ou de algum seu parente na linha recta ou até ao 3.º grau na linha colateral;

e) relações pessoais – haver grave inimizade ou grande intimidade entre o arguido e o instrutor, ou entre este e o participante ou ofendido.

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Decisão do pedido de suspeição do instrutor. Recurso hierárquico da sua não admissão. Suspensão do processo

Arguida a suspeição do instrutor, deve este enviar imediatamente o requerimento à entidade que tiver mandado instaurar o processo que decide em 48 horas (n.º 2 do art.º 52.º do ED). Do despacho que não admita a suspeição ou os seus fundamentos cabe recurso hierárquico em 10 dias (n.º 3 do art.º 75.º do ED) para o membro do Governo competente, que sobe imediatamente e nos próprios autos (n.º 3 do art.º 77.º do ED), sendo que até sua decisão o processo fica suspenso (art.º 46.º do CPA)41.

Arquivamento dos autos ou acusação (nota de culpa)

Finda a instrução preparatória, o instrutor pode, nos termos do art.º 57.º do ED, entender:

a) que os factos não constituem infracção disciplinar;

b) que não foi o arguido o agente da infracção;

c) ou que não é de exigir responsabilidade disciplinar por virtude de prescrição ou outro motivo -especial referência à última amnistia de infracção disciplinar (Lei n.º 29/99, de 12 de Maio), onde se refere que são amnistiadas as infracções disciplinares que não constituam simultaneamente ilícitos penais não amnistiados por esta lei e cuja sanção aplicável não seja superior a suspensão, não beneficiando desta amnistia os reincidentes, sendo que a amnistia não extingue a responsabilidade civil emergente dos factos amnistiados.

Nestas condições, elaborará no prazo de cinco dias o seu relatório e remetê-lo-á imediatamente, com o respectivo processo, à entidade que o tiver mandado instaurar, propondo que se arquive. Caso contrário, deduzirá no prazo de 10 dias a acusação, articulando, com a necessária discriminação, as faltas que reputar averiguadas, com referência aos correspondentes preceitos legais e às penas aplicáveis.

O auto de notícia como base da acusação

Se o processo disciplinar tiver por base um auto de notícia levantado nos termos do art.º 47.º do ED e nenhumas diligências tiverem sido ordenadas ou requeridas nos termos do art.º 49.º do ED, deverá ser deduzida acusação ao arguido no prazo de 48 horas contadas desde a data do início da instrução (art.º 58.º do ED). O auto é levantado sempre que um dirigente presenciar ou verificar uma infracção praticada no serviço sob a sua direcção (n.º 1 do art.º 47.º do ED). Este auto, nos termos do disposto no art.º 49.º do ED, desde que contenha a indicação de duas testemunhas faz fé, até prova em contrário, relativamente aos factos presenciados pela entidade que o levantou ou mandou levantar. Dele devem constar os factos que integram a infracção, o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que foi cometida, os elementos de identificação do funcionário ou agente visado e os elementos de identificação da entidade que a presenciou. Se existirem, devem ser mencionadas as provas testemunhal e documental (n.º 1 do art.º 47.º do ED). O auto deve ser assinado pela entidade que o levantou ou mandou levantar e, se possível, pelas testemunhas e pelo funcionário ou agente visado, se este o quiser assinar. O auto deve ser remetido imediatamente à entidade com competência para instaurar o processo disciplinar (n.º 4 do art.º 47.º do ED).

41 O titular do órgão ou agente deve suspender a sua actividade no procedimento logo que faça a comunicação a que se refere o n.º 1 do artigo anterior (quando se verifique causa de impedimento em relação a qualquer titular de órgão ou agente administrativo, deve o mesmo comunicar desde logo o facto ao respectivo superior hierárquico ou ao presidente do órgão colegial dirigente [...] ou tenha conhecimento do requerimento a que se refere o n.º 2 do mesmo preceito (até ser proferida a decisão definitiva ou praticado o acto, qualquer interessado pode requerer a declaração do impedimento, especificando as circunstâncias de facto que constituem a causa), até à decisão do incidente, salvo ordem em contrário do respectivo superior hierárquico.

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Acusação

Elaboração da acusação (nota de culpa)

Para que o arguido possa executar, de modo eficaz e organizado, o seu direito de audiência e defesa – que tem dignidade constitucional (n.º 3 do art.º 269.º da CRP42 – exige-se no n.º 4 do art.º 59.º do Estatuto Disciplinar que a acusação contenha:

As circunstâncias de tempo, modo e lugar

A individualização ou discriminação dos factos (actos ou omissões) que se tenham por averiguados e disciplinarmente puníveis, com referência ao modo da prática destes factos, bem como ao tempo e lugar em que ocorreram (as chamadas circunstâncias de modo, tempo e lugar). Nesta matéria, o que a jurisprudência do STA43 evidencia e exige não é uma perfeita exactidão quanto ao tempo, espaço e modo de realização dos factos, mas uma identificação dos factos suficientemente completa para que o arguido não possa

42 Constituição da República Portuguesa, art.º 269.º n.º 3 («em processo disciplinar são garantidas ao arguido a sua audiência e defesa»).

43 Ac. do STA, de 02-07-91, Proc.º 025623 («1. Integra nulidade insuprível por falta de audiência do arguido a dedução de acusação que (...) se limite a referências vagas e genéricas, a juízos de valor e afirmações conclusivas. 2. Enferma desse vício a acusação em que apenas se afirma ser o arguido responsável pela falta de determinada quantia, sem se especificar a que título se lhe imputa essa falta»);

Ac. do STA, de 14-07-92, Proc.º 029988 («Enferma dessa nulidade o processo disciplinar no qual o cerne da acusação consiste numa imputação com o seguinte conteúdo. Ter "efectuado", ter "mandado efectuar" ou voluntariamente "ter permitido que alguém efectuasse"rubricas imitativas da rubrica do responsável pelo respectivo serviço público em documentos de natureza registral; imputação essa que o instrutor no seu relatório final esclarece nos seguintes termos: "Tem que ter sido uma destas três coisas. É impossível ter sido de outro modo"!»);

Ac. do STA, de 04-03-99, Proc.º n.º 042030 [«(...) 2. Afirmações conclusivas, genéricas ou abstractas geram nulidade insuprível, por falta de audiência e defesa, se se concluir que o arguido, não podendo, concreta e seguramente, identificar as infracções imputadas não podia exercer, sem restrições, o seu direito de defesa. 3. É meramente conclusiva a imputação a uma professora de ter dirigido a alguns alunos de uma turma expressões de "cobardes" "mentirosos" e "ignorantes", sem a necessária discriminação e indicação concreta dos factos referenciados ao tempo e circunstancialismo em que foram proferidas, designadamente a identificação dos alunos visados.»];

Ac. do STA, de 20-05-99, Proc.º n.º 040624 («Não basta o arguido apresentar qualquer defesa para se haver por afastada a nulidade insuprível do n.º 1 do art.º 42.º do ED, pois exige-se que a mesma seja adequada e eficaz e esta só o será se a acusação obedecer ao disposto no n.º 4 do art.º 59.º do ED»);

Ac. do STA, de 16-05-91, Proc.º n.º 0242785 [«1. Em processo disciplinar a articulação da nota de culpa de forma vaga e genérica sem a indicação das circunstâncias de tempo em que os factos se terão verificado, impossibilitando, por parte do arguido, a compreensão do âmbito da acusação, importa a nulidade insuprível da limitação das garantias processuais de audiência e defesa. 2. Padecem dessa imprecisão os artigos de acusação que atribuem ao arguido ter deixado "por várias vezes o carimbo sem ter fechado com a chave que possuía o respectivo aloquete, permitindo que o mesmo viesse a ser usado sem a sua presença" e o facto de que "apesar de ter conhecimento do horário (...) não o praticava causando assim perturbação no serviço"»];

Ac. do STA, de 28-09-93, Proc.º n.º 031448 («Enferma de nulidade insuprível, por violação do direito de audiência e defesa, nos termos do disposto no n.º 1 do art.º 42.º do ED, a acusação que imputa ao arguido em termos vagos, genéricos e imprecisos, além do mais, o seguinte: uma hipotética "falta de respeito", ainda por cima com "premeditação" e uma suposta "provocação de mau ambiente" no serviço sem concretizar os comportamentos ou actuações em que as mesmas se hajam traduzido; uma alegada "ilegalidade" de subscrição de um "despacho interno" por parte do arguido, sem explicitar os motivos de tal "ilegalidade" ou anti-juridicidade; uma eventual violação do "dever de correcção" com mera remissão de carácter genérico para o conteúdo de uma "exposição" igualmente subscrita pelo arguido e de uma "informação jurídica" por si adrede recolhida, sem se explicitarem as específicas razões conclusivas da infracção disciplinar»). Exemplos de acusação vaga e genérica: 1 – O arguido é acusado de ter praticado, desde Novembro até Dezembro de 2006, as seguintes infracções disciplinares: falta de educação e de boas maneiras no atendimento aos utentes do serviço; referências desprestigiantes a elementos do Conselho Executivo; utilização abusiva da isenção de horário de trabalho e ter feito desaparecer documentação que estava ao seu cuidado (desta forma, não se indica circunstância de lugar, não concretiza quais os factos que integram a falta de educação e de boas maneiras, as referências desprestigiantes, a utilização abusiva e quais os documentos em falta), 2 – O arguido é acusado de ter procurado em reuniões do Conselho de Turma impor a sua vontade com comportamentos autoritários, mesmo que esta fosse contrária à dos restantes colegas. E durante a última reunião do 2.º período escolar, ter abordado, em tom acusatório e agressivo, assuntos da vida particular dos seus colegas Victor e Fernando (desta forma, não se concretiza

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representá-los erradamente, impossibilitando a sua defesa ou tornando-a particularmente difícil.

Acusação vaga e genérica. Falta de audiência do arguido. Nulidade insuprível do processo disciplinar

Quando isto é violado pelo instrutor, considera-se o processo disciplinar ferido de nulidade insuprível, a que se reporta o n.º 1 do art.º 42.º do ED. De notar que a expressão nulidade insuprível não significa nulidade absoluta mas apenas omissão de uma formalidade essencial (falta de audiência e defesa do arguido), que provoca a anulação do processo disciplinar apenas a partir da altura em que esta omissão se produza, obrigando a refazê-lo daí em diante. Só assim não acontece quando, apesar do carácter genérico da acusação, o arguido mostrar pela defesa apresentada – que não pode ser qualquer defesa como adiante se demonstrará – que compreendeu perfeitamente o âmbito, sentido e alcance daquela. É claro que na apreciação a fazer pelo instrutor do que se acaba de referir se deve usar da máxima prudência, atentos os efeitos cominatórios previstos na lei para a não audiência e defesa do arguido.

As circunstâncias atenuantes e agravantes referidas na acusação Quando as agravantes se referem só no fim da acusação e não estão referidas em cada

um dos artigos acusatórios, sendo esta a melhor técnica jurídica, tem que estar claro a que artigo ou artigos se referem. Dizer-se, por exemplo, que funciona contra o arguido a premeditação sem que se refira a que artigo(os) da acusação se refere pode ser falta de audiência do arguido.

Referência aos preceitos legais violados e penas aplicáveis (enquadramento jurídico-disciplinar)

A referência aos preceitos legais violados e penas aplicáveis constitui o enquadramento jurídico-disciplinar da matéria acusatória. O que é que a lei pretende com esta exigência? O fim da lei é mais uma vez possibilitar ao arguido uma defesa eficaz, que pressupõe a plena consciência dos factos que lhe são imputados e da sua ilicitude decorrente da inobservância de determinadas regras jurídicas. Ora, não se dando a conhecer ao arguido nos artigos de acusação a norma ou normas que com a sua conduta infringiu, e em que pena incorre, desrespeitar-se-ão os n.os 1 e 4, respectivamente, dos art.os 42.º e 59.º do ED.

Enquadramento jurídico-disciplinar mais gravoso dos factos após defesa do arguido e antes do relatório final. Necessidade de uma acusação complementar

A qualificação feita na acusação é sempre provisória, no sentido de que pode ser alterada posteriormente, quer em consequência da defesa quer em função do critério do instrutor. Na verdade, o arguido pode vir a apresentar argumentação no sentido de não ter sido o autor dos factos, que esses factos não constituem infracção disciplinar ou que, mesmo sendo a sua conduta infracção disciplinar, a responsabilidade disciplinar não é exigível (ex: prescrição,

quando ocorreram os Conselhos de Turma, nem os factos que integram os comportamentos autoritários. Não concretiza o tom acusatório e agressivo. Que afirmações foram produzidas pelo arguido que podem ser reconduzidas a este modo acusatório e agressivo de relacionamento com os colegas de trabalho); 3 – À arguida por várias vezes lhe foi chamada a atenção pelos superiores hierárquicos para as incorrecções e atrasos do serviço e não acatou as ordens e instruções recebidas, tendo manifestado, publicamente, algumas vezes, discordâncias, de forma incorrecta quer para o público quer para os seus colegas de trabalho e muito especialmente para sua chefia directa, a Chefe de Serviços de Administração Escolar (desta forma, verifica-se a ausência das circunstâncias de tempo, modo e lugar, pois não indica o tempo e o local e não concretiza o tipo de incorrecções, ordens e instruções não acatadas, discordâncias e incorrecções para terceiros).

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amnistia). Ou pode o instrutor, e não já o arguido, face aos elementos colhidos na fase da defesa, e desde que não altere os factos, entender propor um enquadramento mais ou menos gravoso do que o constante da nota de culpa, nas condições que iremos referir quando abordarmos o relatório final.

Este novo enquadramento, se mais gravoso, deve ser oferecido em contraditório ao arguido antes do relatório final, usualmente através da denominada acusação complementar (não nos esqueçamos que o arguido não só se defende dos factos como igualmente do seu enquadramento jurídico-disciplinar).

Referência expressa à obrigação de reposição de dinheiros públicos na acusação

Se houver quantias a repor44 pelo arguido, tal facto deve igualmente constar da nota de culpa, para que seja possível ocorrer o contraditório no que respeita à obrigação de repor essas quantias em falta nos cofres do Estado.

Notificação da acusação. Hierarquia legal das formas de notificação (pessoal, postal e por aviso em Diário da República)

A nota de culpa – pessoal docente e pessoal não docente – deve ser notificada ao arguido nos termos dos n.os 1 e 2 do art.º 59.º do ED. A cópia da acusação deve ser entregue ao arguido:

a) Por notificação pessoal (certidão de notificação lavrada pelo agente que a ela deve proceder, assinada pelo arguido e por esse próprio agente);

b) Só podendo fazer-se por carta registada com aviso de recepção (solução subsidiária e não alternativa da primeira forma de notificação) se a notificação pessoal não for possível, cabendo à Administração fazer prova da impossibilidade da notificação pessoal, prova que tem de resultar clara do processo. Isto quer dizer que a preferência do legislador do ED vai para a notificação pessoal, para conferir a estas notificações, que se destinam a garantir o direito de defesa, condições de maior certeza possível, só optando por outras soluções na impossibilidade da primeira;

c) Por aviso de citação publicado no Diário da República, na impossibilidade da noti-ficação pessoal ou por via postal, devendo o aviso conter o previsto no n.º 3 do art.º 59.º do ED (estar pendente processo contra o arguido, prazo para defesa e local de consulta do processo).

44 Ac. do STA, de 11-07-89, Proc.º 026189 [«Face ao que se dispõe no art.º 65.º do ED (...), o processo disciplinar destina-se não somente à aplicação de uma sanção disciplinar ao arguido, se se verificar a existência de infracção, mas, igualmente, e se for caso disso, a reposição das quantias por ele devidas»];

Ac. do STA, de 15-03-90, Proc.º n.º 027715 [«A reposição de quantias a que se referem os art.ºs 65.º n.º 1 e 91.º n.º 1 do ED, respeita apenas a quantias que à Administração, pelos seus próprios meios, cabe averiguar (nomeadamente, objecto de alcance ou desvio) e não as consistentes em indemnização por outros danos, cuja determinação cabe aos Tribunais»];

Ac. do STA, de 06-03-90, Proc.º n.º 027381 («Os art.ºs 65.º n.º 1 e 91.º n.º 1 do ED, referindo-se a "quantias que porventura haja a repor" e a condenação "na reposição de qualquer quantia", tem apenas em vista aqueles casos de violação dos deveres funcionais em que esteja em causa a obrigação de dar contas de fundos, de dinheiros que, por virtude do exercício das suas funções, estejam confiados ao funcionário punido ou tenham de passar pelas suas mãos»)

Ac. do STA, de 11-01-94, Proc.º n.º 031584 («O vício de usurpação de poder não se verifica quando em consequência de processo disciplinar é proferido acto a impor à arguida na qualidade de tesoureira de um estabelecimento de ensino a reposição das quantias que se apurou faltarem referentes à gerência do ano lectivo e o montante da comparticipação dos alunos para uma viagem de estudo que não foi depositada nem lançada nos livros de contabilidade»).

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Defesa

Incapacidade física ou mental do arguido para a organização da sua defesa. Representação legal

O art.º 60.º do Estatuto Disciplinar trata da incapacidade física ou mental do arguido45. A regra é de que compete ao arguido organizar a sua defesa. Mas esta regra deve ser afastada em casos de doença ou incapacidade física devidamente comprovada, casos em que o arguido pode nomear um representante mandatado para o defender ou então, se nem isto conseguir fazer devido ao seu estado, o instrutor nomear-lhe-á um curador ad litem (ou seja, apenas para esse processo), que será a pessoa a quem competiria a tutela do arguido em caso de interdição civil (cf., art.os 143.º e seguintes do Código Civil).

E igualmente se afastará a regra geral em caso de anomalia mental devidamente comprovada, onde se procederá a uma avaliação psiquiátrica do arguido, normalmente realizada pelos institutos de medicina legal, mas não só, nos termos dos art.os 159.º e seguintes do Código do Processo Penal. Se esta perícia médica resultar na inimputabilidade do arguido, este não pode ser responsabilizado disciplinarmente, arquivando-se os autos. E se for declarado absoluta e permanentemente incapaz para o serviço, deve ser sujeito a junta médica tendo em vista a sua aposentação.

O incidente de alienação mental. Iniciativa do arguido (seu familiar) ou do instrutor. Suspensão do processo. Imputabilidade ou inimputabilidade do arguido

A iniciativa deve ser do arguido e só em casos muito evidentes, decorrente de elementos constantes dos autos, e não só porque o instrutor pressente, sem mais, que pode haver qualquer anomalia, é que se deve oficiosamente proceder à nomeação de um curador ou solicitar o devido exame às faculdades mentais do arguido. Suscitado oficiosamente este incidente, o processo fica suspenso até recepção do relatório médico da avaliação psíquica do arguido.

Exame do processo e apresentação da defesa

A matéria relativa ao exame do processo e apresentação da defesa, vem tratada no art.º 61.º do ED. Verifica-se, em primeiro lugar, que, no prazo dado para a defesa, pode o arguido, representante, curador ou advogado consultar o processo, para elaboração da resposta à nota de culpa, que pode vir assinada por qualquer um destes representantes e apresentada no local onde tiver sido indicado pelo instrutor.

45 Ac. do STA, de 04-11-2003, Proc.º n.º 048169: «1. O que releva para apurar se havia lugar à nomeação de curador e, consequentemente, se ocorreu preterição dessa formalidade essencial para a descoberta da verdade, geradora de nulidade, prevista no n.º 1 do art.º 42.º do ED, não é se o instrutor viu ou não motivos para ter suscitado o inci-dente de sanidade mental, mas se o processo evidencia esses motivos de modo a impor uma tal decisão. 2. E tal não sucede [...] se o arguido na defesa não juntou qualquer documento que atestasse sofrer de doença mental, ou sequer alegado ser detentor de qualquer patologia que o impossibilitasse de organizar cabalmente a sua defesa, o que também não fez em qualquer momento do processo até decisão final, nem ninguém por si».

Ac. do STA, de 04-03-04, Proc.º n.º 02019/02: «1. O exame às faculdades mentais destina-se a determinar a impu-tabilidade do arguido, isto é, se o mesmo padece de qualquer anomalia psíquica que, no momento da prática dos factos, o impedia de avaliar o carácter ilícito dos seus actos e de se determinar de acordo com essa avaliação. 2. No caso concreto, o recorrente fundamentou o pedido de realização da perícia psiquiátrica no facto de, aquando da prática dos factos de que é acusado, ter atravessado uma fase de consumo exagerado de álcool o que lhe terá retirado a capacidade de avaliar a ilicitude da sua conduta e de se determinar de acordo com essa avaliação. 3. Não invoca, pois, qualquer doença do foro mental, mas sim uma situação localizada no tempo e ocasional e não impeditiva do exercício das suas funções, sendo certo que no decurso do processo disciplinar não surgiram quais-quer indícios de alienação mental do recorrente».

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Rol de testemunhas. Junção de documentos. Diligências complementares de prova. Sua recusa. Recurso hierárquico

Com a defesa deve o arguido apresentar o rol das testemunhas, indicando os factos sobre os quais cada uma deve ser ouvida, e juntar documentos. Pode ainda requerer diligências, que podem ser recusadas em despacho fundamentado, quando manifestamente impertinentes e desnecessárias. Este despacho do instrutor que recusar diligências requeridas pela defesa pode ser objecto de recurso hierárquico a interpor pelo arguido, no prazo de cinco dias úteis a contar da notificação do despacho que indeferiu o requerimento, nos termos do disposto no n.º 3 do art.º 42.º do ED. Este recurso tem subida imediata e nos próprios autos, com efeito suspensivo, pois se ficasse retido até ao recurso da decisão final perdia o seu efeito útil, tal como está regulado em matéria dos recursos (n.º 2 do art.º 77.º do ED) e tem de ser decidido num prazo de 10 dias úteis a contar da sua interposição, pois se assim não for ele considera-se tacitamente deferido, nos termos do n.º 4 do mesmo art.º 42.º do ED.

Testemunhas arroladas na defesa (três por cada facto)

Nos termos dos n.ºs 4 e 5 do art.º 61.º do ED, não podem ser ouvidas mais de três testemunhas por cada facto, podendo o instrutor recusar a inquirição de testemunhas quando considere suficientemente provados os factos alegados pelo arguido. A lei estipula um número máximo de testemunhas a inquirir por cada facto. Portanto, a falta de inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, no número legal (máximo de três por cada facto), constitui omissão de diligência essencial para a descoberta da verdade e violação do princípio da audiência e defesa do arguido, se de acordo com as circunstâncias concretas os depoimentos delas se revelarem, em abstracto, essenciais para demonstração da realidade dos factos afirmados.

Recusa de inquirição de testemunhas de defesa arroladas pelo arguido (em que situações)

Mas pode o instrutor recusar a inquirição de testemunhas de defesa quando der por provados os factos alegados pelo arguido, o que faz, aliás, todo o sentido, pois estando assegurada já a defesa do arguido com a prova testemunhal produzida, deve evitar-se a prática de actos inúteis, como seria a inquirição de mais testemunhas aos factos já dados como provados.

Ou pode ainda o instrutor recusar a inquirição de testemunhas de defesa arroladas pelo arguido se a sua resposta à nota de culpa se limita a considerações de natureza jurídica, sem, contudo, negar a materialidade dos factos acusatórios nem invocar causas de exclusão da ilicitude ou da culpa, já abordadas, ou qualquer circunstancialismo atenuativo da sua responsabilidade que dependa de prova testemunhal. Se a sua defesa for feita nestes moldes, que sentido faria ouvir as suas testemunhas?

Inquirição de testemunhas após acusação da iniciativa do instrutor. Consentimento/conhecimento do arguido

Ou pode ainda o instrutor inquirir por sua iniciativa testemunha não arrolada, em substituição de outra indicada pela defesa, que não compareceu, mas tem que obter prévio consentimento do arguido. Se assim não proceder, tal inquirição é ainda possível, mas constitui uma diligência complementar de prova, mais bem concretizada adiante, que deverá ser notificada ao arguido antes da elaboração do relatório final. Tem de ter-se, contudo, em atenção que o n.º 4 do art.º 61.º do ED, ao proibir a audição de mais de três testemunhas sobre cada facto, tem como pressuposto que elas deponham sobre os factos para que vêm arroladas, pelo que não se devem contar, para este efeito, as testemunhas que apenas manifestem o seu desconhecimento deles.

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Inquirição de testemunhas residentes fora do local de instrução do processo. A carta precatória

As testemunhas a inquirir, residentes fora do local onde corre o processo, podem ser a apresentar pelo arguido, se este assim se comprometer, ou essa inquirição pode ser realizada pelo instrutor por solicitação a autoridade administrativa competente, por carta precatória46, dando-se disso conhecimento ao arguido (n.º 7 do art.º 61.º do ED). Aliás, tendo o arguido constituído advogado no processo é sempre obrigatória a notificação deste para, na fase do contraditório, participar e assistir, querendo, às diligências requeridas pela defesa.

A falta de resposta à acusação. Efectiva audiência do arguido A falta de resposta à nota de culpa dentro do prazo marcado vale como efectiva

audiência do arguido para todos os efeitos legais (n.º 9 do art.º 61.º do ED). Tal não significa que o arguido confessa os factos articulados na acusação, mas apenas que renuncia ao direito que a lei lhe confere de se defender das acusações que lhe vêm imputadas.

A confiança do processo

Quanto ao art.º 62 do ED, que trata da confiança do processo, esta é facultada ao advogado e nunca ao arguido, elaborando-se um auto de entrega no qual se fixa um prazo para a devolução do processo, que, nos termos do n.º 3 do art.º 169.º do Código de Processo Civil (CPC), aplicável, é de cinco dias, e que pode ser prorrogado pelo instrutor, a pedido do advogado, em casos de elevada complexidade e se tal prorrogação não acarretar qualquer inconveniente para a instrução do processo.

Se o processo não for entregue pelo advogado nesse prazo, deverá ser notificado pelo instrutor para, em dois dias, apresentar as razões de tal procedimento, que se não forem atendíveis poderá fazer incorrer o mandatário nas sanções previstas no CPC47.

Resposta à acusação

Em matéria de resposta do arguido (art.º 63.º do ED), o que importa reter é que a sua defesa deve ser clara, concisa, devidamente fundamentada e visando a acusação que lhe vem formulada. É por isso que se o arguido extravasar a defesa, produzindo afirmações que possam constituir infracções estranhas à acusação, deve ser processado disciplinarmente por esse facto, extraindo o instrutor certidões da resposta incorrectamente formulada, que remeterá à entidade que seja competente para a instauração do processo disciplinar.

Presunção de inocência do arguido. Proibição da inversão do ónus da prova (que pertence exclusivamente à Administração)

Em processo disciplinar não há inversão do ónus da prova, no sentido de que é ao arguido que compete provar a sua inocência. O ónus da prova dos factos acusatórios pertence exclusivamente à Administração, segundo o princípio de que «quem alega um facto tem de o provar». O arguido não tem de demonstrar a sua inocência. Esta presume-se, até prova em contrário. Verifica-se, com alguma regularidade, que o instrutor no seu relatório final vem dizer que «o arguido não conseguiu destruir com a defesa a acusação que contra si está formulada». É afirmação a não seguir, pois permite alguma confusão em matéria de ónus da prova, sendo de adoptar uma outra mais conforme à presunção de inocência do arguido.

46 Este pedido de expedição por deprecada para inquirição de testemunha deve indicar os pontos de facto sobre que há-de recair o depoimento de cada uma das testemunhas.

47 Cf. art.º 170.º do CPC.

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Produção da prova oferecida pelo arguido (prazos) ou ordenada pelo instrutor (sua fundamentação e contraditório)

Vejamos o art.º 64.º do ED sobre a produção da prova oferecida pelo arguido na sua defesa. Em primeiro lugar, podemos verificar que neste artigo se contemplam nos seus dois números duas espécies de prova: no n.º 1, aquela que é oferecida pelo arguido na sua defesa (testemunhas e recolha de outros elementos de prova); no n.º 2, a que é ordenada pelo próprio instrutor, finda que esteja a produção da prova oferecida pelo arguido (instrução complementar)48.

Relativamente à primeira (oferecida pelo arguido): ela deve realizar-se em 20 dias, ou em prazo superior até 40 dias, prorrogação feita pela entidade competente, caso se deva proceder à inquirição de testemunhas que residam fora do local onde corre o processo, por solicitação a autoridade administrativa. E o princípio aqui é o de que a falta de inquirição de testemunhas indicadas pelo arguido sobre matéria pertinente à sua defesa, ou a não recolha de qualquer outro elemento de prova por si requerido, constitui falta de audiência e defesa do arguido, se, de acordo com as circunstâncias concretas, os depoimentos ou os outros elementos de prova se revelarem, em abstracto, essenciais para demonstração da realidade dos factos afirmados. Em caso de contencioso, o tribunal aprecia a acusação e avalia se, em abstracto, aquela testemunha ou aquele outro meio de prova requerido pelo arguido naquele processo concreto, podia ou não ser essencial à sua defesa, o mesmo é dizer se com eles podia ou não o arguido fazer a demonstração dos factos que alegou na resposta à nota de culpa.

Quando à segunda, o que aqui se afirma é que pode o instrutor, finda a prova oferecida pelo arguido, ordenar novas diligências que considere necessárias ao apuramento dos factos, ouvindo novas testemunhas ou juntando nova documentação, sendo necessário que fundamente nos autos esta sua decisão para a recolha destes meios complementares de prova (instrução complementar), oferecendo sempre em contraditório estes novos elementos ao arguido.

Reformulação da acusação após a defesa do arguido. Princípio da legalidade da actuação administrativa

O instrutor pode vir a reformular a sua peça acusatória por aceitação da argumentação da defesa deixando cair alguns factos, por exemplo, por amnistia, prescrição, acusação vaga e genérica, deficiente enquadramento jurídico-disciplinar, etc. E de nada vale vir o arguido dizer que tal reformulação do processo a partir da acusação é ilegal, pelo facto de ter sido determinada pela sua defesa, que assim foi aproveitada em seu desfavor. A isto deve-se responder que toda a actuação da Administração está sujeita ao princípio da legalidade e que é dever do instrutor sanear o processo das ilegalidades que ele contenha, desde que se respeite sempre o direito de audiência do arguido, o que se fará com a apresentação de nova peça acusatória, agora elaborada nos termos da lei49.

48 Ac. do STA, de 22-03-94, Proc.º n.º 029270: «[...] 4. Sob pena de nulidade insuprível, deve ser fundamentado o despacho que em processo disciplinar ordena a produção complementar de prova, depois de produzida a prova indicada pelo arguido. 5. Efectuadas diligências complementares de prova [...] deve ser dada ao arguido a oportu-nidade de sobre elas se pronunciar, sob pena de violação do princípio do contraditório e consequente nulidade insuprível»

Ac. do STA, de 20-03-97, Proc.º n.º 037907: «[...] 2. Constitui nulidade insuprível do processo disciplinar a falta de audiência do arguido sobre o resultado de diligências complementares de prova ordenadas oficiosamente pelo instrutor posteriormente à notificação da acusação, designadamente junção de documentos, informação dos ser-viços e depoimento de uma testemunha, que relevaram em desfavor do arguido no juízo probatório».

49 Ac. do STA, de 17-01-95, Proc.º n.º 034713: «[...] 2. Qualquer irregularidade da instrução, incluída nesta a acusa-ção em processo disciplinar, pode ser rectificada oficiosamente. 3. Pode assim o instrutor, se se aperceber que a peça acusatória se encontra deduzida em termos vagos e genéricos, proceder à reformulação, rectificação ou repetição da elaboração da nota de culpa, em ordem a prevenir a ofensa do direito de audiência e defesa e dos princípios gerais da celeridade e economia processuais».

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Relatório final

O relatório final está previsto no art.º 65.º do Estatuto Disciplinar. Nesta matéria, tem-se colocado a questão de saber se o instrutor pode agravar, nesta peça processual, o enqua-dramento jurídico-disciplinar constante da acusação ou se este enquadramento pode ser agravado, não já pelo instrutor, mas pela entidade competente para decidir o processo.

Agravamento pelo instrutor no relatório final do enquadramento jurídico-disciplinar da matéria acusatória

Será lícito ao instrutor propor no relatório final um enquadramento mais gravoso do que o contido na acusação, por exemplo, passar de uma multa para suspensão? Não constitui tal facto uma falta de audiência do arguido? Se o arguido se defendeu de uma multa pode estar, agora, confrontado, sem contraditório, com uma suspensão? Não será este relatório final um projecto de decisão a ser presente à entidade que decide o processo diferente do projecto apresentado ao arguido na acusação? Não colide tal facto com o seu direito de defesa? Pensamos que sim. Portanto, se o instrutor enquadrou erradamente os factos na acusação, e se disso se apercebeu no contraditório, então deve acusar de novo corrigindo essa qualificação jurídico-disciplinar.

Agravamento pela entidade com competência para aplicação da pena do enquadramento jurídico-disciplinar da matéria acusatória contida no relatório final

Se a entidade com competência para decidir o processo não concordar com a proposta punitiva apresentada pelo instrutor, constante da acusação e mantida no relatório final, e a quiser agravar – por exemplo, passar de uma pena de multa para suspensão – então deverá mandar apresentar ao arguido nova nota de culpa ou proceder ao aditamento da anterior-mente formulada, neste aspecto concreto, pois o projecto de decisão consubstanciado na primitiva acusação não é agora coincidente com aquele que resulta deste agravamento.

Mas já não se vê como necessária a elaboração de nova acusação a ser presente ao arguido nos casos em que, não havendo alteração do tipo de pena a aplicar (por exemplo, de multa para suspensão ou desta para inactividade), há, contudo, variação, para mais, na graduação da pena proposta pelo instrutor no relatório final (por exemplo, quem decide quer aplicar não 20 mas 30 dias de suspensão). E se é certo que se pode argumentar, neste caso, estar-mos perante uma decisão que se afastou do projecto de decisão do instrutor, não se vê em que é que esta alteração em matéria da graduação da pena, se não for levada ao conheci-mento do arguido antes da decisão final, possa violar o seu direito de audiência e defesa. Será que a sua estratégia de defesa seria necessariamente diferente no exemplo apontado? A resposta só pode ser negativa, sendo certo que o arguido por referência na nota de culpa aos preceitos violados e pena abstractamente aplicável – a referência na nota de culpa à pena abstractamente aplicável habilita, na verdade, o arguido à elaboração de uma defesa correcta e cuidadosa, pois ele deve ter sempre em atenção para este efeito a possibilidade de em concreto lhe vir a ser aplicada a pena graduada no seu máximo (multa, suspensão e inactividade), juízo que só é possível fazer após o contraditório e nunca em momento ante-rior, isto é, na acusação – está de posse de todos os elementos necessários a uma defesa eficaz.

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Objectivos, prazos e conteúdo do relatório final

Da leitura do art.º 65.º do ED, resulta o seguinte: a) Objectivos – Habilitar a entidade que vai decidir a fazê-lo nas melhores condições; para

tanto, a preocupação constante deve ser evidenciar os factos apurados e a prova deles;

b) Prazos – 5 dias finda a instrução contraditória, prorrogável até 20 dias, por decisão da entidade competente para decidir o processo, atenta a sua complexidade;

c) Conteúdo – Completo e conciso, devendo o instrutor pronunciar-se obrigatoriamente sobre a existência material das faltas (as diligências efectuadas que levaram à prova dos factos), qualificação dos factos provados (qual o dever ou deveres violados, tipo de infracção e seu enquadramento jurídico-disciplinar nas normas do ED), gravidade dos factos (análise das circunstâncias previstas nos art.os 28.°, 29.°, 31.° e 32.° do ED), deter-minação das importâncias que haja a repor (de referência obrigatória na acusação), proposta de pena adequada, ou proposta de arquivamento do processo.

O relatório final é enviado, no prazo de 24 horas, à entidade que instaurou o processo, que se não for competente para a aplicação da pena proposta, remeterá os autos a quem dete-nha essa competência disciplinar.

Proposta de estrutura de organização do relatório final Segue-se a proposta de uma estrutura de organização do relatório:

1. Introdução: origem do processo (auto, queixa, averiguações, inquérito, etc.), despachos de instauração e nomeação, diligências de prova e outras indicações que se entende-rem pertinentes, ou seja, necessárias para suporte da decisão que vier a ser produzida, sendo de evitar a descrição de pormenores inúteis;

2. Da acusação e resposta: reprodução da nota de culpa na parte pertinente, ou seja, indi-cação dos factos delituosos dados como provados, seu enquadramento jurídico-disciplinar, com indicação das circunstâncias atenuantes e agravantes e entidade com-petente para aplicação da pena. Indicação dos argumentos da defesa;

3. Análise da defesa: resposta aos argumentos da defesa, aceitando-os ou refutando-os, mas sempre de forma fundamentada;

4. Dos factos provados e circunstâncias atenuantes e agravantes: fixação da matéria delituosa após o contraditório, indicando-se quais os factos que se consideram prova-dos e as circunstâncias que possam ter atenuado ou agravado a responsabilidade dis-ciplinar;

5. Do direito aplicável: enquadramento jurídico-disciplinar dos factos provados;

6. Proposta: identificação do(a) arguido(a) – nome, local de trabalho e categoria – pena a aplicar e entidade competente para o efeito.

Mas tudo isto deve ser feito com clareza na exposição, ordenação lógica da matéria relatada evitando descrições pormenorizadas e inúteis de diligências, interrupções e justificações, evitando-se o método do resumo de depoimentos, ou seja, a quase transcrição dos depoi-mentos prestados pelas testemunhas. E, finalmente, indicar as folhas do processo onde vêm os factos descritos.

Relevância disciplinar do comportamento do arguido posterior aos factos acusatórios

No que respeita à pena a aplicar, pode, nalguns casos, em nome de princípios (como o da justiça, da oportunidade e conveniência, da boa administração e dos próprios fins visa-dos pela acção disciplinar), que essencialmente são relativos ao rápido restabelecimento da normalidade e eficiência dos serviços públicos perturbados com a prática da infracção disci-plinar, fazer sentido que o comportamento do arguido posterior aos factos, claramente indi-ciador de uma vontade de correcção dos aspectos negativos da sua conduta anterior, deva pesar na proposta final.

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A instrução deve ser muito rigorosa, no sentido de que deve o instrutor olhar os factos acu-satórios, já não cristalizados no tempo, imunes na sua apreciação a qualquer alteração, mas consubstanciando estes uma fase, ou se quisermos, uma fotografia instantânea, de uma relação jurídico-administrativa que se estabelece, em virtude da sua existência, entre a Administração e o particular. Relação jurídico-administrativa que tem um passado e um futuro, não podendo, pois, o instrutor alhear-se na sua instrução quer da necessidade de se irem fechando todas as portas por onde possam ser carreados para o processo, já após a decisão final, elementos perturbadores da instrução realizada, quase num juízo de progno-se, de antevisão, do que poderá vir a ser a defesa hierárquica/contenciosa do arguido, quer de condutas posteriores aos factos que devam ser ponderadas no seu juízo final.

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Decisão

Decisão do processo disciplinar. Prazos

O art.º 66.º do Estatuto Disciplinar refere-se à decisão do processo. Concluído o proces-so, este será remetido à entidade competente para punir o arguido, que depois de o anali-sar, pode ou não concordar com a proposta formulada pelo instrutor. Se concordar, diz a lei, na alínea a) do n.º 4 deste artigo, que deve decidir o processo no prazo máximo de 30 dias a contar da sua recepção. Se tiver ordenado a realização de novas diligências, por despacho que deve ser proferido dentro do prazo máximo de 30 dias a contar da recepção do proces-so, deve decidir o processo nos 30 dias seguintes ao termo do prazo (livre) que tiver marca-do para a realização destas diligências. E se tiver solicitado ou determinado, igualmente por despacho que deve ser emitido no prazo de 30 dias a contar da recepção do processo, a emissão de parecer, em 10 dias, por parte do superior hierárquico do arguido ou de serviços vocacionados para esta matéria, nomeadamente assessores jurídicos, deve decidir o pro-cesso nos 30 dias seguintes ao termo deste prazo fixado para a emissão do parecer.

Fundamentação da decisão do processo quando não concordante com a proposta do instrutor

Na base da regra do n.º 4 deste art.º 66.º do ED («a decisão do processo será sempre fun-damentada quando não concordante com a proposta formulada no relatório do instrutor»), está a presunção legal de que a adopção de uma decisão punitiva concordante com a pena proposta no relatório final do instrutor assume a respectiva fundamentação. É por isso que é inatacável, por falta de fundamentação, a decisão punitiva que se limite a concordar com a proposta formulada pelo instrutor. É que este despacho expresso de concordância da autoridade competente com a proposta formulada no relatório final do instrutor, contém implícita a perfilhação dos pressupostos dessa proposta e dos motivos de que ela é conse-quência. Dito de outro modo: no despacho de «concordo» estão integradas as razões de fac-to e de direito, constantes do relatório final, pelas quais a Administração deve decidir, no caso concreto, no sentido proposto pelo instrutor.

Notificação da decisão do processo disciplinar. Conteúdo da notificação

A decisão disciplinar deve ser notificada ao arguido nos termos do art.º 69.º do ED. Nes-ta matéria, para além de se dizer que a notificação desta decisão disciplinar ao arguido segue os moldes do disposto no art.º 59.º do ED – ou seja, os termos previstos para a notifi-cação ao arguido da nota de culpa [o que quer dizer que deve seguir a preferência aí esta-belecida pelo legislador (pessoal – pessoal docente e pessoal não docente; por carta regis-tada com aviso de recepção – pessoal docente e pessoal não docente e por anúncio publi-cado em Diário da República) – e que deve esta decisão ser também do conhecimento do instrutor e do participante, quando este assim o requeira, e que pode ser protelada a notifi-cação desta decisão ao arguido, por um máximo de 30 dias, por decisão da entidade compe-tente, se para tal houver conveniência do serviço, é também importante saber o que deve conter tal notificação (art.º 68.º do Código do Procedimento Administrativo):

a) O texto integral do acto administrativo: não só o despacho punitivo em si, que aplica a pena, mas também a fundamentação de facto e de direito em que se apoiou (normalmente todo o relatório final do processo disciplinar, por vezes acompanhado de parecer jurídico que procedeu à sua apreciação e onde por normal está exarada a deci-são final);

b) A data da prática do acto, a indicação do seu autor e a identificação do procedimento administrativo em que foi produzido;

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

c) O órgão competente para apreciar a impugnação administrativa do acto e o prazo para o efeito.

Início de produção de efeitos das penas No que respeita ao art.º 70.º do ED, relativo ao início da produção de efeitos das penas,

trata-se de matéria já abordada, por exemplo, em matéria de reincidência, sendo de reter que as penas produzem os seus efeitos no dia seguinte ao da notificação do arguido, ou, não sendo esta possível, 15 dias após a publicação do aviso em Diário da República.

O processo (especial) por falta de assiduidade. Paradeiro desconhe-cido do arguido

Diz-se no n.º 1 do art.º 71.º do ED, relativo à infracção falta de assiduidade, que «sempre que um funcionário ou agente deixe de comparecer ao serviço durante 5 dias seguidos ou 10 dias interpolados sem justificação, será pelo imediato superior hierárquico levantado auto por falta de assiduidade». Prevendo-se no art.º 72.º do ED, nos n.ºs 2 e seguintes, um processo para a tramitação desta falta de assiduidade, parecendo existir neste Estatuto dois tipos de processos distintos para esta matéria: um processo comum para a falta de assiduidade da alínea h) do n.º 2 do art.º 26.º do ED e outro, especial, o do art.º 72.º do ED.

A questão é esta: em face de uma falta de assiduidade – 5 dias seguidos ou 10 dias interpo-lados, no mesmo ano civil – qual o normativo aplicável: a norma da alínea h) do n.º 2 do art.º 26.º do ED, com processo disciplinar comum, ou os n.ºs 2 e seguintes do art.º 72.º do ED, com processo disciplinar especial?

Vejamos o que é que diz o n.º 1 do art.º 72.º do ED: que o auto por falta de assiduidade ser-ve de base ao processo disciplinar que segue a tramitação do processo comum estabelecido no ED. É esta a regra geral. Então qual é a especialidade deste art.º 72.º em matéria de falta de assiduidade, ou seja, em que é que ele se afasta da falta de assiduidade prevista no art.º 26.º do ED, punível com a pena de aposentação compulsiva ou demissão?

Essa especialidade consta dos n.os 2 e seguintes do art.º 72.º do ED. Sendo desconhecido o paradeiro do arguido, no termo do prazo da notificação, para defesa (entre 30 a 60 dias, con-forme n.º 2 do art.º 59.º do ED), em aviso no Diário da República, será logo o processo reme-tido, sem outra tramitação, para decisão da entidade competente. Sendo a pena aplicável a de demissão, caso a prova mostre que a falta de assiduidade constitui infracção disciplinar (n.º 3). Demissão que é notificada por aviso ao arguido, caso o seu paradeiro continue a ser desconhecido, abrindo-se aqui um prazo máximo de 60 dias para o arguido impugnar tal decisão ou requerer a reabertura do processo (n.º 4). Se assim não fizer a decisão é intocável e será executada. Mas se nesse prazo máximo de 60 dias vier a ser conhecido o paradeiro do arguido, então será este de novo notificado (2.ª notificação) da demissão, para que dela possa recorrer ou requerer a abertura do processo no prazo de 30 dias. Nos casos em que o arguido venha a requerer a reabertura do processo, parece ser de notificar o interessado da nota de culpa, seguindo-se toda a tramitação ulterior até final, para garantia dos direitos de audiência e defesa do arguido. Se assim não fizer, consolida-se igualmente na ordem jurídica.

A este respeito a Procuradoria-Geral da República (PGR), no seu parecer n.º 143/8550, veio esclarecer que o processo por falta de assiduidade só é efectivamente um processo especial quando for desconhecido o paradeiro do arguido, pois, não acontecendo essa hipótese, a tramitação a seguir será a do processo disciplinar comum, conforme n.º 1 do preceito. Devendo, assim, entender-se o n.º 3 como referenciado ao n.º 2 e, portanto, esta demissão tem sempre como pressuposto o paradeiro desconhecido do arguido, não devendo este n.º 3

50 Parecer n.º 143/85, de 20-11-86, da PGR: «4. [...] se tiver sido levantado auto por falta de assiduidade nos termos do n.º 1 do art.º 71.º do ED, a pena a aplicar será a de demissão, se se mostrar constituída infracção disciplinar, em face da prova produzida, e se o paradeiro do arguido for desconhecido [...]».

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CONTAGEM DE PRAZOS

REGRA GERAL

CÓDIGO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO (Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442/91 de 15 de Novembro,

com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 6/96 de 31 de Janeiro)

Art.º 72.º

Contagem de prazos 1 – À contagem dos prazos são aplicáveis as seguintes regras:

a) Não se inclui na contagem o dia em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr;

b) O prazo começa a correr independentemente de quaisquer formalidades e suspende-se nos sábados, domingos e feriados;

c) O termo do prazo que caia em dia em que o serviço perante o qual deva ser praticado o acto não esteja aberto ao público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil seguinte.

2 – Na contagem dos prazos legalmente fixados em mais de seis meses incluem-se os sábados, domingos e feriados.

PRAZOS APLICÁVEIS AO PROCEDIMENTO DISCIPLINAR

I – DA INSTRUÇÃO (art.º 45.º do Estatuto Disciplinar)

A contar da data da notificação ao Instrutor do despacho que mandou instaurar o processo disciplinar:

10 dias – Prazo máximo para o início da instrução;

45 dias – Prazo para a ultimação da instrução, que pode ser eventualmente prorrogado atenta a complexidade do processo.

II – DO ARQUIVAMENTO (art.º 57.º do Estatuto Disciplinar)

5 dias a contar da última diligência instrutória.

III – DA ACUSAÇÃO (art.os 57.º e 58.º do Estatuto Disciplinar)

10 dias a contar do termo da instrução;

48 horas no caso de infracção directamente constatada e sem diligências de instrução.

IV – DA DEFESA (art.º 59.º do Estatuto Disciplinar)

Entre 10 e 20 dias – no caso de notificação pessoal ao arguido ou por carta registada com aviso de recepção;

Entre 30 a 60 dias – no caso de impossibilidade de notificação pessoal, com publicação de aviso no Diário da República;

ser tomado autonomamente. Pois sabemos que, se fosse tomado autonomamente, violaría-mos a previsão do art.º 26.º do ED, que manda aplicar à falta de assiduidade quer a pena de aposentação compulsiva quer a demissão.

Aplicação do Código do Procedimento Administrativo ao ED em matéria de prazos, notificações e fundamentação da decisão disci-plinar

Segue-se uma síntese em matéria de aplicação do CPA ao ED no que respeita à conta-gem dos prazos, às notificações e aos requisitos e dever de fundamentação das decisões disciplinares.

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

III – DA ACUSAÇÃO (art.os 57.º e 58.º do Estatuto Disciplinar)

10 dias a contar do termo da instrução;

48 horas no caso de infracção directamente constatada e sem diligências de instrução.

IV – DA DEFESA (art.º 59.º do Estatuto Disciplinar)

Entre 10 e 20 dias – no caso de notificação pessoal ao arguido ou por carta registada com aviso de recepção;

Entre 30 a 60 dias – no caso de impossibilidade de notificação pessoal, com publicação de aviso no Dário da República;

Até 60 dias - no caso de complexidade do processo e depois de autorização da entidade que o mandou instaurar.

V - DO RELATÓRIO FINAL (art.º 65.º do Estatuto Disciplinar)

5 dias a contar do termo da instrução do processo

VI - DA DECISÃO (art.º 66.º do Estatuto Disciplinar)

Concordância com o relatório do instrutor - 30 dias para proferir a decisão a contar da data da recepção do processo;

Não concordância com o relatório do instrutor, com necessidade de realização prévia de novas diligências - 30 dias para proferir o despacho que ordena as novas diligências e 30 dias para proferir a decisão final a contar do termo fixado para as novas diligências.

NOTIFICAÇÕES

REGRA GERAL

Art.º 68.º Conteúdo da notificação

1 – Da notificação devem constar:

a) O texto integral do acto administrativo;

b) A identificação do procedimento administrativo, incluindo a indicação do autor do acto e a data deste;

c) O órgão competente para apreciar a impugnação do acto e o prazo para este efeito, no caso de o acto não ser susceptível de recurso contencioso;

2 – O texto integral do acto pode ser substituído pela indicação resumida do seu conteúdo e objecto, quando o acto tiver deferido inteiramente a pretensão formulada pelo interessado ou respeite à prática de diligências processuais.

DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO

REGRA GERAL

Art.º 124.º Dever de fundamentação

1 – Para além dos casos em que a lei especialmente o exija, devem ser fundamentados os actos administrativos que, total ou parcialmente:

a) Neguem, extingam, restrinjam ou afectem por qualquer modo direitos ou interesses legalmente protegidos, ou imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

b) Decidam reclamação ou recurso;

c) Decidam em contrário de pretensão ou oposição formulada por interessado, ou de parecer, informação ou proposta oficial;

d) Decidam de modo diferente da prática habitualmente seguida na resolução de casos semelhantes, ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos legais;

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e) Impliquem revogação, modificação ou suspensão de acto administrativo anterior.

2 – Salvo disposição da lei em contrário, não carecem de ser fundamentados os actos de homologação de deliberações tomadas por júris, bem como as ordens dadas pelos superiores hierárquicos aos seus subalternos em matéria de serviço e com a forma legal.

Art.º 125.º

Requisitos da fundamentação

1 – A fundamentação deve ser expressa, através de sucinta exposição dos fundamentos de facto e de direito da decisão, podendo consistir em mera declaração de concordância com os fundamentos de anteriores pareceres, informações ou propostas, que constituirão neste caso parte integrante do respectivo acto.

2 – Equivale à falta de fundamentação a adopção de fundamentos que, por obscuridade, contradição ou insuficiência, não esclareçam concretamente a motivação do acto.

3 – Na resolução de assuntos da mesma natureza, pode utilizar-se qualquer meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que tal não envolva diminuição das garantias dos interessados.

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Impugnação

Impugnação hierárquica e contenciosa da decisão disciplinar. Actos passíveis de recurso hierárquico. Prazos. Legitimidade para o recurso

Decidido o processo disciplinar, o acto punitivo final pode ser objecto de impugnação quer hierárquica quer contenciosa. É isto que nos dizem os art.os 73.º e 74.º do Estatuto Dis-ciplinar. Têm legitimidade para interpor recurso hierárquico o arguido e o participante, nos termos do n.º 1 do art.º 75.º do ED, sendo que, no caso deste último, deverá requerer a sua notificação da decisão, nos termos do n.º 2 do artigo 69.º do ED.

Os actos passíveis de recurso hierárquico são:

Despachos que não sejam de mero expediente proferidos pelos superiores hierárquicos, nos termos do artigo 16.º do ED, como se refere neste mesmo n.º 1 do art.º 75.º do ED;

Despacho que indefira o requerimento de quaisquer diligências probatórias – n.º 3 do art.º 42.º do ED;

Despacho que não admita a dedução da suspeição do instrutor ou não aceite os fundamen-tos invocados – n.º 2 do art.º 52.º do ED.

Os prazos para interposição do recurso hierárquico são os seguintes:

Pelo arguido:

a) 10 dias se for notificado pessoalmente ou por via postal e 20 dias se a notificação for efectuada por aviso publicado no Diário da República;

b) 5 dias após a notificação do despacho que indefira o requerimento de quaisquer dili-gências probatórias;

c) 10 dias após a notificação do despacho que não admita a dedução da suspeição do ins-trutor ou não aceite os fundamentos invocados.

Pelo participante: 10 dias após a notificação da decisão, que terá de ser requerida, nos ter-mos do n.º 2 do art.º 69.º do ED.

O recurso é interposto perante o membro do Governo competente (n.º 3 do art.º 75.º do ED). Contudo, o requerimento de interposição do recurso pode ser apresentado perante o autor do acto (que neste caso deverá proceder nos termos do art.º 77.º do Código do Procedimento Administrativo51 ou perante a autoridade a quem seja dirigido – art.º 169.º do CPA52.

Efeito suspensivo do recurso hierárquico. Proibição da reformatio in pejus

A interposição de recurso suspende a execução da decisão condenatória e devolve ao membro do Governo a competência para decidir definitivamente, podendo manter, diminuir ou anular a pena. A agravação da pena só pode verificar-se no caso de o recurso ser inter-posto pelo participante (n.os 6 e 7 do art.º 75.º do ED). É a chamada reformatio in pejus, que impede que em recurso interposto pelo próprio arguido, este possa ver a sua responsabili-dade disciplinar agravada.

51 CPA, art.º 77.º: «[...] 4. Os requerimentos apresentados nos termos previstos nos números anteriores são remetidos aos órgãos competentes pelo registo do correio e no prazo de três dias após o seu recebimento, com a indicação da data em que este se verificou».

52 CPA, art.º 169.º: «[...] 3. O requerimento de interposição do recurso pode ser apresentado ao autor do acto ou à autoridade a quem seja dirigido»

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Regime de subida dos recursos (com a decisão final ou imediatamente nos próprios autos)

As decisões que não ponham termo ao processo só subirão com a decisão final, se dela se recorrer (n.º 1 do art.º 77.º do ED). Contudo, sobem imediatamente e nos próprios autos, de modo geral, os recursos que, ficando retidos, percam por esse facto o seu efeito útil (n.º 2 do art.º 77.º do ED). Bem como os recursos de despacho que não admita a dedução da sus-peição do instrutor ou não aceitem os fundamentos invocados (n.º 3 do art.º 77.º do ED). E do despacho que indefira o requerimento de quaisquer diligências probatórias (n.º 4 do art.º 42.º do ED).

A revisão do processo disciplinar. Requisitos. Prazo para decisão. Legitimidade para o pedido

A revisão dos processos disciplinares é admitida a todo o tempo, quando se verifiquem circunstâncias ou meios de prova susceptíveis de demonstrar a inexistência dos factos que determinaram a condenação e que não pudessem ter sido utilizados pelo arguido no pro-cesso disciplinar (n.º 1 do art.º 78.º do ED). Pelo que a revisão se apresenta como um expe-diente diferente do recurso, permitindo que, em qualquer altura, o interessado provoque a revogação ou alteração da decisão proferida com base na injustiça da condenação.

Mas esta forma de questionar a sanção aplicada, que se apresenta como um meio excepcio-nal, ou extraordinário, e que se traduz num desvio à regra da estabilidade das decisões administrativas de que não pode já recorrer-se, tem que estar sujeita a um apertado condi-cionalismo que se encontra previsto no já citado art.º 78.º do ED. A revisão de um processo disciplinar tem de se fundamentar em circunstâncias ou meios de prova que o arguido não tenha podido utilizar no processo disciplinar e que possam demonstrar a inexistência dos factos determinantes da condenação.

Não é este o caso, se o arguido, já após ter sido punido, pretender entregar, para este efeito, atestado médico, arrolar testemunha de defesa ou juntar documentos, quando tudo lhe estava acessível no decurso do processo. Na verdade, o que se verifica é que, geralmente, não é feita qualquer demonstração de que estes meios de prova não pudessem ter sido por ele oferecidos, como meio de defesa, no processo disciplinar, e na devida oportunidade. Como não colocam os mesmos, normalmente, em causa a existência dos próprios factos que determinaram a condenação, requisitos essenciais à concessão da revisão.

O que normalmente acontece é que o arguido, ora requerente, é pessoalmente notificado da nota de culpa e apresenta tempestivamente a sua defesa, dando a sua versão dos factos, relativamente aos diversos pontos da acusação, sem que venha referir ou juntar, podendo tê-lo feito, estes meios de prova, facto da sua exclusiva responsabilidade. O que não pode é, passados por vezes alguns meses ou anos, vir, desta forma, tentar demonstrar, só agora, que à data dos factos, devia ter sido considerado inocente.

A revisão pode conduzir à revogação ou alteração da decisão, mas nunca à sua agravação. É a proibição da reformatio in pejus. A legitimidade para o pedido de revisão, através de requerimento dirigido a quem aplicou a pena, pertence ao arguido ou ao seu representante legal, devendo-se indicar todas as circunstâncias ou meios de prova novos que justifiquem a sua alegação de inocência (art.º 79.º do ED). O pedido deve ser decidido em 30 dias, admi-tindo impugnação contenciosa (art.º 80.º do ED).

Tramitação do processo de revisão

Se for concedida, o processo de revisão é apenso ao processo disciplinar, com nomeação de novo instrutor, com prazo de defesa da acusação anteriormente formulada entre 10 a 20 dias, seguindo-se a restante tramitação até ao final, sendo certo que a concessão da revisão não vai suspender a execução da pena, continuando o arguido em cumprimento de pena até nova decisão do processo disciplinar a rever.

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Efeitos da revisão procedente

Se a revisão vier a ser julgada procedente, pode a decisão disciplinar ser:

a) revogada, caso em que há:

1) cancelamento da pena aplicada;

2) com anulação dos seus efeitos;

3) contagem da antiguidade;

4) garantia de provimento, em caso de pena expulsiva, em lugar de categoria igual ou equivalente ou à primeira vaga que ocorrer na categoria correspondente;

5) com reconstituição da carreira, nomeadamente promoções que não dependam de avaliação;

6) direito a uma indemnização por danos.

b) alterada, caso em que há:

1) substituição da pena aplicada;

2) garantia de provimento, em caso de pena expulsiva;

3) reconstituição da carreira;

4) contagem de antiguidade;

5) indemnização por danos.

A reabilitação. Legitimidade para o pedido. Competência para a sua decisão

No que respeita à reabilitação do art.º 84.º, consiste na declaração de cessação de certas incapacidades e efeitos resultantes da condenação, em razão do comportamento entretanto demonstrado pelo infractor. Quem tem legitimidade para a requerer é o próprio interessado ou o seu representante. A entidade competente para conceder a reabilitação é a entidade com poderes para aplicação da pena.

Prazos para requerer a reabilitação A reabilitação só pode ser requerida decorridos os seguintes prazos, após a aplicação ou

cumprimento da pena:

Repreensão escrita – 1 ano Multa – 2 anos Suspensão – 3 anos Comissão de serviço – 3 anos Inactividade – 5 anos Aposentação compulsiva – 6 anos Demissão – 6 anos

A boa conduta como fundamento da concessão da reabilitação

A reabilitação só será concedida a quem a tenha merecido pela sua boa conduta. É ao requerente que cabe o ónus da prova desta boa conduta. Não basta, para a concessão da reabilitação a prova do normal cumprimento, por parte do funcionário ou agente, das suas obrigações funcionais. É necessário provar-se, sem margem para dúvidas, uma inflexão segura no seu comportamento anterior que permita concluir, em função de critérios de ava-liação do homem médio, que o sancionado retomou uma situação de cumprimento normal dos seus deveres profissionais.

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Os efeitos da concessão da reabilitação

Os efeitos para o arguido condenado em processo disciplinar da concessão da reabilita-ção são a cessação das incapacidades resultantes da condenação e dos demais efeitos ain-da subsistentes e o registo da reabilitação no processo individual do arguido. Tenha-se, porém, em atenção que a concessão da reabilitação não atribui ao indivíduo a quem tenha sido aplicada a pena de aposentação compulsiva ou demissão o direito de reocupar um lugar ou cargo na Administração sendo considerado, para todos os efeitos legais, como não vinculado à função pública.

Requerida pelo interessado a reabilitação, é necessário comprovar, por qualquer dos meios legais permitidos, a boa conduta dos interessados. Para este efeito, deve ser instaurado processo de averiguações (e nomeado instrutor para o efeito) o qual segue a tramitação deste tipo de processo.

Os processos de inquérito e sindicância Os processos de inquérito e sindicância são abordados nos art.os 85.º a 87.º do ED. O

inquérito visa apurar factos determinados relativamente ao procedimento de funcionários. Vai apurar se houve ou não infracção disciplinar, qual a sua dimensão e autoria. É usado nos casos em que se apontam certas irregularidades que surgem com uma aparência disci-plinar, sendo precisamente esse o objecto do inquérito, ou seja, a investigação de factos eventualmente irregulares e quais as pessoas que os praticaram. Dito desta forma, poder-se-á dizer que esse é também o objecto das averiguações. Não deixa de ser verdade. E é por isso que muitos dos inquéritos instaurados têm na base relatórios de prévios processos de averiguações. O que se passa é que, tendo as averiguações uma tramitação muito rápida e simplificada, a complexidade da matéria a investigar exige muitas vezes um processo que tenha uma instrução mais adequada, como seja o inquérito. A sindicância, por sua vez, já tem por objecto a averiguação geral do funcionamento de um serviço.

Relatório final dos processos de inquérito e sindicância. Prazos. Sua convolação na fase de instrução do processo disciplinar. Prazo para a acusação

Concluídos estes processos, fará o instrutor um relatório no prazo de 10 dias que remete-rá à entidade que o mandou instaurar. E se for instaurado processo disciplinar, pode esta entidade convolar o inquérito na fase instrutória do processo disciplinar, devendo, neste caso, o instrutor deduzir a sua peça acusatória no prazo de 48 horas, conforme parte final do art.º 58.º do ED.

Porém, já se tem afirmado, com o que não estamos de acordo pelas razões a seguir enuncia-das, que pode o instrutor, nestes casos de convolação, entender que só está vinculado a elaborar a peça acusatória no prazo de 48 horas se porventura não quiser desenvolver pre-viamente à acusação outras diligências instrutórias, de acordo com o disposto no art.º 58.º do ED. É que, tratando-se da conversão de um inquérito na instrução de processo discipli-nar, o art.º 58.º do ED, permitindo a realização de novas diligências («[...] e nenhumas dili-gências tiverem sido ordenadas ou requeridas [...]»), autoriza que a peça acusatória seja ela-borada só após o termo destas diligências e no prazo, após esta data, de 10 dias previsto no n.º 2 do art.º 57.º do ED. Nesta linha, nem pode ser de outro modo, pois se a lei confere ao instrutor, finda a investigação, um prazo de 10 dias para deduzir a acusação nos processos em que é sua a instrução (n.º 2 do art.º 57.º do ED), tendo dos factos um total controlo e conhecimento, mal se entenderia que, na situação em que pode desconhecer em absoluto a instrução dos processos, por não ter sido o inquiridor, tivesse apenas um prazo de 48 horas após a recepção do inquérito que passou a constituir a sua fase instrutória.

Mas sem razão. Dispõe o n.º 4 do art.º 85.º do ED que o processo de inquérito pode consti-tuir, mediante decisão da entidade competente, a fase de instrução do processo disciplinar, deduzindo o instrutor a acusação ao arguido e seguindo os demais termos do processo dis-

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ciplinar até final. Está o preceito a pressupor que, proferida tal decisão, não há necessidade de nomeação de um novo instrutor, passando o inquiridor a assumir essa competência, pois com a conversão do inquérito na instrução de processo disciplinar tudo se passa como se este tivesse sido efectivamente instaurado à data do inquérito.

Mas caso o instrutor destes processos disciplinares seja pessoa diferente do inquiridor – se bem que não deva ser esta a regra geral – o que é incontornável é que à data da sua nomea-ção já se encontra encerrada, por efeito da convolação, a fase da instrução. Quer isto dizer, ainda, que com o despacho de nomeação do novo instrutor, fica este investido do poder de realizar actos de instrução posteriores à conclusão da instrução (nota de culpa e tramitação até final), e não para a realização de mais investigação no âmbito de uma fase processual já ultrapassada e encerrada por despacho da entidade competente.

Tal não significa, porém, que se não reconheça pertinência à argumentação de quantos referem que sendo o fim último de qualquer processo disciplinar a descoberta da verdade material, deva ser reconhecida ao instrutor competência para poder, mesmo nas situações de dispensa de mais instrução, ajuizar sobre a suficiência ou correcção da matéria probató-ria recolhida no inquérito, afinal a base da acusação que este novo instrutor agora deve for-mular. É claro que assim deve ser, pois se bem que nomeado instrutor dos processos disci-plinares após despacho superior de encerramento (ou dispensa) da fase de instrução, o novo instrutor, que não foi o inquiridor, e a quem deve competir a elaboração da nota de culpa, não pode, mesmo numa fase posterior à conclusão da instrução, ter sobre esta uma posição acrítica. O instrutor pode e deve formular sobre a instrução os juízos que entender necessários para respeito do alegado princípio da verdade material, podendo daqui resultar a necessidade de realização de mais instrução prévia à acusação, o que se aceita.

Mas o que não pode esquecer-se é que o instrutor foi nomeado para instruir um processo disciplinar no âmbito do qual já foi formulado pela entidade com competência disciplinar, um juízo prévio sobre a suficiência e correcção da instrução realizada no inquérito para efei-tos disciplinares. Pelo que a efectivação de mais actos instrutórios anteriores à elaboração da nota de culpa, julgados pelo (novo) instrutor necessários, não deve ocorrer apenas por sua iniciativa e sem qualquer prévia autorização superior que lhe venha reconhecer ou con-ferir esta competência instrutória inicial. Só, pois, em face de um prévio despacho de autori-zação superior, está o instrutor desobrigado a dar imediata execução ao comando normati-vo inserto no n.º 4 do art.º 87.º do ED («[...] deduzindo [...]»), de carácter vincadamente impe-rativo, e não de mera autorização, não dependente, pois, de uma opção do instrutor.

O mesmo é dizer que inexiste nestes casos uma discricionariedade de acção ou de decisão por parte do instrutor, ou, ainda, que a conexão estabelecida entre a hipótese e a estatuição desta norma (n.º 4 do art.º 87.º do ED) não é de natureza facultativa, mas sim de causa-efeito, de dever-ser. É que o despacho de conversão do inquérito na instrução do processo disciplinar, sem despacho posterior da mesma entidade que o venha alterar, é a única deci-são juridicamente relevante sobre aquilo que constitui o objecto destes processos discipli-nares, pois é a autoridade disciplinar e não o instrutor quem determina o âmbito da compe-tência ou do poder disciplinar que aí se exerce, que ele aí quer exercido.

Nem estas novas diligências, sem despacho superior de autorização, podem encontrar fun-damento legal, como pretendem alguns, no disposto no art.º 58.º do ED, por remissão do n.º 4 do art.º 87.º do mesmo Estatuto, pois tal remissão é feita apenas por razões de elaboração (e prazos) da acusação («[...] deduzindo o instrutor, nos termos e dentro do prazo referido na parte final do artigo 58.º, a acusação [...]»), e não em matéria de instrução. Aliás, expressão esta idêntica à utilizada no art.º 58.º do ED, na remissão que faz para o n.º 2 do art.º 57.º do ED, claramente referida, também, e apenas, à peça acusatória. Tal significa que a remissão do n.º 4 do art.º 87.º do ED não serve para autorizar o instrutor a ordenar novas diligências instrutórias no âmbito destes processos. É certo que esta expressão «[...] e nenhumas dili-gências tiverem sido ordenadas [...]» está contida no art.º 58.º do ED. Mas só ganha sentido ou utilidade quando referida a um processo disciplinar com base em auto de notícia, confor-me sua epígrafe. É que em processos disciplinares instaurados com base em auto de notí-cia, compete ao instrutor, logo no início da sua instrução, decidir pela suficiência do auto

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como base instrutória do processo, podendo ordenar novas diligências prévias à elaboração da nota de culpa. No caso da convolação do inquérito é tudo diferente. A instrução está completa, finda e resultou da conversão do inquérito na fase de instrução dos processos, tendo sido, pois, julgada suficiente, com dispensa de mais instrução, pela entidade compe-tente. Qualquer alteração a este juízo disciplinar da entidade competente, englobando as diligências efectuadas após a convolação pelo instrutor, só ganha relevância instrutória dis-ciplinar desde que submetida previamente à sua apreciação e decisão ou ratificada a final.

O processo de averiguações. Início e termo da instrução. Prazo para elaboração do relatório final

O processo de averiguações está previsto no art.º 88.º do ED. É um processo de investi-gação sumário, isto é, inicia-se, desenrola-se e conclui-se em prazos muito curtos. Pretende-se recolher dados para uma qualificação de eventuais faltas ou irregularidades verificadas no funcionamento dos serviços (art.º 85.º n.º 5 do ED). Trata-se de um processo mais expe-dito e menos solene para situações ainda não definidas nem suficientemente demarcadas.

As entidades previstas no n.º 5 do art.º 85.º do ED são todas elas competentes para mandar instaurar processo de averiguações: desde funcionários investidos em funções de chefia ou direcção, passando pelos órgãos executivos, directores-gerais ou equiparados e chegando até ao Governo.

As averiguações iniciam-se no prazo de 24 horas a contar da notificação ao instrutor (o qual é nomeado nos termos do art.º 51.º, como no processo disciplinar), e deve concluir-se no prazo improrrogável de 10 dias a contar da data em que se tiver iniciado.

O relatório final deve ser elaborado no prazo de três dias a contar do termo daquele prazo, onde o instrutor pode propor (art.º 88.º do ED):

a) arquivamento do processo (se considerar que não há lugar a procedimento discipli-nar);

b) instauração de processo de inquérito (se constatar a existência de infracção mas não estiver determinado o seu autor);

c) instauração imediata de processo disciplinar.

Disposições finais (multas, pagamento voluntário e execução fiscal) As disposições finais que mais nos interessam são os art.os 89.º (destino das multas), 91.º

(não pagamento voluntário) e 92.º (execução), todos do ED. De referir, que estas receitas do Estado – condenação em multa ou em qualquer outra importância que importe repor nos cofres do Estado – devem ser pagas voluntariamente pelos obrigados no prazo de 30 dias, findo o qual serão essas importâncias descontadas nos vencimentos, em prestações men-sais não superiores à sua quinta parte, ou, quando tal não for exequível, através do seu pagamento coercivo que segue os termos da execução fiscal, que terá por base a certidão do despacho condenatório.

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Identificação do processo

Aos dias do mês de de dois mil e sete, na (identificar o nome da escola), autuei

(identificar o despacho que ordenou a instauração do processo disciplinar, o despacho de nomeação do instrutor, o auto, a participação ou a queixa sobre o qual foi proferido aquele despacho, assim como todos os documentos entregues ao instrutor na data da sua nomeação) documentos que constituem fls. a fls. dos autos.

O Instrutor

Autuação

Auto de notícia Despacho de instauração

PROCESSO DISCIPLINAR

Arguido(a):

Escola:

Concelho:

Distrito:

Instrutor:

Aos dias do mês de do ano de dois mil e sete, na (nome da escola), (nome da entidade que levanta ou manda levantar o auto de notícia), presidente do conselho executivo, no exer-cício das funções do meu cargo, tomei conhecimento de que e (nome e categoria do funcionário visado), no exercício das suas funções (descrever os factos imputados).

Porque a conduta descrita constitui infracção disciplinar, levantei este auto nos termos do artigo 47.º do Estatuto Disciplinar aprovado pelo decreto-lei n.º 24/84, de 16/1, que vai ser assinado por mim e pelo (nome das testemunhas e do funcionário visado se este quiser assinar).

O Presidente do Conselho Executivo

A Testemunha

A Testemunha

O Funcionário visado

Aos dias do mês de de dois mil e sete, na (nome da escola) é por mim, (nome e cargo), instaurado um processo disciplinar ao funcionário (nome e categoria).

O Presidente do Conselho Executivo

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Ofício(s) de comunicação à IGE

Exemplo 1 (pessoal docente)*

* Nesta comunicação pode ser solicitado o apoio técnico-jurídico considerado necessário à IGE.

Exm.º Senhor Delegado Regional d da Inspecção-Geral da Educação

Assunto: Instauração de processo disciplinar (pessoal não docente)

Nos termos do n.º 4 do art.º 37.º do Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29-07, comunico a V. Ex.ª que, nesta data, instaurei um processo disciplinar ao funcionário (nome e categoria).

O Presidente do Conselho Executivo

Exemplo 2 (pessoal não docente)*

Aos dias do mês de de dois mil e sete na (nome da escola), (nome e cargo), nomeia instrutor do processo disciplinar instaurado ao funcionário (nome e categoria), (nome e cate-goria do instrutor).

O Presidente do Conselho Executivo

Despacho de nomeação do instrutor

Exm.º Senhor (nome do arguido, do partici-pante ou da entidade que nomeou o instrutor)

Assunto: Início de processo disciplinar

Nos termos do n.º 3 do art.º 45.º do Estatuto Disciplinar, comunico a V.ª Ex.ª que, nesta data, dei início ao processo disciplinar que lhe foi instaurado (ou que foi instaurado ao arguido F) por despacho do Sr. presidente do conselho executivo da escola/director regional de educação , datado de .

O Instrutor

Comunicação ao arguido, ao participante e à entidade que nomeou o

instrutor do início da instrução*

* A comunicação ao arguido deverá ser feita em correio re-gistado com aviso de recepção.

Exm.º Senhor Delegado Regional d da Inspecção-Geral da Educação

Assunto: Instauração de processo disciplinar (pessoal docente)

Nos termos do n.º 5 do art.º 115.º do Estatuto da Carreira Docente, comunico a V. Ex.ª que, nesta data, instaurei um processo disciplinar ao funcionário (nome e categoria).

O Presidente do Conselho Executivo

* Nesta comunicação pode ser solicitado o apoio técnico-jurídico considerado necessário à IGE.

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

Aos dias do mês de de dois mil e sete, encontrando-se presente o instrutor (nome), comigo (nome), nomeado secretário neste processo, perante ele prestei o competente compromisso de honra de bem e fielmente desempenhar as funções do meu cargo, designadamente guardar absoluto sigilo sobre tudo o que me for dado ver e ouvir no decurso das diligências deste processo disciplinar.

E por ser verdade e para constar lavrei este termo que vai ser assinado.

O Instrutor

O Secretário

Termo de compromisso de honra

Aos do mês de , de 2007, de harmonia com o despacho retro, apenso a estes autos o processo de inquérito (ou averiguações) n.º , constituído por volumes e folhas.

Data ___ / ___ / _______

O Instrutor (ou Secretário)

Termo de apensação*

Escolho secretário do presente processo disciplinar, F (categoria).

O Instrutor

Despachos – Exemplo 1

Nos termos n.º 1 do art.º 55.º, do E.D., solicite-se a (indicar a entidade) o “certificado do registo biográfico e disciplinar”, do arguido F .

O Instrutor

* Na capa do processo de inquérito (ou de averiguações) deve anotar-se «Apenso ao Processo disciplinar n.º .

Se a apensação for feita nos termos da art.º 48.º de ED, então a mesma deve ser feita nessa base.

Despachos – Exemplo 2

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Despachos – Exemplo 3

Encerre-se o presente volume e abra-se um novo que se (aos processos disciplinares ou a dar continuidade ao inquérito).

O Instrutor

Aos dias do mês de de dois mil e sete, na escola estando presente o instrutor , comigo , secretário deste processo, compareceu (nome, profissão e morada), que aos costumes disse (por exemplo: nada ou que é amigo/inimigo mas isso não o impede de dizer a verdade).

Perguntado à matéria da participação de fls. disse: .

Para depor indica as seguintes testemunhas: (nomes, profissões e moradas).

E mais não disse, pelo que lido e achado conforme, vai este auto ser assinado.

O Participante

O Instrutor

O Secretário

Auto de inquirição do participante*

* A propósito dos costumes consultar o art.º 635.º do Código do Processo Civil.

Aos dias do mês de de dois mil e sete, na escola ( nome) , es tando presente o instrutor (nome), comigo (nome), secretário neste processo, compareceu o arguido (o qual, se for caso disso, foi assistido pelo seu advogado).

Perguntado à matéria dos autos (ou sobre os factos que lhe são imputados) respondeu:

E mais não disse pelo que lido e achado com-forme vai o presente auto ser assinado.

O Arguido

O Instrutor

O Secretário

O Advogado (se for o caso)

Auto de declarações do arguido*

* O arguido goza do direito de não responder às pergun-tas feitas sobre os factos que lhe forem imputados e acerca do conteúdo de declarações que acerca deles prestar. Tem direito ao silêncio o qual não pode ser valorado como indício ou presunção de culpa. Assim, as falsas declarações do arguido (a respeito dos factos que lhe são imputados), prestadas em sua defesa, não são sancionáveis mesmo no foro disciplinar.

Exm.º Senhor

Assunto: Notificação de testemunha

Solicito a sua comparência no dia pelas horas, na escola a fim de depor como testemunha no processo disciplinar instaurado a (nome do arguido).

O Instrutor

Notificação de testemunha para depor

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

Auto de não comparência Auto de inquirição de testemunhas*

* A capacidade para depor como testemunha encontra-se estabelecida no art.º 131.º do Código do Processo Penal. Qualquer pessoa que se não encontrar interdita por anomalia psíquica tem capacidade para ser testemunha e só pode recusar-se nos casos previstos na lei. Do auto de inquirição deve constar a identificação e assinatura das pessoas que intervêm no acto. As folhas que não contiverem assinaturas devem ser rubricadas pelos que tiverem assinado. No caso de algum dos intervenientes não poder ou se recusar a assinar, deve ficar consignado no auto essa ocorrência e os motivos da mesma.

Aos dias do mês de de 2007, numa sala (escola, etc.), eu, , secretário deste processo disciplinar, encontrando-se presente o Instrutor, lavrei este auto para consignar que , devidamente notificado pelo ofício n.º , não compareceu para depor neste processo como testemunha, na data, hora e local que lhe foram comunicados .

Deste facto são testemunhas:

O(s) Funcionário(s) que testemunhou:

O Instrutor

O Secretário

2.ª TESTEMUNHA

(nome, profissão e morada), que aos costumes disse nada/ou . Perguntada à matéria dos autos disse:

E mais não disse. Lido o seu depoimento em voz alta, ratifica e vai assinar.

A testemunha

E não havendo mais testemunhas a ouvir no dia de hoje, encerra-se este auto que, depois de lido e achado conforme, vai ser devidamente assinado.

O Instrutor

O Secretário

Aos dias do mês de de dois mil e sete, na escola , estando presente o instrutor (nome), comigo, (nome) secretário, compareceram as testemunhas a seguir indicadas que vão depor neste processo.

Foram ouvidas, separadamente, da forma seguinte:

1.ª TESTEMUNHA

(nome, profissão e morada), que aos costumes disse (por exemplo: nada ou que é amigo/inimigo mas isso não o impede de dizer a verdade).

Perguntado à matéria dos autos disse:

E mais não disse. Lido o seu depoimento em voz alta, ratifica e vai assinar.

A testemunha

Auto de inquirição de testemunhas* Auto de acareação

Aos do mês de de 2007, numa sala da (escola, etc.) encontrando-se presente , instrutor deste processo, comigo, , secretário, compareceram e , já identificados nos autos, a fim de serem acareados visto serem contraditórios os seus depoimentos

Procedendo-se à acareação entre o primeiro e o segundo, ambos mantiveram as suas anteriores declarações, rectificaram-nas, etc. (por exemplo).

Para constar se lavrou este auto, que depois de lido e achado conforme vai ser assinado pelos acareados, pelo instrutor e por mim, secretário

A Testemunha

A Testemunha/arguido

O Instrutor

O Secretário

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Auto de exame

Aos dias do mês de de , na (escola, etc.), em , encontrando-se presente , Instrutor deste processo, comigo, , secretário, compareceram , com o Bilhete de Identidade n.º , passado pelo Arquivo de , Professor do Grupo do Quadro de Nomeação Definitiva da Escola, em , e , com o com o Bilhete de Identidade n.º , passado pelo Arquivo de , Professor do Grupo do Quadro de Nomeação Definitiva da Escola , em , para na qualidade de Peritos traçarem o programa e procederem ao exame nos termos do n.º 6 do art.º 55.º do Estatuto Disciplinar aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro.

Foi traçado o seguinte programa a executar pelo arguido, Professor , do Grupo, a exercer funções na Escola , em .

Auto de exame

Auto de exame Auto de diligências

Foi declarado pelos peritos não poderem desde logo pronunciar-se, pelo que lhes foi marcado o dia , de de , para apresentarem os seus relatórios escritos, rubricados e assinados, sobre as provas prestadas e a competência do Arguido.

Para constar se lavrou este auto que, depois de lido vai ser assinado.

Os Peritos

O Arguido

O Instrutor

O Secretário

Aos dias do mês de de 2007, numa sala da (Escola, etc.) onde se encontrava , Instrutor deste processo, comigo, , Secretário, compareceu a pessoa para este acto devidamente notificada e adiante identificada, que prestou declarações pela forma seguinte: . Declarou chamar-se , (categoria, estado civil), residente e ter tomado conhecimento da decisão de audição ao abrigo do artigo 38.º do Estatuto Disciplinar, com vista a eventual aplicação da pena de repreensão escrita, tendo por base a (s) seguinte (s) falta (s) que lhe é (são) imputada (s):

Lidos os direitos de defesa que lhe são conferidos pelo referido artigo 38.º, declarou:

– Querer produzir a sua defesa escrita e estar ciente de que, para o efeito, tem o prazo de 48 horas (ou)

– Não querer produzir defesa escrita

– Nem fazer quaisquer alegações sobre o (s) facto(s) imputado(s)

(Seguem-se exemplos de programas a executar)

Apresentar no dia de , de os planos das aulas a assistir, nas turmas e do ano , entre e d o mês de de ;

Proceder à elaboração de um teste sumativo e res-pectiva matriz na presença dos Peritos e do Instrutor do processo no dia de de , pelas horas, teste esse que será aplicado nas turmas e do ano, no dia de de .

Os Peritos irão ainda proceder à análise de cadernos diários de alunos de cada uma das turmas observadas.

Depois de prestarem o compromisso de honra de bem desempenharem as funções para que foram indicados por , os Peritos assistiram à comunicação ao Arguido pelo Instrutor do programa traçado, o qual foi aceite pelo mesmo.

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

Auto de diligências

– Mas sobre o(s) facto(s) imputado(s) alega (ou esclarece) o seguinte:

E nada mais havendo a tratar, dá-se como encerrado o presente Auto que, depois de lido e achado conforme, vai ser assinado.

O Declarante

O Instrutor

O Secretário

na qualidade de instrutor do processo disciplinar mandado instaurar por despacho do senhor e para o qual fui nomeado por despacho do senhor , datado de , deduzo, nos termos e ao abrigo dos art.os 57.º/2 e 59.º do Estatuto Disciplinar (ED), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, contra a seguinte acusação:

Artigo 1.º “ ”

Com este procedimento o arguido violou o(s) dever(es) geral(ais) de estabelecido (s) no art.º 3.º, n.o(s) , alínea(s) do ED, e ainda o(s) dever(es) específico(s)* (ou especiais) estabelecido(s) no(s) art.o(s) 10.º, 10.º-A, 10.º-B e 10.º-C, alínea(s) do Estatuto da Carreira Docente (ECD), na redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, com o que praticou a infracção prevista no art.º (art.os 22.º a 26.º do ED) e punida nos termos do mesmo artigo com a pena de .

Contra o arguido milita a circunstância agravante (premeditação, por exemplo), prevista na alínea do art.º 31.º do ED;

Nota de culpa (pessoal docente)

Nota de culpa (pessoal docente) Nota de culpa (pessoal docente)

* Outros deveres especiais dos docentes podem ser encon-trados em instrumentos legais avulsos, como é o caso, por exemplo, do disposto no art.º 22.º da Lei n.º 47/2006, de 28-08 ou na Lei n.º 30/2002, de 20-12.

constituído, consultar o processo e deduzir a defesa que entender, oferecendo a prova testemunhal e documental que julgar necessária, tudo nos termos dos art.os. 61.º, 62.º e 63.º do Estatuto Disciplinar.

O processo encontra-se à guarda de , onde pode ser consultado em qualquer dia útil e dentro das horas normais de expediente.

Data ____ / ____ / ________

O Instrutor

Artigo 2.º

“ ”

Os factos descritos, por violação dos dever(es) geral(ais) de , estabelecido(s) no art.º 3.º, n.o(s) , alínea(s) do ED, e ainda o(s) dever(es) específico(s) estabelecido(s) no(s) art.os 10.º, 10.º-A, 10.º-B e 10.º-C, alínea(s) do Estatuto da Carreira Docente (ECD), na redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, integram a previsão do art.º , n.º , alínea do ED, a que corresponde a pena de .

A favor do arguido milita a circunstância atenuante especial (por exemplo, a confissão espontânea) prevista na alínea do art.º 29.º do ED.

Contra o arguido militam ainda as circunstâncias agravantes da reincidência e de acumulação de infracções (se for caso disso).

A competência para aplicação da pena é do Senhor nos termos do art.º 116.º do Estatuto da Carreira Docente.

Fixo ao arguido o prazo de dias úteis a contar do dia útil seguinte àquele em que receber cópia desta acusação para, querendo, por si ou por advogado

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

na qualidade de instrutor do processo disciplinar mandado instaurar por despacho do senhor e para o qual fui nomeado por despacho do senhor , datado de , deduzo, nos termos e ao abrigo dos art.os 57.º/2 e 59.º do Estatuto Disciplinar (ED), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, contra a seguinte acusação:

Artigo 1.º.

“ ”

Com este procedimento o arguido violou o(s) dever(es) geral(ais) de estabelecido(s) no art.º 3.º, n. o(s) , alínea(s) do ED, e ainda o(s) dever(es) específico(s) (ou especiais) estabelecido(s) no art.º 4.º, alínea(s) do Estatuto do Pessoal Não Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho, com o que praticou a infracção prevista no art.º (art.os 22.º a 26.º do ED) e punida nos termos do mesmo artigo com a pena de

Contra o arguido milita a circunstância agravante (o conluio, por exemplo), prevista na alínea do art.º 31.º do ED;

Nota de culpa (pessoal não docente)

O processo encontra-se à guarda de , onde pode ser consultado em qualquer dia útil e dentro das horas normais de expediente.

Data ____ / ____ / ______

O Instrutor

Nota de culpa (pessoal não docente)

Artigo 2.º

“ ”

Os factos descritos, por violação do(s) dever(es) geral(ais) de , estabelecido(s) no art.º 3.º, n.o(s) , alínea(s) do ED e ainda o(s) dever(es) específico(s) estabelecido(s) no art.º 4.º, alínea(s) do Estatuto do Pessoal Não Docente, integram a previsão do art.º , n.º , alínea do ED, a que corresponde a pena de .

A favor do arguido milita a circunstância atenuante especial (por exemplo, a provocação) prevista na alínea do art.º 29.º do ED.

Contra o arguido militam ainda as circunstâncias agravantes da reincidência e de acumulação de infracções (se for caso disso).

A competência para aplicação da pena é do Senhor nos termos do art.º 40.º do Estatuto do Pessoal Não Docente.

Fixo ao arguido o prazo de dias úteis a contar do dia útil seguinte àquele em que receber cópia desta acusação para, querendo, por si ou por advogado constituído, consultar o processo e deduzir a defesa que entender, oferecendo a prova testemunhal e documental que julgar necessária, tudo nos termos dos art.os. 61.º, 62.º e 63.º do ED.

Nota de culpa (pessoal não docente)

Notificação pessoal da acusação*

* Na eventualidade de o arguido se recusar a ser notifica-do da cópia da acusação, a minuta acima referida deverá ser adaptada nesse sentido e ser assinada por duas testemunhas que atestam a recusa por parte do arguido.

Aos dias do mês de de nesta (local de entrega) fiz entrega ao arguido, F , da cópia dos artigos de acusação contra ele deduzidos no processo disci- plinar n.º/Escola/Ano, pelo que vai assinar comigo.

O Arguido

O Instrutor (ou Secretário)

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

Carta registada com aviso de recepção

Exm.º Sr.

Assunto: Processo Disciplinar / Notificação de Acusação

Junto envio a V.ª Ex.ª o duplicado da acusação extraída do processo disciplinar em que é arguido, mandado instaurar por despacho do Sr., datado de , para apresentar defesa escrita no prazo de dias úteis a contar da sua recepção, devendo ter em consideração a informação seguinte:

A resposta deve ser clara e precisa, expondo os factos e as razões da sua defesa;

Durante o prazo para apresentar a sua defesa pode o arguido, seu representante, curador ou advogado legalmente constituído, examinar o processo que se encontra na Escola à guarda de ;

O processo poderá ser confiado ao advogado do arguido, nos termos e sob cominação do disposto nos artigos 169.º a 171.º do Código do Processo Civil;

A resposta pode ser assinada pelo próprio ou por qualquer dos representantes acima referidos e deverá ser apresentada a ;

Com a resposta pode o arguido apresentar o rol de testemunhas com indicação dos artigos ou factos da defesa a que deve responder cada uma;

Não podem ser ouvidas mais de três testemunhas por cada facto;

As testemunhas residentes no local onde corre o processo serão notificadas directamente pelo instrutor do processo;

Se o arguido não se comprometer a apresentar as testemunhas residentes fora do local onde corre o processo, poderá o instrutor ouvi-las por solicitação a entidade competente, notificando o arguido das diligências que realizar;

A falta de apresentação da resposta dentro do prazo marcada equivale, para todos os efeitos legais, a efectiva audiência disciplinar.

Com os melhores cumprimentos

O Instrutor

Carta registada com aviso de recepção

Aviso para citação em Diário da República

Pela Escola corre termos um processo disciplinar mandado instaurar por em que é arguido (nome, categoria, etc.) , ausente em parte incerta.

Nos termos do n.º 2 do art.º 59.º do Estatuto Disciplinar, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, fica o arguido citado para no prazo de (30 a 60) dias apresentar resposta escrita à nota de culpa que se encontra à sua disposição nesta Escola, podendo, nesse mesmo prazo, consultar o processo durante as horas normais de expediente.

O Instrutor

O In

Termo de consulta*

* Pelo arguido ou advogado com procuração nos autos. Caso o secretário não preste funções no local onde se encontra o processo, deverá ser nomeado para esta diligência um secretário ad hoc

Aos dias do mês de 2007 pelas horas, entreguei a , para consulta nesta (escola, etc.), o processo disciplinar n.º constituído por volumes, num total de folhas, devidamente numeradas e rubricadas.

O Arguido

O Secretário

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INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO

Introdução – Relatar de forma sumária a origem e sequência do processo.

Diligências Efectuadas e Factos Apurados.

Acusação – reprodução da acusação efectuada no Processo.

Defesa – Indicação dos argumentos apresentados pela defesa.

Análise da Defesa – Analisar os argumentos da Defesa.

Conclusões – Infracções consideradas provadas, a sua gravidade (face às circunstâncias previstas no art.º 28.º do ED, ao grau de culpa e à existência ou não de atenuantes e/ou agravantes), a sua qualificação e enquadramento jurídico-disciplinar.

Proposta

Exemplo: Em face das conclusões e do enquadramento das infracções proponho que ao arguido seja aplicada a pena de __, prevista na alínea __ do art.º 11.º e art.º ___ (22.º a 26.º), todos do ED, suspensa de execução pelo período de ___ anos, nos termos do art.º 33.º do mesmo Estatuto, face às circunstâncias atenuantes referidas e ao grau de culpa do arguido.

Data:____ / ____ / ______

O Instrutor

Aos dias do mês de de , compareceu perante mim, (identificação do notificante) no (local) F ( identif icação do notificado), tendo sido notificado de que, em sede do processo disciplinar em que era arguido, lhe fora aplicada, por despacho de do Exm.º Sr. , no uso da competência que lhe é conferida pelo n.º do art.º 116.º do Estatuto da Carreira Docente, com a redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, a pena de , prevista na alínea do n.º 1 do art.º 11.º do Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, graduada , e suspensa por um período de anos, nos termos dos artigos n. os do mesmo Estatuto, fazendo-lhe entrega de cópia integral da decisão e seus fundamentos. Foi ainda o arguido informado de que da decisão cabia recurso hierárquico* a interpor nos termos do art.º do Estatuto Disciplinar.

O Arguido

O Notificante

Certidão de notificação pessoal de Decisão (pessoal docente)

Aos dias do mês de , de , compareceu perante mim, (identificação do notificante) no (local) F (identificação do notificado), tendo sido notificado de que, em sede do processo disciplinar em que era arguido, lhe fora aplicada, por despacho de do Exm.º Sr. , no uso da competência que lhe é conferida pelo n.º do art.º 40.º do Estatuto do Pessoal Não Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho, a pena de , prevista na alínea do n.º 1 do art.º 11.º do Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, graduada em , e suspensa por um período de anos, nos termos dos artigos n.os do mesmo Estatuto, fazendo-lhe entrega de cópia integral da decisão e seus fundamentos. Foi ainda o arguido informado de que da decisão cabia recurso hierárquico* a interpor nos termos do art.º do Estatuto Disciplinar.

O Arguido

O Notificante

Certidão de notificação pessoal de Decisão (pessoal não docente)

* Só para penas não expulsivas, uma vez que destas, da competência do membro do Governo competente, cabe logo impugnação contenciosa (três meses).

Modelo de relatório final

Exm.º Sr.

Assunto: Notificação de decisão disciplinar através de carta registada

Informo V.ª Ex.ª de que em sede do processo disciplinar em que é arguido, o Exm.º Sr. , por despacho exarado em , no uso da competência que lhe é conferida pelo n.º do art.º 116.º do Estatuto da Carreira Docente, na redacção que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, lhe aplicou a pena de prevista na alínea do n.º 1 do art.º 11.º do Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central Regional e Local, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, graduada em , e suspensa por um período de anos, nos termos dos artigos do mesmo Estatuto.

Informa-se ainda V.ª Ex.ª de que da decisão cabe recurso hierárquico** a interpor no prazo de 10 dias úteis, contado a partir da data da recepção desta notificação.

Com os melhores cumprimentos

O Notificante

Carta registada com aviso de recepção (pessoal docente)*

* Segue em anexo cópia integral da decisão e dos seus fundamentos, regra geral, constituída pelas conclusões do relatório final, mas a que pode acrescer parecer jurídico emitido sobre a regularidade do processo.

** Só para penas não expulsivas, uma vez que destas, da competência do membro do Governo competente, cabe logo impugnação contenciosa (três meses).

* Só para penas não expulsivas, uma vez que destas, da competência do membro do Governo competente, cabe logo impugnação contenciosa (três meses).

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

Exm.º Sr.

Assunto – Notificação de decisão disciplinar através de carta registada

Informo V.ª Ex.ª de que em sede do processo disciplinar em que é arguido, o Exm.º Sr. , por despacho exarado em , no uso da competência que lhe é conferida pelo n.º do art.º 40.º do Estatuto do Pessoal Não Docente, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho, lhe aplicou a pena de prevista na alínea do n.º 1 do art.º 11.º do Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central Regional e Local, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84, de 16 de Janeiro, graduada em , e suspensa por um período de anos, nos termos dos artigos do mesmo Estatuto.

Informa-se ainda V.ª Ex.ª de que da decisão cabe recurso hierárquico** a interpor no prazo de 10 dias úteis, contado a partir da data da recepção desta notificação.

Com os melhores cumprimentos

O Notificante

* Segue em anexo cópia integral da decisão e dos seus fun-damentos, regra geral, constituída pelas conclusões do relatório final, mas a que pode acrescer parecer jurídico emitido sobre a regularidade do processo.

** Só para penas não expulsivas, uma vez que destas, da competência do membro do Governo competente, cabe logo impugnação contenciosa (três meses).

Termo de conclusão e remessa

Aos do mês de , de dei por concluso o processo disciplinar, constituído por folhas devidamente ordenadas, numeradas e rubricadas, que remeto, nesta data, a (entidade que instaurou o processo).

O Instrutor

Carta registada com aviso de recepção (pessoal não docente)*

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GUIA DE APOIO ÀS ESCOLAS EM MATÉRIA DISCIPLINAR

2007

85

Ac. – Acórdão

CC – Código Civil

CP – Código Penal Português

CPA – Código do Procedimento Administrativo

CPC – Código do Processo Civil

CPP – Código do Processo Penal

CRP – Constituição da República Portuguesa

ECD – Estatuto da Carreira Docente

ED – Estatuto Disciplinar dos Funcionários e Agentes da Administração Central, Regional e Local

EPND – Estatuto do Pessoal Não Docente

EA – Estatuto do Aluno do Ensino Não Superior

OS – Ordem de Serviço

Proc.º – Processo

STA – Supremo Tribunal Administrativo

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A entrada em vigor do novo Estatuto da Carreira Docente (ECD), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro, atribuiu às escolas a responsabilidade da instrução dos processos disciplinares ao pessoal docente, tarefa que antes cabia à IGE, tal como já acontecia com o pessoal não docente (Decreto-Lei n.º 184/2004, de 29 de Julho).

Julga-se útil, pois, complementarmente à disponibilização online na página da IGE, editar este Guia de Apoio às Escolas em Matéria Disciplinar, onde se incluem minutas dos documentos necessários nas diversas fases do processo disciplinar.

Papel reciclado