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1 Fórum FAAP de Discussão Estudantil – 2018 GUIA DE ESTUDOS / STUDY GUIDE GUIA DE ESTUDOS / STUDY GUIDE ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

Guia de estudos / Study Guide ACNuR - faap.br · 3/19/2018 · contenham meios de lutar contra a xenofobia, ademais do fato de promover formas de reinserção na sociedade. O ACNUR

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Guia de estudos / Study Guide

ACNuRAlto Comissariado das

Nações unidas para Refugiados

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De 30 de maio a 02 de junho de 2018São Paulo

[email protected]

(11) 3662-7262

Guia de estudos / Study Guide

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Conselho de Curadores

PresidenteSrª. Celita Procopio de Carvalho

integrantesDr. Benjamin Augusto Baracchini Bueno

Dr. Octávio Plínio Botelho do AmaralDr. José Antonio de Seixas Pereira Neto

Srª. Maria Christina Farah Nassif Fioravanti

diretoria exeCutiva

diretor-PresidenteDr. Antonio Bias Bueno Guillon

assessoria da diretoria

assessor administrativo e FinanceiroSr. Tomio Ogassavara

assessor de assuntos acadêmicosProf. Rogério Massaro Suriani

FaCuldade de eConomia

diretoriaProf. Silvio Passarelli

Coordenação Profª. Fernanda Petená Magnotta

Prof. Paulo Dutra Costantin

Fórum FaaP de discussão estudantil - Coordenação Prof. Victor Dias Grinberg

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CARTA DE APRESENTAÇÃO

Queridos delegados,

Sejam bem-vindos ao XV Fórum FAAP de Discussão Estudantil de 2018 e ao comitê do Alto Comissariado

das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

O ACNUR representa um projeto-piloto que tem como finalidade conduzir e coordenar ações internacionais

que protejam os refugiados, que deixam seu país por perseguições, como também buscar soluções dura-

douras para esse problema. São categorizados como refugiados os indivíduos que sofrem perseguição por

questões concernentes à raça, religião, nacionalidade, opinião política ou pertencimento a determinado

grupo social. Além disso, definições mais amplas, em âmbito regional, agregaram ao conceito de refugiados

aqueles que foram vítimas de conflitos armados, violência grave e violação de direitos humanos. Tais obstá-

culos enfrentados fazem com que eles não queiram ou não possam voltar ao seu país de origem.

Nessa edição, o objetivo do comitê é ajudá-los, contribuindo com ideias e medidas que, de alguma forma,

contenham meios de lutar contra a xenofobia, ademais do fato de promover formas de reinserção na sociedade.

O ACNUR é, pois, para eles, a última esperança de retorno a uma vida mais digna, com melhores condições.

Portanto, diante desse cenário delicado e complexo, a mesa está ansiosa para auxiliá-los no processo de

discussão que visa aprimorar o debate sobre o tema proposto e fundamentar recomendações e resultados

para a inserção social do refugiado. Nosso desejo é que todos tenham um excelente processo de estudo e

que isso cause impacto, afim de que o fechamento do debate seja de sucesso tanto no comitê em questão,

como para todo o evento.

Bruna Assunção,

Ilana Sabino,

Isadora Bomfim

Mariana Coelho.

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HISTÓRICO DO COMITÊ

Um refugiado é uma pessoa “Que, em consequência

dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro

de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de

raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opini-

ões políticas, se encontra fora do país de sua nacio-

nalidade e fora do país no qual tinha sua residência

habitual em consequência de tais acontecimentos,

não pode ou, devido ao referido temor, não quer

voltar a ele”.1

Sendo a Segunda Guerra Mundial o evento que

mais promoveu ondas migratórias de refugiados

no início do século XX, a Organização das Nações

Unidas (ONU) criou um órgão temporário para

lidar com a situação, fundando a Organização

Internacional para Refugiados (OIR) em 1946.

Suas principais atuações são dentro dos campos

de refugiados e na busca por pessoas que preci-

sariam de ajuda em trajetos usados por migran-

tes. A instituição foi encerrada, tendo seus tra-

balhos absorvidos pela instituição então criada:

o Alto Comissário das Nações Unidas para Refu-

giados (ACNUR).

O ACNUR foi fundado em 1950, tornando-se o

braço principal da ONU quanto à ajuda aos refu-

giados e dando continuidade às políticas que

objetivam esses indivíduos. É, também, respon-

sável por promover a criação e garantir a imple-

mentação dos direitos dos refugiados dentro do

Direito Internacional, por proteger a vida dos

indivíduos em estado de refúgio e incentivar

políticas de inclusão social e econômica nos paí-

ses receptores desses indivíduos.

O ACNUR tornou-se o órgão mais atuante sobre

o assunto desde sua criação. O maior símbolo

dessa representação deu-se pelo recebimento

do primeiro Prêmio Nobel da Paz, em 1954, pelo

trabalho da organização com a quantidade de

pessoas apátridas na Europa depois da Segunda

Guerra Mundial. Contudo, os momentos mais

marcantes na atuação do ACNUR seriam apenas

na segunda metade do século XX.

Em 1956, com a luta dos líderes e estudantes

húngaros que buscavam sair do Pacto de Var-

sóvia e a resposta agressiva dos apoiadores da

União Soviética, a Revolução Húngara marcou a

1- Ver mais: Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951).

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história europeia com a primeira onda migrató-

ria de refugiados durante a Guerra Fria. Estima-

-se que ao menos 200 mil húngaros fugiram

para a Áustria, e os demais foram para outros

países do continente. Pelo imediatismo da

situação, a Revolução Húngara também se tor-

nou importante por evidenciar quanto situações

do gênero são emergências, e o evento modelou

como as organizações passariam a lidar com os

refugiados no futuro. 2

A descolonização da África foi, contudo, o

momento mais simbólico da atuação do ACNUR.

Com concentrações mais agravantes na República

Centro-Africana, na Nigéria e no Sudão do Sul, o

órgão da ONU deu assistência a mais de 18 milhões

de refugiados concentrados no continente. Além

de garantir o envio de alimentos e medicamen-

tos aos campos de refugiados, o ACNUR também

passou a atuar para promover a educação nesses

locais, além de buscar políticas que garantissem a

segurança e o fim da violência sexual.

De forma a obter mais apoio da população civil,

tanto financeiro quanto social, o ACNUR também

é ativo nas redes sociais e teve em sua história cola-

boradores famosos, como Sophia Loren e Ange-

lina Jolie. Isso trouxe mais visibilidade à instituição,

mais influência entre líderes mundiais e aumentou

a quantidade de doações. Seu orçamento passou

de 300 mil dólares (desde sua criação) até quase

sete bilhões de dólares atualmente.

O ACNUR ainda teve atuação em partes da Amé-

rica Latina e na Ásia. Atualmente, o órgão tem

dado assistência ao conflito religioso em Myan-

mar, envolvendo os Rohingya e os muçulmanos,

aos refugiados que fugiram do Sudão do Sul

e, especialmente, à atual crise na Síria, dando

suporte à entrada dos refugiados sírios em paí-

ses como Líbano, Jordânia e Turquia. Junto com

órgãos governamentais e outros órgãos da ONU,

o ACNUR tem se mobilizado para garantir a cria-

ção e implementação de uma jurisdição que seja

a favor dos direitos sociais, da entrada em outros

países e da vida digna do refugiado.²

2- UNHCR. History of UNHCR. Disponível em: <http://www.unhcr.org/history-of-unhcr.html>. Acesso em: 05 jan. 2018.

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HISTÓRICO DO PROBLEMA

A história é cíclica: causas políticas, econômicas,

socioculturais e a globalização proporcionam flu-

xos migratórios. Em meio a isso, surgem, enfim,

cenários como os da Diáspora Grega, Cruzadas,

Segunda Guerra Mundial, entre outros.

O recente acontecimento que fomentou a crise

de refugiados foi a Primavera Árabe, difun-

dido pela internet e propagado por manifesta-

ções populares: “A chamada Primavera Árabe

foi um fenômeno que aconteceu em países do

Oriente Médio e do norte da África, em que pes-

soas – principalmente jovens – tomaram as ruas

pedindo liberdade de expressão, democracia

e justiça social. As revoltas foram esperançosas

para grande parte desses países, que eram dita-

duras longevas – e, de fato, presidentes do Egito,

da Tunísia, da Líbia caíram”3 . É importante, ao

falar de refugiados, pensar em um recorte que

possibilite entender o estopim de tal problema.

Portanto, é preciso selecionar um trecho para

afunilar a questão. Dito isso, devido aos des-

membramentos, toma-se a Primavera Árabe o

mais preciso dos recortes.

O trecho destacado retrata um pouco do que foi

o cenário da Primavera Árabe, movimento que

teve início na Tunísia e se dissipou para o norte

da África e Oriente Médio, envolvendo a Líbia

de Muammar Kadafi, Egito de Hosni Mubarak e

Síria de Bashar Al Assad. O motivo do ocorrido

deveu-se ao fato de um comerciante atear fogo

a seu próprio corpo, insatisfeito com as medidas

adotadas pelos monarcas, visto que muitos deles

se confundiam com ditadores. O descontenta-

mento desse comerciante foi principalmente a

desenfreada cobrança de impostos. Manifesta-

ções subsequentes ao evento ocorreram em Mar-

rocos e no Iêmen. Na Líbia, região também desi-

gual, mas que detém como fonte de riqueza o

petróleo, a população se inflou contra o governo

vigente.

A guerra civil se instalou e matou milhares. O con-

flito começou a ter indícios de um fim quando foi

morto Muammar Kadafi. Na Síria, existe o pano-

rama que engloba em suas proximidades os con-

flitos no Egito, Iraque e Turquia, possibilitando

também a fragmentação do Estado Islâmico ou

Daesh e a conquista de mais territórios, impondo

3- Ver mais em: http://www.politize.com.br/guerra-civil-na-siria/

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sua força. O que diferencia a Primavera Árabe na

Síria é o fato de nessa região o conflito ser prati-

camente interminável, posto que há o apoio mili-

tar externo para ambos os lados que se enfren-

tam (os rebeldes, os apoiadores do governo de

Al Assad e o Daesh). Existe na Turquia a questão

dos curdos que engloba o panorama do Estados

Unidos com o objetivo de combater o Estado Islâ-

mico e também a presença da Al-Qaeda.

Outro trecho importante de se destacar em artigos

publicados sobre o tema é o desfecho do conflito:

Porém, cinco anos depois do início dessa primavera,

pode-se dizer que o único caso de “sucesso” foi o

da Tunísia, onde ocorreram eleições diretas, foi apro-

vada a Constituição mais progressista do mundo

árabe e se elegeu um novo governo. No resto dos

países, esse clima de tensão acirrou as disputas de

poder entre milícias e favoreceu a expansão de gru-

pos terroristas. Isso deu espaço a governos ainda

mais autoritários que os anteriores.4

Acerca desse cenário de violência e crise, não há

outra opção para a população se não a fuga de

seu país. É preciso, pois, separar as migrações

voluntárias de migrações forçadas, que são as

que classificam os refugiados como categoria

especial. Entende-se refugiado como o imigrante

expulso de sua região natal por motivos específi-

cos, não uma pessoa que vai buscar sua vida em

outra região/país por motivos gerais.

Em março de 2011, a onda de protestos pelo

mundo árabe derrubou os governos de Ben Ali,

na Tunísia, e de Hosni Mubarak, no Egito, além

de abrir espaço para grupos radicais como o

Estado Islâmico, que possuem um tipo de polí-

tica extremista. A situação na Síria permaneceu

uma questão predominantemente interna até

que, em junho, deflagrou-se a crise dos refu-

giados. Buscando fugir da crescente repressão,

milhares de sírios começaram a cruzar a fronteira

com a Turquia, ao norte. A problemática de refu-

giados (que se mantém, com alterações de fluxo,

até hoje) começou a internacionalizar o debate

sobre a Síria, mobilizando a Turquia (potência

regional e diretamente afetada pelo episódio)

e a Liga Árabe (principal representação política

das nações árabes que, em novembro, optou

pela suspensão da Síria da organização).

A ONU considera que a guerra civil na Síria é

4- Ver mais: www.politize.com.br/guerra-civil-na-siria/

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a maior crise humanitária do século XXI. Hoje,

estima-se que o conflito vitimou ao menos 250

mil pessoas, que mais de 4,5 milhões tenham

saído do país como refugiadas e que outros 6,5

milhões foram obrigadas a se deslocar dentro da

Síria. Segundo artigo publicado no site Politize,

“após a represália do governo de Assad contra

os jovens que estavam se rebelando contra o

regime, alguns grupos foram formados a fim de

combater, de fato, as forças governamentais e

tomar o controle de cidades e vilas. A batalha

chegou à capital, Damasco, e depois a Aleppo em

2012. Mas, desde que começou, a guerra civil na

Síria mudou muito. O Estado Islâmico aproveitou

o vácuo de representação por parte do governo,

a revolta da sociedade civil e a guerra brutal que

acontece na Síria para fazer seu espaço. Foi con-

quistando territórios tão abrangentes, tanto na

Síria como no Iraque, que proclamou seu ‘cali-

fado’ em 2014. Para isso, tiveram de lutar con-

tra todos: rebeldes, governistas, outros grupos

terroristas – como se tivessem feito uma guerra

dentro da guerra”.

De acordo com a notícia publicada para o Infor-

mativo Semanal das Ciências Humanas, de

Luciano Feijão5 , a guerra civil síria reviveu as

tensões da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente.

Desde o início do conflito em março de 2011, os

EUA se limitam a oferecer apoio não letal aos

rebeldes sírios e a fornecer ajuda humanitá-

ria. Deve-se considerar a intenção de ajuda por

parte dos EUA como também uma tentativa de

combater a propagação do Estado Islâmico. A

administração Obama prometeu apoio militar

aos rebeldes, embora tenha mantido certa inde-

finição sobre a natureza dessa ajuda.

Levando em conta que a formação humana é

caracterizada pela mobilidade, os fluxos migra-

tórios sempre estiveram presentes na História,

mais precisamente desde a divisão do mundo

em Impérios e Reinos. Assim, confunde-se sem-

pre a já mencionada denominação de imigrante

e refugiado. Tal confusão permeia o panorama

exposto pós-invasão muçulmana na Península

Ibérica desde esse momento até o período de

declínio do Império Romano, desde a persegui-

ção religiosa dos não praticantes do protestan-

tismo calvinista até a Revolução Industrial.

Como afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bau-

5- HUMANAS NEWS. Informativo semanal da Ciências Humanas, nº31- Ano 2- Sobral - agosto de 2013.

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man em seu livro estranhos a nossa porta, o que

tem acontecido nos últimos anos, contudo, é

um enorme salto no contingente de refugiados

e pessoas em busca de asilo, somado ao volume

total de migrantes que já batiam às portas da

Europa. Esse salto foi causado pelo número cres-

cente de Estados “afundando” ou já submersos,

ou – para todos os fi ns e propósitos - de territó-

rios sem Estado, e, portanto, também sem leis,

palcos de intermináveis guerras tribais e sectá-

rias, assassinatos em massa e de um banditismo

permanente do tipo salve-se quem puder. O

sociólogo comenta que tal dano colateral fora

produzido pelas expedições militares ao Afega-

nistão e ao Iraque.

Fora mencionado pelo representante do ACNUR

no Brasil, Andrés Ramirez, no documentário Refu-

giados na América Latina, que o aspecto crucial

defi nidor da maioria das pessoas que sai de seus

países é a ausência de recursos econômicos por

parte desses que simplesmente fogem, às vezes

até sem documentos.

Vê-se, assim, que a situação dos refugiados no

mundo é de extrema relevância. O panorama tra-

çado, visto o recorte da Primavera Árabe, permite

analisar a gravidade de um caso que embora tenha

início com ondas de protestos e manifestações da

população local contra mandos e desmandos de

monarcas que governam de modo autoritário, em

2011, não encontra solução. Deve-se pensar, então,

em como fi ca a situação desses imigrantes que se

deparam com um cenário em que não há para eles

saída, senão a fuga, mesmo contra a vontade dos

próprios. Deslocados, amedrontados e distantes

de sua realidade, ausentes de um porto seguro, de

perspectivas econômicas e de proteção aos direitos

humanos, não é possível voltar a ter uma vida nor-

mal sem alguma ajuda, mínima que seja. É preciso

urgentemente repensar determinadas atitudes

frente a esse cenário conturbado e de difícil expli-

cação, necessário analisar de outra forma medidas

a serem tomadas e renovar o olhar para com esse

outro que clama por asilo, inclusão e apoio.

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DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Zygmunt Bauman analisa brilhantemente a

questão dos refugiados em seu livro estranhos a

nossa porta. Destaca-se como trecho marcante:

Vivemos uma crise humanitária. A única saída é

rejeitar as traiçoeiras tentações da separação e reco-

nhecer nossa crescente interdependência como

espécie. Depois de traçar todo o cenário do histó-

rico do problema dos refugiados desde 2011, a par-

tir do início de 2015, o ACNUR estima que mais de

300 mil imigrantes tenham cruzado o Mediterrâneo

para chegar ao continente europeu, tendo como

principais pontos de entrada a Grécia e Itália, que

receberam, respectivamente, 200 e 110 mil pessoas.

Tais números na verdade ilustram um cenário vago,

visto o avançar da situação e considerando que não

há controle efetivo de entrada dos refugiados. Con-

clui-se, afinal, que o número pode não ser o mais

exato. Dito isso, deve-se pensar no que influencia a

continuidade da crise de refugiados, que se elevou

à categoria de crise humanitária à medida que se

relaciona a não garantia de direitos fundamentais a

determinado grupo. (BAUMAN, 2016)

Aos refugiados apresentam-se barreiras buro-

cráticas, físicas e ideológicas que dificultam a

entrada a países que oferecem asilo.

As barreiras que impedem o desenvolvimento

econômico e social do imigrante não são neces-

sariamente físicas, como muros e policiamento

reforçado nas fronteiras, mas barreiras políticas

que se destinam a garantir a segurança do país

e a soberania estatal, e que podem acarretar na

manutenção do imigrante às margens do pro-

gresso de desenvolvimento, em vez de propor-

cionar sua inclusão. O imigrante é comumente

culpado por problemas sociais como desem-

prego, é discriminado por não fazer parte da

identidade nacional (não compartilharia valores

morais e culturais que seriam exclusivos de quem

nasce em determinado local) e é, sobretudo,

excluído pela justificativa de segurança nacio-

nal e encarado como um potencial terrorista ou

uma possível causa de conflito. No entanto, tais

barreiras políticas são criadas com base no argu-

mento legítimo da defesa da soberania estatal e

como forma de afirmação da identidade nacio-

nal, sem a qual um país não é construído.

Nos termos da Convenção de Genebra de 1951 e

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de política global para refugiados sob o amparo

do ACNUR, existem dois tipos de soluções para

refugiados: temporárias e duradouras. Ambas as

propostas passam pelo exercício do Direito Inter-

nacional, que não deve ser ferido por nenhum

país adepto a contribuir com a própria crise.

Esses países são aqueles que prometeram assu-

mir a responsabilidade moral e cumprir com o

princípio da solidariedade internacional.

Todas as crises humanitárias se desenrolaram,

ao contrário do que comumente se pensa, nos

países em desenvolvimento, situados na África,

no Oriente Médio, na Ásia e na América Latina.

Segundo dados do ACNUR, os países de primeiro

acolhimento são sempre os países em desenvol-

vimento, próximos àqueles afetados pela crise.

Ou seja, os países que mais acolhem refugiados

são os mais pobres.

Nisso, insere-se a questão: por que países como

Arábia Saudita e Kuwait não receberam refu-

giados? A resposta é: medo. O medo do choque

cultural e de suas consequências se dissemina.

Muitos países, então, não se preocupam com

a inclusão e aceitação desses refugiados, con-

trariando o Direito Internacional que deve ser

soberano quando se fala em Tratados e Conven-

ções entre países. Conforme exposto em artigo

publicado para a revista Carta Capital, “O Direito

Internacional dos refugiados determina que as

fronteiras devem estar abertas para a passagem

dos mesmos, que não podem ser devolvidos em

nenhuma hipótese, diz o princípio do non refou-

lement”.

Ainda de acordo com o que é exposto no artigo,

deve-se pensar em como a crise econômica

agrava a crise humanitária, que é o problema

dos refugiados. A falta de recursos econômicos

para administrar a questão das migrações for-

çadas e essa crescente crise vigente desde 2014,

segundo o subsecretário-geral da ONU para

Direitos Humanos, Ivan Simonovic, limita a ação

do ACNUR e permite o lançamento e a última

tentativa de buscar novos destinos.

A questão migratória internacional representa,

hoje, um dos fenômenos de âmbito internacio-

nal mais relevante justamente por intervir no

cotidiano daqueles que buscam oportunida-

des em territórios diferentes do de sua origem.

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O controle dos processos migratórios, no sentido

de evitar conflitos e preservar o respeito à alte-

ridade, passa agora pelos movimentos sociais e

deve ser uma das principais pautas do Conselho

de Direitos Humanos.

O imperativo moral de acolher refugiados que

clamam por asilo advém da herança do colonia-

lismo. Os fenômenos referentes ao imperialismo

e colonialismo deixaram um legado negativo,

facilitando intervenções unilaterais no conflito da

Síria, fato desencadeador de fluxos migratórios.

Em nenhuma hipótese pode-se pensar em traba-

lhar somente com soluções temporárias para o

problema dos refugiados. A sensibilidade para

a condição de vulnerabilidade deles deve ser

constante e ocasionar melhores e efetivas solu-

ções duradouras. Os refugiados devem ser inte-

grados ao espaço; o fato de aceitar ou não os

refugiados, demanda perspectivas ideológicas e

maneiras de inclusão dos mesmos de acordo com

valores do próprio país. O objetivo dos países

ao tentar buscar uma resolução para a questão

deve contemplar o fornecimento de uma melhor

proteção aos direitos humanos e da liberdade.

Afinal, quando o refugiado chega ao seu des-

tino, segundo a Convenção da ONU de 1951, ele

tem os mesmos direitos sociais que o imigrante

em situação legal. Deve-se, pois, promover

meios mínimos de vida a esse grupo, investir em

acesso à educação, saúde, habitação, trabalho.

Somente dessa forma haverá chance de o refu-

giado reconquistar sua integridade física e psico-

lógica, roubada quando foram tirados seus direi-

tos básicos e inerentes.

A questão da inclusão social dos refugiados rela-

ciona-se em um primeiro momento à integração

local, um processo complexo e gradual que apre-

senta dimensões jurídicas, econômicas, sociais e

culturais distintas, mas que são interdependentes

tanto por parte do indivíduo quanto da pelo viés

da sociedade. A inclusão social dos refugiados é

perpassada por fatores de ordem diversa, den-

tre os quais se destacam os aspectos culturais, no

que tange à língua do indivíduo, à religião, ao

fato de ele migrar com ou sem recursos e os sub-

sídios trazidos por ele. É primordial analisar qual

país irá receber os refugiados e qual sua postura

em relação a essa questão. Pode-se pegar como

exemplo os casos do Brasil e da Alemanha.

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O Brasil foi alvo de vários fluxos migratórios em

diversos momentos históricos. É válido lembrar,

por exemplo, das ondas migratórias de europeus

e asiáticos que trouxeram traços culturais que,

além do desenvolvimento tecnológico e econô-

mico, contribuíram com relevantes marcos para

a cultura multifacetada que diferencia o Brasil,

um país abundante e rico em diversidades. Na

Segunda Guerra mundial, o Brasil também ficou

marcado por ser um país receptivo quanto à

questão dos refugiados. Recentemente, foi sig-

natário de um acordo com o ACNUR para rece-

ber refugiados, agilizar os processos burocráticos

da entrada no país e simplificar o registro dos

mesmos.

Esse cenário foi diferente na Alemanha. Dirigi-

ram-se ao país mais de um milhão de refugia-

dos em 2015. Devido aos esforços da chanceler

alemã, Angela Merkel, esse número foi reduzido

em 2016. Contrário ao que fez o Brasil, na Ale-

manha, em março de 2017, o Parlamento apro-

vou leis de concessão de asilo mais rígidas e que

facilitam o processo de deportação. Apesar des-

sas medidas, o país ainda possui um dos maiores

percentuais de refugiados da Europa e tem pro-

curado conseguir esforços para garantir que eles

sejam integrados à sociedade alemã. O ponto

que mais influencia em como e se o país irá acei-

tar os refugiados e buscar inseri-los é a condição

socioeconômica vigente, o contexto vivido pelo

país e como estão suas políticas desenvolvimen-

tistas. Na contemporaneidade, devido às crises

existentes, a Europa tem se mantido distante

e um tanto quanto receosa ao recebimento de

constantes fluxos migratórios, visto que não há

condições para suportar tamanho contingente

de pessoas.

Outro aspecto que envolve a inclusão social dos

refugiados deve-se aos subsídios que esses tra-

zem. Os grupos de pessoas que migraram obri-

gadas de suas terras podem possuir subsídios

como aprender línguas locais, bagagens culturais

diversas, entre outros. Esses aspectos contribuem

definitivamente para a integração e a busca de

emprego para o refugiado, algo que não é sim-

ples, visto que muitos saem de seus países ausen-

tes de qualquer tipo de recursos e documentos.

Um dos primeiros passos para a inserção social

é aprender o idioma local. Algumas ONGs, ins-

tituições e centros de acolhida têm projetos de

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incentivo ao ensino do idioma local.

Cabe ressaltar que o fato de frequentemente

não se saber definir o que é um refúgio e o que

levou a isso dificulta a complexa e dura inserção

dos refugiados. Como afirma o Presidente do

Conselho Nacional de Imigração do Ministério

do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida, em 2014,

quando estava sendo discutida especificamente

essa dificuldade de inclusão dos refugiados na

sociedade: “essa visão deturpada sobre o status

de refugiado acaba por dificultar o acesso dessas

pessoas ao mercado de trabalho, ponto primor-

dial para assegurar que elas possam ser autossu-

ficientes”.

O objetivo de órgãos como o ACNUR, o Comitê

Nacional de Refugiados (CONARE) e mesmo o

Ministério do Trabalho, no que tange à inserção

do refugiado no campo laborativo, é fornecer

informações necessárias para o acesso desses

refugiados por meio da promoção de eventos,

de debates e de artigos. Um trecho que merece

destaque no artigo do ex-Ministro, que trata do

tema, é:

Além do preconceito gerado pela desinformação, o

presidente do conselho destacou que existem outras

barreiras que dificultam a integração dos refugiados,

como a língua e a falta de documentação que com-

prove a escolaridade.

Ao falar de aspectos culturais que influenciam

diretamente no campo da inclusão social dos

refugiados, precisa-se diferenciar conceitos que

são pertinentes ao tema. Um refugiado que

sai do seu país não por vontade própria e que

comumente deixa família e amigos, precisa se

desapegar do seu modo de viver e de seus cos-

tumes para, então, poder usufruir de subsídios

e internalizar práticas culturais e costumes do

país para o qual irá migrar. Nesse processo, há o

sofrimento por parte dos refugiados ao se sujei-

tar à assimilação cultural. Isso deve-se à neces-

sidade do refugiado de não se manter preso às

suas tradições e hábitos, de precisar se integrar

e aprender com o novo país em que irá viver,

novos costumes e práticas culturais. Esse, pois,

vê-se sujeito a incorporar a cultura do outro país

para que, então, comece a se acostumar a viver

nele. Afinal, infelizmente é preciso lembrar que

de alguma forma o refugiado está sem pátria e

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sem identidade, visto que ficou distante de tudo

com o que estivera acostumado e para ele fora

ensinado ao longo de sua vivência.

Deve-se pensar que, de acordo com a antropolo-

gia, o processo de aculturação não é unilateral,

ou seja, as duas estruturas culturais envolvidas

no processo estão sujeitas a absorver um ou mais

aspectos da cultura diferente de forma mútua. A

assimilação de práticas culturais de determinado

povo pode se tornar comum à medida que se

naturaliza tal ação e há o respeito por parte de

ambas envolvidas. A total destruição da cultura

de um grupo ocorreria somente em situações

extremas, pois o comum seria uma troca mútua

de saberes e experiências, na qual as duas partes

adotam características culturais uma da outra.

Determinados países podem temer a entrada de

refugiados pelo fato de perderem sua cultura e

tradição ao se unirem a outros povos e etnias,

mas, como foi visto anteriormente e tomando

como exemplo o Brasil, a heterogeneidade é

benéfica ao desenvolvimento do país, a junção

de culturas é positiva. A história do Brasil é feita

de imigrantes, desde seu início, e vale ressaltar

a influência dos povos indígenas. É fato que a

migração pode trazer consequências positivas

aos países de origem e de destino, enfatiza isso o

secretário-geral da ONU: “Há evidências claras de

que, apesar dos desafios, a migração é benéfica

para os migrantes e para as comunidades que os

recebem, em termos econômicos e sociais”.

Ao falar de inclusão social também se deve pen-

sar em religião. É notório que um refugiado

tem direito a um asilo seguro. Sobre esse item

é preciso tratar da proteção internacional, que

abrange mais do que a segurança física. Como

já afirmado, o refugiado, de acordo com a Con-

venção da ONU de 1951, tem os mesmos direitos

que o estrangeiro residente, portanto, deve usu-

fruir de tudo o que qualquer outro estrangeiro

que reside legalmente no país usufrua, ademais

dos direitos fundamentais invioláveis e inatos a

todos os indivíduos. Todo indivíduo precisa ter

sua pátria e sua identidade reconhecidas, os

direitos de liberdade são direitos básicos e que

necessitam de efetivação.

Sabe-se, infelizmente, que o refugiado é visto

como um estorvo. Diante disso, é preciso valo-

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rizar como a chegada de refugiados ao país

pode surtir impactos positivo e significativo. Os

refugiados podem ajudar a recompor mercados,

como foi analisado em um artigo sobre panora-

mas europeus: “A crise dos refugiados na Europa

representa uma oportunidade para o continente

reorganizar o mercado de trabalho e compensar

o envelhecimento da população”. A avaliação é

do codiretor da organização não governamental,

Iniciativa Open Society, do escritório na Europa,

Goran Buldioski.

Ao pensar sobre os órgãos responsáveis por dire-

cionar os refugiados para a melhor inserção na

sociedade, quando não há mais recursos dispo-

níveis dos países de acolhida, o ACNUR propor-

ciona assistência a eles, que pode ser dada sob

a forma de donativos financeiros, alimentação,

materiais diversos ou programas de criação de

escolas ou centros de saúde para as pessoas que

vivem em campos de refugiados ou comunida-

des em geral. O objetivo do ACNUR se destina a

desenvolver, com todos os esforços, maneiras de

acesso e divulgação de informação aos refugia-

dos, meios e condições de sobrevivência e con-

vívio com o novo, com tudo o que terão que se

acostumar relacionado ao país em que buscam

por refúgio. O ACNUR visa tornar os refugiados

autossuficientes o mais rápido possível, por meio

de atividades convencionais ou projetos de for-

mação profissional, em troca, evidentemente, do

cumprimento das leis de seu país de acolhida.

A atual crise dos refugiados, vista como a maior

crise humanitária pós-Segunda Guerra Mundial,

deve ser encarada como uma crise de falta de

comprometimento e solidariedade por parte dos

diversos países. Segundo o Tratado de Schen-

gen, as nações concordaram em facilitar o fluxo

de pessoas entre os países-membros e, diante do

exposto nesse tratado, os imigrantes que che-

gam à Europa sabem que podem começar uma

jornada na costa da Itália ou da Grécia, os quais

são pontos de entrada para eles e, assim, conti-

nuar a viagem rumo a outros países, sem enfren-

tar tantas restrições de fronteiras.

Ao falar na questão da migração é imprescindí-

vel pensar que no contexto de um mundo globa-

lizado e capitalista, não há como evitar o fluxo

de pessoas, posto que existe entre as grandes

nações o livre comércio e fluxo de mercadorias.

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No livro de Zygmunt Bauman há um comentá-

rio de Paul Collier acerca do fato da migração

ser comum: “O primeiro fato é que a disparidade

de renda entre países pobres e ricos é grotesca-

mente ampla, e o processo de crescimento glo-

bal vai fazer com que assim permaneça por mui-

tas décadas. O segundo é que a migração não vai

reduzir de modo significativo essa disparidade,

porque os mecanismos de feedback são muito

fracos. O terceiro é que, com a continuidade da

migração, as diásporas continuarão a se expandir

por algumas décadas”.

Como disse o Papa Francisco em sua mensagem

para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado,

que foi celebrado em 14 de janeiro de 2018,

“é preciso buscar acolher, proteger, promover

e integrar os migrantes e refugiados”. Além

disso, o Papa propõe medidas já mencionadas

e outras como a simplificação da concessão de

vistos humanitários, existência de vistos tempo-

rários especiais em países vizinhos para pessoas

que escapem de conflitos e um primeiro aloja-

mento adequado e decente. O religioso também

aponta que a proteção aos migrantes e refu-

giados envolve uma série de ações em defesa

de seus direitos e dignidade, independente de

sua situação migratória, como previamente fora

enfatizado.

Existem programas que oferecem apoio financeiro

às iniciativas dos estados-membros para integrar

os imigrantes, dentre eles o Fundo Social Europeu

e o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

A partir do exposto, faz-se necessária uma dis-

cussão quanto à problemática para solucionar ou

amenizar os problemas derivados da xenofobia

e das políticas internas. Espera-se que discussão

priorize que a xenofobia seja evitada e que o

refugiado seja socialmente inserido no país que

o acolheu.

PANORAMAS

ÁFRICA

Desde a época da descolonização africana, o

continente passou a ter atuação de dois tipos

opostos de atores: aqueles que, por conflitos

internos, originam muitos refugiados, e aque-

les com melhores condições, que se tornaram os

acolhedores de refugiados dos países vizinhos.

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Além disso, as razões pelas quais houve aumento

de número de refugiados no continente é muito

diverso, conforme será discutido a seguir.

A Somália, por exemplo, é um país africano que,

de acordo com relatório do ACNUR, de 2009, é

um dos que mais originam refugiados, indivíduos

que vieram de conflitos armados e por desloca-

mentos ambientais, relacionados com a seca e a

falta de alimentos. Em 2009, o país sofreu uma

grave crise hídrica devido às secas e índices plu-

viométricos muito baixos, que, adicionando uma

população desgastada em função de décadas de

guerras, e a falta de jurisdição internacional para

tratar de vítimas dessas catástrofes naturais, deu

origem a uma enorme quantidade de refugia-

dos. Eles ainda tiveram uma enorme dificuldade

de se deslocarem e encontrarem apoio, uma vez

que o país sofre uma escassez de organizações

humanitárias, que foram forçadas a se retirarem

do território por conta da falta de segurança.

Em contrapartida, a África do Sul é o país afri-

cano com o maior registro de pedidos de asilo.

Em 2009, foi o que mais recebeu solicitações

no mundo, tendo sido mais de 222 mil no ano.

Em 2010, 10% da população já era formada

por imigrantes, muitos que viviam na miséria –

e a maior parte sendo zimbabuanos. O grande

fluxo de imigração aumenta a taxa de desem-

prego, elevando a competitividade no mercado

de trabalho e causando protestos xenofóbicos

dos cidadãos sul-africanos contra os refugiados.

Organizações sem fins lucrativos vêm se mobili-

zando para atender às vítimas, como o Médicos

Sem Fronteiras (MSF), que adapta o atendimento

médico às necessidades das pessoas deslocadas

pela xenofobia.

Alguns países no continente se diferenciam por

ter maior influência política no cenário interna-

cional. Para tal, pode-se citar o Egito, que é um

dos signatários da Convenção de 1951, do Pro-

tocolo de 1967 e da Convenção da Organização

de Unidade Africana de 1969, com seu governo

garantindo liberdade de movimento e permis-

são de residência para refugiados e requerentes

de asilo. O país tem acomodado crianças sírias e

sudanesas em escolas públicas e provê acesso a

serviços de saúde primários. Contudo, a locali-

zação geográfica do Egito leva o país a encarar

diversas ameaças ambientais. O Delta do Nilo

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já está sobrevivendo a uma taxa de 3-5mm

de chuva por ano. Uma elevação de apenas

0,25m no nível do mar devastaria grande parte

das cidades que mantém a economia egípcia

aquecida, e a submersão da região significaria

um verdadeiro desastre para o Egito e a ameaça

de ondas migratórias para os países vizinhos. Há

ainda o risco de salinização dos aquíferos, tor-

nando a água subterrânea inutilizável para o

consumo humano ou para o uso agrícola.

ÁSIA

O continente asiático caracteriza-se pela sua

diversidade em todos os âmbitos, e isso não deixa

de ser verdade também quanto aos assuntos polí-

ticos. Note-se a diferença de atuação sobre a crise

de refugiados entre os países da Ásia, seja por

interesses diferentes ou por carência de outras

alternativas, consequente de suas condições des-

vantajosas ou até mesmo por não poder oferecer

uma boa condição de vida à sua população.

O Estado Bengali é um dos quais vem sofrendo

grandes problemáticas devido às mudanças cli-

máticas ocorridas nos últimos tempos. Fenôme-

nos como o aumento da temperatura terrestre

na região, além da desertificação, vêm contri-

buindo para que o volume de chuvas diminua

justamente em áreas onde são mais necessárias.

Por outro lado, monções cada vez maiores e cor-

riqueiras em outras partes da região, somado a

elevação do nível do mar, acabam por aumen-

tar os casos de enchentes, fazendo com que

muitas famílias, já em situação vulnerável, não

tenham como reconstruir suas vidas nesses locais

migrando para a capital do país, Daca. A questão

do volume maciço interno populacional que vem

ocorrendo em países como Bangladesh deverá ser

alvo de discussão durante a reunião do ACNUR.

Já outros países estão mais acostumados a serem

afetados por desastres naturais, como inunda-

ções, secas, terremotos e deslizamentos de terra

que destroem casas e hectares de terra, forçando

a deslocação de milhares de pessoa. A situação

é comum na China, em que o mais preocupante

são províncias áridas do interior, onde a escas-

sez de água e as altas taxas de erosão agravam a

pobreza rural. Isso pode se tornar uma fonte de

conflitos entre regiões, desestabilizando a coe-

são da China e sua modernização econômica. É

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importante ainda lembrar que o país não apenas

sofre com os efeitos da mudança climática, mas

também está entre os que mais contribuem para

a emissão de gases do efeito estufa, resultado de

seus anos de desenvolvimento industrial acele-

rado pós-Revolução de Mao Tse-Tung.

A atual companheira e concorrente da China, a

Índia, também passou a ter destaque no assunto.

O país defende que seja respeitada a soberania

de cada país na escolha do melhor caminho rumo

à economia verde e colocou-se veementemente

contrário à criação de um órgão ambiental mun-

dial com a finalidade de fiscalizar e regularizar os

níveis de emissão de gases de efeito estufa, por

meio de metas globais de sustentabilidade. Vale

ressaltar que o então primeiro-ministro indiano

pediu apoio dos países ricos para conseguir um

desenvolvimento sustentável, verde. No que

tange às questões ambientais, a Índia abriga o

Rio Ganges, um dos cinco mais poluídos e impró-

prios do mundo, o que tem afetado negativa-

mente milhões de pessoas, segundo relatórios

da Organização Mundial da Saúde. Em relação

aos refugiados, segundo pesquisa realizada pelo

Instituto IPSOS, a rejeição é alta na Índia: muitos

acreditam que a maior parte das pessoas se pas-

sam por refugiados para conseguir ser aceito em

outros países e obter melhores oportunidades

econômicas. Diferente da opinião da população

civil, o governo indiano tem realizado investi-

mentos na recepção e transporte de refugiados

para melhor inseri-los.

Outro país acostumado a enfrentar desastres

naturais é o Japão. Contudo, ele encara as ques-

tões diplomáticas de maneiras muito diferen-

tes. Possui uma forte estrutura de reconstrução

pós-desastres, sua história é marcada pelo alto

envio de emigrantes e pela pequena quanti-

dade de imigrantes acolhidos, o que se reflete

no surgimento tardio de políticas migratórias.

Além disso, o excesso de população, barreira

linguística e sociedade de somente uma etnia

são outras dificuldades que um imigrante tem

que enfrentar. Apesar de o país ter adotado a

Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967, em

1981, sua constituição não exibe qualquer pre-

ocupação em relação aos refugiados, um trata-

mento evidenciado pela recepção de apenas três

refugiados no ano de 2017.6

6- JAPAN TIMES (Japão). Japan accepts three refugees in first half of 2017, despite record number of asylum seekers. 2017. Disponível em: <https://www.japantimes.co.jp/news/2017/10/04/national/japan-accepts-3-refugees-first-half-2017-des-pite-record-number-asylum-seekers/#.WpC-6Hxv_IU>. Acesso em: 23 fev. 2018.

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AMéRICA DO NORTE

Canadá e Estados Unidos têm fortes opiniões sobre

a reunião do ACNUR deste ano. Contudo, suas opi-

niões não são divergentes.

O Canadá apresenta-se na comunidade inter-

nacional como um dos países mais dispostos a

ajudar nas causas ambientais e também com a

demanda de abrigo por refugiados. O país pos-

sui uma agência para as questões ambientais e

climáticas denominada Environment and Climate

Change Canada (ECCC), cujo objetivo é proteger

o meio ambiente, conservar o patrimônio natu-

ral do país, fornecer informações meteorológicas

para manter os canadenses informados e segu-

ros e fomentar a agenda ambiental em todo ter-

ritório e instâncias. Também quanto à questão

dos refugiados, o Canadá tem sido um exemplo

de acolhimento desde a eleição do premiê Justin

Trudeau, tendo sucesso na recepção e inserção

desses indivíduos em seu território e sociedade

por meio de diversas políticas de inclusão.

Já os Estados Unidos da América é o país apon-

tado por muitos como o maior responsável pelas

alterações climáticas, o que aflige o planeta nos

últimos anos. Apesar disso, o atual presidente,

Donald Trump, vem se posicionando contra medi-

das para combater tais acontecimentos, como a

saída do Acordo de Paris e a assinatura de decre-

tos que reduzem a regulação ambiental com o

intuito de impulsionar as indústrias de carvão,

petróleo e gás – os três maiores responsáveis pelo

aquecimento global. Quanto aos refugiados,

o país é um dos maiores doadores do ACNUR,

tendo dobrado sua contribuição financeira no

ano passado para US$925 milhões. Apesar disso,

também passaram a adotar políticas restritas

quanto à aceitação de imigrantes no mandato

de Trump. Em janeiro de 2017, o presidente

suspendeu a entrada de todos os refugiados e

imigrantes de diversos países, majoritariamente

muçulmanos, entre eles Síria, Somália, Sudão e

Iêmen (países-origens de um grande número de

refugiados), além do Irã, Iraque e Líbia, com a

justificativa de ameaça terrorista que eles apre-

sentavam. A Arábia Saudita, contudo, apesar de

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sofrer graves consequências internas pelo domínio

de grupos terroristas, seus cidadãos não tiveram

acesso negado aos Estados Unidos.

EuROPA

As diferenças entre os desenvolvimentos dos paí-

ses europeus pesam não somente na relação entre

eles, mas também em assuntos de política externa

e suas atuações sobre os conflitos mais simbólicos

no cenário internacional.

A Alemanha destacou-se por ter recebido muitos

estrangeiros em busca de asilo devido à crise dos

refugiados na Europa. Em 2015, o país obteve o

maior número de pedidos de refúgio e o conce-

deu a mais de um milhão de pessoas, majorita-

riamente de origem síria e iraquiana. A chanceler

Angela Merkel incentivou a ida dos refugiados à

Alemanha em diversos pronunciamentos, além

de criar centros de acolhimento e programas de

inserção dos imigrantes à sociedade, investindo

milhões de euros no que considera uma “obriga-

ção moral”. No entanto, ela passou a enfrentar

críticas de sua própria população, após denún-

cias de crimes cometidos por refugiados. Quanto

às questões ambientais, a Alemanha sempre foi

comprometida com o assunto, tendo contribuído

na elaboração de relatórios altamente aclama-

dos nas Convenções Internacionais mais famosas,

como a Rio+20, e prossegue sendo um dos países

líderes em pesquisas ambientais.

Sua vizinha, a França, também é ávida partici-

pante no assunto ao ser grande defensora dos

direitos humanos e da democracia. No entanto,

a sociedade francesa ainda tem demonstrado

certa dificuldade em lidar com o estrangeiro,

muitas vezes com a justificativa de consequên-

cias econômicas que se prologam no país desde

a crise do Euro, em 2008. Muitos refugiados, que

já sofriam em seus países de origem, acabaram

enfrentando também a discriminação ao chega-

rem à França. Além disso, deve-se salientar que

o país demonstra reconhecer a importância de se

mitigar a mudança climática. O atual presidente,

Emmanuel Macron, tem se empenhado em dialo-

gar com Trump, após a saída dos EUA do Acordo

de Paris, exibindo um multilateralismo do país ao

buscar o desenvolvimento das discussões sobre

questões climáticas.

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Como principal opositor a esses assuntos tem-se a

Rússia, que foi extremamente solícita com os pedi-

dos de refúgio dos cidadãos ucranianos fugidos

do conflito em seu país. Segundo o ACNUR, foram

168 mil solicitações oficiais, sendo concedidos um

número muito superior, de 730 mil. No entanto,

com os refugiados árabes, o país não apresentou

a mesma conduta. Em 2015, os pedidos de abrigo

por refugiados vindos da Síria foram negados; em

2016, o país deportou refugiados sírios de volta a

áreas de conflito, contrariando o tratado da Con-

venção das Nações Unidas relativa ao Estatuto

dos Refugiados, que a Rússia ratificou. Problemas

ambientais também afligem a Rússia, ameaçando

as condições seguras que o país deve oferecer aos

seus cidadãos e refugiados. Em 2010, altas tem-

peraturas, que ultrapassaram 34ºC, provocaram

incêndios que chegaram a cobrir 174 mil hectares

de área que, devido ao desastre de Chernobyl,

estavam contaminadas por substâncias radioativas.

OCEANIA

A Nova Zelândia vem sendo cada vez mais soli-

citada, juntamente com a Austrália, a receber

refugiados ambientais advindos de outros países

insulares próximos. Em 2002, a Nova Zelândia fir-

mou um acordo com Fiji, Kiribati, Tuvalu e Tonga,

denominado Pacific Access Category (PAC) 14.

O acordo prevê uma cota para cada país ante-

riormente citado enviar refugiados que tenham

seu deslocamento motivado pelos efeitos das

mudanças do clima. Entretanto, para serem

incluídos no acordo, os refugiados devem aten-

der a prerrequisitos, como ter entre 18 e 45 anos,

possuir algumas habilidades em inglês e não ter

antecedentes criminais, restringindo o acordo a

apenas uma parte das populações, que muitas

vezes não inclui os mais velhos e os mais pobres.

Segundo dados da IOM (2016), quase metade da

população da Austrália é composta por migran-

tes ou filhos de migrantes oriundos de cerca

de duzentos países. A maior parte dos indiví-

duos que se refugia na Austrália por questões

ambientais é formada por jovens que já possuem

algum tipo de ligação prévia com o país devido

à proximidade geográfica ou relação com cida-

dãos australianos (WILLE, 2016). O país, contudo,

sofreu grandes críticas por conta dos centros de

retenção da ilha de Naru, uma pequena ilha do

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Oceano Pacífico. No começo do século XXI, com

refugiados saindo do Paquistão, do Afeganistão

e da Sri Lanka, o governo australiano negou a

entrada desses indíviduos em seu território – o

que daria início à Crise do Tampa –, e acabou por

financiar os governos da Papua-Nova Guiné e da

Ilha de Nauru para abrigarem esses refugiados.

Tais indivíduos, que nos anos posteriores ficaram

confinados a situações degradantes e sem acesso

a recursos para retornar aos seus locais de ori-

gem, acabaram por chamar a atenção da comu-

nidade internacional e a condenação da mesma

às ações feitas pela Austrália.

AMéRICA LATINA

No continente, as riquezas estão concentradas

nas mãos de poucos, enquanto a maioria vive em

situação de pobreza.

Em janeiro de 2010, ocorreu um terremoto his-

tórico no Haiti, devastando o país. Aproximada-

mente trezentas mil pessoas morreran e outra

grande parte da população ficou sem qualquer

meio de subsistência. As consequências da catás-

trofe foram agravadas pelo quadro histórico de

pobreza, declínio ambiental e vulnerabilidade

extrema que prevalece no país e em toda a Amé-

rica Latina. Seu principal efeito colateral foi o

aumento indiscriminado do fluxo migratório

de haitianos para os demais países da América

Latina. No entanto, essa busca por novos paí-

ses, no intuito de garantir a sobrevivência, pode

provocar novos problemas e violações aos direi-

tos humanos. Isso porque os países receptores

encontram dificuldades em elaborar políticas,

cumprir os tratados dos quais são signatários

pela deficiência de legislação que abrange a

categoria dos refugiados ambientais.

E em contraposto, na região, tem-se o Brasil. A

Lei nº 9.474/97, que dispõe sobre a concessão

do status de refugiado, criou o Comitê Nacional

para Refugiados (CONARE), no âmbito do Minis-

tério da Justiça, para deliberar sobre os casos de

refúgio. Após o terremoto de 12 de janeiro de

2010 no Haiti, o Brasil recebeu um grande número

de haitianos. Esses indivíduos não são refugiados

convencionais, mas podem ser considerados refu-

giados ambientais, uma vez que foram forçados

a migrar em decorrência de fatores ambientais.

Por não serem refugiados amparados pela Con-

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venção de 1951, não são passíveis de receber

proteção pela lei brasileira de refúgio, que é mais

ampla do que a Convenção da ONU, mas também

não reconhece distúrbios ambientais como base

para a concessão do status de refugiado. A saída

encontrada pelo governo brasileiro foi conce-

der o visto humanitário para mais de 500 cida-

dãos haitianos. A concessão de residência revela

esforços do Brasil em oferecer ajuda aos não

reconhecidos refugiados ambientais, mas espe-

cialmente pela busca de uma visibilidade maior e

uma melhor reputação no cenário internacional.

ORgANIzAÇõES INTERNACIONAIS

A Amigos da Terra (Friends of the earth, em

inglês) é uma rede internacional de organizações

ambientais presente em mais de 75 países e com

cerca de 5000 grupos ativistas locais em todos

os continentes. Com mais de dois milhões de

membros e apoiadores, a entidade realiza cam-

panhas sobre assuntos ambientais e sociais mais

urgentes. A organização desafia o atual modelo

de globalização econômica e corporativa e pro-

move soluções com vistas a construir socieda-

des ambientalmente sustentáveis e socialmente

justas. Para a Amigos da Terra, com o objetivo

de evitar um número elevado de refugiados no

futuro, os governos devem agir com urgência,

evitando o caos climático. A mudança climática

pode ser responsável por falhas nas colheitas,

propagação de doenças, interrupção de rotas de

abastecimento e agravamentos de eventos cli-

máticos. De acordo com a organização, os mais

pobres e marginalizados sofrerão as piores con-

sequências.

Já a Oxfam é uma confederação internacional de

mais de 20 organizações, trabalhando com par-

ceiros e comunidades locais em mais de 90 países.

A entidade tem o objetivo de mudar o mundo

mobilizando pessoas a lutarem contra a pobreza.

A Oxfam trabalha para encontrar caminhos prá-

ticos e inovadores para que pessoas consigam

sair da pobreza. Suas campanhas são voltadas

para que a voz das pessoas mais pobres influen-

ciem nas decisões locais e globais que os afetam.

A organização ajuda fazendeiros na Tailândia a

construírem sistemas de irrigação e drenagem de

forma que o cultivo possa prosperar mesmo em

tempos de seca e estações longas de chuva, além

de colaborarem com fazendeiros no Malawi ensi-

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nando rotação de culturas baseada em padrões

climáticos. Por fim, também é desenvolvido um

trabalho com fazendeiros do litoral do Vietnã na

plantação de manguezais para proteção contra

ondas de tempestade. Entretanto, segundo a

Oxfam, o mundo não está preparado para lidar

com os impactos da mudança climática. Então,

ela acredita que são necessárias ações significati-

vas do governo e de grandes empresas.

DOCuMENTO DE POSIÇÃO OFICIAL

(DPO)

Em seus Documentos de Posição Oficial

(DPO), os delegados devem escrever uma

pequena introdução sobre a posição de seu

país em relação ao tema, respondendo aos

seguintes tópicos:

• O que o governo do seu país defende quanto

ao papel da comunidade internacional sobre

as altas ondas migratórias?

• Existem refugiados abrigados em seu país?

• O que o governo do seu país defende quanto

a políticas de inserção de refugiados?

Além disso, os DPOs devem ser escritos em

fonte Times New Roman tamanho 12, com

espaçamento simples. Inserir no canto supe-

rior esquerdo o símbolo do ACNUR, no supe-

rior direito o brasão do país e no fim da

página o nome com a assinatura do repre-

sentante do país.

PONDERAÇõES

O tema não envolve apenas questões geopolíti-

cas e demográficas atuais, mas engloba todo um

aparato de resquícios históricos e os comporta-

mentos individuais de cada nação. Pelo tamanho

de sua complexidade, a questão dos refugiados

e suas possibilidades de estabilização em um país

estrangeiro é assunto que pode ser muito apro-

fundado pelos delegados presentes.

Nesse comitê, espera-se a cooperação entre os

países-membros do Alto Comissário das Nações

Unidas para Refugiados, seja para tratar de um

problema que só pode ser superado a partir da

coalização. Contudo, a defesa da política externa

deve ser primordial para os representantes, uma

vez que eles não podem apresentar legitimidade

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perante a comunidade internacional se não res-

peitarem as ambições de seus próprios países.

E, por fim, espera-se que essa amplitude de opi-

niões e sugestões de políticas sobre o caso pos-

sibilite uma discussão diversificada e enriquece-

dora, em que os delegados-membros saiam com

diferentes (ou aprimoradas) perspectivas sobre o

assunto em questão.

Atenciosamente,

Mesa diretora do Alto Comissário das Nações

Unidas sobre Refugiados.

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