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de Terapia Ocupacional em Saúde Mental GUIA DE REFERÊNCIA Câmaras Técnicas de Saúde Mental | 2017

GUIA DE REFERÊNCIA - Crefito-3...das pessoas com sofrimento mental. Essas ferramentas podem ser utilizadas pelas equipes de saúde mental, incluindo-se os terapeutas ocupacionais

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  • Acolhimento É o momento de escuta inicial, a partir da queixa, para formular a demanda de atendimento; requer técnicas, posturas e reorientação dos profissionais na organização do processo de trabalho, permitindo o acesso e o acompa-nhamento de cada pessoa em seu PTS.

    AssembleiasUma das modalidades de grupos oferecidas nos CAPS semanalmente, sendo um espaço de convivência e de discussão de questões referentes ao serviço, favorecendo o protagonismo dos usuários e familiares.

    Busca AtivaAção que tenta identificar o motivo da ausência dos usuários ao serviço e resgatar o vínculo e a continuidade do acompanhamento, de acordo com seu PTS.

    Clínica AmpliadaA clínica ampliada é uma das diretrizes que a Política Nacional de Humaniza-ção propõe para qualificar o modo de se fazer saúde. Ampliar a clínica é aumentar a autonomia do usuário do serviço de saúde, da família e da comu-nidade. É integrar a equipe de trabalhadores da saúde de diferentes áreas na busca de um cuidado e tratamento de acordo com cada caso, com a criação de vínculo com o usuário. A vulnerabilidade e o risco do indivíduo são consi-derados e o diagnóstico é feito não só pelo saber dos especialistas clínicos, mas também leva em conta a história de quem está sendo cuidado.

    Cuidadores de SRT São os profissionais que trabalham nos Serviços Residenciais Terapêuticos, englobando ações no domicílio, na comunidade local, no lazer, na família, e outros, de acordo com o PTS de cada morador, acompanhando-o nas Ativi-dades de Vida Diária (AVDs) e Atividades de Vida Prática (AVPs) e favorecen-do a autonomia e independência possíveis para cada um nessas atividades.

    Desempenho ocupacional Participação do indivíduo no contexto da vida diária, como resultado de interações entre a pessoa, o ambiente e a ocupação. É formado por contex-tos de desempenho (cultural, social, físico e institucional), por áreas de desempenho (autocuidado, produtividade e lazer) e componentes de desempenho (afetivo, cognitivo e físico).

    EcomapaConsiste na representação gráfica dos contatos, das relações, ligações e interações entre os membros da família e também com os outros sistemas sociais. GenogramaDiagrama que detalha a estrutura e o histórico familiar fornecendo informa-ções sobre os vários papéis de seus membros e das diferentes gerações; fornece as bases para a discussão e análise das interações familiares e os laços de afetividade.

    PTS Conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas para os usuários dos serviços, direcionadas às suas necessidades. Dispositivo potencial para o planejamento das ações em saúde, especialmente nos serviços onde o

    trabalho está organizado na lógica de Apoio Matricial e Equipe de Referên-cia, como CAPS, por exemplo. A elaboração do PTS deve ser coletiva, ou seja, feita pelos técnicos da equipe, pelo usuário e familiares.

    Técnico ou terapeuta de referência Profissional da equipe responsável pelo acompanhamento do usuário, pelo seu PTS, pelo contato com a família e demais serviços/profissionais da rede e pela avaliação dos objetivos traçados inicialmente.

    Território Espaço delimitado não só geograficamente, mas também pelas relações ali estabelecidas como as relações de poder, trocas sociais e materiais, por exemplo.

    A proposta desse Manual é apresentar possibilidades de ações do terapeuta ocupacional no campo da Saúde Mental, bem como apoiar esses profissio-nais no desenvolvimento de estratégias de cuidado de famílias, indivíduos e comunidade em geral. Além disso, pretende contribuir na qualificação do cuidado e amenizar as angústias quando nós, profissionais, nos deparamos com pessoas, familiares, amigos e vizinhos que convivem e/ou possuem problemas relacionados à saúde mental. A Lei 10.216, de 06 de abril de 2001, implanta a Reforma Psiquiátrica para garantir a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, além de buscar novas formas de cuidar, mudando o modelo de internação asilar (BRASIL, 2001). A mudança de um Paradigma Psiquiátrico, hospitalocêntrico e médico--centrado, para o Paradigma da Atenção Psicossocial, está implicada no cuidado em liberdade, no território, garantindo direitos e proteção das pessoas com transtornos mentais. Amarante (2007) ressalta que na Saúde, poucos são os campos de conheci-mento e atuação tão complexos, plurais, intersetoriais e com tanta transver-salidade de saberes, pois não se baseia apenas na psiquiatria e tampouco é exercida por apenas um profissional. Portanto, o cuidado em saúde mental não está mais relacionado somente à remissão dos sintomas, mas também a reconstrução dos vínculos, da auto-nomia e do protagonismo do sujeito social. Neste contexto, a Atenção Básica aparece como eixo estruturante no cuida-do em Saúde Mental, através do Apoio Matricial, além dos CAPS (Centros de Atenção Psicossociais) e dos demais pontos de atenção da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), como os SRTs (Serviços Residenciais Terapêuti-cos) nos processos de Desinstitucionalização, entre outros, conforme tabela 1. Além da Política Nacional de Saúde Mental, observamos que os terapeutas

    ocupacionais têm realizado ações e projetos em outros locais, como ONGs e serviços privados, também com enfoque na saúde mental. Se considerar-mos dados oficias que apontam para o crescimento de transtornos mentais no país, como é o caso do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), por exemplo, podemos afirmar que os terapeutas ocupacionais têm outras possibilidades de atuação nesse campo, bastante complexo e diversificado, para além das políticas públicas vigentes e a partir de diferentes referenciais teóricos. Em anexo estão, como sugestão, exemplos de instrumentos para avaliação das pessoas com sofrimento mental. Essas ferramentas podem ser utilizadas pelas equipes de saúde mental, incluindo-se os terapeutas ocupacionais. Iniciaremos com a apresentação do tema “Desinstitucionalização” e os pontos de atenção da RAPS (BRASIL, 2011) que devem ser implantados em cada município, a depender de seu porte populacional e demandas de aten-ção em Saúde Mental, indicando minimamente a cartografia das políticas públicas na área e as possibilidades de atuação dos terapeutas ocupacionais na abordagem da Atenção Psicossocial. Em seguida, outras possibilidades para os terapeutas ocupacionais da Saúde Mental serão brevemente citadas, devendo ser objeto de futuras publica-ções, tanto em apresentação digital como impressa. Ressaltamos que essa primeira publicação tem a proposta de ser um guia inicial para indicar alguns caminhos para os colegas terapeutas ocupacionais inseridos em serviços que realizem o cuidado às pessoas em sofrimento mental. Segue a tabela 1 para apresentar cada ponto de atenção da RAPS, contextu-alizando o cenário que será abordado:

    A partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciada no final dos anos 70, com a mobilização de profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais, esse movimento se inscreve no contexto da rede-mocratização do país e na mobilização político-social que ocorre na época. Já no final da década de 80 os hospitais psiquiátricos começam a fechar, sendo a primeira experiência em São Paulo o encerramento das atividades da Casa Anchieta em Santos.

    A partir disso, a desinstitucionalização passa a fazer parte do cotidiano do Movimento da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica brasileira como um dos seus pilares.

    Sendo assim, entendemos desinstitucionalização como o modo pelo qual se trabalha com novas possibilidades de vida das pessoas que por anos ou décadas viveram em espaços confinados ditos Hospitais Psiquiátricos. Um processo de singularização que tem como propósito a invenção ou reinven-ção de um outro modo de se viver, sendo esta oportunidade impossível de se viabilizar com alguém que mora dentro de instituições fechadas.

    Trata-se da produção de vida e reprodução social, sendo uma engenharia de reconstrução de sentidos, de produção de valores, tempo, espaço, responsabilizar-se, de identificação de situações de sofrimento e de opres-são, reingressar no corpo social, consumo de produção, trocas, novos papéis, outros modos materiais de ser para o outro, aos olhos do outro como discute Franco Rotelli na publicação "A Instituição Inventada" de 1988 que, apesar de ser antiga, apresenta colocações importantes que ainda condiz com nossa realidade.

    Vale lembrar que no cenário brasileiro, esse processo tem papel importante na vida das pessoas institucionalizadas e se inicia dentro do Hospital Psiquiá-trico, pois é intramuros que as equipes de desinstitucionalização iniciam o trabalho em conjunto com os moradores para impedir a continuidade do sufocamento de um lugar social que os mesmos não escolheram pra si.

    Ressalta-se ainda a importância dos terapeutas ocupacionais nessas equi-pes, pois para se construir o Projeto Terapêutico Singular (PTS), é necessário avaliar as Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades de Vida Prática (AVP) e

    funcionalidade – objeto de intervenção da profissão, bem como coletar dados pessoais, história clínica, psíquica e familiar nos prontuários e escutar os moradores, familiares e profissionais para construção de um PTS significa-tivo pautado no resgate de cidadania, desejos e novas possibilidades de vida. Além desta imprescindível avaliação, o terapeuta ocupacional pode oferecer apoio técnico aos acolhimentos de familiares dos moradores e nas visitas domiciliares para resgate de vínculos e verificação de possibilidades para retorno do morador para sua família ou se deve ser encaminhado para um SRT. Participar de discussões de casos com as equipes do Hospital Psiquiá-trico, articular e acompanhar o processo de pré e pós-alta e articular com serviços de referência o início da reabilitação psicossocial no território, seguindo o propósito da Lei n. 10.216, de 06 de abril de 2001, são também funções dos terapeutas ocupacionais nas equipes de Desinstitucionalização.

    Após a alta hospitalar, os egressos dos hospitais psiquiátricos devem ser, preferencialmente, encaminhados para os SRTs, respeitando-se os critérios que definirão para qual município eles irão. Temos verificado na prática que alguns moradores perderam totalmente o contato com os familiares durante o período de internação. Outros ainda recebem esporadicamente visitas dos familiares ou pelo menos sabe-se onde encontrá-los. Porém, tem sido comum nesses casos o encaminhamento dos egressos para um SRT para que se inicie um processo de reconstrução de vínculos com a família. Se ao longo do tempo for verificado que é possível e de desejo das pessoas envol-vidas, a pessoa pode voltar a morar com sua família. Eles também deverão continuar seu tratamento nos CAPS de referência em seu novo território e nos demais pontos de atenção da RAPS, de acordo com seu PTS.

    Portanto, a Desinstitucionalização é um processo cuidadoso na tentativa de garantir uma transição gradual dos moradores que há muito tempo perde-ram suas referências no mundo externo ao hospital. Muitos municípios tem feito esse processo em várias etapas, inclusive levando os moradores para conhecerem a casa, os serviços que frequentarão e as novas pessoas com quem conviverão em várias visitas antes da alta. Sendo assim, esse processo não deve ser confundido com Desospitalização, ou seja, apenas retirar as pessoas dos hospitais e transferi-las para outros locais. A seguir, abordaremos os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), suas

    modalidades e possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional nesse local.

    Leia mais em: Lei Federal nº 10.216, de 6 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Portaria MS/GM nº 2.840, de 29 de dezembro de 2014, que Cria o Programa de Desinstitucionalização integrante do Componente Estratégias de Desinstitucio-nalização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e institui o respectivo incentivo financeiro de custeio mensal.

    Desinstitucionalizar e reinserir as pessoas com transtornos mentais graves na sociedade não é uma tarefa tão simples e fácil de realizar, como vimos anteriormente. Mas é a partir desse processo que os egressos dos hospitais psiquiátricos devem ser encaminhados para os SRT. Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), também conhecidos como Residência Terapêutica (RT), são casas localizadas em pontos urbanos, desti-nadas às pessoas com transtornos mentais que permaneceram instituciona-lizadas longos períodos em Hospitais Psiquiátricos. As residências foram instituídas pela Portaria MS/GM nº 106, de 11 de fevereiro de 2000 e fazem parte da Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde. São os pontos de atenção da RAPS no Componente das Estratégias de Desinstitucionalização. As residências são centrais no processo de Desinstitucionalização e reinser-ção dos egressos dos Hospitais Psiquiátricos na sociedade. Essas casas são mantidas, entre outros repasses, por recursos financeiros que anteriormente eram destinados aos leitos psiquiátricos. Assim, para cada morador de Hos-pital Psiquiátrico transferido para uma Residência Terapêutica, deve ter o descredenciamento do leito pelo SUS, sendo os recursos que o mantinham, realocados para a manutenção da Residência. Além desse recurso, existe um repasse de custeio mensal para os SRT habilitados pelo Ministério da Saúde,

    que pode variar de acordo com o tipo de SRT (tipo I ou tipo II) e número de moradores, de acordo com a Portaria MS/GM nº 3.090, de 23 de dezembro de 2011. Os municípios com moradores institucionalizados ou com interesse em implantar uma Residência Terapêutica com vagas solidárias, ou seja, para moradores de outros municípios, recebem inicialmente um repasse de incen-tivo para a implantação e, posteriormente, deve realizar o cadastro para a continuidade dos repasses dos custeios mensais. Pensando nesse contexto, a Desinstitucionalização reordena as ações no campo da Saúde Mental a outro objeto, que é a pessoa com sofrimento psíquico e não mais a doença mental. É preciso reconhecer essa pessoa como sujeito de direitos e deveres, pressupondo mudanças culturais e subjetivas na sociedade, transformando a visão pragmática da loucura, do Modelo Psiquiátrico e Hospitalocêntrico para o modelo da Atenção Psicos-social. As moradias, como já citado, são divididas em 2 (dois) tipos e devem ser organizadas de acordo com as necessidades e gostos de seus residentes. Os modelos atuais de acordo com a Portaria MS/GM nº 3.090, de 23 de dezembro de 2011 são: • SRT tipo I: o foco é a inserção dos moradores no contexto social existente (educação, lazer, trabalho, entre outros), o acompanhamento ocorre de acordo com o PTS e também pelos agentes comunitários do programa PSF (Programa de Saúde da Família), quando houver. A proposta é ser uma mora-dia voltada para portadores de transtornos mentais com maior autonomia que não demandam cuidados específicos de saúde, podendo acolher até 08 (oito) moradores. • SRT tipo II: nessa moradia o foco são os cuidados com a população mais dependente devido aos longos períodos de institucionalização. Nesse caso, a proposta é favorecer a reapropriação do espaço residencial e a inserção dos moradores na rede territorial. Nesse tipo de moradia a demanda de cuidados com a saúde, especialmente de um técnico de enfermagem é reco-mendada, podendo acolher até 10 (dez) moradores.

    As RTs devem ter acompanhamento dos CAPS ou de outro serviço/equipe de saúde mental de referência ou também de Equipes de Saúde da Família, com o Apoio Matricial em Saúde Mental. A equipe deve ser compatível com a necessidade dos moradores: no SRT tipo I deve ter um cuidador de refe-rência, que deve ser avaliado pela equipe técnica de responsável. No SRT tipo II para cada residência com 10 (dez) moradores deve-se contar com, no mínimo, 05 (cinco) cuidadores em regime de escala e 01 (um) técnico de enfermagem diário. Os critérios para encaminhamento dos moradores para as Residências Tera-pêuticas devem ser: 1) Município de escolha da pessoa; 2) Município de origem ou onde a família mora, se localizada, para tentar-se o resgate de vínculos; 3) No mesmo município dos amigos vinculados no hospital. É importante ressaltar que as pessoas egressas das internações de longa duração têm direito a receber um benefício chamado Programa “De Volta para Casa” (PVC). Esse Programa é um dos pontos de atenção do Compo-nente de Estratégias de Reabilitação Psicossocial da RAPS. Para ser concedido o município que acolherá o morador deverá aderir ao Programa junto ao Ministério da Saúde. O Programa “De Volta para Casa” dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial, instituído pela Lei 10.708, de 31 de julho de 2003. Seu objetivo é contribuir para a assistência, o acompanhamento e a integra-ção social, fora do hospital, de pessoas com transtornos mentais, com inter-nações psiquiátricas de longa duração, ou seja, com dois anos ou mais de internação. Saiba mais em: • Lei Federal n° 10.708, de 31 de julho de 2003, que institui o auxílioreabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de inter-nações. • Portaria MS/GM nº 2.077, de 31 de outubro de 2003, que regulamenta a Lei nº 10.708. • Portaria MS/GM n° 2.078, de 31 de outubro de 2003, que institui a

    Comissão de Acompanhamento do Programa "De Volta para Casa" • http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prog_volta_para_casa.pdf A atuação do terapeuta ocupacional na RT é de grande importância, englo-bando ações no domicílio, na comunidade local, no lazer, na família, e outros, de acordo com o PTS de cada morador. Nesse serviço temos a possibilidade de intervir em todos esses aspectos, apoiando os moradores no processo de retomada da identidade social, dos vínculos, da autonomia, assim como em sua própria casa. Portanto, como terapeutas ocupacionais podemos auxiliar os moradores na organização da rotina pessoal e da própria casa, intervindo nas áreas de desempenho ocupacional como as AVDs, AVPs, atividades de lazer e sociais e retomada de projetos de vida interrompidos devido aos longos períodos de internação. Importante destacar que o terapeuta ocupacional pode participar desse processo sendo o técnico de referência do SRT pelo CAPS de origem ou como gerente de SRT, já que esse ponto de atenção da RAPS não deve se caracterizar como um serviço típico de saúde e sim como a casa dessas pessoas, como a nossa casa. Além da nova casa, os egressos dos hospitais psiquiátricos devem continuar seu tratamento, mas agora no CAPS e nos demais serviços da Rede, como citado anteriormente. A seguir, apresentaremos os CAPS nas diferentes modalidades, formas de funcionamento, suas atribuições e atividades que podem ser realizadas pela equipe e pelos terapeutas ocupacionais.

    Quando ocorreram as mudanças na psiquiatria brasileira, baseadas no modelo da Reforma Psiquiátrica Italiana, logo surgiram os serviços substituti-vos aos Hospitais Psiquiátrico, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS devem ser serviços abertos e de caráter comunitário, voltados àquelas pessoas que apresentam um quadro de sofrimento psíquico, seja ele decorrente de uso problemático de substâncias psicoativas (álcool e outras

    drogas) e/ou decorrentes de transtorno mental grave e persistente. Esses serviços são os pontos de atenção da RAPS do Componente da Aten-ção Psicossocial Especializada. Nesse modelo destaca-se também o trabalho em equipe multidisciplinar, que pode ser composta por profissionais como: médicos, psicólogos, enfer-meiros, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, entre outros. Com essa gama de profissionais entende-se que esse trabalho permite promover ações que englobam a interação no processo de educação, assis-tência, esporte, cultura, lazer, a partir da elaboração dos projetos terapêuti-cos singulares. As equipes podem ser divididas em mini-equipes, de acordo com a extensão do território de referência do CAPS. Os profissionais são considerados técni-cos ou terapeutas de referência para um determinado grupo de usuários, podendo ser divididos por territórios ou outra estratégia definida. Sabe-se que a realidade varia de lugar para lugar, mas o CAPS tem ações que permitem atender esses diferentes contextos, nas seguintes modalidades:

    As categorias profissionais que podem compor os CAPS são: Profissionais de nível superior: assistente social, educador físico, fonoaudió-logo, pedagogo, psicólogo, terapeuta ocupacional ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico. Profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão/oficineiros.

    • Responsabilizar-se, sob a coordenação do gestor local, pela organização da demanda e da rede de cuidados em saúde mental em seu território; • Possuir capacidade técnica para ser o regulador da porta de entrada da rede assistencial em seu território e/ou do módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), conforme determinação do gestor local; • Coordenar, por delegação do gestor local, as atividades de supervisão de unidades hospitalares com leitos de Saúde Mental no âmbito do seu territó-rio; • Supervisionar e capacitar as equipes de atenção básica, serviços e progra-mas de saúde mental em seu território e/ou do módulo assistencial, através do Apoio Matricial, por exemplo; • Oferecer apoio aos Serviços Residenciais Terapêuticos de seu território de referência; • Realizar, e manter atualizado, o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para a área de saúde mental e medicamentos excepcionais, dentro de sua área assistencial.

    • Acolhimento, considerando que o CAPS funciona como “porta aberta”, sem necessidade de prévio agendamento; • PTS de cada usuário; • Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros, a depender da especificidade de cada profissional); • Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras, a depender da especificidade de cada profissio-nal); • Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio; • Visitas domiciliares; • Busca Ativa; • Atendimento à família; • Assembleias de usuários, familiares e trabalhadores; • Atividades comunitárias e sociais; • Acompanhamento nas internações nos leitos de saúde mental em hospital geral; • Projetos de geração de trabalho e renda; • Apoio aos Serviços Residenciais Terapêuticos; • Apoio matricial para a Atenção Básica e demais pontos da Rede; • Reuniões de equipe: nas passagens de plantão, reuniões gerais e de plane-jamento; • Supervisão clínico-institucional; • Educação Permanente. Os terapeutas ocupacionais que trabalham em CAPS são, como os demais profissionais da equipe, técnicos ou terapeutas de referência. Isto é, são responsáveis pelo acompanhamento de usuários de sua referência, são escalados para os plantões, realizam acolhimento nos plantões de sua responsabilidade e todas as demais atividades citadas anteriormente. E, quanto ao seu papel específico no serviço, podem desenvolver atividades voltadas a reorganização da vida diária dos usuários e reinserção social atra-vés, principalmente de atividades em grupo, tais como: Oficinas de Auto--Cuidado, Oficinas de Geração de Renda, Oficinas de Trabalho Corporal, Oficinas de Culinária, Oficinas de Leitura e Escrita, atividades sociais e outras, de acordo com as necessidades de cada grupo, a partir de uma cuida-dosa avaliação do perfil do mesmo e análise de atividades.

    Os CAPS são considerados serviços para acompanhamento dos casos graves e persistentes. Após estabilização dos sintomas ou, mesmo os casos de transtornos mentais leves e moderados podem ser atendidos na própria Atenção Básica, com apoio das equipes de NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e CAPS, através das atividades de matriciamento. Essa considera-ção é importante já que devemos tomar cuidado para que os CAPS não se transformem em locais que também institucionalizem cronificando as pesso-as, mas devendo ser um lugar de passagem e cuidado para os momentos críticos e de crise. O tema do Apoio Matricial será apresentado a seguir. Consulte também: • Portaria MS/GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002 Define as modalidades de CAPS. • Portaria MS/GM nº 245 de 17 de fevereiro de 2005 Destina incentivo finan-ceiro para implantação de CAPS. • Portaria MS/GM nº 3089, de 23 de dezembro de 2011 Dispõe, no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial, sobre o financiamento dos CAPS. • Portaria MS/GM nº 130, de 26 de janeiro de 2012 Redefine o CAPS AD III e os respectivos incentivos financeiros. • Portaria MS/SAS nº 854, de 22 de agosto de 2012 Trata das alterações nos procedimentos dos CAPS e da RAAS. • Portaria MS/GM nº 1996, de 10 de setembro de 2013 Altera valor de custeio mensal de CAPS III e CAPS AD III. • Manual “Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial” (http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf)

    O Apoio Matricial acontece como uma articulação que cria possibilidades de coresponsabilização do cuidado entre diversos serviços que em geral acom-panham indivíduos e/ou famílias, tendo como foco o modelo integral de cuidado. Surge como um novo modelo de cuidado, num processo de construção com-partilhada a partir de intervenções técnico pedagógicas que produzem:

    • Educação Permanente • Cuidado compartilhado e colaborativo • Horizontalização do cuidado • Clínica Ampliada O desenvolvimento das ações do Apoio Matricial acontece através de discussões de casos, visitas compartilhadas, construção do PTS, atendimen-tos compartilhados, Genograma e Ecograma. Os serviços ou instâncias que participam deste cuidado compartilhado podem ser: profissionais da Atenção Básica (AB), equipes de apoio para a saúde mental na AB ou NASF, CAPS, escolas, Conselho Tutelar, bem como Instituições especializadas, Conselhos Municipais (Saúde, Idoso, Álcool e Drogas e outros), Vigilância Sanitária, usuários, parentes e vizinhos.

    Fonte: Ministério da Saúde (2004)

    Os profissionais que participam do Matriciamento em Saúde Mental na Atenção Básica podem ser: assistentes sociais, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais. Sendo assim, o processo de saúde-doençaintervenção em Saúde Mental passa a pertencer a todo campo da saúde, num processo interdisciplinar com práticas que envolvem

    ampliação do saber, construção do aprendizado conjunto e permanente, qualificação do cuidado, fortalecimento da rede assistencial, comunitária e/ou familiar, deixando de ser campo exclusivo de determinada especialida-de. A seguir, serão abordados resumidamente os seguintes pontos de atenção da RAPS: Consultório na Rua, Unidades de Acolhimento, Atenção Hospitalar, Cooperativas de Trabalho e Geração de Renda/Empreendimentos Solidários e Centros de Convivência e Cultura. Outras informações em: • Caderno de Atenção Básica nº 34 – Saúde Mental (http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_34.pdf ) • Guia Prático de Matriciamento em Saúde Mental (https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3231.pdf)

    A Estratégia Consultório na Rua foi instituída pela Política Nacional de Aten-ção Básica, em 2011, visando ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde, ofertando atenção integral à saúde para esse grupo populacional, que se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares rompidos ou fragilizados. É um ponto de atenção da RAPS no Componente da Atenção Básica em Saúde. As equipes do Consultório na Rua (eCR) desenvolvem ações de Atenção Básica de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental. As atividades das eCR incluem a busca ativa e o cuidado aos usuários de álcool, crack e outras drogas in loco, de forma itinerante e integral, envolvendo questões físicas e mentais. Realiza ações compartilhadas e integradas aos outros equipamentos da RAPS (UBS/ESF, CAPS, entre outros) e a rede local como CRAS, CREAS e outros equipamentos do SUAS (Sistema Único de

    Assistência Social). O terapeuta ocupacional é profissional habilitado para compor as eCR que podem ser de 3 modalidades e se diferenciam somente na quantidade de profissionais, e na modalidade III pode incluir o profissional médico.

    Item 1: Enfermeiro, Psicólogo, Assistente Social e Terapeuta Ocupacional Item 2: Agente Social, Técnico ou Auxiliar de Enfermagem, técnico em Saúde Bucal, Cirurgião Dentista, profissional de Educação Física e profissional com formação em Arte e Educação. Vale ressaltar que o funcionamento deverá se adequar às demandas das pessoas em situação de rua do município, podendo ocorrer em período diurno e/ou noturno e em qualquer dia da semana. Segundo o Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua (BRASIL, 2012), apesar de os transtornos mentais significativos não estarem presentes na maioria da população em situação de rua, são muito prevalentes e os mais graves necessitam que a equipe desenvolva ações a fim de possibilitar o maior nível de autonomia possível. É neste sentido que a atuação dos terapeutas ocupacionais pode ser de grande relevância para essa equipe. Na intervenção terapêutica ocupacional é possível que a pessoal cuidada se redescubra, se reconecte, podendo alcançar desejos, realizar projetos e produção de vida, rever e valorizar suas histórias e saberes, bem como encontrar possibilidades concretas de participação e identidades grupais, a partir do uso de grupos terapêuticos como recurso, por exemplo. De modo geral, o principal objetivo do CR é atuar de forma a preservar direi-

    tos e promover vínculos positivos e saudáveis, repercutindo de forma satis-fatória nas condições de saúde individual e coletiva e no resgate da cidada-nia. Pode ser também uma possibilidade para que essas pessoas procurem o tratamento para o sofrimento mental decorrente do uso problemático de álcool e outras drogas, podendo ser encaminhados ao CAPS, por exemplo, se esse for seu desejo. Os princípios da Redução de Danos são norteadores para a atenção psicos-social dessas pessoas, sendo as internações indicadas quando necessárias, cuidando para que as mesmas sejam de curta duração e no território, conforme será comentado mais adiante. Para mais informações acesse: • Portaria MS/GM nº 122, de 25 de janeiro de 2012 Define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua. • Portaria MS/GM nº 123, de 25 de janeiro de 2012 Define os critérios de cálculo do número máximo de equipes de Consultório na Rua (eCR) por Município. • Portaria MS/GM nº 1.922, de 5 de setembro de 2013 Altera dispositivos da Portaria nº 122/GM/MS, de 25 de janeiro de 2012, que define as diretrizes de organização e financiamento das equipes dos Consultórios na Rua. • Portaria MS/GM nº 1.029, de 20 de maio de 2014 Amplia o rol das categorias profissionais que podem compor as Equipes de Consultório na Rua em suas diferentes modalidades e dá outras providências. Portaria MS/GM nº 1.238, de 6 de junho de 2014 Fixa o valor do incentivo de custeio referente às Equipes de Consultório na Rua nas diferentes modalidades. • http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php

    Unidades de Acolhimento para pessoas com necessidades decorrentes do uso de Crack, Álcool e outras Drogas são parte do Componente de Atenção Residencial de Caráter Transitório da RAPS.

    As UAs funcionam 24 horas nos 7 dias da semana e têm caráter residencial transitório, acolhendo voluntariamente e ofertando cuidado contínuo das pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade social e/ou familiar, demandando acompanhamento terapêutico e protetivo. Os adultos ou crianças e adolescentes são encaminhados pelo CAPS de referência que é o responsável pelo PTS dessas pessoas que podem ficar na UA até 6 meses. O terapeuta ocupacional pode ser um dos técnicos de nível superior da equipe de uma UA. O objetivo da equipe deve ser voltado para a reinserção social e retorno à sua família, ao trabalho, à escola e demais grupos sociais. O terapeuta ocupacional nesse contexto pode ter como finalidade: * Aumentar a capacidade das pessoas para viverem de modo mais indepen-dente e com autonomia, ressignificando seus papeis sociais e produtivos; * Propor atividades em grupos que favoreçam as habilidades pessoais, sociais e de comunicação; * Orientar quanto à reorganização da rotina diária, ou seja, organizar as ativi-dades de vida diária e atividades de vida prática; * Identificar interesses de trabalho/estudo e lazer e habilidades necessárias; * Favorecer o autocuidado.

    Leia mais em: • Portaria MS/GM nº 121, de 25 de janeiro de 2012 Institui a Unidade de Acolhimento para pessoas com necessidades decorrentes do uso de Crack, Álcool e Outras Drogas (Unidade de Acolhimento), no compo-nente de atenção residencial de caráter transitório da Rede de Atenção Psicosso-cial.

    Em 05 de junho de 2012, a Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde publicou a Nota Técnica nº 25/2012 e afirmou que os Leitos de Saúde Mental/Enfermaria Especializada em Hospi-tais Gerais e os Serviços Hospitalares de Referência (SHR): 1) São Componentes da Atenção Hospitalar da Rede de Atenção Psicosso-cial, devendo-se articular com demais pontos e não ser pontos isolados; é um ponto estratégico para fortalecimento da RAPS. 2) As articulações devem incluir os componentes da Rede de Urgência e Emergência, considerando a regulação, a atenção longitudinal e a transfe-rência de cuidado, superando o modelo asilar dos Hospitais Psiquiátricos e a lógica da internação de longa duração, de forma isolada, no campo da saúde mental, com práticas de cuidado mais transparentes.

    3) Devem ser geograficamente bem localizados, de fácil acesso, com inter-venções breves até a estabilidade clínica, de acordo com a especificidade de cada caso e com apoio de recursos clínicos multidisciplinares, ao contrário dos hospitais psiquiátricos; 4) Devem ofertar suporte hospitalar para situações de urgência e emergên-cia decorrentes do consumo ou abstinência de álcool, crack e outras drogas, bem como comorbidades psiquiátricas ou clínicas. 5) Seu funcionamento é em regime integral, 24 horas por dia, 7 dias da semana, finais de semana e feriados, sem interrupção entre os turnos. 6) A estratégia de redução de danos deve ser a norteadora do PTS.

    A distribuição dos leitos hospitalares de Saúde Mental deverá ser de 1 leito para cada 23 mil habitantes, de acordo com a Portaria nº 1.101/GM/MS, de 12 de junho de 2002 e não deverá exceder o percentual de 15% do número total de leitos do hospital geral, até o máximo de 30 leitos. As equipes técnicas serão definidas a partir do número de leitos, mas sempre contado com um profissional de nível superior que pode ser o terapeuta ocupacional. O terapeuta ocupacional, além de ser um profissional que poderá fazer a mediação entre o hospital e o serviço de referência que encaminhou a pessoa para a internação, poderá oferecer o acolhimento e a escuta neces-sários durante esse período, com apoio em sua rotina e possíveis procedi-mentos hospitalares, favorecendo o contato com familiares e pessoas da rede social, realizando orientações na alta hospitalar e garantindo que a internação seja compreendida como um tempo necessário para estabilização clínica com continuidade do tratamento nos demais pontos da RAPS. Encontre mais dados em: • Portaria Nº 148, de 31 de janeiro de 2012 Define as normas de funcionamento e habilitação do Serviço Hospitalar de Referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, do Componente Hospitalar da Rede de Atenção Psicossocial, e institui incentivos financeiros de investimento e de custeio. •http://www.brasil.gov.br/observatoriocrack/cuidado/leitos-enfermariasespecializadas.html

    É comum vermos pessoas com transtorno mental ou que fazem uso proble-mático de álcool ou outras drogas afastadas do trabalho ou desempregadas. Cuidar desse aspecto da vida torna-se muitas vezes um dos objetivos da atenção em saúde mental. Sendo difícil a inserção no mercado formal de trabalho, cada vez mais distan-te da realidade dessas pessoas, seja porque nunca tiveram essa vivência, seja

    porque o preconceito permeia o retorno ao trabalho anterior, as cooperati-vas e demais empreendimentos solidários têm se tornado uma alternativa de inclusão ao trabalho, podendo devolver o direito à cidadania, através da inserção em atividades produtivas e geradoras de renda. As iniciativas de trabalho e geração de renda, os empreendimentos solidá-rios e as cooperativas sociais fazem parte do Componente Reabilitação Psicossocial da RAPS e tem caráter intersetorial. Elas têm a finalidade de promover a inclusão produtiva, a formação e a qualificação para o trabalho de pessoas com transtorno mental e necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Devem ainda garantir a ampliação da autonomia, contratualidade e inclusão social desses usuários e de seus familiares. Terapeutas ocupacionais têm coordenado diversos projetos de empreendi-mentos solidários em conjunto com outros profissionais, consolidando essa área como uma relevante possibilidade de atuação. O terapeuta ocupacional segundo Bregalda e Lopes (2011), contribui muito nos processos de reinserção de pessoas que se encontram excluídos de suas atividades de trabalho, seja por consequência do adoecimento ou acidente, cujo afastamento tende a dar novos contornos à participação social, às ativi-dades e aos papéis exercidos cotidianamente.

    Os Centros de Convivência e Cultura são unidades públicas, articuladas às Redes de Atenção à Saúde e às Redes de Atenção Psicossocial, com o foco em atividades voltadas para a sociabilidade, produção e intervenção na cultura e na comunidade. Estão no Componente da Atenção Básica da RAPS. São pontos estratégicos para a inclusão social dos usuários da RAPS, através da construção de espaços de convívio e sustentação das diferenças no terri-tório, considerando que a atenção em saúde mental nesse novo modelo passa a visar, como finalidade permanente, a vida habitada com saúde na cidade, combatendo modelos asilares de assistência.

    Os primeiros Centros de Convivência e Cultura surgem no final da década de 1980 em São Paulo, como parte da rede de saúde mental com serviços territoriais. Tinham como principal objetivo estabelecer comunicações e relações entre o que comumente denominamos de clínica e social, isto é, permitir que usuários de saúde mental e também a população com proble-máticas sociais e de saúde, tivessem acesso aos espaços públicos como os parques, centros esportivos, centros comunitários, num caminho mais espontâneo e mais coletivo pela cidade, permitindo a circulação pelos espa-ços do território. Diferenciam-se de outros serviços, pois seu foco não é oferecer assistência (médica, de enfermagem, terapêutica, etc) à patologia do indivíduo, mas sim proporcionar espaços de conexão entre as pessoas não por sua doença, mas pela possibilidade através da arte, trabalho e lazer. Eles nascem na intersetorialidade, compondo a rede de saúde, mas se colo-cando em relação aos outros setores como meio ambiente, cultura, lazer, esporte, operando desse modo na rede de saúde e no território como um serviço de articulação da rede intersetorial. A convivência proposta pelo CECCO não se dá somente entre as paredes do dispositivo. É uma convivência que se expande para além dos muros e acon-tece nos espaços territoriais como um dispositivo de redes, mas alocado no território. Nos CECCOs encontramos profissionais das mais diversas áreas de forma-ção, com propostas de atividades através de oficinas com enfoque no coleti-vo. O terapeuta ocupacional pode compor essa equipe, considerando que tem como enfoque da sua prática habilitar ou reabilitar os indivíduos para que sejam capazes de modificar aspectos pessoais, tais como, as Atividades de Vida Diária (AVD´s), as Atividades de Vida Prática (AVP´s) e os aspectos ambientais, ampliando sua autonomia e independência nos mais variados contextos de vida, melhorando assim seu desempenho ocupacional. O terapeuta ocupacional utiliza as atividades como recurso terapêutico, mas nos diferenciamos de outros profissionais pela competência técnica em realizar a análise das mesmas, oferecendo ao indivíduo orientações quanto às possibilidades de participação nas atividades, não apenas para estar inclu-

    ído, mas proporcionando a ele uma perspectiva de reorganização de sua rotina, melhor qualidade de vida, e até mesmo de geração de renda, lembrando que as pessoas com transtornos mentais costumam estar alijadas do mercado de trabalho, como apresentado anteriormente. Podemos afirmar que a habilidade do terapeuta ocupacional em trabalhar com grupos é de relevância para os CECCO´s, visto a natureza da proposta desses serviços e a formação desse profissional, destacando-se nas equipes dos Centros de Convivência, contribuindo para as atividades de reconstru-ção dos laços sociais dos usuários da RAPS. Esse Componente da RAPS ainda não tem custeio do governo federal, mas tem se mostrado uma importante estratégia para inserção dos usuários da RAPS, principalmente quando as demandas pelo cuidado da saúde já foram encaminhadas e, passam a precisar de outros espaços de convívio social e ampliação das redes de apoio.

    Lembramos que a RAPS ainda é composta pelos seguintes pontos de aten-ção: Unidades Básicas de Saúde, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, SAMU 192, Sala de Estabilização, UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à urgência/Pronto Socorro e Comunidades Terapêuticas. Os terapeutas ocupacionais podem compor as equipes das UBSs e NASFs. Quanto aos quatro pontos da Rede de Urgência e Emergência suas equipes são formadas por profissionais da área médica e enfermagem. E com relação às Comunidades Terapêuticas, temos começado a verificar a inserção de terapeutas ocupacionais nesses locais. Entretanto, esse é um ponto da RAPS que ainda é muito discutido no que se refere à sua caracterização e alinha-mento com a Política Nacional de Saúde Mental, visto que muitos desses serviços funcionam em uma lógica de exclusão e isolamento dos usuários da RAPS, assemelhando-se ao modelo manicomial. Mas, independente do ponto de atenção que o terapeuta ocupacional esteja inserido, ele poderá:

    • Participar de fóruns intersetoriais para discussão de casos e dos fluxos com a Educação, Assistência Social, Trabalho, Habitação, Cultura, Lazer, Justiça, Conselho Tutelar, entre outros; • Apoiar ações na mídia com campanhas, eventos de Educação Permanente, cine debates, entre outras, que divulguem a atuação do profissional e as ações da área da saúde mental e promovam a desmistificação do usuário da saúde mental; • Participar em conselhos municipais e demais movimentos sociais.

    O terapeuta ocupacional é o responsável por compreender o processo de saúdedoença a partir do seu objeto de intervenção, ou seja, o fazer humano. Com isso, em suas ações preconiza-se o foco na reorganização da vida diária, garantindo melhora no desempenho ocupacional dos usuários, atra-vés de atividades como, por exemplo: corporais, musicais, manuais, de estimulação cognitiva, sociais e outras, a depender das demandas de cada grupo e a partir da análise das mesmas, independente do Ponto de Atenção da RAPS ou de outros serviços que esteja inserido. Quanto às diferentes abordagens teóricas utilizadas pelos terapeutas ocupa-cionais em sua clínica no campo da Saúde Mental temos, de acordo com Cavalcanti & Galvão (2007): • Reabilitação Psicossocial • Psicanálise e a Terapia Ocupacional Psicodinâmica • Abordagem Junguiana • Referencial de Rui Chamone Jorge • Abordagem Sistêmica e Complexa São referenciais que ainda embasam o trabalho dos colegas terapeutas ocupacionais em nosso país, ou seja, ancorando o núcleo da profissão no campo da Saúde Mental.

    De acordo com Campos (2000): Núcleo é compreendido como a área do saber e da prática profissional e campo como a área comum a um determinado grupo de profissionais (ex.: Saúde Mental), onde cada um busca em outros o apoio para cumprir seus objetivos teóricos e práticos. Outra abordagem para falarmos do trabalho em equipe multidisciplinar em Saúde Mental e Terapia Ocupacional refere-se ao Pensamento Complexo de Edgar Morin. O Pensamento Complexo compreende relações que não evitam um desafio, mas que ajudam a revelá-lo e até ultrapassá-lo. (Morin, 2015). De acordo com Feriotti (2009), o momento histórico atual é de transição de paradigmas, implicando em mudanças também das concepções de saúde e doença, baseadas na interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Essa autora ainda afirma que as equipes de saúde mental vivenciam essa transição em suas práticas diárias, com contradições entre o novo paradigma transdisciplinar e as velhas concepções centradas na doença, com equipes assistenciais e saberes fragmentados, por exemplo. A abordagem complexa das demandas de saúde atuais exige das equipes e serviços novas formas de trabalho com trocas criativas entre as diferentes especialidades, enfrentan-do, entre outros desafios, a cisão entre os saberes. Portanto, o pensamento complexo também tem se destacado com um dos referenciais teóricos importantes para a prática da Terapia Ocupacional em Saúde Mental. Outros referenciais são utilizados por terapeutas ocupacionais do campo da Saúde Mental, como já citado anteriormente, destacando-se também as abordagens psicodinâmicas desenvolvidas por Método Terapia Ocupacional Dinâmica, de Jô Benetton, baseado na relação triádica – paciente, terapeuta e atividades. E ainda, Rui Chamone, que alicerça sua prática a partir do modelo analítico junguiano. Esse referencial de Terapia Ocupacional consi-dera que a relação terapêutica ocupacional será construída a partir de cinco elementos: material, ferramenta, objetos concretos, terapeuta e paciente. (CAVALCANTI & GALVÃO, 2007) Cada vez mais temos acompanhado o crescimento do número de terapeutas ocupacionais em serviços não ligados ao sistema público de saúde, realizan-

    do ações de saúde mental. São eles: ONGs (Organizações Não Governamentais), Associações, Clínicas e Consultórios, Entidades Privadas e Filantrópicas, Escolas de Educação Especial e Escolas Regulares, Instituições de Longa Permanência. Nesses locais são atendidas pessoas em todas as faixas etárias, com diferen-tes necessidades de saúde e sofrimento mental. No caso das crianças, é cada vez mais comum o atendimento em casos de TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), entre outros transtornos mentais. Já na população de adultos, muitas pessoas com transtornos relacionados à depressão e à ansiedade, por exemplo, estão sendo encaminhadas aos tera-peutas ocupacionais. Além dos atendimentos individuais e em grupos, o terapeuta ocupacional pode realizar orientações a pais e familiares, apoiar escolas no processo de inclusão, participar de ações para divulgação e esclarecimentos sobre as diferentes patologias, contribuindo para desmistificação do transtorno mental entre a população geral. Vale também destacar que os terapeutas ocupacionais têm, com frequência, assumido papeis na gestão dos serviços de saúde mental, destacando-se com excelência na condução administrativa e das equipes de cada local e na articulação da RAPS em diferentes municípios.

    ALMEIDA, M. C. de, BARROS, D. D., GALVANI, D., REIS, T. de A. M. Terapia ocupa-cional e pessoas em situação de rua: criando oportunidades e tensionando frontei-ras. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 19, n. 3, p. 351-360, 2011. AMARANTE, Paulo. Saúde mental e atenção psicossocial. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 106. 11 de fevereiro de 2000. Cria os Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental. Disponível em: < http//www.conselho.saude.gov.br.comissao/documentos. Decreto-lei106/2000>. Acesso em 05 de março 2017.

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    http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3090_23_12_2011_rep.html Decreto-lei106/2000>. Acesso em 13 de abril de 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 121. 25 de janeiro de 2012. Insti-tui a Unidade de Acolhimento para pessoas com necessidades decorrentes do uso de Crack, Álcool e Outras Drogas (Unidade de Acolhimento), no componente de atenção residencial de caráter transitório da Rede de Atenção Psicossocial. Dispo-nível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0121_25_01_2012.html>. Acesso em 13 de abril de 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas. Nota Técnica nº 25/2012. Serviço Hospitalar de Referência para atenção a pessoas com sofrimento ou transtorno mental incluindo aquelas com necessida-des de saúde decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, do Componente de Atenção Hospitalar da RAPS. Disponível em:http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/mentalsaude/NotaTecnicaPT1482012Leit osSMnoHG.pdf>. Acesso em 13 de abril de 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Aten-ção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012. BREGALDA, M. M.; LOPES, R. E. O programa de reabilitação profissional do INSS: apontamentos iniciais a partir de uma experiência. Cadernos de Terapia Ocupacio-nal da UFSCar, São Carlos, v.19, n.2, p.249-261, mai/ago. 2011. CAMPOS, G. W. de S. Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 3, n.1/2, p. 51-74, jan/dez. 2000. CAVALCANTI, A., GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: fundamentação e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. CHIAVERINI, D. H. (org.). Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. FERIOTTI, M. de L. Equipe multiprofissional, transdisciplinaridade e saúde: desafios do nosso tempo. Vínculo [online]. 2009, vol.6, n.2, pp. 179-190. LAW, M. et al.; CARDOSO, A.; MAGALHÃES, L. V.; MAGALHÃES, L. de C. (org. e trad.). Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM). Belo Horizonte:

    Editora Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. In: SANTOS, J. C. (org.). Saúde da Pessoa Idosa - A Terapia Ocupacional e o desempenho ocupacional. UFMA: São Luís, 2014. MARIOTTI, M. C. WACHHOLZ, S. M. S. A participação do Terapeuta Ocupacional na reforma psiquiátrica e nos novos serviços de saúde mental. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 17, n. 2, p. 147159, 2009. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. NOGUEIRA, A. M.; RUZZI-PEREIRA, A. Ações de terapeutas ocupacionais na aten-ção à pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 22, n. 2, p. 285-293, 2014. OLIVEIRA, Y. C. A clínica terapêutica ocupacional com usuários de substâncias psicoativas: o desafio da práxis. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, Fortale-za, v. 19, n. 4, p. 229-233, 2006. ROTELLI, F. A instituição inventada. In: ROTELLI, F.; LEONARDIS, O.; MAURI, D. (Org.). Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 2001.

    Cartão Babel de Saúde Mental na Atenção Básica: 1) Exame das funções psíquicas 2) Triagem para depressão 3) Avaliação de risco de suicídio 4) Triagem para ansiedade 5) Uso nocivo de álcool (CAGE) 6) Dependência ao tabaco (Teste de Fagerstrom) 7) Mini-exame do estado mental 8) Roteiros para Avaliação Integral: Princípios da Saúde da Família; Etapas do Atendimento Centrado na Pessoa; Roteiro para discussão de casos em Apoio Matricial de Saúde Mental COMUNICAÇÃO: ESSE CARTÃO BABEL ESTÁ TODO DISPONÍVEL NO LINK ABAIXO: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/constructore/objetos/Cart%e3oBabel.pdf

    de Terapia Ocupacional em Saúde Mental

    GUIA DE REFERÊNCIA

    Câmaras Técnicas de Saúde Mental | 2017

  • Acolhimento É o momento de escuta inicial, a partir da queixa, para formular a demanda de atendimento; requer técnicas, posturas e reorientação dos profissionais na organização do processo de trabalho, permitindo o acesso e o acompa-nhamento de cada pessoa em seu PTS.

    AssembleiasUma das modalidades de grupos oferecidas nos CAPS semanalmente, sendo um espaço de convivência e de discussão de questões referentes ao serviço, favorecendo o protagonismo dos usuários e familiares.

    Busca AtivaAção que tenta identificar o motivo da ausência dos usuários ao serviço e resgatar o vínculo e a continuidade do acompanhamento, de acordo com seu PTS.

    Clínica AmpliadaA clínica ampliada é uma das diretrizes que a Política Nacional de Humaniza-ção propõe para qualificar o modo de se fazer saúde. Ampliar a clínica é aumentar a autonomia do usuário do serviço de saúde, da família e da comu-nidade. É integrar a equipe de trabalhadores da saúde de diferentes áreas na busca de um cuidado e tratamento de acordo com cada caso, com a criação de vínculo com o usuário. A vulnerabilidade e o risco do indivíduo são consi-derados e o diagnóstico é feito não só pelo saber dos especialistas clínicos, mas também leva em conta a história de quem está sendo cuidado.

    Cuidadores de SRT São os profissionais que trabalham nos Serviços Residenciais Terapêuticos, englobando ações no domicílio, na comunidade local, no lazer, na família, e outros, de acordo com o PTS de cada morador, acompanhando-o nas Ativi-dades de Vida Diária (AVDs) e Atividades de Vida Prática (AVPs) e favorecen-do a autonomia e independência possíveis para cada um nessas atividades.

    Desempenho ocupacional Participação do indivíduo no contexto da vida diária, como resultado de interações entre a pessoa, o ambiente e a ocupação. É formado por contex-tos de desempenho (cultural, social, físico e institucional), por áreas de desempenho (autocuidado, produtividade e lazer) e componentes de desempenho (afetivo, cognitivo e físico).

    EcomapaConsiste na representação gráfica dos contatos, das relações, ligações e interações entre os membros da família e também com os outros sistemas sociais. GenogramaDiagrama que detalha a estrutura e o histórico familiar fornecendo informa-ções sobre os vários papéis de seus membros e das diferentes gerações; fornece as bases para a discussão e análise das interações familiares e os laços de afetividade.

    PTS Conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas para os usuários dos serviços, direcionadas às suas necessidades. Dispositivo potencial para o planejamento das ações em saúde, especialmente nos serviços onde o

    trabalho está organizado na lógica de Apoio Matricial e Equipe de Referên-cia, como CAPS, por exemplo. A elaboração do PTS deve ser coletiva, ou seja, feita pelos técnicos da equipe, pelo usuário e familiares.

    Técnico ou terapeuta de referência Profissional da equipe responsável pelo acompanhamento do usuário, pelo seu PTS, pelo contato com a família e demais serviços/profissionais da rede e pela avaliação dos objetivos traçados inicialmente.

    Território Espaço delimitado não só geograficamente, mas também pelas relações ali estabelecidas como as relações de poder, trocas sociais e materiais, por exemplo.

    A proposta desse Manual é apresentar possibilidades de ações do terapeuta ocupacional no campo da Saúde Mental, bem como apoiar esses profissio-nais no desenvolvimento de estratégias de cuidado de famílias, indivíduos e comunidade em geral. Além disso, pretende contribuir na qualificação do cuidado e amenizar as angústias quando nós, profissionais, nos deparamos com pessoas, familiares, amigos e vizinhos que convivem e/ou possuem problemas relacionados à saúde mental. A Lei 10.216, de 06 de abril de 2001, implanta a Reforma Psiquiátrica para garantir a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, além de buscar novas formas de cuidar, mudando o modelo de internação asilar (BRASIL, 2001). A mudança de um Paradigma Psiquiátrico, hospitalocêntrico e médico--centrado, para o Paradigma da Atenção Psicossocial, está implicada no cuidado em liberdade, no território, garantindo direitos e proteção das pessoas com transtornos mentais. Amarante (2007) ressalta que na Saúde, poucos são os campos de conheci-mento e atuação tão complexos, plurais, intersetoriais e com tanta transver-salidade de saberes, pois não se baseia apenas na psiquiatria e tampouco é exercida por apenas um profissional. Portanto, o cuidado em saúde mental não está mais relacionado somente à remissão dos sintomas, mas também a reconstrução dos vínculos, da auto-nomia e do protagonismo do sujeito social. Neste contexto, a Atenção Básica aparece como eixo estruturante no cuida-do em Saúde Mental, através do Apoio Matricial, além dos CAPS (Centros de Atenção Psicossociais) e dos demais pontos de atenção da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), como os SRTs (Serviços Residenciais Terapêuti-cos) nos processos de Desinstitucionalização, entre outros, conforme tabela 1. Além da Política Nacional de Saúde Mental, observamos que os terapeutas

    ocupacionais têm realizado ações e projetos em outros locais, como ONGs e serviços privados, também com enfoque na saúde mental. Se considerar-mos dados oficias que apontam para o crescimento de transtornos mentais no país, como é o caso do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), por exemplo, podemos afirmar que os terapeutas ocupacionais têm outras possibilidades de atuação nesse campo, bastante complexo e diversificado, para além das políticas públicas vigentes e a partir de diferentes referenciais teóricos. Em anexo estão, como sugestão, exemplos de instrumentos para avaliação das pessoas com sofrimento mental. Essas ferramentas podem ser utilizadas pelas equipes de saúde mental, incluindo-se os terapeutas ocupacionais. Iniciaremos com a apresentação do tema “Desinstitucionalização” e os pontos de atenção da RAPS (BRASIL, 2011) que devem ser implantados em cada município, a depender de seu porte populacional e demandas de aten-ção em Saúde Mental, indicando minimamente a cartografia das políticas públicas na área e as possibilidades de atuação dos terapeutas ocupacionais na abordagem da Atenção Psicossocial. Em seguida, outras possibilidades para os terapeutas ocupacionais da Saúde Mental serão brevemente citadas, devendo ser objeto de futuras publica-ções, tanto em apresentação digital como impressa. Ressaltamos que essa primeira publicação tem a proposta de ser um guia inicial para indicar alguns caminhos para os colegas terapeutas ocupacionais inseridos em serviços que realizem o cuidado às pessoas em sofrimento mental. Segue a tabela 1 para apresentar cada ponto de atenção da RAPS, contextu-alizando o cenário que será abordado:

    A partir da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciada no final dos anos 70, com a mobilização de profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais, esse movimento se inscreve no contexto da rede-mocratização do país e na mobilização político-social que ocorre na época. Já no final da década de 80 os hospitais psiquiátricos começam a fechar, sendo a primeira experiência em São Paulo o encerramento das atividades da Casa Anchieta em Santos.

    A partir disso, a desinstitucionalização passa a fazer parte do cotidiano do Movimento da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica brasileira como um dos seus pilares.

    Sendo assim, entendemos desinstitucionalização como o modo pelo qual se trabalha com novas possibilidades de vida das pessoas que por anos ou décadas viveram em espaços confinados ditos Hospitais Psiquiátricos. Um processo de singularização que tem como propósito a invenção ou reinven-ção de um outro modo de se viver, sendo esta oportunidade impossível de se viabilizar com alguém que mora dentro de instituições fechadas.

    Trata-se da produção de vida e reprodução social, sendo uma engenharia de reconstrução de sentidos, de produção de valores, tempo, espaço, responsabilizar-se, de identificação de situações de sofrimento e de opres-são, reingressar no corpo social, consumo de produção, trocas, novos papéis, outros modos materiais de ser para o outro, aos olhos do outro como discute Franco Rotelli na publicação "A Instituição Inventada" de 1988 que, apesar de ser antiga, apresenta colocações importantes que ainda condiz com nossa realidade.

    Vale lembrar que no cenário brasileiro, esse processo tem papel importante na vida das pessoas institucionalizadas e se inicia dentro do Hospital Psiquiá-trico, pois é intramuros que as equipes de desinstitucionalização iniciam o trabalho em conjunto com os moradores para impedir a continuidade do sufocamento de um lugar social que os mesmos não escolheram pra si.

    Ressalta-se ainda a importância dos terapeutas ocupacionais nessas equi-pes, pois para se construir o Projeto Terapêutico Singular (PTS), é necessário avaliar as Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades de Vida Prática (AVP) e

    funcionalidade – objeto de intervenção da profissão, bem como coletar dados pessoais, história clínica, psíquica e familiar nos prontuários e escutar os moradores, familiares e profissionais para construção de um PTS significa-tivo pautado no resgate de cidadania, desejos e novas possibilidades de vida. Além desta imprescindível avaliação, o terapeuta ocupacional pode oferecer apoio técnico aos acolhimentos de familiares dos moradores e nas visitas domiciliares para resgate de vínculos e verificação de possibilidades para retorno do morador para sua família ou se deve ser encaminhado para um SRT. Participar de discussões de casos com as equipes do Hospital Psiquiá-trico, articular e acompanhar o processo de pré e pós-alta e articular com serviços de referência o início da reabilitação psicossocial no território, seguindo o propósito da Lei n. 10.216, de 06 de abril de 2001, são também funções dos terapeutas ocupacionais nas equipes de Desinstitucionalização.

    Após a alta hospitalar, os egressos dos hospitais psiquiátricos devem ser, preferencialmente, encaminhados para os SRTs, respeitando-se os critérios que definirão para qual município eles irão. Temos verificado na prática que alguns moradores perderam totalmente o contato com os familiares durante o período de internação. Outros ainda recebem esporadicamente visitas dos familiares ou pelo menos sabe-se onde encontrá-los. Porém, tem sido comum nesses casos o encaminhamento dos egressos para um SRT para que se inicie um processo de reconstrução de vínculos com a família. Se ao longo do tempo for verificado que é possível e de desejo das pessoas envol-vidas, a pessoa pode voltar a morar com sua família. Eles também deverão continuar seu tratamento nos CAPS de referência em seu novo território e nos demais pontos de atenção da RAPS, de acordo com seu PTS.

    Portanto, a Desinstitucionalização é um processo cuidadoso na tentativa de garantir uma transição gradual dos moradores que há muito tempo perde-ram suas referências no mundo externo ao hospital. Muitos municípios tem feito esse processo em várias etapas, inclusive levando os moradores para conhecerem a casa, os serviços que frequentarão e as novas pessoas com quem conviverão em várias visitas antes da alta. Sendo assim, esse processo não deve ser confundido com Desospitalização, ou seja, apenas retirar as pessoas dos hospitais e transferi-las para outros locais. A seguir, abordaremos os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), suas

    modalidades e possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional nesse local.

    Leia mais em: Lei Federal nº 10.216, de 6 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Portaria MS/GM nº 2.840, de 29 de dezembro de 2014, que Cria o Programa de Desinstitucionalização integrante do Componente Estratégias de Desinstitucio-nalização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), e institui o respectivo incentivo financeiro de custeio mensal.

    Desinstitucionalizar e reinserir as pessoas com transtornos mentais graves na sociedade não é uma tarefa tão simples e fácil de realizar, como vimos anteriormente. Mas é a partir desse processo que os egressos dos hospitais psiquiátricos devem ser encaminhados para os SRT. Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), também conhecidos como Residência Terapêutica (RT), são casas localizadas em pontos urbanos, desti-nadas às pessoas com transtornos mentais que permaneceram instituciona-lizadas longos períodos em Hospitais Psiquiátricos. As residências foram instituídas pela Portaria MS/GM nº 106, de 11 de fevereiro de 2000 e fazem parte da Política Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde. São os pontos de atenção da RAPS no Componente das Estratégias de Desinstitucionalização. As residências são centrais no processo de Desinstitucionalização e reinser-ção dos egressos dos Hospitais Psiquiátricos na sociedade. Essas casas são mantidas, entre outros repasses, por recursos financeiros que anteriormente eram destinados aos leitos psiquiátricos. Assim, para cada morador de Hos-pital Psiquiátrico transferido para uma Residência Terapêutica, deve ter o descredenciamento do leito pelo SUS, sendo os recursos que o mantinham, realocados para a manutenção da Residência. Além desse recurso, existe um repasse de custeio mensal para os SRT habilitados pelo Ministério da Saúde,

    que pode variar de acordo com o tipo de SRT (tipo I ou tipo II) e número de moradores, de acordo com a Portaria MS/GM nº 3.090, de 23 de dezembro de 2011. Os municípios com moradores institucionalizados ou com interesse em implantar uma Residência Terapêutica com vagas solidárias, ou seja, para moradores de outros municípios, recebem inicialmente um repasse de incen-tivo para a implantação e, posteriormente, deve realizar o cadastro para a continuidade dos repasses dos custeios mensais. Pensando nesse contexto, a Desinstitucionalização reordena as ações no campo da Saúde Mental a outro objeto, que é a pessoa com sofrimento psíquico e não mais a doença mental. É preciso reconhecer essa pessoa como sujeito de direitos e deveres, pressupondo mudanças culturais e subjetivas na sociedade, transformando a visão pragmática da loucura, do Modelo Psiquiátrico e Hospitalocêntrico para o modelo da Atenção Psicos-social. As moradias, como já citado, são divididas em 2 (dois) tipos e devem ser organizadas de acordo com as necessidades e gostos de seus residentes. Os modelos atuais de acordo com a Portaria MS/GM nº 3.090, de 23 de dezembro de 2011 são: • SRT tipo I: o foco é a inserção dos moradores no contexto social existente (educação, lazer, trabalho, entre outros), o acompanhamento ocorre de acordo com o PTS e também pelos agentes comunitários do programa PSF (Programa de Saúde da Família), quando houver. A proposta é ser uma mora-dia voltada para portadores de transtornos mentais com maior autonomia que não demandam cuidados específicos de saúde, podendo acolher até 08 (oito) moradores. • SRT tipo II: nessa moradia o foco são os cuidados com a população mais dependente devido aos longos períodos de institucionalização. Nesse caso, a proposta é favorecer a reapropriação do espaço residencial e a inserção dos moradores na rede territorial. Nesse tipo de moradia a demanda de cuidados com a saúde, especialmente de um técnico de enfermagem é reco-mendada, podendo acolher até 10 (dez) moradores.

    As RTs devem ter acompanhamento dos CAPS ou de outro serviço/equipe de saúde mental de referência ou também de Equipes de Saúde da Família, com o Apoio Matricial em Saúde Mental. A equipe deve ser compatível com a necessidade dos moradores: no SRT tipo I deve ter um cuidador de refe-rência, que deve ser avaliado pela equipe técnica de responsável. No SRT tipo II para cada residência com 10 (dez) moradores deve-se contar com, no mínimo, 05 (cinco) cuidadores em regime de escala e 01 (um) técnico de enfermagem diário. Os critérios para encaminhamento dos moradores para as Residências Tera-pêuticas devem ser: 1) Município de escolha da pessoa; 2) Município de origem ou onde a família mora, se localizada, para tentar-se o resgate de vínculos; 3) No mesmo município dos amigos vinculados no hospital. É importante ressaltar que as pessoas egressas das internações de longa duração têm direito a receber um benefício chamado Programa “De Volta para Casa” (PVC). Esse Programa é um dos pontos de atenção do Compo-nente de Estratégias de Reabilitação Psicossocial da RAPS. Para ser concedido o município que acolherá o morador deverá aderir ao Programa junto ao Ministério da Saúde. O Programa “De Volta para Casa” dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial, instituído pela Lei 10.708, de 31 de julho de 2003. Seu objetivo é contribuir para a assistência, o acompanhamento e a integra-ção social, fora do hospital, de pessoas com transtornos mentais, com inter-nações psiquiátricas de longa duração, ou seja, com dois anos ou mais de internação. Saiba mais em: • Lei Federal n° 10.708, de 31 de julho de 2003, que institui o auxílioreabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de inter-nações. • Portaria MS/GM nº 2.077, de 31 de outubro de 2003, que regulamenta a Lei nº 10.708. • Portaria MS/GM n° 2.078, de 31 de outubro de 2003, que institui a

    Comissão de Acompanhamento do Programa "De Volta para Casa" • http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prog_volta_para_casa.pdf A atuação do terapeuta ocupacional na RT é de grande importância, englo-bando ações no domicílio, na comunidade local, no lazer, na família, e outros, de acordo com o PTS de cada morador. Nesse serviço temos a possibilidade de intervir em todos esses aspectos, apoiando os moradores no processo de retomada da identidade social, dos vínculos, da autonomia, assim como em sua própria casa. Portanto, como terapeutas ocupacionais podemos auxiliar os moradores na organização da rotina pessoal e da própria casa, intervindo nas áreas de desempenho ocupacional como as AVDs, AVPs, atividades de lazer e sociais e retomada de projetos de vida interrompidos devido aos longos períodos de internação. Importante destacar que o terapeuta ocupacional pode participar desse processo sendo o técnico de referência do SRT pelo CAPS de origem ou como gerente de SRT, já que esse ponto de atenção da RAPS não deve se caracterizar como um serviço típico de saúde e sim como a casa dessas pessoas, como a nossa casa. Além da nova casa, os egressos dos hospitais psiquiátricos devem continuar seu tratamento, mas agora no CAPS e nos demais serviços da Rede, como citado anteriormente. A seguir, apresentaremos os CAPS nas diferentes modalidades, formas de funcionamento, suas atribuições e atividades que podem ser realizadas pela equipe e pelos terapeutas ocupacionais.

    Quando ocorreram as mudanças na psiquiatria brasileira, baseadas no modelo da Reforma Psiquiátrica Italiana, logo surgiram os serviços substituti-vos aos Hospitais Psiquiátrico, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS devem ser serviços abertos e de caráter comunitário, voltados àquelas pessoas que apresentam um quadro de sofrimento psíquico, seja ele decorrente de uso problemático de substâncias psicoativas (álcool e outras

    drogas) e/ou decorrentes de transtorno mental grave e persistente. Esses serviços são os pontos de atenção da RAPS do Componente da Aten-ção Psicossocial Especializada. Nesse modelo destaca-se também o trabalho em equipe multidisciplinar, que pode ser composta por profissionais como: médicos, psicólogos, enfer-meiros, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, entre outros. Com essa gama de profissionais entende-se que esse trabalho permite promover ações que englobam a interação no processo de educação, assis-tência, esporte, cultura, lazer, a partir da elaboração dos projetos terapêuti-cos singulares. As equipes podem ser divididas em mini-equipes, de acordo com a extensão do território de referência do CAPS. Os profissionais são considerados técni-cos ou terapeutas de referência para um determinado grupo de usuários, podendo ser divididos por territórios ou outra estratégia definida. Sabe-se que a realidade varia de lugar para lugar, mas o CAPS tem ações que permitem atender esses diferentes contextos, nas seguintes modalidades:

    As categorias profissionais que podem compor os CAPS são: Profissionais de nível superior: assistente social, educador físico, fonoaudió-logo, pedagogo, psicólogo, terapeuta ocupacional ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico. Profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional, artesão/oficineiros.

    • Responsabilizar-se, sob a coordenação do gestor local, pela organização da demanda e da rede de cuidados em saúde mental em seu território; • Possuir capacidade técnica para ser o regulador da porta de entrada da rede assistencial em seu território e/ou do módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS), conforme determinação do gestor local; • Coordenar, por delegação do gestor local, as atividades de supervisão de unidades hospitalares com leitos de Saúde Mental no âmbito do seu territó-rio; • Supervisionar e capacitar as equipes de atenção básica, serviços e progra-mas de saúde mental em seu território e/ou do módulo assistencial, através do Apoio Matricial, por exemplo; • Oferecer apoio aos Serviços Residenciais Terapêuticos de seu território de referência; • Realizar, e manter atualizado, o cadastramento dos pacientes que utilizam medicamentos essenciais para a área de saúde mental e medicamentos excepcionais, dentro de sua área assistencial.

    • Acolhimento, considerando que o CAPS funciona como “porta aberta”, sem necessidade de prévio agendamento; • PTS de cada usuário; • Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros, a depender da especificidade de cada profissional); • Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras, a depender da especificidade de cada profissio-nal); • Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio; • Visitas domiciliares; • Busca Ativa; • Atendimento à família; • Assembleias de usuários, familiares e trabalhadores; • Atividades comunitárias e sociais; • Acompanhamento nas internações nos leitos de saúde mental em hospital geral; • Projetos de geração de trabalho e renda; • Apoio aos Serviços Residenciais Terapêuticos; • Apoio matricial para a Atenção Básica e demais pontos da Rede; • Reuniões de equipe: nas passagens de plantão, reuniões gerais e de plane-jamento; • Supervisão clínico-institucional; • Educação Permanente. Os terapeutas ocupacionais que trabalham em CAPS são, como os demais profissionais da equipe, técnicos ou terapeutas de referência. Isto é, são responsáveis pelo acompanhamento de usuários de sua referência, são escalados para os plantões, realizam acolhimento nos plantões de sua responsabilidade e todas as demais atividades citadas anteriormente. E, quanto ao seu papel específico no serviço, podem desenvolver atividades voltadas a reorganização da vida diária dos usuários e reinserção social atra-vés, principalmente de atividades em grupo, tais como: Oficinas de Auto--Cuidado, Oficinas de Geração de Renda, Oficinas de Trabalho Corporal, Oficinas de Culinária, Oficinas de Leitura e Escrita, atividades sociais e outras, de acordo com as necessidades de cada grupo, a partir de uma cuida-dosa avaliação do perfil do mesmo e análise de atividades.

    Os CAPS são considerados serviços para acompanhamento dos casos graves e persistentes. Após estabilização dos sintomas ou, mesmo os casos de transtornos mentais leves e moderados podem ser atendidos na própria Atenção Básica, com apoio das equipes de NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e CAPS, através das atividades de matriciamento. Essa considera-ção é importante já que devemos tomar cuidado para que os CAPS não se transformem em locais que também institucionalizem cronificando as pesso-as, mas devendo ser um lugar de passagem e cuidado para os momentos críticos e de crise. O tema do Apoio Matricial será apresentado a seguir. Consulte também: • Portaria MS/GM nº 336, de 19 de fevereiro de 2002 Define as modalidades de CAPS. • Portaria MS/GM nº 245 de 17 de fevereiro de 2005 Destina incentivo finan-ceiro para implantação de CAPS. • Portaria MS/GM nº 3089, de 23 de dezembro de 2011 Dispõe, no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial, sobre o financiamento dos CAPS. • Portaria MS/GM nº 130, de 26 de janeiro de 2012 Redefine o CAPS AD III e os respectivos incentivos financeiros. • Portaria MS/SAS nº 854, de 22 de agosto de 2012 Trata das alterações nos procedimentos dos CAPS e da RAAS. • Portaria MS/GM nº 1996, de 10 de setembro de 2013 Altera valor de custeio mensal de CAPS III e CAPS AD III. • Manual “Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial” (http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf)

    O Apoio Matricial acontece como uma articulação que cria possibilidades de coresponsabilização do cuidado entre diversos serviços que em geral acom-panham indivíduos e/ou famílias, tendo como foco o modelo integral de cuidado. Surge como um novo modelo de cuidado, num processo de construção com-partilhada a partir de intervenções técnico pedagógicas que produzem:

    • Educação Permanente • Cuidado compartilhado e colaborativo • Horizontalização do cuidado • Clínica Ampliada O desenvolvimento das ações do Apoio Matricial acontece através de discussões de casos, visitas compartilhadas, construção do PTS, atendimen-tos compartilhados, Genograma e Ecograma. Os serviços ou instâncias que participam deste cuidado compartilhado podem ser: profissionais da Atenção Básica (AB), equipes de apoio para a saúde mental na AB ou NASF, CAPS, escolas, Conselho Tutelar, bem como Instituições especializadas, Conselhos Municipais (Saúde, Idoso, Álcool e Drogas e outros), Vigilância Sanitária, usuários, parentes e vizinhos.

    Fonte: Ministério da Saúde (2004)

    Os profissionais que participam do Matriciamento em Saúde Mental na Atenção Básica podem ser: assistentes sociais, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais. Sendo assim, o processo de saúde-doençaintervenção em Saúde Mental passa a pertencer a todo campo da saúde, num processo interdisciplinar com práticas que envolvem

    ampliação do saber, construção do aprendizado conjunto e permanente, qualificação do cuidado, fortalecimento da rede assistencial, comunitária e/ou familiar, deixando de ser campo exclusivo de determinada especialida-de. A seguir, serão abordados resumidamente os seguintes pontos de atenção da RAPS: Consultório na Rua, Unidades de Acolhimento, Atenção Hospitalar, Cooperativas de Trabalho e Geração de Renda/Empreendimentos Solidários e Centros de Convivência e Cultura. Outras informações em: • Caderno de Atenção Básica nº 34 – Saúde Mental (http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_34.pdf ) • Guia Prático de Matriciamento em Saúde Mental (https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3231.pdf)

    A Estratégia Consultório na Rua foi instituída pela Política Nacional de Aten-ção Básica, em 2011, visando ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde, ofertando atenção integral à saúde para esse grupo populacional, que se encontra em condições de vulnerabilidade e com os vínculos familiares rompidos ou fragilizados. É um ponto de atenção da RAPS no Componente da Atenção Básica em Saúde. As equipes do Consultório na Rua (eCR) desenvolvem ações de Atenção Básica de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental. As atividades das eCR incluem a busca ativa e o cuidado aos usuários de álcool, crack e outras drogas in loco, de forma itinerante e integral, envolvendo questões físicas e mentais. Realiza ações compartilhadas e integradas aos outros equipamentos da RAPS (UBS/ESF, CAPS, entre outros) e a rede local como CRAS, CREAS e outros equipamentos do SUAS (Sistema Único de

    Assistência Social). O terapeuta ocupacional é profissional habilitado para compor as eCR que podem ser de 3 modalidades e se diferenciam somente na quantidade de profissionais, e na modalidade III pode incluir o profissional médico.

    Item 1: Enfermeiro, Psicólogo, Assistente Social e Terapeuta Ocupacional Item 2: Agente Social, Técnico ou Auxiliar de Enfermagem, técnico em Saúde Bucal, Cirurgião Dentista, profissional de Educação Física e profissional com formação em Arte e Educação. Vale ressaltar que o funcionamento deverá se adequar às demandas das pessoas em situação de rua do município, podendo ocorrer em período diurno e/ou noturno e em qualquer dia da semana. Segundo o Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua (BRASIL, 2012), apesar de os transtornos mentais significativos não estarem presentes na maioria da população em situação de rua, são muito prevalentes e os mais graves necessitam que a equipe desenvolva ações a fim de possibilitar o maior nível de autonomia possível. É neste sentido que a atuação dos terapeutas ocupacionais pode ser de grande relevância para essa equipe. Na intervenção terapêutica ocupacional é possível que a pessoal cuidada se redescubra, se reconecte, podendo alcançar desejos, realizar projetos e produção de vida, rever e valorizar suas histórias e saberes, bem como encontrar possibilidades concretas de participação e identidades grupais, a partir do uso de grupos terapêuticos como recurso, por exemplo. De modo geral, o principal objetivo do CR é atuar de forma a preservar direi-

    tos e promover vínculos positivos e saudáveis, repercutindo de forma satis-fatória nas condições de saúde individual e coletiva e no resgate da cidada-nia. Pode ser também uma possibilidade para que essas pessoas procurem o tratamento para o sofrimento mental decorrente do uso problemático de álcool e outras drogas, podendo ser encaminhados ao CAPS, por exemplo, se esse for seu desejo. Os princípios da Redução de Danos são norteadores para a atenção psicos-social dessas pessoas, sendo as internações indicadas quando necessárias, cuidando para que as mesmas sejam de curta duração e no território, conforme será comentado mais adiante. Para mais informações acesse: • Portaria MS/GM nº 122, de 25 de janeiro de 2012 Define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua. • Portaria MS/GM nº 123, de 25 de janeiro de 2012 Define os critérios de cálculo do número máximo de equipes de Consultório na Rua (eCR) por Município. • Portaria MS/GM nº 1.922, de 5 de setembro de 2013 Altera dispositivos da Portaria nº 122/GM/MS, de 25 de janeiro de 2012, que define as diretrizes de organização e financiamento das equipes dos Consultórios na Rua. • Portaria MS/GM nº 1.029, de 20 de maio de 2014 Amplia o rol das categorias profissionais que podem compor as Equipes de Consultório na Rua em suas diferentes modalidades e dá outras providências. Portaria MS/GM nº 1.238, de 6 de junho de 2014 Fixa o valor do incentivo de custeio referente às