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© Idec – 2004Coordenadora institucional: Marilena Lazzarini

Coordenador executivo: Sezifredo Paz

Coordenação do projeto: Marcos Pó e Lisa Gunn

Edição: Carla Prates

Texto: Maria A. Medeiros

Projeto gráfico, diagramação, capa e ilustrações: Shirley Souza

Desenhos: Adriano da Silva Gomes, Wellington Alves e

Millene Marry José de Souza

Impressão: Bettercolor Artes Gráficas

Colaboradores: Carlota Costa e Olívia Franco

Tiragem: 1.000 exemplares

Esta publicação foi produzida e editada pelo Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, com o

apoio da Fundação Avina, e será distribuída gratuitamente para consumidores, organizações de consumi-

dores e empresas. A iniciativa faz parte do projeto "O consumidor e a responsabilidade social corporativa".

IdecRua Dr. Costa Júnior, 356

cep: 05002-000

Água Branca – São Paulo – SP

Tel: (11) 3874-2150 – Fax: (11) 3874-2153 -– www.idec.org.br

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Sumário

Apresentação .......................................................... 4

O movimento dos consumidores ................................. 6

A evolução do consumidor brasileiro .......................... 8

Panorama atual ..................................................... 10

A responsabilidade social das empresas ..................... 12

Diferentes visões .................................................... 14

A RSE e os consumidores ......................................... 15

Princípio de RSE: diálogo

com as "partes envolvidas" ....................................... 17

Marcos referenciais ................................................ 18

O que o consumidor pode fazer ................................ 20

Para saber mais (dicas de sites) ................................ 20

Sobre o Idec .......................................................... 21

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om a publicaçãodeste guia, o Instituto Bra-sileiro de Defesa do Consu-midor (Idec) marca o apro-fundamento de sua atuaçãona área de responsabilidadesocial empresarial.O tema da responsabilidadesocial está enraizado na con-cepção das organizações deconsumidores desde o início.O movimento de consumido-res surgiu no fim do séculoXIX, motivado exatamentepela preocupação com o

Apresentação C

comportamento das empresas em relação aos trabalhadores. A preocupaçãocom o meio ambiente por meio do consumo sustentável, com o respeito aosdireitos sociais, humanos e dos consumidores, com a inclusão social e a desi-gualdade também são elementos comuns no trabalho de associações de consumi-dores em todo o mundo. Pesquisas realizadas no Brasil e no mundo mostram queos consumidores têm um desejo cada vez maior de escolher empresas responsáveis.

A responsabilidade social é uma postura ética permanente das empresasno mercado de consumo e na sociedade. Muito mais que ações sociais e filan-tropia, a responsabilidade social, no nosso entendimento, deve ser o pressupostoe a base da atividade empresarial e do consumo. Engloba a preocupação e ocompromisso com os impactos causados aos consumidores, meio ambiente etrabalhadores; os valores professados na ação prática cotidiana no mercado deconsumo – refletida na publicidade e nos produtos e serviços oferecidos –; apostura da empresa em busca de soluções para eventuais problemas; e, ainda,a transparência nas relações com os envolvidos nas suas atividades.

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Ainda existe um longo diálogo a ser travado sobre osignificado da responsabilidade social empresarial. Paraatender às expectativas de todos os envolvidos – empresas,governos, consumidores, comunidades e trabalhadores –, énecessário manter um diálogo aberto e construtivo.

A responsabilidade social empresarial deve ser corres-pondida pela responsabilidade social do consumidor. A últimaconsiste na busca de informações sobre os impactos dos seushábitos de consumo e em escolhas preocupadas com a so-ciedade, o meio ambiente e os direitos humanos. O consumidortambém deve cobrar permanentemente uma postura ética eresponsável de empresas, governos e de outros consumidores.Devem, ainda, agir como cidadãos conscientes de sua respon-sabilidade em relação às outras pessoas e aos seres dos diversoslugares desse planeta, apoiados e instigados pelas organiza-ções de consumidores.

O foco da atividade do Idec é o consumidor. Entendemosque, para elevar o patamar de conscientização do nosso papelcomo consumidores cidadãos, é necessário o acesso à infor-mação independente e confiável sobre as práticas empresariais,a fim de podermos exercer o nosso poder de escolha e fazer comque as empresas adotem cada vez mais padrões responsáveis.

Por isso, além de entrar no diálogo sobre a responsa-bilidade social, o Idec também tem o objetivo de oferecer aoconsumidor uma ferramenta para ajudar na avaliação docomportamento empresarial. Se já existem metodologiasconsolidadas para analisar segurança, sanidade e qualidadedos produtos e serviços disponíveis, isso não acontece emrelação à responsabilidade social. Ainda não há modelos oumetodologias estabelecidos e reconhecidos para forneceravaliações objetivas e confiáveis para o consumidor.

O estabelecimento do diálogo e o contínuo desenvolvi-mento dessa metodologia são os desafios que o Idec sepropõe a enfrentar agora, com o intuito de que possamosatingir uma sociedade mais justa e ética para todos.

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primeiro movimen-to organizado de consumido-res surgiu nos Estados Unidos,no final do século XIX, atre-lado à luta por melhores con-dições de trabalho e motivadopela preocupação com o com-portamento das empresas. Nes-sa época, nascia a primeiraorganização civil de defesado consumidor, a Liga de Con-sumidores de Nova York, cujoprincipal objetivo era estimu-lar o consumo de produtosfabricados e distribuídos em

O movimentodos

consumidores

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conformidade com os direitos dos trabalhadores. Para isso, a Liga divulgava lis-tas com o nome desses produtos, que ficaram conhecidas como “listas brancas”.Em 1936 é fundada a Consumers Union, que possui atualmente mais de 5 milhõesde associados nos Estados Unidos, dedicada inicialmente a realizar testes deprodutos e serviços e a informar os consumidores.

Na Europa, o movimento de consumidores começa a ganhar força no pe-ríodo pós-guerra, com a criação do Conselho do Consumidor, em 1947, na Dinamarca.A partir de então surgem organizações em todo o mundo: Alemanha, Suécia,Holanda, Noruega, Bélgica, Inglaterra, França, Austrália, Japão e Canadá. Aexpansão do movimento era fruto de uma crescente conscientização dos con-sumidores, que começavam a se perceber como um grupo econômico capaz deinfluenciar a conduta das empresas e as decisões políticas.

Na década de 60, entidades de vários países começam a se unir, formandoa primeira organização não-governamental de consumidores com atuaçãointernacional: a Consumers International. Atualmente, a entidade reúne maisde 250 organizações de defesa do consumidor em mais de 100 países e é pre-

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sidida, neste momento, pelo Instituto Brasileiro de Defesado Consumidor (Idec).

Outro marco importante na história da defesa do con-sumidor foi um discurso de John Kennedy, em 15 de marçode 1962, no qual o então presidente norte-americano reconheciaquatro direitos básicos do consumidor. Eram eles: o direitoà segurança, à informação, à livre escolha e o de ser ouvido.Esses direitos passaram então a nortear toda a política dedefesa do consumidor nos Estados Unidos. Por esse motivo,o dia 15 de março ficou consagrado como o Dia Mundial dosDireitos do Consumidor.

Em 1985, a Organização das Nações Unidas (ONU)lançou as diretrizes, revisadas em 1999, que estabelecem osdireitos básicos do consumidor: o direito ao acesso a bens eserviços necessários, à segurança, à informação, à livre escolha,a ser ouvido, ao recurso e à reclamação, à educação dos con-sumidores e à sustentabilidade. Essa iniciativa da ONUimpulsionou a criação de leis específicas de defesa do con-sumidor em diversos países, inclusive no Brasil.

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movimento dos con-sumidores no Brasil nasce emum momento em que a po-pulação protestava contra acarestia, em meio a mobi-lizações como a marcha dafome em 1931, a marcha dapanela vazia em 1953, o pro-testo contra o alto custo devida em agosto de 1963 e oprimeiro boicote à carne em1979. Essas manifestações eramreflexo das noções básicasde proteção ao consumidorque pouco a pouco se difun-diam no país.

A evolução doconsumidor

brasileiro

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Em 1962, com a promulgação da Lei Delegada no 4, vieram os primeirosdispositivos legais para garantir a livre distribuição dos produtos necessáriosao consumo. Nessa mesma época, a Vigilância Sanitária criava instrumentospara tornar mais seguro o consumo de produtos de origem animal. E, no iní-cio da década de 70, era criado o Instituto Nacional de Metrologia,Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), para estimular o avanço tec-nológico e aumentar a segurança dos produtos ofertados pela indústria.

Foi também nos anos 70 que surgiram as primeiras organizações dedefesa do consumidor – no Rio de Janeiro, em Curitiba, Porto Alegre e Brasília–, e o primeiro órgão público de proteção e defesa do consumidor, o Procon deSão Paulo.

Outro acontecimento, marcado pela reação do setor a uma tentativa deregulamentação, foi a aprovação do Código Brasileiro de Auto-regulamentaçãoPublicitária, em 1978, que estabeleceu normas para o setor publicitário, comoa proibição de propaganda enganosa e abusiva. Dois anos depois era criado o

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Conselho de Auto-regulamentação Publicitária (Conar),com a missão de fiscalizar o cumprimento do Código.

Os anos 80 também consolidaram a luta pela rede-mocratização e a crescente movimentação da sociedade civilbrasileira. No período, um novo impulso ao movimento foidado com a aprovação de uma lei que permitia a defesa coletivados interesses difusos da sociedade, a criação do ConselhoNacional de Defesa do Consumidor e a incorporação da defe-sa do consumidor à Constituição. Ainda assim, as entidadescivis, entre elas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumi-dor (Idec), fundado em 1987, lutavam com muita dificuldade,principalmente pela ausência de uma lei mais ampla e especí-fica para garantir a proteção e a defesa do consumidor.

A solução veio em 1991, quando passa a vigorar o Có-digo de Defesa do Consumidor (CDC), considerado o prin-cipal marco no movimento dos consumidores no Brasil. Umaimportante novidade trazida pelo CDC foi o reconhecimentode que o consumidor é a parte mais fraca nas relações deconsumo, o que permitiu maior equilíbrio de forças entreconsumidores e fornecedores.

A consolidação dos direitos do consumidor na décadade 90 foi assegurada com a criação do Sistema Nacional deDefesa do Consumidor (SNDC), que integra os Procons,Inmetro, Promotorias de Justiça, Defensorias Públicas, dele-gacias especializadas e Juizados Especiais Cíveis, além dasassociações de consumidores, atualmente reunidas no FórumNacional de Entidades Civis de Defesa do Consumidor, hojepresidido pelo Idec.

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o final do séculoXIX até os dias atuais, o mo-vimento dos consumidorespassou por várias fases queevidenciam a evolução e oamadurecimento das relaçõesentre consumidores e forne-cedores. Embora haja dife-renças no curso desse pro-cesso entre consumidores dediferentes regiões do globoe condições socioeconômicas,de um modo geral, podem-sedistinguir três fases de evolu-ção. Inicialmente, o movimento

Panoramaatual

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foi marcado pela necessidade de garantir direitos trabalhistas fundamentais epela luta para a afirmação do direito a produtos e serviços seguros, à proteçãocontra práticas abusivas e a receber indenização pelas más práticas comerciais.

Mais tarde, quando esses direitos mais básicos passam a ser amparadospor lei, o movimento se concentra em questões relativas à qualidade e aodesempenho dos produtos e serviços oferecidos no mercado – é uma fase emque muitas organizações de consumidores se dedicam a testar produtos eserviços e a reivindicar melhorias nos padrões de qualidade.

Atualmente, pode-se dizer que o movimento avança para uma nova fase,em que boa parte dos consumidores vem se conscientizando da responsabili-dade envolvida no próprio ato de consumir.

Isso ocorre num momento em que os impactos da globalização da economiatornam-se mais evidentes. Nas últimas décadas, as grandes corporações seexpandiram pelo globo, em muitos casos, buscando países com legislação maistolerante em relação a questões trabalhistas e ambientais.

Nesse processo, observa-se a formação de uma classe global de consumi-

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dores, que consome os mesmos produtos e serviços nosdiferentes países do planeta e tem acesso a um grande volumede informações. Porém, o acesso a esses produtos e serviços temse tornado cada vez mais difícil para a maioria da população.

Enquanto de um lado o atual modelo econômico propi-cia um alto padrão de consumo, considerado insustentávelpelos danos que acarreta para o meio ambiente, de outroproduz a exclusão de grande parcela da sociedade, que hojetem sérias dificuldades de acesso até mesmo a bens essenciais,como água tratada e energia.

Para o consumidor mais atento, não é difícil percebera estreita relação entre seus hábitos de consumo e os gravesproblemas ambientais e sociais que afetam o mundo todo.Assim, cada vez mais consumidores compreendem que épreciso frear o consumismo e direcionar suas escolhas, deforma a promover o desenvolvimento sustentável. De outromodo, não será possível universalizar o acesso aos bens essen-ciais e garantir a preservação dos recursos naturais necessáriospara a sobrevivência das gerações atuais e futuras.

A atitude dos consumidores está mudando. Além depreço e qualidade, eles estão cada vez mais atentos a aspectosrelacionados ao comportamento das empresas, como o respeitoaos direitos humanos, trabalhistas e dos consumidores; anormas de preservação ambiental; à ética na publicidade enas práticas empresariais; a promoção do bem-estar social;etc. A transparência das empresas em relação a essas infor-mações também passa a ser valorizada, tornando-se a prin-cipal ferramenta para o consumo consciente e cidadão.

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discussão sobre aresponsabilidade social dasempresas ganha relevânciasobretudo a partir dos anos80, quando a sociedade come-ça a questionar os efeitos daglobalização. Com a expansãodas multinacionais e o acir-ramento da competição nomercado, as empresas iniciamprocessos de reestruturação.Investem pesadamente em tec-nologia, não apenas para me-lhorar a qualidade de pro-dutos e serviços, mas para

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diminuir custos com mão-de-obra, aumentar a produção e os lucros, e, assim,garantir uma posição de destaque no mercado.

Nesse processo, muitas corporações deixaram em segundo plano a preo-cupação com o meio ambiente, com os trabalhadores e até mesmo com a segu-rança dos consumidores. Aumento do desemprego, da desigualdade e rebaixa-mento de salários ocorreram em praticamente todos os lugares.

Nas duas últimas décadas, os efeitos negativos da globalização tornam-secada vez mais evidentes. O tema é amplamente pesquisado e discutido em todoo mundo, o que contribuiu para que a sociedade entendesse melhor o processoem curso e as causas do aumento das desigualdades sociais. O comportamentodas empresas é colocado em xeque, e a sociedade começa a reagir.

Por iniciativa da sociedade civil, começa a tomar vulto um movimentointernacional que alerta para a necessidade de se criar mecanismos de aberturae controle social sobre os grandes conglomerados multinacionais e organismosinternacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o FundoMonetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O controle social coloca-se

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A responsabilidade

social dasempresas

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como uma alternativa para defender direitos trabalhistas,sociais e ambientais, tendo em vista que os países passam ater cada vez menos condições para impor limites às empresas.

Nesse cenário, muitas empresas percebem que suaimagem e, conseqüentemente, suas vendas podem ser seria-mente abaladas diante de consumidores mais esclarecidos eexigentes. E é nesse contexto de aumento da exigência dosconsumidores, diminuição da regulação estatal e crescimentoda competição entre as empresas que nasce a bandeira daresponsabilidade social e o objetivo, por parte das corpo-rações, de adequar suas ações às novas exigências da opiniãopública, ou seja, de seu mercado consumidor. Portanto, aresponsabilidade social empresarial surge também comouma necessidade de oferecer uma resposta à sociedade.

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tualmente podemosdistinguir pelo menos quatrovisões diferentes do que sejaresponsabilidade social em-presarial (RSE). A primeiraestá relacionada à idéia deque os objetivos primordiaisde uma empresa resumem-seem gerar lucro a seus inves-tidores, pagar impostos e cum-prir a legislação. A segundavisão incorpora a esses obje-tivos ações filantrópicas, comoajuda financeira a creches,orfanatos e programas sociais.

Diferentesvisões

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Outro modo de ver a RSE é como uma estratégia de negócios, na qual asações de responsabilidade são um instrumento para conferir um diferencialpara seus produtos e serviços. Assim, a empresa conseguiria atrair e mantermelhores empregados, além de acrescentar valor à sua imagem.

Por fim, na quarta visão a RSE é vista como parte da cultura organiza-cional, de forma a produzir riquezas e desenvolvimento que beneficiem atodos os envolvidos em suas atividades – trabalhadores, consumidores, meioambiente e comunidade. Essa visão inclui a promoção, pela empresa, dos seusvalores éticos e responsáveis na sua cadeia de fornecedores e nos mercadosonde atua. Para o Idec, esta é a visão de RSE que mais corresponde aos anseiosdos consumidores e da sociedade de forma geral, por ser mais abrangente.

O instituto entende que o debate da RSE deve avançar para além dasações de filantropia e abrir espaço para a participação de sindicatos e outrosrepresentantes da sociedade. Dessa forma, a RSE poderá resultar emmudanças mais significativas no dia-a-dia do trabalhador e das comunidadese em ações de preservação ambiental mais completas e eficazes

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o Congresso Mun-dial de 2003 da ConsumersInternational, federação deorganizações de defesa doconsumidor, realizado emPortugal, foi lançado o AtoInternacional pelo Direitodos Consumidores à Infor-mação (AIDCI).1

A necessidade de um atointernacional pelo direito àinformação está diretamenterelacionada a uma série dedesenvolvimentos que muda-ram fundamentalmente a

A RSE e osconsumidores

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sociedade, assim como o funcionamento dos mercados globais e a posição dosconsumidores.

A habilidade dos governos nacionais de intervir por meio de regulamentaçãodiminuiu, como um resultado da globalização e da liberalização da economiamundial. Com a crença de que o mercado é capaz de se auto-regular, cresceu aimportância da idéia das forças de mercado como um mecanismo de governança.

Espera-se que os consumidores assumam ainda mais responsabilidadese expressem-nas por meio dos seus hábitos de consumo. A expectativa é deque os consumidores assumam um papel fundamental no estímulo e na co-brança da responsabilidade social empresarial.

Quanto às empresas, espera-se que ajam de forma socialmente e ambien-talmente responsáveis, não apenas por seu interesse próprio como tambémmotivadas pela influência das partes interessadas no seu negócio, entre elas,os consumidores.

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1. A íntegra do AIDCI está disponível no site do Idec: www.idec.org.br

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Nesse sentido, responsabilidade social empresarialsignifica adotar princípios e assumir práticas que vão alémda legislação. Espera-se, portanto, que as empresas ajam deacordo com princípios éticos mais amplos e sejam responsabi-lizadas pelos resultados de suas ações.

O Ato Internacional pelo Direito dos Consumidores àInformação (AIDCI) dá aos consumidores a perspectiva deatuar por uma sociedade justa e sustentável e assumir res-ponsabilidades em relação à produção e ao consumo susten-táveis. O acesso às informações é fundamental para os con-sumidores poderem participar de um debate mais amplo sobreprodução e consumo sustentáveis e formarem sua opiniãosobre o que é bom para eles e para a sociedade como um todo.

Esse debate é necessário diante da influência dospadrões de produção e consumo no desenvolvimento sus-tentável, na distribuição global de riquezas e nos meios deexistência das gerações futuras.

O AIDCI busca garantir aos consumidores acesso ainformações corretas e compreensíveis, nas quais poderãose basear para selecionar produtos e serviços que mais con-tribuam para a sustentabilidade, e também visa que os pro-dutores se responsabilizem pelos produtos e serviços queoferecem. O Ato baseia-se no seguinte princípio: toda infor-mação sobre os negócios da empresa que tenha impacto nasociedade deve ser pública e é dever das empresas disponibi-lizá-las pró-ativamente aos consumidores.

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om o crescente de-bate sobre RSE, o diálogo daempresa com as “partes en-volvidas” – trabalhadores,consumidores, governo ecomunidade – tornou-se umaferramenta para a construçãode práticas socialmente e am-bientalmente responsáveis.Parte-se do princípio de queos envolvidos poderão iden-tificar os riscos e as oportu-nidades que a empresa en-frenta para exercer sua res-ponsabilidade.

Princípio deRSE: diálogo

com as “partesenvolvidas”

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A responsabilidade social empresarial implica assumir a responsabili-dade sobre os impactos das atividades da empresa, tanto no ambiente internocomo no externo, e também no que diz respeito aos seus produtos e serviços.

A proposta de auto-regulação de iniciativas voluntárias só funcionará setodas as partes envolvidas se responsabilizarem de fato por suas ações. Informar-se sobre os impactos da produção e do pós-consumo de produtos e serviços éum instrumento fundamental para ajudar os consumidores a cumprir suaresponsabilidade. Para tanto, é preciso que as atividades das empresas se tornemtransparentes para os consumidores. Sem isso, a responsabilidade socialempresarial e o consumo ético são mera retórica.

Iniciativas voluntárias de oferecer informação, como por meio derelatórios sociais, ambientais e de sustentabilidade, são essenciais e devem serestimuladas. Mas para o consumidor é preciso que essas informações sejamcompreensíveis, comparáveis, atestadas por terceiros (associações de consumi-dores e outras organizações não-governamentais) e que revelem todos osaspectos impactantes da cadeia produtiva até o descarte final.

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ma empresa social-mente responsável é aquelaque respeita uma série dedireitos fundamentais para avida, as relações sociais e oequilíbrio ambiental. Essesdireitos estão contempladosem diversos acordos, tratados,diretrizes e outros instrumen-tos, amplamente discutidose aceitos mundialmente, quese tornaram verdadeiros mar-cos referenciais para toda asociedade. Obedecê-los faz par-te das obrigações e respon-

Marcosreferenciais

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sabilidades das empresas, seja qual for o seu porte ou área de atuação. São eles:• A Declaração Universal dos Direitos Humanos – aprovada em 10 dedezembro de 1948 pela Assembléia Geral da ONU, a DUDH estabeleceo direito à dignidade e à igualdade entre todos os membros da sociedadehumana como base para a liberdade, a justiça e a paz no mundo.• A Declaração Universal dos Direitos da Criança (de 20 de novembrode 1959) e a Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da Criança(adotada pela Assembléia Geral da ONU em 1989) – estabelecem osdireitos fundamentais da criança. Ambos os documentos reconhecemque, em virtude de sua falta de maturidade física e mental, a criança pre-cisa de proteção e cuidados especiais para crescer e se desenvolver deforma plena e saudável. • As oito Convenções sobre as Condições de Trabalho – aprovadas pelaOrganização Internacional do Trabalho (OIT), uma organização tripar-tite da ONU fundada em 1919, da qual participam governos, empre-gadores e trabalhadores, determinam as normas trabalhistas fundamentais.

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• A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e aAgenda 21 – esses dois documentos inauguram oreconhecimento internacional do desenvolvimentosustentável como objetivo universal. Existe aindauma série de outros tratados internacionais, como aConvenção sobre a Diversidade Biológica, o Protocolode Cartagena sobre a Biossegurança, o Protocolo deKyoto, a Convenção de Estocolmo sobre PoluentesOrgânicos Persistentes, a Convenção de Roterdã sobreo Consentimento Prévio Informado e dezenas de outrosque devem nortear as ações das empresas de forma aevitar danos socioambientais.• As Diretrizes da ONU para a proteção doConsumidor – estabelecem os direitos básicos dosconsumidores que devem nortear as relações entrefornecedores e consumidores.• A Convenção da OCDE sobre o Combate da Corrup-ção de Funcionários Públicos Estrangeiros em TransaçõesComerciais Internacionais (de 1992) – proíbe a cor-rupção de funcionários públicos estrangeiros.• As diretrizes da Organização para Cooperação eDesenvolvimento Econômico (OCDE) para empresasmultinacionais – recomendações dos governos paraempresas que operam ou são de países que fazemparte da OCDE ou aderiram às suas diretrizes, con-siste em princípios e padrões de conduta empresarialresponsável voluntária em diversas áreas, incluindorelações trabalhistas e de negócios, direitos humanos,meio ambiente, divulgação de informação, concorrência,pagamentos de impostos, ciência e tecnologia.• No Brasil, entre os principais marcos está o Códigode Defesa do Consumidor.

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O que o consumidor pode fazer

• Refletir sobre seus hábitos de consumo,reduzir quando possível, não desperdiçar e dardestinação correta ao resíduo ou ao produtopós-consumo.• Escolher marcas de empresas reconhecidaspor suas práticas responsáveis e éticas.• Obter informações, por meio da mídia e dasassociações sociais, sobre os impactos sociais eambientais da produção, do consumo e do pós-consumo de produtos e serviços.• Entrar em contato com o SAC das empresaspor telefone ou por escrito para questionar sobreos impactos e pressionar pela adoção de práti-cas sustentáveis de produção e pós-consumo. • Procurar saber se a empresa tem um balançosocial e solicitar informações a respeito.• Boicotar marcas de empresas envolvidas emcasos de desrespeito à legislação trabalhista,ambiental e de consumo. Por exemplo, con-sulte a lista de reclamações fundamentadas doProcon, a fim de saber como determinada empre-sa se comporta em relação ao consumidor.• Participar e apoiar associações de consumidores.• Denunciar práticas contra o meio ambiente,contra as relações de consumo e de exploraçãodo trabalho infantil às autoridades competentes.

Parasaber maisNa internet, o consumidorpode encontrar mais infor-mações sobre responsabili-dade social.

Para informar-se sobre balançossociais e conhecer os relatóriosde responsabilidade social dealgumas empresas, visite ossites:

BALANÇO SOCIAL DO IBASE

www.balancosocial.org.br

GLOBAL REPORTING INITIATIVE

www.globalreporting.org

Organizações que lidam comresponsabilidade social:

RED PUENTES

www.redpuentes.org

OBSERVATÓRIO SOCIAL

www.observatoriosocial.org.br

IBASE

www.ibase.org.br

ETHOS

www.ethos.org.br

IDEC

www.idec.org.br

CONSUMERS INTERNATIONAL

www.consumersinternational.org.br