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 O ABRJ Comissão de Direitos Autorais, Direitos Imateriais e Entretenimento (CDADIE) Realização: Guia do produtor audiovisual Apoio institucional: Apoio:

Guia Do Produtor Audiovisual 2015

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Guia Do Produtor Audiovisual 2015

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  • OABRJComisso de Direitos Autorais, Direitos Imateriais e Entretenimento (CDADIE) Realizao:

    Guia do produtoraudiovisual

    Apoio institucional:Apoio:

  • Presidente da OAB/RJFelipe de Santa Cruz Oliveira Scaletsky

    Comisso de Direito Autoral, Direitos Imateriais e Entretenimento

    Presidente: Fbio de S Cesnik

    Vice-Presidente:

    Cludio Lins de Vasconcelos

    Secretrio: Daniel Pitanga Bastos de Souza

    Allan Rocha de SouzaAttilio Jos Ventura Gorini

    Carla da Silva de Britto PereiraCarlos Affonso Pereira de Souza

    Clarissa Kede Lima JalladCristiane Oliveira de Almeida

    Daniel Pitanga Bastos de SouzaDaniela Camara Colla

    Daniela Ribeiro de GusmoDaniele Ramos Venezia dos Santos

    Dario CorraFernanda Freitas Silva

    Glria Cristina Rocha Braga

    Gustavo Martins de AlmeidaGustavo Surerus de Carvalho

    Leandro Jos Luz Riodades de MendonaMarcelo Martins de Andrade Goyanes

    Marcelo Quintanilha SalomoPaula Heleno Vergueiro

    Paulo Parente Marques MendesPedro Frankovsky Barroso

    Pedro Marcos Nunes BarbosaRicardo Brajterman

    Roberto Drago Pelosi JucSrgio Vieira Branco Jnior

    Membros:

    Colaborador:Guilherme Capinziki Carboni

    Subcomisso da Cartilha de Direito Autoral:

    OABRJ

    Carla da Silva de Britto PereiraCristiane Oliveira Almeida

    Daniel Micelli Rainho

    Dario CorreaRoberto Drago Pelosi Juc

    Marcelo Martins de Andrade Goyanes

  • Palavra do Presidente

    ainda sob a influncia do enorme contentamento em ter vis-to nossa cidade do Rio de Janeiro como palco da XXII Conferncia Nacional dos Advogados, o maior evento da advocacia brasileira, que reuniu no final no ms de outubro de 2014 mais de 18 mil advo-gados em torno do tema central Constituio Democrtica e Efeti-vao dos Direitos, que tenho a satisfao de apresentar a todos, ad-vogados ou no, que lidam de alguma forma com obras intelectuais nas reas artstica, literria, cientfica e de comunicao, o presente guia do Produtor Audiovisual, elaborado pela Comisso de Direito Autoral, Direitos Imateriais e Entretenimento da OAB/RJ em par-ceria com a Associao Brasileira dos Produtores Independentes de Televiso e apoio institucional do Grupo Globo.

    Com efeito, foram debatidos na XXII Conferncia Nacional inmeros temas relativos efetividade dos direitos conquistados com a Constituio de 1988, que completou 25 anos de vigncia, e a edio deste guia reacende a discusso acerca das garantias consti-tucionais liberdade de criao, de expresso e de amplo acesso s fontes de cultura.

    A OAB/RJ e suas parceiras, ao elaborar e distribuir ao pblico em geral o presente guia, cumpre uma de suas mais importantes ta-refas institucionais e espera contribuir para a correta orientao le-gal do produtor audiovisual, agente na ordem do dia desde a edio

  • da Lei 12.485. Constitui grande desafio contemporneo em atingir o justo equilbrio entre os legtimos interesses de autores, investi-dores e cidados brasileiros, que desejam cada vez mais acessar a cultura como parte de sua formao humana integral.

    Boa leitura a todos,

    Felipe de Santa Cruz Oliveira ScaletskyPresidente da OAB/RJ

  • Apresentao ............................................................................ 9

    1 | Legislao aplicvel ........................................................... 11

    2 | Direito autoral e direito de imagem na obra audiovisual .. 13

    3 | Algumas definies quanto forma de utilizao de obras protegidas .......................................................................................... 19

    4 | Aspectos regulatrios ............................................................... 21

    5 | Financiamento produo audiovisual no brasil ............ 43

    6 | Checklist ..................................................................................... 75

    Sumrio

  • 9Apresentao

    Desde 2011, com a edio da Lei 12.485, o mercado audiovi-sual brasileiro vem passando por uma profunda reformulao. Foi com esta lei que o mercado de televiso por assinatura foi aberto s empresas de telecomunicaes e, ao mesmo tempo, que se criou cota de contedo nacional na grade do chamado servio de acesso condicionado.

    A primeira edio deste guia feita pela Comisso de Direitos Autorais, Direitos Imateriais e Entretenimento da OAB do Rio de Janeiro trazia mais os aspectos autorais da obra audiovisual. Nesta nova cartilha pretendemos trazer ao conhecimento de todos infor-maes sobre regulao desse mercado, dentre outros aspectos fun-damentais ao produtor audiovisual.

    Este guia no pretende, nem poderia, exaurir o assunto, mas tem como funo principal esclarecer rapidamente dvidas conceituais sobre a produo audiovisual e auxiliar como pri-meira etapa para a passagem para um estudo mais aprofundado.

    Observando a prtica de mercado, esto inseridos de forma direta os conceitos regulatrios bsicos necessrios para toda a cadeia produtiva, permitindo ao leitor, inclusive, ter acessos s di-versas fontes de financiamento pblico em vigor. Por fim, com uma

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    Guia do produtor audiovisual

    abordagem mais leve, o guia integra ao estudo a Condecine, tributo especfico da atividade e principal fonte de alimentao do Fundo Setorial do Audiovisual, importante mecanismo de fomento direto do Estado.

    A Comisso de Direito Autoral, Direitos Imateriais e Entre-tenimento da OAB-RJ tambm est disposio para esclarecer dvidas e discutir os aspectos legais que cercam o mundo da pro-duo cultural e do entretenimento.

    Fbio de S CesnikPresidente da Comisso de Direito Autoral,Direitos Imateriais e Entretenimento

  • 11

    Destacam-se, abaixo, as principais normas que regem os direitos autorais, o direito de imagem e a atividade audiovisual no que se refere aos seus negcios jurdicos.

    No Brasil, os direitos autorais esto inseridos na Constituio Fede-ral, nos termos do art. 5, incisos XXVII e XXVIII.

    A Conveno de Berna (Decreto-Lei n 75.699-73) e a Conveno de Roma (Decreto-Lei n 57.125/65) dispem sobre a proteo das obras literrias e artsticas (nestas includa a obra audiovisual) e sobre os direi-tos conexos, respectivamente. Alm do Decreto-Lei n 1.355/94 (Adpic ou Trips), que trata sobre os aspectos dos direitos de propriedade intelectual relacionados ao comrcio.

    A Lei n 9.610/98 regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominao os direitos de autor e os que lhes so conexos.

    O Cdigo Civil (Lei n 10.406/02) regula as relaes privadas e os vnculos pessoais ou patrimoniais. nele, por exemplo, que se encontram as disposies quanto aos direitos da personalidade e uso de imagem (arts. 11 a 21), bem como os aspectos contratuais e sucessrios.

    A Lei 6.533/78 trata da regulamentao das profisses de artistas e de tcnicos em espetculos de diverses.

    A Lei 9.279/96 (Lei da Propriedade Industrial) regula direitos e obrigaes relativos propriedade industrial, como marcas e, tambm, de represso concorrncia desleal.

    Legislao aplicvel1

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    Guia do produtor audiovisual

    A MP 2.228-1/2001 criou a Ancine e traz as definies bsicas do mercado audiovisual. Sua leitura deve ser complementada com das deli-beraes e Instrues Normativas da Ancine.

    A Lei 12.485/2011 (Lei daTV Paga) dispe sobre as novas regras para os canais, programadoras e empacotadoras de televiso por aces-so condicionado.

  • 13

    O direito autoral tem natureza jurdica dplice : pessoal (moral) e real (patrimonial).O autor a pessoa fsica criadora de obra artstica, li-terria ou cientfica. Cabe ao autor, dentre os direitos morais, o direito de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra, ter o seu nome anuncia-do na sua utilizao e assegurar a sua integridade, opondo-se a qualquer modificao ou prtica de atos que possam prejudic-la ou atingi-lo em sua reputao ou honra.

    Os direitos morais no so passveis de negociao, ou seja, so ir-renunciveis, inalienveis, sendo ainda transmissveis aos herdeiros do autor no caso do seu falecimento.

    Ao autor cabe tambm o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor de sua criao intelectual, podendo tais direitos patrimoniais ser objeto de negociao, cabendo-lhe autorizar a reproduo parcial ou integral da obra, assim como negociar a sua edio, adaptao, traduo, distribuio e qualquer outra forma de utilizao, por meio de cesso ou licenciamento dos seus direitos.

    So coautores da obra audiovisual o autor do assunto ou argumento literrio, musical ou ltero-musical e o diretor, considerados ainda coautores de desenhos animados os que criam os desenhos utilizados na obra.

    Cabe exclusivamente ao diretor o exerccio dos direitos morais de autor da obra audiovisual, cabendo ao produtor, organizador da obra co-letiva, a titularidade dos direitos patrimoniais.

    A Lei de Direito Autoral tambm regula os chamados direitos cone-xos (ao de autor), dos quais so titulares os artistas intrpretes, executantes,

    Direito autoral e direito de imagem na obra audiovisual2

  • 14

    Guia do produtor audiovisual

    produtores de fonograma e empresas de radiodifuso. No caso dos artistas intrpretes atuando em obra audiovisual, deve-se atentar s disposies da Lei 6.553/78, que dispe sobre as profisses de artista e de tcnico em espe-tculos de diverses, que veda expressamente a cesso dos direitos conexos decorrentes da prestao de servios profissionais. Dessa forma, dever o produtor negociar por acordo o licenciamento dos direitos conexos dos ar-tistas que contratar para atuao na obra, considerando ainda que prev a lei serem os mesmos devidos em decorrncia de cada exibio da obra.

    So consideradas obras protegidas, ou seja, reconhecidas pelo di-reito autoral, as criaes de esprito humano, desde que originais, expres-sas por qualquer meio e fixadas em qualquer suporte, tais como textos de obras literrias, composies musicais, obras audiovisuais, desenhos, pinturas, fotografias, peas teatrais, etc., no sendo objeto de proteo au-toral as ideias em si, procedimentos, mtodos, sistemas, informaes de uso comum, tais como calendrios, agendas etc.

    Obra audiovisual aquela que resulta da fixao de imagens com ou sem som, que tenha a finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de movimento, independentemente dos processos de sua cap-tao, do suporte usado inicial ou posteriormente para fix-lo, bem como dos meios utilizados para sua veiculao.

    Os direitos patrimoniais de autor da obra audiovisual duram 70 anos a contar de 1o de janeiro do ano subsequente ao de sua divulgao, aps o que a obra ingressar no domnio pblico, podendo ento ser li-vremente reproduzida, respeitados contudo os direitos morais, tais como crdito e integridade da obra.

    Os negcios que envolvem direitos autorais so interpretados res-tritivamente, devendo os respectivos instrumentos contratuais regularem precisamente o acordo entre as partes, inclusive quanto utilizao da obra, tendo em vista que as diversas modalidades de utilizao so inde-

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    Guia do produtor audiovisual

    pendentes entre si, no havendo abertura para presunes no que concer-ne a cesso e licenciamento de direitos autorais e conexos.

    Na realizao da obra audiovisual o produtor deve adquirir por ces-so os direitos relativos ao argumento literrio, roteiro, direo, msicas, fotografias, obras de arte, trechos de outras obras audiovisuais j existen-tes, marcas e quaisquer outras obras protegidas que venham a integrar a obra audiovisual.

    Algumas utilizaes podem ser realizadas sem a necessidade de au-torizao prvia do autor ou do seu titular, como, por exemplo, de obras situadas permanentemente em logradouros pblicos, ou pardias, desde que no representem verdadeiras reprodues da obra originria, nem lhe impliquem descrdito.

    Tambm no constitui ofensa aos direitos autorais a reproduo, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qual-quer natureza, ou de obra integral, quando de artes plsticas, sempre que a reproduo em si (i) no seja o objetivo principal da obra nova; (ii) no prejudique a explorao normal da obra reproduzida; (iii) no cause um prejuzo injustificado aos interesses dos autores, devendo contudo a apli-cao dessa limitao ao direito do autor ser avaliada com cautela e caso a caso, para evitar eventual questionamento acerca da utilizao de peque-no trecho de obra sem autorizao prvia do respectivo autor.

    Nesse sentido, numa avaliao de risco, produtores tm recorrido a advogados especializados para analisar previamente os roteiros e supervi-sionar a edio final da obra, indicando dessa forma as licenas e autoriza-es necessrias.

    Os artistas intrpretes ou executantes so os atores, cantores, m-sicos, bailarinos ou outras pessoas que representem um papel, cantem, recitem, declamem, interpretem, realizem uma performance ou executem em qualquer forma obras literrias, artsticas ou expresses do folclore,

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    Guia do produtor audiovisual

    devendo o produtor, ao contratar seus servios, obter ainda autoriza-o de uso de nome, voz e imagem, e, no caso de artistas intrpretes, o imprescindvel licenciamento dos respectivos direitos conexos, estes devidos em decorrncia de cada exibio da obra.

    Deve-se atender ainda s demais disposies da Lei 6.533/78, que exige prvio registro sindical do contratado, alm de contrato ou nota contratual padronizada, com respectivo visto do sindicato representati-vo da categoria profissional. Considera-se que essa contratao tambm pode se operar atravs de pessoa jurdica integrada pelo profissional e que tenha dentre seus objetivos a prestao dos seus servios, ou que tenha contrato especfico com o profissional que vai efetivamente atuar na obra.

    Finalmente, no se deve confundir direito autoral com direito de imagem. O primeiro vem a ser espcie do gnero propriedade intelec-tual e emana da criao da obra. J o segundo decorre da prpria perso-nalidade humana, tal como o direito honra, intimidade e privacidade. Esta observao necessria, pois comum e natural a confuso entre as disciplinas tendo em vista a sua proximidade. Toma-se, como exemplo, a fotografia, na qual encontramos uma dupla proteo: o direito autoral do criador da fotografia, ou seja, do fotgrafo, e o direito imagem da pessoa retratada.

    Frisa-se que necessrio obter a autorizao para a fixao da imagem de uma pessoa numa obra audiovisual, razo pela qual deve-se prever a autorizao de uso do nome, imagem fsica e/ou voz em todos os contratos firmados no mbito de uma obra audiovisual, em razo da possibilidade de realizao de filmagens dos diversos participantes na realizao de making of e publicidade da obra.

    Existem hipteses, notadamente em documentrios, cinebiogra-fias e matrias jornalsticas, em que a utilizao da imagem permitida sem autorizao expressa do retratado:

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    Guia do produtor audiovisual

    Pessoas consideradas pblicas: O fato de determinadas pessoas se-rem consideradas pblicas no possibilita necessariamente a utilizao livre da sua imagem, devendo-se observar as seguintes condies bsicas:

    (a) a captura da imagem se deu licitamente?(b) qual a utilidade ou interesse para o pblico do fato informado por meio da imagem?(c) qual a necessidade da veiculao daquela imagem para informar o fato?(d) preservou-se o contexto original em que a imagem foi colhida?

    Pessoas situadas em lugares pblicos: O fato da a pessoa se encontrar em lugar pblico no faculta, em princpio, o uso livre da sua imagem. o caso, portanto, de se avaliar se a autorizao para uso da imagem pode ser presumida tacitamente, ou se preciso obt-la expressamente, recomen-dando-se observar se :

    (a) o retratado est ciente da possibilidade de captao da sua imagem? (b) o contexto original de onde foi extrada a imagem foi mantido?(c) o retratado o elemento central da cena ou aparece incidentalmente?(d) o retratado est em situao constrangedora?

    Normalmente, por exemplo, considera-se dispensvel a autoriza-o prvia e expressa para a captao de imagens obtidas em estdios de futebol, shows, festivais e eventos pblicos em geral, indicando-se em tais casos que se informe ao pblico, na publicidade, em avisos no local, no bilhete de ingresso e sobre a possibilidade de captao das imagens dos frequentadores e a finalidade a que se destina.

    Matrias jornalsticas: com base na liberdade de informao consi-dera-se lcita a reproduo de imagens de pessoas vinculadas a fatos ou acontecimentos de interesse jornalstico, previamente verificada a veraci-dade da notcia.

    Documentrios e cinebiografias: De acordo com a redao atual do art. 20 do Cdigo Civil, a exposio ou a utilizao da imagem de uma

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    Guia do produtor audiovisual

    pessoa podero ser proibidas, a seu requerimento, se lhe atingirem a hon-ra, a boa fama, a respeitabilidade ou se destinarem a fins comerciais, pelo que, por cautela, faz-se necessrio obter a prvia autorizao por escrito das pessoas retratadas na obra, ainda que esta no ofenda seus direitos de personalidade. Uma anlise especializada do contedo da obra poder atenuar essa necessidade de autorizao no tocante a pessoas indistintas, em grupo ou apenas acessrias imagem principal.A autorizao dos re-tratados principais, ou de seus herdeiros, tem sido exigida para aprovao de projetos dessa natureza perante a Ancine.

    Havendo participao de menores de idade na obra, indispens-vel obter prvio alvar junto ao juizado respectivo. No caso de menor de 16 anos, a autorizao deve ser assinada pelos pais ou responsveis, e entre 16 e 18 anos o adolescente assinar a autorizao juntamente e assistido pelos pais ou responsveis.

    Havendo participao de ndios na obra geralmente h neces-sidade de prvia autorizao do rgo pblico responsvel (Funai), como, por exemplo, com relao aos ndios considerados no integra-dos ou sob assistncia tutelar.

    Finalmente, oportuno considerar a possibilidade de realizao de aplice de seguro conhecida como Seguro de Erros e Omisses (Errors & Omissions), que tem por objeto acautelar o produtor ante reivindicaes quanto utilizao indevida de direitos de terceiros na obra.

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    Direito de reproduo: Direito de reproduzir, por si ou por terceiros autorizados, a obra atravs de cpia tangvel ou intangvel de obra artstica, literria ou cientfica, ou ainda de fonograma, bem como de permitir a c-pia, sob qualquer forma ou processo. A reproduo pode ser grfica (livros, partituras impressas), mecnica (gravao de filmes), fonomecnica (fixao de fonogramas) ou digital. A violao do direito de reproduo denominada contrafao, sendo costumeiramente conhecida como pirataria.

    Direito de distribuio: Direito de colocar disposio do pblico a cpia ou original de obra artstica, literria, cientfica, de fonograma, ou de qualquer interpretao fixada, por meio de venda, locao ou qualquer outra forma . A distribuio pode ocorrer pela simples disponibilizao de cpias ou originais em pontos de venda e locao ou, ainda, pela dis-ponibilizao das obras e produes protegidas mediante cabo, fibra tica, satlite, internet ou afins que permitam a seleo pelo usurio. O exerccio do direito de distribuio possibilita ao autor pr ao alcance do pblico as cpias ou os originais de suas criaes.

    Direito de comunicao ao pblico: Direito de autorizar a disponi-bilizao para o pblico de obras artsticas, literrias ou cientficas, de fo-nogramas e interpretaes, por qualquer forma ou processo, como, por exemplo, a execuo ao vivo, a transmisso, a exibio audiovisual ou a radiodifuso. A comunicao ao pblico pode acontecer sob a forma de representao pblica ou execuo pblica.

    Algumas definies quanto forma de utilizao de obras protegidas

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    Guia do produtor audiovisual

    Execuo pblica: Comunicao ao pblico de obras musicais ou l-tero-musicais, mediante a participao de artistas ou a utilizao de fono-gramas ou obras audiovisuais, em locais de frequncia coletiva, por quais-quer processos, inclusive a radiodifuso, transmisso por qualquer forma ou modalidade, e a exibio audiovisuais em cinemas, festivais e demais locais de frequncia coletiva.

    Direito de sincronizao: Direito de autorizar a incluso de obras mu-sicais ou ltero-musicais em produes audiovisuais. Os autores, msicos executantes e titulares dos direitos autorais e conexos sobre as composi-es musicais e fonogramas devem autorizar, via de regra, sua incluso em obras audiovisuais.

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    A Ancine foi criada pela Medida Provisria 2.228-1, de 2001, com os objetivos primordiais de estimular o desenvolvimento de todo o se-tor audiovisual nacional, contribuir para aumentar a competitividade por meio do fomento produo, distribuio e exibio nos diversos seg-mentos de mercado e zelar pelo respeito ao direito autoral sobre obras au-diovisuais nacionais e estrangeiras, dentre outros estabelecidos no extenso rol legislativo.

    Cumprindo com sua misso de estimular o audiovisual nacional e criar meios para que possa se tornar forte e competitivo, a Ancine regula-menta uma srie de mecanismos de incentivo para o setor. Para tanto, os atos normativos da Ancine tratam da forma de apresentao de projetos, dos critrios de sua aprovao pela Agncia, da utilizao dos recursos, da prestao de contas, da classificao das obras para fruio de benefcios e diversos outros procedimentos que regulamentam a produo de obras financiadas com recursos provenientes de incentivos diretos e indiretos e a veiculao nos meios de comunicao nacional.

    A seguir, algumas definies essenciais para compreenso dos as-pectos regulatrios do setor:

    Obra brasileiraVantagens da nacionalizao da obra

    Seguindo o disposto no artigo 222 da Constituio Federal, que tem por objetivo manter os meios de comunicao sob o controle de brasileiros e

    Aspectos regulatrios4

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    Guia do produtor audiovisual

    estimular a produo de cultura nacional, a Medida Provisria 2.228/2001 e as instrues normativas da Ancine que a regulamentaram concedem privil-gios obra audiovisual brasileira.

    Dentre as vantagens concedidas s obras nacionais esto os benef-cios fiscais para sua produo e comercializao e a possibilidade de fazer parte da cota de tela dos respectivos pases, quando realizadas em regime de coproduo internacional, sobre a qual tratar o item f (Cota de produo nacional) mais adiante. Para que tais obras possam ser beneficiadas, neces-srio que elas preencham os requisitos para serem consideradas brasileiras.

    Definio de obra no publicitria brasileira

    Para que uma obra cinematogrfica ou videofonogrfica possa ser considerada brasileira, ela deve, alternativa ou cumulativamente (art. 1, V, MP 2.228, art. 1,XXXII, IN 104/2012 e art. 1,XXXIII, IN 105/2012):

    (a) Ser produzida por empresa brasileira, ser dirigida por diretor brasi-leiro (ou estrangeiro residente no pas h mais de trs anos), e possuir, na equipe de artistas e tcnicos para a produo da obra, pelo menos 2/3 de brasileiros (ou estrangeiros residentes no pas h mais de 5 anos).

    Entende-se por empresa brasileira aquela constituda sob as leis bra-sileiras, com sede e administrao no Brasil e maioria do capital votante sob a titularidade de brasileiros natos ou naturalizados h mais de 10 anos, que devem exercer de fato e de direito o poder decisrio sobre a empresa (art. 1, 1, MP 2.228, art. 1, XII, IN 104 e art. 2, II, IN 106/2012).

    Equiparam-se empresa produtora brasileira as pessoas naturais bra-sileiras natas ou naturalizadas h mais de 10 anos (art. 1, 3, MP 2.228).

    A supracitada frao de 2/3 poder ser composta apenas pelos se-guintes tcnicos (contados pelo nmero de pessoas, independentemente do acmulo de funes): autor do argumento, roteirista, diretor ou dire-tor de animao, diretor de fotografia, inclusive no caso de animao 3D, diretor de arte, inclusive de animao, tcnico/chefe de som direto, mon-

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    Guia do produtor audiovisual

    tador/editor de imagem, diretor musical/compositor de trilha original, ator(es) ou atriz(es) principal(is) ou dublador(es) principal(is), no caso de animao, produtor executivo, editor de som principal ou desenhista de som e mixador de som.

    Excepcionalmente, a critrio da diretoria colegiada da Ancine, ou-tras funes tcnicas e artsticas podero ser consideradas para fins desse clculo, com exceo dos prestadores de servios de figurao de elenco e servios gerais, como segurana, limpeza, transporte, alimentao, ajudan-te, apoio administrativo, dentre outros, que no guardem valor tcnico e artstico especfico da atividade de produo audiovisual, que no podero ser considerados, por expressa determinao da IN 104 (art. 3).

    (b) Ser produzida por empresa brasileira registrada na Ancine, nos casos em que haja associao com empresas de outros pases com os quais o Brasil possui acordo de coproduo cinematogrfica.

    A obra a que se refere a alnea b, 3acima, aquela que se torna brasi-leira pela presena de uma empresa brasileira em contrato de coproduo firmado com empresa de pas com o qual o Brasil mantenha acordo de coproduo, como o caso, por exemplo, da Frana, Alemanha, Argenti-na e outros. Nestes casos, os contratos de coproduo devem observar as regras de cada acordo, assunto que ser melhor tratado no item Coprodu-o nacional e internacional a seguir.

    (c) Ser produzida por empresa brasileira, quando em associao com empresas de pases com os quais o Brasil no possua acordo de coprodu-o, caso em que a produtora brasileira dever possuir no mnimo 40% dos direitos patrimoniais sobre obra, alm de contar com pelo menos 2/3 de brasileiros na equipe de artistas e tcnicos para a realizao da produo. Aplica-se a este caso tambm a descrio do tipo de tcnico que dever compor frao de 2/3 feita acima, para o caso de obras brasi-leiras sem coproduo.

  • 24

    Guia do produtor audiovisual

    Caso a coproduo se d com empresa estrangeira que participe apenas com investimentos provenientes de benefcios fiscais nacionais, para que seja considerada brasileira, a obra deve necessariamente aten-der as determinaes do item a acima(art. 1, 6, IN 104). Vale dizer, a participao de uma empresa estrangeira produtora apenas com re-cursos incentivados no suficiente para caracterizar uma coproduo internacional (vide tpico sobre Coproduo Internacional).

    Definio de obra publicitria brasileira

    A obra de tipo publicitria definida pelo inciso XVI, do artigo 1, da MP 2.228 como a obra cuja destinao a publicidade e propa-ganda, exposio ou oferta de produtos, servios, empresas, instituies pblicas ou privadas, partidos polticos, associaes, administrao p-blica, assim como de bens materiais e imateriais de qualquer natureza e, para ser brasileira, deve seguir os requisitos acima narrados para as obras no publicitrias brasileiras (art. 1, XII, IN 95/2011).

    Obra brasileira independente

    Vantagens para as obras brasileiras independentes

    A maioria dos mecanismos de fomento indireto s podem ser aplicados a obras brasileiras independentes.

    Definio de Obra Brasileira Independente

    Para que uma obra, alm de brasileira, se caracterize como inde-pendente, sua produtora no poder possuir nenhuma associao ou vnculo, seja ele direto ou indireto, com empresas de radiodifuso de sons e imagens nem com empresas de comunicao eletrnica por as-sinatura (art. 1, IV, MP 2.228) que objetive conferir a elas direito de veto comercial ou qualquer interferncia comercial sobre os contedos

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    Guia do produtor audiovisual

    produzidos ou ainda que a impea de comercializar para terceiros os contedos audiovisuais por ela produzidos. Alm da no existncia do referido vnculo, a empresa brasileira precisa ter somente brasileiros na-tos ou naturalizados h mais de 10 anos na gesto das suas atividades e na responsabilidade editorial sobre os contedos produzidos e a maioria do capital votante deve estar sob a titularidade de brasileiros natos ou naturalizados h mais de 10 anos, sendo certo que a mencionada maio-ria do capital votante deve ser superior a 70% (art. 7, LII, IN 100/2012 e art. 1, XLII, IN 104).

    Coproduo internacional e nacional

    Coproduo nacional

    a modalidade de produo de obra audiovisual realizada apenas entre empresas produtoras brasileiras (na definio constante do item a acima) e conjuntamente por mais de uma empresa produtora.

    Coproduo internacional

    a modalidade de produo de obra audiovisual realizada con-juntamente por empresas que exeram a atividade de produo e es-tejam sediadas em 2 (dois) ou mais pases diferentes. Nesse contexto, as empresas brasileiras e estrangeiras devem compartilhar responsabi-lidades pela organizao econmica da obra, inclusive pelo aporte de recursos financeiros, bens ou servios. De igual modo, os coprodutores devero compartilhar os direitos autorais patrimoniais decorrentes da obra (art. 2, III, IN 106).

    Conforme j mencionado, apenas o aporte de recursos provenien-tes de mecanismos de incentivo fiscal brasileiro por uma coprodutora estrangeira no suficiente para que se caracterize uma coproduo in-ternacional (art. 2, 3, IN 106).

  • 26

    Guia do produtor audiovisual

    Vantagens das coprodues internacionais

    Dentre as vantagens de se utilizar o regime de coproduo interna-cional est o tratamento da obra audiovisual como obra nacional nos pa-ses dos coprodutores participantes do projeto, o que permite o acesso aos mecanismos de incentivos fiscais provenientes dos pases envolvidos e fa-cilita o ingresso da obra audiovisual no mercado audiovisual estrangeiro.

    Por ser considerada nacional em todos os pases que participam da coproduo, a obra produzida nesse regime tambm poder ser contabi-lizada para fins de cumprimento de cota de tela nos pases coprodutores. Em relao ao Brasil, a questo foi recentemente normatizada pela Lei 12.485/2011, vulgarmente chamada Lei da televiso paga, cujas disposi-es sero detalhadas no item adiante.

    O regime da coproduo internacional facilita ainda a entrada e permanncia de tcnicos e artistas estrangeiros, bem como a importao e exportao de equipamentos necessrios produo da obra (captulo V da IN 106).

    Por fim, essa modalidade de produo proporciona a transferncia de know-how entre as produtoras nacionais e estrangeiras, potencializa a troca de experincias entre equipes de produo de diferentes nacionali-dades e proporciona ao produtor brasileiro ampliar horizontes com uma viso de outros mercados audiovisuais.

    Acordos de coproduo

    Coprodues com acordo

    Como mencionado no item Obra brasileira, possvel realizar co-produes internacionais sob duas modalidades:

    (a) em associao com coprodutor estrangeiro de pas com o qual o Bra-sil mantenha acordo de coproduo.

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    Guia do produtor audiovisual

    (b) em associao com coprodutor estrangeiro com o qual o Brasil no man-tenha acordo de coproduo.

    Os acordos de coproduo podem ser bilaterais ou multilaterais e vi-sam a criar condies mais favorveis para a realizao de uma obra audiovi-sual que envolva a participao de produtoras de diferentes pases.

    No site da Ancine (www.ancine.gov.br) possvel visualizar todos os acordos internacionais em vigor no Brasil. Em relao aos acordos bilaterais, h documentos firmados com Alemanha, Argentina, Canad, Chile, Espa-nha, Frana, ndia, Itlia, Portugal e Venezuela. No plano multilateral, o Brasil signatrio do Convnio de Integrao Cinematogrfica Ibero-Americana e do Acordo Latino-Americano de Coproduo Cinematogrfica.

    Reconhecimento da coproduo internacional pela Ancine

    A Ancine deve reconhecer expressamente que uma obra realizada por meio de uma coproduo internacional atende aos requisitos para ser consi-derada brasileira. Quando a produo ocorre sob o abrigo de um acordo in-ternacional, obrigatrio o requerimento de um reconhecimento provisrio previamente ao requerimento definitivo, solicitado apenas quando da emis-so do Certificado de Produto Brasileiro CPB, sobre o qual tratar o item referente a CPB e CRT na pgina 31.

    O reconhecimento provisrio indispensvel tambm para a captao e utilizao de recursos pblicos federais de incentivo ao mercado audiovi-sual. Assim, ainda que a produo de determinada obra no esteja sujeita a qualquer acordo internacional, para que seja permitida a utilizao de recur-sos pblicos federais em obra que seja coproduzida com empresa produtora estrangeira, ser necessrio solicitar o seu reconhecimento provisrio como obra brasileira (art. 3, pargrafo nico, IN 106).

    Nos casos em que o projeto de produo no esteja amparado por acordo internacional e no sejam utilizados recursos pblicos federais, o re-conhecimento provisrio dispensado (art. 3, caput, IN 106).

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    Guia do produtor audiovisual

    Anlise em fase de reconhecimento provisrio

    Conforme esclarece o art. 6 da IN 106, alm de verificar se uma obra realizada no regime de coproduo internacional pode ser conside-rada brasileira, a anlise realizada na fase de reconhecimento provisrio visa tambm a averiguar o atendimento das disposies contidas no acor-do internacional pertinente e a existncia de proporcionalidade entre o aporte de recursos feito por cada produtor, a diviso de direitos patrimo-niais e a repartio das receitas de comercializao. Em tal anlise, tam-bm ser levada em considerao se a obra realizada em coproduo in-ternacional atende aos requisitos para captao de recursos incentivados federais, se for o caso.

    possvel que a Ancine, a critrio da diretoria colegiada, reco-nhea provisoriamente uma obra como brasileira ainda que esta no cumpra os requisitos estabelecidos no acordo internacional pertinente (art. 6, 2 e 3, IN 106). Para tal, necessrio que a obra audiovisual atenda aos seguintes critrios: ser produzida por empresa brasileira que possua no mnimo 40% dos direitos patrimoniais sobre obra, alm de contar com pelo menos 2/3 de brasileiros na equipe de artistas e tcnicos para a realizao da produo (art. 1, V, c), MP 2.228; vide o tpico Obra Brasileira na pgina 21.

    Direitos patrimoniais vs. direitos sobre a renda patrimonial

    Quando da aferio da proporcionalidade em relao aos direitos patrimoniais detidos por cada coprodutor e o aporte de recursos por ele realizado, verifica-se que a Ancine estabelece uma diferenciao entre os direitos patrimoniais e os chamados direitos sobre renda patrimonial, tambm chamados de receitas de comercializao (art. 6, III, IN 106).Segundo a doutrina clssica de Direito Autoral, os direitos patrimoniais de autor consistem no direito exclusivo de explorao econmica da obra

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    Guia do produtor audiovisual

    artstica. Essa faculdade est prevista no art. 5, XXVII, da Constituio Federal, que garante aos autores o direito exclusivo de utilizao, publica-o ou reproduo de suas obras, e tambm foi traduzida no art. 28 da Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais ou LDA), que prev que cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor de sua criao artstica.

    Entretanto, a j mencionada IN 104 distingue os direitos patrimo-niais (art. 1, X) dos direitos sobre renda patrimonial (art. 1, XI), que conferem ao seu titular o direito de auferir receitas pecunirias a partir da explorao econmica da obra que realiza, sem que isso signifique a transferncia de poder dirigente, ou domnio patrimonial, do autor da obra para o detentor do direito sobre a renda patrimonial.

    Entende-se por poder dirigente da obra audiovisual a deteno ma-joritria dos direitos patrimoniais que sobre ela recaem, e que permite ao seu titular ou titulares a utilizao, fruio e disposio da obra, bem como a sua explorao direta ou por meio da outorga de direitos para as diversas modalidades de explorao econmica da obra ou elementos dela derivados, desde que tal outorga seja limitada no tempo e no venha a esvaziar as faculdades que compem o prprio poder dirigente (art. 1, XL, IN 104 e art. 7, XLIX, IN 100).

    Em geral, apesar de a Ancine estabelecer tal diferenciao concei-tual entre direitos patrimoniais e os direitos sobre a renda patrimonial, a proporcionalidade entre tais faculdades e o aporte de recursos financeiros feitos por cada coprodutor dever ser observada (art. 6, III, IN 106).

    No entanto, curiosamente, a Ancine vem entendendo que, em al-guns casos, possvel que o produtor mantenha o seu poder dirigente mediante a deteno majoritria dos direitos patrimoniais sobre a obra audiovisual, mas transfira para terceiros o direito de receber o resulta-do pecunirio da explorao econmica da obra audiovisual (ou renda patrimonial) em qualquer modalidade de mdia, ainda que isso venha a comprometer a proporcionalidade anteriormente mencionada.

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    Guia do produtor audiovisual

    Um exemplo de tal exceo est no Regulamento Geral do Progra-ma de Apoio ao Desenvolvimento da Indstria Audiovisual (Prodav), que estabelece no item 130.2 que os contratos de investimento, celebrados com terceiros para viabilizar a produo ou a comercializao da obra audiovisual, podero prever alienao de receitas e retorno ao investidor de forma mais vantajosa em relao aos detentores de direitos patrimo-niais, desde que: a) os valores investidos com retorno mais vantajoso no tenham direitos patrimoniais por contrapartida; (...).

    Dessa forma, apesar da obrigao imputada ao produtor brasileiro de preservar seu poder dirigente por meio da deteno mnima de 40% dos direitos patrimoniais sobre a obra, a Ancine vem permitindo, em de-terminadas hipteses, a transferncia, para terceiros no titulares, dos di-reitos de aferio de receitas pecunirias a partir da explorao econmica da obra.

    Coprodues fora do regime dos acordos internacionais

    Para que uma obra produzida em regime de coproduo inter-nacional, quando realizada fora do abrigo de acordo internacional, seja reconhecida como brasileira, necessrio o atendimento dos requisitos estabelecidos no art. 2, inciso VII, alnea b da IN 106. Esse dispositivo estabelece que deve ser assegurada produtora brasileira a titularidade de, no mnimo, 40% dos direitos autorais patrimoniais da obra, e que 2/3 (dois teros) dos artistas e tcnicos utilizados na produo sejam brasilei-ros ou residentes no Brasil h mais de 3 (trs) anos.

    O percentual de 40%, bem como os percentuais determinados nos acordos de coproduo mencionados acima podem ser constitudos pela soma das participaes de todos os produtores brasileiros envolvidos, caso haja mais de um (art. 1, 4, IN 104).

    Para fins de clculo do mencionado percentual, a produtora bra-sileira deve deter direitos patrimoniais no apenas sobre as obras, mas

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    Guia do produtor audiovisual

    tambm sobre os elementos derivados e de criaes intelectuais preexistentes inseridas na obra (art. 5, 1, IN 104).

    Caso a maioria dos direitos patrimoniais sobre elementos derivados e criaes intelectuais pr-existentes produo da obra audiovisual seja de ti-tularidade de estrangeiros, esta somente poder ser considerada brasileira se o titular estrangeiro daqueles direitos conceder autorizao expressa para a ex-plorao econmica de tais elementos e criaes pela produtora brasileira, ou por seus outorgados. Tal autorizao no poder conter quaisquer limitaes quanto a tempo ou territrio, e tampouco dever ser necessria a anuncia do titular estrangeiro para a efetivao de cada contratao que a produtora venha a realizar no curso da explorao econmica (art. 5, 2, IN 104).

    Ainda sobre o requisito de deteno mnima de 40% dos direitos patri-moniais, faz-se remisso ao mencionado no tpico anterior sobre o entendi-mento da Ancine de que tais direitos e os direitos sobre a renda patrimonial so faculdades independentes, mas cuja proporcionalidade em relao ao aporte de recursos financeiros dever ser observada.

    A definio do tipo de tcnico que deve compor a frao de 2/3 neces-sria s coprodues sem acordo internacional consta no item definio de obra no publicitria brasileira (pgina 22).

    CPB e CRT

    Definio de CPB

    O Certificado de Produto Brasileiro, conhecido como CPB, o certifi-cado emitido pela Ancine, de forma gratuita, que deve ser requerido no ato de registro da obra. A sua funo confirmar que se trata de uma obra brasileira (art. 6, IN 104), ou seja, que foram observados os requisitos sobre o qual tra-tou o item definio de obra no publicitria brasileira.

    Ele comumente identificado como a certido de nascimento da obra, comprovando a sua nacionalidade brasileira para fins de exportao, inscrio da obra em festivais e prmios e de incentivos fiscais.

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    Guia do produtor audiovisual

    No ato de requerimento do certificado, a obra no publicitria bra-sileira classificada da seguinte maneira(Art. 11, IN 104):

    a) Comum;

    b) Brasileira constituinte de espao qualificado;

    c) Brasileira independente de espao qualificado.

    Para a definio de espao qualificado, ver item f abaixo.Alm da classificao acima, a emisso do CPB classificar a obra em

    no seriada, seriada que, por sua vez, se subclassifica em temporada nica, em mltiplas temporadas ou de durao indeterminada(Art. 9, IN 104) , bem como em animao, documentrio, fico, jornalstica, manifestaes e eventos esportivos, programa de auditrio ancorado por apresentador, re-ality show, religiosa, variedades e videomusical (Art. 10, IN 104).

    Obrigatoriedade da Emisso do CPB

    obrigatria a emisso do CPB para todas as obras brasileiras no publicitrias que visem a exportao ou comunicao pblica do filme em territrio brasileiro nos seguintes segmentos de mercado: salas de exibi-o, radiodifuso de sons e imagens (televiso aberta), comunicao ele-trnica de massa por assinatura (televiso paga), vdeo domstico, vdeo por demanda, audiovisual em transporte coletivo e audiovisual em circui-to restrito (Art. 7, IN 104).

    Por outro lado, dispensam o registro as obras no publicitrias bra-sileiras jornalsticas, de manifestaes e eventos esportivos ou as obras produzidas com fins institucionais (aquela que, realizada por meio de prestao de servios de produo e financiada por pessoa natural ou jur-dica que detenha a totalidade de seus direitos patrimoniais, seja difundida exclusivamente de forma gratuita por meio de cpias fsicas diretamente pela pessoa natural ou jurdica financiadora da obra ou em circuito restri-to de sua propriedade art. 8, IN 104).

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    Guia do produtor audiovisual

    Por fim, no possvel a emisso de CPB para contedos de carter pessoal, jogos eletrnicos e fragmentos de obra audiovisual (Art. 6, IN 104).

    Procedimento de emisso de CPB

    A emisso do certificado deve ser requerida pela empresa detentora majoritria do poder dirigente sobre o patrimnio da obra j conceitu-ados na pgina 28 (Direitos patrimoniais vs. Direitos sobre a renda pa-trimonial), ou pelo proponente, caso a obra seja resultado de um projeto de fomento na Ancine (Art. 18, IN 104).

    O procedimento para requerer a emisso do CPB realizado online, no Sistema Ancine digital e consiste no preenchimento de um formulrio com as principais informaes sobre a obra (ttulo, durao, tipo, diretor, roteirista, organizao temporal, sinopse, equipe tcnica e artstica), sobre o financiamento, direitos de explorao comercial, comunicao pblica e direito de receita sobre a mesma e o envio, atravs do prprio sistema, da documentao exigida: (i) cpia do contrato com diretor; (ii) cpia do contrato com o roteirista e/ou autor do argumento; (iii) cpia do autor da trilha sonora, quando for o caso; (iv) cpia do contrato de coproduo, quando houver; (v) cpia do contrato de alienao dos direitos patrimo-niais da obra, se houver. A cpia do contrato com o diretor, autor da trilha sonora ou criador de desenho (no caso de animao) pode ser substituda apenas por uma declarao do representante legal da empresa programa-dora informando possuir os direitos patrimoniais sobre a obra de maneira integral (Anexo I, IN 104).

    A cpia da obra audiovisual finalizada dever ser entregue no Pro-tocolo Geral da Ancine ou encaminhada pelos correios, com aviso de re-cebimento (AR).

    Definio de CRT

    O Certificado de Registro de Ttulo, conhecido como CRT, o do-cumento que define o enquadramento tributrio da obra e, consequente-

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    Guia do produtor audiovisual

    mente, o valor a ser recolhido da Contribuio para o Desenvolvimento da Indstria Cinematogrfica, a chamada Condecine ttulo.

    Cada obra deve ter um CRT por segmento de mercado no qual se pretende realizar a comunicao pblica e o prazo do certi-ficado o mesmo pelo qual perdurar a deteno dos direitos de ex-plorao comercial pelo requerente, sendo certo que, no caso de obras audiovisuais no isentas de Condecine e quando houver inci-dncia de tributo, esse prazo estar limitado ao perodo de 5 anos, a contar da data do requerimento do registro (art. 16, IN 105). Concedido o CRT, ser definido o valor a ser recolhido a ttulo de Conde-cine, que depender da veiculao, produo, licenciamento e distribui-o para fins comerciais da obra (art. 19, IN 105). Tal contribuio ser devida uma vez a cada 5 anos, por ttulo de obra audiovisual, ou seja, por cada modalidade de transmisso por meio da qual a obra ser exibida, e deve ser recolhida por meio de Guia de Recolhimento da Unio GRU emitida pela Ancine (arts. 21 e 23, IN 104). A Condecine, em especial, aquela conhecida como Condecine ttulo, ser melhor definida e deta-lhada no item b do ttulo IV.

    Alm de definir o valor a ser pago a ttulo de Condecine, o CRT classificar a obra em brasileira e estrangeira, dependendo se possui ou no CPB (Art. 5, IN 105). Como resultado dessa classificao, outra ser feita, sendo a obra brasileira subclassificada em comum, brasileira cons-tituinte de espao qualificado e brasileira independente constituinte de espao qualificado, classificao que ser relevante para o assunto a ser tratado no item especfico abaixo (Art. 8, IN 105).

    Por fim, a emisso do CRT ter como resultado a classificao da obra e em no seriada, seriada , que, por sua vez, se subclassifica em temporada nica, em mltiplas temporadas ou de durao indeterminada (art. 6, IN 105) , bem como animao, documentrio, fico, jornalsti-

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    Guia do produtor audiovisual

    ca, manifestaes e eventos esportivos, programa de auditrio ancorado por apresentador, reality show, religiosa, variedades e vdeomusical (Art. 7, IN 105).

    Obrigatoriedade da emisso do CRT

    A emisso do CRT obrigatria para todas as obras audiovisuais no publicitrias (brasileiras ou estrangeiras) que visem comunicao pblica em territrio brasileiro nos seguintes segmentos de mercado: sa-las de exibio, radiodifuso de sons e imagens (TV aberta), comunicao eletrnica de massa por assinatura (TV paga), vdeo domstico, vdeo por demanda, audiovisual em transporte coletivo e audiovisual em circuito restrito (art. 4, IN 105).

    Da mesma forma que o CPB, no possvel a emisso de CRT para contedos de carter pessoal, jogos eletrnicos, e fragmentos de obra au-diovisual (art. 3, pargrafo nico, IN 105).

    Procedimento de emisso de CRT

    O requerimento do CRT deve ser feito pelo detentor dos direitos de explorao comercial ou licenciamento da obra no Brasil no segmento de mercado para o qual se pretende a emisso (art. 11, IN 105).

    Da mesma forma que no CPB, o requerimento dever ser realizado atravs do site da Ancine e conter as seguintes informaes: (i) nmero do CPB (se for obra brasileira); (ii) nmero do registro de obra estrangeira na Ancine (se for obra estrangeira), (iii) ttulos original, ttulos alternativos e em portugus; (iv) nome da empresa produtora; (v) nome do diretor; (vi) sinopse; (vii) pas de origem, quando aplicvel; (viii) ano de produo; (ix) classificao temporal (no seriada, seriada em temporada nica etc.); (x) durao; (xi) nmero de episdios ou captulos; (xii) tipo; (xiii) segmento de mercado a que se destina; e, se houver, (xix) endereo da pgina eletr-nica da obra na internet (art. 12, IN 105).

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    Guia do produtor audiovisual

    O requerente deve manter cpia de todos os contratos que envol-vam a transferncia de direitos autorais e tambm uma cpia da obra no formato DVD por 5 anos a contar do requerimento, tendo em vista que a Ancine poder, nesse prazo, solicit-los (Art. 13, IN 105).

    Caso o requerente seja detentor dos direitos de licenciamento da obra, o requerimento dever, ainda, ser acompanhado do envio eletrnico de cpia dos contratos de transferncia dos direitos de explorao comer-cial da obra audiovisual para o segmento de mercado no qual a mesma ser comunicada publicamente. Tais documentos devem ser enviados em at 30 dias, prorrogveis por mais 30 dias, por solicitao do requerente (Art. 13, IN 105).

    A anlise do requerimento ser feita pela Ancine em at 30 dias a partir do recebimento dos documentos e da confirmao do pagamento da Condecine. Em caso de exigncias, ser aberto o prazo de 30 dias, pror-rogveis por mais 30 dias, para cumprimento (art. 15, IN 105).

    Mesmo aps a concesso, o CRT poder ser anulado caso sejam verificadas irregularidades ou inconsistncias na documentao no qual foi embasado (art. 32, IN 105).

    Obra Publicitria

    As obras publicitrias no possuem CPB, mas devem ter seu ttulo re-gistrado previamente sua comunicao pblica (art. 2, IN 95).

    No ato do registro, as obras publicitrias sero classificadas em brasilei-ras filmadas ou gravadas no Brasil, caso em que podero ser usados at 20% de contedos audiovisuais no produzidos por produtora brasileira, brasilei-ras filmadas ou gravadas no exterior e estrangeira (arts. 3 e 4, IN 95).

    O registro somente poder ser requerido pela empresa produtora, se a obra for brasileira, pelo detentor do licenciamento, se estrangeira ou pelo representante legal da programadora estrangeira no Brasil, caso a obra publicitria esteja includa em programao internacional (art. 10, IN 95).

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    Guia do produtor audiovisual

    O requerimento dever ser realizado atravs do site da Ancine e conter as seguintes informaes: ttulo, produto, bem ou servio anuncia-do, anunciante, agncia de publicidade, tipo, durao, ano de produo ou importao, alm de outros dados especficos listados no art. 11 da IN 95, em sua redao alterada pelo art. 2 da IN 98. Alm dessas informaes, o requerente dever enviar eletronicamente cpia dos documentos tambm elencados no mesmo artigo.

    Cota de produo nacional (cinema e TV fechada)

    Definio de cotas de produo nacional

    As chamadas cotas de produo nacional foram institudas pela Lei 12.485/2011. Tal diploma legal trata exclusivamente dos servios de radiodifuso de televiso paga (ou por assinatura), e os denomina como Servio de Acesso Condicionado (SeAC).

    No mbito da competncia da Ancine, a IN 100 regulamentou as disposies da Lei 12.485. A IN 101, por sua vez, regulamentou o creden-ciamento obrigatrio dos agentes que exercem atividades de programao e empacotamento, definidas abaixo, assim como o registro daqueles que exercem atividades de produo, distribuio e exibio de obras cinema-togrficas e videofonogrficas nacionais ou estrangeiras.

    Tendo como princpios norteadores a promoo da diversida-de cultural, o estmulo ao desenvolvimento social e econmico do pas e, ainda, a promoo da cultura nacional, em atendimento orientao constitucional, a Lei 12.485 estabelece cotas obrigatrias de exibio de contedo audiovisual brasileiro dentro da programao de canais de es-pao qualificado, definido adiante.

    O objetivo dessa nova legislao fomentar o mercado audiovi-sual brasileiro e suas produtoras por meio da criao de demanda por contedos nacionais e independentes, o que tambm traz vantagens para

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    Guia do produtor audiovisual

    as programadoras estrangeiras, na medida em que o contedo nacional as aproxima culturalmente do pblico brasileiro, podendo reverter em maior audincia para seus canais.

    Conceitos relevantes

    Para melhor compreenso da extenso dos efeitos da Lei 12.485, ser necessrio conceituar os principais termos que permeiam esse recm-regulado ambiente do mercado audiovisual brasileiro, elencados a seguir.

    Canal avulso de programao: tambm conhecido como canal pay-per-view, consiste no canal de programao organizado na modalidade avulsa de programao, para a aquisio dos canais, de forma avulsa, por parte do assinante (art. 7, III, IN 100);

    Canal de espao qualificado: canal de televiso paga que exiba no ho-rrio nobre, predominantemente, filmes, sries, programas de animao, documentrios e quaisquer outras obras audiovisuais que configurem es-pao qualificado (art. 1, II, Lei 12.485);

    Canal brasileiro de espao qualificado: canal de espao qualificado programado por programadora brasileira, cuja metade dos contedos audiovisuais brasileiros que constituam espao qualificado sejam produ-zidos por produtora brasileira independente. Ademais, essa modalidade de canal no pode estar sujeita a acordo de exclusividade que impea sua programadora de comercializar os direitos de sua exibio ou comerciali-zao (art. 2, III, Lei 12.485 e art. 7, IV, IN 100);

    Canal de programao: resultado da atividade de programao con-sistente na organizao de obras audiovisuais em sequncia linear tempo-ral e com horrio preestabelecidos (art. 2, IV, Lei 12.485 e art. 7, XII, IN 100);

    Empacotamento: atividade de organizao de canais de programao a serem disponibilizados ao assinante dos canais de televiso paga (art. 2, XI, Lei 12.485 e art. 7, XXIII, IN 100);

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    Guia do produtor audiovisual

    Espao qualificado: trata-se da grade total de programao de um ca-nal de televiso, excetuando-se os programas de contedo religioso, po-ltico, propaganda poltica obrigatria ou qualquer contedo audiovisual veiculado em horrio eleitoral gratuito, esportivo, concursos, publicidade, televendas, infomerciais, jogos eletrnicos, contedo jornalstico e pro-gramas de auditrio conduzidos por um apresentador (art. 2, XXIV, Lei 12.485 e art. 7, XXIV, IN 100);

    Produtora brasileira independente: aquela que, cumulativamente, (i) no controladora, controlada ou coligada a qualquer empresa em-pacotadora ou distribuidora, (ii) no est sujeita ao veto comercial ou a qualquer tipo de interferncia comercial sobre os contedos que produz por parte de seus scios minoritrios, quando estes forem programadoras, empacotadoras, distribuidoras ou concessionrias de servios de radiodi-fuso de sons e imagens, e (iii) no mantm vnculo de exclusividade que a impea de comercializar os direitos de exibio relativos aos seus canais (art. 2, XIX, Lei 12.485 e art. 7, LII, IN 100);

    Programao: atividade de seleo, organizao ou formatao de obras audiovisuais, com fins da criao de canais de programao art. 2, XX, Lei 12.485 e art. 7, LIII, IN 100).

    Cumprimento das obrigaes relativas s cotas de produo nacional

    Atividade de programao: a nova legislao obriga que os canais de espao qualificado reservem 3h30 (trs horas e trinta minutos) semanais de seu horrio nobre veiculao de contedos audiovisuais brasileiros, sendo que metade, no mnimo, dever ser produzida por produtora brasi-leira independente (art. 16, Lei 12.485 e art. 23, IN 100).

    Para fins dessa obrigao, entende-se como horrio nobre o pe-rodo na programao diria em que a audincia, usualmente, atinge os nveis mais elevados. Conforme estabelece o art. 13 da IN 100, o horrio

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    Guia do produtor audiovisual

    nobre, nos canais com programao direcionada a crianas e adolescen-tes, ser aquele compreendido entre os perodos de 11h s 14h e de 17h s 21h, e para os demais canais, das 18h s 24h.

    Esto dispensados do cumprimento de tais obrigaes os seguintes canais de programao: (i) de distribuio obrigatria; (ii) que retransmi-tirem canais de geradoras detentoras de outorga de radiodifuso de sons e imagens; (iii) aqueles operados sob responsabilidade do poder pblico; (iv) os no adaptados ao mercado brasileiro; (v) os canais de contedo ertico; e (vi) os canais avulsos de contedo programado (canais pay-per-view) (art. 24, 1, IN 100)

    Atividade de empacotamento: a Lei 12.485 estabelece que todos os pacotes de canais de televiso paga oferecidos aos consumidores assinan-tes devero incluir 1 canal brasileiro de espao qualificado de programa-dora brasileira para cada 3 canais de espao qualificado, at o limite de 12 canais brasileiros de espao qualificado (art. 17, Lei 12.485). Quando for ofertado apenas 1 canal brasileiro de espao qualificado, este dever veicular o mnimo de 12 horas de contedo audiovisual brasileiro que configure espao qualificado e produzido por produtora brasileira inde-pendente, sendo certo que 3 horas do limite temporal previsto acima de-vero ser exibidas no horrio nobre (art. 28, I, IN 100).

    Os pacotes que ofertem pelo menos 2 canais brasileiros de espao qualificado devero ser compostos por ao menos 2 canais que veiculem o mnimo de 12 horas de contedo audiovisual brasileiro que configure es-pao qualificado, produzido por produtora brasileira independente e em que 3 horas de tal limite temporal devero ser exibidas no horrio nobre. Nesse caso, necessrio tambm que a programadora de, no mnimo, 1 desses canais no seja controlada, controladora ou coligada a concessio-nria de servio de radiodifuso (art. 28, II, IN 100).

    A empacotadora devem tambm ofertar, em cada pacote, o mnimo de 1/3 de canais brasileiros de espao qualificado em relao a todos os ca-

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    Guia do produtor audiovisual

    nais de espao qualificado ofertados em cada pacote, limitado ao mximo de 12 canais brasileiros de espao qualificado, e o mnimo de 1/3 tambm de canais brasileiros de espao programados por programadora brasileira independente em relao a todos os canais brasileiros de espao qualifica-do oferecidos em cada pacote (art. 28, III e IV, IN 100).

    Nos pacotes em que houver canal jornalstico brasileiro, a empaco-tadora dever garantir a oferta, no mesmo pacote, de pelo menos mais um canal de programao com as mesmas caractersticas (art. 28, V, IN 100).

    Quando houver a oferta de aquisio avulsa de um canal jornals-tico brasileiro, dever ser oferecido ao menos mais um canal avulso de programao com as mesmas caractersticas (art. 28,VI, IN 100).

    Obras que configuram espao qualificado

    Para contabilizao das cotas de produo nacional em cumpri-mento s obrigaes estabelecidas pela Lei 12.485, sero consideradas as obras audiovisuais brasileiras, conforme definidas acima, nas modalida-des seriadas ou no seriadas de fico, documentrios, animaes, reality shows, programas videomusicais e programas de variedades (art. 8, IN 100). Tais obras devero possuir CPB e devero ter sido veiculadas em pe-rodo inferior a 12 meses contados da sua primeira exibio em qualquer canal prprio de suas produtoras, de suas controladoras, controladas, co-ligadas ou de empresas com as quais possuam controlador ou administra-dor em comum (art. 24, I, IN 100).

    Visando a fortalecer e estimular o desenvolvimento das produtoras brasileiras independentes, necessrio que o seu poder dirigente sobre a obra que poder ser utilizada para fins de cumprimento da cota de produ-o nacional seja mantido em seu nome.

    Quanto aos reality shows e programas de variedades, destaca-se que no ser qualquer obra dessas modalidades que atender aos fins da nova legislao. Apenas sero considerados aqueles que possuam forma-

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    Guia do produtor audiovisual

    tos nacionais, vale dizer, sem que se tenha importado tal contedo de ou-tro reality show ou programa de variedades realizado por outro pas (art. 24, II e III, IN 100).

    Por fim, as obras videomusicais, formadas principalmente por shows e performances musicais, ainda que editados, somente podero ser contabilizadas em canais de contedo videomusical para fins de cumpri-mento de cota de produo nacional (art. 24, IV, IN 100).

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    Mecanismos Federais e Estaduais

    Contexto

    O mercado do audiovisual um dos que mais cresce em nosso pas. O volume de produes nacionais no cinema e na televiso cresce de maneira consistente e muitas produtoras brasileiras independentes, impulsionadas pelas inovaes tecnolgicas e por novas demandas, passam a produzir e distribuir seus filmes, ganhando mercados inclusive no exterior.

    A viabilizao da produo audiovisual brasileira se d a partir de uma srie de mecanismos de fomento, incentivo e estmulos oferecidos para a produo, distribuio e exibio de obras audiovisuais, criados a partir do incio da dcada dos 90. Dentre tais mecanismos, destacam-se os de incentivo fiscal, que se caracterizam pela utilizao de crditos tribut-rios para financiar produes ou coprodues realizadas por produtores brasileiros independentes. A estes, somam-se os programas de fomento e estmulo desenvolvidos diretamente pelo poder pblico, no mbito fede-ral, estadual e municipal, com grande destaque ao Fundo Setorial do Au-diovisual, composto basicamente pela Condecine (ver tpico especfico), ou seja, trata-se de um mecanismo de fomento direto do Estado alimen-tado pelo prprio mercado.

    Recentemente, a nova Lei de TV por paga revolucionou o merca-do de televiso, impulsionando a demanda de produo brasileira e inde-pendente e ampliando o acesso da populao aos servios audiovisuais.

    Financiamento produo audiovisual no Brasil5

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    Guia do produtor audiovisual

    A exigncia por mais contedos e de qualidade tambm geram um reflexo positivo nas demais janelas de exibio. a demanda trabalhando pela profis-sionalizao do mercado.

    Essa mudana de paradigma traz para a atividade uma nova forma de pensar as obras audiovisuais independentes, agora ativos com grande potencial comercial com poder de atrair novos investidores e novas pol-ticas pblicas, sendo importante para a estruturao do plano de financia-mento das obras sua composio com os recursos incentivados disponveis. O Fundo Setorial do Audiovisual, por exemplo, poltica de investimento direto do poder pblico, j destinou desde sua criao mais de R$ 400 mi-lhes distribuio e produo. Estima-se que a nova injeo de recursos em funo das contribuies tributrias do Fundo das Telecomunicaes, implementada pela nova Lei da TV paga, gere um capital disponvel para o fundo de cerca de R$ 800 milhes anuais.

    Tendo o Brasil, portanto, a estrutura de financiamento lastreada princi-palmente pela participao de recursos pblicos, de forma direta ou indireta, sem dvida o setor audiovisual brasileiro vem experimentando, nos ltimos 15 anos, um aumento expressivo no volume de investimentos com claros desdobramentos para a consolidao de uma indstria audiovisual legitima-mente nacional. Este, alis, o principal objetivo das polticas de estmulo de-senvolvidas para o setor audiovisual, como se encontra claramente descrito em toda a legislao que rege o desenvolvimento de tais polticas.

    Dinmica de funcionamento do incentivo fiscal

    A legislao atual prev a existncia de diversos mecanismos de incentivo fiscal especficos para o setor audiovisual, cada qual com suas particularidades seja em relao ao benefcio fiscal que concedido (e assim, em relao ao contribuinte que dele pode fazer uso), seja com re-lao s atividades financiadas (variando entre produo, distribuio ou exibio de obras audiovisuais).

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    Antes de analisarmos as caractersticas de cada um deles, contudo, preciso enfatizar que os mecanismos de incentivo fiscal se revelam como ferramenta de induo positiva (ou premial), utilizada pelo Estado para conferir vantagens (de natureza fiscal) a pessoas ou empresas que prati-cam um determinado comportamento, tido como salutar para o Estado e para a sociedade.

    No caso especfico dos incentivos ao audiovisual, o comportamento premiado justamente a canalizao de recursos para projetos de produ-o, distribuio ou exibio de obras audiovisuais. Ao pratic-lo, na for-ma e condies exigidas pela legislao, o contribuinte passa a ter o direito de fruir da vantagem tributria, isto , ter o direito de pagar menos tribu-to do que deveria pagar caso no houvesse transferido recursos ao projeto.

    Neste sentido, a dinmica de funcionamento de quaisquer dos me-canismos de incentivo fiscal ao audiovisual envolve necessariamente a presena dos seguintes atores: Estado, proponentes e contribuintes. Sem a participao destes trs agentes, a relao idealizada pelo mecanismo de incentivo fiscal no ocorre.

    Vamos analisar mais de perto cada uma destas figuras:Proponentes: So os responsveis pela concepo e estruturao dos

    projetos de produo, distribuio e exibio de obras audiovisuais, e por submeter tais projetos apreciao prvia do Estado (por meio dos r-gos competentes em cada esfera de governo). Posteriormente, e uma vez tendo obtido financiamento para seu projeto, o proponente , de acordo com a legislao, o responsvel pela execuo integral do projeto por ele desenvolvido, devendo inclusive prestar contas da realizao do projeto e da utilizao dos recursos captados por meio dos mecanismos de incen-tivo fiscal;

    Estado: ao Estado, inicialmente, cumpre estabelecer a renncia fiscal, sem a qual o mecanismo de incentivo simplesmente no existe. Em outras

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    palavras, o Estado renuncia parcialmente ao direito que ele teria de rece-ber determinados tributos, para que tais recursos possam ser destinados a projetos audiovisuais. Tambm cabe ao Estado, na dinmica de funciona-mento dos incentivos, avaliar previamente os projetos de produo, distri-buio e exibio de obras audiovisuais apresentados pelos proponentes quanto sua adequao legislao vigente, e ento aprov-los ou no. Por fim, tambm funo do Estado acompanhar a execuo de todos os projetos que, aprovados, vieram a obter financiamento, de modo a garan-tir que os recursos aplicados na execuo dos projetos atendam fielmente s finalidades previstas pela legislao.

    Contribuintes: por fim, aos contribuintes cumpre canalizar uma par-cela do tributo por eles devido a projetos audiovisuais previamente apro-vados pelo Estado, na forma e condies estabelecidas pela legislao, de modo a possibilitar a fruio dos benefcios fiscais. Os contribuintes tm o direito de escolher os projetos que desejam financiar (ou at mesmo esco-lher se querem, ou no, financiar algum projeto) e, em o fazendo, passam a ter direito ao benefcio fiscal.

    Na dinmica de funcionamento dos incentivos, a iniciativa privada (por meio dos proponentes e dos contribuintes) chamada a participar de-cisivamente do processo, sempre sob superviso e fiscalizao do Estado.

    A partir disso, podemos classificar os vrios mecanismos de incen-tivo fiscal existentes em trs categorias, a saber:

    Mecanismos de investimento: aqueles nos quais o contribuinte do tri-buto, que transfere recursos para um projeto audiovisual fazendo uso da renncia fiscal, torna-se investidor no projeto e, portanto, faz jus a uma par-cela do resultado econmico que vier a ser obtido a partir daquele projeto;

    Mecanismos de patrocnio: aqueles nos quais o contribuinte do tri-buto, que transfere recursos para um projeto audiovisual fazendo uso da renncia fiscal, tem o direito de expor o seu nome, marca ou produto no

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    mbito do projeto audiovisual patrocinado, obtendo assim contrapartidas promocionais ou publicitrias;

    Mecanismos de coproduo: aqueles nos quais o contribuinte do tri-buto, que transfere recursos para um projeto audiovisual fazendo uso da renncia fiscal, passa a ser coprodutor daquela obra e, como tal, possui participao nos direitos patrimoniais sobre a obra e no resultado da sua explorao comercial.

    Noes e definies importantes

    Antes de entrarmos na explicao de cada um dos mecanismos de incentivo, de sua utilizao e respectivos benefcios fiscais, importante partirmos de algumas noes e definies trazidas pela legislao, em es-pecial nas instrues normativas da Ancine.

    I Ancine: Agncia Nacional de Cinema: Trata-se do rgo regula-trio e fomentador da atividade audiovisual e cinematogrfica no Brasil, em mbito federal. Esta agncia responsvel pela regulao e fomento do setor audiovisual e, no mbito destas competncias, o rgo responsvel por aprovar projetos para uso de incentivos fiscais, registro de contrato de co-produo, aplicao de penalidades, etc.

    II Proponente:a) empresa produtora brasileira registrada na Ancine que, a partir da

    apresentao do projeto para aprovao pela Ancine, torna-se responsvel por todos os procedimentos e compromissos necessrios realizao do mesmo, respondendo administrativa, civil e penalmente perante a Anci-ne, demais rgos e entidades pblicas e terceiros prejudicados, nos ter-mos da legislao vigente; ou

    b) pessoa natural ou pessoa jurdica registrada na Ancine que, a partir da apresentao do projeto para aprovao pela agncia, com o objetivo de obter recursos exclusivamente pelo mecanismo de incentivo previs-to na Lei 8.313/91, torna-se responsvel por todos os procedimentos e

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    compromissos necessrios realizao do mesmo, respondendo adminis-trativa, civil e penalmente perante a Ancine, demais rgos e entidades pblicas, alm de terceiros prejudicados, nos termos da legislao vigente;

    IIIObra audiovisual: Produto da fixao ou transmisso de ima-gens, com ou sem som, que tenha a finalidade de criar a impresso de movimento, independentemente dos processos de captao, do suporte utilizado inicial ou posteriormente para fix-las ou transmiti-las, ou dos meios utilizados para sua veiculao, reproduo, transmisso ou difuso. Em suma, o gnero do qual a obra cinematogrfica e a obra videofono-grfica so espcies.

    IVObra cinematogrfica: Obra audiovisual cuja matriz original de captao uma pelcula com emulso fotossensvel ou matriz de captao digital, cuja destinao e exibio sejam prioritariamente e inicialmente o mercado de salas de exibio. Note-se aqui que, para ser classificada como obra cinematogrfica, deve ser destinada prioritria e inicialmente ao mercado de salas de exibio (salas de cinema), o que, no entanto, no impede que a obra cinematogrfica venha a ser explorada, depois de sua vida til no circuito de exibio, em outros mercados, como por exemplo, o home video, DVD, televiso e tantos outros.

    VObra videofonogrfica: obra audiovisual cuja matriz original de captao um meio magntico com capacidade de armazenamento de informaes que se traduzem em imagens em movimento, com ou sem som. Observe que as diferenas bsicas entre obra videofonogrfica e obra cinematogrfica so com relao ao suporte de fixao e com relao ao mercado original de explorao da obra. A obra videofonogrfica pode ser produzida para explorao inicial em qualquer mercado, sem necessi-dade de explorao inicial no mercado de salas de exibio.

    VIobra (cinematogrfica ou videofonogrfica) de produo inde-pendente: Ver tpico especfico,

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    VIIobra (cinematogrfica ou videofonogrfica) brasileira: Ver t-pico especfico

    Cumpre assinalar que a utilizao de incentivos fiscais apenas pode se dar para a produo, distribuio ou exibio de obras audiovisuais brasileiras e independentes. Da a importncia de se compreender perfei-tamente os conceitos acima. Note-se, aqui, que em qualquer caso a obra ser brasileira apenas se for produzida (ou coproduzida) por empresa bra-sileira registrada na Ancine.

    VIIIObra (cinematogrfica ou videofonogrfica) de curta metra-gem: aquela cuja durao igual ou inferior a 15 minutos;

    IXObra (cinematogrfica ou videofonogrfica) de mdia metra-gem: aquela cuja durao superior a 15 minutos e igual ou inferior a 70 minutos;

    X Obra (cinematogrfica ou videofonogrfica) de longa metra-gem: aquela cuja durao superior a setenta minutos;

    XI Obra (cinematogrfica ou videofonogrfica) seriada: aquela que, sob o mesmo ttulo, seja produzida em captulos;

    XIITelefilme: obra documental, ficcional ou de animao, com no mnimo 50 (cinqenta) e no mximo 120 (cento e vinte minutos) de du-rao, produzida para primeira exibio em meios eletrnicos.

    XIII Minissrie: obra documental, ficcional ou de animao pro-duzida em pelcula ou matriz de captao digital ou em meio magntico com, no mnimo, 3 (trs) e no mximo 26 (vinte e seis) captulos, com durao mxima de 1.300 (um mil e trezentos) minutos;

    XIV Programas para televiso de carter educativo e cultural: obra audiovisual brasileira de produo independente, produzida para primeira veiculao nos mercados de servios de radiodifuso de sons e imagens e de comunicao eletrnica de massa por assinatura, que tenha como temtica a cultura, a educao ou o meio ambiente brasileiros, e

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    com a quantidade mnima em seu contedo, de 95% (noventa e cinco por cento) das imagens produzidas no Brasil.

    XV Poder dirigente sobre o patrimnio da obra audiovisual: Po-der de controle sobre o patrimnio da obra audiovisual, constitudo por intermdio da deteno majoritria dos direitos patrimoniais da mes-ma, condio que permite ao detentor ou detentores utilizar, fruir e dis-por da obra, bem como explorar diretamente ou outorgar direitos para as diversas modalidades de explorao econmica da obra ou de seus elementos derivados, condicionado a que a outorga, limitada no tempo, no descaracterize a titularidade e a deteno deste poder;

    Mecanismos federais de incentivo fiscal

    Os mecanismos federais de incentivo fiscal ao audiovisual so, em sua maioria, de competncia da Ancine e tm como base tributos arre-cadados e administrados pela Unio Federal dos quais o principal o imposto de renda pago por pessoas fsicas e jurdicas. Porm, como vere-mos, h tambm mecanismos de incentivo relativos a outro tributo fede-ral, a Contribuio para o Desenvolvimento da Indstria Cinematogrfica Nacional Condecine, criada pela Medida Provisria 2.228, de 2001, e devida por agentes do prprio setor audiovisual.

    Lei do Audiovisual (Lei 8685/93)

    A Lei do Audiovisual (Lei 8685/93) representa hoje a mais impor-tante ferramenta de incentivo atividade audiovisual, sobretudo em fun-o da diversidade de mecanismos de incentivo por ela previstos e pelo volume de recursos que canaliza para o setor.

    Os mecanismos de incentivo estabelecidos pela Lei do Audiovisual esto previstos nos seus artigos 1, 1-A, 3 e 3-A, cada qual com suas especificidades, conforme veremos:

    Artigo 1: Trata-se de mecanismo de incentivo de investimento, na medida em que confere ao contribuinte financiador o direito de participar

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    do resultado comercial do projeto. A participao do financiador se d por meio da aquisio de quotas do filme, ofertadas publicamente sob a superviso da Comisso de Valores Mobilirios CVM. Ao adquirir (subscrever, na linguagem do mercado de valores mobilirios) as quotas, o financiador passa a ter direito ao benefcio fiscal.

    O art. 1 da Lei do Audiovisual beneficia exclusivamente a produ-o de obras cinematogrficas brasileiras e independentes, de curta, m-dia ou longa-metragem.

    Como visto anteriormente, isso significa dizer que apenas obras finalizadas em suporte pelcula ou digital, destinadas original e priorita-riamente para o mercado de salas de exibio, podero se beneficiar deste mecanismo de incentivo.

    Financiador: os contribuintes que podem fazer uso do incentivo fiscal e, com isso, se tornar investidores dos projetos audiovisuais contemplados por este mecanismo so as pessoas jurdicas tributadas pelo regime de lucro real e as pessoas fsicas que optarem por efetuar a declarao do Imposto de Renda pelo formulrio completo.

    Benefcio fiscal: as empresas investidoras podem abater os valores in-vestidos como despesa operacional (apenas para fins de apurao do im-posto de renda), alm de descontar a integralidade do investimento feito do imposto de renda devido, obtendo assim um retorno tributrio de at 125% do valor aportado no projeto (at o limite de 3% do imposto devi-do). Exemplo: um investimento de R$ 40 mil em um projeto gera uma reduo tributria de R$ 50 mil ao contribuinte financiador. Alm disso, como j afirmado, o investidor se torna cotista do produto resultante e participa do resultado do projeto.

    J os indivduos podem abater 100% dos montantes aplicados aos projetos, at o limite de 6% do valor do imposto de renda devido e tam-bm se tornam cotistas da obra.

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    Limite do mecanismo para os proponentes de projetos: o teto para utilizao do art. 1 de R$ 4 milhes, por projeto. Na composio das fontes de financiamento, o limite do mecanismo aplicado quando utili-zado em conjunto com o mecanismo do art. 1-A, o qual ser apresentado adiante.

    b) Artigo 1-A: Trata-se de mecanismo de patrocnio, o que, como j visto, significa que o contribuinte financiador obtm contrapartidas pro-mocionais e publicitrias em funo do aporte de recursos que faz ao pro-jeto, no participando do resultado comercial do projeto.

    O artigo 1-A foi introduzido na Lei do Audiovisual pela Lei 11.437/2006 e, por isso, o objeto de sua utilizao mais amplo do que o do artigo 1, em consonncia com o advento das novas mdias digi-tais e visando aproximao entre produtoras brasileiras independentes e o mercado de televiso (aberta ou fechada). Assim que o artigo 1-A possibilita o financiamento dos seguintes tipos de obras audiovisuais, ci-nematogrficas e videofonogrficas (sempre brasileiras e independentes), nos seguintes formatos:

    a) longa, mdia e curta-metragem;b) telefilme;c) minissrie;d) obra seriada;e) Programa para televiso de carter educativo e cultural.

    Como se pode perceber, o art. 1-A possibilita a produo de um leque mais amplo de formatos de obras audiovisuais, e sua importncia em termos de utilizao pelas produtoras tem crescido gradativamente, desde sua criao.

    Financiador: assim como no art. 1, podem utilizar o artigo 1-A as empresas brasileiras tributadas pelo lucro real e as pessoas fsicas que op-tarem pela declarao do IR no formulrio completo.

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    Benefcio fiscal: o financiador pessoa jurdica poder abater a totali-dade do valor do imposto de renda devido at o limite de 4% do imposto a pagar. Neste mecanismo, vedado o lanamento do aporte como despe-sa operacional. As pessoas fsicas tambm podem abater a totalidade do aporte realizado, at o limite de 6% do imposto devido.

    Limite do mecanismo para os proponentes de projetos: o teto para utilizao do art. 1-A em um mesmo projeto audiovisual de R$ 4 mi-lhes por projeto, o mesmo limite se aplicando para a utilizao conjunta com o mecanismo do art. 1, como afirmado anteriormente.

    c) Artigo 3o: Trata-se de mecanismo de coproduo que busca possi-bilitar a aproximao entre agentes prprios do setor audiovisual. Assim que os contribuintes do Imposto de Renda incidente sobre a remessa de royalties ao exterior (nos termos do art. 13 do Decreto-Lei n 1.089/70, alterado pelo art. 2 da Lei do Audiovisual) em funo da explorao de obras audiovisuais estrangeiras em territrio nacional, podero benefi-ciar-se de abatimento do imposto devido, desde que invistam em projetos aprovados neste mecanismo pela Ancine.

    No caso, o contribuinte se torna coprodutor do projeto audiovisual em parceria com a produtora brasileira proponente do projeto. Nesse caso a empresa contribuinte celebra com a produtora proponente um contra-to de coproduo pelo qual, alm de participao no eventual resultado comercial daquele determinado projeto, ela pode se tornar licenciada de outros direitos sobre a obra (direito de distribuio, por exemplo).

    O artigo 3 pode contemplar obras cinematogrficas e videofono-grficas, nos seguintes formatos:

    a) coproduo de obra cinematogrfica de longa, mdia e curta-metragem;b) coproduo de telefilme;c) coproduo de minissrie;d) desenvolvimento de projetos de produo de obras cinematogrficas.

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    Financiador: empresas estrangeiras que recebam royalties decorrentes de explorao de obra audiovisual no Brasil (o benefcio fiscal incide so-bre o imposto sobre esta remessa, retido e pago no Brasil conforme legis-lao que rege a matria).

    Benefcio fiscal: a empresa contribuinte do Imposto de Renda na for-ma descrita acima poder verter at 70% do imposto devido, calculado sobre o valor de cada remessa de valores que faz ao exterior ( alquota de 25%). Cabe assinalar, ainda, que a legislao estabelece que a empresa que fizer uso do mecanismo do artigo 3 da Lei do Audiovisual gozar tambm, automaticamente, de no incidncia da Condecine remessa (Art 49, da MP 2.228-1/2001).

    Limite do mecanismo para os proponentes de projetos: o teto para utilizao do art. 3- em um mesmo projeto audiovisual de R$ 3 milhes de reais por projeto, o mesmo limite se aplicando para a utilizao conjun-ta com o mecanismo do art. 3-A, conforme se ver adiante.

    d) Artigo 3-A: Trata-se, assim como o art. 3, de mecanismo de co-produo que busca possibilitar a aproximao entre agentes prprios do setor audiovisual, em especial o mercado de televiso (aberta ou fechada), uma vez que se trata de benefcio fiscal sobre o imposto devido por em-presas ao adquirirem direitos de transmisso de eventos (culturais ou es-portivos) realizados no exterior ou obras audiovisuais para programao imposto este que pode ser vertido para a produo de obras nacionais independentes.

    Assim que os contribuintes do Imposto de Renda incidente sobre a remessa de valores ao exterior nos termos do art. 72 da Lei n 9.430/96 podero beneficiar-se de abatimento do imposto devido, desde que invis-tam em projetos aprovados neste mecanismo pela Ancine.

    No caso, o contribuinte se torna coprodutor da produtora brasileira proponente do projeto audiovisual. Na prtica, por este mecanismo de in-

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    Guia do produtor audiovisual

    centivo o contribuinte celebra com a produtora proponente um contrato de coproduo pelo qual, alm de participao no patrimnio da obra, ela tambm pode adquirir outros direitos inerentes ao produtor (por exem-plo, o direito de comunicao pblica no canal/emissora).

    O artigo 3-A pode ser utilizado para financiamento de projetos de desenvolvimento de projetos de produo de obras cinematogrficas brasileiras de longa-metragem de produo independente e na coprodu-o de obras cinematogrficas e videofonogrficas brasileiras de produo independente de curta, mdia e longas-metragens, documentrios, telefil-mes e minissries.

    Financiador: o contribuinte do imposto sobre o qual se confere este be-nefcio fiscal , do ponto de vista jurdico, a empresa estrangeira que rece-be, no exterior, os valores relativos aquisio do direito de transmisso dos eventos ou do direito de exibio de programas e obras audiovisuais. A empresa que adquire tais direitos responsvel pela reteno do tributo na fonte, efetuando o pagamento do imposto em nome da empresa estrangeira, conforme legislao que rege a matria. Em funo disso, o art. 3-A, 1, da Lei do Audiovisual estabelece que a empresa brasileira responsvel pelo recolhimento do tributo tem direito de preferncia para a utilizao do be-nefcio (desde que devidamente autorizada pelo contribuinte).

    Benefcio fiscal: a empresa contribuinte do Imposto de Renda na for-ma descrita acima poder verter at 70% do imposto devido, calculado sobre o valor de cada remessa de valores que faz ao exterior ( alquota de 15%). Diferentemente do mecanismo do Art 3, no h previso de no incidncia da Condecine remessa para o contribuinte que optar pela utilizao do mecanismo do Art 3 A.

    Limite do mecanismo para os proponentes de projetos: o teto para utilizao do art. 3-A em um mesmo projeto audiovisual de R$ 3 mi-lhes por projeto, o mesmo limite se aplicando para a utilizao conjunta com o mecanismo do art. 3, como visto anteriormente.

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    Guia do produtor audiovisual

    Medida Provisria 2.228-1/2001

    Artigo 39, X: De maneira similar sistemtica adotada pelos mecanis-mos do art. 3 e 3-A da Lei do Audiovisual, trata-se aqui de um mecanis-mo tpico de coproduo, na medida em que o contribuinte financiador torna-se coprodutor da obra audiovisual, associando-se ao proponente na explorao comercial das obras produzidas.

    As principais utilizadoras deste mecanismo de incentivo so as pro-gramadoras internacionais de televiso fechada (TV paga), que adquirem o material de sua programao no exterior e em funo disso so contri-buintes da Condecine.

    O mecanismo do artigo 39, X, da Medida Provisria n 2.228/2001 permite o apoio a projetos de coproduo de obras audiovisuais brasilei-ras de produo independente, nos seguintes formatos:

    a) longa, mdia e curta-metragem;b) telefilme;c) minissrie;d) programa de televiso de carter educativo e cultural.

    Com isso a programadora recebe, alm de benefcio fiscal, produ-tos audiovisuais que podem ser adicionados sua grade de programao, no Brasil e no exterior, alm da cotitularidade sobre o patrimnio da obra.

    Benefcio fiscal: este mecanismo isenta as programadoras de TV por assinatura do pagamento do tributo Condecine, desde que invistam o va-lor equivalente a 3% do valor da remessa feita ao exterior em projetos previamente aprovados pela Ancine. Na prtica, o contribuinte deixa de pagar o tributo alquota de 11% para aportar 3% na coproduo de obras audiovisuais de cuja explorao comercial elas podem participar em con-junto com o proponente do projeto.

    No existe limite de valor para utilizao deste benefcio em um mesmo projeto.

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    Guia do produtor audiovisual

    Artigo 41 Funcine: Os Fundos de Financiamento da Indstria Cine-matogrfica Nacional- Funcines foram lanados no dia 11 de novembro de 2003, a partir da regulamentao editada pela Ancine (Instruo Nor-mativa n 17, de 07 de novembro de 2003) e pela CVM (Instruo CVM 398, de 28 de outubro de 2003) por fora da previso contida na Medida Provisria 2.228.

    Os fundos de Investimento, por sua natureza, canalizam recursos administrados de forma organizada e profissional que buscam rentabi-lidade. Os Funcines no so diferentes. A cada ano, esse instituto pouco conhecido pelos operadores do mercado financeiro vai ganhando fora e popularidade.

    Estes Fundos sero constitudos sob a forma de condomnio fecha-do, sem personalidade jurdica e administrados por instituio financeira autorizada pelo Banco Central do Brasil.

    O patrimnio dos Funcines ser representado por cotas emitidas sob a forma escritural, alienadas ao pblico com a intermediao da insti-tuio administradora do fundo.

    Os Funcines devero manter, no mnimo, 10% do seu patrimnio aplicados em ttulos emitidos pelo Tesouro Nacional e/ou pelo Banco Central do Brasil. A outra parcela do patrimnio ser destinada compra de direitos patrimoniais (participao) em projetos aprovados pela Anci-ne. Caber ao prprio Fundo definir o portfolio de investimentos, sempre respeitando as normas de seu regulamento.

    Para que os projetos possam ser alvo de investimento e seleciona-dos pelo Fundo, devem ser aprovados pela Ancine (Agncia Nacional de Cinema) e podero ter os seguintes objetivos:

    Projetos de produo de obras audiovisuais brasileiras independentes

    realizadas por empresas produtoras brasileiras; Construo, reforma e recuperao das salas de exibio de proprieda-

    de de empresas brasileiras;

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    Guia do produtor audiovisual

    Aquisio de aes de empresas brasileiras para produo, comerciali-zao, distribuio e exibio de obras audiovisuais brasileiras de pro-duo independente, bem como para prestao de servios de infra-estrutura cinematogrficos e audiovisuais;

    Projetos de comercializao e distribuio de obras audiovisuais cine-matogrficas brasileiras de produo independente realizados por em-presas brasileiras;

    Projetos de infraestrutura realizados por empresas brasileiras.

    Transcorrido o prazo estabelecido no regulamento para a realiza-o dos investimentos nos projetos previstos na MP 2.228, listados acima, inicia-se a fase de liquidao dos ativos do fundo. Todos os direitos que foram adquiridos e continuem em carteira do Fundo sero oportunamen-te liquidados e convertidos em dinheiro.

    Completada a liquidao, terminado o prazo regulamentar do Fun-cine, o saldo de numerrio apurado ser distribudo entre os cotistas do Fundo, na proporo de sua participao em cotas.

    Caso haja remanescente de bens e direitos a liquidar, esses bens podem ser divididos proporcionalmente, detidos em condomnio entre os cotistas ou receber a destinao que deliberar a assembleia dos cotistas, na forma do regulamento do Fundo.

    No existe limite legal para uso desse benefcio em projetos audio-visuais incentivados.

    Lei Rouanet (Lei Federal 8.313/91)

    A Lei Rouanet a mais antiga das leis de incentivo fiscal em nvel federal e atualmente vigentes, e sua dinmica de funcionamento inspirou todos os demais mecanismos de incentivo inclusive em nvel estadual e municipal. Instituiu o assim chamado mecenato cultural, na medida em que busca estimular a participao de contribuintes do imposto de renda no processo de financiamento da cultura nacional.

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    Guia do produtor audiovisual

    Assim que o objeto de estmulo da Lei Rouanet no se resume ati-vidade audiovisual, mas abarca t