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GUIA POLITICAMENTE INCORRETO
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DOS ANOS 80 PELO ROCK O
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Copyright © 2017, LobãoCopyright © 2017, Casa da Palavra/LeYa
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/2/1998.É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa.
Pesquisa RICARDO PIERALINI
Preparação de textos lina rosaDiagramação filigranaCapa leandro dittzIlustrações de capa e de miolo lambujaRevisão ana kronemberger e bárbara anaissi
Todos os direitos reservados à
EDITORA CASA DA PALAVRA
Avenida Calógeras, 6 | sala 701
20030-070 – Rio de Janeiro – RJ
www.leya.com.br
CIP-Brasil. Catalogação na Publicação.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
L776g Lobão, 1957- Guia politicamente incorreto dos anos 80 pelo rock /Lobão ; [ilustração Lambuja] . – Rio de Janeiro : LeYa, 2017.il.
Inclui índiceISBN: 978-85-441-0563-4
1. Rock - Brasil – História e crítica. 2. Música e história – Brasil. I. Título.
17-42307 CDD: 782.420981CDU: 78.067.26(81)
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GUIA POLITICAMENTE INCORRETO
LOBÃO
DOS ANOS 80 PELO ROCK
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Este livro é dedicado ao meu gato-fi lho, Lampião
dos Olhos Cor de Céu, que nos deixou em
agosto de 2016.
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SUMÁRIO
10 PRÓLOGO
CAPÍTULO 1 16 1976 – O Brasil e a modorra bicho-grilo
CAPÍTULO 2 30 1977 – Pro Brasil fi car odara do jeito que sempre
fi cara
CAPÍTULO 3 44 1978 – Surgindo os primeiros sinais
CAPÍTULO 4 58 1979 – O punk na periferia, Inocentes, Cólera, Lira
Paulistana e mais geleca geral
CAPÍTULO 5 80 1980 – Enfi m! O rock acerta, nasce a Blitz
CAPÍTULO 6 94 1981 – A Gang 90 inaugura os anos 80, nasce o
punk no Rio
CAPÍTULO 7 116 1982 – O ano em que tudo aconteceu... e que não
acabou
CAPÍTULO 8 142 1983 – Ritchie, Lulu, Os Ronaldos, Barão Vermelho
e Os Paralamas do Sucesso
CAPÍTULO 9 184 1984 – O Brasil transpira roquenrou!
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CAPÍTULO 10 214 1985 – Rock In Rio, Tancredo, RPM, Legião, Ultraje, Cazuza e
Décadence
CAPÍTULO 11 248 1986 – Declare Guerra, Rádio Pirata ao vivo, Pânico em SP,
O futuro é vórtex, Cabeça Dinossauro, O rock errou e outros acertos e desacertos
CAPÍTULO 12 318 1987 – Que país é este?, Sexo!!, Jesus não tem dentes no país
dos banguelas e Vida bandida
CAPÍTULO 13 378 1988 – O início do fi m
CAPÍTULO 14 400 1989 – E nos estertores de uma era vigora uma beleza
intensa
CAPÍTULO 15 436 1990/1991 – Esse é o fi m, meus amigos
POSFÁCIO 460 “Um outro toque do tambor”, ou: como a ideologia política
destruiu tudo o que você sabe sobre os anos 80,por Martim Vasques da Cunha
470 AGRADECIMENTOS
472 ÍNDICE REMISSIVO
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PRÓ-LOGO
PRÓLOGO
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Por minha formação e alma serem setentistas, sempre me senti um outsider nos anos 80. De tal forma que, só de ouvir falar nessa época me dá um arrepio na nuca.
Com toda a certeza, foi a década que mais me causou decepções, perdas trágicas, desentendimentos, prisões, brigas e discordâncias estéticas irreconciliáveis.
Tudo isso misturado com enorme esperança de fazer uma música própria, de pertencer a uma rapaziada que pudesse mudar o pano-rama presunçoso e medíocre desse arraial de cu do mundo que é o coronelato da música brasileira (cujos protagonistas imperam até os dias de hoje), além da possibilidade grande de vivenciar aventuras inacreditáveis.
Sendo assim, para ser possível escrever este livro (escrever um guia de uma época fazendo parte dela não é fácil) foi necessário o devido distanciamento temporal dos acontecimentos, para que eu
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12 PRÓLOGO
pudesse formular um relato da forma mais equilibrada, clara e ho-nesta possível sobre essa década que produziria tantas façanhas na mesma proporção que engendraria seu próprio aniquilamento.
Em suma: este é o relato da saga de jovens músicos e compositores na luta para conquistar um lugar no cancioneiro popular brasileiro enfrentando os vícios do mainstream.
Portanto, além dos inquestionáveis fatos documentais, trata-se de um livro baseado em experiências próprias (afi nal de contas, sou um dos sócios-fundadores do rock dessa década), que concedem à atmos fera da narrativa uma perspectiva inteiramente pessoal.
O que mais impressionará (e aterrorizará) neste excruciante exercício de memória no transcorrer do livro é verifi car que se tra-ta de uma década de esplendor, talento e criatividade em termos de produção de músicas e discos primordiais, não somente para o tal cancioneiro da música popular brasileira, mas para o âmago do in-consciente coletivo de um povo.
Vamos trilhar juntos os passos dos vestígios e tentar encontrar as causas que fi zeram esse rico e alvissareiro cenário desmoronar e transmigrar para o imaginário do cidadão comum como uma década trash, perdida, cafona, na qual simplesmente prevaleceram os mul-lets, o gel, terninhos com ombreiras, os Smurfs, He-Man, MacGyver, Turma da Xuxa, hiperinfl ação, ORTNs, Sarney, Nova República, cal-ças bag, lambada e rock brega. Por que o melhor dessa década se evanesceu? Por que será que não deixou nenhum legado, nenhuma continuidade? Foram as mortes de artistas fundamentais um fator decisivo? Certamente isso contribuiu de forma dramática para a der-rocada... Mas será que foi só isso? É o que veremos.
E para iniciar essa aventura que será uma espécie de bus-ca à década perdida, vamos nos confrontar com as idiossincrasias
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estético-comportamentais dos anos 80, com a sua atmosfera política, com o desinteresse da nova geração que surgia pela desgastada e em-polada linguagem da presunçosa e reacionária MPB.
Vamos também verifi car o papel das drogas, pois os anos 80 se ce-lebrizariam como a década da droga mais careta de todas, a cocaína, quando cheirar um pozinho traçado era de bom-tom, era bacana, era normal e apreciável (até o padeiro da esquina, a dona de casa, o corretor de bolsa de valores e o contínuo do cafezinho cafungavam umas carreirinhas socialmente).
Verifi caremos a infl uência das danceterias, dos programas de au-ditório, das Diretas Já, da Aids, das loucuras ingênuas, da caretice travestida de loucura, do agigantamento da indústria fonográfi ca, do jabá como forma de poder e de censura, da imprensa especializada que veio a se desenvolver a partir da segunda metade da década, no vácuo do sucesso da implementação do Rock in Rio, quando ambos, Rock in Rio e imprensa especializada, terão um peso bastante signi-fi cativo no desaparecimento do rock como gênero determinante na cultura nacional.
E para que tenhamos uma real noção de como tudo começou, op-tei por iniciar este relato no ano de 1976, com o evento do Festival de Saquarema, onde se reuniram os principais nomes daquele embrio-nário, aleatório e caótico movimento daquilo que viria a ser chamado de “rock dos anos 80”.
Perceberemos que, naquele exato momento, estávamos diante de uma fértil estufa de futuros new wavers das noites da Pauliceia Des-vairada, dos fundadores do lendário Circo Voador, daqueles que se tornariam os mais novos superastros das paradas de sucesso e, mui-to em breve, quebrariam todos os recordes de execução em rádio e vendas de discos. Isso resultaria numa total transformação da cultura
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brasileira e colocaria os caciques da canção de cabelo em pé (pelo menos por alguns anos), que, em tempo, corrigiriam essa rota des-vairada para não perderem o controle total do poder sobre a cultura nacional, poder esse, mais tirânico ainda nos dias de hoje.
E para enxergarmos esse incrível cenário seremos obrigados a mergulhar fundo nesse período pré-inaugural dos anos 80.
Faremos uma panorâmica nas cenas incipientes dos hippies da época quando proto-hipsters começavam a se unir alegremente aos protopunks que já pululavam nas periferias das cidades.
Sobrevoaremos resolutos os idos do Frenetic Dancin’ Days com suas anacrônicas tigresas sessentistas, algumas egressas do Hair, outras saídas da luta armada de araque; tropicalistas em crise de meia-idade; surfi stas de programa, trafi cantes classe média alta, cineastas-gigolôs, muito “ Realce”, purpurina na roupa, cocaína na napa e gel no cabelo. Uma espécie de crossover da disco music para a new wave.
Portanto creio serem esses pequenos prolegômenos de vital im-portância, pois no meu entender foi nessa pororoca pós-psicodélica de discoteca com crise econômica, pornochanchada com rock rural e bicho-grilo de fi nal dos anos 70, acrescida tanto de seus incipientes personagens como também dos mais rodadinhos de outras eras, que se deu o principal evento gerador da estética oitentista aqui no Brasil. Uma estética meio assim... mullet com parafi na.
Com esse introito, teremos mais facilidade e intimidade para ana-lisar, com maior nitidez, os acontecimentos subsequentes, percor-rendo com mais segurança toda a trajetória dos anos 80, com sua inicial voluptuosidade, alegria e real esperança, e vivenciando, logo em seguida, sua trágica e patética derrocada.
Reviveremos as primeiras alianças, as amizades, as parcerias, as primeiras derrotas, as decepções, as drogas leves, as drogas pesadas,
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as cópias malfeitas, o corporativismo burocrático, a baixa estima, as gravações lixo e, como uma fl or em meio a todo esse lixo, a profusão inimaginável de grandes canções.
A meta deste livro é refl etir, relatar e tentar rastrear com fatos, es-peculações e histórias, as verdadeiras causas da implosão dos anos 80. E, ao mesmo tempo, prestar um tributo ao gênio, ao heroísmo, à cria-tividade e à bravura daqueles que, de forma tão insubordinada, ines-perada, às vezes, acidental, repelida e descontrolada, acabaram por escrever uma história monumental nas páginas da música popular brasileira, se incorporando para sempre ao patrimônio cultural de uma nação.
Sendo assim, vamos começar?
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