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Guias Socioambientais do BNDES Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário Setembro/ 2014

Guias Socioambientais do BNDES Abastecimento de Água e

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Guias Socioambientaisdo BNDES

Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário

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SumárioApresentação ..................................................................................................................................................................... 3

1. Introdução ..................................................................................................................................................................... 4

2. Estação de Tratamento de Água (ETA) ........................................................................................................................ 4

3. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) ...................................................................................................................... 5

4. Resíduos sólidos e efluentes líquidos ........................................................................................................................... 6

5. Alteração no regime hídrico ......................................................................................................................................... 8

6. Uso de energia .............................................................................................................................................................. 9

7. Proteção dos mananciais de captação de água e lançamento de efluentes ............................................................. 9

8. Redução de perdas ...................................................................................................................................................... 10

9. Emissão de odores ....................................................................................................................................................... 10

10. Gestão e práticas socioambientais na empresa ....................................................................................................... 11

11. Considerações finais .................................................................................................................................................. 11

Referências ..................................................................................................................................................................... 12

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ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO

ApresentaçãoOs Guias Socioambientais do BNDES têm por objetivo subsidiar a análise de projetos1 realizada pela equipe técnica do BNDES com relação aos aspectos e impactos socioambientais e às melhores práticas disponíveis para elevação do patamar de sustentabilidade dos projetos financiados. Tais documentos são um dos instrumentos previstos na Política Socioambiental2 da instituição.

Cabe ressaltar que todas as normas referentes ao setor devem ser observadas, independentemente de serem citadas ou não neste documento.

A fim de conferir maior transparência às práticas de responsabilidade socioambiental do BNDES, os Guias Socioambientais são disponibilizados ao público externo, por meio do website do BNDES, que poderá propor sugestões para aprimoramento dos documentos pela caixa postal: [email protected]

1 O processo de análise socioambiental de projetos do Banco é explanado em: <www.bndes.gov.br/polsocambiental/analise_ambiental.html>.

2 A explanação geral da Política Socioambiental do Banco pode ser encontrada em: <www.bndes.gov.br/polsocambiental>.

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ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO

1. IntroduçãoO saneamento básico é um conjunto de serviços que compreende o sistema de abastecimento de água, de trata-

mento de esgoto, de drenagem pluvial e de resíduos sólidos urbanos; ele é essencial para a qualidade de vida das

populações. Esse setor contribui para a saúde e a longevidade, fatores relevantes no cálculo de indicadores sociais

e de índices de qualidade de vida e de desenvolvimento humano, aumentando o bem-estar da sociedade, quando

esta é atendida de forma adequada por esses serviços.

Destaca-se, no entanto, que, como em toda atividade econômica, há também impactos socioambientais negativos

que, de acordo com os parâmetros dos projetos e com as práticas socioambientais dos empreendedores, podem ser

de maior ou menor magnitude.

Assim, este documento tem por objetivo apresentar os principais impactos socioambientais relacionados a empreen-

dimentos de sistemas de tratamento de água e de tratamento de esgoto, e indicar as melhores práticas disponíveis

para mitigar os efeitos dos impactos negativos e potencializar os impactos positivos.

O documento está dividido em 11 seções. Após esta introdução, há duas seções dedicadas a mostrar um entendimen-

to básico do que são Estações de Tratamento de Água e de Esgoto, seguidas por seis seções dedicadas aos principais

aspectos socioambientais associados a esses dois tipos de empreendimento. Na décima seção são apresentadas boas

práticas de gestão passíveis de adoção pelas empresas do setor. A última seção é dedicada às considerações finais.

2. Estação de Tratamento de Água (ETA)Um sistema de abastecimento de água tem por objetivo fornecer água potável para a população de uma determi-

nada localidade; suas etapas fundamentais são captação, adução, tratamento, armazenamento e distribuição. Entre

estas, a etapa de tratamento tipicamente é uma instalação chamada de Estação de Tratamento de Água (ETA), cons-

tituída de um conjunto de processos que têm por objetivo a purificação da água captada. Para que a água tratada

na estação seja considerada potável, ela deve atender aos indicadores físicos, químicos e biológicos estabelecidos na

Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, que dispõe sobre seu padrão de potabilidade.

A determinação das diferentes etapas que irão compor o processo de tratamento de água depende da qualidade

da água captada a ser tratada. Esse tratamento pode ser classificado em simplificado, convencional e avançado. O

processo de tratamento simplificado consiste em clarificação por meio de filtração e desinfecção, além de correção

de pH, quando necessário. Já o tratamento convencional tem como principais etapas o tratamento preliminar, a

coagulação, floculação, decantação, filtração, desinfecção (cloração e fluoretação) e correção de pH. Por sua vez, o

processo de tratamento avançado consiste em técnicas de remoção e/ou inativação de constituintes refratários aos

processos convencionais, os quais podem conferir à água características tais como: cor, odor, sabor, atividade tóxica

ou patogênica. Por ser o mais utilizado no Brasil, o processo de tratamento convencional é descrito a seguir.

FIGURA 1: REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO PROCESSO CONVENCIONAL Fonte: Elaboração própria.

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A primeira etapa, o tratamento preliminar, é essencialmente física e objetiva a retirada de sólidos grosseiros. As

unidades geralmente usadas neste processo são gradeamento e desarenação. A coagulação é um processo no qual

ocorre a aplicação de coagulantes (sulfato de alumínio ou compostos de ferro) para a formação de coágulos. Já a

floculação é o agrupamento das partículas eletricamente desestabilizadas (coágulos) de modo a formar os flocos. Se

preciso for, deverá haver um ajuste de pH antes de iniciar esses dois processos. Elas são consideradas as etapas mais

delicadas do tratamento e têm por finalidade transformar impurezas que se encontram em suspensão em partículas

maiores (flocos) para que possam ser removidas por meio de sedimentação e/ou filtração, ou em alguns casos, por flotação.

A próxima etapa, a decantação, consiste em separar as partículas sólidas suspensas na água. Essas partículas, sendo

mais pesadas do que a água, tenderão a cair para o fundo com certa velocidade (velocidade de sedimentação).

Posteriormente ocorre a filtração, que é um processo de separação sólido-líquido envolvendo fenômenos físicos,

químicos e, por vezes, biológicos. Esta etapa promove a remoção das impurezas da água por sua passagem em um

meio poroso (filtrante). A filtração pode ser lenta ou rápida, ascendente ou direta, sendo a melhor escolha depen-

dente do tipo de sistema de tratamento utilizado. Todas as etapas anteriores são conhecidas como clarificação. Por

fim, são feitas a cloração e a fluoretação, que fazem parte da desinfecção da água. O objetivo delas é eliminar os

micro-organismos eventualmente presentes na água e colaborar com a redução na incidência de cárie dentária,

respectivamente. Além disso, pode ser feita a adição de cal, carbonato de cálcio, para corrigir o pH da água como

medida de prevenção de corrosão dos encanamentos por onde ela é veiculada.

3. Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)As Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) evitam o lançamento do efluente final nos corpos d’água, minimizando

a degradação do corpo hídrico receptor. O objetivo principal do tratamento de efluentes é a remoção de impurezas

físicas, químicas, biológicas e de organismos patogênicos.

É importante explicitar que o sistema de tratamento escolhido deve levar em consideração a situação do corpo re-

ceptor e sua capacidade de autodepuração. O tratamento de esgotos pode ser dividido em níveis de acordo com o

grau de remoção de poluentes que se deseja atingir. São eles: tratamento preliminar, primário, secundário e terciário.

O tratamento preliminar é essencialmente físico (gradeamento e sedimentação por gravidade) e remove apenas o

material mais grosseiro, como os sólidos suspensos e a areia presentes no esgoto. Esse tratamento não tem efeito

sobre as exigências de qualidade dos efluentes para descarte final, porém, dados os benefícios gerados por essa

etapa, o tratamento preliminar está presente em qualquer tipologia de tratamento.

O tratamento primário também utiliza mecanismos físicos e tem como objetivo remover o material em suspensão,

não grosseiro, que flutue ou decante, mas que requeira o emprego de equipamentos com tempo de retenção maior

que no tratamento preliminar. Como parte desses sólidos é constituída por matéria orgânica, o tratamento implica

sua remoção, porém, muitas vezes, em nível insuficiente. Dos decantadores e flotadores sai o lodo primário ou cru,

que necessita ser tratado antes de sua disposição final.

No tratamento secundário há, geralmente, inclusão de uma etapa biológica. O esgoto também contém substâncias

orgânicas dissolvidas e sólidas em suspensão, que não se decantam, portanto não são removíveis apenas com a ação

da força de gravidade. Para separar essas substâncias, utilizam-se microrganismos que degradam a matéria orgânica,

transformando-a em sais minerais e em outros microrganismos. Essa biodegradação pode ser realizada por processos

aeróbios (com oxigênio) ou anaeróbios (sem oxigênio).

Dentre os processos aeróbios, destacam-se a biomassa em suspensão (lagoas de estabilização, lagoas aeradas, sis-

temas de aeração) e a biomassa fixa (biofilmes). Em condições aeróbias, a matéria orgânica é convertida em dióxi-

do de carbono, água e biomassa (lodo). Os processos anaeróbios também se dividem em biomassa em suspensão

(flocos ou grânulos) e biomassa fixa (biofilmes). Nesse processo, são gerados dióxido de carbono, metano, água

e biomassa. Está última, porém, em quantidades bem menores se comparadas à geração na degradação aeróbia,

o que é uma das grandes vantagens do uso das bactérias anaeróbias. O sistema anaeróbio também tem como

vantagem a maior rapidez no processo de degradação da matéria.

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De forma geral, o tratamento secundário acelera os processos de degradação que ocorrem espontaneamente nos

cursos d’água receptores. Desse modo, a degradação dos poluentes se dá de forma controlada, em taxas mais eleva-

das e em espaços reduzidos, se comparada aos sistemas naturais.

Por fim, o tratamento terciário, nem sempre presente, é geralmente constituído de unidades de tratamento físico-

-químico. Nesse tratamento, podem-se remover nutrientes, que normalmente não são retirados nos tratamentos

anteriores, poluentes específicos, além de matéria orgânica, sólidos suspensos e patogênicos, em grau ainda maior

que no tratamento secundário.

A figura a seguir apresenta todas as etapas do tratamento de esgotos.

FIGURA 2: FLUXOGRAMA DE ETEFonte: Elaboração própria.

4. Resíduos sólidos e efluentes líquidosNo funcionamento das ETEs e das ETAs são gerados resíduos sólidos – caraterizados por um teor elevado de umidade – e

efluentes líquidos, que precisam ser adequadamente manejados para que não haja risco à saúde humana ou danos

ao meio ambiente.

4.1 Resíduos sólidos e efluentes líquidos de ETAsNas ETAs convencionais, há geração de dois tipos de resíduos: o lodo dos decantadores e a água de lavagem dos

filtros. De maneira geral, a composição desses resíduos varia com as características da água bruta e dos produtos

químicos utilizados. Grande parte é de natureza inorgânica, como areia, argila e siltes.3 Os resíduos de natureza

orgânica são compostos principalmente por plâncton, bactérias e vírus.

3 Solo que apresenta baixa ou nenhuma plasticidade e que exibe baixa resistência, quando seco, ao ar.

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Sempre que possível, os resíduos gerados em ETAs devem ser reaproveitados em outros processos. Quando isso não

é possível, é necessário que o resíduo seja destinado para os aterros sanitários licenciados.

É sabido que, no passado, as ETAs lançavam os resíduos sólidos resultantes do processo de tratamento nos próprios

corpos hídricos, causando significativos impactos socioambientais. A disposição desses resíduos nos corpos d’água

pode comprometer seus usos a jusante, causando externalidades negativas a outros agentes econômicos.

O lodo acumulado nos decantadores deve ser submetido a tratamento para promover a retirada da parcela de água

remanescente, reinserindo-a no processo e reduzindo assim o volume de resíduo. Isso representa uma diminuição

nos custos de transporte e destinação final, além da redução do impacto no meio ambiente. Afora a disposição em

aterros sanitários, o lodo pode ser reaproveitado em outras atividades, tais quais:

• disposição no solo;• fabricação de cimento ou de tijolos;• compostagem; e• tratamento de águas residuárias.

Para a água de lavagem dos filtros, o ideal é que esta seja reinserida no sistema. A água utilizada para a retrolava-

gem de filtros pode representar cerca de 5% da vazão total de água tratada, gerando grandes volumes de resíduos

em curtos espaços de tempo. Assim, do ponto de vista da minimização de impactos ambientais e de eficiência da

estação, é interessante que se pratique a recirculação. Caso isso não seja viável, há outras alternativas para reutiliza-

ção, como a irrigação após tratamento prévio.

4.2 Resíduos sólidos e efluentes líquidos de ETEs No caso das ETEs, os resíduos são provenientes do lodo gerado em diferentes etapas do processo de tratamento. Da

parcela sólida presente no resíduo, entre 70% e 80% correspondem à matéria orgânica. As características do resíduo

gerado dependem da composição do efluente bruto e da tecnologia de tratamento.

É importante ressaltar que, antes de sua disposição final, o lodo deve ser submetido a tratamento que irá depender,

sobretudo, da tecnologia utilizada na ETE. Há processos que geram lodo já estabilizado (digerido). Nesses casos, o

lodo precisa ser submetido a operações de adensamento e desidratação. Por outro lado, há casos em que o lodo não

é estabilizado no processo. Nesses casos, ele precisa passar por um digestor anaeróbio e posterior desidratação. Em

geral, qualquer tecnologia de tratamento de esgoto que possua alguma etapa anaeróbia gera lodo previa-

mente estabilizado.

Dentre as opções para a disposição do lodo gerado durante o processo de tratamento, destacam-se a disposição final

em aterros sanitários licenciados, a utilização em áreas degradadas mediante a elaboração de Planos de Recupera-

ção de Áreas Degradadas (Prad) e a utilização na agricultura e em áreas florestais, desde que atenda às respectivas

especificações permitidas para tal uso.

Os principais riscos e impactos ambientais associados às alternativas de disposição final do lodo dependem das carac-

terísticas do local e da técnica empregada, estando sua disposição associada à poluição da água e do solo, quando

realizada de forma inadequada.

Adicionalmente à fração sólida do resíduo produzido em ETEs, há de se considerar o descarte do efluente (líquido)

final das ETEs. Existem resoluções (Conama 357/2005, 375/2006, 397/2008 e 430/2011) que apresentam os padrões a

serem seguidos e condições de lançamento de efluentes oriundos de estações de tratamento de esgoto.

Em todo caso, é importante ressaltar que o processo de tratamento do esgoto bruto deve ser projetado de tal

maneira que o efluente final possa atender aos padrões e às condições de lançamento impostas pelas legislações

vigentes, mas que, sobretudo, considere a capacidade de suporte do corpo receptor.

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Como uma solução ambientalmente mais adequada, pode-se proceder ao reúso planejado desses efluentes. Nos

últimos anos, vem se intensificando o debate acerca dessa solução, dada a crescente demanda por água e a dete-

rioração dos mananciais de abastecimento. Entre os principais atrativos do reúso planejado dessas águas, têm-se:

• redução do lançamento de cargas poluidoras nos corpos receptores, o que reduz os impactos da poluição e conserva a água para abastecimento humano e outros usos mais exigentes;

• aumento da oferta de água para usos múltiplos e mais nobres; • redução dos custos de despoluição; e • reciclagem de nutrientes para irrigação, proporcionando uma economia de insumos (ex: fertilizantes

e ração animal) e conservação do solo, no caso de reúso na agricultura.

A reutilização na agricultura já é praticada em diversos países e, nos últimos anos, vem ganhando destaque no Brasil.

A agricultura é uma das atividades econômicas que mais consome água no Brasil. Isso porque a irrigação é um uso

consuntivo,4 em que não há nenhuma fração de retorno da água aos cursos naturais. Assim, a utilização da água

residuária para irrigação agrícola torna-se atrativa, por ser uma fonte adicional e renovável de água, ao passo que

oferece os nutrientes necessários para o cultivo das plantações.

Apesar dessas vantagens, o reúso de efluentes de ETEs ainda está associado a contestações, com relação aos efeitos

associados a sua utilização. Isso porque mesmo os efluentes de ETEs de tratamento avançado podem conter organis-

mos patogênicos, em diferentes concentrações. Além disso, dependendo de sua origem, os efluentes podem conter

compostos químicos (geralmente de origem industrial) cujo efeito na saúde dos seres vivos ainda é, muitas vezes,

desconhecido. Quanto ao uso agrícola, há ainda outras questões relativas à saúde a serem observadas, tais quais:

o potencial de contaminação da água subterrânea e o efeito da qualidade da água residuária sobre as plantas e o

solo. Assim, tal prática deve ser avaliada, porém é necessário que se proceda a uma avaliação abrangente sobre as

características dos efluentes gerados e os riscos potenciais associados a sua utilização em cada atividade.

5. Alteração no regime hídricoCom relação às ETAs, a captação de água pelos sistemas de abastecimento pode causar alterações no regime hídrico

nos cursos d’água dos quais esse recurso é captado, interferindo nos usos da água existentes a jusante. Para uma

nova captação, devem-se realizar estudos de disponibilidade hídrica no manancial, bem como avaliar a influência da

retirada prevista no regime hídrico, principalmente nos períodos de estiagem. Esses estudos são necessários, inclusi-

ve, para pedidos de outorga de direito de uso da água5 de acordo com a Lei 9.433/97.

Devem-se levar em consideração os usos atuais e previstos da água a jusante, avaliando a interferência da captação

de água nos cursos d’água, e, quando for o caso, avaliar também a interferência sobre a dinâmica de estuários6 e

manguezais.

Já no que se refere às ETEs, quando o lançamento do efluente se dá em cursos d’água perenes, os estudos de depu-

ração devem levar em consideração os usos a jusante além da classe do rio, segundo a Resolução Conama 357/05. De-

ve-se considerar a carga referente à concentração média, além da carga correspondente ao dia de maior contribuição.

A forma mais comum de se avaliar a capacidade de autodepuração de um determinado curso d’água é por meio

da estimativa da quantidade de oxigênio dissolvido (OD) e da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) em deter-

minados trechos do curso, após o lançamento da carga poluidora. É feita uma curva da concentração de DBO e OD

ao longo do tempo, da qual são extraídos os valores máximos e mínimos da concentração desses dois indicadores.

Tomando como base essa avaliação, pode-se definir o processo de tratamento a ser utilizado, bem como a opção

tecnológica adequada.

4 O uso consuntivo da água pode ser entendido como aquele em que há perdas entre o que foi derivado e o que é devolvido ao curso d’água.

5 Ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante (União, estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato administrativo [ANA (2013)].

6 Corpos de água costeiros parcialmente fechados e livremente conectados com o oceano.

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Para análise do lançamento de efluentes em sistemas fechados (lagos, lagoas ou estuários), devem-se considerar,

além dos parâmetros citados acima, os riscos de contaminação por agentes patogênicos e os de eutrofização do

corpo hídrico. Nesses casos, é usual que a tecnologia de tratamento adotada também remova nutrientes e envolva

uma etapa de desinfecção.

Depois de feitas as análises de alteração de qualidade da água em função do lançamento da carga poluidora, de-

ve-se avaliar o comprometimento dos principais usos da água a jusante do ponto de lançamento. No caso do corpo

hídrico receptor se tratar de um estuário ou orla oceânica, deve-se levar em consideração também a perspectiva de

balneabilidade das praias.

6. Uso de energiaO consumo de energia costuma ser um dos componentes de maior custo para as companhias de água e esgoto.

Além disso, o uso de energia tem consequências socioambientais, já que sua produção está associada a impactos de

cunho local e/ou emissões de gases do efeito estufa. Sendo assim, consideram-se boas práticas, a implementação de

medidas de aumento da eficiência energética, contribuindo para a sustentabilidade da companhia, com potencial

de significativos ganhos econômicos.

Segundo Procel (2011), cerca de 3% de toda a energia elétrica consumida no Brasil é utilizada nos sistemas de abas-

tecimento de água. Nesses sistemas o consumo de energia se dá majoritariamente na etapa de bombeamento, que

representa cerca de 90% do consumo total. A seguir, são citados exemplos de medidas operacionais que podem ser

adotadas para aumentar a eficiência energética em ETAs:

• ajuste dos equipamentos; • diminuição da potência dos equipamentos; • controle operacional; • automação do sistema de abastecimento de água; e • redução das perdas.

Quanto às ETEs, a tecnologia de tratamento adotada influencia diretamente no consumo energético. A utilização

de reatores anaeróbios estabeleceu-se como uma tendência no Brasil e apresenta, entre outras vantagens, consumo

reduzido (ou mesmo nulo) de energia elétrica. Isso se deve ao fato de o uso de aeradores mecânicos não ser neces-

sário. Além disso, com a utilização desses reatores existe a possibilidade de geração de energia a partir do biogás, o

que ocasiona a diminuição da demanda desse insumo das empresas distribuidoras. Segundo Brasil (2013a), o biogás

pode ter diversos usos, tais quais:

• secagem térmica do lodo; • geração de eletricidade para uso local; e • geração de vapor para uso em pequenas indústrias.

7. Proteção dos mananciais de captação de água e lançamento de efluentes

Quando da implantação de ETAs, várias medidas são tomadas para a proteção dos mananciais nos quais são feitas as

captações de água. Dentre elas, destacam-se: (i) o isolamento do local de captação, evitando-se o acesso de pessoas

estranhas ou de animais; e (ii) o controle de atividades no entorno.

Além disso, é importante ressaltar, quanto à cobertura florestal, a importância das matas ciliares para a manuten-

ção da qualidade dos solos e das águas. Elas são a cobertura vegetal nativa às margens dos rios, córregos, lagos,

represas e nascentes e são fundamentais para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas locais, pois reduzem o as-

soreamento dos corpos d’água e impedem que os poluentes sejam transportados diretamente para a água. Dada

essa importância, muitos estados brasileiros têm programas de recuperação de matas ciliares. Como o produto

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final de uma companhia de água é a água potável, quanto melhor a qualidade da água captada, menor serão os

custos de tratamento.

Para as ETEs, constituem-se boas práticas, o isolamento e o controle de acesso de população e animais à área de

lançamento de efluentes em rios intermitentes, de preferência com sinalização.

8. Redução de perdasDe acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento [SNIS (2011)], no Brasil, os índices

percentuais de perda de faturamento e de água tratada na distribuição ainda são bastante elevados, se comparados

com os de outros países. Tais perdas podem ser divididas em aparentes e reais. As aparentes são perdas comerciais,

ocasionadas por erros de medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e falhas no cadastro. Já as reais

são perdas operacionais, como extravasamento de reservatórios e água de lavagem dos filtros, somadas àquelas

ocasionadas por vazamentos nas adutoras, redes de distribuição e ramais.

A quantidade de água perdida é um dos principais indicadores de eficiência de uma companhia prestadora de servi-

ços de abastecimento de água. Em grande parte, a ineficiência operacional é resultado de uma gestão deficiente das

empresas, o que resulta em perdas significativas de faturamento. É importante que cada empresa faça a medição

desse indicador para o planejamento de ações. Para tanto, é usual a elaboração de um fluxograma do sistema de

abastecimento de água – o balanço hídrico – como forma de avaliar o volume de água que entra e sai do sistema.

Após a quantificação das perdas, constitui-se boa prática a adoção de um programa de controle de perdas consis-

tente que não irá necessariamente exigir um alto investimento para implantação, ao passo que proporcionará uma

economia de custos operacionais.

Como medidas diretas de diminuição de perdas de água, destacam-se:

• monitoramento das redes e pesquisa e controle de vazamentos; • investimentos em macro e micromedição; e • controle da pressão, por meio da instalação de válvulas redutora de pressão (VRP).

Verifica-se que o controle da pressão interna das tubulações é o fator mais importante no gerenciamento das

perdas físicas.

Outro fator importante, conforme mencionado na Seção 4, é que a água utilizada para a retrolavagem de filtros nas

ETAs pode representar uma perda de cerca de 5% da vazão total de água tratada. Assim, a reutilização dessa água

constitui-se uma boa prática, uma vez que aumenta a disponibilidade da água para consumo, ao passo que reduz a

quantidade de resíduo gerado.

9. Emissão de odoresAs ETEs podem emitir odores em função dos processos adotados e das condições operacionais empregadas. Como

consequência, as populações circunvizinhas podem ser afetadas. Sendo assim, constitui-se boa prática socioambien-

tal sua construção a no mínimo 500 metros de residências e de áreas urbanas planejadas. Contudo, o aumento do

número de ETEs em operação e o crescimento das pressões urbanas sobre áreas desocupadas forçam a construção

de moradias cada vez mais próximas às estações já existentes. Esses fatores têm contribuído para o aumento de

conflitos entre a população e as empresas de saneamento. Sendo assim, justifica-se a implementação da

gestão de emissões de odores, tanto na adoção de medidas de prevenção/mitigação da produção, quanto em ações

de tratamento.

O odor normalmente é consequência da atividade bacteriana na própria estação ou na rede coletora. Entre os prin-

cipais compostos responsáveis pela geração de odores, está o ácido sulfídrico (H2S). Além do odor, esse gás pode

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causar outros problemas, pois é tóxico e corrosivo. Existem, no entanto, tecnologias disponíveis para diminuir seu

efeito nocivo. Além disso, em alguns casos é utilizada uma barreira física, como a plantação de árvores em forma de

cinturão verde, para impedir que haja uma grande circulação do ar e a consequente dispersão dos odores.

10. Gestão e práticas socioambientais na empresaAdicionalmente aos aspectos socioambientais diretamente relacionados a projetos específicos, os níveis de gestão e

governança desse tema na empresa são fatores determinantes nos impactos efetivamente gerados pelos empreendi-

mentos por ela desenvolvidos.

Nesse sentido, a utilização de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é o primeiro passo para viabilizar uma visão

integrada das iniciativas socioambientais da empresa. O SGA demanda a formulação de diretrizes, a identificação

de objetivos, a coordenação das atividades, bem como a avaliação dos resultados socioambientais decorrentes da

operação da empresa.

Além disso, a integração dos sistemas de gestão em um Sistema Integrado de Gestão no qual, os sistemas de gestão

da qualidade (SGQ – baseado nas normas da série ISO 9.000), de gestão ambiental (SGA – baseado nas normas da série

ISO 14.000) e de gestão da saúde e segurança do trabalho (SGSST – baseado nas normas OHSAS 18.001) formam um

único sistema que promove uma melhoria significativa na gestão e nas práticas socioambientais da empresa, pois

viabiliza a identificação das inter-relações entre as decisões de cunho operacional e os impactos socioambientais por

elas gerados.

Para além do desenvolvimento de um SGA e da integração deste com os demais sistemas de gestão da empresa,

há um conjunto de iniciativas reconhecidas como boas práticas para elevar o padrão de gestão e governança da

sustentabilidade na empresa:

• a formalização de Política Ambiental, de Sustentabilidade ou de Responsabilidade Social;• a existência de estrutura organizacional específica dedicada à gestão de assuntos ambientais;• a obtenção de certificações sociais ou ambientais relativas a sistemas de gestão (como ISO 14.000 – meio

ambiente, SA8000 – responsabilidade social no trabalho, e OHSAS18000 – saúde e segurança no trabalho);• a elaboração e divulgação de relatório de sustentabilidade, com indicadores quantitativos.

Especificamente no que se refere ao setor de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário, dois aspectos devem

ser alvo de acompanhamento permanente da alta administração da empresa:

• a existência de passivos ambientais; e • o atendimento aos termos de ajustamento de conduta firmados com o objetivo de remediar tais passivos.

11. Considerações finaisNos últimos quarenta anos, o Brasil avançou expressivamente no que se refere ao abastecimento de água, o que não

ocorreu na mesma velocidade nos sistemas de esgotamento sanitário, em especial no tratamento do esgoto coleta-

do. Realidade que se torna ainda mais desafiadora quando é avaliada com um olhar territorial, dadas as diferentes

realidades de cada região do país.

Esse cenário, associado ao papel fundamental do saneamento básico para promover o desenvolvimento do país,

torna imperativo o aumento nos níveis de investimento no setor. Porém, ao mesmo tempo em que se constitui em

uma atividade cujo resultado traz benefícios diretos para a população de seu entorno, os empreendimentos de abas-

tecimento de água e esgotamento sanitário estão ligados a aspectos que, se não forem tratados adequadamente,

podem gerar impactos sociais e ambientais negativos.

Ressalta-se que os impactos socioambientais e as boas práticas a eles associados, foram abordados neste documento de

forma isolada. Porém, o potencial de se amplificarem os resultados de iniciativas socioambientais em projetos e empresas

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do setor será elevado quando as dimensões regulatórias, operacionais e ambientais foram tratadas de forma integrada; já

que a redução e o aproveitamento dos resíduos e efluentes gerados nessa atividade – associados aos principais riscos so-

cioambientais identificados – se tornam mais atrativos ao serem concebidos desde a etapa de planejamento das estações.

Referências ANA – AgênciA nAcionAl de ÁguAs. Manual de procedimentos técnicos e administrativos de outorga de direito de uso

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