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Guilherme Henrique Martins Salvador · 05/07/2004 · 11.18 O insucesso do mandado de segurança individual e a possibilidade de posterior ação de conhecimento 11.19 Principais

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ISBN 9788547231064

Dantas, Paulo Roberto de FigueiredoDireito processual constitucional / Paulo Roberto de Figueiredo Dantas. 8. ed. So Paulo : Saraiva Educao,

2018.1. Brasil - Direito constitucional 2. Processo civil - Brasil I. Ttulo.17-1475 CDU 342:347.9(81)

ndices para catlogo sistemtico:

1. Brasil : Direito processual constitucional 342:347.9(81)

Vice-presidente Claudio Lensing

Diretora editorial Flvia Alves Bravin

Conselho editorial

Presidente Carlos Ragazzo

Consultor acadmico Murilo Angeli

Gerncia

Planejamento e novos projetos Renata Pascoal Mller

Concursos Roberto Navarro

Legislao e doutrina Thas de Camargo Rodrigues

Edio Bruna Schlindwein Zeni

Produo editorial Ana Cristina Garcia (coord.) | Luciana Cordeiro Shirakawa | Rosana Peroni Fazolari

Arte e digital Mnica Landi (coord.) | Claudirene de Moura Santos Silva | Guilherme H. M. Salvador | Tiago Dela Rosa| Vernica Pivisan Reis

Planejamento e processos Clarissa Boraschi Maria (coord.) | Juliana Bojczuk Fermino | Kelli Priscila Pinto | MarliaCordeiro | Fernando Penteado | Tatiana dos Santos Romo

Novos projetos Laura Paraso Buldrini Filognio

Diagramao (Livro Fsico) Muiraquit Editorao Grfica

Reviso Muiraquit Editorao Grfica

Comunicao e MKT Elaine Cristina da Silva

Capa Tiago Dela Rosa

Livro digital (E-pub)

Produo do e-pub Guilherme Henrique Martins Salvador

Data de fechamento da edio: 7-12-2017

Dvidas?

Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito

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Dedico este livro a Ceclia Dantas, filha muito amada e que considero minha verdadeira obra-primaneste mundo.

Sumrio

Introduo

1. Direito processual constitucional

1.1 Esclarecimentos iniciais

1.2 Direito processual constitucional: objeto de estudo

1.3 Jurisdio, processo, ao e defesa

1.4 Constituio e processo

1.5 Princpios constitucionais referentes ao processo

1.6 Princpio da igualdade (isonomia)

1.7 Princpio da legalidade

1.8 Princpio da irretroatividade da norma

1.9 Princpio da segurana jurdica e a proteo constitucional ao direito adquirido, ao ato jurdico perfeito e coisa julgada

1.10 Princpio da inafastabilidade da jurisdio

1.11 Princpio do juiz natural

1.12 Princpio do devido processo legal

1.13 Princpios do contraditrio e da ampla defesa

1.14 Princpio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilcitos

1.15 Princpio da necessidade de motivao das sentenas e demais decises judiciais

1.16 Princpio da publicidade dos atos processuais

1.17 Princpio do duplo grau de jurisdio

1.18 Princpio da celeridade na tramitao dos processos

1.19 Jurisdio constitucional

2. Teoria da constituio

2.1 Esclarecimentos iniciais

2.2 Constituio: conceito

2.3 Antecedentes da constituio

2.4 Constitucionalismo e suas diversas fases

2.5 Classificaes das constituies

2.6 Constituies quanto origem

2.7 Constituies quanto ao contedo

2.8 Constituies quanto forma

2.9 Constituies quanto ao modo de elaborao

2.10 Constituies quanto estabilidade

2.11 Constituies quanto extenso

2.12 Classificao da Constituio Federal de 1988

2.13 Elementos da constituio

2.14 Estrutura da Constituio de 1988

2.15 Rigidez e supremacia da constituio

3. Poder constituinte

3.1 Esclarecimentos iniciais

3.2 Poder constituinte: origem da ideia

3.3 Poder constituinte originrio

3.4 Natureza do poder constituinte originrio

3.5 Revoluo como veculo de expresso do poder constituinte originrio

3.6 Titularidade, exerccio e formas de expresso do poder constituinte originrio

3.7 Caractersticas do poder constituinte originrio

3.8 Poder constituinte derivado

3.9 Caractersticas do poder constituinte derivado

3.10 Poder constituinte reformador (ou poder de emenda)

3.11 Limitaes explcitas ao poder reformador na Constituio de 1988

3.12 Limitaes implcitas do poder reformador na Constituio de 1988

3.13 Diferena entre reforma constitucional e mutao constitucional

3.14 Poder constituinte decorrente

3.15 Distrito Federal, Municpios e poder constituinte decorrente

3.16 Poder constituinte derivado de reviso

3.17 Poder constituinte difuso

3.18 Princpio da simetria

3.19 Recepo, repristinao e desconstitucionalizao de normas

4. Normas constitucionais: classificao, aplicabilidade e interpretao

4.1 Esclarecimentos iniciais

4.2 Normas constitucionais quanto espcie: princpios e regras

4.3 Normas constitucionais quanto ao contedo: materiais e formais

4.4 Normas constitucionais quanto forma: escritas e no escritas

4.5 Normas constitucionais quanto aplicabilidade (notas introdutrias)

4.6 Eficcia jurdica eficcia social

4.7 Classificao da doutrina clssica

4.8 Classificao de Jos Afonso da Silva

4.9 Classificao de Maria Helena Diniz

4.10 Interpretao das normas constitucionais

4.11 Mtodos clssicos de interpretao das normas

4.12 Princpios especficos de interpretao constitucional

5. Organizao do Poder Judicirio

5.1 Esclarecimentos iniciais

5.2 A denominada separao de poderes e a funo do Poder Judicirio

5.3 A organizao do Poder Judicirio

5.4 O Supremo Tribunal Federal

5.5 O Conselho Nacional de Justia

5.6 O Superior Tribunal de Justia

5.7 Os Tribunais Regionais Federais e os Juzes Federais

5.8 Os Tribunais e Juzes do Trabalho

5.9 Os Tribunais e Juzes Eleitorais

5.10 Os Tribunais e Juzes Militares

5.11 Os Tribunais e Juzes dos Estados

5.12 Funes essenciais Justia

5.13 Ministrio Pblico

5.14 Funes institucionais do Ministrio Pblico

5.15 Conselho Nacional do Ministrio Pblico

5.16 Advocacia Pblica

5.17 A Advocacia-Geral da Unio

5.18 Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal

5.19 Advocacia

5.20 Defensoria Pblica

6. Controle de constitucionalidade: noes gerais

6.1 Esclarecimentos iniciais

6.2 Conceito e pressupostos do controle de constitucionalidade

6.3 Objeto do controle de constitucionalidade

6.4 Anlise de normas especficas sujeitas ao controle de constitucionalidade

6.5 Normas no sujeitas ao controle de constitucionalidade

6.6 Parmetro de controle ou paradigma constitucional

6.7 As diversas espcies de inconstitucionalidade

6.8 Inconstitucionalidade material e inconstitucionalidade formal

6.9 Inconstitucionalidade por ao e inconstitucionalidade por omisso

6.10 Modalidades de controle quanto ao momento da realizao e quanto ao rgo que o realiza

6.11 Modalidades de controle quanto via utilizada: modelo americano e austraco

6.12 Viso geral do controle de constitucionalidade no Brasil

6.13 Controle poltico

6.14 Controle judicial

7. Controle difuso no Brasil

7.1 Esclarecimentos iniciais

7.2 Controle difuso

7.3 Efeitos da declarao de inconstitucionalidade no controle difuso

7.4 O Senado e a possibilidade de ampliao dos efeitos da sentena no controle difuso

7.5 A abstrativizao dos efeitos da deciso do Supremo Tribunal Federal em sede de controle difuso deconstitucionalidade

7.6 Clusula de reserva de plenrio

7.7 Procedimento fixado pelo Cdigo de Processo Civil

7.8 O recurso extraordinrio

7.9 Necessidade de demonstrao da repercusso geral perante o Supremo Tribunal Federal

7.10 Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e o rito da repercusso geral

7.11 As smulas vinculantes

7.12 Controle difuso em ao civil pblica

8. O controle concentrado e as aes regulamentadas pela Lei n. 9.868/99

8.1 Esclarecimentos iniciais

8.2 Controle concentrado

8.3 Efeitos da sentena no controle concentrado

8.4 Espcies de controle concentrado na Constituio de 1988

8.5 Ao direta de inconstitucionalidade genrica (ADI ou ADIn)

8.6 Hipteses especficas em que no cabe ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.7 Legitimados para a ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.8 Concesso de medida cautelar em ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.9 O efeito vinculante da ao direta de inconstitucionalidade e sua excluso em relao ao Poder Legislativo

8.10 Princpio da parcelaridade

8.11 Inconstitucionalidade por arrastamento ou por atrao

8.12 Alterao do parmetro de controle aps a propositura da ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.13 A figura do amicus curiae na ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.14 Principais regras procedimentais sobre a ao direta de inconstitucionalidade genrica

8.15 Ao declaratria de constitucionalidade (ADC ou ADECON)

8.16 Legitimados para a ao declaratria de constitucionalidade

8.17 Medida cautelar em ao declaratria de constitucionalidade

8.18 O amicus curiae na ao declaratria de constitucionalidade

8.19 Principais regras procedimentais sobre a ao declaratria de constitucionalidade

8.20 Ao direta de inconstitucionalidade por omisso

8.21 Legitimados para a ao direta de inconstitucionalidade por omisso

8.22 O amicus curiae na ao direta de inconstitucionalidade por omisso

8.23 Concesso de medida cautelar em ao direta de inconstitucionalidade por omisso

8.24 Principais regras procedimentais sobre a ao direta de inconstitucionalidade por omisso

9. As demais aes de controle concentrado de constitucionalidade e assuntos complementares

9.1 Esclarecimentos iniciais

9.2 Arguio de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)

9.3 Parmetro de controle da arguio de descumprimento de preceito fundamental

9.4 Objeto da arguio de descumprimento de preceito fundamental

9.5 Legitimados ativos para a arguio de descumprimento de preceito fundamental

9.6 A potencial inconstitucionalidade da arguio de descumprimento de preceito fundamental por equiparao

9.7 Carter subsidirio da ao de descumprimento de preceito fundamental

9.8 Principais regras procedimentais da arguio de descumprimento de preceito fundamental

9.9 Ao direta de inconstitucionalidade interventiva

9.10 nico legitimado para a ao direta de inconstitucionalidade interventiva

9.11 Principais regras procedimentais da ao direta de inconstitucionalidade interventiva

9.12 Controle concentrado perante os Tribunais de Justia

9.13 Possibilidade de recurso extraordinrio em face de decises proferidas pelo Tribunal de Justia

9.14 Ao direta de inconstitucionalidade de norma do Distrito Federal em face de sua Lei Orgnica

9.15 Da interpretao conforme a constituio

9.16 Declarao parcial de inconstitucionalidade sem reduo de texto

9.17 Breve histrico sobre o controle de constitucionalidade no direito brasileiro

10. Direitos e garantias fundamentais e os remdios constitucionais

10.1 Esclarecimentos iniciais

10.2 Direitos fundamentais: conceito e caractersticas

10.3 Evoluo histrica dos direitos fundamentais

10.4 Geraes de direitos fundamentais

10.5 Destinatrios dos direitos e garantias fundamentais

10.6 Eficcia horizontal dos direitos e garantias fundamentais

10.7 Carter relativo dos direitos e garantias fundamentais

10.8 Aplicao imediata e carter no taxativo do rol de direitos e garantias fundamentais

10.9 Distino entre direitos, garantias e remdios constitucionais

11. Remdios constitucionais para tutela de direitos individuais

11.1 Esclarecimentos iniciais

11.2 Elenco dos remdios constitucionais

11.3 Habeas corpus

11.4 Hipteses de cabimento do habeas corpus

11.5 Hipteses em que no cabe o habeas corpus

11.6 Modalidades de habeas corpus

11.7 Legitimao ativa e passiva do habeas corpus

11.8 Competncia em matria de habeas corpus

11.9 Principais regras procedimentais do habeas corpus

11.10 Principais smulas do Supremo Tribunal Federal sobre o habeas corpus

11.11 Mandado de segurana individual

11.12 Hipteses de cabimento do mandado de segurana individual

11.13 Hipteses em que no cabe o mandado de segurana individual

11.14 Legitimao ativa e passiva do mandado de segurana individual

11.15 Competncia em sede de mandado de segurana individual

11.16 Da possibilidade de liminar em mandado de segurana individual

11.17 Da suspenso da liminar e da suspenso da segurana

11.18 O insucesso do mandado de segurana individual e a possibilidade de posterior ao de conhecimento

11.19 Principais regras procedimentais sobre o mandado de segurana individual

11.20 Principais smulas do Supremo Tribunal Federal sobre o mandado de segurana individual

11.21 Mandado de injuno individual

11.22 Hipteses de cabimento do mandado de injuno individual

11.23 Hipteses em que no cabe o mandado de injuno individual

11.24 Legitimao ativa e passiva do mandado de injuno individual

11.25 Competncia em sede de injuno individual

11.26 Natureza e eficcia da deciso que concede a injuno individual

11.27 Renovao de pedido no concedido e reviso de injuno j concedida

11.28 A edio superveniente de norma regulamentadora e os efeitos em relao injuno individualanteriormente concedida

11.29 A impossibilidade de concesso de liminar em sede de mandado de injuno individual

11.30 Distino entre mandado de injuno individual e ao direta de inconstitucionalidade por omisso

11.31 Principais regras procedimentais sobre o mandado de injuno individual

11.32 Habeas data

11.33 Hipteses de cabimento do habeas data

11.34 Legitimao ativa e passiva do habeas data

11.35 Competncia em sede de habeas data

11.36 Principais regras procedimentais do habeas data

12. Remdios constitucionais para tutela de direitos coletivos

12.1 Esclarecimentos iniciais

12.2 Mandado de segurana coletivo

12.3 Hipteses de cabimento do mandado de segurana coletivo

12.4 Hipteses em que no cabe o mandado de segurana coletivo

12.5 Legitimao ativa e passiva do mandado de segurana coletivo

12.6 Legitimao ativa do mandado de segurana coletivo e o Ministrio Pblico

12.7 Os direitos protegidos pelo mandado de segurana coletivo e quem pode se beneficiar de sua impetrao

12.8 Competncia em sede de mandado de segurana coletivo

12.9 Concesso de liminar em mandado de segurana coletivo

12.10 Da suspenso da liminar e da suspenso da segurana coletiva

12.11 Principais regras procedimentais sobre o mandado de segurana coletivo

12.12 Principais smulas do Supremo Tribunal Federal sobre o mandado de segurana coletivo

12.13 Mandado de injuno coletivo

12.14 Hipteses de cabimento do mandado de injuno coletivo

12.15 Hipteses em que no cabe o mandado de injuno coletivo

12.16 Legitimao ativa e passiva do mandado de injuno coletivo

12.17 As espcies de direitos protegidos pelo mandado de injuno coletivo e os destinatrios de sua impetrao

12.18 Competncia em relao ao mandado de injuno coletivo

12.19 Renovao de pedido no concedido e reviso de injuno coletiva j concedida

12.20 A edio superveniente de norma regulamentadora e os efeitos em relao injuno coletivaanteriormente concedida

12.21 A impossibilidade de concesso de liminar em sede de mandado de injuno coletivo

12.22 Principais regras procedimentais sobre o mandado de injuno coletivo

12.23 Ao popular

12.24 Hipteses de cabimento da ao popular

12.25 Legitimao ativa e passiva da ao popular

12.26 Competncias em sede de ao popular

12.27 Concesso de liminar em ao popular

12.28 Principais regras procedimentais da ao popular

12.29 Smula sobre a ao popular

12.30 Ao civil pblica

12.31 Hipteses de cabimento da ao civil pblica

12.32 Hipteses em que no cabe a propositura de ao civil pblica

12.33 Legitimao ativa e passiva da ao civil pblica

12.34 Competncia em sede de ao civil pblica

12.35 A possibilidade de pedido de natureza cautelar e de concesso de liminar em ao civil pblica

12.36 Da suspenso da liminar e da suspenso da sentena em ao civil pblica

12.37 Inqurito civil

12.38 Termo de ajustamento de conduta

12.39 Fundo de reparao de danos

12.40 Ao civil pblica e coisa julgada segundo a natureza do interesse tutelado

12.41 Demais regras procedimentais da ao civil pblica

12.42 Smula do Supremo Tribunal Federal sobre a ao civil pblica

Referncias

INTRODUO

Nossa atual Constituio Federal foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Tendo sido editada logoaps longo e penoso perodo de ditadura militar, em que alguns direitos e garantias fundamentaisforam severamente restringidos pela ordem ento vigente, a assembleia constituinte responsvel porsua elaborao preferiu incluir em seu texto uma longa e minuciosa lista de direitos e regras deproteo ao cidado. Conforme seus crticos, alguns deles encontrariam melhor lugar em leisinfraconstitucionais.

Assim foram includas, no corpo da Constituio de 1988, normas gerais, e at diversas normasespecficas, relativas ao direito civil, penal, do trabalho, administrativo, tributrio, financeiro,econmico, previdencirio e, inclusive, de processo civil e processo penal, resultando em um textolongo, com mais de 250 artigos, sem contarmos os atuais 100 do Ato das Disposies ConstitucionaisTransitrias.

Alis, a verdade que todas as constituies brasileiras, acompanhando a tradio que podemosverificar nas cartas magnas da grande maioria das civilizaes ocidentais, continham em seu corpo algumas mais, outras menos normas de cunho processual, destinadas, sobretudo, a dar efetividadeaos direitos e garantias constitucionais. Trata-se de uma tendncia que surgiu com o fenmeno doconstitucionalismo e a criao dos chamados Estados modernos.

Este livro, como o prprio ttulo j o indica, tem por objetivo o estudo do direito processualconstitucional. Em que pese a autonomia desse ramo jurdico ser posta em xeque por algunsdoutrinadores, a verdade que um nmero crescente de universidades e de faculdades de direitobrasileiras, inclusive algumas de grande renome e expresso, tem institudo em seus cursos a disciplinado direito processual constitucional. Da a importncia inequvoca do estudo que ora se prope.

No Captulo 1, como no poderia deixar de ser, trataremos das noes gerais desse ainda novo ramodo saber jurdico, buscando explicitar seu contedo programtico. Iniciaremos nossa anlise, portanto,pelo objeto de estudo do direito processual constitucional. Trataremos tambm dos quatro institutosbsicos da teoria geral do processo jurisdio, ao, defesa e processo , cujos fundamentosencontram-se insculpidos na Carta Magna, e cuja apreenso indispensvel ao perfeito entendimentodo direito processual constitucional, diante da inequvoca relao com o tema.

Prosseguindo, na seo denominada Constituio e processo, analisaremos o fenmeno daincluso, nas constituies dos Estados modernos, de grande nmero de normas de cunho processual,destinadas a assegurar tanto as liberdades pblicas como a prpria higidez do ordenamento jurdico,inclusive da prpria carta magna, relacionando, em sua parte final, as principais normas processuaiselencadas na Constituio brasileira de 1988.

Na sequncia, aps relacionar algumas das principais normas de contedo processual espalhadaspor todo o corpo da Constituio Federal vigente, ns estudaremos os chamados princpiosconstitucionais do processo. Por fim, analisaremos a denominada jurisdio constitucional,

esclarecendo o sentido e o alcance de seu significado.Tendo em vista que o direito processual constitucional est intimamente ligado ideia de

constituio, buscaremos realizar, no Captulo 2, um breve estudo daquele tema. Trataremos ali, dentreoutros temas, de sua definio e de suas principais classificaes.

No Captulo 3, por sua vez, estudaremos o poder que produz a constituio, que institui uma novaordem jurdica estatal, o denominado poder constituinte. Analisaremos, ali, dentre outros temas, suaorigem, sua titularidade, seu exerccio e formas de expresso, suas diversas espcies, suas caractersticase seus limites. O estudo desses temas tem inequvoca importncia para o objeto de estudo deste livro,notadamente no que respeita ao controle de constitucionalidade.

Com efeito, como veremos melhor oportunamente, esto sujeitas ao controle de constitucionalidadeas chamadas emendas constitucionais, produzidas pelo poder constituinte reformador. Da serimportante delimitarmos o conceito e as principais caractersticas dessa modalidade de poder. Poroutro lado, como tambm veremos oportunamente, no esto sujeitas ao controle deconstitucionalidade, ao menos como regra geral, as normas constitucionais editadas pelo constituinteoriginrio. Por essa razo, torna-se imperioso estudarmos, mesmo que de maneira breve, a definio eos principais contornos desse poder.

No Captulo 4, faremos um breve estudo sobre as normas (princpios e regras) constitucionais. Emsua primeira parte, buscaremos definir as diferentes formas pelas quais podem ser classificadasreferidas normas, distinguindo-as quanto espcie, ao contedo, forma e eficcia. Na segundaparte, por sua vez, trataremos de sua interpretao.

O estudo a que nos dedicaremos nesse Captulo, ser fcil perceber depois, auxiliar sobremaneira aposterior anlise tanto do controle de constitucionalidade, como tambm dos remdios constitucionais.Com efeito, apenas a ttulo de exemplo, no h como estudarmos a ao direta de inconstitucionalidadepor omisso, ou o mandado de injuno, sem conhecermos a definio de normas constitucionais noautoaplicveis, tambm conhecidas por normas constitucionais de eficcia limitada.

Da mesma forma, o estudo de princpios especficos de interpretao constitucional serimprescindvel para o estudo do controle de constitucionalidade. Como exemplo dessa importncia,basta mencionar que o princpio da interpretao conforme a constituio, cujo sentido e alcance serali tratado, tambm uma tcnica utilizada no controle concentrado de constitucionalidade.

No Captulo 5, veremos as principais regras da Constituio de 1988 que tratam da organizao doPoder Judicirio. Estudaremos, por exemplo, as garantias e vedaes impostas aos magistrados, bemcomo as competncias do S upremo Tribunal Federal, dos Tribunais S uperiores e dos diversos rgosjurisdicionais previstos na Constituio Federal.

Encerraremos o Captulo trazendo ao leitor uma breve anlise das denominadas Funes Essenciais Justia, explicitadas na Constituio Federal, logo em seguida aos princpios e regras que tratam doPoder Judicirio. Estudaremos, ali, as principais normas constitucionais que disciplinam o MinistrioPblico, a Advocacia Pblica, a Advocacia e a Defensoria Pblica, cujos membros tm importantssimopapel quando o assunto jurisdio constitucional, ao lado, naturalmente, dos rgos do Poder

Judicirio.Em seguida, no Captulo 6, iniciaremos nossos estudos sobre os mecanismos de fiscalizao

destinados a garantir que os diplomas legais sejam efetivamente editados em consonncia com asnormas constitucionais. E a fiscalizao da compatibilidade (adequao) das leis e demais atosnormativos produzidos pelo Poder Pblico com os princpios e regras consagrados pela constituio,ns podemos adiantar, d-se por meio do chamado controle de constitucionalidade das normas.

Trataremos, ainda, das noes gerais sobre o sistema de controle de constitucionalidade adotado noBrasil. Analisaremos, em sntese: os pressupostos e o conceito do controle de constitucionalidade; o seuobjeto; o chamado parmetro de controle; as espcies de inconstitucionalidade; bem como as diversasmodalidades de controle, adotadas no direito comparado.

No Captulo 7, por sua vez, estudaremos, de maneira mais detalhada, as principais caractersticas docontrole difuso de constitucionalidade brasileiro, tratando das principais normas que disciplinam suaaplicao, inclusive das ainda recentes regras que tratam da necessidade de demonstrao da chamadarepercusso geral, alm de alguns temas especficos sobre essa espcie de controle, como, por exemplo,a transcendncia dos motivos determinantes e a denominada abstrativizao dos efeitos da decisoproferida pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle difuso de constitucionalidade.

No Captulo 8, ao seu turno, traremos alguns conceitos genricos sobre o controle concentrado deconstitucionalidade, tais como sua definio e efeitos, ultimando o Captulo com o estudo de algumasdas aes constitucionais especficas dessa modalidade de controle, a saber: a ao direta deinconstitucionalidade genrica, a ao declaratria de constitucionalidade e a ao direta deinconstitucionalidade por omisso, regulamentadas pela Lei n. 9.868/99.

J no Captulo 9, forneceremos as informaes essenciais concernentes arguio dedescumprimento de preceito fundamental e ao de inconstitucionalidade interventiva. Em seguida,trataremos do controle concentrado de constitucionalidade perante os Tribunais de Justia dos Estados,bem como analisaremos a possibilidade de instituio de controle concentrado de constitucionalidadede leis distritais em face da Lei Orgnica do Distrito Federal, mesmo diante da ausncia de normaconstitucional expressa que trate do tema.

Encerraremos o Captulo, e, por consequncia, o tema do controle concentrado deconstitucionalidade no Brasil, estudando a denominada interpretao conforme a constituio, bemcomo a declarao parcial de inconstitucionalidade sem reduo de texto, tratadas explicitamente pelaLei n. 9.868/99, que regulamenta a ao direta de inconstitucionalidade e a ao declaratria deconstitucionalidade.

No Captulo 10, forneceremos ao caro leitor uma noo geral sobre os direitos e garantiasfundamentais, tema visceralmente ligado aos remdios constitucionais, tratando, dentre outros temas,do conceito e caractersticas dos direitos e garantias fundamentais, de sua evoluo histrica, de seusdestinatrios, de seu carter relativo, encerrando o Captulo com uma indispensvel distino entredireito fundamental, garantia fundamental e remdio constitucional.

No Captulo 11, estudaremos os remdios constitucionais destinados tutela de indivduos habeas

corpus, mandado de segurana individual, mandado de injuno e habeas data trazendo, naquelaoportunidade, alguns esclarecimentos sobre sua origem, fundamento constitucional e legal, hiptesesde cabimento, legitimao ativa e passiva e as principais regras processuais que os disciplinam, alm deoutras informaes que reputamos importantes.

No Captulo 12, por sua vez, analisaremos os remdios constitucionais restantes, destinados tutelade coletividades de pessoas (de direitos coletivos em sentido lato). Estudaremos, portanto, de formamais detalhada, as principais informaes sobre o mandado de segurana coletivo, o mandado deinjuno coletivo, a ao popular e a ao civil pblica.

Para a realizao deste trabalho, valemo-nos de ampla pesquisa doutrinria e tambmjurisprudencial, apontando, sempre que possvel, a posio do S upremo Tribunal Federal sobre o tema,trazendo ementas de acrdos importantes e tambm os enunciados de S mulas. Procuramos tambmapontar as eventuais divergncias doutrinrias sobre os institutos, sem deixar de declinar nossa posiosobre os temas.

Destinado precipuamente aos alunos do curso de graduao, para os quais, alis, elaboramosdiversos quadros esquemticos, para facilitao do aprendizado e memorizao da matria, este livrotambm poder ser til aos diversos operadores do direito que militam nesta seara e, ainda, aos bravose valorosos candidatos a concursos pblicos, j que trata dos temas costumeiramente exigidos noscertames, da maneira mais atualizada possvel.

O Autor

1 DIREITO PROCESSUALCONSTITUCIONAL1.1 Esclarecimentos iniciais

Este livro, o prprio ttulo j o indica, tem por escopo o estudo do direito processual constitucional.Assim, neste primeiro Captulo, como no poderia deixar de ser, trataremos das noes gerais desseainda novo ramo do saber jurdico, buscando explicitar seu contedo programtico. Iniciaremos nossaanlise, portanto, pelo objeto de estudo do direito processual constitucional.

Trataremos, em seguida, dos quatro institutos bsicos da teoria geral do processo jurisdio, ao,defesa e processo , cujos fundamentos encontram-se insculpidos na Constituio de 1988, e cujaapreenso indispensvel ao perfeito entendimento do direito processual constitucional, diante dainequvoca relao com o tema.

Prosseguindo, na seo denominada Constituio e processo, analisaremos o fenmeno daincluso, nas constituies dos Estados modernos, de grande nmero de normas de cunho processual,destinadas a assegurar tanto as liberdades pblicas como a prpria higidez do ordenamento jurdico,inclusive da prpria carta magna, relacionando, em sua parte final, as principais normas de contedoprocessual elencadas na Constituio brasileira de 1988.

Na sequncia, aps relacionar algumas das principais normas de contedo processual espalhadaspor todo o corpo da vigente Constituio Federal, ns estudaremos os chamados princpiosconstitucionais do processo. Por fim, para encerrar o Captulo, analisaremos a denominada jurisdioconstitucional, esclarecendo o sentido e o alcance de seu significado.

1.2 Direito processual constitucional: objeto de estudo

O primeiro tema relativo ao estudo do direito processual constitucional seu objeto de estudo ,muito provavelmente, o mais complexo e controvertido. Com efeito, como veremos nesta seo, adoutrina no unvoca sequer em relao definio do contedo desse ramo da cincia jurdica,sendo certo que diversos autores chegam mesmo a fazer uma distino entre direito constitucionalprocessual e direito processual constitucional.

Alis, at mesmo a autonomia desse ramo jurdico posta em xeque por alguns doutrinadores deexpresso. o caso, por exemplo, de Paulo Roberto de Gouva Medina1, que afirma expressamente,em sua conhecida obra sobre o assunto, que o direito processual constitucional antes um mtodo deestudo que um ramo autnomo do Direito Processual, que tanto pode incorporar-se teoria geral doprocesso como constituir programa especfico.

A verdade que, nos editais dos concursos pblicos que pesquisamos, como tambm dos examesda Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de todo o Pas, a maioria esmagadora (se no a totalidade)dos assuntos que costumam constar dos poucos livros existentes sobre o estudo do direito processual

constitucional costuma ser includa na relao de temas de direito constitucional.Por outro lado, um nmero crescente de universidades e de faculdades de direito brasileiras,

inclusive algumas de grande renome e expresso, tem institudo em seus cursos a disciplina do direitoprocessual constitucional, geralmente ministrada nos ltimos semestres do curso, quando o aluno jestudou adequadamente os institutos do direito constitucional e do direito processual.

Voltando ao tema especfico desta seo, vale insistir, como j havamos mencionado, que umaparcela expressiva da doutrina faz distino entre o direito constitucional processual e o direitoprocessual constitucional. Para essa corrente doutrinria, o primeiro teria por objeto o estudosistematizado do conjunto de princpios e regras de processo contido na constituio; o segundo, oestudo das normas que disciplinam a chamada jurisdio constitucional.

Nesse sentido, por exemplo, a lio de Paulo Hamilton Siqueira Jnior2, que afirma expressamenteque o direito constitucional processual um captulo do direito constitucional e da teoria geral doprocesso, ao passo que o direito processual constitucional, este sim, configura-se como ramoautnomo do direito, com mtodo e objeto de estudo prprio.

Para essa corrente, em suma, o direito constitucional processual teria por objeto especfico o estudodos princpios e regras, contidos na constituio, que disciplinam o processo. J o direito processualconstitucional teria por objeto o estudo da denominada jurisdio constitucional, que compreende,como veremos melhor oportunamente, as normas relativas ao controle de constitucionalidade de leis eatos normativos, e tambm a tutela jurisdicional dos direitos fundamentais.

Outra parte da doutrina, contudo, considera no existir razo para referida dicotomia, preferindoentender que aquelas matrias costumeiramente atribudas ao chamado direito constitucionalprocessual esto inseridas no direito processual constitucional, e que, portanto, tambm pertencem aesse ltimo ramo da cincia jurdica. o caso, por exemplo, de Paulo Roberto de Gouva Medina3,como se v no trecho a seguir transcrito:

O desmembramento de que assim se cogita, embora abonado por eminentes autores, no sefunda em base metodolgica segura nem apresenta qualquer interesse prtico. A duplicidade demeios para o estudo de assuntos da mesma natureza incide numa superfetao que s viriaprejudicar, no caso, o advento de uma disciplina que deles se ocupasse.

Na mesma toada a lio do eminente processualista Cndido Rangel Dinamarco4, para quem odireito processual constitucional composto pela tutela constitucional do processo, que ele define comoo conjunto de princpios e garantias vindos da constituio, tais como as garantias da tutelajurisdicional, do devido processo legal e do contraditrio, alm da denominada jurisdio constitucionaldas liberdades, composta, em sua definio, pelo arsenal de meios predispostos pela constituio paramaior efetividade do processo e dos direitos individuais e grupais.

Portanto, com base nessa ltima corrente, com a qual nos afinizamos, podemos afirmar que odireito processual constitucional tem por objeto o estudo sistematizado dos princpios e regrasconstitucionais que tratam do processo. Esto includos, nessa disciplina, os princpios constitucionaisde cunho processual, as normas que disciplinam a organizao do Poder Judicirio, bem como o

conjunto de normas que dispem sobre a chamada jurisdio constitucional, e que tutelam asliberdades pblicas e disciplinam o controle de constitucionalidade de leis e atos normativos institudospelo Poder Pblico.

DIREITO PROCESSUAL CONSTITUCIONAL: OBJETO DE ESTUDO

Parte da doutrina faz distino entre o direito constitucional processual e o direito processual constitucional.O primeiro teria por objeto o estudo sistematizado do conjunto de princpios e regras de processo contido naconstituio; o segundo, o estudo das normas que disciplinam a chamada jurisdio constitucional. Outra parte da doutrina, contudo, considera no existir razo para referida dicotomia, preferindo entenderque aquelas matrias costumeiramente atribudas ao chamado direito constitucional processual esto inseridasno direito processual constitucional, e que, portanto, tambm pertencem a este ltimo ramo da cincia jurdica. Com base nessa ltima corrente, com a qual nos afinizamos, podemos afirmar que o direito processualconstitucional tem por objeto o estudo sistematizado dos princpios e regras constitucionais que tratam doprocesso. Esto includos, nessa disciplina, os princpios constitucionais de cunho processual, as normas que tratam daorganizao do Poder Judicirio, bem como o conjunto de normas que dispem sobre a chamada jurisdioconstitucional, ou seja, que tutelam as liberdades pblicas e disciplinam o controle de constitucionalidade deleis e atos normativos institudos pelo Poder Pblico.

1.3 Jurisdio, processo, ao e defesa

Na seo anterior, vimos que o direito processual constitucional tem por objeto, em sntese, o estudode todo o conjunto de normas (princpios e regras), elencados na Carta Magna, que disciplinam oprocesso, e que referido ramo abrange os princpios constitucionais processuais, as normas que tratamda organizao do Poder Judicirio, bem como o conjunto de normas que disciplinam a chamadajurisdio constitucional, esta ltima referente s aes constitucionais.

V-se, portanto, que o direito processual constitucional est intimamente ligado ideia de jurisdio,de processo e tambm de ao. Esses trs institutos, somados a um quarto o da defesa , que nada mais que o contraponto do direito de ao , formam os chamados pilares da teoria geral do processo, osquatro grandes institutos do direito processual, e que encontram fundamento na prpria constituio.

Em sendo assim, parece-nos de todo conveniente fornecer, nessa seo, as noes gerais sobreaqueles quatro institutos supramencionados, o que seguramente auxiliar os estimados leitores nacontinuidade dos estudos a que nos propusemos nesta singela obra, diante de sua inequvoca relaocom o contedo do direito processual constitucional. Vamos a eles.

Conforme expressa a redao do art. 2 da Constituio Federal, so Poderes da Unio,independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. A Carta Magna de 1988adotou, portanto, a tradicional tripartio de poderes, ou seja, a repartio do poder estatal (que, narealidade, um s) em trs funes distintas, todas com independncia, prerrogativas e imunidades

prprias, indispensveis ao bom cumprimento de seus misteres.Em outras palavras, conferiu aos Poderes Legislativo, Executivo e Judicirio parcelas da soberania

estatal, garantindo a cada um daqueles considervel independncia em relao aos demais, comomecanismo assecuratrio do respeito aos direitos e garantias fundamentais da pessoa, e, sobretudo, dagarantia da manuteno do Estado Democrtico de Direito.

A funo tpica do Poder Judicirio exercer a funo jurisdicional, ou, simplesmente, a jurisdio.E, conforme esclarece grande parte dos doutrinadores, jurisdio uma palavra que vem do latim,composta por iuris (direito) e dictio (dico), que significa justamente dizer o direito, ou, em outraspalavras, explicitar a vontade da lei para a soluo de litgios postos apreciao do Estado.

Com efeito, desde a criao do Estado moderno, e a consequente repartio do poder estatal emfunes distintas, o Estado chamou para si a funo de pacificao social, solucionando os conflitos deinteresses que lhe fossem submetidos a julgamento, e permitindo que os particulares exercessem ajustia privada apenas em casos excepcionais. Institui-se, a partir da, a denominada jurisdio.

Na lio de Paulo Roberto de Gouva Medina, jurisdio a expresso do poder estatal consistentena funo de julgar atribuda, em geral, aos rgos do Judicirio, que o exercitam mediante a atuaoda vontade concreta da lei, com vistas soluo dos litgios (Jurisdio Contenciosa) ou prtica de atosjurdicos destinados a validar certas manifestaes de vontade, de carter indisponvel (JurisdioVoluntria)5.

Misael Montenegro Filho6, por sua vez, esclarece que a jurisdio consiste no poder conferido aoEstado de solucionar conflitos de interesses no resolvidos no mbito extrajudicial, diferenciando-se dosdemais poderes do Estado em decorrncia da caracterstica da deciso proferida pelo representante doente estatal em resposta solicitao de pacificao do conflito, que, se for acobertada pela coisa julgada(...) no mais pode ser revista nem pelo Poder Judicirio, nem por outro poder do Estado, excetoatravs do ajuizamento de ao rescisria.

Podemos dizer, em termos singelos, que a jurisdio o poder-dever do Estado, exercido por meiode rgos jurisdicionais (juzes e tribunais) competentes, conforme critrios fixados tanto pelaConstituio Federal, como por normas infraconstitucionais, que tem por funo a soluo dos litgios(ou lides) que lhe forem submetidos a julgamento, por meio da dico da vontade da lei ao casoconcreto.

Para exercer a funo ou atividade jurisdicional, como j antecipamos, o Estado cria os chamadosrgos jurisdicionais, ou seja, os diversos juzes e tribunais, que atuam conforme a parcela da jurisdio(competncia) que lhes foi conferida pela Carta Magna ( esta, por exemplo, quem fixa ascompetncias do S upremo Tribunal Federal e tambm dos Tribunais S uperiores), bem como pelasdemais normas infraconstitucionais (notadamente os Cdigos de Processo e Leis de OrganizaoJudiciria).

Conforme ensinamento de Cndido Rangel Dinamarco7, o exerccio da funo jurisdicional distribudo entre os inmeros juzes existentes no pas, mediante as tcnicas e critrios inerentes competncia. Ainda segundo o insigne doutrinador, todos os rgos jurisdicionais so dotados de

jurisdio e esta no se divide nem se reparte o que se reparte so as atividades jurisdicionaisatribudas a cada um deles e a serem exercidas pelo juiz que, segundo a Constituio e a lei, fordefinido como competente.

Por outro lado, como nos ensina Humberto Theodoro Jnior,8 referidos rgos encarregados deexercer a jurisdio no podem atuar discricionria ou livremente, dada a prpria natureza da atividadeque lhes compete. Devem subordinar-se a um mtodo ou sistema de atuao. E referido mtodo ousistema, aquele autor nos esclarece, vem a ser justamente o processo.

Processo, na definio de Paulo Roberto Gouva Medina9, o complexo ordenado de atos jurdicosque se praticam na esfera judicial, de forma a possibilitar o exerccio da ao e em ordem a alcanar ofim ltimo da jurisdio, que o de resolver o mrito da pretenso deduzida pela parte ou pelointeressado.

Cndido Rangel Dinamarco10 nos lembra que a existncia de processo numa ordem jurdica imposio da necessidade do servio jurisdicional: o processo existe acima de tudo para o exerccio dajurisdio e esse o fator de sua legitimidade social entre as instituies jurdicas do pas. Conclui sualio asseverando que na medida em que a populao necessita de juzes e do servio que lhe prestam(a pacificao mediante o exerccio da jurisdio), tambm indispensvel um mtodo pelo qual esseservio prestado.

O processo, portanto, o meio ou instrumento institudo pelo Estado para viabilizar o exerccio desua funo jurisdicional, por meio de um conjunto de atos jurdicos ordenados, praticados perante oPoder Judicirio, para a soluo dos litgios que lhe forem submetidos apreciao. Em uma brevedefinio, o processo pode ser definido como o instrumento necessrio para o exerccio da jurisdio.

O processo pode ser encarado sob o aspecto objetivo, referindo-se ao conjunto de atos jurdicosencadeados e sucessivos, destinados soluo do litgio, bem como sob o aspecto subjetivo, dizendorespeito mais especificamente relao jurdica processual, que se estabelece entre autor, ru e juiz, eque confere a cada um desses atores diversos direitos, deveres e nus.

Na lio de Marcus Vinicius Rios Gonalves11, integram o conceito de processo as noes deprocedimento e relao jurdica processual. A forma particular como os atos processuais soencadeados constitui o procedimento, que pode ser comum ordinrio, comum sumrio ou especial.Tambm segundo o insigne jurista, o processo ainda abrange a relao jurdica que se estabelece entreas partes, e entre elas e o juiz, na qual sobrelevam poderes, deveres, faculdades e nus.

Examinados os conceitos de jurisdio e de processo, cabe-nos agora trazer uma breve definio doterceiro pilar do direito processual: a ao. Como vimos anteriormente, a jurisdio pode ser definida,de forma bem sinttica, como a parcela do poder estatal que tem por escopo a pacificao social, pormeio da soluo dos litgios ou lides. E a ao, por sua vez, nada mais do que o direito de se invocar atutela jurisdicional, de se pedir que o Estado solucione uma lide.

Com efeito, como regra, a atividade jurisdicional somente prestada pelo Estado caso as partes apleiteiem. Valendo-nos de uma expresso costumeiramente empregada pelos processualistas, a tutelajurisdicional depende de provocao. Quer isso dizer, em outras palavras, que o Estado somente exerce

a jurisdio quando algum expressamente pede que ele o faa, aplicando a lei ao caso concreto, parasolucionar o litgio posto sua apreciao.

nesse sentido que Paulo Roberto de Gouva Medina12 afirma que ao o direito de invocar oexerccio da funo jurisdicional, que surge, para o respectivo titular, sempre que a pretenso derivadado seu direito subjetivo encontrar resistncia da parte de outrem ou no puder ser pacificamentesatisfeita, caracterizando, assim, um litgio.

Encerraremos esse breve estudo dos quatro institutos fundamentais do direito processual analisandoa defesa , tambm denominada exceo. Trata-se, em termos genricos, do direito conferido quelecontra quem se prope a ao, o denominado ru ou demandado, de se contrapor pretensoformulada pelo autor ou demandante, na ao proposta perante o Poder Judicirio.

Conforme ressalta a grande maioria dos doutrinadores processualistas, a defesa ou exceo ocontraponto do direito de ao, referindo-se ao conjunto de poderes e faculdades conferidas aodemandado para resistir pretenso do autor, pleiteando, por consequncia, a rejeio do pedidoformulado pelo demandante, na petio inicial. O direito de defesa, considerado em seu sentido maisgenrico, refere-se a todos os atos produzidos pelo ru, no transcorrer do processo, para que o rgojurisdicional no acolha a pretenso do autor, tais como oferecimento de contestao e de exceesrituais, alm da produo de provas.

Ainda sobre a semelhana entre a ao e a defesa, e para encerrarmos o tema a que nos propusemosnesta seo, ou seja, um breve estudo sobre os conceitos de jurisdio, processo, ao e defesa ouexceo, consideramos oportuno trazer a lio de Cndido Rangel Dinamarco13. Eis as suasponderaes, in verbis:

Postas assim, ao e defesa tm muito em comum e so poderes que se situam rigorosamente nomesmo plano, considerada a essencial igualdade das partes no processo. No mesmo nvelconstitucional em que est a garantia da ao (Const., art. 5, inc. XXXI), esto tambm outrasgarantias que, destinando-se a todos os sujeitos processuais, tm o efeito de dar pesosequivalentes ao e defesa (isonomia das partes, contraditrio, ampla defesa: v. esp. art. 5,inc. LV). A ao e a defesa, tanto quanto a jurisdio, exercem-se no processo e a oferta deoportunidades equilibradas para o exerccio de ambas constitui exigncia do devido processolegal, preordenada produo da tutela jurisdicional a quem efetivamente tiver razo (processojusto e quo).

Na prxima seo, como mencionamos nas notas introdutrias deste Captulo, estudaremos ofenmeno da incluso, nas constituies dos Estados modernos, inclusive na Constituio brasileiravigente, de um considervel nmero de normas de cunho processual, destinadas a assegurar tanto asliberdades pblicas como tambm a adequao das normas produzidas pelo Poder Pblico aospreceitos constitucionais.

JURISDIO, PROCESSO, AO E DEFESA

Jurisdio o poder-dever do Estado, exercido por meio de rgos jurisdicionais competentes (juzes etribunais), conforme critrios fixados tanto pela Constituio Federal, como pelas demais normasinfraconstitucionais, que tem por funo a soluo dos litgios que lhe forem submetidos a julgamento, pormeio da dico da vontade da lei ao caso concreto. Processo o meio ou instrumento institudo pelo Estado para viabilizar o exerccio de sua funojurisdicional, por meio de um conjunto de atos jurdicos coordenados, praticados perante o Poder Judicirio,para a soluo dos litgios que lhe forem submetidos apreciao. Em uma breve definio, o processo podeser definido como o instrumento necessrio para o exerccio da jurisdio. Ao nada mais do que o direito de se invocar a tutela jurisdicional, de se pedir que o Estado solucioneuma lide. Com efeito, como regra, a atividade jurisdicional somente prestada pelo Estado caso as partes apleiteiem. Valendo-nos de uma expresso costumeiramente empregada pelos processualistas, a tutelajurisdicional depende de provocao. Defesa ou exceo o direito conferido quele contra quem se prope a ao (ru) de se contrapor pretenso formulada pelo autor. Considerado em seu sentido mais genrico, refere-se a todos os atosproduzidos pelo ru, no transcorrer do processo, para que o rgo jurisdicional no acolha a pretenso doautor.

1.4 Constituio e processo

No Captulo 2 deste livro, veremos que a constituio pode ser definida, em sua acepo jurdica,como a norma jurdica fundamental, que condiciona a edio, interpretao e validade das normaisinfraconstitucionais, e que tem por contedo o conjunto de normas (princpios e regras) que fornecema organizao fundamental do Estado, alm de fixar os direitos e garantias fundamentais, bem como osdireitos sociais e econmicos.

Neste Captulo, por sua vez, vimos que o processo o instrumento institudo pelo Estado paraviabilizar o exerccio da funo jurisdicional. Portanto, por meio do processo, iniciado pelo direito deao, que o cidado pode se valer do Poder Judicirio para fiel observncia dos direitos e garantiasconstitucionais que lhe so assegurados pela Carta Magna, caso sejam desrespeitados.

tambm por meio do exerccio do direito de ao e do processo que o Poder Judicirio poderexercer sua atividade jurisdicional para realizar o chamado controle de constitucionalidade, queconsiste na anlise, como veremos melhor oportunamente, da adequao das leis e demais atosnormativos produzidos pelo Poder Pblico com os ditames constitucionais, seja em um dado casoconcreto, seja mesmo em carter abstrato.

V-se, portanto, como j havamos mencionado na seo anterior, que os grandes institutos da teoriageral do direito processual jurisdio, processo, ao e defesa no s esto intimamente ligados aotema deste livro, como tambm encontram seu fundamento no prprio texto constitucional. Comefeito, a Constituio Federal de 1988 que atribui ao Poder Judicirio o dever de julgar as demandasque lhe so submetidas, que garante o direito de ao e de defesa e que consagra o devido processolegal.

Alis, a verdade que todas as constituies brasileiras, acompanhando a tradio que podemosverificar nas cartas magnas da grande maioria das civilizaes ocidentais, continham em seu corpo algumas mais, outras menos normas de cunho processual, destinadas, sobretudo, a dar efetividadeaos direitos e garantias constitucionais. Trata-se, como j mencionamos na introduo deste livro, deuma tendncia que surgiu com o fenmeno do constitucionalismo e a criao dos chamados Estadosmodernos.

Com efeito, a primeira lei maior brasileira a Constituio do Imprio, outorgada em 25 de marode 1824, pouco depois da Declarao de Independncia j continha disposies de contedoprocessual. Previa, por exemplo, a possibilidade de as partes institurem juzos arbitrais, no cabendorecurso dessas decises (art. 160). Tambm condicionava a utilizao da jurisdio prvia tentativa deconciliao (art. 161).

A segunda constituio do Brasil (e primeira republicana), promulgada em 24 de fevereiro de 1891,que adotou a tradicional tripartio de poderes, fortaleceu o Poder Judicirio, dotando-o tambm decompetncia para controlar os atos do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Foi criada a JustiaFederal. O Poder Judicirio era formado por magistrados, que passaram a contar com as garantias davitaliciedade e da irredutibilidade de vencimentos. Trouxe, para o seu corpo, o instituto do habeascorpus, que era previsto apenas na legislao infraconstitucional.

A terceira Constituio brasileira foi promulgada em 16 de julho de 1934. Nela, o Poder Judiciriocontinuou podendo fiscalizar os atos do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Criou-se a JustiaEleitoral, como rgo do Poder Judicirio. Instituiu-se tambm o mandado de segurana, para proteodo indivduo contra atos arbitrrios praticados por agentes do Poder Pblico, e tambm a ao popular,para evitar ou reparar leses ao patrimnio pblico.

A nossa quarta constituio, outorgada em 10 de novembro de 1937, e pejorativamente denominadad e polaca , em razo da semelhana que guardava com a autoritria Constituio polonesa vigentequela poca, imps considervel enfraquecimento ao Poder Judicirio, impossibilitando que estejulgasse a legalidade de atos praticados pelo Poder Executivo, quando fosse decretado estado deemergncia.

O Poder Judicirio tambm poderia ter suas decises sobre constitucionalidade de lei ou atonormativo afastadas por deciso do Poder Legislativo. Ademais, por ter sido uma constituioautoritria, os direitos e garantias fundamentais sofreram inequvoco retrocesso. Deixou de prever, porexemplo, como o fazia a constituio de 1934, os institutos do mandado de segurana e da aopopular.

Inequivocamente influenciado pela queda dos regimes autoritrios e centralizadores, no fim daS egunda Grande Guerra, o Brasil decidiu repudiar o modelo de Estado autoritrio imposto pelaConstituio de 1937, retomando os ideais democrticos e federalistas consagrados nas Constituies de1891 e 1934, com a promulgao de uma nova constituio, em 18 de setembro de 1946.

Com ela, o Poder Judicirio recuperou sua fora integral, voltando a exercer todas as suas funestpicas e atpicas, inclusive o controle judicial dos atos do Poder Executivo e do Poder Legislativo. O

texto constitucional, alis, assegurou expressamente a inafastabilidade da tutela jurisdicional a todosque dela necessitassem. O controle de constitucionalidade de leis e atos normativos retomou sua feiotradicional, no mais podendo ser afastado por decises do Poder Legislativo, como se deu durante avigncia da polaca.

Uma nova constituio foi outorgada em 24 de janeiro de 1967. De maneira semelhante ao que sedeu com a Constituio de 1937, tambm enfraqueceu o pacto federativo, ao concentrar o poder nogoverno central (Unio). Houve, mais uma vez, considervel incremento das funes do PoderExecutivo que passou a legislar por meio de decretos-leis e reduo das competncias dos demaisPoderes, inclusive do Poder Judicirio.

Devido s crescentes convulses sociais, e tambm s manifestaes populares de oposio aoregime, notadamente de estudantes universitrios e parlamentares, o ento presidente Artur da Costa eS ilva editou, em 13 de dezembro de 1968, o grave Ato Institucional n. 5 (AI-5), composto por umimpressionante conjunto de medidas, recrudescendo ainda mais o regime autoritrio at ento vigente.

Retirou do Poder Judicirio a competncia para julgar atos fundamentados no Ato Institucional n. 5(AI-5). Proibiu a concesso de habeas corpus em face de crimes polticos contra a segurana nacional.S uspendeu, ainda, as garantias da magistratura (dos membros do Poder Judicirio), e tambm aestabilidade dos servidores pblicos.

Nossa atual Constituio Federal foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Adotou a tradicionaltripartio de poderes, restabelecendo integralmente a independncia e a harmonia entre as funesestatais. O Poder Judicirio voltou a exercer, com plenitude, todas as suas funes tpicas e atpicas,inclusive podendo controlar, mediante provocao, os atos e omisses do Poder Pblico. ReferidoPoder composto por magistrados, que gozam das garantias da vitaliciedade, da inamovibilidade e dairredutibilidade de subsdios.

Trata-se de uma constituio do tipo rgida, que s permite alteraes de seu texto, por meio deemendas constitucionais, se forem observados os limites e condicionamentos fixados em seu art. 60,que so inequivocamente mais rgidos e severos que os impostos s normas infraconstitucionais. E,como veremos oportunamente, justamente em razo de sua rigidez que se torna possvel falar-se emcontrole de constitucionalidade das leis e demais atos produzidos pelo Poder Pblico.

Os direitos fundamentais foram consideravelmente ampliados. Prev, por exemplo, o voto direto,secreto, universal e peridico como clusula ptrea. Estende o direito de voto, em carter facultativo,para os analfabetos e aos maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos de idade. Na searaprocessual, contempla trs novas aes constitucionais: habeas data , mandado de segurana coletivo emandado de injuno.

Como j mencionamos supra, a Constituio de 1988 contm um sem-nmero de normas(princpios e regras) de cunho processual. Em seu art. 5, por exemplo, quando trata dos direitos egarantias fundamentais, traz uma expressa relao de princpios constitucionais processuais, como, porexemplo, os do devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa, e tantos outros, cujosprincipais, de interesse para essa disciplina, sero estudados nas prximas sees.

Naquele mesmo art. 5, traz a regra-matriz constitucional dos chamados remdios constitucionais, asaber: mandado de segurana individual, mandado de segurana coletivo, habeas corpus, habeas data ,mandado de injuno individual, mandado de injuno coletivo e ao popular. Essas aesconstitucionais, devemos adiantar, sero estudadas nos Captulos 11 e 12 deste livro.

O Poder Judicirio, ademais, tem suas principais regras fixadas pelo prprio texto constitucional. Aliesto relacionados, por exemplo, os rgos que compem o Poder Judicirio. Tambm estoexplicitadas as competncias de quase todos os rgos jurisdicionais, com exceo dos tribunais e juzeseleitorais e tambm dos Estados. Esto ali igualmente previstas as regras-matrizes do chamado controleconcentrado de constitucionalidade, que tambm ser objeto de estudo nesta obra.

Aps trazer as principais normas sobre o Poder Judicirio, a Constituio de 1988 trata, no Captuloseguinte, das denominadas Funes Essenciais Justia, disciplinando a estrutura e forma de atuaodo Ministrio Pblico, da Advocacia Pblica, da Advocacia Privada e da Defensoria Pblica. Asprincipais regras de organizao do Poder Judicirio e das funes essenciais atividade jurisdicionalsero estudadas no Captulo 5 deste livro.

1.5 Princpios constitucionais referentes ao processo

Na seo anterior, vimos que a Carta Magna de 1988, seguindo a tendncia de todas as constituiesmodernas, contm em seu corpo diversas normas (princpios e regras) de carter processual. Dentrereferidas normas, encontram-se os denominados princpios constitucionais processuais. justamentesobre referidos princpios que trataremos nas prximas sees.

Com efeito, a partir de agora estudaremos, mesmo que de maneira sinttica, os princpiosconstitucionais mais diretamente relacionados com o direito processual constitucional, deixando defora, portanto, aqueles princpios de cunho processual ligados seara do direito penal. nesse diapasoque estudaremos, por exemplo, os princpios da igualdade, da legalidade, e tambm da irretroatividadeda norma.

Estudaremos, ainda, os importantssimos princpios da inafastabilidade da tutela jurisdicional, dojuiz natural, do devido processo legal, do contraditrio e da ampla defesa, da inadmissibilidade dasprovas obtidas por meios ilcitos, da necessidade de motivao das decises, da publicidade dos atosprocessuais, do duplo grau de jurisdio e da celeridade na tramitao dos processos.

1.6 Princpio da igualdade (isonomia)

Em que pese o princpio da igualdade, tambm denominado de princpio da isonomia , no serpropriamente um princpio constitucional processual, repercute inequivocamente sobre o processo,como buscaremos aqui demonstrar. A Constituio de 1988 garante expressamente, j no incio docaput do art. 5, o direito igualdade.

O dispositivo constitucional em comento dispe, de maneira expressa, que todos so iguais perante alei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes nopas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade.

Referido princpio dirige-se, devemos frisar, no s ao legislador, como tambm ao aplicador dodireito, e, ainda, ao particular. Quanto ao legislador, o princpio em anlise o compele a editar normasno discriminatrias, que no estabeleam diferenciaes relativas idade, raa, condio social, sexo,religio e outras do gnero, a no ser que haja permisso constitucional expressa, ou um fundamentolegtimo para tal diferenciao.

J em relao ao aplicador do direito, notadamente o Poder Pblico, o princpio da igualdade oobriga a cumprir sua funo sem cometer quaisquer diferenciaes ilegtimas, que no estejamamparadas ou no texto constitucional, ou em algum motivo legitimador de tal diferenciao. Nopoder a Administrao Pblica, portanto, criar favorecimentos ou perseguies indevidas. Nessesentido, por exemplo, o seguinte acrdo do Supremo Tribunal Federal:

O princpio da isonomia, que se reveste de autoaplicabilidade, no enquanto postuladofundamental de nossa ordem poltico-jurdica suscetvel de regulamentao ou decomplementao normativa. Esse princpio cuja observncia vincula, incondicionalmente,todas as manifestaes do Poder Pblico deve ser considerado, em sua precpua funo deobstar discriminaes e de extinguir privilgios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: (a) o daigualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei que opera numa fase degeneralidade puramente abstrata constitui exigncia destinada ao legislador que, no processode sua formao, nela no poder incluir fatores de discriminao, responsveis pela ruptura daordem isonmica. A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei j elaborada, traduzimposio destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicao da norma legal, no poderosubordin-la a critrios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatrio. A eventualinobservncia desse postulado pelo legislador impor ao ato estatal por ele elaborado e produzidoa eiva de inconstitucionalidade (Mandado de Injuno n. 58, relator p/ o ac. Min. Celso de Mello,julgamento em 14-12-90, DJ de 19-4-91).

por esse motivo, por exemplo, que o Poder Pblico no poder impor limitao de idade para oacesso dos candidatos s diversas carreiras pblicas civis, por meio de concurso pblico, a no ser quehaja um motivo legitimador para tal limitao, em razo da natureza das atribuies do cargo a serpreenchido, sob pena de violao ao princpio da igualdade, bem como norma do art. 7, inciso XXX,da Constituio Federal14, que probe a adoo de critrio de admisso por motivo de idade.

Esse entendimento, alis, j se encontra consolidado na jurisprudncia ptria, inclusive do S upremoTribunal Federal, que editou, sobre o tema, a S mula 683, nos seguintes termos: O limite de idadepara inscrio em concurso pblico s se legitima em face do art. 7, III, da Constituio, quando possaser justificado pela natureza das atribuies do cargo a ser preenchido.

Ainda sobre o tema, Alexandre de Moraes15 lembra-nos que o Conselho Nacional de Justia (CNJ) jdecidiu ser incabvel a fixao de idade mxima de 45 anos, como requisito para o ingresso naMagistratura, uma vez que tal imposio no se justifica pela natureza das atribuies do cargo demagistrado, cujo texto constitucional permite, para ingresso no S upremo Tribunal Federal e nosTribunais S uperiores, a idade limite de 65 anos. Vide CNJ, Plenrio, PCA n. 347, rel. Conselheira RuthCarvalho, deciso em 28-11-2006.

Por fim, no que se refere ao particular16, este no poder tratar os demais de maneiradiscriminatria, ferindo direitos fundamentais da pessoa por meio de condutas preconceituosas ouracistas, sob pena de responsabilizao civil e at mesmo criminal, quando o ato for tipificado comocrime. No poder o particular, por exemplo, adotar qualquer critrio discriminatrio em relao asexo, idade, origem, raa, cor, religio ou estado civil, para contratao de empregados17.

Por outro lado, com amparo na excelente lio de Marcelo Novelino18, no podemos deixar deressaltar que a aplicao do princpio da igualdade, no tocante aos particulares, no pode se dar com amesma intensidade que ocorre em relao aos poderes pblicos, em respeito autonomia da vontade,princpio basilar nas relaes interprivadas. Com efeito, o que se veda ao particular ocomportamento preconceituoso ou discriminatrio, no sendo legtimo retirar-lhe, por exemplo, odireito a tentar obter lucros em uma atividade negocial, em detrimento da outra parte contratante.

S egundo famoso estudo de Celso Antnio Bandeira de Mello, para se verificar se uma normainfraconstitucional observa o princpio da isonomia, basta examinar se existe um pressuposto lgico queautorize aquela diferenciao. Em outras palavras, o tratamento diferenciado ser juridicamentelegtimo caso exista uma finalidade razovel que justifique, racionalmente, a desequiparao operadapela lei ou pelo ato normativo. o que se pode inferir da prpria lio do autor, conforme trecho aseguir transcrito:

Ento, no que atina ao ponto central da matria abordada procede afirmar: agredida aigualdade quando o fator diferencial adotado para qualificar os atingidos pela regra no guardarelao de pertinncia lgica com a incluso ou excluso no benefcio deferido ou com a inseroou arredamento do gravame imposto.Cabe, por isso mesmo, quanto a este aspecto, concluir: o critrio especificador escolhido pela lei,a fim de circunscrever os atingidos por uma situao jurdica a dizer: o fator de discriminao pode ser qualquer elemento radicado neles. Todavia, necessita, inarredavelmente, guardarrelao de pertinncia lgica com a diferenciao que dele resulta. Em outras palavras: adiscriminao no pode ser gratuita ou fortuita. Impende que exista uma adequao racionalentre o tratamento diferenciado construdo e a razo diferencial que lhe serviu de supedneo.Segue-se que, se o fator diferencial no guardar conexo lgica com a disparidade de tratamentosjurdicos dispensados, a distino estabelecida afronta o princpio da isonomia19.

Alm daquela hiptese mencionada, uma norma infraconstitucional tambm observar o princpioda isonomia quando a diferenciao por ela instituda estiver amparada em expressa disposioconstitucional, uma vez que, nesse caso, foi o prprio constituinte quem fez o juzo de valor. o quepodemos depreender, por exemplo, da regra fixada pelo art. 5, inciso II, da nossa Lei Maior, queconfere igualdade entre homens e mulheres, nos termos da Constituio.

O princpio da igualdade tambm deve incidir, importante insistirmos, sobre a edio e aplicaodas normas processuais. E como nos lembra Marcus Vinicius Rios Gonalves20, referida paridade nopode ser apenas formal, uma vez que nem todos tm as mesmas condies econmicas, sociais outcnicas. Deve-se buscar, na medida do possvel, a denominada igualdade material entre as partes, pormeio da aplicao da antiga frmula: tratar os iguais igualmente, e os desiguais desigualmente, na

medida de sua desigualdade.O princpio da isonomia, dirigido expressamente ao juiz, na seara do direito processual, est

explicitado, por exemplo, no art. 7, do Cdigo de Processo Civil vigente, o qual assegura s partes, emcarter expresso, a paridade de tratamento em relao ao exerccio de direitos e faculdadesprocessuais, aos meios de defesa, aos nus, aos deveres e aplicao de sanes processuais.Reforando essa igualdade, o art. 139, inciso I, do mesmo diploma processual, impe ao juiz o dever dedirigir o processo assegurando s partes igualdade de tratamento.

Por fora daqueles dispositivos processuais, o juiz dever exercer sua atividade jurisdicional, durantetoda a conduo do processo e at a prolao da sentena, de maneira a garantir, tanto quanto possvel,a igualdade entre as partes litigantes, conferindo-lhes, por exemplo, as mesmas oportunidades demanifestao, inclusive para falar sobre as alegaes e documentos produzidos pela outra parte (ochamado contraditrio).

Por outro lado, diversas normas de direito processual buscam, de alguma forma, conceder a umadas partes do processo algum favorecimento ou privilgio, justamente para tentar alcanar a chamadaigualdade material entre as partes litigantes. o caso, por exemplo, dos prazos privilegiados conferidosao Ministrio Pblico21, Unio, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municpios, e suas respectivasautarquias e fundaes pblicas22, e tambm Defensoria Pblica23, conforme normas fixadas,respectivamente, pelos arts. 180, 183 e 186, do Cdigo de Processo Civil.

Referidas normas, j existentes na legislao processual anterior (em termos semelhantes, porm atmais favorveis que as atuais), so perfeitamente constitucionais, mesmo fixando prazos privilegiadoss pessoas e aos rgos mencionados no pargrafo anterior. Isso porque existe um fundamento (umpressuposto lgico) a justificar aquele tratamento no isonmico, qual seja, a existncia de um grandenmero de processos em que referidos entes atuam, e tambm a necessidade de observncia dosprincpios da supremacia do interesse pblico sobre o privado e da indisponibilidade do interessepblico.

Na mesma toada, podemos tambm citar a norma do art. 496, incisos I e II, do Cdigo de ProcessoCivil, que determina a observncia do duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito seno depois deconfirmada pelo tribunal (o chamado reexame necessrio) a sentena produzida contra a Unio, osEstados, o Distrito Federal, os Municpios e suas respectivas autarquias e fundaes de direito pblico,ou que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo fiscal.

PRINCPIO DA IGUALDADE (ISONOMIA)

Em que pese o princpio da igualdade, tambm denominado de princpio da isonomia, no serpropriamente um princpio constitucional processual, repercute inequivocamente sobre o processo. AConstituio Federal de 1988 garante expressamente, j no incio do caput do art. 5, o direito igualdade. Referido princpio dirige-se no s ao legislador, como tambm ao aplicador do direito, e, ainda, aoparticular. Quanto ao legislador, o princpio em anlise o compele a editar normas no discriminatrias, queno estabeleam diferenciaes relativas idade, raa, condio social, sexo, religio e outras do gnero, a

no ser que haja permisso constitucional expressa, ou um fundamento legtimo para tal diferenciao. O princpio da igualdade tambm deve incidir sobre a edio e aplicao das normas processuais. Dirigidoexpressamente ao juiz, est previsto no art. 139, inciso I, do Cdigo de Processo Civil, o qual dispeexpressamente que o juiz dirigir o processo conforme as disposies daquele Cdigo, competindo-lheassegurar s partes igualdade de tratamento. Por fora daquele artigo, o juiz dever exercer sua atividade jurisdicional, durante toda a conduo doprocesso e at a prolao da sentena, de maneira a garantir, tanto quanto possvel, a igualdade entre aspartes litigantes, conferindo-lhes, por exemplo, as mesmas oportunidades de manifestao, inclusive para falarsobre as alegaes e documentos produzidos pela outra parte.

1.7 Princpio da legalidade

Do mesmo modo que o princpio da igualdade ou isonomia, o princpio da legalidade no propriamente um princpio processual. Contudo, da mesma forma que aquele, repercuteinequivocamente sobre as normas processuais, razo pela qual ser aqui examinado, mesmo que demaneira breve. Nos termos do art. 5, inciso II, da Constituio de 1988, ningum ser obrigado afazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei.

O termo lei, a toda evidncia, refere-se no s lei formal, conforme espcies normativasrelacionadas expressamente no art. 59, da Carta Magna24, como tambm a todo e qualquer atonormativo, editado pelo Poder Pblico, dotado de abstrao, autonomia e generalidade. Para maioresesclarecimentos sobre o tema, vide Captulo 6 deste livro.

O princpio da legalidade encontra fundamento na presuno de que a lei a expresso da vontade damaioria . Trata-se referido princpio, sem dvida alguma, da base do Estado de Direito25. S a lei podevalidamente criar obrigaes ou restringir direitos. E, na seara processual, todos os direitos, deveres enus das partes, no transcorrer do processo, so expressamente fixados pela lei.

Com efeito, como vimos anteriormente, o processo o meio ou instrumento institudo pelo Estadopara viabilizar o exerccio de sua funo jurisdicional, para a soluo dos litgios que lhe foremsubmetidos a julgamento. E o processo, importante frisar, deve ter suas regras institudas por lei, paraque validamente possa criar direitos, deveres e nus processuais, trazendo, assim, segurana jurdica prestao jurisdicional.

Como tambm j mencionado, diversas normas processuais esto consignadas no prprio textoconstitucional. a Carta Magna, por exemplo, quem estabelece as diversas competncias do S upremoTribunal Federal e dos Tribunais S uperiores. na Lei Maior que se encontram, igualmente, diversasnormas relativas jurisdio constitucional, com fixao das regras-matrizes dos chamados remdiosconstitucionais e das diversas aes do controle concentrado de constitucionalidade.

Nos termos do art. 22, inciso I, da Constituio Federal, a competncia para legislar sobre direitoprocessual privativa da Unio. J no que se refere aos procedimentos diversas formas pelas quais osprocessos se desenvolvem a competncia para legislar concorrente (art. 24, inciso XI), cabendo Unio estabelecer normas gerais, que podem ser suplementadas por leis editadas pelos Estados e pelo

Distrito Federal.Na seara infraconstitucional, temos importantes diplomas que regulamentam a formao e o

desenvolvimento regular do processo. o caso do Cdigo de Processo Civil, que contm normas, porexemplo, que estabelecem os requisitos da petio inicial, que preveem os diversos tipos deprocedimentos, que fixam a forma como o ru deve ser citado (sob pena de nulidade), que normatizama produo de provas, que tratam da sentena e das diversas espcies de recursos.

PRINCPIO DA LEGALIDADE

O princpio da legalidade encontra fundamento na presuno de que a lei a expresso da vontade damaioria. Trata-se da base do Estado de Direito. S a lei pode validamente criar obrigaes ou restringirdireitos. E, na seara processual, todos os direitos, deveres e nus das partes, no transcorrer do processo, soexpressamente fixados pela lei. Diversas normas processuais esto consignadas no prprio texto constitucional. a Carta Magna, porexemplo, quem estabelece as diversas competncias do Pretrio Excelso e dos Tribunais Superiores. na LeiMaior que se encontram, igualmente, diversas normas relativas jurisdio constitucional, com fixao dasregras-matrizes dos chamados remdios constitucionais e das diversas aes do controle concentrado deconstitucionalidade. Na seara infraconstitucional, temos importantes diplomas que regulamentam a formao e odesenvolvimento regular do processo. o caso do Cdigo de Processo Civil, que contm normas, porexemplo, que estabelecem os requisitos da petio inicial, que preveem os diversos tipos de procedimentos,que fixam a forma como o ru deve ser citado (sob pena de nulidade) e que tratam da sentena e das diversasespcies de recursos.

1.8 Princpio da irretroatividade da norma

Estreitamente relacionado com o princpio da legalidade temos o princpio da irretroatividade danorma , ambos consistindo em pilares do Estado de Direito. Referido princpio traduz-se naimpossibilidade de a lei ou ato normativo ser aplicado a fatos ocorridos antes do incio de sua vigncia.A irretroatividade da norma est amparada na ideia de que a lei destinada a reger fatos futuros, e nopretritos.

A Constituio Federal vigente, ao contrrio das Cartas Polticas de 1824 e 1891, no prev qualquervedao expressa retroatividade da lei. Diz apenas, no art. 5, inciso XXXVI, que a lei no prejudicaro direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada, fazendo parecer, a princpio, que airretroatividade somente ser vedada quando ofender quaisquer daquelas hipteses relacionadas nodispositivo constitucional em comento.

por tal razo, alis, que alguns poucos doutrinadores defendem que o princpio da irretroatividadeda norma no encontra amparo no ordenamento brasileiro, asseverando, inclusive, que o art. 6 davigente Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro, ao determinar expressamente que a lei em

vigor ter efeito imediato e geral, respeitados o ato jurdico perfeito, o direito adquirido e a coisajulgada, afastaria referido princpio. o caso, por exemplo, do ilustre Slvio Rodrigues26, como se podeverificar do trecho transcrito a seguir:

Muitos espritos liberais combatem, genericamente, a possibilidade de a lei retroagir, mas nome parece evidente a sua razo. Colin e Capitant, argumentando na defesa da lei retroativa,sustentam que, como a lei nova se supe melhor do que a anterior, e por isso mesmo que seinovou, deve ela aplicar-se desde logo. Tal argumento, a meu ver, irrespondvel. De resto, anova lei atende, em geral, a um maior interesse social, devendo, por conseguinte, retroagir.

Em concluso, o saudoso jurista afirma que, entre ns, a lei retroativa, e a supresso do preceitoconstitucional que, de maneira ampla, proibia leis retroativas constitui um progresso tcnico. A leiretroage, apenas no se permite que ela recaia sobre o ato jurdico perfeito, sobre o direito adquirido esobre a coisa julgada.

A grande maioria dos autores, contudo, pensa de maneira diversa. Caio Mrio da S ilva Pereira27,alis, afirma que a vedao retroatividade da norma, mais que princpio destinado apenas aosaplicadores da lei, destinado ao prprio legislador, no podendo sequer haver a edio de uma leiretroativa, para que no se contrarie a Constituio Federal. Eis os seus ensinamentos sobre o tema:

Outras vezes, o princpio da no retroatividade assentado com carter mais rijo do que umasimples medida de poltica legislativa, pois assume o sentido de uma norma de naturezaconstitucional. Com uma tal valncia, reflete muito maior extenso e, especialmente, maisprofunda intensidade. No apenas uma regra imposta ao juiz, a quem vedado atribuir leiefeito retro-operante. Mais longe do que isto, uma norma cogente para o legislador, sua vezproibido de ditar leis retroativas. Diferentemente daqueles sistemas que admitem possa olegislador manifestar claramente o propsito de impor s disposies legais efeito retroativo, aquiesta liberdade lhe negada. Assim, a lei que tenha um tal efeito vem maculada da eiva deinconstitucionalidade, cabendo ao Poder Judicirio declar-lo e recusar-lhe aplicao, pelamaioria absoluta dos tribunais (Constituio Federal, art. 97). O sistema brasileiro inscreve-senesta corrente.

A nica seara em que o princpio da irretroatividade da norma expressamente afastado pelaConstituio Federal, a do direito penal. Com efeito, nos termos do art. 5, inciso XL, de nossa LeiMaior, a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru. Neste dispositivo, o texto constitucionalconsagrou o princpio da irretroatividade da norma penal mais severa ou da retroatividade da norma penalmais benfica , que permite que, no mbito do direito penal, a norma retroaja, mas apenas parabeneficiar o ru (ou mesmo o j definitivamente condenado), no podendo, ao contrrio, piorar suasituao.

Portanto, no campo do direito penal a prpria Carta Magna prev a possibilidade de a norma penalretroagir, desde que para beneficiar o ru, podendo at mesmo excluir a antijuridicidade do fatoanteriormente tipificado como crime, como, alis, determina expressamente o art. 2 do Cdigo Penal,o qual dispe que ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,

cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria.No caso especfico do processo civil e do processo penal, por outro lado, a aplicao do princpio da

irretroatividade da norma incontroversa. Ao contrrio do direito penal (direito material), que permite,como vimos, a retroatividade de uma norma para beneficiar o ru, no processo civil e no processopenal vale a mxima tempus regit actum, ou seja, os atos processuais devem ser praticados emconformidade com a lei que vigia poca em que comeou o prazo para a sua realizao.

O vigente Cdigo de Processo Civil, alis, tornou inequvoca a impossibilidade de retroao danorma processual, ao dispor, em carter expresso, que a norma processual no retroagir e seraplicvel imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e assituaes jurdicas consolidadas sob a vigncia da norma revogada (art. 14).

Como consequncia disso, caso sobrevenha uma lei, por exemplo, que aumente ou mesmo diminuaprazo para recorrer, aps a intimao da parte acerca da sentena, o prazo recursal permanecer sendoo antigo, que vigia poca da intimao. Contudo, caso a nova lei seja editada antes da intimao paraoferecimento de contrarrazes de recurso, e apenas neste caso, a lei no dever ser aplicada, devendopermanecer o prazo anterior, tudo para que seja garantida a aplicao do princpio da isonomia,estudado anteriormente.

PRINCPIO DA IRRETROATIVIDADE DA NORMA

Estreitamente relacionado ao princpio da legalidade est o princpio da irretroatividade da norma,ambos consistindo em pilares do Estado de Direito. Traduz-se na impossibilidade de a lei ou ato normativoser aplicado a fatos ocorridos antes do incio de sua vigncia. A irretroatividade da norma est amparada naideia de que a lei destinada a reger fatos futuros, e no pretritos. Ao contrrio do direito penal (direito material), que permite a retroatividade de uma norma para beneficiar oru, no processo civil vale a mxima tempus regit actum, ou seja, os atos processuais devem ser praticadosem conformidade com a lei que vigia poca em que comeou o prazo para a sua realizao.

1.9 Princpio da segurana jurdica e a proteo constitucional ao direito adquirido, ao ato jurdicoperfeito e coisa julgada

A Constituio da Repblica, em seu art. 5, inciso XXXVI, declara que a lei no prejudicar odireito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada. Temos, neste dispositivo constitucional, oprincpio da segurana jurdica , consubstanciado na proteo, conferida pela Carta Magna, ao direitoadquirido, ao ato jurdico perfeito e coisa julgada. Como nos lembra Leo van Holthe28, o princpio dasegurana jurdica representa uma garantia para o cidado ao limitar a retroatividade das leis,impedindo que uma lei nova prejudique situaes j consolidadas sob a vigncia de uma lei anterior.

Os conceitos de direito adquirido, ato jurdico perfeito e coisa julgada no esto na ConstituioFederal. Quem os traz a Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro29, nos pargrafos de seuart. 6. Nos termos daquele diploma legal, direito adquirido aquele que o seu titular, ou algum por

ele, possa exercer, como aquele cujo comeo do exerccio tenha termo prefixo, ou condiopreestabelecida inaltervel, a arbtrio de outrem. Ato jurdico perfeito, por sua vez, o j consumadosegundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. E coisa julgada , por fim, a deciso judicial de quej no caiba recurso.

Dito em outras palavras, direito adquirido aquele que j se encontra incorporado ao patrimniojurdico de seu titular, que poder exerc-lo, pessoalmente ou por intermdio de algum por eledesignado, quando (e se) o desejar. imperioso esclarecer, por outro lado, que a proteoconstitucional ao direito adquirido no significa que este no pode ser mitigado, ou mesmo suprimido,por legislao posterior. Referida legislao, importante esclarecer, s no poder ter efeitos retroativos,devendo valer para o futuro.

Com efeito, como nos ensina Manoel Gonalves Ferreira Filho30, caso no fosse permitida a restrioou supresso de um direito adquirido por legislao superveniente, o legislador tornar-se-iapraticamente impotente, j que toda alterao de leis, ou edio de novas, atinge, do instante dapublicao em diante, direitos adquiridos. Conclui sua excelente lio ponderando que no h direitoadquirido permanncia de um estatuto legal.

Essa realidade, alis, j vem sendo ressaltada pelo prprio S upremo Tribunal Federal, que j decidiuexpressamente, em diversas oportunidades, pela impossibilidade de se alegar a existncia de direitoadquirido contra mudana de regime jurdico. S obre o tema, sugerimos a leitura dos seguintesacrdos: S upremo Tribunal Federal, Pleno, ADI n. 255/DF, rel. Min. Ellen Gracie, j. 2-5-2003 eSupremo Tribunal Federal, 2 Turma, Agravo Regimental no Recurso Extraordinrio com agravo (ARE)n. 676860/GO, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 22-4-2014, DJe 8-5-2014.

O ato jurdico perfeito, ao seu turno, aquele que j se encontra apto a produzir todos os efeitos porele previstos, por ter reunido todos os requisitos necessrios sua formao. Conforme ressalta adoutrina, o ato jurdico perfeito est ligado ideia da observncia aos requisitos formais do ato, sendocerto, ademais, que no necessita ter efetivamente comeado a produzir os efeitos jurdicospretendidos, bastando a potencialidade de tal produo31.

A coisa julgada , por fim, refere-se deciso judicial (sentena ou acrdo) que se tornou imutvelpor no mais estar sujeita a qualquer recurso. importante esclarecer, por outro lado, que a coisajulgada pode se referir tanto imutabilidade da deciso no mbito exclusivo do processo em que foiproduzida, como tambm impossibilidade de que o mesmo pedido seja novamente apreciado peloPoder Judicirio, em qualquer outro processo. No primeiro caso temos a denominada coisa julgadaformal e no segundo, a coisa julgada material.

Como nos ensina Marcus Vinicius Rios Gonalves32, no h propriamente duas espcies de coisajulgada, como preconizam alguns. Trata-se, na realidade, de um fenmeno nico ao qualcorrespondem dois aspectos, um de cunho meramente processual, que se opera no mesmo processo noqual a sentena proferida, e outro que se projeta para fora, tornando definitivos os efeitos da deciso,e impedindo que a mesma pretenso seja rediscutida em juzo, em qualquer outro processo.

No Cdigo de Processo Civil vigente, a coisa julgada foi tratada a partir de seu art. 502. Nos

expressos termos deste dispositivo legal, denomina-se coisa julgada material a autoridade que tornaimutvel e indiscutvel a deciso de mrito no mais sujeita a recurso. J o art. 508, do mesmo diplomalegal, dispe expressamente que, transitada em julgado a deciso de mrito, considerar-se-odeduzidas e repelidas todas as alegaes e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimentoquanto rejeio do pedido.

Ainda sobre a proteo constitucional coisa julgada, imperioso ressaltar que referida garantia, damesma forma que se d com os demais direitos e garantias fundamentais, no absoluta. Tanto isso verdade que, nos dias atuais, tanto a doutrina como a jurisprudncia ptria vm preconizando aaplicao da denominada relativizao da coisa julgada nas hipteses em que esta ltima tiver sidoproduzida em franca desarmonia com outros valores igualmente protegidos por nossa Lei Maior, fatoque faz surgir a j conhecida coisa julgada inconstitucional. Com efeito, na excelente lio de MarceloNovelino33,

A relativizao da coisa julgada tem como um de seus fundamentos o princpio da relatividade(ou da convivncia das liberdades pblicas), segundo o qual nenhum direito, por mais importanteque seja, pode ser considerado absoluto, por encontrar limites decorrentes de outros direitosconstitucionalmente consagrados. Como nos lembra o renomado autor, se nem mesmo ainviolabilidade do direito vida absoluta, o que dizer da coisa julgada que, assim como asdemais garantias, no um objetivo em si mesmo, mas um meio para se proteger determinadosdireitos e alcanar determinados valores.

Ademais, o Cdigo de Processo Civil tambm prev a utilizao de uma ao especfica, destinada arescindir a deciso definitiva de mrito, ou seja, a coisa julgada material. Trata-se da denominada aorescisria , disciplinada a partir do art. 966, daquele diploma legal34. Referida ao poder ser propostapor quem foi parte no processo ou o seu sucessor a ttulo universal ou singular, pelo terceirojuridicamente interessado e pelo Ministrio Pblico (art. 967), como regra35, no prazo de dois anos,contados do trnsito em julgado da ltima deciso proferida no processo (art. 975).

PROTEO CONSTITUCIONAL AO DIREITO ADQUIRIDO, AO ATO JURDICO PERFEITO E COISA JULGADA

A Constituio da Repblica declara que a lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito ea coisa julgada (art. 5, XXXVI). Temos, neste dispositivo constitucional, o princpio da segurana jurdica. Os conceitos de direito adquirido, ato jurdico perfeito e coisa julgada no esto na Lei Maior. Quem ostraz a Lei de Introduo s Normas do Direito Brasileiro, nos pargrafos de seu art. 6. Direito adquirido aquele que j se encontra incorporado ao patrimnio jurdico de seu titular, que poderexerc-lo, pessoalmente ou por intermdio de algum por ele designado, quando (e se) o desejar. Ato jurdico perfeito aquele que j se encontra apto a produzir todos os efeitos por ele previstos, por terreunido todos os requisitos necessrios sua formao. Coisa julgada refere-se deciso judicial (sentena ou acrdo) que se tornou imutvel por no mais estar

sujeita a qualquer recurso. A coisa julgada pode se referir tanto imutabilidade da deciso no mbito exclusivo do processo em que foiproduzida (coisa julgada formal), como tambm impossibilidade de que o mesmo pedido seja novamenteapreciado pelo Poder Judicirio, em qualquer outro processo (coisa julgada material).

1.10 Princpio da inafastabilidade da jurisdio

Conforme regra fixada pelo art. 5, inciso XXXV, da Constituio de 1988, a lei no excluir daapreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito36. Temos ali a consagrao, pelo textoconstitucional, do denominado princpio da inafastabilidade da jurisdio, tambm conhecido comoprincpio do controle jurisdicional, do livre acesso ao Poder Judicirio, da inafastabilidade da tutelajurisdicional, ou, ainda, princpio da universalidade ou da ubiquidade da jurisdio.

Referido princpio tem por objetivo assegurar o direito a uma tutela jurisdicional a todos que delanecessitem. Trata-se, portanto, do princpio que garante s pessoas, tanto naturais como jurdicas, querde direito pblico quer de direito privado, o acesso jurisdio, e que exercido, como j vimosanteriormente, por meio do direito de ao.

Contudo, como nos esclarece Cndido Rangel Dinamarco37, o princpio da inafasta