Guilherme Studart - Notas Para a Historia Do Ceara - 01

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  • 8/6/2019 Guilherme Studart - Notas Para a Historia Do Ceara - 01

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    NOTAS

    PARA

    A HISTRIA DO CEAR(SEGUNDA METADE DO SCULO XVIII)

    PELO

    DR. GUILHERME STUDARTnatural da cidade de Fortaleza, mdico do Hospital de Caridade

    de Fortaleza, membro da British Medical Association de Londres,do Instituto Histrico Geogrfico Etnogrfico Brasileiro, do Instituto

    do Cear, da Sociedade de Geografia de Paris, da Sociedade Bibliogrficada Frana, da Sociedade de Geografia do Havre, do Instituto

    Arqueolgico e Geogrfico Pernambucano, da Sociedade deGeografia do Rio de Janeiro, do Gabinete de Leitura do Aracaty,

    ex-diretor do Gabinete Cearense de Leitura, membro, eleitopor trs vezes, do Conselho Superior de

    Instruo Pblica do Cear.

    LISBOATIPOGRAFIA DO RECREIO

    109 Rua da Barroca 109

    1892

    Sumrio

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    Duas Palavras

    AO ENTRANHADO amor, que voto ao Cear,

    deve atribuir-se a publicao deste humilssimo trabalho.

    Fruto de persistentes investigaes, feitas nas fontes as maispuras que foi-me dado encontrar, e para o que precisei despender longo eprecioso tempo e no pequeno cabedal, meu livro revelar que procuro co-laborar, certo todavia da pequenez do contingente levado por mim obracomum, para que seja conhecida e discutida a vida histrica dos nossosmaiores e d-se-lhes, portanto, o quinho, que merecerem, na elaboraodas idias e na excecuo dos mltiplos fatos, que tem tornado com justi-a o povo cearense um povo parte na grande famlia brasileira.

    Muito do presente livro j no novo por haver eu estampadoalguns dos seus captulos na Revista Trimensal do Instituto do Cear,publicao digna a todos os respeitos do patrocnio pblico, sobretudo pelos fins patriticos que visa, mas nele achar agora o leitor no sampliadas e corrigidas como concatenadas e obedecendo rigorosa ligaohistrica pginas, que andavam dispersas naquele importante repositrio,e muitas outras inditas.

    A est meu livro. Receba-o a crtica com o rigor, que deve

    haver para as obras deste gnero.

    Sumrio

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    Da minha parte nas apreciaes criteriosas e desapaixonadas

    sobre seu valor beberei lies e adquirirei incentivos para entregar pu-blicidade outros trabalhos, que tenho em mos e com os quais distraio-medas agruras de minha vida de mdico.

    Lisboa, 15 de julho de 1892.

    DR. GUILHERME STUDART

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    AO INSTITUTO DO CEAR

    ________

    AO INSTITUTO HISTRICO,

    GEOGRFICO E ETNOGRFICO BRASILEIRO

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    Captulo I

    GOVERNO DE QUARESMA DOURADO. OUVIDORIA DEPROENA LEMOS. JERNIMO DE PAZ. MINAS DE S. JOS DOSCARIRIS. LVARES DE MATOS.

    AS PGINAS, que iniciam este trabalho, constituem

    por assim dizer um captulo indito da vida do Cear-colnia.Digo indito porque o que h de publicado, e cifra-se isso em

    ligeiras informaes colhidas por Theberge nos livros da Cmara de Ic,explora o assunto muito pela rama, alm de conter algumas inexatides.Tracei-as diante de documentos de cuja autenticidade impossvel duvidar.

    Tm elas referncia principalmente ao descobrimento das mi-

    nas de S. Jos dos Cariris, tentativas para sua explorao e servios pres-tados nesse desideratumpor Jernimo Mendes de Paz e seus companhei-ros de expedio, ou em outros termos, ocupam-se da empresa, que re-sume, ao iniciar-se a segunda metade do sculo XVIII, a vida inteira doshabitantes do Cear e a pronunciao dos homens, que o governavam.

    Com estas linhas, que encerram simples e rigorosa exposioobjetiva, assento os alicerces para trabalhos de crescido flego, forneoos elementos para crnicas e estudos histricos de maior valia; publicandoem extenso ou fragmentados interessantes documentos, que em breveestariam perdidos para nossa histria, fica-me o prazer de haver aberto

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    nos campos obscuros da crnica vereda a mais competentes caminha-

    dores e de ter colaborado uma vez mais para o esclarecimento de pon-tos ignorados do passado da terra, que estremeo.Governava a capitania de Pernambuco como seu tenente-ge-

    neral Lus Jos Correia de S quando ao Recife foi ter um moo denome Jos Honrio de Valadares Abuim.

    Ali chegado, impetrou ele por intermdio do Desembarga-dor Manuel da Fonseca Brando, uma conferncia ao tenente-generale contou-lhe que numa de suas viagens tendo de atravessar os Cari-

    ris-Novos, distrito do Cear, l verificara a existncia de abundantesminas de ouro e que assistira at a extrao do precioso metal de al-guns lugares, o riacho do Jenipapeiro por exemplo; acrescentava quenos Cariris fazia-se toda diligncia para que semelhante notcia notranspusesse os limites da Capitania e menos chegasse aos ouvidosdele governador.

    De tais circunstncias e minuciosidades cercou Honrio Vala-dares suas informaes, com tais cores desenhou o quadro da riqueza a

    aproveitar nos lugares por onde transitara, que ficou desde logo resolvidaa expedio para o local designado de um pequeno destacamento sob ocomando de militares briosos e inteligentes.

    Tamanha foi a impresso feita no esprito do tenente-generalque desejando no perder instante que pudesse aproveitar nas utilida-des da Real Fazenda e to bem na convenincia dos povos a que suaMajestade generosa e benignamente atende teria ele dado logo as mi-nas a manifesto e repartido as terras por diversos exploradores se nofosse disto tolhido por uma Ordem de D. Joo V endereada ao Condede Sabugosa em data de 27 de maro de 1730 na qual se probe o esta-belecimento de minas, que estejam distantes das Gerais, sem prvio be-neplcito do Rei.

    Essas licenas, porm, no demoravam-se muito em vir deLisboa, Portugal, que mandara arrancar no Brasil as plantas forragnease as rvores frutferas que pudessem fazer competncia s similares doOriente, quando seus amores voltavam-se de todo para suas colniasdaquela parte do globo, h muito mudara de ttica e tinha os olhos fitosna terra americana, de cujas entranhas jorrava o metal, que lhe recheava

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    as arcas, realizando seus sonhos de grandeza e facilitando-lhe mil aven-

    turas e extravagantes desperdcios.Cegam-no os descobrimentos de Roberto Dias nos sertesbaianos; deslumbram-o as minas de Belchior Morea em Sergipe e vai apesquis-la Dom Lus de Sousa em setembro de 1619; no mesmo anoSalvador Correia de S e seu filho Martim de S so incumbidos das mi-nas de S. Paulo; no descansa um prncipe regente enquanto no encar-rega em 1674 ao Padre Antnio Raposo de ir ver o paradeiro do caboda tropa e gente que saindo da vila de S. Paulo, foram ter s cabeceirasdo Gro-Par e rio dos Tocantins, e cuja demora por aqueles stios davalugar suspeita de que haviam encontrado algum mineral de ouro ou outrosmetais e drogas; as minas do distrito dos Ics preocupam o esprito deDuarte de Vasconcelos, Plcido de Azevedo e Marqus de Montebelo;at mesmo o documento mais antigo, que conheo sobre a histria doCear (1614) e Regimento dado a Jernimo de Albuquerque por Gasparde Sousa para a Conquista do Maranho, no esquece os minerais daserra da Buapava.1

    Por toda parte e em todo tempo a ambio do ouro, a azfa-

    ma por enriquecer o Errio!Por esses tempos mesmo, em 1750, abolido o mtodo com

    que era cobrado o quinto do ouro em Minas Gerais, tinham sido criadas2 intendncias, uma para Bahia e outra para o Rio de Janeiro e para estefoi nomeado o Bacharel Joo Alves Simes com a merc da beca porCarta de 10 de dezembro.

    No entretanto 3 dias depois da audincia concedida a JosHonrio chegava ao tenente-general Correia de S um prprio com a

    carta de Domingos lvares de Matos, coronel da Ribeira dos Cariris,contendo notcias mais amplas sobre os descobrimentos e acompanha-da de uma relao de nove riachos, onde era encontrado o metal, e dascompetentes amostras; decorridos poucos dias chegava-lhe igualmenteuma carta do capito-mor do Ic, Bento da Silva de Oliveira, confir-mando o importante boato, que j ento fazia o assunto das conversa-

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    1 Ver ele Capp.am se pode alcanar notcia certa das cousas da serra da Buapava, onde

    se diz que h minerais, e de quaisquer outros que houver daquelas partes encarregan-do aos ndios que lhe traro algumas pedras e mostras. (Cap. 24 do Regimento.)

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    es dos habitantes do Recife, naturalmente inclinados a dar-lhe vulto e

    argumentar-lhe as propores.Renasciam as esperanas do famoso El-Dourado, surgia denovo a febre do ouro, que escaldara a mente de Pero Coelho e seus imi-tadores.

    As duas cartas e a relao dos riachos foram remetidas ael-Rei na frota, que saiu do Recife em 5 de julho de 1752, com uma de-talhada enumerao dos acontecimentos feita pelo tenente-general, quepara maior confirmao de tudo enviou na nau de Lisboa, partida da

    Bahia em 3 de maro de 1753, nova relao de riachos, e estes em n-mero de 15, dos quais se tiraram amostras de ouro pesando 28 oitavas,sendo quase todo ele de 23 quilates.

    Nem tanto era preciso para que se acendesse a cobia lusitana.As licenas impetradas foram concedidas e sem dificuldade, mas antesmesmo que chegassem, o desejo, que nutria o tenente-general de garan-tir os interesses da Fazenda Real, aconselhara-o a que fizesse partir paraseu destino a projetada expedio.

    A escolha para chefe do troo expedicionrio recaiu sobreJernimo Mendes de Paz, que recebeu de ajuda de custo 200$000, sen-do-lhe imediatos em posto Francisco lvares de Pugas e Francisco LusGuedes, aquele tenente e este alferes.

    Francisco Lus Guedes teve 60$000 de ajuda de custo.A partida foi fixada para dias de maio de 1752.O oficial escolhido para a importante comisso era bem co-

    nhecido de Correia de S, que a respeito dele dizia em carta escrita aoministro Diogo de Mendona Corte-Real a 10 de maio de 1754.

    O capito Jernimo Mendes um oficial com capacidadepara tudo e muito merecedor de que S. Majestade o atenda honrando-ocom o maior patente do que a de capito e remediando-o com soldomais avantajado, porque certamente o que tem no lhe chega para o gas-to que est fazendo nos Cariris aonde como comandante daquele distri-to, e como liberal, no pode negar a sua casa e a sua mesa a qualquerpessoa de bem que ali chega.

    V. Ex pode segurar a S. Majestade que dificultosamente seachar em todo o Brasil oficial mais capaz para qualquer expedio,

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    nico para a que necessitar de especial inteligncia, e a proporo desta

    a sua necessidade porque no h oficial da sua graduao mais pobrepois no tem outra agncia mais que o seu soldo com que se sustenta asi e a sua me.

    Jernimo de Paz era, portanto, para Correia de S o que forapara o Conde de Sabugosa o intendente das Minas Novas, Pedro LeolinoMariz, isto , o homem de plena confiana.

    O prprio Proena Lemos, alis insuspeito, fazia dele tambmopinio favorvel. Prova-o uma carta sua de 26 de dezembro de 1753 di-zendo ao general:

    A Intendncia est muito bem empregada no Capito JernimoMendes de Paz e comum nos Prncipes encarregarem as execues dassuas ordens a quem delineia as empresas.

    Essa carta escreveu ele no Aquiraz, j de volta dos Cariris.Na Nobiliarquia Pernambucana, obra de Antnio Jos Vitoriano

    Borges da Fonseca, encontro preciosa indicao sobre Jernimo de Paz.Diz dele o futuro governador do Cear: Jernimo Mendes

    de Paz, que nasceu no Recife a ... de abril de 17, muito bom estudantefilsofo e telogo, com perfeita inteligncia da lngua francesa, da geo-metria, da histria e de todas as belas letras. Serve a el-Rei desde os seusprimeiros anos e no presente de 1756 sargento-mor da Artilharia, co-mandante da de Pernambuco e Intendente das minas dos Cariris Novos,a que foi mandado com um destacamento logo que houve notcias delasno ano de 1753.

    Borges da Fonseca equivoca-se quanto ao ano, deveria dizer1752.

    Pode-se colher ainda no mesmo autor os precisos dados paraconstituir sua rvore genealgica.

    Foram seus progenitores Francisco Mendes de Paz e D. Britesde Sobral; segundo v-se do seguinte assentamento:

    Francisco Mendes de Paz, diz o autor da Nobiliarquia, nasceuem Olinda e foi batizado na capela de N. Senhora das Necessidades, doEngenho da Casa Forte, a 6 de junho de 1672; serviu a El-Rei e foi muitobom engenheiro. Morreu nesta praa do Recife com o posto de Capitode Artilharia, que ocupou muitos anos; no de 1732 casou com D. Brites

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    de Sobral, filha B. de Joo Feij de Freitas, irmo de Pedro Vilela Cid, pai

    do chantre Manuel de Freitas Barros, e de D. Maria de Sobral, viva deGabriel Gonalves, Capito Cabo da Fortaleza de Nazar, a qual era filhade Baltasar Ramos e de sua mulher Beatriz da Costa, neta por via paternade Gaspar Vaz e de Maria de Sobral, que se dizia ser irm do bispodAngola e por via materna neta do L.do Duarte de Figueiredo, cirurgio,natural de Lisboa, na freguesia de S. Nicolau, o qual era filho de Gregriode Figueiredo, que foi boticrio da Senhora Infanta D. Maria e do Mostei-ro da Luz, e de sua mulher Catarina de Sena, natural do Cabo.

    Deste matrimnio nasceram Jos Mendes, Maria de Sobral,Manuel de Paz que morreram todos meninos, e Jernimo de Paz.Outros apontamentos biogrficos a ajuntar.Mendes de Paz viveu sete anos no Rio de S. Francisco ocupa-

    do por ordem do governador Duarte Sodr Pereira na cobrana do RealDonativo e tinha em 1768 o posto de tenente-coronel segundo li emcarta de Borges da Fonseca a Joo Pereira Caldas, Governador do Piau.A carta tem a data de 20 de junho daquele ano. O Donativo a que me

    refiro foi o oferecido para os casamentos reais.Na poca determinada, que foi o dia 17 de maio, embarcou

    Jernimo de Paz com 30 soldados infantes com destino ao Aracati, don-de partindo chegou aps penosa viagem s minas de S. Jos, seu objetivo.Posteriormente seguiram o tenente Pugas e mais alguns soldados.

    Acompanhou-o Jos Honrio como v-se dos atestados, queele ajuntou a uma petio para Lisboa a propsito de um emprego, quepretendia.

    Esses atestados foram conhecidos no decurso desta narrativana ocasio competente.

    Ali encontrou a expedio a Lus Quaresma Dourado e Alexan-dre de Proena Lemos, o primeiro capito-mor e governador e o segundoOuvidor do Cear, aos quais tambm a fama do descobrimento haviaatrado e obrigado a irem verificar de visua existncia e a importncia doapregoado tesouro.

    Lus Quaresma sucedera a Pedro de Morais Magalhes, e sua

    patente de nomeao traz a data de 21 de janeiro de 1751; o outro subs-

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    tituir a Manuel Jos de Faria em 18 de fevereiro de 1749, havendo sido

    nomeado por proviso de 6 de maio de 1747.A posse de Quaresma teve lugar a 18 de agosto de 1751.Em 18 de abril de 1712, diz o Major Joo Brgido dos San-

    tos pg. 43 dos Apontamentos para a crnica do Cear, um capito-mor,residente na Paraba, noticiou ao governador-geral de Pernambuco queexistiam algumas minas de ouro no Cariri, e lhe enviou amostras dessemetal, procurando interess-lo na sua minerao. Depois de alguns anosserem passados, aquele governador comunicou esta notcia ao capi-to-mor e governador do Cear, e lhe ordenou que se procurasse asse-gurar da existncia dessas minas, dirigindo-se em pessoa a Misso Velha,onde se indicava existirem. Em conseqncia disto, o capito-mor LusQuaresma Dourado e o ouvidor Vitorino Soares Barbosa partiram doCear em demanda do Cariri em julho de 1752, chegando ao Ic emdias deste ms prosseguiram sua viagem para Misso Velha, onde procura-ram estudar as riquezas metlicas, que lhes eram indicadas. O resultadoporm de suas indagaes no correspondeu sua expectativa, e depoisde uma demora de dois meses o capito-mor regressou capital e

    comunicou ao governador-geral de Pernambuco que as minas desco-bertas no continham ouro em quantidade tal que conviesse ao governotomar sua conta a minerao; entretanto tinha por muito convenienteque, enquanto uma veia mais abundante no fosse descoberta, se deixasselivre a quem quisesse ocupar-se deste trabalho; contanto que fosse sendopago em favor da Fazenda Real a quinta parte do ouro recolhido, segundoos regulamentos em voga.

    Neste intuito ficou em Misso Velha o ouvidor Barbosa, o

    qual a se demorou cerca de um ano.Os mineiros depois de alguns ensaios de minerao poucolucrativos na Fortuna, nos Barreiros e em Misso Velha, haviam se con-gregado nos Morros Dourados, onde os trabalhos tomaram grande in-cremento atraindo novos especuladores. O povoado de Misso-Velhafoi escolhido para residncia do ouvidor e mais autoridades incumbidasda cobrana do quinto e para sua arrecadao se estabeleceu a uma ofi-cina e casa de inspeo.

    O governo de Pernambuco enviou ao mesmo tempo o Sargen-to-mor Jernimo Mendes de Paz, com uma fora numerosa a destacar nes-

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    ta povoao incumbindo-o no s da cobrana desse quinto, que reputava

    de grande vantagem para os cofres da capitania, como da polcia das minas.Esta medida era muito reclamada pelo estado de anarquia, a que tinha che-gado o pas. Um povo de emigrados e aventureiros, entregue a si mesmoou administrado por autoridades fracas e ignorantes, desenfreado e quasebrbaro, era o que ento povoava as minas do Cariri. Homens haviam, quefaziam profisso da coragem, batendo-se a cada passo e enchiam de terrore inquietao o espao, que a autoridade deixava vazio.

    Jernimo Mendes pde impor algum respeito a esses bandosindisciplinados e restaurou um pouco os costumes e a lei; mas por mui-to que se empenhasse nada pde conseguir para estabelecer uma boa ar-recadao do quinto, que devia perceber o Tesouro.

    Conservou muito tempo um numeroso piquete em S. Luziaa fim de apanhar o ouro de contrabando que conduzissem as pessoas,que se evadiam por esse ponto, onde tocava a nica estrada que condu-zia a Pernambuco; mas nem estas nem outras medidas puderam emba-raar extravio do ouro, e tanta m-f acabou por desgost-lo, enchendotambm de despeito o governo-geral da capitania e a corte de Lisboa.

    Em novembro de 1758 chegou ao Ic uma Ordem Rgia su-primindo as minas do Cariri, e desde ento ficaram os mineiros impedidosde fazer escavaes, comeando a se dispensarem uns, outros a volta-rem suas vistas para a agricultura, que era ento um bem fraco meio defazer fortuna.

    A corte de Lisboa, que no se pejara de motivar essa ordemcom a falta de pagamento do quinto, levou sua avareza at o excesso desuprimir para todo o Brasil (1767) o ofcio de ourives, comunicando aosque recalcitrassem em continuar nesta profisso no s o perdimento detoda a ferramenta como uma pena de priso.

    Esta medida, motivada ainda na m vontade com que os mi-neiros pagavam o quinto de seus ouros, apesar de muitas vezes iludida,subsistiu at 1819, poca em que o interdito foi levantado.

    Ao mesmo tempo que a minerao do ouro se fazia no Cari-ri, foram clebres os trabalhos mineralgicos da Mangabeira, os quaisderam origem ao povoado, que da se ficou conhecendo por S. Vicentedas Lavras da Mangabeira, hoje vila das Lavras.

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    Com a supresso dos trabalhos da minerao, partiu para

    Pernambuco o sargento-mor Jernimo Mendes de Paz, deixando umgrato nome em Misso Velha, entre cujos protetores pde ter um lugarmuito distinto.

    Sobre os registros da comarca do Ic, onde o ilustrado Dr.Theberge tem colhido as mais importantes informaes, comunica-nos eleter encontrado uma ordem datada de 10 de junho de 1769, pela qual oouvidor de ento incumbia a Alexandre Correia Arnaud de zelar e alugar ascasas, que o governo tinha feito edificar em Misso-Velha para administra-

    o e percepo do quinto, facultando-lhe que para que no fossem rouba-das fizesse tirar as portas velhas e portais, que ameaavam ruir.Por uma prova to viva se reconhece que j nessa poca no

    existia lavra de ouro no Cariri, e que seus habitantes eram j entradosem uma nova fase, a criao e agricultura exclusivamente.

    Preciso eu pr em evidncia o que de inexato e absurdo en-cerra a transcrio acima, na qual at o nome do ouvidor Proena Lemos trocado pelo de Vitorino Soares, que veio ao Cear no ano de 1756 e

    no podia, portanto, em 1752 ir ao Cariri em companhia de Dourado?Careo de fazer patente quanto distancia-se da verdade quem

    d como expedida em 1767 a Ordem Rgia, que suprimiu o ofcio deourives no Brasil, quando ela de data de 30 de julho de 1766, quemafirma que os efeitos dessa Ordem subsistiram at 1819, quando talOrdem foi abolida por alvar de 11 de agosto de 1815, quando por atode 30 de abril de 1816 j o governador Manuel Incio de Sampaio man-dava executar esse alvar no Cear?

    No mister haver cuidado em aceitar como certas as datascitadas por um cronista, que afirma que em 18 de abril de 1712 um capi-to-mor, residente na Paraba (o Capito-mor e governador da Paraba,2

    dever ele dizer), dera notcia para Pernambuco da existncia de minasno serto dos Ics quando a 18 de abril de 17123 o rei de Portugal refe-ria-se em carta a Flix Machado s informaes do dito capito-mor?

    Notas para a Histria do Cear 29

    2 Era ento capito-mor Joo da Maia da Gama.

    3 J. Brgido emenda-se no Res. Cron. (pg. 51), mas ainda assim diz ser de 19 de no-vembro a carta de Maia da Gama.

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    E a prova tem o leitor nas seguintes linhas, que se conservam

    na coleo Pombalina, da Biblioteca Nacional de Lisboa, vol. 115 dosmanuscritos, como conservam-se igualmente cartas sobre o assunto di-rigidas por Flix Machado a Duarte de Vasconcelos, Plcido de Azevedoe frei Cristvo de Jesus Maria, e circulares a autoridades militares da ca-pitania:

    Para o governador de Pernambuco Flix Jos Machado. Euel-Rei vos envio muito saudar. O capito-mor da Paraba em carta de 19de dezembro do ano passado me d conta com as notcias que pde ad-

    quirir de haver minas de ouro no centro dos Ics que confinam com osdaquela Capitania, que se acham possudas pelos da do Cear de dondese aparelhava gente para ir a elas por se ter alcanado ser muito o rendi-mento e de melhor qualidade o ouro porm de pouca segurana e defen-sa do stio por ter muitos capazes de se invadirem pelos inimigos pelacosta aonde no h fortificaes com que se defenda. E pareceu-meordenar-vos me informeis do stio em que se acham estas minas e a dis-tncia em que ficam da praia e se nela haver porto capaz em que pos-sam desembarcar os inimigos e se lhes ser fcil marcharem pela campa-nha, e se h agora na passagem de que se possam valer, e se as tais terrasso montuosas ou no e se as plancies so capazes de se fazer estradapor elas, e se h parte em que se possa impedir a sua entrada, e da riquezadas ditas minas e se sero de grande rendimento e se se poder embara-ar o descobrimento delas; e de tudo me remetereis um mapa para queinformado de todas as notcias possa tomar neste particular a resoluoque for mais conveniente a meu Real Servio.

    Escrita em Lisboa a 18 de abril de 1712. Rei.No se faz precisa a mxima cautela em aceitar as informa-

    es de um cronista, que diz que em Santa Luzia tocava a nica estradaque ia ter a Pernambuco, chama numeroso pessoal os 30 soldados, queacompanharam a Mendes de Paz e diz que em novembro de 1758 che-gou ao Ic uma Ordem Rgia, suprimindo as minas do Cariri e desdeento ficaram os mineiros inibidos de fazer escavaes, quando a 24 e25 de novembro desse ano que Lus Diogo Lobo da Silva expede aJernimo Mendes de Paz a comunicao de haver recebido a Ordem de

    12 de setembro mandando que fossem sustados os trabalhos de minera-

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    o na Capitania e ele se retirasse para o Recife com a tropa sob seu co-

    mando. E curioso que seja o Senador Pompeu, esprito lcido e en-tendido em cousas nossas, quem insira em obra sua por boas essas not-cias, preciosas como se diz ao iniciar-se nos Apontamentos o captulo mine-rao!

    Leiamos, porm, o prprio Theberge pg. 170 da 2 parte deseu Esboo Histrico, no cap. X, sob o ttulo Minerao no Cear:

    A 19 de dezembro de 1771, escreve ele, um Capito-mor

    Governador da Capitania da Paraba, informado de que nos Cariris No-vos, sertes do Ic, existiam minas de ouro, mandou examinar o caso ealcanou comprar algumas oitavas de p, que mandou como amostra corte de Portugal, dando-lhe parte da descoberta destas novas minas.

    A 18 de abril de 1712 escreveu el-Rei ao Capito-mor doCear comunicando-lhe o aviso que recebera no ano antecedente de sero ouro das minas do Cariri de excelente qualidade, e as minas de espe-rana de serem muito produtivas e rendosas, e o receio que tinha de se-

    rem as ditas minas invlidas por inimigos exteriores, em razo da poucadefenso das costas, cujas praias abertas se podem prestar a um desem-barque; por isto pede-lhe informaes circunstanciadas sobre estas mi-nas, sua distncia da praia, se h portos prximos que se prestem a umdesembarque, se h caminhos praticveis que conduzam a elas; se hgua, se o terreno montuoso ou plano; se ou no de fcil defenso;se se pode impedir a entrada nele; se fcil a fabricao de uma estradapara elas; e se h probabilidade de seu rendimento ser considervel.Ignoro o que respondeu o Capito-mor; mas deve-se supor que a infor-mao foi pouco favorvel, visto que decorreu tanto tempo antes de se-rem exploradas, salvo se esta demora foi ocasionada pelos grandes eprolongados distrbios, que se deram nos princpios do sculo XVIIIpor toda a Capitania, na ocasio da transferncia da vila para a Fortale-za, e nas guerras de Montes com Feitosas e de Ferros com Aos. A mes-ma guerra dos mascastes em Pernambuco e outras circunstncias fize-ram esquecer por tal forma as tais minas que no se tratou mais delasseno depois de novas informaes idas daqui para a corte em ocasio

    que ela se achava muito preocupada com a descoberta de minas.

    Notas para a Histria do Cear 31

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    Em virtude desta nova participao, a corte de Lisboa deu

    ao Ouvidor Alexandre Proena Lemos proviso de diretor e administradordas minas do Cear grande, e incumbiu-o de ir pessoalmente obser-v-las. O Governador-geral de Pernambuco expediu ordem ao Capi-to-mor Governador do Cear Lus Quaresma Dourado de acompanharo Ouvidor nesta explorao; e em julho de 1752 puseram-se ambos demarcha para o centro, passaram pelo Ic com um grande piquete de tro-pa regular, e da seguiram na direo do Arraial de S. Jos da MissoVelha dos Cariris, onde fizeram-se diversos ensaios de minerao naFortuna, nos Barreiros, nos Morros Dourados, e nas minas da Manga-

    beira, lugar estes pertencentes s freguesias do Ic e Cariris, mas osresultados no corresponderam expectativa.

    O Governador, pois, retirou-se para a vila da Fortaleza e deuparte do resultado ao Governador-geral de Pernambuco, que declaroupor um bando enviado ao do Cear para ser afixado em toda a Capitania,que visto as ditas minas do Cariri no serem bastante ricas de metal pre-cioso, para fazer conta Sua Majestade de as explorar s suas expensas,podia toda e qualquer pessoa que quisesse entregar-se sua extrao,

    contanto que se pagasse El-Rei o quinto e se lhe desse parte se por-ventura algum dia se descobrisse alguma veia mais abundante.Em virtude deste bando datado de 8 de setembro do mesmo

    ano, afluiu muita gente do Cariri atrada pela cobia de cavar ouro; e o Ou-vidor conservou-se na Misso Velha por longo espao de tempo a fim deinspecionar os trabalhos e regularizar a cobrana do quinto real.

    O Governador de Pernambuco mandou um destacamentode tropa de pr comandado pelo sargento-mor Jernimo Mendes de Paz

    para velar na segurana e fazer a polcia nas minas, onde o grande con-curso de vadios e vagabundos tinha produzido uma terrvel anarquia, osroubos e assassnios estavam-se reproduzindo a cada momento e ho-mens haviam que furtando-se ao trabalho da minerao s viviam dematar os mineiros para roub-los e enriquecerem com os seus despojos,de sorte que para obstar a continuao desse estado anormal, foi precisomuita energia da parte do comandante do destacamento, e a cooperaodo numeroso pessoal que trouxera.

    E como os mineiros queriam eximir-se de pagar o quinto aorei passando por contrabando todo o ouro que tiravam, foi necessrio o

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    uso de piquetes de tropas em todas as estradas e o governo tomou pro-

    vidncias inumerveis para obstar aquela subtrao criminosa impondopena severa aos contraventores, e aos capites de navios que levassemouro em p a seu bordo, mas tudo foi baldado, ou porque as minas real-mente rendiam pouco, ou porque se no pagava o imposto: o quintoportanto no rendia nada.

    A corte e o governo de Pernambuco desgostaram-se desteresultado e em conseqncia disto apareceu a 7 de setembro de 1758uma Ordem Rgia suprimindo as minas do Cariri e proibindo sob penasgraves que se continuassem ali os trabalhos de minerao.

    Por Carta Rgia de 25 do mesmo ms e ano foram abolidasno somente as minas do Cariri como todas as mais existentes nestaCapitania, a pretexto de serem prejudiciais ao Errio pblico, e aos par-ticulares, que nelas se empregavam; e para prevenir o extravio do ouroem todo o Brasil, a corte de Lisboa proibiu em novembro de 1767 aprofisso de ourives na sua descoberta da Amrica, com a cominao deserem-lhes tomados todos os utenslios da sua arte, se continuassem atrabalhar, a fim, dizia a ordem, de prevenir o extravio do ouro e da prata

    do fisco.O governo do Cear tinha mandado levantar quartos na po-

    voao da Misso Velha, tanto para o aquartelamento das tropas comopara a residncia dos empregados das minas; e como as tropas se reti-rassem para Pernambuco com seu comandante, que deixou boas recor-daes em toda a Capitania, o Ouvidor Vitorino Soares Barbosa, porportaria de 18 de junho de 1769, encarregou a Alexandre Correia Arnaudde tomar conta desses alojamentos, para servio das antigas minas dos

    Cariris Novos.A fica transcrito tudo o que a respeito escreveram J. Brgido eTheberge, autor, repito, a quem se tm socorrido os que ho procuradoestudar o assunto.

    A algum parecer longa a transcrio, mas -me preciso co-locar sob os olhos do leitor aquelas pginas dos apontamentos e do

    Esboo Histrico visto como estou a impugnar muitas de suas asseres eao iniciar este captulo da crnica do Cear aventurei a proposio deque pequeno e assim mesmo eivado de inexatides foi o legado daque-les estudiosos, que precederam atual gerao de investigadores.

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    Vejamos primeiro, embora rapidamente, os pontos em que dis-

    cordam Theberge, que diz haver colhido suas informaes nos arquivosdo Ic, e Brgido, que confessa haver obtido do mesmo Theberge as preci-osas notciascom que elaborou o artigo Minerao dos Apontamentos.

    Em Brgido, a data 18 de abril de 1712 aquela em que o ca-pito-mor da Paraba comunica ao tenente-general e governador de Per-nambuco a existncia de jazidas de ouro no Cariri; em Theberge a dataem que o rei de Portugal noticia ao capito-mor do Cear haver sidoavisado da existncia de minas nos Cariris por carta de 19 de dezembrode 1771 do capito-mor da Paraba, pede-lhe esclarecimentos e minis-tra-lhe instrues acerca das ditas minas; em Brgido o governador dePernambuco quem comunica a existncia das minas ao capito-mor doCear, Lus Quaresma Dourado, e ordena-lhe que siga em pessoa atMisso Velha a fim de verificar a veracidade dos boatos, em conseqn-cia do que o mencionado Quaresma e o ouvidor Vitorino Soares Barbosapartiram de Fortaleza em demanda do Cariri; em Theberge so a cortede Lisboa e o governador de Pernambuco que expedem ordens, aqueladiretamente ao ouvidor Alexandre Proena Lemos, nomeado diretor e ad-

    ministrador das minas, e o governador ao capito-mor Quaresmapara que acompanhe ao ouvidor na explorao; Brgido diz que emnovembro de 1758chegou ao Ic uma Ordem Rgia suprimindo as minasdo Cariri e desde ento ficaram os mineiros inibidos de fazer esca-vaes; em Theberge essa Ordem Rgia foi expedida em 7 de setembro,sendo secundada por uma outra em data de 25 do mesmo ms; Brgido es-creve que o povoado de Misso Velha foi escolhido para o lugar da resi-dncia do ouvidor e mais autoridades incumbidas da cobrana do

    quinto e para sua arrrecadao se estabeleceu a uma oficina e casa de inspeo;Theberge diz que o governo do Cear mandou levantar quartos na po-voao de Misso Velha tanto para o aquartelamento das tropas como pararesidncia dos empregados; em Brgido a comisso dada pelo ouvidor a Ale-xandre Correia Arnaud de 10 e em Theberge de 18 de junho de1769.

    Consideremos agora onde combinam os dois. Um e outroafirmam acordes que a ida de Lus Quaresma Dourado aos sertes daCapitania foi devida a ordens superiores, que Quaresma e o Ouvidorpuseram-se a caminho em julho de 1752, que em virtude dos resultados

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    das exploraes empreendidas pelos dois no corresponderem expec-

    tativa, voltou Quaresma Fortaleza e ficou o ouvidor em Misso Velha(por longo tempo diz Theberge, cerca de um ano diz Brgido) a fim derealizar a cobrana dos quintos reais, finalmente que, porquanto no sefazia rendosa Fazenda Real a explorao direta das minas, requereu ogovernador para Pernambuco que fosse permitido a qualquer pessoaentregar-se aos trabalhos de minerao. Tambm a ordem para supres-so do ofcio de ourives no Brasil foi expedida segundo um e outro em1767.

    Documentos, que possuo, provaro estarem muitas datas eno poucos fatos adulterados, atropelados nos escritos de Theberge eBrgido. Do ltimo ento pode-se afirmar, sem receio da pecha de exa-gerado ou injusto, que mal se aproveitar para a verdade histrica aquarta parte do que ele h publicado.

    Desejo, porm, deixar resolvido desde logo um ponto e quea ida de Lus Quaresma Dourado s minas dos Cariris foi espontnea,avanarei mais, longe de ser aconselhada, mereceu acres censuras de seusuperior hierrquico.

    Leia-se a carta, que Correia de S escreveu a Diogo de Men-dona Corte-Real em data de 17 de fevereiro de 1753.

    O final dela esparge a mxima luz a respeito: Na carta doCapito Jernimo Mendes de Paz ver V. Ex confirmada a razo daqueixa, que lhe fiz na frota do provimento de Lus Quaresma Douradoem Capito-Mor do Cear, e em outros semelhantes, dos quais ho deresultar sempre desordens se no se pedirem informaes aos governa-dores respectivos da capacidade daqueles opositores, que na corte sodesconhecidos. Com a notcia de que o dito Capito-Mor do Cear estavanos Cariris perturbando com desacertos o que eu tinha ordenado componderao, lhe escrevi uma carta estranhando-lhe no s este procedi-mento mas tambm ter largado a fortaleza do Cear, pondo-se na dis-tncia de duzentas lguas pouco mais ou menos, deixando um lugaraonde a sua assistncia podia ser a cada passo precisa para ir aonde noera necessria.

    Conta-me que se retirou para a Fortaleza, mas certo quehaveria nos Cariris desordens muito prejudiciais ao servio de Sua

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    Majestade e sossego daqueles moradores se lhe no atalhasse os seus

    desacertados impulsos a prudncia do capito do destacamento.Da carta de Jernimo de Paz por sua vez vou destacar o tpi-co ao qual se reporta Correia de S, e que, em seu conceito, confirmouas razes da queixa, que fizera para a corte a propsito da nomeao deLus Quaresma como nosso capito-mor.

    Do lugar do Poo, diz Jernimo nessa sua carta, que tem adata de 4 de dezembro de 1752 e que foi recebida a 26 do mesmo mssendo portadores dela dois soldados do destacamento de Misso Velha,

    do lugar do Poo passei ao riacho do Fonseca, onde desde as duas horasda tarde, que foram as em que cheguei ao dito lugar, at a noite se fezainda jornal de um tosto, porm pintou muito menos em dois dias se-guintes que nele me detive porque o mais do tempo se gastava em bus-car lugar que no estivesse socavado para o poder experimentar, e snas cabeceiras onde me no pintou cousa alguma estava quase intacto, eno resto do riacho onde podia pintar estava levado quase a talho aberto.

    Entendo segundo as informaes e indcios que o haviam

    trabalhado os mineiros dos Goiases e Pinar de que tm j falado a V.Ex, os quais por via dos seus escravos, se que so seus, pois no mefalta fundamento para ajuizar que ao menos muitos deles so fugidos, ese meteram na companhia destes homens que nunca acabo de entenderque casta de homens so nem donde vieram, tm esfuracado quantoscrregos, riachos se tm descoberto por outros e se eles tm achado al-guma cousa o guardam em segredo para se irem pela surdina utilizandoe continuamente trazem a maior parte destes negros nos matos e per-guntando por eles a alguns dizem que no sabem deles e a outros queusam da faculdade que em dois bandos, que mandou Lus Quaresmapublicar no Ic e pregar em partes mais pblicas destes Cariris permitiusem restrio a quem quer que quisesse fazer socaves com o pretextode descobrir as minas. Sem restrio alguma franquear a todos a facul-dade de socavar e dar ocasio de se extrair quanto ouro puderem sempagar quintos e em notrio prejuzo dos que tirarem datas, que se acha-ram sem a convenincia que desfrutaram outros muitos a seu salvo, almde outros muitos inconvenientes em que no advertiu a singeleza e sim-

    plicidade deste pobre homem.

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    Isto diverge muito do que pensaram e escreveram Theberge e

    seu companheiro. Naquelas duas cartas est a prova de que enxergarama execuo de ordens superiores num ato de todo voluntrio, meramen-te espontneo.

    ocasio de eu aventurar uma hiptese.As conjecturas em escritos, como este, prestam relevantssi-

    mos servios. No chego a avanar o que pretende Smedt, isto , quesejam o mais poderoso instrumento de explorao, mas penso que umtal mtodo aplicado historia vale bem o mtodo analtico ou textual.

    Por causa delas, todavia, no me invadem as cleras de Fustelde Coulanges, o elegante e incisivo autor de Analyse des textes historiques,como no tomou-me de entusiasmo a maneira de Gabriel Monod, dire-tor da Seco de Histria na cole des Hautes tudes, ou seu erudito dis-cpulo Desdevises du Dezert.

    Penetremos por instantes nos domnios da conjectura.No plausvel poder inferir-se dos trechos citados que Lus

    Quaresma Dourado, esse desconhecido na corte, esse singelo, simples e pobre ho-

    mem, habitava na Amrica quando foi provido em capito-mor?H circunstncias, que vm corroborar a suposio: uma que ele no voltou a Portugal, cousa muito para estranhar em quem ltivesse amigos, casa e cabedais; outra que antes dele existia Quaresmasna capitania e lembro-me at que no processo havido em 1708 em For-taleza pelos tiros dados no governador interino, o capito Carlos Ferreira,entre as testemunhas dos rus presos, capito Pedro Carneiro da Cunha,Jos Mendes Lima e sua mulher Teresa Lopes e Manuel Ferreira de Ma-tos encontra-se um Manuel Quaresma de Sousa.

    Que ele morreu no Cear provam-no uns autos, que acabo deexaminar, da justificao dada por Manuel de Moura Rolim para haverdo casal certa quantia.

    Desses autos verifiquei que Quaresma Dourado, cujo nomefigura em alguns com data de 19 de maro e 3 de novembro de 1758, 20de fevereiro de 1765 e 20 de janeiro de 1772, era casado com D. Antniade Melo e tivera dois filhos, Agostinho de Bulhes e Melo e GonaloJos de Melo, e duas filhas casadas uma com Francisco da Silva Coelhoe a outra com Manuel de Siqueira Braga.

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    De outros autos, os de justificao do soldado de infantaria

    paga Manuel de Siqueira Braga, verifiquei ainda que Manuel de SiqueiraBraga casando-se com D. Antnia Maria de Melo tivera dois filhos:aquele Manuel de Siqueira e, um outro com o mesmo nome do av ma-terno, isto , Lus Quaresma Dourado, o qual morreu cabo-de-esquadra.

    Essa justificao foi dada em 1792 perante o juiz ordinrio,sargento-mor Gregrio lvares Pontes.

    Demais, sei que de h muito vivem nos Estados do Cear,Paraba e Pernambuco famlias desse apelido e at mesmo um Coresma

    Dourado (Salvador) foi o provedor da Fazenda Real da Paraba por mui-tos anos no ltimo quartel do sculo XVII.E no so os atuais. Quaresmas descendentes do antecessor

    de Miranda Henriques?So interrogaes a desafiar as pesquisas de quem dedica-se a

    estes estudos.O capito-mor e o ouvidor receberam com desagrado ao

    agente do tenente-general em sua chegada ao Cariri, ou porque conside-

    rassem a sua vinda uma invaso de direitos, que supunham perten-cer-lhes, ou por esprito de mercantilismo e de interesses feridos; a seuturno Jernimo de Paz, armado da confiana de quem o enviara e go-zando de poderes discricionrios como comandante, no perdia ocasiode lhes fazer sentir essa confiana e a extenso desses poderes.

    Inclino-me a crer que na oposio movida a Jernimo de Paz,oposio a princpio latente e depois sem rebuos, entrou em grandedose o amor do lucro, entrou o receio da concorrncia e da fiscalizao.

    certo que esses sentimentos mascaravam-se com o zelopela Fazenda Real, e todo o empenho do ouvidor nas cartas escritaspara Lisboa e Pernambuco resumia-se em fazer crer que a oposio emque empenhava-se contra as minas de S. Jos era motivada pelo desejo,que nutria, de no se embarcarem os recursos do Errio em empresapouco ou nada lucrativa, mas nada disso explica o silncio guardado porDourado e seu amigo a respeito de minas descobertas na capitania emque eles eram as primeiras autoridades, circunstncia essa para muitoreparo sobretudo dos que, como eu, conhecem a que excessos de mi-nudncia desciam as correspondncias travadas entre os capites-mores

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    e seus superiores hierrquicos; nada disso explica as perseguies exerci-

    das contra Alves de Matos, o descobridor das minas, o qual muito me-nos ambicioso do que Roberio Dias contentou-se com a guardamoriadelas, funo em que encontro-o figurando segundo documentos quetm a data de 1754.

    Um fato, uma circunstncia h ainda que presta-se a fornecerelementos crena de que Quaresma curava de enriquecer com a explo-rao de minas ao mesmo tempo que administrava a capitania e portantoser-lhe-ia desagradvel a vinda do sargento-mor ao Cear, e essa cir-

    cunstncia pedir ele autorizao ao governo da metrpole para explo-rar em proveito prprio minas de prata na serra de Maranguape e outroslugares, como tudo v-se de sua correspondncia e confirma-o uma res-posta de Lisboa em data de 14 de dezembro declarando-lhe que pelaResoluo Rgia de 24 de outubro de 1752 era livre a explorao de mi-nas de prata nos domnios da Amrica.

    Demais, a oposio do ouvidor, longe de manter-se numaaltura digna do seu posto, baixava a recorrer a expedientes, cuja serieda-de discutvel, e de que ter o leitor mais de um exemplo no curso dapresente narrativa.

    A misso, portanto, de Jernimo de Paz no era das mais f-ceis: a terra, que ele vinha a explorar, ora se afigurava um pas embaraado commontes, outeiros, riachos, pntanos e matas, ora saturado de chuvas, que deixava os

    rios e crregos impossveis de transpor:s vezes o terreno se lhe revelava ridode todo, sem guas a ponto dos mineiros transportarem de grandes dis-tncias at os riachos as areias em que buscavam as folhetas e os grosde ouro e serem forados a suspender de todo os trabalhos por carnciaabsoluta de guas; outras vezes chuvas torrenciais impediam o avan-ar-se na explorao, tornando infrutferos ou perigosos os esforosempregados; faltavam mineiros, e dos homens, que trouxera a expedio,e que eram poucos, poucos conheciam o Cear; o ouvidor, finalmente,deixava a todos os expedicionrios sem pagamento de soldos, obrigandoassim os mais obedientes a pedirem licena para retirar-se a Pernambucoe os mais insofridos ou menos disciplinados a desertarem do servio,internando-se e fugindo.

    E que soldos, santo Deus!

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    Os embaraos postos pelo ouvidor, que era ao mesmo tempo o

    provedor da Fazenda, ao pagamento regular das tropas e dos ndios consti-turam a arma mais poderosa, que lhe sugeriu o esprito de oposio.Por isso queixava-se o sargento-mor a Correia de S em carta

    de 20 de maro de 1754:J expus a V. Ex o quanto detrimento me dava mandar dos

    Cariris ao Cear buscar os soldos para o nosso pagamento, e agora me-lhor voltarem os portadores, depois de tanto trabalho e despesa emvo, nem sequer h com que pague aos ndios, que vm mudados parase retirarem; entendo pretende o ouvidor por esta via deitar-nos fora ouque a necessidade obrigue aos ndios e soldados a furtarem e comete-rem desordens para por esse meio conseguir a sua idia.

    Ciente dessas ocorrncias, entendeu Correia de S diri-gir-se-lhe diretamente e dar-lhe a respeito as precisas instrues, comomostram os tpicos seguintes de uma carta escrita a 8 de fevereiro domesmo ano:

    Por ora no devo tratar com Vossa Merc mais do que noque respeita ao pagamento dos soldados ao qual deve V. Ex, aplicar

    todo o cuidado considerando que esta despesa que se faz com a infanta-ria nos Cariris pela Provedoria do Cear e a que deixa de se fazer nestaProvedoria de Pernambuco para donde sabe Vossa Merc que Sua Ma-jestade manda remeter as sobras. No o meu intento nem razo quedeixem de se pagar nessa capitania aos soldados, que pertencem suaguarnio e aos filhos da folha, o que pretendo que prefira o cmododos soldados, que servem a el-Rei e lhe no devem nada ao descansodos que o no servem e lhe esto devendo, nem faa a Vossa Merc d-

    vida considerao de que entrando a executar os devedores da FazendaReal ficaram perdidos, porque em dvidas da Fazenda Real s deve terlugar a dissimulao quando as cousas se podem remediar sem rigor daexecuo... Vossa Merc no ignora que retardar pagamentos infantariasempre foi matria de prejudiciais conseqncias, e isto ainda muitas vezessabendo os soldados que no h de donde lhe faam, o que ser quandoconhecem e publicam que se lhes no paga por no obrigarem os deve-dores e talvez que acrescentem a este discurso mais alguma cousa, quefaa culpvel a dissimulao; isto suposto deve Vossa Merc ter maiscompaixo com os soldados que com os moradores porque enfim estes

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    desastrosa que em 5 de fevereiro de 1754 apenas um irmo de Afonso

    de Alburquerque com 3 ou 4 escravos, Francisco Jorge com poucos ne-gros de servio e os homens dos pinars ousavam frequent-las e tentara explorao, e a 6 de abril do ano seguinte ascendia o nmero dos mi-neiros to-somente a sessenta e cinco.

    As persuases de cada pessoa, diz Mendes de Paz numa desuas cartas, o seu ofcio, lugar e independncia empenhada em sufocar oprogresso destas minas, descompondo a uns, ameaando a outros, man-dando por onde no se pode ir, tm feito tanto dano a este estabeleci-

    mento que s o decurso do tempo sanar, pelo que alm da honra querecebo com a determinao de S. Majestade me mandar encarregar daIntendncia destas minas estimei o emprego pela ocasio de as livrar deum Algoz que as ajudasse a criar.

    Este algozera Proena Lemos.Referindo-se aos manejos do Ouvidor e s dificuldades com

    que lutava a explorao, diz igualmente Domingos lvares a Correia deS em carta de 23 de fevereiro de 1754.

    e por outra razo, ter-se espalhado um boato sabido poralguns sujeitos de considerao que mais deviam puxar para o aumentodestas minas do que fizerem se pregueiro de que eram Minas de carvoe outros dizeres mais, que assazmente tem despersuadido a todos osmoradores deste pas e todos os mais, que por c tm passado, que noeram minas e que se fossem embora por cujo motivo alguns amigos quetenho no Piau e em outras terras, que podiam fazer convenincia nesteservio, me tm escrito vrias cartas que no vm pelas no haver e sem

    embargo das minhas persuases ainda se aveseiam.Ainda nesses sujeitos de considerao enxerga-se uma aluso ao

    Ouvidor e ao Capito-mor.Nessas duas cartas v-se que est calado o nome da pessoa ou

    pessoas, cujos manejos dificultavam o progresso das minas, emboracompreenda-se bem a quem dirigem-se as indiretas, mas Correia de Sno julgava-se adstrito a guardar essas convenincias tanto que escre-vendo ao ministro Corte-Real, de quem era amigo ntimo ao ponto de

    dar-lhe o tratamento de Voc, diz-lhe com esta franqueza:

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    A intendncia da casa de fundio em que S. Majestade foi

    servido ocupar o dito Capito [Jernimo de Paz] estimei muito, no sporque ele merecedor dos mais honrosos empregos mas para ficarsem tanta necessidade de sofrer por fora da prudncia os despropsi-tos do Ouvidor do Cear, Alexandre de Proena Lemos, o qual no seiporque motivo tem tomado por sua conta introduzir a todos os quepode que no h ouro nos Cariris, e que so minas imaginrias; e no hdvidas que estas vozes, ainda que sejam de um homem de pouca capa-cidade, como so de um ministro que l esteve, e lhe no chegam a pe-netrar o motivo da displicncia, a muitos tm posto no receio de irem

    ao Cariris sem acharem as convenincias que podiam esperar naqueledistrito. E este ministro dotado da mais extraordinria misria que setem visto.4

    No entretanto Jernimo de Paz no se deixava ficar quieto,antes ia desenvolvendo admirvel atividade, prestando rigorosa atenoa todos os servios, e pondo em contribuio a possvel energia, prpriae dos companheiros, nas pesquisas de riachos, chapadas e tabuleiros,onde algum indcio assinalava a presena do cobiado metal.

    Depois de repetidas experincias nos riachos do Jenipapeirode Joo Gomes e Vargem das Carnabas, sendo que naquele j tinha es-tado tambm a minerar Quaresma Dourado, guiado pelo capito-mordo Ic, Bento da Silva de Oliveira, passou-se ele ao Salgado, riachos doQuebra e das Tabocas, olhos-dgua chamados do Padre Agostinho edos Oitis, ambos tendo nascena no Quebra.

    Do olho-dgua dos Oitis prosseguiu a examinar diferentes ri-achos entre os quais os dos Amigos (com barra no rio Salgado), de San-

    to Antnio, dos Cavalos, do Catingueira (os quais unidos entravam noriacho das Antas), do Cumbe (com barra no Catingueira), do Barro e doOvo, sendo que este ltimo ficava perto de S. Luzia, distrito da Paraba.

    Aps os riachos do Ovo e do Barro seguiram-se experinciasnos das Lajes e do Catote, em muitos outros crregos e riachinhos comgua apenas de inverno, nos lugares chamados Volta do Siebra e Juiz(terras dos monges beneditinos), riachos do Juiz (fazendo barra no Sal-gado pela parte do poente), de S. Domingos e Traras (desaguando am-

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    4 Carta particular de 14 de janeiro de 1754.

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    bos no do Juiz), diferentes outeiros, chapadas e grotas, entre as quais

    uma a que foi posto o nome do S. Jernimo por ter sido descoberta a 30de setembro.A esta grota chamei, diz ele, de S. Jernimo porque desco-

    brindo-a em 30 de setembro no me pareceu justo deixar a este lugarsem o ttulo de um santo, que sendo o do meu nome, no seu dia se mepatenteava uma mina at ento de todos ignorada.

    Feitas as experincias nesses e muitos outros lugares, ondemais ou menos encontraram-se manchas e boas pintas, chegando algu-

    mas delas a dar jornais at de oito vintns, recolheu-se Jernimo de Pazaos alojamentos da Misso Velha a aguardar a queda de chuvas, e logoque apareceram, embora parcas, deu comeo a trabalhar, mas dessa veznos riachos, que desaguavam no Carit.

    ocasio de eu dizer que das cartas e mapas do sargento-morverifica-se que Carit o nome dado ao rio Salgado a partir do lugar daCachoeira, distante 1/2 lgua de Misso Velha para cima.

    No Carit, porm, falharam as experincias, como tambm

    falharam as que foram tentadas no riacho dos Cars, principal tributriodaquele, e igualmente no riacho Correntinho, obtendo-se todavia me-lhor resultado em um lugar chamado Poo e no riacho Fonseca, como oCorrentinho, afluente dos Cars.

    De tudo isso trata com minudncia a carta de Jernimo dePaz datada de 4 de dezembro de 1752.

    Em carta de 11 de maio do ano seguinte, cujo portador foiGonalo Barbosa, soldado do Recife, e noutra de 16 de junho d ele

    conta das pesquisas feitas no riacho da Serra ou das Crioulas, que vaidesaguar no Jenipapeiro, chapada e riacho de S. Jos e outros menoresda parte dos Oitis, no boqueiro de Afonso de Albuquerque, riacho daCaiara de Dmaso de Azevedo, riacho do Jenipapeiro nos pastos da fa-zenda de Santo Antnio, pertencente ao mesmo Dmaso, riacho daExtrema entre os pastos da Mangabeira e Vrzea Grande, e cinco pe-quenos crregos nos pastos do Boqueiro.

    De cada um desses pontos foram extradas e remetidas para

    Pernambuco amostras do minrio, inclusive algumas obtidas pelo Padre

    44 Guilherme Studart

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    Antnio Correia Vaz,6 cujas exploraes e descobrimentos foi Jos

    Coutinho encarregado de verificar.A lista dos riachos examinados por Jos Coutinho no pe-quena: foram deles os principais:

    1 O riacho do Machado, que desgua no Boqueiro, fazendado comandante de Muribeca;

    2 O do Veado Morto, que desemboca no Machado pela partede cima;

    3 O olho-dgua do Cedro, que desgua em S. Catarina;

    4 O riacho dos Aras, que nasce no serrote chamado das Pi-mentas e desgua no do Meio;

    5 O riacho do Meio ou Canabrava, que desgua no Machado.Nesse local os pinars se tinham estabelecido com roados.6 O olho-dgua das cabeceiras das Almcegas, que faz barra

    no riacho do Meio e no qual desguam por sua vez os riachos da Tabo-ca, Boqueirozinho e Pequeno Homem, todos 3 tambm explorados;

    7 O riacho da Carnaba, que desgua no Rosrio, o qual por

    seu turno entra no Salgado;8 O riacho da Charneca, que faz barra no Cariu em terras de

    Bernardo Duarte;9 O riacho de S. Joo, que desgua no Cariu na fazenda de

    S. Antnio, pertencente ao Padre Manuel Jorge da Costa;10 Os riachos do Dourado (denominao dada por Jos

    Coutinho), S. Jos e S. Domingos.Em tais exames mostrou-se de grande proveito a Coutinho

    um negro do rio S. Francisco, o qual fora do capito-mor de RodelasDomingos Maciel de Faria e pelo conhecimento que tinha com Jernimode Paz prestou-se a servir-lhe de guia excitando por esse motivo as cle-ras dos pinars.

    De caso pensado vou citando os nomes e alguns dados maisespeciais referindo-se a riachos, chapadas etc., como subsdios para o es-clarecimento da geografia da capitania naqueles tempos.

    Notas para a Histria do Cear 45

    6 O Pe. Correia Vaz foi o descobridor da chapada de S. Jos, no Cari.

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    Mais que a Jos Coutinho dos Santos deve a expedio dos

    Cariris Novos a Domingos lvares de Matos e disso d testemunho,folgando de reconhecer-lhe o merecimento, o prprio chefe dela.Em todas ocasies, diz com efeito Jernimo de Paz,7 e nas

    das outras entradas que tenho feito, de que nas antecedentes cartas te-nho dado conta, me acompanhou sempre Domingos lvares de Matos,a quem privou do posto de coronel e comandante deste distrito o capi-to-mor do Cear inspirado pelo do Ic pelos atrozes crimes de insolen-te e rebelde em que caiu por dar parte a V. Ex desses descobertos sem

    que fossem bastantes as persuases do ouvidor para Lus Quaresma de-sistir deste grande empenho e, certo que sem ele no poderia ter eu adi-antado tanto esta diligncia porque ele no s me ajuda por meio dosseus escravos, amigos e dependentes, seno que com a assistncia de suapessoa, faltando com ela sua casa, fazenda, engenho, lavouras e neg-cio, abastecendo muitas vezes no s de mantimentos a tropa que meacompanha seno to bem de regalos de sorte que nesta diligncia notenho experimentado nem pessoa alguma de minha comitiva aqueles or-dinrios incmodos, que ordinariamente encontram os que se ocupamem semelhantes empresas, devendo-se estas comodidades a sua previ-dncia e indstria e ao zelo, que tem de dar gostos a V. Ex e executarsuas ordens, no se poupando a gastos ou perdas de fazenda, e a tantotem chegado o seu empenho que nem a molstia de dor dos olhos, que uma das ordinrias neste pas, de que tem muitos cegado, que padeceuos dias passados, foi bastante para o deter e deixar de me acompanharnesta ltima entrada, ainda que fiz com vivas instncias pelo persuadirse deixasse ficar e atendesse ao seu cmodo e sade e que me bastavam

    os guias, que me dava.E de um auxiliar to prestimoso e ativo, que largamente des-

    pendia seus haveres com as necessidades do Estado e a ponto de ver-seum dia forado a pretender um emprego pblico, foi que privou-seQuaresma Dourado!

    E o que deveria ser para lvares de Matos ttulo de beneme-rncia foi-lhe captulo de acusao!

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    7 Carta de 4 de dezembro de 1752.

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    E se tudo no me conduzisse a essa concluso bastava-me

    uma carta do mesmo Domingos lvares,

    9

    da qual destaco este trecho:-me preciso rogar a V. Ex, me queira mandar alguma ajudade custo para com ela me poder refazer de comboio, para acudir asobrigaes do meu ofcio e servio de Sua Majestade para o que remetoa V. Ex, inclusa essa petio, pois a impossibilidade em que hoje mevejo faz-me pedir o que no desejava pois todo o meu cuidado e desve-los s era servir ao soberano sem interesse algum de dinheiro, porm anecessidade tem cara de herege e quando V. Ex, seja servido man-dar-me dar peo-lhe seja pelo almoxarife da Fazenda Real dessa praa,

    porque pelo de c no conseguirei tal pagamento porque o provedor meu inimigo capital pela razo de ser o descobridor de minas.

    Mas como explicar que o capito-mor do Ic considerasselvares de Matos ru de uma ao, que ele praticou igualmente? Se eraato digno de castigo informar para Pernambuco que se tinham desco-berto minas de ouro nos Cariris como que quase ao mesmo tempoque as de lvarez Matos chegavam s mos do tenente-general cartasdo capito-mor do Ic tratando do mesmo assunto!

    H curioso contraste entre o caso de Domingos lvares e ode Marcos de Azevedo, um dos muitos aventureiros a quem cegou a co-bia de ouro e das pedras preciosas nas capitanias ainda inexploradas deMinas Gerais, e adjacentes. Sofre Domingos lvares por divulgar a exis-tncia de minas ao norte do Brasil, morre ao sul dele em lbrega prisoo rival de Sebastio Tourinho, Dias Adorno e Soares de Sousa por obsti-nar-se em declarar que no havia encontrado prata e esmeraldas nemconhecia-lhes o paradeiro, contra a opinio dos contemporneos, quesupunham-no o guarda avarento de avultados tesouros.

    Todavia o grosso da comitiva expedida por Correia de S nopde chegar aos Cariris ao mesmo tempo que Jernimo de Paz, porquecom ela vinham carros e cargas pesadas, que lhe dificultavam a marcha eforavam a contnuas paradas.

    Sabendo da aproximao do destacamento, a cujo encontro esocorro tinha sido expedido o alferes Francisco Lus Guedes, mandouProena emissrios at os sertes do rio do Peixe encarregados de plan-

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    9 Carta de 23 de fevereiro de 1754.

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    Como o primeiro malogrando-se o novo ardil do ouvidor, ope-

    rou-se-lhe ento nos modos e na linguagem completa transformao.O descrente parecia convertido em crente.Era que o empregado do governo, manhoso e por no contar

    com o tenente-general, buscava uma porta por onde sasse airosamentequando a Pernambuco chegassem as informaes sobre seu procedi-mento e o governo quisesse tomar-lhe contas.

    Ei-lo ento a mandar afixar editais prometendo dar ndios dasAldeias a quem no tivesse escravos para minerar e a dizer a quantos

    apareciam que viessem trabalhar nas minas e tirar datas que ele as dariade graa; ei-lo at a escolher para si datas de terra e a explor-las, arman-do-se de rodas e de alcatruzes para conduzir por bicas a gua precisa aoservio; ei-lo finalmente a no perdoar meios de mostrar-se em sumograu ativo e favorvel s vistas do tenente-general e do seu representante.

    Porm ele, escreve Jernimo de Paz noutro tpico da cartaanteriormente citada, para no deixar de sempre contradizer, ou ao me-nos ajudar a botar abaixo toda a mquina, disse a Lus Manuel e aosmais oficiais que fossem para Ic que s l estava bem situada a Inten-

    dncia pois era a vila e cabea deste distrito: porm ele lhe respondeuque V. Ex o mandava para os Cariris e que neles estava e que deles nosabia seno para Pernambuco, quando c o apertassem muito; tem que-rido amofinar os oficiais que de l vieram e a Lus Manuel quis fazermoo de recados; tenho me oposto quanto pude a muitas desordensdeste ministro e seguro a V. Ex que desde o tempo que sa dessa praaat o presente no conto por servio nem trabalho algum todo o que te-nho tido mais que o lidar com um louco de autoridade, e no sei como

    tenho conseguido conservar-me sequer exteriormente.Uma das impacincias deste homem que lhe no deixaramum lugar nem um provimento para meter um afilhado, e que s os deV. Ex que tiveram lugar, que estava em no por cumprisse nos provi-mentos, e se o fazia era em sua ateno, ao que lhe respondi que se SuaMerc tinha razo para no cumprir os provimentos, que o fizesse, porque V. Ex era to amigo da razo e zeloso da justia que em vez de lhoestranhar, lho louvaria, porm que se no tivesse, que lhe no faltariammeios de fazer executar as suas ordens, ao que me tornou que visto se-rem provimentos de V. Ex no havia deixar de cumprir.

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    Empossados todos os empregados com exceo do Honrio,

    que foi aproveitado para um dos cargos, o que era muito de justia, masainda no havia chegado de Pernambuco, e feito o primeiro despachodo quinto, muniu-se Proena Lemos das certides de que carecia, e quelhe foram passadas por Lus Manuel, e montando a cavalo retirou-se emdemanda do Ic e da para o Aquiraz, no sem ter primeiro, em confe-rncia havida com o capito-mor Dourado no lugar Cachoeira, consig-nado em termo escrito com todas as formalidades a no existncia deminas de ouro no distrito dos Cariris.

    Nessa conferncia, a que esteve presente tambm o capi-to-mor do Ic, Bento da Silva e Oliveira, que foi resolvida a demissode Domingos lvares de Matos, fato que ficou referido.

    A despedida foi feita entre meiguices e abraos e com col-quios expressivos dos mais carinhosos afetos, diz Jernimo de Paz. Issopor parte do ouvidor, j se v.

    Acompanhou-o o escrivo da correio, Antnio de AzevedoPereira, em cujo nimo no calavam as prevenes alimentadas contra o

    sargento-mor, o que perfeitamente manifesta-se de uma sua carta de 14de agosto, escrita daquela vila, na qual encontra-se o seguinte perodorevelador da parcialidade exagerada do ministro:

    No mesmo dia em que partimos desses Cariris demos qua-renta bateadas em vrios lugares do riacho de S. Antnio e l nos falha-ram cinco e nas mais se tirou obra de quatro vintns e o ministro dizia equeria que fossem dois vintns.

    Outras experincias, que no cita o escrivo Antnio de Aze-

    vedo Pereira, foram executadas, como por exemplo a 5 de julho e a 6 deagosto no riacho do jenipapeiro nas lavras de Francisco Jorge Monteiroe a 7 de agosto no riacho Salgado junto ao do Juiz.

    V-se da carta acima que no intuito de desacreditar as minaso ouvidor comprazia-se em diminuir o rendimento obtido nas bateadas.Com o mesmo intuito forjou ele uns autos de perguntas a Bento No-gueira de Oliveira, Mestre-de-campo Joo Gonalves Chaves, ambospertencentes bandeira dos pinars, Francisco Dourado Cavalcanti e

    outros.

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    As experincias e interrogatrios estiveram presentes alm de

    Azevedo Pereira o meirinho-geral Lus da Costa Faleiros, o escrivo domeirinho Antnio de Sousa Velho e um Antnio Manuel Lisboa. Emque qualidade esse ltimo no sei, porquanto a nica indicao, que aseu respeito possuo, que morava no Aquiraz.

    A Correia de S no escapou o contexto da missiva do escri-vo Azevedo Pereira, nem deixou ele tambm de aproveitar-se dos pr-prios autos para op-los s concluses a que o ouvidor desejava chegar.

    Nos autos dos exames, diz ele ao ministro em carta de 14 dejaneiro de 1754, ver voc duas cousas dignas de reparo: a primeira re-presentar-me os tais autos como fim de despersuadir de continuar oestabelecimento, sendo que por ele mesmo o podia eu empreender,principalmente por um juramento que deu um mineiro da profisso queem tal riacho se faria jornal de oitava; a segunda, e na minha opiniomais escandalosa, a falsidade que se prova com a certido do seu mes-mo escrivo, o qual com uma carta a mandou do caminho, indo j de re-tirada para o Cear, ao Capito Jernimo Mendes confessando a sua cul-pa por descargo da sua conscincia.

    Ao passo que retirava-se o ouvidor, afluam ao arraial novasfiguras; assim que a 31 de julho de 1753 chegava a ele o Tenente Fran-cisco lvares de Pugas com alguns Missionrios Capuchinhos e a 6 deagosto Francisco Guedes com o restante dos carros, que haviam ficadoatrs.

    Fiz conduzir os Padres Capuchinhos, diz Mendes de Pazem carta de 8 de agosto de 1753 a Correia de S, sua Misso e me pa-rece chegaram satisfeitos da boa companhia que lhe fez o tenente que

    com os carros teve gravssimo trabalho at o Ic, e da para cima recaiueste sobre o Alferes Francisco Lus, que era o maior pela dificuldade doterreno, porm mostrei-lhe o como no era impossvel virem carros tocarregados, como queriam no Ic persuadir aos ditos oficiais e supostono se lhe deu socorro algum mais que de uns carreiros que nunca o fo-ram, os ditos oficiais feitos carreiros com os ndios e soldados os con-duziram, e deixaram os caminhos feitos para outros os conduzirem sequiserem seguir a trilha, e ainda os poderiam conduzir por paos maisfceis se foram mais prticos ou se se lembraram os que mandei das ins-trues que lhes dei.

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    Livre de Proena Lemos, dor de ilharga chama-o ele, Jernimo

    de Paz tratou de organizar a repartio da Intendncia, utilizando-se dosauxiliares, que de Pernambuco tinham vindo ou que j moradores noCear haviam sido gratificados com algum emprego ou comisso.

    A ele coube o ttulo de Intendente, ficando assim por substi-tuto do ouvidor; o Capito Joo Ferreira de Oliveira foi nomeado tesou-reiro, emprego que j tinha por nomeao interina do dito ouvidor, e doqual estava empossado, prestada a respectiva fiana desde 4 de agosto de1753; ficou sendo fiscal o Doutor Manuel de S. Joo Madeira, o Co-ronel lvares de Matos teve a guardamoria, Lus Manuel ficou por escri-

    vo e Joo Carvalho por escriturrio.Desses empregados parece que alguns desde logo desgosta-

    ram-se da vida enfadonha, que levavam no serto. Acostumados ao bul-cio das cidades e aos cmodos da existncia em boa sociedade, e poroutro lado iludidos em parte nas suas esperanas de lucro imediato eavultado, comearam a queixar-se e a reclamar.

    Alguns dos que vieram para os ofcios como no acharammodo de encher logo surres de ouro como esperavam, os no posso

    sofrer com saudades, pretextos e afetaes para se retirarem, porm eu aisso lhes digo que alcancem licena de V. Ex e despejem o beco queno faltar quem ocupe os lugares. Ovelhas, meu Sr., no so para matos:no me entendo seno com os soldados, que s nasceram para boa e mvida e nada os espanta. (Carta de Jernimo de Paz em 2 de novembrode 1753 a Correia de S.)

    A notcia da nomeao do novo intendente foi acolhida comviva satisfao pelo tenente-general, segundo v-se do seu dizer ao mi-

    nistro Corte-Real em carta datada de 14 de janeiro de 1754:No posso deixar de pedir a V. Ex queira beijar em meunome a mo a S. Majestade no s pela honra de nomear ao Capito Je-rnimo Mendes intendente da casa da fundio, mas pelo assinalado fa-vor de lhe mandar agradecer o servio que lhe tem feito, e estou certoque ainda que fossem muito maiores no s os desta expedio mas osque tm feito na sua profisso militar nenhum outro prmio estimariamais que o de chegar a merecer esta real ateno. Eu estou obrigado adizer a Ex, para que S. Majestade o saiba, que em toda a Capitania dePernambuco no tem oficial mais capaz de qualquer emprego e por esta

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    razo no alcanar da Sua Real Grandeza despacho de que no seja

    merecedor.Jernimo de Paz tomou posse de seu posto a 9 de fevereirode 1754.

    Reparo que na aludida carta de Correia de S (a de 14 de jane-iro) tem Jernimo de Paz o ttulo de Intendente da casa de fundio everifico de outro tpico da mesma que com efeito vieram de LisboaOrdens Rgias mandando estabelecer uma casa de fundio nos Cariris.

    Pergunto: foi levada avante a idia desse estabelecimento ou

    no passou ela execuo, ficando apenas em projeto? Vejamos se possvel esclarecer esse ponto.

    A 4 de dezembro de 1752 escreve Jernimo de Paz a Correiade S:

    ...Nesta dificuldade o que me ocorre que se metesse o ourodos Cariris na casa da fundio mais vizinha, que a de Jacobina, pormeste arbtrio padece notrios e manifestos inconvenientes porque ou sehavia de remeter para a dita casa por conta de S. Majestade ou haviam

    de ser obrigados os donos do ouro a lev-los em carta de guia dos oficiaisdos Cariris para os Intendentes e Provedores da fundio de Jacobina.O primeiro tem o inconveniente dos gastos que precisamente se ho defazer e de se retardarem os donos esperando que haja ocasio de condu-o; o segundo tem o inconveniente de serem obrigados os homens afazer cento e quarenta lguas de caminho e outras tantas de volta forada endireitura da sua derrota.

    A propsito de Jacobina vem a plo citar algumas linhas do

    Ensaio Estatstico (1 vol.) de Pompeu. Diz ele pag. 152:Nas margens do rio Salgado, desde Misso Velha at Lavras,

    encontram-se a cada passo terras aurferas. Fez-se ali antigamente umaminerao importante por via de uma companhia de mineiros de Jacobi-na e doutras partes sob as vistas de uma guarnio militar vinda de Per-nambuco, cujo comandante era o fiscal recebedor do quinto.

    Quem disse a Pompeu ou onde leu ele que eram de Jacobinaos mineiros que trabalharam nos Cariris sob as vistas de Jernimo de

    Paz? Mais um engano conta do ilustre Senador.

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    Posteriormente, na citada carta de 14 de janeiro de 1754, diz

    Correia de S:Logo que pela frota recebi a carta de V. Ex em que me avi-sava da providncia que S. Majestade foi servido dar ao maior embaraoque podia ter este estabelecimento, na objeo que a sada do ouro emp encontraria na Lei de 3 de dezembro de 750 mandando estabelecercasa de fundio nos Cariris, avisei ao Capito Jernimo Mendes paraque ponderando com o acerto, que costuma, a necessidade do estabele-cimento da dita casa, me dissesse se lhe parecia conveniente pr-se jem prtica para fazer com a antecipao necessria a diligncia de pedirao V. Rei do Estado fundidor e ensaiador, mas como a resposta nocoube no tempo, pela frota darei conta a V. Ex do que sobre esta mat-ria se oferecer.

    Ainda, em 10 de maio de 1754 exprime-se Correia de S daseguinte maneira:

    Pelo que respeita ao estabelecimento da casa da fundio meno resolvo ainda a outra cousa mais do que achar-se fabricando o quetoca ao material dela, porque como a conduo dos materiais para labo-

    rar m.to fcil por ser viagem de quatro ou cinco dias deste porto doR.e ao da V.a do Aracati e de l jornada de carros oito at dez dias paraos Cariris, julgo que mais acertado esperar a total certeza da pinta demeia oitava, cuja notcia trar logo mineiros, por no ser j hoje fcil oachar-se nas Minas Gerais semelhante, e s com a entrada destes quese podem fazer servios avultados, os quais faro muito precisa a casada fundio pagando a despesa que com ela se fizer, que suposto que seaplique todo o cuidado a moderao do gasto precisamente se h de fazer

    algum com os ordenados e conduo do ensaiador da B.

    a

    a q.

    m

    semprese h de pagar ainda que no tenha que fazer como no caso de retirar al-gum ouro por essa pouca gente que por hora se acha nas minas se podecobrar o quinto, que pertence a S. Maj.e, pela interina providncia quepara essa cobrana tenha dado, a qual se no praticou at agora por noterem passado os servios de experincia; bem pode sem prejuzo daFazenda Real e sem detrimento do povo ter lugar a suspenso da fabricaat se ver a necessidade que h dela.

    Mais tarde um bando lanado por Lus Diogo Lobo da Silvaem 22 de agosto de 1756 fala em embaraos para o estabelecimento de uma

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    casa de fundio e refere-se a medidas a tomar enquanto no h casa de fun-

    dio. Como estas, h outras cartas, mesmo de data ulterior, que re-ferem-se a uma casa de fundio, a qual no foi levada a efeito se bemque projetada, porm para que cit-las se uma certido, do tempo tam-bm de Lobo da Silva, com relao s remessas dos quintos reais paraEuropa deixa bem patente que nos Cariris nunca houve tal casa de fun-dio?

    Esse papel, que tem a data de 23 de fevereiro de 1759, traz a

    enumerao de todas as remessas e em todas elas v-se que o ouro foienviado em p, o que no sucederia na hiptese oposta. , portanto, detodo gratuita a afirmao de Brgido de se haverem estabelecido oficinae casa de inspeo em Misso Velha ainda no tempo em que l esteve oOuvidor Vitorino Soares.

    Na partilha dos empregos Jos Honrio e Jos Caetano foramdespachados, aquele para guarda-menor dos Oitis e este para a Ribeirado Cariu.

    A ambos os lugares era Jos Honrio candidato e nesse senti-do requereu ao tenente-general, mas as informaes do intendente tive-ram em resultado o provimento do Jos Caetano, a quem alis cabia dedireito o emprego por isso que naquela regio foi quem teve todo o tra-balho das averiguaes e pesquisas.

    Demais, a acumulao no podia deixar de prejudicar regu-laridade do servio e arrecadao dos quintos, que era a porcentagema que todo o ouro descoberto estava sujeito em favor do Tesouro Real,pois que a chapada do S. Jos, riachos da Fortuna e Dourado vertiam

    para o Cariu, ribeira distinta do rio Salgado ao passo que os Oitis vertiampara o Machado e este para o Salgado, donde a impossibilidade de loca-lidades to distantes estarem sob a inspeo de um mesmo indivduo.

    Nisso como em tudo se revelavam o zelo e a perspiccia dointeligente comandante.

    Jos Honrio era quase um emprego-manaco; a escolha deDomingos lvares para guarda-mor lhe despertou tambm os cimes.

    Apregoando-se o descobridor das minas dos Cariris, julga-va-se com mais direito ao dito emprego e ento o que aconteceu no

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    caso de Jos Caetano repetiu-se e dessa vez com maior empenho. As

    queixas e as reclamaes no se fizeram esperar.Vejamos o que resta escrito sobre seus ttulos a preferncia epor que fundamentos malograram-se-lhe as pretenses.

    Apreciemos em primeiro lugar, como natural, o requeri-mento de Jos Honrio:

    SENR. Diz Jos Honrio de Valadares Aboim assistente nasminas novas de S. Jos no serto dos Cariris, na ocupao de guarda su-balterno, que ele suplicante com notvel trabalho, e despesa grande foi o

    primeiro descobridor das ditas minas daquela Capitania porque no stiodenominado o riacho Jenipapeiro foi a sup.e o primeiro descobridor queapresentou a amostra do ouro ao Governador Capito-General daquelaCapitania, como consta da Atestao junta do dito General, por cujomotivo, antes de a passar, ordenou este que o sup.te fosse ao dito stioem companhia de Jernimo Mendes de Paz, Capito da Artilharia, e co-mandante das minas Cariris, para examinarem se nelas com efeito haviao ouro, que o sup.te descobriu, e noticiou; e executando-se prontamenteas ordens do General embarcou o sup.te com o dito cap. comandante no

    porto do Recife at o do Aracati, e de a seguiram sua viagem por terraat os Cariris onde se fez o exame com todas as circunstncias costuma-das em semelhantes casos, e se achou ser verdadeiro o descobrimentoque o sup.te fez do ouro naquelas minas, e a notcia que comunicou aodito General como tudo melhor consta da atestao do dito capito quefoi examinar e tomar f (que vai junta) que no pode haver prova maiscabal desta verdade: e porque ao mesmo tempo que o sup.te teve a gl-ria de primeiro descobridor daquelas minas, experimentou o infortnio

    de no ser despachado em lugar correspondente ao seu merecimento poiscompetindo-lhe por todos os exemplos do estilo o emprego de guar-da-mor daquelas minas, por ser ele o primeiro que a descobriu, o fize-ram guarda subalterno por tempo de um ano sem lucro nenhum gastan-do para se alimentar, e tratar para o que se acha empenhadssimo; e V.Maj.e pela sua real grandeza, e reta clemncia no deve permitir que fal-te com o devido prmio a quem de justia, razo e caridade o merece,porque s assim se incitam os vassalos de V. Maj.e a servir com todo ozelo, e atividade fiel: por estes justificados motivos recorre o sup. te in-comparvel inata grandeza de V. Maj.e para que se digne por seu real de-

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    creto que o Governador da referida Capitania confira no sup.te a ocupa-

    o de guarda-mor das ditas minas que ele descobriu no obstante terprovido a mesma ocupao outra qualquer pessoa pois s ao sup.te de-vida como descobridor, e no ser justo que o sup.te fique subalternosendo o primeiro descobridor; como consta das duas Atestaes juntas;ou despach-lo, pelo onerado servio de primeiro descobridor do ourodas ditas minas com uma ocupao equivalente e honrosa em que sepossa desempenhar nesta corte aonde o sup.te tem seus pais velhos, epobres, e trs irms donzelas sem mais amparo que o do sup.te.

    P. a V. Maj.de pela sua real grandeza em att.am ao que constar

    das Atestaes juntas mandar por seu real Decreto que o dito Governadorconfira ao sup.te na ocupao de guarda-mor das ditas minas novas deque o sup.te foi descobridor do ouro ou despachar por sua real grandezaao sup.te com a merc de alguma ocupao oficial equivalente nesta cor-te aonde em seus pais pobres, e velhos e trs irms donzelas sem maisamparo que o sup.te E. R. M.

    Essa petio estava instruda com dois atestados, um do pr-prio governador e outro do Intendente das minas.

    O 1 era concebido nos seguintes termos:Lus Jos Correia de S, do conselho de Sua Majestade, go-

    vernador e capito-general de Pernambuco e mais Capitanias anexas:Certifico que veio minha presena Jos Honrio de Vala-

    dares por notcia que de sua chegada a esta vila de Santo Antnio doRecife me deu o Desembargador Manuel da Fonseca Brando, o qualme apresentou uma amostra de ouro que lhe havia entregado o dito JosHonrio, a quem falei na presena do dito ministro, e inquiri com a exa-

    o precisa, e das suas respostas, e da relao que fez da paragem emque viu tirar o ouro de que constava a dita amostra, atentas a circunstnciade que vinha registrada a sua notcia, fiquei de tal sorte persuadido daverdade dela que sem necessitar de outra alguma informao cuidei emfazer pronto um destacamento de trinta soldados infantes, e recomen-dar a exata averiguao deste descobrimento ao Capito Jernimo Men-des da Paz, em cuja companhia tornou para o mesmo Distrito o ditoJos Honrio de Paz digo o dito Jos Honrio de Valadares, para fazercerto na presena do dito Capito o mesmo que me tinha delatado, oque bem se verificou no havendo diferena entre o que l se achou e

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    me tinha c dito pela certido que me apresenta passada pelo Capito

    Jernimo Mendes da Paz, o por cartas que tenho recebido do mesmoCapito me consta que em todo o trabalho deste descobrimento o temacompanhado, e tem mostrado muito empenho e grande zelo nesta dili-gncia de que pode resultar utilidade da coroa, e por esta razo se fazmerecedor de Sua Majestade o atenda, e tambm por ser a sua notcia aprimeira que com amostra do ouro recebi daquele descobrimento. Passao referido na verdade, e o juro pelo hbito que professo, e por me serpedida a presente, a mandei passar por mim assinada e selada com o si-nete de minhas armas nesta Praa do Recife de Pernambuco aos vintecinco de maio de mil setecentos e cinqenta e trs. Lugar do selo. Lus Jos Correia da S.

    JUSTIFICAO. O Doutor Joo Bernardo Gonzaga do De-sembargo de Sua Majestade, seu Ouvidor, e Auditor-geral no crime e ci-vil de Pernambuco, e Juiz das Justificaes tudo com alada pelo ditoSenhor que Deus guarde: Fao saber aos que a presente certido de jus-tificao virem que a mim me constou por f do Escrivo que esta subs-creve ser o sinal posto ao p da certido retro do ilustrssimo governa-dor e capito-general de Pernambuco Lus Jos Correia de S, o quetudo hei por justificado e verdadeiro. Recife trinta de junho de mil sete-centos cinqenta e trs. Antnio Rodrigues da Costa Escrivo a fiz es-crever. Joo Bernardo Gonzaga.

    JUSTIFICAO. O Doutor Lus Chanches de Almeida,Cavaleiro professo em a ordem de Cristo, fidalgo da casa de Sua Majes-tade, do seu desembargo, seu Desembargador, Juiz de ndia e Mina ejustificaes. Fao saber que por f do Escrivo que esta subscreveu meconstou ser o sinal acima do Doutor Joo Bernardo Gonzaga, o hei porJustificado. Lisboa vinte seis de outubro de mil setecentos e cinqenta equatro anos. e eu Joo Caetano da Silva Pereira a subscrevi. LusChanches de Almeida.

    E trasladada a concertei com a prpria a que nem reportaque passei em pblica forma a pedimento de Francisco de Valadares aquem a tornei a entregar que de como a recebeu assinou aqui. Lisboatrinta de outubro de mil setecentos cinqenta e quatro. E eu Roberto

    Soares da Silva Tabelio P.o de notas por sua Maj.e da Cidade de Lix.a

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    que a subscrevi e assinei. Roberto Soares da Silva. Em test.o de verd.e

    Francisco de Valadares Aboim. este o outro atestado:Jernimo Mendes de Paz, Capito de Artilharia, e coman-

    dante das minas dos Cariris Novos por Sua Majestade que Deus guarde:Certifico que sendo mandado pelo meu general o Ilustrssimo e

    excelentssimo Senhor Lus Jos Correia de S ao serto dos Cariris No-vos por averiguar a certeza das notcias que lhe havia dado de que nodito serto havia alguns lugares, que mostravam ter ouro, nesta ocasio

    me acompanhou desde dezessete de maio at quatorze de abril JosHonrio de Valadares e Aboim por ordem do dito senhor general, porser ele o que noticiou que no riacho Jenipapeiro se achava ouro, apre-sentando ele alguma amostra, o que fez embarcando comigo no portodo Recife at o do Aracati, e da seguindo por terra viagem at estesCariris principalmente ao riacho do Jenipapeiro no qual fazendo examee averiguao, achei ser certa a notcia que dele se havia dado, e assimmais me acompanhou nas diligncias de ver e examinar outros vrios ri-achos de que por outra via tivera notcia o senhor general, como tam-

    bm com alguns descobrimentos que fez sobre a mesma matria. Passao referido na verdade e o juro pelo juramento dos Santos Evangelhos, epor me ser a presente pedida, lhe dei esta por mim assinada. Minas deSo Jos dos Cariris Novos quatorze de abril de mil setecentos e cin-qenta trs anos. Jernimo Mendes de Paz.

    JUSTIFICAO. O Doutor Joo Bernardo Gonzaga do De-sembargo de Sua Majestade, seu ouvidor e auditor-geral no crime e cvelde Pernambuco, e juiz das Justificaes tudo com alada pelo dito Senhor

    que Deus guarde. Fao saber aos que a presente certido de justificaovirem que a mim me constou por f do Escrivo que esta subscreveuser a rubrica retro do Ilustrssimo governador e capito-general de Per-nambuco Lus Jos Correia de S e o sinal ao p da certido do CapitoJernimo Mendes de Paz, o que tudo hei por justificado e verdadeiro.Recife de junho trinta de mil setecentos cinqenta e trs. AntnioRodrigues da Costa Escrivo a fiz escrever. Joo Bernardo Gonzaga.

    JUSTIFICAO. O Doutor Lus Chanches de Almeida, cava-leiro professo em a ordem de Cristo, fidalgo da casa de Sua Majestadedo seu Desembargo e seu Desembargador, Juiz de ndia e Mina, e justi-

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    ficaes. Fao saber que por f do Escrivo que esta subscreveu me

    constou ser o sinal acima do Doutor Joo Bernardo Gonzaga, e o heipor Justificado. Lisboa vinte seis de outubro de mil setecentos cinqentae quatro, e eu Joo Caetano da Silva Pereira a subscrevi. Lus Chanchesde Almeida.

    E trasladada a concertei com a prpria a que me reporto quepassei em pblica forma a pedimento de Francisco de Valadares a quema tornei a entregar que de como a recebeu assinou aqui. Lisboa trinta deoutubro de mil setecentos cinqenta e quatro anos. E eu Roberto Soa-res da Silva, Tabelio pblico de notas por S. Maj.de na cidade de Lix.a

    que a subscrevi e assinei Em p. Roberto Soares da Silva. Em test.o deverd.e. Francisco de Valadares Aboim.

    Tendo de dar parecer para a Corte sobre o requerimento de Jos Honrio, o governador mandou a informar o intendente comov-se da seguinte ordem:

    Por aviso do Secretrio do Estado Diogo de MendonaCorte-Real foi Sua Maj.e servido ordenar-me que informasse com omeu parecer sobre o requerimento de Jos Honrio Valadares Aboim, o

    qual remeto a Vmc.e por cpia esperando que me diga o que nessas Mi-nas averiguou a respeito do seu primeiro descobridor. Deus Guarde aVmc. m.s ann.s. R.e 6 de maro de 1755. Lus Jos Correia de S. SenhorJernimo Mendes de Paz.

    Precisamente um ms depois de expedida a ordem de infor-mao Jernimo Mendes d esta resposta, que encerra preciosos esclare-cimentos ao presente ponto histrico:

    Il.mo e Ex.mo Sr. Ordena-me V. Ex.a que o informe do que

    averigei nestas minas acerca do seu primeiro descobridor. aqui not-rio que os primeiros descobrimentos destas minas somente se devem aDomingos lvares de Matos, que a este fim no perdoou a diligncia al-guma, nem a despesa de sua fazenda, rompendo por muitas dificuldadese oposies nem s de particulares, seno ainda das Pessoas do Governo,quais tm experimentado, e ainda experimentam estas Minas desde oseu primeiro princpio at este ponto. A Jos Honrio de Valadares seatribuem as primeiras notcias que V. Ex teve deste descobrimento;porque adiantando-s