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Guinness Sebenta de Histologia Módulo II.II 2011-2012 Ana Dagge

Guinness - Histologia

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Guinness

Sebenta de Histologia

Módulo II.II

2011-2012

Ana Dagge

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Boa Noite,

São 3 da manhã e estou boquiaberta a tentar perceber como é que tive

paciência e tempo para escrever 150 páginas de resumos sobre uma cadeira em que

tudo é definido por diferenças nos tons de cor-de-rosa.

Os resumos foram feitos com base no Ross e na grande Rita Luz, esse ícone da

FML, e à custa de doses de cafeína pouco saudáveis. A quem estudar por aqui,

aconselho que vejam sempre que possível um dos livros recomendados e tenham à

mão um atlas ou o Iowa. De resto, só precisam de uma dose infinita de paciência e de

uma boa banda sonora.

Qualquer erro que detectem, é favor enviar um mail à gerência

([email protected]).

Agradeço a todos os que foram insistindo comigo para eu ir fazer isto,

especialmente ao rapaz de Beja, famosíssimo vencedor de torneios de beer pong, que,

quando questionado sobre a qualidade dos presentes resumos, respondeu “estão

bons, têm um aspecto bonito e tal”; à minha vizinha que anda há seis meses a ‘cantar’

ópera e a tentar tocar Adele e não consegue; ao Esmegma Fest e ao Joao_Carlos,

porque ainda me dói a barriga de tanto rir; ao João Gramaça, pelo épico nome de

praxe que deu o nome a esta sebenta; e, por último, ao Alex Turner, ao Zach Condon,

ao Matt Berninger, à Florence Welch, ao Bob Dylan, ao Josh Homme, ao Marcus

Mumford, à Régine Chassagne e a todos os outros que passaram horas infinitas

durante estes meses a cantar para mim e a tornar tudo isto um bocadinho mais

suportável.

Ana Dagge

(Pronuncia-se Dégue)

“The sea's only gifts are harsh blows and, occasionally, the chance to feel strong.”

Page 3: Guinness - Histologia

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Índice

TECIDO EPITELIAL .......................................................................................................................... 6

EPITÉLIO GLANDULAR ................................................................................................................. 18

TECIDO CONJUNTIVO .................................................................................................................. 20

Tecido conjuntivo embrionário ............................................................................................... 20

Tecido conjuntivo propriamente dito ..................................................................................... 20

Matriz Extracelular .................................................................................................................. 25

Células do Tecido Conjuntivo .................................................................................................. 26

TECIDO CARTILAGÍNEO ............................................................................................................... 30

Cartilagem Hialina ................................................................................................................... 30

Cartilagem Elástica .................................................................................................................. 33

Fibrocartilagem ....................................................................................................................... 33

Condrogénese ......................................................................................................................... 34

Reparação da Cartilagem Hialina ............................................................................................ 35

Identificação Histológica ......................................................................................................... 36

TECIDO ÓSSEO ............................................................................................................................. 37

Matriz extracelular ou Osteóide ............................................................................................. 37

Células do Tecido Ósseo .......................................................................................................... 39

Ossificação ............................................................................................................................... 41

TECIDO ADIPOSO ......................................................................................................................... 46

SANGUE ....................................................................................................................................... 49

Plasma – constituição .............................................................................................................. 49

Células do sangue .................................................................................................................... 50

Hematopoiese ......................................................................................................................... 57

Medula Óssea .......................................................................................................................... 61

TECIDO MUSCULAR ..................................................................................................................... 63

Músculo Esquelético ............................................................................................................... 63

Músculo Liso ............................................................................................................................ 67

Contracção Muscular .............................................................................................................. 68

Identificação Histológica ......................................................................................................... 71

TECIDO NERVOSO ........................................................................................................................ 72

O Neurónio .............................................................................................................................. 72

Sinapse .................................................................................................................................... 74

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Transporte Axonal ................................................................................................................... 76

Neuroglia ................................................................................................................................. 77

Origem das células nervosas ................................................................................................... 81

Organização do SNP ................................................................................................................ 81

Organização do SNA ................................................................................................................ 82

Organização do Sistema Nervoso Central ............................................................................... 83

Tecido Conjuntivo do SNC – Meninges ................................................................................... 84

Barreira Hemato-Encefálica .................................................................................................... 85

Degeneração e Regeneração do SNP ...................................................................................... 85

SISTEMA CARDIOVASCULAR ........................................................................................................ 87

Coração ................................................................................................................................... 87

Artérias e Veias ....................................................................................................................... 88

Linfáticos ................................................................................................................................. 93

Identificação Histológica ......................................................................................................... 94

SISTEMA IMUNITÁRIO ................................................................................................................. 97

Células do Sistema Imunitário ................................................................................................. 97

Órgãos Linfóides ...................................................................................................................... 98

SISTEMA DIGESTIVO I: cavidade oral e estruturas associadas .................................................. 104

Cavidade Oral ........................................................................................................................ 104

Glândulas Salivares ................................................................................................................ 109

SISTEMA DIGESTIVO II: Esófago e Tracto Gastrointestinal ....................................................... 113

Esófago .................................................................................................................................. 115

Transição Cárdio-Esofágica ................................................................................................... 116

Estômago ............................................................................................................................... 116

Intestino Delgado .................................................................................................................. 121

Intestino Grosso .................................................................................................................... 123

Recto e Canal Anal ................................................................................................................. 125

SISTEMA DIGESTIVO III: Fígado, Vesícula Biliar e Pâncreas ....................................................... 126

Fígado .................................................................................................................................... 126

Sistema Biliar ......................................................................................................................... 131

Vesícula Biliar ........................................................................................................................ 132

Pâncreas ................................................................................................................................ 133

SISTEMA RESPIRATÓRIO ............................................................................................................ 135

Fossas Nasais ......................................................................................................................... 135

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5

Faringe ................................................................................................................................... 137

Laringe ................................................................................................................................... 137

Traqueia ................................................................................................................................ 137

Brônquios .............................................................................................................................. 139

Bronquíolos ........................................................................................................................... 139

Alvéolos ................................................................................................................................. 140

PADRÕES CITOQUÍMICOS ......................................................................................................... 143

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TECIDO EPITELIAL

O tecido epitelial é um conjunto de células poliédricas, justapostas e funcionalmente

interligadas que recobrem a superfície corporal e as cavidades do organismo. Formam ainda a

porção secretora (parênquima) das glândulas e os seus ductos. Algumas células epiteliais

especializadas são receptores dos órgãos dos sentidos.

O tecido epitelial forma uma barreira selectiva que facilita ou inibe a passagem de

substâncias específicas.

Características

As células estão muito próximas e unidas por junções celulares.

Têm uma polaridade morfológica e funcional, apresentando três domínios: apical ou

livre, lateral e basal.

A superfície basal está unida a uma lâmina basal rica em proteínas e polissacarídeos.

Algumas células podem não ter um domínio apical livre, sendo por isso chamadas de

tecidos epitelióides (ex: células de Leydig, ilhéus de Langerhans, células luteínicas do ovário,

parênquima da glândula adrenal, lobo anterior da glândula pituitária).

Classificação

Os tecidos epiteliais são classificados de acordo com o número de camadas que os

constituem e de acordo com a forma das células da camada mais superficial.

Quanto ao número de camadas:

► Simples (uma só camada de células)

► Estratificado (duas ou mais camadas)

Quando à forma das células:

► Pavimentoso (o comprimento é superior á altura)

► Cubóide (as três dimensões são semelhantes)

► Cilíndrico (a altura é superior ao comprimento)

Podem ainda ser classificados pela especialização do domínio apical em: ciliados,

queratinizados, não queratinizados, etc.

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Simples Pavimentoso Endotélio

Mesotélio

Cápsula de Bowman

Cubóide Ductos das glândulas exócrinas

Superfície do ovário

Túbulos do rim

Folículos da tiróide

Cilíndrico Intestino delgado e cólon

Estômago

Vesícula biliar

Estratificado Pavimentoso Epiderme

Cavidade oral e esófago

Vagina

Cubóide Ductos das glândulas sudoríparas

Grandes ductos de glândulas exócrinas

Cilíndrico Grandes ductos de glândulas exócrinas

Categorias especiais

► Tecido epitelial pseudoestratificado – é aparentemente estratificado, mas

todas as células assentam na membrana basal. Ex: traqueia (com cílios),

epidídimo (com estereocílios).

► Epitélio de transição – epitélio estratificado com características morfológicas

que permitem a sua distensão. As células mais superficiais são arredondadase

e as células que se situam imediatamente abaixo têm forma de pêra e são

ligeiramente mais pequenas. Por último, as células da última camada são

muito pequenas. Limitado ao epitélio do trato urinário (urotélio).

Consoante a sua localização, os epitélios podem ter nomes específicos. O endotélio

está presente nos vasos sanguíneos e linfáticos, o endocárdio está presente nos ventrículos do

coração e o mesotélio é o epitélio das cavidades do organismo.

Funções do epitélio: secreção, absorção, transporte, protecção, receptores.

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Domínios das células epiteliais

Livre/Apical – direccionado para o exterior ou para o lúmen das cavidades.

Lateral – comunica com as células adjacentes.

Basal – assenta na lâmina basal.

Modificações do domínio apical

Estas modificações incluem a presença de enzimas específicas, canais iónicos,

proteínas transportadoras, microvilosidades, estereocílios e cílios.

Microvilosidades (1 a 3 micrómetros)

São projecções em forma de dedo de luva que podem ser pequenas e desordenadas

ou compridas, uniformes e muito próximas. Têm como função aumentar a área de absorção da

célula e o seu número depende da capacidade absortiva da mesma.

No intestino, tomam o nome de prato estriado e, nos tubos renais, de bordadura em

escova. Em condições ideias de observação, é possível distinguir no prato estriado uma ténue

estriação paralela ao eixo maior das células. Nos tubos renais, as microvilosidades são menos

concentradas do que no intestino, daí terem adquirido o nome de bordadura em escova.

Ambas as estruturas estão associadas a uma desenvolvida glicocálix, podendo ser evidenciados

com corantes que demonstram glicoproteínas.

As microvilosidades são constituídas por um núcleo com 20 a 30 filamentos de actina

cuja extremidade positiva está ligada à proteína vilina na porção mais distal e a extremidade

negativa está ligada à rede terminal na base da microvilosidade.

Os filamentos de actina estão ligados entre si por várias proteínas (fimbrina, espina,

fascina) que conferem suporte e rigidez à estrutura e estão ligados à membrana das

microvilosidades por miosina I.

A rede terminal é constituída por espectrina que faz a ancoragem da rede à membrana

da célula e por miosina II + tropomiosina que permitem o movimento passivo das

microvilosidades.

Estereocílios (120 micrómetros)

Estão presentes no epidídimo dos canais deferentes e nas células sensoriais do ouvido

interno.

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No primeiro caso, os estereocílios são muito longos e semelhantes a microvilosidades.

Apresentam um núcleo de actina associado a fimbrina. Têm ainda α-actinina que faz a união

entre dois esterocílios e está presente também na rede terminal.

No ouvido interno, os estereocílios são muito sensíveis à vibração (são

mecanoreceptores). Estão organizados em feixes que vão aumentando de tamanho e formam

uma estrutura em forma de escada. Os filamentos de actina estão unidos por espina e não

apresentam α-actinina. Possuem um mecanismo de renovação constante através da adição de

monómeros de actina na extremidade positiva e na sua remoção na extremidade negativa.

Cílios

Os cílios podem ser:

Móveis

Primários (ou monocílios)

Nodais

Os cílios móveis estão presentes na árvore tráqueo-brônquica, onde são responsáveis

pela eliminação de muco e bactérias. No microscópio óptico, são pequenas estruturas muito

finas com 5 a 10 μm, sendo visível uma banda mais escura na base dos cílios – os corpos basais

(visíveis individualmente no microscópio electrónico).

São constituídos por um axonema e por corpos basais.

O axonema é um núcleo de microtúbulos constituído por 9 pares dispostos em círculo

e por um par central (9+2).

Cada par é constituído por um microtúbulo A (13 protofilamentos de tubulina) e por

um microtúbulo B (10 protofilamentos de tubulina) que partilham uma parte da sua parede.

Têm 2 “braços” de dineína (proteína motora) em volta de cada par e pares adjacentes estão

ligados por nexina.

Os corpos basais são centros organizadores de microtúbulos e são constituídos por 9

porções de tripletos de microtúbulos arranjados em anel.

A actividade dos cílios é baseada no movimento dos microtúbulos uns em relação aos

outros, o que é permitido pela dineína. O par central de microtúbulos têm quinesina que

provoca um movimento de rotação dos microtúbulos responsável pela regulação da interacção

da dineína com os restantes microtúbulos e pela coordenação do sentido do movimento.

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Os cílios primários/monocílios são imóveis devido à ausência de proteínas motoras e

do par de microtúbulos central (9+0). Movem-se passivamente devido à acção de fluidos e,

geralmente, está presente apenas um por célula. Recebem estímulos químicos, osmóticos,

luminosos e mecânicos e geram sinais que são transmitidos à célula. São essenciais no controlo

da divisão celular.

Estão localizados nas células epiteliais dos túbulos renais, nas células vestibulares do

ouvido e no tracto biliar.

Os cílios nodais são imóveis (9+0) e têm um papel importante no desenvolvimento

embrionário, nomeadamente na determinação da simetria direita-esquerda. Possuem

quinesina e dineína que provocam movimentos de rotação no sentido contrário ao dos

ponteiros do relógio.

Especializações do domínio lateral

A membrana lateral apresenta moléculas de adesão celular (CAM) que fazem parte de

especializações de junção que podem ser de três tipos: oclusivas (de oclusão), de adesão ou

comunicantes. A membrana lateral pode ainda apresentar invaginações que são responsáveis

por aumentar a área de contacto entre as células e que são particularmente desenvolvidas em

tecidos envolvidos no transporte de fluidos e iões.

Junções de oclusão: zonula ocludens ou tight junctions

São as estruturas mais apicais e formam uma faixa circunferencial em volta da célula.

Formam uma barreira selectiva entre células adjacentes, limitando o movimento de água e

outras moléculas pelo espaço intercelular. São ainda responsáveis por evitar a migração de

lípidos e proteínas entre as membranas apical e lateral, mantendo a integridade dos dois

domínios.

Ocludina 4 domínios transmembranares

Presente na grande maioria dos epitélios

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Claudinas 4 domínios transmembranares

Responsável por formar canais aquosos para a passagem de

pequenos iões

Junctional

adhesion

molecules (JAM)

1 domínio transmembranar

Pertencem à família das imunoglobulinas.

Formação de tight junctions entre células epiteliais e entre

estas e os monócitos em migração do espaço vascular para o

tecido conjuntivo.

Os domínios extracelulares destas proteínas formam uma estrutura em forma de fecho

que sela o espaço intercelular.

Os domínios intracelulares têm sequências de aminoácidos que atraem PDZ-domain

proteins (complexos proteicos) que incluem ZO-1, ZO-2 e ZO-3 e que se associam à ocludina e

aos filamentos de actina do citoesqueleto.

Tipos de transporte

► Transporte transcelular (transcitose) – tipo de transporte activo da membrana

apical para o citoplasma e do citoplasma para a membrana lateral (abaixo na

zonula ocludens) ou para a membrana basal.

► Transporte paracelular – é feito através da zonula ocludens e a quantidade de

moléculas transportadas depende da densidade da zonula ocludens,

nomeadamente da composição molecular e do número de canais aquosos

activos.

Junções de adesão

São responsáveis pela adesão entre células através da ligação do citoesqueleto de

células adjacentes. Estão situadas abaixo da zonula ocludens e podem ser de dois tipos:

Zonula adherens (fazem a ligação dos filamentos de actina)

Macula adherens /desmossomas (fazem a ligação dos filamentos intermédios)

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A principal função deste tipo de junção é a estabilidade mecânica do epitélio,

impedindo que as células se separem quando sujeitas a certos tipos de forças, bem como o

reconhecimento célula-a-célula. Têm ainda um papel na morfogénese e diferenciação

celulares.

Proteínas envolvidas:

CAM (moléculas de adesão celular)

O domínio extracelular interage com os de CAM de células vizinhas. Esta interacção

pode ser de dois tipos: homotípica, se ocorrer entre CAMs do mesmo tipo, ou heterotípica, se

ocorrer entre CAMs de tipos diferentes.

O domínio intracelular está ligado ao citoesqueleto.

Estas moléculas estão envolvidas na comunicação, diferenciação e reconhecimento

celular, na apoptose, respostas imunitárias, etc.

Existem 4 famílias de CAMs:

Caderinas Dependentes de cálcio

Interacções homotípicas

Associadas a cateninas que são responsáveis por fazer a ligação à actina

Conduzem sinais que regulam a divisão e o crescimento celular

Caderina-E: epitélios

Caderina-N: SNC, cristalino, músculo esquelético e cardícaco

Integrinas Constituídas por 2 glicoproteínas transmembranares

Interacções heterotípicas

Interagem com moléculas da matriz extracelular (colagénio, fimbrina,

fibronectina) e com os filamentos de actina e filamentos intermédios do

citoesqueleto

Selectinas Dependentes de cálcio

São expressas em células epiteliais e nos glóbulos brancos

Fazem o reconhecimento neutrófilo-endotélio que inicia a migração dos

neutrófilos pelo endotélio dos vasos sanguíneos

Superfamília das Regulam a adesão celular homotípica

Page 13: Guinness - Histologia

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imunoglobulinas Existem vários tipos: ICAM (intercellular cell adhesion molecule), CCAM

(cell-cell adhesion molecule), VCAM (vascular cell adhesion molecule)…

Têm um papel na adesão celular, na metastização de tumores, na

angiogénese e nos processos inflamatórios.

Zonula Adherens

Formam um anel em volta da célula. São compostas por E-Caderina que está ligada, no

domínio intracelular, a catenina. O complexo E-caderina - catelina liga-se à vinculina e α-

catenina que por sua vez interagem com os filamentos de actina. O domínio extracelular está

ligado a cálcio, pelo que a remoção destes iões leva à dissociação da E-caderina.

No microscópio electrónico, o espaço intercelular é pouco denso. Abaixo da

membrana, é visível uma zona mais densa que corresponde aos complexos E-caderina -

catenina e às proteínas associadas.

Fascia adherens

São junções específicas do tecido muscular cardíaco que são semelhantes a zonula

adherens. Ao microscópio electrónico, apresentam um aspecto ondulado. Têm ZO-1.

Macula adherens / desmossomas

São junções muito fortes e que fazem a ancoragem de filamentos intermédios de

células adjacentes. Ao contrário das zonula adherens, não são contínuas ao longo de toda a

célula.

No lado citoplasmático da membrana, existe uma zona mais densa que corresponde a

placas citoplasmáticas onde estão ligados os filamentos intermédios e que são compostas por

desmoplaquina e placoglobina. Estas placas são responsáveis pela dissipação de forças.

O espaço intercelular apresenta, ao microscópio electrónico, uma banda mais densa

no meio que representa a porção extracelular de glicoproteínas: desmogleína e desmocolina

(membros da família das caderinas – são dependentes de cálcio). A porção citoplasmática

destas glicoproteínas interage com a desmoplaquina e com a placoglobina.

Page 14: Guinness - Histologia

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Junções comunicantes: gap junctions ou nexus

Permitem a passagem de moléculas entre células adjacentes através de um conjunto

de canais transmembranares e poros, sendo importantes em tecidos com actividade

coordenada. Ao microscópio electrónico, são pontos de contacto entre células vizinhas.

Os canais são formados por dois conexões, um em cada uma das células adjacentes.

Cada conexão é constituído por 6 subunidades de conexina, sendo que, no total, cada canal

tem 12 conexinas organizadas de forma circular.

A interacção entre as conexinas pode ser homotípica se as moléculas passam

igualmente nos dois sentidos ou heterotípica se as moléculas passam mais rápido num dos

sentidos.

Mutações nos genes das conexinas estão associados a surdez e cataratas.

Especializações do domínio basal: membrana basal, junções célula-matriz e invaginações

Membrana basal

Não é visível em preparações de hemalúmen-eosina por ser muito fina e ficar corada

da mesma forma que o tecido conjuntivo adjacente (pode ser usada impregnação em prata). É

PAS-positiva, o que indica a presença de proteoglicanos. Forma uma camada mais escura e

muito fina entre o epitélio e o tecido conjuntivo.

O termo membrana basal inclui a lâmina basal e a lâmina reticular.

► A lâmina reticular é uma camada pertencente ao tecido conjuntivo formada por

colagénio tipo III (colagénio reticular).

► A lâmina basal ou lamina densa é uma camada de material mais denso entre o

epitélio e o tecido conjuntivo. Contém: laminina, colagénio tipo IV, proteoglicanos

e glicoproteínas. Entre a lâmina basal e a célula, existe uma camada mais clara

constituída por CAMs (fibronectina e receptores de laminina) que se denomina

lamina lucida.

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Conteúdo da lâmina basal:

Colagénio Tipo IV (50%) - isoformas deste tipo conferem especificidade à

lâmina basal associada a diferentes tecidos.

Tipo XV – estabilização dos músculos esquelético e cardíaco.

Tipo XVIII – vasos e epitélios.

Tipo VII – ancoragem da lâmina basal à lâmina reticular.

Lamininas Glicoproteínas constituídas por 3 cadeias polipeptídicas.

Importantes na iniciação da formação da lâmina basal.

Têm locais para ligação de receptores de integrina existentes no

domínio basal do epitélio.

Entactina Glicoproteína

Faz a ligação entre a laminina e a rede de colagénio IV

Liga-se a iões cálcio

Proteoglicanos Têm um carácter muito negativo, pelo que são muito hidratados

(dão volume à lâmina basal)

Regulam a passagem de iões

A adesão da lâmina basal ao tecido conjuntivo é feita por:

Colagénio tipo VII – faz um loop à volta do colagénio tipo III

Microfibrilhas – ancoragem das fibras elásticas

Projecções da lamina densa

Funções da lâmina basal:

► Ligação das células ao tecido conjuntivo

► Isolamento do tecido conjuntivo dos epitélios, nervos e tecido muscular

► Filtração

► Guia na regeneração de tecidos

► Impede a invasão tumoral

► Controlo das funções celulares por interacção com receptores das membranas

celulares

Page 16: Guinness - Histologia

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Junções célula-matriz

Mantêm a integridade da interface célula-matriz. Podem ser adesões focais (envolvem

os filamentos de actina) ou hemidesmossomas (envolvem filamentos intermédios). Existem

ainda, no domínio basal, proteínas transmembranares da família das integrinas que interagem

com a lâmina basal.

Adesões focais

Fazem a interacção entre a lâmina basal e os filamentos de actina.

As proteínas transmembranares envolvidas são as integrinas que interagem, no

domínio intracelular, com α-actinina, vinculina, etc. que estão ligadas à actina. No domínio

extracelular, ligam-se a glicoproteínas da lâmina basal, nomeadamente a laminina e a

fibronectina.

As adesões focais são a base para a migração celular e são importantes na conversão

de sinais mecânicos, provenientes do meio exterior, em sinais bioquímicos que afectam a

actividade da célula (crescimento, migração, diferenciação, etc.).

Hemidesmossomas

Estão presentes em epitélios sujeitos a forças abrasivais, como a córnea, pele, mucosa

da cavidade bucal, esófago e vagina.

São semelhantes ao desmossomas. Na porção intracelular, têm uma placa

citoplasmática composta por proteínas da família das desmoplaquinas (plectina, BP230,

erbina) que se ligam aos filamentos intermédios. As proteínas transmembranares são as

integrinas.

Invaginações

Aumentam a superfície da membrana basal, permitindo a presença de um maior

número de proteínas transportadoras e canais, sendo muito importantes em células com um

transporte activo de moléculas, como os túbulos renais e alguns ductos das glândulas salivares.

Ao microscópio óptico, apresentam um aspecto estriado devido ao facto de as

mitocôndrias se posicionarem numa posição vertical no meio das invaginações (a presença de

mitocôndrias é importante no fornecimento de energia para o transporte activo que ocorre ao

longo da membrana).

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Renovação Epitelial

O turn-over celular é característico de cada epitélio. A renovação de celular ocorre por

divisões sucessivas das células estaminais do epitélio que estão localizadas em nichos. As

novas células vão empurrando as que se situam em camadas suprajacentes.

Page 18: Guinness - Histologia

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EPITÉLIO GLANDULAR

É um tipo de epitélio com função essencialmente secretora e que se diferenciam como

glândulas.

As glândulas endócrinas e exócrinas originam-se por crescimento e diferenciação de

botões celulares existentes nos epitélios de revestimento.

As glândulas podem ser de dois tipos:

► Endócrinas – o produto (hormonas) é secretado para a corrente sanguínea

directamente; não existem ductos excretores.

► Exócrinas – o produto é secretado no tecido conjuntivo ou epitelial através de

um sistema de ductos.

Glândulas exócrinas

Apresentam 3 mecanismos de secreção:

Merócrina O produto é libertado por exocitose do domínio apical.

Ex: Glândulas salivares e pâncreas exócrino

Apócrina Juntamente com o produto é secretada uma pequena porção de

citoplasma e há destruição parcial da membrana apical.

Ex: Glândula mamária, glândulas ciliares (de Moll) no olho.

Holócrina Acumulação do produto no citoplasma da célula e libertação por

apoptose.

Ex: Glândulas sebáceas da pele

Classificação

As glândulas exócrinas podem ser unicelulares (ex: células caliciformes do intestino e

do tracto respiratório) ou multicelulares. Estas últimas podem ainda ser classificadas tendo em

conta as unidades secretoras (parênquima, ou seja, as células que produzem e libertam

substâncias) e os ductos excretores.

Com base nas unidades secretoras, as glândulas exócrinas podem ser:

► Tubulares (em forma de tubo)

► Acinares / alveolares (forma arredondada)

Page 19: Guinness - Histologia

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► Mistas / tubuloalveolares (um tubo que termina numa dilatação em forma de

saco)

Com base nos ductos excretores, podem ser:

► Simples (não tem ramificações)

► Compostos (canais excretores ramificados)

Quanto ao tipo de secreção, as glândulas podem ser mucosas ou serosas.

As secreções mucosas são viscosas, ricas em glicoproteínas e glicolípidos (PAS-

positivas). Nas preparações de hemalúmen-eosina, o citoplasma não é visível porque o

conteúdo é perdido. O núcleo é alongado e periférico devido à acumulação de muco no

citoplasma.

Ex: células caliciformes, glândula submaxilar, células superficiais do estômago.

As secreções serosas são mais aquosas e ricas em proteínas. O núcleo das células é

redondo/oval, o citoplasma perinuclear é basófilo devido à abundância de retículo

endoplasmático rugoso e o citoplasma apical cora intensamente com eosina. Ex: pâncreas

exócrino.

No mesmo tecido, podem ser encontradas glândulas serosas e glândulas mucosas. Ex:

pâncreas, glândula parótida.

Glândulas Endócrinas

As moléculas secretadas podem actuar sobre células situadas longe do local de

secreção, sobre células vizinhas (acção parócrina) ou sobre a própria célula (autócrina).

Glândulas Mistas

Apresentam, simultaneamente, compartimentos endócrinos e exócrinos. Ex: pâncreas,

fígado.

Page 20: Guinness - Histologia

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TECIDO CONJUNTIVO

O tecido conjuntivo tem origem mesodérmica e é constituído por células e matriz

extracelular (fibras e proteínas especializadas que constituem a substância fundamental).

Pode ser classificado em três categorias: embrionário, tecido conjuntivo

propriamente dito e especializado.

Tecido conjuntivo embrionário

A mesoderme é um folheto embrionário que origina quase todos os tipos de tecido

conjuntivo do organismo com excepção do da região da cabeça que tem origem na ectoderme,

a partir de células da crista neural.

A proliferação e diferenciação da mesoderme origina o mesênquima, um tecido

conjuntivo primitivo que por sua vez dá origem aos tecidos conjuntivos, aos músculos, ao

sistema vascular e urinário e às membranas serosas das cavidades.

Existem dois subtipos de tecido conjuntivo embrionário:

► O mesênquima que é constituído por pequenas células fusiformes que

possuem prolongamentos que contactam com outras células. Estes

prolongamentos têm gap junctions. O espaço extracelular tem pouco

colagénio devido ao facto de o feto estar pouco sujeito a stress físico.

► Tecido conjuntivo mucoso presente no cordão umbilical. A sua substância

fundamental é chamada de geleia de Wharton. As células fusiformes estão

mais separadas e são semelhantes a fibroblastos. Os prolongamentos são

pouco visíveis com hemalúmen-eosina.

Tecido conjuntivo propriamente dito

Tecido conjuntivo Características Localização

Laxo Fibras de colagénio finas e escassas;

Maior quantidade de células;

Importante na difusão de oxigénio,

dióxido de carbono e nutrientes entre

os capilares e as células;

Local onde ocorre a resposta imunitária

e inflamatória, pelo que podem estar

presentes células imunitárias;

Mucosa dos órgãos

Epitélio glandular

Endotélio dos pequenos

vasos sanguíneos

Page 21: Guinness - Histologia

21

Denso irregular Grande quantidade de colagénio cujas

fibras estão dispostas em várias

direcções, o que confere ao tecido

elevada resistência mecânica

Células são escassas e geralmente

apenas estão presentes fibroblastos

Pouca MEC

Submucosa dos órgãos

ocos (como o tracto

intestinal) onde permite a

sua distensão

Pele, onde se chama

camada reticular da

derme

Denso regular Pouca quantidade de MEC

Fibras de colagénio organizadas em

paralelo e muito próximas, o que

confere elevada resistência

As células que produzem as fibras

estão localizadas entre os feixes

paralelos de colagénio

Tendões

Ligamentos

Aponevroses

Os tendões são estruturas que fazem a ligação entre os músculos e os ossos. Entre os

feixes de colagénio existem tendinócitos, que são fibroblastos com um aspecto estrelado. Os

tendões estão revestidos por uma camada de tecido conjuntivo no qual as fibras estão menos

organizadas. Prolongamentos desta camada dividem o tendão em feixes e contêm os vasos e

nervos responsáveis pela sua vascularização e inervação.

Os ligamentos são estruturas menos organizadas do que os tendões e são

responsáveis por ligar dois ossos. Alguns possuem mais fibras elásticas e menos colagénio pelo

que são chamados de ligamentos elásticos.

As aponevroses são constituídas por várias camadas de fibras e, em cada uma delas, as

fibras estão organizadas de forma paralela. Entre camadas vizinhas, as fibras formam ângulos

de 90º. Este tipo de arranjo está presente também na córnea, sendo responsável pela sua

transparência.

Constituição do tecido conjuntivo

O tecido conjuntivo é formado por colagénio, fibras reticulares e fibras elásticas, sendo

todas produzidas por fibroblastos.

Colagénio

É o composto mais abundante. As suas fibras são muito flexíveis e têm elevada

resistência à tensão. Coram com eosina e outros corantes ácidos.

Page 22: Guinness - Histologia

22

As fibras de colagénio são constituídas por fibrilhas (subunidades) que se associam

“cabeça com cauda”. A resistência é causada pelas ligações covalentes entre moléculas de

feixes diferentes.

Cada molécula de colagénio é constituída por:

► Tripla hélice de hélices-alfa

► A glicina aparece a cada três aminoácidos

► A sequência hidroxiprolina/hidroxilisina – glicina – prolina é frequente

► Hidratos de carbono associados

► 600-3000 aminoácidos

Existem 28 tipos de colagénio, sendo que os mais importantes são os 5 primeiros.

Tipo Localização Função

I Pele, osso, tendões, ligamentos, dentina,

aponevroses, órgãos ocos (90% do colagénio

total do organismo)

Resistência à tensão e ao

estiramento

II Cartilagem hialina e elástica, notocorda e

disco intervertebral

Resistência a pressões

intermitentes.

III Tecido conjuntivo laxo, tecido muscular liso,

endoneuro, vasos sanguíneos e pele do feto

Forma fibras reticulares que

confere um esqueleto para

células especializadas de

alguns órgãos

IV Lâmina basal dos epitélios, glomérulos do

rim

Barreira de filtração

V Tecido conjuntivo do estroma Associado a colagénios tipo

I, XII e XIV para modular as

propriedades biomecânicas

das fibrilhas

VI Matriz cartilagínea que envolve os

condrócitos

União dos condrócitos à

matriz;

Associado ao tipo I

VII Fibrilhas de ancoragem da pele, olhos, útero

e esófago

Ligação da lâmina basal ao

tecido conjuntivo

Page 23: Guinness - Histologia

23

Biossíntese de colagénio

Eventos intracelulares:

► Síntese de hélices-alfa no REr na forma de cadeias pro-α que apresentam longos

domínios carboxilo e amina.

► No lúmen do REr, sofrem várias modificações:

Remoção da sequência sinal da extremidade amina.

Hidroxilação dos resíduos de prolina e lisina. Este processo requer ácido

ascórbico (vitamina C) pois na sua ausência não se formam pontes de

hidrogénio.

Glicolização dos resíduos de lisina.

Formação da tripla hélice (excepto nas extremidades).

Formação de pontes de H e dissulfito intra e inter-cadeia.

Estabilização da cadeia por chaperones (hsp47) que previnem a formação de

agregados.

► O produto final é o pro-colagénio que é excretado

Eventos extracelulares:

► Remoção das extremidades amina e carboxilo por peptidases.

► Formação de fibrilhas por fibrilhogénese.

► Formação de ligações covalentes entre lisina e hidroxilisinas de cadeias diferentes.

O colagénio maduro é formado por vários tipos de colagénio e é sintetizado por

fibroblastos, que na cartilagem se chamam condrócitos e no osso são osteoblastos. O

colagénio da lâmina basal é produzido pelas células epiteliais.

A biossíntese de colagénio é regulada por factores de crescimento, hormonas e

citocinas, sendo que o factor de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e o factor de

crescimento β estimulam a sua produção e os glicocorticóides (hormonas esteróides) a

inibem.

Degradação do colagénio

Ocorre por duas vias principais: degradação proteolítica e degradação fagocítica.

A degradação proteolítica ocorre pela acção de metaloproteínases de matriz (MMP)

que são sintetizadas por fibroblastos, células epiteliais e células cancerígenas. As MMPs

Page 24: Guinness - Histologia

24

incluem: colagenases (degradam os tipos I, II, III e X), gelatinases (degradam colagénio

desnaturado, laminina, fibronectina e elastina), estromalisinas (degradam proteoglicanos e

fibronectina), MMPs de membrana (produzidas por células cancerígenas), etc.

Geralmente, a estrutura em tripla hélice é resistente à degradação. A actividade das

MMPs pode ser inibida por inibidores específicos para estas enzimas, podendo vir a ser de

elevada importância no tratamento do cancro.

A degradação fagocítica ocorre no meio intracelular. Os macrófagos e fibroblastos

fagocitam os fragmentos de colagénio previamente degradados que são digeridos nos

lisossomas das células.

Fibras Reticulares

São compostas por colagénio tipo III (colagénio reticular), têm cerca de 20nm de

diâmetro e não coram com hemanlúmen-eosina. São PAS-positivas o que indica a presença de

grupos de glícidos.

Estão presentes no tecido conjuntivo em contacto com epitélios e rodeiam

adipócitos, pequenos vasos sanguíneos, nervos e células musculares. São ainda encontrados

em tecidos embrionários e nos primeiros estádios de reparação de tecidos e formação de

tecido cicatrizado, onde vai sendo substituído progressivamente por tipo I. Estão também

presentes nos tecidos hematopoiéticos e linfóides, nomeadamente no timo. Nestes tecidos,

são produzidos por células especiais, as células reticulares, que envolvem as fibras e as isolam

de outros componentes.

As fibras reticulares são geralmente produzidas por fibroblastos, excepto nos nervos

onde são produzidas pelas células de Schwann, na túnica média dos vasos e no músculo liso do

tubo digestivo.

Fibras Elásticas

São produzidas por fibroblastos e por células musculares lisas.

Possuem um núcleo de elastina e uma rede de microfibrilhas de fibrilina. A elastina

é rica em prolina e lisina e é hidrofóbica. A fibrilina-1 é uma glicoproteína que forma

microfibrilhas de 10-12nm de diâmetro e que permite a organização da elastina em fibras. A

sua ausência está associada à síndrome de Marfan caracterizada por uma elevada elasticidade

da pele.

Page 25: Guinness - Histologia

25

As fibras elásticas formam uma extensa rede tridimensional e entrelaçam-se com o

colagénio, limitando a distensão do tecido e impedindo que este “rasgue”.

Estas fibras estão presentes nas cordas vocais e algumas artérias.

Matriz Extracelular

A matriz extracelular é uma rede que rodeia e suporta as células presentes no tecido

conjuntivo. Contém, além do colagénio, das fibras reticulares e das fibras elásticas, uma

grande variedade de proteoglicanos, glicosaminoglicanos e glicoproteínas não-colagenosas

(fibronectina e laminina). Estes três últimos componentes formam a substância fundamental

da matriz extracelular.

Funções da matriz extracelular:

► Suporte mecânico e estrutural

► Força de tensão

► Barreira biomecânica

► Regulação das funções metabólicas da célula

► Ancoragem das células por adesões célula-matriz

► Importante no desenvolvimento embrionário e diferenciação

► Retém factores de crescimento

► Informa a célula sobre a constituição do meio extracelular

Substância fundamental

É uma substância viscosa e límpida que, no microscópio óptico, tem uma aparência

amorfa. Nas preparações de hemalúmen-eosina, a substância fundamental é perdida, pelo que

só as células e fibras são visíveis.

Os glicosaminoglicanos são o composto mais abundante. São formados por uma longa

cadeia não ramificada constituída por dissacáridos (N-acetilgalactosamina ou N-

acetilglicosamina e ácido urónico). São sintetizados sob a forma de proteoglicanos e sofrem,

posteriormente, modificações. Estão carregados negativamente devido aos grupos sulfato e

carboxilo, o que faz com que tenham a capacidade de atrair água e formar um gel que permite

a difusão rápida de moléculas.

Page 26: Guinness - Histologia

26

O ácido hialurónico é um glicosaminoglicano com algumas características especiais:

tem uma cadeia muito longa, consegue deslocar maiores quantidades de água, é sintetizado

por proteínas de membrana pelo que não sofre modificações após a tradução, não contém

sulfatos e não forma proteoglicanos. Estes, ao interagirem com o ácido hialurónico através de

proteínas específicas, formam agregados. É muito abundante na cartilagem conferindo-lhe

maior capacidade para resistir a choques e é um bom isolante devido à dificuldade que as

moléculas têm em difundir-se através dele.

As glicoproteínas não-colagenosas têm locais de ligação para as proteínas da MEC e

interagem com receptores de laminina e integrina das membranas celulares, pelo que são

responsáveis pela estabilização da MEC e pela ligação desta às células.

A fibronectina é a mais abundante. É um dímero de 2 péptidos iguais ligados por

ligações dissulfito. Possui locais de ligação para componentes da MEC (sulfato de heparina,

colagénio tipo I, II e III, fibrina, fibronectina, ácido hialurónico) e para a integrina, um receptor

membranar.

A laminina está presente na lâmina basal e possui locais de ligação para colagénio tipo

IV, heparina e para o receptor de laminina.

A osteopontina está presente no osso e liga os osteoclastos à superfície deste. É

importante na captação de cálcio.

Células do Tecido Conjuntivo

Constantes Que migram da corrente sanguínea

Fibroblastos e miofibroblastos

Mastócitos

Células estaminais adultas

Macrófagos

Adipócitos

Linfócitos

Neutrófilos

Eosinófilos

Basófilos

Monócitos

Plasmócitos

Page 27: Guinness - Histologia

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Fibroblastos

Responsáveis pela síntese de colagénio, fibras reticulares e fibras elásticas,

proteoglicanos, glicoproteínas, etc.

Quando corados com hemalúmen-eosina só o núcleo é visível. Têm uma forma

alongada ou em forma de disco. No microscópio electrónico, é possível ver o REr e o complexo

de Golgi bem desenvolvidos devido à elevada síntese proteica.

Se a preparação for feita durante uma fase de crescimento activo ou reparação de

tecido, os fibroblastos activados são maiores e mais basófilos devido ao aumento do REr.

Miofibroblastos

São alongados e possuem feixes de filamentos de actina associados a proteínas

motoras que atravessam a célula e lhe conferem capacidade contráctil. O local onde se ligam à

membrana chama-se fibronexus e serve é semelhante às adesões focais. Ao microscópio

electrónico, apresentam simultaneamente características de fibroblastos (REr e complexo de

Golgi abundantes) e de músculo liso (membrana nuclear irregular devido à contracção). No

entanto, contrariamente às células musculares lisas, não apresentam lâmina basal e estão

geralmente isoladas, podendo contactar com outros miofibroblastos através de gap junctions.

Macrófagos

São derivados de monócitos – células sanguíneas que migram para os tecidos e se

diferenciam.

É possível identificá-los ao microscópio devido à presença de um núcleo em forma de

rim, lisossomas abundantes, material ingerido por fagocitose e numerosas invaginações e

projecções.

A capacidade fagocítica dos macrófagos é evidenciada pela abundância de lisossomas,

invaginações e vesículas endocíticas. A presença de REr, RE liso e complexo de Golgi indicam

uma elevada síntese proteica necessária à digestão das substâncias fagocitadas, bem como

elevada actividade secretora. Os produtos podem ser secretados por via constitutiva ou

regulada (activada por fagocitose, complexos imunitários e libertação de sinais pelos

linfócitos). Os produtos incluem substâncias de resposta imunitária e inflamatória, proteases e

GAGases (degradam glicosaminoglicanos) que facilitam a migração dos macrófagos para os

tecidos.

Page 28: Guinness - Histologia

28

Têm um importante papel na resposta imunitária. Apresentam à superfície um

conjunto de proteínas específicas – o complexo maior de histocompatibilidade II (MHC II). O

MHC permite a interacção com linfócitos CD4+. Quando os macrófagos fagocitam um

microrganismo, mostram à superfície os seus antigénios. Caso estes sejam reconhecidos pelos

linfócitos T, é desencadeada uma resposta imunitária. Devido a esta capacidade, são

denominadas células apresentadoras de antigénio (APC).

As células de Langhans são conjuntos multinucleados de macrófagos que fagocitam

grandes organismos.

Mastócitos

Células grandes e ovóides, com núcleo esféricos e citoplasma com grânulos que coram

com azul de toluidina porque contêm heparina (proteoglicano). Têm pouco REr, poucas

mitocôndrias e complexo de Golgi pouco desenvolvido.

Desenvolvem-se de células estaminais hematopoiéticas. Circulam no sangue na forma

de agranulócitos e, ao migrarem para os tecidos, produzem os grânulos. Possuem receptores

para as imunoglobulinas E, pelo que a ligação destas aos mastócitos desencadeia a libertação

dos grânulos e a consequente resposta alérgica.

Estão presentes na vizinhança de vasos sanguíneos (excepto no SNC para que o

cérebro e a medula estejam protegidos de eventuais reacções alérgicas), nos folículos

capilares, nas glândulas sudoríparas e sebáceas e no timo e órgãos linfóides (excepto o baço).

Os produtos secretados pelos mastócitos estão armazenados nos grânulos e incluem

mediadores de inflamação que podem ser pré-sintetizados ou recém-sintetizados:

► Histamina – aumenta a permeabilidade dos vasos, causa edemas, aumenta a

produção de muco na árvore tráqueo-brônquica, etc.

► Heparina – é um anticoagulante usado no tratamento de tromboses.

► Proteases de serina – induzem a apoptose de células vasculares nas áreas

ateroscleróticas.

► Factores que atraem neutrófilos e eosinófilos.

► CTC4 – libertado em choques anafiláticos; provoca a constrição dos

brônqueos.

► Tumos necrosis factor α.

► Prostaglandina D2

► Interleucina-5

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29

Basófilos

São formados na medula óssea e libertados na corrente sanguínea. Secretam as

mesma substâncias que os mastócitos (excepto interleucina-5 e prostaglandina D2).

Page 30: Guinness - Histologia

30

TECIDO CARTILAGÍNEO

É um tecido conjuntivo especializado, composto por condrócitos e matriz extracelular.

A matriz extracelular (95% do volume) é sólida, moldável, resistente e é essencial para a

sobrevivência dos condrócitos devido à elevada concentração de glicosaminoglicanos e

colagénio tipo II que permitem a difusão de substâncias até eles. A elevada resistência do

colagénio, associada à hidratação dos proteoglicanos, confere à cartilagem uma elevada

resistência ao peso durante longos períodos de tempo.

A cartilagem pode ser dividida em três tipos: cartilagem hialina, cartilagem elástica e

fibrocartilagem.

Cartilagem Hialina

A matriz extracelular é amorfa e possui lacunas, pequenos espaços onde estão

situados os condrócitos. Possui uma capacidade de regeneração muito limitada e é o precursor

de ossos que de desenvolvem por ossificação endocondral.

Localização: Superfícies articulares

Traqueia

Brônquios

Laringe

Septo nasal

Extremidade esternal das costelas

Composição

Colagénio (15%)

Tipo II (principalmente)

Tipo XI (regula o tamanho das fibrilhas)

Tipo X (organização tridimensional)

Tipo IX (interage com os proteoglicanos)

Tipo VI (presente à superfície dos condrócitos)

Proteoglicanos (9%)

Page 31: Guinness - Histologia

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A substância fundamental contém 3 tipos de glicosaminoglicanos: ácido hialurónico,

condroitino sulfato e queratano sulfato. Estes dois últimos estão unidos a uma proteína para

formar um proteoglicano. Cada molécula de ácido hialurónico está ligada a vários

proteoglicanos, formando agregados carregados negativamente entre as fibrilhas de colagénio

que atraem moléculas de água.

Glicoproteínas não-colagenosas (5%)

Influenciam as interacções entre os condrócitos e a matriz. São marcadores da

degeneração da cartilagem.

Água (60-80%)

A água confere à cartilagem resistência e capacidade de resposta a variações da

pressão e permite a difusão de substâncias importantes para a nutrição dos condrócitos.

A regeneração da matriz extracelular depende da capacidade dos condrócitos

detectarem mudanças na sua composição. A pressão cria sinais mecânicos, químicos e

eléctricos que influenciam a actividade destas células. Com a idade, a composição da matriz

altera-se e os condrócitos deixam de ser capazes de responder a esses estímulos.

Condrócitos

Os condrócitos estão agrupados na cartilagem em grupos isógenos que correspondem

a células que se dividiram recentemente. À medida que vão produzindo matriz extracelular,

vão-se afastando.

Os condrócitos secretam, além das proteínas que compõem a matriz,

metaloproteinases que são responsáveis pela sua degradação.

Condrócitos activos têm:

► Citoplasma com zonas mais basófilas (mais escuras) que revelam uma elevada

síntese proteica;

► Citoplasma com zonas mais claras que correspondem ao Complexo de Golgi;

► No microscópio electrónico, são visíveis grânulos, vesículas, REr e

citoesqueleto abundantes.

Condrócitos inactivos têm:

Page 32: Guinness - Histologia

32

► Complexo de Golgi mais pequeno;

► Elevado número de gotículas de lípidos;

► Então “encolhidos” devido à perda do conteúdo lipídico e glicogénico durante

a preparação.

Os componentes da matriz extracelular não estão distribuídos uniformemente,

podendo distinguir-se 3 zonas baseadas na forma como coram:

Matriz capsular/pericelular

É representada por um anel mais denso em volta de cada

condrócitos. Tem uma elevada concentração de

proteoglicanos, ácido hialurónico, glicoproteínas não-

colagenosas e colagénio tipo VI (faz a ancoragem do

condrócito à matriz).

Matriz territorial

Rodeia os grupos isógenos e cora menos intensamente. Tem

maior quantidade de colagénio tipo II.

Matriz interterritorial Ocupa o espaço entre condrócitos e é a zona que cora de

forma mais clara, porque é a zona com menor quantidade de

proteoglicanos.

Pericôndio

Tecido conjuntivo denso composto por células semelhantes a fibroblastos que envolve

a cartilagem hialina, excepto nas superfícies articulares e nas superfícies onde ela contacta

com o osso. É constituído por duas camadas: uma camada mais externa fibrosa e uma mais

interna celular que origina condrócitos (é condrogénica).

A cartilagem articular pode ser divida em 4 camadas (de superficial para profundo):

Page 33: Guinness - Histologia

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Zona Superficial

Muito resistente à pressão.

Condrócitos muito numerosos e achatados rodeados por colagénio

tipo II disposto em feixes paralelos

Zona Intermédia

Condrócitos e as fibras de colagénio distribuídos de forma mais

irregular

Zona Profunda Condrócitos pequenos e redondos organizados em colunas

perpendiculares à superfície

Zona Calcificada Condrócitos muito pequenos

Matriz extracelular calcificada

Cartilagem Elástica

A matriz extracelular é semelhante à da cartilagem hialina mas possui também fibras

elásticas, apresentando por isso propriedades elásticas. Está rodeada por pericôndio, cora com

orceína e não calcifica.

Localização: Ouvido externo

Paredes do canal auditivo externo

Trompa de Eustáquio

Epiglote

Fibrocartilagem

É constituída por tecido conjuntivo denso regular e por cartilagem hialina.

Os condrócitos encontram-se dispersos entre as fibras, podendo ser solitários ou estar

reunidos em grupos isógenos. Os núcleos são arrendondados e existe menor quantidade de

matriz extracelular. Não existe pericôndio. São visíveis alguns núcleos alongados que não

pertencem a condrócitos mas sim a fibroblastos.

Este tipo de cartilagem é muito resistente à compressão e absorve os choques.

Localização: Sínfise púbica

Discos intervertebrais

Page 34: Guinness - Histologia

34

Menisco do joelho

Alguns locais onde o tendão se une ao osso

Composição da Matrix Extracelular

Colagénio tipo I (típico do tecido conjuntivo)

Colagénio tipo II (típico da cartilagem)

A proporção dos tipos de colagénio varia consoante a localização e com a

idade (ao longo dos anos a quantidade de colagénio tipo II aumenta porque é

constantemente libertado pelos condrócitos)

Menor quantidade de proteoglicanos e água

Condrogénese

O processo de desenvolvimento dos condrócitos inicia-se por agregação de células

mesenquimais (ou ectomesenquimais da crista neural, no caso das cartilagens da cabeça). A

expressão do factor de transcrição SOX-9 diferencia estas células em condroblastos, que são

responsáveis pela segregação da matriz. Quando um condroblasto está completamente

rodeado por matriz extracelular passa a chamar-se condrócito.

As células mesenquimais que rodeiam os pontos de condrogénese originam o

pericôndio que envolve a cartilagem.

A regulação do processo de condrogénese é feita por proteínas da matriz extracelular,

por receptores nucleares, por moléculas de adesão, por factores de transcrição e por forças

biomecânicas exercidas sobre estas células.

O crescimento da cartilagem pode ocorrer por dois processos:

Crescimento aposicional – os condroblastos da camada condrogénica (mais

interna) do pericôndio sofrem mitoses sucessivas e originam condrócitos.

Crescimento intersticial – os condrócitos da região interna da cartilagem

dividem-se; as células-filhas ocupam primeiro a mesma lacuna da progenitora mas à

medida que vão depositando nova matriz afastam-se, provocando o crescimento da

cartilagem.

Page 35: Guinness - Histologia

35

Reparação da Cartilagem Hialina

A cartilagem é incapaz de se regenerar devido à ausência de vascularização, à

imobilidade dos condrócitos e à sua limitada capacidade de divisão.

A regeneração só ocorre se a lesão afectar apenas o pericôndio. Nesta situação, a

reparação é feita por células pluripotentes localizadas neste tecido mas poucas células

cartilagíneas são produzidas. A reparação ocorre principalmente por produção de tecido

conjuntivo denso.

A reparação de cartilagem é feita por deposição de colagénio tipo I e formação de

cicatriz. Desenvolvem-se geralmente vasos sanguíneos na zona afectada que estimulam a

formação de tecido ósseo.

A cartilagem hialina é susceptível à calcificação em zonas que estão em contacto com o

osso nas articulações, no processo de ossificação endocondral e ao longo do envelhecimento.

Page 36: Guinness - Histologia

36

Identificação Histológica

Cartilagem Hialina (Hemalúmen-eosina e orceína):

► Condrocitos localizados em lacunas

► Cápsula envolvente mais corada devido à presença de muitos glicosaminoglicanos

► As fibras da matriz confundem-se com a substância fundamental e dão à cartilagem

um aspecto amorfo

► A matriz tem glicosaminoglicanos sulfatados e por isso cora com corantes básicos

como a hematoxilina

► O pericôndio cora com eosina e apresenta núcleo alongados que correspondem aos

condroblastos e núcleo mais externos e menos evidentes de fibroblastos

► Existe uma camada mais clara entre o pericôndio e a matriz que corresponde a matriz

não-madura (possui menos grupos sulfatados e condrócitos imaturos menos visíveis)

Cartilagem Elástica (Hemalúmen-eosina e orceína):

► Fibras elásticas coradas a azul-escuro

► As zonas não coradas correspondem às lacunas

► Os condrócitos ocupam apenas parte das lacunas porque encolhem devido à perda

dos lípidos durante a preparação

► Na epiglote é visível uma camada de tecido conjuntivo acima e abaixo da cartilagem,

glândulas mucosas e tecido adiposo

Fibrocartilagem (Método de Mallory):

► Colagénio corado a azul-claro

► Aspecto fibroso

► Fibroblastos pouco numerosos e com núcleo mais pequenos e alongados

► Os condrócitos estão isolados ou em grupos isógenos e muito corados

► A matriz da cartilagem envolve directamente os condrócitos e é ligeiramente mais

clara

Page 37: Guinness - Histologia

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TECIDO ÓSSEO

O tecido ósseo é uma forma especializada de tecido conjuntivo cuja matriz extracelular

se encontra mineralizada (o fosfato de cálcio encontra-se na forma de cristais de

hidroxiapatita). Tem como função o suporte e protecção dos órgãos, a inserção de músculos e

a reserva de cálcio e fósforo para a manutenção da homeostase do cálcio.

Matriz extracelular ou Osteóide

Colagénio tipo I (50%)

Proteoglicanos Conferem resistência ao osso

Retenção de factores de crescimento

Glicoproteínas não-colagenosas Osteonectina, osteopontina, sialoproteínas I e II

União das células e das fibras de colagénio à

substância fundamental

Proteínas dependentes de vitamina K Osteocalcina (captação de cálcio)

Proteína S

MGP (matrix Gla-protein)

Factores de crescimento TNF-α, PDGF-α, TGF-α

BMP (bone morphogenic protein) – induz a

diferenciação das células mesenquimais em

osteoblastos

Isoleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL-6)

A matriz tem lacunas onde se encontram localizados os osteócitos. Estes possuem

prolongamentos que penetram em canalículos que formam uma rede ao longo do osso. A

comunicação entre os prolongamentos de diferentes osteócitos é feita por gap junctions.

Page 38: Guinness - Histologia

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Periósteo

É uma cápsula que envolve os ossos, excepto nas superfícies articulares. Possui duas

camadas: uma externa fibrosa e uma interna celular com células osteoprogenitoras e que é

pouco definida nos ossos em crescimento.

É constituída por fibras de colagénio paralelas à superfície do osso e está fixo a este

pelas fibras de Sharpey (colagénio).

Endósteo

É uma camada de células que reveste as trabéculas do tecido esponjoso. Contem

células osteoprogenitoras, achatadas e muito alongadas, que se diferenciam em osteoblastos e

osteoclastos.

Medula Óssea Vermelha

Ocupa os espaços no tecido esponjoso. É formada por um conjunto de células

sanguíneas e por uma rede de fibras e células reticulares que lhes servem de suporte. Com a

idade, vai sendo substituída por tecido adiposo, passando a chamar-se medula amarela.

Classificação

Osso primário, esponjoso, trabecular ou medular

É formado por um conjunto de trabéculas ou espículas separados por espaços que

contêm a medula óssea.

Osso secundário, compacto ou cortical

É composto por colunas cilíndricas que constituem o sistema de Havers ou osteão.

Este sistema consiste em lamelas concêntricas em torno de um canal (canal de Havers), que

contém os vasos sanguíneos e linfáticos e os nervos. O seu eixo é paralelo ao maior eixo do

osso.

As lamelas que não rodeiam os canais de Havers constituem o sistema intersticial ou

lamelas intersticiais.

Os feixes neuro-vasculares comunicam entre si e com o periósteo e endósteo através

dos canais de Volkman que perfuram as colunas em ângulo recto com os canais de Havers.

Page 39: Guinness - Histologia

39

Os osteócitos emitem prolongamentos situados em canalículos que ligam o canal

central às lacunas adjacentes.

Células do Tecido Ósseo

Células osteoprogenitoras

Diferenciam-se de células mesenquimais. A sua diferenciação em osteoblastos ocorre

através da expressão do factor de transcrição CBFA-1 (core binding factor alpha-1).

Estão localizadas na superfície interna e externa do osso compacto e têm uma forma

achatada, núcleo ovóide e são pouco coradas.

Osteoblastos

São células secretoras das proteínas que constituem a matriz.

Osteoblastos activos Forma poliédrica.

Formam agregados numa única camada ao longo da

superfície de formação do osso.

A matriz recém-secretada cora pouco e a matriz

mineralizada cora intensamente com eosina (os

osteoblastos parecem estar separados do osso por uma

banda mais clara que representa matriz não-mineralizada).

Citoplasma basófilo com grânulos PAS-positivos.

Complexo de Golgi bem desenvolvido (no microscópio

óptico corresponde a uma zona não corada junto do

núcleo).

Osteoblastos inactivos Células achatadas semelhantes a osteoprogenitores.

Page 40: Guinness - Histologia

40

Osteócitos

Funções: Manutenção da matriz

Mecanotransdução

Síntese e degradação da matriz

Manutenção da homeostase do cálcio

Estas células ocupam lacunas e enviam prolongamentos por canalículos ao longo do

osso que não são visíveis com hemalúmen-eosina. São mais pequenos do que os osteoblastos

e têm menor actividade metabólica, bem como incapacidade de se dividirem.

Bone-Lining Cells

São as células presentes à superfície do osso e que formam o periósteo e o endósteo.

Têm como função o suporte nutricional dos osteócitos e a regulação dos movimentos de cálcio

e fosfato. Têm prolongamento que penetram nos canalículos.

Osteoclastos

São células multinucleadas localizadas em locais onde o osso está a ser removido,

dentro das lacunas de Howship. São acidófilos e têm uma reacção forte para a fosfatase ácida

devido ao elevado número de lisossomas. Derivam de células progenitoras de

granulócitos/macrófagos.

Os osteoclastos têm 3 domínios:

1. Bordadura em escova Região em contacto directo com o osso

Invaginações numerosas semelhantes a

microvilosidades

Secreção de enzimas hidrolíticas e protões

Endocitose dos produtos degradados

Cora com menos intensidade do que o resto da célula (é

uma zona mais clara junto à superfície do osso)

Na parte interna, existem mitocôndrias e lisossomas

Page 41: Guinness - Histologia

41

2. Clear zone Porção de citoplasma adjacente à bordadura em escova

Local onde ocorre a reabsorção e degradação da matriz

Tem muitos filamentos de actina arranjados em forma

de anel à volta da célula

A membrana adjacente tem moléculas de adesão

responsáveis por unir o plasma à matriz calcificada

3. Zona basolateral Local onde ocorre a exocitose do material digerido

É onde se encontra o núcleo

Descalcificação e Reabsorção

Para iniciar a dissolução da matriz óssea é necessário fazer a acidificação da superfície

do osso. Os osteoclastos têm anidrase carbónica II que produz ácido carbónico a partir de

dióxido de carbono e água. O ácido carbónico por sua vez dissocia-se em bicarbonato e H+.

Estes protões são transportados para o exterior da célula por bombas de protões situadas na

membrana da bordadura em escova (ao mesmo tempo são transportados também iões cloreto

para manter a electroneutralidade). O ph desce para cerca de 4 ou 5. O bicarbonato em

excesso é removido por troca com iões cloreto na região basolateral.

Este ambiente ácido inicia a degradação do osso em iões cálcio, fosfato inorgânico e

água. Os osteoclastos libertam então vesículas com enzimas hidrolíticas (como

metaloproteinases) que degradam o colagénio e as restantes proteínas da matriz. Os produtos

degradados são absorvidos pelos osteoclastos.

Quando a reabsorção está completa, os osteoclastos entram em apoptose.

Ossificação

Existem dois processos de ossificação:

Intramembranosa (directamente a partir da diferenciação dos

osteoprogenitores) – ex: ossos achatados da base do crânio.

Endocondral (a partir de um modelo cartilagíneo) – ex: ossos dos membros, da

coluna vertebral e da pélvis.

Page 42: Guinness - Histologia

42

Ossificação Intramembranosa

Na 8ª semana de gestação, as células mesenquimais agrupam-se me locais específicos

e diferenciam-se em células osteoprogenitoras que expressam o factor CBFA-1. O novo tecido

torna-se mais vascularizado.

O citoplasma das células osteoprogenitoras torna-se basófilo e surge uma área não

corada que corresponde ao complexo de Golgi. Nesta fase, passam a chamar-se osteoblastos.

Estes secretam colagénio e outras proteínas de matriz. A matriz é mais densa do que o

mesênquima envolvente. Os osteoblastos vão-se separando e originam osteócitos. A matriz

calcifica e as espículas formadas vão aumentando de tamanho por crescimento aposicional até

se formar o osso.

Ossificação Endocondral

Na 12ª semana de gestação, as células mesenquimais agregam-se e diferenciam-se em

condroblastos por expressão dos factores de transcrição FGF (fibroblast growth factor) e BMP

(bone morphogenic protein). Os condroblastos produzem matriz cartilagínea e originam um

modelo cartilagíneo que aumenta de tamanho por crescimento aposicional e intersticial. As

células do pericôndio na região central da cartilagem originam osteoblastos e o tecido

conjuntivo adjacente torna-se funcionalmente em periósteo.

Nos ossos longos, forma-se uma camada de osso por ossificação intramembranosa na

diáfise que se denomina colar periostal.

Os condrócitos na região central da cartilagem ficam hipertróficos e sintetizam

fosfatase ácida que provoca a calcificação da matriz cartilagínea, levando à morte dos

condrócitos e à confluência das lacunas. Estes espaços são invadidos por vasos sanguíneos e

por células mesenquimais que se diferenciam em células osteoprogenitoras. Algumas células

estaminais hematopoiéticas acompanham os vasos e formam posteriormente a medula óssea.

Quando as células osteoprogenitoras entram em contacto com as espículas de cartilagem

calcificada originam osteoblastos que depositam osteóide, formando um centro de ossificação

primário (local onde se inicia a formação de osso na diáfise).

A cartilagem calcificada é basófila, cora a azul-claro com o método de Mallory e não

tem células. Por oposição, o osso é eosinófilo, cora a azul-escuro e tem osteócitos.

Page 43: Guinness - Histologia

43

Crescimento do Osso

Em cada extremidade da diáfise, forma-se uma placa de cartilagem epifisária que

apresenta várias zonas (da mais distal para a mais proximal do ponto de ossificação primário):

Zona de Reserva Não há proliferação celular nem produção de matriz

Zona de Proliferação Os condrócitos dividem-se e organizam-se em

colunas

Produção de colagénio e outras proteínas

Zona de Hipertrofia Células cartilagíneas hipertrofiadas

Produção de colagénio I e X

Zona de Cartilagem Calcificada Degeneração dos condrócitos

Calcificação da matriz

Deposição de osso

Zona de Reabsorção Zona mais próxima da diáfise

Pequenos vasos sanguíneos com células

osteoprogenitoras

À medida que é depositado osso forma-se osso primário esponjoso que é

posteriormente substituído por osso compacto.

Pouco depois do nascimento, formam-se centros de ossificação secundários perto de

cada epífise. A única cartilagem que permanece está presente nas superfícies articulares e no

disco de crescimento epifisário, um disco transversal que separa a diáfise das epífises e que,

após o crescimento estar completo, se torna apenas numa linha vestigial formada por tecido

ósseo.

O crescimento do osso ocorre devido à propagação do disco epifisário. A sua espessura

permanece sempre constante. A formação de nova matriz cartilagínea provoca o afastamento

das epífises da diáfise levando ao aumento do comprimento do osso. A quantidade de

cartilagem produzida é igual à reabsorvida e esta é substituída por osso primário.

O aumento do diâmetro ocorre por crescimento aposicional entre as lamelas corticais

e o periósteo.

Page 44: Guinness - Histologia

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A cavidade da medula óssea aumenta por reabsorção de osso ao nível da superfície do

endósteo.

Desenvolvimento do sistema de Havers (remodelação interna)

Os osteoclastos formam estruturas em forma de túnel por absorção do osso de forma

centrífugas, ou seja, do centro para a periferia. Estes túneis são ocupados por vasos e tecido

conjuntivo adjacente. Os osteoblastos depositam então tecido ósseo por lamelas sucessivas

num sentido centrípeto.

No adulto, a velocidade de reabsorção é igual à de deposição. Ao longo dos anos, a

reabsorção torna-se mais rápida, podendo levar à osteoporose.

Mineralização

A ligação do Ca2+ à osteocalcina da matriz leva ao aumento da sua concentração local.

Este aumento da concentração de cálcio estimula os osteoblastos e produzir fosfatase ácida

que aumenta a concentração de fosfato. Este por sua vez aumenta ainda mais a concentração

de Ca2+. O fosfato de cálcio acaba por cristalizar e deposita-se sob a forma de cristais de

hidroxiapatite.

Homeostase do Cálcio

A concentração fisiologia de cálcio situa-se entre 8,9 e 10,1 mg/dL.

A regulação da sua concentração é feita principalmente por duas hormonas com

efeitos contrários:

PTH (hormona da paratiróide) Aumenta os níveis de cálcio no sangue

Estimula a absorção de osso pelos osteoblastos e

osteoclastos

Diminui a excreção de cálcio nos rins e aumenta a

excreção do fosfato produzido na reabsorção

Aumenta a absorção de cálcio no intestino

Page 45: Guinness - Histologia

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Calcitonina (hormona da glândula

tiroideia)

Diminui os níveis de cálcio no sangue (inibe o efeito da

PTH)

Page 46: Guinness - Histologia

46

TECIDO ADIPOSO

O tecido adiposo é um tipo de tecido conjuntivo especializado constituído por

adipócitos e que desempenha um importante papel na homeostase energética.

Existem dois tipos: tecido adiposo branco e o tecido adiposo castanho.

Tecido adiposo branco

Forma uma camada denominada panículo adiposo ou hipoderme no tecido conjuntivo

que se situa abaixo da pele e faz o isolamento térmico do organismo, evitando as perdas de

calor. Nas glândulas mamárias, faz o suporte do aleitamento através do fornecimento de

lípidos e energia para a produção de leite, bem como a síntese de factores de crescimento.

Localiza-se preferencialmente no grande epíploon, no mesentério, no espaço retro-

peritoneal, à volta do rim, na medula e entre outros tecidos, preenchendo o espaço entre eles.

Os adipócitos sintetizam e secretam hormonas, factores de crescimentos e citocinas:

► Leptina - hormona que inibe a fome e a perda de peso e estimula a taxa

metabólica, actuando ao nível de receptores do hipotálamo;

► Adiponectina;

► Angiotensina – uma produção excessiva desta hormona contribui para a

hipertensão que é um problema associado à obesidade;

► Hormonas esteróides.

Indivíduos obesos produzem uma quantidade excessiva destas substância o que pode

ter como consequências o desenvolvimento de diabetes e outros problemas metabólicos.

Diferenciação dos Adipócitos

Os adipócitos têm origem em células mesenquimais que expressam os factores de

transcrição PPARγ (peroxisome proliferator-activated receptor gamma) e RXR (retinoid X

receptor). Estes induzem a maturação de lipoblastos jovens que são alongados e possuem

vários prolongamentos. Ao longo do processo de diferenciação, o número de vesículas

aumenta, surgem pequenas gotículas de lípidos num dos pólos do citoplasma e forma-se uma

lâmina externa. Nos lipoblastos maduros, as gotículas de lípidos fundem-se numa só que

ocupa uma posição central no citoplasma, o núcleo é empurrado para a periferia e o RE liso é

Page 47: Guinness - Histologia

47

abundante. Como a gotícula de lípidos é única, estas células são denominadas adipócitos

uniloculares.

Estrutura do Tecido Adiposo

Os adipócitos são arredondados, podendo tornar-se poliédricos quando estão

compactados no tecido adiposo. O núcleo é achatado e periférico e o citoplasma forma um aro

à volta dos lípidos. Nas preparações histológicas, os lípidos são perdidos pelo que o tecido

adiposo é um conjunto de formas poliédricas sem conteúdo.

Entre o citoplasma e o conteúdo lipídico, existe uma camada de filamentos de

vimentina que separa os lípidos do conteúdo hidrofílico do citoplasma. O citoplasma

perinuclear contém o complexo de Golgi, ribossomas livres, microfilamentos, filamentos

intermédios e RE liso.

Este tecido é ricamente vascularizado. A impregnação por prata mostra que as células

estão rodeadas por colagénio reticular secretado pelos adipócitos.

Regulação do Tecido Adiposo

A quantidade de tecido adiposo é controlada por dois mecanismos.

O mecanismo a curto prazo é responsável pela regulação do apetite e do metabolismo

diário e tem por base duas hormonas peptídicas:

Grelina Produzida no estômago

Estimula o apetite

Actua sobre receptores do hipotálamo, aumentando a sensação

de fome

No síndrome de Prader-Willi esta hormona é produzida em

excesso, o que faz com que os doentes comam compulsivamente

Péptido YYY

Produzido no intestino delgado

Indução a sensação de saciedade após uma refeição

Actua em receptores do hipotálamo que fazem a supressão do

apetite

Page 48: Guinness - Histologia

48

O mecanismo a longo prazo é controlado pela leptina, pela insulina, pela hormona da

tiróide, por glicocorticóides e por homonas da glândula pituitária. A insulina promove a síntese

lipídica pois estimula a produção de enzimas (sintase de ácidos gordos, acetil-CoA carboxilase)

e inibe a degradação de lípidos. A glucagina e a hormona do crescimento da glândula

pituitária, pelo contrário, estimulam a lipólise, bem como a norepinefrina.

Tecido Adiposo Castanho

As células do tecido adiposo castanho são multioculares (têm várias gotículas de

lípidos), têm muitas mitocôndrias com grande quantidade de citocromo c oxidase (que

confere, em parte, a cor castanha ao tecido) e um complexo de Golgi pouco desenvolvido, bem

como poucas quantidade de REr e liso. Nas preparações, o citoplasma é formado por vacúolos

vazios, devido à perda do conteúdo lipídico.

É muito vascularizado e está associado a fibras nervosas amielinizadas.

Este tipo de tecido é abundante do feto e no recém-nascido, onde é muito importante

para evitar hipotermia. Está localizado principalmente nas costas e nos ombros. Ao longo dos

anos, vai-se perdendo e, no adulto, está presente apenas à volta dos rins, perto dos grandes

vasos e em algumas regiões do pescoço, costas e tórax (mediastino).

O tecido adiposo castanho é uma fonte de calor para a manutenção da temperatura

corporal quando estimulado pelo sistema nervoso simpático. As mitocôndrias contêm UCP-1

que permite o fluxo de protões do espaço inter-membranar para a matriz mitocondrial sem

passar pelas ATPases. Assim, produz-se energia que é dissipada sob a forma de calor

(termogénese) sem que haja produção de ATP.

A actividade metabólica do tecido adiposo castanho é regulada principalmente pela

norepinefrina que estimula a lipólise.

Diferenciação

Os adipócitos do tecido adiposo castanho diferenciam-se de células mesenquimais por

expressão de factores de transcrição específicos que estimulam a síntese de UCP-1 (uncoupling

protein) que é essencial no metabolismo lipídico. O gene UPC-1 é também activado pela

norepinefrina.

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49

SANGUE

É um tecido conjuntivo fluido que circula no sistema cardiovascular. É constituído por

células e plasma e tem como funções:

► Transporte de oxigénio e nutrientes para as células

► Transporte de dióxido de carbono e produtos de excreção das células

► Transporte de hormonas e substâncias reguladores

► Manutenção da homeostase

► Participação nos processos de coagulação e termorregulação

► Transporte de agentes do sistema imunitário.

Um hematócrito é o volume de eritrócitos presentes numa amostra de sangue. Para

fazer essa contagem é centrifugada a amostra após a adição de anticoagulantes (heparina,

citrato) e é feito o cálculo da percentagem do tubo ocupado por eritrócitos e pelo total de

sangue. Nas mulheres esse valor deve ser de 35-45% e nos homens de 39-50%. Valores mais

baixos são indicativos de anemia. Os leucócitos e as plaquetas acumulam-se numa camada

muito fina entre o plasma e os eritrócitos chamada buffy coat.

Plasma – constituição

Água (91%) Solvente de várias substâncias (metabolitos, electrólitos, proteínas…)

Manutenção da homeostase (mantém o pH óptimo e o osmolaridade para

o metabolismo celular)

Albumina Proteína principal

Síntese: fígado

Mantém a pressão osmótica entre o sangue e o líquido intersticial

A sua diminuição leva à acumulação de sangue nos tecidos

Transporta: hormonas, metabolitos (biliburrina)

Globulinas Imunoglobulinas (anticorpos ou γ-globulina)

Não-imunoglobulinas (fibronectina, lipoproteínas, factores de coagulação,

α e β-globulina):

Síntese no fígado

Mantêm a pressão osmótica

Transporte de ferro, hemoglobina …

Page 50: Guinness - Histologia

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Fibrinogénio Síntese: fígado

No processo de coagulação, origina a fibrina, uma proteína insolúvel que

forma uma rede impermeável que previne a perda de sangue.

Normalmente, as proteínas do plasma coram de forma homogénea com eosina nas

preparações de hemalúmen-eosina (H&E).

Ao plasma sem factores de coagulação chama-se soro.

A composição do fluido intersticial é igual à do plasma.

Células do sangue

As células do sangue incluem:

► Eritrócitos / glóbulos vermelhos

► Leucócitos /glóbulos brancos

► Plaquetas / trombócitos

Eritrócitos

São células anucleadas e praticamente sem organelos. São responsáveis pelo

transporte de oxigénio e dióxidos de carbono. Têm um diâmetro de 7,8μm e a forma de um

disco bicôncavo que maximiza a área de contacto da membrana com os gases e a

hemoglobina. Os eritrócitos têm uma grande capacidade de deformação.

O seu tempo de vida é de aproximadamente 120 dias. Após este período a maioria é

fagocitada por macrófagos na medula, baço e fígado e os restantes são destruídos na corrente

sanguínea e libertam hemoglobina.

Coram uniformemente com eosina devido à presença de hemoglobina.

Constituição da membrana:

Lípidos

Proteínas de membrana

(glicoforina C, banda 3)

Domínio extracelular glicolizado

Expressam antigénios específicos

A banda 3 liga-se ao citoesqueleto e à hemoglobina

Proteínas periféricas

(espectrina, actina, banda

Formam uma rede na face citoplasmática da membrana

São principalmente proteínas do citoesqueleto

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4.1 e 4.9, tropomiosina) Conferem propriedades elásticas ao eritrócito e são

responsáveis pela sua forma

Hemoglobina

É a proteína que faz o transporte dos gases. É constituída por 4 cadeias polipéptidicas

(α, β, γ, δ) cada uma delas ligada a um grupo heme com ferro.

Existem vários tipos de hemoglobinas (Hb):

HbA 96%

α2 β2

HbA2 1,5-3%

α2 δ2

HbF Presente no feto

Tem maior afinidade para o oxigénio

α2 δ2

Leucócitos

Os leucócitos apresentam uma linhagem mielóide (neutrófilos, eosinófilos, basófilos e

monócitos) e uma linhagem linfóide (linfócitos).

Podem ser divididos em dois grupos:

► Granulócitos: apresentam grânulos específicos e incluem neutrófilos,

eosinófilos e basófilos.

► Agranulócitos: linfócitos e monócitos.

Ambos os grupos de leucócitos apresentam grânulos azurófilos, inespecíficos ou

primários, que representam lisossomas. São os primeiros a surgir no desenvolvimento

(contêm mieloproteinases, hidrolases ácidas, proteínas catiónicas …) e têm uma cor púrpura.

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Neutrófilos

São o tipo de leucócitos mais numeroso e são maiores do que os eritrócitos.

Apresentam um núcleo multilobulado que é constituído por 2 ou 3 lobos unidos por

pontes de cromatina. Esta está organizada de forma a que a heterocromatina esteja em

contacto com o invólucro nuclear e a eucromatina esteja concentrada no centro do núcleo.

Nas mulheres, geralmente apresentam o corpúsculo de Bahr, que é um apêndice num

dos lóbulos que corresponde ao cromossoma x condensado.

Constituição dos grânulos:

Secundários/específicos Mais pequenos e numerosos

Têm fosfatase alcalina usada como marcador histoquímico (a

sua actividade é marcada por um depósito granular

acastanhado)

Libertam mediadores de inflamação e activadores de

complemento (resposta inflamatória)

Terciários

Podem ter fosfatases ou mateloproteínases

Os neutrófilos são móveis e são as primeiras células a aparecer nos tecidos

danificados. A migração ocorre por interacção das selectinas da superfície dos neutrófilos com

receptores específicos das células endoteliais. Após esta ligação, são activadas integrinas e

moléculas da família das imunoglobulinas que permitem a emissão de pseudópodes que se

estendem entre as células do endotélio. A histamina e heparina libertada no local fazem a

abertura das junções intercelulares, permitindo a passagem do neutrófilo.

Estas células apresentam uma grande variedade de receptores membranares que

reconhecem organismos patogénicos e estranhos. Quando ocorre este reconhecimento, o

neutrófilo emite pseudópodes que envolvem o organismo e este é posteriormente digerido

pelas enzimas presentes nos grânulos. O material degradado é exocitado ou acumulado no

interior dos neutrófilos, pelos que estes acabam por morrer e acumulam-se, formando pus.

Page 53: Guinness - Histologia

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Eosinófilos

Têm o memo tamanho dos neutrófilos. O núcleo é bilobulado.

Grânulos específicos Numerosos, largos e alongados

Têm um cristalóide constituído por proteína básica principal

(MBP) que lhe confere acidez

Proteína catiónica eosinófila, peroxidases, neurotoxinas,

histaminases, aryl-sulfatase, colagenases …

Coram a vermelho brilhante com eosina e vermelho-tijolo

com o método de Romanowsky

Desenvolvem-se e maturam na medula e circulam no sangue. A migração para os

tecidos é mediada por quimiotaxia em resposta a produtos bacterianos e a produtos libertados

por linfócitos, basófilos e mastócitos (histamina, factor quimitático eosinófilo da anafilaxia).

Funções:

► Envolvidos em reacções alérgicas e inflamatórias. São activados por

interacção com IgG e IgA. A libertação da aryl-sulfatase e da histaminase

neutraliza a histamina e circunscreve o processo inflamatório.

► Eliminação de parasitas

► Destruição dos complexos antigénio-anticorpo.

Basófilos

Grânulos secundários Muito basófilos (cor muito escura) devido ao elevado teor de

sulfato

Grandes

Cobrem o núcleo

Contêm: heparina (anticoagulante), histamina (vasodilatador),

condroitino sulfato, IL-4, IL-13

Quando corados com azul de toluidina o corante muda para

vermelho

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A membrana tem receptores Fc para anticorpos IgE e CD40L que interage com os

linfócitos B levando ao aumento da produção de IgE. Libertam heparina que causa edema,

inchaço e vasodilatação.

As suas funções são semelhantes às dos mastócitos: libertam agentes vasoactivos e

estão envolvidos nas reacções alérgicas. Ambos derivam das mesmas células progenitoras. No

entanto, os mastócitos são maiores e contêm serotonina e 5-hidroxitriptamina.

Agranulócitos

Estas células apenas têm grânulos azurófilos (lisossomas) e o seu núcleo é redondo e

não-lobulado.

Linfócitos

Constituem 20-30% do total de leucócitos. Estão presentes tanto no sangue como na

linfa e podem ser: pequenos, médios ou grandes (linfócitos activados e linfócitos NK).

Linfócitos inactivos Pequenos

Núcleo esférico, muito corado (pode ter incisuras)

Poucos organelos

Citoplasma pálido basófilo

Razão núcleo/citoplasma elevada

Tipos de linfócitos:

Linfócitos T Diferenciam-se no timo

Têm TCRs (T-cell-receptors) compostos por duas cadeias: α e β

Marcadores específicos: CD2, CD3, CD5 e CD7

São classificados de acordo com a presença ou ausência de CD4

e CD8:

CD4+ (de ajuda) - induzem a resposta imunitária, ligam-

se a moléculas do MHC II apresentadas por macrófagos,

afectam a função dos linfócitos B e produzem

interleucinas que actuam de forma autócrina para

produzir mais CD4+.

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CD8+ (citotóxicos) – são os efectores primários;

secretam linfocinas e perforinas que levam à lise das

células infectadas.

Linfócitos B Produção de anticorpos

Expressem IgM, IgD e MHC II

Marcadores específicos: CD9, CD19, CD20, CD24

Linfócitos NK

(natural killer)

Programados para matar certos vírus e células tumorais

Secretam interferão γ

São maiores

Núcleo em forma de rim

Muitos grânulos

Marcadores: CD 16, CD56, CD94

Existem ainda mais dois tipos de linfócitos T:

► Células T supressoras – fazem a supressão da resposta imunitária.

► Células T gama/delta (γδ) – migram para os epitélios e constituem a primeira

linha de defesa.

Os linfócitos T e B não se distinguem ao microscópio óptico. Os linfócitos NK podem

ser identificados pelo tamanho, núcleo e presença de grânulos.

Monócitos

São os leucócitos de maior tamanho. Migram da medula para os tecidos e

diferenciam-se em células fagocíticas (macrófagos, osteoclastos, células de Kupffer do fígado,

microglia…). O núcleo tem incisuras onde se localizam os organelos, têm pequenos grânulos

azurófilos e possuem maior quantidade de citoplasma do que os linfócitos.

O monócito-macrófago é uma célula apresentadora de antigénio com um importante

papel na resposta imunitária.

Page 56: Guinness - Histologia

56

Plaquetas/Trombócitos

São células derivadas de megacariócitos, células com vários conjuntos de

cromossomas que desenvolvem projecções citoplasmáticas que vão fragmentando a célula e

originam as plaquetas.

O citoplasma é granular e tem uma cor púrpura.

São constituídas por 4 zonas:

Periférica Membrana coberta por uma cama de glicocálix (glicoproteínas,

glicosaminoglicanos, factores de coagulação…)

Estrutural Microtúbulos, filamentos de actina, miosina (fazem o suporte da

membrana)

Mantêm a forma de disco da célula

De organelos Zona central

Mitocôndrias, peroxissomas, glicogénio, grânulos.

Os grânulos podem ser de 3 tipos:

α – fibrinogénio, factores de coagulação, PDGF … importantes nas

fases iniciais da reparação de vasos, na coagulação do sangue e na

agregação plaquetária.

δ (densos) – ATP, ADP, serotonina, histamina

γ (lisossomas) – envolvidos na reabsorção dos coágulos.

De membrana Apresenta dois tipos de canais importantes na regulação do Ca2+:

Sistema canicular da membrana

Sistema tubular denso

Apresente numerosas proteínas viradas para o meio extracelular

Page 57: Guinness - Histologia

57

Processo de coagulação

Hematopoiese

É um processo contínuo que faz a manutenção do número de células em circulação no

sangue periférico. Ocorre na medula vermelha e nos órgãos linfóides (timo, baço).

No desenvolvimento fetal, a primeira fase da hematopoiese ocorre na terceira semana

de gestação com a formação de ilhotas hematopoiéticas no saco vitelino. No segundo

trimestre, desenvolve-se o fígado e o baço e, no 7º mês, é formada a medula óssea.

Células Estaminais Hematopoiéticas

Estas células diferenciam-se em todas as linhagens celulares do sangue, têm

capacidade de auto-renovação e contribuem para a regeneração de vários tecidos e órgãos.

Os marcadores específicos são: CD34+, CD40+, CD38- e Lin- (não têm marcadores

específicos que uma linhagem).

Originam 2 tipos de células:

► Progenitor mielóide comum (CPM)

Adesão plaquetária no local da lesão

Libertação de serotonina (vasoconstritor), tromboxane A2

(agregação plaquetária) e factores de coagulação

Formação do coágulo primário

Conversão do fibrinogénio em fibrina (coágulo

secundário)

Retracção das plaquetas e

restabelecimento da circulação

Destruição do coágulo por plasmina (circula na forma inactiva -

plasminogénio)

Libertação de PDGF que estimula a proliferação de

fibroblastos

Page 58: Guinness - Histologia

58

► Progenitor mielóide comum - origina linfócitos e células dendríticas.

Eritropoiese

Existem 5 precursores dos eritrócitos:

Pro-eritroblasto Grande

Núcleo esférico com nucléolo

Citoplasma basófilo devido aos ribossomas

Por mitoses origina eritoblastos basófilos

Eritroblasto basófilo Citoplasma muito basófilo (escuro)

Núcleo ligeiramente mais pequeno

Síntese de hemoglobina

Eritroblasto policromático Citoplasma basófilo (ribossomas coram com

hematoxilina) e acidófilo (hemoglobina cora com eosina)

Núcleo mais pequeno e acompanhado de vários

CPM

Progenitor de megacariócitos/eritrócitos

Progenitor de granulócitos/monócitos

Neutrófilos

Eosinófilos

Basófilos

Monócitos

Células dendríticas

CPMProgenitor de

megacariócitos/eritrócitos

Pro-eritroblasto

IL-3, IL-4 eritropoieitina GATA-1

Page 59: Guinness - Histologia

59

fragmentos (corpos de Howell-Jolly)

Eritroblasto ortocromático ou

normoblasto

Núcleo pequeno e denso

Citoplasma eosinófilo (hemoglobina) com cor

semelhante aos eritrócitos

Não tem capacidade de divisão

Extrusão do núcleo e passagem para o sangue

Reticulócito 1-2% da contagem de eritrócitos no sangue

Ainda possuem algum material nuclear residual

O processo de eritropoiese dura uma semana e é regulado pela eritropoietina

(hormona sintetizada no fígado em resposta à hipoxia).

Após os 120 dias de vida, os eritrócitos tornam-se senescentes e são degradados no

fígado, baço e medula. O ferro é libertado e vai para o baço onde é armazinado na forma de

ferritina. O restante é degradado pela biliburrina e excretado pela vesícula biliar.

As unidades de eritropoiese na medula chamam-se ilhotas eritroblásticas e são

constituidas por 1 ou 2 macrófagos rodeados por células progenitoras.

Granulopoiese

Fases:

Mieloblasto Núcleo grande e esférico com 3 a 5 nucléolos

Citoplasma agranular muito basófilo

CPMProgenitor de

granulócitos/monócitos

Progenitor de neutrófilos

Progenitor de basófilos

Progenitor de eosinófilos

Page 60: Guinness - Histologia

60

Pró-mielócito Grânulos azurófilos (é a única células onde ocorre a sua produção)

Mielócito Produção dos grânulos específicos de cada linhagem

Metamielócito Núcleo em forma de rim

As fases seguintes são apenas observadas nos neutrófilos; o

metamielócito diferencia-se directamente em basófilos ou

eosinófilos maduros

Célula em bastão Núcleo em forma de ferradura com 2 a 4 lóbulos (neutrófilo

maduro)

Este processo dura cerca de duas semanas.

São produzidos 1011 neutrófilos por dia. Existe, na medula, uma reserva constante que

permite a sua rápida libertação em resposta a inflamações, infecções e ao exercício. Existe

uma outra reserva ao nível dos vasos (o grupo marginado) que adere ao endotélio através de

selectinas e tem a mesma quantidade de neutrófilos que existe em circulação.

Monopoiese

Os monócitos derivam da unidade formadora de colónias de monócitos-granulócitos. A

monopoiese é caracterizada por três fases:

Monoblasto Volumoso

Basófilo

Desenvolvimento progressivo do RE e complexo de Golgi

Pró-monócito Núcleo grande com cromatina descondensada

Citoplasma basófilo (ribossomas)

Grânulos primários

Monócito Deixam a medula logo após a sua formação

Page 61: Guinness - Histologia

61

Circulam durante 3 dias no sangue e migram por diapedese para os tecidos de modo

aleatório.

Linfopoiese

Dois estágios precursores: linfoblasto e pró-linfócito.

Há uma diminuição progressiva do tamanho da célula. Os linfócitos B amadurecem na

medula e os linfócitos T amadurecem no timo. Ambos se deslocam posteriormente para os

órgãos/tecidos linfóides secundários.

Trombopoiese

Megacarioblasto Núcleo reniforme com vários nucléolos

Pró-megacariócito Aumento do volume

Citoplasma rico em grânulos azurófilos

Núcleo irregular

Megacariócito Núcleo multilobulado

Vários conjuntos de cromossomas

As plaquetas formam-se por invaginação e fragmentação do citoplasma. Na medula, os

megacariócitos lançam pseudópodes (pró-plaquetas) nos sinusóides que representam

conjuntos de plaquetas que se fragmentam na circulação.

A regulação é feita pela trombopoietina que é produzida no fígado.

Medula Óssea

É constituída por vasos sanguíneos em unidades especializadas, os sinusóides, e por

células hematopoiéticas. Os sinusóides são formados por endotélio simples pavimentoso,

lâmina basal e uma camada incompleta de células adventícias que enviam prolongamentos e

fazem o suporte das células sanguíneas.

Page 62: Guinness - Histologia

62

As funções da medula são a hematopoiese, o armazenamento de ferro e a remoção

dos eritrócitos senescentes.

O estroma é constituído por fibroblastos, células reticulares, macrófagos, adipócitos

(energia) e MEC (colagénio tipo I e III, fibronectina, laminina, proteoglicanos).

O parênquima é formado pelas células hematopoiéticas.

Page 63: Guinness - Histologia

63

TECIDO MUSCULAR

As funções são a geração de movimento e mudanças de forma e tamanho dos órgãos

Classificação:

► Músculo estriado:

o Visceral – presente nos tecidos moles (faringe, língua, esófago)

o Esquelético – está ligado ao osso; é responsável pelo movimento, manutenção

da postura e movimentos oculares (músculos extra-oculares)

o Cardíaco – presente na parede do coração e base dos grandes vasos.

► Músculo liso: presente nas vísceras, sistema vascular, músculos intrínsecos do olho e

no musculus erector pili.

Músculo Esquelético

Cada célula muscular (fibra muscular) é um sincício multinucleado. As fibras

musculares formam-se por fusão de pequenas células, os mioblastos, e têm forma de

polígonos de tamanho muito variável. O núcleo localiza-se imediatamente abaixo da

membrana celular (também chamada de sarcolema).

O tecido conjuntivo que rodeia as células é essencial na transmissão de formas e

continua-se, no fim do músculo, com o tendão ou com as fibras de colagénio que fazem a

ligação do músculo ao osso (fibras de Sharpey). É muito vascularizado e pode ser divido, de

acordo com as suas relações com as fibras musculares, em:

► Endomísio – envolve as células individualmente; apresenta pouca vascularização e

inervação.

► Perimísio – envolve feixes de fibras.

► Epimísio – envolve conjuntos de feixes; apresenta nervos e vasos de maiores

dimensões.

Page 64: Guinness - Histologia

64

Tipos de músculo esquelético

O músculo é frequentemente classificado de acordo com a sua cor em fibras

vermelhas, brancas e intermédias.

Actualmente, a classificação é baseada na velocidade de contracção, na velocidade

enzimática da ATPase da miosina e no perfil metabólico, através de reacções que detectam a

actividade das enzimas NADH-TR e succinato desidrogenase.

Tipo I

(fibras vermelhas/oxidativas lentas)

Grande quantidade de mitocôndrias, mioglobina e

citocromo c (indica a realização de respiração

oxidativa);

Muito coradas na reacção para a actividade da

NADH-TR e da succinato desidrogenase;

Contracção lenta;

Resistentes à fadiga;

Menor tensão / força de contracção;

Actividade da ATPase é a mais lenta;

Presente nos músculos dos membros e do tronco

(movimentos lentos e grosseiros).

Tipo II

(fibras brancas/glicolíticas rápidas)

Cor-de-rosa (in vivo);

Menos mioglobina e mitocôndrias;

Poucas enzimas oxidativas;

Grande actividade anaeróbia;

Contracção rápida;

Pouco resistentes à fadiga devido à produção de

ácido láctico;

Velocidade rápida da ATPase;

Movimentos finos e precisos devido ao elevado

número de junções neuromusculares que permitem

um maior controlo por parte do sistema nervoso;

Presentes nos músculos extra-oculares e dos dedos.

Page 65: Guinness - Histologia

65

Miofibrilhas e miofilamentos

Miofilamentos

São polímeros de miosina II e actina, associados a proteínas. Estão rodeados pelo

retículo sarcoplasmático que está associado a glicogénio e mitocôndrias.

Numa preparação de hemalúmen-eosina, observam-se dois tipos de bandas: bandas A,

mais escuras e que representam o comprimento dos filamentos de miosina II; bandas I, mais

claras, que contêm apenas actina. Estas bandas são atravessadas por outras de grande

densidade, nomeadamente os discos Z (atravessam as bandas I - são o local de ancoragem dos

filamentos de actina) e as bandas H (atravessam as bandas A). Estas últimas são ainda

atravessadas pelas bandas M.

Na contracção, o sarcómero (região localizadas entre dois discos Z consecutivos) e as

bandas I e H diminuem de tamanho e a banda A mantém-se igual.

Filamentos de Actina

São constituídos por actina-G, tropomiosina e troponina.

A actina-G é um polímero de actina-F e tem uma estrutura em dupla-hélice. Apresenta

polaridade: tem uma extremidade positiva ligada aos discos Z e uma extremidade negativa que

se dirige à linha M.

A tropomiosina situa-se no espaço compreendido entre duas actinas-F.

Por último, a troponina é constituída por 3 subunidades globulares:

Troponina-C (TnC) – liga-se ao Ca2+

Troponina-T (TnT) – liga-se à tropomiosina

Troponina-I (TnI) – liga-se à actina.

Miosina II

É constituída por 4 cadeias leves, que incluem cadeias essenciais e reguladoras, e por 2

cadeias pesadas, cada uma das quais apresenta uma cabeça globular que se liga

simultaneamente à actina e ao ATP (apresenta uma ATPase).

Miofilamentos MiofibrilhasFibra

muscular

Fascículo/

FeixeMúsculo

Page 66: Guinness - Histologia

66

Proteínas acessórias:

► Titina – ancoragem da actina aos discos Z.

► Alfa-actinina – forma os feixes paralelos de actina e faz a ancoragem aos discos z.

► Nebulina – está ligada aos discos Z e auxilia a alfa-actinina; principal modelo que

regula a forma e compriment dos filamentos de actina.

► Tropomodulina – está ligada à porção livre da actina e regula o seu tamanho.

► Desmina – liga os discos Z entre si e ao sarcolema.

► Miomesmina e proteína C – liga as miosinas entre si ao nível da linha M.

► Ditrofina – liga a laminina (presente no exterior da membrana) aos filamentos de

actina.

Desenvolvimento e Renovação

Os mioblastos diferenciam-se a partir de células mesenquimais presentes em cada

miótomo. Ao longo do desenvolvimento embrionário, os mioblastos expressam MioD, um

factor de transcrição que, em conjunto com os factores de regulação miogénica (MRF),

activam a transcrição dos genes necessários ao desenvolvimento muscular. Expressam ainda

mioestatina, uma proteína com efeito inibidor. Defeitos nesta proteína estão associados a um

desenvolvimento muscular excessivo.

Existem dois tipos de mioblastos. Os mioblastos jovens fundem-se originam miotubos

primários que têm uma forma tubular e apresentam vários núcleos centrais rodeados por

miofilamentos. Estes miotubos originam, por sua vez, as fibras musculares (os núcleos centrais

dos miotubos deslocam-se para a periferia, permitindo distinguir os dois tipos de células). Os

mioblastos maduros, por outro lado, originam miotubos secundários, que se formam apenas

nos locais onde há contacto directo destas células com terminações nervosas. Estes miotubos

apresentam pequeno diâmetro e uma maior quantidade de miofilamentos.

Entre o sarcolema e a lâmina externa, existem células-satélite, mononucleadas e com

uma grande densidade de cromatina. Apresentam uma função regenerativa, ainda que muito

limitada. Estas células são activadas após ocorrer uma lesão e expressam MRFs, dando origem

a mioblastos. No entanto, isto só ocorre caso a lâmina externa não seja danificada; caso

contrário, haverá apenas reparação por parte de fibroblastos, com formação de tecido

cicatrizado.

Page 67: Guinness - Histologia

67

Músculo Cardíaco

O músculo cardíaco apresenta um arranjo semelhante ao esquelético.

Quando visualizadas ao microscópio óptico, as células musculares cardíacas

apresentam estruturas lineares muito densas perpendiculares às fibras – os discos

intercalares. Estes são responsáveis pela ligação de células adjacentes, apresentando vários

tipos de junções celulares:

► Desmossomas – impedem a separação das células durante a contracção.

► Fascia adherens – fazem a ancoragem dos filamentos de actina à membrana.

► Gap junctions – permitem a circulação de iões, sendo essenciais para a

capacidade das células cardíacas se comportarem como um sincício; estão

localizadas nas porções laterais dos discos Z.

Reparação

No músculo cardíaco, as células danificadas são substituídas por tecido conjuntivo,

havendo perda de tecido cardíaco. Apenas uma ínfima percentagem de células apresenta

capacidade de se dividir.

Músculo Liso

As células musculares lisas são alongadas e fusiformes e apresentam extremidades

afiladas. Estão presentes em várias estruturas viscerais como vasos sanguíneos, aparelho

digestivo, útero, bexiga, músculo ciliar …

As células estão ligadas entre si por gap junctions que permitem a passagem de

pequenas moléculas que regulam a contracção das fibras.

Em preparações de hemalúmen-eosina, o citoplasma fica corado devido à elevada

concentração de actina e miosina. O núcleo é alongado e está presente no centro da célula. Os

restantes organelos (mitocôndrias, REr, ribossomas, complexo de Golgi) estão localizados em

cada extremidade do núcleo.

Os miofilamentos do músculo liso estão ligados aos corpos densos. Estas estruturas

são responsáveis pela ancoragem da actina e filamentos intermédios ao sarcolema e fazem a

transmissão de forças do interior da célula para a sua superfície.

Page 68: Guinness - Histologia

68

Os filamentos finos são constituídos por actina, tropomiosina e duas proteínas

específicas do músculo liso dependentes de cálcio. Não existe troponina.

Os filamentos espessos são constituídos por miosina II, que, ao contrário do que

acontece no músculo estriado, apresenta as cabeças globulares orientadas para cada lado do

filamento (“side polar”).

As proteínas acessórias são:

► MLCK (myosin light chain kinase) – inicia a contracção após activação do complexo

Ca2+-calmodulina.

► Calmodulina – regula a concentração de Ca2+ e activa a MLCK.

► Alfa-actinina – forma a estrutura dos corpos densos.

As células musculares lisas apresentam capacidade de secretar colagénio tipo IV e tipo

III (reticular), elastina e proteoglicanos.

Renovação, Reparação e Diferenciação

As células do músculo liso apresentam capacidade de divisão e diferenciação ao nível

de diversos órgãos (útero, vasos sanguíneos, estômago, cólon).

Estas células diferenciam-se de células mesenquimais e não apresentam factores de

transcrição específicos que lhes estejam associados.

Os fibroblastos podem desenvolver características de células musculares lisas

(miofibroblastos). Este processo pode ainda ocorrer em células epiteliais (células

mioepiteliais) ou ao nível de células do testículo que desenvolvem capacidade contráctil.

Contracção Muscular

Músculo esquelético

Envolve várias etapas:

1. A cabeça de miosina está ligada à actina e o ATP está ausente (rigor mortis)

2. O ATP liga-se à miosina, pelo que a afinidade desta para a actina diminui e a

miosina “solta-se”.

Page 69: Guinness - Histologia

69

3. Ocorre a desfosforilação do ATP a ADP e Pi, que permanecem ligados à miosina.

Este processo leva a uma torção da cabeça de miosina.

4. A miosina liga-se de forma fraca à actina. O Pi liberta-se, pelo que a afinidade entre

as duas moléculas aumenta. A cabeça de miosina, ao voltar à posição inicial, leva à

geração da força responsável pela contracção.

O retículo sarcoplasmático funciona como uma reserva de iões cálcio e a sua

membrana é rica em canais iónicos. O sarcolema apresenta várias invaginações, os túbulos T,

que possuem proteínas sensíveis à voltagem que afectam os canais de cálcio do retículo

sarcoplasmático.

O retículo sarcoplasmático e os túbulos T formam tríades.

O processo de despolarização inicia-se através de um estímulo nervoso que leva à

libertação de acetilcolina na junção neuromuscular. A acetilcolina provoca a despolarização da

membrana celular pela abertura dos canais de sódio. A despolarização ao nível dos túbulos T

activa as proteínas sensíveis à voltagem que, por sua vez, levam à abertura dos canais do

retículo sarcoplasmático e à libertação do cálcio. Estes iões ligam-se à TnC do complexo de

troponina, fazendo com que a TnI se dissocie. O local de ligação da miosina fica então

descoberto e a actina pode ligar-se à miosina.

O cálcio é rapidamente transportado de volta ao retículo sarcoplasmático por bombas

de cálcio dependentes de ATP.

Músculo Cardíaco

O cálcio do lúmen dos túbulos T é transportado para o sarcoplasma (citoplasma), o que

provoca a abertura dos canais de cálcio das cisternas adjacentes do retículo sarcoplasmático,

levando a uma libertação mais rápida de cálcio que inicia os passos seguintes da contracção

celular (semelhante ao que acontece no tecido muscular esquelético).

O início da contracção é ligeiramente mais lento do que no músculo esquelético devido

ao facto mencionado acima, mas também devido ao facto de a despolarização da membrana

durar mais tempo.

Os túbulos T e o retículo sarcoplasmático formam díades.

Page 70: Guinness - Histologia

70

Músculo liso

A contracção pode ser activada por:

► Impulsos mecânicos, nomeadamente o estiramento muscular (leva à abertura

de canais iónicos)

► Despolarização por acção da epinefrina/norepinefrina.

► Estímulos químicos, através do uso de 2º mensageiros (como o IP3) que geram

um potencial de acção. O estímulo químico pode ser dado pela angiotensina II

e pela vasopressina, por exemplo.

As células do músculo liso possuem invaginações, as cavéolas, que têm uma função

semelhante aos túbulos T.

O aumento da concentração de iões cálcio activa a MLCK que fosforila e cadeia leve da

miosina levando à contracção das fibras. É necessária a presença de ATP.

No músculo liso, a hidrólise do ATP ocorre a 10% da velocidade a que ocorre no

músculo estriado, levando a uma contracção mais lenta, porque a cabeça de miosina fica

ligada durante mais tempo à actina.

A contracção pode propagar-se como uma onda pelo tecido, como nos movimentos

peristálticos do tracto gastrointestinal, ou pode ocorrer simultaneamente em todo o tecido.

A contracção é regulada através do sistema nervoso autónomo (por estimulação

simpática, parassimpática ou visceral) ou através de hormonas, nomeadamente a oxitocina e

ADH (produzidas pela glândula pituitária).

No músculo liso, as terminações nervosas e as fibras estão mais separadas e nem todas

as fibras estão em contacto com nervos.

Page 71: Guinness - Histologia

71

Identificação Histológica

Tecido muscular esquelético

Núcleo periférico

Num corte longitudinal, apresenta bandas claras (I) e escuras (A)

Num corte transversal:

o Forma poliédrica

o Núcleo periférico

o O núcleo dos fibroblastos é mais pequeno e mais denso e é externo à

célula muscular.

Tecido muscular cardíaco

Num corte longitudinal:

Fibras horizontais

Discos intercalares mais densos

Binucleadas ou mononucleadas

Nucléolo visível

Num corte transversal:

Forma arredondada

Rodeadas por tecido conjuntivo

Núcleo central rodeado por miofibrilhas

Tecido muscular liso

Num corte longitudinal:

Feixes alongados

Núcleo circular

O tecido conjuntivo envolvente é mais escasso em núcleos.

Num corte transversal:

Núcleo alongado e ondulado

Page 72: Guinness - Histologia

72

TECIDO NERVOSO

O tecido é constituído por neurónios e por células da glia ou neuroglia (células de

suporte).

Anatomicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em:

► Sistema nervoso central (SNC), que inclui o encéfalo e a medula;

► Sistema nervoso periférico (SNP), constituído pelos nervos cranianos, espinhais e

periféricos que conduzem impulsos para o SNC (nervos sensitivos ou aferentes) e do

SNC para a periferia (nervos motores ou eferentes).

Funcionalmente, é divido em:

► Sistema nervoso somático (SNS) responsável por controlar todas as acções voluntárias

e por inervar sensorialmente de todo o organismo, excepto os músculos liso e

cardíaco, as vísceras e as glândulas.

► Sistema nervoso autónomo (SNA) responsável por controlar as funções involuntárias

do organismo e por fazer a inervação das vísceras, glândulas e músculos liso e

cardíaco. O SNA pode ainda ser subdivido em sistema nervoso simpático,

parassimpáticos e entérico.

O Neurónio

Os neurónios podem ser classificados em:

Sensitivos ou Aferentes Receptores →SNC

Motores ou Eferentes SNC ou gânglios → células/órgãos efectores

Interneurónios Comunicação entre os neurónios sensitivos e motores

Quanto ao número de prolongamentos, os neurónios podem ser:

Multipolares 1 axónio e 2 ou mais dendrites.

O impulso é conduzido das dentrites para o corpo celular e

desta para o axónio.

Page 73: Guinness - Histologia

73

Ex: maioria dos neurónios motores e interneurónios

Bipolares 1 axónio e 1 dendrite.

São muito raros. Estão localizados principalmente nos

receptores dos sentidos, nomeadamente na retina do olho e

no gânglio do nervo auditivo.

Pseudounipolares Possuem um prolongamento comum que se divide perto do

corpo celular em dois axónios.

São maioritariamente nervos sensitivos localizados perto do

SNC.

Corpo Celular ou Pericário

Região do citoplasma que contém o núcleo e a maioria dos organelos. A porção de

envolve o núcleo denomina-se citoplasma perinuclear. Entre os organelos presentes

encontram-se ribossomas abundantes, mitocôndrias, complexo de Golgi, lisossomas, etc. O REr

é bem desenvolvido e está agrupado nos corpúsculos de Nissl que são visíveis em microscopia

óptica usando corantes básicos. Podem existir alguns organelos nas dendrites mas não no

axónio.

Dendrites

Recebem a informação de outros neurónios ou do meio envolvente e transportam-na

até ao corpo celular. São amielinizadas e têm maior diâmetro do que os axónios. Geralmente,

terminam em várias ramificações a que se dá o nome de árvore dendrítica. O citoplasma é

semelhante ao perinuclear.

Axónio

Envia a informação do corpo celular para outros neurónios ou células efectoras.

Apenas um por neurónio. Tem origem ao nível do cone de implantação, que se situa perto do

corpo celular, e não possui corpúsculos de Nissl. Entre o cone a o início da bainha de mielina

existe uma porção do axónio denominada segmento inicial. O axónio termina numa dilatação,

o botão terminal.

As moléculas são transportadas do corpo celular para o axónio através de transporte

axonal.

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Quanto ao comprimento dos axónios relativamente à árvore dendritica, os neurónios

podem ser classificados em:

Golgi tipo I O axónio é maior do que as dendrites

Gogi tipo II O axónio termina perto do corpo celular, sendo menor do

que as dendrites.

Sinapse

Junções especializadas entre neurónios que facilitam a transmissão de impulsos entre

um neurónio pré-sináptico e um neurónio pós-sináptico. Podem ser classificadas

morfologicamente em:

As sinapses podem ser químicas, através neurotransmissores que fazem a transmissão

unidireccional do impulso, ou eléctricas, através de gap junctions que permitem a passagem

que iões entre células (comuns nos invertebrados).

Numa sinapse existe sempre um neurónio pré-sináptico, a fenda sináptica e um

neurónio pós-sináptico.

Neurónio pré-sináptico

Possui inúmeras vesículas sinápticas com neurotransmissores que se fundem com a

membrana, libertando do seu conteúdo na fenda sináptica. A membrana adicionada por esta

fusão é removida posteriormente por formação de vesículas revestidas por clatrina.

No microscópio electrónico, é possível visualizar uma densidade pré-sináptica que

corresponde ao local onde as vesículas estão ancoradas e onde são libertados os

neurotransmissores.

Axodendríticas Axónio → Dendrite

Axossomáticas Axónio → Corpo celular

Axoaxónicas Axónio → Axónio

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Fenda sináptica

Espaço com 20-30 nm que separam os dois neurónios.

Neurónio pós-sináptico

Tem receptores de membrana específicos para os neurotransmissores.

No microscópio, é visível uma densidade pós-sináptica que representa proteínas com

várias funções, nomeadamente a tradução da ligação receptor-neurotransmissor num sinal

intracelular, a ancoragem de outras proteínas, etc.

Transmissão sináptica

A despolarização da membrana do neurónio leva à abertura dos canais de Ca2+ do

botão terminal do axónio. O fluxo destes iões provoca a fusão das vesículas sinápticas com a

membrana e a consequente libertação dos neurotransmissores na fenda sináptica. Este

libertação pode ocorrer também por porocitose (forma-se um canal ou poro entre a vesícula e

a membrana).

Os neurotransmissores atravessam a fenda sináptica ligam-se ao receptores pós-

sinápticos levando, por exemplo, à despolarização da membrana por abertura de canais

iónicos.

As acções pós-sinápticas geradas dependem dos receptores a que os

neurotransmissores se ligam. Assim, as sinapses podem ser excitatórias se os

neurotransmissores (ex: acetilcolina, serotonina, glutamina) provocam a abertura dos canais

de Na+ e a despolarização da membrana, ou inibitórias se os neurotransmissores (ex: glicina)

abrem canais de Cl- que hiperpolarizam (tornam mais negativa) a membrana, o que dificulta a

geração de um potencial de acção.

Neurotransmissores

Acetilcolina (Ach) Neurotransmissor do SNA.

Libertada por neurónios colinérgicos (simpáticos e parassimpáticos)

Os receptores pós-sinápticos são colinérgicos e dividem-se em duas

classes:

► Receptores Ach muscaríneos – presentes no coração, por exemplo

Page 76: Guinness - Histologia

76

(estão associados à proteína G que leva a abertura de canais de K+

que causam hiperpolarização das membranas e uma consequente

diminuição da frequência cardíaca).

► Receptores Ach nicotínicos – existem no músculo esquelético e

estão associados a canais de Na+.

Substâncias inibidoras de Ach: curare (bloqueia os receptores

nicotínicos e leva à paralisia muscular), atropina (actua sobre os

receptores muscaríneos).

Catecolaminas Norepinefrina, epinefrina (adrenalina) e dopamina

Os neurónios são catecolaminérgicos. Os que usam epinefrina são

adrenérgicos e conseguem converter norepinefrina em epinefrina.

São libertadas por células dos SNC envolvidas na regulação do

movimento, atenção e humor. A epinefrina pode ser libertada pela

medula adrenal.

Serotonina Presente no SNC e entérico

Aminoácidos Ex: glutamato, aspartato, glicina

Óxido nítrico

Pequenos

péptidos

Ex: substância P, hormonas libertadas pelo hipotálamo, neurotensina, …

Após a sinapse, os neurotransmissores geralmente voltam a ser transportados para o

neurónio pré-sináptico e são reutilizados. No entanto, alguns podem ser degradados por

enzimas específicas, como a acetilcolinesterase que é libertada pelas células musculares e

degrada a acetilcolina em ácido acético e colina. A colina é reutilizada. Alguns inibidores desta

enzima são usados para tratar myasthenia gravis (uma doença neuromuscular degenerativa).

Transporte Axonal

A síntese proteica ocorre exclusivamente no corpo celular porque é o único local do

neurónio onde se encontram as mitocôndrias necessárias para fornecer energia ao processo.

Após a síntese, as proteínas (neurotransmissores, principalmente) são transportadas até ao

axónio por transporte axonal.

Page 77: Guinness - Histologia

77

Este transporte pode ser:

Anterógrado Corpo celular → Periferia

Proteína motora: quinesina

Retrógrado Periferia → Corpo celular

Proteína motora: dineína

Quanto à velocidade de transporte, pode ser:

Lento Exclusivamente anterógrado.

Transporte de substâncias estruturais (tubulina, actina)

Rápido anterógrado Transporte de organelos (RE, vesículas) e moléculas de

pequena massa como hidratos de carbono, aminoácidos,

nucleótidos e cálcio.

Rápido retrógrado Transporte do mesmo tipo de moléculas. É o caminho

seguido por toxinas e vírus que invadem o SNC.

O transporte dendrítico é muito semelhante ao axonal.

Neuroglia

No sistema nervoso periférico, a neuroglia é constituída por células de Schwann,

células satélite e algumas células associadas a órgãos específicos (ex: células de Müller na

retina).

Células de Schwann e Bainha de Mielina

Todos os axónios são envolvidos por células de Schwann que se desenvolvem da

crista neural por expressão do factor de transcrição Sox-10 e que, ao nível do SNP, produzem a

bainha de mielina que envolve os axónios mielinizados.

Os neurónios amielinizados são envolvidos por citoplasma das células de Schwann.

Estas são paralelas ao axónio e formam um canal que pode conter mais do que um neurónio. A

invaginação pode ser completa (forma um mesaxónio) ou incompleta.

Page 78: Guinness - Histologia

78

A bainha de mielina isola o axónio do compartimento extracelular e permite a

condução rápida dos impulsos eléctricos. Está ausente ao nível das dendrites e do cone de

implantação.

Mielinização

Ocorre a formação de um mesaxónio por invaginação de um axónio numa célula de

Schwann. O mesaxónio gira sobre o axónio e envolve-o em camadas concêntricas de

membrana e citoplasma. As primeiras camadas não são compactas mas o citoplasma vai sendo

extrudido à medida que se formam mais camadas. Podem existir alguns locais onde o

citoplasma permanece, nomeadamente: a camada mais interna entre o axónio e a mielina, as

incisuras de Schimdt-Lanterman (porção de citoplasma entre duas camadas consecutivas; tem

lisossomas, corpos densos e pode ter mitocôndrias), o citoplasma perinodal e a camada mais

externa da bainha.

O número de camadas é determinado pelo axónio e a espessura da bainha de mielina

é determinada por um factor de crescimento, NGR1 (neuregulin), expresso no axolema

(membrana da célula) e que actua sobre as células de Schwann.

Entre duas células de Schwann há um espaço amielinizado, o nódulo de Ranvier, que

permite a condução saltatória do impulso nervoso. O espaço entre dois nódulos chama-se

internódulo.

Composição da Bainha de Mielina

Lípidos (80%)

Isolamento eléctrico

Proteína básica mielínica (MBP) Está ligada à membrana plasmática

Presente no SNP e SNC

Proteína zero (P0) Estabiliza a membrana ao interagir com outras P0

Presente apenas no SNP

Proteína periférica mielínica (PMP22)

Page 79: Guinness - Histologia

79

Células Satélite

São células cubóides que envolvem o corpo celular. Têm como funções a manutenção

do meio envolvente, o isolamento eléctrico e as trocas metabólicas. Estão presentes nos

gânglios (onde se agrupam os corpos celulares dos neurónios).

Em preparações de hemalúmen-eosina, só é visível o núcleo.

No sistema nervoso central, a neuroglia é constituída por astrócitos, oligodendrócitos,

microglia e epêndima. No desenvolvimento do cérebro a partir do tubo neural, estas células

direccionam os neurónios para os locais correctos.

Astrócitos

São células derivadas da neuroectoderme. Podem ser de dois tipos:

Protoplasmáticos Predominantes na substância cinzenta

Prolongamentos pequenos e numerosos

Fibrosos Predominantes na substância branca

Prolongamentos menos numerosos

Ambos os tipos possuem filamentos intermédios compostos por proteína ácida

fibrilhar glial (GFAP) que são usados para identificar os astrócitos através de anticorpos

específicos para esta proteína.

Os astrócitos fazem parte da barreira hemato-encefálica através de alguns

prolongamento (pés perivasculares) que terminam ao nível da lâmina basal dos capilares.

Cobrem ainda as porções não mielinizadas dos neurónios, mantêm os neurotransmissores na

fenda sináptica, revestem a membrana basal entre a pia mater e o SNC (formando a glia

limitante), regulam a concentração de potássio no meio extracelular, fazem a reparação do

tecido do SNC e conferem suporte mecânico.

Oligodendrócitos

Fazem a produção da bainha de mielina no SNC. São células pequenas com menos

prolongamentos do que os astrócitos. Cada oligodendrócito projecta vários prolongamentos

Page 80: Guinness - Histologia

80

em forma de língua que envolvem uma porção do axónio e formam um segmento internodal.

O núcleo pode estar muito afastado do neurónio.

Existem algumas diferenças ao nível da bainha de mielina entre o SNP e o SNC.

► Os oligodendrócitos expressam proteínas diferentes, nomeadamente a proteína

proteolipídica e algumas glicoproteínas que substituem a P0 e a PMP22. A MBP é

comum e a sua deficiência causa doenças mielinizantes auto-imunes.

► As incisuras de Schimdt-Lanterman são menos numerosas uma vez que os astrócitos

também desempenham um papel no suporte dos neurónios.

► Os oligodendrócitos não assentam numa lâmina basal (ao contrário das células de

Schwann).

► A mielina de diferentes axónios pode entrar em contacto.

► Os nódulos de Ranvier são maiores, pelo que a condução saltatória é mais eficiente.

► Os neurónios amielinizados podem não estar envolvidos em células da glia.

Microglia

São células fagocíticas activadas em regiões onde correm danos. Pertencem ao

sistema mononuclear fagocitário do SNC e têm origem em células progenitoras de

granulócitos que invadem o SNC pelo sistema vascular.

O núcleo destas células é pequeno e alongado e, ao microscópio electrónico, são

visíveis alguns prolongamentos, lisossomas e vesículas.

Epêndima

Camada de células cubóides simples que revestem as cavidades do SNC (ventrículos e

canal raquidiano). Não são um epitélio porque a lâmina basal está ausente. O domínio basal

tem invaginações que interagem com os astrócitos adjacentes e o domínio apical possui

microvilosidades e cílios que fazem a absorção do líquido céfalo-raquidiano.

Ao nível dos ventrículos, fazem a produção de líquido céfalo-raquidiano e estão

associados a vasos sanguíneos, formando o plexo coroideu.

Page 81: Guinness - Histologia

81

Origem das células nervosas

Os neurónios, os oligodendrócitos, os astrócitos e o epêndima têm origem ao nível do

tubo neural.

A microglia tem origem em células progenitoras de granulócitos. Expressam o factor

de crescimento CSF-1 produzido pelo tubo neural. São as únicas células do sistema nervoso

com origem mesenquimal e podem ser distinguidas das restantes por terem vimentina (um

constituinte dos filamentos intermédios)

Os gânglios formam-se por migração de células da crista neural para a futura

localização dos gânglios. Estas células desenvolvem prolongamentos que atingem as células-

alvo e os territórios sensitivos. Inicialmente, são produzidas mais células do que as necessárias

e aquelas que não têm um contacto funcional com o tecido-alvo sofrem apoptose. Assim, fica

garantido que todas as células estão em contacto com pelo menos um neurónio.

Organização do SNP

O corpo celular dos neurónios encontra-se no SNC ou em gânglios periféricos. Os

gânglios espinhais contêm os corpos celulares dos nervos sensitivos, das raízes posteriores dos

nervos espinhais e das fibras sensitivas dos nervos cranianos (V, VII, VII, IX e X). Os gânglios

pré-vertebrais, terminais e para-vertebrais têm os corpos celulares dos nervos motores do

SNA.

As fibras nervosas e as células de Schwann são mantidas em contacto por tecido

conjuntivo organizado em três componentes:

Endoneuro Envolve as fibras nervosas individualmente.

Contém fibrilhas de colagénio tipo III secretado pelas células de

Schwann, fibroblastos, mastócitos, macrófagos e capilares sanguíneos.

Perineuro Envolve feixes de fibras.

Contribui para formar a barreira hemato-neural que faz a manutenção

do ambiente iónico.

Possui receptores e enzimas necessárias ao transporte activo de

Page 82: Guinness - Histologia

82

substâncias.

Pode ter uma ou mais camadas de células (características das células:

pavimentosas, lâmina basal em ambos os lados, contrácteis, possuem

filamentos de actina).

Células unidas por tight junctions.

Contém fibroblastos e alguns macrófagos.

Têm características de músculo liso (células contrácteis) e de tecido

epitelióide (lâmina basal e tight junctions).

Epineuro Tecido conjuntivo denso que envolve vários feixes de fibras

Está associado a tecido adiposo e capilares

Organização do SNA

O sistema nervoso autónomo conduz os impulsos involuntários para o músculo liso e

cardíaco e para as glândulas. É constituído por neurónios pseudounipolares cujo corpo celular

se encontra em gânglios e um dos prolongamentos é central enquanto o outro é periférico.

Os neurónios motores são normalmente acompanhados por neurónios sensitivos que

transmitem as sensações de dor até ao SNC.

O impulso do SNC é transmitido para os efectores viscerais por dois neurónios,

havendo uma sinapse ao nível dos gânglios autónomos (onde estão localizados os corpos

celulares dos neurónios pós-sinápticos) entre um neurónio pré-sináptico e 2 ou mais neurónios

pós-sinápticos.

Origem dos neurónios pré-

sinápticos Gânglios

SN Simpático Região torácica

Parte da região lombar

Gânglios paravertebrais do

tronco simpático

SN Parassimpático Nervos cranianos

Região sagrada da medula (S2-S4)

Gânglios viscerais (perto dos

órgãos)

A adrenal medula tem um efeito semelhante ao do sistema nervoso simpático, visto

que ambos produzem epinefrina e norepinefrina. No entanto, o sistema nervoso simpático

Page 83: Guinness - Histologia

83

actua directamente sobre efector enquanto que a adrenal medula liberta as substâncias na

circulação sanguínea.

O sistema nervoso entérico é constituído por neurónios situados nas paredes do

tracto gastrointestinal e que fazem o controlo dos movimentos muscular, secreções, fluxo

sanguíneo e processos imunológicos e inflamatórios que envolvem os órgãos do sistema

digestivo.

Pode funcionar independentemente do SNC, mas na digestão é necessária uma

interacção entre os três constituintes do SNA (o simpático e o parassimpático regulam as

secreções das glândulas e a contracção dos esfíncteres através de informações recebidas pelo

sistema nervoso entérico).

Existem interneurónios que integram a informação dos nervos sensitivos e geram um

arco reflexo ao nível dos neurónios motores que resulta, por exemplo, na contracção da

musculatura do cólon quando o estômago distende.

O sistema nervoso entérico organiza-se em dois plexos na parede dos órgãos: o plexo

mientérico ou de Auerbach (mais superficial) e o plexo submucoso ou de Meissner. As fibras

parassimpáticas do nervo pneumogástrico interagem com ambos os plexos.

As células nervosas entéricas não possuem células de Schwann ou células satélite –

têm apenas algumas células semelhantes a astrócitos.

Organização do Sistema Nervoso Central

O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, envolvidos por três meninges

e por líquido céfalo-raquidiano. O encéfalo, por sua vez, é constituído pelo cérebro, pelo

cerebelo e pelo tronco cerebral que contacta com a medula.

Os constituintes do SNC podem ser divididos em duas regiões:

► Substância cinzenta, que contém corpos celulares, axónios, dendrites e

neuroglia. É o local onde ocorrem as sinapses. Forma a camada externa do

encéfalo (o córtex cerebral) e alguns núcleos espalhados pelo cérebro e

cerebelo.

► Substância branca, que contém axónios, neuroglia e vasos sanguíneos. Ao

nível do tronco cerebral, rodeia os núcleos dos nervos cranianos que contêm

os corpos celulares dos neurónios motores.

Page 84: Guinness - Histologia

84

Os núcleos dos neurónios e da neuroglia são envolvidos por um conjunto de axónios e

dendrites que forma o neurópilo.

O cerebelo é constituído por três camadas:

► Camada molecular, a mais externa. É pobre em células e tem grande

quantidade de fibras.

► Camada de células de Purkinje que são neurónios multipolares, piriformes e

com citoplasma basófilo contendo corpúsculos de Nissl.

► Camada granular, a mais interna, que possui células granulosas (pequenos

neurónios multipolares) e células Golgi tipo II.

A medula é uma estrutura cilíndrica que continua o tronco cerebral. Está dividida em

31 segmentos, estando cada um deles ligado a dois nervos espinhais.

A substância cinzenta apresenta a forma de uma borboleta a rodear o canal central

da medula e contém núcleos de corpos celulares de neurónios funcionalmente relacionados

(semelhantes a gânglios). A substância branca envolve a cinzenta.

Os cornos anteriores são zonas basófilas onde estão localizados os corpos celulares

do neurónios motores que inervam os músculo estriado.

Tecido Conjuntivo do SNC – Meninges

As meninges que constituem o SNC são, da mais externa para a mais interna, a dura

mater, a aracnóide e a pia mater.

A dura mater continua-se com o periósteo do crânio. Ao nível da medula, forma

uma estrutura tubular que a envolve. Contém os seios venosos.

A aracnóide forma trabéculas com a pia mater compostas por tecido conjuntivo

laxo e fibroblastos alongados. O espaço entre as duas camadas chama-se espaço

Segmento

da medula

Raiz posterior

Raiz anterior Nervo

espinhal

Ramo posterior

Ramo anterior

Page 85: Guinness - Histologia

85

subaracnoideu e contém líquido céfalo-raquidiano e vasos sanguíneos. A pia mater é uma

camada muito fina.

Barreira Hemato-Encefálica

Forma-se muito cedo no desenvolvimento embrionário por contacto dos astrócitos

com as células endoteliais dos capilares. A barreira é formada por tight junctions entre as

células endoteliais e uma lâmina basal contínua que, em conjunto, formam vasos sanguíneos

impermeáveis. Os pés perivasculares dos astrócitos fazem a manutenção da barreira e da

homeostase, pois possuem canais de água que fazem a drenagem em caso de edema. Mantêm

ainda os níveis fisiológicos de potássio e libertam factores que aumentam as propriedades da

barreira e o conteúdo proteico das tight junctions.

O oxigénio, o dióxido de carbono e alguns lípidos conseguem atravessar livremente a

barreira. Pelo contrário, substâncias como a glicose, aminoácidos, nucleósidos e vitaminais

têm de ser transportadas activamente.

A membrana das células endoteliais possui enzimas que fazem a destruição de

metabolitos neurotóxicos.

Ao nível do 3º e 4º ventrículos, esta barreira está ausente para permitir que o SNC

tenha informações relativamente às substâncias em circulação no sangue e que não

atravessam os vasos capilares.

Degeneração e Regeneração do SNP

A degeneração de um axónio a jusante da lesão denomina-se degeneração

anterógrada ou de Wallerian e envolve vários passos:

Desintegração do axónio por desintegração do citoesqueleto.

As células de Schwann “desdiferenciam-se” e secretam GGF (glial growth

factors) que levam à sua proliferação.

Remoção da bainha de mielina por macrófagos.

A barreira hemato-encefálica é destruída para permitir o recrutamento de

mais macrófagos.

Page 86: Guinness - Histologia

86

A degeneração a montante chama-se degeneração traumática. O núcleo move-se para

a periferia do neurónio, número de corpúsculos de Nissl diminui e pode ainda ocorrer a

destruição do corpo celular.

A degeneração dos neurónios é sempre acompanhada de atrofia muscular.

A regeneração das células nervosas implica a formação de endoneural tubes

constituídos por células de Schwann. Estas organizam-se por colunas longitudinais

denominadas bandas de Bungner. O processo termina com a formação de um axónio.

Ao nível do SNC a regeneração não é possível devido ao facto de a destruição da

barreira hemáto-encefálica ser muito limitada pelo que são recrutados poucos macrófagos, o

que leva a uma remoção muito lenta da bainha de mielina. Além disso, os oligodendrócitos

entram em apoptose e os astrócitos produzem tecido cicatrizado.

Page 87: Guinness - Histologia

87

SISTEMA CARDIOVASCULAR

Coração

As paredes do coração são constituídas por 3 camadas (de externo para interno):

epicárdio, miocárdio e endocárdio.

Epicárdio

É a camada visceral do pericárdio. É constituído por uma camada única de células

mesoteliais (epitélio simples pavimentoso) e tecido conjuntivo e adiposo.

Miocárdio

É o músculo cardíaco. É mais espesso ao nível dos ventrículos e tem uma fraca

capacidade de regeneração.

É constituído por:

► Células musculares de função contráctil – nas aurículas têm menos túbulos T,

menor diâmentro e libertam o péptido natriurético auricular que é libertado

em resposta ao estiramento e actua no rim estimulando a diurese e,

consequentemente, diminuindo a pressão arterial.

► Células do sistema cardionector – inclui os nódulos sinusal e aurículo-

ventricular, o feixe de His e os seus ramos esquerdo e direito e as fibras da

rede de Purkinje.

Células dos nódulos Mais pequenas que as células musculares envolventes

Poucas miofibrilhas

Não têm discos intercalares

Comunicação por desmossomas e junções

comunicantes

Núcleo central

Fibras de Purkinje Maior diâmetro do que as células envolventes

Podem ser binucleadas

Miofibrilhas periféricas

Núcleo maior e arredondado

Têm discos intercalares

Page 88: Guinness - Histologia

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PAS-positivas (muito glicogénio)

Citoplasma homogéneo com H&E

Mais resistentes à hipoxia

Não têm túbulos T

Endocárdio

Epitélio simples pavimentoso que recobre as cavidades do coração. Possui uma

camada subendotelial de tecido conjuntivo denso e fibras musculares lisas e uma camada

subendocárdica de tecido conjuntivo que tem as fibras de condução e que se continua com o

tecido conjuntivo do miocárdio.

Válvulas

As válvulas são constituídas por 2 camadas:

► Fibrosa – é a camada central de tecido conjuntivo denso irregular;

► Esponjosa – reveste a anterior de ambos os lados; constituída por tecido

conjuntivo laxo com fibras elásticas que conferem resistência às válvulas.

Artérias e Veias

São constituídas por 3 túnicas que variam consoante o tipo de artéria e de veias e que

são, do lúmen para o exterior:

Túnica íntima Endotélio

Lâmina basal (colagénio, proteoglicanos, glicoproteínas)

Camada subendotelial de tecido conjuntivo laxo

Túnica média Camadas concêntricas de músculo liso

Túnica adventícia Tecido conjuntivo denso: colagénio e fibras elásticas

Contém os vasa vasorum que fazem a nutrição das paredes dos vasos

Entre as túnicas íntima e média existe, por vezes, uma lâmina elástica interna

constituída por material elástico fenestrado. Entre as túnicas média e adventícia pode existir

uma lâmina elástica externa constituída por fibras reticulares, elastina e proteoglicanos.

Page 89: Guinness - Histologia

89

Endotélio

É um tecido epitelial simples pavimentoso que recobre o lúmen dos vasos.

Funções:

► Barreira selectiva – é permeável a moléculas pequenas e lipossolúveis; as

restantes passam por transporte activo mediado por receptores ou através das

fenestras.

► Manutenção de uma barreira não-trombogénica através da libertação de

anticoagulantes e substâncias anti-trombogénicas.

► Modulação do fluxo sanguíneo e resistência vascular - secreção de

vasodilatadores (NO) e vasoconstritores (prostaglandina).

► Regulação da resposta imunitária – controla da interacção dos linfócitos com a

superfície endotelial (secreção de interleucinas e receptores específicos).

► Síntese de factores de crescimento e inibidores de crescimento.

A vasodilatação diminui a resistência vascular periférica e a pressão arterial. Ocorre

pela acção do NO, do stress metabólico e da prostaciclina (que também inibe a agregação das

plaquetas).

A vasoconstrição ocorre por contracção das fibras musculares lisas da túnica média

(acção da prostaglandina) e é responsável pelo aumento da resistência vascular periférica e da

pressão arterial.

Artérias

Podem ser de três tipos: elásticas (grande calibre), musculares (calibre médio) e

arteríolas (pequeno calibre).

Artérias elásticas (ex: aorta)

Nestas artérias, o fluxo sanguíneo é pulsátil: durante a sístole distendem e na diástole

“recolhem”. As fibras de colagénio das túnicas média e adventícia impedem que o estiramento

leve à ruptura do vaso.

Túnica íntima Endotélio + lâmina basal

Camada subendotelial de tecido conjuntivo laxo e músculo liso

Tight junctions e gap junctions

Page 90: Guinness - Histologia

90

O factor de von Willebrand acumula-se nos corpos de Weibel-Palade

Existem organelos com selectina-P que faz o reconhecimento

neutrófilo-endotélio

Túnica média É a mais espessa

Tem elastina na forma de lamelas fenestradas e concêntricas que

aumentam de número com a idade e em indivíduos com pressão

arterial elevada

As fibras musculares lisas têm núcleos alongados e estão envolvidas por

lâmina basal

Não tem fibroblastos

Entre as fibras musculares existe colagénio e proteoglicanos

Túnica adventícia Camada de colagénio e fibras elásticas (mais desorganizada) – tecido

conjuntivo denso

Tem: fibroblastos, macrófagos, linfáticos, nervos, vasa vasorum

Artérias musculares

Fazem a distribuição do sangue segundo as necessidades do organismo. Possuem mais

tecido muscular e menos material elástico na túnica média.

Túnica íntima Camada mais fina

Tem uma lâmina elástica interna muito visível e de aspecto ondulado

que permite a distinção em relação às restantes artérias

Túnica média Mais células musculares que apresentam um núcleo fusiforme

Túnica adventícia Espessura igual à da túnica média

Possui uma lâmina elástica externa

Arteríolas

Fazem o controlo do fluxo que chega aos capilares por vasoconstrição e vasodilatação.

Túnica íntima Muito fina

Não tem lâmina elástica interna

Núcleos das células endoteliais alongados

Page 91: Guinness - Histologia

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Túnica média Uma ou duas camadas de células musculares lisas

Núcleos arredondados

Túnica adventícia Muito fina

Funde-se com o tecido conjuntivo adjacente

Capilares

Estes vasos não possuem camada muscular nem adventícia – são constituído apenas

por uma camada de células endoteliais que se apoiam numa lâmina basal.

Podem ser de três tipos: contínuos, fenestrados ou descontínuos.

Capilares contínuos

As células estão unidas por junções de oclusão, formando uma camada contínua.

A lâmina basal é também contínua.

Estão associados a perícitos ou células de Rouget: têm prolongamentos que envolvem

os capilares, a lâmina basal é contínua com a do endotélio, tem capacidade contráctil e o

núcleo é grande. Tem função de suporte, estabilidade e de transmissão de sinais químicos e

mecânicos. São regulados pelo NO e podem originar células endoteliais durante e

angiogénese.

Locais: SNC, pulmões e músculos.

Capilares fenestrados

A lâmina basal é contínua, mas existem fenestras entre as células. Estas fenestras

podem ter diagrama (intestino, glândulas endócrinas, tubos renais) ou não (glomérulos renais).

Presentes em locais com elevada troca molecular como o rim e o intestino.

Capilares descontínuos ou sinusóides

Tanto a lâmina basal como as células endoteliais são descontínuas. Os poros não têm

diafragma. Podem estar associados a macrófagos (como as células de Kupffer no fígado).

Locais: fígado, baço, medula, gânglios linfáticos.

Microcirculação – regulação do fluxo

A regulação do fluxo ao nível dos capilares é feita por várias estruturas. As

metarteríolas permitem o fluxo directo entre arteríolas e vénulas, sem que o sangue passe

Page 92: Guinness - Histologia

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pelos capilares. Possuem um esfíncter pré-capilar que permite ou impede a passagem do

sangue.

As derivações artério-venosas fazem também a comunicação entre arteríolas e

vénulas e a sua contracção envia o sangue para os capilares. Estas derivações funcionam como

termorreguladores da pele e estão presentes no tecido eréctil do pénis.

A actividade do músculo liso é regulada pelo SNA, por hormonas, pela concentração de

oxigénio, dióxido de carbono, nutrientes e ácido láctico.

Veias

As veias podem ser divididas em vénulas (que podem ser pós-capilares ou musculares)

e em veias de pequeno, médio e grande calibre.

No geral, as veias têm um lúmen maior do que as artérias e paredes mais finas.

Possuem válvulas semilunares que resultam de projecções da túnica íntima e que são

constituídas por uma camada de tecido fibroelástico rodeado de ambos os lados por endotélio.

Vénulas pós-capilares

São constituídas por endotélio e lâmina basal. São o local de acção dos agentes

vasoactivos (heparina, serotonina) que levam à migração dos leucócitos. Estão associados a

perícitos que comunicam com o endotélio por gap junctions.

Vénulas musculares

A túnica média tem 1 ou 2 camadas de músculo e a túnica adventícia é muito fina.

Veias de calibre médio (ex: radial, tibial)

A túnica íntima pode ter algumas fibras musculares. A túnica média é fina e constituída

por algumas camadas de tecido muscular, colagénio e fibras elásticas. A túnica adventícia é

mais espessa.

Veias de grande calibre

O limite entre a túnica íntima e a média não é muito visível. A túnica média é fina. A

túnica adventícia é a mais espessa e possui fibras musculares, colagénio e material elástico.

Page 93: Guinness - Histologia

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Estas fibras estão dispostas longitudinalmente e não circularmente como acontece nos

restantes vasos.

Grande Veia Safena

Esta veia possui algumas características particulares:

Túnica íntima Feixes longitudinais de fibras musculares

Lâmina elástica interna muito fina

Túnica média Feixes circulares de fibras musculares

Relativamente desenvolvida

Túnica adventícia Bastante desenvolvida

Feixes longitudinais de fibras musculares

Linfáticos

Os linfáticos fazem o transporte unidireccional da linfa até aos vasos sanguíneos. Esta

passa por gânglios linfáticos que fazem a sua filtragem.

Os capilares linfáticos têm paredes muito finas e com lâmina basal descontínua, o que

lhes confere grande permeabilidade. Têm uma camada subendotelial de colagénio IV e VI.

Os vasos maiores são constituídos por fibras musculares lisas e possuem válvulas

semelhantes às das veias mas a camada central possui reticulina.

O fluido move-se ao longo dos vasos por contracção dos músculos envolvente.

O sistema linfático está presente em todos os tecidos excepto: SNC, cartilagem, osso,

medula, timo, placenta, córnea e dentes.

Page 94: Guinness - Histologia

94

Identificação Histológica

Parede ventricular (método de Mallory-Azan):

Superfície coberta por endotélio

Logo abaixo há uma camada de tecido conjuntivo subendotelial corado a azul

Fibras de Purkinje:

o No subendocárdio

o Maior diâmetro

o Núcleo central e maior do que as células musculares

o Discos intercalares

o Miofibrilhas estão marcadas como linhas mais escuras ao longo do citoplasma

Aorta (H&E):

Túnica íntima:

o Colagénio eosinófilo (cor-de-rosa mais escuro)

o Núcleos alongados de células musculares lisas

o Endotélio + tecido conjuntivo laxo

Túnica média:

o O material elástico não é visível

o Colagénio muito eosinófilo – aspecto ondulado

o Núcleos das fibras musculares corados de azul-arroxeado

Túnica adventícia:

o Tecido conjuntivo denso (aspecto mais compacto)

o Núcleos de fibroblastos

o Alguns vasos sanguíneos

o Muito corado

Aorta (iron hematoxylin and aniline blue):

Realça o material elastic

Fibras de colagénio a azul

Fibras elásticas a preto – na túnica médica estão situadas entre o colagénio e na

adventícia aparecem como pontos pretos porque as fibras são circunferenciais.

Page 95: Guinness - Histologia

95

Artéria muscular (H&E):

Lamina elástica interna – é a zona mais clara entre o endotélio e o tecido conjuntivo

As fibras musculares da túnica média têm núcleos alongados

Artéria muscular (Weigert’s resorcin-fuchsin elastic stain preparation):

Lâminas elásticas interna e externa coradas de cor muito escura e muito irregulars

Túnica média (entre as duas lâminas elásticas): núcleos a roxo, citoplasma de cor

amarelo-acastanhado e com fibras elásticas.

Túnica adventícia: fibras de colagénio mais claras e fibras elásticas a roxo.

Arteríolas (H&E) – corte transversal:

Núcleo das células endoteliais redondo

Núcleo das fibras musculares alongados

Nos cortas longitudinais é ao contrário

Vénulas (H&E):

Camada muito fina de endotélio (núcleos alongados) e tecido conjuntivo

Lúmen de cor rosa claro e grande

Veias de calibre médio (H&E):

Túnica íntima – muito fina e mais corada

Túnica média – núcleos alongados e citoplasma basófilo

Túnica adventícia – fibroblastos (núcleo escuro) escassos e tecido conjuntivo

Grandes veias (H&E):

Túnica íntima – muito fina

Túnica média – fibras musculares circunferenciais

Túnica adventícia – é a maior; fibras longitudinais (é possível observarem-se os feixes).

Linfáticos (H&E):

Endotélio e tecido conjuntivo indistinguíveis

Válvulas: têm células endoteliais nas duas faces

Page 96: Guinness - Histologia

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Linfáticos (Método de Mallory):

Rodeados por tecido conjuntivo denso corado a azul

Núcleos das células a cor-de-rosa

Podem aparecer vénulas com células sanguíneas no lúmen.

Page 97: Guinness - Histologia

97

SISTEMA IMUNITÁRIO

Células do Sistema Imunitário

As principais células do sistema imunitário são os linfócitos B, T e NK. Existe ainda um

conjunto de células de suporte que incluem monócitos, macrófagos, neutrófilos, eosinófilos,

basófilos, células reticulares (no fígado, baço, gânglios), células dendríticas (no baço), células

retículo-epiteliais e as células de Langerhans da pele.

Algumas células podem ser identificadas pela expressão de marcadores específicos, os

cluster of differentiation (CD), através de métodos imunocitoquímicos.

Linfócitos T (imunidade célula-a-célula)

Constituem 60 a 80% dos linfócitos circulantes. Expressam CD3, CD5, CD7 e TCRs e são

classificados segundo a presença ou ausência de CD4 e CD8.

Linfócitos T CD4+

(de ajuda)

Podem ser subdivididos em células TH1 e TH2 tendo em

conta a expressão de certas interleucinas e da interacção

que estabelecem com outras células

Linfócitos T CD8+

(citotóxicos)

Matam células específicas (vírus, células tumorais, etc)

Linfócitos T supressores Suprimem respostas imunitárias activando outras células

do sistema imunitário

Linfócitos T γ/δ Funcionam na primeira linha de defesa

Linfócitos B (imunidade humoral)

São 20 a 30% dos linfócitos circulantes. Produzem anticorpos (imunoglobulinas, Ig) que

participam na imunidade humoral. Expressam BCRs, MHC II, CD9, CD19 e CD20.

Linfócitos NK

5 a 10% dos linfócitos circulantes. Durante o desenvolvimento são programados para

atacar antigénios específicos. Libertam perforinas que induzem a apoptose celular. Expressam

CD16a, CD56 e CD94.

Page 98: Guinness - Histologia

98

MHC (Complexo Maior de Histocompatibilidade)

São moléculas específicas (glicoproteínas) de uma célula ou tecido que são expressas à

sua superfície.

O MHC I está presente em todas as células nucleadas e nas plaquetas. Mostram à

superfície fragmentos dos péptidos sintetizados pela célula e apresentam-nos aos linfócitos T

CD8+.

O MHC II é expresso apenas as células apresentadoras de antigénio (APC) que

apresentam os fragmentos de péptidos estranhos ao organismo aos linfócitos T CD4+.

As APC incluem as células que fazem parte do sistema mononuclear fagocítico

(macrófagos, células de Kupffer, células de Langerhans, células dendríticas) e as células

retículo-epiteliais de tipo II e III.

Órgãos Linfóides

Podem ser divididos em órgãos linfóides primários (medula óssea e timo) e

secundários (gânglios, folículos linfóides, gânglios linfáticos, amígdalas, baço, etc). Estes

últimos são responsáveis pela diferenciação dos linfócitos para um antigénio específico e pela

activação das células de memória.

Tecido linfóide difuso

Está presente na lâmina própria (córion) das mucosas dos tractos gastrointestinal,

respiratório e genital e constitui o MALT (tecido linfóide associado às mucosas). Não possui

cápsula. Após o contacto com um antigénio, as células destes tecidos migram para os gânglios

linfáticos onde proliferam e se diferenciam, voltando à lâmina própria na forma de linfócitos B

ou T activados.

Folículos linfóides (ex: Placas de Peyer no intestino, apêndice ileo-cecal)

São acumulações de tecido linfóide não encapsulado. Podem ser primários, se forem

constituídos por pequenos linfócitos inactivos, ou secundários, quando os linfócitos se

começam a diferenciar.

Os folículos secundários possuem:

Page 99: Guinness - Histologia

99

Centro germinativo Na zona central

Está corado menos intensamente devido ao facto de os

linfócitos se encontrarem em divisão pelo que a sua

cromatina está descondensada

Possui linfoblastos, plasmoblastos, células dendríticas

foliculares

A sua presença indica uma resposta imunitária

Coroa ou manto Camada em volta do centro germinativo

Constituída por linfócitos B imaturos e alguns linfócitos T

(principalmente entre folículos)

Cora mais intensamente

Amígdalas Palatinas

Tecido linfóide parcialmente encapsulado situado na entrada na orofaringe. Estão

cobertas por epitélio estratificado pavimentoso em continuidade com o da mucosa. Este

epitélio forma invaginações, as criptas palatinas, cujas paredes podem ser invadidas por

folículos linfóides nalgumas zonas. Têm uma cápsula de tecido conjuntivo denso que separa o

epitélio dos linfócitos. Não têm vasos aferentes, apenas eferentes.

As amígdalas palatinas formam com as amígdalas linguais, faríngeas e tubárias o anel

de Waldeyer.

Gânglios linfáticos

São órgãos linfóides secundários encapsulados. Têm uma função de filtragem da linfa.

O estroma é constituído por uma cápsula de tecido conjuntivo denso que origina

trabéculas (invaginações que invadem os gânglios) e por um retículo de células e fibras

reticulares que fazem a sustentação do tecido linfóide. As células reticulares produzem

colagénio tipo III e emitem prolongamento que envolvem essas fibras e as isolam.

Podem estar presentes células dendríticas, macrófagos e células dendríticas

foliculares. Estas últimas possuem vários prolongamentos entre os linfócitos B ao nível dos

centros germinativos que interagem com os complexos antigénio-anticorpo, sendo capazes de

apresentar o antigénio à sua superfície durante longos períodos de tempo.

Page 100: Guinness - Histologia

100

Estrutura do parêquima:

Córtex É a porção mais externa, imediatamente abaixo da cápsula

Grande densidade de linfócitos

Apresenta folículos linfóides primários ou secundários de linfócitos B

apenas no córtex superficial

Entre a medula e o córtex superficial existe uma área sem folículos –

paracórtex

Medula Parte mais interna do órgão

Cora menos intensamente

Constituída por linfócitos B e plasmócitos agrupados em cordões

medulares separados por seios medulares

Os seios medulares drenam nos vasos eferentes

Filtração

Os vasos aferentes e as vénulas de endotélio alto drenam nos seios sub-capsulares

(entre a cápsula e o córtex). Daí, a linfa segue o seguinte trajecto:

Os seios são constituídos por epitélio contínuo na porção em contacto com a cápsula e

epitélio descontínuo em contacto com o parênquima.

Vénulas de endotélio alto

Têm um epitélio simples cubóide ou cilíndrico. Drenam cerca de 90% dos linfócitos.

Estão localizadas ao nível do paracórtex e têm muitos canais de água que tornam a reabsorção

muito rápida. Os linfócitos abandonam a corrente sanguínea por diapedese: os T vão para o

paracórtex e os B para o córtex superficial.

Seios sub-capsulares

Seios corticais

ou trabeculares

Seios medulares

Vaso linfático aferente

Page 101: Guinness - Histologia

101

Timo

Órgão linfóide primário situado no mediastino anterior, à frente dos grandes vasos,

responsável pela maturação dos linfócitos T. Desenvolve-se da endoderme da 3ª e 4ª bolsas

faríngeas por invaginações da porção ventral da 3ª bolsa que se fundem na linha média. Tem

um desenvolvimento máximo na infância, a partir da qual inicia um processo de involução (o

tecido linfóide é substituído por tecido adiposo, principalmente ao nível do córtex).

É constituído por 2 lobos. Está envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso

que invagina e forma trabéculas. A cápsula contém os vasos eferentes, nervos, fibroblastos,

células sanguíneas, mastócitos, macrófagos, etc.

O parênquima é constituído por um córtex e por uma medula.

O córtex é muito basófilo, sendo muito corado com H&E, e possui uma grande

densidade de linfócitos T que se vão dividindo e aproximando da medula, bem como

mastócitos que fazem a fagocitose dos linfócitos mal maturados. A medula possui menos

linfócitos e cora menos intensamente (os núcleos dos linfócitos são mais claros e têm uma

maior quantidade de citoplasma).

O timo é rico em células retículo-epiteliais. Estas têm características de células

reticulares (formam o estroma do timo) e epiteliais (junções celulares e filamentos

intermédios) e podem ser de 6 tipos, sendo que os primeiros três de localizam no córtex e os

últimos três na medula:

Tipo I Entre a cápsula e o córtex

Junções de oclusão que formam uma barreira protectora

Tipo II Fazem a compartimentalização do timo

Expressam MHC I e II

Tipo III Entre o córtex e a medula

Formam uma barreira

Expressam MHC I e II

Tipo IV Entre o córtex e a medula

Formam uma barreira

Tipo V Fazem a compartimentalização da medula

Núcleo muito menos corado do que o dos linfócitos

Page 102: Guinness - Histologia

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Tipo VI São os Corpúsculos de Hassal (existem apenas no timo, sendo uma

forma muito fácil de identificar o órgão)

Conjunto de células retículo-epiteliais arranjadas de forma

concêntrica

Núcleos achatados

Têm um papel na diferenciação dos linfócitos

Estas células podem ser identificadas pela técnica da imunoperoxidase usando

anticorpos para a ceratina (componente dos filamentos intermédios).

Barreira hemato-tímica

Constituída por endotélio contínuo com junções de oclusão e lâmina basal associado a

perícitos (ou células de Rouget) e a macrófagos (fagocitam antigénios que atravessem a

barreira). Existem ainda as células retículo-epiteliais de tipo I.

Educação tímica

Ocorre por estímulo de IL-4, IL-7 e interferão γ.

Na primeira fase, os linfócitos são duplamente negativos, não expressam CD4 nem

CD8 (CD2+ e CD7+). Depois, passam numa fase de duplo positivo (CD4+, CD8+, CD3+, TCR). As

células retículo-epiteliais tipos II e III apresentam-lhe então antigénios próprios e estranhos.

Caso o linfócitos não os reconheça, sofre apoptose; caso reconheça, é dirigido para a medula.

Nesta fase ocorre, assim, uma selecção positiva.

Na medula, ocorre então a selecção negativa: se os linfócitos reagirem contra o MHC

(ou seja, contra as próprias células do organismo) são eliminados; caso sejam funcionais,

diferenciam-se então em linfócitos CD4+ e CD8+ e são enviados para a circulaçao sanguínea.

Baço

Tal como acontece nos outros órgaos, é envolvido por uma cápsula que forma

trabéculas. Esta cápsula possui miofibroblastos que conferem ao baço uma capacidade

contráctil que lhes permite libertar eritrócitos (esta propriedade tem elevada importância

noutras animais).

O baço é constituído por polpa branca e polpa vermelha.

Page 103: Guinness - Histologia

103

A polpa branca possui tecido linfóide. Com H&E, é basófila devido à heterocromatina

dos linfócitos. Uma das característica desta zona é a presença de artérias centrais (ramos da

artéria esplénica) que estão rodeadas por uma bainha linfóide peri-arterial constituída por

células B e algumas células T dispersas. Quando se forma um centro germinativo em volta da

artéria central e esta se situa no centro do mesmo, o folículo linfóide secundário chama-se

corpúsculo de Malpighi. À medida que a maturação decorre, a artéria vai ocupando uma

posição mais periférica e o folículo deixa de ter esse nome.

A polpa vermelha é rica em glóbulos vermelhos. Possui sinusóides separados pelos

cordões esplénicos ou cordões de Billroth que constituiem o estroma (têm fibras reticulares).

Os sinusóides são formados por células endoteliais muito alongadas com poucos pontos de

contacto. A lâmina basal é descontínua.

Circulação esplénica

Das artérias centrais, o sangue passa para as arteríolas peniciladas (na polpa vermelha)

e destas para capilares. Daqui, o sangue sai para o espaço entre os cordões de Billroth e é

exposto a macrófagos que fazem a sua “limpeza” e volta a entrar para os sinusóides. Esta

circulação é do tipo aberta, porque o sangue sai dos vasos e volta a entrar.

Funçoes do baço

O baço desempenha funçoes imunológicas e hematopoiéticas.

Imunológicas

(na polpa branca)

Apresentação de antigénios por APC

Início da resposta imunitária

Proliferação de linfócitos B e T

Remoção de antigénios da corrente

sanguínes

Hematopoiéticas

(na polpa vermelha)

Remoção de eritrócitos senescentes e

degradados

Remoção do ferro da hemoglobina

Eritropoiese (no feto)

Armazenamento de sangue

Page 104: Guinness - Histologia

104

SISTEMA DIGESTIVO I: cavidade oral e estruturas associadas

Cavidade Oral

A cavidade oral é revestida por três tipos de mucosas:

Mucosa que reveste o palato duro e gengivas. O epitélio é estratificado pavimentoso

queratinizado e paraqueratinizado e a lâmina própria é constituída por tecido conjuntivo laxo

com vasos sanguíneos e nervos (alguns enviam terminações nervosas para o epitélio que

funcionam como receptores sensoriais e outras podem terminar ao nível dos corpúsculos de

Meissner); mais profundamente, existe uma camada de tecido conjuntivo denso. Ao nível do

rafe palatino e na gengiva, a mucosa adere ao osso e a camada reticular confunde-se com o

periósteo – não há submucosa.

Mucosa de revestimento. Existe ao nível dos lábios, pavimento bucal, gengiva, palato

mole e superfície ventral da língua. O epitélio é geralmente não-queratinizado e é constituído

por três camadas: stratum basale (camada única de células sobre a lâmina basal), stratum

spinosum (várias camadas de células) e stratum superficiale (camada mais superficial da

mucosa). A submucosa é constituída por colagénio e fibras elásticas, por glândulas salivares

acessórias ao nível da língua, lábios e bochechas e pode ainda ter glândulas sebáceas

associadas a folículos capilares e que se chamam Fordyce spots. Não existe submucosa na face

inferior da língua.

Mucosa especializada. Está associada ao sentido do gosto e possui papilas gustativas e

corpúsculos gustativos.

Tecido epitelial paraqueratinizado: as células epiteliais mais superficiais não perdem

os núcleos. Estes encontram-se altamente condensados e o citoplasma cora pouco

intensamente com eosina.

A mucosa oral é muito resistente a organismos patogénicos devido à presença de

células epiteliais, neutrófilos e da saliva que mantêm a higiene oral.

Page 105: Guinness - Histologia

105

Lábio

O epitélio queratinizado da pele muda para epitélio estratificado pavimentoso

paraqueratinizado ou não-queratinizado, característico da mucosa oral. Apresenta três

regiões:

Cutânea

De transição (zona

vermelha do lábio)

Ligeiramente queratinizado (ainda apresenta stratum

granulosum)

Muito vascularizado e inervado

O tecido conjuntivo penetra no epitélio (pode ter

corpúsculos de Meissner)

Glândulas sudoríparas e sebáceas ausentes

Mucosa oral Epitélio mais espesso

O stratum granulosum desaparece e passam a ser visíveis

núcleos achatados à superfície

Língua

O músculo estriado da língua está organizado em feixes dispostos em três planos e

cada um deles está orientado em sentido perpendicular em relação aos outros. Esta

organização é exclusiva da língua e confere-lhe elevada flexibilidade e precisão de

movimentos.

A face dorsal é dividida pelo sulco terminal que tem a forma de um v aberto para a

frente. Anteriormente, existem 4 tipos de papilas:

Filiformes Mais pequenas e numerosas

Projecções cónicas e alongadas de tecido conjuntivo coberto

por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado

O vértice aponta para trás

Não tem corpúsculos gustativos

Função mecânica: aumentar a fricção entre o alimento e a

língua

Page 106: Guinness - Histologia

106

Fungiformes Forma de cogumelo

Maiores do que as filiformes

Têm corpúsculos gustativos no epitélio estratificado

Circunvaladas 8 a 12 papilas localizadas imediatamente à frente do sulco

terminal (formam o v lingual)

Cada uma está rodeada por um sulco que contém corpúsculos

gustativos e onde se abrem as glândulas de von Ebner

(glândulas salivares linguais) que impedem, por acção

enzimática, a acumulação de resíduos alimentares nos sulcos

Folheadas Cristas paralelas separadas por fendas alinhadas

perpendicularmente ao grande eixo da língua

Localizadas nos bordos laterais da língua (deixam de ser visíveis

com a idade)

Têm glândulas serosas que se abrem nas fendas através de

pequenos ductos

Têm corpúsculos gustativos

Posteriormente ao sulco terminal, a língua apresenta nódulos linfáticos e tecido

linfóide difusos cujo conjunto forma a amígdala lingual.

A face ventral da língua é constituída por tecido epitelial estratificado pavimentoso

não-queratinizado e é mais regular.

Corpúsculos gustativos

São corpos ovais e pouco corados na espessura do epitélio, associados a fibras

nervosas também pouco coradas. Estendem-se até ao limite superior da cartilagem cricoideia.

Apresentam uma abertura na porção superior, o poro gustativo. São constituídos por três

tipos de células:

Células neuroepiteliais Mais numerosas

Alongadas em toda a espessura do corpúsculo

Têm microvilosidade na parte apical

Page 107: Guinness - Histologia

107

Contactam com outras células e com células de suporte

por tight junctions (na parte apical)

Na base, sinapsam com neurónios aferentes do VII, IX e X

pares cranianos

Células de suporte São semelhantes às neuroepiteliais mas não fazem

sinapse com os neurónios

Células basais Pequenas células situadas na porção basal do corpúsculo

São células estaminais precursoras dos outros dois tipos

celulares cujo tempo de vida é de 10 dias

Paladar

As substâncias químicas contidas nos alimentos interagem com receptores localizados

nas células neuroepiteliais que reconhecem essas substâncias e enviam informações para o

cérebro, onde estas são reconhecidas como o gosto. Existem cinco estímulos básicos: doce,

salgado, amargo, ácido e umami (umami é uma palavras de origem japonesa que significa

"gosto saboroso e agradável, delicioso”). A acção molecular das substâncias químicas inclui a

passagem através de canais iónicos, o encerramento desses mesmos canais ou a interacção

com um receptor específico associado à proteína G.

O amargo, o doce e o umami são detectados por uma variedade de receptores

codificados pelos genes T1R e T2R que interagem com a proteína G.

No caso do ácido, o gosto é gerado por protões que se formam por hidrólise de

compostos ácidos. Estes protões bloqueiam os canais de potássio responsáveis por criar o

potencial de acção que causa a despolarização da membrana e entram nas células

neuroepiteliais, o que activa o canais de Ca2+ sensíveis à voltagem. O fluxo de cálcio gera um

potencial de acção nas células nervosas associadas aos corpúsculos gustativos.

No caso do salgado, o Na+ entra nas células neuroepiteliais por canais iónicos o que

causa a despolarização da membrana e a activação de canais de sódio e cálcio, levando à

estimulação das fibras nervosas.

Dentes

Os dentes são essenciais no processo de digestão.

Page 108: Guinness - Histologia

108

São constituídos por uma porção projectada acima da gengiva (a coroa), e por uma ou

mais raízes que ocupam os alvéolos maxilares. A região de transição é o colo. Os dentes

possuem tecidos moles (a polpa que preenche a cavidade pulpar, a membrana periodontal

entre o cemento e o osso, e a gengiva) e tecidos duros (o esmalte, a dentina e o cemento).

Esmalte

O esmalte é a substância mais dura do organismo. É um tecido mineralizado, não

celular, que cobre a coroa dos dentes. Uma vez formado não pode ser substituído. É

constituído por hidroxiapatita (96-98%), a forma cristalizada do fosfato de cálcio.

É constituído por estruturas alargadas e hexagonais, os prismas do esmalte. Os cristais

de esmalte estão orientados de forma paralela ao eixo maior do prisma. Este possui estrias, as

linhas de Retzius, que evidenciam um crescimento rítmico do esmalte.

Cemento

É uma camada produzida por cementócitos (células localizadas na superfície do

cemento) que cobre a raiz dos dentes. É avascular.

Dentina

É um tecido calcificado com cerca de 70% de cálcio (mais do que no osso). É secretada

por odontoblastos que formam uma camada única de células cilíndricas que contorna a

cavidade pulpar. Estas células produzem a matriz orgânica da dentina, constituída por

glicoproteínas e colagénio.

É secretada, primeiro, sobre a forma de pré-dentina (forma não mineralizada).

Ligamento periodontal

É uma estrutura fibrosa que une o cemento ao osso alveolar e o dente à gengiva e

dentes vizinhos. É formando por tecido conjuntivo denso. As fibras de colagénio (fibras de

Sharpey) projectam-se da matriz do cemento e penetram na matriz do osso. É muito

vascularizada e enervada.

Page 109: Guinness - Histologia

109

Glândulas Salivares

Existem três glândulas salivares major de cada lado: a parótida, a submaxilar e a

sublingual. Existem ainda algumas glândulas menores localizadas na submucosa da língua,

lábios e palato.

Unidade secretora

As glândulas estão envolvidas por uma cápsula (excepto as menores) cujos septos as

dividem em lobos e lóbulos. Cada unidade secretora é formada pelo ácino, por um ducto

intercalar e por um ducto excretor. Os ácinos são estruturas em forma de saco constituídos

por células secretoras. Nas glândulas salivares, estes ácinos podem ser serosos, mucosos ou

mistos.

Ácinos serosos Células piramidais com domínio basal mais largo e domínio

apical (virado para o lúmen) mais estreito

REr, ribossomas e complexo de Golgi desenvolvidos

Grânulos zimogénicos (contêm as secreções) localizados no

domínio apical

Em preparações de H&E, o domínio basal cora com

hematoxilina devido ao REr e aos ribossomas e a região

apical cora com eosina devido aos grânulos

Ácinos mucosos Grande quantidade de grânulos mucinogénicos localizados

no domínio apical (conteúdo perdido na preparação)

Núcleo achatado contra a base da célula

O muco é armazenado em grânulos mucinogénicos e é

libertado após estímulo hormonal ou neuronal

Após a descarga, as células tornam-se semelhantes às

serosas

Ácinos mistos Nas preparações de H&E, as células serosas formam um

crescente seroso em volta das mucosas. Isto é um artefacto

da preparação em consequência do aumento do

mucinogénio durante a fixação da preparação, o que faz com

que as células serosas sejam “empurradas” da sua posição

Page 110: Guinness - Histologia

110

original. Na verdade, as células serosas e mucosas estão

intercaladas umas com as outras.

Associados aos ácinos estão células mioepiteliais. Estas localizam-se entre a

membrana basal das células epiteliais e a lâmina basal do epitélio, bem como na base dos

ductos. São importantes no movimento das secreções ao longo dos ductos excretores. Os

filamentos contrácteis coram com eosina e formam uma banda adjacente à membrana basal.

Canais excretores

Ductos intercalados. Estão localizados no parênquima das glândulas (são

intralobulares) e epitélio é simples cubóide baixo e as células têm anidrase carbónica. Estas

secretam bicarbonato e absorvem Cl- do produto secretado pelas glândulas.

Ductos estriados. Estão localizados no parênquima das glândulas (são intralobulares) e

o epitélio é simples cubóide e torna-se gradualmente cilíndrico. A membrana basal tem

invaginações no meio das quais estão mitocôndrias. Esta especialização da membrana está

associada a reabsorção de Na+ e à secreção de K+ e bicarbonato. É reabsorvido mais sódio do

que a quantidade de potássio que é excretada, pelo que a secreção se torna hipotónica. São

mais desenvolvidos nas glândulas serosas.

Ductos principais. Abrem-se na cavidade oral. O epitélio vai-se tornando estratificado

ou pseudoestratificado cubóide/pavimentoso.

Parótida

As glândulas parótidas estão localizadas de cada lado, abaixo e à frente do pavilhão

auricular. São tubulo-alveolares compostas, exclusivamente serosas. Possuem ductos

estriados muito desenvolvidos. Apresenta uma grande quantidade de tecido adiposo, o que

Ductos intralobulares (intercalados e

estriados)

Ductos interlobulares

Ductos principais

Page 111: Guinness - Histologia

111

permite fazer a sua distinção das restantes glândulas salivares. É atravessada pelo nervo facial.

O canal excretor principal é o canal de Sténon e abre-se entre o 1º e o 2º molares, no vestíbulo

bucal superior.

Submaxilar

As glândulas submaxilares estão localizadas de cada lado do pavimento bucal e

classificam-se como tubulo-alveolares compostas. São predominantemente serosas, mas

apresentam alguns ácinos mucosos com crescentes serosos. Os ductos estriados são menos

desenvolvidos. O canal excretor principal é o canal de Wharton que se abre no freio da língua.

Sublingual

Estão situadas anteriormente às submaxilares. São predominantemente mucosas, mas

apresentam alguns crescentes serosos. O ductos intercalares e estriados são curtos e a

unidade secretora pode ser tubular e não apenas acinar/alveolar. Os vários ductos excretores

abrem-se, geralmente, no pavimento bucal.

Saliva

As glândulas salivares produzem cerca de 1,200mL de saliva por dia, uma secreção

aquosa hipotónica que desempenha uma grande variedade de funções:

► Lubrificação da mucosa oral

► Dissolução de substância presentes nos alimentos que estimulam os

corpúsculos gustativos

► Digestão do amido, principalmente (possui amilase)

► Controlo das bactérias da mucosa oral através da lisozima, da lactoferrina e de

IgA

► Importante no desenvolvimento dos dentes devido ao conteúdo em cálcio e

fosfato.

Composição: água, proteínas, glicoproteínas (enzimas e anticorpos), electrólitos,

potássio, sódio, bicarbonato, cálcio, cloreto e ureia.

Page 112: Guinness - Histologia

112

Caso a secreção de saliva seja estimulada pelo sistema nervoso parassimpático, a

secreção é mais rica em água. Caso seja estimulada pelo sistema nervoso simpático, o

conteúdo é mais rico em proteínas.

Page 113: Guinness - Histologia

113

SISTEMA DIGESTIVO II: Esófago e Tracto Gastrointestinal

O canal alimentar tem a forma de um tubo vazio de diâmetro variável com a mesma

organização estrutural básica em todo o seu comprimento. A parede do tracto gastrointestinal

é formada por 4 camadas que são, do lúmen para a parte mais externa: mucosa (com a lâmina

própria e a camada muscular da mucosa – muscularis mucosae), submucosa, muscular

própria e serosa (que inclui, nos locais onda a parede está unida a outras estruturas, uma

camada adventícia).

Mucosa

O epitélio varia ao longo do tubo digestivo de acordo com as funções específicas de

cada zona. A mucosa tem 3 funções principais:

Barreira/Protecção Separa o lúmen do tracto gastrointestinal dos restantes órgãos;

Evita a entrada de antigénios, organismos patogénicos e outras

substâncias tóxicas;

Protege o órgão da abrasão provocada pelos alimentos (esófago);

Barreira permeável selectiva (tight junctions).

Absorção Absorção de água, nutrientes e electrólitos;

Área aumentada pela presença de válvulas coniventes, vilosidades

intestinais e microvilosidades;

Tem um glicocalix – glicoproteínas que se projectam da membrana

apical e providenciam uma superfície adicional de absorção.

Secreção Feita principalmente por glândulas:

o Mucosas (ou da mucosa) – prolongam-se para a lâmina

própria;

o Submucosas – os produtos são excretados directamente no

lúmen das glândulas mucosas ou são transportados através

de ductos;

o Externas – fígado e pâncreas.

Os produtos secretados fazem a lubrificação do tubo intestinal e a

protecção imunológica do mesmo.

Page 114: Guinness - Histologia

114

Na lâmina própria, constituída por tecido conjuntivo de sustentação (laxo), estão

presentes as glândulas mucosas e capilares fenestrados que permitem a absorção. Está ainda

associado o tecido linfóide responsável pela barreira imunológica e que é constituído por

tecido linfóide difuso, nódulos linfáticos e eosinófilos, macrófagos e, por vezes, neutrófilos. No

conjunto, os primeiros dois formam o gult-associated lymphatic tissue (GALT). No íleon,

existem as placas de Peyer que ocupam quase toda a mucosa e lâmina própria.

A camada muscular da mucosa é a porção mais profunda desta camada e consiste em

células musculares lisas orientadas numa camada superficial longitudinal e numa camada

profunda circular. A sua contracção é independente dos movimentos peristálticos.

Submucosa

Esta camada contém os vasos sanguíneos de maiores dimensões, vasos linfáticos e os

plexos nervosos. Estes contêm fibras sensoriais de origem simpática, gânglios terminais

parassimpáticos e fibras nervosas parassimpáticas pré e pós-ganglionares. A porção

parassimpática destes plexos constitui o sistema nervoso entérico que pertence ao SNA e que,

na submucosa, toma o nome de Plexo de Meissner. A sua principal função é a inervação das

células musculares lisas do tracto alimentar e pode funcionar de forma independente do SNC.

Camada muscular própria

É constituída por uma camada interna de fibras circulares e uma externa de fibras

longitudinais. Entre as duas camadas existe uma pequena porção de tecido conjuntivo que

contém o Plexo Mioentérico ou Plexo de Auerbach.

A contracção da camada circular faz a compressão e a mistura dos conteúdos do

lúmen; a contracção da camada externa propaga esse conteúdo ao longo do tubo digestivo. No

conjunto, são efectuados os movimentos peristálticos na forma de ondas de contracção.

Na parede da porção proximal do esófago e em torno do canal anal (esfíncter externo

do ânus) existe músculo estriado nesta camada. No estômago, existe uma terceira camada de

fibras oblíquas mais interna. No intestino grosso, a camada longitudinal agrupa-se em três fitas

que constituem as ténias.

Em alguns locais, a camada circular torna-se mais espessa e forma esfíncteres ou

válvulas (esfíncter esofágico superior e inferior, esfíncter pilórico, válvula ileo-cecal, esfíncter

anal).

Page 115: Guinness - Histologia

115

Serosa e Adventícia

A serosa é uma membrana constituída por tecido epitelial simples pavimentoso (o

mesotélio). Pode conter tecido adiposo. Algumas partes do tubo digestivo não têm serosa

(partes do intestino em contacto com a parede abdominal e que estão unidas a esta pela

adventícia).

Esófago

O esófago estende-se ao longo do pescoço e do mediastino e encaminha o bolo

alimentar da boca para o estômago. Num corte transversal, o lúmen está normalmente

colapsado e tem uma aparência irregular devido à presença de pregas longitudinais. Quando o

bolo alimentar passa pelo esófago, o lúmen distende.

Mucosa Epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado.

As células da camada basal são cubóides e o citoplasma é mais

basófilo. Existe uma maior densidade de núcleos devido à sua

capacidade proliferativa. Acima da zona basal, as células vão-se

tornando mais achatadas à medida que se aproximam do lúmen.

Lâmina própria semelhante à do restante tubo digestivo.

A muscular da mucosa é muito desenvolvida e apresenta duas

camadas (uma circular e uma longitudinal).

Submucosa

Tecido conjuntivo denso irregular com vasos sanguíneos e linfáticos,

fibras nervosas e glândulas mistas que fazem a lubrificação do

esófago.

O tecido linfático é mais abundante nas porções proximal e distal (em

associação às glândulas).

Muscular própria

O terço superior é constituído por músculo estriado em continuação

com o da faringe.

O terço médio tem uma mistura dos dois tipos de músculo.

O terço inferior tem apenas músculo liso.

Page 116: Guinness - Histologia

116

Adventícia e serosa Recorberto em quase toda a extensão pela adventícia, excepto no

curto trajecto após a entrada na cavidade abdominal.

O esófago tem dois tipos de glândulas:

Glândulas próprias do esófago Na submucosa

Glândulas tubuloacinares, pequenas e compostas

Ducto excretor composto por epitélio estratificado

pavimentoso

Muco ligeiramente ácido para fazer a lubrificação da

parede.

Glândulas cardíacas Semelhantes às existentes ao nível do cárdia

Presentes na submucosa da porção terminal do esófago

Muco neutro que protege o esófago de possíveis refluxos

gástricos

Transição Cárdio-Esofágica

Ocorre, ao nível da transição entre o esófago e o estômago, uma mudança brusca do

epitélio que passa de estratificado pavimentoso (esófago) para simples cilíndrico (estômago).

A muscularis mucosae é contínua, mas bastante mais visível ao nível do esófago. A submucosa

e a muscular própria são também ininterruptas.

Estômago

É uma parte distendida do tubo digestivo responsável por misturar e fazer uma

digestão parcial dos alimentos, transformando-os no quimo que passa então para o intestino

delgado.

Histologicamente, o estômago é dividido em três partes: o cárdia (situado perto da

transição para o esófago), o piloro (na transição para o duodeno) e o fundo (que inclui a

restante porção do estômago).

Page 117: Guinness - Histologia

117

Mucosa

A superfície interna do estômago é percorrida por numerosas pregas longitudinais,

mais proeminentes na região inferior. Ao longo da mucosa abrem-se numerosos orifícios

denominados fossetas gástricas ou fovéolas. Tanto a superfície do estômago como a das

fossetas gástricas são revestidas por um epitélio simples cilíndrico alto secretor de muco.

As glândulas são tubulares simples e produzem a barreira fisiológica protectora do

estômago. As células mucosas superficiais são cilíndricas e possuem grandes grânulos

mucigénicos na parte apical. Nas preparações aparecem tipicamente sem conteúdo, uma vez

que o muco é perdido na fixação e desidratação. No entanto, quando é preservado, os

grânulos coram intensamente com azul de toluidina (reflecte a presença de grupos aniónicos

nas glicoproteínas do muco) e são PAS-positivos.

O muco secretado tem uma aparência densa e viscosa, é insolúvel e adere à superfície

epitelial, protegendo-a da abrasão causada pelos alimentos. A sua elevada concentração de

potássio e bicarbonato protege a mucosa dos componentes ácidos do suco gástrico. O

bicarbonato torna o muco alcalino e este fica retido nas camadas mais profundas do

revestimento mucoso para que não entre imediatamente em contacto com o conteúdo do

estômago.

As prostaglandinas estimulam a produção de bicarbonato e aumentam a espessura do

revestimento, contribuindo para a protecção da mucosa.

No geral, não ocorre absorção ao nível da mucosa gástrica. No entanto, podem ser

absorvidos alguns sais, água e drogas lipossolúveis.

Glândulas Gástricas

Estão presentes ao longo de toda a mucosa excepto nas zonas ocupadas pelas

glândulas pilóricas e cardíacas. São glândulas tubulares simples ramificadas que se estendem

da base das fossetas gástricas até à camada muscular da mucosa.

São constituídas por três porções: istmo (localizado entre a fosseta e a glândula; local

onde ocorre a diferenciação das células estaminais), colo e base.

As glândulas gástricas produzem cerca de 2L de suco gástrico por dia. Este é

constituído por:

Page 118: Guinness - Histologia

118

Ácido Clorídrico Concentração = 150 mmol/L

Confere ao suco um pH entre 1 e 2

Produzido pelas células parietais

Inicia a digestão proteica

Converte o pepsinogénio em pepsina

É bacteriostático (destrói bactérias) – no entanto, algumas

bactérias conseguem adaptar-se a este ambiente ácido

Pepsina Enzima proteolítica

É convertida do pepsinogénio (forma inactiva) produzido pelas

células peptídicas quando o pH é inferior a 5

Muco Camada protectora produzida por células mucosas

Factor intrínseco Glicoproteína secretada pelas células parietais

Liga-se à vitamina B12 e é essencial na sua absorção

A falta deste factor está associada à anemia perniciosa e à

deficiência de vitamina B12

Gastrina e outras

hormonas

Produzidas pelas células neuroendócrinas

As glândulas gástricas são formadas por vários tipos de células: células mucosas do

colo, células principais (peptídicas ou zimogénicas), células parietais (ou oxínticas), células

neuroendócrinas e células estaminais.

Células mucosas do colo

Localizadas na região do colo

Mais pequenas do que as células mucosas superficiais

Conteúdo menor de mucinogénio no citoplasma apical

Muco solúvel

Libertação de mucinogénio estimulada pelo X par craniano

Células principais Secretam pepsinogénio (pepsina inactiva) e uma lipase

Page 119: Guinness - Histologia

119

Citoplasma basal basófilo (REr abundante) e citoplasma apical

eosinófilo (grânulos zimogénicos - contêm precursores

enzimáticos)

Células parietais Localizadas no colo entre as células mucosas

Células grandes, podem ser binucleadas, de forma

aproximadamente triangular em que o vértice está dirigido

para o lúmen e citoplasma mais eosinófilo

Núcleo esférico

O citoplasma cora com eosina e outros corantes ácidos

Possuem um sistema canalicular intracelular que comunica

com o lúmen da glândula e que tem numerosas

microvilosidades que aumentam nas células activas

Secretam HCl e o factor intrínseco

Células neuroendócrinas Espalhadas por toda a glândula mas mais significativamente na

base

Podem ser “fechadas” (pequenas células que assentam na

lâmina basal e que podem não atingir o lúmen) ou “abertas”

(têm um prolongamento que chega ao lúmen). Estas últimas

são quimiorreceptores primários.

Células estaminais / tronco Concentradas junto ao colo

O istmo e o colo aparecem pálidos devido à predominância de células mucosas do colo

e de células parietais. A base, onde existe maior número de células principais, cora mais

intensamente com H&E.

A secreção de HCl ao nível das células parietais é activada por três receptores

membranares: receptores de histamina H2, de gastrina e de acetilcolina M3. Após a ocorrência

do estímulo, há a produção de iões H+ no citoplasma das células parietais pela anidrase

carbónica. Estes são então transportados para o lúmen dos canalículos juntamente com Cl-,

levando à formação do HCl.

Page 120: Guinness - Histologia

120

Glândulas cardíacas. Estão limitadas à região do cárdia. Compostas por células mucosas

arranjadas na forma de um epitélio simples cilíndrico cujo núcleo se encontra no domínio

basal. O lúmen é relativamente extenso. As suas secreções contribuem para a protecção do

esófago em relação ao refluxo gástrico. Composta principalmente por células secretoras de

muco e algumas células neuroendócrinas. O produto é libertado no fundo das fossetas

gástricas por ductos compostos por células cilíndricas e cujo citoplasma cora intensamente

com eosina (o que permite diferenciá-las das células mucosas).

Glândulas pilóricas. Estão localizadas ao nível do piloro e são tubulares ramificadas. As células

secretoras são semelhantes às células mucosas superficiais das glândulas gástricas e o lúmen é

muito reduzido. A função do muco é proteger a entrada do duodeno do ataque ácido da

pepsina e lubrificar a passagem do quimo.

Renovação epitelial no estômago

Tempo de vida:

Células mucosas superficiais 3 a 5 dias

Células parietais 150 a 200 dias

Células principais e neuroendócrinas 60 a 90 dias

Células mucosas do colo 6 dias

As células estaminais presentes no colo dividem-se e diferenciam-se. A maioria das

células produzidas origina as células mucosas superficiais que migram para a superfície do

lúmen do estômago. As restantes células migram para baixo em direcção à glândula gástrica.

Lâmina própria e camada muscular da mucosa

A lâmina própria é escassa e está presente apenas nos espaços que envolvem as

fossetas gástricas e as glândulas. O estroma é composto por fibras reticulares, fibroblastos e

células musculares lisas, bem como células do sistema imunitário.

A muscular possui, além da composição normal, algumas fibras musculares lisas que

auxiliam a secreção gástrica.

Page 121: Guinness - Histologia

121

Submucosa

Tecido conjuntivo denso com quantidades variáveis de tecido adiposo e vasos

sanguíneos, bem como fibras e gânglios nervosos.

Muscular própria

É constituída por 3 camadas: uma camada externa longitudinal, uma camada central

de fibras circulares e uma interna de fibras oblíquas.

Intestino Delgado

É constituído pelo duodeno e pelo jejuno-íleon. O quimo entra no duodeno onde a

digestão continua pela acção das enzimas pancreáticas e da bílis do fígado. As enzimas,

principalmente dissacáridos e dipéptidos, acumulam-se no glicocalix das microvilosidades dos

enterócitos (células intestinais absortivas) e fazem a digestão dos hidratos de carbono e

proteínas. Há absorção de água e electrólitos.

A área de absorção é aumentada por válvulas coniventes ou de Kerkring (são

transversais e permanentes e estão ausentes na primeira porção do duodeno), vilosidades

intestinais (projecções da mucosa em forma de dedo entre as quais se situam as criptas de

Lieberkuhn ou glândulas intestinais) e microvilosidades (formam o prato estriados na

superfície dos enterócitos).

Mucosa

As vilosidades têm um núcleo de tecido conjuntivo laxo (é uma extensão da lâmina

própria) coberto por epitélio simples cilíndrico. Contém um vaso linfático central e fibras

musculares lisas cuja contracção leva ao movimento da linfa pelo vaso.

As criptas de Lieberkuhn são estruturas tubulares simples que se estendem da

muscularis mucosae até ao lúmen do intestino na base das vilosidades. O epitélio é simples

cilíndrico.

A lâmina própria rodeia as glândulas intestinais e possui folículos linfóides (GALT)

particularmente numerosos no íleon onde formam as placas de Peyer

A muscularis mucosae é constituída por duas camadas (uma circular e uma

longitudinal).

O epitélio simples cilíndrico é constituído por 5 tipos de células:

Page 122: Guinness - Histologia

122

Enterócitos Células cilíndricas

Núcleo basal

Microvilosidades – prato estriado

Células caliciformes Produção de muco (mucina)

Aumentam em nº ao longo do intestino

Acumulação de grandes grânulos mucinogénicos

Domínio basal basófilo

Células de Paneth Na base das criptas

Citoplasma basófilo

Grânulos apicais eosinófilos (permitem identificar

células) com lisozima e fosfolipases

Primeira linha de defesa e regulação da flora intestinal

Células neuro-endócrinas Semelhantes às do estomago

Regulam a secreção e a motilidade gastrointestinais

Secretam CCK, secretina, GIP …

Células M Células epiteliais que cobrem folículos linfóides e placas

de Peyer

Envolvem microrganismos e macromoléculas em

vesiculas endocíticas

São células transportadoras de antigénio – o conteúdo

das vesículas é esvaziado para o espaço intercelular

perto de linfócitos T CD4+

Existem ainda algumas células-tronco perto da base das criptas.

Os enterócitos possuem uma membrana basal com invaginações que aumentam a

superfície das células e o número de enzimas transportadoras que se situam nessa membrana.

Na absorção activa, as interdigitações afastam-se e aumentam o espaço intercelular onde se

acumulam solutos e solventes que aumentam a pressão hidrostática e causam o movimento

do fluido da lâmina basal para a lâmina própria.

Fixa à membrana existe fosfatase alcalina que está envolvida no transporte de cálcio.

A CCK e a secretina aumentam a actividade pancreática e inibe a secreção gástrica. A

GIP estimula a libertação de insulina e a motilidade gástrica e intestinal. As células neuro-

Page 123: Guinness - Histologia

123

endócrinas produzem ainda somatostatina e histamina (hormonas parácrinas, com efeito

local).

Submucosa

É constituída por tecido conjuntivo denso e por tecido adiposo. No duodeno, existem

glândulas na submucosa, as glândulas de Brunner. Estas são tubulares ramificadas e células

secretoras com características zimogénicas e mucosas. As secreções elevam o pH para valores

entre 8,1 e 9,3 e são constituídas por glicoproteínas neutras e alcalinas que conferem o pH

óptimo para a actuação das enzimas pancreáticas.

Muscular Própria

O intestino delgado efectua dois tipos de contracção muscular: segmentação

(envolvem a camada circular) e peristaltismo (envolve as duas camadas musculares).

Intestino Grosso

O intestino grosso inclui o cego, o apêndice íleo-cecal, o cólon (ascendente, transverso,

descendente e sigmoideu), o recto e o canal anal. Todas estas porções têm a consituiçao

básica do canal gastrointestinal. No entanto, apresentam algumas características próprias:

► Ténias – 3 bandas mais espessas situadas na muscular própria (estão

ausentes no recto, canal anal e apêndice).

► Haustras – dilatações entre as ténias.

► Apêndices epiplóicos – projecções de tecido adiposo da serosa observados

na superfície do cólon.

Mucosa

Não apresenta válvulas coniventes nem vilosidades intestinais. Tem numerosas

glândulas tubulares simples (criptas de Lieberküns) que se estendem por toda a espessura da

mucosa. Estas glândulas têm epitélio simples cilíndrico, em continuidade com a superfície

intestinal. A sua principal função é a reabsorção de água e electrólitos e a sua morfologia é

semelhante à dos enterócitos do intestino delgado.

A eliminação dos resíduos sólidos é facilitada pela secreção de muco por numerosas

células caliciformes das glândulas intestinais. Estas células são muito mais numerosas do que

no intestino delgado.

Page 124: Guinness - Histologia

124

O epitélio do intestino grosso contém os mesmos tipos de células do intestino delgado,

excepto as células de Paneth. As células absortivas são mais numerosas do que as células

caliciformes, apesar de esta diferença ir diminuindo pelo aumento das células caliciformes.

Renovação Celular

As células epiteliais têm origem em células-tronco presentes na base das glândulas.

Estas dividem-se e migram até ao lúmen. O tempo de vidas das células é semelhante às do

intestino delgado.

Lâmina Própria

Além dos componentes normais, apresenta:

► Uma espessa camada de colagénio e proteoglicanos logo abaixo da membrana

basal das células epiteliais e dos capilares fenestrados. Esta camada faz a regulação

do transporte de água e electrólitos do compartimento intercelular para o

compartimento vascular.

► Uma população de fibroblastos que se dividem e diferenciam na base das

glândulas, migrando posteriormente para o lúmen, onde as suas características

morfológicas e histoquímicas se tornam semelhantes às dos macrófagos.

► GALT muito desenvolvido. Os nódulos linfáticos estendem-se até à submucosa e

tem a função de proteger o intestino da grande quantidade de microrganismos e

produtos nocivos presentes no cólon.

Muscular Própria

Os feixes musculares das ténias do cólon penetram na camada circular mais profunda

em intervalos regulares. Esta segmentação permite a contracção independente de diferentes

segmentos do cólon. A muscular própria efectua dois tipos de movimentos: segmentação e

peristaltismo.

Submucosa e Serosa

Semelhantes ao restante tracto gastrointestinal.

Apêndice

A principal diferença é a presença de uma camada uniforme de fibras longitudinais na

muscular própria e de uma grande quantidade de tecido linfóide.

Page 125: Guinness - Histologia

125

Cego

Semelhante ao restante cólon.

Recto e Canal Anal

O recto é a porção dilatada e distal do tracto gastrointestinal. Na sua porção superior

apresente pregas transversas e a mucosa é igual à do restante cólon.

A parte mais distal constitui o canal anal que tem cerca de 4cm e que termina ao nível

do ânus. A sua porção superior apresente colunas anais (de Morgagni) separadas pelos seios

anais. O canal anal pode ser dividido em três zonas, com base no seu epitélio:

► No terço superior, o epitélio é simples cilíndrico com características iguais às

do recto.

► No terço médio, existe uma zona de transição na qual o epitélio tem

características de epitélio simples cilíndrico e de epitélio estratificado

pavimentoso.

► No terço inferior, o epitélio é estratificado pavimentoso e continua-se com a

pele.

No canal anal, as glândulas podem atingir a submucosa e a muscular própria. Estas

glândulas tubulares produzem muco para a superfície anal. Existem ainda glândulas circum-

anais na pele que rodeia o ânus, bem como glândulas sebáceas e folículos capilares.

A muscular da mucosa desaparece no terço médio do canal anal. Neste ponto, a

muscular própria torna-se mais espessa e forma uma camada muscular circular que constitui o

esfíncter interno do ânus. O esfíncter externo é formado por músculo esquelético do períneo.

Page 126: Guinness - Histologia

126

SISTEMA DIGESTIVO III: Fígado, Vesícula Biliar e Pâncreas

Fígado

O fígado é a maior massa glandular do organismo e o maior órgão abdominal. Está

envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo (cápsula de Glisson) e por uma camada de

peritoneu visceral, excepto nos locais onde contacta com o diafragma ou outros órgãos.

Anatomicamente é dividido em 24 lobos: direito, esquerdo, lobo quadrado e lobo

caudado (de Spiegel). A divisão funcional que corresponde à vascularização do fígado é mais

importante.

O desenvolvimento embrionário ocorre por invaginação do intestino primitivo para

formar um divertículo hepático. Este prolifera e origina os hepatócitos que irão formar o

parênquima. Uma parte do divertículo forma o canal colédoco e, a partir desta, é originada e

vesícula biliar e o canal cístico.

Fisiologia

Produção da maioria das proteínas que circulam no plasma:

Albuminas Manutenção do volume plasmático e da

pressão osmótica

Lipoproteínas Principalmente VLDLs (transporte de

triglicéridos)

Glicoproteínas Transporte de ferro, por exemplo

Protrombina e fibrinogénio Cascata de coagulação

Α-globulinas e β-globulinas Transporte de substâncias

Manutenção da pressão osmótica

Armazenamento e transformação de vitaminas:

Vitamina A

(retinol)

É um precursor do retinal que é importante para a síntese de

rodopsina no olho.

O fígado produz também RBP (retinol-binding protein) que se liga

ao retinol.

Vitamina D Importante no metabolismo do cálcio e fosfato.

Produzida também na pele durante a exposição solar.

Vitamina K Importante na síntese de trombina e factores de coagulação no

fígado.

Page 127: Guinness - Histologia

127

Produzida também por bactérias da flora intestinal.

Armazenamento, metabolismo e homeostase do ferro: o fígado produz quase todas

as proteínas envolvidas no transporte do ferro (transferina, por exemplo). O ferro é

armazenado nos hepatócitos na forma de ferritina.

Degradação de drogas e toxinas: a maioria das drogas e toxinas são insolúveis em

água, pelo que, para serem eliminadas pelos rins, têm de passar primeiro pelo fígado

onde sofrem as alterações necessárias para que se tornem mais solúveis. Essas

alterações incluem: adição de grupos hidroxilo e carboxilo (fase I – oxidação) e

conjugação com a taurina ou glicina (fase II – conjugação).

Metabolismo: o fígado está envolvido no metabolismo da glicose (armazenada sobre a

forma de glicogénio), dos ácidos gordos (β-oxidação), do colesterol e de aminoácidos

não-essenciais. Produz ainda corpos cetónicos e ureia.

Produção de bílis: é um produto de excreção e uma secreção exócrina do fígado.

Vascularização

O fígado recebe sangue através da veia porta e da artéria hepática, ramo do tronco

celíaco. Ambos os vasos entram pelo hilo do fígado, pelo mesmo local por onde sai o canal

hepático.

A veia porta transporte 75% do sangue que chega ao fígado. Contém nutrientes e

material tóxico do intestino, células sanguíneas danificadas do baço e secreções endócrinas do

pâncreas e neuroendocrinas do tracto gastrointestinal. O sangue é pobre em oxigénio.

A artéria hepática transporte os restantes 25% do sangue e este é rico em oxigénio.

Ao nível dos sinusóides, o sangue de ambos os vasos mistura-se, pelo que o fígado

nunca recebe sangue completamente oxigenado. A artéria hepática, a veia porta e os canais

que formam o canal hepático distribuem-se de igual forma.

Os sinusóides estão em contacto íntimo com os hepatócitos e fazem a troca de

substâncias entre estes e o sangue. A partir dos sinusóides formam-se veiais hepáticas

terminais que drenam em veias sublobulares que formam então as veias supra-hepáticas.

Page 128: Guinness - Histologia

128

Organização Estrutural

O fígado é formado por parênquima (hepatócitos), estroma, sinusóides e espaços de

Disse (espaços peri-sinusoidais).

Enquanto unidades funcionais, podem ser descritos três tipos de lóbulos: lóbulo

hepático, ácino hepático e lóbulo portal.

Lóbulo hepático Aproximadamente hexagonal

Conjunto de hepatócitos separados por sinusóides

No centro existe a vénula hepática terminal ou veia central para

onde convergem os sinusóides

Nos ângulos do hexágono encontra-se a tríade portal (ramos da

veia porta, da artéria hepática e do canal hepático) - espaços

porta

Limites pouco definidos devido à escassez de tecido conjuntivo

interlobular

Lóbulo portal Eixo constituído pelos canalículos biliares entre os lóbulos

hepáticos

Triangular: as margens são linhas imaginárias que unem as três

veias centrais mais próxima do canalículo biliar

Ácino hepático Forma de losango

Eixo menor: ramos terminais da tríade portal que se localizam

entre dois lóbulos hepáticos

Eixo maior: linha entre as duas veias centrais mais próximas do

eixo menor

É a unidade estrutural que melhor representa a estrutura

funcional do fígado

Nos ácinos hepático, distinguem-se três zonas funcionais nas quais os hepatócitos

desempenham funções diferentes:

Zona 1 Mais próxima do espaço porta

Recebe o sangue mais oxigenado

Recebe primeiro os nutrientes e toxina

Page 129: Guinness - Histologia

129

Primeira zona a apresentar sinais morfológicos indicativos de obstrução

do canal biliar

Zona 2 Entre as duas outras zonas, limites pouco definidos

Zona 3 Mais próxima da veia central e mais afastada do espaço porta

Mais susceptível à isquémia

Sinusóides

O endotélio é fenestrado descontínuo sem diafragma. O fluxo sanguíneo vem dos

ramos terminais da veia porta e da artéria hepática, passa para o sinusóide e converge para a

vénula hepática central.

Estão associados às células de Kupffer que fazem parte do sistema mononuclear

fagocítico, logo derivam de monócitos. Têm prologamentos que envolvem os sinusóides,

podendo entrar no seu lúmen, e estão envolvidas na remoção de eritrócitos senescentes.

Entre o sinusóide e o domínio baso-lateral dos hepatócitos encontram-se os espaços

de Disse ou Peri-sinusoidal onde ocorrem as trocas metabólicas. Numerosas microvilosidades

entendem-se da superfície do hepatócito para o espaço de Disse, aumentando a área de

contacto entre os hepatócitos e o sangue. Como não há uma barreira entre o sangue e as

células (devido à descontinuidade dos sinusóides), este contacta directamente com as

membranas dos hepatócitos.

No espaço de Disse, além das células de Kupffer, existem ainda as células de Ito ou

células estreladas. Estas células têm origem mesenquimal e fazem o armazenamento de

vitamina A em gotículas de lípidos bem como a produção de matriz extracelular e colagénio

em condições patológicas, como a cirrose hepática. Nestas situações, diferenciam-se em

células com características de miofibroblastos e são responsáveis pela fibrose hepática. Ao

contraírem, aumentam a resistência vascular dos sinusóides levando ao aumento da

hipertensão portal.

O plasma que permanece nos espaços de Disse drena para os espaços de Mall

(espaços peri-portais) situados entre o estroma do espaço porta e os hepatócitos mais

externos. Daqui, o fluido entra nos capilares linfáticos.

Page 130: Guinness - Histologia

130

Hepatócitos

Características principais 80% da população celular do fígado

Células grandes e poliédricas (6 faces)

Núcleos esféricos em posição central

Muitos são binucleados e tetraplóides

Dois ou mais nucléolos

Tempo de vida: 5 meses

Grande capacidade de regeneração

Citoplasma acidófilo

Os hepatócitos formam placas com apenas uma camada, pelo que cada célula está

exposta ao sangue em dois lados e anastomosam-se entre si, formado uma rede

tridimensional. Apresentam um domínio basal (que contacta com o espaço de Disse) e um

domínio ápico-lateral (que corresponde aos hepatócitos vizinhos e aos canalículos biliares).

Constituição dos hepatócitos:

Peroxissomas Grandes e numerosos

Grandes quantidades de peróxido de hidrogénio que é degradado

pela catalase a oxigénio e água – processo envolvido na

desintoxicação do álcool, por exemplo

RE liso Muito desenvolvido quando estimulado por drogas, toxinas e

outros componentes metabólicos

Contém enzimas envolvidas na degradação e conjugação de

toxinas e drogas e na síntese de colesterol

Complexo de

Golgi

Envolvido na secreção de bílis

Lisossomas Identificados por métodos imunocitoquímicos

Armazenamento de ferritina (ferro)

Citoplasma Eosinófilo com agregados basófilos devido ao REr

Grânulos de lipofuscina em quantidades variáveis

Aspecto vacuolizado devido à acumulação de glicogénio (PAS-

positivo) e lípidos. Estes componentes são removidos durante a

preparação histológica

Page 131: Guinness - Histologia

131

Sistema Biliar

Os canais biliares fazem a condução da bílis pelo fígado e até à vesícula biliar e são

capazes de alterar a sua composição em resposta a estímulos hormonais e nervosos.

Os colangiócitos são as células epiteliais dos canais biliares: têm poucos organelos,

estão unidas por tight junctions e possuem uma lâmina basal contínua. À medida que se

aproximam do hilo hepático, passam de cubóides a cilíndricas.

Canalículos Biliares

Os canalículos biliares são formados por sulcos situados na superíficie de hepatócitos

adjacentes que formam um canal para onde é drenada a bílis. Existem ATPases localizadas nas

membranas, o que sugere que o transporte da bílis seja um processo activo.

A bílis é transportada num sentido centrífugo para os canais de Hering, ou seja, da

vénula hepática terminal para a tríade portal (direcção oposta à do fluxo sanguíneo).

Os canais de Hering são constituídos por hepatócitos e colangiócitos e possuem

capacidade contráctil.

Por vezes, existem, no tecido conjuntivo entre o fígado e a vesicula biliar, os canais de

Luschka que se abrem no canal cístico.

O canal hepático apresente as mesmas camadas do restante sistema digestivo,

excepto a muscularis mucosae.

Bílis

A bílis está envolvida na reabsorção de gordura e é usada pelo fígado como veículo

para a excreção de colesterol, biliburrina, ferro e cobre. A maioria dos componentes da bílis

são reciclados: 90% dos sais biliares são reabsorvidos no intestino e transportados de novo

para o fígado pela veia porta, sendo novamente reabsorvidos e secretados pelos hepatócitos;

o colesterol, a lecitina, a maioria dos electrólitos e da água são também reabsorvidos e

reciclados.

Canal de Hering

Canal intra-hepático

Canal interlobular

Canais hepáticos (direito e esquerdo)

Page 132: Guinness - Histologia

132

Regulação

O fluxo da bílis é controlado por regulação hormonal e nervosa. A taxa de sangue que

chega ao fígado exerce efeitos reguladores no fluxo biliar. A CCK e a gastrina, libertadas por

células neuro-endócrinas durante a digestão, aumentam o fluxo; hormonas esteroides

diminuem o fluxo. O sistema nervoso parassimpático aumenta também a secreção de bílis

uma vez que relaxa o esfíncter de Oddi e provoca a contracção da vesícula biliar.

Vesícula Biliar

A vesícula biliar é um fundo-de-saco em forma de pêra que está unido a face inferior

do fígado. Desenvolve-se do intestino primito através de uma invaginação do canal biliar

primitivo que liga o fígado ao intestino em desenvolvimento.

A vesicula recebe a bílis através do canal cístico. Tem como principal função o

armazenamento da bílis e a remoção de cerca de 90% da água que a constitui, aumentando a

sua concentração cerca de 10 vezes. As hormonas secretadas pelas células neuro-endócrinas

em resposta à presença de lípidos no duodeno estimulam a contracção o músculo liso da

vesícula, levando à libertação da bílis no duodeno.

Mucosa

A superfície da vesícula tem numerosas pregas. O epitélio é simples cilíndrico e

apresenta microvilosidades pouco desenvolvidas, adesões celulares que formam uma barreira

entre o lúmen e o espaço intercelular, mitocôndrias no citoplasma basal e apical e

invaginações laterais (onde existem ATPases que fazem o transporte de sódio e potássio.

A lâmina própria é rica em capilares fenestrados e pequenas vénulas, mas não possui

linfáticos, bem como um elevado número de células sanguíneas e linfócitos e glândulas

mucosas.

A parede da vesícula não tem muscularis mucosae nem submucosa.

Muscular própria

Esta camada tem numerosas fibras elásticas e de colagénio entre os feixes de músculo

liso. Estes estão orientados de forma desordenada, contrariamente ao que acontece no

restante sistema digestivo.

Page 133: Guinness - Histologia

133

Por vezes, estão presente os seios de Rokitansky-Aschoff que resultam que

divertículos da mucosa que se desenvolvem em resposta à hiperplasia (crescimento excessivo

das células). É um local onde se podem acumular bactérias.

Serosa e adventícia

Externamente a muscular própria, existe uma densa camada de tecido conjuntivo que

contém vasos, linfáticos, nervos, fibras elásticas e tecido adiposo. Nos locais onde a vesícula

adere ao fígado, esta camada denomina-se adventícia; na restante superfície, chama-se

serosa.

Absorção

As células epiteliais fazem um transporte activo de Na+, Cl- e HCO3- através de ATPases

localizadas nas membranas laterais. Estas células têm também aquaporinas (AQP1 e AQP8)

que sugerem que estejam envolvidas tanto na absorção como na secreção de água.

O aumento da concentração de electrólitos causado pela absorção de água cria um

gradiente osmótico entre o espaço intercelular e o citoplasma e entre o espeço intercelular e o

lúmen da vesícula. A água passa então do citoplasma e do lúmen para o espaço entre as

células, devido ao gradiente osmótico. Este movimento de água e electrólitos cria uma pressão

hidrostática que leva à passagem de fluido do compartimento intercelular para s lâmina

própria e desta para os capilares fenestrados que lá se localizam.

Assim, a concentração final da bílis resulta do transporte activo de Na+, Cl- e HCO3- e do

transporte passivo de água através das aquaporinas.

Pâncreas

Glândula alongada constituída, anatomicamente, por uma cabeça, um corpo e um

colo. Contém dois canais excretores: um canal pancreático principal (de Wirsung) e um

acessório (de Santorini). O canal de Wirsung drena em conjunto com o canal colédoco no

duodeno através da ampola de Vater que está envolvida pelo esfíncter de Oddi.

O pâncreas tem uma fina cápsula de tecido conjuntivo da qual de destacam septos que

dividem o órgão em lóbulos mal definidos. O estroma é constituído por tecido conjuntivo que

envolve o parênquima, os canais, os vasos sanguíneos e os nervos.

O pâncreas tem função exócrina e endócrina que são da responsabilidade de duas

unidades funcionais diferentes:

Page 134: Guinness - Histologia

134

Pâncreas exócrino Sintetiza enzimas necessárias à digestão que são

lançadas no duodeno

Pâncreas endócrino Sintetiza hormonas e glucagina que são libertadas no

sangue

Pâncreas Exócrino

As unidades secretoras são alveolares compostas e têm um epitélio simples formado

por células serosas piramidais cuja superfície basal é maior e a superfície livre (virada para o

lúmen) é mais estreita.

As substâncias produzidas são drenadas para os ductos intercalares que começam

dentro do próprio ácino. As células do ducto que estão localizadas dentro do ácino chamam-se

centroacinares e coram de forma muito clara comparando com as restantes células. As células

dos ácinos têm o citoplasma basal basófilo e o citoplasma apical acidófilo devido à presença de

grânulos de zimogénio.

As células serosas produzem os precursores das enzimas digestivas que só são

activados quando chegam ao lúmen do duodeno.

Sistema Excretor

Os ductos intercalares são revestidos por epitélio simples cúbico baixo que se torna

cilíndrico simples nos ductos de maior diâmetro.

As células que revestem os ductos intercalares secretam grandes quantidades de

fluido rico em sódio e bicarbonato que tem como função neutralizar a acidez do quimo e

estabelecer o pH óptimo para a actuação das enzimas pancreáticas.

Regulação

A regulação das secreções exócrinas do pâncreas é feita por duas hormonas: a

secretina (estimula e secreção de grandes quantidades de fluido com elevada concentração de

bicarbonato) e CCK, cholecystokinin (estimula a secreção de pró-enzimas).

Ductos Intercalares

(Epitélio simples cúbico)

Ductos intra-lobulares

Ductos inter-lobulares

(Epitélio simples

cilíndrico)

Ducto pancreático principal ou

acessório

Page 135: Guinness - Histologia

135

SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório pode ser divido, funcionalmente, numa porção condutora

(fossas nasais, nasofaringe, laringe, traqueia e brônquios principais) e numa porção

respiratória (bronquíolos respiratórios, canais e sacos alveolares e alvéolos).

Anatomicamente, pode ser divido em vias respiratórias superiores (estruturas até á

nasofaringe) e em vias respiratórias inferiores.

A maioria da superfície das vias respiratórias é coberta por epitélio

pseudoestratificado cilíndrico ciliado.

Fossas Nasais

As fossas nasais estão divididas em 3 porções: o vestíbulo, a porção respiratória e a

área olfactiva.

Vestíbulo

Constituído pela parte exterior do nariz, estando coberto por um epitélio estratificado

pavimentoso em continuação com a pele. Possui vibrissas (pêlos) que impedem a passagem de

partículas bem como glândulas sebáceas.

Porção respiratória

Está coberta por uma mucosa respiratória cujo epitélio é pseudoestratificado

cilíndrico e possui cinco tipos de células: células ciliadas, caliciformes, em escova, de

Kutchitsky (neuro-endócrinas) e basais (ver traqueia). A lâmina própria é constituída por

tecido conjuntivo que adere ao periósteo o pericôndrio e possui células mucosas com

crescentes serosos e um rico pleno venosos superficial cuja função é o aquecimento do ar.

Os cornetos nasais desta porção das fossas nasais têm como função aumentar a área

de contacto com o ar e aumentar a turbulência deste, o que torna o seu aquecimento,

humidificação e remoção de poeiras mais eficazes.

Área olfactiva

A mucosa olfactiva apresenta, in vivo, uma coloração amarelada. É constituída por um

epitélio olfactivo pseudiestratificado e sem células caliciformes.

Page 136: Guinness - Histologia

136

Células presentes no epitélio:

Neurónios olfactivos Bipolares

Região apical – desenvolve uma terminação bulbosa e

possui cílios num plano paralelo ao do epitélio

Região basal – origina um axónio amielinizado que se

junta a outros para formar, na lâmina própria, os feixes

nervosos que originam o nervo olfactivo

Células de sustentação São as mais numerosas

Núcleo mais apical do que as restantes células (permite

a sua distinção)

Microvilosidades na membrana apical

Grânulos de lipofuscina

Junções de adesão entre elas e os neurónios olfactivos

Função: suporte metabólico e físico

Células em escova Cilíndricas

Microvilosidades numerosas

Domínio basal em contacto (sinapsam) com as fibras

nervosas no trigémio – são células com funções

sensitivas

Células basais ou células-

tronco

Pequenas e arredondadas

Situadas perto da lâmina basal

Os sinais químicos (odorantes) ligam-se selectivamente a OBPs (odorant-binding

protein) localizados na membrana olfactiva. Os OBPs são proteínas solúveis produzidas pelas

células de suporte que funcionam como proteínas transportadoras dos odorantes até a

receptores olfactivos situados nas membranas dos cílios. Estes receptores pertencem à família

dos receptores associados à proteína G. Gera-se então um potencial de acção por fluxo de Na+

e Ca2+.

A lâmina própria do epitélio possui vasos sanguíneos e linfáticos, nervos amielinizados

e mielinizados.

Page 137: Guinness - Histologia

137

Glândulas olfactivas de Bowman

São glândulas características da mucosa olfactiva. São tubulo-alveolares ramificadas,

os ductos são compostos por células cuboides e produzem uma secreção serosa que permite a

solubilização dos odorantes.

A identificação histológica da mucosa olfactiva é feita pela presença, na lâmina

própria, de neurónios olfactivos amielinizados associados a glândulas olfactivas.

Faringe

A faringe faz a comunicação da cavidade nasal com a laringe e da cavidade oral com o

esófago. Pode ser dividida em naosfaringe, orofaringe e laringo-faringe.

A nasofaringe tem um epitélio pseudoestratificado ciliado com células caliciformes,

possui tecido linfóide difuso e folículos linfáticos que constituem a amígdala faríngea.

Laringe

Porção tubular do sistema respiratório constituído por placas irregulares de cartilagens

hialinas e elásticas (epiglote e processos vocais das cartilagens aritenoideias). O epitélio da

laringe é estratificado pavimentoso nas cordas vocais e epiglote, tendo como função proteger

estas estruturas da abrasão provocada pelo ar. Abaixo do epitélio encontra-se o espaço de

Reinke (tecido conjuntivo denso irregular pouco vascularizado e sem vasos sanguíneos). O

resto da laringe tem epitélio pseudoestratificado cilíndrico e glândulas mistas.

Traqueia

A traqueia é um tubo curto e flexível que serve simultaneamente para a condução e

condicionamento do ar. Divide-se, no tórax, nos dois brônquios principais. O lúmen não

colapsa devido à presença de anéis cartilaginosos.

É constituída por 4 camadas: mucosa, submucosa, cartilagínea e adventícia.

Posteriormente, onde não existe cartilagem, possui uma camada de músculo liso (músculo

traqueal).

Page 138: Guinness - Histologia

138

Mucosa

O epitélio é pseudoestratificado cilíndrico ciliado e é constituído por 5 tipos de

células:

Células ciliadas São as mais numerosas

Estendem-se por toda a espessura do epitélio

Imediatamente abaixo dos cílios, existe uma linha

eosinófila que corresponde aos corpos basais

Os cílios permitem o movimento do muco e a remoção de

partículas

Células mucosas Espalhadas entre as ciliadas

Possuem grânulos mucinogénicos

Células em escova Semelhantes às das fossas nasais

Células de Kulchitsky Células neuro-endócrinas

Visíveis com impregnação de prata

Grânulos com catecolamina, serotonina e calcitonina

Células basais

ou células-tronco

Lâmina própria. É constituída por tecido conjuntivo laxo com linfócitos, mastócitos,

eosinófilos, fibroblastos e tecido linfóide. A membrana basal tem uma aparência homogénea e

pálida, é constituída por fibras de colagénio situadas imediatamente abaixo da lâmina basal e

está espessada nos fumadores.

Submucosa

Está separada da mucosa por uma membrana elástica que não é visível em H&E. É

constituída por tecido conjuntivo laxo e possui tecido linfóide difuso e folículos linfáticos, vasos

sanguíneos e ácinos mucosos com crescentes serosos. Os ductos destas glândulas têm um

epitélio simples cubóide e atravessam a lâmina própria, libertando os seus produtos

(glicoproteínas, principalmente) na superfície epitelial. São mais numerosas na porção

posterior da traqueia.

Page 139: Guinness - Histologia

139

Cartilagens

São anéis incompletos de cartilagem hialina em forma de C que permitem a

flexibilidade e permeabilidade da traqueia. Em idades avançadas podem ser parcialmente

substituídas por tecido ósseo.

Adventícia

Camada mais externa que cobre o músculo traqueal e as cartilagens.

Brônquios

Podem ser divididos em brônquios principais ou primários, lobares ou secundários e

segmentares ou terciários.

Têm 5 camadas:

Mucosa Epitélio pseudoestratificado cilíndrico

Composição semelhante à da traqueia

A membrana basal e a lâmina própria vão diminuindo de espessura

Muscular Camada circular de músculo liso

Nos brônquios maiores, a camada é contínua. Nos mais pequenos,

pode parecer descontínua devido ao seu arranjo em espiral

A sua contração regula o volume de ar

Submucosa Tecido conjuntivo laxo

Adipócitos e glândulas nos brônquios maiores

Cartilagem Placas irregulares em volta dos brônquios

Desaparecem nos brônquios com 1mm de diâmetro

Adventícia

Bronquíolos

Bronquíolos

(< 1mm)Bronquíolos terminais

Bronquíolos respiratórios

Page 140: Guinness - Histologia

140

Os bronquíolos maiores têm epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado que vai

sendo substituído por epitélio simples cilíndrico à medida que o diâmetro diminui. As células

caliciformes vão desaparecendo e podem possuir um camada de músculo liso.

Bronquíolos terminais

O epitélio é simples cubóide. Possuem células de Clara, células ciliadas, uma camada

de tecido conjuntivo à volta do epitélio e uma camada muscular.

As células de Clara são células cilíndricas não-ciliadas com uma projeção apical

arredondada. Secretam uma proteína (CC16) cuja deficiência está associada a asma e doença

pulmonar obstrutiva crónica. Vão-se tornando mais numerosas à medida que o número de

células ciliadas vai diminuindo, ou seja, à medida que o diâmetro dos bronquíolos se torna

menor.

Bronquíolos respiratórios

O epitélio é simples cubóide e tem uma dupla função: condução e trocas gasosas.

Estes bronquíolos terminam em dilatações: os alvéolos.

Alvéolos

A principal função dos alvéolos é permitir as trocas gasosas, estando rodeados por

uma densa rede de capilares. Possuem uma área de cerca de 75m2.

Os canais alveolares têm uma forma alongada e possuem numerosos alvéolos que se

abrem ao longo das suas paredes. Os sacos alveolares são dilatações dos canais alveolares que

se abrem por sua vez em diversos alvéolos.

Parede alveolar

Constituída por um epitélio e por um tecido de suporte.

O epitélio possui células em escova (escassas) e dois tipos de pneumócitos:

Pneumócitos I 40% dos pneumócitos

Células pavimentosas que cobrem 95% da superfície alveolar

Unidos por junções de oclusão (barreira)

Não se dividem

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Pneumócitos II 60%

Células cuboides que cobrem 5% da superfície alveolar

Secretam o surfactante

Citoplasma apical eosinófilo com grânulos que formam os

corpos lamelares

Células progenitoras do tipo I (possuem capacidade de

divisão)

Localizadas na união das paredes alveolares

O surfactante é constituído por fosfolípidos (o mais importante é o dipalmitoil

fosfatidilcolina), lípidos neutros e proteínas que se encontram nos corpos lamelares. Reduz a

tensão da interface ar-epitélio, impedindo o colapso dos alvéolos entre cada respiração. A sua

síntese ocorre após a 35ª semana de gestação e é modulada por várias hormonas (cortisol,

insulina, prolactina…).

Possui ainda algumas proteínas hidrofóbicas como:

Proteína surfactante A

(SP-A)

A mais abundante

Regula a síntese e secreção de surfactante

Modula as respostas imunitárias

SP-B Adsorção e distribuição do surfactante

SP-C Orientação do dipalmitoil fosfatidilcolina

SP-D Liga-se a microrganismos e a linfócitos

O tecido de suporte dos alvéolos possui fibras reticulares, colagénio elastina e

fibroblastos. Envolve os vasos sanguíneos.

Macrófagos alveolares

Estão presentes nos septos alveolares e no espaço dentro dos alvéolos. Têm como

função a remoção de poeiras e microrganismos – pertencem ao sistema fagocítico

mononuclear (derivados de monócitos sanguíneos). Fagocitam ainda células sanguíneas em

caso de falência cardíaca, apresentado uma pigmentação acastanhada (outras consequências

de falência cardíaca incluem edema e hemorragias alveolares).

Após a fagocitose, a maioria migra para as vias aéreas e é removida pelo movimento

dos cílios e do muco. Outros são sequestrados pelos septos o que explica a cor negra

(pigmento antracótico) do parênquima pulmonar de pessoas em contacto constante com ar

contaminado.

Page 142: Guinness - Histologia

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Vasos sanguíneos e septo alveolar

A interface de espessura mínima entre o lúmen de um capilar e de um alvéolo é

formada por uma fina camada de surfactante, uma pneumócito tipo I e uma células

endotelial bem como as respectivas lâminas basais, que se encontram normalmente

fundidas.

A barreira tem duas porções: uma fina onde ocorrem as trocas gasosas e cuja

constituição é a mencionada anteriormente e uma espessa onde se acumulam os fluidos que

são drenados pelos vasos presentes nos bronquíolos terminais.

O septo alveolar pode ter poros alveolares de Kohn que permitem a circulação

colateral de ar entre os alvéolos em casos de obstrução de um bronquíolo.

Segmentação intra-pulmonar

Podem ser definidas duas estruturas:

Lóbulo alveolar – constituído por um bronquíolo terminal e pelo tecido

pulmonar associado; inclui bronquíolos respiratórios, canais e sacos alveolares

e os alvéolos.

Ácino pulmonar – porção do pulmão suprida por um bronquíolo respiratório.

Page 143: Guinness - Histologia

143

PADRÕES CITOQUÍMICOS

Corantes: substâncias com a propriedade de associar selectivamente uma cor a elementos

celulares

Padrões citoquímicos: modelos nos quais a um corante se faz corresponder a coloração de

determinados elementos celulares.

Hemalúmen-Eosina

A hematoxilina é um corante indirecto, de acção progressiva, associado a um

mordente, o alúmen de potassio. Desta associação resulta uma laca, o hemalúmen.

Comportam-se como um corante básico e cora estruturas carregadas negativamente (ácidas)

de azul-arroxeado (ex: DNA, RNA).

Cora: o núcleo, o retículo endoplasmático rugoso e ribossomas (devido à elevada

concentração em DNA e RNA, respectivamente), organelos que apresentam basofilia.

A eosina é um corante directo mas de acção igualmente progressiva. Comporta-se

como um corante ácido e cora estruturas carregadas positivamente (básicas) de vermelho ou

rosa (ex: maioria das proteínas citoplasmáticas e algumas fibras da matriz extracelular)

Em termos gerais, a aplicação do hemalúmen-eosina em células animais cora os

núcleos de azul e o citoplasma de rosa ou vermelho.

Azul de Toluidina

É um corante básico que cora moléculas carregadas negativamente como os

glicosaminoglicanos de vermelho-púrpura.

Em alguns casos produz uma coloração distinta da sua própria cor (metacromasia).

Destacam-se metacromasias ao nível das granulações dos mastócitos existentes no tecido

conjuntivo do eixo das vilosidades intestinais e nos grânulos de secreção das células

caliciformes.

Os núcleos são corados duma forma ortocromática, ou seja, num azul transmitido pelo

próprio grupo cromóforo do corante.

Page 144: Guinness - Histologia

144

Azul ciano

É um corante da mucina (composto pertencente a um grupo de glicoproteínas que são

as principais constituintes do muco). Certos tipos de mucina, mas não todos, são corados de

azul por este método (ex:cartilagem).

Pode ser usado em conjugação com outros métodos de coloração como H&E ou van

Gieson. Quando esta técnica é combinada com a de van Gieson, a cor deste corante torna-se

verde.

Ácido Periódico-Schiff (PAS)

O ácido periódico é um agente oxidante que quebra as ligações C-C dos grupos

1,2glicol, transformando-os em di-aldeídos. Os aldeídos resultantes podem assim combinar-se

com o reagente de Schiff.

Todas as substâncias que contêm estes grupos 1,2glicol, são PAS-positivas:

polissacáridos (glicogénio, amido, celulose) e glicoconjugados (glicolípidos, glicoproteínas e

glícidos fosforilados).

Estruturas PAS-positivas: prato estriado com o seu glicocálix, células caliciformes

devido à existência de mucina e a membrana basal pela presença da laminina.

Feulgen

É uma técnica específica para o DNA que cora de roxo mais ou menos intenso,

consoante o estado de condensação da cromatina.

A coloração pelo reagente de Schiff requer uma hidrólise moderada do DNA com ácido

clorídrico (expondo grupos aldeído livres nas moléculas de desoxiribose).

Os grupos aldeído dos ácidos nucleicos, combinam-se então com o reagente de Schiff

(composto por fucsina e ácido sulfuroso), originando-se uma côr púrpura arroxeada nos locais

onde existe DNA.

Verde de Metilo-Pironina

Par de corantes de acção directa e progressiva, que apresentam uma grande afinidade

para os ácidos nucleicos. O verde de metilo é um corante básico, que apresenta especificidade

para o DNA. A pironina também é um corante básico, mas que cora o RNA de vermelho.

Page 145: Guinness - Histologia

145

Assim, os núcleos das células coram de roxo (verde + vermelho), enquanto o

citoplasma cora de vermelho.

Células com um grande conteúdo citoplasmático em RNA, como os plasmócitos

situados no eixo conjuntivo das vilosidades e as células epiteliais das criptas de Lieberkuhn, são

intensamente coradas pela pironina

Tricrómios

É uma mistura de 3 corantes. Esta técnica é uma das chamadas técnicas para o tecido

conjuntivo, já que é usada para demonstrar elementos do tecido de sustentação,

principalmente colagénio.

Existem dois grupos:

Van Gieson: cora colagénio de vermelho

Masson/Mallony/Cajal: coram colagénio de verde/azul

Tricrómio de masson

Azul: núcleos e outras estruturas basófilas

Verde/azul (dependendo de qual das variantes da técnica for utilizada): colagénio

Vermelho brilhante: citoplasma, músculo, eritrócitos, ceratina.

Van Gieson

Vermelho: colagénio

Azul: núcleos

Amarelo: eritrócitos e citoplasma

Quando usado em combinação com um corante para fibras elásticas (Weigert), a

elastina cora de azul/preto, para além dos resultados acima descritos. Essa técnica de

coloração é particularmente útil para vasos sanguíneos e pele.

Azan

Método para tecido conjuntivo, mas excelente para demonstração de detalhes

citológicos finos, especialmente no epitélio: os núcleos coram de vermelhor, o colagénio e as

membranas de azul e os músculos e eritrócitos de laranja/vermelho.

Page 146: Guinness - Histologia

146

Giemsa

Método padrão para corar células sanguíneas e outros esfregaços de células. Os

núcleos coram de azul-escuro/violeta, o citoplasma de azul pálido e os eritrócitos de rosa

pálido.

Hematoxilina férrica

É a principal substância utilizada no método de Bharadway-Love. É um corante

indirecto, que recorre ao alúmen de ferro amoniacal em solução aquosa como mordente.

De acção regressiva, tem grande afinidade para proteínas, corando com maior

intensidade as mitocôndrias (cor negra).

Num procedimento de elevada diferenciação, destaca sobretudo lipoproteínas.

Método de Nissl e do azul de metileno

Utilizam a substância de Nissl para corar o retículo endoplasmático rugoso encontrado

nos neurónios.

Preto do Sudão e Tetróxido de ósmio

Evidenciam estruturas contendo lípidos, como a mielina, numa cor preto acastanhado.

Sais de prata

Este método demonstra as fibras de reticulina do tecido de sustentação, que se coram

de azul/preto por esta técnica. Os núcleos podem ser contra-corados em azul pela

hematoxilina ou em vermelho pelo corante vermelho neutro.

Métodos da prata e do ouro

Hoje em dia são ocasionalmente usados para demonstrar estruturas finas como

prolongamentos celulares, como nos neurónios, placas motoras terminais e junções

intercelulares. Dependendo do método utilizado, o produto final é preto, avermelhado ou

dourado.

Page 147: Guinness - Histologia

147

Técnicas imuno-histoquímicas

Permitem identificar qualquer substância (antigénio), desde que haja anticorpos

disponíveis contra a mesma. Os anticorpos são produzidos através da injecção da substância

humana que se pretende distinguir noutro animal. Esse animal reconhece-a como estranha e

começa a produzir anticorpos contra o antigénio. Desse modo pode ser criada uma fonte

inextinguível, usando-se a tecnologia monoclonal.

Coloca-se um corte de tecido numa lâmina de vidro e uma solução de anticorpos é

colocada sobre a preparação. O anticorpo fixa-se ao antigénio e o excesso de anticorpos é

lavado, de modo que apenas as células que têm o antigénio têm o anticorpo fixado a si.

Para demonstrar a posição do anticorpo na célula existem vários métodos:

Método imunofluorescência: os anticorpos são previamente marcados com uma

substância fluorescente (fluoresceína) sendo identificado posteriormente com um microscópio

de fluorescência.

Método imunoperoxidase: os anticorpos são marcados com uma enzima, como a

peroxidase, que converte um substrato incolor num produto colorido.

Citoquímica de Enzimas

Caracteriza-se por uma identificação enzimática selectiva, recorrendo-se

habitualmente a cortes por congelação num crióstato para evitar a desnaturação proteica.

Fosfatase alcalina

A actividade da fosfatase alcalina apresenta-se associada a proteínas secretadas, sendo

ancorada no exterior da célula pelo glicocálix. Não existe, portanto, em lisossomas.

A sua concentração aumenta ao longo da vilosidade intestinal desde a sua porção

basal até à porção apical onde a coloração castanho/cinzento-escuro, mais intensa, denota um

papel na absorção intestinal.

Simultaneamente, demonstra a progressiva diferenciação que os enterócitos sofrem

no seu trajecto de migração da base para o topo das vilosidades.

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Fosfatase ácida

A actividade da fosfatase ácida apresenta-se predominantemente associada a enzimas

de degradação intracelular, embora possa encontrar-se associada ao glicocálix e, neste caso,

com marcação do prato estriado. Tal como acontece para a fosfatase alcalina, observa-se um

progressivo aumento da actividade fosfatase alcalina no prato estriado da base para o topo

das vilosidades.

Como esperado, o método determina a coloração dos lisossomas de castanho/laranja-

escuro.