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ESTATUTO DO TORCEDOR A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR DO ESPORTE (Lei 10.671/2003) ESTATUTO DO TORCEDOR GUSTAVO LOPES PIRES DE SOUZA Apresentação: Paulo Bracks Prefácio: Mauro Beting

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ESTATUTODO TORCEDORA EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DO

CONSUMIDOR DO ESPORTE(Lei 10.671/2003)

ESTATUTODO TORCEDOR

GUSTAVO LOPES PIRES DE SOUZA

Apresentação:Paulo Bracks

Prefácio:Mauro Beting

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INTRODUÇÃO

1 A EVOLUÇÃO DO ESPORTE

1.1 Os jogos olímpicos

1.2 O futebol no Brasil

1.3 As repercussões da evolução do esporte

2 HISTÓRIA DA LEGISLAÇÃO ESPORTIVA NO BRASIL

3 COMENTÁRIOS AO ESTATUTO DO TORCEDOR

3.1 Disposições gerais (artigo 1º ao 4º)

3.2 Da transparência na organização (art. 5º ao 8º)

3.3 Do regulamento da competição (art. 9º ao art. 12)

3.4 Da segurança do torcedor partícipe do evento esportivo (art. 13 a 19)

3.5 Dos ingressos (art.20 a 25)

3.6 Do transporte (art. 26 e 27)

3.7 Da alimentação e da higiene (art. 28 e 29)

3.8 Da relação com a arbitragem (art. 30 a 32)

3.9 Da relação com a entidade de prática desportiva (art. 33)

3.10 Da relação com a justiça desportiva (art. 34 a 36)

3.11 Das penalidades (art. 37 a 41)

3.12 Das disposições finais e transitórias (art. 42 a 45)

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

Em 15 de maio de 2003 foi promulgada a Lei 10.671, denominada Estatuto do

Torcedor. Tecnicamente, chama-se de estatuto a lei que disciplina os direitos e os deveres

de uma determinada categoria de pessoas tal como ocorre com o Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei 8.069/1990) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003).

O esporte constitui atividade que movimenta trilhões de dólares anualmente. Gera

emprego a milhares de pessoas e envolve bilhões de indivíduos, entre esportistas, técnicos,

torcedores, organizadores, patrocinadores e outros em todo o mundo.

De certo, nos primórdios, quando as sociedades mais primitivas competiam em

corridas, ou, ainda quando se iniciaram os Jogos Olímpicos da Grécia antiga, ou até mesmo

os da era moderna, nunca se imaginou a proporção que os eventos esportivos alcançariam.

Neste sentido, de forma natural e indispensável as legislações evoluíram a fim de

atender às novas demandas sociais.

Ao optar por viver em sociedade, o homem abre mão de certos direitos para um

governo ou outra autoridade a fim de obter as vantagens da ordem social.

Então, os homens realizaram um acordo1 (―Contrato Social‖), pelo qual reconhecem

a autoridade do Estado sobre todos, para criar, por meio de seu Poder Legislativo um

conjunto de regras (Leis) a fim de regular a atividade humana garantindo segurança

individual e social e, por consequência assegurando a Ordem Social.

Assim, com o imenso número de indivíduos envolvidos nas mais diversas

competições esportivas, necessário tornou-se regulamentar a relação entre o Torcedor e as

Entidades de Prática Desportiva. Proteção esta que se torna ainda mais pertinente no

momento em que o Brasil prepara-se para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos

Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016.

Tratam-se dos dois maiores eventos esportivos do Mundo. O país receberá milhões

de turistas e será o foco em transmissões ―ao vivo‖ para bilhões de pessoas.

1 J.Ribeiro, Renato (1999), «3. Hobbes: o medo e a esperança» Francisco C. Weffort, Os Clássicos da Política -

Volume 1, 12, pp. 53-77, Editora Ática.

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A importância dos referidos eventos é ainda maior constatando-se o fato de que a

última Copa do Mundo na América do Sul foi no ano de 1978 na Argentina e de que nunca

houve uma edição dos Jogos Olímpicos na América do Sul.

Ademais, sob o ponto de vista jurídico, o estudo do Estatuto do Torcedor se

justifica, ainda, pois, elimina a Teoria da Culpa (outrora soberana nas Legislações

Brasileiras), na qual a responsabilidade é subjetiva, ou seja, a prova da culpa do agente é

pressuposto imprescindível para a indenização do dano causado. A responsabilidade do

causador do dano, portanto, só se configura se comprovado seu dolo (intenção de cometer o

ato ilícito) ou sua culpa na ocorrência do evento lesivo. Para o Estatuto do Torcedor,

aplica-se a Teoria do Risco, onde a responsabilidade é Objetiva, ou seja, retira-se da

responsabilidade o pressuposto da culpa, pois, em certas ocasiões, sua comprovação é

muito difícil e, em outras, a responsabilidade do agente decorre do risco da atividade

exercida, basta que haja o dano e sua relação com a atividade do agente ( Código Civil, art.

927 parágrafo único, Estatuto do Torcedor, art. 19).

Alem disso, trata-se de lei que, a exemplo do código de defesa do consumidor,

estende sua tutela protetora a imensa parcela da sociedade, o que ainda não traduz a

imensidão de casos que a lei tocará. O reconhecimento da relevância social de eventos

públicos de caráter esportivo tem gerado o surgimento de leis regulamentadoras em vários

países do mundo.

Todos somos consumidores e não seria de se considerar inverossímil a assertiva de

que, no Brasil, todos somos torcedores. O costume de ir ao estádio torcer pelo time de

futebol de sua simpatia está, já há muito, presente na vida do brasileiro: do mais rico ao

mais humilde. Para o brasileiro a paixão por um time de futebol corresponde à verdadeira

expressão da cultura e lazer.

Conforme destacou Bobbio:

―Os direitos não nascem todos de uma vez. Nascem quando devem ou podem nascer.

Nascem quando o aumento do poder do homem pelo homem – (...) – ou cria novas ameaças

à liberdade do indivíduo, ou permite novos remédios para as suas indigências‖2

2 BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho – Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 25.

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Oportuniza, ainda, conciliar a paixão do torcedor brasileiro com o sentimento e o

exercício da cidadania, tão tolhida nas décadas de Ditadura Militar (1964 a 1985),

oportunidade em que os direitos individuais e políticos sofreram crescentes e gradativas

restrições.

Os direitos e garantias fundamentais foram restabelecidos pela Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, especialmente em seus artigos 5º, 6º, 7º e 14.

Neste sentido, destacou Frederico Barbosa Gomes em sua obra Argüição de

Descumprimento de Preceito Fundamental – Uma Visão Crítica :

“A (re) descoberta, então, desse sentimento, principalmente no contexto brasileiro – país

de história institucional conturbada, marcada por inúmeros arroubos autoritários de poder

-, trouxe consigo, por sua vez, a necessidade de se problemizar, sob novos matizes, de que

maneira Constituição e democracia se relacionam e qual a importância disso para a

garantia da construção de um Estado Democrático de Direito.”3

Finalmente, por se tratar de Lei ainda muito nova, ela é, ainda, demasiadamente

carente de análise, aplicação e estudo.

Este livro, inicialmente demonstra a evolução da importância e da magnitude das

atividades esportivas focando, precipuamente, mas não exclusivamente, seus dois principais

eventos, quais sejam: Copa do Mundo e Olimpíadas.

Grandes conquistas brasileiras serão destacadas, sendo, no entanto, importante fazer

justiça a grandes desportistas com conquistas em outros eventos de extrema relevância,

como bem ressaltou o jornalista Milton Neves em sua Coluna da Revista Placar, ao

relacionar os números que simbolizam as vitórias do esporte brasileiro:

“Qual o principal número do esporte no Brasil? O 5 do penta do futebol4? Os

assustadores 17m89 do João do Pulo5 na Cidade do México? Os 3 do tri de Guga

6

3 GOMES, Frederico Barbosa. Argüição de descumprimento de preceito fundamental: uma visão crítica; prefácio

Álvaro Ricardo de Souza Cruz. Belo Horizonte: Fórum, 208. p. 26. 4 1958 (Suécia), 1962 (Chile), 1970 (México), 1994 (EUA), 2002 (Japão/Coréia do Sul) 5 João Carlos de Oliveira, conhecido como João do Pulo, (28/05/1954 – 29/05/1999), atleta olímpico brasileiro

que em 1975, nos Jogos Pan-americanos da Cidade do México conquistou a medalha de ouro no salto em distância com

uma marca de 8,19 m e no salto triplo, com marca de 17,89 m, quebrando o recorde mundial desta modalidade em 45 cm

que pertencia ao soviético Viktor Saneyev. 6 Gustavo Kuerten (Florianópolis, 10 de setembro de 1976), conhecido como Guga, é um ex-tenista profissional,

considerado o maior tenista masculino da história do país e único a ter vencido um Grand Slam. Campeao do Grand Slam

de Roland Garros (França) (Saibro) nos anos de 1997, 2000 e 2001.

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em Roland Garros? Os 3 dos Mundiais de Senna7, Pique

8t e Éder Jofre

9? Os 2 do

ouro do vôlei masculino10

e de Adhemar Ferreira da Silva11

? Os incríveis 46s91 de

César Cielo12

? Os 4 de Maria Esther Bueno13

na grama sagrada de Wimbledon? O 7

de Garrincha14

? O 10 de Pelé15

?”16

Em seguida, demonstra-se a evolução da Legislação esportiva no Brasil

contextualizando o Leitor ao momento histórico da promulgação do Estatuto do Torcedor.

Após, o Estatuto do Torcedor é analisado e comentado objetivando, dentre outras,

solucionar algumas questões de interesse do Torcedor, notadamente:

É possível aplicar o Estatuto do Torcedor, como lei mais específica, em

conjunto com o Código de Defesa do Consumidor (CDC)?

A relação entre torcedor e clube/entidade organizadora da competição é

consumeirista?

Quem tem o dever de garantir a segurança dos torcedores nos estádios?

Ocorrendo dano ao torcedor em decorrência de falha de segurança, quem

tem o dever de indenizar?

7 Ayrton Senna da Silva (São Paulo, 21 de março de 1960 – Bolonha, Itália, 1 de maio de 1994) piloto de

Fórmula 1, três vezes campeão mundial, nos anos de 1988, 1990 e 1991. Morreu em acidente no Autódromo Enzo e Dino

Ferrari, em Ímola, durante o Grande Prêmio de San Marino de 1994. 8 Nelson Piquet Souto Maior (Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1952) é um ex-piloto de Fórmula 1, Campeão do

Mundo em 1981, 1983 e 1987. 9 Éder Jofre (São Paulo, 26 de março de 1936), ex-pugilista que lutava pelo São Paulo Futebol Clube. É

considerado por especialistas como o maior nome do boxe brasileiro em todos os tempos. Ficou conhecido também pelo

apelido "Galinho Ouro". Em 1965, unificou os Cinturões Mundiais do peso pena das três organizações internacionais do

boxe (AMB, UEB e CMB). 10 Jogos Olímpicos de Barcelona (1992) e Atenas (2004). 11 Adhemar Ferreira da Silva (São Paulo, 29 de setembro de 1927 — , 12 de janeiro de 2001), primeiro bicampeão

olímpico do país. Conquistou as medalhas de ouro no salto triplo nos Jogos de Helsinque 1952 e de Melbourne 1956. 12 César Augusto Cielo Filho (Santa Bárbara d'Oeste, 10 de janeiro de 1987) nadador, campeão olímpico dos 50

metros livre nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, campeão e recordista mundial dos 100 metros livres e campeão

mundial dos 50 metros livres em Roma, em 2009, onde atingiu a marca de 46s91. Ganhou três medalhas de ouro e uma

medalha de prata nos Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de Janeiro. 13 Maria Esther Andion Bueno (São Paulo, 11 de outubro de 1939), ex-tenista, venceu dezenove torneios do

Grand Slam (7 na categoria simples; 11 em duplas femininas; 1 em duplas mistas), sendo três em Wimbledon (1959, 1960

e 1964). É considerada a maior tenista brasileira de todos os tempos. 14 Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha ou simplesmente Garrincha, (Pau Grande, 18 de outubro de

1933 — Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 1983), jogador de futebol, do Botafogo e da Seleção Brasileira, bicampeão do

Mundo (1958 e 1962), se notabilizou por seus dribles desconcertantes, apesar das pernas tortas. É considerado um dos

maiores jogadores da história do futebol em todos os tempos. 15 Edison Arantes do Nascimento (Três Corações, 23 de outubro de 1940), conhecido como Pelé, o mais famoso

jogador de futebol do Mundo. Tricampeão do Mundo pela Seleção Brasileira (1958,1962 e1970) e Bicampão Mundial

pelo Santos (1962 e 1963), é considerado o maior jogador da história do futebol. Recebeu, do jornal francês L'Equipe, o

título de Atleta do Século de todos os esportes em 1981. Em 1999, o Comitê Olímpico Internacional, após votação

internacional entre todos os Comitês Olímpicos Nacionais, também elegeu Pelé o "Atleta do Século". 16 Milton Neves. Revista Placar, Ed. 1334, Setembro de 2009. p. 42

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O cumprimento do dever do clube de solicitar presença policial retira-lhe a

responsabilidade? O seu descumprimento exime a responsabilidade do

Estado?

A falha de segurança prevista no Estatuto do Torcedor em seu art. 19

equivale ao fato ou defeito do produto/serviço?

O Estatuto do torcedor é importante na moralização do esporte no Brasil?

Está se cumprindo o Estatuto do Torcedor?

É prevista punição ao torcedor?

Há alguma regulamentação acerca das ―Torcidas Organizadas‖?

Qual a posição dos Tribunais acerca do Estatuto do Torcedor?

Apesar de não haver a pretensão de se esgotar o tema, o presente livro pretende

analisar o Estatuto do Torcedor em sua plenitude sem, no entanto, direcioná-los tão

somente aos operadores do direito, mas, aos acadêmicos e profissionais de outras áreas

atinentes ao esporte como Educação Física, Fisioterapia, Administração, Marketing,

Publicidade, Jornalismo, Relações Públicas e, ainda a todos os aficcionados pelo esporte

através de uma linguagem simples, direta e contextualizadora, sem deixar de trazer

questões jurídicas, práticas e sociais relevantes e entendimentos recentes dos Tribunais

Brasileiros (jurisprudência).

Enfim, o Estatuto do Torcedor é apresentado e comentado, destacando-se suas

inovações, pontos polêmicos e interpretações.

Boa Leitura! E lembre-se de que a democracia17

, a cidadania e a conquista de

direitos não são implantadas pelas Leis, mas pela legitimidade que o Povo (detentor do

Poder) as imprime através do uso reiterado. E, somente com o conhecimento do Estatuto

do Torcedor e ações concretas do cidadão poder-se-á torná-los efetivos e de fato

respeitados.

17 Professor Frederico Babosa Gomes em obra citada ressalta que pode-se dizer que democracia seria ―governo do

povo, para o povo e pelo povo‖.