16
PARTE INTEGRANTE DO HOJE MACAU Nº 2382. NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Anos 5o Japão a câmara dos mestres & Arte em HK pintura e contentamento ALI, AO FUNDO, SEREI FELIZ? h ARTES, LETRAS E IDEIAS O PENSAMENTO DE MANUEL AFONSO COSTA

h - Suplemento do Hoje Macau #12

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Suplemento h - Parte integrante da edição de 3 de Junho de 2011

Citation preview

Page 1: h - Suplemento do Hoje Macau #12

PARTE INTEGRANTE DO HOJE MACAU Nº 2382. NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Anos 5o Japãoa câmara dos mestres& Arte em HK

pintura e contentamento

ALI, AO FUNDO,SEREI FELIZ?

hAR

TE

S, L

ET

RA

S E

IDE

IAS

O PENSAMENTO DE MANUEL AFONSO COSTA

Page 2: h - Suplemento do Hoje Macau #12

I D E I A S F O R T E Sh23

6 20

11

Page 3: h - Suplemento do Hoje Macau #12

I D E I A S F O R T E S h3

3 6

2011

Page 4: h - Suplemento do Hoje Macau #12

I D E I A S F O R T E Sh43

6 20

11

Page 5: h - Suplemento do Hoje Macau #12

I D E I A S F O R T E S h5

3 6

2011

Page 6: h - Suplemento do Hoje Macau #12

I D E I A S F O R T E Sh63

6 20

11

Page 7: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h7

3 6

2011L E T R A S S Í N I C A S

O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo honorífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos durante a predominantemente confucionista Dinastia Han.

A obra parece consistir de um destilar do corpus central da sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala, Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada por Shiung Duen Sheng e publicada online.

A COMPREENSÃO DOS MISTÉRIOSWEN ZI 文子

CAPÍTULO 153

Lao Tzu disse: De entre todas as energias do universo, nenhuma é maior do que a harmonia. A harmonia significa a regula-ção de yin e yang, a divisão do dia e da noite.

Assim, a miríade de seres nasce na Primavera e perece no Outono. O nas-cimento e a maturação requerem a vita-lidade da harmonia – desse modo, o yin acumulado não produz e o yang acumu-lado não desenvolve; apenas quando yin e yang interagem são capazes de produ-zir harmonia.

É por isto que a Via dos sábios é mag-nânima mas severa, severa mas quente, suave mas directa, feroz mas humana. Aquilo que é demasiado duro parte-se, aquilo que é demasiado macio dobra-se: a Via situa-se exactamente entre a dure-za e a flexibilidade. A benevolência que vai demasiado longe torna-se em fraque-za e perde dignidade. A severidade que vai demasiado longe torna-se ferocidade, que não é harmónica. Levado demasiado longe, o amor se torna indulgência, que é ineficaz. O castigo que vai demasiado longe torna-se calamidade, que se traduz na perda de amizade e família. Por tudo isto, se deve valorizar a harmonia.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Levado demasiado longe, o amor se torna indulgência, que é ineficaz.

Page 8: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h8 E N S A I O S O B R E A V I S Ã O

Na primeira versão do “Ensaio Sobre a Visão” vamos ensaiar

Macau. Aqui, no complexo terreno percorrido pelos

fotógrafos do território. Uma zona, uma rua, um edifício. A água que bebemos dentro de uma mão cheia de imagens.

A Fotografia sem explicação, para que se compreenda o

que é a Cidade. Esta cidade onde vivemos.

3 6

2011

Page 9: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h9E N S A I O S O B R E A V I S Ã O

3 6

2011

Avenidada República

Hugo PintoNão se lembra exactamente quando foi a primeira vez que pegou numa câmara fotográfica, mas lembra-se que era uma Zenit e era pesada. Lembra-se também de um sem fim de frases bonitas sobre fotografia, mas prefere o silêncio das imagens. Um destes dias passeou pela Avenida da República onde procurou instantes de um passado presente e a paz de um futuro ausente. Para mais tarde recordar.

Page 10: h - Suplemento do Hoje Macau #12

P R I M E I R O B A L C Ã Oh103

6 20

11

EXISTE ENTRE AS PESSOAS QUE FALAM OU ESCREVEM SOBRE

CINEMA UMA FORTE INCLINAÇÃO - QUE NÃO ESCONDE NUNCA UM BENÉVOLO EXAGERO E UMA MUITO DESCULPÁVEL CERTEZA - PARA DESTACAR MOMENTOS OU SITUAÇÕES QUE SENTEM E TENTAM IMPOR COMO ÚNICOS.

Assim nascem frases como “nunca Ingrid foi tão bela como neste plano”, “nunca mais o cinema foi inocente” ou “nunca houve cineasta de mulheres como Mizoguchi”. Percebe-se o vício, que pode excitar alguma irritação, mas perdoa-se e aplaude-se a paixão que o pro-move. Isto pode levar a concluir que há pla-nos que são inesquecíveis ou que há planos que têm um poder revolucionário, quer esta revolução se opere num campo mais restrito ou mais geral. Esta história de Mizoguchi tem uma cena assim.

É também um lugar muito comum dizer que há obras de arte a que voltamos repeti-damente e a que pedimos que nos confortem com o reconhecimento ou que nos surpreen-dam cada vez que a ela voltamos. Pode acon-tecer com um livro ou um quadro ou um filme. Certamente que Ugetsu Monogatari provoca em muitos esta expectativa.

Um filme que é visto muitas vezes começa a ganhar interesses diversos. A consciência que

temos da sua estrutura toma formas diferentes, e, libertos da pressão da novidade, é antecipa-damente que hierarquizamos os seus momen-tos nucleares e que, especialmente, esperamos o aparecimento de um ou mais planos que pre-enchem, de modo particularmente excitante, as nossas necessidades estéticas ou emocio-nais singulares. Em Ugetsu Monogatari isso acontece várias vezes mas há uma cena que se destaca ainda mais do que as outras e que se in-veste de um lugar único na economia de toda a história. Pode até ser que se trate de um plano que domina, avassalador, todos os outros. Esta é necessariamente, uma afirmação muito ínti-ma. Se este filme tem tido uma recepção em que os elogios se acumulam imensos e diversos é porque se trata de uma história excepcional. Ele é, talvez, o filme a que mais vezes se re-gressa, mesmo que as razões que estão por trás desta inexorável repetição possam ser muito diversas. Sei que é isto que acontece comigo e permitir-me-ão ainda uma outra pequena e desavergonhada confissão: este é o filme que me atraiu para sempre para o cinema japonês e se não foi na desfloração que ele operou em mim que bebi o máximo dos deleites que ele dispensa foi porque muitas mais vezes para ele me dirigi. Sei que esta atracção atinge muitos outros, e mesmo aqueles que demonstram um gosto especial por outros filmes de Mizoguchi, confessam sem qualquer receio que este conto

tem um lugar único na sua atenção. Se este é o único filme que nestas páginas aparece pela se-gunda vez é porque o merecimento que a esta decisão leva é indiscutível.

O oleiro Genjuro é encantado por uma mu-lher. São muitas as mulheres encantadoras na tradição ocidental e asiática mas esta mulher, a Senhora Wakasa, leva o seu amante para um lugar que é o lugar mais paradisíaco do cine-ma. Estas linhas estavam decididamente a en-caminhar-se para um encómio desta natureza, raríssimo mas sentidíssimo. Quem já viu este filme muitas vezes fá-lo certamente para se ver arrastado, uma vez mais, para este lugar úni-co. São as cenas em que Genjuro e a Senhora Wakasa gozam a companhia um do outro num campo junto a um rio, uma árvore no meio da composição. Um rio e uma árvore que não são a árvore e o rio do paraíso terrestre ocidental porque este paraíso, mesmo enganoso, é uma projecção futura e não o locus do início.

Neste filme há muito mais, mesmo muito mais para ver e para esperar. Os momentos an-tecipados a cada nova visão são muitos, como sejam os planos da chegada à casa da encan-tadora, os planos das travessias de barco, o do regresso à sua casa da aldeia, o dos momentos de amor na casa nocturna ou os planos em que a Senhora Wakasa e Genjuro se conhecem e em que aquela admira as suas criações de ce-râmica. Os planos que dizem respeito à histó-

ria mais terrena de Tobei (irmão de Genjuro), quase cómica, têm também uma importância maior para o entendimento do filme e só com estes se compreende o complexo do filme na sua totalidade. Mas a cena junto ao rio, que é o que aqui nos traz, é algo que está para lá do filme, algo que sobrevive, suspensa no tempo e no espaço, separada do corpo que a gerou.

Certamente que o amor que a Senhora Wakasa inspira também em nós provém da certeza de que esta não poderá nunca morrer, o elemento frágil sendo nós, vasos fugazes de uma existência certa que tanto necessita da-quela. A riqueza, a liberalidade e o corpo da Senhora Wakasa são a face do nosso desejo de felicidade simples e da felicidade do camponês oleiro. Este complexo exprime-se no seu maior brilho nesta cena do pequeno campo junto ao rio em que nada acontece que não seja a cer-teza da felicidade total, de um bloqueamento desejado, de um engano cujo deleite é irrecu-sável, de uma luz de que só o filme a preto e branco era capaz.

No estado paradisíaco em que o pobre camponês vive com a amante o tempo vê-se suspenso, como se a existência deste fosse sinal de um estado inferior ou, pelo menos, de um estado comum e mundanal. Sinal desta estação existencial é a certeza de que este é o lugar de que se não quer sair mais.

luz de inverno Boi Luxo

A PROPÓSITO DE UGETSU MONOGATARI, MIZOGUCHI, 1953.

Page 11: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h11

3 6

2011T E R C E I R O O U V I D O

próximo oriente Hugo PintoAntønio FAlcão

O BRANCO MAIS BRANCO

CORAÇÃO DIABO

Tal como o original No Wave nova--iorquino, 30 anos antes, o movimento No Beijing convocou as diferenças como denominador comum entre as hostes mu-sicais. No entanto, à semelhança dos esta-dos igualitários onde “uns são mais iguais do que outros”, também aqui cedo se per-cebeu que “uns eram mais diferentes do que outros.”

Do inicial “bando dos quatro” (White--2j, The Gar, Carsick Cars e Snapline), e pesando embora toda a energia criativa que proliferava, a que se juntava a hetero-geneidade própria da natureza do “grupo”, os mais originais e “diferentes”, de forma destacada, sempre foram os White-2j (en-tretanto transformados em White+).

Na nova música chinesa, ainda hoje, passados seis anos depois da apresentação ao mundo do No Beijing, através do lança-mento do disco homónimo repartido pelas quatro bandas, os White+ continuam a ser um caso raro de experimentalismo avant--garde em “flirt” constante com os forma-tos aceites pela cultura popular, criando um universo simultaneamente acessível e distante, um universo onde o criador dá pelo nome de Zhang Shouwang.

Conta-se que, certa noite, Michael Pettis (antigo banqueiro de Wall Street, professor universitário em Pequim, dono do clube D-22 e da editora Maybe Mars) avistou um jovem chinês num bar da ca-pital vestido com uma T-shirt dos Velvet Underground. O norte-americano meteu conversa e descobriu que o seu interlocu-tor chamava-se Zhang Shouwang e que era um guitarrista com a mente aberta para muitas e diferentes sonoridades. A empatia entre Pettis e Zhang foi imediata – o homem que se fartou dos jogos da alta finança pressentiu o valor do talento em estado bruto e ofereceu a Zhang uma gui-tarra Gibson SG. O episódio vem relatado

na New Yorker e o resto, como se diz, é história.

Foi ainda em 2004 que Zhang Shou-wang (ou Jeff Zhang) criou o nome White para designar os vários projectos onde deu azo às suas tendências experi-mentadoras.

No início de 2005, Zhang formou os White No.1, um septeto de tributo a uma das suas maiores influências, o compositor e guitarrista norte-americano Glenn Bran-ca, pioneiro em “afinações alternativas” e explorador do minimalismo e repetição aplicados às seis cordas de uma guitarra eléctrica. A admiração teria reciprocidade logo um ano depois, quando Zhang via-jaria até Nova Iorque para fazer parte da gravação de uma peça de Branca, a sinfo-nia número 13, “Hallucination City”, com-posta para ser tocada por uma centena de guitarristas.

No mesmo ano em que Zhang Shou-wang formou os White No.1 nasceram também os White-2j, que, pouco tempo depois, seriam apenas White. Neste pro-jecto, Zhang teve como cúmplice a ba-terista dos Hang on The Box, Shen Jing, uma parceria que duraria até ao Verão de 2010, altura em que Shen deu lugar a Wang Xu, baterista dos The Gar, uma das quatro bandas fundadoras do No Beijing. 2005 foi também o ano em que Zhang fundou os Carsick Cars, mas essas são contas de um outro rosário.

As mudanças constantes dos colabo-radores de Zhang e até as próprias alte-rações ao nome do projecto podem ser entendidas como consequência do pulsar vibrante e da urgência criativa que está condensada naquele que, até ao momen-to, é o único disco assinado com o nome White. Foi em 2009.

O álbum, “White”, com selo Maybe Mars, foi gravado em Berlim, onde Zhang

e Shen tiveram a ajuda de Blixa Bargeld, lenda viva da música, mentor dos Einstur-zende Neubauten e ex-Bad Seed de Nick Cave. Bargeld foi o produtor dos 13 temas que revelam o carácter multifacetado da dupla White e das suas diversas influências – dos padrões minimais de Steve Reich até aos mestres chineses clássicos, passando pelos ritmos maquinais do “industrial” –, sempre com uma atitude “rock’n’roll”, fe-roz e agressiva, mas sedutora.

A abrir o disco, ouvimos, em “Space Decay”, o zumbido do fantasma Suicide a voar pelos céus de Pequim; “Build a Link” e “47 Rockets” são revisitados por Laurie Anderson; “Spring House” traz o crescen-do ilusório das guitarras de Glenn Branca e “Conch Crunch” dilata a veia “noise” e industrial, à boa (e velha) maneira dos ale-mães Einsturzende Neubauten.

Todas as influências díspares congre-gadas por White acabam por fazer sentido juntas, dada a organização e arrumação que percebemos existir por detrás da apa-rente espiral caleidoscópica e na animação da força centrípeta de uma música que pa-rece decidida a mover-nos com a energia de um organismo vivo, mutante e em per-manente evolução.

Sabemos que, no Oriente, a cor branca representa tristeza e luto, ao contrário do Ocidente, onde o branco tem conotações mais positivas. No entanto, universal é o que qualquer enciclopédia nos diz sobre a cor branca: a junção de todo o espec-tro de cores; aquela que reflecte todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e, assim, surgindo como clareza máxima. Podia ser esta, também, a definição da missão que Zhang Shouwang deixa entre-ver que persegue na sua obra e actividade: haja luz, muita luz, mesmo que esta tenha que vir por caminhos misteriosos e inson-dáveis.

«Vi-o nas minhas mãos, a queimar-se no coraçãoVi-o no passado, a atormentar-me a casaMas faz algum sentido voltar a vê-lo de novo?Não sei

Senti-o por algum tempo, e nem por isso O fel deixou de escorrer na minha cabeça, sim o amor dóiE não estou à espera de nenhuma mudança, mas é difícil resistirPorque não me lembro de estar assim tão morto

Só ela existe, perdi o melhor que tinhaDepois, encontrei-a num sonho, à minha procuraO meu coração está em chamas, e levo-o sozinhoPara cima e para baixo, despedaçando-se de novo

E os meus braçosPouco me importa quem abraçamTalvez seja melhor assim, deixar o amor de ladoMesmo que chames o meu nome, pelo amor que precisasNão vais encontrá-lo aqui

E consigo ver o fim daquilo que comeceiUma história de amor, que veio e que foiMas que agora, sem promessasJá não me vai levar, nem eu irei atrás dele»

É isto. Simples. Pega-se numa guitarrinha, dedi-lham-se umas notas, abre-se a alma e deitam-se todas as guelras cá para fora. Se estiver uma rapariga bonita ao cimo da janela, tanto melhor, se não estiver, também não faz mal. Fica para a próxima. Mas é preciso muito mais do que isto, para fazer uma canção. Não basta a atitude co-mum do “agora vou ser poeta” ou o “não consigo deixar de pensar nela”. Porque não se está só. Não se canta para as paredes. Canta-se até que tudo em nós nos doa. O exemplo em cima – é apenas isso – vem de uma canção de uma banda inglesa – desculpem a tradução manhosa, mas o original não é muito melhor –, são os The Big Pink, e o mimo cha-ma-se “Velvet”. Porque está aqui? Porque queria exibir o modelo de uma receita, essas coisas de as canções atingirem os outros, e com isso perfa-zerem o processo de deslumbre – e também de penitência – do acto de criar, entre o emissor e o outro lado da parede. Este “veludo” tem tanto de sublime como de restos de outra comida. Uma certa melodia, alguma repetição, muito barulho, onde se amassam vários estilos, e uma letra que não diz nada de novo.Mas é um momento. Um raio que se solta – de uma nota só - que se impregna em algum lugar do marfim humano e se perde sem mais se achar. Não se sabe muito bem o que é, porque umas pessoas gostam disto e outras daquilo. Como quem dá uma garfada de peixe e outra de uma iguaria desconhecida. Estranha-se, dizem, depois embrenha-se. Ou lá o que é. E chegamos à parte desta pequena crónica em que vou dizer mal do Bob Dylan. Como se toda esta conversa, fosse apenas um pretexto para aqui chegar, a um mero excerto de clímax. É verdade, neste cantor não há nada que se entranhe. Muita gente poderá dizer que estou a cometer a maior das heresias, que é uma es-tátua em que se não toca; como se dissesse que o Messias era um homem muito feio ou que a Virgem tinha um leve buço. Fiz várias tentativas, é certo, mas todas sem êxito. Uns dizem que o fenómeno é todo por causa da sua lírica – que era um “grande poeta” – mas no durável dos anos, nos dele e nos meus, longos, nada nos relacionou. Talvez porque nenhum de nós tenha tomado os comprimidos será. Porque será? “Não sei”. Em Portugal os pavilhões enchem-se para ouvir Tony Carreira e afins. Compreendendo-se ou não é também fruta do mesmo saco.

THE BIG PINK

4AD • www.musicfromthebigpink.comBob Dylanwww.bobdylan.com

Page 12: h - Suplemento do Hoje Macau #12

O L H O S A D E N T R Oh123

6 20

11

Michel Reis

E CONTINUAMOS A FALAR DE ARTE! ENTRE OS DIAS 26 E 29 DE MAIO, REALIZOU-SE NO

CENTRO DE CONVENÇÕES E EXPOSIÇÕES DE HONG KONG, A 4ª FEIRA INTERNACIONAL DE ARTE DE HONG KONG, UM DOS MAIORES CERTAMES DO GÉNERO DO MUNDO.Um dos mais antecipados eventos do calendário artístico in-ternacional, a Feira contou com a participação de 260 galerias de 38 países, no que constituiu a maior exibição de arte con-temporânea alguma vez realizada na região vizinha.

A ART HK 11 apresentou obras de mestres modernos como Picasso e Matisse a importantes artistas contemporâ-neos como Takashi Muramaki, Zhang Huan e Damien Hirst (que teve duas obras expostas na primeira exposição realizada na Galeria Louis Vuitton em Macau), oferecendo aos visitan-tes a oportunidade de mergulharem na melhor e mais extensa mostra de arte moderna e contemporânea da Ásia, com obras a preços entre os 8,000 e os 80 milhões de dólares de Hong Kong!

Tendo tido a sua primeira edição em 2008, a ART HK, passou, conforme foi anunciado no início de Maio, a ter como principais depositários os proprietários de Art Basel (a princi-pal feira de arte contemporânea do mundo), uma viragem que promete dar ao evento ainda mais proeminência. A compra da firma Asian Arts Fairs, proprietária da ART HK, pelo Grupo de Exposições MCH, da Suíça, constituiu a principal sensa-ção. O actual Director da ART HK, Magnus Renfrew, afirmou que o envolvimento de Art Basel ira trazer uma competência e contactos sem paralelo à ART HK e irá elevar o certame a um novo patamar, transformando-o na terceira feira de arte mais importante do mundo. Referiu ainda que, mesmo antes do anúncio da compra do certame pela Art Basel, a organiza-ção foi inundada por 500 candidaturas de galerias e apenas aceitou cerca de metade, assegurando o sabor asiático da feira, não obstante a presença de grandes nomes de Nova Iorque e Londres. Para já e até 2012, o novo proprietário não irá mudar a gestão local da feira, alterando apenas a data da sua realiza-ção, que passará para o mês de Fevereiro, encaixando-se entre os eventos de Art Basel em Miami, em Dezembro, e em Basel, em Junho.

Este ano, a ART HK estendeu-se para além das paredes do Centro de Convenções. O grande número de eventos reali-zados no exterior criou pela primeira vez a sensação de uma verdadeira semana de arte na cidade.

Uma das novas características da feira este ano foi a secção ASIA ONE, com 47 galerias representando uma dúzia de paí-ses, da Turquia à Índia, e do Japão à Nova Zelândia, que apre-sentaram apenas exposições individuais. Contou ainda com a secção ART FUTURES, patrocinada pelo retalhista de luxo Lane Crawford, uma exibição multi-galeria de obras de artis-tas emergentes representados por galerias criadas nos últimos cinco anos, que incluiu uma amostra representativa do melhor da arte contemporânea emergente. Numa colaboração com o Asia Art Archive e integrado no seu programa educativo, a ART HK organizou uma série de palestras informativas e educacionais durante a feira. Foram ainda organizadas visitas guiadas ao evento a fim de permitir aos visitantes terem um conhecimento mais profundo das galerias expositoras e das obras em exposição. A ART HK empenhou-se ainda no de-senvolvimento de uma plataforma para as crianças explorarem o mundo da arte através da colaboração com importantes ins-tituições artísticas locais, no suprimento de programas de arte especialmente concebidos para os mais novos.

A feira havia já captado as principais galerias do mundo

e orquestrado vendas de obras de milhões de dó-lares de artistas famosos como Damien Hirst. O mercado de Hong Kong está inundado de dinhei-ro, particularmente no que respeita aos novos colec-cionadores endinheirados do Interior da China e de outras partes da Ásia. Lei-loeiras como a Christies associaram-se também ao evento, promovendo lei-lões de arte, antiguidades, vinhos, relógios e jóias. O Deutsche Bank, patroci-nador de longa data, con-tinuou a estar envolvido na feira, que contou tam-bém com ofertas bizarras de companhias como a BMW, que expôs um au-tomóvel decorado por Jeff Koons, ou como o Man-darin Oriental, que ofere-ceu bolos com design da autoria do artista chinês Zhou Tiehai.

As galerias locais es-peraram também pela semana da ART HK 11 para abrirem novos espaços ou exporem obras de artistas importantes. Mesmo as gale-rias que não fazem oficialmente parte do certame apro-veitaram essa semana para promoverem os seus perfis. O homem mais procurado na cidade parece ter sido David LaChapelle. Na passada semana, o fotógrafo de moda e arte nova-iorquino desvelou uma colagem da sua autoria com a dimensão de 3 metros, inspirada na obra “A Balsa da Medusa” de Géricault, na sua primeira exposição a solo em Hong Kong, que tem lugar na recém inaugurada Galeria Sarthe Fine Arts. A Galeria Edouard Malange, que abriu no ano passado, trabalhou com a Pace Gallery de Nova Ior-que na instalação de uma massiva escultura do artista chi-nês Zhang Huan junto a um hotel e complexo comercial da cidade. “Três Cabeças e Seis Braços” estará em exibição no exterior do complexo Hullet House, um edifício colo-nial do séc. XVIII renovado, até ao final de Junho.

Entre as obras expostas, encontrava-se uma escultura do controverso artista e activista chinês Ai Wei Wei, actualmente detido pelas autoridades chinesas. A obra, intitulada “Braço de Mármore”, foi criada em 2007 e apresenta um desafiante dedo médio em riste. Esta obra está ligada a uma série de fotografias do artista intitulada “Estudo de Perspectivas”, que mostram o artista a levantar o seu dedo médio em frente de edifícios in-cluindo a Casa Branca em Washington, a Torre Eiffel em Paris e a Praça de Tiananmen em Pequim, como um gesto que ques-tiona os centros de poder. A obra encontrava-se em exposição na Galeria do negociante de arte Urs Meile, que tem trabalha-do com o artista desde o final dos anos 90.

Para quando uma extensão deste fulgurante evento a Ma-cau e a desejada participação de galerias e artistas locais na ART HK, já que ao que sabemos apenas o artista local russo Konstantin Bessmertnyi estava representado e bem?

ART HK 11 DE PICASSO A ZHANG HUANE KONSTANTIN BESSMERTNYI

Page 13: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h13

3 6

2011

Ex.mo Senhor Dr. Camilo Pessanha, Macau,

Há anos que os poemas de V. Exa. são muito conhecidos, e invariavelmente admirados, por toda Lisboa. É para lamentar — e todos lamentam — que eles não estejam, pelo menos em par-te, publicados. Se estivessem inteira-mente escondidos da publicidade, nas laudas ocultas dos seus cadernos, esta abstinência da publicidade seria, da parte de V. Exa., lamentável mas explicável. O que se dá, porém, não se explica; visto que, sendo de todos mais ou menos conhecidos esses poe-mas, eles não se encontram acessíveis a um público maior e mais permanen-te na forma normal da letra redonda.É sobre este assunto que assumo a li-berdade de escrever a V. Exa. Decerto que V. Exa. de mim não se recorda. Duas vezes apenas falámos, no “Suí-ço”, e fui apresentado a V. Exa. pelo general Henrique Rosa. Logo da pri-meira vez que nos vimos, fez-me V. Exa. a honra, e deu-me o prazer, de me recitar alguns poemas seus. Guar-do dessa hora espiritualizada uma religiosa recordação. Obtive, depois, pelo Carlos Amaro, cópias de alguns desses poemas. Hoje, sei-os de cor, aqueles cujas cópias tenho, e eles são para mim fonte continua de exaltação estética.Não escrevo estas coisas a V. Exa. para seu mero agrado, adulando. Elas são a expressão sincera do modo como sinto as composições a que me reporto. Nem sequer cito este prazer, que os seus poemas me deram, com o restrito fim de apoiar em frases que

possivelmente sensibilizem o pedido que venho fazer. A ordem dos factos é outra: é porque muito admiro esses poemas, e porque muito lamento o seu actual carácter de inéditos (quan-do, aliás, correm, estropiados, de boca em boca nos cafés) a que ouso endereçar a V. Exa. esta carta, com o pedido que contém.Sou um dos directores da revista tri-mestral de literatura “Orpheu”. Não sei se V. Exa. a conhece; é provável que a não conheça. Terá talvez lido, casualmente, alguma das referências desagradáveis que a imprensa portu-guesa nos tem feito. Se assim é, é pos-sível que essa notícia o tenha impres-sionado mal a nosso respeito, se bem que eu faça a V. Exa. a justiça de acre-ditar que pouco deve orientar-se, sal-vo em sentido contrário, pela opinião dos meros jornalistas. Resta explicar o que é “Orpheu”. É uma revista, da qual saíram já dois números; é a única revista literária a valer que tem apare-cido em Portugal, desde a “Revista de Portugal”, que foi dirigida por Eça de Queirós. A nossa revista acolhe tudo quanto representa a arte avançada; assim é que temos publicado poemas e prosas que vão do ultra-simbolismo até ao futurismo. Falar do nível que ela tem mantido será talvez inábil, e possivelmente desgracioso. Mas o facto é que ela tem sabido irritar e enfurecer, o que, como V. Exa. muito bem sabe, a mera banalidade nunca consegue que aconteça. Os dois nú-meros não só se têm vendido, como se esgotaram, o primeiro deles no espaço inacreditável de três semanas. Isto alguma coisa prova — atentas as

condições artisticamente negativas do nosso meio — a favor do interesse que conseguimos despertar. E serve ao mesmo tempo de explicação para o facto de não remeter a V. Exa. os dois números dessa revista. Caso seja possível arranjá-los, enviá-los-emos sem demora.O meu pedido — tenho, reparo ago-ra, tardado a chegar a ele — é que V. Exa. permitisse a inserção, em lugar de honra do terceiro número, de alguns dos seus admiráveis poemas. Em geral publicamos em cada número bastante colaboração de cada autor, de modo que, apesar de a revista ter 80 páginas, os colaboradores de cada número não têm passado de 7 (8). Isto é para in-dicar que sobremaneira estimaríamos que nos concedesse a honra de publi-car umas dez a vinte páginas de sua colaboração. Entre os poemas que era empenho nosso inserir contam-se os seguintes: “Violoncelos”, “Tatuagens”, “O Estilita” (só conheço, deste, o se-gundo soneto), “Castelo de Óbidos”, “O Tambor”, “Nocturno”, “Passeio no Jardim”, “Ao longe os barcos de flo-res”, “O meu coração desce...”, “ Pas-sou o Outono já”, “Floriram por enga-no as rosas bravas...”, “O Fonógrafo”. Ao soneto que considero o maior de todos os seus, e é sem dúvida um dos maiores que tenho lido — “Regresso ao Lar” — , não me refiro, visto que o seu assunto, infelizmente, inibe (e creio ser essa a vontade de V. Exa.) que ele se publique.Podia V. Exa. fazer-nos o favor que pedimos? Nós não pedimos só por nós, mas por todos quantos amam a arte em Portugal; não serão muitos,

mas, talvez por isso mesmo, merecem mais carinhosa atenção dos poetas. Se fosse possível enviar-nos mais co-laboração do que esta que indiquei, dobrado seria o favor, e sobradamente honradas as páginas da nossa revista.Como correm por aqui várias versões, mesmo escritas, dos seus poemas, pe-díamos que — caso quisesse anuir ao nosso pedido, no que julgamos que não terá dúvida — ou nos enviasse cópia exacta deles, ou — caso isso o incomodasse — nos indicasse a quem, aqui, nos devamos dirigir para obter essas cópias.Como nos parece que estamos abu-sando do tempo e da paciência de V. Exa., e como esta carta segue regista-da, basta-nos, para resposta, um pos-tal — ainda que uma carta registada, contendo as cópias ou a indicação pe-dida, fosse preferível — , ou, caso V. Exa. não queira dar-se ao incómodo de nos enviar esse postal, basta (cre-mos não abusar combinando assim) que V. Exa. não nos responda nega-tivamente para nos considerarmos au-torizados. Nesse caso guiar-nos-emos pelas cópias que nos parecerem mais conformes à constante psíquica do seu pensamento poético. O preferí-vel, porém, era que V. Exa. nos en-viasse as cópias dos poemas.Confessando-me, pelo “Orpheu”, desde já altamente grato e honrado com o envio dos seus poemas, subs-crevo-me, com o maior respeito e admiração.

Fernando Pessoa (1915?)

Fernando Pessoa

CARTA A CAMILO PESSANHA

À S U P E R F Í C I E

Page 14: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h143

6 20

11 À S U P E R F Í C I E

Apátrida Nunca ele se imaginou nesta situação. A

derrota era mais do que certa, restava-lhe arran-jar uma justificação para os números. Se fossem menos era a vitória da prepotência e do virar o rabinho aos outros, se fossem mais era um claro sinal de que o povo não esquecera o trabalhi-nho feito de joelhos ao amigos lá de fora. Ou aos de dentro também. Mas estes números, os da derrota, trocaram-lhe as voltas a ponto de di-zer apenas o que era politicamente incorrecto, no momento da consagração dos outros. E não lhe sobrou nada! Varreu o País e o mundo com os cinquenta e poucos segundos de silêncio e acreditando existirem pêlos levantados e cristas disparadas para o espaço por todo o planeta. De novo, um exagero da sua parte, uma falsa modéstia. Sócrates era um homem perdido, no lugar errado à hora errada, mas que por cer-to, por outra construção dos astros, poderia ter sido a correcta, estando neste exacto momento a apanhar as rosas da sua consagração. Não se havia preparado para esta disenteria. Para este abandono.

Agora era um homem de ninguém, nem da esquerda, nem da direita. Nem dos que buscam uma saída ou uma qualquer conclusão de auto-nomia. Também não era dos que sonham com o futuro, com a independência, nem dos que sendo portugueses adoravam, em nome de uma região, defrontar e derrotar Portugal num está-dio de futebol. Este resto de homem já não é, nem dele próprio.

O novo galo, que deverá ser tão velhaco quanto este seu antecessor, porque bom baila-rino, consta que também não irá ser, nem dele próprio, não sabendo dirigir o comboio destru-ído. Tal como aconteceu em tempos com Ca-vaco Silva, agora el presidente, ao debruçar-se sobre uma maldita fatia de Bolo Rei, necessitará de ajuda de terceiros, para que lhe sacudam o lombo. No entanto, soube safar-se na mente de cada votante seu, com a argumentação da in-coerência do eleitorado e do estado das coisas.

Um moço de recados {ouvido na rádio da boca de cidadãos com nomes falsos}

Mas Sócrates não. Sócrates ficou sem o menino nos braços quando já sonhava com a adopção. Para já vem a dor de cabeça do “dia seguinte”. A desintegração do seu Governo cheio de gen-te insatisfeita e de buracos. Coisas daqui e dali, qual manta de retalhos. Depois a obrigatorieda-de de trazer de volta os despojos de toda uma campanha sem sequer poder fechar a luz. Nem aos militares na caserna, nem às adolescentes transvertidas.

Sócrates, o camarada, quando precisar de um momento calmo, agora, ou de um cantinho com boa música, solarengo e bem cuidado, já sabe, terá de apanhar um avião para bem longe. O seu país já não o quer.

O medo maiorOs homens também têm receios, caso não

vos tenha passado semelhante visão pela cabe-ça, os homens têm realmente receios grandes. Ao acender um cigarro o homem capacita-se da figura máscula a quem é permitido inclusive coçar os testículos em público. O cigarro torna macho o pequenote imberbe. Ao acender um cigarro uma mulher pode evitar uma conver-sa que não domine, apresentar uma imagem irrealmente segura, mas não aproveita em cir-cunstância alguma, pública, para coçar o que não tem, até porque se coçasse o que tem ra-pidamente era tomada por uma prostituta em busca de contrato verbal. Os homens têm re-ceios como qualquer animal do reino, excep-tuando a Orca, o Tubarão Branco e a Sucuri - igualmente conhecida por Anaconda. Quando os homens têm à sua frente uma bela mulher, estendida numa cama, despida numa cama, os homens receiam falhar e interromper a comu-nicação aberta das partes (emissor) para o cére-bro (receptor), estando acima ainda, e a salvo, da acção pretendida. Os homens não admitem falhar, sendo a falha, entenda-se nesta altura, não conseguir manter estável uma edificação. Quando os homens descem, naqueles segundos anteriores ao contacto cutâneo com a mulher

despida, imaginam uma quantidade imensa de absurdas possibilidades.

Depende«Agora imagina a maneira como avança o

estado da nossa natureza relativamente à ins-trução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão lá desde a infância, de pernas e pescoço acor-rentados, não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles porque as correntes não lhes permitem voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um peque-no muro, semelhante às divisórias que os apre-sentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objectos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda a espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham al-guma vez visto, de si mesmos e dos seus com-panheiros, mais do que as sombras projectadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica de fronte?»

Dizia ele.

Póquer e outros jogosWritten by mister Bob Dylan: “O Chand-

ler disse-me uma vez: ‘Tens de aprender a fazer bluff. Nunca hás-de vencer neste jogo se não o fizeres. Às vezes é preciso ser-se apanhado a fazer bluff. É uma ajuda para quando se tiver uma mão forte e se quiser que os outros jogado-res pensem que provavelmente estamos a fazer bluff’.

Page 15: h - Suplemento do Hoje Macau #12

h15

3 6

2011À S U P E R F Í C I E

António MR MARtins

ANSIÃO É UMA VILA PORTUGUESA, SEDE DE CONCELHO, DO DISTRITO

DE LEIRIA, LOCALIZADA NO CORAÇÃO DO MACIÇO DE SICÓ, EM PLENA REGIÃO CENTRO DO PAÍS, COM BONS ACESSOS RODOVIÁRIOS, ENTRE SIMILAR DISTÂNCIA DE LEIRIA (46 KM) E COIMBRA (45 KM).Venha-se de norte ou sul, a melhor alternativa é apanhar a A1, cortar no nó de Pombal e seguir 20 km, pelo IC8, onde se vislumbrará a Serra de Sicó, em toda as suas majestosas grandiosidade e beleza. Existem outras vias complementares e alternativas, como, por exemplo, o IC3, onde se liga Condeixa--a-Nova a Setúbal e nas proximidades os, possíveis, itinerários feitos a partir dos IC1 e IC2.Este concelho é composto pelas seguintes freguesias: Ansião, Alvorge, Avelar, Chão de Couce, Lagarteira, Pousaflores, Santiago da Guarda e Torre de Vale de Todos. Possui o seguinte património: - Religioso: Igreja Ma-triz de Ansião, Capela da Constantina, Igreja Matriz de Alvorge, Capela da Misericórdia de Alvorge, Ca-pela da Ateanha, Igreja N. Srª. da Graça, Igreja Ma-triz de Santiago da Guarda, Igreja de S. Domingos, Capela da N. Srª. da Guia, Igreja Matriz de Chão de Couce, Capela N. Srª. do Pranto e Igreja N. Srª. das Neves. - Militar: Solar dos Condes de Castelo Melhor e Ru-ínas da Torre da Ladeia. - Civil: Ponte da Cal e Ponte do Marquinho, Quinta de Cima e Forno Medieval de Avelar. - Moinhos de Vento: Serra do Anjo da Guarda (Pou-saflores), Melriça (Santiago da Guarda) e Outeiro (Alvorge). Miradouros: Quartinho (Chão de Cou-ce), Serra do Anjo da Guarda (Pousaflores), Melriça (Santiago da Guarda) e Outeiro (Alvorge).A ímpar característica e genuidade de Ansião, salta à vista de quem a visita, pela particularidade que assu-me cada uma das suas vias e do seu traçado geral, que ora está sofrendo consideráveis melhorias, no âmbito do seu pólo central, onde se localiza o edifício da Câmara Municipal, na Praça do Município, edifício dos Correios, Biblioteca Municipal, Igreja Matriz e

o seu principal pólo de comércio, em geral. É uma autêntica história viva e permanente. O aspecto religioso tem enorme relevância no ínti-mo dos ansianenses e, nesse contexto, se reflecte o calendário de festas e romarias, celebradas em honra dos vários santos padroeiros e protectores das res-pectivas localidades do concelho. Embora essa tradi-ção já não tenha a força e o rigor de outras épocas, estes eventos são motivo para se poderem estabele-cer sãos convívios populares e o condimento essen-cial para que se concretizem afáveis reuniões entre familiares e amigos, que no seu quotidiano não têm essa possibilidade, apesar da vida, nesta vila, com algo de ruralidade intrínseco, seja bem diferente das grandes e médias cidades, onde se procede à prova dos diversos petiscos e bebidas da região. A 3km de distância encontra-se a sua zona industrial, Parque Empresarial do Camporês, onde existem várias em-presas fabricantes, dos mais variados ramos e produ-tos, e o seu novel Centro de Negócios, local propício à efectivação de feiras locais, exposições, colóquios, palestras, congressos e muitas outras actividades pos-síveis neste relevante espaço.Para além destas referências o concelho possui todos os elementos para que nele se possa viver condig-namente, com o recurso aos necessários apetrechos para que tal aconteça. Existem diversos serviços pú-blicos, escolas, centros de saúde, farmácias e biblio-tecas e também vários locais de lazer, tais como: - Cinema, piscina, parque de campismo, jardins e campo de futebol, entre outros.Não muito distantes de Ansião, mais locais de enor-me interesse turístico aguardam pela presença de quem pretender usufruir de bons momentos de des-canso e empatia com a natureza, sendo próprios para lazer e devendo ser frequentados, representando, por isso, uma mais-valia para quem é visitante e para a re-gião em si. Na zona envolvente encontram-se, igual-mente, algumas praias fluviais e o litoral encontra-se, igualmente, muito perto.Nestes tempos, em que a crise nos aperta os sentidos e nos esvazia os bolsos, Ansião, e seu concelho, são um pretexto excelente para se fazerem agradáveis e reconfortantes férias, cá dentro!...

ANSIÃO, UMA VILAONDE TAMBÉM SE VIVE

Page 16: h - Suplemento do Hoje Macau #12