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H6 Especial SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO
‘O SETORMAISCRÍTICO É OPORTUÁRIO’
Fóruns Estadão BRASIL COMPETITIVO
Presidente da CNI aponta perda decompetitividade do produto brasileiro
Robson Braga de Andrade
WILSON PEDROSA/AE-16/3/2012
Entrevista✽
Carlos DiasESPECIAL PARA O ESTADO
“Oproduto na-cional já per-de competiti-vidade frenteao concorren-te estrangei-
ro”, alerta o presidente da Confede-ração Nacional da Indústria (CNI),Robson Braga de Andrade. “Umexemplo é a soja, que no campo temexcelente preço, mas que, por contados fretes, chega à Europa e à Chinamais cara do que a produzida nosEstados Unidos.” Em entrevista aoEstado, ele defende medidas urgen-tes para resolver os problemas da in-fraestrutura.
● Na sua avaliação, quais hoje são osreais nós da infraestrutura no Brasil?O Brasil tem problemas em todas asáreas de logística, desde ferrovias,que por muito tempo ficaram aban-donadas, até portos e aeroportos,passando pelas rodovias. Num paísde dimensões continentais, com po-los produtores nas cinco regiõesgeográficas, movimentação internade produtos para abastecer o merca-do consumidor e exportações cres-centes, uma logística que funcionee seja barata é fundamental para ga-rantir o abastecimento e criar com-petitividade frente aos concorren-tes estrangeiros. O setor mais críti-co talvez seja o portuário. O decre-to 6.620, de 2008, é um freio ao in-vestimento privado nesse setor. Is-so tem de ser mudado, porque o in-vestimento privado é fundamentalpara recuperar os portos. Outro pro-blema desse setor é a administraçãopública, que é ruim. É preciso pas-sar a administração dos portos paraempresas privadas, que têm mais ca-pacidade gerencial. Outro gargalodesse setor importante de mencio-nar é o acesso terrestre, que é defi-ciente na maioria dos portos. Naquestão ferroviária, nossa malha épequena se comparada a países de-senvolvidos e outros em desenvolvi-mento. São quatro quilômetros detrilhos por mil quilômetros quadra-dos de território, frente a 21 nos Es-tados Unidos e na Índia, por exem-plo. Os aeroportos não receberaminvestimentos proporcionais ao au-mento da demanda, tanto de passa-geiros quanto de transporte de car-gas. As rodovias que não foram con-cedidas à iniciativa privada têm qua-lidade péssima ou ruim.
● De que forma resolver esses entra-ves na velocidade necessária?Precisaríamos ter a questão logísti-ca resolvida para ontem, porque oproduto nacional já perde competiti-vidade hoje frente ao concorrenteestrangeiro. Um exemplo é a soja,que no campo tem excelente preço,graças aos investimentos dos produ-tores em tecnologia e em máquinase implementos agrícolas, mas que,por conta dos fretes, chega à Euro-pa e à China mais cara do que a pro-duzida nos Estados Unidos. Aqui, otransporte chega a representar 28%do custo total da tonelada da soja,ante 15% nos Estados Unidos. Preci-samos de estratégia, de pesados in-vestimentos e de maior participa-ção da iniciativa privada. O Estado
não tem condições de investir sozinhoo tanto que o setor precisa, que seriaem torno de 5% do PIB ao ano. Por is-so, aumentar o número de concessõesàs empresas, em todos os setores, éfundamental para garantir capacidadede investimento e também concorrên-cia na operação, o que reduz preços.No setor portuário, por exemplo, espe-ramos que haja a reformulação do de-creto 6.620 e o início da concessão dasadministrações dos portos.
● Qual a sua avaliação do PAC 2? Quaisforam os avanços e o que ainda não foicontemplado?O PAC 2 é, sem dúvida, muito impor-tante e continua avançando, mas é pre-ciso ressaltar que a velocidade delenão é suficiente para resolver os pro-blemas logísticos. A burocracia e a ges-tão pública deficiente travam os avan-ços do programa. O PAC 2 tem 400obras, então não adianta falar do quenão foi contemplado, mas sim realizaraquilo que foi planejado. Precisa ser da-da prioridade para os portos e usar es-tratégia, para investir primeiro nosprojetos que darão maior retorno.
● Qual é a situação dos portos e o queachou da proposta de uma agência parao setor?Um dos problemas do setor dos trans-portes é a segmentação: são muitos ór-gãos de governo para um só setor. Porisso, não acreditamos que uma agên-cia própria para os portos seja o me-lhor caminho, até porque a Antaq temcondições de regulá-los. Acho impor-tante pensar o transporte do ponto deorigem até o final, pensando na cadeialogística. Quanto mais segmentado,menos se pensa de forma integrada.
● No setor elétrico, há risco de apagãose a economia voltar a crescer?No momento, acredito que não. Os re-servatórios das hidrelétricas estão emníveis até certo ponto confortáveis eas térmicas a óleo e a gás estão pron-tas para serem usadas. A Empresa dePesquisa Energética (EPE) tem um pla-nejamento eficiente e a execução nosetor é boa, existem prazos para en-trar energia nova. Quando há descum-primento de prazos, providências sãotomadas. Além disso, temos um siste-ma de linhas de transmissão reforça-do, fruto de investimentos corretos ede leilões bem feitos. Na verdade, oproblema do setor elétrico não é deabastecimento, é de preço. E esse pro-blema está sendo resolvido com o no-vo pacote.
● Nas rodovias, o que falta fazer e qual omodelo ideal de pedágios: pela menortarifa, como está fazendo o governo Dil-ma, ou pelo investimento, como na ges-tão FHC e no modelo paulista?As rodovias precisam de projetos bemfeitos para tocar o pacote que foi lança-do. O pacote é muito grande, basta ci-tar que vai se conceder à iniciativa pri-vada 56% a mais do que já foi concedi-do até hoje. Qualquer que seja a mode-lagem adotada pelo governo, que vaiser estudada caso a caso, tem de sercumprida pelas empresas que ganha-rem os contratos. E, nas rodovias quecontinuarem sob administração públi-ca, será preciso melhorar a qualidadedos projetos e a gestão.
● Quais PPPs em infraestrutura têmmais chance de sucesso?
As PPPs se aplicam aos setores que ogoverno quer transferir para a iniciati-va privada, mas que não têm viabilida-de econômica total para isso. A recen-te medida provisória do projeto dePPPs dá mais fôlego para que Estadose municípios façam as parcerias, por-que, entre outras coisas, aumenta de3% para 5% o limite de comprometi-mento do orçamento com PPPs. A ela-boração de projetos e a modelagem decontratos de PPPs são muito maiscomplexas do que as concessões, por-que exige a contrapartida do Estado. OBrasil ainda está aprendendo a fazerPPPs. A própria administração portuá-ria pode ser pela criação de uma em-presa de propósito específico sob umcontrato de PPP, assim como investi-mentos em saneamento básico tam-bém têm boa possibilidade de atuarsob PPPs.
● Estudam-se várias formas de financia-mento para as PPPs, como por exemplo a captação de recursos via debênturesou papéis similares. Qual é a sua avalia-ção destes mecanismos?É um mecanismo muito importante. OBrasil tem um mercado de debênturesincipiente ainda, mas já tem uma novaregulamentação, que deve impulsio-nar o setor. É uma forma eficiente decaptação de recursos para investimen-tos em infraestrutura.
● A criação da EPL é um avanço?Com certeza, é um avanço. Aliás, é al-go que foi demandado pela CNI e queo governo atendeu. A nossa expectati-va é que, uma vez em funcionamento,a EPL tenha condições de priorizar aaplicação dos recursos disponíveis pormeio do melhor planejamento estraté-gico, do estudo de qual investimentotrará maiores ganhos e em menor tem-po. Não basta construir uma rodoviado nada a lugar algum, tem de cons-truir onde vai ajudar mais no escoa-mento da produção. Às vezes, R$ 10 mi-lhões num trevo de acesso pode signifi-car uma melhora maior do que R$ 100milhões numa estrada nova. Para issoé que serve o planejamento, para racio-nalizar e priorizar o uso dos recursosdisponíveis.
● O Brasil tem hoje mão de obra especia-lizada (engenheiros, por exemplo) e em-preiteiras capazes de viabilizar os proje-tos em tempo hábil?Temos empresas nacionais habilita-das, que fazem obras complexas nomundo todo. A engenharia brasileira éde nível internacional e assim é reco-nhecida mundialmente. Mas não pode-mos negar que temos um déficit demão de obra no setor, resultado demuitos anos de um nível baixíssimo deinvestimentos. Retomar isso de umahora para outra não é trivial. O Senai
cumpre um papel fundamental nis-so, formando profissionais de níveltécnico altamente capacitados. Masformar o número de trabalhadoresde que o mercado necessita levatempo. Essa questão será tema doterceiro fórum de debates que aAgência Estado e o Estadão estãopromovendo com o apoio da CNI.
● Qual é a sua avaliação dos custosdas obras que estão por vir em rela-ção às rodovias e ferrovias, especifica-mente?Esses custos seguem uma lógica demercado e obedecem o que for esta-belecido nas licitações que o gover-no fizer.
● Em relação aos aeroportos, o mode-lo previsto para Confins, Tom Jobim eGuarulhos pode ser repensado paraaeroportos menores?Estamos esperando, com o pacotede portos, o de aeroportos. A ques-tão central é passar a administraçãodos aeroportos à iniciativa privada,profissionalizar a gestão. Aeropor-tos menores podem atuar sob o mo-delo de PPPs ou até continuar sob aadministração do governo. Não háviabilidade econômica para os ex-plorar comercialmente. É preciso re-ver os projetos e a gestão que o go-verno faz desses aeroportos.
Urgência. ‘Precisaríamos ter a questão logística resolvida para ontem’, afirma Robson Braga de Andrade
Presidente da CNI
✽ Engenheiro mecânico pela Universi-dade Federal de Minas Gerais(UFMG), o empresário também presi-
de a Orteng, com sede em Contagem(MG), que produz equipamentos paraenergia, petróleo, gás, mineração,siderurgia, saneamento, telecomuni-cações e transportes.