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Profª. Sonia Pardim A Arte Egípcia e Mesopotâmica As primeiras grandes civilizações surgiram aproximadamente na mesma época, em torno de 3.500 a.Catravessando de forma sutil o Neolítico para a Antiguidade. Egito e Mesopotâmia – milenares civilizações já descritas nos primeiros relatos bíblicos - tiveram em seu posicionamento geográfico a definição de sua história. A estreita faixa fértil às margens do Nilo era protegida por amplas regiões desérticas e a noção de divindade legada ao faraó possibilitou uma história e forma de governo homogênias. A forte religião egípcia, agregadora de toda a cultura, possibilitou uma arte milenar e imutável. A Mesopotâmia, vale entre os rios Tigre e Eufrates, designada assim pelos gregos (Gombrich, 1983), apresentava poucas defesas naturais, tornando-se vulnerável pela grande quantidade de afluentes, o que possibilitou a sucessão de governos (e povos) diferenciados. Sumérios, acádios, assírios, babilônicos, persas sucederam-se desde a Pré-História até o século IV a.C. assemelhando-se por ser eminentemente guerreiros e produzindo uma arte que refletiu tanto o temor e adaptação a um ambiente inóspito como suas conquistas de guerra. A Arte Egípcia A arte egípcia tem uma importância fundamental na cultura ocidental, posto que fosse referência estética de vários povos, incluindo os gregos. Suas características essenciais ligam-se à religião – principalmente à imortalidade da alma (o ka) – e à glorificação do faraó – também visto como ser divinizado. A complexidade da vida social, que produz um novo tipo de economia e divisão de trabalho, converte o artista em artífice, profissional especializado e não mais um mágico inspirado (Hauser, 1982). Seu trabalho, agora, apesar de essencial nos ritos religiosos, é considerado tão importante quanto o do sapateiro ou oleiro e recebe orientações rigorosas sobre como fazê-lo. Toda a arte egípcia é baseada em cânones (regras tradicionais e rigorosas) o que a conserva em uma imutabilidade

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Profª. Sonia Pardim

A Arte Egípcia e Mesopotâmica

As primeiras grandes civilizações surgiram aproximadamente na mesma época, em torno de 3.500 a.Catravessando de forma sutil o Neolítico para a Antiguidade. Egito e Mesopotâmia – milenares civilizações já descritas nos primeiros relatos bíblicos - tiveram em seu posicionamento geográfico a definição de sua história. A estreita faixa fértil às margens do Nilo era protegida por amplas regiões desérticas e a noção de divindade legada ao faraó possibilitou uma história e forma de governo homogênias. A forte religião egípcia, agregadora de toda a cultura, possibilitou uma arte milenar e imutável. A Mesopotâmia, vale entre os rios Tigre e Eufrates, designada assim pelos gregos (Gombrich, 1983), apresentava poucas defesas naturais, tornando-se vulnerável pela grande quantidade de afluentes, o que possibilitou a sucessão de governos (e povos) diferenciados. Sumérios, acádios, assírios, babilônicos, persas sucederam-se desde a Pré-História até o século IV a.C. assemelhando-se por ser eminentemente guerreiros e produzindo uma arte que refletiu tanto o temor e adaptação a um ambiente inóspito como suas conquistas de guerra.

A Arte Egípcia

A arte egípcia tem uma importância fundamental na cultura ocidental, posto que fosse referência estética de vários povos, incluindo os gregos. Suas características essenciais ligam-se à religião – principalmente à imortalidade da alma (o ka) – e à glorificação do faraó – também visto como ser divinizado. A complexidade da vida social, que produz um novo tipo de economia e divisão de trabalho, converte o artista em artífice, profissional especializado e não mais um mágico inspirado (Hauser, 1982). Seu trabalho, agora, apesar de essencial nos ritos religiosos, é considerado tão importante quanto o do sapateiro ou oleiro e recebe orientações rigorosas sobre como fazê-lo. Toda a arte egípcia é baseada em cânones (regras tradicionais e rigorosas) o que a conserva em uma imutabilidade de aproximadamente 3.000 anos, com exceção de um breve período de modificações artísticas no Novo Império, inaugurado por Akhenaton. Mas não é, de maneira alguma, uma arte monótona: “As regras que governam toda a arte egípcia conferem a cada obra individual o efeito de equilíbrio, estabilidade e austera harmonia” 1.

Breve Cronologia

Pré-dinástico (até cerca de 3.000a.C) – período de unificação das “Duas Terras”, o Delta e o Vale do Nilo, realizado pelo rei Narmer (provavelmente Menés – fundador mítico do Egito).

1 Gombrich,... p. 38

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Arcaico (3.000 a 2.660a.C) – surge a escrita hieroglífica – paleta de Narmer, que celebra a unificação (encontra-se no Museu do Cairo) é considerada a mais antiga obra de arte após a Pré-História.

Império Antigo (2660 a 2180 a.C) – período glorioso para os faraós e sua arte, início das construções em pedra com a pirâmide de Sakara, do rei Djorser, projetada por Imhotep e, na IV dinastia, as pirâmides (necrópole) de Gisé.

1º Período Intermediário (2180 a 2040 a.C) – declínio do faraó e da arte.

Império Médio (2040 a 1780) consolidação e centralização do poder do faraó. Culto oficial ao deus Amon. Textos dos sarcófagos (texto de caráter mágico inscrito nos sarcófagos de altos funcionários). Renascimento artístico – estatuária real com arte nos retratos (ver Sanuseret III) e Amenembat III. Fase clássica da arte egípcia.

2ª Período Intermediário (1780 a 1560 a.C) – invasão dos hictos – enfraquecimento real.

Novo Império – (1560 a 1070 a.C.) – período de ascensão. Rainha Hatchepsut – governa no lugar de Tutmes III seu sobrinho, que era menor de idade (templo da Rainha Hatchepsut). - Amen-Hotep, ou Amenófis IV, rei da XVIII dinastia – determina o culto a Aton e troca o nome para Akhenaton.- Tutankhamon, restabelece o culto a Amon – seu túmulo foi encontrado em 1922, no Vale dos Reis.- Ramsés II – XIX dinastia, marca o fim de um período de equilíbrio político - templo de Abu-Simbel

3º Período Intermediário (1070 a 664 a.C.) – período de invasões e divisões territoriais, porém manteve-se a qualidade artística funerária.

Baixo Império (664 a 332 a.C.) – ascensão do poder faraônico e produção de importantes esculturas, utilização do bronze, até o domínio de Alexandre, o Grande, e a fundação de Alexandria.

Período Greco-Romano ou Egito Helênico (332a.C a 30 d.C) – governo de Alexandre e seus sucessores até 305a.C, após este período se inicia a dinastia fundada por Ptolomeu, grande desenvolvimento cultural (fig. 1) em torno da nova capital, Alexandria. Após 30 d.C., o Egito torna-se parte do Império Romano, na forma de província. A partir de 395 d.C, passa a fazer parte do Império Bizantino.

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Figura 1 Retrato de um Faraó – relevo.

Princípio da época ptolomaica (305-200 a.C.).

Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa)

Arquitetura

A preservação do corpo para a existência da alma após a morte através do complexo sistema de mumificação foi o objetivo máximo da sociedade egípcia. A partir dela, desenvolveu-se a medicina, as artes, artefatos e, de forma peculiar, a arquitetura dos túmulos. A alta aristocracia mantinha sepulcros que propiciavam a manutenção do ka, conservando objetos, miniaturas, alimentos, esculturas, afrescos e relevos essenciais aos ritos funerários. Esses primeiros sepulcros eram as mastabas, espécie de bloco trapezoidal erguido sobre câmara subterrânea. O grande arquiteto, divinizado ainda em vida, Imhotep construiu a primeira pirâmide escalonada sobre uma mastaba – a pirâmide de Zorzer, em Sacara, em aproximadamente 2600 a.C. A nova volumetria, que se assemelha à concepção geral de pirâmide, não é a única inovação do arquiteto: a utilização de cantaria (pedras talhadas com precisão) e meias-colunas com capitéis adornados em forma de papiros (papiriformes) também são invenções de Imhotep, as quais tornaram-se base da arquitetura não apenas egípcia.

Figura. 2 Imhotep (arquiteto) Pirâmide em degraus do rei Zozer (Djozer), Terceira Dinastia (c. 2600a.C).

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As pirâmides do deserto de Gizé formam a mais importante necrópole conhecida. Foram edificadas durante a Quarta Dinastia do Antigo Império pelos faraós Quéops (c. 2.530 a.C), Quéfren (c. 2.500 a.C) e Miquerinos (2.470 a.C.). Junto a essas três pirâmides encontram-se mastabas e a esfinge mais conhecida do Egito, que provavelmente representa o faraó Quéfren. A Grande Pirâmide (do Faraó Quéops) de 146 metrodabase ao vértice foi considerada a mais alta construção do mundo por aproximadamente 4 mil anos. Foi erguida por cem mil homens por vinte anos e a sua precisão é surpreendente, cada lado está alinhado com um ponto cardealea Câmara Real encontra-se no meio da edificação, a 42 metros de altura. Durante os governos de Quéfren e Miquerinos foram erguidas as pirâmides que levam seus nomes (Oliveira, 2001).

Figura 3 Necrópole de Gisé. IV Dinastia do Império Antigo

Obras para a eternidade

Os primeiros tempos da civilização egípcia foram testemunhas de ritos fúnebres perversos, os quais escravos eram enterrados junto ao faraó para servi-lo na eternidade. Aquarta Dinastia do Antigo Império, período das belas pirâmides, substitui esse hábito por uma imensa quantidade de obras de arte que preservavam a memória dos feitos e riquezas do morto. Objetos de ourivesaria e vidro, miniaturas diversas, maquetes, maquiagens e espelhos permaneciam nas câmaras mortuárias pela eternidade, ou melhor, até chegarem os saqueadores de tumbas.A imagem do faraó na forma de escultura também era essencial para a jornada do ka. A escultura egípcia ligava-se ao retrato, porém de forma muito impessoal, realmente hierática. A rigidez da escultura não diminuía a beleza das proporções e detalhes. É fácil perceber a harmonia formal que influenciará a escultura arcaica dos gregos no retrato de Miquerinos e a Rainha (fig.4): a absoluta frontalidade, as formas sugeridas pela transparência dos tecidos, a unidade entre os membros e o corpo e a perna esquerda à frente como indicação de movimento. Os escribas (fig. 5) também eram representados, em constante postura de cócoras, rosto erguido, escritos apoiados

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sobre as pernas – não demonstram submissão de um funcionário, mas um “mestre das letras sagradas e ocultas” (Janson, 1992).

Finalmente chegamos às representações bidimensionais. Todos os afrescos, relevos e pinturas em livros demonstram uma riqueza de detalhamento e narração – os desenhos “contam” as histórias relacionadas ao morto sendo acompanhados, normalmente, de hieróglifos. Os animais são apresentados de forma natural e em movimento – ainda hoje zoólogos podem reconhecer cada espécie (Gombrich, 1992). A figura humana oferece uma visualidade única, conhecida por Lei da Frontalidade: cabeça de perfil, olho de frente, tórax e braços de frente, pernas de lado vistas pelo lado de dentro, isto é, pelo ângulo do dedão. A finalidade mágica dessas representações, ligada aos ritos fúnebres, explicam essa caracterização como a maneira mais imediata de perceber as partes do corpo, sem deformações pelo escorço (perspectiva da figura humana). O tamanho das figuras também tem caráter simbólico, ligado à hierarquia. Observe estas características na fig. 6

Figura 6 Fragmento de afresco da tumba de Nebamum (c. 1350 a.C). British Museum (Londres).

Figura 5 Miquerinos e a Rainha (c. 2470a.C). Xisto, alt. 1,40 m. Museum of

Fine Arts (Boston).

Figura 4 Escriba Sentado. ( C. 2400 a. C). Calcário, alt. 0,53 m. Louvre (Paris).

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Podemos pensar que cada desenho criado por artista egípcio contém uma historieta como essa, assim como podemos perceber que ao longo de quase três mil anos a forma de representação segue-se intacta, regida por regras determinadas e imutáveis, mas que conferem equilíbrio e harmonia à arte egípcia como um todo e a cada obra em sua individualidade. Essa imutabilidade, porém, foi quebrada na 18ª Dinastia do Novo Reino, cerca de 1.370 a.C., com o reinado de Amenófis IV um adorador do deus Aton e que autointitulou-se Akhnaton. Talvez a partir de influências estrangeiras, as representações do período tornaram-se muito naturalistas, fugindo à representação tradicional. Podemos observar seu retrato (fig. 7) como a esfinge de um homem feio, e não com a solenidade imposta aos retratos reais. Por outro lado, vemos a delicadeza absoluta de Nefertiti (fig. 8), esposa de Akhnaton, “o mais belo perfil da história da arte”.

Um pouco deste naturalismo se perpetua no período de seu sucessor, Tutankamon. Faraó falecido jovem teve a importância de voltar o culto ao deus Amon, politeísta, e tornou-se conhecido nos dias de hoje por seu túmulo ter sido descoberto intacto no início do século XX. Toda a riqueza que o nosso imaginário liga à uma Câmara Real encontrava-se plenamente, desde o ataúde de ouro de mais de cem quilos, à perfeita máscara mortuária (fig. 9) e às pinturas e relevos que – registrando uma revolução artística – precediam a divisões e invasões territoriais que viriam a findar com imutabilidade da civilização egípcia.

Figura 7 Retrato de Akhenaton (c.. 1360 a. C.). Calcário, alt. 0,08m.

Museu do Estado (Berlim)

Figura 8 A Rainha Nefertiti (c. 1360 a.C.). Calcário policromado, alt. 0,51m. Museu Egípcio (Cairo).

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Figura 2.1. 9 Máscara Mortuária de Tutankamon (c.1323a.C.).

Museu Egípcio (Cairo)

A Arte Mesopotâmica

A escassez de pedras para construções propiciou a variada utilização do barro como adobe e terracota para a confecção de utilitários, esculturas, tábuas para a escrita cuneiforme (fig. 10) e principalmente a arquitetura. A fragilidade do material nos legou poucos exemplares da arte e da arquitetura mesopotâmica, em comparação com povos que utilizaram materiais mais resistentes.

Os sumérios foram os primeiros a dominar o vale mesopotâmico legando aos seus sucessores princípios e elementos artísticos. Crentes em deuses locais ligados às forças da natureza, desenvolveram um sistema econômico conhecido por “socialismo teocrático” (Janson, 1992 ), cidades-estado bastante organizadas urbanisticamente e centralizadas no templo. Esses templos eram os “Zigurates”, que chegavam atingiram a altura de colinas, elevações essenciais para a prática da fé, em uma região de planícies (Janson, 1992). O Velho Testamento descreve a Torre de Babel, provavelmente o zigurate Etemenanki, que significa “casa sobre a qual se erguem o céu e a terra”. Foi erigido no século XIX a.C. e destruído por Alexandre, o Grande. Segundo

Figura 10 Texto cuneiforme de teor jurídico-administrativo (c.2300 a.C).

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documentos antigos, tinha aproximadamente noventa metros de altura, sete patamares e revestimento vitrificado. Ficou sua representação fantasiosa pelo pincel do renascentista Brueguel (fig.11)

Figura 11 Pieter Brueghel, A Torre de Babel (1563) Kunsthistorisches Museum Wien (Viena).

Em ruínas, subsiste outro zigurate, construído cerca de 3.000a.C., erguido em Warka, a cidade sumeriana de Uruk. Escadarias e rampas conduzem à plataforma onde foi erigido o Templo Branco (fig. 12), referência a sua fachada de tijolos caiados.

Durante os 2.500 anos seguintes, os zigurates foram crescendo em altura, cada vez mais semelhantes a torres de múltiplos andares decrescentes. A entrada se dava lateralmente à fachada, de frente à escadaria de acesso, a qual contornava o edifício em uma espiral angulosa (Janson, 1992). Em Ur, cerca de 2.500a.C. restou um andar, de cerca de 16 metros de altura, bastante conservado – o que nos permite observar a complexidade da construção. É o zigurate do rei Urnammu. A cella era a principal sala do zigurate, onde ficavam as esculturas de deuses (e não representações de deuses) e de substitutos dos fiéis. Toda a escultura suméria caracterizava-se pela simplificação geométrica do corpo (baseadas no cilindro e cone) e imensos olhos, antigamente incrustados de pedrarias (fig. 13).

Figura 12 Templo Branco de Uruk – (c. 3500 - 3000 a.C) Warka, Iraque.

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Figura 13 – Grupo escultórico de Tell Asmar (Templo de Abu), c. 2700 – 2500 a.C.. Museu do Iraque,

Os primeiros reis sumérios eram sepultados com seus escravos e tesouros. O fragmento de uma harpa (fig. 14) foi encontrado em um desses túmulos em Ur e nos revela artífices requintados. Imagens de uma mitologia animista já perdida nos tempos são definidas por desenhos detalhados de animais sobre duas patas que executam tarefas humanas como tocar instrumentos e carregar objetos.

Figura 14 Harpa Suméria (2500 A.C)., Museu da Universidade de Filadélfia (Filadélfia).

Os sumérios forma substituídos pelos acadianos, povo que glorificava o seu soberano. A cabeça em bronze (fig.15) de um soberano acadiano exemplifica a majestade e ao mesmo tempo o detalhamento retratístico dados à escultura real. Os feitos de guerra foram enaltecidos em relevos, como o de Naran-Sin (fig. 16), no qual o rei, com uma coroa de chifres, trucida os inimigos. As antigas crenças no poder das imagens, e, portanto a permanência das vitórias, pode ter levado a este tipo de representação (Gombrich, 1983).

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O segundo milênio foi marcado pela dinastia babilônica, tendo Hamurabi como seu fundador. O seu código (fig. 17) é o mais antigo rol de leis e está gravado em uma estela de diorite (pedra extremamente rígida). Através do código conhecemos o papel social do artista mesopotâmico ao se referir ao arquiteto (mestre de obras) e ao escultor da mesma forma que ao sapateiro e ao ferreiro (Hauser, 1982). Encabeçando o código encontra-se o alto relevo representando Hamurabi em pé diante do deus Shamash.

Figura 17 Parte superior da Estela do Código de Hamurabi. (c. 1760a.C). Museu do Louvre (Paris).

Os assírios ascenderam tendo como inspiração os modelos sumerianos de arquitetura. Os palácios atingiram dimensões e riquezas exageradas. Apenas um deles, o de Sargão II, da segunda metade do século VIII a.C., permite uma reconstituição aproximada. Estava isolado do centro urbano, numa cidadela de muralhas torreadas, apenas com duas portas, ladeadas por touros alados com cabeças humanas, esculpidas em relevos (fig. 18). Essas figuras, cujo fim era impedir a entrada das forças do mal, demonstram uma atenção minuciosa com o detalhe linear, talvez um artifício, mas que em escala gigantesca, produz um efeito poderoso. Apresentam cinco pernas –

Figura 15 Retrato de um soberano acadiano. Nínive (c. 2300 – 2200 a.C.) Museu do Iraque (Bagdá).

Figura 16 Estela da Vitoria do Rei Naram-Sin Acadiano (c. 2200 a. C.). Museu do Louvre (Paris).

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duas em repouso, se vistas de frente; quatro em movimento, se vistas de lado. Dentro do palácio, uma série de relevos ilustrando as conquistas militares reforça a impressão de poder.

Figura 18 Touro alado do Palácio de Sargão II. Museu do Louvre (Paris).

São os neobabilônios que passam a usar largamente o tijolo vitrificado e queimado, utilizando cores vivas e animais graciosos. Podemos observar o Portão de Ishtar (fig. 19), construído durante o reinado de Nabucodonosor, e reconstruído no Vorderstaatische Museen, Berlim.

Tribos nômades com forte tradição artística em seus objetos, dão origem ao requintado império Persa. Sob o governo de Dario I, Xerxes e Artaxerxes foi erigida a cidade de Persépolis (fig. 20) -séc. VI a C - fruto de influências de diversos povos dominados pelo império, mas que determinam um estilo único. A sala do trono de Dario I apresentava 36 colunas de 12 metros de altura, com fustes canelados ao estilo jônico e capitel de touros. Nas paredes, sóbrios relevos revelam narrativas sobre os reis. Tecidos, ourivesaria e objetos ricamente adornados permanecem com vestígios dos últimos povos mesopotâmicos até o período medieval.

Figura 19 Portão de Ishtar – reconstrução Vorderasiatisches Museum

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Figura 20 Ruínas da cidade de Persépolis - no atual Irã

Para saber mais: 

Livros ou capítulos

História Social da Literatura e da Arte.  A Segunda Parte: “Culturas Urbanas do Oriente Antigo” analisa essa nova classe – a dos artistas e a importância  de sua arte, principalmente  dentro das questões políticas e religiosas. A Terceira Parte: “Grécia e Roma” contextualiza a arte sob uma nova dimensão: a do homem.

Sites 

www.louvre.fr Que tal uma visita ao Museu do Louvre, com direito a percorrer seus corredores e olhar de perto as obras de seu acervo? Na impossibilidade de ir ao museu de verdade, fique com a possibilidade virtual. Para esta Unidade, conheça boa parte do acervo dos departamentos (Collections & Départements): Antiquités orientales – acádios, babilônios, fenícios, hebreus, árabes... obras enigmáticas, exóticas e extremamente antigas do oriente médio. Antiquités égyptiennes – o setor de egiptologia do Louvre é imenso e diversificado. Uma grande parte foi trazida à França por Napoleão Bonaparte fruto de sua expedição ao Egito entre 1798 e 1801.