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UNISALESIANO
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO
SALESIANO AUXILIUM
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Terapia Ocupacional:
Uma Visão Dinâmica em Neurologia
Flavia Stuque Rubio
HABILIDADES SOCIAIS: A RELEVÂNCIA DO INVESTIMENTO DOS PAIS NO PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ASSOCIADA AO TRANSTORNO INVASIVO DO
DESENVOLVIMENTO
LINS – SP 2013
FLAVIA STUQUE RUBIO
HABILIDADES SOCIAIS: A RELEVÂNCIA DO INVESTIMENTO DOS PAIS NO PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES
COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ASSOCIADA AO TRANSTORNO INVASIVO DO
DESENVOLVIMENTO
Monografia apresentada a Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica em neurologia, sob a orientação da Professora Doutora Marisa Takatori
LINS – SP 2013
Rubio, Flavia Stuque
Habilidades sociais: a relevância do investimento dos pais no processo de participação social de adolescentes com deficiência intelectual associada ao transtorno invasivo / Flavia Stuque Rubio – – Lins, 2013.
45p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós- graduação em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica em Neurologia, 2013.
Orientadora: Marisa Takatori 1. Habilidades Sociais. 2. Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento. 3. Socialização. 4. Terapia Ocupacional. 5. Qualidade de Vida. I Título.
CDU 615.851.3
R84h
DEDICATÓRIA
Dedico a Ti Senhor Jesus, por em ti confiar e não esmorecer.
Afinal, quem como Deus? (São Miguel Arcanjo).
Dedico este estudo a todos os pais de pessoas com NEE que possam vir a se
beneficiarem para que possam ter uma qualidade de vida mais saudável, e a
proporcionarem momentos de maior participação social saudáveis a seus
filhos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Maria Madalena Moraes Sant’Anna e a Rosana Silvestre,
carinhosamente chamadas de Madá e de Rô, por disponibilizarem e
acompanharem de forma tão competente a realização da Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica em neurologia, realizada
no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium- UNISALESIANO em Lins,
com a participação de discentes tão reconhecidos e com práticas
enriquecedoras à nossa profissão.
Obrigada à minha orientadora Marisa Takatori por me orientar e
acompanhar nesta trajetória de pesquisa.
Agradeço a DEUS, por estar sempre presente na minha VIDA e ter
permitido que eu agradecesse a todas as pessoas.
Ao meu noivo Bruno por estar fielmente comigo com sua dedicação e
cuidados, dando-me força e “carona” para o cumprimento desta caminhada, TE
AMO imensamente!
Agradeço, aos meus pais, Adirce, Francisco que há sete anos me
prepararam para este voo da pós-graduação. E estendo aqui desculpas a eles
a aos meus irmãos Daniela, Rafael, Vitória e Eduarda (sobrinhas), cunhado
(Reginaldo) e aos meus avós (Paulo e Maria) pelos momentos de ausência.
Em especial à minha Vó Maria, pelo incentivo, e quem ficou tão feliz com
o início desta caminhada, mas que acompanhou o fim dela junto de Deus.
Amarei-te, sempre!
À todos vocês meus familiares, os melhores do mundo, AMO
MUITOOO!!!
Aos meus amigos da Apae-Franca pelo apoio.
RESUMO
As habilidades sociais (HS) se referem às interações sociais saudáveis estabelecidas entre as pessoas, mas não é fácil encontrar apenas uma definição sobre HS. Considerando que adolescentes com Deficiência Intelectual (D.I.) associada ao Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) possuem dificuldades em interagir com as outras pessoas devido ao seu diagnóstico clínico, muitos deles frequentam apenas as escolas especiais e voltam para suas casas, nas quais apenas participam da rotina doméstica, sendo excluídos de frequentarem supermercados, feiras, aniversários na casa de parentes por não saberem se comportarem, etc. Ficando assim notória a ideia de que eles não conseguem se envolver com as outras pessoas, mas devemos nos atentar que pode estar havendo falta de oportunidade a estes adolescentes, e que neste primeiro momento a oportunidade deve partir da família, pois é ela é o primeiro meio social do filho, e é a responsável por apresenta-lo aos demais contextos. O presente estudo visa refletir sobre a importância de a família investir de modo contínuo na participação do seu ente adolescente, que tem Deficiência Intelectual associada ao Transtorno Invasivo do Desenvolvimento ou Transtorno Global do Desenvolvimento, nas situações de atividades cotidianas familiares para favorecer o aprendizado das habilidades sociais; compreender a relevância da participação social dos adolescentes no processo de desenvolvimento e saúde; investigar a relação entre participação nas atividades sociais com a redução dos comportamentos antissociais. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, através de um estudo exploratório com revisão crítica de literatura, por meio de investigação em fontes bibliográficas. Com este estudo conclui-se que é de responsabilidade dos pais ensinar comportamentos habilidosos aos filhos e que eles são exemplos aos filhos. Ainda salientamos a importância da terapia ocupacional em apoiar as famílias a adotarem posturas mais sociáveis com seus filhos, levando-os consigo em seus passeios, compromissos, e ensinando-os a melhor maneira de se comportarem, já que são as referências para seus filhos, propiciando melhor qualidade de vida. Palavras-chave: habilidades sociais, deficiência intelectual e transtornos invasivos do desenvolvimento, participação familiar, terapia ocupacional, qualidade de vida.
ABSTRACT
Social skills is a term used to refer to the social interactions established between people, but it is not easy to find a definition for it. Whereas teenagers with Intellectual Disabilities (ID) associated with Pervasive Developmental Disorder (PDD) have difficulty interacting with other people due to their clinical diagnosis, many of them only attend special schools and return to their homes, where they participate in the domestic routine but are excluded from going to supermarkets, fairs, relatives’ birthdays parties for not knowing how to properly behave in these places. So it is evident that they fail to engage with other people, but we must pay attention whether that may be for the lack of opportunity, so a first opportunity should come from the family as they are the children’s first social contact, and are responsible for introduce them in other contexts. This study shows the importance for the family to continuously provide the participation of teenagers who have Intellectual Disability associated to Pervasive Developmental Disorder in the family activities in order to advance the learning of social skills; understand the relevance of their social participation in the process of development and health; investigate the relationship between participation in social activities with the reduction of antisocial behavior. This research refers to a qualitative approach, through an exploratory study with critical literature review on bibliographic sources. This study concludes that it is the parents' responsibility to teach their children skillful behaviors as they are their children’s models. We also emphasize the importance of occupational therapy in supporting families to adopt more sociable behaviors with their children, taking them on tours, appointments, and teaching them the best way to behave, as they are references to their children, providing better quality of life. Keywords: social skills, intellectual disabilities associated with pervasive developmental disorder, family participation, occupational therapy, quality of life.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAIDD – Associação Americana de Deficiência Intelectual e do
Desenvolvimento
CID 10 – Classificação Internacional de Doenças
CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade
DM – Deficiência Mental
DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
HS – Habilidades Sociais
HSE- P – Habilidades Sociais Educativas Parentais
NEE – Necessidades Educacionais Especiais
OMS – Organização Mundial de Saúde
PAIF – Programa de Atenção à Família
TEA – Transtorno do Espectro do Autismo
TGD – Transtorno Global do Desenvolvimento
TID – Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
LISTA DE QUADRO
Quadro 1– Síntese dos artigos pesquisados
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------- 11
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ----------------------------------------------------------- 15
2.1 Habilidades sociais e sua relevância na participação social -------------------- --- 15
2.2 Adolescentes e contexto sócio familiar ------------------------------------------------- 18
2.3 Deficiência Intelectual e os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento ------ 21
2.4 Participação social: um impacto na saúde --------------------------------------------- 23
3 OBJETIVOS ------------------------------------------------------------------------------------ 25
3.1 Geral ---------------------------------------------------------------------------------------------- 25
3.2 Específico ---------------------------------------------------------------------------------------- 25
4 METODOLOGIA ------------------------------------------------------------------------------- 26
4.1 Critérios de inclusão -------------------------------------------------------------------------- 26
4.2 Critério de exclusão -------------------------------------------------------------------------- 27
5 RESULTADOS ---------------------------------------------------------------------------------- 28
6 ANÁLISE DO RESULTADOS --------------------------------------------------------------- 31
7 DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------------------------- 40
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------ 42
29
“Qualquer um pode ficar zangado. Isto é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na intensidade correta, no momento adequado, pelos motivos justos e da
maneira mais apropriada, isto não é fácil” (Aristóteles)
11
1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como pressuposto fundamentar teoricamente as
Habilidades Sociais, comportamentos vivenciados e, possivelmente, ensinados,
de adolescentes com diagnóstico de Deficiência Intelectual combinado ao
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, bem como o papel da família, em
especial, dos pais com relação à importância de oportunizar as relações
interpessoais favorecendo a participação social.
O estudo parte, teoricamente, do primeiro artigo conceitual sobre
Psicologia das Habilidades Sociais produzido no Brasil, intitulado de
“Habilidades Sociais: Uma área em desenvolvimento”, dos autores Del Prette;
Del Prette (1996), bem como do livro “O ciclo vital”, da autora Hellen Bee
(1977), nos quais são ressaltados que o desenvolvimento acontece durante
toda vida e sobre a importância de sempre estimular os desenvolvimentos
motor, cognitivo e social.
O desenvolvimento humano é um processo constante que acontece
durante todo o ciclo da vida, é caracterizado por marcos que determinam cada
fase da vida. Assim, quando habilidades necessárias para determinado período
do desenvolvimento não condizem com a faixa etária correspondente,
observam-se alterações e/ou atrasos no processo de desenvolvimento.
Este processo se inicia desde a vida intrauterina e envolve vários
aspectos, como o crescimento físico, maturação neurológica e construção de
habilidades relacionadas ao comportamento, às esferas cognitivas, sociais e
afetivas. Todo esse processo tem como finalidade tornar a criança competente
para responder às suas necessidades e as do seu meio, considerando seu
contexto social (MIRANDA; RESEGUE; FIGUEIRAS, 2003). Aqui, enfatiza-se o
contínuo desenvolvimento no período da adolescência, no qual as redes
sociais são ampliadas pelo aumento da participação em ambientes sociais.
“Praticamente todas as teorias de desenvolvimento abordam a questão
da socialização e da importância das interações e relações sociais enquanto
fatores de saúde mental e de desenvolvimento” (DEL PRETTE; DEL PRETTE,
2012, p.17).
12
De acordo com Finnie (2000) “o aprendizado da criança começa ao
nascimento”, sabendo-se que o primeiro contato da criança com o mundo se dá
através da mãe.
O vínculo estabelecido entre a criança e a mãe será responsável por
inserir a criança no convívio social, bem como estimular o desenvolvimento
motor/cognitivo/comportamental. Portanto, grande parte da aprendizagem da
criança e da pessoa que se tornará é referente ao recebimento desses
estímulos.
De acordo com Lorenzini (2002), através da interação entre a criança e
seu corpo e entre a criança e o meio, ela apreende e adquire experiência para
expressar suas emoções, realizando uma troca produtiva com o meio.
O crescimento significa aumento do corpo físico; e desenvolvimento é a
capacidade de adquirir novas habilidades e, com o tempo, aperfeiçoá-las,
desse modo, desenvolvimento neuropsicomotor refere-se às ações realizadas
pela criança que abrangem a dimensão psicológica, neurológica e motora,
segundo Pupo Filho (2003).
Os autores Bernardo e Wajnsztejn (2002) relatam que o
desenvolvimento humano é lento se compararmos aos outros animais,
entretanto, isto se deve à complexidade do cérebro humano, que envolve
atividades como o raciocínio, linguagem e amadurecimento das emoções,
desenvolvendo as conexões neurais. O sistema nervoso é uma máquina de
aprender que permite a coleta e armazenagem de dados, utilizando-os
posteriormente, na sua conduta comportamental.
Nascemos com capacidade cognitiva e motora a ser desenvolvida. Na
criança com o desenvolvimento saudável e, cronologicamente, esperado, tais
capacidades estão presentes e se manifestam ao longo do tempo, mas em
uma criança com o processo de desenvolvimento alterado, são imprevisíveis
em certo aspecto (RODRIGUES; MIRANDA, 2001). O que reforça a ideia de
que ela requer atendimentos especializados e depende, em maior intensidade,
dos outros para engajar e participar das atividades sociais familiares.
Em adolescentes com Transtornos Invasivos do Desenvolvimento as
interações sociais são comprometidas pelo próprio diagnóstico o que dificulta a
participação social (DSM-IV, 2002), mas que não determina a ausência de
vivências de algumas situações sociais por intermédio da família.
13
A população para a qual se volta este estudo apresenta incapacidades
intelectuais e sociais que interferem na realização de suas atividades diárias.
Constituem de pessoas que necessitam a estruturação, por seus familiares, de
uma rotina diária para que possam saber o que devem fazer, não envolvendo
um raciocínio abstrato delas para isto, mas mediante figuras, desenhos ou
outros caminhos indicativos que as favoreçam no que deve ser feito
(comunicação alternativa). Haja vista sua dificuldade na linguagem verbal e não
verbal, ou seja, de comunicação associada a uma dificuldade semântico-
pragmática com prejuízos na socialização (LOPES-HERRERA, 1997).
Dessa forma, é notório observar que a rotina sugerida acima segue
passos, e que, raramente, são encontradas situações nas quais estes
adolescentes têm que cumprir tarefas em que seja preciso interagir com outras
pessoas, apenas segue o propósito de torna-los funcionais nas atividades de
vida diária.
Assim, observa-se que estes adolescentes encontram-se participantes
de um ou dois ambientes sociais, escola especial, na maioria das vezes, e
ambiente doméstico; quanto às atividades extra domicílio não têm
oportunidades de participação, pois a família tem receio de ser exposta
mediante algum comportamento dos adolescentes que não seja, socialmente,
aceito.
Existe um movimento denominado inclusão, no entanto, as informações
acima ainda não corroboram com a prática inclusiva da nossa sociedade.
Profissionais da área da saúde e da educação que têm um olhar voltado para a
os fazeres cotidianos, de acordo com Takatori (2003), incentivam as famílias a
oportunizarem situações favoráveis ao desenvolvimento social de seus filhos,
já que é a partir delas que se estabelecem o contato com o mundo externo e o
aprendizado sobre os comportamentos sociais. Pressupõe-se que, para estes
filhos que têm alterações no desenvolvimento, o ambiente familiar torna-se,
mais ainda, fundamental para uma experimentação, gradual, de como
ingressar e participar de situações sociais.
Deve-se ter uma preocupação especial em relação ao papel que a mãe
ou cuidador desempenha e de suas expectativas em relação ao
desenvolvimento do seu filho para auxiliar seu desenvolvimento e facilitar as
promoções de novas aquisições, também foco dos processos terapêuticos dos
14
profissionais de saúde, pois o ambiente influencia, de forma incontestável, o
desempenho de cada pessoa.
Este estudo partiu da necessidade em articular o processo de
intervenção na Terapia Ocupacional e o papel da mãe/família como
contribuinte para o desenvolvimento dos adolescentes, pois, se concomitantes,
facilitam e proporcionam vivências produtivas aos indivíduos nos mais variados
contextos sociais.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Habilidades sociais e sua relevância na participação social
Apresentar uma definição sobre Habilidades Sociais (HS) não é uma
tarefa tão simples quanto parece, pois ainda não existe uma definição que seja
acordada entre os autores desse assunto e usada de forma universal
(CABALLO, 2012).
Entretanto, “parece que todos sabemos, de maneira intuitiva, o que são
habilidades sociais” (TROWER,1984 apud CABALLO, 2012, p. 4).
A complexidade sobre este conceito está refletida em sua própria
nomenclatura que sofreu alterações ao longo da história, fato esse explicado
pela diversidade de modelos conceituais que, de forma complementar,
embasam as HS: modelo cognitivo; modelo da percepção social; modelo da
teoria dos papéis; modelo da assertividade e modelo da aprendizagem social
(HIDALGO; ABARCA, 1991 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1996).
Um breve histórico sobre o emprego do termo HS nos mostra que as
expressões “personalidade excitatória”, “liberdade emocional”, “autoafirmação”
e “efetividade interpessoal”, empregados por diferentes autores, já foram
denominadores para o atual “habilidades sociais”, que já era utilizado por
Argyle em 1967 na Inglaterra. Há também o termo “comportamento assertivo”,
usado por Wolpe, nos Estados Unidos, em 1976, no entanto, ressalvando que
ainda hoje é empregado por alguns autores, este foi substituído pelo termo
“Habilidades Sociais” após a década de 70 (DEL PRETTE; DEL PRETTE,
1996).
De acordo com Caballo (2012) a dificuldade em apresentar uma
definição unânime de HS pode ser devido às concepções distintas e intuitivas
sobre o que é considerada uma conduta socialmente habilidosa, aos interesses
específicos em relação aos componentes comportamentais tais como, verbais,
não verbais, para linguísticos, cognitivos e fisiológicos que recebem maior ou
menor destaque pelos pesquisadores/autores da área mediante ausência de
um modelo que norteie a pesquisa, além da supressão de uma teoria que
abranja a avaliação e o treinamento (a modificação de um comportamento não
16
habilidoso por meio de técnicas terapêuticas) das habilidades sociais; e ainda,
aos impasses dentro das definições existentes apresentadas pelos autores
desse assunto, no qual umas consideram o conteúdo do comportamento em
HS, ou seja, a expressão do comportamento por meio dos sentimentos,
opiniões, desejos, entre outras formas; outras destacam as consequências do
reforço social e ainda algumas, o conteúdo juntamente com as consequências.
É importante também considerar as variáveis incidentes sobre as formas
de comportamentos dos indivíduos que interferem nos seus repertórios de
habilidades sociais, como classe social, idade, educação e sexo que
influenciam as formas de comunicação das pessoas, em uma mesma cultura
ou entre culturas diferentes (CABALLO, 2012), bem como os diferentes
contextos sociais em que a pessoa desempenha seus afazeres diários, casa,
trabalho, casa de amigos, casa de parentes, lojas.
Há também as crenças, valores, capacidades cognitivas, atitudes e
formas singulares pertinentes à personalidade de cada pessoa, de interação,
que também incidem sobre as HS. Ressalta-se também que um
comportamento pode ser adequado em um contexto e não em outro
(CABALLO, 1996; 2012).
Diante do apresentado e considerando os fatores incidentes sobre as
HS, fica evidente a dificuldade em chegar a um consenso sobre uma definição
universal para o termo HS.
Segundo Van Hasselt et al. (1979 apud CABALLO, 2012) as HS são
constituídas por três elementos básicos: especificidade a determinadas
situações, eficiência interpessoal através de comportamentos verbais ou não
verbais das pessoas demonstrando respostas comportamentais que podem ser
resultantes de aprendizado anterior, aprendidas de forma verbal ou não verbal,
e a conduta do outro envolvido na situação de forma que se comporte
favorecendo a eficiência interpessoal verbal ou não verbal de todos os
envolvidos na situação.
Conforme evidenciado acima, a manifestação de
atitudes/comportamentos apropriados, sendo estes verbais ou não verbais, de
uma pessoa considerada “habilidosa”, do ponto de vista das HS, dependerá do
contexto e da situação vivenciada, considerando a eficiência na interação com
o outro, tendo como consequência o favorecimento do aprendizado para
17
situações futuras ou a confirmação de respostas hábeis aprendidas
anteriormente.
uma característica do comportamento e não das pessoas; é uma característica específica à pessoa e à situação, não universal; deve ser contemplada no contexto cultural do indivíduo, assim como em termos de outras variáveis situacionais; está baseada na capacidade de um indivíduo escolher livremente sua ação; é uma característica da conduta socialmente eficaz, não danosa (ALBERTI, 1977 apud CABALLO, 2012, p. 7).
Observa-se que são vários os fatores que influenciam as
atitudes/comportamentos dos indivíduos, entretanto, nas HS é primordial a
qualidade/eficiência com relação à interação com outras pessoas. Portanto,
não existe uma regra determinante sobre as habilidades sociais de um
indivíduo (CABALLO, 2012).
Abordar sobre as HS justifica-se pelo fato de que as relações
interpessoais são imprescindíveis nas atividades humanas e necessárias para
viver de modo saudável em sociedade (CARDOZO; SOARES, 2011).
Conforme visto até aqui, as habilidades sociais dizem respeito aos
comportamentos dos indivíduos que são necessários para que a relação social,
as interações entre os membros da comunidade sejam eficientes, fator
determinante para a prática das HS pelos indivíduos, considerando suas
particularidades.
É interessante ressaltar que o fenômeno interação social eficiente ligado
às habilidades sociais é abrangido na abordagem psicológica como também
nas ciências humanas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1996). Sendo o enfoque
da psicologia voltado para o estudo do comportamento humano, auxiliando os
indivíduos a modificar o comportamento inadequado derivado de distúrbios
emocionais e da personalidade. Já as ciências sociais tem o olhar direcionado
ao ser humano como ser social, desempenhando suas tarefas sociais.
Goffman (1982) salienta que os indivíduos pertencem, cada qual, ao seu
meio social de acordo com seu status social categorizado, portanto, pela
sociedade na qual se encontra.
Para Omote (2006 apud PÍCCOLO; MOSCARDINI; COSTA, 2010), a
dinâmica sociocultural dos indivíduos é a característica, até mesmo
sobressaindo ao patrimônio genético, que distingue os seres humanos dos
demais seres vivos e os coloca no topo da escala filogenética de
18
desenvolvimento. Ressalta, também, que cada indivíduo apresenta
particularidades biológicas, as quais exercem influências sobre o ambiente
cultural, logo o ambiente cultural exerce influencia sobre os indivíduos, pois
oferecem variadas possibilidades comportamentais. Dessa forma, é no
ambiente social que acontece a exposição dos fatores orgânicos e o
desenvolvimento humano se beneficia desta interação do indivíduo com seu
meio social.
Observa-se a importância do indivíduo estar incluído na dinâmica social
(OMOTE, 2006 apud PÍCCOLO; MOSCARDINI; COSTA, 2010), bem como, da
forma como acontece a interação, o que está envolvido na relação com o outro,
os benefícios mentais, psicológicos, para si próprio como aos demais
envolvidos nas suas interações, na sua convivência (DEL PRETTE; DEL
PRETTE, 1996).
Neste estudo, a relevância é de despertar atenção ao papel dos
familiares, que são os responsáveis por oportunizarem a participação social de
seus entes adolescentes com deficiência, pois somente participando, eles
poderão “praticar” as interações sociais e serem reconhecidos socialmente em
algum ponto da esfera social, como estudantes, membros da família, usuários
de centros de convivência, e cabe à terapia ocupacional incentivar essas
famílias, contribuindo para o contínuo desenvolvimento dos adolescentes e no
seu processo de promoção de saúde.
2.2 Adolescentes e contexto sócio familiar
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) teve origem no artigo 227
da Constituição Federal de 1988, e foi instituído pela Lei Federal 8069/90. Nele
considera-se adolescente aquele com idade de doze a dezoito anos
incompletos, e assegura direitos e proteção especial às crianças e
adolescentes (BRASIL, 2008).
Aos doze anos, segundo Bee (1977), ocorrem muitas mudanças em
todas as áreas do desenvolvimento humano, com ênfase nas áreas físicas e
interpessoais. O corpo e as características sexuais mudam devido às
alterações hormonais; os adolescentes conseguem refletir sobre o que pensam
19
e sobre coisas abstratas, havendo o aprimoramento cognitivo; o egocentrismo
vai perdendo lugar à medida que as relações sociais se ampliam podendo
ocorrer identificações com outras pessoas ou a capacidade para a empatia, isto
é, colocar-se no lugar do outro.
De acordo com Gleitman, Fridlund e Reisberg (2003), a interação social
inicia-se através da vinculação mãe-bebê e, posteriormente, com as demais
pessoas, assim ampliando o contato social e, possivelmente, favorecendo o
desenvolvimento social. Os autores ainda ressaltam que as interações sociais
dependem da troca social.
Ferland (2009) também aponta que é através do contato com as outras
pessoas que algumas capacidades vão sendo estimuladas e desenvolvidas,
como a de interagir com o outro, pois não é natural, mas uma capacidade
motivada pelas trocas, uma dinâmica de ação e reação, que acontecem em
seu contexto social.
Dessa forma, cabe à família apresentar a criança a outros grupos
sociais, porém, as pessoas que pertencem a estes grupos devem permitir a
interação para que o contato e o desenvolvimento social sejam efetivos.
Sabe-se que nos adolescentes com deficiência intelectual as mudanças
no corpo ocorrem da mesma forma que nos demais adolescentes, mas como o
desenvolvimento intelectual ocorre em outro ritmo, as capacidades são
desenvolvidas mais tarde ou não acompanham o crescimento, o que resulta
em atividades e comportamentos nem sempre observados na fase da
adolescência.
Ainda, como diz Ferland (2009), deve-se atentar às possibilidades de os
efeitos secundários da deficiência intelectual incidirem sobre o
desenvolvimento, fato que pode levar aos pais delimitarem as vivências de
seus filhos nos ambientes cotidianos, interferindo no processo de
conhecimento e aprendizado.
Afinal, como citam Matsukura et al. (2000), a família, em especial os
pais, que têm em seu seio uma criança com deficiência, ou ainda, com
alterações no desenvolvimento: motor, cognitivo, de saúde física, neurológico
ou psicológico apresentam reações de emoções e dificuldades diferenciadas se
comparadas aos pais de crianças sem deficiências.
20
Para Lamarche (1987 apud FERLAND, 2009 p.26), “é um choque o filho
sonhado dá lugar a um filho inesperado”. Ferland (2009) lembra que é uma
situação nova ser pais de uma criança com deficiência, mesmo para aqueles
que já têm outros filhos.
Matsukura et al. (2000) ressaltam que a mãe cria expectativas quanto ao
nascimento do seu filho a partir de padrões sociais incorporados por ela, e, ao
conceber um filho com deficiência, vários sentimentos e atitudes emergem
como negação, frustração, vergonha, rejeição e culpa que também são
vivenciados pelo pai e irmãos. Pensamentos sobre os comportamentos da
criança e a aceitação social, permeiam estes sentimentos. As autoras
complementam que, para cuidar de um filho que tem deficiência, a família
vivencia situações estressantes no seu dia a dia, tais como, desprender tempo
para dedicar-se ao filho, poder arcar financeiramente com os tratamentos,
aparecimento ou aumento da baixa autoestima, com pré-disposição à
depressão, que interferem no contato social familiar.
Segundo Buscaglia (1993, p.19), “o que todos têm em comum é o
confronto com uma nova realidade, inesperada, possivelmente devastadora”.
O ajustamento a esta realidade pode exigir-lhes uma drástica mudança
em seu modo de vida, profissão, esperanças para o futuro e nos planos para
alcançar seus objetivos.
Constata-se que as “famílias que possuem um membro com alguma
deficiência, enfrentam dificuldades adicionais às comumente enfrentadas por
todas as famílias” (MONTEIRO; TOREZAN, 1997 apud BAGAROLLO, 2003, p.
24).
O medo é o sentimento que se encontra mais presente em pais e/ou
cuidadores, que sofrem pelo receio de como as outras pessoas vão reagir
frente às necessidades de seu filho, de como seu filho reagirá, de como vão
lidar com esta situação inesperada (BUSCAGLIA, 1993).
O nascimento de uma criança com deficiência ou a emergência, em
dado momento do desenvolvimento, da deficiência intelectual gera na família
um impacto frente à descoberta, acompanhado de situações de preconceitos,
passando a olhar a criança como doente e reforçando a ideia de deficiência. Os
pais não devem ter medo ou superproteger a criança; devem ser esclarecidos
21
sobre a deficiência e tratá-la como outra criança qualquer, apenas com uma
adaptação (BUSCAGLIA, 1993).
2.3 Deficiência Intelectual e os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
A partir de uma perspectiva histórica da deficiência mental (DM),
segundo Enumo (2001), no século XVII havia a concepção de que a pessoa
com DM tinha uma doença incurável, dessa forma recebia atendimento apenas
para que pudesse sobreviver, o que configurava uma compreensão da DM sob
a ótica organicista, caracterizada pela origem orgânica, podendo ser hereditária
ou não, que exercia influência sobre a funcionalidade do sistema nervoso.
Posteriormente, no século XIX a pessoa com esta deficiência era vista como
passível de ser educada, uma abordagem psicopedagógica que, entretanto,
não abandonou a visão organicista do passado. Nestas duas formas de
compreender a pessoa com DM e seu desenvolvimento, a família tinha a
responsabilidade de encaminhar seu filho aos médicos apenas para atestar o
diagnóstico, sendo que a busca de formas de viver com uma pessoa que não
se desenvolve intelectualmente de modo esperado e o sofrimento decorrente
desta realidade, ficavam circunscritos à família.
Apenas na segunda metade do século XX que houve mudança quanto
ao conceito da DM, por meio da abordagem social, sendo caracterizada
partindo do pressuposto ser um desvio social, no qual a identidade pessoal é
danificada, pois o indivíduo não satisfaz as expectativas da sociedade na
funcionalidade dos papéis que deveria desempenhar, e a família do deficiente
recebe atenção para saber lidar com seu ente com deficiência.
De acordo com Kaplan, Sadock e Grebb (1977 apud CARDOZO;
SOARES, 2011) os termos “deficiência mental” e “retardo mental” eram usados
de modo alternados até a algum tempo. Salienta-se que, hoje, o termo utilizado
é o de deficiência intelectual, adotado, em 2010, pela American Association on
Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD), que desenvolve estudos
sobre a deficiência intelectual, propondo modelos teóricos, conceituais,
classificações e orientações sobre intervenções. Apesar de esta associação ter
interferências sobre a CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) e o
22
DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), em suas
edições de 1995 e 2000, respectivamente, ainda usam o termo “retardo
mental”, subdivididos em leve, moderado, grave e profundo.
Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), atualmente,
denominados de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), na CID 10
(1995), compreendem: o autismo infantil; autismo atípico; transtorno com
hipercinesia associada a retardo mental e aos movimentos estereotipados;
outro transtorno desintegrativo da infância; Síndrome de Asperger; outros
transtornos globais de desenvolvimento; transtornos globais não especificados
do desenvolvimento e Síndrome de Rett.
Segundo o DSM-IV (2000), estão sob a denominação de TGD o
transtorno autista; transtorno de Asperger; transtorno desintegrativo da
infância; transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação e o
transtorno de Rett.
Assumpção Jr. e Kuczynski (2011) afirmam que o diagnóstico de TGD é
feito de forma clínica, combinado ao preenchimento dos critérios a partir da
aplicação de testes e questionários especificados na CID 10 e no DSM-IV. E a
deficiência intelectual pode estar presente nestes transtornos (KAPLAN;
SADOCK; GREBB, 1997).
Brunoni (2011) descreve o estudo de Chahour e Zoghbi (2007) o qual
aponta que a Síndrome de Rett trata-se de uma desordem genética, com uma
fase de paralisação no desenvolvimento neuro-cognitivo após o primeiro ano
de vida, com retardo do crescimento do perímetro cefálico, regressão
psicomotora e crises convulsivas, sugerindo retirada desta Síndrome do
transtorno global do desenvolvimento.
Atualmente, está sendo discutida uma nova nomenclatura, mas sem
consenso, Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) para agrupar o autismo
infantil, a síndrome de Asperger e o transtorno global do desenvolvimento sem
outra especificação, pois apresentam um mesmo conjunto de características
(ASSUMPÇÃO JR.; KUCZYNSKI, 2011).
23
2.4 Participação social: um impacto na saúde
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
(CIF) possibilita através de sua codificação avaliar e registrar sobre a saúde e o
seu estado relacionando-os. Trata-se de um instrumento padronizado utilizado
internacionalmente (CIF-CJ, 2011).
Derivada à CIF encontra-se a CIF-CJ, que é uma versão específica
voltada a atender as características das crianças e jovens e dos ambientes que
o cercam (CIF-CJ, 2011).
Nesta Classificação há o componente Atividades e Participação, o qual
denomina que atividade é a execução das tarefas ou ações; a participação é o
engajamento das pessoas em situações de vida diária, ou seja, que o indivíduo
realize suas tarefas, estendendo observação ao modo como as realiza,
utilizando-se de dois qualificadores, desempenho (o que ele faz) e capacidade
(habilidade na execução). Ressalta-se que na prática é difícil diferenciar
atividade e participação. Tendo os fatores ambientais incidência na
funcionalidade, se como facilitador ou como barreira (CIF-CJ, 2011).
Existe um diagrama que mostra a interação entre os Componentes da
CIF, e com ele é possível observar que o estado de saúde através dos fatores
pessoais, ambientais, funções e estruturas corporais, atividades e participação,
determinam o grau de limitação ou deficiência e a restrição na participação
(CIF-CJ, 2011).
Seguindo a proposta de indicadores que destaque a importância da
qualidade de vida na saúde dos indivíduos, Minto et al. (2006) ressalta que a
OMS sugere um programa de intervenção denominado de Ensino de
Habilidades de Vida, que visa favorecer um bom desempenho social e melhora
na qualidade de vida.
Este programa, de acordo com a autora acima, classificam tais
habilidades como, relacionamento interpessoal; comunicação eficaz; lidar com
estresse e sentimentos; autoconhecimento; empatia; pensamento criativo e
também crítico; tomar decisões e resolver problemas, empregando
componentes de ordem emocional, social e cognitiva, e incentivando a criação
de programas de ensino.
24
Realizando uma recordação do que já foi observado neste presente
estudo, a nosso ver estas habilidades estão apenas esmiuçando as HS, pois
todas estas características giram em torno do relacionamento interpessoal
satisfatório nas nossas atribuições do dia a dia.
25
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral:
O presente estudo visa refletir sobre a importância de a família investir
de modo contínuo na participação do seu ente adolescente, que tem
Deficiência Intelectual associada ao Transtorno Invasivo do Desenvolvimento
ou Transtorno Global do Desenvolvimento, nas situações de atividades
cotidianas familiares para favorecer o aprendizado das habilidades sociais.
3.2 Objetivos específicos:
• Compreender a relevância da participação social dos
adolescentes com Deficiência Intelectual associada ao Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento no processo de desenvolvimento e
saúde;
• Investigar a relação entre participação nas atividades sociais com
a redução dos comportamentos antissociais.
26
4 METODOLOGIA
Este estudo se caracteriza como de revisão crítica de literatura, por meio
de investigação em fontes bibliográficas, seja na forma de papel ou meio
eletrônico (internet), tais como livros de referência (científicos e técnicos),
publicações periódicas e artigos científicos (GIL, 2008).
Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, tal qual utilizada
nas ciências sociais e humanas que busca a apreensão dos diferentes
significados e sentidos na vida dos sujeitos, ou seja, de suas experiências
vividas (RICHARDSON, 1999).
Também consiste como estudo exploratório que, segundo Gil (1995),
visa definir melhor o problema, torná-lo mais explicativo, identificando, através
dos dados coletados, as informações que são necessárias para a compreensão
aprofundada do problema. A pesquisa exploratória busca, portanto, possibilitar
maior familiaridade com o problema no intuito de aprimorar ideias ou descobrir
e construir novas hipóteses.
4.1 Critérios de inclusão
Os dados coletados e analisados compreenderam o período de 2008 a
2012, últimos cinco anos de produções.
A pesquisa foi realizada em artigos nas bases de dados eletrônicas
Scientific Electronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e periódicos de terapia ocupacional, da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo
(USP) e Centro de Especialidades em Terapia Ocupacional (CETO), utilizando
a combinação dos descritores: habilidades sociais, adolescente, pais e terapia
ocupacional.
28
5 RESULTADOS
O material coletado, inicialmente, constou de quatro artigos, entretanto,
o artigo “Treinamento de habilidades sociais para adolescentes: uma
experiência no programa de atenção integral à família (PAIF)”, das autoras
Silvia e Murta (2009), foi excluído, pois descreve um processo de intervenção
grupal na promoção de habilidades sociais de adolescentes com vínculo ao
PAIF, não específico aos pais/familiares.
O artigo “Mães adotivas e genéticas: habilidades, insegurança e apoio
percebido” das autoras Howat-Rodrigues, Tokumaru e Amorim (2009) também
foi excluído, pois ele comparava a expressão de habilidades sociais
educacionais de mães adotivas e genéticas, porém com filhos sem deficiência
intelectual ou TID.
Dessa forma, os dois artigos na sua íntegra, foram devidamente
fichados, analisados, comparados e avaliados quanto a sua contribuição para o
objetivo do presente estudo. Tais procedimentos foram direcionados pelas
articulações dos conteúdos dos artigos com o estudo teórico, anteriormente e
no decorrer da coleta de dados, realizado, sobre habilidades sociais e sua
relevância na participação social; adolescência, suas famílias/ dificuldades e
contexto social; deficiência intelectual e os transtornos invasivos do
desenvolvimento; participação social e o impacto na saúde.
Para a apresentação do material coletado foram utilizados quadros
indicativos que sintetizam os seguintes aspectos das produções: ano,
pesquisador(es), objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões.
29
Quadro 1 – Síntese dos artigos pesquisados
Autor/ano Objetivos Materiais/ métodos Conclusão Bolsoni- Silva, Alessandra Turini; Paiva, Mariana Marzoque de; Barbosa; Caroline Garpelli (2009)
Caracterizar repertórios de pais e filhos quanto às queixas e dificuldades que motivam a procura por atendimento psicológico em um centro de Psicologia Aplicada (CPA) Universidade Estadual Paulista- Bauru, nos anos de 2004 e 2006, com intuito de progredir a relação estabelecida com seus filhos.
Este estudo passou pela aprovação de Comitê e Ética em Pesquisa e é parte de um projeto, e assim ressaltando o primeiro contato com os participantes. Instrumento: roteiro de entrevista clínica semiestruturada, gravada mediante autorização e com duração média de 60 minutos. Participantes: 59 pais/mães/cuidadores, com idade média de 35 anos (de 20 a mais de 50 anos), tendo baixa escolaridade (1º grau) e renda de R$ 1.200,00. Os dados colhidos na entrevista foram transcritos e separados em categorias: queixas com relação aos comportamentos das crianças /adolescentes e com relação às dificuldades dos pais.
Têm-se como resultados mais relevantes as queixas dos pais sobre problemas externalizantes dos filhos (agressividade, birra e desobediência); Dificuldades dos pais/cuidadores quanto à habilidade de instaurar limites (pais divergem sobre como agir perante os comportamentos indesejáveis dos filhos, se devem ou não bater, por exemplo); Dificuldade dos pais com relação à sua comunicação com as crianças/adolescentes. Sugere programas de intervenção com os pais/cuidadores com orientações a eles (estimulando habilidades), a fim de que possam ter um melhor desempenho com seus filhos, que saibam qual a melhor maneira de lidar com os comportamentos indesejados e melhorando assim, o relacionamento entre eles, pois pode haver uma redução sobre às queixas aos filhos.
continua
30
continuação Cardozo, Alcides; Soares, Adriana Benevides (2011)
Relacionar as habilidades sociais com o envolvimento entre pais e filhos com deficiência intelectual
Aponta para levantamento bibliográfico. Não define metodologia específica.
As relações interpessoais dos indivíduos com deficiência intelectual devem ser aprimoradas, para que eles consigam se desenvolver promovendo a satisfação pessoal, a inclusão e obtenham mais autonomia e consequentemente melhorando a qualidade de vida. O ambiente familiar favorece o desenvolvimento dos filhos sendo ele acolhedor e modelo para os comportamentos sociais. Ressalta que a família passa por variáveis consideradas estressantes com a chegada de um filho com deficiência, e que se deixarem estes fatores incluindo o sócio demográfico, podem ter desempenhos insatisfatórios socialmente, interferindo no desempenho dos seus filhos. Através do vínculo afetivo o relacionamento interpessoal apresenta-se mais seguro, favorecendo melhor qualidade de vida, pois os comportamentos socialmente competentes são mais apresentados.
31
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS
No texto das autoras Bolsoni-Silva, Paiva e Barbosa (2009) é citado que
existem muitas definições de HS e optam por utilizar uma definição de
comportamento habilidoso. Elas ressaltam que a dificuldade de interação social
advém de déficits de habilidades sociais nos relacionamentos, incluindo o de
pais e filhos.
Pontuam estudos de outros autores que classificam as habilidades dos
pais no relacionamento pais e filhos de Habilidades Sociais Educativas
Parentais (HSE-P), estas podendo dividir-se em positivas, referindo que
através das habilidades satisfatórias na interação entre eles, é que será
possível estimular comportamentos socialmente habilidosos dos filhos, e que
os problemas de comportamento dos filhos podem estar associados ao
repertório comportamental não habilidoso dos pais, as negativas.
As práticas sociais educativas parentais são divididas em categorias:
comunicação, expressividade, afetividade e estabelecimento de limites, estas
podem favorecem os comportamentos habilidosos dos filhos. Os pais podem
adotar as seguintes estratégias, como, dialogar consistentemente de forma
assertiva e atenciosa, perguntar e ouvir as respostas dos filhos de maneira
atenta, respeitar a opinião do outro e se discordar o fazer de forma adequada,
ou mesmo quando intervir mediante um comportamento inadequado do filho,
estabelecer limites sem usufruir de ameaças ou agressividade, fazer carinho
nos filhos, engrandecer o filho através da demonstração/verbalização de
sentimentos positivos.
Bolsoni-Silva, Paiva e Barbosa (2009) apontam estudos os quais
descrevem que famílias que tem em seu seio filhos com problemas de
comportamento apresentam pouca interação positiva, insuficiente
monitoramento dos afazeres dos filhos, são mais desorganizadas, possuem
mais problemas de comunicação ou de ordem emocional, além de
comportamentos considerados indesejáveis para a aprendizagem social e o
desenvolvimento cognitivo dos filhos.
Ressaltam também que os comportamentos externalizantes
(agressividade, impulsividade e agitação) e internalizantes (timidez, medo,
32
tristeza e insegurança) identificados em crianças e adolescentes também
implicam em dificuldades de interação com as outras pessoas, assim, na
escola e na família fica difícil o acesso/contato e a interação com esta
população. Pais e professores não conseguem contribuir ativamente para
habilidades sociais satisfatórias. Dessa forma, esta população de crianças e
adolescentes perde a oportunidade, ou fica restrita em participar de situações/
vivências, e ainda há a possibilidade que essas pessoas identifiquem-se com
grupos sociais problemáticos.
Tiveram como dados desta pesquisa com os participantes 59
pais/mães/cuidadores de crianças/adolescentes os quais referiram aos
comportamentos externalizantes dos filhos (agressivo, dá birra, desobediente)
como a queixa mais frequente; e com relação à dificuldade dos pais/cuidadores
com os filhos nota-se que diante de um comportamento indesejável do filho
eles batem/ gritam, divergência de opiniões com relação à educação dos filhos,
dificuldades de dialogar com os filhos e dificuldade de estipular limites.
Diante dos comportamentos indesejados demonstrados pelos filhos,
seus pais na intenção de corrigi-los também se comportam de maneira não
habilidosa, contento gritos, chutes e bater em outras pessoas, da mesma forma
que seus filhos, batendo, gritando criando assim, um ciclo o qual as autoras
denominam de coercitivo.
As autoras apontam estudos que falam sobre as práticas dos pais, que
estas podem sustentar os comportamentos indesejados dos filhos, além do
emprego de medidas punitivas, ainda e não dando o modelo de habilidades
satisfatórias. Demonstrando que os pais /cuidadores mesmo que consigam a
atenção dos filhos no momento de atrito eles demonstram um baixo repertório
de habilidades sociais.
Os resultados encontrados sugerem que, a birra está relacionada à
inconsistência dos pais ora sucumbir ora não os desejos dos filhos; a
desobediência dos filhos é resultado da dificuldade dos pais na comunicação
com os filhos que se estende a dificuldade para estabelecer limites.
Neste estudo conclui-se que pais socialmente habilidosos com
demonstrações de carinho e diálogo favorecem o desenvolvimento social dos
filhos, os quais apresentam menores riscos de problemas comportamentais.
33
O estudo de Cardozo e Soares (2011) citam alguns contextos, como os
de lazer, profissional, escolar e familiar nos quais se estabelecem as situações
interpessoais, e ressaltam que os desempenhos dos indivíduos são diferentes
para cada contexto que ele esteja naquele momento e isso exige um amplo
repertório de habilidades sociais dos indivíduos.
Os autores dissertam sobre as características da deficiência intelectual
ressaltando que diagnosticar a D.I. sob critérios funcionais demonstra que a
pessoas com esta deficiência tem limitações no seu funcionamento intelectual
e no seu comportamento adaptativo. Dessa forma, a pessoa com D.I. Tem
dificuldades em conceitos que são relacionados à aprendizagem escolar, à
aspectos cognitivos à comunicação; às dificuldades em habilidades sociais
relacionam-se as habilidades interpessoais, administração quanto à limites,
regras, leis, ou seja, em aspectos envolvidos no desempenho social da pessoa;
e quanto às habilidades práticas estas foram relacionadas a autonomia. Assim,
refletindo no cumprimento de tarefas para a realização das atividades de vida
diária da pessoa com D.I. e em seu exercício social que exige a vida em
comunidade.
Eles seguem descrevendo sobre a importância das habilidades sociais
na vida em sociedade, esta por promover as interações nas relações sociais.
Os comportamentos sociais habilidosos permitem que as pessoas
tenham interações sociais produtivas e saudáveis refletindo em melhor
qualidade de vida.
A família é o primeiro microssistema que permite a prática das
habilidades sociais da criança. O contexto familiar é propício para que ocorra o
desenvolvimento emocional e social da criança, pois é um ambiente acolhedor
e seguro e que as relações entre pais e filhos neste ambiente são mediadas
pelo vínculo afetivo.
Os pais no ambiente familiar identificando déficits em habilidades
sociais, que seriam as desejáveis nos contexto social e cultural, com relação à
qualidade das relações da criança, suas responsabilidades sociais e sua
independência pessoal, ou seja, de seu funcionamento adaptativo, através da
prática os pais são os responsáveis por promover as habilidades sociais
educativas ministradas aos filhos, considerando que dialogar com os filhos é a
34
habilidade que se tem como ponto de partida para as outras habilidades sociais
educativas.
As habilidades sociais em indivíduos com deficiência intelectual, atraso
no desenvolvimento e indivíduos com distúrbios de aprendizagem tem sido
bastante pesquisado nas últimas décadas. Rosin-Pinola, Del Prette e Del Prette
(2007 apud CARDOZO; SOARES, 2011) comparam o desempenho social de
alunos com alto e baixo rendimento e deficientes intelectuais dos autores, e
concluem que na avaliação do professor o grupo de baixo rendimento e o de
deficientes intelectuais mostraram dificuldades acadêmicas e baixas
pontuações no que diz respeito às habilidades sociais de cooperação,
autocontrole e responsabilidade. Os alunos com deficiência intelectual
apresentaram prejuízos na obtenção das habilidades e também problemas em
comportamentos externalizantes, como assertividade, autodefesa, briga com
pessoas, intimidação ou ameaça e baixa autoestima.
Riches em 1996 (apud CARDOZO; SOARES, 2011) em seu estudo
propõe que seja dada mais atenção à interação social das pessoas com
deficiência intelectual, com programas específicos, por exemplo, e não somete
ao treino de atividades da vida diária e prática para que a pessoa se torne
independente.
A descoberta de um filho com deficiência, pela família os desperta para
pensamentos sobre o presente e o futuro, exigindo um esforço pessoal dos
pais, com relação ao filho necessitar de maior acompanhamento e isso envolve
mais tempo de dedicação dos pais. Góes (2006 apud CARDOZO; SOARES,
2011) narra que a descoberta da deficiência intelectual manifesta nos pais o
sentimento de perda do filho que foi idealizado, além do impacto social sobre
esta descoberta.
Sentimentos de depressão, stress, desespero são observados nos pais
de filhos com deficiência. A preocupação dos pais em oferecer educação aos
filhos que lhes permita desenvolver habilidades para que se tornem
independentes e com autonomia na vida adulta, são descritos no estudo de
Glat e Duque (2003 apud CARDOZO; SOARES, 2011).
Verificou-se no estudo que investigou se as habilidades sociais dos pais
de crianças com deficiência intelectual influenciavam o seu envolvimento na
educação dos filhos (CARDOZO; SOARES, 2010 apud CARDOZO; SOARES,
35
2011), constatou-se que os pais dispunham de um maior repertório de
habilidades sociais, mas não se envolviam tanto com seus filhos quando
comparados às suas esposas (mães); as mães são mais participativas e
envolvidas nos cuidados diários com os filhos, nas atividades escolares, de
lazer, educação, por exemplo.
Cia, d’Affonseca e Barham (2006 apud CARDOZO; SOARES, 2011) em
seu estudo compararam e correlacionaram indicadores do repertório de
habilidades sociais e do envolvimento dos pais na educação dos filhos, tiveram
resultados parecidos com a pesquisa de Bertolini (2002 apud CARDOZO;
SOARES, 2011) na qual os pais são os responsáveis por atividades extra casa,
como o lazer, e as mães pelas atividades da rotina dos filhos, o cumprimento
de horários e das atividades domésticas.
Os autores ressaltam um estudo com crianças de desenvolvimento típico
o qual apontou que o relacionamento marital está relacionado ao cuidado aos
filhos. Caso os cônjuges tenham dificuldades em dialogar, resolver
divergências, tais fatores interferem no relacionamento com os filhos. A mãe
torna-se mais participativa e se envolvem mais com os filhos, como se
compensassem os filhos; já o pai afasta-se do convívio. Destacam que nos
casos de filhos com deficiência também são observadas essas situações, ainda
com os adicionais que estas famílias enfrentam descritos na discussão dos
resultados.
Dessa forma, conclui-se neste estudo que os pais são modelos
comportamentais para os filhos; pautados em uma relação saudável através do
estabelecimento do vínculo afetivo, é mais propício que os filhos participem de
situações em que haja o desempenho de comportamentos socialmente
desejáveis, competentes, promovendo satisfação pessoal e melhora na
qualidade de vida.
36
7 DISCUSSÃO
A partir de informações anteriormente citadas sobre a importância dos
pais para o desenvolvimento dos filhos, ressalta-se também que os pais devem
ter características de comportamento habilidoso a fim de que possam transmitir
conhecimentos aos filhos, sendo estas características nomeadas de
habilidades sociais educativas parentais positivas, conforme encontrado na
análise do estudo de Cardozo e Soares (2011) e no estudo de Bolsoni-Silva,
Paiva e Barbosa (2009).
Demonstrações de carinho e diálogo podem contribuir para o
desenvolvimento social dos filhos, os quais também apresentam menores
riscos de problemas comportamentais, conforme o estudo de Bolsoni-Silva,
Paiva e Barbosa (2009). O diálogo também é enfatizado no estudo de Cardozo,
Soares (2011).
Bandeira et al. (2006) ressalta que a maneira com que os pais lidam com
as crianças em sua educação pode desencadear comportamentos
problemáticos, bem como a dificuldade de aprendizagem interfere em
problemas de comportamento e pobre desempenho social. Ferreira e
Marturano (2002 apud BANDEIRA et al.,2006) citam que as crianças com
elevado grau de dificuldade na relação parental eram as que mais
demonstravam comportamentos problemáticos.
Para Howat-Rodrigues, Tokumaru e Amorim (2009), alguns pais utilizam
da coerção para punir os filhos, causando-lhes efeitos estressantes já descritos
anteriormente, ressaltamos ainda que podemos classificar tal prática de
habilidade social educativa negativa, pois não gera nenhuma mudança
saudável e sequer habilidosa nos filhos, corroborando com os autores acima
citados.
Na maioria dos textos analisados a expressão interação social aparece e
ela designa a nossa relação com o outro. Já o termo integração social refere
que para vivermos de forma eficiente em sociedade somos dependentes do
desempenho dos papéis e funções que cada pessoa, seja pelos deveres ou
direitos, exerce enquanto cidadãos, ou seja, que a sociedade esteja
sistematizada. No entanto, o termo integração social, é substituído por
37
inclusão, quando referido às pessoas com deficiências ou necessidade
educacionais especiais (NEE) traçando responsabilidades, portanto, estas
precisam ter a incumbência de conviver efetivamente na participação social,
como também a sociedade esteja preparada para receber estas pessoas com
NEEs (PAULA et al., 2002).
Ao notarmos que determinado indivíduo difere dos demais ao observar
nele alterações físicas, déficits intelectuais, doenças mentais ou
comportamentos desviantes, como prostitutas, alcóolatras, entre outros, os
quais, supostamente, impedem um bom funcionamento social, rapidamente
esses indivíduos são reconhecidos e apontados por serem diferente à maioria
caracterizada como normal. Fazemos isso igualmente na antiguidade, onde os
indivíduos eram estigmatizados e segregados, a final as pessoas devem ser
encontradas no ambiente social que pertence, faz parte, isso remete a ideia do
bom funcionamento organizacional da sociedade (GOFFMAN, 1982).
Dessa forma, antecipadamente já saberíamos quem iríamos encontrar
naquele determinado local, evitando surpresas, o que evidencia o preconceito
da sociedade, da dificuldade em aceitar o outro ou receio da convivência não
satisfatória (GOFFMAN, 1982).
Nessa perspectiva o autor acima referido ainda acrescenta que nós
criamos identidades sociais virtuais para o outro colocando nossos ideais de
normalidade como referência, mas na verdade o que ele possui são
características próprias da sua identidade social real, e que ficamos frustrados
ao encontrarmos no outro estas características.
O autor Sassaki (1999) propõe a substituição do termo ‘normal’ utilizado
acima por não deficientes, visto que o conceito de normalidade é ultrapassado,
bastante discutido e controverso.
Paula et al. (2002) defendem a ideia de que o termo inclusão é utópico,
já que são realizadas ações politicamente corretas do ponto de vista ético com
base nas deficiências das pessoas com necessidades educacionais especiais,
que não existem conflitos sociais nesta relação, em resumo que as ações
realizadas são apenas tendo em vista o movimento funcional da sociedade.
Dessa forma podemos perceber que na relação pessoas com
necessidades educacionais especiais-sociedade, a aceitação das pessoas com
38
NEE pela sociedade deve acontecer acima de tudo, na visão apontada pelas
autoras acima referidas.
a inclusão social, portanto, é um processo que contribui para construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos, espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos, utensílios mobiliário e meios de transportes e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais (SASSAKI, 1999, p.42).
Para Sant’Anna (2002), no assunto inclusão fica subtendido que não há
discriminação e a socialização é almejada em diferentes contextos sociais,
como já acontece com todas as pessoas. A autora também ressalta que
poderíamos ter certeza que a pessoa com NEE está incluída na sociedade,
quando seus desejos/necessidades são apontados por ela própria, mas o que
vemos é que este indivíduo sob a política da inclusão está incluído em apenas
um grupo social e sem considerar a qualidade desta inclusão sob a perspectiva
da pessoa com NEE.
Riches (1996 apud CARDOZO; SOARES, 2011) cita o estudo o qual
preconiza que não apenas seja enfocado o treino de atividades da vida diária e
prática para as pessoas, mas seja enfocada também sua interação social.
Para nós terapeutas ocupacionais a relevância e a satisfação que a
pessoa sente quando se vê realizando uma atividade a qual ficou incapacitada
ou nunca antes pudera realizar, e o outro envolvido tem participação, talvez
não no sentido que se propõe as habilidades sociais, de que sejam efetivas as
trocas sociais, mas sim de que se manifeste o contato social, a participação
social sempre é estimulada e é traçada como objetivo de intervenção para os
nossos clientes.
Cabe ao terapeuta ocupacional, aumentar a capacidade funcional destes
indivíduos, assim como estimular habilidades que facilitem uma maior interação
com o ambiente, seja físico ou social, e que correspondam/satisfaçam aos
interesses deles, bem como engajá-los na participação de atividades de sua
rotina, assim também, oferecer suporte à família, facilitando o processo de
adaptação à incapacidade, ajustando as expectativas e otimização da relação
família-adolescente-ambiente, além de promover um aumento na participação
da pessoa e sua família na comunidade (atividades sociais e culturais)
(MAGALHÃES, 2003).
39
De acordo com Benetton (1999), a população alvo da Terapia
Ocupacional pode ser definida como indivíduos que por fatores de ordem física
e/ou psicológica e/ou social apresentam definitivamente ou temporariamente,
problemas na inserção social, logo nas suas atividades e participação social.
Conforme apontado no estudo de Rosin-Pinola, Del Prette e Del Prette
(2007 apud CARDOZO; SOARES, 2011), os alunos com deficiência intelectual
têm prejuízos em adquirir habilidades sociais de cooperação, autocontrole e
responsabilidade, e também problemas em comportamentos externalizantes,
como assertividade, autodefesa, briga com pessoas, intimidação ou ameaça e
baixa autoestima que podem não favorecer comportamentos habilidosos e
ainda interferirem para que não se efetive um relacionamento saudável, dessa
maneira podemos orientar os pais/cuidadores a mediarem às relações de seus
filhos com DI associado ao TID às demais pessoas, no que diz respeito às
habilidades. Além de incentivarmos e orientarmos às melhores estratégias a
seguirem.
Pretendemos com este estudo ressaltar a importância dos pais nesse
processo de promoção de interação social para seus filhos com NEEs e a
contribuição da terapia ocupacional como mediadora, ambos contribuindo para
melhor qualidade de vida e inclusão social dos adolescentes com NEEs.
Para este estudo, os conceitos: deficiência, incapacidade e
desvantagem, foram substituídos por Necessidades Educacionais Especiais
(NEES), pois considera-se que este conceito abrange quaisquer
limitações/alterações ou dificuldades funcionais apresentadas pelos indivíduos
no seu cotidiano.
A busca de artigos que relacione habilidades sociais e Terapia
Ocupacional, em teoria ou prática clínica, é inexistente. No entanto, as
intervenções da terapia ocupacional são voltadas para efetivar o desempenho
funcional dos indivíduos em seu meio social, e para esse estudo entendemos
que o meio social é dotado de outros indivíduos e a interação entre eles
efetivando a sociedade.
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo não teve a pretensão de esgotar o tema estudado.
O que podemos ver é que o nosso sujeito com Deficiência Intelectual
combinada ao TID não está incluído em todos os ambientes sociais, talvez
apenas na escola. Acreditamos que não podemos considerar o ambiente casa,
pois ele não participa de eventos sociais com a família como aniversários,
frequenta supermercados, feiras, passeia pelas ruas, etc. Entretanto, ele
também não apresenta condição intelectual para pedir para sair, ou dizer qual
local gostaria de ir.
No entanto, se dermos a oportunidade a ele de vivenciar os diferentes
ambientes sociais que podem ser incluídos na sua rotina, ele conseguirá nos
mostrar de alguma forma com gestos, por meio de figuras da comunicação
alternativa, risos, choro a sua vontade ou não de querer participar de atividades
extra casa, e qual são suas preferências.
Participando socialmente esta população não fica tão vulnerável,
exposta a possíveis adoecimentos individuais ou coletivos. Não descarta-se o
risco biológico, mas estará recebendo acompanhamento da sociedade e dos
programas sociais e de saúde.
Devido a fatores já mencionados anteriormente, como, filho ideal,
expectativas, aceitação enfrentadas pelos pais dos adolescentes, o empenho
em cuidar ou estimular seu filho, pode estar abalado, de modo, que tais fatores
podem ser discutidos e possivelmente podem suscitar possíveis mudanças no
comportamento dispensado dos pais/ familiares ao seu filho e na relação deste
com sociedade.
Conforme discutido no decorrer do texto os pais tem um papel
imprescindível que influencia o aprendizado dos filhos através das práticas
sociais educativas positivas. Indutivamente afirma-se que os filhos estando
habituados com as atividades sociais e com os modelos sociais adequados
pode-se favorecer a redução de comportamentos antissociais.
A orientação é uma estratégia de intervenção usada por terapeutas
ocupacionais e encontra-se presente na lista de procedimentos desta profissão,
e é de extrema importância para mães/cuidadores/familiares.
41
Os grupos de pais/ cuidadores são estratégias que suscitam bons
resultados, sendo que nestes ocorrem troca de experiências e interação entre
os participantes, pois acontece a identificação de problemas semelhantes, e
ruptura do isolamento social. Estes grupos têm como característica oferecer
informações e esclarecer mitos, dúvidas e preconceitos. Portanto, é
imprescindível ao terapeuta ocupacional sugerir grupos de reflexões,
discussões, propor temas a serem debatidos, acolher sugestões e agir como
facilitador da comunicação entre os integrantes deste.
A atuação da família é de extrema importância junto aos tratamentos
recebidos pelos adolescentes, embora seja pouco difundida sua importância
entre os familiares.
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