Hans k. Larondelle - Libertação

Embed Size (px)

DESCRIPTION

v

Citation preview

  • LLIIBBEERRTTAAOO NNOOSS SSAALLMMOOSS

    Mensagens de esperana para hoje

    Hans K. LaRondelle

    Para todo o que tem fome e sede de um conhecimento melhor de Deus e um andar mais ntimo com Ele.

    DELIVERANCE IN THE PSALMS 1983 por Hans K. LaRondelle Publicado por First Impressions 776 Bluff View Berrien Springs, MI 49103. Biblioteca de Carto de Catlogo de Congresso Nmero 83-81446 Traduo: Carlos Biagini

  • Libertao nos Salmos 2

    "Das quatro composies introdutrias s muitas discusses de salmos

    individuais, LaRondelle proporcionou ao estudante de Bblia um guia muito prtico para o Saltrio um transbordar' de frescos critrios e aplicaes teis para vida do sculo vinte."

    Lawrence T. Geraty, Ph.D. Professor de Arqueologia e Histria de Antigidade Andrews University, Berrien Springs, Michigan "Eu achei este tratamento provocativo e cuidadoso dos Salmos no apenas

    informador mas espiritualmente renovador." C. Hassel Bullock, Ph.D. Professor de Estudos Bblicos Faculdade de Wheaton, Wheaton, Illinois

    Sobre o Autor Hans K. LaRondelle nasceu e se educou na Holanda. Ele freqentou a

    Universidade do Estado de Utrecht e ento completou um Th.D. em Teologia Sistemtica em 1971 na Reformed Free University em Amsterd. Em 1967 o Dr. LaRondelle se juntou ao Seminrio Teolgico da Andrews University onde agora professor de teologia. Sua dissertao Perfection and Perfectionism, apareceu em Andrews University Monographs, Srie Estudos em Religio em 1979 como Volume III (3 ed.). Seu estudo bblico The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation apareceu em Andrews University Monographs, Srie Estudos em Religio, Volume XIII em 1983. A Pacific Press Publishing Association publicou seu livro Cristo Our Salvation em 1980. Dr. LaRondelle co-autor de The Sabbath in Scripture and History (K. Strand, ed.; Review and Herald Publishing Association, 1982).

  • Libertao nos Salmos 3

    CONTEDO

    Introduo......5 Captulo um: O Significado Religioso dos Salmos...........7 Captulo dois: A Origem e a Classificao dos Salmos......20 Captulo trs: O Estilo Potico e Seu Significado.......34 Captulo quatro: Estruturas Teolgicas dos Salmos43 Salmo 1: Bno ou Maldio para Todos..............55 Salmo 2: O Triunfo do Reino de Deus........67 Salmo 7: Vindicao Divina para o Acusado Falsamente......78 Salmo 11: Justia Garantida pelo Cu.....87 Salmo 12: O Contraste Entre as Promessas Humanas e Divinas... 94 Salmo 15: Quando os Santos Vo Marchando!............................101 Salmo 19: Deus Se Encontra com o Homem........110 Salmo 22: Pelo Sofrimento ao Trono................121 Salmo 24: Coroai-O com Muitas Coroas!.....................................132 Salmo 27: F Vitoriosa......143 Salmo 32: A Alegria do Perdo.....156 Salmo 46: Fortaleza Poderosa o Nosso Deus.................170 Salmo 50: Israel em Juzo no Tribunal do cu..............186 Salmo 65: Cntico de Ao de Graas por Todas as Naes........194 Salmo 73: De Dvida para a Certeza............206 Salmo 103: A Atitude de Gratido........220 Salmo 104: O Cntico da Natureza...230 Salmo 110: Nosso Eterno Rei-Sacerdote..........242 Bibliografia....257

  • Libertao nos Salmos 4

    Abreviaes

    Nomes dos Livros Bblicos Gn. Isa. Luc. xo. Jer. Joo Lev. Lam. At. Nm. Ezeq. Rom. Deut. Dan. 1-2 Cor. Jos. Os. Gl. Ju. Joel Efs. Rute Ams Filip. 1-2 Sam. Obad. Col 1-2 Reis Jon. 1-2 Tess. 1-2 Crn. Miq. 1-2 Tim. Esd. Na. Tit. Nee. Hab. Fil. Est. Sof. Heb. J Ag. Tia. Sal. Zac. 1-2 Ped. Prov. Mal. 1-2-3 Joo Ecl. Mat. Jud. Cant. Mar. Apoc.

    Verses Bblicas RA Verso Almeida Revista e Atualizada RC Verso Almeida Revista e Corrigida

    RSV Revised Standard Version Todas as citaes da Bblia, se no indicadas em contrrio, so da BBLIA

    SAGRADA: NOVA VERSO INTERNACIONAL, Editora Vida 2000, e para tanto consta a sigla NVI ao final de cada citao.

  • Libertao nos Salmos 5

    INTRODUO O Livro de Salmos na Bblia de importncia extrema a judeus e cristos no

    s porque constitui o livro de oraes inspiradas para adorar o Criador, mas tambm porque de suas mensagens de esperana e conforto so especialmente necessrias pelo povo de Deus hoje. Estas Cnticos de Louvor" como os rabinos as chamavam prometem ajuda divina em tempos de angstia e de perseguio para o povo de Deus. Alm disso, muitos salmos predizem a vitria do bem sobre o mal, o triunfo universal do reino de Deus na Terra no irrevogvel Dia do Juzo (Sal. 11; 50; 96). Este dia significar a liberao do povo de Deus no tempo de sua maior necessidade. Pode-se dizer que alm dos livros apocalpticos de Daniel e Apocalipse, os salmos so a fonte mais poderosa de esperana e coragem para a Igreja de Deus quando ela deve entrar em seu conflito final com os poderes das trevas. Aqui o Messias Jesus que "viveu" nos salmos a inspirao dos crentes. Ele tomou sua misso messinica e mandato dos salmos de Davi e sofreu e morreu, rejeitado por Israel como nao, com palavras de dois salmos em Seus lbios (Sal. 22:1; 31:5).

    O que conta para o Messias conta em princpio tambm para a comunidade messinica. Significativamente, de todos os livros da Bblia Hebraica, os salmos so os mais messinicos e portanto os mais citados no Novo Testamento. Sua aplicao a Cristo no Novo Testamento revela novas e surpreendentes realizaes messinicas no concebidas anteriormente pelos rabinos. Ela prov a chave para descobrir esperana nos salmos para nosso tempo.

    Antes que os salmos possam ser aplicados adequadamente a nossos dias, um exegese responsvel dos textos deve ser considerada; quer dizer, cada salmo deve ser entendido primeiro em sua prpria colocao histrico-religiosa na vida e adorao do antigo Israel. Este princpio metdico nos leva a estabelecer primeiro, tanto quanto possvel, o significado original de cada salmo por meio da objetivo exegese gramatical e histrica. Aqui os vrios comentrios no Livro de Salmos prestam servio indispensvel. Para a exegese teolgica ou interpretao dos salmos que desdobram suas mensagens escondidas para os crentes hoje, eu estou em dvida principalmente ao recentemente falecido Dr. N. H. Ridderbos, Professor de exegese do Antigo Testamento na Free University of Amsterdam. Sua abordagem bblica reluziu em mim a alegria de descobrir a Cristo e a esperana messinica nos salmos de Israel. Seus dois volumes De Psalmen (Kampen: J. H. Kok, 1962, 1973) permanecem como um modelo inspirador de exegese responsvel e interpretao crist.

    Este livro planejado para todos os judeus, cristos, e outros que desejam entender melhor os salmos de Israel e gostariam de saber como orar e como louvar a Deus mais completamente.

    O texto da Nova Verso Internacional usado ao longo do livro, a menos que se indique o contrrio.

    Esta edio contm vrios salmos selecionados por causa de suas mensagens de garantia divina do ltimo triunfo da justia na Terra e o estabelecimento do reino de paz de Deus. Porm, alguns se concentram na presente segurana do perdo e

  • Libertao nos Salmos 6

    mantenedora graa de Deus ou simplesmente cantam em gratido pelo cuidado providencial de Deus. Possa o leitor ser inspirado a unir-se ao salmista que foi levado a cantar:

    Com meus lbios louvarei o Senhor. Que todo ser vivo bendiga o seu santo nome para todo o sempre! (Sal. 145:21, NVI)

  • Libertao nos Salmos 7

    O SIGNIFICADO RELIGIOSO DOS SALMOS O Livro de Salmos cumpre um papel nico na Bblia. Da mesma maneira que o

    corao tem uma funo especial no corpo humano, assim os salmos funcionam nas Escrituras como a batida do corao da religio de Israel. Neste livro de oraes o povo da aliana encontrou sua escada para o Cu. Ela alcana das mais baixas profundezas da agonia e sofrimento humano s alegrias mais elevadas da comunho com Deus. Lamentos e gritos de desespero intercambiam com hinos de ao de graas e louvor devido a respostas dramticas s splicas intensas. Este intercmbio vivo entre homem e Deus talvez a razo mais profunda por que o Livro de Salmos tem sido apreciado como a jia inestimvel na Bblia Hebraica por investigadores diante de Deus em todas as idades. Provou ser uma fonte incessante de conforto espiritual e reavivamento.

    Lutero e Calvino avaliaram o Saltrio sobre os outros livros da Santa Escritura. Lutero chamou o Livro de Salmos carinhosamente, "uma pequena Bblia", porque ele viu a Bblia inteira resumida nele de um modo bonito. Os salmos revelaram a Lutero no s as palavras e aes dos crentes hebreus, mas suas mais cordiais e profundas motivaes.

    Onde a pessoa encontra melhores palavras de alegria que nos Salmos de louvor e ao de graas? L voc olha dentro do corao de todos os santos, como dentro de suaves e agradveis jardins, sim, como dentro do prprio cu. ... Por outro lado, onde voc acha mais profundamente, palavras mais dolorosas, mais lamentveis de tristeza que nos Salmos de lamentao? L novamente voc olha dentro dos coraes de todos os santos, como dentro da morte, sim, como no prprio inferno. ... Isto lhe ensina em alegria, temor, esperana, e tristeza a pensar e falar como todos os santos pensaram e falaram. 1

    Foi dito que nos salmos pode-se olhar dentro dos coraes dos santos hebreus,

    contudo at mesmo isso s parte da verdade. Nos salmos de Israel a pessoa pode olhar tambm dentro do corao de Deus. A Bblia, inclusive os salmos, simplesmente no um livro sobre sentimentos piedosos de crentes. Mais que isso, tambm uma revelao do prprio corao de Deus.

    No s vemos o homem lutando com Deus, mas tambm Deus lutando com a alma humana, comunicando ao homem Sua misericrdia e poder, revelando a ele uma nova compreenso de Sua vontade e propsitos. Os salmos no so meramente louvores subjetivos e gritos por auxlio; eles so oraes inspiradas que nos ensinam como alcanar nosso Pai no Cu e como cultivar uma viva comunho com Ele.

    Nos salmos de outras naes antigas descobertos nos tempos modernos da Sumria, de Cana, e do Egito2 pode-se observar algumas diferenas bsicas dos salmos de Israel. Aqueles contm um politesmo pronunciado e lhes falta uma conscincia clara de pecado e culpa. A razo para isto clara. Nos salmos piedosos de outras naes o homem falava livremente do prprio corao, religioso realmente mas sem as revelaes de luz e amor do prprio corao de Deus. Os cnticos hebraicos inspirados deste modo esto como uma classe sozinha.

  • Libertao nos Salmos 8

    Os Salmos: Uma Expresso nica de Revelao Divina Qual , ento, o significado religioso e moral dos salmos de Israel? Eles se

    erguem como exemplos inspirados de como Deus deseja que respondamos com f s Suas revelaes autnticas e de Seus feitos nos livros de Moiss. Os judeus criam que as cinco subdivises dentro do Livro de Salmos pretendia-se que fossem o eco da f de Israel nos cinco livros de Moiss. Embora este acordo formal no seja mais que uma coincidncia de semelhana externa, verdade que os grandes fatos histricos registrados na Torah a criao e a queda, o dilvio, a aliana de Deus com Abram, Isaque, e Jac, a redeno de Israel do Egito, a entrega da lei e teofania no Sinai, e a jornada significativa pelo deserto tudo recebem uma resposta leal nos cnticos do santurio de Israel, como pode ser visto em Salmos 8; 19; 78; 95; 104-106; 148. Deste modo a revelao de Deus por meio de Moiss foi gravada na memria de Israel por via de sua repetio em cntico, um dos meios mais efetivos para impressionar o corao com a verdade espiritual. A salmdia de Israel mostra que a religio hebraica est baseado nos cinco livros de Moiss, o Pentateuco. Porm, os salmos no s comemoram os atos redentivos de Deus do passado, mas tambm explicam o significado da contnua direo de Deus de Seu povo.

    O significado mais vital da aliana de Deus com Israel se concentrou nas promessas messinicas feitas originalmente aos patriarcas (Gn. 12:3; 49:10-12) para a salvao do mundo. O salmistas estavam glorificando no a Israel ou Sio ou Davi mas o Deus de Israel, porque Ele tinha escolhido Sio como o centro terrestre para o Seu reino universal ao qual todos o povos estariam sujeitos. Todos so chamados para O servir, como notavelmente expresso nos Salmos 2 e 87. A esperana messinica no restringida salvao de Israel. O Dr. A. Cohen, o comentarista judeu no Livro de Salmos, escreve:

    A vindicao da nao no seno um preldio para um desgnio mais amplo. Toda uma srie de salmos anuncia o advento de Deus como o Juiz do mundo, cuja ordem de justia vir a ser a causa de alegria. A aspirao final que toda a humanidade reconhecer o Reinado Divino; e o supremo, como tambm a chamada final , Todo o ser que respira louve o Senhor. 3

    O propsito dos salmos pode ser considerado como ensinar a todos os homens

    como adorar Deus em Esprito e verdade, como fazer oraes eficazes, em que esprito trazer sacrifcios ao Templo, como interpretar o mundo natural ao nosso redor, e o significado das leis de Israel e histria ativa. Tudo isso no evidente por si mesmo; requer uma interpretao inspirada.

    Pius Drijvers diz: Toda a vida de Israel, o desenvolvimento gradual da revelao, a delcia de saber-se

    como a nao escolhida de Deus, as aflies da perseguio, o desespero que o resultado do pecado e ingratido do homem tudo isso francamente experimentado e francamente expresso em cntico nos salmos. Em resumo, o todo do AT refletido nos salmos. No h nenhuma nica experincia da alma de Israel que no seja expressa l. Os salmos so a expresso mais plena da revelao de Deus no AT. 4

  • Libertao nos Salmos 9

    Muitos salmos so compostos por Davi, o "doce salmista de Israel" (2 Sam.

    23:1), que no s teve um corao potico e o dom de tocar lira (1 Sam. 16:18), mas tambm o esprito de profecia (2 Sam. 23:2-3; cf. Atos 2:30, "sendo um profeta", em relao ao Sal. 16). Provavelmente ele comps vrios salmos quando jovem enquanto ainda era pastor nas colinas solitrias da Judia. Acompanhado de sua lira, Davi deve ter derramado sua alma sensvel nas letras de adorao e louvor enquanto contemplava as obras de Deus na natureza e na histria de Israel. Mais tarde, quando ele foi acusado falsamente e perseguido, seu corao solitrio clamou ao seu Pastor divino por ajuda, garantia de vindicao divina, e reavivamento de alma. O propsito universal dos salmos de Davi nas oraes de todos os santos futuros bem expresso por E. G. White:

    A comunho com a natureza e com Deus, o cuidado de seus rebanhos, os perigos e os livramentos, os pesares e as alegrias, coisas que eram prprias sua humilde condio, no somente deviam modelar o carter de Davi, e influenciar na sua vida futura, mas tambm deveriam, mediante os salmos do suave cantor de Israel, e em todas as eras vindouras, acender o amor e a f nos coraes do povo de Deus, levando-os mais perto do corao sempre amante dAquele em quem vivem todas as Suas criaturas. 5

    Os salmos de Davi no s representaram sua pessoal projeo para com Deus.

    Despertando emoes semelhantes nos coraes de todo o Israel, os cnticos sagrados de Davi estavam na providncia de Deus aceita na liturgia oficial da adorao de Israel no Templo de Jerusalm. Ento todo o Israel comeou a cantar os cnticos e pedir as oraes compostos por Davi. Quem pode contar a influncia de longo alcance dessas inspiradas liturgias de cnticos sagrados que louvaram o amor fiel e a misericrdia do Deus de Israel? Eles despertaram nova coragem e lealdade para com o SENHOR (Yahweh) no corao do povo de Deus, livrando-os da idolatria e superstio. Os que ouviram e cantaram os salmos de Israel beberam de uma fonte de guas vivas brotando da presena de Deus, reavivando a alma.

    O valor religioso incalculvel do Saltrio basicamente de uma dupla natureza: os salmos fornecem tanto um registro autntico dos sentimentos religiosos e insights dos santos de Israel quanto um verdadeiro padro ou norma das emoes e pensamentos sobre Deus e o homem para a adorao de Deus por todos os homens.

    O Chamado de Israel: Louvar o Senhor

    Os salmos refletem a compreenso de Israel da obra de Deus na criao e

    redeno, de Sua providncia e propsito para com o mundo e sua histria. Atravs do livro de salmos Deus despertou Israel a buscar um conhecimento mais profundo dEle e deste modo tambm de si mesmos.

    Os salmos de Davi passam por uma srie completa de experincias, desde as profundezas da culpabilidade consciente e condenao prpria, at a f mais sublime e mais exaltada comunho com Deus. O registro de sua vida declara que o pecado apenas pode trazer ignomnia e desgraas, mas que o amor e a misericrdia de Deus podem

  • Libertao nos Salmos 10

    alcanar as maiores profundidades, que a f erguer a alma arrependida para que participe da adoo de filhos de Deus. De todas as declaraes que se contm em Sua Palavra, isto um dos mais fortes testemunhos da fidelidade, da justia e da misericrdia de Deus em Seu concerto. 6

    Os salmos refletem a sensao de Israel, no s da santidade de Deus, mas

    tambm por meio de contraste do egocentrismo inato ou pecaminosidade, que no tm igual na literatura de outras naes. Acima de tudo, eles testemunham do carter surpreendente de Yahweh como o Criador e Sustentador do mundo, o Redentor de Israel, e o Juiz de todas as naes. Os salmos de Israel inflamaram f, esperana, e amor no corao do povo de Deus em todos os tempos e os ps em liberdade da escravido dos deuses das idades, de materialismo e espiritualismo igualmente. H uma experincia religiosa mais satisfatria, uma realizao mais profunda da expanso da alma por Deus, que a que Asafe teve?

    A quem tenho nos cus seno a ti? E na terra, nada mais desejo alm de estar junto a ti. O meu corpo e o meu corao podero fraquejar, mas Deus a fora do meu corao e a minha herana para sempre. (Sal. 73:25-26, NVI)

    Tais testemunhos de louvor exaltam o santo Deus de Israel. Davi diz

    poeticamente que Deus entronizado nos louvores de Israel" (Sal. 22:3, RSV). Os crentes hebreus consideraram a exaltao do seu Deus da aliana a prpria essncia de vida, at uma questo de vida ou de morte.

    Os mortos no louvam o Senhor, tampouco nenhum dos que descem ao silncio. Mas ns bendiremos o Senhor, desde agora e para sempre! Aleluia! (Sal. 115:17, 18, NVI)

    Se eu morrer, se eu descer cova, que vantagem haver? Acaso o p te louvar? Proclamar a tua fidelidade? Que lucro est l em minha destruio, (Sal. 30:9, NVI)

    Quem morreu no se lembra de ti. Entre os mortos, quem te louvar? (Sal. 6:5, NVI)

    Louvando o Senhor por Sua misericrdia e bondade era a prpria essncia de

    vida para Israel. Quando o Rei Ezequias caiu seriamente doente "a ponto de morte" ele suplicou a Deus por restaurao de vida:

    Pois a sepultura no pode louvar-te,

  • Libertao nos Salmos 11

    a morte no pode cantar o teu louvor. Aqueles que descem cova no podem esperar pela tua fidelidade. Os vivos, somente os vivos, te louvam. (Isa 38:18, 19, NVI)

    Isto expressa a profunda convico da f de Israel de que onde h vida real, h

    louvor de Yahweh. Onde h morte, no h nenhum louvor! A possibilidade de uma vida que no louva Deus no est sendo considerada. Deus criou Israel para o nico propsito "que eles proclamem meu louvor" (Isa 43:21). No pode haver tal coisa como verdadeira vida sem o louvar o Criador. Sem o exaltar a Deus, o homem fica desorientado e privado da alegria no Senhor:

    Por que voc est assim to triste, minha alma? Por que est assim to perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperana em Deus! Pois ainda o louvarei; ele o meu Salvador e o meu Deus. (Sal. 42:11, NVI)

    A verso hebraica do axioma de Shakespeare, Ser ou no ser, eis a questo!" ,

    Louv-Lo ou no louv-Lo, a questo!" A Bblia Hebraica chama o Livro de Salmos "Louvores (Tehillim), sugerindo a principal crena da religio hebria. O salmistas consideraram os seus salmos abertos para todos os gentios para uni-los em sua adorao de Deus.

    Com meus lbios louvarei o Senhor. Que todo ser vivo bendiga o seu santo nome para todo o sempre! (Sal. 145:21, NVI)

    H sabedoria na deliberao: Em vez de lamentar, chorar, e desesperar, quando dificuldades nos sobrevm como

    uma inundao e ameaam nos subjugar, se ns no apenas orssemos por ajuda de Deus, mas O louvssemos por tantas bnos dadas, louv-Lo que Ele pode nos ajudar, nosso curso estaria agradando mais a Ele, e ns veramos mais de Sua salvao. 7

    Os Salmos e Cristo

    Cristo reconheceu que Sua misso, tanto em Seus sofrimentos e triunfos

    vindouros, foi prefigurada nas experincias do salmistas. Claro, Cristo sofreu uma realidade mais profunda de angstia de alma que Davi jamais passou. Davi, como o rei de Sio, serviu como um tipo do Messias, o seu Senhor. Parece portanto inadequado s falar de alguns salmos selecionados como salmos messinicos. Todos os salmos possuem um valor de excessivo misterioso que pode ser discernido luz da vida de Cristo e do Novo Testamento.

    Os salmos reais no s tm em vista as virtudes do rei de Israel em Jerusalm, mas tambm vem as glrias do Rei divino de Israel na perspectiva deles. O rei

  • Libertao nos Salmos 12

    terrestre desaparece, ento, atrs do maior Rei vindouro, o Messias de Israel. Os salmos reais exaltam o Cristo e se tornam profecias veladas do grande Filho de Deus e do Seu reino vindouro. luz do Novo Testamento torna-se gradualmente mais claro que Jesus Cristo no meramente Aquele sobre quem os salmos falam, mas tambm Aquele que inspirou os salmos.

    Cristo explicou aos judeus que todas as Escrituras testemunharam dEle (Joo 5:39). Depois de Sua ressurreio dos mortos, Cristo apareceu aos Seus discpulos e os ajudou a entender is filamentos messinicas na Bblia Hebraica. Ele os reprovou at mesmo por serem demasiado lentos para discernir a ordem messinica de dois aparecimentos de acordo com as suas Santas Escrituras.

    Ele lhes disse: Como vocs custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! No devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glria? E comeando por Moiss e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. (Lucas 24:25-27, NVI).

    E disse-lhes: Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocs: Era necessrio que se cumprisse tudo o que a meu respeito est escrito na Lei de Moiss, nos Profetas e nos Salmos. Ento lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. (Lucas 24:44-45, NVI).

    Jesus Cristo no foi tomado de surpresa quando um dos apstolos de sua

    confiana decidiu tra-Lo com um beijo para as autoridades sanguinrias. Quando Judas levantou-se da ltima ceia para cumprir sua conspirao secreta, Jesus viu Judas cumprir um papel que fora predito na traio de Davi por seu conselheiro de maior confiana:

    No estou me referindo a todos vocs; conheo os que escolhi. Mas isto acontece para que se cumpra a Escritura: Aquele que partilhava do meu po voltou-se contra mim.

    Depois de dizer isso, Jesus perturbou-se em esprito e declarou: Digo-lhes que certamente um de vocs me trair. (Joo 13:18, 21, NVI).

    Jesus citou Salmo 41 no qual Davi se queixou ao Senhor: At o meu melhor amigo, em quem eu confiava e que partilhava do meu po, voltou-se contra mim. (Sal. 41:9, NVI) Foi a viso notvel de Cristo ver na experincia histrica da traio de Davi (veja

    2 Sam 15:12, 31) um tipo da experincia do Messias. Jesus entendeu Sua misso, ento, ser um sofrimento mais profundo e traio pior do que a que o Rei Davi tinha passado. Cristo reconheceu Sua misso ser tambm rejeitada com dio infundado no Salmo 69. Aqui Davi se queixou a Deus, "Os que sem razo me odeiam so mais do que os fios de cabelo da minha cabea; muitos so os que me prejudicam sem motivo, muitos, os que procuram destruir-me." (Sal. 69:4, NVI). A experincia de Jesus de ser odiado e perseguido pelos lderes judeus interpretado por Ele como uma extenso do dio anterior contra Davi. Depois que os Seus milagres messinicos fossem rejeitados, Jesus apelou para o Salmo 69:4:

  • Libertao nos Salmos 13

    Mas agora eles as viram [as obras de Jesus] e odiaram a mim e a meu Pai. Mas isto aconteceu para se cumprir o que est escrito na Lei deles: Odiaram-me sem razo. (Joo 15:24, 25, NVI).

    Estes salmos do sofrimento de Davi no pareciam ter qualquer significado

    messinico, mas Jesus discerniu neles um significado tipolgico, levantando a necessidade de uma cumprimento" mais profundo. Cristo tambm olhou alm de Sua misso humilde, reivindicando a exaltao subseqente da adorao universal que os salmos oferecem ao sofredor e perseguido Rei (veja Sal. 2:2, 7-9, 12; 22:1, 2, 22-28; 89:38-51, 26-29). Os salmos retratam o padro do Rei de ir atravs do sofrimento gloria. Cristo foi o primeiro que compreendeu os salmos reais de Israel em sua aplicao messinica para Ele.

    Os Salmos e o Cristo

    Um estudioso declara com referncia ao Livro de Salmos: O livro possivelmente mais grandemente estimado entre os cristos do que pelos

    judeus. Se aos cristos fosse permitido reter apenas um livro no Antigo Testamento, eles quase certamente escolheriam os Salmos. 8

    Nos salmos Deus ensina que Seus filhos alcanaro sua ltima meta de entrar no

    Reino de Deus s por via de humilhao e misria. Contudo, exatamente nos vales da sombra de morte, nas profundezas de angstia e desamparo, eles experimentam a misericrdia pessoal de Deus mais plenamente. Sofrer se torna para eles algo mais que ira divina; torna-se uma oportunidade de conhecer o milagre de companheirismo ntimo com Deus (veja Sal. 23). Esta comunho da alma com o Senhor era to real a Davi que ele escreveu: "Porque teu amor melhor do que a vida, meus lbios te glorificaro (Sal. 63:3). Quase todo salmo assegura ao adorador que Deus se lembra dos oprimidos, que Ele ouve os seus gritos por ajuda, que Ele responde as oraes, que Ele libertar o suplicante, que Ele vindicar o crente contra falsos acusadores e ser um refgio a todos os nEle confiam. Alm disso, alm de libertao do sofrimento vem a chamada a exaltar as obras do divino Libertador e glorificar o Seu nome, testemunhando de Sua graa indizvel. Isto visto como o significado mais profundo de sofrimento pela a causa de Deus (Sal. 22; 118). O Deus de Israel o Deus da salvao presente e futura.

    A maioria dos salmos foi composta para a adorao comunal de Israel de Yahweh ou adaptado para a liturgia dos festivais anuais para celebrar os atos de salvao de Yahweh na histria do Seu povo da aliana.

    Quando certa vez os discpulos ouviram por acaso Jesus orando intimamente ao Pai, eles ficaram to profundamente impressionados que eles Lhe pediram: "Senhor, ensina-nos a orar!" (Lucas 11:1). Embora a orao seja uma funo natural de nossa alma, no sabemos por natureza como devemos orar. Os desejos e as esperanas de nosso corao no so oraes eficazes! No sabemos como alcanar o corao de Deus, ter certeza de que Deus nos ouve. Ns temos que aprender a orar. Uma criana

  • Libertao nos Salmos 14

    aprende a falar porque seu pai e sua me falam com ele. Ele aprende a fala dos seus pais. Assim ns aprendemos a falar com Deus porque Deus falou-nos em Sua Palavra. Por meio das oraes que Deus inspirou nos coraes de Davi, Asafe, Moiss, e de Cristo na Bblia, ns podemos ter acesso a Deus. Como Bonhoeffer diz:

    Ns devemos falar a Deus e ele quer nos ouvir, no na falsa e confusa fala de nosso corao, mas na fala clara e pura que Deus falou a ns em Jesus Cristo. 9

    O livro de Salmos o livro de oraes da Bblia. Aqui ns somos ensinados, no

    o que ns queremos orar, mas o que Deus quer que ns oremos em nome de Jesus Cristo, Seu Filho amado.

    No Novo Testamento as doxologias de Maria o " Magnificat" e de Zacarias o "Benedictus" em Lucas 1:46-55, 67-69 mostram que os hinos de Israel foram aplicados para agradecer a Deus por Seu presente cumprimento das promessas messinicas. Os salmos tambm formavam uma parte essencial de adorao na igreja apostlica:

    Habite ricamente em vocs a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cnticos espirituais com gratido a Deus em seu corao. (Colossenses 3:16, NVI).

    O entoar cnticos sagrados "um dos meios mais eficazes para impressionar o

    corao com as verdades espirituais. Quantas vezes, ao corao oprimido duramente e pronto a desesperar, vm memria algumas das palavras de Deus as de um estribilho, h muito esquecido, de um hino da infncia e as tentaes perdem o seu poder, a vida assume nova significao e novo propsito, e o nimo e a alegria se comunicam a outras pessoas! ... Como parte do culto, o canto um ato de adorao tanto como a orao. 10

    No ltimo livro da Bblia dado um vislumbre da glria celestial ao redor do trono de Deus. Anjos divinos esto cantando cnticos de adorao e ao de graas (Apoc. 4-5). A nota tnica do cu o louvor a Deus pelo que Ele e fez por toda a Sua criao.

    Referncias

    1 Luther's Works (St. Louis: Concordia Publishing House), vol. 35, pp. 255, 256. 2 See J. H. Patton, Canaanite Parallels in the Book of Psalms (Baltimore: J. Hopkins

    Press, 1944); J. B. Pritchard, ed., Ancient Near Eastern Texts, 3d ed., pp. 573-591. 3 The Psalms, 11th ed. (London: Soncino Press, 1974), p. xiii. 4 The Psalms: Their Structure and Meaning (London: Herder, 1965), pp. 4, 5 (italics

    supplied). 5 Patriarcas e Profetas (Tatu, S. P.: Casa Publicadora Brasileira), p. 642. 6 Ibid., pg. 754. 7 Life Sketches of Ellen G. White (Mountain View, Calif.: Pacific Press, 1915), p. 258. 8 John R. Sampey, in The International Standard Bible Encyclopedia (Grand Rapids,

    Mich.: Eerdmans), vol. 4 (1915), p. 2487.

  • Libertao nos Salmos 15

    9 Psalms: The Prayerbook of the Bible (Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1970), p. 11 .

    10 Ellen G. White, Educao (Tatu, S. P.: Casa Publicadora Brasileira), pg. 168.

    A ORIGEM E A CLASSIFICAO DOS SALMOS Salmos o ttulo que a Septuaginta, a verso grega da Bblia Hebraica, ps

    sobre o livro dos hinos de Israel ou cnticos de louvor. Como a formao do Livro de Salmos teve lugar no mais conhecido. No tempo de Rei o Davi em Jerusalm, 1000 A.C., cnticos poticos e msica comearam a ser incorporadas oficialmente na liturgia sagrada de Israel do santurio. Relatrios de escritura que Davi, assim que ele trouxe a arca da aliana a Jerusalm, ordenou que fosse cantada ao de graas ao Senhor por "Asafe e seus irmos" (1 Crn. 16:7). Com o acompanhamento de msica instrumental de harpas, liras, cmbalos, e trompetes, os coros dos levitas foram "diante da arca do Senhor, fazendo peties, dando graas e louvando o Senhor, o Deus de Israel" (1 Crn. 16:4-6). registrado mais adiante que quando Rei Salomo trouxe a arca da aliana para o novo Templo, cento e vinte trompetistas sacerdotais uniram-se aos cantores levitas, Asafe, Hem, Jedutum e os filhos e parentes deles, com seus cmbalos, harpas, e liras. Todos "em unssono, louvaram e agradeceram ao Senhor" (2 Crn. 5:13).

  • Libertao nos Salmos 16

    Os cantores levitas pareciam ter sido divididos em coros e coros responsivos, cada coro cantando suas prprias palavras e melodias em harmonias antifonais (Nee. 12:24). Estes coros do Templo tambm executaram seus cnticos de adorao em ocasies especiais como no comeo de uma grande batalha contra inimigos unidos (2 Crn. 20:19-23); na dedicao do Templo sob o Rei Ezequias (2 Crn. 29:25-30); e na dedicao do muro restaurado de Jerusalm sob Neemias, o governador (Nee. 12:27). Louvor e ao de graas eram a nota tnica em todas as ocasies.

    O servio do cntico tornou-se uma parte regular do culto religioso; e Davi comps salmos, no somente para o uso dos sacerdotes no servio do santurio, mas tambm para serem cantados pelo povo em suas jornadas ao altar nacional nas festas anuais. A influncia assim exercida era de grande alcance, e teve como resultado libertar da idolatria a nao. Muitos dos povos circunvizinhos, vendo a prosperidade de Israel, eram levados a pensar favoravelmente acerca do Deus de Israel, que havia feito to grandes coisas por Seu povo. 1

    Que tipo de hinos seja estes cantados pelos coros do Templo? A resposta : os

    salmos que contidos em nossa Bblia. Por exemplo, ns lemos que os Salmos 96 e 105:1-15, e 106:1, 47-48, foram cantados como cnticos sagradas sob a direo de Asafe quando Davi trouxe a arca da aliana para Jerusalm (1 Crn. 16:8-36).

    Porm, est claro que no princpio colees menores de salmos existiram como hinrios, provavelmente compilados pelos msicos do Templo nos tempos de Davi (1 Crn. 23:2-5), de Josaf (2 Crn. 17:7-9), de Ezequias (2 Crn. 29:25-30), e de Esdras e Neemias (Nee. 12:27-30, 45-46). Alguns salmos ocorrem duas vezes nestes colees: Salmos 14 = 53; 40:13-17 = 70; 108 = 57:7-11 e 60:5-12. Salmo 72:20 declara que so terminadas as oraes de Davi. Ainda, depois do Salmo 72 muitos mais salmos tm o sobrescrito "de Davi". Muitos crem que os grupos de salmos com o sobrescrito "de Asafe" ou "dos filhos de Cor, ou "cnticos de ascenses", eram hinrios originalmente separado usados como repertrio por associaes diferentes de cantores: grupos de coros de Davi, de Cor, e de Asafe.

    O salmo mais antigo de Moiss (Sal. 90), e os mais recentes vieram existncia depois do exlio babilnico (Sal. 126; 137), estendendo assim um perodo de cerca de mil anos. A tradio judaica aponta a cinco livrinhos distintos dentro do grande Livro de Salmos: 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150. Cada dos primeiros quatro fecha com um doxologia semelhante:

    Louvai ao SENHOR, o Deus de Israel, de eternidade a eternidade. Amm e Amm. A coleo final foi uma seleo por editores desconhecidos que deliberadamente

    quiseram o nmero 150 como limite. So difundidos outros salmos ao longo do Antigo Testamento: xo. 15; Deut. 32; Ju. 5; 1 Sam. 2; 2 Sam. 22; Isa. 12; Jonas 2; Livro de Lamentaes; Hab. 3.

    Embora nem todos os salmos so organizados de acordo com um princpio claro, contudo os primeiros dois salmos tm uma funo bvia como introduo. Eles contam os dois pilares principais da f hebraica: o Torah e o Rei de teocrtico. O

  • Libertao nos Salmos 17

    ltimo salmo (Sal. 150) uma grande doxologia, chamada "A Grande Aleluia", e portanto um fechamento do livro inteiro de hinos.

    Geralmente reconhecido que existe uma conexo ntima entre os salmos e o culto, a adorao pblica do Templo. Vrios salmos podem ter estado bem compostos como cnticos para festivais religiosos especiais. Outros foram adaptados para a adorao de culto. Isto deu aos salmos um carter mais geral de forma que eles podiam ser usados para adorao em todos os tempos.

    s vezes a origem histrica de um salmo ainda pode ser detectada, como nos Salmos 24 e 33. O Antigo Testamento indica repetidamente que Davi era um talentoso cantor em Israel, compositor de cnticos poticos e oraes para a adorao do Templo (1 Sam. 16:18; 2 Sam. 1:17-18; 6:5; 22; 23:1-7). Ele chamado o "doce salmista de Israel ".

    Embora fosse habitual um sculo atrs negar Davi como o autor de qualquer salmo, agora muitos tomam as subscries mais seriamente de novo. O problema ainda no solucionado quanto a se o sobrescrito "de Davi" nos setenta e trs salmos com este ttulo significa "de Davi" ou "para Davi" ou "pertencendo coleo de Davi". O fato que em muitos salmos o locutor o rei ou um grande lder aponta na direo do prprio Davi como o autor.

    Muitas vezes os inimigos, os trabalhadores da injustia, podem ser identificados com alguns dos prprios inimigos de Davi como Saul ou Absalo em sua revolta (Sal. 18).

    Em Mateus 22:43-45 Cristo at mesmo volta autoria de Davi do Salmo 110 em um argumento para o Seu Messianato.

    N. H. Ridderbos conclui: Muitos salmos originaram-se aparentemente pelo tempo de Davi; dever-se-ia lembrar

    que este era o tempo no qual msica e cntico foram nomeados um bem-ordenado lugar no culto de Israel. 2

    Recentes estudos que comparam o idioma dos salmos com isso de fontes

    Ugarticas antigas conduziram M. Dahood para a concluso de que vrios salmos bblicos deveriam ter sido compostos no tempo do prprio Davi (por exemplo, Sal. 2; 16; 18; 29; 50; 58; 82; 108; 110). 3

    Tipos de Salmos

    Durante os ltimos cinqenta anos os salmos foram distinguidos por vrios tipos

    literrios ou gneros de acordo com sua funo diferente na liturgia do santurio. As trs classes principais so: hinos ou cnticos de louvor; cnticos de ao de graas; lamentaes individual e comunitria ou oraes de splica. Ulteriores subdivises so: liturgias de entrada, cnticos de peregrinao, salmos de inocncia, salmos de sabedoria, salmos de confiana, salmos reais, salmos penitenciais, salmos imprecatrios, e outros. Contudo, nem todo salmo tem uma origem litrgica ou propsito.

  • Libertao nos Salmos 18

    Hinos ou Cnticos de Louvor. Salmos 8; 19; 33; 103; 111; 113; 145-150; e outros. Estes hinos so exortaes jubilosa para louvar e adorar ao Senhor por causa de Suas virtudes gloriosas e majestade manifestadas em Suas palavras e atos na criao do mundo e nas libertaes na histria de Israel. Estes hinos centralizados em Deus foram usados pelos coros dos levitas no servio dirio (1 Crn. 23:30-31). Os hinos mais antigos so o Cntico de Miri (xo. 15:21) e a Cntico de Dbora (Ju. 5).

    Os Cnticos de Ao de Graas do Indivduo: Salmos 9; 18; 30; 32; 34:2-12; 66; 92; 116; 138; e outros. Este tipo de salmo conectado explicitamente com a adorao do Templo. Estes salmos freqentemente mencionam o santurio e o ritual sacerdotal (Sal. 66:13-14; 69:30-31; 116:13-19) e era provavelmente usado com relao ao sacrifcio da oferta de gratido. Nestes cnticos o indivduo freqentemente o prprio rei testifica de sua grande necessidade enquanto estava em uma emergncia, como ele clamou ao Senhor e foi libertado. Normalmente tal cntico inclui exortaes para os amigos reunidos e contratantes associados a confiar e amar o fiel Deus da aliana (Sal. 31:23.24; 32:6). Alguns salmos de ao de graas comunitria so 65 e 67 (ambos com relao a banquetes agrcolas), 124 (para vitria na guerra), e especialmente 100 (para a oferta de gratido).

    As Lamentaes ou Splicas do Indivduo: Salmos 3; 5; 6; e muitos outros. A maioria dos salmos pertence a este tipo de cntico. Sua origem e uso eram para a adorao no santurio. Eles so caracterizados por um apelo ao nome do Senhor (Sal. 18:1-3); por reclamaes em graus diferentes de intensidade (Sal. 10; 39); por oraes por libertao, cura, perdo, e assim por diante (Sal. 3:7; 22:11, 19-21); por desejos, especificamente quanto aos mpios (Sal. 37); por motivos de rogo e antecipar ao de graas (Sal. 28:6) ou votos de ao de graas (Sal. 7:17). Eles se movem do desespero confiana, da angstia certeza. O indivduo assim no perdido na adorao comunal (Sal. 40:17).

    A estrutura destes poemas basicamente qudrupla: (um) uma invocao de Deus; (b) um grito por ouvir e auxlio; (c) uma descrio do infortnio e angstia de alma; e (d) uma orao por libertao.

    Assim em um salmo deste tipo o poeta se move em sua splica s vezes mais de uma vez do desespero confiana, da misria pessoal e sofrimento ao amor salvador de Deus. No entanto, o motivo subjacente da lamentao no exatamente a prpria angstia ou solido do salmista, mas o sentimento religioso de alienao de Deus, de ser expulso da adorao do Templo, da face graciosa de Deus. Esta era a real crise que causou a lamentao ou orao de splica. A necessidade mais profunda esse perdo de Deus de culpabilidade e purificao do corao (Sal. 51; 130; 143).

    Um tipo especfico destes lamentos individuais tem que ver com falsas acusaes; conseqentemente tais salmos contm enfticas confisses de inocncia, at mesmo com juramentos de integridade e retido (Sal. 7; 26). Tais salmos so chamados salmos de inocncia. Tais confisses de retido ou perfeio facilmente so mal-entendidas e interpretadas mal como afirmaes de farisasmo, como legalistas. portanto de importncia crucial reconhecer a real colocao em vida de tais lamentos individuais, nomeadamente, a colocao de um processo sacro. O israelita falsamente

  • Libertao nos Salmos 19

    acusado busca no santurio ajuda final e vindicao de Deus pelo orculo sacerdotal no processo sacro no Templo (Sal. 26:6-7). Este procedimento foi provido oficialmente para na lei mosaica (xo. 22:7-12; Deut 17:8-12; cf. 1 Reis 8:31-32).

    Lawrence Toombs reconstruiu este ritual de culto: O ritual para a apresentao de um caso legal no templo desconhecido, mas

    indicaes nos salmos nos permitem tentar uma reconstruo. Na presena dos sacerdotes o que tinha buscado o santurio declarou o seu caso. Ele assim o fazia em idioma convencional que o retratava no aperto de morte, afogando-se no mar, deslizando no submundo, emaranhado na rede do caador, enlameado em um pntano, ou rasgado em pedaos por animais selvagens. Ele declarou sua inocncia das especficas acusaes contra ele, convidando o olhar perscrutador de Deus para determinar sua culpabilidade ou inocncia.

    Durante sua defesa a vtima freqentemente denunciava seus inimigos termos vigorosos e terrveis maldies amontoadas sobre eles. Estas passagens so denncias expressas no idioma tradicional do Prximo Oriente. A violncia das palavras devido ao fato de que em culturas pags nas quais esta forma literria se originou os inimigos eram freqentemente feiticeiros que tentam destruir o sofredor atravs de meios mgicos. Ele buscou devolver o mal aos seus perpetradores. Em tempos anteriores pode ter sido testada a inocncia do suplicante por meio de uma provao, mas rastros s lnguidos desta prtica permanecem nos salmos de lamento.

    Depois de apresentar seu caso na forma ritual correta, o suplicante passou a noite nos limites de templo aguardando um sinal de favor divino, que poderia ser dado em um sonho ou verbalmente por sacerdote ou profeta de culto. Alguns dos salmos contm exemplos dos "orculos de salvao" falados para o conforto e encorajamento do sofredor (por exemplo, 55:22). Como a garantia de salvao veio aps a viglia de uma noite no templo, a manh foi considerada como o tempo em que Deus revelou a sua salvao. Com a certeza de libertao, o suplicante pagou os seus votos, normalmente uma oferta de gratido e um testemunho pblico pela bondade de Deus, e partiu. 4

    Lamentos comunitrios seguindo o mesmo padro como os lamentos individuais so os Salmos 44; 74; 79; 83; etc. Estes eram usados em tempo de fracasso de colheita, pestilncia, e derrota em guerra ou calamidade nacional (veja Joel 1:15-20; 2:12-17; 1 Reis 8:33-34).

    Cnticos de Confiana: Salmos 11; 16; 23; 62; 125; 129; 131. At os lamentos de amargura no terminam com a nota de desespero, mas clmax em tons de certeza e confiana que Deus em Sua fidelidade salvar novamente. Sem um padro literrio fixo, estes salmos esto entre lamentao e ao de graas.

    Salmos de Sabedoria. Salmos 1; 37; 49; 73; 112; 128; 133. Estes salmos contm instruo sacerdotal nas tradies da Torah, especialmente com a finalidade dos grandes festivais de Israel em Jerusalm. Estes salmos esto estreitamente relacionados com a literatura de sabedoria de Israel e do antigo Prximo Oriente. A doutrina central dos salmos de sabedoria ensinar "que obedincia fiel revelada vontade de Deus traz prosperidade material e espiritual mas rejeio de Sua vontade significa destruio, no menos completo porque s vezes longo atrasado ". 5

    Salmos de Peregrinao ou "Cnticos de Ascenses: Salmos 84; 121-134. Estes so os hinos cantados pelos peregrinos ambulantes em suas jornadas para ou dos

  • Libertao nos Salmos 20

    grandes festivais anuais, expressando o seu amor por Sio, a cidade santa, e a sua gratido para a orientao de Deus e proteo.

    Salmos Litrgicos: Salmos 15; 24; 50; 75; 85; 118; 121. Salmos 15 e 24 so considerados "liturgias de entrada" usadas nos portes do Templo. Salmos 50, 75, e 85 parecem pertencer ao festival de Ano Novo quando Israel renovava suas alianas com Deus, e o Senhor pesava Israel nas balanas do Seu santurio celestial em reprovao e consolo, apelando para verdadeiro arrependimento.

    Os Salmos Reais: Salmos 2; 18; 30; 31; 45; 72; 89; 101; 110; 132; 144:1-11; e outros. Estes podem coincidir igualmente com outros tipos. O Salmo 18 tambm uma orao de ao de graas de um rei em seu retorno de uma campanha. O Salmo 22 uma orao de splica. O Salmo 144:1-11 um lamento real. Embora salmos deste tipo no possuem um estilo comum definido, eles tm um tema subjacente: a relao de aliana especial entre o Senhor (Yahweh) e o rei davdico como o ungido filho de Deus. Ele recebeu a promessa da ltima e universal vitria sobre todos os seus inimigos. A maioria dos salmos reais foi cantado na entronizao do rei ou no festival real anual, quando o rei fazia um voto solene (Sal. 101).

    Nestes salmos reais podem ser discernidas caractersticas proftico-messinicas, visto que os reis de Jud jamais entenderam inteiramente a monarquia gloriosa retratada nestes salmos. O uso destes salmos, portanto, evocava o desejo e expectativa de um Rei em quem toda a glria de tal posto teocrtico seria cumprida. Os salmos reais no deveriam ser considerados como desejos piedosos, mas como o desdobramento proftico-potico, desdobrando a profecia histrica de Nat para Davi em 2 Samuel 7:12-16 que prometeu concernente ao filho de Davi: "Eu lhe serei por pai, e ele me ser por filho. ... Porm a tua casa e o teu reino sero firmados para sempre diante de ti; teu trono ser estabelecido para sempre. " (vv. 14, 16).

    Em contraste com o retrato de glria teocrtica nos salmos reais, outros salmos apresentam o quadro profundamente humano de um rei cado e sinceramente arrependido (veja Sal. 32 e 51). Tais salmos penitenciais (tambm Sal. 6; 38; 102; 130; 143), para serem cantados por todo o Israel, se salientam na histria como um testemunho nico para a autenticidade do arrependimento de Davi. Eles oferecem esperana e cura a todos os que so despertados sua culpabilidade e buscam alvio para as suas almas enfermas pelo pecado.

    Por que o Rei Davi compartilhou a sua experincia pessoal de pecado e arrependimento com a adorao pblica de Israel? Um autor sugere: "Ele sabia que a confisso de sua culpabilidade traria os seus pecados como advertncia de outras geraes. Ele apresenta o seu caso e mostra em quem estava a sua confiana e esperana de perdo ". 6

    Enquanto os salmos penitenciais declaram que o pecado pode trazer s vergonha e aflio, ao mesmo tempo eles afirmam que a graa perdoadora de Deus alcana at a mais baixa profundidade e que a alma arrependida ser restabelecida por Deus plena filiao.

    Os salmos de Davi passagem pelo total espectro da experincia humana, "desde as profundezas da culpabilidade consciente e condenao prpria, at a f mais

  • Libertao nos Salmos 21

    sublime e mais exaltada comunho com Deus. . . . De todas as declaraes que se contm em Sua Palavra, isto um dos mais fortes testemunhos da fidelidade, da justia e da misericrdia de Deus em Seu concerto".7

    Salmos Imprecatrios ou Oraes por Maldio: Certos salmos contm oraes de vingana e maldies para os obreiros da injustia. Tais salmos so chamados salmos imprecatrios: Sal. 35; 58; 69; 109; 137; e outros. Esta descrio sugere erroneamente aquelas tais maldies so o tema central desses salmos. Muitos, portanto, denunciaram tais salmos como estando em conflito bsico com o Novo Testamento, com o amor de Cristo que orou por seus inimigos "Pai, perdoa-os, porque no sabem o que fazem." (Lucas 23:34), e com a orao de Estvo, "Senhor, no lhes imputes este pecado." (Atos 7:60). Portanto, muitos intrpretes rejeitaram os salmos imprecatrios como no sendo inspirados, como exploses puramente humanas, como algumas palavras de J e Jeremias.

    O que pode ser dito desta posio? Primeiro, que nossos prprios sentimentos ticos no so o juiz final neste assunto. S a autoridade de Escritura pode ser decisiva. Em segundo lugar, as maldies so identificadas to completamente como um todo com os salmos que no possvel tir-los fora do seu contexto como no sendo inspirados. Tais salmos permanecem ou caem como uma unidade. Alm disso, o Novo Testamento cita os salmos imprecatrios como dignos de autoridade e assim reconhece que tais salmos so inspirados. Veja:

    Romanos 3:13, citando Salmo 5:9 (vs. 10 imprecatrio); Romanos 3:13, citando Salmo 140:3 (vs. 10 imprecatrio); Romanos 3:14, citando Salmo 10:7 (vs, 15 imprecatrio); Romanos 15:3, citando Salmo 69:9 (vv. 27-28 so imprecatrios); Joo 15:25 uma instncia em que Jesus aplicou o Sal. 69:4 e tambm o Sal.

    35:19 dois dos salmos imprecatrios mais afiados a Si mesmo. O Novo Testamento s vezes aplica tambm as maldies em um sentido

    positivo: Atos 1:20 cita Salmo 69:25; Atos 1:20 cita Salmo 109:8; Romanos 11:9-11 cita Salmo 69:22-23. Destas aplicaes do Novo Testamento dos salmos imprecatrios podemos

    aprender que tais salmos so cristologicamente aplicados por Paulo a Cristo como o Messias e para os Seus inimigos. Alm disso, os salmos imprecatrios so teocntricos, Deus no centro. O conflito se encoleriza no exclusivamente entre Davi e os seus inimigos. Davi, como o rei teocrtico, peleja as batalhas do Senhor (2 Sam 5:24). Os reis de Israel na linha de Davi se sentaram "no trono do reino do Senhor" (1 Crn. 28:5; cf. 29:23). Os inimigos de Davi so os inimigos de Deus: "Acaso no odeio os que te odeiam, Senhor? E no detesto os que se revoltam contra ti?" (Sal. 139:21). de importncia vital tambm interpretar teologicamente os salmos de imprecatrios, no humanisticamente. At mesmo nos salmos nacionais, onde Israel colocado em contraste com as naes gentlicas, precisamos interpretar Israel no

  • Libertao nos Salmos 22

    como uma nao secular, mas como o povo de Deus na velha dispensao, como o povo da aliana de Yahweh, como um com Deus. A guerra contra Israel a guerra contra o Deus da aliana de Israel (Sal. 74:18-23; 79:6-7, 12-13; 83:1-5).

    Fica claro que a derrota desejada e a penalidade para o mpio correlato orao por libertao dos filhos de Deus; virtualmente a orao para a vinda do Reino de Deus. Nos salmos imprecatrios a guerra contra Davi a guerra contra os ungidos do Senhor. Por conseguinte, esses mpios so os inimigos do prprio Deus (Sal. 37:20). Davi no se sustenta como homem sozinho, mas no escritrio santo dos representantes ordenados, ungido de Yahweh, como o tipo de Cristo. No dio do mpio que causou ansiedades ao Rei Davi, ele sentia o dio contra o seu Deus! Portanto Davi e os salmistas imploravam a Deus por Seu julgamento e justia (Sal. 43:1; 35:23; 58:10-11; 96:10). A prpria honra de Deus e fidelidade esto em jogo.

    Lembra-te de como o inimigo tem zombado de ti, Senhor, como os insensatos tm blasfemado o teu nome. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No deixes que o oprimido se retire humilhado! Faze que o pobre e o necessitado louvem o teu nome. Levanta-te, Deus, e defende a tua causa; lembra-te de como os insensatos zombam de ti sem cessar. (Sal. 74:18, 21-22, NVI) Ajuda-nos, Deus, nosso Salvador, para a glria do teu nome; livra-nos e perdoa os nossos pecados, por amor do teu nome. Por que as naes havero de dizer: Onde est o Deus deles? Diante dos nossos olhos, mostra s naes a tua vingana pelo sangue dos teus servos. (Sal. 79:9-10, NVI)

    Davi, um profeta de acordo com Atos 2:30, pode ser comparado a Jeremias

    quando aquele profeta falou sob a inspirao do Esprito de Deus: Mas a ira do Senhor dentro de mim transborda, j no posso ret-la. Derrama-a sobre as crianas na rua e sobre os jovens reunidos em grupos; . . . " (Jer 6:11, NVI)

    A ira de Deus pegou completamente as prprias emoes do profeta. Aqui ns

    podemos observar como a ira de um profeta contra o mpio pode ser inspirado pela prpria ira de Deus. A exploso proftica de maldio pode refletir as vibraes de raiva divina.

    No se deveria concluir apressadamente que as maldies de Davi eram meros ajustes pessoais de raiva. Davi mostrou controle perfeito repetidamente quando poderia ter matado seus inimigos: Saul (1 Sam 24; 26), Simei (2 Sam 16:10-12), e

  • Libertao nos Salmos 23

    outros (1 Sam 25:22, 32, 33). Amor aos inimigos tambm a responsabilidade em Israel (xo. 23:4-5; Lev. 19:18; Prov 20:22; 24:17; 25:21, 22; J 31:29, 30). Os salmos imprecatrios no sugerem que o homem pode se vingar e pode retaliar (veja Sal. 37). Bonhoeffer explica:

    Os inimigos referidos aqui so os inimigos da causa de Deus, que impem as mos em ns por causa de Deus. Portanto no de modo algum uma questo de conflito pessoal. Em nenhuma parte o que ora estes salmos quer tomar vingana em suas prprias mos. Ele pede apenas a ira de Deus (cf. Romanos 12:19). Portanto ele tem que descartar da prpria mente todo o pensamento de vingana pessoal. Caso contrrio, a vingana no seria seriamente ordenada de Deus. Isto significa que s aquele que ele prprio inocente em relao ao seu inimigo pode deixar a vingana com Deus. A orao pela vingana de Deus a orao pela execuo de sua justia no julgamento do pecado. 8

    O Novo Testamento no abole o juzo final para o mpio tampouco. Jesus advertiu "Ai de vs" vrios vezes em Mateus 23, e at mesmo teve raiva despertada em seu corao (Mar. 3:5). Peter disse a Simo, o feiticeiro: "Perea com voc o seu dinheiro! . . . Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu corao" (Atos 8:20, 22, NVI). E Paulo disse a Elimas, o feiticeiro: " filho do diabo. . . ." (Atos 13:10, RA). Ele escreveu at mesmo: "Se algum no ama o Senhor, seja amaldioado." (1 Cor 16:22; cf. Gl. 1:9; Apoc. 6:9-10).

    Deve-se reconhecer, portanto, que com a vinda de Cristo a revelao do amor de Deus foi alm daquela revelada na dispensao hebraica. Na era do evangelho os juzos sobre os inimigos do povo de Deus esto em misericrdia adiada ao juzo final. A graa de Cristo intensificou dramaticamente o amor de Deus pelo homem pecador:

    Vocs ouviram o que foi dito: Ame o seu prximo e odeie o seu inimigo. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem" (Mat. 5:43-44).

    Estvo seguiu o seu Mestre, orando enquanto era apedrejado at a morte,

    "Senhor, no lhes impute este pecado." (Atos 7:60). Ns podemos concluir que os salmistas tambm foram os instrumentos do

    Esprito de Deus em suas oraes imprecatrias. Nestes somos confrontados com a ira do prprio Deus, do prprio Cristo. Estas oraes sero cumpridas no dia em que Cristo ser Juiz Ele (Mat. 25:31; Apoc. 19:2). Os amaldioados no so apenas aqueles que se rebelaram abertamente contra Deus, mas tambm aqueles que obstinadamente fecharam os seus coraes ao Esprito de amor compassivo para com os membros da raa humana necessitados. O Novo Testamento revela que a responsabilidade humana aumentou consideravelmente por causa de Cristo (Joo 15:22-24; Heb 2:1-3; 10:26-31).

    F. Delitzsch comenta profundamente quanto s oraes imprecatrias: "Uma cortina desse tempo contudo pairou diante da eternidade, diante do cu e inferno, para que as maldies como lxix.20 [Sal. 69] no fossem compreendidas pelo que as articulou na sua profundidade infinita de significado." 9

    Referncias

  • Libertao nos Salmos 24

    1 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 711. 2 De Psalmen, Dee I (Kampen: J. H. Kok, 1962), p. 15 (own translation). 3 Psalms, The Anchor Bible Series, 16, vol. I (New York: Doubleday, 1966), pp. xxix-xxx. 4 Lawrence E. Toombs, "Introduction to the Book of Psalms," retirado de The Interpreter

    I One-Volume Commentary on the Bible, C. M. Layman, ed., 1971 by Abingdon Press, Nashville, Tenn., p. 257. Usado com permisso.

    5 Ibid., p. 258. 6 E. G. White, Spiritual Gifts, vol. 4 (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn.,

    1945 [repr. of1864]), p. 88. 7 White, Patriarcas e Profetas, p. 754. 8 Psalms: The Prayer Book of the Bible (Minneapolis: Augsburg Pub. House, 1970), p. 57. 9 Biblical Commentary on the Psalms (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1959, repr.), vol.

    I, p. 418 (intro. to Ps 35).

    O ESTILO POTICO E SEU SIGNIFICADO Antes que os salmos sejam aplicados aos cristos, a tarefa de uma exegese

    responsvel dos textos deve ser considerada. Isto significa que cada salmo deve ser entendido principalmente em sua prpria colocao histrica na vida de Israel. Esta a aplicao do princpio gramatical-histrico de exegese. O colocao viva dos salmos tambm inclui a sua funo atual na adorao de Israel. Os hinos sacros eram uma parte vital das vrias liturgias nos servios do Templo de Israel no Monte Sio. Muitas cnticos acompanhavam o ritual dos sacrifcios dirios e as cerimnias dos festivais anuais do calendrio sagrado de Israel como esboou no Livro de Levtico. Essa a razo por que deveriam ser relacionados Levtico e Salmos um ao outro; eles parecem complementar um ao outro. A mensagem de muitos salmos revela a dimenso-

  • Libertao nos Salmos 25

    profundidade de arrependimento e confiana em Yahweh que deveria acompanhar os servios rituais prescritos em Levtico (veja Sal. 4:5; 5:7; 7:12; 50; 51). O uso litrgico dos Salmos deu a estes poemas o seu estilo de culto tpico; quer dizer, eles so artisticamente estruturados e bem ordenados para uso na adorao comunal. N. H. Ridderbos explica a natureza do estilo de culto como segue:

    Orar, para o salmistas, no uma efuso descontrolada de suas emoes. Como defensores de splica eles colocam uma variedade de solos bem-organizados de rogos diante do SENHOR como o Juiz real. Assim eles constroem um fundamento firme no qual eles podem estar para tornar conhecido ao SENHOR os desejos de seus coraes. 1

    Suas circunstncias os pecados, perseguies, falsas acusaes, e libertaes

    no especificado em detalhes, de forma que os adoradores do Senhor de todos os tempos podem unir-se a Israel nas splicas, louvor, e aes de graas a Deus. Este estilo de culto ou de credo nomeiam do Livro de Salmos torna difcil, porm, reconstruir a colocao viva original exata de cada salmo. No obstante, o propsito espiritual dos salmos de Israel est claro: o Templo de Jerusalm foi projetado para ser "uma casa de orao para todos os povos " (Isa 56:7; cf. 2:2-4).

    Uma caracterstica particular do Saltrio que muitos salmos sugerem uma variao de voz dentro do mesmo salmo. Freqentemente uma voz est falando em nome de Yahweh, provavelmente a voz de um sacerdote ou profeta no santurio (por exemplo, Sal. 20:6; 32:8; cf. 2 Crn. 20:14).

    Com relao poesia dos salmistas, isto no achado na rima de palavras ao trmino de oraes, mas no uso artstico de ritmo e em certas figuras poticas de estilo. David Noel Freedman sugere que o nmero total de slabas em linhas e unidades maiores tanto as slabas tnicas quanto as slabas tonas formam padres de mtrica na poesia hebraica.2 C. H. Hassell Bullock at mesmo declara, "A lngua hebraica tem uma qualidade intrnseca que naturalmente inclinada expresso potica.3

    Esta qualidade pode ser vista em sua ressonncia sonora nica de fala, que a fez um meio poderoso para alcanar as emoes, a vontade, e o intelecto do homem. G. L. Arqueiro declara, "Por causa de sua habilidade para comprimir pensamento-contedo em algumas slabas, possuiu uma fora dinmica e penetrante capaz de mexer o ouvinte para as profundidades do seu ser".4 Estudiosos declaram que um tero da Bblia Hebraica composta em forma potica.

    O som dos acentos rtmicos das palavras hebraicas serve para enfatizar a mensagem do poeta. Porm mais est envolvido. As linhas so organizadas em padres tpicos que tocam nossa imaginao, despertam nossos sentimentos, e apontam o enfoque da informao que o salmista quer comunicar. No centro desta forma mais alta de fala encontra-se o dispositivo oriental bem-conhecido como paralelismo, o paralelo artstico de linhas com pensamentos correspondentes. Quer dizer que em um verso h duas, ou s vezes trs, linhas ou stichs (do grego stichus, "linha") que corre paralela uma outra. Por exemplo:

    Lmpada para os meus ps tua palavra e luz, para o meu caminho.

  • Libertao nos Salmos 26

    (Sal. 119:105, RC) Formas diferentes de paralelismo foram tradicionalmente distintas, como

    paralelismo sinnimo ou repetido: Senhor, quem habitar no teu santurio? Quem poder morar no teu santo monte? (Sal. 15:1, NVI)

    Paralelismo antittico ou contrastante:

    Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos mpios perecer. (Sal. 1:6, RA)

    Uma forma mais intrigante paralelismo climtico ou progressivo:

    O Senhor est no seu santo templo; o Senhor tem o seu trono nos cus. Seus olhos observam; seus olhos examinam os filhos dos homens. (Sal. 11:4, NVI)

    Comum Bblia Hebraica inteira est o estilo de paralelismo sinttico ou

    complementar: Bem-aventurado o homem que no anda no conselho dos mpios, no se detm no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. (Sal. 1:1, RA)

    Embora este estilo de paralelismo normalmente considerado a linha de

    demarcao entre prosa e poesia, estudos modernos mostraram que os limites so bastante fluidos em paralelismo sinttico. Alm disso, esta forma de paralelismo foi identificada agora na prosa de Gnesis e nas leis de Deuteronmio. Nos salmos a figura de repetio literria caracterstica. So repetidas palavras-chave especficas, s vezes oraes inteiras, em uma colocao diferente no mesmo salmo para provocar um descanso esttico como tambm religioso; por exemplo, "ntegro", "prova, e "contemplar" em Salmo 11. Podem ser achados outros exemplos nos Salmos 25; 29; 33; 93; 102-134.

    Uma figura de estilo que indubitavelmente a mais engenhosa e deliberada na poesia hebraica a estrutura literria do quiasmo (ou chiasmo), a inverso de condies correspondentes que unem o verso ou a unidade maior de uma estrofe em um todo. Por via de exemplo ns colocamos Provrbios 2:4 que se trata poeticamente de sabedoria no hebraico original pensamento-unidade:

    e-se-voc-buscar-isto [A] como-a-prata [B] e-como-tesouro-escondido [B1] procura-isto [A1]

  • Libertao nos Salmos 27

    Quando a estrutura ABB1A1 colocada em um diagrama, a forma da letra grega [X] fica visvel (o quiasmo):

    A B B1 A1 Um quiasmo dentro de um nico verso est facilmente perdido na traduo da

    Bblia portuguesa, como em Provrbios 2:4. Em Salmo 91:13 a estrutura quistica ABB1A1, porm, preservada na RSV e NKJV:

    Voc pisar sobre [A] o leo e a cobra, [B] O leo forte e a serpente [B1] voc pisotear [A1]

    Um estudioso mostrou que muitos salmos como unidades inteiras so

    organizados em forma quistica.5 Apresentamos apenas trs dos exemplos mais simples, como dados por Robert L. Alden:

    Salmo 70 1 A Livra-me, Deus! Apressa-te 2-3 B Maldio sobre o inimigo 4 B Bno ao ntegro 5 A Apressa-te, Deus. Tu s ... o meu Libertador Salmo 8 1 A Bno 2-3 B Preceito de Deus 4 C Vileza do homem 5 C Grandeza do homem 6-8 B Preceito do homem 9 A Bno Salmo 2 1 A1 Ira dos pagos 2-3 A2 Atos de desobedincia 4-5 B1 Deus julga 6 B2 Deus estabelece o Filho 7 B2 O Filho cita Deus 8-9 B1 O Filho julga 10 A1 Os pagos aprendem 11-12 A2 Atos de obedincia

  • Libertao nos Salmos 28

    O alternao de idias (rebelio contra o Senhor servir o Senhor, vv. 2, 11), a

    repetio de palavras chaves ("reis", "decreto", naes"), e o jogo de palavra hebraica, tudo indica que esta estrutura de salmo no acidental, mas antes um desgnio engenhoso do poeta. Paralelismo bblico mais do que s paralelismo.

    James L. Kugel,6 em seu amplo estudo da noo de paralelismo no hebraico bblico, discute que o poeta hebreu decidiu deliberadamente no comparar a ordem da palavra do seu poema justamente usando o padro de quiasmo. A diferenciao da ordem de palavras em linhas de paralelismo pretende unificar uma orao maior, na qual B complementa ou at mesmo completa A.

    Do seu santurio nas alturas o Senhor olhou; dos cus observou a terra (Sal. 102:19, NVI) Faz cair a neve como l, e espalha a geada como cinza. (Sal. 147:16, NVI) (O quiasmo hebraico perdido nas tradues portuguesas.)

    Paralelismo de quiasmo evita claramente expressar a mesma idia duas vezes.

    Antes aponta a uma sucesso de pensamento que tira a essncia do ponto mais completamente ou nitidamente. Um caso em foco Salmo 51:5:

    Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha me.

    Aqui pode-se notar que a confisso de pecaminosidade pessoal avana do tempo

    de nascimento para o tempo da concepo, um apontar definido de seu reconhecimento.

    Alguns dispositivos literrios perdem-se na traduo, como o jogo de palavras ou at mesmo de letras, a aliterao de som, e a ordem alfabtica de versos nos salmos acrsticos, provavelmente para propsitos de instruo e memorizao. Os salmos acrsticos alfabticos so Sal. 9-10; 25; 34; 37; 111; 112; 119; 145; dos quais o Sal. 119 a obra-prima mais excelente, porque cada letra do alfabeto hebraico introduz solidamente oito linhas sucessivas.

    Em resumo, o estilo dos salmos revela ordem, beleza artstica, e propsito divino que basicamente no se perdem na traduo em outros idiomas. Tudo contribui maior glria de Deus e para a alegria esttica e religiosa da alma. A descoberta de alguns dos salmos de Babilnia que precedeu os cnticos lricas de Israel por sculos e at mesmo j existiu antes de Abrao pode provar que os hebreus no originaram a sua tcnica potica, mas L. E. Toombs mostrou que no obstante Israel criou do velho material "algo novo, um corpo de poesia religiosa de beleza e critrio inigualvel".7

    O enigma da palavra "Sel" que ocorre em trinta e nove salmos ainda no completamente resolvido. Muito provavelmente ou significa um intermezzo instrumental no sentido de uma doxologia ou um sinal musical para o coro repetir a linha ou a estrofe (um da capo) para nfase especial.

  • Libertao nos Salmos 29

    A Igreja Crist, em continuidade com Cristo e os apstolos, sempre confessou a relevncia especfica do Livro de Salmos para a liturgia crist e considerou os salmos uma parte vital da herana mais preciosa do antigo Israel. Nas oraes do Saltrio, os judeus e cristos podem unir-se em buscar a Deus, confessando sua culpa, suplicando a graa divina e auxlio, em agradecer a Deus por Suas mercs, e em louv-Lo por Sua justia salvadora.

    Interpretao dos Salmos

    Para reconstruir a situao histrica em que cada salmo se originou, a pergunta a

    ser feita , A que classe de salmos pertence? A colocao histrica seja uma crise pessoal, um desafio nacional, ou uma reunio festiva definitivamente influenciou a orientao de cada cntico particular. Vrios salmos pressupem uma situao na qual o Davi foi perseguido por Saul ou foi exilado de Jerusalm durante a revolta de Absalo.

    Oposio ao modo de salvao de Deus ou perseguio do povo da aliana deu lugar freqentemente a declaraes divinas de vitria, at mesmo para promessas messinicas, como os Salmos 2, 16, 22, e 110 revelam. C. Hassell Bullock declara, " freqentemente verdade nos Salmos e na literatura proftica que frustrao histrica extrai promessas da era Messinica e do prprio Messias (cf. Isa. 7:1-16)."8 Deste modo, abre-se uma nova e completa perspectiva tipolgica, cheia de esperana e alegria messinica, sempre encorajando a igreja no seu caminho atravs da histria para a plena manifestao do reino glorioso de Deus.

    A identificao de um tipo particular de salmo pode conduzir descoberta de certos vnculos com uma cerimnia especfica do Templo ou festival anual com sua celebrao dos atos redentores de Deus na histria de Israel. O judeus ps-exlicos designaram certos salmos para ser cantado nos festivais especiais.

    O Hallel (Salmos 113-118, assim nomeado porque o primeiro salmo e outros no grupo comeam e/ou terminam com "Aleluia") era usado nas festas da Lua Nova, da Pscoa, do Pentecostes, dos Tabernculos, e da Dedicao. Alm disso, o Salmo 7 foi usado em Purim, Salmo 12 durante os oito dias da festa dos Tabernculos, Salmo 30 para a Festa de Dedicao, Salmo 47 durante a festa do Ano Novo, Salmos 98 e 104 para a festa da Lua Nova, e os salmos penitenciais durante o Dia da Expiao. 9

    Os salmos demonstram como Israel participou nos poderes redentores de sua

    histria passada e como o Israel renovou o seu fervor na esperana messinica. Averiguando a funo litrgica de um salmo no Templo indispensvel entender como Israel entrou nos atos salvficos de Deus no passado e Suas promessas para o futuro.

    importante lembrar que os limites entre o indivduo e os salmos coletivos so fluidos. Isto devido ao fato que freqentemente o poeta ou a figura central do salmo um lder em Israel, freqentemente o prprio rei. Ele representa o povo da aliana como um todo. Portanto, m cntico originalmente individual poderia ser aplicado facilmente mais tarde ao povo coletivamente.

  • Libertao nos Salmos 30

    Na anlise final, cada salmo deve ser considerado luz do Novo Testamento. A aplicao surpreendente a Cristo e Sua Igreja de muitos salmos , para os cristos, a verdadeira interpretao autorizada de Deus. Aqui o Esprito Santo tira o vu de muitos para um salmo revelando a sensao mais profunda de suas palavras, o assim chamado sensus plenior ou significado mais pleno. A exegese de um salmo nunca completa at que a luz de Cristo no Novo Testamento seja permitida iluminar as perspectivas escatolgicas dos salmos de Israel. Esta a tarefa do exegese teolgico ou interpretao do Livro de Salmos.

    Referncias

    1 De Psalmen, Deel I (Kampen: Kok, 1962), p. 25 (traduo do autor). 2 In his "Prolegomenon," in the re-edition of G. Buchanan Gray's book, The Forms of

    Hebrew Poetry (KTAV Publishing House, 1972), pp. xxxii, xxxv. 3 An Introduction to the Old Testament Poetic Books (Chicago: Moody Press, 1979), p.

    41. Ele apresenta uma explicao excelente de poesia hebraica nas pp. 41-48 (com posteriores sugestes de leitura).

    4 Em The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (5 vols.), vol. 3 (1975), p. 76. 5 R. L. Alden, "Chiastic Psalms (I-III): A Study in the Mechanics of Semitic Poetry in the

    Psalms," Journal of the Evangelical Society 17:1 (1974): 11-28; 19 : 3 (1976): 191-200; 21:3 (1978): 199.210.

    6 J. L. Kugel, The Idea of Biblical Poetry. Parallelism and Its History (New Haven and London: Yale University Press, 1981), chap. 1.

    7 The Interpreters' One-Volume Commentary on the Bible, p. 254. 8 C. H. Bullock, An Introduction to the Old Testament Poetic Books, p. 127. 9 Ibid., p. 148.

    ESTRUTURAS TEOLGICAS DOS SALMOS Bsico ao Livro de Salmos seu plano fundamental de dividir todos os homens

    em duas categorias contrastantes ou classes: o justo e o mpio.

    Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos mpios perecer. (Sal. 1:6, VA) Melhor o pouco do justo do que a riqueza de muitos mpios; pois o brao forte dos mpios ser quebrado, mas o Senhor sustm os justos. (Sal. 37:16, 17, NVI)

  • Libertao nos Salmos 31

    Para a conscincia dos salmistas h apenas dois tipos das pessoas, s dois modos de caminhar, com s dois destinos. Quem so estes "justo" e "mpio", e como eles so definidos? So eles definidos eticamente, de forma que os poetas do salmo qualificariam como certo tipo de pessoas como moralmente justa ou perfeita, e os outros como moralmente mpios? verdade que atributos morais jogam um grande papel na descrio de ambos os grupos. Mas os poetas inspirados atravessam alm de todas as caractersticas ticas ao apontar raiz de toda a vida moral ou imoral: a relao da alma com o Senhor, o Deus de Israel.

    A relao positiva ou negativa do corao para com Deus determina a qualidade moral de uma alma. A verdadeira ligao com Yahweh, o Deus da aliana, no o resultado de qualquer virtude moral ou esforo de homem, mas antes a fonte da moralidade. A ligao vivente da nao escolhida com Deus estava arraigada no chamado gracioso de Deus e na eleio (Deut 9:5-6).

    Salvao no Santurio de Israel A Graa Divina foi oferecida pelo Senhor como uma ddiva diria, ter prazer em

    um companheirismo contnuo com Ele na adorao do santurio. No os desejos piedosos ou oraes do adorador, mas o ato gracioso de Deus de absolvio por meio da ministrao de sangue dos sacerdotes levitas, declarava um crente arrependido como "justo".

    Assim o sacerdote far em favor dele propiciao pelo pecado que cometeu, e ele ser perdoado. (Lev 4:35, NVI).

    Em contraste fundamental com os cultos pagos nos quais os deuses eram

    aplacados na base dos sacrifcios humanos como presentes para um deus irado, o Senhor revelou a Israel que o sangue expiatrio recebia sua virtude reconciliadora somente pela palavra de Deus:

    Pois a vida da carne est no sangue, e eu o dei a vocs para fazerem propiciao por si mesmos no altar; o sangue que faz propiciao pela vida. (Lev 17:11, NVI).

    Aqui se ensina que o homem salvo ou reconciliado com Deus pela palavra e

    ato sacramental do prprio Deus. Este meio nico de salvao no servio do santurio de Israel separou o povo da aliana de todas as religies pags que operavam no princpio de salvao pelas prprias obras do homem. No santurio hebraico os sacerdotes eram ordenados pelo Senhor a declarar ao suplicante arrependido o perdo divino de sua culpabilidade. O ponto crucial da expiao sacerdotal de Israel a declarao de que Deus agora perdoa o pecador arrependido. Este ato redentivo de Deus pe-se raiz de todas as exigncias ticas de Israel e formavam a condio de seus imperativos morais.

    Nem os salmos nem a Torah jamais se basearam na pressuposio de que o israelita sincero poderia viver em obedincia lei de Yahweh sem a expiao, sem a

  • Libertao nos Salmos 32

    necessidade de perdo (cf. Gn. 8:21; Sal. 14:1-3; 40:7ss.; 143:2; 130:3, 4; 1 Reis 8:46). Pelo contrrio, os salmos revelam a carncia e necessidade do ininterrupto perdo e mantenedora graa do Senhor.

    Quem h que possa discernir as prprias faltas? Absolve-me das que me so ocultas. Tambm da soberba guarda o teu servo, que ela no me domine; ento, serei irrepreensvel e ficarei livre de grande transgresso. (Sal. 19:12-13, VA)

    Os justos nos salmos so os que primariamente buscam a Deus no Seu Templo,

    tm fome e sede de Sua justia, de Sua graa perdoadora e transformadora. Eles amam o Senhor como o Santo, e confiam nEle e Lhe obedecem de todo o corao; em resumo, eles vivem no "temor do SENHOR". Eles manifestam este conhecimento salvador de Deus em um relacionamento social correto, justo, e santo com seus companheiros israelitas (veja Lev 19).

    Bem-aventurado o homem que no anda no conselho dos mpios, no se detm no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer est na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. (Sal. 1:1-2, RA)

    Os mpios e estes tambm so encontrados dentro do povo da aliana (Sal. 1)

    so os que basicamente sobrevivem em uma raiz diferente de existncia, porque eles carecem deste princpio de amor ao Senhor e Sua Torah como a motivao de suas aes. Eles so hostis ao Senhor, Sua aliana, e ao Seu representante teocrtico, e revelam isto em uma vida de malfeitoria, violncia, arrogncia, mentira, lisonja, e conspirao contra o justo.

    Tu no s um Deus que tenha prazer na injustia; contigo o mal no pode habitar. Os arrogantes no so aceitos na tua presena; odeias todos os que praticam o mal. Destris os mentirosos; os assassinos e os traioeiros o Senhor detesta. (Sal. 5:4-6, NVI) Nos lbios deles no h palavra confivel; suas mentes s tramam destruio. Suas gargantas so um tmulo aberto; com suas lnguas enganam sutilmente. Condena-os, Deus!

  • Libertao nos Salmos 33

    Caiam eles por suas prprias maquinaes. Expulsa-os por causa dos seus muitos crimes, pois se rebelaram contra ti. (Sal. 5:9.10) Vejam! Os mpios preparam os seus arcos; colocam as flechas contra as cordas para das sombras as atirarem nos retos de corao. (Sal. 11:2, NVI)

    O mpio , porm, caracterizado em ltima instncia no por sua imoralidade,

    mas por sua irreligiosidade. Ele diz em seu corao, No h deus" (Sal. 14:1); quer dizer, ele no conta com Deus e com o Seu julgamento. Em resumo, ele no possui o temor do Senhor, a reverncia com tremor e amor ntimo pelo Senhor (Sal. 36:1-4).

    Os salmos, na anlise final, no pretendem exaltar os atributos ticos somente do justo e do mpio, importante como sejam; antes, eles exaltam uma moralidade em conexo com a sua fonte e destino final (Sal. 1; 16; 37; 73).

    Bsico aos salmos, portanto, o temor do Senhor, o conhecimento salvfico e santificador do Santo (cf. Prov 9:10). Ou, dito diferentemente, a tica social e moral de Israel estava condicionada e era motivada pela experincia redentiva no santurio. A determinao final de quem era justo e quem era mpio, de vida e morte, era feita pelos sacerdotes de Israel nos servios do santurio. Aqui o justo recebia a sua segurana de salvao, o dom da justia ou irrepreensibilidade. Na teologia do santurio no se podia ser em parte justo, em parte mpio. O perdo sacerdotal declarava o indivduo penitente perfeitamente justo. Isto no pde ser sentido ser assim, mas seria aceito por f somente na declarao autorizada divinamente do sacerdote.

    A situao nos salmos no que os israelitas em si mesmos so justos ou se sentem inocentes. Apenas os que participam de todo o corao na adorao sagrada so "justos" (justificados); os outros ainda esto sem Deus (Sal. 5:5-8; 15). Os justos no so as pessoas que atingiram a perfeio impecvel. Eles no so pessoas sem pecado, mas os crentes que, quando caram em pecado, confessaram o seu pecado em verdadeiro arrependimento e buscaram perdo do Senhor, seu fiel Deus da aliana. Os justos apelam graa de Deus, quer dizer, ao Seu favor imerecido e Sua aceitao (Sal. 4:1; 9:13; 27:7; 30:10; 31:9).1

    Os cristos no Novo Testamento professam ter uma religio ou modo de salvao diferente do que esse revelado no Livro de Salmos? Rejeitou Cristo a Moiss, os Salmos e os Profetas, ou Ele os aceitou todos como um testemunho concernente a Si mesmo, o prometido Rei-Sacerdote messinico segundo a ordem de Melquisedeque, o que viria como a Consolao de Israel (Sal. 110:4; Lucas 2:25; Joo 5:39; Lucas 24:27, 44)?

    Como o verdadeiro Intrprete, Cristo no fez Moiss e os Salmos obsoletos, mas Ele os confirmou por Seu cumprimento (Rom 15:8). Ele honrou os Salmos dando-lhes

  • Libertao nos Salmos 34

    um novo e profundo significando em Sua vida e ministrio. Cristo deu ao livro de splicas e louvor de Israel um significado elevado. Por causa de Cristo, os cristos podem invocar a ajuda e o conforto do Senhor atravs dos Salmos com nova garantia. Os cristos podem agradecidamente reconhecer que o amor de Deus pelo pecador e Sua ira contra o pecado foram mais completamente revelados em Cristo. Por meio dEle todos tm agora novo acesso a Deus em Seu santurio divino (veja Heb 10:19-22).

    Pois no temos um sumo sacerdote que no possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim algum que, como ns, passou por todo tipo de tentao, porm, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graa com toda a confiana, a fim de recebermos misericrdia e encontrarmos graa que nos ajude no momento da necessidade. (Heb 4:15, 16, NVI).

    Por isso, tambm pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. (Heb 7:25, RA).

    A Igreja do Novo Testamento no tem basicamente nenhum conceito diferente de

    pecado, nenhum padro diferente de justia que os revelados to explicitamente na Salmdia de Israel. Em Cristo estas normas so apenas mais intensificadas, como determinado pela vida perfeita de Cristo (Heb 10:28-31). A Igreja do Messias Jesus tem a mesma fonte de fora que Israel teve, apenas agora mais poderosa pelo ministrio divino de Cristo; a mesma esperana e destino, s agora mais inexpugnvel em Cristo!

    Temos esta esperana como ncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santurio interior, por trs do vu, onde Jesus, que nos precedeu, entrou em nosso lugar, tornando-se sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. (Heb 6:19, 20, NVI).

    Quanto mais abundantemente, ento, deveria o louvor e ao de graas ascender

    dos coraes e lnguas de cristos ao Deus de Israel, por causa de Jesus Cristo, o Senhor!

    . . . enchei-vos do Esprito, falando entre vs com salmos, entoando e louvando de corao ao Senhor com hinos e cnticos espirituais, dando sempre graas por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. (Efs. 5:18-20, RA).

    A Resposta de Israel ao Relatrio da Criao

    A doutrina da criao fundamental ao Livro de Salmos e central na f de Israel.

    H uma maior confiana possvel na narrativa da criao de Gnesis 1 do que a confisso do Salmo 33?

    Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu. Mediante a palavra do Senhor foram feitos os cus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca. (Sal. 33:9, 6, NVI)

  • Libertao nos Salmos 35

    Observando o curso consistente do sol de dia e as rbitas majestosas das constelaes brilhantes de estrelas noite, Davi sentia constrangido a cantar:

    Os cus declaram a glria de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mos. (Sal. 19:1, NVI) Senhor, Senhor nosso, como majestoso o teu nome em toda a terra! (Sal. 8:1, NVI)

    Tais pensamentos elevados da grandeza de Deus conduziro a uma afirmao da

    origem nobre e destino glorioso do homem: Quando contemplo os teus cus, obra dos teus dedos, . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Que o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glria e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mos; sob os seus ps tudo puseste: (Sal. 8:3, 4-6, NVI)

    C. H. Bullock argumentou bem, Negar a existncia vlida de Deus o mesmo

    que negar a prpria essncia de homem. Voc no pode negar a Deus e afirmar o homem, porque Deus o dota de realidade e propsito. O homem no valida a Deus. A criao do homem transmite ao mesmo tempo a estima de Deus por ele".2

    A f de Israel em Yahweh como Criador do mundo sublinha todos os louvores por Sua obra como o Redentor e Juiz de todas as naes (Sal. 50; 74; 83; 95). S o Criador tem poder para salvar e julgar, de forma que "todos os deuses das naes so dolos" e conseqentemente inteis.

    Cantem ao Senhor, bendigam o seu nome; cada dia proclamem a sua salvao! (Sal. 96:2, NVI) Porque o Senhor grande e digno de todo louvor, mais temvel do que todos os deuses! Todos os deuses das naes no passam de dolos, mas o Senhor fez os cus. (Sal. 96:4, 5, NVI) Adorem o Senhor no esplendor da sua santidade; tremam diante dele todos os habitantes da terra. (Sal. 96:9, NVI)

    Nos assim chamados "salmos da natureza", os poetas de Israel vem tudo da natureza luz da ao e do poder sustentador de Deus. Eles no declaram, como ns fazemos, em cinzenta neutralidade, "chove", "neva", "troveja".

  • Libertao nos Salmos 36

    No Salmo 29 o Deus da glria que troveja e a voz do Senhor que quebra os cedros e cai com flashes de relmpago. E o Salmo 104 enfatiza o poder sustenedor e envolvimento ativo de Deus nas leis de natureza:

    Ele molha as montanhas desde sus cmaras superiores; a terra est satisfeita com o fruto de suas obras. Ele faz crescer pasto para o gado, e as plantas para homem cultivar, produzindo alimento da terra: (Sal. 104:13, 14, New International Version) Trazes trevas, e cai a noite, quando os animais da floresta vagueiam. (Sal. 104:20, NVI) Quantas so as tuas obras, Senhor! Fizeste todas elas com sabedoria! A terra est cheia de seres que criaste. (Sal. 104:24, NVI)

    esta a viso primitiva uma viso mundial antiquada? Ou uma mensagem oportuna para hoje e anuncia que as leis de natureza no so automaticamente auto-suficientes ou operacionais, mas os canais pelos quais Deus constantemente opera para sustentar toda a Sua criao? Estes salmos ensinam ao mesmo tempo que o soberano Deus transcende por sobre Sua criao, contra o pantesmo e o atesmo, contra o desmo e o materialismo. Reconhecer esta criao conhecer-se como um ser responsvel, coroado de honra e glria, comissionado para reger a terra em lugar de Deus (Sal. 8). O Novo Testamento desdobra a identidade e carter deste Criador e Sustentador mais completamente e o Seu plano para restaurar o homem sua nobre origem e chamado (veja Heb 1:1-3).

    A Filosofia de Israel de Sua Prpria Histria

    Nos grandes Salmos histricos (77, 78, 105, 106, 107, 136) Israel comeou a ver

    o prprio passado luz da avaliao de Deus. Pretende-se com tais cnticos recordar a Israel de sua origem milagrosa, do modo como o Senhor Deus conduziu Israel no passado, e reavivar no corao do Seu povo o senso nico de misso ao mundo gentio. O resto do Antigo Testamento funciona como o comentrio mais rico sobre os Salmos. Israel, em suas lamentaes e cnticos de ao de graas, testemunha do vnculo indissolvel com sua histria de salvao.

    Splicas e hinos nunca estiveram desvinculados da realidade de eventos histricos contemporneos. Portanto, tambm as subscries acima de muitos salmos embora acrescentados mais tarde devem ser levadas a srio e ser consideradas como o seu contexto primrio. H. J. Kraus declara, "Todos estes Salmos [com subscries] dev