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Hans Magnus ENZENSBERGER - Elementos para uma teoria dos meios de comunicação

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ELEMENTOS PARA

UMA TEORIA[Q )@@ [ l 0 j J D@@

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Alem de ser considerado 0 maior poe-

ta vivo da Alemanha, Hans Magnus

Enzensberger tornou-se mundialmente

conhecido como ensaista, desenvolven-do leituras em diversos campos do co-

nhecimento, todas marcadas por sua

verve critica e inovadora.

Neste livro, escrito em 1970 - ou seja,

h6 mais de trinta anos -, Enzensberger

esrniuco e detalha a intr incada relccco

entre midia e poder e ataca a falta de

tato (ainda presente nos dias de hoje) das

orqonizocoes de esquerda em relocco

aos meios de cornunicocco. E um textoq~e por vezes soa profetico, mas que

sustenta sua atualidade na Iorco de sua

radical lucidez.

Indispens6vel para todas as pessoas que

queiram entender par que os meios de

cornunlcccdo nco sao um instrumento

neutro, e sim uma verdadeira "industria

de consciencio", como escreve 0 proprio

Enzensberger.

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Magnus Enzensberger nasceu em 1929

na Bavaria e cresceu em Nuremberg.

Muito respeitado como ensaista, jornalista,

tradutor, dramaturgo, redator e editor, econsiderado 0maior poeta olemoo vivo.

Traduziu os trabalhos de Will iam Carlos

Williams, Fernando Pessoa e Carlos

Drummond de Andrade (entreoutros)para

o olemco. "Urn lenomeno", como foi

chamado pela revista Times.

Seus diversos prernios incluem 0Critics

Prize (1962), Buchner Prize (1963),

Pasolini Prize (1982), Heinrich Boll Prize

(1985) entre outros. Recebeu em 2002,na Espanha,0prernio Principe de Asturias

de Cornunicocdo e Humanidades, umdos

mais importantes da Europa.

Entre seus livros publicados no Brasil

estdo C urto V erD o d a A narqu ia (roman-

ce), Guer ra C iv il (ensaio), P or o nd e v oc e

andou, Robert? (infanto-juveniIJ e 0

N aufra gio do T ita nic (poesia), todos pela·

Companhia das Letras.

 

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"No producoo (e no forma de producco] dos Rolling Stones 0

teor utopico e evidente. Eventos como 0 Festival de Woodstock,

os concertos no Hyde Park, no IIha de Wight e em Altamond,

California, fomentam uma intensidade mobilizante que a esquer-

do politico so pode invejar.( ... )

E absolutamente evidente que a industria do consciencio nos

atuais formas de sociedade ndo pode satisfazer nenhuma das 

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rJ

CONRAD EDITORA DO BRASIL LTDA.

DIRE< ; :Ao

Andre Forastieri

Cristiane Monti

Rogerto de Campos

GERENTE DE PRODUTO

Andre Martins

CONRAD LIVROS

DIRETOR EDITORIAL

Rogerlo de Campos

COORDENADORA EDITORIAL

Priscila Ursula dos Santos

EDITOR DE TEXTO

Ricardo Liberal

ASSISTENTE EDITORIAL

Arthur Dantas

EDITOR DE ARTE

Johnny Freak

\§ ! A ~ a Q 9 ELEMENTOS PARA

UMA TEORIA

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Hans

Magnus

Enzensberger

CONRADLIVROS

 

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Copyright© Suhrkamp Verlag Frankfurt am Main 1970

Copyright desta edicao © 2003, Conrad Editora do Brasil Ltda.

CAPA: Johnny Freak

TRADU~Ao: Claudia S. Dornbusch

REVISAo: Eloisa Aragao

PRODU~Ao CRAFICA: Ed Wilson

ASSISTENTE DE PRODU~AO: Alessandra Vieira

~Dados lnternacionais de Catalogacao na Publicacao (ClP)

(Camara Brasilei ra do Livro, SP, Brasil)

Enzensberger. Hans Magnus

Elementos para uma teoria dos meios de comunicacao / Hans

Magnus Enzensberger ; [ traducao Claudia S. Dornbusch] . .. Sao

Paulo: Conrad Editora do Brasil. 2003.

Titulo original: Baukasten zu einer Theorie der Medien.

Bibliografia.

ISBN 85·87193·62·7

1. Comunicacao de massa . Teoria I. Titulo. II. Serle.

03·0240 CDD·302.2301

indices para catalogo sistematico:

1. Midias: Teoria : Sociologia 302.2301

CONRAD LlVROS

Rua Simao Dias da Fonseca, 93 - AclimacaoSao Paulo - SP 0 I539-020

Tel: 11 3346.6088 Fax: 11 3346.6078

e-mail: [email protected]

site: www.conradeditora.com.br

ISUMARIO

Capitulo 1 11

Capitulo 2 15

Capitulo 3 21

Capitulo 4 27

Capitulo 5 35

Capitulo 6 39

Capitulo 7 41

Capitulo 8 45

Capitulo 9 49

Capitulo 10 55

Capitulo 11 59

 

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Capitulo 12 67

Capitulo 13 69

Capitulo 14 73

Capitulo 15 77

Capitulo 16 85

Capitulo 17 91

Capitulo 18 99

Capitulo 19 103

Capitulo 20 107

Capitulo 21 III

Capitulo 22 115

IEPIGRAFE

Se os senhores consideram isso uto-

pico, Ihes pediria que refletissem a

respeito da razao de isso ser assim.

Brecht, Teoria do radio

 

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eletronicas

da consciencia

definicoes normativas

de comunicacao

impressoras

maquinas

microfilmes

Com 0 desenvolvimento das midiq.s/eet-rom a

, \industria da consciencia tornou-se 6 marca-passo

do desenvolvimento socioeconomic~eaa-

des industriais tardias. Ela invade todos os outros

setores da producao e assume cada vez mais fun-

coes de comando e de controle,lFie:rermTmind0b

padrao datecnologia dominante.

No lugar de deflnicoes normativas, arrolamos

uma lista incompleta de desenvolvimentos re-

centes que apareceram nos ultimos vinte

anos. Entre eles, satelites de cornunicacao,

televisao em cores, a cabo e com videocasse-

te, registro magnetico de imagens, cameras

de video, videofone, som estereofonico, tee-

nologia a laser, fotocopiadoras, impressoras

eletronicas de alta velocidade, maquinas de

registro e de treinamento, microfilmes com

l' 

6 ' - . . )

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./ ; ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICA«;:AO

< . ~~

aces so eletronico, impressao remota, compu-

tadores com processamento paralelo, bancos

de dados. Todas essas novas midias se rela-

cionam entre si e com os meios mais antigos,

como a imprensa, 0 radio, 0 cinema, a televi-

sao, 0 telefone, 0 telex, 0 radar etc. Cada vez

mais, eles se unem em urn~istema univers~ll. . . . ~

Contudo, a contradicao generalizada entre forcas

produtivas e relacoes produtivas aparece com

maier evldencla naquelas que se encontram em

grau mais avancado. Em contrapartida, crises es-

truturais demoradas - tais como a da extracao de

carvao - sao solucionaveis empregando-se a sim-

ples recuperacao de atrasos, ou seja, e urn proces-

so imanente ao sistema. Uma estrategia revolucio-

naria que nela se baseasse seria bastante canhestra.

- 1•

. . . > -, Q / " - -

- 1 ) c£~~~o _~~~m?nOPOlio~~~ a ~~ 'I .£..u~tna da conSCleflCla com maior velocidade e

'"" . maior alcance que outros setores da producao:

I porern, ao mesmo tempo, ele devs rete-l~. Essa

( contradicao devera ser analisada p~a teoria

socialista dos meios de comunica<;:ao. A qual de-

monstrara que em meio as condicoes produtivasde urn determinado momenta 0 problema e inso-

, luvel: discrepancias cada vez maiores sao gera-

\ das de forma acelerada e sao explosivas em po-

\'2

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

tencial. Perante tal teoria, ha que se "fazer certas

exigencias prognosticas" (Benjamin).

,

E insuficiente realizar urn levantamento cri-

Itico do status quo. Incorre-se no perigo de '"

!ubestimar os crescentes conflitos na area das < " '-

f midias, bern como de apresenta-los como ino-/ 'fensivos, de interpreta-los de modo liberal ou '~

I sindical, seguin do 0modele de conflitos tra-

balhistas tradicionais ou como oposicao a

interesses especificos (diretores/redatores,

editores/autores, monopolios/medios-empre-

sarios, instituicoes publicas/empr~:~9_§_g~~fl-

pital privado etc.l.Tal concep~a9--e multo li-

'lTIltad-a eemperra em discuss6iS'tatTca~ \ " '5L - ~ - - _ - \ ~ : - - _ - " ~ 5 "

: : : . _ c :: > ,L .. . _ _ " , •• c»L....e-_ ~ \c--< , '' '' c- _ <: '" c'-. C " " ' - . . . . . _ _

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teo ria marxistarnidias

obsolescencla

arnbivalencia

revisionismo

risco

" "/

Y;I t- , v'

I ,1\ c ~c<l

I .n'· '/V ) <, t', • c ~ j "

C . ,'1~"' ! i 'I' 8"

I e " v' ,v ;v c r,)J

(; \' - f- .::; (L v 'l./' 0' L '

v . . . ,c' _'-

C ..Lt'v l"-I' !" •

te 0momento,fnao existe rna teoria marxista-das ...~ imidias. Diante ~Hss.QJat a, portanto, uma estrate- ~ ~k

gia uti! nessa area. Inseguranca. oscllacao entre 0 \;

meg_o,~a ~olesce_Dcia caracterizam a relacao entre '::./ ~

I --esqUerd~ socJ~I~ e as novas forcas produtivas :' ~ , > ',~da(mQUstrltr"'cfac6nscie~ A ambivalencia dessa " p ; , 'posfurareflete'apl~llas-a ~ival~~i,a-das_pr_6_~ f . " > . .

~.e.ulli!_g_12ode-Lso~e elas.~jj. \

amblvalencia s6 poderia ser suspensa por meio do .") ; 5 " \. . '1 \

desencadeamento das fOl:_<;ase emanciE§Sao em- t A 1

butidas nessas novas , fur_~ rodutivas. Sao essas ~\

'pOSSI i idade~eJ _ Ita'ISmQ 1 eve impedir, tanto ~'

quanto ~nismo .sOVi~tICO,endo em vista que r-:) ..

elas colocariam em risco 0 dominio de ambos os

sistemas.

/ -" ' " " '"/ " ~ ~} . .. t . . b

1 , , . . , . ~ / ? L , , , , ,

15 " 

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ELEMENTOS PARA UMA l'eORIA DOS MelDS De COMUNICA«;:AD

Aforcamobilizadora e 0 segredo evidente das midias

eletronicas - o-momento politiCo decisivo, que ate

lloJe aguarda reprimido, ou amputado, a sua hora.

/Quando digomobilizar, quero dizer mobilizar.

Num pais que sentiu na pr6prla pele as con-

sequencias do fascismo (e do stalinismo), tal-

vez ainda seja necessario, ou novamente ne-

cessario, esclarecer 0 que significa isso, ou se]a,

tomar as essoas mais movels do ue sao. Sol-'--;---:-------- ----

tos como dancarinos, presentes de espiritocomo jogadQres cte_J~teboCsurpreendentes -

como guerrilheiros. Aquele que entender as

rllaSsas ui1icamente como objeto da politica

nao as pode mobilizar. Ele quer distribui-las

ao acaso. Urn pacote nao e movel. E , portan-

to, apenas empurrado de urn lado para outro.

Marchas, colunas, desfiles imobilizam as pes-

\ soas. A propaganda gue nao libera a autono-mia, mas a inibe, pertence ao mesmo esque-

ma. Ela leva a despofitiza<;:ao.

Pela primeira vez na historia, as rnidias tomam

possivel a participacao em massa de urn processo

.' J produtivo social e sociabilizado, cujos meios pra-, ticos encontrarn-se nas maos das proprias mas-

sas. Tal emprego conduziria a midia de comuni-

- I cacao, que ate agora recebe esse nome injustamente,

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

a si propria. Em sua forma atual, recursos como 0

televisor ou 0 cinema, porem, nao encaminham acomunicacao, mas sim a seu impedimento. Eles

nao permitem urn efeito reciproco entre 0 emissor

e 0 receptor: no plano tecnico, eles reduzem 0feedback ao minimo possivel do ponto de vista da

teoria sisternica.

;L-t \ r . ~ c-( c r-c>;1./ ~~'. -' " c""- < 7 - 7 f ' ,. . . . . . - ~

-I * ("f..,-t:; r: r , ....( . . . , # ~ " _ ~ ' 1 ~ : .. . ( ;_ y ~" ' - < .- (

Esse estado d':..coisas, no :ntant?..:. n_aoE.0_9~s_er <'{

justificado de uma perspec~i~a tec!:ic~ Ao con- \-

trario: a tecnica eletronica nao conheceurng opo-si<;:aobasica entre 0 emissor e 0 rec~ptor. Consi-

derando-se sua construcao, cada radio transistor

e tambern simultaneamente urn emissor em po-

tencial; ele pode influenciar outros receptores por

meio de retroconexao. A evolu<;:aode urn si~ples

Geio de distribu~ para um\l)1eio de comunTca-

<;:8.0ao e~ummero problematecnico. ETa([ev'ita-

~~i~z;.s~e~itf::~:~:<;:~~r ~~~~c~~~~~ r::~~:ro~ \ t '~recePtor~ ..na-divi~ao de trabalh.0 entrepro- ;duiofes e consumidores da sociedade; esse meca- (-;

~G[Uireiiltensocontoino-politi<;:o na iligL!_s~_.:

tria da consciencia. Em ultima anatIS'e,essa evolucao I ~,reside na contradicao basica entre classes dominan- i ~~

tes e dominadas (de urn lado, 0 capital monoEolista I! "

ou burocracia monopollsta e, de outro, as massas t"

dependentes). y- f ~{Jrrc~- I <--.

'-So. (c'"_1 c r a . t . 'fi \._ c~

iJ~ toilp c-' .o\ ( _ \ . f . . .

l-~lcj~ :-).< - ~tY r : ' , , - II)

 

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ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS ns COMUNICAt;:AO

A analogia estrutural pode ser seguida em

seus pormenores. A oferta de programas

do cartel de emissoras corresponde a ofer-ta politica de urn cartel de poder compos-

to de partidos de carater autoritario. Emambos os casos, diferericas marginais de

plataforma espelham uma imagem iluso-

ria, uma relacao de concorrencia que nao

existe nas quest6es decisivas. A minima

autonomia dos eleitores/espectadores -

como ocorre nas eleicoes parlamentares no

sistema partidario duplice - e reduzida ao

feedback de cifras de indice. A "formacao='»: da vontade" desemboca na resposta ao -

~' unico processo de engrenagem possivel, ,\ - . t com tres valores: primeiro programa, se-\ ~ gundo programa, desligamento do apare-

lho (abstencao do voto) .

.' i. 1 " 0 radio deve ser transformado de urn aparelho

de distribuicao em urn aparelho de cornunicacao.

o radio poderia ser 0 mais incrivel meio de co-

municacao lmaginavel da vida publica, urn fan-

tastico sistema de canais, isto e , ele 0 seria se

conseguisse nao apenas emitir, mas receber, ou

seja, se nao permitisse ao ouvinte apenas ouvir,

mas ainda falar, nao 0 isolando, mas integrando-0... Irrealizaveis nessa organizacao social, porern

reallzaveis em outra, essas sugest6es, que ape-

nas sao a con sequencia natural da evolucao tee-

18

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

nica, servem a propagacao e formacao dessa GU-

tra organizacao."

Ber to lt B re ch t, Teoiia do radio (1932).

Ob ra s r eu nid as , vol. VIII, p.129 e SS., 134.

19 

o ,

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Orwell

aterrorizante

midlas

burguesa

comunicativo

"nao-denstdade''

testes

nao

critica

". -~ .: \f;,f/~C;'),;-''; '[l'

~ci r- " c , . ) V

&'-/ C d oJ

)~ .tP '- ;;: 1 \ - "

( U O ? ~ ~ > Q J. . . . .( ) ~ U

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I".itO \J . C.J _ ~_ '- {..I

0-"A (~C '. d . dt . dt 1 _ Imagem aterronzante e uma In ustna a cons-

,ii- cU~ncia monolltica, apresentada por George

Q ~ Orwell, demonstra uma cOlJlP3e sa0 nao dia-

.:) i 5 Ietlca e obsoleta das mrt~ A possibilidaaeae

~ urn cdn'lrol'e tOhlld~ais siStemas por meio de uma

instancia central nao pertence ao futuro, mas ao

passado. Com auxilio da teoria sistemica, uma dis-ciplina da ciencia burguesa (ou se]a, com catego-

nas merentes ao sistema), pode-se comprovar que

urn contexto comunicativo - ou, se expresso tecno-

logicamente, uma rede de conex6es -, contanto

que nao ultrapasse certa grandeza critlca, ja nao

pode ser controlado por meio de urn sistema cen-

tral, sendo apenas calculavel estatisticamente.

Essa "nao-deiisldade" basica de sistemas esto-casticos permite, e certo, calculos de p-robabilida-d~tesJ.o_calj_zadQs_e_ex.tra~6.e£.

No entanto, uma verificacao irretocavel exigiria

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ELEMENTOS PARA UMA 1'EORIA DOS MEIOS DE COMUNICAf;AO

urn monitor maior que 0 pr6prio sistema. 0 con-

trole de todas as chamadas telefonicas, por exem-

plo, pressup6e urn aparelho que deveria ter urn

grau maior de amplitude e complexidade do que

aquele utilizado pela telefonia existente. Uma ins-

tancia de censura que executasse suas tarefas de

forma extensiva inevitavelmente se associaria ao

maior ramo industrial da sociedade.

Urn controle baseado em valores de aproximacao\ " / :I' ,

\ " r - ;?orem, oferece apenas manipulacao deficiente para/uu-o autocontrole do sistema como urn todo, isto e ,

~ J I quanto aquel.e.s que _ o dirigem.~p!essup6: ~~to

I f " ) ~:a~ de estabilidade mterna. Se esse ecfuilY5riopre--=-cano comecar a se desestabilizar, entao, fracassa

uma administracao da crise de base estatistica. Os

elementos de dlsturbio podem adentrar no nexo nao

isolavel da midia, podendo la se avivar e se repro-

duzir rapidamente por ressonancia. Nesses casos,o regime arneacado, na medida em que ainda te-

nha condicoes para agir, adotara a violencia, utili-

zando-~e de meios policiais ou militares.,.rJ"

~ ,,<;( ~r ) : 0n/ ,{J. <~'"Ii' : r , " y1 ' J "

~ . . . r } 0 estado de excecao e , logo, a unica alternativa

p.ara a~cenciosi~ade da industria da conscien-

I ~ Porem, ele nao pode ser mantido por muito

tempo. Sociedades industriais tardias dependem

22

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

da troca de informacoes sem impedimentos: as

"n~jtti' as", as qu' seus contro-

ladores constantemente se referem, voltam-se,

assim, contra eles pr6prios. Toda tentativa de su-

primir fatores randomicos, toda reducao do dla-

metro de fluxo e toda deforrnacao da estrutura de

informacao, com 0 tempo, Ievarao necessariamen-

te a uma especie de embolia.

As midias eletronicas nao apenas engrossaram a

n rede de mformacoes, mas igualmente contribui-ram para sua expansao. Ja durante as guerras do

l r J ' . eter dos anos ~250 ,G .S · - e que a soberania

)1 )- '. • naciona -area a cornu ."C~ esta fadada a

. e x t m T " 'a o : - - o e ~~~~imanente o s ~~. dara 0 fim definitivo. Quarentenas de

inforrnacao, tais como as realizadas pelo fascis-

mo e pelo stalinismo, atualmente s6 sao possiveis

ao pres:o de uma regrcssao industrial consciente.

Por exemplo, a burocracia sovietlca, a mais

ampla e intrincada do mundo, deve renunciar

quase constantemente a urn meio organi-

zacional elementar, ou seja, a fotocopiadora,

uma vez que esse aparelho transforma poten-cialmente cada urn de n6s em impressora. 0

risco politico aqui presente - a possibilidade

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ELEMEruTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAc;AD

de partes devassaveis serem introduzidas na

rede de informacoes - so e aceito, com restri-

coes, nas mais altas esferas, em pontos de co-

nexao expostos do ambito politico, militar e

clentifico.0preco pago pela sociedade sovie-

tica pela supressao de suas proprias forcas

produtivas e, sem duvida, elevadissimo: mo-

rosidade, desinformacao. custos mortos. Alias,

o processo tem seu correspondente no Oci-

dente capitalista, se bem que de forma mais

amena. Veja-se 0 caso da copiadora eletrosta-

d_w tica - tecnicamente mais avancada, que ope-

, I " . P ra com papel comum, ou se]a, nao pode ser

if\v ~controlada e e independente de fornecedores

V ~c -, cuja propriedade e de um monopolio (Xe-

" d ' . . , r , / rox). Tal aparelho basicamente nao e vendi-

\> / do, mas apenas alugado, ja que a partir dos

\ , r custos tem-se a garantia de que nao caira em

maos erradas. Assim, como que num passe

de magica , 0 aparelho aparece onde se con-

centra 0 poder econornico e politico. 0 con-

trole politico do aparelho anda de maos da-

das com a otimizacao do lucro de seus

produtores. Entretanto, e verdade que, em opo-

si~ao ao procedimento sovietico e pelos motl-

vos ja expostos, ele de forma alguma transcor-

re sem lacunas.

Assim sendo, 0 problema da censura adentra um

novo estagio historlco. Ate esse momenta a luta'~

HANS MAGNUS EruZEruSBERGER

pela liberdade de imprensa e de 012jni~llLSidQ

notadament- debate no ambito da ro ria clas-

~ -. Para as massas, a liberdade de expres-

sar sua opinlao era uma ficcao, uma vez que desde

o iniclo elas eram mantidas distante dos meios de

producao e, por conseguinte, da oplniao publica

liberal, sobretudo por parte da imprensa. Atualmen-

te, a censura e ameacada pelas proprias forcas pro-

dutivas da industria da consciencia, que em parte

ja se estabelecem contra as condicoes dominantes

de producao. Antes de estas serem derrubadas, fi -

cara visivel a contradicao entre aquilo que e possi-

vel e aquilo que realmente e.

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Nova Esquerda

rnidia

analiticos

analise

essencia

insucesso

adversario

efeito

impotenciapercepcao

_c__ -

/

"-"'~\A Nova Esquerda dos anos 1960 resumiu a eve-

lucao da midia num unico termo: 0da manipula\

cao. Originalmente, ele foi de grande utilidadd

heuristica e possibilitou uma longa serie de trabaf

lhos analiticos individuais, mas agora esta arnea-

\ ~ado de tornar-se mera palavra de efeito, que m11s

~sconde do que revela, e por isso reclama, ele pT6 -pt:~a analise. /

- - - - - - ~ - - ~ -A tese de manipulacao estabelecida pela esquerda

e defensiva em sua essencia e em seus reflexos e

pode levar ao insucesso. Subjetivamente, sua base

defensiva e uma vivencia de impotencia. Obje-tivamente, corresponde a ela a percepcao absolu-

tamente correta de que os meios de producao deci-

sivos estao nas maos do adversario. E ingenue, no

 

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/ eLeMeNTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAI;:AO

entanto, reagir a esse estado de coisas com indig-

nacao moralista. Em geral, fala-se em manipula-

~ao com urn tom furtivo de lamento, que nos leva a

deduzir a presenca de expectativas idealistas. Ecomo se 0 inimigo da c1asse em algum momenta

tivesse se atido, ele proprio, as formulas de lealda-

Ide que por vezes divulga. A crenca liberal de que

exista em quest6es politicas e sociais uma verdade

pura, nao manipulada, parece ter destaque curio-

I so na esquerda socialista: ela e a condicao basica

I nao verbalizada da tese da rnanipulacao.I

Essa tese nao libera forcas propulsoras. Uma pers-

pectiva socialista que nao vai tm do ataque as

condicoes de patrimonlo vi ntes e imitada. A de-

sapropriacao proposta por pringe e urn objetivo

desejavel, mas seria born sa E l. m teria 0direi-

to de posse das rnidias. 0 partido? De acordo com

todas as experiencias passadas em que essa foi asolucao, verificou-se nao ser uma alternativa via-

vel. Talvez nao seja coincidencia que ate agora a

esquerda nao tenha apresentado uma analise dos

contextos de manipula<;:ao em paises de governosocialista.

A tese da manipulacao tarnbern serve como alibi.

A dernonlzacao do adversario encobre as fraque-

zas e as falhas de perspectiva de sua propria agita-

28

HANS MAGNUS eNzeNSBeRGeR

cao. Se esta levar ao auto-isolamento, em vez de

mobilizar as massas, 0 seu fracasso sera atribuido,

de forma generalizada, a supremacia das midias.

Na discussao da esquerda sobre as midlas, tam-

bern a teoria da tolerancia repressiva se impos.

Formu a de forma extremamente CUI adosa por

seu aut ,tambem ela, abreviada de forma nao

dialetica" transformou-se em veiculo de resigna-

<;:ao.Nos locais em que urn conglomerado de rna-

quinas de escritorio com a imagem de CheGuevara e 0 subtitulo We would have hired him

(nos 0 teriamos contratado) pode angariar mao-

de-obra para sua administracao de vendas, a ten-

tacao de uma retirada, no entanto, e grande. Mas

o medo de contato com excrementos e urn luxe

que, por exernplo, urn operario em obras de esgo-

to nao se pode permitir.

As midias eletronica ca a I com toda pureza, /

elas sao em princi io "sujas'.1. Isso e inerente a ,.

a-tor~_~produtiv . Pela s estrutura, elas sao

nti-sectarias Mais u usa para que a esquer-

(1~ enqu~ao quiser examinar as suas tradi-

<;:6eS-=--naoaiba 0 que fazer com elas. 0 anseiopor uma "linha" c1aramente definida e pela su-

pressao de "desvios" e anacronico e so serve a

propria necessidade de seguranca. Ele enfraque-

29 

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ELEMENTOS PARA UMA l'EORIA 005 MElDS DE COMUNICAc;:Ao

ce a pr6pria posicao par meio de limpezas irracio-

nais, exclusoes e fracionamentos, em vez de

fortalece-Ia com discussoes racionais.

Essas :e~istencias e esses medos sao reforcados par

uma sen~ d~ fatores culturais, cujos efeitos, geral-

n:e~t~, sao ~nconscientes e explicaveis a partir dahistoria social dos atuais movimentos de esquer-

da, ou seja, tomando-se por base seu pano de fun-

~o de c1asse burguesa. Muitas vezes parece que

justarnente em virtude de suas possibilidades pro-

gressivas, as midias sao apresentadas como arnea-

cadoras: par exemplo, 0 fato de elas pela primeira

vez questionarem a !~n/do a cultura burguesa e, par

conse~uenCla, os pnvIlegios da lnteligencia burgue-

sa, e ISSO de forma muito mais radical que qual-

quer tipo de duvida que essa c1asse porventura

possa ter sobre si mesma. Na inimizade da Nova

Esquerda em relacao as midias, parecem retornar

~elhos medos burgueses, par exernplo, 0medo do

homem de massas"; bern como velhas ambicoes

par condicoes pre-industnals, agora apenas envol-

tas numa roupagem progressista.

Ja bern no inicio da Revolucao Estudantil,no F ree Speech M ovem ent de Berkeley, 0

computadar era urn objeto privilegiado de

agressoes. 0 interesse pelo Terceiro Mundo

30

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

nem sempre esta desprovido de motivos

anticivilizat6rios pertencentes ao repert6rio

da critica cultural conservadara. Para 0Maio

Parisiense de 1968 foi especial mente carac-

teristica a retomada de formas de producao

antiquadas. Em vez de agitar os trabalha-

dores de uma grafica de off-set moderna, os

pr6prios estudantes imprimiam seus carta-

zes nas impressoras manuais da E cole des

Beaux-Arts. As palavras de ordem poeticas

eram desenhadas a mao. Matrizes teriam

possibilitado sua difusao em massa, mas a

fantasia criativa de seus autores teria sido

ultrajada. Nao houve uma utilizacao estra-tegica correta da midia evoluida: os estudan-

tes rebelados nao ocuparam a estacao de

radio, mas 0 tradicional teatro Odeon.

o reverso do medo de contato com as midias e 0

fascinio que elas exercem sobre os movimentos

de esquerda nas metr6poles. Por urn lado, os ca-

maradas se desviam para formas de cornunica-

<;aoantiquadas e artesanato esoterico, em vez de

se ocuparem com a contradicao entre a atual con-

dicao das midias e 0 seu potencial revoluciona-

rio; por outre, nao conseguem escapar do progra-

rna da industria da consciencia e de sua estetica.

Do ponto de vista subjetivo, isso leva a divisao

entre a pratica politica, de concepcao puritana, e

a esfera particular de "Iazer". De uma perspectiva

31

 

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ELEMENTOS PARA UMA l 'EORIA DOS MEIOS DE COMUNICAt;AO

objetiva, .conduz a divisao entre grupos politica-

mente ativos e grupos subculturais.

Na Europa Oc~dental, 0movimento socialista apre-

senta~se pubhcamente diante de simpatizantes,

especialmente por meio de revistas com exclusivi-

dade de linguagem, conteudo e forma. Essas bro-

churas e folhetos informativos pressup6em uma

estrutura de s6cios e simpatizantes, assim como

uma situacao midiatica que corresponde aproxi-

madamente ao estagio hist6rico de 1900. Sua fixa-<;aopelo modelo da Iskra e evidente. Provavelmen-

te, os seus produtores ouvem Rolling Stones,

a~ompa~ham as invasoes e greves pela televisao e

vao ao cinema assistir a filmes de faroeste ou aos

de Godard. Apenas em sua funcao de produtores

eles se esquecem disso, e em suas analises todo 0

setor das rnidias murcha, reduzindo-se a palavra-

chave manipulacao. Qualquer movimento ex-plorat~rio nessa area passa pela suspeita de in-

tegracao - que nao e de todo infundada. Contudo,

~Ia pode ocultar tambern a pr6pria ambivalencia e

l/nsegur~n<;a. 0medo de ser engolido pelo sistema

e u~ ~mtoma. de fraqueza. Ele pressup6e que 0

capitalismo se!a _capaz de lidar com toda e qual-

quer contradicao, conviccao essa facilmente

desarticulavel do ponto de vista hist6rico e insus-

tentavel do ponto de vista te6rico.

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

Se 0movimento socialista desconsidera os novos

meios de producao da industria da consciencia e

empurra 0 trabalho com as midias para a subcul-

tura, temos urn circulo vicioso, porque 0~-

ground cada vez mais percebe com nitidez e.

r~maticamente 0 terre no das possibilidades

tecnicas e esteticas do disco de vinil, da grava<;ao

magnetica, da camera de video etc. NO_.entanto,

ge-Fl-a.G-~SP ctiva politica fupria, s~e__./

assim:._8~lment~oh .0 sem re-sTste~

cc:rl'i1frcio. OsgrGpos pOOf! amente ativos sempre

a~ara esse tipo de exemplo com regozijo

pela calamidade alheia. A consequencia e um pro-

cesso de desaprendizado, em que ambas as par-tes sao perdedoras. Na oposi~~_mi~

parte da esquerd e naaespon:tiza<;aoaa..~

~'mco que leva antagem e 0 capital.~/

99

 

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Manipulacao

artistico

direta

consciencia.

dublagem

nao manipuladas

material

interven<;ao

elementares

material

Manipulacao, cujo significado em alernao e segu-

rar com a mao ou recurso artistico, equivale a in-tervencao tecnica em urn determinado material com

urn fim especifico. Quando se trata de intervencao

socialmente relevante e direta, a manipulacao pas-

sa a ser urn ato politico, 0que, em principle, ocorre

na industria da consciencia.

Qualquer uso das midias pressupoe, portanto, rna-

nipulacao. Os procedimentos mais elementares da

producao mldiatica - desde a escolha da midia, pas-

sando por gravacao, corte, dublagem, mixagem, ate

a distribuicao - sao intervencoes no material dis-ponivel. Nao existem escrita, filmagem e exibicao

nao manipuladas. Dessa forma, a questao nao e

se as midias sao manipuladas ou nao, mas quem

as 

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ELEMENTOS PARA UMA 1"EORIA DOS MEIOS DE COMUNICAf;AO

as manipula. Urn esboco revolucionario nao deve

fazer desaparecer os manipuladores. Deve, ao con-

trario, transformar cada urn de nos em manipu-lador. .

Toda manipulacao tecnica e potencialmente pengo-

sa. Amanipulacao das midias, porern, nao deve ser

tratada por velhas ou novas formas de censura, mas

exclusivamente por meio de controle social direto,

ou seja, pelas massas tornadas produtivas. Para tan-

to, torna-se condicao necessaria, mas nao suficien-te, a eliminacao das condicoes capitalistas de

p~tr~n:onio. Ate 0momenta nao existem exemplos

historicos do processo de aprendizado massificado

e autoconduzido possibilitados pelas midias eletro-

nicas. 0 medo que os comunistas tern do desen-

cadeamento desse potencial, das possibilidades

mobilizantes das midias, da interacao de produto-

res livres, e uma das razoes essenciais da continui-

da~e ~a velha cultura burguesa tambern nos paises

socialistas, cultura essa muitas vezes distorcida e

disfarcada, porern estruturalmente inabalavel,

Para esclarecer historicamente essa situacao,

podemos afirmar que a industria da conscien-

cia na Russia da Revolucao de Outubro era

extraordinariamente retr6grada. Suas forcas

produtivas cresceram espantosamente desde

36

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

aquela epoca, mas suas condicoes de produ-

<;aoforam conservadas artificialmente e mui-

tas vezes a forca. De modo primitivo a irn-

prensa ainda esta estruturada: 0 livro e 0

teatro ainda sao as principais midlas na

Uniao Sovietica. A evolucao do radio, do ci-

nema e da televisao estagnou politicamente.

Por isso, emissoras estrangeiras como a BBC,

a Voz da America e a Deutsche Welle nao so

encontram ouvidos, mas tern ainda ere-

dibilidade quase ilimitada naquele pais. As

midias arcaicas, como 0manuscrito circulan-

te e 0poema de tradicao oral, igualmente ocu-

pam lugar central.

37

 

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imateriais

Inteligencta

rnidias

oposicao

conexao,

programas

(TV em circuito fechado)

con scien cia.

melhor.

privilegios

Em sua estrutura, as novas midias sao igualitaria~.

Por meio de urn simples processo de conexao,

todos podem participar delas. Os programas em si

sao imateriais e reprodutiveis. Assim, as midias

eletronicas estao em oposicao as mais antigas,

como 0 livro e a pintura sobre madeira, cujo ex-

cIusivo carater de cIasse e evidente. Programas

de televisao para grupos privilegiados sao tecni-camente possiveis (TV em circuito fechado), po-

rem estruturalmente sem sentido. As novas midias

tern a tendencia a eliminar todos os privileglos de

formacao, e com isso tarnbern 0monop6lio cultu-

ral da inteligencla burguesa. Portanto, esse e urn

dos motivos do ressentimento de supostas elites

contra a industria da consclencia. 0 espirito que

elas buscam defender contra a "despersonaliza-cao" e a "massificacao" - quanto antes elas 0 a-

bandonarem, melhor.

99

 

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conternplacao.

cultura

missao

eternidade.

desintegram

aniquilamento

hist6rico

As novas midias orientam-se pela acao, nao pela

conternplacao. Pelo momento, nao pela tradicao.

Sua relacao com 0 tempo e completamente oposta

aquela da cultura burguesa, que quer_posse, ou seja.

duracao e, se possivel, eternidade. Objetos que pos-

sam ser acumulados e leiloados nao sao produzi-dos pelas midias. Elas desintegram a "propriedade

espiritual" e Iiquidam a "heranca", isto e, a trans-

missao especifica de classes do capital imaterial.

Com isso nao queremos dizer que elas nao tern

hist6ria ou que contribuem para 0aniquilamentoda consciencia hist6rica. Ao contrario, pela pri-

meira vez elas permitem fixar material hist6rico

. . ., 

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ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAI;AO

de ta l forma que possa ser trazido ao presente a

qualquer instante. Disponibilizando esse material

para fins do presente, elas evidenciam ao usuario

que 0 registro da hist6ria e sempre manipulacao.

Entretanto, a mem6ria que as rnidias mantern dis-ponivel nao e circunscrita a uma casta de erudi-

tos: e social. A informacao arquivada esta aces-

sivel a todos, e este acesso e determinado pelo

momenta tanto quanto 0 registro. Basta cornpa-

rar 0modelo de uma biblioteca particular com a

organizacao de urn arquivamento sociabilizado

para verificar a diferenca estrutural entre os dois

sistemas.

'12

para fins

diferenca

trazido

midias

acesso

 

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r

aparelhos

consumo

tempo,

meios

maos

consumidoreseletronicas.

procedimen tosadministrativos.

exemplo

aquele

instituicao

telegrafo

texto

acessivel

Nao e correto definir os aparelhos das rnidias como

simples meios de consumo. Em pnncipio, eles

sempre sao, ao mesmo tempo, meios de produ-

cao. Mais especificamente meios de producao so-

cializados, uma vez que estao nas maos das mas-

sas. 0 contraste entre produtores e consumidores

nao e inerente as rnidias eletronicas. Ele deve se

impor artificialmente por meio de procedimentoseconornicos e administrativos.

o contraste entre 0 telegrafo e 0 telefone e

um exemplo hist6rico dessa situacao. En-

quanta aquele ate ho]e se encontra nas maos

de uma instituicao burocratica, que podechecar e arquivar cada texto enviado, 0 te-

lefone e diretamente acessivel a todo usua-

 

ELEMENTOS PARA UMA l"EORIA 005 MEIOS DE COMUNICAC;:AO

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rio. Ele permite ate mesmo 0 usa coletivo,

por meio da conexao entre grupos de discus-

sao geograficamente distantes para a reali-

zacao de uma conferencia, por exemplo.

No entanto, ate hoje os meios de cornunica-

s:ao auditivos e visuais sem fio estao subjuga-

dos a regularnentacao estatal (leide aparelha-

gem de cornunicacao a distancia). Diante de

urn desenvolvimento tecnico que ha muito

tornou possivel a radiotelefonia local e inter-

nacional e abre tambem cada vez mais zo-

nas de frequencia para a televisao (apenas

no ambito dos gigahertz, a emissao de nu-

merosos programas e possivel sem interferen-

cias em urn lugar, sem contar as possibilida-

des da televisao a cabo e por satelite), as leis

em vigor para controlar 0eter sao obsoletas.

Elas lembram urn tempo em que a utilizacao

de uma prensa estava ligada a urn privilegio

imperial. Os movimentos socialistas terao de

retomar a luta por frequenclas proprias e

construir emissoras proprias e estacoes-

retransmissoras em tempo habil.

conexao

geograficamente

meios

desenvolvimento

radiotelefonia

gigahertz

televisao

coletivo,

"16

movimentos

 

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midias

produtivas

hip6tese:

artesanato

irrelevante

caracteristicas

socialista

avan<;adas

futuroapolitlca

Com base nas ja citadas caracteristicas estruturais

das novas midias, deduz-se que nenhum dos regi-

mes ho]e atuantes pode cumprir sua promessa. Ape-

nas uma sociedade socialista livre podera torna-

las produtivas. Outra caracteristica - provavelmente

a decisiva- das midias mais avancadas comprova

essa hip6tese: a sua estrutura coletiva.

A perspectiva de que, no futuro, todos poderao ser

produtores com 0auxilio das rnidias seria apolitica

e tacanha, enquanto essa producao desembocasse

em artesanato individual. 0 trabalho individual

com as midias s6 sera possivel na medida em que

permane<;a socialmente e, logo, seja tarnbem este-

ticamente irrelevante. Como exemplo-modelo po-

demos mencionar a possibilidade de se registrar em

uma serie de slides a ultima viagem de ferias. Era

 

ELEMENTOS PARA UMA 1"eORIADOS MelOS De COMUNICAt;:AoHANS MAGNUS ENZEruSBERGER

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justamente esse 0 objetivo preciso dos mecanis-

mos de mercado dominantes. Aparelhos como a

handycam e a filmadora de 8 milimetros, assim

como 0 gravador, que de fato ja estao nas maos

das massas, evidenciam ha muito que 0 lndivi-

duo enquanto permanecer isolado pcdera, no

melhor dos casos, tornar-se urn amador, mas [a-

mais produtor. Mesmo urn veiculo produtor tao

potente como 0 transmissor de ondas curtas foi

domado dessa forma, sen do rebaixado a "instru-

mento de lazer" inofensivo e sem consequencias

nas maos de alguns radio-amadores. 0 programa

produzido pelo amador isolado e sempre e unica-

mente a reproducao ruim e ultrapassada daquilo

que ele normalmente ja recebe.

A producao particular de midia e apenas urn

trabalho caseiro concessionado. Ela perma-

nece mera confissao, ainda quando e di-

vulgada. Para isso, os proprietarios das mi-

dias desenvolveram programas especificos e

rubricas, que normalmente se chamam F6rum

Democrattco ou algo parecido. La no canto,

entao, "0 leitor (ouvinte, espectador) tern a

palavra", que evidentemente the pode ser

cortada a qualquer instante. Assim como na

praxis da demoscopia somente the fazem per-

guntas para que tenha a oportunidade de con-

firmar sua dependencia. Trata-se de urn cir-

50

culo de regras no qual 0 input ja preve to-

talmente 0 feedback.

o conceito de concessao e utilizavel aqui tam-bern em outro contexto, 0econornico, no qual

o sistema busca transformar cada participante

em concessionario dos monop6lios que re-

velam seus filmes e gravam suas fitas. Dessa

forma, por exemplo, a atividade autonoma

possibilitada pelo aparelho de video, devera

ser arrancada pela raiz. Obviamente essas

tendencias sao contra a estrutura, e as novas

forcas produtivas nao apenas permitem, co-

mo tarnbern exigem sua inversao.

Os resultados precarios, debeis e por demais re-

duzidos desse empreendimento concesslonario

sao comentados com ironia pelos produtores pro-

fissionais das midias. Soma-se ao prejuizo causa-

do as massas 0 escarnio triunfante em relacao ao

fato de que aparentemente nao sabem fazer uso

das midlas. 0 que se passa em shows televisivos

populares comprova que as massas seriam total-

mente incapazes de articulacao pr6pria.

51

 

ELEMENTOS PARA UMA l"EORIA DOS MEIOS DE COMUNICAI;AO

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Isso nao apenas contradiz OS resultados das pes-

quisas psicol6gicas e pedag6gicas mais recentes.

Pode ainda ser facilmente desmascarado como

afirrnacao reacionaria de defesa: os "talentosos"

meramente defendem seu territ6rio. Trata-se do

equivalente cultural dos famosos juizos politicos

sobre a classe operaria evidentemente "idiotizada",

lnapta para qualquer tipo de autodeterrninacao.

Curiosamente, tambern se pode ouvir a opiniao

de que as massas jamais poderiam se autogovernar

- parecer este de pessoas que se julgam socialis-

tas. No melhor dos casos, trata-se de econornis-

tas que por socialismo entendem estatizacao, or-

dinariamente.

52

contradiz

operaria

desmascarado

defesa:

autogovernar

estatizacao

 

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estrategia

isolamento

participantes.

conceps:6es

tecnocraticas.aparelho

crenca

ilusao

ocorrera

afinco,

murcha

Contra isso, toda estrategia socialista das midias

deve buscar 0 fim do isolamento de cada lndivi-

duo que participa do processo social produtivo e

de aprendizado. Isso nao e possivel sem a auto-

organizacao dos participantes. E esse 0 nucleo

politico da questao das midias e e a partir dai quese diferenciam as concepcoes socialistas, pos-li-

berais e tecnocraticas. Quem espera obter ernan-cipacao de um aparelho tecnol6gico ou de um sis-

tema de aparelhos, seja la qual for a sua estrutura,

recaira na mais obscura crenca progressista. Aque-

Ie que tiver a ilusao de que a liberdade das midias

ocorrera automaticamente se cada um apenas

emitir e receber com afinco cai na falacia de um

liberalismo que, sob a dissimulacao conternpora-

nea, vende suas ldeias de porta em porta com aconcepcao murcha de uma harmonia preesta-

belecida dos interesses sociais.

55

 

ELEMEru1'OS PARA UMA 'TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAt;:Ao HANS MAGNUS EruZEruSBERGER

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E necessario ressaltar que contra tais llusoes 0 uso

I correto das midias exige e possibilita organizacao.I Toda producao que tern como objeto os interesses

dos produtores pressupoe uma forma coletiva de

producao. Ela pr6pria ja e uma forma da auto-orga-nizacao de necessidades sociais.

Gravadores, filmadoras handycam e 8 milimetros

atualmente ja fazem parte, em larga escala, das

posses dos assalariados. Perguntamos, entao, por

que esses meios de producao nao estao presentes

de forma macica nos locais de trabalho, nas esco-

las, nas reparticoes burocraticas, em suma em to-

das as situacoes sociais de conflito. Na medida

em que produzem formas agressivas de uma opi-niao publica que seria a sua pr6pria, as massas

poderiam se assegurar de suas experienclas coti-

dianas, tirando delas ensinamentos efetivos.

Obviamente, a sociedade burguesa defende-se de

tais perspectivas com uma serie de recursos juridl-

cos. Ela se reporta ao direito de moradia, sigilo co-

mercial e institucional. Enquanto os seus services

secretos adentram nas quatro paredes, acoplando-

se as conversas mais intimas, essa sociedade apa-

renta tocantes relacoes de confianca e mostra-se sen-

sivelmente preocupada com a protecao de esferasparticulares, nas quais nao ha nada de particular

alern do interesse dos exploradores. Somente urn pro-

56

cedimento coletivo e organizado pode rasgar estas

paredes de papel.

Alem de sua funcao primordial, redes de comuni-

cacao que sao montadas para tais fins podem for-

necer modelos organizacionais politicamente in-

teressantes. Nos movimentos socialistas, ha muito

a discussao dialetica sobre discipllna/espontanei-

dade, centrahzacao/descentralizacao, conducao

autoritana/desintegracao antiautoritaria chegou a

urn ponto morto. Pistas para a superacao desseestado de coisas poderiam ser fornecidas por mo-

delos de comunicacao em rede, construidos a par-tir do prlncipio de reciprocidade: urn jornal de

massas escrito e distribuido por seus leitores, uma

rede de video de grupos de trabalho politico etc.

De forma mais radical que todas as boas intencoes

e de modo mais contundente que a fuga existen-cialista da pr6pria classe, as midias trazidas a si pro-

prias destroem a forma particular de producao dos

intelectuais burgueses. Seu individualismo s6 pode

ser desarticulado em processos produtivos de traba-

lho e aprendizado, tendo em vista que passa por

auto-exposicao de fundo moral (ainda que indivi-

dual), transitando para uma nova autocompreensao

politica e urn novo comportamento politico, do pon-to de vista qualitativo.

57

 

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tese

americanos

exploracao

sociologos

limitados.

estimuloartificial

exerce

"terror consumista"

politicamente

corrompido.

Uma tese bastante difundida afirma que 0capita-

lismo atual vive da exploracao de necessidades

erradas. Isso, na melhor das hip6teses, e uma

meia-verdade. Os estudos de sociclogos popula-

res americanos da importancia de Vance Packard

nao sao invalidos, mas limitados. 0 que eles tern

a dizer sobre 0estimulo de demanda por meio depublicidade e obsolescencia artificial, pelo menos,

nao explica satisfatoriamente a atracao hipn6tica

que 0 consumo de massa exerce sobre os assala-

riados. A hip6tese do "terror consumista" vai ao

encontro de preconceitos burgueses (ja que a bur-

guesia se julga politicamente esclarecida) sobre 0

proletariado, supostamente integrado, agora pe-

queno-burgues e corrompido. A forca de atracaoexercida pelo consumo em massa, porern, nao re-

side na imposicao de necessidades falsas, mas na

59

 

ELEMEruTOS PARA UMA l"EORIA OOS MEIOS De COMUNICAI;AOHANS MAGNUS EruZEruSI3ERGER

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falsiflcacao e exploracao de necessidades muito

reais e legitimas, sem as quais 0processo parasi-

tario da pubJicidade seria inofensivo. Urn movi-

mento socialista nao deve apenas denunciar essas

necessidades, mas leva-las a serio e pesquisa-las,

para toms-las politicamente produtivas.

Isso vale tambem para a industria da consciencla.

o fato de as midias eletronlcas serem irresisrivels

nao se deve a urn truque refinado qualquer, mas a

forca imprescindivel de necessidades sociais profun-

das, que mesmo na atual organizacao corrompida

dessas midias mantern sua evidencia.

Ja que nmguern se interessa pelos interesses das

massas, ao menos no que tern de historicamente

novos, eles continuam relegados a urn terreno re-

lativamente desconhecido. Eles vao, indubitavel-

mente, muito alern dos objetivos representados pe-

1 0 movimento trabalhista tradicional. Assim como,

na esfera produtiva, cada vez mais as industrias

de bens e da consciencia se fundem e se mesciam,

tam bern subjetivamente. Quanto as necessidades,

ha momentos materiais e imaterias fortemente

entrelacados. Nesse contexto, carregam-se velhos

motivos psicossociais (prestiglo social, modelos de

identificacao), mas surgem tarnbern novos moti-

60

vos poderosos, que sao ut6picos. Do ponto de vista

materialista, nem uns nem outros podem ser des-

considerados.

Para a constituicao atual do consumo de massa,

Henri Lefebvre sugeriu 0 termo spectacle: deixar a

mostra. Mercadorias e vitrines, transite e publici-

dade, loja de departamentos e mundo pict6rico,

noticias e embalagens, arquitetura e producao de

midia fundem-se numa totalidade, numa represen-

tacao permanente, que nao domina exciusivamente

os centros urbanos publicos, mas ainda os interio-res privados. A palavra de ordem "rnorar melhor"

tambern transforma os objetos mais triviais em ape-

trechos desse festival generalizado, em que 0cara-

ter de fetiche das mercadorias se imp6e de modo

totalmente contrario a seu valor utilitario. 0 enga-

no provocado por essas festas e e continuara sen-

do engano em meio a sociedade existente. Mesmo

assim, algo de diferente a partir disso se anuncia.o consumo como espetaculo promete 0desapare-

cimento da escassez. Os traces falsos, brutais e

obscenos desse festival advern do fato de estar fora

de cogitacao 0 cumprimento real dessa promessa.

Contudo, enquanto durar a escassez, 0 valor de

uso perrnanecera como categoria decisiva, que s6

podera ser liquidada por meio de traicao. Mas uma

traicao de tais dimens6es s6 e possivel se for basea-da numa necessidade das massas. Essa necessida-

de, que e ut6pica, existe. Trata-se do anseio por

61

 

ELEMEruTOS PARA UMA 1"EORIA DOS MElDS DE COMUNICAC;:AO HANS MAGNUS EruZEruSBERGER

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uma nova ecologia, pela desfrontetrizacao do meio

ambiente, por uma estetica que nao se restrinja aesfera do "belo da arte". Esses anseios nao sao,

pelo menos em principio, regras de jogo interio-

rizadas pelo sistema capitalista. Eles tern raizes psi-

cologicas e ja nao podem ser suprimidos. A exposl-<;:aodo consumo e a antecipacao parodistica de uma

sltuacao utopica.

As tentacoes apresentadas pelas rnidias tern a

mesma arnbivalencia. Elas sao a resposta a ne-

cessidade das massas de multiplicidade imateriale de mobilidade (que procura sua realizacao mate-

rial na posse de urn carro particular e no turismo),

explorando-a. Com 0mesmo poder e da mesma

forma que visa claramente a ernancipacao, ou-

tros anseios coletivos sao constituidos. No en-

tanto, 0 capital muitas vezes os reconhece an-

tes ou os avalia de forma mais correta do que

seus adversaries - sem duvida, somente paraencarnpa-los e lhes tolher a forca de ataque: a

necessidade de partlcipacao no processo social

em dimens6es local, nacional e internacional; a

necessidade de novas formas de interacao, de

abolicao da ignorancia e da minoridade, a ne-

cessidade de autodeterminacao. "Participar de

tudo": urn dos slogans da industria da conscien-

cia. 0 "Parlamento dos Leitores" do jornal B U d : de-mocracia direta, voltada contra os interesses dos pro-

testos de rua. "Espaco livre" e "lazer": termos que

62

sufocam as ambicoes continuas das massas e ao

mesmo tempo as neutralizam.

A isso corresponde a permeabilidade das

midias quanto a historlas utopicas. Exern-

plo: 0 caso daquele jovem italo-arnericano

que sequestrou urn aviao que voava de uma

cidade da California, Estados Unidos, a

Roma, na Italia, para voltar para casa, tam-

bern foi incorporado sem restricoes pela irn-

prensa de massa reacionaria e certamenteentendido de forma correta pelos seus leito-

res. A identificacao baseia-se em uma neces-

sidade que se tornou geral: ninguem enten-

de por que tais viagens devem ser pnvilegio

de politicos, funclonarios e empresarios. Do

mesmo ponto de vista poderia ser analisa-

do 0papel do pop-star, em que curiosarnen-

te misturam-se momentos de autoridade ede ernancipacao. Talvez nao seja mero aca-

so 0 fato de a musica beat nao fornecer mo-

delos de identiflcacao a lndividuos. mas a

grupos. Na producao (e na forma de produ-

cao) dos Rolling Stones 0 teor utopico e evi-

dente. Eventos como 0Festival deWoodstock ,os concertos no Hyde Park, na Ilha de Wight

e em Altamond, California, fomentam umaintensidade mobilizante que a esquerda po-

litica so pode invejar.

63

 

ELEMENTOS PARA UMA 1"EORIA 005 MEIOS IJE COMUNICAC;:AO

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E absolutamente evidente que a industria da cons-

ciencia nas atuais formas de sociedade nao pode

satisfazer nenhuma das necessidades das quais ela

vive e que par isso as deve estimular, a nao ser em

formas ilusorias de jogo. Entretanto, 0que interes-

sa nao e desconstruir as suas promessas, mas torna-las ao pe da letra e mostrar que elas s o podem ser

cumpridas par meio de uma revolucao cultural.

Socialistas e govemos socialistas que duplicam a

frustracao das massas, declarando falsas suas ne-

cessidades, tomam-se cumplices de um sistema,

que, ao tomar posse, deveriam combater.

cumpridas

industria

necessidades

ilusorias

promessas

socialistasmassas,

curnplices

 

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objetivamente

eletr6nicas

classes

fatalistas

Frantz Fanon

transistorllbertacao

ala direitista

televisao

imperialismo

favorecerAmerica do SuI

).

Quanto as possibilidades objetivamente subver-

sivas das midias eletronicas, os dois lados na luta

internacional de classes estao de acordo, exceto

os adeptos fatalistas da tese da manipulacao nas

metr6poles. Frantz Fanon foi 0primeiro a salien-

tar que0

radio transistor e uma das armas maisimportantes na luta pela libertacao do Terceiro

MUI;do. Albert Hertzog, ex-ministro da Republica

da Africa do SuI e porta-voz da ala direitista do

partido do governo, afirmou: "a televisao provo-

cara a derrota do homem branco na Africa do SuI"

(revista Der S pieg el, 20/10/1969). Essa situacao

foi reconhecida pelo imperialismo americano. 0

radio transmissor pode favorecer a "revolucao das

expectativas crescentes" na America do SuI (se-

gundo as palavras de ordem de seus ideologos).

69

 

ELEMENTOS PARA UMA nORIA DOS MEIOS DE COMUNICA«;:AO HANS MAGNUS ENZENSBERGER

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Espalhadas pelo continente, ate nas regi6es mais

afastadas da Bacia Amazonica, emissoras pro-

prias, balizadas pela distribuicao gratuita de ra-

dios transistores de frequencia (mica a populacao

local, iriam ao encontro dessa ideia. Os ataques

da administracao Nixon as midias capitalistas dos

Estados Unidos denunciam a conviccao de que

suas reportagens, por mais unilaterais e distorcidas

que fossem, tornaram-se fator de mobillzacao deci-

sivo contra a Guerra do Vietna. Enquanto ha ape-

nas 25 anos os massacres dos franceses em Ma-

dagascar, que resultaram em aproximadamente

100 mil mortos, eram levados ao conhecimento

apenas dos leitores do L e M o nd e, na secao de va-riedades, e portanto passavam despercebidos e

sem maiores consequencias na metr6pole, as

midias atualmente empurram as guerras coloniais

para os centros do imperialismo.

organizacao. Apenas grupos ativos e coerentes

podem impor as midias a lei de sua forma de agir.

Urn born exemplo disso e 0 caso dos Tupamaros',

no Ur~g~ai, cuja praxis revoluclonaria implica tor-

nar pubhcas suas acoes. Dessa forma, os atores

torna~-se autores. Outro exemplo, 0 sequestro do

en:balxador americana no Rio de Ianeiro- foi pla-

nejado tendo em vista 0 seu eco nas rnidias. Foi

uma producao televisiva. Os guerrilheiros arabes

procedem de forma semelhante. Os primeiros a

testar essas tecnicas em ambito internacional fo-

ram os cubanos. Desde 0 inicio, Fidel Castro ava-

liou corretamente 0 potencial revolucionarlo das

~~dia~ (Monc~da, 1953). Atualmente, a acao po-Iitica !legal eXlge tanto 0maximo sigilo quanto amaxima publicidade.

W -l

~"-.

0

W -l'-

' "potencial mobilizante direto das midias e ainda ~ .£:t::

mais evidente quando usado de forma conscien- ci0Q.

-o E

temente subversiva. Atualmente, sua prescnca : : : : : 0

u())

potencializa 0carater demonstrativo de toda acao "tJ 0'Ol

V)

.~politica. Os integrantes dos movimentos estudan-

"tJOl 'W

U W

tis nos Estados Unidos, no Iapao e na Europa Oci-,())

"0 0-Ol 0

dental perceberam isso precocemente, alcancan- "tJ

l . ' l())

do de inicio sucessos mornentaneos consideraveis V .§'x '= =

no jogo com as midias, mas esses efeitos acaba-

. . . .())

Ol

E 0

ram desgastados. A confianca ingenua na magia Ol .~.c

da reproducao nao pode substituir 0 trabalho de. > : ; 0. . . . "tJ())

Ol::l

C J E

70. . . . : ~

71 N

 

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revolucionarias

espontaneas

rnidias

massas

alcancadas

ate

culturalsurgimento

bonapartistasativa

inclusive

midias

dissolvidas

colossal

Situacoes revolucionarias sempre trazem alteracoes

descontinuas, espontaneas para 0 estado de agre-

ga~ao em que as midias se encontram, com sus-

tentacao por parte das massas. A extensao das al-

teracoes alcancadas e a sua duracao demonstram

ate que ponto foi bern-sucedida uma revolucao

cultural. A situacao das midias e 0barometro mais

seguro e mais sensivel para detectar 0 surgimento

de anticiclones burocraticos ou bonapartistas. En-

quanto a revolucao cultural estiver ativa, a fanta-

sia social das massas ultrapassa inclusive os atra-

sos tecnol6gicos, transformando as midias antigas

de tal forma que suas estruturas sao dissolvidas.

"Aqui, a revolucao realizou urn trabalho colossal

de esclarecimento e propaganda. 0 livro tradicio-

nal foi rasgado e separado em paginas avulsas, am-

7:1

 

ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICA«;:AO HANS MAGNUS ENZENSBERGER

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pliado cern vezes, intensificado em sua coloracao e

conduzido as ruas em forma de cartaz. Em razao da

escassez de possibilidades de impressao e da falta

de tempo, 0melhor, na maioria das vezes, era 0 tra-

balho manual, porem normalizado, lapidado, utili-

zando-se as maquinas da forma de reproducao maissimples possive!. Imprimiam-se leis estatais como

livros ilustrados e ordens do exercito como livrinhos

ilustrados em formato de brochura." (El' Lislcki],

Erinnerungen Briefe Schriften [Lembram;;as, Canas,

Escritosl. Dresden 1967, p. 359.)

Nos anos 1920, 0 cinema russo alcancou urn ni-

vel que se adiantou as forcas produtivas existen-

tes: 0Kinoglaz, de Pudovkin e 0Kinopravda, de

Dziga Vertov nao eram "jornais sernanais", mas

magazines televisivos politicos avant l'ecran. A

campanha de alfabetizacao em Cuba quebrou a

estrutura linear, exclusiva e isolante da midi a-li-

vro. Na China da Revolucao Cultural, os jornaisde parede funcionavam como uma midia de mas-

sas eletr6nica, ao menos nas grandes cidades. A

resistencia da populacao tcheco-eslovaca contra

a invasao sovietica provocou uma produtividade

espontanea das massas, que superou os obstacu-

los institucionais das midias. Tais situacoes sao

excecoes. E justamente 0 seu trace ut6pico que

se adianta as forcas produtivas existentes (exata-mente por isso nao se pode revirar constantemen-

te as condicoes produtivas), e isso que as torna

7"1

instaveis e conduz a recaidas e derrotas. E mais

fortemente elas evidenciam que enormes energias

politicas e culturais estao escondidas em meio as

massas silenciadas, e com que fantasia essas mas-

sas sabem perceber todas as oportunidades das

novas midias no momenta de sua libertacao.

75

 

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argumentar

avan<;adas

perspectiva

acadernica

politica

marxistas

industria

socialistas

Georg Lukacs

nostalgia

burguesas

o fato de a esquerda marxista argumentar teori-camente baseando-se no estado das forcas pro-

dutivas mais avancadas de sua sociedade e agir

na pratica sob uma perspectiva que envolve to-

dos os momentos de ernancipacao que residem

nessas forcas, utilizando-os de forma estrategica,

nao e uma expectativa acadernica, mas uma ne-

cessidade politica. Com uma unica grande exce-

cao, a de Walter Benjamin (e, em sua sequencia,a de Brecht), os marxistas, no entanto, nao enten-

deram a industria da consciencia, s6 reconhecen-

do nela 0 reverso burgues-capttalista, porern nao

as suas possibilidades socialistas. Um autor como

Georg Lukacs representa esse atraso te6rico e pra-

tico. Tambern os trabalhos de Horkheimer e Ador-

no nao estao livres de uma nostalgia que adere a

midlas burguesas antigas.

77

 

ELEMENTOS PARA UMA 1"EORIA DOS MEIOS DE COMUNICA';:AO HANS MAGNUS ENZENSBERGER

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Essa concepcao da industria cultural nao

pode ser discutida aqui. Muito mais carac-

teristica do marxismo do periodo entre guer-

ras e a posicao de Lukacs, que pode ser cla-

ramente detectada num ensaio da primeira

fase sobre cultura antigo e cul tu ra nova (Ko-mmuni smu s. Z ei ts ch rif t d er k ommunis tis ch en

I nte rn atio na le fu r d ie Lande r S iu io st eu ro pas .

Ano 1 . n920], pp. 1538-49). Segundo 0 au-

tor, "tudo 0que a cultura produz s6 tera real-

mente valor cultural quando valioso p ara si,

quando 0 surgimento de todo produto for

urn processo uniforme e concluido do pon-

to de vista de seu criador. E, especificarnen-te, urn processo cujas condicoes dependam

das possibilidades e capacidades humanas

do criador. 0 exemplo caracteristico de tal

processo e a obra de arte, em que to do 0

processo de criacao da obra e resultante ex-

clusivamente do trabalho do artista, ecada

minucia da obra concluida e condicionadapelas qualidades individuais do artista. Na

desenvolvida industria de maquinas, ao con-

trario, anula-se todo e qualquer vinculo en-

tre 0produto e seu produtor ... 0h om em ser-

ve a tnaouina, adap ta-se a ela; a producao

torna-se totalmente independente das pos-

sibilidades e capacidades humanas do tra-

balhador". Sao essas forcas que "destroem

a cultura", comprometem a "autenticidade

do material", 0 "nivel", acabando com a

"obra como fim e si mesma".

78

da cultura, sua essencia harmonica, pro-

piciadora de alegria"; it cultura do capitalis-

mo "haveria de fazer falta a harmonia e a

beleza simples e natural da cultura antiga:

a cultura no sentido verdadeiro e literal". Fe-lizmente, nao termina por ai. A "cultura da

sociedade do proletariado", pelo menos,

rnudara esse estado funesto de coisas, rnes-

mo que sobre ela nao se possa dizer nada

mais "no ambito da pesquisa acadernica

possivel aqui". Lukacs se pergunta "que va-

lores culturais, de acordo com esses padroes,

uma nova sociedade pede a do ta r d a c ultu ra

antigo pa ra d epoi s d es en vo lv e-l os ", Respos-

ta: nao as maquinas impessoais, mas "a

ideia do homem, como fim em si, a ideia-

base da nova cultura", visto que ela e "aheranca do idealismo classico do seculo

XIX". Certamente. "Aqui aparece, com 0

peso de sua indole grosseira, 0 conceito

diletante da arte, alheio a toda conjectura

tecnica e que sente ser chegada a hora de

seu fim com 0 surgimento provocante da

nova tecnica." (Walter Benjamin, Kleine

G esch ichte der Photograp hie. In: Das

Kunstwerk im Z eita lte r s ein er te ch nis ch en

Reproduzierbarkeit. Frankfurt 1963. p. 69.)

79

 

ELEMENTOS PARA UMA -rEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAC;:AO HANS MAGNUS ENZENSBERGER

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Essas retrospectivas saudosistas do pano-

rama do seculo XIX, esses ideais reaciona-

rios ja prenunciam 0realismo socialista, que

posteriormente enterrou e queimou da for-

ma mais desoladora os "valores culturais",

que Lukacs tanto se empenhara em salvar.Infelizmente, a revolucao cultural sovletica

tambern foi sacrificada nesse contexto. Na

verdade, provavelmente tao pouco conside-

rada por este esteta quanto por Stalin.

a compreensao de processos sociais, cujos livros,

apesar de confusos, podem servir de playground

de observacoes incontroladas sobre a industria da

consciencia. Pelo men os ele entendeu mais da for-

ca produtiva das novas midias que todas as cornis-

s6es ideol6gicas do partido comunista da LlniaoSovietica com suas regras e decis6es interrnlnaveis.

A insuficiente compreensao dos marxistas a respei-to das midias e 0 uso questionavel que delas fize-

ram produziram urn vacuo nos paises industria-

lizados do Ocidente, 0 qual consequentemente foi

invadido por uma enxurrada de hip6teses e praticas

nao marxistas. DoCabaret Voltaire a Factory de AndyWarhol, dos humoristas do cinema mudo aos

Beatles, dos primeiros desenhistas de quadrinhos

, aos atuais empresarios do underground, 0manejocom as midias foi expandido de forma muito mais

radical pelos apolitlcos do que por parte de quais-

quer grupos de esquerda (excecao: Milnzenberg).

Ign6beis colocararn-se a frente das novas forcas pro-

dutivas, baseados puramente em lntuicoes, as quais

o comunismo nao quis dar atencao, para sua des-

vantagem. Atualmente, essa vanguarda apolitica

encontrou seu ventriloquo e profeta na figura deMarshall McLuhan, urn autor a quem faltam, e ver-dade, todas e quaisquer categorias analiticas para

Incapaz de qualquer elaboracao te6rica, McLuhan

nao resume seu material em urn termo, mas no

denominador comum de urn ensinamento reacio-

nario de salvacao. Contudo, 0 que ele nao inven-tou, mas foi 0primeiro a realizar de forma explict-

ta, foi uma rnistlca das midias, na qual todos os

problemas politicos evaporam como nevoa - aque-

la nevoa azul com que ela ilude seus discipulos.

Seu atrativo e a salvacao da humanidade por meio

da tecnologia da televisao, especificamente da te-

levisao tal como e realizada hoje. Diga-se, porern,

que a tentativa de McLuhan de colocar Marx deponta-cabeca nao e exatamente nova. Como seus

numerosos antecessores, ele divide a determina-

~ao de minimizar todos os problemas da base eco-

nornlca, 0enfoque idealista, a banalizacao da luta

de classes no azul celeste de urn humanismo vago.

Urn novo Rousseau, assim como todas as reprises,

apenas urn debil reflexo do antigo, ele proclama 0

Evangelho dos novos primitivos que, sem duvidanum patamar mais elevado, devem retornar a "al-deia global", numa exlstencia tribal pre-hisronca.

80 81

 

ELEMEruTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICA«;:AO

Nao vale a pena debrucar-se sobre tais concepcoes.

HANS MAGNUS EruZEruSI3ERGER

comunica que a burguesia dispoe, e bem verdade,

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Talvez a frase mais famosa desse marqueteiro me-

reca maior atencao: "The medium is the message"

(0 meio e a mensagem). Apesar de sua idiotice

provocadora, ela revela mais do que seu autor

sabe. Ela desmascara 0 trace tautologico da rnis-tica das midi as em pormenores: 0unico elemento

digno de nota na televisao seria, de acordo com

ele, 0 fato de estar ligada; uma tese que, de fato,

tem algo de sedutor se considerarmos os progra-

mas americanos.

Outro erro consiste na proclamada crenca

falha de que as midias sao instrumentos in-

diferentes, por interrnedio dos quais podem

ser mediadas "mensagens" aleatorias, des-

considerando-se a sua estrutura, bem como

a do meio. Nos paises da Europa Oriental,

os locutores de noticiario dos canais de te-

levisao leern durante quinze minutos cornu-nicados de reuni6es e decis6es do Cornite

Central, que nao sao adequados nem mes-

mo a publicacao em jornal, supostamente

acreditando na insana ideia de que podem

cativar milh6es de espectadores.

A frase de que a rnidia e a mensagem, porem, trans-mite ainda outra muito mais importante. Ela nos

82

de todos os meios de nos comunicar algo, mas que

ela nao tem mais nada a dizer. Ela e ideologicamen-te esteril. Sua intencao de agarrar-se a todo custo ao

poder de dispor sobre os meios de producao sem

estar em condicoes de deles fazer 0 uso social ne-cessario e aqui expressa claramente na superestru-

tura: ela deseja as midias como iais e para nada.

Esse desejo e simbolicamente expresso e dividido

ha decadas com uma vanguarda artistica cujo pro-

grama coerentemente so permite como alternati-va sinais nulos e barulho amorfo. Exemplos: a

agora antiquada "literatura do silencio"; os filmes

de Warhol, em que acontece de tudo que se pos-

sa imaginar de uma vez ou nao acontece nada; e

a Palestra sabre Nada (Lecture on Nothing, 1959)

de John Cage, que dura 45 minutos.

83

 

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reviravolta

eixos

teorias

arte

morte arte

construcao

trabalho

estetica

eletrcnlcas

alterada

esteticos

A reviravolta das condicoes de producao na cons-

trucao da superestrutura tornou inutil a estetica

tradicionaI, tirou dos eixos todas as suas catego-

rias fundamentais e anulou seus "parametres". As

teorias do conhecimento que a fundamentavam

estao ultrapassadas; nas rnidias eletroriicas

transparece uma relacao radicalmente alterada

entre 0 sujeito e 0objeto, distante dos antigos ter-

mos critlcos. Ha muito se abandonou a concep-

~ao da obra de arte acabada. A discussao dura-

doura sobre a morte da arte andara em circulos,

enquanto nao revisar os conceitos esteticos em

que se baseia e operar com criterios que nao es-

tao mais de acordo com 0 estado das forcas pro-

dutivas. Na construcao de uma estetica hipoteti-

camente adequada a situacao alterada, deve-separtir do trabalho do unico te6rico marxista, que

85

 

ELEMENTOS PARA UMA -rEORlA DOS MEIOS DE COMUNICAc; :Ao HANS MAGNUS ENZENSBERGER

"A reprodutibilidade tecnica da obra de arte a eman-

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reconheceu as possibilidades de emancipacao das

novas midias. Ja ha 35 anos', ou seja, em uma

epoca em que a industria da consciencia ainda

estava pouco desenvolvida, Walter Benjamin sub-

meteu esse fenomeno a uma perspicaz analise

dialetico-materialista. Seu enfoque nao foi supe-rado pelas teorias ate entao surgidas e muito me-

nos por elas desenvolvido.

"A tecnica de reproducao, assim poderiarnos for-

mula-la de forma geral, absolve 0 elemento repro-

duzido do ambito da tradicao. Reproduzindo a tra-dicao, ela coloca no lugar de urn acontecimento

unico urn massificado. E, permitindo a reproducaoir ao encontro do receptor em sua situacao especi-

fica, atualiza 0 elemento reproduzido. Ambos os

processos levam a urn forte abalo dos elementos

r .w herdados por tradicao - urn abalo da tradicao, que

p eo reverso da atual crise e a renovacao da huma-

. vi nidade. Eles estao intimamente relacionados aosgOl movimentos de massa de nossos dias. Seu mais1 3c<l)

Vl

Vl

<l)

Vl

poderoso agente e 0 cinema. Sua irnportancia so-

cial, tam bern em sua forma positiva e justamente

~ nela, nao e imaginavel sem esse lado destrutivo,

.~ catartico: a liquidacao do valor de tradicao da he-E'Ol ranca cultural..c

"0'. r : :<l)

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«i 86

cipa, pela primeira vez na hist6ria universal, de sua

exis.tencia parasitarla no rito. A obra de arte repro-

d~zlda torna-se, em medida crescente, a reprodu-

<;~? de uma obra de arte que visa a reproduti-

bllidade. [... J Mas, no momenta em que 0pararnetrod~ autenticidade falha na producao artistica, tam-

bern toda a funcao da arte sofre uma reviravolta.

No lugar de s_ua fundamenta<;ao no ritual surge a

fundamentacao em uma outra praxis: a fundamen-

tacao na politica. [... J Assim, por meio do peso ab-

soluto que tern 0 seu valor de exposicao, hoje a

obra de arte torna-se uma forma com Juncoes to-

tal~ente n?vas, das quais se destaca a que nos ema:s consciente, ~ mais artistica, como aquela que

mars tarde podera ser reconhecida como urn ade-

reco." (D as K u nstw erk im Z eita lie r se in er te ch nisc he n

Reproduzierbarkeit, apud p.16-23.)

As tende~cias que Benjamin observou a sua epo-ca, a partir do exemplo do cinema, abarcando-as

teoricamente em toda a sua dirnerisao, tornararn-

s~ manifestas hoje em dia com 0 rapido desenvol-

vimento da industria da consciencla. 0 que ate

agora se chamava arte, ficou suspenso pelas midias

e n~s rnidias, num sentido estritamente hegeliano.

A disputa em torno do fim da arte e descartavel

enquanto esse firn nao for entendido como dialerico.

A produtividade artistica revela-se como 0 caso

Iimitrofe de uma produtividade muito mais geral, e

87

 

ELEMENTOS PARA UMA 'teORIA DOS MelOS ne COMUNICAt;:Ao

ela S O tera irnportancia social uma vez que desistir

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

o panico diante dessa mudanca de perspectiva e

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de todos os seus direitos a autonomia, entenden-

do-se a si propria como caso limitrofe. Onde os pro-

dutores profissionais transformam em virtude a sua

necessidade de especiallzacao, dela extraindo ate

mesmo um status privilegiado, suas experiencias.eseus conhecimentos tornararn-se muteis. Para a

teoria estetica isso significa a necessidade de uma

abrangente mudanca de perspectiva. Em vez de

observar a producao das novas midias do ponto de

vista de formas mais remotas de producao, ela de-

vera analisar 0que e produzido com as midias "ar-

tisticas" tradicionais, valendo-se das condicoes a-

tuais de producao.

"Se ja se voltou toda a perspicacia inutil para

responder a pergunta se a fotografia e arte -

sem ter feito a pergunta previa: sera que a

lnvencao da fotografia nao alterou 0carater

total da arte? -, os teoricos do cinema logoadotaram 0questionamento precoce corres-

pondente. Mas as dificuldades que a foto-

grafia colocou para a estetica tradicional

eram uma brincadeira se comparadas aque-

las com as quais 0cinema esperava por ela."

(D as K un stw erk im Z eita lter sein er tech nisch en

R ep ro du zier ba rk eit, ib id em .)

88

cornpreensivel. 0 processo nao apenas transforma

antigos segredos de classe, localizados na superes-

trutura, mas de igual maneira oculta um momenta

genuinamente destrutivo. Em uma palavra, ele e

arriscado. Contudo, em sua suspensao dialetica esta

e a unica oportunidade da tradicao estetica. Da

mesma forma, a fisica classica sobreviveu como

caso marginal de excecao em meio a uma teoria

muito mais ampla que a fisica modema.

Em todas as disciplinas tradicionais da arte, pode-

se verificar esse estado de coisas pormenorizada-

mente. Seus desdobramentos atuais continuarao

incornpreensiveis enquanto se tentar deduzi-las

empregando-se sua propria pre-historia. Por ou-

tro lado, a sua utilidade ou inutilidade pode ser

avaliada, assim que elas forem observadas como

casos especiais de uma estetica geral das rnidias.

Algumas indicacoes de possibilidades criticas dai

decorrentes serao tentadas aqui com base no

exemplo da literatura.

89

 

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episodic

absolvida

futuras

produtor

revolucionario

literaturaseculos

auge,

producao

absurdo

De uma perspectiva hlstorica, a literatura escritaso teve papel dominante por poucos seculos. A

predorninancla do livro hoje nos parece apenas

um episodlo. Um periodo incomparavelmente

maior a precedeu quando a literatura era oral; ago-

ra, ela e absolvida pela era das rnidias eletronl-

cas, que, com sua tendencia intrinseca faz, por

sua vez, todos falarem. Em seu auge, 0 livro de

certa forma usurpou as formas de producao dopassado, primitivas mas a disposicao de todos. Por

outro lado, ele representou as formas de produ-

~ao futuras, que permitem a cada um de nos se

tornar um produtor.

o carater revolucioriario da impressao do livro,

alias, foi suficientemente descrito e seria absurdonega-lo. A literatura escrita, do ponto de vista de

91

 

ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS MEIOS DE COMUNICAI;AO

sua estrutura midiatica, era progressista como a

HANS MAGNUS ENZENSBERGER

Esses momentos de alienacao nao podem ser elirni-

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burguesia que a produziu e a quem ela serviu.

(Mais detalhes sobre isso se encontram no Mani-

fes to Comunista. ) Em analogia ao desenvolvimen-

to economico do capitalismo, que foi 0que possi-

bilitou 0advento da Revolucao Industrial, tarnbernas forcas produtivas imateriais nao poderiam ter-

se desenvolvido sem acumulo de seu capita!. (N6s

tambern agradecemos ao acurnulo do capital e de

seus ensinamentos a midia livro.)

Faz-se importante reconhecer que quase todo 0

mundo fala melhor do que escreve. (0 mesmo vale

para escritores.) A escrita e uma tecnica extrema-mente formalizada, que ja do ponto de vista pura-

mente fisiol6gico exige uma postura corporal es-

tranhamente rija. Corresponde a isso 0alto grau de

especializacao social que ela exige. Escritores pro-

fissionais desde tempos imemoriais tendem a pen-

, sar em castas. 0 carater de classe de seu trabalhotambern e inquestionavel na era da obrigatoriedadeescolar gera!.Todo 0processo e extraordinariamenteestigmatizado. Erros ortograficos, totalmente inope-

rantes para a cornunicacao, sao punidos com a des-

classificacao social do escriba; atribui-se forca nor-

mativa as regras que valem para essa tecnica, forca

essa sem justificativa raciona!. A intirnidacao por

meio da escrita permaneceu como um fenomeno es-

pecifico de classes e foi bastante difundido tambern

em sociedades industriais desenvolvidas.

92

nados da literatura escrita. Eles sao reforcados por

meio dos metodos pelos quais a sociedade perpetua

suas tecnicas de escrita: enquanto se aprende a fa-

lar muito cedo e geralmente sob condicoes psicol6-

gicas favoraveis, a caligrafia requer uma parte lrn-portante da soclalizacao autontaria por meio da

escola ("a bela escrita" como ato de dornesticacao).

Isso marca para sempre a linguagem da comunica-

\=aoescrita, seu tom, sua sintaxe e seu gesto (por-

tanto tambem 0 texto desta pagina).

A forrnalizacao da lingua escrita permite e beneficia

a supressao de resistencias. Durante a fala, contra-

dicoes nao resolvidas sao solucionadas por meio de

pausas, interrupcoes, lapsos de linguagem, repeti-

coes, anacolutos, sem falar nos "fraseologismos", na

rnimica, na gesticula\=ao, na velocidade e na inten-

sidade da voz. A estetica da literatura escrita qualifi-

ca tais momentos Ir rvoluntar ios de "erros". Ela exi-ge, explicita ou implicitamente, a resolucao das

contradicoes, a racionalizacao, a regularidade da

forma linguistica, desconsiderando 0seu teor.Aquele

que escreve ja e estimulado desde a mais tenra ida-

de a esconder seus problemas nao resolvidos atras

de uma muralha de protecao de corretismo. Estru-

turalmente, a impressao do livro e uma rnidia "mono-

l6gica", que isola tanto os produtores quanto os lei-tores. 0 feedbac1~ e a interacao sao extremamente

limitados, exigem procedimentos complexos e tra-

93

 

ELEMEruTOS PARA UMA 1'eORIA DOS MelOS De COMUNICAI;AO

balhosos e, raras vezes, levam a correcoes: a edicao

HANS MAGNUS EruZEruSBERGER

Alias, e bastante irnprovave] que a escrita como

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uma vez impressa e mcorrigivel, ela podera ser, no

maximo, destruida. 0 circulo regrado da crittca lite-

raria e extremamente lento e elitista; de anternao,

ele exclui 0publico.

Para as midias eletronicas, nenhuma das caracte-

risticas da literatura escrita ou impressa e valida.

o microfone e a camera suspendem 0 carater de

cIa sse da forma de producao (e nao-producao).

As regras normativas regridem: a entrevista oral,

a briga, a passeata nao exigem nem permitem or-tografia e caligrafia. A tela desvenda 0alisamento

estetico de contradicoes nao resolvidas e carnu-

fladas. E bem verdade que nela aparecem menti-

rosos aos milhares, porern percebe-se de longe que

querem vender algo. Em sua constituicao atual, 0

radio, 0 cinema e a teievisao carregam consigo, aexaustao, os traces autoritarios e "rnonologicos"

que herdaram de formas mais antigas de produ-cao, e isso de forma alguma ocorre sem que se

queira. Esses momentos excessivos da estetica da

midia atual sao forcados pelas condicoes socia is.

Eles nao decorrem da estrutura das midias. Ao

contrario: elas the sao opostas, visto que essa es-

trutura exige interacao.

tecnica especial desapareca em certo prazo. A mes-

ma consideracao e valida para 0 livro, cujas van-

tagen~ praticas ainda sao evidentes para diversos

fins. E verdade que ele e pouco pratico e nao fa-

vorece a economia de espaco como outros siste-mas de arquivamento, mas oferece possibilidades

mais simples de acesso que, por exemplo, 0micro-

filme ou 0 arquivo magnetico. No caso-limite, ele

poderia ser integrado ao sistema das novas midias

perdendo assim os restos de sua aura "cultica" ~ritualistica.

Isso ja se observa a partir do desenvolvimento

tecnol6gico. A eletronica apropria-se cada vez mais

da escrita: telegrafo, transmissao rapida, apare-

Iho de leitura, composi<;:ao fotografica automattca

e composicar, eletronica, automates de escrita

compositores, eletrostato, biblioteca Ampex, en~

ci~l.opedia em fitas-cassete, escritor de luz e mag-netico, speedprinter.

Alias, 0 famoso tecnico da midia russo, EI'

Lisickij, ja em 1923 exigiu a "biblioteca ele-

tronica'', uma exlgencia que com 0 estadoda tecnica daquela epoca parecia pratica-

mente sem sentido, ao menos soava incorn-

95

 

ELEMENTOS PARA UMA l"EORIA 005 MElDS DE COMUNICAc;:Ao HANS MAGNUS ENZENSBERGER

Atualmente, a escrita em muitos casos ja se

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preensivel. A imaginacao desse homem pre-

conizava 0 futuro:tornou tecnica secundaria, ou seja, transcri-

<;:aoda lingua oralmente fixada: registro em

fita, tentativas de reconhecimento Iinguistico

automatico (sp eech p atte rn reco gn itio n) e

transforrnacao de lingua falada em escrita.

"Apresento a seguinte analogia:

Invencoes no

ambito de ideias

lnvencoes de

ambito geral

Fala articulada Caminhar de forma ereta

Escrita

Impressao do livro

por Gutenberg

Roda

Carroca, puxada

por tracao animal

Carro

Aeroplano

"Mostro essa analogia para provar que, en-

quanto Q Iivro ainda for necessario como

objeto palpavel, isto e , enquanto ainda naotiver sido absolvido por uma forma autono-

rna ou clnematografica, n6s devemos espe-

rar novas invencoes fundamentais na area

de producao do livro a cada dia. [... J Ha in-

dicios de que essa lnvencao fundamental

deva originar-se da area vizinha da foto-

impressao." (Das Kun stw erk im Zeitalter

s ein er te ch nis ch en Rep rodu zie rbar ke it, a pud.)

96 97

 

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Aa

eem

aoas

atao

e

que0

da

ea

de0

Os

A perplexidade da critica Iiteraria ante a chamada

literatura documental e um sinal do quanto 0pen-

samento dos resenhistas esta atrasado em rela-

s:ao ao estado das forcas produtivas. Isso provern

do fato de as rnidias terem tornado inuteis uma

das categorias mais fundamentais da estetica de

ate entao: a da ficcao. A oposicao ficcao/nao-fic-

s:ao esta desativada tanto quanta a dialetica tao

apreciada no seculo XIX entre "arte" e "vida". J aBenjamin demonstrou que "a aparelhagem" (ele

ainda nao tinha a disposicao 0 termo midia) dis-

solve 0 carater de autenticidade. Na producao da

industria da consciencia, desaparece a diferenca

entre 0 "autentico" e a reprcducao: "0 aspecto da

realidade livre de aparelhos transformou-se aqui

em um aspecto artificial". 0 processo de reprodu-

cao volta-se para 0 elemento reproduzido, modi-ficando-o significativamente. Os efeitos dessa si-

99

 

ELEMEruTOS PARA UMA -reORIA DOS MEIOS DE COMUNICAc;:Ao

tuacao ainda nao foram suficientemente elu-

HANS MAGNUS EruzErusaERGER

seja ele "documental" ou "ficcional", em todo caso

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cidados do ponto de vista da teoria do conheci-

mento. A incerteza que ela produz em termos ca-

tegoricos tambern afeta 0conceito do documental.

A rigor, ele se reduziu a sua dimensao [uridica:

um documento e algo cuja "falsificacao", cu]a re-producao e punida com a prisao. Obviamente, nao

faz nenhum sentido teo rico tal definicao. Isso ja

se deduz do fato de que uma reproducao, enquan-

to sua qualidade tecnica for boa 0 suficiente, nao

se diferencia de sua matriz, seja uma imagem, um

passaporte ou uma cedula de dinheiro. 0 termo

juridico documento so e util pragmaticamente, ser-

vindo tao-sornenteaprotecao de interesses eco-

nomicos.

A producao das midias eletronlcas, por principle,

padece das mesmas distlncoes feitas entre 0 filme

documentario e 0de ficcao. Em todo case, ela esta

expressamente condicionada pela situacao. 0 pro-dutor nunca pode alegar, assim como 0rornancis-

ta tradlcional, "estar acima das coisas". Dessa for-

ma, logo de saida ele e parcial. Formalmente, isso

se expressa em suas tecnicas. Corte, montagem e

mixagem sao tecnicas da manipulacao conscien-

te, sem as quais 0manuseio das novas rnidias nem

sequer e pensavel. Iustarnente nessas etapas de

trabalho revela-se sua forca produtiva, sendo to-talmente indiferente se se trata da producao de

uma reportagem ou de uma cornedia. 0 material,

100

e apenas matriz, meio-produto, e quanta mais

detalhadamente se pesquisar sua origem, mais de-

saparecera a difererica. (Especificando melhor: a

realidade em que aparece uma camera e sempreuma realidade "produzida". Por exernplo, 0 pou-so na lua.)

101

 

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obra

objetos

natureza

primeira

perspectiva

aberto

exigenc!a

midias

velha

substrato

tona

inimizade

midiatico

constituicao

vezesmodiflcacao

No mais, as midias tambern dissolvem a velha ca-tegoria da obra que s6 pode ser pensada como

objeto discrete, nao independente de seu substrato

material. Tais objetos nao sao produzidos pelas

midias. Elas trazem programas a tona. Sua pro-

ducao e de natureza processual. Isso nao signifi-

ca apenas, nem em primeira instancla, que nao

exista perspectiva de fim do programa (0 que pelo

menos tornaria compreensivel certa inimizade emrelacao as midias diante do exposto). Significa,

sobretudo, que 0 programa midiatico esta estru-

tura e infinitamente aberto para as suas conse-

quencias. (Nao se trata de uma descricao ernpirica,

mas de uma exlgencia. E evidente que essa exi-

gencia nao e feita as midias a partir de um pa-

rarnetro externo: ela decorre de sua constituicao.

Dela deve-se deduzir a tantas vezes anunciada"forma aberta", e nao como sua modificacao com

loa

 

ELEMENTOS PARA UMA l"EORIA 005 MEIOS DE COMUNICAI;AO

base em uma estetica mais antiga.) Os programas

da industria da consciencia devem absorver seusantiga.

consciencia

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proprios efeitos, assim como as reacoes e as cor-

recoes que provocam, do contrario estarao ultra-

passados. Sendo assim, eles nao devem ser per-

cebidos como meios de consumo, porern como

meio para a propria producao.

10"1

reacoes

contrario

consumo

producao

 

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irnaginario

fato

tempos

hora

nova

arte

dadaismo

epocas

direcao

decadencia

futuro

transbordou

) os

Faz parte do rmaginario das vanguardas artisti-

cas 0 fato de pre-imltarem, por assim dizer, possi-

bilidades de midias que ainda estao no futuro.

"Ha tempos tem sido uma das principais tarefas

da arte produzir uma demanda para cuja satisfa-

cao total a hora ainda nao chegou. A hist6ria de

toda manifestacao artistica tem epocas criticas,

em que essa forma e forcada em direcao a efeitosque s6 podem ser realizados naturalmente em

um nivel tecnico modificado, ou seja, em uma

nova forma de arte. As extravagancias e cruezas

da arte assim produzidas, mais particularmente

nos chamados tempos de decadencia, provern,

na realidade, de seu riquissimo centro hist6rico

de forcas. 0ultimo movimento que transbordou

tais barbarismos foi 0 dadaismo. Seu impulso s6

e reconhecido agora: 0 dadaismo tentava produ-

zir com os meios da pintura (e da literatura) os

107

 

ELEMENTOS PARA UMA l"EORlA DOS MelOS De COMUNlCAt;:AO

efeitos que 0 publico da atualidade procura no

cinema." (Benjamin, apud, p. 42 e seguintes.)

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Aqui esta tambern 0valor de progn6stico de even-tos normalmente superfluos do tipo happening, ou

shows-~uxus ou mixed-media. Ha escritores que em

sua producao apresentam uma consciencia de que

as midias "monoI6gicas" da atualidade s6 e dado

urn valor residual de uso. Alguns deles, porern, ti-

ram dar conclusoes por demais precipitadas. Eles,

por exemplo, possibilitam ao usuario organizar 0

material fornecido por meio de permutacoes aleato-

rias. Ou se]a, todo leitor deve escrever ele pr6prio 0

livro.Se exagerarmos, tais tentativas de produzir efei-

tos reciprocos, ate mesmo contra a estrutura do pro-

prio veiculo utilizado, nao oferecern mais do que

convites para 0 in6cuo: urn simples palavreado nao

permite interacao articulada. Reducoes, tais como

as divulgadas pela Arte Conceitual, baseiarn-se na

, conclusao banal e falha de que 0desenvolvimento

das forcas produtivas torna todo e qualquer traba-

lho superfluo. Com a mesma justificativa poderia-

mos deixar urn computador entregue a pr6pria sor-

te, supondo que urn gerador randomico organizasse

a producao material por conta pr6pria. Felizmente,

os profissionais na area de cibernetica nao sao afei-

tos a tais infantilidades.

108

valor

mixed-media

uso

possibilitam

leitor

mesmo

articulada

Ar te

a

por

area

p.42

 

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"artista"

objetivo

alfabetizador

necessario

aprendizado

nao-especialista

eluninacao

utili dade

capacidade

emancipacao

contradicoes

Para 0 "artista" do passado - vamos chama-lo deautor -, decorre dessas consideracoes que ele deva

ver como seu objetivo torna-se, ele proprio, su-

perfluo como especialista, mais ou menos como 0

caso do alfabetizador, que so tern sua tarefa aca-

bada quando ja nao e necessario. Assim como todoprocesso de aprendizado, tambern este e recipro-co: 0 especialista devera aprender tanto ou mais

do que 0 nao-especialista, e vice-versa - apenasdesse modo pode funcionar sua elimlnacao.

Agora, sua utilidade social pode ser mais bern

equacionada com base em sua capacidade de apro-

veitar os momentos de ernancipacao das midias e

arnadurece-los. As contradicoes taticas em que elese envolvera nesse contexte nao podem ser nega-

111

 

ElEMEIU1'OS PARA UMA -reORIA DOS MelOS De COMUNICAt;:AO

das nem relevadas aleatoriamente. Nao obstante,

do ponto de vista estrategico, 0 seu papel e claro.aleatoriamente

estra tegico,

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o trabalho do autor deve ser 0de agente das mas-

sas. Somente podera acontecer de 0autor desapa-

recer inteiramente em meio as massas quando elas

pr6prias se tornarem autoras, autoras da hist6ria.

112

agente

autor

hist6ria

I'

 

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otimismo )"PCSSimismo da inteligencia, otimismo da vonta- \{ de." (Antonio Gramsci) (,

 

I

cole~aoA FILHA DA REVOLUc;:Ao ~. _

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FIIVI

~

John Reed al \SSICOSMEMORIAS DE UM

ANARQ UISTA JAPONES ~--------

Osugi Sakae

GUERRA DOS BALCAs

John Reed

PLANOLANDIA

UM ROMANCE DE MUITAS DIMENSOES

Edwin A. Abbott

PANEGIRICO - Y I f

Guy Debord

A PRAG A ESCARLATE

Jack London

A BO MBA

Frank Harris

 

I

col e ~a ~~TAZ , cole~ao

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ZONA AU TONOMA TEMPORAR IA

~HakimBey

- ) ~ D IS TUR BIO ELETRONIC O

-------:--------1Critical Art Ensemble

" G UERR ILHA PS IQU ICA

Luther Blisset

PROVOS

A M ST ER D AM E 0 NA SC IM ENTO DA

CONTRACULTURA

Matteo Guarnaccia

~ S IT UA CION IS TA

T ERI A E PR AT IC A DA REVO LU 9 Ao

Internacional Situacionista

j F URG ENC IA DAS RUAS

B L AC K B LOC S , R ECL A IM T HE S T REET S

E O S D IAS D E A9Ao G LOBAL

Ned Ludd (orq.)

~~ A ARTE DE V IV~R PARA AS

NOVAS G ERA90ES

Raoul Vaneigem

i MAN IFES TO CONTRA 0 TRABALHO

Grupo Krisis

TESESSOBREFEUERBACH

Karl Marx

(revista-poster em edicao bilinque)

PAR IS : MA IO DE 68

Solidarity

Texto inedito da Colecao Baderna,

gratuito na internet:

www.baderna.org/maio68

7ISCWORlD

o APRENDIZDEMaRTEDIREITOSIGUAIS, RITUAlS IGUAIS

A Luz FANTAsTiCA

A COR DA MAGIA

Terry Pratchett

o universo criado por Pratchett e o tao fantasrico quanta

o nome da colecao, Discworld e um mundo plano

como uma pizza, sustentado nas costas de quatro

elefantes, que por sua vez se apoiarn nas costas de

uma tartaruga gigante que nada pelo espaco, Esse

mundo e o habitado por magos, bruxas, reis, herois,

trolls, ratos, deuses e outros personagens fantasticos,

Mas 0 toque de midas do autor foi arnarrar toda essa

aventura com muito humor negro,

"Disc world e o mais completo e saboroso que 0

Mdgico de O: (,.,), Tern a energia de 0 Mochileiro

das Galaxies e a inventividade de Alice no Pals das

Maravilhas (,.,), Brilhante!"

A, S, Byatt

http://discworld.heroLcom.br