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VIII Congresso Português de Sociologia – Universidade de Évora – 14 a 16 de Abril de 2014 apresenta HENRIQUETA, uma cartografia íntima - uma prática audiovisual a partir da reabilitação do Centro Histórico de Évora 2008 l 2012 - Realização susana mourão l socióloga l [email protected] marta galvão lucas l escultora l [email protected] RESUMO “Henriqueta, uma cartografia íntima” é o resultado de uma prática audivisual, em torno da subjectividade manifestada por uma moradora no Centro Histórico de Évora, no âmbito da experiência do processo de reabilitação da sua casa. As filmagens começaram em 2008, quando Henriqueta tinha 77 anos e saíu pela primeira vez da casa onde nasceu e sempre viveu, para a execução das obras de reabilitação, de acordo com o projecto de arquitectura aprovado. Com a conclusão das obras de reabilitação em 2012, a moradora regressou à sua casa reabilitada e as filmagens terminaram. OBJECTIVOS A realização desta prática audiovisual surgiu como uma reacção ao planeamento urbanístico das cidades actuais, que valoriza os projectos de arquitectura enquanto instrumentos operatórios de mudança nas cidades e esquece o modo como as cidades vivem e sentem o seu tempo. Assim, esta prática audiovisual teve como objectivos compreender o comportamento da moradora nas diferentes fases do processo de reabilitação: -no realojamento temporário -na casa vazia -na demolição da sua casa - na reconstrução da sua casa -na adaptação à casa reabilitada METODOLOGIA Para a realização desta prática audiovisual foi utilizado o método exploratório em torno do quotidiano da moradora, durante os 4 anos do processo de reabilitação da sua casa. Durante as filmagens desenvolveu-se uma atitude colaborativa com Henriqueta, onde a câmara de filmar não foi apenas observadora, mas um instrumento relacional com o quotidiano, através da colaboração da Marta Galvão Lucas. Para a realização deste projecto foi utilizada uma câmara de filmar Sony, Digital Handycam e cassetes Mini DV. CONCLUSÃO Com a realização da prática audiovisual “Henriqueta, uma cartografia íntima”, permite afirmar, que intervir nesta casa foi equivalente sinónimo de intervir no corpo da moradora, nas diferentes fases do processo de reabilitação. Henriqueta sempre desejou a reabilitação da sua casa porque não tinha condições de habitabilidade: de função e de uso. Contudo, ela não estava preparada para a descoberta da sua subjectividade, no âmbito da experiência emocional que foi o processo de reabilitação da sua casa. A moradora revelou sentimentos de perda, de tristeza profunda, de choro, melancolia, desorientação, etc. A partir do processo de reabilitação desta casa, esta prática audiovisual permite afirmar, que para além de um projecto de arquitectura de reabilitação foi necessário um projecto de reabilitação emocional. E neste sentido, a prática audiovisual “Henriqueta, uma cartografia íntima” é o que se entende pela necessidade de um processo de reabilitação emocional, quando os “objectos” perdem a sua função e o seu uso, mas nunca a sua função emocional, de recordar, de viver, de sentir. https://vimeo.com/user18950916 BIBLIOGRAFIA Baudrillard, Jean O sistemas dos objectos, Perspectiva, São Paulo, 2002 Dubet, François, A Sociologia da Experiência, Instituto Piaget, Lisboa 1996 Ribeiro, José da Silva, Da minúcia do olhar ao olhar distanciado, Edições Afrontamento, Porto, 2004 Schulz, Christian Norberg, Genius Loci, Towards a phenomenology of architecture, Rizzoli, New York, 1984 Sennett, Richard, O corpo e a civilização ocidental, Editora Record, São Paulo 2003

HENRIQUETA, uma cartografia íntima · “Henriqueta, uma cartografia íntima” é o que se entende pela necessidade de um processo de reabilitação emocional, quando os “ objectos

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Page 1: HENRIQUETA, uma cartografia íntima · “Henriqueta, uma cartografia íntima” é o que se entende pela necessidade de um processo de reabilitação emocional, quando os “ objectos

VIII Congresso Português de Sociologia – Universidade de Évora – 14 a 16 de

Abril de 2014 apresenta

HENRIQUETA, uma cartografia íntima

- uma prática audiovisual a partir da reabilitação do Centro Histórico de Évora 2008 l 2012 -

Realização

susana mourão l socióloga l [email protected]

marta galvão lucas l escultora l [email protected]

RESUMO

“Henriqueta, uma cartografia íntima” é o resultado de uma prática audivisual, em torno

da subjectividade manifestada por uma moradora no Centro Histórico de Évora, no

âmbito da experiência do processo de reabilitação da sua casa. As filmagens

começaram em 2008, quando Henriqueta tinha 77 anos e saíu pela primeira vez da

casa onde nasceu e sempre viveu, para a execução das obras de reabilitação, de

acordo com o projecto de arquitectura aprovado. Com a conclusão das obras de

reabilitação em 2012, a moradora regressou à sua casa reabilitada e as filmagens

terminaram.

OBJECTIVOS

A realização desta prática audiovisual surgiu como uma reacção ao planeamento

urbanístico das cidades actuais, que valoriza os projectos de arquitectura enquanto

instrumentos operatórios de mudança nas cidades e esquece o modo como as cidades

vivem e sentem o seu tempo. Assim, esta prática audiovisual teve como objectivos

compreender o comportamento da moradora nas diferentes fases do processo de

reabilitação:

-no realojamento temporário

-na casa vazia

-na demolição da sua casa

- na reconstrução da sua casa

-na adaptação à casa reabilitada

METODOLOGIA

Para a realização desta prática audiovisual foi utilizado o método exploratório em torno

do quotidiano da moradora, durante os 4 anos do processo de reabilitação da sua

casa. Durante as filmagens desenvolveu-se uma atitude colaborativa com Henriqueta,

onde a câmara de filmar não foi apenas observadora, mas um instrumento relacional

com o quotidiano, através da colaboração da Marta Galvão Lucas. Para a realização

deste projecto foi utilizada uma câmara de filmar Sony, Digital Handycam e cassetes

Mini DV.

CONCLUSÃO

Com a realização da prática audiovisual “Henriqueta, uma cartografia íntima”, permite

afirmar, que intervir nesta casa foi equivalente sinónimo de intervir no corpo da

moradora, nas diferentes fases do processo de reabilitação. Henriqueta sempre

desejou a reabilitação da sua casa porque não tinha condições de habitabilidade: de

função e de uso. Contudo, ela não estava preparada para a descoberta da sua

subjectividade, no âmbito da experiência emocional que foi o processo de reabilitação

da sua casa. A moradora revelou sentimentos de perda, de tristeza profunda, de choro,

melancolia, desorientação, etc.

A partir do processo de reabilitação desta casa, esta prática audiovisual permite

afirmar, que para além de um projecto de arquitectura de reabilitação foi necessário

um projecto de reabilitação emocional. E neste sentido, a prática audiovisual

“Henriqueta, uma cartografia íntima” é o que se entende pela necessidade de um

processo de reabilitação emocional, quando os “objectos” perdem a sua função e o

seu uso, mas nunca a sua função emocional, de recordar, de viver, de sentir.

https://vimeo.com/user18950916

BIBLIOGRAFIA

Baudrillard, Jean “O sistemas dos objectos”, Perspectiva, São Paulo, 2002

Dubet, François, A Sociologia da Experiência, Instituto Piaget, Lisboa 1996

Ribeiro, José da Silva, Da minúcia do olhar ao olhar distanciado, Edições Afrontamento, Porto, 2004

Schulz, Christian Norberg, Genius Loci, Towards a phenomenology of architecture, Rizzoli, New York, 1984

Sennett, Richard, O corpo e a civilização ocidental, Editora Record, São Paulo 2003