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HERMENÊUTICA JURÍDICA E INTERPRETAÇÃO DO DIREITO
F a c u l d a d e P i t á g o r a s
T e i x e i r a d e F r e i t a s - B a h i a
T e o r i a G e r a l d o D i r e i t o
P r o f e s s o r a J o y c e
2 1 / 0 9 / 2 0 1 2
Nayan, Naiane, Alini Susmiktt
e Vitor
Analises sucintas sobre Hermenêutica
1
Faculdade Pitágoras
Direito 1
Hermenêutica Jurídica e Interpretação do
Direito
Pesquisa e Resumo
Teoria Geral do Direito
Professora Joyce
Naiane Rodrigues
Alini Susmiktt
Nayan Pereira Couto Alves
Vitor Silva
Teixeira de Freitas
21/09/2012
2
Índice
Introdução........................................................................................... p.04
CONTEUDO
I- Hermenêutica e Interpretação do Direito........................................... p.07
II- Hermenêutica lato sensu e stricto sensu.......................................... p.10
III- Hermenêutica Filosófica.................................................................. p.10
IV- Hermenêutica Constitucional.......................................................... p.11
V- Cânones Hermenêuticos.................................................................. p.13
VI- Tipos de interpretação ou métodos hermenêuticos......................... p.15
1. Interpretação literal ou gramatical............................................. p.15
2. Interpretação lógico-sistemática................................................ p.16
3. Interpretação histórico-evolutiva................................................ p.16
4. Interpretação Teleológica.......................................................... p.17
VII- Desafio Kelseniano......................................................................... p.18
VIII- Voluntas legis e voluntas legislatoris............................................ p.18
Notas.................................................................................................... p.20
Conclusão............................................................................................ p.22
Bibliografia........................................................................................... p.25
3
4
INTRODUÇÃO
O motivo ensejador da escolha do tema é a possibilidade de desenvolvimento da
argumentação jurídica na elaboração das decisões judiciais, direcionando-as às expectativas
de justiça social reclamadas pela própria sociedade.
Considerando-se que o Direito deve ser interpretado inteligentemente porque ele nasce da
sociedade e para a sociedade, preocupa-se a Hermenêutica com o resultado provável de cada
interpretação, de forma a buscar aquela que conduza à melhor consequência para a
coletividade.
Com vistas ao atendimento dessa finalidade é pertinente a admissão dos princípios jurídicos
haja vista provocarem ampliação considerável da capacidade de resposta do ordenamento
jurídico, a ponto de possibilitar o seu complemento através das funções que desempenham,
logo, operam para aperfeiçoar o ordenamento, mas somente o fazem quando outras normas
não se apresentam em condições de exercer, plena ou satisfatoriamente, sua função
reguladora.
É o se que almeja quando da proposta da Hermenêutica na aplicação dos Princípios Jurídicos,
pois parte-se da premissa de que as leis são formuladas em termos gerais ou abstratos e que,
ante o caso concreto urge extrair da abstração a essência que será aplicada ao fato real,
considerando-se dessa essência o seu alcance ou simplesmente, que fatos reais ela consegue
ou pretende alcançar.
Nesse contexto, remete-se à investigação dos aspectos dos princípios jurídicos para que seja
entendida satisfatoriamente sua importância na construção e aplicação das demais normas
jurídicas, uma vez que o pensamento jurídico contemporâneo atribui-lhe status de autêntica
norma jurídica em razão de sua positividade e vinculatividade na solução de casos concretos.
Entretanto, recorrer aos enunciados princípios jurídicos implica em complexa tarefa
argumentativa destinada não apenas a precisá-los, mas também a inferir a solução que se
propõe ou prescreve, disto decorre a imperatividade da interpretação da norma jurídica a fim
de que adquira ela, condição de aplicabilidade, muito embora tal atividade não poder estar ao
arbítrio do aplicador, sendo necessário por isso à criação ou estabelecimento de regras ou
métodos através dos quais seja buscado esse sentido e alcance normativo.
5
Encontra-se assim a Hermenêutica como arte ou ciência da interpretação, compondo
verdadeiro sistema de regras da atividade exegética já que há bastante tempo, nas diversas
áreas do saber, a teoria científica da arte de interpretar norteia os caminhos do intérprete. O
que é novo então são as exigências de justificações racionais pela sociedade, hoje democrática
e pluralista, que resulta incompatível com a anterior confiança dogmática na autoridade.
A metodologia tradicional da interpretação jurídica como revelação do sentido prévio e
acabado das normas acha-se superada haja vista as características do ordenamento atual já não
são conformes à ideologia do positivismo e, ante a presença dos princípios, perturba-se a
confiança na ciência e se privilegia a prudência, justamente porque a Constituição Federal de
1988 inovou sobremaneira nosso ordenamento, muito embora se tenha continuado presos à
maneira de interpretá-lo.
Hoje está aumentada a frequência com que se recorre aos princípios para a solução dos
problemas jurídicos, os quais reclamam uma intervenção mais ativa do operador do Direito,
transparecendo com isso a necessidade cada vez maior de uma teoria da argumentação
jurídica que deve ser por ele desenvolvida uma vez que, ante o caráter conflituoso próprio dos
princípios, a tarefa é demasiado exigente.
Neste cenário, tal estudo mostra-se como um dos traços marcantes do pós-positivismo dada
sua relevância ímpar, pois cada vez mais a sociedade exige decisões que façam sentido ao
cidadão.
Isto posto, pontua-se que o presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema, todavia
tenciona abordar, ainda que de maneira simplificada, as linhas mestras da teoria da
interpretação no enfoque dos princípios jurídicos almejando despertar, pela forma sintetizada
do trabalho, o interesse e a consciência dos novos operadores do Direito para o atendimento
dos igualmente novos anseios da sociedade, perpassando, por conseguinte pela argumentação
e fundamentação jurídica das decisões judiciais como resultado da busca da verdade real
empreendida pelo magistrado por uma “justiça com resultados justos” porque a Justiça deve
voltar a ser a finalidade única do Direito.
Acerca do método utilizado na pesquisa, a confecção do desenvolvimento estrutural se deu
através do método dedutivo, que se caracteriza por ser uma forma de raciocínio que,
independentemente de provas experimentais, se desenvolve, digamos assim, de uma verdade
sabida ou admitida a uma nova verdade, apenas graças às regras que presidem à inferência das
proposições, ou, por outras palavras, tão somente em virtude das leis que regem o pensamento
em sua conseqüencialidade essencial.
6
Das duas espécies de dedução, primar-se-á por aquela dita silogística, para a qual, partindo-se
de uma premissa maior e perpassando por uma premissa menor, chega-se necessariamente a
uma proposição conclusiva cujo efeito é o que esclarece ou particulariza um ponto visto que
nada acresce ao já proposto.
Ressalte-se que o processo metodológico ora informado, o qual confere validade à pesquisa,
sustentou-se na bibliografia de renomados estudiosos do tema considerando as verdades por
eles anteriormente afirmadas para só então defender o posicionamento internalizado como o
mais racional e adequado.
O estudo que aqui se empreende foi concebido em três capítulos, dentre os quais o primeiro
resgata o conceito de hermenêutica, distinguindo-a da interpretação quando muitos autores
utilizam tais vocábulos como sinônimos; também expõe os métodos interpretativos existentes
na ciência hermenêutica e os resultados da atividade exegética, colacionando por último as
características e síntese das propostas interpretativas das grandes escolas.
O capítulo seguinte enfoca a pacificação da discussão em torno da natureza jurídica dos
princípios cujo status é o de norma jurídica e aborda a diferenciação entre regras e princípios
bem como suas funções no ordenamento; distingue ainda os princípios jurídicos dos
princípios gerais do direito e discorre acerca destes últimos. Neste capítulo têm realce os
princípios gerais do direito posto que fundantes de todo o sistema jurídico vigente. Ao final, o
terceiro capítulo trata a noção primária de segurança jurídica e das súmulas impeditivas de
recurso; prima por uma análise detida das súmulas vinculantes haja vista constituirmos uma
sociedade dependente de uma estrutura judiciária abarrotada de processos e carente por isso
de celeridade nas decisões judiciais, para a qual a proposta apregoada como mais viável em
face de negligência em admitir-se que a deficiência é estrutural e saná-la, foi à adoção das
súmulas com efeito vinculante, num retrocesso ao estrito legalismo positivista ou manifesta
tentativa de coibição das propostas pós-positivistas.
O encerramento prescreve a instigação da busca da verdade real pelo magistrado, registrando-
a em suas decisões numa nova visão do que deve ser a Justiça: uma defensora dos princípios
morais que a Constituição e o bom senso determinaram como parâmetros para a vida.
7
I- Hermenêutica e Interpretação do Direito
Hermenêutica: a teoria científica da arte de interpretar.
No mundo do Direito, hermenêutica e interpretação constituem um dos muitos exemplos de
princípios e aplicações. Enquanto a hermenêutica cuida da teoria e visa estabelecer
princípios, critérios e métodos, orientações gerais, a interpretação é de cunho prático,
aplicando os ensinamentos da hermenêutica.
Interpretar é o ato de explicar o sentido de alguma coisa. É revelar o significado de
expressão verbal, artística ou constituída por um objeto, atitude ou gesto. O trabalho do
intérprete é o de decodificar e, para isto, percorre inversamente o caminho seguido pelo
codificador. Interpretar o Direito significa revelar o seu sentido e alcance. Temos assim:
revelar o seu sentido: a lei que concede férias anuais ao trabalhador tem o significado, a
finalidade, de proteger e beneficiar a saúde física e mental do trabalhador; fixar o alcance das
normas jurídicas: significa delimitar o seu campo de incidência. Então, Interpretar o Direito
é revelar o sentido e o alcance de suas expressões. Fixar o sentido de uma norma é descobrir
a sua finalidade, é pôr descobertos os valores consagrados pelo legislador, o alvo que ele
buscava proteger; e fixar o alcance é demarcar o campo de incidência da norma jurídica, é
conhecer sobre os fatos sociais em que circunstancia a norma jurídica tem aplicação.
Interpretar o Direito é conhecê-lo; conhecer o Direito é interpretá-lo.
A interpretação pode ter dupla finalidade: teórica e prática. É teórica quando assume como
foco o esclarecimento de determinado assunto (norma), como é próprio da doutrina. É prática
quando se destina à administração da justiça e aplicação nas relações sociais.
Atualmente, no âmbito doutrinário dos tribunais, existe a chamada Interpretação conforme a
Constituição, segundo a qual sempre que a norma jurídica oferecer mais de um sentido e um
deles for contrario a lei maior, apenas este deverá ser considerado inconstitucional. Este
princípio é mais uma aplicação do Direito do que uma interpretação.
A Hermenêutica do texto normativo busca a intelecção desse texto: a vontade da norma,
voluntas legis, seu sentido, ratio e mens legis.
A Hermenêutica da norma jurídica, restringindo o campo das normas, chegando em
Hermenêutica das normas jurídica escritas, a lei que é o núcleo da Hermenêutica.
Pelos cânones hermenêuticos, busca-se o sentido das normas jurídicas, busca-se a ratio legis
da causa objetiva da elaboração da lei, motivo do legislador e finalidade da lei.
A hermenêutica é uma totalidade, não se escolhe um único método ou cânone, todos devem
ser usados sincronizadamente. Um problema apontado pelos os juristas é que a hermenêutica
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possui uma quantidade grande de métodos e cânones que podem levar a resultados diferentes,
não existe uma hierarquia entre eles. Argumenta-se que o Direito por ser uma Ciência do
Espírito[1], e não uma ciência exata tem-se então uma margem de analise. No que tem valor
(homem) não existe exatidão.
O ideal é o uso de todos os métodos em busca de um consenso entre seus resultados, sem
desprezar as regras da argumentação, que junto com os cânones hermenêuticos buscam uma
maior objetividade interpretativa no maior nível possível ao Direito.
A Hermenêutica Jurídica é um processo intelectivo do entendimento (busca a vontade da
norma) com a finalidade prática de resolver conflitos (razão destinada ao agir humano). As
normas jurídicas são um esquema de interpretação da realidade, criadas a partir da
interpretação da realidade, por isso, a Hermenêutica Jurídica faz uma meta-interpretação do
Direito, já que na verdade ela interpreta a realidade (a norma jurídica interpreta a realidade e a
Hermenêutica Jurídica por sua vez interpreta a norma, com isso, a Hermenêutica Jurídica
acaba por interpretar indiretamente a realidade).
A técnica jurídica é a técnica de elaboração da norma (ênfase na axiologia jurídica) e a de
aplicação das normas (usando a Hermenêutica Jurídica para interpretar essa norma).
Na busca pelo sentido da norma a uma negação da aparência (igualdade formal) buscando a
essência (sentido da norma), sempre de forma dialética, pois uma não existe sem o outro.
O limite da Hermenêutica Jurídica são os princípios da isonomia (tratamento de todos
igualmente perante a lei) e o da segurança jurídica.
Na primeira metade do século XX houve a inspiração privatista da Hermenêutica Jurídica da
relevância dos códigos. A primeira forma de interpretação da norma jurídica foi à exegese
(privatista – código napoleônico). Houve importação da interpretação privatista e, com ela,
tem se menor busca do aspecto axiológico e o rígido raciocínio silogístico do intérprete. O
âmbito de incidência de uma norma no regime privado é muito reduzido – valor axiológico
menor, atingindo com menor perquirição (investigação) e o raciocínio silogístico mais forte,
fica mais nítida a aplicação da norma. A hermenêutica privatista tem um estudo
exclusivamente lógico analítico-descritivo (dedução, separação e descrição) do Direito. Nessa
interpretação não se busca uma atualização da lei com sua valoração axiológica, busca-se a
aplicação da letra da lei (corpus legis), também não existe uma busca em contextualizar a lei
na nova realidade, é uma interpretação atrelada aos códigos, estrita e literal, digna do
movimento exegético. Existe no movimento exegético uma tentativa conservadora de
perpetuação do status quo[2]. E a posição da doutrina positivista, que afirma a neutralidade
da pretensão da lei, descartando a moral e os juízos de valor, e colocando como correto uma
9
mera aplicação mecânica da lei, com aplicador neutro, com uma crença cega nas normas
positivadas.
A compreensão da ratio legis da lei advém da construção de sentido do corpus legis e na
medida em que a ratio legis é compreendida a lei é atualizada. O Círculo Hermenêutico – que
apesar de ser chamado de círculo tem seu formato em espiral – defende a ideia que “ao
mesmo tempo em que o sujeito influência o objeto, o objeto influência o sujeito.”.
Como já disse anteriormente a crítica feita a Hermenêutica Jurídica é a possibilidade de
resultados discrepantes, porque o processo hermenêutico não é dotado de exatidão, não existe
exatidão nas Ciências Humanas. A crítica não atinge a Teoria da Argumentação, porque é
meramente formal, não gera determinado conteúdo, como faz a Hermenêutica Jurídica. Uma
das respostas a essa crítica é que na ciência não existem conclusões absolutas, imutáveis,
permanentes, porque (1) a ciência é baseada na refutabilidade das verdades que constrói,
devido à (2) a falibilidade intrínseca do consenso, da verdade, a racionalidade vai descobrindo
aos poucos as verdades da natureza, no momento da refutação uma verdade é desconstruída
com a construção de outra, enriquecida, evidenciando assim (3) a processualidade dialética
da ciência. Aquilo que foi alcançado na singularidade de um momento no desenvolvimento
científico, passa a ser a universalidade de outro processo hermenêutico, do qual surge outra
conclusão, há de que, não há dogmaticidade, há refutabilidade.
A objetivação crescente da interpretação da norma jurídica se dá tanto no desenvolvimento de
métodos hermenêuticos quanto na elaboração de regras da argumentação jurídica. Não se
consegue uma exatidão, mas se consegue o máximo de objetivação, objetividade, no ponto de
vista do conteúdo e no ponto de vista procedimental, formal, estrutural, tentando sempre fugir
das arbitrariedades das decisões.
O importante de um resultado científico é que ele seja comprovável, demonstrável, e não que
seja definitivo. E ele é comprovável e demonstrável mediante a utilização de regras e
critérios, que devem ser revelados de forma que qualquer sujeito possa chegar aos mesmos
resultados utilizando-os, daí a universalidade.
No poder legislativo têm-se normas abstratas que possibilitam a realização do direito no poder
judiciário, tem-se a aplicação da norma com sentido axiológico que possui no instante de sua
incidência nas relações jurídicas concretas. Existe uma concretização das normas e uma
concretização da sua aplicação na sociedade – regulando pelo silogismo jurídico,
materializando, concretizando a abstração (os dois momentos são necessários e possuem
sentido axiológico-original e o posterior-duplo e amplo).
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II- Hermenêutica lato sensu e stricto sensu
Ao explicar extensivamente, de forma simples, podemos dizer que a hermenêutica lato sensu
analisa a obra humana, da cultura, buscando seu sentido. Enquanto, a hermenêutica stricto
sensu dirige-se as palavras, signo dos signos, que são conhecidas como signos dos signos
porque são sinais de pensamento, que por sua vez são sinais de realidade.
Segundo o dicionário jurídico RG-FENIX a expressão lato sensu significa: “no sentido
amplo, ou geral. Diz-se da interpretação extensiva por oposição a stricto sensu.”.
Este mesmo dicionário define stricto sensu sendo: “no sentido estrito, literal, exato ou
próprio; que não admite interpretação extensiva. Diz-se da exegese em que o tempo é tomado
na verdadeira acepção jurídica. O mesmo que sensu stricto. Por oposição a lato sensu.”.
Na hermenêutica stricto sensu podemos dizer que se pensa a realidade através das palavras,
existe um processo interior, e se exterioriza o pensamento também através das palavras.
Portanto, temos uma duplicidade do uso das palavras, usadas tanto no processo de
interiorização, quanto no processo de exteriorização.
III- Hermenêutica Filosófica
A Hermenêutica Filosófica nada mais é que a interpretação do homem, que busca o
significado do próprio ser que interpreta, o sujeito é o intérprete e o interpretado. Como
expoentes desta corrente, temos Heidegger e Gadamer.
Esse tipo de hermenêutica não procura entrar no objeto que o homem faz, somente interroga
sobre o sujeito, indagando perguntas como: o que é o homem? Interpretativamente realiza-se
um processo de compreensão, que busca a revelação do sentido da realidade cultural.
Como já foi dito, a hermenêutica é o processo de interpretação. O objeto da Hermenêutica
Filosófica é o sentido do ser, da realidade produzida pelo ser e o resultado é a compreensão
desse sentido, do homem. É a compreensão da totalidade da realidade, entendendo que o
homem a integra de forma a buscar o sentido de ambos. Na Hermenêutica Filosófica, não há
distanciamento entre sujeito e objeto, do ser que interpreta para o ser interpretado, existe um
movimento, que é chamado de círculo hermenêutico, que é o processo que temos as seguintes
características:
a. Exteriorização do indivíduo e a interiorização do interpretado. Este movimento ocorre
porque, para que se entenda algo, é necessário se exteriorizar tentando compreender e
interiorizar essa compreensão, num processo circular;
11
b. O intérprete modifica a realidade interpretada e, ao mesmo tempo, modifica a si próprio. Dá
sentido à realidade, modificando-a e também se modifica, pois ganha conhecimento, ocorre
um enriquecimento, também em um processo circular;
c. Existe também a chamada pré-cognição, onde o que ocorre é que toda a coisa é
mediatizada pelo conhecimento social que já se tem. Quando se conhece algo novo, já se tem
conhecimento prévio sobre o mundo, a experiência. Conhecimento social em determinado
momento histórico, e não individual. E a coisa nova é inserida no nosso conhecimento, mas
mediatizada pelo o que já conhecemos;
d. Com isso ocorre um rompimento da distancia entre o horizonte cultural da elaboração da
obra produzida, e aquele presente quando dá sua interpretação, a aplicação. Tem-se uma obra
produzida, que quando vai ser interpretada é trazida para o presente, circularidade
hermenêutica.
Podemos dizer então que ao mesmo tempo em que o sujeito influência o objeto, o objeto
influência o sujeito, e que, a compreensão e a pré-compreensão são históricas, e necessitam do
contexto. A linguagem, como bem diz Gadamer, está tanto no pressuposto quanto no fim da
compreensão.
Embora a terminologia seja Círculo Hermenêutico, o que realmente ocorre, assim como no
movimento dialético, é um movimento em espiral.
(U) Inserção de uma nova obra no conhecimento
(P) Negação dessa obra, porque é desconhecida.
(S) A norma é inserida, entra no conhecimento prévio e não é mais desconhecida.
A compreensão é, então, um processo de síntese da universalidade, da totalidade da cultura. É
a busca do alcance do sentido da universalidade da cultura. Enquanto a explicação é a analise
do todo em partes, a separação não só do sujeito e do objeto, como do próprio objeto que é
dividido para que se atinja a essência. É então um processo analítico. A compreensão vai
além, pois ela busca já na essência o conceito daquilo que será compreendido.
IV- Hermenêutica Constitucional
A Hermenêutica Constitucional recebeu importância a partir da segunda guerra mundial,
quando foram criados os Tribunais Constitucionais. Teve-se o reconhecimento da
normatividade de valores e princípios constitucionais. Os valores estão inseridos nos
princípios.
12
Uma questão que dificulta a Hermenêutica Constitucional é a vagueza, generalidade e
imprecisão dos preceitos da Constituição, tendo em vista que ela é o material fundante do
nosso ordenamento jurídico e vai sendo concretizada aos poucos. As normas constitucionais
têm uma maior flexibilidade de interpretação, devido à sua maior complexidade. A
interpretação tem que ser mais rica, mais detalhada, para que se consiga chegar à objetividade.
Todas as normas dispostas na Constituição têm o mesmo nível formal, mas existe uma
diferença com respeito aos seus respectivos níveis axiológicos. Existe uma estrutura
axiológica diferenciada dentro da própria Constituição, de pesos do seu conteúdo normativo.
Tudo é constitucional, mas alguns estão em uma posição axiológica superior ao que demais é
dito, v.g., Direitos Fundamentais.
O Princípio da proporcionalidade[3] não é positivado, é um princípio geral do Direito
(recente). É utilizado na solução de colisão principiológica e, especialmente, em casos de
colisões entre princípio fundamentais, pois, eles reúnem a condensação axiológica máxima
em um ordenamento jurídico e, dentro dos Direitos Fundamentais, são princípios tão amplos
que entram em choque entre si, v.g., Princípio da Igualdade e da Liberdade.
O Princípio da Hierarquização axiológica está “junto” com o da proporcionalidade porque a
finalidade é a mesma, só que, enquanto no da proporcionalidade tem-se as três máximas,
nesse se busca, no caso concreto, a identificação do princípio superior para a resolução do
caso (colisão) mediante a hierarquização dos valores em questão, que são hierarquizáveis,
mas sem exatidão, especialmente no caso concreto, com circunstâncias fáticas de cada caso.
Pelo Princípio axiológico estabelece-se a hierarquia entre as normas constitucionais. A
declaração dos Direito Fundamentais prefere (é superior) a todas as demais normas
constitucionais. Este princípio analisa o peso valorativo de cada norma, fazendo uma
declaração de maior peso a umas e menor a outras.
O Principio Político questiona e avalia aas concepções de regime liberal de Estado
(propriedade privada tida como valor essencial) ou regime social (igualdade com primeiro
valor). Ambos são baseados na liberdade (só necessitam de estar na Constituição).
Desses princípios decorrem em relação à Hermenêutica dos Direitos Fundamentais, os
Princípios da ponderabilidade, imediatidade e extensibilidade.
O Princípio da ponderabilidade é a terceira máxima do Princípio da proporcionalidade, que
é aplicada aos Direitos Fundamentais. Os Direitos Fundamentais tem maior peso na
constituição que as demais normas nela escritas, isso quer dizer que, na Constituição existe
somente igualdade formal, e não igualdade axiológica, existindo normas com maior peso
valorativo do que outras, v.g., Direitos Fundamentais. O Estado Democrático de Direito tem
13
os Direitos Fundamentais como razão de ser e, para sua concretização, se institucionalizou a
organização política do Estado Democrático de Direito, daí a finalidade ética desse Estado
Democrático.
Existe uma diferenciação axiológica do Direito no ordenamento (Constituição no topo, o resto
adequado a ela), possibilitando a solução de conflitos da Hermenêutica Constitucional
(interpretação do texto constitucional). Quando falamos da hierarquia dos Direitos
Fundamentais é necessário entender o uso da ponderação, tendo em vista que, esta é a
principal arma do intérprete mediante ao caso de uma colisão de normas jurídicas,
especialmente princípios jurídicos. Outra ideia que deve ser lançada e assimilada é a seguinte:
só podem ser restrições aos Direitos Fundamentais os próprios Direitos Fundamentais, já que
estes estão no topo do ordenamento jurídico, demonstrando sua totalidade necessária e
eficácia absoluta.
O Princípio da imediatidade diz que as normas declaradas Direitos Fundamentais
independem de regulação intermediária, porque a partir da sua declaração tem-se a outorga
imediata dos Direitos Fundamentais, com acesso imediato do sujeito de Direito aos órgãos
encarregados de sua garantia e efetividade, mesmo sendo muito mais gerais e abstratos.
O Poder Judiciário é o órgão competente para efetivar os Direitos imediatamente, porque ele
determina o cumprimento da norma jurídica, sendo que, em caso de lacuna, há a criação de
uma norma individualizada a partir da decisão no caso concreto, realiza-se a integração do
Direito. Embora não haja completude, existe completabilidade, isso quer dizer que o Direito é
completável.
O Princípio da extensibilidade das normas dos Direitos Fundamentais significa que a
interpretação deles deve ser a mais ampla possível para sua mais extensa concretização. No
momento de se interpretar os Direitos Fundamentais é necessário lembrar-se de que o seu
conteúdo é mais amplo, geral e abstrato, sendo assim, deve-se buscar todo o alcance lógico e
axiológico da norma jus fundamental, para que se tenha a maior aplicação possível, devido a
sua maior relevância. Para que estes cuidados sejam seguidos há o recurso aos princípios
implícitos (ordenamento jurídico no seu todo) e os princípios explícitos (os positivados) para
a interpretação da Constituição.
V- Cânones Hermenêuticos
a) Cânone da objetividade: tem como finalidade essencial a consideração da autonomia da
expressão linguística. Quando a norma é expressa ganha autonomia (vida própria), se decola
14
do sujeito que a declarou, alguns autores chegam a dizer que a norma é mais sabia que o
legislador, pois ela pode regular casos que nem o legislador, que a criou, poderia imaginar.
“Uma norma legal, uma vez emanada, desprende-se da pessoa do legislador, como uma
criança se livra do ventre materno. Passa a ter vida própria, recebendo e mutuando
influências do meio ambiente, o que importa na transformação de seu significado.” [4]
Gabriel Saleilles
O que realmente importa então é a voluntas legis[5], pois há uma superação da subjetividade
originaria da norma jurídica, a norma assume identidade própria. Uma vez existente a lei deve
ir além da voluntas legislatoris[6], pois ela passa a ser autônoma. Existe uma busca da ratio
legis[7] segundo a ratio iuris[8]. Há uma necessidade de atualização normativa, havendo um
distanciamento e independência da norma jurídica com relação ao seu autor (a norma não
pode ficar presa a voluntas legislatoris, não pode se limitar à ratio legis do momento de sua
criação, pois o tempo passa e os textos envelhecem). O elemento subjetivo é essencial à
interpretação, porque é o sujeito que a realiza.
Pode-se dizer que a mens legis[9] adquire mais valor do que a corpus legis ou verba
legis[10], porque no pensamento da lei existe objetividade, autonomia, ela dá o sentido e é o
critério externo pelo qual o intérprete deve se pautar.
b) Cânone da totalidade: É um cânone que assim como o primeiro tem em mente a melhor
compreensão das propostas. A ideia deste cânone é simples: as partes devem ser
interpretadas em função do todo, e de que, o todo deve ser descrito a partir de uma
combinação harmônica das partes.
A compreensão da norma é sempre provisória e vai se aperfeiçoando com a extensão do
discurso no tempo, tornando-se mais rica. No momento final tem a reunião conjunta dos
elementos singulares com maior precisão e clareza do resultado (quanto melhor se
compreender o sentido das partes mais preciso e claro é o resultado).
A totalidade busca conformidade lógica e axiológica da lei com todo o ordenamento jurídico,
considerando-o como um todo sistemático e não uma simples soma de partes. Há um dever de
coerência quando se analisa o todo, buscando assim a não contradição das normas, gerando
sempre uma preocupação em não gerar e tentar eliminar as antinomias.
Há preponderância dos princípios gerais do Direito (explícitos ou implícitos) sobre o costume
na interpretação da lei (Direito codificado). Pela totalidade se busca o princípio da
15
universalidade, buscando uma interpretação não casuística[11], utilizando a mesma norma
para casos semelhantes em sua relevância – mesma ratio legis.
c) Cânone da atualidade: O intérprete não deve apenas entender o sentido original do texto
normativo, mas reconstruí-lo de forma com que se adapte melhor ao novo contexto, a nova
realidade. A interpretação é feita pelo intérprete na sociedade contemporânea, por isso traz a
norma para o presente. Ocorre uma junção dos dois horizontes do Círculo Hermenêutico,
elaboração e aplicação. A ratio legis do momento da elaboração da norma deve se adequar as
novas necessidades do contexto atual em que a norma vigora. Os textos normativos tendem a
envelhecer por motivos externos, de forma que a lei tem que ser atualizada para não perder
sua plena eficácia.
A atualização não representa à mera presentificação da norma, há a comunhão dialética entre
duas culturas, não existe uma negação do passado, mas sua conjunção no presente.
Na relação dialética tem-se a fidelidade ao pensamento original em confronto com a exigência
de renovação advinda da atualidade do conhecer. Deve-se fugir do arbítrio, porque a
atualidade é um método científico, que exige a fundamentação racional.
d) Cânone da adequação: É a consonância da mens legis com a totalidade do ordenamento.
O que ocorre então é uma combinação harmônica dos cânones hermenêuticos, de modo que se
consiga alcançar o seu sentido, considerando a riqueza de cada cânone. Para que essa
consonância entre atualidade, objetividade e totalidade aconteça harmonicamente e de modo
eficaz é necessário coerência entre eles.
Da utilização dos quatro cânones hermenêuticos consegue-se chegar aos tipos de
interpretação, que por sua vez, são usados também como métodos hermenêuticos.
VI- Tipos de interpretação ou métodos hermenêuticos
1. Interpretação literal ou gramatical: Citarei dois trechos de renomados autores que
definem bem esse tipo de interpretação.
“Na interpretação literal ou gramatical o dever do intérprete é analisar o dispositivo legal
para captar seu pleno valor expressional. A lei é uma declaração da vontade do legislador e,
portanto, deve ser produzida com exatidão e fidelidade. Para isto, muitas vezes é necessário
16
indagar do exato sentido de um vocábulo ou do valor das proposições do ponto de vista
sintático.”
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito.
“Em se tratando de Direito escrito é pelo elemento gramatical que o intérprete toma o
primeiro contato com a proposição normativa [...] O elemento gramatical compõe-se da
analise do valor semântico das palavras empregadas no texto, da sintaxe, da pontuação etc.
[...] Modernamente, a crítica que se faz a esse elemento não visa, como é natural, à sua
eliminação, mas à correção dos excessos que surgem com a sua aplicação. Objetiva-se evitar
o abuso daqueles que se apegam à literalidade do texto, com prejuízo à mens legis.”
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito.
2. Interpretação lógico-sistemática: Para definir esse método hermenêutico também
utilizarei um trecho de Reale.
“Cada artigo de lei se situa em um capítulo ou em um título e seu valor depende de sua
colocação sistemática. É preciso, pois, interpretar as leis segundo seus valores linguísticos,
mas sempre as situando no conjunto do sistema. Esse trabalho de compreensão de um
preceito, em sua correlação com todos que com ele se articulam logicamente, denomina-se
interpretação lógico-sistemática. [...] Interpretar logicamente um texto de Direito é situá-lo
ao mesmo tempo no sistema geral do ordenamento. A nosso ver, não se compreende, com
efeito, qualquer separação a interpretação lógica da sistemática. São antes aspectos de um
mesmo trabalho de ordem lógica, visto como as regras de direito devem ser entendidas
organicamente, estando umas na dependência das outras, exigindo-se reciprocamente
através de um nexo que a ratio iuris explica e determina.”
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito.
3. Interpretação histórico-evolutiva: A explicação deste tipo de interpretação será feita com
trechos de Reale e Nader.
“[...] Gabriel Saleilles, deu claros contornos à teoria da interpretação histórico-evolutiva.
Segundo essa doutrina, uma norma legal, uma vez emanada, desprende-se da pessoa do
legislador, como uma criança se livra do ventre materno. Passa a ter vida própria, recebendo
e mutuando influencias do meio ambiente, o que importa na transformação de seu
significado.”
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito.
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“Como força viva que acompanha as mudanças sociais, o Direito se renova, ora
aperfeiçoando os institutos vigentes, ora criando outros, para atender o desafio dos novos
tempos. [...] A evolução da ciência nunca se faz mediante a saltos, mas através de conquistas
graduais, que acompanharam a evolução cultural registrada em cada época. [...] Quanto
mais antigo for o trabalho preparatório, menos valor oferecerá, pois terá retratado fatos de
uma sociedade mais distante.”
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito.
4. Interpretação Teleológica: Destacarei trechos de Nader e Ferraz Jr.
“Na moderna hermenêutica o elemento teleológico assume um papel de primeira grandeza.
Tudo que o homem faz e elabora é em função de um fim a ser atingido. A lei é obra humana e
assim contém uma ideia de fim a ser alcançado. Na fixação do conceito e alcance da lei,
sobreleva de importância o estudo teleológico, isto é, o estudo dos fins colimados pela lei.
[...], o fato teleológico investiga os fins que a lei visa atingir. Quando o legislador elabora
uma lei, parte da ideia do fim a ser alcançado. Os interesses sociais que pretende proteger
inspiram a formação dos documentos legislativos. Assim, é natural que no ato da
interpretação se procura avivar os fins que motivaram a criação da lei, pois nessa descoberta
estará a revelação da mens legis. [...] Os fins das leis se revelam através dos diferentes
elementos de interpretação.”
NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito.
Uma típica interpretação teleológica e axiológica é a que se postulam fins e se valorizam
situações.
“A interpretação teleológica e axiológica ativa a participação do intérprete na configuração
do sentido. Seu movimento interpretativo, inversamente ao da interpretação sistemática que
também postula uma cabal e coerente unidade do sistema, parte das consequências avaliadas
das normas e retorna para o interior do sistema. É como se o intérprete tentasse fazer com
que o legislador fosse capaz de mover suas próprias previsões, pois as decisões dos conflitos
parecem basear-se nas previsões de suas próprias consequências. Assim, entende-se que, não
importa a norma, ela há de ter, para o hermeneuta, sempre um objetivo que serve para
controlar até as consequências da previsão legal (a lei sempre visa aos fins sociais do direito
e às exigências do bem comum, ainda que, de fato, possa parecer que eles não estejam sendo
atingidos).”
FERRAZ JR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito.
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VII- Desafio Kelseniano
É necessário, no plano da hermenêutica, um princípio que impeça o recuo ao infinito, pois,
uma interpretação cujo princípios fossem mantidos sempre em aberto bloquearia a obtenção
de uma decisão. E, ao mesmo tempo, pela própria natureza do discurso normativo, o sentido
do conteúdo das normas é sempre aberto. Tais características fazem com que o ato
interpretativo dogmático se veja aprisionado dentro de uma correlação instável entre dogma e
liberdade, isto é, entre um ponto objetivo, v.g., a necessidade de determinar objetivamente os
pontos de partida, e um ponto subjetivo, v.g., de ao final, sempre se encontrarem diversos
sentidos.
Esse impasse, onde ocorre essa relação de tensão entre dogma e liberdade constitui o que
chamamos de o desafio kelseniano.
VIII- Voluntas legis e voluntas legislatoris
Essa é um dos temas mais polêmicos da ciência jurídica. Essa oscilação entre fator subjetivo –
voluntas legislatoris – e fator objetivo – voluntas legis ou espírito do povo – foi, e vem sendo
digno de estudo sendo considerado um ponto nuclear para entender o desenvolvimento da
ciência jurídica como teoria da interpretação.
Em meados do século XIX, ocorre, assim, na França e na Alemanha, uma polêmica. De um
lado aqueles que defendiam uma doutrina restritiva da interpretação, cuja base seria a vontade
do legislador, a partir da qual, com auxílio de análises linguísticas e de métodos lógicos de
inferência, seria possível construir o sentido da lei (“Jurisprudência dos Conceitos”, na
Alemanha, e “Escola da Exegese”, na França). De outro lado, foram aparecendo aqueles que
sustentavam que o sentido da lei repousava em fatores objetivos, como os interesses em jogo
na sociedade (“Jurisprudência dos Interesses”, Alemanha), até que, já no final do século XIX
e inicio do século XX, uma forte oposição ao “conceptualismo” desemboca na chamada
escola da “libre recherche scientifique” (livre pesquisa científica) e da “Freirechtsbewegung”
(movimento do direito livre) que exigiam que o intérprete buscasse o sentido da lei na vida,
nas necessidades e nos interesses práticos. Desenvolvem-se, nesse período, métodos voltados
para a busca do fim imanente do direito (método teleológico), ou de seus valores fundantes
(método axiológico), ou de suas condicionantes sociais (método sociológico), ou de seus
processos de transformação (método axiológico-evolutivo), ou de sua gênese (método
histórico) etc.[12]
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Um modo didático que se usa para expor melhor e facilitar a compreensão do que é dito
consiste em uma separação em dois grupos. Método e objeto aparecem como questões
correlatas. Do ângulo do objeto, o direito é visto como a positivação de normas dotadas de
sentido. Do ângulo do método, temos o problema de como e onde captar esse sentido. Devido
a isto, podemos dividir a doutrina em duas correntes que, embora não se separem com muita
nitidez, podem ser separadas didaticamente conforme o reconhecimento ou da voluntas legis
ou da voluntas legislatoris. Chamamos a primeira de objetivista e a segunda de subjetivista.
A doutrina subjetivista insiste em que, sendo a ciência jurídica, um saber dogmático (a noção
de dogma enquanto um princípio arbitrário, derivado de vontade do emissor de norma lhe é
fundamental), é, basicamente uma compreensão do pensamento do legislador; portanto,
interpretação ex tunc (desde então, isto é, desde o aparecimento da norma pela positivação da
vontade legislativa), ressaltando-se, em consonância, o papel preponderante do aspecto
genético e das técnicas que lhe são apropriadas (método histórico). Já para doutrina objetivista
a norma goza de um sentido próprio, pode se dizer que, os seguidores dessa corrente
acreditam na autonomia da norma, do seu desvinculamento com o legislador depois de sua
criação, esse sentido próprio da norma é determinado por fatores objetivos (o dogma é um
arbitrário social), independentemente até certo ponto do sentido que lhe tenha querido dar o
legislador, donde a concepção da interpretação como compreensão ex nunc (desde agora, isto
é, tendo em vista a situação e o momento atual de vigência), aonde se dá ênfase no papel
preponderante dos aspectos estruturais em que a norma ocorre e as técnicas apropriadas a sua
captação (método sociológico). Assim, levado ao extremo, podemos dizer que o subjetivismo
favorece certo autoritarismo personalista, ao privilegiar a figura do legislador, pondo a sua
vontade em relevo. Por sua vez, o objetivismo, também levado ao extremo, favorece certo
anarquismo, pois estabelece o predomínio de uma equidade duvidosa dos intérpretes sobre a
própria norma ou, pelo menos, desloca a responsabilidade do legislador, na elaboração do
direito, para os intérpretes ainda que legalmente constituídos, chegando-se a afirmar, como
fazem alguns realistas americanos, que o direito é “o que os tribunais decidem” [13].
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NOTAS
1. Ciência Humana, que trata de conteúdo do homem, e não uma Ciência exata.
2. Estado atual das coisas
3. (1) Modalidade indicadora de que a severidade da sanção deve corresponder à maior ou
menor gravidade da infração penal. Quanto mais grave o ilícito, mais severa deve ser a pena.
A ideia foi defendida por Beccaria em seu livro Dos Delitos e das Penas e é aceita pelos
sectários das teorias relativas quanto aos fins e fundamentos da pena. (2) O princípio da
proporcionalidade tem o objetivo de coibir excessos desarrazoados, por meio da aferição da
compatibilidade entre os meios e os fins da atuação administrativa, para evitar restrições
desnecessárias ou abusivas. Visa-se, com isso, a adequação entre os meios e os fins, vedando-
se a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente
necessárias ao atendimento do interesse público.
4. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Bushatsky, 1974.
5. Latim; vontade da lei, o objetivo da lei. NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico RG-
Fênix. São Paulo: Editores Associados, 1994.
6. Latim; a vontade, intenção do legislador. NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico RG-
Fênix. São Paulo: Editores Associados, 1994.
7. Latim; a razão da lei; os motivos que a determinaram; o fim visado pelo legislador.
NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico RG-Fênix. São Paulo: Editores Associados, 1994.
8. Latim; significa razão de direito. Motivo, razão que o hermeneuta encontra no direito
vigente para justificar a interpretação ou solução, que dá a uma regra jurídica ou a certo
caso concreto. O fim do direito, a inteligência da lei, a lógica Jurídica. NUNES, Rodrigues.
Dicionário Jurídico RG-Fênix. São Paulo: Editores Associados, 1994.
Outra explicação que me foi apresentada pela Prof.ª Claudia Toledo coloca a ratio iuris como
a razão do ordenamento.
9. Latim; é o sentido, a inteligência, o espírito da lei, a sua finalidade precípua. Deve sempre
superpor-se à verba legis, às palavras, à letra da lei. NUNES, Rodrigues. Dicionário
Jurídico RG-Fênix. São Paulo: Editores Associados, 1994.
10. Latim; as palavras da lei. NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico RG-Fênix. São Paulo:
Editores Associados, 1994. A expressão corpus legis é interpretada por muitos como: letra da
lei, ou forma, ou corpo da lei.
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11. A casuística segundo Karl Larenz é aquela situação em que para se chegar à solução de
um problema jurídico buscam-se fundamentos na equidade do juiz, é uma solução
decisionista, de forma que a decisão é dada pelo o que é considerado justo pelo juiz, ou de
outra autoridade a qual é reservada a competência de decisão. A decisão casuística é marcada
pela arbitrariedade.
12. FERRAZ JR, T. S. (2010). Introdução ao estudo do Direito: Técnica, decisão,
dominação. São Paulo: Atlas. (p. 232)
13. FERRAZ JR, T. S. (2010). Introdução ao estudo do Direito: Técnica, decisão,
dominação. São Paulo: Atlas. (p. 234)
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CONCLUSÃO
A generalidade e demasiada abstração das leis as tornam incapazes de abranger uma realidade
que traduza o que seja mais conveniente para cada um em particular, pois não conseguem
prescrever com exatidão o que seja bom e direito para cada indivíduo de uma sociedade, a um
só tempo, seja qual for. Por isso todo processo deve ter sua relatividade e individualidade
observadas.
Aufere-se do estudo realizado, a impropriedade e até mesmo o equívoco daqueles que tomam
hermenêutica por interpretação como sendo vocábulos sinônimos.
Primou-se pela definição razoável de Hermenêutica Jurídica como um sistema de regras
interpretativas dos dispositivos legais e do Direito como um todo ao passo que esta atividade
consiste em determinar o sentido de uma norma jurídica a fim de que se possa aplicá-la ao
caso concreto haja vista as características de abstração e generalidade das normas.
Desse sistema de regras interpretativas, os critérios de que se vale o hermeneuta na
decidibilidade dos conflitos também são chamados de processos, elementos, métodos,
momentos, etc. Tanto a nomenclatura quanto a classificação variam consoante à preferência
de cada doutrinador.
Dos métodos apresentados, ainda que nenhum deva ser aplicado isoladamente face sua
insuficiência técnica, o que parece melhor subsidiar o intérprete em sua pesquisa é o método
teleológico porque busca, em última análise, interpretar as leis objetivando sua melhor
aplicação na sociedade a que estão voltadas, de onde decorrerá a possibilidade de decisões
mais impregnadas do valor justiça.
Nesse contexto de pluralidade as escolas hermenêuticas surgem como consequência teórica da
disputa entre os diversos métodos de interpretação e distinguem-se uma das outras por seu
posicionamento acerca das questões interpretativas.
No estudo realizado a classificação foi escalonada em três grandes grupos, de acordo com o
maior ou menor aprisionamento do intérprete à lei. O primeiro deles é composto pelas escolas
de estrito legalismo ou dogmatismo, destacando-se a Escola da Exegese, dos Pandectistas e a
Analítica de Jurisprudência. Reagindo ao estrito legalismo da época compuseram-se outras
escolas sendo as que mais representaram esse movimento, a Escola Histórica do Direito e a
Teleológica e posterior a estas surgiram outras, adeptas a uma interpretação mais livre, por
exemplo, a Escola da Livre Pesquisa Científica, a Realista Americana e a do Direito Livre,
dentre outras. A questão primordial relativa ao tema princípios está na enfática discussão de
outrora, hoje superada pela doutrina, acerca de sua normatividade, pacificando-se o
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entendimento de que, juntamente com as regras jurídicas são espécies do gênero norma e têm
em sua composição valores que servem de fundamento e meio de completude para o
ordenamento jurídico, atuantes ainda, como critérios de direção na elaboração e aplicação de
outras normas jurídicas, de onde resultam suas funções.
Os princípios conferem unidade ao sistema jurídico e caracterizam-se pela maior amplidão de
seu campo de incidência, maior força jurídica e plena vigência em caso de conflito normativo,
já as regras vigem na exata medida em que não colidem com aqueles, possuem menor grau de
abstração e maior densidade normativa.
Abordando especificamente a temática enunciada pelo título do segundo capítulo, estão os
princípios jurídicos a serem tomados basicamente em dois sentidos: como princípios
positivados do direito e como princípios gerais do direito referindo-se os últimos aos valores
permeados na sociedade e que constituem todo o arcabouço do sistema jurídico e político de
um Estado.
No que pertine à atividade do juiz, esta se estabelece em um dos mais valiosos elementos da
sociedade e é através dela que os conflitos e lides alcançam alguma solução uma vez que é o
magistrado quem restabelece o direito violado e quem protege o cidadão dos desmandos de
quaisquer autoridades.
Invocando o princípio da segurança jurídica, o qual ainda é confundido com estrito legalismo,
tem-se o surgimento das súmulas para vetar a interposição indiscriminada de recursos.
A súmula impeditiva de recurso mantém a liberdade do juiz em julgar de acordo com o seu
entendimento, ao contrário da súmula vinculante cujo entendimento vincula o magistrado sob
pena de este responder pela desobediência.
A atribuição do efeito vinculante às súmulas faz retroceder à fase já superada do estrito
legalismo instituído pelo Positivismo que foi repudiado por uma sociedade que anseia por
decisões justas. Nesse cenário o papel do julgador é o de mero repetidor das disposições
superiores, sendo-lhe negada qualquer decisão em sentido contrário, sob pena de nulidade da
sentença e implicado em crime de responsabilidade. A equidade na sentença não estará mais
ao alcance do juiz.
O modelo processual contemporâneo elege novas atribuições ao magistrado ante sua função
primária de intérprete da lei, instiga-o na busca da verdade real objetivando uma prestação
jurisdicional qualificada e, por conseguinte justa, balanceando a relação processual
considerando inclusive o desequilíbrio econômico-financeiro solução da lide.
Conclui-se que é mais fácil e conveniente a aplicação de um mesmo precedente legal frente a
infindáveis processos semelhantes, mas o que não se pode afirmar com segurança, é que em
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Todos os casos, estará o entendimento vinculante dos tribunais consoante com a realidade do
momento haja vista as alterações constantes e inevitáveis da sociedade. O ato de realizar
justiça implica mais que aplicar um precedente que, em tese, aplica-se ao fato, sem questionar
sua verdadeira adequação a este.
Então, a proposta que se faz é de interpretação e aplicação do Direito voltados à satisfação dos
anseios de Justiça da sociedade por magistrados mais comprometidos com a sua função de
aproximar tanto quanto possível, o direito da vida, sendo necessário para isso trazer a
utilização dos princípios jurídicos para o discurso judicial, julgando os processos a partir dos
valores que essa mesma sociedade compartilha.
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BIBLIOGRAFIA
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• CANOTILHO, José Joaquim Gomes. (2003). Direito Constitucional e Teoria da
Constituição. Coimbra: Almedina.
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Saraiva.
• FERRAZ JR, T. S. (2010). Introdução ao estudo do Direito: Técnica, decisão,
dominação. São Paulo: Atlas.
• MENDES, G. F., COELHO, I. M., & BRANCO, P. G. (2010). Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Editora Saraiva.
• NADER, P. (2008). Introdução ao estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense.
• NUNES, R. (1994). Dicionário Jurídico RG-FENIX. São Paulo: Editora Associados.
• REALE, M. (1974). Lições preliminares de direito. São Paulo: Bushatsky.
• SARLET, Ingo Wolfgang. (2004). Dignidade da pessoa humana e direitos
fundamentais na Constituição de 1988. Porto Alegre: Livro do Advogado.
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