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HERMENÊUTICA Princípios de Interpretação Bíblica Por Evaristo Filho SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO BÍBLICO SETEB Global http://seminarioevangelico.com.br [email protected]

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HERMENÊUTICA Princípios de Interpretação Bíblica

Por Evaristo Filho

SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO BÍBLICO

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Apresentação da Disciplina

Informações Gerais

Pré-Tarefas Antes do estudo principal da disciplina, há uma série de questões e/ou exercícios e/ou tarefas que foram elaboradas para prepará-lo, tanto mental quanto espiritualmente, para o conteúdo central da disciplina. Você deverá completar estas pré-tarefas antes de iniciar o estudo principal e realizar as tarefas que exigirão mais de você. Siga todas as instruções e guarde todo o material escrito que você produzir. Mais tarde ele será examinado por seu tutor/professor.

Questões Para Revisão

Ao concluir o estudo principal, complete as questões para revisão. O propósito delas é ajudá-lo a focalizar nos principais pontos do estudo e prepará-lo para o projeto final. Você pode usar suas notas pessoais, sua Bíblia ou o conteúdo do estudo principal. Quando as respostas exigem que você use o estudo principal, procure respondê-las, primeiramente, sem consultar o manual. Se você não conseguir, ache as respostas no texto e estude estas partes mais uma vez antes de prosseguir.

Projeto Final

No final da disciplina existe um projeto final que foi elaborado para ajudá-lo a viver e ministrar este tema. As ideias e conceitos que você aprendeu são muito importantes para nós. Deste modo, o projeto final é importante para sabermos o que você aprendeu e como você está aplicando ou aplicará este material no seu ministério.

Procedimentos da Disciplina

O procedimento para essa disciplina é o seguinte: Unidade I: Passo 1 Faça as pré-tarefas Passo 2 Estude o conteúdo do estudo principal.

Complete todos os espaços em branco para completar. Unidade II: Passo 1 Leia todas as questões para revisão antes de começar a respondê-las. Passo 2 Complete as questões para revisão. Unidade III: Passo 1 Leia o projeto final. Passo 2 Realize o projeto final.

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Recursos Opcionais

Todos os nossos manuais são autodidáticos, dispensando a obrigatoriedade de obter qualquer outro recurso externo além de um exemplar da Bíblia. No entanto, para o seu próprio enriquecimento educacional, nós sugerimos o uso dos seguintes recursos opcionais para esta disciplina:

Bíblia de Estudo NVI (Editora Vida)

Bíblia On-line 3.0 – Módulo Avançado (Sociedade Bíblica do Brasil)

Dicionário Vine (CPAD)

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HERMENÊUTICA & EXEGESE

INTRODUZINDO A DISCIPLINA

Hoje, talvez mais do que em todas as outras épocas da era cristã, nós temos a necessidade vital de interpretar corretamente as Escrituras. Esta necessidade se origina:

Do perigo das doutrinas de demônios (1 Timóteo 4.1-6), que se propagam não somente através das tradicionais seitas heréticas, mas também se infiltram em igrejas cristãs por toda parte;

Do perigo da má interpretação (Mateus 22.23-33), que é resultado de um conhecimento vago de Deus e da Palavra;

Da necessidade de fidelidade (2 Timóteo 1.13; 2.2; Sl 119.4,30) a Deus e Sua Palavra. Infelizmente, muitas igrejas e líderes não dão o devido valor aos princípios de interpretação da Palavra e, consequentemente, se perdem em doutrinas e opiniões humanas, falsas interpretações e concepções equivocadas daquilo que está escrito na Bíblia. Para evitarmos estes e outros erros tão prejudiciais para o corpo de Cristo, nós precisamos adquirir alguns meios pelos quais poderemos conhecer, compreender e aplicar corretamente as Escrituras Sagradas, o que faremos a seguir. Antes, porém, gostaríamos de sugerir algumas observações importantes para que você possa usufruir plenamente dos princípios aqui apresentados:

Embora possuir uma boa versão da Bíblia seja imprescindível para interpretar as Escrituras, há outros recursos que também são importantes, tais como: uma Concordância ou Chave Bíblica e um Dicionário Bíblico. Se você puder adquirir, pelo menos uma chave bíblica, isto já’ será de grande utilidade para seu estudo e interpretação da Bíblia.

Para aproveitar plenamente este material, você deverá se esforçar em praticar o que estiver aprendendo. Por exemplo: você aprenderá que deve usar algumas perguntas básicas para interpretar a Bíblia. Assim, quando estudar esta parte, você deverá escolher um texto bíblico, pegar uma folha de papel, e usar neste texto bíblico as perguntas que você aprendeu, escrevendo todas as respostas no papel. Outro exemplo: você aprenderá vários princípios de interpretação, como por exemplo, o princípio da correlação, que consiste em encontrar outros textos bíblicos que de alguma forma estejam relacionados com o texto básico que você está estudando. Ao aprender este princípio, você deverá praticá-lo, e só depois prosseguir.

Seguindo estas simples orientações você maximizará seu aprendizado e, consequentemente, se tornará o estudante da Bíblia mais aplicado e com um índice bem maior de aproveitamento.

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OBJETIVOS DO DISCIPLINA Ao concluir esta disciplina você será capaz de:

Conceituar e definir hermenêutica e exegese.

Identificar a importância dos princípios gerais de interpretação da Bíblia (hermenêutica).

Explicar os fatores que nos conduzem a uma acurada interpretação da Bíblia.

Conhecer os tipos de interpretação da Bíblia.

Saber quais são os melhores tipos de interpretação.

Interpretar as passagens bíblicas que usam figuras de linguagem.

Interpretar profecias bíblicas.

Usar os princípios específicos e direitos de interpretação da Bíblia.

Conceituar a interpretação intra-escriturística.

Interpretar o AT como a Bíblia o faz.

Interpretar o NT como a Bíblia o faz.

Realizar uma pesquisa interpretativa.

Aplicar a Palavra de Deus.

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Unidade I

PRÉ-TAREFAS

Leia e estude 1 Timóteo 4.13-16. Elabore 5 perguntas tomando como base o texto acima. Concentre-se na importância da correta interpretação da Bíblia em nossas vidas e ministérios. Considere que estas perguntas poderiam ser usadas num grupo de discussão.

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Unidade I

ESTUDO PRINCIPAL I – CONCEITO E DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA E EXEGESE

Hermenêutica é a ciência ou arte que estuda os princípios de interpretação. No sentido “religioso”, é a arte que estudo os princípios de interpretação da Bíblia. O Dicionário Aurélio define hermenêutica como “a interpretação do sentido das palavras”, ou seja, a hermenêutica é a arte que nos ensina a interpretar o que as palavras bíblicas nos dizem. A definição de interpretação, portanto, é muito importante. O que é interpretar? De acordo o Aurélio, é “explicação, tradução, esclarecimento”. Porém, há alguns detalhes importantíssimos que precisam acrescentar quando tratamos da interpretação bíblica. Quando estudamos, por exemplo, o uso de certas palavras bíblicas em seus idiomas originais, nós ganhamos uma maior compreensão do que é a hermenêutica. A palavra em si mesma vem do grego hermeneo e aparece em Hebreus 7.2, sendo traduzida como “interpreta” na versão Atualizada e “significa” na NVI. De fato, a palavra era usada no sentido de explicar o significado das palavras numa linguagem diferente. Outras palavras associadas a hermeneo, porém, nos dão uma compreensão maior:

diermeneuo (Atos 9.36, “traduzido” - RA) – significa “explicar completamente, traduzir, expor”.

methermeneuo (Atos 13.8, “interpreta” – RA) – significa “explicar sobre, traduzir”.

epilusis (2 Pedro 1.20, “elucidação” – RA) – significa “explanação, aplicação, providenciar uma solução”.

Todas estas palavras nos ajudam a compreender o amplo conceito de hermenêutica, que é a arte que nos ensina através de princípios e métodos como explicar completamente os significado de um texto bíblico, expondo-o claramente em palavras de fácil compreensão.

E o que é exegese? O Dicionário Aurélio define exegese como “um comentário para esclarecimento ou interpretação minuciosa de um texto ou de uma palavra”. Exegese, portanto, é maneira usada para interpretar os textos bíblicos. É a investigação de uma passagem para descobrir o seu verdadeiro significado. Com tais conceitos e definições em mente, nós iremos prosseguir estudando os princípios gerais da hermenêutica.

II - PRINCÍPIOS GERAIS DA HERMENÊUTICA

Alguns princípios gerais devem ser plenamente absorvidos pelo estudante da Palavra de Deus antes dele aprender os princípios avançados e específicos que nos possibilitam um entendimento mais profundo das Escrituras.

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A – PRIMEIRO PRINCÍPIO: A INTEPRETAÇÃO CORRETA DA BÍBLIA SÓ É POSSÍVEL QUANDO ATENDEMOS ÀS EXIGÊNCIAS DE DEUS.

É possível compreendermos corretamente a Palavra de Deus? Será que podemos entender corretamente as Escrituras, apesar de existirem tantas interpretações diferentes, interpretações estas sustentadas por crentes que parecem estar convictos de suas crenças? Afinal de contas, se todos os teólogos e estudiosos da Bíblia não chegam a uma mesma interpretação sobre diversos assuntos bíblicos, como nós, singelos e humildes líderes e ministros da Palavra, poderemos obter a correta interpretação das Escrituras? Nós cremos que é plenamente possível chegar a um entendimento correto da Bíblia e que este entendimento está à disposição de todo e qualquer cristão nascido de novo. Primeiro, porque é a vontade de Deus que cheguemos ao pleno conhecimento da verdade (1 Timóteo 2.4). Se esta é a vontade de Deus, então certamente nós podemos satisfazê-lo, pois sempre que Deus revela a Sua vontade, Ele igualmente fornece os meios necessários para que a realizemos. Em segundo lugar, o Espírito Santo nos foi dado para que sejamos guiados a toda a verdade (João 16.13) e recebamos tudo aquilo que Deus nos concedeu gratuitamente no Amado (1 Coríntios 2.10-12; Efésios 1.6). Entretanto, se é possível encontrarmos o verdadeiro significado dos textos bíblicos e qualquer um dos filhos de Deus pode obter este conhecimento, como nós podemos obter esta verdadeira e correta interpretação Escrituras? Nós precisamos entender que a verdadeira compreensão das Escrituras vem através de cinco fatores essenciais:

1º Fator: Disposição para obedecer a tudo quanto está escrito na Palavra (Js 1.7-8; Sl 119.30,33-39; Jo 7.17). Deus revela a verdade somente àqueles que estão dispostos a obedecer. Deus não vai revelar a verdade àqueles que apenas estão curiosos em conhecê-la. O Senhor procura pessoas que façam a Sua vontade. Se você estiver disposto a fazer a vontade de Deus, não importa quão difícil isto seja, pode ter certeza de que o Senhor lhe ensinará a Sua verdade, a Sua Palavra. 2º Fator: Meditar profundamente na Palavra (Js 1.8; Sl 1.2; 119.15). Embora a disposição para obedecer seja vital, ela não é suficiente. É preciso meditar profundamente na Palavra de Deus para podermos compreender a mente de Deus acerca de todas as coisas que Ele revelou na Bíblia. Meditar envolve pensar, ponderar, analisar detidamente um determinado assunto, até que se tenha uma compreensão, um conhecimento profundo acerca do mesmo. Isto exige tempo, perseverança e dedicação árdua. 3º Fator: Oração por iluminação (Sl 119.18,130; Efésios 1.17-19). Além da disposição de obedecer e da meditação na Palavra, nós precisamos orar para que Deus nos dê o Espírito de revelação e iluminação. Nós não podemos entender a Bíblia com nossas mentes naturais. Quando nós dependemos apenas de nossas faculdades intelectuais para compreender a Bíblia, nós saímos de uma posição de equilíbrio e vamos a um extremo perigoso que resulta em erro em nossa forma de crer, pensar, falar e fazer. Precisamos depender de Deus para compreendermos as Escrituras. Por isso, é necessário rogar a Deus que o Espírito venha nos revelar os Seus ensinamentos e iluminar a nossa mente para compreendermos o que está registrado na Bíblia. No entanto, quando vamos ao extremo e achamos que não precisamos usar o intelecto humano, nós também entramos em grande perigo. Assim, precisamos compreender que há uma interação entre a iluminação do Espírito e a hermenêutica, sendo que esta última providencia “trilhos” para que a iluminação do Espírito chegue a até nós.

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4º Fator: Dependência da iluminação do Espírito Santo - o Único que pode realmente compreender plenamente os pensamentos de Deus e os revelar a nós (1 Co 2.10-13). Sem o Espírito Santo é impossível compreendermos corretamente as Escrituras. Lembre-se que o Espírito Santo é uma pessoa com sentimentos e emoções. Nós não podemos usá-lo como se Ele fosse uma “coisa”. Quando nós queremos que alguém nos revele seus segredos, o que fazemos? Aproximamo-nos dele, passamos a ter um relacionamento íntimo com ele e aí, então, nós podemos conhecer os seus pensamentos íntimos. Devemos proceder da mesma forma em relação às Escrituras. Devemos nos aproximar do Espírito, ter comunhão com Ele, obedecer à Sua voz e aí, então, Ele nos revelará os segredos da Palavra de Deus. 5º Fator: Conferir coisas espirituais com espirituais (1 Co 2.13), ou seja, conferir coisas espirituais por meios espirituais. Embora alguns entendam que o texto deveria ser traduzido “conferindo coisas espirituais com aqueles que são espirituais”, nós concordamos com a tradução de Darby, que traduz: “comunicando [coisas] espirituais com [meios] espirituais”. Nós entendemos que o conhecimento bíblico e a sua exata interpretação não são obtidos meramente segundo os recursos intelectuais de uma pessoa. A sabedoria humana não cogita das coisas de Deus. Não podemos interpretar a verdade da Palavra segundo os pensamentos deste mundo. Verdades espirituais devem ser julgadas e provadas segundo o Espírito. É pela Palavra de Deus que conferimos as coisas espirituais, embora possamos consultar também aos irmãos que são espirituais. No entanto, nós mesmos precisamos de vida espiritual, pois aqueles que se inclinam a e dependem da carne, não podem, jamais, compreender as Escrituras. A palavra “conferindo” é traduzida também como “expondo, interpretando”, mas o significado literal é “misturando” (colocando junto). Quando interpretarmos a Bíblia, devemos colocar textos bíblicos ao lado de textos bíblicos para acharmos o significado de uma passagem. Por exemplo, tome Mateus 10.38-39 e 16.24-25, que fala sobre tomar a cruz e perder a vida. O que isto significa? Se você misturar esses textos com Gálatas 6.14 e Filipenses 2.8, você terá a resposta. Levar a cruz e perder a vida é ser obediente a tal ponto que o mundo não exerce mais poder sobre você e que você está disposto a obedecer a Deus até diante da morte.

B – SEGUNDO PRINCÍPIO: NÓS DEVEMOS RECONHECER QUE A MEDIDA DO NOSSO ENTENDIMENTO É SEMPRE PROGRESSIVA.

Isto significa que dia após dia nós estamos crescendo em nossa compreensão das verdades de Deus. É claro que ninguém sabe tudo ou já desvendou todos os segredos de Deus. Mas aqueles que seguem os princípios expostos neste estudo, certamente, são irmãos que estão crescendo cada vez mais na compreensão da Palavra de Deus. Quanto mais maduros somos no nosso caminhar com Deus, mais profundamente desejamos conhecer e entender a Palavra de Deus. E quanto mais buscarmos entender a vontade de Deus revelada na Bíblia, tanto mais o Senhor graciosamente nos concede mais entendimento espiritual de Sua Palavra. Mas, nem todos possuem o mesmo nível de conhecimento bíblico e de entendimento das coisas espirituais. Por isso, devemos andar de acordo com a compreensão que temos no sempre hoje, não criando controvérsias de interpretação por causa de nossa imaturidade em compreender as coisas mais profundas da Palavra. Isto é o que nos ensina Filipenses 3.15-16. Os assuntos que ainda não são bem compreendidos devem sempre ser revisados, na dependência do Espírito Santo, aguardando o entendimento que vem do Senhor (Fp 3.15). Se nós temos um coração puro, e somos sábios e humildes para aprender como interpretar corretamente as Escrituras, o Senhor nos honrará com mais porções de

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entendimento espiritual e nós cresceremos até o ponto de chegarmos ao pleno conhecimento de Sua vontade.

C – TERCEIRO PRINCÍPIO: PRECISAMOS IR ALÉM DA LETRA DA PALAVRA E OLHAR COM VISÃO DE LONGO ALCANCE PARA VER O SIGNIFICADO REAL DE UMA PASSAGEM.

Vejamos, por exemplo, Mateus 22.31-32. Cristo viu muita coisa nesta passagem, muita coisa que poderia passar despercebida em seu real significado, por muito tempo, se Ele não a tivesse revelado a nós. As palavras em si mesmas apontavam para uma verdade menor, sem relação aparente com o assunto em foco. Nem mesmo as palavras que Jesus usou estavam diretamente vinculadas com a explicação que Ele deu. Contudo, Ele revelou o que a passagem realmente dizia, o seu significado verdadeiro, mais além da forma escrita. Os saduceus estavam questionando-o acerca da ressurreição. Jesus usou uma passagem do AT que, segundo Ele mesmo, explicava a questão da ressurreição. Ora, este texto, Mateus 22.32, foi citado de Êxodo 3.6 quando Deus falou para Moisés quem Ele era. Deus disse para Moisés que Ele era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Na ocasião, Abraão, Isaque e Jacó já haviam morrido há muito tempo. No entanto, Deus diz que Ele era, presentemente, o Deus deles. Em nenhum dos textos usados por Jesus aparece a palavra “ressurreição”, mas ambos os textos mostram que Deus é o Deus de vivos e não de mortos, de modo que aqueles que morreram fisicamente estão apenas aguardando o dia em que serão ressuscitados (viverão fisicamente). Eles estão vivos, em espírito, aguardando o dia em que seus corpos, transformados, serão unidos aos seus espíritos eternos. Com a Sua explicação sobre a ressurreição, Jesus nos ensinou alguns princípios importantíssimos referentes à interpretação das Escrituras. Ele ensinou que nós precisamos conhecer tanto a Deus quanto a Sua Palavra para que possamos interpretar as Escrituras corretamente. A "letra" das Escrituras pode não mostrar-nos claramente o significado de uma passagem bíblica e pode até mesmo "matar" a compreensão ou uma aplicação mais profunda e verdadeira do texto. "Conhecer as Escrituras" (Mt 22.29) é, portanto, vital. O que significa, porém, conhecer as Escrituras? Significa compreender, enxergar além das palavras registradas, impressas no papel. É mergulhar nas profundezas das declarações e unir-se ao Espírito no discernimento dos pensamentos de Deus (1 Co 2.10-13). "Conhecer o poder de Deus" tem a ver com o conhecimento da Pessoa de Deus - Seus atributos, poder, caminhos (métodos), pensamentos e etc. E isto somente se consegue pela comunhão íntima, constante e em submissão total. Na medida em que conhecermos melhor a Deus e a Sua Palavra, nós interpretaremos corretamente as Escrituras. Mas, se divorciamos um princípio do outro, nós estaremos fadados a cair em os mesmos erros de interpretação nos quais os saduceus caíram.

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D – QUARTO PRINCÍPIO: DEVEMOS VER UM ASSUNTO POR INTEIRO ANTES DE CHEGARMOS A UMA CONCLUSÃO DEFINITIVA.

Muitas vezes nós chegamos rápido demais a uma conclusão sobre determinado texto bíblico em estudo. Para podermos chegar a uma conclusão sólida, verdadeira, comprovada pelo restante das Escrituras, nós precisamos estudar o assunto por inteiro, do começo ao fim da Bíblia, exaustivamente consultando todas as referências bíblicas sobre o assunto. Precisamos investigar todo o contexto Escriturístico naquela linha de pensamento que se está pesquisando. Ver, por exemplo, Mateus 2.23. Mateus diz que o fato de Jesus ter ido morar em Nazaré era para se cumprir o que o Profeta dissera: "Ele será chamado nazareno". Mas, se você ler todo o AT, você descobrirá que nenhum dos profetas bíblicos escreveu isto. Olhando superficialmente, você poderá pensar que ouve um erro na Palavra de Deus. Note, porém, que Mateus não disse que isto estava escrito, mas sim que havia sido falado pelos profetas. Porém, se nós desejarmos encontrar provas escritas a respeito deste assunto, nós poderemos encontrar alguma coisa, se pudermos seguir o assunto inteiramente. Mas não encontraremos, porém, do modo como esperamos, olhando superficialmente. Leia Isaías 4.2; 11.1; 58.2; Jeremias 23.5; Zacarias 6.12. Preste atenção nestas profecias a respeito do "Renovo" (ou Rebento). A palavra hebraica netzer (renovo) tem uma raiz semelhante a equivalente grega para nazareno. Assim, incorporando a revelação do Espírito à passagem mencionada, sem nos preocuparmos se havia um texto ou não trazendo as mesmas palavras que foram usadas em Mateus 2.23, nós podemos compreender o que fora dito pelos profetas e que está registrado no Novo Testamento. Deste modo, compreendemos que as palavras podem não ser as mesmas, mas o sentido é o mesmo. Por isso é que devemos checar toda a Bíblia antes de formular uma conclusão definitiva.

E – QUINTO PRINCÍPIO: UMA PASSAGEM QUE CONTÉM EM SI MESMA A AUTORIDADE DA VERDADE, COMO PRINCÍPIO, PODE SER APLICADA LIVREMENTE, ATÉ MESMO FORA DO SEU CONTEXTO IMEDIATO, MAS SEMPRE DENTRO DOS LIMITES DA VERDADE COMO ESTÁ SENDO DECLARADA.

Por exemplo, 1 Timóteo 5.17-18. Paulo usou um texto do AT, aparentemente sem nenhuma conexão com os líderes da Igreja, para ensinar sobre a responsabilidade dos pastores serem supridos financeiramente. “Não amordaces o boi, quando pisa o trigo”. Esta era uma lei para os agricultores judeus. Eles não deveriam impedir que o boi comesse dos grãos debulhados quando ele estivesse fazendo o trabalho para eles. Este é o significado e aplicação original desta passagem, que é uma citação de Deuteronômio 17.6. No entanto, Paulo usou-a em um novo contexto e trouxe um claro ensinamento sobre a responsabilidade de sustentarmos os nossos líderes de tempo integral, sem fugir, porém, do significado intrínseco da passagem, que é a de recompensar aqueles que trabalham, seja o boi ou outros tipos de trabalhadores. O Senhor Jesus Cristo e os apóstolos aplicavam muitas passagens das Escrituras livremente, quando estas poderiam ser usadas para ilustrar, comparar, confirmar, desafiar, defender ou autorizar seus ensinamentos. Muitas passagens eram aplicadas às necessidades circunstanciais que exigiam respostas, defesas e direção, bem como para ampliar ou gerar novos princípios divinos, como em Mateus 5 a 7. Ali Jesus amplia o significado de algumas leis do AT e gera novos princípios divinos para o Seu povo na Nova Aliança. O adultério, por exemplo, só existia quando havia o contato físico entre um homem e mulher, mas Jesus ampliou o significado do adultério ao mostrar que se um homem tiver uma intenção impura para com uma mulher, em seu coração (mente, vontade e sentimentos), ele já adulterou.

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F – SEXTO PRINCÍPIO: NÃO PODEMOS ULTRAPASSAR O QUE ESTÁ ESCRITO.

Este princípio funciona como uma proteção para o princípio anterior. Paulo mencionou este princípio em 1 Coríntios 4.6, referindo-se a si mesmo e a Apolo. No entanto, este princípio atesta que, mesmo quando podemos usar os princípios bíblicos livremente, sem sair do contexto principal, não podemos dizer o que a Bíblia não diz, ou seja, não podemos fazer suposições e afirmações às quais a Bíblia não dá qualquer respaldo. E não podemos, de forma alguma, ensinar estas coisas como se eles possuíssem alguma autoridade bíblica.

II - TIPOS DE INTERPRETAÇÃO

Há diversos tipos ou métodos de interpretação bíblica. Mas nós iremos considerar apenas cinco tipos de interpretação, que são os mais usados no meio cristão evangélico. A nosso ver, nem todos estes tipos de interpretação são válidos ou possuem respaldo bíblico. Contudo, alguns são mais perigosos que outros, especialmente quando extrapolam vergonhosamente os limites dos princípios gerais e específicos de interpretação apresentados nesta disciplina. Veremos a seguir os cinco principais tipos de interpretação bíblica, mas lembrando que nós só usamos e aprovamos completamente três deles: a interpretação gramatical, a interpretação tipológica e a interpretação gramatical.

A – INTERPRETAÇÃO ETIMOLÓGICA OU GRAMATICAL

É a interpretação gramatical do texto, das palavras empregadas no texto bíblico. Como exemplo, estudemos a palavra "igreja". Nós tentaremos encontrar algumas coisas fundamentais sobre esta palavra, tais como:

1. O Significado Original da Palavra. Sempre que possível, é muito importante para a correta interpretação dos termos bíblicos que se encontre o significado original da Palavra. Neste caso, se você não lê em grego, é essencial ter um bom dicionário do Novo Testamento grego, ou uma boa Bíblia de estudos que dê o significado original pelo menos das palavras mais usadas na Bíblia. O significado original de uma palavra pode ajudar bastante na compreensão do seu uso bíblico. Por exemplo, o sentido literal da palavra grega usada no NT para “igreja” (ekkesia) significa “uma assembleia convocada à parte” ou “separada para um fim”. Uma simples tradução seria: “os chamados para fora”. Este conhecimento, com certeza, nos ajudará a interpretar corretamente o uso da palavra “igreja” na Bíblia.

2. O Significado Corrente da Palavra.

Como a palavra que você está estudando era empregada na época em que foi escrita? Como nós a usamos hoje em dia? A palavra ekklesia, por exemplo, que é traduzida em nossas Bíblias como “igreja”, não era usada na época do Novo Testamento exclusivamente para a igreja cristã, para os crentes, mas sim para qualquer tipo de ajuntamento. Algumas outras palavras que foram traduzidas a partir de ekklesia em nossas Bíblias são “congregação” (Atos 7.39, referindo-se a Israel), “assembleia” e “ajuntamento” (Atos 19.39,40 - usadas para descrever um grupo de pessoas do mundo). Na época de hoje, a palavra é usada de muitas formas diferentes: para identificar um grupo de cristãos numa localidade, um prédio usado para fins religiosos, religiões

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(Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa), denominações e até mesmo algumas atividades cristãs.

3. O significado nas Escrituras.

Apesar de o significado corrente ser importante, especialmente para comparar com o significado bíblico da palavra, é neste último que nós realmente encontramos o significado do uso original da palavra estudada. Qual o significado bíblico da palavra “igreja”? Como ela foi utilizada pelos escritores sacros? Embora a palavra “igreja” seja usada de muitas maneiras, quando a Bíblia fala da “igreja”, ela não está se referindo a qualquer religião ou denominação cristã. A Bíblia usa a palavra “igreja” ou “igrejas” para descrever: (a) todos os que são verdadeiramente salvos em toda a terra – “o corpo de Cristo”; (b) os cristãos que se reúnem numa certa área geográfica – por exemplo, “as igrejas da Galácia”; (c) o povo de Deus que existe numa determinada cidade – por exemplo, “a igreja de Jerusalém” e (d) os cristãos que se reúnem num local específico dentro de uma cidade ou povoado – “a igreja que está na casa”.

Quando uma palavra surge, principalmente no Novo Testamento, nós precisamos descobrir como foi que o Espírito Santo usou aquela palavra, pois assim poderemos determinar o seu verdadeiro significado. É muito importante se temos uma concordância e/ou um dicionário grego-português e vice-versa, pois muitas vezes o grego utiliza palavras diferentes com significados diferentes, mas em português usa-se a mesma palavra. Por exemplo, a palavra “amor”. O grego utiliza quatro palavras diferentes, uma delas relacionada com o corpo e a carne, e outra que nunca aparece na Bíblia. O Novo Testamento só utiliza duas destas palavras gregas: Ágape e Fileo. Fileo é o amor da amizade, e Ágape é um amor de princípios, sacrifical. Quando sabemos qual é a palavra que aparece no original grego, nós podemos determinar, em cada versículo onde aparece a palavra “amor”, qual é o seu verdadeiro significado ali. Ter uma boa Bíblia de estudo pode ajudar grandemente àqueles que não possuem outras fontes para pesquisar o significado original das palavras bíblicas. Algumas destas Bíblias são: Bíblia de Estudo NVI, Bíblia Anotada, Bíblia Anotada por Scofield, Bíblia de Estudo Pentecostal, Bíblia Vida Nova e A Bíblia Almeida. Para quem lê em inglês, o Dicionário Expositivos de Vine é uma obrigação, bem como o de Strong.

Muitos estudantes da Bíblia e, inclusive pregadores, desprezam a interpretação gramatical das Escrituras. Porém, este é um dos meios mais confiáveis e eficazes para se obter o verdadeiro significado de qualquer passagem bíblica. Muitos erros têm sido cometidos na interpretação da Bíblia por causa da ignorância quanto ao significado original das palavras bíblicas. Precisamos lembrar sempre, que os originais bíblicos, ou seja, o Antigo Testamento escrito em Hebraico e o Novo Testamento escrito em grego, não possuem erros. Mas há alguns erros de menor importância nas traduções da Bíblia para os outros idiomas, como o português, por exemplo. No entanto, há recursos didáticos e teológicos para suprirmos esta dificuldade, além de podermos também contar com a ajuda do Espírito para compreender a intenção original dele em usar uma determinada palavra.

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4. Tome A Linguagem Figurada Em Sentido Figurado

Muito da Bíblia está escrito em linguagem figurativa. Ela explica coisas novas e desconhecidas por compará-las com coisas que são bem conhecidas. A mais perfeita ilustração disto é o fato de Deus ter-se tornado homem para que o homem conheça ao Deus verdadeiro. O Senhor Jesus expressou em figura humana o que é eterno, espiritual e divino. Enquanto tomamos a linguagem figurativa de um modo figurativo, devemos ter cuidado para não darmos interpretações figurativas para aquilo que é claro e literal. Acima de tudo, não podemos contradizer a verdade doutrinária ou moral dos fundamentos das passagens que são difíceis de interpretar. Algumas formas principais da linguagem figurativa com exemplos bíblicos estão a seguir:

Comparações (metáforas): "A praça da cidade é de ouro puro, como vidro transparente", Apocalipse 21.21. "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem", Salmo 103.13. Você pode notar facilmente uma comparação pelo uso das palavras ou expressões “como”, “assim como”, “da mesma maneira”, e etc.

Palavras Figuradas: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Efésios 2.19-20). Todas as palavras sublinhadas são palavras figuradas usadas para que nossa mente possa relacionar rapidamente a verdade bíblica ao que já conhecemos naturalmente.

Personificação: "Foram, certa vez, as árvores ungir para si um rei e disseram à oliveira: Reina sobre nós" (Juízes 9:8). Desde quando as árvores pensam, decidem, falam ou possuem rei? É óbvio que a passagem bíblica está personificando coisas impessoais para ilustrar verdades morais e/ou espirituais. Desta forma, a mensagem se torna mais viva e assimilável.

Parábolas (estórias naturais que ilustram verdades morais/espirituais): O Senhor Jesus frequentemente usava as parábolas, como as seguintes: "Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram... A todos os que ouvem a Palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho" (Mt 13.3,4, 19).

Tipo Ou Símbolo: Isto se refere à apresentação de uma verdade através do uso de objetos ou eventos que representam aquela verdade. Por exemplo, em Êxodo 12 no Antigo Testamento, os cordeiros pascais que foram mortos no lugar dos primogênitos na terra do Egito tipificam e apontam para o Senhor Jesus. No Novo Testamento, 1 Coríntios 5.7 diz: "Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado". E, João 1.29 se refere a Jesus como "O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!".

Eis algumas regras simples para interpretar a linguagem figurativa da Bíblia:

Reconheça claramente a linguagem figurativa e lide com ela de acordo com o que ela é. Por exemplo, a Bíblia fala do "diabo... que ruge como um leão" (1 Pedro 5.8). E o Senhor Jesus se refere ao pão da última ceia com estas palavras: "Este é o meu corpo" (1 Coríntios 11.24). Nenhuma das duas descrições deve ser tomada literalmente.

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Compreenda que a linguagem pode requerer estudo especial para entender o que está simbolizado. O livro de Apocalipse é o melhor exemplo disso. Sempre interprete a linguagem figurativa na luz do seu contexto e em harmonia com o ensino geral das Escrituras e não de maneira isolada. Por exemplo, em Apocalipse 16.15 nós temos uma recomendação implícita para vigiarmos e guardarmos nossas vestes e não andar nu. Isto não pode ser interpretado literalmente. Precisamos compreender que aqui se faz uso de linguagem figurada. Então, precisamos buscar, em outras passagens bíblicas, qual é o significado real de “guardar as vestes”, “vestes” e “andar nu”.

Nunca faça de uma interpretação figurativa a base principal de uma doutrina ou artigo de fé. Por natureza, uma figura é adicional e ilustrativa, não básica. A verdade a qual ela representa deve existir em outro lugar na Escritura independentemente da ilustração.

Concentre-se no ponto central ou verdade principal ilustrada pela linguagem figurativa. Não seja confundido por detalhes incongruentes. Por exemplo, na parábola do administrador injusto em Lucas 16, pode parecer como se o Senhor fosse desonesto. Claro que Ele não é! Ele está simplesmente mostrando a ideia de que nós devemos usar recursos atuais com vistas ao futuro. Então, não pense que toda ilustração tem uma interpretação para cada detalhe. Concentre-se na lição ou verdade centrais e não nos detalhes periféricos.

Evite interpretações fantasiosas as quais divertem ao invés de edificar. Toda interpretação da linguagem figurativa deve claramente ilustrar uma verdade da Bíblia. Não dê um significado à linguagem figurativa se ela não tiver uma verdade ou princípio bíblico claro que corresponda a ela.

B – INTERPRETAÇÃO TIPOLÓGICA (DE TIPOS E SOMBRAS)

A interpretação tipológica é aquela interpretação que fazemos de uma "figura" bíblica, especialmente do Antigo Testamento, e que aplicamos a uma determinada situação do Novo Testamento ou Contemporânea. A palavra grega de onde se origina nossa palavra “tipo” (tupos, gr.) aparece algumas vezes no Novo Testamento, traduzidas de várias maneiras diferentes: sinal (João 20.25), figura (Atos 7.43; Romanos 5.14; Hebreus 8.5), forma (Romanos 6.17), modelo (Atos 7.44), termos (Atos 23.25), padrão (Tito 2.7), modelo (Hebreus 8.5), exemplo (1 Coríntios 10.11; 2 Tessalonicenses 3.9). Um tipo é uma ilustração divinamente proposta no Antigo Testamento sobre alguma verdade que seria descortinada no Novo Testamento. Os tipos estão espalhados por todo o Antigo Testamento. O cumprimento de um tipo chama-se "Antítipo". Se, por exemplo, tomarmos o Tabernáculo como uma ilustração, o modelo que Moisés viu no monte foi o “tipo”, e o Tabernáculo em si mesmo foi o ”antítipo”. E se tomarmos o próprio Tabernáculo como o “tipo”, os crentes (que formam a Casa de Deus) são o “antítipo”, sendo Cristo o “Filho sobre a Sua própria casa, cuja casa somos nós” (Hebreus 3.6). Muitas coisas no Antigo Testamento são típicas de coisas no Novo Testamento, como podemos ver em 1 Coríntios 10.11. No entanto, precisamos do ensino do Espírito Santo neste assunto e dos limites estabelecidos pelos princípios da hermenêutica ou será perigoso adotarmos conexões entre coisas que não possuem nenhuma relação verdadeira.

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Uns poucos exemplos de tipos são colocados mais abaixo. O Estudante bíblico encontrará grande proveito em estudar, na dependência do Espírito Santo, os numerosos tipos do Antigo Testamento com seus antítipos no Novo Testamento, que podem ser encontrados em (1) pessoas, (2) lugares, (3) coisas e (4) eventos. Exemplos de tipos: Adão como o primeiro homem, sob quem todas as coisas criadas na terra foram colocadas, é um tipo de Cristo, o último Adão, que é a cabeça de todas as coisas, o segundo homem (Gn 1.28; Rm 5.14; Hb 2.7). Eva, como tendo sido “edificada” de uma costela de Adão, e declarada ser ossos dos seus ossos e carne de sua carne, é um tipo da Igreja, composta por aqueles que estando em Cristo são membros do Seu corpo (de Sua carne e ossos) - Gn 2.22,23; Ef 4.16, 30; 5.22-32. Caim, que ignorou a queda do homem e se aproximou de Deus por oferecer uma oferta do fruto da terra que Ele tinha amaldiçoado e que, posteriormente, matou seu irmão, tornou-se um tipo do mal do homem natural que oferece ao Deus santo aquilo que Ele não pode aceitar, e de Sua rejeição de Cristo (Gn 4.3; Atos 17.23,25; Hb 11.4; 1 João 3.12). Isaque, oferecido e recebido como da morte - tipo de Cristo como crucificado e ressuscitado (Gn 12.1-18; Hb 11.17-19; Rm 4.25; Gl 3.15,16). Enoque, que foi trasladado antes do dilúvio, é um tipo do crente arrebatado antes da tribulação (Gn 5.23,24; 1 Ts 1.10; 4.13-18). Outros “tipos” podem ser encontrados em: Melquisedeque (tipo do sacerdócio de Cristo), José (tipo de Cristo em sua humilhação e exaltação, vendido pelos Seus irmãos, os judeus), Moisés (tipo de Cristo como profeta e libertador), Arão (tipo de Cristo como sumo sacerdote), Josué (tipo de Cristo como Capitão da Salvação), Boaz (tipo de Cristo como o parente remidor), Davi (tipo de Cristo como Rei Guerreiro), Salomão (tipo de Cristo como Príncipe da Paz), Zorobabel (tipo de Cristo como Restaurador), Hagar (tipo do Israel terreno, escravo da lei), Sara (tipo do Israel espiritual), Monte Sinai (tipo da lei), Monte Sião (tipo da Graça), Jerusalém (tipo da Igreja), o Egito (como tipo do mundo), Babilônia (tipo do império papal, Babilônia - a Grande Meretriz), O Maná (tipo de Cristo, o pão da vida), A Serpente de Bronze (tipo de Cristo crucificado), e etc. OBSERVAÇÕES:

O Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) pode ser interpretado quase totalmente em tipologia. De Gênesis a Deuteronômio quase todas as personagens, lugares, objetos e cerimônias podem ser interpretados tipologicamente.

Uma maneira fácil de usar comparativamente o Antigo Testamento é fazendo aplicações a Cristo e à Igreja. A maioria das personagens do Antigo Testamento pode ser comparada a Cristo. Tudo o que se refere a Israel pode ser usado em relação a Igreja, mas apenas como comparação, analogia, e não literalmente.

Devemos ter o cuidado para não forçarmos um significado que não existe nas Escrituras. Um tipo do Antigo Testamento exige um Antítipo no Novo Testamento. Se não pudermos encontrar um Antítipo para o que pensamos ser um Tipo, então devemos usar apenas como "comparação".

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C – INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA

A interpretação histórica, quando corretamente entendida e usada, pode ser uma poderosa ferramenta de interpretação bíblica. A interpretação histórica é aquela que interpreta os relatos, experiências e ensinos bíblicos dentro do contexto histórico onde tais coisas estão inseridas. “Qual era o contexto natural da experiência? Como isto era visto pela sociedade? Havia um paralelo com a cultura local? A razão para sua existência entre cultural, espiritual ou natural?” – são algumas das perguntas que a interpretação histórica procura responder. Por exemplo, é necessário compreender o contexto histórico de 1 Coríntios 11 para compreendermos corretamente o que Paulo estava ensinando sobre o “véu” e sobre as pessoas ficarem “embriagadas” ou “com fome” na Ceia do Senhor. Diversas outras passagens bíblicas só podem ser corretamente compreendidas se interpretadas historicamente. Uma advertência, porém, é necessária aqui. A interpretação histórica não pode sobrepor-se à autoridade apostólica das doutrinas neotestamentárias, ou seja, existem certos preceitos, mandamentos ou princípios do Novo Testamento que, mesmo quando se faz necessário uma interpretação histórica para uma melhor compreensão dos mesmos, não podemos isolá-los como fato histórico sem real necessidade de praticá-los nos dias atuais. Por exemplo, a ceia e o partir do pão, ou festa ágape, que era realmente uma ceia, uma refeição, nos tempos da Igreja Primitiva. Precisamos da interpretação histórica para compreender corretamente os ensinamentos relacionados a este tema, mas não podemos deixar de praticá-lo somente porque eles estavam inseridos num contexto histórico peculiar. Neste e em outros casos, precisamos bem mais do que a mera interpretação histórica para compreendermos e praticarmos o que é biblicamente histórico e também um princípio bíblico que deve ser praticado com naturalidade.

D – INTERPRETAÇÃO LÓGICA

É a interpretação que se atém ao “espírito” do que é dito, ou seja, a essência da coisa, ao significado real e geral do que se diz. Por exemplo, “Deus é amor”. Como o amor não é invejoso e Deus é amor, nós interpretamos logicamente que Deus não é invejoso, sem nos preocuparmos em considerar que Deus é um ser pessoal e não uma mera emoção.

E – INTERPRETAÇÃO ALEGÓRICA

A interpretação alegórica difere da interpretação tipológica em que a primeira “espiritualiza” tudo o que encontra nas Escrituras e abusa dos simbolismos, muitos não tendo o menor respaldo na Bíblia. Por exemplo, a mobília do quarto que a mulher sunamita fez para o profeta Eliseu é tomada alegoricamente (2 Reis 4.10). A cama se torna o “descanso no Senhor”, a mesa se torna “a comunhão dos santos”, a cadeira se torna “o trono de autoridade” e o candeeiro se torna a “iluminação do Espírito”. Este tipo de interpretação é divertido, mas não possui fundamentação bíblica. Um erro muito perigoso desta interpretação é, por exemplo, tomar as curas físicas que Cristo realizou como alegoria da “cura espiritual” ou salvação. É a espiritualização daquilo que é natural e pode realmente acontecer no mundo natural, ainda que a fonte seja sobrenatural.

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F – PARÊNTESE: INTERPRETAÇÃO DE PROFECIAS BÍBLICAS

Embora este não seja um tipo específico de interpretação e requeira os princípios de interpretação gramatical, tipológica e histórica, a interpretação de profecias bíblicas possui características próprias que precisam ser seriamente consideradas, como veremos a seguir. Porque a Bíblia é a Palavra do Deus Onisciente, ela narra os eventos futuros assim como o passado e o presente. Seu propósito é tornar claros os caminhos do Senhor para o homem. Quando aprendemos como Deus age, cresce a nossa confiança Nele. Ele não esconde de Seus amigos o que pretende fazer (Gênesis 18.17). O cumprimento da profecia demonstra a fidelidade daquele que a profetizou. O exemplo mais destacado de profecia bíblica diz respeito a nosso Senhor Jesus Cristo. Mais de 300 profecias do AT foram cumpridas no Seu nascimento, vida, morte e ressurreição.

ALGUMAS SIMPLES DICAS PARA INTERPRETAR PROFECIAS SÃO:

Procure, em primeiro lugar, reconhecer cada profecia em seu cenário e aplicação originais. Qual era o cenário ou contexto social, cultural, histórico, etc., em que a profecia foi dada? Como ela foi aplicada quando ela foi dada e a quem foi dada?

Compreenda a natureza progressiva da revelação de Deus. Embora Ele seja sempre o mesmo, nem sempre Ele parece agir da mesma maneira. Ele age de acordo com os propósitos que Ele cumpre numa determinada época. Por exemplo, no AT Ele instruiu a nação de Israel para guerrear contra as nações inimigas porque Ele estava usando Israel como Seu instrumento de julgamento contra as abominações daquelas nações. Mas no NT, Ele instrui os crentes desta presente era da graça a amar seus inimigos porque eles são instrumentos de amor para alcançar o perdido.

Reconheça o uso figurativo dos nomes, como SODOMA (preso em grilhões, escravizado), GOMORRA (escravidão), BABILÔNIA (confusão), FILADÉLFIA (amor fraternal) e DEMAS (popular), e veja como se mantêm no texto em que aparecem.

Não estude profecia apenas para satisfazer sua curiosidade. A revelação profética não é para curiosos, mas para adoradores do Cordeiro e praticantes da Palavra.

Reconheça a possibilidade de interpretações variadas e incorretas. Por exemplo, quando Cristo veio ao mundo havia várias interpretações acerca das Escrituras que falavam do Messias, e muitas delas estavam erradas. A verdade completa tornou-se conhecida somente quando Ele cumpriu toda a Escritura. Não queira ser infalível no seu conhecimento das profecias.

Reconheça que os propósitos básicos da profecia são: revelar Cristo e mudar as vidas de seus leitores.

III – PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS E DIRETOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Grande parte da interpretação das Escrituras dependerá de conhecermos muitos textos da Palavra de Deus, porque a Bíblia interpreta a própria Bíblia. Na maioria das vezes nós encontramos o significado de um texto em outros textos da Bíblia. Daí é importante ter um profundo conhecimento de passagens bíblicas, o que pode ser adquirido através de ler várias vezes a Bíblia toda, especialmente os livros do Novo Testamento, e também ao decorar versículos bíblicos.

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Usar uma Chave Bíblica facilitará bastante o seu trabalho. Se você está estudando sobre a “Graça”, uma boa chave bíblica lhe dará todos os versículos bíblicos aonde a palavra “graça” aparece. Daí você terá condições de obter uma visão geral sobre a graça e poderá compreender como os textos que falam sobre este assunto se encaixam. Um recurso mais simples – que é oferecido na maioria das Bíblias – são as referências de rodapé. Observe no texto de sua Bíblia, se ela for uma “versão Almeida e Atualizada”, por exemplo, (leia as primeiras páginas antes de começar o livro de Gênesis e você encontrará informações sobre qual é a sua versão da Bíblia, se a esta altura você ainda não sabe), que na parte de baixo da página há várias referências bíblicas. Abra, por exemplo, sua Bíblia o primeiro capítulo de Mateus. No rodapé da página terá “1.11 2 Rs 24.14, 15” e outras referências. A referência em negrito refere-se ao versículo do texto acima e as referências que seguem são textos paralelos, correlacionados com o texto em foco. Assim, em 2 Rs 24.14, 15 existe algo que está relacionado com o que está escrito em Mateus 1.11. Se você não dispõe de uma chave bíblica ou concordância bíblica, consulte sempre estas referências de rodapé. Vejamos agora alguns princípios específicos da interpretação bíblica que se encaixam em um dos três principais tipos de interpretação (gramatical, tipológica ou histórica).

A – O PRINCÍPIO DA DECLARAÇÃO DIRETA

Aquilo que Deus diz em Sua Palavra é realmente aquilo que Ele quis dizer.

Quando Deus diz alguma coisa, Ele o diz no sentido mais natural daquilo que Ele falou. Natural não significa “literal”. O Sentido natural é o sentido imediato, exato daquilo que foi falado. Exemplo: Leia Mateus 5.29. Este texto não diz que devemos arrancar “literalmente” o olho que nos fazer tropeçar, mas sim que, assim como arrancar um olho seria uma atitude extrema para eliminar um olho que não serve mais, da mesma maneira nós devemos tratar radicalmente com o nosso próprio pecado. O que o Senhor está ensinando não é devemos arrancar o olho ou cortarmos um braço literalmente, mas sim que devemos tratar o pecado com seriedade, comprometidos radicalmente em não pecarmos.

B – O PRINCÍPIO DO PARALELISMO (OU CORRELAÇÃO)

Deus concede o entendimento de um assunto, através de uma passagem mais próxima ou mais remota, referindo-se ao mesmo assunto.

Exemplo: Efésios 6.17 fala que devemos tomar o capacete da Salvação. O que isto significa? Outra passagem da Bíblia, semelhante a esta, explica. 1 Tessalonicenses 5.8 diz: “tomando como capacete a esperança da salvação”. Uma passagem explica a outra. Tomar o capacete da salvação é trazer sempre na mente a esperança da salvação, e isto será uma proteção contra as dúvidas que nos assaltam. Há cinco formas de traçar uma correlação entre um texto e outro: 1. Correlação No Contexto Imediato O Contexto imediato são os versículos anteriores e/ou posteriores ao que está em consideração. Por exemplo, como interpretamos a questão de “desenvolver a Salvação", que é levantada em Filipenses 2.12? Nós cremos que a salvação não é algo

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que vai se ganhando pouco a pouco, pois a recebemos de uma só vez, plenamente. O que significa, então, desenvolver a salvação? Os versículos posteriores a este texto nos mostram que desenvolver a salvação é sinônimo para crescer espiritualmente ou em santidade. Note nos versículos de 13-16 o que devemos fazer: não murmurar nem contender, ser irrepreensíveis e sinceros, dar testemunho de santidade perante o mundo e guardar (obedecer) a Palavra de Deus. Fazer estas e outras coisas é “desenvolver a salvação”. Qual é o bem para o qual todas as coisas cooperam em Romanos 8.28? Será que é o nosso bem-estar? Será que é nos livrarmos de todos os nossos problemas? O versículo posterior diz que Deus nos predestinou para sermos conformes à imagem do Seu Filho, Jesus (v.29). Este é o bem para o qual todas as coisas concorrem. Tudo o que nos acontece serve para nos conduzir à semelhança com Cristo. Este é o significado do versículo 28. Considere 2 Coríntios 3.17. Muitas pessoas usam este texto para afirmar que o Senhor Jesus é também o Espírito Santo. Mas, este texto não está dizendo que o Senhor Jesus é o Filho de Deus e ao mesmo tempo o Espírito Santo, fazendo dos dois um só. O versículo seguinte explica que somos transformados de glória em glória, como pelo Senhor, o Espírito (v.18), ou seja, o Espírito Santo age em nome do Senhor Jesus, como se fosse (mas não sendo) o próprio Senhor Jesus, para transformar-nos à imagem de Cristo. 2. Correlação No Contexto Remoto O Contexto remoto de um versículo ou texto bíblico pode ser o próprio livro da passagem em estudo, como também pode ser uma passagem de outro livro, mas que fala do mesmo assunto. Onde encontrar a interpretação de Isaías 7.14? Em Mateus 1.23. Como entender Juízes 5.8, que fala de guerra, mas também que não havia armas em Israel? Como eles guerrearam se não havia armas? 1 Samuel 13.19,20 explica porque não havia armas em Israel e o que eles usavam para guerrear. O que significa “aborrecer” em Lucas 14.26? Mateus 10.37 explica. Veja também Deuteronômio 21.15 e encontre o significado de “aborrecida” em Gênesis 29.30. 3. Correlação de Palavras. Às vezes é necessário pesquisar uma palavra em toda a Bíblia para entendermos o significado completo da mesma. Uma boa concordância bíblica pode ajudar nisto. Muitas Bíblias já fornecem uma pequena correlação de textos bíblicos no rodapé de suas páginas. 4. Correlação de Ideias. Algumas vezes encontramos palavras diferentes em diferentes versículos, mas a ideia é a mesma. Exemplo: Nós encontramos frequentemente nos Evangelhos, especialmente em Mateus, a expressão “Reino dos Céus”. O que é o Reino dos céus? O Reino dos Céus é diferente de Reino de Deus? As parábolas do Reino dos Céus em Mateus 13 são chamadas de parábolas do “Reino de Deus” em Lucas, capítulos 8 e 13, ou seja, reino dos céus e reino de Deus é a mesma coisa. Leia Romanos 14.17 e Mateus 6.10 e você terá o significado de “reino de Deus” ou “reino dos céus”.

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5. Correlação de Doutrina. Quando nós reunimos certo número de ideias debaixo de um mesmo tópico, então nós temos uma doutrina bíblica. Por exemplo, o amor de Deus é uma ideia; a santidade de Deus é outra; quando juntamos estas ideias nós temos “Os atributos de Deus”, que é uma doutrina bíblica.

C – O PRINCÍPIO DA PRIMEIRA MENÇÃO

Toda vez que um texto é escrito e o autor cria uma ideia ou palavra nova que ainda não apareceu na Bíblia, ele tem que explicar o significado desta palavra no ponto em que ela é mencionada pela primeira vez.

Exemplos: O que significa “amar”? Na primeira referência bíblica acerca do amor você encontra o significado de amar. Gênesis 22.2 fala que Abraão amava seu filho e que ele iria oferecer um sacrifício. Você tem a palavra amor e tem a ideia de sacrifício. O que é amar? É sacrificar-se por outrem. Digamos que você queria entender a história de Jerusalém, desde a sua fundação até o final dos tempos, você precisa ver a primeira vez em que a palavra Jerusalém aparece na Bíblia. Leia Juízes 1.8 e você verá que a história de Jerusalém tem sido uma só: “pelejaram contra Jerusalém e, tomando-a, passaram-na a fio da espada, pondo fogo à cidade”.

D – O PRINCÍPIO DA PRIMEIRA E DA ÚLTIMA MENÇÃO

Toda vez que um texto é escrito e o autor cria uma ideia ou palavra nova que ainda não apareceu na Bíblia, ele tem que explicar o significado desta palavra no ponto em que ela é mencionada pela primeira e pela última vez.

Compare, por exemplo, a árvore, o rio e as pedras preciosas que aparecem pela primeira vez em Gênesis 2 e pela última vez em Apocalipse 22. O Significado final geralmente explica o primeiro.

E – O PRINCÍPIO DA MENÇÃO PROGRESSIVA

É o princípio pelo qual Deus torna a revelação de uma dada verdade cada vez mais crescente e clara na medida em que a Palavra prossegue até a sua consumação.

Exemplo: O Cordeiro em Gênesis 22.8 é o cordeiro profetizado; em Êxodo 12 é o cordeiro tipificado; em Isaías 53.7 é o cordeiro personificado; em João 1.29 é o cordeiro identificado; em 1 Pedro 1.19 é o cordeiro crucificado e em Apocalipse 22.1 é o cordeiro satisfeito.

F – O PRINCÍPIO DA MENÇÃO COMPLETA

É o princípio no qual Deus declara a sua mente completa acerca de um dado assunto vital para a nossa vida espiritual. Em um determinado lugar da Sua Palavra, o Senhor ajunta o maior número de ensinamentos espalhados, que tenham a ver com alguma verdade particular e os coloca juntos em alguma declaração exaustiva, e esta é o seu pensamento completo sobre o assunto.

Exemplo: A ressurreição dos salvos em 1 Coríntios 15; A língua (o falar) em Tiago 3; A Restauração de Israel em Romanos 11.4; A Fé em Hebreus 11; A Disciplina em Hebreus 12.6; A Igreja em Efésios 1, 2, 3, 4; O Reino de Deus em Mt 5, 6, 7; os Dons espirituais em 1 Coríntios 12 a 14; A Palavra de Deus no Salmo 119; O novo nascimento em João 3.1-7, e etc.

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G – O PRINCÍPIO DA MENÇÃO REPETITIVA

É o princípio sobre o qual Deus repete alguma verdade ou assunto já mencionado, geralmente com acréscimo de detalhes não dados anteriormente.

Exemplos: Os Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas). Grande parte dos discursos do Senhor, dos milagres e das parábolas, aparece nos três Evangelhos, mas sempre com algum acréscimo de detalhes. Em Deuteronômio nós temos uma repetição das leis que foram dadas em Êxodo, Levítico e Número, mas com alguns detalhes que não constam em os outros livros. O estudante da Bíblia vai se beneficiar grandemente de estudar a Bíblia comparando estas repetições. Em Mateus 7.24-27 nós encontramos a parábola dos “dois fundamentos”. Em Lucas 6.46-49 nós temos a mesma parábola, mas com detalhes diferentes. Se usar apenas uma delas, você não terá uma visão global; mas se usar as duas parábolas você terá uma compreensão muito melhor. Por exemplo, em Mateus o homem prudente edificou a sua casa sobre a rocha, mas em Lucas nós temos os detalhes de como ele fez isto (Lc 6.48).

H – O PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO

É o princípio pelo qual nós devemos dividir a Palavra de Deus de modo a fazer uma distinção aonde Deus mesmo faz uma diferença.

Exemplo: A Salvação é vista de três formas distintas na Bíblia. Ela é vista no passado, quando nós cremos em Cristo e nisto a salvação é totalmente completa e não precisa de qualquer acréscimo ou desenvolvimento (2 Tm 1.9). Mas a salvação também é visto como algo acontecendo em nosso presente e em desenvolvimento (Fp 2.12b) e, por fim, a salvação também é vista como algo ainda a se realizar no futuro (Rm 13.11). Por que há três tempos na salvação? Porque nós somos “espírito, alma e corpo”, e Deus enviou o Seu Filho para salvar integralmente o homem. Nosso espírito foi salvo quando cremos (a salvação no passado), a nossa alma (emoções, intelecto e vontade) está sendo salva, ou seja, transformada, santificada pela Palavra de Deus (a salvação no presente) e o nosso corpo será transformado quando Cristo voltar (a salvação futura ou redenção do Corpo - Romanos 8.23).

I – O PRINCÍPIO DA AUTOCONSISTÊNCIA

É o princípio que declara que a Palavra de Deus está sempre de acordo com ela mesma e não pode errar. Algumas passagens bíblicas, aparentemente, parecem se contradizer. No entanto, o problema é somente aparente, porque não há erros na Bíblia (quanto aos originais) e qualquer contradição que possa surgir é apenas uma questão de limitação mental de nossa parte. Por exemplo, a questão da Justificação. Tiago 2.24 advoga que não é somente pela fé que alguém é justificado, mas também por obras. Paulo, em Romanos 4.2-4 e Efésios 2.8-9, advoga que o homem é justificado somente pela fé, sem obras. Parece que há uma contradição na Bíblia, mas isto é somente o que aparenta ser. Para entendermos a posição de Paulo e a de Tiago, precisamos ver o contexto de cada livro. Primeiramente, Paulo argumenta segundo o que Deus vê e Tiago segundo o que o homem vê. Perante Deus, tudo o que vale como a sua resposta ao dom da justificação é a fé; mas, perante os homens, a fé manifesta-se através das obras.

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Em segundo lugar, Paulo fala de obras mortas, tentativas e esforços humanos de alcançar a justificação por conta própria. Mas para Tiago, as obras das quais ele fala são ações de fé, atos que testemunham a autenticidade de sua fé em Deus. Não há nenhuma contradição entre o que Paulo escreveu sobre a fé e o que Tiago escreveu sobre as obras. Cada um olhou o assunto de uma perspectiva diferente e utilizando a palavra “obras” de um modo diferente. Em Mateus 27.9 nós temos outra aparente contradição. O texto bíblico que Mateus cita como tendo sido dito por Jeremias não se encontra no livro que leva o nome do profeta, mas sim no livro de Zacarias (11.12,13). Como explicar esta aparente contradição? É bem simples. Note bem o que Mateus escreve. Ele assegura-nos que algo foi dito pelo profeta Jeremias e não que tenha sido escrito por ele. Quem escreveu foi Zacarias, mas quem disse foi o profeta Jeremias. Na maioria dos casos em que encontrarmos “aparentes” contradições, a dificuldade poderá ser resolvida com uma simples atenção ao que está escrito e como está escrito.

IV – INTERPRETAÇÃO INTRA-ESCRITURÍSTICA

O prefixo “intra” significa “que está dentro de” ou que “entra em”. A interpretação intra-escriturística é, portanto, a interpretação da Bíblia pela própria Bíblia. Nesta parte do nosso estudo, nós consideraremos como a Bíblia interpreta a si mesma. Nós veremos diversos princípios observáveis enquanto estudamos o uso das referências bíblicas de um por outro escritor bíblico.

A – COMO A BÍBLIA INTERPRETA O ANTIGO TESTAMENTO

Agora nós iremos estudar alguns princípios que nos ajudarão a interpretar corretamente o Antigo Testamento. Nós precisamos trazer sempre em mente que, embora o Antigo Testamento também seja a Palavra de Deus, ele não contém doutrinas cristãs diretas e explícitas. Não podemos criar ou formular doutrinas para a Igreja tomando como base o Antigo Testamento. Vejamos, então, como devemos interpretar e usar esta parte da Palavra de Deus. O método que usamos para encontrar estes princípios foi estudar as passagens do Antigo Testamento que são usadas no Novo Testamento e assim descobrimos como Jesus e os apóstolos usavam o AT.

1. O Antigo Testamento Fala do Senhor Jesus Cristo.

Portanto, ao estudarmos o Antigo Testamento, devemos ter em mente que em todos os livros nós podemos encontrar alguma referência implícita ou explícita acerca do Senhor Jesus Cristo, conforme Ele mesmo exemplificou em Lucas 24.27,44. Podemos, então, procurar e achar o Senhor Jesus Cristo no Antigo Testamento através de símbolos, tipos (de pessoas, cerimônias, objetos, festas, ofertas e etc.), profecias e alusões espirituais. 2. Tome As Histórias E Fatos do Antigo Testamento Como Exemplos, e não como padrão doutrinário para a Igreja. Porque as coisas escritas no Antigo Testamento foram registradas para a nossa ADVERTÊNCIA (1 Co 10.6,11). Israel passou quarenta anos no deserto por causa da sua desobediência. Isto aconteceu com Israel, mas não irá acontecer da mesma maneira com a Igreja ou com os crentes individualmente. Nós podemos usar o que aconteceu com Israel no deserto

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para nos lembrarmos que a desobediência e a incredulidade trazem consequências terríveis. 3. As Leis Morais do Antigo Testamento São Eternas, assim como é o próprio Deus, pois elas derivam do Seu caráter santo e justo. Mas as leis cerimoniais, os ritos religiosos, os estatutos nacionais de Israel – tudo o que regulava a vida civil e religiosa do povo judeu (leis referentes à purificação do corpo e de objetos, cultivo, criação de animais, alimentação, e etc.) – todas estas coisas devem ser entendidas e aplicadas figuradamente, pois foram dadas por Deus com relação ao homem, especialmente aos Seus filhos, para serem aplicadas às suas necessidades de direção espiritual, moral e prática. Nós podemos ver, por exemplo, que Paulo usou algumas leis referentes ao uso dos animais na agricultura como exemplo do ensinamento sobre o sustento daqueles que vivem do Evangelho e na liderança da igreja (ver 1 Coríntios 9.8-10 e 1 Tm 5.17,18). Se você é um fazendeiro que ainda trabalha com bois na lavoura, você não deve se considerar obrigado pela lei do Antigo Testamento quanto a deixar seu boi ir comendo enquanto faz o seu trabalho. Mas você deve sentir-se obrigado a sustentar aqueles que trabalham para Deus de tempo integral. 4. As Coisas do Antigo Testamento, Especialmente As Que Estão Relacionadas À Vida Religiosa do Povo Judeu, são figuras e sombras das coisas celestiais, e devem ser entendidas e usadas desta forma (Hb 8.5). Muitas pessoas hoje em dia querem usar passagens do Antigo Testamento para justificar ensinamentos legalistas e meramente humanos nas igrejas. Algumas pessoas ensinam, por exemplo, com base em Deuteronômio 22.5, que as mulheres não podem usar “shorts” ou calça comprida (roupas de homem). Muitas das pessoas que defendem esta doutrina arduamente se esquecem que há outras “leis” que elas mesmas não seguem e até explicam que não são mais necessárias para hoje, como a lei para não cortar o cabelo redondo ou as extremidades da barba (Levítico 19.27) ou a lei dos primogênitos do gado (Deuteronômio 15.19-23) ou a lei sobre os filhos desobedientes (Deuteronômio 21.18-21). Não é coerente observar as partes do Antigo Testamento que mais nos agradam e negligenciarmos as que não nos agradam. Quando lermos o Antigo Testamento, devemos buscar sempre princípios morais, e não leis acerca de coisas que dizem respeito exclusivamente a Israel e que realmente não são mais para nós. Se alguém quer viver pela lei deverá cumprir toda a lei. Mas o Novo Testamento mostra claramente que ninguém pode cumprir viver pela lei; daí a necessidade de viver pela fé. Você deverá entender e interpretar moralmente as leis do AT, especialmente as de cunho religioso e civil. As leis morais, como já mencionamos, permanecem inalteradas para nós até os dias de hoje e para sempre.

5. O Judaísmo, Como Tudo Que Está Relacionado A Ele, é uma parábola para a Igreja, iluminada pelo Espírito Santo (Hb 9.8-9). O que é uma parábola? Uma parábola é uma estória que usa coisas naturais para ensinar verdades espirituais. Por exemplo, o Senhor Jesus falou que o Reino dos Céus é como um grão de mostarda. O Senhor não quis dizer que o Reino dos Céus é, literalmente, um grão de mostarda, mas sim que podemos comparar o crescimento exterior do Reino dos Céus com o crescimento de um grão de mostarda. Da mesma forma, nós podemos comparar as coisas que aconteceram e fazem parte do judaísmo com verdades relacionadas à Igreja. Mas isto não significa que a Igreja seja Israel e tenha que passar, literalmente, pelas mesmas coisas que Israel passou.

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6. As Ordenanças E Cerimônias do Antigo Testamento eram sombras das coisas que haviam de vir com Cristo – a Realidade (Cl 2.16-19). Quando interpretarmos as cerimônias do Antigo Testamento, tais como a unção dos Sacerdotes ou mesmo os sacrifícios, nós devemos interpretá-los como sendo figuras de Cristo e não literalmente. Não é que elas não existiram ou não foram feitas da maneira como encontramos no Antigo Testamento, mas simplesmente que não necessitamos daquilo que foi passageiro e transitório. Nós temos a realidade de tudo o que foi colocado como figura no Antigo Testamento, ou seja, Cristo.

7. Tudo O Que Foi Escrito No Antigo Testamento Foi Escrito Para O Nosso Ensino, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança (Rm 15.4). O ensino é extraído do AT através de comparações, ilustrações e exemplos.

8. Muitas Passagens do Antigo Testamento Possuem Duplo Significado ou dá espaço para uma aplicação RESTRITA e também em sentido LATO. Por exemplo: em Oséias 11.1 nós vemos que Israel é quem é chamado de filho de Deus, que foi tirado do Egito através do Êxodo sob a liderança de Moisés. Mas em Mateus 2.15, o Senhor Jesus é quem é visto como o filho de Deus que foi trazido do Egito. Uma mesma passagem foi aplicada a Israel e também a Jesus.

9. Devemos Aplicar As Escrituras do Antigo Testamento Como Jesus E Os Apóstolos Fizeram, ou seja, utilizando passagens com sentido figurado, com flexibilidade (ver o ponto nº. 5 dos Princípios Gerais), aplicando às necessidades diversas da vida cristã. É um uso mais figurado, tipológico, adequado às lições morais e ensinos de princípios básicos espirituais.

B – COMO A BÍBLIA INTERPRETA O NOVO TESTAMENTO

1. Se O Novo Testamento Responde A Todas As Perguntas Necessárias E Básicas À Compreensão E Prática de Determinado Assunto, então aí não há liberdade para se interpretar. A nossa obrigação para o que está claramente revelado (que responde às perguntas: o que? quem? como? onde? quando? e por quê?) é GUARDAR, e não interpretar1.

2. As Nossas Opiniões Sobre Assuntos Do Novo Testamento (Como De Toda A Bíblia) São Apenas Opiniões, e não possuem qualquer autoridade divina, mas podem conter "bom senso" e "sabedoria", coisas dignas de serem consideradas seriamente. Não devemos, contudo, discutir opiniões diferentes sobre determinados temas (Rm 14.1). Cada um deve ter opinião bem definida em sua própria mente com relação às coisas que não são essenciais à fé e conduta cristã, como por exemplo, alimentos, usos e costumes culturais, a guarda de dias especiais como os feriados, aniversários, e etc. (Rm 14.5).

3. O Novo Testamento Deve Ser Compreendido, Tanto Quanto Seja Possível, Em Seu Sentido Normal Ou Restrito. É claro que este princípio não anula o outro princípio do uso de linguagem figurada. Porém, é importante notarmos, nas diferentes divisões do Novo Testamento, que é preciso fazer uma diferenciação entre FIGURA DE LINGUAGEM e VERDADE BÍBLICA ABSOLUTA.

Quanto aos ensinamentos do Senhor Jesus Cristo nos Evangelhos, é sabido que muito do que Ele falou foi em estilo de parábolas, mostrando desta forma qual era, basicamente, o seu método de ensino e como nós podemos entendê-

1A palavra INTERPRETAR tem sido usada por muitas pessoas com o sentido de "DIZER O QUE SE PENSA PESSOALMENTE" sobre determinado assunto. Isto, é claro, é diferente de ASSIM DIZ O SENHOR. A palavra "interpretar", quando corretamente usada, tem o sentido de "procurar descobrir por meios sérios e precisos o verdadeiro significado de um assunto, dando um parecer segundo a Palavra de Deus, e não de acordo com a opinião pessoal".

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lo. Ele disse: Se alguém põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus. É claro que ARADO é usado simbolicamente, mas o significado deve ser prático. Noutras ocasiões, ele mostrava que não estava usando metáforas, e dizia a todos: Se alguém não renunciar a sua própria vida não pode ser meu discípulo. Isto não é figura de linguagem, mas um ensino direto e claro. Quando Ele disse "ninguém pode servir a dois senhores", ele estava dando um princípio geral em LINGUAGEM FIGURADA. "Senhores" representa qualquer coisa ou pessoa com quem tentamos dividir nosso amor e serviço ao Senhor. Então, podemos perceber que às vezes o Senhor usava figuras de linguagem para enfatizar verdades básicas e também falava claramente aquilo que Ele esperava de seus discípulos.

Os Evangelhos falam da vida e Obra do Senhor Jesus. Assim, ao procurar compreendê-los e usá-los devemos levar em consideração que eles são, em primeiro lugar, uma NARRAÇÃO HISTÓRICA, e não livros de doutrina. Podemos encontrar muitos ensinamentos do Senhor (que devem ser seguidos!), mas em primeira análise esses ensinamentos estão registrados como parte da história e não como bússola doutrinária. Mas insistimos: TODOS OS ENSINAMENTOS E MANDAMENTOS DO SENHOR JESUS QUE ESTÃO REVELADOS COMO PRINCÍPIOS DEVEM SER SEGUIDOS POR SEUS DISCÍPULOS EM TODAS AS ÉPOCAS DA HISTÓRIA DA IGREJA (Mt 28.19-20).

Atos dos Apóstolos é um livro que possui mais ensinamentos transmitidos pelo ORTOPRÁXIS (prática correta e fundamental) do que pela ORTODOXIA (a doutrina correta e fundamental). ATOS é um livro de experiências, do qual podemos colher exemplos de duas espécies: (1) Padronizados, ou seja, de acordo com o que foi ensinado e/ou praticado pelos apóstolos e primeiros cristãos, como por exemplo, as reuniões da igreja (At 2.42; 20.7; 12.5,12 com 1 Co 11.17 e ss.; 14.26; 1 Tm 2.1; e etc.), o ministério do Espírito Santo (At 2.1-4; 13.1-4; 4.31; 1.5,8 com 1 Co 6.19; Ef 5.18; Rm 8.26, e etc.), e outros mais. Estes exemplos transitem princípios de padrões gerais para a Igreja hoje2. (2) Figurados - fatos verdadeiros, porém circunstanciais como, por exemplo, as reuniões "no templo" (At 2.46; 5.42). O TEMPLO, na verdade era o "pátio" do templo, e não propriamente o interior do templo. Mesmo assim, quando o Evangelho e a verdade sobre a Igreja foram mais claramente revelados e a distinção entre o judaísmo e a Igreja ficou mais evidente, os cristãos foram convocados a uma separação total de tudo que estava relacionado com a religião dos judeus3. Esta convocação foi atendida por muitos, e aqueles que não a atenderam sofreram as terríveis consequências através de perseguições e correções. Um fato interessante é que o Senhor mesmo tratou de destruir o templo através do Império Romano em 70 d.C., acabando assim de vez com qualquer relação entre o templo material com a casa ou templo espiritual que é a Igreja. No entanto, nós podemos tomar "o templo" como FIGURA do tipo de reunião coletiva do povo de Deus, que podemos chamar de GRANDE GRUPO, ou seja, quando todos os crentes de uma igreja local se reúnem no mesmo lugar (1 Co 14.23), assim como as reuniões de "casa em casa" descrevem as reuniões do que podemos chamar de PEQUENO GRUPO, quando a igreja é distribuída nos lares.

Nos Ensinos Apostólicos contidos nas epístolas do NT não há muito de figuras, exceto aquelas que são usadas do ANTIGO TESTAMENTO e algumas analogias usadas apenas para clarear as verdades ensinadas, e às quais seguem as devidas explicações. Todos os ensinamentos apostólicos devem ser praticados

2 Em Atos há muitas doutrinas em forma de "embriões", sendo apenas citadas e não explicadas ou elucidadas. Mais

tarde é que elas seriam ensinadas e explicadas pelos apóstolos em suas epístolas, especialmente nas de Paulo. 3Ver atentamente o livro de Hebreus, especialmente 13.10-14, como também os livros de Gálatas e Colossenses.

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como mandamentos do Senhor, excluindo, é claro, os detalhes culturais e históricos de alguns poucos exemplos cujos contextos nos mostram que há uma verdade geral a ser aprendida e praticada e aplicável com flexibilidade em cada cultura. Por exemplo, alguns conselhos de Paulo sobre o casamento em 1 Coríntios 7 ou sobre o uso do véu em 1 Coríntios 11. Portanto, é importante observarmos uma clara divisão nos ensinos apostólicos. Eles podem ser divididos em:

o Ensinamentos Ortodoxos – com relação aos assuntos para nós

CRERMOS, como a divindade e humanidade de Cristo, sua impecabilidade, seu nascimento virginal, sua segunda vinda, a salvação pela graça mediante a fé, e etc. Não aceitar estes ensinamentos significaria, em termos práticas, não ser da “fé cristã”.

o Ensinamentos Práticos – com relação ao que devemos PRATICAR nas

igrejas locais (ou mesmo individualmente), como por exemplo, o batismo em Cristo, a ceia do Senhor, a posição das mulheres nas reuniões, a oração, o estudo da Palavra, a adoração, e etc. Neste caso, há alguns princípios gerais e alguns princípios práticos claramente expostos nas Escrituras. Aí nós temos que diferenciar entre função e forma. Por exemplo, o batismo nas águas é uma função claramente estabelecida na igreja, mas a forma como ele é praticado não é claramente exigida. Assim, enquanto não podemos deixar de praticar o batismo, também não podemos estabelecer biblicamente que só há um modelo válido.

o Ensinamentos morais e espirituais – com relação ao que devemos

SER E TER: humildade, mansidão, enchimento do Espírito, orar no Espírito, amor fraternal, perdão, renúncia, santidade, boas obras, e etc. Essas são coisas que não exigem muita interpretação, mas sim muita prática.

O Apocalipse, como todo livro de profecia, é basicamente simbólico. Contudo, algumas de suas verdades absolutas podem ser aplicadas livremente4. Os símbolos são apenas símbolos, indicadores de verdades que irão se cumprir sobre a terra nestes últimos dias. Um uso errado da profecia em Apocalipse seria aplicar literalmente passagens como 16.15, e outras.

4. Quando O Novo Testamento Responde Somente Algumas Das Perguntas Básicas Para A Compreensão De Uma Passagem (como por exemplo, as perguntas "o que?", e "por quê?"). As outras perguntas deverão ser usadas e respondidas de acordo com todo o contexto das Escrituras e/ou do assunto em foco, juntamente com a pesquisa de comparações de textos, ilustrações, palavras-chave, pensamentos correlatos, figuras, símbolos, tipos e etc.

5. Se, Após Toda Essa Análise E O Uso De Todos Os Princípios, Ainda Não Compreendemos Ou Não Temos Uma Resposta Clara Na Palavra Às Perguntas Já Mencionadas Anteriormente, deve-se fazer uso da liberdade de interpretação e

4Ao fazermos livres aplicações de passagens do Apocalipse que possuem em si mesmas a autoridade da verdade divina, é preciso lembrar que não podemos usá-las para definir um TEMPO DE CUMPRIMENTO para estas aplicações, pois isto se limita a interpretação restrita da profecia.

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aplicação, mas sem prejudicar o contexto da Palavra, pois de outra forma seria ir contra a autoridade final e máxima das Escrituras5.

VI – A PESQUISA INTERPRETATIVA - EXEGESE

A pesquisa interpretativa é simplesmente o procedimento que você adota para investigar ou analisar uma determinada passagem bíblica que você deseja interpretar. Nesta seção do nosso estudo nós aprenderemos como investigar interpretativamente uma passagem da Escritura.

A – UM EXEMPLO BÍBLICO DE COMPREENSÃO E USO DAS ESCRITURAS

A interpretação e aplicação das Escrituras pelo homem de Deus são o resultado de um estudo diligente e sincero da Palavra, atendendo às palavras: “procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15). Em Lucas 1.1-4, nós temos um exemplo notável de como devemos proceder para chegarmos a uma compreensão bíblica correta, assim como à prática correta.

1. Estabeleça A FONTE E A AUTORIDADE

Lucas assegurou que seu relato era “conforme as testemunhas oculares e ministros da Palavra”. Aplicado a nós, isto significado que A PALAVRA DE DEUS deve ser a fonte de autoridade de onde extraímos nossa compreensão e prática de qualquer assunto. Por mais úteis que sejam os comentários e dicionários bíblicos, eles não possuem qualquer palavra final a respeito de qualquer assunto. Somente a Bíblia poderá autorizar ou não qualquer doutrina ou prática que tenhamos.

2. Determine E Invista No MÉTODO de Pesquisa

Lucas também mostrou que seu método foi o de uma "acurada investigação de tudo desde a origem". Ao interpretarmos uma passagem bíblica, nós devemos gastar tempo em estudo diligente e na pesquisa de todas as passagens sobre o assunto, todo o contexto, do começo ao fim da Bíblia. Muitas pessoas querem entender as Escrituras sem gastar tempo estudando e pesquisando as Escrituras. Isto é simplesmente impossível!

3. Faça ANOTAÇÕES E Um ESBOÇO Da Passagem Ou tema Em Foco

Lucas não somente quis dar um relato completo dos fatos, mas também "por escrito". Isto nos ensina que devemos fazer anotações das nossas descobertas e fazer um esboço do que foi estudado. Isso tanto é uma prova da nossa compreensão do texto como também da nossa capacidade de ordenar o assunto corretamente, tendo uma visão global do assunto, e tornando facilmente assimilável. 4. Ponha Suas Descobertas Em Ordem e Determine O ESTILO Da Exposição Do Assunto

Lucas escolheu um estilo próprio de exposição dos fatos: "narração coordenada dos fatos... uma exposição em ordem". Isto nos ensina que não devemos pregar ou ensinar de qualquer maneira, vagueando entre "Dã e Berseba", mas sabendo como começar,

5 Essa liberdade para interpretar aplica-se somente às perguntas que estão mais relacionadas com A PRÁTICA, e não aos princípios absolutos da Palavra. Perguntas usadas para descobrir os princípios bíblicos: “O QUE? E POR QUÊ?”. Perguntas ligadas à prática: “COMO? ONDE? QUANDO? QUEM?”.

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como continuar e como terminar. Além do mais, não devemos sair por laterais, introduzindo outros assuntos na mensagem, mas seguindo sempre a linha de pensamento do assunto em foco. Temos que fazer uma exposição sistemática das verdades bíblicas.

5. Cumpra O OBJETIVO Para Atingir O RESULTADO Esperado

Quando Lucas começou a escrever seu relato, ele tinha um objetivo em mente; ele espera que seu relato possa obter um determinado resultado, a saber: "para que tenhas [Teófilo] plena certeza das verdades em que fostes instruído". Este é o objetivo da verdadeira pregação bíblica, e é também o resultado de uma pregação ou ensino bem elaborado e transmitido. O povo de Deus deve ser levado a uma compreensão verdadeira e sólida das verdades proclamadas e ensinadas. Para obtermos este resultado, devemos fazer o que Lucas fez para chegar nele (subpontos de 1 a 5).

B – O TRABALHO DE PESQUISA

1. Reconheça que muitos dos livros da Bíblia cairão em uma das duas principais categorias: NARRATIVOS E DISCURSIVOS.

LIVROS NARRATIVOS são os que descrevem eventos históricos através dos quais Deus comunicou sua mensagem. Ao olhar os fatos nos livros narrativos, você pode fazer as seguintes perguntas:

o QUEM é o principal personagem (ou quais são)? Quais são suas bases

intelectuais? Como eles se relacionam uns com os outros? Qual é sua participação na história? Quais são suas atitudes e reações? Quais decisões eles tomam?

o QUAL é a ação central? É uma estória mostrando amor, conflito, ou a

vida em geral? Há uma crise geral ou gira em torno de um local? O que resulta seguir esta ação central? Como estes resultados afetam o povo e a história?

o ONDE a ação tem lugar? Por que o povo está ali na história? Como eles

chegaram ali? Qual a relação do lugar com o povo e a ação?

o QUANDO E POR QUE a ação teve lugar? Note o tempo cronológico, se ele está especificamente mencionado. O tempo é importante para a história? O que acontece imediatamente antes ou depois da ação que você está examinando? Há qualquer outra razão estabelecida ou envolvida?

OS LIVROS DISCURSIVOS basicamente apresentam doutrina mais do que ação. Ao invés de descrever ações pessoais e diálogos, eles apresentam e explicam temas. Para obter os fatos num livro discursivo você pode fazer as seguintes perguntas:

o QUEM é o escritor que Deus usou para escrever este livro? Para quem

ele está escrevendo? Qual é seu relacionamento com eles? Qual é a situação do escritor?

o POR QUE o escritor escreveu este livro? Ele está tratando de alguma

doutrina especial ou problemas morais enfrentados por aqueles a quem ele está escrevendo?

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o COMO são as ideias relatadas na passagem em particular? Como elas se mantêm? Como elas chegam a uma conclusão?

o QUAIS as ordens específicas e repreensões que são dadas? Quais

advertências são dadas? Que correção é oferecida? Quais atitudes o escritor enfatiza seus leitores a tomarem?

2. Analise as palavras e frases “chaves”. Geralmente são palavras repetitivas ou

em torno das quais o assunto é desenvolvido. Por exemplo: amor em 1 Coríntios 13; Fé e obras em Tiago 2.

3. Avalie o que está sendo dito. Qual é o ponto principal da passagem sob

consideração, e quais são os pontos menores? Se você fosse dar um título a esta passagem, qual seria?

4. Observe as Comparações e Contrastes. Observe as palavras “assim como”,

“como”, “do mesmo modo”, e etc., para encontrar as comparações. Os contrastes podem ser encontrados nas palavras e/ou expressões do tipo “mas”, “contudo”, “por outro lado”, “entretanto”, “no entanto”, “todavia”, “porém” e etc.

5. Dê importância aos verbos. Os verbos dão vida e dinâmica ao texto e nos

impelem à ação.

Nota: Faça a Disciplina “Como Estudar a Bíblia” ou estude-o novamente. As informações ali contidas complementam o que é necessário para a investigação interpretativa ou exegese.

VII – A APLICAÇÃO DAS ESCRITURAS

Quando estudamos um texto bíblico e interpretamos seu significado, devemos procurar aplicá-lo ou praticá-lo. Não há verdadeira utilidade em estudar a Bíblia e interpretá-la corretamente se não permitimos que ela transforme e molde nossas vidas. Assim, após a interpretação de uma passagem bíblica, não devemos parar aí, mas devemos sim prosseguir para uma aplicação práticas às nossas vidas. Há pelo menos três maneiras de aplicarmos aquilo que aprendemos da Palavra:

A – EM RELAÇÃO À NOSSA PRÓPRIA EXPERIÊNCIA

Em primeiro lugar, devemos aplicar a revelação da Palavra às nossas próprias vidas. Quando Isaías teve uma visão de Deus ele não olhou apenas para os outros ao seu redor, mas ele olhou primeiramente para dentro de si e reconheceu sua situação pecaminosa (Isaías 6.5). A nossa preocupação ao interpretarmos e aplicarmos a Palavra de Deus deve estar em deixar Deus falar-nos através de Sua Palavra, a nós primeiramente.

B – EM RELAÇÃO À VIDA DA IGREJA

Devemos perceber se a nossa compreensão da parte compreendida pode ser aplicada à vida da igreja local. É comum que igrejas locais passem por situações similares às igrejas do Novo Testamento, de modo que podemos aplicar a nossa compreensão de determinado assunto, à vida da igreja hoje.

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C – EM RELAÇÃO AO MUNDO (político e religioso).

Depois de aplicarmos a Palavra às nossas próprias vidas e igrejas, podemos aplicá-la também aos acontecimentos no mundo secular. Acontecimentos no mundo político, guerra entre nações, mudanças de governo e de atitudes sociais também podem ser cumprimento de profecias bíblicas.

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Unidade II

QUESTÕES PARA REVISÃO

Após completar a Unidade I, você deverá responder as questões abaixo. Por favor, use uma folha de papel separada para escrever as respostas. 1. Conceitue hermenêutica e defina exegese. 2. Cite três (03) fatores que contribuem para uma acurada interpretação das Escrituras. 3. Cite os cinco tipos de interpretação mencionados em nosso estudo. 4. Cite pelo menos três (03) princípios específicos e diretos de interpretação e explique-os. 5. Conceitue a interpretação intra-escriturística. 6. Quais as três (03) principais aplicações que podemos fazer com a Palavra de Deus?

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Unidade III

PROJETO FINAL Devido à natureza deste método, não existe um exame ou prova final no estilo de “perguntas e respostas”. Contudo, exige-se que você complete este projeto final abaixo. As informações que você recebeu durante a disciplina foram planejadas para providenciar um fundamento básico de compreensão sobre o tema estudado. Nós queremos que você interaja com o que você aprendeu, a partir de suas próprias experiências. Todo o material desta disciplina foi elaborado para ajudá-lo a viver e ministrar este tema. Portanto, as ideias e conceitos que você aprendeu são muito importantes para nós. Deste modo, o projeto final é importante para sabermos o que você aprendeu e como você está aplicando ou aplicará este material no seu ministério.

Projeto Final: 1. Usando o tipo de interpretação etimológica ou gramatical, que você aprendeu

nesta disciplina, explique o significado da palavra “primogênito” em relação à ressurreição de Jesus Cristo, já que Ele não foi o primeiro a ressuscitar dentre os mortos. A passagem-chave é Colossenses 1.18.

2. Usando o princípio interpretativo da primeira menção, encontre o significado de

“adorar”. Não esqueça de citar a referência bíblica.

3. Efésios 6.13-17 nos apresenta a “armadura de Deus”. Paulo usa a linguagem figurada. Como você interpreta cada peça da armadura?

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO EVANGÉLICO BÍBLICO O Programa SETEB Global é uma iniciativa do nosso ministério para capacitar as igrejas locais a treinarem seus próprios membros, por um custo mínimo, mas com máximo impacto. O SETEB é um ministério comprometido a ensinar e treinar os filhos de Deus para a obra do ministério (Efésios 4.11), disponibilizando uma força tarefa capacitada para segar nos campos da colheita mundial. Por meio de nossa metodologia de treinamento queremos cooperar para que cada igreja local possa crescer e se multiplicar através do treinamento de líderes e obreiros que aprendem enquanto fazem, em um efetivo método de discipulado bíblico. Para maiores informações, entre em contato com:

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