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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP HERMINIA PRADO GODOY A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL NA EDUCAÇÃO INTERDISCIPLINAR DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO SÃO PAULO 2011

Herminia Prado Godoy

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A consciência espiritual na eduação

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    HERMINIA PRADO GODOY

    A CONSCINCIA ESPIRITUAL NA EDUCAO INTERDISCIPLINAR

    DOUTORADO EM EDUCAO: CURRCULO

    SO PAULO

    2011

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    HERMINIA PRADO GODOY

    A CONSCINCIA ESPIRITUAL NA EDUCAO INTERDISCIPLINAR

    DOUTORADO EM EDUCAO: CURRCULO

    Tese apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Doutor em Educao: Currculo sob a orientao daProf Dr Ivani Catarina Arantes Fazenda.

    SO PAULO

    2011

  • BANCA EXAMINADORA:

    ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________

  • Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda

    minha eterna gratido pela oportunidade de me receber como sua orientanda com muito amor, carinho e cuidado fazendo com que eu me sentisse confiante, respeitada e valorizada como pessoa e profissional.

    Ao Prof. Dr. Ruy Cezar do Esprito Santo pela sua

    sabedoria, generosidade e amor que serenaram e aquietaram as minhas ansiedades.

    Ao Prof. Dr. Cludio Picollo pelo seu bom humor,

    espontaneidade e firmeza que me trouxeram coragem e alegria.

    Deles levarei o aprendizado da: ALEGRIA DE

    CAMINHAR COM A FORA DO AMOR!

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Criador pela grande oportunidade de vida que me ofertou.

    Aos meus pais que me amaram incondicionalmente e me ensinaram o valor do

    trabalho responsvel e a importncia do investimento na educao.

    Ao meu marido pelo apoio, proteo e amor que me dedica.

    A minha filha, beno Divina em minha vida. Ao meu genro que completou

    nossa famlia e nos presenteou com sua generosidade e carinho.

    Aos meus familiares pelo carinho com que me acolhem.

    Aos professores que me orientaram e me ensinaram com amor e pacincia.

    Aos colegas e amigos pelo companheirismo, incentivo e amizade.

    Aos clientes e alunos que confiaram e acreditaram em mim e me ensinaram a

    perceber, reconhecer e respeitar as realidades espirituais.

  • RESUMO

    Este trabalho trata da ampliao da conscincia espiritual como possibilidade de realizar uma Educao Interdisciplinar. A linha metodolgica que segui foi a investigao interdisciplinar utilizando-me da narrativa reativando a memria escrita, falada e socializada. Registrei dados de minhas vivncias em consultrio que permitiram transformaes e revolues de minha conscincia. Procedi ao registro das observaes reflexivas a partir das aulas de Interdisciplinaridade professadas por Fazenda no perodo de 2008 a 2010. Realizei cuidadoso levantamento dos escritos, dissertaes e teses que Fazenda orientou no perodo de 1986 a 2010. Tabulei as respostas a 21 questionrios que apliquei aos meus colegas de classe do programa de Educao/Currculo, no primeiro semestre de 2008. Trs questionamentos fundamentais acompanharam esta investigao: o primeiro foi conceituao sobre o que a espiritualidade; o segundo tratou da espiritualidade no contexto educacional brasileiro e, o terceiro buscou respostas sobre o que a Interdisciplinaridade vivida, praticada e teorizada por Fazenda e sua possvel relao com a espiritualidade. Verifiquei que a atuao interdisciplinar de Fazenda aproxima-se do trabalho de um terapeuta de conscincias, assim sendo, a espiritualidade est intrnseca na Educao interdisciplinar exercida por ela. Se considerarmos a espiritualidade como princpio da Interdisciplinaridade, poderamos revelar que a busca da espiritualidade contemplaria os princpios: da espera, do desapego, da humildade, do respeito e da coerncia. A Interdisciplinaridade assim seria um vetor de abertura espiritualidade, e o educador interdisciplinar um terapeuta de conscincias.

    Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Educao, Espiritualidade e Conscincia.

  • ABSTRACT

    This work discusses the widening of spiritual consciousness as a means of creating an interdisciplinary education. The method used was the interdisciplinary investigation through narrative, reactivating the written, spoken and socialized memory. The Data from my own clinic experiences, which resulted in transformations and radical changes in my consciousness, were processed. Well-pondered observations, made during interdisciplinary classes, taught by Fazenda between 2008 and 2010, were catalogued. A careful research of written works, dissertations and thesis, oriented by Fazenda between 1986 and 2010, was accomplished. Twenty-one questionaries that were taken by my Education/Curriculum Program classmates during 2008's first semester were also charted. Three fundamental questions have permeated this investigation: The first was the conceptualization of the meaning of spirituality; the second dealt with spirituality within the Brazilian Educational Context and the third, sought answers for what does the interdisciplinarity, lived, practiced and theorized by Fazenda actually means, and how it is related to spirituality. I verified that Fazenda's interdisciplinary activity resembles the work of a "consciousness therapist", this way; spirituality is intrinsic to the interdisciplinary education which performs. Considering spirituality as one of the principles of interdisciplinarity, could reveal that the search for spirituality contemplates the following principles: waiting, detachment, humility, respect and consistency. Interdisciplinarity thus would be an openness vector to spirituality and the interdisciplinary educator, a "consciousness therapist".

    Keywords: Interdisciplinarity, Education, Spirituality, Consciousness.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................. 9

    2 AS REVOLUES DO MEU SER.................................................................... 23 2.1 PRIMEIRA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2007..................................... 23

    2.2 SEGUNDA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2008 .................................... 25

    2.3 TERCEIRA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2009 .................................... 27

    2.4 QUARTA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2010 ....................................... 38

    2.5 METODOLOGIA............................................................................................. 41

    3 A ESPIRITUALIDADE ....................................................................................... 43 3.1 ESTUDO EXPLORATRIO............................................................................. 43

    3.2 CONCEITOS SOBRE: ESPIRITUALIDADE, ESPIRITUAL, ESPRITO E

    CONSCINCIA ............................................................................................... 45

    3.3 A MATURIDADE DA HUMANIDADE ............................................................. 59

    4 A CONSCINCIA ESPIRITUAL NA EDUCAO ............................................. 62 5 EDUCAO INTERDISCIPLINAR E TERAPIA DA CONSCINCIA ................ 65

    6 A ESPIRITUALIDADE NA INTERDISCIPLINARIDADE DE FAZENDA ............ 68 6.1 A INTERDISCIPLINARIDADE VIVIDA: SENTIDO ONTOLGICO....................69

    6.2 A INTERDISCIPLINARIDADE ENSINADA: SENTIDO EPISTEMOLGICO... 74

    6.3 A INTERDISCIPLINARIDADE PRATICADA: SENTIDO PRAXIOLGICO....... 77

    7 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 83

    REFERNCIAS.................................................................................................... 91

    APNDICE........................................................................................................... .97

    ANEXOS................................................................................................................100

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Phoenix ............................................................................................... 21

    Figura 2 - Pgina inicial do GEPINTER................................................................ 31

    Figura 3 - Pagina inicial da home do GEPI .......................................................... 33

    Figura 4 - Pgina inicial da revista do GEPI ......................................................... 33

    Figura 5 - Duas estrelas de 5 pontas sobrepostas ............................................... 71

    Figura 6 - Esprito Santo e Fazenda 2009......................................................... 87

    Figura 7 - Picollo e Fazenda 2009..................................................................... 88

  • 9

    1 INTRODUO

    A espiritualidade faz parte de minha vida pessoal desde que fui gestada. Minha

    me provm de uma famlia Kardecista e meu pai de uma famlia Catlica. Vivamos

    em harmonia quanto a esta duplicidade de orientao religiosa, pois meu pai permitiu

    que minha me educasse os sete filhos na religio sistematizada por Kardec1. Era

    uma realidade para mim a existncia de espritos, de mundos paralelos, de seres

    extrafsicos e extraterrestres. No sofri em minha infncia qualquer excluso,

    segregao e/ou marginalizao social pelo fato de participar das aulas de catecismo

    no Centro Esprita. Dos 13 aos 15 anos participei de palestras e encontro de jovens

    nos Centros Espritas da regio2. Com 16 anos me mudei para estudar o colegial em

    So Paulo e no mais freqentei o espiritismo. De 1986 a 1989 fiz um curso de

    estudos e prticas sobre a mediunidade, curso este coordenado pela Federao

    Esprita de So Paulo com durao de trs anos. Depois desta experincia nunca

    mais participei como integrante de qualquer Centro Kardecista.

    Tenho respeito e aprendi a ter considerao pela doutrina esprita, pelos

    espritas e pelas obras de Kardec3, Kardecistas4 e seus dissidentes5. No Anexo 1

    apresento uma breve biografia de alguns destes autores e suas obras. Grande parte

    da fundamentao terica do meu trabalho com a espiritualidade so das obras

    desses estudiosos e pesquisadores que ainda trilham e trilharam, pela doutrina

    esprita.

    1 Allan Kardec pseudnimo de Hippolyte-Lon-Denizard Rivail, professor, tradutor de livros e escritor. Nasceu em 1804. Em 1854 se interessou pelos fenmenos das mesas girantes (mesas que giravam sob a ao de uma fora extrafsica, ou esprito), passou a estudar os fenmenos espirituais, desenvolveu pesquisas por 30 anos e as sistematizou, dando origem codificao do espiritismo. (Audi, 2004). Ao me referir a religio esprita/kardecista usarei a terminologia Kardecismo ou Espiritismo. 2 Residia na ocasio em Caapava, cidade Paulista situada no Vale do Paraba. 3 Obras de Kardec: Genesis (1992a); Livro dos Mdiuns (1992b); Livro dos espritos (1993a); Evangelho segundo o espiritismo (1993b); e O cu e o inferno ( 1993c). 4 Kardecistas reconhecidos mundialmente por seus trabalhos literrios e de pesquisa: Francisco Candido Xavier; Jos Herculano Pires; Jorge Andrea dos Santos; Hermnio Correia Miranda; Incio Ferreira de Oliveira; Hernani Guimares Andrade; Alberto Lyra; Ary Lex; Divaldo Pereira Franco; dentre outros. 5 Dissidentes do Espiritismo: Waldo Vieira, Wagner Borges, Samuel de Souza, dentre outros.

  • 10

    Alm desses autores me interessei por outros que atuavam, estudavam e

    pesquisavam a espiritualidade (Umbanda, Rosa Cruz, Messinica, etc.), porm no

    me identifiquei com qualquer uma das vertentes religiosas, msticas e esotricas a

    ponto de tornar-me uma seguidora de qualquer uma delas.

    Desde criana me pergunto sobre a origem do ser humano: quem somos? De

    onde viemos? Para onde vamos? No me conformava com a finitude da vida,

    questionava a desigualdade entre as pessoas e observava a coerncia do

    comportamento dos adultos que pregavam as virtudes espirituais, tais como: amor,

    tolerncia, pacincia, cooperao, fraternismo, solidariedade, compaixo, respeito,

    dentre outras tantas. Morava no interior, o que facilitava conviver, fora dos templos

    religiosos, com as pessoas que os freqentavam e me chamava ateno o quanto

    tinham de incoerncia em suas aes. No Templo pregavam as virtudes e fora deles,

    muitos no as exercitavam. Este aspecto de observar a coerncia entre a fala e a

    ao das pessoas conservo at hoje em minha vida. Procuro vivenciar o que me

    percebo falando. Considero como importante no meu comportamento a existncia da

    coerncia entre o que falo, ensino e fao.

    Considero-me Crist. Acredito em Deus, no Sagrado, nas leis Divinas que

    foram ensinadas e vividas por Cristo e considero como importante a vivncia das

    virtudes espirituais.

    Dediquei, e dedico, a minha vida em tornar-me um ser humano melhor a cada

    dia, e profissionalmente propus-me colaborar para que as pessoas se tornassem

    melhores para si, para o outro e para o mundo.

    Cursando a faculdade de Psicologia entrei em contato com o trabalho

    desenvolvido na sade junto aos portadores de distrbios do desenvolvimento e

    patologias psiquitricas. Trabalhei durante o curso de Psicologia com grupos de

    trabalho em clnicas psiquitricas e freqentei reunies clnicas em hospitais de

    doentes mentais.

    Integrei-me em 1983 a um grupo composto por psiclogos e psiquiatras que

    estudava a espiritualidade e especificamente a Terapia de Vida Passada (TVP) 6.

    Participando deste grupo percebi a possibilidade de ligar a minha prtica profissional

    6 Terapia de Vida Passada, desde 1990 denominada mundialmente como Terapia da Regresso (TR) foi desenvolvida na dcada de 70 por Netherton (1997) e Fiore (S/D). Esses autores desenvolveram as duas tcnicas bsicas da Terapia da Regresso conforme os meus estudos (GODOY, 2002). A TR um trabalho teraputico que usa a regresso hipntica passiva e ativa da memria visando encontrar os traumas originais que provocaram os problemas vividos no presente pelas pessoas.

  • 11

    aos conceitos e prticas espirituais aprendidas em minha trajetria de vida. Com este

    grupo fundamos em 1986 a Associao Brasileira de Terapia de Vida Passada

    (ABTVP).7

    Montamos e levamos um dossi em 1989 ao Conselho Regional de Medicina

    (CRM) e ao Conselho Regional de Psicologia (CRP) explicando que a TVP se tratava

    de uma terapia eficiente e eficaz8 para o desbloqueio9 de traumas e que os contedos

    que provinham das experincias poderiam ser interpretados pelo terapeuta de acordo

    com as hipteses levantadas de: fraude10; fantasia11; criptomnsia12; percepo extra-

    sensorial13; vivncia de uma vida passada, etc. Caberia aos clientes a explicao das

    memrias trazidas pelo trabalho regressivo e ao terapeuta a observao e anlise de

    acordo com a sua vertente terica habitual. O Conselho de Medicina no se

    manifestou, porm o Conselho de Psicologia, em 1991, se manifestou contrrio

    prtica da tcnica alegando se tratar de vidas passadas que remetia ao conceito de

    reencarnao e esse conceito pertencia ao mbito das religies e no da psicologia.

    Passamos por muitas dificuldades. Sentimos de perto o preconceito, a

    discriminao e at a excluso de nosso trabalho pelos colegas de outras vertentes

    psicolgicas, pelo meio acadmico e at pelo prprio Conselho de Classe.

    Nosso Conselho de Classe nos pedia a fundamentao terica para a nova

    modalidade de terapia e a comprovao, por pesquisas, dos resultados efetivos que

    poderamos receber deste tratamento. Porm, no nos davam autorizao para

    realizarmos as pesquisas, as academias no nos aceitavam e no podamos associar

    o nome da psicologia aplicao da terapia da regresso. Camos em um crculo

    7 A ABTVP tinha o objetivo de estudar, pesquisar e sistematizar a teoria e as tcnicas da Terapia de Vida Passada (TVP) e elaborar um programa de formao para profissionais psiclogos e mdicos nesta forma de terapia. 8 Afirmao expressa por Netherton (1997) e Fiore (s/d) em seus livros e cursos que realizaram no Brasil. 9 Bloqueio: travas ou dificuldades que podem ser mentais, emocionais, fsicas, energticas e/ou espirituais e impedem que a pessoa no presente viva de uma forma plena, livre, e o mais feliz que possa. 10 Num sentido amplo, uma fraude um esquema ilcito ou de m f criado para obter ganhos pessoais (extrado da internet em 02/02/11 do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fraude). 11 Fantasia uma situao imaginada por um indivduo ou grupo que no tem qualquer base na realidade, mas expressa certos desejos ou objectivos por parte do seu criador (extrado da internet em 020211 do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fantasia). 12 Defino criptomnsia: falsa memria (GODOY, 2005) 13 Defino percepo extra-sensorial como a percepo que percebida alm dos cinco sentidos (olfato, tato, paladar, audio e viso). (GODOY, 2005)

  • 12

    vicioso! No aprovam porque no tem comprovao cientfica, no podemos fazer

    pesquisa porque no temos a permisso de nosso Conselho de Classe.

    Em 1992 soubemos que o Conselho Federal de Psicologia (CRF) estava

    requisitando pessoas para integrar equipes que formariam comisses para o estudo e

    anlise das tcnicas alternativas a Terapia da Regresso (TR) se enquadrava neste

    contexto. Solicitamos a permisso de enviarmos um representante de nossa vertente

    de estudo a alguma das comisses que iriam ser formadas. O CRF nos respondeu

    por um ofcio (ANEXO 2) que no havia mais esta possibilidade, pois os grupos j

    haviam sido definidos e nos pediu que respondssemos algumas perguntas que eles

    encaminhariam para a anlise em alguma dessas comisses. Pelo teor das perguntas

    verificamos que seria invivel produzirmos um material de qualidade at o trmino

    dos trabalhos das comisses.

    Resolvemos nos voltar para responder sem atropelos ou correrias, as

    perguntas e no tempo que tivssemos as respostas as encaminharamos ao

    Conselho Federal para que avaliassem a pertinncia, ou no, da validao da TR, o

    que, infelizmente, no conseguimos fazer enquanto grupo da ABTVP.

    Obedecendo a determinao do Conselho de tica do CRF desvinculamos a

    TR de nossa prtica como Psiclogos, porm continuamos, como pessoas, a

    trabalhar com a TR e pesquis-la, visando um dia reunir material suficiente para que

    fosse considerada como uma tcnica reconhecida no campo da Psicologia.

    Passamos a difundir nossos trabalhos de vrias maneiras, porm sempre

    salientando s pessoas e aos alunos que se tratava de um instrumento no

    reconhecido como tcnica psicolgica pelos CRPs e CRF.

    Alguns colegas realizavam palestras, outros realizavam cursos de formao de

    terapeutas, outros se dedicaram s pesquisas e outros escreviam. Nossa inteno

    era buscar o reconhecimento de uma terapia que se mostrava eficiente e eficaz no

    desbloqueio de traumas.

    Por meu lado criei, em 1990, o Grupo de Estudos e Pesquisas da Conscincia

    (GEPC), hoje denominado apenas como Grupo de Estudos da Conscincia (GEC) e

    com este grupo (existente e ativo at hoje) estudamos e desenvolvemos pesquisas

    no campo da espiritualidade e da terapia regressiva. Dei cursos de formao de

    terapeutas da regresso na ABEPTVP, proferi palestras, participei de eventos no

    campo da espiritualidade e psicologia.

  • 13

    Promovi com o GEC e em parceria com a ABTVP a vinda dos terapeuta

    expoentes na TR, para que dessem cursos de atualizao para nosso grupo de

    estudo e alunos. Em 1995 e 1999 trouxemos o psiclogo Morris Netherton14 criador

    de uma das tcnicas mestres da Terapia da Regresso. Em 1996 trouxemos o

    psiclogo Junguiano Roger Woolger15 que transcreveu a teoria proposta por

    Netherton e Edith Fiore para uma linguagem da Psicologia Junguiana e de 1987 at

    1997 trouxemos, por diversas vezes, o terapeuta Hans TenDam16 (Administrador com

    ps graduao em Pedagogia) que criou tcnicas que trabalham os bloqueios

    emocionais provenientes de desequilbrios no campo energtico e espiritual dos

    clientes.

    Fiz o Curso do Netherton com TenDam em 1986 e acompanhei e colaborei

    com ele no desenvolvimento dos conceitos tericos e tcnicos no mbito

    energtico/espiritual. Muitas das suas tcnicas aperfeioei e hoje fazem parte das

    tcnicas conscienciais com as quais trabalho. Tambm dessa parceria com

    TenDam que trago grande parte da teoria que fundamenta a Terapia da Conscincia

    Multidimensional (TCM) que desenvolvo desde 1990.

    A TCM tem a espiritualidade como sua fundamentao e suas tcnicas atuam

    no bloqueio e desbloqueio de problemas advindo da esfera energtica e espiritual.

    Concomitantemente a esses trabalhos, que desenvolvi com o GEC, e como

    participante da ABTVP fiz contato com as Associaes Internacionais que cuidavam

    do desenvolvimento e reconhecimento da TR no mbito mundial. Fui credenciada e

    qualificada como terapeuta regressiva por trs Associaes Internacionais: a

    IARRT17, o IBRT18 e a AAPLE19. Na IARRT fui qualificada como Professional Member

    Level I da IARRT em 1990; no IBRT em 2000 me tornei Past Life Therapist and

    Researcher Level Two e tive no mesmo ano o meu curso de formao de

    14 Morris Netherton, Psiclogo Americano responsvel pelo desenvolvimento da tcnica regressiva que se utiliza da hipnose direta, ou seja, usa como induo para a origem do trauma os prprios sintomas exibidos pelo cliente. Na Terapia da Regresso temos duas tcnicas bsicas das quais todas as outras se originam. Uma foi desenvolvida por Netherton e a outra pela psicloga Edith Fiore, que se utiliza da hipnose indireta, ou seja, o acesso as origens dos traumas se d pela induo indireta (GODOY, 2002). 15 Roger Woolger psiclogo Junguiano (1994). 16 Hans Wolfgang TenDam (1993, 94 e 97). 17 IARRT (The International Association and Research of Regression Therapies), USA. 18 IBRT- The International Board for Regression Therapy, USA. 19 AAPLE: The Association for the Alignment of Past-Life Experiences, Los Angeles- Califrnia, USA.

  • 14

    terapeutas nas tcnicas regressivas reconhecido e credenciado por eles como um

    Curso de Especializao em Terapia da Regresso e, na AAPLE em julho de 2000

    me qualifiquei como Master Therapist and Doctor of Philosophy and Techinique in

    Teaching, using the Netherton Method of Past Life Therapy e tambm tive meu curso

    de formao de terapeutas nas tcnicas do Dr. Netherton reconhecido como um

    curso de especializao. Hoje mantenho os meus credenciamentos na IARRT e na

    AAPLE. Deixei o IBRT por dificuldades que se apresentaram no sentido de

    realizarmos, aqui do Brasil, os pagamentos das anuidades para esse quadro de

    terapeutas da Terapia da Regresso.

    Em 1998 me desliguei da Associao (que na poca se chamava Associao

    Brasileira de Estudos e Pesquisas em Terapia de Vivncias Passadas - ABEPTVP).

    Resolvi sair da Associao por vrios motivos, dentre eles os mais importantes foram,

    em primeiro lugar, a perda de meus dois ltimos amigos que pertenciam ao grupo

    inicial que fundou a Associao e por quem tinha muito apreo e considerao, os

    psiquiatras: Lvio Tlio Pincherlle e Michel Chebli Maluf. Sem eles fiquei sem respaldo

    para tocar adiante a empreitada de estudos e pesquisas no campo da regresso, o

    que me levou ao segundo motivo.

    Desde 1990 com o GEC me voltei mais para o campo da espiritualidade do

    que para o campo da regresso. Com os estudos sobre a espiritualidade eu e o grupo

    percebemos que a TR era na verdade um conjunto de tcnicas20 e o arcabouo

    terico que a fundamentava, na verdade, era a fundamentao da Terapia da

    Conscincia, pois falava das bases espirituais. Com esta constatao resolvi me

    dedicar integralmente construo da Terapia da Conscincia Multidimensional. Para

    tanto essa possibilidade optei por me desligar definitivamente de qualquer cargo de

    administrao da ABEPTVP21.

    Sa da Associao, fundei o Centro de Difuso de Estudos da Conscincia

    (CDEC) 22, dei cursos de TR, Conscincia e em Cursos de Formao em Psicologia

    Transpessoal sobre a terapia da regresso no contexto consciencial.

    20 Eu e o GEC sistematizamos a teoria e as tcnicas da Terapia da Regresso que se transformou em 2002 no livro: Terapia da Regresso: teoria e tcnicas, editado pela Cultrix. 21 Fui uma das fundadoras da ABTVP em 1987, ocupei vrios cargos durante os 11 anos que l estive, tais como: tesoureira; diretora cientfica, vice presidente e presidente. 22 CDEC- empresa criada em 1998 com a finalidade de se transformar em uma escola e um centro de tratamento psicolgico, educacional e social e que foi fechado enquanto empresa em 2008, uma vez que nossos objetivos se voltaram para a nossa atuao na rea acadmica e no mais administrarmos nossos prprios cursos de formao de terapeutas.

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    Como disse, a TCM tem suas bases tericas na espiritualidade. Resolvi me

    dedicar ao estudo da TCM. A TR, que concluirmos ser apenas potentes tcnicas, no

    era aceita pela rea da Psicologia, o que dizer da TCM que trabalha com tcnicas

    que se prope a desbloqueios energticos e espirituais?

    Muitos j desenvolveram estudos e pesquisas no campo da espiritualidade e

    no tiveram o to esperado reconhecimento cientfico, pois a ortodoxia acadmica no

    campo da sade insiste em exigir a comprovao terica por meios do mtodo

    cientfico cartesiano. Muitos pesquisadores criteriosos e competentes no tiveram a

    valorizao cientfica dos seus trabalhos no campo da espiritualidade, principalmente

    se envolvessem pesquisa sobre esprito, paranormalidade, vidas passadas,

    transcomunicao, seres extraterrestres, etc., e at hoje, com todo avano cientfico

    que temos, ainda, encontramos muita resistncias, por parte do meio acadmico,

    para a aceitao e validao para essa modalidade de pesquisa.

    Podemos citar alguns autores que so expoentes no campo das pesquisas

    sobre temas relacionados a espiritualidade: Alberto Lyra, Amit Goswani, Annie Wood

    Besant, Ary Lex, Danah Zohar, D. Scott Rogo, Edith Fiore, Eliezer Mendes, George I.

    Gurdjieff, Hans Wolfgang TenDam, Hazel Denning, Helen Wambach, Herculano

    Pires, Hermnio Corra Miranda, Hernani Guimares Andrade, Ian Stevenson, Ian

    Marshall, Incio Ferreira de Oliveira, Jan Tober, Jeremiah Abrams, John Van Auken,

    Jos de Freitas Filho, Jorge Andrea, Jos Luiz Condotta, Joseph Banks Rhine, Juan

    Ribaut, Ken Wilber, Lee Carrol, Lvio Tlio Pincherle, Marisa Luedi Mutuberria Vieira,

    Michel Chebli Maluf, Morris Netherton, Patrick Drouot, Pierre Weil, Ranjan Banerjjee,

    Raymond Moody Jr., Roger Woolger, Stanislav Grof, Thorwald Dethlefsen, Valdo

    Vieira, Vera Helena Tanze, Wagner d'Eloy Borges, Winafred Lucas.

    Miranda brilhantemente teceu comentrios sobre a dupla discriminao que

    sofreu por parte da cincia e pelo meio kardecista em uma carta que me enviou em

    2003. Segue abaixo a transcrio de parte de seu depoimento e o anexo 3 contm o

    e-mail com a autorizao para divulg-la:

    (...) Na realidade, somos o passado, o presente apenas uma frincha terica no qual o futuro se despeja incessantemente no passado. l, portanto, no passado que temos de buscar a gnese dos desajustes. A regresso , a meu ver, uma decorrncia natural do processo da busca o que importa no procedimento teraputico o dilogo direto com a individualidade, o ser superior, o Id, o inconsciente ou como se queira denominar o interlocutor com o qual o terapeuta est conversando.

  • 16

    Bem, como voc sabe, o assunto muito me fascina e minha abordagem sempre a do leigo curioso, no do profissional da sade mental. Agrada-me observar o quanto caminhou, cresceu e amadureceu a psicologia desde h cerca de quarenta anos, quando comecei a escrever minhas reflexes sobre ela. Sentia-me eu desconfortvel, naquela poca, como algum que est falando sozinho. O meio esprita desconfiava de mim, porque ao ver de muitos leitores e leitoras eu no estava falando de espiritismo como era de se esperar e o meio acadmico e profissional mantinham uma olmpica e compreensvel -- atitude de desinteresse ante minhas ignaras observaes. Situava-me, pois, numa terra de ningum, exposto s balas perdidas do tiroteio mudo, pois o silncio era sempre a resposta, de um lado ou de outro, exceto quanto a algumas (raras) manifestaes de concordncia ou discordncia, usualmente, estas.

    Meu propsito era o de chamar a ateno para o problema, bot-lo em discusso, no mais do que isso. No Congresso Internacional em Braslia (1989), lamentei publicamente que os profissionais brasileiros de formao esprita s se lembrassem da realidade espiritual depois que fechavam a porta de seus consultrios. No que eu desejasse ou propusesse que levassem o espiritismo para suas prticas profissionais, mas que estivessem atentos a essa realidade que, antes de ser esprita, universal.

    Conceitos como reencarnao, sobrevivncia, imortalidade, mediunidade, possesso e coisas desse tipo no constituem objeto de crena so leis naturais, que simplesmente existem e funcionam, como as estaes do ano, o sol, a chuva, o ciclo, enfim, da criao.

    Sempre entendi que o profissional informado sobre tais aspectos tinha muito mais condio de desenvolver seu trabalho, do que os que sequer admitem a existncia da alma. Impacientava-me ver que essa virada na psicologia clnica estava como que sendo importada, basicamente dos Estados Unidos, a partir da exploso da temtica na segunda dcada dos anos 70 do sculo passado: Wambach, Fiore, Netherton, Cerminara, Kelsey, mas tambm Stevenson, Moody, Kbler-Ross e outros, em reas paralelas ou complementares.

    Agradeo seu interesse por minha opinio de leigo curioso e pelas generosas dedicatrias. Afetuosamente, Hermnio C. Miranda

    Rio, 22/26 novembro 2003

    uma pena! Perde a Psicologia, as Cincias no geral e as pessoas. Mas ns

    no perdemos a esperana de pesquisarmos e observamos os resultados das

    intervenes e trabalhos que fazemos levando-se em considerao a espiritualidade.

    Se no fomos aceitos na academia para pesquisar e estudar a terapia da

    regresso, como seria com o estudo e pesquisa da espiritualidade?

    Posso afirmar que foi muito trabalhoso! Muita resistncia e preconceito o que

    encontramos neste caminho, porm, sabamos, e sabemos, que o caminho seria

    rduo e penoso.

    Deparamo-nos, de novo, com o mesmo dilema, agora mais ampliado: Esprito,

    espiritualidade coisa da religio e no das Cincias.

  • 17

    De novo o dilema: No pode pesquisar porque no tem fundamento e no tem

    fundamento porque no se pode pesquisar. E a? Se no pudermos pesquisar como

    saberemos quando e como saberemos o que da espiritualidade pertence s religies

    ou so crenas e o quanto estamos experenciando realidades? Como sair deste

    crculo vicioso? No passado j tivemos autores renomados que se aventuraram nesta

    rea e no foram aceitos e reconhecidos. Quando que teremos nosso

    reconhecimento? Busco ancorar-me na Interdisciplinaridade, pois, tenho a esperana

    de que os estudos interdisciplinares podero futuramente respaldar esses

    questionamentos.

    Tenho a eternidade para plantar semente por semente por este mundo afora e

    quem sabe um dia verei uma bela plantao no como miragem, mas bem perto de

    mim e bem concreta e palpvel e que me encher de alegria e prazer por ter vingado

    o alimento que o meu esprito precisa para bem viver aqui na Terra.

    Novo desafio, novas dificuldades, velhos paradigmas a serem quebrados,

    porm agora com mais vivncia e maturidade de minha parte, sem lutas! Quebrar

    paradigmas exige: pacincia, espera, empenho, estudo, determinao e seriedade.

    Uma bela chance para treinar, na prtica, as qualidades espirituais que so o carro

    chefe da TCM.

    Com a TCM se educam pessoas dentro de uma filosofia de vida que

    intercambiada entre os participantes. Uns ensinam aos outros a arte de bem viver e

    viver com respeito a um Deus, aos homens e ao mundo. Realmente ela no poderia

    se fechar dentro de uma tcnica psicolgica ou dentro de uma corrente psicolgica

    especfica. Precisaria ganhar o mundo porque do mundo. Por que no almejar

    estud-la e pesquis-la no campo da Educao. Sim seria a sada. A Terapia da

    Conscincia uma forma de educao. Com ela se educam conscincias. esse o

    trabalho que desenvolvo no CDEC desde 2000. Dou cursos sobre a Conscincia

    Espiritual. Educo as pessoas nesses cursos para as realidades espirituais que

    existem. Discutimos sobre as patologias espirituais e descobrimos formas de

    tratamento. Eu e o grupo da conscincia fazemos o trabalho de educar conscincias

    h 11 anos! Hoje entendo porque sempre tive perto de mim tantos pedagogos. Queria

    dar cursos para psiclogos e mdicos e apareciam pedagogos. O que faziam ali?

    Hoje s entendo que me mostravam que o caminho da conscincia era, tambm, o

    educacional e no a sade.

  • 18

    A estratgia seria entrar no campo da Filosofia e/ou Educao e por estes

    caminhos espervamos estudar e pesquisar a espiritualidade.

    Optei pelo campo educacional.

    Comecei a vislumbrar essa possibilidade quando ingressei no Mestrado. Hoje

    escrevo com clareza sobre essa minha opo, mas na poca no tinha essa

    conscincia, apenas entrei no Mestrado para desenvolver meu projeto em um tema

    na rea da sade (desejava pesquisar as influencias energtico/espirituais em

    pacientes com quadro de autismo) e acabei desenvolvendo o meu trabalho no campo

    educacional.

    No Mestrado trabalhei com a incluso da pessoa portadora de deficincia no

    Ensino Regular Paulista23. Trabalhando com os preconceitos da incluso das

    pessoas portadoras de deficincia pude me perceber segregada, excluda e

    marginalizada por fazer parte de uma minoria que se interessa, estuda e pesquisa a

    espiritualidade. Compreendi a causa de minha diversificada trajetria profissional: era

    a busca de um grupo de algum lugar onde pudesse me expandir e estudar, com

    aceitao de um grupo, a espiritualidade. Nesta poca mais uma dica24 e eu no

    captei o significado. Estava no Mestrado em Distrbios de desenvolvimento e tendo

    uma vasta gama de opes para desenvolver meu tema no campo das patologias

    psquicas dos portadores de deficincia escolhi pesquisar no campo educacional:

    como eram includos os alunos portadores de deficincia no Ensino Regular Paulista.

    Fatos concomitantes nos mostravam brechas para estudarmos a espiritualidade

    sobre a tica educacional.

    Procurava o meu grupo e no Mestrado o encontrei. Mostrei-me enquanto

    espiritualista. Fui acolhida e aceita. Comecei a perceber o sentido da minha vida.

    Compreendi porqu fiz tantas coisas na minha vida e o porqu passei por tantas

    dificuldades. O Mestrado serviu para me juntar, e pude me aceitar enquanto

    diferente, agora com felicidade e alegria. Minha luta era pela incluso das pessoas

    ditas diferentes, e as pessoas que acreditavam e lutavam pela aceitao dos estudos

    sobre a espiritualidade eram mesmo diferentes.

    23 Desta dissertao de Mestrado produzi um livro sobre a incluso do aluno portador de deficincia no Ensino Regular Paulista (GODOY, 2002b) 24 Neste contexto a palavra dica significa o sincronismo. Termo que foi utilizado por Jung e que significa situaes, fatos que acontecem ao mesmo tempo. Para ns na Terapia da Conscincia significa que existe o plano espiritual, nossos orientadores nos fazem materializar situaes, nos do dicas pela materializao de algum fato, incidente do caminho que devemos seguir (GODOY, 2005).

  • 19

    Percebo-me como uma guerreira e pioneira. Sempre desbravando e lutando

    para a implantao do novo, sem me esquecer de fazer a ponte com o velho,

    atualizando-o e remodelando-o.

    Para contar o que entendi de mim e de meu sentido na vida necessrio

    descortinar outra faceta.

    Tive uma trajetria de vida muito diversificada. Estudei e atuei em diversos

    campos. Fiz muitas coisas concomitantemente. Terei que retornar no tempo e falar

    um pouco da pessoa Herminia.

    Foi difcil vir jovem So Paulo, ficar longe da famlia, trabalhar muito para

    pagar meus estudos, casar, ter filho relativamente jovem, com isto perder o pouco

    que havia conquistado profissionalmente e ter que me adaptar a uma profisso que

    comportasse zelar e cuidar de minha, agora, famlia. Ao me formar j estava

    trabalhando em uma empresa, no meu consultrio particular e estava encaminhada

    para fazer o mestrado. Tive que interromper tudo devido opo que fiz por ter a

    minha famlia: marido e filha.

    Parei o que fazia profissionalmente e comecei em outro campo de ao,

    porm, sempre mantive o consultrio particular.

    Em 1978 fui apresentada, por uma amiga de minha me, a um Juiz de Direito

    que tinha um projeto de desenvolver no Tribunal de Justia, nas ento chamadas

    Varas de Menores a audincia Interprofissional, que consistia no atendimento do

    menor e seus responsveis em uma audincia que contava com a presena de uma

    equipe multiprofissional: Juiz, Promotor, Assistente Social, Psiclogo, o menor, seus

    responsveis e s vezes seu advogado. Discutamos o caso e chegvamos a um

    acordo quanto melhor medida sob os diversos pontos de vista profissionais para o

    futuro do menor que estava sendo atendido. Na hora o caso era atendido e as

    medidas eram tomadas. No trabalhvamos com agendamento (como feito hoje em

    dia). Talvez neste momento estivesse praticando o que hoje entendo por

    Interdisciplinaridade.

    Comecei eu e mais trs colegas, este trabalho em 1979. Conseguimos a

    aprovao, pelo Tribunal, do projeto de nosso trabalho e fomos contratados como

    Psiclogos em 1981. De trs pessoas a equipe passou a contar com mais de 20

    profissionais. Criou-se o quadro de Psiclogos nas Varas de Menores e foi realizado

    o concurso para a ocupao dos cargos criados. Passei no concurso, ocupei o cargo

    de Psicloga-Chefe e permaneci no Tribunal at o ano de 1992, ocasio em que pedi

  • 20

    a exonerao para dar continuidade ao meu trabalho clnico e de formao de

    profissionais - psiclogos e mdicos no campo da terapia da Regresso e aprofundar

    os estudos no campo da conscincia.

    Quando falo que passei por momentos difceis me refiro a estes momentos que

    tive de encerrar uma caminhada pr-determinada e seguir para outra direo. Foi o

    caso de deixar o trabalho em recursos humanos, reduzir o trabalho clnico, sair de

    instituies de portadores de deficincia mental, deixar a estabilidade de um emprego

    onde era funcionria pblica. Passar a ser autnoma como psicloga clnica e cuidar

    da administrao domstica. So decises difceis. Somente mais tarde

    compreendemos a magia e beleza da mudana. , inicialmente, uma sensao de

    perda, porm, posteriormente uma sensao de ganho. Ganho de um novo. um

    recomear entre aspas, pois um comear em cima de um alicerce j construdo.

    Uma espiral. No se morre. Fica a essncia com mais aprendizagem e mais

    maturidade e no endender consciencial: mais conscincia de si, do outro e do mundo.

    Por isso, identifiquei-me com a Phoenix e assim pude, na ocasio do mestrado

    entender o processo de recomeo de minha vida vrias vezes, porm sempre num

    patamar acima e levando comigo a bagagem adquirida na etapa anterior. Qualifiquei-

    me de guerreira, desbravadora e pioneira: a cada etapa sofre-se menos, pois se tem

    a experincia adquirida para se sofrer menos e conseguir passar de uma etapa a

    outra com mais graa e encanto e com alegria e mais amor. Compreendi que a

    Educao era o meu campo de atuao no mbito da conscincia e estava vivendo

    na vida a minha prpria educao para a expanso de minha prpria conscincia. A

    Phoenix (Figura 1), Fnix ou Phoenix (grego) segundo Katiuscia de S25 :

    a lendria ave que ateia fogo em si mesma quando descobre que est para morrer. Ela povoou o imaginrio mitolgico das antigas civilizaes egpcia e grega. A lenda diz que a primeira Phoenix surgiu de uma centelha que o deus Ra soprou sobre a face da Terra, representando o Fogo Sagrado da Criao.Segundo a lenda, seu habitat entre os desertos da Arbia, entre as ervas e temperos aromticos. Ela vive por volta de 500 anos e aps esse perodo procura uma rvore solitria e, no alto de sua copa, faz seu ninho com canela, olbano (uma espcie de goma-resina, encontrado na frica e na ndia; especiaria muito utilizada na Antiguidade para se fazer incenso) e mirra (espcie de arbusto encontrado em regies desrticas, especialmente na frica e no Oriente Mdio). Ela, ento, ateia-se fogo e de suas cinzas surge um pequeno ovo vermelho de onde nasce uma outra Phoenix, mais forte e mais bonita. Ela representa a imortalidade do ser, o poder de mudana, de conscincia de si mesmo. Pode ser vista, tambm, como um

    25 Hellen Katiuscia de S. 13 de maro de 2005 (extrado do site: http://somostodosum.ig.com.br 21 de julho de 2010)

  • 21

    modelo de perfeio ou de beleza absoluta. Na mitologia egpcia a Phoenix reverenciada como a personificao do deus Ra (deus do sol). Existe somente uma da espcie e por isso que o deus Ra jurou que enquanto a Phoenix renascer das cinzas, a esperana, no mundo, nunca morrer. Portanto, a Phoenix representa a depurao da alma. Segundo a lenda, o tamanho da ave assemelha-se ao da guia. Tem olhos brilhantes como as cores das estrelas. Sua plumagem dourada no pescoo e no papo; prpura no restante do corpo; possui uma crista formada por penas finssimas e delicadas, sendo sua calda constituda por penas longas e suaves, nas cores branca e vermelha. Na mitologia oriental tambm existe uma Phoenix que simboliza a felicidade, a virtude e a inteligncia. E sua plumagem feita das sete cores sagradas para os orientais: as cores do arco-ris. Que tal nos vestirmos de Phoenix e renascermos a cada passagem de nossas vidas, sempre visando o aperfeioamento moral? Certamente um belo convite.

    Figura 1: Phoenix26

    Fui batalhadora e guerreira e renasci literalmente por trs vezes, cada uma

    delas numa condio melhor. Nasci prematura, de 7 meses, e segundo informaes

    de minha irm mais velha e de minha me cheguei a morrer por trs vezes e fui

    ressuscitada por passes e oraes de uma me de santo que tinha seu centro na

    esquina de minha casa. Nesta ocasio morvamos em Lorena, cidade Paulista

    situada no Vale do Paraba. Associo este fato a ligao forte que trago com as

    vertentes espiritualistas provindas dos cultos africanos: Candombl e Umbanda.

    Podem os cticos darem outras explicaes, porm, na construo do meu ser ficou

    marcada a informao de que esses singelos trabalhadores das tendas de Umbanda

    salvam muita gente, e me salvaram. Para mim a espiritualidade vida, crescimento,

    maturidade no viver a vida. Trabalho a espiritualidade como uma realidade: vivo e

    26 Extrado do site: http://somostodosum.ig.com.br 21 de julho de 2010.

  • 22

    coabito com seres multidimensionais. Sou eterna, vim de algum lugar deste espao,

    estou aqui provisoriamente e para o espao infinito voltarei!

    Muitos outros episdios teria para contar sobre as dificuldades que passei em

    meus quase 55 anos de vida. No vou me reportar s dificuldades que atravessei em

    meu passado mais remoto. Ater-me-ei neste trabalho s dificuldades que chamarei de

    revolues em meu passado mais recente, desde que decidi fazer o Doutorado;

    discorrerei sobre as diversas concepes existentes sobre espiritualidade e a as

    possibilidades de uma Educao que leve em considerao a conscincia espiritual.

    Traarei um paralelo entre a Educao Interdisciplinar e a Terapia da Conscincia e

    trarei os resultados de minhas observaes em aula sobre a Interdisciplinaridade

    vivida, ensinada e praticada por Fazenda.

  • 23

    2 AS REVOLUES DO MEU SER

    Passei por 4 grandes revolues. Todas, coincidentemente, tiveram seu climax

    em agosto de cada ano: 2007; 2008; 2009 e 2010. Posso dizer que as trs primeiras

    foram revolues nas quais me desconstru e as vivenciei com uma intensidade

    negativa muito grande, somente senti a ao positiva no desfecho. No que chamei

    acima de clmax que se d o insight de que o processo negativo foi necessrio para

    deixar vir a tona o aspecto positivo que estava escondido, embutido. a analogia

    com o parto. dolorido, mas dele surge uma bela criana e uma grande oportunidade

    de exercermos a maternidade e constituirmos famlia. A quarta foi a primeira

    revoluo que pude perceber como positiva. a Phoenix queimando e deixando o

    seu ncleo cada vez mais fortalecido e belo.

    2.1 PRIMEIRA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2007

    Minha primeira revoluo ocorreu no meio do primeiro semestre de 2007

    quando comecei a fazer o pr-projeto para apresentar ao processo de seleo de

    alunos para o doutorado no Programa de Educao/Currculo da PUC/SP.

    Conheci a Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda27 no incio do primeiro

    semestre de 2007, por intermdio de minha colega e amiga Profa. Simone Andrade.

    Fazenda conheceu o meu trabalho com a Terapia da Conscincia e sugeriu que eu o

    levasse para a academia. Ela me despertou a vontade de galgar mais uma etapa

    evolutiva, quando vi a possibilidade de entrar para a academia e discutir no meio

    27 No desenvolver do trabalho me referirei a Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda como Fazenda.

  • 24

    acadmico, no Programa de Educao/Currculo, os meus achados sobre a

    conscincia no campo da espiritualidade. Mais um desafio em minha vida!

    Primeiro foi muito difcil sair do meu ponto de conforto e estabilidade para

    comear outra etapa de vida: a vida de doutoranda.

    Tinha acabado de me aposentar28, possua uma carreira de psicloga clnica

    sedimentada, uma rotina de trabalho estabelecida, cursos e viagens com a famlia

    programados com antecedncia, minha filha encaminhada. Entrar no doutorado

    significava abrir mo de tudo isto e partir para algo novo. De novo deixar uma vida de

    certezas por uma desconhecida. Meu lado ousado, desbravador e desafiador falou

    mais alto do que meus medos e inseguranas e, vendo uma grande oportunidade de

    crescimento tanto pessoal como da prpria Terapia da Conscincia, decidi aceitar o

    desafio. Para elaborar o projeto e pensando em ter Fazenda como orientadora

    comecei a ler seus livros para me inteirar sobre a Interdisciplinaridade.

    Encontrei muita dificuldade para entender o que era exatamente a

    Interdisciplinaridade. Venho de uma formao Comportamental-Cognitiva29, e, tenho

    dificuldades no entendimento das linguagens mais abstratas, subjetivas, advindas da

    fenomenologia, do existencialismo, dos modelos psicolgicos mais interpretativos

    como a psicanlise, transpessoal ou da terapia analtica. Causava-me apreenso os

    escritos sobre Interdisciplinaridade.

    Entrei em uma revoluo que abalou todas as minhas certezas e convices.

    Estava me candidatando a academia para trabalhar e pesquisar sobre a

    espiritualidade e estava conhecendo uma disciplina que falava coisas que eu tinha

    muita dificuldade para entender.

    Resolvi ser eu mesma e falar sobre o que eu sabia e pretendia fazer l na

    academia: estudar e pesquisar sobre a espiritualidade. Nada poderia me acontecer

    28 Hoje 2011, tenho 33 anos de atuao no campo da psicologia clnica, mesmo tendo me aposentado em 2007 continuo o meu trabalho como psicloga clnica e organizadora e docente de cursos sobre a Conscincia como Autnoma. 29 Comportamental-Cognitiva: correntes psicolgicas que evoluram a partir da teoria estmulo-resposta (GODOY, 2001). Tem suas bases no empirismo, no pensamento lgico, concreto e objetivo. Seus representantes mais expoentes: 1 fase: Pavlov (Experimental); Watson (Behaviorismo); Thornidike (Aprendizagem); 2 fase: Skinner, Hull; Levin; 3 fase: Wolpe, Lazarus; Shapiro, Beck (no APNDICE 1 apresento o esquema que elaborei da evoluo da teoria estmulo-resposta, que permite uma melhor compreenso do que so estas correntes psicolgicas e de onde se originaram). Segundo estudos que fiz em 2001 a evoluo da teoria estmulo resposta a base que fundamenta na Hipnose clssica, Terapia Ericksoniana, Terapia Regressiva e a Terapia da Conscincia.

  • 25

    de mal. O que poderia acontecer era no passar e se isto ocorresse voltaria de onde

    havia sado: para minha casa, meu trabalho e meus cursos.

    Passei na seleo e comecei a cursar o doutorado no primeiro semestre de

    2008.

    2.2 A SEGUNDA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2008

    Quanto mais lia sobre Interdisciplinaridade, quanto mais assistia s aulas,

    escrevia, participava de eventos, debates, mais questionamentos me surgiam sobre o

    que era a Interdisciplinaridade. Gostava das pessoas, gostava de estar ali, mas era

    difcil compreender o que falavam, devido maneira simblica e abstrata de como

    falavam. No entendia o que era a Interdisciplinaridade no entendia os escritos dos

    autores da Interdisciplinaridade, porm, algo me intrigava. Observava a ao da

    professora e do grupo. Percebi neles o exerccio das qualidades espirituais que me

    propus a descrever no meu trabalho de tese, principalmente a coerncia, a entrega, o

    desprendimento, o carinho, o fraternismo, o acolhimento: o exerccio do amor.

    Com a vivncia das aulas da Interdisciplinaridade, percebi que o contedo, as

    qualidades espirituais, que eu achava que era algo indito, merecedor de ser

    transformado em uma tese era vivido e exercitado pela professora e pelo grupo de

    colegas da Interdisciplinaridade das mais diversas formas possveis.

    Fazenda (2010) fala que na Interdisciplinaridade a atitude do professor se

    pauta nos princpios da espera, desapego, humildade, respeito, coerncia; fala da

    importncia do autoconhecimento e a cada dia que passava mais constatava a

    vivncia dessas qualidades na professora e no grupo de alunos. Existia muita

    coerncia no que Fazenda ensinava e agia com o grupo de alunos.

    O que eu achava como novo e indito escrever sobre a importncia da

    vivncia das qualidades espirituais, no tinha nada de indito. A professora e o grupo

    VIVIAM as qualidades espirituais em seu dia a dia. As atitudes dela e do grupo em

    sala de aula eram uma grande demonstrao de pacincia, tolerncia, respeito,

    escuta, entrega, cuidado, carinho e amor. Diziam que estavam vivenciando os

    princpios da Interdisciplinaridade: a espera, o desapego, a humildade, o respeito e a

    coerncia.

  • 26

    Resultado! Desconstru meu objetivo de tese e desconstru a mim mesma.

    Desde que comecei a estudar e pesquisar a terapia da Conscincia

    compreendi que nada era indito. J havia pensado que a terapia da conscincia

    continha conceitos inditos, e que o meu trabalho era o de reeditar o novo, dando-

    lhe a vestimenta da atualidade.

    Percebi que estava de novo na vida fazendo um exerccio de resgate de velhos

    conhecimentos, j esquecidos, por vezes deturpados e outras vezes apropriados por

    outros autores. Percebi que vivia um dos principais preceitos da investigao

    interdisciplinar: tornar novo o velho. Desde cedo me atriburam trs caractersticas e

    com elas consegui fazer grande diferena no que fao e por onde passo:

    competncia, seriedade e organizao. Percebi com esta experincia de no

    encontrar o indito, que o meu trabalho seria, de novo, o de escriba, como costumo

    me qualificar: escrever sobre conhecimentos que outros no tem tanta destreza para

    faz-lo (competncia); trazer para a atualidade um velho conhecimento dando-lhe

    uma nova vestimenta (seriedade) e sistematizar conhecimentos (organizao).

    Exercer este talento, agora conscientemente percebido, levou-me a me exercitar

    talentos adormecidos, recuperando o sentido maior de minha vida.

    Ao pensar que escrever o velho atualizando-o sempre foi o meu papel e era o

    meu mrito e que de novo na vida faria algo que sei bem fazer, consegui me reerguer

    e recuperar a minha autoestima. Tinha outro desafio: aprender a linguagem abstrata

    com a qual este grupo se comunicava e por meio de uma observao e participao

    ativa sistematizar o conhecimento e mostrar que o que eles faziam nada mais era do

    que viverem as qualidades especficas de cada um, seus talentos espirituais. Era o

    ensinar as qualidades por meio da vivncia e do exemplo na interao fraterna e

    amorosa com o outro.

    Percebi que este grupo vivia e respirava a terapia da conscincia, so

    educadores de conscincias e, portanto: terapeutas conscienciais, formados ali pela

    Interdisciplinaridade de Fazenda.

    Falavam, com outras palavras, as mesmas coisas que eu falava e exercitavam

    a mesma coisa que eu exercitava, ou busco exercitar, que so as qualidades

    espirituais, essncia da Terapia da Conscincia.

    Fiquei radiante, pois, havia encontrado o grupo que h tempos procurava.

    Resolvi enfrentar e continuar a construo de minha tese.

  • 27

    Minha tendncia na vida, desde que nasci, nunca foi de recuar frente a um

    desafio. Passei por muitas mortes, perdas, quedas, tropeos, empurres,

    rasteiras, mas sobrevivi, por vezes lutei e sempre me levantei. Entendo pela tica

    da Terapia da Conscincia que problemas e dificuldades so desafios que contm

    grande chance de aprendizagem e precisam ser vencidos (GODOY, 2005).

    Vieram-me idias e sentei-me para escrever. No momento que escrevia cada

    palavra aconteceu um movimento de desbloqueio como um claro. Percebi o

    esqueleto de meu trabalho, e continuando a escrever tive insights30 dos caminhos

    que poderia percorrer. A cada dia as idias afloravam em grande profuso,

    exploses de iluminaes. A cada momento que me sentava para escrever o que

    havia pensado, ao comear a escrever j surgiam mais idias e o contexto da escrita

    se modificava. Vivenciei o processo da espiral da dialgica31.

    As diversas experincias e conhecimentos que temos se interconectam e

    formam outro elemento, mais forte, mais amplo e mais potente. Cada idia nova que

    se apresentava era mais perfeita e se encaixava melhor no contexto do que a idia

    inicial. Vivenciei a teoria que estudei por um ano e que no conseguia entender

    direito. a Phoenix ganhando mais fora em seu centro.

    Resolvi escrever sobre o meu trabalho da terapia da conscincia. E foi o que

    fiz. Apresentei em junho de 2009 o meu primeiro ensaio de tese para a professora

    ela me retornou o parecer em agosto de 2009.

    2.3 TERCEIRA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2009

    Nova decepo. Meu trabalho no foi bem visto pela professora, pois falei

    muito do aspecto da espiritualidade no mbito das patologias, de forma emprica e

    impessoal, nada a ver com a linguagem subjetiva, pessoal e vivencial da

    Interdisciplinaridade.

    30 Insight: capacidade de observao profunda, ato de enxergar intuitivamente. (Extrado do site: http://pt.wikipedia.org em 15/08/10) 31 Espiral dialgica, metfora utilizada por Morin (in Fazenda, 2008) para simbolizar que o conhecimento nunca se fecha.

  • 28

    Novamente me desconstru, fiquei perdida. De novo no sabia para onde ir.

    Abateu-me o desnimo. Cheguei a me paralisar, me deixei paralisar.

    Por momentos pensei em seguir outro o caminho, o de mostrar quantos e

    tantos j falaram da espiritualidade no meio acadmico, e formaram escolas, como

    Steiner (2008), por exemplo. Pensei em escrever sobre as dissertaes e teses

    defendidas e que versam sobre a espiritualidade nos ltimos anos. S de um

    pequeno levantamento (ANEXO 4) encontrei as dissertaes de Bigheto (2006);

    Candello (2008); Datti (1977); Rozenkviat (2006); Vasconcelos (2005) e as teses de:

    Almeida (a) (2004); Almeida (b) (2004); Berger (2001); Garcia (2007); Incontri (2001);

    Saldanha (2006). Refleti e no me identifiquei com este caminho, e, como bem diz

    Fazenda a todo o momento em aula: precisamos nos apaixonar por nossa

    dissertao ou tese! E minha paixo a Terapia da Conscincia e sua aplicao no

    mbito educacional. Teria que ser capaz de escrever sobre este tema.

    Resolvi realmente parar para observar e aprender na prtica vivencial a

    Interdisciplinaridade, lugar onde vi tantas pessoas vivendo e praticando a

    espiritualidade que promulgo e procuro utilizar em todos os sentidos de minha vida os

    cinco princpios da Interdisciplinaridade arrolados por Fazenda (2003): coerncia,

    respeito, entrega, desapego e humildade.

    Parei as leituras, as tentativas de escrita e fui observar e viver a vida como ela

    se apresentava. Deliberadamente paralisei e resolvi acompanhar o fluxo das aulas,

    observar e registrar o aprendizado da Interdisciplinaridade de uma forma vivencial na

    prtica. Li e no entendi, agora vou aprender na vivncia e na prtica a teoria da

    Interdisciplinaridade e assim o fiz por um ano.

    Consegui compreender a Interdisciplinaridade a partir da vivncia da

    Interdisciplinaridade de outras pessoas. Senti-me interdisciplinar. Vivi de dentro para

    fora do meu ser a Interdisciplinaridade, porm, precisava me apaixonar pelo exerccio

    da Interdisciplinaridade: incorporar a minha essncia Interdisciplinaridade. Na minha

    essncia j estava a terapeuta. Sei tratar as pessoas para que desenvolvam as

    qualidades espirituais, porm precisava aprender a ENSINAR as pessoas a

    exercitarem com alegria e prazer as suas qualidades espirituais despertas. Sabia

    despertar, mas no ensinar o gosto pelo exerccio dessas qualidades na vida.

    Compreendi que ser terapeuta de conscincias diferente de ser educadora de

    conscincias.

  • 29

    Iniciava-se uma nova etapa em minha vida, sem mais lutas, um novo

    aprendizado: o aprender a ser uma educadora de conscincias, assim como Fazenda

    ensinava o grupo a ser. Educar com espera, humildade, respeito, coerncia e

    desapego. Compreendi que precisaria viver o exerccio dessas qualidade para

    aprender a ser uma educadora interdisciplinar, ou de conscincias, como tambm

    chamarei. Entendo que estes princpios constroem o educador interdisciplinar e as

    qualidades espirituais constroem o ser com humanidade.

    Refleti na fala de Fazenda (2002, p. 63) que bem explica o movimento

    psicoconsciencial32 pelo qual passei:

    O profissional que no consegue investigar questes especficas de sua rea de conhecimento, ou no teve a oportunidade de pesquisar-se a si mesmo, necessariamente no poder projetar seu prprio trabalho, avaliar seu desempenho e contribuir para a construo do conhecimento de seus alunos.

    Fazenda se refere contribuio do educador para a construo do

    conhecimento do aluno, porm, acredito que esta caracterstica vivenciar o

    processo que se ensina importante para todo ser humano em qualquer profisso,

    no s para o educador. Eu precisava vivenciar o ser educador de conscincias.

    Resolvi enfrentar!

    Agora precisava entender o que todo este movimento estava me ensinando.

    Precisava aprofundar meus conhecimentos sobre a Interdisciplinaridade. Percebia

    que se atentasse para mais profundamente vivenciar os princpios conscienciais

    estaria mais me aproximando de compreender pela vivncia a Educao

    interdisciplinar. Minha vida precisava de coerncia. Era o primeiro princpio que iria

    colocar em prtica. Fazenda, em uma de suas aulas, pediu que escolhssemos uma

    palavra que representasse a essncia de nosso trabalho. Na ocasio escolhi

    conscincia. Agora percebi que conscincia era a palavra para aquele momento de

    vida, porm a palavra de minha vida sempre foi coerncia. Sempre observei nas

    pessoas a coerncia entre o que falavam, sentiam e faziam. Tambm sempre me

    cobrei coerncia e percebi que estava deixando de lado aspectos de minha vida

    que faltava coerncia.

    32 Denomino o trabalho teraputico realizado pela terapia da conscincia como trabalho psicoconsciencial, que significa a juno de psicolgico com conscincia que engloba o trabalho energtico e espiritual (GODOY, 2005).

  • 30

    O primeiro passo que dei foi o de exercitar nas aulas a escuta silenciosa, a

    observao, a reflexo e dirigi a ao para minha vida pessoal, social, familiar e

    profissional. Tomei uma srie de decises e antecipei alteraes que estavam

    previstas para aps a concluso do meu doutorado. Inverti a ordem. Precisava ser

    coerente para mim mesma e a hora era aquela.

    O segundo passo foi aproximar-me de meus amigos e familiares. Passei a

    cuidar mais de mim, alimentar-me melhor, fazer exerccios, passeios, leituras e

    passatempos descompromissados com a aquisio de conhecimento formais. Fechei

    a minha empresa, o CDEC, diminui o ritmo de trabalho clnico, suspendi minhas

    orientaes a alunos do curso de formao de terapeutas da regresso no contexto

    consciencial, adiei por um perodo indeterminado os cursos da conscincia e comecei

    a fazer parte de vrios grupos de estudo. Com essas medidas, algumas difceis,

    outras fceis, passei a me sentir inteira, a admirar e gostar mais de mim. Senti-me

    mais leve e de bem e em paz com a vida. A alegria comeou a aparecer em meu dia

    a dia.

    Deixei me envolver pelas e com as pessoas. Posso dizer que abri outros

    horizontes, reprogramei muitos departamentos de minha vida, usufrui e resgatei

    relacionamentos adormecidos e esquecidos, enfim, fiz tudo que planejava fazer

    depois que terminasse a minha tese de doutorado. No me angustiava mais com a

    falta de evoluo em meus escritos. Tinha a certeza que ela sairia, no tempo e na

    hora certa.

    Como terceiro passo passei dois semestres como ouvinte e observadora nas

    aulas sobre Interdisciplinaridade, sem me distanciar. Estava presente, participante,

    observadora de todos e de mim mesma: sujeito e objeto ao mesmo tempo. Estava

    aprendendo a ser educadora, principalmente educando e reeducando a mim mesma.

    Neste tempo, concomitantemente, comecei a organizar o cadastro do GEPI33.

    Consegui realizar o cadastro de 167 pessoas, o que demandou a criao de um

    grupo de discusso, pois era impossvel contatar tantas pessoas ao mesmo tempo

    com cada um fazendo uso de um provedor diferente e sendo perdidas tantas

    informaes preciosas e sem opo de dilogo com todos do grupo. Inicialmente

    criamos no Google o grupo de discusso, aps trocamos para o grupo do Yahoo pois

    33 Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade, criado e coordenado pela Profa. Dra. Ivani Fazenda. As atividades e reunies do GEPI so presenciais por meio de reunies ou virtuais, por meio de um grupo de discusso no Yahoo e de uma Home Page.

  • 31

    nos oferecia maiores opes para sistematizarmos nossos arquivos de informaes.

    Poderamos arquivar nossos documentos, poderamos falar com todos ao mesmo

    tempo e ter uma nica fonte para conectarmo-nos. Esse grupo no Yahoo foi chamado

    de GEPINTER (Figura 2)34.

    Figura 2: Pgina inicial do GEPINTER

    Com este trabalho pude colocar em prtica de forma ativa a experincia que

    estava aprendendo de forma silenciosa. Pude ativamente me relacionar, interagir com

    as pessoas do grupo e lhes ensinar com pacincia, humildade, respeito, entrega e

    desprendimento como realizarem o cadastro no grupo; como visualizarem a pgina

    na internet, como anexarem arquivos, como abrirem e capturarem as informaes

    arquivadas na pgina e como realizarem as discusses com o grupo. Com este

    procedimento na prtica o grupo ganhou autonomia e conscincia de que podiam

    34 O GEPINTER grupo virtual no Yahoo do GEPI. Tem o objetivo de abrir dilogo entre os membros do GEPI para que ocorra a troca de conhecimento, idias e experincias. Pretende manter todos integrantes informados sobre o que ocorre nas aulas presenciais de Fazenda. formado por professores, mestrandos, doutorandos e alunos egressos do Programa de Ps - Graduao em Currculo da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Este grupo, estabelecido em 1986, sob a orientao da Professora Doutora Ivani Fazenda, tem promovido pesquisas a respeito da Interdisciplinaridade em vrias reas do conhecimento, alm da educao, tais como arquitetura, administrao, direito, jornalismo, artes plsticas e sade. Endereo eletrnico: [email protected].

  • 32

    acessar um instrumento que at ento era to incompreensvel a eles e, por vezes,

    at aversivo, que o computador.

    Temos cadastrados no GEPI, como citei acima, 167 pessoas e no gepinter 70

    pessoas. Ainda falta muito mas tenho insistido e, devagar, conseguiremos a adeso

    de um maior nmero de colegas e conseguiremos com o tempo mostrar que a

    ferramenta do grupo pode ser uma forma de contato mais rpido e eficiente entre ns.

    Qualquer quebra de padres assusta e leva um tempo para ser assimilada. Creio que

    j conseguimos muita coisa em menos de 2 anos de trabalho.

    Paralelamente a este trabalho, Menggalli35 trouxe a possibilidade de reativao

    da Home Page do GEPI, e orientou-nos que a home poderia ser gerenciada e

    repaginada pelo prprio setor de informtica da PUC/SP. Para tanto teramos que

    entregar ao setor de informtica as informaes que alimentariam a pgina. Fiz o

    esquema do que conteria a pgina obedecendo ordem da Home j reelaborada por

    Hage36 em 1990. Fui buscar a atualizao das produes literrias sobre

    Interdisciplinaridade: a atualizao dos livros, dissertaes e teses. Consegui com as

    pesquisas de Hage, Aranha37 e contatos com os colegas, relacionar as dissertaes e

    teses concludas e em andamento que foram orientadas por Fazenda no perodo de

    1986 a 2010.

    Com a criao do gepinter j consegui a inter-relao entre os colegas. Com a

    Home (figura 3) 38 vislumbrei a possibilidade de reativar a interrelao do nosso grupo

    com pessoas e grupos num mbito nacional e mundial. Poderamos receber e enviar

    comunicaes a pessoas dos vrios pontos do planeta. Estava reativada a rede de

    comunicao mundial do GEPI.

    35 Profa. Neli Menggali, doutoranda do Programa de Educao/Currculo. 36 Prof. Dr. Ricardo Hage de Matos, doutor em Educao/Currculo, da PUC/SP, em 2003, sob a orientao de Fazenda. 37 Profa. Mariana Aranha Moreira Jos, doutoranda do Programa de Educao/Currculo e orientanda de Fazenda. 38 Instrumento virtual de comunicao do GEPI. Pode ser acessada pelo endereo: http://www4.pucsp.br/gepi/

  • 33

    Figura 3: Pgina inicial da home do GEPI

    Concomitantemente comeamos a preparar a edio da revista do GEPI

    chamada Interdisciplinaridade (Figura 4) que foi registrada pelo CBISSN - Centro

    Brasileiro do ISSN39 e entrou no ar em outubro de 2010 e assim concretizou-se mais

    um instrumento de comunicao e troca de conhecimentos entre o Gepi e os

    interessados na Interdisciplinaridade do mundo afora: a revista sobre

    Interdisciplinaridade.

    Figura 4: Pgina inicial da revista do GEPI

    39 CBISSN - Centro Brasileiro do ISSN - Nmero Internacional Normalizado para Publicaes Seriadas (International Standard Serial Number): ISSN: 2179-0094 site: http://pucsp.br/gepi/revista/

  • 34

    Pelas palavras que escreveu no editorial percebemos a felicidade da professora

    com a concretizao da revista e, como nos disse, era um de seus sonhos:

    EDITORIAL40

    No dilogo com pesquisadores brasileiros e internacionais, temos visto que as questes referentes Interdisciplinaridade, da Interdisciplinaridade e para a Interdisciplinaridade, tm apontado inmeras solicitaes nos mais diversos campos do conhecimento.

    Nesse sentido, surge a necessidade de ampliarmos o debate desta temtica a toda a comunidade acadmica, a fim de que aqueles que se dedicam ao seu estudo possam encontrar, nos artigos por ns publicados, parcerias em suas reflexes e prticas.

    Esta primeira edio marca o incio de um novo percurso. Aps termos publicado mais de trinta livros nesta rea, chegou o momento de utilizarmos outras ferramentas para DIALOGO, no caso a virtual. Iniciamos a conversa a partir do texto A formao do professor pesquisador 30 anos de pesquisa. Nele, revisamos a histria das pesquisas em Interdisciplinaridade nos ltimos trinta anos a partir de seus procedimentos metodolgicos. Palavra, vida, metfora., sintetizam cada capitulo aqui enunciado. Pesquisadores da PUCSP, parceiros nacionais e internacionais , renem-se neste momento abrindo os braos para uma nova forma de socializar, onde a indagao, a provisoriedade, o ineditismo , a ousadia fazem-se presentes.

    Perguntar, no responder, eis o objetivo principal desta Revista.

    ABRAOS Fraternos Ivani Fazenda

    Editora Outubro de 2010

    Percebi que esse perodo trouxe-me a vivncia prtica de um dos grandes

    princpios da Interdisciplinaridade: a ao. Pela ao aprenderia a ser uma

    educadora interdisciplinar

    Outros questionamentos vieram-me mente, tais como: Vivi e senti a

    Interdisciplinaridade ou a fora interdisciplinar de Fazenda? Quem sou eu agora?

    Onde fica a Terapia da Conscincial? Qual a relao da Interdisciplinaridade com a

    conscincia e espiritualidade? O que aprendi de Interdisciplinaridade neste perodo?

    O que a Interdisciplinaridade me ensinou? O que a Interdisciplinaridade? A

    40 Revista: Interderdisciplinaridade., So Paulo, v. 1, n. 0, p.01-83, out. 2010.

  • 35

    Interdisciplinaridade pode ser ensinada? Aprendida? Como Fazenda ensina a

    Interdisciplinaridade? Como os alunos aprendem a Interdisciplinaridade? Qual a

    espiritualidade da Interdisciplinaridade? Qual o sentido espiritual de uma prtica

    interdisciplinar?J posso me considerar uma educadora interdisciplinar?

    Percebi que estava expandindo meu olhar para meu intrapsquico, as pessoas

    e para o mundo. Muitas perguntas. Muitos caminhos e muitos questionamentos,

    ainda, sem respostas.

    Na Terapia da Regresso e na Terapia da Conscincia o terapeuta trabalha

    com o cliente para que ele mergulhe em seu intrapsquico se ligue sua

    hiperconscincia41 e busque as respostas para os seus problemas dentro de si

    mesmo.

    Partimos da hiptese (GODOY, 2005) de que dentro de cada um existe uma

    conscincia maior que sabe de nossa histria e tem a sabedoria e possui as

    respostas para os nossos questionamentos existenciais sobre: quem sou eu? O que

    fao nesta vida? O que quero desta vida? De onde vim? Para onde vou? Qual o

    sentido de minha vida? Que lies tenho que aprender com esta vida? Que tarefas

    tenho que desenvolver nesta vida? Quem so as pessoas ao meu redor? Qual a

    representao e significado de cada uma em minha vida? O que aprendemos com

    elas? Como me relaciono com amigos, inimigos, familiares, clientes, amigos,

    sociedade, mundo, etc.? O que colaboro para a melhora do mundo?

    As respostas a estes questionamentos se encontram dentro de cada um no

    centro de sabedoria, ou essncia, ou eu superior, como so conhecidos centros

    sbios. Quando nos ligamos ao centro de sabedoria interno descobrimos as

    respostas aos nossos questionamentos (tarefa nada fcil no incio de um processo de

    treinamento) e construmos, como costumo me referir aos meus clientes e alunos, a

    nossa prpria cartilha de vida. Cada um escreve a sua cartilha tendo por base sua

    conscincia e vivncia ou seguindo as leis universais que governam e regem todo e

    qualquer ser humano segundo a viso de Kardec (1992b). Podemos nos esconder

    para as pessoas, mas nunca para a nossa conscincia interior. Essa sabedoria

    interna nossa espiritualidade e para alcan-la precisamos viver exercitando as

    qualidades espirituais, principalmente o amor, humildade e entrega. Este , em

    resumo, o trabalho teraputico que fazemos na Terapia da Conscincia.

    41 Denomino hiperconscincia como termo similar a essncia, partcula Divina, Esprito, eu superior (GODOY, 2005).

  • 36

    Trabalhamos na Terapia da Conscincia com o conceito de que no existe

    uma verdade absoluta (GODOY, 2005). De forma cientfica nos respaldamos para

    validar nosso trabalho na afirmao de que os modelos criados no podem ser

    provados que so realidades, mas tambm no podem ser provados que no so

    realidades. So realidades para as pessoas e tem a sua validade porque fazem

    sentido a elas e as conduzem a um viver melhor. Netherton (1997), Fiore (s/d),

    Woolger (1994), TenDam (1997) e Godoy (2002a) demonstram a eficcia e a

    eficincia de se trabalhar na busca das verdades para os clientes. Esses autores concluram, depois de anos de trabalho teraputico e de observaes, que: no

    sabemos exatamente o que acontece, mas, verificamos que as pessoas passam a

    viver melhor quando encontram em si as respostas para seus problemas e

    dificuldades, respostas estas que lhes fazem sentido e do um significado s suas

    vidas e, como consequncia muitas apresentam remisso dos sintomas que as

    trouxeram para o processo psicoterpico.

    Podemos exemplificar com a aplicao das tcnicas regressiva no contexto

    consciencial em clientes com um quadro de medo de aglomeraes. Ao trabalharmos

    terapeuticamente podemos ter, por exemplo, 3 tipos de respostas. O trabalho

    teraputico com um cliente revelou que a origem do medo de aglomeraes comeou

    quando o cliente se perdeu dos pais quando tinha 6 anos de idade e estavam em um

    supermercado; o outro encontrou a origem de seu trauma no medo que seu av

    sentia quando estava cercado de muitas pessoas, em qualquer lugar que fosse e

    para um terceiro o medo comeou quando se viu no sculo passado sendo pisoteado

    por uma multido que corria de um bando de guerreiros saqueadores. No importa

    para o terapeuta a histria do cliente. O que importa a aplicao da tcnica para a

    localizao e o desbloqueio do trauma.

    Para o cliente o que importa se, para ele, faz sentido a histria que trouxe a

    sua conscincia e se depois do trabalho realizado os sintomas sofreram remisso. A

    verdade subjetiva e pertence tanto ao cliente como ao terapeuta. Neste caso o

    terapeuta entende a histria de seu paciente de acordo com a vertente psicolgica

    que tem maior afinidade. Para um terapeuta pode ser fraude do cliente, para outro

    pode ser fantasia, para outro recordao de vidas passadas, etc. Para o cliente o que

    importa , como j disse anteriormente, que faa sentido em sua histria de vida e

    que passe a se sentir bem frequentando aglomeraes.

  • 37

    Busco uma coerncia nas minhas atitudes intra e extrasquicas. Invisto em mim

    e viso trabalhar para que as pessoas se tornem tambm, mais humanas e mais

    felizes, com o que so e com o que tm. Uso as palavras de Coretta Scott King (viva

    de Martin Luther King) 42 que explicam bem o que ser uma pessoa humana:

    Sou sobrevivente de um campo de concentrao. Meus olhos viram o que nenhuma pessoa devia presenciar. Cmaras de gs construdas por engenheiros ilustrados. Crianas envenenadas por mdicos instrudos. Bebs assassinados por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebs mortos a tiros por ginasianos e universitrios. Assim, desconfio da educao. Meu pedido o seguinte: Ajudem os seus discpulos a serem humanos. Os seus esforos nunca devero produzir monstros cultos, psicopatas hbeis ou Heichmans instrudos. Ler, escrever, saber histria e aritmtica s so importantes se servem para tornar nossos estudantes mais humanos.

    Marcaram-me as seguintes falas de King: (...) desconfio da educao (...) e

    (...) ajudem os seus discpulos a serem humanos (...).

    Meu objetivo e sentido de vida me tornar mais humana viver os princpios

    conscienciais que refletem as leis universais - que podem ser resumida em duas

    frases nos legada por Jesus Cristo: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao prximo

    como a ti mesmo e no faa ao outro o que no gostaria que fizessem para com

    voc.

    Recordei-me que Esprito Santo em uma de nossas reunies43, quando lhe

    falei das minhas revolues, me disse que eu estava vivendo um processo de

    renovao, de busca de mim mesma, o caminho da autoconscincia44, da

    individuao45. Lembrei-me, tambm, que Fazenda me disse em uma de nossas

    aulas que a minha participao no grupo com os trabalhos de gerenciamento do

    cadastro e das comunicaes entre os colegas via internet era um trabalho espiritual

    de entrega e doao. Fiz de corao e com muita vontade de vivenciar na prtica

    alguns dos princpios da Interdisciplinaridade e tambm da conscincia: desapego

    42 Texto recebido por e-mail, sem referncias e data de elaborao. 43 Desde o incio de 2010 passei a fazer parte do Grupo INTERESPE, que significa Interdisiplinaridade e Espiritualidade na Educao que coordenado pelo Prof. Dr. Ruy Cezar do Esprito Santo e se rene uma vez por ms no Programa de Educao da PUC/SP. 44 Autoconhecimento o conhecimento de si mesmo (extrado do site: http://pt.wikipedia.org em 15/08/2010). 45 Jung (1962, p. 355) esclarece que usa a palavra individuao para designar um processo atravs do qual um ser se torna um individuum psicolgico, isto , uma unidade autnoma e indivisvel, uma totalidade.

  • 38

    fazer por e para o mundo; pacincia esperar o tempo de cada um para aceitar

    novos paradigmas; amor gostar e se identificar de corao com o que faz, fazer por

    prazer e com paixo e sentir amor por si, pelo outro e pelo mundo.

    Esprito Santo (com a fala acima descrita) estava me mostrando o caminho que

    percorria para me tornar uma educadora interdisciplinar e Fazenda (descrito acima) j

    apontava que comeava a ver em mim a materializao de uma educadora de

    conscincias.

    Estava eu nesta reflexo, me preparando para retomar a escrita de minha tese

    quando recebo um e-mail de Yared46 congratulando-me pelo trabalho de resgate das

    dissertaes e teses orientadas por Fazenda que eu estava fazendo. Nesse e-mail

    dizia que s esse resgate j seria um trabalho de tese, pois, estava resgatando a

    prpria histria do GEPI e que poderia investigar os caminhos e descaminhos da

    espiritualidade nessas teses e dissertaes.

    Pude visualizar que minha tese, tambm, poderia versar sobre as respostas

    que havia conseguido com estes trabalhos de atualizao de dados, sobre as

    observaes que realizei em sala de aula interdisciplinar e sobre as leituras intensas

    que j havia realizado.

    Percebi que j possua um material rico de pesquisa prtica e terica para

    fundamentar a minha tese. Poderia revisitar minha trajetria desde que conheci

    Fazenda em 2007 at os dias de hoje, de como foi a minha construo enquanto

    terapeuta e como educadora interdisciplinar. Percebi que poderia ter como objetivo de

    tese responder os seguintes questionamentos: Como percebo hoje a

    Interdisciplinaridade? Como posso ressignificar a conscincia espiritual com base no

    que vivi e aprendi sobre Interdisciplinaridade? Como as teses e dissertaes

    orientadas por Fazenda trabalham com a espiritualidade?

    Esta constatao me encheu de nimo, alegria e fora para retomar o meu

    trabalho de tese, agora sim com a coerncia de fazer um sentido para minha vida e

    quem sabe para outras pessoas. Sentia-me agora a terapeuta e educadora

    interdisciplinar consciencial.

    46 Prof. Dra. Ivone Yared, doutora em Educao/Currculo, da PUC/SP, em 2009, sob a orientao de Fazenda.

  • 39

    2.4 QUARTA REVOLUO: 2. SEMESTRE DE 2010 Mais uma vez trago a conscincia de que Fazenda sempre nos diz que nosso

    trabalho de dissertao e tese deve estar centrado no prazer e na alegria.

    Posso dizer que somente experimentei esta alegria de fato a partir de minha

    qualificao em agosto de 2010.

    Meu trabalho foi aceito e compreendido. Fui muito bem recebida e acolhida

    pela banca toda. Percebi nas orientaes que os professores da banca me

    forneceram o cuidado pela minha pessoa, o carinho e o incentivo. Senti-me realizada

    de ter conseguido desenvolver um trabalho que retratava o meu papel de

    psicloga/educadora e eterna aprendiz que sou. Passei a viver o prazer e alegria, de

    participar das aulas e do grupo do GEPI.

    Procurava um sentido para minha estada no Programa de Educao/Currculo

    e na Linha de Pesquisa da Interdisciplinaridade e encontrei. J sentia prazer por estar

    com um grupo vivenciando, exercitando e estudando a Interdisciplinaridade porque

    me identifico com o grupo, sou acolhida por ele e gosto de estar com meus colegas.

    Descobri o sentido de ser uma psicloga-educadora interdisciplinar. Para chegar

    nesta etapa tive que vivenciar as qualidades de fato para sermos interdisciplinares

    que no meu caso foram: a perseverana, a dedicao, a organizao. A seriedade, a

    vontade, a ousadia, o amor, a entrega e a humildade de cair diversas vezes e

    levantar com mais garra porque sabia no fundo do meu ser que ainda no havia

    chegado ao centro de mim mesma que luz e belo.

    Percebi que o importante foi o processo pelo qual passei e o processo que

    passaria a partir de daquele momento: como alinhavar tantas experincias, conceitos,

    vivencias e observaes? As revolues pelas quais passei fizeram com que

    arrumasse minha casa interna, para ficar bem no AGORA, no HOJE e tomo

    conscincia de que se vivo o melhor que posso hoje, sei que terei melhores

    condies de viver o meu amanh, e assim sucessivamente: viver um dia bem vivido

    por vez. Acordar todos os dias e pensar que o dia que comea ser o melhor dia da

    minha vida, que vou viv-lo da melhor maneira que puder, a mais rica experincia

    que conquistei. Este pensar me torna alegre, feliz, em paz e sinto-me inteira,

    completa e plena. E se no fizer direito, se errar, sou filha de um PAI misericordioso e

  • 40

    bom e que me dar eternas possibilidade de refazer meus passos at que d o

    melhor de mim para a etapa evolutiva que estou vivendo.47

    Meu objetivo continuar a aprender a Interdisciplinaridade pela vivncia da

    observao, reflexo e ressignificao do que aprendi academicamente como

    psicloga, educadora e como pessoa na vida. Posso, com muita alegria, dizer que

    hoje encontrei no o meu grupo que tanto busquei e sim encontrei os grupos que

    sempre busquei para trabalhos conscienciais em parceria com alegria e satisfao.

    Na prtica participo de grupos que se interconectam e a minha pessoa transita por

    eles com muita alegria e leveza. Participo do GEPI48; do INTERESPE49; do grupo

    Phoenix50; do GHE51, do grupo que coordeno o GEC52 e me relaciono dando

    vivncias no grupo CRESCER53.

    Sinto-me muito feliz e achei o sentido para minha vida, como diria Frankl

    (1987) que foi o de aprender a estar e trabalhar em grupo e usufruir a troca, carinho e

    parceria que somente experenciamos nas relaes grupais. Participo de grupos de

    educadores com o objetivo de despertar e religar as pessoas com o seu prprio

    centro de fora e luz, sua essncia ou esprito. um trabalho para o qual a pessoa

    tira de dentro de si o melhor que tem e segue com sentido, conscincia e autonomia

    sua trajetria de vida. Pestalozzi, Dom Bosco, Montessori, Kardec, Barsanulfo, Freire,

    Fazenda, dentre outros, como educadores j nos mostraram como o empenho que

    uma s pessoa pode contaminar tantos outros e podem assim despertar tantas

    47 Etapas evolutivas: mais um conceito que desenvolvi e que fundamenta a terapia da conscincia. Significa que sempre crescemos e passamos por etapas na vida que podem ser comparadas aos anos escolares. Temos algumas disciplinas que so bsicas, tais como matemtica, portugus, e temos outras novas. A cada ano escolar vamos aprofundando nossos conhecimentos gradativamente em cada uma das disciplinas. Consideramos viver a vida tal e qual estivssemos em uma escola. A grande escola da vida, s que as disciplinas que aprendemos so as qualidades espirituais. A cada ano, a cada ciclo repassamos pelas mesmas disciplinas, cada vez com maior profundidade e ampliao. E passamos para uma nova etapa quando damos a nossa melhor resposta para o patamar evolutivo que estivermos. Por isto que em terapia orientamos a pessoa a olhar para si mesma e para a sua conscincia e caminhar na vida obedecendo sua conscincia maior, pois, no adianta compararmos com os outros, uma vez que cada um est em uma etapa evolutiva. (GODOY, 2005) 48 GEPI - Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisiciplinaridade desde 2008. 49 INTERESPE - Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educao, desde o segundo semestre de 2010. 50 GRUPO PHOENIX Grupo de estudos e prticas espirituais desde o primeiro semestre de 2010 51 GEH Grupo de Estudos sobre Hipnose desde o primeiro semestre de 2010 52 GEC - Grupo de Estudos da Conscincia, que Coordeno desde 1990. 53 GRUPO CRESCER - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a espiritualidade. Atuo como docente desde 2009.

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    pessoas. O que dir da ao de um grupo em harmonia, sintonia e construdo sobre

    os alicerces da f, amor e cooperao?

    O que faltava em mim era sentir-me e posicionar-me como

    educadora/terapeuta com prazer, alegria e amor nas diversas relaes que mantenho

    na vida: pessoais, profissionais e sociais.

    Tenho muito a conquistar e aprender como educadora de conscincias, mas

    percebo que j dei os primeiros passos na reeducao e educao de minha prpria

    conscincia.

    S tenho de expressar minha gratido educadora/terapeuta Fazenda que,

    felizmente, me tirou das quatro paredes de onde estava acomodada para me

    introduzir no mundo da Educao acadmica. Que Deus a ilumine e ampare!

    2.5 METODOLOGIA

    Consegui organizar minhas idias e visualizar o caminho a seguir para a

    elaborao de meu trabalho de tese.

    Optei pela obteno de respostas para os meus questionamentos. Como eram

    muitos reuni em trs categorias: