HERZ_Teoria das Relações Internacionais no Pós-Guerra Fria

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    1/11

    DadosPrint version ISSN 0011-5258

    Dados vol. 40 no. 2 Rio de Janeiro 1997

    http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52581997000200006

    Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria*

    Mnica Herz

    INTRODUO

    O estudo de relaes internacionais est hoje em evidncia devido s profundastransformaes que vm marcando o sistema internacional, seja em decorrncia do fimdo conflito bipolar, seja como resultado da acelerao dos fenmenos datransnacionalizao/globalizao e da fragmentao sociocultural. Assim, abrem-se

    novos campos de estudo, inauguram-se novos projetos de pesquisa e o movimento deimportao de teorias e problemas de outras cincias sociais se intensifica. Por outrolado, a crise das estruturas de autoridade baseadas no Estado-nao, o questionamentoda hegemonia do paradigma realista e a tendncia a uma maior interdisciplinaridadegeram uma crise de identidade entre os especialistas (Gaddis, 1992).

    Neste artigo, busco explicitar trs tendncias que considero centrais para o trabalho dosestudiosos do sistema poltico internacional nos anos 90, e que podem ser observadasna literatura mais recente produzida por especialistas em relaes internacionais: odebate em torno do papel das instituies internacionais; o retorno da dimensocultural pesquisa em relaes internacionais; e a nova legitimidade de estudos decarter normativo. Evidentemente, mudanas estruturais de um sistema bipolar paraoutro, multipolar, ou unipolar, tambm so discutidas no contexto de quadros

    tradicionais de anlise.

    No ser possvel traar aqui uma genealogia desses fenmenos; contudo devoenfatizar que, nos trs casos, tanto variveis endgenas como exgenas disciplina derelaes internacionais tiveram profunda influncia na configurao do atual estado daarte.

    Quanto s variveis endgenas, cabe mencionar as crticas ao paradigma realista e,particularmente, sua verso neo-realista feitas por tericos crticos, liberais emarxistas1. Ademais, o realismo no foi capaz de prever o colapso da Unio Sovitica eo fim da Guerra Fria, quando, segundo seus pressupostos, uma das superpotnciascomportou-se de forma inesperada. H que se considerar, ainda, as discusses em

    torno da influncia da epistemologia positivista no campo das relaes internacionais(Lapid, 1989; Vasquez, 1995) e a desnaturalizao e desmistificao do conceito desistema anrquico e de soberania (Barkin e Cronin, 1994; Milner, 1993).

    Quanto s variveis exgenas, alm do fim da Guerra Fria e do conflito entre doissistemas socioeconmicos distintos, cabe citar a reflexo pblica sobre o fenmeno daglobalizao e o contato com o fluxo transnacional de bens materiais, culturais,financeiros, de epidemias etc.; a permanncia de conflitos violentos a despeito daspromessas liberais; os problemas vinculados distribuio de recursos; odescongelamento das estruturas centrais do sistema ONU; os conflitos tnicos enacionais; a constatao de que problemas tais como narcotrfico, terrorismo,desequilbrio ecolgico, desenvolvimento econmico, migraes e controle dearmamentos s podem ser tratados em contextos multilaterais; o papel das

    Organizaes No-Governamentais; e os processos de integrao regional.

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0011-5258&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0011-5258&lng=en&nrm=isohttp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v*http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v*http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v*http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0011-5258&lng=en&nrm=iso
  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    2/11

    INSTITUIES INTERNACIONAIS

    O moderno sistema de Estados que surge das runas do mundo feudal entre os sculosXV e XVII na Europa tem sido caracterizado como um sistema anrquico, no qual asunidades so soberanas. Mesmo que o modelo de soberania externa absoluta e aausncia de normas no sistema internacional tenha sido um ideal que a realidade da

    poltica internacional jamais confirmou, grande parte do debate entre diferentescorrentes da disciplina de relaes internacionais tem girado em torno do conceito deanarquia, das possibilidades de ordem, cooperao e ao coletiva nesse contexto.

    O pensamento em relaes internacionais tem sido marcado pelo dilema da ordem ouda governabilidade em um sistema supostamente anrquico. A constituio do modernosistema de Estados instaura este dilema, na medida em que estabelece o princpio dasoberania nacional; o baixo grau de governabilidade no sistema internacional acontraface do alto grau de respeito autonomia do Estado em questes domsticas eexternas. A "Paz de Vestflia", de 1648, reconhece o Estado como poder supremodentro de fronteiras estabelecidas, encerrando assim um perodo em que prevalecia opoder transnacional da Igreja.

    A partir do desenvolvimento da disciplina de relaes internacionais nos anos 20, odebate passa a girar em torno da natureza da ordem internacional. Realistas, liberais,racionalistas, marxistas, entre outros, propem, no contexto de suas teorias e modelos,formas de garantir a ordem internacional, alm de formular interpretaes sobre suanatureza.

    Da dcada de 70 em diante, a conscincia em relao intensificao e diversificaodas formas de interao no ambiente internacional associou, definitivamente, o debatesobre a ordem internacional busca de uma explicao sobre a formao de normas einstituies internacionais. Nesse perodo, duas perspectivas surgem, de lados opostosdo Atlntico, permitindo um renascimento do debate em torno das normas e instituiesinternacionais: os estudos sobre regimes e os trabalhos da escola inglesa.

    Em contraposio incorporao da viso hobbesiana do estado de natureza pelaliteratura realista norte-americana, os autores da escola inglesa (Manning, 1975; Bull,1977) desenvolvem uma discusso em torno do conceito de sociedade internacional,cunhado por Hugo Grotius ainda no sculo XVII2. Tal conceito permite a compreensoda formao de normas internacionais tcitas ou explcitas, ou seja, instituiesinternacionais, e traz para o campo das relaes internacionais o debate sociolgicosobre a origem das normas sociais. Assim, alguns autores enfatizam a formao de uma"cultura internacional", enquanto outros buscam detectar a existncia de interessescomuns das partes atomizadas.

    Desde meados da dcada de 70 a anlise de regimes internacionais tem ocupado umaparte expressiva da pesquisa em relaes internacionais, permitindo um translado dofoco nas relaes de poder entre Estados para issue politics (Krasner, 1989; Keohane eNye, 1977)3. Regimes so conjuntos de princpios, normas, regras e procedimentos paraos quais as expectativas dos atores convergem. Estas normas e instituies somarcadas pela ausncia de uma ordem poltica hierrquica e mecanismos deimplementao de sanes. Assim, h uma delimitao do comportamento legtimo ouadmissvel dos atores em um contexto especfico. importante notar que a teoria deregimes se refere a padres de cooperao vinculados a reas temticas. Trabalhossobre regimes tm possibilitado a compreenso de formas de cooperao internacionale construo de instituies na ausncia de governo.

    Em vez de propor uma ordem internacional que emerja naturalmente como decorrnciade propriedades estruturais do sistema (balano de poder, "deterrncia bipolar" etc.), a

    teoria de regimes concentra-se em analisar a formao de normas e regras quegarantam a governabilidade do sistema anrquico.

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#2
  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    3/11

    Enquanto os realistas clssicos analisam a congruncia entre a poltica externa dosEstados e a configurao do poder internacional, nos trabalhos sobre regimes observa-se uma preocupao com a construo de mecanismos de engenharia social. Estaperspectiva se diferencia ainda do realismo estrutural na medida em que pressupe quea inteno dos atores uma varivel fundamental para a compreenso da ordeminternacional. Nesse sentido, sua importncia est em inaugurar a discusso sobre ao

    coletiva em um sistema anrquico.

    Grande parte dos autores que adotam a teoria de regimes trabalha com a lgica dosjogos repetidos, a fim de explicar de que forma regimes produzem comportamentoscooperativos sob condies de anarquia. Eles demonstram como a repetio dos jogoscria estabilidade de expectativas, diminuio dos custos de cooperao, gera ordem efornece informaes sobre o comportamento dos demais atores.

    Enquanto nos anos 70 o confronto entre aqueles que defendiam que o Estado ainda erao ator central do sistema internacional e a perspectiva transnacionalista ou globalistadominou grande parte dos debates, na dcada seguinte, com o advento da SegundaGuerra Fria e uma maior interveno dos Estados nas atividades econmicasinternacionais, a perspectiva transnacionalista no parecia explicar a realidade dapoltica internacional. Nesse perodo, a maior influncia da literatura neo-realista, aliada realidade complexa descrita pelos tericos da interdependncia e da teoria deregimes, propiciou o surgimento de um debate entre institucionalistas neoliberais erealistas.

    Hoje os especialistas em relaes internacionais nos principais centros de estudosdedicam-se anlise da ordem internacional no ps-Guerra Fria, como atestam aobservao dos eventos e as publicaes da British International Studies Association eda International Studies Association. O fim da estrutura bipolar descongelou o debatesobre a produo e implementao de normas internacionais, assim como sobre ofuncionamento das organizaes internacionais. O crescimento de uma rede deorganizaes internacionais e o descongelamento do debate sobre suas atuaes e

    eficcia no ps-Guerra Fria tm recolocado a discusso em termos de governabilidade,ou seja, aes intencionais geradoras de uma ordem poltica.

    O conhecimento a respeito de instituies internacionais e formas de ao coletivagerado pela literatura sobre regimes e cooperao internacional; a recuperao detemas idealistas quanto s funes das organizaes internacionais; a incorporao deproblemticas desenvolvidas pela sociologia e do debate sobre novas estruturas deautoridade ou novas formas de exerccio da cidadania, tm contribudo para revigorar adiscusso sobre a relao entre ordem e anarquia no que se refere ao papel dasinstituies internacionais.

    Embora o estudo de normas, regras e procedimentos relacionados a regies ou temasespecficos no tenha se tornado perifrico, observa-se uma preocupao com a forma

    pela qual as instituies em particular as organizaes internacionais podemcontribuir para gerar a ordem poltica internacional. Nesse sentido, distinguem-se trsperspectivas no estudo das instituies internacionais: a institucionalista, a realista e aconstrutivista. Devo alertar que esta classificao permite uma maior compreenso doseixos do debate, sendo, evidentemente, uma simplificao da realidade.

    Os institucionalistas, como Keohane (1989), so os herdeiros diretos da literatura sobreregimes e cooperao internacional da dcada de 80. Segundo eles, as instituiespodem estimular a cooperao entre atores racionais egostas na medida em quereduzem incertezas, diminuem o custo das transaes, provem informaes eestabilizam expectativas, modificando assim a relao custo/benefcio. A ao coletiva,da forma como foi formulada por Olson (1965) e adotada por tericos das relaes

    internacionais, lida com a possibilidade de cooperao em um ambiente anrquico, noimplicando uma transformao estrutural, ou seja, a substituio do sistema anrquicopor formas de autoridade poltica internacionalizadas. Esses autores tendem a acreditar

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    4/11

    que a maior difuso de poder no sistema internacional desfavorvel gerao deinstituies, dada a dificuldade de encontrar atores dispostos a arcar com seus custos.

    Os autores institucionalistas afastam-se da premissa, bsica para os neo-realistas, deque os atores buscam sempre ganhos relativos. Assim, em situaes que se distanciamde jogos soma zero a possibilidade de cooperao aumenta. As instituies que

    puderem ser construdas a partir dessa concepo de cooperao sero o pilar da ordeminternacional.

    O principal foco de debate com os neo-realistas refere-se, justamente, natureza dosistema internacional (Waltz, 1979; Grieco, 1993). Os neo-realistas enfatizam que osatores se movem segundo a lgica dos jogos soma zero, ou seja, buscam ganhosrelativos. Nesse contexto, as possibilidades de cooperao so limitadas e o aliado dehoje deve ser visto como o inimigo de amanh. Por outro lado, a formao de uma redede instituies internacionais no mudaria a estrutura do sistema, e o problema dainsegurana no sentido militar mantm-se relevante.

    Essas propostas tm em comum a manuteno da perspectiva utilitarista a assero

    dos limites

    , em contraposio s potencialidades da formao de um "contratointernacional", e o afastamento de normas e valores (a constituio de uma culturainternacional no considerada).

    Segundo os autores que se autodenominam construtivistas (Haas, 1987; Ruggie, 1986;Alker, 1986) em uma aluso ao fato de que o sistema internacional socialmenteconstrudo, no se diferenciando ontologicamente de outros sistemas sociais , oestudo das instituies internacionais no pode tratar valores, idias e a cultura comovariveis endgenas. As anlises baseadas no clculo do custo da cooperao seriamlimitadas e estticas. No curso da interao dos atores novas formas de identidade ecultura esto continuamente se formando. A intensificao e diversificao de fluxos deinterao no sistema internacional nos leva, efetivamente, a um questionamento sobreos valores em formao. Na medida em que ocorre convergncia de orientao de

    valores em algumas reas, as possibilidades de cooperao so maiores. Emcontraposio aos institucionalistas, os autores que hoje se voltam para essaperspectiva buscam na formao de valores comuns as bases da ordem internacional; oaumento do nmero, densidade e funes das instituies internacionais so partedesse processo.

    Hoje observamos que uma srie de fatores favorecem a formao de identidadescomuns, como a convergncia de valores domsticos (governos democrticos, direitoshumanos, bem-estar mnimo); a incapacidade de atingir objetivos de forma unilateral; aintensidade do fluxo de transaes; a repetio de prticas cooperativas, de prticasdiscursivas etc.

    Cabe destacar que entre os autores que buscam incorporar a literatura sociolgica aodebate sobre instituies internacionais, encontramos diferenas significativas: h osque enfatizam a formao de conhecimento consensual, como Peter Haas e Ernst Haas(1995), e aqueles que salientam que o estudo de normas, regras e instituies pode noslevar iluso de sociedades de Estados normativamente integrada, nas quais osconflitos so perifricos. Wendt (1996), por exemplo, ressalta que a estrutura culturalincorpora relaes de medo, inimizade, ameaas, hegemonia, ideologia etc.

    Os estudos sobre a formao de identidades coletivas e de uma cultura internacionaltornam-se mais relevantes conforme caminhamos em direo a estruturas deautoridade diferenciadas, em particular se considerarmos a crescente importncia deestruturas de autoridade internacionais. O debate sobre a formao de identidades evalores comuns complexo e no pode ser desvinculado de uma anlise das relaes

    de poder e da tenso entre particularismo e universalismo. Contudo, na medida em queo debate sobre a crise do sistema de Vestflia, do conceito de soberania e do Estadoterritorial avana, necessrio compreender e refletir sobre quais so e sero as bases

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    5/11

    de legitimidade e mecanismos de coero de novas formas de autoridade. Nessesentido, a incorporao de temas desenvolvidos pela sociologia literatura de relaesinternacionais implicar uma viso menos homognea dos atores e a superao dodebate sobre nveis de anlise4.

    A perspectiva institucionalista tem obtido resultados mais efetivos no estudo das

    instituies internacionais, sendo essa sua vocao natural. A maior parte das pesquisassobre processos de integrao regional, sobre o papel de organizaes internacionais esobre a formao de regimes especficos baseia-se na premissa institucionalista.Todavia, conforme nos deparamos com fenmenos como o nacionalismo, a contradioentre a defesa da soberania nacional e formas de governabilidade internacional ounovas formas de representatividade , a tenso entre ideais "universais" eparticularismos culturais, essa perspectiva no encontra respostas nos marcos domodelo do ator racional.

    Por outro lado, a recorrncia da violncia internacional e o comportamento de atoresestatais segundo a lgica da maximizao do poder, aproximam a realidade daspremissas do realismo se no do neo-realismo estrutural, do realismo do ps-guerra.Assim, a anlise das diversas facetas da poltica internacional nos indica a contnuarelevncia dos trabalhos de autores realistas, embora os modelos mais elegantes nonos permitam compreender aspectos essenciais da movimentao e motivao dosatores.

    Na medida em que o estudo de instituies internacionais se torna crescentementerelevante devido s relaes de interdependncia das sociedades nacionais e ao papeldas organizaes internacionais, o debate terico sobre sua natureza e seus papismescla-se com os principais focos de discusso no campo das relaes internacionais.Assim, o debate entre institucionalistas e realistas sobre o tema expressa os contornosda literatura hoje nessa rea. Da mesma forma, as crticas construtivistas indicam aconstituio de uma nova tradio entre os especialistas. Conclui-se que cooperao,conflito e formao de identidades so fenmenos que devem ser estudados em

    interao.

    CULTURA E IDENTIDADE

    A anlise da literatura terica revela um movimento em direo reincorporao detemas como cultura e identidade enquanto questes cruciais para a compreenso dasrelaes internacionais. Tal tendncia est presente entre autores que adotamdiferentes perspectivas ou paradigmas (Lapid e Kratochwil, 1996; Linklater, 1994;Goldstein e Keohane, 1993).

    Durante os anos 50 e 60, a preocupao com a dimenso cultural das relaesinternacionais gerou frutos importantes, como as anlises de poltica externa queenfatizavam o papel das variveis cognitivas. Naquele momento, a maior preocupaodos autores era com a distoro das informaes e com os problemas gerados pelatendncia da literatura realista em homogeneizar os atores estatais5.

    Ainda nos anos 70, os autores da escola inglesa buscaram estabelecer uma distinoentre sistema internacional e sociedade internacional, recuperando, como vimos, umtema grotiano. No caso do segundo conceito, pressupunha-se a presena de normascompartilhadas, baseadas na existncia de uma cultura internacional (Bull, 1977; Luard,1990). No caso de outras perspectivas, como as dos ps-modernistas, feministas ouconstrutivistas, o interesse pelos fatores subjetivos, como cultura e identidade, foipermanente durante toda a dcada de 80.

    Contudo, as crticas ausncia de uma base emprica coerente e a influncia das teorias

    neo-realistas durante os anos 80, particularmente o trabalho de Kenneth Waltz (1979),resultaram em uma marginalizao da dimenso cultural das relaes internacionais. A

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#4
  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    6/11

    maior parte dos trabalhos sobre o funcionamento do sistema internacional negligenciouo tema da cultura.

    Hoje observamos que autores que trabalham com economia poltica internacional(Jacobsen, 1995), anlise de poltica externa, liberais ou neoliberais, como Goldstein eKeohane (1993), e conservadores, como Huntington (1993), voltam a enfatizar os

    papis da cultura e da identidade na configurao da arena internacional.

    De modo geral, a relao entre presena de idias e formas de comportamento retomada, sendo a busca de elos empricos um dos objetivos centrais da literaturaneoliberal, e a reificao de agentes culturais um dos resultados mais bvios dotrabalho de Huntington.

    A premncia de estudos sobre os fenmenos de fragmentao e integrao decomunidades, conflitos tnicos e nacionais, possibilidades de cooperao internacional ea necessidade de uma maior reflexo sobre o papel dos analistas de polticainternacional leva-nos de volta ao tema da cultura, ao papel de idias e identidades, sanlises de dentro para fora. Faz-se necessrio voltar ao conceito de cultura

    internacional para entender os processos de cooperao internacional. O tratamentodado pode enfatizar a gestao de uma sociedade internacional integrada, ouproblematizar o fenmeno, assinalando a contradio entre o processo deuniversalizao de um conjunto de idias e as particularidades de diferentes grupossociais.

    importante notar que a influncia de novas perspectivas sobre os conceitos de culturae identidade se faz presente na recuperao dessa temtica pelos especialistas emrelaes internacionais. Como demonstra Yosef Lapid (1996), a percepo de que acultura e as identidades so socialmente construdas e fragmentadas se ope viso deque os atores so estveis e previsveis (como bolas de bilhar).

    Enfim, na medida em que as premissas racionalistas de autores realistas ou

    institucionalistas so questionadas, a formao de identidades diversificadas e a culturatornam-se variveis endgenas s analises das instituies internacionais.

    O tema da cultura e da formao de identidades em um cenrio internacionalprogressivamente globalizado, composto de atores crescentemente reflexivos no podeser marginalizado. O insulamento de especialistas em anlise cognitiva ou da escolainglesa no pode ser repetido. Temas diversos e perspectivas tericas distintasinteragem hoje com essa problemtica, tornando o estudo das relaes internacionaismais interdisciplinar.

    TEORIAS NORMATIVAS

    Uma das mais marcantes heranas da hegemonia do pensamento realista e doestabelecimento do princpio da soberania como pilar do moderno sistema de Estadosfoi a marginalizao de consideraes normativas pela maior parte dos estudiosos derelaes internacionais. Importantes excees devem, contudo, ser mencionadas: aspropostas de Saint-Pierre (1992), de Cruce para a formao de organizaesinternacionais (Knutsen, 1992), de Kant (1903[1793]) para uma "paz perptua", dointernacionalismo proletrio, das tentativas dos idealistas do entreguerras de ressuscitaro liberalismo do sculo XIX em roupagem de poltica internacional, e daqueles que sevoltaram para as relaes de dependncia econmica no sistema internacional. Mesmoos realistas clssicos do ps-guerra no se furtaram a examinar os elementos morais dapoltica internacional, particularmente Hans Morgenthau (1948).

    No obstante, a presena de um vcuo moral entre os Estados nacionais uma tradio

    com razes que vo de Maquiavel a Waltz e que no ser descartada facilmente. Poroutro lado, a tentativa, a partir dos anos 50, de tornar o estudo de relaes

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    7/11

    internacionais "cientfico" a "revoluo behaviorista" revitalizou essa tendncia aodistanciar o analista de seu objeto.

    Dada a dcada de 80, acompanhando uma tendncia mais geral, observa-se ummovimento em direo recuperao do debate normativo no campo das relaesinternacionais, seja a partir da crtica epistemolgica da influncia do positivismo, seja

    do debate sobre os valores da comunidade internacional.

    Com o fim da Guerra Fria e a realocao de temas ticos na agenda internacional, emfuno de presses do movimento social transnacional ou como forma de racionalizaoe legitimao de polticas baseadas nos interesses econmicos e geoestratgicos daspotncias ocidentais, o debate sobre tica, moral e democracia tem sido revigorado.

    Nesse sentido, observa-se a tentativa de recuperar os temas kantianos e benthanianosem suas verses, respectivamente, deontolgica e utilitarista da relao entre tica epoltica (Nardin e Mapel, 1995).

    A histria da disciplina de relaes internacionais marcada por momentos de

    importao de debates gerados em outras esferas das cincias sociais; foi assim com a"revoluo behaviorista" dos anos 50 e 60, com a incorporao da literatura depsicologia social, anlise sistmica, teoria dos jogos, dentre outras.

    Na dcada de 80, a leitura dos tericos da escola de Frankfurt e de seus herdeiros teveparticular importncia, se no na inaugurao de novos projetos de pesquisa, naformulao de uma crtica epistemolgica tradio positivista que dominava adisciplina. Sua contribuio fundamental foi o desmascaramento da neutralidadecientfica dos internacionalistas e a discusso sobre o papel dos especialistas naproduo e reproduo do sistema internacional. A distino entre teorias quesolucionam problemas e teorias crticas introduz esse tema no campo das relaesinternacionais.6A relao entre os especialistas em relaes internacionais nos pasesanglo-saxes e o Estado durante a Segunda Guerra Fria no passou despercebida.

    Dentre as questes abordadas por essa bibliografia, destacam-se a reavaliao da teoriadas relaes internacionais em face da interpenetrao Estado/sociedade civil, o carterideolgico do realismo, na medida em que este reifica a relao entre Estadossoberanos e trata o cenrio internacional como quadro de ao a-histrico, e aslimitaes da perspectiva do ator racional.

    Por outro lado, uma srie de temas wilsonianos ou idealistas, como o papel do direitointernacional, de organizaes internacionais, a universalizao de regimesdemocrticos liberais, a relao entre a paz e o comrcio, tm sido abordados porespecialistas e atores. No se trata de uma reedio do debate entre realistas eidealistas do entreguerras; contudo, a disposio normativa wilsoniana tem adquiridomaior influncia. Como sugere Kegley (1992), a necessidade de cooperaointernacional impele-nos a revisitar a tradio idealista, ou seja, revisitar a crena deque prticas e instituies podem ser modificadas, gerando a reforma do sistema. Naverdade, exceo de alguns autores e diversas lideranas internacionais, reconhece-seque a complexidade do sistema internacional hoje demanda propostas menos ingnuas.

    O debate em torno de uma concepo cosmopolita ou menos particularista decidadania, sobre a necessidade de democratizar as organizaes internacionais e aformulao da poltica externa, contribui, de forma mais definitiva, para a gerao deuma teoria normativa das relaes internacionais. O sistema de Vestflia permitia queos tericos de relaes internacionais e os da democracia se ignorassem: enquantoalguns cientistas polticos se preocupavam em discutir o poder do Estado democrtico,os estudiosos de relaes internacionais se concentravam em analisar relaesinterestatais, anrquicas e, portanto, fora do domnio da teoria poltica. Nesse contexto,

    seria possvel celebrar o fim da histria sem sequer considerar o problema dademocracia no mbito internacional. Muito pelo contrrio, acredito que o debate sobre a

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#6
  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    8/11

    internacionalizao das estruturas de autoridade deve ser acompanhado de propostassobre novas formas de representao democrtica.

    O vcuo moral entre os Estados est, assim, em fase de superao, a despeito departicularismos culturais. Tratar a poltica internacional a partir de uma perspectivanormativa um dos aspectos desse processo. Contudo, a incorporao de questes

    ticas agenda internacional no implica, necessariamente, um abandono daspretenses de construo de um conhecimento neutro ou cientfico. A discusso dequestes ticas pode ser analisada a partir de uma perspectiva abrangente e aincorporao de temas culturais observada acima expresso dessa opo.

    CONCLUSO

    As trs tendncias brevemente analisadas neste artigo indicam um revigoramento dodebate terico em relaes internacionais e sua incorporao s cincias sociais atravsda participao de especialistas em debates epistemolgicos e conceituais centrais. Emoposio tentativa, do final dos anos 50 e incio dos 60, de transformar as relaesinternacionais em uma cincia social mediante a incorporao de metodologias

    especficas, hoje nos voltamos para temas como a influncia do positivismo e doempiricismo, a relao entre atores e estruturas, a relevncia da definio deparadigmas e a crise da modernidade iluminista.

    Seria incorreto terminar este trabalho sem ressaltar que a hegemonia do pensamentorealista, com nfase nos conceitos de poder, conflito, interesse e racionalidade, aindapode ser observada na prtica dos atores estatais e nas tentativas de incorporar essesconceitos s novas snteses (Buzan, 1996). Embora os estudos estratgicos e asovietologia tenham sido diretamente atingidos pelo fim da Guerra Fria, tendo a reaosido a redefinio de estudos regionais e o alargamento do conceito de segurana, amaior parte dos projetos de pesquisa faz referncia direta tradio realista.

    As expectativas daqueles que durante os anos 70 condenaram o realismo do ps-guerra

    por sua incapacidade de lidar com o fenmeno da interdependncia e datransnacionalizao se mostraram equivocadas; tambm os institucionalistas e tericoscrticos dos anos 80 assinalavam que o realismo no poderia conviver com o ps-positivismo ou com o florescimento de instituies internacionais. Ao contrrio, aspropostas dos institucionalistas sobre cooperao passaram a incorporar os conceitosfundadores do realismo: poder e racionalidade.

    Contudo, as transformaes das estruturas de autoridade assinaladas por diversosautores desde Hedley Bull, James Rosenau at Friedrich Kratochwil e Yosef Lapid so omaior desafio da literatura em relaes internacionais hoje. A diviso entre uma esferainterna em que o reino da ordem impera e uma esfera externa na qual, a despeito dasnormas e instituies internacionais, o conflito preponderante, impede um maiorpotencial explicativo das teorias realistas. A adaptao do realismo porosidade dasfronteiras nacionais um passo tmido diante dos desafios que temos de enfrentar. Aanlise das opes para a ordem do ps-Guerra Fria em termos da definio daconfigurao de poder ou dos conceitos de balano de poder e/ou concerto internacional ainda mais tmida.

    Na medida em que vivemos um momento de crise e transformao, a necessidade dehistoricizar e perceber a construo social dos conceitos assinalada pelos tericoscrticos e construtivistas representa um passo adiante em relao influncia realista.

    Finalmente, a necessidade de incorporar uma perspectiva emancipatria diante da crisepoltico-econmica do principal ator do sistema internacional, impele-nos a uma teoriadas relaes internacionais normativa.

    (Recebido para publicao em fevereiro de 1997)

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    9/11

    NOTAS:

    *Trabalho apresentado no XX Encontro Anual da Associao Nacional de Ps-Graduao

    e Pesquisa em Cincias Sociais Anpocs, Caxambu, MG, 22-26 de outubro de 1996.

    1. Para uma sntese desse debate, ver Keohane (1986) e Baldwin(1993).

    2. Hugo Grotius (1583-1645) escreve sobre uma sociabilidade prviaao contrato social que cria a sociedade civil. A caracterizao doestado de natureza como de "sociabilidade imperfeita" temconseqncias relevantes para o estudo das relaes internacionais.

    3. Para uma anlise do estado da arte e da pesquisa desenvolvidafora do mundo anglo-saxo, ver Rittberger (1993).

    4. Desde a dcada de 60, a distino entre nveis de anlise tem sidoum tema central da literatura de relaes internacionais. Hoje,observa-se uma superao desse debate, seja atravs da crtica viso do problema que marginalizava o debate sobre a relaoator/estrutura, seja a partir de novos modelos integrativos de anlisede poltica externa. Ver, p. ex., Evans et alii(1993).

    5. Para uma anlise dessa literatura, ver Herz (1994).

    6. Sobre a influncia da teoria crtica no campo das relaes

    internacionais, ver Hoffman (1989) e Cox (1986).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALKER, H. (1986), The Presumption of Anarchy in World Politics. Department of PoliticalScience/MIT, mimeo. [Links]

    BALDWIN, David A. (ed.). (1993), Neorealism and Neoliberalism: The ContemporaryDebate. New York, Columbia University Press. [Links]

    BARKIN, Samuel J. e CRONIN, Bruce. (1994), "The State and the Nation: ChangingNorms and Rules of Sovereignty in International Relations". International Organization,

    vol. 48, n 1, pp. 107-130. [Links]

    BULL, Hedley. (1977), The Anarquical Society. London, Macmillan. [Links]

    BUZAN, Barry. (1996), "The Timeless Wisdom of Realism?", in S. Smith, K. Booth e M.Zalewski (eds.), International Theory: Positivism and Beyond. Cambridge, CambridgeUniversity Press. [Links]

    COX, Robert. (1986), "Social Forces, States and World Orders: Beyond InternationalRelations Theory", in R. O. Keohane (ed.), Neorealism and its Critics. New York,Columbia University Press, pp. 204-254. [Links]

    EVANS, Peter et alii. (1993), Double Edged Diplomacy: An Interactive Approach toInternational Politics. Berkeley, University of California Press. [Links]

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v*http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v6http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v5http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v4http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v3http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v2http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v1http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006&lng=en&nrm=iso#v*
  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    10/11

    GADDIS, J. L. (1992), "The Cold War s End Dramatizes the Failure of Political Theory".The Chronicle of Higher Education, n 38.

    GOLDSTEIN, Judith e KEOHANE, Robert. (1993), Ideas and Foreign Policy. Ithaca,Cornell University Press. [Links]

    GRIECO, Joseph. (1993), "Understanding the Problem of International Cooperation: TheLimits of Neoliberal Institutionalism and the Future of Realist Theory", in D. A. Baldwin(ed.), Neorealism and Neoliberalism: The Contemporary Debate. New York, ColumbiaUniversity Press, pp. 301-338. [Links]

    GROTIUS, Hugo. (1925[1625]), Law of War and Peace. Oxford, Clarendon Press. [Links]

    HAAS, E. B. (1987), Adaptation and Learning in International Organizations. Berkeley,Institute of International Studies, mimeo. [Links]

    HAAS, Peter M. e HAAS, Ernst. (1995), "Learning to Learn: Improving International

    Governance". Global Governance, n1, pp. 255-285.

    HERZ, Mnica. (1994), "Anlise Cognitiva e Poltica Externa". Contexto Internacional,vol. 16, n 1 , pp. 75-90. [Links]

    HOFFMAN, Mark. (1989), "Critical Theory and the Inter-Paradigm Debate", in H. Dyer eL. Mangasarian (eds.), The Study of International Relations. The State of the Art.London, Macmillan. [Links]

    HUNTINGTON, Samuel. (1993), "The Clash of Civilizations?". Foreign Affairs, n 72, pp.22-49. [Links]

    JACOBSEN, J. K. (1995), "Much Ado about Ideas". World Politics, n47, pp. 283-310.

    KANT, Immanuel. (1903[1793]), Thoughts on a Perpetual Peace. London, SwanSonnenschein. [Links]

    KEGLEY, C. (1992), "The Neoidealist Moment in International Studies? Realist Myths andthe New International Realities". International Studies Quarterly, n 37, pp. 131-146. [Links]

    KEOHANE, Robert (ed.). (1986), Neorealism and its Critics. New York, ColumbiaUniversity Press. [Links]

    ___. (1989), International Institutions and State Power. Boulder, Co., Westview Press. [Links]

    ___ e NYE, Joseph. (1977), Power and Interdependence. Boston, Little Brown. [Links]

    KNUTSEN, Torbjorn L. (1992),A History of International Relations Theory. Manchester,Manchester University Press. [Links]

    KRASNER, Stephen (ed.). (1989), International Regimes. Ithaca, Cornell UniversityPress. [Links]

    LAPID, Yosef. (1989), "The Third Debate: On the Prospects of International Theory in a

    Post-Positivist Era". International Studies Quarterly, vol. 33, n3, pp. 236-254. [Links]

  • 8/2/2019 HERZ_Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria

    11/11

    ___ (1996), "Culture s Ship: Returns and Departures in International RelationsTheory", in Y. Lapid e F. Kratochwil (eds.), The Return of Culture and Identity in IRTheory. London, Lynne Rienner, pp. 3-20. [Links]

    ___ e KRATOCHWIL, Friedrich (eds.). (1996), The Return of Culture and Identity in IRTheory. London, Lynne Rienner. [Links]

    LINKLATER, Andrew. (1994), "Dialogue, Dialectic and Emancipation in InternationalRelations at the End of the Post War Age". Millenium, n 23, pp. 119-131.

    LUARD, Evan. (1990), International Society. London, Macmillan. [Links]

    MANNING, C. A. W. (1975), The Nature of InternationalSociety. London, Macmillan. [Links]

    MILNER, Helen. (1993), "The Assumption of Anarchy in International Relations Theory:A Critique", in D. A. Baldwin (ed.), Neorealism and Neoliberalism: The ContemporaryDebate. New York, Columbia University Press, pp. 143-169. [Links]

    MORGENTHAU, Hans. (1948), Politics Among Nations. New York, Alfred A. Knopf, Inc. [Links]

    NARDIN, Terry e MAPEL, David R. (1995), Traditions of International Ethics. Cambridge,Cambridge University Press. [Links]

    OLSON, M. (1965), The Logic of Collective Action. Cambridge, MA, Harvard UniversityPress. [Links]

    RITTBERGER, Volker. (1993), Regime Theory and International Relations. Oxford,Clarendon Press. [Links]

    RUGGIE, John G. (1986), "Continuity and Transformation in the World Polity: Toward aNeorealist Synthesis", in R. Keohane (ed.), Neorealism and its Critics. New York,Columbia University Press, pp. 131-157. [Links]

    SAINT-PIERRE. (1992), "A Project for Settling an Everlasting Peace in Europe", in E.Luard (ed.), Basic Texts in International Relations. London, Macmillan, pp. 411-414. [Links]

    VASQUEZ, John. (1995), "The Post-Positivist Debate: Reconstructing Scientific Enquiryand International Relations Theory after Enlightenment s Fall", in K. Booth e S. Smith(eds.), International Relations Theory Today. Cambridge, Polity Press, pp. 217-240. [

    Links]

    WALTZ, Kenneth. (1979), Theory of International Politics. New York, McGraw-Hill. [Links]

    WENDT, Alexander. (1996), "Identity and Structural Change in International Politics", inY. Lapid e F. Kratochwil (eds.), The Return of Culture and Identity in IR Theory. London,Lynne Rienner, pp. 47-64. [Links]

    HERZ, Mnica. Teoria das Relaes Internacionais no Ps-Guerra Fria.In: RevistaDados, Rio de Janeiro,

    v. 40, n. 2, 1997 . Available from .