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7/26/2019 Hf Jp-II Enc 07121990 Redemptoris-missio
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A Santa S
CARTA ENCCLICA
REDEMPTO RIS MISSIO
DO SUMO PONTFICE
JOO PAULO II
SOBREA VALIDADE PERMANENTE
DO MANDATO MISSIONRIO
Venerveis Irmos e carssimos Filhos
saudaes e Bno Apostlica!
INTRODUO
1. A MISSO DE CRISTO REDENTOR, confiada Igreja, est ainda bem longe do seu pleno
cumprimento. No termo do segundo milnio, aps a Sua vinda, uma viso de conjunto da
humanidade mostra que tal misso est ainda no comeo, e que devemos empenhar-nos com
todas as foras no seu servio. o Esprito que impele a anunciar as grandes obras de Deus!
Porque se anuncio o Evangelho, no tenho de que me gloriar, pois que me foi imposta esta
obrigao: ai de mim se no evangelizar! (1 Cor9, 16).
Em nome de toda a Igreja, sinto o dever imperioso de repetir este grito de S. Paulo. Desde o
incio do meu pontificado, decidi caminhar at aos confins da terra para manifestar esta solicitude
missionria, e este contacto directo com os povos, que ignoram Cristo, convenceu-me ainda mais
da urgncia de tal actividade a que dedico a presente Encclica.
O Conclio Vaticano II pretendeu renovar a vida e a actividade da Igreja, de acordo com as
necessidades do mundo contemporneo: assim sublinhou o seu carcter missionrio,
fundamentando-o dinamicamente na prpria misso trinitria. O impulso missionrio pertence,
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pois, natureza ntima da vida crist, e inspira tambm o ecumenismo: que todos sejam um (...)
para que o mundo creia que Tu Me enviaste (Jo17,21).
2. J so muitos os frutos missionrios do Conclio: multiplicaram-se as Igrejas locais, dotadas do
seu bispo, clero e agentes apostlicos prprios; verifica-se uma insero mais profunda das
Comunidades crists na vida dos povos; a comunho entre as Igrejas contribui para um vivointercambio de bens e dons espirituais; o empenhamento dos leigos no servio da evangelizao
est a mudar a vida eclesial; as Igrejas particulares abrem-se ao encontro, ao dilogo e
colaborao com os membros de outras Igrejas crists e outras religies. Sobretudo est-se a
afirmar uma nova conscincia, isto , a de que a misso compete a todos os cristos, a todas as
dioceses e parquias, instituies e associaes eclesiais.
No entanto, nesta nova primavera do cristianismo no podemos ocultar uma tendncia
negativa, que, alis, este Documento quer ajudar a superar: a misso especfica ad gentesparece estar numa fase de afrouxamento, contra todas as indicaes do Conclio e do Magistrio
posterior. Dificuldades internas e externas enfraqueceram o dinamismo missionrio da Igreja ao
servio dos no-cristos: isto um facto que deve preocupar todos os que crem em Cristo. Na
Histria da Igreja, com efeito, o impulso missionrio sempre foi um sinal de vitalidade, tal como a
sua diminuio constitui um sinal de crise de f.[1]
A distancia de vinte e cinco anos da concluso do Conclio e da publicao do Decreto sobre a
actividade missionria Ad gentes, a quinze anos da Exortao ApostlicaEvangelii nuntiandidePaulo VI, de veneranda memria, desejo convidar a Igreja a um renovado empenhamento
missionrio,dando, neste assunto, continuao ao Magistrio dos meus predecessores. [2] O
presente Documento tem uma finalidade interna: a renovao da f e da vida crist. De facto, a
misso renova a Igreja, revigora a sua f e identidade, d-lhe novo entusiasmo e novas
motivaes. dando a f que ela se fortalece! A nova evangelizao dos povos cristos tambm
encontrar inspirao e apoio, no empenho pela misso universal.
Mas o que me anima mais a proclamar a urgncia da evangelizao missionria que elaconstitui o primeiro servio que a Igreja pode prestar ao homem e humanidade inteira, no
mundo de hoje, que, apesar de conhecer realizaes maravilhosas, parece ter perdido o sentido
ltimo das coisas e da sua prpria existncia. Cristo Redentor como deixei escrito na
primeira Encclica revela plenamente o homem a si prprio. O homem que a si mesmo se
quiser compreender profundamente (.. ) deve aproximar-se de Cristo (...) A Redeno, operada
na cruz, restituiu definitivamente ao homem a dignidade e o sentido da sua existncia no mundo
. [3]
No faltam certamente outros motivos e finalidades: corresponder a inmeros pedidos de um
documento deste gnero; dissipar dvidas e ambiguidades sobre a misso ad gentes,
confirmando no seu compromisso os benemritos homens e mulheres que se dedicam
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http://-/?-http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_ad-gentes_po.htmlhttp://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi.htmlhttp://-/?-http://-/?-http://-/?-http://-/?-http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_ad-gentes_po.htmlhttp://-/?-7/26/2019 Hf Jp-II Enc 07121990 Redemptoris-missio
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actividade missionria e todos quantos os ajudam; promover as vocaes missionrias; estimular
os telogos a aprofundar e expor sistematicamente os vrios aspectos da misso; relanar a
misso, em sentido especfico, comprometendo as Igrejas particulares, especialmente as de
recente formao, a mandarem e a receberem missionrios; garantir aos no cristos, e
particularmente s Autoridades dos Pases aos quais se dirige a actividade missionria, que esta
s tem uma finalidade, ou seja, servir o homem, revelando-lhe o amor de Deus manifestado emCristo Jesus.
3. Povos todos, abri as portas a Cristo!O Seu Evangelho no tira nada liberdade do homem, ao
devido respeito pelas culturas, a tudo quanto de bom possui cada religio. Acolhendo Cristo,
abris-vos Palavra definitiva de Deus, quele no qual Deus se deu a conhecer plenamente e nos
indicou o caminho para chegar a Ele.
O nmero daqueles que ignoram Cristo, e no fazem parte da Igreja est em contnuo aumento;mais ainda: quase duplicou, desde o final do Conclio. A favor desta imensa humanidade, amada
pelo Pai a ponto de lhe enviar o Seu Filho, evidente a urgncia da misso.
Por outro lado, a poca que vivemos oferece, neste campo, novas oportunidades Igreja: a
queda de ideologias e sistemas polticos opressivos; o aparecimento de um mundo mais unido,
graas ao incremento das comunicaes; a afirmao, cada vez mais frequente entre os povos,
daqueles valores evanglicos que Jesus encarnou na sua vida: paz, justia, fraternidade,
dedicao aos mais pequenos; um tipo de desenvolvimento econmico e tcnico sem alma, que,em contrapartida, est a criar necessidade da verdade sobre Deus , o homem e o significa do da
vida.
Deus abre, Igreja, os horizontes de uma humanidade mais preparada para a sementeira
evanglica. Sinto chegado o momento de empenhar todas as foras eclesiais na nova
evangelizao e na misso ad gentes. Nenhum crente, nenhuma instituio da Igreja se pode
esquivar deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos.
CAPTULO I
JESUS CRISTO NICO SALVADOR
4. A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso como
lembrei, na minha primeira Encclica programtica a de dirigir o olhar do homem e orientar a
conscincia e experincia da humanidade inteira, para o mistrio de Cristo . [4]
A misso universal da Igreja nasce da f em Jesus Cristo, como se declara no Credo: Creio em
um s Senhor, Jesus Cristo, Filho Unignito de Deus, nascido do Pai antes de todos os sculos
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(...) E por ns homens, e para nossa salvao, desceu dos cus. E encarnou pelo Esprito Santo
no seio da Virgem Maria, e Se fez homem . [5] No acontecimento da Redeno est a salvao
de todos, porque todos e cada um foram compreendidos no mistrio da Redeno, e a todos e
cada um se uniu Cristo para sempre, atravs deste mistrio : [6] somente na f, se fundamenta e
compreende a misso.
No entanto, devido s mudanas dos tempos modernos e difuso de novas ideias teolgicas,
alguns interrogam-se: ainda actual a misso entre os no cristos? No estar por acaso
substituda pelo dilogo interreligioso? No se dever restringir ao empenho pela promoo
humana? O respeito pela conscincia e pela liberdade no exclui qualquer proposta de
converso? No possvel salvar-se em qualquer religio? Para qu, pois, a misso?
Ningum vai ao Pai, seno por Mim (Jo 14, 6)
5. Remontando s origens da Igreja, aparece clara a afirmao de que Cristo o nico salvador
de todos, o nico capaz de revelar e de conduzir a Deus. As autoridades religiosas judaicas, que
interrogam os Apstolos sobre a cura do aleijado, realizada por Pedro, este responde: em
nome de Jesus Nazareno, que vs crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, por Ele que
este homem se apresenta curado diante de vs (... ) E no h salvao em nenhum outro, pois
no h debaixo do cu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar (Act4,
10.12). Esta afirmao, dirigida ao Sindrio, tem um valor universal, j que, para todos judeus
e gentios , a salvao s pode vir de Jesus Cristo.
A universalidade desta salvao em Cristo afirmada em todo o Novo Testamento. S. Paulo
reconhece, em Cristo ressuscitado, o Senhor: Porque, ainda que haja alguns que so
chamados deuses, quer no cu quer na terra, existindo assim muitos deuses e muitos senhores,
para ns h apenas um nico Deus, o Pai