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hi per exto t Porto Alegre, Maio 2010, Ano 12 – Nº 79 Jornal dos alunos da Famecos/PUCRS Koff desafia a vontade do rei e vence EXCLUSIVO No hipismo, cavaleiro e animal formam uma forte unidade Profissionais apontam caminhos do jornalismo Mobilização: professores e alunos Rosane, uma apaixonada Solano e o direito da fonte Famecos provoca debate Mariana Fontoura/ Hiper “Foi uma briga de cachorro grande”, contabiliza Fábio Koff após o embate Gabrielle Toson/ Hiper Felipe Dalla Valle/ Hiper Felipe Dalla Valle/ Hiper Mariana Fontoura/ Hiper Presidente do Clube dos 13 abre o jogo pela primeira vez em entrevista ao Hipertexto Páginas 8 e 9 Páginas 2 e 3 Um único Página 6 corpo

Hipertexto Maio 2010

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Edição de maio de 2010 do jornal Hipertexto, produzido pelos alunos de Jornalismo da Famecos (Faculdade de Comunicação Social - PUCRS).

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hiperextot

Porto Alegre, Maio 2010, Ano 12 – Nº 79

Jornal dos alunos da Famecos/PUCRS

Koff desafiaa vontade dorei e vence

EXCLUSIVO

No hipismo, cavaleiro e animal formam uma forte unidade

Profissionaisapontamcaminhos dojornalismo

Mobilização: professores e alunos Rosane, uma apaixonada Solano e o direito da fonte

Famecos provoca debate

Mariana Fontoura/ Hiper

“Foi uma briga de cachorro grande”, contabiliza Fábio Koff após o embate

Gabrielle Toson/ Hiper

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Felipe Dalla Valle/ HiperMariana Fontoura/ Hiper

Presidente do Clube dos 13 abre o jogopela primeira vez em entrevista ao Hipertexto

Páginas 8 e 9

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imprensa

hipersider

Porto Alegre, maio 20102 hiperextot

NASCIDA em Campos Borges, região noroeste do Rio Grande do Sul, a jovem então com 17 anos veio para a Capital, em 1978, para estudar Jornalismo. “A minha vida se divide entre antes e depois da Famecos. Era tudo tão fascinante, lembro que já sentei onde vocês estão”, contou a colunista Rosane de Oliveira em encontro com alunos da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, na noite de 4 de maio. O evento era comemorativo aos 46 anos do jornal Zero Hora, que pro-moveu palestras para estudantes, com seus principais jornalistas, em várias universidades do Estado. A editora de Política iniciou o diálogo na Famecos com uma pergunta: “Vale a pena ser jornalista?” Ela mesma respondeu sim, que começa-ria tudo outra vez, pois é apaixonada pelo o que faz.

Nos primeiros anos de facul-dade, tinha muitos motivos para desistir da profissão. Era uma época de desencanto, pois o Correio do Povo estava em crise financeira e o Diário de Notícias havia fechado em 1979. “Nossos professores nos desa-

fiavam. Sempre falavam que a nossa profissão não tinha futuro, mas eu sempre pensava que para os bons sempre haverá lugar”, comentou.

No início dos anos 80, Rosane dividiu suas atividades entre uma

assessoria de imprensa e a Rádio Guaíba. Após essa fase, ocorreu sua grande frustração profissional. Ela trabalhou no jornal O Estado do Rio Grande, em 1985, que durou apenas 12 edições. “Estava no fim da ditadura e Tancredo Neves seria eleito presidente da República, mas adoeceu. O período de internação e da morte de Tancredo foi um grande

marco para a história brasileira. E eu não tinha nenhum veículo para trabalhar”, recordou. Em 1992, en-trou na RBS. Rosane reconhece ter enfrentado momentos difíceis, mas hoje está em um cargo importante e gosta muito do que faz.

Diploma e tecnologia: A editora comentou a decisão do STF que aboliu a obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercer a profissão e deixou claro que na sua equipe todos são formados. Argu-mentou que para desempenhar o ofício são necessárias especialização e técnica que a faculdade pode pro-porcionar, ao contrário dos que pen-sam que jornalismo é apenas saber escrever. No entanto, Rosane não se considera radical. Não vê problemas no fato do programa Fantástico (TV Globo) apresentar um quadro com o médico Dráuzio Varella sobre medicina. “Certamente, eu não faria melhor que ele”, confessa.

A colunista brincou se apre-sentando como uma velhinha sem medo de experimentar tanto que já passou por fases diferentes. “Teve época em que buscavam jornalistas especializados em apenas uma área.

A editora comentou a decisão do STF e deixou claro que na sua equipe todos são formados

Por Jéssica Wolff

“Acho que ninguém é ex-Famecos. Quem passou por lá guarda tão boas lembranças

que se emociona na volta. Encontrei

o Tibério, meu professor.” (Rosane postou no twitter, na

saída da palestra)

Jornalismo como paixão

Rosane de Oliveira, jornalista do Grupo RBS, conversou com alunos da Famecos sobre o jornalismo, novas tecnologias e mercado profissional

Alegro...Como parece ser o hábito

do PSB nessas eleições, a cand ida tu ra de Be to Albuquerque, como antes ocorreu com Ciro Gomes, naufragou. E se o hábito se confirmar, o apoio ao PT deve estar garantido. No pacote vem o PC do B, que tenta trocar seu passe pelo apoio à candidatura da deputada Manuela nas próximas eleições municipais. Mas alguém aí acredita que os comunistas se uniriam a outra candidatura?

...ma non troppo

O fim de Beto prejudicou PP e PPS. Ambos ficaram ainda mais sem opções depois que a candidatura de Lara foi abalada pela acusação de corrupção do presidente mun i c i pa l do pa r t i do . Resultado: bastou Serra baixar no Estado para que os progressistas confirmassem o apoio a Yeda Crusius. Ao que parece, Lara continuará fazendo figuração.

Bolsa ditadura

Não vou definir surpresa, mas posso dar um exemplo bem concreto. No site do Ministério da Justiça, nos relatórios da Comissão de Anistia, consta o nome de um conhecido jornalista do Estado. Na 29ª sessão do dia 04/12/2009, requerimento número 2008.01.61474, consta como parcialmente deferido o resultado do pedido de Políbio Adolfo Braga.

Famequianas 1

Famequianas 2

A mesma pergunta foi feita repetidas vezes pelos corredores da Famecos: onde está a professora Carolina Fillmann? Resposta: está dando aula em outras paragens.

Todos sabem que o nosso DA não serve para nada. Ano passado, porém, uma locadora abriu no local oferecendo bons filmes a R$ 2. Agora que ela fechou, não há mais razão para chegar perto do CAAP.

Paulo Francis voltouO twitter sempre

pareceu uma rede social um pouco sem

sentido. Agora, mudou. Paulo Francis escapou do mundo dos mortos

para voltar a nos divertir em 140 caracteres. O

que impressiona é a capacidade de imitar o

estilo do velho polemista. O perfil é @paulofrancis_.

Três perguntas para... Mauri Panitz*

Hipertexto: Já passa de 600 o número de pessoas mortas no trânsito gaúcho em 2010. O dado te espanta?Mauri Panitz: O número está acima do que era esperado. Os motoristas e os carros são os mesmos. As estradas estão cada vez piores.H: Pardais e lombadas eletrônicas realmente ajudam a evitar acidentes?MP: Pouco tem ajudado. É mais uma forma de arrecadação. Os governos têm usado para fazer caixa.

H: Em termos estruturais, qual a primeira medida para melhorar o trânsito da Capital?MP: Proibir estacionamentos nos dois lados das avenidas arteriais, pequenas obras de alargamentos de grandes avenidas. Políticos querem obras grandes para mostrar trabalho. Eles não têm interesse em medidas pequenas e funcionais.

* Mauri Panitz é engenheiro de tráfego terrestre e consultor em análise de acidentes.

Por Cláudio Rabin

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Porto Alegre, maio 2010 3hiperextot

Atualmente, procuramos al-guém completo”, comentou. Reco-mendou aos estudantes ter cabeça aberta a inovações. Na RBS, Rosane começou escrevendo no jornal e passou a atuar também no rádio e na televisão. Hoje é uma das âncoras do programa Gaúcha Atualidade (Rádio Gaúcha) e faz comentários diários na TVCOM.

Na Internet, escreve em seu blog e no twitter. No mundo online, ela enfrenta alguns problemas como internautas que não se identificam e a acusam de ser vendida ao Par-tido dos Trabalhadores (PT) ou de proteger a governador Yeda Crisius.

Política e eleição: Como editora e colunista de política, Rosane de Oliveira salientou que trabalha com independência. Lidar com opinião significa dizer o que se pensa sobre os acontecimentos, mesmo se for contra ou não a algum candidato. Em ano de eleição, há cobrança dos partidos e a colunista deixou claro que escreve para os leitores e não para os políticos. “O que me alegra em meu trabalho é escrever algo que faz as pessoas sentirem-se representadas.”

Na opinião dela, os jornalistas devem ajudar o eleitor a escolher em quem votar. Quando perguntada se, como Ana Amélia Lemos, um dia iria ser candidata, respondeu que não. “Meu negócio é jornalis-mo. Passar para o outro lado do balcão nem está nos meus planos”. A editora acredita que a eleição de jornalista para cargo público não implica na redução de credibilidade nos noticiários políticos. O que ela considera errado é exercer o ofício de jornalista na área de política e estar filiado a algum partido.

Em tempos de eleições, Rosane explicou como são deitadas as pá-ginas de política da Zero Hora para evitar acusações de favorecimentos. “As fotos e textos precisam ser do mesmo tamanho quando há dois indivíduos na disputa”, alertou. Claro, se o candidato fizer algo que atrapalhe sua campanha, a culpa não é do jornal, mas dele.

Depois de quase 30 anos de carreira, ela não tem dúvidas que exerce a profissão certa. “O jorna-lismo exige muito sangue, suor e lágrimas. Temos um mundo em nossa frente, mas cada um precisa buscar o seu lugar.”

Livro discute o trabalho investigativo da imprensa

Pluralidade na produção jornalística é apresentada como quesito básico para qualidade das reportagens

Por Gabriela Boni

Ao iniciar um texto, o repórter tem diante de si o mesmo que o ar-tista: uma tela branca. Preenchê-la da melhor maneira é o desafio para os que procuram se pautar sem depender do factual. Assim pensa Solano Nascimento. Jornalista e professor universitário em Brasília, tem uma visão crítica quando o assunto é jornalismo investigati-vo. Para ele, a imprensa brasileira possui a tendência de se acomodar diante dos desafios inerentes a pautas envolvendo denúncias. Inte-ressado em compreender o porquê de tal acomodação, desenvolveu, a partir de sua tese de doutorado, um livro que sugere caminhos possíveis para uma nova postura no exercício da profissão.

O livro “Os Novos Escribas” conduziu o debate “Direto da Fonte”, que ocorreu na Faculdade de Comunicação da PUCRS em abril. Simulando uma coletiva de imprensa, os alunos estiveram próximos das experiências de So-lano Nascimento e da ideia central incentivada no livro: investigar sem depender em excesso de fon-tes oficiais. Os escribas seriam os jornalistas que copiam uma infor-mação alheia, adotando-a como

sua. Nascimento demonstra que o jornalista fica mais vulnerável ao risco de perder o controle sobre o próprio trabalho e, para exem-plificar o contrário, aponta o cru-zamento de dados para obtenção de informações novas como uma atitude assertiva do repórter.

“É bom que hoje nós tenhamos uma oferta maior na divulgação de dados oficiais. A Internet também fornece muita informação, mas é preciso ser criterioso. A audiência não distingue uma investigação oficial de uma iniciada à parte, por um jornalista. Mesmo assim, é nossa tarefa fazer o melhor tra-balho possível, senão a imprensa dependerá demais do Ministério Público e da polícia, por exemplo”, afirma Solano.

Ter cuidado neste processo é o que também alerta Marco Antonio Vargas Villalobos, jornalista e pro-fessor da Famecos: “Não sou contra o uso de fontes oficiais se realmente ajudam a fazer o bom texto. Mas o profissional não pode receber esses dados como um prato-feito. Todas as informações devem ser checadas”, considera. Para ele, o rótulo “investigativo” isolado é dis-pensável: “Se não há investigação, não há jornalismo”, afirma.

Cid Martins, jornalista da Rá-

dio Gaúcha, tem a experiência em investigação refletida nas 67 pre-miações de trabalhos. Ele aponta que uma grande reportagem não precisa ser algo espetacular: “Pode ser um congestionamento diário”, exemplifica. “Tudo é importante se tiver um grande interesse so-cial. A diferença é que a história obscura tem que ser revelada com provas e flagrantes, ao contrário da investigação social ou ambien-tal. Infelizmente, parece que uma matéria sobre casos de exploração sexual de crianças e adolescentes rende menos do que uma fraude no Detran”, opina.

Despertar este espírito crítico é o que propõe “Novos Escribas”. A adaptação permite uma leitura rápida para atrair jovens jorna-listas. Solano Nacimento teme que um trabalho de averiguação mais profundo se torne residual se o interesse por isso continuar diminuindo. Acredita, porém, que estudantes e recém-formados representam a possibilidade de alguma mudança ser concretizada. “Quero que os veteranos fiquem incomodados e até envergonhados pelo que deixam passar. Também quero chamar atenção para que os estudantes saibam discernir os dois tipos de investigação”, conclui.

imprensa

Cristiane Finger e Solano Nascimento no diálogo com estudantes sobre pauta e investigação

Felipe Dalla Valle/hiper

Mariana Fontoura/hiper

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Jornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universida-de Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane Finger

Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Juan Do-mingues, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas Ramos.Estagiários matriculados e voluntáriosEditoras e diagramação: Ana Maria Bicca e Thais Longaray.Editora de texto: Denise FrizzoDiagramadores: Pedro de Souza Palaoro, Ga-briela Boni e Gabriela Carpes.

Editores de Fotografia: Bruno Todeschini e Lívia Stumpf.Redação: Ana Maria Bicca, Camila Kaufmann, Camila Torrada Pereira, Cláudio Rabin, Débora Fogliatto, Deborah Cattani, Denise Frizzo, Gabriela Boni, Gabriela Carpes, Gabriela Dal Bosco Sitta, Jéssica B. Wolff, João Veppo Neto, João Henrique Willrich, José Luiz Dalchiavon, Luiz Antônio A. Bruno, Mariana Amaro, Marco Antônio Mello de Souza, Natália Otto, Nicole Pandolfo, Paola Rebelo, Pedro Henrique Arruda Faustini e Thais Monteiro Longaray.

Repórteres Fotográficos: Bruno Todeschini, Bruna Martins, Bolívar Abascal Oberto, Camila Guimarães Cunha, Caroline Corso de Carvalho, Daniela Grimberg, Felipe Dalla Valle, Guilherme Santos, Gabrielle Toson, Jonathan Heckler, Lívia Auler, Lívia Stumpf, Luíza Lorenz, Manoela Ribas, Maria Helena Sponchiado, Mariana Amaro, Ma-riana Gomes da Fontoura, Maurício Krahn, Nicole Pandolfo, Nicole Morello, Paola Rebelo, Pedro B. Garcia, Pedro Henrique Tavares, Pedro Sampaio, Raquel Damo, Renata Ferreira, Sabrina Ribas, Tracy Anne e Vanessa Freitas.

Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

EDITORIAL ARTIGO

4 Porto Alegre,maio 2010hiperextot

Opinião

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Mergulharam na lamaDa Redação

Ar puro, cheiro de mato, o cantar de pássaros, o ruído de animais silvestres, picadas ín-gremes, barro, muita lama, ce-nário absolutamente novo para os guris e gurias de apartamento que participaram do Acampa-mento da Fotografia, em um fim de semana chuvoso de maio. Na volta, trouxeram orgulhosos mais de 600 fotografias para comprovar que participaram da aventura. Muito bala!

Acostumados ao conforto de almofadas e meias soquetes, o universo virtual na tela do lap-top, estudantes de jornalismo da Famecos foram convencidos pelo professor de fotografia Elson Sempé Pedroso a embar-carem em dois carros na direção da Serra do Mar. Na bagagem, quatro barracas e máquinas

fotográficas digitais de última geração.

Música, sorrisos, asfalto, as curvas da BR 101. Em Maqui-né, pegam a estrada de chão. Passam pela lagoa dos Barros. Os pneus deslizam no barro. Diante do parabrisa, a Mata Atlântica. Antes de chegarem no rio Maquiné, um dos carros atola. Uau! Prova de lama para liberá-lo. Enfim, chegam na reserva de proteção ambiental de Itaporã.

Avisada com antecedência, a zeladora dona Edir espera com comida caseira o professor e os alunos Mariana Fontoura, Lívia Auler, Lívia Stumpf, Ni-cole Pandolfo, Maurício Krahn, Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini e Thiago Couto. Tudo preparado em fogão a lenha, conhecem o sabor de maionese de inhame e salada

de mamão verde.Montam as barracas, pas-

seiam pela mata, abraçam-se a uma figueira de 400 anos, as raízes a descerem a serra no meio das pedras. A chuva não para. Uma carne assada à noite. Um círculo em volta do fogo no acampamento. Histórias sem fim, licor de bergamota para espantar o frio e a umidade. A volta para Porto Alegre do-mingo, depois do almoço em panelas de ferro.

Recostados nas almofadas, quentinhas meias soquetes, as fotos digitalizadas se so-brepõem no laptop sobre os joelhos dos guris e gurias de apartamento. Maravilhas. Ele e os colegas na lama, escalam ár-vores, cruzam pinguelas. Ainda guardam nas narinas o cheiro do mato. Inacreditável, muito massa!

Por Débora Fogliatto

O Brasil deu um passo à fren-te da comunidade internacional. Ao fechar acordo com a Turquia e o Irã para afastar qualquer possibilidade de produção de ar-mas nucleares por parte do país dos aiatolás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estendeu a mão a Mahmoud Ahmadinejad.

O Irã, que tem grande abun-dância de urânio e capacidade de enriquecê-lo, é temido pelas grandes potências pela possi-bilidade de fabri-car uma bomba atômica. Ano pas-sado, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) já havia tentado fazer um a c o r d o c o m o país, sem sucesso. Agora, Lula e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, conse-guiram uma resposta positiva do presidente iraniano.

O acordo determina que o Irã envie 1.200 quilos de urâ-nio pouco enriquecido (3,5%) em troca de combustível para a produção de isótopos médicos em seus reatores, enriqueci-do em 20%. Para construir uma bomba, seria necessário enriquecê-lo a 90%, o que as autoridades iranianas assegu-ram não ter interesse em fazer. Mas as afirmações pacifistas não convenceram o Conselho de Se-gurança da ONU, liderado pelos Estados Unidos, que defende novas sanções ao Irã. Em 2006, 2007 e 2008 o país foi alvo de

sanções comerciais como forma de pressionar o governo irania-no a desistir da produção de armas nucleares. Agora, com a conquista do acordo, novas me-didas repressivas não seriam ne-cessárias. Por algum motivo, a palavra de Ahmadinejad a Lula e Erdogan não é suficiente para cessar a desconfiança mundial a respeito das intenções do país.

Talvez se o acordo assina-do no dia 17 de maio tivesse sido firmado pela Inglaterra e Alemanha, em vez de Brasil

e Turquia, as re-percussões seriam diferentes. Talvez se o Irã não fosse inimigo histórico dos Estados Uni-dos, a comunida-de internacional acreditasse em Mahmoud Ahma-dinejad. Talvez a descrença dos pa-

íses ricos se deva ao fato de que emergentes tenham conseguido negociar com o Irã. Não será difícil para as grandes potên-cias aceitar que Lula e Erdogan tenham conseguido algo sem necessitar da ajuda de Obama ou Sarkozy?

O ceticismo internacional gera mais motivos para que a população e os líderes iranianos se sintam ameaçados. Ninguém parece pensar que o Irã só es-teja querendo ser aceito e não temido como tem sido por anos. Ahmadinejad fez o que a ONU não está se propondo a fazer: negociou e assinou um compro-misso que representaria o fim de acusações e conflitos para ambos os lados.

Acordo Brasil e Irãsob desconfiança

“Não será fácil para as

grandes potências aceitar

que Lula e Erdogan

tenham conseguido algo

sem necessitar da ajuda

de Obama ou Sarkozy.”

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Bolívar Oberto/HiperCidade contra as drogas Cachoeirinha promove projeto de reabilitação

Por Jéssica Wolff

“Boa noite a todos!” Assim começa uma das cinco reuniões se-manais destinadas à recuperação de usuários de drogas. Das 31 cadeiras que formam um grande círculo, 20 foram ocupadas por pessoas que buscam restaurar suas vidas. “O que fazemos é uma troca de experi-ências”, diz um dos coordenadores do encontro e ex-viciado, Joelson Oliveira, de 45 anos.

O projeto “Cara Limpa” é rea-lizado há 11 anos no município de Cachoeirinha, na Região Metro-politana de Porto Alegre. A idéia surgiu de uma pessoa que estava em processo de reabilitação: Vicente Pires, atual prefeito da cidade. Os participantes das reuniões contam com o apoio da Prefeitura para a recuperação. Aqueles que assumi-

rem a dependência química podem se candidatar a uma das 50 vagas destinadas a moradores de Cacho-eirinha em uma comunidade tera-pêutica na cidade de Montenegro.

O encontro começa com a lei-tura da Bíblia para que cada um encontre sua espiritualidade, inde-pendente de religião. Em seguida, ocorre a apresentação e a expres-são de sentimentos dos usuários e de seus familiares. Alguns não consomem algum tipo de drogas há mais de sete anos e são exemplo para aqueles que estão sóbrios por apenas um dia. O terceiro momento e o mais importante é quando os participantes que estão há mais tempo em recuperação aconselham os mais novos no grupo.

Ibaru Barbosa, 48 anos, está em recuperação há nove anos. Hoje, é secretário adjunto de Serviços Ur-

banos e participa como voluntário do programa “Cara Limpa”. “O con-sumo de drogas é algo progressivo e fatal. Evolui para a quantidade e para a potencialidade”, afirma. Lembra que entrou no mundo das drogas aos 10 anos fumando maco-nha, aos 15 estava na cocaína e aos 20 usava crack. Quando jovem, não se preocupava com ninguém além de si próprio e de seu vício. Ele con-ta que a principal característica de um usuário é a mentira e relembra momentos em que criou situações falsas para encobrir o vício. Ibaru concordou em ir à comunidade terapêutica – a fazenda, como é chamada – quando já estava com 39 anos. Ficou lá nove meses. Após o retorno, conseguiu manter-se em um emprego por um ano e ganhou suas primeiras férias, o que simbo-lizou uma grande vitória.

Localizada em Montenegro, a comunidade é considerada um retiro espiritual. Antes de ir para a fazenda, os pacientes fazem uma desintoxicação de três meses. De-pois, seguem a rotina da fazenda: acordam sempre no mesmo ho-rário, fazem as refeições juntos e precisam respeitar certas regras. Ao acordar, homens, mulheres, adolescentes e crianças participam do “Bom dia comunidade”, mo-mento de espiritualidade que, na opinião dos recuperados, significa cerca de 70% da reabilitação. No café da manhã não é consumido

café, pois contém cafeína e o ob-jetivo é manter uma alimentação totalmente saudável.

Na metade da manhã, começa a terapia ocupacional. Os resi-dentes são divididos em setores para trabalhar na horta, limpeza, cozinha e coordenação. Cada in-divíduo fica em torno de 21 dias em cada setor. Três horas depois, acontece a segunda reunião do dia, momento em que todos falam o que estão sentindo por estar naquele local. “É quando sucede a mágica da nossa reparação”, comenta Ibaru. O dia segue com

os trabalhos encarregados para cada um e o terceiro encontro ini-cia no fim da tarde. Os pacientes aprendem a manter a sobriedade e conversam, entre outros assuntos, sobre filosofia, motivados pela leitura de livros.

Nas quartas-feiras e nos sába-dos, os moradores da comunidade se dedicam aos esportes e ao lazer. Nestas ocasiões, o grupo é dividido por sexo e idade. “O objetivo do programa é devolver a sanidade para o usuário e fazê-lo despertar para a vida real”, explica o secre-tário Ibaru Barbosa.

Espiritualidade e trabalho em comunidade terapêutica

5Porto Alegre,maio 2010

Reabilitação

Vicente Pires, 47 anos e pre-feito de Cachoeirinha, teve uma vida tão conturbada quanto a dos que estão em reabilitação. Começou a usar drogas com 16 anos e só foi encontrar a liberdade com 33. Conta que os principais motivos para a procura dos nar-cóticos são o de-sencantamento pela vida, a fuga da realidade e o sentimento de rejeição.

Ele lembra da época em que era dominado pela dependên-cia: “Eu consumia para dormir e dormia para consumir”, con-fessa. Acredita que o viciado não aceita sua própria derrota e, assim, não vê uma saída por achar que não possui força para sair de seu mundo decadente. O início da melhoria do prefeito ocorreu quando ele aceitou o convite de uma prima para ir a uma igreja onde um grupo

de Narcóticos Anônimos (NA) costumava se reunir. No en-contro, sua espiritualidade foi despertada.

Pires foi para a comunidade terapêutica, onde o tratamento

continuou por nove meses. Ao retornar para Cachoeirinha, foi preso e per-m a n e c e u n a cadeia por dois anos e nove me-ses, condenado por estelionato devido às dívi-das não pagas e acumuladas. A reviravolta aconteceu e ele

criou o projeto “Cara Limpa”, em 1999.

Em abril deste ano, o pre-feito Vicente Pires assinou a escritura de uma área de 11 hectares reservada para uma comunidade popular munici-pal de Cachoeirinha. Para ele, a construção de uma fazenda de reabilitação na cidade será como uma vitória para todos.

O prefeito é exemplode superação do vício

hiperextot

“Eu consumia

para dormir e dormia

para consumir”(Vicente Pires)

Prefeitura de Cachoeirinha se mobiliza no combate às drogas na cidade

História de Pires incentiva a busca pela superação

Page 6: Hipertexto Maio 2010

6 Porto Alegre,maio 2010hiperextot

Por Pedro Tavares

O hipismo, que todos conhe-cem, mas só ganha mídia nos Jogos Olímpicos, cria uma relação muito forte entre o homem e o cavalo. É isso que se observa ao andar pelos estábulos da Sociedade Hípica Porto-Alegrense, no bairro Belém Novo, zona sul da Capital. Tudo fica claro para quem vê amazonas e ca-valeiros acariciando e conversando com suas montarias antes de entrar na pista de competição para saltos em obstáculos.

Ana Laura Jardim, que monta desde os nove anos, destaca que o bom relacionamento com os animais pode trazer resultados positivos na hora da competição. ‘O cavalo sente quando estamos ner-vosos, principalmente se as pernas não estão firmes e as mãos muito

soltas na rédea, nestes casos, muitas vezes o cavalo acaba não saltando”, conta a menina, hoje com 15 anos.

Ana Laura também revela ser importante mostrar a pista ao ca-valo antes de começar o percurso.

O animal pode se assustar com obstáculos temáticos (como aqueles que têm formato de muro), assim como com as barreiras coloridas demais. “Algumas vezes eles sentem medo antes de saltar obstáculos

diferentes dos convencionais. Eu caí algumas vezes e, por isso procuro sempre levar o cavalo até esses obstáculos para mostrar que não há perigo. Até dou uma conversadinha com ele”, confessa.

O hipismo é um esporte em que corpo e mente trabalham de ma-neira simultânea. Vai muito além das pistas, mostra que existe uma preparação maior do que o simples ato de montar sobre a cela.

De Elite? Não: O hipismo é considerado uma prática da classe alta. Ao contrário do que muita gente pensa, não é preciso ser pro-prietário de cavalo para praticar o esporte. Existem escolas em Porto Alegre, inclusive na Hípica, para essa prática. A mensalidade varia de R$ 100 a 300, sendo possível aprender a montar sem maiores preocupações.

A professora do Centro Hípico Recanto do Pinheiro, Cláudia Var-gas, reconhece que faltam infor-mações corretas sobre o esporte. “Fazer hipismo não é um bicho de sete cabeças como todo mundo pen-sa, existem muitas escolas no Brasil inteiro, onde se pode aprender a montar por um preço relativamente acessível”, relata.

A professora, formada em Edu-cação Física, explica que as escolas fornecem os cavalos para as aulas, não havendo necessidade de ser proprietário de um animal. “É só pagar a mensalidade que a escola providencia a estrutura. Os únicos gastos adicionais necessários são a aquisição do equipamento (botas e capacete) e eventualmente o paga-mento de inscrições nas competi-ções e do transporte dos cavalos”, completa.

Amazonas e cavaleiros acariciam as montarias antes da competição

Felipe Dalla Valle/Hiper

Cavaleiros conversam com os animais antes de montar

esporte

Hipismo reforça união homem e cavalo

Regra simples: pular os obstáculosDiferente do futebol, do vôlei,

ou do basquete, o hipismo é um esporte que não exige nenhum tipo de planejamento tático para percorrer os obstáculos. Os trei-nos se baseiam na pura repetição de saltos sobre as barreiras, que variam de 60 centímetros a um metro e 50 centímetros.

Na prática diária, pode-se observar que o que mais se exer-cita são questões técnicas, como o posicionamento de mãos e pés,

a postura e o tempo de salto de cada animal. “Cada um tem um jeito diferente de pular”, observa a amazona Ana Laura Jardim. O hipismo é uma repetição constante da técnica para que ocorra tudo perfeito na hora da prova. “Aí não tem mistério, é só chegar lá e transpor cada obstáculo de uma vez’, assegura a jovem.

As regras do hipismo não exi-gem grande raciocínio para o seu entendimento. A única curiosidade

consiste no fato de que, quem soma mais pontos na pista de competi-ção, amarga a última colocação.

Antes da prova há um reco-nhecimento da pista, para que se conheça a ordem dos obstáculos. Cada obstáculo derrubado con-tabiliza pontos para o conjunto (cavaleiro-cavalo). O tempo tam-bém pode penalizar caso o con-junto exceda o limite fixado pelos juízes. Erros de percurso e quedas também contam no escore final.

UMA TRADIÇÃO NA HÍPICA Entre os dias 29 de abril e 2

de maio aconteceu o The Best Jump na Sociedade Hípica Porto-Alegrense. O evento, realizado há 42 anos, reuniu conjuntos de toda a América Lati-na em provas nas pistas de areia e de grama da Hípica.

A abertura foi na quarta-feira, 28 de abril, com a prova carro-cavalo. Nos dias subseqüentes aconteceram provas nacionais e internacionais,como os Concursos de Saltos Nacional e de Saltos Internacional.

No domingo, 2 de maio, foi a vez do Grande Prêmio Cidade de Porto Alegre, que reuniu os 57

melhores conjuntos da atualidade no Brasil, incluindo participantes de países da América Latina.

O grande vencedor foi Fábio Leivas, montando Lancelot. Em

segundo lugar fi-cou a venezuela-na Loisse Garcia, seguida de André Oliveira Campos Freire, na tercei-ra colocação.

O campeão Fábio Leivas des-

taca a conquista do Grande Prêmio como essencial para sua carreira. “Já havia vencido os GP’s no Rio, São Paulo e Minas, só faltava aqui’, festeja. O cavaleiro carioca, que monta desde os 11 anos de idade, reconhece o evento como um

dos mais importantes no cenário latino-americano.

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, também esteve no local para prestigiar o evento. Ele comentou a respeito de como a possível ampliação do Aero-porto Salgado Filho pode ajudar a expandir eventos como o The Best Jump.

As obras no aeroporto trariam a possibilidade de pouso de aviões de grande porte, que poderiam trazer cavalos de outros continen-tes para o evento. “A importância dessa ampliação seria imensa para o The Best Jump. A vinda de cavaleiros de outros continentes credenciaria o evento como um dos cinco maiores do mundo”, orgulha-se Fortunati.

Lívia Stumpf/Hiper

The Best Jump é realizado em Porto Alegre há 42 anos

Page 7: Hipertexto Maio 2010

esporte

7hiperextotPorto Alegre,maio 2010

Harlem Globetrotters: show e diversão

Felipe Dalla Vale/Hiper

Malabarismos com bolas fazem parte do show na quadra

Basquetebol e bom humor na CapitalPor Pedro Tavares

Você já foi a um jogo sabendo qual time irá ganhar? É isso que os Harlem Globetrotters levam para o mundo inteiro: jogos de basquete roteirizados e com muito bom humor. O melhor time de basque-tebol do mundo, como é chamado, nunca obteve uma derrota.

Se existe futebol arte, o bas-quetebol não deixa por menos. Os Harlem Globetrotters, time de basquete que existe há 84 anos, contabiliza mais de 25 mil jogos, todos vencidos por eles.

As apresentações dos Globe-trotters não são simples jogos de basquete, na verdade se caracte-rizam por ser verdadeiros espe-táculos. Comandados por Special K, o capitão, estes “jogadores-malabaristas” fazem verdadeiras acrobacias com a bola, incluindo rápidas trocas de passe e sensa-cionais enterradas, como fizeram em Porto Alegre, em 29 de abril.

“Boa noite Gigantinho”, as-

sim saudou o público o anfitrião Manoel Soares, que junto com ele trouxe à quadra a equipe Gaúcha de Basquete de Rua, apoiada pela Cufa (Central Única de Favelas). O time veio para um pré-jogo contra a Seleção Gaúcha de Basquete, da categoria juvenil, que serviu de aquecimento para a entrada do time norte-americano.

O jogo é parado, a todo mo-mento, para brincadeiras inusi-tadas, incluindo entradas esporá-dicas na quadra do treinador do time adversário, o Washington Generals. As cenas mais curiosas do “jogo-show” que aconteceu no Gigantinho eram protagonizadas pelo excêntrico técnico do Wa-shington, que trajava um espalha-fatoso terno vermelho. Ele entrava em quadra com seu guarda-chuva preto e branco com o objetivo de hipnotizar um dos jogadores do Globetrotters. O escolhido acabava por passar a bola aos adversários que convertiam a cesta. O tran-se do jogador era interrompido

quando o melhor time de basquete do mundo realizava uma jogada sensacional.

Globie e Big-G, os mascotes do Harlem Globetrotters, também roubaram a cena, criando um clima de descontração com o público presente. Enquanto Globie entrou antes da partida para fazer uma dança das cadeiras com a garota-da, Big-G apareceu no decorrer da partida para que o mesmo fosse feito com os jogadores americanos.

Os espectadores são chamados para interagir o tempo todo, prin-cipalmente as crianças. Special K usa um microfone de lapela para se comunicar com a platéia. Mú-sica e dança também fazem parte do show. Incluindo a performance da música Ymca, os Globetrotters adoram dançar, até mesmo com a partida em andamento. Muito mais do que um jogo de basquete, os Harlem Globetrotters trou-xeram a Porto Alegre alegria e diversão para o público de todas as idades.

Copa dá esperança para bom futebolPor Marco Antonio Souza

Pela primeira vez, uma copa do mundo será realizada no con-tinente africano. A África do Sul receberá, no mês de junho, as 32 seleções classificadas para a disputa que começará no dia 11. A seleção brasileira estreia contra a Coréia do Norte no dia 15 de junho. O nível técnico da competição cre-dencia o evento a possibilidade de um mundial cheio de bons jogos.

Todas as seleções apontadas como favoritas ao título têm como destaques as peças ofensivas de seus esquemas táticos. O continen-te europeu serve de termômetro para saber como os principais times irão jogar. O 4-3-3, esquema que melhor privilegia o ataque, é comum nos grandes clubes, principalmente as que venceram as competições de destaque em 2010. Se em 2002 e 2006 a FIFA selecionou um goleiro e um zaguei-ro, respectivamente, como melhor jogador do mundial, é grande a possibilidade de que essa edição premie um atleta com caracterís-

ticas ofensivas.O diretor de redação da Re-

vista Placar, Sergio Xavier Filho, divide em três grupos as seleções favoritas para a conquista da taça. O Brasil é o time mais forte na

competição, o que se deve à ma-neira de jogar armada pelo técnico Dunga. A trajetória vitoriosa na Copa América e na Copa das Con-federações foi outro aspecto que Xavier colocou como diferencial.

A Espanha é outra seleção apontada como favorita. Segundo Xavier, que esteve na Famecos em maio, a Espanha possui jogadores mais técnicos, mas teve muitos problemas de lesões com alguns de

seus principais jogadores, casos do meia do Arsenal, Cesc Fabregas, e do atacante do Liverpool, Fernan-do Torres. Equipes com tradição como Itália e Argentina estão abai-xo das líderes do ranking da FIFA.

A seleção da Holanda também vai se destacar. Conta com os jo-gadores Arjen Robben e Wesley Sneijder, que levaram, respectiva-mente, o Bayern de Munique, e In-ter, de Milão, à final da Champions League, competição de maior nível técnico entre clubes do planeta.

O repórter Eduardo Cecconi, do site Clicrbs e do blog Preleção, fez uma análise das 32 equipes participantes e acredita que as se-leções com maiores possibilidades de conquista da Copa são Espanha e Brasil. A Inglaterra também é apontada como um time muito forte, mas depende da solução dos problemas de lesão que atingem seus principais jogadores. Outra candidata, na opinião de Cecconi, é a Argentina, apesar da instabilida-de atribuída ao técnico Maradona, mas que conta com um elenco de qualidade.Kaká, Nilmar e Juan são armas do Brasil na Copa da África do Sul

Fabrice Coffrini/ AFP

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esporte

8 Porto Alegre,maio 2010hiperextot

Por Fernando Soares

Ele enfrentou o poder central e “desafiou a vontade do rei”. Os termos são de Fábio André Koff, 80 anos, e se referem à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e seu presidente, Ricardo Teixeira. Em abril, o dirigente saiu vitorioso de um processo eleitoral turbulento e recheado de inferências externas. Para garantir o sex-to mandato à frente do Clube dos 13, ele precisou derrotar Kle-ber Leite e o poder político da CBF. “Foi uma briga de cachorro grande”, reconhece Koff.

Durante a disputa, Teixeira se transformou em cabo eleitoral da oposição e pressionou os clubes alinhados com Fábio Koff a mudar o voto. A eleição, programada para dezembro, foi antecipada a pedido dos opositores. Pela primeira vez desde que assumiu a presidência do C13, em 1996, Koff teve seu cargo ameaçado. A vitória na urna foi apertada, 12 a 8. Quatro clubes que o apoiavam cederam à pressão e mudaram de lado. “Ao final, eles me cumprimentaram e disseram que sempre estiveram comigo”, diz com sorriso irônico.

Nesse que deverá ser seu últi-mo mandato, Koff terá pela frente uma tarefa árdua. Apesar de negar a existência de racha no C13, ele precisa reagrupar os filiados nova-mente. A reformulação do estatuto da entidade é o primeiro passo a ser dado. A formação de uma liga, nos moldes europeus, segue sendo uma das metas do dirigente. No entanto, a criação do campeonato esbarra na omissão dos clubes junto à CBF.

Na sede do Clube dos 13, em um luxuoso prédio do bairro Moinhos de Vento, Fábio Koff conversou com o Hipertexto. No escritório é possível constatar que seu vínculo com o Grêmio continua forte. O local é uma espécie de relicário gremista, repleto de recordações das suas passagens pelo tricolor. Ele foi presidente do clube em duas oportunidades e conquistou,

entre vários títulos, duas Libertadores e um Mundial. Até mesmo a placa azul com a inscrição de “presidente”, sobre a mesa, é a mesma que ele tinha no seu

gabinete no Estádio Olímpico. Reeleição:“Essa eleição do C13 foi um desafio para mim. Ela me remoçou. Eu estava cansado, exaus-to. Não queria mais nada. Pensava: vou ficar em casa, ver filmes com a minha mulher, passear e usufruir o tempo que me resta. Mas querer me botar pra fora da entidade que ajudei a fundar e crescer pela porta dos fundos, não vão não. Agora, vou sair quando eu quiser. O que prometi, vou cumprir.”Antecipação da eleição: “Se fosse em dezembro, talvez nem fosse candidato. Eu não estava in-teressado. A antecipação foi feita a pedido da candidatura de oposição e eu entendi como normal. Fizemos a eleição e, se quiserem vir de novo, eu faço e tenho certeza que ganho novamente.”Interferência:“Ao intervir no processo eleitoral, a CBF tentou to-mar conta do C13. Então, os clubes se reuniram e entenderam que o nome mais forte para fazer frente à vontade do rei era o meu. Era pra-ticamente uma exigência para que

o C13 lutasse por sua sobrevivência. Eles acreditavam que eu não pode-ria desertar nesta hora. 16 clubes me apresentaram como candidato. Ao final, 12 votaram em mim. Outros quatro preferiram se incorporar à outra candidatura, atendendo ao assédio da CBF.”Pressão da CBF na eleição “Houve pressão com relação aos clubes, a pressão de quem detém o poder. Só que esse excesso de poder na pessoa às vezes coloca viseira, ela acha que pode fazer o que quer. ‘Eu faço, eu mando, eu arrebento’. Não é bem assim. Hoje, felizmen-te, há o contraditório. Há pessoas com independência, coragem para discutir seus interesses e que não se submetem. Eu não quero que todos os clubes pensem como eu. Agora, eu quero que todos tenham uma posição, um lado. Não me im-porto que não seja o meu. Acredito que as decisões certas nascem do contraditório. Vamos debater, ver o que é melhor.”Ricardo Teixeira: ‘Eu tinha uma relação formal com o Ricardo Tei-xeira, mas de respeito recíproco. Tanto é que ele me distinguiu com a chefia da delegação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da França, em 1998. Mesmo a con-tragosto, fui devido à quantidade de convites anteriores que eu não aceitara. Minha relação com ele era boa, tanto que, no fim do ano passado, houve por bem selar um pacto de convivência respeitosa

entre o C13 e a CBF. Quando, em março, fomos surpreendidos com uma candidatura posta na rua para uma eleição marcada para dezem-bro de 2010.”Teixeira e a oposição: “No colé-gio eleitoral que elege o presidente da CBF, o C13 representa 20 votos, enquanto 27 presidentes de federa-ções equivalem a um voto cada. O Ricardo Teixeira é candidato, pelo menos nunca negou, à presidência da Fifa. Se ele vai ser antes ou de-pois da Copa do Mundo de 2014 é questão de tempo. Evidentemente ele já está preocupado em fazer seu sucessor. Eu acredito que, por intermédio do Kleber Leite, seria mais fácil ele ter controle sobre o C13 do que com um presidente independente, como eu. Não vou fazer conjecturas e imaginar outros aspectos que não sejam de natureza política.”Poder político: “O presidente da CBF é um dos homens mais poderosos do país. A exploração de todos os segmentos envolvidos com a Copa do Mundo, como clubes, estádios, municípios e turismo, dependem dele. Ele é o homem de ligação com a Fifa. Evidente que o poder dele envolve todos os demais. Eu senti esse forte poder político na eleição. Houve envolvimento de deputados, senadores e prefeitos interessados em ser sub-sede da Copa do Mundo, que falavam com os clubes acionados pelo presidente da CBF.”

Retaliação aos clubes: “Não tem como isso acontecer. O poder do presidente da CBF não vai a tanto. Nem há como fazer. Acredi-to que não seja do temperamento dele, pois seria muito mesquinho.” Taça das bolinhas “Aí é uma situação que envolvia diretamen-te a presidente Patrícia Amorim, que na eleição do Flamengo foi opositora ao Kleber Leite e ganhou dele. Tentaram cooptá-la e ela honrou o compromisso que havia assumido, de ocupar uma das vice-presidências do C13. Ela não cedeu à pressão, então tentaram desgastá-la junto ao seu clube com essa história de Taça das Bolinhas. Levaram 18 anos pra decidir com quem ficaria a taça. Eu acho que vão levar mais 20 pra entregar.”Liga: “Os clubes já pleitearam, há alguns anos, a formação de uma Liga. Chegaram a elaborar os esta-tutos e houve até pedido de registro de CNPJ. Quando surgiu, provida pela CBF, uma rebelião das federa-ções alterando totalmente o quadro. A criação da Liga foi sepultada. Em face da legislação, essa não é uma tarefa fácil. A lei retira os poderes quando atribui à CBF a criação do calendário. Enquanto a CBF for dona do calendário, não tem como formar uma Liga. Tu vais jogar como, em conflito com os jogos marcados pela CBF? Os clubes caem fora do sistema todo. Tu perdes o registro dos atletas, crias um con-flito... Não tem como solucionar.

Fábio Koff venceuma briga de cachorro grande

Foi a sexta eleição do dirigente para presidência do Clube dos 13

Presidente campeão do mundo pelo Grêmio, Fábio Koff representa os clubes brasileiros

fotos: Gabriele Toson/Hiper

“O presidente da CBF é um dos

homens mais poderosos do país”

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cidade

9Porto Alegre,maio 2010 hiperextot

Sabrina Ribas/ Hiper

Só há a possibilidade de formação da Liga se forem compatibilizados os interesses da Liga com os da CBF, o que tem se tornado difícil. Não dá para comparar com as ligas europeias. Até porque nós temos 27 estados e 27 federações. Lá, cada federação tem uma com-petição. O número de clubes e a quantidade de jogos no Brasil são maiores que em qualquer lugar do mundo. E formar uma liga eliti-zada, tu não podes. Tem de haver acesso e descenso. Para isso, tu tens que reunir 50 ou 60 clubes, até para poder negociar o produto.” Clubes X CBF: “Com a experi-ência que tive até agora, eu digo, com pesar: acho que os clubes não enfrentariam a CBF para criar a Liga. Eu vou lutar por isso, mas não sei se vou ter êxito e nem tempo de fazer. O problema é complexo. Por exemplo, o Clube dos 13 estimulou a criação das ligas regionais. Durou um ano e elas foram eliminadas. Era um processo progressivo de diminuir as datas dos campeonatos estaduais, que são deficitários para todos. Até para os pequenos, que re-cebem os grandes e têm prejuízo. No Rio Grande do Sul, os clubes pequenos são sazonais. Ter-mina o Gauchão e todo mundo vai embora. As ligas regionais sofreram oposição Adoção do calendário euro-peu: “Eu tenho as minhas dúvidas. Confesso que não tenho uma opi-nião formada. Há prós e contras. Não só com relação à época em que é disputada a competição, com jogos no verão e competindo com eventos importantes, como o carnaval. Essa dissimetria com o calendário europeu é boa no pro-cesso de internacionalização do produto, porque corresponde a um período que não há jogos nas ligas europeias. Assim, fica mais fácil de comprarem a nossa competição. Mas seria bom na questão referente às janelas de transferências, pois diminuiria a especulação e o des-manche de clubes.”Rateio das cotas: “Nós, talvez, tenhamos a divisão mais justa e democrática entre todas as ligas de futebol no mundo. Por isso que o Campeonato Brasileiro inicia com 10 ou 12 postulantes ao título. Es-tabelecemos um limite de grupos,

pela representação do clube junto à mídia e o número de torcedores. Estes dados são obtidos através de pesquisa de mercado permanente. Cada grupo tem uma cota fixa. Ainda há os valores variáveis cor-respondentes às vendas de pay-per-view. Nos países onde a negociação dos contratos de TV é coletiva, eles estão copiando o modelo do C13.”

Enfraquecimento dos peque-nos: “Nenhum clube brasileiro, principalmente os grandes, tem vocação para ser Robin Hood. Eles não dividem a parte deles. Os conflitos são tremendos, com relação à repartição do produto da venda das competições. O que se pretende fazer é uma melhor nego-ciação desses contratos das Séries B e C. O contrato atual da Série B, aderido pelos clubes e firmado até 2014, representa 6% do que é o da Série A. Está muito mal feito. Alguma coisa está errada. Tem que lutar por um novo contrato, pois o valor é ínfimo. A Série C não recebe nada. Está ocorrendo um extermí-nio de clubes pequenos no Brasil. Rivalidades entre clubes da mes-

ma comunidade não existem mais. Os grandes estão fican-do cada vez maiores na comparação com os pequenos.”

Renovação do contrato televi-sivo: “Espero que apareçam tantos

interessados quanto tiverem. Acho que o futebol brasileiro é um pro-duto ótimo. Aí há de se reconhecer os méritos da CBF na organização da competição, que hoje tem datas e horários determinados. Isso é um avanço. Com a Copa do Mundo de 2014, o Brasil e seu futebol vão ficar em exposição permanente na mídia esportiva internacional. Nós temos um contrato que vence em 2011 e será negociado no final do ano. Hoje o valor é de R$ 1,5 bilhão. Acredito que nós vamos ultrapassar dos R$ 2 bilhões no novo contrato.”Sucessão:“O Fernando Carvalho é um nome forte, mas em razão do seu envolvimento e retorno à linha de frente do Internacional isso cria conflitos com outros clubes. Ele deve ter sofrido um pequeno desgaste, mas não o suficiente para alijá-lo do próximo processo eleitoral. Eu não tenho dúvida de que ele seria um grande candidato à presidência do Clube dos 13, pela sua experiência e competência.

“Nós, talvez, tenhamos a divisão

mais justa e democrática entre

todas as ligas de futebol no mundo”

Acessibilidade, a luta continua

Porto Alegre ainda apresenta desnível em calçadas e falta transporte para as pessoas com dificuldades de locomoção

Por João Henrique Willrich e Débora Fogliatto

Calçadas em estado precário, ônibus sem suporte para cadeiran-tes. Esses são alguns dos problemas de longa data da cidade de Porto Alegre quando o assunto é infraes-trutura. Antigas questões persistem e causam transtorno para as pessoas com deficiência. Estimativas indi-cam que em torno de 25 milhões de pessoas no País possuem algum tipo de necessidade especial.

No Rio Grande do Sul, esse nú-mero chega a quase 200 mil. Apesar de Porto Alegre ser uma das capitais que melhor atende necessidades dos deficientes, as reclamações continuam. O jornalista Gustavo Trevisi do Nascimento, 36 anos, teve paralisia cerebral, o que resul-tou em limitações motoras. Para se locomover no bairro Mont’Serrat, em Porto Alegre, onde mora, ele encontra dificuldades. Como não consegue levantar muito os pés, acaba tropeçando em buracos e falhas nas calçadas. Ao atravessar a rua, precisa utilizar rampas, devido à altura dos meio-fios. Quando estas não existem, ele demora e até mes-mo cai tentando alcançar o outro lado. Raízes altas, mudanças de piso, revestimentos irregulares tam-bém o atrapalham e já ocasionaram diversos deslizes e quedas. “Preciso

caminhar olhando constantemente para o chão, pois nunca sei quando haverá algum obstáculo em meu caminho”, queixa-se.

Gustavo expressa essas e outras críticas ao poder público em sua página na Internet, chamada Blog da Acessibilidade. “Poucas pessoas possuem a autonomia que eu tenho. Não apenas os deficientes sofrem com essa situação, mas também as pessoas idosas que enfrentam grande dificuldade de locomoção”, alerta Gustavo.

Outro cidadão que sofre devi-do aos mesmos problemas é João da Silva, 32 anos. A sua principal reclamação é a falta de ônibus co-letivos com equipamento adequado ao ingresso de pessoas em cadeira de rodas. “Um cadeirante demora muito mais para se locomover pela cidade, pois os ônibus que possuem o suporte adequado, são poucos frente a toda frota. Às vezes passam três ônibus que não podem nos receber, então acabamos nos atrasando”, lamenta João. Em Porto Alegre, apenas as principais linhas oferecem aporte para cadeirante.

Mas não é só na Capital gaúcha que estes problemas persistem. Mesmo apresentando lacunas nos serviços oferecidos aos deficientes, Porto Alegre é uma cidade modelo nesse âmbito. De acordo com a pre-feitura, 27% da frota de ônibus está

preparada para receber deficientes, enquanto a legislação cobra apenas 10%. As lotações, ainda esse ano, sairão de fábrica com adaptação para cadeirante.

Há projetos encaminhados para melhorar a área central de Porto Alegre. Cerca de 180 novos rebaixa-mentos de calçadas estão previstos na área. “Esses serão facilitadores para circulação e travessia de rua segura de todos os pedestres, em especial aqueles com deficiência e mobilidade reduzida”, afirma João de Toledo, arquiteto e urbanista da Secretaria Especial de Acessibilida-de e Inclusão Social (Seacis). Está para ser votado na Câmara de Ve-readores um projeto de lei chamado “Plano diretor de Acessibilidade”, criado pelo ex-prefeito José Fogaça. Essa lei viabilizará rotas acessíveis e caminhos sem obstáculos para qualquer cidadão.

No final do ano passado, Porto Alegre foi a primeira candidata a sede da Copa do Mundo de 2014 a assumir compromisso com a cam-panha de acessibilidade, promovida pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (Conade). O projeto exige constru-ções, de acordo com o conceito de acessibilidade universal.

Gustavo Trevisi é jornalista

Daniela Grimberg/ Hiper

Apenas principais linhas de ônibus na capital têm acesso para cadeirantes

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10 Porto Alegre,maio 2010

Cultura

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Conjunto gaúcho interpreta sucessos da banda britânica no bar Opinião

Por Júlia Rombaldi

Apesar do nome sugerir ideia contrária, o show “Nenhum de Nós canta Beatles” põe todo mundo para cantar com vontade os maio-res sucessos do quarteto britânico. Foi o que aconteceu na noite de 11 de maio no Bar Opinião (José do Patrocínio, 834), quando o grupo se apresentou para um público reduzido, mas fiel.

A banda, formada por Thedy Corrêa no vocal, Sady Homrich na bateria, João Vicenti no acordeão e teclados, e Velo Marques e Carlos Stein nos violões e guitarras, abriu o show com Can’t Buy Me Love, seguida por Something. O reper-tório contou ainda com Don’t Let Me Down, While My Guitar Gently Weeps, Strawberry Fields Forever, Revolution, entre tantas outras.

Algumas músicas, porém, tive-ram execução especial e animaram ainda mais o público. O baterista Sady impressionou ao assumir o

microfone para cantar a divertida Yellow Submarine, enquanto The-dy comandava a bateria. Across The Universe, interpretada com o uso de um sitar (instrumento de cordas de origem indiana que ficou conhecido no ocidente com a ajuda dos Beatles), tocado por Veco Marques, foi outro motivo para muitos aplausos. Lucy In The Sky With Diamonds também teve um diferencial: Thedy usou um mega-fone para recriar alguns efeitos da versão original.

O auge da noite aconteceu du-rante a execução de Hey Jude. O público entoou a canção junto, dan-do continuidade à música mesmo quando os instrumentos já haviam parado de tocar. Isso foi o suficiente para provar que, sim, todos nós cantamos Beatles. Formada em 1986, em Porto Alegre, a “Nenhum de Nós” já foram lançou 13 CD’s e dois DVD’s e seus maiores sucessos foram Camila, Você vai lembrar de mim e Amanhã ou depois.

Música e bom humor, a receita do grupo Móveis Coloniais de AcajuPor José Luiz Dalchiavon

Surgida em 1998, a banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju parece ver o Rio Grande do Sul como uma segunda casa. E o público gaúcho a acolhe como se realmente fosse. O grito ensur-decedor de “Móveis! Móveis!” cada vez que surge um segundo de silêncio é prova disso.

A banda ganhou reconhe-cimento com a participação no programa Som Brasil, da TV Glo-bo, quando interpretaram faixas de Raul Seixas. O primeiro disco foi lançado em 2004, “Idem”. O segundo veio com o nome de “C_MPL_TE”, lançado em 2009.

Na turnê do disco “C_MPL_TE”, a banda mostrou, em 29 de abril, em Porto Alegre, a energia de seus nove integrantes e dos instrumentos pouco comuns em um show de rock. Das básicas bateria e guitarra até a gaita e a flauta, o som é diferente de ou-tros grupos famosos de Brasília, como Raimundos e Capital Ini-cial. Segundo os seus integrantes, a mistura de rock com outros

ritmos (brasileiros e europeus) pode ser resumida em uma frase: uma feijoada búlgara.

O bom humor sem escracho das letras e melodias também está presente no show, na co-reografia ou em uma simples explosão de diversão, tanto de quem apresenta quanto de quem assiste. O nome da banda, aliás, reflete esse bom humor. Móveis Coloniais de Acaju teria sido escolhido como uma homenagem à revolta do Acaju, que seria inclusive tema de uma tese de mestrado de um período pouco conhecido na História do Brasil, sobre um conflito envolvendo ín-dios e portugueses contra a invasão dos ingleses à Ilha do Bananal, na região que hoje é o Tocantins. Pura balela, como eles mesmo reconhecem em seu site. A real origem do nome não tem uma explicação correta. A história toda foi inventada ape-nas para soar importante quando ouvissem a pergunta “De onde veio o nome do grupo?”

Essa mistura de ritmos e

instrumentos foi para a Europa, em uma turnê de poucos shows, e voltou a Porto Alegre menos de seis meses depois da última apre-sentação no Estado. As músicas do último CD, como Seria o Ro-lex?, Adeus e Copacabana podem ser baixadas gratuitamente pelo site http://albumvirtual.trama.uol.com.br.

Nenhum e todos cantam Beatles juntos

Maria Helena Sponchiato/Hiper

Maria Helena Sponchiato/Hiper

Daniela Grimberg/Hiper

Grupo de Brasília mistura rock com outros ritmos

Eles fazem uma “feijoada búlgara”

Thedy Corrêa, Sady Homrich, João Vicenti e Carlos Stein levantaram o público

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11Porto Alegre,maio 2010

Agenda

Por Deborah Cattani

Avanços tecnológicos, ambien-tais, culturais e socioeconômicos são alguns dos fatores essenciais para mudar o mundo. O programa Fronteiras do Pensamento traz para o debate esse ano o tema “Para Compreender o Século XXI”, cujo objetivo é aprender com o passado da humanidade em busca de um futuro melhor. Dez palestrantes serão responsáveis por analisar a atual década visando um olhar crítico sobre a contemporaneidade.

Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre em 2004 e professor do Instituto de Letras da UFRGS, Donaldo Schüler esclarece o tópico escolhido: “Já que passamos 10 anos do século 21, refletir sobre nosso compromisso global, que vai se ampliando de ano para ano, é da mais nobre importância.” Schüler faz parte do grupo de consultores do Fronteiras e, segundo ele, a aceitação de certos paradigmas é necessária para melhorar a quali-dade de vida. “Nos opormos à glo-balização, hoje, é um contra-senso. Pelas facilidades de comunicação e pela facilidade também de nos des-locarmos de um lugar para outro.”

O programa, constituído por seminários internacionais com temas transdisciplinares na forma de conferências, foi concebido em 2006 pela Telos Empreendimen-tos Culturais, juntamente com a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul). Referência mundial no assunto, o Fronteiras já recebeu, no palco do Salão de Atos da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conferencistas como Win Wenders, Steven Pinker e Tom Wolfe. Miguel Nicolelis, neu-rologista e cientista, foi convidado para abrir esta quarta edição do ciclo de estudos, no dia 3 de maio, com a mediação do médico e reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Neto.

Conferências vão até novembro: A edição do Fron-teiras se estenderá até o final de novembro desse ano e terá comos palestrantes: Raymond Kurzweil, Denis Mukwege, Jean-Michel Cousteau, Terry Eagleton, Eduar-do Giannetti, Mario Vargas Llosa, Daniel Dennett e Carlo Ginzburg. Passaporte para o evento no Studio Clio (José do Patrocínio 698) ou nas livrarias Palavraria (Vasco da Gama 165) e Zouk (Garibaldi 1333). Informações: (51) 3019-2326 ou e-mail [email protected].

Fronteiras doPensamentoem 2010

hiperextot

Power Pop, a vez dos coloridos

É novo gênero do rock que sucede o Emocore

Por Vanessa Freitas e Gabrielle Toson

O monótono preto e branco dos emos está em crise com a nova sen-sação do momento, o Power Pop. O Emocore, gênero do rock com música baixo-astral, que trata, ba-sicamente, de decepções amorosas e dos sofrimentos dos adolescentes perde espaço para o Power Pop, que mistura visual divertido com gui-tarras pesadas, bateria acentuada, muitos teclados e sintetizadores, resultando no rock dançante. Os temas do Power Pop são comple-tamente diferentes do Emocore. Enquanto um fala de problemas, o outro prefere as maravilhas da adolescência, como festas, curtição e amores de uma noite.

O visual das bandas Power Pop, porém, chama mais atenção que a própria música: calças jeans amarelas, vermelhas, roxas, verdes, pinks, ou de qualquer outra cor forte, óculos de todos os tipos e com armações muito coloridas, tênis verde-limão e rosa, azul e amarelo e camisetas que mais parecem um arco-íris. Você já deve ter visto jovens assim. Agora, a tendência é não combinar, ser colorido como os ídolos das bandas de Power Pop que ganham fãs enlouquecidos por toda parte. Uma das últimas demonstra-ções do fenômeno ocorreu em Porto Alegre, dia 7 de maio, na segunda edição do festival College Rock.

A paulistana Cine é conside-rada a principal banda nacional de Power Pop. Criada em 2007, é formada por DH, Bruno, David, Pedro e Danilo. A maior comuni-dade dedicada à banda no site de relacionamentos Orkut conta com quase 200 mil membros.

Outra banda do gênero é Res-tart, de São Paulo. Pedro Lanza (baixo e vocal), Pedro Lucas (guitar-ra e vocal), Koba (guitarra) e Tho-mas (bateria), todos com menos de 20 anos, definem o estilo do grupo como “happy rock” (rock feliz). Os rapazes vestem roupas e acessórios multicoloridos e tocam músicas alegres. A banda já está confirmada

para a próxima edição do College Rock – totalmen-te adaptado à moda colo-rida –, em 27 de junho, no Bar Opinião.

Mariana da Silva Ferraz, 17 anos, esteve na última edição do College para assistir aos shows das bandas Poppin e Área Restrita. Ela não costuma se vestir como os membros da banda, mas gosta do estilo. “Eu curto o som deles, acho uma música alegre, sem muitas lamentações. Não uso muito o estilo de roupas e de vida que eles têm. Acho que é mais um estilo de modinha e tudo mais, mas eu curto bastante, acho bem alegre”, explicou.

College Rock: O Festival Col-lege Rock foi criado em 2009 e visa o público adolescente que gosta de ouvir música na internet. O projeto surgiu como um festival de bandas voltado para o público de 12 a 17 anos, que normalmente não pode frequentar outros lugares justa-mente pela idade. A ideia original era divulgar o evento em meios

tradicionais, mas a produção optou pela divulgação online pelo simples fato de que é mais provável que os jovens estejam na frente do compu-tador do que ouvindo rádio, vendo TV ou lendo jornal.

Com estrutura e organização impecáveis, a última edição do College Rock mostrou que o festival veio para ficar. Produzida pela Opi-nião Produtora em parceria com a Olelê, a edição de 7 de maio, no Pep-si on Stage, foi uma demonstração da força do fenômeno Power Pop. A banda Forever The Sickest Kids, principal atração da noite, veio ao Brasil para quatro shows, entre eles o de Porto Alegre. As bandas Poppin e Cine e as gaúchas Área Restrita e Tópaz fizeram a abertura do espetáculo.

Quem ficou para ver a atração principal da noite não se arrepen-deu. A FTSK, formada em Dallas (Texas), por Jonathan Cook (vocal), Caleb Turman (guitarra e vocal),

Marc Stewart (guitarra), Kent Gar-rison (teclado), Austin Bello (baixo) e Kyle Burns (bateria), começou o show com “She Likes”, do EP mais recente, “The Weekend: Friday”. A partir daí a animação do público se manteve até o final.

O baterista Kyle Burns comen-tou que a tour no país era uma “festa de quatro dias”, já que nas últimas 48 horas eles haviam dormido muito pouco e, durante os shows, não pretendiam tocar nenhuma música mais calma. “Não tocaremos ‘Coffee Break’por que viemos para arrebentar e essa música é muito paradinha”, afirmou.

O ápice do show foi quando a banda voltou ao palco para tocar uma de suas músicas mais famosas: “Whoa Oh (Me vs. Everyone)”. Na plateia, alguns comentários sobre os meninos da FTSK não deixaram dúvidas: “Conhecia só uma ou duas músicas deles, mas esse show foi bom demais!”

Power Pop destaca temas que lembram “coisas boas” da vida

Fotos: Vanessa Freitas/Hiper

Festival College Rock mostra que o estilo Power Pop está ganhando espaço entre os jovens

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Porto Alegre, maio 201012 ponto final hipertexto

Vai uma pipoquinha?Nicole Pandolfo

“Com licença, senhoras e senhores. Gostaria de pedir a atenção de vocês por alguns minutos. Meu nome é Roger e eu vendo pipoquinha no ônibus pra ajudar no sustento da minha família. Quem qui-ser colaborar, é um pacotinho por trinta e cinco, dois por setenta, e três por um real!”

Aquela voz aveludada e adulta demais para o menino que aparentava 14 ou 15 anos tirou por completa a minha atenção da leitura que já havia sido comprometida quando ele escorregou por debaixo da ro-leta. Por mais que insistisse em manter os olhos grudados do livro, não podia evitar

de perceber a maneira pausada e cheia de exclamações do texto decorado que o menino recitava.

Àquela hora da noite, é provável que Roger realizava uma das suas últimas via-gens do dia, apesar do saco em que carrega-va os pacotinhos de pipoca ainda estivesse cheio. Os tênis encharcados acusavam a chuva que caia do lado de fora do ônibus e a calça e o blusão exibiam as marcas que as muitas roletas deixaram durante o dia. Mas o rosto moreno ainda era forte. E determinado.

Depois do discurso de saudação, era hora de oferecer as “pipoquinhas” banco em banco, enquanto pronunciava uma frase

estranha que nem as tantas repetições, de passageiro a passageiro, foram suficientes para que eu a compreendesse. Quanto tem-po pulando de uma linha de ônibus à outra foi necessário para que as próprias palavras saíssem da sua boca tão autônomas? Capaz de não perceber as sílabas se entrelaçando, como se as últimas tentassem sair antes mesmo que as primeiras!

Aposto que esse guri tem talento. Não é possível que os tantos sacos de pipoca vendidos não tenham implantado nele o jeito para o comércio e o gosto por empre-ender. Quem sabe Roger só precise de um assessor de comunicação. Alguém que o ensine sobre impostação de voz, postura

diante do público e, principalmente, o ajude a pronunciar melhor as palavras. Quem sabe um blog na Internet não ajudasse a promover suas pipoquinhas. Pobre Roger. Nem imagina como foi ser a cobaia em pen-samento de uma estudante de jornalismo sedenta por colocar em prática as teorias que aprende em sala de aula.

Com assessor ou sem, as vendas dessa viagem foram boas. Deve ser o horário. As pessoas estão indo para casa depois de um dia de trabalho. Uma pipoca cai bem. Sua missão nessa linha está cumprida. Aponta para o motorista a próxima parada e anun-cia em sua comunicação confusa que vai desembarcar. “Desce lá, motorinha!”

Crônica

Terapia para devedores compulsivos

Por Gabriela Dal Bosco Sitta

Uma sala nos fundos da Cruz Vermelha de Porto Alegre é o lugar onde se encontram cerca de oito mulheres semanalmente. Elas fazem parte da irmandade Devedores Anônimos (DA), que reúne portadores de uma doença chamada oneomania. O grupo DA está constituído há um ano e nove meses no Rio Grande do Sul e ainda procura vencer preconceitos.

Criado em 1967, nos Estados Unidos, os Devedores Anônimos têm o objetivo de auxiliar os portadores da oneomania, ca-racterizada pelo endividamento compulsivo das pessoas. A doença atinge principalmente mulheres e pode ter consequências graves, que vão desde problemas financeiros até a depressão.

As reuniões do grupo são baseadas nos princípios dos Alcoólicos Anônimos (AA), são utilizados os 12 passos, as 12 tradições e o anonimato. Nas sessões, cada participante tem um tempo de dez minutos para fazer seu depoimento, expondo as dificuldades e os avanços que fez na última semana.

Uma das coordenadoras e fundadoras do DA no Rio Grande do Sul é Vera Regi-na Bueno, que afirma haver dificuldades em assumir a doença. O grupo já teve 12 membros, mas hoje o número varia de seis a oito pessoas por encontro. Segundo ela, muitos chegam, mas poucos permanecem. Além disso, Vera ressalta que o incentivo publicitário às compras dificulta o processo de recuperação dos portadores da oneoma-nia. Os anúncios “são mais fortes do que a gente”, conclui.

No Brasil, além do grupo existir no Rio Grande do Sul, os Devedores Anônimos estão em São Paulo, Rio de Janeiro e no Paraná. Vera lamenta que não haja nenhum acom-panhamento de psicólogos ou psiquiatras no grupo de Porto Alegre. Segundo ela, a Cruz Vermelha havia se responsabilizado por ceder um profissional, o que não aconteceu até hoje. Ainda assim, muitos membros têm conseguido êxito comparecendo aos encontros. Neli (que pede para não publi-car nome completo), por exemplo, diz que

sentia necessidade de voltar para casa com alguma coisa que tivesse comprado, sacolas que “possuíssem volume”. Com o apoio que recebe nas reuniões, ela já controla muito melhor os gastos, no final de cada mês faz um balanço e procura descobrir onde extrapolou.

As reuniões dos Devedores acontecem todas as quintas-feiras das 10h às 12h nas dependências da Cruz Vermelha (Rua Inde-pendência, 993 – fundos). Para participar, os interessados não precisam se inscrever. É só chegar, sentar e fazer seu depoimento.

Mulheres são as mais afetadas pela oneomania, doença que provoca o endividamento compulsivo

Reuniões do grupo são semelhantes aos encontros dos Alcoólicos Anônimos (AA), 12 passos, 12 tradições

Camila Cunha/Hiper

Aluna do 6ºsemestre de Jornalismo