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Porto Alegre, outubro 2010, Ano 12 – Nº 82 – Versão online: www.eusoufamecos.com.br O Nobel em Porto Alegre Ídolo resgata a autoestima hi per exto t Jornalismo da Famecos 5 estrelas no Guia do Estudante Justiça a Vargas llosa Renato, o salvador Isabela Sander/ Hiper Camila Cunha/ Hiper Página 10 Página 9 Mineiros testam resistência em mina de carvão Fotos Felipe Dalla Valle/ Hiper A epopeia vivida pelos 33 mineiros no Chile levou Lívia Stumpf, Sabrina Ribas e Felipe Dalla Valle, alunos de Jornalismo da PUCRS, a entra- rem na mina de carvão Leão II, com seus onze quilômetros de galerias, para mostrar aos leito- res como é trabalhar debaixo da terra. Página 3 A moda do verão Página 11 Dilma é presidente, e Tarso governador Presidente Lula assume a campanha política como principal cabo-eleitoral e faz sua sucessora. No Estado, PT também vence Páginas 5 e 6 Felipe Dalla Valle/ Hiper

Hipertexto Outubro 2010

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Edição de outubro de 2010 do jornal Hipertexto, produzido pelos alunos de Jornalismo da Famecos (Faculdade de Comunicação Social - PUCRS).

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Porto Alegre, outubro 2010, Ano 12 – Nº 82 – Versão online: www.eusoufamecos.com.br

O Nobel emPorto Alegre

Ídolo resgataa autoestima

hiperextot Jornalismo da Famecos

5 estrelas noGuia do Estudante

Justiça a Vargas llosa Renato, o salvador

Isabela Sander/ Hiper Camila Cunha/ Hiper

Página 10 Página 9

Mineiros testamresistência em mina de carvão

Fotos Felipe Dalla Valle/ Hiper

A epopeia vivida pelos 33 mineiros no Chile levou Lívia Stumpf, Sabrina Ribas e Felipe Dalla Valle, alunos de Jornalismo da PUCRS, a entra-rem na mina de carvão Leão II, com seus onze quilômetros de galerias, para mostrar aos leito-res como é trabalhar debaixo da terra. Página 3

A modado verão

Página 11

Dilma é presidente,e Tarso governador

Presidente Lula assume a campanha política como principal cabo-eleitoral e faz sua sucessora. No Estado, PT também vence

Páginas 5 e 6

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abertura

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hipersider

Por Marcus Perez

Quem vê Cláudio Adriano Ri-beiro, 43 anos, vestido de terno e camisa social não imagina que é Papagaio, um dos mais importantes criminosos do Estado. Responsável por assaltos a bancos e carros fortes, é o único detento que conseguiu fugir do presídio de segurança má-xima de Charqueadas (Pasc), o que ocorreu em 1999. Sobre a vida de marginal Papagaio lembra: “Virar ladrão foi uma fatalidade na minha vida,meus pais morreram antes de

eu completar 16 anos, eu na época trabalhava meio turno e tinha que sustentar quatro irmãos, comecei roubando toca-fitas, um ano depois roubei meu primeiro banco.”

Depois de 12 anos preso e cinco fugas bem-sucedidas, ele foi trans-ferido para o regime semi-aberto, sendo beneficiado com emprego de administrador na empresa Cláudio Vogel, uma das maiores exportado-ras de telhas e cerâmicas do Brasil.

Em Bom Princípio, sede da empresa, Papagaio é um dos mais de 200 funcionários da exportadora

que comercializa com mais de 28 países. O próprio Cláudio Vogel, proprietário da empresa, aprova a contratação do apenado. “Vou dar uma chance de novo para ele porque tem experiência de adminis-trador, já passou 12 anos na cadeia e promete nunca mais voltar para o crime”. Esse é só um recomeço, o apenado sonha se tornar advogado “ Ainda tenho um ano de pena para cumprir, só posso cursar quando estiver em liberdade, mas já vou fazer vestibular esse ano”. Seu chefe apóia a ambição do funcionário: “Ele leu 800 livros na cadeia e quer fazer Faculdade de Direito, pode se tornar o melhor dos advogados, até juiz, pois conhece presídio”, exagera Claudio Vogel.

Papagaio acredita que vai che-gar lá e é grato ao projeto da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) que visa dar oportunidade de emprego aos apenados em recuperação. O Cláu-dio Ribeiro de terno e camisa social anunciou aos jornalistas que estive-ram em Bom Princípio, no início de outubro, que está começando uma grande mudança e lembrou que “está na hora de acabar com os pre-conceitos.” Sobre sua experiência anterior no ramo da administra-ção, ele comenta que antes dos 30 anos já possuía negócio próprio, hoje esta se desligando de uma empresa da qual é proprietário em Florianópolis: “ Quero me dedicar exclusivamente a Cláudio Vogel!”

Completamente seguro de si o detento encontra tempo para brincar: “Quando eu entrei aqui, todos pensavam que eu iria roubar o patrimônio do seu Vogel,mas depois que descobri que no cofre da empresa só tinha duplicatas e notas promissórias ,decidi ajudar.”

Por Carolina Beidacki e Patrícia da Cunha Jardim

Papagaio sai da cadeiapara trabalhar, e volta

Cumprindo pena de 36 anos por extensa lista de crimes, ele conquista regime semi-aberto e quer ser advogado

O programa de reinclusão social do Departamento de Tratamento Penal da Susepe oferece educação, saúde e tra-balho para detentos.

Tatiana Lla Bella, chefe da divisão de Trabalho Penal, in-forma que atualmente mais de 15 mil detentos fazem cursos profissionalizantes e dentro

de um ano estarão aptos para entrar no mercado.

Os custos empregatícios ficam por conta da empresa ou do empregador, o estado só faz a triagem e seleção dos tra-balhadores. O apenado recebe 75% de um salário mínimo e, a cada três dias trabalhados, re-duz em um a sua pena. Mesmo

assim, muitos apenados não aproveitam as oportunidades.

“Quem não quer se regenar pensa que eé muito mais po-deroso pegando em armas do que em telhas, por exemplo, mas é são iniciativas como essa que pode levar a sociedade a mudar a situação”, argumenta Tatiana.

PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE APENADOS

Papagaio trabalha em firma de exportação em Bom Princípio

Marcus Perez / Hiper

Sotaque

No filme “Comer, rezar, amar”, de Elizabeth Gilbert, o personagem gaúcho que a autora conhece na Indonésia, é interpretado por Javier Bardem, cujo sotaque é muito forçado. O bom é a trilha sonora, bossa nova com João e Bebel Gilberto e, em especial, o “Samba da Bênção”.

Mais um mate?

A mania do gaúcho de carregar o chimarrão para onde vai, agora se instalou nas faculdades. Matear com os colegas é uma das melho-res coisas que se faz nos intervalos das aulas na universidade. Em alguns casos, a cuia e a térmica invadem a sala de aula, desde que não perturbem.

Punk Rock

Depois de 15 anos de espera, os fãs vibraram com quase três horas de show da banda californiana Green Day, dia 13 de outubro. Em Porto Alegre, a apresentação aconteceu no Gigantinho. O bate-rista Tré Cool, já meio cansadão, afirmou: “já estamos velhos para fazer este tipo de show”. A banda está na estrada desde 1987.

Adeus, Harry Potter

Em novembro, será lançada a primeira parte do filme Harry Potter e As Relíquias da Morte, o último da série. O filme deve bater recorde de bilheteria, assim como os anteriores. O diretor David Yates promete sur-preender os fãs.

Aya Kishimoto/Hiper

Três perguntas para... Fabrício Carpinejar*

Você costuma citar Fernando Pessoa: “Pensar incomoda como andar na chuva”. O que está acontecendo com o pensa-mento?

Entramos em um momento em que ninguém consegue ser mais objetivo, ou seja, confessar seu gosto, sua opinião, preconceito e vontade. Partimos do princípio que o outro precisa nos adivinhar, ninguém quer ser responsabilizado por aquilo que pensa. E pensar é incomodar, porque eu nunca vi tanto pensamento consensual, então quer dizer que as pessoas não estão pensando.

Como isso influencia na maneira de se expressar?Veja só, como a gente consegue, de certa forma, se expressar

sem se comprometer. Expressar é nada. Não estamos comunicando desejo nem algo pessoal, particular. É uma espécie de indiferença. É mais ocupar a fala do que povoar o silêncio.

De que forma a escrita resulta dessas experiências? Literatura é cuidado, insistência. É tentar girar e ver as pers-

pectivas, não se acomodar com um ponto de vista, principalmente quando o ponto de vista te privilegia. Literatura é mobilidade. Quem consegue apurar um envolvimento, deitar o ouvido, se im-portar com aquilo que não é a sua vida já muda bastante.

* Poeta e escritor

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especial

3Porto Alegre, outubro 2010 hiperextot

Saúde e acidentes desafiam mineiros

Lívia Stumpf/ Hiper

Por Sabrina Ribas

A ALEGRIA do resgate com final feliz para os 33 mineiros do Chile, após 69 dias soterrados em uma mina, foi uma grande vitória celebrada por milhões de pessoas em todo o mundo. Contudo, para que os riscos da atividade não fiquem soterrados, como os pró-prios heróis de Copiapó, no deserto chileno do Atacama, eles decidiram denunciar as péssimas condições de trabalho na mina de cobre San José. Em alguns municípios do Rio Grande do Sul, as minas de carvão ainda são a principal fonte de em-prego e renda, mas, diferente do que aconteceu no Chile, a maioria oferece boas condições de trabalho e segurança aos funcionários.

A grande maioria das minas bra-sileiras, 95% delas, é a céu aberto, oferecendo muito menos riscos à

saúde e à ocorrência de acidentes, explica o engenheiro de minas Fe-lipe Leusin, responsável pela mina subterrânea Leão II, em Minas do Leão, distante 85 quilômetros de Porto Alegre. Segundo o engenhei-ro, os incidentes mais comuns são soterramentos de pequeno porte e choques elétricos devido à alta vol-tagem dos equipamentos utilizados na exploração. “Aqui na Leão II, um acidente como o do Chile teria outro desfecho porque existem três entradas para a mina. São mais de 11 quilômetros de galerias abertas, o que possibilita vários acessos para um possível resgate”, completa.

Hoje existem duas grandes em-presas que realizam a extração de carvão mineral no Rio Grande do Sul. A Companhia Riograndense de Mineração (CRM), que tem minas em funcionamento nas cidades de Minas do Leão e Candiota e a

Copelmi, com unidades em Butiá, Cachoeira do Sul e um centro de beneficiamento e distribuição em Charqueadas. Em todo o estado, são cerca de 500 funcionários que trabalham diretamente nas linhas de produção, além das equipes de manutenção e outras prestadoras de serviço.

Por ser uma atividade extre-mamente insalubre e de alto risco, a mineração segue uma série de protocolos de segurança que não existiam há duas décadas. A téc-nica em enfermagem e segurança do trabalho da Copelmi, Gislaine Azambuja, relata que nos anos 80, o carvão, mineral altamente tóxico, se inalado, causava várias doenças, principalmente a pneumoconiose, conjunto de enfermidades que afeta os pulmões de trabalhadores expos-tos a poeiras de origem mineral. Segundo Gislaine, a pneumoconiose

originada pela poeira do carvão foi praticamente erradicada no estado após a adoção de medidas como a obrigatoriedade do uso de equipamento de proteção indivi-dual e programas de capacitação e conscientização dos trabalhadores. A redução do tempo de serviço dos trabalhadores da mineração, que hoje é de 15 anos para a aposenta-doria, também contribuiu para a diminuição das doenças.

Apesar de o carvão ser utilizado em empresas de siderurgia, cerâmi-ca, metalurgia e geração de energia elétrica, o Brasil não é grande pro-dutor, já que sua matriz energética para o minério é de cerca de 6%. Nos Estados Unidos, esse índice chega a 40% e na China a mais de 75% (dados de 2007). O carvão brasileiro ainda é de baixa qualidade e o custo para seu beneficiamento é alto, se-gundo o técnico em segurança do

trabalho Paulo Assis, que trabalha há 39 anos na mineração. Esse fator também colabora para que as empresas não tenham tanto inte-resse em investir no minério. “Para conseguirmos 300 quilos de carvão de qualidade média, é necessário beneficiarmos uma tonelada de minério bruto. O processo tem uma relação custo-benefício que não traz muito lucro para as mineradoras. “O auge do carvão no Rio Grande do Sul foi há décadas, hoje estamos quase obsoletos”, relata Assis.

Os mineiros gaúchos não temem um acidente como o ocorrido no Chile, já que as próprias condi-ções de exploração são diferentes. Cláudio Ribeiro, que trabalha na mina Leão II, não abre mão de sua atividade. “Mesmo que sofresse um acidente semelhante e fosse resga-tado, não abandonaria a profissão”, assegura.

Diferente do Chile, a maioria das minas no Rio Grande do Sul oferece boas condições de trabalhoSoterramentos de pequeno porte e choques elétricos devido à alta voltagem dos equipamentos são os motivos mais comuns de incidentes com os mineiros

Mina Leão II está pronta para operarA descida ao subsolo é feita em

velhos Jeeps, presos por um cabo de aço, que deslizam até os 230 metros de profundidade da mina. A ventilação é natural e a temperatura é agradável. O que causa um leve desconforto é a poeira do carvão. O teto e as paredes são sustenta-dos por arcos de metal e blocos de concreto ou madeira. Na área de exploração, é possível ver por todos

os lados o carvão que ainda não foi retirado.

A mina Leão II, no município de Minas do Leão, foi aberta pela CRM e preparada para operar em 1980. Porém, ficou abandonada até 2002, quando foi arrendada pela minera-dora Criciúma, que firmou contrato de exploração por um período de 30 anos. Nas duas décadas em que esteve abandonada, a mina, que é

subterrânea, foi quase preenchida pela água da chuva. Segundo os trabalhadores, foram mais de dois anos somente para realizar a drena-gem dos 11 quilômetros de galerias. A mina não está produzindo carvão, apenas é mantida pronta para ope-ração até que a empresa comece a extração, o que pode demorar a acontecer devido à necessidade de altos investimentos.

Felipe Dalla Valle/ Hiper

A descida até a mina é feita em jipes presos por cabos

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4 Porto Alegre, outubro/novembro 2010hiperextot

Opinião

hiper extotJornal mensal dos alunos do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil. Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ 045/ index.php

Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda Cunha

Coordenador de Jornalismo: Vitor NecchiProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Celso Schröder, Elson Sempé Pedroso, Ivone Cassol, Juan Domingues, Luiz Adolfo Lino de Souza e Tibério Vargas Ramos.Estagiários matriculados e voluntáriosEdição e diagramação: Fernanda Grabauska, Leonardo Pietrowski, Luísa Silveira e Marja Camargo.

Editores de Fotografia: Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini e Lívia Stumpf.Redação: André Vitor Pasquali, Bruna Suptitz, Brunna Weissheimer, Cairo Fontana, Carolina Beidacki, Caroline Michaelsen, Clareana Ferreira, Daniela Boldrini, Fernanda Keller, Fernando Severo, Gabriela Sitta, Júlia Magalhães, Marco Antônio de Souza, Mariana Soares, Natália Otto, Patrícia Jardim, Pedro Henrique Tavares, Rafael Sanchez, Sabrina Ribas, Suzy Scarton e Walter Ferrera.Repórteres Fotográficos: Aya Kishimoto,

Bolívar Oberto, Bruno Todeschini, Camila Cunha, Daniela Grimberg, Daniela Kalicheski, Fábio Henrique Gonçalves, Felipe Dalla Valle, Gabriel Ludwig, Gabrielle Toson, Guilherme Santos, Isabella Sander, Jéssica Barbosa, Jonathan Heckler, Julia Ramos, Júlia Tarragó, Lívia Auler, Lívia Stumpf, Luiza Lorentz, Mariana Amaro, Mariana Fontoura, Mauricio Krahn, Maria Helena Sponchiado, Nicole Pandolfo, Pedro Sampaio, Raquel Damo, Samuel Maciel, Thiago Couto, Vanessa Freitas e Vivian Lengler.

Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000Versão online: www.eusoufamecos.com.br24.600 acessos em 30 dias

EDITORIAL

hiperextot

Opinião

Pelo fim do bloqueio econômico a Cuba

Vulgo FranciscoPor Pedro Henrique Tavares

A ELEIÇÃO DO PALHAÇO Ti-ririca foi tratada como frenesi pela mídia. Mas o fato dele ter conquis-tado mais de um milhão de votos deve ser encarado como novidade? Talvez não? A falta de credibilidade do Senado e da Câmara em Brasília é apenas um espelho para situações como esta. Junto com o palhaço (que está com a candidatura em análise, por suspeita de analfabetismo) po-dem voltar conhecidos mensaleiros.

Estamos colhendo os frutos que plantamos há muito tempo. Não po-demos negar que somos nós os prin-cipais responsáveis pela presença de políticos corruptos tanto em Brasília como em outros municípios do país. Fomos enganados por homens que nos prometeram uma nação melhor. E o problema se repete a cada pleito: sempre há espaço para um eleitor desinformado votar em alguém com a vida pública manchada.

Fica a pergunta: Por que há chance para os corruptos? A respos-ta não é muito complexa. Vivemos em um país no qual circulam cerca de 4 milhões de impressos por dia. Essa conta mostra que apenas 2% da população lê jornal. Em contra partida, mais de 90% dos lares do país possuem aparelho de televisão. Isso resolve o problema?

Na verdade, não. Em termos de informação, a produção da televisão

brasileira é fraca. O que é levado ao telespectador no dia a dia não é suficiente para formar uma opinião pública de qualidade. Infelizmente a produção televisiva brasileira segue uma linha muito tênue que desqua-lifica a informação de qualidade. Nossa programação é pautada pelo entretenimento.

Infelizmente, os telejornais não possuem um atrativo com o potencial de um reality show ou de uma teleno-vela. O Jornal Nacional não prende atenção do telespectador como faz um Big Brother. Nossa cultura está limitada ao banal.

O papel de denúncia que a im-prensa desempenha frente à falta de escrúpulos do poder público acaba por passar despercebido. A eleição de um palhaço, assim, não se torna no-vidade nenhuma, ela é consequência da incapacidade do eleitor de saber escolher um representante. Tem sido sempre assim.

Como resultado desta falta de co-nhecimento dos fatos, o cidadão bra-sileiro não sabe desempenhar com consciência uma de suas principais atribuições: o voto. Para a pequena parcela informada da população o ato de ir as urnas se torna indigesto, frente à incapacidade de mudança no cenário político nacional. Dia 1º de janeiro, nos será apresentado mais uma personagem desta história: Tiririca, vulgo Francisco Everardo Oliveira Silva.

Por Felipe Dalla Valle

ASSIM COMO MUITOS ou-tros, não há pelo menos uma sema-na em que eu não acabe por fazer uma refeição em um “fast-food”. Na verdade acho isso extremamen-te normal. Vivo em uma grande cidade e na pressa diária acabo não tendo tempo para cozinhar. Sempre tento evitar esses lugares, embora seja consu-midor assíduo des-se serviço, e isso se intensificou depois do que presenciei numa sexta-feira.

Era noite, fui buscar minha mãe no trabalho para depois irmos jantar em algum lugar. Com o atraso no horário de uma cliente, acabamos mudando a programação e nos en-contramos em um shopping center próximo. Normalmente, só a visão de uma praça de alimentação cheia já é suficiente para embrulhar meu estomago, mas, por ter sido um imprevisto, resolvi aceitar a des-graça a mim reservada. Sexta-feira de noite, praça de alimentação, shopping lotado. Sou humano, é obvio que pensei: “não há como piorar”.

Veio o fast-food. Com toda calma do mundo, avisei à menina

que ela errou o pedido, como é de costume, e solicitei que os lanches fossem trocados. Nunca me ar-rependi tanto. A cena passou em câmera lenta quando ela pegou os hambúrgueres, abriu a lata de lixo e os jogou para dentro.

– Você vai botar no lixo moça? – perguntei.

Ela encolheu os ombros.– Sim, o que o Sr. queria que eu

fizesse, tenho que trocá-los, certo?!

Até agora não sei se o que me irritou, foi o ato ou a normalidade com que a garota o encarou. Não con-segui jantar aquela noite, pois a única coisa que me vinha à cabeça é quantas

vezes essa cena se repete nos diver-sos tipos de fast-foods e restauran-tes. E o que é pior, quantos pensam como a atendente? Queria eu ter um dado que me indicasse quantas pessoas poderiam ser alimentadas com a quantidade de alimentos jogados dessa maneira absurda no lixo. Totalmente impotente, foi assim que me senti naquela situação, em que minha vontade real era de entrar naquela lata e pegar o hambúrguer de volta aos berros. Não o fiz, esqueci minhas ideologias e evitei uma breve aula

sobre realidade mundial em pleno shopping center. Hoje vejo que o mais errado fui eu.

Na posição de cliente, era mi-nha obrigação exigir, falar com o gerente e mostrar o que eu havia visto de errado. A culpa é de todos os que, como eu, vêem ações como essa diariamente e não fazem nada. Trata-se de tomar uma atitude. É obvio que os donos das empresas sabem que isso acontece e, tão obvio quanto, eles não vão tomar providência a menos que sejam obrigados. Cabe a nós clien-tes exigirmos que a empresa cobre de seu funcionário um mínimo de consciência social. Acredito, sim, naquela velha história contada pelas mães de que existem pessoas morrendo de fome que adorariam hambúrgueres como aqueles, e apelo a ela, pois é a mais pura verdade. A culpa é também dos estabelecimentos, não só deles.

Me senti péssimo ao deixar um ato tão significativo passar isento por mim, e triste por ter sido tão normal para as pessoas em volta, que sequer o notaram. Esqueci meu papel de jornalista, de cidadão, de ser humano e me omiti frente a um erro que vi e poderia ter evitado. Não confrontei a realidade como me cabia. No fim, a menina estava certa. Não no ato, mas na afirmação. Ela não podia fazer mais nada.

Dever do consumidor

Por Guilherme de Oliveira

No dia 25 de outubro ocorreu em Porto Alegre, na Assembléia Legislativa, um ato de apoio a Cuba. Dentre os mais de 50 presentes estavam o conselheiro e vice-chefe da Embaixada cubana no Brasil, Alexis Bandrich Vega. O motivo

do ato foi a 19° votação, ocorrida na Assembléia Geral das Nações Unidas, pelo fim do embargo econô-mico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. O repúdio foi confirmado pela votação expressiva de 187 vo-tos a favor do fim do embargo, dois contra (Estados Unidos e Israel) e três abstenções.

Em média, o bloqueio econô-mico custou e custa a Cuba, em um cálculo que para alguns é até oti-mista, 751 bilhões e 363 milhões de dólares. É o principal obstáculo ao desenvolvimento econômico e so-cial cubano. ‘’Não é certo que digam que o socialismo realiza uma má administração, mas sim que o blo-

queio prejudica o desenvolvimento do nosso país’’, afirma Alexis.

O embargo não afeta só a Cuba ou aos Estados Unidos, atinge a outros países, suas empresas e pessoas. Cuba não pode exportar e nem usar dólares nas transações internacionais. O bloqueio continua sendo o mais largo, cruel e injusto

sistema de sanções que se conhece na história da humanidade e tem como objetivo extinguir o socialis-mo no mundo. Continuou existindo mesmo diante de três furações que a ilha sofreu. Cuba não tem acesso a créditos no Banco Mundial, FMI ou no BIRD. Antes de político, é desumano.

CRÔNICA

ARTIGO

Sou humano, é obvio que pensei: “não

há como piorar”.

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política

5Porto Alegre, outubro 2010 hiperextot

Por Pedro Henrique Tavares

O PT VOLTA ao Palácio Piratini com uma vitória de Tarso Genro com mais de 54% dos votos. Foi a primeira decisão em primeiro turno desde que a Constituição de 1988 determinou que o presidente, governadores e prefeitos de cida-des com mais de 100 mil eleitores deveriam atingir maioria absoluta. No tempo em que não havia esta exigência, Leonel Brizola foi eleito em 1958 com mais de 60% dos vo-tos e Jair Soares em 82 com pouco mais de 30%.

Tarso, que já havia concorrido e perdido em 2002, desta vez ven-ceu com facilidade o ex-prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB – 24.74% dos votos) e a governadora Yeda Crusius (PSDB – 18,40%) em busca da reeleição. Na avalanche de votos de Tarso Genro, o PT aumen-tou de dez para 14 a sua bancada na Assembleia. Outros quatro são da base (três do PSB e um do PC do B) e 21 parceiros em potencial.

O novo governador terá de

negociar com deputados estaduais bastante conhecidos em sua maio-ria. Os gaúchos demonstraram conservadorismo: dos 55 deputados estaduais, 34 foram reeleitos – e seis conquistaram vagas na Câ-mara Federal. Alguns perderam porque tentaram um voo mais alto à Brasília. O deputado Gilmar Sossella (PDT) acredita que este foi um dos principais fatores que alavancaram a reeleição dele e de outros parlamentares. “Temos que considerar que muitos concorreram a deputado federal. E na eleição federal é mais complicado, pois necessita-se do dobro de votos”, disse o deputado.

O cientista político Rafael Ma-chado Madeira compara o histórico gaúcho com outros países. “Nos Estados Unidos, por exemplo, 80% das bancadas costumam ser reno-vadas, enquanto aqui no estado este número fica em torno de 50%”, avalia o professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS.

Com este alto índice de reno-

vação também entra em questão a importância dos projetos que tramitam na Assembleia. O depu-tado Adão Villaverde (PT) acredita que os eleitores aprovaram o tra-balho dos deputados. “Creio que os eleitores aprovaram o trabalho e renovaram os mandatos dos parlamentares reeleitos. Acho que nosso mandato mereceu aprovação em razão dos nossos esforços de quatro anos de árduo trabalho par-lamentar, sucedendo quatro anos anteriores, sempre comprometido com o desenvolvimento sustentável do Rio Grande e com melhorias de vida para nossa gente”, declara o parlamentar gaúcho.

No entanto, os projetos políti-cos podem não ter sido decisivos. Madeira analisa que as votações são personalizadas, o que acaba não caracterizando o desejo popu-lar da manutenção de um projeto de governo. “Existem na verdade projetos pessoais de cada deputado. Os partidos são diferentes, portanto os projetos também diferem”, com-pleta o professor da PUCRS.

Tarso vai governar comparlamento conhecido

PT e base aliada aumentaram a bancada e a renovação da Assembleia foi menor que na eleição de 2006

NA RENOVAÇÃO da Assem-bleia, apesar de reduzida, destaca-se a jovem Juliana Brizola, neta do ex-governador Leonel Brizola, que iniciou na política dois anos atrás ao ser eleita vereadora de Porto Alegre pelo partido que seu avô criou, o PDT. Eleita com mais de 60 mil votos, ela concedeu entrevista ao jornal Hipertexto:

O nome do Brizola carrega uma história de peso na política nacional. Como lidar com tamanha responsabilidade?

J u l i a n a – É bastante difícil, eu confesso que eu mesmo me cobro todos os dias, afinal de contas ele foi um estadista, não foi só um político. Mas eu carrego co-migo aquele exem-plo do homem que era muito simples e que sempre fez política com muita honestidade. Tenho muito orgulho, muita honra, mas tenho noção da responsabilidade. Mas não sou o Brizola, sou a neta do Brizola, sou de outra geração, sou mulher. Tenho a minha forma de fazer, que acredito que com o tempo vai aca-bar aparecendo mais.

Você representa a renovação da política gaúcha. Foi eleita para a Câmara de Vereadores com uma votação expressiva e agora acon-tece o mesmo na eleição para a Assembleia. Além dos laços com Brizola, ao que você atribui tama-

nho sucesso?Atribuo praticamente 90% por

ser neta de Leonel Brizola. Como ele foi um político que durante 60 anos de vida pública sempre foi honesto e hoje em dia está tão di-fícil a política, com tanta podridão, tanta corrupção. As pessoas me enxergavam na rua e diziam “É neta do Brizola, ladrão eu sei que não é”. Mas é claro que houve um trabalho de um grupo dentro do partido, que é o grupo da juventude trabalhista,

do qual eu pertenço. Apenas me integrei a este grupo que já existia há bastante tempo. Então credito minha eleição para vereadora e para a Assembleia Legislativa a um somatório de coisas.

Quais serão suas principais bandeiras a nível estadual?

Será a bandeira da educação. Foi a bandeira da vida do meu avô e eu escolhi por convicção. Acho que o que está mais faltando hoje em dia é a educação pública de qualidade. Infelizmente. Luto bastante pela escola de turno integral.

OS PASSOS para a votação histórica de Silvana Covatti come-çaram a ser dados há quatro anos, quando a esposa do deputado federal Vilson Covatti ocupava um cargo público pela primeira vez. Os 65 mil votos da eleição de 2006 deram confiança para que ela continuasse o trabalho ao lado do marido, ambos do PP.

Silvana acredita que o acom-panhamento das atividades do marido e a experiência de três na Ação da Mulher Progressista lhe deram sustentação para enfrentar quatro anos de intensos desafios. Dentre as principais realizações, ela destaca a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano Plurianual. “Eu precisava justificar a quantidade de votos recebidos. Além de estar sempre que possível

escutando as lideranças do interior, também desempenhei um papel muito forte na Assembleia”, relata a primeira mulher a presidir a Comissão de Ética do Legislativo.

O resultado do trabalho foi uma votação expressivamente maior em relação a 2006. Foram mais de 85 mil votos que aprovaram o trabalho da parlamentar, nascida em Frede-rico Westphalen. “Cada atitude que os políticos tomam, são um degrau para subir, ou para descer. Acho que a reeleição passa pelo conjunto da obra. Foram quatro anos sem final de semana, em que viajei pelo Estado para conhecer a realidade de cada município. A disposição em atender as lideranças locais e somar forças para obter os resultados de cada demanda apresentada”, con-clui a deputada.

Governador eleito Tarso Genro e a esposa na festa da vitória do PT no primeiro turno

Silvana Covatti é reeleita econquista a maior votação

Juliana chega à Assembleiapela força do avô Brizola

Lívia Stumpf/HiperELEIÇÕES 2010

Divulgação

A imagem do velho líder na campanha

Page 6: Hipertexto Outubro 2010

6 Porto Alegre, outubro 2010hiperextot

políticaELEIÇÕES 2010

Por Rafael Marantes

COM O SLOGAN “Pior do que está não fica”, Francisco Oliveira se elegeu deputado fe-deral pelo estado de São Paulo. Mais conhecido como Tiririca, o palhaço recebeu 1.353.820 votos, se tornando o mais votado da Câmara Federal. Logo depois, Anthony Garotinho (RJ), Gabriel Chatilá (SP) e a gaúcha Manuela D’Ávila foram os que obtiveram maior número de votos. Manuela, chamada de “deputada-musa”, recebeu 482.590 votos gaúchos.

O Partido dos Trabalhadores (PT) será, na próxima legislatura, o de maior representação com 88

deputados federais, superando a atual bancada do PMDB que tem 79 integrantes. De acordo com a Câmara Federal, deputados federais eleitos pelos partidos in-termediários, com representação de seis a 51 parlamentares, vão ocupar 275 vagas, ou seja, 53,6% da Câmara. Este foi o grupo par-tidário que mais cresceu de 2006 para cá.

Os partidos grandes como PSDB, PMDB, PT ocuparão 220 cadeira, 42,9% do total. Os par-tidos pequenos, com menos de 1% da Câmara, conquistaram 14 vagas. Mas estes números podem sofrer variações após a decisão sobre a Lei da Ficha Limpa.

Partido Bancada atual EleitaPT 79 88PMDB 90 79PSDB 59 53DEM 56 43PR 41 41PP 40 41PSB 27 34PDT 23 28PTB 22 21PSC 16 17PCdoB 12 15PV 14 15PPS 15 12PRB 7 8PMN 3 4PSol 3 3PTdoB 1 3PHS 3 2PRP 0 2PRTB 0 2PSL 0 1PTC 2 1TOTAL 513 deputados

OS DEPUTADOSPT terá maior bancadana Câmara Federal

Por Clareana Kunzler Ferreira

ÀS 20H07MIN do dia 31 de ou-tubro, o Brasil conhecia o novo pre-sidente da República. Com 56,05% dos 99.463.917 votos válidos, a petista Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher no cargo mais alto da política do país. O candidato José Serra (PSDB) teve 43,95% da preferência do eleitorado, enquanto 21,50% da população se absteve e 6,70% votaram branco ou nulo. O resultado esteve de acordo com o que indicavam as pesquisas, ao contrário do que aconteceu no 1º turno, quando a vitória de Dilma era aclamada sem a necessidade de ocorrência de mais um pleito.

Naquele 3 de outubro, as urnas surpreenderam com quase 20% de eleitores que pediam Marina Silva (PV) na presidência. O índice foi recorde de votação para um can-didato em terceiro lugar e garantiu democraticamente a ocorrência do segundo turno. Logo, a expec-tativa girava em torno de Marina e sua onda verde, que com seus 19.636.359 milhões de votos po-deria mudar o destino das urnas a favor de Serra ou Dilma. Porém, op-tou por não dar apoio nem a petista nem ao tucano, ficando imparcial no segundo turno.

Assim, Dilma com 46,91% e Serra com 32,61% de votos passa-ram para a segunda fase da disputa, muito mais acirrada do que a pri-meira, que havia sido caracterizada por debates mornos e propagandas desconexas no horário eleitoral gratuito. O tucano errou ao tentar

passar a imagem de populista, o “Zé” que sorria e tentava ser amigo do povo, porém, na busca dos eleito-res de Dilma, acabou irreconhecível aos olhos das camadas da população que normalmente representa.

A petista escorou-se na figura carismática de Lula, que tem 83% de aprovação em seu governo, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha. Em suas falas, alardeava os grandes feitos do presidente e sua intenção de dar continuidade a eles. Propostas concretas mesmo, nada. Mesmo após o primeiro tur-no, nenhum dos candidatos havia divulgado propostas oficiais de seus governos. Foi o que mostrou a Veja em sua edição de 6 de outubro, com a chamada “As grandes propostas para o Brasil na campanha presi-dencial” em uma capa completa-mente branca.

EscândalosNo segundo turno, as propagan-

das políticas beiravam a baixaria. A temática do aborto, por exemplo, tomou conta após o aparecimento de uma entrevista de Dilma, em 2007, onde ela dizia ser favorável à legalização. As pesquisas detec-taram a diminuição da intenção de votos na candidata, o que fez com que Serra aproveitasse o momento para dizer que sempre condenou o aborto. A candidata do PT aprovei-tou o horário eleitoral para desmen-tir os boatos e disse ser vítima de uma “campanha caluniosa”.

Calúnia ou não, o assunto ren-deu mais uma capa da Veja, em 13 de outubro, que mostrava o antes

e depois de Dilma em relação à temática. Na semana seguinte, a IstoÉ lançaria uma capa idêntica, mas dessa vez com uma contradição do candidato tucano. O caso era o de Serra ter dito não conhecer Paulo Preto, acusado de desviar R$ 4 milhões do caixa de sua campanha, enquanto na verdade ele já ocupou posição estratégica na administra-ção tucana do Estado de São Paulo.

Planos da Presidente Eleita, Dilma divulgou seus

compromissos de mandato. Os programas sociais, como o Bolsa Família, serão ampliados. Quan-to à educação, será priorizado o treinamento e remuneração dos professores e a informatização das salas de aula.

Na saúde, o foco será garantir mais recursos para o SUS, as novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e ao SAMU. Em termos de reforma urbana, Dilma propõe uma profunda mudança que beneficie as camadas “mais desprotegidas da população”, além de melhorar habitação, saneamento, transporte e segurança pública.

Para o meio ambiente, há a pre-ocupação com o desenvolvimento dos biocombustíveis e do potencial hidrelétrico. No que se refere à indústria e agricultura, a palavra-chave é inovação. Por último, Dilma assumiu compromissos quanto à transparência de seu governo, prometendo concretizar a reforma política e a tributária, combater a corrupção e manter o equilíbrio fiscal e o controle da inflação.

Acertos e tropeços na corrida eleitoral Depois de campanha marcada por ataques entre os candidatos, Dilma Rousseff vence pleito

Valter Campanato/ABR

A petista Dilma venceu com mais de 56% dos votos válidos

Page 7: Hipertexto Outubro 2010

patrimônio

hiperextotPorto Alegre, outubro 2010 7

História e arte mutiladas Monumentos e prédios históricos da cidade são os alvos permanentes

Por André Vitor Pasquali

ESCULTURAS QUEBRADAS ou sem algum pedaço, prédios riscados ou pichados. Placas de bronze roubadas. Os monumentos que deveriam exaltar a história e a arte da Capital gaúcha estão à mercê de vândalos que deixam as marcas da destruição. Nos bairros mais próximos ao Centro Histórico da cidade, a situação é grave.

No Parque Farroupilha ou na Redenção, inúmeros são os danos praticados. O Monumento

ao Expedicionário – homena-gem aos soldados brasileiros que morreram nos campos da Itália durante a 2ª Guerra Mundial – é um caso emblemático do descaso com o patrimônio porto-alegrense. Inaugurado em 16 de junho de 1957, e inteiramente trabalhado em granito, abriga a Pira da Pátria, ponto importante das comemora-ções da Independência do Brasil, em 7 de Setembro, e também da Revolução Farroupilha, no dia 20 de setembro.

Durante muitos anos, desocu-

pados fizeram do arco do triunfo de Porto Alegre alvo de disseminação da sua fúria destrutiva. Roubaram placas de bronze e picharam a pe-dra, tirando a beleza da maior das homenagens do povo gaúcho à For-ça Expedicionária Brasileira (FEB) que ajudou os Aliados e vencerem Hitler em 1944. No último mês de agosto, funcionários do município fizeram mais uma limpeza, em comemoração aos 75 anos do par-que, e o monumento recuperou seu esplendor e importância na cidade.

Próximo ao mesmo parque, o

Instituto Estadual de Educação Ge-neral Flores da Cunha, escola tra-dicional de Porto Alegre, também era alvo constante de vândalos. Por causa destes ataques, o prédio foi cercado no começo de 2009, quando foram gastos R$ 215 mil na construção da cerca para dificultar o acesso dos marginais. Contudo, as paredes da escola ainda con-servam as marcas das pichações, principalmente na parte superior acima do nome da instituição, onde desenhos em cores fortes violentam a harmônica arquitetura do prédio.

Samuel Maciel/ Hiper

Velho símbolo da modernidade

Outro ponto crítico de Porto Alegre é o viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros. Além de ser alvo de pichações, é também usado por sem-tetos que passam os dias sob o abrigo das áreas co-bertas e fazem suas necessidades fisiológicas próximas às paredes e colunas. À noite e nas primeiras horas do dia, cerca de dez pessoas dormem no local para se abrigar do frio. Construído na década de 1930, foi o primeiro viaduto da Capital, símbolo de modernidade de uma cidade que se tornava metrópole. Hoje, ainda é um ponto turístico procurado pelos visitantes.

Enquanto alguns apreciam as características arquitetônicas e a visão da cidade que se descortina na parte superior, embaixo, o tran-seunte é obrigado a desviar de pes-soas deitados na calçada e do lixo espalhado. As linhas e a relevância sócio-cultural do viaduto levaram Porto Alegre a declará-lo patrimô-nio, tombado ainda em 1979.

Segundo a coordenadora do Departamento de Monumentos da Secretaria Municipal do Meio Am-biente (Smam), Cibele do Carmo, a degradação dos monumentos é frequente. “Muitas vezes limpamos um monumento numa semana, e na seguinte recebemos uma ligação informando que foi depredado novamente”, salientou.

Para ela, a área mais degradada da cidade é o Parque Farroupilha, principalmente devido ao grande número de monumentos e ao ta-manho do parque, o que dificulta o trabalho de preservação. “A cidade é muito grande, não tem como haver uma política de pre-venção à preservação. A gente age a partir de denúncias da popula-ção para buscar recursos para a recuperação. Também buscamos junto às empresas conscientização para adotarem um monumento”, ressaltou.

Viaduto Otávio Rocha, na Borges de Medeiros, é alvo constante de depredação, além de servir de dormitório para mendigos

EMPRESAS ADOTAM E RECUPERAM MONUMENTOS

Para contribuir com a preservação dos monumen-tos e praças da Capital, algumas empresas firmaram parcerias com a prefeitura municipal nos últimos anos. A Fonte Luminosa da Redenção é um exemplo de trabalho feito em conjunto com a iniciativa privada. Reformada em 2009, com apoio da Pepsi e Sinergy Novas Mídias, a Fonte Luminosa surpreende o visi-tante com sua beleza rara. Jatos de água e uma bela iluminação são o resultado do investimento de mais de R$ 200 mil, feito para dar um presente à Capital nos seus 237 anos.

A parceria entre a prefeitura municipal, Smam, PepsiCo Bebidas do Brasil e Sinergy Novas Mídias

resultou no projeto “Eu Amo Porto” que deve revita-lizar, conservar e promover a manutenção do Parque Farroupilha e da Orla do Guaíba.

Em 2009, o monumento em homenagem a Castelo Branco, localizado no Parque Moinhos de Vento, re-cebeu reforço na estrutura e recuperação dos pontos danificados pela corrosão. Essa importante melhoria ocorreu graças aos recursos aplicados pela empresa Zaffari e a Associação Hospitalar Moinhos de Vento. A parceria por meio da adoção permite a recuperação e revitalização dos locais públicos de maneira mais rápida e eficiente porque dispensa a burocracia da administração pública.

Julia Ramos/ Hiper

Pixadores escalaram a fachada do Instituto de Educação

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imprensa

8 Porto Alegre, outubro/novembro 2010hiperextot

Miriam Leitão: “Somos imbatíveis em fazer jornalismo”Por Sabrina Ribas

APÓS 19 ANOS de coluna diária no jornal carioca O Globo, a comentarista econômica Miriam Leitão reuniu seus textos mais mar-cantes em um livro. “Convém sonhar” é uma coletânea de 127 colunas da jornalista mineira que atua também na TV e no rádio. Ela disse, em Porto Alegre, que não teme o fim da exigên-cia do diploma de jornalista e considera esses profissionais uma espécie à parte. “Nós, for-mados, somos imbatíveis em fazer jornalismo, e devemos aceitar a competição.” Para ela, a mídia deve abrir espaço para pessoas de outras áreas. “Se um super jogador de futebol escreve

bem, como o Tostão, porque ele não pode ser comentarista de esporte?”, completa.

Miriam fez o lançamento do seu livro dia 27 de agosto, na livraria Saraiva, em Porto Alegre, e no encontro com leitores falou da profissão que exerce há 35 anos, sobre política e destacou alguns dos textos contam, na visão dela, capítu-los da história econômica do Brasil. “Muitos dos meus leitores pensam que sou uma economista que faz colunas em um jornal. Sou jornalista, mas estudei bastante economia para falar de uma maneira que todos entendam.”

Uma característica da autora em mais de três décadas de atuação no jornalismo, a indig-nação, é visível no livro. Herança dos tempos

de militância de esquerda da época da di-tadura. Mas a coleção traz também relatos de viagens e retratos da vida em família de Miriam, que atribui aos pais o nome do livro. Segundo ela, foi com eles que aprendeu duas coisas fundamentais: a trabalhar e a sonhar.

A jornalista é contrária à interferência do estado na economia e acredita que o setor privado deve ocupar mais espaço. Co-mentarista, já cometeu erros sem perder a credibilidade com seu público. Segundo ela, o livro recorta uma série de momentos bons e ruins. “Nos 20 anos que escrevo coluna, vi o Brasil melhorar muito, por isso penso que convém continuar sonhando”, concluiu.

Jornal Já, 25 anos sem comemorações

Após sentença judicial provocada pela família Rigotto, mensário da Capital agoniza no prédio da ARI

Por Mariana Soares

MAIS DE DEZ prêmios ARI em jornalismo e sendo o único veículo gaúcho a ter conquistado o troféu Esso nacional em reportagem, o jornal Já completa 25 anos de existência em 2010. Porém, a data não é de comemoração, e sim, de preocupação.

Uma reportagem exclusiva pu-blicada há nove anos mudou a tra-jetória do impresso mensário. Elmar Bones, jornalista responsável por tornar público o caso do irmão do ex-governador do Estado Germano Rigotto, carrega nas costas não só o jornal, como também um processo tramitado em segredo de justiça, que gerou inúmeras consequências negativas à empresa. Uma delas foi o fechamento de contas com anun-ciantes, o que gerou uma quebra no orçamento da empresa. Sem verbas, o jornal circula sem periodicidade, pretendendo publicar uma edição

em novembro.Na edição 287, de maio de 2001,

Bones relatou fatos sobre uma su-posta fraude com dinheiro público no Rio Grande do Sul. A reportagem parte do assassinato de Lindomar Rigotto, irmão de Germano Rigotto, em fevereiro de 1999, quando saía da boate Ibiza, na praia de Atlântida, da qual era sócio, após contar a féria da última noite de Carnaval. Dois meses antes de ser assassinado, havia sido indiciado pela morte de uma garota de programa que caiu da janela de seu apartamento na rua Duque de Caxias, no centro de Porto Alegre. O empresário também estava com seus bens declarados indisponíveis pela Justiça por ser suspeito de desviar verbas públicas. Foi esse processo que o jornal Já resgatou, depois de uma Comissão Parlamentar de In-quérito (CPI) na Assembléia Legis-lativa e uma investigação conduzida pelo Ministério Público.

Lindomar foi considerado o

protagonista de um desvio de cerca de R$ 800 milhões da CEEE, através do direcionamento de uma licitação, 15 anos atrás. O processo originou de uma ação civil pública e tramita até hoje em segredo de justiça. Elmar Bones teve acesso a informações sobre o caso e realizou a reportagem, publicada no Já.

Três meses após a publicação, a matriarca da família, Julieta Ri-gotto, entrou com dois processos judiciais: um com base no Código Penal, pedindo a condenação do autor da reportagem, Elmar Bones, pelo crime de calúnia e difamação. O outro, com base na extinta Lei de Imprensa, que reivindicava da empresa Já Porto Alegre Editores, uma pena indenizatória por dano moral. Depois de quase dez anos, da ação ocorrendo em segredo de justiça, a Já Porto Alegre Editores ainda mantém uma ação rescisória, que anularia todo o processo, aguar-dando decisão do STF.

Fotos Isabela Sander/ Hiper

Jornal Já foi o único veículo gaúcho que conquistou o troféu Esso Nacional em reportagem

Resistência de Bones mobiliza profissionais voluntários

Os sócios da empresa Já, Elmar Bones e Kenny Braga, estão com suas contas pessoais bloqueadas e aguardam determinação judicial. Bones acredita que esta crise é uma questão de tempo e que não será esse bloqueio que fechará as portas do impresso. “O jornal não é uma coisa só minha. Há uma história de luta, esforço e dedicação por trás de tudo isso, que não valerá de nada, caso o jornal feche. Não vou abrir mão dos nossos princípios básicos, que sempre se sobressa-íram e que é o nosso diferencial”, ressalta Bones.

Mesmo sentindo os efeitos da matéria sobre Lindomar Rigotto, o jornalista e escritor de 66 anos afirma que não se arrepende de ter publicado o caso. “Não posso me julgar. Na minha profissão, a função principal é tornar público os fatos que acontecem ao nosso redor, sejam eles bons ou ruins. E foi exatamente isso que eu fiz”, completa o jornalista.

Nesta trajetória de 25 anos, fatos importantes são lembra-dos com orgulho. Bones aponta coberturas eleitorais e matérias de planos diretórios de grande significância à imprensa gaúcha. Segundo ele, mui-tos veículos abor-davam questões publicadas primei-ramente pelo Já, o que faz o jornal servir de exemplo para os demais. Atualmente, o Já se encontra em uma sala improvisada, no prédio da Asso-ciação Riograndense de Imprensa (ARI). As dependências do perió-dico são precárias, com apenas um computador, que nada lembra uma redação tumultuada de um jornal. Trabalham no local, Elmar Bones e alguns voluntários que acredi-tam na recuperação do jornal que sempre cultuou independência e

posição crítica. Para tentar amenizar a saúde

financeira e decadente do jornal, cerca de 50 pessoas, entre advoga-dos, empresários, jornalistas, líde-res sindicais se reuniram no dia 11 deste mês, para planejar a melhor forma de salvar o periódico. Foi então que lançaram o movimento “Resistência Já”, cujo objetivo é impedir a extinção do jornal que circula e informa seus leitores há

25 anos. Segundo a jornalista Patrícia Marini, está sendo estudada também a criação de uma cooperativa de lei-tores. “A ideia é que se forme uma asso-ciação para capita-lizar o Já”, explicou. Questionado sobre tema, o advogado da

família Rigotto, Elói José Thomas Filho, não quis entrar no mérito do assunto, afirmando que Bones está fazendo escarcéu. “Estamos simplesmente cobrando o valor de uma sentença. Isso já foi discutido e se ele (Elmar Bones) estivesse certo, não teria sido julgado”, declara.

“O jornal não é uma coisa

só minha. Há uma história de luta, esforço e

dedicação”

O premiado Elmar Bones

Sabrina Ribas/ Hiper

Colunista reúne textos em livro

Page 9: Hipertexto Outubro 2010

esporte

9Porto Alegre, outubro 2010 hiperextot

Por Brunna Weissheimer

CRÍTICOS de futebol ob-servam que o Grêmio campeão gaúcho de 2010 e semifinalista da Copa do Brasil se perdeu em algum momento durante a parada para Copa do Mundo. Perdeu o ritmo, a confiança. Com o reinício do Brasileirão, os maus resultados começaram a surgir e o tricolor caiu para a zona do rebaixamento. Uma crise ameaçava ruir o planeja-mento do segundo semestre. A solução encontrada pela dire-ção gremista foi demitir Silas e contratar Renato Portaluppi. A volta do maior jogador da história do clube impediu que o medo de uma possível queda para Série B recaísse na torcida. A situação é de conforto na tabela de classificação, garante participação na Sul Americana de 2010 e permite até sonhar com uma difícil classificação para a Libertadores. Segundo-na, nem pensar.

A tentativa de resgatar a confiança por meio de um ído-lo não é novidade. O próprio Grêmio já fez isso em 2005, quando chamou Hugo De León, o zagueiro uruguaio campeão brasileiro em 1981 e capitão das conquistas da Libertadores e do Mundial em 1983, junto com o próprio Renato Gaúcho. Exemplo de raça e amor à camisa, De León teria a difícil missão de comandar um time rumo à Série A – devido à queda no ano anterior. Sua mística de

jogador não se transferiu para a casamata. Não durou nem cinco meses como técnico gre-mista. Cedeu a vaga para Mano Menezes, que protagonizou a façanha dos Aflitos, na volta à Primeira Divisão.

Outro jogador que teve bre-ve experiência como treinador do Grêmio foi Adílson Batista. O capitão América foi técnico do tricolor entre 2003 e 2004, mas não obteve nem de longe o sucesso como jogador. O rival Internacional também já uti-lizou a estratégia de trazer um ídolo do passado para treinar o clube. Em 1985, contratou Pau-lo César Carpeggiani, bicam-peão brasileiro na década de 70 pelo Inter. Em 1993, Paulo Roberto Falcão treinou o clube que o consagrou, mas não con-quistou nenhum título, assim como Carpeggiani. Nas sele-ções é comum ter ex-jogadores renomados no comando, com exemplos recentes de Brasil e Argentina, que tinham como técnicos Dunga e Maradona respectivamente.

Agora, o Grêmio utiliza novamente essa tática para melhorar seu desempenho na atual temporada. Renato Portaluppi, que estava no Bahia e já passou por Vasco e Fluminense como treinador, diz que se espantou com o vestiário gremista logo na sua chegada. Não entrou em detalhes, mas disse durante a coletiva do dia 29 de agosto que se “assustou muito, muito, muito”.

Ídolo gremista lidera a recuperação do time gaúcho

Efeito Renato PortaluppiPor Fernando Soares

DENTRO DE CAMPO, vitórias em profusão e uma ascensão me-teórica no Campeonato Brasileiro. Fora dos gramados, aumento das receitas e o resgate do orgulho do torcedor. Crise? No Estádio Olímpico todos esqueceram o significado dessa palavra. O am-biente turbulento de outrora ficou para trás. As mudanças ocorridas no Grêmio nos últimos três meses passam por um nome: Renato Portaluppi.

Contratado em agosto para substituir Silas no comando gre-mista, Renato foi a aposta da direção para reerguer um time combalido. Ao desembarcar no aeroporto Salgado Filho, o maior ídolo da história do Grêmio tinha o espinhoso desafio de afastar o tricolor da zona de rebaixamento do Brasileirão. A torcida, pronta-mente, acolheu o homem que fez os gols do título mundial de 1983. “O Renato é a personificação do Grê-mio. Ele traz as boas lembranças de tempos vitoriosos”, sintetiza o assessor de futebol Alberto Guerra sobre a repercussão positiva da contratação.

No entanto, não foi a condição de ídolo que forjou o retorno de Renato ao clube onde despontou para o futebol. Após quatro horas de reunião em uma churrascaria no Rio de Janeiro, Guerra saiu convicto de que havia escolhido a pessoa certa para ocupar a casama-ta tricolor. “Nós fomos entrevistá-lo ainda com a possibilidade de dizer não, se fosse o caso”, lembra o dirigente. Para abalizar a opção, o cartola buscou informações com diretores de outros clubes e profis-

sionais do próprio Grêmio, como o preparador físico Paulo Paixão, que haviam trabalhado com ele.

Deu certo. Após um começo instável, o fantasma do descenso logo desapareceu. O time enfilei-rou bons resultados, tornando-se postulante a uma vaga na Liber-tadores 2011, e individualidades contestadas passaram a render mais. Dono de um discurso que caiu no gosto dos boleiros, Renato conquistou o grupo.

Sob as ordens do novo coman-dante, o meia Douglas, principal alvo das críticas dos torcedores, recuperou o bom futebol e consti-tuiu-se no maestro do time. “Hoje em dia, filho bonito está cheio de pai. Todo mundo elogia e eu fico feliz por isso. Eu conhecia as qua-lidades do Douglas antes de chegar ao Grêmio. Ele é diferenciado, joga e faz o time jogar”, destaca Renato Portaluppi, que, em determinadas partidas, chegou a conferir ao meio-campista a braçadeira de capitão.

Como treinador, o ex-ponteiro direito mostrou-se um disciplina-dor, destoando do jogador rebelde dos anos 1980. Algumas medidas rígidas foram adotadas no ves-tiário gremista. Atleta acima do peso passou a sentir no bolso cada quilo excedente. Até mesmo quem deixar o celular tocar durante as preleções leva multa. Os treina-mentos iniciam, religiosamente, às 8h30min e são abertos para torcedores.

Na parte tática, Renato planeja o roteiro das jogadas ensaiadas de forma minuciosa. Gesticulando bastante, diz se quer um passe curto, um lançamento em profun-didade ou um cruzamento alto.

Ele também não perde a chance de participar dos rachões, onde rea-viva os tempos de jogador. A faixa direita do campo continua sendo a sua preferida. Porém, aos 48 anos de idade, as arrancadas impetu-osas, que vitimaram incontáveis zagueiros, ficaram no passado. Mesmo assim, ainda demonstra intimidade com a bola.

Apesar de continuar adepto das frases de efeito e dos relatos irre-verentes, Renato deixou de lado o perfil provocador que o caracte-rizou por muito tempo. “A gente muda. Na idade deles (jogadores) eu fazia algumas coisas erradas. Então, procuro fazer com que eles não repitam esses erros. Eu estou aqui para isso, tenho de ser paci-ficador”, justifica o homem-gol, como é chamado pelos gremistas.

O método de trabalho e o convívio no dia a dia deixaram os diretores encantados com o técni-co. “O Renato é nota dez. A relação dele com jogadores e dirigentes é excepcional. Sempre deixei muito claro a hierarquia do clube e ele respeita, jamais toma uma decisão sem nos consultar. Eu, mesmo ten-do esse poder, também o consulto. Assim, deixamos as coisas transpa-rentes e saímos com uma só voz, sem divergências”, relata Guerra, líder do departamento de futebol.

No clube onde alcançou o topo da América e do Mundo, o homem cuja face estampa as faixas da Ge-ral, na arquibancada do Olímpico, ressurgiu. Sua carreira como trei-nador, marcada por altos e baixos, encontrou em Porto Alegre um ponto de equilíbrio e a cada triunfo se consolida mais. O Grêmio fez bem a Renato e a recíproca, não poderia ser diferente, é verdadeira.

Camila Cunha/ Hiper

Ex-atacante, agora encanta a torcida gremista e conquista os jogadores como técnico do time

Técnico é estratégia de marketingO torcedor gremista está em

lua de mel com Renato Portalup-pi. Os bons resultados obtidos em campo apenas ratificaram a idola-tria ao treinador, que é ovacionado cada vez que os alto-falantes do Olímpico citam seu nome. Mas o retorno da parceria entre Grêmio e Renato vai além das quatro linhas.

A imagem do ídolo alavancou o faturamento do clube. “Hoje, tudo que o torcedor quer é algo que tenha ligação com o Renato. Nós triplicamos as vendas da camisa retro do mundial de 1983”, relata João Basílio, gerente da Grêmio Mania do Estádio Olímpico. A re-ceita da loja cresceu de 30% a 40% desde agosto, chegando a atingir um rendimento bruto de R$ 1,5 milhão no último mês.

O departamento de marketing já planeja o lançamento de produ-tos que se apropriem da imagem de Renato. A primeira ação deverá ser

a fabricação de um boneco dele. Também houve incremento

no número de sócios e aumento na média de público no Estádio Olímpico. Os jogos com Renato no comando do tricolor tiveram, em média, 27 mil torcedores. O índice anterior era de 10 mil espectadores por partida.

Renato sabe do prestígio que tem com o torcedor e faz questão de ser solícito com todos os fãs. Após os treinos, ele atende, pa-cientemente, os pedidos por autó-grafos e fotos. Inclusive, o sucesso com o público feminino continua o mesmo de duas décadas atrás. As admiradoras pedem e ganham beijos do eterno camisa 7.

Atenta aos benefícios que a figura de Renato traz, a nova di-retoria do Grêmio, que assumirá em dezembro, já iniciou conversas para tratar a renovação do atual contrato, vigente até o final do ano.

GRÊMIO APOSTA NA MAGIA

Page 10: Hipertexto Outubro 2010

cultura

10 Porto Alegre, outubro 2010hiperextot

Por Pedro Henrique Tavares

PORTO ALEGRE deu sorte. Uma semana após vencer o Prê-mio Nobel de Literatura 2010, em 7 de outubro, o escritor peruano Mário Vargas Llosa desembarcava no Aeroporto Salgado Filho para cumprir um compromisso agenda-do com meses de antecedência. Ele veio participar do ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento, dia 14 de outubro, no salão de atos da UFRGS, com a lotação esgotada. Demonstrou sua preocupação de que as novas tecnologias possam banalizar a literatura.

Antes da conferência, Vargas Llosa concedeu entrevista coletiva no hotel InterCity. Ele se mostrou surpreso com a conquista do Nobel de Literatura. Tecnologias como o livro eletrônico inquietam Vargas Llosa que vê e-book como uma realidade, tornando a versão em papel fora de uso. “O meu temor é que o eletrônico conduza, quase de uma maneira fatídica, a uma certa banalização da literatura”, disse.

O escritor confessou que ao receber a notícia do prêmio acre-ditou que fosse um trote. A notícia da condecoração foi recebida 14 minutos antes do anúncio oficial. Foram, portanto, minutos de an-gústia e incerteza para o peruano de 74 anos. Segundo ele, o Nobel desperta uma “curiosidade frívo-la”, o ganhador acaba perdendo a privacidade, a capacidade de se recolher e refletir. “Você fica domi-nado por forças que não controla.

Parece que meus movimentos não são meus, como se eu fosse um zumbi.”

A literatura não irá sofrer nenhum tipo de mudança por influência do prêmio, ele acredita. As mudanças acontecem na vida particular, há uma abertura da vida ao público. “No momento em que recebi o prêmio, minha casa havia sido invadida por cerca de 20 pessoas que eu não conhecia”, contou.

Sua visão política conservadora não passou despercebida durante a visita à Capital. Salientou o de-senvolvimento da América Latina nos últimos 20 anos. No entanto, destacou negativamente governos de esquerda que “não podem ser chamados de democráticos”, citan-do a Venezuela de Hugo Chávez e a Bolívia de Evo Morales.

Crítico ferrenho do governo argentino, salientou que os gover-nantes castelhanos estão levando o país ao fundo do poço em termos de integridade moral. “A Argentina era um dos países de maior pro-dução cultural do mundo, mas as ideias mudaram, a literatura ficou comprometida”, declarou.

Em sua visita a Porto Alegre, o peruano discorreu sobre cultura. Foi enfático na crítica ao fim das hierarquias, como registrou o jornal Zero Hora se referindo à palestra. De acordo com ele, há um senso comum que prega o erro de separar os cultos dos incultos. “Hoje, somos todos cultos. Com os meios de comunicação de massa,

temos inúmeras referências às mi-lhares de manifestações da cultura universal, como a pedofilia, uso da maconha, o punk, a estética nazista. Agora, somos todos cultos, embora nunca tenhamos lido um livro, ido a um concerto ou a uma

exposição de arte.”Um homem que obteve a maior

conquista de um escritor ainda tem problemas no momento de produ-zir suas obras. Llosa confessa se sentir angustiado com a sensação de que não vai conseguir acabar a

história, especialmente no começo do livro. “Mas minha experiência mostra que, conforme vou fazen-do, a insegurança diminui. A parte que mais gosto é de reescrever, cortar, reorganizar. Mais que es-critor, sou um reescritor”, brinca.

Nobel em Porto Alegre teme a banalização da literatura

Praça interditada recebe livrosPor Bruna Suptitz

Neste ano, a maior feira de livros a céu aberto das Américas está cercada por tapumes. Em restauração, a Praça da Alfândega se divide entre agitação provocada pela 56ª Feira de Porto Alegre e a movimentação dos operários esca-vando canteiros atrás dos tapumes.

De 29 de outubro a 15 de no-vembro de 2010, a praça segue interditada entre as ruas Andradas e Sete de Setembro, enquanto a estrutura da feira ocupa os espaços que sobram. Paixão Côrtes, pesqui-

sador da cultura rio-grandense, é o patrono deste ano. No dia 10 de novembro, às 16 horas, na Tenda de Pasárgada, ele narra histórias de suas andanças pelo Estado res-gatando traços culturais do gaúcho.

De acordo com Briani Panitz Bicca, coordenadora do Projeto Mo-numenta, responsável pelas obras de restauração da Praça da Alfân-dega, houve uma negociação com a coordenação da Feira para que o espaço utilizado pelos estandes fosse reduzido. A intenção, afirma Briani, é concluir os trabalhos antes da Feira do Livro de 2011.

Guilherme Santos/ Hiper

Mario Vargas Llosa, vencedor do prêmio máximo 2010, esteve na Capital e comentou sobre o futuro do livro no Fronteiras do Pensamento na UFRGS

Em entrevista coletiva, escritor peruano mostrou sua inquietação sobre o futuro da literatura

Fotos Isabela Sander/ Hiper

Exemplares históricos das re-vistas Realidade, Manchete, Veja, IstoÉ e dos jornais Movimento e Opinião, entre outros, estarão ex-postos no saguão da Famecos nos dias 11 e 12 de novembro. A mostra faz parte do acervo do Núcleo de Pesquisa de Ciências da Comuni-cação (Nupecc) que reúne diversas publicações que marcaram época no estado e no país. No dia 12, às 19 horas, haverá uma mesa-redonda com a apresentação dos projetos desenvolvidos pelo Nupecc. Os palestrantes serão o professor Antônio Hohlfeldt e a mestra em história e estudante de jornalismo Camila Ventura Merg.

Jornais e revistas

Tapumes escondem as obras na Praça da Alfândega

Page 11: Hipertexto Outubro 2010

moda

11Porto Alegre, outubro 2010 hiperextotMinicomprimentos e abundância de cores deram a tônica

Por Walter Ferreira

FALTA DE ESPÍRITO criativo da década atual ou tendência estimulada por uma indústria cujo alicerce se fun-damenta em reivenção das referências do passado? O fato é que os anos 80 estão de volta com força total, seja no cinema, na TV, na música ou na moda, percebe-se que a década ainda dita um tipo de comportamento.

Dentro e fora das passarelas, esti-listas como Alexandre Herchcovitch usam o período como fonte de inspira-ção. Ele foi o responsável pelo figurino da produção cinematográfica franco/brasileira À Deriva, cuja história, é ambientada há três décadas. “Usei memórias de minha adolescência, roupas e marcas que eu usava, para compor o figurino. Tive a ajuda de duas pessoas de extremo bom gosto, Geanine Marques e Fábio Souza, que também viveram nesta época e ajudaram com suas recordações”, disse Alexandre à jornalista de moda Lilian Pacce.

Fazer a evocação de certos perí-odos da história é um hábito comum no universo da moda. O que se vê nas passarelas e, por tabela, no cinema, tem essa influência, ponto de vista ratificado pela estilista e professora universitária Vivi Gil. “As tendências movimentam o mercado de moda e es-

tão sempre relacionadas ao desejo do novo. Revisitar uma década, como a de 80, por parte dos criadores de moda, significa que o que foi produzido em termos de estilo naquele período per-mitiu mais desdobramentos e novas possibilidades criativas.”

O corte de cabelo moicano na cabeça da garotada nos dias atuais é referência explicita ao movimento punk. A música produzida naqueles anos também merece menção hon-rosa. Foram criações que originaram várias vertentes musicais até hoje revisitadas. Dos gêneros melódicos surgidos lá atrás, o New Wave foi o que mais se destacou, tornando-se referencia obrigatória como estilo para vários ídolos pop como Madonna e Cyndi Lauper. Na atualidade, artistas como Lady Gaga saciam-se na mesma fonte, corroborando para aquela velha máxima de que nada se cria, tudo se copia.

Para os balzaquianos nostálgicos ou para a galera que aprecia esse tipo de som, há nove anos, desde setem-bro de 2001, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre, o Bar Ocidente reserva o primeiro sábado de cada mês para a concorrida festa Balonê. Com a participação de vários DJs tocando os maiores hits e uma produção para nenhum saudosista botar defeito, o clima anos 80 impera no ambiente.

Por conta do seu sucesso, o evento já precisou de edições extras, segundo os seus organizadores.

No cinema ocorre uma enxurra-da de filmes baseados em sucessos eighties. Há quem credite essa onda na sétima arte a uma mistura de falta de espírito criativo e jogada de marketing. O fato é que as cabeças da industria cinematográfica norte-americana, sabem que boas idéias do passado somadas às tecnologias digitais de hoje resultam em bons lucros, sem falar no fator memória afetiva. Quem era adolescente na era Reagan e hoje encontra-se na casa dos trinta e poucos anos, se vê diante um irresistível apelo: reencontrar-se com agradáveis lembraças do passado atra-vés do cinema. Nessa esteira pipocam nas salas de exibição e videolocadoras remakes de cult movies oitentistas como “Karatê Kid” e “Fúria de Titãs”. Na telinha o horário das 19h registra altos índices de audiência com a nove-la “Ti Ti Ti”, reciclagem de um grande sucesso da TV. Advinhe de que época.

O radialista Fabrício de Carvalho, 38 anos, se auto intitula um nostálgico de carteirinha. Mas vê com ressalvas essa onda oitentista nos dias atuais. “Acho que essa tendência tem prazo de validade para acabar, tem festa e filmes. Tudo são anos 80, mas logo as pessoas dirão: chega!”, prevê.

Indústrias do entretenimento e da moda se apropriam do espírito dos anos 80 para ditar novos comportamentos

A reciclagem da década perdida

Por Rafael Marante

MUITO AZUL, branco, preto, tons de verde, vermelho e amarelo serão as cores do verão 2011, ao menos de acordo com o maior evento de moda do Estado, o Donna Fashion. Junte as cores a golas em V, transparências, brilhos, fendas e vazados, tudo de maneira clean e, muitas vezes, sobreposta, e está feita a moda verão. O jeanswear foi uma das apostas, mas o tecido que dominou os desfiles foi o algodão.

A 14ª edição do evento levou à passarela principal 16 marcas famosas e dois estilistas iniciantes, todos vol-tados para o público adulto. O verão 2010/2011 apresentado pelas grifes não foi muito diferente do que se viu nas semanas de moda de Londres, Nova York e Milão.

A estação exige cintura marcada, peças curtas e fluidas para mulheres, e roupas com silhueta, proporção e forma para homens. Uma boa pedida para a moda feminina são terninhos e os macacões. Homens usam cada vez mais linho e paletó de maneira infor-mal, com calças acima do tornozelo e bermuda acima dos joelhos.

Mulheres calçam sandálias ras-teirinhas ou de saltos altíssimos, mais abertos que na estação passada. Enquanto isso, homens se renderão aos espadrilles, híbrido do mocassim.

A palavra de ordem é diversão. Co-letes com franjas, vestidos e saias mini, cintos finos, faixas nos cabelos, bolsas pequenas e cor. O Donna Fashion mostrou que é hora de misturar e usar o guarda-roupa de maneira ousada.

O iniciante Nei Aguilar, único a ser aplaudido de pé por todos, usou bem

o conceito. Com inspiração no filme “Carrie, a estranha”, ele criou uma coleção com azul, vermelho, preto e cáqui. Avolumou e cortou peças que seriam comuns se não fossem esplêndidas. Vestidos, saias, calças e blusas tornaram as modelos elegantes e despojadas. Nos homens, camisetas cinza e manteiga, com suspensórios e jaquetas que lembravam boleros ou coletes.

No último dia de desfiles adultos, Gloria Coelho colocou seus looks na passarela. Com fitas, ela apresentou volumosos vestidos curtos e longos de silhueta cilíndrica feitos de cetim de seda, tafetá e algodão. Em branco, preto, lilás, azul cristal e tons claros de bege, a estilista apresentou uma moda futurista. Conceitual e nobre, a designer encerrou o Donna Fashion Iguatemi 2010/2 em alto estilo.

Donna Fashion: verão de cores e formas limpas

Madonna, musa da “década do exagero”, serve como referência para novas cantoras pop como Lady Gaga

LÍívia Stumpf/Hiper

Divulgação

Page 12: Hipertexto Outubro 2010

Porto Alegre, outubro 201012 ponto final hipertexto

Puros pregam vida sem sexo

Crônica

Green Day faz show inesquecível

Por Suzy Scarton

O MELHOR SHOW de suas vidas era a promessa de Billie Joe e o público gaúcho teve privilégio de vê-la cumprida pela ban-da Green Day em Porto Alegre, dia 13 de outubro. Assim foi o show da banda punk, com muita pirotecnia, efeitos de luz e efei-tos sonoros, para delírio da plateia. A turnê do Green Day pelo Brasil começou com pontualidade, às 21h30min, e durou duas horas e 45 minutos, como a banda havia prometido em entrevista coletiva antes do espetáculo no Gigantinho. O show reuniu aproximadamente nove mil pessoas.

Composta pelo vocalista e guitarrista Billie Joe Armstrong, pelo baterista Tré Cool e pelo baixista Mike Dirnt, a banda norte-americana Green Day abriu o show com 21st Century Breakdown, música do mais recente CD. A presença no palco é tão marcante que o público não parou de pular e gritar, mesmo enquanto eles tocavam mú-

sicas mais novas, ainda não memorizadas pela maioria dos espectadores. A plateia ficou encantada com o grupo, liderado pelo vocalista que homenageou o Brasil várias vezes no intervalo entre as músicas. En-rolado em uma bandeira do Brasil, disse:

– Não somos da Califórnia, somos do Brasil.

Chamou cerca de oito pessoas ao palco, separadamente, e fez a multidão gritar quando convidou uma garota para subir e cantar Longview inteira com ele. Ao térmi-no da música, presenteou-a com a guitarra que estava usando, provocando nos fãs um misto de espanto, admiração e inveja da sortuda.

O show agradou aos novos e velhos fãs. Billie tocou os hits mais conhecidos, como Basket Case e When I Come Around, e surpreendeu com a escolha de músicas como Going to Pasalacqua. No Brasil pela segunda vez, após 12 anos, Billie domina o público com habilidade e emoção.

Banda retornou ao país para turnê do novo álbum

Guilherme Santos/ Hiper

Por Daniela Boldrini

O REBANHO COW PARADE que se instalou em Porto Alegre, desde 8 de ou-tubro, tem muito da nossa cara. A maior exposição de arte e mais bem-sucedida no mundo já esteve em 55 países e espalhou 81 vaquinhas pela Capital. Elas retratam a história das nossas façanhas, dos rivais do futebol ao pôr-do-sol. As vacas Farra-po, Alegre, Farroupilha, Gaudéria, ZH Domicow, Vacaduto da Borges, Ponte do Cowíba, Guaibeira, Cowlorada e Trico-wlor têm nos seus corpos traços artísticos inspirados em fatos, nomes e lugares dos quais nos orgulhamos.

Entre as oito dezenas de exemplares, há também celebridades do cinema, pois a arte é cosmopolita. Vacavatar, do filme de

sucesso mundial em 3D Avatar, e A Incrí-vel Hulkow, do clássico Hulk, são favoritas das crianças. No campus da PUCRS está uma das obras exclusivas, vaca Narcisa, localizada no Largo da Solidariedade.

Como diz o site oficial, as figuras de vacas remetem boas lembranças às pes-soas. Sagradas e históricas, elas são prin-cipalmente carinhosas e maternais. O leite que fornecem é o primeiro alimento da vida e suas carnes são deliciosas em uma churrascada de domingo. Pensando nisso, uma das simpáticas vaquinhas, nomeada Telivisão de Gaúcho, veio a Porto Alegre já espetada, pronta para assar.

Mas não é de hoje que o território gaúcho se rende ao rebanho. Desde 1611, a introdução do gado no Estado originou-se por Hernandarias, na foz do Rio Negro,

afluente do Uruguai. Quando os charruas provaram desse gado vacum só havia

gado na Vacaria do Mar, próximo à Laguna dos Patos, onde se formaram as

Vacarias. Isso originou a economia básica nas terras do sul, de comércio ilícito de

couro e sebo, e que possibilitou aos portugueses conhecerem melhor as reservas. Hoje, a re-gião é marcada por sua riqueza pecuária.

Bem menos rústicas que as de verdade, as mimosas urbanas fabricadas com fibra de vidro por artistas gaúchos ficarão expostas e espalhadas pela cidade até 1º de dezembro. Depois disso, serão leiloadas. O dinheiro arrecadado será doado ao Funcriança, que ajudará a melhorar a qualidade de vida de jovens do Estado,

como leite quente de uma barrosa empo-leirado na mangueira.

Um rebanho de mimosas

Billie Joe Armstrong

Guilherme Santos/ Hiper