16
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA Autor Dennison de Oliveira 2009 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Autor

Dennison de Oliveira

2009

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 2: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Todos os direitos reservados.IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

O48 Oliveira, Dennison de. / História Contemporânea. / Dennison de Oliveira. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009.

104 p.

ISBN: 978-85-7638-747-3

1. História contemporânea. 2. Relações internacionais. 3. Glo-balização. 4. Economia I. Título.

CDD 909.8

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 3: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Sumário

Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX | 9A predominância da Europa | 9Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentes | 10A Segunda Revolução Industrial | 11O imperialismo | 12As forças da tradição e da transformação | 14

Primeira Guerra Mundial | 17A política de alianças e as causas imediatas da guerra | 17O impasse militar: a guerra de trincheiras | 18As novas tecnologias e a guerra no ar e no mar | 19O desfecho da guerra | 20Conseqüências do conflito | 21

Revoluções socialistas e movimento operário | 25Os vários socialismos e suas origens | 25O movimento operário | 26A Revolução Russa | 28Outras revoluções socialistas | 29A social-democracia | 30

Modelos econômicos: o desenvolvimento do capitalismo | 33O taylorismo e o fordismo | 33A urbanização | 35A divisão internacional do trabalho | 37A crise de 1929 e as relações internacionais | 37

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 4: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Modelos econômicos: o desenvolvimento do comunismo | 41A nova sociedade socialista | 41A planificação e seus objetivos | 42A industrialização, urbanização e educação | 43A coletivização e o fim da propriedade privada | 44Economia, política e sociedade sob a ordem comunista | 45

Segunda Guerra Mundial | 47A ascensão do nazifascismo e do militarismo japonês | 47A mundialização do conflito | 48As novas tecnologias: a guerra no ar e no mar | 50O desfecho da guerra | 51Conseqüências do conflito | 53

Guerra Fria e bipolarização | 57Origens da Guerra Fria | 57A bipolarização e as superpotências | 58As guerras localizadas e a bipolarização | 60A Guerra Fria, a descolonização e o Terceiro Mundo | 61O fim da Guerra Fria | 63

Socialismo: seus limites e possibilidades | 65A economia planificada e seus êxitos | 65As limitações do planejamento centralizado e suas manifestações | 66As reações do autoritarismo soviético | 68A era da “estagnação” | 69O fim do socialismo | 70

Capitalismo: suas crises e superações | 73O estado do bem estar social (welfare state) e o keynesianismo | 73O fordismo como projeto de sociedade | 75As tensões e contradições do fordismo e do welfare state | 76Os excluídos do sistema e suas manifestações | 77O declínio e crise do fordismo e do keynesianismo | 78

Neoliberalismo, globalização e mundialização do capital no final do século XX | 81O choque do petróleo e suas implicações | 81A nova sociedade capitalista: a “acumulação flexível” | 82O “Estado mínimo” | 83O neoliberalismo e suas bases sociais e culturais de apoio | 84O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 5: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Terrorismo, guerras e conflitos | 87Historicidade do terrorismo | 87A questão palestina e o terrorismo | 88As guerras árabe-israelenses | 89Os grupos terroristas nos países do Primeiro Mundo | 90As guerras no Iraque e Afeganistão | 91

Economia e sociedade no século XXI | 95O fim da política | 95Os EUA como única super potência | 96A ascensão da China | 97O aquecimento global e os problemas ambientais | 98A questão demográfica | 99

Referências | 101

Anotações | 103

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 6: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 7: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

ApresentaçãoPrezados alunos,

Este livro refere-se à História Geral e abrange os séculos XX e XXI. Nele, estão

contidos os principais eventos, tendências e instituições que mais influência

exerceram sobre a conformação da sociedade na qual vivemos. Por se tratar

de uma síntese, espera-se que ele sirva como material de introdução ao estudo

da História Contemporânea e também como guia para aprofundamento dos

assuntos aqui tratados.

Pretende-se que o texto de cada capítulo seja inteligível em si mesmo.

Contudo, é indispensável não perder de vista que tanto o viver social quanto

o tempo histórico são um todo contínuo e indivisível e, se o dividimos

formalmente, é apenas para fins de estudo. O leitor deve atentar para as

diferentes durações dos fenômenos históricos e sociológicos aqui descritos, as

quais recorrentemente transcendem o conteúdo abarcado em cada capítulo.

Além disso, é indispensável não perder de vista que a disciplina de História

exige um constante exercício de erudição. É necessário, tanto quanto possível

e, na medida dos interesses de cada um, ler as obras completas, confrontar

os originais com as diferentes leituras que deles são feitas e tentar se manter

atualizado com os contínuos avanços da ciência da História. Como qualquer

outro campo do conhecimento, a História está em constante evolução no que

se refere à elaboração de novas interpretações e à descoberta de novas fontes

e registros.

Mais do que um conjunto de informações e conteúdos, a História é um

método de entendimento e interpretação da realidade. A História não é e nem

pretende ser apenas e tão-somente o estudo do que já se passou, ou o estudo do

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 8: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

passado. O que se pretende com este livro é contribuir para que o leitor desenvolva

uma forma de pensar historicamente o processo de constituição da sociedade na

qual vive e, desta forma, possa aperfeiçoar o entendimento dos fenômenos que lhe

são contemporâneos.

Dennison de Oliveira

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 9: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX

A predominância da EuropaO período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) é recorrentemente

descrito como sendo o do auge da predominância da Europa sobre o resto do mundo. Essa situação pode ser aferida a partir do exame de algumas variáveis, como o tamanho da sua população, seu po-der industrial, comercial, financeiro e o papel que diversos países do continente exerciam na prática do imperialismo.

Em 1913, a Europa contava com uma população de 460 milhões de indivíduos, o que representa-va 26% dos habitantes do planeta. Além de enorme, essa população aumentava continuamente, sendo os maiores crescimentos registrados nos grandes impérios da Europa Central: o russo (que aumentava em dois milhões de indivíduos a cada ano) e o alemão (mais 850 000 novos habitantes a cada ano). Além do expressivo crescimento demográfico da Europa, o continente também era perfeitamente capaz de contribuir, por meio da emigração, para o aumento da população dos novos países da Oceania e das Américas, que estavam em processo de colonização. Somente naquele ano, 400 000 italianos e 450 000 britânicos abandonaram a Europa rumo a países como Austrália, Argentina, Brasil, EUA etc.

Tendo sido o local de nascimento da Revolução Industrial (1760), a Europa, ainda no início do sé-culo XX concentra a maior parte do total das exportações mundiais de produtos industrializados (62%). Em contrapartida, é a maior importadora de alimentos, combustíveis e matérias-primas. Nos países mais desenvolvidos como a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França, estes produtos compõem entre 75% e 80% das suas importações. Também é na Europa, em especial na cidade de Londres, que se concentram a quase totalidade dos serviços financeiros de alcance mundial. Por exemplo, a contratação de fretes ma-rítimos, seguros navais, empréstimos internacionais, lançamentos de ações e constituição de novas fir-mas de alcance global são feitas quase que totalmente em algumas poucas cidades da Europa: Londres, Amsterdã, Antuérpia, Berlim e Paris.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 10: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

O volume de capitais investidos em países estrangeiros também é um indicador da preponderân-cia econômica e financeira da Europa. Do total de recursos investidos no exterior, 45% provém da Grã-Bretanha, 25% da França e 13% da Alemanha, em contraste com os EUA, responsáveis por apenas 5% do total. Além disso, o papel dos EUA como praça financeira tem um alcance restrito. Seus bancos e institui-ções financiadoras não tem atuação global, limitando-se à operações apenas nas Américas.

E ainda, o papel central desempenhado pela Europa nas relações internacionais é realçado pelo fato do continente ser sede das principais potências imperialistas. O maior destes impérios da época – ou de qualquer outra – sem dúvida era o britânico. Mas os impérios francês, russo, austro-húngaro, ita-liano e alemão também eram de enorme importância. Quase todos eles foram capazes de incorporar à sua administração extensas áreas na África, na Ásia e na Oceania, fazendo com que as questões relacio-nadas a essas regiões fossem discutidas e decididas em conferências e congressos na Europa. Esse as-pecto talvez seja o que melhor evidencia o papel central da Europa nas relações internacionais antes da Primeira Guerra Mundial.

Finalmente, cabe mencionar o papel da Europa enquanto centro de desenvolvimento e disse-minação de novas tendências artísticas e culturais. Data dessa época o auge da influência da Europa nessas esferas de atividade humanas, constituindo-se em referência na pintura, na literatura, no cinema etc.

Os EUA, a Alemanha e o Japão como potências emergentesO início do século XX é marcado por uma nova etapa na história da industrialização, cuja ca-

racterística principal é a disseminação dos processos industriais, quebrando o monopólio que a Grã-Bretanha exercia até então. Agora, ao lado dos britânicos, vários outros países, em ambos os lados do Atlântico norte, disputavam entre si o mercado mundial de produtos industrializados. Destes, os mais importantes são os EUA, a Alemanha e, secundariamente, a França, a Bélgica e a Holanda. Pouco tempo depois, o Japão também se lançou na competição industrial e, subseqüentemente, militar, com as na-ções mais desenvolvidas.

A disseminação da industrialização decorreu, na maior parte, da busca de novas oportunidades de lucro e de investimento britânicos. Ao longo de todo o século XIX, os britânicos – que já dominavam o mercado mundial de bens de consumo – transformaram-se numa grande nação exportadora de bens de capital1, vendendo ferrovias, máquinas para mineração, locomotivas, navios a vapor etc. para todo o mundo. Simultaneamente, investiam nos países da Europa e dos EUA, financiando por meio de emprés-timos a aquisição destes bens ou se associando aos empreendimentos locais na área de transportes, in-dústria, mineração, serviços públicos etc.

Em ambos os lados do Atlântico norte havia áreas propícias à industrialização que, se inicialmen-te se constituíam em mercados para os produtos britânicos, logo se converteram em seus concorrentes. Destas, as mais notáveis eram os EUA e a Alemanha. Ambos os países tinham populações enormes, em rápido processo de crescimento, constituindo-se em mercados internos interessantes para os empresá-rios industriais locais explorarem. Gradualmente, tornou-se disponível uma extensa rede de transportes

1 Bens de capital são aqueles empregados no processo produtivo, como equipamentos e máquinas, em oposição aos de consumo final, ou de consumo.

10 | História Contemporânea

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 11: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

11|Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX

a vapor, marítimos e terrestres, fazendo com que a produção e a distribuição de mercadorias fosse mui-to fácil e lucrativa. Além de que – e isso é particularmente notável no caso alemão – ambos países con-tavam com uma população com níveis baixos de analfabetismo e alto nível de instrução formal, o que favorecia e sustentava o aperfeiçoamento do processo produtivo e a busca de níveis cada vez mais al-tos de produtividade.

Finalmente, a imposição de tarifas protecionistas destinadas à taxação de produtos industriali-zados importados também serviu de estímulo para o investimento privado no setor. Assim, ao se ini-ciar o século XX, os EUA e a Alemanha já disputavam entre si a primazia industrial mundial da qual a Grã-Bretanha parecia se afastar cada vez mais. Dos dois países emergentes, eram os EUA que tinham as maiores vantagens comparativas. O tamanho da sua área e população permitia às empresas industriais operarem num enorme mercado interno, que propiciava economias de escala que não podiam ser rea-lizadas pelos seus concorrentes na Europa ou no Japão.

Do outro lado do mundo, o Japão, que até pouco tempo atrás mantinha seus portos fechados sem qualquer contato com o estrangeiro, passava por um acelerado processo de modernização. Esse processo se iniciou em 1868, com a restauração da centralização do poder político por parte da dinastia Meiji. A observação cuidadosa do processo de submissão da China às potências imperialistas foi assimi-lada pelos japoneses com apreensão. As elites dirigentes do Japão compreenderam que a menos que fossem fortalecidas as bases do poder nacional, por meio da criação de indústrias capazes de sustenta-rem e manterem aparelhadas as forças armadas, o Japão seguiria o caminho da China, tornando-se ele próprio uma colônia informal das potências ocidentais.

Para atingir seus objetivos, o governo japonês se esmerou em copiar as instituições ocidentais, adotando um programa que é recorrentemente descrito como sendo uma “modernização conserva-dora”, isto é, um esforço para atualizar o setor produtivo e as forças armadas com pouca ou nenhuma transformação social, em particular aquela que pudesse ameaçar o poder estabelecido (liberdades po-líticas, democratização da propriedade, instauração de um governo laico etc.) Apesar do enorme custo social, o programa de modernização japonesa foi, em grande parte, cumprido: ao se iniciar o século XX, o Japão contava com transporte, comunicações e um parque industrial capaz de equipar e manter em estado de eficiência seu exército e marinha de guerra.

Já ao final do século XIX, os japoneses empreenderam guerra contra a China a fim de obter o mes-mo tipo de vantagens comerciais de que já gozavam as potências européias. Em 1905, o Japão iniciou e ganhou uma guerra contra o Império Russo, fazendo valer suas pretensões territoriais sobre territórios que os russos ambicionavam na China e na Coréia. Tratou-se, enfim, do único país não-ocidental que foi capaz de passar da condição de candidato à colônia para a de sede de um império ultramarino colonial. Com o passar do tempo, contudo, suas pretensões coloniais fatalmente entrariam em rota de colisão com os demais países imperialistas.

A Segunda Revolução IndustrialAo final do século XIX e início do XX, assiste-se a uma notável mudança nas bases tecnológicas e

energéticas que até então vigiam no processo de industrialização, bem como na aplicação da ciência e tecnologia aos processos econômicos, a qual ficou conhecida como a Segunda Revolução Industrial.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 12: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Novas matrizes energéticas e novas tecnologias produtivas estavam sendo descobertas e adota-das. A Revolução Industrial na sua origem (1760) foi baseada na tecnologia da máquina a vapor, geral-mente queimando carvão ou lenha para obter a pressão necessária ao seu funcionamento. Ao fim do século XIX, essa tecnologia e sua respectiva matriz energética serão complementadas, em alguns casos substituídas, pela generalização do uso dos motores elétricos e à explosão. Ganham destaque, conse-qüentemente, as atividades econômicas relacionadas à produção e distribuição de eletricidade e dos derivados de petróleo.

Para além das mudanças tecnológicas e da matriz energética, assiste-se também ao surgimento de um número considerável de novas atividades produtivas, resultado da aplicação cada vez maior e mais ampla das descobertas científicas à produção econômica. O processo é mais notável na indústria química, responsável pelo desenvolvimento de novos produtos como corantes artificiais, fertilizantes, alimentos industrializados etc. Mas também foi muito importante para o ramo do entretenimento, com o surgimento da primeira diversão de massas da era moderna, o cinema. Da mesma forma na metalur-gia, com a oferta de novas ligas metálicas que tornaram a bicicleta e o fogão a gás produtos de amplo consumo popular. Podem-se citar também a indústria elétrica, responsável pela ampliação do consumo de telefones, lâmpadas, eletrodomésticos etc. Tais mudanças é que levam vários estudiosos a designa-rem o período como sendo caracterizado por uma Segunda Revolução Industrial.

A Segunda Revolução Industrial também teve impacto sobre as formas de organização da indús-tria e da concorrência. De fato, o estabelecimento de unidades produtivas dedicadas à fabricação dos novos produtos demandava um volume mais substancial de capital e dependia de um prazo de matu-ração dos investimentos muito maior. As exigências de um volume consideravelmente maior de capital para o financiamento dos novos setores produtivos acabou por se constituir numa barreira de entrada nesses novos ramos de negócio que poucas empresas eram capazes de superar. Assim, é possível afir-mar que a Segunda Revolução Industrial tinha uma tendência muito mais forte à concentração da pro-priedade, sob a forma de cartéis, trustes e monopólios, do que a sua antecessora do século XVIII. Mais ainda, a necessidade de um maior montante de capital para iniciar e sustentar os novos setores produti-vos fez aumentar a dependência das indústrias em relação aos bancos e outras instituições financeiras. Essa dependência fazia com que, recorrentemente, os bancos acabassem por se tornar sócios importan-tes dos novos empreendimentos industriais chegando, no limite, a serem seus verdadeiros controlado-res. Essa tendência foi tão marcante que podemos nos referir a este período como sendo marcado pela superação do capitalismo industrial pelo capitalismo financeiro.

O imperialismoAs relações internacionais nos anos compreendidos entre 1875 e 1914, período anterior à Primeira

Guerra Mundial, foram marcadas pela anexação de extensos territórios na África, Ásia e Oceania por par-te das potências européias e, em menor grau, pelos EUA e Japão. Praticamente toda a África, a Oceania e as ilhas do Oceano Pacífico passaram formalmente à condição de colônias submetidas à soberania de algum dos países europeus mais avançados. Os maiores impérios ultramarinos certamente foram, por ordem, os da Grã-Bretanha, da França, da Alemanha, da Itália, dos Eua e do Japão. Destes, o maior era, de longe, o da Grã-Bretanha. Sob a autoridade da Grã-Bretanha, vivia um quarto da população mundial, espalhada por todos os continentes. O segundo maior império era o francês, que abrangia extensas áre-

12 | História Contemporânea

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 13: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

13|Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX

as pouco povoadas da África e da Ásia. Os impérios alemão e italiano eram muito menores, resultado da chegada tardia de ambos à assim chamada “corrida imperialista”.

Ao lado da ocupação formal destas áreas, o imperialismo também foi praticado nesse período de maneira informal. Nesses casos ficava clara a hegemonia exercida pela potência imperialista sobre áre-as que, embora formalmente independentes, ficavam submetidas na prática às suas determinações. Os casos mais evidentes deste imperialismo informal e seu correspondente contraste com a sua versão formal certamente é o norte-americano. Depois de uma curta e vitoriosa guerra contra a Espanha ao fim do século XIX, os EUA tomaram para si as Filipinas e uma pequena parte de Cuba – a Península de Guantánamo – como suas colônias. Por outro lado, no período compreendido entre 1895 e 1917, as for-ças armadas dos EUA intervieram em praticamente todos os países da América Central e do Caribe, em-bora estes fossem, formalmente, nações independentes. Em todas estas intervenções, a motivação era a mesma: garantir a integridade e a segurança dos investimentos e propriedades dos cidadãos norte-americanos naqueles países.

O país que foi o alvo mais recorrente das ações do imperialismo informal foi, certamente, a China. Mergulhada na anarquia de uma guerra civil desde o fim do século XIX, a China não tinha um governo central e nacional minimamente eficaz, o que a tornou incapaz de deixar de se submeter a todo tipo de exigências e acordos ruinosos que lhe foi imposto por europeus, norte-americanos e, mais tarde, ja-poneses. A divisão daquele país em diferentes “áreas de influência” entre as potências capitalistas só foi rompida a partir de 1931, com a tentativa dos japoneses em tomar para seu império todo território chi-nês.

A ocorrência simultânea da Segunda Revolução Industrial e da corrida imperialista suscitou incon-táveis debates sobre a possível inter-relação entre esses dois fenômenos. Para os indivíduos que se iden-tificavam com a orientação teórica desenvolvida por Karl Marx, tais como Lênin e Rosa Luxemburgo, o imperialismo era um resultado direto das contradições do capitalismo. Fosse devido à queda da taxa de lucros de empresas capitalistas, segundo Lênin, ou devido ao caráter limitado dos seus mercados inter-nos, de acordo com Rosa Luxemburgo, o fato é que as potências do capitalismo industrial só poderiam sustentar seu ritmo de crescimento apelando para a aquisição de colônias. Tais colônias se constitui-riam tanto em um novo e ampliado mercado consumidor cativo quanto ofereceriam novas e exclusivas oportunidades de investimentos nas áreas de mineração, transportes, serviços públicos urbanos etc. A disputa pelas áreas passíveis de serem anexadas teria levado, ainda segundo Lênin, a diversos conflitos entre as potências capitalistas. Nesses conflitos, incluiriam-se tantos os choques de fronteiras nas colô-nias quanto a Primeira Guerra Mundial.

Inversamente, intelectuais identificados com a defesa das virtudes do capitalismo, a partir de uma orientação teórica liberal, refutavam a existência de qualquer nexo entre a corrida imperialista e a Segunda Revolução Industrial. Destes pensadores, os mais importantes foram Veblen e Schumpeter. Segundo eles, a corrida imperialista e a própria Guerra Mundial teriam sido resultado de iniciativas das elites dirigentes do Estado que, assim agindo, pretendiam realizar objetivos que nada tinham a ver com o capitalismo, mas com a conservação do seu próprio poder político. Para estes autores, eram elemen-tos de origem nobre, cujas fontes de poder econômico eram a renda obtida pela propriedade fundiária urbana e rural, que definiam e executavam – em associação com alguns poucos empresários privados – as políticas coloniais. Agindo desse modo atuavam de forma oposta ao do conjunto de interesses dos empresários capitalistas, interessados fundamentalmente na quebra e no abandono de todas barreiras ao livre comércio e o fim das restrições que os monopólios coloniais impunham ao mercado mundial.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 14: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

O debate entre autores de orientação marxista e liberal continua em aberto, sendo uma ou outra orientação teórica mais ou menos convincente, dependendo do caso em exame. As considerações de or-dem econômica parecem ter sido as mais relevantes no caso britânico. De fato, era graças ao enorme su-perávit comercial com a sua mais importante colônia – a Índia – que os britânicos conseguiam superar algumas das suas maiores dificuldades no balanço de pagamentos. Já no caso francês e alemão não pare-cem ser predominantes as motivações afetas à superação de conflitos e às contradições inerentes à ordem capitalista. Nesses casos, o reforço ou a conquista de posições estratégicas em escala global, o uso da con-quista imperial como fator de reforço do prestígio político dos governantes, ou ainda, como elemento de reforço da lealdade dos cidadão ao regime, parecem ter sido as motivações mais importantes.

A corrida imperialista foi marcada por todo tipo de violências e abusos contra as populações sub-metidas. O relato dos crimes do imperialismo é extenso e provavelmente continuará a ser ampliado. Além disso, a imposição da autoridade colonial trouxe consigo também um choque cultural, derivado da imposição de valores e práticas culturais dos colonizadores sobre os colonizados. Na sua forma mais suave, esse processo resultou na “ocidentalização” dos costumes locais e, na sua versão mais agressiva, na pura e simples destruição das formas tradicionais de organização da vida coletiva e da produção de bens simbólicos.

As forças da tradição e da transformaçãoO século XX é marcado em escala mundial pela modernização. Tal processo é entendido como

um conjunto de transformações históricas que ocorre em três diferentes níveis: a superação da econo-mia agrícola pela industrial; da sociedade rural pela urbana; e da universalização dos direitos e prerro-gativas individuais em relação ao poder público. Esses processos tiveram início ao fim do século XVIII com as Revoluções Industrial e Burguesa. A primeira deu início à perda de importância das atividades rurais em relação às industriais; a segunda à superação do Estado absolutista e das relações feudais de produção pela democracia política e as relações capitalistas de produção. Ao se iniciar o século XX pa-recia que estas transformações estavam prestes a se concluírem, mas na prática seriam necessárias ain-da muitas décadas para tal.

É importante reconhecer que a modernização jamais operou de forma contínua ou linear, muito embora elementos de diferentes orientações teóricas acreditassem sinceramente que isso de fato ocor-ria. Tratava-se dos partidários da noção de progresso, muito influentes na virada do século XIX para o XX. Segundo eles, os avanços da ciência, da técnica e do conhecimento humano em vários níveis estariam conduzindo a um contínuo aperfeiçoamento de todas as esferas de atividade humana. Ao fim e ao cabo deste processo, a humanidade se veria livre de todas as restrições ao seu bem estar material e moral, go-zando de paz e felicidade permanentes.

14 | História Contemporânea

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 15: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

15|Introdução: o mundo ao alvorecer do século XX

Pelo menos nos países mais desenvolvidos, os substanciais avanços obtidos até então haviam permitido um enorme aumento da produtividade, garantindo à maioria das pessoas um mínimo que lhes permitisse sobreviver. A descoberta, e posterior industrialização das vacinas, permitiram a erra-dicação de uma série de doenças que, até bem pouco tempo, seriam capazes de ceifar a vida de mi-lhões de pessoas. A invenção de máquinas e equipamentos de transporte (locomotiva, automóvel, aeronaves etc.) e comunicações (telégrafo, cabos submarinos, telefone etc.) prometia anular a restri-ção que as longas distâncias sempre impuseram ao desenvolvimento das trocas comerciais, científi-cas e culturais entre os povos.

Porém, deve-se levar em conta que a tendência à instauração de uma sociedade moderna opera-va de forma muito mais gradual do que se supunha e, mais ainda, contra ela operavam forças que visa-vam à preservação de elementos centrais na conjuntura anterior àquelas duas revoluções. Se pouca ou nenhuma restrição havia ao avanço do conhecimento e ao cada vez maior domínio do homem sobre a natureza, o mesmo não ocorria no que se refere à extensão dos direitos dos cidadãos frente ao Estado e à instauração de uma forma de governo que permitisse uma maior participação popular nas questões políticas. Mesmo na Europa, por exemplo, predominavam regimes monárquicos, formalmente de orien-tação parlamentarista. Mas o poder desses parlamentos frente aos monarcas e a própria forma pela qual se definia quem podia votar ou ser votado variava enormemente.

Via de regra, os regimes monárquicos tinham – exceto na Grã-Bretanha – uma enorme prevale-cência sobre as assembléias eleitas. No caso extremo – o russo – o parlamento (“Duma”) tinha uma exis-tência puramente formal, quase o mesmo se verificando no autoritário império alemão. Na França e na Itália, a instabilidade e pouca duração dos gabinetes parlamentares é que acabava reforçando a autori-dade do poder executivo – do presidente num caso e do rei no outro. Em qualquer cenário, inexistia o direito universal de votar e ser votado. Restrições ao voto das mulheres, dos analfabetos ou dos que não possuíam idade ou renda suficiente, para não mencionar a fraude pura e simples na criação de obstá-culos ao registro dos eleitores, limitavam grandemente o caráter “representativo” dos políticos eleitos. E mesmo estes quase que obrigatoriamente deveriam ou ser pessoas de muitos recursos, ou apelariam para a corrupção para se manterem, já que inexistia remuneração pelo exercício dos cargos eletivos. Essa situação só será revertida – por exemplo – na Inglaterra, em 1917. No geral, será necessário o duplo impacto da crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial para que o processo de modernização política, iniciado com as Revoluções Burguesas do século XVIII, finalmente chegue à sua conclusão lógica.

Também a transformação da economia de base agrícola pela industrial e da sociedade rural pela urbana só se efetivará no segundo pós-guerra, ainda assim não em todos os países desenvolvidos e, com muito mais lentidão, nas nações periféricas. No caso brasileiro, por exemplo, é somente em 1953 que o valor da produção industrial finalmente alcança a agrícola; e apenas em 1973 a soma da popula-ção urbana ultrapassa a rural. Finalmente, em 1989, é que o país adota o princípio da eleição direta para todos os cargos públicos baseado no voto universal.

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

Page 16: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA - videolivraria.com.br · O fim do socialismo, o desenvolvimento das comunicações e a era da globalização | 85 Esse material é parte integrante do Videoaulas

Atividades1. Sintetize as características comuns aos EUA e à Alemanha ao final do século XIX e início do XX que

permitiram a industrialização desses países.

2. Descreva de que forma se deu a modernização do Japão a partir da segunda metade do século XX.

3. Aponte as diferenças mais marcantes entre a Primeira e a Segunda Revoluções Industriais.

Dicas de estudoO debate historiográfico mais relevante deste período é relativo ao peso político que as elites

de origem nobre ainda exerciam em relação à burguesia industrial. É de grande valia para o estudante a leitura completa de duas obras, contendo interpretações antagônicas sobre a questão. Recomenda-se fortemente a leitura do livro de Eric Hobsbawn (A Era dos Impérios) em contraste com o traba-lho de Arno Mayer (A Força da Tradição). A leitura consecutiva destes dois livros permitirá ao aluno perceber de que forma diferentes orientações teóricas esposadas por autores diversos conduz a resultados antagônicos.

16 | História Contemporânea

Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br