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História da Política Externa Brasileira sábado, 16 de julho de 2011 13:47 História P Externa Brasileira Page 1

História da Política Externa Brasileira

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História da Política Externa Brasileirasábado, 16 de julho de 2011

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A Conquista e o Exercício da Soberania (1822-1889):

Um novo ator em um mundo dinâmico: ao menos quatro variáveis de natureza estrutural e histórica iriam condicionar a elaboração e a execução da política externa brasileira: 1) o jogo das forças que compunham o sistema internacional e os objetivos dos Estados dominantes; 2) a inserção do continente americano nesse sistema; 3) a herança colonial brasileira; 4) o precoce enquadramento luso-brasileiro no sistema internacional vigente, via a "aliança inglesa".

a)

A sociedade internacional europeia atingia a maturidade em um sistema de hegemonia coletiva, poderosa força de expansão coletiva dos interesses europeus sobre a periferia do mundo (e.g. a Tríplice e a Quádrupla Aliança). A Inglaterra triunfa no Mediterrâneo e na América Latina (onde não havia pretensão por parte da Santa Aliança). Todos os receios de ameaças por parte da Santa Aliança aqui no Brasil foram ilusórios. Também não havia condições de Portugal ou Espanha reconquistar suas ex-colônias e nem mesmo a Santa Aliança usaria suas forças para restabelecer o antigo regime de duas antigas potências. A ilusão de ameaça, construída pelos ingleses, foi usada para garantir acesso ao mercado latino-americano pós-independência.A política externa deste período, então, não soube avaliar a situação internacional vigente e cedeu às pressões inglesas (Cervo diz que o Brasil poderia muito bem resistir a qualquer pressão externa com a ajuda de milícias e que Portugal não teria condições de tentar impor nada ao Brasil - não sendo necessário ao Brasil arcar com sua dívida, nem prometer não ajudar as outras colôniasportuguesas em seu processo de independência). Estava completamente condicionada pela hegemonia inglesa. O ápice, que pode servir de exemplo, foi a renegociação do Tratado de 1810 (primeiramente negociado com Dom João VI): a renegociação deste tratado (que dava enorme preferência aos produtos ingleses com uma taxação baixa), agora com vigência até 1842, fez com que Dom Pedro I angariasse o desgosto das elites brasileiras. Esta renegociação seriviu de modelo para todos os países da América Latina com comércio com os ingleses. É bem verdade que a invasão da Caiena e da Banda Oriental foram reações de Portugal a este tratado e ao tratamento humilhante dado ao Brasil pelos ingleses.Pressões e metas nacionais: a política externa brasileira foi um conjunto: da herança do sistema político do Estado bragantino, de um novo sistema internacional com o advento da Revolução Industrial, das forças reacionárias da Santa Aliança e do conhecimento internacional acumulado pela Corte desde 1808.

b)

A Constituição de 1824 definiu ao Executivo as atribuições quanto às relações internacionais, reservando ao Legislativo parcela restrita de responsabilidade neste terreno (como a aprovação de tratados que envolvessem cessão ou troca de territórios).1822-1828 (período significativo para a Independência): a) rompimento, político, jurídico e econômico com Portugal; b) guerras de independência; c) iniciativa para obtenção do reconhecimento da independência; d) concessões feitas aos interesses estrangeiros.O reconhecimento da Independência: Reino Unido arvorou-se em tentar defender os interesses portugueses e manter a fidelidade daquele Estado. Os Estados Unidos foram mais práticos, visando seus interesses políticos e econômicos, desistindo de se opor à forma monárquica de governo ao invés da republicana. A maior parte das colônias portuguesas esforçaram-se para vincular-se politicamente ao Brasil. Bolívar pretendeu arquitetar um projeto de integração política e econômica do continente a ser definida no Congresso do Panamá de 1826. Os dois últimos tópicos não obtém resultado.Em Suma: a) a independência brasileira não esteve em perigo sério desde sua proclamação; b) a luta do governo brasileiro para obter seu reconhecimento formal se explica mais pelo infundado temor em perder sua independência do que pela necessidade política; c) os interesses econômicos e políticos mundiais (ao menos os mais poderosos) inclinavam-se para a sustentação do novo governo, o que daria ao Brasil mais margem para manobra; d) mas o reconhecimento a qualquer custo foi um grave erro estratégico, gerando grandes concessões brasileiras.Assim, a diretriz da política externa brasileira em seu início foi o de obter o reconhecimento da nova nação a qualquer custo. Mas foi conduzido de tal forma que os interesses brasileiros ficaram imobilizados até 1844 - com o fim do Tratado de 1810.Outras preocupações da política externa brasileira: sustentar a monarquia constitucional num continente republicano; interferências externas na Revolta de Pernambuco; guerra na Banda Oriental; incorporação de Chiquitos (na Bolívia) por decisão de autoridades locais de Mato Grosso. O expansionismo no Sul foi mais uma herança portuguesa do que uma meta da política externa brasileira.

A política externa à época da Independência:

I Reinado, Regências e II Reinado *quarta-feira, 20 de julho de 2011

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brasileira.Obejtivos quanto à Europa: atender à necessidade da economia agrária; abrir o mercado europeu aos produtos nacionais; obstar o fim do tráfico de escravos; proteger a navegação nacional; obter empréstimos face às despesas das guerras de independência e das missões diplomáticas.

Dom João solicita o intermédio inglês para recobrar o prestígio interno em Portugal. Os ingleses foram dracônicos: Portugal everia reconhecer por ato próprio a independência e o Brasil deveria reconhecer a mediação inglesa para obter o reconhecimento inglês; além disso, o Brasil deveria manter o tratado de 1810 até a sua renovação.

O Brasil teve de ceder em 4 pontos: associar D. João ao título imperial; aceitar uma independência outorgada livremente por Portugal; prometer não se unir às colônias portuguesas da África; e pagar 2 milhões de esterlinas pelo reconhecimento.

Política Inglesa para o Brasil (formulada por George Canning): o reconhecimento devia preservar a Coroa para os Braganças e deveria ser mantida a monarquia no Brasil. Portugal deveria aceitar a independência como fato consumado.

Fase Portuguesa: Pré-Condição: todo o movimento de independência foi feito internamente, sem algum recurso externo. Mesmo a guerra de independência foi financiada com recursos internos e sua dívida recairia no BB (que seria extinto em 1829). Efeitos da guerra: consolidação da soberania, união das províncias, substituição dos governos coloniais por assembleias brasileiras, confisco de propriedades portuguesas. O Exército e a Marinha eram comparáveis, se não superiores aos dos Estados Unidos. Houve, por outro lado, a permanência de uma política externa portuguesa no Brasil, ou seja, disposição de ceder favores e benefícios para apressar o recebimento de benefícios, no caso o reconhecimento.

Fase inglesa: a política externa de 1808 representava uma ruptura na linha dos privilégios concedidos à Inglaterra pela aliança tradicional desde 1703 (Methuen). Já o projeto inglês postulava privilégios enquadrados em 1810 e colocando o Brasil sob sua supremacia. Princípios ingleses: comércio favorecido; reciprocidade fictícia; extinção do tráfico de escravos; extraterritorialidade para seus súditos.

Não há evidência de pressão das elites sobre o processo decisório, de tal modo que a dependência foi antes de tudo uma decisão de Estado, vinculada aos interesses ingleses e não aos brasileiros. O Tratado de amizade, Navegação e Comércio de 1827 era válido por 15 anos e era uma adaptação das concessões feitas em 1810 aos novos avanços do capitalismo inglês. Para Dom Pedro I, os tratados trouxeram a antipatia nacional, a revolta do Parlamento e sua queda em 1831.Fase Ocidental: para o Brasil não conseguir abrir muito o seu mercado, a Inglaterra impôs os tratados de 1810 e 1827. Uma das primeiras medidas para acabar com o privilégio inglês foi equalizar os direitos de todos os produtos importados em 1828, independente da procedência. Assim, o Brasil abre-se à concorrência do capitalismo industrial, com o sacrifício dos instrumentos internos de defesa.

O enquadramento brasileiro no sistema capitalista na condição de dependente: houve três fases para a integração: a portuguesa, a inglesa e a ocidental.

c)

Nota sobre o fim da guerra cisplatina: após algumas importantes vitórias dos argentinos e orientais, dado o impasse em terra, o bloqueio naval brasileiro, os altos custos para os beligerantes da continuação da guerra, a pressão britânica para que um acordo fosse firmado, além da precariedade militar e política dos países em conflito, a paz começou a ser negociada, com a mediação da França e da Grã-Bretanha. Desse modo, o Império do Brasil e a República das Províncias Unidas do Rio da Prata, pela Convenção Preliminar de Paz, assinada no Rio de Janeiro, renunciaram às suas conquistas e reconheceram como Estado independente a Província Oriental, que passou a se chamar República Oriental do Uruguai. A perda da Província Cisplatina

A zona de pressão platina: D. João já possuía um projeto de construir um império americano (incluindo Buenos Aires e Montevidéu). Em 1825, agravam-se as tensões entre Buenos Aires e Rio de Janeiro após a reincorporação da Cisplatina pelas Províncias Unidas do Rio da Prata após o Congresso de Flórida (determinando a independência da Província da Cisplatina do Brasil). Isto leva à primeira das guerras das Questões Platinas (são elas: Guerra da Cisplatina; Guerra do Prata; Questão Uruguaia; e Guerra do Paraguai) e ao bloqueio naval imposto pelo Brasil às Províncias Unidas do Rio da Prata. A Inglaterra não intervém pois não tinha nenhum interesse no Uruguai, o que queria era o fim da guerra e a volta do comércio. O Uruguai emerge por vontade própria como nação independente: RJ e BA cedem em 1828: assegura-se, além da independência da Banda Oriental, a livre navegação do Prata.

O espaço das relações periféricas: a política externa brasileira movia-se em duas zonas de pressão e em aberturas nas periferias. Zonas de pressão: Europa e região do Prata; espaços periféricos:americanismo (monroísmo e bolivarianismo), relação com os Estados Unidos, a possibilidade africana, a utilidade paraguaia e os contatos com os países latino-americanos.

d)

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passou a se chamar República Oriental do Uruguai. A perda da Província Cisplatina foi um motivo adicional para o crescimento da insatisfação popular com o governo de D. Pedro I. Na realidade, a guerra era impopular desde o início, pois para muitos brasileiros representava aumento de impostos para o financiamento de mais um conflito - perdido.

Bolívar: idealista; buscava construir um sistema americano como modelo universal, livre, unido e independente. Reuniu o Congresso de Panamá (1826), para criar um ordenamento jurídico supranacional.

Monroe: restringiu-se a uma declaração de intenções, de que os Estados Unidos não iriam intervir em questões europeias estes não deveriam intervir na América.

O fracasso de ambos foi geral (apesar da retórica). Para os ingleses, estava afastada qualquer possibilidade de uma liga americana e o continente partia-se, vulnerável à sua influência política.

A abertura dos portos de 1808 foi o ponto de partida do interesse estadunidense pelo Brasil. Mas, apesar do comércio, havia desconfiança de ambos os lados, o que impedia a utilização dos Estados Unidos pelo Brasil como barganha com a Inglaterra.

As colônias portuguesas da África, à época da independência, estavam mais ligadas ao Brasil que a Portugal. O comércio bilateral era intenso até 1825, quando foi imposto ao Brasil maior distanciamento em relação à África.

Paraguai: ponto de interesse comum: autonomia política paraguaia de Buenos Aires. Chegou a ser um dos pontos principais de Dom João VI - após o interesse em relação ao Uruguai começar a declinar. Com o Paraguai as relações eram com mais vistas aos interesses de ambos os lados que correspondente à política de boa vizinhança.

Com os outros países as relações foram mínimas (Peru, Chile e Grã-Colômbia) e, às vezes, inexistentes.

Missão Duarte da Ponte Ribeiro (1829-1832): passa por vários países vizinhos no Norte (por mar e rios), para documentar as regiões e examinar as fronteiras. Extremamente importante para as negociações de fronteiras. Ele também reintroduz nas negociações de limites o princípio do uti posseditis (de facto e não de juris como queriam as nações sul-americanas).

As aberturas periféricas: americanismo: vertente desta época, mas com efeitos quase nulos. As mais fortes foram o monroísmo (1823) e o bolivarianismo (1826). O americanismo brasileiro teve dois momentos: 1) José Bonifácio (1822-1823), para defender a Independência; 2) reação parlamentar em 1828 em relação ao tratado com a Inglaterra.

Conclusão: a política externa brasileira à época da independência foi o instrumento com que se viabilizou a subordinação nacional ao esquema de desenvolvimento capitalista desigual. As decisões políticas que regularam as relações externas por meio do sistema de tratado não foram consentidas pelas elites. Ao contrário, desencadeou-se ali, nos anos de 1827 e 1828, uma verdadeira tempestade contra o governo e seus ministros, acusado de haverem sacrificado o interesse nacional de todas as formas. O sistema de tratados resultou, segundo o pensamento parlamentar, de uma disposição injustificável do governo de mendigar o reconhecimento da nacionalidade. As concessões extrapolavam os limites da racionalidade política, sacrificando o comércio nacional, a navegação, o direito dos cidadãos, a indústria, a soberania; também os tratados legislavam sobre assuntos internos (como o fiscal e o criminal), restringindo ainda mais o Parlamento; além de instituir uma reciprocidade falsa, igualando nações desiguais, que eliminavam também qualquer forma de reciprocidade. Não foram favoráveis nem à agricultura, pois os produtos brasileiros eram taxados livrementes, enquanto que aqui possuíam taxa fixa de 15%. Em suma, os tratados impuseram o liberalismo ao Brasil, mas salvaguardavam a proteção necessária ao trabalho nas economias avançadas. O Parlamento não se opunha ao liberalismo, mas o tinha como uma ideologia das nações avançadas e não como um meio prático em termos econômicos para o Brasil. A decisão de 1828, não foi contra o liberalismo - o Brasil destrói os privilégios ingleses ao ampliá-los a todos os países -, foi um modo prático de aumentar a oferta externa, baixar os preços, aumentar o quantum da importação e a receita fiscal . Havia, em suma, uma percepção de que se matava o comércio lícito brasileiro e os germes da industrialização. Com relação à política platina, o Parlamento esteve coeso e unânime em apoiar os recursos para a guerra, mas os resultados deixaram-nos descontentes, enfraquecendo o Imperador. Pontos importantes: a) o Estado brasileiro cindiu-se diante das concessões externas; b) estas não foram ditadas pela defesa dos interesses do grupo hegemônico interno; c) o Parlamnto, que representava as elites, foi radicalmente contra; d) não houve reciprocidade por parte dos ingleses e nem troca de favores; e) Dom Pedro I demitia sistematicamente os negociadores que possuíam posições nacionalistas. A sociedade foi alijada das decisões e o governo mantinha uma visão unilateral do que seriam os interesses da Nação - neste caso, o reconhecimento. A ampliação do mercado externo e setores de modernização tiveram que buscar seus espaços após a saída de Dom Pedro I. Se a política externa deste período foi nociva à Nação, pelo menos serviu ao Estado, fornecendo-lhe, pelo reconhecimento internacional, uma legitimação que internamente o governo

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fornecendo-lhe, pelo reconhecimento internacional, uma legitimação que internamente o governo perdia, especialmente com a dissolução da Constituinte, com o retorno do partido português e com o autoritarismo de Dom Pedro I - este, deste modo, consegue obter a legitimação que pretendia e garante a unidade do Estado monárquico. Desde o início, o Estado brasileiro deu provas de autonomia em relação à sociedade ao fazer política por interesse próprio ao invés do interesse nacional.

1831: Dom Pedro I abdica.Regências: política externa: o significado da evolução institucional não deve ser procurado no embate entre os partidos Liberal e Conservador, mas no processo de fortalecimento do Estado nacional. Tanto liberais quanto conservadores irão valer-se das condições desse fortalecimento para reordenar a política externa em função de uma percepção mais abrangente do interesse nacional.1831: todos os tratados devem ser aprovados pela Assembleia antes da ratificação. Esta lei cai com a maioridade em 1840, ficando esta atribuição com o Conselhor de Estado.1842: primeira regulamentação do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Tráfico de escravos: apesar da pressão inglesa o tráfico de escravos continua (era para ter acabado em 1830, de acordo com o tratado de 1827), pois: a) a opinião pública era-lhe favorável; b) além dos brasileiros, participavam do tráfico portugueses e estadunidenses todos visando o grande lucro deste tipo de comércio; c) o governo nega-se acabar com o tráfico pois não queria parecer subserviente à Inglaterra. Duas comissões mistas foram criadas, nos termos do tratado de 1827, para julgas as embarcações que traficavam escravos: uma em Serra Leoa e outra no RJ. A primeira julgava mesmo sem juízes brasileiros presentes; Palmerstone e Aberdeen estavam decididos a acabar com o tráfico. Os atritos entre os governos multiplicavam-se.

De tudo isto, foi tirada a lição de que era preciso resistir de forma concreta à prepotência das grandes potências e sobretudo não mais pactuar com elas, forja-se a percepção de um interesse nacional.

Até 1844, o Brasil possuía uma posição internacional desfavorável: era submetido à diplomacias arrogantes, buscava administrar o imobilismo, as baixas tarifas prejudicavam o Tesouro nacional (cuja maior fonte de renda eram as importações) - o único superávit era com os Estados Unidos. Mesmo cedendo às exigências externas, o Brasil recebia poucos empréstimos; além disso sofria fortes ameaças: em relação à extinção do tráfico de escravos e em relação à pressão pelas indenizações pelas presas feitas à época do bloqueio do Prata pelo Brasil (especialmente em relação às embarcações estadunidenses e francesas - a reparação foi imposta pela Inglaterra).

Com a ameaça de guerra por parte de Rivera (Uruguai) ao tentar ampliar seu poder político e seu território, Rosas vê-se novamente defrontado com a necessidade de se aliar ao Brasil (que também tinha seus interesses ameaçados por Rivera). Faz o Brasil ratificar um tratado no qual o Brasil interviria no caso de uma guerra contra o Uruguai. Depois Rosas não ratifica o tratado e nega o auxílio brasileiro. Com isso, Rosas consegue afastar o Brasil dos negócios platinos e afasta também o perigo de uma intervenção europeia (Inglaterra e França) . Rosas ganha a guerra, recoloca Oribe no poder e mantém a neutralidade brasileira .

Isso leva o Brasil a crer que não havia meios de se confiar em Rosas, especialmente em relação a metas concretas comerciais e de políticas; agora o Brasil busca a França e a Inglaterra como perceiros e tenta reativar os contatos com o Paraguai - já então livre do isolamento imposto por Francia.

A neutralidade brasileira nos conflitos da Bacia Cisplatina foi resultado de dois fatores: um era o pouco caixa que o governo brasileiro possuía, limitando seu raio de ação; outro fator foi imposto de fora: os governos platinos isolavam o Brasil quando estavam em posição de força (quando precisavam de apoio, recorriam ao Império). Mas quando Rosas impõe um bloqueio comercial e naval sobre o interior (cortando as comunicações com MT), o Brasil resolve agir temendo a reconstrução do Vice-Reino da Prata por parte de Rosas: o Brasil correu para concluir o tratado definitivo de paz, previsto pela convenção de 1828; assegurar a livre navegação e o comércio regular com a Argentina, definir os limites com o Uruguai e pacificar o Rio Grande do Sul.

Nova fase: caracteriza-se por uma transição entre a política de submissão e de erros de cálculo da época da Independência e a política de afirmação nacional iniciada em 1844. O discurso nesta época começa a crescer em 1827 e tem como base a avaliação crítica da política externa: vê-se

Administrando o imobilismo: a partir de 1828, e até 1844, o Brasil via-se preso por um sistema de tratados desiguais que fixou as regras do jogo nas relações com a Europa e com os Estados Unidos, enquanto a convenção com Buenos Aires dispunha no mesmo sentido no lado do Prata. Por um lado, a política externa se movia no respeito às regras e nesse sentido era predeterminada e não autônoma; o Brasil somente administrava a dependência; por outro lado, começa uma reação lenta, vigorosa no plano do discurso crítico, mas com poucos resultados concretos; essa linha preparava, no entanto, a fase de autonomia da política externa, que iria inaugurar em 1844.

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que: deve-se destruir o sistema de tratados e obstar sua renovação; eliminar os privilégios aos estrangeiros residentes no país; obter autonomia alfandegária; eliminar a influência externa sobre o processo decisório. O governo entende a hipocrisia do sistema de tratados desiguais e vê sua contradição (esta era a de manter a desigualdade e, ao mesmo tempo, de ordenar seu conflito).

Em 1842, do sistema original do Primeiro Reinado, restava em vigor apenas o tratado inglês, mas que foi prorrogado até 1844 através de uma cláusula no tratado que permitia sua prorrogação por mais dois anos (após forte pressão inglesa) - alegando-se que o Brasil não havia renunciado ao tratado em tempo hábil. Tinha-se por certo que somente após 1843, havendo-se destruído o sistema de tratados desiguais, a política externa brasileira estaria em condições de tornar viável um projeto nacional.

O Brasil agora possuía um projeto de política externa autoformulado, além disso consegue a coesão interna sobre qual deveria ser sua política externa focando o Brasil como uma potência; e restabeleceu a unidade do Estado, que se havia cindido ante à política externa à época da Independência. Essa renovação de atitude frente à política externa brasileira ocorreu por completo por iniciativo do Parlamento.

1ª decisão: autonomia alfandegária e controle da política comercial;2º lugar: equacionar o fortalecimento de mão-de-obra eexterna, pela extinção do tráfico de escravos e buscar estimular a imigração.3º lugar: sustentar as posses territoriais por meio de uma política de limites que regulamentasse as fronteiras nacionais.

1844-1876: ruptura com a fase anterior e robustecimento da vontade nacional.

Dois pontos: o importante para a política externa é a constatação de sua coesão, sua força e sua vontade; a política externa brasileira foi o mais poderoso instrumento de conciliação (devido à unanimidade das visões de ambos os partidos em relação à ela).

Duas tendências da política externa brasileira: ambos os grupos complementavam-se; o primeiro reunia os moderados, avessos à política de força, contra a intervenção e a resistência pela força, propensos à negociação e ao superdimensionamento da ação diplomática (alguns exemplos: visconde de Abaeté; marquês de Olinda; visconde de Sinimbu); o outro grupo eram os mais realistas e menos idealistas, ao estilo dos liberais conservadores não-utópicos: reunia homens mais ousados, que colocavam as decisões às vezes acima das negociações e agiam com força da vontade (exemplos: visconde do Uruguai; marquês do Paraná; barão de Cotegipe; José Antônio Saraiva).

José Maria da Silva Paranhos (visconde do Rio Branco) realizou como diplomata e político a síntese destas duas tendências (a realista e a moderada); sua proposta baseava-se numa avaliação global da realidade internacional e se apresentava como "eminentemente brasileira".

O papel das instituições e dos homens não permitia a Dom Pedro II conduzir com autonomia pessoal a política externa brasileira. A política externa não foi moldada, neste período, para servir exclusivamente aos interesses da oligarquia fundiária, pois atendia a percepções mais complexas do interesse nacional. Houve até mesmo uma proposta industrial que perdeu força com o tempo. A diplomacia sustentou o processo de modernização desencadeado nos anos 1850 e estimulou a produção voltada ao mercado interno (os conservadores eram mais propensos ao protecionismo do que os liberais - estes acreditavam na industrialização espontânea pelas forças do mercado). Após a irrupção do pensamento industrialista nos anos 1840, os liberais obstruíram o uso da política externa brasileira como instrumento do desenvolvimento nacoonal, pela segunda vez. Mantiveram o enquadramento dependente no sistema capitalista, devido às suas crenças liberais radicais da época. Se internamente havia condições para uma política independente, externamente havia pressões por parte dos países industrializados para o Brasil abandonar o protecionismo industrial e a autonomia alfandegária - que chocavam-se contra seus interesses.

Quatro fatos eram relevantes como variáveis do quadro internacional: o liberalismo econômico, a penetração ocidental na Ásia (vista como o novo eldorado, relaxando as pressões imperialistas na América Latina), o expansionismo estadunidense (que após o expansionismo ao Pacífico, estendeu-se ao Oriente e à América Central e Caribe, freiada pela Espanha em Cuba o que faz os Estados Unidos voltarem seus olhos à Amazônia, freiada

A continuidade dessa política durante este período era garantida pela natureza do quadro institucional e pela formação dos homens que exerciam a carreira: a) instituições estáveis (como o Conselho de Estado e o Senado, vitalícios, que eram encarregados de manter a ordem e controlar as manifestações dissidentes; além deles havia também o Poder Moderador); b) conservadorismo político; c) conciliação dos partidos; d) processo de elaboração e execução da política externa. Havia coesão, no discurso e nas vontades de quem praticava a política externa brasileira e de quem se envolvia na política.

A ruptura dos anos 1840 e a nova política externa brasileira:

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graças à ação do governo imperial brasileiro) e, enfim, as distintas visões geopolíticas do Brasil e da Argentina de Rosas (o Brasil chega a conclusão de que o expansionismo rosista era um obstáculo externo para o Brasil e que devia ser erradicado).Objetivos econômicos pós-1844: preservar a autonomia alfandegária; resistir às pressões externas; estabelecer os princípios de reciprocidade real; lançar as bases da indústria nacional por meio do protecionismo (apoiadores desta última eram os conservadores). Mas com o tempo, a ideia de potência econômica definhou.

Após 1850, a modernização brasileira teve início - sob impulsos internos e externos: foi também estimulada tanto pelo Estado quanto pela sociedade. Despidos de privilégios, os ingleses tornaram-se os agentes da modernização, pregando a livre concorrência. A modernização veio, no entanto, com a expansão da produção e com a comercialização do café. As manufaturas desenvolveram-se quase que espontaneamente nos centros urbanos, apesar de um ritmo lento, mas contínuo, até 1889. Foi uma reforma social e não uma revolução como se observou no Japão. O Brasil dependia dos estrangeiros em quase tudo, tendo a economia sido beneficiada pelos excedentes do comércio e pelo crédito .

A balança comercial brasileira foi positiva durante quase todo o Império, até 1870 (após esta época, o projeto industrialista começa a esvanecer). Mas até 1870, o cenário de bonança trouxe a confiança dos credores de volta. Em 1870, os liberais adotam um liberalismo radical.

O projeto industrial e de modernização (1844): acaba devido ao comodismo da elite e do governo. Também acaba devido à fuga para o liberalismo radical que impediu que a política externa brasileira se tornasse instrumento de desenvolvimento nacional. Esta estratégia volta somente com Vargas. Os liberais, após 1860, ligados aos latifundiários, adotaram visões econômicas incompatíveis com a realidade brasileira, baseada em visões de Estados estrangeiros.

Em 1845, o governo brasileiro comunica o inglês da cessação da convenção sobre o tráfico de 1826, do direito de visita e busca e a extinção das comissões mistas de Serra Leoa e do Rio de Janeiro. Aberdeen, ante a inviabilidade de novo tratado de comércio e de nova convenção sobre o tráfico faz aprovar sua lei de 1845, contra o Brasil (Lei Aberdeen: permitia o apresamento e o julgamento de navios brasileiros utilizados para o tráfico de escravos; esta lei já existia para outros países, como Portugal - editada por Palmerston). O protesto brasileiro foi unânime e tinha por objetivo evitar maiores agravos, obter a revogação da bill e sensibilizar os outros governos. O protesto estendia-se na ordem jurídica (Inglaterra não podia estender sua lei interna a outros), política (atentado contra a soberania e contra a propriedade, além de ser uma ação imperialista), econômica (confronto entre escravismo brasileiro e colonialismo inglês) e diplomática (o bill violava o direito internacional e correspondia à imposição da vontade do mais forte por métodos violentos). O desentendimento entre os governos e as hostilidades aumentam de intensidade: suspensão de negociações por parte dos brasileiros, incremento da repressão por parte dos ingleses, incremento do tráfico de escravos, etc. O Brasil consegue grande apoio internacional em relação ao uso da força por parte dos ingleses.

A decisão de 1850 de extinguir o tráfico deve ser explicada a partir de razões internas e por cálculos de política externa. Convinha extinguir o tráfico por razões sociais e humanitárias, mas igualmente por razões estratégicas: dissipar o contencioso com a Inglaterra; viabilizar seus planos de intervenção contra Rosas, que tinha o apoio do representante britânico em Buenos Aires; e eliminar o principal obstáculo ao incremento da imigração livre. Foi uma decisão que só tomou corpo graças à mudança da opinião pública e ao fortalecimento do Estado. Extinto o tráfico perduraram os ressentimentos nas relações de governo a governo com a Inglaterra.

Herdeiro da tradição palmertoniana, chega ao RJ Willian Christie, em 1860, disposto à diplomacia do porrete. Em 1863, reagindo a seus métodos, o governo

O tráfico de escravos e o conflito com a Inglaterra: possui duas fases: 1) 1822-1845:marcada pela difícil cooperação entre Brasil e Inglaterra, de pressões e decisões entre 1826 e 1831 e de fracasso posterior; 2) 1845 em diante: fase de ruptura e conflito, marcada pela ação inglesa unilateral, ineficiente e violenta (entre 1845-1850), e pela ação brasileira unilateral e eficaz em 1850.

a)

O fornecimento externo de mão-de-obra: a expansão da economia agrícola, o desenvolvimento externo e a modernização estavam condicionados ao fornecimento externo de mão-de-obra. Por isso, enquanto a imigração não ocorresse, não se podia cessar o tráfico negreiro e nem alavancar a modernização. Assim, a imigração livre tornou-se meta prioritária para o Império desde a Independência.

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brasileiro rompeu as relações diplomáticas e retira seu representante em Londres. As relações somente melhoram com a saída de Palmerston. A crise da questão Christie só ocorreu devido à deterioração das relações entre Brasil e Inglaterra que ocorria há muito tempo. A questão Christie está melhor detalhada na parte de História do Brasil (com as duas versões da história).Apesar da relação conflituosa com o governo inglês, o Brasil tinha ótimas relações com a coroa inglesa e com os meios financeiros e econômicos. É preciso, então, distinguir as relações de governo a governo, em que prevaleceu o conflito, e as relações de nação a nação, que marchavam para um entrelaçamento crescente e dominante.

Mas houve esforços significativos por parte do Governo Central e das Províncias em vencer as dificuldades, ou ao menos amenizá-las, para atrair os imigrantes.

4 tentativas de imigração: a) contratar tropas europeias para esmagar revoltas e convertê-las em núcleos coloniais - não obteve apoio da Câmara; b) atrair imigrantes e direcioná-los para a formação de colônias autônomas; c) introduzir imigrantes no sistema de parcerias; d) contratar os serviços dos imigrantes nas lavouras. Contra-fatores: a má imagem do Brasil no exterior, como um país escravocrata, as péssimas condições iniciais para o imigrante e a disputa com os Estados Unidos e AR pelos imigrantes. Além disso, fazia-se necessário liberalizar ainda mais as instituições monárquicas em direção a uma sociedade pluralista (tópicos como casamentos, divórcios, liberdade de culto, acabar com a lei de contratos de serviço, que introduzia uma espécie de semi-escravidão, etc).

A política migratória: o êxito nesta questão, no Império, só foi alcançado entre 1880 e 1889, com a chegada de cerca de 450 mil europeus ao Brasil. O Estado não teve direção segura, modelo definido e nem amparo legal, ficando a promoção da imigração às iniciativas das províncias, de sociedades de colonização e de companhias particulares.

b)

Para o estudo do caso brasileiro, o conceito-chave cultural parece corresponder à ideia de nacionalidade, um dado original que triunfou sobre revoltas regionais e tentativas separatistas. Construiu-se com base na herança portuguesa e foi sustentada pelo Estado Monárquico. Criou o seu mito: a grandeza nacional. A nacionalidade brasileira era introvertida, voltada para si, amparada na vastidão do espaço e na abundância dos recursos. A política de limites, haveria de ser a da preservação do legado, do uti possedetis. Substitui-se o mito da fronteira pelo da grandeza nacional. Sua diferença estava apenas na definição original da nacionalidade brasileira em oposição à indefinição sociocultural das fronteiras hispano-americanas, onde o peso da juridicidade política será maior.

Condicionantes da política de limites: a) consolidação prévia do Estado nacional; b) tardio despertar da consciência pública ante o problema; c) ausência de um mito de fronteiras a ponto de determinar as ambições políticas; d) redução da questão à sua dimensão político-jurídica; e) elaboração de uma doutrina que vinculasse os limites à ideia de nacionalidade; f) pouca interferência do sistema produtivo; g) a ausência de uma doutrina que vinculasse pensamento e ação apresentava-se na época como um obstáculo concreto.

Quem atuou diretamente nesta questão: Chancelaria, Parlamento e Conselho de Estado.○

Muitos dos vizinhos tentaram negociar as fronteiras a partir do Tratado de Santo Ildefonso, mas o Brasil nega todas essas propostas com base neste tratado. Estes pedidos, aliados às Guerras no Sul e na Bacia Platina, despertaram a preocupação dos brasileiros e induziram-nos à convicção de que para haver paz, estes problemas de limites deveriam ser resolvidos. Tudo isso só foi percebido após 1838.

Duarte da Ponte Ribeiro foi talvez o diplomata brasileiro mais importante na origem da doutrina do uti possedetis no Império e adiante, contribuindo com a negação dos antigos tratados coloniais, especialmente com o de Santo Ildefonso (argumentando-se que este teve suas bases descartadas após o Tratado de Badajós). Visconde de Uruguai foi quem desencadeou a grande política americanista, por meio de tratados de limites, comércio, navegação, paz e amizade. Pretendia estreitar os vínculos com as nações vizinhas, através destes tratados, com base no uti possedetis, princípiou que norteou a política externa de 1850-1889. O visconde não descartava o recurso às

1)

Política de fronteiras: constatações prévias: a) a experiência brasileira correspondeu a uma das experiências históricas mais significativas em termos comparativos (cerca de 16 mil km de fronteiras com 10 Estados limítrofes); b) em 1822, o Brasil herdou uma situação de facto confortável, mas de juredelicada; c) a expansão das fronteiras deu-se no período colonial, cedendo os textos jurídicos diante dos fatos: Bula Inter Coetera, Tordesilhas, Madri, Santo Ildefonso; d) não houve preocupação política nem doutrina de limites para orientar de forma decisiva a ação brasileira até meados do século XIX; e) o métoda da história comparada, associando fronteira, sociedade, cultura e política não foi desenvolvido pela historiografia latino-americana.

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princípiou que norteou a política externa de 1850-1889. O visconde não descartava o recurso às armas, mas deixava-as no 2º plano. Visconde do Rio Branco sustenta e consolida a utilização do uti possedetis. Somente a Argentina e a Colômbia não aceitaram negociar com base neste princípio;Quando não havia ocupação efetiva, seguia-se o estipulado por Portugal e Espanha, ou a troca de territórios para se obter as fronteiras naturais mais convenientes;

2)

Para diminuir as preocupações de expansionismo brasileiro, firmou-se como política a máxima: "o Brasil possui território tão vasto que não necessita aumentá-lo em prejuízo de seus vizinhos";

3)

O Brasil sempre fez questão da negociação ser bilateral - tendo em vista manter o Brasil em posição de força e impedir a emergência de uma frente de Estados vizinhos;

4)

O interesse do Parlamento sobre estas questões foi notável, o problema é que seus discursos inflamados dificultavam as negociações.

O arbitramento deveria servir somente como última instância.5)

Tratado de Santo Ildefonso (1777): o referido tratado era, como já dito, considerado inválido; a) por ter sido concluído por potências coloniais; b) por ter sido juridicamente anulado pelo Tratado de Badajós após a guerra de 1801 entre Portugal e Espanha. Somente a Colômbia sustentou o uti possedetis juris guiando-se por Santo Ildefonso. A fronteira com este país só foi acertada em 1907.

Em Suma: Uti Possedetis: serviu de base para a política brasileira de limites, da Monarquia e da República. Foi uma política flexível, pois instituía o método da negociação bilateral; pôs fim ao ciclo expansionista do período colonial e do Reino Unido, preservando entretanto a obra dos colonizadores portugueses; assentou-se em base histórico-cultural, em que prevaleceu a ideia de nacionalidade e o suporte da opinião pública, da imprensa, do Conselho de Estado e do Parlamento, garantindo seu triunfo.

Os acordos de fronteiras visavam também a paz e abriam caminho, conforme expresso nos tratados, à cooperação e à melhoria do intercâmbio bilateral.

A definição de fronteiras engendraria o corpo da pátria, ainda, no entender dos estadistas brasileiros, condição prévia para qualquer tipo de integração. Não se pode afirmar, entretanto, que a fronteira representou o interesse maior e o esforço principal da diplomacia brasileira no século XIX, a menos que a questão esteja situada no quadro de uma estratégia continental. Assim, por exemplo, protelar sua solução com o Paraguai era uma tática para mantê-lo em sua órbita no subsistema regional; adiá-la na Amazônia era outra tática para não ter de abrir o rio à navegação internacional, etc. O mito da grandeza, que ditava a política de limites, também permitia usá-la como instrumento útil a outros fins da política exterior, aos quais podia vir a subordinar-se.

Dá-se o privilégio à Mauá, que abandona a empresa em 1857 - com isso ganha-se tempo. A doutrina jurídica baseava-se no princípio do direito imperfeito dos ribeirinhos superiores, que podiam acender à navegação somente mediante convenção. Diplomaticamente envia diplomatas para difundir a opinião de que a navegação só facilitaria a expansão imperialista na região; e outro diplomata em Washington para rebater os argumentos estadunidenses e intimar os Estados Unidos a tornar público um documento oficial afirmando o não-envolvimento na Amazônia. Fora isso, as relações entre os dois países continuou normal; mas o governo não negociaria a abertura do rio, pois isso significava ceder.

1860: os liberais querem a abertura do rio "em nome da ciência, do progresso e da civilização"; mas as propostas não passam.

1866: o Conselho de Estado baixou o decreto de abertura incondicional a todas as nações, exceto o trânsito de navios de guerra.

A defesa da Amazônia e o conflito com os Estados Unidos: quando os Estados Unidos concluíram sua epopeia de fronteira, começaram a tomar duas direções: para o oriente (visando mercados) e para o sul (pretendia continuar o movimento de fronteira). A Amazônia estava em seus planos, bem como Cuba e Panamá. Qual era o plano: apresentar uma saída para a crise econômica escravista do Sul. Os novos territórios dedicar-se-ião à produção da borracha, algodão e ajudaria a equilibrar a balança comercial. Para ter êxito, os Estados Unidos necessitavam da abertura da Amazônia à navegação e ao comércio internacional. Reação brasileira: foi levado em conta: a) a experiência estadunidenses de fronteiras baseada em quatro fases (penetração demográfica, provocação, conflito e anexação); b) as novas doutrinas americanas de caráter expansionista. Foi visto que, além da pressão da Marinha dos Estados Unidos, representantes estadunidenses iam ter junto com os ribeirinhos superiores do limite brasileiro (Peru, Colômbia, Equador, Venezuela e Bolívia), tentando alocar aqueles governos a sua causa. Mais: no RJ o representante estadunidense ameaçava abrir o Amazonas à força. Ações: 1) nega o tratado americano de comércio, que permitia a navegação do rio Amazonas; 2) fortalece o Amazonas e cria uma companhia brasileira de navegação com exclusividade comercial e de colonização; 3) arma-se no campo jurídico do direito internacional dos rios; 4) concede a navegação aos ribeirinhos superiores, mediante convenção; 5) confronta a campanha estadunidense através da ação diplomática e midiática; 6) protela a abertura do rio até desaparecer o risco e dominação estrangeira.

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Entre 1851 à 1871 houve uma dispersão das atenções mundiais para conflitos internos e para o Oriente; o que deu manobra para o Brasil entrar na política do Prata. O aumento da receita brasileira após 1844 também possibilitou uma postura mais ativa.

Pontos c) e d): da hesitação à intervenção: entre o malogro da composição com Rosas em 1843 e a intervenção na década seguinte, a política platina do Brasil manteve a efetiva neutralidade (como uma forma consciente de política externa, mas como uma ausência de política - tudo se definia em função de Rosas, o que gerava mal-estar com os outros países). Tentativa para neutralizar Rosas: primeiro faz-se uma aliança com o Paraguai, mas com a troca de gabinete no Brasil denuncia-se o tratado; segundo, busca-se a França e a Inglaterra, mas os brasileiros são humilhados por exigências inglesas, o que leva o Brasil à neutralidade em 1845. Paraguai alia-se com Corrientes e países europeus (França e Inglaterra); Brasil condena a intervenção estrangeira, espera os europeus saírem (estes perdem a batalha) e intervém contra Oribe e Rosas (temendo o fortalecimento deste e da formação do antigo Vice-Reino do Prata); para vencer o apoio inglês à Rosas, o Brasil aprova a Lei Eusébio de Queirós em 1850 e faz pressão por meio da corte belga para a Inglaterra não apoiar a Argentina e reconhecer que o Brasil possui o direito de intervir. O Brasil rompe com Buenos Aires; Duque de Caxias vira presidente da província do Rio Grande; Mauá sustenta Montevideu contra Oribe. Brasil alia-se ao Paraguai, Montevideu, Corrientes e Entre-Ríos contra Oribe e Rosas. A derrota de Rosas e sua retirada para a Inglaterra foi uma derrota para a política inglesa para o Prata e significou a ascensão do Brasil como nova potência regional, temporariamente hegemônica.

Finalidades econômicas: manter o comércio regular em que preponderava a importação do charque uruguaio; manter a normalidade e o pagamento dos empréstimos feitos ao Uruguai e à Argentina; e manter os empreendimentos de Mauá no Uruguai e Argentina;

1)

Finalidades estratégicas e de segurança: defesa das independências locais; acesso ao Mato Grosso via o Prata; livre navegação; liberdade de trabalho aos trabalhadores brasileiros no Uruguai; e questão de fronteiras;

2)

Finalidades políticas: procura a estabilidade da região para um sistema de instituições pacíficas.

3)

Para o Brasil, o Uruguai possuía maior importância econômica; a Argentina maior importância política; e o Paraguai servia como trunfo estratégico .

A presença brasileira logrou a tolerância das atividades do Brasil no Prata por Buenos Aires e Urquiza, mas ganhou a antipatia dos "blancos". Houve um bom relacionamento entre os Estados. O Paraguai desejava a fixação dos limites com o Brasil, os acordos eram fixados e quebrados, gerando animosidade. Com a morte de Carlos Antonio Lopez, seu filho Francisco Solano Lopez acentua o radicalismo ao armar seu país, adotar a teoria do "equilíbrio dos Estados do Prata" e aceita o convite dos blancos uruguaios para compor um eixo de força política e econômica - esperava com isso atrair Urquiza).

Ponto e): presença brasileira ativa:○

Saraiva segue para o Uruguai para obter reparações devido ao fato de os trabalhadores brasileiros estarem sofrendo violência no Uruguai, mas desvia seus interesses para tratar o sobre o conflito interno uruguaio. Fracassados os entendimentos, o Brasil invade o Uruguai. Só não bombardeiam o Uruguai porque Flores fora empossado, com quem o novo enviado, Paranhos, conclui tratado de aliança, compondo a primeira aliança contra o Paraguai. O Brasil não obtém as reparações exigidas do Uruguai e ainda fora brindado com a agressão paraguaia a seu território, em razão da intervenção no Uruguai. Paranhos é demitido.

Brasil e Argentina não acreditavam que o Paraguai entraria em guerra e por isso não levavam suas ameaças à sério.

3 erros básicos cometeu López: acreditar na dissidência de Urquiza (que coloca sua espada à disposição de Mitre); contar com os blancos (que debandam); dispersar o exército ao invés de tomar o Uruguai e Buenos Aires e assim negociar em posição de força. Outro erro foi não imaginar que a Tríplice Aliança fosse concluída tão facilmente.

A guerra foi financiada com os recursos do governo brasileiro e dos banqueiros ingleses (à

Ponto f): o retorno à força: Mitre vence Urquiza em 1861, triunfo dos unitários; seu aliado natural era o Brasil. O colorado Flores ganha espaço no Uruguai e Aguirre é seu adversário; Lopez ressente-se do pequeno papel internacional reservado ao seu país, contrastando com sua vontade de potência; além disso, queria construir o terceiro Estado forte na América do Sul: uma combinação entre Uruguai, Paraguai e Entre-Ríos e Corrientes (e talvez as missões riograndenses). A crença na superioridade das Forças Armadas brasileiras era tanta que não se acreditava numa guerra platina (o Paraguai era mais bem armado).

O Controle do Prata:a política externa ao final do império: de 1822 à 1889 passa por 7 fases:a)tentativa de cooperação e entendimento para defesa das independências (1822-1824); b) Guerra da Cisplatina (1825-1828); c) política de neutralidade (1828-1843); d) passagem da neutralidade à intervenção (1844-1852); e)presença brasileira ativa (1851-1864); f) retorno à política intervencionista (1864-1876); g) retraimento vigilante (1877-1889).

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revelia do governo inglês). Os empréstimos vieram com os Rothschild. O Brasil somente restabelece as relações diplomáticas com a Inglaterra após os pedidos de desculpas desta pela Questão Christie e O rumo da guerra foi determinado pelo Brasil (mesmo que fora comandada por Mitre no início - e depois por Caxias). O pronlogamento da guerra deveu-se à imposição de Dom Pedro II em eliminar López, tornando a guerra impopular desde cedo tanto no Brasil quanto no Prata. Esta era fortemente influenciada somente pelos setores que lucravam com a guerra: comerciantes, fornecedores, banqueiros e o próprio Mitre que recebia volumosos recursos brasileiros e liquidava a oposição interna.

Para fazer cumprir sua vontade externa, administrou o governo brasileiro sua ação diplomática ao estilo de uma potência periférica: como dito, restabelece as relações com a Inglaterra; abre a navegação do rio Amazonas em 1866; reconhece o direito territorial da Bolívia sobre o chaco para dissuadir este país de aliar-se com o Paraguai; nega as propostas de bons ofícios de países sul-americanos, dos Estados Unidos e de países europeus; impõe sua vontade sobre o próprio governo argentino ao impedir a anexação de territórios paraguaios por este país -além do que lhe fora tomado.

Os conservadores entram no poder em 1868, em razão da crise no comando do Exército, e recuperão a tradicional política de amizade e proteção ao Paraguai, aliada ao cálculo do perigo argentino. As negociações de paz complicam-se e prolongam-se. Enquanto as vontades brasileiras não fossem cumpridas, o Brasil não sairia do Paraguai. Fica lá por seis anos até que em 1876, as negociações, em Buenos Aires, chegam ao fim - concluindo as "questões argentinas" que tanto trabalho deram.

Retoma-se a posição de amizade e proteção ao Paraguai, especialmente devido ao cáculo sobre um provável perigo argentino.

Os custos, economicamente falando, foram altos: os empréstimos feitos aos vizinhos não foram pagos; o dinheiro que poderia ter ido para modernizar o país foi para a guerra; Mauá foi à bancarrota. No Parlamento, a guerra foi contestada, levando ao enfraquecimento da Monarquia. O Exército sai fortalecido. A contradição entre a política externa de não-intervenção e a guerra foi recorrente argumento. A Argentina sai fortalecida (vira Confederação e depois torna-se a República Argentina); o Paraguai sai arrasado da guerra; o Uruguai fica desorganizados produtivamente e politicamente.

Resultados de 25 anos de presença brasileira efetiva no Prata: as ações do Brasil preencheeram os seguintes requisitos de hegemonia periférica: a) comandou, diplomaticamente, um sistema de acordos e alianças favoráveis; b) usou da força para dobrar a vontade de Estados platinos; c) submeteu estes Estados à dependência financeira; d) expande o capitalismo nestes países e garante o fornecimento de matérias-primas para si; e) obsta o aparecimento de uma hegemonia concorrente neste período.

Distensão: desejada e administrada pelo Estado, convinha por inúmeras razões: a) efeitos da guerra: a guerra desviava recursos que poderiam ser empregados em outras atividades produtivas, o que provocava grave crise interna; b) apaziguaram-se os velhos atritos em relação à Inglaterra, ao Amazonas e em relação às fronteiras em geral; c) a distensão era condição para conduzir as relações com a Argentina e evitar a guerra com ela.

Universalismo: servia para imprimir maior prestígio e extensão para a ação externa; programavam-se diversas viagens para o Imperador pelo mundo em conferências, feiras, buscava o contato com o Oriente e aceitava, juntamente com os Estados Unidos, envolver-se com o pan-americanismo.

Inglaterra e Brasil: interesses econômicos de ambos os lados levaram à distensão. A Inglaterra necessitava do Brasil para suas exportações e investimentos; os brasileiros dependiam de seus financiamentos para as exportações para os Estados Unidos; e estes olhavam para o mercado brasileiro e se dispunham a enfrentar o domínio britânico e a concorrência.

Característica da política de limites (desde 1850): a) rejeitar a expansão territorial; b) guiar-se pelo uti possedetis e pelos tratados já firmados; c) não ceder territórios; d) engajar a ação diplomática para alcançar o entendimento bilateral.

Norma fundamental que garantia a constância da política externa: em política externa não há distinção de partidos.

Brasil e Argentina caminham para a direção de cooperação, mas as rivalidades tradicionais mantinham as condições de conflito em estado permanente. Em especial com o litígio fronteiriço na Zona de Palmas; além disso existia a questão do armamento, a concorrência para receber imigrantes europeus, a guerra de imagem e as retaliações comerciais.

A diplomacia brasileira procura atrair Chile e Bolívia para sua esfera de influência. Chile entra no lugar do combalido Paraguai no que antes era o eixo Assunção-RJ. Isolar a Argentina era percebido como a única estratégia possível de negociar com ela, sem a possibilidade de uma guerra.

Distensão e Universalismo:

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Dom Pedro II viaja pelo mundo para aumentar e melhorar a imagem do Brasil. Chega a firmar acordos com a China, mas denuncia estes acordos visando a solidariedade e prestígio político com a Europa e Estados Unidos.

Estados Unidos e América Latina: 3 fases: 1) estreitamento de vínculos políticos e comerciais após a independência; 2) dissolução por ambas as partes, prevalecendo o distanciamento (1826 até a guerra de secessão); 3) vitória do Norte contra o Sul na guerra de secessão leva à recriação da imagem do ideal pan-americano.

Estados Unidos e Brasil: a) a forma de governo monárquico era relevada pela resistência de ambos os países em relação aos ingleses; b) por determinado tempo, ambos praticaram a política expansionista; c) os atritos diplomáticos eram facilmente superados pelo interesse comercial, mantendo as relações cordiais.

Brasil e Estados Unidos: a) manter e aumentar as exportações de café; b) não permitira ingerência direta nas ações brasileiras sobre o Prata; c) dissuadir o governo estadunidense de apoiar a ocupação na Amazônia; d) abrir a econômia brasileira para seus inventos e investimentos; e) não ceder privilégios por um novo tratado que restringisse a soberania nas decisões externas.

O monroísmo deixou de ser interpretado como uma doutrina de interesse continental, pois na visão dos brasileiros o governo estadunidense jamais engajou-se externamente em alguma questão em vista do que pregava. Esta doutrina passa a ser vista como uma doutrina de interesse nacional, para fundamentar o expansionismo ianque. Tal percepção fortalece-se após 1845 quando o presidente James Polk lança seu corolário - para servir ao expansionismo em curso.

Os estadistas brasileiros eram realistas e não idealistas; e contrapunha este realismo com o pan-americanismo. Só em 1888-18889 o Brasil toma lugar em congressos americanos. Foi na Conferência Pan-Americana de Washington que os Estados Unidos começaram a tornar suas pretensões imperialistas reais: queriam criar um mercado comum ao estilo do Zollverein; elaborar instrumentos que garantissem a paz continental; modernizar as infra-estruturas; unificar a legislação comercial; adaptar o sistema monetário. Enfim, os estadunidenses visavam estabelecer, pela via do pan-americanismo, uma reserva de domínio continental, a exemplo de como procediam os colonialistas europeus em suas áreas de expansão.

Breve Conclusão: até 1831, o Brasil era subserviente à Inglaterra e viam a política externa brasileira sob o formato herdado dos portugueses; somente após 1831, o Brasil começa a ter em mente o interesse nacional. Esta se fazia por uma mistura de influências (Conselho de Estado, Parlamento, Gabinete e Imperador - este menos). A modernização e a industrialização serão levados pelo jogo de forças, mas sem o auxílio do Estado. A vontade de potência esmorece-se em favor da hegemonia regional - particularmente expresso nos conflitos do Prata. Por outro lado, o Império obteve sucesso: na defesa do território nacional; manteve a autonomia nas decisões de Estado, a dignidade da diplomacia; conseguiu abrir mercados para exportações e manteve uma linha de crédito externo.

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Imagem externa: temia-se que o Brasil se tornasse uma república caudilhesca e desestabilizada por disputas internas baseadas em armas, assim como eram vistos os países vizinhos. Enfim, temia-se a instabilidade. Esse temor agrava-se com a dissolução do Congresso Nacional por Deodoro e pelo golpe de Floriano. Na city londrina o medo foi tanto que as cotações dos títulos brasileiros começaram a cair. Países e bancos pressionavam o governo para realizar a estabilização. (muitas dessas notícias eram reform mongering por parte dos monarquistas).

Ao proclamar-se a República as nações da América do Sul logo reconhecem o novo regime de governo. Os Estados Unidos tomam uma posição legalista temendo que o novo governo torne-se uma ditadura e postergam o reconhecimento (assim também faz a Europa), mas após um ano reconhecem a República (1890: não queriam perder a oportunidade de ter o Brasil em seu campo de influência). Já com Salvador de Mendonça o Brasil começa a expressar a vontade de se alinhar aos Estados Unidos. Já a Europa esperou as eleições e a formação de uma Constituição - temiam desencadear movimentos republicanos em países monárquicos.

1894: projeto de lei que reforma o corpo diplomático, dando ênfase à América do Sul. Depois os países prioritários seriam: Estados Unidos, Inglaterra, França,Alemanha, Portugal e Itália. Os argumentos em favor desta nova orientação política guiavam-se em torno de questões econômicas, de limites pendentes ou de puro romantismo devido ao novo estatuto de República assim como o de seus vizinhos sul-americanos.

Queria-se republicanizar as relações internacionais, privilegiando o contexto americano. Os deputados jacobinos tinham preconceito com as formas não republicanas de governo (retiram, por exemplo, legações de países como a Suíça - bem quando esta aceita arbitrar a controvérsia entre Brasil-França pelo Amapá). Nilo Peçanha foi o político que mais demonstrou realismo político e argumentou contra esta reforma sem critérios do Congresso Nacional (que visava muito mais o espírito econômico). O Congresso Nacional confundia ineficiência do corpo diplomático com desnecessidade; entre 1889-1902 a política externa brasileira ficou sem uma diretriz, comandada pelas várias vozes e interesses do Congresso Nacional.

A republicanização da diplomacia: o Ministério das Relações Exteriores, no início da República, era chefiado por políticos pouco afetos às relações internacionais. Assim, estes assuntos eram legados ao Legislativo, principalmente a negociação de criação ou extinção de embaixadas e consulados (sem nem intervir). O resultado foi a extinção de embaixadas por motivos arbitrários (como redução de verbas, mas sem levar em conta o impacto político),por motivos políticos, ou mesmo por motivos pessoais (para afetar esta ou aquela pessoa que estava servindo no exterior).

Já no Manifesto Republicano de 1870 aparecai de modo explícito o desejo de americanização - a diplomacia imperial era vista como hostil aos vizinhos americanos, sendo responsável pelas fricções entre eles e o Brasil. A americanização pregava a amizade entre os povos americanos (e nem sempre confundia-se com norte-americanização).

Em relação à questão militar entre Brasil e Argentina, enquanto a Argentina e o Chile armavam-se devido às suas questões de fronteiras (Canal Beagle), a Marinha brasileira estava em frangalhos. O Brasil decide-se, então, armar-se também e, assim, instala-se na região uma paz armada. A importância desta foi levar ao Brasil uma visão mais realista da política externa (especialmente em relação ao poder de atração que a Argentina possuía no Prata), além do reequipamento das Forças Armadas.

Dois problemas com a Argentina: preferência tarifária pelo trigo dos Estados Unidos ao invés do argentino; outro era a propaganda argentina que dizia que o Brasil possuía diversas epidemias para atrair imigrantes à Argentina e não ao Brasil.

Argentina: eufórico com o sentimento americano no Brasil, Quintino de Bocaiúva (que foi o primeiro ministro dos exteriores da República) viaja ao Prata para tratar dos limites com a Argentina, especialmente do litígio da região de Palmas. Mesmo sendo este território habitado por brasileiros, considerado como brasileiro e tendo sido uma arbitragem programada no futuro para resolver esta questão, Quintino decide com Zeballos, dividir o território (Tratado de Montevidéu de 1890). O Congresso Nacional rechaça o acordo e execra Quintino. A questão volta ao arbitramento estadunidense. Uma vez passada a euforia republicana, as duas nações voltaram a se olhar com espírito de rivalidade, mas sem gerar problemas graves e concretos.

Estados Unidos: 1ª Conferência Interamericana: foi vista pelo Império como o começo de um protetorado estadunidense que limitaria as relações de outros países com o continente europeu;

Reorientação da Política Externa: o convênio aduaneiro entre Brasil-Estados Unidos (1891) foi a primeira ruptura da diplomacia republicana com a diplomacia do Império.

República Velhaquarta-feira, 20 de julho de 2011

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Tratado recíproco de 1891: elaborado por Salvador de Mendonça, este tratado deveria dar tratamento especial aos produtos estadunidenses e, em troca, o Brasil receberia tratamento especial com o café, açúcar e couro brasileiro (os Estados Unidos denunciam o tratado).

protetorado estadunidense que limitaria as relações de outros países com o continente europeu; além disso, o Império não aceitava o arbitramento obrigatório dos Estados Unidos. Quintino aceita o arbitramento obrigatório e alinha-se à visão estadunidense. Este movimento teve como impulso o deslumbramento com os Estados Unidos e a preocupação com as exportações (que evoluem com ou sem o convênio, como explicado à frente).

Intervenção estrangeira na Revolta da Armada (1893-1894): esta revolta possui tom monarquista e também estava preocupada com o crescimento do Exército, com as crises econômicas e com a ascenção de Floriano Peixoto. Possui péssimo efeito no exterior; as potências europeias e os Estados Unidos intervêm, mediando as regras de combate e declarando o RJ como cidade aberta - acabando com o bloqueio econômico, que era o trunfo da Marinha, e protegendo os interesses dos estrangeiros. Mas ainda havia o bloqueio continental que minava Floriano; este foi rompido por acordo com os Estados Unidos (rompimento à força) e ainda teve o envio de uma esquadra ("Esquadra Legal") que levou a Marinha a fugir da batalha. Resultado: consolida-se a República com Floriano e também a influência dos Estados Unidos.

Com Rio Branco, o Ministério das Relações Exteriores livra-se do julgo do Legislativo e consegue sua autonomia, independentemente de mudanças eleitorais. O barão integra os ministérios de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca.

A aproximação com os Estados Unidos traria a hegemonia sul -americana ao Brasil - mas sabia que esta hegemonia seria controlada pelos Estados Unidos.

Na IIIª Conferência Interamericana (no RJ), em 1906, Rio Branco aceita o papel de co-grandeza na América Latina. Mas não ingênuo quanto ao pan-americanismo estadunidense; sabia de seus propósitos imperialistas.

Rio Branco e o Corolário Roosevelt: o barão via a Doutrina Monroe como elemento de defesa territorial do continente. Esta defesa deveria funcionar somente quando se tratasse de agressões europeias em relação à integridade territorial. Por isso o nihil obstat em relação à cobrança da dívida da Venezuela, com bloqueio continental, por parte de países europeus (com a liderança da Inglaterra). Para o barão, além de proteger a América Latina dos europeus, os Estados Unidos iriam zelar pela ordem do continente, garantindo que os países americanos cumpram os seus deveres (corolário Roosevelt). O monroísmo e o intervencionismo colocavam a América Latina sob a influência dos Estados Unidos. Temendo retaliações europeias (em relação aos litígios de fronteiras), Rio Branco aceita o caráter defensivo da Doutrina Monroe; aceitava a teoria de que as nações mais fortes desempenham uma ação benéfica em favor da paz.

Brasil e o subsistema estadunidense de poder: com a influência estadunidense, os países da América Latina tornaram-se um subsistema continental. Rio Branco não via como formar um poder que pudesse obstar os Estados Unidos, via a aliança como inevitável. Além disso, com os Estados Unidos, poderíamos negociar em condição de vantagem os limites brasileiros com muito mais desembaraço. Além disso os Estados Unidos eram o maior importador de produtos brasileiros. Assim, a aliança com os Estados Unidos tinha um sentido pragmático.

A questão do Acre: a região do Acre foi ocupada por nordestinos em virtude do ciclo da borracha; não conseguindo fazer valer sua autoridade, o governo boliviano arrendou por 30 anos o território para um consórcio capitalista chamado Bolivian Syndicate; um dos grandes problemas para o governo boliviano era que o único modo de alcançar a região do Acre era via o rio Amazonas, via o Atlântico. O governo brasileiro, para fazer mais pressão, retira do Congresso Nacional o acordo de navegação e comércio firmado com a Bolívia em 1896. Em 1899, ocorre uma rebelião no Acre que só termina no ano seguinte. Em 1902 Rio Branco toma posse e interpreta esta questão como um litígio de limites (reinterpretando-a). Para não se colocar em desacordo com os Estados Unidos, Rio Branco desvincula o governo estadunidense dos capitalistas, mesmo sabendo que os Estados Unidos iriam intervir caso os interesses estadunidenses estivessem em jogo. Em 1902 ocorre outro levante: desta vez contra o Bolivian Syndicate, surgindo o Estado Independente do Acre. 1903: Rio Branco, através dos Rothschilds indeniza o Bolivian Syndicate. Isolado o Sindicato, a questão fica entre Brasil e Bolívia. Tratado de Petrópolis (1903): de acordo com o tratado de 1867, o Brasil cederá parte do território em questão, indeniza a Bolívia em 2 milhões de libras e arca com o compromisso de construir a Ferrovia Madeira-Aimoré, com livre trânsito para a Bolívia utilizá-la, possibilitando sua saída para o Atlântico; em troca o Brasil ficaria com o território acreano. A questão acreana só foi encerrada após as difíceis negociações com o Peru (em 1909): Rio Branco

Rio Branco: prestígio, soberania e definição do território: linhas de Rio Branco: busca de uma supremacia compartilhada na área sul-americana; restauração do prestígio internacional do país; soberania; defesa da agroexportação; solução de limites. Busca a íntima aproximação com os Estados Unidos, mas sem significar alinhamento automático. Foi a chamada "aliança não-escrita". Para os Estados Unidos, a amizade era estratégica, pois a Argentina tinha, nessa época, suas "relaciones carnales" com os ingleses.

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questão acreana só foi encerrada após as difíceis negociações com o Peru (em 1909): Rio Branco conseguiu negociar com o Peru sem a interferência dos Estados Unidos, apesar dos esforços peruanos a envolverem os Estados Unidos na questão e dispostos até mesmo a tornarem-se um protetorado daquele país.

ABC: serviria para acabar com as prevenções dos países sul-americanos contra as pretensões brasileiras. Este acordo também serviria para atuar de acordo com o governo de Washington, numa espécie de condomínio oligárquico de nações. Os peruanos eram quem temiam mais essa aproximação entre os três países.

O contexto sul-americano: o projeto de rearmamento naval brasileiro de 1904, modificado em 1906, despertou a rivalidade entre Brasil-Argentina. Os argentinos pensavam que o Brasil possuía a intenção de ocupar diplomaticamente uma posição superior às demais repúblicas sul -americanas com o apoio estadunidense e, ao mesmo tempo, de conseguir a simpatia dos países menores do Prata, alijando a Argentina. A aproximação de Rio Branco com o Chile também foi vista como modo de neutralizar as forças da Argentina e cooprtar Uruguai e Paraguai como aliados (e essa foi mesmo a estratégia de Rio Branco).

Os tratados de limites: as questões de Palmas com a Argentina e do Amapá com a França foram resolvidas por arbitramento, e Rio Branco atuou em ambas como representante do Brasil (antes de ser ministro). A questão dos limites com a Guiana Inglesa também foi solucionada por arbitramento, não de todo satisfatório ao Brasil, tendo Joaquim Nabuco como representante. Rio Branco também fixou limites com a Colômbia (1907), com o Peru (1909) e com a Guiana Holandesa (1906); além do Equadro em 1904. Em 1909, o Brasil cede ao Uruguai o condomínio da Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão, em nome da concórdia sul-americana (recuperando o prestígio perdido no Prata e ampliando o quadro de atração no segmento Sul) .

Na gestão Rio Branco houve ainda o incidente diplomático conhecido como Telegrama nº 9, no qual Zeballos diz que intercepta um telegrama brasileiro ao Chile. Pela versão argentina, Rio Branco estaria intrigando os países sul-americanos contra a Argentina, acusada de desígnios sinistros sobre o Paraguai, o Uruguai, a Bolívia e o Rio Grande do Sul. Desafiado a submeter o telegrama a uma corte de plenipotenciários, o Barão contra-atacou de modo fulminante: publicou o texto cifrado, a tradução falsa e a autêntica, totalmente diversa, bem como o código diplomático brasileiro, que se tornou inutilizável. Zeballos foi despedido.

Relações comerciais com os Estados Unidos: o Brasil exportava majoritariamente café; importava em sua maior parte: farinha de trigo e manufaturados. Nesta época, os Estados Unidos ultrapassam a Inglaterra em investimentos no Brasil - até então este setor era dominado pelos ingleses. Na década de 1920, o Brasil adquiriu uma sensação de autoconfiança e superestimação de seu peso no cenário internacional, especialmente após a entrada na Primeira Guerra Mundial, nas ações de paz e na adesão ao Conselho da Sociedade das Nações (SDN) . Mas, ao mesmo tempo, não questiona a divisão internacional do trabalho presente e conforma-se com o papel de exportador de produtos primários.

O principal papel da diplomacia era aumentar o mercado externo para o Brasil; afora isso, havia a busca de prestígio no afã de elevar o Brasil à condição de membro efetivo do Conselho Executivo da Liga das Nações.

De 1920 à 1940 ocorre uma missão militar francesa para treinar as Forças Armadas brasileiras. Em 1922 e 1926: Tratado de missão naval com os Estados Unidos. Note-se o fato do armamento brasileiro ser um incômodo entre os países da América do Sul, por isso o Brasil buscava as parcerias europeias - os países da América do Sul pediam o desarmamento brasileiro e o Brasil não estava pronto para isso.

Declínio da influência inglesa e presença estadunidense: o imperialismo colonial e a disputa interimperialista não deixou muita margem para os produtos primários do Brasil (sendo que este estava extremamente reduzido à especialização e, por isso, não possuía outra alternativa econômica). Os Estados Unidos não só eram os maiores compradores de café, mas os maiores vendedores de café (passando a Inglaterra). Cresceram próximo aos ingleses em relação ao investimento industrial. O declínio inglês começa na I Guerra (1914); afetados pelo conflito, o transporte marítimo, o fornecimento de importações ao Brasil e o emprego de capitais britânicos declinam.

Tarifa Mckinley: apesar de ser protecionista, isentou os produtos tropicais de exportação brasileira. Insere os Estados Unidos fortemente na competição com a Inglaterra no comércio brasileiro. Os Estados Unidos continuam com esta política com a Tarifa Dingley (1897) e em troca, o Brasil oferecia de 20 a 30% de isenção para os produtos estadunidenses. Com este favorecimento, as importações de produtos britânicos declinam.

Do apogeu ao declínio da Primeira República (1912-1930): o traço principal desse período foi o cultivo da amizade com os Estados Unidos - mas apesar da amizade crescente, o alinhamento só veio com Dutra. A amizade também não era unânime. Domício da Gama, por exemplo, não via com bons olhos esta política brasileira, queria mais espaço para manobras.

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Ação anti-truste (1912-1913): a estocagem de café por distribuidores estadunidenses e banqueiros foi resolvida entre os países de forma amigável.

Missão Montagu (1923): veio para analisar se o Brasil deveria receber o empréstimo da Casa dos Rothschild. Mas neste ano, o governo britânico suspende qualquer empréstimo a qualquer governo para valorizar a libra (visando continuar com o padrão-ouro). Começa a perder espaço, então, até mesmo como credor do governo brasileiro.

Reflexosda guerra no comércio exterior: o café entra no Statutory List (lista negra britânica) como contrabando de guerra. Além disso, os outros países procuram somente importar gêneros de subsistência. Mas com o fim da neutralidade brasileira, o intercâmbio Brasil-Estados Unidos e Brasil-Aliados aumenta. O Brasil chega a ficar superavitário durante a guerra e após 1922, durando até 1925.

Quadriênio Wenceslau Brás: boa balança comercial (1ª Guerra Mundial). Epitácio Pessoa: déficit e queda no câmbio (pós-guerra). Assim, é nesta última época que começam as contestações da Velha República.

O café e os navios alemães: o café em poder de barcos alemçaes e vendidos sem a permissão brasileira tiveram que ser restituídos em espécie ao Brasil. Os navios apreendidos pelo Brasil ficaram com este (França reconhece o direito de propriedade brasileiro dos navios e chega a comprar alguns e devolve os outros ao Brasil - a França os havia utilizado para auxílio na Guerra).

Defesa nas exportações e mudanças na lei alfandegária: o trabalho de divulgação do Brasil e de seus produtos na Europa, que vinha desde o Império, foi mantido na República. O Brasil adotou "Acordos para a promoção de matérias-primas", na maioria das vezes com base na reciprocidade de concessões alfandegárias. A reforma do Ministério das Relações Exteriores de 1920-21 serviu para aumentar as exportações e divulgar o café (não só na Europa e nos Estados Unidos, mas principalmente nos países vizinhos). O aumento de intercâmbio seria buscado após o estudo de país para país, periodicamente - devido às instabilidades das regras de intercâmbio no mundo. No lugar dos convênios comerciais entram as cláusulas de nação favorecida.

O Brasil e a 1ª Guerra Mundial (1914-1918): início: posição neutra até 1917 com o bombardeamento do navio mercante Paraná (o Brasil foi o único país da América do Sul a entrar em guerra). Neste ano aprovam-se medidas duras contra empresas, súditos e governo alemão. Em dezembro de 1917, o Brasil entra efetivamente em guerra, enviando oficiais, aviadores, soldados e médicos. Envia também a Divisão Naval em Operação de Guerra (que contrai influenza e chega na guerra um dia antes do armistício). Resultado: foi a enorme angariação de simpatia por parte da Itália, França e Inglaterra. Com oferendas de treinamento do exército brasileiro, vendas e construção de equipamentos e até de fábricas, com troca de tecnologia. Além da elevação da legação britânica no Brasil à embaixada.

Ilusão e frustração: participação e retirada da Liga das Nações: o Brasil assegura o assento na Conferência de Paz. Participa da organização da Liga das Nações e presta ativa colaboração em seu conselho como membro eletivo (por 3 anos). Esta participação foi fundamental nas questões do café com a Alemanha e do navio apreendido. O Brasil desfrutava do rótulo de potência média. Desejava o posto permanente no conselho executivo, mas se sustentava somente pelo prestígio que possuía na época e por isso foi recusado como membro permanente. Quem conseguiu o posto foi a Alemanha. Brasil propunha-se a vetar o nome da Alemanha (que entra via o Tratado de Locarno) e dizia falar em nome da América (mesmo com as nações americanas pedindo para o Brasil mudar de posição e visar a paz na Europa). Brasil argumenta que o continente americano, sem a participação dos Estados Unidos, da Argentina na Liga e do Brasil como membro permanente no CESDN, não estava sendo representado. Acusava a SDN de perpetuar a Santa Aliança e de perpetuar as potências europeias via força. Espanha e Brasil retiram-se da SDN. A verdade é que o Brasil possuía uma concepção a respeito de seu peso político distante das concepções europeias a seu respeito. Brasil deixa a SDN por uma atitude prepotente de Artur Bernardes, que teria procurado alvitar o sentimento nacional e buscar apoio interno (que lhe faltava: chega a governar por 42 meses em estado de sítio). A partir do veto e das acusações não havia mais espaço para qualquer ação brasileira na SDN a não ser a sua retirada. A discordância interna com o modus operandi de Artur Bernardes e de Felix Pacheco foi tanto que os representantes brasileiros nos órgãos da SDN tiveram que ser substituídos (no foco de ação) pela burocracia sediada no RJ. Mas o Brasil continuou com uma atitude cordial e de colaboração com a SDN, mantendo contribuições anuais e doações (isso no governo Washington Luís).

A última etapa: gestão de Otávio Mangabeira (1926-193; governo W.L.): destacam-se em sua gestão a demarcação e a liquidação de questões relativas a trechos de fronteiras (Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Venezuela - além da Guiana com a Inglaterra). O Itamaraty atuou com discrição, evitando exercícios de liderança e sempre buscando a conciliação. A amizade com os Estados Unidos não quis dizer alinhamento, um exemplo foi a não adesão ao Pacto Briand-Kellog. Mangabeira realiza profundas reformas no Itamaraty (organizacionais, administrativas, informacionais, todas visando maior eficiência, comércio e desenvolvimento econômico); reconhece que a pasta não estava cumprindo seu papel cabalmente; procura melhorar a eficiência e dá novo foco ao Itamaraty. Junta as atribuições do

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cabalmente; procura melhorar a eficiência e dá novo foco ao Itamaraty. Junta as atribuições do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Faenda e do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em questões relativas ao comércio externo, crédito externo e imigração. Enfoca o lado econômico. Procurava-se dinamizar as exportações nacionais, promover a imigração e obter informações sobre o crédito externo. Além de buscar o aumento de exportações não só para o café, mas para outros produtos primários e parte da produção da indústria nascente.

Na República Velha a busca do interesse econômico pela política externa foi sempre presente; variaram-se os modos de encaminhar o assunto; as diferentes oportunidades apresentadas pelo contexto internacional nesse intervalo de 40 anos proporcionou esta gama de atitudes diferentes.

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Com o crescimento alemão no comércio brasileiro, o Brasil faz sua barganha com os Estados Unidos e com a Alemanha, visando tirar maiores benefícios deste comércio, especialmente dos Estados Unidos. O período de maior barganha foi entre 1934-1938 (quando a Alemanha cresce suficientemente mais que os Estados Unidos e Inglaterra para diminuir a participação destes países na economia brasileira). A opção em favor dos Estados Unidos (o abandono da "equidistância pragmática"), ocorre no final da década de 1930, isso fica claro com, e após, a Missão Aranha (1939), além de ter sido levado em conta a aproximação histórica entre Estados Unidos e Brasil.

Em 1930, ainda visando o aumento da exportação, o Brasil procurou uniformizar e regularizar as suas relações comerciais: sua proposta foi bem acolhida, firmando 3 tratados de cláusula incondicional de nação favorecida. Mas em 1935, todos os tratados de nação favorecida foram denunciados, pois notou-se a falta de reciprocidade por parte dos outros países que adotavam posições protecionistas.

O novo governo foi prontamente reconhecido pela comunidade internacional - principalmente porque o governo Vargas garantiu todos os compromissos internacionais. Seu primeiro chanceler foi Afrânio de Melo Franco. As políticas comerciais com as nações estrangeiras continuaram as mesmas cm as cláusulas de nação favorecida. Mas agora Vargas busca formas de cooperação e barganhas voltadas para o interesse nacional (com uma visão mais abrangente do que isso seria, contemplando outros setores que não o café). Sua política era mais pragmática e tinha a construção de uma siderúrgica como sua pedra angular.

A questão de Letícia: foi um contencioso antigo entre Peru e Colômbia por uma área que interessava também ao Brasil, que já a havia reconhecido ao Peru e também porque dava acesso direto ao rio Amazonas. Perigo maior seria se a Colômbia viesse a reivindicar a área de Apopóris-Tabatinga (reconhecido pelo Peru como brasileira). Um tratado (Ata de Washington) foi assinado, mas a população peruana força o governo a rever sua posição: os peruanos atacam, então, a região de Letícia. O Brasil adota postura de neutra após oferecer intermediação, que é de pronto recusada. Após as dificuldades, os dois países, firmaram um acordo no mesmo ano sob a chancela da Sociedade das Nações, que constituiu uma Comissão Administradora, formada por Estados Unidos, Brasil e Espanha. Essa comissão administrou o território por um ano, enquanto no Rio de Janeiro acontecia uma conferencia diplomática em Peru e Colômbia para solucionar de uma vez a questão. 1933: Afrânio de Melo intermedia o conflito e em 1934 os dois países aceitam o tratado de Salomón-Lozano(que além de acertar a linha de limites, incluía que todo e qualquer conflito entre os países deveria ser submetido à Corte Permanente de Justiça Internacional de Haia). A linha Apopóris-Tabatinga foi reconhecida como brasileira pelo tratado.

Mediação na Guerra do Chaco: originou-se pela disputa territorial da região do Chaco Boreal, tendo como uma das causas a descoberta de petróleo no sopé dos Andes. A posição inicial brasileira era a de não se envolver - principalmente porque tinha acabado de firmar tratados de limites com ambos os países e esses estavam tramitando internamente). Pelo tratado de Petrópolis de 1903, a Bolívia poderia passar com armamentos pelo território brasileiro; o Brasil, visando manter a igualdade, dá explicações ao Paraguai e concede-lhe também este direito. Somente quando estava certo de seu êxito (após várias tentativas de negociações por vários outros países), o Brasil abandona sua posição de neutralidade e, junto com outros países (especialmente com a Argentina), exerce o papel de mediador. O conflito é encerrado em 1938. Contudo, nenhum dos dois países realizou, efetivamente, seus objetivos. Nem o Paraguai conseguiu capturar a zona do petróleo, no rio Parapeti e adjacências, nem a Bolívia pôde expandir seu território até às margens do rio Paraguai, onde obteve apenas um porto franco e o livre trânsito para suas mercadorias. Assim, os grandes vencedores, na guerra entre o Paraguai e a Bolívia, foram o Brasil e a Argentina. Ao firmarem os tratados de vinculação ferroviária, Santa Cruz de la Sierra-Corumbá e Santa Cruz de la Sierra-Yacuiba, estes dois países receberam enormes concessões para explorar um petróleo, que, conforme se comprovou, jamais em grande quantidade comercial apareceu.

O Estado Novo, reflexos diplomáticos: o golpe autoritário de 1937 foi bem acolhido em Roma e em Berlim. Em Washington houve, primeiramente, apreensão, mas para tranquilizar os Estados Unidos de que o Brasil não tomaria nenhuma atitude de alinhamento ao Eixo, Vargas nomeia Oswaldo Aranha como Ministro das Relações Exteriores e envia-o para uma missão nos Estados Unidos para renegociar a dívida externa (1939) - além disso, a crise diplomática entre Brasil e Alemanha ajuda também a elevar o prestígio do Brasil com os Estados Unidos. (A principal preocupação dos Estados Unidos para com o Brasil foi em evitar que o Brasil ficasse sob a órbita de influência alemã; daí a facilidade de relação entre

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O Brasil e a 2ª Guerra Mundial: iniciadas as hostilidades em 1939, o governo Vargas declarou a neutralidade. Comercialmente, as importações e exportações alemãs sofreram acelerado declínio e as relações com a Inglaterra e com os Estados Unidos aumentam. O espaço de manobra para a equidistância pragmática esgota-se em 1941 (vai de 1935 a 1941) - devido principalmente à retração comercial por parte da Alemanha. Ainda havia o comércio com a Alemanha (comércio compensado), mas não era tão favorável como era o comércio com os Estados Unidos.

Ensejos para a Missão Aranha: além do aumento das exportações, o Brasil entendia como essencial para o desenvolvimento nacional uma siderúrgica e também a reorganização das Forças Armadas. Ante o medo americano da aproximação brasileiro ao Reich, o governo dos Estados Unidos convida Aranha para seu país. Objetivos dos Estados Unidos: por parte de assitência econômica, atrelar o Brasil aos Estados Unidos; fazia parte da política de boa vizinhança inaugurada por Franklin Delano Roosevelt. Economicamente a colaboração deixou a desejar (com a renegociação da dívida e obrigação de pagamentos e câmbio único); militarmente, iniciou-se o lento processo de aproximação entre os dois países. Pontos de discórdia: residiam na não aceitação pelo Brasil da presença de soldados estadunidenses no Nordeste e na relutância dos Estados Unidos em fornecer armas ao Brasil (não se sentiam confiantes em relação ao rumo que o Brasil tomaria).

1941: a CSN foi criada por decreto de Vargas, após um acordo diplomático, denominado Acordos de Washington, feito entre os governos brasileiro e estadunidense, que previa a construção de uma usina siderúrgica que pudesse fornecer aço para os aliados durante a Segunda Guerra Mundial e, na paz, ajudasse no desenvolvimento do Brasil. Neste mesmo ano, acorda-se que os Estados Unidos construiriam e melhorariam aeroportos na zona nordestina por onde passassem ingleses e estadunidenses para o norte da África, Índia e china. Nesta época o Brasil ainda estava neutro.

Brasil foi em evitar que o Brasil ficasse sob a órbita de influência alemã; daí a facilidade de relação entre os dois países, apesar de regimes antagônicos.)

Missão Sousa Costa aos Estados Unidos (1937): foi para pedir a aceitação do comércio compensado entre Brasil-Alemanha e também pedir ao Estados Unidos que dessem tratamento diferenciado ao pagamento da dívida brasileira. Além disso, os Estados Unidos comprometeram-se a ajudar o Brasil a instalar um Banco Central. A Missão Aranha, apesar de mais divulgada, possui menos êxitos.

A guerra não só alterou as direções do comércio exterior brasileiro como também diminuiu sua especialização. Café diminui de importância, enquanto que pneumáticos e câmaras de ar, bem como carne em conserva, aumentam. O saldo da balança comercial aumenta e a capacidade produtiva ociosa é esgotada; tanto que o Brasil fica necessitando de mais importações de bens de capital para continuar a expansão de sua indústria no pós-guerra.

Relações comerciais: 1934-1938: comércio teuto-brasileiro cresce não obstante o Programa Hull dos Estados Unidos (programa liberal para fazer frente aos alemães na América Latina). Com a Alemanha: o comércio era compensado: o valor das mercadorias eram contabilizados nas "caixas de compensação" de cada país e depois produtos de uma lista de exportação de cada país eram trocados. Com os Estados Unidos o comércio teve como base a cláusula de nação favorecida; além de um tratado de 1935 que concedia favores alfandegários aos Estados Unidos em troca da redução de impostos alfandegários ao café: o acordo foi criticado, pois argumentava-se que este acordo iria destruir a incipiente indústria brasileira, além disso dizia-se que o Brasil era o principal vendedor de café aos Estados Unidos e que isso não mudaria, com ou sem acordo. O comércio compensado, que inicia-se em 1936, é reduzido sensivelmente após o bloqueio inglês imposto aos alemães.

O projeto siderúrgico: GV sentindo o momento como adequado, procura, com os Estados Unidos, obter vantagens concretas para o desenvolvimento da economia nacional: tecnologia e recursos para a construção de uma usina situada em Volta Redonda (RJ). Os Estados Unidos procuravam ganhar tempo; não havia interesse das firmas estadunidenses pelo empreendimento. GV fez constar que procuraria o auxílio e uma firma alemã, a Krupp. Em 1940, GV faz discursos elogiando o sistema autoritário e prevê o fim das democracias. As autoridades alemãs fazem acordos secretos com o Brasil mostrando interesse em aumentar o comércio com o Brasil; os Estados Unidos, por sua vez, mostram disposição em continuar as conversações com o Brasil; conclui-se acordo pelo qual os Estados Unidos concederiam ajuda financeira (via Eximbank) e tecnológica para a usina siderúrgica; além disso, dispunha-se a comprar mais café.

A participação no conflito: o ataque japonês a Pearl Harbor (1941) leva o Brasil a condenar e declarar solidariedade aos Estados Unidos. Apesar de ameaças e pressões, o Brasil, não sem antes obter dos Estados Unidos promessas de que as Forças Armadas seriam reequipadas, rompe com o Eixo. (Argentina e Chile mantiveram as relações com o Eixo.) 1942: Sousa Costa (Ministro da Fazenda) vai aos Estados Unidos e fecha acordos de natureza militar, estratégica e econômica, inaugurando uma etapa de

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Uma vez criado o Ministério da Aeronáutica (1941), a FAB foi modernizada. A formação foi feita em parte por intercâmbio com os Estados Unidos e por causa dos aviões cedidos através do sistema Lend-Lease (mais de 300 aviões); a contrapartida foi a cessão e construção de bases na saliência nordestina (que depois do uso ficariam com o Brasil, logicamente). O Brasil participou de operações no Mediterrâneo com caças ("Senta a Pua") e com esquadrilha de observação e ligação ("Olho Nele").

A participação no conflito deixou um grande saldo positivo para o Brasil. As Forças Armadas foram modernizadas; o Brasil sai da Guerra com prestígio internacional e o aumento do orgulho nacional foi enorme. Houve aproximação entre oficiais brasileiros e estadunidenses, inaugurando, assim, uma nova etapa de colaboração que se prolongou após o conflito. A declaração de guerra ao Japão, em 1945, por parte do Brasil, decorreu do interesse brasileiro em prolongar o estado de guerra para permanecer com a posse de equipamentos cedidos pelos Estados Unidos por meio da Lei de Empréstimo e Arrendamento estadunidense (lei aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1941, conferindo poderes ao Executivo vender, transferir, trocar, arrendar e emprestar armamentos e equipamentos a qualquer país sempre que a defesa dos Estados Unidos assim exigisse; ficou conhecida como Lend and Lease; foi motivada pela situação da Inglaterra em 1941, que não dispunha de ouro ou dólares para armamentos e estava em situação crítica contra a Alemanha).

colaboração que vai além do período varguista. O fornecimento dos Estados Unidos, a elevação do crédito ao Brasil e outras cooperações tiveram como contrapartida o fornecimento pelo Brasil aos Estados Unidos de matérias-primas estratégicas (borracha e minerais). Os Estados Unidos venderam armas e munições a preços inferiores ao custo; forneceram capital para assumir o controle de subsidiárias alemãs (bem como de empresas italianas) e também capital para o desenvolvimento da indústria extrativista mineral e vegetal de importância militar. Em 1942, os Estados Unidos foram autorizados a modificar e utilizar as bases de Belém, Natal e Recife. Os ataques submarinos do Eixo a navios mercantes brasileiros, em 1942, fez o Brasil decretar estado de beligerância ao Eixo. A participação direta no conflito pelo Brasil decorreu mais de sua vontade do que de necessidade. A Inglaterra era contra; para os Estados Unidos o Brasil já fazia as contribuições necessárias, mas o Brasil, visando maior importância política no pós-guerra (pois o Nordeste não era mais estratégico, pois o norte da África já estava sob controle aliado) envia soldados que seriam integrados ao comando norte-americano (após decisão da Comissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos); seus armamentos, bem como a garantia das linhas de comunicação, foram fornecidos pelos Estados Unidos. Os oficiais também receberam estágio nas escolas militares estadunidenses. A Marinha também se incorpora à Esquadra Estadunidense (Quarta Esquadra). Além da instrução técnica, os Estados Unidos também cederam unidades navais.

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O Brasil, por ter colaborado na guerra e ter se redemocratizado, pensava gozar de "relações especiais", mas frustra-se já com o direcionamento do Plano Marshall e com o entendimento de Washington de que o investimento na América Latina era assunto para o BIRD e capitais privados.

Em 1948, Brasil e Estados Unidos constituem comissões técnicas para estudar a situação econômica do país, mas as medidas destas comissões deveriam ter por fim encorajar o fluxo de capital privado para o Brasil. Quanto ao aspecto político-militar, houve completo alinhamento na gestão Dutra. Um dos marcos deste alinhamento foi a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) em 1947: integra o sistema interamericano ao sistema mundial e previa mecanismos de manutenção da paz e segurança do hemisfério; a América Latina enquadrava-se na geopolítica estadunidense sem utilizar-se da barganha, especialmente para uma decisão deste porte (o chanceler dessa época era Raul Fernandes). Brasil rompe relações diplomáticas com a URSS. Também acompanha o voto dos Estados Unidos na ONU em relação à China Popular, apoiando a China de Chiang-Kai Shek. Interessante é que somente nos pontos econômicos é que haviam divergências com os Estados Unidos.

Dutra e o Alinhamento na Guerra Fria: o Brasil estava sob intensa influência cultural, política e econômica dos Estados Unidos. Esta influência foi resultado de um plano dos Estados Unidos que começou na 2ª Guerra Mundial por questões de segurança, estratégia militar, conquista de mercado e fortalecimento das relações econômicas, trazendo o Brasil à órbita dos Estados Unidos.

Apenas com a Guerra da Coréia (1950-53) surgiram outras possibilidades de cooperação mais sólida dos Estados Unidos para a política de desenvolvimento dos países latino-americanos. Assim, nos dois primeiros anos do governo Vargas foi possível aumentar o poder de barganha do Brasil. Tal quadro foi facilitado por várias razões: a primeira delas, pela solicitação norte-americana (não atendida) de envio de tropas brasileiras para o front coreano; a segunda, pelo fornecimento de minerais estratégicos, importante para os esforços militares; por último, a promessa de financiamento aos programas de desenvolvimento brasileiro e a criação da Comissão Mista Brasil -Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico. O sucesso inicial da estratégia brasileira de barganha foi resultado, em grande medida, da firme atuação dos países latino-americanos que se opuseram ao governo norte-americano no decorrer da IV Reunião de Consulta. Naquela ocasião o Brasil obteve condições entendidas como favoráveis nas negociações bilaterais com a Casa Branca.

IV Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos (1951): convocada pelos Estados Unidos que estavam preocupados com o desenvolvimento do comunismo internacional; o objetivo seria integrar todos os países num bloco econômico e político-militar. O Brasil sente que este era o momento mais adequado para reclamar a cooperaão econômica doa Estados Unidos. A reivindicação culminou com a criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico.

O Brasil também faz constar que a economia de guerra (da Guerra Fria) impunha ônus aos recursos das nações menos desenvolvidas numa escala maior do que sobre as industrializadas, em razão do que se fazia necessário o robustecimento da estrutura econômica brasileira para que ela pudesse suportar as intempéries desse novo período da história. Daí a necessidade de investimentos. Esse novo enfoque na parceria entre os Estados Unidos e as nações subdesenvolvidas, adotado pelos Estados Unidos, veio da liderança brasileira.

Tal postura reivindicatória representou um marco, pois foi mantida nas gestões subsequentes a Vargas e adquiriu mais contundência no lançamento da OPA com JK e na PEI de Jânio e Goulart. O argumento central era que a miséria das massas criava uma situação de risco para a democracia no continente, daí a necessidade do desenvolvimento. A frustração do governo Dutra sobe ao tom reivindicatório no governo Vargas.

A CMBEU: ficou encarregada de formular projetos para a apreciação de instituições financeiras como o BIRD e o Eximbank. O Brasil, como contrapartida da ajuda financeira, deveria fornecer minerais estratégicos aos Estados Unidos. Durante a CMBEU, Vargas cria a Petrobrás (1951) e decreta nova lei sobre remessa de lucros pelas empresas estrangeiras (1952): os Estados Unidos viam isso como um "prestar contas à esquerda nacionalista". Com a eleição de Eisenhower, a CMBEU é extinta, sepultando de vez o mito do relacionamento especial. Do ponto de vista técnico, a CMBEU apresentou resultados positivos (incorporados por JK em seu Plano de Metas). Ainda no contexto da Comissão Mista, cumpre destacar o Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico, conhecido como Plano Lafer, elaborado na conjuntura da Guerra da Coreia, com os Estados

O Segundo Governo Vargas e a Pressão Nacionalista: o populismo, o nacionalismo e o antiimperialismo tornam-se categorias cada vez mais presentes.

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conhecido como Plano Lafer, elaborado na conjuntura da Guerra da Coreia, com os Estados Unidos recebendo apoio diplomático brasileiro. Originado dos estudos da CMBEU, previa a importação de máquinas e equipamentos com empréstimos, que seriam fornecidos pelo BIRD e pelo Eximbank. O Plano Lafer, embora aprovado pelo Congresso Nacional, não foi aplicado integralmente.O acordo militar e os minerais atômicos: em 1952 aprova-se o Acordo de Assistência Militar Recíproca; nova estratégia dos Estados Unidos após a Guerra da Coreia: os Estados Unidos forneceriam armas, financiamento e treinamento em troca de matérias-primas estratégicas. Foi tido como um acordo entreguista e só foi aprovado graças à UDN. O governo Vargas apresentava-se, ao olhos de outros países, contraditório. O acordo foi feito sem as chamadas compensações específicas, que consistiam na transferência de técnicas e na aquisição de equipamentos para o desenvolvimento de energia atômica. Na busca de alternativas, o CNPq, presidido pelo Almirante Álvaro Alberto, negocia a compra de 3 ultracentrífugas de firmas alemãs, mas não as recebe - o que mostra a insatisfação por parte do Exército com a aproximação aos Estados Unidos. Na década de 1950, há uma aceleração do discurso anti-estadunidense.

Fim do governo Vargas e a pressão estadunidense: alguns fatores: Petrobrás; lei de remessa de lucros (somente 10% a.a. dos lucros poderiam ser remetidos ao exterior do capital inicialmente investido); lei que pedia a criação da Eletrobrás. A crise interna passou a ter nas relações externas um importante componente ligado ao desenvolvimento, confrontando-se com os Estados Unidos.

Política referente à questão nuclear: em 1955 é assinado um acordo de cooperação de usos civis de energia atômica e o Programa Conjunto de Cooperação para o Reconhecimento de Recursos de Urânio no Brasil, surge no espírito da política "Átomos para a Paz" de Eisenhower. Este acordo decorria do Atomic Energy Act de 1954, pois até então os Estados Unidos não faziam qualquer tipo de transferência na área atômica.

Café Filho, na política externa brasileira, representou um retorno ao período Dutra; esvazia as funções de negociador no exterior do CNPq e as passa ao Itamaraty (comandado por Raúl Fernandez). As Forças Armadas reclamam de não ter sido consultadas e também porque o acordo comprometia as reservas brasileiras de tório e urânio que fossem descobertas. O Itamaraty não via problemas com o fato de não ter havido compensações específicas pelo fornecimento de minerais radiotivos.

O hiato Café Filho: este era mais simpático ao capital estrangeiro; Eugênio Gudin visita os Estados Unidos e consegue 200 milhões de dólares de empréstimo com bancos estadunidenses. O intercâmbio comercial com os Estados Unidos apresenta melhora se comparado com o ano anterior.

Operação Pan-Americana (OPA): proposta de cooperação internacional de âmbito hemisférico, na qual se insistia na tese de que o desenvolvimento e o fim da miséria seriam as maneiras mais eficazes de se evitar a penetração de ideologias exóticas e antidemocráticas. Foi lançada logo após a viagem mal-sucedida de Nixon à América Latina, na qual ficou evidente o sentimento anti -estadunidense. Buscava não somente o desenvolvimento do Brasil, mas da América Latina como um todo. A primeira fase da OPA foi em maio através de uma carta a Eisenhower. Como resposta à OPA costuma-se apontar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) e a Aliança para o Progresso (de Kennedy) . A ALALC (Tratado de Montevideu, 1960) não era uma união aduaneira, mas visava a estabilidade e ampliação do intercâmbio comercial, desenvolvimento de novas atividades, aumento da produção e substituição das importações de países não-membros. Em 1960, a OPA ainda era mais intenção do que projeto.

Relações bilaterais com os Estados Unidos: as relações entre os dois países careciam de equilíbrio. O Brasil fizera o pagamento de maior vulto de amortizações de empréstimos já efetuado por qualquer outro país, com uma única exceção, ao Eximbank e não recebia a ajuda necessária em retorno. Além disso, exceto o Reino Unido e a Alemanha, o Brasil foi o que mais recebia exportações estadunidenses. Só durante a Revolução Cubana, que chama a atenção dos Estados Unidos para a América Latina, que o Brasil recebe um empréstimo do FMI (com o qual havia rompido em 1959).

Defesa da agroexportação: o Brasil lutou pela estabilidade dos produtos primários nos organismos internacionais. Reagiu com apreensão à firmação do Mercado Comum Europeu em razão da concorrência desigual que ele gerava para países não-signatários. Buscou-se corrigir algumas falhas do Gatt que não beneficiavam os países não-desenvolvidos para diminuir as regalias do Mercado Comum Europeu. Horácio Lafer apresenta à CEE a inquietação brasileira com a tarifa alfandegária comum e o agravamento do favorecimento dos territórios não-autônomos.

1958: Conferência Internacional do Café: buscava dotar o produto de racionalização no comércio para previnir os males advindos das flutuações bruscas.

1959: Brasil restabelece as relações comerciais com a URSS (também para escoar o café e suprir a ○

Juscelino Kubitschek: rumo à diplomacia brasileira contemporânea:

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carência de petróleo. Mas as relações diplomáticas continuaram interrompidas.África e Ásia: o Brasil não deu a atenção devida à África Negra em seu período mais importante (independência) e acompanha as nações colonialistas na ONU. Na década de 1960 o Brasil reconhece 17 países africanos e reconhece o crescimento da importância política da África Negra. Adota-se o princípio da autodeterminação, mas não faz a condenação ao colonialismo.

Os acordos de Roboré: os Acordos de Roboré foram tratados polêmicos celebrados entre Brasil e Bolívia, no ano de 1958. Vem do fato de o Brasil não ter explorado e não ter o capital para explorar uma área boliviana rica em petróleo. Como o Brasil não fez essa exploração a Bolívia pede a revisão do tratado, pois via que as pressões de outras companhias estrangeiras para explorar seu petróleo era grande (o tratado continha alguns outros assuntos também). São compostos de 31 instrumentos diplomáticos, que tratam de assuntos como a exploração do petróleo da Bolívia; a ferrovia Corumbá—Santa Cruz de la Sierra, cujo último trecho havia sido inaugurado em janeiro de 1955; e a circulação de mercadorias bolivianas. Recebeu a crítica dos nacionalistas e de outros setores da sociedade, que classificaram os acordos de “entreguistas”. Isso porque o Brasil, ao rever um acordo firmado com a Bolívia em 1938 (gestões Getúlio Vargas e Germán Busch), acabou cedendo territórios, abrindo mão de garantias de dívida e perdendo na negociação que envolvia o petróleo para exploração dos Estados Unidos e do Brasil (praticamente o Brasil se excluía de explorar o petróleo boliviano, a que tinha direito, em favor de empresas estadunidenses). Para os deputados era uma tentativa dos entreguistas de acabar com a possível independência petrolífera brasileira ao tentar acabar com a prospecção da Petrobrás, alijando-a. Na época, essas medidas não foram examinadas pelo Congresso Nacional por serem notas reversais, isto é, notas que dispensam a aprovação do Legislativo. Mais tarde, em 1961, o ministro das Relações Exteriores, San Tiago Dantas, informou que submeteria quatro reversais ao exame do Congresso.

A partir de JK, a política externa brasileira ganhou notoriedade nos planos externo e interno. Assentou-se as bases da posterior PEI e balizou-se o início da história contemporânea da diplomacia brasileira.. Busca-se divulgar o país em todos os níveis.

Envio do Batalhão de Suez, atuando pela ONU em 1956.○

A autodeterminação surge como leitmotiv da retórica do Itamaraty.○

JK também traz a questão do desenvolvimento para a consolidação da paz (investir em países pobres ao invés de gastar com armamentos).

Fundamentos da PEI: mundialização das relações internacionais do Brasil; atuação isenta de compromissos ideológicos; ênfase na bissegmentação do mundo entre Norte e Sul e não mais entre Leste e Oeste; busca da ampliação das relações internacionais; desejo de participação nas decisões internacionais; luta pelo desenvolvimento, pela paz e pelo desarmamento; posição contrária à realização de experiências nucleares; autodeterminação e não intervenção; e aproximação com a Argentina. Um grande obstáculo da PEI foi o seu descompasso com a política interna.

O Brasil procurou ser o elo entre a África e o Ocidente - as posições anteriores seriam "equivocadas posições".

A confiança inspirada por seu plano econômico ortodoxo facilita a renegociação da dívida com o FMI e 8 países europeus. JQ faz ampla reforma no Itamaraty, buscando modernizá-lo.

Europa Ocidental: as exportações brasileiras dobraram, especialmente com a Inglaterra e com a Polônia. Os acordos visavam basicamente a troca de matérias-primas (café, algodão, cacau, fibras e minérios) por produtos industriais (carvão, petróleo, produtos químicos, máquinas agrícolas, metais ferrosos, zinco e chumbo).

Jânio Quadros (janeiro-agosto de 1961): sua política externa assumira, de maneira realista, a defesa dos direitos brasileiros sem o alinhamento e repousava na ideia de política nacional desenvolvimentista - ampliando mercados sem preocupações ideológicas. O desenvolvimento é quem iria promover a paz e a democracia. Urgia-se demonstrar a eficácia da democracia capitalista frente ao comunismo através do desenvolvimento - em estrito acordo com a OPA.

A Política Externa Independente (PEI): do apogeu ao populismo (1961-1964): apesar de todos os problemas internos que passava o Brasil, a política externa continuou com unidade. Isso porque ela era influênciada por um conjunto de ideias que provinham do período nacional-desenvolvimentista-populista. Ela foi um processo e não um projeto concebido em detalhes. Partia de uma visão universal, pragmatista (buscava os interesses do país sem preconceitos ideológicos); não só ampliou a política de JK em termos geográficos, como também enfatizou as relações Norte-Sul. A descolonização e a crise soviético-estadunidense, ainda por causa da crise cubana, facilitou a formulação da PEI com respeito ao não-alinhamento aos Estados Unidos, pois era uma política sem compromissos, visando obter vantagens para o Brasil em um mundo dividido em dois blocos. A auto-determinação entra como meio de reivindicar mais liberdade de movimento no cenário internacional. Afastava-se da Portugal salazarista e apoiava a descolonização da África. A Pei teve início com Jânio Quadros e com o seu chanceler Afonso Arino de Melo Franco.

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URSS e China: reestabelecimento das relações diplomáticas, interrompidas em 1947. Aumentando-se as exportações brasileiras. Com a China, Jânio envia Jango para novos mercados e também para angariar prestígio internacional, com efeitos negativos internamente, mas positivos bilateralmente.

Nações afro-asiáticas: elo da ponte da África-Ocidente e aumento de mercado. Politicamente, buscou-se a neutralidade e não foi além disso na ONU com votos de abstenção (em razão de compromissos anteriores com Portugal).

O contexto hemisférico: não apoia a posição estadunidense de tomar atitude armada contra Castro; culminação do processo de aproximação com a Argentina - iniciado em 1958; a proposta de um bloco neutralista no Cone Sul não foi aceita pela Argentina (que não queria se distanciar dos Estados Unidos).

Aliança para o Progresso: coincidiu com a gestão JQ o lançamento da Aliança para o Progresso de Kennedy. Consistia na destinação de US$20 bilhões para a Aliança em dez anos. É decorrência da OPA e da invasão de Cuba. A Aliança seria reformista e contra-revolucionária (um instrumento para alinhar os países latino-americanos e isolar Cuba), oposta à reforma social e pela manutenção do status quo. Foi enfatizada a necessidade do alinhamento da América Latina na Guerra Fria. Diferia do Plano Marshall pela menor quantidade de recursos e promoveria a melhor utilização do mercado estadunidense, que estava com alto desemprego e excesso de produtos alimentícios. Ao analisar a antinomia "comércio versus ajuda", afirmou-se que a deterioração dos preços dos produtos primários exportados pela América Latina aos Estados Unidos havia descodp a tais níveis, cuja perda superava o que se recebia sob a forma de empréstimos e doações; assim, a ajuda não trazia desenvolvimento. A Aliança era combatida tanto pela esquerda quanto pela direita .

Reação interna e continuidade: embora a renúncia de JQ tenha provocado grave crise política interna e mudança de rumos internos, o mesmo não aconteceu no referente à política externa. A continuidade da política externa brasileira deve-se ao fato de a PEI ter sido o desdobramento de uma tendência da política exterior brasileira que vinha desde o 2º governo Vargas. Tendência essa de não acompanhar a política exterior dos Estados Unidos e que decorria da emergência de nova configuração econômica brasileira, que modificava a complementariedade das economias dos dois países.

Brasil-Argentina: foi dedicada atenção especial à Argentina; uma aproximação maior com a América Latina deveria começar com o entendimento com a Argentina através dos Acordos de Uruguaiana, que, entre outras coisas, estabeleceu o sistema de consultas recíprocas. Foi previsto o funcionamento de uma Comissão Mista Permanente de Consulta; além disso, foram firmados acordos de extradição e uma convenção sobre assistência gratuita. Brasil e Argentina foram vistos como o núcleo de um grande mercado latino-americano e a cooperação deveria ser estendida para a área cultural e científica. Com a deposição de Frondizi, ocorreu uma reorientação da política externa argentina, na qual se incluía o fim do "espírito de Uruguaiana".

Emenda Hikenlooper: emenda dos Estados Unidos na qual a ajuda estadunidense ficaria suspensa nos países que procedessem nacionalizações sem as devidas indenizações imediatas e adequadas. Isso ocorre bem quando Brizola desapropria a ITT no Rio Grande do Sul.

Aliança para o Progresso e os Estados Unidos: a posição de Dantas em relação à AP era moderada e conciliadora; aceitava a ajuda externa, mas desde que não implicasse na intervenção do desenvolvimento e na diminuição da soberania nacional. A AP não produziu os efeitos esperados; a queda dos produtos primários anulava os efeitos da cooperação. Em 1962, Jango vai a Washington encontrar-se com Kennedy (visando aumentar seu prestígio no Brasil). Jango manifesta a intenção de manter condições de segurança que permitirão ao capital privado desempenhar seu papel vital na economia nacional; as encampações serão feitas através de justas compensações. Mesmo assim, Kennedy não libera os empréstimos (nem do governo dos Estados Unidos, nem do FMI e nem de bancos estadunidenses privados).

Em 1962, o Congresso Nacional altera a lei de remessas de lucros; diminuindo os investimentos estrangeiros e concessões de crédito para o Brasil (exceto para Carlos Lacerda, governador do então Estado da Guanabara).

João Goulart e o Parlamentarismo (1961-1964): San Tiago Dantas como ministro das Relações Exteriores. Continuidade da PEI mas sem descuidar dos tradicionais recebedores de produtos brasileiros (Europa Ocidental e Estados Unidos), e investir nas relações comerciais entre Brasil, América Latina e países socialistas. O pan-americanismo era um instrumento de luta pela emancipação econômica e social das nações deste hemisfério. Cabe ressaltar a posição de independência em relação a blocos que o Brasil tomou. Cada voto brasileiro seria analisado de acordo com os interesses do Brasil - isso desinibia o país em suas relações comerciais e diplomáticas.

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Lacerda, governador do então Estado da Guanabara).Dantas vira Ministro da Fazenda em 1963: consegue obter crédito externo para o saneamento da economia, mas somente um sexto foi liberado.

A VIII Reunião de Consulta: repudiou o comunismo na América, reiterou o respeito aos princípios da não intervenção e autodeterminação e excluiu o governo de Cuba da participação do sistema interamericano, suspendendo o comércio e o tráfico bélico com a Ilha cubana. O voto do Brasil foi de abstenção. Diferente da Colômbia, o Brasil afirmou que não era o caso de se invocar o TIAR. A opinião pública interna ficou dividida. O que importava para Dantas era frear o expansionismo do regime cubano e sua exclusão da OEA não traria nenhum resultado.

A questão cubana: mantém o princípio de não-intervenção e de autodeterminação; deixando claro não se tratar de "simpatia ideológica". Adotou-se, assim, uma postura conciliadora: respeitar o princípio de não intervenção e ao mesmo tempo, para a defesa da democracia no continente, neutralizar o regime cubano por meio de um estatuto que regulasse suas relações com o restante da América. Dantas dizia que o afastamento de Castro o levaria cada vez mais para a órbita socialista; a questão cubana poderia sair do âmbito da América para tornar-se parte do conflito Leste-Oeste.

A questão de Angola: a posição brasileira era anticolonialista, mas argumentava-se também que havia laços históricos, culturais e de amizade que ligavam Brasil à Portugal. Assim apoiava a independência de Angola e ao mesmo tempo reiterava a amizade com os portugueses, dizendo que aguardava a aceitação do princípio de autodeterminação por parte dos portugueses. Protelava-se a questão. A amizade com Portugal inibia a PEI.

O restabelecimento de relações diplomáticas com a URSS: processo iniciado na gestão JK/Horácio Lafer, quando foram reestabelecidas as relações comerciais e culminaram em 1961 com as relações diplomáticas, interrompidas em 1947. A intenção era a de ampliar mercado, contribuir para a existência e para a causa da paz. Não era alinhamento ideológico; era o bloco que mais apresentava índice de crescimento comercial para o Brasil no mundo todo. Pensava-se, os críticos, que a URSS utilizaria as relações com o Brasil para transmitir ideias subversivas, para influir na vida dos brasileiros e outros povos latino -americanos. Mas os números eram a favor do intercâmbio. A PEI não negava a importância dos Estados Unidos; mas ficou marcada como antiamericana.

Conferência de Desarmamento em Genebra: posição de equidistância do conflito Leste-Oeste. Foi contra as explosões atômicas; apresenta a ideia de reconversão econômica (seria o utilizar os recursos de armamentos em questões ligadas ao desenvolvimento) . Propõe o trinômio: desarmamento, inspeção e reconversão econômica .

O TIAR não foi invocado na questão cubana pois o Brasil sustentava que o acordo tratava somente de agressão extracontinentais; mas Cuba é excluída da OEA. Com a "crise dos mísseis", o argumento de que a questão cubana era interna perde força; e o apoio de Goulart à política de Kennedy não impediu a deterioração das relações entre os dois. A partir de 1962, o governo dos Estados Unidos passam a intervir diretamente na política interna brasileira: especialmente prestando ajuda financeira aos candidatos anticomunistas (especialmente no Nordeste); além disso, aumentam a presença de seus nacionais no território brasileiro com "passaportes especiais". Em 1962, Bob Kennedy vem ao Brasil para influenciar Goulart na escolha de seu ministério; Goulart não aceita a ingerência e não aprecia a inferência de que seus ministérios possuíam comunistas.

Missão San Tiago Dantas (1963): ocorreu para angariar recursos e reescalonar a dívida externa; para auxiliar a executar o Plano Trienal de Celso Furtado. Não duvidavam do plano, mas da capacidade do dito "irregular" Goulart aplicar o plano. A missão não vai bem, mas fecha-se o Acordo Bell-San Tiago Dantas: os Estados Unidos ajudariam mas o Brasil deveria buscar recursos

As Relações Bilaterais Brasil-Estados Unidos (1945-1964): ao longo de 1945-1964, exceto o período Goulart, manteve-se a tradicional política de amizade e aproximação entre os dois países. Dados: principais parceiros econômicos e principais investidores; na política mundial, o Brasil geralmente acompanhou as decisões estadunidenses; as reivindicações brasileiras foram o principal item da agenda Brasil-Estados Unidos (desde a gestão Dutra/Raul Fernandes). Nos anos de 1950, há um agravamento da necessidade de desenvolvimento para atender ao seu rápido crescimento populacional e urbano; o quadro mundial, marcado pela primazia estadunidense retirava do Brasil o poder de barganha. Vargas adota então nacionalistas, de um lado, e cooperacionaistas em relação aos Estados Unidos de outro lado. O tom de reivindicação torna-se cada vez mais insistente. Café Filho representa um hiato entre GV e JK. Este busca os Estados Unidos por meio bilaterais e multilaterais (OPA); mas, ao mesmo tempo, rompe com o FMI. Cuba indo ao socialismo faz com que a relação Brasil-Estados Unidos melhore - o FMI, por exemplo, desiste de suas exigências facilitando o acesso ao financiamento. JQ melhora a imagem do Brasil em relação aos investidores estrangeiros com sua política econômica ortodoxa, mas desgasta a imagem brasileira, com os Estados Unidos, com sua política externa. Com Goulart o desgaste é completo (para os Estados Unidos, sua administração era um risco ideológico): encampação, reforma agrária e lei de remessa de lucros são alguns dos fatores.

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com outras fontes internacionais diversas das estadunidenses. A liberação seria escalonada e condicionada a aplicação que daria o governo brasileiro ao dinheiro no Plano Trienal. O governo não consegue colocar o acordo em prática, especialmente após a substituição de todo o ministério em 1963. San Tiago sai do Ministério das Relações Exteriores (ele tinha boas relações com Washington e agora os Estados Unidos viam o novo ministério com desconfiança).Fim do Plano Trienal: os Estados Unidos mudam o enfoque ainda mais, especialmente após a saída de Dantas. Veem que o acordo não estava sendo cumprido, mudam os termos de concessão para projetos (de locais escolhidos por eles, que trabalhassem na direção proposta pela Aliança para o Progresso) e não mais para sanar a economia como previa o Plano Trienal.

Operação Brother Sam (1964): cancelada, mas serviria para fornecer armamentos e suprimentos para os revolucionários. A "Revolução" foi completamente feita por brasileiros, mas os Estados Unidos acompanharam de perto e com interesse. Houve a força da ajuda econômica contra Goulart, bem como a influência ideológica nas Forças Armadas brasileiras, desde a 2ª Guerra Mundial.

Para os EuA Jânio praticou com a PEI um "neutralismo tático"; já Goulart era visto como esquerdista, um "caso perdido".

Os Estados Unidos e o golpe de 1964: os Estados Unidos financiaram o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e a ADEP (Ação Democrática Popular), que financiaram candidatos direitistas em 1962. Empresas estadunidenses pressionaram seu governo com o propósito de provocar um colapso na economia brasileira, suspendendo a ajuda para o balanço de pagamentos brasileiro. Gordon mantinha contatos com Lacerda e empresários a favor do golpe. A CIA analisa que a maioria da população era nacionalista e que um corte da ajuda fortaleceria o governo de Jango. Assim, prevendo uma guerra civil, arma grupos paramilitares.

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Princípios da "correção de rumos": a) bipolaridade: adota-se a ideologia do Leste-Oeste, visando aproximar-se principalmente dos Estados Unidos (política e economicamente); b) abertura ao capital estrangeiro: busca criar as condições para tornar o Brasil atraente ao capital estrangeiro e induzir o livre mercado (sem Estado e sem fronteiras); c) a contradição:o alinhamento não implicaria rupturas com as velhas tendências do país e nem com um alinhamento prévio a qualquer potência: deveria ser ordenado.

Esta política não perdura porque não marchava de acordo com o tempo; especialmente porque o confronto bipolar estava já em distensão desde 1962 (após a crise dos mísseis em Cuba e após o término da guerra na Argélia). Enquanto todos relaxavam a bipolaridade, o Brasil buscava reforçá-la. Em 1962, estava quase concluída a descolonização da África; o 3º Mundo irrompe como força mundial (que hesitava entre o neutralismo da Índia, o neutralismo positivo do Egito ou o alinhamento ou não-alinhamento de tantos outros países). O 3º Mundo começa a julgar-se com o direito de receber ajuda para o seu desenvolvimento e, em 1964 (na UNCTAD), desloca o eixo Leste-Oeste para Norte-Sul.

O pensamento de Castelo Branco vinha de duas vertentes: da ESG (expoente Golbery) e da ação das elites brasileiras através de certos órgãos (IPES, IBAD e ADEP) - estas duas vertentes dialogavam-se e estavam articuladas. A fragilidade e a contradição dessa política contribuíram para o seu abandono.

A "correção" de 1964: um passo fora da cadência: presidente da República: Castelo Branco; chanceler: Vasco Leitão da Cunha. Nesta época propõe-se desmantelar os princípios da PEI e colocar o Brasil em alinhamento com os Estados Unidos. Lutava-se contra o nacionalismo que afugentava os investidores e contra a estatização. A política externa também seria contra o rompimento com Portugal e com o Ocidente em nome do anticolonialismo.

As relações com o Ocidente: a) eliminar atritos entre Brasil e Estados Unidos; b) enquadrar aqs relações interamericanas em esquema funcional, mediante a segurança coletiva e o mesmo tipo de vínculos econômicos. O Brasil supunha recolher incrementos de capitais e de tecnologia dos Estados Unidos, além da ampliação da "reserva de mercado" na América Latina às filiais brasileiras das matrizes estrangeiras. Mas recebe somente um pequeno vulto de cooperação via Aliança para o Progresso. Em 1965, na missão Fulbright, a dívida com os Estados Unidos, Europa e Japão é reescalonada.

1965: Brasil lidera as forças interamericanas de paz na República Dominicana. Neste ano, inaugura-se a Ponte da Amizade entre Brasil e Paraguai.

A ação do Brasil no continente americano, apesar de servil e coerente, não obteve dos Estados Unidos ou do Ocidente a contrapartida esperada em termos de ajuda ao desenvolvimento brasileiro.

O projeto continental do Brasil: rompe-se com Cuba; pretende-se imprimir maior atenção à OEA, Alalc, Alianca para o Progresso e TIAR. (A integração latino-americana supunha a limitação das soberanias em benefício da segurança coletiva e das fronteiras ideológicas.) A OEA suspende o comércio, as relações diplomáticas e consulares e o transporte marítimo com Cuba (em 1964).

Defende a "segurança econômica coletiva" (nos moldes das reivindicações da OPA); integra o Grupo dos 75, criado para coordenar as posições do 3º Mundo; condena a doutrina do market disruption (com que os países do Norte justificavam o contingenciamento das

O universalismo inevitável (a contradição): Castelo Branco mão era tão alienado quanto ao sistema econômico internacional quanto estava demonstrando ser no plano político. Suas concepções neste ponto eram realistas, postulavam um universalismo tanto geográfico quanto político. Visava melhores relações com o Ocidente, mas também ampliar o mercado para as exportações brasileiras. Direciou-as em 3 direções: autação em órgãos multilaterais não-regionais (UNCTAD, GATT, Conferência do Desarmamento e ONU); incentiva a ampliação de negócios com os países socialistas e os contatos com a África sub-saariana.

A Frustrada Correção de Rumos e o Projeto Desenvolvimentista: o início do regime militar de 1964 estabeleceu um padrão de relações externas, que só foi rompido em 1967 (ao engajar-se em um projeto de longo prazo - cuja continuidade não foi rompida nem pelo governo civil de 1985). Castelo Branco inicialmente aceita as concepções da nova ordem internacional engendrada pelos Estados Unidos no pós-guerra, aceitando o liberalismo econômico e as fronteiras ideológicas. Após 1967, o regime militar recuperou em pouco tempo as tendências da política externa brasileira das últimas décadas (GV e JK) e utiliza a política externa como variável externa, como instrumento para preencher as demandas do desenvolvimento - adotando-se o pragmatismo e o realismo. Somente em 1989 é que o ciclo desenvolvimentista é concluido - inaugurado por Vargas em 1930. a política externa perde seu foco nos anos 1990, recorrendo à subserviência às novas estruturas e formas do poder global.

Regime Militarquarta-feira, 20 de julho de 2011

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market disruption (com que os países do Norte justificavam o contingenciamento das importações; sugere a criação de um fundo para canalizar os gastos com armamentos para se investir no desenvolvimento). Procura aceitar as divergências políticas com a Europa do Leste e desenvolver não só o comércio, mas relações econômicas que levassem ao desenvolvimento. Quanto à África, condena o colonialismo, mesmo que retoricamente, e o regime do apartheid da África do Sul, buscando ampliar o mercado.

Posição e estratégia da diplomacia, que segue o mesmo rumo até 1989: a diplomacia foi o instrumento do expansionismo econômico; buscou o consenso, apelando para a complexidade do Brasil; e apoiou-se no esforço interno para direcionar-se pelo mundo, contra a desigualdade social e a desordem do capitalismo. Corteja as reivindicações dos povos atrasados; senta à mesa com as potências avançadas, engajando um plano de cooperação internacional.

O pragmatismo de meios: desde antes de Geisel o pragmatismo já conduzia a política externa, mas tinha no Estado o articulador do processo produtivo. Desde Médici o Brasil reivindicava parcela de decisão cada vez maior no sistema internacional, de acordo com sua realidade e sua capacidade de progredir. O termo ético e responsável, de Geisel, traduzia apenas que havia uma preocupação em evitar que o pragmatismo fosse qualificado de oportunismo. Mas, era-o. Repugnava a Geisel a intolerância racial, religiosa e ideológica. Os limites de eficiência deste método foram determinados pela capacidade de influir sobre o sistema internacional ou de sofrer suas influêcias.

As condições de movimentação no sistema internacional (1967-1989): desde 1967, os governos utilizaram o setor externo para auxiliar o crescimento econômico. O controle da ordem pelas duas superpotência foi afetado somente pelos progressos que a détente e a diversificação dos loci de poder mudavam.

1967: a recuperação das tendências: Costa e Silva reformula as diretrizes fundamentais da política externa e determina o curso do projeto desenvolvimentista nacional. A nova doutrina, a Doutrina da Prosperidade, foi exposta por José Magalhães Pinto: era atenta ao exclusivo interesse nacional, sensível ao fator econômico, de conteúdo econômico, a serviço da prosperidade, mobilizada em torno de motivações econômicas para assegurar a colaboração externa necessária à aceleração do desenvolvimento. Inconformista ante as desigualdades e aos privilégios do capital internacional, voltada para as demandas do desenvolvimento de que dependem a segurança nacional e a paz mundial. Procuraria: a) reformular as bases do comércio internacional e a ampliação das pautas e mercados; b) aquisição, via cooperação internacional, da ciência e da tecnologia necessárias à independência econômica; c) aumento dos fluxos financeiros para empréstimos e investimentos de origem diversificada. O setor externo tornou-se estratégico, e o desenvolvimento virou responsabilidade nacional. Reabilitou a soberania, legitimando-se diante da nação. O projeto desenvolvimentista (restrito, pois buscava o desenvolvimento antes de se equacionar as desigualdades sociais), sustentou a ideia de "Brasil Grande Potência". O plano consistia na ampliação relativa da autonomia internacional; participação do capital estrangeiro ao capitalismo monopolista de Estado em setores estratégicos; e tinha como plano, após a independência industrial, a independência tecnológica. Sacrificou os conceitos de interdependência, porque congelava a mobilidade mundial do Brasil; e a segurança coletiva, porque desvinculava a segurança da soberania e das condições materiais.

A diplomacia do equilíbrio: conduzida por Kissinger em 1969, com sua realpolitik; a paz seria alcançada através de um sistema de equilíbrio, em substituição à bipolaridade (seria formada por Estados Unidos, URSS, CEE, Japão e China). Em 1976, essa concepção estava superada, pois as potências não se dispunham a assumir responsabilidades coletivas para abdicar de suas ideologias e políticas nacionais para manter o status quo internacional.

1)

O trilateralismo de Carter: as elites orgânicas dos Estados Unidos associaram-se a europeus ocidentais e japoneses e criaram a Comissão Trilateral (1973), com o intuito de influir sobre as políticas nacionais e a na ordem internacional sob a ótica de interesses do mundo capitalista. A derrota no Vietnã leva a campanha internacional por direitos humanos, tanto para melhoria do autoconceito estadunidense quando para legitimar a influência moral sobre outros Estados. As relaçãoes Norte-Sul deveriam receber maior cuidado e cooptar o 3º Mundo ao planejamento trilateral.

2)

A recuperação da hegemonia: as fases anteriores tentavam adaptar os Estados Unidos à perda de poder; Ronald Reagan veio para reestabelecer a hegemonia; preferiu a ideologia bipolar, as fronteiras geopolíticas e a supremacia econômica e militar sobre o mundo.

3)

A política dos Estados Unidos neste período: 3 fases:

A URSS: oscila entre o desenvolvimento da luta social transnacional e a coabitação dos Estados através da coexistência pacífica. Krushev faz prevalecer a 2ª via; o armamentismo fica como função "pedagógica" e de garantia para o mundo socialista.

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China: maior instabilidade na política externa: 1º momento: incita a revolução dos pobres, concitando os países da periferia a se associarem às nações desenvolvidas intermediárias (Europa e Japão) para erradicar as formas de hegemonia; 2º momento: aliança antisoviética com o Japão, Europa e Estados Unidos - era a frente unida contra o social-imperialismo, era o desejo chinês de dominar o 3º Mundo para se tornar a 3ª potência hegemônica; 3º momento: normalização e realismo a partir de 1982. Aproxima-se da URSS, busca contato com o Ocidente para modernizar-se e abandona o fogo revolucionário nas relações com o 3º Mundo.

Japão: universalista desde 1957. Abdicou dos gastos militares (especialmente em relação à tecnologia nuclear militar) para a construção de uma potência econômica com seus planos quinquenais. Desde 1969, procurou desamericanizar-se.

Europa: neste período voltou-se a si mesma, buscando uma unidade jurídica e econômica.

O projeto de desenvolvimento brasileiro consistia em: a) consolidação da indústria de transformação (Costa e Silva e Médici); b) consolidação da indústria de base (Geisel); c) implementação de tecnologias de ponta (Figueiredo e Sarney). A 1ª foi implementada com o capital transnacional; a 2ª pelo capital monopolista de Estado; a 3ª pela associação do Estado à empresa privada nacional.

A América Latina não teve grande importância nos objetivos de desenvolvimento do Brasil, pois era receptora de produtos industrializados brasileiros e não possuía tecnologia ou capital suficiente para investimentos no projeto desenvolvimentista brasileiro. Também não possuiu unidade, cedendo à bipolaridade e às experiências nacionais diferenciadas. A integração só vem a partir de Sarney-Alfonsín, através do protocolo de 1986 (declaração de Iguaçu - neste momento, a Argentina declara a intenção de uma "associação preferencial" com o Brasil).

A política externa dos 5 grandes não eliminou um amplo espaço de manobras nas brechas do policentrismo. Os países em desenvolvimento levaram por conta e risco a bandeira do desenvolvimento. Esta emerge nos anos 1960, embora tenha sido precedida nos anos 1950 pela Conferência de Bandung (1955) e pelo Movimento dos Não-Alinhados. A busca pelo desenvolvimento manteve-se coesa e constante durante as décadas de 1960, 1970 e 1980. Procurou-se implantar uma Nova Ordem Econômica Internacional, destinada à superação da injustiça e da desigualdade. Após 3 décadas de negociação, vê-se que o debate conseguiu ser efetivamente instituído, mas a nova ordem não. Os principais textos sobre a NOEI na ONU foram aprovados em 1974 e constituem um avanço conceitual. 4 vitórias: implantação do Sistema Geral de Preferências no GATT (1960), permitindo a proteção de indústrias incipientes nos países em industrialização; institucionalização da UNCTAD, criação da Unido e comitê, junto ao FMI, visando o desenvolvimento. O malogro dos resultados só existiu graças à má-vontade do Norte. O Brasil luta e alia-se ao Norte, driblando obstáculos à sua frente e movimentando-se na arena terceiro-mundista.

Uma aventura frustrante pelo cenário internacional: metas brasileiras nos foros multilaterais: a) atingir as metas internas e externas sobre desenvolvimento e segurança; b)obter informações para atuar nos foros multilaterais regionais e negociações bilaterais; c) influir sobre a reforma da ordem mundial. A consciência de potência intermediária possibilitou ao país agir de modo realista e moderado. A diplomacia brasileira transitou do otimismo ao realismo e, depois, à decepção. No governo Costa e Silva havia a confiança nos foros multilaterais - para, ao lado da Ásia e da África, reivindicar resoluções favoráveis ao desenvolvimento. Médici: a autoconfiança passa ao realismo quanto a efetividade dos foros. Dizia que se os ricos não queriam ajudar o desenvolvimento, que pelo menos não atrapalhassem (luta quanto às propostas negativas ao desenvolvimento). Geisel: do realismo ao ceticismo frente aos foros multilaterais. Não convinha os abandonar, mas devia-se buscar por outras vias as metas do setor externo. Sua proposta mais ousada foi o Acordo Geral(visto como ponto de inflexão entre o realismo e o ceticismo), que visava mudar de vez as regras injustas do comércio internacional, presentes no seio do GATT. As concessões foram poucas, mas os países desenvolvidos reagiram com outras formas de de protecionismo (e.g. lei de comércio dos Estados Unidos de 1974). O Itamaraty é reformulado para melhor atingir seus objetivos.

O Brasil e a política mundial: Costa e Silva não conferiu ao poder nacional a plenitude soberana, pois o vinculou, em grande medida, ao poder emergente dos povos atrasados. Seus ganhos limitados faz com que Médici recue sobre o conceito de poder no sentido de introspecção e de perspectiva: caberia maior parcela ao Brasil no sistema internacional. O cenário internacional foi utilizado para ampliar a dimensão e fortalecer o exercício do poder nacional - serviria ao desenvolvimento. A barganha vira instrumento político de poder. O Itamaraty continua com sua autonomia, mas surgem outros atores que, apesar de não participar diretamente da formulação da política externa, ao menos a colocavam em discussão.

1)Meios e Resultados do Pragmatismo na Política Externa Brasileira (1967-1979):

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seus objetivos.A nacionalização da segurança: foi reformulada por dois fatores: eliminação do modelo bipolar e o malogro global do diálogo Norte-Sul. A segurança foi nacionalizada paulatinamente, em termos de atenuação da vulnerabilidade e da dependência externa: na medida em que teve de buscar meios internos que requeria um desenvolvimento econômico auto-sustentado. 1º passo: abandono da segurança coletiva e o desejo manifesto de proceder a uma rápida nuclearização pacífica (opõe-se ao TNP). Duas condições para realizar esta meta: 1) que o sistema internacional não impeça o acesso à tecnologia nuclear; 2) que se realize medidas efetivas de desarmamento.

Política nuclear: a) renúncia às armas nucleares, apoio ao desarmamento nuclear e à não-proliferação; b) determinação de utilizar a energia nuclear para acelerar o desenvolvimento, não pela importação do produto final, mas gerando uma tecnologia própria.

A nacionalização da segurança: a) política de exportação de material bélico (feita por Geisel, pois o mercado externo tornaria a produção em larga escala viável); b) acordo nuclear com a República Federal Alemã (1975); c) denúncia, em 1977, do Acordo Militar com os Estados Unidos e dos demais acordos com eles vinculados; d) desenvolvimento de um programa nuclear paralelo (1979), a partir de projetos integrados de pesquisa, implementados pelo Exército, Marinha e Aeronáutica. O Brasil criou condições para se tornar praticamente autônomo nos meios convencionais e até de alta tecnologia. As motivações vieram do ceticismo quanto à ajuda do Norte e também de seus sistemas de alianças políticas e econômicas, espeicalmente após o fracasso da proposta de segurança econômica coletiva .

Estados Unidos: a partir de 1967 essa relação foi vista como the missing relationship ou managed conflict. Os Estados Unidos não tinha o desenvolvimento da América Latina como uma de suas metas, mas queriam, ao mesmo tempo, cooptar o Brasil para a contenção do comunismo. O crescimento econômico brasileiro lhes era prejudicial, a menos que fosse induzido e controlado por seus banqueiros e empresários. Tudo levava ao conflito, mas este não convinha; o Brasil procura flexibilizá-lo e mantém intensa estratégia bilateral, criando poder de barganha pela ampliação das relações com terceiros. Costa e Silva sabia que o alinhamento não poderia ser uma prioridade, mas acreditava na importância da Aliança para o Progresso e em sua cooperação financeira e técnica, por isso seguiu a cartilha do FMI. Com Médici as relações se agravaram; o comércio fica altamente deficitário ao Brasil; diversas políticas chocam-se; Médici vai aos Estados Unidos para reiterar os termos de cooperação e conciliação, mas com independência; além de buscar contornar o controle dos lobbies sobre o Congresso estadunidense contra certas ações brasileiras. Nixon responde favoravelmente com um entendimento mútuo através de um sistema de consultas de alto nível e com acordos de cooperação. Não resolve os problemas, mas atenua os conflitos. Com Geisel, os conflitos econômicos e políticos recrudescem. O déficit eleva-se. Os Estados Unidos suspendem o fornecimento de U-232 para Angra e aprovam lei com restrições aos países em desenvolvimento. Geisel então procura a Europa e firma o Acordo Nuclear (junho de 1975) com a Alemanha; os Estados Unidos buscam obstar este acordo. Kissinger procura melhorar a relação com o Brasil. Carter, por outro lado, pressiona o Brasil na área de Direitos Humanos, mas o Brasil devolve os relatórios sobre este tema e denuncia os Estados Unidos nesta área (especialmente invocando o conflito do Vietnã). A resposta surpreende. Carter vem ao Brasil para remediar a situação; Geisel, apesar de convidado, não retribui a visita.

Acordo nuclear Brasil-Alemanha (junho de 1975): a) implantação de oito centrais nucleares; b) prospecção e enriquecimento de urânio; c) produção, instalação de reatores nucleares e de seus componentes; d) produção de elementos combustíveis irradiados; e) reprocessamento de combustíveis.

Europa Ocidental: vários acordos de cooperação são firmados desde 1967. A Europa ofereceu condições de compensação gradativa, que foram habilmente exploradas. Era mais fácil de administrar os choques de interesses econômicos e de intensificar a cooperação. O Brasil passou a obter excedentes de comércio e alcançou o maior volume de recursos externos para o desenvolvimento. Trocou-se visitas de alto nível com inúmeros países. Geisel vê a Europa de "portas abertas" ao Brasil, bastava ampliar a "convergência".

Japão: o comércio cresce de 106 milhões para 2 bilhões de dólares, além de tratados de cooperação. O Brasil utilizava as comissões mistas para equacionar os interesses entre os países e propor soluções, operações e incrementos. 1970: Acordo Básico de Cooperação Técnica (captação de recursos, equipamentos e tecnologia para acelerar o desenvolvimento). Geisel viaja ao Japão para concretizar vendas e buscar investimento.

Europa Oriental: 1960: acordos de comércio e pagamentos; 1962: Coleste (Comissão de Comércio com a Europa Oriental). Tanto Castelo Branco quanto Costa e Silva foram realistas quanto à Europa Oriental. Os saldos foram favoráveis ao Brasil.

As relações regionais: Norte:2)

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quanto à Europa Oriental. Os saldos foram favoráveis ao Brasil.

A aproximação com a América Latina: foi conduzida em 3 dimensões: ação nos órgãos multilaterais regionais para promover a cooperação dos Estados Unidos ao desenvolvimento; as iniciativas de integração multilateral e bilateral; e o escalonamento da América Latina na estratégia de inserção mundial. Fatos: Consenso de Viña del Mar: documento que condensava as reivindicações dos países latinos desejosos de converter a OEA em instrumento efetivo de cooperação. Tratado da Bacia do Prata: desenvolvimento harmônico e integração física com os países do Prata (Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil). 1971: a diplomacia ocupa-se com o terrorismo nos órgãos continentais, enquanto segmentos das Forças Armadas apoiavam golpes de Estado contra movimentos de esquerda em países vizinhos (este período constituiu-se como um desvio da política regional na história da política externa brasileira). Com Médici o Brasil obsta a Criação do Mercado Comum e procura fortalecer a ALALC (visando expandir a exportação de manufaturados). A diplomacia pessoal é acionada em contatos bilaterais. A Argentina (3ª maior importadora de manufaturados brasileiros) procura aproveitar a situação e obstar a integração regional. Geisel mantéma estratégia de fóruns multilaterais regionais, diplomacia pessoal e acordos comerciais bilaterais. As relações com a América Latina foram amarradas por uma teia de contratos, firmados com todos os países mais importantes (exceto Argentina e Chile) . Brasil torna-se observador permanente do Pacto Andino (1969). Em 1978 surge o Pacto Amazônico(similar ao pacto da bacia do Prata). Buscou-se destruir o estereótipo que identificava o Brasil como nova potência hegemônica ou como uma missão subimperial dos Estados Unidos.

Encontro com a África: passa pela fase lusófona (defendida por Dlefim Netto, mas abandonada pelo governo) e chega na estratégia de inserção brasileira na África (defendida por Mario Gibson Barbosa). Costa e Silva apoiava e reconhecia a África independente, mas não queria comprometer os vínculos com Portugal. Geisel acentua a aproximação de Médici com a África independente: por interesses econômicos, sociais, políticos, históricos e culturais. 1973: erodiu-se o conceito de unidade luso-brasileira; com o Brasil chegando a pressionar Portugal a reconhecer a independência de Angola (Brasil foi o primeiro país a reconhecê-la). A partir de 1976 incrementaram-se os contatos e as ações cooperativas. Só não foi mais rápido pois o Brasil não possuía recursos e infra-estrutura necessária para expandir sua influência por lá. O saldo comercial foi extremamente positivo.

Oriente Próximo: os esforços para penetrar neste continente vieram sobretudo após os choques do petróleo de 1973 e depois de 1979. Posição moderada no conflito árabe-israelense para não obstar nenhuma entrada brasileira nos países árabes . 1967: política de paz na ONU e no CSNU ao pedir o reconhecimento de Israel e a saída israelense dos territórios ocupados à força. Geisel aproveita sua política energética para aproximar-se do Oriente Próximo; essa nova conjuntura leva o Itamaraty a redefinir sua posição quanto à questão palestina: "o povo palestino tem direito a autodeterminação e os israelenses devem retirar-se do território palestino". O Brasil condena o sionismo como forma de racismo (após 1975). O mundo árabe se abre ao Brasil.

O continente asiático: comércio, via exportação de manufaturados e produtos primários. O Brasil não mais reconhece Taiwan como representante da China, este lugar agora era ocupado pela China Continental (Pequim). O Brasil também reconhece as duas Coreias. 1978: primeiro acordo comercial com a República da China, relação que cresceria nos anos de 1980.

As relações regionais: o Sul: Brasil reservou ao Sul funções complementares às do Norte. Não encontrou parceiros com vontade política para uma efetiva cooperação igualitária.

3)

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As questões da política mundial: discurso marcado pela retórica reivindicatória terceiro-mundista. Na primeira-metade de 1980, a estrutura interna deteriorara-se nas áreas políticas e econômicas com a rebipolarização e com o protecionismo, além da instabilidade cambial e da oligarquização dos foros mundiais. Logo, o Brasil busca reforçar o modo bilateral em especial com a América Latina. Rejeita o paternalismo do Ocidente; intensifica a parceria com a África e com a Ásia (deslocando-se do Japão para a China e Índia) e com a nova Associação dos Países do Sudeste Asiático. Preserva e cultiva relações com os países socialistas. Na segunda metade da década de 1980, os problemas persistem com o agravo da nova ordem internacional indicando maior desejo de poder para os países desenvolvidos, em especial através da globalização. A diplomacia brasileira utiliza os foros mundiais para denunciar, discordar e sugerir mudanças no sistema internacional. A intimidade com o 3º Mundo era política: criava condições para iniciativas regionais, influía em decisões multilaterais e situava o universalismo na ideia da solidariedade. A divergência só era nítida através das concessões para obter crédito externo. Mas economicamente nossas exportações cresciam duas vezes mais rápidas para os países subdesenvolvidos.

O Brasil e a Índia lutam contra a proposta dos Estados Unidos no GATT em 1986 de criar um mercado de reserva para países desenvolvidos nos setores de serviços. Ganham, o Brasil e a Índia, autonomia em seus projetos de indústria de ponta. Nasce, assim, a indústria brasileira de informática. A política externa brasileira pareceu defender esta indústria da pressão dos Estados Unidos (que representava suas multinacionais) e, a partir de 1985, a informática entrava na pauta de exportação brasileira. A reserva foi instituída em 1976 para o mercado interno; em 1984 o Congresso Nacional aprova lei que defende esta indústria. Em retaliação, os Estados Unidos aprovam a Lei de Comércio, impondo retaliações comerciais aos países que dificultassem a entrada de produtos estadunidenses. O Brasil barganha, então, em duas direções: 1) manteve aberto o diálogo sobre a Lei de Informática; 2) envia ao Congresso Nacional lei sobre direitos autorais de softwares (mas com a cláusula do similar nacional), o que agrada aos Estados Unidos. Os Estados Unidos mostravam-se resignados e não queriam despertar reservas brasileiras em outros setores de ponta.

O endividamento da década de 1980 deu-se por si mesmo; sob efeito da rolagem, um quarto da dívida referia-se aos efeitos do aumento da taxa de juros internacional. O Brasil era um país pobre que financiava os ajustes dos países centrais . Isso ocorreu graças à imposição dos contratos leoninos, à taxas flutuantes, permitindo aos credores aumentarem unilateralmente os juros e repassá-los aos devedores. Por isso a política econômica de Reagan afetou tanto o Brasil (77% da dívida externa estava constituída em taxas flutuantes). Empresas estatais contraíam empréstimos artificiais somente para "fechar" o balanço de pagamentos. Negociações: 1) Governo Figueiredo: Delfim submete o Brasil às exigências da comunidade internacional e mergulha o país em recessão, procurando manter em dia os serviços da dívida; 2) Sarney: com seu Plano Cruzado, esgota as reservas cambiais e sem a poupança externa decreta moratória em 1987 - só retoma após negociações; 3) essa suspensão da dívida só veio devido aos fracassos dos outros planos econômicos que sacrificaram o pplano desenvolvimentista de longo prazo em favor do FMI e da comunidade financeira internacional. As negociações de Sarney mostraram-se desordenadas assim como sua política interna. Mesmo aumentando suas exportações e gerando excedentes comerciais a comunidade internacional não apoia o projeto

Quanto ao endividamento externo, o governo afasta o Itamaraty das negociações, bem como afasta o Congresso Nacional. A visão dos economistas eram inclinadas a soluções bilaterais e monetaristas, além de serem travadas diretamente com a comunidade financeira internacional, eliminando o poder de barganha. Consenso de Cartagena (1984): foro político da América Latina para impasses na dívida externa, mas graças ao bilateralismo adotado pelos países, não só pelo Brasil, nasce débil.

A Vulnerabilidade e a Força do Modelo nos anos 1980: tanto no governo Figueiredo quanto no governo Sarney, o paradigma de política externa acoplado ao desenvolvimento nacional entra em fase de crise e contradição. Por um lado, manteve reservas de energia que não permitiam seu esgotamento: a independência e o universalismo não foram restringidos; a cooperação ampliou em qualidade e quantidade e a defesa das indústrias de ponta foi bem conduzida. Por outro lado, associaram-se dois fatores nocivos que limitaram sua eficiência: 1) políticas econômicas internas com alto grau de instabilidade; 2) decisão da área econômica em conduzir por si as negociações da dívida externa de forma contabilista, empírica e despolitizada - sem articulação com a diplomacia ou com o Congresso Nacional: sofrendo os efeitos do sistema internacional e não mais influindo sobre ele.

Nova República até Lulaquarta-feira, 20 de julho de 2011

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gerando excedentes comerciais a comunidade internacional não apoia o projeto desenvolvimentista devido à campanha ecológica movida contra o Brasil pelo presidente dos Estados Unidos George Bush.

Estados Unidos e Canadá: Reagan empenhou-se em levar à frente sua estratégia unilateral, protecionista e hegemônica (economica e militarmente). Reagan, para garantir insumos básicos aos Estados Unidos, procura esquecer os contenciosos com o Brasil e cooptar o país latino à sua política. As relações não se desenvolvem como esperava e leva ao confronto direto de interesses. A ninguém interessava a deterioração das relações, ficando mais na área da retórica e barganha. O Brasil submete-se economicamente e Reagan estava disposto a emprestar algum dinheiro. O comércio bilateral começa a ser superavitário para o Brasil. Através da cooperação em diversas áreas, Reagan consegue intervir nos planos desenvolvimentistas do Brasil. O Brasil continua com sua política de autodeterminação e não-intervenção entrando em colisão com Reagan. As relações entre os dois países ficaram como na década de 1970, à espera de propostas substanciais e igualitárias. Com o Canadá, as relações adormecidas há muito tempo, começam a estreitar-se com Figueiredo.

Europa e Japão: as relações com a Europa Ocidental passaram por diferenças nas áreas economica e política (em especial com a ascenção da posição do Brasil, na CEE, ao rol dos países industrializados - perdendo preferências comerciais, tanto na CEE quanto nos Estados Unidos; outro fator foi o protecionismo de ambos os países - Brasil e CEE). A entrada de Portugal e Espanha na CEE estendeu o Tratado de Lomé a países que competiam com o Brasil em produtos manufaturados e agrícolas. No campo da cooperação, esta aumenta em várias áreas, em especial no campo da tecnologia. Com a Europa Oriental as relações foram superavitárias - em especial com a Polônia. Cabia ao Brasil reduzir este superávit. Com a URSS há um aumento de intercâmbio comercial e de cooperação; além de um sistema de cooperação de alto nível entre os dois países. Com o Japão, maior parceiro asiático do Brasil, intensificam-se os vínculos econômicos, políticos e culturais. As cooperações crescem.

As relações com o Norte:○

Oriente Próximo e Ásia: em razão das diferenças com os países industrializados, o Brasil busca reforçar suas relações com o Sul (especialmente com a China, Iraque e Argentina). Com a China o crescimento comercial é gigante; através de convênios de coooperação científica e tecnologica, comercial e política (com visitas de alto nível). Também aproxima-se da Índia, África do Norte (com estes dois com ênfase em serviços) e Oriente Próximo (tecnologia petrolífera e venda de armamentos). Permanece neutro no conflito Irã-Iraque, mas vende armas aos Iraque. O Brasil diversifica seus exportadores de petróleo.

África Negra: com o terreno já preparado, nos anos 1970, as relações com esta deu-se pela continuidade e pela consolidação dos vínculos nas esferas política e econômica. O Brasil exportava manufaturas e serviços e importava matérias-primas, em especial: petróleo. A cooperação continuou com caráter assistencialista. Enfoca mais na África Negra do que na África do Sul. A África representou uma válvula de escapa às barreiras protecionistas do Norte. Para a África, o Brasil representou uma nova fonte de suprimentos de bens e serviços; aliviando sua dependência das antigas metrópoles.

América Latina e Caribe: avança em qualidade com Figueiredo e inova em segurança e cooperação com Sarney. A aproximação foi determinada por fatores endógenos e exógenos: serviria para viabilizar as demandas do desenvolvimento (exportações) e segurança. As crises das dívidas externas, intervenção dos Estados Unidos na América Central, Guerra das Malvinas, retaliações econômicas do Norte contra a Argentina, tudo isso serviu para unir o continente latino-americano. As relações foram exponenciadas pelo eixo Brasil-Argentina já em 1986. Outro exemplo de união foi o Grupo de Contadora e o Grupo de Apoio a Contadora, que se mostrava contra as políticas de quintal dos Estados Unidos em relação à América Central, especialmente em relação ao Suriname. Brasil apoia o direito argentino às Malvinas e mantém neutralidade favorável em relação ao seu vizinho, mas acata a resolução do CSNU. Serve de locutor entre Inglaterra e Argentina. O Brasil também articula na ONU a votação da transferência do status do Atlântico em "Zona de Paz e Cooperação" (com o voto contra, único, dos Estados Unidos). Busca finalmente a Argentina, após a redemocratização de ambos os países, e aposta no desenvolvimento de ambos estimulado pela relação Sul -Sul. 1986: o processo de integração já possuía seus parâmetros definidos com a "Ata para Integração Brasil-Argentina" e a criação da "Comissão de Execução do Programa de Integração Brasil-Argentina". As relações foram pautadas pelo gradualismo, flexibilidade e equilíbrio. O Presidente da República do Uruguai acompanha pessoalmente os trabalhos desde o início, vinculando seu país através de atos bilaterais com o Brasil e com a Argentina . Segue-o o Paraguai.

As relações com o Sul:○

Adaptação à Ordem Global nos Anos 1990:

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Fatores de emergência do Estado Normal: a) revisionismo histórico; b) adoção acrítica de uma ideologia imposta pelos centros hegemônicos de poder; c) eliminação das ideias de projeto e de interesse nacional; d) a correção de movimentação da diplomacia. O Brasil aplica duas gerações de reformas sugeridas pelo Consenso de Washington (além do sugerido). O Estado Normal completa-se com o desmonte da segurança nacional e com a adesão a todos os atos de renúncia à construção de potência dissuasória.

O Estado Normal, que levava ao recrudescimento da tecnologia, empurrava a economia de volta aos domínios das atividades primárias. Mas, no governo FHC, também esteve presente o Estado Logístico, que levou o governo a controlar o processo de privatização, como levou também à criação de algumas grandes empresas de matriz brasileira em setores em que a competitividade sistêmica era possível. A abertura seria dosada pela capacidade de adaptação do empresariado local. A diplomacia presidencial (após a estabilidade financeira, consolidação da democracia e a abertura econômica) foi acionada em acordos bilaterais e foros multilaterais. O ensaio do Estado Logístico recupera as estratégias do desenvolvimentismo. Em 2001, os países da América Latina reconhecem que as reformas não trouxeram os benefícios que a globalização prometia.

A dança do paradigma: o triunfo do capitalismo sobre o socialismo em 1989 deu impulso à globalização em sua dimensão vertical e horizontal: 3 fatores influíram neste reordenamento internacional: 1) supremacia do mercado; 2) superioridade militar dos Estados Unidos; 3) ideologia neoliberal. A globalização engendra nova realidade econômica e esta tendência se depara com outras duas: a formação de blocos econômicos e a nova assimetria entre o centro e a periferia. O Itamaraty teve dificuldades em reagir a esta nova realidade. O processo de impeachment de Collor e o hiato Itamar Franco contribuíram para esta indefinição. O pensamento crítico emerge com forças somente no governo Itamar; mas o Itamaraty perde forças no processo decisório (seja pela discordância interna, seja pelo pensamento que ocorria externamente à casa). Por causa disso, desde 1990, o Brasil imprimiu uma orientação confusa, até mesmo contraditória, em relação à sua política exterior. O Estado desenvolvimentista não desapareceu, deixou apenas de ser o elemento de sua racionalidade; esta estratégia foi posta em dúvida pois era tida como a causadora da década perdida. Mas o desenvolvimento manteve-se na Rodada Uruguai, na criação do Mercosul, na proposta da Alcsa e no relançamento do desenvolvimentismo sobre os foros multilaterais quando estavam apagados pelo neoliberalismo radical.

O Brasil diante das regras e estruturas da globalização: o multilateralismo foi eleito como meio de ação da nação desprovida de poder realizar sua vontade. A ascenção do livre comércio e do livre fluxo de capitais deprimia a questão da segurana entre 1990 e 2001, quando o tema da governabilidade global ameaçava as soberanias nacionais. Durante as administraçãos Collor e FHC o neoliberalismo inspirou as políticas públicas internas e externas, situando-as no âmbito do Estado Normal. Indo além das exigências do Consenso de Washington, FHC opta pela venda das empresas públicas às companhias estrangeiras; o BNDES deu prioridade ao financiamento de empresas estrangeiras sobre as nacionais nas privatizações, impedindo a inserção internacional do país em condições de competitividade sistêmica, que demandava a expansão para fora de empresas de matriz nacional. As consequências foram a instabilidade estrutural, a vulnerabilidade econômica, o crescimento da pobreza, a marginalização e a insegurança.

O Congresso Nacional aprova a Lei de Biossegurança; de Patentes; de Cultivares; e a lei que regula o acesso aos recursos genéticos brasileiros. Em 2001, enfrenta os Estados Unidos e consegue a quebra de patentes nas indústrias farmacêuticas, quando a situação estiver em graves condições de saúde pública.

Meio Ambiente: era perceptível a intenção de utilizar o argumento tecnológico como instrumento de pressão sobre os países em desenvolvimento para tolher-lhes riquezas e meios de ação. O Brasil reverte as ameaças internacionais que pairavam sobre a Amazônia; traz a Cúpula da Terra para o RJ (Rio-92), agrega desenvolvimento ao debate do meio-ambiente: resultando na Agenda 21; uma Convenção Quadro sobre a Mudança do Clima, que evoluiu para o Protocolo de Quioto (1997).

Direitos Humanos: 3 fases: 1) 1948: assertiva na defesa de DH; 2) 1960: em nome do constitucionalismo, mas em razão do regime autoritário, abandona o esforço, tomando posições defensivas e isolacionistas nos foros mundiais; 3) 1985: retorna à ação assertiva original; em 1992 adere aos tratados gerais de proteção de DH da ONU e da Convenção da OEA; também contra a discriminação racial e de gênero, contra a tortura, sobre os direitos da criança e do refugiado (o Brasil é tido como modelo neste campo). O Executivo criou também a Secretaria Especial de Direitos Humanos. O Brasil vincula DH como condições de bem-estar social (através do desenvolvimento), responsabilizando, deste modo, também, os países ricos. A visão kantiana da paz e da justiça global contaminou o discurso da diplomacia brasileira nos anos de 1990 (em contraste com o realismo político das potências).

Sacríficio da Segurança Nacional: apropriou-se da vertente grotiana e kantiana da doutrina da segurança e da política de defesa, deprimindo o papel das Forças Armadas. Ao separar os dois

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aspectos, distanciou-se do realismo e embarcou na utopia. Reforça seu pacifismo firmando pactos de desarmamento (o mundo só era multipolar no quesito econômico, mas nas questões de segurança continuava unipolar). Brasil-Argentina tornam sua aproximação crucial para a política de segurança. Ambos ratificam o Tratado de Tlateloco e instituem um sistema de salvaguardas entre si, com a participação da AIEA. O Brasil fica preocupado com a insistência da Argentina em ser membro da OTAN, bem como com o Plano Colômbia. O Brasil também propõe a reforma do CSNU para maior representatividade e legitimidade. Lamenta a perda de poder do CSNU em favor de decisões unilaterais dos Estados Unidos, que utiliza a OTAN. Malogrou quanto às expectativas de fixar um regulamento multilateral para a segurança do mundo, mas percebeu os limites da teoria kantiana, retomando a questão da segurança como permanente e inalienável da política externa brasileira.O comércio exterior: a reversão da tendência histórica: nas mãos das autoridades econômicas, o comércio exterior deixou de ser instrumento estratégico de desenvolvimento e converteu-se em variável dependente da estabilidade monetária. Certas convicções contribuíram para isso: a) protecionismo emperra o crescimento econômico; b) comércio exterior perdera a função de saldos e serviria para a contenção da inflação; c) expectativa de que as potências avançadas cederiam aos diplomatas no sistema multilateral. O apoio público à liberalização arrefeceu, saldos negativos marcaram os seis primeiros anos da gestão de FHC - apesar do crescimento do comércio. Este déficit deteriora as contas externas. As multinacionais, além das enormes remessas de lucros, importavam todo o seu maquinário; a pauta de exportação brasileira era de 70% de industrializados (50% de manufaturados e 20% de semimanufaturados) e 30% de produtos primários. O governo brasileiro cedeu no GATT; adere aos TRIPs (Trade Related Intelectual Property) e aprova a Lei de Patentes de 1996. por outro lado, o Brasil firma posições em foros do 3º Mundo (G-77 e MNA). Os países industrializados, em contrapartida, adotam medidas ecoprotecionistas e fitossanitárias. Desde a criação da OMC, 90% dos julgamentos foram favoráveis aos ricos. As dificuldades globais somavam-se às regionais: Estados Unidos e suas barreiras às importações de produtos brasileiros; Brasil e Canadá (entre Embraer e Bombardier); e a corrosão das regras aduaneiras e crescimento de contenciosos no Mercosul. Este quadro desfavorável forçou o governo brasileiro a evoluir da subserviênia do Estado Normal a uma política de comércio exterior mais realista e condizente com o Estado Logístico.

Fluxos de capital: a nova via da dependência: efeitos da globalização: capital especulativo (culminando em um aumento de fluxos) e crise financeira. O grupo dos ricos considerava tais prejuízos pedagógicos e exigiam reformas de 2ª geração propostas pelo FMI (sem atentar para o fato de que eram as grandes transferências especulativas que tornavam estes países instáveis). FHC cobra do G-7 medidas de controle dos capitais especulativos - o G-7 fica insensível aos apelos de FHC. O modelo de abertura de Collor-FHC exigia um Estado Logístico, que requeria, para compensar sua alienação, a internacionalização da economia brasileira. Mas esta não contou com estímulos do governo. O Brasil, até 2001, era incipiente em termos de expansão de filiais, associações e faturamentos no exterior. O desequilíbrio na conta corrente advém das remessas de lucros, já que o indície de internacionalização da economia brasileira é baixa. Com FHC, a dívida pública aumenta. Utiliza-se altas taxas de juros para atrair constantes fluxos de capitais o que provoca uma inflexão da política de comércio exterior, que evoluiu de sua função de estabilizar os preços para sua nova função de prover os recursos para os compromissos da dívida externa. Ao invés de investimentos (como em energia), o Brasil utilizava o dinheiro para pagar a dívida.

Com a China, nossas relações comerciais e cooperacionais crescem, em especial no setor espacial. A chegada dos pequenos países resultou em nova fonte de investimentos, mas não trouxe solução para o déficit do comércio exterior.

O bilateralismo em declínio nas relações internacionais do Brasil: com o paradigma da globalização e a disposição em influir sobre a regulamentação do sistema multilateral de comércio e das finanças internacionais, o bilateralismo perdeu forças. Nas relações bilaterais os Estados Unidos continuavam como aliado especial do Brasil, a França começa a retornar a este status, a Alemanha retrocede e o Japão hiberna. Do lado dos países menores vemos Portugal e Espanha chegarem com força (graças às privatizações). A percepção de que os Estados Unidos demandavam o multilateralismo e a liberalização do comércio, mas mantinham medidas de proteção contra produtos brasileiros, influiu na política brasileira e fez com que o Brasil começasse a requerer diretrizes para a possível consolidação da Alca e suas políticas decorrentes (o que diminui o ritmo das negociações). Estes entraves, agravados pela concorrência e exigências do mercado estadunidense, direcionaram as exportações brasileiras para outros mercados. Já a França, vendo o Brasil como porta de entrada para a América Latina, estabelece cooperações com o Brasil (inclusive em relação à Guiana Francesa), expande invesimentos e pressiona o Mercosul e a União Europeia a chegar a um acordo bilateral. O comércio bilateral entre os países não acompanha os investimentos.

O Mercosul nas relações internacionais do Brasil: havia grandes diferenças entre o projeto

O Brasil e a formação dos blocos:○

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neoestruturalista dos Acordos Sarney-Alfonsín e o Tratado de Assunção de Collor-Menem em 1991 - impregnado pela filosofia do Estado Normal (o livre intercâmbio e o regionalismo aberto). A única estratégia foi o comércio. Em 1995 lança-se a Tarifa Externa Comum. O Mercosul encetou a estratégia de 4+1 nas relações bilaterais; foi assim com os Estados Unidos, com a União Europeia e com a Comunidade Andina.Resultados positivos: 1) demolição de preconceitos e aceitação da convivência entre países, agora tida como inevitável; 2) criação da zona de paz no Cone Sul, com o fim da corrida armamentista, confiança nos instrumentos jurídicos e a cláusula democrática; 3) o regionalismo aberto provocou um desvio de comércio, oportuno para economias incapazes de elevar-se à competitividade do sistema global (o Paraguai vira o 8º maior comprador do Brasil, à frente da Inglaterra); 4) o Mercosul vira sujeito de direito internacional através do Protocolo de Ouro Preto em 1994, podendo negociar diretamente na arena internacional; 5)Mercosul produz uma imagem externa positiva, fortalecendo seu poder de barganha como bloco e o de seus membros isoladamente; 6) alavanca a ideia de uma América do Sul unida.

Fraquezas do processo de integração: 1) diferentes visões de mundo minaram a negociação coletiva e as relações entre os membros; 2) a recusa em sacrificar a soberania nas políticas públicas internas e externas impediu a coordenação de políticas macroeconômicas e a negociação coletiva; 3) processo de integração visando somente o comércio; 4) medidas unilaterais desmoralizam a TEC; 5) engendrou um processo de integração assimétrica que não criou mecanismos de superação de desigualdade entre os membros; 6)incompatibilidade entre Brasil e Argentina nas políticas cambiais; 7) ao elevar-se de zona de livre comércio para união aduaneira sem instituições comunitárias, o Mercosul enfraqueceu a negociação internacional e manteve o processo de negociação interna extremamente complexo.

América do Sul e a Alca: Brasil busca na Argentina e em outros países a convergência necessárioa para fazer frente aos Estados Unidos. Itamar relança a ideia de América do Sul e não mais latina (especialmente após o alinhamento mexicano aos Estados Unidos), ao lançar a iniciativa de se formar a Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americano) em 1993. o Brasil afirma que aintegração sul-americana seria condição prévia para a integração hemisférica, além da remoção do arsenal protecionista dos Estados Unidos. Cardoso reforça a ideia da Alcsa ao firmar acordos de comércio com a Comunidade Andina, com adesão do Chile. Após a mediação do conflito fronteiriço entre Peru e Equador, FHC afirma que a América do Sul iria resolver seus problemas entre si, mesmo os militares. O Brasil não consegue avançar na construção do bloco sul-americano, mas retarda a construção do bloco hemisférico (o Congresso dos Estados Unidos também ajuda ao restringir os poderes do Executivo estadunidense para negociar sobre a ALCA).

As relações com outros blocos: com a União Europeia: 1999, Cúpula Mercosul-União Europeia, decide abrir negociações para a construção de uma zona de livre comércio e união política; FHC condiciona sua abertura à eliminação dos subsídios agrícolas em vigor na Política Agrícola Comum; com a África: CPLP em 1996 - foro de concertação política, cooperação econômica e promoção da língua portuguesa; e com a Comunidade da África Austral e Ocidental. Também busca a Ásia, em 1998, com o Fórum de Cooperação América Latina-Ásia do Leste.

Do neoliberalismo à interdependência global: além dos malefícios já citados do neoliberalismo, houve, por outro lado, uma modernização das plantas industriais e o aumento da competitividade sistêmica global da economia brasileira . Houve também a diminuição do Estado e a ascenção da sociedade na distribuição de responsabilidades sobre o crescimento e o desenvolvimento econômico, bem como na ação externa. É neste Estado que Lula começa seu mandato e avança pelo caminho da real independência: o Estado Logístico. O modelo brasileiro de inserção internacional consistia no papel intermediário entre os segmentos sociais e sua ação externa exercida pelo Estado como amálgama superior do interesse nacional ao equalizar objetivos de produtores e consumidores, empregadores e assalariados. O neoliberalismo recua na periferia e se põe a serviço dos Estados Unidos e União Europeia. Ao Norte temos a impotência da potência, e, ao Sul, o jogo do contrapoder, revelando a insuficiência dos Estados Nacionais . O contrapoder brota no Sul da legitimação social e política com que se pretende definir as regras da ordem em benefício de todos; brota da democracia, do neoliberalismo (que motiva os indivíduos a reagirem a ele) e do terrorismo, que alimenta causas e lutas em vários países . A globalização entra em nova fase, mais global: todos se sentem mais amarrados ao todo. Todos são afetados pelo comércio internacional, pela paz, pela guerra, escassez de alimentos, DH, meio ambiente, etc. A voz crítica dos atores é elevada e chega a embaraçar a atuação diplomática, o que

Da era Cardoso à era Lula: FHC torna-se cético ao neoliberalismo ao elaborar o conceito de globalização assimétrica (que fica mais clara especialmente em seus últimos dois anos) e abre caminho para Lula que adota esse padrão com o fim de promover a inserção interdependente do país.

A Inserção Global no Século XXI:

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etc. A voz crítica dos atores é elevada e chega a embaraçar a atuação diplomática, o que explica a estagnação do multilateralismo.Lula expressa sua nova linha de ação externa na OMC (em Cancun 2003): ou os emergentes tomam parte na confecção das regras ou a produção destas seria paralisada . Para criar contrapoder, empenhou-se em formar coalizões com o Sul - das quais a mais influente foi o G-20. Esta tentativa de democratizar a globalização agregou: o reforço do papel do Estado como negociador internacional, defesa soberana dos interesses nacionais, aliança com outros países independentes, cooperação e não mais ser subserviente e o combate à pobreza e à fome. Impõe-se o componente moral nas relações internacionais.

A consolidação do paradigma logístico de relações internacionais: a nova administração insiste na ideia de que a retração do Estado e a abertura do mercado é incapaz de induzir o desenvolvimento e a igualdade entre as nações, além de tolher a atividade externa. Estado Logístico: é o Estado que não se reduz a prestar serviços, nem a assistir passivamente as forças do mercado agirem (ainda mais em conjunto com as forças hegemônicas). Ele exerce a função de apoio e legitimação das iniciativas de outros atores econômicos e sociais. Duas causalidades colaboraram para a consolidação do Estado Logístico no Brasil: o nível avançado da organização da sociedade (que facilita a ação de coordenação dos dirigentes) e a estabilidade política e econômica, que sugere associar a lógica da governabilidade interna à lógica da governança global.

Economia internacional e G-8: o Brasil busca a real independência, a reciprocidade na realização de interesses por meio da negociação em multíplas esferas e da internacionalização econômica. Busca-se fortalecer laços com o maior número possível de nações, blocos e regiões, com ênfase no hemisfério Sul. Enquanto o Norte oferece pouco de um grande mercado e exige muito em termos estruturais, as relações com o Sul são mais favoráveis, além de oferecerem perspectivas que seria insano disperdiçar. Os países ricos mantém reuniões bianuais para dicutir os rumos das relações internacionais e seus próprios interesses (G8); há alguns anos, costumaram convidar alguns emergentes (G5: Brasil, México, Índia, África do Sul e China), devido ao seu peso, para o encaminhamento dos temas e a solução dos problemas em âmbito global. O G8 funciona como alternativa do multilateralismo para os países ricos. O Brasil deve firmar relações com o G8 por 3 motivos: 1) os temas ali tratados e suas regulações são de extremo interesse para o Brasil, que pode se preparar para os foros internacionais, com atitudes de acordo com sua crença; 2) a aprendizagem se faz necessária neste terreno; 3) percebe-se quão importante é para o interesse nacional preservar a autonomia decisória da política externa.

Causa da crise dos alimentos (apontadas pela FAO): política agrícola dos ricos que desvirtua o mercado; as pressões dos agricultores dos Estados Unidos e da União Europeia que não permitem as mudanças; o liberalismo africano que desestimula a produção; aumento do preço do petróleo; as multinacionais que fazem hedge das commodities; e o biocombustível que ocupa terras férteis que poderiam estar sendo utilizadas para a produção de alimentos.

Comércio Internacional e OMC: após 1999 esboça-se uma tendência de alta do comércio exterior, mas será necessário esperar até 2003 para observar uma elevação firme (graças ao aquecimento do consumo e do aumento do preço das commodities). Os manufaturados superam as exportações primárias; Estados Unidos e União Europeia absorvem metade das exportações brasileiras. Na OMC, o Brasil exige a liberalização do mercado agrícolae o fim dos subsídios dos Estados Unidos e Europa. Procura estabelecer a reciprocidade de benefícios no comércio entre ricos e pobres. Responsabiliza aquelas políticas pela queda da produção alimentar, pela pobreza, pela fome e pela crise alimentar que passa o mundo. Em 2003, a OMC surpreende-se com o G20 (23 países) e muda os padrões de negociação: não aceita mais os acordos préviso entre os ricos (propostos como consenso possível). O debate agrava-se e paraliza-se na questão que bloqueia até hoje a Rodada Doha (alguns diriam inutilizando-a).

Segurança e CSNU: apesar do multilateralismo e da formação de blocos, a questão da segurança se alicerça ainda internamente. O Brasil enaltece sua capacidade de formar consensos mesmo com a escassez de meios de dissuasão. Critica também a ação preventiva unilateral, dos Estados Unidos em especial. Mas também o Brasil estava

O multilateralismo da reciprocidade: não se aplica apenas ao comércio internacional, mas a todos os quadrantes da ordem internacional. Envolve dois pressupostos: 1) a existência de regras para compor o ordenamento internacional (para não haver disparidade); 2) a elaboração conjunta destas regras. Como as hegemonia não gera ordem, somente o multilateralismo poderia preservá-la de seu egoísmo. Algumas das expressões deste multilateralismo:

Inserção global em alta: o globalismo brasileiro caracteriza-se pelo multilateralismo da reciprocidade e pela internacionalização ecônomica.

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2007: Lula elabora novo plano para o equipamento das Forças Armadas (navios e submarino nuclear; jatos e rearmamento do Exército). Procura desempenhar papel relevante no campo da segurança; associa-se em 2004 aos países do Cone Sul, assume o comando das tropas da ONU para levar a paz e redemocratizar o Haiti. Toma atitudes pacifistas, pautando pelo multilateralismo nas decisões, mas também atribuindo importância aos CSNU. Em 2005, apresenta à ONU uma proposta de reforma do CSNU: ampliação do número de cadeiras de membro permanentes e a extinção do veto.

Com a Unasul (Brasília, 2008), o governo brasileiro propõe a criação do Conselho de Defesa Sul-americano - que não conta com o aval da Colômbia. Quando criado, este substituirá o velho TIAR, afastará a OEA das questões relativas à América do Sul e zelará pela não-ingerência.

disposto a impedir resultados pretederminados pelas potências do Norte. Invoca os efeitos positivos de sua práxis para a construção da paz e reivindica a democratização do CSNU.

Clima e outras questões ambientais: envolve 3 dimensões: a sobrevivência do planeta; o desenvolvimento; e a fome. Três conferências debateram esta matéria: Estocolmo (1972), Rio-92 e Joanesburgo (2002). Foi introduzida pelos desenvolvidos em 1972, mas agregada à agenda pelos subdesenvolvidos aos seus interesses apontando os desenvolvidos como responsáveis pela degradação ambiental e desigualdades entre as nações; o ganho conceitual foi para os países subdesenvolvidos, mas os ganhos reais foram escassos. A mudança climática foi o tópico mais relevante: surge em 1992 e culmina com o Protocolo de Quioto (1997), em vigor desde 1995. Ganha maior atenção com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU. Os Estados Unidos não aderem pois afirmam que a redução compulsória fere sua soberania. Os emergentes reduzirão as emissões com auxílio de tecnologias financiadas pelos países ricos; e estes adotariam cortes quantitativos de emissões.

Saúde e Direitos Humanos: Brasil associa, há décadas, direitos humanos com desenvolvimento; com Lula, associa-se este tópico também com o combate à fome e à redução da pobreza.

□ Integração e bilateralismo: confecção da rede global: a formação de blocos mantém-se como tendência das relações internacionais; mas sem o ímpeto dos anos de 1990. a União Europeia desiste da Constituição de 2005 (rejeitada) e a substitui pelo Tratado de Lisboa. Na América do Sul, os governos envolvem-se com a melhora das condições econômicas e sociais e buscam soluções introspectivas, centradas em projetos nacionais além de programas de inserção internacional. Assim, a política exterior brasileira, de forte caráter integracionista, utiliza os processos de integração para estabelecer ou consolidar a rede de cooperação e poder ao Sul, partindo da América do Sul e avançando para firmar alianças com outras regiões.

□ Mercosul e América do Sul: o termo relações em eixo se agregou como conceito à teoria das relações internacionais; no qual a gênese e a evolução de processos de integração seria a integração bilateral, especialmente entre os países chaves das regiões (Brasil-Argentina e Alemanha-França). Com a Argentina, apesar de algumas controvérsias, comerciais em especial, o Brasil entendia-se com a vizinha nos campos da segurança regional e das negociações multilaterais. Cervo descreve o relacionamento como: "um parceiro ao lado do outro, mas não de mãos dadas". Além do crescimento exponencial dos investimentos brasileiros na Argentina, o comércio aumenta de forma bastante favorável ao Brasil (quase a totalidade das exportações brasileiras para a Argentina são de manufaturas). Ambos os governos buscam

A internacionalizaçã da economia brasileira: pela primeira vez na história é possível agregar a internacionalização econômica à estratégia de ação externa. Foi reiterado aos empresários o propósito de fazer do país um país globalizado mediante a expansão de seus empreendimentos; enfim, o modelo de inserção, através do modelo de interdependência, do Estado Logístico e de financiamentos de instituições nacionais, como o BNDES . A internacionalização da economia entra em ritmo acelerado a partir de 2005; o Brasil se torna o segundo maior investidor externo entre os emergentes. As reservas internacionais mais que triplicam e apresentam alta, ainda mais após receber o investment grade das agências de risco. Cerca de mil empresas brasileiras operam no exterior: a maior parte na América Latina (em diversas áreas: mineração, prospecção, metalurgia, indústria e tecnologia). Os países centrais preocupam-se com a internacionalização dos emergentes e desencadeam perigosa tendência protecionista - ao reverso da globalização. Os benefícios para os emergentes na internacionalização consistem na captação de recursos financeiros, desenvolvimento tecnológico e elevação da produção ao nível sistêmico global, além de incentivo ao comércio exterior de qualidade. Sem esta atitude, uma economia nacional perpetua a dependência estrutural.

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Lançando a rede para além da vizinhança: a rede lança raízes na América do Sul e, fortalecida em sua base, estende-se ao mundo; começa com o multilateralismo da reciprocidade e com a internacionalização da economia.

brasileiras para a Argentina são de manufaturas). Ambos os governos buscam aprofundar as relações e diminuir a desigualdade do comércio. Em 200 (Brasília), um plano de integração regional, via infra-estrutura, foi instituído (IIRSA); a cúpula em Ouro Preto (2004), aprofunda este entendimento além de organizar uma futura comunidade sul-americana de nações; cria-se o Parlamento do Mercosul (não mais mesclando decisões sul-americanas [Comissão Interparlamentar] com decisões mercosulinas). O Mercosul torna-se um projeto político, que a crise do neoliberalismo e as assimetrias tornam-se mais flexíveis; segmentos da sociedade o utilizam para comércio e a diplomacia o percebe como instrumento de reforço do poder de barganha internacional. A hegemonia do Brasil se impõe no bloco. O anúncio da Comunidade Sul-Americana de Nações (Cuzco, 2004), consolida-se com o tratado constitutivo da Unasul (União das Nações Sul-americanas) em 2008, Brasília. Esta não exerce somente o papel de mediadora entre interesses brasileiros e objetivos globais da política externa. O pólo de poder recém-criado, a América do Sul, realizará, para o Brasil, diretamente os interesses brasileiro - assim como irá funcionar aos outros países da mesma forma. A Unasul nasce com objetivos geopolíticos (pretende assentar a região no mapa-mundi; expressar voz única dos países sul-americanos no multilateralismo e aumentar sua independência política) e com objetivos econômicos (promover a integração produtiva, energética e de infra-estrutura, sem substituir o Mercosul e a Comunidade Andina). Originalidade: inicia a integração via a política e a geopolítica e não via a economia, como ocorreu na União Europeia. Dúvidas: excesso de burocracia, superposição de órgãos regionais, escassez de recursos financeiros e a diferença entre os dicursos e a elaboração e execução dos projetos. Condições favoráveis: crescimento econômico, aumento da inclusão social, reservas financeiras e estoque de energia.

Europa e Brasil: 3 contextos: União Europeia e Mercosul; União Europeia e Brasil; e países europeus e Brasil. Desde 1995 negocia-se uma aproximação entre a União Europeia e o Mercosul (um acordo de área de livre-comércio). O impasse reside pela aversão brasileira a tratados sem reciprocidade, semelhante à ALCA. Reconhecendo a importância do Brasil na economia internacional e nas negociações multilaterais, a União Europeia eleva o Brasil à condição de "parceiro estratégico" (convidado por Portugal, que exercia a presidência na União Europeia na época, em 2007); por isso o foco da negociação entre os dois blocos ficou mais restrito à União Europeia-Brasil. A montagem do plano de cooperação conjunta iniciou-se em 2007-2011. O bloco político BRICs foi institucionalizado em 2007. Volta-se para a promoção comercial entre seus membros, articulação diplomática e posição conjunta nas negociações internacionais. O IBAS nasce em Brasília em 2003: além dos interesses globais, existe a cooperação entre seus membros (comércio, energia, saúde, alimentação e interconexão com o Mercosul). No Caribe, não apenas o Haiti recebe a atenção e investimentos brasileiros; especialmente o setor petrolífero e de biocombustíveis atua na região. A rede se tece também no lado da África e dos países árabes e Oriente Próximo (Cúpula América do Sul-Países Árabes em Brasília, 2005; a Carta de Brasília foi o resultado da Cúpula), através de investimentos diretos e acordos de cooperação (as iniciativas, os investimentos e os projetos estão detalhados na seção de PI).

□ Blocos e regiões:

Brasil-Estados Unidos: dual: 1) lastro de uma aliança política e econômica histórica; 2) competição entre os dois países em relação à visão geopolítica e no confronto de interesses econômicos específicos. Seus limites encontram-se nos interesses empresariais que tolhem iniciativas de seus governos.

Brasil-China: confiança mútua, comércio bilateral e coordenação de posições nas políticas multilaterais. São acompanhadas pelo Conselho Empresarial Brasil-

□ Bilateralismo: o bilateralismo emerge como reação à crise do multilateralismo(manifestado pela ineficiência da ONU e pela paralisação de sua reforma; bem como da paralisação da Rodada Doha; outra manifestação foi o reforço do Estado após o malogro do liberalismo e por meio de reação de países ao unilateralismo estadunidense; por fim, os acordos de livre-comércio e a nova política comercial introduzida pelos Estados Unidos à margem da OMC minaram também o multilateralismo). Estes acordos bilaterais de livre comércio ferem quase que mortalmente a OMC.

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China. Exportação de produtos primários e importação de produtos manufaturados, tecidos, bens de capital e matérias-primas para as indústrias brasileiras. Obstáculos de empresas chinesas no Brasil: licença ambiental , burocracia, carga tributária, legislação trabalhista e dificuldade de obter vistos. Mesmo assim, a China ultrapassa os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil. Parceria importante também na cooperação tecnológica, lançando mais um satélite no espaço em 2007.

Com a Índia, o comércio e sua cooperação bilateral é minguada e mesmo as posições comuns nos fóruns multilaterais e o IBAS não suprem essa escassez.

Conclui-se que no mundo da globalização, toda atenção convém ser desviada ao bilateralismo; caminho vital para a realização de interesses nacionais - visto que o multilateralismo e a integração mostram-se como duas tendências em declínio, ao mesmo tempo em que os Estados nacionais andam como tendência em alta.

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