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JOÃO BARCELLOS CARAPOCUYBA CARAPICUIBA O primeiro ponto estratégico pré-bandeirístico, que ajudou a realizar o Brasil continental a partir do Oeste piratiningo sob a ação político-militar de Affonso Sardinha - o Velho. Inclui o anexo SINALIZAÇÃO TUPI-GUARANI & LUSO-CATOLICISMO

HISTÓRIA DE CARAPICUÍBA

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O primeiro ponto estratégico pré-bandeirístico, que ajudou a realizar o Brasil continental a partir do Oeste piratiningo sob a ação político-militar de Affonso Sardinha - o Velho.

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JOÃO BARCELLOS

CARAPOCUYBA CARAPICUIBA

O primeiro ponto estratégico pré-bandeirístico, que ajudou a realizar o Brasil continental a partir do Oeste piratiningo sob a ação político-militar de

Affonso Sardinha - o Velho.

Inclui o anexo

SINALIZAÇÃO TUPI-GUARANI & LUSO-CATOLICISMO

ÍNDICE Introdução A história é feita por documentos!

Parte 1 As Origens & Affonso Sardinha - o Velho

Parte 2 Quem Foi Affonso Sardinha - o Velho

Parte 3 Carapocuyba – Aldeia & Portinho

Parte 4 Carapocuyba – Dados Gerais

Anexo Sinalização Tupi-Guarani & Luso-Catolicismo

//////////////// Fotos do Autor, de comunicação oficial e de páginas da web. Desenhos Traço de J. C. Macedo sobre Affonso Sardinha [o Velho] Mapas de J. C. Macedo e João Barcellos

////////////////

Introdução I A história é feita por documentos!

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Os documentos falam de uma História que, na maioria das vezes, não é aquela que aprendemos nos manuais escolares e nas cartilhas governamentais. Após estudos que fiz sobre as famosas “doze aldeias fundadas por Anchieta” – na verdade todas elas existiam quando os portugueses chegaram ao planalto piratiningo, primeiro com João Ramalho, e depois com os jesuítas chefiados por Manoel da Nóbrega –, e também acerca de Cotia e de Araçariguama, a par de estudos paralelos sobre a São Paulo jesuítica, dei-me conta de afirmações oficiais acerca de Carapicuiba, do tipo “[...] Mas suas intenções fracassaram e Afonso Sardinha voltou a Portugal”, e que demonstram um triste desconhecimento das raizes nativas e coloniais da região. Ora, Affonso Sardinha [o Velho] veio a morrer na sua fazenda estabelecida no Pico do Jaraguá, em 1614, e não partiu para Portugal em 1590, como dizem as ´fontes´ carapicuibanas, tanto que em 1592 exige e recebe o título de “capitão de guerra das gentes da villa” para tomar de vez o Jaraguá e afastar para os “campos rasgados” [´sorocaba´, ´sorocas´] os guaranis que atacam a Villa jesuítica através do Caminho do Sul, o famoso Piabiyu – trilha ancestral e continental daqueles guaranis. Por outro lado, é esquecido outro proprietário da região carapocuybana: Domingos Luiz Grou. Resolvi, então, pinçar partes das minhas pesquisas – catalogadas pela minha filha como “Brasil: pesquisas piratiningas” – e preparar um conjunto de dados carapocuybanos para reflexão social e histórica. 2 A desinformação e a ânsia de ´oferecer´, ou ´criar´, uma Estória para identificar uma determinada região, no contexto regional e nacional, gera erros que, às vezes, acompanham gerações e formam uma ignorância publica e politicamente consentida. 3 A única maneira de corrigir tais erros, também eles originados em dados mal estabelecidos por estudos superficiais de outrora, é buscar os documentos que nos falam das pessoas envolvidas na formação geossocial e política da região. Erros como “O padre Anchieta fundou São Paulo” [ele mesmo escreve que “o

irmão Manoel da Nóbrega mandou erguer a Casa”], ou “a seriedade política de Pedro II” [a sua inabilidade política causou o fim da monarquia], e esse ´carapicuibano´... sobre um Affonso Sardinha que “voltou a Portugal” fracassado [ora, foi a sua brava caminhada que permitiu o início das ´bandeiras´ e tornou-o o homem mais importante da colônia luso-paulista, naquele momento], são erros que até se transformam em mitos como o “cavalo branco de Pedro I e o seu grito no Ypiranga” [quem gritou de verdade pela Independência foi o deputado Diogo Feijó em 25 de Abril de 1822, nas Cortes de Lisboa]. Eis por que é importante, no estudo sobre a raiz de uma localidade, buscar fontes que se encontram até debaixo do nariz das pessoas... Sim. Uma das principais fontes sobre a História das aldeias e das vilas paulistas está, em parte, no Regimento da Capitania de S. Vicente e nas Atas da Câmara Municipal de São Paulo, onde, por ex., ´o Velho´ Affonso Sardinha foi presidente, vereador e almotacel. E vamos ao assunto...

Introdução II Entre os rios Jeribatiba e Anhamby A) A estrada fluvial é um dos sinais mais fortes na geopolítica colonial quando se fala da tomada da Serra do Mar a partir de S. Vicente e pelo rio que lhe fica em frente – o Jeribatiba, ao lado do Morro das Neves, denominação goayanaz que encontramos também para outro rio, este, no planalto serrano, entre a aldeia Ibirapuera e a Jeribatiba, também chamado de Rio Grande pelos primeiros colonos deslumbrados com a sua sinuosa e larga natureza. Ele encontra-se com outro sinuoso e largo rio – o Anhamby – para constituir a grande estrada d´água doce que vai permitir o estabelecimento da Villa de São Paulo dos Campos de Piratininga a partir da construção do Colégio, em 1554, após uma visita do padre Manoel Nóbrega à região, em 1553, na companhia do luso-americano João Ramalho. Devido à larga utilização do Anhamby na expansão colonial para o oeste do planalto, além sertões e paranás, o Jeribatiba é pouco mencionado como estrada d´água no assentamento dos portugueses na região... mas, a história é outra, pois, antes de os poetas e os políticos cantarem o Anhamby, sobreviveram no cântico cristalino das águas do Jeribatiba: aquele é o rio dos sertões desconhecidos, este é o rio da villa... e, quem liga para o rio que, passadas as aventuras coloniais, é esgoto urbano e nem serve para uma romântica jornada de canoa?!... B) Desde a costa africana, entre N´Gola, Moçambique, Mina, Cabo Verde, Guiné e S. Tomé e Príncipe, os cursos d´água são para os marinheiros e aventureiros portugueses as principais entradas nos territórios de outras gentes. Poucos anos antes, exploradores da China haviam feito alguns desses percursos, como aquele que dobra o Cabo da Boa Esperança, ou o que liga o Atlântico ao Pacífico, na América do Sul; esses percursos foram registrados pelo veneziano Fra Mauro em mapa adquirido pelo infante Pedro, duque de Coimbra e regente do Império luso ao tempo da menoridade do rei Afonso, ao qual, em homenagem, dedicou as Ordenações Afonsinas – e, tal mapa foi tão importante que passou a ser o grande segredo d´Estado na corte do rei João II, neto daquele infante Pedro. A primeira frota para a Índia, é preparada por João II com base no Mapa Fra Mauro, mas com a sua morte vem a ser Manuel I o rei que lhe dá continuidade mantendo o Vasco da Gama como almirante. No retorno da odisséia oriental, o almirante Gama dá instruções a Pedro Álvares Cabral para tomar uma porção de terra a oeste de Cabo Verde... Esta terra vem a ser chamada de Sancta Cruz, e depois, Brasil.

1

O primeiro grande caminho fluvial que leva os colonos portugueses a assentarem arraiais no planalto da Serra do Mar e perto da Piratininga que, depois, seria a base física para a construção da sede da futura São Paulo dos Campos de Piratininga, é um curso d´água chamado “atado e de muitas voltas”, ou seja, “encachoeirado”, pelos nativos locais, principalmente goayanazes e guaranis. O nome deriva, pelo som percebido pelos colonos, de “yere-abaty-bae”, que os mesmos traduziam por “jeribatiba” ou “jubatuba”. Seguir o curso do “yere-abaty-abae” é ir na aventura de uma longa e perigosa jornada, apesar da curta distância a percorrer. Eles saem da “mata grande”, ou “ybyrapuera”, aldeia de goayanazes [1], e fazem-se ao “yere-abaty-abae” com a vontade de conquistar o espaço que Portugal lhes negou: a liberdade de ser e estar em terra própria. E quanto mais longe da Serra do Mar, melhor. Quando os colonos chegam na foz desse rio, descobrem que adentram outro rio, maior, porém, menos perigoso: é o “anhamby”, que na linguagem geral Tupi significa “água boa”. Este rio tem curso longo e bate o sertão para o sul margeando povos e riquezas até chegar no Rio da Prata. Cedo aprendem que este rio vai para o interior... O rio é, também, em algumas partes, um obstáculo pantanoso: os colonos, quando chegam ao Vale do Tamanduatey, pegam canoa rumando para a foz no Jeribatiba e, daí, para o Anhamby. Jeribatiba é um rio emoldurado por bela e densa mata de galeria com muitas palmeiras que os nativos chamam de “jerivá”, o que, mais tarde, levou alguns historiadores a pensarem que o nome Jeribatiba tinha aí a sua origem. Entre grandes concentrações de mosquitos é que as canoas conquistam as suas águas para, entre o portinho da aldeia Carapocuyba e o de Ybyturuna, demandarem o portinho de Araratiguaba com destino aos paranás direcionados para Cuiabá e suas minas de ouro. Mas, como os colonos se arrancham ao longo do Jeribatiba? Escalada a Serra do Mar, senhores e escravos e cargas dirigem-se para o planalto em canoas através do Jeribatiba que, então, ganha o apelido de “rio grande”. E a Villa jesuítica está logo ali. Para passarem para os sertões do oeste, os colonos navegam o Jeribatiba até ao fim do Tamanduatey, no Anhamby. A jornada não é fácil, apesar de curta... E é pelo Jeribatiba que a colonização conquista o Piabiyu: entre Ybitátá, Carapocuyba e Koty vem “o Velho” Afonso Sardinha a estabelecer o seu empreendimento estratégico chegar aos grandes sertões das minas de metais mencionadas pelos seus escravos americanos, goayanazes e guaranis. Menos de 50 anos passados, esses caminhos, terrestres e fluviais, vão receber os bandeirantes, e, quatro séculos depois, o Jeribatiba é o eixo do desenvolvimento comercial e agro-industrial do Município e do Estado de São Paulo, desenvolvimento que se estende para o Anhamby. 2

Os portugueses dão continuidade no Brasil às expedições feitas nos caminhos fluviais e florestais da África. Mas, no Brasil, têm a parceria de uns padres que querem construir o seu próprio império: a Sociedade de Jesus [SJ]. Os colonos atuam individualmente e têm em exploradores como Affonso

Sardinha, o Velho, a base física e psicológica para alcançarem a independência. Na sua convivência com os jesuítas, liderados por Manoel da Nóbrega, que manda construir o Pátio do Colégio na aldeia de Piratininga, como já o fizera na Bahia e no Rio de Janeiro, homens da coragem do “velho” Sardinha assumem o comando da colonização e tornam-se comerciantes, capitalistas, para-militares, vereadores e caçadores de nativos – e, no caso de Sardinha, minerador de ouro e prata, vindo a ser o primeiro a forjar ferro na América. 3 É com Affonso Sardinha, o Velho, que o Rio Jeribatiba ganha os primeiros contornos de base estratégica. O que ele faz? Ganha sesmaria para construir uma ponte para acesso das pessoas que vivem em ambas as margens e, com isso, constrói a sua primeira fazenda aqui mesmo, no “ybitátá”; da fazenda segue o curso do velho “piabiyu” [Caminho do Peru] guardado pelos guaranis de linhagem M´Byá, também ditos Karai-Yo [ou: Carijós], quando dá de frente com a aldeia goayanaz chamada Carapocuyba, com portinho para outro rio, o Anhamby, tendo à sua esquerda outra aldeia, mas guarani – a Koty [depois, Acutia, Cotia], perto do mesmo rio. “Se eu tomar a Carapocuyba, vou ter acesso ao Anhamby e ao Jeribatiba, e posso chegar logo ao ouro do Ybyturuna, ao ferro do Byraçoiaba, e ao mesmo tempo combater os selvagens para tomar o ouro do Pico do Jaraguá [Jaraguá = Senhor do Vale]”, deve ter pensado. E foi o que fez... Apesar de ser presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, ou simplesmente vereador, Affonso Sardinha, o Velho, tem tempo para se estabelecer como o mais poderoso colono e capitalista luso-paulista, de tal sorte que passa a ser o principal financiador da expansão jesuítica para o sul com doações em gado, dinheiro e escravos, negros e nativos. A ligação estratégica entre o Anhamby e o Jeribatiba, com o Pico do Jaraguá de atalaia, onde constrói a sua principal fazenda, torna Affonso Sardinha um rei sem coroa, mas com muito poder. 4

Falar dos rios Anhamby/Tietê e Jeribatiba/Pinheiros é falar de Affonso Sardinha, o Velho, e de como, entre 1570 e 1605, ele os liga numa malha social, econômica e militar, para dar segurança aos percursos que, mais tarde, serão os percursos das bandeiras que demandarão o ouro e as esmeraldas em outros rincões do Brasil. Os rios que abriram as portas à colonização e ao bandeirismo, nos Sécs XVI e XVII, são os mesmos rios que no Séc. XXI continuam a dar vida à malha social e econômica da grande São Paulo dos Campos de Piratininga, na sua malha metropolitana e estadual. Apesar dos desvios de curso, principalmente no Butantã/Ybitátá, pontes e mais pontes, obras para navegação comercial, poluição industrial e doméstica sem controle, etc., os dois rios continuam a deixar-nos sonhar com a aventura de ir sempre além.

[1] Carapocuyba – aldeia de goyanazes ou de guaranis?... Tudo indica que a primitiva Aldeia Carapocuyba é de

origem guarani, até pela proximidade com a Aldeia Koty, pois, segundo documentos antigas [títulos de terras e testamentos] que falam dos goyanazes aldeados no sítio do Capão, por Fernão Dias Paes, o Velho, e que Afonso Sardinha, o Velho, tem aldeado outros da mesma tribu em Carapicuíba”. Ou seja, há uma miscigenação nativa forçada

pela preação que logo vai acabar com os guaranis tanto na Koty como na Carapocuyba.

Fontes Consultadas

AFONSO SARDINHA: UM LUSO-PAULISTA A FAZER O BRASIL. MACEDO J. C. [1976].

AS ATAS DA VEREANÇA PAULISTANA & AFONSO SARDINHA. PIÑON, Mariana d´Almeida y.

ARAÇOIABA & IPANEMA. SALAZAR, José M., 1997.

CÓDICE “PAPEIS DO BRASIL”. Biblioteca Nacional de Lisboa / Torre do Tombo.

FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA. GUTIERRE, Janette. Ministério do Meio Ambiente / Ibama, s/d.

FERNANDA MARQUES. Acervo particular de documentação analítica da obra de João Barcellos.

GENEALOGIA PAULISTANA. SILVA LEME, Luiz Gonzaga da.

HISTÓRIA DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE, [´Vila de Parnaiba´ e ´Vila de Sorocaba´], PAIS LEME, Pedro Taques de

Almeida [1744-1777].

HISTÓRIA DO TIETÊ. NÓBREGA, Mello. Col Paulística, Vol 3º; Governo do Estado de São Paulo, 1978.

JOÃO BARCELLOS. Acervo histórico particular luso-brasileiro.

JOHANNE LIFFEY. Acervo de documentação dos estudos do poeta J. C. Macedo.

MUSEU PAULISTA. [USP]. Ipiranga/SP.

O EMBU NA HISTÓRIA DE SÃO PAULO. JORDÃO, Moacyr Faria de. Prefeitura de Embu, 1964-SP.

O TUPI NA GEOGRAFIA NACIONAL. SAMPAIO, Theodoro.

SÃO PAULO DE PIRATININGA NO FIM DO SÉCULO XVI. SAMPAIO, Theodoro.

Parte 1

As Origens & Affonso Sardinha - o Velho

O nome Carapicuiba pode significar “peixe que não se pode comer”, "pau podre", "aquele que se reúne em poços", e este o mais provável, pois vem do tupi-guarani Quar-I-Picui-Bae, e daí a primeira ´tradução´ “carapocuyba”, que os portugueses fazem para identificarem o ribeirão ´revoltado´ que passa perto da aldeia. Aqui, a oeste de Piratininga, existe uma aldeia de guayanazes com uma função de extrema importância geo-econômica nativa: a aldeia possui um portinho fluvial nas águas do Anhamby [1], e perto de Koty [2], uma aldeia-tronco dos guaranis que sinaliza as ramificações do Piabiyu [3]. Em meados de 1557, o minerador e mercador e político Afonso Sardinha [o Velho] recebe, em ´sesmaria´, as terra de Ybitátá [4], em troca da construção

de uma ponte sobre o rio Jeribatyba [5]; um dos extremos dessas terras toca a área da aldeia de Carapocuyba. Sem ter ainda acesso ao Pico do Jaraguá, o desbravador português e vereador da Câmara de São Paulo dos Campos de Piratininga vê no portinho de Carapocuyba a primeira grande saída para descer ao sul através do oeste piratiningo e dar início à busca do ouro e da prata que os seus escravos guaranis tanto lhe falam; e é assim que ele e o filho [o Moço], já em luta contra outros tupi-guaranis situados no Pico do Jaraguá, faz a abertura estratégica que o levará até ao ouro do Byturuna [6] e ao ferro do Byraçoiaba [7]. A história pré-bandeirística passa pelo portinho fluvial de Carapicuiba e pela história político-econômica e militar de Affonso Sardinha, o Velho. Mais tarde, já com o Pico do Jaraguá dominado e fazenda ali estabelecida, ´o Velho´ faz a doação da aldeia-fazenda à Sociedade de Jesus [SJ], assim como toda a sua fortuna. 1- Rio Tietê 2- do guarani, q.s. Ponto de Encontro / A Casa de

3- do guarani, q.s. Caminho do Peru 4- Butantã 5- Rio Pinheiros

6- do tupi-guarani 7- do tupi-guarani

Parte 2 Quem Foi Afonso Sardinha - o Velho

AFFONSO SARDINHA o Velho

Introdução

Rústica e de pura sobrevivência, a economia quinhentista e seiscentista no planalto piratiningo tem base na bravura, às vezes sanguinária, dos colonos portugueses, até por que, alcançado o topo da Serra do Mar, não têm outra alternativa que não seja o avanço sobre as aldeias goayanazes [ou tupis, em geral] e guaranis que encontram no planalto e nos sertões do Piabiyu e de Ypanen. É por isso que entre Santos, S. Vicente e Piratinin [antes da S. Paulo dos Campos de Piratinin], nasce um complexo familiar de oficinas de artesanato de peças para a sobrevivência dos colonos. Entretanto, e “...até à chegada dos jesuítas, em 1554, a principal actividade dos colonos é a de embucharem as mulheres nativas, de preferência filhas de chefes tribais, a exemplo do Bacharel de Cananéia [Cosme Fernandes], e de Ramalho, logo seguidos por Affonso Sardinha e outros cristãos-novos fugidos da Inquisição católica ibérica, pois, no seu entender, é preciso marcar presença sanguínea” [Macedo, 1976]. Um dos mais poderosos colonos de entre os Sécs XVI e XVII é o político, paramilitar, mercador e minerador Affonso Sardinha - o Velho, que “negociava com o Reino, a Bahia, o Rio de Janeiro, Buenos Aires e Angola, fabricando e exportando marmelada. Posteriormente, outro Creso da época, o famoso padre Guilherme Pompeu de Almeida, igualmente produziu milhares de caixinhas de marmelada, que mandava vender em Minas Gerais” [Taunay, 1958]. E pode-se dizer que o grande ciclo luso-paulista se inicia com a abertura de uma nova picada na Serra do Mar, entre S. Vicente e o planalto, na qual já trabalha também o destemido Affonso Sardinha, a colaborar com os jesuítas: é o Caminho de Anchieta. Instalados na Piratininga, por ordem do padre Manoel da Nóbrega, os jesuítas recebem um apoio de grande relevância: o suporte de Affonso Sardinha, que o dá a outras congregações vaticanas, numa espécie de “mão aberta” incomum, mas que é para ele mesmo de grande valia logística no sonho de chegar às minas dos metais preciosos que tanto escuta nos falares dos nativos. Assim, a expansão jesuítica na Capitania de S. Vicente é feita a par da expansão dos negócios da Família Sardinha, principalmente a de mineração em sociedade com Clemente Álvares, pois, no final do Séc. XVI, Affonso já põe o filho mameluco, dito o Moço, a representá-lo em algumas empreitadas e o acompanha – aliás, a quem repassa a arte da mineração contrariando os seus pares da Câmara municipal paulistana, que haviam determinado que os colonos não poderiam ensinar aos mamelucos [filhos de brancos com nativas] as artes de fabricar peças metálicas, para que essas não chegassem às mãos dos escravos...

[junção dos rios Anhamby e Jeribatiba]

Da sua Fazenda Ybitátá à Fazenda Carapocuyba, passando pela Fazenda Jaraguá e o Arraial-Fazenda da Mina de Ouro do Byturuna, além dos arraiais mineiros de Cubatão e de Byraçoiaba, que constitui a primeira Via do Ouro na Capitania de São Vicente, Affonso Sardinha - o Velho, a par da sua atividade de banqueiro [que financia e vive de rendas, a grande atividade judaica] e vereador, é um autêntico imperador nos sertões do Piabiyu [Ybitátá e Carapocuyba] e d´Ypanen [Jaraguá, Byturura e Byraçoiaba], e é dele a maioria das casas alugadas a padres e oficiais do reino em Santos e São Paulo... Obviamente, esse português não chegou pobre à colônia, mas fez dobrar muitas vezes os seus cabedais a ponto de se tornar rei e senhor e exigir abertura política na metrópole para comprar escravos negros d´Angola, enquanto envia anualmente para Lisboa mercadorias em nome da Coroa! Este é o senhor Affonso Sardinha, uma das principais referências da história luso-brasileira no que ao estabelecimento do Brasil diz respeito, nas partes dos sertões da Capitania vicentina, e mais propriamente no oeste da villa de sam paolo dos canpos de piratinin, e desta até Byraçoiaba, onde se abre o caminho para Araritaguaba, o porto [feliz] onde acontecem depois as monções destinadas a bandeirar o Brasil continental.

Tábua Historiográfica

[Estudos realizados entre 1991 e 2007, no Brasil, finalizando leituras de 1975/76, em Portugal.]

1550

Tem atividades comerciais em S. Vicente e aqui conhece Maria Gonçalves, uma das irmãs de Braz Gonçalves (o Velho). 1553

Após verificar que vários aventureiros, entre eles U. Schmidel, fazem o percurso continental do Piabiyu [na verdade uma vasta rede de comunicações terrestres e até fluviais] e mantêm relações com nativos hostis e com os espanhóis, o governador Tomé de Sousa manda fechar o velho caminho guarani... que nem os jesuítas nem ´o Velho´ Sardinha acatam informalmente. 1555 Nestes anos atua em S. Vicente e em Santos e faz negócios, inclusive, com os corsários ingleses que, por duas vezes, atacam e saqueiam Santos, principalmente com Cavendish. É dono de navio[s] em Santos, segundo documentos históricos da Torre do Tombo, em Lisboa, o que demonstra: 1º, que o judeu Gregório Francisco faz a linha Angola – S. Vicente não como dono de navios negreiros, mas como sócio ou capitão a serviço de Affonso Sardinha, e 2º, que este desembarcou na “terra dos brazis” para ser desde logo um poderoso colono nas artes de financiar e viver de rendas, o que faz jus ao histórico de judaísmo convertido ao cristianismo da Família Sardinha da província do Alentejo, no sul português. Casa com Maria Gonçalves, em 9 de Julho, em cerimônia realizada em São Paulo, e o casal fixa residência no Ybitátá [Butantã] onde inicia a formação de fazenda às margens do Rio Jeribativa, ou Jerubatuba [Rio Pinheiros]. O casal não tem filhos, mas Affonso reconhece um filho com uma nativa e dá-lhe o mesmo nome: Affonso Sardinha [o Moço], por sua vez, casou-se e teve um filho, Pedro, e duas filhas, Theresa e Luzia. O português e o mameluco trabalham juntos em várias empreitadas de mineração e caça [preação] a nativos hostis. 1555 a 1557

Atua com os jesuítas na construção do Caminho de Anchieta, paralelo ao Caminho dos Tupiniquins, na Serra do Mar. A nova picada serve os interesses

coloniais dos portugueses, mas também a visão sulista dos jesuítas preocupados com a própria expansão territorial ao longo da Linha de Tordesilhas, já um enfeite diplomático. 1557

Recebe a vasta região de Ybitátá em troca [escambo] da construção de uma ponte no Rio Jeribatiba para escoamento de mantimentos essenciais à Villa, e aqui constitui fazenda. Escambo de Carapocuyba Toma a Aldeia Carapocuyba dos goayanazes e instala nela Fazenda & Capela aproveitando-se do porto fluvial, tornando-se assim o fundador da Carapocuyba luso-católica. Na região carapocuybana ele trata apenas de atividades rural e escravagista para alimentar as suas gentes e sustentar a azáfama da semeadura e colheita, respectivamente. Amigo e financiador dos padres jesuítas, assim como de várias capelas de outras irmandades católicas, faz circular escravos nativos [goayanazes, tupinambás e karai-yos] entre as aldeias que circundam a Villa Piratininga em defesa paramilitar da mesma, porque a maioria dos ataques surge do sertam do Piabiyu, pela região da Koty guarani, fechada por decreto imperial à circulação de gentes e bens. 1570 Tem engenho de cana d´açúcar em Santos e monta o primeiro trapiche [depósito] de açúcar e pinga da Villa piratininga. Paralelamente ao comércio de açúcar, monta engenho para processar marmelos e torna-se um dos mais ricos comerciantes de São Paulo. Tanto no litoral como no planalto tem casas que arrenda a padres e aos primeiros advogados que chegam à colônia. É o judeu por excelência que vive de empreendimentos e de renda. Nos anos 70 é o colono mais poderoso da Capitania de S. Vicente acima da Serra do Mar e dá-se ao luxo de financiar a expansão dos jesuítas para o sul, a partir do oeste paulista. Conhece o prático-minerador Clemente Álvares [1] e estabelece sociedade com ele, pela qual financia a busca de novas minas de ferro, prata e ouro. [1] Clemente Álvares vem a ser um minerador respeitado e, ao mesmo tempo, um cidadão detestado por se apropriar abusivamente de bens e documentos da própria família e das minas de ouro de outros, incluindo as do ´velho´ Sardinha... que chega a registrar como suas na Câmara Municipal piratininga!

1575 [?]

Entre escambos, vendas e aquisições, o ´velho´ Sardinha desfaz-se de Carapocuyba que, cerca de 1578, é doada a Domingos Luiz Grou [2].

[2] “[...] terras de Carapicuíba que iam até o rio Pinheiros [...]. Aí estabelecido, travou e estreitou relações com os

indígenas seus vizinhos, acabando por contrair matrimônio com a índia Margarida Fernandes, filha do principal da Aldeia de Carapicuíba [...]. Em 1563, na iminência de ataque a São Paulo pelos indígenas rebelados, foi eleito capitão dos índios...” [Livro das Sesmarias, Vol I; apud Moacyr F. Jordão, e “O Embu...”, idem].

1580 A Importante Sesmaria de 12 de Outubro

Sabendo da existência de ouro no Pico do Jaraguá, tenta a mineração, mas é impedido pelos nativos, e só depois de 10 anos de guerra consegue a extração do metal precioso, além de instalar no local um arraial-fazenda. A pedido dos jesuítas e de políticos poderosos como Affonso Sardinha - o Velho, e Domingos Luiz Grou, o capitão Jerônymo Leitão, da Capitania de S. Vicente, que possui fazenda em Barueri, perto da Fazenda e Porto de Carapocuyba, determina a doação de uma Sesmaria aos Índios do Pinheiros e de S. Miguel de Ururay, em 12 de Outubro de 1580. A canetada político-administrativa visa assegurar os direitos dos jesuítas e dos colonos luso-paulistas em termos de terras, negócio rural e mineiro, quando a Espanha toma para si os destinos de Portugal. A sesmaria dupla, a formar um feudo enorme, tem base nas fazendas de Ybitátá e Carapocuyba e daí toma os cursos do Jeribatiba [rio Pinheiros] ou do Anhamby [rio Tietê], dependendo da jornada a empreender. A sesmaria-dupla é um território imenso e as aldeias nativas, ainda sem capela, ficam enquadradas assim no mapa colonial português... apesar de Castela! 1585 Faz parte da expedição do capitão Jerônymo Leitão para combater os nativos karai-yos. Ele e o capitão entendem-se muito bem politicamente e têm vários negócios em comum. 1587

Em parte do Rio Jeribatiba, na Serra do Cubatão, faz mineração de ouro e de ferro. 1587- 88

Com indicações dos escravos nativos, parte com o filho [´o mameluco´, ou ´o Moço´] e Clemente Álvares para a região do sertão da Floresta d´Ypanen e descobre ferro no morro de Byraçoiaba, onde vem a instalar fornos do tipo catalão para a iniciar a primeira produção industrial siderúrgica do continente americano a partir, talvez, de 1596-97.

1590

Apesar de existirem ações minerárias na Aldeia Guaru, dos goayanazes, na Serra de Jaguamimbaba, é ele quem opera aqui a maior exploração de ouro. Manda vir de Angola a primeira leva de escravos para as minas de ferro e de ouro. A encomenda é feita ao mercador judeu de escravos Gregório Francisco, seu sobrinho, com navio de carreira entre Angola e S. Vicente.

Envia regular e anualmente mercadorias para Lisboa em nome da Coroa. É o colono mais poderoso da Villa e do sertão paulista. 1591 Sob indicações dos nativos guaranis e goayanazes, nos campos de Sorocaba, o capitão Belchior Carneiro encontra veios auríferos no Morro do Byturuna, na aldeia goayanáz. Como a Coroa lusa, desde 1580 em mãos dos castelhanos, não faz mineração própria, as minas achadas vão a leilão oficial, e aí, Afonso Sardinha - o Velho arremata a Mina dos Arassarys, no Byturuna, e inicia a mineração com o filho e com Clemente Álvares. 1592 Faz o seu primeiro testamento [13 de Novembro], junto com a esposa Maria Gonçalves, no qual descreve uma grande fazenda sita na região da Parnaíba, que é a do Byturuna [mais tarde adquirida pela Família Pompeu de Almeida e depois doada aos jesuítas]. No registro, o casal fala das várias capelas e igrejas que mandou ´fabricar´, ou subsidiou, e nisso demonstra que não tem santos de devoção própria... é uma atividade puramente social que lhes encobre a identidade judaica.

Affonso Sardinha

Indicado como Capitão das Gentes de Guerra de São Paulo na Câmara Municipal paulistana e na Capitania

No ano de 1592, diante do perigo de mais ataques de guaranis [karai-yos] e de tupis [goayanazes] à Villa Piratinin, os vereadores solicitam ao capitão Jerônymo Leitão, da Capitania de São Vicente, providências urgentes. Devido à demora das mesmas, e porque Leitão está em guerra contra os nativos nas bandas do sertam da Parnaíba, acontece um fato político de grandeza política e paramilitar:

“[...] Aos dous dias do mes de maio do dito anno os offiçiais da camara se ajuntarão nela e ai aprezentou afonso sardinha

hua provizão de capitão da gente desta villa e seus termos e requereo aos ditos offiçiais q a mãdasen

registar e elles asentarão q se esperase pelo snõr capitão q estava de caminho [...]”.

Amado e odiado ao mesmo tempo, enquanto banqueiro e sertanista destemido, Affonso Sardinha é, na última década do Quinhentos, a pessoa mais indicada para resolver a problemática da defesa da Villa. Ele é a essência da “piratinin villa do sertam, onde só segue adiante quem comanda e não é comandado [non ducor, duco]”. Ele sabe disto e apresenta-se no Conselho com uma proposta de defesa. Sabe, também, que nenhum outro poderoso luso-paulista tem a autonomia financeira que lhe dá a liberdade autocrática de decidir por si mesmo [bem no conceito creso das políticas privadas que se

fazem pelas públicas]: ele e só ele é a salvação das gentes da villa, e as gentes também sabem disso. Os vereadores não querem fazer o registro da petição de Afonso Sardinha de imediato, mas é o povo que pressiona e, tendo em vista a ´voz de deus´, escrevem na mesma ata:

“[...] pois afonso sardinha era home pª isso como o dizia a maior parte deste povo [...]”.

Sem dúvida, o velho senhor luso-paulista enfrenta oposições, tanto de políticos como de outros sertanistas, mas ele é o mais livre dos poderosos locais... e o mais poderoso, tanto que é “dono de navios em Santos”, como está nos documentos “Papeis do Brasil” guardados na Torre do Tombo, em Lisboa. Obs

As atas da Vereança paulistana mostram outra verdade histórica: ao contrário do que afirmam alguns historiadores [?] e até um dicionarista, o mameluco Affonso Sardinha - o Moço jamais poderia ter usurpado o lugar de o Velho,

porque o regimento impedia que mamelucos tivessem acesso a cargos institucionais, quanto mais a comando em armas...! Por outro lado, o Registro Geral demonstra que quem recebeu o título de ´capitão´ foi o Velho e não o Moço,

o que derruba qualquer tipo de estória sobre o assunto...

No testamento, redigido antes da sua partida para o sertão, e que passou para o Cartório de da Tesouraria da Fazenda de São Paulo, no Séc. XIX, o Velho fala das suas coisas, do seu cargo de Capitão e do filho mameluco, o que

põe um ponto final na questão. Também o linhagista Pedro Taques, no seu “Notícias das Minas...”, contribuiu para a

confusão de posições entre os Sadinha, pai e mameluco.

Após o agito político na Vereança, em 2 de Maio de 1592, é ratificada a decisão popular em favor do político, desbravador da Via do Ouro, e banqueiro, em 20 de Setembro:

“Traslado de uma provisão de Affonso Sardinha de capitão desta villa de São Paulo.

[...] Jorge Corrêa capitão e lugar tenente [...] faço saber [...] que havendo respeito aos muitos serviços que Affonso Sardinha

tem feito a esta capitania e pela confiança que delle tenho hei por bem de o encarregar de capitão da gente da villa

de São Paulo e seus termos [...]”.

E ainda no mesmo ano:

“[...] mando o capitão Affonso Sardinha que em meu nome vá ao sertão [...]”.

E o próprio Sardinha, em cédula testamentária habitual na pré-campanha sertanista de uma entrada de guerra:

“[...] esta cedula de testamento e mando cerrado virem,

como no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1592, aos 13 dias do mez de novembro, n'esta villa de S. Paulo do Campo,

Capitania de S. Vicente do Brasil etc. Eu Afonso Sardinha, na dita villa morador e capitão da gente de guerra,

pelo governador Lopo de Souza [...]”

Obviamente, que o Affonso Sardinha de muitos serviços a favor da Capitania só pode ser o Velho...! Aliás, neste período, ele também é vereador! Os vereadores não podem oferecer Poder a um mameluco, e o Povo, esse, a conhecer um Sardinha, só pode ser o pai Affonso. E nas Atas, como no Regimento, pode-se ler perfeitamente que o Velho é e está Poder, sendo que o Moço é notícia uma única vez e se registra que “[...] afonso sardinha o moço hera ido ao sertão e levou em sua companhia outros mâsebes e mais de çem índios xpãos”. Assim, está claro que nos últimos 300 anos quiseram fazer esquecer Affonso Sardinha - o Velho dando falsa identidade política e colonial ao filho... Por que o pai era judeu convertido? Se assim foi/é, o filho, mameluco, serviu como argamassa para emparedar ´o judeu´, como fizeram para calar a odisséia colonial de outro judeu: o Bacharel de Cananéia...

[Ata da Vereança paulistana, sinal e assinatura do ´velho´ Affonso Sardinha]

1604

Affonso Sardinha – o Moço faz testamento no sertão e fala que são suas as minas e que tem 80.000 cruzados em ouro guardados em botelhas de barro... O jovem mameluco morre em confronto com os nativos neste mesmo ano e deixa um testamento ridículo. Obs A cédula testamentária d´o Moço é uma piada histórica, uma vez que ele foi contemplado com tapera e 300 cruzados

pelo pai, em 1592, sendo que tudo isso pertencia a Maria Gonçalves enquanto o Velho estivesse nos sertões como capitão de guerra. Entre os vários testamentos feitos no sertão, o d´o Moço, redigido pelo pe João Álvares, é um

acontecimento histriônico, e tanto assim que, lavrado, é registrado no Cartório de Órfãos de São Paulo.

1605 Com o arraial mineiro do Byturuna dando ouro em pequena escala, mas uma grande fortuna, transforma o arraial em fazenda; e, em 4 de Dezembro de 1605, depois da morte [1604] do filho, “o Velho” instala a Capela de Sta Bárbara, tornando-se o fundador luso-católico de mais um povoado colonial que terá continuação com outras capelas, outras devoções, outros pontos geográficos, e até outros focos de interesse comercial, rural e logístico, sendo particularmente um eixo para o desenvolvimento do jeito de ´bandeirar´ que, a algumas milhas dali, a partir de Araratiguaba [o ´porto feliz´ dos goayanazes], já faz acontecer o Brasil continental! Obs

1 No “anno 1605” não se realizam sessões normais da Vereança paulistana porque os poderosos, latifundiários e para-militares estão ocupados na defesa dos seus bens nos sertões dos guaranis [Piabiyu] e dos tupis [Sorocaba e Ypanen].

2 Tudo leva a crer que o escandaloso “testamento” de ´o Moço´, feito no sertão, em 1604, doeu bem no fundo da alma de ´o Velho´, que passa mais de um ano entre Byraçoiaba e Byturura, e no arraial-mina do Byturuna manda ´fabricar´ a capela em honra de Sta Bárbara, às vezes acompanhado pelo padre jesuíta Antônio da Cruz.

3 A instalação da Capela de Sta Bárbara é da tradição dos mineradores e militares, como dos sertanistas, e no caso da Mina-Arraial do Byturuna, no Arassary´i, a história de Afonso Sardinha - o Velho foi passada oralmente, como já havia acontecido com a Capela ´fabricada´ na Carapocuyba, logo, a História não descarta a Tradição a incorpora-a

como registro imaterial pela certeza de que os atos existiram e a arqueologia os mostra, tanto no Parque da Mina de Ouro d´Araçariguama como na Aldeia de Carapicuíba, por exemplo, povoados luso-católicos a partir das ações sertanistas e minerarias do velho Sardinha. A essa tradição não poderia fugir ´o Velho´ Sardinha, até pela proximidade

dos padres jesuítas, muito vigilantes nos atos eclesiásticos informalmente desencadeados nos sertões, como a ´fábrica´ de uma ´alminha´ ou de uma ´capela´.

Affonso Sardinha vende a mina, o arraial e a capela do Byturuna, ao sócio-artesão Clemente Álvares, que repassa a informação à Câmara de São Paulo, onde é vereador. A translação é tão verdadeira quanto a declaração do próprio vereador Álvares no plenário do Conselho paulistano. 1615 No dia 9 de Julho, com a esposa Maria Gonçalves, e por estarem casados há mais de 60 anos [o que mostra que ele deve ter chegado ao Brasil, fugido da Inquisição, cerca de 1535, tendo conhecimentos militares e siderúrgicos], faz a doação de todos os seus bens móveis e de raiz, com as terras de Carapocuyba, ao Colégio de Santo Inácio da Villa de Piratinin, mesmo tendo as netas Luzia e Theresa e o neto Pedro, filhos de ´o Moço´, como continuação da sua família.

1616

Morre na sua fazenda no Pico do Jaraguá sendo depois velado e enterrado pelos padres na capela jesuítica da Villa.

[A pedra tumular vem a ser encontrada em 16 de Setembro de 1881 e encontra-se no Museu Paulista / Ipiranga.]

Netos e bisnetos continuam a saga dos Sardinha nas regiões de Mogi das Cruzes, São Paulo, Sant´Anna de Parnaíba e Sorocaba. A neta Luzia casa com o cristão-novo Pedro da Silva, desembargador e ministro, homem poderoso do reino e vai viver no Rio de Janeiro; e Gaspar Sardinha, bisneto, continua a atividade sesmeira de o Velho em várias ações registradas em inventários. Entretanto, nenhum outro Sardinha consegue alcançar o poder político e financeiro que o Velho possuiu. * No seu livro “Apontamentos Históricos...”, Marques de Azevedo, apesar de ter tido contato direto com os testamentos da Família Sardinha, anota um erro comum: confunde o Moço com o Velho e diz que aquele morreu na Fazenda do

Jaraguá...

Parte 3 Carapocuyba – Aldeia & Portinho

O desenho do primeiro ciclo da colonização luso-vaticana e espanhola nas margens fluviais do Anhamby [Tietê], dominado pelos nativos goayanazes, e no leito sertanejo do Piabiyu [= Caminho do Peru], aberto e dominado pelos guaranis m´byanos, leva a um nome comum a ambos: Afonso Sardinha - o Velho. Injustamente esquecido pela maioria dos historiadores e acadêmicos, portugueses e brasileiros, ele foi o precursor do bandeirismo e da siderurgia a oeste da Villa piratininga. Na sua estratégia de conquista dos sertões, ele domina os goayanazes da Aldeia Carapocuyba, em 1557, e instala aí a sua segunda sede fundiária entre o Anhamby e o Piabiyu. Mas, é só por que quer tomar terra e escravos? Não... Para elucidar esta questão, eis um pedaço da História que os manuais escolares não contam: “[...] Descendo o rio para [...] São Paulo, tocava-se o sítio de Nossa senhora da Esperança com um aldeamento fundado por Manuel Preto, e que veio a ser depois a capela e povoação de Nossa Senhora da Expectação do Ó; deixava-se pouco mais abaixo, à esquerda, o sítio de Embuaçava, de Afonso Sardinha, e podia-se ir até as primeiras lavouras de Parnaíba, se se não preferisse desembarcar no porto de Carapicuíba, ou entrar pelo Jeribatiba para visitar Pinheiros e mais além Ibirapuera [...]”; um pedaço da História contado por Mello Nóbrega citando Theodoro Sampaio. O que significa isto? Que para ele, ´o Velho´ Sardinha, a conquista dos sertões exige pontos estratégicos tanto fluviais como terrestres. Dois portos fluviais são de importância fundamental: o do Pinheiros, onde tem a sua fazenda Ybitátá, e o do Tietê, lá na Carapocuyba. E, na prática colonial, os jesuítas seguem os passos do político e minerador que, ao morrer em 1616, lhes deixa tudo em doação, com exceção do Sítio Embuaçava, que coube

como herança em vida ao filho [mameluco] Affonso Sardinha - o Moço, que morre em 1604 no meio de uma batalha com nativos. É assim que a Aldeia & Porto Carapocuyba têm, entre 1557 e 1610, tanto valor estratégico quanto a Sant´Anna de Parnaíba, que cresce despovoando São Paulo. Também por isto, e por que os documentos históricos falam por si, é justo dizer-se que “a definição sócio-colonial de Carapocuyba acontece com a fazenda-porto que Affonso Sardinha estabelece em 1557, após sitiar os nativos”. Fontes APONTAMENTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO. Manoel Eufrásio de Azevedo

Marques. SP, 1879 e 1954. CARAPOCUYBA. Estudos de João Barcellos. SP, 2009 [não publicado]. GENTE DA TERRA. João Barcellos. SP, 2007.

HISTÓRIA DO RIO TIETÊ. Mello Nóbrega. SP, 1978. IGREJAS DE SÃO PAULO. Leonardo Arroyo. SP, 1954. MARCHA PARA OESTE. Cassiano Ricardo. RJ, 1970.

Carapocuyba / Carapicuiba

BREVE TÁBUA HISTORIOGRÁFICA 1553 O jesuíta Manoel da Nóbrega visita parte do oeste de Piratininga e determina a construção da Casa e Capela jesuítica na Aldeia Piratininga, enquanto parte das operações estratégicas para seguir na direção sul onde quer instalar o império teocrático. Fica a saber da existência de vários aldeamentos tupis e guaranis ao longo do Piabiyu através de João Ramalho. Entre esses aldeamentos está Carapocuyba com porto para o Ahamby. 1555 Instala-se na Villa jesuítica o capitalista, militar e minerador Afonso

Sardinha, dito ´o Velho´. É este desbravador, que faz mineração em Guaru, Cubatão e na Borda do Campo, que quer conhecer “a aldeia que liga o Piabiyu ao Anhamby”, segundo as informações que obtém dos escravos guaranis, inimigos dos guayanazes que habitam essa aldeia perto da guarany Koty. 1557 Affonso Sardinha - o Velho recebe em ´sesmaria´ [doação de terras do

rei através da Capitania de S. Vicente] as terras de Ybitátá em troca de mandar construir uma ponte sobre rio Jeribatyba e facilitar o escoamento dos produtos agrícolas e pecuários que chegam pelo Piabiyu e outras estradas do “sertam dos karai-yos” [ou ´carijós´]. Tomada de Carapocuyba No mesmo ano de 1557, e interessado em abrir caminho terrestre pelo Piabiyu e fluvial pelo Anhamby, o poderoso luso-paulista toma a Aldeia Carapocuyba e nela estebelece precária fazenda, porque o seu interesse está focado no portinho fluvial. O ´velho´ Affonso Sardinha determina e manda fazer a ´fábrica´ de uma Capela no centro do que fora a aldeia goayanaz para evangelização de todas as pessoas.

Fundação Carapocuybana No contexto da colonização luso-católica,

o assentamento de uma localidade só é registrado a partir da

instalação de uma Capela celebrando a cristandade. Assim, Affonso Sardinha - o Velho

é o fundador colonial da Aldeia Carapocuyba com Capela registrada em 1590.

1578 O ´velho´ deixa a alkdeia carapocuybana que é repassada, enquanto

sesmaria, a Domingos Luiz Grou.

1592 a 1610 Os tumultos entre nativos e brancos, nas aldeias da região, incluindo Koty e Carapocuyba, criam um clima tenso, mas que vem a se acalmar com a ponderação de alguns fazendeiros que se opõem aos jesuítas, pois são eles que sublevam os nativos contra os colonos. 1770 A aldeia ganha ares de vila. No entorno da Capela são construídas

molocas para abrigar pequenas famílias e comerciantes. Nesta época, a Aldeia de Carapicuiba já é centro de eventos folclóricos de raiz afro-brasileira e chama a atenção, tanto que recebe visitantes de toda a Província paulista e de outros lugares. 1854 1º de Agosto. Barão de Iguape compra terras na região, e na certidão

lavrada na Paróquia de Cotia ficam identificadas como Fazenda Carapicuíba. As terras têm 754 alqueires e alcançam Carapicuiba e Quitaúna. Obs

Barão de Iguape é um título nobiliárquico criado por Pedro 2º, imperador brasileiro. O título foi concedido, primeiro, a

Antônio da Silva Prado [1778-1875], filho do capitão do mesmo e Ana Vicência Rodrigues Jordão, sendo o barão casado com Maria Cândida de Moura Vaz; segundo, a Inácio Rodrigues Pereira Dutra, coronel da Guarda Nacional, em 1876.

1875 O desenvolvimento industrial chega a Carapicuiba. A vila entra no traçado da Estrada de Ferro Sorocabana e fica ligada diretamente a São Paulo e às regiões até Itu. 1903 Delfino Cerqueira compra a Fazenda Carapicuiba. 1921 Fazenda Carapicuiba é loteada em parte sob auspícios da Cia Construtora Paulista. O mesmo Cerqueira contrata, mais tarde, a Wainsten & Cia para demarcar outro loteamento na antiga fazenda e dá origem à Vila Sylvania – nome derivado de Sylvio: Sylvio de Campos, na época advogado da companhia Light; e as ruas centrais foram batizadas com nomes de mulheres da sua família. 1921 A primeira parada do trem é construida e batizada de Sylvania, a 22 kms da Estação Júlio Prestes, na Capital. Na mesma época, como implemento comercial e social, é feita uma linha secundária [desvio] no Km 21 para desembarque de gado para abate. A vila, já com certos ares urbanos, progride mais quando os funcionários da Casa de Abate de Gado fixam residência nas proximidades. Antigamente, a aldeia desenvolvia-se em tormo da Capela dos colonizadores, mas o progresso muda os rumos e a Estação dos Caminhos de Ferro passa a ser referência social e econômica. 1923 Desfaz-se o velho mundo da Família Sardinha... Assim como aconteceu

à Fazenda Ybitátá, sob comando dos jesuítas, a Fazenda Carapocuyba transforma-se em região habitacional.

1928 Basílio [Wlase] Komaroff é contratado pela Wainsten & Cia para

topografar a última parte do loteamento da Fazenda Carapicuiba. Com esse trabalho, Basílio conquistou a admiração de Inocêncio Seráfico, um dos propietários da Sociedade Terrenos de Osasco Ltda.

Com a Família Komaroff inicia-se o assentamento do primeiro grupo de europeus fora do ciclo colonial português. Uma particularidade sociocultural: Verônica Komaroff, filha de Wlase, estabelece a folha jornalística O Municipalista, primeiro jornal de Carapicuiba.

1928 A localidade ganha o estatuto de Distrito Policial.

1928/1930 Também influenciada pelo sucesso hortifrutigranjeiro da

Cooperativa Agricola Cotia, a região de Carapicuiba aproveita o trem para uma logística própria: o escoamento do cultivo de batatinhas, cereais, legumes e hortaliças, castanha e amoras. Wada, Ishimaru, Morioka, Iwakura, Tamai, Okada, Kakizaki, Ueta, Sakamoto, Magarifuchi, Arakawa, Tani, Kawazaki Kamyzawa, Guentawa, Iashida, Kunishi, Satomi, Myama, Akyoshi, Yano, Nishizaki, Morizawa, Yamamoto, Hanassumi, Massazumi, entre outras, são famílias nipônicas que se destacam.

1930 As Jardineiras. O empresário de transportes Antônio Guerra, ao perceber o crescimento populacional da região, inaugura com 2 ônibus [´jardineiras´] a Linha Barueri-Carapicuiba-Osasco-Pinheiros. Comércio & Indústria. A companhia Kenwothy e depois a Fiação Sul Americana foram as primeiras grandes indústrias da região. Com a certeza de uma boa exploração de argila local; instala-se também a Cerâmica Pignatari & Pazini que, no final dos Anos 40 encerra as atividades e a sua planta industrial é aproveitada pela Indústria Nacional de Couros e Afins [INCA] que, por sua vez, fecha as portas no final dos Anos 60. 1931 Extração de Areia. Delfino Cerqueira arrenda parte das suas terras, que margeiam o Tietê, para a comercialização do Lençol de Areia identificado na várzea pelo pesquisador João Velloso. Depois dos Sardinha e dos Bandeirantes, outro ciclo se abre para Carapicuiba: segundo crônicas de época, a qualidade da areia mostrou a potencialidade de um negócio vasto e duradoiro, e a companhia ferroviária Sorocabana abriu até um atalho [cancela] para o transporte do produto direcionado às lojas de Construção Civil. Mas, algo deixou Cerqueira prostrado: a visão de decadência ecológica. Ao ver as crateras ´lunares´ deixadas pela extração da areia ele resolve impedir aquele comércio. 1936 O que é isso de visão bucólica?... Diretamenmte interessados no comércio da areia, João Velloso Filho e Inocêncio Seráfico promovem ação judicial contra a Família Cerqueira. É o primeiro grande conflito de interesses do mercantilismo imobiliário em Carapicuiba. 1940/1943 Demografia & Ferrovia. Em torno da estação ferroviária surgiram

núcleos habitacionais de emigrantes europeus e asiáticos, mas também de imigrantes: a Colônia Mineira a oeste de São Paulo, instala-se entre Cotia e

Carapicuibano, mas é entre os carapicuibanos que se encontra o núcleo mais numeroso. Lojas e armazéns comerciais surgem no centro carapicuibano. Zamella, Seráfico, Rachides, Toufic, Bueno, Campos, etc., são nomes de pessoas que abrem as portas para a venda de produtos de higiene, construção civil, farmacéutico, pães e doces, vinhos, vestuário e móveis. O primeiro ponto de comunicação moderna, i.e., o primeiro telefone, é instalado na Casa da Administração, mas logo depois passa para a loja Zamella, ponto de encontro de viajantes e locais, e aí fica instalado até 1968. Educação & Cultura. Ophelia Pasini, filha do industrial Virgínio Pazini, torna-se a primeira professora da região e leciona na primeira Escola Rural de Carapicuiba, em 1960. O lazer cultural chega com o construtor João Braz que instala a primeira Sala de Cinema em 1940. 1951 Transporte Municipal. O empresário José Bellato estabelece a primeira linha carapicuibana: da Vila Dirce à Estação. Corporação Musical Carapicuiba. O imigrante mineiro Manoel Raimundo da Cruz funda a banda musical. 1952 É instituída a Paróquia de Nª Sª Aparecida. 1964 Emancipação. A luta pela emancipação de Carapicuiba da alçada política e administrativa de Sant´Ana de Parnaíba e Barueri ganha força legislativa pela Lei nº 8092, de 1964. 1965 Municipalidade. No dia 26 de Março de 1965, finalmente, Carapicuiba celebra o seu estatuto de Município do Estado de São Paulo. BIBLIOGRAFIA BARCELLOS, João. A capela como eixo da colonização luso-católica. Ensaio. Ediç do Autor. Rio de Janeiro, 1990.

--------------------------- O império do Capitão Sardinha. Ensaio. São Paulo, 2009. --------------------------- Gente da Terra. Romance histórico sobre o Brasil a partir do oeste paulista. Ed Edicon & TN Comunic + CEHC. Brasil e Portugal, 2006.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Expansão paulista em fins do século XVI e princípio do século XVII. IX Reunião. Instituto de Administração. Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas/ USP, São Paulo (29): 3-23, jun.

1948.

LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica. Belo Horizonte:Itatiaia/ São Paulo: Edusps, 1990 MACEDO, J. C. Dos Rios De Sam Paolo Até Ao Brasil Continental & Região Do Prata. Ensaio. Ediç do Autor. Buenos

Aires / Argentina, 1997. MADRE DE DEUS, Gaspar da, frei. Memórias para a história da Capitania de São Vicente. Belo Horizonte:Itatiaia/ São Paulo: Edusps, 1975.

NEME, Mário. Notas de revisão da História de São Paulo: século XVI. São Paulo Anhembi, 1959. PANTALEÃO, Olga. Fontes primárias para o estudo da História de São Paulo, no século XVI. Reunião XV. Instituto de Administração. Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas/ USP, São Paulo (55):1-27, jan. 1949.

Carapicuiba

DADOS Municipalidade integrada na região da Grande São Paulo, Estado de São Paulo, Brasil. Demografia/População: 388.532 habitantes [Censo de 2008] Território: 34,967 km² Densidade Demográfica: 11.111,3 hab/km². Geografia / Altitude: 780 m. Tem limites com os municípios de Barueri, a oeste e norte; de Osasco, a leste; de Cotia, a sul; de Jandira, a oeste; e São Paulo, a sudeste. Clima: subtropical. A média de temperatura anual é de 20Cº; o índice pluviométrico anual fica em torno de 1300 mm. Transportes / TREM O município é servido pelos trens da Linha 8 da CPTM, contando com duas estações: Carapicuiba e Sta Teresinha. ÔNIBUS A cidade também possui 3 empresas de ônibus urbano. ETT Carapicuiba, Viação Del Rey e Viação Osasco. A ETT e a Del Rey fazem linhas municipais ligando os bairros ao centro da cidade e ao acesso a Osasco, além de linhas itermunicipais.

ANEXO

SINALIZAÇÃO TUPI-GUARANI & LUSO-CATOLICISMO

João Barcellos

[nativo guarani]

Parte 1

Existe uma verdade histórica sob o manto do colonialismo econômico-militar e religioso? Não. Existem conceitos de sobrevivência na sinalização ancestral dos povos florestais? Existem. A primeira não-verdade que vos conto (e confesso que já estou farto disto, mas não desarmo...) é que não existe índio/índia. A saber: 1- Quem nomeou os povos florestais encontrados abaixo do Equador foi um navegador ignorante chamado Colombo que, ao aportar na região pensou

estar na Índia e ter passado a perna no rei João II, de Portugal. Estava errado e sabia disso, mas não hesitou em nomear as pessoas como índio e como índia. Alguns anos depois, o rei Manuel I, de Portugal, deu continuidade ao Projeto Índia, do rei João II, e o condestável Pedro Álvares Cabral seguiu as instruções do almirante Vasco da Gama: fez uma volta oceânica no mar-de-longo além de Cabo Verde e tomou posse da costa à qual chamou de Terra de Vera Cruz, e daquele ´porto seguro´ continuou o caminho para a índia. 2- Ao contrário da ignorância do genovês a serviço dos castelhanos, o escrivão Caminha, da armada cabralina, não grafou índio ou índia na carta ao rei, mas gentes, pois, sabia que não estava na Índia, mas a caminho da Índia...

E a grande verdade que deve ser mencionada e conversada, acadêmica e socioculturalmente, está na linguagem dos povos florestais. A saber: 3- Os nomes das pessoas nativas têm peso socioecológico; 4- Os nomes dos lugares são apenas isso, i.e., sinalização logística que

permite o ir-e-vir entre lugares e aldeias. O que significa isto? Que a pessoa nativa ganha nome depois da infância e esse nome relaciona-se com a Natureza telúrico-cósmica e a Natureza animal, daí os nomes de animais, plantas, flores e constelações. Por isso, a aldeia é uma escola e a vida animal é o instrumento didático para a pedagogia que é o aprendizado da (sobre)vivência, logo, a liberdade da pessoa é igual à liberdade de cada animal. E isso, independentemente de as pessoas viverem em ocas ou em valas e grutas. Que para cada lugar existe uma denominação: se é terra grande ou pequena, se é lagoa grande ou pequena, se é caminho de pedra ou apenas picada aberta no mato, se é rio grande, riacho ou queda d´água, se lugar de pedra grande, chata, pedra que rola com as chuvas, pedra negra, pedra que brilha, etc. Diante da paisagem a pessoa nativa apenas expressa o seu (re)conhecimento, não nomeia. Os povos florestais registram mentalmente, de geração em geração, um mapa logístico idêntico ao mapa das ervas medicinais – uma cultura oral que leva a reconhecer cada lugar e a aprender a viver de maneira preventiva no campo da saúde. Obs.: Venho a este assunto depois de ouvir uma palestra com o cacique guarani Cafuzo Tukumbó Dyeguaká e o

pajé tupi Pitotó, proferida na manhã de 20 de Julho de 2012, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) sob coordenação de Júlio Abe Wakahara. E, pelo que ouvi (decidi não intervir, apenas escutar), reconheci palavras sábias de outras pessoas guaranis que escutei em 1989, 1995, 2005 e 2007, em cidades do sudeste

brasileiro, particularmente acerca do Piabiyu (Peabiru), o caminho ancestral guarani. E por isso, alongo-me agora

em mais uma breve análise à situação nuclear da história que é a Sinalização Tupi-Guarani no âmbito da Colonização Luso-Católica.

Parte 2

Se para europeus a toponímia (catalogação de lugares) é tão importante como os nomes próprios, para os povos florestais importa(va) somente a geomorfologia e a mobilidade territorial, por outras palavras, liberdade plena

de ação. Para europeus a mobilidade era e é o escalonamento social entre muros (a cidade, o condomínio), para os povos florestais só importa a liberdade que os leva a agir (caça, pesca, namoro, casamento, guerra, cânticos e decisões grupais) por aquilo que são e representam na Natureza telúrico-cósmica. A chegada dos povos europeus (portugueses, castelhanos, germânicos, genoveses, ingleses, franceses, holandeses) ao espaço dos povos florestais do Mundo Novo, a norte a sul, determina, nas primeiras décadas do Século 16, uma atitude de conquista imediata pela força socioeconômica (escravagismo com e entre os povos nativos, cunhadismo) e pela força militar (companhias paramilitares pagas e dirigidas pelos colonos, do tipo bandeira), como a desencadeada a partir de Tumiaru (batizada como São Vicente) e de Piratininga (batizada como São Paulo). O pensamento econômico-religioso ocidental colide de imediato com a espiritualidade telúrico-cósmica dos povos do Mundo Novo: a) do Ocidente chega a bestialidade beatificada que demarca espaços, segrega gentes de outras raças e credos, escraviza; b) na Linha Equatorial e abaixo dela estão povos que sobrevivem na e pela sinalização telúrico-cósmica, ou seja, orientam-se pela Espiritualidade que os leva de cara para o vento e os fazem buscar abrigos de cara para o sol (dia) e de cara para a lua (noite) festejando unicamente a liberdade de viver. Mercantil e bestializado pela crença no materialismo puro, e nisso também acompanhado pelo igrejismo (religiões institucionalizadas e colonizadoras) o povo do Ocidente desconhece a plena Liberdade e acha-se no direito (conquistador) de destruir

povos e civilizações para reconstruir a sua própria em território alheio; c) ele não entende que a manifestação de vivência da pessoa florestal é a celebração do instante que a liberta para mais uma jornada, e acha nisso um ato de rebelião de gente que não quer trabalhar, e então, escraviza, tortura e mata. E quando tenta perceber melhor a linguagem da pessoa florestal o povo

que veio do mar apenas interpreta sons para lhes dar um sentido ocidental e católico, nunca para preservar aquela maneira de estar e de ser. Foi o grande erro que ampliou e consolidou a odisseia colonialista luso-católica. Aprenderam até a dialogar (formaram intérpretes / línguas) em tupi-guarani para se garantirem no Mundo Novo, mas isso foi só mais uma maneira/manobra para acabar com a linguagem nativa, tanto que isso serviu mais para a instalação de outro estatuto mercantil: o escambo. Tanto o mercantilismo como o igrejismo fundaram um Novo Portugal sobre os escombros do espaço tupi-guarani utilizando os mesmo caminhos da ancestralidade nativa.

O povo do Ocidente, e neste caso em particular, o ibérico católico, carregado de materialismo, não poderia perceber/entender a sinalização sociocultural da pessoa florestal – a pessoa que pinta o corpo para se dizer, a pessoa que busca o encontro das energias telúrica e cósmica para determinar o espaço da casa e os caminhos a abrir, que vai de perna-de-pau ao mato para não deixar rastro de odor e evitar que os animais a caçar percebam as armadilhas, que não atribui valor econômico a nada nem a pedras preciosas, que não conhece o mal nem o bem, porque vive em liberdade e pode ter as esposas que quiser desde que não toque nas dos outros..., assim como cada cacique escolha as penas do cocar de acordo com as suas características, e, isso o faz ser reconhecido em qualquer outra

aldeia.

[nativos guaranis]

Que ocidental poderia, no Século 16, entender a filosofia dos povos da floresta? Nem um. E por isso é que as diversas línguas (a guarani, por ex.,

possui diversos dialetos) formam eixos de comunicação que resultam, em alguns casos, numa língua comum (tupi-guarani, por ex.) utilizada também

pelos povos de fora. Parte 3 Duas Questões Exemplares De Erro Estórico

Questão Itavuvu Durante as pesquisas em torno do Morro Berassucaba, na região iperoniana de Ipanema, deparamo-nos constantemente com a designação itavavuvu (ou itavuu) e itapebuçu, e sempre desconfiamos que itavuvu e itapebuçu seriam a mesma ´coisa´, mas, como essa ´coisa´

diferenciada vinha de muitos e dignos historiadores achamos melhor não mexer até podermos entender e colocar os pingos historiográficos nos ii dos contos oficiais, como diz o pesquisador Adolfo Frioli. Até porque esta questão

tem a ver com a historiografia sorocabana... O próprio Friioli, em 2011, pôs em ´cheque´ a história de Sorocaba, mas o fez por e com ilações (embora justas) diante dos resultados das pesquisas no complexo geomorfológico e histórico do Morro Berassucaba (ou Araçoiaba). E agora? Ele, como eu, e também o biólogo Luciano B. Regalado, ficamos diante da prova que faltava para dar um trato historiográfico final àquela ´coisa´ indefinida entre itavuvu e itapebuçu – a saber: o cacique guarani Tukumbó Dyeguaká, colocado diante das designações explicou que “itavuvu e itapebuçu dão significado a uma mesma coisa, porque trata-se de caminho de pedra e caminho de pedra preta no mesmo lugar”. Então, o Governador Francisco de Souza instalou no arraial mineiro da Família Sardinha o povoado denominado Nª Sª do Monte Serrat, em 1599, com pelourinho, e logo depois, em 1611, transferiu o mesmo pelourinho para Itavuvu, ou Itapebuçu, localidade que recebeu o nome de S. Felipe. O que significa isto em termos historiográficos? Que a região hoje conhecida como sorocabana teve início com o pelourinho no arraial mineiro do Morro Berassucaba e continuidade em Itavuvu: a fundação histórica da região sorocabana só pode ser datada de 1599 quando se instalou o primeiro pelourinho. Tinha e tem razão Adolfo Frioli e nós, parceiros de pesquisas, já sabíamos que algo teria de ser alterado nas estorietas oficiais da região sorocabana, como têm que ser alteradas as relacionadas à fundação da Vila de Piratininga.

Questão Goayanáz Do mesmo modo, sempre pensamos que goayanáz designava uma nação nativa, ou uma linguagem predominante. Nada disso: goayanáz não é nação, é gente vizinha da gente na linguagem guarani. Esta verdade altera profundamente a história que conhecemos do planalto piratiningo, pois, e principalmente vários religiosos com ênfase no padre “historiador” Madre de Deus, tentaram “desguaranizar” a essência nativa da região Piratininga. A ´descoberta´ não altera as ações historiograficamente conhecidas em que esses povos vizinhos (goayanases) estiveram envolvidos, pois, o que vai ser alterado é o mapa das tribos e linguagens dos povos florestais, principalmente dos povos conhecidos ao longo do Piabiyu (ou Peabiru). Após 20 anos de pesquisas e vários livros publicados, entre acertos e erros e uma infinita paciência com o que o cacique guarani aqui citado chama de phdeuses (acadêmicos que se acham no direito de dizer que conhecem, e ponto final), chegar à certeza de que a chave historiográfica para a compreensão social do Piabiyu (ou Peabiru) estava e está no conhecimento do ser/estar Guarani, é para mim uma celebração cultural.

Primeiro, porque nenhuma academia forja o escritor nem o historiador;

segundo, porque só as pesquisas de campo e o amor ao passado que nos fez transforma a vivência em sobrevivência pelo cântico da espiritualidade. A tentativa de “branquear” a história é uma questão comum a muitas nações que tentam delimitar a importância dos povos ancestrais, mas tem mais peso sociopolítico no Mundo Novo, e, obviamente, no Brasil.

Parte 4

Não foi por acaso que os padres jesuítas quiseram, e tentaram (é verdade), transformar o Piabiyu (ou Peabiru) no “caminho de São Tomé”, pois, para suavizar a colonização luso-católica era preciso catequizar os povos nativos e fazê-los crer no deus ocidental. Seria impossível pregar a ordem e a hierarquia sem um deus punitivo, oposto à divindade libertadora da gente nativa que preconizava até um caminho que leva à terra sem mal... Muitos povos caíram na armadilha de Manoel da Nóbrega e de Anchieta, mas a essência guarani da trilha que leva à terra sem mal ficou intocada mesmo com a sobreposição artificial de um santo católico, e isso no momento em que Tumiaru virava São Vicente e Piratininga virava São Paulo, entre centenas de outros exemplos da toponímia colonial ibero-católica. Entretanto, e porque obrigada a dialogar com nativos para sobreviver, as gentes colonizadoras trataram de aprender a língua e, nisso, configuraram uma língua geral dita tupi-guarani, que seria jogada no lixo, a

partir do Século 18, com a determinação imperial de se falar português. Com a maioria das etnias destruídas, as gentes florestais não tiveram como se opor à ordem e à hierarquia impostas pela colonização, assim, a evolução daquela “ilha” de Sancta Cruz inventada por Cabral teve o seu eixo urbano centrado na exploração de pedras preciosas e assentamentos agropecuários. Enquanto isso, só a Língua guarani resistia – e resistia porque era a língua de um povo nômade e continental com estrutura social e espiritual própria, tanto que o Império teve que, e já em 1563, mandar fechar a trilha Piabiyu para evitar mais contatos entre nativos, castelhanos e portugueses... E nem isso conseguiu, porque do cunhadismo nasceu uma raça mista que começou a gerar a Nação brasileira: a gente mameluca. E foi com a gente mameluca (filhos de João Ramalho, do Bacharel de Cananéia e do ´velho´ Affonso Sardinha, entre outros) que o Piabiyu continuou como trilha do progresso socioeconômico luso-paulista e da sinalização tupi-guarani. Parte 5

Diante do mapeamento mental e da orientação espiritual guarani percebe-se como o Ocidente ibero-católico perdeu o rumo do diálogo social, pois, sem aferir quem era quem no espaço a ocupar preferiu neutralizar quem não era dos seus, e de quem não conseguiu se livrar, particularmente do tronco tupi-guarani, sofreu influências socioculturais

tupi-guaranis que moldaram a Língua portuguesa no Falar brasileiro, o que favoreceu o nascimento da Cultura brasileira sob Língua portuguesa. Sociedade & PHD[euse]s Quando se pega em questões como as aqui relacionadas (“itavuvu” e “goayanáz”) para aferir situações historiográficas pontilhadas por estorietas oficiais que visam ´branquear´ a geografia lingüística dos povos ancestrais

e sobrepor a língua da dominação, pega-se em questões de Poder absolutista: faça-se a crônica segundo o desejo do Poder. E se o Poder não é nativo nem dele tem sequer resquício histórico (apesar da gente mameluca e afro-brasileira), o óbvio é que a Nação possua uma estorieta de cartilha escolar, e pronto. As gerações que vêm não precisam saber que tivemos povos florestais e negros..., ou que a indústria brasileira nasceu numa forja de ferro num morro distante entre sorocas e arraia-miúda escrava. Em alguns casos – e anote-se a importância singular de Theodoro Sampaio para os primeiros estudos – verifica-se a boa intenção de ir buscar dados para compor um mapeamento do histórico nativo paralelo ao desenvolvimento colonial e, a partir dele, conceber uma historiografia para além da cultura oral tupi-guarani. Óbvio, era difícil para os primeiros técnicos e historiadores um diálogo íntimo com as gentes nativas, em plenos Séculos 19 e 20, ainda em extinção; e de tal expedição surgiram teorias e mapas cuja precariedade ressalta aos olhos de qualquer pessoa nativa ilustrada entre os Saberes ocidentais, mas a preservar a sua linguagem, o ser/estar nativo. Por exemplo, ouçamos o cacique guarani Cafuzo Tukumbó Dyeguaká: “[...] e quando olho

para o mapa das tribos feito por Theodoro Sampaio eu rejeito a maioria das informações nele gravadas”, porque “nome guarani ou tupi não é como nome de rua ou praça, é uma orientação espaço-espiritual”, e “guarani não escolhe o lugar da casa por ser um lugar bonito, mas porque no local recebeu a boa vibração espiritual”. Por outro lado, “quando os tupis querem dizer de um povo que chegou primeiro dizem tamoio, ou se querem dizer mais antigo dizem tupinambá”. Assim, tanto tupinambá quanto tamoio designam praticamente o mesmo sentido de mais antigo, e não um povo, uma nação. Isto altera o sentido historiográfico estabelecido entre os Séculos 19 e 20. A questão é idêntica à do Século 17, quando franceses, em Paris, gravavam mapas “do Brasil” sob narrativas de padres jesuítas... Nesses “mapas” percebe-se o aportuguesamento de palavras tupi-guaranis que, em alguns casos, alteram a história! Mas, por que a intelectualidade ocidental-brasileira não buscou entre os povos nativos os Saberes que facultariam uma melhor compreensão sociocultural? Porque, para a intelectualidade ocidental o Conhecimento foi endeusado na Universidade. Está certa, muito certa, certíssima, a designação de phdeuses dada pelo cacique guarani a essa intelectualidade empantufada

e pançuda que se alimenta do erário público, mas pouco produz em prol das comunidades, e que quando ´desce´ a uma comunidade nativa já o faz na certeza de não buscar informações, mas de introduzir (o seu) “conhecimento” de cartilhas pseudo pedagógicas. O professor Aziz Ab´Sáber dizia que “o

estudo teórico só tem validade quando a pessoa sai do laboratório e enfrenta a realidade social e física quando, então, se o souber (ou se aprendeu), produz trabalhos científicos dignos da sociedade” [in “Conversas com o Mestre Ab´Sáber” – João Barcellos, 2011]. Sabe quem sabe, ensina quem sabe. E a terminar...

Entre as preocupações legítimas do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) quanto ao remapeamento da geeografia lingüística guarani e tupi, e o retorno da região sorocabana à sua origem berassucabana, ou itavuvuana, existe um espaço de estudos de extraordinária profundidade sociocultural e étnica, a par de uma geomorfologia afim, no qual se podem abrir novos horizontes para a Cultura e a História do Brasil.

NOTAS BANDEIRA – Grupo militar e/ou paramilitar de cerco e conquista de territórios e povos. Agrupamento de combate formado pelos colonos portugueses à semelhança da “bandera” árabe, com a qual lidaram no norte africano.

CUNHADISMO – Casamento arranjado entre colonos e caciques servindo as filhas destes como núcleo de ascensão social e político-belicista: o colono ganhava espaço de negociação na tribo e entre tribos e ainda, se assim ousasse, passava a estar ao lado dos caciques em atos belicosos (como foram os casos de João Ramalho e do Bacharel de

Cananéia, entre outros exemplos). Do cunhadismo resultou a gente mameluca, i.e., filhos e filhas do cruzamento entre o colono branco e a mulher nativa.

ESCAMBO – Negociação feita pela troca de objetos, territórios e pessoas. Com o escambo, os portugueses (Bacharel de Cananéia e o ´velho´ Affonso Sardinha, por ex.) reutilizaram o Piabiyu/Peabiru, o caminho ancestral guarani, para introduzirem no continente uma economia liberal saem a tutela da Coroa lusa. O evento foi acompanhado e teve a

parceria dos padres jesuítas que, por decisão de Manoel da Nóbrega, iriam tentar fundar entre os guaranis um império teocrático próprio.

IGREJISMO – Denominação dada pelo poeta português J. C. Macedo, e continuada por João Barcellos, para situar socioculturalmente o mercantilismo das igrejas-estados, e, na maioria dos casos coloniais, agentes de suma importância na destruição de outros povos.

LÍNGUAS – Nativos treinados pelos padres jesuítas para servirem de intérpretes e guiarem os colonos nos seus interesses próprios, civis e religiosos. Também era chamada de ´língua´ a pessoa ocidental que estudava o tupi-

guarani e passava a intermediar situações comerciais e bélicas. ODISSEIA COLONIALISTA LUSO-CATÓLICA – Termo utilizado poeta português J. C. Macedo, e continuado por

João Barcellos, para situar historiograficamente a pujança místico-mercantil do Poder colonial, que era português na contingência política e bélica, e também católica pelo lado mercantil e ideológico, pois, nada era feito sem o conhecimento e o consentimento da Igreja de Roma que, obviamente, recebia do todo colonial uma fartura

porcentagem dos lucros.

JOÃO BARCELLOS Escritor / Jornalista / Pesquisador de História / Conferencista

“Há muito radicado nos caminhos da América do Sul, tornou-se um estudioso da Luso-Brasilidade e produziu vários livros sobre o assunto: romances e estudos históricos - um sobre o capitão-general de São Paulo[O Morgado de Matheus, SP-1991] e outros sobre a região cotiana do Piabiyu [Cotia - Da Odisséia Brasileira De São Paulo Nas Referências Do Povoado Carijó, SP-1993; De Costa A Costa Com A Casa Às Costas, SP-1996]. Os seus conhecimentos sobre a sempre presente Cultura Minho-Galaico Sob Referências Célticas permite-lhe alcançar várias rotas de estudos e aprofundar o seu conceito de Ser-Estar Português No Mundo. Filho de família que mistura as linhas de serviço público, tecnologia industrial, comércio, artesanato e literatura, João Barcellos transpõe para os seus escritos essa vivência cultural que aprofundou nas suas andanças jornalísticas - é, assim, um intelectual de vanguarda com bagagem humanística poeticamente assumida! [OLIVEIRA,Tereza de - artista plástica, poeta; Paris/Fr, 1998]” /// “O universo que nos cerca, seja o sistema ecológico seja o sistema humano - e, na realidade, o segundo sobrevive sem o primeiro (somos seres solares e lunares, ou cósmicos) -, é o material de base para as ações intelectuais do escritor luso-brasileiro João Barcellos. Ele é o Ser em busca do Ser entre as coisas da Terra e a floresta do Pensamento. Se o Ser Humano é o que é em função da evolução cósmica, João Barcellos é um poeta que escreve com a coragem de Viver esta evolução natural; e por isto, ele Vive em si mesmo a Humanidade que raro encontra nas esquinas do sistema humano. Ele é o Poeta por inteiro na Anarquia do prazer de Viver!... [CÉDRON, Marc - ecologista, psiquiatra; 1999, Zurich/Ch]” /// “Pesquisador de mangas arregaçadas e pé na trilha, eis o historiador e jornalista João Barcellos, do mesmo jeito que é o poeta e o romancista na observação profunda da realidade que faz e que o rodeia. Em todos os seus trabalhos está o ato sociocultural por excelência pela filosofia pura do olhar que abre espaços para a liberdade de estar e ser [NOVAES, Marta - Buenos Aires, Arg., 2010].

Trabalhos Literários

POESIA E SEIS CONTOS DUM BARALHO SÓ coletânea [1989, SP]; – ESTÓRIAS POÉTICAS crônicas [1989, RJ]; – TEMPO DE VINGANÇA romance [1990, SP]; – UM LUSO NA ILHA DE SAMPA poema; – COTIA as referência de são paulo na aldeia carijó pesquisa [1991, SP] – UMA CARAVELA DE PRATA romance [1992, RJ]; – MORGADO DE MATHEUS pesquisa/ensaio [SP, 1993 e 2000], 2ª Ediç./SP-Br, 2004; Prêmio Clio de História 2004; – COTIA pesquisa/ensaio; – TEATRO [peças em 1 Ato] ; – DE FERNANDO PESSOA A MACHADO DE ASSIS ensaio/palestra; – CAMÕES / O POETA DO TEMPO LUSITANO ensaio [1991, RJ]; – SIDÔNIO MURALHA / O POETA DA VIDA ensaio/palestra; – MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO ensaio/palestra; – ANTERO DE QUENTAL ensaio/palestra; – CAMILO

PESSANHA ensaio; – A CRIAÇÃO POÉTICA ensaio/palestra [1990/91, Rio de Janeiro e Florianópolis]; – O TROPICAL JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS palestra; – OS DESCOBRIMENTOS ensaio [Prêmio Pedro Álvares Cabral, 1990 - SP]; - REFLEXÕES SOBRE FERNANDO PESSOA ensaios/palestras; – A MULHER E A POESIA EM FLORBELA ESPANCA palestra; – CELTAS ensaios/palestras; – DE COSTA A COSTA COM A CASA ÀS COSTAS história brasileira a partir de acutia; – OI, COTIA! / HISTÓRIA PARA CRIANÇAS [com ilustrações de Ricardo Feher]; – O PEREGRINO / A ESSÊNCIA POÉTICA DO SER ensaio/palestra [1995]; – O PEQUENO PEREGRINO e outros contos; – ENTRE O POETINHA E O CANTO DAS VANGUARDAS ensaio sobre Vinicius de Moraes; – CONTOS PARA TODOS contos para jovens [1995]; – CONTOS para jovens [1995]; – ESCRITOS ECOLÓGICOS coletânea de ensaios [São Paulo e Buenos Aires, 1996]; – MÁRIO SCHENBERG / O SER QUE SABIA ESTAR palestra; – JOSÉ DE ALENCAR palestra; – O PEREGRINO / Palestra Primeira e Palestra Segunda [1998]; – TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA / palestra [Ouro Preto/MG,1998]; – AMOR poesias c/ marc cédron joane d'almeida y piñon tereza de oliveira jb mário castro [Grupo Granja, 1999]; – RIO / O ROMANCE NA CIDADE romance; – OUTROS ESCRITOS - poesia, teatro, conto [1998]; – EXUBERÂNCIA E FOLIA NO MAR DE LONGO – poema épico [Rio de Janeiro e Buenos Aires, 1998; reescrito em 2004]; – CLUBE BRASIL romance [São Paulo e Buenos Aires, 1992/98]; – O OUTRO PORTUGAL romance [SP-Br, 2000]; – 500 ANOS DE BRASIL ensaios-palestras [SP-Br., 2000]; – BAPTISTA CEPELLOS o poeta do drama brasileiro [com ilustrações de Ricardo Feher, 2000]; – OLHAR CELTA [Portugal e Brasil, 2001]; – ORDEM & SOCIEDADE [1ª Ediç, 2003; 2ª Ediç, 2004; 3ª Ediç, 2009, Brasil e Portugal]; – OUTROS POEMAS coletânea; – EDUCAÇÃO & CULTURA textos vários; – GIL VICENTE ensaio [2001/02]; – PIABIYU ensaio-palestra [1ª Ediç, 2003]; – COMO SE ENCONTRA RELIGIÃO NA CIÊNCIA ensaio [2003]; – CONTOS EXEMPLARES c/ Maria Fernanda Sousa e ilustrações de Wagner Barbosa [2004]; – SAMPA 450 ensaio-entrevista [2004]; – HAROLDO DE CAMPOS ensaio (2004); – MITO-HISTÓRIA & ÉPICA ensaios c/ outros autores [Edicon-Br c/ Grupo Granja – Br, Centro de Estudos do Mar - Pt & Centro de Estudos Humanismo Crítico - Pt, 2005]; – BONIFÁCIO / Princípio & Fim Do Império Bragantino-Brasileiro [e-book, 2005]; – CECÍLIA MEIRELES / A Materna Linguagem Da Vivência [e-book, c/ Rosemary O´Connor, TN Comunic, 2005]; – ALMA AÇORIANA / No Mundo E No Brasil [e-book, c/ Johanne Liffey, TN Comunic, 2005]; – CONTOS & SONHOS lij c/ Johanne Liffey e Márcia Fecchio [inclui o conto “Uma Menina Chamada Koty”]; – POESIA, CONTO & NOVELAS [SP, 2009]; – VIVÊNCIAS sócio-pedagógicas [A Opinião De Um Professor ]; – JD NOVA COTIA / Um Bairro De Migrantes; Trabalho Coletivo sob orientação de JB [Edicon & TNComunic, 2005]; – AGOSTINHO E VIEIRA: MESTRES DE SUJEITOS! [c/ Manuel Reis. Ediç FrenProf. Pt, 2006]; – ATO CULTURAL sobre as lic´s [Edicon, CEHC & TC Comunic, 2006]; – GENTE DA TERRA o romance da luso-brasilidade [2007]; ARAÇARIGUAMA – do Ouro ao Aço [Ed Edicon, TN Comunic & Prefeitura de Araçariguama, SP – 2007. Prêmio ´Clio de História´ 2007]; – COMUNICAÇÃO VISUAL [SP, 2008]; – O IMPÉRIO DO CAPITÃO AFONSO [SP, 2009]; FEIJÓ & CEPELLOS / Brasileiros De Cotia [c/ Walter de Castro], 2009; – ESTAMPARIA [SP, 2009]; – COTIA / Uma História Brasileira [SP, 2011]; – DO FABULOSO ARAÇOIABA AO BRASIL INDUSTRIAL [Edicon & CEHC, Brasil-Portugal, 2011]. – IMAGEM ESPECIALIZADA / Os Bastidores Da Comunicação Visual [Edicon & CEHC, Noética, Brasil-Portugal, 2012]; – UM MORGADO NO IMAGINÁRIO DE UM MARQUÊS / Uma novela acerca do Morgado de Matheus, do governador Francisco de Souza e do ´velho´ Affonso Sardinha [Edicon & CEHC, Noética, Brasil-Portugal, SP, 2013]. /// Obs: 1- todas as obras editadas pela Ed Edicon com exceção de ´Estórias Poéticas´, pela Ed Cadernos Oficina, e de “Agostinho e Vieira...”, pela Ed FrenProf.; 2- alguns livros e palestras estão editadas no formato e-book [noetica.com.br]. Outras Publicações com a assinatura J. C. Macedo Autor de vários livros de poesia, conto e romance, entre 1968 e 2010, sendo os livros de poesia mimeografados entre 1968 e 1972. Parte da sua produção está em formato eletrônico [também em noetica.com.br]. Ser Livre É Ser Solidário, 5 poemas e 3 contos infanto-juvenis, e Canto Jovem Por Uma Ecologia Humana, 2 breves ensaios e 1 poema, de 1968 e 1972, mimeografados e distribuídos clandestinamente; Traço Poético, Cinéfilo, Quotidiano, Íntimos Pareceres, Anarquia & Transformação Social, Um Olhar Sobre Nós, Encontros, As Cinzas Dum Tempo Perdido, Arqueologia d’Almas / poemas ao sabor da viagem, Apesar De Tudo, O Poeta!, No Limiar Da Utopia, Cânticos de Vida, Oração Para a Liberdade e A Vida Em Construção [sobre os episódios político-culturais do filósofo Manuel Reis], em co-edição, em Portugal, e de romances, conferências, ensaios e poesia, na sua jornada europeia e sul-americana (Irlanda, Espanha, Argentina e Brasil), com chancela de várias editoras e pseudónimos literários.

Coleções Literárias [Coordenação]

/// DEBATES PARALELOS Vol 1 [Temas Gerais], 2002; Vol 2 [Temas Gerais], 2004; Vol 3 [Igreja-Estado ou Religião], 2004; Vol 4 [A Palavra Jesuana, Textos Gnósticos & Outras Opiniões], 2007; Vol 5 [´Q´ Jesuânica / Opiniões], 2009; Vol 6 [Educar Para Viver], e-book em noetica.com.br; Vol 7 [Oh, Liberdade!], 2011, e-book, noetica.com.br; Vol 8 [Viver História], 2012 /// PALAVRAS ESSENCIAIS Vol 1 [Políticas Educacionais + Cultura de Raiz = Projeto Nacional], 1ª e 2ª Ediç, 2003; Vol 2 [´Os Lusíadas´ Em Debate], 2004; Vol 3 [Homenagem a Manuel Reis], 2008; Vol 4 [O Filósofo Manuel Reis / A Crise] / Web ´Noética´, 2009; Vol 5 [O Sentido Da Vida], 2010; Vol 6 [Humanismo,. Educação & Justiça Histórica], 2011; Vol 7 [Escritos Luso-Afro-Brasileiros], 2011, e-book em noetica.com.br; Vol 8 [Res Publica], 2012; Vol 9 [Átrio Dos Gentios], 2012 na web (noetica.com.br) e 2013 em edição gráfica. Peças Videográficas A POESIA E O MUNDO, 1988 [Rio, RJ]; O INTELECTUAL E A FAVELA, 1988 [Rocinha, RJ]; A BIBLIOTECA E A COMUNIDADE, 1996 [Paraty, SP]; COTIA: CIDADE CENTENÁRIA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; JD NOVA COTIA: UMA EXPERIÊNCIA LÍTERO-SOCIAL & HISTÓRICA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; ARAÇARIGUAMA: DO OURO AO AÇO, 2006 [Araçariguama, SP; c/ César Tiburcio]; FILOSOFIA & POESIA PELA PAZ, 2007 [Embu, SP, c/ Mariana d´Almeida y Piñon]. Em outras línguas: ‘Familia, Mercancía & Transnacionalidad / la batalla por la Raíz Social es sobrevivir en Humanidad’ [Ediç. ‘Jeroglífo’, Buenos Aires / Arg., 1989; 2. Ediç., 1991; esgotado]; ‘Concept et Tendance: Politique, Marché des Capitaux et Question Sociale’, BARCELLOS, João & OLIVEIRA, Tereza de [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Liberté Provisoire – Terreur et Politique contre Nous’ [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Freedom and Social Ruptures’, essays and poems, published by Cult Journal, Houston/USA, 1998]. Enquanto leitor crítico, JB escreveu mais de duas centenas de Prefácios e Opiniões; editor, foi responsável pelo jornal O Serigráfico e o Jornal d' Artes, o jornal Tempo de Educar e o jornal Corpus, a par da revista Vida & Construção; editor de Cultura em jornais e rádios regionais; orienta Oficinas de Poesia, palestras em universidades e clubes literários, além de aulas de português e literatura brasileira; em 2008 fundou a revista Impressão & Cores de conteúdo tecnológico. É membro e fundador dos restritos grupos intelectuais “Eintritt Frei” [Berlin/De] e "Grupo Granja", substituído pelo Grupo de Estudos Noética [Brasil e Mundo] e colaborador internacional do Centro de Estudos do Humanismo Crítico [CEHC, Guimarães/Pt] e fundador do CEHC - América Latina. Integrou o grupo que fundou a Associação Profissional dos Poetas do Estado do Rio de Janeiro (APPERJ), é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina / IHGSC e da União Brasileira de Escritores [UBE, SP]. Entre 1990 e 92 participou da diretoria do Centro de Estudos Americanos Fernando Pessoa no qual editou o jornal Gente das Letras para o 1º Encontro de Artistas e Intelectuais Portugueses do Brasil. Fundou a revista eletrônica Noética que tem portal-web como “noetica.com.br”. Endereço Postal Cx Postal nº 16 / 06717-970 Cotia/SP Brasil

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