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Historia de Parnamirim

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Conta a historia da cidade de Parnamirm-RN.

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Coleção ParnamirimVolume II

Editora Z Comunicação

Coodenação Editorial:Osair Vasconcelos

Capa e Projeto Gráfico:Mariz Comunicação Integrada

Designers:Marcelo Mariz / Rodrigo Galvão

Consultoria Histórica:Nivaldo Xavier

Revisão:Ednice Peixoto dos Santos

Agradecimentos:Diário de Natal, Tribuna do Norte,

Parnamirim Notícias,Museu da Aviação e da Segunda Guerra,

Base Aérea de Natal, Genilson Soutoe Instituto Histórico e Geográfico do RN.

Catalogação na fonte "Biblioteca Pública Câmara Cascudo"- Natal/RN

P379h Peixoto, CarlosA história de Parnamirim / Carlos Peixoto. —

Natal (RN) : Z Comunicação, 2003.222p. : il.

I. Parnamirim (RN) - História. 2. Rio Grande doNorte - História. I. Título.

CDU 981.322003/03 CDU 981 (813.2)

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À memória do meu pai,um homem que não

se sabia poeta e, mesmo assim,fez da vida que lhe coube viver

um verso simples e claro.Para minha mãe, que o entendeu.

Para Ceiça e Alexis,que me dão mais do que mereço.

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DDeeddiiccaattóórriiaa..........................................................................................................................................

AApprreesseennttaaççããoo....................................................................................................................................

PPaarrnnaammiirriimm,, uummaa hhiissttóórriiaa..........................................................................................

CCAAPPÍÍTTUULLOO II -- PPaarraannãã --mmiirriimm1 - A denominação tupi-guarani. A mais antiga refe-rência histórica...............................................................2 - As características geográficas....................................3 - Os primeiros donos da terra e o uso que fizeramdela.................................................................................

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII -- OO ccaammppoo ddooss ffrraanncceesseess1 - Lançando pontes sobre as distâncias.........................2 - Os padrinhos do município.......................................3 - A construção do campo.............................................4 - O verdadeiro conquistador do Atlântico Sul............

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII -- OO TTrraammppoolliimm ddaa VViittóórriiaa1 - A aliança improvável................................................2 - Parnamirim Field......................................................3 - A Base Aérea de Natal...............................................4 - Novas e velhas denominações..................................

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1921

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ÍÍnnddiiccee

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5 - Como entramos na “Corrida Espacial”....................6 - O Aeroporto Augusto Severo...................................

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV -- VViissõõeess ddaa CCiiddaaddee1 - O transitório como herança urbana.........................2 - Os pioneiros..............................................................3 - Como uma torrente impetuosa................................4 - O inferno nos mocambos..........................................5 - A vida organizada.....................................................

CCAAPPÍÍTTUULLOO VV -- RRiittooss ddee FFoorrmmaaççããoo1 - O conflito nas “terras do Jiló”..................................2 - A emancipação, sem o povo e sem a Base.................3 - As eleições, a breve “guerra do mercado”, vitórias ederrotas......................................................................................4 - Quando Parnamirim foi “Eduardo Gomes”.............5 - Outras campanha,outros prefeitos (1976-1984)........................6 - Quadro cronológico dos prefeitos eleitos em Parnamirim

CCAAPPÍÍTTUULLOO VVII -- VVeellhhaass vvaannttaaggeennss,, nnoovvooss nneeggóócciiooss1 - Industrialização: um projeto longo demais..............2 - O progresso em Parnamirim....................................3 -Um pioneiro solitário................................................4 - A Festa do Boi............................................................5 - Projetos agrícolas em Pium e Jiqui...........................

CCAAPPÍÍTTUULLOO VVIIII -- BBrreevvee nnoottíícciiaass ddaa eexxppaannssããoo uurrbbaannaa1 - A marcha demográfica e as desigualdades................2 - Os bairros..................................................................3 - Pirangi do Norte.......................................................

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VVIIIIII -- DDooccuummeennttooss hhiissttóórriiccooss ee ttaabbeellaa ddoo CCeennssoo 220000001 - A escritura de Manoel Machado para Paul Vachet.....2 - O contrato para limpar o campo de Parnamirim........3 - A primeira reportagem.............................................4 - A Lei de criação e a Ata Solene de instalação do muni-cípio......................................................................................5 - Síntese do Censo IBGE/2000 em Parnamirim.........

FFoonntteess bbiibblliiooggrrááffiiccaass............................................................................................................

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Uma cidade não se faz e tampouco pode ser avaliadaapenas pelo número de seus edifícios e/ou pelas suas ruase avenidas. Sequer apenas pela sua população. Uma cidadese faz ao longo do tempo, com sua história registrandoseus fatos, atos e pessoas. No caso de Parnamirim há aindauma singularidade. A cidade nasceu em meio ao desenvol-vimento da aviação comercial, e cresceu e teve a sua pri-meira fase de progresso motivada pela aviação de guerra.

A genialidade do brasileiro Santos Dumont, inventordo avião, foi seguida pela coragem de quantos homens emulheres se lançaram no arrojo de transpor mares e ocea-nos para, no pioneirismo da aviação comercial, aproximarpessoas, possibilitar negócios, estabelecer uma nova erapara o mundo.

Parnamirim nasceu naquela época algo mágica, por-que inédita. De coragem, porque arriscada. De sonho, por-que é preciso sonhar com o novo, o diferente, o melhor.Forte e decisiva também, porque o que viria a ser a futuracidade estava estrategicamente situada na ponta maisavançada do continente, base indispensável que se trans-formaria no Trampolim da Vitória.

Foi como base aérea para os aliados que Parnamirimagasalhou homens, mulheres, americanos principalmente;brasileiros de todas as partes do Brasil, e também ingleses,

AApprreesseennttaaççããoo

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franceses, aliados pelo mesmo objetivo, determinados emfavor da mesma causa: o restabelecimento da paz nomundo e a prevalência da democracia como ordem políti-ca para os povos.

Este livro de pesquisa sobre o nascimento e vida deParnamirim é para estabelecer a sua história no decorrerdesde praticamente a primeira marca até o seu desenvol-vimento industrial. Uma cidade rentável para se investir eamorável para se viver. Um trabalho competente, criterio-so, didático também, do jornalista e escritor Carlos Peixotocom a coordenação editorial do também jornalista OsairVasconcelos, sob a égide da Prefeitura Municipal de Parna-mirim, para agora e para sempre.

Entrego, portanto, a Parnamirim a sua história, comoentrego ao Rio Grande do Norte a história de Parnamirim.

AAGGNNEELLOO AALLVVEESS

Prefeito

Ano da Graça de 2003

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Ao ser convidado por Osair Vasconcelos e pelo prefei-to Agnelo Alves para escrever este livro, lembrei-me queLuís da Câmara Cascudo abre a apresentação da suaHistória da Cidade do Natal citando um outro historiador,o francês Pierre Lavedan, para quem “a cidade é um servivo”. A lembrança me foi útil, principalmente para relegarao esquecimento algumas das observações ouvidas duran-te a pesquisa empreendida ao longo de um ano em busca deinformações para o texto, que pretendiam “não terParnamirim uma história, devido à influência que recebiade Natal e ao pouco tempo de existência como município”.

Como todos os seres vivos, todas as cidades têm umaexistência - seja ela curta ou longa - consubstanciada emfatos, experiências, festas, vitórias e sonhos que formamnão apenas uma, mas várias histórias. E todas essas histó-rias merecem ser contadas, valem a pena ser ouvidas. Esta,que vocês poderão ler nas próximas páginas, não tem apretensão de ser a HISTÓRIA de Parnamirim. É apenasaquela que me coube conhecer e contar.

De meu, poderia dizer que é só o texto, porque todosos fatos por ele narrados são coletivos. Assim como a pes-quisa feita. Ela não teria sido possível sem a ajuda inesti-mável do senhor Nivaldo Xavier Gomes, que todos emParnamirim conhecem como uma extraordinária figura

PPaarrnnaammiirriimm,, uummaa hhiissttóórriiaa..

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humana - ele mesmo autor de uma outra história, maispessoal, da cidade, Nos Tempos das Bocas de Ferro, à espe-ra de um editor consciente - e de vários outros persona-gens/autores da cidade que me foram apresentados pelojornalista e amigo Cláudio Gomes, filho de PPaarrnnaammiirriimm emeu paciente cicerone nesta jornada.

Trabalhar com eles, pesquisar, ler e escrever sobreParnamirim me deu muita satisfação. E se vocês, ao finalda leitura, se sentirem como filhos legítimos da cidade -não importa onde tenham nascido - nossa recompensaestará completa.

CCaarrllooss PPeeiixxoottooDia de Natal do ano de 2002

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1 - A denominação tupi-guarani.

A mais antiga referência histórica

2 - As características geográficas

3 - Os primeiros donos da terra e o uso

que fizeram dela

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Paranã-mirim

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11 -- AA ddeennoommiinnaaççããoo ddoo ttuuppii--gguuaarraannii.. AA mmaaiiss aannttiiggaarreeffeerrêênncciiaa hhiissttóórriiccaa

Os primeiros navegadores portugueses e espanhóisque chegaram ao litoral do continente sul-americano acredi-taram ter descoberto “um novo mundo” onde tudo era des-conhecido e precisava ser nomeado. Os colonos, que vieramdepois, aprenderam que as terras recém-encontradas nãoeram tão desconhecidas assim e que os lugares já tinhamnomes, escolhidos pelos povos nativos. Muitos dessesnomes, ligeiramente modificados pela mistura da línguaportuguesa com o tupi-guarani, ficaram para a história comopistas dessas origens e lembrança dos primitivos habitantes.

Um desses nomes é PPaarrnnaammiirriimm.. A origem do topô-nimo é a expressão tupi-guarani “Paranã-mirim”, quesignifica “pequeno parente do mar ou pequeno rio veloz”.Apesar de ainda hoje existirem, na área que correspondeao município de Parnamirim, vários rios e riachos, é maisprovável que o “Paranã-mirim” conhecido pelos índiospotiguaras, habitantes da capitania do Rio Grande naépoca da colonização (século XVII), tenha sido algumcurso d’água já desaparecido. O historiador Luís daCâmara Cascudo, pesquisando para o livro “NNoommeess ddaaTTeerrrraa”1, escreveu em 1968 que só restavam na região “uns

1 - Neste livro, editadopela Fundação JoséAugusto em 1968 (asegunda edição é de 2002,pelo Sebo Vermelho),Cascudo identifica eexplica as origens de vários topônimos potiguares, assim comonarra a história do surgimento dos primeirosmunicípios do Estado.

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depósitos de água, comumente reduzidos no verão emaiores pela ação pluvial”. Eram as lagoas, que enchiamdurante os anos de bom inverno, e ficaram como vestígiosdo rio pequeno que deu origem ao nome do lugar. Hoje,muitas dessas lagoas desapareceram pela ação dos ventosque moveram as areias, com a falta continuada das chuvasou em conseqüência das atividades de ocupação humana,registrada em anos mais recentes.

Mesmo quando existiam, essas lagoas não deveriamter peixes e camarões em quantidade suficiente para atrairos índios, que preferiam erguer aldeias nas proximidadesde locais onde a pesca fosse abundante. As grandes árvo-res, próprias da Mata Atlântica e onde se escondia a caça,limitavam-se às margens e vales dos rios perenes, como oPPiittiimmbbuu (poti -ybu, em tupi guarani, a fonte dos cama-rões) e o PPiirraannggii (os índios o chamavam pirã-gi-pe, o riodas piranhas). O que restou dessa mata está preservadodentro da área onde está instalada a Base Aérea de Natal,junto com a última das lagoas que deram nome à região, alagoa Parnamirim.

Apesar de deserta, a área de PPaarrnnaammiirriimm sempre teveimportância estratégica. Por ela passava um dos caminhosque ligava o primeiro núcleo colonizador da capitania do RioGrande - a cidade do Natal e o Forte dos Reis Magos - comoutros povoamentos portugueses ao sul.

O mais antigo registro histórico do topônimo original,Paranã-mirim, está no mapa holandês do cartógrafo JorgeMacgrave, datado de 1643, onde já consta a indicação do pri-mitivo caminho que levava até a capitania da Paraíba e, maisalém, ao Recife. A grafia adotada pelo copista é “Paranã-miri”, sugerindo um erro. Mas, o local é o mesmo e a trilhaaberta pelos portugueses, melhorada pelos conquistadoresholandeses, saía da cidade do Natal, atravessando os vales do

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Potimbu (o atual rio Pitimbu), do Cajupiranga, do Piranhi(Pirangi) e do Pium, seguindo em direção a Cunhaú, ondeestava instalado o engenho de Jerônimo de Albuquerque; aorio Guaju, divisa com a Paraíba, e daí para Pernambuco,atravessando Mamanguape e Goiana. A rota tinha um tra-çado aproximado ao da atual BR 101.

22 -- AAss ccaarraacctteerrííssttiiccaass ggeeooggrrááffiiccaass

O município de PPaarrnnaammiirriimm está localizado a 5º 54’ 56”de latitude sul e 35º 15’ 46” de longitude oeste de Greenwich(Inglaterra). Inserido na Mesorregião Leste, Microrregião deNatal, e dentro da Zona Homogênea do Litoral Oriental, temum clima úmido nas áreas centrais, e sub-úmido nas áreasmais próximas ao litoral. As chuvas caem com maior fre-qüência entre os meses de fevereiro e setembro e a tempera-tura média anual é de 27,1ºC. Os limites atuais são: ao nortecom o município de Natal; ao sul com os municípios de SãoJosé do Mipibu e Nísia Floresta; a leste com o OceanoAtlântico e a oeste com o município de Macaíba.

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Detalhe do mapaholandês, de JorgeMacgrave, datado de1643, onde aparecemassinalados o caminhoque levava de Natalas províncias do Sul(Paraíba e Recife) e olugar denominadoParanã-miri.

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Mapa do IBGE (2000)com o território atual

do município deParnamirim.

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Estudando o tipo de solo do município, os geólogossituam a área dentro do “Grupo Barreiras”. A idade de for-mação do terreno remonta ao “Terciário Superior”, períodosituado há cerca de 30 milhões de anos, quando os dinossau-ros já estavam extintos há pelo menos 130 milhões de anose ainda faltavam outros 50 milhões para os primeiros homi-nídeos aprenderem a descer das árvores nas florestas africa-nas. O solo, formado de “argila, arenitos conglomeráticosou caulínicos, siltitos, inconsolidados e mal selecionados porextensas coberturas coluviais e eluviais indiferenciadas”, éaltamente permeável, não retém as águas das chuvas. Pobreem micros nutrientes, esse tipo de terreno não tem muitaserventia para o cultivo de lavouras. Pequenas faixas, comadubações parceladas e irrigação artificial durante os perío-dos de estiagem, prestam-se à fruticultura de mangas, bana-na, jaca e abacate, entre outras, além do plantio de mandio-ca, sisal, milho, feijão e pastagem.

Nas praias e faixas mais próximas ao mar, a paisagemé formada por “paleodunas ou dunas fixas, com formaçãono Quaternário (cerca de 1,6 milhão de anos antes do pre-sente), compostas de areias marinhas, transportadas pelaação dos ventos, formando cordões fixados pela vegetação.Onde não foram plantados coqueirais, se avistam os tabu-leiros. São áreas planas, que sofreram a intervenção huma-na e foram depois abandonadas, onde nascem as mangabei-ras, o camboim, a guabiraba e tapetes verdes de alecrim”.2

PPaarrnnaammiirriimm é o único município incluído na baciahidrográfica do Pirangi, formada por três cursos d´aguaperenes e duas lagoas. A Bacia do Pirangi tem sete quilô-metros de extensão e drena uma área de 607 Km, desta-cando-se pela proximidade com Natal, contribuindo paraparte do abastecimento d´agua da capital. Os rios e riachosprincipais são:

2 - Informativo munici-pal de 2002 sobre

Parnamirim, atualizadopelo Instituto de

DesenvolvimentoEconômico e Meio

Ambiente do RioGrande do Norte

(Idema).

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-Rio Pitimbu - com nascentes no povoado de Lamarão,município de Macaíba, é um dos limites ao norte com omunicípio de Natal. Também conhecido como “riachoPonte Velha”, aparece nos documentos mais antigos como“Putumbú, Potembú, Potumbú e Potãobú”. Deságua naLagoa do Jiqui, que também já foi chamada LagoaFernando Ribeiro, e segue para encontrar-se com o rioPirangi. Entre a lagoa e o Pirangi, por volta de 1600, o“Baixo Pitimbu” era chamado rio Guaramime.- Riacho Taborda ou Cajupiranga - nasce no povoado deJapecanga e é o limite com o município de São José do Mipibu.É um dos dois principais afluentes que formam o rio Pirangi- Rio Pium - nasce na pequena lagoa do mesmo nome, nomunicípio de Nísia Floresta. Ao encontrar-se com a mar-gem direita do Pirangi forma um dos mais férteis vales dolitoral sul potiguar, o Vale do Pium, que deu origem àpovoação rural do mesmo nome.

- Riacho Água Vermelha - nasce entre os municípios deSão José do Mipibu e Parnamirim. Ao receber as águas doriacho Cajupiranga forma o Rio Pirangi, citado nos docu-mentos mais antigos como rio “Cajupiranguinha ouCajupiranga-mirim”. Desenha o limite de Parnamirimcom Nísia Floresta. No encontro com o mar, após receberas águas do rio Pium, divide as praias de Pirangi do Norte(Parnamirim) e Pirangi do Sul (Nísia Floresta).

33-- OOss pprriimmeeiirrooss ddoonnooss ee oo uussoo qquuee ffiizzeerraamm ddaa tteerrrraa

A ocupação das terras potiguares seguiu o modeloadministrativo adotado pela Coroa Portuguesa para as colô-nias ultramarinhas.As terras eram distribuídas pelo rei comoum favor aos fidalgos que alegassem o interesse em partici-par do processo de colonização. As regras diziam que os

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requerentes deviam dispor de capital próprio e suficiente parafazer as benfeitorias e promover a ocupação das terras conce-didas, mas na prática ninguém precisava provar essa exigên-cia. Essas concessões reais de terras ficaram conhecidas como“sesmarias” e vigoraram no Brasil por cerca de 300 anos, doinício da colonização até 1820. Os capitães-mores, represen-tantes máximos da Coroa em cada capitania, faziam as doa-ções, mais tarde confirmadas pelo rei de Portugal. Os abusosnas doações foram muitos. Na capitania do Rio Grande, essesabusos começaram com o capitão-mor Jerônimo deAlbuquerque, que deu aos filhos Antonio e Mathias “cincomil braças de terra em quadra na várzea do Cunhaú”.3

O objetivo da Coroa era colonizar as novas terrascom interesses puramente mercantis para a produção decana de açúcar, mercadoria de alto valor na Europa. Essetipo de cultura exigia grandes faixas de terra. Requeriatambém muito trabalho, esforços e investimentos doscolonos, que chegavam desejosos de enriquecer rápidopara voltarem ao Reino. Mas nem todas as terras disponí-veis prestavam para o cultivo da cana de açúcar. Da com-binação entre o sistema de doações e as dificuldades paraenriquecer rápido com o trabalho na terra, quase não saiuresultados para o povoamento da terra. Em 1614, quandoo Rei mandou revisar doações feitas na capitania do RioGrande, muitos dos colonos já haviam abandonado as ter-ras, alegando que eram imprestáveis para o cultivo e semserventia para o gado.

Nas “Cartas de Datas e Sesmarias da Capitania doRio Grande”4 existem anotações de áreas extensas de ter-ras doadas pelos capitães-mores João Rodrigues Colaço eJerônimo de Albuquerque, entre 1600 e 1633 - ano daInvasão Holandesa - com várias referências a topônimosque hoje fazem parte do município de PPaarrnnaammiirriimm. Através

4 - Guardados nosarquivos do Instituto

Histórico e Geográficodo Rio Grande do Norte,estes documentos são asreferências mais antigas

sobre a repartição eposse de terras no

Estado.Um dos primei-ros historiadores aestudá-los foi Luiz

Fernandes. A transcriçãodas datas de sesmarias

foi publicada por Vingt-Un Rosado em cincovolumes da Coleção

Mossoroense - Série C

3 - Luís da CâmaraCascudo, em História do

Rio Grande do Norte -1ª edição - p. 58

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desses documentos e referências é possível traçar um qua-dro aproximado dos primeiros proprietários e quais as maisantigas ocupações em faixas de terra do município.

O rio Pitimbu, com seus nomes antigos, é uma dessasreferências mais citadas nas “Cartas de Datas e Sesmarias”.Em 1605, todas as terras entre a margem direita do rioPotengi, “até os morros altos (na Zona Oeste de Natal) edali pelo Guaramime até o mar”, o que incluía toda a atualZona Sul da capital e o vale do Pium, foram doadas aoConselho da Cidade do Natal. Em 1607, os padres daCompanhia de Jesus (os jesuítas), que já tinham grandesporções de terra na capitania e cujos limites se estendiamaté a lagoa do Guagirú (Extremoz), pediram mais terras aocapitão-mor Jerônimo de Albuquerque, incluindo “a lagoado rio Potãobú (atual lagoa do Jiqui), toda terra que houveraté o dito rio e mais quinhentas braças além do rio” emtodas as direções. Entre “o rio Guaramime e o rio piragi-no”, que o historiador Luiz Fernandes (nas notas de 1909 àsCartas de Datas) identifica com o atual Cajupiranga, foramdoadas terras a Amrique Fernandes Leitão. Ao longo damargem esquerda do Pitimbu, “meia légua em quadra,acima do caminho do Cajupiranga”, e meia légua em qua-dra, abaixo do mesmo caminho, as terras eram de Jerônimoda Cunha e de um filho dele, Francisco da Cunha.

Mas, apesar das distribuições feitas pelos capitães-mores e da cobiça dos fidalgos por propriedades, as terrasde Paranã-mirim permaneceram inaproveitadas e despo-voadas por séculos. Após alguns anos das doações, a maiorparte das sesmarias estava abandonada e “sem benfeitorias,por serem terras imprestáveis”. A exceção era o vale fértildo Pium, sobre o qual existem registros nas “Datas deSesmarias de 1738” sobre moradias pertencentes à filha docomissário geral José de Oliveira Velho, dona Phelipa

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Rodrigues de Oliveira, e ao coronel José Nunes. Na Barrado Pirangi, em 1799, Antonio Jacomé Dantas Correia, donode 600 braças de terras herdadas do avô materno, declara-va-se “morador antigo, há mais de 80 anos” do local. Empetição ao capitão-mor, Antonio Jacomé pede “sobras deterras” com oito léguas de comprido e uma de largo entreo Pirangi e o rio Grande Cajupiranguinha até os limitesdas terras de Maria Francisca Madalena e João Freire.Seriam as terras compreendidas hoje pela área entrePirangi de Dentro e a Fazenda Liberdade.

Quase um século inteiro se passou sem que a regiãoconhecesse outro modelo de povoamento que não fosseesses sítios, onde os cultivos eram as lavouras de subsis-tência e os povoados ajuntamentos de três ou cinco casasdos lavradores.

Em 1881, os trilhos da linha férrea entre Natal e NovaCruz cortaram a região, seguindo de perto o traçado dovelho caminho para a Paraíba e o Recife. Graças a um outroregistro em cartório, sabe-se que as terras ao sul do Pitimbuestavam, em 1889, nas mãos do senhor do EngenhoPitimbu, João Duarte da Silva e a mulher dele, JoannaLeopoldina Duarte da Silva, velhos fidalgos5. O casal erarico o bastante para contar com uma parada de trem próxi-mo à casa grande, mas existiam dúvidas quanto aos limitesda propriedade. Para resolvê-las de forma amigável, foirequerida a demarcação das terras do engenho. Fixados oslimites, o casal acabou comprando a maioria das proprieda-des vizinhas, incluindo uma grande área de tabuleiro planoao sul do rio que dava nome à propriedade, distante 18 qui-lômetros de Natal. A área era conhecida como “a planície deParna-mirim” e fazia parte do Engenho Cajupyranga que,até então, tinha pertencido ao casal Francisco Pereira deBrito e dona Maria Honorina de Cerqueira Brito.

5 - A escritura dedemarcação de terras doPitimbu está reproduzi-

da no livro do historia-dor Paulo Viveiros

(História da Aviação noRio Grande do Norte). O

documento original foilavrado no Juízo

Municipal do Termo daCidade do Natal, em 04

de junho de 1889, ereconhecida no 1º

Cartório Judiciário em17 de agosto de 1932, a

pedido do novo proprie-tário do engenho,Manuel Machado.

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Nessa mesma época, presume-se que tenham chega-do à capital potiguar os irmãos portugueses Manuel eCláudio Machado. Na esquina da rua Chile com a Tavaresde Lira, Ribeira, abriram uma loja que vendia de tudo,conhecida pelo sugestivo nome de “Dispensa Natalense”.Os dois enriqueceram no comércio, integrando-se à vidasocial local. A firma M. Machado & Cia era uma das maisconceituadas no Estado e logo diversificou os negócios.Manuel Machado casou-se, em 1903, com dona AméliaDuarte, filha do proprietário de um hotel na antiga rua dasVirgens, bairro das Rocas, e em 1920 comprou de JorgeBarreto o casarão da praça Dom Vital, ao lado da Igreja doRosário, Cidade Alta. Em 1927 ele já era o dono das terrasdo Engenho Pitimbu, que se estendiam dos limites com osGuarapes, Macaíba, ao norte, as terras do EngenhoCajupiranga, ao sul.

O Pitimbu era um latifúndio na sua maior partedeserta, sem proveito e sem benfeitorias, como haviamestado há séculos aquelas terras. As vizinhanças povoadasmais próximas eram os sítios do Alecrim, limites da cida-de do Natal, e o arruado de Taborda, em São José doMipibu. Mas, dos céus, literalmente, chegariam os home-ns que veriam na planície de Parnamirim um pedaço deterra da maior importância.

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Reprodução da páginainicial da escritura detransferência de ter-ras, em Parnamirim,

feita pelo comercianteManuel Machado em

favor do pilotofrancês Paul Vachet.

Nas terras doadasseria construído o

campo de pouso quedaria origem ao

município. O textointegral do documen-

to está reproduzidono capítulo VIII.

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1 - Lançando pontes sobre as distâncias

2 - Os padrinhos do município

3 - A construção do campo

4 - O verdadeiro conquistador do Atlântico Sul

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O campo dos franceses

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11 -- LLaannççaannddoo ppoonntteess ssoobbrree aass ddiissttâânncciiaass

Com o fim da I Guerra Mundial (1914-1918) asnações vencedoras (Estados Unidos, Inglaterra, França eItália) dividiram o mundo de acordo com objetivos geo-políticos e passaram a incentivar as disputas comerciaisinternacionais, criando áreas de influência direta (aspossessões administrativas e militares) ou indireta(através de acordos). Em ambos os casos, a vantagem deum país começava com um sistema de transportes ecomunicação desenvolvido que permitisse o envio demercadorias e a troca de correspondências com os maislongínquos recantos do globo no menor espaço detempo possível. Nesse aspecto, os aviões - que durantea guerra haviam se desenvolvidos como armas mortífe-ras - mostraram que podiam vir a ser mais eficientes erápidos que os navios na travessia dos oceanos ou maisbaratos e viáveis que o telégrafo para cobrir grandesdistâncias, vencendo territórios inóspitos como cadeiasde montanhas e desertos. Grandes empresários, comvisão prática do futuro, se associaram a aventureirosidealistas, financiando raids que abrissem as rotasaéreas entre os continentes e fundando companhias deaviação comercial.

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Entre os anos de 1918 e 1920, 30 companhias aéreascomerciais foram criadas para operar linhas dentro daEuropa. Cinco delas eram francesas, explorando rotas quese estendiam até o norte da África, onde o governo fran-cês administrava importantes concessões territoriais. ACompagnie Espagne Maroc Algérie (Cema), criada em 11de novembro de 1918 por Pierre-Georges Latécoère(1883-1943), deu origem à “Societé de Lignes AeriennesG. Latécoère”1. O primeiro contrato foi com o governopara o transporte do correio entre Toulouse (sul da França)e Rabat (Marrocos). Em 1925, Pierre-Georges associou-sea Didier Daurat e Beppo de Massimi, criando aCompagnie Générale d´Entreprise Aéronautique (CGEA)e estendendo a linha aérea até Dakar (Senegal), cobrindouma distância recorde (10.608 km) para a época, atravésdas alturas geladas do Pirineus e das areias escaldantes doSaara. Mas, os chefes da “Latécoère” e seus pilotos sonha-vam com outro destino: a América do Sul.

Em janeiro de 1925, uma missão liderada pelo prínci-pe Charles Murat e formada pelos pilotos Victor Hamm,Joseph Roig e Paul Vachet, mais três mecânicos, e com trêsaviões Bréguets 14, chegou ao Brasil para abrir novas rotase escolher áreas ao longo delas onde pudesse ser instaladauma rede de aeroportos. A primeira destas rotas seria entreo Rio de Janeiro e Buenos Aires. Depois, entre o Rio e Natal,criando-se condições para o enlace com a rota já estabeleci-da entre a Europa e a África. Dificuldades financeiras naCGEA, entretanto, adiaram a concretização do projeto.

Em abril de 1927, 93% das ações da “Latécoère” foramvendidas ao investidor francês Marcel Bouilloux-Lafont,estabelecido na Argentina, e rebatizada como CompagnieGenerale Aéropostale (CGA). Bouilloux executaria os planosde Pierre-Georges Latécoère, estendendo a linha aérea para

1 - Para saber mais: ahistória da Latécoère estádescrita no site oficial daAsociación de Amigos dela Aeronáutica (em espa-

nhol ou inglês):www.bcnet.upc.es/aero-

museu/historia/latecoere

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toda a América do Sul. Em questões de meses foram cons-truídos 49 campos de pouso ao longo do litoral oriental doBrasil, através dos pampas argentinos e sobre os Andes. A“Linha” - como diziam os pilotos - lançava pontes sobre asdistâncias que separavam os homens, traçando uma rota quese estendia por quase 100 mil km, interrompida apenas peloAtlântico. Dakar era o fim do primeiro trecho, que começavaem Toulouse. Natal, localizada no saliente sul-americano, erao início do segundo trecho, que se prolongava até Santiago doChile. Os aviões ainda não tinham autonomia de vôo nemmotores potentes para fazerem a travessia regular doAtlântico. As malas postais ainda cruzavam o oceano a bordodos “avisos”, pequenos navios que faziam a rota entre o lito-ral potiguar e a África, a serviço da Aéropostale.

Mas, em menos de uma década esse obstáculo tam-bém seria vencido. Foi em meio a essa aventura dos pio-neiros da aviação civil que PPaarrnnaammiirriimm nasceu.

22 -- OOss ppaattrroonnooss ddoo mmuunniiccííppiioo

Para o historiador Luís da Câmara Cascudo, o capitãoLuís Tavares Guerreiro (1881-1958), comandante do 29ºBatalhão de Caçadores do Exército instalado em Natal, foio “padrinho” de PPaarrnnaammiirriimm. A história registra a presen-ça de pelo menos dois outros nomes decisivos para o surgi-mento do campo de aviação que daria origem ao município.

Nascido no povoado do Taborda, povoação fundadaem 1706 pelo sesmeiro Manoel Rodrigues Taborda, LuísTavares Guerreiro era um bom conhecedor das terras doPitimbu e arredores, incluindo o tabuleiro de vegetaçãorala, distante cerca de 20 quilômetros de Natal. Cascudoremonta a presença da família Tavares Guerreiro no RioGrande do Norte ao início do século XVII. Em julho de

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1714, Manuel Tavares Guerreiro fez parte do Senado daCâmara de Natal e, em 1734 um outro Luís TavaresGuerreiro requereu ao Senado da cidade, sendo atendido,uma faixa de terra com três léguas de comprimento nasmargens do Rio Potengi. Em 1757, o padre FranciscoTavares Guerreiro tinha terras no riacho Salgado.Descendente desses antigos colonizadores, o capitão LuizTavares Guerreiro fez carreira no Exército, ligando-se aoutros acontecimentos históricos potiguares. Com a paten-te de major, em 1930, liderou as tropas leais a GetúlioVargas para derrubar o governo no Rio Grande do Norte.2

Em carta ao historiador Luís da Câmara Cascudo(publicada no jornal A República de 03 de outubro de1943), é o próprio coronel Luís Tavares quem conta comofoi procurado por Alberto Roselli e pelo comercianteManuel Machado. Os dois queriam que ele guiasse “opiloto francês Paul Vachet na procura de um terreno ondea Aéropostale instalaria o campo de pouso para ser acabeça da linha transatlântica na América do Sul”.Manuel Machado e Alberto Roselli sabiam que o coronelTavares era um bom conhecedor dos tabuleiros ao sul deNatal, onde costumava caçar e levar a tropa para exercíciosmilitares, e podem até ter sugerido a planície deParnamirim, parte das terras do Engenho Pitimbu, como omelhor local a ser mostrado ao aviador francês.

Paul Vachet, que pode ser considerado o segundo“padrinho” de PPaarrnnaammiirriimm, estava no Brasil desde 1925,abrindo rotas aéreas entre Buenos Aires (Argentina) e ascapitais brasileiras, construindo os campos de pouso necessá-rios, entre eles o de Salvador (Bahia). Era um dos pilotos pio-neiros nas rotas entre o sul da França e o norte da África. Foi,durante os dois primeiros anos de permanência no Brasil, oúnico representante da Latécoère na América do Sul, até que

2 -O coronel LuizTavares Guerreiro trans-

feriu-se, anos depois,para o Rio de Janeiro,

onde faleceu. Em Natal,ainda moram vários des-

cendentes dele.

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a companhia foi vendida a Marcel Bouilloux-Lafont. Jásetuagenário escreveu um livro no qual narra a epopéia delee de outros pioneiros da aviação civil3, incluindo os vôos aolongo do litoral brasileiro para escolher as áreas onde a com-panhia pudesse instalar os campos de pouso. Nas páginas159 e 160 está a descrição da descoberta que lançariaPPaarrnnaammiirriimm na história da aviação civil e militar.

“De Maceió - narra Vachet - decidi partir para umreconhecimento de Natal. Não possuía a menor informa-ção relativa à topografia do lugar. Na Carta Marítimaque continuava a utilizar, figurava, contudo, uma peque-na praia, ao Norte da foz do rio Potengi (trata-se da praiada Redinha), do lado oposto ao em que está situada a cida-de. Ignorando, porém, se as condições dessa praia me per-mitiriam aterrissar, abasteci meu avião de modo suficien-te, o que me dava o raio de ação necessário para atingirNatal e, se preciso, voltar e descer no Recife, situado a 280quilômetros mais ao sul.

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Paul Vachet, piloto daAeropostale, por voltade 1927, ano queesteve em Natal paraescolher a área ondeseria instalado o campode pouso. Foto cedidapor Leonardo Barata,do Museu da Aviação eda II Guerra.

3 - Avant les jets (Antesdos jatos) - edição daLibraire Hachett,Paris/1964

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Em minha companhia, estavam, como sempre,Deley e Fayard. Este vôo foi efetuado a 17 de julho de1927: esta data é portanto, sob o ponto de vista aeronáu-tico, o do descobrimento de Natal que não tinha, atéentão, recebido nenhum avião e deveria ser a nossa cabe-ça de linha transatlântica, na América do Sul, até o tér-mino do Armistício de 1940 (...).4

Em Natal, aterrissei, portanto, na praia indicadano mapa, que se achava completamente deserta, nomomento de nossa chegada. Mas, logo, vindos da cida-de que sobrevoara longamente, uma multidão conside-rável de embarcações disponíveis no porto partiu emnossa direção, conduzindo muita gente. Entre as auto-ridades acorridas, se encontravam o Prefeito e o agen-te consular da França, monsieur A.Roselli que nosdevia prestar grandes serviços; ele foi nomeado repre-sentante da Companhia, em Natal, e ia ficar na funçãopor longos anos.

Era-nos necessário encontrar, nos arredores da cida-de, um local conveniente para nele construir o aeródromo.

Nossas buscas permaneceram infrutíferas, durantevários dias, até que o acaso nos colocou em presença deum Oficial do Regimento estacionado em Natal, mon-sieur Guerreiro, que era um grande caçador. Ele nosapontou, a uns 20 quilômetros da cidade, uma imensaplanície, aparentemente lisa, cujo solo arenoso e duro eracoberto por uma pequena vegetação, não maior do que aaltura de um homem. Ele se ofereceu para conduzir-nosaté lá. O terreno era apenas acessível pela Estrada de Ferro da Companhia Great-Western, que liga, entreoutras cidades, Natal a Recife.

Organizamos, então, uma pequena expedição paraatingir essa planície, margeando os trilhos da linha férrea.

4 - Neste trecho, Vachetcometeu um engano.

Natal já estava incluídanas rotas aéreas dos raids

entre a Europa e asAméricas desde 1922.

Essas travessias eram fei-tas em hidroaviões, que

amerissavam no estuáriodo rio Potengi. O

Bréguet-307 pilotado porVachet não era o primei-

ro avião, mas apenas o"primeiro aeroplano",um avião que só podia

pousar em terra firme, achegar em Natal.

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Tendo considerado a planície conveniente para aconstrução de um aeródromo importante, procurei o pro-prietário do terreno. Tratava-se de um português, grandecomerciante em Natal, monsieur Machado, que possuíauma imensa propriedade, na qual estava situado o terre-no. Com uma surpreendente visão do futuro, dando-seconta imediatamente da valorização do restante da suapropriedade, pela construção de um aeródromo na parteque nos convinha, ele fez lavrar imediatamente umaescritura de doação do imóvel (...).”

O terceiro “padrinho” de PPaarrnnaammiirriimm foi esse comer-ciante português, o mesmo Manuel Machado (nascido emPortugal, sem data conhecida, e que faleceu no ano de 1934,em Natal), sócio com o irmão Cláudio na firma M. Machado& Cia, da loja “Dispensa Natalense”, proprietário do solar dapraça Dom Vital e senhor do Engenho Pitimbu.

Envergando ternos de casimira inglesa, com a grava-ta bem arrumada, sapatos de verniz, as faces escanhoadas ebigode tratado com caprichos, Manuel Machado era umhomem elegante, apesar da altura quase descomunal fren-te aos homens da terra e da ausência constante do chapéusobre a calva prenunciada. Ele e o irmão, Cláudio Machado,tinham chegado de Portugal no final do século XIX. Vie-ram para Natal, esquina do continente sul-americano, embusca das mesmas possibilidades de negócios que outrospoucos imigrantes. Planejavam fazer fortuna no comércioou noutra atividade possível, desde que se mostrasse igual-mente rentável.

No cinturão de dunas, tabuleiros e vales que cir-cunda Natal, Manuel Machado adquiriu fazendas,sítios, engenhos e terras férteis, mas também áreasextensas e desabitadas que, para qualquer outro, pare-ciam representar um desperdício de dinheiro ou um

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Manuel Machado,o comerciante

português que eradono das terras

de Parnamirim e feza doação a Paul

Vachet da área para ocampo de pouso que

daria origem aomunicípio. Desenho

de Gilvan Lira, repro-duzido do

volume VI da sérieOs Empresários/

Gente Potiguar III -Diário de Natal.

capricho do português que - saudoso da fome de terrasque alimentou a cobiça dos ancestrais colonizadores -queria ter também sua sesmaria. Manuel Machado,olhando o futuro da cidade onde outros nada viam, ganhoufama de latifundiário.

De aquisição em aquisição, eram dele a “mata dePetrópolis” - a área que corresponde hoje aos quarteirõesentre a rua Nilo Peçanha, defronte a Maternidade JanuárioCicco, até depois da rua Potengi; boa parte das terras entreNatal e Parnamirim, a partir do atual conjunto Neopólis;quase toda a faixa de terra na margem direita do rioPotengi, entre Natal e Macaíba. Na cidade vizinha, ManuelMachado comprou o Solar e as terras do “Ferreiro Torto” -sítio histórico, um dos primeiros enge-nhos potiguares - euma pedreira. Na margem esquerda do rio, adquiriu paraexploração a salina “Carnaubinha”, localizada entre osmangues de Igapó e da Redinha. Com a posse das terras

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não esperava ganhar nenhum título nobiliárquico, masapenas que a cidade crescesse e exigisse novos espaços paramoradias. Manuel Machado introduziu no mercado imobi-liário de Natal a idéia e o projeto dos loteamentos.5

33 -- AA ccoonnssttrruuççããoo ddoo ccaammppoo

Negociador hábil e empresário experiente, ManuelMachado fez a doação de uma área de mil metros quadra-dos a Paul Vachet, que depois fez nova escritura transfe-rindo o terreno a CGA. Em troca, a M. Machado & Cia foicontratada para desmatar, limpar, nivelar e cercar o terre-no onde seria construído o aeródromo. O prazo para a con-clusão do serviço, no contrato assinado em cartório e data-do de 21 de julho de 1927, era de 90 dias. O pagamento,doze contos de reis (12.000$000), seria feito de uma sóvez, ao término da empreitada6. Nos anos seguintes, com aexpansão das atividades da Aéropostale, que viria a serabsorvida em outubro de 1933 pela Air France, ManuelMachado e a viúva dele, Amélia Machado, fizeram outrosnegócios com os franceses, vendendo novos pedaços deterra para a ampliação do “aaeerrooppoorrttoo ddee PPaarrnnaammiirriimm””.

No início, o campo era apenas uma pista de terrabatida e grama, sem iluminação elétrica ou qualquer cons-trução. Mas, anunciando a importância e a fama interna-cional que logo iria adquirir, PPaarrnnaammiirriimm começou a ope-rar participando de um dos grandes feitos da história daaviação. Em 14 de outubro de 1927, às 23h45, o Bréguet-1685, batizado “Nungesser-et-Coli”, pilotado por JosephLe Brix e Dieudonné Costes, concluiu em 19 horas e 25minutos o vôo de 3.200 quilômetros entre São Luís doSenegal e Natal. Foi o primeiro aeroplano a atravessar oAtlântico no sentido leste-oeste, sem escalas. A aterrissa-

436 - Esses dois documen-tos estão reproduzidosno Capítulo VIII

5 - O Diário de Natalpublicou, dentro da série"Gente Potiguar III - Osempresários - volume6", a biografia deManuel Machado. A for-tuna dele, administradapela viúva, chegou àdécada de 80, passandodepois para as mãos desobrinhos.

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gem, em PPaarrnnaammiirriimm, foi feita à luz de quatro grandesfogueiras, que marcavam os ângulos do campo.

As instalações cresceriam a um ritmo acelerado. Ogovernador do Estado, José Augusto Bezerra de Medeiros,cumprindo promessa feita a Paul Vachet (o aviador francêsfoi levado à presença dele por Juvenal Lamartine, entusiastada aviação, e o encontro foi em um bar de Natal)7, anunciouna mensagem, apresentada à Assembléia Legislativa em 1º deoutubro, que já mandara construir “uma estrada de rodagem,ligando Natal ao campo de aviação em Pitimbu”, facilitandoassim a instalação da Aéropostale no Estado. Essa estrada, naverdade, era uma estrada carroçável que saí do caminho quelevava ao porto dos Guarapes, em Macaíba, passava peloengenho Pitimbu e acompanhava a linha férrea Natal/NovaCruz, até o novo campo.Apesar das melhorias encomendadaspelo governo ao prefeito de Natal, Omar O´Grady, no inver-no a estrada ficava praticamente intransitável.

No campo de pouso, os vôos regulares para o sul doBrasil foram instalados em 20 de novembro do mesmoano, com um avião Laté-25, pilotado por Pivot, auxiliadopelos mecânicos Pichard e Gaffe.

A Aéropostale investia em propaganda e trouxe a PPaarrnnaammiirriimm, em maio de 1928, o jornalista ManuelBernardino e o fotógrafo Ferreira, do jornal carioca “A Noite”. Os dois visitavam todos os campos da companhiano continente. Homenageado com um jantar em Natal, orepórter fez um discurso e concedeu entrevista ao “Diário deNatal” (jornal ligado à diocese, anterior ao atual) elogiou ocampo de PPaarrnnaammiirriimm e previu que o local seria conhecidoem todo o mundo. Em agosto do mesmo ano, inaugurou-seuma estação telegráfica nacional no campo e, em 27 desetembro, começou o serviço regular de correspondênciascom a Europa. No mesmo dia, chegou a PPaarrnnaammiirriimm um

7 - O episódio do encontro entre Vachet eo governador do Estado

é narrado pelo próprioJosé Augusto, em depoi-

mento ("Lamartine,palmo a palmo") publi-cado pela Fundação José

Augusto em homena-gem ao centenário de

nascimento de JuvenalLamartine (FJA/1974).

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Os pilotos francesesDieudonné Costes eJoseph Le Brix, osprimeiros a pousaremum avião emParnamirim, às 23h45do dia 14 de outubrode 1927. Foto cedidapor Leonardo Barata,do Museu da Aviaçãoe da II Guerra.

Esta foto, reproduzidado livro de Protásio deMelo (ob. cit.), é con-siderada como o únicoregistro fotográfico da“fundação do campode Parnamirim”, masa data atribuída (1929)parece indicar que setrata, provavelmente,da inauguração dasmelhorias feitas com aconcorrência do gover-no do Estado. Entre asautoridades presentes,está o governador JoséAugusto Bezerra deMedeiros (centro), ocapitão Luís TavaresGuerreiro, Dr. AlbertoRoselli e o dr. DécioFonseca.

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8 - Os principais fatosocorridos nos três

primeiros anos de ativi-dades no campo deParnamirim estãodescritos no livro

“História da aviação noRio Grande do Norte”,

de Paulo Pinheiro deViveiros (03. citado)

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Laté-25 completando, pela primeira vez, um vôo direto entreSão Paulo e Natal em 18 horas. Em novembro, a companhiaabriu uma agência em Natal, fechando um ano de bons negó-cios em terras potiguar: 15.565$108 (quinze réis) faturadoscom a venda de selos postais em Natal, Macau, Caicó eMossoró, para cartas que partiram do campo de PPaarrnnaammiirriimm.

Em janeiro de 1929, o Conde de la Vaux, presidenteda Federação Aeronáutica Internacional, chegou a Natalprocedente de Paris. Fazia uma viagem de visita aos aero-clubes brasileiros e, no Rio de Janeiro, entrevistado sobreo futuro da aviação comercial, citou o aeroporto dePPaarrnnaammiirriimm como “a chave dos grandes sistemas geraisde transportes aéreos, para a América do Sul, em futurobem próximo”. Em abril daquele ano podia-se ir do Riode Janeiro a Paris, com escala em Natal para a travessia doAtlântico em navio, em seis dias. O ano termina com umnovo recorde no transporte de correspondências - 30toneladas entre o Brasil e a Europa - e na venda de selospostais: 28.024$600. Desde novembro era possível com-prar uma passagem em Natal, embarcar no avião emPPaarrnnaammiirriimm, voando até Buenos Aires, na Argentina.Uma carta postada em Paris, pela Aéropostale, demoravaapenas cinco dias para chegar a Santiago do Chile. No anoseguinte, monsieur Marcel Bouilloux-Lafont, presidenteda companhia, veio inspecionar pessoalmente as instala-ções em PPaarrnnaammiirriimm e a base de hidroaviões franceses,instalada no estuário do rio Potengi, onde hoje é a BaseNaval de Natal.8

Apenas dois anos após o início das operações,PPaarrnnaammiirriimm já era um dos melhores e mais bem equipa-dos campos de pouso da Aéropostale, contando com torresde rádio, sinalização, hangares, oficinas, armazéns, poçosartesanais e alguns chalés para hospedar os pilotos e as

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Autoridades locaisrecebem, em Parna-mirim, os aviadoresCostes e Le Brix.Reproduzida do livrode Paulo Pinheiro deViveiros (ob. cit.)

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famílias dos funcionários da administração. Em agosto de1933, o governo francês criou a Air France e absorveutodas as companhias privadas de aviação civil. Novosinvestimentos foram feitos no campo e a companhia esta-tal francesa transferiu os hangares e demais instalaçõespara o outro lado da pista de pouso, onde hoje estão as ins-talações da Base Aérea de Natal.

Vista aérea das insta-lações do campo de

Parnamirim, por voltade 1930. Os francesesjá haviam construídoos hangares e outrasedificações para aco-

modar o pessoal deterra. Foto cedida porLeonardo Barata, doMuseu da Aviação e

da II Guerra.

No início da décadade 30, a área de

Parnamirim ainda eraum grande tabuleiro

desabitado, cortadoapenas por estradas

carroçáveis e marcadopela pista de pouso e

as construções docampo dos franceses.

Foto cedida porLeonardo Barata, doMuseu da Aviação e

da II Guerra.

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Novos aviões começaram a operar em PPaarrnnaammiirriimm,substituindo os agora antiquados Laté-25. Desde junho de1933, o trimotor “Arc-en-Ciel” de Jean Mermoz fazia atravessia do Atlântico Sul. No dia 18 de janeiro de 1934, ocampo foi cenário de batismo para o “Ville de Natal”, umpossante quadrimotor (cada um com 600 HP de potência),capacidade para 10.000 litros de gasolina, velocidade de200 kl/h e uma equipagem de cinco homens que faria atravessia regular entre Dakar em Natal. Em 1934 foramfeitas 18 travessias, sem incidentes, e inaugurada a linhaNatal/ Buenos Aires em um só dia.

Em 1940, os italianos da Ala Litottoria (L.A.T.I) jun-taram-se aos franceses em PPaarrnnaammiirriimm, construindo umhotel, hangar, reservatório dágua e escritórios no ladooeste. A Air France operou no campo até junho de 1940,quando a França se rendeu a Alemanha Nazista. Dois anosdepois, quando o Brasil declarou guerra a Alemanha e aItália, a L.A.T.I também deixou de operar.

Um pequeno aviãolevanta vôo deParnamirim, em1929. Na foto, alémda torre de rádio, acasa erguida paraabrigar os pilotos, naqual Jean Mermoz, oherói da aviaçãofrancesa, ficou váriasvezes e que ainda seencontra de pé.Reprodução do livrode Paulo Pinheiro deViveiro. (Ob. cit.)

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44 -- OO vveerrddaaddeeiirroo ccoonnqquuiissttaaddoorr ddoo AAttllâânnttiiccoo SSuull

A importância de PPaarrnnaammiirriimm para o desenvolvi-mento da aviação internacional foi reconhecida desde oinício das operações no campo construído pelos france-ses. O conceito e a fama de ser um campo bem estrutu-rado e estrategicamente posicionado como ponto departida ou chegada na ponte aérea sobre o Atlântico Sulatraíram para PPaarrnnaammiirriimm ases da aviação de todas asnacionalidades. Entre eles, as primeiras mulheres avia-doras, como a norte-americana Laura Ingalls que faziaum raid através do continente e pousou em PPaarrnnaammiirriimm(8 de abril de 1934) apenas “pela curiosidade de conhe-cer o campo, do qual se falava muito nas rodas aviató-rias dos Estados Unidos como um dos melhores domundo”. Também estiveram em PPaarrnnaammiirriimm as aviado-ras Marise Bastié (30 de dezembro de 1936), que com-pletava o raid Paris-Dakar-Natal em 12 horas e 7 minu-tos, e Amélia Earhart (7 de junho de 1937), que tentavacompletar um vôo ao redor do mundo (ela desapareceucom seu avião, um Lockhead-Electra, no mês seguinte,sobre o oceano Pacífico).

Mas, entre todas as façanhas da aviação mundial dasquais PPaarrnnaammiirriimm foi palco, uma permanece como a maislembrada e, justamente sobre esta, paira uma dúvida:quem teria realizado a primeira travessia aérea do Atlân-tico Sul, voando no sentido oeste-leste? A maioria dos his-toriadores aponta o piloto francês Jean Mermoz, mas háoutra versão.

Pesquisando nos arquivos do jornal “A República”, ohistoriador Tarcísio Medeiros9 encontrou na edição do dia6 de dezembro de 1931, provas de que o primeiro piloto afazer a travessia aérea Natal/Dakar foi o australiano Bert

9 - A narrativa da passa-gem de Hinkler por

Parnamirim é descritapor Tarcísio Medeiros em

"Estudos de História doRio Grande do Norte -

26) Bert Hinkler, o heróido Atlântico Sul" -

Natal/2001 - pp. 244-248.

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Hinkler, voando em um monoplano de fabricação PrussMoth, equipado com motor Gipsy de 120 HP, prefixo G-ABXY, com as cores da bandeira do Domínio Britânicoultramarino pintadas no leme, e na companhia solidária deum sagüim comprado em Fortaleza, Ceará.

A aventura de Bert Hinkler começou em 13 de abrilde 1931, quando partiu do Canadá para Nova York com oobjetivo de percorrer as Américas em um raid aéreo sobo patrocínio da Companhia Wakefield, fabricante domotor do monoplano. De Nova York voou até a Jamaica,em 18 horas, e de lá para Fortaleza, onde acabou preso nachegada por falta da documentação necessária paraingressar no Brasil. Identificado e liberado dias depois,resolveu mudar a rota inicial que previa um vôo até oRio de Janeiro. Temendo novas complicações com asautoridades brasileiras, decidiu-se pelo “salto” sobre oAtlântico Sul, entre Natal e a costa senegalesa, feito queo Mermoz havia tentado e fracassado no ano anterior. Ás16h30 do dia 23 de novembro, Hinkler pousou emParnamirim. Em Natal, o piloto ficou hospedado na casado vice-cônsul inglês, Mr. Eric Gordon.

O dia seguinte foi para a revisão, reparos e testesdo monomotor, com a ajuda dos mecânicos daAéropostale. O plano de vôo foi traçado e ficou acertadoque os “avisos” da companhia, que faziam a linha marí-tima entre Natal e Dakar, ajudariam na travessia sobre oAtlântico, enviando informações telegráficas sobre suasposições para Bathurst, possessão inglesa em Gâmbia. Apartida foi às 10h da manhã do dia 25. Com apenas umabússola e o sagüim por companhia, Hinkler chegou aBathurst, a cerca de 50 quilômetros de Dakar, após 22horas de vôo. Mas, as notícias do seu sucesso só chega-ram a Natal no dia 28.

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O feito foi notícia nos principais jornais do mundo,menos na capital potiguar, onde Hinkler preferiu o anoni-mato e evitou qualquer contato com a imprensa. Hinklerfez ainda vários vôos em rotas não exploradas. Morreu em28 de abril de 1934, quando seu avião caiu nas montanhasda Toscana (Itália).

PPaarrnnaammiirriimm foi o Trampolim da Vitória paraHinkler, como foi mais tarde, em 1º de junho de 1933, parao vôo de Jean Mermoz10 entre Natal e Dakar com o trimo-tor “Arc-en-Ciel” e seria, uma terceira vez, para os aliadosna II Guerra Mundial.

Jean Mermoz, o heróida aviação francesa e

pioneiro nas linhasaéreas entre a

Europa, África e oBrasil. Natal e o

campo de Parnamirimeram a sua principal

base nos últimos anosde carreira.

10 - Jean Mermoz nas-ceu em Aubenton

(Aisne), em 9 de dezem-bro de 1901. Ingressouna aviação do Exército

francês em 1920. Em1924, desmobilizado, foi

trabalhar com DidierDaurat na Latéocère.

Logo se transformou emum dos melhores pilotos

da Linha. Vôou sobre aÁfrica, nos altiplanos

andinos da América doSul e sobre o Atlântico,

na rota Dakar/Natal. Em17 de dezembro de 1936,quando tentava comple-

tar mais um vôoDakar/Natal, desapare-

ceu no mar com o avião"Croix du Sud".

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1 - A aliança improvável

2 - Parnamirim Field

3 - A Base Aérea de Natal

4 - Novas e velhas denominações

5 - Como entramos na “Corrida Espacial”

6 - O Aeroporto Augusto Severo

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O Trampolim da Vitória

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11 -- AA aalliiaannççaa iimmpprroovváávveell

Os anos entre o fim da I Grande Guerra (1918) e oinício da II Guerra (1939) foram de extraordinário avan-ço nas descobertas das ciências e no desenvolvimentotecnológico. No espaço cronológico correspondente aduas gerações, mudaram as regras de comportamento emuitos dos rígidos valores morais que subsistiam nasociedade ocidental desde a segunda metade do séculoXIX. Modernizaram-se as relações de trabalho e o siste-ma educacional, mas a esse progresso do conhecimentonão correspondeu uma situação de estabilidade econômi-ca e política. Entre 1920 e 1940, o mundo mergulhou emuma onda de revoltas e revoluções deflagrada pela vitó-ria comunista na Rússia e por movimentos nacionalistasque se espalharam da Europa Central à Ásia. Essa ondaderrotou as instituições democratas e liberais em quasetodos os continentes. A hegemonia dos antigos impérios,enfraquecidos por uma crise econômica sem precedentes,ruiu nas colônias. Regimes fascistas e governos autoritá-rios, tanto de direita como de esquerda, instalaram-se nopoder como alternativas populistas e demagógicas à faltade expectativa da classe média pequena burguesa e dasmassas trabalhadoras.

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No Brasil, a década de 30 começou com a revoluçãoliderada por Getúlio Vargas. O golpe de Estado foi uma con-seqüência da centralização da política federal no eixoMinas-São Paulo e do descontentamento das lideranças dapequena burguesia urbana com um governo voltado para osinteresses dos grandes produtores rurais. No ano anterior, aoposição tinha se unido em torno da Aliança Liberal, lan-çando Getulio Vargas para presidente e João Pessoa paravice, mas perdera as eleições. O assassinato de João Pessoa,na Paraíba, cometido por um desafeto pessoal, foi a senhapara o início do movimento armado, apoiado pelos militaresdo “movimento tenentista”1 da década de 20 e latifundiáriosde outros estados excluídos do círculo do poder federal.

O Rio Grande do Norte vivia, naquele ano, o boom daaviação comercial internacional, mas não tinha, apesardisso, qualquer importância econômica ou política no cená-rio nacional. A população, no interior, dependia do trabalhoassalariado na cultura do algodão e, nos centros urbanosmaiores, dos rendimentos com o comércio. A primeira eúnica fábrica existente na capital do Estado - A Fábrica deFiação e Tecidos Natal, fundada por Jovino Barreto em1888 - tinha sido fechada cinco anos antes. A Revolução de30 não veio para mudar essa realidade nem quebrou aestrutura de poder existente. O governador JuvenalLamartine, herdeiro da tradição política dos coronéis seri-doenses, não apoiava o movimento, mas também não orga-nizou qualquer resistência. Fugiu com a família e algunscorreligionários para Paris (França). As tropas revolucioná-rias, sob o comando do major Luís Tavares Guerreiro - omesmo que localizou para os aviadores franceses o terrenode PPaarrnnaammiirriimm - assumiu o controle do Estado, dissolveuos governos municipais e a Assembléia Legislativa. A JuntaGovernativa Militar governou por seis dias. Nos arranjos e

1 - A insatisfação dosjovens oficiais do

Exército com a classepolítica explodiu em 05

de julho de 1922, comuma tentativa de levantearmado contra a eleição

do presidente ArturBernardes. A revoltaficou concentrada aoForte de Copacabana

(Rio de Janeiro), ondefoi derrotada em poucos

dias. A resistência dosrevoltosos, um grupo de

18 militares, ficouconhecida como o episó-

dio dos "18 do Forte".Entre eles, estava o futu-

ro brigadeiro EduardoGomes.

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acomodações de forças que se seguiram, mesmo alguns dosantigos adversários da Aliança Liberal - a coligação queapoiou Getulio Vargas nas eleições perdidas, motivo quedeflagrou o golpe - voltaram a ocupar posições de mandono governo dos interventores estaduais.

Instalado no Rio de Janeiro, o governo de GetúlioVargas cultivou simpatias pelos modelos nacional-socia-listas de Hitler, que tomara o poder na Alemanha, e pelotrabalhismo de Mussolini, na Itália. A mistura dessas cor-rentes políticas de direita levou à construção de uma dita-dura nacionalista que iria se estabelecer no Brasil por 15anos.2 Contestado pelas armas (em 1932, com a revoluçãoconstitucionalista de São Paulo; em 1935, ano do levantecomunista no Rio de Janeiro e Natal; em 1937, com arevolta integralista no Rio), Getulio Vargas iria buscar nopopulismo a aparência de legitimação de que precisava.Foram criadas leis para proteger os trabalhadores, remode-laram-se o sistema educacional e eleitoral (em 1935 foramrealizadas eleições para uma Constituinte), e se acelerou oprocesso de urbanização do País. Mas, as mudanças naestrutura da sociedade eram lentas e no final da década aditadura de Getulio Vargas estava diante de um impasse:sem conseguir romper com a estrutura agrária no interior,não conseguia superar os obstáculos à industrialização doPaís, base para um novo modelo econômico, ou para umaverdadeira revolução nas estruturas políticas.

Em 1940, metade do mundo já estava em guerra. Emsetembro de 1939 as tropas de Hitler haviam invadido aPolônia. A conjuntura internacional não poderia ser maiscontrária à atração de investimentos que impulsionassemos planos econômicos de desenvolvimento nacional.Oficial-mente, o Brasil era neutro. Mas, no governo deGetúlio Vargas quem nutria simpatias pelo nacional-

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2 - Deposto do governoem 1945, pelos militares,Getúlio Vargas voltaria àpresidência pelo votodireto, em 1951, depoisde ser eleito pelo PTB noano anterior, com3.849.040 votos - derro-tando o brigadeiroEduardo Gomes, candi-dato da UDN, que obte-ve 2.342.384 votos. Em05 de agosto de 1954,Getúlio Vargas matou-secom um tiro no peito,dentro do Palácio doCatete, pressionado pelacampanha oposicionistaliderada por CarlosLacerda que o acusava decorrupção e desmandos.

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socialismo de Hitler não se preocupava em escondê-las.O próprio presidente, em discurso de 11 de junho de 1940,elogiando o desempenho da Marinha Brasileira na BatalhaNaval de Riachuelo, fez alusões positivas às vitórias ale-mãs na Europa e à causa nazista. Era uma posição dúbia,uma vez que o governo brasileiro negociava, desde 1934,programas de cooperação militar com os Estados Unidos.Em maio de 1939, o Brasil havia participado daConferência de Lima (Peru) e assinado os Acordos deWashington, comprometendo-se a cooperar com os EUAna eventualidade de uma guerra.

A repercussão do discurso de junho aumentou aspressões norte-americanas sobre o fim da neutralidade bra-sileira. A proposta de defesa continental dos Estados Unidosprevia a cessão de bases militares - terrestres, navais eaéreas - na faixa litorânea do Brasil que ia do Rio de Janeiroao Amapá. A contrapartida viria em forma de abertura decrédito para a compra de material bélico, assessoria técnicae modernização das forças armadas brasileiras, além dofinanciamento para a construção da Usina de Volta Redonda(RJ), a primeira siderúrgica nacional. Diante da resistênciado Estado Maior brasileiro, os norte-americanos chegarama preparar planos de invasão para tomarem a regiãoNordeste, caso um acordo diplomático não fosse fechado.Com o desenrolar da guerra na Europa, o governo Vargas seviu forçado a assinar um acordo de defesa mútua (julho de1941), ceder as áreas para a instalação de bases norte-ame-ricanas no Nordeste (outubro de 1941), romper relaçõesdiplomáticas com a Alemanha, Itália e Japão (janeiro de1942) e, por fim, em 22 de agosto, declarar guerra aos paí-ses do Eixo.3 A construção das bases naval e aérea, em Natal,seria fruto desses acordos. A Base Aérea daria o impulsodecisivo para o surgimento da cidade de PPaarrnnaammiirriimm.

3 - Naquela semana, umúnico submarino alemão

atacou e afundou nolitoral do Nordeste cinconavios brasileiros, causa-

do a morte de cerca de600 pessoas. Diante da

revolta popular e das crí-ticas na imprensa, o

governo não tinha outraalternativa a não serdecretar o estado de

guerra.

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22 -- PPaarrnnaammiirriimm FFiieelldd

Os militares norte-americanos começaram a chegara Natal antes mesmo da formalização do acordo Brasil-Estados Unidos (outubro de 1941) e da declaração deguerra do governo Vargas aos países do Eixo (Alemanha,Itália e Japão). Segundo o historiador Lenine Pinto, nodia 26 de junho de 1941 passou pelo campo dePPaarrnnaammiirriimm os primeiros aviões-bombardeiros da U.SAir Force. Fizeram uma escala técnica, para reabasteci-mento, disfarçados de cargueiros comerciais, no vôo paraa ilha de Ascenção. O destino final estava na África, acidade de Bathurst, em Gâmbia, possessão inglesa vizi-nha a Dakar, então em poder do governo de Vichy, omarechal francês que se rendeu e fez um acordo de coo-peração com Hitler. Um mês depois da passagem dosbombardeiros, o governo brasileiro autorizou a Panairdo Brasil - subsidiária da matriz de aviação civil norte-americana - a “construir, melhorar e aparelhar os aero-portos” entre o Amapá e Salvador, “com o fim de permi-tir a sua utilização por aeronaves de grande porte”,Começaram, então, a desembarcar em Natal as equipestécnicas da Airport Division (ADP).4 Eram, na verdade,militares americanos que chegavam para a construção deParnamirim Field, o maior campo de aviação e base deoperações militares que os Estados Unidos viria a ter,durante a II Guerra, fora do seu território.

A presença oficiosa dos engenheiros militares ameri-canos em Natal irritou o general Cordeiro de Farias,comandante local da guarnição do Exército e um dos sim-patizantes da Alemanha, dentro do Estado Maior brasilei-ro. A situação ameaçou ficar tensa, mas a intervenção doalmirante Ary Parreiras, encarregado de estabelecer a Base

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4 - Para saber maissobre a presença dosnorte-americanos emNatal, leia o livro deLenine Pinto (OsAmericanos em Natal) e "A ContribuiçãoNorte-Americana à VidaNatalense", do historia-dor Protásio Pinheiro de Melo.

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Naval, evitou um confronto diplomático. O generalCordeiro de Farias não tinha sido comunicado oficialmen-te, mas o interventor Rafael Fernandes, sim. O Ministérioda Justiça, através de expedientes confidenciais, ordenaraao interventor estadual todas as facilidades para a entradados técnicos em aviação norte-americanos, que chegavamsem passaportes pelo porto de Natal.

Os preparativos para a construção do campo deaviação em PPaarrnnaammiirriimm e os melhoramentos na Base deHidroaviões da Rampa haviam sido iniciados cincomeses antes com a chegada a Natal do engenheiro DécioBrandão (a 25 de março de 1941), representante oficialda ADP, que veio para fazer o levantamento da área.Sem conseguir engenheiros locais que o auxiliassem natarefa, Décio Brandão precisou treinar 20 pescadorespara os trabalhos de agrimensão, em PPaarrnnaammiirriimm. Emmaio, chegou o primeiro superintendente americano dasobras, Serge Mejido.

Para manter as aparências da participação conjuntanos esforços de guerra e salvar a auto-estima brasileira, ogoverno criou por decreto a Base Aérea de Natal. A pista

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de pouso das companhias comerciais, de barro batido com700 metros de comprimento e 40 de largura, dividia aomeio o campo de PPaarrnnaammiirriimm. Os brasileiros ficaram como lado oeste, onde já estavam as instalações da Air Francee da companhia de aviação italiana (L.A. T. I), desativadasdesde o início da guerra na Europa. Eram instalaçõesmodestas demais para atender o esforço de guerra dosaliados e os americanos preferiram ocupar o lado leste. Láeles estavam construindo um novo campo, a Base Leste:Parnamirim Field.

O financiamento e a direção do projeto ficaram total-mente a cargo do governo norte-americano. O objetivo eramontar, equipar e preparar uma base de operações que pudes-se receber unidades táticas de combate de grande envergadu-ra, o suficiente para enfrentar qualquer ameaça à segurançado Hemisfério Ocidental, servindo de apoio para uma rotaaérea cobrindo toda a vastidão do Atlântico Sul até a África,oferecendo proteção aos comboios de navios para a Europa ecriando um corredor de transporte para o sul da Europa.

Para as obras foram contratados seis mil operários,na época um exército de migrantes do interior do Estado

Planta do oleodutoconstruído pelosnorte-americanos (opipe-line) para levarcombustível dos tan-ques que ficavamnas dunas do atualbairro de SantosReis até a base emParnamirim.Reprodução da plan-ta original, nosarquivos da BaseAérea de Natal.

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que se movimentava dia e noite sob as ordens do capatazJosé Aguinaldo de Barros. Os trabalhos começaram emnovembro de 1941, mas só foram acelerados em março de1942. A Base Leste dos norte-americanos custou 9,5 mil-hões de dólares, segundo relatório de uma comissão mili-tar conjunta Brasil/EUA, datado de setembro de 1946, gas-tos no mercado de material de construção local e de outrosEstados nordestinos (material e equipamentos trazidosdos Estados Unidos não foram contabilizados). Foramconstruídas duas novas pistas de pouso asfaltadas, comcapacidade para operação de aviões-bombardeiros de portemédio, mais seis pistas secundárias de rolagem, doze áreasde estacionamento pavimentadas, dez hangares e todo oequipamento de auxílio à navegação área, comunicação,iluminação, depósitos de combustíveis e de água, um “pipeline” com mais de 20 km de extensão entre o Campo deTanques das Dunas (o bairro natalense de Santos Reis) e aBase Leste, armazéns para peças sobressalentes, muniçõese víveres que seriam consumidos aqui ou transportadospara o teatro da guerra.

A cidade de lona,com centenas de bar-

racas de campanha,que os norte-ameri-canos ergueram em

Parnamirim Field paraacomodar o excesso de

contingente à cami-nho do teatro da

guerra, no Norte daÁfrica. Foto cedida

por Leonardo Barata,do Museu da Aviação

e da II Guerra.

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A área que deveria ser ocupada era de 5.577.692,61m², várias vezes maior do que as dimensões originais docampo francês. Para isso, o governo brasileiro desapro-priou terrenos em volta do campo que pertenciam a váriosdonos. A Viúva Machado (Amélia Duarte Machado) eraainda a grande proprietária dos terrenos em PPaarrnnaammiirriimm.Dela, o governo desapropriou 80% da área necessária. Asoutras áreas estavam nas mãos de Francisco AlcidesRibeiro, Virgílio de Oliveira Lins, Guglielmo Lettieri,Alfredo Lyra, José Pereira da Silva - todos comerciantes,criadores de gado ou homens de negócios de Natal, quehaviam investido na valorização dos terrenos próximos ao campo de aviação - e, uma pequena faixa de 1.578,41metros quadrados da Standart Oil Company of Brazil.

Parnamirim Field tinha 600 edificações (CâmaraCascudo chegou a escrever que eram 1.500)5, a maioria bar-racões com paredes de alvenaria e teto de zinco, que permi-tiam alojar 1.800 oficiais e 2.700 praças. Em certos momen-tos de maior trânsito de pessoal e a eronaves, essas instalaçõesficaram lotadas e então foi levantada uma verdadeira cidadede lona, em que cada barraca podia alojar até 10 homens. Paratransportar até a base as cargas que chegavam em naviosdesembarcadas no Porto de Natal, os norte-americanos cons-truíram uma nova estrada para PPaarrnnaammiirriimm. A estrada teveum caráter de urgência estratégica. Foi aberta e pavimentada,com 20 Km de extensão, em seis semanas. O trajeto entre acapital e o antigo campo de aviação, que era feito em trêshoras por uma estrada de barro, quase uma trilha, passou aser feito em 20 minutos. Considerada pelos natalenses “umaobra-prima da tecnologia” norte-americana, “a pista”, comoficou conhecida, serviu durante várias décadas ao tráfegoentre Natal e PPaarrnnaammiirriimm.. Pedaços do velho asfalto aindapodem ser vistos, ao lado da duplicação da BR 101.

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5 - Por causa da neces-sidade de segurança e dosigilo que cercavam asatividades em Parnami-rim Field, vários comen-tários desencontrados eexageros foram cometi-dos em relação à dimen-são real do campo e dosseus efetivos. RuiFonseca Câmara, funcio-nário aposentado daBase Aérea, em depoi-mento ao historiadorProtásio de Melo (obracitada), chama a atençãopara o fato de que"muita gente pensavaque a Base tinha mais de 1.500 prédios, pois viaa numeração de 1300,1400 e 1500. Na verda-de, eram apenas 600 pré-dios.". Agrupados em blocos estratégicos,os prédios tinhamnumeração codificada,sendo os dois primeirosalgarismo identificado-res da destinação a qualeram reservados.

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Aviões de transportesestacionados na área

de operações deParnamirim Field

(1943). Foto cedidapor Leonardo Barata,do Museu da Aviação

e da II Guerra.

Vista aérea das insta-lações militares deParnamirim Field

(1943), com algunsaviões no pátio de

estacionamento. Fotocedida por LeonardoBarata, do Museu da

Aviação e da IIGuerra.

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Com as freqüentes mudanças no cenário da guerra, asexigências de novas obras eram contínuas. Ninguém sabeao certo quantas pessoas trabalhavam na Base americanadurante aqueles anos. O historiador Antônio BarrosoPontes calcula que “quarenta mil pessoas, entre civis e mili-tares de vários países, trabalhavam na construção do aero-porto”.6 Estatísticas do Air Transport Command norte-americano que operou em PPaarrnnaammiirriimm registram “um staffde 88 mil pessoas, sendo 20 mil civis”. O Departamento deEstado dos EUA, por razões de segurança, nunca divulgou ocontingente militar mobilizado para Natal, mas estimativasmais realistas ficam em torno de 10 mil homens.7 No últi-mo ano da guerra, os civis que trabalhavam na Base ameri-cana eram a metade deste total. A maioria deles, imigrantesdo interior potiguar e de outros estados, atraído pela pro-messa de trabalho e dólares americanos, chegava sem nadanem ninguém para recebê-los em Natal. Passaram então aocupar as faixas de terra vizinhas à cerca da Base Oeste, aolongo da via férrea, onde já moravam alguns dos ex-fun-cionários locais da Air France. Esses imigrantes construí-ram, com palhoças e ruas desalinhadas, o núcleo original dafutura cidade de PPaarrnnaammiirriimm.

Em Parnamirim Field, o comando militar tinha a preo-cupação de dar aos soldados sediados todo o conforto e bem-estar possíveis. Existiam quadras de esportes, três campos debeiseball, discoteca, cinema, sorveteria, capela, teatro, cassi-nos para oficiais e praças, e dois jornais, ambos semanários.O The Sar’d Weekly Post circulou entre 1943 e janeiro de1946 e trazia artigos sobre o esforço de guerra, as atividadesna base, notícias sobre as relações Brasil/Estados Unidos ecrônicas de colaboradores. O Foreign Ferry News, com umformato e conteúdo mais noticioso, começou a circular em16 de maio de 1943 e se manteve até 1945, mas tinha circu-

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6 - Cangaceirismo doNordeste, edições OCruzeiro - Rio deJaneiro/1973 - pp. 75.Esse Antonio Pontes erao proprietário de terras e casas de aluguel naperiferia de Parnamirim,genro da viúvaMachado, que se mudoupara João Pessoa (PB) edepois para o Rio deJaneiro, onde veio a serformar como bacharelem Direito.

7 - Natal, a capital emaior cidade do RioGrande do Norte, tinhaem 1940 cerca de 55 milhabitantes. O fluxomigratório, ocasion tas deempregos braçais para aconstrução da BaseAérea, fez com que acapital fechasse a décadacom 103 mil habitantes,em 1950 (Clementino,Maria do LivramentoMiranda - em ImpactoUrbano de uma BaseMilitar: a MobilizaçãoMilitar em Natal duran-te a II Guerra, ob. cit.)

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Mapa das instalações de Parnamirim Field, elaborado pelo U.S. EngineerOffice, datado de 12 de outubro de 1943. A numeração indicava a atividadea que estava destinado o edifício e a qual seção estava ele subordinado, semrelação com a quantidade de edificações erguidas na base. Reprodução dooriginal que se encontra nos arquivos da Base Aérea de Natal.

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lação restrita ao pessoal militar norte-americano. Este últi-mo era impresso nas oficinas do jornal A República.Parnamirim Field também foi campo de escala para vôos eviagens de personalidades famosas, como artistas de cinemaa caminho do front europeu para divertirem as tropas: o atorHumphrey Bogart (em 1943), a atriz Kay Francis (em 1943e 1945), o comediante Joe Brown e vários outros, além deautoridades aliadas, como madame Chiang Kai Chek, a mul-her do general que presidia a China (em 1943), FranklinDelano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos (embarcoude Parnamirim em 28 de janeiro de 1943, após se encontrarcom o presidente Getúlio Vargas a bordo de um navio anco-rado no rio Potengi)). A preocupação com o lazer parecia serparte de uma política de compensação e também uma tenta-tiva para minimizar as necessidades que os soldados pudes-sem vir a ter de deixar o âmbito da base.

As relações entre os militares norte-americanos e oscivis nativos, apesar das benfeitorias e das oportunidadesde empregos e dos negócios para o comércio local, nuncaforam inteiramente amistosas. Nas ruas de Natal ocorriambrigas e, dentro da Base Leste, a animosidade era latente.“Talvez o alto clima de tensão que ali se vivia a dispari-dade de costumes raciais entre brasileiros e americanos, jáentão bastante acentuada, tenham sido a causa de umambiente que já se mostrava desagradável”, lembra o his-toriador Paulo Pinheiro de Viveiros. Para apaziguar os âni-

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Vista parcial das edi-ficações no setoroperacional deParnamirim Field, emum dia de poucomovimento na pistade pouso (ao fundo).Foto cedida porLeonardo Barata, doMuseu da Aviação eda II Guerra.

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mos, chegou a ser criado dentro da Base Leste, em 1945, ocargo de “Chefe de Polícia”. Naquele ano, cinco mil civisbrasileiros trabalhavam para os americanos. Mas, o fim doconflito mundial já estava próximo, assim como a desmo-bilização dos norte-americanos. Paulo de Viveiros, nomea-do para o cargo, não chegou a assumir as funções.

Parnamirim Field foi, em termos táticos, uma base deapoio às ações de guerra no Atlântico e no Norte da África,com um trânsito ininterrupto de homens, armas e equipa-mentos. A média de aviões que desciam e subiam da basenorte-americana chegou a ser de 600 aeronaves/dia. Emtermos estratégicos, foi a base de um triângulo que aponta-va para o teatro de operações (o norte da África e o sul daEuropa), onde a sorte dos aliados contra os nazistas estavasendo lançada. Este triângulo era identificado nos mapasestratégicos norte-americanos como Trampoline of Victory.E foi com essa denominação que Parnamirim Field recebeucitações e referências em documentos e elogios futuros.

Reconquistado o Norte da África e consolidado osdesembarques no sul da Itália e na Normandia (França),em junho de 1944, Parnamirim Field já não tinha tantaimportância estratégica como no início da guerra, masainda era uma escala essencial para o tráfego aéreo emdireção a Europa. Somente em outubro de 1946, dezessetemeses após a rendição da Ale-manha, a Base Leste foientregue a Força Aérea Brasileira.

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33 -- AA BBaassee AAéérreeaa ddee NNaattaall

O início da Base Aérea de Natal (criada pelo Decreto-Lei 4.142, de 02 de março de 1942) confunde-se com a his-tória de Parnamirim Field. Mas, ao contrário da Base Leste,construída e ocupada pelos militares norte-americanos, aBase Oeste, sob comando dos brasileiros, enfrentou dificul-dades e teve que superar carências para conseguir se insta-lar, operar e atender as missões que lhe seriam confiadas.

Na divisão do antigo campo de pouso dos francesesentre os militares das duas nacionalidades, os brasileirosficaram com a ala oeste, limitada por uma cerca de arame,paralela aos trilhos da estrada de ferro e com portão deacesso para a pequena vviillaa ddee PPaarrnnaammiirriimm. Na área, exis-tia um hotel para passageiros, construído pelos franceses,que foi ocupado pelos setores administrativos da Base eadaptado para ser também o Cassino dos Oficiais. A com-panhia de aviação italiana havia deixado dois hangares dacompanhia italiana e um deles virou alojamento para ospraças, abrigando ainda os serviços do Agrupamento de

Reprodução daprimeira página do

jornal Foreign FerryNews, editado pelosnorte-americanos e

impresso nas oficinasdo jornal A

República, para circu-lação entre o pessoalde Parnamirim Field.

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Caça (aviões P-40). Mais dois prédios deixados pela AirFrance viraram alojamentos e rancho dos Sargentos, alémde abrigarem o Centro Médico, aproveitando também asduas estações radiotelegráficas.

Aquelas eram todas construções antigas e inadequa-das para atenderem às atividades militares. Os praças fica-ram sem local para rancho, o banheiro com 50 chuveiros eseis vasos sanitários era provisório, o abastecimentod´agua era feito através do antigo poço da Air France eoutros tiveram que ser perfurados. A energia elétrica erafornecida pela usina da Companhia Força e Luz, instaladaem Natal, mas havia interrupções constantes no serviço.Reparou-se um gerador deixado pela L.A.T.I. para atenderas necessidades de um fornecimento constante de energia.

Cinco meses depois da instalação da Base brasileira,o primeiro comandante, major aviador Carlos Alberto deFilgueira Souto, enviou um relatório de ocorrências para ocomando da 2ª Zona Aérea, sediado em Recife, relatandoas dificuldades8: a construção dos prédios necessários aopleno funcionamento da Base ainda não estava concluída;

8 - Este documento estáreproduzido no livro dohistoriador FernandoHypólito Costa,"História da Base Aéreade Natal"- Editora daUFRN/1980 - pp. 58-64

Programa de rádio,transmitido para osEUA direto de Parna-mirim Field, comoparte dos esforçospara levar entreteni-mento ao pessoal militar. Foto cedidapor Leonardo Barata,do Museu da Aviaçãoe da II Guerra.

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Antigo centro médicoda Base Oeste, onde

operavam os militaresbrasileiros durante

a II Guerra. Foto Ana Amaral.

Antigo prédio do comando na Base

Oeste. Foto AnaAmaral.

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faltavam bombas para os aviões e a Companhia de Guardadependia dos americanos para o fornecimento de armas emunição; havia carência de suprimentos, atribuída aodesabastecimento e alta dos preços no comércio local; pre-cariedade nos meios de transportes e insuficiência de aero-naves, material sobressalente e pessoal para atender asmissões de vôos. Em dezembro, a Base Aérea de Natal dis-punha de 18 aviões - entre caças, transportes e aeronavesde patrulha e reconhecimento - e um efetivo de 177homens. O trabalho era ininterrupto, dividindo-se entreas exigências da guerra e os vôos do Correio AéreoNacional (CAN). Os oficiais aproveitavam os vôos doCAN para fazer os treinamentos de navegação aérea e,apesar dos exercícios de tiro sobre alvos fixos, faltava umaaeronave para rebocar uma biruta. Os pilotos ficavam semtreinamento de tiro sobre alvos móveis.

As instalações precárias e a limitação na aparelhagemda Base eram um reflexo do descaso dos comandos milita-res brasileiros, que até o início da guerra não viam impor-tância estratégica na região Nordeste, e da falta de recur-sos do governo para custear uma máquina bélica à alturadas novas necessidades. O trabalho dos militares e civis,engajados na tarefa de construção, acabou sendo decisivopara superar essas dificuldades. Em janeiro de 1944, ao serentrevistado pelos jornais cariocas sobre os esforços deguerra brasileiros, o general João Batista Mascarenhas deMorais, comandante da Força Expedicionária que seriaenviada à Itália, pôde afirmar que “a primeira granderevelação é a Base de Natal. Para quem viu há dois anosatrás os primeiros passos daquela obra, hoje monumen-tal, é fácil julgar com acerto todo o valor daqueles quefizeram do centro aeronáutico do Nordeste uma das maisnotáveis bases conhecidas. Muito se tem dito da impor-

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tância daquele trampolim para as lutas da Europa e, defato, sua relevância na remessa do material para o teatroda luta, nos continentes africano e europeu, ressalta-ocomo fator decisivo para a vitória aliada”.9

Apesar do reconhecimento oficial, a estrutura opera-cional da Base brasileira, no que diz respeito aos efetivos eequipagens, seguia sob o ritmo frenético do desenrolar dasbatalhas travadas do outro lado do Atlântico e da incerte-za na disponibilidade dos sempre limitados recursos dogoverno para os esforços de guerra. Em meados de 1945, oproblema da insuficiência de pessoal, de aeronaves e mate-rial sobressalente ainda não tinha recebido uma soluçãodefinitiva. A utilização dos aviões P-40 (caças), em missõesde patrulha e proteção aos comboios marítimos, era exces-siva. Em junho daquele ano, das 32 aeronaves designadasna Base brasileira, apenas seis estavam disponíveis paravôos. Entre os 10 bombardeiros B-25, apenas quatro apre-sentavam condições de voar. A Base tinha ainda um B-18M (Bombardeiro Douglas) que estava em manutenção emSão Paulo e já contabilizava 3.010 horas de vôo e 161 ater-ragens. A carência de material e aviões só desapareceriacom a entrega, pelos americanos, da Base Leste, em outu-bro do ano seguinte.

44 -- NNoovvaass ee vveellhhaass ddeennoommiinnaaççõõeess

A nova aérea sob o comando brasileiro era pelomenos quatro vezes maior e uma das primeiras provi-dências foi ampliar o efetivo da Companhia de Guardaem mais dois pelotões. A transferência, completada em1º de outubro de 1946, foi lenta e gradual, de acordo coma importância das instalações que estavam sendo passa-das para mãos nacionais e que não podiam deixar de

9 - Citado pelo historia-dor Protásio de Melo

(ob. cit. - pp. 23)

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funcionar. Apesar dos cuidados, pelo menos um setor“foi esquecido” na Base Oeste: a Secção de Estatística.Comodamente instalados próximos às residências navviillaa ddee PPaarrnnaammiirriimm,, no prédio do comando da base queestava sendo desativada, os três funcionários da secção -Antenor Neves de Oliveira, Eliah Maia do Rego eAdauto Fernandes de Figueiredo - não se preocuparamcom a mudança e só foram “descobertos” meses depois,por acaso, recebendo ordens para também se mudarempara a Base Leste.10

Abandonada, literalmente, pelos militares brasilei-ros, a Base Oeste passou mais de uma década esquecida,até vir a ser ocupada, em parte, pelo serviço de aviaçãodo governo do Estado, criado pelo governador AluízioAlves (1961-1965). De início, foram utilizados um han-gar e um prédio que servia de almoxarifado, sala derádio e escritório. Mais tarde, o governo estadual pen-sou aproveitar as outras dependências para instalar a“Cidade da Criança”, sede de um projeto educacionalque os militares, no poder desde abril de 1964, não viamcom bons olhos. Os alunos da “Cidade da Criança”andavam fardados de verde, eram conhecidos como “aguarda-mirim de Aluízio Alves”, e suspeitava-se - comalguma dose de razão - que nas aulas de formação cívi-ca estava se fazendo também a doutrinação daquelascrianças em torno da figura carismática e populista dogovernador. Em 1º de dezembro de 1967, o Ministérioda Aeronáutica ordenou ao comando da Base Aérea deNatal que iniciasse “estudos imediatos sobre a desocu-pação e a recuperação da Base Oeste, a fim de evitar oaumento da depredação por parte das pessoas que ali seencontravam alojadas e permitir o aproveitamentodaquelas instalações”.

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10 - O episódio está rela-tado por Hypólito Costa(ob.citada. pp. 151).Antenor Neves chegou aser eleito prefeito deParnamirim para doismandatos. Eliah Maia doRego tornou-se um dosmais influentes educado-res, articulador político elíder comunitário dacidade.

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Eram os anos da “linha dura” dos governos militares ea Base Aérea de Natal - BANT, integrada ao sistema defensi-vo aéreo brasileiro, desenvolvia várias operações militares,entre elas os treinamentos antiguerrilha e de “guerra revolu-cionária”. No período mais negro da repressão, a BANT tam-bém cedeu suas dependências para a prisão de opositores aoregime militar, ficando conhecida entre militantes da esquer-da política como “centro de repressão e torturas”. Mas, tam-bém soube se fazer presente em momentos difíceis para apopulação civil do Estado: em maio de 1967, as aeronaves emilitares da Base haviam se destacado nas operações desocorro às vitimas das enchentes ocorridas em abril, no inte-rior do Rio Grande do Norte. Mossoró e cidades vizinhas,ilhadas, receberam medicamentos, alimentos e outros tiposde ajuda através de uma ponte aérea instalada pelos aviões daFAB. A ação ficou conhecida como “Operação Rumbaera”.

Em 24 de fevereiro de 1970, uma portaria doMinistério da Aeronáutica extinguiu a Base Aérea deNatal. Em seu lugar, surgiu o Centro de Formação dePilotos Militares, o CFPM. As instalações e os equipamen-tos foram destinados, a partir de então, ao treinamento depilotos para a Academia da Força Aérea e para os quadrosde oficiais-aviadores da reserva da FAB. Em conseqüência,pessoal e aeronaves do 5º Grupo de Aviação, que operavamem PPaarrnnaammiirriimm desde 1947 na formação de aspirantes,foram transferidos para Recife. Os aviões que chegavam,os T-23, eram monomotores simples para o treinamento.Em três anos de atividades, o CFPM formou 1.047 pilotosmilitares brasileiros e 36 estrangeiros.

Em 29 de novembro de 1973, mudou-se mais uma veza denominação e as instalações da Base passaram a ser conhe-cidas como Centro de Aplicações Táticas e Recompletamentode Equipagens (CATRE).Além da formação de pilotos, foram

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designadas duas novas missões: testar e avaliar sistemas dearmas e equipamentos; desenvolver e experimentar novastáticas de combate. Para isso, chegaram novos aviões de com-bate: o AT-26 Xavante. No final de 1990, a FAB simplificou adenominação do campo para Comando Aéreo de Treina-mento, mantendo a mesma sigla. Em dezembro de 2001, paraatender as necessidades de treinamento e operacionalizaçãona região amazônica, cortando também alguns gastos doorçamento, a Aeronáutica desativou o Comando Aéreo deTreinamento e reativou a Base Aérea de Natal.

No material divulgado para os jornais, pela assesso-ria de imprensa da base, consta a seguinte explicação: “amudança faz parte de um plano de reestruturação daFAB, com o objetivo de implantar uma nova sistemáticade especialização para os oficiais-aviadores. No futuro, aFAB vai aumentar o número de pilotos de caça e reduzir,gradativamente, o número de pilotos das outras aviações(Transportes, Patrulha, Asas Rotativas e Reconheci-mento)”. A mudança incorporou a BANT, em um primei-ro momento, o 1º/4º Grupo de Aviação (Esquadrão Pacau),que operava desde 1947 em Fortaleza. A FAB divulgouainda que, posteriormente, serão reativadas as instalaçõesda Base Oeste, onde tudo começou.

55 -- CCoommoo eennttrraammooss nnaa““CCoorrrriiddaa EEssppaacciiaall””..

O fim da II Guerra dividiu o mundo em dois blocosdistintos: aquele que seguia a liderança dos Estados Unidose outro que estava sob a influência da União Soviética. Essadivisão ideológica estabeleceu o mais longo e tenso períododa história do século XX, a chamada “Guerra Fria”, duran-te o qual a disputa entre os dois países lideres se travou nosbastidores da política, com lances de espionagens, patrocí-

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nio de golpes de estado e assassinatos de opositores nospaíses periféricos, repressão armada de movimentos popu-lares e apoio aos conflitos localizados nos países da perife-ria do mundo desenvolvido. A dicotomia “democracia xcomunismo” determinava as ações e pensamentos da gran-de maioria das elites governantes dos dois lados. Nas ciên-cias, a conquista do espaço foi um dos exemplos mais visí-veis dessa disputa. Nos Estados Unidos e na UniãoSoviética, os projetos para o lançamento de satélites artifi-ciais, primeiro passo para o envio de uma nave tripulada aoespaço, começaram a ser desenvolvidos a partir de 1957. AURSS saiu na frente com o “Sputnik I”, lançado em 4 deoutubro de 57. Menos de quatro meses depois, a 31 dejaneiro, os Estados Unidos lançaram o “Explorer I”.

Para não deixar o Brasil por fora dos conhecimentostecnológicos que a corrida espacial certamente traria àhumanidade - mesmo que não a levasse a parte alguma -o presidente Jânio Quadros criou a Comissão Nacional deAtividades Espaciais (C.N.A.E.), instalando o primeirogrupo de pesquisadores - alguns professores civis e técni-cos militares - em São José dos Campos (São Paulo). AC.N.A.E., subordinada ao Ministério da Aeronáutica, pas-sou a atuar em conjunto com a agência de administraçãoespacial dos Estados Unidos (NASA), enviando técnicosbrasileiros para programas de intercâmbio nas universida-des norte-americanas. Em 1962, um desses brasileiros erao capitão da Aeronáutica Fernando Mendonça, que estavana Universidade de Stanford (Califór- nia), trabalhando noprojeto para a instalação de uma base brasileira de lança-mentos de foguetes para o estudo da ionosfera. A NASAhavia prometido apoio técnico e financeiro para o projetoe, em 1964, liberou os recursos necessários. Mas, a basedeveria estar pronta e operando no ano seguinte.

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Os locais escolhidos eram no Nordeste pela já conheci-da e comprovada posição estratégica em relação ao tráfegoaéreo entre a Europa, Norte da África e Estados Unidos. Abase deveria ser instalada em Aracati (Ceará) ou no arquipé-lago de Fernando de Noronha. O que determinou que a pri-meira base brasileira de lançamentos de foguetes acabassevindo para o Rio Grande do Norte foi um encontro ocasional,entre o capitão Mendonça e o governador Aluízo Alves, e asdificuldades financeiras dos governos cearense e pernambu-cano para aprontar a infra-estrutura necessária em um prazotão exíguo quanto o imposto pela NASA. É o próprio AluízioAlves, quem conta a “história secreta” da construção da base.

“O Departamento de Estado me convidara para visi-tar os Estados Unidos, em 1962. O Nordeste preocupava.As Ligas Camponesas, saindo de Recife para outras áreas,as resistências da Sudene à Aliança para o Progresso,poderiam, com outros fatores, invalidar o esforço dedesenvolvimento da região.

Em visita a Califórnia, para conhecer os resultados daagricultura irrigada, programei uma manhã de visita econversas na Universidade de Stanford. E lá, sem acertoprévio, conheci o trabalho que estava sendo elaborado pelocapitão da Aeronáutica Brasileira, Fernando Mendonça,para a implantação de uma base de lançamentos de fogue-tes, provavelmente no Ceará, para estudos aeronômicos naionosfera, usando o que havia de mais moderno.

Na despedia, brinquei com o capitão Mendonça: - Sequiser esquecer que é cearense, localize a base no RioGrande do Norte e terá todo o nosso apoio.

Em verdade, depois desse encontro, nunca mais melembrara do projeto, até que numa noite do segundo semes-tre de 1964, recebi um telefonema do coronel Lauro KluppelJunior, meu conhecido, porque havia sido cedido pela

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Aeronáutica trazer dos Estados Unidos um avião compradopelo governo estadual. Ele estava em Natal, na companhiado capitão Mendonça, e precisava falar comigo, naquelanoite, para tratar de um assunto importante e urgente.

Quando nos encontramos, eles me contaram que aNASA se dispusera a incluir no programa para 1965 ofinanciamento de uma Base de Lançamentos de Foguetesno Brasil. Dois locais haviam sido cogitados: um no Cearáe outro em Fernando de Noronha. Mas, a NASA exigiaque no prazo de dois meses estivessem à sua disposição,pelo governo federal ou estadual, uma determinadaaérea, com infra-estrutura instalada de energia elétrica,água, acesso asfaltado, telefones etc. Acontece que osgovernos do Ceará e de Pernambuco só prometiam essasprovidências para o ano, com recursos do novo orçamen-to. Diante disto, a Aeronáu-tica temia que a NASA, dian-te do adiamento das obras, transferisse o projeto doNordeste ou mesmo do Brasil.

Não tive dúvidas. Era uma grande oportunidadepara o Rio Grande do Norte.

Os dois oficiais já haviam, inclusive, escolhido umterreno para a instalação da base, situado em uma área depropriedade de Fernando Gomes Pedroza, a 15 quilôme-tros de Natal, no caminho para Pirangi. Articulei-me comFernando Pedroza, que concordou em doar o terreno. Como diretor do DER, Fabiano Veras, tratei do asfalto neces-sário para melhorar as estradas e para as obras dentro dabase. Não havia asfalto para a utilização imediata. Diasantes, atendendo instruções minhas, o DER mandara todoo asfalto disponível para capeamento da estrada Jardimdo Seridó-Caicó, antiga reivindicação da população local.

- Vamos trazer esse asfalto de volta, pela urgênciada situação, e depois se adquiri outro.

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Fabiano advertiu-me que isso poderia dar problema, apopulação havia recebido os caminhões com festa e não iriaconcordar em perder o asfalto. Mandei que os caminhõesdeixassem o Seridó de madrugada, em absoluto sigilo.

Mas, havia ainda o problema da construção dos pré-dios e da infra-estrutura necessária. Sem tempo parauma concorrência pública, tratei com os construtores quetinham obras com o governo um aditivo em contratos jáacertados e em andamento (...)”.11

As obras foram iniciadas em 5 de outubro de 1964,com o apoio da FUNDAPH, uma fundação do governo doEstado para a implantação de projetos habitacionais, naépoca presidida por Agnelo Alves. Sem operários suficientespara atender ao ritmo urgente das construções, a fundaçãoestadual recrutou 15 presidiários para trabalharem no des-matamento da área, em troca de benefícios nas penas. Ostrabalhos eram dirigidos pelo capitão Raimundo SoaresBulcão de Vasconcelos e executados sob o mais rigoroso sigi-lo militar. Enquanto isso, o Grupo Executivo de Trabalho eEstudos de Projetos Espaciais (GETEPE), do Ministério daAeronáutica, providenciava o treinamento na NASA do pes-soal técnico necessário às operações de lançamento e rastreiode foguetes. Em maio de 1965, a construção dos prédiosprincipais estava concluída. Foram investidos, segundo ocoronel Lauro Kluppel, “38 milhões de cruzeiros”.12

Em 12 de outubro, através da portaria S-139/GM3, oMinistério da Aeronáutica oficializou a criação do Centrode Lançamentos de Foguetes da Barreira do Inferno(C.L.F.B.I) e, em 15 de dezembro, às 16:28h, foi lançado oprimeiro foguete. Para a inauguração veio o ministro daAeronáutica, brigadeiro Eduardo Gomes. O primeiro lan-çamento foi de um NIKE-APACHE, foguete de sondagemcom dois estágios, de fabricação norte-americana. Foi tam-

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12 - Entrevista ao jornalO Globo (RJ), citada porItamar de Souza no livro"Eduardo Gomes" (Fun-dação José Augusto -Natal/1981) - pp. 58

11 - Depoimento ao jor-nal Tribuna do Norte,edição de 10 de outubrode 1995 - p. 10, por oca-sião do 30º aniversáriodo Centro deLançamentos da Barreirado Inferno.

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bém o início do projeto SAFO-IONO (Sondagens Aeronô-micas com Foguetes na Ionosfera), desenvolvido pelaCNAE e a NASA. Na Barreira do Inferno, trabalhavamsete técnicos norte-americanos, 10 cientistas brasileiros eos militares do GETEPE, sob o comando do coronel-avi-ador Moacyr Del Tedesco.

Nos dez anos seguintes, o Centro de Lançamentos deFoguetes da Barreira do Inferno, instalado em área domunicípio de PPaarrnnaammiirriimm, deu a Natal a fama de “CapitalEspacial do Brasil”, desenvolvendo vários projetos inter-nacionais em parceria com a NASA, com a EuropeanSpace Agency (Projeto Ariane) e o Max Planck Institute(República Federal da Alemanha). Em janeiro de 1975, jásubordinado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA), oCLFBI ampliou a aérea ocupada, passando de 6 km² para,aproximadamente, 18 km². O perímetro do campo tam-bém foi ampliado, acrescentando-se 11 km de áreas naslaterais da RN 063 (estrada Natal/Pirangi).

Mas, na confluência dos limites de PPaarrnnaammiirriimm eNatal, municípios com os maiores índices de crescimentopopulacional e urbano do Estado, o CFLBI cedo mostroulimitações de segurança para projetos maiores, como olançamento do Veículo Lançador de Satélites. Para essefim, o CTA começou a construir em Alcântara, noMaranhão, em 1984, um novo centro de lançamentos. Otreinamento do pessoal ficou a cargo do CLFBI. Em 1989,com o início das operações do novo centro, o CLFBI per-deu o status que tinha, passando a atuar apenas em açõesde apoio ao Centro de Lançamentos de Alcântara.

Procurando meios para sobreviver e tentando manter-se presente na memória coletiva, preservando o papel quedesempenhou na história do Programa Espacial Brasileiro,o CLFBI tem incentivado a visita organizada de turistas às

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suas instalações. No encerramento do século que viu se con-cretizar a conquista do espaço, o centro contabilizava, até oano de 2000, a realização de 2.600 lançamentos.

66 -- OO aaeerrooppoorrttoo AAuugguussttoo SSeevveerroo

Durante todo o período da II Guerra, apesar dointenso movimento aéreo em PPaarrnnaammiirriimm,, não foi neces-sária a instalação de um terminal de passageiros. De umaforma ou de outra, os poucos civis que passaram pela BaseAérea de Natal ou Parnamirim Field estavam ligados aosesforços de guerra e, por outro lado, os prédios das antigascompanhias comerciais que operaram no campo entre1927 e 1942 estavam adaptados às funções militares osuficiente para atender ao movimento de embarque edesembarque. A situação mudou com o fim do conflito. Ocomando da Base e os dirigentes das companhias de avia-ção comercial perceberam que seria necessário um termi-nal que atendesse à população civil, evitando o trânsito depassageiros pela área militar.

Ao receber as instalações da Base Leste, em 1º deoutubro de 1946, o tenente-coronel aviador RubeCanabarro Lucas delimitou próximo à cabeceira da pista,no lado leste, a área que seria usada pelas companhiascivis. Naquele mesmo ano, durante as comemorações doDia do Aviador, foi inaugurada a Estação de Passageirosda Base Aérea de Natal, construída com recursos doMinistério da Aeronáutica. A solenidade começou às 15hdo dia 23 de outubro, com o hasteamento da bandeira e aexecução do Hino Nacional, discursos das autoridadescivis, do comandante da Base e a benção das instalaçõespelo arcebispo de Natal, dom Marcolino Dantas. Modes-tas, as instalações ainda operavam dentro de restrições

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“Após a últimagrande reforma, con-

cluída em 6 dedezembro de 2000, o

aeroporto AugustoSevero ganhou insta-

lações modernas enovos equipamentos.

Foto Emerson doAmaral”.

“Primeiras instalaçõesda estação de pas-

sageiros da BaseAérea de Natal, que

viria a ser oAeroporto AugustoSevero, no final de

década de 40. Foto deJaeci/Arquivos da

Tribuna do Norte”

“Na década de 50, jácom algumas refor-

mas, a estação de pas-sageiros ganhou esta-

tus de aeroportointernacional (24 denovembro de 1951).Foto Jaeci/Arquivos

da Tribuna do Norte”

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impostas pelo caráter militar da Base, o que o tenente-coronel Rube Canabarro deixou bem claro no discurso quepreparou para a inauguração.

“Estando este aeroporto no interior da Base, é fácilcompreendermos que o pessoal das companhias comerciaisque aqui trabalhar terá de orientar suas atividades sem irde encontro ás normas traçadas pelo comando. Espero queos dignos representantes das companhias comerciais sai-bam interpretar pequenas restrições neste sentido.”13

Apesar da admoestação, o espírito de colaboração einteresse do comando nas atividades civis do aeroporto fica-ram evidenciados com a concessão para hospedar visitantese passageiros em trânsito nas dependências da Base. Natalnão tinha, ainda, hotéis suficientes para atender à demandacrescente de visitantes que chegavam à cidade via aérea.

Seis anos depois de inaugurada, a estação de passagei-ros foi elevada à condição de Aeroporto InternacionalAugusto Severo, através da Lei nº 1.473, de 24 de novembrode 1951. A primeira grande reforma e ampliação foi realiza-da em 1978, quando o governador Tarcísio Maia (1975-1979) e o comandante do II Comando Aéreo Regional, omajor-brigadeiro Ismael da Motta Paes, assinaram convêniopara as obras. Além de um novo salão de espera, restauran-te e áreas de embarque e desembarque diferenciadas, o aero-porto ganhou um novo estacionamento e teve sua adminis-tração transferida para a In-fraero. Em 31 de março de 1980,as novas instalações foram inauguradas. O custo da obra foide CR$ 6 milhões, sendo 35% desse total verba do governoestadual e 65% do Ministério da Aeronáutica.

Em 1999, o governador Garibaldi Filho, através de con-vênio com a Infraero, iniciou a construção de um novo ter-minal de passageiros, incluindo a ampliação da pista de 2.200para 2.600 metros de comprimento e de 18 para 24 metros

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13 - O discurso do coronel Rube Canabarroestá reproduzido nolivro de Itamar de Souza(ob. cit. - pp. 48-52)

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de largura. As antigas instalações foram deixadas para omovimento de cargas. Com um desenho arquitetônicomoderno, a nova estação de embarque e desembarque temtrês pisos, parque de estacionamento, climatização, áreasdiferenciadas para vôos domésticos e internacionais e quatropassarelas móveis (fingers) de embarque e desembarque nosaviões. A capacidade de atendimento é para 1,2 milhão depassageiros/ano. Os custos foram de R$ 30 milhões - 60%do total do governo estadual e o restante do governo federalatravés do Prodetur e do Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID). O novo aeroporto Augusto Severofoi inaugurado em 06 de dezembro de 2000, com a presençado presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

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1 - O transitório como herança urbana

2 - Os pioneiros

3 - Como uma torrente impetuosa

4 - O inferno nos mocambos

5 - A vida organizada

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Visões da Cidade

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11 -- OO ttrraannssiittóórriioo ccoommoo hheerraannççaa uurrbbaannaa

A ocupação dos territórios de além-mar colonizadospelos portugueses assumiu, desde o início, ritmo e caracte-rísticas próprias. O processo de fixação do homem na terrae o surgimento das cidades nas colônias lusitanas ocorre-ram de forma diferenciada, seja em relação aos exemplosdeixados pelos povos da Antiguidade, seja quanto aosmodelos da colonização espanhola, contemporânea dePortugal na conquista de terras do Novo Mundo.

Para os antigos impérios do Oriente e para a Romados Césares, a fundação de cidades em novos territóriosera a consumação natural do ato da conquista, o símboloinegável do poder imperial da metrópole na colônia, a con-firmação da superioridade do conquistador diante dosnativos subjugados. O mesmo se verificou entre os caste-lhanos que, na colonização da parte que lhes coube daAmérica do Sul, caracterizaram-se pelo zelo e o planeja-mento no estabelecimento de povoações estáveis e ordena-das, pela tentativa de reproduzir nas colônias o modelourbano da Espanha européia e pela rápida ocupação dointerior. A Coroa espanhola chegou a editar um conjuntode regras - as Ordenanzas de descubrimiento nuevo ypoblación, de 1563 - que deveria ser seguido na constru-

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ção das cidades. As Ordenanzas determinavam que osgovernadores e povoadores das novas terras deveriam,primeiro, concluir o trabalho de povoação e construção dosedifícios, para depois tentarem converter os nativos aocristianismo e submetê-los ao poder civil.

Entre os portugueses, a visão era outra. Ao estudar oprocesso de povoamento e a motivação para o surgimentodas cidades na América portuguesa dos séculos XVI e XVII,Sérgio Buarque de Holanda ressalta o desinteresse doslusitanos quanto às regras preconcebidas para a ocupaçãodas novas colônias. Portugal priorizava a vida rural e a fixa-ção dos povoadores nas áreas litorâneas, em detrimento dafundação de cidades e a ocupação do interior. “Comparadoao dos castelhanos em suas conquistas, o esforço dos por-tugueses (na colonização do Brasil) distingue-se principal-mente pela predominância do seu caráter de exploraçãocomercial (...) Dir-se-ia que, aqui, a colônia é simples lugarde passagem, para o governo como para os súditos”.1 Omodelo pouco consistente de urbanização continuou a sera marca predominante nas cidades brasileiras, impressio-nando os visitantes estrangeiros dos séculos seguintes. Onaturalista inglês Henry Koster, percorrendo o Nordestebrasileiro em 1810, assombrava-se com as grandes exten-sões e recursos das propriedades rurais nas mãos dos pou-cos “coronéis” em detrimento dos aspectos acanhados epobres das cidades e vilas.

Essa impressão de transitoriedade marcará, ao longodos séculos seguintes, as feições das cidades brasileiras e acultural urbana do Brasil atual.

Na capitania do Rio Grande, o povoamento começoucom a fundação da cidade do Natal, motivada pela necessi-dade estratégica de assegurar a posse territorial e fixar opoder militar português para coibir a presença de piratas

1 - Raízes do Brasil,Companhia das Letras -

26ª edição - SãoPaulo/1995.

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franceses no litoral. Um objetivo que, se parece contrariaro espírito comercial e transitório dos colonizadores lusita-nos, é esclarecido quando lembramos que à época da che-gada da expedição de Manoel de Mascarenhas Homem(1597), Portugal estava subordinado à Coroa Espanhola.

A partir do estabelecimento do Forte dos Reis Magose da fundação de Natal (1599), a ocupação das terras poti-guares seguiu o mesmo modelo “descuidado”, conformeaponta Sergio Buarque de Holanda. Povoados e vilas nointerior foram surgindo de forma lenta, espaçada e desor-denada, às margens das trilhas abertas pelo pastoreio dosrebanhos bovinos ou como entrepostos para o abasteci-mento e escoamento da produção dos engenhos de cana deaçúcar. Seria necessário o transcurso de 330 anos para quea conjunção de fatores comerciais e estratégicos reprodu-zisse as necessidades que levaram ao surgimento de umanova cidade no Rio Grande do Norte, não relacionada coma cultura açucareira, do algodão ou à pecuária. E desta vez,por ironia da História, os franceses seriam os mocinhos enão os vilões do episódio.

22-- OOss ppiioonneeiirrooss

As origens urbanas de PPaarrnnaammiirriimm estão associadasaos planos comerciais da Compagnie Generale Aéropos-tale, companhia francesa de aviação comercial. Foi a partirda instalação do campo de pouso em 1927,2 que se iniciouo povoamento da área onde hoje está o núcleo central dacidade. O impulso decisivo para a expansão demográfica sóse faria sentir durante a II Guerra Mundial com a trans-formação do antigo campo em uma Base Aérea de grandeimportância estratégica para a vitória dos Aliados contra oNazismo no Norte da África e no Sul da Europa.3

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2 - Veja no Capítulo II,"Lançando pontes sobreas distâncias" e "Aconstrução do campo".

3 - Veja no Capítulo III,"Parnamirim Field".

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Antigo portão deacesso ao campo dosfranceses, na lateral

do portão principal daBase Oeste. É hoje a

apresentação do“Recanto Jean

Mermoz”, idealizadopelo sargento

Adeodato Reis, nadécada de 80, para

preservar as primeirasedificações e a

memória da origemde Parnamirim. Foto

Ana Amaral.

Uma das trêsprimeiras construções

erguidas emParnamirim, dentro

do campo dos france-ses. A casa que servia

de alojamento aospilotos e que, depois

que o campo viroubase militar, foi uma

estação de rádio,ainda está em pé.Foto Ana Amaral.

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Durante um período de 15 anos (1927 a 1942), asmoradias na área que deu origem a cidade foram escassas,apesar da intensa movimentação no local de estrangeiros enativos, pessoas humildes e autoridades, todos envolvidosde uma forma ou outra com as necessidades das operaçõesde uma companhia aérea internacional.

As primeiras edificações em PPaarrnnaammiirriimm foram ergui-das pelos franceses dentro dos limites do campo de aviação.Era um conjunto de três prédios, um deles facilmente identi-ficado na foto reproduzida pelo historiador Paulo Pinheiro deViveiros4, que servia como estação de rádio e alojamento parapilotos, tendo abrigado por diversas vezes o ás da aviação JeanMermoz.5 Mas, as famílias dos mecânicos e chefes da Aéro-postale não chegavam a passar muito tempo no campo, dei-xando registros escassos para a História e apenas algumaspoucas lembranças na memória popular.A política da compa-nhia era manter os funcionários em constante mobilidade, deum campo da Aéropostale para outro, atendendo as necessi-dades da expansão e administração da “Linha”.

Em 1927, o gerente local da CGA é um monsieurPiron e, já no ano seguinte, o cargo é do veterano pilotoJulien Pranville, pioneiro ao lado de Paul Vachet na aber-tura da rota Casablanca-Rabat-Orán (norte da África).Pranville foi o Diretor de Exploração da Aéropostale naAmérica Latina e prestou valioso apoio ao projeto doentão presidente do Rio Grande do Norte, JuvenalLamartine, na fundação de clubes de aviação e na instala-ção de pistas de pouso pelo interior do Estado. O destinode Pranville é uma das páginas do heroísmo entre os pio-neiros da aviação comercial na América do Sul.

Em 10 de maio de 1930, Pranville, o piloto EliyséeNegrin e o rádio-operador Pruneta saíram de Buenos Aires(Argentina) em um avião Laté 28 com destino a Natal.

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4 - Ob. cit. - pág. 122

5 - Este prédio ainda estáem pé, apesar de malconservado, e faz parte deum conjunto de quatroedifícios, próximo aoantigo portão de acessodos funcionários da AirFrance, na Base Oeste,identificado como"Recinto Jean Mermoz",um projeto idealizado eexecutado pelo sargento eradialista Adeodato Reis,que serviu na Base Aéreadurante a década de 80.

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Como passageiros, vinham os brasileiros Antonio deSiqueira Campos - um dos líderes do movimento tenentis-ta que marcou a política brasileira a partir da década de 20 6

- e Nelson da Costa. Sobre a foz do rio da Prata, à noite, oavião é envolvido por uma densa camada de nuvens e semvisibilidade os pilotos acabam fazendo um pouso de emer-gência sobre a água. Os passageiros recebem os dois únicos“flutuadores” que existiam a bordo e são orientados para seafastarem. O avião poderia prender todos eles no redemoi-nho que formaria ao afundar. Pruneta é o primeiro a desa-parecer nas águas. Négrin desaparece minutos depois.Siqueira Campos, apesar da ajuda do flutuador, não conse-gue manter-se à tona. Pranville, apesar de bom nadador,também se afoga. Só Nelson da Costa é resgatado com vida,no dia seguinte, próximo à praia uruguaia de Ponta Brava.

Outro herói e pioneiro da aviação, Jean Mermoz,amigo de Pranville, fez de PPaarrnnaammiirriimm o ponto de partidanas várias tentativas de cruzar o Atlântico do Oeste para oLeste. O vôo foi completado em junho de 1933. Quandoestava do lado de cá do Atlântico, Mermoz dividia o tempoentre os reparos mecânicos nos aviões e os planos para atravessia, na casa do campo de aviação, e a sede da AirFrance em Natal (a Vila Barros, esquina da rua Trairi coma rua Campos Sales, 563, Petrópolis7) de onde saía para far-ras com os amigos nos bares da Ribeira. Mermoz desapare-ceu sobre o Atlântico, em 7 de dezembro de 1936, quandofazia a 23ª travessia entre Dakar e Natal.

Os primeiros residentes permanentes de PPaarrnnaammiirriimm,,os verdadeiros pioneiros da cidade, foram os operários, ven-dedores e prestadores de serviços atraídos para área docampo de aviação. Migrantes do interior do Rio Grande doNorte e de outros Estados, que chegaram tangidos pela secaem busca de trabalho, salários e um pedaço de chão para

7- Essa casa foi demolidana década de 90, dandolugar a um edifício de

apartamentos.

6 - Veja a nota 1 no Capítulo III

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erguer uma casa que pudessem considerar como própria.Chegavam de olhos fitos nos céus, mas nada sabiam da sagados aviadores como Mermoz, Pranville e Vachet.Acompanhavam os pousos e decolagens dos pequenos aviõesLatés franceses - e depois das grandes esquadrilhas de B-25norte-americanos - porque eles representavam a promessade trabalho e de continuidade da sobrevivência.

Uma das primeiras famílias a se fixar em PPaarrnnaa--mmiirriimm foi a de Joaquim Bernardo de Oliveira. Contratadoem 1932, durante um dos períodos de seca em todo oNordeste, para prestar serviços aos franceses do campo deaviação, Joaquim Bernardo deixou Goianinha, onde osefeitos da estiagem já se faziam sentir, e veio trabalhar emPPaarrnnaammiirriimm. Manteve a mulher e os filhos ainda por doisanos na cidade de origem. O dia a dia no campo dos fran-ceses, sem qualquer estrutura de vila ou povoado nosarredores, era difícil. “Joaquim Boa Vista” - como ele eraconhecido pelos moradores mais antigos - recrutava ope-rários em Natal para os trabalhos de melhoramentos econstrução no campo. A esposa dele, dona EugêniaPalhares (1904-1990), e os filhos chegaram em 1934.Dona Eugênia Palhares lembrou como eram os primeirosanos em PPaarrnnaammiirriimm:

“Moravam aqui poucas pessoas: Euclides (EEuucclliiddeessRRiibbeeiirroo ddoo NNaasscciimmeennttoo ffooii oo mmoottoorriissttaa ee ccaappaattaazz ddaa AAiirrFFrraannccee dduurraannttee aannooss ee uumm ddooss pprriimmeeiirrooss eevvaannggéélliiccooss ddoommuunniiccííppiioo), Francisco Verde, João Fernandes e o radiotelegra-fista Diocleciano Reis, que trabalhava para os franceses. Meumarido era chefe de turma. Contratava serviços com os fran-ceses, indo buscar trabalhadores em Natal para realizar osserviços. Depois, ele viu que podia fazer esses serviços compessoas que já moravam em Parnamirim, Passagem deAreia, Água Vermelha, Taborda e outros povoados daqui de

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perto. O caminhão dos franceses ia todos os dias a Natal com-prar mantimentos. Aqui não havia nada para se comprar”.8

Em meio às dificuldades, a família se estabeleceu emuma área onde seria construída, em 1945, a Vila dosSargentos e Sub-Oficiais (hoje, Vila dos Soldados, Cabos eTaifeiros). Miriam de Oliveira, filha de dona EugêniaPalhares e Joaquim Bernardo, nascida em 4 de abril de 1935,está entre as primeiras crianças que tiveram identificado emcertidão, como local de nascimento, “Parnamirim da capi-tal”.Ao redor dos primeiros “parnamirinenses”, tudo aindaera mata e tabuleiros, como lembra Miriam de Oliveira9. Ascomunidades mais próximas continuavam sendo Taborda(município de São José do Mipibu), Passagem de Areia (quena época pertencia ao município de Macaíba) e o “Rio dosNegros” (hoje o bairro de Moita Verde), ajuntamento deex-escravos que haviam saído de uma outra comunidade(Capoeiras), em Macaíba. Quatro anos depois, o núcleo decasas próximo ao campo de aviação dos franceses já era sufi-ciente para atrair homens empreendedores, gente que trariaos recursos que faltavam para o impulso necessário à orga-nização inicial da nova comunidade.

Em fevereiro de 1939 chegou a PPaarrnnaammiirriimm umrapaz de 24 anos de idade, Otávio Gomes de Castro (1915-1967), natural de Touros. Ele também tinha os olhos vol-tados para os céus. Vinha com dois objetivos: estabelecerum comércio vendendo gêneros de primeira necessidade àpopulação que se fixava ao redor do campo dos franceses edivulgar, entre esse povo, a mensagem evangélica.

Otávio Gomes de Castro morava desde o início dadécada de 30 em Natal, onde tinha uma pequena merceariano bairro das Rocas. Em 13 de junho de 1936, casou-se comJacy Ferreira de Castro. Três anos depois, através do mestrede obras Gabriel Palma, que também era evangélico, ouviu

8 - O depoimento dedona Eugênia Palhares

está reproduzido nolivro de Itamar de Souza

(ob. cit. - pp- 18-19)

9 - Miriam de Oliveirafoi entrevistada pelo

jornal ParnamirimNotícias, edição de 05 a 20 de julho de 2001.

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falar de PPaarrnnaammiirriimm e das oportunidades de negócios que opovoado oferecia a um jovem empreendedor. Em 29 defevereiro de 1939, Otavio Gomes deixou a família emNatal e abriu o primeiro barracão para a venda de merca-dorias, próximo ao portão da Air France, do outro lado dalinha férrea. Era local de comércio e também de moradia.

Junto com as vendas, Otávio Gomes de Castro passoutambém a pregar o Evangelho de acordo com os ensina-mentos da igreja Assembléia de Deus10. Conseguiu conver-ter Joaquim “Boa Vista” e dona Eugênia Palhares, o moto-rista Euclides Ribeiro, Beatriz Ribeiro, João Francisco daSilva e Elvira Anunciada da Silva. Otávio Gomes lançou assementes do comércio, para muitos a mais civilizadora dasatividades humanas, e de um culto religioso, o mais eficazdos estímulos para a socialização humana. Em 29 de outu-bro de 1939 - data do aniversário de Otávio Gomes deCastro - o grupo reuniu-se e promoveu a construção de umsalão de orações, anexo ao barracão do comerciante, paraonde logo afluíram novos conversos, arrebanhados entre osoperários que procuravam trabalho em PPaarrnnaammiirriimm.

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10 - Em 1989, nas come-morações do Jubileu deOuro da fundação daAssembléia de Deus emParnamirim, a igreja edi-tou um livro homena-geado Otávio Gomes deCastro e outros pioneirosnos trabalhos de evange-lização local.

Otávio Gomes deCastro, pioneiro docomércio e da evange-lização em Parna-mirim, na direção dotrator em que costu-mava andar pelas ruasda cidade, nosprimeiros anos daformação urbana.Reprodução do livroem homenagem aoJubileu de Ouro dafundação da IgrejaAssembléia de Deusem Parnamirim.

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No campo de aviação, com a deflagração da guerra naEuropa e a invasão da França pela Alemanha, a Air Francedeixou de operar. Mas, a oferta de trabalho e o movimen-to de passageiros e aviões foram mantidos pelos italianosda Ala Littoria, que tinham construído escritórios, hanga-res e hotel de trânsito. A companhia italiana permaneceuoperando por mais dois anos. Em 1942, quando os italia-nos também saíram, mais uma vez foi dos céus que chega-ram os sinais de que o futuro de PPaarrnnaammiirriimm estava deci-dido: a falta de chuvas no interior do Estado obrigoumilhares de agricultores a descerem os caminhos do sertãoem busca do litoral. Nesse mesmo ano chegavam as pri-meiras esquadrilhas e as equipes técnicas norte-ameri-canas para começar a construção de Parnamirim Field.

33-- CCoommoo uummaa ttoorrrreennttee iimmppeettuuoossaa

Na seca de 1942, as frentes de trabalho oferecidaspela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas nãoforam suficientes para evitar a migração de famílias intei-ras do sertão para o litoral potiguar. Cerca de dez milhomens trabalhavam nas minas da região do Seridó poti-guar, escavando as jazidas de schellita - minério estratégi-co para a fabricação de armas - e outros 2.300 foramenviados para os seringais da região amazônica, onde tra-variam a “batalha da borracha”. Mesmo assim, as ruas deNatal foram tomadas por centenas de migrantes que men-digavam por comida e trabalho. O relatório sobre os dezanos da Escola de Serviço Social (1945-1955), registrouque “no dia 10 de abril de 1942, Natal começou a expornas ruas a chaga aberta do desemprego rural em massa.Famílias inteiras percorriam os bairros residenciais e asruas do comércio pedindo o que comer”.11

11 - Citado pela profes-sora Maria do Livra-

mento Miranda Clemen-tino, em monografia

para o curso de CiênciasSociais da UFRN.

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A capital potiguar contava com cerca de 55 mil habi-tantes e não tinha como absorver a população flagelada.Naquele ano, a infra-estrutura existente ameaçava entrarem colapso, sob a pressão da presença de um contingentemilitar brasileiro e norte-americano que elevou a populaçãolocal para 85 mil habitantes. A defasagem entre o custo dosserviços, alimentos, transportes, medicamentos e aluguéis -com o incremento da procura - alargou-se. A carestia empo-brecia ainda mais a população nativa. Para os americanos,esse problema não existia: eles tinham dólares para gastar.

A válvula de escape foi a construção e o início dasoperações nas bases militares, abrindo nova oferta deempregos, mesmo para aqueles sem profissões qualifica-das. Diariamente, nos jornais da época, saiam vários anún-cios de “precisa-se” com ofertas de emprego para ferreiros,pedreiros, taifeiros, copeiros, serventes etc. Para quemconseguiu trabalho nas obras da Base Aérea Brasileira ouem Parnamirim Field, era mais fácil, cômodo e barato ten-tar se instalar nas proximidades do que empreender, dia-riamente, a viagem desde Natal, que dependia dos cami-

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A antiga estaçãoParnamirim, da linhade ferro, já demolida.Nas proximidadesdela os pioneiros domunicípio ergueramas primeiras casas eabriram as primeirasruas da cidade. Fotodos arquivos daTribuna do Norte.

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nhões de transporte militar. Para quem continuou desem-pregado, à espera de uma oportunidade qualquer, tambémera melhor estar sempre por perto do possível emprega-dor, além de mais fácil. Em PPaarrnnaammiirriimm era só chegar,marcar um pedaço de chão e erguer uma palhoça.

Luís da Câmara Cascudo, escrevendo sobre o surgi-mento do povoado à sombra das atividades militares,observou que ele parecia surgir do nada, com “a impetuo-sidade dos fenômenos naturais”.12 Queria ilustrar, assim,a rapidez e a forma caótica como, no espaço de dois anos(1942-1944), inúmeras famílias chegaram e se instalaramem PPaarrnnaammiirriimm. A fama do povoado - que concentrava asmelhores e sempre abundantes ofertas de trabalho emtodo o litoral, com exceção apenas de Natal - atraía osdesenraizados de todas as regiões, gente que vinha semnenhuma indicação e também quem chegava com cartasde recomendação para amigos, parentes e conhecidos. Ofluxo migratório era tão intenso que se formaram colô-nias, como a dos paraibanos, oriundo de várias cidades doestado vizinho. Um dos líderes, entre os migrantes daParaíba, era Pedro Fernandes da Silva, natural de Ara-runa, operário em Parnamirim Field, que intermediou avinda e acomodação no povoado de setenta familiares quefugiam da seca no sertão.

Quando toda essa gente começou a chegar, a partir dosegundo semestre de 1941 e com maior intensidade a par-tir de 1942, o povoado não tinha ruas demarcadas ou qual-quer infra-estrutura urbana. Taperas de folhas de compen-sado naval, restos de obras, tábuas e capim se espalharama partir da cerca da Base Brasileira em direção ao sul, entrea estação ferroviária e a propriedade de Antonio Pontes,bem diante da cabeceira da pista de pouso. Na direçãoNorte, seguindo o traçado que delimitou a atual avenida

12 - Em Nomes daTerra. Ob. cit.

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Dr. Luiz Antonio, gente de mais recursos e visão construiucasas de tijolos crus para vender e alugar. Entre esses pri-meiros empreiteiros locais estavam lideranças comunitá-rias já estabelecidas, como Otávio Gomes de Castro, erecém-chegados como João Firmino Siqueira (1901-1978),que veio com mulher e filhos de Monte Alegre e construiu13 casas de aluguel. Ou a dupla “Malaquias e Firmo”,lembrada por Olídio Oliveiros Teixeira de Carvalho: “Doisparaibanos, Malaquias e Firmo, fizeram muito dinheiroconstruindo sete casas de tijolos crus, de frente para alinha do trem, e vendendo à vista ou à prestação paraquem chegava em Parnamirim”.13

Um grupo formado por Olídio Oliveiros, Eliah Maiado Rego (1921-1980), Severino Martins de Carvalho (o bar-beiro Bio), Hercílio de Luna Pedroza (1922-1995), ArnoJacinto de Carvalho e Mirion Pereira - todos vindos daParaíba para trabalharem na Base Aérea - comprou, em1943, uma destas casas, logo transformada em uma “repú-blica” de solteiros. Olídio Oliveiros, eletricista e mecânico naBase - onde começou trabalhando como pintor em agosto de1942 - nasceu em Boa Vista do Rio Branco, em 1920, quan-do a cidade ainda pertencia ao Amazonas (hoje é a capital doAcre). Forte e ex-aluno de academiais de judô e luta romana,era a força bruta por trás do grupo. Na época que começou atrabalhar em PPaarrnnaammiirriimm, Olídio ainda morava em São Josédo Mipibu e vinha todos os dias nos caminhões de transpor-te dos americanos que percorriam as cidades próximas e asruas de Natal recolhendo e levando os operários.

Eliah Maia do Rego, franzino no físico, tinha 22 anosquando chegou a PPaarrnnaammiirriimm.. CCom o raciocínio rápidodesenvolvido no gosto pela leitura, era o intelectual.Paraibano de João Pessoa, ele trabalhou no setor de esta-tísticas da Base Aérea Brasileira, sendo transferido em

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13 - Entrevista ao autor,em outubro de 2002

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1974 para o Departamento de Aviação Civil (DAC).Idealista de grande energia, Eliah Maia foi um dos funda-dores do Potiguar Esporte Clube, em 1945, assumindo nosanos seguintes um lugar entre os líderes da comunidade.

Para os lados do Oeste, os terrenos que viriam a ser oCentro até a avenida Fabrício Pedroza (a atual avenidaBrigadeiro Everaldo Breves), também começavam a ser ocu-pados com sítios e casas, a maioria ainda de taipa. Os doisprimeiros corredores de casas eram junto à linha do trem ea “Rua Lateral” - futura Tenente França - esta última comcasas de taipa de um lado e outro e quase nenhum prédio detijolos. Essa é a área que pode ser considerada como o sítiourbano inicial da cidade. Nesse espaço, abrigava-se umapopulação humilde, a maioria trabalhadora. No meio dela,alguns aventureiros e mulheres que se prostituíam com ossoldados, todos acreditando que a guerra era para ganhardinheiro de um jeito ou de outro. Para esses, PPaarrnnaammiirriimm,povoado recente, era apenas “fogo de palha” que se apagariacom o fim do conflito e a saída dos americanos da base.

“Muitas das casas eram de mulheres de vida livre.Miguel Turco, que era viúvo com duas filhas moças, tinhavárias casas alugadas a essas mulheres. Era um escândalo,porque elas falavam muitos palavrões e beijavam os sol-dados no meio da rua”, lembrou dona Antônia Alves dosSantos, que chegou em PPaarrnnaammiirriimm em outubro de 1943.14

Ela é o marido, José Luiza dos Santos, comerciante de ani-mais, fugiam da seca em Nova Cruz. Enquanto o maridotrabalhava na Base como agente de portaria, ela ficava emcasa, uma tapera de taipa alugada “pelos olhos da cara” -como ela ressaltou - “com medo que um daqueles soldadosa confundisse com uma mulher de vida livre”. A área quedepois se transformaria na rua Comandante Petit - ondedona Antônia Alves nos deu seu depoimento - “era mato,

14 - Entrevista ao autor,em outubro de 2002

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um descampado com três casinhas”. A rua mesmo só foicomeçar a surgir em 1946, graças à persistência e ao traba-lho dos pioneiros de PPaarrnnaammiirriimm..

A oferta sempre renovada de trabalho, junto a BaseBrasileira e Parnamirim Field, mantinha o fluxo migrató-rio, fixava um contingente de operários com ou sem pro-fissão qualificada e, por outro lado, estimulava o surgi-mento de um comércio voltado para as necessidades dessapopulação que, mesmo pobre na sua maioria e morandoem barracos de palha, precisava comer, beber e vestir.Existia o barracão de Otávio Gomes de Castro em frenteao portão da Base vendendo gêneros alimentícios ecobrando extra pelo papel de embrulho; o Hotel Glória,gerenciado pela “Baiana”, perto da estação, onde a maioriados funcionários civis e soldados tomava o café da manhã;o “Bar do Pimenta”, mais afastado; e o “Bar do Severino”,onde se abria a rua 30 de Maio, e outros pioneiros. Entreeles, Potenciano Pereira de Souza (1898-1979).

Nascido em Currais Novos (19 de maio de 1898),Potenciano Pereira era um homem apaixonado pela vida epelas mulheres (casou três vezes e teve várias outras compa-nheiras), com um apurado senso de honra e força, que não odeixava “levar desaforos para casa”, e um respeito sagradopelo dever da hospitalidade, que o obrigava a ser prestativocom quem o procurava pedindo ajuda, traços de um carátercomum aos seridoenses tradicionais. Potenciano Pereira eracomerciante por escolha - vendendo tecidos, redes e materialde construção - e líder comunitário por vocação.

À falta de registros mais precisos, estima-se que eledeve ter se estabelecido em PPaarrnnaammiirriimm no ano de 1942 ou43, depois de andar pela Paraíba e Pernambuco. EmGuarabira (PB), Potenciano Pereira teve problemas com aJustiça e passou a se chamar “Celestino Potiguar”. Trocou

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Reprodução da cer-tidão de nascimento

de Miriam deOliveira, uma das

primeiras crianças anascer em

Parnamirim. Do doc-umento consta a anti-

ga denominação acidade: Parnamirim

de Natal.

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de nome e de lugar, viajando para Chã de Alegria (PE).Quando voltou para o Rio Grande do Norte, manteve osegundo nome, escolheu o povoado que florescia junto àBase Aérea e traçou um plano do qual não se afastaria atévê-lo concretizado: iria realizar a primeira feira livre dePPaarrnnaammiirriimm. Para isso, marcou data (30 de maio de 1944,um domingo15) e local (o cruzamento entre a rua que saiado portão da Base Brasileira - rua Tenente França/OtavioGomes de Castro - e outra que, em diagonal, fazia esqui-na e se prolongava para o sul até a linha férrea - a 30 deMaio/hoje Senador João Câma-ra). Potenciano Pereiraconvenceu amigos e conhecidos comerciantes de Macaíba,São José do Mipibu, São Gonçalo do Amarante e Natal. Afeira contava ainda com o incentivo do capitão-aviadorHeitor Larraury Melleu, intendente da Base Brasileira.Uma comissão de moradores ajudou na organização dafeira, entre eles Olídio Oliveiros Teixeira de Carvalho,Manoel Costa e Nestor Lima. Alguns foram a Natal, comPotenciano Pereira, pedir a autorização do prefeito JoséVarela para realizarem a feira. No dia marcado, a aberturasolene teve discursos e a banda de música da Base.

Em 3 de novembro de 1943, o povoado tinha sidoalçado a categoria de Vila. Era conhecida agora como“Vilade Parnamirim de Natal”.16 Já tinha sua própria feira e avida começava, enfim, a se organizar e tudo parecia ser, emcerta medida, uma recompensa pela antevisão do infernoque, alguns meses antes, a população tinha presenciado.

44-- OO iinnffeerrnnoo nnooss mmooccaammbbooss

Os mocambos de PPaarrnnaammiirriimm se espalhavam alémdos limites norte da cidade, ao longo da linha férrea, nostabuleiros que ficavam depois das casas da Vila dos

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16 - A denominaçãoconsta do registro denascimento de Miriamde Oliveira

15 - Há uma controvér-sia sobre o ano em queteria se realizado a pri-meira feira livre deParnamirim: 1943,segundo pesquisa deMarciano Medeiros,autor de pequenas biografias sobre perso-nagens da cidade; 1944,de acordo com NivaldoXavier Gomes que pes-quisa sobre a história dacidade e tem, a publicar,um livro sobre o assunto(Nos Tempos das Bocasde Ferro) e de acordocom depoimentos pres-tados ao autor porOlídio Oliveiros Teixeirade Carvalho e AntoniaAlves dos Santos, pio-neiros na cidade.

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Ferroviários e à altura da cabeceira da pista da Base. Olimite para eles era a lagoa onde Antonio Barroso Pontes,casado com a filha de criação de dona Amélia Duarte (aViúva Machado), morava e tinha construído casas de alu-guel. Esse Antonio Pontes, depois jornalista, advogado ehistoriador na Paraíba, era proprietário de um caminhão.Os negócios dele eram os aluguéis e a extração de lenhadas matas do Pitimbu, vendida em PPaarrnnaammiirriimm.. Foi umdos líderes da comunidade que nascia.

Nos mocambos, erguidos com palha e capim, moravaa população mais pobre da cidade, aqueles que forneciam amão-de-obra ou o prazer eventual, barato e sem vínculooficial com o mercado de trabalho criado pelas necessida-des civis das atividades militares. Essa gente, sem ganhofinanceiro fixo, entregue à própria sorte, incomodava pelaproximidade e pelas origens. Eram migrantes do interior etraziam no sangue o risco da malária e outras doençasendêmicas. A falta de assistência aos mocambos só não eratotal porque entre os civis pobres havia também soldadose sargentos da Base Aérea que por falta de opção, comodi-dade ou outra razão qualquer, transitavam e moravam nolocal. Provas destas circunstâncias são alguns documentosoficiais da Base Brasileira.

O primeiro desses documentos, com referência explí-cita aos mocambos, é um oficio do comandante, major-avi-ador Carlos Alberto de Filgueira Souto, datado de 12 dejunho de 1943 e encaminhado ao comandante da 2ª ZonaAérea sediada em Recife (PE), brigadeiro Eduardo Gomes.No ofício, o major Filgueira de Souto justifica-se perante“a aleivosia de pessoa mal intencionada” que teriacomentando em Recife o desinteresse dele em tomar“medidas de remoção urgente da favela”. O inteiro teordo ofício é o seguinte:

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“a) Paralelamente com a organização da Unidade eampliação das instalações americanas, vem se estratifi-cando à margem do aeroporto, uma população adjacenteque se abriga em prédios impropriamente construídos,alguns de taipa e a sua quase totalidade sem consultaraos mais elementares princípios de higiene;b) Os seus ocupantes são indivíduos desfavorecidos pelasorte, tangidos de zonas flageladas pela seca e na suamaioria com os seus antecedentes marcados pela malária;c) Não desconhecendo o risco representado pela contigüi-dade de portadores de malária, face aos efetivos brasileirose americanos, manifestei numa reunião em que se acha-vam presentes o então prefeito da cidade, Dr. Mario Lyra,Dr. Jeferson Carlos de Souza (Chefe da Circunscrição daMalária no Nordeste), Dr. Antonio Siqueira e o capitãomédico Benedito Péricles Fleury (médico da Base), a minhairrestrita aprovação às providências tendentes a remover aameaça oriunda da vizinhança dessa favela;d) Pelo exposto, só posso atribuir à aleivosia de pessoamal intencionada a informação de que as medidas deremoção urgente da favela não tenham contado com aminha concordância, pois no Comando da Unidade daAeronáutica devo zelar pela saúde dos meus soldados,mobilizando preferentemente as iniciativas de higiene eafastando os riscos que possam afetar a integridade físicado meu efetivo;e) Do meu Comando só partirão medidas proveitosaspara as condições de salubridade do aeroporto e prestigia-das pelas autoridades sanitárias, tendo já combinado como Dr. Antonio Siqueira, credenciado pelo Dr. Jeferson deSouza, a iniciar as providências concretas para a favela deParnamirim”.17

Que “providências concretas” foram essas?

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17 - Hypólito Costa (ob, cit. - pp. 111)

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O major Filgueira Souto não deixou ofícios nemordens escritas, especificando-as. Mas, em outubrodaquele ano, o médico da Base, Dr. Péricles Fleury,diagnosticou um caso suspeito de tifo em uma mulherindigente que morava nos mocambos. No dia 18 daque-le mês, o Comando da Base expediu ordens determi-nando “a suspensão do trânsito e permanência de pra-ças na cidade de Parnamirim a partir das 20h da pre-sente data”. O prazo também era para que os interes-sados providenciassem a mudança dos seus pertencespara alojamentos no interior da Base. Para os sargen-tos, “que moravam nos mocambos”, o prazo para amudança terminava às 20h do dia seguinte. O risco deuma epidemia de malária era real e vinha sendo com-batido há 12 anos.

Em 1º de outubro de 1931, as autoridades sanitáriasbrasileiras haviam confirmado que os casos registradosda doença, transmitida pelo mosquito anophelis-gambi-ae, configuravam uma epidemia. E mais: a presença domosquito no Nordeste brasileiro estava associada aNatal e ao seu papel no desenvolvimento da aviaçãocomercial internacional. O transmissor da malária haviadesembarcado dos “Avisos Postais”, os navios que fazi-am a rota Natal/Dakar, levando de um lado a outro doAtlântico as cartas que seriam retomadas pelos aviõesnas rotas para a Europa e a Argentina. A doença foi erra-dicada do Brasil em 1940. O medo dos militares era deque nos aviões procedentes da África chegasse de formaclandestina o anophelis-gambiae. Se o mosquito reen-contrasse descendentes de doentes ou mesmo remanes-centes curados da epidemia de 1931, estaria refeita acadeia de transmissão que faria a doença ressurgir noNordeste brasileiro.

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Em janeiro de 1943 - prováveis oito meses antes dasprovidências encontradas para os mocambos de PPaarrnnaa--mmiirriimm - o próprio presidente da República, GetúlioVargas, assinou um decreto-lei determinando severasmedidas para a fiscalização sanitária dos aviões que pro-cediam da África. Restava, então, erradicar os possíveisreceptores da malária. Nas primeiras reuniões com auto-ridades civis e sanitárias, como dá a entender o ofício de12 de junho do major Filgueira Souto, a primeira opçãoparece ter sido a de orientar a população a desocupar osmocambos. Sem ter para onde ir, o povo não obedeceu ea situação ficou tensa até outubro, com o registro do casosuspeito de tifo.

As lembranças de dona Antonia Alves dos Santosatestam o quanto as condições de vida e de higiene na cida-de eram precárias e poderiam favorecer uma epidemia:“Tinha muita casa de taipa, muitos barracos e muitasujeira. Ninguém recolhia o lixo, não se pensava nasaúde. Sem banheiros, as pessoas faziam tudo no mato.Os banhos eram comprados na casa de banhos de donaAlice, uma senhora que tinha um cacimbão”.

Terezinha de Jesus França Montenegro, em carta aopesquisador Nivaldo Xavier Gomes, faz um relato idênti-co, ressaltando que “a cidade era um antro de lixo espa-lhado por toda parte, restos de mantimentos e coisas usa-das pelos americanos que eram jogadas fora e que as pes-soas aproveitavam. As caixas de papelão serviam paratapar as paredes dos barracos”. Dos comentários que elaouviu dos pais, anos depois, recorda-se que “a ordem dobrigadeiro foi para queimar todos os barracos que nãofossem de barro”.18

As ordens para destruir os mocambos não forampassadas por escrito, mas quem as recebeu foi o Tenente

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18 - A carta deTerezinha de Jesus estáreproduzida no livro deNivaldo Xavier, já citado.

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Luiz Gonzaga de Andrade. A ele coube comandar as expe-dições punitivas contra os pobres que insistiram em ficarnos barracos de palha em uma área considerada então“zona de guerra”. Homem vaidoso do papel que tinha acumprir, seguidor dos códigos e da hierarquia, o tenenteGonzaga era, na época, o “delegado militar” da vila.Acostumado a prestar obediência aos superiores, o tenen-te Gonzaga exigia o mesmo daqueles que consideravacomo subordinados ou seus liderados. De formação mili-tar rígida, para ele a organização seguia, preferencialmen-te, a via da autoridade. As ordens do Comando da BaseAérea foram para dar uma “solução final” ao problemaconstituído pelos mocambos. Ninguém se lembra mais adata certa da investida dos homens do Corpo da Guardada Base, comandados pelo tenente Gonzaga, sobre osmocambos e seus moradores.

Tereza de Luna Pedrosa (dona Terezinha), que che-gou de Bananeiras (PB) em 1943 com 13 anos de idade ecasou-se com Hercílio Luna Pedrosa, lembra que foinaquele mesmo ano que os mocambos foram queimados:“A casa da irmã da minha cunhada foi queimada e agente gritando e chorando... Os soldados ficavam gri-tando saiam, saiam de dentro da casa e a gente gritavadeixe pra amanhã, deixe pra amanhã... Eles disseramque era por causa da guerra. Quando tocaram fogo,parecia que ia acabar o mundo porque era tudo feito decapim, capim seco”.

A violência e os sofrimentos infringidos à popula-ção mostraram às lideranças comunitárias locais queseria melhor uma solução pacífica, com a ajuda do poderpúblico sediado em Natal, para investir na urbanizaçãoe nas melhorias das condições de vida da população davila em geral.

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55 -- AA vviiddaa oorrggaanniizzaaddaa

Espírito inquieto e voluntarioso, Potenciano Pereirase destacou como uma das lideranças mais ativas emPPaarrnnaammiirriimm. Não era homem de um único projeto. Semser devoto de qualquer religião, respeitava a fé alheia e,por intuição, sabia a força que a Igreja exercia sobre ossentimentos do povo, prendendo-o aos valores locais e aterra. Depois de realizado o projeto de feira-livre, plane-jou outro incentivo para dar ao povoado a consciência decoletividade: a primeira missa em PPaarrnnaammiirriimm. Para isso,convocou a ajuda das lideranças que haviam organizadoa feira livre. A comunidade reuniu-se em mutirão eergueu o barracão, um templo improvisado, em um des-campado na rua Comandante Petit (o local é ocupadohoje pelo hospital-maternidade Dr. Sadi Mendes e pelocampo do Potiguar). Olídio Oliveiros lembra que preci-sou puxar fios da casa de força da Base “para fazer a ilu-minação do local, improvisando gambiarras”, mas dei-xando tudo pronto para a festa.

Segundo ele, foi “o Padre Chacon”, vigário e mMacaíba, quem celebrou a “Missa do Galo” no Natal de1944. Monsenhor João da Mata Paiva oficializou a segun-da missa, no mesmo local, e a terceira, na casa de SeverinoNunes, na rua 30 de Maio. Dona Antonia Alves dos Santosrecorda-se do monsenhor Raimundo Gurgel celebrando amissa. Outros moradores lembram-se de um padre ameri-cano e da capela de Nossa Senhora do Loreto, padroeirados aviadores, construída em Parnamirim Field. Qualquerque tenha sido o primeiro a celebrar as primeiras missasna cidade, fez com que a Igreja descobrisse, com a presen-ça verificada naquelas celebrações, que podia contar comcerca de 2.500 almas em PPaarrnnaammiirriimm.

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O progresso chegava de forma democrática com acomunidade participando das decisões e das iniciativas doslíderes. De licença, os soldados brasileiros e americanoscostumavam ir ao povoado atrás de mulheres e de bebida,mas se concentravam em maior numero em Passagem deAreia e na cidade de Macaíba. Não eram raras as brigas edesordens, mas também havia a lei e a ordem. Em junhode 1943, através de nota publicada na edição diária do jor-nal A República, é possível constatar que PPaarrnnaammiirriimm jácontava com uma delegacia de polícia. A nota anunciava aformação de um “Corpo de Guardas” para fazer a vigilân-cia externa no povoado e área circunvizinha à Base Aérea.O titular da 5ª Delegacia de Polícia de Natal, “com sede emPPaarrnnaammiirriimm”, estava autorizado a selecionar os candida-tos. A “Guarda” ficaria subordinada ao comandante daBase e, em setembro, o Chefe de Polícia transferiu para oComando da Base Brasileira a importância de 46 mil e 796cruzeiros para os primeiros pagamentos.19 Em 03 de julhode 1945, os comandantes da Base Brasileira e de Parna-mirim Field proibiram o trânsito de militares americanospara a Vila de Parnamirim, através do portão da base bra-sileira - exceção feita apenas para os Military Polices - e oacesso de praças brasileiros às dependências do camponorte-americano. Em 25 de março do ano seguinte, a loca-lidade de Passagem de Areia foi declarada “área interdita-da” para todos os militares brasileiros, “sob penas de rigo-rosa punição, em decorrência de atos de indisciplina ocor-ridos naquela localidade”.

Olídio Oliveiros lembra dos primeiros delegados dacidade: “Nego Abel (tenente Abel Martins de Souza), oTenente Marinho, Cacuruta e o sargento Salatiel Rufinodos Santos (este último permaneceu no cargo por 31anos)”. A primeira delegacia, segundo Olídio Oliveiros,

19 - Hypólito Costa(ob.cit. - pp. 99)

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era na rua Fabrício Pedroza, no prédio de nº 88, vizinho àescola do professor Homero de Oliveira Dantas. Depois, adelegacia se transferiu para a rua Getúlio Vargas, no pré-dio de nº 6 (hoje dividido por duas lojas), de onde saiumais uma vez para a rua Tenente Ferreira Maldos.

Ainda em dezembro de 1944, o prefeito de Natal,José Augusto Varela, foi convidado por lideranças locaispara visitar a vila de PPaarrnnaammiirriimm. O que ele viu está des-crito em reportagem de Rivaldo Pinheiro, jornalista de ARepública.20

Escrevendo para um jornal que fazia oposição aogoverno do prefeito José Varela, Rivaldo Pinheiro ado-tou um tom crítico em relação à visita, da qual nãotomou parte. Ele foi à cidade alguns dias depois, tambémconvidado pelas lideranças locais. Sob o título “A OutraCidade de Parnamirim”, o texto é elogioso quanto aotrabalho desenvolvido em PPaarrnnaammiirriimm pelas liderançaslocais, mesmo evitando citar nomes, e faz referências àexistência, já naqueles dias, da iluminação pública, dafeira livre, de casas comerciais e de um prédio construí-do para ser escola primária, por iniciativa da população.21

O jornalista não poupa críticas ao fato de a prefeitura doNatal ainda não ter investido em construção de umainfra-estrutura urbana na cidade. Essa reportagem é aprimeira referência, na imprensa natalense, à vila civil eapareceu como o reconhecimento público de que elapoderia subsistir e ser independente das atividades mili-tares na base vizinha.

Em resposta às críticas da oposição e aos apelos daslideranças de PPaarrnnaammiirriimm, o prefeito José Varela nomeou,no ano seguinte, um administrador para a vila. Escolheuum líder nato, homem de sua confiança e da linha políticado PSD: Josafá Sisino Machado (1908-1995).

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21 - O relato feito porRivaldo Pinheiro, sobrecomo a energia elétricachegou a vila não foiconfirmado por nenhumdos pioneiros entrevista-dos para este livro. Até adécada de 60, quando aenergia de Paulo Afonsochegou ao Estado, amaior parte da energiapara a iluminação públi-ca de Parnamirim erafornecida pelas casas deforça da Base Aérea,segundo depoimentos deOlídio Oliveiros,Nivaldo Xavier, AntoniaSantos e outros morado-res antigos.

20 - Edição do dia 05 dedezembro de 1944.

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Cearense de Sobral, filho de um reverendo evangélico,Josafá Sisino tinha 37 anos de idade quando foi nomeadoadministrador de “Parnamirim da Capital”. Aos 17 anos,havia deixado a terra natal por Extremoz, no Rio Grande doNorte, andou pelo sertão pernambucano e, na Paraíba, foi sar-gento da Polícia Militar. Homem de ação e autoconfiante,Josafá Sisino era também um autodidata na arte de liderar,assimilando, a partir da experiência própria e da observação deoutros líderes, as noções de como administrar os interesses deuma comunidade. Ex-vereador em Natal, cara fechada e depoucos sorrisos, intimidava mais pela impressão que causavado que pela intenção de parecer agressivo. Ao ser nomeadopelo prefeito de Natal, José Varela, recebeu instruções expres-sas: deveria organizar a comunidade, dar-lhe feições de cidade,melhorar as condições de moradia e higiene pública e, dentrodos limites legais, fazer frente à ação do tenente Gonzaga.

Josafá Sisino tinha uma inteligência natural, sabia con-vencer o adversário e os amigos pela seriedade dos argumen-tos, sem precisar impor opiniões. Com o tenente Gonzaga,não teve problemas. Até porque o comando da Base Aérea

Solenidade de inau-guração da primeira

lavanderia pública domunicípio, obra dagestão do primeiro

administrador dacidade, Josafá Sisino.

Foto cedida pelafamília.

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tinha trocado de mãos e o superior do Tenente Gonzaga eraagora o major-aviador Salvador Roses Lizarraldi, aliado dePotenciano Pereira no projeto de realização e manutençãoda feira livre. Com os lideres locais, Josafá Sisino combinoua formação de uma delegação que solicitou ao prefeito JoséVarela um plano urbanístico. Para começar os estudosnecessários, foi nomeado o engenheiro Wilson Miranda. Olevantamento topográfico mostrou que o povo ao ocupar osterrenos adjacentes à Base instintivamente havia esboçadoas primeiras ruas, mas muitas casas estavam desalinhadas.A prefeitura de Natal iria indenizá-las e marcos de alinha-mento foram fixados nas áreas por onde deveriam passarnovas e futuras ruas. A Base Brasileira sugeriu o nome depioneiros da aviação para as ruas.

Além dos caminhos, a vila precisava de equipamen-tos urbanos. Na feira da rua 30 de Maio, aos domingos, ocomércio era livre e a falta de higiene continuava sendoum risco. Fazia-se necessário um mercado público comcerta estrutura para atender aos feirantes. O local escolhi-do foi próximo à capela de Nossa Senhora de Fátima (ondeera a praça Presidente Roosevelt, depois praça do CorreioAéreo Nacional e hoje praça João Paulo II22). O primeiromercado público não era mais do que um galpão erguidocom materiais de um hangar cedido pela Base. A feira livresaiu da rua 30 de Maio e, entre os fins de 1947 e início de48, passou a se realizar no pátio do mercado sob a admi-nistração do comerciante Manoel Vicente de Paiva. Com oapoio do major aviador José Vaz da Silva (comandante daBase Aérea entre abril de 1947 e maio de 1948), abriram-se os dois primeiros chafarizes públicos para o abasteci-mento d´água da vila, um deles próximo ao campo doPotiguar Esporte Clube - o primeiro time de futebol dacidade, fundado em 1942 pela iniciativa do Tenente

11922 - A primeira mudançano nome original dapraça foi promovida peloprefeito Antenor Neves,durante seu segundomandato (1977-1983),que mandou construir eafixar um busto do bri-gadeiro Eduardo Gomesno local. A mudança foijustificada por ser o bri-gadeiro fundador doCAN e a cidade ter sidorebatizada com o nomedele. A segunda mudan-ça, de Largo do CANpara Praça Papa JoãoPaulo II, ocorreu em1991 quando o prefeitoRaimundo Marciano pla-nejou ampliar o passeiopúblico, fechando a saídada rua Otávio Gomes deCastro para a BrigadeiroBreves e precisou nego-ciar com a Igreja a áreaem frente a Matriz.

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Gonzaga de Andrade e outras lideranças. O major Vaz daSilva também autorizou o fornecimento de energia elétri-ca, a partir das casas de força da Base, para a iluminação doMercado Público, de algumas ruas e casas de funcionárioscivis e militares. Foi construído o cemitério, acabando-seassim com a tradição de enterrar os mortos locais nostabuleiros de Cajupiranga, e uma lavanderia pública, noterreno onde hoje está o Colégio Augusto Severo, na ruaSargento Noberto Marques.

Depois de Josafá Sisino, outros administradoresforam nomeados, seguindo o critério das mudanças políti-cas e preferências pessoais dos prefeitos de Natal.Administraram a vila Frederico Pedro Figueiredo, ligadoao PSP e nomeado pelo prefeito Olavo João Galvão;Francisco Thomaz de Vasconcelos, conhecido como“Dedé”, filiado ao PSD e nomeado pelo prefeito SilvioPiza Pedroza; Basileu Fernandes, homem da UDN indica-do pelo prefeito Djalma Maranhão (do PTN), que ocupoua função entre 1955 e 1958, sendo o último dos adminis-tradores do já então Distrito de Parnamirim.

A cidade crescia em melhorias e a Aeronáutica resol-veu fixar os sargentos e sub-oficiais em uma vila militar.Em 5 de janeiro de 1945, o jornal A República publicou oprimeiro edital de tomada de preços para a construção de50 casas em PPaarrnnaammiirriimm. O edital foi assinado pelo 1ºtenente Vilibaldo Coelho Maia, da Arma de Engenhariado Exército, uma vez que a FAB ainda não tinha organi-zado um Quadro de Oficiais Engenheiros. Em 17 demarço, o Comando da Base assinou os contratos com qua-tro firmas de engenharia para a construção de 39 casaspara sargentos no limite norte da vila. Dona Antonia dosSantos lembra bem quando as obras começaram, empleno inverno de 45: “Um dos construtores era Joaquim

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Vitor de Holanda e o mestre de obras Manuel André”. Oprimeiro conjunto residencial da cidade - a expressãoarquitetônica de uma vida urbana organizada e planejada- seria, depois, ampliado para 101 casas.

Em 23 de dezembro de 1948, o deputado AntonioSoares Filho propôs que PPaarrnnaammiirriimm fosse elevada à con-dição de distrito de Natal e o prefeito Silvio Pedroza con-cordou (Lei nº 146/48). A cidade - que muitos pensavamtransitória e só existir em função da guerra - avançava apassos largos no caminho que a levaria a conquistar aautonomia administrativa como município. Foi criado oCartório Judiciário para dar forma legal às demandas eregistros da vida civil no novo distrito. Otávio Gomes deCastro habilitou-se ao cargo de tabelião, através de umcurso em Natal, e abriu o cartório vizinho a nova residên-cia, um prédio em alvenaria e estilo clássico na ruaTenente França, onde também já funcionava a farmácia dafamília. A posse do primeiro tabelião e a abertura do car-tório de PPaarrnnaammiirriimm foi oficializada em 09 de fevereiro de1949, ao som de banda militar, aplausos e discursos.

Mais algum tempo e as ruas do distrito começaram aouvir um novo som. Músicas reproduzidas de vitrolasautomáticas ou ao vivo, que os alto falantes da “Amplifi-cadora Santo Antônio, a Voz do Trampolim da Vitória”,espalhavam pelas poucas ruas da cidade.

A idéia da primeira amplificadora foi do potiguarOtávio Deoclécio de Castro (1906-1976). Nascido emPedro Velho, em 11 de abril de 1906, Deoclécio de Castroera funcionário civil da Base Aérea e um entusiasta dosprogramas de rádio e do lazer para a comunidade. NoPotiguar Esporte Clube patrocinou shows musicais. Aamplificadora funcionou até 1954 instalada em uma casada rua Senador João Câmara. Transmitia diariamente “A

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Hora da Saudade” com José Côro dedilhando antigossucessos ao violão; “A Hora do Ângelus” com Deocléciode Castro lendo crônicas e poesias dedicadas a NossaSenhora, e o “Boa Noite, Parnamirim”, a crônica deencerramento da programação, redigida e apresentadapelo Tenente Raimundo Barbosa de Souza.Eventualmente, foram promovidos programas de calou-ros. A cidade teria outras amplificadoras, alimentando osonho de uma rádio local.23 As famílias da sociedadelocal se divertiam no Potiguar Esporte Clube com a rea-lização de festas comunitárias, escolha da “Rainha daBeleza”, bingos e bailes. Para o sul da rua Dr. LuizAntonio, nascia o bairro pobre do Carrasco (hoje BoaEsperança) onde os solteiros adultos e adolescentes - etambém alguns chefes de famílias mais afoitos, comolembra José Walter Xavier (o “Leto”, que chegou nacidade em 1954) - escapavam para as farras nos peque-nos cabarés isolados de “Zefa Gorda”, “SeverinoCaceteiro”, “Maria da Mata” e “Corina”. A cidadenunca chegou a ter uma “zona de meretrício” claramen-

Construção do colégioAugusto Severo, em

1958, no terreno ondefuncionou a lavande-

ria pública, financiadapor uma campanha

popular.

23 - Por volta de 1955Hibernon Ribeiro Pinto

instalou "A Voz deParnamirim", na rua 30

de Maio, que se manteveem atividade por pouco

tempo. Em 1956,Antenor Neves de

Oliveira e Eliah Maia doRego fundaram a

Amplificadora SantosDumont, que se manteve

ativa até 1963. A suces-são, nos serviços de

comunicação local, coubea Nivaldo Xavier Gomes

e ao Serviço de AutoFalante Augusto Severo

- SAFAS, criado anosdepois. Toda a história da

comunicação em Par-namirim está descrita nolivro de Nivaldo Xavier,

ainda inédito, "Nos Tem-pos da Boca de Ferro".

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te demarcada. A mais famosa das suas prostitutas, Isabelde Azevedo Dantas - a “Isabel Rodinha”, atendia os fre-gueses em uma casinha alugada perto da Lagoa deAntonio Pontes, direção oposta à rua Sul da Base, hojeFelizardo Moura, onde ficavam as casas de forró, o “PauFurado de Gonçalo Magro e o pastoril da Arlete”. Omoralismo dos militares impunha a discrição como umaobrigação às “mulheres de vida fácil”. O Tenente LuizGonzaga expulsava da vila aquelas que cometiam oabuso de beijar os homens ou dizer palavrões em públi-co. Isabel de Azevedo foi surrada a mando de AntonioPontes e, no final da vida, conseguia se manter graças aum box no mercado público, onde vendia café e bolos emorreu na miséria.24

A educação formal dos jovens começou com a Escolade Base - a Escola Regimental, hoje “Colégio SantosDumont” - criada junto com a Base Aérea Brasileira, queteve como primeiro diretor o Tenente Dante Bonapace eos professores Alvamar Furtado, Túlio Bezerra, PetrônioRezende, Creso Bezerra e Gerson Pena Neto. O objetivoinicial da escola era atender aos praças, a maioria sem oensino básico completo. Em abril de 1947, foram admiti-dos para o ensino primário os filhos e dependentes dosmilitares e funcionários civis da Base. Os jovens, entreseis e 15 anos, teriam aulas durante o dia. Os militares efuncionários, à noite. Os professores admitidos foram:Homero de Oliveira Dantas e Horácio Ferreira da Rocha,Iaponira Pinheiro Neves, Lucila Gomes Teixeira,Basiamar Altina da Silva e Heloisa Leão da Fonseca. Asobras nas instalações, no entanto, atrapalharam o calen-dário letivo e as aulas só começaram em maio. No anoseguinte (1948) só os filhos dos militares ou funcionárioscivis puderam se matricular.

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24 - Maria de LourdesGonçalves, a "LourdesJipão", foi outra prostitu-ta que fez história emParnamirim. Nas eleiçõesmunicipais de novembrode 1988 ela foi a candida-ta a prefeita, pelo antigoPartido ComunistaBrasileiro (PCB). Achapa, que tinha AntonioPaulino da Silva - o"Zeca Calango" - comovice, foi articulada porJosé Walter Xavier, presi-dente municipal do PCB,como forma de protestoàs lideranças tradicionaisque dominavam a políticalocal. Parnamirim tinha19.529 eleitores. LourdesJipão teve 324 votos.O eleito foi RaimundoMarciano de FreitasPL/PDS/PFL/PTB) com 5206 votos.

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Para atender aos outros jovens, que não tinham paimilitar ou trabalhando na Base, o professor Homero deOliveira Dantas (1919-1993) idealizou a criação da pri-meira escola pública de Parnamirim: o grupo escolar“Presidente Roosevelt”. Educador tenaz e prático,Homero de Oliveira era seridoense de Acari (nasceu a 16de dezembro de 1919), criado em Natal e ex-combatenteque não chegou a ir com a Força Expedicionária Brasileira(FEB) para a guerra na Itália. Com o fim do conflito e abaixa do Exército, chegou a Parnamirim e morou um anode aluguel na casa do comerciante Severino Nunes. Com oincentivo e o apoio de Josafá Sisino Machado, abriu aEscola Presidente Roosevelt, no número 86 da ruaFeliciano Pedroza (hoje, o local é uma loja de venda de col-chões), instalações provisórias e acanhadas, mas que sóseriam desocupadas em abril de 1952, quando ficou pron-to o atual prédio do colégio, erguido pelo então governa-dor Silvio Piza Pedroza. As primeiras professoras que tra-balharam com o professor Homero foram Nizia PereiraLima Machado e Francisca Bezerra de Souza (a professoraFrancisca Canuto).

Em 20 de janeiro de 1958, o ensino gratuito foi refor-çado com a criação do Colégio Comercial Augusto Severo,para ensino de 1º grau, sob a inspiração do jornalistaEspedito Silva e a liderança do padre João Correia de Aquino,graças a uma campanha dos líderes comunitários locais. O“Augusto Severo”, na década de 70, filiou-se a CampanhaNacional de Escolas da Comunidade (CNEC) e passou a ofe-recer cursos técnicos de contabilidade, auxiliar de escritórioe administração de empresas, em nível do 2º Grau.

No galpão de palha da rua Comandante Petit, o padrePedro Paulo Luz Bezerra da Cunha, capelão da BaseBrasileira, já há alguns anos havia começado a rezar as mis-

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sas dominicais pela manhã ou no fim da tarde. O movi-mento religioso cresceu com a reza de terços em casas defamílias e a liderança continuada de Luiz Barreto eSeverino Pedro Nunes, comerciante, somada à participaçãode outros moradores. Em 1947, o padre Pedro Paulo Luztinha conseguido doações de tijolos e telhas do Exércitopara começar a erguer uma capela. O material acabou “des-viado” para atender as necessidades mais urgentes pormoradia dos fiéis mais pobres.

A motivação religiosa foi mantida graças aos esforçosdo padre Pedro Paulo Luz. As primeiras procissões eramfeitas com a imagem de Nossa Senhora de Fátima empres-tada do colégio Imaculada Conceição, em Natal. AntonioLopes começou uma campanha com um “livro de ouro”para adquirir uma imagem da santa. Quando ela chegou, acapela ainda não estava construída e a imagem peregrinoude uma casa para outra dos fiéis, com rezas de terços, àespera do templo. Em 1948, a obra começou. A capela foierguida na área onde antes crescia um coqueiral de OtávioGomes de Castro, derrubado para dar continuidade ao tra-

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Professor Eliah Maiado Rego , idealizador e líder na campanhapara a construção do colégio AugustoSevero e da matriz de Nossa Senhora de Fátima, discursando no plenário da CâmaraMunicipal. Foto cedidapela família.

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çado da rua Tenente França (a antiga “rua Lateral”) que saido portão da Base. Otávio Gomes de Castro, que dois anosantes já havia erguido a sede definitiva da Assembléia deDeus no local (o templo foi inaugurado em 12 de maio de1946 na rua Tenente França), recebeu em troca do coquei-ral derrubado um outro pedaço de terra.

A imagem de Nossa Senhora de Fátima encontroulugar, mas logo faltava espaço no pequeno templo paratodos os fiéis. Padre Pedro Luz reiniciou as obras, desta vezpara construir um templo em forma de cruz, com a frentevoltada para o Oeste, que incluiria a capela erguida comparedes grossas, telhas inglesas e janelas em arco (hoje, acasa paroquial).

Em setembro do ano seguinte, a construção do novotemplo parou por falta de dinheiro. Em 1950 foi reiniciadacom o incentivo de Antonio Lopes e vários sargentos daAeronáutica. Em março daquele ano, os fiéis puderamassistir a missa na “matriz”, que o bispo ainda não tinhaoficializado e que só contava, além da capela, com algunspilares e a haste superior. Eram missas mensais, porque acidade ainda não tinha paróquia própria. Os fiéis católicossaudariam Dom Marcolino Dantas, bispo de Natal, porcriar a paróquia de PPaarrnnaammiirriimm em 1º de abril de 1952 ereceberiam o primeiro padre designado para a cidade, JoãoCorreia de Aquino, 25 dias depois. Padre Aquino, entãocapelão da Base Aérea de Natal, inauguraria a paróquia deNossa Senhora de Fátima com a missa solene no dia 26 deabril, às 10horas da manhã.

Com a tenacidade e a disposição dos homens movidospela fé, padre Aquino terminaria a construção da matriz,liderando a Campanha Pró Construção da Matriz, comEliah Maia do Rego - secretário - e Marceliano de AlmeidaNeto (tenente Netão) - tesoureiro. O grupo instituiu car-

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nês para as contribuições mensais de adultos e até crianças,pedindo no comércio e contando com a divulgação e os ape-los constantes que eram incluídos por Nivaldo Xavier naprogramação da Amplificadora Santos Dumont. Algunsmoradores se reuniram em mutirão para o transporte demateriais e para garantir a mão-de-obra de pedreiros, ser-ventes e carpinteiros. Com esse esforço, por volta de 1958,a Matriz estava parcialmente concluída e já podia ser aben-çoada, em missa solene pelo bispo Dom Marcolino Dantas.

A obra só ficaria completa na gestão do padre AlcidesPereira da Silva (pároco na cidade entre 1972 e 1998),depois de uma nova campanha, na qual ele foi auxiliadopor uma comissão formada por Eliah Maia do Rego, irmãMaria Leonarda dos Santos, Pedro Leonardo de Moura eoutros. Foram arrecadados fundos para a reforma nafachada, modificação nos modelos das portas e janelas,revestimento de alvenaria nas paredes da nave central edas laterais, substituição do piso e construção do altar.Uma terceira campanha possibilitou a compra de um ser-viço de som e dos ventiladores e uma outra, iniciada pelotenente Netão, custeou a confecção dos bancos.

A população - e o contingente de féis católicos -havia duplicado em menos de dez anos. Da estimativa emtorno de 2.500, feita em 1944, o censo de 1950 mostrouque o então Distrito de PPaarrnnaammiirriimm já contava com 4.986habitantes. Dez anos depois, o censo de 60 registraria8.826. Dois anos antes, PPaarrnnaammiirriimm já era cidade e muni-cípio independente.

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1 - O conflito nas “terras do Jiló”

2 - A emancipação, sem o povo e sem a Base

3 - As eleições, a breve “guerra do mercado”,

vitórias e derrotas

4 - Quando Parnamirim foi “Eduardo Gomes”

5 - Outras campanha, outros prefeitos (1976-1984)

6 - Quadro cronológico dos prefeitos eleitos

em Parnamirim

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Ritos de Formação

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11 -- OO ccoonnfflliittoo nnaass ““tteerrrraass ddoo JJiillóó””

A formação de Parnamirim, historicamente diferen-ciada da maioria das cidades brasileiras que nasceram paraatender necessidades de ciclos econômicos, está marcada porconflitos e lutas. A maior dessas lutas, a II Guerra Mundial,foi travada do outro lado do Atlântico, mas impulsionou amigração e a fixação dos pioneiros da cidade e, enquantodurou, escondeu o primeiro dos conflitos locais.

As terras que constituíam originalmente a área domunicípio foram sendo ocupadas nos primeiros séculos dacolonização do Rio Grande do Norte e nos anos imediata-mente anteriores ao surgimento do Campo dos Franceses(1927), de acordo com o velho modelo das “datas de ses-marias” do século XVII, que permitiu o surgimento de latifúndios.1 Apesar de ter sido legalmente revogado coma promulgação da República em 1889, na prática essemodelo concentrador pouco mudou. Em PPaarrnnaammiirriimm, ocenso Agropecuário de 1970 registrava 201 estabeleci-mentos agrícolas, sendo que 169 (84,08%) deles ocupa-vam áreas de até 20 hectares, correspondentes a 9,47%da área do município. As cinco propriedades restantestinham 500 ou mais hectares de extensão, ocupando61,34% da área total de 7.378 hectares cultiváveis. Em

1 - Veja o Capítulo I,"Os primeiros donos daterra e o uso que fize-ram dela"

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1985, essa área agrícola era de 7.659 hectares, distribuídaentre 329 estabelecimentos rurais nas mãos de 273 pro-prietários, seis arrendatários e 26 outros que trabalha-vam a terra em sistema de parceria. Havia ainda 14 “ocu-pantes”, ou seja, posseiros.

O primeiro núcleo urbano, aquele que deu origem àcidade, ocupou a área de um desses latifúndios, originandoum conflito de terras até hoje não inteiramente resolvido.

Entre 1943 e 1945, para a instalação de Parnami-rim Field (a base miltiar norte-americana) e a BaseAérea de Natal (originalmente só a área da Base Oeste),o governo de Getúlio Vargas desapropiou 12 terrenosparticulares. A maior parte deles era espólio do portu-guês Manuel Machado, herdado pela viúva AméliaDuarte Machado, mas algumas faixas menores de terre-no pertenciam a outras pessoas. Duas delas, uma de 95,4mil m² desapropriada em 07 de junho de 1943 e outra de92,9 m² desapropriada em 10 de abril de 1945, perten-ciam ao pecuarista Virgílio de Oliveira Lins. Tambémera dele todo o terreno a oeste da linha férrea onde, sempreocupação com desapropriações ou títulos de posse, apopulação que veio para PPaarrnnaammiirriimm começou a cons-truir as primeiras casas.

Virgilio de Oliveira Lins tentou desalojar os ocupan-tes e reaver a terra, mas a dinâmica social e urbana da cida-de - mais uma vez “a impetuosidade dos fenômenos natu-rais” - se mostrou irresistível. A batalha judicial para com-provar quem tinha razão se arrastou por quase dez anos.Somente na segunda metade da década de 50 é queVirgílio de Oliveira Lins conseguiu comprovar junto aoTribunal Superior de Justiça que era realmente o dono dasterras, mas então já era tarde e complicado demais despe-jar do local uma cidade inteira.

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João Canuto de Souza Filho, filho do carpinteiro JoãoCanuto de Souza e da professora Francisca Bezerra deSouza - pioneiros na cidade - lembrou como foi a luta pelaposse das terras de Virgilio Oliveira Lins e o desfecho doqual resultou a expressão “terras do Jiló”.

“Toda essa área, da cerca da base até depois da ave-nida Fabrício Pedroza, era de Virgílio de Oliveira Lins. Opovo foi ocupando e construindo. Quando ele quis tiraros moradores, por volta do ano de 1949 ou 1950, recor-reu à Justiça, mas um movimento liderado por OtavioGomes de Castro, João Canuto de Souza, que já tinhauma loja na rua senador João Câmara, PotencianoPereira, Roberto Asvolinski e Joaquim Boa Vista impe-diu o despejo do povo. Todo mundo tinha raiva deVirgílio, apelidado de ‘Jiló’. Ele tinha um defeito no olho,deixando o rosto parecido com uma careta ruim, e comoqueria tomar os terrenos, o povo passou a dizer que eleera ruim que nem jiló. O caso foi parar no TribunalSuperior de Justiça. Virgilio ganhou, mas como nãotinha como indenizar todo mundo, resolveu nomearDomingos Praxedes Barreto como procurador. Praxedestinha a missão de vender a terra para quem desejasselegalizar a posse do terreno onde estava a casa. A vendaera feita a prestação ou à vista. Outra opção do moradorera requerer uso capião mas então era preciso tempo,advogado e dinheiro para o processo. Muitos preferiamcomprar pagando os preços módicos que Praxedes calcu-lava. No cartório, já tinha o telefone de Praxedes e umatabela para as terras do Jiló”.2

Até hoje, muitos dos terrenos do Centro não contamcom o título de posse e, no caso de uma transação imobi-liária, ainda é preciso recorrer aos registros das terras doJiló e pagar o preço devido.

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2 - Depoimento ao autor, em novembrode 2002

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22 -- AA eemmaanncciippaaççããoo,, sseemm oo ppoovvoo ee sseemm aa BBaassee

A emancipação política e a criação do município dePPaarrnnaammiirriimm, em 17 de dezembro de 1958, podem ser con-sideradas uma “conseqüência natural” do desenvolvimen-to urbano da cidade, embora apesar da consciência de cida-dania presente na população, que se sentia mais ligada aosdestinos da Base Aérea do que aos interesses da capital doEstado, não tenha havido um movimento popular emdefesa da autonomia política e administrativa. Essa foiuma conquista acertada nos gabinetes do palácio do gover-no entre a elite de lideranças locais, o deputado GastãoMariz e a equipe de auxiliares do governador Dinarte deMedeiros Mariz. A autonomia da cidade surgiu em meioaos interesses da Assembléia Legislativa e do própriogoverno para acomodar as lideranças dos diversos grupospolíticos em áreas próprias de influência.

PPaarrnnaammiirriimm era considerada como uma área sob aliderança do deputado Gastão Mariz de Faria (1921-1993),ex-vereador por duas legislaturas em Natal e eleito depu-tado em 1957 com expressiva votação no distrito.Seridoense de Serra Negra do Norte, sobrinho do gover-nador Dinarte Mariz e do ex-governador JuvenalLamartine, Gastão contava com a simpatia pessoal e apoiopolítico do tio. Dinarte era quem tinha custeado seus estu-dos, primeiro em Fortaleza (CE) e depois em MinasGerais, preparando-o para a carreira política.

No segundo semestre de 1958, os deputados esta-duais estavam envolvidos em denúncias de legislarem emcausa própria. A Assembléia Legislativa tinha aprovadoum reajuste para os salários dos deputados, que passariama ganhar 50 mil cruzeiros mensais (um reajuste de mais de100% sobre os salários de 22 mil cruzeiros), enquanto

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lideranças políticas ligadas as classes trabalhadoras e sin-dicalistas faziam mobilizações nas ruas em defesa de umsalário mínimo regional. Em Natal, o salário mínimo erade 3.300 cruzeiros e, no interior, de CR$ 2.600.

O JJoorrnnaall ddee NNaattaall, na edição do dia 29/10/58, denun-ciou na primeira página que os deputados preparavam uma“ofensiva municipalista” para emancipar vários distritos nos64 municípios potiguares que existiam à época. No dia 12, ojornal apurou que 15 projetos já haviam sido apresentados àmesa diretora da Assembléia, registrando que “pelo menos10 não preenchem as condições mínimas que a ConstituiçãoEstadual exige”. A notícia acrescentava que os projetos esta-vam sendo impostos por diversos grupos políticos “de olhonas quotas federais que lhe serão distribuídas”. Na realida-de, alguns projetos eram absurdos, como o proposto pelodeputado Jocelin Vilar (PSD), que pretendia criar o municípioda praia da Redinha, separando de Natal a vila de pescadorese veranistas que existe na margem esquerda da foz do rioPotengi. O governador vetou esse e mais três projetos: a cria-ção do município de Rodolfo Fernandes, que seria desmem-brado de Portalegre; a criação do município de AntonioMartins, que sairia da área de Martins; a criação de Equador,que daria autonomia à vila de Perequitos, distrito do municí-pio de Parelhas desde 1938. Os motivos alegados para os trêsvetos, segundo notícia do JJoorrnnaall ddee NNaattaall,, foi um só: a vila deDemétrio Lemos, que daria origem ao município de AntonioMartins, a povoação de São José (sede do então distrito deRodolfo Fernandes), e a vila de Perequitos “não tinham 10mil habitantes e só 300 leitores estavam registrados emRodolfo Fenandes”. Os dois primeiros municípios vetados -Antonio Martins e Rodolfo Fenandes - acabariam sendo cria-dos em 1962 pelo governador Aluízio Alves. Equador ganha-ria autonomia política e administrativa no ano de 1963.

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PPaarrnnaammiirriimm, cujo projeto foi aprovado, só teria 8.236habitantes dois anos depois, mas contou - para além dasestatísticas demográficas e registros eleitorais - a força dodeputado Gastão Mariz, autor do projeto de emancipaçãopolítica, junto ao tio governador.

Assinado o decreto de emancipação - Lei nº 2.325 de17 de Dezembro de 1958 - dois outros problemas se apre-sentaram. O primeiro deles foi a reação negativa de parteda população e de algumas lideranças locais aos limitesestabelecidos para o novo município. Apesar de consen-sual, dentro dos acertos políticos feitos na AssembléiaLegislativa e no governo estadual para a “ofensiva muni-cipalista” de 1958 - haveria outras, nos governos seguin-tes - a emancipação política e a criação do município dePPaarrnnaammiirriimm eram questões que ainda deveriam ser dis-cutidas e receber aprovação do comando militar na BaseAérea de Natal, da 2ª Zona Aérea sediada em Recife e atémesmo do Ministério da Aeronáutica, no Rio de Janeiro.O distrito que seria emancipado era, oficialmente, umnúcleo urbano inteiramente civil e, teoricamente, subor-dinado apenas à prefeitura da capital. Mas, a Base Aéreasempre viu a cidade como um “satélite” na órbita da suainfluência e os desejos e o comportamento da populaçãoseguiam sempre uma linha de aproximação e obediênciatácita às recomendações oficiosas do comando militar. Sehouve ou não negociações em torno da emancipaçãopolítica de PPaarrnnaammiirriimm,, não ficaram registros oficiais,mas dois fatos comprovam que militares e políticos con-versaram e se entenderam sobre como o distrito deveriase tornar município.

O primeiro desses fatos foi provocado peloscomentários de que o comandante da Base Aérea deNatal, o coronel-aviador Armando Serra de Menezes,

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estava interferindo contra a emancipação e, se ela erainevitável, que as instalações militares permanecessemdentro dos limites territoriais da capital. Na falta deinformações precisas sobre o que estava acontecendo,espalhou-se o boato de que o coronel temia que PPaarrnnaa--mmiirriimm viesse a eleger para prefeito um funcionário civilou mesmo alguém que, sem ligação hierárquica com ocomando militar, insurgisse-se contra a influência queaté então a Base exercia sobre a cidade. Outros acres-centavam mais este comentário: o comandante militar,um oficial de patente superior, não veria com bonsolhos a necessidade de tratar de futuros assuntos admi-nistrativos comuns à Base e ao município com umsubalterno que, circunstancialmente, estivesse no cargode prefeito. Serra de Menezes tentou pôr fim aos co-mentários e às críticas mandando publicar na primeirapágina do jornal TTrriibbuunnaa ddoo NNoorrttee, dois dias antes dogovernador Dinarte Mariz assinar o projeto de emanci-pação municipal, a seguinte nota:

“O comandante da Base Aérea de Natal, coronelaviador Armando Serra de Menezes, tem a declarar quenunca foi procurado por nenhum deputado para tratarda criação do município de Parnamirim. Na oportuni-dade, faz ciente a população deste núcleo residencialque nasceu, de modo geral, com a própria Base, que nãotem opinião sobre essa criação pois, sendo uma autori-dade militar federal, não cogita de política, atividadeestranha a sua função. Portanto, torna bem claro quenunca disse a ninguém que a Base Aérea deve ficarsituada neste ou naquele município. A Base Aérea deNatal é uma organização nacional que nada tem a vercom divisões municipais, honrando-se somente em seruma instituição brasileira”.3

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3 - Jornal Tribuna doNorte, edição de 16 dedezembro de 1958

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Apesar das posições públicas do coronel ArmandoSerra de Menezes - que seria promovido a brigadeiroalguns dias depois dessa nota - o prefeito nomeado deNatal, Djalma Maranhão, não tinha interesse de perder aBase Aérea de Natal para o novo município. Nas primei-ras semanas de dezembro de 1958, Djalma acabara deganhar a luta pela emancipação política da capital, sentia-se particularmente forte junto ao governador DinarteMariz e precisava ser ouvido sobre a questão. Perder abase poderia ser uma bandeira entregue à oposição naspróximas eleições para prefeito (Djalma Maranhão seriaconfirmado no cargo através do voto popular) e o gover-nador aceitou a sugestão para limitar a área de PPaarrnnaa--mmiirriimm ao mínimo possível.

Ao redigir o artigo 2º da Lei 2.325, o legislador prati-camente confinou o novo município ao núcleo urbano jáexistente entre a cerca da base e o traçado da RN 01 (futu-ra BR 101). Para deixar de fora a área da Base Aérea foramadotados os mesmos limites do distrito: “Ao Norte e Leste,partindo do limite do município de Macaíba, no ponto dis-tante 500 metros ao Norte do Sítio Peixe Boi, segue poressa linha até o cruzamento da Estrada de Ferro Natal-Recife; ddaaíí sseegguuee ppoorr eessssaa lliinnhhaa aattéé oo ccrruuzzaammeennttoo ddaa eessttrraa--

“Solenidade de insta-lação do município de

Parnamirim, em 10de janeiro de 1959.

Na foto, reproduzidado jornal A

República, estão ogovernador Dinarte

Mariz (centro), oprefeito nomeado

Deoclécio Marques deLucena (direita) e o

juiz RosemiroRobinson da Silva,

além de vários popu-lares que comparecer-

am as dependênciasda escola Presidente

Roosevelt.”

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ddaa ddee rrooddaaggeemm PPaarrnnaammiirriimm--JJiiqquuii;; sseegguuee ppoorr eessttaa eessttrraaddaa,,eemm lliinnhhaa rreettaa,, ccoonnttiinnuuaannddoo nneessttaa ddiirreeççããoo aattéé aa oorrllaa mmaarríí--ttiimmaa ( o grifo é nosso), seguindo por essa orla até alcançaro limite do município de Nizia Floresta e, em seguida, domunicípio de São José de Mipibu, até alcançar o ponto deintercessão com o município de Macaíba, entre o ponto deintercessão com o município de São José de Mipibú, até oponto de início do limite Norte.”4 Por essa redação, a área domunicípio começava, aproximadamente, onde hoje é oentroncamento das BRs 101 e 304, e seguia para o sul, mar-geando a linha férrea; depois para leste, seguindo o traçadoda antiga Estrada para o Jiqui - também conhecida comoEstrada da Lagoa Seca e rua Sul da Base, hoje rua FelizardoMoura - excluindo todos os terrenos da Base Aérea.

A injustiça da exclusão foi sentida por mais de uma liderança em PPaarrnnaammiirriimm. O grupo mais próximo ao profes-sor Eliah Maia do Rego reivindicava, inclusive, que a basedeveria passar a ser denominada como “Base Aérea deParnamirim” e, vendo frustrada essa intenção, planejoufazer um “enterro simbólico” do governador Dinarte Mariz.No dia seguinte a assinatura do decreto de emancipação - 18de dezembro - panos pretos, em sinal de luto, foram pendu-rados nos postes das ruas do centro da cidade. O protesto eraum escândalo e um desrespeito aos partidários mais radicaisdo governador, mas o recado dos líderes do protesto era paraque ninguém retirasse os panos. A advertência foi demaispara o sub-delegado, o comerciante Ernesto Monteiro daRocha - o delegado, capitão Salatiel Rufino dos Santos, esta-va ausente, em viagem - e para Potenciano Pereira, o“Celestino Potiguar”. Os dois, apoiados pela força policial,retiraram os panos pretos dos postes, proibindo ainda a saídado cortejo fúnebre, marcada para o meio dia e com itinerárioplanejado entre as proximidades da linha do trem até o

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4 - O Diário Oficial do Estado, naquelaépoca, circulava encarta-do no jornal A Repú-blica. O decreto deemancipação de Parna-mirim está publicado na edição do dia 24 dedezembro de 1958.

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Centro. Quem perseverasse no projeto, seria preso.Ninguém ousou desafiar a ordem do delegado substituto.

O mais contundente ato de protesto acabou sendouma iniciativa solitária, levado a efeito por Nivaldo XavierGomes, diretor da amplificadora Santos Dumont, que serecusou a divulgar a assinatura do ato de emancipaçãopelo governador Dinarte Mariz e que, teve, como antago-nista, o mesmo Ernesto Monteiro.

Nascido em Currais Novos, no Seridó potiguar, em1930, “seu” Nivaldo - como ele é conhecido em Parna-mirim - chegou adolescente na cidade para se incorporar,em 1946, à Aeronáutica. Serviu como soldado e depois foicontratado como funcionário civil, exercendo várias fun-ções junto ao departamento de pessoal da Base Aérea, comdestaque na assessoria jurídica, mesmo não sendo advoga-do. Inteligente e sociável, logo se juntou ao grupo de EliahMaia do Rego, atuando na diretoria do Potiguar EsporteClube e assumindo, em 1956, a direção da amplificadoraSantos Dumont, onde iniciou um trabalho pioneiro nascomunicações em PPaarrnnaammiirriimm, alimentando o sonho deum dia a cidade ter uma rádio comunitária através doSAFAS, criado por ele, Eliah Maia de Rêgo, Severino Costae Manoel Anúbio de Araújo, na década de 70.

Nivaldo estava na amplificadora Santos Dumont quan-do Ernesto Monteiro da Rocha chegou com a notícia e pediupara divulgar. Além da negativa, Ernesto Monteiro aindaouviu do amigo um discurso inflamado contra a injustiça quese cometia para com a cidade. Nivaldo prometeu que somen-te após a inclusão da área da Base no território do município,a emancipação seria divulgada pelos alto-falantes da SantosDumont. Em respeito ao amigo, Nivaldo preferiu não trans-mitir esse discurso pelas “bocas de ferro”, despertando nacidade o sentimento de indignação que ele mesmo sentia.

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Infelizmente, porque o segundo fato a ressaltar naemancipação política de PPaarrnnaammiirriimm também não chegou amobilizar a população. A rigor e a exemplo do que houvecom os limites do município, poucos tomaram conhecimen-to da existência da questão. Ambos os casos tem importân-cia como ilustração do comportamento das lideranças locaisque, ao longo da história, sempre estariam propensas aresolverem certos assuntos em círculos restritos.

Na hora de se decidir quem assumiria a nova prefei-tura até as eleições de novembro de 1959, o deputadoGastão Mariz queria que o governador Dinarte Mariznomeasse prefeito o comerciante José Fernandes, cunhadodo mesmo Ernesto Monteiro da Rocha que levou a noticiada emancipação para ser divulgada na amplificadora local.Segundo nota de primeira página no JJoorrnnaall ddee NNaattaall,,5 aindicação do deputado não foi bem recebida pelas lideran-ças locais que queriam como administrador nomeado oprofessor Eliah Maia do Rego. Homem de leituras, articu-lador político e intelectual, Eliah Maia tinha a consciênciados líderes que sabem ganhar mais indicando militantespara as tarefas executivas, reservando para si a posição decomando nos bastidores. Sua preferência para a função deprefeito nomeado - um mandato tampão de treze meses -era pelo tenente reformado da Aeronáutica, DeoclécioMarques de Lucena (1913-2002).

Nascido em 10 de agosto de 1913, Deoclécio eraparaibano como Eliah Maia do Rego, marinheiro que tro-cou o mar pela Escola de Especialistas da Aeronáutica naépoca da II Guerra, formando-se em telegrafia. Homemalegre e expansivo, gostava de festas (foi Rei Momo nocarnaval da cidade), mas não de ser contrariado. Deoclécioseguia em tudo, na política ou nos negócios, o único códi-go que admitia conhecer: aquele que ensinam nas caser-

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5 - Jornal de Natal, edi-ção de 26 de dezembrode 1958

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nas. Chegou em PPaarrnnaammiirriimm em 1956, já casado, pai de filhos e logo começou a participar do círculo que se reuniaem torno de Eliah Maia, nas conversas diárias, nas reu-niões do diretório local da União Democrática Nacional(UDN) e nas festas do Potiguar Esporte Clube. As negocia-ções para Gastão Mariz abrir mão da indicação de JoséFernandes retardou por 19 dias a nomeação de Deoclécio eo ato assinado pelo governador, no dia 05 de janeiro de1959, só foi publicado no Diário Oficial na edição do dia 06de janeiro, marcando-se a posse para dali a quatro dias.

Na tarde do dia marcado, 10 de janeiro - um sábado -compareceram à Escola Presidente Roosevelt as principaislideranças - Nivaldo Xavier, fiel ao protesto anunciado, nãoesteve presente - para receberem o governador DinarteMariz e comitiva: o secretário de Segurança Pública, dr.Claudionor de Andrade; o secretário de Educa-ção, GrimaldiRibeiro; o secretário do Interior, Anselmo Pegado Cortez; osecretário de Finanças, Genésio Cabral, e o comandante daPolícia Militar, coronel José Reinaldo. O brigadeiro Arman-do Serra de Menezes, comandante da Base Aérea, deve termandado um representante, cuja presença o repórter do jor-nal AA RReeppúúbblliiccaa, único a noticiar o evento, não registrou. Areportagem sobre a instalação do novo município mereceuno jornal do governo foto e texto de primeira página na edi-ção dominical do dia 11 de janeiro. Na página 5, sob fotos dogovernador e da assistência que lotou uma das salas da esco-la, novo texto registrou a emoção popular e a importânciapolítica da criação do município, ressaltadas nos discursos deJosafá Sisino Machado, o primeiro administrador, e dodeputado Gastão Mariz, que “falou em nome do povo”segundo o jornal. O governador empossou o prefeitoDeoclécio Marques de Lucena e encerrou a solenidade.Somente durante o cock-tail, oferecido no pátio da escola, é

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que o novo prefeito tirou do bolso do paletó algumas folhas.Destituído de uma análise das condições conjunturais, nasquais o novo município se instalava, e de referências a pla-nos concretos para o futuro administrativo da cidade, o dis-curso de posse de Deoclécio tem importância não só por sero primeiro de um chefe do Executivo municipal dePPaarrnnaammiirriimm,, mas também pela rápida comprovação inicialda luta política interna que se travou em torno da nomea-ção, dentro do grupo da UDN local.

“Exmo. Senhor Governador do Estado, meus senho-res e minhas senhoras.

Após várias consultas e entendimentos levados a efei-to entre as pessoas mais em evidência e interessadas noprogresso deste rincão norte-rio-grandense, no precisodever de escolher entre os amigos da terra comum. Afim deser indicado ao Excelentíssimo Senhor Chefe do ExecutivoEstadual, um nome para gerir em seus primeiros passos osnegócios da prefeitura de Parnamirim, que hoje nesta sig-nificativa solenidade se instala, quis o destino que essaescolha recaísse sobre os ombros deste homem simples quevos fala, humilde oficial de carreira, oriundo de um dosquadros da reserva do Ministério da Aeronáutica.

Confirmando, agora, esta prova de alto apreço, deconfiança e atenção dos meus amigos de Parnamirim,vem o eminente Senhor Governador do estado nomear-me, em ato de 5 do corrente, para ocupar o espinhosocargo, até que, pelo voto livre do nosso esclarecido povo,se escolha os seus mais legítimos representantes.

Meus senhores, minhas senhoras. Não possuindo,nos meus 45 anos de existência, outro cartão de apresen-tação, peço vênia para vos dizer que mais de 29 delesforam inteiramente devotados às labutas dos quartéis,onde se mais não consegui na trajetória da ascendência

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hierárquica, contenta-me haver através dos sábios ensi-namentos dos meus mestres e dos sadios princípios ema-nados dos meus chefes, aprendido a amar a minha pátria,a manter invioláveis os bens do patrimônio do Estado,confiados à minha guarda, respeitar as instituições e aca-tar as autoridades constituídas.

Desta maneira, dentro destes patrióticos princípios,elevarei minhas preces ao Divino Mestre, pedindo-lhepara derramar sobre todos nós suas santas benções,dando-nos forças, serenidade, energia e tino, virtudessem as quais não encontraremos a direção certa do tra-balho, do respeito aos direitos alheios, da prosperidade eda sadia administração.

Sabendo da complexidade dos problemas municipais,e, sem a experiência técnica necessária ao desempenho docargo, porém acima de tudo, imbuído dos mais firmes pro-pósitos de bem servir a esse município, para que assim possamerecer a confiança do seu povo, como também a do Exmo.Sr. Governador, que ora me investe nesta função, esperocaminhar sem tropeços ao encontro das novas aspirações.

Contando, pois, com o inteiro apoio do Exmo. Sr,Governador Dinarte de Medeiros Mariz, apoio este exter-nado em sinceras declarações a minha pessoa, desejoagora, neste alvorecer da minha administração, um créditode confiança dos habitantes de Parnamirim, de uma cidadeuna e coesa em benefício do seu próprio engrandecimento.

E assim reafirmo: ao povo desta terra, prometo tra-balhar com todas as minhas forças, num clima de paz ede respeito. Ao Exmo. Sr. Governador, prometo me con-duzir com honra e dignidade à frente dos destinos destemunicípio”.6

Na Acta Diurna publicada no jornal A República, naterça-feira seguinte (13/01/59), Luís da Câmara Cascudo

6 - Jornal A República,edição de 11 de janeiro

de 1959.

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saudou a instalação de PPaarrnnaammiirriimm, lembrando suas ori-gens e pedindo às novas autoridades municipais que pro-movessem a conservação sobre a história local. Tanto oapelo do historiador, como a exortação de Deoclécio pelaunião, caíram no vazio.

33 -- AAss eelleeiiççõõeess,, aa bbrreevvee ““gguueerrrraa ddoo mmeerrccaaddoo””,, vviittóórriiaass ee ddeerrrroottaass

Empossado prefeito e instalado no gabinete improvisa-do em uma das salas de aulas da Escola Presidente Roosevelt(a Prefeitura só veria a ter prédios próprios na década de 60,na praça Presidente Roosevelt, na área onde estavam algu-mas residências particulares, entre elas a casa de JosafáSísino Machado), Deoclécio Marques de Lucena começou atrabalhar. Entre as obras necessárias à cidade, estava a con-clusão do novo mercado público, que teve sua construçãoiniciada pelo prefeito de Natal, Djalma Maranhão, na gestãodo último administrador de PPaarrnnaammiirriimm, Basileu Fernandes.O que existia era apenas um galpão improvisado com mate-rial cedido pela Base Aérea, com bancas de madeira para osfeirantes e sem qualquer controle de higiene, deixando sujei-ra pelas ruas do Centro e prejudicando quem morava nasproximidades. A área escolhida para o novo mercado, a sererguido em alvenaria e com box internos e bancadas decimento, era mais afastada, ficava do outro lado da avenidaFabrício Pedroza. E esse era o principal motivo de queixas:feirantes e as lideranças da oposição política a DeoclécioMarques reclamavam que, devido à distância, os clientes nãofreqüentariam o novo mercado.

Apesar das críticas, as obras continuaram e, junto comelas, a campanha eleitoral na qual PPaarrnnaammiirriimm elegeria,pela primeira vez, um prefeito próprio. Os eleitores - cerca

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Cap. Ilson Santos,1º prefeito eleito de Parnamirim,

em solenidade de diplomação de

estudantes municipais(29.12.1964).

A menina na fotos éDrª. Kátia Rolim. Fotocedida pelo jornalista

Genilson Souto.

Construção do “mer-cado novo” - o ter-

ceiro que a cidadeteria - na adminis-tração de DeoclécioMarques, e que foi

motivo de uma dispu-ta política com os lid-

erados do primeiroprefeito eleito, o

capitão Ilson Santos.Foto cedida pela

família de DeoclécioMarques.

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de 1.200 registrados pela Justiça Eleitoral - precisavamescolher entre a chapa do PTN, liderada pelo ex-adminsi-trador Josafá Sísino Machado (prefeito) e o tabelião OtávioGomes de Castro (candidato a vice); a chapa do PTB, como comerciante Francisco Câmara de Castro (prefeito) e JoãoAlves de Lima (vice); da UDN, com o tenente Marcelianode Almeida Neto (prefeito) e Francisco Fernandes Pimenta(vice); e a coligação PSD/PDC/PRP, com a chapa docapitão-médico Ilson Santos de Oliveria (prefeito) eRaimundo Barbosa de Souza (vice).

Naquela época, os eleitores votavam em separadopara prefeito e vice-prefeito. Em todo o Estado, 34 municí-pios iriam eleger um prefeito, o vice e as CâmarasMunicipais pela primeira vez. Em PPaarrnnaammiirriimm, a campa-nha teve discursos, passeatas e comícios acirrados, mas semo radicalismo que caracterizaria a disputa estadual no anoseguinte (1960) entre Djalma Marinho e Aluízio Alvespara o governo do Estado, nem os atos de agressões físicasda campanha de 1976 para prefeito. O dia da eleição - 05 deoutubro, uma segunda-feira - foi calmo na cidade. Já porvolta das 18h, as sete urnas do município começaram a serapuradas pelo juiz Inácio Soares no Fórum da Prefeitura deNatal. Encerrada a contagem, o capitão Ilson Santos (1925-1981), recebeu 427 votos, Josafá Sísino - que durante acampanha foi o grande favorito - 356 votos e Marceliano (otenente Netão), em terceiro lugar, com 285 votos.

Josafá Sísino, considerado grande orador e líder naturalna cidade, tinha vencido as eleições na cidade sede do municí-pio, mas perdera entre os eleitores da praia de Pirangi. O capi-tão Ilson Santos recebera durante a campanha o apoio doentão deputado federal Aluízio Alves (UDN) e do tenente JoséAugusto Nunes (PSD). Espalhou-se o comentário de que ocapitão tinha sido eleito graças a uma “brejeira” (manipulação

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na contagem dos votos), mas nada ficou provado e, se houve amanipulação, ela não foi suficiente para evitar que o vice-prefeito eleito fosse um adversário da UDN: FranciscoPimenta que, com a ajuda dos eleitores do PR e do PSP, con-seguiu 397 votos, vencendo o vice de Ilson, RaimundoBarbosa, por 47 votos de maioria. Para a Câmara Municipal, aUDN também fez a maioria dos 10 vereadores, elegendo JoãoAntonio Ferreira Leite (o mais votado, com 101 votos),Euclides Macêdo, Basileu Fernandes, Francisco Alves dosSantos e José Pegado Furtado. O PSD elegeu Castor VieiraRégis e Júlio Florentino Bezerra; O PTB José Dionísio da Silvae o PTN Dr. Mário Medeiros e Luís Sabino de Sena.

Os resultados eleitorais desagradaram tanto aos par-tidários de Ilson Santos - que não teria maioria na CâmaraMunicipal - quanto aos derrotados. Os ânimos ficaramacirrados quando o prefeito eleito manifestou-se contra ainauguração do novo mercado, antes da posse em feverei-ro de 1960. O vereador Valério Felipe Santiago, em 2002exercendo o sétimo mandato na Câmara Municipal e, naépoca, locutor da campanha do tenente Netão e “aponta-dor nas obras do mercado”, é quem narra o desfecho docaso: “Antes de terminar o mandato como prefeitonomeado, Deoclécio resolveu tornar irreversível a trans-ferência do pessoal para o mercado novo. Eu, ele ePimenta, que tinha um jipe, amarramos correntes nospilares de ferro do velho galpão e derrubamos tudo”.7

Sem o mercado velho, só restava o novo. E para lá setransferiram, após a inauguração presidida por DeoclécioMarques de Lucena, comerciantes e a feira livre aos domin-gos que se espalhava pelo pátio do mercado - hoje Largo 31de Março - e ruas adjacentes. Os bancos eram alugados porJessé Soares Souto, pioneiro nessa atividade em váriascidades potiguares, e o controle de pesos e medidas, um

7 - Depoimento ao autor, em novembro

de 2002. Além deValério Felipe, Pimenta eo Tenente Netão, partici-

param do movimentoem favor do novo mer-

cado , Basileu Fernandes,Dona Xixica e Dona

Aldenora.

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serviço inovador, estabelecido pela prefeitura que controla-va as “cuias padrões” para a aferição dos litros de cereaisvendidos, estava a cargo de Aurino (vulgo Frankenstien,filho Chico Sapateiro). No local do antigo mercado, foi cons-truída a praça Presidente Roosevelt e, desapropriando algu-mas residências, os primeiros prédios para a instalação doExecutivo Municipal. Ao assumir a prefeitura, Ilson Santosfoi tratar de outros assuntos que requeriam a atenção damunicipalidade e o episódio do mercado foi esquecido.

O mais urgente desses assuntos parecia ser a questãodos limites do município e a exclusão da área da Base Aéreade Natal. Sempre através do deputado Gastão Mariz, tra-tou-se de reparar o erro cometido com uma emenda à Lei2.325 de 17 de dezembro de 1958. “Foi fechado um acordoentre Gastão e o deputado Aluízio Bezerra, líder do gover-no na Assembléia Legislativa, para mudar os limites domunicípio” - lembra Nivaldo Xavier.8 Quando o assuntochegou ao conhecimento do governador Aluízio Alves, elenão achou conveniente mexer nos limites ou talvez nãoquisesse desagradar aos militares, mas o acordo político naAssembléia já estava feito e prevaleceu o argumento deAluízio Bezerra, que contava com o voto de Gastão Marizem outros projetos de interesse do governo. Na edição dodia 12 de maio de 1962, o Diário Oficial do Estado publicoua Lei 2.789, assinada pelo governador Aluízio Alves no diaanterior, dando outra redação ao Artigo 2º da Lei 2.325 eestabelecendo novos limites para PPaarrnnaammiirriimm..

O início para a linha limítrofe seria o ponto de trijun-ção dos municípios de São José de Mipibu e Macaíba, noponto em que a antiga estrada Natal-São José do Mipibucorta o rio Cajupiranga, no lugar denominado Taborda.Deste ponto em diante, em direção ao norte, a linha seguiaa estrada cortando a localidade de PPaassssaaggeemm ddee AArreeiiaa (que

1498 - Depoimento ao autor,em novembro de 2002

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ainda ficava pertencendo à Macaíba), até alcançar a rodoviaBR-12 (a atual BR 226). Dali seguia até a estrada carroçávelpara a fazenda Pitimbu, próximo, à ponte dos Guarapes,continuando pela mesma estrada até a ponte sobre o rioPitimbu e, pela margem direita deste rio até o cruzamentocom a estrada asfaltada Natal-Parnamirim. Da Ponte Velha,os limites seguiam o traçado da pista até o sopé do “morroCaminha” (em frente ao local onde está hoje o Pórtico daCidade do Natal, na BR 101), fraldando este morro pelo sulaté a estrada carroçável Ponta Negra-Pirangi do Norte e,então, em linha reta até o mar. No litoral, os limites seestendiam até a foz do rio Cajupiranga (o Pirangi), voltan-do a subir pela margem esquerda até reencontrar a antigaestrada Natal-São José do Mipibu, o engenho Taborda e oponto de trijunção inicial.

A área do município foi fixada em 92 KM² e estesseriam os limites do município por 12 anos. Mas, eles aindanão resolviam todos os problemas. A questão de Passagemde Areia permanecia. Historicamente, a localidade sempreteve mais afinidades e ligações com a cidade de Parnamirimdo que com Macaíba, sede do município ao qual pertencia.Na época da II Guerra, era lá onde soldados brasileiros eamericanos encontravam diversão e boa parte dos empre-gados no comércio, nos serviços domésticos e nas obras deconstrução em PPaarrnnaammiirriimm tinham suas residências. Em 30de setembro de 1949, sem pertencer ao então Distrito dePPaarrnnaammiirriimm, Passagem de Areia ganhou uma escola públi-ca e a Capela de Nossa Senhora da Penha, construídas poriniciativa do Tenente José Augusto Nunes (1918-1984).

Nunes foi eleito prefeito em 1964 como o candida-to de Ilson Santos pelo PSD. Venceu as eleições com1.039 votos e infligiu a segunda derrota a Josafá Sisino,que perdeu por 81votos. Empossado em fevereiro de

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1965, o Tenente Nunes e o vice-prefeito, o empresário deônibus Luiz Sabino de Sena, construíram duas escolas -os colégios Presidente Costa e Silva, no Centro, e oOsmundo Farias, em Passagem de Areia - e investiramem um plano de expansão urbana para a cidade, plane-jando um crescimento ordenado, criando os bairros deSantos Reis (onde foi construído, em 1992, o terceiromercado público e transferida, pela quarta vez, a feiralivre) e de Passa-gem de Areia. Durante sua administra-ção chegou à cidade a energia de Paulo Afonso, um sonhopolítico e uma necessidade social e econômica que todo oRio Grande do Norte perseguia desde o início da décadade 50 quando o governo federal começou a distribuirpara os estados nordestinos a energia elétrica gerada pelahidrelétrica construída em 1948 no rio São Francisco,mas que vinha sendo adiada há 12 anos.9

O governador Aluízio Alves tinha criado aCompanhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte(Cosern), em 14 de dezembro de 1961, para viabilizar o tãoacalentado projeto, defendido por Café Filho e por elemesmo, Aluízio, da tribuna da Câmara Federal. Em 02 deabril de 1963, o presidente João Goulart inaugurou, emSanta Cruz, a primeira etapa da linha de transmissão dePaulo Afonso que começaria a abastecer o Estado. Emdezembro do mesmo ano, a energia elétrica chegou a Natale, em meio as comemorações, o presidente da Cosern,engenheiro Rômulo Galvão, anunciou os planos de inte-riorização da rede de distribuição. PPaarrnnaammiirriimm estavaentre as cidades que deveriam ser contempladas já na pri-meira etapa, mas os custos de instalação de uma rede elé-trica eram grandes e a cidade - até então abastecida pelosgeradores das casas de força da Base Aérea - só veria aenergia de Paulo Afonso 15 meses depois.

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9 - No dia 18 de junhode 1951, cinco mesesapós assumir a vice-presidência daRepública, o norte-rio-grandense e ex-lider sin-dical, João Café Filho,convocou lideranças e empresáriospotiguares para umareunião no Palácio doCatetete, Rio de Janeiro.O vice-presidente queriaa formação de um movi-mento popular que levasse a energia elétricade Paulo Afonso para oRN. O investimentonecessário seria de CR$100 milhões. Ficou acer-tado que seria criadauma sociedade anônima- a CompanhiaEletrificadora doNordeste - para captaros recursos e o professorUlisses Celestino deGóis eleito o secretário-geral. Foram colhidas subscrições no valor deseis milhões, duzentos enoventa e um mil cru-zeiros (que não se sabese chegaram a ser depo-sitadas pelos doadores),mas o fato é que a ini-ciativa não prosperounem mesmo quandoCafé Filho assumiu apresidência, com o suicí-dio de Getúlio Vargasem agosto de 1954.

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A solenidade de inauguração da energia elétrica e danova iluminação pública foi marcada para o dia 28 de marçode 1965, um domingo. No jornal TTrriibbuunnaa ddoo NNoorrttee, de pro-priedade do governador Aluízio Alves, o evento foi notíciana edição da véspera, ocupando a manchete do alto de todaa página 8: “COSERN LEVA A PARNAMIRIM CONCRE-TIZAÇÃO DE UM SONHO E NOVAS ESPERANÇASDO RN”. O texto da reportagem dava os detalhes da impor-tância da inauguração: PPaarrnnaammiirriimm era a sétima cidade doEstado a receber a energia elétrica de Paulo Afonso e, paraisso, a Cosern tinha instalado uma rede de transmissão com10 km de extensão, fornecendo 13.800 volts de energia, umacarga que o presidente da companhia, Rômulo Galvão,garantia ser suficiente para atender as necessidades atuaisda cidade e ainda uma demanda maior no futuro. O custo daobra foi de CR$ 200 milhões, rateados entre o Ministériodas Minas e Energia, o governo estadual, a Sudene e aPrefeitura Municipal de PPaarrnnaammiirriimm. Ninguém se lembramais da quantia que coube ao município nos custos, mas aprefeitura precisou recorrer a um empréstimo ao Banco doNordeste para fazer frente às despesas.

Na tarde da inauguração, no palanque oficial armado napraça Presidente Roosevelt e diante de uma multidão emexpectativa, o governador Aluízio Alves ligou a chave que ati-vava a rede sustentada por 652 postes de concreto e acendia574 lâmpadas de mercúrio incandescente e vapor de mercúrioque iluminou as principais ruas da cidade. Foguetões explodi-ram no ar, o povo agitava bandeiras e lenços verdes - símbo-los da campanha que elegeu o governador - e aplaudia comentusiasmo, sob os olhares atentos das autoridades, a maioriadelas militares. No palanque, além do governador, os secretá-rios estaduais e o superintendente da Sudene, economista JoãoGonçalves, estavam o general Barros Tinoco, comandante da

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região Militar; o coronel-aviador Paulo Salema GarçãoRibeiro, comandante da Base Aérea; o almirante TertiusRabelo, interventor na prefeitura de Natal; o tenente JoséAugusto Nunes, prefeito de PPaarrnnaammiirriimm. O golpe de Estadode 31 de março, que depôs o presidente João Goulart e quemais tarde cassaria o mandato do próprio Aluízio Alves, com-pletava um ano. Manifestações populares ainda eram tolera-das, mas viriam a ser proibidas com o Ato Institucional nº 5,promulgado a 13 de dezembro de 1968. Na última semana demarço de 1965, nos jornais de Natal não faltaram anúnciospagos por empresas privadas saudando o primeiro aniversáriodo golpe como “a Revolução Democrática”.

Oito anos depois, quando a política de “linha dura”contra a oposição estava no auge, não faltou quem encon-trasse outra forma de bajular os militares no poder, às cus-tas de PPaarrnnaammiirriimm.

A campanha para as eleições municipais de 1969 foi uma das mais confusas em todos os cantos do País.O presidente Castelo Branco havia imposto a reforma parti-dária em 20 de novembro de 1966 (Ato Complementar nº 4), instituindo um sistema no qual apenas dois partidoseram permitidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena),que deveria dar apoio ao governo militar, e o MovimentoDemocrático Brasileiro (MDB), que podia fazer a “oposiçãoconsentida”. Criados de forma artificial, nenhum desses doispartidos tinham unidade ideológica e os programas que pro-punham eram apenas figurativos. Na prática, os grupos polí-ticos que apoiavam o governo no plano federal e tinham dife-renças irreconciliáveis nos Estados e municípios, enfrentaramsérias dificuldades para se integrarem dentro de um mesmopartido. Esses grupos continuaram guiando-se pelas antigassimpatias ou fazendo alianças de acordo com interessesmomentâneos e locais, fazendo surgir a Arena I e a Arena II.

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Em PPaarrnnaammiirriimm, como em outras áreas do Estado, aArena logo se dividiu. O prefeito José Augusto Nunes, quetinha entrada na Arena, indicou como candidato o seuvice-prefeito Luiz Sabino de Sena. Natural de Ceará-Mirim, ex-marinheiro combatente na II Guerra, aos 48anos ele era um empresário bem sucedido na cidade. AViação Sena, empresa de ônibus de sua propriedade, deti-nha o monopólio do transporte coletivo para a capital. Aorigem da empresa tinha sido uma cooperativa dos funcio-nários civis da Base Aérea, adquirida por Luiz Sabino,Otávio Gomes de Castro e Fernando Ribeiro, passandodepois ao controle acionário do primeiro. Em 59, nas pri-meiras eleições locais, Luiz Sabino de Sena fora eleitovereador e, em 64, tendo ajudado na vitória do TenenteNunes, como candidato a vice-prefeito, era consideradoapto para um cargo mais alto.

Antenor Neves de Oliveira, alagoano de Viçosa queestava na cidade desde 1942, quando chegou como solda-do da Base Brasileira, também da Arena, conseguiu apoiopara ser candidato na legenda do MDB. Aos 49 anos,Antenor Neves era funcionário civil da Base Aérea e, sempoder contar com os mesmos recursos econômicos que oadversário dispunha, montou uma estrutura de campa-nha propositadamente tímida e pobre, adotando o slogando “tostão contra o milhão”. A disputa apaixonou a po-pulação e Neves, com discursos emotivos proferidos nalinguagem simples do povo, interrompidos por lágrimase acenos do lenço branco, transformados na marca docandidato, ganhou com 1.324 votos. Empossado em feve-reiro de 1970, Neves teve o apoio do governador CortezPereira para a instalação do sistema de abastecimentod´água - a prefeitura, sempre curta de recursos, compra-ra os canos e outros materiais em Recife a prazo e no

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nome do próprio prefeito - e ampliação da rede de eletri-ficação. Construiu o Matadouro Municipal e a EscolaProfessor Eliah Maia do Rego.

Ao terminar o mandato, Neves já havia se reaproxi-mado da Arena, mas quebrou a tradição política local doprefeito lançar o seu vice como sucessor. Nas eleições denovembro de 1972, o vice de Neves, Ulisses Ávila Neto,saiu candidato sozinho pelo MDB, enquanto o prefeitoapoiava o nome de Marceliano de Almeida Neto, oTenente Netão (1914-1995), candidato da Arena I. Netãorecebeu 1.693 votos e se elegeu por uma maioria aperta-da, outra tradição política do município que custou a serquebrada, de 69 votos. Sergipano, o Tenente Netão che-gou à prefeitura depois da tentativa fracassada de 59 con-tra Ilson Santos. Ríspido e com raras tiradas de bomhumor, ele costumava dizer que entrara na política “pordescuido”. Seu programa administrativo era dar conti-nuidade aos planos de Neves, de quem se consideravadevedor. Executando esse objetivo, conseguiu uma vitóriae uma derrota para a cidade.

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Inauguração do bustodo brigadeiro EduardoGomes, na praça doCorreio Aéreo Nacio-nal, pelo prefeitoAntenor Neves deOliveira. Em 1978,Parnamirim já haviaperdido seu nomeoriginal. Foto doarquivo do Diário de Natal.

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A vitória foi o desfecho para a questão de Passagem deAreia. Localizada em Macaíba e recebendo benefícios emelhorias urbanas de PPaarrnnaammiirriimm, a localidade estava nocentro de uma nova questão de limites que vinha sendonegociada com os prefeitos de Macaíba desde a gestão doTenente Nunes. Com a ajuda do brigadeiro EveraldoBreves, comandante da Base Aérea, que intercedeu a favorde PPaarrnnaammiirriimm, e a disposição do prefeito Valério Mesquita,da cidade vizinha, que reconheceu a necessidade de se nego-ciar novos limites entre os dois municípios, Marcelianorequereu a ajuda técnica do IBGE para novas medições daárea e o Decreto Legislativo nº 21.5, de 05 de setembro de1974, mudou pela segunda vez os limites do município.

Ficou estabelecido, então, que partindo do ponto de tri-junção, a margem direita do rio Japecanga seria o limite oestecom Macaíba até o marco de pedra fixado em 22 de julho de1974 no engenho Pacatuba. Dali, para o norte, a linha do limi-te intermunicipal segue reta até encontrar o KM 03 da BR226, prosseguindo até a bifurcação das estradas carroçáveisexistentes no ponto em que elas se cruzam com a linha detransmissão da rede de energia elétrica da CHESF, onde esta-vam as casas de José de Arimatéia. Deste ponto, os limitesretomavam à margem direita do rio Pitimbú, sem alterar osmarcos ao norte, com Natal, e ao sul, com Nízia Floresta e SãoJosé de Mipibu.A mudança acrescentou cerca de 34 quilôme-tros quadrados a área de PPaarrnnaammiirriimm,, que passou a ter 126,6KM², incluindo a localidade de Passagem de Areia que pas-sou a condição oficial de bairro da cidade.

A incorporação legal de uma área onde já moravauma população que, de fato e legitimamente, se considera-va parte da cidade não chegou a ser comemorada nas ruas.Exatos nove meses antes, a derrota para o município haviaocorrido e tinha sido bem maior.

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44 -- QQuuaannddoo PPaarrnnaammiirriimm ffooii ““EEdduuaarrddoo GGoommeess””

Não se sabe bem os motivos e mesmo na falta de documentos oficiais, os fatos e os depoimentos corroboram atese de que a mudança do nome de PPaarrnnaammiirriimm para“Eduardo Gomes” foi uma idéia discutida, aprovada e sugerida ao deputado estadual Moacyr Duarte (Arena) porEliah Maia do Rego, Antenor Neves e o prefeito Marcelianode Almeida Neto. Antenor Neves, quando questionado, sem-pre evitou falar do assunto, mas nunca escondeu a admiraçãoe o orgulho pela amizade demonstrada pelo marechal do arEduardo Gomes, a quem homenageou com um busto embronze ao transformar em 1978 a praça Presidente Rooseveltem Largo do Correio Aéreo Nacional (praça do CAN) e aquem visitou nas viagens ao Rio de Janeiro.

Nivaldo Xavier, que à época da mudança do nome dacidade dirigia o Serviço de Auto Falantes Augusto Severo(SAFAS), instalado no antigo fiteiro do comerciante JoséFrancisco da Silva (o Zé Treco) da praça PresidenteRoosevelt, lembra que uma comissão de vereadores tentouconvencer o deputado Moacyr Duarte a retirar o projetode votação na Assembléia. A resposta do deputado foicurta e grossa: “lá em Parnamirim eu só escuto Eliah”.Dessa comissão faziam parte o vereador Valério Santiagoe Antônio Basílio Filho - assassinado em junho de 1984 -que tentaram liderar um movimento popular contra amudança do nome da cidade.

“Eu era o presidente da Câmara Municipal, quandosoubemos que o deputado Moacyr Duarte tinha apresentan-do o projeto para mudar o nome da cidade na Assembléia.Ninguém consultou os vereadores, nenhum deles. Junto como finado Antonio Basílio, redigimos uma nota de repúdio quefoi publicada no Diário de Natal”, lembra Valério Santiago.

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A nota, em nome da Câmara Municipal, não sensibilizou odeputado e fez dos vereadores um alvo das pressões docomandante da base, o brigadeiro Everaldo Breves.

“Uma tarde - continua Valério - Netão convocou osvereadores para uma visita e sem dizer para onde ia, noslevou para a sala do brigadeiro que queria saber o que aCâmara Municipal de Parnamirim tinha contra o mare-chal Eduardo Gomes. Os outros vereadores amarelaramna frente do brigadeiro. Era o tempo da ditadura, mas eurespondi que ninguém tinha nada contra Eduardo Gomes,mas se era para homenageá-lo que se encontrasse outrojeito, respeitando o nome histórico da cidade”.

As pressões militares logo se fizeram sentir naAssembléia Legislativa que aprovou, sem discussão esequer cogitar de fazer um plebiscito para saber a opiniãoda população, a Lei 4.278 de 06 de dezembro de 1973, alte-rando a toponímia do município para “Eduardo Gomes”.No Palácio Potengi, o governador Cortez Pereira tambémnão fez qualquer questionamento para sancionar a lei. Apopulação é que nunca se conformou com a mudança econtinuou a se referir à cidade pelo nome histórico. Omunicípio de “Eduardo Gomes” existia apenas nos docu-mentos oficiais.

À época da duvidosa homenagem, o marechal do arEduardo Gomes já ostentava uma folha de serviços pres-tado a Aeronáutica e ao País cem vezes maior que o espa-ço ocupado pelo decreto do deputado Moacyr Duarte.Nascido em 20 de setembro de 1896, em Petrópolis (Riode Janeiro), Eduardo Gomes envolveu-se em levantesarmados em quartéis, revoluções, uma guerra mundial,na criação do CAN e da própria Força Aérea Brasileira.Na época da II Guerra, comandou a 2ª Zona Aérea, a qualestava subordinada a Base Aérea de Natal, e em 1945 e

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No dia em que aAssembléia Legisla-tiva votou a devolu-ção do nome originalao município, mora-dores de Parnamirimlotaram as galerias daPalácio José Augusto,abrindo faixas e car-tazes como o que sevê na foto. Emersondo Amaral/ Arquivosda Tribuna do Norte.

1950 foi candidato derrotado às eleições presidenciais.Ministro da Aeronáutica do governo Café Filho, em1954, e uma segunda vez, entre 1965 e 1967, alcançou omais alto posto na hierarquia da Aeronáutica em setem-bro de 1960. Tinha 77 anos quando soube que a cidadeonde os aliados estabeleceram o Trampolim da Vitóriapara ganharem a II Guerra passaria a ser chamada peloseu nome. Eduardo Gomes faleceu em 13 de junho de1981, mas a cidade teria que esperar que o processo deredemocratização estivesse mais maduro para exigir onome original de volta.

Depois das eleições de 1986, quando se elegeu umnovo Congresso para se fazer uma nova ConstituiçãoNacional, o movimento pela volta do nome dePPaarrnnaammiirriimm saiu das sombras e voltou a mostrar a caranas ruas. Um abaixo-assinado, de iniciativa do comercian-te José Siqueira de Paiva - que está na cidade desde 1944e foi um dos pioneiros no comércio de ferragens e noramo da construção - conseguiu 4.665 assinaturas a favorda volta do nome histórico. A recepção ao abaixo-assina-do, que José Siqueira divulgava junto aos clientes da CasaParnamirim, era a oficialização de um movimento silen-cioso de resistência popular. O prefeito FernandoBandeira não quis apoiar ou assinar o documento, mas a

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Câmara Municipal deu o aval necessário para o pedidochegar à Assembléia Legislativa. Mesmo assim, o primei-ro deputado convidado para apresentar o projeto de leidevolvendo o nome de origem à PPaarrnnaammiirriimm considerouo assunto delicado demais e bem possível de desencadearuma crise com a Aeronáutica.

“Procuramos o deputado Kleber Bezerra, que era donosso partido, o PFL, e que tinha sido bem votado na cida-de, mas ele não quis apresentar o projeto”, lembra o jorna-lista Cláudio Gomes, ex-vereador.10 O deputado RuyBarbosa (PMDB) foi quem se dispôs a apresentar o projeto.

O assunto foi votado em plenário no dia 25 dejunho de 1987. Uma semana antes, as ruas de PPaarrnnaa--mmiirriimm já estavam enfeitadas com faixas e os murospichados com frases exigindo a volta do nome originaldo município. Nas galerias da Assembléia Legislativa,uma caravana formada por líderes locais e moradoresse manifestou em apoio à aprovação do projeto. Dos 17deputados estaduais presente naquele dia à Assem-bléia, 16 votaram a favor (apenas o presidente doLegislativo estadual, deputado Nelson Freire, não com-pareceu ao plenário para votar). O deputado RuyBarbosa, ao encaminhar a votação, ressaltou que nãotinha nada contra o brigadeiro Eduardo Gomes e “opovo, ao querer resgatar o nome de Parnamirim” erada mesma posição. Tratava-se, o caso, de resgatar a his-tória do município.11 Era evidente, pelo discurso e ou-tros sinais estranhos à votação no plenário, que avoltado nome de PPaarrnnaammiirriimm teria que ser negociada com osmilitares. O prazo regimental para a sanção governa-mental ao projeto aprovado era de 15 dias, mas nocomeço de agosto o assunto ainda dormia na gaveta dogovernador Geraldo Melo.

10 - Depoimento ao autor, em novembro

de 2002

11 - Jornal Tribuna do Norte, edição de

26 de junho de 1987

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A negociação entre o governo do Estado e o comando daBase Aérea ficou explícita quando, na primeira página da edi-ção do dia 04 de agosto - mais de um mês após o projeto apro-vado pelos deputados - o DDiiáárriioo ddee NNaattaall noticiou que “tudoindica que o município de Eduardo Gomes vai mesmo voltara ser chamado de Parnamirim”. A notícia dava conta de queo governador Geraldo Melo estava enviando um projeto delei à Assembléia, denominando de “avenida Eduardo Gomes,o trecho da BR 101 entre Natal e àquele município”, desta-cando: “a iniciativa do governador será bem recebida pelossetores militares, principalmente a Aeronáutica, que não vêcom bons olhos o afastamento do nome do patrono da topo-nímia daquele município, em sua quase totalidade habitadopor militares”. No dia 06, o Diário Oficial publicou os doiscurtos parágrafos da Lei 5.601: o primeiro, devolvendo onome de PPaarrnnaammiirriimm ao município; o segundo, determinan-do que a lei entrava em vigor na data de sua publicação.

55 -- OOuuttrraass ccaammppaannhhaass,, oouuttrrooss pprreeffeeiittooss ((11997766--11998844))

Em 1º de junho de 1976, uma terça-feira, Parnamirimfoi palco para um fato até então inusitado na Justiça brasilei-ra e do qual não há registro de que chegou a se repetir desdeentão. Na inauguração do Fórum, o primeiro julgamentorealizado na cidade foi inteiramente coordenado por mulhe-res. A promotora Neuza Maria do Nascimento Costa e aadvogada de defesa, Maria das Vitórias Vasconcelos Câmara,debateram o crime de morte praticado pelo agricultorFrancisco Honorato de Lima, que matou com uma facadaErivan Xavier da Silva. Após três horas e meia de debates,com a sala do juri lotada por espectadores, a juiza ClotildeAlves Pinheiro proferiu a sentença: 23 anos de prisão, maisum como medida de segurança, para o réu.12

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12 - Jornal Diário deNatal, edição do dia 02de junho de 1976

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Cinco meses depois, a juiza Clotilde Alves Pinheiroteria a missão de presidir uma das mais radicais e turbu-lentas campanhas eleitorais na cidade: a disputa entre overeador Valério Santiago e o ex-prefeito Antenor Neves,que tentava volta ao cargo.

A divisão dos grupos políticos locais permaneceuconfusa com referências às siglas partidárias até a reformapolítica de 1980, quando foi extinto o sistema de biparti-darismo e criadas novas agremiações. Quatro anos antes,os protagonistas da mais radical das campanhas políticasda década de 70 ainda estavam dentro da Arena.

Para suceder ao prefeito Marceliano de AlmeidaNeto, a Arena I, liderada pelo deputado Gastão Mariz eo professor Eliah Maia do Rego, lançou a candidatura deAntenor Neves de Oliveira. A eleição dele completariao projeto político do grupo que há oito anos se manti-nha à frente do poder municipal, alongando essa per-manência para doze anos e - repetindo-se o desempenhoadministrativo de Neves em 1970-73, que tinha conse-guido eleger Marceliano Neto - poderia estar garantida

Na inauguração doFórum, em Parnami-rim, um fato inédito

na Justiça Brasileira: oprimeiro júri popular

coordenado só pormulheres. Na foto, a

juíza Clotilde Tavares(com os autos do

processo), a promoto-ra Neuza Maria e aadvogada de defesa,Maria das Vitórias.Arquivo Diário de

Natal.

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a próxima sucessão, nas eleições de 1980. Dentro dasregras eleitorais válidas na época, o mais sensato erajunto com o candidato oficial, eleitoralmente maisforte, lançar um outro nome mais fraco para concorrerpela sub-legenda partidária. A importância dessesegundo candidato era a seguinte: alguns eleitores podi-am não simpatizar com o candidato oficial e votariamno outro, permanecendo fiéis à legenda e contribuindo,na soma final dos votos, para eleger aquele que indivi-dualmente recebesse mais votos.

Nas eleições de 1976, Eliah Maia do Rego convidouo vereador Valério Santiago para ser o candidato daArena II. Envolvido com a política municipal desde aadolescência - ele chegou em PPaarrnnaammiirriimm com os pais,João Felipe Santiago, ferreiro na Base Aérea, e LuizaMaria da Conceição, por volta de 1943, indo morar ondehoje é a Vila dos Cabos e Taifeiros - Valério estava nosegundo mandato de vereador e tinha sido o presidenteda Câmara Municipal. O episódio do protesto pelamudança no nome da cidade e a posição de independên-cia assumida por Valério pareciam indicar que uma can-didatura liderada por ele se tornaria forte o suficientepara não se conformar em apenas dar coeficiente eleito-ral ao nome de Neves. Mas essa foi uma possibilidadeignorada por Eliah Maia do Rego, que se considerava umarticulador experiente.

Ao aceitar a indicação, Valério não aspirava ser ape-nas suporte para a volta de Neves à prefeitura. Contava tero apoio do deputado Gastão Mariz e do próprio Eliah.Logo se viu só, apenas com o companheiro de chapa, overeador Antônio Basílio Filho, para enfrentarem Neves(Arena I) e os candidatos do MDB, Evaristo Siqueira (pre-feito) e José Cordeiro (vice).

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“Não ficou uma só liderança comigo. O deputadoGastão Mariz se passou para o lado de Neves, Netão tam-bém. Sem dinheiro, tive que enfrentar as pressões dosgrupos políticos e do comando da Base que, sem esquecero protesto por causa da mudança do nome da cidade, reco-mendou aos funcionários civis e militares para ninguémvotar comigo e Basílio””,, lembra Valério.

O suporte econômico necessário para a campanhaveio dos amigos e empresários Fernando Bandeira deMelo e João Canuto, da Sociedade Progresso, uma dasempresas pioneiras no negócio de criação e comércio deaves no município. Com uma Kombi equipada com servi-ço de som, doada pelos empresários, os comícios eram fei-tos nas ruas do Centro, nos bairros da periferia e emPirangi do Norte. As projeções davam como certo que avitória seria da chapa Valério-Basílio e os ânimos entre osdois candidatos do mesmo partido ficaram acirrados. Acidade debatia com paixões quem ganharia naquele ano.Para o encerramento da campanha, foi marcado um gran-de comício na praça Presidente Roosevelt. Neves faria amanifestação final da sua campanha no pátio do mercado.

“Fizemos uma passeata, subimos a avenida Coman-dante Petit e quando dobramos para a praça demos decara com o comício de Neves. Eliah, alegando que o cami-nhão que carregava o candidato tinha quebrado, haviadesviado o trajeto e ocupado a praça”, relata Valério.

O encontro acabou em alguma pancadaria e muitasencenações. Em cima do caminhão que servia de palanque,Neves discursava no estilo dramático que caracterizavasuas campanhas: camisa aberta no peito, gritava que “sódeixaria a praça, morto”. Os partidários dele tomaram odesafio como a senha para reagirem e começaram a jogarlaranjas em quem vinha chegando com a passeata. Estes se

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municiaram com ovos e sacos de fubá, comprados por umapartidária de Valério em uma mercearia próxima, e revida-ram como puderam. Alguém jogou um objeto em direçãoao caminhão que trazia Valério e ele viu a oportunidadeque faltava: fingiu ter sido atingido, caindo nos braços docorreligionário mais próximo. Aos gritos de “atingiramnosso candidato”, o pessoal de Valério conseguiu chamara atenção da polícia e dos líderes que apoiavam Neves. Asduas manifestações se dissolveram.

No dia seguinte, visitando os locais de votação,Valério apareceu em público com um curativo no rosto.Era a encenação final. Abertas as urnas, ganhou Neves,com 2.378 votos.

De volta à prefeitura, Antenor Neves de Oliveiraficou no cargo por seis anos, graças a reforma político-eleitoral promovida pelo governo do general João Batistade Figueiredo que, preparando a volta das eleições diretaspara governadores e o fim do bipartidarismo, prorrogou osmandatos dos governadores nomeados em 77 e prefeitoseleitos por dois anos. No segundo mandato, Neves inves-tiu em obras, como a ampliação da escola Presidente Costae Silva e a construção do Largo do Correio Aéreo Nacional(Praça do CAN), com o busto do brigadeiro EduardoGomes, substituindo a praça Presidente Roosevelt; o calça-mento de várias ruas (entre elas a senador João Câmara);a construção do matadouro municipal; ampliação do siste-ma de abastecimento d´água e de eletrificação.

Nas eleições de 1982, o vereador Valério FelipeSantiago teve a revanche da derrota de 76, quando articu-lou e ganhou as eleições com a chapa Sadi Mendes-Fernando Bandeira, pelo PDS (sucedâneo da extintaArena), derrotando Samuel Fernandes (PMDB). A eleiçãodo prefeito Sadi Mendes Sobreira (1945-1984), oficial

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médico na Base Aérea que chegou à cidade em 1972 e eraconsiderado pela população civil “o médico dos pobres”,criou uma grande expectativa quanto a uma administraçãovoltada para as questões sociais do município, frustradaonze meses depois com a morte dele, vítima de um AVC.O vice, Fernando Bandeira (1927-1992), cumpriu os trêsanos que faltavam para o fim do mandato continuandocom a política de investimento em educação e saúde idea-lizada por Sadi Mendes.

66-- QQuuaaddrroo ccrroonnoollóóggiiccoo ddooss pprreeffeeiittooss eelleeiittooss eemm PPaarrnnaammiirriimm..

PPrreeffeeiittoo PPaarrttiiddoo MMaannddaattoo

Ilson Santos de Oliveira PSD 01/02/1960 - 31/01/1965

José Augusto Nunes PSD 01/02/1965 - 31/01/1970

Antenor Neves de Oliveira PMDB 01/02/1970 - 31/01/1973

Marceliano de Almeida Neto Arena 01/02/1973 - 31/01/1977

Antenor Neves de Oliveira Arena 01/02/1977 - 31/01/1983

Sadi Mendes Sobreira PDS 01/02/1983 - 04/01/1984

Fernando Bandeira de Melo PDS 05/01/1984 - 31/12/1988

Raimundo Marciano de Freiras PDS 01/01/1989 - 31/12/1992

Flávio Martins dos Santos PMDB 01/01/1993 - 31/12/1996

Raimundo Marciano de Freitas PL 01/01/1997 - 31/12/1999

Agnelo Alves PMDB 01/01/2000*

*Tem mandato até 31/12/2004

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1 - Industrialização: um projeto longo demais

2 - O progresso em Parnamirim

3 - Um pioneiro solitário

4 - A Festa do Boi

5 - Projetos agrícolas em Pium e Jiqui

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Velhas vantagens,novos negócios

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11 -- IInndduussttrriiaalliizzaaççããoo:: uumm pprroojjeettoo lloonnggoo ddeemmaaiiss

A necessidade de um projeto de industrialização parao Brasil começou a ser discutida em meados do século XIX.Era preciso saber como reinvestir e fazer render os capitaisque antes circulavam no mercado de escravos, disponíveisa partir de 1851 com a proibição imperial ao tráficonegreiro. Um dos mais fortes argumentos abolicionistasera as mudanças que ocorriam nas relações de produção -a produtividade maior do trabalho assalariado - e o riscodo País ficar à margem da economia mundial. Mas, foramos excedentes dos lucros com as plantações de café, a exis-tência de uma infra-estrutura de transportes (ferrovias), aconstrução de usinas de energia e a formação de um mer-cado consumidor interno que permitiram a diversificaçãoda economia. Começando pela região Sudeste, onde aindústria têxtil foi a primeira a se consolidar.

No Nordeste, a industrialização começou com osengenhos e usinas de cana de açúcar, mas estes estavamligados à estrutura dos latifúndios, pouco contribuindopara a formação de uma burguesia local, dependente ape-nas da administração de capitais industriais, ou de umaclasse operária. A industria têxtil, que desempenhariamelhor esse papel, surgiu em Alagoas, Minas Gerais,

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Maranhão e Pernambuco por volta de 1880, dando novoimpulso à cultura e às exportações de algodão, estagnadasdesde o fim da Guerra da Secessão nos Estados Unidos(1865). No papel, o Império parecia apoiar e incentivar asnovas idéias de progresso, mas na prática as conseqüênciaspolíticas da privatização dos mercados e de uma economialivre estavam além do que permitiam os conservadores ou,até mesmo, ousavam os liberais. A privatização do capitale dos lucros se fazia, sobretudo, pela distribuição de con-tratos entre o governo imperial e seus apadrinhados.

No Rio Grande do Norte, o governo provincial tentouimpulsionar a industrialização com a fundação do“Engenho Central”, em 1875, projetado para ter máquinasa vapor e uma produção anual estimada em até 500 tonela-das inglesas de açúcar. Investidores foram contatados, ocapital não apareceu e a idéia acabou arquivada. Dois anosdepois, o presidente da província, Antônio dos PassosMiranda, retomou o projeto e assinou contrato da constru-ção do engenho com o comerciante Amaro Barreto deAlbuquerque Maranhão, que procurou investidores naInglaterra e nos Estados Unidos, mas o projeto estava fada-do a não sair do papel. O ano de 1877 foi de seca. A catás-trofe dos flagelados se repetia no interior da Província ePassos de Miranda, convicto de que só a indústria rompe-ria o ciclo de estiagens, pobreza e fome, contratou o mesmoAmaro Barreto para abrir uma fábrica de fiação e tecela-gem em Natal, oferecendo novos empregos e lançando asbases para uma nova economia. O projeto entusiasmouJovino Barreto, comerciante e genro de Amaro Barreto.1

Jovino Barreto levou 11 anos lutando sozinho paraconseguir vencer as dificuldades da falta de capital próprioe o desinteresse dos investidores locais em uma fábrica defiação e tecidos. Em 24 de maio de 1886 lançou a pedra

1 - O jornal Diário deNatal publicou a biogra-

fia de Jovino Barreto,dentro da série "Gente

Potiguar III - Os Empre-sários - vol. 5".

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fundamental da fábrica. Viajou para a Inglaterra, ondeadquiriu o maquinário e acertou a vinda de técnicos, hipo-tecando bens e os rendimentos futuros. Em 21 de julho de1888, inaugurou a Fábrica de Fiação e Tecidos Natal,erguida em um terreno de oito mil metros quadrados, nocomeço da rua da Cruz (antiga Junqueira Aires, hojeCâmara Cascudo), às margens dos trilhos da ImperialBrazilian Natal and Nova Cruz Railway Ltda.

Vinte anos depois de instalada - e 17 depois da mortedo seu criador - a Fábrica de Tecidos Natal tinha 320 operá-rios. A administração idealizada por ele teve continuidadecom o filho, Sérgio Paes Barreto, mas os negócios já atraves-savam dificuldades. A concorrência com a indústria têxtil doSudeste, mais capacitada para renovar os investimentos namodernização da produção, e com os tecidos finos importa-dos dos ingleses, não deixava muitas opções de mercadopara a Fábrica de Natal. Em 1923, uma greve por melhoressalários, iniciada pelos estivadores do Porto de Natal, acaboupor receber a adesão dos trabalhadores nos transportes decargas, padeiros e operários da fábrica. Em 1925, SérgioBarreto desistiu de tentar recuperar a fábrica, fechou as por-tas e transferiu-se para o Rio de Janeiro.

22 -- OO pprrooggrreessssoo eemm PPaarrnnaammiirriimm

A industrialização do Rio Grande do Norte só volta-ria a ser repensada e planejada como meta de administra-ções públicas na década de 60, quando o governo AluízioAlves investiu na infra-estrutura necessária (a chegada daenergia elétrica de Paulo Afonso, em 1964), permitindoque o Estado fosse incluído nos planos diretores trienaisda Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (aSudene, criada em 1959). Os dois primeiros planos da

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autarquia, em relação ao RN, se preocuparam com aindústria de mineração (1961-63) e com a indústria sali-neira (1963-65). No terceiro plano (1966-68), a Sudenelançou as diretrizes para o surgimento de distritos indus-triais junto às capitais ou maiores cidades nordestinas,recomendando que os governos estaduais criassem Bancosde Desenvolvimentos, secretarias voltadas para uma polí-tica de apoio e incentivo ao comércio e às indústrias, e umacompanhia integrada para o desenvolvimento e gerencia-mento dos distritos industriais. No Rio Grande do Norte,foram criados o BDRN, a SIC e a CDI/(RN).

Os primeiros estudos para a implantação de um dis-trito industrial no Rio Grande do Norte foram realizadospela Faculdade de Arquitetura da Universidade dePernambuco. Toda a área circunvizinha à capital foimapeada e as potencialidades e infra-estrutura analisa-das. Esses dados permitiram a elaboração de um relatórioconclusivo sobre a localização do Distrito Industrial deNatal (DISI-Natal). O local escolhido foi uma área de565 hectares, no limite dos municípios de Natal e SãoGonçalo do Amarante, na estrada de Extremoz. A insta-lação foi em junho de 1979. A Sudene liberou incentivospara 45 indústrias no DISI-Natal e mais oito unidadesem PPaarrnnaammiirriimm.

Contrariando os planos oficiais, a implantação deindústrias no DISI se deu de forma mais lenta que o espe-rado e com menor intensidade que a verificada no muni-cípio ao sul da capital. Em PPaarrnnaammiirriimm, com uma raravisão de futuro entre homens públicos, o prefeito JoséAugusto Nunes - o Tenente Nunes, eleito em 1964 para omandato de fevereiro de 1965 a janeiro de 1970 - já haviacriado a Área Industrial de Parnamirim, oficializada peloDecreto-Lei nº 99.

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Estudando as causas e as conseqüências da industriali-zação no município,2 a professora Maria Raimunda da SilvaTrindade entrevistou dirigentes de 25 empresas, 22 delasestabelecidas em PPaarrnnaammiirriimm, e pôde detectar que as vanta-gens estratégicas oferecidas pelo município, mais uma vez,fizeram a diferença. Em comparação ao DISI, PPaarrnnaammiirriimmoferecia maior rapidez para o escoamento da produção, atra-vés do acesso mais próximo ao aeroporto Augusto Severo; doentroncamento das BR 101 (acesso ao sul do País) e BR 304(acesso ao Norte, através de Fortaleza/CE) e graças à existên-cia de uma linha férrea com ligação para o Recife. A disponi-bilidade de energia elétrica e reservas subterrâneas de água apouca profundidade, barateando o custo de abastecimento dainfra-estrutura necessária às atividades industrias, tambémeram determinantes para a escolha feita pelos empresários,apesar do planejamento governamental e da infra-estruturamontada do outro lado do Potengi. Entre as empresas pesqui-sadas, 45% haviam chegado a PPaarrnnaammiirriimm “após a criação doDistrito Industrial de Natal”. A maioria delas recebia incen-tivos fiscais previstos na lei - apesar do acesso a financiamen-tos públicos ser mais fácil para quem optava pelo DISI - masapenas uma devia este benefício à ação direta do poder públi-co municipal, na forma de isenção do IPTU.

O crescimento da atividade industrial no município,como observou a professora Maria Raimunda da SilvaTrindade, se deu da mesma forma espontânea que a for-mação urbana. “A área industrial de Parnamirim carac-teriza-se por apresentar um tipo de localização industrialespontânea, onde os fatores favoráveis à implantação deindústrias não foram trabalhados para tal fim e que, ape-sar de todo o planejamento voltado para o DistritoIndustrial Sócio-Integrado de Natal - DISI, as indústriascontinuam se implantando em Parnamirim”.

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2 - Fatores Determi-nantes da CrescenteLocalização Industrial no Município deParnamirim/RN -UFRN/CCS - 1988.

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Em 1981, o cadastro industrial da Fiern registrava 18indústrias no município, totalizando 2.638 operáriosempregados. O cálculo aproximado para a oferta deemprego na indústria correspondia, então, a cerca de 32%da população economicamente ativa (8.272 pessoas em1980, segundo o IBGE). Eram estabelecimentos diversifi-cados em vários ramos de atividades de beneficiamento,desde a indústria têxtil e fabril até a fabricação de embala-gens. Os mais expressivos, com os respectivos números deempregados estão no quadro abaixo:3

EEssttaabbeelleecciimmeennttooss iinndduussttrriiaaiiss NNºº ddee eemmpprreeggaaddooss1. Sperb 650 2. Brasinox 350 3. Texita 2804. Cibrasal 2505. Natécia 200 6. Sacoplástico 1557. Planosa 1488. Impasa papéis 1159. Coirg 8010. Bonor 7911. Salha 6512. Impasa Transportes 6513. Impasa Refrigerantes 6514. Sociedade Rio Grande do Norte 6015. Selvagem 2416. Cesmetal 1917. Concretex 1818. Nagisa 15Fonte: Fiern/CIRN 1980 Total 2.638

3 - Reproduzido tambémpor Itamar de Souza (ob.

cit. - p. 41)

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A presença das indústrias permitiu que a economialocal, até então centrada no comércio e nas atividades deserviços relacionados com às necessidades da base militar,progredisse em outra direção e a cidade tomasse um novoimpulso para dar continuidade ao crescimento registradodesde o início de sua formação. Chegaram as agências ban-cárias e o mercado local recebeu a injeção de capitais finan-ceiros. Primeiro, com os bancos oficiais - Banco do Estadodo Rio Grande do Norte (o antigo Bandern, fechado em1991) e o Banco do Brasil - e, depois, com agências da CaixaEconômica Federal e do Banco Brasileiro de Descontos(Bradesco). A geração de impostos triplicou, levandoPPaarrnnaammiirriimm a ocupar, em julho de 1989, o terceiro lugar naarrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias(ICMS), no consumo de água e de energia elétrica.

Durante a década de 80, o Rio Grande do Norte viveua expansão das atividades petrolíferas, passando a ocupar oprimeiro lugar na produção de gás natural e a segundacolocação na produção de óleo natural. Para fazer frente àdemanda da exploração, a Petrobrás terceirizou várias ati-

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Vista aérea do Parque Industrial deParnamirim. A áreadestinada a instalaçãode industrias acabousendo ocupada pormoradias e loteamen-tos, inviabilizando aexpansão da atividadeeconômica. Foto daPrefeitura Municipal.

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vidades e a maioria das empresas prestadoras de serviços -multinacionais como a Montreal, a Techint e a Smith -instalaram filiais em PPaarrnnaammiirriimm.. No final da década, umlevantamento feito pelo Instituto de DesenvolvimentoEconômico e Meio Ambiente do RN (IDEC) registrou aexistência de 40 indústrias em atividades diversificadas,com ênfase na indústria de alimentação e no setor têxtil.Existiam ainda 48 micro-indústrias e 22 panificadoras.O contingente da mão de obra empregada na indústria erapouco maior que 13 mil operários (cerca de 26% da popu-lação economicamente ativa). Parte da mão de obra dispo-nível encontrava ocupação no comércio, na prestação deserviços para a indústria do turismo ou junto aos poderespúblicos sediados em Natal.

Nos anos 90, PPaarrnnaammiirriimm viu o encerramento dociclo de grandes investimentos do capital financeiro naindústria local, em função do colapso na ordem econômi-ca mundial. A crise financeira fechou várias das grandesfábricas pioneiras no município: a Tecblu, filial da Teka; aindústria de leite de coco Indiano; a Brasinox, que fabrica-va equipamentos para cozinhas industriais fechou edesempregou centenas de operários. A fábrica da CocaCola virou depósito para distribuição do produto. Alémdisso, havia a sempre ausente atitude do governo estadualque continuou a ignorar o distrito industrial que nascera àmargem dos planos oficiais.

Nos últimos anos, a economia do município temdado sinais de ter encontrado outras alternativas de desen-volvimento, à margem da opção industrial, registrandocrescimento significativo em atividades como o comércio,avicultura e o turismo, este último centralizado nas praiasde Cotovelo e Pirangi do Norte. A renda média mensal nomunicípio é de R$ 742,79.4

4 - Rendimento nominalmédio mensal, Censo

2000/IBGE. O quadro derendimentos, distribuí-

dos por bairros da cidade,está no Capítulo VII

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33 -- UUmm ppiioonneeiirroo ssoolliittáárriioo

Nos anos anteriores à construção dos campos dosfranceses, levada a cabo entre 1927/29, na área que hojecompreende o município de PPaarrnnaammiirriimm, alguns engenhosde beneficiamento de cana-de-açucar, fabricando mel erapadura, assim como casas de farinha, funcionavam deforma esparsa e isolada. Eram os engenhos Pitimbu,Japecanga e Cajupiranga, entre outros menores. Essa pri-mitiva atividade indústrial pouco ou nada influenciou naformação urbana e no desenvolvimento econômico dacidade. Sua contribuição à história ficou resumida à ori-gem de topônimos locais.

O pioneiro da indústria no município foi FirminoGomes de Castro, irmão de Otávio Gomes de Castro, nas-cido em 09 de janeiro de 1921, no distrito de Cajueiro,município de Touros. Em 1940, após o irmão ter se estabe-lecido em PPaarrnnaammiirriimm, Firmino Gomes de Castro tambémpassou a fazer negócios com a população local. Vendia cafée, anos depois, acumulou capital suficiente para abrir suaprópria torrefação: a Sociedade Rio Grande do Norte, pro-dutora do Café Rio Grande. Em 1966, decidiu-se a virmorar na cidade, tentando por diversas vezes e sem suces-so eleger-se a um cargo político. Em 1981, sua indústriatinha 60 empregados e ocupava a 14ª posição no rankingdo cadastro industrial do município.

Quatro anos depois, pressionado pela concorrência epela crise no mercado nacional, era a 27ª com 20 emprega-dos. Em setembro de 1986, durante a campanha eleitoral,Firmino Gomes de Castro morreu em um acidente auto-mobilístico na BR 226, próximo a cidade de Caiçara do Riodos Ventos, quando voltava de um comício em Patu(região Oeste). A torrefação fechou logo em seguida.

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44 -- AA FFeessttaa ddoo BBooii

Parnamirim nunca concentrou uma grande atividadepastoril, mas as mesmas vantagens estratégicas que atraíramos militares e as indústrias acabaram por colocar o municípiona rota e no calendário do agro-negócio. A cidade é a sede daFesta do Boi, evento anual que reúne, durante oito dias domês de outubro, criadores e empresas de implementos agrí-colas. Realizada desde 1955, essa festa já é considerada comouma das mais importantes exposições agro-pecuárias doBrasil, oferecendo uma mostra completa dos avanços nomelhoramento genético dos rebanhos bovino, caprino, suíno,ovino, eqüino e na avicultura local e de outros Estados. Parase ter uma idéia do tamanho dessa exposição, em 2002 foirealizada a 40ª edição (nos anos mais graves da seca no semi-árido nordestino a festa não foi realizada) com um públicorecorde de 400 mil visitantes, 200 expositores e R$ 10 mil-hões em volume de negócios e financiamentos. A história daFesta do Boi está ligada à instalação do Parque de ExposiçõesAristófanes Fernandes - uma área de 26,3 hectares no muni-cípio de Parnamirim - mas suas origens são mais antigas.

Os primeiros a pensar na possibilidade de um eventoque reunisse os melhores espécimes bovinos locais e algunsde fora, oferecendo oportunidades de negócios que melhora-riam a qualidade genética dos rebanhos, foram os pecuaris-tas Olavo Montenegro, Luciano Veras e AristófanesFernandes. Este último, deputado estadual e federal porvárias legislaturas, comerciante e dono de minas de schellita,trazia gado das regiões sul e centro-oeste e com ele promo-via feiras em sua fazenda, no município de Santana doMatos, vendendo os animais aos outros criadores. O próprioAristófanes Fernandes bancava os custos da organização, acomida e a bebida para os convidados. Em 1949, foi criada a

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Associação Norte-Riogran-dense de Criadores, por iniciati-va de Olavo Montenegro, Luciano Veras e outros.

Reunidos na entidade, esse grupo realizou as primeirasfeiras e exposições de gado, no colégio agrícola de Jundiaí. Aomesmo tempo, em Parnamirim, surgiu um “parque” devaquejadas, e a ANORC viu que a área reunia condições bemmelhores para sediar as feiras e exposições. No entroncamen-to das estradas de rodagem e da estrada de ferro que ligavamNatal ao sertão potiguar, a João Pessoa e a Recife, o “parquede Parnamirim” oferecia vantagens de transportes que afazenda de Aristófanes e o colégio de Jundiaí não tinham. Aassociação construiu os primeiros galpões no local com tron-cos de carnaúbas e cobertura de palhas de coqueiros. Em1953, o governador Silvio Pedroza construiu os primeirosgalpões em alvenaria e, em 1955, inaugurou a área como“Parque de Exposições”. No ano seguinte, foi realizada a pri-meira exposição de animais e máquinas agrícolas. O governa-dor seguinte, Dinarte Mariz, fez mais algumas melhorias naestrutura e em 1961, já no governo Aluízio Alves, o parquerecebeu a primeira grande reforma, assumindo as dimensõesatuais e a homenagem a Aristófanes Fernandes.

Em 1978, o governador Tarcísio Maia modernizou asinstalações do parque para a realização da “ExposiçãoNacional da Raça Guzerá”. O evento deu um novo impul-so à pecuária potiguar que passou a ocupar, em poucosanos, uma posição de destaque na composição do rebanhonacional dessa raça bovina. Na década seguinte, durante ogoverno José Agripino, as exposições anuais passaram aser chamadas de “Festa do Boi”. Em 2001, o evento reve-lou um recorde do melhoramento genético dos rebanhos.A vaca “Nação AM”, produzida no Estado, tornou-se arecordista mundial em peso (1.008 quilos) entre todos osespécimes das raças zebuínas.

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O Parque de Exposições conta hoje, além das instala-ções para a acomodação e exposição dos animais, com umlaboratório de análises clínicas veterinárias; as sedes devárias associações de criadores filiadas a ANORC; escritó-rio técnico da Empresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural (Emater), auditório para palestras e arquivos com osregistros dos rebanhos potiguares.

55 -- PPrroojjeettooss aaggrrííccoollaass eemm PPiiuumm ee JJiiqquuii

A proximidade com a capital e a disponibilidade deterras férteis em PPaarrnnaammiirriimm levaram a sucessivas tenta-tivas oficiais de implantação de projetos agrícolas quepudessem, ao mesmo tempo em que oferecessem novasoportunidades de empregos para a mão de obra migrantedo interior, garantir o abastecimento do mercado consu-midor de Natal com produtos horti-fruti-granjeiros.

O primeiro desses projetos, idealizado pelo extintoInstituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, foi a cria-ção da Colônia Agrícola do Vale do Pium, na área dos limi-

Portão do Parque deExposições Aristófanes

Fernandes, cenáriopara um das maioresfeiras agropecuáriasdo Nordeste que já

se integrou ao calendário de eventos

de Parnamirim.

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tes entre Nísia Floresta e PPaarrnnaammiirriimm,, aproveitando as fér-teis terras irrigadas pela confluência dos rios Pitimbu (apósdeixar a Lagoa do Jiqui), Pium e Pirangi. No início da déca-da de 50, 45 lotes de até 50 hectares foram distribuídos afamilias de pequenos produtores para o cultivo de hortali-ças, frutas e legumes. O governo federal oferecia a assistên-cia técnica necessária e, como parte do pioneirismo do pro-jeto, 10 famílias de agricultores japoneses foram assentadasem lotes distintos para a experimentação de novas técnicasde cultivo. Máquinas e implementos agrícolas foram insta-lados e disponibilizados, uma vila foi construída e o gover-no oferecia ainda toda assistência médica e social aos colo-nos. Os lotes eram cedidos por 20 anos, durante os quais nãose podia vender nem arrendar a terra. Ao fim deste prazoseriam concedidos os títulos de posse. O governo esperavaque, passado este tempo, o projeto já estaria consolidado eauto-suficiente para prescindir da assistência subsidiada.

Durante os 20 primeiros anos, a experiência foi umsucesso.Toneladas de hortaliças, frutas, coco e arroz foram pro-duzidos e abasteceram o mercado consumidor de Natal. Em1972, quando os títulos de posse começaram a ser entregues, ogoverno retirou a assistência técnica e entregou a ma-nutençãoda infra-estrutura - máquinas e instalações comunitárias davila - aos próprios colonos. Problemas de organização e coope-ração entre os pioneiros do projeto começaram a surgir e invia-bilizaram não só a continuidade do projeto como até mesmo aarticulação de um movimento comunitário que pressionasse ogoverno para a implantação de novas ações de apoio à colônia.Alguns dos colonos, tão logo se viram proprietários dos lotes,venderam as terras e abandonaram o projeto aos novos pro-prietários que, sem interesses na agricultura, investiram nainstalação de balneários para a recepção de turistas ou apenasconverteram a área em granjas para o lazer familiar.

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Em junho de 1989, quando o Vale do Pium já con-tava com mais de mil habitantes e quase 200 casas - eapós uma tentativa fracassada de emancipar a área daantiga colônia como município desligado de NísiaFloresta e PPaarrnnaammiirriimm - a revista RRNN EEccoonnôômmiiccoo denun--ciou o abandono em que se encontrava o projeto agríco-la do Vale do Pium. A reportagem de capa da revista, sobo título “Um Vale Rico e Abandonado”,5 mostrava quea área era alvo de intensa especulação imobiliária equase nada mais existia dos antigos equipamentoscomunitários da Vila. Das 10 famílias de colonos japone-ses, apenas duas permaneciam nos lotes tentando, aduras penas, manter-se com o cultivo de cajus. O rioPium, fonte da fertilidade do Vale, estava assoreado edurante os períodos de chuvas causava inundações, des-truindo as poucas culturas que ainda eram mantidas àsmargens do curso d’água.

O segundo empreendimento de agricultura planeja-da na área de PPaarrnnaammiirriimm surgiu quando a colônia doPium ainda prometia sucesso e um futuro promissor. Foi aCidade Campestre do Jiqui, criada em 19 de agosto de1963 (Decreto 2.906) pelo governador Aluízio Alves. Oobjetivo era financiar terras para pequenos agricultoresque, com assistência técnica e financeira do Estado, pode-riam se estabelecer em granjas de um ou até dois hectares.Para isso, o governo disponibilizou 800 hectares na área domunicípio de PPaarrnnaammiirriimm e próximo à lagoa do Jiqui. Aárea total foi entregue a uma sociedade civil sem finslucrativos para a comercialização ou doação dos lotes.Segundo depoimento de Rui Paiva ao historiador Itamarde Souza, 535 hectares foram doados. Os demais, comer-cializados com entrada inicial de 20% do valor de venda eo restante financiado em longo prazo.

5 - Revista RNEconômico, Ano XX -

nº 210 - junho de 1989 -pp. 8-15

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O plano urbanístico elaborado para a CidadeCampestre era grandioso e, se tivesse sido executado, teriadotado a capital e Parnamirim de um moderno núcleorural ,no qual a infra-estrutura oferecida, combinada comos possíveis sucessos econômicos do empreendimento,teria elevado o nível de qualidade de vida dos moradores.A Cidade Jiqui estava projetada para contar com cinema,piscina, vila olímpica, escolas, restaurante, quadras espor-tivas, mercadinho, play-ground, ancoradouro de lanchas,terminal rodoviário, biblioteca e Igreja.

A venda dos lotes, no entanto, não teve a recepçãoesperada pelo governo e a construção dos equipamentosprojetados foi parcial. Abriu-se a estrada de acesso (a ave-nida do Jiqui, hoje avenida Ayrton Senna), a piscina e oportal foram terminados e os alicerces de uma capela, ondeo monsenhor Ulisses Maranhão chegou a rezar umamissa, foram construídos. No início da década de 70, já nogoverno do Monsenhor Walfredo Gurgel (1966-1971), oMinistério da Aeronáutica requereu a desapropriação devárias granjas para a construção de uma estrada ligando asinstalações da Barreira do Inferno à Base Aérea. Foi o últi-mo lance do projeto fracassado e muitos dos proprietáriosdas granjas remanescentes resolveram juntar-se e fundaro Jiqui Country Clube, área destinada exclusivamente aolazer e a prática de camping, hipismo e outros esportes.

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1 - A marcha demográfica e as desigualdades

2 - Os bairros

3 - Pirangi do Norte

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Breve notíciasda expansão urbana

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11 -- AA mmaarrcchhaa ddeemmooggrrááffiiccaa ee aass ddeessiigguuaallddaaddeess

Nas quatro décadas de emancipação política, a impe-tuosidade com que PPaarrnnaammiirriimm se transforma, atraindogente e ganhando contornos de cidade com vida própriaem poucos anos - característica destacada por Luis daCâmara Cascudo ao falar sobre as origens da “vila deParnamirim” - parece não ter freios. Durante esse trans-curso de tempo, a cidade ganhou um novo título, a ser jun-tado ao de Trampolim da Vitória - da época da guerra - ede Cidade Espacial - após a implantação da Barreira doInferno: “a cidade que mais cresce no Brasil”.

A população praticamente dobrou a cada dez anos,de acordo com as estatísticas dos censos populacionais.O primeiro de que se tem registro, realizado em 1950,mostrou que o então Distrito de PPaarrnnaammiirriimm,, subordi--nado à Capital do Estado, contava com 4.986 habitantes,duas vezes os “cerca de dois mil e quinhentos fiéis” quecompareceram à Missa do Galo em 1944. Dez anosdepois, o censo de 60 registrou uma população residen-te de 8.826 habitantes que, em 1970, já era de 14.502habitantes e pulou para 26.773 dez anos depois. Nofinal da década de 80, como efeito de uma fluxo migra-tório maior devido aos sete anos intercalados de secas

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no período 1979/1987 e o impulso de atividades indus-triais na região da Grande Natal, o índice de crescimen-to populacional no município foi de 8,28%, o oitavomaior da Região Nordeste e o 32º de todo o País, segun-do o Censo Demográfico do IBGE de 1991. A cidadetinha 63.312 habitantes.

Durante a década seguinte, o índice de crescimentomédio anual foi menor (7,9%), mas ainda assim é o pri-meiro entre todos os municípios potiguares e mais de qua-tro vezes o índice registrado na capital (1,8%) ou em cida-des pólos como Mossoró (1,2%) e Caicó (1,3%).PPaarrnnaammiirriimm conta, pelo censo realizado no ano 2000, comuma população de 124.690 habitantes. É a terceira maiorcidade do Rio Grande do Norte (Natal tem 712.317 eMossoró 213.841 habitantes). A densidade demográfica -habitante por quilômetro quadrado - no município é de988,90 h/km², a segunda maior do Estado (a primeira éNatal, com 4.195,96 h/km²). Com um ritmo de crescimen-to tão acelerado, o município logo se viu às voltas comproblemas de urbanização.

A demanda de um contingente populacional, cadavez maior, por serviços de infra-estrutura urbana ressaltauma série de deficiências quanto ao saneamento, mora-dias, abastecimento d’água e de energia elétrica, seguran-ça, degradação ambiental e legalização das áreas ocupadas.As ações desenvolvidas ao longo das administraçõesmunicipais procuram resolver alguns desses problemas,mas a dinâmica social faz com que elas se constituam maisem uma colcha de retalhos do que, propriamente, em umprojeto coeso e continuado de soluções.

O problema mais urgente é a disponibilidade delocais para a construção de novas moradias e a infra-estrutura necessária para atender à população mais pobre.

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Um problema de difícil solução, em qualquer parte dopaís, por estar ligado à questão da propriedade da terra ea legalização de posses. Áreas recém urbanizadas, comoNova Parnamirim, Pirangi de Dentro e faixas do litoralentre as praias de Cotovelo e Pirangi do Norte, concen-tram o maior numero de conflitos e posses ilegais, cominvasões de terrenos particulares e disparidades de rendacada vez maiores.

Nos bairros da periferia da cidade também estão osmaiores índices de crescimento e concentração populacio-nais, em oposição aos menores níveis de rendimento. Umasimples comparação dos dados coletados pelo Censo de2000 do IBGE mostra o quanto é grande essas disparida-des, ao lado de uma tendência de esvaziamento das áreashabitacionais localizadas próximas ao Centro e o “incha-ço” populacional na periferia.

BBaaiirrrrooss HHaabbiitt//11999966 HHaabbiitt//22000000 RReennddaa MMééddiiaa//22000000

Boa Esperança 5.263 5.471 R$ 676,39

Centro 5.930 5.378 R$ 975,39

Cohabinal 4.115 3.890 R$ 1.393,98

Emaús 4.309 11.749 R$ 720,20

Jardim Planalto 3.901 4.872 R$ 508,14

Liberdade 2.879 4.150 R$ 362,25

Monte Castelo 7.256 8.469 R$ 434,79

P. Exposições 2.486 3.815 R$ 364,47

P. do Pitimbu 7.270 10.589 R$ 1.194,24

P. dos Eucaliptos 5.875 14.363 R$ 1.333,25

Pasg. de Areia 8.315 10.952 R$ 342,21

Rosa dos Ventos 5.596 8.871 R$ 532,61

Santa Tereza 4.002 4.267 R$ 443,47

Santos Reis 7.449 7.857 R$ 590,52

Vale do Sol 3.691 4.446 R$ 503,52

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Vista da antiga praçaPresidente Roosevelt,

com o “fiteiro de ZéTreco”, onde funcio-nou depois o Serviço

de Alto FalanteAugusto Severo

(SAFAS) de NivaldoXavier. Arquivo do

Diário de Natal.

Centro deParnamirim no inícioda década de 60. RuaTen. Ferreira Maldos,

onde se realizava a feira livre, com

bancas alugadas pelocomerciante Jessé

Soares Souto. Fotocedida pelo jornalista

Genilson Souto.

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22 -- OOss bbaaiirrrrooss

Por cerca de três décadas - a partir do início da déca-da de 30, com as atividades nos campos dos franceses eentre 1942 e 1945, com a II Guerra - o traçado urbano dePPaarrnnaammiirriimm ocupou e praticamente esteve limitado à áreacorrespondente hoje à proximidade da lagoa de AntonioPontes, aos bairros de Boa Esperança e Àgua Vermelha, aoCentro e à ex-Vila dos Sargentos e Sub-Oficiais. A expan-são desse núcleo urbano inicial se deu de forma mais rápi-da a partir de 1959, quando o prefeito nomeado DeoclécioMarques de Lucena construiu o novo mercado em áreaentão considerada “isolada da cidade”, além da atual aveni-da Brigadeiro Everaldo Breves. Um ano antes, o governoestadual havia começado as obras de melhoramento darodovia estadual RN 1, investindo CR$ 12.982.117,20 emterraplanagem e construção de pontes na estrada que,dando continuidade à pista construída na época da guerrapelos americanos, ligaria Natal/Parnamirim/São José doMipibú/Goianinha e Canguaretama. Na década seguinte, ogoverno federal assumiu as obras, incluindo a RN 01 noprojeto de rodovias federais, rebatizando-a de BR 101. Issovalorizou e impulsinou a ocupação de novas áreas.

Um dos primeiros núcleos urbanos novos, planejadopara usufruir do progresso que a BR traria à cidade, foi a“Cooperativa Habitacional dos Servidores da Guarnição daAeronáutica de Natal” (COHABINAL), criada no final doano de 1966 com a transferência do Ministério da Aeronáu-tica para o Banco Nacional de Habitação de um terreno de541.939,91 metros quadrados para a construção de residên-cias destinadas aos servidores da Base Aérea de Natal. O pro-jeto original previa a divisão da área transferida em 788 lotesresidenciais, com 15 ruas e 16 travessas, um grupo escolar,

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um mercado público e uma caixa d´agua. Uma vez concluído,o conjunto passaria a se chamar “Cidade Brigadeiro EduardoGomes”.A pedra fundamental do conjunto foi lançada em 12de abril de 1967, durante solenidade presidida pelo coman-dante da Base Aérea, o coronel-aviador Paulo Salema, e napresença de todos os associados da COHABINAL.

A sede da cooperativa, presidida pelo funcionário civilLuiz Cândido Bezerra, foi instalada em um prédio da Base eseus estatutos acabaram servindo de modelo para outrascooperativas habitacionais. O problema, que o BNH encon-trou, foi no projeto das obras para o conjunto. Tentativas demodificações e adaptações para adequá-lo às normas inter-nas do BNH - que também mudavam, praticamente, a cadaano ou troca de diretores - acabaram por atrasar a constru-ção das casas. Em 1980, somente 176 das casas projetadasestavam concluídas. As obras da 2ª e da 3ª etapa da COHA-BINAL se prolongaram por toda a década, mas hoje o bairroé um dos mais populosos e bem estruturados da cidade.

O segundo núcleo residencial a ser beneficiar das faci-lidades de transporte e infra-estrutura a partir da BR 101foi a comunidade de Emaús. Suas primeiras casas datam doinício da década de 70, quando a arquidiocese de Natal ins-talou, em uma área da Igreja, o convento para freiras “Irmãsdo Amor Divino”. Dom Nivaldo Monte, bispo da capital,tinha terrenos particulares em Emaús e passou a desenvol-ver um intenso trabalho pastoral e social para a melhoriadas condições de vida da comunidade. Famílias sem nenhu-ma posse receberam dele e da Diocese as doações dos terre-nos necessários para a construção de casas. Mantendo umagranja na comunidade, onde passa os fins de semana culti-vando hortas e jardins, Dom Nivaldo Monte conseguiuatrair a atenção dos poderes públicos para alguns investi-mentos em infra-estrutura na comunidade.

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Os demais bairros de PPaarrnnaammiirriimm - com a exceção dePassagem de Areia, núcleo residencial mais antigo que o pró-prio município enquanto fez parte de Macaíba - surgiram etomaram formas ao longo das décadas de 80 e 90, a partir doloteamento de grandes áreas sujeitas à especulação imobiliária.

33 -- PPiirraannggii ddoo NNoorrttee

Piratas e contrabandistas franceses e holandeses de pau-brasil já conheciam e freqüentavam o litoral sul da capitaniado Rio Grande do Norte mesmo antes do estabelecimento dosprimeiros colonos portugueses no final do século XVI. Ummapa francês, elaborado em 1579 pelo cartógrafo Jacques deVaulx de Claye, assinala o litoral do Nordeste brasileiro, entreo rio Real (Bahia) e o Maranhão. No trecho correspondente àcosta potiguar estão destacados, entre outros topônimos, o rioPitimbou (Pitimbu), que os franceses não distinguiam do rioPirangi, e a indicação de que na foz daquele rio havia “umbom ancoradouro e um riacho de água doce” (ici a bone radeet une petite rivieré deau doulce, no original). Era a área dePirangi ou Potte Sud, descrita 18 anos depois por um certocapitão Cajonen, que comandava uma companhia de merce-nários franceses expulsos do litoral potiguar em 1597 pelosportugueses.Associada à baía de Tabatinga, Pirangi do Sul erao local preferido para as excursões dos piratas estrangeiros quetraficavam com os índios.

Nos séculos seguintes, na margem esquerda do rio,foi se fixando uma pequena vila. Em 1707, através dosautos de apuração do naufrágio de um patacho nos arreci-fes da barra do Pirangi, tem-se notícia de que o senhor dolugar era o capitão Antônio Lopes Lisboa, proprietário doSítio da Barra do Pirangi,1 onde residia com mulher, filhos,sobrinhos e empregados.

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1 - Patachos erampequenos navios à vela,de dois mastros, comunsentre os séculos XVI aXVIII, na travessia entrea costa africana e o lito-ral brasileiro, sendomuito usados tambémna navegação costeiracomo navios mercantes.O "Nossa Senhora doCarmo e Todos osSantos" saiu da cidadedo Porto (Portugal) comdestino ao Maranhão,mas devido aos ventoscontrários foi jogadocontra o litoral potiguar,sobre os arrecifes dabarra do rio Pirangi, namadrugada do 13 dedezembro de 1707. Oepisódio está descrito nolivro do historiadorOlavo de MedeirosFilho, "Naufrágios noLitoral Potiguar", ediçãodo Instituto Histórico eGeográfico do RioGrande do Norte(Natal/1988) - pp. 34-38.

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No início do século XX, as famílias citadas em mono-grafia da professora Maria da Conceição Varela Bezerra,2

como pioneiras em Pirangi do Norte são a do agricultorJoão Moreira do Nascimento, com casa onde hoje é a pra-cinha do Cruzeiro; do pescador “Chico Fogo”, morador naárea da sede da APURN; de João André, na duna que exis-tia onde está o Marina Badauê; e da professora NalvaMaria de Oliveira Bezerra. A pequena comunidade subsis-tia da agricultura, da coleta de frutos silvestres e de pesca-rias. As mulheres fabricavam rendas de bilros e tapiocas,transportadas a pé ou em lombo de burros para seremvendidas nas feiras livres de Natal.

Sem infra-estrutura sanitária ou assistência médica -durante muitos anos, o atendimento era feito pelo doutorCandinho, homeopata que morava em Nísia Floresta e láera procurado pelos doentes de Pirangi - a populaçãosofria os ataques da varíola e outras doenças infecciosas.Só a partir dos anos da II Guerra Mundial, quando umaguarnição do Exército se estabeleceu em barracas para opatrulhamento das praias de Cotovelo, Pirangi e Búzios, éque a comunidade passou a conhecer algum progresso. Nogoverno de José AugustoVarela (1947/1951) foi construí-do o primeiro posto de saúde e instalada a primeira esco-la, um barracão simples de paredes de varas e teto depalha, na esquina da pracinha do Cruzeiro. Na mesmaépoca foi aberta a estrada Natal/Pirangi - seguindo o tra-çado da velha trilha de burros - ainda de terra batida, poronde passava o automóvel do senhor Abel Lira, o cami-nhão do engenheiro da obra, doutor Otávio Tavares, quetransportava os operários, e o misto do “seu Nepó” queservia à população, mas somente às sextas-feiras quandopassava, às 7h para Natal, e retornava ao meio-dia. Aestrada só foi pavimentada em 1965, durante o governo

2 - Pirangi do Norte:a produção e o consumo

do espaço para o turismo- monografia para

o curso de especializaçãoem Ensino Fundamental/Programa de Pós-gradu-

ação da UFRN/2001.

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Aluízio Alves e como extensão da pista que servia à Basede Lançamentos de Foguetes da Barreira do Inferno.Todavia, já durante o governo de Silvio Pedroza(1951/1955) Pirangi do Norte ficou nacionalmente conhe-cida por uma reportagem na revista O Cruzeiro que des-tacava a existência do “Maior Cajueiro do Mundo”.

Para a origem do cajueiro de Pirangi existem duasversões. Uma delas atribui ao agricultor Luiz Inácio deOliveira, um dos pioneiros daquela praia, a plantação eos primeiros cuidados com o cajueiro hoje famoso. LuizInácio chegou a Pirangi com a família no início do sécu-lo XX, plantando vários sítios de mandioca, mangueiras,coqueiros e outras frutas. Do sítio “Cantinho”, quetinha no “Morro Vermelho” - hoje o Morro Grande -trouxe as castanhas para plantar um cajueiro no roçadode mandiocas que cultivava, mais próximo à praia. Issopor volta de 1928. Daquela castanha surgiu o troncoprincipal do cajueiro que, ramificando-se em outros tan-tos troncos secundários, formou o famoso cajueiro dePirangi.3 A árvore, majestosa em todos os aspectos, pare-ce ser bem mais antiga.

Em outra versão, o cajueiro nasceu da germinaçãoacidental de sementes depositadas pela ação dos ventos,por uma cutia ou pelos pássaros no local. No Livro dosRecordes (Guiness Book), ele aparece como tendo entre100 e 120 anos e uma copa de 8.400 metros quadrados, oequivalente a 70 cajueiros de porte normal, produzindocerca de 60 mil cajus por ano. Na verdade, do tronco prin-cipal o cajueiro de Pirangi espalha seus ramos em direçãoao solo, onde cria novas raízes e troncos secundários.Pesquisa feita pela professora Maria da Conceição Varelamostra que 80% dos turistas que visitam a praia estãointeressados em conhecer o cajueiro.

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3 - Esta versão é susten-tada por descendentes de Luís Inácio, aindahoje moradores e comerciantes em Pirangido Norte.

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O impulso decisivo para o desenvolvimento do turis-mo em Pirangi chegou no final da década de 60. O últimogovernador eleito - antes dos militares acabarem com aseleições diretas nos Estados - o monsenhor WalfredoGurgel estendeu os postes da energia de Paulo Afonso atéa comunidade, aposentando o velho motor a diesel queficava na pracinha e só tinha potência para acender umaspoucas luminárias públicas.

A abertura da estrada e a energia elétrica atraíram osnovos proprietários, comerciantes e profissionais liberaisabastados da capital, que passaram a comprar os terrenosde antigos moradores e ocupar a área mais próxima aolitoral. A especulação imobiliária teve, como primeira con-seqüência, a devastação ambiental de matas nativas decajueiros e o soterramento de lagoas. O clima agradável, oaparente isolamento em relação à capital e as belezas querestaram no litoral fizeram com que, na década de 80,Pirangi do Norte despontasse como um dos mais procura-dos destinos turísticos, atraindo empresas que operam nosetor com passeios e serviços de hotelaria. Mais recente-

A pracinha onde tudocomeçou em Pirangido Norte, ameaçada

pelos novosempreendimentosimobiliários. Foto

Emerson do Amaral.

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mente, na década de 90, a especulação imobiliária teve umsegundo surto de crescimento com a abertura da Rota doSol - a duplicação e asfaltamento da estrada de acesso - e osurgimento de projetos para edifícios de apartamentos,condomínios fechados e flats.

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1 - A escritura de Manoel Machado para Paul Vachet

2 - O contrato para limpar o campo de Parnamirim

3 - A primeira reportagem

4 - A Lei de criação e a Ata Solene de instalação do município

5 - Síntese do Censo IBGE/2000 em Parnamirim

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Documentoshistóricos e tabela

do Censo 2000

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11-- AA EEssccrriittuurraa ddee MMaannooeell MMaacchhaaddoo ppaarraa PPaauull VVaacchheett

Quando o piloto francês Paul Vachet, em julho de1927, chegou a Natal, escolheu a planície de Parnamirimpara construir um campo de pouso que seria a cabeça delinha dos vôos da Aeropostale (companhia francesa deaviação civil) entre a Europa e o sul do continente ameri-cano. O terreno pertencia ao comerciante portuguêsManuel Machado, que passou uma escritura de doação demil metros quadrados a Vachet. A escritura histórica - ver-dadeira certidão de nascimento de PPaarrnnaammiirriimm - consta doLivro de Notas 128, às fls. 88 a 90, do Cartório de MiguelLeandro, hoje nos arquivos do Primeiro Ofício de Notasdo oficial Jairo Procópio de Moura.

Escritura de doação entre vivos, conforme abaixo sedeclara: Saibam quantos este virem que aos vinte dias domês de julho, do ano do Nascimento do Nosso Senhor JesusChristo, de mil novecentos e vinte e sete, nesta cidade deNatal, Capital do Estado do Rio Grande do Norte, perantemim tabelião, compareceram em meu cartório, de um lado,como outorgante doadora a firma M. Machado & Com-panhia, estabelecida nesta praça; e, de outro, como outorga-da donatária, a Societé Franco Sudamericaine de TraveauxPublics, com sede em Paris, neste ato representada pelo seu

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bastante procurador Paul Vahcet, francês, conforme procu-ração e substabelecimento, devidamente registrados emmeu cartório, meus conhecidos e das duas testemunhas,abaixo nomeadas e assinadas, pelas próprias de que trato edou fé. Perante essas testemunhas pela outorgante doado-ra, por seu representante Manuel Duarte Machado, me foidito que, sendo senhora e possuidora de um terreno encra-vado na propriedade denominada PITIMBU, no municípiode Natal, entre os quilômetros dezesseis, mil e quatrocen-tos metros, e dezessete, mil e quatrocentos metros da linhaférrea da Great-Western, doava o dito terreno à Sociedadeacima referida. O terreno doado consta de um quadrado demil metros de cada lado, com área total de um milhão demetros quadrados e limita-se do lado oeste com a linha fér-rea da Great-Western e dos outros lados Norte, Sul e Leste,com terrenos da outorgada doadora. Dá-se o valor da pre-sente doação de dois contos de réis (2.000$000) para efeitoexclusivo do pagamento do imposto de transmissão, con-forme se vê do conhe-cimento adiante transcripto; a doa-ção é gratuita, não tem condição nem encargo de qualquernatureza. Apenas a donatária se compromete a facultar ouso da linha telephonica que porventura consiga da Great-Western ou Telegrapho Nacional para servir-se dos seuspostes, correndo, porém, por conta da outorgante doadoraas despesas que se tornarem necessárias para as suas liga-ções particulares ou acesso aos postes pretendidos pelaoutorgante doadora. O terreno ora doado não tem benfei-torias de espécie alguma. A outorgante doadora permitiráque a donatária se utilize das estradas e caminhos ou ser-vidões já existentes para acesso ao terreno ora doado, faci-litando igualmente ao Estado à construção da estrada derodagem para comunicação direta com esta Capital, à mar-gem da linha férrea da Grea-Western. Assim, acha-se con-

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tratada com a outorgada por seu representante, para, desua livre e espontânea vontade à outorgada doá-la gratui-tamente, como efetivamente tem doado por bem deste con-trato e na melhor forma de direito; e que tal doação fez àoutorgada digo, fez a mesma outorgada pelo valor deacima declarado de dois contos de réis em moeda, digo, réissomente para efeito do pagamento de transmissão, trans-mitindo, assim, desde já, na pessoa do representante dareferida outorgada donatária, até pela cláusula constituti,todo o seu domínio, posse, direito e ação que sobre o mesmobem doado exercia - a outorgante doadora, para que aoutorgada a possua sem reserva alguma, como sua queficou sendo para todos os efeitos legais. E, pela outorgadadonatária por seu representante me foi dito perante asmesmas testemunhas que de fato, se achava contratadacom a outorgante sobre a mencionada doação a ela outor-gada feita e que assim, aceita esta escritura em todos osseus termos nela redigida, do que tudo dou fé.A seguir, pelorepresentante da outorgada, que me foi exibido o docu-mento do teor seguinte, o qual passo a transcrever: F. nº 202- Rio Grande do Norte: Departamento da Fazenda e dotesouro - Exercício de 1927 - A folha do livro Caixa deReceita e Despesa do exercício de 1927, fica debitado oAdministrador da Recebedoria na importância de Réis288$100 que entregou a Societé Franco Sudamericaine deTraveaux Publics sobre 2.000$000, valor de um terrenodoado pela firma M. Machado & Cia, situado em Pitimbu,entre quilômetros 16,400 e 15,400, á margem da Estrada deFerro da Great-Western, sendo: 12% 240$000 20% adicio-nais 48$000. Expediente $100 - Soma 288$100 -Recebedoria de Rendas Estaduais do Município de Natal,Estado do Rio Grande do Norte, 20 de julho de 1927. OAdministrado, Aldo Fernandes. O Escrivão - Doutor

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(Carimbo da Recebedoria de Rendas Estaduais). Nada maisse continha o dito documento acima tanscripto do que doufé. E assim juntos e contratados me pediram lhes fizesseesta escritura que depois de lida por mim Tabelião públicosubstituto e achada conforme às partes e testemunhas JoséLucas Garcia e Rosemiro Robinson Silva, de mim tambémconhecidas e residentes nesta Capital com elas assinam,declarando em tempo a forma outorgante doadora que sereserva o direito de utilizar-se do desvio da estrada de ferroque porventura a outorgada donatária venha a obter parao campo de aviação, sem prejuízo dos serviços da mesmaoutorgada donatária, com o que esta declarou estar depleno acordo, bem como que a procuração e substabeleci-mento acima referidos acham-se registrados no livronúmero 2-A de Títulos e Documentos S, sob numero 603,604 e 605, na página 67 a 71 do respectivo livro. E eu,Chrispim Leandro, Tabelião Público substituto, a escrevi,subscrevo e assino. (aa) - M. Machado & Companhia -Paul Vachet - José Lucas Garcia - Rosemiro RobinsonSilva. Natal, 20 de julho de 1927). (a) Chrispim Leandro.

22 -- OO CCoonnttrraattoo ppaarraa lliimmppaarr oo ccaammppoo ddee PPaarrnnaammiirriimm

Ao fazer a doação do terreno necessário para aAeropostale estabelecer um campo de aviação em Natal, emárea que fazia parte do Engenho Pitimbu e era conhecidacomo a planície de Parnamirim, Manuel Machado acertououtras formas de ganhar, além do acesso à linha telefônica ea um possível desvio na estrada de ferro da Great-Western(especificado na escritura de doação): assinou com PaulVachet, o representante da companhia francesa de aviação,um contrato para realizar as primeiras obras no terreno docampo. O contrato foi acertado e registrado no mesmo dia

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da doação, perante o mesmo tabelião. A integra deste docu-mento está no livro História da Aviação no Rio Grande doNorte, de Paulo Pinheiro de Viveiros (pág. 226).

Escritura de locação de obras, conforme abaixo sedeclara:

Saibam quantos esta virem, que, aos vinte e um diasdo mês de julho do ano do Nascimento do Nosso SenhorJesus Cristo, de mil novecentos e vinte e sete, nesta cidade deNatal, capital do Estado do Rio Grande do Norte,perante mim tabelião, compareceram em meu cartório, deuma parte, como outorgantes empreiteiros os senhores M.Machado & Companhia, comerciantes, residentes nestamesma cidade, e de outra, como outorgada proprietária, aSocieté Franco Sudamericaine de Traveaux Publics, comsede em Paris e neste ato representada pelo seu bastanteprocurador Senhor Paul Vachet, casado, francês, conformeinstrumento de procuração devidamente registrado em car-tório. Disseram haver combinado entre si o presente contra-to de locação de obra que reduziam a escritura pública parase reger pelas seguintes cláusulas e condições: PRIMEIRA:Os outorgantes empreiteiros M. Machado & Companhia seobrigam de preparar o campo de aviação de propriedade daoutorgada proprietária, no lugar Parnamirim, da proprie-dade Pitimbu, neste município, conforme escritura de doa-ção feita em minhas notas em data de ontem. SEGUNDA:O campo aludido tem uma área de um milhão de metrosquadrados, representada por um quadrado com mil metrosde cada lado, entre os quilômetros 16,400 e 17,400 da linhaférrea da Great-Western. TERCEIRA: O preparo da áreatotal do campo compreende os seguitnes trabalhos: a) cor-tar e destocar todas as árvores e arbustos existentes; b) capi-nar toda a área de modo que o campo fique perfeitamente

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limpo e desembaraçado; c) nivelar todos os montículos etapar todos os buracos na totalidade da dita área, de manei-ra que o campo fique perfeitamente liso e plano. QUARTA:Os outorgantes empreiteiros se obrigam a fazer todos osserviços acima descriminados no prazo máximo de noventadias, a contar da assinatura deste contrato. QUINTA: Aoutorgante proprietária se obriga apagar aos outorgantesempreiteiros o preço ajustado de doze contos de reis(12.000$000), por todos os serviços constantes deste con-trato, devendo o respectivo pagamento ser efetuado deuma só vez, por ocasião do término dos trabalhos e entre-ga do campo devidamente beneficiado como acima ficoudito, dentro do prazo estipulado na cláusula anterior. Decomo assim o disseram, outorgaram e aceitaram, de tudodou fé e me pediram lhes fizesse em minhas notas estaescritura, que depois de lida e achada conforme, na presen-ça das testemunhas José Lucas Garcia e RosemiroRobinson Silva. Natal, 20 de julho de 1927. O TabeliãoPúblico Substituto (ilegível) Chrispim Leandro.

33 -- AA pprriimmeeiirraa rreeppoorrttaaggeemm

AA OOuuttrraa CCiiddaaddee ddee PPaarrnnaammiirriimmRRiivvaallddoo PPiinnhheeiirroo

(A República - edição do dia 05 de dezembro de 1944)

Além dos limites da grande base aérea deParnamirim existe um núcleo de população superior amuitas vilas e cidades assim pomposamente rotuladas poraí afora. Com efeito, à margem da estrada de ferro, e, des-graçadamente, até agora à margem também dos cuidadosdos poderes públicos, ergue-se por ali um povoado cheiode gente ativa que desenvolve um esforço progressista

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digno de maiores estímulos e que está a requerer umasérie de providências capazes de reparar certas falhas eampará-lo na sua rápida marcha para o futuro. A cidade deParnamirim (pois, inevitavelmente, esse próspero núcleode população dentro em breve estará convertido numaverdadeira cidade), reúne em condições de habitabilidaderelativamente boas nada menos de quinhentas casas resi-denciais, além de incontáveis palhoças e mocambos,excluídas ainda algumas dezenas de edifícios comerciais.Calculando-se que cada uma dessas quinhentas casas abri-ga, em média, cinco pessoas - o que é, para ali, um cálculomuito baixo - verifica-se que a população de Parnamirimnão é absolutamente inferior a 2.500 habitantes. E a umpovoado como esse, o índice de progresso espantoso comoo que realmente nele se verifica (não devemos esquecerque o povoado não conta com mais de três ou quatro anosde existência), não podem os poderes públicos deixar dedispensar a sua atenção e distribuir os benefícios daordem, assegurados pela presença da autoridade.

No domingo passado, o prefeito Dr. José Varela, con-forme pude saber ali no mesmo dia, acompanhado de fun-cionários da Prefeitura, esteve visitando Parnamirim,especialmente convidado por uma comissão de pessoasrepresentativas da população local.Creio que não foimenor do que a minha a surpresa que ele deve ter tido, aoentrar em contato com aquele povo numeroso e dinâmi-co. O Dr. José Varela deve ter visto, como eu tive ocasiãode ver, elegantes casas particulares cujo valor se eleva de20 a 30 mil cruzeiros, e até a mais do que isto; casascomerciais enfileiradas ao longo de calçadas, como umeloqüente índice de riqueza, da atividade e do progressoda iluminação pública recém-inaugurada graças ao esfor-ço e ao empenho dos seus habitantes.

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Aliás, a história da iluminação elétrica que se inau-gurou em Parnamirim há pouco mais de uma semana,merece uma referência particular. Depois de se haverresolvido pleitear o benefício da iluminação elétrica para alocalização e obtê-lo à custa de qualquer sacrifício, umacomissão composta dos homens principais que ali residemveio a Natal solicitar da Cia. Força e Luz a extensão dosnecessários fios condutores. A empresa, porém, não pode-ria arcar com tantas despesas para tão poucas vantagenscomo as que lhe ofereciam. A comissão voltou aParnamirim com uma espécie de contra-proposta. E no diaseguinte o povo foi para o mato derrubar madeiras que seprestassem à improvisação dos postes indispensáveis.Levantou-se uma subscrição para certas despesas, pormeio da qual rapidamente se obteve a quantia de 20 milcruzeiros que se fazia precisa. Houve quem passasse trêsdias consecutivos no mato, no trabalho de obter a madeirapara os postes da iluminação pública. O certo é que daí aalguns dias os fios estavam chegando a Parnamirim. Equem tivesse a curiosidade de reparar uma semana depoisverificaria que um elevado número de proprietários jáestava pagando mensalmente a taxa de luz, cobrada poraquela empresa, pois são muitas as dezenas de casas jáagora providas de instalações elétricas e das quais saempara as ruas largas as sonoras harmonias do rádio.

Agora, porém, estão seguros os moradores deParnamirim de que, como conseqüência da visita do prefeitoJosé Varela, ali se fará em breve sentir a ação da Prefeitura,assim como de outras autoridades do Estado. Isto se justificaperfeitamente, com a existência ali de uma feira relativa-mente movimentada, inúmeras casas de comércio, e atémesmo um açougue. Conforme salientam com orgulho osseus habitantes, procurando pôr em evidência a índole ordei-

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ra e pacífica do povo, não há em Parnamirim qualquer auto-ridade policial, razão mais poderosa para que seja ali instala-da, a fim de assegurar esta situação atual.

O povo de Parnamirim não se recusa a concorrerlegalmente para a arrecadação pública.

Apesar do inteiro desconhecimento em que Parna-mirim tem permanecido, as suas ruas têm sido abertas comcerta semitria, e não é de todo condenável o arranjo das suascasas. Agora mesmo foi construído um prédio destinado auma escola primária, sem que o governo, ao que pude saber,houvesse entrado com qualquer importância para essa obra.

Felizmente, ainda o crime não encontra ambiente emParnamirim.

44 -- AA LLeeii ddee CCrriiaaççããoo ee aa AAttaa ddaa SSeessssããoo SSoolleennee ddee IInnssttaallaaççããoo ddoo MMuunniiccííppiioo

Criado em 17 de dezembro de 1958, pela lei nº 2.325proposta pelo deputado Gastão Mariz e sancionada pelogovernador Dinarte Mariz, o município de PPaarrnnaammiirriimmnão tinha os limites atuais. A área da Base Aérea, porintervenção do prefeito Djalma Maranhão, continuou per-tencente ao município de Natal, e Passagem de Areia,núcleo populacional mais antigo que a própria sede donovo município, ainda era parte de Macaíba. A lei 2.325fazia parte de um “lote de emancipações” criando mais 13municípios, assinado pelo governador naquele mês. Alémde PPaarrnnaammiirriimm, em dezembro de 1958, o governadorDinarte Mariz emancipou os municípios de Baía Formosa,Barcelona, Bento Fernandes, José da Penha, Lajes Pintada,Maxaranguape, São Bento do Trairi, São Fernando, SãoGonçalo do Amarante, Senador Elói de Souza, Serra deSão Bento, Sítio Novo e Tangará.

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Lei nº 2.325 de 17 de Dezembro de 1958 ( Cria domunicípio de Parnamirim)

O Governador do Estado do Rio Grande do Norte:

Faço saber que o Poder Legislativo decreta e eu san-ciono a seguinte Lei:

Artigo 1º - Fica criado o município de Parnamirim,constituído do atual distrito do mesmo nome.

Artigo 2º - A linha divisória do novo município será ado atual distrito, assim limitado: Ao Norte e Leste, partindodo limite do município de Macaíba, no ponto distante 500metros ao Norte do Sítio Peixe Boi, segue por essa linha atéo cruzamento da Estrada de Ferro Natal-Recife; daí seguepor essa linha até o cruzamento da estrada de rodagemParnamirim-Jiqui; segue por esta estrada, em linha reta,continuando nesta direção até a orla marítima, seguindopor essa orla até alcançar o limite do município de NiziaFloresta e, em seguida, do município de São José de Mipibu,até alcançar o ponto de intercessão com o município deMacaíba, entre o ponto de intercessão com o município deSão José de Mipibú, até o ponto de início do limite Norte.

Artigo 3º - Fica elevada à cidade, a Vila deParnamirim, que será sede do município.

Artigo 4º - É criado o termo judiciário deParnamirim, pertencente à Comarca de Natal.

Artigo 5º - O Prefeito de Parnamirim de livrenomeação do governador do Estado, até que sejam reali-zadas as eleições para os cargos de Prefeito, Vice-Prefeitoe Vereadores.

Artigo 6º - Esta Lei entrará em vigor a 1º de janeirode 1959, revogadas as disposições em contrário.

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Natal, 17 de dezembro de 1958, 70º da Repúblicaa) Dinarte de Medeiros Marizb) Anselmo Pegado CortezComo determinava a lei, a instalação do novo muni-

cípio ocorreu 24 dias depois da promulgação do decreto deemancipação, em sessão solene nas dependências do GrupoEscolar “Presidente Roosevelt”, com a presença de váriasautoridades e lideranças políticas e comunitárias da cidade.O discurso de saudação foi proferido pelo juiz de Direito da1ª Vara, da Comarca de Natal, Rosemiro Robinson Silva, omesmo que - 31 anos antes - havia testemunhado a doaçãodo terreno para a construção do campo de aviação que dariaorigem a cidade de PPaarrnnaammiirriimm. A ata foi redigida pelotabelião Otávio Gomes de Castro.

Aos 10 (dez) de Janeiro de mil novecentos e cinqüen-ta e nove (1959), pelas 15.30 horas no edifício do GrupoEscolar “Presidente Roosevelt”, nesta cidade de Parna-mirim, do Estado do Rio Grande do Norte, sob a presidên-cia do Exmoº. Sr. Governador do Estado; DINARTE DEMEDEIROS MARIZ, na forma da lei, reuniram-se emsessão solene, as autoridades e pessoas gradas, comnumerosa assistência popular, para o fim de declarar efe-tivamente instalado o município de PPaarrnnaammiirriimm,, criadopela lei nº 2.325 de 17-12-58.

Aberta a sessão, de pé toda a assistência, foi concedidapelo sr. Presidente a palavra ao Exmº. Sr, Dr. RosemiroRobinson Silva, M. Juiz de Direito da 1ª Vara, da Comarca deNatal, que deu por instalado o município de PARNAMIRIM,na forma da lei, de acordo com o rito previsto, tendo em miraa salvaguarda jurídica dos interesses do povo, a tradição his-tórica da Nação, e a solidariedade que deve unir todos os bra-sileiros, tudo de acordo com a lei 2.325 de 17-12-1958.

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A nova unidade municipal tem por Sede esta locali-dade, que recebeu forma de cidade. Assim ficou registradana história Pátria, para o conhecimento de todos os bra-sileiros e perpétua lembrança das gerações vindouras.Terminadas as palavras do Dr. Rosemiro Robinson Silva,ouve prolongada salva de palmas, festejando as palavrasinaugurais. Sentando a seguir à mesa, o Sr. Presidentefacultou a palavra a quem quisesse usar. Tendo usado dapalavra o Sr. Josafá Sisino Machado, que proferiu expres-siva a locução alusiva aos fins e ao sentido da solenidade,sendo calorosamente aplaudido. O Sr. Presidente a seguiragradeceu a assistência o seu comparecimento, cujo altosignificado cívico inautese (sic), declarando encerrada asessão. Terminada a solenidade, foi assinada a presentepelo Sr. Presidente, o Sr. Governador Dinarte de MedeirosMariz, o Sr. Dr. Rosemiro Robinson Silva e demais auto-ridades. Eu, Otávio Gomes de Castro, oficial do RegistroCivil, funcionando como secretário ad-hoc, escrevi estaata, cuja realização aqui se registra.

Cidade de PARNAMIRIM, 10 de Janeiro de 1959.

55 -- SSÍÍNNTTEESSEE DDOO CCEENNSSOO IIBBGGEE// 22000000 EEMMPPAARRNNAAMMIIRRIIMM

Pessoas residentes - 2000 124.690 habitantes

Homens residentes - 2000 60.533 habitantes

Mulheres residentes - 2000 64.157 habitantes

Pessoas residentes - 10 anosou mais de idade - alfabetizada 85.466 habitantes2000

Domicílios particulares 31.790 domicíliospermanentes - 2000

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Domicílios particulares per-manentes - com banheiro ou 300 domicíliossanitário - esgotamento sani-tário - rede geral 2000

Domicílios particulares per-manentes - forma de abasteci- 30.471 domicíliosmento de água - rede geral - 2000

Domicílios particulares per-manentes - destino de lixo 28.776 domicílioscoletado - 2000

Hospitais - 2000 3 hospitais

Leitos hospitalares - 2000 87 leitos

Unidades ambulatoriais - 1999 31 unidades

Matrículas - ensino 21.421 matrículasfundamental - 2000

Matrículas - ensino médio - 2000 4.512 matrículas

Estabelecimentos de ensino 48estabelecimentos

fundamental - 2000 de ensino

Estabelecimentos de ensino 11estabelecimentos

médio - 2000 de ensino

Eleição municipal - eleitores - 2000 56.953 eleitores

Nascidos vivos - registros no ano - 2.666 pessoaslugar do registro - 1998

Casamentos - registros no ano - 437 pessoaslugar do registro - 1998

Óbitos - ocorridos e registrados 255 pessoasno ano - lugar do registro - 1998

Separações judiciais - registros no ano - lugar da ação do 33 pessoasprocesso - 1998

Empresas com CNPJ atuantes - 1.562 empresasunidade territorial - 1998

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Pessoal ocupado - unidades 12.023 Pess.ocupadaslocais - 1998

Agências bancárias - 2000 3 agências

Valor do Fundo de Participação 5.864.928,82 reaisdos Municípios - FPM - 2000

Valor do Imposto Territorial 4.035,76 reaisRural - ITR - 2000

População residente - 1991 63.312 habitantes

População residente - 1996 86.177 habitantes

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CCaappííttuulloo II

CCAASSCCUUDDOO,, LLuuííss ddaa CCââmmaarraa -- Historia do Rio Grande doNorte - 2ª edição - Achiamé/Fundação José Augusto -Natal 1984

CCAASSCCUUDDOO,, LLuuííss ddaa CCââmmaarraa -- Nomes da Terra - História,Geografia e Toponímia do Rio Grande do Norte - FundaçãoJosé Augusto - Natal 1968

MMOONNTTEEIIRROO,, DDeenniissee MMaattttooss -- Introdução à História doRio Grande do Norte - EDUFRN - Natal 2000

BBUUEENNOO,, SSiillvveeiirraa - Vocabulário Tupi-guarani/Português -6ª edição - Éfeta Editora - São Paulo - 1998

CCAARRDDOOSSOO,, RReejjaannee (coordenação editorial) - 400 Nomesde Natal - Prefeitura de Natal - 2000

VVIINNGGTT--UUNN,, RRoossaaddoo -- Sesmarias do Rio Grande do Nortevol. I a V - Coleção Mossoroense Série C - Fundação Vingt-un Rosado/Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grandedo Norte - Natal 2000

BBiibblliiooggrraaffiiaa

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IIDDEEMMAA -- IInnffoorrmmaattiivvoo MMuunniicciippaall ddee PPaarrnnaammiirriimm - Idema -Natal 1999 - Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte- Idec - Natal 1985“.

CCaappííttuulloo IIII

AASSOOCCIIAACCIIÓÓNN ddee AAMMIIGGOOSS ddee llaa AAEERROONNÁÁUUTTIICCAA - Lospioneros del correo aereo - Exposición Gráfica del PrimerVuelo Comercial de España - site oficial na Internet:www.bcnet.upc.es/aeromuseo/historia/latecoere.

SSAAIINNTT--EEXXUUPPEERRYY,, AAnnttooiinnee ddee - La Grande Aventure deL´Aéropostale - site oficial na Internet/www.saint-exu-pery.org.

CCAASSCCUUDDOO,, LLuuííss ddaa CCââmmaarraa -- Nomes da Terra - História,Geografia e Toponímia do Rio Grande do Norte - FundaçãoJosé Augusto - 1968 - Acta Diurna - Jornal A República de06/10/1943 - Natal/RN.

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MMEEDDEEIIRROOSS,, TTaarrccííssiioo -- Estudos de História do Rio Grandedo Norte - Edição do autor - Natal/2001.

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CCaappííttuulloo IIIIII

CCOOSSTTAA,, FFeerrnnaannddoo HHiippóóllyyttoo - História da Base Aérea deNatal - Editora Universitária/UFRN - Natal/1980.

MMEELLOO,, PPrroottáássiioo PPiinnhheeiirroo ddee -- Contribuição Norte-Ameri-cana à Vida Natalense - edição do autor - Brasília/1993.

VVIIVVEEIIRROOSS,, PPaauulloo PPiinnhheeiirroo ddee - História da Aviação noRio Grande do Norte - 1º Volume - Editora Universitária/UFRN - 1974.

CCLLEEMMEENNTTIINNOO,, MMaarriiaa ddoo LLiivvrraammeennttoo MMiirraannddaa - ImpactoUrbano de uma Base Militar: A Mobilização Militar emNatal Durante a 2ª Grande Guerra - monografia da coleçãoHumanas Letras - Cooperativa Cultural e Universitária/UFRN - Natal/1995.

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HHOOLLAANNDDAA,, SSeerrggiioo BBuuaarrqquuee - Raízes do Brasil -Companhia das Letras - 26ª edição - São Paulo/1995.

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PPAARRNNAAMMIIRRIIMM NNOOTTÍÍCCIIAASS - Entrevista com MiriamPalhares, edição de 5 a 20 de julho/2001.

MMEEDDEEIIRROOSS,, MMaarrcciiaannoo - Retratos de Parnamirim vol. 1 -Edição da PMP - Parnamirim/2002.

CCaappííttuulloo VV

SSOOUUZZAA,, IIttaammaarr ddee - Eduardo Gomes - FJA/Centro dePesquisa Juvenal Lamartine - Natal/RN - 1981.

GGOOMMEESS,, NNiivvaallddoo XXaavviieerr - Nos Tempos da Boca de Ferro- inédito.

AA RREEPPÚÚBBLLIICCAA - Coleção do jornal no Instituto Históricoe Geográfico do RGN - Outubro a Dezembro de 1958.

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JJOORRNNAALL DDEE NNAATTAALL - idem.

TTRRIIBBUUNNAA DDOO NNOORRTTEE - Coleção do jornal no Setor dePesquisas da TN - Dezembro de 1958/ Outubro a Dezembrode 1959 e Junho a Agosto de 1987.

DDIIAARRIIOO DDEE NNAATTAALL - Coleção do jornal de Junho de 1976e Junho/Agosto de 1987.

MMEEDDEEIIRROOSS,, MMaarrcciiaannoo - Retratos de Parnamirim vol. 1 -Edição da PMP - Parnamirim/2002.

CCaappííttuulloo VVII

CCAASSCCUUDDOO,, LLuuííss ddaa CCââmmaarraa -- O Livro das Velhas Figuras,vol. I. Edição do Instituto Histórico e Geográfico do RioGrande do Norte - Natal/1974 - História do Rio Grande doNorte. Edição do Ministério da Educação e Cultura/Serviçode Documentação - Rio de Janeiro/1955.

MMOONNTTEEIIRROO,, DDeenniissee MMaattttooss - Introdução à História doRio Grande do Norte. Editora da Universidade Federal doRio Grande do Norte - Natal/2000.

CCAALLDDEEIIRRAA,, JJoorrggee -- A Nação Mercantilista. Editora 34 -São Paulo/1998

PPEEIIXXOOTTOO,, CCaarrllooss ((EErrnneessttoo LLaarrddnneerr)) -- Jovino Barreto - OsEmpresário, vol 5. Série Gente Potiguar III - editora Diáriode Natal/RN - 2002.

TTRRIINNDDAADDEE,, MMaarriiaa RRaaiimmuunnddaa ddaa SSiillvvaa - Fatores Determi-nantes da Crescente Localização Industrial no Município

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de Parnamirim/RN - UFRN/CCS - 1988.

BBAARRRROOSS,, ÉÉsstteerr LLiirraa ddee LLiimmaa - Perfil da Evolução Urbanade Parnamirim/RN - UFRN/Deptº de Geografia - sem data.

CCAAPPÍÍTTUULLOO VVII

IIBBGGEE - Relatório do Censo Populacional de 2002.

MMEEDDEEIIRROOSS,, MMaarrcciiaannoo - Retratos de Parnamirim vol. 1 -Edição da PMP - Parnamirim/2002.

CCOOSSTTAA,, FFeerrnnaannddoo HHiippóóllyyttoo - História da Base Aérea deNatal- Editora Universitária/UFRN - Natal/1980.

FFIILLHHOO,, OOllaavvoo ddee MMeeddeeiirrooss - Notas para a História do RioGrande do Norte - Editora do Centro Universitário deJoão Pessoa/PB - 2001.

BBEEZZEERRRRAA,, MMaarriiaa ddaa CCoonncceeiiççããoo VVaarreellaa - Pirangi do Norte: aprodução e o consumo do espaço para o turismo - Monografiapara o curso de Especialização em Ensino Fundamental/ Pro-grama de Pós Graduação da UFRN - Natal/2001.

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Este livro foi composto na fonte Aldus Roman, corpo 13/16,4

e impresso em papel off-set 90g,na Impressão Gráfica e Editora Ltda.à Av. Maria Lacerda Montenegro, 03,

Parnamirim, no mês de março de 2003.

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