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A História do Brasil compreende, tradicionalmente, o período desde a chegada dos portugueses até os dias atuais, embora o seu território seja habitado continuamente desde tempos pré- históricos por povos indígenas . Após a chegada de Pedro Álvares Cabral , capitão-mor de expedição portuguesa a caminho das Índias , ao litoral sul da Bahia em 1500, a Coroa portuguesa implementou uma política de colonização para a terra recém-descoberta a partir de 1530. A colonização européia se organizou por meio da distribuição de capitanias hereditárias pela coroa portuguesa a membros da nobreza e pela instalação de um governo-geral em 1548 . A economia da colônia, iniciada com o extrativismo do pau-brasil e as trocas entre os colonos e os índios, gradualmente passou a ser dominada pelo cultivo da cana-de-açúcar para fins de exportação. No início do século XVII , aCapitania de Pernambuco atinge o posto de maior e mais rica área de produção de açúcar do mundo. 1 Com a expansão dos engenhos e a ocupação de novas áreas para seu cultivo, o território brasileiro se insere nas rotas de comércio do velho mundo e passa a ser paulatinamente ocupado por senhores de terra, missionários, homens livres e largos contingentes de escravos africanos. No final do século XVII foram descobertas ricas jazidas deouro nos atuais estados de Minas Gerais , 2 Goiás e Mato Grosso que foi determinante para o povoamento do interior do Brasil. Em 1789 , quando a Coroa portuguesa anunciava a Derrama , medida para cobrar supostos impostos atrasados, eclodiu em Vila Rica (atual Ouro Preto ) a Inconfidência Mineira . A revolta fracassou e, em 1792 , um de seus líderes, Tiradentes , morreu enforcado. 3 Em 1808 , com a transferência da corte portuguesa para o Brasil , fugindo da sua possível subjugação da França , consequência da Guerra Peninsular travada entre as tropas portuguesas e as de Napoleão Bonaparte , o Príncipe-regente Dom João de Bragança , filho da Rainha Dona Maria I , abriu os portos da então colônia , permitiu o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil . Em 1815 , o então Estado do Brasil , apenas um Vice-reino do império português , tornou-se temporariamente a sede de um enorme reino que unia todo esse império , com a nova designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves , em que a então Rainha Dona Maria I foi coroada. Com a morte da mãe, em 1816 , o então Príncipe- regente Dom João de Bragança foi coroado o seu rei. Logo depois volta para o Reino de Portugal , deixando seu filho mais velho, Dom

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AHistria doBrasilcompreende, tradicionalmente, o perodo desde a chegada dosportuguesesat os dias atuais, embora o seu territrio seja habitado continuamente desde tempospr-histricospor povosindgenas. Aps a chegada dePedro lvares Cabral,capito-mordeexpedio portuguesaa caminho dasndias, ao litoral sul daBahiaem 1500, aCoroa portuguesaimplementou umapoltica de colonizaopara a terra recm-descoberta a partir de 1530. A colonizao europia se organizou por meio da distribuio decapitanias hereditriaspela coroa portuguesa a membros da nobreza e pela instalao de umgoverno-geralem1548.A economia da colnia, iniciada com o extrativismo do pau-brasil e as trocas entre os colonos e os ndios, gradualmente passou a ser dominada pelo cultivo da cana-de-acar para fins de exportao. No incio dosculo XVII, aCapitania de Pernambucoatinge o posto de maior e mais rica rea de produo de acar do mundo.1Com a expanso dos engenhos e a ocupao de novas reas para seu cultivo, o territrio brasileiro se insere nas rotas de comrcio do velho mundo e passa a ser paulatinamente ocupado por senhores de terra, missionrios, homens livres e largos contingentes de escravos africanos. No final dosculo XVIIforam descobertas ricas jazidas deouronos atuais estados deMinas Gerais,2GoiseMato Grossoque foi determinante para o povoamento do interior do Brasil. Em1789, quando a Coroa portuguesa anunciava aDerrama, medida para cobrar supostos impostos atrasados, eclodiu em Vila Rica (atualOuro Preto) aInconfidncia Mineira. A revolta fracassou e, em1792, um de seus lderes,Tiradentes, morreu enforcado.3Em1808, com atransferncia da corte portuguesa para o Brasil, fugindo da sua possvel subjugao daFrana, consequncia daGuerra Peninsulartravada entre as tropas portuguesas e as deNapoleo Bonaparte, oPrncipe-regenteDom Joo de Bragana, filho daRainha Dona Maria I, abriu os portos da entocolnia, permitiu o funcionamento de fbricas e fundou oBanco do Brasil. Em1815, o entoEstado do Brasil, apenas umVice-reinodoimprio portugus, tornou-se temporariamente a sede de um enormereinoque unia todo esseimprio, com a nova designao oficial deReino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em que a ento Rainha Dona Maria I foi coroada. Com a morte da me, em1816, o ento Prncipe-regente Dom Joo de Bragana foi coroado o seu rei. Logo depois volta para oReino de Portugal, deixando seu filho mais velho,Dom Pedro de Alcntara de Bragana, oprncipe real do reino unido, comoregente do Brasil.Em7 de setembrode1822, Dom Pedro de Alcntara proclamou aindependncia do Brasilem relao ao reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, e fundou oImprio do Brasil, sendo coroado imperador comoDom Pedro I. O mesmo reinou at1831, quandoabdicoue passou a Coroa brasileira ao seu filho,Dom Pedro de Alcntara, que tinha apenas cinco anos.4Aos catorze anos, em1840, Dom Pedro de Alcntara(filho) tevesua maioridade declarada, sendo coroado imperador no ano seguinte, comoDom Pedro II. No final da primeira dcada doSegundo Reinado, o regime estabilizou-se. As provncias foram pacificadas e a ltima grande insurreio, aRevolta Praieira, foi derrotada em1849. Nesse mesmo ano, o imperador extingue otrfico de escravos. Aos poucos, osimigrantes europeusassalariados substituram os escravos.5No contexto geopoltico, oBrasilse alia ArgentinaeUruguaie entra emguerracontra oParaguai. No final do conflito, quase dois teros da populao paraguaia estava morta. A participao denegrosemestiosnas tropas brasileiras naGuerra do Paraguaideu grande impulso ao movimentoabolicionistae ao declnio da monarquia. Pouco tempo depois, em1888, aprincesa imperial do Brasil,D. Isabel de Bragana, filha deDom Pedro II, assina aLei urea, que extingue aescravido no Brasil. Ao abandonar os proprietrios de escravos, sem os indenizar, o imprio brasileiro perde a ltima base de sustentao.2Em15 de novembrode1889, ocorre aproclamao da repblicapelomarechalManuel Deodoro da Fonsecae tem incio aRepblica Velha, terminada em1930com a chegada deGetlio Vargasao poder. A partir da, a histria do Brasil destaca a industrializao do Brasil e a participao brasileira naSegunda Guerra Mundialao lado dosEstados Unidos; o movimento militar de1964, onde o generalCastelo Brancoassumiu apresidncia.ORegime Militar, a pretexto de combater asubversoe acorrupo, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e censurou osmeios de comunicao, extinguiu os partidos polticos e criou obipartidarismo. Aps o fim do regime militar, os deputados federais e senadores se reuniram , em1988, emassemblia nacional constituintee promulgaram a novaConstituio, que amplia os direitos individuais. O pas se redemocratiza,26avana economicamente7e cada vez mais se insere no cenrio internacional.ndice[esconder] 1Periodizao 2Perodo pr-descobrimento (at 1500) 3Perodo colonial (1500-1815) 3.1A chegada dos portugueses 3.2Expedies exploratrias 3.3Extrao de pau-brasil 3.4Administrao colonial 3.4.1Capitanias do Mar (1516-1532) 3.4.2Capitanias hereditrias (1532-1549) 3.4.3Governo-Geral (1549-1580) 3.4.3.1Tom de Sousa 3.4.3.2Duarte da Costa 3.4.3.3Mem de S 3.4.4Unio Ibrica (1580-1640) 3.4.5Estado do Maranho e Estado do Brasil (1621-1755) 3.5Invaso holandesa (1630-1654) 3.6Insurreio Pernambucana (1645-1654) 3.7Economia colonial 3.8O Ciclo do Ouro 3.9A Sociedade Mineradora e as Camadas Mdias 3.10Invases estrangeiras e conflitos coloniais 3.11Inconfidncia Mineira 3.12Conjurao Baiana 3.13Principado do Brasil 3.14Mudana da Corte e Abertura dos Portos 4Reino (1815-1822) 4.1Elevao a Reino Unido 4.2Revoluo no Porto e Retorno de D. Joo VI 5Imprio (1822-1889) 5.1Primeiro reinado 5.1.1Confederao do Equador (1824) 5.2Perodo regencial 5.3Segundo reinado 5.4Libertao dos escravos 6Repblica (1889-presente) 6.1Primeira Repblica (1889-1930) 6.1.1Conflitos 6.1.2Repblica do Caf com Leite 6.2Era Vargas (1930-1945) 6.2.1A Revoluo de 1930 e o Governo Provisrio 6.2.2O perodo constitucional de Getlio Vargas 6.2.3O Estado Novo 6.3Repblica Nova (1945-1964) 6.4Regime Militar (1964-1985) 6.5Nova Repblica (1985-presente) 7Ver tambm 7.1Listas 7.2Generalidades 7.3Regionais 7.4Temticas 8Notas 9Referncias 10Bibliografia 11Ligaes externasPeriodizaoVer artigo principal:Periodizao da histria do Brasil

Evoluo da diviso administrativa do BrasilA periodizao tradicional divide a Histria do Brasil normalmente em quatro perodos gerais:Periodizao da Histria do Brasil

Pr-descobrimentoColniaImprioRepblica

Colnia

DescobrimentoDescasoSociedade aucareiraSociedade aurferaVinda da corte portuguesaeReino unido a Portugal e Algarves

Imprio

IndependnciaPrimeiro reinadoRegnciaSegundo reinado

Repblica

Proclamao da RepblicaRepblica VelhaEra VargasRepblica PopulistaDitadura militarNova Repblica

Perodo pr-descobrimento (at 1500)Ver artigo principal:Pr-Histria do Brasil

Ataque de ndios a uma outra aldeia indgena.Quando descoberto pelos portugueses em1500, estima-se que o atual territrio do Brasil (a costa oriental daAmrica do sul), era habitado8por 2 milhes de indgenas,910do norte ao sul.A populao amerndia era repartida em grandes naes indgenas compostas por vrios grupos tnicos entre os quais se destacam os grandes grupostupi-guarani,macro-jearuaque. Os primeiros eram subdivididos emguaranis,tupiniquinsetupinambs, entre inmeros outros. Ostupisse espalhavam do atualRio Grande do SulaoRio Grande do Nortede hoje.11SegundoLus da Cmara Cascudo,12os tupis foram a primeira raa indgena que teve contacto com o colonizador e () decorrentemente a de maior presena, com influncia nomameluco, nomestio, noluso-brasileiroque nascia e no europeu que se fixava. A influncia tupi se deu naalimentao, noidioma, nosprocessos agrcolas, decaaepesca, nassupersties, costumes,folclore, como explica Cmara Cascudo:O tupi era a raa histrica, estudada pelos missionrios, dando a tropa auxiliar, recebendo o batismo e ajudando o conquistador a expulsar inimigos de sua terra. () Eram os artfices darede de dormir, criadores dafarinha de mandioca,farinha de pau, do complexo da goma demandioca, das bebidas de frutas e razes, da carne e peixe moqueados, elementos que possibilitaram o avano branco peloserto.

Cmara Cascudo

Danatupinambem ilustrao do livroDuas Viagens ao BrasildeHans Staden.Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vrios tratados entrePortugaleEspanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo j descoberto do mundo ainda por descobrir.13Destes acordos assinados distncia da terra atribuda, oTratado de Tordesilhas(1494) o mais importante, por definir as pores do globo que caberiam a Portugal no perodo em que o Brasil foi colnia portuguesa.14Estabeleciam suas clusulas que as terras a leste de ummeridianoimaginrio que passaria a 370lguasmartimas a oeste das ilhas deCabo Verdepertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos reis deCastela(atualmente Espanha). No atual territrio do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual cidade deBelm do Par atualLaguna, emSanta Catarina. Quando soube do tratado, o rei de FranaFrancisco Iteria indagado qual era "a clusula do testamento deAdo" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o exclua da partilha.Perodo colonial (1500-1815)A chegada dos portugueses

OTratado de Tordesilhas(1494), firmado entreEspanhaePortugalpara repartir as terras descobertas e "por descobrir", definiu os rumos da histria do "futuro" Brasil.Ver artigo principal:Descoberta do BrasilO perodo compreendido entre o Descobrimento do Brasil em 1500, (chamado pelos portugueses deAchamento do Brasil), at aIndependncia do Brasil, chamado, no Brasil, dePerodo Colonial. Os portugueses, porm, chamam este perodo deA Construo do Brasil, e o estendem at 1825- 1826 quando Portugal reconheceu a independncia do Brasil.15H algumas teorias sobre quem foi o primeiro europeu a chegar nas terras que hoje formam o Brasil. Entre elas, destacam-se a que defende que foiDuarte Pacheco Pereiraentre novembro e dezembro de 14981617e a que argumenta que foi oespanholVicente Yez Pinznno dia16 de janeirode1500, possivelmente noCabo de Santo Agostinho, litoral sul dePernambuco.181920No entanto, oficialmente o Brasil foi descoberto em22 de abrilde 1500, pelocapito-mordumaexpedio portuguesaem busca dasndias,Pedro lvares Cabral, que chegou ao litoral sul daBahia, na regio da atual cidade dePorto Seguro,21mais precisamente nodistritodeCoroa Vermelha,22No dia9 de marode1500, oportugusPedro lvares Cabral, saindo deLisboa, iniciou viagem para oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para a Coroa, e depois seguir viagem para andia, contornando africapara chegar aCalecute.23Levava duas caravelas e 13 naus, e por volta de 1 500 homens24- entre os mais experientesNicolau Coelho, que acabava de regressar da ndia;24Bartolomeu Dias, que descobrira o cabo da Boa Esperana,24e seu irmoDiogo Dias, que mais tardePero Vaz de Caminhadescreveria danando na praia emPorto Segurocom os ndios, ao jeito deles e ao som de uma gaita.25As principais naus se chamavamAnunciada,So Pedro,Esprito Santo,El-Rei,Santa Cruz,Fror de la Mar,VictoriaeTrindade.26O vice-comandante da frota eraSancho de Tovare outros capites eramSimo de Miranda,Aires Gomes da Silva,Nuno Leito,27Vasco de Atade,Pero Dias,Gaspar de Lemos,Lus Pires,Simo de Pina,Pedro de Atade, de alcunhao inferno, alm dos j citados Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada traziaAires Correia, que havia de ficar na ndia,24e por escrivesGonalo Gil Barbosae Pero Vaz de Caminha. Entre os pilotos, que eram os verdadeiros navegadores, vinhamAfonso LopesePero Escobar.28Diz aCrnica do Serenssimo ReiD. Manuel I:

A nau de Pedro lvares Cabral em ilustrao doLivro das Armadas que de Portugal passaram ndia.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro (estudo), leo sobre tela,Oscar Pereira da Silva, 1904. Acervo doMuseu Histrico Nacionaldo Rio de Janeiro.E, porque el Rei sempre foi mui inclinado s coisas que tocavam a nossa Santa f catlica, mandou nesta armada oito frades da ordem de S. Francisco, homens letrados, de que era Vigrio frei Henrique, que depois foi confessor del Rei e Bispo de Ceuta, os quais como oito capeles e um vigrio, ordenou que ficassem em Calecut, para administrarem os sacramentos aos portugueses e aos da terra se se quisessem converter f.

Crnica do Serenssimo ReiD. Manuel I

ncoras levantadas em Lisboa, a frota passou porSo Nicolau, no arquiplago de Cabo Verde, em 16 de maro. Tinham-se afastado da costa africana perto dasCanrias, tocados pelosventos alsiosem direo ao ocidente. Em21 de abril, da nau capitnia avistaram-se no mar, boiando, plantas. Mais tarde surgiram pssaros martimos, sinais de terra prxima. Ao amanhecer de22 de abrilouviu-se um grito de "terra vista", pois se avistou o monte que Cabral batizou deMonte Pascoal, no litoral sul da atualBahia.Ali aportaram as naus, discutindo-se at hoje se teria sido exatamente emPorto Seguroou emSanta Cruz Cabrlia(mais precisamente noilhudeCoroa Vermelha, nomunicpiode Santa Cruz Cabrlia), e fizeram contato com os tupiniquins, indgenas pacficos. A terra, a que os nativos chamavamPindorama("terra das palmeiras"), foi a princpio chamada pelos portugueses deIlha de Vera Cruze nela foi erguido umpadro(marco de posse em nome daCoroa Portuguesa). Mais tarde, a terra seria rebatizada comoTerra de Santa Cruze posteriormente Brasil. Estava situada 5.000km ao sul das terras descobertas porCristvo Colomboem1492e 1.400 quilmetros aqum daLinha de Tordesilhas.Srgio Buarque de Holandadescreve, emHistria Geral da Civilizao Brasileira:Tendo velejado para o norte, acharam dez lguas mais adiante um arrecife com porto dentro, muito seguro. No dia seguinte, sbado, entraram os navios no porto e ancoraram mais perto da terra. O lugar, que todos acharam deleitoso, proporcionava boa ancoragem e podia abrigar mais de 200 embarcaes. Alguma gente de bordo foi terra, mas no pode entender a algaravia dos habitantes, diferente de todas as lnguas conhecidas.

Srgio Buarque de Holanda

Detalhe daA Primeira Missa no BrasildeVictor Meirelles(1861).No dia26 de abril, umdomingo(o de Pascoela), foi oficiada aprimeira missa no solo brasileiropor freiHenrique Soares(ou freiHenrique de Coimbra),24que pregou sobre o Evangelho do dia. Batizaram a terra comoIlha da Vera Cruzno dia1 de maioe numa segunda missa Cabral tomou posse das terras em nome do rei dePortugal. No mesmo dia, os navios partiram, deixando na terra pelo menos dois degredados e dois grumetes que haviam fugido de bordo. Cabral partiu para a ndia pela via certa que sabia existir a partir da costa brasileira, isto , cruzou outra vez oOceano Atlnticoe costeou a frica.O reiD. Manuel Irecebeu a notcia do descobrimento por cartas escritas porMestre Joo, fsico e cirurgio de D. Manuel24ePero Vaz de Caminha, semanas depois. Transportadas na nau deGaspar de Lemos, as cartas descreviam de forma pormenorizada as condies geogrficas e seus habitantes, desde ento chamados dendios. Atento aos objetivos da Coroa na expanso martima, Caminha informava ao rei:25Nela at agora no podemos saber que hajaouronemprata, nem alguma coisa de metal nem de ferro lho vimos; pero a terra em si de muitos bons ares, assi frios e temperados como os d'antreDoiroeMinho, porque neste tempo de agora assi os achamos como os de l; guas so muitas infindas e em tal maneira graciosa, que querendo aproveitar-se dar-se- nela tudo por bem das guas que tem; pero o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que ser salvar esta gente () boa e de boa simplicidade.

Pero Vaz Caminha

Damio de Gisnarra o descobrimento em sua lnguarenascentista:Navegando a loeste, aos xxiiij dias do mes Dabril viram terra, do que foro muito alegres, porque polo rumo em que jazia, vio no ser nenhuma das que at ento eram descubertas. Padralures Cabral fez rosto para aquela banda & como foro bem vista, mandou ao seu mestre que no esquife fosse a terra, o qual tornou logo com novas de ser muito fresca & viosa, dizendo que vira andar gente baa & nua pela praia, de cabelo comprido & corredio, com arcos & frechas nas mos, pelo que mandou alguns dos capites que fossem com os bateis armados ver se isto era assi, os quaes sem sairem em terra tornaram capitaina afirmando ser verdade o que o mestre dixera. Estando j sobrancora se alevantou de noite hum temporal, com que correram de longo da costa ate tomarem hum porto muito bom, onde Pedralures surgio com as outras naos & por ser tal lhe pos nome Porto Seguro.

Damio de Gis

Alm das cartas acima mencionadas, outro importante documento sobre o descobrimento do Brasil oRelato do Piloto Annimo. De incio, a descoberta da nova terra foi mantida em sigilo pelo Rei de Portugal. O resto do mundo passou a conhecer o Brasil desde pelo menos1507, quando a terra apareceu com o nome deAmricana carta (mapa) deMartin Waldseemller, no qual est assinalado na costa o Porto Seguro.29Expedies exploratriasEm1501, uma grande expedio exploratria, a primeira frota de reconhecimento, com trs naus, encontrou como recurso explorvel apenas opau-brasil, de madeira avermelhada e valiosa usada na tinturaria europia, mas fez um levantamento da costa. Comandada por Gaspar de Lemos, a viagem teve incio em10 de maiode 1501 e findaria com o retorno a Lisboa em7 de setembrode1502, depois de percorrer a costa e dar nome aos principais acidentes geogrficos. Sobre o comandante, podem ter sido D. Nuno Manuel,Andr Gonalves, Ferno de Noronha, Gonalo Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este ltimo o nome mais aceito. Em 1501, no dia1 de novembro, foi descoberta aBaa de Todos os Santos, na atualBahia, local que mais tarde seria escolhido porD. Joo IIIpara abrigar a sede da administrao colonial.Alguns historiadores negam a hiptese de Gonalo Coelho, que s teria partido de Lisboa em 1502. OBaro do Rio Branco, em suasEfemrides, fixa-se em Andr Gonalves, que a verso mais comumente aceita. Mas Andr Gonalves fazia parte da armada de Cabral, que retornou a Lisboa quando a expedio de 1501 j partira para o Brasil e com ela cruzou na altura do arquiplago de Cabo Verde.

Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller,1519), actualmente naBiblioteca Nacional de Frana.Assim, diversos historiadores optam por Gaspar de Lemos, que entre junho e julho de 1500 havia chegado a Portugal com a notcia do descobrimento. OflorentinoAmrico Vespciovinha como piloto na frota (e por seu nome seria batizado todo o continente, mais tarde). Depois de 67 dias de viagem, em16 de agosto, a frota alcanou o que hoje oCabo de So Roque(Paraba) e, segundo Cmara Cascudo, ali plantou o marco de posse mais antigo do Brasil. Houve, na ocasio, contatos entre portugueses e os ndiospotiguaras.Ao longo das expedies, os portugueses costumavam batizar os acidentes geogrficos segundo o calendrio com os nomes dos santos dos dias, ignorando os nomes locais dados pelos nativos. Em1 de novembro(Dia de Todos os Santos), chegaram Baa de Todos os Santos, em21 de dezembro(dia deSo Tom) aoCabo de So Tom, em1 de janeirode 1502 Baa da Guanabara(por isso batizada de "Rio de Janeiro") e no dia6 de janeiro(Dia de Reis) angra(baa) batizada comoAngra dos Reis. Outros lugares descobertos foram a foz dorio So Franciscoe oCabo Frio, entre vrios. As trs naus que chegaram Guanabaraeram comandadas porGonalo Coelho, e nela vinha Vespcio. Tomando a estreita entrada da barra pela foz de um rio, chamaram-na Rio de Janeiro, nome que se estendeu cidade de So Sebastio que ali se ergueria mais tarde.Em1503houve nova expedio, desta vez comandada (sem controvrsias) por Gonalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento oufeitoria. Foi organizada em funo um contrato do rei com um grupo de comerciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia novamente Vespcio e seis navios. Partiu em maio de Lisboa, esteve em agosto na ilha deFernando de Noronhae ali afundou a nau capitnia, dispersando-se a armada. Vespcio pode ter ido para a Bahia, passado seis meses em Cabo Frio, onde fez entrada de 40 lguas terra adentro. Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seis meses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na regio onde se fundaria depois a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou trs anos.Nessa ocasio, Vespcio, a servio de Portugal, retornou ao maior porto natural da costa brasileira, a Baa de Todos os Santos. Durante as trs primeiras dcadas, o litoral baiano, com suas inmeras enseadas, serviu fundamentalmente como apoio rota da ndia, cujocomrciode produtos deluxoseda,tapetes,porcelanaeespeciarias era mais vantajoso que os produtos oferecidos pela nova colnia. Nos pequenos e grandes portos naturais baianos, em especial no de Todos os Santos, as frotas se abasteciam deguae delenhae aproveitavam para fazer pequenos reparos.No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os ndios chamavam deUruu-Mirim, a atualpraia do Flamengo. Junto foz dorio Carioca(outrora abundante fonte degua doce) foram erguidas uma casa de pedra e umarraial, deixando-se no local degredados e galinhas. A construo inspirou o nome que os ndios deram ao local (cari-oca, "casa dos brancos"), que passaria a ser ogentlicoda cidade do Rio. O arraial, no entanto, foi logo destrudo. Outras esquadras passariam pela Guanabara: a deCristvo Jacques, em1516; a deFerno de Magalhes(que chamou o local deBaa de Santa Luzia), em1519, na primeiracircunavegaodo mundo; outra vez a de Jacques, em1526, e a deMartim Afonso de Sousa, em1531.Outras expedies ao litoral brasileiro podem ter ocorrido, j que desde1504so assinaladas atividades decorsrios. Holanda, emRazes do Brasil, cita o capito francsPaulmier de Gonneville, deHonfleur, que permaneceu seis meses no litoral deSanta Catarina.30A atividade de navegadores no-portugueses se inspiravadoutrina da liberdade dos mares, expressada porHugo GrotiusemMare liberum, base da reao europia contra Espanha e Portugal, gerandopiratariaalargada pelos mares do planeta.31Extrao de pau-brasilVer artigo principal:Extrativismo no BrasilePau-brasil

Derrubada do pau-brasil em ilustrao daCosmografia UniversaldeAndr Thevet, 1575.O pau-brasil (que os ndiostupischamavam deibirapitanga) era a principal riqueza de crescente demanda na Europa. Estima-se que havia, na poca do descobrimento, mais de 70 milhes de rvores do tipo, abundando numa faixa de 18km do litoral do Rio Grande do Norte at a Guanabara. Quase todas foram derrubadas e levadas para a Europa. A extrao foi tanta que atualmente a espcie protegida para no sofrer extino.Para explorar a madeira, a Coroa adotou a poltica de oferecer a particulares, em geralcristos-novos, concesses de explorao do pau-brasil mediante certas condies: os concessionrios deveriam mandar seus navios descobrirem 300 lguas de terra, instalar fortalezas nas terras que descobrissem, mantendo-as por trs anos; do que levassem para o Reino, nada pagariam no primeiro ano, no segundo pagariam um sexto e no terceiro um quinto. Os navios ancoravam na costa, algumas dezenas de marinheiros desembarcavam e recrutavam ndios para trabalhar no corte e carregamento das toras, em troca de pequenas mercadorias como roupas, colares eespelhos(prtica chamada de "escambo"). Cada nau carregava em mdia cinco mil toras de 1,5 metro de comprimento e 30 quilogramas de peso.Em1503, toda a terra do Brasil foi arrendada pela coroa aFerno de Noronha(ou Loronha), e outros cristos-novos, produzindo 20 milquintaisde madeira vermelha. SegundoCapistrano de Abreu, emCaptulos da Histria Colonial, cada quintal era vendido em Lisboa por 21/3ducados, mas lev-lo at l custava apenas meio ducado. Os arrendatrios pagavam 4 mil ducados Coroa.Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarcaes costa para contrabandearem pau-brasil, aves de plumagem colorida (papagaios,araras), peles, razes medicinais e ndios para escravizar. Surgiram, assim, as primeiras feitorias. O nufrago Diogo lvares, oCaramuru, estabeleceu-se desde 1510 na barra da Baa de Todos os Santos, onde negociava com barcos portugueses e estrangeiros. Outra feitoria foi chamada de Aldeia Velha de Santa Cruz, prxima ao local da descoberta.Alm dos portugueses, seus rivais europeus, principalmente franceses, passaram a frequentar a costa brasileira para contrabandear a madeira e capturar ndios. Os franceses contrabandearam muito pau-brasil no litoral norte, entre a foz do rio Real e a Baa de Todos os Santos, mas no chegaram a estabelecer feitoria. Outro ponto de contrabando, sobretudo nosculo XVII, foi oMorro de So Paulo(Bahia). At que Portugal estabelecesse o sistema decapitanias hereditrias, a presena mais constante na terra era dos franceses. Estimulados por seu rei, corsrios passam a frequentar aGuanabara procura de pau-brasil e outros produtos. Ganharam a simpatia dos ndiostamoios, que a eles se aliaram durante dcadas contra os portugueses.Portugal, verificando que o litoral era visitado por corsrios e aventureiros estrangeiros, resolveu enviar expedies militares para defender a terra. Foram denominadas expedies guarda-costas, sendo mais marcantes as duas comandadas porCristvo Jacques, de 1516-1519 e 1526-1528. Suas expedies tinham carter basicamente militar, com misso de aprisionar os navios franceses que, sem pagar tributos coroa, retiravam grandes quantidades do pau-brasil. A iniciativa teve poucos resultados prticos, considerando a imensa extenso do litoral e, como soluo, Jacques sugeriu Coroa dar incio ao povoamento.A expedio enviada em1530sob a chefia deMartim Afonso de Sousatinha por objetivos explorar melhor a costa, expulsar os franceses que rondavam o sul e as cercanias doRio de Janeiro, e estabelecer ncleos de colonizao ou feitorias, como a estabelecida emCabo Frio. Martim Afonso doou as primeirassesmariasdo Brasil. Foram fundados por esta expedio os ncleos deSo VicenteeSo Paulo, onde o portugusJoo Ramalhovivia como nufrago desde1508e casara-se com a ndiaBartira, filha docaciqueTibiri. Em So Vicente foi feita em1532a primeira eleio nocontinente americanoe instalada a primeiraCmara Municipale a primeiravilado Brasil. A presena de Ramalho, que ajudava no contato com os nativos e instalara-se na aldeia de Piratininga, foi o que inspirou Martim Afonso a instalar a vila de So Vicente perto do ncleo que viria a ser So Paulo.A mais polmica expedio seria a deFrancisco de Orellanaque, em1535, penetrando pela foz dorio Orinocoe subindo-o, descreve que numa nica viagem, em meio de um incrvel emaranhado de rios e afluentes amaznicos, teria encontrado orio Cachequerique, rarssima e incomum captura fluvial que une o rio Orinoco aos riosNegroeAmazonas.Administrao colonialVer artigo principal:Colonizao do BrasileBrasil ColniaCapitanias do Mar (1516-1532)A administrao das terras ultramarinas, que a princpio foi arrendada a Ferno de Noronha, agente da CasaFugger(1503-1511), ficou a cargo direto da Coroa, que no conseguia conter as freqentes incurses de franceses na nova terra. Por isso, em1516,D. Manuel Ie seu Conselho criam nosAorese naMadeiraas chamadas capitanias do mar, por analogia com as estabelecidas noOceano ndico. O objetivo fundamental era garantir o monoplio danavegaoe a poltica domare clausum(mar fechado). De dois em dois anos, o capito do mar partia com navios para realizar um cruzeiro de inspeo no litoral, defendendo-o das incurses francesas ou castelhanas. No Brasil, teriam visitado quatro armadas.As armadas de Jacques assinaram-se com insistncia norio da Prata. Tambm em 1516 ocorre a primeira tentativa decolonizaometdica e aproveitamento da terra com base na plantao dacana(levada deCabo Verde) e na fabricao doacar. J devia ter havido algumas tentativas de capitanias e estabelecimentos em terra, pois em 15 de julho de1526o rei D. Manuel I autorizouPedro Capico,32"capito de uma capitania do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania". Talvez Jacques tenha ido buscar Capico em Porto Seguro, pois a ele era justamente atribuda a fundao de uma feitoria no local, muito antes de ser doada como capitania aPero do Campo Tourinho. Outras capitanias incipientes podem ter existido pelo menos emPernambuco,Porto Seguro,Rio de JaneiroeSo Vicente.Roberto Simonsen(emHistria Econmica do Brasil, pg.120) comenta:Na terra de Santa Cruz, o valor e as possibilidades de comrcio no justificavam () organizaes da mesma importncia que as feitorias de Portugal na frica. Mesmo assim, foram instaladas, quer pelos concessionrios do comrcio do pau-brasil, quer pelo prprio governo portugus, vrias feitorias, postos de resgate onde se concentravam, sob o abrigo de fortificaes primitivas, os artigos da terra que as naus vinham buscar. So por demais deficientes at hoje as notcias sobre estas feitorias,Igarau,Itamarac, Bahia, Porto Seguro, Cabro Frio, So Vicente e outras intermedirias, que desapareciam, ora esmagadas pelo gentio, ora conquistadas pelos franceses. Mas o prprio comrcio do pau-brasil uma demonstrao de sua existncia, e as notcias sobre a dcada anterior, de 1530, salientam a preocupao do Governo portugus de defend-las. Eram assim postos de resgate de carter temporrio, estabelecimentos efmeros, assolados por entrelopos e corsrios franceses, por selvagens. Por muitos anos cessar todo o interesse de Portugal pelo Brasil. O Brasil ficou ao acaso Colonizar a nova terra seria dispendioso, sem lucro imediato. Portugal, no auge de sua tcnica de navegao, de posse de feitorias fincadas em vastssimas costas de oceanos, no tinha recursos humanos, com uma populao estimada em um milho de habitantes. Impunha-se uma atitude predominantementefiscal. Havia o qu? Haviamacacos, papagaios, selvagens nus e primitivos. Mas haviapau-brasil

Roberto Simonsen

Joo Ribeiro(emHistria do Brasil) diz que... depois das primeiras exploraes, as terras do Brasil tornaram-se constante teatro da pirataria universal. Especuladores franceses, alemes, judeus e espanhis aqui aportam, comerciam com o gentio ou seelvajam-se e com eles convivem em igual barbaria. Os navegadores de todos os pontos aqui se aprovisionam ou se abrigam das tempestades. Aventureiros aqui desembarcam, e vivem ventura, na companhia de degredados e foragidos. O que procura a corte portuguesa deD. Manuel Iso as riquezas do Oriente, e se alguma expedio aqui toca e se demora, (....) no o Brasil que as atrai mas ainda a fascinao do Oriente.

Joo Ribeiro

Capitanias hereditrias (1532-1549)Ver artigo principal:Capitanias do Brasil

As capitanias hereditriasA apatia s iria cessar quandoD. Joo IIIascendeu ao trono. Nadcada de 1530, Portugal comeava a perder a hegemonia do comrcio nafrica Ocidentale nondico. Circulavam insistentes notcias da descoberta de ouro e de prata naAmrica Espanhola. Ento, em1532, o rei decidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, mas num sistemahereditrio, pelo qual a explorao passaria a ser direito de famlia. O capito e governador, ttulos concedidos ao donatrio, teria amplos poderes, dentre os quais o de fundar povoamentos (vilas e cidades), concedersesmariase administrar ajustia. O sistema decapitanias hereditriasimplicava na diviso de terras vastssimas, doadas a capites-donatrios que seriam responsveis por seu controle e desenvolvimento, e por arcar com as despesas de colonizao. Foram doadas aos que possussem condies financeiras para custear a empresa da colonizao, e estes eram principalmente "membros da burocracia estatal" e "militares e navegadores ligados conquista da ndia" (segundoEduardo Buenoem "Histria de Brasil"). De acordo com o mesmo autor, a sugesto teria sido dada ao rei porDiogo de Gouveia,33ilustre humanista portugus, e respondia a uma "absoluta falta de interesse da alta nobreza lusitana" nas terras americanas.Foram criadas, nesta diviso, quinze faixas longitudinais de diferentes larguras que iam de acidentes geogrficos no litoral at oMeridiano das Tordesilhas,nota 1e foram oferecidas a doze donatrios. Destes, quatro nunca foram ao Brasil; trs faleceram pouco depois; trs retornaram a Portugal; um foi preso porheresia(Tourinho) e apenas dois se dedicam colonizao (Duarte CoelhonaCapitania de PernambucoeMartim Afonso de SousanaCapitania de So Vicente).Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias dePernambucoe de So Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois meses de viagem dePortugal. Alm disso, as notcias das novas terras no eram muito animadoras: na viagem, alm do medo de "monstros" que habitariam o oceano (na superstio europia), tempestades eram freqentes; nas novas terras, florestas gigantescas e impenetrveis, povosantropfagose no havia nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em1536, chegou o donatrio da capitania da Baa de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou oArraial do Pereira, na futura cidade doSalvador, mas se revelou mau administrador e foi morto pelos tupinambs.34Tampouco tiveram maior sucesso as capitanias dos Ilhus e do Esprito Santo, devastadas poraimorse tupiniquins.Governo-Geral (1549-1580)Tom de Sousa

Tom de Sousa.Aps o fracasso do projeto de capitanias, o rei Joo III unificou as capitanias sob umGoverno-Geral do Brasile em7 de janeirode1549nomeouTom de Sousapara assumir o cargo de governador-geral. A expedio do primeiro governador chegou ao Brasil em 29 de maro do mesmo ano, com ordens para fundar uma cidade para abrigar a sede da administrao colonial. O local escolhido foi a Baa de Todos os Santos e a cidade foi chamada deSo Salvador da Baa de Todos os Santos. As condies favorveis da terra, o clima quente, o solo frtil, a excelente posio geogrfica, fizeram com que o rei decidisse reverter a capitania para a Coroa (expropriando-a do donatrio Pereira Coutinho). As tarefas de Tom de Sousa eram tornar efetiva a guarda da costa, auxiliar os donatrios, organizar a ordem poltica e jurdica na colnia. O governador organizou a vida municipal, e sobretudo a produo aucareira: distribuiu terras e mandou abrir estradas, alm de fazer construir umestaleiro.Desse modo, o Governo-Geral centralizou a administrao colonial, subordinando as capitanias a um sgovernador-geralque tornasse mais rpido o processo de colonizao. Em 1548, elaborou-se oRegimento do Governador-Geral,35que regulamentava o trabalho do governador e de seus principais auxiliares - oouvidor-mor(Justia), oprovedor-mor(Fazenda) e ocapito-mor(Defesa).36O governador tambm levou ao Brasil os primeiros missionrios catlicos, da ordem dosjesutas, como o padreManuel da Nbrega. Por ordens suas, ainda, foram introduzidas na colnia as primeiras cabeas de gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao chegar Bahia, Tom de Sousa encontrou o velho Arraial do Pereira com seus moradores, e mudaram o nome do local para Vila Velha. Tambm moravam nos arredores o nufrago Diogo lvares "Caramuru" e sua esposaParaguau(batizada como Catarina), perto da capela de Nossa Senhora das Graas (hoje o bairro daGraa, em Salvador). Consta que Tom de Sousa teria pessoalmente ajudado a construir as casas e a carregar pedras e madeiras para construo da capela de Nossa Senhora da Conceio da Praia, uma das primeiras igrejas erguidas no Brasil. Tom de Souza visitou as capitanias do sul do Brasil, e, em 1553, criou a Vila deSanto Andr da Borda do Campo, transferida em 1560 para oPtio do Colgiodando origem cidade de So Paulo.Duarte da Costa

Esquema do ataque de Mem de S aos franceses na baa de Guanabara, em 1560. Autoria desconhecida, 1567.Em 1553, a pedidos, Tom de Sousa foi exonerado do cargo e substitudo porDuarte da Costa, fidalgo esenadornas Cortes deLisboa. Em sua expedio foram tambm 260 pessoas, incluindo seu filho,lvaro da Costa, e o ento novioJos de Anchieta, jesuta basco que seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos. A administrao de Duarte foi conturbada. J de incio, a inteno de lvaro em escravizar os indgenas, incluindo os catequizados, esbarrou na impertinncia de DomPero Fernandes Sardinha, primeirobispodo Brasil. O governador interveio a favor do filho e autorizou a captura de indgenas para uso em trabalho escravo. Disposto a levar as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinha partiu para Lisboa em1556mas naufragou na costa deAlagoase acabou devorado peloscaetsantropfagos.Durante o governo de Duarte da Costa, uma expedio de protestantes franceses se instalou permanentemente na Guanabara e fundou a colnia daFrana Antrtica. Ultrajada, a Cmara Municipal da Bahia apelou Coroa pela substituio do governador. Em 1556, Duarte foi exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviado Mem de S, com a misso de retomar a posse portuguesa do litoral sul.Mem de SO terceiro Governador-Geral,Mem de S(1558-1572), deu continuidade poltica de concesso desesmariasaos colonos e montou ele prprio um engenho, s margens dorio Sergipe, que mais tarde viria a pertencer aoconde de Linhares(Engenho de Sergipe do Conde). Para enfrentar os colonos franceses estabelecidos naFrana Antrtica, aliados aostamoiosnabaa de Guanabara, Mem de S aliou-se aosTemiminsdo caciqueArariboia. O seu sobrinho,Estcio de S, comandou a retomada da regio e fundou a cidade doRio de Janeiroa20 de Janeirode1565, dia deSo Sebastio.Unio Ibrica (1580-1640)Ver artigo principal:Unio Ibrica

Ilustrao de uma bandeira porAlmeida Jnior:Estudo p/ Partida da Mono, 1897.Acervo Artstico-Cultural dos Palcios do Governo do Estado de S. Paulo.Com o desaparecimento de D.Sebastio e posteriormente a morte de D. Henrique I, Portugal ficou sobunio pessoalcom a Espanha, e foi governada pelos trs reis Filipes (Filipe II,Filipe IIIeFilipe IV, dos quais se subtrai um nmero quando referentes a Portugal e ao Brasil). Isso virtualmente acabou com a linha divisria do meridiano das Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse para o oeste.Vrias expedies exploratrias do interior (chamado de "os sertes") foram organizadas, fosse sob ordens diretas da Coroa ("entradas") ou por caadores de escravos paulistas ("bandeiras", donde o nome "bandeirantes"). Estas expedies duravam anos e tinham o objetivo principalmente de capturar ndios como escravos e encontrar pedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata. Foram bandeirantes famosos, entre outros,Ferno Dias Paes Leme,Bartolomeu Bueno da Silva(Anhanguera),Raposo Tavares,Domingos Jorge Velho,Borba GatoeAntnio Azevedo.A Unio Ibrica tambm colocou o Brasil em conflito com potncias europias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. Esta ltima atacou e invadiu extensas faixas do litoral nordestino, fixando-se principalmente em Pernambuco e na Paraba por vinte e cinco anos.Estado do Maranho e Estado do Brasil (1621-1755)Ver artigo principal:Colonizao do BrasilDas mudanas administrativas durante o domnio espanhol, a mais importante sucedeu em1621, com a diviso da colnia em duas administraes independentes: oEstado do Brasil, que abrangia de Pernambuco atual Santa Catarina, e oEstado do Maranho, do atual Cear Amaznia. A razo se baseava no destacado papel assumido pelo Maranho como ponto de apoio e de partida para a colonizao do norte e nordeste. O Maranho tinha por capitalSo Lus, e o Estado do Brasil sua capital em Salvador. Nestes dois estados, os sditos eram cidados portugueses (chamados de "portugueses do Brasil") e sujeitos aos mesmos direitos e deveres, e as mesmas leis as quais estavam submetidos os residentes em Portugal, entre elas, asOrdenaes manuelinase asOrdenaes filipinas.Quando o reiFilipe III(IV da Espanha) separou o Brasil e o Maranho, passaram a existir trs capitanias reais: Maranho, Cear e Gro-Par, e seis capitanias hereditrias. Em1737, com sua sede transferida paraBelm, o Maranho passou a ser chamado deGro-Par e Maranho. Tal instalao era efeito do isolamento do extremo norte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos impedia durante meses as comunicaes entre So Lus e a Bahia. No sculo XVII, o Estado do Brasil se estendia do atual Par at o Rio Grande do Norte e deste at Santa Catarina, e no sculo XVIII j estariam incorporados oRio Grande de So Pedro, atualRio Grande do Sule as regies mineiras e parte daAmaznia. O Estado do Maranho foi extinto na poca deMarqus de Pombal.Invaso holandesa (1630-1654)Ver artigo principal:Invases holandesas do Brasil,Guerra Luso-Holandesa

Gravura neerlandesa mostrando o cerco aOlinda,Pernambuco, em 1630. Os holandeses saquearam e queimaram diversas construes em Olinda, inclusive as igrejas.37A invaso holandesa no Nordeste brasileiro foi um importante captulo daGuerra Luso-Holandesa. Em1630, aCapitania de Pernambucofoi invadida pelaCompanhia das ndias Ocidentais. Por ocasio daUnio Ibrica(1580 a 1640) a ento chamadaRepblica Holandesa, antes dominados pelaEspanhatendo depois conseguido sua independncia atravs da fora, veem emPernambucoa oportunidade para impor um duro golpe na Espanha, ao mesmo tempo em que tirariam o prejuzo do fracasso naBahia, uma vez que Pernambuco era a mais rica capitania da colnia.

Johann Moritz von Nassau-Siegen.Em 26 de dezembro de 1629 partia de So Vicente, Cabo Verde, uma esquadra com 66 embarcaes e 7.280 homens em direo a Pernambuco. Os holandeses, desembarcando na praia dePau Amarelo, conquistam a capitania de Pernambuco em fevereiro de 1630 e estabelecem a colniaNova Holanda. A frgil resistncia portuguesa na passagem doRio Doce, invadiu sem grandes contratempos Olinda e derrotou a pequena, porm aguerrida, guarnio do forte (que depois passaria a ser chamado de Brum), porta de entrada para oRecifeatravs do istmo que ligava as duas cidades.O condeMaurcio de Nassaudesembarcou na Nieuw Holland, a Nova Holanda, em 1637, acompanhado por uma equipe de arquitetos e engenheiros. Nesse ponto comea a construo deMauritsstad(atual Recife), que foi dotada de pontes, diques e canais para vencer as condies geogrficas locais. O arquiteto Pieter Post foi o responsvel pelo traado da nova cidade e de edifcios como o palcio de Freeburg, sede do poder de Nassau na Nova Holanda, e do prdio do observatrio astronmico, tido como o primeiro doNovo Mundo. Em 28 de fevereiro de 1644 o Recife (atualmente oBairro do Recife) foi ligado Cidade Maurcia com a construo da primeira ponte daAmrica Latina. Durante o governo de Nassau, Recife foi considerada a mais cosmopolita cidade dasAmricas, e tinha a maior comunidade judaica de todo o continente, que construiu, poca, a primeira sinagoga do Novo Mundo, aKahal Zur Israel, bem como a segunda, a Maguen Abraham.3839No Palcio de Friburgo, sede do poder de Nassau na Nova Holanda, foi construdo o primeiroobservatrio astronmicodoContinente Americano.4041

Recifefoi a mais cosmopolita cidade dasAmricasdurante o governo do conde alemo (a servio da coroa holandesa)Maurcio de Nassau.42Por diversos motivos, sendo um dos mais importantes a exonerao deMaurcio de Nassaudo governo da capitania pelaCompanhia Holandesa das ndias Ocidentais, o povo de Pernambuco se rebelou contra o governo, juntando-se fraca resistncia ainda existente, num movimento denominadoInsurreio Pernambucana.

AKahal Zur Israel, noRecife, foi a primeirasinagogadasAmricas.43Com a chegada gradativa de reforos portugueses, os holandeses por fim foram expulsos em1654, na segundaBatalha dos Guararapes. Foi nesta ocasio que se diz ter nascido oExrcito brasileiro.Com a colnia holandesa tomada pelos portugueses, os judeus receberam um prazo de trs meses para partir ou se converter ao catolicismo. Com medo da fogueira daInquisio, quase todos venderam o que tinham e deixaram o Recife em 16 navios. Parte da comunidade judaica expulsa de Pernambuco fugiu paraAmsterd, e outra parte se estabeleceu emNova York. Atravs deste ltimo grupo aIlha de Manhattan, atual centro financeiro dosEstados Unidos, conheceu grande desenvolvimento econmico; e descendentes de judeus egressos do Recife tiveram participao ativa na histria estadunidense: Gershom Mendes Seixas, aliado deGeorge WashingtonnaGuerra de Independncia dos Estados Unidos; seu filho Benjamin Mendes Seixas, fundador daBolsa de Valores de Nova York; Benjamin Cardozo, juiz daSuprema Corte dos Estados Unidosligado aFranklin Roosevelt; entre outros.444546Aps a expulso holandesa, o estado passou a declinar junto com restante doNordeste, devido transferncia do centro poltico-econmico para oSudeste, o que resultou em conflitos como aRevoluo Pernambucanae aConfederao do Equador, movimentos separatistas pernambucanos.A qualidade do acar refinado holands, agora produzido nasAntilhas, superior ao mascavo brasileiro, tambm ajudou a acelerar a decadncia do estado, que era baseado noslatifndiosde cultivo decana-de-acar.Buscando novos meios de renda, aumenta o comrcio no estado gradativamente. Este efeito foi estopim de revoltas como aGuerra dos Mascates.Insurreio Pernambucana (1645-1654)Ver artigo principal:Insurreio Pernambucana

AsBatalhas dos Guararapes, episdios decisivos naInsurreio Pernambucana, so consideradas a origem doExrcito Brasileiro.Em15 de maiode1645, reunidos no Engenho de So Joo, 18 lderes insurretos pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domnioholandsna capitania. Com o acordo assinado, comea o contra-ataque invaso holandesa.A primeira vitria importante dos insurretos se deu noMonte das Tabocas, (hoje localizada no municpio de Vitria de Santo Anto) onde 1200 insurretos mazombos armados de armas de fogo, foices, paus e flechas derrotaram numa emboscada 1900 holandeses bem armados e bem treinados.

Joo Fernandes Vieira.O sucesso deu ao lderAntnio Dias Cardosoo apelido deMestre das Emboscadas. Os holandeses que sobreviveram seguiram paraCasa Forte, sendo novamente derrotado pela aliana dos mazombos,ndiosnativos eescravosnegros. Recuaram novamente para ascasas-forteemCabo de Santo Agostinho, Pontal de Nazar,Sirinham,Rio Formoso,Porto Calvoe Forte Maurcio, sendo sucessivamente derrotados pelos insurretos.Por fim,Olindafoi recuperada pelos rebeldes.Cercados e isolados pelos rebeldes numa faixa que ficou conhecida como Nova Holanda, indo do Recife aItamarac, os invasores comearam a sofrer com a falta de alimentos, o que os levou a atacar plantaes demandiocanas vilas deSo Loureno, Catuma e Tejucupapo.Em24 de abrilde1646, ocorreu a famosa Batalha de Tejucupapo, onde mulheres camponesas armadas de utenslios agrcolas e armas leves expulsaram os invasores holandeses, humilhando-os definitivamente. Esse fato histrico consolidou-se como a primeira importante participao militar da mulher na defesa do territrio brasileiro.Devido aPrimeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a Repblica Holandesa no pde auxiliar os holandeses no Brasil. Com o fim da guerra contra os ingleses, a Repblica Holandesa exige a devoluo da colnia em maio de1654. Sob ameaa de uma nova invaso do Nordeste brasileiro,Portugalcede exigncia dos holandeses que Portugal pague 4 milhes cruzados para Repblica Holandesa entre um perodo de 16 anos. Porm, em6 de agostode1661a Repblica Holandesa cede formalmente o Nordeste brasileiro Portugal atravs daPaz de Haia.Economia colonialVer artigo principal:Ciclo da cana-de-acar,Entradas e BandeirasA economia da colnia, iniciada com o puro extrativismo depau-brasile o escambo entre os colonos e os ndios Pernambucoera o local de maior incidncia de pau-brasil, e de uma qualidade to superior que regulava o preo no comrcio europeu47, gradualmente passou produo local, com os cultivos dacana-de-acare docacau. Oengenho de acar(manufatura do ciclo de produo aucareiro) constituiu a pea principal domercantilismoportugus, organizadas em grandes propriedades. Estas, como se chamou mais tarde, eramlatifndios, caracterizados por terras extensas, abundantemo-de-obraescrava, tcnicas complexas e baixa produtividade.

Navio negreiro ilustrando o livroVoyage pittoresque dans le Brsil, 1835, deRugendas.Para sustentar a produo de cana-de-acar, os portugueses comearam, a partir de meados dosculo XVI, a importar africanos comoescravos. Eles eram pessoas capturadas entre tribos das feitorias europias na frica (s vezes com a conivncia de chefes locais de tribos rivais) e atravessados no Atlntico nosnavios negreiros, em pssimas condies de asseio e sade. Ao chegarem Amrica, essas pessoas eram comercializadas como mercadoria e obrigados a trabalhar nas plantaes e casas dos colonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionados em galpes rsticos chamados desenzalas, e seus filhos tambm eram escravizados, perpetuando a situao pelas geraes seguintes.Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam principalmente armas de fogo, tecidos, utenslios de ferro, aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, marfim e outros produtos.At meados do sculo XVI, os portugueses possuam o monoplio do trfico de escravos. Depois disso, mercadores franceses, holandeses e ingleses tambm entraram no negcio, enfraquecendo a participao portuguesa.O Brasil nasceu e cresceu econmica e socialmente com o acar, entre os dias venturosos do pau-de-tinta e antes de as minas e o caf o terem ultrapassado. Efetivamente, o acar foi base na formao da sociedade e na forma de famlia. A casa de engenho foi modelo da fazenda de cacau, da fazenda de caf, da estncia. Foi base de um complexo sociocultural de vida.

Gilberto Freyre

Em1549, Pernambuco j possua trintaengenhos-bangu, a Bahia, dezoito, e So Vicente, dois. A lavoura da cana-de-acar era prspera e, meio sculo depois, a distribuio dos engenhos de acar perfazia um total de 256.48Houve engenhos ainda nas capitanias de So Vicente e do Rio de Janeiro que cobriam cem lguas e couberam ambas aMartim Afonso de Sousa. Este receberia o apoio de Joo Ramalho e de seu sogro Tibiri. No Rio, funcionava o engenho deRodrigo de Freitas, nas margens dalagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar osculo XVII, o acar brasileiro era produto de importao nos portos de Lisboa,Anturpia,Amsterd,Roterd,Hamburgo. Sua produo, muito superior das ilhas portuguesas no Atlntico, supria quase toda a Europa.Gabriel Soares de Sousa, em1548, comentava o luxo reinante na Bahia e o padreFerno Cardimexaltava suas capelas magnficas, os objetos de prata, as lautas refeies emlouada ndia, que servia de lastro nos navios: Parecem uns condes e gastam muito, reclamava o padre.Em meados dosculo XVII, o acar produzido nasAntilhas Holandesascomeou a concorrer fortemente na Europa com o acar do Brasil. Os holandeses tinham aperfeioado a tcnica, com a experincia adquirida no Brasil, e contavam com um desenvolvido esquema de transporte e distribuio do acar em toda a Europa. Portugal foi obrigado a recorrer Inglaterrae assinar diversos tratados que afetariam a economia da colnia. Em1642, Portugal concedeu Inglaterra a posio de "nao mais favorecida" e os comerciantes ingleses passaram a ter maior acesso ao comrcio colonial.Em1654Portugal aumentou os direitos ingleses; mas poderiam negociar diretamente vrios produtos do Brasil com Portugal e vice-versa, excetuando-se alguns produtos como bacalhau, vinho, pau-brasil). Em1661a Inglaterra se comprometeu a defender Portugal e suas colnias em troca de dois milhes de cruzados, obtendo ainda as possesses de Tnger e Bombaim. Em1703Portugal se comprometeu a admitir no reino os panos dos lanifcios ingleses, e a Inglaterra, em troca, a comprar vinhos portugueses. Data da poca o famosssimoTratado de Methuen, do nome de seu negociador ingls, ou tratado dos Panos e Vinhos. Na poca, satisfazia os interesses dos grupos dominantes mas teria como conseqncia a paralisao da industrializao em Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouro que acabava de ser descoberto no Brasil.

Formao do estado brasileiro (em verde escuro) e dos pasessul-americanosdesde1700.

Carlos Julio:Minerao de diamantes, Minas Gerais, c. 1770.No nordeste brasileiro se encontrava apecuria, to importante para o domnio do interior, j que eram proibidos rebanhos de gado nas fazendas litorneas, cuja terra demassapera ideal para o acar. Estuda-se bem o acar no item dedicado invaso holandesa.A conquista do serto, povoado por diversos gruposindgenasfoi lenta e se deveu muito pecuria (o gado avanou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde, s expedies dosBandeirantesque vinham prear ndios para levar para So Paulo.O Ciclo do OuroVer artigo principal:Ciclo do OuroNo final dosculo XVIIfoi descoberto, pelosbandeirantespaulistas, ouro nos ribeiros das terras que pertenciam capitania de So Paulo e mais tarde ficaram conhecidas comoMinas Gerais. Descobriram-se depois, no final da dcada de 1720,diamantee outras gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nos ribeires, que passou a ser mais penosamente buscado em veios dentro da terra. Apareceram metais preciosos emGoise noMato Grosso, no sculo XVIII. A Coroa cobrava, como tributo, um quinto de todo o minrio extrado, o que passou a ser conhecido como "oquinto". Os desvios e o trfico de ouro, no entanto, eram freqentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu toda uma burocracia e mecanimos de controle.49Quando a soma deimpostospagos no atingia uma cota mnima estabelecida, os colonos deveriam entregar jias e bens pessoais at completar o valor estipulado episdios chamados dederramas.O perodo que ficou conhecido comoCiclo do Ouroiria permitir a criao de um mercado interno, j que havia demanda por todo tipo de produtos para o povoamento das Minas Gerais. Era preciso levar,Serra da Mantiqueiraacima, escravos e ferramentas, ou,rio So Franciscoabaixo, os rebanhos de gado para alimentar a verdadeira multido que para l acorreu. A populao de Minas Gerais rapidamente se tornou a maior do Brasil, sendo a nica capitania do interior do Brasil com grande populao.A essa poca maioria da populao de Minas Gerais , aproximadamente 78%, era formada por negros e mestios. A populao branca era formada em grande parte porcristos-novosvindos do norte de Portugal e das Ilhas dos Aores e Madeira. Os cristos novos foram muito importantes no comrcio colonial e se concentraram especialmente nos povoados em volta de Ouro Preto e Mariana. Ao contrrio do que se pensava na Capitania do Ouro a riqueza no era mais bem distribuda do que em outras partes do Brasil. Hoje se sabe que foram poucos os beneficiados no solo mais rico da Amrica no sculo XVIII.As condies de vida dos escravizados na regio mineira eram particularmente difceis. Eles trabalhavam o dia inteiro em p, com as costas curvadas e com as pernas mergulhadas na gua. Ou ento em tneis cavados nos morros, onde era comum ocorrerem desabamentos e mortes. Os negros escravizados no realizavam apenas tarefas ligadas minerao. Tambm transportavam mercadorias e pessoas, construamestradas,casasechafarizes, comerciavam pelasruase lavras. Alguns proprietrios alugavam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadores eram chamados de "escravos de aluguel". Outro tipo de escravo era o "escravo de ganho", por exemplo, as mulheres que vendiam doces e salgados emtabuleirospelas ruas. Foi relativamente comum este tipo de escravo conseguir formar um peclio, que empregava na compra de sua liberdade, pagando ao senhor por sua alforria.A Sociedade Mineradora e as Camadas MdiasVer artigo principal:Minerao do BrasilO Brasil passou por sensveis transformaes em funo daminerao. Um novo plo econmico cresceu no Sudeste, relaes comerciais inter-regionais se desenvolveram, criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. A camada mdia, composta porpadres,burocratas,artesos,militares,mascatesefaisqueiros, ocupou espao na sociedade. A populao mineira, salvo nos principais centrosVila Rica,Mariana,Sabar,SerroeCaet, era essencialmente pobre. Ocusto de vidaaltssimo e a falta de gneros alimentcios uma constante.

Cidade deMariana,Minas Gerais.As minas propiciaram uma diversificao relativa dos servios e ofcios, tais como comerciantes, artesos,advogados,mdicos, mestre-escolas entre outros. No entanto foi intensamente escravagista, desenvolvendo a sociedade urbana s custas da explorao da mo de obra escrava. A minerao tambm provocou o aumento do controle do comrcio de escravos para evitar o esvaziamento da fora de trabalho daslavouras, j que os escravos eram os nicos que trabalhavam. Os escravos mais hbeis para a minerao eram os "Minas" trazidos da Costa ocidental africana, onde eram mineradores de ouro, e sados do porto de Elmina, emGana, onde ficavam noCastelo de So Jorge da Mina. Foi muito comum a fuga de escravos e a formao de muitosquilombosem Minas Gerais, sendo o mais importante foi o "Quilombo do Ambrsio".Tambm foi responsvel pela tentativa de escravizao dos ndios, atravs das bandeiras, que com intuito de abastecer a regio centro-sul promoveu a interiorizao do Brasil.Apesar de modificar a estruturaeconmica, manteve a estrutura de trabalho vigente, beneficiando apenas os ricos e os homens livres que compunham a camada mdia. Outro fator negativo foi a falta de desenvolvimento de tecnologias que permitissem a explorao de minas em maior profundidade, o que estenderia o perodo de explorao (e consequentemente mais ouro para Portugal).Assim, o eixo econmico e poltico se deslocou para ocentro-sulda colnia e oRio de Janeirotornou-se sede administrativa, alm de ser oportopor onde as frotas dorei de Portugaliam recolher os impostos. A cidade foi descrita pelo padre Jos de Anchieta como "a rainha das provncias e o emprio das riquezas do mundo", e por sculos foi a capital do Brasil.Invases estrangeiras e conflitos coloniaisVer artigo principal:Invases francesas do Brasil,Lutas e revolues no BrasileEscravido no Brasil

Amador Bueno aclamado "Rei do Brasil" em 1641O incio da colonizao portuguesa no territrio brasileiro foi a primeira invaso estrangeira da histria do pas, ento denominado pelos nativos tupis comoPindorama, que significa "Terra das Palmeiras". A resposta imediata foi de longos embates, entre elesa Guerra dos Brbaros. Houve ainda disputas com osfranceses, que tentavam se implantar naAmricapela pirataria e pelo comrcio doPau-Brasil, chegando a criar umaguerra luso-francesa. Tudo isso culminou com a expulso dos franceses trazidos porNicolas Durand de Villegagnon, que haviam construdoForte Colignyno Rio de Janeiro, estabelecendo-se em definitivo a hegemonia portuguesa.A poca colonial foi marcada por vrios conflitos, tanto entre portugueses e outros europeus, e europeus contra nativos, como entre os prprios colonos. O maior deles, sem dvida, foi aGuerra contra os Holandeses(ou Guerras Holandesas, de 1630 a 1647, na Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraba, Rio Grande do Norte e Cear.A insatisfao com a administrao colonial provocou aRevolta de Amador Buenoem So Paulo e, no Maranho, aRevolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios que aportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelidados "emboabas" porque andavam calados contra a maioria da populao, que andava descala. Contra eles se levantaram os paulistas, nas refregas do incio do sculo XVIII que ficariam conhecidas comoGuerra dos Emboabase paulistas e ensanguentaram o rio que at hoje se chamaRio das Mortes.Em Pernambuco, a disputa poltica e econmica entre mercadores e canavieiros, aps a expulso dos holandeses, levou Guerra dos Mascates. Os escravos negros que fugiam das fazendas se refugiavam nas serras do agreste nordestino e l fundavamquilombos, dos quais o mais importante foi o dePalmares, liderado porGanga Zumbae seu sobrinhoZumbi. A campanha para destru-lo foi aGuerra de Palmares(1693-1695).50No sul, a tentativa de escravizar indgenas levou a confrontos com os missionriosjesutas, organizados nas "redues" (misses) de catequese com osguaranis. AsGuerras Guaranticasduraram, intermitentemente, de1750a1757.J com o Ciclo do Ouro, a capitania de Minas Gerais sofreu aRevolta de Filipe dos Santose aInconfidncia Mineira(1789), seguida pelaConjurao Baianaem Salvador dez anos mais tarde. Esses dois grandes movimentos ficaram marcados por terem a inteno de proclamar a independncia.Inconfidncia MineiraVer artigo principal:Inconfidncia Mineira

"Martrio de Tiradentes", quadro de Francisco Aurlio de Figueiredo e Melo (1893).A Inconfidncia Mineira foi um movimento que partiu da elite deMinas Gerais. Com a decadncia da minerao na segunda metade dosculo XVIII, tornou-se difcil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Alm do mais, o governo portugus pretendia promulgar aderrama, um imposto que exigia que toda a populao, inclusive quem no fosse minerador, contribusse com a arrecadao de 20% do valor doouroretirado. Os colonos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal.Em Vila Rica (atualOuro Preto), participavam do grupo, entre outros, os poetasCludio Manuel da CostaeToms Antnio Gonzaga, os coronis Domingos de Abreu Vieira eFrancisco Antnio de Oliveira Lopes, opadre Rolim, o cnego Lus Vieira da Silva, o mineradorIncio Jos de Alvarenga Peixotoe alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, apelidadoTiradentes. A conspirao pretendia eliminar a dominao portuguesa e criar um pas livre.3Pela lei portuguesa a conspirao foi classificada como "crime de lesa-majestade", definida como "uma traio contra a pessoa do rei" nasordenaes afonsinas.A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de umaRepblica, inspirados pelas idiasiluministasdaFranae da recente independncianorte-americana. Trados porJoaquim Silvrio dos Reis, que delatou os inconfidentes para o governo, os lderes do movimento foram detidos e enviados para oRio de Janeiro, onde responderam pelo crime de inconfidncia (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em21 de abrilde1792, Tiradentes, de mais baixa condio social, foi o nico condenado morte por enforcamento. Sua cabea foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal. Apesar de considerada cruel hoje o enforcamento e esquartejamento do corpo, no contexto da poca a pena foi menos cruel que a pena aplicada, naquela mesma poca, famlia Tvora, noCaso Tvora, por igual crime de lesa-majestade, foi condenao fogueira.O crime de lesa-majestade era o mais grave dos regimes monarquistas absolutistas e era definido pelasordenaes filipinas, comotraio contra o rei. Crime este comparado hansenasepelas Ordenaes filipinas, no livro V, item 6:Lesa-majestade quer dizer traio cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que to grave e abominvel crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam, que o comparavam lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que apartado da comunicao da gente: assim o erro de traio condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que no tenham culpa.51O caso especfico de crime de lesa-majestade praticado pelos inconfidentes foi o caso nmero 5, previsto nas ordenaes filipinas, que diz:Se algum fizesse conselho e confederao contra o rei e seu estado ou tratasse de se levantar contra ele, ou para isso desse ajuda, conselho e favor.Conjurao BaianaVer artigo principal:Conjurao BaianaAConjurao Baianafoi um movimento que partiu da camada humilde da sociedade daBahia, com grande participao denegros,mulatose alfaiates, por isso tambm conhecida comoRevolta dos Alfaiates. Os revoltosos pregavam a libertao dos escravos, a instaurao de um governo igualitrio (onde as pessoas fossem promovidas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), alm da instalao de uma Repblica na Bahia. Em12 de Agostode1798, o movimento precipitou-se quando alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta dasigrejase colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Inconfidncia Mineira, interrogados, acabaram delatando os demais envolvidos. Centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clrigos, funcionrios pblicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, 49 foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participao, buscando demonstrar inocncia. Mais de 30 foram presos e processados. Quatro participantes foram condenados forca e os restos de seus corpos foram espalhados pela Bahia para assustar a populao.Principado do BrasilVer artigo principal:Principado do BrasilO Principado do Brasil durou entre1645a1816.Tendo sido o Brasil umacolniadoImprio Portugus, careceu de bandeira prpria por mais de trezentos anos. No era costume, na tradiovexilolgicalusitana, a criao de bandeiras para suas colnias, quando muito de um braso. Hasteava-se no territrio a bandeira do reino, ou do representante direto do monarca, como o governador-geral ou o vice-rei. Ainda que no seja considerada uma bandeirabrasileira, visto que seu uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono portugus, o pavilho dosprncipes do Brasilpode ser tido como a primeira representao flamular do Brasil. Sobre campo branco cor relacionada monarquia inscreve-se umaesfera armilar objeto que viria a ser, por muito tempo, o smbolo do Brasil. J nopavilho pessoaldeD. Manuel I, aparece este que foi um objeto crucial para viabilizar as exploraes martimas de Portugal.Ver artigo principal:Rei do Brasil,Transferncia da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821)Mudana da Corte e Abertura dos PortosEm novembro de1807, as tropas deNapoleo Bonaparteobrigaram a coroa portuguesa a procurar abrigo no Brasil.Dom Joo VI(ento Prncipe-Regente em nome de sua me, aRainha Maria I) chegou aoRio de Janeiroem1808, abandonando Portugal aps uma aliana defensiva feita com a Inglaterra, que escoltou os navios portugueses no caminho.52

Decreto da abertura dos portos s naes amigas.Biblioteca Nacional do Brasil.Os portos brasileiros foram abertos s naes amigas - designadamente, aInglaterra).52Aabertura dos portosse deu em28 de janeirode 1808 por outracarta rgiade D. Joo, influenciado porJos da Silva Lisboa. Foi permitida a importao "de todos e quaisquer gneros, fazendas e mercadorias transportadas em navios estrangeiros das potncias que se conservavam em paz e harmonia com a Real Coroa" ou em navios portugueses. Os gneros molhados (vinho,aguardente,azeite) pagariam 48%; outros mercadorias, os secos, 24%ad valorem. Podia ser levado pelos estrangeiros qualquer produto colonial, exceto o pau-brasil e outros notoriamente estancados, que eram produzidos e armazenados na prpria colnia.Era efeito tambm da expanso do capital; e deve-se recordar a falncia dos recursos coatores portugueses e a tentativa de diminuir, abrindo os portos, a total dependncia de Portugal da Inglaterra. No Reino, desanimaram os que se haviam habituado aos generosos subsdios, s 100 arrobas de ouro anuais, s derramas, s tentativas de controle completo. Um autor portugus do sculo XIX comenta que foi"uma revoluo no sistema comercial e a runa da indstria portuguesa; era necessria, mas cumpria modific-la apenas as circunstncias que a haviam ditado desaparecessem; ajudando assim o herico Portugal em seu esforo generoso, em vez de deixar que estancassem as fontes da prosperidade!"Embarque para oBrasildo Prncipe Regente dePortugal,D. Joo VI, e de toda a famlia real, no Porto deBelm, s 11 horas da manh de27 de novembrode1807.Gravurafeita porFrancisco Bartolozzi(1725-1815) a partir de leo de Nicolas Delariva.D. Joo, sua famlia e comitiva (a Corte), distribudos por diversos navios, chegaram aoRio de Janeiroem7 de marode 1808. Foram acompanhados pela Brigada Real da Marinha, criada em Portugal em1797, que deu origem aoCorpo de Fuzileiros Navaisbrasileiros. Instalaram-se noPao da Cidade, construdo em1743peloConde de Bobadelacomo residncia dos governadores. Alm disso, a Coroa requisitou oConvento do Carmoe aCadeia Velhapara alojar os serviais e as melhores casas particulares. A expropriao era feita pelo carimbo das iniciaisPR, de Prncipe-Regente, nas portas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia, interpretar a sigla como "Ponha-se na Rua!".A abertura foi acompanhada por uma srie de melhoramentos introduzidos no Brasil. No dia1 de abrildo mesmo ano, D. Joo expediu um decreto que revogava o alvar de5 de janeirode1785pelo qual se extinguiam no Brasil as fbricas e manufaturas deouro,prata,seda,algodo,linhoel. Depois do comrcio, chegava "a liberdade para a indstria". Em13 de maio, novascartas rgias(decretos) determinaram a criao daImprensa Nacionale de umaFbrica de Plvora,5354que at ento era fabricada naFbrica da Plvora de Barcarena,55desde1540. Em12 de outubrofoi fundado oBanco do Brasilpara financiar as novas iniciativas e empreitadas. Tais medidas do Prncipe fariam com que se pudesse contar nesta poca os primrdios da independncia do Brasil.Em represlia Frana, D. Joo ordenou ainda a invaso e anexao daGuiana Francesa, no extremo norte, e da banda oriental dorio Uruguai, no extremo sul, j que aEspanhaestava ento sob o reinado deJos Bonaparte, irmo de Napoleo, e portanto era considerada inimiga. O primeiro territrio foi devolvido soberania francesa em1817, mas oUruguaifoi mantido incorporado ao Brasil sob o nome deProvncia Cisplatina. Em9 de fevereirode1810, no Rio de Janeiro, foi assinado um Tratado de Amizade e comrcio pelo Prncipe Regente comJorge III, rei daInglaterra.Enquanto isso, na Espanha, os liberais, ainda acostumados com certa liberdade econmica imposta por Napoleo enquanto ocupara o pas, de 1807 a 1810, se revoltaram contra os restauradores Bourbon, dinastia qual pertencia aCarlota Joaquina, esposa de D. Joo, e impuseram-lhes aConstituio de Cdizem19 de marode1812. Em reao, o reiFernando VII, irmo de Carlota, dissolveu as cortes em4 de maiode1814. A resposta viria em 1820 com a vitria daRevoluo Liberal(ou constitucional). Por isso, D. Joo e seus ministros se ocuparam das questes do Vice-Reinado do Rio da Prata, to logo puseram os ps no Rio de Janeiro, surgindo assim a questo daincorporao da Cisplatina. importante lembrar que apesar de ser elevado aPrincipadoem1645, tendo sido o Brasil umacolniadoImprio Portugus, careceu de bandeira prpria por mais de trezentos anos. No era costume, na tradiovexilolgicalusitana, a criao de bandeiras para suas colnias, quando muito de um braso. Visto que seu o ttulo uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono portugus, o pavilho dosprncipes do Brasilpode ser tido como a primeira representao flamular do Brasil. Sobre campo branco cor relacionada monarquia inscreve-se umaesfera armilar objeto que viria a ser, por muito tempo, o smbolo do Brasil. J nopavilho pessoaldeD. Manuel I, aparece este que foi um objeto crucial para viabilizar as exploraes martimas de Portugal. Contudo, comoPrincipado, no possui nenhum privilgio administrativo, militar, econmico ou social, pois ainda era visto como uma colnia portuguesa.Reino (1815-1822)Elevao a Reino Unido

Braso do Vice Reino doBrasil, de 1815.No contexto das negociaes doCongresso de Viena, o Brasil foi elevado condio de Reino dentro do Estado portugus, que assumiu a designao oficial deReino Unido de Portugal, Brasil e Algarvesem16 de dezembrode1815. A carta de lei foi publicada naGazeta do Rio de Janeirode 10 de janeiro de 1816, oficializando o ato. O Rio de Janeiro, por conseguinte, subia categoria de Corte e capital, as antigas capitanias passaram a ser denominadas provncias (hoje, os estados). No mesmo ano, a rainha Maria I morreu e D. Joo foi coroado rei como Joo VI. Deu ao Brasil como braso-de-armas a esfera manuelina com as quinas, encontradas j no sculo anterior em moedas da frica portuguesa (1770).Revoluo no Porto e Retorno de D. Joo VID. Joo VI deixaria o Brasil em 1821. Em agosto de 1820 houvera no Porto umarevoluo constitucionalista(revoluo liberal portuguesa de 1820), movimento com idias liberais que ganhou adeptos no reino. Em setembro de 1820, uma Junta Provisria de Governo obrigou os portugueses a jurarem uma Constituio provisria, nos moldes da Constituio espanhola de Cdiz, at redao de uma constituio definitiva. Em janeiro de 1821, em Portugal, aconteceu a solene instalao dasCortes Gerais, Extraordinrias e Constituintes da Nao Portuguesa, encarregadas de elaborar aconstituio, mas sem representantes brasileiros. Em fevereiro, D. Joo VI ordenou que deputados do Brasil (bem como dos Aores, Madeira e Cabo Verde) participassem da assemblia.Em maro, as Cortes em Portugal expediram decreto com as bases da constituio poltica da monarquia . No Rio, outro decreto comunicava o retorno do rei para Portugal e ordenava que, sem perda de tempo, fossem realizadas eleies dos deputados para representarem o Brasil nasCortes Geraisconvocadas em Lisboa. Chegaria em abril a Lisboa um delegado da Junta do Par,Maciel Parente, que por exceo conseguiu discursar e foi o primeiro brasileiro a falar perante aquela Assemblia.56Em abril, no Rio, realizou-se a primeira assemblia de eleitores do Brasil, que resultou em confronto com mortos, pois as tropas portuguesas dissolveram a manifestao. No dia seguinte, cariocas afixaram porta do Pao um cartaz com a inscrio "Aougue do Bragana", referindo-se ao Rei como carniceiro. D. Joo VI partiu para Portugal cinco dias depois, em 16 de abril de 1821, deixando seu primognitoPedro de Alcntaracomo Prncipe-Regente do Brasil.Em1821, o Brasil elegeu seus representantes em nmero de 97 entre deputados e suplentes57para asConstituintes em Lisboa. Em agosto de 1821, as Cortes apresentariam trs projetos para o Brasil que irritaram os representantes brasileiros com medidas recolonizadoras que estes se recusavam a aceitar. Depois de Maciel Parente, o monsenhorFrancisco Moniz Tavares, deputado pernambucano, seria o primeiro brasileiro a discursar oficialmente, em vivo debate com os deputados portuguesesBorges Carneiro, Ferreira Borges e Moura, contra a remessa de mais tropas para Pernambuco e a incmoda presena da numerosa guarnio militar portuguesa na provncia.56A separao do Brasil foi informalmente realizada em janeiro de 1822, quando D. Pedro declarou que iria permanecer no Brasil ("Dia do Fico"), com as seguintes palavras: Como para o bem de todos e felicidade geral da nao, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora s tenho a recomendar-vos unio e tranquilidade. Porm, a separao doBrasilse dada no dia7 de setembrode1822, com o "grito do Ipiranga" que foi romantizado, apesar da separao anteriormente.Imprio (1822-1889)Primeiro reinadoVer artigo principal:Primeiro Reinado

Simplcio de S:Retrato de Dom Pedro I, c. 1826.Museu Imperial.Aps adeclarao da independncia, o Brasil foi governado porDom Pedro Iat o ano de 1831, perodo chamado dePrimeiro Reinado, quando abdicou em favor de seu filho,Dom Pedro II, ento com cinco anos de idade.Logo aps a independncia, e terminadas as lutas nas provncias contra a resistncia portuguesa, foi necessrio iniciar os trabalhos da Assemblia Constituinte. Esta havia sido convocada antes mesmo da separao, em julho de1822; foi instalada, entretanto, somente em maio de1823. Logo se tornou claro que a Assemblia iria votar uma constituio restringindo os poderes imperiais (apesar da ideia centralizadora encampada porJos Bonifcioe seu irmoAntnio Carlos de Andrada e Silva). Porm, antes que ela fosse aprovada, as tropas do exrcito cercaram o prdio da Assemblia, e por ordens do imperador a mesma foi dissolvida, devendo a constituio ser elaborada por juristas da confiana de Dom Pedro I. Foi ento outorgada aconstituio de 1824, que trazia uma inovao: oPoder Moderador. Atravs dele, o imperador poderia fiscalizar os outros trs poderes.Surgiram diversas crticas aoautoritarismoimperial, e uma revolta importante aconteceu no Nordeste: aConfederao do Equador. Foi debelada, mas Dom Pedro I saiu muito desgastado do episdio. Outro grande desgaste do Imperador foi por o Brasil naGuerra da Cisplatina, onde o pas no manteve o controle sobre a ento regio de Cisplatina (hoje,Uruguai). Tambm apareciam os primeiros focos de descontentamento noRio Grande do Sul, com osfarroupilhas.

Pedro Amrico:O Grito do Ipiranga, 1888.Museu Paulista.Em1831o imperador decidiu visitar as provncias, numa ltima tentativa de estabelecer a paz interna. A viagem deveria comear por Minas Gerais; mas ali o imperador encontrou uma recepo fria, pois acabara de ser assassinado Lbero Badar, um importante jornalista de oposio. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Dom Pedro deveria ser homenageado pelos portugueses, que preparavam-lhe uma festa de apoio; mas os brasileiros, discordando da festa, entraram em conflito com os portugueses, no episdio conhecido comoNoite das Garrafadas.Dom Pedro tentou mais uma medida: nomeou um gabinete de ministros com suporte popular. Mas desentendeu-se com os ministros e logo depois demitiu o gabinete, substituindo-o por outro bastante impopular. Frente a uma manifestao popular que recebeu o apoio do exrcito,no teve muita escolha, assim criou o quinto poder. Mas no deu certo a ideia, e no restou nada ao imperador a no ser a renncia, no dia7 de abrilde 1831.Confederao do Equador (1824)Ver artigo principal:Confederao do Equador

Exrcito Imperial do Brasil ataca as foras confederadas noRecife, provncia dePernambuco,1824. A Confederao do Equador considerada o principal movimento separatista do Perodo Imperial.AConfederao do Equadorfoi ummovimento revolucionrio, de carteremancipacionista(ouautonomista) erepublicanoocorrido em Pernambuco.Representou a principal reao contra a tendnciaabsolutistae a poltica centralizadora do governo deD. Pedro I(1822-1831), esboada naCarta Outorgada de 1824, a primeiraConstituio do pas.O conflito possui razes em movimentos anteriores na regio: aGuerra dos Mascatese aRevoluo Pernambucana, esta ltima de carterrepublicano.O centro irradiador e a liderana da revolta couberam provncia de Pernambuco, que j se rebelara em1817e enfrentava dificuldades econmicas. Alm da crise, a provncia se ressentia ao pagar elevadas taxas para o Imprio, que as justificava como necessrias para levar adiante as guerras provinciais ps-independncia (algumas provncias resistiam separao dePortugal).Pernambuco esperava que a primeira Constituio do Imprio seria do tipo federalista, e daria autonomia para as provncias resolverem suas questes.Como punio a Pernambuco, D. Pedro I determinou, atravs de decreto de 07/07/1825, o desligamento do extenso territrio da Comarca do Rio So Francisco (atual Oeste Baiano), passando-o, inicialmente, para Minas Gerais e, depois, para a Bahia.Perodo regencial

Arajo Lima, oMarqus de Olinda.Ver artigo principal:Perodo regencialDurante o perodo de 1831 a 1840, o Brasil foi governado por diversos regentes, encarregados de administrar o pas enquanto o herdeiro do trono, D.Pedro II, ainda era menor.4A princpio a regncia era trina, ou seja, trs governantes eram responsveis pela poltica brasileira, no entanto com o ato adicional de 1834, que, alm de dar mais autonomia para as provncias, substituiu o carter trplice da regncia por um governo mais centralizador.O primeiro regente foi o PadreDiogo Antnio Feij, que notabilizou-se por ser um governo de inspiraes liberais, porm, devido s presses polticas e sociais, teve que renunciar.58O governo de carter liberal caiu para dar lugar ao do conservadorArajo Lima, que centralizou o poder em suas mos, sendo atacado veementemente pelos liberais, que s tomaram o poder devido ao golpe da maioridade. Destacam-se neste perodo a instabilidade poltica e a atuao do tutorJos Bonifcio, que garantiu o trono para D.Pedro II.Teve incio neste perodo aRevoluo Farroupilha, em que os gachos revoltaram-se contra a poltica interna do Imprio, e declararam aRepblica Piratini. Tambm neste perodo ocorreram aCabanada, deAlagoasePernambuco; aCabanagem, doPar; arevolta dos Malse aSabinada, naBahia; e aBalaiada, noMaranho.Segundo reinadoVer artigo principal:Segundo ReinadoOSegundo Reinadoteve incio com oGolpe da Maioridade(1840), que elevouD. Pedro IIao trono, antes dos 18 anos, com 15 anos. A economia, que teve como base principal a agricultura tornando-se ocafo principal produto exportador do Brasil durante o reinado de Pedro II, em substituio cana-de-acar, apresentou uma expanso de 900%.59A falta de mo-de-obra, na poca chamada de "falta de braos para a lavoura", em conseqncia da libertao dos escravos foi solucionada com a atrao de centenas de milhares deimigrantes, em sua maioriaitalianos,portugueses60e alemes.5O que fez o pas desenvolver uma base industrial e comear a expandir-se para o interior.

Dom Pedro II.Nesse perodo, foi construda uma ampla rede ferroviria, sendo o Brasil o segundo pas latino-americano a implantar este tipo de transporte, e, durante aGuerra do Paraguai, foi possuidor da quarta maiormarinhade guerra do mundo.61A mo-de-obra escrava, por presso interna de oligarquias paulistas, mineiras e fluminenses, manteve-se vigente at o ano de1888, quando caiu na ilegalidade pelaLei urea. Entretanto, havia-se encetado um gradual processo de decadncia em1850, ano do fim do trfico negreiro, por presso daInglaterra, alm de que o Imperador era contra a escravido, pela opo dos produtores de caf paulistas que preferiam a mo de obra assalariada dos imigrantes europeus, pelamalriaque dizimou a populao escrava naquela poca e pela guerra do Paraguai quando os negros que dela participaram foram alforriados.A partir de1870, assistiu-se ao crescimento dos movimentosrepublicanosno Brasil. Em1889, umgolpe militartirou o cargo deprimeiro-ministrodovisconde de Ouro Preto, e, por incentivo de republicanos comoBenjamin Constant Botelho Magalhes, oMarechal Deodoro da Fonsecaproclamou a Repblica e enviou ao exlio aFamlia Imperial. Diversos fatores contriburam para a queda da Monarquia, dentre os quais: a insatisfao da elite agrria com a abolio da escravatura sem que os proprietrios rurais fossem indenizados pelos prejuzos sofridos, o descontentamento dos cafeicultores do Oeste Paulista que se tornaram adeptos doPartido Republicano Paulistae da abolio pois usavam apenas mo de obra europia dos imigrantes, e perdendo apoio dos militares, especialmente doexrcitoque se sentiam desprestigiados entendendo que o imperador preferia amarinha do Brasile que almejavam mais poder, e as interferncias do Imperador em assuntos daIgreja.No houve nenhuma participao popular naproclamao da Repblica do Brasil. O que ocorreu, tecnicamente foi um golpe militar. O povo brasileiro apoiava o Imperador. O correspondente do jornal "Dirio Popular", de So Paulo, Aristides Lobo, escreveu na edio de18 de novembrodaquele jornal, sobre a derrubada do imprio, a frase histrica:Por ora, a cor do governo puramente militar e dever ser assim. O fato foi deles, deles s porque a colaborao do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu quilo tudo bestializado, atnito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!

Aristides Lobo

Para poupar conflitos, no houve violncia e a Famlia Imperial pde exilar-se naEuropaem segurana.6263D. Pedro II assinou sua renncia com a mesma assinatura de seu pai ao abdicar em 1831: Pedro de Alcntara.O perodo pode ser divido em trs etapas principais: a chamada fase deconsolidao, que se estende de 1840 a 1850. As lutas internas so pacificadas, ocafinicia a sua expanso, a tarifaAlves Brancopermite a EraMau. o chamadoapogeudo Imprio, um perodo marcado por grande estabilidade poltica, quando de 1849 at 1889 no aconteceu no Brasil nenhuma revoluo, algo indito no mundo: 50 anos de paz interna em um pas, permitida pelo sistema parlamentarista,(oparlamentarismo s avessas) e pela poltica de troca de favores. Em termos deRelaes Internacionais, o perodo marcado pelaQuesto Christiee pelaGuerra do Paraguai. o chamadodeclniodo Imprio, marcado pelaQuesto Militar, pelaQuesto Religiosa, pelas lutas abolicionistas e pelo movimento republicano, que conduzem ao fim do regime monrquico.Libertao dos escravosVer artigos principais:Abolio da escravaturaeEscravido no Brasil

Original daLei urea, assinada pela RegenteDona Isabel(1888)Os primeiros movimentos contra a escravido foram feitos pelos missionrios jesutas, que combateram a escravizao dos indgenas mas toleraram a dos africanos. O fim gradual do trfico negreiro foi decidido, noCongresso de Viena, em1815. Desde1810, aInglaterrafez uma srie de exigncias a Portugal, e passou, a partir de1845, a reprimir violentamente o trfico internacional de escravos, amparada na lei inglessa chamadaLei Aberdeen. Em1850, aLei Eusbio de Queirsaboliu o trfico internacional de escravos no Brasil.Em1871, o Parlamento Brasileiro aprovou e aPrincesa Isabelsancionou a Lei 2.040, conhecida como Lei Rio Branco ouLei do Ventre Livre, determinando que todos os filhos de escravos nascidos desde ento seriam livres a partir dos 21 anos.Em28 de setembrode1885, promulgou-se uma outra lei, aLei dos Sexagenrios(Lei SaraivaCotegipe) que determinava a "extino gradual do elemento servil" e criava fundos para a indenizao dos proprietrios de escravos e determinava que escravos a partir de 60 anos poderiam ser livres.64Assim, com estas duas leis (Ventre Livre e Sexagenrios), a abolio dos escravos seria gradativa, com os escravos sendo libertos ao atingirem a idade de 60 anos.Em1880, fora criada aSociedade Brasileira Contra a Escravidoque, juntamente com aAssociao Central Abolicionista65e outras organizaes, passou a ser conhecida pela Confederao Abolicionista66liderada porJos do Patrocnio, filho de uma escrava negra com um padre. Em 1884, os governos doCeare doAmazonasaboliram, em seus territrios, a escravido, no que foram pioneiros.As fugas de escravos aumentaram muito, aps 1885, quando foi abolida a pena de aoite para os negros fugidos, o que estimulou as fugas. O exrcito se negava a perseguir os negros fugidos. H que lembrar ainda osCaifases, liderados porAntnio Bento,66que promoviam a fuga dos negros, perseguiam os capites-de-mato e ameaavam os senhores escravistas.67Em So Paulo, a polcia, em 1888, tambm no ia mais atrs de negros fugidos.A abolio definitiva era necessria. H divergncias sobre o nmero de escravos existentes em 1888. Havia, segundo alguns estudiosos, 1.400.000 escravos para populao de 14 milhes habitantes: cerca de 11%.66Porm, segundo a matrcula de escravos, concluda em30 de marode 1887, o nmero de escravos era apenas 720.000.68Finalmente, o presidente do Conselho de Ministros do "Gabinete de 10 de maro",Joo Alfredo Correia de Oliveira, doPartido Conservador, promoveu a votao de uma lei que determinava a extino definitiva da escravido no Brasil. Em13 de maiode 1888, aPrincesa Isabelsancionou aLei urea, que j havia sido aprovada pelo Parlamento, abolindo toda e qualquer forma de escravido no Brasil. Logo aps a Princesa assinar a Lei urea, ao cumpriment-la,Joo Maurcio Wanderley, o baro de Cotejipe, o nico senador que votou contra o projeto da abolio da escravatura, profetizou:"A senhora acabou de redimir umaraae perder otrono"!

Baro de Cotegipe

A aristocracia escravista, oligarquia rural arruinada com a abolio sem indenizao, culpou o governo e aderiu aos vrios partidos republicanos existentes, especialmente aoPartido Republicano Paulistae oPRM, que faziam na oposio ao regime monrquico, assim, uma das conseqncias da abolio seria a queda da monarquia. Pequenos proprietrios que no podiam recorrer a mo de obra assalariada fornecida pelos imigrantes europeus tambm ficaram arruinados. Apenas a economia cafeeira do oeste paulista, porm, quando comparada de outras regies, no sofreu abalos, pois j se baseava na mo-de-obra livre, assalariada. Muitos escravos negros permaneceram no campo, praticando uma economia de subsistncia, em pequenos lotes, outros buscaram as cidades, onde entraram num processo de marginalizao. Desempregados, passaram a viver em choas e barracos nos morros e nos subrbios.E de acordo com a anlise de Everardo Vallim Pereira de Souza, reportando-se s considerao do ConselheiroAntnio da Silva Prado, as conseqncias da abolio dos escravos, em 13 de maio de 1888, deixando sem amparo os ex-escravos, foram das mais funestas:Segundo a previso do Conselheiro Antnio Prado, decretada de afogadilho a Lei 13 de maio, seus efeitos foram os mais desastrosos. Os ex-escravos, habituados tutela e curatela de seus ex-senhores, debandaram em grande parte das fazendas e foram "tentar a vida" nas cidades; tentme aquele que consistia em: aguardente aos litros, misria, crimes, enfermidades e morte prematura. Dois anos depois do decreto da lei, talvez metade do novo elemento livre havia j desaparecido! Os fazendeiros dificilmente encontravam "meieiros" que das lavouras quisessem cuidar. Todos os servios desorganizaram-se; to grande foi o descalabro social. A parte nica de So Paulo que menos sofreu foi a que, antecipadamente, havia j recebido alguma imigrao estrangeira; O geral da Provncia perdeu quase toda a safra de caf por falta de colhedores!

Everardo Vallim Pereira de Souza

69O Brasil foi o ltimopasindependente docontinente americanoa abolir a escravatura. O ltimo pas do mundo a abolir a escravido foi aMauritnia, somente em9 de novembrode1981, pelo decreto de nmero 81.234.70Repblica (1889-presente)Primeira Repblica (1889-1930)Ver artigos principais:Primeira Repblica BrasileiraeProclamao da Repblica do Brasil

Henrique Bernardelli:Marechal Deodoro da Fonseca, c. 1900.Em15 de novembrode1889, o MarechalDeodoro da Fonsecadecretou o fim do perodo imperial em um golpe militar de Estado sob a forma de uma quartelada quase sem fora poltica e nenhum apoio popular,71e o incio de um perodo republicano ditatorial, destituindo o ltimo imperador brasileiro, D. Pedro II, que teve de partir em exlio para aEuropa. O nome do pas mudou de Imprio do Brasil paraEstados Unidos do Brasil. A primeiraconstituiodaRepblicado Brasil foi feita dia 15 de novembro de1890. Aps 4 anos deditaduracom um caos e vrias mortes de federalistas, negros lutando por seus direitos, entre outros, iniciou-se a era civil daRepblica Velha, com a chamadaRepblica Oligrquica.OVisconde de Ouro Preto, presidente do conselho de ministro deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamao da repblica fora um erro e que oSegundo Reinadotinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da ditadura militar no Brasil":O Imprio no foi a runa. Foi a conservao e o progresso. Durante meio sculo manteve ntegro, tranqilo e unido territrio colossal. O imprio converteu um pas atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potncia sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. O Imprio aboliu de fato apena de morte, extinguiu a escravido, deu ao Brasil