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História do Brasil Prof. Paulo Leite - blog: ospyciu. wordpress.com
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Paulo Leite 2013
História do Brasil Prof. Paulo Leite
História do
Brasil Prof. Paulo Leite
Módulo Brasil Monárquico:
-Processo de Independência; - A Independência;
-A formação do Estado Brasileiro;
- I Reinado;
- Período Regencial; - II Reinado.
1820 - D. João VI e a Corte retornaram a Portugal. O que mudou?
Com o retorno de D. João VI a Lisboa e a conseqüente instalação das Cortes Constitucionais da Nação Portuguesa, o clima esquentou de vez: no Brasil, surgiram jornais pró-independência, em Lisboa, a presença de deputados brasileiros aumenta a tensão, ainda que estes não pudessem impor posições nos trabalhos do que viria a ser a Constituição lusa. Definitivamente, “o tempo fechou” entre as Cortes de Lisboa e d. Pedro I. Deixemos Lisboa com seus fados, pois, agora, o que nos interessa mesmo é entender o que se passava por cá. Pois bem, no Brasil, grupos políticos se formam, a exemplo do Partido Brasileiro,
composto por proprietários rurais escravocratas e comerciantes nascidos no Brasil que, de início, eram contra a separação, queriam apenas liberdade de comércio. Depois, passaram a defender a emancipação, a manutenção da escravidão e a garantia da unidade territorial. Um segundo grupo político, o Partido Português, cuja composição social reunia os portugueses residentes no Brasil, que defendiam a ideia de uma Monarquia Dual. O terceiro grupo político era o Partido Liberal Radical, composto por segmentos urbanos e pequenos proprietários rurais. Seu projeto político defendia pequenas mudanças e ideias republicanas. Mas, mantendo a escravidão.
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Para melhor entender este processo, vejamos a cronologia da crise: - setembro de 1821: As Cortes Constitucionais da Nação Portuguesa radicalizaram quanto à RECOLONIZAÇÃO. Tentando uma composição política diante de uma correlação de forças bem desfavorável, os deputados brasileiros chegaram a defender a criação de uma MONARQUIA DUAL, mas, logo abandonaram a postura flexível e passaram a defender a separação completa do Brasil em relação a Portugal, diante da radicalização das Cortes que bateram pé firme na defesa da RECOLONIZAÇÃO. Isto implicaria na anulação de todas as medidas liberais do período joanino e no retorno ao status de colônia propriamente dita, sem falar que a Inglaterra estava de olho grande neste desfecho. - outubro de 1821:
Chegou ao Brasil o Decreto de Lisboa exigindo o retorno de D. Pedro I. Diante deste cenário, as “opções” de D. Pedro eram: 1– retornar e aguardar a sucessão ao trono; 2– permanecer e liderar a separação nos moldes que queria o Partido Brasileiro. O que D. Pedro “ganharia” com a opção 2? A Monarquia. O que ele desejava? Ser Imperador e, depois, organizar a Monarquia Dual (projeto do Partido Português. - janeiro de 1822:
As elites locais organizam um suposto abaixo-assinado: o tal DIA do FICO. A cada momento, a chapa vai ficando mais quente. D. Pedro convocou um Ministério dos brasileiros se distanciando ainda mais das Cortes e se aproximando do Partido Português. - maio de 1822:
D. Pedro assina um decreto: as decisões de Lisboa só vigorariam no Brasil se ele desse o beneplácito, ou seja, ele precisava referendar, autorizar, concordar.
- junho de 1822:
D. Pedro convoca uma Assembleia Nacional Constituinte, mas, esta apresenta um esboço constitucional cujo objetivo principal visava estabelecer o voto direto e impor limites ao Imperador. - agosto de 1822:
D. Pedro publica o Manifesto de Agosto, dirigido às nações européias, no qual expunha os motivos para o rompimento com Portugal e sinalizava para a adoção de uma Monarquia em oposição à ideia de República.
Independência...para quem?
O 7 de setembro de 1822 - o que não foi: Não foi uma ação individual de D.
Pedro (esta visão só reforça o mito do heroísmo do ato e minimiza o jogo de interesses no qual ele estava envolvido). Não foi uma revolução, tampouco um
movimento popular. O 7 de setembro de 1822 - o que foi: Foi um arranjo político reformista. Foi um movimento elitista e excludente e foi a
antítese da Independência da América Espanhola. A separação política consumada com o 7 de setembro não foi, nem poderia se esperar, a “salvação da lavoura”. Esteve mais para um arranjo político, pelo qual as elites agrárias passaram a gestar um projeto de Nação que afastasse as grandes mudanças, mantendo a base econômica colonial e perpetuando as diferenças étnico-sociais e de classe. Foi,
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acima de tudo, um movimento contra-revolucionário e antipopular.
As Guerras de Independência
Bahia, Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Ceará. Nestas capitanias (sim, só pós- 1824 passaram à condição de províncias), o 7 de setembro pouco ou nada representou. Foram elas palcos de conflitos. Por razões óbvias, trataremos das guerras de independência da Bahia. Só em 1823, no famoso 2 de julho, a Independência do Brasil foi confirmada.
Independência da Bahia
Sobre este assunto, leia o texto a seguir:
Livres como o país
Na Bahia, escravos se juntaram às tropas
com a esperança de ganhar a liberdade
Hendrik Kraay
16/9/2009
A maioria das batalhas não se resume a um propósito.
E, às vezes, um mesmo lado da disputa abriga
diferentes objetivos. Na Bahia, os escravos foram
recrutados para lutar a favor da Independência. Mas
esses soldados buscavam mais do que livrar o Brasil
do domínio de Portugal. Empunharam armas na
esperança de usar seus serviços de guerra como
moeda de troca para obterem a alforria.
A sangrenta Guerra da Independência na Bahia
iniciou-se em fevereiro de 1822, quando Portugal
nomeou o brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo
(1775-1835) para o comando das tropas baianas no
lugar de um oficial baiano. A substituição
desencadeou a revolta da população, da Câmara e de
muitos dos militares baianos, que foram derrotados
durante três dias de lutas (de 19 a 21 de fevereiro) e
obrigados a fugir. Aos poucos, a partir da articulação
dos grandes senhores de engenho do Recôncavo,
constituiu-se o Exército Pacificador, composto de
soldados e milicianos que haviam deixado Salvador
após a derrota, milicianos locais e batalhões
provisórios organizados por baianos patriotas, que
lutavam contra os portugueses, a favor da
Independência.
Quando veio a emancipação do Brasil, Salvador
continuava controlada pelos portugueses. Ao ser
aclamado imperador no Rio de Janeiro, em 12 de
outubro de 1822, D. Pedro declarou seu apoio aos
patriotas baianos. Enviou material bélico, tropas e o
oficial francês Pedro Labatut (1768-1849), um militar
de carreira com experiência nas guerras napoleônicas
e hispano-americanas. Tropas de Pernambuco e da
Paraíba também vieram reforçar o Exército
Pacificador.
A guerra foi longa e cruenta. As tropas portuguesas,
entrincheiradas em Salvador, recebiam reforços e
suprimentos por mar, apesar do bloqueio decretado
por D. Pedro. Com pouco material bélico e sem
superioridade numérica suficiente, os patriotas não
tinham como tomar a cidade de assalto. Logo depois
da chegada de Labatut, Madeira de Melo,
comandante dos destacamentos portugueses, atacou o
acampamento baiano em Pirajá. A vitória, no dia 8 de
novembro, coube aos patriotas, mas a batalha de
Pirajá não mudou o quadro estratégico da luta.
Labatut tratou de organizar um exército bem
treinado. Mesmo tendo sido indicado pelo novo
imperador, o estrangeiro que mal falava português
não era visto com bons olhos pelos senhores de
engenho patriotas do Recôncavo. Principalmente
quando os desafiou ao propor o recrutamento de
escravos, prática inexistente nas tropas imperiais. Os
senhores temiam que seus escravos aproveitassem a
ocasião para lutar por liberdade ou por novos direitos.
Em novembro, depois da batalha de Pirajá, Labatut
mandou recrutar ―pardos e pretos forros‖ para criar
um batalhão de libertos. Também confiscou escravos
pertencentes a portugueses ausentes (presumidos
inimigos) para servirem nesse batalhão. O Conselho
Interino de Governo, sediado em Cachoeira e
formado por poderosos senhores de engenho, julgou
a medida perigosa. Queixou-se da criação de um
―batalhão de negros cativos, crioulos e africanos‖,
preocupado com os boatos de que qualquer escravo
que se oferecesse seria liberto.
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Em abril de 1823, Labatut propôs aos senhores que
contribuíssem voluntariamente com escravos para a
guerra. Foi a gota d’água: ele acabou destituído em
maio e enviado ao Rio de Janeiro. Foi julgado por
diversos crimes – como prepotência e corrupção –,
mas seus opositores não conseguiram acusá-lo de
prometer a liberdade a escravos que servissem no
Exército Pacificador. No máximo, a liberdade estaria
implícita nas propostas do general, ou era a conclusão
(lógica) dos próprios escravos, que certamente
sabiam que havia uma grande distinção entre a sua
condição e a dos soldados (sempre homens livres).
Mas a saída de cena do general francês não acabou
com o batalhão de libertos. O brigadeiro José
Joaquim de Lima e Silva, futuro visconde de Magé
(1787-1855), que o substituiu no comando do
Exército Pacificador, não hesitou em tomar o partido
dos escravos-soldados recrutados. Logo depois da
guerra, recomendou ao governo imperial que se
tratasse de libertar o ―grande número de cativos‖ que
serviam nas forças baianas. ―Sempre lhes observei
provas de valor e intrepidez, e um decidido
entusiasmo pela causa da Independência do Brasil‖,
declarou.
Estava aberto um novo campo para a resistência
escrava, e confirmado o receio dos senhores de
engenho. Contou um dono de escravos que certo
Alexandre, ―pardinho, fugiu no tempo da guerra para
o Recôncavo, e foi para Pernambuco com a tropa
dali‖. Maria Rita, crioula, simplesmente ―fugiu
quando as tropas de Portugal se retiravam‖, após
serem vencidas. Muitos escravos dirigiam-se ao
acampamento baiano e eram empregados como
criados ou para cavar trincheiras. Um número
significativo deles – foragidos ou recrutados para o
batalhão de libertos – estava no Exército Pacificador
no dia 2 de julho de 1823, quando se comemorou a
vitória dos patriotas. Desde então, a Independência na
Bahia é celebrada nessa data, considerada mais
importante pelos baianos que o próprio 7 de
setembro.
No dia 30 de julho veio a ordem da capital do
Império: o governo baiano deveria tratar de conseguir
a liberdade dos escravos-soldados. Os senhores que
não se dispusessem a fazê-lo gratuitamente poderiam
receber uma compensação. Assim, mantinha-se o
direito de propriedade e o princípio importante de
que a alforria era privilégio exclusivo do dono do
escravo. Outro decreto da mesma data ordenou que
os escravos-soldados fossem logo enviados ao Rio de
Janeiro. Temia-se que a permanência deles na Bahia
ameaçasse a ordem escravista que os senhores
tentavam reconstituir. Segundo o cônsul britânico,
360 ―soldados negros (escravos)‖ embarcaram em
setembro.
Não se sabe quantos donos libertaram seus escravos
gratuitamente, nem quantos insistiram em ser
recompensados. As negociações se estenderam pelos
anos seguintes. Em 1825, por exemplo, José Lino
Coutinho (1784-1836), médico e deputado às Cortes
portuguesas, aceitou 600 mil-réis para libertar dois
irmãos, os soldados Francisco Anastácio e João
Gualberto.
Já o angolano Caetano Pereira aproveitou a chance à
sua maneira. Ele havia se alistado voluntariamente no
dia 9 de junho de 1823 e dado baixa no dia 7 de
agosto. Mas, assim que soube do decreto imperial,
procurou seu ex-comandante e o convenceu a alistá-
lo novamente – tanto para protegê-lo do seu dono,
um português, quanto para facilitar sua alforria. Com
a ajuda do oficial (que talvez nutrisse ódio ao
português), Caetano provavelmente conquistou a
liberdade.
Alguns casos eram mais complicados. Joaquim de
Melo Castro, conhecido como Joaquim Sapateiro,
declarou ter sido alforriado quando seu senhor
morreu, depois servindo na guerra a Joaquim Pires de
Carvalho e Albuquerque, futuro visconde de Pirajá
(1801-1848). O problema é que, conquistada a
independência, Pirajá o entregou aos herdeiros de seu
antigo dono. Estes o venderam a um comerciante que
se mudou para o Rio de Janeiro. Na capital do
Império, Joaquim fugiu e alistou-se na artilharia. O
comerciante requereu a sua baixa, mas a insistência
do soldado na sua condição liberta convenceu as
autoridades militares a investigar o caso. Durante
esse tempo, Joaquim participou da campanha contra a
Confederação do Equador – movimento de oposição
ao governo de D. Pedro deflagrado em Pernambuco
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em 1824. Enfim, o governo concluiu que ele havia
prestado serviços suficientes e compensou o
comerciante, que sem dúvida ficou aliviado ao se
livrar de um escravo tão difícil de controlar.
A voz dos próprios escravos quase não aparece na
vasta documentação sobre o recrutamento e a
libertação pós-guerra. Mas eles certamente viam as
lutas, e também a Independência, como meios para
conquistar a liberdade. No serviço militar eles
podiam melhorar sua condição de vida e pegar em
armas, às vezes até mesmo contra seus proprietários.
Quando o lavrador Gonçalo Alves de Almeida foi
instado a ceder um homem para integrar as forças
patriotas, replicou: ―Que interesse tem um escravo
para lutar pela Independência do Brasil?‖ Pode-se
arriscar uma resposta: a promessa de liberdade.
Hendrik Kraay é professor de História da
Universidade de Calgary, Canadá, e autor de Race,
State, and Armed Forces in Independence-Era
Brazil: Bahia, 1790s-1840s (Stanford University
Press, 2001).
Fonte: www.revistadehistoria.com.br
O reconhecimento da Independência
Confirmada a Independência política do Brasil com o 2 de julho,faltava o reconhecimento externo. do novo status jurídico do país. Os Estados Unidos, em 1824, foram o primeiro país a reconhecer o nosso novo status jurídico. Não por boa vontade, mas, sintonizado com a Doutrina Monroe (1823), “a América para os americanos”. Segundo a mesma, tudo deveria ser feito para afastar as pretensões recolonizadoras européias sobre as ex-colônias do continente. Tudo, incluindo aí disfarçar suas pretensões imperialistas sob a suposta idéia do pan americanismo. Portugal, em 1825, também reconheceu, mas, para isso, exigiu a quantia de $2 milhões de libras esterlinas,
além de que fosse concedido um Título honorário de Imperador do Brasil a D. João VI e declarou não aceitar a adesão ao Império brasileiro de nenhuma colônia portuguesa na África. A Inglaterra, em 1827, reconheceu, mediante a renovação por mais 15 anos das taxas do acordo de 1810 (tarifas alfandegárias mais baixas para os seus produtos), além de ter exigido a extinção do tráfico de africanos em 3 anos (coisa que só vai acontecer em 1850).
A organização do Estado brasileiro
De forma resumida, Estado é uma entidade composta por diversas instituições, de caráter político, que comanda um tipo complexo de organização social. Segundo o jurista Miguel Reale, o Estado seria a Nação politicamente organizada. O cenário pós-independência assistiu à instalação de uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC), em 1823. Esta apresentou ao Imperador um projeto constitucional de perfil liberal, buscando limitar o poder do chefe do Executivo. Tal projeto foi vetado pelo Imperador, representando um golpe do Imperador na aristocracia rural que o ajudou a ascender ao trono, mediante aquele arranjo político citado anteriormente quando do 7 de setembro. O Imperador, reconhecido pelo seu perfil autoritário, manteve o modelo de Estado que já funcionava desde a sua ascensão. Diante disto, o debate: centralização ou descentralização ocupou a cena. A tese de se organizar o Estado brasileiro baseado na Descentralização
previa que o Parlamento prevaleceria nas decisões e era defendida pela aristocracia rural brasileira (aquela mesma que se organizara no partido Brasileiro). Já os defensores da tese de Centralização, como o nome sugere,
apostavam em um Estado que
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controlasse a vida política, promovendo a hipertrofia do Executivo. Além de garantir a manutenção das bases econômicas coloniais. Por razões financeiras, a Inglaterra “fez coro” com essa tese. No plano local, as elites urbanas reproduziam esse pensamento.
A dissolução da ANC
A Assembleia Nacional Constituinte (ANC) foi extinta pelo Imperador por ter tentado limitar os seus poderes. Começava a se desenhar ali o “nascimento” de uma aberração jurídica chamada...
...Constituição de 1824 (a Constituição da mandioca)
(História do Brasil para principiantes, Carlos Eduardo Novaes e
César Lobo, Ed. Ática) __________________________________________________
As medidas e as características mais importantes da primeira Constituição do Brasil são: 1 – quanto ao tipo, Outorgada (imposta; sem passar por uma ANC); 2 - voto censitário (baseado na renda) e a descoberto (não-secreto), autorizado para analfabetos, maiores de 25 anos, desde que fossem homens e
enquadrados no critério censitário. – classificava os eleitores de paróquia ou de província (também conhecidos como de 1º e 2º graus; - estabelecia eleições indiretas; Senado (vitalício e lista tríplice); como forma de
governo implantou a Monarquia hereditária e o modelo de Estado Unitário (no qual, as províncias não
tinham autonomia política); - criou 04 Poderes de Estado (Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador); - estabeleceu o Catolicismo como religião oficial e instituiu o regime do Padroado (por este, o Imperador
submetia a Igreja ao Estado, intervindo em assuntos e decisões eclesiásticas).
Reação ao governo de D. Pedro I (a situação da província de Pernambuco)
Pernambuco foi uma província de muita tradição de luta na história política brasileira. Durante o I Reinado (1822 a 1831), a Maçonaria atuava intensamente, em meio a um contexto de crise econômica, agravada com a Tributação pesada imposta à população. Caracterizava-se, ainda, por fortes rivalidades entre a aristocracia local e comerciantes lusos. Em meio a uma situação de cri$e, o Imperador troca o governador da província, acirrando as tensões. Com esse somatório de fatores, eclode a... ....Confederação do Equador:
Ganhou esse nome em referência à proximidade do centro do conflito com a linha do Equador. Além de PE, reuniu as províncias do CE, do RN e da PB. Concretamente se configurou como uma experiência republicana em meio ao Império, sustentada em uma Ideologia liberal, de oposição ao centralismo do Imperador. Este „ensaio‟ governista e separatista apresentou seu caráter
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popular, urbano e apoiado pela intelectualidade. O objetivo maior era fundar uma República nos moldes dos EUA. Seu projeto político foi marcado pela convocação de uma A.N.C. (Assembleia Nacional Constituinte) e apresentou um projeto de nova Constituição de caráter liberal, defendendo a abolição do tráfico de escravos e a organização de milícias populares. O movimento conseguiu „seduzir‟ amplos setores da sociedade pernambucana e das demais províncias envolvidas, contudo, a proibição do tráfico negreiro para Recife e a adesão das camadas populares levaram a elite agrária a afastar-se da revolta. Mais uma vez fica registrado como a adesão do povo faz a elite brasileira abandonar a idéia de mudança, quando percebe o risco de ver seus privilégios de classe ameaçados. Como era de se esperar, enfraquecidos os rebeldes não conseguiram resistir às tropas imperiais e sob forte repressão do Império e a fuga dos líderes, mesmo após o Frei Caneca assumir a liderança, o movimento chegou ao fim. Um tribunal sob a batuta de D. Pedro I (veja um exemplo do poder do chefe do Executivo, interferiu no Judiciário, via Poder Moderador) prendeu, julgou e condenou à morte os principais líderes da rebelião, entre eles o Frei Caneca. Durou de julho a novembro de 1824.
A economia no I Reinado
Considerando a maneira como se deu a independência do Brasil, foram mantidas as bases coloniais da economia. O tráfico de escravos estava sob ameaça, vide Tratados de 1810 e 1827 com a Inglaterra, a Balança Comercial estava deficitária e a crise do açúcar agravada. O algodão, que chegou a representar lucros, como atividade complementar (subsidiária), acusou queda, agravada
com a concorrência dos EUA. Foi ainda neste período que teve início a cafeicultura, em províncias como RJ e SP. O café se destacou por ser um produto de alto consumo na Europa e nos EUA e pela baixa concorrência no mercado externo, mas, introduzido no país desde o final do século XVIII, no Sudeste, ainda não podia ser considerado o ponto forte da economia. Somente em 1827, o café assumiu o segundo lugar na pauta de exportações brasileiras
O desgaste e o isolamento de D. Pedro I eram facilmente detectados no contexto do I Reinado. Seu estilo “malvadeza” de governar, a centralização das decisões, especialmente com o uso do Poder Moderador, a Guerra da Cisplatina e a crise econômica que assolou o país foram os „ingredientes‟ da CRISE POLÍTICA. A Guerra da Cisplatina teve como
„cenário‟ um território que originalmente era um domínio espanhol e que os luso-brasileiros invadiram durante o período joanino (lembre-se: época de D. João VI no Brasil – 1808 a 1820). Em 1821, este território foi anexado ao Reino Unido de Portugal e Brasil como o nome de Província cisplatina. Desde então, esta foi uma área marcada pela insatisfação e um foco de revolta com a anexação. Em 1825, os cisplatinos se uniram aos vizinhos da província do Rio da prata (futuros “argentinos”). Foi a “senha” para Pedro I declarar guerra ao “governo de Maradona”. O ”couro comeu” até 1828, com o governo verde e amarelo usando o que tinha e o que não tinha no conflito, mas, no final, deu “Argentina”. A província cisplatina conquistou sua independência, sendo conhecida a partir daí como República Oriental do Uruguai. A crise econômica se caracterizou pelo déficit na balança comercial, o que
levou o governo de Pedro I a contrair
Sinais de crise no Império
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empréstimos com a Inglaterra (uma ciranda sem volta que endividava cada dia mais o país), além de um aumento nos preços dos produtos de consumo básico, falta de capitais, baixa inovação nas técnicas de produção, carência de mão de obra, especialmente
nas regiões norte e nordeste. Todo este contexto de crise desgastava ainda mais a imagem do Imperador, desestabilizando seu governo. A imprensa “caiu matando”, com destaque para jornalistas como Cipriano Barata e Líbero Badaró que foram responsáveis por noites de insônia do imperador e que faziam pesada oposição ao seu governo. O Imperador usou de seu cargo e sua influência para tentar censurar, e o fez. Chegou a proibir a importação de papel, com o objetivo de calar a imprensa séria que não se curvava aos seus desmandos. Obs. eu acho que já vi esse „filme‟. Os anos finais do I Reinado ainda assistiram a crise se aprofundar quando D. João VI (pai de Pedro I) morreu, em 1826, em Portugal.
Os bastidores da sucessão portuguesa (1826 a 1831)
A sucessão portuguesa foi a disputa do trono entre Pedro I e seu irmão D. Miguel. Inicialmente, após a morte de D. João VI, Maria II, filha de D. Pedro I, em função da ausência de seu pai, legitimo herdeiro na escala sucessória, assumiu o trono. Mas, D. Miguel, irmão mais novo de Pedro I, a destituiu do cargo, anulou a Constituição e assumiu o trono, apoiado pela Santa Aliança (que era pró-Absolutismo), implantando um governo em moldes absolutistas. No Brasil, enquanto isso, D.Pedro I, apoiado pela Inglaterra, com a participação de liberais lusos, que fugiram de Portugal quando D. Miguel deu o golpe, exilaram-se no Brasil e articularam a derrubada de D. Miguel. Esta foi
patrocinada pelo nosso dinheiro. Um típico caso de desvio de dinheiro público em benefício de campanha particular. Nota-se que Pedro I “fez escola” no Brasil.
A abdicação
A cartada final da “queimação do filme” de Pedro I foi a Noite das Garrafadas
(Rio de Janeiro, março de 1831): um conflito entre partidários pró e contra o governo. Um mês depois, em abril de 1831, interessado em salvar sua pele política, sem apoio no Brasil e interessado em intervir diretamente na sucessão portuguesa, Pedro I ABDICOU AO TRONO em favor de seu filho Pedrinho, à época com 5 anos de idade. Voltando a Portugal, Pedro I virou Pedro IV, tendo um breve governo, pois em 1834, acometido de tuberculose, morreu. Diante desta situação atípica, com base na CF de 1824, o governo foi assumido provisoriamente por REGENTES.
O Período Regencial O que foi: a fase política em que o
Brasil foi governado por Regentes, eleitos para um período determinado, até que o herdeiro Pedro II atingisse a maioridade. Duração real: de 1831 a 1840. Características gerais: intensa
disputa pelo poder, conflitos entre o poder central e o poder local, eclosão de inúmeras revoltas nas províncias, unidade territorial sob ameaça.
A abdicação de D. Pedro I trouxe, de alguma forma, uma contribuição: os cargos públicos antes ocupados por portugueses passaram a ser exercidos por brasileiros, que organizaram grupos políticos para disputar o poder.
Grupos políticos
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Restauradores – representavam os interesses de comerciantes portugueses, altos funcionários públicos e oficiais do Exército e defendiam a volta de D. Pedro I ao poder. Moderados - representavam os
interesses de parte da aristocracia rural; de profissionais liberais, padres e militares e defendiam a manutenção da ordem social e dos privilégios das elites do NE, RJ, SP e MG. Eram adeptos da idéia de uma Monarquia Constitucional Exaltados - representavam os interesses de parte da aristocracia rural, de profissionais liberais, Militares, funcionários públicos modestos e padres. Defendiam autonomia para as províncias, nacionalização do comércio, liberdade gradual dos escravos e, alguns eram parcialmente republicanos. A CF de 1824 previa que, na
menoridade do herdeiro, deveria ser instituída uma regência provisória, a ser eleita por Assembleia Geral, ou seja, pelos deputados e senadores.
Liberais Moderados no Poder.
A Regência Trina Provisória é instalada, sob a liderança dos Liberais Moderados. Por meio de reformas na Constituição de 1824, eles buscaram diminuir as funções do Poder Executivo e ampliar a presença e autonomia do Poder Legislativo. Foram três (3) as medidas de destaque:
1 - a criação da Guarda Nacional (1831) - uma força paramilitar, cujos membros deveriam ter entre 21 e 60 anos, composta de acordo com critérios censitários, com funções essencialmente policiais coibindo crimes e reprimindo revoltas. Reforçou o poder da aristocracia. O termo coronel passou a ganhar popularidade nessa época, representando o chefe político local – invariavelmente um
grande proprietário – que assumia uma alta patente na milícia. A criação da GN foi fundamental para que o governo regencial controlasse as inúmeras revoltas que marcaram o período. 2 - a aprovação do Código de Processo Criminal (1832) – uma medida que
descentralizava o sistema judiciário. Criou o Tribunal do Júri e ampliou poderes dos Juízes de Paz* (uma espécie de “delegado calça curta), que eram submissos à elite/aristocracia. Isto contribuiu negativamente para reforçar as práticas do clientelismo, do mandonismo, do nepotismo, reforçando as bases de um Estado Patrimonialista. O JP atuava praticamente como se fosse um prefeito, pois, além das funcões judiciárias, respondia por questões administrativas..
Lei a seguir:
"Não era fácil aos detentores das posições públicas
de responsabilidade, formadas por tal ambiente,
compreenderem a distinção fundamental entre os
domínios do privado e do público. Assim, eles se
caracterizam justamente pelo que separa o
funcionário "patrimonial" do puro burocrata,
conforme a definição de Max Weber. Para o
funcionário "patrimonial", a própria gestão política
apresenta-se como assunto de seu interesse
particular; as funções, os empregos e os benefícios
que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais
do funcionário e não a interesses objetivos, como
sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que
prevalecem a especialização das funções e o
esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos
A característica central do
PATRIMONIALISMO é a não distinção
entre a esfera pública e a esfera
particular, por parte dos governantes e
administradores públicos, dos
detentores do poder político-
administrativo.
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cidadãos. A escolha dos homens que irão exercer
funções públicas faz-se de acordo com a confiança
pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos
de acordo com suas capacidades próprias. Falta a
tudo a ordenação impessoal que caracteriza a vida
no Estado burocrático "
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil)
Fonte: Carlos Frederico Rubino Polari
(http://jus.com.br/revista)
______________________________
- o Ato Adicional (1834) – hoje,
equivaleria a uma Emenda Constitucional ou a uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Foi uma medida descentralizadora para diminuir a oposição à Regência. Instituiu as Assembleias Legislativas nas províncias (poderiam criar leis, controlar os impostos e os gastos locais, além de nomear seus próprios funcionários), decretou o fim do Conselho de Estado
(órgão que assessorava o Imperador) e estabeleceu a substituição da Regência Trina pela Una.
ATENÇÃO!
Essa autonomia (parcial) concedida às províncias era uma antiga reivindicação das elites locais contra a centralização do Rio de Janeiro. Com a medida, os políticos locais, além de gerirem suas finanças, obtiveram um mecanismo eficiente para obter votos em troca de favores (clientelismo, nepotismo). Mas, como “nem tudo que reluz é ouro”, a autonomia parcial foi um exemplo de como as elites da capital (RJ) deram um “cala a boca” nas elites locais (provinciais). Isto porque o poder central praticou a política do “faz de conta que você tem poder”. Na prática, a autonomia foi parcial porque os presidentes de províncias (hoje, governadores de estados) continuavam sendo nomeados pelo poder central.
No auge do exercício do poder, em 1837, disputas levaram à divisão entre os Liberais Moderados, formando-se duas facções políticas, a saber:
• Regressistas → defensores da
restauração da ordem e fortalecimento do poder central. Mais adiante, esta facção dará origem ao Partido Conservador.
• Progressistas → defensores do FEDERALISMO (autonomia das províncias). Mais tarde, fundarão o Partido Liberal.
Retrocesso Político
Em 1838, os Regressistas assumiram o Poder, após vencerem as eleições. De imediato, decretaram a Lei de Interpretação do Ato Adicional,
retirando a autonomia legislativa das províncias e aumentando o poder de repressão do Poder Central (Rio de Janeiro). O contexto político era de intensa agitação, pois o país enfrentava uma série de levantes (rebeliões) populares que ameaçavam a preservação da Monarquia e a unidade territorial do país. Eram as... ...REVOLTAS DO PERÍODO REGENCIAL
(WWW.GOOGLE.COM.BR/IMAGENS)
O poder “subiu à cabeça”
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As mais conhecidas revoltas do período foram:
• Cabanagem (PA) - 1835-1839; • Farroupilha (RS) - 1835-1845; • Malês (BA) - 1835; • Sabinada (BA) - 1837-1838; • Balaiada (MA) - 1838-1841.
De uma forma geral, os principais fatores causadores das revoltas foram:
1 - falta de autonomia das províncias;
2 - centralização do poder no Rio de janeiro e sua interferência na administração local; 3 - transferência de rendas dos impostos recolhidos nas províncias para o RJ. A seguir, apresento-lhe, de forma sucinta, cada uma das revoltas citadas com as informações mais relevantes para efeito de vestibulares. Mas, saiba que muitas outras revoltas ocorreram, a exemplo da setembrada, novembrada, mata-marinheiros, em Pernambuco, as Rusgas, no Mato Grosso, a Revolta dos Cabanos (não confundir com a Cabanagem), a Carneirada, Abrilada, no Ceará etc.
Cabanagem
Durou de 1835 a 1839, no Grão-Pará, correspondente, hoje, aos estados do PA-AP-RR-RO e AM. A província do Grão-Pará, economicamente, sustentava-se com base na exploração das drogas do sertão, da madeira e na pesca. O comércio era monopolizado por lusos e ingleses. A aristocracia local estava bem insatisfeita com a centralização política do Rio de Janeiro. Em Belém, especialmente, as insatisfações tiveram como alvo os portugueses que dominavam boa parte do comércio local e que queriam a volta de D. Pedro I, gerando um sentimento de xenofobia em relação aos portugueses, neste caso denominado lusofobia. Neste
cenário agitado, a crise econômica precipitou a revolta e, em 1835,rebeldes ocuparam a cidade de Belém, tomaram o poder, executaram o governador e instalaram o 1º governo cabano (nome
originado da composição social dos rebeldes, em sua maioria pobres, índios, mestiços que moravam em cabanas à beira dos rios), sob o comando de Melcher, um fazendeiro que, mais tarde, traiu o movimento, ao jurar fidelidade a Dom Pedro II.
ATENÇÃO!
Nesta revolta, assim como em outras, dois aspectos são muito importantes, a saber: 1 → no início da revolta, elite e camadas mais pobres estão “juntas” lutando contra o governo a ser derrubado; 2 → quando as camadas populares radicalizam em suas ações e reivindicações, a elite abandona o movimento e, muitas das vezes, apóia a repressão.
O 1º governo cabano, após a deposição do traidor Malcher, foi substituído pelo 2º governo cabano, sob o comando de Vinagre (liderança popular
surgida no início da revolta). Mas, conflitos internos enfraqueceram o movimento e, mais uma vez, o líder traiu os rebeldes, entregando o poder a um Presidente de Província nomeado pela Regência. As forças militares enviadas pelo poder central (RJ) ocuparam Belém, retomando o controle. Os rebeldes recuaram, deixando a capital e, a seguir, fortalecidos, retomaram o controle da mesma, criando o 3º governo cabano, agora sob a liderança de um seringueiro, Eduardo Angelim. Seu governo assumiu um perfil revolucionário, tendo sido a primeira experiência de um governo republicano e popular no Brasil, ainda que de curta duração. Isto se explica pela sucessão de ofensivas das elites, aliado ao isolamento desta província em relação
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às demais. Em 1839, chegou ao fim a Cabanagem.
Guerra dos Farrapos Durou de 1835 a 1845, no Rio Grande do Sul.
A província do Rio Grande do Sul apresentava alguns diferenciais importantes quando comparada a outras províncias: apenas 10% de sua população viviam em Porto Alegre, sua economia baseava-se na produção de bens para o mercado interno, a presença de escravos como mão de obra era bem reduzida e a revolta se estendeu para outra província (Santa Catarina). Além dos motivos comuns a todas as províncias que justificavam a eclosão de uma revolta contra o governo imperial , no RS, o movimento teve origem nos conflitos entre os pecuaristas (estancieiros) e o poder central. Este sobretaxava os gaúchos produtores de charque e, assim, favorecia os produtores platinos (argentinos e uruguaios). Bento Gonçalves, rico estancieiro, liderando os
farrapos, toma Porto Alegre, depõe o governador (presidente de província) e instala, em 1836, a República Rio-Grandense (ou de Piratini). Foi preso, enviado para a Bahia (ficou preso no Forte de São Marcelo (forte do mar), mas, conseguiu fugir, volta e, em 1839, invadem Santa Catarina e funda a República Catarinense (Juliana) com apoio de Garibaldi e sua mulher Anita. Em 1842, o Poder Central reagiu com o envio de tropas do Exército, mas, os farroupilhas resistem, levando o governo regencial a propor, em 1845, um acordo para cessar o movimento. Este acordo ficou conhecido como a “Paz Honrosa”. Veja as bases do acordo: - gaúchos passam a ter o direito de escolher seu Presidente de Província; - os comandantes rebeldes assumem postos no Exército do Império; - o Poder Central reconhece a liberdade de escravos que lutaram no conflito;
- o charque platino passa a ser taxado em 25% ad valorem para entrar no Brasil; - os rebeldes foram anistiados. A guerra civil durou 10 anos e só terminou quando D. Pedro II já governava o Brasil.
Revolta dos Malês – 1835 Salvador
A Salvador oitocentista se caracterizava pelo monopólio do poder nas mãos de uma minoria branca e católica que assistia negros libertos (forros) ou não assumirem sua diversidade religiosa como elemento de resistência e luta. A soterópolis foi palco, muito antes de 1835, de inúmeras revoltas “menores” de escravos, como se representassem um „ensaio‟ para a revolta que assombrou a elite da cidade mais negra fora da África. Muitas etnias afro-brasileiras que habitavam Salvador praticavam o culto malê, uma combinação de elementos religiosos africanos e muçulmanos. Este hibridismo deu margem para que se
disseminasse a idéia, equivocada, de uma revolta 100% muçulmana em Salvador. Os malês eram africanos convertidos ao Islamismo. O que se sabe é que
negros libertos e muitos escravos se aliaram na tentativa de romper com a dominação branca na ex-capital da colônia, mas, a composição do movimento contou com a liderança de uma maioria étnica nagô (ou Iorubá) e com a participação de Jejês e Haussás. Assim, vale destacar que apesar de o movimento ter sido organizado e liderado por malês, nem todos os negros muçulmanos da cidade participaram da revolta, assim como nem todos os rebeldes eram seguidores do Islã. Os malês haviam escolhido o dia 25 de janeiro (dia santo – N. Sra. Da Guia) para deflagrarem a revolta, mas, foram delatados e a repressão do poder central foi violenta, como era de se esperar. Segundo se sabe, o projeto político da
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revolta seria invadir os engenhos, pois a revolta se estendeu ao Recôncavo Baiano, tomar o poder em Salvador e implantar uma República Islâmica. Falava-se até em extermínio da população branca e católica, mas, nada que se sustente nos documentos registrados até então. O poder central venceu os rebeldes em Salvador e na zona rural, aplicando punições severas que demonstram que, neste caso, não havia chance de acordo ou anistia.
Sabinada (BA) 1837-1838
Crise econômica é a palavra que retrata bem a província da Bahia na primeira metade do século XIX. O descontentamento com a centralização política no sudeste, com as interferências na vida política local, somava-se aos problemas originados pela situação econômica, acirrando as tensões. Em outras regiões do país, revoltas ampliavam essa vontade de romper com o Império. As lutas em outras províncias “contaminaram” os baianos. Para piorar, o Poder Central, representado pelo governo regencial, convocou baianos para lutarem contra os farroupilhas. Esta medida foi vista como uma extrapolação do Rio de Janeiro e, sob o comando do médico Francisco Sabino, militares rebeldes tomam o Forte de S. Pedro, forçando a fuga do presidente da província. Ao contrário do que se encontra em algumas obras, a revolta não conseguiu se irradiar pelo interior, limitando-se a tentativas frustradas de seduzir os donos de terras do Recôncavo. A aristocracia, inclusive, investiu forte no combate aos rebeldes, pois, estes, em parte, defenderam o fim da escravidão. Mexeu no bolso das elites, elas se armam até os dentes. O Exército Pacificador (?) reprimiu violentamente os rebeldes, por terra e por mar, sufocando e sitiando Salvador, até o
completo controle sobre a cidade, em 1838. Para não fugir à regra, punições como expulsão para outras províncias, presos, claro, envio de líderes para Fernando de Noronha, condenações à morte, à prisão perpétua etc.
Balaiada (MA e PI) 1838-1841
O movimento começou no Maranhão, chegou ao Piauí e ainda atingiu o Ceará, embora seja mais citado como uma revolta maranhense. Nesta província, a população sofria os efeitos de uma crise econômica medonha: queda crescente nas exportações de algodão (nosso “concorrente” eram os EUA), o comércio local estava sob controle luso, o comércio externo sob controle inglês e, para completar o cenário sombrio, a superexploração do trabalho do africano escravizado (50% da população) favorecia fugas e a conseqüente formação de mais quilombos. O nome da revolta, segundo registros, derivou do apelido de um líder popular, Manoel Francisco dos anjos, o Balaio. Acrescente-se a este contexto econômico conturbado, o clima de tensão política, marcado por disputas de facções políticas surgidas a partir da abdicação de Pedro I, pelo recrutamento militar obrigatório (desde a época colonial) e agravado quando o governo regencial decretou a Lei dos Prefeitos (que concedia amplos poderes aos prefeitos, subprefeitos e comissários de polícia locais, permitindo que estes dispusessem dos bens e das vidas dos habitantes colocados sob sua jurisdição). A tensão se agravou quando o governo regencial nomeou um presidente de província conservador, o que gera revolta de parte da elite local. Um episódio de invasão de uma cadeia pública e a soltura de presos por parte de uma facção política local precipitou o início da revolta que, iniciada
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assim, irradiou-se pela província e por outras localidades vizinhas. Raimundo, o Cara – Preta e Manoel, o Balaio, líderes populares, divulgaram um Manifesto no qual exigiam: respeito às
leis, demissão do presidente da província, abolição dos prefeitos, subprefeitos e comissários e expulsão dos portugueses. Com a radicalização do projeto político balaio, as elites (tanto os conservadores quanto os liberais) se aliaram ao governo regencial para reprimir o movimento e retomar o controle sobre a província. Seguindo a “cartilha” das elites regenciais, prisões, extradições para outras províncias e condenações à prisão perpétua foram cenas comuns contra os rebeldes.
Os LIBERAIS
e o Golpe da Maioridade – 1840
Antes mesmo do golpe citado, foi aprovada uma medida que já delineava o que estava por vir. Foi aprovada a Lei de Interpretação do Ato Adicional de 1834
(aquele mesmo que foi aprovado durante os anos iniciais da Regência). Por esta medida, claramente conservadora, foi retirada a relativa autonomia concedida às províncias, centralizando de novo o poder político. Riscos de fragmentação territorial, receio de vitória de rebeliões com projetos políticos radicais, resistência da Câmara dos Deputados ao governo do Regente Feijó (este não tinha a maioria no Legislativo), autoritarismo do regente, críticas à sua pouca determinação em combater as revoltas que explodiram no país, entre outros problemas, eram o retrato do Brasil no início de 1840. O Partido Liberal, sem o apoio dos Conservadores, articula e promove um GOLPE, antecipando a maioridade de D.. Pedro II. Assim, tem início o...
...Segundo Reinado
Diz a letra de uma música baiana que “pau que nasce torto, nunca se endireita”. Adaptando isto à linha do tempo acima, podemos afirmar que o que nasceu de um golpe, assim também morrerá. Acompanhe e saberá o porquê disso.
Um novo Imperador, um velho Regime
A assunção de Pedro II, antecipada pelo golpe liberal, foi o cartão de visita para as medidas centralizadoras que viriam a seguir. Com a volta de um Imperador ao trono, foi reativado o Conselho de Estado (órgão máximo de assessoria ao monarca, o verdadeiro cérebro do regime). Mesmo com os liberais próximos ao Imperador, o perfil de seu governo era centralista.
Arrumando a „casa‟
Os liberais, logo após o golpe da maioridade, tinham um problema prático para o pleno exercício do poder. Apesar de formarem o primeiro ministério de D. Pedro I, os liberais não contavam com a maioria na Câmara, onde o predomínio era dos conservadores. Como o PT e o PSDB ainda não existiam, a compra de votos, a mesada aos deputados, para aprovar o que fosse bom aos olhos do governante - o MENSALÃO - ainda não vigorava. O jeito encontrado por eles, liberais, foi dissolver a Câmara e marcar novas eleições. Eram as...
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...ELEIÇÕES DO CACETE. Como o nome
e a imagem sugerem, eram eleições já com o resultado encomendado, fraudulentas e violentas. Começava mal a vida política no Segundo Reinado, dando o tom do que ocorreria no processo eleitoral brasileiro ainda por muito tempo. A sobrevida dos liberais nos círculos do poder foi curta. Mesmo com o golpe e as eleições do cacete, o Ministério foi substituído pelo grupo conservador e, logo após a posse, foi reativado o Conselho de Estado (órgão máximo de
assessoria ao monarca, o verdadeiro cérebro do regime). Junto com isso, deu-se a Reforma do Código de Processo Criminal. Lembre-se que havia sido
criado no início da Regência, com caráter descentralizador e, agora, retirou os poderes do juiz de paz e os transferiu a um juiz municipal, escolhido pelo poder central, ou seja, o Imperador. Mais tarde, a centralização se concretizou, uma vez que a Guarda Nacional, antes sob controle das elites locais, passou a ser subordinada ao Ministro da Justiça.
Revoltas do período
As medidas centralizadoras do início do Segundo Reinado foram encaradas pelas elites provinciais com muita desconfiança. Em MG e SP, em 1842, os liberais, excluídos do poder, protestaram e tentaram até se articular com líderes
farroupilhas para desestabilizar o governo de Pedro II. Mas, excetuando-se pequena dificuldade inicial, as tropas do Exército Imperial conseguiram conter os rebeldes. Um fato “curioso”, para não dizer vergonhoso, aconteceria mais adiante: punidos em 1842, os liberais foram anistiados pelo Imperador em 1844 e retornaram à vida política, o que os levou a esquecer as críticas ao regime e quando assumiram de novo o poder, usaram das mesmas „armas‟ que tanto criticaram no passado recente. Qualquer semelhança com certo ParTido é mera verdade!
Pernambuco se reta!
Em 1844, tem início a Revolução Praieira. Denominação dos liberais em Pernambuco porque ficava na Rua da Praia, em Recife, o jornal do Partido Liberal. Até 1845, os conservadores estavam no poder na província, enquanto os liberais estavam na oposição, todos vendo a crise econômica se agigantar, ao passo que viam os portugueses monopolizando o comércio local. A situação acima relatada, somada à crise da economia açucareira que atingia todo o nordeste, e à crise política surgida quando da deposição do presidente da província de PE (do partido liberal, ou seja, um praieiro) pelo governo central (RJ) precipitou a revolta. O líder praieiro havia sido nomeado pelo governo central em 1845, mas, em 1848 foi deposto, ato que desencadeou a revolta armada. Como era comum, as mudanças que se processavam na Europa e em outros lugares do mundo, refletiam nas áreas coloniais. No exemplo pernambucano, os praieiros foram influenciados pelas idéias do socialismo utópico do início do século XIX. Mas, é bom que se diga: a “inspiração” nas idéias socialistas, mesmo sendo da corrente utópica, não fez da
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PRAIEIRA uma revolta de caráter socialista. No plano ideológico, o MANIFESTO AO MUNDO representou as aspirações dos praieiros. Veja as principais: - Voto livre e universal; - Liberdade de imprensa; - Trabalho como garantia de vida; - Comércio a varejo só para brasileiros; - Independência dos Poderes; - Extinção do Poder Moderador. Apesar de tentarem tomar o poder em Recife, os praieiros não foram felizes, sendo reprimidos pelas forças militares do poder central. Este movimentou representou, a bem da verdade, um dos episódios das disputas locais pelo poder entre oligarquias tradicionais da província. Controlada a revolta, encerrou-se o ciclo de manifestações revolucionárias contra o poder central. E para garantir que a elite agrária passaria a ser forte aliada do Imperador, este começou a “desenhar” um sistema de governo que, na prática, garantiria um ACORDO entre o poder local (representado pelos dois partidos, o LIBERAL e o CONSERVADOR e o IMPERADOR. Era o início do... ...PARLAMENTARISMO ÁS AVESSAS
Em 1847, o Imperador criou este sistema, garantindo interferência direta na escolha do 1º Ministro. Adotou-se aqui um modelo parlamentarista que nada lembrava o modelo inglês. O parlamentarismo “verde-amarelo” só fez ampliar a intervenção do Imperador nas decisões políticas, pois, por meio do PODER MODERADOR, ele podia nomear ou demitir o Ministério, além de poder também dissolver o Parlamento. O Presidente do Conselho de Ministros (equivalente ao 1º Ministro) também era nomeado pelo Imperador.
E você pode se perguntar: qual o
“lucro” deste formato brasileiro para as elites? Respondo: na prática, houve uma alternância entre Liberais e Conservadores no poder, pois, o Imperador organizava o Gabinete (Parlamento) escolhendo um representante de cada partido para cada período, o que fez com que as disputas políticas fossem amenizadas.
Economia do Segundo Reinado
Ao contrário do que muitos pensam, o CAFÉ foi introduzido no Brasil ainda no início do século XVIII, em terras do atual estado do Pará e, por volta de 1760, nas redondezas do atual estado do Rio de Janeiro. Na década seguinte, chegou a São Paulo e Minas Gerais. O Vale do Paraíba (que se localiza entre o leste paulista e o oeste do estado do Rio de Janeiro) e o Oeste Paulista foram as principais regiões produtoras de café no Brasil Monárquico. Seu desenvolvimento obedeceu ao mesmo padrão colonial, pois ainda predominava o tripé, latifúndio, monocultura e escravidão. Um aspecto importante a destacar é que os cafeicultores do oeste paulista, mais à frente do seu tempo, embora tenham utilizado bastante a mão de obra escrava, tinham uma visão mais “empresarial” do que os do vale do Paraíba, o que os levou, por exemplo, a utilizar a mão de obra do imigrante europeu, a introduzir técnicas mais avançadas no beneficiamento do café, além de terem diversificado seus investimentos fundando bancos e ferrovias. Para efeito de vestibular, lembre-se das informações a seguir:
→ o CAFÉ ajudou a recuperar a economia do Império; → além da Europa, os EUA foram o principal comprador do café brasileiro;
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→ a concentração da renda nas mãos dos cafeicultores travou o desenvolvimento de outros setores da economia; → exportava-se muito café, mas, importavam-se muitos artigos industrializados; → o Estado Monárquico, em si, não investiu em indústrias, ficando a cargo de particulares (exemplo: MAUÁ); → o café promoveu a modernização do sudeste. Outras atividades econômicas
Pontualmente, observe os principais produtos e suas respectivas regiões ao longo do século XIX:
Extração do látex – Amazônia;
Açúcar – SP, RJ e MG (no NE, a crise tomou conta);
Algodão – MA, PA, BA, CE, MG e GO;
Tabaco – sul da BA.
O Genocídio Americano
Todos contra o Paraguai
A guerra mais sangrenta da América do
Sul teve um roteiro digno de uma
odisseia. Resultado: dezenas de milhares
de vítimas
Leslie Bethell
1/4/2012
Tudo começou no Uruguai, com uma rebelião
dos colorados (liberais) em abril de 1863,
encabeçada pelo general Venâncio Flores, pela
derrubada do governo dos blancos (conservadores)
eleito em 1860. O conflito desencadeou a sequência
dos acontecimentos que levaram à Guerra do
Paraguai.
A Argentina e o Brasil apoiaram a
rebelião colorada – era a primeira vez que os dois
países estavam do mesmo lado num conflito
uruguaio. O presidente argentino, Bartolomeu Mitre,
um liberal eleito em outubro de 1862, tomou essa
posição porque os colorados tinham lhe dado apoio
na guerra civil de seu país em 1861 e porque
os blancos constituíam um foco possível de oposição
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federalista residual nas províncias litorâneas à
república argentina, recém-unificada. Para o Império
do Brasil, a questão principal era proteger os
interesses dos brasileiros que viviam e tinham
propriedades no Uruguai, ameaçados pela rigidez das
autoridades daquele Estado sobre o comércio da
fronteira e as taxas aduaneiras. Foi nesse contexto
que o governo blanco se voltou para o Paraguai como
único aliado possível.
Na litografia, a partida das primeiras brigadas do Exército
brasileiro de Ouro Preto para Mato Grosso. Era a resposta à
ofensiva paraguaia na região, no final de 1864.
Mas o Paraguai temia e desconfiava de seus vizinhos
muito maiores, muito mais povoados e
potencialmente predatórios: as Províncias Unidas do
Rio da Prata e o Brasil. Ambos tinham relutado em
aceitar a independência paraguaia e demoraram a
reconhecê-la: o Brasil em 1844, as Províncias Unidas
em 1852. Ambos tinham reivindicações territoriais
contra o Paraguai: o Brasil, no extremo nordeste do
país, na divisa com Mato Grosso, região valiosa pela
erva-mate nativa; a Argentina, no leste do Rio Paraná
(Misiones), mas também a oeste do Rio Paraguai (o
Chaco). E havia ainda atritos com ambos quanto à
livre navegação no sistema fluvial Paraguai-Paraná.
O presidente do Paraguai, Francisco Solano López, a
quem o governo uruguaio procurara para obter apoio
em julho de 1863, tinha chegado ao poder em
outubro de 1862, após a morte de seu pai, o ditador
Carlos Antonio, que governara o país desde 1844. De
início, ele hesitou em fazer uma aliança formal com
osblancos, seus aliados naturais, contra
os colorados no Uruguai, agora que estes tinham o
apoio do Brasil e da Argentina. Mas, no segundo
semestre de 1863, Solano López viu a oportunidade
de mostrar sua presença na região e de desempenhar
um papel compatível com o novo poder econômico e
militar do Paraguai. No começo de 1864, ele
começou a mobilização para uma possível guerra.
Quando o Brasil lançou um ultimato ao governo
uruguaio em agosto do mesmo ano, ameaçando
retaliar os supostos abusos sofridos por súditos
brasileiros, Solano López reagiu com um ultimato
alertando o Brasil contra a intervenção militar.
Ignorando o alerta, soldados brasileiros invadiram o
Uruguai em 16 de outubro. Em 12 de novembro, após
a captura de um vapor mercante brasileiro que saía de
Asunción para Corumbá, levando o presidente de
Mato Grosso a bordo, o Brasil rompeu relações
diplomáticas com o Paraguai. Em 13 de dezembro,
Solano López tomou a grave decisão de declarar
guerra ao Brasil e invadiu Mato Grosso. Quando a
Argentina negou autorização ao Exército paraguaio
para atravessar Misiones – território disputado e
quase despovoado – a fim de invadir o Rio Grande do
Sul, Solano López também declarou-lhe guerra, em
18 de março de 1865, e no mês seguinte invadiu a
província argentina de Corrientes.
A decisão de Solano López de declarar guerra
primeiro ao Brasil e depois à Argentina, e de invadir
os dois territórios, mostrou-se um grave erro de
cálculo, que traria consequências trágicas para o povo
do Paraguai. O mínimo que se pode dizer é que
Solano López fez uma tremenda aposta – e perdeu.
Ele superestimou o poderio econômico e militar do
Paraguai. Subestimou o poderio militar potencial, se
não efetivo, do Brasil, e sua disposição de lutar. E
errou ao pensar que a Argentina ficaria neutra numa
guerra entre o Paraguai e o Brasil em disputa pelo
Uruguai.
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A aquarela de José Washt Rodrigues, da década de 1920,
retrata voluntários da pátria. Calcula-se que o Brasil
mobilizou cerca de 140.000 homens durante a guerra.
A imprudência de Solano López resultou exatamente
naquilo que mais ameaçava a segurança e até a
existência do Paraguai: a união de seus dois vizinhos
poderosos – na verdade, como Flores finalmente
conseguira tomar o poder em Montevidéu em
fevereiro de 1865, a união de seus três vizinhos –
numa aliança em guerra contra ele. O Brasil e a
Argentina não tinham qualquer atrito com o Paraguai
que pudesse justificar uma guerra. Nenhum dos dois
queria nem planejava uma guerra contra o Paraguai.
Não havia pressão nem apoio público à guerra; de
fato, a guerra geralmente era impopular nos dois
países. Ao mesmo tempo, porém, não fizeram
nenhum grande esforço para evitá-la. A necessidade
de se defenderem contra a agressão paraguaia, por
mais justificada ou provocada que fosse, oferecia ao
Brasil e à Argentina a oportunidade não só de
acertarem suas diferenças com o Paraguai no que se
referia ao território e à navegação fluvial, como
também de punir e enfraquecer, talvez destruir, uma
incipiente potência possivelmente expansionista e
problemática na região.
Os objetivos originais da guerra, tal como foram
expostos no Tratado da Tríplice Aliança assinado
pelo Brasil, pela Argentina e pelo Uruguai em 1o de
maio de 1865, eram: a derrubada da ditadura de
Solano López; livre navegação dos rios Paraguai e
Paraná; anexação do território reivindicado pelo
Brasil no nordeste do Paraguai e pela Argentina no
leste e no oeste do Paraguai — esta última cláusula se
manteve secreta até ser revelada pela Inglaterra em
1866. Com o desenrolar do conflito, tornou-se, em
particular para o Brasil, uma guerra pela civilização e
pela democracia contra a barbárie e a tirania: isso
apesar do estranho fato de que o Brasil, após a
libertação dos escravos nos Estados Unidos durante a
Guerra Civil, agora era o único Estado independente
de todas as Américas com a economia e a sociedade
em bases escravistas, além de ser a única monarquia
remanescente.
A Guerra do Paraguai não era inevitável. E nem era
necessária. Mas só poderia ter sido evitada se o Brasil
tivesse se mostrado menos categórico na defesa dos
interesses de seus súditos no Uruguai,
principalmente, se não tivesse feito uma intervenção
militar em favor deles, se a Argentina tivesse se
mantido neutra no conflito subsequente entre o
Paraguai e o Brasil, e, sobretudo, se o Paraguai
tivesse se conduzido com mais prudência,
reconhecendo as realidades políticas da região e
tentando defender seus interesses por meio da
diplomacia, e não pelas armas. A guerra, que se
estendeu por mais de cinco anos, foi a mais sangrenta
da história da América Latina, e, na verdade, afora a
Guerra da Crimeia (1854-1856), foi a mais sangrenta
de todo o mundo entre o fim das Guerras
Napoleônicas, em 1815, e a eclosão da Primeira
Guerra Mundial, em 1914. Custou de 150.000 a
200.000 vidas (na maioria, paraguaios e brasileiros),
no campo de batalha e por privações e doenças
decorrentes da guerra.
Diante da enorme disparidade entre os dois lados, em
termos de tamanho, riqueza e população, a Guerra do
Paraguai deveria se afigurar desde o início uma luta
desigual. Mas, militarmente, havia um maior
equilíbrio. De fato, no início da guerra, e pelo menos
durante o primeiro ano, o Paraguai provavelmente
teve superioridade militar em termos numéricos. E
provavelmente seu Exército era mais equipado e
treinado do que os exércitos vizinhos. Além disso,
como as forças paraguaias tinham sido expulsas do
território argentino, a Argentina reduziu tanto sua
contribuição para o esforço de guerra dos aliados que,
no final da guerra, havia apenas cerca de 4.000
soldados argentinos em solo paraguaio. O Uruguai,
por sua vez, teve presença apenas simbólica no teatro
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de operações durante todo o conflito. O Brasil, por
outro lado, aumentou seu Exército regular – que tinha
entre 17.000 e 20.000 – para 60.000 a 70.000 homens
no primeiro ano das hostilidades, com recrutamento
obrigatório, transferências da Guarda Nacional,
alistamento de escravos de propriedade do Estado e
alguns de propriedade particular (libertados em troca
dos serviços na guerra) e a formação dos corpos de
Voluntários da Pátria. Calcula-se que o Brasil
mobilizou durante a guerra cerca de 140.000 homens.
E, ao contrário do Paraguai, que dispunha apenas de
seus próprios estaleiros e arsenais, o Brasil tinha
acesso a armas, munições e navios de guerra, tanto
fabricados e montados no país quanto comprados no
exterior, principalmente na Europa, além de
empréstimos obtidos na City de Londres para ajudar
nesses pagamentos. Por fim, o Brasil tinha a Marinha
mais forte e poderosa da região.
A guerra pode ser dividida em três fases. A primeira
começou com as ofensivas paraguaias a Mato Grosso
em dezembro de 1864 e a Corrientes em abril de
1865. Em maio de 1865, o Exército paraguaio
finalmente atravessou Misiones e invadiu o Rio
Grande do Sul. De início a invasão teve sucesso, mas
depois foi contida pelas forças aliadas. No dia 14 de
setembro, o comandante paraguaio, coronel
Estigarribia, se rendeu aos aliados em Uruguaiana. O
Exército paraguaio então se retirou, atravessando o
Rio Paraná, e se preparou para defender a fronteira
sul do país. Enquanto isso, em 11 de junho, na
Batalha do Riachuelo, no Rio Paraná, a única grande
batalha naval da guerra, a Marinha brasileira tinha
destruído a Marinha paraguaia e criado um bloqueio
cerrado ao Paraguai, que se manteve até o fim da
guerra.
A segunda e principal fase do conflito começou
quando os aliados finalmente invadiram o Paraguai,
em abril de 1866, e instalaram seu quartel-general no
Tuiuti, na confluência dos rios Paraná e Paraguai. Em
24 de maio, repeliram uma investida paraguaia e
venceram a primeira grande batalha em terra. Mas os
exércitos aliados demoraram mais de três meses até
começarem a subir o Rio Paraguai. Em 12 de
setembro, Solano López propôs concessões, inclusive
territoriais, para terminar a guerra, desde que lhe
fosse poupada a vida e o Paraguai não fosse
totalmente desmembrado ou ocupado em caráter
permanente, mas sua proposta foi rejeitada. Dez dias
depois, em Curupaiti, ao sul de Humaitá, no Rio
Paraguai, os aliados sofreram sua pior derrota. Não
retomaram o avanço até julho de 1867, quando se
iniciou uma movimentação para cercar a grande
fortaleza fluvial de Humaitá, que bloqueou o acesso
ao Rio Paraguai e à capital, Asunción. Mesmo assim,
passou-se mais de um ano antes que os aliados
ocupassem Humaitá (5 de agosto de 1868), e mais
cinco meses para a derrota decisiva e praticamente a
destruição do Exército paraguaio na Batalha de
Lomas Valentinas, em 27 de dezembro. As tropas
aliadas (na maioria brasileiras), sob o comando do
marechal Luís Alves de Lima e Silva, o marquês de
Caxias, comandante-chefe brasileiro desde outubro
de 1866 e comandante-chefe das forças aliadas desde
janeiro de 1868, finalmente entraram em Asunción
em 1o de janeiro de 1869 e terminaram a guerra. Pelo
menos, assim pensavam os aliados.
Mas houve uma terceira fase: Solano López formou
um novo exército na Cordilheira a leste de Asunción
e começou uma campanha de guerrilha. Foi derrotado
e seus soldados massacrados na última grande batalha
em Campo Grande ou Acosta Nu, no nordeste de
Asunción, em agosto de 1869. Mesmo assim, López
conseguiu escapar com vida. Com sua companheira
irlandesa Eliza Alicia Lynch, ele foi perseguido no
norte por tropas brasileiras por mais seis meses, até
finalmente ser acuado e morto em Cerro Corá, no
extremo nordeste do Paraguai, em 1o de março de
1870. Em 27 de julho, foi assinado um tratado de paz
preliminar.
Por que demorou tanto até os Aliados vencerem a
guerra, apesar de sua esmagadora superioridade naval
e, pelo menos depois de Tuiuti, também terrestre?
Passaram-se quase quatro anos antes que os aliados
chegassem à capital paraguaia. E mesmo então, a
guerra se arrastou por mais de um ano. Uma
explicação se encontra no lado dos aliados, ou
melhor, no lado brasileiro, já que o Brasil ficou
praticamente sozinho na guerra após o primeiro ano.
Os governos brasileiros enfrentavam enormes
problemas logísticos, primeiro para organizar, depois
para transportar as tropas por milhares de quilômetros
por via terrestre, marítima e fluvial, e, finalmente,
para abastecê-las. E vencer as excelentes defesas
terrestres e fluviais do Paraguai não foi tarefa fácil.
Mas também é verdade que os comandantes
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brasileiros demonstraram um alto grau de
incompetência estratégica e tática. Por outro lado, as
tropas paraguaias e, na verdade, o próprio povo
paraguaio, mantiveram-se leais a Solano López,
combatendo com uma tenacidade extraordinária e, no
final, quando estava em jogo a sobrevivência
nacional, com grande heroísmo.
Para o Paraguai, a guerra foi quase uma calamidade
total. O país sobreviveu como Estado independente,
mas sob a ocupação e tutela brasileira no período
posterior ao fim da guerra. Somente em julho de
1876, finalmente se retiraram 2.000 soldados e seis
navios de guerra brasileiros. A consequência extrema
da completa derrota, que seria o desmembramento
integral do país, foi evitada, mas o território
paraguaio foi reduzido em 40%, e o que restou do
Exército foi desarmado. Embora o número de baixas
tenha sido muito exagerado – chegou-se a se falar em
50% da população do Paraguai antes do conflito –, e
as estimativas recentes e mais modestas estejam na
ordem de 15% a 20% da população, o que
corresponde a cerca de 50.000 a 80.000 mortes no
campo de batalha e por doenças (sarampo, varíola,
febre amarela e cólera), os percentuais são enormes
pelos critérios de qualquer guerra moderna. A
economia do Paraguai ficou arruinada, a
infraestrutura e a base manufatureira foram
destruídas e o início de um desenvolvimento externo
sofreu o retrocesso de uma geração. Por fim, os
vencedores impuseram ao país uma indenização
enorme, embora nunca tenham cobrado e depois
tenham cancelado.
A Argentina sofreu baixas estimadas – possivelmente
com exagero – em 18.000 mortes em campo de
batalha, mais 5.000 em distúrbios internos
desencadeados pela guerra e 12.000 em epidemias de
cólera. O território anexado ficou aquém de suas
pretensões. De qualquer forma, eliminou-se da
política da região platina a perspectiva de um
Paraguai cada vez mais forte e potencialmente
expansionista. E, num balanço geral, a guerra
contribuiu positivamente para a consolidação
nacional do país: Buenos Aires foi aceita como
capital inconteste de uma república argentina unida, e
a identidade nacional se fortaleceu
consideravelmente.
O Brasil, que depois do primeiro ano da guerra
combateu praticamente sozinho, sofreu baixas de
pelo menos 50.000 mortos em combate e muitos
outros por doenças, embora num total inferior aos
100.000 às vezes citados. O custo financeiro da
guerra sacrificou tremendamente as finanças públicas
do país. E a guerra teve profundo impacto na
sociedade e na vida política. A Guerra do Paraguai
foi um divisor de águas na história do Império, ao
mesmo tempo seu apogeu e o início de sua
decadência.
Mas o Brasil tinha alcançado todos os seus objetivos.
Pelo tratado assinado com o Paraguai em janeiro de
1872, o país obteve todo o território reivindicado
entre o Rio Apa e o Rio Branco. Assegurou-se a livre
navegação dos rios Paraguai e Paraná, importante
para Mato Grosso e o oeste paulista. E o próprio
Paraguai, ainda mais que o Uruguai, agora estava sob
seu firme controle e sua influência. Assim se
consolidava, por ora, a indiscutível hegemonia do
Império brasileiro na região.
Jogo de interesses?
Existe um mito de que o Brasil e a Argentina, na
Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança,
foram instrumentos do capitalismo britânico,
―Estados satélites‖, ―neocolônias‖, instigados e
manipulados por uma Grã-Bretanha ―imperialista‖, o
―indispensável quarto Aliado‖, para entrarem em
guerra contra o Paraguai. Este seria um sólido mito
nascido nos anos 1970 e 1980, nos textos de
historiadores latino-americanos tanto da esquerda
marxista quando da direita nacionalista. O alegado
objetivo da Inglaterra era minar e destruir o modelo
de desenvolvimento econômico conduzido pelo
Estado, que representava uma ameaça ao avanço de
seu modelo capitalista liberal na região. Mais
especificamente, seu objetivo era abrir a única
economia da América Latina que continuava fechada
aos produtos manufaturados e aos capitais ingleses, e
assegurar à Inglaterra novas fontes de matérias-
primas, em especial o algodão, já que o
abastecimento dos Estados Unidos tinha sido afetado
pela guerra civil.
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Há pouca ou nenhuma prova concreta consistente que
possa sustentar essa tese. O governo britânico não
tinha praticamente nenhum interesse no Paraguai e
nenhuma vontade de piorar as disputas existentes no
Rio da Prata, e muito menos de promover a guerra,
que iria apenas ameaçar vidas e propriedades inglesas
e o comércio britânico. E, mesmo que quisesse, a
Inglaterra não exercia o grau de controle sobre o
Brasil ou sobre a Argentina que seria necessário para
manobrá-los e levá-los à guerra contra o Paraguai. As
autoridades britânicas, em sua maioria, estavam a
favor dos aliados, mas a Inglaterra se manteve
oficialmente neutra durante a guerra e utilizou de
modo sistemático sua influência a favor da paz. É
verdade que fabricantes britânicos vendiam armas e
munições aos beligerantes – isto é, na prática, ao
Brasil e à Argentina, visto que o Paraguai logo caiu
sob bloqueio brasileiro. Mas eram negócios,
oportunidades de os empresários na Inglaterra, na
França e na Bélgica lucrarem com uma guerra.
Também é verdade que o empréstimo de sete milhões
de libras dos Rothschild ao governo brasileiro em
setembro de 1865 foi utilizado para comprar navios
de guerra, e neste sentido a Inglaterra deu uma
contribuição importante para a vitória dos aliados
sobre o Paraguai. Mas não houve qualquer outro
empréstimo ao Brasil durante toda a guerra, e os
empréstimos ingleses representaram apenas 15% do
total de despesas do Brasil com a Guerra do Paraguai.
A principal responsabilidade pela guerra coube ao
Brasil, à Argentina, em menor grau ao Uruguai e,
sobretudo – infelizmente –, ao próprio Paraguai.
Leslie Bethell é professor emerito de História da
América Latina na Universidade de Londres e editor
da coleção Cambridge History of Latin America (12
volumes, Cambridge University Press, 1984-2008)
[Artigo resumido e adaptado do capítulo ―O Brasil no
mundo‖ do livro A Construção Nacional 1830-
89 (Objetiva, 2012)].
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/arti
gos-revista/todos-contra-o-paraguai
Aguarde a parte 2 – Crise do Império e Início da República.
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