162

Click here to load reader

História do direito português Marcello Caetano.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: História do direito português Marcello Caetano.pdf

EINESTO PEINANDES t ANIBAL Ie60

Direito Portuguts

Shmula dir lilc6rs prohraas ExmmO Prof, Douior MARC E L 0 CAETANO m e Cumo do 1.' ano Juridico dm 1940141 na Fmculdach de Otraito dm Lisboa

Page 2: História do direito português Marcello Caetano.pdf

TAS Iiq6es podem, sob certo aspecto, constituir uma s o l u ~ i o ao velho problems que se costu- ma par nestes thmos: certo que urna crSe- bent.ale se imp&, seja qua1 fdx a cadeira de

qualquer ano juridic0 - confirma-o a tredi+. Mas deve esta ser o apanhado literal das liGbes

do mestre, feito atravks do mecanismo do taaux'grafo c.

enfattlado por tdclas aquelas coisas que convCm a urna aula, mas sdo indteis e at6 prejudiciais, ao estudo inten- sivo, ou devt. eia ser, ao contrario, o traslado de tudo o que de essential se torna necess6rio ?

0 Senhor Prof. Doutor MarceIo Caetano deci- diu-se por esta tiltima soluGZo e 6 neste sehtido que vem orientando estas 1is6es.

A iste nosso iIustre Professor todos nos confess&- mos grande e sinceramente penhorados pel0 que b t e trabalho representa de dedicaqzo pelos seus alrrnos e de born tanto did5tica como intelecturtlmente.

Cabendo-nos a n6s o cuidado da impressgo, as-

sumimos a responsabilidade das falhas que nGIe se con- tern. Elas siio o f ru to das condicGes em que trabalhos desta natwreza szo elaborados, mas, plenamente certos da cornpreensgo dos nossos distintos Colegas, na"o desis- timos em ser-Ihes Cteis. Esta 6 a nossa finalidade - ela i suficientemente grande para nos animar.

Page 3: História do direito português Marcello Caetano.pdf

N O C ~ E S PRELIMINARES

1. 0 que 6 o direito

N%o 6 na Cadeira de Hist6ria d o D~reito Portuguts que se estuda o conceit0 e o fundamento do Direito: noutras cadeilas se f a r i ksse ensino. Aqui temos hnica- rnente de assentar ern algurnas r ~ o ~ a e s s11m6rias sbbre 2sses potltos que habilitenl os alunos a cotnpreender a restante matbria.

0 s hornens tern necessiriatnente de viyer ern socie- dade, quere dizer : s l o forqados pela sua prripria natu- reza a travar constailtes relaqdes entre si , Nessas rela~bes surgern, a cada passo, chuques ou co~~fl i tos de inter&sses: dois ou mais ind~viduos pre te~~dem para si sirnultinea- tnente o m e m o ohjec!~, querem exercer a mesma activi- dade ou dfsejatn reservar-se etn exclusivc~ urn catnpo de ac@b ou o gozo de urn4 varltagern. Esses coriftitos po- dem resolver-se, o u llcla bru ta l irnposiq30 da maim fbrqa de iIln dEles, ou pzla renGncia do iliais fraco ou do nlo- ralmente mair perfelto. Mas nesses casos a vida social 6 uha !u?td, ulna desur~ieni i;iconip~tivel corn a irrdole ra- cio1131 dos sercs hiimanos.

Page 4: História do direito português Marcello Caetano.pdf

A sociedade aspira a urna harm6nica disposi~ao e actua~8u de todos 0 s individuns que a compbem. K';' ne- cessidadr imperiosa da sua cc~nservacfio, defSsa e pro- g r e s s ~ , e essa necessidade 6 o primeiro traco cotliutn dos seus cornponentes. Todos t&m que se curvar peraitte ela.

Entgo, partindo-se do p~iucipio de tlue os liornens t&m ~iecessidades a satisfazer e por isso interesces a re2

lizar, mas verificando-se que as actividades ter~dentes a satisfazer essas necessidades e realiz;~~, gsses il~teresses tern de conciliar-se entre si pala se torriar jlossiirel a exis- tencia ordena.la e paciRca da socicdade, a K ~ z % o ori ice be o idtal de qlre cada hornetn s6 possa fazer aquilo que seja indisperis6vel B realizaqao dos sells interasses atendi- veis, sern ernbargo de as outros lrome~is fazel-en1 o mesmo.

Esse ideal i o ideal da Jir . i t .g I . Por 6le se consegue a tat conciliaqlo hartn611ica de todr~s i:s cotripo~~entes da sociedade, que se deseja, e se chsma Ordcrn.

Alas como obter a subordin;i~80 de tan!os apetrtes e cob ips ao principio da J u s t i ~ a ?

Dcfininilo o que caJa qual, ita actividade desenvol- vida tlas rt-Ia~Oes cam outros homens, pode fazer, deve fazer, ou 1180 pode nem deve fazer.

Corno 6 imprrscindirrlrnerlte nccessirio a existencia da Sociedade (e portanto a exiatkr~cia do hornem) a Or- dem e a Justiqa, ern cada grupo 11asce por diferenc~aqao quis i expontfnea, urn Padsr - cl~efe ou nucieo de chefes - encarregado de defilrir quais as vias a trilhar pars que 0 procedirnerito sejl co~~,rdeia.lo jilsto, e de illll~br a observinfla de.sas vjas aquelts qile cxpo~ili~ie;inre~ite I I ~ O

queirarrCsegrti las, A conduta de cad1 tiomern ern srrcied:~cle, naquiln

que possa atingir interesses dos outros homens, estd as- sim sujeita a regrus, que prescrevem qual dcv? scr o modo de agir para ser cor~sidcrado justo, e qae os indi- vfduos sde abrigados a acatar sob pena de, rlao o faten- do, incorrerem em sancdes aplicadas pela autoridadc ao serviqo do grupo sociai,

Essas regras sab as norma3 luridiuns. Norrnas iurfdi- cas s8o as regras de ~dnduta qsc. no seio ds urn dado g r u p ~ ~ociu1, D I'oder dorna efrcazmentC obrlgaldrius pel0 empr8go de coac~do c o n l r ~ ns desabediendrs, rre intiitto prdtico tic usseguror n Ordem prlu Jusllga,

0 Dlrcito (Direito objective) C o conjunto de tbdao rn norrnar juridicas.

Esras normas, umas vezes aparectm-nos praticadas pelo povo, como heran~a das geracbas passada*, sem qua re saiha ao certo como nasceram: ternos o costume.

Outras vezes permanece viva a Iembran~a dc qua foram impostas pel0 Poder e sao observadas porque ele o qucre, e tern06 entilo a lei.

A Ici quhi aempre f conhecida atravta da escr lh . Mas pode saber-se que certn norma conmtktufu uma lei scm todavia nunca ter sido rcduzida a escrito. Hoje n8o 6 possivel, mas foi-o outrora.

2. 0 Direito coma produto da Razao.

Dissemos que o ideal do justiqa C concebido pela Razao hutyran*. As normaa deflnids corn o fim prltico de regular as a c ~ 6 e s Hvres dns homenm de harmonia corn as exigkncine d b s c ideal sao ttsmbem produto da RazPo.

Page 5: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 6: História do direito português Marcello Caetano.pdf

tifica~80 rational: B que a Rar;lo humana C falivel, e muitas vezes erra,

Erram, porkm, tanto Iegisladores, como juristas que criticam a legisla~ao~ Por isso, salvo em raros casos de ir~justiqa evidente, a prudCncia aconselha a que nos ab,tenharnos de formular urn juizo antes de rnuito pondc- rada e demorada medita~ao.

3. Papel da Tradiqso na formaqBo dos. sisle- mas juridicos.

Afirrnimos qac o Uireito 6 sempre produto da Razlo humaria, mas que esta faculdade d o espIrito, ernbora igualrner~te cot~ferida a todos os hotnens, nem em todos ntinge o lnesrno grail de desenvolvirnento, nao represents sempre a rneslna luz, e procede sub pressao de circuns- tlncias de iacto e partindo de dados conhecidos muito varj6veis, consoante os tempos, as gentes, os lugares, etc.

Isto explica a diferencia@o dos sistPmrs ju~l~licos, das diversas NaqBes numa dada epoca, e nas diversas Cpocas duma dada Na~ao. -

H i analogias no espu~o : encontram-se elemenlos co- muns nos sisternas jurfdicos dos vLrios povos que, em certa epoca, ttm a tnesrna civilizaqao, porque tsses ele- mentos correspondem ao esfbr~o drt Razeo rluln mesmo estidio de desenvolvimento e operando sBhre dados anAlagos do inodo de viver dhsses povos.

Correspondenfemente hb nn sistema juridico de cada Povo certas consfantes hisbbrlcas, fruto da permanencia das caracteristicas nacionais atravCs dos s.+culos: terril6- rio, tndole popular, ctc,

0 sistema jur id ic~ de cada N a ~ a o tem individuali- dade grhprta, nao s o em conscqu&ncia dessas constanlea hlstdrlcos tambim definldoras da individualidade nacio- nal, mas ainda por virtude do poder estabilizador dos hdbiios que podem chegar a ser rotina.

auere dizer : a rlorma que, em dada kpoca, formu- lada de acbrdo corn o arnbiel~te do tempo, deu satisfaqao A tie2essidade social de Ordetn e Justiqa, conserva-se por esponflneo acatarnento dos cicladaos ait~da dcpois de passadas certas circunstanc~as mutfiveis que a justificaram e de mals esclar~clda a Razan, e conserva-se porque o cdrleza dada pela experi&tlcla de que a su? observancia assegura uma Ordem (ernbora menos perfeita) parece aos individuos, de malor valor que a meru probabrlidade ahr- mada peta inteligir~cia de que orltra tlortnd criarA urna Ordem mais perfeita.

Por isso o ststema juridico de cada hpoca est i chelo de inst~tuiqdes nasc~daj em kpocas muito anteriores.

Quando, porkm, urria instItuiq30 ar~tiga ,enveiheceu, isto 6, delxou de sel elernet~tr, de Ortlen] soctal, a ten- dencia do grupo 6 para eliniini.la. Havera nesse caso cer. tos indivIciuos ou classes que, em defba de illterCsses creados, procurem rnnt~tC-la : mal a instltuiqH0 t s t i con- denada.

H i assirn urna evoluqlo norrnal do direito que flui da experi€ncia secular comn aci~vidade viva de asslmila- q&o e dissimila@o grddual e lenta: a s a i m ~ l o ~ ~ o de tbdas as ideias e processes tornados necessdrios pelas cizcuns- tlncias, dissirnilu~8o daquilo que perdeu por completo a razlo de ser.

A tradicuo i a cont~nuldacie evolutiva que atraves de sucecsivas geraqaes m a n t h vivo o patrim611io cultural

Page 7: História do direito português Marcello Caetano.pdf

da NacAo, id&nt~co a si rnesmo e todavia e~iriquecido e renovado por aqt)isi~do expoiitinea de i~ovos elementor i~~tegrados 110 fundo comutn e el~n~inacAo natural de y ual~to erlvelheceu.

Sucede ern atguns momeutos que a ~ml)arl+tlcia de urn grupo se 1130 contenka com a ler~ta e obscura retlo- vaqao caracteristica do processo tradicionat, e procura aceterar o dlnarnistno da ~ntitaqau, ajustando de chofre a soc~edade a idelas reputadas m4ls acertadas corn a epoca. Sao mom~ntos ern que a Razao re~vindica para si a exclu- sividade do itnpirio t~ormalmente repartido entre ela e a T r a d i ~ l o .

Se &sse dinamismo atirige a intensidade mixima, a ponto de procurar subverter quauto existe, riegar a Tra* di@io e, el~cetandquma nova, substituir.lhe novo cstilo de vida, d8-se a Revol?r~ao.

Mas as pr6prias Revolucdes rrao nos dispensam de conllecer o passado : primeiro, porque os maiores esfor* cos sso impotentes para impedir que no novo ediiicio social aparecanl te~rnosas revivesc?ncias doutros tempos; segundo, porque ficariarn inexplicdveis muitas leis cevo- luc~onirias, se n8o conhec&ssemos as real~dades anterio- res qur elas procuram negar e suplal~tar.

4. Necessidade e importancia do estudo da Hist6rja do Direito.

De q11a11to ficnu djto I essalta a ia~periosa ~iecessidade que ietn to.10 o verdadeiro jurista de cultjvar a Hi:t6ria do I Jireito.

Sern o estudo da Ilist6ria ficaria por explicar n~uita

coisa, e t a l ~ e z o mais importante, do sistetna juridico actual da Na~an ,

A Hist6ria do Direito revela ao jurista as constantes da vida national, expliea a persistgncia de i~~stiturqdrs antigas, e a eliminac%o doutras envelhecidas, jusfifica a sucessPo e ~ubstitui '~80 das que se er~cadearrr. mostra- -1he corno, poryu@ e orrde se produziratn as Kevolu~des.

E colno elernento de aptjcagao na prritica do Direiio e instrurt~el~to edncativn, oferece vantage115 que pudemos resumir assim :

a) habiljta a interpretar rnuitas leis vigentes cujas raizcs mergutharn no passado;

b ) i.nstrui o legislador sbbre a experitncia vivida pela Naqao, acaute1attdo.o contra perigosas rei'ncidtncias em Crros funestos, ou avcnturas intoleriveis pelo glnio na- cional;

c ) corrige o orgulho intetectual dos legisladores e hornrns de ci&ncia corn a revelafao do progress0 atingido noutr-as Cpocas pelas leis e pela doutritla, -poi$ o direito est i lotige de seguir urna linha de perfeiqao invariavel. merlte ascei~cional.

5. eoncei ta e contelido da Historia do Direito.

Podernos agora definir a Hisidria d o Direito. Hist6ria do Direito C a de jcr i~uo c explicagao dk como

se jornrou e transformou no pa~sado o sistemn jurfdico de lrnr d a d 3 grupo sociul.

Para se co~~seguir recolrstituir nos seus trd~nites e causas a clrigem e evolu~ao dr urn dado sistema juridico k , porkm, ~lecessirio :

Page 8: História do direito português Marcello Caetano.pdf

e) 0 conheclmento das normas jur~dloes que em cada monlento constituirarn Bsse sir tema.

Ora o s modos por que se reveIam as normds juri- dicas t2rn u norne de jo t r t~s de direilo -

Prtcisamos d e saber qua is erarn as leis, os costurnes, as pritirak jurisprude,icidi% da Cpnc? cuja histdria quere. mos h e r .

F:' o estutlo tia krstrirla d a s f u ~ t f r ~ de direitn.

b) 0 corhecimento da dlsolpllnu qua dsssas nor- mas brotava para os dlvarsos grupos de rala- cbes soclais .

0 ohjecto da norma juridica 6 regular ou disciplillar re1at;Ges snciais.

Essas relaqriss sao classificadas, s e g u l l d ~ as suas aCi- niilades, ein grupos.

Cada yrupo de reiac6rs st~ciais se rege por certns prrncipros conluns.

A discildina juridicrc de urn grupo de relaqaes sociais afins, c h a ~ n a . s e insditrrt'rfiirn j~rr id ica .

t I k assim, jlor exemplo, ins t i tu~~l ies de direito pli- bliro e de clirejtu privado : iostituiqcies d r direito civil e de direito cornercial ! insiituiqbes de dlreito das ohriga. @es, de d~rel tos reais, d z dirritrls de famil i ,~, de direito sucessbriv, ctc.

0 historiacior dec-e apriiveitar as fi111trs de dirrito de ulna dada 6poca passada para co t rs l r~ i r t j .siskttio rias i11.5-

iitoi'cdes dtsso Ppnrd. E' o estudo ita hi~!LjTii~ dns Insfrt,vi'g&s jnriilicils.

c) 0 conhecimento da forma como, na Bpoca, se aplioava o dirsito.

Nao basta crrnhecer as normas impostas pel0 Poder, ~ i B o basta coriliecer as fontes de direito: P ~ ~ r e c i s o saber a-imo 6 . que r ~ a prridlca se observavanl o s imperatrvos legais.

U m a coisa P o que a lei irnpoe, e outra o que efecti- vamenir: se pode ap t~car .

I'or via , d e regra o leglstador expriine na lei idcais em avanqo sbbre o esrado social d o povo.

0 s diriger~tes q ~ ~ e r e m coitduzir a NacBo para rnais perfeitas formas de vida, lnas a rnassa cox~tinua apeyada a usancas tradicionais.

IJutras vezes a lei 6 iynorada fora dns cerltrns em quc o Podcr reaide: ou a prepot&ncia dos apenles do prrlprjo Poder a atropela e esquece

(3 Ilistoriador d o direitn n i o drve, pr~is, contentar-se cotn 'o conhecirnrrlto d o d ~ r e i t o legislada jcolno d vifz ser a vida juridica, segundu as autoridadaa legistativas): tern de canhecer b dtreito clplicado icorno efectivanlellte era a vida juridica na prAtica popular).

d; O eonhscimento da ctbncla d o direito, dos ideals do escol e do sentimenlo jurldico popular.

Nas out r l s epoca? cultivou-se a ciCncia d o drrelto, ~sto 6 : hauve qupm procurisse achar os fios dos con celtos q u c lnformavatn o \]sterna jurI Ilco, formulando os p r ~ n c i p ~ \s gctais a que se subordinavatn as noirilas con- cretas.

As normas que ten1 de ser observadas sob ameaca de roacctio, s8o dogmas para o c~cnt~sta tque 11ao pclde

Page 9: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES --- - -- -- - --- HISTORIA DO DIRBITO PORTUGUES

n~g i - l a s nem alterh-las). A itlduqIo de principios por ge- neralizacfies sucessivas constr'uidas ibbre dados do con- telido das normas,' forma a constrn~cio dogmdtica do dl- r ~ t t o .

Mas os juristas n8o se lirnitam r pesquizar nas noi mas os elernentos cornuns suscepifveis de conduzir a regras gerais de uma instituic%o o!l do sistema: formulam aspi- ra~Bes, terrdCncias, ideois de compreensao e de evoluq80 do direrta, s3o fil6sofos.

Eniirn, existe difuso em tddas as corisci~ncias bem formadas urn indefinido, mas firme, sentimento de jus- tica.

0 historiador do direito deve procutar saber se na kpoca que estuda, existiu uma constrrtgrio dogrnlitica do direifo, quais os ideals oil trndtncias dos jurisconsultos e qua1 o sentiment0 dc l a s t i ~ a do povo.

0 conleiido da h8tdriu do dirckto 6 , [ l o r conseguinte: - a hist6ria das fontes de direito ; - a Itistciria das iiistituicbes ; - a hi3t6ria da pratjca [lo direlto; - a histdria da ciencia e das doutrinas jurfdicas.

6, Metodo de investigaqBas e Fontes da Hisib- ria do Direito.

Para fazer HistBria 6 precis0 reviver pela irnaginaqao (isto 6 , por meio de imagens:~ factos passados que, em geral, o historiador n8o viu iletn tern forma de sujeitar h sua observacPo direrta.

Alas a Hist6ria s6 i e r i caricter cier~tifico desde que haja uma grandr prohabilidade de que a reconstitui~Ila

do passado seja exacta, isto C, corrcsponda ao que real- mente os factos foram.

Para isso 6 inilispensivel que o historiador trabalhe stgundo certas regras tkcnicas que constituem urn rnF'todo de investlgardo.

- A prinleira regra da-metodologia h~stdrica con- siste em partir sempte d a ~ fontes dn Hdstdria do Ddreilo.

0 primeiro acio de quaIquer inveatigacgo C o de reiinir as fontes.

Mas oCque s;lo fontes da Hist6ria do Direito? Fonte da Hist6ria do Direito 4 tudo quanfo Lrrga ao

conhecimento actual qualquer fact0 passado que interesse para a reconstitui~Bo de urn sisterna jurfdico.

A-pesar.da ssmellian~a das express6es, niio hb que confundir fontc dc direilo com fonfe da Hisfdrtn do dl- reito, I-ih fontes de dlreito que rig0 580 fontes da klist6- r i a . (tbdas as leis, e costumes, que vigoraram e que hoje desconhecemos de todo ou de que s6 temos vagas noti. cias).e, inversamente, h i muitas fontes da hisidria jurldica que ndo s&o fontes de direiti~ (tcidas an instri~hes, escri- tos e tradiqbts que nos dfio noticia de tactos juridicos passados e que todavia n8o sao a prdpria forma tangivel da norma rcvelada para ser observada.)

7. elassiilcaqas daa .Font85 da Historia da Di- reito.

A s Fontes da Histdria do Direito classificam-se em IurLdicas e ndo jurirlcas, e as jurfdicas em princlpais e secunddrias.

Page 10: História do direito português Marcello Caetano.pdf

a) Fontcs j u r i d i c ~ ~ , s%o as que resulfaram directa- menle da vida e cultura do Direito, e podem ser:

- principais : s8o as lontes de Direito (Cbdigw, leis avuIsas, costumes eocritos, estatutos) que chegaratn at6 aos tlossos dias ;

- secrrndarias : s8o os documentos ou rnonumentos quc tiveram orlgem na pritica corrente ou na cultura do Direito (diplomas rEgios, cartas probat6rias de actos ju- rfdicos -contractos, testamenios, manulnissdes etc.-, sen- tenqas dos tribunais, formularios, tratados d r douh ina etc.),

b} Fontcs ndo lurfdicas s%o as que, xepresentando o fruto de uma actividade social n40 especificarnente jurC dica, trazem ao nosso corthecimento rtormas ou praticas de direito.

Tais s$o as obras literdrias, hisfdrrlcas, cientificas, fi- los6ficas, artisticas, os usos, as lendas, os prov6rbios, etc.

8. Regras de utiliza$80 das fontes da Histaria do Direito.

J b ficou dito que o prilneiro acto de qualquer tra- balho de investigacao 11ist6rica i o de rriinir as jonCes da Hisfdria doperlodo consi4erado. Procuram-se tadas as jf conhecidas e pesquizam-se outras mais, ainda porventura existentes.

Mas, uma vez reiinidas as fontes, o historiador n8o pode ntilix8-las ao acalo: tern de avaliar da sua aukenti- cidade e do seu merit0 testemunhal,

E' como se o passado que se procura descohrir fdsse

a verdade discutida nurn processo judicial. 0 historiador t o juiz; as fontes sAn as peqas de uln processo quc k precis0 pesar cautelosamentr uma por ulna at.! se decidir,

A utiliza~ao das fontes estg, pois. condicionada por uma s k i e de operaf2)es criticns, que se costurnam distin- gilir err& duas s6ries: as opera~aes . de crCt[ca exierna e as de critidrr internu.

1." problems :-as documentos ou s8o origiaals, isto C, escrttos pe1o ptlnho do pr8prio que nelcs expritnilr o seu pensamento on regi3tou urn pensamento ou act0 alheios - e tarnbkm se dizem autbgrafos-, ou s30 meras cd.pias, traslados ou certidaes do original, e nesse caso desrgnam-se geohricamente por apdgrafos.

Quando se cor~hece 0 original, a crlt~ca extertia do apdgrafo iimita-se, por via dc regra, comparacgo.

Mas como proceder quando s6 se conhecem ap6- grafos, por ter desaparecido o original, e aqueles diver- gem etltre s i , corn versaes diversas, e dlversa's proceden- cias, pois e ireqiiente eticontrnrem se cLiy~as de cbpias?

Nesse caso o labor critic0 C. melindrosissimo e tende a fixar, t l o prbximo quanto possivel, o text0 exacto do original dcsaparccido.

Dai as e d l ~ d c s crdticas em que se faz a reconstatui- ~ B o ou r e s t i l u ~ ~ d o do gtexto original segundo bBas razbes cientificas, mas tendo o cuidado de publicar tBdas as vur lanks encontradas rios diierentes apdgrafos nos pasaos ern que tles d~vrrjarir.

A esta iorma de critica extertla tarnbkrn se chamd crdtica da restifulgcio

Page 11: História do direito português Marcello Caetano.pdf

2." problsma - Q ~ ~ e r n produziu o documento, quar~do 6 onde 'l E' o qlte algur~s chamam a ~'rilica da p:,ove- nidricla.

Pela escrita, li!~gudge~n e f6rrn'ulas usadas, procu- ra-se responder a cstas perguntas, tlecesshrias mesnio 110s casos em que o docurnento cira o nome d o autor, a Cpoca e o lugar ern que foi feito.

Nesta critica procura.se tambCm dlstinguir o que, num apbgrafo, pertcnce ao antor do original, do que resulta dos saltos, irt ler~ala~des - acidentais ou i~~tencio- nais - e confinua$Bes devidas aos copistas.

Assim se destingue o docu~nento autdndco o q verda- deiro, do !also ou apbcrifir.

b) Crifica inrema. 1.' OperrQBo - A pri~neira operacao da .critics in-

terna de um docurner~to consiste na lnterprefaguo do fexto.

lnterpretar urn text0 t fixar o seu sentido, isto C, apurar o que o autor quiz diz8r.

2." operag%o. - Ilepbis pergunta-se se o que o autc.~r disse C exacio, isto C, corresrmnde a o que reatmente se passou.

(1 autor pode ter rnentido ou ter errado. A mentlrn resultaria de $ie ser homem de partido,

escrever apaixonadamente, ter interEsse em ocultar a ver- dade, ser a isso coagido pela sua situacao de dependSn~ia, querer agradar a alguem, daxar -se levar pela imagina- ~tlo , etc.

As ciusas de Prro sdo tambim mriltiplas : r~bo e-star bem ilifor~nado, rldo saber observar, ter excesjiva credu-

lidade, deixar-se iludir ficilmcnte, partir de urn precon- ctito, proccder sob I ) terror ou a ira, etc.

Por isso C necessfrrio saber tbdas as circunstbncias em que o docurnento foi produzido.

3." ~ p e r s ~ a o r - ~ curnp~~rrl.~lio das vlrias fonles pode revelar-nos concordfincias que firma111 a nossa convicq%o de que certo facto ou norma efectiuamente sc passou ou existiu de determinado modo.

Mas 6 precis0 a nlaior cau t~ la para escolher as fontes a comparar - tilo v i dar-se o caso de ge confrontarem fontes que sao d e ir~spiraydo comum ou derivadas urnas das outras: em vez do acbrdo de d~versos testemunhos terlamos entau diversas forrnas de urn s6 testemunho.

9. Suprimento das deficibncias das fontea: recurso ao metodo dedutivo.

Nao raro acoiitece que, rriinidas t6das'as fontes da histdria de urn periodo, o historiador se encontra ria posse de urn reduzidissimo pecirlio de dadus, irisuficien- tes para reco~istituir todo o sistema juridic0 dCsse perlodo.

Entre crs dados co~ihecidos e segurait~eute apurados pela critica, surgem lacultas que as fontes n8o preenchern e o historiador, hoi~estahente, s6 tern a confessar-nada saber sBbre &sses politas. Mas, em certas circunstincias, pode arriscar Irip6teses, meras presutl~aes da realidade passada, istu C: par t~ndo dos factos conhecidos deduz; peia razao, os factos desconhecidos.

0 proccsio dedullvo k extrelnornettfe perlgoso. Deve-

Page 12: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- - A --.

H l S T b R I A D O DIREIT0 P O P T U G U P S

-se pempre ter a cautela de prevenir de que os seus re- sultados sao meras hipbtescs, mais ou rnenos provavris, mas sugeitas a confirma~2o ou desrnentido.

Em que casos L que o historiador do direito rode, correntemente, forrnular hip6teses para pretncher lacunas do c o n h e c i m e ~ o ?

Nos seguintes :

a) Conhecido um prfncipio geral, pode supbr-se que o caso particular, cuja disciplina se desconhece, estava por &le abrangido; Inas neni sempre a disciplina das ins- titulfdes 6 16gica, e ha periodos na hisibria (v. g. a Idadt Media) em que a regra k a falta d r repfa. Mesmo quando a regra geral seja efectivamente gernl nada nos assegura de que o caso considerado nZo constitula urna excepqao.

I r ) ~ o i h e c i d a a disciplina juridica de uma institul~iZo pode-sc dela deduiir, por hipbtese, a disciplina desco- nhecida de uma outra institui'cao afirn.

c) Cot~hecidas as instituiclies actuais de urn povo em f a ~ e atrasada de civiiizafdo, pode-se dai deduzir, corn tbdas as cautelas, utna ou outra caracteristica das institui- q6es passadas de outro povo que corn 2le tenha semeihan- cas Ctnicas e rnesolbgicas e relativamente ao perlodo em que atravessasse urn est.idio. aproximado de civiliza~%o. Mas nao se deve abusar deste metodo-que alguns histo- riadores d o direito no s&culo passado exaltaram, ctis- mando-o de ~ n i t o d o etnografico - poi5 s i o rt~ais os erros a que cor~duz do que as verdades gue desvenda.

0 historiador digno desse nome tern, pois, de r e i i ~ ~ i r qualidades as mais variadas e excelentes. Curlusidode que o incite a progredir de cot~hecirnet~to etn conhecimento,

poci&ncin para as i r d u i s pesquizas c para nao col~cluir antes de tempo, lenacldude para prosseguir os trabalhos cotne~ados, imagina~aa para aproveitar os dados apura. dos e corn Cles reconstitui'r o passado, mas boa sens.7 para n8o cair em solu~Oes disparalidas ou ridieulas, espi- rito Criti~0 para discerl~ir o verdadeiro do falso e o born do mau e, finaltnentt, lnuita p~obidnde para n%o dar como provado senao o clue eirctivarnente o esteja e caulelosa- rnente nao misturar a probabilidade de certeza firmada nas fontes corn a mera p resun~ao deduzida l~ipotktica- mente ou ate corn o e ~ ~ f r i t e literdriu e a rornposi~Bo rorn2ti tica.

10. t i g n c i a s afins e auxiliares da Histbria do Direito.

A Hiitbria dn Direito ngo pode estudar.se prescin- dindo d e conhecilnentos sistematiz;~dos t~outras cikt~cias.

Na verdade, h i ciit~~cias que t fm ofinidlides, pot~tos de contacto, problemas comuns corn aHistdria do Direito: $30 as ci?ncias aftns, notneadamente o Direito, a Hist6ria polltica, a Hisloria sucial, c a Histdria econh~nica.

0r:tras auxUiam o historiador jurista nas suas investi- gaqdes, ajudam-no a compreender as fontes e a completar os conh~cirnentos delas extraidos ; slo as cldncias qaxi- iiarcs.

a] Cibnolrs aflns.

1. - . 0 Direiso C afim da Bist6ria d o Direito, visto que 'esta citncia 6 apenas urn mod0 de cstudar aquela.

Page 13: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 14: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREIT0 PORTUGUES -- -

H I S T b R I A DO DIItElTO PORTUGUES --. - .. --.

institui'c80 o u de cada grupo de instituitbes afins (v. g. : .as CBrles, desde o seu aparecimento at& A sua e x t i n ~ 8 o ; a Familia, dcsde us lusitanos aos nossos dias ; a Enfiteuse no direito romano, peninsular e portugues etcj.

6 ) No me'fodo cronoldgico estudam-se tBdas as instl- t u l ~ b e s de cada periodo ao mesnlu tempo, fazenda suce- der a um periodo o periodo seguinte.

0 mPtodo t r i u t l o g ~ ~ , f i o tern varitagells porque permite seguir ~ne lhor a evolufao de cada institui@o evifstndo o s coftes bruscos de expr~sieao irllpostos arbitrlriamente pelas balisas conveociunais dos periodos histhricos, mas oferere o inco~lver~iente de iazer perder de vista a int l~na coriexio e recfproca ir~iiu@~lcia que nurn dado periudo existem eritte tBdas as instituirdes de urn mesmo sistema juridico.

0 nrifodo cronoldgico tetn a va~~tagern de nos per- ~n i t i r acompa~ihar a nlarclla de todo o sistenla juridico, Inas traz o inconve~iiei~te de imp8r a delimitaqlo em pe- riodos, que r o m e ~ a m nur~i an0 e terminam noutro, quando k itnl~ossivel ua l n a i o ~ parte do3 czsos fisar essas data8 quc de rliodo aiglt~n correspo~ldem a transforma- ~ b e s reper~tir~as e sirnultitleas de ibdiis as institui'qdes.

H i entao rjuern p r e c o ~ ~ i z e a aclnpqlo do tnktodo cro- t~oiOgicc~ para a exposic80 da historia das folrtes e das inslitu'i@es de direito pdblico, lnais sensiveis i evoiuq%o politica ; e n mf todo trtunogrdf~cu para 3. exposiqic da hisibria das i n s t i t u ~ ~ f i e s de d i r ~ i t o privado cuja evoluqio e lentissima e em geral n%o t sincrrinica.

Como neste curso apcnas e x [ ~ o r t m o s a hist6rfa das for~tes e das institui'qbes de direito publico, serd o niitodo cronol6gico o adotada.

12. @ri!&rio de divisso am periodos na exposi- qao cranologica.

Faeendo-se a exposicao cronolbgicamente, surge o problcma de saber carno dividir em periodos a histdria a expbr.

T rks s8o os crittrios entre ~16s propostos para essa divisao : o crittrio 6tuico-politico, o c r i t k r i ~ juridico ex- terno ou das fu~ztes, e o criteria d o sistema juridicu.

a) Crithrlo gtnico-politico. - A divisso sera feita atcrider~do a o j povos e aos regimes q~ se sucederam n o territ6rio national. E assic1 teriamos, apos o estudo dos periodos lusitano, romano, visigdtico e rnu~ulmano, a di- visao por dinastias - (Coel l~o d;i Rocha) - ou a divisilo em : periodo da rnonarquia lirt~itada pelas ordens, period0 da mollarquia ahsoluta, e periodo da n ~ n ~ ~ a r q u i a liberal - (Pedro Martins) - .

b) Crite'rio juridic0 externa ou das fonles. - Faz-se a divisao segundo as forltes de direito ptedominar~tes o u seja, por enemplo, a partir da f u n d a ~ 2 o de Portugal : - I. - periodo do direito consuetudinhrio d foraleiro : - 2 - per i~ jdo das leis avulsas ; - 3 -- per fado das Ordet~aqdes ; - 4 - perlodo das coristitu'iqbes cscritas e da cadifica~ao.

c) Crlfdrio do slsterna juridlco. - Cada periodo dor- responderb a urrl sisteina caractcrizado pela subord ina~ao de tbda a ordern juridica a certos pritlcipios ou o r i e ~ ~ t a ~ b e s fu~~datiientais. Assim, o Sr Prof. Cabral de hloticada pro- ['fie a divisao da nossa hist6ria juridica, desde os lusitanos,' em 6 periodos : - 1 - sistema primitivo oil ihCrico, at& 6 Constitu'i~Po de Caracala em 212 ; - 2 -- sistema do direito romano vulgar, at6 a Lex JVisigothorurn Recess

Page 15: História do direito português Marcello Caetano.pdf

k 1 s T d R r ~ b0 DIREITO PORTUGUdS H I S T ~ R I A bd DIREITO PORTUOUES . A... .. -

vindiana de 655 ; - 3 - .ststerna romano~g6tic0, at6 ao skculo X I ; - 4 - sistema gerrnano-ibtrico, at.! D. Afonso 111 ; -5 - sistema do romanismo justinianeu, at6 Pom- ba1;- 6-sistema do direito natural e do individuaiismo critico, at6 aos nossos dias.

13. Plano da nossa exposicSo.

Considerando que a Hlst6ria do Direito PortuguCs comga corn a futida~r2o de Portugal, mas que nao po- demos ignorar os seus ai~tecedentes e as suas origens, comeqarernos por uma Inh~dugdo ordenada segundo o crltkrio i5t11ico-poIitic0, desta maneira :

1. - Povos prirnitivos. 2-Domirlio romano. 3-DominacLo pel05 povos germinkos 4-1)ominio mucuirnano. 5-A nlonarquia leoo$sa e o condado portucalense, Enirando depois prhpriamente na Histirria do Di.

reito PortuguCs, exporemos a matQia dividida pelos se- guintes perfodos :

1."-Periodo do . direito consuetudilsirio e foraleiro (in flutncia romano-getmano-crlstBJ.

2."-Period0 do romanistno justinianeu e do direito can6nico.

1." er~oca : antes das Ordena~Bes. 2.' tpoca: as Ordenaqdcs.

3."-Perlodo de transi~sn: a escola do direito n a t u - ral e a elaborzcao das ideias liberais.

4."-Periodo ind~viduatis ta e liberal.

0 1: periodo vai do inicio da monarquia at6 a0 .reinado de D. Afonso 111.

0 2.' period0 vai do reinado de D. Afonso I i I at6 ao reinado de D, jose.

0 3: periodo vai do reinado de D. JosC at4 1832. 0 4." periodo vai de 1832 a 1926. A exposicgo ser4 rcstrita i s fonbes dc dlrelio e As

InstiiuZg6ss do dirsito pdblieo,

14. Bibliografia geral.

0 s estudos da HistSria do Direito Portugu&s sZo muito recentes : datam apenas do f~nal do stculo XVIII.

0 seu deset~volvimento nessa epoca deve-se A refor. ma operada peIos Estatutos pombaIinos na Ulriversidade de Coimbra e a fundacao da Academia Real das IXncias de Lisboa.

Se a Academia originou rnemlfirias de grande impor- tltlcia e valor sbbre diversos pontos cia hifibria juridica, -as da autoria de Ant6nio Caetar~o do Amaral, JosC Anastdcio de Figuejredo e 1020 Pedro Ribeiro, o ensino da H1st6iia do D~reito na Universjdade ocasionou a pu- hlicacLo dos primeiros tratados sistemiticos da materia.

E assim. o pri~ueiro professor de Hist6ria do. Direito Pitrio, o celebre Pascoal Jost de Melo Freire dot Reis, elaborou para compCndio d a sua cadeira a .nistdrla juris dvil lv Lusit~ai (1 777) depois publicado pela Academia. @sse livro, notivel a todos os titulos, foi o ponto de pat- tida da moderna histor~ografia juridica portuguesa.

Ap6s a implanta~Bo do regime liberal, outro profes-

Page 16: História do direito português Marcello Caetano.pdf

sor, o ilusfre Manuel Antdnio Coelho da Rpcha compbs novo comp&ndio, o Ens& sdbre u histdriu d o govirno e legisla~ao de Portugal cuja 1.B edipo data de 1841 e que, adotado no ensirlo univeriitirio, obteve ate ao combo d o skculo XX nada merlos de 7 edi~i5es. 0 ensaio impbe- se sobretudo pelo mktodo e clareza da exposic%o.

Muitos anos decorreram sern que da Unrversidade saisse novo tratado de hist6ria juridica. S6 ap6s a refor- ma de estudos de 1901 foram publicados dois volumes de lip0es : a Histdria d m institufcdes do direlto romatro, peninsul~r e portuyu2s de Marnoco e Sotlsa ed. em 1904) ordenada pelo metodo rnonogrdfico, e a Hist6ria geral do direifo romnno, penltrsular e portuguh de J, Pe- dro Martins (I.' ed.. 1906).

Finalhente o Sr. Prof. Paulo Merca publicou as suas L6$0cs da ffistdria do Dlre to PortugrrZs -em resrllno,- nos anos de 1Y23 e de 1925. e algumas liqaes em sepa. rado sbbre C' poder real e as CBrtes em 1923.

' Corn o sr. Prof. Paulo ,kle;Pa i::icia-se urn novo pe- rfodo de cultura da Histbria d o Dire~to f>ortugu8s, in - tensamente produtivu e que sobretudo tern sido Fecundo pelo qur respeita ks i1lstituiq3es d o ~iosso direito priva- do no period0 medieval. Pertencem a escola d o Prof. Merka os srs. Profs. L. Cabral de niloncada e ' ~ d r i a n o Vaz Serra, amhos da U~~iversidade de Coimbra.

Fora da Universidadc a Hisibria do D i ~ e i t o 6 larga- rnente devedora a dois nornes: Hrrculano e Ciarna Barros. 0 prirneiro na slra H i s t d r i d de Portugal, nos Opiiscrrios e nas tlotas explicativas do Porlugaliae Monurnetrta His- tdrica, R o segutldo na sua monu~~:ental Hisidria da Admlni~trapdo Pliblica ern IJortrrgaL ttos secs. X I I u XV,

HISTdRlA DO DIRGITO PORTUGUPS

contribufram corn preciosos dados para a nossa disci- plina.

Quanta aos ramos da H~strSria afins da Histtiria do Direito, deve assinalar-se o livro de Costa Lobo, Hisfdria da Socirdade ern Portugal no s e t . XI/ pelo que respeita & Histnria social, e ns trabalkos de JoPo Ll'lcio de Aze- vedci, E p ~ c a s de Porlu,onl Ecandrnico e Novas Epanajoros quanto ii Histbria econ6mica. Arnbos estes ranlos estao muito carccidos de desenvolvimento.

Na Ftnografia e hnje fundanlenial o tratado de Josi Leite de Vasconct.los, Etnogrqfia portuguesn.

Tern 2 Hist6ria do Direito Portugues muitos pontos dc contact0 corn a Hist6ria do Direito Esparthol e por isso as obras dos historiadores da N a q b vizinha revestern para 116s grande interCsse.

As obras que, pelo seu caricter sistembtico, valor intrinseco e actualidade t&m maior utilidade para tstu- dantes portugueses sao as seguirttcs :

Eduardo de Hinojosa, Hisldrla U~t lernl del Derecho Espaiiol, iie clue sd.publicou o vol. I.

Galo Sanchez, Carso d e Hisidria &l Derecho (Eontes), apoi~taniehtos.

hlanuel TGrtes, Leccio~tes de ffisldria de l Dcrecho Espafial.

C) +Anudrio drr Mstbrin del Dcrecho Espariol* C exce- lente repusit6rio de cstudos sBbrc a histbria do direito peninsular.

Page 17: História do direito português Marcello Caetano.pdf

As monografias nacionaia e estrilngeiras serto citadas .no decorrer do curso a-propdsito das matCrias a que se refiram.

Colecf6es de fontes : . A principal colec~%o de fontes juridicas 6 a publi-

cada pela Academia das Ciencias de Lisboa, inicialrnente s6b a DireqBo de Herculano, e intitulada Porfugalrtw Monurnenta Hisldrdca.

CompOe-se de 4 partes : 1.Scripbarcs; 11-Lcges r t consuetudines: 1II~Dlplomafn ct charla,? ; IV-lnqulsitioncs,

H5 d i m disso rn=ltos docurnentos do maiorinterbse nas Dissertapacs Cronoldgkas e Criticas de Joe0 Pedro Ribeiro.

De outras de menor importancia far-se-d menqlIo oportuna. (1)

( j ) SBhrs tMas aa matbrias destas ~ V o ~ d e r Prrldminar~.~ potlem vbr-se :

ALTA BIIRA, Nistu'rin (1~1 i f [ > r ~ L o p-~$aCo~ Qncstia~tes pruliminares , LANGLOIS et SEIONOROS, ~izfrodzdctton

aidr e'tt~dts h is to? ip~r r r , BESTA, A7lvzdrttento ai l0 .itzdro dclla Tturru i iL l dit jtio italiarrrl; CABRAL LIE: ICONCADA, 0 pro- 6/et~20 m~tadoldgice na cit~rcira dct Hisidrin do Dirrkto Port%-

guir, apnd aAnuArio de H~stbria del Drreche Espsfiol, tomo X; PAUL0 ~ I E R ~ A , Stirnula hzstorico da Rzrfdris do Direito P O T ~ I ~ I ~ ~ S ; spud ~Estudoa de Histbria de Direiton, phg. 7.

15. RazFm de ordem.

Deverh iniciar-se o estudo da iritroduglo h Histriria do Direito I'ortugnks pelo periodo prC-roman01

S a h e ~ s e q u e HERCLJLANC), (Histdris de F-'orlugul, 8." edigao definttiva, vol. I , pay. 34 e seguintes) ap6s lon- yamcr~te pretender justifici-las, assents nas seguintes con- clus6ee :

I ( . . .i itnpossivel jr enttoncar corn elas (as tribus lu- s~tanasl a nossa histbr~a, or] dclas dtscer lbgicamente 3.

esfa. Tudo falts: a conveniencia de limites territoriais, a ide~it idade [la rafa, a fiiiaqHo de lingua, para estahelecer- mns ulna trarisifao nrtural entre Csses pavos barbaros e ndsl. (pig. 97, fn fin$).

Page 18: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRld D O DIREITO PORTUGOBS - - - -. - - -. . - - . . . . . - , . , . . . - - - - -- - - - . . -. . -. . - .

Ngo aceitamos @st? mod0 de ver. A fransigt?~ natural entre lusitdnos e portugiieses existe, embnra 1120 haja a ideritidade quisi-absoluta que os hutnanistas e antiquirios dos s&cs. XVI e XVII pretendipm.

Na verdade, sabe-se hoje, segundo os resultados das investiga~Brs arquei,Idgicas levadas a caho rspeciatinente pelu sdbio vim3rarrense R'IARTINS SARIIIIENTO, q u t no exlrgrno ocidente ~ierlinsular habitnu desde remnta anti- gi~idade uma populacao cam traqos cullurais comuns e que ela selwiu de base 4 e v o l u ~ I o social prcduzida r18sse tcrtithriil.

Quare dizer: ern certa altura da Hist6ria iantes da vinda cios romxnos) j i se cr~cor~tra fixado na faxa atlbn- tica da pet~insula urn 11ticIeo de griite que nunca mais de 18 lei e x p ~ ~ l s i ~ ou 11@ic foi extertuinado. t s s e r~dclco srjfrru invasoes, combateu guerras, retraiu-se agora, expandiu.se depois, utnas vezes livrr, orltras oprit~lido, taas persistiu sctn pre.

As suas trar~sfornlafijes s8o as que a vida impfie: repi-esei~tarn assii1iila~lo de nuvos hdhitos, costuirles, leis, lingua, aclaptaclo a novas condi~aes de eristtncia, abair- donu dt. outras. Tddas us ssdelludcs que vivetn se Irnrrs- fort~~iltn, il facto dc os Irlsilanos sr ct'uzarern corn outras r a p s , adoptaren~ lirlyuagetn e rnodus alheios (a roo~ani- za@o durou HOU arms e nPo foi tao profurrda conlo Her- cula~io pensava), n3o deskroi o lacto de terern s idn kles o eletarnto fuailamef~tal, prrmanente e crlrocleristlco da evuiugPo social verificsda no r~ossl: ferritbrio.

Nem se dcvr pensa: que os 1u;itarios se Iimitaram a receber 111flui11cra.5 : c n ~ todo n contact0 errtre dois ~ ~ o v o s ( t ~ ~ e s ~ n o entre vencedor e vencido ou entre coionizador e

colot~iradn) ll i urric perrnuta cle infIu~ncias - e rltm sem- pre i o vericedor quern nessn troca d6 mais,. .

0 facto de 1130 cnit:cidirem os lilrlites da Lusitlnia corn os de Portugal ria0 ohsta a que se estaheleqa a filla- @o, uma vez que os lusitalio~ i e l ~ h a n l cons~ituido---,corn0 constituiram-a rnassa principal e caracteristica da ~ ~ o p u - lac30 30 extrtmo ocidente. Ningukm se lentbra, aliis, d e dizer que o fio da HistSria de uma NacBo se quebra sem- ]'re que o S P U territ6rio sofre motlificaqfies !

E, conlo escteve o sdbio Prof. 1,EITE DE VAS- CONCEI-OS !la sua nlonu~nental ohra K e l i ~ l d e s d a Lusi- idnia, vol. 1, pig . 26, a iingua quc fnlarnns 6, !la s l ~ a e s s h i a , mera modifica~go dn yue usavam os Iusn-rurna- nos; muitos dos nossos ilolnes rIe lugarcs-actuais provCm de nomes pri..romanos ; certas feir6es rlo nosso cardcter nacioriat se encontrava~n j i nas lribus da Lt~sitBnia ; gtande parte dos nosios costu~nes, superstiqCies, Iendas, i j t c r 6, da vida psicol6gica do povo, datatn do paganismcr ; born nilrnero das llnssas povoac&es correspondern a antigas povoaqaes iusitltlica3 ou luso-romanas. . . rn (I)

16. Organizaq30 social e instituic6es.

Deve notar-se, por&m, que o territhrio do extrkmo .- --

( I ) Ver t.a1ub8m f:)CIITGIR:l B.IBRTlN;j, 1Jtstiiri;z Jr k ' o r t ~ ~ , ~ , / / , liv. S.", i ~ , p r i v~ !p io , e 1IYXl)ES i.;(.)Et~kA, rho

rcu l ivro (3s ponnr pri~,ii!i:;os il(t / I I riti'lrriir e nil capitnlo ql ie sirblra Lzrsii~i,rin pri'-ro,iw~r,l eacrevcu ~ I L T A Q iUitlt6r,ia cle l'ortugalu rle I3arcelor;.

Page 19: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ocidente ibkrico nZo era habitado exclusivatnente por lu- siiatios, ii d~ita ds illvasao romarta.

Outrns povos ilOle residiam, t d o s resultantes da fusio dos iberos (antiyuissima raqa imiyrante) ctlrn os poilos celtas que a t pelos s ~ c u l o s V I ou V a. C, ir~vadi. rarn a Peninsula onde ir~troduriranl a civilizarao do ferro.

hssjm, ao Norte do D ~ ~ l t - 9 vivianl os calrmi~os; eutre Douru e Tejo espa1havanr-se os lusitanos, 110 dizer Lie ESTKAUAO ,la mais poderosa das na~f ies jbbricas~ ; en. t r e Tejo e Guadiana, celtas nao especificados, e ao sul, n o Algarve, egtavam os lurdetarros.

E impossivel dizer quais eram as i n ~ t i t u ~ ~ b e s de todos &stes povos. Conhecemos as de algul~s, mas se C verosimil que as dus outros seriam semelhar~tes, nada nos atrtoriza a gel~eralizar categbricamente.

A base da orgalliza~ao social psrece fer sido a cidade, coma allis em todos os povos arltlgns. 0 s escr~tores ro rrlanos que rlns derxdram noticias 56bre a Lus1t4nia i data da irlvasao, assim o dizem. A civilas era um ptqueno Es. tada arrstocrAtico const~tuido por uma povoacgo principal1 bem fortificada (oppidom), e poi- um grupo de povoatBes rnais pequenas, ccjnslru~das ao redur dela, sempre na corlja dos rnor~tes e colinas : chatnavarr~-se estas povoa. qdcs, em lir~guageni ~nriiger~a, duns ou briga fdnndr u su- f ~ x o da designa~ao de muitas povoa~bes da Lusitinia ro- mans) e chamaram-lhes os rornanos caslra. (Luanda a ci- dade era atacada, a populagBo abatldoriava os p e q u e l ~ ~ s castros para se conceotrar n'l povnafao pr~ncipal , ou oppidum.

Hoj? o pnvn c h m a a essas povoaqdes fortiiicadas prC+romanas, cividrrdes, ci tBf~los e caslros.

Denfro da cidarie os individuns aprupain se em Jam&- lias d o tip0 manol;i~nico e patriarcal, cujo chefe exerceria poderes politicos, judiciais e religiosns, sbbre os tnembros delas. As familias por sua vez constituiam genfilldade~s, ~agrupamentns de farniii3s vt~lct~ladas por l a ~ o s dc con- sangiiinidade~, isto e , con1 urn antepassado cornurn a quem tbdas prestava~n culto e drrrrde resultava teretn urn chefe religiose r poiitico cotnum.

As ciiiades agrnpavam-se ern tribus: os escritores ro- rnarlos desigr~atn a triblr pnr poprrlus, Cada tribu tinha o sell govti-110, quasi scrnpre rnor~irquico lnas algunlas vezes repuhlicano. As replitllicas eram, porem, atistocr6ticas : 56 intcrvirlham no gov6r11o e na - le i~&o dos chefes o s patriarcas das fatnilias.

Silo nllmerosas as tribus de que temos ~ ~ o t f c i a : s6 entre os iusitanos sabe-se de triti ta. E nem pot perte!~ce- rem a mesrna raqa rnantinhatn entre si grande solidarie- dade, Andavarn em continuas gucrras m a s corn as outras e sd quando surgia un inimiyo cornurn algumas se alia- vatn transiibriamente.

Parece que em lace dos perigos que a invaslo carta- gintl'sa, primeirn, e a rornatra depois suscitararn, os lusita- nos formdram uma ce?lfedefu~60 permanente corn urn chefe a qnem os reis das tribus prestaratn vassalagetn.

A p o p u l a ~ a o dividia-se em classes Havia iram'ens 11- vres e servos. E a aristocraciu iinha a sua dln te ln . Cada aristocrata confava certo nlimero de clie~ttes a quem pro- tegia e q u e Ihe juravarn firielidade e o seguiam na paz e na at6 ao ponto de se s~ri'rirlarem por rnorte d o

Page 20: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES .- -. -- - - - - - -. - . - - . -. - - - - .

patrotlo! tal era a i~~stitni'crlo conl~ecida pelo ~ i o n ~ e de devokio ibPrira ( 9 ) .

17. Direito.

Se qua l~ to a orgar~iza@o social e ii~stituifdes politicai pouca coisa 5e pode apltrar rlas lirrticias dos rscritores romarlos e dii exnlne dos dadns da arq~ieolagia c da epi. yrafia, Incnos ainda se apura qttanto an direiio.

Para suprir a escassez das fontcs d r histdria, a cscri- tor espanhol r), J0AQUI:U COSTA lnn~riu mfio de urn +me'tcdo r e s i r r ~ l cam qlle fe7 -ie~~t:i t ivss engenliosss e atrevidas de recl-lt~stitr~ic,#o do direito ~bkrico.

Coilsistia Este milhdo em anrilizar r igo rosan~e~~te o direito consuettrdii~irio, es[)ecialn~er~te nas provincj;is de Espanha mais ilnperlneiveis a itlfl~~encias eslrarlbas, pro- curando deterrnina~ as origer~s de cada 1150 ou costun~e.

Averiglrado o quc era de provenicncia 1nu~uirn3ria, germinica, canonica, rolrlana, eic. ficava urn resto qtle. por euclusilo, srria o rcsiduo do direito ibkrico.

Rste mbluilo nao 6 seguro. Primeiro, pnrque ,220 i. pos~ivel atirmar con1 abjoluta seguratlqa qur utn costume ten1 de te rmi~~ada oriyetn; sexundo porqlle h i costulnes que sso fruto de neuessidades sel~tidas em todos os tempos em dadas cond i~aes de vida, e podeln ter s~ l lo c r e a ~ a o do ginio peninsular 1ioutl.a~ kpocas clue I I ~ O rla ;~~imit iva .

Melhor serd, portarlio, recani~ecer e co~~fessar o a t r a -

H l S T 6 R I A DO DIREITO PORTZTGUGS

zo dos nossos conhecimentos sbbre o direito ibCrico pri- mitivo.

Presun~e-se q u e a principal fonte de direito fttsse o costume herdado dos antepassados (mos majorum), coma 6 prbprio iias soci-dades d8ste tipo.

Dada a individualidade de cada tribu, oe costumes irariariarn duma para outra.

CJ~iem aplicava o direito rros casos cuncretos era o palriarca familiar o u o cheie da tribu,-autnridades a urn tempo politicas e relig~osas.

Ao defirtirern a llnrnia a seguir inspiravam se 110s manes ou divindades de yrteln t~nharn o poder e de cujo cultn eranl sacerdoics : o Direito nascido desta jurispru ~Ikncia vilri~a marcadl~ de urn sPlo religiosa que o tot'nava slgrado Nai) era sir o Podcr deste rnundo clue sal~ciot~ava a lei, tlias t a ~ n h i m as i d r ~ a s i~~visivris do outro.

Sabe-se q u e os tr~rdetatios gossuiam leis escritas, re- digidas em verso.

Colno II%O 110s acupamos d o direito privado nada diretnos d;ls coltjecturais i~~stitui'qdes juritlicas dos lusita- 110s que todavia 11ndein estudar-se nos trabalhos dos srs. profs. Paulo hlerEi-1 (falrliiia), CaSral de hlollcada (suces- sao) e \'az Serra (propriedade), citados {la hibliografia. (')

{i,i~! /zt(' L Z ~ e T ~ ~ ~ : . / C ~ ~ I I I P I ~ ~ C dls ,I,!,.,~arg~iio LDort/t; 11~sa. 1 - Eaiadu 11i~ Lutli l f l t i i~ alk xi! tclupu ~ I I I que foi rcdneida

Page 21: História do direito português Marcello Caetano.pdf

0 D O M ~ N I O ROMANO

18. A conquista.

Antes de entrarmos no estudo da nrganizaqLo pol[- tico-administrativa e do di re~tn na epocn da d o t n i ~ l a ~ g o rornana, corlvem relembrar os trdqos gerarE do p r ~ ~ e s s o cla conqursta e sssimtlaq8o do estr$mo ocidente ~ ~ I I I I I -

sr~lar peios rotnatios

n I'i-nvincia rotnxna, i~~- i l fe :$?(;~i (r . r du L ~ ~ ' < T , ~ ~ ' Z L ~ C I P~?i'z(g/~tstz, vot , 1, pig. 16. LEITE DE: \'ASCONCELC!R, ife/@i~it~s i iu

Lstsitijvid, vol. 11, p i i p 1 a 99. Prof. PAUI,II JZERIIA, E~lolztpio ioiu., r e ~ i v r e s ~r~t~#r i tmo*r i t z i s , v01. I, pig. 3; T'rul. CA. BRAI, DE &[ow(:.\DA, ,.I /?rs&ri'il k ~ ~ e d i t ~ i r i ~ , v01, .I, PAP 3 ; Prof. VA% SEHLiA, -4 i ':fl i lcztst i l v Uireito rairitlno. jf-

ninsrslar E P O I ~ L ~ U P S , V O ~ . TI , pLg. 107.

Para ksse efeito hosquejaremos rhpidamente as ca- racteristicas dos dois periodos que interessam a o histo- riador portuguCs : 1.'-o periodo da conqulsfn; 2,' - a IJe- rlodo da assirniln~uo.

S;2o conhecidas as circunstlncias eln que os romanos penekraram na Peninsula e atingiram o nosso territ6rio por ocasiao da 2: guerra pfinica (sec. I I T a C.).

E' de notar que n8o houve, em rigor, um dominio cartaginCs no extreme-ocidente, 0 s cartagineses vinhatn por ca negociar, mas no coniC~o do sec. I l l a C. procu- raram subjugat. mjlitarme;~te as populaq6es desta faxa de territdrio. An Sul venceram corn facilidade, mas ao Norte encontraram viva resistellcia que a dureza de Anlilcar e a s e d u ~ g o de Asdrubal acabaram por dotninar, Nao se dtmoraram aqui, l~orkrn: a luta chamava .0~ para longo e da Lusitanla s6 lhes interessavam recrutas e mantimentos, Assim, a supremacia srttiila nLo durou mais de cir~coenta anos e ma1 se sentiu, rnesmo nbsse perlodo, ao norte d o Tejo.

A razlo de ser da violenta oposicgo dos lusitanos ao progress0 clas lropas romanas esta prov8vclmenfe, lla arneaca quc estas representavam para a independincia Local, respeitada pelns cartagineses.

0 facto 6 que, enquar~to a conquista das Oilias du- rou apenas 7 anos, foram precisos dois skculos para pa- cjficar a Hisplnia e deste tempo consurnirarn-se 150 anos na luta contra os indbmifos lusitanos,

Podem distinguir-se nessa Ionga e renhida peltja vb. rias fases.

43 Hirr. D. R o r c n a ~ s # - b

Page 22: História do direito português Marcello Caetano.pdf

BlSTdRIA DO DlRPITO PORTUQUIS . - - -- - - - -- - - - -

1.' fabe. - Vai desde as prin~eiras lutas a t i i eupedi- c8o de IlCcimo Jdr~io Bruto em 137 a.C.

E' iiesta fase que se forma a grande confedera~Zo das (ribus lusltanas chefiada por Viriato que obteve t8o assi naladas vit6rias sabre alguns dos mais tlotftveis penerais romanos. ' Ap6s o assassfnio de Viriato (138 a. C:i a resisttncia

co~t inua mas, faltando-lhe a cabe~a e n corsCito do chefe, n io logra manter a superioridade antiga dns lusitaltos.

2.' faso,- Roma e ~ ~ v i o u enf%o o pro-cbnsul DCcimo Jlinio Bruto corn uma expedifao que tinha por fim termi- nar de vez a campanha (137 a. C.).

NAo foi serll dificuldadas que as tropas seyi~iram pelo litoral, apoiadas por urria esquadsa, desde Olfsipo at6 ao Mlnho, assaltando citinias e estabelecetido yuar- ni@es fortificadar nos pontos estratkgicos como acontecell em Cale.

Data df entao o inicio da ron~aniza~fio mas t ra tava- .se de urn jug0 iniposto as populat$es, no intuit0 predomi- nante de explorar as riquezas locais em bei~eficio da me- tr6pole a as insubordil~aqdes, as guerrilhas, as revoltas e ran~ constantes.

Tbdas as oportunidades se aptoveitavam para b s e eieito. As lutas civis entre Mirio c Sila forneceram exce- Icnie ensejo pala urn tevantamento geral, 0 s notiveis lu- sital~os chan~aran~ QUINrO S E R T ~ R I O , antigo magis tredo pot t i e s bem coohecido, que, proscrito de: Roma peIo partido de Sila, se achava no Kerte de A'frica:

Sertdrio passou logo a Penfnsula acornpanhado de urn extrclto de marianistas corno ele. 0 intuito que trazia

n%o era o de corresponder aos desejos dos lusitanos an- siosns dr independencia, mas o de partir daqui para e conquista do 11oder pm Roma. Par Isso, organizou o seu ex&rciln e o seu gl~verr~o a rornana, .e corno chefe acatadu dos klusi ta~~os fez ruais etn oito alms nr.1 sentido de lhes fazer aceitar a cultura os hibiios, as jnstititi$bes e as leis romanas, do que corno general inimigo poderia conseguir em oitenta.

Qt~ancic rliorreu, 1arrlbCm assass~nado (72 a. C,) a ro. rtlatiiza~lo do sul dci r1u.ssu territ61io avancara imeitso. E o seu sdversario P(I3IPEl.I aprendeu corn @It a aglr pela per$.tlas$o ehi v f z de st impbr pela vinl6ncia.

3." f&ge. - C ~ S A R veio quatro vezas h [~enInsula, e das duas primeiras exercev f u n ~ a e s na Hispinia Uiterior em que entava compreel~dida entRo a Lu>it$~liil. Na pri. meira vez foi q!lcstor ou superintendente das finan~as da provincia, na sepunda vein cotno pretor ou.governador da provincia.

A segunda vinda de Cesar marca o inicio da tase, porque durante o seu govPrno deu cab0 das ~ilfirnas re- sistCncias dos lusttanos (60 a. C.).

Numa carnpanha.relAmpaga venceu os montanheses dos I-Iermfnios aiilda resistentes, desiruiwlhes as citknias, imp8s.lhes pesados iributos de guerra, demoliu as rnura- Ihas das cidades qur Ficavam de pe e transferiu 0s poVo5 rnais aguerridos da regides serrarlas para a planicie onde Iacilmenie cs pc1di2 vigiar e cotiter em respeito.

Assit11 formou, coln alguns dns vencidos da Serra, a coldaia de Pax Juila, actual Beja.

Ao mesrno kempo organizou o restante [erritbrio,

Page 23: História do direito português Marcello Caetano.pdf

T I I S T 6 B I A DO U I R E l T O PORTUGUES

corlferindo titulos e privilkgios a Lisboa {Ollscpo Felicltas ./rtliaJ, kvora (Ebaru L.iheralifas juliul e Santarim (Scnlubis Proesidianz Jnllum),

Depois de Cksar pode dizer-se concluirla a couyuista r pacificado o extrkmo-ucidente. A guerra car~tibrica que provocou a vinda de AUGUSTO ja aqui tlao acordou resson8ricias.

Depois de AUGUSTO seguem-se s ~ c u l o s de paz, em que romanns e lusitanns convivem e permutam in- flusncfa, de mod0 3 produzir-se iritensa assimila~ao no extrknls ocidente da civillza~$o.

0 s fartos da romantza~Po furatri ~~rlncipalrnente:

a) A ~ c f d o dos legides romanas de ocupagdo. 0 s le- giondrios it~stalavam-se corn suas farnilias em grandes acarnpamentvs a o redor dos quais uultivavam a terra e onde exerc~arn indirstrias e tnesteri.5. E r a n ~ , assin], s ia~ul - tlnearnente cr~lo~ios, err1 co itacto direito c o n a llopuls- q i o irldigena. Vs seus acarnpalnetltils atraiarn servr~ais, trnhalhadores, nego~iantes, toilos forc;adus a aprender as r u d ~ i t ~ e r ~ t o s da linguagcrn a i Lalada; a poupo e pcluco iam-se consolidando os abrigos provislirios e nasclam cida des.

B ) Conslrugdo de obras pliblicns. 0 s romalios co::1 preenderam que para policiar e fiscalizar o terr~thrici ca- reciam de t ,ma-lo de ficrl ~lercurso liela abertura dc es- tradas e construqao de porltes e viadutos. tancaram-sr os

legionirios ao trabaliro, requerendo n concurso das tri- bus indigellas. Assim os lusitanos apt-etrdcram, tlc~ convl* rlio forqoso das obras. a falar co111 romanos, a usar da sua ttknica co~~s t ru t i i fa e a ~dni i r i -10s .

cJ ~ 1 u ~ : i c i n dns d.strudos, ,llas a s gt.anLl~s cslradas rolnallas 11Ao t inhan~, apet ias , fins estratkgicos : visavarlt tatnbk~n objectives econ6micns E pcltiticos, pois iormavam uma r&de em todo o Irnl)&rio encaminltada para Roma (lodos os carninhos vLio dar a Rome . . . I , Assitn se tornava fdcil reccber ge l~ te de I t i i i a e para 19 nlandar dinheiro, mantimet~tos e trollas. O trificn colnercial da flipania con1 Horna chegou a ser muito inteaso : as provincias daqui alirne~itava~n 0s' romanus aglornerados na g ande urbe imperial. L diestradas eratn exceler~tes: lageadas, marcadas corn rnarcos ~rjiliil-ns, ~wliciadas e cor~i mudas e estalagens de cspaco a espaco.

4 Ifirrdn dc rofonus. A famn tlas riyuezas hispir~icas atraia colurios rom3iios e itilicos. Alkm das cdlbnias fun- dadas prla rrpli!,iica cra grati .le o r~irxern de iinniigrantes rli~b~jas a telltar forturia, pelo ct~~ukrcio, pela indhstr~a ou pela uslrra. Muitos se fixavarn p o r c i , vivendo rras cida. des o ~ ~ d e ulna i r~tet~sa vida social os punha em c o ~ ~ t a c t o intimo corn as pop~1Iaq6its 11rsitan:is.

e ) I<ecrn!amento dc auxiliares l u s t t a ~ ~ o s porn as fro- pos lmpenars. J ~ ~ n t a l n p ~ ~ t c c t ~ m as Ieg~Aes romanaa com- batraln auxihiires recrlttados nas provinc~as \lurtos foratn oa q u e daqut jxirtlr~ltl 1 ~ r a a h Iorlgds catnpanl~as do 11orte de Afrlca e JI) t jric ~ t c Us qire regrewavan?, ao cabo de tao de~noradi , estagio etitre ,Is tropns Jo povv-rel, vinham

Page 24: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ra r l~an i~ados de todo, r con~tituiam elerner~i[ls tle petie- tracao cuitural erttre os inOiget~as.

J l 0 cullo do incperzdor. C:urli n i r t lp t r i~~ loi ilnposto a fodos os cidadaos r slibditos n culto religiosn do irn- perador. Era assirn urn culto uomum a ronlar~os e indi- genas, que os aproximava e facilitava a assitnilaqfio.

g) A dlfrrstio do crisfiunismo. TamMrn a religiiiu cris- tB, ao espslhar-se, a b o l ~ a a difel-enpa de cultos c substi- tufa a separaCHo racial por ulna fraterna cornunh2o de lk . Romanos e nAo romanos eraln iguais na caridade de Cristo. Mas o cristianismo vinha todo impregnado de ro- manidade e latinizava os que o a b r a ~ a ~ . a r n .

Sob a acq;io d&stt.s factores, a asstmilasAo progrediu de tat modo nas provincias hisplnicas que, a i por 73 ou 74 da era crist8, j i o irnperador VESPASlhNO p6de cor~ceder a jus minus latirim a 16da a i-Iispinia, pelo que os habitatltes d o extrelno ociderlte adquirirarn ulna posi- ~ $ 0 privilegiada, a dr. latiiii colorriurii.

N o s&culo I1 pode dizer.se que o SuI d o nosso terri- t6rio estava conpletamente rolnanizado : as popuIa$bes indigenas procuravaln parecer romanas, at6 110 traje que passou a ser a toga, pelo que se c11s1r;ava aos assitn ves- tides togaf i ; niultiplicam se as inscriydes. generaliza.se a lingua, surgem as vi l lue rljsticas cujo tipi) de o r g a ~ t ~ ~ a ~ f i o perdura rlos actuais tnofttes aler~lej,inos, adquiretn muitus natives a cidadania romana por coocessao especiai, ~ v o r a

ergue o seu templo de Diana e EstrabBo dd Pax JliIia como modElo de cidade provincial rofriatiizada.

A o Norte as caisas nil0 corriam tao bcm. As dificul- dades das coo~unicagbes no territ6rio acidentado, a rv. deza e retra'imento d o s habitantes e o seu natural rebelde, o afastamento dos cerltros da civitiz;r~ao, dificultava os progressos da assimiiaqAo cultural.

Notc-se, porem, que rnesmo no SuI r19o se atjngiu nus lnonumentos e obras pljblicas o grau tie grandeza e de riqueza de outras provincia~.

Cornpreende.se assiil~ que, no coinkqo do stculo III o irnp6rio estivesje maduru para receber a concess8o feita pelo irnperador CAKACALLA, )?a cSlebrr constifui'gdo antoniana de 212, da cidadanoa ratnaila a todos os habi- tantes d o IrnpCrio. exceptuados 05 peregrines dedillcios.

Em -.uirtude desta coi~cessao a quatidade de cidadeo romano, at6 al reservada apenas a poucos, passou a ser i.eco~ihecida a todos. Ora como os cidaddos romarlus ti- nt~ani o e~c lus ivo de certos direitos e da aplisaqao das leis romarlas, esta provirtdencia produziu n ;feito de ge- nerallaar (1 uplkafdo do Q'lreltu rornnno a todo o Impbrio e iguolor os direllns de todas a s habitantes livres.

At& 212 havia uma rnetrdpols {Roma) e nm povo so- bernno (o conjunto dos cidasjBos r ~ m a n o s ) a que sorres- pondiam ptav&ncin.s suhrrzetldas e sdbdilas (0s nao cidadaos residentes oas provfncias). Era uma esp6cie de lmpdrlo cnlonlal.

Depr:is de Caracalla todn o territ6rio do imptrio adquire o mesmo caricter de solo romano e todos as ha- bitantes livres e nuo drditicios Ficam scndo cldadaos ro- Inlanos.

Desde etltso, a vida da Lusitbnia funde-se na vida d o

Page 25: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRrA DO DIREIT0 PORTUGUES - - - - - - - - - - - -

ImpCrio e segucc a sor t? dele. A (:n~iqtitui'~io de Caracalla marca o terino do procrsso d e assimilaq;io rornnna das ~>rovfncias, embora a e q u i p a r a ~ t n n io filsje cnrnpleia.

Ngr! se pellse que err1 todns os r e c a ~ ~ t o s do rlosso tcrritdrio se encontravatn cidadgos como os de R o ~ n a . A rotnanizaqdo estava p~r fe i t a llai cidades: mas as popula- Foes rurais, e as serranas sobretudo. persisti3tli ap p a l a s As suas t radi~f ies , '~nat l tendo o set1 cariztcr, quando tnuiio polidas por urn verniz superficial, mas I IO furldo iguais ao que eratn dantes.

Aconteceu n lnesrno que corn a d i fus . ?~ do cristia. I ~ I S I ~ I O : a i novas ideiss ionq~ris taram os ~ne ios urbanas, mas os distritos rurais ipctgo guardaram setrs cultos i i l i i l a - tras e politeistas (o pafonisrno). ( # )

lastitniqoas polfticas e administrativas da Lasitbsia

20. 0 espirito do direito publico romano.

Para se con~preender a influhncia cia d o ~ n i r ~ a ~ i o KO-

rnalia 6 necessiriu coni~ecer, antes de mais ~ ~ a d a , o esuirito que presidia ao govern0 d e Roma e dn seu impirio.

( I ) LEITI.: 111; \ 'A~CL)YI :ELO~-- Rr l in rh~s ds Lils~tR- oia \To]. II pdg. I a 99. I.usrt,Su~a pre romeinn 11w H~stbriu d e Port~igai de Barc~aioa vol. I ptlz. 1.

0 s cidada 1s rotnatios for l~iavam urna cotn~inidade politics, cirnentada llrela cnmanldo de interesses, de go. v6rno e de rlireito . u nupnlus r'ornarttrs.

Mas o papullts romanus r~i%o rra a Soma dos irrdivi duos existentej: cra urns entidade abstracta, mas real, que representava 3 SUCCSS$O das geraqdes derivadas dc ante- passados cornrllts, nascidas na mesma pitria, falando a mesma lingua e venerando os meslnos deuses.

0 populi~s t i n l ~ a , pois, U I I I passado, urn presente e urn futuro clue s e 11go coniur~diam coin 0s do5 individuos, antes os superavam em valor e amplilucle.

A esta existencia distinta correspor~diain intetCsses prhprios e tamhPtn diversos dos interesses individrrais. 0 popul~is era o tituiar dos interesses colectivcs.

P a r a curar dCssts interPsses colectivns c poder pros- seRt~f:los erant rlecessdrins 6rgBos. A cotriunidade ronlaria ocupava.se dos l e n s inter&sses atraves das assembleias dos seas cidadsns, representando t ~ ~ d o o popul i~s, e do con- cell30 dos padres c o ~ ~ s r r i t o s , o LT.)nada; eram Cstes, o Senado e o povo, que dcsignavam a i magistraturas en- carregadas de gerir permauentemente os ~ ~ e g d c i o s p ~ i - blicos.

A cornunidade nryanlzada ist to 6 , corn orgaos com- p e t ~ n t e s para expr i~nir a sua vontrde;~ era o Esfado, a respub~icn.

Homa formava uln Esladn d o t ipo q u e hoje chartla- mos tofalitdrcn, isto 6 , i l u e abrange n o Ptnbjto das suas atribuiqbes tbda a scrrte de manifest;iqdes da vida social.

A reipub'lca propunha-se prosseguir us ideais e os interssses da colectivid,3de, e n8o proteger, garantir 011

serrrir os interkjses dos ir~.lividuos. A vida privarja de cada urn, a educa;go, a moral, a rcligiLo nada era alheio,

Page 26: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- -- HtSTdRIA DO DIREITO PORTUGUES - - - . - . - . .

nem indiferei~te ao E'iiado: ern tudo il~te~~viriha, e titdo subordi~ava A lei suprema d o interPsse pliblico - snlus popull supreme Lex eslo.

Como era impossivel governar s6 nas assembleias, tinha de haver orgaos executivns que expeditamettte exercessem a autoridade.

Enltndia.se, porim, desde os tempos da realeza, que todo o Poder provinha do poplllus, por $le era de- legado e em stu proveito e beueficio devia se: exercido. Aos reis faria-se a dclegac8o pel3 votaq80, 110s con~icios curiais, d a lex regfa curitatu de irnperio; sob o regime re- publ ican~ , em vez d o rei eram dois cbnsules que anua1. mente recebiam o poder, da mesrna fornla )lor uma l e s carlata de impers'o; e a ~ n d a na tempo dn Itnpkrio en- quanto durou a diarquia, o Prfncipe era iilvest~do pelo Scnado, em noille do povo, por uma [ e x re@ deimpcrio.

Assin1 o poder ~ ~ u n c e podia considerar-se direito ou prcrrogativa pessoal dc quem mandava : mas f u n ~ d o , isto t, autoridade em nome alheio para ser exercida e t t~ prn- veito do dono.

Todavla, ernbora aobretudo no rtgime republicaiio se rliuldisst. o pader em frac~aes distribuidas por vdrios magistrarlos para uas aos outros se lirnitarem e fiscaliza- rern, as atribui'qOes dos magistrados delegados do povo romano eram arnplissimas : uma vez delegada a autori- dade, quem reccbia exercia-a l a rgsme~~te no 2mhjto da sun con>pct&ncia.

21. A camunidade remana a o s seus subditos

Ijissernos qlie o poplrIus romanuj era conlltituido pelos cidadaos romanos.

Alae el11 Homa riPlo havia 9 6 cidadans. A cidadanla consiatia Ita frcl '~8o de todos os direitos que as leis rorna- tlas admi t ia tn . Ora, sern falar nos escravos, que cram coisas e 11x0 pessoas e portallto siS podiarn ser objecto, nunca sujeitos, de direito, havia pessoas que rlao partici- pavar:l tla vida pulltics du cidade,

Depois, o domir~io de Roma alarguu.se a0 I,icio, P Itilia, as prnviucias., . hi s t integraram ~ n u ~ t o s povos no l ~ n p i r i o r Inas Csses puvos contirluavam serldo estrarlgei- r m ao povo romano.

A qualidade de cidaddo roinano era urn priviltgio ciosamente guardado e drfendido pelos dorninadores. Kuma era a cidade imperial , a metrhpole que sub~nctia ao seu jugo o resto do Mundo. Ser cidadlo romano era partill~ar da soherania que a cidade excrcia, era ser mem- bro do poio-re~. 0% outros povos eram sribditos disse povo, assiln corno as oatrac cidadss estavam submetidas

grande Cidail-. (?tide quer q i l e um cidadao de Roina se encoritrava,

n ~ a i i t i ~ ~ h a n privilkgiu de poder participar nos comlcios e de exercer seus direitos eegundo as leis da rnetrbpole, 56 aas cidadaos rainanos se aplicava o j r d s civile, o dlreito romano prbpriamente d ~ t o , jus proprium clviunr roiaano- ma. E aperws ]-lor excrp@o (.ate Caracalia) s t outorgava a urn ou outro irldigel~a o privilCgio individual da cida. rl.c~~ia p l e t~a , em paga de serviqoa prestados e reconheci- \;lent@ de perfeita assimiia~Ao,

Como a materia rleve ser tratadil na cadeira de Di-

Page 27: História do direito português Marcello Caetano.pdf

reito R o l ~ ~ a n o , lil~~~tar-ltr!s.&inos aqr~i a dizer que a cida- dania ciirnpreet~il~:~ 0 ~xercicio de d ~ r ~ i t o c p r i t r a i i ~ ~ . e de dirudlas pci6liccs,

(3s direitos prtvados eram o jus ci~arinbirrrn (direito d e contrait justas ~ttipcias), e n jus ~ o ~ t r m z ~ r c ~ i (ciireito de adquirir e trartsferir a propriedade pelos tuodns de direito civil).

0 3 direitos pliblicos eram o jur .si~jjragiil ((rlireito de votar rios ctornicios) e o jus ho/iorum (direitn de exercer iun~Bes pliblicns, politicas ou religiosas,,

Ota no lnlptrio dp Rilma ltavir, portanto, n ~ i ~ i t o s ndo cldodaos, q u e si: classificavani nulu de tres grupos:

a) kosfes. 6) barbnri. c) peregrlnl.

u j 0 s koslds erdnl os i n i m i g ~ s de Roma, aos qlrais os rornanos n8o recnnheciam nenhum direito.

b) 0 s barbnri eram nq mcrnbros lies ~ ~ u v o s q u c II&O

rnantinham cnm Ron12 reia~Des de amizade, nern trrti~arn flrrnado irdtado,; e como n?,i, hdvra A I Ieia de clue Korna pudrsse rnalrtcr rz la~des d r direrto cotn povas descot~he- c~dbs, os barbarus tanlbtrn n io titlhatt~ direllos <, emhora em paz, erawl equiparados aos rnim~go,.

c ) 0s pevegrini ararrr os estrar~geir~ls a cidade F seus equiparados, a queln sc re:o~lhecia algulrt direrto.

Havta virias cate,:nrias de o e r e g r i ~ ~ o s :

1 - pcregrlni dedititii, er arn os ll~enlbros d? povos que , em castigo da sua resist~trc:a 30% rornatloi, tinham perdido tbda a autonomia, e a i n d a os refens, e 0 , ir~dirlf.

duos condenad~ts por ser~tr~lca a perda da cidsdania: rlLo tinllarn direitos, regiarn-ce pelo j r is genfium.

2 - pertgrini prripriamerlte ditos, eratn os tncmbros dur p l ~ v o s alia+.ios e os habitarlies das provincias . aplica- va-se-lhes u direilo dus suds ridadcs quar~to a casamento

Crank. e bucessfies e o jus gentiilrn no re. . . .

3 - - perfgrin1 priv@iadrs ou Ie l in i , eram as mern. bros de cidades a q u e m i8ra coriferidi> o privilkgio de utri:: ien~i-cidadauia. 0 s lattni podiarn se r ;

--lntini v e f e r ~ s na? c ~ d s d e s cot11 o direito das antigas cldados do LBcio ;

--lotr/d celal~inrii nas cidades a quem fbsse conierido o direito pri~nitiva~nettte dado as col6nias do Lhcio, e que aitlda potlia ser :

- jlis muins lntir~rn, -. )as minus ltriiuni.

- la t in i junin:?i , ernrn os s imples libertos.. 1:oi a jr1.s t~sitrus ~ ~ I H I L : I Z . y l r t TESPASlPINO concedeu

a HisJ?Ltiia. P<)r v i ~ t u d . drlj., toclos os habitantea das pro- vfrt,:i:.s pcr~insill~l.rs ficararn sexdo lofirti coloniarii corn a f ac~ l ldnr l i rle adqiiirireul~ a cidad~rtta rornaiia desde que exercqsserrl u.ria rnagistratuia local. Corn 0s ex-magistra- (ins, inmSCrn adquirraitt a cidadntiia suas mulheres e mais seis parelites tm litlila recta.

Todos os rt2o-cirialigos estava~n, portanto, fora do lii,vo romanc~. pertencia21 a ctutros povrls qlre eram srIb- ditos ds coraunidade dos cidadacs rnrnaric;r.

0 dlrritr, romano era privilitgio do5 cidadios. Aos niio cidadios splicavarn-se outras normas r 56 em ccrtos

Page 28: História do direito português Marcello Caetano.pdf

casos l l~es era permilid!) regerern-sr: por certas leis roma- rias, ou sryundo p r i~~c lp ios extraltlos do direito de Rorl~a.

22. A divisao provincial.

Prirn~tivarr~rnte cIlao~ava-se proviticla, ern direito ro. rnallo, ao iml~it; i das atribuic;dcs conferidas crt~ especrdl a urn tnagistrado curl2 irnperio (ist;-I 6, urr~ cirrlsul ou ti111

pretor). Ora, os primeiros yoirer11aJores et~viadus a o s terrl-

t6rios c o ~ ~ q u i s t d d ~ s era111 prrtores. aos quais se conie- riam certaa atribui'g0cs a exercer em detcrmitjada circutrs cric8o territorial: receblal~i, assim, as s u ~ s proviecias.

Daqui o passar-se a dar i paiavra pruvincia, pri~neiro, o slgnificado de - gorirrro de te r r i id r io ford da Itcilia ; e depois o sentido de - te r r i t6 r jo fura da Itrifia subrneliilo a ] u r i s d i ~ a o de urn r ~ i a g i s l r i ~ d o CIlm itnoerio, I I )

A) DivisBa provincial da HispBnia. At& 197 a . C. - Nos p r ~ ~ n e i r n s tempos cio contact0 dos romanos corn a Peninsula h i s p i r ~ ~ c a esta era t e .~ t rn d e guerra e neIa man- dava apenas o coinandante-chete das operaqdes que, o u

era urn do5 c8nfulcs ern exercicio ern Roma, ou um pro. cdnsuI, isto C, U ~ I cdrisul a quem se prorrogava a magis- tratura alem d o ano de d n r a ~ 8 o ordiniria a-hm-de conti- nuar a campanha por &Ie eaicetada, visto que entilo 56 ns c h n s ~ ~ i e s t in l~am o itnpcriunt rnllitar.

0) Divlseo de 197 a. C. - Em 197 a. C. fez-se a pri. rneira divisto da Pe~iifisula em provfncias, crernda.oe dua.: a Hdsp&nln citerior e a Hfspdnia ulterior. Cada urna era governada por urn prptnr eleitn em Roma para, como magistrado d x cidade, exercer o governo fora de Itdlia. h l a i s tardc, por tm, SILh determinou que todos os pre- tores exercessem primeiro dclrantt um auo as 3uas fun- ~ b e s em Roma. Passado o ario porlia prorrogar.se, aos pretores comn nos c8nsules, o sell irr!,~crlnrn a-8m-de i rc~n governar provincias: charnavaal-se, entlo, pro.prelo- res e pro-cbnsul-s, siynificendo o oro q u e a magisfratura

J,

fdra prorrogada. Havia provincias consulares e provftirias pretbrias,

as prirnejrnc para pro-cBnsules e as segundak para vro- mpretores.

Em 53 a. C. deterrninou-se que entre o exercicio das turlfBes em Rotna e a norneaqilo para as prnvinciat hnu- vesse o interval0 dc cinco atlns, o qur equivaleu a reparat as duas espkcies de furlfnes.

C - OlvlsBo de AUOUSTO - - Sob o pr inc~pado de AUOUSTO a penItisula passou a comprer l~der trCs pro- vfr~cias ' a Hisparlia Tnrraconcnsis (antiga clter~orl , a Bac- t ic! e a I tisil&nla

Dab provtllcias do Itnpki-10 umas continuaram gover- nadas pelo Senado em name do povo romano e por lsso

Page 29: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTliOUES - - - - - - - - - - - - - - .- - - - -

se chamava!rr provCrxius semtoriaiv ou provlnciae populi; as outras, que tram a malor parte. foram confiadas pclo Senado au lrnperador que, 11s qualidade de pro c&nsul, as govrrnava, e desigrlavam-se por provir~cias Imperials.

Como o lrnperarlor era o supremo chefe niilitar, as tropas estavarri rlas suaj ;~roviricias e, portanto, todos as territhrios nail i r ~ t c i r a n ~ e ~ ~ t e ~>acif~cados tinha111 iardcter de imperiais. A o >erlado cabiarn aperlas as provincias ro- manizndas e eln paz, o ~ ~ d r 119r1 fSsse 11ecessArjo ter legifies.

As provfncias ser~atoriais crart~ goveriradas por pro- -cdnsnles eleitvs pelo Setlado: rnas o ~prefixo pra passou a signifrcar o caricter provincial da tnayistratura e 1130 jd, cnmo outrc~ra, a prorroya~8o de urns ni~yistratura ro- marla. Assirn, u pro-cdnsul podia ritrrlca t t r sidn consul . E hailia prn~cbilsules consulares para as prurril~ciae rnais import.~nte.s, r prn cbzlsules p r e t o r i a ~ ~ u s para as outras, em mern6t.ia da ar~tiga distirl~au di. ::crvtrr~os. 0 pro- -cbtliul era cohdjuvado pur rnagistrados tarnbk-11 designa- dos pelo Senado.

Qllar~to as provI1icia~ imperiais, jP tlijsen~os que o Scrlado elegj~a pro.cOirwl delas ao Imperador, drlegando arsim, prirneiro pur period(1s dr dez anus e depnis per. p&tuamente, os poderes governativos. O Imperador no. meava, por sua vez, deiegados para i r govsrno das diver- sas pruvfrlcias, prs prelorc.~ ou legati i lugvst i que tinharn, a mais que os pro-cbnsiiles, i j comat~do das triipas aqurr- teladas ou estaciunadas tlas resprctivas provilicias. ernbura tebrica~nente Cbssern tie irlrrlor categoria que os pro-cbn. sules: nAo eram, comr? hies, magistrados do povo ramatlo, mas simples Iunciondrios do i.uperador, e no guv6rno erarll coadjuvarlos por outros f i r ~ c i ~ ~ n i r i o s .

Uas plovliicias per~i~lsulares s l i ulna era senatollal ( o

- HISTORIA DO DIREITO PORTIIGUUS -. -- --

que significava estar bem assimilada): a Baellca, actual Andaluz a. As outras duas cram imperiais.

D - DlvlsBo de CASAOALLA - Em 212 Caracalla criou ulna nova pravincia corn os territ6rios da Galiza c das Astitias, e chamou-lhe Hispanio nova Cifcrlor A d o - nlana, mais tarde ctismada em Oallarclo.

E) Dlvlrao de DlOCLEClANO (Jc, IV) - As rcfor- mas d o tempo d o lmperador Diocleciano marcam o lim da chamada dlarqula ou govern0 simult&neo d o Prlncipc e do Senado : o Imperador torna.se s0beran.o absoluto dc uma monarquia fortemente ccntralizada. Come~a o rcgi- me do Beixe Imp&~io .

O Senado de Roma deixa de excrcer papcl polltico e fica reduzldo &s funqties de mera clmara municipal da eidade, como ainda hoje le : desaparcccranr, pofs, ae pro- vlncias senatoriais.

Foi lnstitufda a trtrarpuia: o poder imperial era in'- divisfvel atributo de dois Augustos, coadjavhdos por dols CCsares.

0 Imperio toi dividido em quatro prrfelfuras, cada uine por stla vez divididr em diocrses, que cnmprerndiam p~av lnc ia~ .

A preleitura das aklias abrangir a dioccee da Hispa. nir e nest& havia seis provlncias: Tarroconerrsc, Bktlca, Lusttdnlu, UalCcia e Cortagkmsc na (Europa) e Maurf- tdnia-Ttngitdnla (em A'frica).

0 s governadores das provlncias eram correntcmente denorninados praesidts.

Page 30: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUGS - -. -.

HISTdRIA DO DIHEITO P O R T U G l J f S . - - - - -

23. AdministraqBo das provinaias.

Vejamos agora como eram adtninistradar as pro- vlncias.

11) Qovernador. - ]A virnos que o goverr~ador das provincias romanas teve vdrias desigtlaqbes : pro-cdnsal, prctcr, pra-prctor, le,oo!us Augusfi, pra ses provlndac.

Nas proviricias irnperiais jap6s Augusto) Ple e r a : - representante d i ~ e c t o do Iniperador ;i quem esta-

va subordi l~ado, de qrletn recebia insiruqdes e a quem tinha de prestar contas ;

- suprema autoridade rnilitsr, comandar~do tbdas a$ legides e coortes auxiliares e s t ac~o~ iadas o u ern operaq6es na p r o v i ~ ~ c i a ;

- super~ntenderite do govern(>, d n adtninistrapo e da fazetlda pi~hlica ;

- tnagistrado superior, corn poder de administrar justica, em liltima ir~siincia, aos cidadaos e aos i n d i ~ e i ~ a s , assi111 rio fhro civil cnrnrl n o crimi~lal.

Na impossihilida~le dr julyar po r S I ns processo, c iv~s , o governailnr norneava certos aurtliares para deci. dirern em seu norrle, escolhidns de eritre o seu cnnsclir~ni : sob a Rep6blica era o Senailn que desjgnava os couse- lheiros ou legrtli que havia~n de acotnpanhar n goverrla- dor, qudsi sernpre da ordem dos senadorrs, mas ap6s o Impbrio, se nas provincias senatoriais o uso se co~rservou, rlns imperiais ns atlxilinrcs d i ~ governador eranl fur~ciorl& rios retribuidos, deno t~ i~nad i>s assessores oil cntrsiliurii.

Quatilo as finali~as provillciais estavatn cf~nfiarlas, no telnpo da Rttp~ihlica, a uin magistr;ido allxiliar -- n qirts- lor, que talnbCrn jutgava certas qr~estdes policrars e wdmi- ~ ~ i s t r a t ~ v a s . Depois do Imptr io continuou a haver questo-

res nas llrovilicias senatoriais, mas nas imperiars, como nao exi$tinr~r msy~str?dos delegados d o p o w , as suas funqbes estavam corifiadas a uln prdcuratnr Caeswis corn grarrrle i n i lu$~~r i a linlitrca pur ser da confiarqa do Impe- rador.

0 qrlrstor era a autoridade mais importante, ap6s o governador podelldo substituf l o q~tarido n~cess8rio.

bj Ass~mblein pravitfcial. -Anuaimente ceiebravam-re ]la capital de cada provf~icia assembjeias constituidas po t deltgados (iegati: das suas dtvervns comu~iidades ou ci- dades : essa assembleia provincial ou concilitcm provinciae teve origern nn culto Be Augusio .E de Koma, elegia urn Sr~rno Saci.rd(~te istrrerdos pltovlnclac) q u e depois a presi- dia, P celellrava 0 s riins r sacrificios cultuais,

Acot~ieceu, ~lll~k111, qlie apbs i) exerdcio das func6ea rtligiosas as assenihleias discutiam neghcios provineiais, f o f r ~ u l a r ~ d o vutos que urna d t l ~ u t a ~ a o ia levar a o Impe- rah:, e louvando ou ce i~su ra t~do o governador. As cen- suras'aos over ti adores riao poulas vczes originaram l?ro. cessoe contr'i @stes, e pur isso eram telnidas, doude nasceu a ~ L I I I C , ~ ~ fi5caI1zddora c ~ n ~ ~ i ~ l e r n d o r a d a s As,etnbieias,

H i fltrticias da Asseinl,leia provincial da~ tus i t an id at6 a o ano dr 322, rleve~ldo a sua sede ter s ido ern hlkrida (0,

c ) Admirtistro~rio d a jrrstica. Jh dissernos quc o GO- ~ ' e r n a d o s adniillistrava iustiq3 quer aos ciiiadaos, quer aus 1jao ~ri r lad~os . SCbre c;s 1180 c idad30~ fi l lha jurisdi~ilo ili- tilita,da! Inas q i ~ a l l t o R O S cidaddnb n8o s i kstes podiam

.. ..

(,\ [,l;lTl; i.)E iTASi!oX~.'l~:fJ IS -- Kt , i?y iJ~ , i J ! ~ ! Lid.?$',

t , i~?iz , Volt Ill, pig, 315

Page 31: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- HISTdRIA DO DIREITO PORTUGUES ---- _

optar nas maftrias civeis pelos tribunais romanos. como tinham o direito de apelaqao, primeit11 para ns comicios, e mais tarde para o Imperador, das sentenqas que os con- denassem 4 morte. No Hm do Irr~pkrio liouve, yorCm, governadores a qucm loi conferido o direito de sentell- clar k morte.

Nos primelros tempos da dornit,a@o .romans o go- varnador deslocava-se em cerlas datas as principaie loca- lidades da provfncia para ministrar justi~a. Nessas datas juntawarn-se. rros lugares a que ia o governador, os cida- ddos romanos da vizir~hanqa - era o conventus c i v b m roc manorrim.

Mais tarde comcqou a chamat-se conventas Q circutls- cri@o que tinha por capital a Irscalidade aonde o gover. nador ia ministrar justiqa peribdicamente.

A justiqa era minjstrada em pdblico, ans cidadaos e aos nPo cidadlos, e o governador era acorn panhario geIos seus conselheiros ou assessores,

Na Lusitsnia havia tres conventus~uridici, dois don quais em territ6rio hojc portugues : o Esccllobituno (Salltarim) c o Patincd (Seja), sendo o terceiro o Emcritense (Mtrida),

Na provlncia Tarraconense estavrt abrangido urn conventus que hoje d territ6rio portuguks : o Bracarensc (Brag&).

2 4 . As cidades das provlncies.

Dentro de cada provincia a unidadc polltico-admi- t~istrativa era a civilas.

ALC a o sCculo I1 da nossa era, por clvitas derignbre,

-- HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - --- -. - -

sbmente, a comunidorle polffica lndfgena dotada de go- virno t? Ifis pro';~rius.

Depois desse s6culo tantn se charnava civitas ,I cornu- didade irtdigel~a, colin i comunidade organizada ern mul- des ronianos.

Em rigor esta culnunidadz habitava, 1190 urn aglo- merado, mas U T I I dlslrila, utna circunscri~ao. A comunidade individualizava sc por todos os seus membros acatartm o mesrno govkrno e obs~rvarem as nlesmas le is .

fiavia comunidades urbalias e comunidades rurais. Comunidades arbnnas. - 0 seu centru era a urbs,

povoa~go importante, murada, onde a vida social se tecia de relaqlies complexas, fruto de comtrcio activo e maior divisao d o trabalho. A' sua roda estendia.se o territors'um or~de, aqui e aii, se encontrava~n pici (aldeias abertas), castell1 (aldeias l~~rtifica das! e villae (graudes propriedades r~isticas). A's vezes o territlitio divid~a-se em cantlies, para efeito d o culto religiose : cs nagi.

(~onlrrnidades rurais. - Estas n20 conoistiarn numa grn11,de povoa~8o coin seu tcrritbrio suburbano. mas nurn vastd, dibtl-ito povoado de vlci e castcrlli. Uma aldeia mura- da c&,t i tral (appidum) servia de capita1 e junto dos sew nluros se fazia o mercado e se reiinia a aasembleia do$ diversus pnvos do distrito, em vasto terreilo a tal desti- nado (concifiabutum, foram).

As cidades das provfncias rotnanas eram, umas, a n - tigas comu~~idadrs i r~d lgen~s que mantinham a sua otga. 11iza~40 ~pritnit~va ~nais G U menos alterada prln con. quist ldor: cham.ir-lllcs-&mos cidczdcs de l!po irtiligcna.

Outras train comui~idddes renrganizadas segurldo rr1011jes r~rmarlos o ~ t jB furldad~s p ~ l o s rnmalic;s : cllarnar. Ihej-Pmns r l d a l t s d~ t i p ) rornano.

Page 32: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 33: História do direito português Marcello Caetano.pdf

W l S T b R I A DO DIREZTO PORTUGUES .

Por lsso ndo psrfenciam d prnvdncia rornana em que se achavarn eneravadas ou em cujas frontelras existiam.

Conservaln as suas leis, os seus magistrados, oa sous exercitos e a propriedade do seu territdrio, que Roma co:isidcrava estrangeiro : nao dependem do governador, nern tCm guarnigao romana.

A liberdade era-lhts ass~gurada : a ) ou por urn t rahdo de amizade, submisslo e alian~a

feito For tada a perpetui'dadc e garantido por juratntnto ( f c e d u ~ ) , - e entao ternos uma cidadcfederada;

b) ou por tratadl) t~ao jurado ou por acto unilateral do povo rorrlarlo ( l a ) , o que signlfica tratarbse de tibet- dade preciria, a todo o tempo revogavel 4 mercE de Ro- ma, e temos a cidade livre, BCm maia.

As cidadea Itvrcs, nao federadas, eram, por via de regra, iser~tas d o pagam~nlo de tribuio: i!?ilnzunes. Hi exemplos, porhm, de cidades livres obrigadas ao paga- mento de tiibuto (nao imunes).

Tadar as cidades livres tinham obriga~des para com Rorn?, scndo as das federadas est~puladas no tratado de alianca. Essas obriga~aes connistlam em nao fazq paz nem guerra sem permissiio de Roma, perrnitir a pas$agem dt tropas ro nanas nn seu territdrio em caso de necessi- dade, iornecer viveres, soldados e ~ ~ a v i o s a Roma em caso de gnerra,

27. eidades ds tipo rornana. - A) Colbnias.

Charnamo~ cidades d~ tip0 rornano as organizadas pelo mod$lo de Rorna ou das cjdades latinas, cujos cida. dPos tinham a cidadania romana oil o direito do8 latinos;

Coffinla, no tempo da RepSblica, era uma cidade fun- dada nas provincias poi- r~~solu@o do poprrltrs rornanus, cnm cidadaos vindos de Roma (coldnla rornana) ou do LAcio (coldnia latina!.

Mais tarde, sob o Impirio, deu.se honorificamente o tftulo de coldnia a cidades que nao estavam ncstas con- dic6es.

Sob a Re[.liblica, resolvida nos comlcios a fundaqao da col6nja, vntava-st o reu estatuto - iex colonlae - e eleglatn-se os cnmissirios extraordinirios encrrregados de o erecutar.

0 s colonos primitivamente eram legionaries no activo ou rctormados (emeriti); mais tarde aproveitaram-se agri- cultores e desetnpregados,

Escolhido o lugar em que se devia erguer a co16nial fazia-se a dcdrictio ou emigracdo dos colonos tendo A sua frcnte os comissirios eleitns pelos comicios para, em nome do povo, fundar a nova povoa~go.

Quando chegavam ao sltio designado, formavam mi. litarmente corn bandejras e insfgnias : depois es comissd- rios de Rnma tracavarn o suIco de charri~a que assinn- lava os limites da povoaqPo,

Nem sernprt a esta povoaqgo correspondia urn terri t6rio: mas muitas VeZe6 assirn acontecia, ficando os nircleos de populaqao indigena neIe residentes dependentes das autoridades da coldnia (contributi populi).

A 0rganlzaf60 inberna da coldnia sob o Imperioera do tip0 municipal. Mas tlos tempos da Repdblica, as co16- nias dg cidadaos rornanos erarn adminislradas pelos ma- gistrados designados por Rama, visto ser ai que a cornu- nidade dos cidadaos tinha a sua s ide politics.

As coldnias tinharn diferentcs estatutos e direitos

Page 34: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A D O DlRElTO PORTUGUES - - - - . - - - - -. - - - . - -- - -

cor~soantc era111 constitui'das por cidadaos romanos ou por Latir~os. As culo~liae lutlnae gozavaln de major autonomia visto encontrarem-ae subtraidas a j u r i s d i ~ i o d o gover- nador da provlncia, em pogiglo analogd h ilas cidadas livres.

A illgumas col61lias foi concedida a especial prerro. gativa do ]us ifalicuni, por virtude d o qua1 o solo do seu territririo ficava sendo susceptfvel de perfeita proprieljade itidividual (ex jura Qnir i t inm: e passavam a ser iser~las de impastos.

28. e idadas de t ipo rornano: 8) Municipio.

Por esta palavra maniripiunt dcs ig~ la~a tn - s t cidarles indfgetlas, pr i~nciro do I-acio, depois cia Itilia, e rnais tarde de ai6m dos Alpes, acolhidas Ila c o ~ ~ ~ u ~ ~ i , d a d e ro- malls, j

Mas os rfeitos dessa 111tegra~Bo P que 1!2$ foran1 os mennlos eln todos os ternj~os: variaram do alltigo direito para os riltlrnos tempos da Kepdblica e d$stes para o Imperio.

A tran&ftrrmaqflo de uma civttas em rnunl~~pium re. prcserltava, s o b a Kepdblicn, a perda da priinitiva inde- pendencia local: a cornuriidade rnut~icipal C co~~sil.lerada colnil fracqdo da cornullidade rurllaria, desta destacada ; 0%

cidadaos do rnullicipio s A o cidadaos rilmanos, umas vezes optlrtzo lure , outras slne su/frayio (iatil~os).

0 ctdad20 da cidade a qua1 Koma outoryava o fbro mutiicipsl nito podia invocar a sua pritnitiva p i t r la : d'dra avar~te a sua patria C Roma, - Rorna comrnlmis nos6ra patria esb. G~rnun idade soberalia, o u seja clvitas, havla

urna s6, cnnstitufda ptIr R o ~ n a e pelos hlunielplos c co16- mas, e 6 dela que os ini~riiciprs, corno ns rnm ~ r ~ o s , oRo cidadans, lrnrtls urbrs clves eramus. O Ebtado rurnann, deixa asslm de ser a expresstlo polftica da c o m u n ~ d a d e formadd pelns 117turais l i e 111na urbe, para pnsvai d ex . prlmlr u conjr~nto dos terrllijrirlos ciijos nuturnis f2nt 0

fiiru dr crdnddos rornanns Da cldede-estsdo pnssou-se ao Estado-integrador d e cldades.

S o h o lmuerro dtu-se tr ~lnrlle de mu~licipio d qual- quer cldrtiit rie t ~ p n rornarlo, mcsmo que itgo se trataase de ulna a~iilgd cor~lur l~dade pc~l~t lca lrldfgrr~a colect~va- rnerite llltegrdda rtn d~rtl tcl romano, tnas sim de urna cn- I611ia, - fu l~dada , fu or tali to, j6 p i r romarlos o u 1at111os e , d e ~ d c a ortgem, rotnana o u latitla

Consoante o; cidadgns da c ~ d ~ d e tit~llaln os d ~ r p ~ t o s de cidadaos rornanos 011 d~ rnercJs lat~rtos, assim o Inurll. c f p ~ o se d r z ~ a rntrrricipio rnnlano ou rnurlliplo latmo.

29 Municipio (cont.] : O r g a n i z a ~ a o municipal.

Inicialrnente as relaqnes entre o municipic~ e o Estado Romano eram zstabeircidas por um estatuto especial- rne~lte elabnrado para cada caso: a lex marriciprzlis.

Como & naturai, poretn, as leis novas i a n reprodu- zirldo disl~osi@es de rnutras atlteriores, di311de res~iltou certa unifurmidade dos estatutos das diveisas cidatles. Em 45 a (I., soh 3 ditadura de CESAR, vai~se para a eI~borac$o de leis-padrbej, cc~niendo preceitcjs que de- vjanl c i i ~ ~ j t a r dos esiatutirs de tnhfos 0% n~unicipios : come- . qiju-sr peia Itilia, para a quai fa1 elaborada a ie.rJu1ia

Page 35: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O K I B D O D I R E I T O P O R T U G U f S . - - - . . . . . . . .

~ ~ . . . . . . -. . - -. -

municipalls. Sob o Impkrio outras leis se seguiram corn o mesrno carActer.

Enquanto a cada municipio correspondia urn estatuto especial nao se pode falnr de um regime manicipal tipicu : umas cidades tinharn ~naior , outras lnelinr autor~on~ia. No tempo da Rep~bl ica parece que imediatamente ap6s a concessao do caracter niunicipal as cidades, desde entao govertladas pelos ~nagistrados romanos, perdiau~ etn [ i - berdade. 1)epois verificon-se a impossibilidade de manter a concepcao de tlma comunidade dnica de cidadaos ro- manoa repartida pela urbc-rnai e pelos ~nunicipios e go,. vrrnada pelos mesmos magistrados, t procurou-se reprb- duzir em cada munlclpio as inst1tuT~6es de Roma - em- bora se mar~tivesse ainda, na maior parte dos casos, a intervenqho fiscalizadora do governador da provii~cia,

A cidade livre C um Estado independente: o munici- pio a parcela dc urn Estado, subordinada portanto 110s aetls interesses i s superiores conc'eni6neias d o todo a quc pertence.

NO principio d o Irnpkrio os municipios em geral go- zavarn de certa autonornia dtntro d o s limites d o seu es- ta tuto: cobravam receitas c gastavam os seus dinheiros no que bem lhes parecia, tinham leis prbprias, magistra- dos para administrat justi~a,-e alguns--, embora poucos c ~ n h a r a m moeda e levantaram tropas.

Vejarnos quetn 6 que representava a autoridade pr6- gria d o Municipio, quem falava e agia ern norne dele, isto k , quais os orgaos da adrrainlstrn~do tfianicipal rornzna.

a) C,lrniclos. - Assi~n coino na Rotna republicana, tambCm nos mur~iclpios provitlciaia, at6 ao skculo 11 da tlossa era, se reiiniam comlcios por chrias (cornifia curiala) ou por tribus (coniilio fribuia): em peral, 03 primeiros

.- --

H I S T O R I A D O D I R E I T O P O R T U G U E S - -- - --

encotitrava~n,se nos ir~unicipios prbpr~ameriie d ~ t o s e os seg~ltrdos nas colbn~as, rnas 3 distlli~Bo n t m sernpre sc n~antkm

\6 tabrrlar1a111 p a l te no? cotnicios nq CI lad8os do Mu- tt~cipio ( C I V P S , r n u n i c [ ~ ~ s ) ou sejatn 0s llolnens lrvres cot^

siderados or~gtridrios dele korigo) par qualquer das rdli5es admit~das em drreito - tiascrmer~to, a d o p ~ a u , rna~~umissfio, adrnissan pelos comicros. C)s habitantes que nlo possuiani a origo eram nleros ~ ~ z c o / t ~ e sen1 ns direitos e os deveres de clcladaos.

0 c s ~ ~ j u t ~ t o Jos c~dadaos fortnava o popuias. 0 s co- mictns tiriharn ilnicameule f u n ~ a o eltitoral.

bj Ordn dectrrio~lum.-Cl rnsis alto nrgao da adminis- traqgo do Municipio era a assetnbleia ou cor~selho dos decuri6es( ordo decarionrim) tarnhkrn chamada Senedo e depois Cu'ritr,

Era constituido em regra por cem n~ernbros vitalicins, recrutados entre 0s arltigos mapistrados ou outras pessoas por Pstzs escolhidas de entre as co~~sideradas aptas por possuiren~ idade, riqueza e costumes que permitissen] a sua iiiscrifio no &hunt curiue. 0 s decurides ct~nstituiatn a ~na is alta classe social do ~nuriicipio-.splendidissirnus ordo -e tint~arn certas hot~ras , lnlunidades e priviltgios, corn. pensadores dc s pesadus encargos (manera) da funqgo.

(J conselho dos dec~lrides pronut~ciava-se sBbre os assui~tos de ititerPsse da cidade e julgava, em recurs" das senr~.lIG:ls dos r~i,~gisrrados, cer t<~s questdes admitlirtlatirras e civis Quati~iil < : s c<,r~~icios deixsrdu~ de reiir~ir foi tam- b t t ~ ~ ao Sel~a,lo que cijub? a ci)~nl~etCr~cia pzra eleger os m,agislrados e s:rccj dotes in!!l~i: i l~ais.

Page 36: História do direito português Marcello Caetano.pdf

nais permantes pertenciarn a utn colCgio d r magistrados em nutnrro variavel : em regra dois nas coI6nias e q u 111-cl

110s tnunicipios, mas que ern rertos casos cllegou a seis e oitu.

0 s q u a t r ~ magiitrados qrle nrdi~tariarnente rxistiarr~ nos municlpios repartiam-se i:ll> dnis grupos:

- 0 s drr[unvirl j u r ~ d'cilndn [ou i ianv i r i j , d., cotno tatnb&rn se podc dizer) qrte correspondiatn aos cb rsrlles de Roma, prrsidianr ao j co~nicic)s e ao setlado, superr~l- tendlam no govern0 rnunic~pal e !bas i i t lan~as, c rnit~istr;l- vam j u s t ~ ~ a civil e cri~ninal; de ci~tcrc em cincu altos ca. b ia - lh~s elaborar 1) cetiso e a lista das pesoas aptas para servir como decorides (olh~rrn curiue) p tnmavat~t enlRn, corn a i ~ ~ t ~ q i l o cle cerrsores, o nnin: de diurnviri guinquennles.

- Qs duurnviri or.filt.s, erarn 0s q!re se clcupalrarn dos neg6cios de poiicia, abastecitner~to, ohras e uutros da v i - da adminrstrativa corrente - mercadns, edificios, aquc- dutos, jogc~s, li!npeza . . . -- juigai~lio tanltx!in as t rat~s- gressdes i disciplit~a municipal, corn o pader de aplicar multas.

0 edis eram considerados d e tnertor categoria do que os duumviros jiire dicunda, e todns estavarn sujeitos a irrspeccao c correcqao d o governador.

A cer l t ra l i za~~o progre5iiva d o govkr~to [la: prowill- cias verificada sob o luipCrio levtlu r s gotrernar[c!res, pri- meiro, e 0 prlrprio ItnpersJor, depoi<, :i Iitl~scuirem-.;e, cada vez ~tiais, tia vida ir~terr~a dos rrkut~icipiljs.

0 p ~ r i t o rnais fraco de 15das as atrtnrio~nias est i llas

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - .- -. .. - -- - -. -

fInati$a.s 0 s inut~icipios romanos nao fugiram A regra : neles, coin a preocuj,acao dc fazer grandes obras e de agradar ao povo, efectuaram-se enormes despezas que de- pois criaram si tua~fies dificeis, a f l i~nes e escittdalos cujos ecos chegavam aos ouvidos d o Imperador.

No j n n ! do s k u l a I o Imperador j5, nomeia, de vez em qaando, inspectores de fillangas, con1 ~ a r i c t e r extra- ordinarro, tendo {lor rt~iss%o percorrer uma provincia e pBr em ordetn a Caz~l~da do5 rnuniclpios : eranl os cor- rect ores.

Nun1 ciu r~outro triu~~icipio viu-se que os cidadZlos nac, eratn capazes de remetliar as difictrldades corn que se debaria a administraqao 11ical : dai ;i trecessidade de o lmperador nou~ear trrli delegadv seu - curator reipubli- cue escoiliido e ~ ~ t r e pessoas estrauhas ao mr~jticipio e a queni era dada categoria superlor a de todos a s nagi is- tra'dos municipais para cndire~tar- as Linanqas.

No sku10 I i i essa lunqao passa, de ocas io~~al e exce. pcional, a ser permancrlte e regular: todos os municipios t2tn UIII curulur, funcionario iinperial supr-rior.aos lirgBns locais.

As suac atribu'iyfies cr>ineqaram pot srr a gestho das f ina~tqas e do gatritli6tiiu tnur~icipal e a aritn~nistraflo das ohras pihlicas Mas el;] breve os curadores chamaram a si a censurtl que arltes cabia aos qninquanales, e, ap6s Caracalla, foram absorvendo uuttas atribu'icbes d i ~ s duum- viros, tivrriin~ n puder de op0r o seu voto as clelihera- tires e decisbes toniadas e cliegararn a adrnirriitrar jus- t i ~ i i

Convertrra:n-se etn verdadeiros dilurlores dos munP dpios.

. Daqui resriltou o desinteresse, primeiro, e a opressao

Page 37: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIRElTO PORTUGUBS ---a-

depois, dos rn~rriicipes : a la1 porlto que os s k n l u ~ IV e V s3n de decadencia constante das i1istitili~6es mu~licipais

As causas dessa decadencia Foram, principaltnente as seguintes :

u ) a crise econ6tnica que, por gases tempos, afligiu o Ilnpirio e especialmente as provincias, empobrecendo os particulares e ci ianrio grarldes aperros i s f inan~as p!,?, blicas ;

6) dai, a dificuldade de cobrar us i ~ l ~ p o s t o s e outras prestaq6es devidas pelas cidades ao Estado, o que levou a exigir as contribuigbes globalmente l i n ~ a d a s a cada tnunicipio itt~icamente dos mais ricos que eratn os decu- ri6es: e r~ t r r Cles havialn de arranjar o dinheiro preciso, o que rquivalia a tornri-10s s:~iidariuiriente respunsuveis pelo pagamenfo ;

C ) em vista distn, i1i11gu6m qaeria ser decurrao, e era necessario obrigar as pessoas a entrar para a Cilria, pro1 bindo se ale a p r i t ~ c a de actos que pudessem tnrrlar as pessoas incapazes de figurar no Alburn curiae: era vedado abandorlar a c~clade, vender bells de raiz, etr . , e a quail- dade de drcurlbo passava de pals para filhos ;

d ) acresce a isto que, enquanto CONSTANTINO nao se fez crist20, persistia ncrs municipios o culto d~ Roma e de Augusto no qua1 os selladores e rnagistrados municipa~s eram obrigados a participar: ora muitos deler converteram-se ao cristianislrlo e repugnava.lhes ter de praticar tais actos.

0 municipio deixou, pois, de ter quaisquer vanta.

gens para as popula~6es: era apenas uma das p e ~ a ~ da terrivel iniquina de opressao e extorsfio fiscal em que se converlera o g o v e r ~ ~ o imperial.

Nos c o m & ~ o s do skculo IV ainda os governadores das proviucjas foram sensiveis aos queivumes dos povos e nomearam para o s municipios urn sru dclegado, corn a misslo de proteger os hilbitsntes cailtra o s vexames doe rnagistrados : chamava.se defengor plcbls ou defensor clvitaf is.

Mas illlo tardou quc o defensor, passando a ser elei- t o ptlos munfcipes, perdtsse o prestigio e a independbn- cla que Ihe vinham da ~~orneai$o sr~perior t: se rnancomu- nasse corn os demais rnagistrados tias expolia~aes e vlo- I&ncias,

EntRo, as p o p u l ~ ~ 6 e s e~lcorltraram apoio e proftcgtlo l~a te r r~a t nos SEIIS B I s ~ o Y , Ctlefe j i l t s c o m u n i d a d ~ ~ cristils das cidades e que, rtvestidos d e grande autoridade moral e social, vLo garlhando prestigio no meio da dissolu~So cada vex maior dos costumes e da adminivtra~ao d o Irn. pCrio.

31. As cidades da Lusit'dnia

Para cor~cluir &ste estudo, resta-nos ver qua1 era o carecter das cidades da TJositPnia enquanto proviacia ro- mana.

] A vimns que a conquista encontrcrru decidida resis- t&ncia no extreme o c i d ~ n t e peninsular, donde proveio a destru'i~go de muitas citLniase o despovoamtntn d e outras a divisao dos an t~gos povos em novos grurros politicos heterogkneos, a deslncaqao de populacdes, a destrui'q80

Page 38: História do direito português Marcello Caetano.pdf

* de muralhas, a proiblqao de conslrucao de uovas povoa- ~ 6 e s muradas e da f o r t ~ f i c a ~ a o e ampliacBo das txistentes

Assirn, o panorama socla1 e politico das cidades da LusitAnia ~amanizada C mere sombra da organiza~ao in- dfgena prirnitfva.

A) Ae oldades no flm do seculo I . h s e panorama apresenta-o PL~NIo~o-ANTIOU na

sua Naturalls hlsloria escrita n o ano 80 da nossa era e com a especial autoridade que lhe db n facto de, h leitu- ra dos autores antigos e c o n t e m p o r d n e o ~ t e r juntado o conhecimento pessoal e direct0 da Peninsula onde estevt como procurator Caesaris entre o s anos dc 69 e 73.

Ein o texto do livro IV, 5 35 da sua obra quc se re- fere as cidades lusitanas :

~Universa prnvtncia dlviditur in ccrnventus trtts, Erne. ritensem, Pacensem, Scalabitanum. Tota populorutn XLVI, in quibus coloniae sunt quirrque, rnunicipium citrium rom. utium: Latii antiqui fria : stipendiaria xXXv1.1,

Segundo este texto, portanto, por rneados do I.' s t - culo da era crista a Lusltania contava 46 povoa, ou clvi- fates, dos quais: - 5 coldnlos, sendo duas em t e r r~ tdr io hoje portu.

gu&s: Pax (Bela) e ScaIabis (Sanlardm); - I nlua'cfpro de cidadiios romanas : ( jlisipo (Llsboa); - 3 cidades do u n t l g ~ Ldcio, tadas tlo riosso actual

terrrtdtio: Ebora (Prrorn), Myrtill? 1 Mkrtoilr) e Salacia (Alcacer do Sol).

- 37 cidades e\.ltpcndldrias (e nso apenas 36 eomo por err@ diz o escritor) de quc 56 se conhece o noma de algumas.

Observar-se-ti que : a) n;lo havia rlenhuma cidade Itvre; 6 ) o ndmcro de ciliades de tlpo romano era pequeno

e estas encontram,se tddas ao Sul. A organiza$io das cidadee confirma o s u e ja sabfa-

rrlos shbre o caraicter da ocupacxo romana n o extierno ocidente: nao h o ~ ~ v e adesbcs, oSo houve alianqas, tudo foi subjugado 21 fdrca, t a romaniza~ao opemu-se mals acentuadarnente ao Sul.

Se, continuando a seguir I ~ L ~ N I O , procurarmos a or- ganiza~rlo das nutras provincias hispanicas para fazer a comparaq80, vemos que: - na Ritica, havia 4 col6nias, 8 municlpios. 29 cida-

des corn o jus lail l , 6 Iivres, 3 alisdas e 120 estipendisrias (liv, [ I l l cap. 111);

- na Citerinr, existiam 12 coldnias, 13 mur~icipios romanos, 18 d o antigo Licio, 1 cidade aliada e 135 esti- pendiarias, alem de 294 cidades subordinadas a estas (liv. 111, cap, IV),

Era na provincia Ciierior jou Tarraconmse) que se encontrava o distrtto judicial bracarense !convento juridic0 corn sede em Braga) cornpreendendo 24 clvitates corn 175.000 hornens livres, em estado Mrbaro.

A proporcgo entre as cidades estipendtarias e as ci- dades romanas era, em tbda a Htspinia, aproxirnadarnente a rnesma.

B) A c o n c e s s a o do direlto d o Lacio por Vesp~siano. Vimos que 1111 tempo dc Pllnlo raras erarn as cidades

que gozaga~ll o clireito do ailtigo Licio jlatirrrn ~ ~ e l u s ) , conferindo aus seus naturais uma semi-cidadauia roirlana : tinharn o commerclum e o connubirrm e a faculdalie t!e

Page 39: História do direito português Marcello Caetano.pdf

adquirir a cidadania plena rnediante a transferencia d o donriclliu para Roma (jus migrundi ) ou o erercicio de ulna rr~agistratura na sua cidade, rrnde excrciam o jus su- Ira,@ e o jus honnrurn. Mas, sob o Imperio, ao mesmo tempo q u e se restringia o jus migrilizdi ampIiava-se a aquisiqao da cidadania aos latlnos que Ingreasassern na ordetn dos decuriaes de certcis municfpios, e a isto se chamau Latiutrt maius em contrapo3i~go ao Lotirrrn minus que s6 perrnifix t a l beneficio a quetn exercrsse niagistra- turns c aos respectjvos parentes.

ji sabemos que VESPASIANC), eI pnr 73 nu 74 da nossa era, concedeu rr Latiurn nsirsus a tbda a Per~insula ibkr~ca.

Ora a co:~cessPo d o direrto latino n8o tillha rneras consequincias individuais: envolvia modifica~aes I~npor- tantes na oryanizaq%o polftica das cidades, como privilk- gio colectivo que era. Uma cidade itldfgetta que recebia o direito d o LQcio passava a ser municipio latiua.

Assirn, a paitir do acto d t Vespas~ann, ndo houve, rla Pei~inrrula, alt5:n dos at~tigas ~nunicipios, coldnias ro- Inanas e cidadcs livres, sen;io /nunlclpios iati~los. Estes pa gavaln t r~buto , o t.eu solo n8o era strsceptlvcl de proprle dad? plena sen30 quando gozassem dn jus itnlicufn p

estavarn sujettns a rntervenqa i do gover.~ador excepto quando gozassern d o titulo honorifico d e colhnia.

Cj Conoess8o da eidadanla romana por Garaealla. Ark qrle, ern 212 CARACALLA concede a tod~.s or

tiabltai~tes Iivl~cs e r ~ l o dcditicios d o lmpk r io a cidadsrlia Iomana.

Na Pellinsula a excepCBo dos ded~tlcios nao ti1111a i:np.utilncia visto as cidades capituladhs h i rnais dii dojs

skculos havcrem adquirido j& o caracter de ~nunicipios latinos : clesde entao paasatam a srr murrlcipios Tornonos.

A coticrssCo d e Caiacalla foi unl acto pnlltjco (::ara fazer rsqueccr o assassinin (40 i r rn2o) e utn acto fiscal, pois assirii torlos os habitantes do Impkr io ficaram a pa- gar os irnpostos a que eslavam erltao sujeitos os cidadIos rilmanos.

A aquisi~go do c.!r ic ter m u ~ ~ i c i p a l nilo teve, por isso, grande valor para 3s cidades hisplr~icns : a institui'cAo d o MunIci:lio estava ji ein franca decadencia e dela s6 tesul- tavanl maiores encargos. 0 que dois skc~rl[ ;s anjes fBra honra cobipda, represerltava agora zhorrecido p&so que as prlpu1afbr.s recebrarn corn i r ~ d e f e r e n ~ a e receio, ( I )

. ~

(') Snlrrt: R tnatdri~ ~ E R ~ P 5 ~ r . j x m - e e : BIARQTJARDT, Lt,4.7'i~iint~rr,rtlht: t'Oi$r7ifl~: @r3ir?i.rnfl'~n dt' iJEil(rite row~nhi, a Vols. ( i rs~ i . fr. H I ) ~ ~ I R I ~ I I , ! ~ PA ,4nt;rj~litba Rt>maiues,.); ?,IO.\IMSI.:N--LL. Drpit A ,h / r ; Ron~,rirt it1 nil, i r . no cit. *;\la- nucl-) +.rrl*. 5 rs 6 (II), F'T:S'I'l-lT, DF, C()T:I,ANGES - i l l

rirt: C ~ ? L / ~ , , ; I C ; UL.S~U;?~. i e ' i ;,I Y ~ I ' ~ ! ~ ~ ; O X J t , 7 / f t ! , 7 : i f ~ . ,!:' ? , I? : ( tcjt!!?

F,~I,L,,.: .- l A i Gat~l<: r o n ~ ~ i ~ t . ; - I:I~IT:~P.I~TI +;t.rmat~iqt~e w t

la fin (It: I 'Etnpi~r, A 13B( )'I1 ANJ> -Jt )JIXS( bS - .Tf~iwii! ,h!l a , i p j i + t i s t r : r t i q ~ i ~ z !kp R ~ ~ v ~ ~ I ~ ~ E,~t,hi~e: 1jiC FR.4 Nf2is(',l - Sfo~itz ~ I e j t/irizrn ?or~l,rtl,~, vol. II, pnrt'u 1.

Page 40: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HlSTcSRlA DO DIREITO PORTUGUES - - -- -

Pontes do direito

32. Fontes de direito romano.

NBo e nesta cadeira, e sim ]la de Histdria do Direito Romano, que se deve veisar a materia das fotltcs d o dl. reito romano: $6 110s ir~teressam aqui as fontes especiais ou privativas do direitn romano peninsular, vlsto que, a16m das normas vigerltes em Koma, outras houve exigi- das pelas circunslancias parttculdres de cada provincia e quc formam o dfrcifo provincial,

COmo, porem, os alunos podem n8o ter ainda bem prt-.ente a rnatCria dada na cadeira de Hist6ria do Direl to Romano, vamos rccapitulh la esquemhticamentt.

0s romanos distlnguiatn, entrc as fontes de direito, as Ieges, o jus e os negotia,

Lqcs aram as normas escritas e com car6cter obri- gat6rio.

]us significava o cornplexo dr) siste~na juridico, na sua ssseucia e na sua erpos1~30 dctutriniria.

Ncgolla eram os documcnkos probathrios de actos juridicos.

Leges. - Em sei~tldo la t ,~ compreei~de-se por t c x a nolma emaoada quer da a u t o i ~ l a d e do povo re~tntdo nos ~ 0 t n i c i o ~ ([ex rogabfl) qiler do3 c frrciiro piebis (plrbrscilicnr' - diferea~a egbatida corn o andar dos iernpos, desde que os plcb~sc~tos forain declarados obr1gat6rtos para todos,

HISTdRIA DO DIREITO PORTUGUES -- - -- . -. . . . - . . . >

Mas alCm das [eggs rogalue havia as leges datac - cma~ladas d o Senado ou J e urn magistrado com impkrio uor dflegaqao do populus.

Era pot Iex dllla que snb a Republics se faaia a or- ganizec8o local das provfncias, se outorgava o direito de cidade aos in~livlduos e se dava a nova constitur~ao hs cidades indfgenas.

A partir de AUGUST0 e at& DIOCI.ECIAN0 o Im- perador recebia do Senado, pela lex de imperlo, a delega- q3o legtslativa prrrnaliente qile the perm~lia fazer quatlta* lcges dofur cnteridesse, e s ( i essas existell!.

Consfitubiones prlncipunt. - As co~lstitu%Oes impe- riais por rneio das quais o Imperador exercla n seu po- der iegislativn eram de q~ia t ro espCcies : edlcta, dccretu, rescripts e t~iarrdata.

C o ~ n o lnag~strados do povo ronlano os Irnpcradores gozavanl do /us ~ d i c c n d i e publicavam e d i c t a s sempre q u e queriam.

0 s decrdns eram senten~as proferidas em processes chegados h apreciaclo 110 Soherano como sumo jrllz.

,&!escrifos tram respnstas dadas a consultas juridicas feitas par autoridades ~ ) L I par particulares : no primeiro caso ti11ham a forma de despacho fsubscriptro), no segun- do a de carta ( ep i s tu ld .

Mandados eram i n ~ t r u ~ 6 e s er~rriadas aos governado- '

res d3s provlncias tru a autoridades superiores da admi- nistraq8.0 inlpcrial.

Senafusconsulta. - O Senado, sob a Repiiblica, ti-

Page 41: História do direito português Marcello Caetano.pdf

n h a com!)et&~lcia ern certas mattr~as politicas : qt~andn a exertid era *)or melo de urn s ~ ~ r o t u s c o n s ~ r l f u m que ta~nhdm podla sprvir p l r l rorrvjdar os cGnsules s apresrrltar i san- (30 dos comicios crrto projecio d~ lei .

No primeiro perindo do IrnpPrio ('dirrrquin) o setlado passa, potem, a exercer ulna furicao legislativa directa, adquirindo as seus settalus consclla a lnesrna fiirga das leis comiciais,

A partir de A D R I A N 0 (117-138) s6 o Imperador tern o direito de ir~iciativa, isto t s6 ele pode apresentar propostas de lei i aprovaqfio do Senado, o que f a z por um ili;cnrso - orol io.

O podcr legislativn do Senado cessou de facto no rCc. 111.

Edictil. - 0 s magistrados sir!)erioriis do gorrkrntr de Rorna rccehianr, como j i iivemos ocnsian de djfer, o poder de mandar - irnpvriurn -- nil$ termos mai3 Iaios. hsse poder nao era definido por nenhuma lei, embora aquj e acoii tlvesse restri~fies l ~ o s t a s por uma /ex pub!icu: a re- gra, porCm, era a de ser absoluto e ilimitado, cr?nscqii&n. cia natural da investidura dos ~nagistrados ~ t a fungao de governar n povo ron~. lr~o Em seu !lome.

l!tria das f tculdadri q ue o magistra tfo cuf~r imperium tiitha era a de dar, aus cid:~dSos, ordens sbbre a sua con- duta, -- umas vezes ordens ind~vlduais, outras com ca- rActer geral: desta faculdadr. de direr o que os cidadaos haviam de fazer nasce o jus ediccndi.

Tal direito pertenceu, primeiro, 56 aos cbnsules. Mas como OF. c8nsules a alturas tantas, andassern atarefadfssi- mos corn os negdcios milltares, fol precis0 no $ 6 ~ . I V a. C.

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES ---

crear Urn novo rnitg~st~ado para os auxiliar, sobretudo na adm~tlistraqzo da j u b t t q a : nasceu assrrn o prctor urbano, ao qua1 em 242 a. C. se juritou o p?elor percgrino para julgar os processns em q u e lnrerviessem rstrangeltos, e rnais tarde outros colegas necess&rtos para dar contn do muito trabalho que corn n tempo foi aflufndu aos trtbu. najs de Rorna.

Ora k no julgamento das quesiOes ludic~ais quc o pretor tem ocas13o de exercer largamenke o jus edicendr, konororlccrn u u prnetorlnrn pr~rneiro proferindo sentenfag (dccrefa) , depols estabetecendo, no princip~o do seu ano de service, regras de justiqa e fdrmulas prdcessuais que se propunha segulr ern t5das as decls6es. 0 an6ncio f a z ~ a ~ s e oralmerrte (prtretor dicif -) mas logo se escrevia e afixava se o edlcfr a porta do tribunal ou pretorio, para co~lhec~mcnto pfibl~co.

0 ed~cto 5 6 obrigava os n~agistrados dependelates daqurle que o pioduz~a c os cidadaos sujeitos A sua juris- d t ~ a o e apellas iurante o tempo da duraqio do mandato do pretor. 0 ~lovc, pretor fazia novo ed~cto anual (edicturn pcrgetlclrm~ : rnas naturalrner~te aproveitava d o an' terior tudo o q u e era rasoivel, pelo que Ioi perma- necendo durante nnos e anos SticrssivoS UIII ~lucleo de regras que fortnava o edicturn vetus ou ImLa#- Ilurn.

No estabelec~tner~to das nurulas a seguir e at& no julga~nento dos pfocessos nao estava o pretor obrigado a ciogir-se as leis: por direito originarm e prdprio do im- perium podia ii~ovar, criar novas formas de proccgso, ga- rantir novas relaq6es socials, simpl~ficar srslenidades, abrc- viar trimites, - consul tado ~ o b r e t u d o o seu selrtimelito

Page 42: História do direito português Marcello Caetano.pdf

de justi~a, a aequilus ou eqiiidade, ~ e m defesa dos fracos t da b8a fb, ( 4 )

Sob o Imptrio n jun honorarium decaiu muito porquc nPo 96 o soberano era muito cioso do seu poder de criar direito, como os magistrados temiam desagradar-lhe, e loram perdendo a independencia, n8o dando um uasso antes de saber s t seria d o agrado do principc.

A'compilaego ou fixaqlo do dire~to dos edictov feita ai por 129 no Ediclo perpltuo por Satviano, no tempo do imperador ADRIANO, rnarca o termo da fecundidade drsta funte de direito.

33. Fontes de direito ria peninsula hispbnica.

Durat~te o Jominio romano na nossa periinsula apli- cavam.se aos seus habitantes rlorlrlas juridicas de prove- ni&ncia diversa :

a) norrnas do primitive dircito indlgcno; 6 ) normas do jus gsnfium ; c) norrnas formuladas em leis romafras especiais para

11 HisplOnia ; ii) norrnas do direilo rotnuno carnunt. N L ~ nos ocuparemos desias dltimas, senao a prop&

sito da rlaturai adaptacfio i s cot~diqtses locais que, corn o tempo, foram sofrendo. Na rua origem trata-se das mes-

-- - (0 PAP1 XlBLUO derxeu uma ~lcf~r~~r;ko c lrlas~ca do JUJ

p r ~ ~ ~ i o r l r t r n no U~gesllo, I , 1, 7, pr. qyitirs pracrorium e ~ i g~rod pr i~r tor f s rntrodu*erunt ndfuvnndt 7 ~ ~ 1 srdplenda vel rorti g tn~ i i TIcrrJ ~ l z l i l i ~ gtairo prsbtl j ~ttahtokm publicai~zr.

mas narmas claboradas para Homa t cujo estudo pertence s outra cadeira.

Tratemos das restantes.

36. Direita indigena.

V~mos j i anteriorrnente que os romanos toleravam 0 direito das cidades iildlgenas c guardavam para si, como privilkgio, o direito de Roma.

Resulta dai que, mesmo ap6s a conquista, or povos incIigutias conservaram os seus costumes e por Cles rege- ram suas relac6es sociais.

Coexistiam, portanto, no ~nesmo territbrio diversos sistemas iuridicos : aos cidadaos romanos e latinos apll- cava-se o direito romalio, ans indigena? (1 direito das suas cidades que, aliis, varlava de ulna para outra.

0 s prdpr~os magistrados rnrnanos quaridn chamrrdor a sentenciar questdes etltre indigenas aplicavam o direito pr6prio dbstes : mas, naturalrnente, temper .van1 os pre- ceitos mais birbaros modificando-us h lud do meu crittrio de justrqa.

A-pesar-de cot11 a concpssPo generic& prilneiro do direrto do antlgo Ldcio e depois do direito de Roma se ir tazendo a uniformizaqXo juridica do Irnykrio, os pri- mitivos costunles indigenas persistiram ap6s 21 2 : nos meios mais civilizados influiram no direito romaqo e nos mais rudes nunca as leis romanas penetraram por corn- pletn,

Assiln, quando acabou a domit la~&a romana ainda se observavarn muitus costumes ibericos em muitas rcgi6fs da Peninsula,

Page 43: História do direito português Marcello Caetano.pdf

D t resto, nas pr6prias compila~fies justiniar~€as ainda se reconhece a vigCncla, rialgurr~as mattrias, (10 wos pro- vincials.

35. Jus gentium

Vryoravam tambtm normas d o jus gentiurn. Que era tr j ~ i . genl ium?

Esta expressao teve, na doutrina juridica romana significa~bes diversas.

1." acepcdo, - Comefou por sjgn~ficar o direi fo aplC cdvel u s rt[agdes trctre cldudflos roinanns e pcregrinos.

Comn o direito r o r n a ~ ~ o era ~?rivalivo d(!s cidadsos romanos e Rama foi travarrdo relapbes, por meio de tra tado ou actn unilateral, con1 o t~ t r a s cidades, tcrnou-se necessirio regula:, o comPrcirr estabelecldo ei1tr.e os cida- daos e aqueles estrangeiros a quem Rorna garantira Ltber. dade e protecgio.

0s mdgistsadbs rolnarlos forall], poi;, definlrldo re- gras de cor~duts , diferentes das d o j ~ s civtle (~iireito ilos cidadrios), desti~ladas a proteger o n;ais pritica e simples- mer~te p o s j i ~ l a siIuaq30 doh estrat~geiros que contra- tassem corn rotllanos ou par outra forrna adquirissem ou aile~iassem bells a cidadaos.

E ~ s a s regras referemse, poij, especialmente 1 s rela- qbes patrimo ;lais (cnrn/meri.iu:~z) e clracterizarn-se par fugir ao formalisinti do jus civila a d ~ n ~ t i ~ i d i r ;i validade do conser~so d e s i c o m p a ~ ~ l ~ a d o de solei~i iades r protegendo a bBa fG.

A sua fonte ~ ; T O o s edictos (do nretor peregrine, em Konia, e dos gilvernadores das provilicias).

Inspira-se no sentirner~to da justifa (acqultas) e na razgo natural (naturnlls ra t io ) , colhendo elementos d o djreito rornarlo e das institui'~6e.s dos povos estral~geiros,

2." acep~du. - Tambkm se definia como dlreito GO-

mum a todos 0 9 po~:oo. Como as normas do ju5 guntiurn se al~licavam a ro-

mallas e a nZn romarios, veio dai a ]]ova acepf%o, t a d a inais que na elaboraqfio destas normas se atendia rnuito aos cos t~~rnes juridicus dog povos mediteri2njcos corn quem o comtrcio era mais activo.

s Dests ideia de urn direito colnum a todos 05 l>o,os a outra ~ d e i a de que Esse direito brotava, 113u da vontade dos lepisladurrs, mas da pr6pria natureza humana, ia um passo: ctaf o dizerern algur~s juristas rornanos que o di- rei!o das gentes era direito r~nturaI - jus naturnle.

3. a c ~ p g d o . - Pt.1 tei lciarn t-lmhkm ao ]us genlinrn as norrnas reguladoras das r e l a~aes de Rori:a cotr~ outros Estailos, isto C, as prirneiras regras do d i r i l o internucia- nal pzihllco, como por ex?mplo, a s relativas a guerra, as cmbaixadas. As prksas etc.

Esta slcep~ao ?erdurou por muitos skculos e airlda hoje se charna direito das p t e s a Csse ratno da oide,m juridica.

Na Pe1:Ensuta o jus gentiurn desempenliou papel im- purtantissimo: n8o s6 regulava as relaqnes entre roma. nos e indigellas, c r m o ir~fluia triuito naa ~lccis6es que 0s nlagistrados proferiam nas questdes entre indigenas.

Page 44: História do direito português Marcello Caetano.pdf

0s governadores, primitivarnente cdnsules ou prcto- res, tinbam a jus edicendi: publicavam edictos e era ne- les que definiam as regras d o j u ~ genUum aplicbveis, aYm d e que, segundo parece, seguiarn 011 adoiavam o edlcto d o pretor urbano de Rorna.

0 ]us provlnclale era o conjunto das norrnas de di- reito pliblico reguladoras das relap3es entre as provfncias e Roma.

Em geral, a o rgan iza~ao de cada pravlncia era feita, ap6s a conquista, por urna comissBo de dez serladores en- viada an local e que fut~ciot~ava em Ilorne e por delegaq2o d o Senado,

Do trabatko dessa comissPo riascia uma lei - a lex, ou formula, provhzcilae - constitulqrlo adnlinistmtiva da provincla, reguladora da cond~q%o das diversas cidades, seus rnagistrados, tributas, etc.

Nem sequer terllos r~oticia de qualquer das ]ormulae provinciaruna da peninsula. Pel0 que resperta a Lusitinia houve, porim, uma,organiza~lo d o nosso conhecjrnenlo : a operada por CESAR quando pretor da Ulterior. Na verdade, Cle concedeu a umas cidades a categoria de rnu- nicipio rornano, a outras a de latino, fundou col6nias, fixou tributos etc.

3 7. E s t a t ~ t o s locals.

Vejamos agora as fo~rtes conhecidas do direito parti- cular d t certas cidades ou yovoaq6es.

Chegararn a t i n6s (e sao, portanto, fontes de histbria) algumas Irk municipals e o regulamenta de urn dlsdrrlo mineiro dd peninsula.

Vamos examini-las comefando psles leis municipals. Chamamus le i m u n t i p o l i que regula a organiza~go in-

terna de unla coldnia, ou de urn municipio romano ou latino. Essa lei era uma lex data, outorgada por urn ma- gistrado corn itnpkrio, e t ~ n h a a designaqao genkrica de Irx caloniac, ~ G X munrcipalis, lex munlcipii iex civitotis, Irx loci.

Os estatutos muaicipais da Peninsula que chegaram at4 n6r s l o :

a) a lex coloraiae Uenefivqe juliae , 6) a lei de Salpensa ; c) a lei de Mitaga.

a! Lhn coionioe Grrtctivae Jiciioe. - Canhecem-se al- guns fragnientos gravados nas tabuas de bronze desco- bertas em 1870 e 1874 no local da antiga col6nia Ger~e- tiva jUrso nu Ossuna, rla Andaluzia).

Foi o cornisjiirio exiraordiniirio e ~ l c a r ~ r g a d o da de- ductio do9 cidaditos rotnanos para esta col6nia que ela- boreu o estatuto, gravado em i) tdbuas, ptlo mcnibs, dc que se conhecern lloje fragmentos de tris r urna completa.

A colb!iia foi funclada jussu C . Cotsaris dict. imp. ct 1#,yc Antoniu senot (us ) que c (onsnlto) pl (ebi) que (scifo), mas o estatuto k posterior i morte de Char .

0 s fragmentos conhecidos allresentarn grande inte- r&sse pa1.a o collhecimento da otganiza~iio mnnic~pal da colbr~ia, sua vida social e direito privado.

Page 45: História do direito português Marcello Caetano.pdf

-- HISTORIA DO DIREIT0 PORTUGUES -

traram s e duas idbuas de hrnl~ze, 110s arredores de kIaiaga, onde estavam gravados fragmelltos dos estatutob muni- clpars de dubs c ~ d a d e s latinas, as de Salpensa e de Mhlaca.

fisses estatutas foram elaboradl~s em conseqiiencia da concessBo d o jus lotsk feita por VESIJASIANO 85 ci. dades da HisgPnja, rrras devern ter sido promt~lgados entre o s anos de 81 e 84.

0 s estatutos das duas ridades eram iguais. Por quc niotivo se enco~itraram ieiir~idos fragmentos de urn e de outrlt ? Hd diversas hipdteses para o rxplicar : pvdia ter acontrcido qtre o estatuto de Salpensa ficasse pr lo camintlu, etn hlalaca, e podia tambkrn suceder que se perdesse uma tPbua !Testa ultima cidade e por isso fbsse pedir-se empres- tada a correspondente parte d o estatuto ~ g u a l de Salpensa,

0 s fragrnr~itos co~lhec~dos apresentam erjorme interes. s e para 0 conhec ime~~to da organizacao municipal das cidades latlnas.

Al&m dos estatutos municipais, dissemos que se co- nhecem fragfrlenfos d o estatuto de um distrjto rnineiro : o de Vipasc~ . fisses f r a ~ r n ~ n t o s cor~starn de unt dos bronzes d e Aljuslrel, de que nos vamos ocupar,

Bronzes de AYusfrcl. -- Perto de Al just~ei foratn des- cobertas duas rtibuas de bronze, a primeira em 1876 e a segurida etrl 1906, conte~rdu fragmentos de leis tornanas.

A leitura desses Iragrnet~tos revelou tratar-se dt. leis distintas :

I." tdbaa. - Ciravatla de urn lado e d o out1 o com o mesmo texto, contem park da lex metalll Vlposcer~sis, tsto

k, d o reyulamento cia e x p l o r a ~ g o das minas e d o com6rcio geral no distrito rnineiro de V~pasctt ( i ~ ~ f r ' ~ fines rrzetalli Vlpascmsis).

Quere dizer que se havia delimitado um territbrio onde existia minkrio cuja exptora~ao era tnonop6lio d o Estado romano. Nesse terrltdrio tudo ohedecia a o estatuto local e A admitiistraq80 d o procrsrador das rr~inns (procu- rator nseialloruni),

0 estatuto d o metallurn Vlpnscensis deve datnr d o sCcul0 11,

2." tdbua. - Co~ltCm materia diversa da primeira : trata se de uma rpIstaLa enviada pelo procurat~~r Caesaris, como gerenta dos d o m i ~ ~ i o s imperiais, ao seu delegado na mina - procurator medalli Vi'ipascei~sts - a comu~~icar-lhe uma nova lei - Irx metallls dicta - sbbre o rnodo de adquisifilo- dos poqos mi~ieiros por particulares, especial- mento por o c u p a p o .

Pode vet-se o origir~ai de uma das tibuas e a repro- duqlo da outra no :;lrlseu Ettloldgico d e BelCrn.

38. 0 dlreite romano vujgar

Depois de termos percorrido a cnurneraq80 das di- versas fontes d o d~re i to rotnano pr6prio das p rov i tdas . penit~sulares, estamos eln c01 td i~0es de cornpreender que o dlreiio nqul vlgente estava lunge de srr o dirclte rprnano clbslco, tal como estava colttido nas leis d t Rorna a era elaborado pelos seus jurisconsultos.

0 direito romano provincial, tnesmo depois da unifor. rnizaqiio juridica resuitante da cor~st i tui~Bo d r Caracalla, era um sistema derivado, tnas diverso, d o direito de Rorna.

Page 46: História do direito português Marcello Caetano.pdf

---- HISTQRIA DO DIREITO PORTUGUdS - - .- - - -

A-par-das normas obstrvadas tail como estavam for- muladas nas Ieis romanas, havia as normas decretadas em especial para a p rov inc i~ e para cada uma das suas cida- des, as normas d o jus genlium admitidas pelos edicton do8 goverrladores e qliestores, e os costumes indfgenas, nHo s6 tolerados pela sua leimosih persistente como so- brevlvendo em muit05 cams de apareiite (mas s6 aparente) adaptactto da vida ks novaa leis.

Quere dizer: na prhtica, o direito romano era clefor- mado pela inevltrlvel adaptaeiio das suas norrnas is con- d i ~ d e s e\peciais de cada provitrcia e a t6 de cada cidadc.

0 direlto culto de Roma era, no sCculo 111, urn sis- tema perleito e subti1 de mais para as populac6es rudes da nossa provincia. Havia, por isso, necesrridade d e Iho explicar, de ijlterpretar as leis ao sabor da cornpreens20 e possibilidades dos lraturaia, (donde a interpretnbio ofi- cial), de tra~rsigir corn certoj desvios d o rigor dd letra e at6 corn tesist&ncias locais ao direito importado.

Assim se formou um dlreito rornono vulgar ou p3-

prllor em cada pruvfncia, que foi a ponte de passagem entre o direito pr6prio de Rorna t o direito riacional das Na~des nto-Iatinas sitrgidas sbculos depois, ewactari~ente como as I l f~guas nen-Iatiuas resultatam, ndo d o latiin c15ssic0, Inas d o latim vu!gar ou pupular falado pelas popula~des provincjais.

Infelizmer~te riao co~lhecemos suficie~ltemente b t m o direito rolllano vulgar d o extrbmo ocidente: mar esfamos certos de t l e ter existido, ( I )

lnvaslo e arrtabeletrlmento don poros germhhos

39, 0s bfirbaros na Peninsula

Nilo nos demoraremos a tratar da invasan d o IrnpC. rio romano ptlos birharos, facto histhrico de grande complexidade, peia muItiplicidade de causas, variedade de forrnas e extensao no tempo. 6 materia que deve ser co- nhecida do erlsino liceal.

E sabido que a grande invasllo de 406 veio at6 !I I'e. - - . -. - -

- 3 i u t ~ s dc Ptoit Ronrnirr; FacuItlade dtt Diraitu da Univeriii. dads de lh imbra- - Cn,eci,io r tr tor ik Di~eite F ' ~ ' P I P ~ ~ I S I I ~ ~ Z Y - - I-Leis Roiii ln,zr; EST,~CIO nA VEICfA - 4 r,ih~iin de brozze di3 A!jusfrei, n o to~no 6.". partu 2.', da WE-Iistbria e

memtjrias da Acrdcmia Real d a ~ CiBnciaan, nova sdr ie ; PHOl". JIANUEL RODRlGIJES J ~ N I ~ R - , ~ ir~diirtriir rieint~a'r~ rlit

Pur~~~g111, p Ag. 103,

Page 47: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ninsula hispinica, onde penetraram, em 40Y, alanos, v5n- dalos e suevos, fistes trCs povns entregaram.se a violkn. cias e depr,eda@es que atingiram o grau da calamidade, ate que, em 4 1 1 se aquietaralt~ tetnporariamente fixando. .se, dc acbrdo corn as autoridades romanas, cada qua1 em sua regiao.

Como, porim, os alanos e vlrtdalos voItassem a estar irrequietos, o Irnperador, solicitado pe!os hispano-roma. nos, :esolveu iutcrvir. N%o dispu~lha j i Roma das antigas legiaes: mas outros povos bdrbaros se haviam colocado RF) seu serviqo. Entre Cstes estavam os \7isigodos, introdu- zidas no *Impkrig ern 375, e que desde entiio tinham pc- regrinado d o Danilbio a Constantinopla, daqui a tirecia e a o P<loponeso, depois at& Rotna que saqu$am (4101, e firlalmente se fixam nar Giilias em 412.

Durante estas andanqas o prinlitivo nicleo Ctnico dos visigados, que 5 passsgem inicial d o Danubiocontava de 4Ml a 500.000 almas, tinha-ae engrossado corn a encorpo- m@o dr birb.?ros de outras origens, e de escravos que aproveitavam a passagern dns hordas para abandonar o senhor P a terra e canqi~istar a.siln a liberdade. Por nulrn lado, as pcrdas eralrr yraiides. 0 s visjgodos que, ap6s quarentn anos de aventuras, viagens e lutas, chegam 9s Gillas, estao longe da pureza itnica.

Ora, j6 em 382 o Irnl>crador havia celebrado corn kstc povo u t 1 1 tratado de alianqa, Toedrrs, quc o tornava amigo e auxiliar de Rrrnla. O tratado f o i quebradn por ALARICC) I . o s :+q~~eador de Kooia, m ~ ~ i t q e ~ n b o r a ele quizesse servir 0 Impilrio. Elri 415, jj, nas l;itias, o rei VALIA rerlova a alianqa cot11 o lrnperador I - ION(~RIO,

A o tratar se dc meter n a ordem os alanos e as van- da l ; )~ , o Imperador resolveu utiiizar os aliados visigodas..

Assim entram &ster na PeninsuIa, em 417, como soldados d o Imptrio - romani nornt!nis causa - e exterminam 05

virldalos s~lingos, na Bbtica e os alanos iia LusitAnia, ap6s o que regressam as Gilias onde o Imperador lhes atribui, em recompensa do service prestado, a regi8o da Aquitania desde Tolosa a o Oceano.

0 s poucos alanos que sobreviveram, juntaram-se aos vlndaios asd~ngos fixados no Interior da Galtcie. Mas parece I I ~ O sc tcrern os suevos jrstabelecidos no htoral desta provfncia) portado bem corn os a?tigos companhei. ros: donde a luta entre os dois grupos, que s6 cessa por i n t e r v e t ~ ~ a o das autoridades ramalias, obtida a emlgrafao dos alatlos e vlndalos em 140, par L~sboa , a camizho da Betica (Vandallcia) donde em 429 passararn a A'frica.

40, 0 s suevos

Ficaram sbsinhos na Peninsula, no meia dos hispano- romanos, os suevos - a roda de 50.000 - estabelecidos ao Norte do Douro, no Minho c na (jaliza actuals.

(Jcupavam vhrias localidades, formarldo manchas !to territ6r10, onde cot~tinuavam a e ~ i s t i r c~dades hispar~o- -romanas, com as quais ossuevos celebraram tratados que nIo respeitavam.

A hist6ria da lnonarquia stteva do extrh~no oc'idente penIitsuIar pode resumir-se em quatro periodos:

I . @ periddo (41 1 43Q). Opress%o das populaqdes his- pano.romanas. MantCm-se, porkrn, a tufela romana, pois os natilrais queixim-se hs atltotidades d o lmpkrio d o cotnportamento dos suevos e elas intervkrn eticaztnente.

Page 48: História do direito português Marcello Caetano.pdf

~ I S T O E I A DO DIREITO PORTUGUES . --I.I. - - - .---I-

Em 488 celebra-se solenemente a paz entrc os suevos t as ridades rolnanas da reg18o.

2.' ~ s r f o d o (439-456). 0s suevos procuram doniinar a peninsuta : conquistam part: da iusitinia, entram em Mkrida, avancam peIa I5itica e p d a Cartagitlense, dorro- tando as tropas romanas e 0 s visigodos que de novo es- tas tiavtanl chamado em seu auxfiio. Em 435 o s suevos vitoriosos celebram paz corn os romanos, mas passados tres anos, em 456, o s romanos m31:dam outra vez os vi- sigodos, cheiiadog pelo rei TEODORICO, q l re tevam os -

strevos de rrencid3 at6 aos col~fins rla Oakiza, e penetram em Braga (Bracum) e no PBrto (Partucale), as duas prin- cipais cidades suevas na 6ltima' das quais raiu prisioneiro o rei REQUIARIO.

3.' period9 (156-550). - 0 s visigodos n80 anexaram, pura e simplejmente, o trrritiirio ocupado pelos suevos: nSo s6 nesse territ6rio havia muitos hispano rumanos , coma os vislgodos n8o tillham ainda dutnir~io territorial pr6pno na per~ i~~su la .

0 que parece tcr.se passado for o estdbel~c~nlento de uln protectorado v~,igdtico sabre os suevos : kites man- t ~ n h a n ~ a st13 rnonarqula, Inas sob a tutela do vencedor,

NLo esqurcer qde , at6 463, os v~sigodos eram aur i . liares do Impirro jd, porktn, tnu~to d ~ r n ~ n u i d o tla sua au- torldade. Em 468 C que passatn a considerar-se inilepen. dentes e f~rrnatn entlril u seu domi~lio na petifrisula com EURICO.

I " p;riild~ (550.555) 0 per( )do sntrriur d , p?ra os suevas, de apagamelito e decddkrt~ia : dele restani pou- quissimas noticips. Agora, porttn, rerlascem, graqas B sua conversgo ao catolic~sino (5W) e i iusiio corn as popula. qaes galaicas, por virtude d o desaparecimento das-bar-

HISTORIA DO DIREITO P0RTUGUE.S - - - . - - -

reiras religiosas e da sujeiqflo a um opressor comutn, e 4 accao educadora do apdstolo S. MARTINHO DE DUME, pandnio, (ou h611garn) bispo de Rraga.

E' neste period0 que se cetebram os concilios pro- vinciais dc Braga, de 561 e 572.

A Iufa religiosa entre cat6licos e arianos provoca nova invasgo visigbtica em 585 e a redupto da nionarquia sueva a mera provi~icia do reino dos visigodoj, florescen- te sob o cetro de LEOV1GIT4DO.

fiflu2nctn svevn no txlr irno ocidente.-Vejamos agora se a permal~&r~cia e o domiriio 110s suevos no norte do nosso tetrit6rio produtiu efeitos de considcrhvel intensi- dade e extetis30 na evolu~an social.

~ ~ R i s n r n e n t ~ a inHuEncia foi qudsi ouIa: ns 5D,OOO suevos estavam longe da sua pAtrie donde n3o podiam receber r r fo r~os , e etn lutas corltiri~las iam perdendu geri- te. Fu,~diratn-se corrl as pr)pulaffies locais e nelas deixaram algumas gDtas dz sangue yermlnicn.

C~tldaralmente liada pndiarn dar. Erarn urn povo rude, nenos civiiizado que 0s hi~patT~-r t lman~s. 0 s iil6logos atribuem apenas a 5 paIavras portug~lesas o ktimo suevo, Tracos de art?, t ~ a o Iii nenhhm. 0 s seus costumes birba- ros 6 que provavel~~lente alasirararn deprejsa: estalado o verniz superficial da romaniza~80, os galegos erlcontravam neles rnaiores atillidales cotn as tendkncias llaturais de uma Ilurnatlidade inculta,

41. -0s visigodos

Vejatnns agora os vi\igodos, que eram 150 a 200.000 h sua chegada a Aqultinia, mPsclados como jh iicou dito

Page 49: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- HISTORIA DO DIREITO PORTUGdf S -- - - - - - - - - - HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

com gente de provertie;~cis viria e n~uito romanizados pe1a perrnan&ncia lonija em terras du ImpCrio, ao con, tacto com os prrncipais focos da cultura romana.

0s visigodos. B data do seu estabelecitnento nas (36- lias, @ram os rnais romanizados de todos os blrbaros.

Tambkm a histdria das suas relaqdes com a Penfnstl la pode resumir-se em t1.b periodoe.

1." perlodo (411-467). - Com os arraiais assentes no reitlo de Tolosa, s6 acidentaltncnte, e a pedido d o Irnpe- rador, fizeram ~ieste perindo expedi~des militarea A His- prlnia: vinham, lutavam com os outros bArbaros, e regres- savam ao seu territdrio depois de cumprida a tarefa. Assirn nBo admira yue os primeiros motlumetltos epigri- ficos visigdticos existerites 110 nosso territ6rio datcm dc 465 apenas : trata-se de insci iqUes sepulctais gravadas tzo verso d t Idpides rnmatias do cemjttrio de 3l4rtola.

2." prr fodo (467-558). - Segundo a versa0 mais cor. rente foi EURICO o re1 que se decIdrilu irtdepel~dente do Imperador, qrlebrando a aliallca existente e [~ropundo-se agir por conta prhpria, Itlveste. com a Lusitinia, col~qujs- ta cidades e estabetece guarni~des permarlentes. As coisas nas Gdlias nAo correratn depois benl: os visigodos pe r deram terreno, acossados pol CLOVIS. Era ternpo de pro- curar outro lu,{ar, e dai a atenqao rnainr dada B H~sp i t~ i a . O verdadeiro dominio visigdtico na perli~srila so r~este periodo aparece, rnas as atenc6es dos motlarcas repar- tem-se eutre a HispAnia e o territdrio rlarbonense, que lhes resta rlas Giiias.

E' que, de resto, a peninsula pertellcia a muitos se- nhores : ao sul, as intrigas da sucessao i corba electiva dos visigodos tinham dado et~trada A s tropas romdnos de Bizdnclo, enviadas pel0 Imperador JUSTINIANO em

554 e que foram admirive1mente acolhidas pelas popula- Cdes, a ponto de se aguer~tarem a t6 620, data em que fo- ram expuIsos do nosso actual Algarve; persistia o rettro SWVO; e um poueo por tbda a parte, rnas sobretudo ao n ~ r t e , existfam cldudes rornanqs Independenle,, pequenos principador e repliblicas que, ap6s a queda do ImpCrio ronlano do Ocidente (175) haviam reivit~dicado o drreito de se govertlar, sem culltar corn os te r r l td r ios vuscos onde 0s virigodos nunca conseguiram domitrar completatnente.

3.' psrfoiio (568-711). - 0 grande re1 LEOVIGILDO opta pela Hisptlnia e passa o territdrio gaulCs da Septl- mania para segundo plano. Suleita os suevos e as cida, des romanas indeper~dentes e combate os imperiais bi- zantinos, procurando assim a unificaqio territorial e or- ganiza a monarquia visigbtica, fixando a capital em To- ledo e erigindo ai sumptuosa cbrte. E' ~ i t s te periodo que, sob RECAREDO, se dj, a converslto dos visigodos ao catol~cisrno (3.' concilio de Toledo, 589) e depais se con- segue expuIsar os biral~linos do Algarve (620).

I n f l u d r u b ylsighlk~ no extr6rno orldente 1 NBo foi muito Iongo n dominio do visigodos no actual territdrio portuguts,

Entraram pclo Alentejo na sagiinda melade d o sdcnlo V , Dirigiram-~e depois para o Norte, mas a6 anexaram

o reino suevo nos j n s do skculo VI. A expubao dos b~zantinos do Algarve data do prl-

meirP quartel do stciilo V I l , Depois, a invas%o niuqulmana deu-sa no com&o do

dsulo VIII. CSra, da sua passagem pouco ficou no nosso territ6rio:

nenhuma povoaGao por Cleo fundada, ou nome de govoa- por tles crhmada, poucos vestigios cultnrair, npcnas

Page 50: História do direito português Marcello Caetano.pdf

EIISTURIA DO DIREITO PORTUGUBS ---

10 palavras na lingua, raras e pobrlssimas igrejas a al- guns tudes artefactos de ourivesaria destinados ao culto rellgioso.

Era urn povo merlos civilizado do que os hispano-ro. manov e, se deixou de s i algum trace cultural deve-o ao clern cat6lic0, quasi todn de origem romana, que foi o transmissor e difu5or dbs reetos da clviliza~ao latina A qua1 se adaptaram os birbaros,

E recapituladas estas noqbes gerais, pode-se agora tntrar na materia pr6pria do nosso curso. ('1

$ 2.0

lastftuiqiel; pdltlcas a adminfstrativas da monar. quia visigdtioa

42. Eaplrito do direito pljblicb visigotico

Tat como fizemos relativamantd aos romanos, come- Carernos por procurar cornpreender as concepcOes funda- meritaie da organlza~%o politica vislgbtica. - - -. . - . -

( I ) II)ACIC). - C h r a ~ i c o ~ na aE~paiir Sagradar, toma IV, pag. 315; S L , O ISI11OIIO Dl$ SF,STILHA-Flistdria rie

regibrr~ ptlrwrurr; . C U P Z . O ~ Z ~ W Z PIisfbriil, na c.Espaiia Sagra- (la*, tun10 VI, pag. 482 c 511; 1)ibHN-Dic /lonigt dcr Ger. mnues; HINOJDSA e ostrotr-HI ilriorilt dr Espaiirl clcrde /ia

i~rva~iarz de ltrr pueblos prnzanicos hfista En retima dr In FVO-

nargrim z f.rigoda, '1' vols.

14 sabemos qur nas re la~aes dos visigodos corn a Peninsula htspAnica tern de se distit~guir duas fases:

1." ,fuse: a da allartfia. entre os crislgodos e o ImpCrio romano. - Vai ate ElJKlCO (475) segundo a opinirlo comum, embora haja histariadores que preterltiem ter o foedur terminado definitivamente com TEODORICU I, & volta de 418.

Nesta fase os visigodos nso formam urn E ~ i a d o corn base territorial. Constituem, dm, urna Na@o, urn povo corn slla ariqtocracia e S ~ U chefe, a o s e r v i ~ o do Impkrio romano e aboletndv nuola das suas provincias s e g u ~ i i o as leis da haspitalitas: cada posu'idor romarlo era obri. gado a receber o visigodo que Ihe coubesse em sorteio e a partilhar con1 ele as suas terras. A prowincia csnt inuava ' a ser romana, governada por autoridades romanas e ha- bitada por livres cidadaos romtlllos sBbre 05 quais o chefe visigodo nao exercia n e n h u m poder. Apet~as ALA- RICO 1 foi, a titulo pessoal, investido na dignidade de autoridadc romana, e $6 nejsa qualidade exerciu funfaes no ImpCrio, em nome do Kmperador.

2.'fase : a parfir da ernanripagdo dos rlslgodos rf1r- livarrlenk ao Impe'rlo. - Ntsta segurida tase os ri.rigodos reiviudicam a soberat~ia d o territorio por $les ocupado, constituindo urn Estadn corn sua pop1Ia~X0,9eu territbrio. seu govern0 independente.

E' agora que j e pBe o probleina de saber se a coti- ccp@o germanica du Estado era igual a concepqan romsna.

Virnos como o Estado roniano.se originou na cornu- nidade dos cidadaos de Rorna. FOI essa comunidade que, corisiderando o seu Direito conlo um privilkgio, foi sub- metendo B cidade os territ6rios conquistados e aliadus,

Page 51: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ditando Illes a lei a obse'rclar nas relaches que corn Cles travavam.

A constitui@o romana era fur~rlamentalrnentt repu- blicana, nn ser~tido de todo o Poder pertencer a univer- saiirfade do populus, titular tambCm dos bens colectivos.

Ora a s co~nur~idades gerrnsnicas assentavam noutra base. Sao grupos de homens d o mesmo sangur que se formam para a aventura e para a guerra, sob a chefia duln principe (rex ou prdnceps), 0 q u e urle os homeris entre si nit0 6 o pertencerenl H nlesma cidade, C obedece- rein ao rnestno chefe, a quern se devotaram corn total de* dicaqao e lealdade. As comunidades assim formadas aliartr+se e rlao raro se unem fundindo.se noutra rnais

sarnpla. assirn como talnbCrn se desagregarn em novos grupos dotados dos seus chefes prdprios.

Cada cumullidade (civitas) refine-se em assembteia geral, por via de regra num d o s quartos da lua - Iua nova ou lua ctieia. S6 tCm capacidnde jurfdica plena os homens livres aptos a pegar em armas, e assembleia o u co,tciliam civitaNs acorrenl 0 s hornens arrnados, com- pondo o exkrcito a que o chefe passa revista. E' essa asqembleia quz decide da paz e da guerra, rssoIve pro- blernas de intPr8sse geral, jutga os crimes contra a comu- nidade x elege o rei e os principes. Mas neste potrto a sua oryat~izaqlo 1130 d i k e muito dos prirnitivos cotni- cios romanos.

0 s visigodos, portrn, quando penetraratn na Penin. sula ndo rnalltinllatn ja a constit1rf,8o germanica em tbda a sua pureza. Se o ncuriad~smo a que tinham sido compeli- dos havia ~isfural~nente reforqado os vfnculos pessoais da fidelidade e feaIdade a o chefe, o contact0 corn o Im- pCrio romano dera-lhes a no@o d o inter&se geraI que

se impde ao pr6prio chefe, da comunidade que se per- petua impessoalmente, sobrevivendo aos individuos e c r e d o valores permanentes

As?im, o Estado visigdtico da peninsula 11ispAtiica apa- reie, na sua constitui'q30, como produto da mistura dog eiementos gertlilnicos (a unrdade d o grupo dada peIo chefe, os vinculos socials estabelecidos hierirquicamente pela fidrlidade do# homens a o seu chefe), corn elemenios ramanos (a ideia da res publica, feixe de interPsses cole- ctivos permat~entes da coIecttv~dade que o pr6prio rei tem dc acatar e servir, a ideia d e que a s o b e r a t ~ ~ a si3bre as pessoas e as coisas C a t r~buto da colectividade e n8o do prfncipe e de que h i um patrimbnio colectivo consti- tuido peIos bens destirtados ?I utilidade pliblica). ( I )

43. 0 Rei

Podenlos agora compreender rnelhor as instite:qBcs politicas e administrativas dos visigodos t ta peninsuls.

Poderes do Rld - 0 Rei era o primitivo chefe ger- manic0 mas que, procurando imitar o Imperador romano de quem se considerava sucessor, se havla adornado dos eeus atributos externas (e at6 usava o titulo d e Fldvio) e

(,) Sbbre eats materia devem ley-ae eapecialmente 0 yar- kudo d e MANUEI, TORRES sdbre El Estada ITisigotico no

Anuario dtl Historia del nerecho Eepailol , vsl. I11 e as L f c rint~es de Hjst.' dtl &?echo Espagiol do mesum prrlfsssor, no POI. 2 , O , e oe primeiroa 5 5 da h'zrtoria dei Derecko gcrwnrrica de BRUNNER - V, S C H WERIN, Lrad. eqmnhola dn M i - t o r i a l IJaber.

Page 52: História do direito português Marcello Caetano.pdf

se arrogava o erercicio da maior parte das stlas prerro- gativas.

Assim, 0 rei visigodo era, primeiro que tudo, o chefe militar e, ar~ies da conversao ao catolicismo, o chcfe reli- gioso passando depois a ser o profedor da lgreja.

Leglslador do seu reino, administrava justi~a como sumo juir e superintendia em todos os negdcios do go- v&mo e da administra~30.

Tinha, assim, extensissimos poderes. Mas nac) se po. deria condderar nbsolufo, isto 6, dotado de poder sem limites.

Limltes do poder real. - 0 rei visigodo devia acata- mento As leis: assim ejtava preceituado no C6digo Visi- gdtictr, livro 11, titulo I.", cap. 2 : Quod lam regia poles- tas quam pogulorum unlversita~ legum rrversntit s i t su- bj~cta.

Depois, t inha o dever de procurar acirna de tudo o 6cm cornurn e niio o seu proveito pessoal: -5 doutrina, de inspira~uo crista, que da obra de 5,'" Isidoro de Sevi- Iha passou ao Primus titulus anteposto em ;ert>s textos tar- dios ao Cddigo Visig6Lico e formulada n conhecjda frase: -Rex ejus eris si recta facis, sc aufern nun facts nun eris

Finalmente, o Rci n8o podia esquecer a influencia moral e o poderio da nobreza e d > clero cat6lico (dCsle ap6s a conversao de Recaredo), pelu que a sua vontade tinha de se pautar muitas vezes pels que os magnates do rein0 exprimiarn .

Na monarquia visigbtica considerava-se o Poder como virldo de Deus, segu!ido a doutrina cristB expressa por S. P A U I - 0 : Orntis palestas a Dco. Mas o regime IIBO era teocdtico.

E' que a monarquia eta do tip0 electivo: o rei era

eleito de entre os membros de certa e determinada iamb lia. Esta process0 de des igna~lo do monarca foi a prin- cipal fonte dos males que afligiram e perderam o reino visigodo.

Elelgdq do tel. - Enquanto us vi!iigodos constitulatn urn povo em marcha, o rei era eleito pela assembitia de todos os homens livres e combatentes, !I qua1 tinha de ouvir corn freqiitncia.

Mas ap6s a estabitizaq%o, corn a dissemina~ao e as- sento dos visigodos na vasta Area territorial onde se es- tabelecsram, nas Qilias e na Hispbnia, tornbu-sc impossf- vel reiintr a assemhleia geral otr concilium de todo o povo para eleger o rei, e a iunq8o eleitoral passou a ser exer- cida pelos magnates do reino, componenten da A d a re&.

0 sisterna electivo funcionou conrta~ttemente ma!. Havia sempre urn pretendente a conspirar com os des- contentes contra o rei que estava, e aquele que conse- gdia ser eleito ffcava na mao dos seus eleitores compra- dos cam dddivas, favorcs ou promessas, mas nunca sa- tisfeitos.

Assirn, as alei~des cram ttrrnuituosas e as rebtlibes freqiientes. A corba foi usurpada muitas vezes e pelos processes rnais desleais.

0 clero procurou rnoralizar s vida pdblica e modifis car tste estado de coisas : assim, no IV concilio de Toledo (633) e n o V concflio (636) foram adotadas providencias tendentes a evitar a usurpaqao tumultudria da Corba c a forma~Ifo de partidos pelos ambiiiosos.

Ainda por influgncia do cltro, dtsde CHINDASVIN- TO, aigumas vezes o lEei associava em vida ao govgrno o filho prirnogknito ou a pessoa quc desejava para sucossor. TaI dcsigna$%o nPo dispensava o hkrdeiro de, por morte

Page 53: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- HlSTdRIA DO DiRElTO PORTCrfiUtS

do monarca, reqeber a conEirmaq80 d o Co~~ci l io e prestar perarite 6le jura~nento.

Tais nedidas n8o surtiratn plena efeito por causa K$I

o p o s i ~ a o da nobreza que queria ter na milo o rei : a here- ditaricdade origina uma independgncia que nao convem bs oligarquiar.

Assin, a invasao mu~ulmana nasceu de uma luta de sucesslo, cotno antes a vlnda dos bizantinos tivera jA a mesma origem.

~ o d o aqutle que assume as responsabilidades do mando carece de couselheiros e auxiliares. 0 rer visigodo tir~ha pois, o seu co~~se lho , constituldo pelas pessoas #e conFian~a corn quem habitualmente govemava e pelas mals irnportant~s personagens do reino que nos casos graves ouvia.

A este con5elho se charnava Aulo regta. Ellquanto os visigodos re mantiveram reparados da

populeflo daq provinc~as romunas, a aula era cnnstitufds apenas pelos mais importantes senhores godos.

Mas coln a constituiq2o de urn Estado territoriai e a submissao do$ romanos B autoridade do Rei visigodo, f o ~ a m sendo chnmadas a colaborar no govern0 as perso- rulid~tdes tnarcantts da popula~ao galo ou h l~pano rorna- na, senato~es ou membras do aIto clero.

Na monarquia de Toledo a 4uIu aparecc-nos corn a sua forma definitiva. Nela t&m assento os dignitdrhs da cbrte e superintcndentts nos vdrios ramas da rdministrfl- cBo real {comite$ palatll), os governadores dss provincicrr

HZSTORIA DO DiRElTO PORTUGUES

e dos prhicipais territ6rios ( d u e ~ ~ , ~ o m i t , ~ civitotum), os altos dignitsrios eclesiisticos (bispos) e outras pessoas, e~nbora de inhna co~ldit$o, que pelas suas luzes e servi- ~ o s merecesseln ser cl~atnados pelo Rei a o conselho.

Karas vezes a reiiniao compreendia todos os mem- bros, era plcnario. Por via de regra o Mortarca apenas nuvia aqueles q u e estnvarn onde &le se encontrava, isto k, as pessoas da sua cBrte, da sua comitivs, os funcioridrios que o acompa~ihavam e que assistian] aos attos quotidia- nos de gov0rno.

A nulu rlgia era consultada sBbte as leis e sbhre as quest6es a resoher pelo Rei, quer fBssem de govtmo, quer da administraqgo correute ou at€ & natureza judi- cial, visto o Rei julgar como jujz.

C ) prin :ipal papel. da assernbleia pleniria era o da t le i~i io do novo Rel, em caso J e vaclncia,da CorOa,

No guvtrno da monarquia visigdlica desempenharam papel de primeira plana as concfllos.

J4 notAmos o gratidt ascendente que a lgreja Cot6- lica exerceu sBbre os povos germPnicos d e p o ~ s da sua corivers~o.

0s visigodos, pouco depols do Ingresro oo ImpCrio, tinham a b r a ~ a d o o arianismo, heresia cristB que negava a cot~substancialidatle das pessoas da Santirsima Trindade, isto t, afirmava que n Filho nfio era da mesma substln- cia do Pai. porque a sua natureza era purarnente humana e n i o divina.

0 arianismo foi condellado no concIlio ecumknico

Page 54: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGUES - --- --

dr Nic&a (325) ottde se for~nulou o Credo ou simbolo da fC catblica ainda hoje recitado.

0 s hispano-romanos eraln catblicos. A diferen~a de crencas rcligiosas contribnfa multo

para se inanter a sepa.raC&o d?s racas, h i a i os visigodos nl lo podiam Bcar itidifcrentes ao prtstlgio do clerocat6.. lico, e i maior c~lltura e riqueza dos habitantes daqui. Poucr~ a poucu o catolicisino foi progredindo, at6 que RECAREDI), ern 587, co-~verteu-se, e corn &le toda a n a ~ a o , repsesrntada 110 3." concilio reiir~ldo em Toledo sol 589 sob a srla pt-esidPncia.

Conc!lio C a assc~nbleia dos bispos diocesanos e de outras digr~idades ec[esiisticas dljtadas de jurisdiqlo (pre- lados, abades e superiores), reiinida para tratar de poll- tos de f e , de rnoral e de disciplina ecl6si&stica.

0s conci[ios pudem ser gerois jou ecun~kn~cos), nactonais e pr avlncials.

0 3 conclllos gcrals congregam tbda a lgreja cat6lica, rcpresentada pelos cardiais, bispos, e prelados, abades ou grrais das rrrdetls mo~rdsticas e regularcs e das congre- gacties, rob a presidgncia do Papa.

Conclllos narianai~ siln aqueles em qlte se reonern 0s prclados de certo pais, soh a presidhncia d o Primaz ou do Patriarca dessa N a c ~ o ,

CozcfIio provincial & 0 celtbrado rluma provfncia eclesiAslioa, circunscri~80 que ahrange virias dioceses sob a jurisdi~go de U I I I metropolita (Arcel~ispo).

Nus primeiros s&culos dii cristiariismo era irnpossiue[ argatlizar (1s fieis malltendo utn.1 apertada cer~tral iza~lo : C P ~ L , comunidade de ctistsos formava uma igreln cum o seu blspo e respective pntfinrdnia. Sij Iio s6cuio VI t que AS igrejas se subdividiram em pardquias, comunldader

H I S T 6 R I A DO DIREITO PORTUGUES . -- - - --.A

menores a cargo de presbiteros subordinados ao hispo e qua l~ossuiam templo e patrim61110 pl-iGativos.

0 bispo ejtava isolado e dificilrne:lte comunicava corn o seu metropolita ou corn Roma. Resotvia por si a maior parte das questaes de moral e d~sc~plina, consuitaudo nos casos de ilbvida, os hispos vizinlros ou algurn de maior autoridade. Quando se ievantava, poretn, um problema de dogma cum rnaior rnelindre, recurria-se ao Bispo de Roma, sucessor de S. ,l'edro e cl~efe ul~iversal da cris- tandade.

Compreende-se a importlncia que, rtestas cond~qbes, tinham as assembleias episcopais de uma ~~roviiicia ou de um reino : a i se encontravam bispos de regioes muito dis- tantas entre si e discutiam problemas, col~certavam soiu- ~ F e s , elaborando leis eclesiisticas (cdnoncs) vdlidas para tbdas as d i~ceses da provlr~cia ou da 11aqgo e tomando outras providCncias.

Depois da conversao dos visigodos, os Reis, coilsi- derando-se protectores da Igreja, dispelisarsm a maior atenqiia aos concflios naciorsais celebrados em Toledo, em nlimero de quinze, e utilizaram-nos para a elabora~ao tambkm da legislag%o civil.

0 P\ci C que convocava o Concllio. Co~nysareciarn.os arcebispos, bispos, abades e alguns sacerdotes doutos adn~itidos para ajudar corn suas luzes ]]as deliberaqfies. Mas a[im dos pndrrs concillares lomavam parte o pr6prio monarca, os rnagrlates d l Xuia rigia que o acnrnpanhavam e outros leigos especialrllel~te chamados pelo Rei.

No i ~ ~ i c i o das reiit~ifies o Rei dirigia ao cottcilio uma exortaqao em que se referia gen6ricame11te aos assuntos de maior irnportancia a resolver : tste documento chama- va.se tornus.

Page 55: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUBS

Depois, oc padres do concil~o deIiberavam sbbre o s treg6cios espirituais ; findos Sstes, e~ltravam 03 leigos e passava a tratar-se da mattrias civis.

O rnonarca a p r o ~ a v a os cdnones formuiados no con- cilio, edictando urna lew ill ronf8rmotlo/,.e concilij For via da qua1 essas resolu~6es revestiam fbrqa de lei d o Estado.

NBo poucas vezes aconteceu tanibkm pedir o Rei ao ConciIio para reforcar com a autoridade e prestigro da Igreja a doutrina de Ieis anteriormente pronlulgadas

e m resumo: ernbora se lratasse de nssemhIeias ecfe- sidsticas, os concilios, a partir d o 3.*, forain verdadeiros orpaos tegislativos da rnonarquia visig6tica e nesta exer- ceram a mais profunda influencia.

46. Adrninistragaa provincial.

0 s visigodos conservararn a mesma divlsdo provln- ciial que os rolllauos tinhain deixado.

Mas a.par-das grandes circunscri@es romanas, refe- rem-se os textos i s vezes a oufras provfncias, n o sentido de circuuscri~6es onde urn alto fui~cionirio exercc juris- d i ~ i l o (ferrltorlum).

Cada uma das antigas provfncias ronlatlas era gover, r~ada por um dux, admi~~is t rador e chefe milltar,

0 territorlsrn 011 pruvfncia em sentido lato era geral- mente a ~ 0 1 1 3 territorial circutldante duma cidade gover, nada pelo contrs clvitutls.

Existe, porkm, certd imprecisao rlesias designa~des, etn!~rega~ldo-se ir~distitltam~nte, em rnuitos casns, os ter- mos dux e ccmes para exprimir o chefe administrative e militar de unia cirtunscri~Po.

4 7 . AdministracBa das cidades e distritos rurais.

Nas cidodes contir~ua a decadencia d o sistema muni- cipal. Nos primeiros tempus da mor~arqui l visig6tica sabe- -se UP airlda I~avia Criria, a que se faz referencia no C6. digo Visigbtico, V, '4, 19, e a t i que exercia funq8es d t jurisdicH~) voluntiria e contenciosa dantes atrihuidas a outros orgaos; mas posteriorrnetite a pr6pria c6ria cessa de ter vida.

0 s duumviros desaparecern ta~nbdm por complete, passalldo a municipirr a ser governado pelo osrator e pelo deftnsor civitaiis cuja no,r!ea~&o e m algu~nas partes e da cornpetencia d o Bispo.

Facto cada vez mais saliente C o da influkncia d o Bfspo na adrninistraq2n citadir~a: ntio resulta .ela apenas d o grartde prestigio da tgrrja em tada a peninsula, Inas d o papel desell~pe~ihado pelos bispos a quando dos dias terriveis da itlrasfio e da opressii.3 das popula~Ties hispa- no-romanas, tm que Clzs fo:am verdadeiros protectores dos fracos e corajojos adverstirios dos jnvasores. Uepols, contlnuaTarn representalldo a cultura, a autnridade rnoral e a antiga ordrm ronlatla, I I O meio da gratlile derrocada a que se aasistia.

Tatnbk n comde, conlo delegad0 d o rei, chama a si a re$o[u@o de assunins Je ailfes reservados ao poder tnutiicipal.

Fora das cidades, nos distritas rurais, et11 que a po- p~rla@o vivia disseminada em fogos isolados ou em pc- quenas povoacBes, hB tioticias, errlbora tTagas, de uma assenlbleia de homerls livres yue reiitlla os rnembros da mesnia cornunidade agrbria para t ra ta~ dos interCsses que

Page 56: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUPS

r todos tocavam : tcrras, bosques, pastos, Agua8 e gado cornuns, destrl~o a dar aos servos fugrtivos que apart. ciam, ocupaqao de a r ~ l r n a ~ s erranter etc.

A esta assemblela, chamada convrrrlus publicas vdci- norum, faz referencia cr C6dign Vis~gritico eln vdrias leis do livro 8.' - t[tSo 4, 14 e tlt,".O, 6.

TaI como na tpoca romana, as autoridades adminis- trativas e militares exerciam sin~uItaneamente a fuoQTo judicial, isto i, julgavam como juires cs pIeitos surgidos na vida corrente.

0 CSdigo Visightico expressamente dis (11, 1, 27) que na lei se consideram juizes todos os que tenham o poder da julgar, se/am dux, comes, vicarlus, pacis adserfor, Ilrircphadus, rnlllcnorlus, qulngentenarius, csntenarius, de, fensor, nurnerarhs, arbitros escolhidos pelas pa I tes ou jufz designado para certa carlsa peIo rei. (4 )

Destas autoridades umas vinham da antiga ordctn ro- mans, tais o def8nsor e o nurnetarlus, outras eram yodas, rapresentando o tiufado, o milenirio, o quingentenirio e o centenirio antigils cornandos militares.

0 vigdrio era o represental~te do conde Ila su? ausett- cia. Quantcl aa adsertor pacis refere-se-lhe em especial o C6d. Visig. no liv. J I , 1, 17, e sc i tinha poderes para de. rimir as cauaas para qcle f6sre ittdicado pelo Rei.

J A ficou dito que o monarca ara o rupremo jufz do reirro, e julgava qucr em primeira inktancia, quer em re- curso, umas vezes por si, ouvindo a Aula Rkgia, outras vezes tlorneando alguktn de cor~fianqa para decidir ent seu norne.

O Sr, Prof. P A U L 0 MERBA ai~alisou nos seus Estu. dos ds Histdria de Direifo, pig. 151, o prohlerna da exis. tencia de um rnagistrado visigcjtico cspeciticamente cha- mado judex, concjuindo que, Ble~n de dcsigna~ao yendri- ca de quanios exCrcian~ f u l ~ ~ b e s judiciais, o terrno tambim designava u m a autoridade especial. ( I )

-- .-

( I ) PEREZ PIIJOL-IIistorin Jc lus i~s t i tu t iane~ .mci~z - I P I iJ11 la Espni,n Gnlin, 5 vol , ; XIANUETA TOR,RES - El Es tndo Yisigarico, no r Ar~~lario rlu Hist. del I )orecho b:spariol, vol. 111 (VW ~ R I I Z ~ ~ U 8 8 81188 Lccio~le~, ~ 0 1 . 2.7; A N T ~ ~ N I C ~ PEBEIRA T)E FIBUE:lRED~~)-Dis.icr!uL-~io .Yna *I-Tistbria u R f e m 6 i . i ~ ~ ( la Aoarlcmia Real daa CliEneias rle Lieboar, tomo

l X , phg. 217 (edpetbirrtmente iln pkg. 235 ern diante) ; AN. .l'i)~10 CAP>TANr3 111) AR1ARAL-Metrw'r.d~r sdhre a-tbrr~ra 110 ,q.ovF+no, e t ~ ' . , in ~ ~ [ ~ I U ~ P ~ H I I dn Lit~?r~t,ut'a purtugrteaa, torno VI.

Page 57: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Fontas de direito

49. Separacao juridica in ic ia l . dos g o d o s e hispano romanas.

A histdria das fnntes de diiaito neste period0 tern que se fazer atendendo 2s fdses durante Ele atravessadas n o tocanke As relaqbes juridicas entre godos e ilispanos.

Numa prirneira fase, caila povo tillha o seu Direito, embora vivet~do n o rnesmo territilrio ocupado pelo outro : 6 a fase da scpnrrlCzo l!iridka.

A segutlda fase C a de cumunidadr d e direito, ou de unlficogao juridica.

A reparacan iuridica nasceu das circunstgrtcias em que 03 visigodos p211etraram no Impbrio, como p o s o biirbaro e depois aliado: rtao se Ihes a p l i ~ a v a o direito romano e coose~-rtiasc-llies o uso das leis nacionais. Era (, tradiciotlal procedimento de Korna.

De resto os birbaros, por sua patte, estavam apega- dos ao seu direito que cnr~sideravam colno qualquer coisa de inereiite k pr6pria iridividualldade. Otlde quer que esti- vesse urn germano aI estava:n, com ele, os costumes que constituiam o direito da stla nacao.

Nasce, assim, o sistema da pcrsonnIidade do Direito: cada iridividuo onde quer q u e esteja, de~i t ro ou ford da Pdtria, se rege pelas suas leis nacionais.

Quatido os visigodos dorninaram tla peninsula, man- tiveram o sistcma: havia, portanto, leis difarentes para os

gbdos e para os hispano-rhmanoq, cada povo tinha os seus tribunais e nab podiam cssar oc ind~viduos de urn, corn o s d o outro,

vimos, porkrn, qualido SP trato'r dn do~nfnlo ro. mano, que hb neste sisterna l lna ~Itficuldarie grave a ven- ctr, conhecida pelo nomc de ronflifil d e I&: q u a n d r ) se estabelererrl r e l a ~ b e s rntre ind~vfduos d m dois grlipns quai 6 a lei que as regula? 0 rnnflito existe porque, natu- ralrnento, cada urn dos sujeitos quere aplirar a sua.

Iiave*do urn povo domirlador e outro dominado, parece rlatural qrle a l e i d a q ~ e l e tends a rrnpor-se a kste Mas pode acontecer que os dominadores sejarrl de menor cultura d o que 0s dotnlnados (caso dos ~ i \ l g % ~ d O ~ j ou q u e os doininados nao estejarn em condiqbes de compreende: e aprbveitar o Direito mais p e ~ i p ~ t o do darntrlndor (saso das actul is colonias e da ocupaq8n rotnarta) rlegses casos o remCdio estR em procurar s o l u ~ 6 e s ~nsptradas n o sentt- rnenta comum da justlga ou rquldndc, como aror l t ece~~ 110

]us gentiom. NPo conhecemo3 o sistema de resoluqfio de conflitos

adotado pelos vtstgodos, nlns tudu leva a crer que fasse d&?ste tlpo.

Durar~te a fase de scparacan juriilica das duas racas, cada uma se regia, portallto, pelas suas lets e ha que dis- tingulr as fontes de drreito visig6tico das de d~re t to ro- 1naiio.

Vejamos quals os monutnentos conhecrdos.

50; eodax Euricianus.

As prirneiras leis dos visigodos eram norrnas curlsue- tudlnlrlas.

Page 58: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T 6 R I A DO DIREITO P O R T L ~ G U ~ S ----- - - -

As leis escritas datarn, talvez, de TEOllORICO I. D rzi EURICO, erltre 03 anos dt.'469 e 481, porven-

iura em 475, nrdennu a r e d a c ~ i n de leis, esct-itas e com- lsiladas rllilu caderno ou cudex.

Estavam elitgo us visigndas na Aquitsi~ia, onde re- c e l ~ t e ~ ~ l r ~ i t e sc tjlihatn t~stal~rlecido rias casas e terras dos galo-rornanos.

Forail1 o s mollges de S, Maurn que, rlo sect110 XVIII, descohriram, rrrlm palirnpsesto ern Corbie [depois pas- sado para s, i:erma~n-les-Prks c actualmer~te ria Bibliotec~ National de I~arisj algut~s frayrriet~tos d b t e Cddigo re- ferentes i partillla das tcrras enire rotllarlns t godos (sor- tes gc?!hirus e terlins ~.ornunrwun;~, aos contrtitos, 2s doa- ~ b e s e a s sucessdes.

0 s textcrs fo ram iclentificados gralas a rlottcia que da co~nl,il;+@o dr Kuriuo d i SANTO iS11)ORO DE SEVlLfIA na sua Hlstoriti ds rsgi&u.< gothorum, ao referir-se a o rei. ~ t a d o de EUR1I:O ;

rSuh hrrc rege Gothi Iegunr statilta scriptls habere coeperunt. Nattr alltea tarituin moribus et consuetudine t c r ~ r b a l ~ t u r ~ . (,)

(3 Codex Elrricinzus e o n~ais antigo chdigo germ281ico hoje conhecido.

51 Lex Rornana Wiaigothorum

Eutrttanto o s t'eis visigodos, a a investir-se na succs- .s$o imperial, rrlo potliam esyuecer 0 s seas subditos ro. :nanos. A a b u r i d i r ~ c i ~ c variedade das constitui'~6es c opi-

HISTORIA DO D I R E I T 0 PORTUGUES - . - -

ni6es que co~lstiruiam o direito aplicivcl as populacdes romanas prejudichva a admillistraqlo da justiqa. EntAo o rei ALARICO l i ma~ida fazer ulna cornpila~iio que aprova em 506, lia (lascot~lla (Aire): e a Lt?x Kavuna Wlsiga- Ihorum, tanlbkrn corlheciJa pelas dtsiyt1ar;des de Brrvi- ariu'm Alarici ou, do notne do chat~celer que auterlticoi~ as cdpias exredidas, Brcviciriurn Aniuni.

A L. K. W' , portanlo e urna compilaq80 de leges ejus , relativa tanto au dirsito pdblico como privado ap[icavel nas relaqdes entre romanos.

Compreende, de entre as Icgss: a) coilst itu'icdes d o Lodex Theo.;osianau. colec~So

oficial ordet~ada ern 3'39 pelo irnperador Teod6sio; b) novetas post-teodosiatias promulgadas at6 463.

Quanto a o jus, eriio~~trarn.se os segulntes textos : a) Lrbrr Gaii, ou seja a a d a p t a ~ g o daa ltrstitutas dc

Iiaio ao uso vulgar ; b) rSentenqas~ de Paulo; c) AIgumas constituic6es extraidas das co1ect;bes par.

ticular.:~ corihecidas por Codices Hermogenianr, e !:reyo- rlatio ;

d) urn texto das Respostas* de Papiniano. Todos os textos c o ~ n p ~ l a d o s na L. R. \Ir., corn e x -

cep@t~ d o t iber Clnii. silo seguidos de ulna parafrase, t e n d e ~ ~ t a a iriterpretar ou esclarecer-lhes o seritido, mas que olgurnns vezes diz colsu dlversu do text0 uri lhb mpdi- flea a signifs'ca~uo : csta explicaq%o ou curne~rtirio chama- se a intet p r r t a f i s

A razao por que o Liber Gnii 1120 6 seguido de l r i t e rprc l~ t i ,~ reside no fac'to de j i par si consistir nurn resurno adaptado das lnstitutaslp de Ciaio.

Ora a origem e natureza da Interpretatto 6 problerna

Page 59: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIII 110 DIREITO POXTUGUPS - -- - - - -- - -. - -. -. - -.- - . -

que tern provocado shrins drividas aos investigadorcs. Duas s8o as prirleipais tescs aprcsentadas para Ihe dar aoluqgo. 0 s particlirios da primcira tese sustentarn que se trata d o corne~rtirio elaborado prlos juriscor~sultos encarregados de compilar a L. R. M'. rlo pr6prio momento em quc re i i~~i ram os trxtos, conier~idrio e j s e que reflecte o enten- dimer~to corrcrlte que tais textos tinham rlessa 6poca no ,Ocidente : dnqui resultaria ser a inderprctndio express80 do direito romar~o vulgar na Gilia e possivelmente na Hisplriia.

hlas os q u e dc fe t~de rn a segunda tese (especialmentc FITTiKCi e LECRIVAIN) ir~clinam-se antes para que seja um resumo dos cnrnentarios feitos p e l c ~ mestres nos cen- tros de ensino d o direito romanrh, que os comptlado- res se Jimitararn a reproduzir para facilitar a aplica~Bo dos textos. E esta tese C a que hoje possu~ maior n,hnlero de aderenies.

NBo t e l ~ o s elemenlos para escolher e d r e uma e ou- tra, A balan~a inclinar-se-ia decididamente p,aasa a segunda se aparecessem os comelltirios eiicoIares de que se diz scr a L~ferprtlal io mero resurno.

A I.. R. W. teve enormr ioflu&ncia ll%o s6 no terri- t6rio ucupado pelos vislgodos como em todo o Ocidente europru, O seu conteiidu foi considerado, durante pluito tempo, corn0 gei~uffla representaqao do prestigioso direito romano quc a Igreja c o ~ ~ t i n u o u a adatar nas suas rcla. ~ d e s .

52- # c o d e x revisus* de Leovigildo

Ji mais de uma vez nos referimos ao grande rei LEO-

VLOILDO (579-556). Segulu ele a politica nova de pro- crlrar furldir as drlas n g s justapostas ]la Per~itlsulr, go. dos c hispano-romar~os. Politica quc i ~ u l ~ c a ct~egou a ser coroada de exit0 ate B i l~vasio muqultnana yue entao p6s frente a frente dois grupos: os cristaus e os islatnitas.

Para facilitar essa lusilo, LeuviyiLdo aiiotou varias providencias, colno seja a aboli~ao da proi'bicao de casa- tnerLto erltre membros das duas rafas. E ~natiduu rever as leis de Eurico a fim, provav,elrnci~te, de lilnar arestas e de afei~oi- las ao espirito da nova 01ienta~Uo.

Nao conhccemns n praduto desta actividadc legisla- tiva, q r ~ e teria s ~ d o urn Colea Eurlciunus revisus, Mas sabernos que se verifi:ou, e em q u e consistiu, nao s6 por urn lexto de 5 . ISlOORO DE SEVILHA comu .pur refe- r&ncias de outr-as leis,

A passagem da H i s t ~ r i a de regibrls gothoturn relatjva a Leovigildo, 6 a seguir~te :

a . , . in legibus quoque ea quae ab Eurico incondite constituta videbantur correxit, plilrimas leges praeter- missas adiciet~s, pletasque superfluas auferensu.

Assim, a revisilo col~sistiu na correcciio ou al terago de algumas leis, adttalnento de outras novas e supressao daquelas quc f e julgou sereill inco~~ve~iielltes ou inuteis.

53. A unificapso legislativa e o Codigo Visi- gotico

A estabiiiza~go dos visigodos na Peninsula suscitou o problema d a iusan corn os hab~tat~tcs da ra$a anterior- mente doinitlailte sem a qua1 o IIOVO kstado nbo poderia considerar-se radicado.

Page 60: História do direito português Marcello Caetano.pdf

A conversao dos visigodos a0 catoIicislno destruiu uma das mais po,lrrosas h~r re i ras opostas a essa fusao, Depuis, J o s co11;iiios foi brotando ulna legislaplo cilrnum para godos e I~ispa~lo~rotnanos, etnbora de corn&$o res- tricta i s rnatirias eclesiAsticas. 0 s proprios reis legislam, uma v e t ou oulra, para a:nbas as racas: a p r~mei ra lei que w conhece aplidvel a todos os habitat~tes d l Penin- sula C urn diploina de TEUDIS sbbre custas judicrais.

Mas cabe a RECESVINDO a horlra de ter post0 tcrmo a s e p a r a ~ a o juridica pela publica@o, em 654, d o Cirdigo V~sigbtico, tao~bCrn del~orninalo libar ju i i cum, forum judicurn, llb r juciiciorum,

Da C6Jigo Visig6tico cunhezc~n-se trOs formas, isto C, trls textos diversoj: o primeril, do tempo de RECES. VINDO, a segunda do tempo de FRV~GIO e a tercrira, denornit~ada wlpafa, de epoca ~ncerta.

.

Vatnos estudar cada urna destas tr&s formas.

54. 0odiga VisigOtico : A) Forma racesvin- diana

0 C6digo foi elaborado, corrio ficou dito, prrivavel- merite el11 654 corn a colabora@o do 8." concilro de To- ledo.

Ao cuntr i r io das anteriares con~pilar;bes, de apIica. f l o pessoal; eata teve caractzr ferrllorlnl, isto t , obriga. vatn as suss leis a tndos o j Ilabitantes d o territ6rio da monarquia visig6tica qua[qaer que f6sse a r a p ,

E' o prdnrio Cridig) que, 110 Iiv. 11, tit." I.", cap. profbe cxpressamente o recurso is leis ou instituiccies

rurnanas, o quc pwece confer a revoga@o da Iex rantann vis!gofhorum.

0 historiador (:AUDEN%I nega, pnrbm, que seja &sse o seritido do referido texto: entende que a proibiqao diz rcspeiti) as leis romanas introduzidas na Prriinsula pelos bizantiilos durante a sua dorn i~~aqlo . E. ERNKSTO M A V E R , tiotdvcl escritor ale1~18o, siistenta que a L. R. W. ficou em vigor nlesmo ap6s a prolnulga~B0 d o C6d. L'i- sigbtico.

Em colnpetlsaCgo, o l~istoriador espanhol RAFAEL 1)E U R E ~ A afirma que a L. R. W , se encotitrava re- vogada clesde o tempo dr Leovigifdo.

Ner~hutna dcstas teses se apclia etn provao conclu- det~tes. Vamos, portanto. peia s o l u ~ a o mais corrente que 6 a de considerar a revogaqao das leis romanas cnntida no C6d. Vis., 2, 1, 10, relaliva a Les ronLcrna vislgolha- runt.

0 Cddigo Vijig6tico est l dividido em livros, que cornpreendem titulos e estes Ieis (ou capIiulos).

E' coniposto de: - 324 leis cotn a nota de antlqua ou de nrlfiqua no-

viler rnlersdntrr, procedentes do Codex revieus de Leo. vigildo :

- 3 leis de Recartdo ; - 2 leis de Sisebuto ; - Q9 lcls de Chindasvindo ; - 87 leis d e Recesvindo. Conhecern-se dois manuscritos cam o texto integral

desta primeira forma: urn ria Bihlioteca Vaticana e out& en? Paxis.

Page 61: História do direito português Marcello Caetano.pdf

55 . C6digb Visigotico': B) Forma siv!giana.

0 re1 E R V ~ C ~ I O mandou proceder em 681 i revislo d o texto de Rcresvi~~do Em cotlseqii€rieia d&sse trabalho, em que partlcipuu o 12 * concllio de Toledo, fa] alterada a redttcqln de mrl~tas leis, outras ioram suprirnidds, e bastantes ,acrescentadas, estas dos reinados de V A M B A e d o prhprio ESvfOIO.

A formu erviginnn d o Cddigo Vfsig6tico 4 fdciI de conhtrer em virtude da; lcis contra os jlrdeus que foram acrescei~tadas no final do texto (De novel1 s iegibus judca- ram. . .). .

E x i s tern t r b rnanuscrltos cot11 o lexto ir~tegrai desta forma, todos em Paris.

56. eodigo Visigotico: G ) Forma vulgata.

Pertencem a furrna vutpta 0s textos do C6digo Vi- sig6tico ,copiados posierir)rtner~te a Ervigio que confern novehs dc E G ~ C A e VITIZA e outras leis extravagantes, alltn rle a b i t a m e ~ ~ t o s dor~tr i :~ais , entre rrs quais figura o cklebre Prinuts tilulrrs onde se resume a tearia do direito publico visigbtlco de 11;irrnotiia com os cantslles dos con- cilios e os etlsinalnentos de Santn Isidoto de Sevilha.

N3o Ild, pois, rigornsamente, am fexfo da forma vul- gnta : h i tar~tas formas d o tipo vulgata quantos os ma- nttscrilos en1 que cada particular ia aiulltando ao Cddigo dt Ervigio os clernentos que considerava de inter8sst. Tais aditamentos nein serllpre nHo de confia~lca : h i 'entrt Cles textos apdcrifos, vers6es errdnaas % lels j i revogadas 4 data do acrercento.

- HISTORIA DO DIREITO PORTUGUBS -- .-A

A forlna vr~lyala resulta da elaboraggo pelos particu hres : ngo C urn texto oficial.

Caracteriza-a o Prin~rcs titulrss atribuldopor uns (uRERA) a ilrna revis50 do C6digo feita no reinado de 1 3 0 1 ~ ~ (694) e por outros considerado aditamento da ipoca da Reconquista, e as novelas posterinres a e~vicro.

57. e6digo Visigotico: sua impartdrtcia

0 Cddigo Visig6tico 15 u a ~ dos mais notlveis lnonu- rncntos jurfdicos da Idade Media.

Nele se reflecte a ferrnentat;8o sociel re lul ta i~te d o encontro e da fuss0 de infIuCncias dispares: a influencia ecteei85tica, a influencia rornana, a irlflutncia germinica,

A JnfluCncIa ~clesidstica C dominante. Vimos a parte que os cdncIlios tomaram na elaborafao d o C6digo. Uaf resulta, em primeiro lugar, o estilo-ern latim muito se- melhante ao entPo usado na Igreja, escrito em frases pomposas, corn lollgas tiradaj declamatdrias sbbre politi- ca e moral, que inculcam a preocupaq80 pedag6gica d o Iegisrador, Depois, o clero procura moderar coslumlts birbaros, introlluzir tegras mais racionnis e mais justas, abolir leis em que se consagrasse a vioICncia, a vinganqa privada, a pina de Talino. Nem cempre conseguiu ds seus objectives, mas nesscs casos nao desanimava e pro- curava obter pela forinaq%o das consciencias o que nlo conseguira atravez das leis.

De facto, no C6digo trava-se uma verdadeira lufa cntre as classqs ddiryealds e a barbdrle popular. 0 s ger- tnaoos confinllavarn aferrados aos seus costumes ances-

Page 62: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUQS ----+ --

trais e jb dissemos, a propcisito dos suevos, como a rude- za das praticas barbaras era iicilm:r~te accite pelas popu- I a~des rurais hispano-romanas, ma1 cobertas de um verniz de civilisaqfio. 0 livro de S. MARTINHO DE RRAGA intitulado De correcfiorie rristicorunz rnostra bem o estado dessas populap3es.

Se alguus costurnes germrialcoh aftoram na tetra do Cddigo, bastan tes outros ioraln, dC1e proscritos e nele condenados. Mas, 1130 ohs ta~~ te , os visigodos continuavam a observar muitos dksscs usos legalmente abolidos e a contagiar peIo exemplo os outros habit~ntes penir~sulares.

0 C6digo aparece, portanto, como expressPo do ideal juridico dos governantes da rnonarquia visigotica, nao como repositbrio do Direito efeclivamente aplicado. Era uma lei que estava adiantada ei:i relac20 as possibili- dades sociais da Cpoca.

Finalmente, sao riurne rosas no C6digo as leis roma- nus recebidas, urnas, da F. R. W., e outras do pr6prio Codex Curicianus t8o ro~nantizado ji. Porverltura jd se teria feito serltir a iniluhcia da legisla~go do i q e r a d o r JUSTIN[ANi) (nPn esquecer o episodio bizantitlo ria his- hciria da ~~enirisula sob a do~rlinaq%o visigoda), mas n8o pode dar.se certeza a tal respeito.

Edi~des modtr~zas do Cddigo Visigo'tico - As duas ed i~des qiie os estudiosos portugueses tern ao seu dispor sHo :

a) a edicgo da Real Academia Espanhala (1815)) re- produzida por HERCULANO no vol. I d l ~ s Portugnlioe Monumenfa H l s l ~ r i c a --. Leges el Cor~suetudincs, seyultdo urn rnanuscrito da forma vulgata, tnas corn ano ta~ao das

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES .. --.- -"-- "

variantes encontradas rioutros manuscritos existentes na peninsula ;

b) a e d i ~ a o dirigida peIo eminente gerrnanlsta KARL ZEUMER nos Monuments Gernrunige Historlca (Legum, sectio I . tomo l . O , 1902) e qut foi feita segundo tddas as regras a observar n s s edipaes criticas e ap6s estudos de- ~norados e profundos do edltor sfihre o Cddigo c suas drversas formas

A edi+o de L K U M E R integra ac leis cons~deradas auth~ticas e x ~ s t e ~ ~ t e s nas irks formas (Recesvindiana, Er- vlglatta e vuly;ta), ~~ ld icando , para cada l e ~ , as forman em qut se encontra P adotando urna numet aqno cor~vencional marginal.

Foi esta e d i ~ a o que a Faculdade de Direito da Uhi. versidade de Coln~bra adotou pard publicar nos seus pre- ciosos Texdos dil Dlrelto Vislgn'lrco, I .* vol., 1 Y23.

XELJMER cxclu~u d o seu texttr o Primus titrslus que se enconlra, por isso, publicado coin outras lels reputa- das aut&nticas pela Faculdade mas que o illistre yerrna- rlista n8o julgou que o fbssern, no 2.0 volume dos mesmos Tcxtas.

58. C d n o n e s dos concilios.

Alem das fontes de direito que ficaraill ailallsadas, outras rnerecem n~enqno especial

Assim, tinhatrr grand? nutcrr~dade $fibre os ilkis as leis eclesiisticas dezretadas nos concil i~s ecumknicos, na- cioiiais e provrnciaii, que se denornitlavaln nonlo canones ou anones.

Pelo teor das colec~fies hispdnicas de cgnones (coltc-

Page 63: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES HISTORIA DO DfREITO PORTUGUES

- - - - - - A -- - . . - - - . - - -

Cfies candnicns) sabemos quc foratn observadas na penin- sula as determinaqnes dos oito concilins ecum61licos pri- mitivos (concilios gregos) e dos conctlios nacionais afri. canos, da Galia e da Hispania.

Dada a importincia e influencia da Igreja neste pe- rfodo, o seu direito peculiar (direito canbnico) era obser- vado nLo s6 nas relac0es dos fieis corn a hierarquia e na disciplina interna desta, como em muitas relap5es da vida civ~l.

Conhecem-se vhrias colecgOes candnicas cornpiladas na peninsula, as mais importantes das quais s8o as deno- minadas :

- Cnpitula Mortlni, coligida por S. RIARTINHO DE BRA0.4 na segunda metade d o sCculo VI, contCm 84 capitulos divididos ern 2 livros, corn cf nones dos concilios gregos e de alguns hispinicos ;

- Collectio Hlspanne, de autor desco~~hecido e que deve datar d o skculo V1l;a mais rica de tadas as colec- qdes canbnicas peninsulares, cor~tendo nas suas 2 partes &nones dos diversos concilios ecuminicos e nacionais acima enumerados e algumas dtcrclais jconstitui'qdes pon- tlficias).

59. Fragments gaudent iana.

No f~nal d o sCculo passado, o professor itaIianoGau- de~ iz i encontrou tla btbl~oteca privada de Holkharn um c6d1ce qlle contern fragment05 de uma compi1agAo en1 qrle se m~sturam o direlto rolnalio e o direito. visig6tico r que se atribui a u filial d o skc. I S ou iomeCos d o s6c.X

A &sse, frayrnentos se da o nome de jragrnenta gau- denziona ou de frogmcntos de Holkhafn.

Sabre a natureza dos textos oeles contidos nada se sabe. Apenas ha I~ipbteses, a mais aceitdvel das quais pa. rece ser a de BRUNNER que os cnnsidera fruto de tra- balho dc qualquer particular na Aqditania. EstZo publi- cados na co lec~ao de Textos de dircito vrkigbtico.

0 s formuidrios tbm, como jb foi dito, grande impor- tincia pritica na vida d o direito: por Cles se pauta a redacqdo dos actos juridicos quc devem respeitar certas solenjdades para serem vdlidos ou eficazes.

A f6rmula -5 ilma fonte de histdria juridica d o maior valor porque nos mostra como as leis eram aplicadas.

Ora cor~hecemos hoje ulna co1ecqZo de 46 f6rmulas redigidas, prov?ivelmente entre 615 e 620, por utn noUrio de Cbrdova e que mnstran~ qua1 o dlreilo romano vulgar de etitao. S&o essas as fdrrnslas vlslgdtiras que tambtm estPo publicadas nos Textos da Fac. de Direito de Coimbra.

Em regra ha correspo~idkncia entre as f6rmulas e o direito legislado nosso conhecido. Mas a f6rmuia 20.a1 redigida em verso, rcveia-nos a exrstCncia de unl costume que nenhun~a outra fonte noticia, no chamado direito consuetudinArin gerrninico Morpcngabc (rnorglngcbu ve- tustl dlz a fdrmula), que consistia no dever de o noivo fazer uma d o a ~ a o & noiva no dia seauinte ao da boda (epreco da virglndade*). (1)

Page 64: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO D I R E l T O PORTUGUES ----w--- -- - -

Foi em 711 que a expedlqho de berberes da Mauri- t inia, corn alguns i rabes e bastantes judeuc, comandada por TARIQUE, passou o pstreitu, para v i r apoiar os par- tidirios dos fill~os dc Vitrza na luta contra o re1 KO. DRIGO. rnals tlma vex a eltctlvrclade da c o r b ~ trazia a yuerra c~vil r deterrninava o perigosa apPIn a elementos estrangerros.

re i t0 l/;.riLri;fici~, 2 V O ~ Y . publicadoe pnla Facold~de d c 1)ircito de Co~mhrn. f,<i~isitzi;is Visijp'riru, 1 folhetu, Coimtra. %EU,MER - , PrefAcio h t?diq80 dau leis d e Eur ico e do Chiligo Viaigbtic.o, non ~ ~ ~ o r ~ n ~ n ~ ~ ~ h ~ Grrrrtanirza I9i~tsric<r. LP- f i w n I, 1,~piint natinnl~rl~ grrrnrrrzlcarum, torno I, T q e a V ~ u i - gnt11or\11~1. (:.:\ICI)ENAS II: FI'I'A, P r o c ~ ~ ~ i l l n ~ h eil. r l ~ LP I h'r- uintztc Ifi.iirurdrorlc~;i (la Real Acnrlr~nia Espanbol~r de IIin t h r i ~ , 1896,

NBo a . i q ~ l r u o ~ a ( ! ~ I ~ I J I I I ~ ~ ? Y ~ ~ ! I T I : n I : l i( i~~ri Visigtiticu, 11r <+A\bt 13 AriHtjs , f f 1 \i,1,=;<7 d(i L d : $ / ~ l i , f i % t r d [ , 7 ~ [J, ih/ irn, t o r r ~ ~ i I ; _ ~ i l b ~ . ~ o r~i~rge~igrlhr ~ O V I R ~ ( ~ r - ~ e o ii~tlq11 I!,% r , t : \ T L .J(UR. I)AO nu c i I ~ , s n t : h i u t n r i q ~ ~ c d u _ l ! ~ r i i t f r :~~r~;a~s at Ptr,a11..~1.* 1859, pag. 101 e I'iIiJLU 3lI~;ttEA, / i i ! ~ i / / i ~ ~ ? ~ ~ d i ~ r rt$zn!+s ~ i ~ ~ ~ t r i - nzoriuis, vol. I , pigs. 101 c 1 1 I .

Depois dessa exped i~80 , vem no ano seguirlte o exCr- cito i r ahe de MITCA gracas ao qua1 deixa~n os rnu~ulma- nos de figurar como simples atrxiliares de un; partido visi- gnrfo para lu ta r prlr cotita prdpria.

Trata-sc de expedi~aes militarcs rrlativamente pouco numerosas, e ktnicamerrte helervgineas: n dotni~~ador arahe invade corn os herheres suhjugadns. %lais tarde, em 741, para ilominar a revolta dos berberes, os 5rabes iarao apslo is tropas sirias e egipcias, cornr>ostas de gente rhstica, de habitcls rrlrais e aspecto miserivel.

0 i lnicn traco de l iga~do entre 03 invasores era a re . ligilio rnuprlmana,

62. 0 Is120 e os estrangeiros.

Tnd~ls CIS que professam a religiao de ~Iaomiiormatn o rnundo r n u ~ u l m a ~ ~ o ou /.slao.

i) Isl%n C a camunidade dos crenles presihida por Ald, o pr6yrio Deus, repres~ittado n a terra pelrl i a l i f a , suces- su r du l'rofeta e cheie civil, ~nilitar e rel~gioso de todos os maometanos.

Desta snrte a socirdade religiosa C silnult8nearnent.e u:ns sociedade politica, urn Estado utlivessal cujo sobera- no C (I delegado da d~vindade: a isto se chama teo- cracia.

0 s que n2o aceitar~l a revelacio de hlaornk 011 hlafo- ma, istn 6 , os que rllo sio c r c n t e s , sgo infcirs, colocam.se b r a d l socieclade politico-religiusa e, portanto, consideram-se estrangciros ao lslio ir~dependenirmetite do lupar do nas- cirnento, filiactlo e r a p .

Page 65: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGCTGS -- ----

HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGlJSS

0 Alcorao distingue, porCln, duas classes de infieis: os do livra e os outros,

inlieis do livro sllo os que acritam a revelaqao divina cotitida na Biblia, rrcolthecida por Ivlaomb. embora Ple a considerasse incornpleta: judeus e crfstlos. Para b t e s previa se no A41cor$o urn tratamento especial: 580 poupados sempre que se submetatn a supremacia islamita, pagando tributo i s autoridades rnuqulmanas em troca de proteccao.

Quailto aos restantes it~fieis sh podem esperar do Is120 a guerru santn sem quactel para que recorthe~am a verdadeira fk,

A atiiude dos mu~ultnanos para corn as popula~6es peninsulares s6 pode ser co~npreendida depois de conbe- cidas estas normas. A tolerirlcia relativa que Sles tiveram para cont os cristaos pel~insularrs fui devida, de principio, ao iacto de serem afiados tie urn partido visfgodo e de- pois aos preceitos codnicos, cuja observancia se fornava necessaria, de maisa mais, pela irnpossibilidade em quc os invasores estavam de ocupar eiicazmente a peninsula tdda e de poupar os habitautes para t e r m quem cultivasse a terra.

Portanto, se as popula~Bes cristis resistiam, eratn passadas B espada e reduzidas a escravidao, confiscando- -se-lhes as terras. hlas, capitulando e obrigando-si: ao pagamento de trlbuto, salvavam v~das e bells, conservando rnesmo relativa libertlade, coin leis prdprias, respectivos juizes e autoiidades rcfesifisticas e seculares.

0 c.ristIo protegidn podia sempre optar pelos trihn- nais tnuqulrna~tos, e era obrigatbriamente julgado por kstes quando praticasse delito coritra a ordttn p6blica.

NSO era permitido aos cristgos profegidos exercer cargos de caricter religioso (e portauto qua!quer f u n ~ g o que lhes desse autoridade s6bre mu~ulrnal~os, visto todo

o piiller politict, ser silnultar~rarntnle religloso), rlenl t es - tcmutthar nds q u r ~ t d e ~ entre tnuyulmanos, casar ioln mu- lheres m u f ~ ~ l m a ~ i a s tvtnh5rrn us tnur;uln~alios pudessern casar coln rl~ulheres cristss), herdar de ~rtu~uliiianos, exer- cer sbbre €les tutela, possuir escravos essa religiHo e deter exelnplares do Alcarao.

0 cristao p ~ r d i a a pro!ec~Ho da c o ~ t r ~ ~ t ~ i ~ l a d e isl~rnica st drla s r t r l r t~asse indigno, no~r~eirdamer~te qudirdo se nega~st! a pagnr I) tr~blltu, corlspirasse contra a segurarlca iio Estado, uilrajasse ~ i ~ i ~ l i c a i ~ ~ e n t e r , I'rufeta, ccinver.esse L I I I I rntl~ulrnano f e crista, r.111tasse rrrl i lher ~ t . ~ r p l t n a -

na, etc.. Perdida a p ro tecpa , o illfie1 po~iia ier conllenado B

nwrte oil reduzido a escravid%o e ver sells b c ~ ~ s cor~fisca- dos colno inirnigo cnl~tra quetn 6 llcita a guerra sarlta,

63. Fontes dr, direito muqulmano

(1 Direito ~ ~ l u ~ u l l i , a o o uferece, pois, ca~ lc te r rnuito es~~uciai : as nor:rms jriri~1ic:is sip, exactamel~te .corn0 os l~receitos inoiais e rrligiosos, d~ tados por Deus, fruto da vonlade de Ala irlaniiestaja Iia revLlaftlo de Matoma.

Assim, 15 urn Jireito religioso, sujas leis ribrigam os crentcs em cottsciEr~cie. exactamente conln os ;leillais di- tames divinos. E Ps.e direricl abrat~g-e tadas ns eonas da vida si~cial, seln excepC2o ncljhu~na . - C utn Dirpifo lota- lilbrin. A ~lil)ral, a ectlnomla, a !)~~liticd, (I ritual e a iitur- gia ril~giosas estao abrangidds nas rnalhas cla ordetn ju- rfdica. Urn acto que t~atrsgrida a lei 6 , sinli~itauearncrlte, pecado, imoralidade e 'drlito.

Settdo exprzsdo da vontade divlna rcvelada ao Pru-

Page 66: História do direito português Marcello Caetano.pdf

feta, o Direifo ~rlu~rllrnann I I % O provem de nenhuni orgao le~is la t ivo t e r r e ~ ~ i i . A actividade juridica resume se a in- terpretar a Revelacao e ern npllcar aos cams co~:cretos a lrornla exlraida das lacil:~icas r l~aui tes ta~bes da vonta.de de Ali .

Por isso o Uire~ tu ~n~rculnrairo i predominante t r~e~~te cnsrri~tico, isto 6 , ns juristas resolvcn~ case por caso, e 6 6

a prop6sitiJ das d ive r s~s situaq6es hutna~ras co~icreias 6 que drzem o qur 6 licito e 0 que 6 verlado fazer.

0 s ir~terpretes ndo cs:au de acijtdo, por tm, sirhre certos ~ro:ltrrs, r e l a i iv , ,~ a otdern de i~npntiSincia das ion- tes e ; I , > t n t e~~r l i~ne l t to rie a l g t ~ ~ r i ~,.issos deias. Por vrrtu- de desses divrrg6ncias tormarern-se qiiairo ei'cofas, seitos ou rites orI+ldoxo~, d a ~ quais dr j~nir~uu ern Espanlla e dor~~i l ia air1 ;a elrl .llarrocns o clrarr~ado r i l l ] rnuleqriita.

S e y ~ i n d o essa escola ou riti:, ;I forrte material ~iliica dn Direit i~ ~nucul t r~ani~, qrie 6 a v1111tade de Xti, rtvela.sr:

1." - pel0 Alcorun, livro s g r a d o , ilitado por Ald ao seu Prufeta ;

2." - pela Suria, ~ e t a t n das accdes praticadas pelo PI ofeta durrlrltz a sua v ida : o J u e ele disse, o que &Ie fez, e o qile t le co!~sei~til i ;

3,' - pel3 consetittmerrto dn rorr~urlrdadi ou Ichrna, pais o que toiios qurrcrrl C da val~tal& de AIB, P Eie pro. rneteu ab3 seug crerrtes que a sua cc~mu~i idade llunca se pord de :ichrdo 8-cerca-de urn & n o ;

4." - - pela dedupio a1il7idg~ca clu adapisqao das nor- mas cxpressanierlte forlnuladas para rieterrni!tildos c a w s a outrns cas i~s a118logos.

E sahido yire, politicarnente, a Espar~ha rnu~ul rnar la passou !,or udrias fases de orgar~jzaq%o. ICsquerniticarnente, ei las :

n) provincin d o catifado de Ragdade, gover~rada por uln voli nr,meado pel!) emir do Norte dz Africa (de inlcio);

B ) rnr~rlarq~lia i ~ ~ d e p e l i dent:, corn IIz? r s r ~ l t a r . isem so- brraria leligiosa, prtrpria do Calita) desile 755, corn a d i . ilastia n~n lada de Abderra~ngo 1 :

c! c i ~ ~ d e - s e o dorniriio n~uqulmnno em tnuitos pequc- n o s reir~os priricipados i tr i lependt~~tes, n o final do sC- culr: I X ;

d) rnonarquia ui~itir ia, olltrr vex. en1 929. colt1 Ahdrr- ramgo 111 que se l~rt;clan~a Caiifa;

r ) nuva puivprtzacZo ern rcirrcls d iss ide~~tes tin Cali. h d o (lizijus, de berheres, cslavos, rruu~ulmanos hlsp2nic.o~ 011 re~~egat ios) rio sec. XI ;

f ; ~ ~ ~ i ~ n a r y u i a alrrrorivide, rln ~rresrna seculo. N P ~ rnenctoi~arnos a n o v a rIissid@ncia posteriur aos

almoravides e depcis a rnni~arquis alrnoade, prlr serem factos pasrados no%teriorirrente a i l pcricdo ahrd.igidopur esta iritroduqao.

A admil1isirag2o das cidades 6 tnal co~ i l~ec ida : sabe. -se apenaj que alg~iinds delds, mais ilnportai~ies, tirlhalrl unl governador n u voii

Co:no o D~rei to r n t r ~ u l m a ~ ~ o ti1111a caricier teltgioso, a fuliq30 de a11licd lo era q~ibsi sacerdotal.

O Caliia era o supremo juiz rla yualidsde rle sucessar d{l Profeta, e detegava 110s seus reprrseritar~tes dos viirios graus da hierarquia os p o d ~ r e s de jurlsdi~3o. Nao se

Page 67: História do direito português Marcello Caetano.pdf

exercitava quaIquer fur l~ao judicial sen80 em nome d o Caljfa: itnpossivel conceber-st a deslyllaq%o de mayistra- dos por eleiqlo.

(-huein julgava ordinhriarnel~te rra (1 cadi (juiz): dc ubcnila veio o alcalde que e pl'ecrso tiao t:o,lfundir corri aicaide (de of-cuiit, chefe milltar).

Mas a par d o cadi havia jufzes especiais: assim, para a policia econbmica das cidades ewistia n almotacb e para a cobranqa dos inlpostos o alrnoxarije.

As cidades e comunidades cristas submctidas corn tratado de cdpitula@il e as corn~ir~idades cristas existcti- tes nas c i d a d ~ s arabizadas, tnantinham, como ficou dito, as suas tradicionais i:islitui~des e regiam.se pelo C6d1go !Tisigcitico.

Persistiria nelas a urgalriza~Bo municipal? Nada se sabe de positivo a tal respeito. 0 pr6pno HEHCULANO, etnbora defendesse a tese da oolltiriuldade d o municipio desde os rotnjnos ate a reconquista, 6 torfado a recontte- cer que f is tam ~ o b s c u r o s ves t ig i~s* d o munrcfpic~ nro- pirabe.

Conhece-se a existCncia em cada cidade, de utrl Conde nclrneaclo pefo scrberar~u ~nuqulrnano yarn governar ns crLstaos, de uln juiz - cflasar - encarregado da admi. ~ l i s t r a ~ l o i ta j ~ r s t i ~ a e de urn fut~ci:~tldrio a cujo cargo es? tava a ci:lhra:lca dos trihutos a pagar ao Islao. rlencimit~a- do rxrcplor.

Q11:re t l izer que carla comunidak territor~al cristL I % ~ r l r ~ a v a u : ~ i f ~ !i!lidiid?, ulna pessaa nloral crljos itlterCsses ersrn gerid(~s por orgBo5 prdprios, - e a i esta n [~riticl. p ~ o bdsico d o municipio,

Nso existem vestlgios da C6ria.

6 5 tnflu6ncia muculrnana no extremo ocidente

C) dilminio muqulrna~~o fni dernorado e excrceli pro- tunda iiifiu21lcia rlcrs ferritt jr igs ao s u l clo hlond&go, no- tneatlatnent~ I I O Alct~tejo e I I O Algarve nnde exist i~am algurls iiorescentes reitlrrs e prji~cipados independentes.

Mas a n norte d o MondCgo, pelo contr4ri0, a o:upa. p o cfectiva foi prechria. 0 rio ,jlo~td$gu cot~stiluiu, desde rneaiins do sScul:) V l l f , a fronkcira setentriortal dos terti- tdriris mul;ulmanos tlo extrgmo ocidente: dai at6 n!uito ao trorte estendia-se a terra de njriguCrn., onde ner~hurn dos conter~dores. m u ~ u l m a r ~ n s ou cristiios, rxercia autnrl- dade permanetlte.

Vejamos como no territdrio rnu~ul rna~io se tormou uma grar~de rnassa popltlaciot~al rrlista, ou seja, partici- pando de caracteres sociais das duas raqas em presenqa.

*Er.inl. eln pritneiro lugar, rrs cris&uos protef~dns que titlllarn coliservado a liberdade e a prc~priedade em trcca d.i iubo:icsao e d o pagamerito d o jrnpclsto pessoal (por cabeqa de var.30 piibzrz e Irurt) e do impqsto predial. h t e s cristaos, a forqa de couviver cum us Qrabes e de corn eles comercjar, adoptaram-lhes muilos costumes e a lingua, chimando 5r. uor isso, rnncdrabes.

Llepois, havia, os c r i s t d o s gue sc tinham coravdrtldo a o iglarnisnlo. Tais cotivcrsbes filrarn bastade Ireqiiet~tes, em especial da parte dos servos de cri tans, que uma vez 111u uirnar~os, recobravam a I~herdade, e ainda Ltr peesoas a~nhiciosas de i11fluE::cia e poderio que , sem escllipulos, xnudavatii de 1eligi8o I,:ira conseguir os seus f i l l s Estes co~~ver t idos erarri desiglrados pelo tlotne de ,re/iegados e exercerarrl papei itnportantisst~no na Espat~iia muqulmana, fundando virios reillus d u r a ~ t e as d~ssidEncias,

Page 68: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREJTO PORTUGUBS - - - - - - - . - - --- -

Finalmente h i que ~nencionar us fllhos dos cosamen- tos de t~ru~ulnzanos coit; r~zulheres crisfds, casa~nelitbs tanto mais freqiientcs quat~to 6 certc rercnl os i rabes trazido poucas mulheres da sua r a p . O r a o s deicer~dentes destas alia~lcas t i l ~ l ~ a m , pelo Alcorao, de seguir a reljgilo nlahn- metatla rnas r:ntilral.mente recebiarn erlorrne iriflu011c1a rnaterlra : sio o n6cleo rnais caracteristici) dirs m ~ r i p l r n i i .

nos h i ~ p b n i c ~ ~ s . De tadas a s cl,asses de popula;ao r ~ ~ i s t a , a que mais

contdbuiu para ititroduzir ]]as sociedades cristas post?- r i o r m e ~ ~ t e formadas as i~~lluPrrcias mut;ulmarras, foi a classc dos rno~arabc-s.

(1s moqirabes, en1 pleno cnraqBo das cidades ocupa. das pelos tnu~ulrnarios conYervavarn beus tenlplos, obe- deciam a o seu bispo e regiarn se pela sua lei que era o Cddigo Visig6ticu.

Nas r eg~des rul ats os cristilos furatri uhrigados .iiiui- tas vezes a i ~ ~ t i r n a conviv&nci;t cum os rtlu~ulruanc~s, re- sultante da obr igacho de abilletarnento das iropas, a quenl tinham de e l~t regar a tCrqa parte de tada a prr?dt~c%o, e do estabelecime~~tn de colot~os agricultures, irnpr~stos na qualidade de parceiros aos proprietiric~s ino~arahes .

Nestds condiqBes 6 ilstural que tetii~a llavido entre os individuos das duits reliyides jr houve efectivarnente) intensa permtlta de hibitos, processes de traballio, costu- rnes e linguagcm (restaln rlo nosso lexico unlas mil pala- vras de t t imo arabe), e certo irltetcitrtbio juridico.

O cotlvivin soddl foi g r a ~ ~ d e espcciiiIrnerite a parlir d o s4:ulu X. Na ~ i d ~ ~ ~ r c o r t o ~ n i c a , rlo c ~ r ~ l ~ k i c i o e i l a agri cultura, sobretudo, teriam os crist8os assinlitado n~iritas pdticas mu~ulmanas .

Mas adopcao inacissa de iristitu?qbes juridicas, era

itnpossivel que se desse: opunha.se a tai o cardctrr reli- gioso tlu Ihreilo m u q u l r ~ ~ a ~ ~ u . Para aceitar as normas por que se reyia o IslPo, tinna de s e aceitar a vontade de A1i Ila revelafio de MTfc.ma, U ~ I crislao 112o podia fa&-lo.

Assirn, no Ditelto dus Cristlcrs penetroli uma ou OU-

tra il~str~ui'c%o nluqulirlana relacionada cunl a vida e c o 1 1 6 mica, corno jpor exernplo a parceria rr~ral (ver o nosso Oi3diy.o C~vi l , att." 128%). NAo se sabe at6 que pollto llouve a r r e i g a ~ ~ ~ e n t o de velhos costumes gerrninicuti, que o Cddigo V~sigbtico reprovava, mas que o Alcorao acei- tava e us r n u ~ u l ~ r i ~ ~ ~ o s praticavan~; tais rrarn as rnitiiuY- ~ b e s penais cla pelda cia paz, da vi l iyan~a privada, da composiC%o e do p r e p d o sangue, . . 'Alem disso i! pos- sivei que a influ2ncia do Diseito m u ~ u l t n a r ~ o se tives~e feito seutir tlas 1nst i tu l~6es fam~liares. ( I )

( { I Prillc~yriri n b r ~ ~ a c.uri~ulIprr s6Lrr Gate copittrlo: LWZ 1 , .-Ffrtt(~zr< dt.1 I I ~ I L . ~ Z ~ ~ ~ U ~ J H . Y c / 'E, t#qj~z t , 4 V I ~ I ~ . - ~ ) A V I I ~ LOPES, -- O ~ l a , ~ i ; u i ~ atnbt l l r l ,'IIistill.la dt? Portr~gala, eci. r l a Bartnalor, I, ydg, 391. - GOX%ALE.Z PAI.ENCIA - J I i i t i ~ i ~ > & /tz E f p t 1 ~ 7 , z i I ! : ~ . ~ t ~ h , j ~ 1 m 1 . - LL)F'EZ OR'rIX - D ~ r c c I : ~ rr126 rrOi~tn'tz. - u KENA -- flisliirrn dc Id Littrdtttru iutidica tspniiol~z, pag. 421 t! aag.

Page 69: História do direito português Marcello Caetano.pdf

A MONARQUIA LEONESA E 0 CON- DADO PORTUCALENSE

66. A reconquista crist8.

E' sabldo c o o ~ o um r~iicle;> de cristgos, chefiaclo prlo rtobre IJF:LAIO! resistiu lias Ast6rias a cnilquista m g u l - mana, e atraiu a si todos ns qut nrlo queriarn resignar-sc a viver sob jugo tstrartho.

A breve trechu Ssse grupo, ja numerosn, elege o seu ctlefe como Re1 e arroga-se a coriti11ua~30 cia sociedade polfticd visig6:ica : tiascell a ~tionarqaia crisici das ,4sftirias, corn a capital sucessivai~ter~te etrl Cangas de Olt~s, Prav~a e Ovicdo.

Nos prilne~ros terlillos a escasscz de g e ~ ~ t e e o Ijerlgo constante sco~~selhava~ii a cr~t~centra~; iu maxirna de tcir~as. Quando a revolta dos herbere5 coiltr'a o i i rabes (741-750) dividiu entre si ns veliceclo~.es, e novd l i i t a civil os er~tre. teve seguidatr~ente a proptsiio da prt clamac%u d o sulta. nato oniiada (7563, o rci rlas Asturias, que era entfio AFONSO I, achou o triomento asado para intervir,

Por volla de 759 corneqa ulna skrie de expedr~ijes

fulltlinantes dns crist3os drrigirfas sucessivarner~te a mais de trinta cidades situadas no tiirritdrio que st estendia em redor d3s Astdrias.

Conquistados os castelos (excspf i s cnstris), o rei ta la- va os, campos slthurbanos e as I~erdades e aldeias neles existentes (cum iriltis el ilicnlis) e passava a fio de espada quantos rnu~ulrnnnos se lhe deparavam instalados nas tcrras (clmncs arobss nc~nputores interfi~iens); depois, reiinlndo a prha de guerra, regressava As Astiirius a pre- psrar novo assalto mas levaj~do cot~sigo os habitantes cristaos da regiao oilde operava (christianos sccum ad pa- triam cuxlt).

DEste trmdo, as cidades ficavam deslruldas e abando- nadas, sern popitla~ao permanente, setn autoridades, sem vida: apcnas alguns lugares mais pr6xilnos dos redutos da defesa asturiana foratn conservados no poder cristgo. A ge~rte arrebanhada ia povoar e culkivar o territdrio do novo rtino e fornecer brafos para a luta. E avastm regiao despovoada, que as mu~ulinanos n i o pouiam tanlbkrn rtocupar, L falta tic hnrnet~s: ficdva ca~~stituirldo urna zcsna neutra, sem senhorio defii~ido, especie de terra de in- g d t n ori~le peribdicamtr~te s t faziam correrias de parte a p a r k como na moderna guerra de patrulhas.

No nossn rerrit6rin reum as crhnicas ter Afonso I cafdo sBbre Braga, PBrto, Chaves e Viseu Mas o vazio deixado pe!a retjrada herbere vitllia ate'mais ao sul , pois por muito tempo a fronteira d ; ~ efectiva ocupnfiTo rnllcub rnann esteve t r a ~ a d a polo rio Mot~dEgo,

Bd qtlem sustente que tbda essa faixa de territ6rio constitufrl *ulna ~ i n t a d e rle5ertos , donde 15ra eliminado ate ao tilti~no sinat de nctividade humans. Na vrrdade, os cronistas emprcgam para designar esta acqgo exercida

Page 70: História do direito português Marcello Caetano.pdf

. . . - . . . - HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGUES -

pelos reis asturianos o termo ercmarr: tornar Crmo, In- culto. E a ser assim, existiria utna solu~ilo de continufda- de entre om povoadores primitives do narte de Portugal levados para as Ast~lrias, e oa que maia tarde o vieram repovoar, Deus sabe donde.

Nao deve porkrn esquecerese que as crbnicas, escritas cem a n o ~ pclo rnenos ap6s o acontecfmento, sPo simples relagaes descnloridas de factos, anotados em concisa tnen~80, orlde o r~arrador propende a JUprir corn o vigor da Frase a deHci&ncia descr~tiva, encadeando rotundas ca- tislrofes e glbrlas inteiriqas t ~ o mtsmo tom soiene em q~ke nHo h i lugar para sombras tiem para pormenores.

Se, por urn lado, olharrnos a exfensilo territorial abratipida pelns incurs6es asturirnar, e por outro a corn- pararmos corn a zona atacada no extrsmo ocidente, ficil sera ver quc elas nZo consistialn fluma batida sistemitica e meticulosa das regiber, palmo a palmo, de modo a nHo deixar viv'alma : eram rapidas correrias, partindo duma base segura em direitura aos objectivos escolhidos, para regressar sem d e t t n ~ a corn a press e os habitantes. Nern convinha autnentar ern excesso o ~ ~ d r n e r o dos uristaos le- vabos, o q u e complicaria e demoraria a marcha, ncm era possIvei alargar a operagso por fara dos trajectos prkvia- mente tracados.

Ora o cronista menciona quatro cidades portuguesas, apenas, cuja posif%o dcixa adivinhar que teria havido duas expedi~8es ao nosso territbrio: uma por Braga at6 ao PGrto, olrtra por Chaves at& Viseu, decerto passando por Lamago. Netthu~na noticia existe a respeito do rcstantc territorio e nsn C ousado supor que por 18 se tenha retu- giado ulna populaqZo numerosa e sofredora, alheada quanto possivfl das lutao travadas, e aprnve~tando o re-

- --- HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGUES - . . - -. . - - - -

lCvo acidentado das Beiras para escilpar its investidas de urn e de outro lado.

T80 deprtssa os combates se daslocassem mais para leste, onde principalmente a batalha da recot~quista se de- setivolveu, logo os lnais animosos procurariam as ferteis terra3 baixas para cultivar; um dia, aquele pedafo da frente voltava a animar-se, e a razia irabe ou crista inuti- lizava numa hora o piciente trabali~o dc anos: outros via riani em breve recomeqar. Conforme a itlterlsidade da luta e a d e s l o c a ~ ~ o da fronteira, dar-se-iam pois fluxos e rtfluxos dc povoamet~to em certos lugares, mas n%o faltam os indicios da existencia de mostciros e igrejas, centros de protecqHo e organiza~ao social que permilir%o depois a rPpida ressurreiqiio da vida civil j i patente nos docu. mentos e notlc~as do ~Cculo IX e inexplicavel por sdbito rratamento de t radi~acs de todo quebradas h i cenl anos.

0 repovoamento oficial sera, pois, antes uma reorga- nizaqao: a restaura~ao local da autor~dade e da pro t~cgio do poder. Mas aos repovoadores vindos do rlorte depressa se juntarao muitos dos qus ficaraln fiCis h terra, diepersos por humildes cabanas, te~~azmeulr apegados is ruinas, ou resignados ao desconforto da serra, corn seus gados e pobrfssimat culturas.

Nao significa outra coisa a manuten~80, ajnda hoje, de remotor usos e tradiqdes tlas populac6es do norte, Incompreensiveis se estas fdssem fruto duma agregacao de acaso no progress0 da reconquista. E as,si~n podemos crer, seln receio, que n8o falta nenhurn fusii Ila cadeia de gera~des que, dcsde as citiniau, da alms a terra de Portugrl !

Page 71: História do direito português Marcello Caetano.pdf

67. A f e r m a ~ a o das munarquias nee-goticas.

0 s reis das Astlirias, irnedida que iam vendo cres- cer o seu povo, ililatavam prudentemente os dominios de monarquia, repovoando cidades e orgatrizando os respec- tivns ferritcirios.

AFONSO 111 (866-910) d5 grande impuiso a esta obra dc expansso i. ORDONHO 11 (914-924) para melhor p ~ d e r governar os seus estados dr superficie crescente, transiere a capital d o reirlo para a cidade de Leiio. A partir rle er~tao a rnoilarqui-1 diz-se ieonesn: mais correcta- rnente se lhe charnari, porkm, para rnarcar a contirlui'da- de existente desde as Astirrias, moaarquia astur-feonesa.

AFONSO III orderrorl o repovsamentn do nosso territ6rio ao su1 do rio hlinl~o: a cidadr de Portucale fui ocupada em 868, e ao redor desta data se operou a re- constru~Eo de outrao cidades, a t e Viseu.

TBdas as terras errrlas ou tomadas aos mu~ulrnar~os eram consideradas sem dorrt) ( res nulllrrs) e portanto sus- ceptiveis de ocupapio ou presu'rio.

A ocupa~%o fazia.se em nome do Rei c para o seu patrim6nie. 0 mollarca designava a pessoa (nobre ou bispo) encarregado do repovoarnento - presor. este pnrtia com a sua expediqao composta pela hoste militar e pelos futures povoadnres, levatrdo B Irente o estandarte rkgio. Chegados ao lugar a r:cupar, fazia-se a entrada pCrblica da expttdi~ao debaixo de for~na tu~nando posse bern so- letlrmentc., con] a handeira dcsfraldtda e ao som da trom- beta (cum cornis cl a l , : ~ d : d'e rrge), Repare se nas afinida- des existerltrs enire Sste proc'esso de repovoarnento c o rito da iuiidacau das co16nias romanas.

A ditata~20 dos territirrios ocripadas pelos cristaos e

a multiplica~fo do namero dbtes, foi origitrando o aparc- cimento, ii wargem do reino leones, de outros Estados opostos ao poderio mu~ulma~lo.

Assim, a antiga Murca hbpdnica do irnperio carolln- gio cedo (no siculo IX) comeca a tornar-se aut6noma dos soheranos de ilem-Pirerleus e a expandir-se do lado mu- ~ulmano, ate que no siculo X forma o condado ds Bar- celona, independente, nlicleo do futurv reino de AragTo.

A nordeste da Pe~tinsula outro ndcleo de reconquis- tadores, nominalmentt submetidos ao rei de Leao mas de facto sempre bas tante livres de movimentos, procla~nam em 905 a sua independit~cia formando n Reino dc Navarru,

Enfim, a dificuldade em que sc encor~trava o monar- ca IeonCs de assistir assiduamer~te no govkrno de tBdas as partes da sua monarquia, permitiu o engrarrdecimento do poder dos Condes de Castela que, no meado do si- cula X, proclamara~n a sua indeperrd&ttcia formando-se o relno de Castelo.

Recordados estes poritos de Histdria politica, pode- mos agora ocupar-nos das irrstitu'i@es juridiro-politicas da rnonarquia leonesa e das condiqUes de formaGio da indeyendCncia de Portugal.

05 reis +e Lean, olesmo apds a formaqgo de nflvos Estados cristaos n a I'enh~sula, cotisiderararn.se constant€- mente cotrtiriuadores da lilthagem clos reis v~s~godos e seus legitimos sucessores e representarrtes.

Dal o reivindicarew a supremacia politica sBbre tbda a Espanha, a superioridacle sabre todos os soberatlos

Page 72: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 73: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIA DO DIRElTO PQRTUGUES HISTdRIA DO DIREITO PORT CIGUBS -~,-- - --.--- -

territoria dos reinos feitas em testamento por SANCHO- - 0 - M A I O R cIe Navarra (1035) e por FERNANDO-0- MAONO que juntou os reinos de Leao e Navarra.

A influtncia feudal porkrn nil0 tocou prnfunda~~tente o poder real,conlo tambCm nao atingiu em profundidade as outras institulr;&ts pet~insulares,

A tendhcia para o fraccionamcnta dn soberania, ca- racteristica do feudalismo, procll~ziu talvez a forma~rZo das diversas rnonarquias peninsulares posteriores ao reino de Lerlo: mas .corn0 cada p e d a ~ o destacado se procla-. mnu o b e r a n o corn -urn rei hereditbria (a hereditartedade firma-se em Lego ja a partir de 3-48), que rtinava e go- vernava efectivamente e conce~~t rava em s i o poder militar t civil, a desagregaqiio nRo toi rnuito mais longe, como vamus ver.

70. 0 feudalisma.

Para compreender~r~os as semelhan~as e diferetiqas ex~stentes entre as i n s t i t u ~ ~ o e s dns Estados da reconquis- ta e as dos paises onde sa arreigou o regime feudal, tor- na-se trece:sariu rever, em duas palavras, s inaleria rela- t ~ v a ao feudal~smo, suas caractcristicas, seus elemel~tos ~eradores. ( I )

Nas orlgerls d o ieudr l~rmo esti o ftudo. Ora, o que era o feudo ?

O fmdo collsistia Ila concessilo do us0 e da fruicho

--- -- ( 1 ) E' escusado prerenir que h i opinraes divergenies e auto-

' rizadar s6b1t d~versos dos yo~l los versados, NZo podendo cntrar aqui tm diseusa6es, adoptou-se ccrta or~entacRo t s6 essa se exp6e.

de bet13 productivos feita por uma pessoa [sazcrano) a outra ivassalo) corn a condiqHo de kste ficar fie1 ao cnncedente e de Iht prestar certos serviqos nobres, especialmente 0

oerv i~o militar. Trata-se, pnis, de meros dirtitos de uso e f r u i ~ a o

que, de infcio, o rei concedia aos sells homens de armas, em virtude de tlecessitat q u t &leg estivessem prontos cons- tantemente para o seu servico corn arma; e cavaloa apres- iados. A moada era ent8o muito rara: predominava, em vez do sistema de pagar p r e p s , a troca de ct~isas por outras coisas ou a concessao de benr silsceptiveis de pro- duzir frufos para rernuneraq8o de s e r v i ~ o s permane~tes .

A concessao do* faudos fazia.se, portanto, a6 a varfies, visto 56 e s t e s prestarem acrviqo militar, e tillha carhcter passaal e vitalicia, isto C , caducava p o t morte do sutera- no ou do vassalo: em qualquer dos casoe, a sua conti- nuaquo dependia da contlrrnac%o d o suzerano.

Assirn no IrnpCrio carolingio os grandes chefas milita- res receberam considerlvcia feudos e foram investidos, depois, no govern0 e admitlistrag30 dCsses' territbrios, em nome d o rei, como duques e candcs.

Rcpare.3~ que, de inlrio, havia sbmente urn contrato de dircito privado, espkcie de doaqgo remu11trat6ria revo. give!. S6 mais tarde os concessiondrios d o feudo obtem poderes de administra~Bo e de jurisdi~ao rnas corn0 fan- cl'ondrlor rdgins, como autoridades nomeadas pel0 .rei e nubmetidas ao seu mando.

Ate aqui nao havia regime feudul: b t e aparece apenas quando os detentores dos feudus passarsm a considcrar a concessgo como um direito patrimonial hereditkio, c enterideram quc os poderes de govern0 e de administra-

Page 74: História do direito português Marcello Caetano.pdf

~ g o ! h e ~ pert~nciam na qualidade dr-fcudathrios e se trans- mitiam, portalllo, corn as terras (cunfusPo da propricdade privada da terra crlm o direito de exercer s poder ptiblico).

lsto 15, os duques e condes usurpnrorn em proveito pr6prin a poder que lhes tinha sldo confiado como fun- cion8rios e deixaram de pedir confirmagBo rhgia para a transmissfio dos feudos: que se torna estritan~ente here- ditbria mesmo para dcscrndetttes lemiriinos Entio a preocu. pacgo de cada feufiat8rio C a de alargar osseus dominios i crlsta dos outros, par meio de pactos, a l i i n ~ a s matri. mon~ais, fraude ou conqilista. 0 re! indolente n8o tern f 6 r ~ a para intervir e para fazer respeitar a sua soberania.

Para esta situaqzo contribuiu a fraqueza dos monar- cas irancos nos siculos I>( e X e a necessidade em que sf virarn os seriliores dos feudo's de organizar, peltrs r e t ~ s pr6prios meios, a resist&tncia contra os invasores, em es- pecial os t~orniatldos, a que o rei nga fez face. Daqui re- sultau que os feudatarios levantaram tropas, ergueram castelos, cunharam inoeda e cobraram tributes.

E'. certo que os grandes senhores continuavam a con- siderar-se f i t i s do rei, srrpretno suzerano, isto k , suzera. no que n8o era vassalo de mais ninyuem. Mas como os grandes senhores exercem directalnehte nos seus feudos sdbre os reapcctivos habitantes todos os poderes de au- toridade, o rei riada pode em relaqao ao sdbditos d o reino sengo atravez dessa classe interm6dia que 56 serve o su- ztralro rta rnedldn ern que Ihe convkni.

Freqiic~iternente ns grandes senhores concedem, par sua vez, feudos detltro dos seur territdrios, a vassalos de quem ficam se:ldo suzeranos, estabelecerido-se assim utna hIerargaia feudal.

HJSTQRIA DO DfREITO PORTUGUBS ---d--.-,----A..---.--- -- - - -

71. Elementas do regime feudal: recomsnda- F ~ O , bansficio, senhorio.

Se analizartnos agora o regime feudal nos seus ele- meutos jurillicos, encontraremos trCs institui~Oes essen- ciais: a recomcnda~do, o bencflcio e o senhorio, diversas qntre si, mas de cuja conjutlfHo e evoluq3o resultou o feudalismo.

Rccowcnda~tio (commendatlo). -- A recornellda~2o era o pacto pel0 qua1 urn homem livre se colocava voluiiti- riamerlte na dependencia de urn senhor que se cornpro- tnetia a proteg&-lo em troca da promessa de pagamento de tributo e da prestaqlo de serviqos.

Bbnefkio (bsn. f iduni ) . -0 beneficia corisistia no f e u do prbpriamente dito: ulna liberalidade rCgia, que no impkrio carolZtigis tinha a forma de concessao.te~~iporbria e revoghvel de usufruto a urn beneficiirio, cotn reserva da propriedade para o rei. A terra dada en1 beneficio era possuida pelo vassalo em noliie d o monarca, t i da de ou. trcm, de onde o notne de tenurs, S6 posteriotmtnte, por abuso, o possu'idor passou a dispor drla e a ronsiderou heredithria, mesmo para as filhas. 0 beneficio, na sua for tr~a origir~iiria, implica p:ira o beireficiario o encargo da prestaqao dn cerviqo militar ao suzerano.

Serrhoria. - O senhorio corresponde ao conjutlto dos poderes de autoridade priblica (miilistrar justi~a, levantar hobtes, cobrar impostos,. . .) exercidos e m nome pr6prio pel0 beneficiilrio nas terras porsuidas, corn excluszo dos rnagistrados e oficiais d o rei. Em terras senhoriais o rri rr&o podia mandar cobrar impostos, que reverkiarn para o senhor, irenl exercer qualquer jurisdl~%o que tambCm s6

Page 75: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ao senhor pertencia. 0 poder do rei s6 aE 3e fazia santir na medida em qne o senhor o acatasse e executassc.

72. Existiria o feudaliomo na Peninsula?

Em qtle medida penetraram estas instituT~6es na Pe- ~lirrsula? E' evidc~ite que os reinos da Reconquista nHo ::odiam ficar totalmente isentns da influencia delas. Em prilneiro Iugar parque representavam o cspirifo do tempo, e depois porque as rela~2res corn a F r a n ~ a foram-se inten- ;ifitando devido a diversos factores, entre os quais avul- tarn a vinda de jograis, a de rorneiros para S. Tiago de Composte:a, r de cavaleiros para a cruxada contra os mu~ulmanos, e alem disso os casarnentos rkgios e a ex.. tensao, sobretudo no stculo XI, da ordem monistica de Cluny por tBda a Penfnsula crista.

A influPncia francesa foi; portanto, considerdvel. E nao ci de estra~thar que ericontremo6 no direito pirblico ptnilisuiar instituii~8es afins &s do regime feudal franco. Assim ;

h!ecornenda~do. - Jg o C6digo Visig6tico (53) regu- lava o palroclnio ou comtnrnda ; o mesmo act0 pelo qua1 o hon~em livre, sem deixar de ser livre, ae coloca sob a p ro te~go de algukm mais podcroso, aparece mais tarde designado llelo termo irabe mrrladia.

Em nota ao liItilno volume da sua Hisldrla de Par . lugal escrevell BERCULANO : A relac30 de maladia parece tcr nascido na kpoca da conquista sarracena a ser Ltm resuitado da confusao e barbaridade qtle reitlava por aqueles tempos. Em Oviedo e Le3o o fraco, o pobre, o humilde estavam cotlstanteinente expostos is violencias de

uma aristocracia miPtar, para cujas rude$ paix8es fraca bar. reira eram a6 ir~stituiqBes plibiicas, apenas esboqadas, con- fusas, e n8o defendidas por f B r ~ a alguma moral nu mate- rial. Unla ideia, que naturafa~ente devia ocorrer aos indi- viduos incapazes por qualquer motivo de repelirtm a violencia com a violincia, de se defenderem a si prdprios, era a de se colocarem debaixo da guarda ou commenda de outros; era a de se fazerem clientes de algum hornern poderoso ou valente, o qua1 lhes assegurasse a proteccio que nao podiam dar a si mesmos, a trdco de didiras ou perls~les expontineas. Bste facto forqosarnente se verificava freqiientes vezcs; c r~ao se verificava s6 na Peninsula; cxistia por t6da a parte e na origem de tbdas as nag6es modernas.. (0

Corno se criava esta relacgo de protecqao? H i a dis- tinguir a r t c o m e ~ ~ d a ~ a o berrilorlal e a pesseal.

A recornendup-60 terriiorlul podia revestir duas for- mas :

- incomuniagdo (acto de p8r em comum) : b que pretendia a protecqgo fazia coln a pessoa paderosa urn pacto (pirctum incornmarriationis) mediantt o qua1 os dois ficavam assuciados na propricdade das terras d o protegi- do, ou se formava uma espkcie de parceria (da colheita de cada ano dessas terras uma parte pertencia ao protector);

- benefactorla : o pretendente entregava tBdas as Buas terras ao serlhor e kste restituia-lhas outra vez, p ~ s oneradas corn certos encargos que eraIra o prew da pro- teqgo. As terras Hcavam se'ndo tldas d o senhor.

A rrcomendagdo pcvsoal ou pafrocinio, C a que vem

Page 76: História do direito português Marcello Caetano.pdf

regularla no CSdigo Visig6tico. 0 pretendente, obtida a protege, passava a viver na depelider~cia pessoal d o pro- tector, corno homem da sua c r i a ~ a o (brscddrio, crlado), umas vezes na prhpria casa d o senhor e outran vezes em terras cedidas por kite.

Beneffcio.-TambCrn na Peninsula se encontram insti- t u i ~ 6 e s d o tipo d o berleffcio.

0 s reis faziam doaqbes tempordrias, o emprkslimo (praestlntonium) de terras, aos nobres para que o usufrulo delas os ret~lurierasse pelo exercicio de onerasas fun~fies rigias ou de servi~os a prestar. A essas terras se d i o nome de prbtamos uu terras doados err1 atondo, (1)

A d o a ~ a o d o usufruto n8o deirou nunca de ser tern. poriria, em regra vitalfcia: rlao consentia o rei que se transforrnasse em hereditaria sern ser por sua confirma~20, e, se alyuns abusos houve, rlunca dcixaram de corno tais ser considerados e aperlas cons~stirarn Ira integracao das terras nos pa!rim6nios privados dos donatarios.

&ern disso,: enquanto que em Francs a doa@o do bet~elicio era condis%o para crear o dever do s e r v i ~ o mi- litar, rla Pei~insula tsse dever pesava sBbre todos os no- bres e at6 aconteceu, em certas duaqoes (as mais tarde chamadas honras vellsrls) que justamente se isentasse, por privilegio, as donatirioa de servir ria guerra, pagando-se em geral soddada pelos se rv i~os prestados,

A par dos prestamos o rei recotnpeilsava serviqoi passados por melo de d o a ~ d e s de propriedade, hereditd- rias; sen1 qua!quer reserva de,dcminio, isto 6 , de kr rus

( 4 ) Vrja-be o eaiudo (10 Sr P I nF PATTLO JlI(;HFA pu- blicado nos rAVoznr Lstslitlui i l ~ x I / i s t , ~ , r , z 110 D:~crfo e ~ l t t ~ t ~ ~ l a d o 5;lire a palnvt~z u u l o n d o ~ .

alodlnis ou alddios (o alleu franc&) embora ?is vezcs corn algumas restri~oes ou condiqbes. 0 s textos des~gnam estas d o a ~ b e s dizeildo que s%o pro hereditate, lure ha~rcdl tur io .

0 mesmo nobre podia possuir no seu patrimdnio terras da sua hereditate, irlteiramente Iivres, outras doa- das pelo rei corn restri~Oes mas de que era proptietario perleito, e terras tidas de outrem, prkstamos. que s6 usufruia corn a condiqao de revertercm i CorBa por sua morte ou quando cessassern as razbes justificativas da concessko.

Senhorio. - Nao se verificou na PenI~~sula, seu8o epi- sbdicamerrte, em casos isolados, a tentativa de usurpa~ao pelos nabres dos poderes de gnv$rno e jurisdiclo territo- rial. A tradicLo da monarquia visigbtica, con1 a sua cen- traiizaqao adrninistrativa, perdurou.

0 s serillores exerceranl poderes jurisdicionais nas ruas terras, mas por grata do Rei que as considerou cou- tadas ou imunrs.

Na verdade, o nnhre ou nlosteiro possuidor de gran- des propriedades incultas, cujo valor dependia-dos bracos que as agricultassem, carecia de amplos poderes para as povoar e para depois m a ~ ~ t e r a p o p u l a ~ l o nas terras) defen- dendo-a e garantindo-lhe a pan no ttahalho rurai.

A imunidade ou con6.i consistia em os habitantes da terra s6 ficarem sujeitos a0 senhor r sb a ele pagarem tributes. 0 s funciorlarios rCgios n8o podiatn, portanto, 16 entrar para fazer cobranqae.

Portanto, tambkm era o senhor q l ~ e julgava as rtcla- rnagOes suryidas da cobranqa, e se constitufa juiz para cssas e outras questoes contenciosas.

Depois do sCculo XI as doaq&ss rtgias envnlvium, quisi sempre, a concesslo de podcres de autoridadc ao

Page 77: História do direito português Marcello Caetano.pdf

donatbrio, e a imun~dade fiscal yue estava na base dessa cot1ce55go.

Deritro d o seu couto o senhor csuperintendia na administra~ao e Ila pollc~a, ministrava justiqa, cot~cedia foraiss. cc brava tributos.

A l a s o rei rrservava para si a justiga mmoior, ou o d ~ - reito de julgar scmpre que os senhores recusassem fazk.10, bem corno o poder de cunhar rnoeda c de alterar-lhe o valor, o direito de exigir o ~erv iqo rnil~tdr a todos os vas- salos e de suptrintender em todos o s castelos, e a facul- dade de ~ e g a r validade a actos ou situaqdes q u e n lo confirrnasse.

Conclusbes - Do que fica cxposto ha que concluir ngo se ter veriiicado na peninsula (ao menos no Ocidente, a que em e~pccial 110s referimos) a fragrnentaqso d o poder politico carrcterSstica d o regime feudal.

Tivemos antes urn reg lm~ scnhorlal que n3o chegou a ser feudal porque :

a) a obrrgaqao d o servipo militar nao dependia da coniessao do leudo ou do betleficio, r os s e r v i ~ o s cram remu~ierados;

b) rlao foi permitida a hereditariedade dos prkstalnrrs, nem das fut~qdes pliblicas:

C) i r exercicio dos poderes senhorials entendeu-se sempre corno conccsrUo regid e rujclto i correiqao d o morlarca ;

d) o rei conservou o crc1univo das p~errogativas so- beranas consideradas essenciais, rerervando-se o scnhorio dos senhorios e castigando os aburos e a5 tcntativrs de ururpaq80'

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES -- -- - - -- - - -. .

Assim, apenas se poder i dizer Que as institUlc6es leonesas d o stculo X I sofrera~n utna siorte coloraClo feudal..

Vejamos agora quais as principais institui'~8es poli- ticas e administrativas da monarquia Ieotresa.

Cornpreende.se ficilrnente q u e nas Astirrias fBsse iit:- possivel rnanter o jh cornplicado aparelho da administra. $go visigdtica : a reriuzida extensBo territorial, o estdda de guerra pertnanente, a instabilidade da vida, f o r ~ a r a m a concenlrar a 0 maximo o poder, confundirtdo-se entre s i as 1yngOee rnteriormente distribuidas por 6rgaos es- pecializados.

0 rei e os seus Aulicos decidiam, conforrne as neces- sidades i lnp~u~harn, tadas as questbes militares, econdmi- cas, juridicas e at6 religiosas. A Igreja, de facto, desorga- nizara-se tambtm. (1s bispos, io r~a i tos a abandonar as dioceses, rcsidiar na Cbrte e, tor~iando.se cavateiros, acoa~panhauam o monarca has aC~bes guerrrir's da rc- conquista. 0 rci, concentrando todo o poder, tornou-se o arbitto dos neg6cios eclesiilsticos.

No extrclcio de tao variadas atriburqdes o r t i era assistido por unl conselho que ao princfpio loi designado pelos mesmos norncs quc tinha o canselho r igio na tno- narquia visigbtica - nuln r&ia, oj/ciutn palatinurn -, mais tarde recebcu os de palatiurn, paintinurn collc- gium, scnatus tagad platti ou de cancillun, e que no s&- culo XI passa a ser chamado Cliria, paiavra simu:l&nea. mel~te sigllificativa de ~ p a l l c l o * e dt ucbrte*.

Page 78: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HlSTdRIA DO DIREITO PORTUGUES --- ,-- HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

A caracteristica mais interessante d&ste 6rgBo d o go- v&rno leones C a acumulaCgo nele das funcaes dantes exercidas pela Aula rkgia e pelos Concilios.

A Cliria tinha reunides ordlndrius e scssdcs extraordl- Ipdrlns.

NPS rcEnldcs ordindrias tomavan) parte as pessoas quc cstavam junto d o rei: membros' da famflia real e dignitdr~os da cBrte, hem como os magnates Iaicos e dr- gnitdrlos eclesiAstrcos que acidentalmente se enaontrassem no shqu~to rea!, [lor terern vlndo tratar de assuntos de gnvtrno ou por outro qttalquer motivo.

As se saas extranrdindrlas tinharn caricter solene: n t o eratli a simples colaboraqao quotidians d o rei corn as pessoas da lrua conviv&ncia c cosfianqa. Tais aessdes eram convocadas especiaIt~>e~~te prlo monarcz. Umas vezes tomavam parte nelas todos os ~iobres, prelados e prlnci. pais clCrigos d o reino (c~iria plena). outras vezea era res- trita aos de uma 56 regiao, ou de certas rrgi6es sbmente (cdrie regional), e em raros casos admitia s6 a classe no- bre (cfrla da nabrrsa).

Eram as ciiries plena9 que representavam a contfnua- dos cot~cilios n~cionais da monar juia visigdtica, e

SANCI-IEZ ALHORNOZ pensa que forarn sbtnente ses- aaes dessa natureza as que ns documentos e as prdpri'as actas designam pl:lr ,+concflios, celebrados em Leon (1020) e Coianca (1050).

Todavia, atravel da histdria da monarquia leonesa nota-se que a tendbncia G para a dilninui'qao d o n$mtro dc dignilrl~ios eclesiisticos que pltrticipam nas stssaes e refinibes, o que correspollde a urna quebra da influ&ncia pop ilts exercida.

dos blspos em guerrcirns e aulicos e tambbm B mlrdan~a que Be nota rdativamentc A natureza da partlcipa~ao nas sess6es e refinitits da Cliria. Na monarquia visigdtica e nos primeiros ternf~os do rei~lo astur-leont acrlrrer B crlria era dever inerente an cxcrcfcio de cerlas funf6e1 p6blicas na cbrte ou nos distritos locais. Assim os nobrcs e prelados i a ~ n assistir como funciondrlas que colabora- vam no govern0 do F-stado relatando ao rei a que se passava e aconsefhando o sbbre medidas a tornar.

Sob a influfncia das iddias ftudais esta maneira de considerar as coisas modifica-se. 0 vas~alo tern o dtver. de acompanhar e dar cnnselhos ao seu suzerano: 6 uma das fdtmas da s<bordina@o pessoal asstnte m, bindmio proteccllo fidelidade. Ngo se trata mais, por conseguintt, de colabora~8o dos funcionarios na gestiio dos neg6cios de interesse pliblico, no gov&rt;o do Estado, mas sim dc auxilio pessoul prestado pclos vassatos ao serjhor. Dal re- sultou que ngo 96 o rei co111o os principais senhoreo ti. vesrem a sua chria.

As f r i n ~ 8 c s da Cdrio t tn l~a~n caricter consuitivo, e estendiam.se legislaqgo, aos assu~)tlbs tnilitares, adoii- nistrapo econ6rnica e politics, B orden1 religiosa e P justita.

Na ordem religiasa substitufa o ; concilios e resolvia sabre ~quest0t.s de hierarquia, disciplilla, culto e . adminis- tra@o da Igreja, elegia e depunha bispos e abade*, su- primla e creava ou rrrnodeiava dioceses, elrvava algutnas a arcebispados, nprovava a f u ~ ~ d a ~ a o de ~nosteiros, e as. setltava preceitos relativns a costumes e moral do clero e assuntos an i logos~ . (ALHORNOZ:

Esta interve~rqao d o 6rgao politico.civi1 da morlar- quia leonesa !la vida ecles~ast~ca aternla-se at t desapare-

Page 79: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - . . - - -- . . - -. - HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - . - -. . - - - - -. -. . . - - - - - . .

cer, a partir do Bna[ d o sCcuIo XI, quando se inicia na peninsula uin muvjmento actiuo de subordinacZo das ne. g6cios da Igreja a Roma, prosseguindo tenazmente por via, especialmente, dos monges de Cluny. 0 s concilios vol- tarao a rlistirlguir-se das clirias e n8o serao mais presidi- dos pelo rei mas por legados pontificios. A-pesar-disso os bispos e abades continuam a figurar na cliria, assim como nos cab~cilios se encontrarao senhores laicos.

A' fun@o judicial da Chria, tambkm importantissima, faretnos referbncia quando tratarmos da adminjstracso da just i~a.

74. 0s condados

0 territ6rio da manarquia leonesa era dividido, para maior facilidade de govgrno e adrnirristrag80, em grali- des circuriscri~fies, cujas designa~Bes uariam corn os tem- pas : cornissum, cornitaturn, mandotto, terra .

Tais circrrnscri~6es tiaa t ram fixas : a sua i rea va- riava con1 freqii2ncia. Ao nomear o governador respective C que o rei determjnava quais os limites da tenencia que lhe era entregue.

Cada circunscrifao tinha par governador urn nobre quc er nomeado para dsse efeit.0 pelo rei, At6 aos lirrs da stculo XI1 o titulo usualnio~~te dado a esse governa- dor era o de conde (comes), mas a parttr desrra Cpoca comeqa a tornar.se tnaia vulgar para dtsignar o rlobre que tinha uma terra a governar o nome de f e n e t ~ .

A par dijs condes e corn a mesma categoria e pod+ res surgern, porCm, no skculo XI outros magistrados to- cais, mais directamente subordinados a o rci: 06 tne~rkhos (rnalorinl regules, vicurli, econorni).

Estes meirinhrjs, primitivarnente simples rnordomos das propricdadej da Carha existzntes por tddo o reino, parece que virarn as suas luhfbes alsryadas pela atribui- FZo de autortdade politica. judicial e rnilitar semelhanke

dos GOII des, em uirtude das tendkncias manifettadas por tstes para se emanciparetn d o poder real. ( 1 1

Homens da coi~fianca rggia, a sun presenFa assegurava a centralizaqHo, administrativa traditional que as ideias - feudais e as circunslincias politicas haviam cornprometido. Pelo que se dedut dos poucos u obscurus documei~tos da epoca, forrnavam urn brgao colegial - isto i, o po. der era exercido simulflneamente por dois ou tr&s no mesmo distrito.

No territdrio qtle hoje 6 partuguks existiarn diversos car~dados. N o seculo X h i referincia aos tetritdrios uu tcrras bracarensc e porfucnlense. A cunquista de Coimbra por Per~~ando-o-Magrio j 1064 1) origir~ou a Iorrnagio de uln cor~dado colirnbriense 011 conlrnbricense que foi dado a SESNANIIO, nobre moqirabe coin larga perrnan&t~cia na cbrte muqultnar~a dt: Sevilha, para elide ein t e t~ra idade f6rd ievado de Ter~tugal, sua terra natal , t que, re- gressado an carnpo cristgo, ani~nou o rei ieonCs a eml- pl-Esa da conquista da cidade d o Mo~rdego.

~- it) Vt-jirm-st., por oxerrlpiu, ax s~g \r i i~ t e s l e i ~ d o ~ coucilins

de L e h a t!oiat~i;a, qnt! aa eucontrar~i ria Port. ; l . fov. ,Hiit. pir1.t': 111, pa:' 136 t. 139, raapr:ctivlr~~lc~itt:

S V I I Ilii etraol qi~i e l ~ l l t ! f l l ~ r m n t i l 'e i ~ i fiwnatllln U U I ~ I

Iit*;lu, C I I I N C O I X ~ ~ ~ I ~ I I ~ B , C I I I I I rnaiori~i~u, aaut stIrlpe]. ro l~t ,o nlorr. V11 S : p t l ~ n ~ ~ I I O ~ I I ~ ~ tltuio a~i~oonarr~lla u t orl luru cumi1t.a

sel l ~l~arer in~ regnfae pop!ll~irn sibi dllbditum pri. iuat~tiatu r gant . . ,

Page 80: História do direito português Marcello Caetano.pdf

SESNANDO nos actos do sen gavgrno, ora se inti- tula dux, ora comes, ora consfdl e at6 alvosil. Chefe civ~l e ~nilitar, era uma espkcie de v~ce-rei no cor~dado, onde exercia latos pocleres. Fvi 21e o povoador da regiZo re conquistada, charn:ndo e acolliendo muitos moq6rabes d o sul; construiu castelos e superintendia i~€ler , e exerci- tou funcdes judjciais.

Por vezei o condado era subdividido em tenencias menores a cuja frente estavam c o n d ~ s o'u governadores

As ten&r~cias tram arnoviveis como se viu cnm o ge~ir'o de Sesnando, M h R T l M MONIZ que o rei deslocou de Coin~bra para o govCrnt~ de Arouca (1097), escandaiizando- -0 c levatido-o a ir cornbater nas hostes do Lid Cam- peador.

Dissemos que o rei flunca deixou de rcivindicar para s i o dlreito de jurisdiq80. Algurnas vezes concedeu aos senlrores 0 poder de julgar certas questdes, mas corn rcserva da summa /urisdictlo, isto C, o rei podia sempre conhecer das causas quando os senhores se negassem a fazer justiqa e ainda no caso de para kle se recorrer por a pela620.

0 s povos germhl~icos II%O corlt~eciam (I sisterna de aptlar da s e n t e n ~ a de uln juiz para outro superior ; mas t a l era a prdtica romana, conse~vada 713 rJi:ninsuta e revi- gorada na recot~qujstz.

0 rei adm~r~istrava justica na sua cbrte, ajsistida pela Cliria. Certas pendencias e r~ t te scnhores eram da sua com- petCr~cia exclusiva. 0 process0 era forrnal~sta e todo oral.

DeFinido o plcito, o tribunal designava a prova a prestar pelas parter e dos resultados da provn resultava ncces- shriamente a rlecisao. Entre os nleios de prova usados contavam-se as julzas de Dzus (dgua quente, ferro em bsaza, durlo judicidrio).

Para simplificar, como a Ctiria era muito numerosa, o rri drlegava por vezts, em alguns conselheiros, apellas, o julgamento dos processos : Bsses dciegados chamavem- -se jufzes ou.al ta~dsu da C.dria.

0 rei cometia tambim funcClrs judrciais ao Conde, no seu cot~dado, ou a tnagistrados espec~ais -]udex, al- vasii-queexerciain fun~6es numa comarcaoujudl~aturn (1).

Certos pleitos eram revolvidos peio conde ou pelo juiz em assemblkia geral dos ilomens livres da cotnarca (concillurn, juncta, placifutrr, julidcium).

76. eoncess3o do cundado portucalense a D. Henrique.

0 que fica expostn a-c$tca-do govCrno e da adrni. nistraqao da monarquia leonesa estk longe de rer~reser~tar uma s i n t ~ s e aegura r cnmpleta: 1190 se conhecem, ainda, muitos pormenores que, possip.elme~~te, influi'rialn nas idbias gerais.

(0 A Clir~r phua de Lduo (lU60) ilecratou qtia : r,W~an- dcxm~rr rferztm ~ c t h Legisnr, stu or~tnzbus iosteriir citifatibus er ptr anlrtcs n?fozes hubtantar znd~ces elects' n Rege, yrrz ZU-

dtcetzt cauarrs fon'ur po$ / i / iu - P, kl, H. , I, Lagas et connlls- tudines, p. 136.

Page 81: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 82: História do direito português Marcello Caetano.pdf

-- H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES - -. -

como opandgio ou base de vida que o monarca dava a sua filha.

A doaqao et~volvia amplos Jireltos soberar~os=, 0 Conde podia fazer d o a ~ d e s e confirtna~Ues, dar cartas de couto e de £oral, nomcar governadores para as comarcas

J d o scu teriitdrio e extrcer o poder ludicial, embora das suas sentenqas se pudesse apelar para Cdria d o rei.

D. Henrique era iambtrn assistido n o seu govern0 pot uma Cdria condal, que vemos intervir nos act= por ble praticados, designada por nostrf palaliirnaiores~, ~ S c h o i a C o m i t l s ~ .

A-pcsar.desta p o s i ~ n o principesca, u conde. senhor de terras patrirnoniais, estava sujeito a certas limitagbes e obriga~des pelo pr6prio tilulo da doacPo.

Assim, as doac6es que fizesse dessas terras estavam sujeitas a confirrna~go rkgia, e tinha o dever de, cotno vassalo, acorrer ad cxerciturn e t ad curium, isto C, de prestar auxilio rnllitar t conselho ao seu rei ( I ) . ~

( 4 ) S6brc a materia ddete capitulo podsm ver.se, especial- menb: JIENENI)E% PII)AII, La Eipaifn drl C7it, 2 vols; SANCHES AIJWRNOZ, Ida cirriia r&zn p o r f q z t r r n , GAMA BAHROS, ffisfiirra c l r ~ A d ~ ~ i z n z r t r ~ ~ i e I'rkblila. vol. I pag. 88 e Beg.; vol. 111, pag. 197 ; PAUL0 h l K R n ~ , Iz trodq2o

apud rNovos Estudos de Bisthria do Ilireiton, pag. 47; Or- ganizaGzo .rociai P t ~ ~ i ~ n i ~ i s t r u ~ Z o locrtl, 6.' parte do val. II da a ~ ~ s t d r i l t de Portugal . dt: Barcelos; .4Jx~inaJhuqau LZu frrra

pottwcalemr na ~ e i s r z ~ i o iiP F t r ~ a w d o Ma,ono, npparata ds re- vista ~Portucalar, 31t1, p. 41; 13AMi:io PERES, Com~ra ?gasb ceu Portugal.

PER~ODO DO DIREITO CONSUETU- DXNARIO I% FORALEIRO

0 primeiro pettodo da Hist6ria do Direito Portu- guCs abrange desde o inicio d o reinado de D. Afonso Her~riqucs at6 D. Afonso 111, exclu-.i~ i.

Corneqarcmos por expor o quadro das institu'iq6es politicas, administratwas e jud~ciais cujo conhec~men!o nos ajudara depuis a o estudo das fontes de 1)ireito.

Ao tornar-se indtpendente, o Cotldado Portucalense converteu-se tiuma Monarquia. Desde logo a primeira ir,stituj:~iio polf t i~a passnu a ser a rmleza ou, cnmo de- pols se disse, a Corbn.

D. Afonso Henr~ques nunca se i ~ ~ t ~ t u l o u Conde de Portugal: nos diplomas d~manados da sua autoridade os

Page 83: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H i S T 6 R I A DO D I R E I T 0 PORTUQUES - - - - - - -. -. .

titulos de que usa sRo os d e Irrfatis, Prlnceps e por fim Rex,

Sdhre o valor e significa~fio destes titulos existcrn dtivldas e tem-se travado d1scuss8o.

0 termo infnns aparece empregado 110s documentos medievais umas vezes para designat pessoa de estirpe r&- gia, outras vezes significando tratar-se de menor e outras ainda como sin6nimo de infanflo: mas 1130 estando Afonso Henriques nestes dois dltimos casos, parece qwe sb no primeiro scntido usava o titulo,

Quanto a o titulo de princeps, era usado quer pelos reis, quer pelos governadores d e territdrios e at& alcai- des de castelos para significar a primazia polltica ou a superioridade da furi~ao administrativa. Em D. Afonso Henriqurs represetitaria o govi.rno politjco da provinela portucalense. E a pr6gria des igna~ao de rex nem sempre der~otava soberarlia, - basta notar que D. Teresa foi tra. tada de regftza por ser filha d o rei, - mas o escrirprllo de D. Afonso Henriques em intitularse rex portugalen sium rnostra , o sentido que emp1'estava ao titulo, cotisi- dera11do.o demonstrative de indepetid&ncia.

0 primeiro docutnento em que a D. Afonso I C atci- buido o titulo de porlug~lensiunr rcx dala de 1139, lrias h i a notar nzo ter sido lavrado na sua chancelaria e siln por urn tnonge d o mosteiro de Santa Cruz a quem o di- ploma interessava. Quere dizer que os portugueses esla- vatn impacientes por que o principe assumisse a digni- dade real.

A partir de 1140 C que o uso d o tltula de rex se tnrna freqiiente.

(3 conceit0 que se formava d o poder real na nova monarquia, era, naturaltnet~te, o mestno a que os portu.

gueses estavam habituados enquanto atibditos do reino d o Leno.

Seguudo as idCias d o tempo existia como que urn pacto em virtude d o qua1 os slibditor acatavarn e obe- deeiam ao Rei em troca da protecqao que &ste lhes devia dlspensar. lsto 6 , a Corba era distinta da Nagao e corn ela contratava os direitos e deveres rccfprocns.

A soberauia ngo era, pols, urn direito mas uni dever. Uever de def i~ lder o territSrio contra os inirnlgos exter- nos, chefiando as ttostes portuguesas na guerra, e dever de a3segurar irrter~~arner~te a paz mediante a repressso ~ O S

c r ~ m e s , a garar~tia dos direitos dos vassalos e o refrea- mento dos desrnandos dos poderosos.

0 senhorlo do relno n&o cotisistia shrnente tiesses dois deveres de chefia mititar e jastipz: abrangia ainda o de recornpensac serviqos, fazendo merc$s (rspecialmetite doando terras) r o de povoar o territ6ri0, tornando-o productivo.

Bom rei era aqu&le que simultineamente sabia ser o pritrieir-o guerreiro d o seu reino e hbbii aiministrador: a @ste modClo corresponderam Afonso Henriques e D. Sancho I .

]i fl. Aionso I1 foi, peIa sua dnenga, ~ r ~ e f h o r admi. nistrador (in que guerreirn, e L). Sanchn 11, nn eniluiasrno das hatallzls, esqueceu os deveres de jus t i~a e fomento. O 11riineiro, corlludo, iirrtaieceu o poder real que o se- gulldo deixou debilitar.

Clma das coildi<6es da ordern que a CorBa devia es- tabeiecer no reino, coll;istia ria definiqgo d o Dirrito.

Neste primcira periocio os reii excrcem essa funifio a o adminlstrar jus t i~a e ao conceder cartas Je privilkgio ou

Page 84: História do direito português Marcello Caetano.pdf

du ford: apenas D. Afonso I f , jA corn espM.bo centralizr- dor, elaborou leis gerais.

Nfio podemos cornpreender o direito ptiblico portu- gu&s d h t e period0 sem o ei~quadrarmoi cias concepcdes- jurid~co-politicas domi~ra~~tes na cristandade medieval, depois que o l'ontffice romano assegurou a centralizacao da Igreja e se constituiu iirbitro dos princfpes crisf%os.

Na verdade, no ~neio ba desagrega~go feudal e da conseqiiente desordem, o Papa conseguira ligar sua obedi&l~cia directa e h sua orientaqao constante os bispos de t6da a patte, AjudaLlo poderosarnente pelos monges de Cluny, o Sumo Pontifice reivirrdica para aIgreja, e s6 para eta, a resoluqiio dos negbcjos ecIesihsticos -- a comecar peia designaqao dos bispos - corn exclus8a1 portallto, doi soberanos telnporais ou dos senhores laicos, e envia legados que asseguram a tigaqgu enire as mais dijtantes provincias e a Santa St.

Graqas a essa vasta rede central~zada, coln uma le- gislaqlo pr6pr1a, - os c5nanes dos i-oncilios e as decre. tais porrtiffcias, que em 1140 o jurisconsultv boionhes Graciano pela prirneira vez coinp~lou no celebre Decrc- turn --, a [greja reassulIie erlorlne importit~cia na Eu- ropa, oride ncnhum outro poder a s s e g u r a ~ ~ urn eshB~o sequer de ordrm iniert~aciooal.

Na verdade, d o I~nperio carolitigio restava apenas a reminisc&llcia na monarquia germanica : tebricarnrr~te o Imperador do Sacro Impirio era sucessor de Roma e

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES ----- . - - 2 . ---

coma trtl superior a todos os soberanos europeus, mas de facto nlIo exercia sllbre eles nenhum poder efcctivo.

0 skculo XI vira a humilllaqao do Imperador Hen. rique IV em Canossa, pedindo perdilo ao Papa Gregd- rio VII (1077). A iuta entre o Sacerdote e o InpCrio continuou corn diversas vicissitudes, mas no momento em que nasccu a indtpendtncia de Portugal o prestigio do Papa era enorme.

Em duas patavras els a dnutrina entgo sustentada pelns Pontifices romanos :

A Crlstandudt k a cornunidade forn:ada poi' todos os hornens, C a prdpria Humanidade corn seus fins tem- porais e espiritubis comuris que devem ser realizados enum s6 rebanho corn um s6 pastor - pela lgreja Uni- verssl e pelo Papa.

E' certo que os fins temporais devem caber a socie- dade politics, governada pelo Imperador : mas desde Gre- g6rio VII que a lgrejd rfirma enetgicamente asupremacia do Papado sdbre o ImpCrio, vista que, assim como o cor- po esth no homem subordinado aos intertsses superiores do espirito, assim o govkrno temporal se deve subordiriar a 0 poder espiritual representado pela Igreja queC de fun- daqao divina e coilstitui o prlrprio corpomistico de Crislo,

0 Papa, colno vrgario de Cristo na terra, e pois o cilefe supremo da cristandade, ao qua1 os prciprios reis, que dc Deus receberam o poder (per me rcges r e p ~ u n t ) . . . devem obedikncia c acatamento.

Ao Papa, como origindrio detentor do5 dois poderes ( 0 s doir glddios espirjtuat e teml~oral) pertence mesrno, em rigor, a designaqilo do In~perador e dos Reis ou, ao menos, o direito de conffrrnar a respectiva eleiq80 : Ibgi- camente, @le C o seu juiz, sd kle podeconsidcra.los tiraaos,

Page 85: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

depb-10s e desligar os povos do jtrrametlto de fidelidade prestaJo an5 soberanos que naocurnprrrrr os sells deveres.

Havia, assim, como que uma sociedade das naqdes cristas fundatla tla subordinaqHo de todos os govertlos teinporais ao Pontifice rtjmano, supremo Arbitlo de todo o poder exercido n l cristandade, assim tla ordern espiri- tual como na tcrnpora;.

Era lima verdadeira doutrina 1~ocrdf lcn ({I. Pelo q u e dizia respeito kPeninsuia hisptnica,os papas

consideravam se coill uln direito muito particulat a exercer nela o poder supreluo : non lairrevobis cre:iirnus regnurrr Hiipanine ab antiquo juris S. pstri fuisset el adhuc. . . nulli mortalium sed sol npo>tolicat. sedi ex aqua perlinere*. escrevcu Gregdrio Vll (t).

Esta doutrina, se bem que cont~stada por vezes corn violkncia, tinha hastanie aceitaqgo nos sCctllos XI[ e XliI pelos rnotivos que IIERCULANO resume assirr~ : ; A in- flu&ticia religiosa d o pontifice, numa kpoca prii~cipal- mente caracterizada pela associaqgo da crenca viva com a soltura dns costumes, vit~ha a ser uma poderosa a h - vanca para fazer vacilar a tronos mais firmes t ao mesrno tempo uma coirlna de bronze a que se encostavam os mais vacilantes. Sen1 sistema fixo, ns sobetanos de entao piocuravattl ajudar-se da f d r ~ a moral dn papa nas suas questaes d~ ambiqio, e obtillhatn &sse perlgoso auxilio a custa de concessdes que iaiil consolidando a politica inva-

(,) V~tjtb-~e o dd~en~o1v1mento c OB funt1ar1ientos dC~te rr-

sumo, por exernplo, ns obra de CfIERKE, Lcs throrirs poll- ~ U E F iil~ Moy~n Age.

(2) Cit, par HERCLJLANO, Hirt. ~LE Port.t 4.' ed., vol, I.', p. 190.

riavel de Roma em tornar realidade pritica as doutrinas da ditadura universal. Repeliatn &les algulnas vezes a id6ia de que o papa fbsse o dispel~sador das corbas; mas tsses mesrnos qur numa ou nnuba conj!intura recusavarn a jur isdi~to eminente da Igreja, levados da necessidade ou da c u b i ~ a dai a pouco a reconheciam, invocando-a por fntertsse prdprio*. ({I

Uma das formas por que om senhores temporais pro- currram obter a consoHda~lo do seu poderio sbbre urn territ6ri0, foi a da soilcitafLo da protcc~rio da Santa SP, mediante a homenagern dc vassalos prestada ao Papa .

DCste modo, no tneio da confusao feudal, Bdes 8e-

rlhores ficavam a0 abrigo das cobigas e viol€nciar de outros qua pretendessem reduzi.10~ a obediencia, coal tatlto maior varitagem quanta mais distaj~tes os seus do- mlnios estivessern de Rorna, o que tornava a suzerrnia poi~tiffcia puramcnte nominal,

Tal foi a prbtica seguida pel0 duque normando ROBERT OUISCARD (1059), e depois por RAMIRO, re1 de Aragdo (1063), pel0 conde da P r o v e n ~ a (1081) c pelo conde de Barcelo~ia (1091) et~tre outros,

N%o admira, portunto, qlte 1 ) . Afonso Hetirlques, ao procurar consolidar a sua independencia em Portugal, ajudado por alguns prelados, pelisasse em obter pnr essa forma urn tftulo i:ldisput$vel de soberar~ia para si e para a sua di!lastia ; pois que, pela provenigncia, a confirmaqgo pela Santa SC impunha-se am2 respeito e acatamcnto dos demais soberal~os cristaos da peninsula.

(I) Na mwma obra e votume, pig . 191.

Page 86: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITD PORTUGUES . ...--,--.--.--..---.-..--

Na ConferCticia de Zamora (1143) o rei de Lego, Afonsn VIJ, reconhecera a 1) Afonso Herrriques o littrio de rei de Portugal, mas prendera-o ainda a si pelo senho- rio de Astorga

A ' conferkncia assistill urn Legado pontificio, GUIDO DE VJCO, em cujas mgos o rei ja anies prestara preito de vassalagen~ " a a t ~ t a St?, cfl~istiiufrido o seu reitlo trihlr- t i r i a de S. Pedro rnediante n pagamcntn ar~ual d o censo d e quatro onfas de ouro. ( I )

Na carta Claves Rrgnr de 13 de Dezernbro de 1143 dirigida ao Papa Inoc;ncia I1 (cuja autenticidade jri tern sido posta em duvida, mas sen1 fundametito) o re] diz que constitui a sua terra a c o ~ i ~ o censual de S, Pedro e da Santa Igreja de Rorrra*, esperaudo eru troca, .a defPsa e auxilio da SC Apost6licau e qse illlnca seja obrigado a admitir no reino o poder de qualquer senhorio eclesiis- tic0 ou secular, serlao o da S a ~ i t a SC e dos seus Legados.

Mas s 6 36 anos depois k que o Papa Alexandre 111, na bula Mnncjesti's probatam (1179) concede a ALonso Henriques o titrrlo de RCX Portugalenslun e o grecebe sob a proteccao de S. P e d r o ~ e do Pontifice, confirmando aregrti portugulcnsiurn cum inttk~ritutt honoris R g n i et dignitate qnue ad Reges pertinet. . . . e prometendo de-

it) HER(>III, 4NO p:etw~?eu qur: u jllramnuto de vahsa. lagern t i ~ e r n c a ~ d o posterior ?I confal.i!~~t:~a dt! Xarrlors; mas o erudito ale~nilo C A R L cRl)hIr iNN no aru ~ H ~ I I L I O tliihre Opu- Dildo e P/irtxgrz/ ?lo pr i~nral -n sP'(: j . lo ( /a Ji istdr iu ;U~i~l i<pdts , z

corl;eatn-n jv t :~ a tsad, port,, pa,<. 44, nota 4).

fender o reirio e os sucessores do primeiro monarca. (1)

Assim foi feito, s13gundo o Uireito internacional d o tempo, o recnniaeclmenfo da independencia de Portugal, em termos que todos os testarites governos'crist%os de- viam respeitar.

Dadas as circunst211cias que ficaram descritas e a doutrina teocritica que n Papado preteadia impor, era fatal o choque entre o poder espiritrial e o poder tempo- ral Ila s~lccss2o rios tempos, logo que o reir~o deixou de carecer do apoio pontificio,

As iutas e~ltre o rei e o olero que e~ichem os quatro pri~oeiros r e i~~ados sZo mero cpisbdio local da fragorosa luta entre o Papxdo e o Irnperio que se debatia I la Eu- ropa.

Efeito itelas, e dos poileres que os pontificcs se arro- gdvarn. foi a deposi~Bu de D. Sancho I t pot Ir~oc&ncio 1V, no mesmo concilio de Lyon em que depbs a Irnperador Frederieo 11 (1245).

Na bula Orarrdl non IrnmerMo (i) o papa, fundando.se ern que orei dealeixara o governo, n%o fatendo jpst i~a antes permitindo os rnaiores atrupelos e vioI&ncias, e querendo

($) P:eM pubIioeda a hula em LOPES P R A C A , Colccrrio dc kcir P ss~b~idins para o estudo dn nireido Conslitucio~ea! Portzrgur's, vel. 1, pbg. 12. A m6 vontade do Papado contra a iodepeod6r~aia da Portugal atribui-a CAKL EF11)LLAXN ao fact@ de Ble tar ascmpre em viats oo penir~suls ~bBi.iea o obje-

t ivo supremn da conoentraq5o de todas as frjr~as para a luta corn oa infikialt. Ob. cit. pig. 4.

(*) l'ublicadr na meama qb, c vul., pig. 21. ,

Page 87: História do direito português Marcello Caetano.pdf

L

~ I S T ~ R I A DO DIREITO P O ~ T U G U E S ~ I ~ T ~ R I A DO DIREITO P O R T U G U ~ S

aliviar o reino, especialmente por scr feudatlirio da Igreja romana, da opresseo de iantas adversidades, desligou os portugueseo da qftdelidade, homenagem, juramento Ou pacto- dev~dos ao Rei, e determinou que o govern0 fbssc assumido per D. Afonso, Conde de Bolonha, rqne eldern Rpgi, $1 absque legititno dccederct fitla, jure Regnl S U c C t -

dsretn. ( I )

79. 5ucessacr da CorBa.

A refersncia aesta bula a sucessao segundo o direito d o r e i ~ o (jrrre Regni) leva~ita urn problema interessante: existiria alguma lei escrita q i ~ e fixasse a clrdem da suces- sdo da CorBa?

E' indiscutivel a falsldade das actas das Cbrtes de Lamego, e nPo conhecemos outro diploma que regulasse

Jd, porCm, D. Afonso Hcnriques sucedera a sell pai por direito de heranca, visto o Condado Portucalense estar na posse d o Conde, jure Aaeradltdrio. A transmissR0 segundo a ordem da primogenitura, teria obedectdo ao costume jP radicado no reino de Leao desde o skculo XII, entre 116s aceite, U. Afonso I associou depois nos u1timos

(4) 0 pnrttdo da D. danaho 11, tip613 r depobisEo, psreoe ter airlo uumernso r , naturalment~, atacavr r dire~to pontlficio, aena~lratido or qlre hav~sm qurbrado a fitichdsda i iev~da ao re1 : ver o artlgo de r). CAROLINA MICIIAELIY, EPN volta dt Snncko II na, rcv~a ta ulusi tdniaw, ml. 11. p$g T

ano# da vida seu filho primogknito ao governo, usando U. Sancho, segundo parece, desde logo o tituio de rei.

NOS seus testament06 os reis U. Sancho 1, D. Afonso 11 e 1). Sancho, 11 referem-se a 'tranamiss8o da Corba mas n8o Jispdem dela: aplicam invariavelmente a regra da sucessao d o primog&nito como coisa assente, e lirni- tarn-se a resolver dlividas que pudessem surgir a margem drssa regra.

Assim, o priviMgio d o filbo mais velhoperpetuar-sr- -ia na sua descend8ncia. Faltando esta, passava a Cor6a aos outros filhos var6es pela ordem d o nascimento. Na falta de descendencia rnasculil~a, chamavam-se as filhas, tambCm pela ordem de ~dades. Nao haverldo descendtn- cia, cabla a Iierall~a aos irmBos d o Rci. 0 s descendcntcs daqutle que recebesse a CorBa sucediam-lhe sagundo as mesmas regras.

A investidura d o herdeiro na f u n ~ a o real nPo resul- tava automAticamente d o falecimeato d o rei: era neces- s i r io que se Eizesse a aclarn.-z~do, rerninisceucia da eleiqfio d o monarca na epoca visigblica e nos primeiros tempos d o reino astur-Ieones.

0 s reis portugueses I I ~ O eram coroados e urigidos : a aclarna~ho era acto puramente civil que terminava pelo bcija mlo, em sinal de preito dc menagem dos vassalos (I).

Page 88: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUPS - - -- - - - . - .

Dissernos quc ji o coiide D. Henrique organizara a a sua C6ria ou CBrte: tambetn D. Afonso firnriques, airida antes de intitular-se rei, esta rodeado pelos seus aulicos que o acor~selhattl e lhe serrlem de miriistros.

Nestes prinleiros tempos da tno~~arquia portuguesa a Curia rkgia n8o difere do 6rgao leones atr is estudado.

TambCm furlciona nra como consell~d priuado ordi- nbrju, com a familia real, os fuiiciorlir~os e os nobres da comitiva regla ou que govtrllatn as tcrras elide a C6rte se ellcontra, [Ira em sessdes txkraordinariaj.

Estas tiltirnns sess6es foratn noriveis n o tempo de 13. Afonso [ I , dadas as prrocupafaes administrat~vas d o monarca. E' especiaimetite ~tnportante a Cdria pieua de 1211, celebrada ern Cnitnbra com a assistblcia i~de todos os bispos d o reirio e dos i~nlnens de religiios e *dos ricos holnens e dos seus vassalos~ (IS. &I. H,, Leges, p i g 163).

No reinado de D. Sarlcho 11, dada a fraqueza d o Rei e a preponderincia que, durante a menoridade dele, os nobres da Cbrte haviam assumido, o papel da Cilria re- vekse , atravCs dns doctrmentus, mais amplo que dantes.

De facto, os membros da Cilria nEo se limitam entao a aconselhar e assistir o Rei, confirrnando pr6-forma 0 s diplomas que &le expede: rorfsent8na tras d o a ~ d e s regias, inserindo-se no acto respcctivo as f~irmulas, ode consensu lotius C u r i n e ~ ou ads consensu el nncdariinte rneorum pra- cerum u .

E' posslvei, Je resto, que nesse reinado tet~ham feitcl parte da Cdria nobres de inferior categoria, amigos p a - soais do rei (cf, Heriutano, h i s t . de Port., voi. 5."pig. l l)

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES . . . . - - - ..

Celebrou-se entao, ern 1228 ou 1229, ulna Citria plena em Coimbra aprocerrcm et allorurn nobiliurn ~ f u / t i - tudine affluenbeb (P. M. H. Leges, pdg, 182).

.9 Curia continuava 'a exercer as suas futlciies em todos os neg6c1os p~iblicos, coopera~ldn assiduamente corn 0 rei. Apetlas os neg6cios religiosos ioratn. desde o infcio da monarquia, reservados aos Coniilio;, narionais ou diocesanos, rciit~idos sem dtpendsncia dn Re1 e prest- didos por algum Legado pontiflcio ou pelos bispos.

81 0s Ministros da eorba.

Tinl~arn lugar de relOvo na Curia os airos funcioni cios que dese~npenhavarn cargns perma~~entes relativns ao govern0 d o rerno ou ao serviqo pesioal du rei- E' que nestc periodo confoudem-se as fullqdes publicas corn os oficins privados da casa rest: tudo o qnt era rCgio, eta ~lacinr~al.

N%o havia atr ihui~aes fixas para nenhuk cargo su- perior. O costume estabelecia os dcueres de cada funcio- nirir), Inas o rei podia a todo o t - r : o ~ ~ ~ e ~ ~ t o rlar-lhe navos encargos o u alivlfi lo doutros,

Selldo entao a chefia militar o rrtais impnrtat~te dever r ed , nao admira que o primeiro cargo do M a d o fosse o de Aljeres- rnor (signifer), quc comandava o exkrcito quando u rei o 1140 fazia pessoalmente ou levava a bandeira reat se o rei chefiava as bostes.

A reguir vinlla o Murdomo da carte (Majordomus curlne), primeiro f~rncionirio da administraflo civil e adtnin~strador da casa real. Sob os suas ordens estava ao que parecc o Dapifer curiae, que superir~tendia nos ser-

Page 89: História do direito português Marcello Caetano.pdf

-- IIIST6RIA. DO DlREITO PORTUGUES -- . - - -- .PA -

viqos dumCoticos do Soberatlo mas cujo cargo desaparece no reiriado de Afonso 11. Tambem no reinado de D. San- cho II o cargo de h'lordomo foi supritnido e nuhstituido pel0 de Mtirlnko-mor dz Pordirgal, Inas ressuscjtou no reinado seguinte.

(1 terceiro ~nirlistro era o Chum ler (car~cejlarius) que tinha em seu poder o stio real e lavrava ou nlaiidava lavrar os diplomas r15gio5. Dada a importancia e dificrrl- dale da escrita, e da redacclo, Cste lugar foi, desde &do, reservado a letrados, quasi senlpre clkrigos ou diplornados ~ o r algutna cscola estranpeira de Direrto, cum0 o tituto de magister denota, SBo personaget~s influenits, os chan. celeres, pela sua csltura e botn co~rselho : junto de D. Afonso Henriques, entre outros, aparecem blestre Albtrto e 0 celehre JuliBo que depois atravessou todo o reinado de D. Sancilo [ 2 ainda serv iu corn D. A ~ O I I S O 11. Urn outro rnestrr, Vicente, foi cllailceler de D, Sancho 11.

0 s chancelercs tirthatn as suas ordens notgrios, escri- v%es e guardas de sklos. 0 prdprio chanceler re detlo- mina, i s vezes, aotarias nrride. Parece qlre. nos primeiros tempos, c01no a s taxas de cha~lcelarja cram caras, 0s par- ticulares q u e sabialn escrever lavravatn os di:>lomas das merc&s que os reis lhes faziam e depois ievavam-t~os chancelaria para serem firrnados pelo rei, selados, e con- firmados pelos conselheiros da cliria.

A charrcelatia nesta Ppoca acompanhava a cbrte que niIo tinha capital fixa. 0 s dip!omar ri3o eram registados, nem uopiados, e a sua redaccao nlo obedecia a formu- Iirlo certo, variando por is80 ds caso para caso ao sabor do escrlba ( c ) .

---

(,) 0 s documeatem que ?s conLeoem firmarbe per D.

- HIST6RIA PO DIREITO PQRTUGUES

[?a refsr.&ncias a escribas do rej : scrlba domini regis (1141), scrlpfor curiae (1228).

Fiaalmente, exibtia urn partdircl-mor quc superilltendia na cobrartca dos rendimentos reais.

82. Rsndimentos da eorba.

Ngo se fazia separa~ao do que era pertenqa do Rei e do que per'tettcia ao Estado.

0 s rncargos da sat~sfaqao das necessidades colectivas pertei~siarn, conforme os casos, ros cot~celhos, aos senho. res ou ao Rei.

A Corba tillha, pois, as suas receitas que indistinta- tlleiite eram aplicadas nas despesas pessoais do monarca e da sua caca, e ilas despesas pibllcas, isto 6, a fazer no intertsse geral da Na~ao .

A tnaior psrte dos rendimentos da Cotba prov~nham dos beirs jtnobiliirion, especialmet~tc das terras encorpo- radas no patrim6nio real.

J6 sabemol que os reis de Le$o possuiatn nutnerosas terras que, no coi~dadn portucalc~ljr, passarnm a ser pro. priedadt de D. Henrique e del)ois f11ran1 transmitidas aos seus sucessores, A &ses hens forarn.se juntando outros provenie~rtes de novas conqu~stas e de cunfisco, execu~80 por dividas ou qualquer cjutra razPo admitida en1 U~rrito.

Afonbo I i r t i r ~ q u t x foram p ~ ~ l , l i r a d i ~ ~ pel^ Dr11 ABJATH IiEUTEX. F r o .-llpkor~sz~r p<~rtr<~~oien\runr p e r ; veje.sa tnm-

balu IJr. RUI L)E AZEVEIIO, Chtzaceltrritz r,-gin poritb

guts@ no5 s e c ~ l o s .XI1 c S I I , a p ~ d ir Revlsta da Uu~vcrs~dnde do Colmbra*, vol. SIV.

Page 90: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTCIGUES - - HISTORIA DO DIREITO PORTUGUPS

. --

Estas terra~ da cord~ , eram, umas, cultivadas por colonos, arrendatarios ou meros trabalhadores e chama- vam se, entao, reguengos; outras eram repartidas enlr t foreiros que depois as transmitiam heredi'iariarnellte, t e r m s foreiras; e havia oulras em diversa condicao ainda,

A moeda era rara, 0 Impirio romano chegara a v e t formar se urna ecorlorllia monetiria - isto i , raa qua1 ns neg6cios sc fazialn gor it~terrnkdio da moeda-c por issn estabelecera as suas finar~cas na base da contribuiq80 pe- cuniaria, cobrandn impostos em dirlheiro.

*4 iiivas30 dos bdi baras tlestrulu esta forma de vida. Cessaranl as reIac6es enti-e as divervas provincias, e corn elas o cornkrcis activo dos praoutos. A Idade-rnkdia foi urn periodo de econurnias f e c f i u d a ~ , ccono.mias locab ou urbanas, em que a principal f r~~t le de riqueza era a agri- cultura e oe soihid al.rerias pdra cn:ner, on psla trocar com outros prudutos du m e s ~ n [ ~ :ot~ceIho, da mesma cidade, da meslna terra. Este regime de co:liircio restrito h troca ou permuta de produtos por produtos, ou rle produtos Ipur servi~us;, chama s t de econonrfa natural.

CIS metais preciosirs (nuro, prata) era111 rams e qurm 0 s apan l~ava guar~lava.os, nao as put~lla em circulacBo.

De ~naneii-J que era impossivel estabelecer as fittan~as rCgias na base do impost0 am dinheiro,

A Corba arrecadava ern g6rierns a p todr l~ao das suas terras, e ns loros clu prestaFOes pagas pelos reguen- gueiros e fore~ros. Altrn ilissn, havia rlma c~tn~~licadissima e vanailiisl~na rPtle de obrjgafbes irnpostas aos que viviain tias terras d d corba (corn0 rlas t!,rras senl~uriais) rnas difererates d e u!n jl.rra outro lugar : c,irlsintiarn essas obrigacdes no pagarnellto de cerlas quar~liiiades de deter- u\iriadfis generos (trigo, mlIho, centeio, vilt[~o, linho,

carnts, animais vivos etc.), ou na prestapo de certos ser- v i ~ o s . Competia Ihe alnda o produto das multas aplicadas pela prktica d t aIguns crimes rt o qulnln dos despojos das batalhas em qrse o rei ficasse vencedor.

A o tnonarca pertencia tarnbtm o monogdlio de certas actividades nalguns lugares: e assiln todos os particulares eram obrigados a coser o pgo no lorno d o rei, a moer o grdo la05 seus r~lrrinhos e azenhas, a abater o gad0 nos seue aqougues, etc., tu lo mediante pagalnento do s e r v i ~ o h Corba.

De corn&qn, raramet~te os pagamentos se farialn em dinheiro, A' medida que vai passando o tempo, cssa forma de liquida~Bn to rna~se inais freqiiente e no reinado de I), Sattci~o I1 ja 6 relativatller~te vulgar.

Pdra admiliistra; as terras da Corba e superilltender na cobranqa do$ rendimei~tos reais havia espalhados pelo reilro fu~icioi~lr ios espeziais - rnordomos. mordomos-mc- norm - con1 algumas atribui'qoes judiciais nas questaes ligadas corn o patrim61lio real (').

As 1nstltuic8es rnedieva~s caracttrlzam-se pela sua grande irregular~dade e varisdade, ~ s t o 6 , ri%o liavia regras que uniforn~ernente regessem neln a d ~ v ~ s a o do territbrto, nem o regime alirnirr~strativo das cirzunscr~~Oes, llern o -- -

(,) N e ~ t e potltu dare eunaultar-w, alAm clu estnilo jj.

c~tado .In Sr. Prof. P A U L O JIER$A na f f~~ctdrzn (it Purtfrgai de Uaret?lo*, POI. 11, o l ~ v r ~ d o Prot. A K R I I N U O AIONTEIRC~, Do orqizneePrlo prtrtgic?~, voi. I, pag.

Page 91: História do direito português Marcello Caetano.pdf

niirnero, denamilla~fio e poderes dos tnagidtrados locais : tudo varia de Iugar para Iugar, nlttl~a divetsidade que as itezes 6 desccrncertanke.

0 estudo desta materia deve, pois, fazer-se a lur destas 1d4i.q tendo senlpre bem presente que o farto de se tncontrar uma vez noticia de certo procedimentn e m determinado caso nunca alitoriza generblizaq6es, isto 6 , nao se deve daf inferir que sernpre e em iodns os casos anilagos se procedia da mesma maneira.

Desdr logo se irm de distioguir a admir~istraclo das krras direclffrnente suBorii6rttdas d Corsn, daj tsrras senkorlals e dos concelhos.

Alkm disso, era diferet~te a organiza~Zo do Ncrrte e do Sul: .o Norte ja no comeeo da monarquia portuguesa tinha utn sist~rna admjnistrativo elahorado lentarne~lte no dorninio leonb; o sul foi posteriorrnerlte conquistado aos mouros e reorganizado h medida qut os territdrios iam sendo encorporados no novo reino.

Entrc o Douro s Minho predorninam as terras d a CorBa e as terras senhoriais, e os concelhos s8o rm pe- queno nurnero. Nas Beiras h i menos senhorios e mais concelhos.

Ao Sul o terr~tdrio collquistado t dividido em'tcrras reservadas para a CorBa, tcrras doadas a nobres e is or- dens militares e terras constituldas em concelhos de vast0 territbrio, predominando a j doafeies e os gratldes muni- cfpins.

0 pais divicfia-se em g~ar~des distritns fferras) dc Area varidvel n cujx frente se e~icontrava urn rico-homem (anobre da mais alta categoria*) co:n a desigrlafao de tenens. O t[tulo d b conde nHo e ji usado neste period0 ria acepcilo de goverrlador local.

0 rico-hotnetn era o chtfe militar do distrito, com- petindo-lhc assoldadar 11ometIs de armas, inclusivamente entre os cavxleiros vilaos drrs concelhos, para formar a hoste que tit~ha de apresentat em campanha. A1Cm d~sso intervinha ein certos assu~~tos da ad~ninistra~tio e da fa- zenda e presidia A assembllia judicial do distrito (conci- litun).

Para retribuijao do rico-homem o rei conferia-lhe o direito de arrecadar unla parte dos seus rendin~entqs no distrito ; t~ r~ba , atem dis,o, diteito a ser hospedado e &us- tentado em certos lugares por conta dos habitantes deles.

0 s governadorm dos casfelos, alcaides ou castaldatl estavam urnas vezes dellt~~dentes do fcnens do distrito, outras imediatarne~~te subordinados ao, rr i : tlesie dltirno caso eratn autoridades de g r a ~ i d e podvr, tanto mais que, sobretudo ao Sul, estavam anexos aos casielos grandes circunscriq6cs que os alcaides goverrlavanl.

Outra divisao terrltorial do nortt do pais era em jllr gador, cornpreendendo terras da (:or€ia, e a cuja frenie estava urn juiz Uu&x ou alvasbl') corn atribur~Bes judicid- rias e tambem administrativas.

84. Senhorios. eoutos 'et honras,

] h sabemos em que co~~sistia o senhorio ; havia de- terrninadas terras onde o rei n5o exercia dlrectamente o scu podel., e sirn indirectamenie, atravez ou por interme- dio do stnhor.

Era o senhor que Ilessas terras exercia as funcdes administrativas, ministrava jusfip, e cobrava aquC1es ren-

Page 92: História do direito português Marcello Caetano.pdf

dimentos ou tinha diretto hqueles serviqos que uas lerras da Coraa pertenciam normalme~rte ao rei.

0 s funcionhrios rCgios nao podiam penetrar nas ter- rag serlho~iais nerll ai exercer qualquer acto da sua juris- di~ad.

A justiqa era felta, ern nome do senhor, por urn juiz ou ouuidor ; e liavia outros funcionArios senhoriais corres- pondentrs aos que rlas terras da ~ o r i a existiam.

0 s priviltgios qne a terra senhorial possuia rclativa- mente a que o n8o era, jd virnos qud se cl~arnavam immi- dades.

No nosso pais havia dois tipos de lerras imunes: os coutos e as honras.

Coutos eram as ttrras, ern gerdl de propriedade ecle- siast~ca, cuja ilnunirlade resultava de uma cardo conce- dida pelo rnorlarca. 0 couto era, portailto, iitributo de certa terra, drvidarnente demarcada, e o sell contelido variava conforme as cartas esaabelecesseni.

Hodrav eram terras cuja imunidade resultava, nao de concessao especial do rei, mas da circunstincia de per- tencerem a urn hornern tiobre: desde que deixassem de pertencer-lhe, perd~am essa quaiidade. A constituicao das honras foi freqiiente at6 ao rcinado de D. Afonso 11, por costutne inveterado. Charnou-se as constituidas ilesse periodo, Ironras vcif~us.

Ueve ~~o ta r - se , coniudo, yue era freqiietite detlominar- .se genkricamente couto, - tanto 0s coutos prbpriamente ditos, como as honras.

As fnquiri~aes ordeliadas Por D. Afo~lso It vieram p8r c8bro a rnultos abusos que sc praticavam quauto a imunidades set~horiais e usurpaqlo de terras.

85. Concelhos.

AlCm das terras. da Corda e das terras senhoriais havia, finaIrnente, os territ6rios municipais, da jurisdi~ao dos conceihos.

Que caracteriza o coricelho ? Ngo 6 fdcil liunca definir as institui'qBes medievais, ji o disernos, tSro grande 6 a variedade de formas que a mesma itrstitui'@o nos apre. senta .

Mas a defirii~ao 6 possivel: neln de outra maneira poderfamos dlstinguir, no rneia dessa pturalidade de casos. os yue se integram 310 feticirnerln muriicipal dos que Ihe sao alhcios.

Existe Ui:i concellto selnpre que concurrem as se- guilltes saracterlslicas :

it) existgtrcia de urna uniao de homeris l ivrts, isto 6 , que pudessem dispor das pr(iprj:is pcssoas e ~nudar de domiciIio a seu srbitrio;

b) que essa uniao nascesse d o facto dos 11onle s livres estaiem domiciliados, com seus i1ittr6ssts penna- nentes, em ccrto territbria ou lugar, isto 6, que fBsse uma ut~iPo naturalrne;ite rrsultante du convicio pelrt vizirltia~lqa;

c) que a u t l i a ~ do5 hgrtletts livres se fizesse graqas h cot~sciencia ~ l e irlterksses carnL!ris a proisegtiir colecliva- mentc, pelo exercicio da autoridade plihlica conferid:. a orggos rcprese t~tativos da comunidade ;

J ) e que, assim, a crlmu:lid idc dos vizinhos f orlnasse urna prssoa rnaral uu cotectiva suscei~tIvel de figurar corno sujfiti.) de direitos e obr iga~bes eln relafdes juridicas a travar coin a CorGa, os scnhores ou outros cor~celhos ou ndividuos.

0 que 6 caracteristico da curtcekho 6 , portanto, a

Page 93: História do direito português Marcello Caetano.pdf

personalidode colcctlvo retonkecida a urna coniunMade ds hornens l lvres tarlidos pelos l a p s nuturnis dia viainhanga nurn mcsrno terrlldrlo on lugar, psra .? exercicio Ra auto- ridade pdbllca na gestdo dos Inttrrtsses do grupo.

C o ~ n o tlao h i pessoa colectiva setn que haja urn orgrEo, pelo rnenos, capaz de exprjmir a vontade necessi- ria para prosseguir os intel.Gsses co~nuns que o 1)ireito protege, o concelho tinha de yossuir orggos.

hlas na;o se pense quc era essential a existkncia de magistrudos elecdivos: o prripr&i HERCULANO ( i ) em- bora considere Csse facto sinal iniludivel da existkncia do concelho, quando liyado a persmalidade colectiva, n8o 0 reputa 6nico e indisperrs6vel. De facto, o orggo da vnntacfe colcctiva tanto podia s t r urn 111agistradu eleito pelos vizinhos, como a propria assemblCia geral dos vizi- nhos, c Imo at& algurn futicionirio notpeado pelo rei ou senhor, desde q u c tivesse por encargo, n%o representar e defender os inter&sses particulates d t quern o Ilomeava, Inas sir11 tepiwentar P defender os it~ter&sscs da cornuni- dadc a cuja freute estasa.

Portanto, assjrn como terras senhariais o setthor se interpunha entre o rei e (3s habita~itcs, assim nos ter- rit6rios municipais (que surgiram lnesmo ntrs domit~ius senhorlais) havia eiltre cada urn dos vizinhos e o rei ou serihor Itma autoridade it~termkdia : a autoridade dn grupo, a comunidade reptestnta'las pelos seus 6rgLos pr6prios.

E como essas comunidades recebiam para exerccr sdbrrr 0s seus mernbros alguns ou todos os poderes que os srnhores tinham nas tcrras senhorias, - inclusive a

(1) liist, k Port?igai, 8.' ad., VII, pag. YO.

H I S T O R I A DO DIRFITO PORTUGVES . _ . - .-.-- --

poder fiscal e a jurisdiflo-.daf chamarem alguns autores ao concelho urn csenhorio colectiverp.

86. Origem das ins t i tu i~6es municipais por- tuguesas.

Cotno 6 que s t formaram estas comut~idades livres c dotadas de t l o larga autoridade, na Penins~tla e especiai- mcnte no extr&mo ocidente ?

0 s prirneircls c.~~t~cclhos de que aqui ternus 11c)tlcia datam cia segurlda metatle do skcul l~ X I . Conhecem-se, em trrritdrio portugu&+, 19 concelhu~ cctn foral anterior a I), Afonso Henriques.

0 problems dn origeri~ d ~ - , rmssas institui'c6es mu- r~icipais esti inlersn $13 ohscuridade~ e t8das as soiu~6cs apreset~tadas r3o meras hipoteses nlais ou mcrlos conje.. cturais.

Para HERCULANC) e CIAMA I3ARROS, rnoderna- tnente ailIda seguidos pelo historiador rlemtio ERNEST MA.YEK (,), o nosso c o ~ l c ~ l h o medieval resultnu da sim- ples revivcsc&ncia, ao calor da ferrncnta~ao social da Re- conquista, de certoj eletnrl~tos vivazcs da tradicgo muni- cipal rotrrarla conservada sob us visigodos e entre os mo~arabes ,

Mas a rnaioria do5 tnodernos historiadores n8o segue essa opinigo, e per~sa que tendo-se ii extitiguido total-

(,) Na Xua ohra Ni~lo'vilr dt I ~ I S itzrtihoiuvfs sclcialts _tl

politicas de E~pra3 ,a .;I' Porttlgr~l d ~ d r ~ ~ l t e /OS S ~ J ~ O S k'o *+IT Lr, 11, pdg. 289: e s taab~a 6 rnuit~ valiuea mas est:i, cheia dr. iddie;$ falsas.

Page 94: História do direito português Marcello Caetano.pdf

mente a lradiqfo d o municipio r o m a i ~ o ou estando redu- zida a decddetlte e apagada reminiscEncia, o concelho medieval surge indepetldenternente dela, como Produto novo das clrcunstancias politicas, eco:tbmicas e sociais da kpoca,

0 s partidilrios destd corrcnte dividem-se ailIda em dois grupos :

- o grupo qrle vC no concclho u!n ftn6me11o dc origem rural, $15 posteriortnente transportado para as cidades e a elas adaptado (HINOJOSA, VON BELOW...), - e o grupo que, ao contrario, entende ser o conce- tho a resultarltc da aglotneraqao da nova classe dos mer- cadores, formada por gente indepcndente da terra e con1 habitos de iiberdade, em rnercados permanelites ou nossu- bdrbios das antigas cidades o ~ t burgos (faubourgs), e cujo direi:o e prdtioas prdprias (jus nrercatoram) scesten- deu, prirneiro, aos velhos agtornemdos urbat~oa e 16 de- pois se trarrspbs para as corrrunidacles rurais (PIRENNE).

NBO consrnte a Indole d&ste curso o exame apro- fundado d o problems que, de resto, sd enconlrarh solu- qfio no dja em que houver um nllrnero avultadrt de mono- grafins ern que se estudetn as orige~is dos mais velhofi municipios portugueses, conk cr i tbio rigorosamente cientf fico.

A t s s e tr,ibalho obsta a raridade e a obscuridade das fontes, mas sd d81e se prlderao esperar algurnas conclu. sdcs liteis.

Llmitar-nos-ernos, pois, a cnurlciar nlguns dados m d t n provisdrlos {pois s15 como tais honestarnente sc podem apresentar em t8o obscura mattria) que se nos afiguram aproveithveis para resoluqlo d o problerna.

a) Deve regeitar.se qualquer teoria rnonlsla sbbre o

problcma das origens das instituTc6es municipals portu- guesas, lsto C, qualquer teoria quc queira atribui-!as a urnn 96 cousa;

b) E' possfvel que o aparecimento da f6rmula muni- cipal na Peninsula esteja ligada A Reconquista: b. instabi- lidadc da gente qm vai de urn para nutro lugar, confor- me e melhor ou pior tratada, necessidade de valorizar as terras ermas corn populaqEo que as cultive e 3. Irnpos- sibilrdadq de obstar em tempo de guerra e corn t80 vas- tas regides ma1 povuadas, a que se fornlem grupos de ho- nlens que pela fuga se tornaram livres e n8o querem voltara ser servos. 0 concelho estarl assim ligado, desde a ori- gem, a uma pcrlftica de povoamento e fixaqao, dottde ser mais frcqfiente ao sul d o que ao norte.

c ) A autonnmia rnui~lc~pal deve ser resultante de novas necessidades de seguranqa local e d o aumento de complexidade das relaq6es da vida dos aglornerados populacio~~ais, c r ~ a d o r de probtclnas qut a Corba ou os senhores nao haviam prcvisto, d c que se n8o aperccbiam e que nao estavam preparados para resolver: Assltn, mes- mo nos territdrios onde havia autnrillades c funcinnarios reais, desenvoive-se urn aspect0 novo da vida colectlva a margem da lnttrvengZo d o Poder sobretudo 110 d o t n l ~ ~ i o econ6rnic0, e que os iritcressadns sao f o r ~ a d o s a resolver pot si, criando depois 6rgaos que 0s representern. N a origem, a Jungao rnnnicipa! i nrt.mmante s ~ p l ~ ~ t i v i 2 do nqao real ou senhorlal.

dl A tendencia desconcentradora do I'oder que na ipoca est i bem patente no regime senhoriaf, expl~ca a posterior extcnrao das funcdes ~nunii ipai j a outros do- mlnlos (legislat~vo, flnanceiro e jurisdicional) corn a rei- vindica~ao para o ~nunicipto de utna esptcie de imuni-

Page 95: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 96: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H f S T d R I A DO DfREITO PORTUGUBS HlSTdRlA DO DIRBITO PORTUGUBS .-- - --

alvasfs, noutros ffnalmc~~tc nlcnldes, sendo todavia de notar que rlos concelhos em que h& alcaldes, &stes magis- trados coexistem as mats das vezes com um julz (eleito ou de n o m e a ~ l o rkgia),

*AS duas designaqbcs-julzcs c alvnsis-correspmdiam essenclalmen(e a urna mesma ii~stitui'q%o, tanto assirn que nos diplomas rCgios da segunda metade do stculo XIII sllo usadas a par uma da outra, ou uma por outra, prz- valecendo cada vez mais o nome de ]uizcs para designar os magistrados ordinirios do concelho.

~~Quan to ao ttrmo atcnldes, conquanto se use tambem no mtsmo sentido, a circunstPnc~a de coexistirem alcaldes corn um magistrado mais importante chamado juiz - facto corrente 110s concelhos que receberam o foral de Salamanca, - mostra que a magistratura plural tinha nesses lugares um caracter um tanto peculiarll ( I ) .

0 s juizes e alcaldes, alkm de administrar justica, au- tenticavam convenqdes p~rticulares (desempenhando as- sim papel semelhar~te ao dos tabel18es),cobravam impostos e algumas vezes Iegislavam para o concelho.

Ji re d~sse que Cates magistrados nem sernpre elam eleitos e mesmo quando (como nos concelhos perfeitos) eram de desigt~aqRo electiva, dependia, mu~tas vezes, a 9ua entrada em Fun~ETes da confirma~llo regia.

AlCm dos julzes, havia outros f u n c i o ~ ~ ~ r i n s municipais. 0 s mais importantes eram os almotacks #a cujo cargo estavam a inspecqao dos mercados, a aferi~ao rios pesqs

(I) PBULO M E R R A , ,l Porttl~rrl de Btrrcelos, 11, p8g. 494, Eate satlrdo do ar. prof. SIitrStr i: a maia complete e recente rintaee do e s d lrpllrado sBbre t8o dificil mattiria.

e medidas, a taxaflo dos preqos, a pollcia das ruas e caminhos e outtas funqdes anPloga31.

NBo s e pense, porem, que o concelho cstava total- mente subtraldo & acqBo da corda. Ji vimos que nCle podiam existir jufzes dc nonica$%o rCgia e que tinha de acatar, ern certas mattSriaf como por exemplo n a defesa militar, a autoridade do teaena do respectivo distrito.

Nas povoaq6es acasteladas o castelo era governado por um alcalde-rrior (prc lnr ) da nomea~go do rei que,altrn do comando militat, exercla funqoes administrativas e ju. diciirias em cotabora~ao corn aa auturidades murlicipais.

E existiam tarnlkm funcio~~lrios fiscairr - mordomos, cconorni, etc.,--qur exerciam as suas fur~,.des pot mandado regio, junto dos mu~ilclpios.

O estudo ~las institujI~Bes ~nunicipais ficard completo corn a refert:tcia que sc far4 a m f o r d s quando se tratar das fontea de Direito.

Cwno ficou dito, nao re distinguiam, antes do sfculo XIX, as atribuffdes administrativas e judic~irias para o efeito da cspecializaqan das a.utoridades publicas. Quem tinha autoridade, por via do regra administrava e julgava muito embora pudesse exercer principalmente ulna des- s a s formas de jurisdiqSo.

Nos prlmeiros tempos da rtossa monarquia encontra- .se ainda corn grande vitalidade, a instituiqao germiinica da nssernbldia judicial ou concilium que no Estad~ leonts se desenvolvera por virtude das espeziais circu~~st%ncias polfticas t sociais da Rcconquista,

Page 97: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIRElTO PORTUGVES

a 0 coneillurn, tambkm chainado juncta e ainda placi- turn ou ludfc ium era a asstmbtkia dos homens iivres durn distrito maij ou rnenos extenso, urn julgado, por excmplo, a qua1 se reiirlia corn freqii&ncia para diversos fins de iiiter&sge comutn, ern esl~ecial e sobrrtudo para proceder a julgamentos*.

A assernbleia era presidida por urn dos magistrados corn func&es de julpar, inclusivatnente o tenens ou o pr6- prio rei.

Conhecern.se casos em q u e a sen ien~n foi proferida pelo Conde I > , Henrique ou por algum dos pr im~i ros rcis at6 rneados d o seculo XI11 assistido pelos merlbbros ordinarios da sua cliria e pelos homens.bon~ do iugar.

0 s tnenibros da juncla ou cnncijfurn etn geral r12o i~~tervinham t o d ( ~ s no julgamenlo : o piesidentc designava algut~s derltre &les que o assistian) I I U exatne dos factos e na defii~iqio d o direito. hias quem decidia a iinal era o magistrado que presidia

E' possfvel que a aasemblkia municipal dos homens bons tenha algurna r e l a ~ a o corn Ssies concilia.

Dissemos tambkrn que o rei era o suplemo tnagis trado. A Cle rrcorriarn as paries, logo em primeira ins- tincia, Ireqaei~tes vezes. 0 rei ora julgava directamer~te, ora incutrrbia urn ou varios dos menlbros da sua Curia de julgar em seu [Lome, ora se ocupava d o caso corn tdda a Cliriz.

Alit11 d&stes orgHos judiciais vimos; atraz que exis- tiam juizes reais 110s julgados ( judlcata) e 110s municipios, e que as aut!~ridades muni-ipais, bem como os fenentes, aleaides, mol domos da fazenda real e ouvidores dos se. nhorios exercitavam a jur isdi~ao civel, fiscal e cr imi~ nal.

Na introducao as l e i s gerais feitas na CJria Re 1211 por D. Aforiso 11 diz-se que o rei uestabeltceu jufzes.. , q u t o roino e todos os que nele rnorassem fdssetn por &le regidos e sempre julgados por &!e (rei) e por todos os seus sucessores. (P. hi. fi. , Lcges, pag. 163). hlas a noticia do estabelecimento de juizes t vaga e nada nos diz de positivo sBbre a natureza da providgncia,

O process0 r~este period0 6 dofipogermtinlco : publico, oral e formalrsta,

Ao tetnpo em que Portugal se t o r ~ ~ o u ~ndependente, a Lei geral que vigorava em l.efio e Castela era ainda o Cddigo Vls igd i i c~ . ,

Nos documentos do$ sCculos XI e XI1 silo freqiientes as citaq6es do liber juiicum, l ex gothorunr, ten gothica, 1ib:r gorlorlrm, liber judicialis, que atestam ser observado no Condado portucalense e no reitlo reckm-formado o mesmo C6digo.

A sua autoridade vai diminulndo a medida que a nova sociedade se vai cnnsnlidando, e ceasa no stculo XIII.

Deve notarmsc que a vigkwia do Cddigo em Leao e nos primeiros tempos da nossa monarquia n%o se imp6e

Page 98: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 99: História do direito português Marcello Caetano.pdf

~ d e s pontifklas ou decretuis, leis dimanadas da autoridade d o Papa.

A I h disso, a Igreja conservava en1 muitas rnattrias a tradiqlo d o direitn romano e hauria s o l u ~ a e s julldicas TIUS ensinamentoe rios seus luruinares (0s P~idres da igrrja).

C o m o $stes textus eram n-iuito nurnerosos, disperses o u rrlinidos ern co lec~des antigas e raras, e por vezes contradit6rios, urn rnonge de Bolonha (,Itilia), chamado GRACIANO, fez, por volta de 1140, dlna cornpila~Soco- mcntada, denon~inada Concdrriid mas depois vulgarizada s o b 0 llorne de Decretum.

0 a D e c r e t o ~ de Graciano esti todo jmpregnado d a doutritla da suprenzacia d o Sutno Pontifice no g 0 v h o da Igreja; o Papa t o tinico legislador, aa suas decretais sBo tcxtos candnicos, e os coi~cilios e sinodos est30.lhe subordinados. AlCm disso nega-se aos Soberanos tempo- rais o direito Je Icgislar sbbre os neg6oios eclesihsticos e de intervir na sua administra~go.

Nos documentos portugueses dCste primeiro periodo C freqiiente a relertncia A [ex talelana e Lex romana, querendo assirn mencionar os cinones dos c o n c i l i ~ ~ de Toledo ou as prescriqZIeo de Roma.

Sabernos tambim quanta importancia tiveram as const i tui~des pontificias, e C incontestivel que o Decretu~~l foi desde d d o conhecido e aplicado eln Portugal, onde ji n u m documcrito de f 195, expedido por D. Sancho I, re faz referbncia a urn Magisttr dectetista, recitn-vindo de Roma, ou como quern hoje diria - urn doutor em di- reito can6nico (I).

(,) HANTA ROSA DE S'ITERIIO - Elzrciddrio. . . , v, aUsgredon, I.

A influencia d o clero e da rcligiS[o na vida pliblica fazia corn que 0 s principios d o direito can611ico influissetn tarnbtrn na disciplina das relacdes civis.

NO reinado de D. Afonso I 1 houve mesnio uma ten- tativa, d o prior dos dominicanos, SOEIRO COMES, para fazer leis que obrigassetn a todos n a sua vida civil: o rei, porkm, anulou-as (,).

92 Testamentos dos reis.

Jd dissemos, tarnhkm, a importlncia que os testa- rnentos dos primeiros reis revestem como fontes dn nosso direito ptiblico, devido i s regras neles estabeiecidas quanto a sucessao da Corba.

0 s testamentos que se conhecem coln tais disposi~bes sgo: dois d e D. Sancho I (1178 ? e 12101, o d t D, Afonso 11 (1221) e o primeiro d e D. Sancho 11 (sem data).

EstAo publicados os ~ x c e r p t o s que nos interessam n o 1." vol. da Coietpuo dc i t is e subsidies' de LOPES PRA(11A i?].

93. Costume.

A principal fo t~ te de djrcito d i s te periodo (tanta.que lhe d a o nome) k , par tm, o costutne (consuetudo, /nos forum).

Page 100: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Cads localidade, pode dizer-se, tinha as suas normas para regular as rela~6eu entre as vizinhos, rlorrnas trans- mitidas por t r a d i ~ g o oral de geraqBo em geraqgo e que eram cor~sideradas coma obrigathrias, de tal mod0 que a sua v io ia~ao justificava a aplicacto de sanq6es aos infractcrres.

D o ~ ~ d e vinhat~r tais normas consue tud~~~ar ias .? (3s povos ig~~orava~r i -no ao certn ; sabiam apenas que j i eram acatadas pelos seas maiores.

Deveriam provir de diversas origens, a saber: n) usos e hibitos ai~tiqiiissimos, porventura pre-ro-

manos, cuja meln6ria se perde na tioike dos tempos ; b) costumes inveterados I IO povo na kpoca da domi.

na@o romalla e que p e r ~ n a ~ ~ e c e r a m adaptados e modifi- cados apds o desaparccimentc~ do direito romallr: como sistenla juridico :

c) autigos cr~st~llnes germ~nicos vulgarizndos pelos suevos e visigodos e facilrnente aceites pelas populacbes mais atrazarlas ;

d ) outros costumes introduzidos pela infIu&t~cia da Igreja ;

e ) as prdticas dos rnoqirabrs, resultantes do contacto corn os rnuquln~a~~os ;

# finnllnente, os costutnes itnportados da Franqa, por via dos jograis, do ciero, dos tlobres, dos mercadores, dos peregrines de Compostela, dos colorloo que vieram po- voar n t~osso territ6rio.. ., e qur aigiitna parte tiveraln na forrna~tio do nosso direitu c o n s t ~ e t u ~ l ~ n a r i o

AS duas for~tes do costutne a que se tem atribuido maior import inc~a silo a rarnuna e a gelermrinicn.

H I S T O R I A DO DZREITO PORTDGUES - . >-

Esta 61tima i por alguns t8o exagerada (!) que o sr. Prof. CABRAL DE MONCAIjA 11x0 hesitou em caracte- rizar o perindo de que 110s estamos ocupandocomo Cpoca dominada por um sistema juridico ,qermnno-ibdrkn. -

0 s argumentos geralmer~te apresentados em abano desta tese s30 exlraldos da adopq;2o de formas de repres. 880 penal yue se e~ ico~i t ram entre ns p0vc.s germlnicos (vitiganqa privacla, taliao, cuinposifXo pecunidria, perrla da paz), . .

Mas a verdade 6 quc tais normas s?io cornuns a urri grande rtdmero de povos en? certa fast da sua evol11$3o social. Por exemplo, cram ppraticadas pelas bcrberes B data da invasfio mu~ulmana, e est2o cor~sagradas no Al- cor8o. As circulirtlncias d a vidr loca[ !la Reconquista explicanl por si 965, melhor d o que remotas infIu9ncias alheias, &sses procehsos prirnitivos de reacqao juridica.

Como escreve o s r . PROF, PAU1.0 ~ I E R ~ ~ A : ~~lJ,uem estuda o direilo e as inslitui'c6es dos cstzdos neo-g6t1cos n%o podc csquecer que se trata de u ~ n meio c y i a estrutura econdmica e socinl apresenta os caracteres prdprios d o rnundo medieval, aICm de caracteres especiais resr~ltantes da Reconquista crist8.

,MA ulna economia p r i n ~ i t ~ v a , assente 56bre o grupo - domCsiico e a producao familiar, a uma n r g a r ~ i z ~ i o poli- t i c ~ em que as funqfies do Esiado se achava.71 muito re- duzidas, a uma sociedade preocupada absorventemcntc.

( I ) HIKOJC)SA, 1'3 r/~rirrjltn gtrilaiiwiii) rti 1.1 r l e ~ ~ i h o i..rpaik~l, 1915 ; 'J'EOFILO HHhGA, 0 s fot.~?is, 1865. sotltirio cortt! Ario : JULIO IIE V I L H E Y A , A s 7aias hirturicar I I U pe)zi?tszilu iheriiiz, 18.

Page 101: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIA DO DIREITO P O R T U G U E S - -- - - - - - - - - - - - - - - - -

corn as necessidades mititares da deftsa e da represslia, r o r r ~ s p o n d i a naturalvente uni direito cornplt=tarnentt di- Verso rfo direito rnlnano e rnesmo d o direito express0 tia L8.x ~' is igotharum, urn direito erlt que as relaq6es d e fa- mlia, o sistcme :ucess6rio, 3 propriedade, tbdas as ins- titui'qGes, em tl~ainr i)u menor grau, apresetltarn um ca- r'lcter p r i i~~i t ivo acrntuaiio e rnuito curioso. A metltalidadc rudirnentar reclama urn formalismo rigido e cria urn sirnbolismo dos mais ricos e caracterfsticos qLie aferece an histc~riador e ao soci6logo a histdria d i hurnatlidailefl ( r ) .

O direito consuetudinaric~ tinha, por via de regra, caracter local, raras vezes carlicter reral. E era diferetite de localidade para localidatie, em conseqiiCncia d o isola- mento dos d i v e t ~ o s ltlicleos populacionais, sem nieios de comunicaqrto e fechados s6bre si na preocupa~go domi- nante da defesa.

A Corba t l~ tha muitos cuidados a absorv&la que nBO Ihe permitiam consagrar se i legisla~ao. Depois, nPo re- pugrlava i s ~dkias do tempo a gluralidade e variedade das leis conforme os lugares : o Estadcr era urn conjunto de se~lhorios - individuais e colectivos - ut~idos sob a xutoridade supelior d o mesmo Rei.

0s novos ni~cleos que iam povoando as trrras Crmas, erarn lnuito pobres para podereni adquirir um exemplar ~nanuscrito d o C6gido Vlsig6iico ; eram rnuito incu,tos para terelrl no seu sein juizes suficie~itemente Ilustrados que conhecessem e aplicassem tao complexa legisla~ao. 0 clero deixara de ser aqucla classe culta que fnrmava uma

(I) R ~ J r r ~ t o 11us lie Jts de HistLiriu do U i ! , ~ ~ f o Pof.tgyr@s, 1915. pig. 62.

---- IIJSTORIA D O DIREITO PORTUGUSS

arlstncracia centralizsda a maneira da adrninistra~go im. perial rornana, para ~ e g u i r a sorte do povo rude da Recotrquista,

Per tudo isto, houve que deixar irromper eimpor os usos e costumes dc cada terra, transmitidos oralmttnte dr g e r a ~ a o em gerac%o e dlferel~ciados ao sabor dos dcstinos difetenkes de cada grupo populational,

9 4 . 0s forsir.

Vimoo atraz ern que consistia o concelho, A perso- nalidade municipal forrnou-se, na otigem, consuetud~ntria. rncnte, hoje nurn caso, amanha noutro. Mas a breve treeho so senliu a necessidade de definir a nova s j t u a ~ i o jurfdica assim creada, em termos dt maior garantia para os vizinhos.

Por outro lado os reis e senhores comecaram a ut~ l l - zar a f6rtnula municipal como instrumento da s'ua polificu pov:~adora> Daqui nasceu a uecessidade de urn docrrrnentu em qrle se contivessem as regalias municipais : Csse do- cumer~to, C o ]oral.

Forals e cartas ds povou~do. - Nao be clcvem con- fundlr duas espkcics dc documentos que, embora itpa- rentcrn estreita scmclhan~a, divcrgern profundamente .na sua naturcza jurfdica.

Na verdadc, encontram.se diplomaa pelos quais o Rei, ou a senhor, concede a urn grupo de colonos terra% para agricultar corn ~na tos e pastos de f r u r ~ a o comuin, mcdlante o pagamento peribdico de crtrtns enctlrgos ou a prc r tago dc certas sa rv i~os . Eltes diplomas, erlabde-

Page 102: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES ------..--

cendo rtJaq6cs juridicas anillogar k enfiteuse (i), cha- mam-se cartus d t ~ o v o u ~ a ( ~ .

Ora, nos outros diplomas o Rei, ou o senhor, reco. nhece uu conferc personalidade coiectiva a uma cidade, a urna povoacfio, a uma comunldade d c vizinhos, para regular os direitos e deveres reciproco~ em cujo exercicio a nova pessoa cr?lectiva ser i representada pelos seus or- gRos prdprios ( r s tnagistrados rnunicipais) : &stes diplo- mas C que sBo os forais,

Concsifo dc foral. - HERCULANO ( ) delinlu o foral como: carta constitutiva do municipio, cddigo quc ou estatufa ou fixavr o direito pliblico local c que cons. tituia, peIa agregltcao de vLrios indivlduos, uma cntidade social ootn ccrta autonomia. . .

Ernbora u yrande historiador n l o tivesse tido a prea cupacao dc formular ulna deiioi~Bo rigorosa, o conceilo exposto conttm oo elemer~tor caracieristicos fundarne~itais d o foral.

Asslm : a) O foral G urn cddigo de dtrsito p~iblico. - Cc~rno

8e sabe, as rclaqbes jurldicas dividem-se em dois grupos, consoante a20 constituidas tcndo predominantemente ern

(1) Nos tcrmos rio art.' 1653 do nosso Cbtligo Chi1 - ~ d & - ~ s o cantrats de smpraxamento, afsramerbfa ou rrtj i iruse, q u ~ u d o + proprieltlrio cle qualquer prPdio t~,wnsfcre o seu do. nlinio &ti1 pars orrtrn yesetla, obrigandn-~c ehla R paKar-lha anuallueuts certa perla30 determinadr, a quit ~c clrama far+ 011 canon n ,

O corktrrto de e n f i t e ~ i o e 8 d e natuteza pcrpdtua ( ~ r t . 16b4). (7 Zi'ist.@ dc Purr., val. VII da 8,' tld. def., pdg. 85,

vista o interCsse piblico ou os inttrCsses privados, - a organiza~ilo politica da sociedade ou a mera disciplina d o jbgo natural das irliciativas it~dividuais.

Pois hem, os f o r ~ i s nit0 continham por via de regra normas rclativas As relaqBes que se estabetecessem entre os il~dividuos para prosecuss30 de intergrses particularcs. Regulavarn, sitn, a p o s i ~ a o da comunidade relat~vamente a outras entidades politicas, e as relai$ts dos membros da co~nunidade corn a prdpria comu~ridade organizada: e estas regras eram, portanto, rtgras de dlreflo priblico. Dada a extrema irreg~rlaridade d e tbdas a s institurq6cs e f6rmulas medlevais, isto n8o quere dizer que se n8o en- contren~, i s vezes, em forais, normas de dircito privado, o que e lanto mais ihcil quanto t certo serem, ainda hoje, be~n imprecisas as fronteiras erltre o direito privado e o direito pliblico.

hlas o dircito privado 1 6 por acidente aparece no foral, cuj? object0 4 muito outro. Pelo contrlrio, as car- tas de p o v o a ~ a o $80 actos de direito privado, e s6 por acidente nelas poderiI surgir alguma norma de direito phblico.

b) 0 !oral estatui ou f ixa o dlrci to de cerln lecall- dade. - H P aqui, antes de mais n a d a , a sublinhar a alter- natjva ii~cluida por HERCULANO: estafuir ou f k a r . Estas duas palavras n%o estHo escritas por acaso.

Se, em muitos casos, o foral cria a personalidade colectiva da cnmrtnidade (personalidade antes inexistente) e, portanto, d i urn estatuto inteirarnente rlovn Aquele grupo de vizinhos, a ~ ~ t e s dispcrso, antes constituido por iildividuos scparados - e esfaful o direito pirhlico local ;

- etn inuitos outros casos o foral limita-se a com- pilar a fixar normas j;i existentas, o rei ou o s e ~ ~ h o r

Page 103: História do direito português Marcello Caetano.pdf

dA apenas consagraqao solene a um estado de coisas for- mado h i muito i~~depender~temente da sua vontade: o concelho, isto k, a perso~ialidade colectiva do nricleo po. pillacional, existe antes do foral, que apenas o reconhtce e garante.

Em segundo lugar, o direito p ~ b l i c o estatuido ou fi- xado pelo foral 6 um direito priblico local: diz respeito sbmentc a certa comut~idade de vizinhos que organiza politicamente, atribuindo,lhe poderes sbbre o seus mem- bros e definindo os direitos e as obrigaqdes da unidade colectiva para com o senhor ou o ref.

Logo: urn foral para cada concelho; um Direito em cada foral.

c) 0 foral constidui urna enlidade social autdnorrra,-- O ohjecto do foral C a coustitui'ciCgo do grupo de vizinhos em uma ut~idado social e juridica, capaz de ser sujeito de direitos e de obrigacaes (pessoa colecliva), e corn facul- dade de se administrar livremente, dentro de certos limi- tes, por iritermtdio dos seus orgBo pr6prios (aufonornia),

Esta pessoa coIectiva, distinta dos individuos que a compdem, tem sdbre Cles autoridade para firmar a segu. ranca p~iblica e assegurar a colabora~Io e a solidariedade entre todos, necessirias h prosperidade comutn ; por outro lado, possuindo os seus direitos e deveres nitidarnente de- finidos, pode discutir a resistir aos caprichos e prepo- t@tlcias dos senhores ou do rei, que apenas dela podcm exigir o que os textos lhes permitem que exijam.

Corzccssdo do joral . -0 foral podia ser col~cedido por quem tlvesse o senhorio da terra onde se encontrava o nucleo de vizitlhos a erigir em concelho.

Se a terra era da Corba, pertencia ao rei dar o foral, delimita~~do o territ6rio que ficara sendo municipal.

Tratando-se de povoacko situada em terra senhorial, o foral devia ser concedido peIo senhor secuIar ou ecle- si&stico, (bispo, abade de convent0 ou mestre de ordern milltar) de quem fBsse o senhorio.

Em muitos casos o foral dado por um senllar era submetido B conjirrnapio rdgla. Mas nem todos os forais senhoriais foram coil tlrmados e, caso curioso, era freqiiente os reis conflrmarem (a at6 duas ou trks vezes no mesmo reinado) n lo 86 os forais outorgados pelos seus anteces- sores, como os dados j i pelos pr6prins confirmantes.

Conterido do foral. - Ji se disse que o foral tinha por objecto constituir uma pessoa coiectiva autdnomra e assim:

a) estabelecia quais os orggos privativos do concelho, isto 6 , as silas maglstrataras ;

b) ddefinia os poderes do coricelho sbbre os seus com- pollentes, e os deveres destes para corn a comunidade ;

c) regulava a relacas entre o concelho e o rei ou senhor que tinha outorgado o foral, fixando os direitos e deveres reclprocos.

0 s poderes que o concelho recebia sbbre bs munici- pes eram poderes fisca~s e jurisdicionais de que o-rei ou senhor se despojava.

Portanto, &sses poderes passavarn a ser exercidos, ngo pelas autr~rrdades que dantes represer~tavam o rei ou o senhor, mas por magistrados e funcioniirios prdprios do concelho.

E o poder do rei iru do senllor f~cava sendo l~mitado peios preceitos es~r i ios 110 foral e pelos costumes reco- nbecidos (taros) : nada era dcvido senao quando o llirtito impusesse a prestaqao, o rei ou o senhors6 tinham direitos na medida em que a lei do coricelho e o costume do rein0 lhos aoricedessem.

Page 104: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIA DO DIREITO PORTUGUES

Havia, assim, unia IegoUdadc, como privilkgio do$ ter- rit6rios constituidos em conceli~os, a garantir a existhcia aut6tiorna dos respectivos grupos populacionais.

Alem dbtes preceitos fundamentais caracteristico$ os forais podem conter normas s6bre impestos, sabre o siste111a penal (composi~Po e multas), sbbre srrvico nzmlll'bnr, sbbre a cavoiaria vi l l i , e sabre a defitli~io de certas libtr- dades e garantias individuais dos vizinhos,

Tipos dr foruis.-- 0 s forais a que nos estamos refe- rind0 sgo nluito difercntes eutre si. Todavia, era f reque~~te que o rei ou o setthor dessem a urn novo concelho o foral e m vigor noutra povoa~go ma~sa~it iga, - mbrmerlte quando se tratava de povoar territ6rios desertos ou de reorganizar regiaes conquistadas,

Mesmo quando niio se dava urn fnral j i feiioao novo concelho, decalcava-se o novo foral noutro ja existente, pertencente a povoacao que livesse afinidades corn a nova.

Daqui surgem farnflins de forals, diferenciiveis em razao do [oral-tipo que originou cada urna Gelas.

HERCULANO, por exemplo, nso fez em rigor urna cIassifica~ao de concelhos : fez uma classiflca@o de forais. Na verdade, nem 36 o foral caracteriza o Concelho ; o dl- reito municillal ngo esti todo contido nos forais, nem s6 por eles se pode recot~stituir a indole social e a estrutura organica dos municipios.

Assim, o nosso grande historiador forlnulou a se- guinte classifjca@io :

a) forais que constituenl concelllos de tip0 rudimentar : b) forais que constitue!): coticelhos de tipo imperfeito,

formalrdo 6 g h e r c s : c) forais que co~~stituern conrelhos perleitos, formarido

3 familtas : a do tipo de SantarCm, a do tipo de S~lamanca, e a do tipo de A'vila ou E'vora.

Convirns ublinhar que no periodo que ternos estudado a orgar~iza~ao municipal era urn privildglo gozado por pe. queno nhmero dc popuia@es : a maior parte da popula@o do reino rlzo estava organizada m~~nicipalmente.

Percorrendo os Portagoline Monumentn Hlstorito (Lsges d consuetudrnes) encontramas :

19 forais anteriores a D. Afonso Henriques (c~nco dos quais idCntIcos : ns primeiros que figuram ns colec~iIo), sendo os mais antigos do reinada de Ferna tido. o-Magno ;

44 forais do reinado d e D. Afonso Henriques (1128. 1185) dados peIo rei ou por senhores ;

58 do reinado de D. Saticho I (1185-1211) ; 27 do reinado de D. Afo~iso 11 (1211.1223\ 23 do reinado de D. 5ancho I t (1223-1245). Alguns dCstes forais dizem respetto aos meomos

concelhos : o rei reformava o regime juridic0 doconcelho jB existente e substituia o foral atitlgo por rfm foral novo.

No reinado de D. Afonso I1 sulcitararn se em geral os titulos dos privll&glos ser~horiais e murlicipais existentes confirmafdo rigia. 0 s forais foram exarnrnados emgrande ndmero n r chancelaria e geralmtnte erarn copiados para receberern a conflrmn$80.

9 5 Costumes rnunieipais ou foros.

Tambem nao se devcm cot~fund~r os foruis corn os joroo ou coslrrmcs mnnicipois.

Virnos atraz como o Direito consuetudinario desem-

Page 105: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 106: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIA DO DIREXTO PORTUGUbS

namento das institui@es, factos que se pnssaram, pessoas que neles participaram, datas en; que ocorieram, etc.

Em period0 tgo esiasso de noticias como Cste, os do- cumentos dos actos juridicos stlo preciosos.

Us docurncntos (tsrnbkm chamatios actos) classiil- cam-se em pubLicos e pnrlicuiarcs.

0 crittrio seguido para esta dassificaciio n8o e o mesmo em todo5 os paises. Segui~do as regras da Diplo- nldtica portuguesa, estab~lecidas desde JOAO PEDRO RIBETRO, docurnerrlo prihlito C o que foi lavrado corn interveri~Bo de autoridade plihlrca (rei, alto funcionalio, notirio, juiz, conciliuni. .) e docume~tfo particulur 15 0

esc:ito , pelas llartes sen: in tervcn~lo de autoridade ou funciondrio que o autenticasse.

Vamo-nos octlpar especial~nentt dos documentos pli- blicos: @stes subdividem-se ern diplomas e carlas,

Diploma e o documento pitblico constitutive pro- bathrio de actos i.)raticados p e l ~ Soberar~o o~ corn sua intervorl~%o,

Carlas s8o o restantes docur~~e~ l tos pdbiicos. Esta palavra curia design ava primitivamente o papiro

e depois passou tambkrn a apficar-se i fblha de pergarni- , nho em que se escrevia e ainda a todo e qualqucr cscrito , destirlado a produzir efeitos juridicns. De forma que se , erlcoritra empregada cclmo sirioriirno de documento, e dai

110s pr6prios dipIomas sc falar em carla de d o a ~ g o , de foral, de cotlto.. . Assim, a doaqao q u e operava os seus efeltos independente~~~ente da entrega da coisa doada, por sinlples transmiss30 pclo doador ao donatario do escrito em que se continha a declaraqao da vontade de dar, cha- mava-se doaqeo per cartam.

0 doctlmento pdblico n8o pode ser redigido segundo

a fantasia do escriba, E m cada 6poca h i certas fornrali- dades (expressdes, indicac6es, sinais, intervenao de de- terminadas pessoas.. .) que o Uireito exige para dar a todos a seguratica de que o contelido do escrjto C fidedi- gno. 0 docurnet~to publico tern, pois, uma fdrmula a observar, variivel co~~soan te o acto juridic0 a que se re- fere (doaqao, aforamenfo, coutamento, loral, etc.). Quaildo falta ao documento publico aigunla formalidade, deixa de ser digno de ft.

Entre as mais importantes formalidades dos docu. mer~tos pdblicos medievais figura a robora do autor d o acto e dos confirnlantes. Como nos primeiros tempos d a nossa monarquia o us0 da escrita era rrtro, os pr6prios diplomas rCgios nLo eram assil~ados: ou antes, eram assinadas de cruz. Escrito o diploma, o noiirio tracava uma linha horizontal extensa e a roboratio consistia em o rei pdr a m2o s8bre o pergawir~ho (ou at6 as duas m3os) e em fazer urn pequeno risco perpet~dicular a horizontal. Depois d o Soberano meecionava-se a roboruf i~ dos con- firmantes (bispos, nobles e oficiais da Cdria) e R' presenqa das testernunhas, ap6s o que assinava o notario ou chanceler.

0 s documentos rnedievais avulsos s%o htrje raros, A maioria dos quc chegaram ao nosso conhecimento est%o reiinidos em cartulhrios (cartirios, cartairas, cart6rios) ou em registos.

Cham-se carlnlario o Iivro em que as corporaq6es eclesiisticas arquivavam os originais ou as c6pias dos documentos de diversa indole e provcni&ncia (diplotnas rkgios, cartas de doayao e de tesla~nento df particulates, inventbrius, senteri~as etc.) que titulavam os seus direitos ao patrimonio que possuiam, -

Page 107: História do direito português Marcello Caetano.pdf

0 s cartularios, portanto, eram resultado da reiinilo peIo destinatirio dos dtplomas, cartas t mais documentos qite Ihe interessava conservar.

Regirlo t o iirrro em qua ficavam copladas ou resu- n~idas as lninutas ou os documentos pitblicos a expedir por certa autoridade pchl~ca, ou por ela confirmados,

0s registos implicavam uma organizaqdo burocriitica pouco vulgar neste periodo. A px6pria charwelaria rCgia (repart i~ao d o expediente d o moriarca feito por escritoj riLo a tinha a~nda . Em todo o caso, a quar~do das confir- nlafdes g?rais de D Afol~so I I a challcelaria organizou reg!stas, colno por exemplcl a conhecido pel0 riorne de llvro velho dos forols (4rq. Nlc. da TBrre do Tombo, maco 12 dos Forais Antigos, n." 3) onde ficaram oficial- mentt trasladados os forais confrrmados (,).

(4) Sirbr~ a matAtir d h t e capit~tlo 4 fondamrnial o vnl I la I I I J I ~ dc GAMA BARRUS, liirtoria n'rr udmi / z r s f ra~~o fr2hlrra enr Portugdl nus s i ~ z ~ l o s XI1 rz XV.

Recoursnda-st! tambhrn a lartura do artigo do Sr. Prof. PAU1,O ~ T E R P A sObre Orplrtiz,lrtj!in s o c i . ~ ! t adweiriistrLli,io pltblicu nn vol I1 da Htrthzn tie Po~ t l yn l , ed. de Baranlne.

c.rdas noa Portuyzliut Ilfunu,)rcat~r Hi\tnricn d r quo r o n v i m

lel an tjotna [rtcl~rninarep da@ v i l r ~ : ~ ~ HCC$RCB dan d 1 1 ~ partw - Lt7,yr-i e t C o n ~ ~ . ~ t I i ~ ~ / z ~ i r . s tl Diplonirzt,~ I./ Chilrfcrr - rlotas qne s&o davidas a 11ERGULAP;O.

Naa / ? i . i . r p r t , ~ g , ? ~ . ~ C ~ Y I I I E O ~ ~ ; { ~ C ~ ~ S F Cril l i~ls d e JOKO 1'EDKO RIUEIRO t:ncootrr-st: cuuites eien~entus riteis uoru eB

PER~ODO DO ROMANISMO JUSTINIA- NEU E DO DIREITO CANONICO.

L'FASE: DO I N ~ C I O DO REINADO DE D, AFONSO 111 ATE AS O R D E N A C ~ E S MA-

NUELINAS

97. - DelimitaqBo da primeira fase dhste periodo.

No pcriodn que vabnos esludar distiguimos duas fa- ses, cuja separa~i to t da rnaior import$t~cia para a hist6ria d o direito pdbl~co e das fontes de Direito.

A prirneira fase, de que agora 110s vamos ocupnr, pr~ncipia 110 inicio do reinado de U. Afnnsa 111 e vai at& a publica$bo da I.* forma das Orderia~6es hlanuelinas (1505 1514), e e caracterizada pel0 regime pnlitico ronhe- cido prla desigilafao de rnoriurquiu lirniiada pelas ofdens.

Cnsiurnam os historiadares prolongar o primeiro pa-

Page 108: História do direito português Marcello Caetano.pdf

BISTOBIA D O DIREITO PORTUGUES ---. - - - -

riodcl at6 a o final d o reinado de I) Aforiso 111, e tal foi o ciithrio adotado por HERCUT,ANO,

N%o estatnos de acbrdo, C) Ke~llado de D. Afonso 111 inwa uma nova era na Hist6rid portuguesa.

De facto, 6 durante esse reinadv que se verificam factos importantissirnos, que fazern ~ n u d a r a face das nossas instituiq3es juridicas.

a ) ,fixe@o aeflnitita dos frofzlelrus co~~tirtentais, con1 a conquista d o Algarve, po r i tertno so estado de guerrd perlt~ar~ellte em que a r~aqao vir la desde ns seus comeqos.

b ) A pax permttirh que o rei coilsagre maior alenq30 1 organl'za~do admlrsislrativa ; a c6rte dejxa de ser anlbu- larite para se f~xa r , por ulna vez, em Lishod, I I U V ~ cap~tdl do relno, onde se Iorma uma burocracia para o expe. diente dos ll~glicios ptlblicos.

E ) Assirn d churtceluria r k i a passa a ter rnelllor or- ganizaqio, corn rzgistos permane~~tes e for~nutarios iixos para os diplomas expedidr;~ ;

d) A estada do Rei ern Fra~lya, erlquanto Conde de Bolonha, mtjstrara-lhe a civilizaqgo dos outros r e i ~ ~ o s euro- peus, faze41d.r-se especialinente sentir, colno era r~atursl, a influpncin frnrrcesu durnnte o seu r e~nado (a q u e cor- respondru, em Frailqa u de S. LULS), e tanibkin a infiu- &cia da cultura de Castela onde reiliava o cilehte re1 AFONSO-o- SABIO.

L) 0 comkrcio dcser1valc.e-se, internamelite graqas a illstilui@o de nunierasas feiras e extrrnarnenfe pelas faci- lidades colicedidas aos mercadores e pels inttnsificargo da r~avrgar;$o.

JI Bunie~lta tarnhim a riquiJza monctdri<r do pais, (I

que leva o rei a prosseguir ulna politica constante dc coil-

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

versfin rlas srras rendas em prrstap3es ern dlnhe~ro. 2'1 Nota-se tarnhCln urogrrsso n~r culturn, corn 0 aper-

f e i ~ o a m ~ i i t o da l i n g ~ ~ a jwrtuguesa q u ~ , nos documer~tos priblicss, corneCa entao a suhqtituir o la l im.

/zj Erjf~rn. o povo 6 admitido llas sessOes extraorLi:- nlrias da Cirrla rkgia, que evolrri n o relitido de se t r a ~ ~ s - formar r ~ a s Ci,r(es.

'l'ioha-se dito Iln I1~iroduy3o a Pste curso qtie d 1.' fase d k t e perltrdn ab ra~ ige r~a ate as CIrdctla~Bcs (ver pags. 281. Mas o S ~ I I :rclnismo tlos factns juridicus pvlIti- ccrs e sociais acr:rlselha n qlte se escolh'i pa ra t e ln l l filial d o perindo, n%n a publicaqdo das Ordcr!afhc; Atonsillas (1472) P rill1 a das hlanliel.rlas, que coincide c c m o i~iicin do skc. XVI, -- o apogeu dos des~:ohrirnelltos, o Renasci- n~en to literh-in e o ah5olutisrno real.

A 1." fdse (ou da m .nnrquiit I i ~ n i t d d . pelas ordens) d o per io~jo do rornalllslno j~~slinianeu r di) direito cnn611ico da Tirstbsia do Direito 12nrtugu&s abrar~ge, ~iortanto, d e ~ d e o ioicio do reinadn de D. Aionso 111 (I248:1 at6 ao inicio da publicafa? das I3t.rie1ia$6es hiunueli~~as (1505).

Antes, jrortrn, de entrai.tt~rrs no cstudo das instituiqdes de Direito phhlico e das fur~tes de Direito desta kpoca, conveni c o ~ i 1 ; ~ c ~ r ;LIKU:IS Eactnr culturais e sociais que exercera:n maior influ&ncia no seu caracte,.

Silo @les o renascirnerlto do direito rnlnano, o predo- nlinio da filosof~a eicolltstica, a fulldaqgo da Universidade po~iuguesa, a prepontlerArlc-id dos legistas nos governns, o tquilibrio entre ns poderes espiritl~al e teirjporal e a expans80 ultramarina.

Page 109: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUgS

98. 0 renascimento do djreito romano

0 ,estuuo do Direito ionlaiio tinha-se rnaritida sempre nas escolas italianas, mas sem brilho. 0 s textos erisinados eram os d o direito arlte-justiniatieu.

Circunsthncias d~versas, entre as quais avulta a luta entre o Sacerddcio e o I~nper io em que cada um dos con- tendores procurou mobilizar n seu favor os melhores argumentadores e os melhor s argumentos, fizerarrl corn que aos estudos juridicns na I ta l ia se desse, no skculo XI, a maior importdllcia.

A cidade italiana de Holotlha (Bolog~ia) f o i o centro onde a discussilo enco~~t rou mais vivos contendores. As stlas escolas ganharam depressa notneada urliversal e Id se reiirliam professores ttumeri~sos e rstuctarites de t6da a parte.

Em Bolonha, en~bora se ensinasse tanto o direito ro- tilano como o can6nic0, predominava o partido imperial. E foi tieste ambiente que no comEco d o stculo XI1 (entre 1116 c 1140 rndis ou menns), surgiu a figrlra de IRNENIO.

Irnenio, fugi~ldo It rotilia do enmino retdrico anterior, revelou aos estudzntes bolonheses a legisla~go romatla e as c a n ~ p i l a ~ ~ e s de doutrlna njat~dadas elaborar etil Bizin- cio por JLJSTINIANO eirtre 528 e 534, e que eram p o ~ c o e nlal co~~hecidas no Ociiiente (I) . . -."

(,) Coiotr ae sabr, da Oadeira de Histhria do U i r a i t o Rv- mano a JUSTINIANO dove-se ilm cor!jurrto de monilmeIltos juridicoe dibtiatos qua no sbculo SIT rscabeu a designn@o da Carpus Jaris LEuilis.

Comp6cm-nu : a ) O Coda'go, cornpilapin de constitlli'sijes imyerisia urn 12

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUdS --..

0 grande professor estudou &sse conjunto de textos, glosando-os isto 6 , aj un tando-lhes explicaq0es em breves notas interlineares e marginais. Nessas notas ou glosas faz a interpretaqao dos termos, a concilia~ao dos textos difercntes e contraditdrios, a aproxima~ao dos lugares paralelos, a aplica~ao das regras jliridicas a casos concre- tos (casrrlstica), e o rcsumo dos principios em miximas concisas (Qrocftriios).

O ensino de Irnenio foi dc tal imporl5ncia que os contempnraneos Ihe chamaram * a luz do Direitos (lu- cerna Iuris). Ern sun volta formou-st uma pleiade de glo- aadorcs, seus discfpulos, que continuaram o trabalho en- cetado e encheram de g16ria a Ur~iversidade dc Bolonha; entre tles merece rnenqUo o ctlebre PIJLGARO.

lirrna que hove dt~as ~ d i ~ 8 e . u diatintam. 56 conhecemo~ a 2,-, revimta e emendada em 534, donna o name: Codex re#rtilae pmc/euiioais. Na Idade MCdia, para efeitas de enejno partia-ae o Cbdigo cm dois: e Gddiro prhprinmerlte dito (on nore pri- meiras livros) e o Volu~wrn, L'olumrn patrlism on Tres Iibri (corn os tr88 litimoe livroa e as NotleJas).

b) 0 Digesfo ou Paladectas, compi1al;lto de j8.r ou spiuitlsn dos juriscens~~ltos, em 50 livroa. T ~ r u h h m nrr Ida~ le M6dia foi dividido am 3 partes: Digestam vetus (lirm. 1 a 24), Znjortia- tunr (liva. 29 a 38) e Dke.rtzrm ?rouum (livs. 39 a 50). '

4 Aa Znstititlas, comp&ndio para ensinn naa escolna. AIAm ddskar ttrkoa, eocoetram-ae juotae ao Cddige aoas-

tituiqkes posteriores it oompilacEo, por isse ohsmndaa Nozlelas. nes ta~ consti~~~lpfiea itaoas se fizeram vbriaa colsaEilea psrticu- larcs, dns quaia a maia importante B a cia0 Aat2alirns ( A x - trttpltknm), feita por I R N ~ N I o .

Page 110: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Foi jd em plena actividade dos glosadores que GRA- CIANO, tambem em Bolonha, compilou o seu D s c ~ s t u m (1j40 -), manumento de direito carlirnico em defess dos direitos do Pontifice.

De tbda a Europa acorreram estudantes de direito a Rolor~l~a inas, conlo em geral socede, a escola dos glo- sadores qne surgira corno movimento de renova~2o cul- turaI, estagnou na a d m i r a ~ l o da alsl~ridnde do% seus grander; mestres.

C1 tiliirno glosador de vuILo to i o cktebre A C ~ R S ~ O (1182-12603 que compendiou, coordenou e seleccionor~ o trabalho dos mals notiveis mestres da escola, acrescen- tando-thes as suaii pr6prias opirlides: assiru se formou o c&lebre tl:onumento clenornit~ado grarlde giosa, g l o s a ar- dindria ou rnagisfm6 ao Corpus Juris Civllia, que gosou de elrorlne autnridade, rnas teve o defrito de estarlcar a eriginaliiladc de qrrantos vieram depois, -- pois ft?o grande ve~~eraqQo Ihe tributavam que riao se atreviam a discuti-Ia sequer !

Novn impulso, p o r h , receheu o estudo do direito imperial no sEculn XIV graqas ao esfbrqo dos chamadoe post- gIosr;dnrcs ou carncnfadt.res que, sem ahandonar o rnktotlo ar~alitico da glosa, proctrraram aproxirnar ns prin- clpios rotllanos :la vida !:ritira d o sell tempo, dos ttsos dos trjhunais e da direiti~ uacional ou curnu~~al er1l20 vi- genie. Utilizandil n ~r.etc)do dialPctico, cor~struirain o co- menturio dos tcxtos romanos ern termos escolbrticos. 0 s t r b lum~nares que vulgarizarar~~ a rlova escolz foram os lnestres italianos CINO, BARTOLO F.! BALDO. De entre Eles B A R T O I , ~ (1314-1357) era o mainr, e IJor i ~ s o 0s se- quazes do sistema d o comentario escolistico .que cada vez mais foi caindo ern purn exercicio d~ I6gica formal,

divarciado da verdade e da vida) se chatnaram, depois, barlolistcls.

0 s6culo XI11 ficou assinalado pelo desenvolvimenlo das estudos fi[ostjficos rlo Ocidente europeu, A filosofia grega {especialrnente Aristdteiesi que, corn a difi~sao d o crist~anisrr~o no Orierlte fbra transmitida i s escoias da Me- sopotimia e da Siria, encot~truu depais notiveij cultores irabes e judeus. fisses fiI6soios irabes c&do se tornaram conhecidos tla pet~irlsulahiapLnica (P.LFARABI, AVICFNA, AVERROES], tendo algumas obras sido traduzrdas em Tuledo ritlda n o siculo XII. Qua~ito aos jildeus, o mais notivel loi ~ h l l u l d ~ 1 ~ ~ ~ (1 135-1206) natural de C6r- dova. 0 principal cei~tro europeu dos estudos filosdficos

foi a cidadt. de Paris, onde erlsitratam ABELARDO, S. UUAVENTURA, A L B E R T 0 PcIAGNO e 'iinalrnente SANTO TOMAS DE A Q U I N O (1224-12741 que foi u mais alto lurni~lar da filosofia medieval.

O pensarnento filosofiuo da Ida& 12lkdia foi obra das escolas das catedrab e dos c o n v e ~ t o j e das Universirlades, uma resultante d o el~sino ai ministrado. Por isso a filosof~a medieval tipica recebeu o rlotne d e escoldstica.

Caracteriza a escolastica, jornzalmerife, a preocupaq%o de dividir e sub.dividir os proble~nas ertr quest6es cada vez tnais singelas, a fim de permitit. tnelhor a resolu~go das dificuIdades, w reduqaa dos coi~hecirner~tos adquiridos a f6rrnulas fixas, de iacil assim~la~ilo e tra~~sinisgia, e o prcr~esso dialtctico de dlscorrer, ol~olldo erll cada questPo

Page 111: História do direito português Marcello Caetano.pdf

os argurnentos contrdrios, chamando em abdno das tesea opostas a autortdade do% rnestres, at& se chegar a cot~clusfio.

Maferialrnente a escolAstlca 6 uma filosofia dc inspi- raqao rnetafisica procedente da tealogia catblica, que en- corporou n o pensamento c ~ i s t a o 05 tesuiiros da filosofia grega, em especial de A R I S T ~ T E L E S .

A evoluqgo jutidica deveu muito f o r m a ~ 3 o das Universidades europeas que se verifica a partir dos meadas d o S ~ C U ~ O XII,

0 ensino meJieval foi em Portugal primeirarnente rninistrado em cscnlas eclesiristlcns, destinadas a preparar clkrigos : escolas instituidas pelas sks (esc. catedrais), pelas colegiadas (esc. capitulares) c pelos mosteiros (ess. mona- cais ou claustrais).

Essas escolas eram, por via de regra, inleriores, isto 6, sd destinallas aos rlerigos e ~ l o v i ~ o s , rnas Alcobaqa em 1269 tarnou a sua escola nionacal exbriar, abrit1do.a i freqiiencia pliblica.

I1 ensinn iiisistra rlas disciplirras d o frivlnm(gram&tica, ret6rica e dialkctlcs), preparatbrias para a teoIogia. Quando, porim, os alunos ansiavam por conhecin~entos mais vastos e profundus, tinham tle recorrer as escolas estrarlgeiras.

Ora entrc estas eram sobremodo afamadas as de Bolonha (]la Italia) e as de Paris.

Bolorlha foi o centro dos estrldos jurfdictis (romanos e can6tiicos) desde muito cede, e os estudantes vindos de tbda a Europa a cidaiie para seguir durante alguns anos 01 curses COmC'FBTalll a tomar co11sci6ncia corporativa,

organizararn-set elegeram os seus dirigentes e represen- tantes, formando assini uma pessoa moral d o tipo as- sociativo, uma cgrpora~ l io , que em latim se chamava gent- ricamente Universitas.

Pouco depois, no inlcio d o sCculo XIII, produe-seum facto sernelhante em Paris, onde floresciam os estudos filosdficos e teoldgicos (especialmente Estes): dcstaca-se da popula~Zo da cidzde o nucleo dos professores e dos estudantes, crrnquistal~do a personalidade rnoral e a auto. nomia.

Repare-se que Rolonha constituiu uma Universidade d o tipa estudantil (s6 estudantes, excluindo os mestres) e Paris uma d o tipo magistral (mestrcs e discfpulos, corn predominio dos prinieiros).

A autonornia conquistada pur estas novas pessoas morais, representou a sua diferencia~go relativamente as comunas ou municipios das cidades onde o ensino era rninistrado e n%o foi nbtida sem luta, - iuta em que uma d3s armas de rnaior etrito usada pelas corRoraqdas uni- versilirias era o exodo em rrlassa para outra cidade, t:into mais f$cil quanto C crrto que lo havia edificios prbptios para os estudos.

Portinto, a frase rrnivarsbfns maglslroru~n et skho Lnriutn signih'ca aprnas que os rnestres e estuda~ltes de certa cidaae constituian um,a pessoa moral dn tipo cor- porativo subtrai~la i jurisdi~go das autorrdatles' civis comuns.

Foi a Santa SC que ajudou poderosamente a con- quista da persor~aiidacle ? da a~~tonorn ia universitirias, t o r ~ ~ n n d o as riovas pess,~:!5 inorais sob o seu patrocinio e assim pondo terlno a veleidadrs do poder civil.

Page 112: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DXREITO PORTUGUIS --.-. --- HlSTdRIA DO DIREITO P O R T U G U Z S

Ora a forrna~Po destas grandes c o r p o r a ~ d e s deu-se nas cidades aonde acorriam escolares de diversas prove- nigncias : cada urn dgeses cerltros de estudos chamava.se stedlum generule, unlversale ou corninunc, por oposi$Zo ao stadlrim particrrlare, escola de uma ordem religiosa reservada aos estudantes de urna 5 6 provincia.

No studiunz gtnerule podia obter-se, por privilkgio d o Papa (dnica autoridacle acatada ir~tcrnacionalment.e! o jus ubique dmendi , isto h, o direito de exercer en1 qua!. quer pais os graus academicos.

0 s estudantes portuguesrs nns s6culor XI1 e XI11 dirigiam-se, para adquirir os graus superiores d o saber, as Unirrersidades de Paris, d e Bolonha e de Salalnanca.

D. AFONSO 111, t e ~ i d o pertnanecido 16, ar~os em Franqa, rodcou-se, depois do regresso, de iranceses le- trados (como Aymgri: d'Ebrard, preceptor de U. Dlniz) e de portuglreses formados nas Ulliversidades tstrai~gei. rar, (como Domir~gos Jardo, doutor por Paris).

Na Curia d e 1253 figura urn mestre Bolonil (P. 122, H., Leges, pdg. 2301, cICrigo que provavelmenle se formara em direito por Rolonha.

Parece ter sido b s e rei que intentou, primeiro, for . mar a Universidade portuguesa: nias s6 seu filho D, DI- NIZ veio a fazh-lo por diploma de 1 de h l a r ~ o de 1290.

A lunda@o l&ia correspondeu a oma i~iiciativa do clero do reir~o qtle, como v,imos, tinha at6 af o exercicio da fun@o ~Iocente e era u maior heneficiirio da llova ills. tituiqao, have~~dm us bispos e ahades prclido ja em 1288 ao Papa a creaq%o do sludi~irtm generule.

0 Papa NICOLAU IV, [>or bula de 4 de Agosto de 1290, aprovou a fundaflo, icc-r.r~hecendo a personali. dade moral da corpora~gu dos esludos gerais, que ficava

submetida aos juizes eclesidsticos, e conferindo aos licen. ciadoi em qualquer Faculdade con^ excepCBo da teologia, cujo ensinc~ era reservado as ordens religiosas) o jus nbrque docendi.

A Universidade portuguesa foi instituida em Lisboa. Nela se ensinavatn Artes, hle: l~cir~a, Direito Civil (oleis*) e Ilireito C;in6nico (+Uecr.eto* e gdecretaisp).

0 s confiitos entre maradores e estutlailtes fize- ram corn que a nossa Ut~iversidade (exactamente como sucedeu cow outras Universidades rnedievais) fbsse obri- gada a mudar ijr sede. Em [308 foi transferida para Coimbra. ij rei D. AFONSO IV, rtn 1338, mandou-s re- gressar 3 Lisboa, pata novamente a mudar para Ccimbra em 1354. D. FERNANDO levou-a! em 1377, outra vez para a capital, otide estwve at;. i g r a r ~ d r rcforrna d e D. JOAO 111, en1 1538, que a instalou em Coimbra.

Att i reforma quinhentista e segundo a carta de pri- vilkgios de 130Q, a Universidade era uma corporafao isenta da jnrisdi~gr:, murlicipal, e cuja orginira se aproxi- mava tnais d o tip0 estudantil de Bolonha do'que do tip0 parisiense o u magistral.

Eram os estuda~ites quc clegiarn os reitores (2 de cada vez, tatnbim escolares), os corlselheiros e oficiais ul~iversitarios; tirrharu fbro privativcl e finanqas aut6nomas.

Rcpare.se Ila semelhar~ca e ~ ~ t r e a oryatiizaq&o ~iniver- sitdria e a organizaqiio mut~icipal -- tipo das c o m u ~ ~ i d a d e s auttinoinas no estado medieval. 0 s dois reitores c;!rres- pondem aos dois juizes ordindrios: os conselheirns, aos homens-bons. ( I )

(i) Vejam-so slrbre a fundat;;o e organ~znt;Bo da Iloiver- sidade portugiieaa, entre a~itros. ua estudos doh PROFS. JOA-

Page 113: História do direito português Marcello Caetano.pdf

101. 0 s legistas,

E' tarnhem a p a r t ~ r do retnadn de D. AFONSO 111 que se acentua cada vez tnais a intlu&ocia social e politica dos perit03 nas ciencias jujidicas, os legisbus ou fctrrrdos.

Sahe-se da existetlcia de juristas cor~hecedores d o direito romann na corte dos nossos primciros reis, desi- gnados por rnestres. sjnat de que tinham adquirido em algum estudo geral o direitn de ensinar por tbda a parte. Foram cl~anceleres de D. AFONSO HENRIQUES o mes- tre Alberto e o mestre J t ~ l C i o ; mestre Vicente foi chance- ier do quarto ryi. h4as C rlo pcriodo de qlte nos estarnos a acupnr que o nljmero e a qualidade dos legistas assulile a maior impurtiricia, visto quc &les sc v8o apoderalido dos principais cargas da -justil;a e administraclo corno dralectos auxiliares d o motlat,ca.

Na verdade, os discipulor de Bolonha cstavatn im- buidos da d o u t r i ~ a romaad ackrca drr poder tmpcrial centralizado e absnlutt). Por outro ladn, eram por via de regra clerigns pobres ou burgueses que r ~ a o tinhaln ink. resse em defender 0s privilkgios da nobreza ou do clcro: a sua influ$ncia V ~ I I I tOda d o servigo d o rei, 2 t i la-;lo tanto maiar quanto rnaior for o poder do sentior que servcm.

Por is50 os I ~ t r a d o s se drdicam a amplia~8o e re- f e r ~ ~ da autoridade da CorBa, contla todos o s [xivile- giados; e a Corfia charna-os aos seus tribur~ais, ans seus -..- - QUII'I I)E CARVALHO, rla iiirfo'rin r(r Purfu~aE da I h c -

ct:lea, vol. III, pig. 599 e 32ARIO BRANDAC) e T,OPFY D E AL\,IEIUA, A llnisrrsidizde {JP Loimhru - E s b i ~ o t f a

sua kis~~iria - 1937.

conselhos, yuiando se po t eles, como os mais ilustrados dns seus mitiistros.

Sabe.se a ~ n f i u k n c ~ a que a s I~gistas tiveram na crlse da indepen~dkr~cia donde salu a dinastia de Avis. J A nessa altura formavam uma ciasse distitlta das outras que cons- tltuiam a I\Iac~o. 0 s sells componentes lnuitas vezes ado- taram, urn apelido, clue evocasse a profissllo : - das Leis, das Regras, .

JOAO DAS REGRAS, por exempla, fortnou-se em Boionha onde parece ter sido discipuio de Bartolo.

102. Equilibria entre a lgrgja B o Estado.

Nos quatro primeires reinados da Hist6ria pitria en.. co~~trAmos urn cor~llito permanente entre a CorBa portu- guesa s o poder espiritual reprarelltado pelo Papa: t M e que vence, afinal, con1 a deposiclo . violenta de U, SANCHO 11.

Us mals pequenos ir~cidentes ocorridos entre o rei e quaiquer bispo erani iogo t ra~~spobtos para o plano em que i e travava a luta yigantesca entre o Sacerd6cio e o IrnpCrio. A autoriddde pontifical, r e f u r ~ a d a pela vassala- gem d o prinleiro monarca, procura impor-se a cada passo e velrccr as rtsisttncias nacionais.

13. AFONSO It1 foi colocado I I O trot10 pelo I'apa, prestalido previo juramento em Paris, ilas m l o s de mestre Joao capelz~o do Sunlo Pontifice, de qrle respeitatia a tBdas *as comunidades, concelhos, cavaleiros, povos, reli- giosos e clero d o reillo, o s bolls costu~nes e foros escritos e irao escritos que tiveram em tempo de meu Avb e de

Page 114: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

meu Bisavhn (0. Apesar disso entrou en] conflito corn Roma r: tnorreu coin o reino inirrdito.

Fni D. LllNIZ que procllrotl 11br termo a fa1 esiado de coisas, NinglGrn riegava cis privilegioa e isenqdes d o clero : a autoridzde ~lliivrrsal do Pontffice rolnano era indisputivet e as normas du direito canhr~ico acatadas por

de reguiar os potrtos de a t r ~ t o e r~ t re os dois poderes e issn sc fez por meio de n n ~ trat ldo ou c o n c n r d ~ t n cntre o rei e o clero, cot~firtnada por hula pontiffcia de 1289.

t)esil1teligi5ncias, ai11da as lirruve neste reitlado e 110s seguii~tes, Mas passaratn cada vez tnais a ~evesl i r 0 cari- cter de probleinas+neramer~te il;terl~os, qr~estdes nationals, yue os rris resolviam [JOr achrdo corn os btspos, sem d~s lncaq lo para o foro de Komd,

E' que, etnbnrn o Papaclo tivesse setnpre co:rservado o prestiyio da chefia da cristal~dalle, a sua autoridade polltlcn, o seu poder de il~terverl~Zo nos ney6cios inter- rios das rnotiarquias qlie haviarn saldo d o feudalis~no e se estavnm co~isolidando, d i ~ n i n u ~ lnuito 110s skculos X l V e XV.

Para ~ s s o cor~tr~buirain varios fdctrlres : ulna &tiire de curtos pontificados separadns por iie~norados interregnos, a mudalica dos Papas para Avirlhar (de 1314 a 1377), o grand? C I S )la do Ocidente (1378-14I7), a de30rde~n d o Crrncitio de R a s ~ l k i a ('1431-1439).

O clero portugu&s passa a cor~stituir u ~ i l d classe dentro

(,) Ver o text0 em LOPES PHACA, Colsc~3o LZC l f i ~ c r tc l s idf#s . . ., 1, pdg. 31.

d o Estado, em colaboraq%o corn a Cori3a: deu-se a nacio- nalizaqEo d o problerna eclesihstico.

Ernfim, o h~storiador d o D~rel to nao pode eyuecar a ~nfluencra qlle a e v o l u f ~ o juridicd r~acloiial solreu, a partir d o skculo XIV, dds descobrimetltos e das conquistas ul. trarnar~lias, da nbra de povoat~iento e d o comkrcio c u r ~ l as novas terran.

A seu tempo se veri como se lnanifestaram tais influ$nc~as. Por agora bastarfi regista-ias.

Institai$des de Diraito ~ l b l i a o

104. Espirito do Oirrito Pliblico.

Dos meados d o sCcu[o XI11 at6 ao f i n d d o sCculr~ XV as instltui~6es d o nusso Direitn Pliblico vzo acusarido cada vez tnais, i rnedida que o tempo decorre, a infiuCn- cia simultinea d o direito justiniar~eu c da filosofia escoiistica.

A iriJlu2ncia do direi lu jusfinlaneu & patente jfr no reir~atio de 13. AFONSO 111 - o prirneiro de yue nos

Page 115: História do direito português Marcello Caetano.pdf

restam notfcias ptecisas de se conhecere~n e aplicarem .as leis i~nperiais ( 1 ) . E' nesse reinado que o process0 civil, por cxemplo, deixa de obedecer ao tipo germlnico para passar a ser escrito B moda romatia.

A partir de entao os legistas vao divulgando e zpll- cando 0s prirlcipios que informavarn a o rgan iza~ao mo- ~ i i rqu ica centralists e absoluta d o I~npkrio Romano.

No reinaclo de D. JOAO I chega a considerar-se le- gislacao do rein0 certos textos de direito romano : co- nhece-se a carta rEgia de 18 de Abril de 1426 pela qua1 o rei envia a CPmara de Lisboa urn exemplar d o Cddiyo Justiniano corn a glosa de Aclirsio e o comelltdrio de Bdrtolo, tudo esclarecido z interpretado em linguagem po:tuguesa para facilitar aos juizes a sua aplica~tZo ('1.

Apesar dessa crescrnte itlflu&ncia d o direito justinia. neu enganar-se a quem pensar que as nossas it~stitui'cdes rresta fase se aproximzvam jB do tip0 imperlal rotllano. A colltrabalanta~. as tendkncias absoIutistas que dai pro- vinham havia, por u!n lado, as lirnitaqaes ao poder real resrr!tanles d o podtr io das classes e grupos sociais, e por outro lado a i~~fluelicia do p e ~ ~ s a ~ n e r ~ t o politico dos ii16- sofos catblicos, especialn~et~te de St." TOMAS DE AQUINO e seus discfpulos.

0 poderlo das ordeas do Estado (clero, nobreza e povo) rejut tava, I I ~ O s6 da riquvza, prestigio e funqRo social, Inas de privilkgios co~isuett~dinlirios ou cor~feridos pela C o d a cujo respeito se itnpunha como se se tratasse de regras constitucionais. Respeilar as iniunidades d o clero, as prerrogativas da ~ ~ o h r e t a , os forais e doros do3 conce- Ihos, e n para o Rei u111 dever de co~isci&ncia que en80 podia v i ~ ~ l a r sell1 esc3nclalo pfiblico ou revolta dos slib:ii. tos. A Idade kltdia carncteriza se politlcamente, at;. final, pslo plurallsrno do< pilderes 110 Estado - a Corb? C ape- llas o fie1 e o irbitro das restantes f b r ~ a s politicas e aociais.

A infln&ncia da filoso]la ascolas t i~a exercsu-se tam- b8m no sentido de limitar o poder real, ineistindo na idCia da funqao ou oficio de reinar: o rei existe porque C riecessirio A ordem social, e deve cumprir escrupulosa- r n e ~ ~ t e os deveres que justiflca~n a necessidade d o sau cargo.

Como ji ficou dito, a escnlistisa aproveitara muito do pensamento grego, especialrne~~te o aristotblico. E' cor- ret~te nesta fase etrcontrar-se citads a autoridade de A R I S T ~ T F L E S na sua Poliiica. Mas o yiande mestre da escolislica foi SANTO TOMAS que, alkm de comentar esse tratado de Aristbteles, setneou as suas obras de re- ferenc~a aos problemas politicos e parece ter escrito (ainda que nso seja ce! ta a autoria., urn opdsculo cilebre, muito difundidrl na Idadr MOdia - (1 DE Re,oiirnirre pjin- c ipua , continuado d c p ~ i s pelo seu discipulo PTOLO- ,UEU LIE LUCA ap6s 12515,

Outro discipulo de S. TOiLlAZ, chamado AEGIDIUS R O M A N U S ou, 110s autores pnrtugueses, FR. (311- DE ROM.4, escreveu um tratado com n mesmo rlorne, DB F B .

Page 116: História do direito português Marcello Caetano.pdf

girnln~ pri'inclpum, compost0 apds 1280 e qrle a l c a n ~ o u celebriilade n8o lnfetior B d o mestre.

Estas nbras eram destinadas a guiar a educacao dcls prtnc~pes, pelo que insistiam especialmente [?as virtudes indispensiveis a o born niotlarca e nos deveres que Ihe incurnbiam.

Grande parte d o prhlogo de F E R N i 0 LOPES i sua Crdnlca do r..l D. Pedro e quisi textualn~ente traduzida duma passagem de Egidio (IIv. I, cap. X I I ) e a obra dCste C col~stz[?telne~lte citada no Leal Cansclheiro de D. DUARTE, corno IIO Lwro da Vtrtr~osa Betrtf~ttorla d o Infante D. PEDRO (,l.

A coucep@o d o poder rral nesta fase n8o difere muito da que estudllmos no perlodo anterior. 0 rei e o cheje nrilltor, a forlte da justlga e o remurrcrador dus vassalas.

Pirma-se mais, porCm, a funcao regia de assegurar a justiqa n o re i~ lo .

O coi!ceito de justi,a abrangia-a def in i~zo d o Direito pela legisIaC&o, a sua aplicdcgo nos ju lgan~et~ tos r a de. fesa da seguranca iriterna pela rnanuten~;lo da pdz p~iblica e irnposic3o do rndtuo reapeitcl dos privilegios e direitos de todos.

(i) I'BIJLO 31 t-: ll h A , As tror.i,rs poliiicri.r , i , :~LLie~ / , l i~ I L I I

a Ziarddo tin I~rirtz~osn Z?t~::<iril~)r i l l * , r rp l~+ l G 1i:sttlduu dr His. thria rio I)rre~t.ria, pjg. 189.

N o ~ ~ e r l o d o anterior o rei legislava pouco : vamos agora encontri-lo no exercfcio pieno da sua f u n ~ 8 o legis- lativa, cnnsiderada co,n ntributo esscncial do poder rral e cnildisao indispensavel da Jrlstica.

Mas o direito ronlano e a filosofia cat6lica cosncidiarn na idCla de que o rei d n lei v iva: as leis s8o a express30 da vontade do mouarca, expressao clefeituoia que a afir. rnaqgo de viva v o ~ pel0 prfrprio Soberatlo d a q ~ ~ i l o que quere nao pode deixar de reIeyar para segundo plano.

N o nrdlogo da Cr6nica de LI. Ptdro I, F E R N A O LOPES, rrprocluzindo a l j i l dr Roma, c o m o jd ficou dito, escreve que : nas lei3 srio regra do que 0 s sujeitos (isto t?,

ns sribdifos) tl2o.dr fazer t s2o cha1nad.j~ priricipe n8o atlima:lo, e o Rei C prlt~cipe al~lmado, porque eias revre- sentam c o n vozes morias o que o Kei Jiz por sua vnz viva. . . Se a lei 6, regra do que se h i -de f i ~ z e r , rnuitcr ~ n a i s 0 deve ser n Rei qtle a pAe, e o juiz qu.2 a hd.de ellca. michar , porque a lei e principe sem al~lia conlo disselnos, e o prlncipe 6 lei e wgra (la justica corn alma ; p*ois quanto a cousa com alma krn rnelhoria sAl~re outra sem aIma, tailto o R e i deve ter excel&ricia sabre as leis. . , j,

Esta dout r i~ la vinha, afiliaI, an encontro do que 0s legistas ensinavain fiir~dadns nos t ~ x t o ; <ir ULPI.1NC) re- cclhiclos 11 I Elif isto (lib. I , tit. 3 ', fr. 31 e f i t , 4.' fr . 1): princcps !&bus so1irlu.q edt ; quod prinzlp! plilcuil, legis hnbcl sigortZm,

A idCia de que o rei nfio deve obedikncia a nenhuma lei humatla e que a sua vo t~ tade q u a ~ l d o exprime a Jus t i~a t Iri independentetnerite da irliciativa otr ~ l u collsenso de qualquer outra autoridade, traduz-se t ~ a s fdrmulas dos diplornas rkgios que enconlramtrs a partir dc U. PEDRO I, uda nossa livr8 vontadr c certa sie'nciap, o u como diz

Page 117: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 118: História do direito português Marcello Caetano.pdf

N l S T b f t f A D O D f R E l T D PORTVGUES

reconhe:irnentn de que certos direitos (rtgulla) compe- tern exclusivat~ieritc ao soberano..

Estes direltos rcais (rcplicz) foram enlr~nerados nas OrdensqBes Afonsirias, l i v t l , tit." 24, segurido constava da lei de D DLTARTE elahorada pelo Doutor Ruy Fcr- 11andes. A tontc desta lei foi a cornpilagar) d o direito feu dal lomhardo do sCcuio XI1 chamada librl feudorun!, no titulo 56, d o livro 2.('. Qua: sinl regaltoe, resumo de pre- critos d o direito rornarlo d b r e os privilkgios d o so- herano. (d

Vimns que I I O periodo anterior o Rei era assistido pelos co~~se lhe i ros clue cot~stiiufam ordinirianier~te a sua Curia c que @ste Conseiho desetnpenhava lunqOes varia- das, - desde a de Estado Mainr G ~ n e r a l ern tetnpo de guerra, at6 i de orgao superior conslrllirro du govkrtlo, da adtninistraf80 e da justip.

N o reiriado de D. APONSO I11 con iep , p o r . i ~ n , a Curia a evoluir !lo sentido da diferenciafao e da especia- lizaqrlo : ao passo que as Curias pIenArias vgo tornanrfo a feiqao de Cbrtes, as a tr iblr i~aes judiciais da Cir ia ordinf ria passam a ser exercidas por alguris dns seus mernbros,

(I) Sabre o I~udt t r laat nerte p a ~ i o d o ~ $ 1 , alem da abra de GAMA RARROY e d m trah.~lhas jd c ~ t a d o b de PROF. PAUL0 3 1 ~ ~ f i 4 (am eapcclal O podtat reel r nr C j t t t ~ ) . n

e ~ t t i t f o de A . COSTA LOUC), O re i , ~ p n i l *Ariais Jas BI. blioteoas e Arquivosr, ( 1 .' ~Brie) , vols. I a 11,

apenas, que julgarn por si shs cotri rccurso para o Cunselho.

b s e s conselheiros especializados na jndicatora rwe. beln o nome de sobrejdzes. Ao tratar da orkanizaqao judiciAria veremos como da CSria se desintegraram dc. pois os tribunais superiores do ~ e i n o .

0 Conselho rkgio, CBrte ou Casa de El-Rei, (4) con. tinua a exercer a sua f u n ~ g o polit~ca e adrninistrativa junto d o monarca. Nota-se, portm, que nos reinados se- guintes ao do Bolonhks a influirlcia da Curia vai drcres. cendo : o Rei ouva mais os conselheiros do q ~ i e o Con- selho e nho invoca tanto, nos seus actos, o acdrdo d$\e como nos primeiros reirlados.

Qua?do L), JOAO I foi aclamadu rei nas C:Grtes de Coimbra de 1385, os povos lembraram-lhe que era con- venitnte ouvir o parecer de bons consell~eiros, comu fa, zia o rei de tnglaterra, e indicararn.1h.e os termos em que devia constituir o Conselho, bein como nurnes para o cornpor, 0 manarca, deferindo, esculhelr dez conselhei- ros: - urn prelado, dois fidalgns, trCs legistas e quatr t~ cidadnos.

Como se v&, os legistas ficavarn tendo, corn a classe popular, lugar prcponderante no Conselho.

Mais tarde, o rnesmo rei restringiu a quairo o nu* mero de vogiiis ordinirios d o seu Canseiho privado, isto

(i) Em algunu dipIumsa (e~~eeis lrnente tle 11. AI'UNXU 111) f ; i z - ~ e rli~(~n(;Wo barn ni t~dn enerr r o r t ~ I. roirsrlila, Pol.vautlira.rc

r e s e t v a r i ~ o prirnairo tarmo pa ra ctus~gnar o raqjuuto doa fiin- cionAr~os cjno asmbiarn o rei Its adln~niatrltc;tcl qiiotiii~ana, des- tinalidu o megundo para a reunito dos coneelkeiro~ ~ P g l o n P

Page 119: História do direito português Marcello Caetano.pdf

6, dos catlselheiros que o acompanhavarn constAntemente. Essa restr i~ao mantem-se I IO reinado seguinte, e snh D. AFONSC) V o tftulo de conselheiro d o rci parece ter carlicter purarne,:te honnrifico, aconselhando-se o rno- narca sobretudo corn os seus rnitifstros c juristas,

Nas Orderiaqties Afonsil~as, o tit.' 59 d o Tdlv. I P con. sagrado aos ~Conse ihr i ros de CI Rey-, mas Iirnlta-se a coplar d o CBdigo das Sete Partidas a lista das qualida- des que urn born conselheiro deve reunir.

Errquarlto a Cliria urdingria seguia o cami~lho que ficou eshocado, a Cliria plena evolufa tambkrn.

D. AFONSO 111, que tievia a Cor8a a urn act0 rrvo- IucianArio, pe tendia chamar a s i as simpatias populares. P o r isso, aos concell~os que o receberam sem o p a s i ~ l o , se apressorl a confirmar os priviltgios. Altm disso, a guerra e as reformas administrativas que se Ihe segulram exigiam recursos financeiros que a s receitas orditidrias n3o forneciarr~ : era ~lecessirio criar ilovas foritfs de re- reita e urn;! delas, muito usada nos pafses estrangeiros, mas parece que 1120 empregada ate ai entre rids, era a quebru (ou acrescerrtamcnto) da moeda qtre cnnsistia em recolher, para fundir de novo, cam n ~ a i o r Iiga o o mesmo valor norniuai, a rlloeda melalica em curso,

Talvez para captar a adeseo popular. taIvez para con. vencer rrs burgueses das cidades e vilas (que eram os atingidos pela quebra da moeda, vistcl as outras classes receherem ns seus rendimentos ern gCneros), a rei cha- tnou o s liornens bons dos concclhos a tomar assellto

HISTORIA DO DIRElTO PORTUGUES - -- -- - --- - -

junto dos nobres e do clero nas sess6cs plendrias da CBria.

Quando foi que pela prirneira vez o factn se verifi- cnu? Apesar das conjecturas de G A M A EARROS e m contrario (i), parece.nos quc a crpii~iiio mais scgura C a que considera a cdria de Ceiria de 1254, coma a prinieira de que participou o braco prpular, ccinforrne testernunha a memdria Iat~cada nu Livro I das doafdes d e 1). AFONSO Ill e puhl~cada 110s P. kl. H., Lrgcs, I, pag. 183 :

, . . . domnus ~ l f b n s t l s Rex Pnrtugalie et comes Bo- lotiie celebravit stlarn curiam spud Leirenam rnense tnarcii cum epistopis et cum proceribus et ciim prelatis e t cum ordinibus el urn bonls Aominibus de concftiis de suo rtgno. . . B

A quehra da mneda fbra jb praticada, scgundo patece, pelo rei (em 1247?) e a p r a z a d ~ pela segunda vez para 1251. Sabe-se que a a p r u x i m a ~ a [ ~ desta data perlurbotl grandemet-rte a vida ect>nbrnica da NacBo, pois o rnorisrca foi forqado a publicar a lei de 26 de 1)ezen~bro de 1253 que fixava o pr&o de todus us gkoeros e a r t ~ g o s cilr- rentes do mercado pnrtugui5s. A resistii~cia popular deve ter-se tnariifestado por virias f o r ~ ~ l a s , coa~o r ~ o estra11-

( 1 ) Ob. c i t , I, pig. 522. QuanIo h Pliiria de T,eiria, lam-

bkrit 6e trm dito quc Foi prec,rrlitla por o~ltra em TJirboa, na tlnu tle 12.53, cam a preaenga j i i i o ~ homana buns (low coooe-

l i t~ba , r:onfi~rmc se drdr~xiria d a lei ile 26 11c L)raembro dense nno (1'. ?it. H., L C ~ I I E I , p k . ~ . 192). 31aa IIERIIULAKO con- t e s t ~ esria oyintiio yrlas r a ~ 3 ~ : ~ expostan I I ~ J Y P. RI. lI., L~res , pag. 191.

Page 120: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGIl&S -- - - -

geiro aconteceu em circunstdncias idi'nticas Acresce qtle os te6logos e cano~listas consideravain ilfcitas as aitera- ~ d e s do valor da motda quarldo fettas srtn se ter ycdido o corlsentitrlento do povtl (irrcqwisito cfinsenru popll i i ) .

kste facto deu a i~ltervenc;au d o povo na Cliria, desde logo, carac'ter represe~~tativo dos intertsses ol~rt~icipais, tendo havido uma verdadeira trar~sac~An entre a Naqao e a Corba relalivan~ente a quebra da nlaeda, quer nas Cdrtes de 1254, quer nas de 1261, convocarlas a ped:do das classes, que rlegaram erlbrgicamente ao Soberrno o direito de quebrar a moe.ia (vhr I-'. M. H., Leges, prig 210).

A q u ~ b r a da ~nneda , segundu [J costume eurcpeu (que rlan de origem portugues.~) pcldia farer-se de sete em sete anor;, mas os pnvos compravam por vctes ao rei o direitrr da quebra mediante o pagil~ntnta de uma cr?. lecta extraot.diniria (monetagiurn).

Assim a Cliria, a q u e ocortiarn, na origrm, apenas ns vassalos do Rei, rio cumprimento d o srtt de :er de vassa- lagem, tend^ a trar~sfornhar.se riutna assrrnbldi~z reprcsert- tativa dos iriteresses das t r&s orderls ou dns cftr&s estadvso d o reino : clero, rlobresa e povcl.

E' nessa ajscmhikia que tais interkeses encontram o nrgao adequado para a sua erprrss30, fiscalizando a acFBo da CorGa e dos sells funcioniiios, dando conselhos, forriluiando petiq6es sob a forma de i1rtigos ou agruva- menios, e spresentando queixas.

A Curia foi-se assirn tratisior~nai\~lo nas Cartes: a diferenqa entie Lima e as outras estj. Lm que a Cliria era urn conseiho auxiliar d o rei e a que era dever de certvs vassalus assistir; as Cbrtes s%(l ulna assetnblkia represen- tativa das classes tia Naqao, a que estas colnparecem no

exercluiu de urn direito, c q u e fiscaliza r limita o l:o- der real.

L'ejamos agora algurnas nntas sbbre as atribut'~6es e fur~cioname~ito das Chrfes.

A cnnvcscordo foi sempre i r r ~ g u l a r , apesar dos esfbr. qos feitos pelds classes para conseg~iir pcriodicidade. 0 arbitrio rCgiu i. qlri. decidin iia nport~inidade ria reii!~iao.

As ntrib~li)fi~.s eram : coticeder a quebra da moeda c a cobra i l~n dr irnpostos gerais, receber o jurametito do novo re!, prestar preito e nlenngeln ao sucessor da C o r k yronunciar-se sbbre a decIara~3o d~ guerra e for mular queixas, peti~Pjes e conselhos sBhre a gov&rno e a administra@o pilhlicas,

NBo tiveram as Cartes ve~dadeiras atriburcaes legis- lativas, pois 11x0 dtliheravam fa7er leis. As suas queixas, prt1fOes ou consl:lt~os eram denomir!adaq crgraearr~sntos, passaildo a cha;n;~r se, no sCculo XtV, ~zr l i zos 011 caplfulus.

flsses drtigas otl cavltulos podianl ser gtrais, quando formulados pilr todas i % s coricelltr~s e int-ress?~tdo a tndo o reino, e e . s p e t i ~ l ~ quando s6 d:! Nobreza, do Clero ou de certo concelho.

(1s agravatne~i tos nu capitulos eranl apleje~ltados ao rei, que sbbre 5lss d~cidia soheraname~tte: se os rlefcria, colivertian~-se em leis. hias sb a vontade reai priduzia a teyisla~Po.

A coi i iposigd~ das Cbrtes era variivel: o rci convo- cava crs nobres e 1)s rnetribros d o al i r~ clero que etltendia, ei~ibora aiglrris houvesse' qur, polas suas alias fuuc;6es e tli~nidndt., fbssem sertlpre cot~vocad~-.s. A tradi@o deter- r~~itiava q u n i j as cjdades t: vil is ci13tnad;:s a fazer se re- plesentar, mas nern setnpre essas tblias erath co~~vocadas. 0 s representantes drts conceihos nKo tillham de pertencer

Page 121: História do direito português Marcello Caetano.pdf

for~osamente P c l a s s ~ popular e erdm eleiios por urn co- Ikgio muito restrito de yessoas notiveis do Iug~r. Os cleitos ficava~n investidos, curno orocurqdores do concelho de ilm mnndgta ltnpcrntivo, isto 6, 0s seus poderes de reprejentaqao iimitavatn-se i s matkrias contidas nas ins t ru$5rs ou apot~lnarentos que lhes eram dados pelos elei- tores (11

Vejdmos agora quais eram os Mir~istros que assistiam o Rei no des3acho (ou drscmbargo) dos neg6citis pdblicos.

A et~tr~icla nunr perfodo de paz e de orgatlig8o ;rdlnil~istr;lt~v~i iriterna, nAo pnjia deixar de ser favorivel ao predo~niiiio das f ~ ~ t ~ ~ f i - ~ s ctvis sBbre as militares 11.1

vida corrente do govkr~lo. O Ckanceit;r, ordiniriamente lrgirta o u It~trado, s ~ ~ r g e - I I O S n o reinado de I). AFONSO 111 o prin~eirn rni~listrn do despacho e tertdo sob as suas ordcns ulna irriportat~te secretaria, a chancelurin riggia, olldc trabalhavam escrivBes, ~~ri tdr ios e guardas dos sPios, hem como urn vice chatlceler.

As flrri~dss do Chalicelrr oa.la tinham coin K vida

(4) ( ) m a i ~ ~nollari~o cat8lt1go d a ~ Cljatea calehradas ern P o ~ t r ~ ~ a l 8 o tr\~hlrcatlo por ALFIZEDO PIZIENTA nos

Srduidrps pnrd J I i ~ ~ i o t ~ ~ z de Por t l~;~t~l , pLg, 392. Sthrr orgir- nlzaghn e E~l~~c i , tna~~ iu i l tu dad Cbrtea veja-ue VISUONL)E DE S A N T : ~ I C ~ A I , il.lc'~zor>rli P itlrzt,ir ~ O C U W J E N ~ L I J pard a h h t u ria r t t o r t n dss Co'rtes Grrais.

domestics d o rnotlarca : o Charlcelcr assistia 40 despacho rkgio, tnandavd Iavrar oe diplomas necessdrios A e x e c u ~ ~ o da vontade r e d , subscrcvia.os e apunha-lhes o selo do Soberano.

Mas o Rei l a n ~ a v a man, freqilbntemeute, dos legistas dr Clirla para cxecutores da sua vontadt. Assirn aparecem muitas vezes o s actos expedidns por intermbdio de sirtl- ples juristas intitulados vassalos do Rri ou snbrejulzes, e depois chamados, no s&culo XIV, ouvidores, on Ihrra- dams ddos desembargos de EL Rcl

Por outro lado; o Rci toi buscar ?I cha~celar ia urn doe escrivaes para Ihe servir d e secretdrio perticular : C a origem do escrtvdo da puridade, que aparece jd no rei- nado do Bolonh8s.

0 Cbanccicr conserva, porbrn, a sua proeminencia at6 ao reinado de D. PEDRO I. A introduFgo de urn novo &&lo para autenticaqao dos diplomas rtgios, s€lo privado, secrets,, ou de carnufeu, que estava na posse do escrivlo de puridade, tornou dispensdvel ern multos casos a interven- cao do Chanceler no despacho, ao rnesmo teMpo que fa. zia crescer A influencia d o tscriv2o.

Conhecr,se a forma do despacho do rei justiceiro, alravfs de dois regimentos do desembargo (i) e da noti- cia que se encontra no Capitu!o 4,' da respectiva cr6r1ica de FERNAO LOPES.

Por af se v t que o despacho era cet~tralizado pelo Escr l~do da Purldade, e depois distribuido pol viirios Ilvrddorrs dus des~mbargus, cada Ilm dos q b a i ~ t ir~ha cer-

--

( r ) EetiPia pttblicadoa no tamm I.' dae i)isstrtoifie.r Ckro- noldglcar ds JoA'~ PEDRO RIBEIRC), pAgr. 316 0-319,

Page 122: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DlREITO PORTUUUBS --

tns negncins a seu cargo e superintendia e m cscrivdm que o auxiliavarn. 0 desembargador competente apresen- tava an rei n rieg6cio a despachar e ar~otava logo a .deci. sso rCgia, marrdando lavrar n diploma de execuqao que depois seguia para o Chanceler a fim de ser seladb.

A partir de D. JOAU I o cargo de Chatlceler fica restrito ao registo e expediqHo dc diplomas e aos ~~egdcios de justiqa c o Escrivao de Puridade e jB de tacto o pri- meiro ministro.

0 regimento do oficio de Chanceler-mor, inferto nas Ord. Afonsinas, Iiv. I.', litulo 2 , O , e decalcadn srj hre o C6digo das Sete Partidas, e corisidera o cargo como 170 segundo Oficio da nossa Casa. daqutles que tP~n offcio de puridade,,, sendo o pritneiro o d o Capelgo. h,las as atribur~des do Chat~celet- conriatern, segundo o regimento, em passar as cartas relativas a rlomcaCao dos funcior~drios de justica e da Universidade, e em verificar se as crtrtas assinadas pelos desembargadores ou pelo Rei s8o cor~formes corn o diretto e nAo co~itrariarn despachos anteriores : se alguma rarta passada por dtsembargador fdsse contra o direito, deveria devolvC-la para set outta vez examinado o assunio na sua presenca, mas tratando-se de diploma rkgio teria de lim~tar.se a expor as suas dB- vidas ao monarca. Achat-tdo que 05 despachos eram re- gulares purlha-lhes, entBo, o s&lo penderttc, ou das quit~as.

NAo vem nas Ordetlafbes Afonsinas o regi tnc~~to d o offcio de I.scrivdo da Puridade que, segutido parece, $6 pirsteriormetite a essa compila~Ko foi elaborado, ainda no reinado de t). AFONSO V. Era o Esc~ivZo qoern cen- tralizava todos os papeis dirigidos n'o Rei e os lnandava dijtrlbuir pelcls desernbargadores comp'etentes. Cstudado o asssunto, vinha a despacho do monarca, dado am au-

diCncia, na r>reseil$a d o Escrivao da Puridade que estava dt? juellios junto d o Soberatlo. Logo que este revolvia, o deeembargador tomava nota (ernenfa) a mandava passar o diploma que depois era submetido a rkgia assinatura, referendada logo a scguir pel0 Escrivao da Pur~dade e as vezes s6 por &le selado con1 o sklo de canlafelt - - o que dispet~sava a ititervencao posterior do ChanceIer.

0 Esrrivso era o nlais prnximo coiaborador dn Rei, aquCle a quem o mnr~arca dava as suas illsirugbes e en- carregava de velar pela execuoo da sua vontade. Mas, assitn erguido a categoria de primeiro Ailinistro, deixou de ser o secretirio particular d u Soberano, funfbes que passaram a competir a funcior~arios designados por secrc- tdrius de Ei Rcl nu escrlvdes da Crirnora : a urn d&stes compctia suhstituir o Escrivgo da I'uridade quando o lu- gar estivesse vago ou o titular se encontrasse impedido.

Para concluir, resta fazer referencia a nntrns minis- tros que tinham gra~ide importalicia. Vimos que, no pe. riodo anterior. a superintelldencia tla cotirar~ca do$ ren- dimer~toi reais cornpetia a um portelro mor.

No reinado de D. AFONSO IV essas funcdes passam para os ocrvldores da parlaria e, no filial d o sCculo XIV. para ns vcdores (!a fazenda, que eram dois.

Estes Vcdores du f azcnda, clijo primeiro regiment0 vtm nas Ord. Afonsinas, liv. I, tit.0 3.", adt~linistravstn o patritnbnio da CorBa, superinterldendo aa cobran~a dos seus rendimenfos, e arrendando e aforat~do oas herdades, casas e foros do reim,

No tocante As financas rCgias rram mi~listros d o drs- pacha, dcsemburgando pnr si sbs certos negbcios e le- vando us outros a resoluqPo d o Mirnarca.

Podiam julgar as questaes co~itenciosas rrspeitantes

Page 123: História do direito português Marcello Caetano.pdf

As sizas ; mas os restantes proceaso relatives B fazenda eram da competCncia d o julz dos felfos de el-rci que jA eristia no tempo de U. JOAO I. (I)

109, A administrap60 da justipa,

Quanto B administraqho da jus t i~a , dissemos j i que duranle esta Cpoca se formaram os lrlbunais superiorcs.

Na verdadt, na stgurida rnetade do seculo XI11 des- tacaram-se da Cdria rbgia certos conseiheiros especiali- zados em dire it^ para jufgar as questoes da cornpetencia deb, embora drs sentengas que profiriarn coubesse re- curso para a Cdria: h s e s conselheiros especializados sao 0 s so brelui~es,

N o principio do seculo XIV. alCm dos sobrejuizes, apa1.ece o oflcio dos otrvr'dorcs das supricn~Oes, jufzes que conhecidrn dos recursos interpostos em tiltima instbncia para a CorAa.

Em breve se distinguem os sobrcjuizes que julgam os feitos civeis, dos ouvidores que decidem as apela~i3es crimes e ai~lda de outros ouvidores que resolvem os feitos dn Corba (1337).

E entHo aconteceu que Esfcs juizes formaram dois grupos : urn, desde cedo (1355) chamado C ~ s a do clvel

( I ) Snbte 6ate ullmc*ru vejam-ae, n t h das obras geraie, as inam61 ,xu de FElANGIH(?U 31ANUEL rRITSOSO 1)K ARA- GKU JfOK4 l'O, So*hr~ ns er~rlz,,its da prwzdd~- B S b r e ox

LhurarekrPs.mnt-ei.en~ pablicadaa na 'R1at6rla e Memorian da At~ademla Real dsr Scienc~as Ja Tiisbas, tnmo XII, partes X a 11.

quk conhece em recurao das decisbes de I.= instancia e que, ernbora atC ao skculo X V nso tenha sede permanente n o mesrno lugar, a t & fixo rra cidade ou vila designada pel0 rei ; outro, que forma prbpriarnente o Tribsrnal da t 'dr le , acornpanha o moriarsa oude quer que Cle estcja e sucede, no judicial, B a~itiga CBria, resolvendo os recursos supremos em matCria crttrie, as causas da CorQa e as ape la~aes cive~s interpostas das seritenqas da Casa d o Civel ou de outros magistrados, a s ~ i m corno os negdcios pura~rlente de grrqa, isto e , petiqlies dirigidas 2i clem@ncia ou muni tickncia rbgia.

Nas Ordenac6es Afonsinas nao foi inc1uido o regi- rrlento da Casa do Clvel, olnissao inexplicive;, tanto tnais que em numerosus titulos se fax referencia a b e tribunal.

Quanto ao tribunal da Carte, sao-the consagrados os tftulos 1,' e 4: a 7.' d o I..tvro I ($'I.

Chamam-lhe as Drden&~Ges, Casu daJustifa da Cdrt~, , , a Casa da Justica que connosco andan, di? o Rei.

Presidia fi Casa urn Regedor e Qo~~crnador uo maior e rnais principal oflcio da Justica em a nossa C6rtrr , o que equirralia a ser uma esptcie de Ministro da J u s t i ~ a . . , A Casa tinha duas secq13ts ou mesus: da 1.' mesa faziatii parte o Rrgedor, os Doutores, Dese~nbargadnres d o Paqo, o juiz dos feitos d'rl rei e o Procurador dos mesmos feitos ; L 2.' mesa perfentiam o Corregedor da CBrte, 08 ouvi-

Page 124: História do direito português Marcello Caetano.pdf

dnres (que eralri tres), e nlais oas IJcssoas de autoridaden que o hlonarca determiriasse,

A desigttac;go ytrtkrica dada a tudos os compor~er~tes da Casa da Juskrca da,Cdrte era a de dcse~trbnrgadorrs; i retir~ifio charnava-se ro ia fam.

0 s ilois desen~bargadores charnados do / - 'n~o tillham atribui'~6es especiais, s e ~ l d o cor~siderados os edesttr~lrar- gadores principais de Supiicaqu;li~, isto 15, para decidir defrnitiva~nelite os recursos cle apela~Bo e agravo inter- postos das sentcrrqas da Casa do Civcl or[ de outros ma- gistrados superiores. A &stes desembargadores coinpetia farnbktn ir~tervir rlo dcspacho dos pedidos ~ i e perdao e iridulto por crimes ~ o ~ i l e t t ~ f o s , e lia 1tecis20 de nraterias de grata fais cot110 confirrnaqlo de e le1~6es e tiorneaqBes de juizes locais, privtl&gios, Iegitiinaq6es, posse, resti- tuiqgo, etc..

Quanto i s rrulori:ades lowis a bpoca de que nus es- tarnos ocupal~do caracterit -5e pela tendkncia proyressiva para a centralizaqao da iuncZo judiciat. O Rei reivindics comn exclusive o d i re~ to de rlornear juires no reino, C O I ~ S ~

deraildo usurpa@o o facto de outras autoriddde3 9s ele- gererii ou nuirlearem sem seu cor~sent irne~~to. Esta dou- trina, que orienta o poder rea1 em tBda esta epoca, vem a ser forrnulada em ternins defirritivos nas (3rd. Af., Iiv. 11, t i tsmD 24, €j 25 onde se diz :

Dtreito real hc poderio per2 fazer oiiciais de justiqa assim corno s8o Cnrregedores, Ouvidorez, Juizes, Meiri- nhos, Aicaides, ?'abaltdes e q u a i i q u ~ r oiitros oficiais de. putados para niinistl.ar justiqa : ntim etnh;trgante qlie o poderio de fazer juizes usurparijm de iongo terrlptr as Cidades e Vilas ur~iversalmer~te per tbdas as partes d o Mundo, pero que etn algutnas psrtes, assi cotno no Reino

de Portugal, iiecessbriamcnte devenl pedir a El Rei con- f i r m a ~ o m d&Ies antes que usern dos oflrios, em sirla1 dl' Senhorio que a &Ie principal~nente pertence de os crear e fazer per L>ireito!,.

E' de acrirda corn esta tendencia que I). AFONSO I J I etrvia rneirrniaos, clornrl enviado$ extraordinirlos, encure- gados de fiscalizar a adminiatraq8o da justiqa nas terras. Nn teinado de seu filho os merrinhos estabilisani,se, suhs- tituindo os ricos hornens, ou tencnt~s! ~ i o g6vCrnri dos distritos, e passam a c h a n ~ a r s e cnrregeiinris corn jurisdi- qZc) lras curtiarcus ou correiydel.

1)ata tambe:n 40 reinado de 1). DEN% a nornenq80 dos primeiros juizcs n'e furs, isto 6, de letrados que, n8o sendo vizir~hr~s d o concelho. era111 ~nvtl tdos pelo re1 para administrat justiqa em vez dos juizes ordir~arios ou da terra.

110. AdministraqBo loca l .

A instituiqan dos corregedores vein d . ~ r urrla rloba feiq&i, 2 adrn i i i i s t ra~~o locai do pals: o+ nohres ficatn, rlesde entAo, reduzi ios As alca~ddrias dos castelos, en- quanto o govEri~o dus distritos passa muitas vezes para a m8o de legistas da conflanqa rCgi?, con) g ra~rd t -agravo dos f~dalgos (Old. Af,, II, t~t,,. 5!), Fj 23).

C) prinleiro rrgirr;ento d r l ~ corregtdures q t ~ e se co- nhece datd do reinado de 1'1. AFONSO I V , corn acres- cei~talne~ltos dns segu~lrtes, e serviu de fonte as Ordena- q 6 p s Aforls~rras, l iv , 1, till110 23 !,).

Page 125: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Por Sie s t verifica o caracter complex~ das novas funcbes. Corno em geral sucedia, a adrninistra~3o civil e militar misturava-se corn a policia e a justica. O.:corre- gedor, que deveria andar constanlemente de terra em terra e rnam fazer morada grande nas vilas boas., (0 era inspector rno feito da Justi~a como no verearne~lto da terra.. Verilicava se 0s jufzes procediam corn dlligtn- cia e reclidao e podia julgar, e m 1.' instancia, as deman. ctas etii que fbssem irjteressados fidalgos, abades, priorts e outros quaisquer poderoscs hem como os alcaides, jui- zrs e uficiais de justi~a. Era-ihe pro'ibido porim, conht- cer de recursos, os quais dcviarn ser enviados aos tribu- nals superiorer.

AlCm dissn, devia v e r se os casielos estavam bern guatnecidns e absstecidos, se os:direitosje:as rendas do rei estavarn acauteladas, se as autoridades tnunicipais cum- priam 4)s scus deveres, se a% leis cram observadas, se as obras publicas seguiarn no I~iter&se geral, etc.

Outras zutoridades e funcionirios locais de nomea~Bo rkg~a existiam nar comarcas em qoe u pais estava drvi- dido. Assim, para superintender na cobran~a dns rendi- rnentos da Co16a e na admir~istraqio das swas ptoprirda- des, havia os porteiroa, os saco~:~ores, ou recebedorcs, as almoxurifes con1 seus tscrlvaes, os contodores, e outros,

Nos rh:trlc s exisliam os alcaides aquem D. JOAO I [

RlBkIKO, r)tsscrta~aSies Ckrr~ in lo~ icas a Cuilrcds, tomo 1x1, pal te 2 ', pig. 97. SGbre o dire~to ude c o i r e ~ ~ B a drr CorBa vc- ja.sa e rnembria ~nserta nas ,l.lrnsdrios dn ~atcralura POT- tlrgurss, temo 3.', pag, 184.

d ) Sbbrr r demora qut. podlam ter em rada terra rsr a la ! dtr D .iuAo r mns Ord ~ i . , 11, tit: 59, 9 41.

impot nova f6rmula de menagetn (Ord. Mati., I , Tit.' 55)- Coiitinudva a fazrr-se disii11f8o quanto i administra-

~ f i o entre as terras da Cordo, as terros drrs Clrdens Mtii- fares, os Senharlos e 413 Cottc~'llros.

Sob o influ6ncia de sucessivas leis gerais a adminis. t r a ~ d e mrrrricipul foi-se ulbificando por todo o pals. L)e resto, 0 ndmero de concelhos aumer~tou durante esta kpnca, a ponto de no firla1 do S P C U ~ O X1V estar o terri- t i r io completarnellte coberto detes : uns u rb , i~~os (vilas), oulros rurais (julgados).

Assirn as diferencas orgar~icas resultantes do diverso conteudo dos forais desapareceratt~ pouco a pouco. I.\ or- ganizaqrlo interna dos concelhos aproximou-se de urn tipo dnico. Vejatnos qua1 era.

A asscmbliia mmunlclpnl nu concciho reiine cada vez menos, 0 s neg6cios itnportantes, Inas para ctlja reso[uqao nilo valha a p&na convocar todos os vizit~hos sao apenas exami~iados pnr atgu is, rnais sisudos e j4 experimentados no gov&rno local, a quem se passa a chamar restr~tamente homenu bow.

ne enire @shes estabelece se, no reillado dr I). AFON- SO IV, qua a1yuns (posheriorme~~te o ntimero foi fixado em tt&s, como se v? llas Ord Af., Itv. I , tit." 27 3 17) as- sistiatn corn permarlencia na ad1ninistrat;go ou vcreamtntu do$ interesses municipais: assim surgiram os vercadores que se reiiniam em conselho ou roln~orn na ~ C k n a r a ~ , ou ~Casa do Concelhow.

Primitivamente os vereadorrs eram eleitos por acbrdo

Page 126: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES

dos homens bons. Mas nas Ord. Af., tit," 23 do liv. I , 3 43, a designacao f z-se por um process0 mais complicado, usado para tbdas as rnagistraturas muoicipais: o Corre- gedor refine os ~nagistrados e os hornells bons para que escolham seis d&stes o s quais, 'por sua vez, em grrlpos d e dois, ficam et~carregadns de elaborar srparadamente rdis das pessoas capazes para os diversos cargos, Apresenta- dos o s tr&s rbis, o Corregedor confront&-os e apura os nomes sBhre que haja acBrdo ; cada urn dgsses llomes 6 escrito tiurn papel e este encarrado riurna bola de c&ra (pelouro). As bolas sao depois tuetidas em tal~tos sacos quantos cdrgos a prover e dal se tirarso sorte os 11otnes das pessoas que hilo-de servir em cada ano.

A' testa da a t l ~ l ~ i n i s t r a ~ a o rnutlicipal vinios no perio- d o atrterior estarem os jnfzes; &ste C o nome que vinga sbbre as outras desigttaciies dadas aos magistndos rnulli, cipais slrperiores (alcaldes, alvnzis) assitn cnmo a seu tlh- mtro st. flxa em dois.

M a s , [lor utn lado, a justica m~nistrada por estes julzes ordindrios ou da terra era forqosamente infiueticia. da pelss relacoes de v iz inha l~~a . e por isso parcial e te- metite dos poderosos. A inspecc%o dos corregrdores obviava a certos dCstes defeitos mas I I ~ O cornpletatnente. Depais, se U I I I homem velho e prudente da terra podia apIi- car us costumes que na sua 1o11ga vida (iprrndera e seln- pre vira observar, t~ao era possivel a ulna pcssoa inculta, e as tn.iis das vezes atialfabeta, aplicar as leis gerais fellas pelos legishs da Corba e os priticiyios d o direito romano e can6nico erlr que elas s e i~~sp i ravam.

Ao e n c o ~ ~ t ~ w destes factos virlha o desejo dos Reis de intervir na admir\istrac80 municipal e de ir chamarido a si a futbc8o judicial. Por isso, nas cidades e rilas mais im-

portantcs, onde as causas pram mais rlumerosas P corn. plexas, apareceram, pelu rnenos a partir do reitlado de D. DINIS, letrados que o monarca enviava para substi- tuirern os juizes da terra: eram os Iuizes de fara parte.

Se bein que em geral Sstes juizes f6ssem bem rece- bidos, 1evantaram.se queixumes dos povos em virtude de o s concelhos terem de lhes pagar, a0 passo que os da t r rra erarn gratuftos. Ao principio o rei teve de andar corn cautela, dizertdo que a nomeaqao d o juiz de fora era temporjria e exceptional. Mas a institu'i~io radicou-se, embora tiunca se generallzdsse a todos o s concelhos, fi- cando apenas para os mais ricos: a jurisdi~go d o juiz de fora de urns cidade ou vila abrangia, portm, o s julgados vizinhos onde subsistiam os juftes ordinirios, em cerlas materias decfaradas na lei (Ord, Af , I, tit.' 25 e I I , tit." 59, 8 fi..).

0 juiz d e fora substituia, onde existisse, os dois juf- zes ordinlrios, Como Eles, n l o s6 adrni~ristrava justiqa coma presidia a o concelho e vereacao, embora srm vofo. 0 regimenlo dos juizes ordinirios vem rlas O r d Af., tit: 26.

AlCm destas autoridades munic i~~a is havia ainda os almotach, o prccurador e o escrivdo do concelho (Orcl. Af., I , tits. 28 e 2 9 .

112, Masteres

Uma d.rs atribulcaes rnunicipais foi, d r sde sempre, a de regular a vtda ecnn6mica local. A pesar desta Cpoca ser ji csrartzrizada por r n ~ i o r desenvnlvimer~to do co. mircio que 110 perfudo arlterior, predorniriava a111da a

Page 127: História do direito português Marcello Caetano.pdf

economia iechada, isto C, cujo process0 complelo (que vai da produgao ao consumo) decorria dentro dos lirnites de cada munrcfpio.

As condi~bes em que algutm podia exercer o seu uficio ou profiss%o rluma cidade, vila uu julgado, eram re- guladas pel0 concelho, quaudo a terra era municipal. Era aos altnotacCs que competia zelar pela observincia das postirras e verea~bes do coricelho sBbre o exercicio dos mtsteres. especialtnente quanto aos preqos, qualidades e medidas das coisas a verider.

Como era natural, os znesteirais pediam para ser ou- vidos quando as autnrtdades inuriicipais resolviam sdbre coisas do seu interCsse. Nas cidades e vilss em que o seu nlirnero era grande, a associaqao imputiha-se para defesa d6sres interCsses contra a presslo dos consumidores. Essa associa~ao far-se-ia at6 pela aproximaqfio material dos mesteirais de cada oficio na mesma rua (arruamenfu) que tambtm convinha ao Concelhmpara mais ficil fiscalizaq5lo.

Depois d b t e atruamento (alihs ainda hoje usado iias feiras) a assncia~Bo pracuraria vingar, corn laqos mais fortcs, contra a oposi~80 do rnunicfpio, acolhendo-se 4 sombra da Igreja : assim torna a forma de cor~fraria, esco- lhcndo urn santo para padroeiro do oifcio.

Esta evoIuqBo C conjectura1, porque at& ao reinado de U. JOAO t nao h4 noticias seguras hckrca da organi- zaqao dos mesteres no nosso pals, A parte o arruamento.

Mas parece ilnpossivel qur o mestre de Avfs estabe. lecesse a interven~ao dos mesteres no govern0 da cidade de Lisboa sem haver ainda organizaglio dos olicios. 0s termos em que FERNAO LOPES nos d l noticia d o fact0 p.trecem i~iculcar a existencia de ceita urgat~izacao :

HE foi logo ordenado n a Cidade que vlnte quatro

HlSTdRJA DO DIREITO PORTUCIUQS - - - - - - - - -. . - - - - - - - - - -

horn&, dous de cada tnester, que tivessem carrego de estar na Canlara pera tirda a cousa que se ouvesse de ordenar por bb regimento e serviqo d~ Mestre lusse c6 seu acordo del ies~, (0

Ocorreu isto em 1384, e assim nasceu a Cusa dos Vinte e quafro, espkcie de ncimara corporativa municipals, que depois passou a dosignar quatro procurladores dos mcsteres para assistit h vereacgo da Cidade, ~ i i o podendu resolver.se quaiquer assunto de irlteresse para os oficios sen1 sua presenca e vota.

0 presidente da Casa dos 24 era o Julr do Povo, cargo tamb6.m creado por D, JOAO I.

Slo do tetnpo do mesmo rei duas leis co~r~piladas nas (3rd. Af,. IV, tit.' 30, e V, kit.' 68, e das quais resulta a conclus&o de qtle jh 110 relt~ado dtsse rnoltarca os mes- teres gozavarn de certas regalias e isen~fies,

0 exemplo da cidade de Lisboa cuntribuiu para que rioutras cidades e vilas oude a tid dust ria mars se dese~r- volvera os mesteres tivessem vbz nas verea~bes quando se tratava de assurktos ecoi~dmicos. ( 9 )

113. Senhorios. N a epoca que estamos esfudando, a jnrisdigo se.

nhor~al foi vivamet~te disputada aos nobres pelos reu.

(,) Chronica de 13. JoIo, parte 1.". (2) 0 irniccl Municipro ondo, porb~n, ha n certeza da o r p -

uizat;iio dums Caaa doa Vinte-r.q~latro conlo a de 1,isboa aitlda

110 shculo XV, E n do PGrto. - cf, TORQUATO SOARES, hsidcl'nos p<lra o estitilo cin orfinnialr~rio nna nzcipnl d~ Lirlrrii~

do P6rto il'wrnntc n Idade .We'dicz, p8g. 165,

Page 128: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 129: História do direito português Marcello Caetano.pdf

-- H I S T 6 R I A DO DIREITO PORTUGUES

0s senhores que prelendiam julgdr em dtirna illstancia, coln o que se n&o conformava n rei, c u j a justi~a devia porler exerccr-se stmpre, acima de todos or derna~s po- deres d o reino *em sinal de maior e mais alto senhorio:. (Ord. Ab, 11, tft,' 63, 5 9.').

Por outro lado, enquanto o re1 pretendla que os seus rneirinhos ou corregednres elltrassem a exercer as suas funqaes nas terras dos donatiricls, $stes opunham-se enkr- gicarnente, considerand0.w corn diretto a fazer cor re i~go por ouvidores seus.

Dekde D. AFONSO IV-at6 D. JOAO I1 g u t a Iula se trava em reaor r iest~ ~mportaute pontn. 0 primriro dCstes rnonarcas co~lsentiu sbmente em que tais prerro- gativas fBssem exercidds pelos senhores que as possuis- sem por atitigo costume, prorbinlo os coutos e honras novas. O rei I) FERNANDO, rla lei que veni transcrlta n o tftulo 63 d o l ~ v r o I1 das Ordenaqfies Afonsinas, tomou provrd&nc~as enCrgicas restringindo a um pequtrlo 111'1-

mero de grarldes fidalgos, ao mosteiro de Alcoba~a e As ordens de cavalaria o direito de conhecer, por si clu pe- 10s seus ouvidores, dos recursos interpostos dos juizes das terras, mas podendo apelar-se das sentenqas dessa 2'. instlr~cta para o rei ; fora E-sses, n~nguCm mais teria jur isdi~ao civil ou crimrllal, em qualquer ltrgar e sbbre quaisquer pessoas d o reinu, salvo achando-se incluido, nurna das duas excep~6es col~feinpladas no 5 9." d&sse titulo, e 0s Corregedores deveriarn entrar em tddas as terras senhortars; tambCtn s6 o rei podia tromear tabelifies para essas terras embora cs prrviieg~ados rt~lcialmente re. feridos pudessem propor as pessoas iddneas para o oflcio.

N o retnado de D. JOAO I o facto de a antiga no- breza ter combatido d o lado d e Casteld facilltou A Corba

HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - - - . . - . -

o desrespeitn dos fords tradicior~ais da classc. 0 s novos aristocratas, crertdos pela r e i o l u ~ i o do Mestre de Avis, queixaram.se arnargamer!te disso, como se vC dos Capltu- 10s daa Cartes de Coin~bra transcriios no tit.' 59 d o livro 11 Jas Ordena~ties Afonsinas. Mas formaram-se grandes senhorios, como os d o Infante D. Henrique e d e Nun'AI- vares.

0 Infante D. Pedro, como regente em norne de D. AFONSO V, publicou nova lei aBbre jurisdi~Lo dos do- natirins, em que rcedita as providCncias fernandinas, tor- nadas, porCrn, mais rigorosas, podendo dizer-sc que sh os rnembros da farnflia reaI conservarrarn restos d o antigo poderio se~ihorial : os Cotrcgedores das con~arcas fazia-m~ a correi~ilo nas tcrras da Rafnha em name dela, embora esta tivasse urn Ouvidor seu Ila C&rte, e niro entrava~ri nas terras dos Intantes, mas isso nao represenva privilkgin deles e simples graca d n rnonarca (Ord. A f . , [I, Lit." 40).

Quando o rei chegou li maioridade, n%o se preocu- pou muito em observar o rigor destas nredidas e deu largas aos aristocratas, Mas D. 1040 1 1 , em compefisaqgo, impoz rudcmente a sua autoridade, fazendo respeitar as leis exjstentes, promuIgando outras novas, (puhlicadas nas Order~acbes Manuelinas, liv. 11, tit.' 26) e alogando em sangue a resisttncia doa mais renitentes e poderosos : a

supremacia da jurisdigLo rkgia ficou, desde entao, in. contestada.

Ao estudo d o regime aenhotial, nesta Cpoca, esta li- gado o col~hecimento da lel rntntn! que rnandava reverter B CorBa os bens doados quando o possuidor mcrrresse sem deixar filhos legitimos d o sexo rnascuiino: havetidn- -os, sucedia s6 o primogkrrito. Estabelecia-st, portanto, que n sucessPo devia stguir na linha recta descendente,

Page 130: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTdRIA DO DIREITO PORTUGUBS

rnantendn-se a doa~Xo indivisa e observadas as regras da ~nasculi~lidade e ila primogerlitura, corn exclusao dos ile- gitimos.

Esta lei chamo'd se in. ntal porque T). JOACI 1 n u n c a iormulou genkrican~ente por escrito as regras em que ela consistia: tinha.as na mente, e ia.as aplica~jdo, corn u~ti- formidade e reyularidade, em cada doaqao que fazia (t).

56 no reir~ado de seu filho, D. DUARTE, a Ici foi fsrrita, mas n8o a incluiratn o s conrpila,lnres nas O r d e r ~ a ~ b e s Afonsitias, vindo s6 a ser inserta nas Mar~uclinas, 11, tit." 35, acorn panhada ell tao de dewivolvida glosa,

Apesar da terldetlcla dos reis para limitar o poder senhorial, o descubrimento das ilhas desertas do Atllntico (Madeira, A~tjr;s, Cabo Verde) levantou urn problelna arialogo ao que se titlha pcisto a quando da cilnquista do S U ~ cle Portugal: era precisu encarregar algukrn do des- bravamento e do povoarne~~to d&sses territories e . por vutro lado, u trlonarca nao podia deixar de remunerar 05

serviqos dos seus vassalos. - Assim, em 1433 o rei D. DUARTE fez d o a ~ g o ao

lnfar~te. D. Henrique do senhorio das ilhas da hladeira, Parto Santo e Ijeserta, coin jurisdip%o cfvel e crime *salvo em scntenca de rnorte au talharnento de rnembror e reservaildo o direito de: a p e l a ~ a o para a Casa do Civel de tisbua. Em coiidi~bes settielhat~tes f6nm doadas as jlilas dos A~bres (2). 0s ser~l~ores donatarius fizeram, por

(1 ) PROF. PAUL0 M E R ~ A , Ge'neif ria hi m~letai, apud .Noms thtudou lie Hisk6ris do Direitor, pfg, 61.

(9 ) Vat. oa documentma ua culecyjta de .+?lLpas ciocumcn~os do Arp, 1Vtsc. do T h e t ic Tombo acei.,o rZas LVnzreprG c?e~ c

sua vez, doa~lies de ilhas ou de pa rk de urna ilha a n t - vegadores c. *creados. das suas casas (isto i, sells prote- gidos e familiares), que as quizessem colortizar a prcipria cusla. fistes sub dor~athrios ficaram governando as suas donatarias corn o tftulo de capitdes ou capitdts-donntdrlos, podendo administrar justiqa, com recurso para o senhor e dCste para a Corba n l s mathias reservadas na doagao, cobrar certas rei~das e direitos, iundar vilas e conceder forais.

114. Rsndimentos da GorBa.

Vimos que corn D. AFONSO 111 comecclu a intensi- ficar-se a acCIIo da Corba nu sentidn de obter a conver- $20 e m moeda das rendas, furos e direitos que at4 a 1 Ihe pagavam em gineros. As necessjdades de dinheiro au. mentaram. A qaebra da rnoeda passou, nesta fpoca, a ser UIII expediellte freqiierlte a pclnto de, no reinado de D. JOAO t, ter conduzido a urna enorme desvalorizaqao do dinheiro.

Quando o rti casava os seus filhos ou tinha de ocorrer a necessidades extraordinirias, fazia pedidos de contribulq6es atrs povos. Mas s6 TI. JOAO I obteve a faculdade de l a n ~ a r as sizos gerols corn caricter perttla

conyuistczs das P ~ T ~ ~ { , V U ~ J P S . Q ~ i a n t n 1108 AcBren, ta~nbbm rat50

cempils[fu~ por VEIJFIO AltKIJ l ) , A , Cu i t~ j r j , , de rlur?lrr~rwti)r relcztivoi rro n'escohrinatnto c p i ~ z ~ ~ r z r ~ z t n t o dos . ~ ( O Y P S , rag. 121 e segs.

Page 131: História do direito português Marcello Caetano.pdf

t~ente e irlcidindo sabre tddas as classes: 6 o primeiro itnposto geral e permanente dr yue temos lotic cia.

TambCm a Cor6a recebia ilnposlo pela importack0 o u exportaC30 das rnercadorias no reino: s%o as portagens ou direitos aduaneiros,

A Corba obtinha rendirnelitos do com&rcro das suas feitorias elti Marrocos, na Guink e na Mina, depois d o advent0 d a dinastia de Aviz, da penetracPo no Norte de A'frica e da descoberta da Costa.

Pontes de Direito

115. Direito romano.

0 s tribunaio d o reino aplicavam as leis d o Corpus Juris Civilis n8o s6 subsidi8riamcnte (isto 6, aa falta ou ubscuridade de texto pitrio) mas tambem, pelo menos em certos perindos, comn legialaqgo nacional.

Ngo insistiremos rleste panto que ficou versado atraz, ao tratarrnos d o renascimento do direito romano (n." 981, da influencia dos iegistas (n." 101) e d o espirito do di- reito pdblico (n,' 1041, rnaterias que convCln reler.

116. Direito- canbnico.

Vimos no perlodo anterior (supra, n." 91) que o di- reito cailri~licn vigorou, desde a furidaqao da rnouarquia portu;:uesa, llao aperras conio regra da disciplirPd ectesiis- tica, Inas regulando numerosas relaq6es dos fieis entre si. cspecialmente no que respeita it constllui'c,ao da familia que a Igreja considera matkria de sacramento.

A reivindicafao para o foro ecIesidstico do julga- mentn das cailsas civis e peuais em que fbssem intereg. sados clirigos, das causas matrimoniais e das splrifuulibrrs connrxae, colocava tambkm sob o imgCrio d o dire~to ca- nbnico muitas pesioas e interessea.

Ncsta fase da nossa Histiiria organita a lgreja as gran- des compilaq6es d o seu direito, em seguirnento da obra de GRACIANO.

A forlte rnais importat~te d o direito cari6nico & o poder legislative pontificio, dotide promanarn as decretais. 0 g r a t ~ d e nirmero destas constitui'~6es obrigou a conipilb- -!as. Fizeram-se vdrias compilaqdes particulares, mas a prime~ra oficial foi a que G R E G ~ K I O I X em 1234 rndrl- dou urgairizar a S. Kai~uuttdo de Peiiafort?.

As Decrelais de Uregdrla I X tkem cinco iivroo. Como passados anos ja houvesse material para mais um volutne, o Papa BONIFACIO ViII ordenou, em 1289, nova com- pilaqBo que recebeu o nome de S ~ x t o (por vir jur~tar-sP aos cirlco anterioresi,

Em 1313 o Papa CLEMENTE V aprovou nova corn- pilaclo de decretais que recebcu o nome de Clementinas.

Cstais compila~fies furam tambCm glosadas e comen. tadas ~lelos mesmos processns empregados corn a legis

Page 132: História do direito português Marcello Caetano.pdf

gjslao justinianha. E no princlpio do s6culo XVI deu-se ao conjunt:? fortnado pel0 Ikcrelo de Oraciano, Decre- tais de Ciregdrio IX, Sexto de Bol~iflicin V111, Clerneriti~~as e Extravagantes (I) a d , :s jg ,~a~ao cl- C w p u s Jurls Cnnonici, pur oposi?3o ao {:orpus Juris Ci~ i l i s .

0 direito coritido neste Corpus e o que foi protnul. gild0 ate ao Coricilio de T~.etlto chamava-se dir t i to novo Uus' ttovurn), para o distit~guir do direito at~terlor a lira- ciano, ou /us antiquunz.

0 Decrcfo e as Decr.dais foram ens i~~ados na Uui- versidade portuguesa desde a sua f u ~ ~ d a @ n : os especia- listas n o primeiro eraln os decretlslus, e rlas sey-undas os dccrctalistas, As Decretais de Greg6rio IX j6 n o reinado de I?. DlNlZ curriam traduzidas en1 portllgugs. - A par- tir de D. PEIIRO I as llovas Col~stituit$es e lefras ponti- ficias nAn pudera!n vigorar no pais sem o bdnepLaciSo rkgio. (?)

117. Dire i to castelhano

illguns textos do d~rei to dz Castela tiveram consi- derive1 influilncia no dtreito pr)rtugu+s desta fase. 11iflui.n- cia 111di!ecta i!~spiratrdo as nossus legisladores, e at6 irlflu6ncia directa por teretn sirlo aplicaiios pelos juizes como leis d o reino.

- HISTORIA DO DIREITO PORTUGUES - -- --

Foi o cklebre AFONSO X O sAero, que nrdet~ou as grat~des coln[)rla~6es castelhanas der~olninadas Fusrv Rcl.11 (1254) e Cn'digo de /as s i ~ l e partl-das (125rj-12fi7).

0 Fuero Re01 C urna cornpilar;atr tlo direito tradic~rn- nal casteli~atla q u e o rei dcu por f a r 0 a rnuitas p o v o a q j ~ s que n%o posstllam os foros ~>roprios.

0 Ca'digo drrs S e l c Purtidas ( i s tn 6 , das ete ~lor l e s . por assim estar dividido) i u m a tentat ivLi de cudificaqao das leis por clue se devia reger n rei11c1 de Casteia, leis que se procuraram rlas t r ad i~oes ~iacionais, ~ o s costumes locais c, eln grarlde parte, I I L I riileito just~ni;u~eu e 111-r di- reito can611ico. Aful~su-o.S.ibio l l % ~ rhegou ,i ~~rcrnl l~lgar o Ciidigo como ler do seu I-etno: rllas rrem por issu foi inenor a sua ir~flu&t~cia d o ~ ~ f t i r ~ a l err] thdd a Pir~ir~sula , at& que em 1348 o rei L~FC)NSU XI i l ~ e deu f i r ~ a de lei, ernbora sh subsid!iriar~lente

Em Portugal as Partidas fSrarn dt.>de ckdu cotrheci- das, citadds e at6 aplical!as, teudo sido urn dos rnais efb cazes instrutuentus de d ivu lga~ao (lo dirttito justir~ianeu. Em 1341 estavarn traduzidas ern po!tilguC~ ; Itas Cbrtrs dl: 1361 Ild, r:fer$ncias a sua aplicaqfio 110s trtb~irtais comc leis do reino, e cot~sta a t e quc o cotiservador (da Utliver- sidade julgava [>or c l ~ s as questBes erttrr c5tuciar1tes (1) .

Enfim, libuios inteiros ilas Ordenaqbes Afor~siitas foram traduzidos das Sete I'artiiias, cor l~o ja vBri3s vezee tive. mo5 ocasi8o de ~ ~ o t a r .

Exerceu tamhtm consideravel influkncia t m Portugal

( I ) N o Lorpus relel.iiio toram efeotivnmvr~tr ilil,l~ridos d o i ~ grnpon dl: ~lecrtltaia ~liii, ctarnpi!;\tias : ss T/:'rtriacog~r~~tr.r 11e

JOAO SX [I e au Exfraz:n:.un~s cnw1lr~z.c.

( s ) Ord. Afonainns, 11, t i t s 0 12.

(,) Cf. GA3IA BARROS, 0 6 , ctf , I, pig, ti8 A H llllerxaa lafi GTil tau poden1 ver-ss rms 0 1 1 1 .4fonm1tlaa, 11, t i 1 . O 5, 24 e V, tit.' 27, 8 1.".

Page 133: História do direito português Marcello Caetano.pdf

- .- H I S T O R I A DO DIREITO PORTUGUES

--- ----

uln pequeno c~mp$ndin sbbre o process0 civil da autoria de JACOME RUIZ, tambtm conhecido pot MESTKE J A r r l B DAS LEIS, j~~r i s ta da Ciirtc de Afi~r~so-o.s ibio e possivellnente uln dos conlpikadores da Futrn Real e das Portidas.

0 liorne do co~np&ndia C Flwes de las ltys. A sua doutrina e behjda no direito justit~ianeu principalmente, embora tambkm acvse infll~t~icias do Decreto, das D:cre. tais, e do Cbliigo Vlsightico, na vrrsPo cimheclda pelo nome dr F f t ~ r a Jizgo

trabalho anterjor as c o r n p i l a ~ b ? ~ oficials castelha- nas atris citadas, pois elas as existertl I:irgas Irarlscriflles cl@le.

As Floras da 1 ~ s I P ~ , foraln traduzidas el11 portugu&s, tendo ihegadc) a t6 116s ulna das versdes, possivelniente rio final do sCculo XIII, existente rlum c6dice do Arquiv i~ N a c i o ~ i s l da T a r r e Jo Torilbtr drsignado por ~ F o r c s cia Guatdan. este c6dic.e cor~tCni ~kr io s textos de que 0 5

juizes rr~unicil~ais da Guarda s t serviarn pa1.a juiga: os pleitus ; d m d e se deduz que o cunip&ndio de tnestre Jacob fni aplicado cotrio lei do reino ( 4 I.

118. Leis gerais.

S t OE quatro prirnciros muciarcas titiham1 legislado pouco, os seguintes consideraratn primeiro dever da sua

(+I A retertds rarsRo pnrtugueaa f e ~ pnblrcs~ia, corn urns excrtentt. ia tr~ ,d i~@c~, pclo Sr. PROF. PAULU M E R ~ 4 na

R~t' i j iu d ~ t Un~arrsti~o.nlie dr Coiwbrn, nno VI, pAg. 343.

KIST6RlA DO DIRElTO PORTUGUES ---- --__ .__l__l_ -~ -..-

fun130 dotar a NacBo de leis justas : a partir de D. AFONSO 111 maltipIicam se as leis rCgias. Nem sempre essas leis tiriharn cnrictrr de generalidade: muitas vezes cantitrhant tiut,mas apliciveis s6 a ulna classe ou a uma povoa~20. E rne;mo as ieis cujas regras se destlnavam a ser observadas em todn o territbrio n2o poucds vexes ressalvacra;~: ns priviltyios decertas pessoas, reservando.st .o l e i sempre o I-firiito de dispensrtr da sua observaricia,

l e i , de~reto nir dcgrrdo, postura, cnrta e o r d e n a g d ~ siio desigrlar;6es c u i ~ i t ~ n s do aito legislatiyo rigio.

Estas Iris p r ~ d i a m ser e1ahcr;idas : - de motu prdprlo d o mcnarca, corn ou sem audibll-

cia da sua Curia ou Conseiho, - ou eln resposta a n s agra ,amentos, capItulos t ar-

tigos Iormulndos em CGrtes .4 iiuhlicat;So drrs leis rlao estsvs regularrnent~ asse-

gt~rnda. Se erarn d e i r l i c ia t i va dn rri, Cle n~esmo as fazia registar na sua chancelari? e n r ~ s livrns dus labaliHes de todo o reino, a q u e m as enviava corn a cricarpb de as ler e:n pirhlrca, seman clmerrte, duranie certn perlodo, e m gernl utn a;to, Se a lei intrressdva em especjul certa pcs. soa 011 rorpor'acXr~ (corn,? .;clcedia cnm os car~ i tu lo~ espe c ias das rA:tes), havia qtte pe~iir cbpia dela na chdncela- ria, pagan:)<)-a

Forln~ra!!~ st, cnrnct era n n t ~ ~ r a l , colecqfies oficiais e partlcuInres rie lais gerajs. At& 1165 chtgnr.a~n duss dele#:

- o l i v r o dus Leis e p o ~ t u r a r , ciidice d a T b r r e do Tomho, dos princlpios ria sCc. XV ou Hr~s d o anterior, que conti~r: leis at6 D, APONSO lL', inclusivi;

- as O r d ~ n a ~ d c s de 13. D U R ~ t e , cbdice da crimeira metade do shc. XV, tuistetlte na Blioteca Nacionai, e que

Page 134: História do direito português Marcello Caetano.pdf

119. Costume e jurisprudencia

0 dire~to escrito 1130 s u p l a ~ ~ t a u o direito riao esrrito, etr,h l a t~vrsce resrlir~gitlo a s u a irrrpo'i8rlci;l.

~ l r t n l i ~ ~ u a v x ~ ~ i a rcplic:sr-s~ o s r o s f n ~ ~ ~ c - s mllnicrr:ni., quc s i j t71t t i t0 ientamente, hojr iiill:l porrt?~, a!r,atihI ~ r o ~ ~ t r r l , i a m cri izndo o yrasso i l e i 0 pr6i;rio rrlc1:":r-ca nluitas vrzes se i l lrv:: pf-rai~ie o dircitl-I ccrn~i~etu~.llrr;irio, R i O -

r~li: ,ctr~do 113s ,:uas leis: ~ ~ c u ~ t u i r ~ r he drs l ~ i Ile ~ i e r e \ ~ t o - . .* AiCii~ dissc;, liavia r - ) cnstur~re do Ciirto o t r J a Ci~sc?

dlEl . f<ci , ju~ispr~i i i t i~cia tla Cuna e dos tiibur~ais que Ihe si13:edrrsr:i

Priraltr~e~~te II: ' , q:!~ referlr a aulrr idadz dos j r ~ r r s c o i r . rllii13:j qilr, ?In rert ,, casos, fez l;i, ctllfiri se ve pelt-s tcx- t o s q u e declaran~ que crlia corrd~~ta .he direito per Car l .

torctu eibrlrrtl-rrn (istit 6, segut:do o r \ ~ ~ n t r e de ~ v c : r a , prrrvivelm~ritc !I Jo60 hlartirrs) ou he covturnr i.:er ::la-

gist1 U I I ~ I u l ~ a r i r ~ r r ~ e pel ~uagis t rurn Pet1 u r n Y - doia rrles- tri,< c t t j a :li?iai8o, comt> se v&, uesava E ~ ~ L I I O as antigas rf>p,?rrsu prrrdcr~tu:,~.

120. Conc6rdias e conoordatas.

.4s questEle~ i ln clcro corn a Crr6a foram resolvtdas ott p v r acbrdn curr; 3 Clir~a Ho~nalia (ratrccrdota) LLI por c cur do do rei c o : ~ ~ i ts prrlsdos, Ls , ezes en1 conueqCibn-

itanc6rdios o u ta~nbktn r ~ n c o r d r l f a ~ ) . Nessas corrcdrdjns o~h cnn~*osdata.~ definiar11.s~ dirzitos

a\sirn firavarn coijstitilindo irnnurta:ltc.s fo11te5 clr dtre~til que forarn insertas no Livro 2 . O das Ordtna~iseg Afotr sinas.

As concbrdias I:>als i r l l p ~ r t 3 n t t ~ s%g AS 11e r) DINI;! (trEs, ou po~~ivel tnei~t t . guatro), de D. PEDRO I (rrr~la), de D. JOAO 1 (duas) r de D AFONSO V (nmn).

121. Ordenacaes Afonsinaa.

A mais importante fonte de Llireito dCste perlodo

Elubarn~dn. - No pr6Jog0, r i ~ pr. e 5 la0, narra.se a histdria da el ~bor;i@io d&ste c15d1go. Tendo 0s povns pe. dido ern C6rte5 a D . JOAO I que refortnasse a leglslar ~ $ 0 existente, t8o nurne ro~a que jA era difli~l [email protected] e apIic6 la corll sequrarlca, nqmeou o rei, otlvido v seu con- selilo, n Colregedor da CRrte .JVAO MENPE-S para &st traballio. 0 norneado rnorreu no cotnZco ilo retnado se- p111nte se r r~ se t e ~ clcs:nlpet~hiJ!i da inrs~30, motrvo por - q ~ ~ e r) . P I J A R I E etlc Irregou o 1jF. RCrI FERKANL)LS de a ~ r ~ n t ~ n u a r . 2 obra 56 velo a ficai co~~clu ida 110 re1 )laclo de L) A P d N S O V, sendo regtnte o 11:farrte D. Ptdro, e cfepoir: de revista par uln.1 contissZo de ruris- cons~lttos fnt convertida etn fei possivclmer~le n o prtiprio arlo de 1136 :m qtte f o ~ conc[uida.

Page 135: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO P O R T U G U E S - - - .- -- - - - - -- - - -

Fotztc.~ -Trata.se de uma cotnpila~fio rln qtle fnrntll

I eiii~idas : a) Leis gcrais ; b) capitulos das cljrtes ; c) co1lc5rdias : ~ i ) nntigus costunie; e jurispt udPt~cia da CBt-te. Us compil.idores, porCm, cottforme se diz no pr6lcg0,

escoit~el-ani l i e elitre as leis antigas as que Ilaviam de crm- srrvar-se, adrclarando, j r~ te rpre ta~~do e acresceritando se- gur~do por {lit-eltu e box razBo achanlirs que u devia~n ser, etnendal~du e fazendo outras de novo segundo nus bem parecru quc a usanqa da l e ~ r a e a prdtica das gentes de- sejaa (5 3.").

Estas emertdas e adifamet~tns fbrarn inspirados, es yecialment~, uo Corpus Juris Civilis e Ila obra dos gl~isa- dores, tias compii4~fies do d i r e j t ~ canbuico e respectiva ~: losa e no Ctl~?jigo das Sete Partidas.

Sisternu- Dividem-se, comu as Uecreiais de Gregdrio IX, eln 5 ldvrus, divididos em tftnlos nos quais, yuando se trata de jeproduzir mattria a ~ ~ t i g a , se transcreve inte- gralmente (mas cotn pouco cuidadol 11 fexto da iei, dos capitulos ou da co11c6rdia, precedido dc utna breve 11c:-

ticia sirbrc a autoria e circunsri1icias da elaboi-a~2o e se- guido da co11firrria~2o ; se a tnathrja e Ilova, etltKcr emprc- ,ga.se o zsl i io Legislatdrio, isto 6 , redigc-se o tftulo sern ~>arraq$o. i 1 pel at ivainenie.

0 1." i~vi-o contC111 os regilnentos dos caryr.js piiblicos c da guerra.

O 2," livro trata dos tiil.ritos da lgreja, dos dire~tus leais. da jurisdiqlo dus dntiat$ricrs, das prerrogaiivas dus

r~obtes, e da siiua~8cr dos j u ~ l e u s e mouros. 0 3." livro regula o prbcesso c~vil.

0 4." ltvro ocupa-se d o direito civil . 0 5." l ~ v r o cornyreelidc r, d~re i to prndl e respect~v

processo, Publicagrio- E ~ t a s Orrleri:tp3r.~ so en; 1786 forai

publicadas pcld imprensa, rdrtadas pels Univrlsidnde d C o ~ r r ~ h r a c o ~ n urn preficto dig110 de le iu~ra

122. Direito subsidiario segundo as (3rd. Afon sinas.

No iiv. 11, tit.' Q.', das Urdena~hes regula.se a formr de julgar quando falte nclrma de difetto pitrio que seja aplicfivel ao caso.

O direito nacianal que em prirneiro lugar o s jui~es deveriarn apl~car era o que estava contido nas leis do rcino,

-ou resultava d o esfllo du O r t c ou de Cort izmt do rein' antigametat# usudo.

0 est~lo era :i juiisprad&nsia da Casa da J u g t i ~ a dr CBrte.

Faltando Itorma de qualquer destas fontes principais havia entao que recarrer i s f o r ~ t e i subsidiirias peia se. guinte orderri :

1.'- Leis ltmperlaic (istn C, n direrto justinia~icu) salvo quando, c s t . ~ ~ ~ d o e:n oposiqZo c o ~ n o di re i tc~ ca116. nico, a sua observi.ic~a fizcsse iilccrrsr ern pecado ;

,, L, o - r>freit,> cilatinisc~, qu-r!ldo 2 aplic:rq$r) das leis

Imp. r ~ a i s p r o d u r i s s e pecado r ~ u f l l i nadn dtspuzessen, sbbre o 'caso ;

3." . . fa l ta: l t lo n(:rrna dc r i i ~ t i t c ) i ollralio ~ j t [ ral~rittico. aplicar.se-ia a g/o~ i i di. Ardrsiu;

4," - Se drnda assim nPo pudesve resolver-se, recor-

Page 136: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DIREITO P O R T U G U E S

rer-se-ra i opinl io dc Rdrtnlo sen1 enlbargn de que (1s

o~rtros D o u t ~ ~ r e s dissessem o contrdrio. 5.' - Na falta de no rma em tadas estns fot~tes (levla

submeter-se 0 casn a r ~ + o l r r ~ r i i l rio Rtai. Em uajo de colltradiqgo elltre o Di~erro t'3ri6111i0 e 3

ylrrsa oti a opti>lso de Birti)lo, nao havendo texto de dl r c~ to rumarlo aphcdvel, e 11io se tratarldu de m a t h a de prcadcr, s r n a ~gunlmente o cast suhmetldo ao Rei q u e n resolverra na Cbrte. P E K ~ O D O DO ROMANISNO JUSTINIA-

NEU E DO DIREITO CANONICO. 2,"FSE: DAS O R D E N A C ~ E S MANUELI-

NAS AO REINADO DE D. JOSE I.

123. 0 absotutismo r ea l

A a n t e r i o r f a k e ~ i i s t e pi iiodo c o r r ~ s p ~ ~ l ~ d e r d a iitn

r e g n l e politlca de rno.rarqidu Irmprrnda o t i ~6mrcnrlu: peIr~s ariirrir; a que cornPCa no : elrrddo d , D. MANULL cd- racteriza- e pela ;Jzonarqulu plrra o u absillullr, isto 6 , ~ie lu g,w&rno do Alonarca sen1 abstbculos q u t , de facto, :csul- tavsem d a oar t rc ips~8u do clero, da nobreza e do pavo no excrcfclu do P,)der sol)crano.

I 1:) 11 prosiunidir[ie lie fir11 i i t i uilo obrigou o n n f i w Priffessor a reaurn i r n ruattlria dwIa d@-t~: crpitulo em di:rnte.

Page 137: História do direito português Marcello Caetano.pdf

HISTORIA DO DXRPlTO PORTUGUBS

A l~hertaf lo cta Coraa dos vinculos que a obrlgavam a partilhar o Gov$r~jo caul u i trPs Estados do reirio re. sultou principalme~~te dos factos seguintes :

a) abatirnento da nobreza r i r ) reitlado de D. J O A O I1 : b ) obtida a vit6ria sbbre a nobrcza o rei n8o linha

rllais interease em a l i a ~ s e m povv; c) a emprksa ~iacional dos descobrirnentos absorv~a

a t e n ~ U e s e energias, unindo tt3das as classes e txigi :~do coniando bnicti ;

d ) o com61.cio coin 4 C O R ~ R airicana a, depols, corn a lndia atl-avCs das feitoridr, prrrliorcio!ri~u i Curha rendi- ~lient:\s : o lucro dcr cont6r<ik, fe i to lpor zc:~ita do liei. (1s

dlreit.rg , ~ , l u a ~ r ~ I r t ~ ? , a> reti ias rllgas ! ~ r l l ~ s as1 ematarites) q u e a lurnaratn rslativ::mente i~~i i : l~ r r~c iz r~ te de noios i m - postos, dispensat13i.-;I ass i~n de convocar (36rtes para auiot izaretn b lanqamer~to resprctivo : e as yrandes des- p e s a ilas a:n!atlas justificavam o Jar1qarne:ito scrn cor~suita doh tres Estarlos, c Ino suce-leu, apesar d o pr'ntrsto de CICI~?SO ;

e) t tambtr~l nn ~ e i ~ ~ a ~ l o :o Ver~tuivso que a CrbtBw, para n t~ l r r receitas sew re;urif) a ~ iovos ~~ripostos, l a r l~a nlao dn divida publrc;l, venrle::cl~.l juro< ( 1 ) .

Par duas v ~ z t s al~rdd, I ) - j l a fase, os reis rnostrarto o intuito de voli.lr ao arttigo regiin:. la Inortarqura iirnitada e , ile n,nhar elas, ingo que a Corba re c.orlsiLfera firtne, o es~jiriko do tempo vetrcr a tt.tld&ncia de regresao : corn FILIPE 1, o rei casleltlano pretende leg~l imdrse pela co-

(1) Siibrt! a ~ d i v i ~ l t c i l i ~ \ r ioa nesbr. p e ~ i u ~ i o ver C!t:ISTA (.*OhI&S, G i r y ~ o ~dr i r i r i l r t di-i i : le p~ih l i c :~~ . porttr:;'cde.ra, pig. 3'; P 8 .

l a b o r q a o da Nac%o, reanern nesse reinado e nos dois s t - gilintes com fteqiitncia. Note-se que a doaLina d o go- v&rno era a lnestna do periodo avterior : a pritica 6 que mudou.

L24. Idbias pollticas a cultura juridica.

Continua a dominar a idcfrio politico extraldo do dirtito justinlaneu e inspirado pela ebcollstica.

0 predomfnio da filosofia escoldsjlca no nosso ensi- n o e na rlossa cultura havia, fatalmcnte, de inclinar os juristas para a adaptasgo dos seus mCtodos ao estudo dos textos, Vimos que o emprEgo d o mdtodo escoldstico na exegese d o Corpus Juris Civitia caracterizo~! a escola dos comentadorts, cujo laminar 15 BARTOLO. 0 bsrlalisrno foi dominante em Portugal na cultura jurlllica desta kpoca.

E' certo que outras influenc~as se fizeram senti+. A rcnava~&o brnanlsta que caracteriza o Renascimento penetrou tambern na ciCncia d o Direito. Entre hires,

--foram paladi~ios dessa r e n o v a ~ i o o italiano Andre AL- CIATO (1492-15501, o portuguCs Ant6nio d e G O U V ~ ~ A (1505-1665), e o francbs Tiago CUJACIO (1520.1590). 0 seu mttodo era o dc lntegrar o direito rornatio no sisterna da civiliza~ao romana e de estudd-lo luz desta e como parte dela. Para issu, tornava-se necessirio completar o estudo d o Diteito corn o estudo da Hist6ria, das Litera- turas grega e latina, da Filologia, utilizando um process0 crftico no examr dos textos legals.

O bartolistno cnfermava do$ males que acarnl7anha- ram por tbda a parte a decad&~~cta da escolistica: fee.se d o rnktodo, que C simples instrumcnto dc saber (nasto ca30, o

-

Ilk. D. 9-- n

Page 138: História do direito português Marcello Caetano.pdf

process0 de dividir, distinguir, objectar, argumentar com autoridarfes, definir) o pr6prio objecto do saber. 0 estudo do Direito tornouse uma enfadonha acumulaqlo de deh' niqbes, distinqbes e citaf6es de autoridades.

A escoln cujaciona, ou do hrrmarrisrno juridico, pro- punha se substituir Cste estado de coisas: mas nBo encotl- trou, err1 geral, arnbier~te favorAvel e homens capazes de a servir.

Em Portugal a influencia da escola humajtista fez-se se~rtir a quando da notPvel rcforma dn Universi~iade pes- soalmente ordenada e conduzida por D. JOAO 111.

Este caluniado rei enviou para o estrar~geiro nume- rosos bolseiros, que em Palis se puzeram a par da ciencia do tempo, e fixando, no ano de 1537, definitivamerrte a skde da Universidade portuguesa eIn.Coimbra, marrdou vir tambtm do estrangeiro mestres dc primeifa plana, pagando.0~ a peso de oiro. Para enslnar direito cartdr~icn veio o ctiehrc D R . MARTIM DE AZPILCUETA N A VARRO, professor de Salamanca, e o pr6prio ALCIATO foi convidado e instado a reger leis.

Pertencem a esta Cpoca os ]urbt,:s cultus - juris- cansultl elsgantiorcs - , prolessores de leis em Coimbra, que seguiam a orientaqao hurnanista, embora temperalldo- - a com o que consideravatn aproveitavel do trabalho do8 c;)mentadores: os rnais notdveis forarn MANUEL DA COSTA, AIRES PLNHEL e PEDRO BtZRBOSA, Mas o centro hurnanista n a Prntnsula foi Salamanca, onde ponti- cava COVARRUBlASe ondeensinaratn,depois de jubi1atlr.a rtn Coimbra, ns n o f w s Ma:luel da Costa e Aires Pinhel.

0 humanismrr passou, a escolfistica e o bartolismo frcaram. 0 SCc~rlo XVII assistiu, em Coimbra, a urn re- ~~ilscimento, escoihstico Logo 110s irlfcios dessa centtiria a

d t ed ra conimbricense foi honr~da corn o enslno do i~sui ta FRANCISCO SUAREZ, Dacdor e x i m i i ~ , eminer~te te6- logo e fil6snf0, que elaborou uma filnsofia do direito t8o cornpieta e t lo perfetta que havia de imp8 lo ii considera-

, qgo das ~autoridades mais insgspeitas e de imortalizL lo para a hist6ria da ciencia do direito". ( I )

0 s problemas jurfdlcov forarn vcrsados par Suarez em duas obras monumeritais - o tratado De iegrbus e a obra Defensdo f idei , escrita em refuta~ao de urn iscrito de TIAQD 1 de inglaterra.

Embora fie1 ao mttodo escolastico, o sdoutor exiil-ria imprimfu o $$lo da sua personalidade As doutrir~as ensi. tiadas, de txl mod0 que o suarismo ficou sendo uma cor rente escolPstica bem caracteristica A it~fiukncia das suas idhas fez-se sentir no ensincl juridico subseqiiente e acusa- -se nos escritos da c6Iebre escola seiscendista do direito pdblicu.

Esta escola desenha-se jL sob o dominio filipino, como por exemplo na obra corn qile FR. SER4FI3I I)E FREITAS respondeu ao ataque feitn pelo i ~ o I a ~ ~ d & s GROCIO contra o dominio portugues 110s mares. A obra de Freitas intitula-se De justo impbiy lusitanorurn asidtico (1625).

Mas C ao defender aFlegitimidade da revoll~~iio de 1640 e do rei 0. JOAO ZV que eia ple~iarner~te se revela, com os escr~tos de FRANCISCO V A Z . DE G O U V E ~ ,

(I) PROF. P A U L 0 ~ T E R ~ ~ A . 5 u a r ~ s j z ~ r i s t a , pig. 9. Ver tami)tirll PROF. ANTI')SIO 1)E VASCUN(:ELOS, Frim- cisco Sriar~:, doitor exintiar.

Page 139: História do direito português Marcello Caetano.pdf

j O k 0 PINTO RIBEIRO, ANTONIO CARVALHO DE PARADA e outtos,

Segundo tiles, o poder civil f urna neces~idade da tlatureza social do holnern (e por isso de origem divina) e existe na comunidaile ; esta C que depois o transfere voluntgriamente, par u ~ n pacto, para os govcrnantcs que sb se legitimam governando de harmonia corn as respcctivas cl4usulas. Segundo Suarez o poder d alienado pelo povo em virtude do pacto, e s6 pode ser retomado se os go- vernantes se translormarern em t i r a~~os . Mas Vaz de tiouvea ensinava a doutrina mais radical de que o povo conservava sempte a raiz ou potCr~cia do poder (poder in habitu), transferindo hnicamente para o robetano o seu exercicio (poder in actu).

0 s Filipes foram dcpostos como tiranos. A NaqLo portuguesa retomou o poder e conferill-o, em Cartes, a n. Jono 4.", considerando-se ent%o a s leis fumdamenbals do Reino (as primeiras das quais eram as fcitas nas CBrtes de Lamegn) corno expressao do paclunt sub]ertionls,

Etn concIus~o : etnbora a 2.L fase represrnte jB o pre- dominio do poder pessoal do Monarca, ainda persiste, e de vez em yuando se traduz em actos, a doutrina de que: o Rei esta virlculado a certos deveres para corn a Naggo, e que ejta Ihe pode pedir contas do uso que d&les f a ~ a .

Vejamos agora, cam muita brcvidade, a evolu~Ao das diversas institui~nes estodadas.

125. eonselho rbgio s Conselho de Estado.

Como ficou dito, u tftulo de rC1111selheiro d'El Reis torna-se holiorifico a partit de 13, AFONSC) V. Nit? que

deixe de existir urn Clonselho iulico : o Rei, nesta fase, como na anterior, dirige ~~essoalmente os negdcios phbli- cos, dando despacho, pot via de regra quotidiano, As quer- t6cs de governo, de admiriistra~%n e de justica que devam subir i sua presenqa e que primeiro sdo, quPsi sernpre, estudadas por pessoas de saber e da confianca real. Ao pr6prio act0 do despacho assistem os ministros, os desembargadorcs do paco e pessoas distlnguidas pelo rei corn essa honra e a quetn, As vezes, o monarca pergunta a opiniao. Todavia o t-Itulo de Conselheito pasoa 8

andar inerente ao exercicio de fun~6es nos divarsos Con- selhos e Tribunais superiores que vamos ver creados em desdobramento da antiga Cdrla.

Ds facto, a Cbrte tende a ser constituida por urn complexo de Conselhos e Tribunais especializados, Remi. ii~scCncia da unidade primitiva, encontramo-la no facto de todos Cles lerern a sua sede nos prdprios p q o s reais, em raias vizinhas dos apo~entos do monarca.

A ncccssidade de urn conselho que o rei ouvisse especialrnente quando se tratasse de quest8esA melin- drosas tocando a polftica ~nter i~a e externa e o provi. mento dos lugaces superiores, levou a criar, no reinado de D. SEBASTLAO, o Conselha d t Estndo, cujo primeiro regimento (0 consta do Alvarh de 6 dc Setcmbro de 1660.

(0 Cbamava se rega'nr~nto o regulamento relativu its at+

hufk4es, ooupst3ncia e funciorramento de qualquer aonaelho ou cargo pliblico.

Page 140: História do direito português Marcello Caetano.pdf

B~STORIA DO DYREITO P O R T U G D ~ S

Vimos que, jb no reinadn de D. PEDRO I, o rei era auxiliado no despacho p o t certos letrados que estudavam as questbes e Ih'as apresentavam inlormadas para decisdo: eram os llvradores dos desemburgos de Ei-Rei.

Estes livradores de desembargos estavarn especiali. zados: uns tratavam das questdes judiciais, outros das de mero govern0 ou de graqa.

N a Casa da Justiqa d a CBrte exi,tlanr, no reinado de D. AFONSCI V, a par duo juizes propriamente ditos, dois Desembargador8s do Pago que trabalhavarn com rr rei rro despacho das qurstaes graciosas 7 tinham mesa a p a ~ t e na relaq~o.

A 2." ediplo das OrdcnaqOes Manuelinas (1521) jS trata os Desembargadores d o P a ~ o conlo mirlistros dis- tintos dos tribunais superiores (I, tiLo 3."). A Mesa do Desernbarg~ do Pup adquire assirn autonomia, funcio- nando corno conselilo direda~nente auxil~ar d o monarca e, atk D. SEBASTIAO, sob a presidkncia d o pr6prio soberano. 0 s desembargadores ttnharrl sala pr6pria no P a ~ o (a caslnha) desde O. JOAO 111, onde se rednia.11 antesde ir A presenca r6g1a; a prrtir de D. SEBASTIAC) a Mesa paosou a ter urn pres~dente privativo,

Compttia ao t)esernb~rgo do Paqo submeter a des- pacho do Soberano, devidamente estulados, u s neg6cios relativos ir concessao de revysta (isto 6 , de um segundo julgame~~to pelos tribunais) nos processos em que se retorresse para o rei, a resuluq>o dos conflitos entre tri- butlais ou autoridades (quando dois ou mais deles se considerassem cornpetentes simull8r~eamente para resol- ver a rnesma yuestao), e a certas funf6es de govbrt~o

corno recrutalnelrto e provimento de juIzes, a confir- macao das eleiebes rnunicipais, a concessBo de perdbes ou iridultos a crimit~osos, a autoritaqSo para instituir morgados e capetas, as adopgdes, Iegitima~6es. privilk- gios, dispensas de ldade e de nobresa, ~ t c .

Algumas destas atribuicfies passaram a ser dcspa- chadas pela ptdpria Mesa do Desembargo em nome do Rei.

Era esta Mesa o tnais alto Conselho da Corba e que em linha recta representava a antiga Cdria.

127. Outros eonselhos da e o r b a .

Mas a adtninistra~go central ia-se tornando dia a dia mais co:nplexa, o que abrigava a criar novas 6rgiios auxi- 11 Ires da Corba, especializar~do a resper.tivd cornpetencia.

Mesa l d i l Consciitzcin e Qrdens-Foi fundada em 1532 por D. JIIAO LI1 corn a designi~qXo de ,Mesa da COHS- aiZncia3 para aconselhar o rzt naquiio que Cle t~vesse de decidir corno padroeiro d a s Igrejas, protector da U n i versidade (qite perdera a sua prirnitiva a u t o n ~ ~ m i a s depen. dia agora i t@ Rei, governando-a un] Reitor que $ste nomeava), e lioutras questdes ern hue, por se levantarem ~ ~ r o b l e m a s teolbgitor ou ca:ldnlcor, pudessem surgir casos de co!ksci&ncia,

A B;da Apastoiica de 4 de janeiro de 1551 deter. t~.ilnou qu?, par:! o futuro, o Rei de Portugal seria sem- prc o klestre dati Ordens Miiltares de Cristo, Santiago c Avls. 0 s neg6clos rciativos a estas ficaram ta~nbkrn ccmendu pel2 Mcsa de que estamos a tratar, pelo que passou a chamar-re Mesu da Contci&nciu E Ordens.

Page 141: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Como a Ordern de Cristo detinha a jurisdiqao espi. ritual sbbre as i l h a ~ e conquistas, corn o direito de a i receber os dizirnos e prover ao culto divino, a Mesa yassou a ter uma importante intervengfio no govern0 do. Ultramar.

Conselha da Fuaenda - 0 rei D. MANUEL fez urna grande reforma da admir~istrag%a ffnanceira, rnandando compilar as Ordrna(aes do Fnzenda em 1516.

Ncssa altura continuaram as f i n a n ~ a s e o patrjm6nio da CorBa a cargo dus Velorsu drr Farbnd.r que rlmas vezes despachavam isolados, outras forrnavarn a Mesa da Fazeniia qlre reiinia rluma saia d o Pafo Real (<a Casa da Fazendas).

0 s negdcios das feitorias. as armadas a enviar, a adr~linistraqgo dos armazalis, e da Casa da India, deram novos t r ~ b a l h o s a ?stes ministros.

Em 1591, no reinado de Filipe I, foi criado o Con- selho da Pazenda presidido por urn Vedor da Farendx e constituldo por 4 Conselheiros, para superintender na faatnda d o reino.

Depois de vhrias m u d a n ~ a s !la presidencia, D. JOAO IV . estabelaceu que o Conselho fbsse constituido por 3

Vedores e pelos Conselheiros. DCle dependilm numerosos organismos de cobranca

de receitas, contabilidade {a Casn dos Cantos) e adminis- traqao d o patrltndnio,

Conselhrl Ultrarnorino - 0 re1 FILIPE I1 creou, em 1604, um Conselho da Iniin para se ocupar dos negdcios ultrarnarinos, Este Cor~selho durou apenas I0 anos e deixou d t funciol~ar,

Em 1642 o re1 D. J O A O IV institulu de novo 'o C a n s e l h Ultramordnn constituldo por 1 presidtnte e por

. .-- HISTORIA DO DIREITO PORTUGULS

3 conselheiros, que desda entso at& ito corneco d o s b culo XIX ficou sendo o brgzo de estudo, consulta e expedicnte quanto 4s coisas co!oniais.

Outros Conselhos - O rei D. JOaO l V creou tam- bCm o Conselha da Ouerra para nuperilltender nos negdcios militares e a Jurila dos T r b Estodos para, ern representacEo das CGrtes, distribuir os tributos extraor. dinirios exigfdos pcla detesa nacional (4) .

Vimos que o Soberano era assistido no Govirzio por urn Escrivao dd Puridade q u e centralizava os neg6cios a resolver, e servia de interrnediirio entre o Rei e os outros funciondrios na publicacgo e execuCZo das dec1s6es.

Mas jf no f i n a l d o reinado de D. JOAO 111 e na menorldade de D. SEBASTIAO o oficio n8o foi providoy exercendo-o por substitu'ic$n o Secreidrlo d'E1-Rei.

Durante a dominac8o filjpina o regime politico fol o da unigo pessoal das duas Corbas, de Portugal e Espa- nha : reinos distintos e independentes corn urn Rei cornum.

Junto do rnonarca, quasi sernpre em Madnd, existia um ConselAo dc Portugal corn sua secretaria. Em Lisboa estava urn Vice-rei ou urn grupo de Qovernndores e

( I ) Sdbre a mathria dlsbs nhmern vrr maior dcmenrolvi- rneato uo eetudo do PROF, MARGELLO CAETANO, sabre

0 g o v h a e a a d ~ i n i ~ l m ~ ~ o ~ c t f l r i a l apds a Restaura@o publioado as rHiat6ria da Expaudio Portuguesa no Muadoa, ~ d . 111, p h g ~ . 189 8 BOgB.

Page 142: História do direito português Marcello Caetano.pdf

mmiti3ham-se todos os Ministros e Coiiselhos dank8 txistentes. Houve, assim, Escrlv%o da Puridade no,rei. nado dos dois prirneiros Filipes, ficando o cargo vago no do bltimo.

D. JOhO IV liomeou de inicio u m irnico secrethrio, para o auxiliar no despacho corrente, corn a designacgo de Secrefdrlu d t Estndo, e deu a alguns dos seus conse- lheiros a honra de assistfr Arr audi&ncias como am!nlrlros assistentes ao despacho~.

Mas como era dificil a urn h i c o Stcretdrio presidir a todn o s e r v i ~ . ~ , por Alvari de 29 de Novernbro de 1643 criou duas secretarias: a Secretaria do Eslado c a Sdcre- faria das Msrcb e Expcdielztc.

Mais tarde, nesse reinado ainda, aparece de novo a secretaria particular do monarca, iircumbida de submeter ns dipiomas i sanCIo rCgia, erguida i categoria daa outras corn o norne de Sccrctarln da Assinatarra.

As condi~6es pessoaij de D. AFONSO VI dctermi- naram a nece~si~lade de haver quem, em lugar do rei, presidisse ao gov&rno : dal, a restauraq%o do cargo de Escriviio d n Pitridtide, colno primeiro ministro, chefe dos secretirios, sendo provido ~iele o Conde de Castelo Melhor. A deposi~fio do rei fez voltar tudo i primeirr forma, desaparecendo definitivarnente a Iugar de Escrivro da Puridade.

Em 1736, reinando D. JOAO V, foi felta nova reforma do governo. Criaram-oe entlo trQ Secrelnrlas de Estado: a dos Negdcios interlures do Reino, a da Ma- rinhr e nominios Ultramarinas, e a dos Neg6cios Estran- geiros e da Guerra. 0 govern0 oomeCa a tomar a forma qua hoje tern, srguindo todos os assuntos tratados nos

Conselhos para os SecretArios de Estado que os abtne- tiam a despacho rtgio.

129. Tribunais auperiores.

Vimns como a Casa ds CIvel se tinha separado do Tribunal dn Cdrbe. Neste tambkm se operou a separaqao entre o Desenibargo do P a ~ o e a Casa da Supl iso~do.

Em teoria a Casn d o CIvd tinha a s ide Hxa em Lisboa, e a Casa da Suplica~Ao fazia justiqa a~llbulante, acompanhandil o Rei nas suas deslocaq6es : mas, corn o correr dos ternpcls, o Rei jB lla!: se deslocava pelo ieitro, estava normalmente ern Lisboa, ou, ao menos, no Sul, de forma que no Norte havia precistZo de um tribunal de recurso mais acessfvel As partes.

56 D. FILIPE 1 6 que atendeu os pedidos dos povos nortenhos, trarlsferirldo para c PBrto a Casa d o Civel, desde enliSo denominada Cusa do Pdrto.

A Casa do PBrto e a Casa da Silplica~Lo paosarattl a ter compet&ncia andlilga, cada uma !lo sell distrito judi- cial. Todavia, nas questaes civis que exuedessem certo valor, podia,se recc)rrer da Casa do PGrtcl para a de Lisboa Sao estas casas os antepassadus das actuais Rela~Bes do P6rto e de Lisboa

Nesta fase a instituiqLo das Cartes entra, pelas r azbe~ apontadas no inicio do capltulo, em decadencia. 0 s irller- valus das convoca~Bes s8u rnuito espa~ados, e os moti-

Page 143: História do direito português Marcello Caetano.pdf

vos, q u i s i setnpre, o juramenko do herdeiro da CorBa. Depois da aclatnacao de D, JOAO IV rehniram se

quatro vezes CGrtes nesse reinado. No de D. AFONSO VI, n8o houve nenhua~a convocav2n eoquanto ile exercou 0

poder: o Infante D. PEDRO, mais tarde D. PEDRu 11, 6 que, por precisar de consolidar o trono, (exactarnente cotno sucedera corn D. Afonso 3.") reiiniu CBrtes 5 vczes, tnas depois d e s t ~ reinado n ~ o tornaran~ a funcionar.

Prosegue a uniformi~a~ho adrninistrativa e a centra' lizagao judiciiria.

0 rei D. MANUEL quiz p8t termo aos inconve- nientes resultantes da multiplicidade e variedade dos fo- rais. E' werdade que quanto g organiza~zlo dos conce- Ihos as leis gerais pouco tinham dejxado de pk das par- ticularidades foraleiras. Mas subsistiam priviiegios obso- lrtos, dispos1q6es ji ~~iinteligiveis e os tributos a pagar Corba achavam-se expressos etn moedas diversas e jA desusadas no sCc. XVI, o que originava freqlientes questbes.

Pot isso o monarca mandou proceder 4 reforma dos forais, que comapou a faaer-se ern 1497, e demorou 25 anos.

A rcfortna foi feita por uma Junta, cujo vogal prin- cipal f ~ i o escrivao. FERNAO L)E PINA. Cada conceliio tillha de aprese~itar li junta o furai velho que possuisse, acrescentando logo a indicafao dos dircitos e privillgios de quz fbsse titular por costume ou concess&o rigia. Cor- rido o proGejso entre os procuradores do concelho e da

R I ~ T O R I A DO DIREITO P O R T U G U ~ S

CorGa, era affnal submetido B decisio da Mesa da Fa- zenda (constitufda pelos Vedores) que proferia sentenqa sabre os termos etn que dewia ser feita a reforrna desse foral. Dessa sentenca, havia recurso por rneio de em- bargo~,

Sabre a se~ttenqa, era elaborado e expedido o foral novo. Estes forais rrovos, ou reformados, iimitarn-se a indicar o que cada concelho devia pagrr perbdicarnente a CorBa : o restante contcudo juridic0 do6 forais desa- parcce.

Apds a refortna, e at6 ao skc, XIX, s6 foram concedi- dos mpis quatro forais, conhecidos por forals novtssimos.

Desta sorte, desapareceu o direito foraleiro. De entao por diante a organizaflo administrativa e judicial dos mul~icipios foi exclusivamente regulada pelas leis gerais, especlalmente pelas Ordenaq6es (Manuelinas, I , tit."" 44 a 53 e Filipinas, 1, tit." 65 a 72).

Quanto aos Mesteres, a sua organizaqao estende-se par tnuitos concelhos, sob a fdrma de c vzjrarlns ou Irrnan. dadcs dos aficioe reiinidas ou ndo em Casas doa'vlnte e qaalro (etn Guimarges, Casa dos Doze) e representador por procuradurcs junto das verea~6cs.

132. Senhorios

0 principio de que das senten~as dos senhores cabia sernrjre recurso a Coraa e qur o rei podia cxcrcer nag terras senhoriais o direito de correipao. mantern-se e 6 afirlnado coln energia nas Ord. Filipinas, I 1 tit? 45, f i . cando apenas & s s r direito iqu&les a quem especialmentc i6sse co~~cedido.

Page 144: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 145: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A DO DlRElTO PORTUClUtS --

que levava os advogados a arnontoar citaq6es para abo- nar as suas tkses nos seus trahalhos forenses, deixando de se procurar saber onde estava a razao para principal- mente se atendar ao pCso das autoridades dos escritores,- quasi sempre divergelites, o que origitlava vlrias preten- $as opiniaes comuns. . .

134. eolecgao ds Duarte Nunea de Lelo.

Como C natural, a codificac$o manuelina niZo impe- diu que se fizessem novas leis as quais, por andarem fora das Ordenaq~cs, eram chamadas cxtravagnntes.

Por isso, nn reitrado de D. SEBASTIAO, na regencia de seu ti3 o Cardial 11, Her~ricluc foi sesolvido reu~lir essas leis, 16 muito nutnerosas e que introduziam altera- ~ a e s importantes oas Orderia~Zlts.

O encarregado da nova compilaqlo foi OUARTE NUNES I)E L E ~ O que, utitizando os livms dae Casas de Suplicaqlro e do Cfvel,. da Fazenda real, do5 Contos, da CBmara de Lirbva e da Tbrre do Tombu, juntou nu- merosas leis, de que fez extratus fiCis, ordenando.os em 6 partes.

Essa coml.~ila~go foi revista por uma junta de letrados e em seguida martdada observar como autentica pel0 Alvar4 rCgio de I4 de Fevereiro de 1569.

provanit a dochoribur qui pondure, numaw e t rnenatlra 6uot

maioresrr . (TARTAGNA).

135. Ordenaci3es Filipinas.

Ordenou depois FILIPE I que se tizesse nova re- forma das Ordenaqaes, o que efectivamente se cumpriu: em 1595 o trabalho eatava pronto e foi aprovado, mas o rei morreu antes que saisse imprcsso.

S6 em 1603. reinartdo j i FILIPE 11, 6 que termirtou a itnpress%o, rnandando entgo o rci, por lei de 11 de Janeiro, que as novas Ordena~i5es fbssem observadas.

Assim, as primeiras ed t~des desta cornpilacfio (bcm como as ediqFles conimbricenses) sao precedidas de dues leis de aprova@o, a de 1595 e a de 1603.

Quando se deu a Restauragio, El-Rei D. JOAO IV mandou que cont~nuassem em vigor tBdas as leis dos monarcas espanhois, e por lei de 29 de Janeiro de 1643 confirmoll as Ord tna~des Fitipinas att qut se fizesse nova compila~80,-que nunca chegou a fazer-se.

As Ordcnaqbes Filipinas toram orgarlitadas pelo mcsmo sistema das anteriores. Partindo do 'texto das manuelinas, os con~piladores suprimirarrl alguns tituloa, modificaram outros e acrescentaram leis extravagaiites, inserindo principalmentt as contidam na eolecqao de Duarte Nuncs de Lcao.

este trabslho, porkrn, n lo foi leito corn a devida inteligencia e cautela, dai se nriginando numerosos erros que ficaram conhecidos pela designa~do de ftlipismos.

Fera da compila~go ficaram, logo em 1603, algumas Ieir que co~~tinuaram em vigor: as escritas num livro especial da Casa da Suplica~Bo naa foram compiladas por st: etitalder que nPo tinhatn a estabilidade necessdria para figurar num Cddigo, c alCm disso flcaram de fora as

Page 146: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Ordenac6-s da Fnzenda (que jA vimos separadas da corn- p i Ia~8o manuelitla) e os Artigos das Sizaa.

D. JOAO IV , ern 1643, ressalvou IambCm a vigPncia dos Forais, drrs privildgios particulares e dos regimontos, alCrn da demais legislaqgo posterior a 1603 e dos capi- tulos das Cbrtes.

As Ordenaqbos Filipinas estiveram em vigor m&i$ de duzentos e cincoenta anns. A sua impressZo constituIu pritilbgio d o Mosteiro de S. Vicente de Fora desdc I603 a 1773, dorlde salram belas edirces vicentinas; em 1773 passou n privilkgio B Univcrsidade de Coimbra, inician- do.se a fase das c d i ~ a e j conimbrlcenses.

Quanto ao dlrello subsididrio manteve-se, 110 liv. 111, t l t . O 64, o sisterna das Ordenaqaes Manuelinas,

136. i e g i s i a ~ B o extravagante.

As leis nao cornpiiadas oficialrnente mas publicadas durante a vigencia durn cddigo, charnam-se exfravlaganier.

Ap6s a.; Ordenacdes Fll~pinas multiplicaram-se, no longo periodo da sua vigCrlcia, essas leis avulsas.

TBda a manifestqao de vontade do Soberano ten- dcnte a regular a conduta dos subditos era lei. € certo que ttssas tnanifestacdes de vontade podiam revestir di- vzr5as fnr~r ias: era impossivei, porkm, estabelecer entre elas urna hierarqula rigorosa, uma ver gue t8das tinha:n a mesma origern e o mesmo valor material.

Assirn a legisla~rlo cxtravagante cornprrende Cartas de lei , Alvnrdu corn l d r ~ a dc lei, simples Alvurds, Provl- sdes, Dccretos, car la^ Rkgias e Portorias, Alkrn disso, havia ainda os Avfsos exped~dos pelos SecretArirrs do

Estado e os Ass~ntos das Casas da Suplica,ao e do Civel { I ) .

Esta IegisIaclo foi object0 de vhrias calecgdss de car6cter particular, as mais importantes das quais s8o:

a) a que figura na e d i p o vicentina in folio das Orde- n a ~ d c s Filipi~ias de 1747 e no apetldice de 1761 ;

b) a da legisla~&o d o relnado de D, JosC (em 3 vrr- lumes) ;

c) 0 Slsrema on Colcc~do dos Regirntnfos Reds d e MONTEIRO LIE C A M P O S (ern 6 tornos);

d) a publicada pela Imprensa da Universidade de Colmbra na cColec~80 da IegisIaqao arttiga e modernaw;

e) a de J O S ~ J U S T I N 0 DE ANDRADE E SlLVA (1W3 a f 700, 10 volumes) ;

f) a de A N T ~ N I O D E L G A U O E SILVA (1750 a 1820).

Exist ern tamb&m fnrrdlccs cronoidgicos (JOS~? ANAS. TACIO DE FIGUEIREDO e JOAO PEDRO KIBEIKO) e reportdrios como o de FERNANDES TONAZ. ,

Data d&ste periodo u ilireitcr can6nico que at6 h i poucos anos era o considerado novisslmo: o fortnhdo ap6s as c o ~ ~ s t i t u r ~ d e s d o Concilio dc Trenro (1545-1563) inandadas observar em Pottugal pcir L). S E R A S T I ~ C I - segur~do o Atvara de 12 de Setenibro de 1564.

(I), S&bre n8 caraclerint~cas de cada ututl ciastas fo~rnact

ver VICENTE JOSE OARDC)SO U,\ (?OSTLk, Co+, ip~:npo szifemat~cil r i ( ~ r l t t ~ ertrauqgrrnres (11ltrodny8o) s ROHGBB CARNEIRC), U W C I ~ O Chi/ de Portacgrtl, I, pig 3 0 firgte.

Page 147: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Continuam a ser numerrrsrs as con~fltui@ts pontfjlcius (bulas e breves) aumentadas agora das dec~sbes dos 6r- gaos e tribunais da Cir ia romana.

Nos skc. XVI e XVl l toram publ~cadas em Portugal numcrosas corrstitufG8es dos bispulns nas quais os prela- dos codificavam as regras a observar pelo clero e pelos f i t i s das suas dioceses na disciplina eclesidstica e nas re la~aes da vida crvil que pudessem tocar o foro da consci@ncia. Essas conslitiri~des oferecem extraordir~&rio intertsse para o conhecime~llo da vida jurldica nac~onal deste periodo.

P E R ~ O D O DO DIREITO NATURAL E DO RACIONALISMO

0 period0 que vamos agFra estudar corneca corn a subida ao trono de D. JOSE I (1750) e termitla corn a definltiva vitoria d o regime I~beral (Convenqao de Bvera Monte, 1831).

Sob o ponto de vista politico, corresponded a um regime de rno~arguia pcssoal r absoluia em que, ngo j& aperlas na pratica, mas na pr6pr1a doutrina, sc identifica o Rei cotn o Estado. 0 motiarcd 6 o detentor de todo o Poder, qae recebeu directarnente de D-us : pode exer. c&-lo sem nenhuma partiIha, limita~fio ou fiscalizago exterior, e aptnas guiado pel0 conhecimtnto do bem pliblico r pelos ditames da sua consci&ncia.

0 dever do monarca fi servir-se do poder para, mesmo contra vontade dos sabditos, os encaminhat para a rnaior cultura, felicidade e abundbncia : a isto se tern chamado despotlsmo iIustrado u u esclarrcido,

fiste regime vigorou durante o reinado de D. J O S ~

Page 148: História do direito português Marcello Caetano.pdf

talvez ainda mais acentuadarnente no de D. MARIA I, ernbora etn ambos &les o monarca nBo exercesse, de facto, o poder pessoal que em seu nome era e ~ e r c i d o pelos minibtrus (se bern qut: seja ainda hoje um problema saber at6 que ponto o lei 6 responsivel por certas iniciativas atribuldas a POMBAL tnas que Este repud~ou).

0 s reiqados de D. joAc) L'I e de D. MI(:UEL s2o perfodos t%o perturbados que se n8o torna possivel enquddri-los nulna 56 tendlt~cia : o pi4prio D, MIGUEL ao reiinir Cartes gerais afrrrna o seu p r ~ ~ p 6 s i t o de regres- sar c0nstituiF&o~tradici~~nal da lnonarquia limitada.

Mas todo &ate perlodo t um perlodo & drarrsrqEo: ernbora lutando contra a revoluf;lo francmsa, a verdade 6 que durante Ele se preparou o advent0 d o irldividualismo e d o liberalismo.

A luta contra todos os privilegios, tertdente a nivelar todos os sibditos, colocando.os B mesrna distancia do tEnico yoder, que era Q da Corba, enca~r~inhou para o illd~viduaiismo e a igualdade revolucior~arias.

POMBAL cornbateu enkrgiciimente a nobreza e Q

clero, dirninuindo o seu poderio, assim como ahateu a importincia dus Conselhos da CorAa em beneficio dos Secrethrios de Estado que passaram a cnncentrar as fun- foes do govgrno e adrnir~istraqao cell t ral.

No reinado de U. MARIA I os restos do regime serlhorial receberam urn profundo golpe corn ab;liCo* da jurisdipio dos dorratdrios determitiada par lei de 19 de Julhu de 1790.

Ta~rlbCm o sistema juri.iico t de t~ansiqao : o roma. nistnu e o cauonismo cedem o passo aos ele.t~entos ~deo. 16gicos de cuja cort~blna~Pn h i de resultar o sistema sndividualista e liherai d o sicuio XIS.

Vejamos, prirneiro, quais sao h s e s clcrnentos c como surgem na hist6ria europeia.

S ~ O Cles: a doutrina do us0 moderno, a difusao da escola do direito natural e das gentes, e o ~lurniniarno alemao cum os seus derivativos' d o enciclopediarno e do humanitarismo.

139. 0 "uso rnoderno".

Na Aiemanha dominava exclusivamente, no secuto XVIi, o direlto ronlarlo. Ora nessa kpoca conleqou a de. senhar se ii tendkncia para reagir cot~tra b s e predomlnio, em nomt das t rad i~oes juridicas germtnicas.

Nas Lrniversidades tomou-se consciCncia de que havia numetosas normas consuetudindrias que afastavarn a pra- tica d o Direito, em tada a Alemanha, (la legis la~lo romana em vigor.

0 estudo da a d a p t a ~ l o do direito romans i s condi- qBes especiais e is riecessidades de cada pafsAe de cada Cpoca, tendo suhretudu em atenpa0 o costume nacis~ial, originou a doukinra do uso rnudcrna - usus moderrnus pan dcctplrum.

E COITIO as universidades alemas eram chamadas a decidir problemas ji~rfdicos difice~s ou tnuito duvidosas que surgissenl nos tribttirais, exercrndo assim uma f u n g o jurisdiciuna1, poderarn, atravez desba funqgs, generalizar essa forma de entender e aplicar o direito rvrnarjo.

Assim, a atenclio dos juristas, atk ai cuncentrada nos textos romanos, comecou a ser chamada para o direito nacional de cada pais e para as necessldades da respectiva evolugao.

Page 149: História do direito português Marcello Caetano.pdf

140 A esoola do direito natural e das-gentes.

Esta corrente d o pensamento juridico teve o seu grallde d e f i ~ ~ i d o r em G R ~ C I O (falecido em 1645), sendo depois seguida por numerosos juristas de todo o mundo crr Ito.

Segundo ela h4 urn cor~julrto de normas necessliria- mente resultantes do carficter social da rlatureza hurnana e quc a recta razao pode dcscobrir e formular.

Esse direito da natuieza, nu dlreido natural, C cornum a todos 03 homens, independentt: das leis positivas, su- perior a elas, e rege todos 0s pcvos sem necessidade de r~conhecinlento pelos principes: 6, pojs, o direitodas gentes,

Se basta a razao para o deduzir da natureza, o jurisla dispe~~sa o conhecimeirto da le~ log ia , visto n&o ter de apelar para a fC, nem para a revelaqi20.

Aasim se caminha para a laicizaqilo d o direito, para o predominio da razio, par! a idCia da igualdade natural dos homens, donde resulta o principio de que o direito tambkrii deve fundarnentalmellte ser id&ntico em todos os tetnpos e lugares.

0s partillirios desta escola consideravam o direito rornano urn clireito positivo particula~ cuja autoridade nHo se podia opor a do direito natural e das geiites, Par- tanto, defendiarn solu@es novas, contra as das leis impe- riais e entelidiam que estas 56 eram dc acatar quando en- cerrassem princIpios concordantes corn a natureza e a boa ratgo.

141. 0 Iluminismo s 0 enaiclopedisrno.

0 sCcu\o XVlII fni tambkm caracterizado pcla tor- rentc d t idkias que na Alemxnha reccbcu o nome de Aufklifruzrg, Ilusfra~rfo ou Illsrninlsmu, caracterlrtica da Cpoca das luzesr.

Essn cnrrente c r t firmernentc na Razao hurnana e [la

cih~cia, grapas As quais se h8o-de atingir a r iqu~na, a feli- cidade e o bem estar. Logo, torn,+-se ticcessirio ilustrar todos os homens. difundir l a r~amente os cnnhecimentos cientlficos, ilurninar as i-ltrligCncias, - devendo o Estado remover todos os a b s t i c ~ ~ l o s ao progresso das luzesr, fazer reformas de acbrdo corn a ciencia da kpoca e itnpor pela f b r ~ a o acatamrnto das rneihares priqcipios.

Em F r a n ~ a o i l u ~ i r ~ i s m o origiflou o enciclopedlsmo - tendente a v~tlgarirar etn tbdas as camadas os conhe. cirnentos de tbdas as cikncias, mas orients d o 0 s nuln rentido crftico contraoaxislente enltidamente a\.ti-rekigioso.

Frr~alniente, a-prsrrr de na pratica se traduzir no des- potislno ou no aristocratismo (05 jd iluminados C 41te go- verrlam para fazar chegar a todos r3 ailas luzrs) a cscola originou o hnmnnlturlsmo ahstrato que por amor da Hu- manidado nao hesitava opriml-la.

142. E'volugBa das idbias em Portugal.

Virnos que no enrino juridico por tugub continurva a predominar 81 infiutncia escolAstica e o estudo do di, reito jnstlnianeu segutido A C ~ R S I O e BARTOLO, pro- curando.se das obras dos outros juriscon~ultos deduzjr rnecAnicamcnte a ~ommunla ednlo.

Page 150: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Contra Cste estado de coisas reaglrdm aiguns tspfritos I~idepende\~tes, entre os quais urn que na Itdlia rtcebera o influx0 das riovas correntes do pensamento europeu, - o frade barbadir~ho LUIS A N T ~ N ~ O VERNEY, autor do Verdrrdtiro mitodo de cstudar (1746).

F1 n;t carta IS:, 2,. parte, que Verney faz a critica irnptacdvel da cutiura juridica portuguesa da Cpoca.

N3o hd ddvida de que as idClas de Verney cxcrct- ram inflt~&nccia em POMBAL e nos seus colaboradores,

A reforna da Univeraidade de Coimbra levada a E R ~ O por POMEAL em 1772 rcpresenta a victdria d o ra- cia:] ~lisrno eurnpeu : onira a t r ad i~ge da escolsstica deca- dente personificada pelo Mrnistro nos jtsultas.

A poiC.nica po ,nba l i~~a contra o sistema filos6fic0, pedag6grco e juridico anterior aiingc o augc em dois mo- numentos pr~ncipais :

- no relatdrio apresentado sbbre or defettos d o en. siao universitdr~o vela lunta de ProvidCncia Literiria, que f8ra encarrrgsda da refarma, e que t intituiado - Corn ph ilo hiutbrito do cstado da Unlv#rsidade de Colmbra no tempo do 6nva3du dos denomlnados jcsultas (17711, - faz- +se a crftica acerbs do que estava;

- rlos Esfatutas da Unlvcr~ ldade (1772) desenha-se maglstralrncnte, a em todos os pormenores, a orlentaflo nova.

Ncstes dois monumentos c na Icl da Boa Roxdo po- demos encontrar o essential do sistema juddico j u ~ n a t u - rallsta e racionalista,

:43. A reforma pombalina dos estudos ju- rldicos.

No CbmpEndlo hlstdrlco a Junta de Providfincia Li- terhria aponta os reguintes vicios por ela notados no en- sino juridico (Parte 2,". capituto 2.7:

a) cultivar-se ainda sbrnrnte a filosofia aristotklica ; b) desprezo do direito natural e da h1st6ria do Di-

reito ; c) a ignorancia da doutrina do mCtodo no en*ino e o

ernprkgo d o process0 analitico nas l i~lles, de modo que alguns profeisores consumiam t8da a sua vida no cornell. tdrio de uma 56 Iei ou capftulo ;

d ) n8o se adaptar o direito roman0 ao usn moderno; a) ensinar-se apenas o direito romano, corn esqueci-

mento das leis naciot~ais, a-pesar.de aquele ser sbme~~te subsididrio destas ;

fJ fazer.se a ~ K ~ O S ~ C ~ U do direito romario, ngo a face dos textos d o Corpus luris Civilis, tnas segundo a* glosa, os tomentiriot, e as opinilles dos doutores, e corn despriko da tscola de Cujicio.

0% novos Estatutos, para remtdiar b t t s males, orde- nam que se ensine o Dire~to natural e das genres, a His- t6r1a do Di~.eito, e o Direito pdlrio, a l t m do lhreitn rn. marlo e d o canbnico.

0 ensino devia fazer.se, ern geral, pelo ~rzktod~ silt- tdtico-d8monstrn6i~u-compendidr1~~, isto C, por mcio da ex. posiqPo ordenada de tdda a matkria do prograina, de mod0 a perl~titir a visa0 globdl das diverras partes de cada dixlplina, reaervando-se para duas cadeiras aperras o emprigo do mttodo ai~alftico destinado a ensinar a it^.

Page 151: História do direito português Marcello Caetano.pdf

ttrpretaqao e aplicacio das leis ptlo exame millucioso e aprofurldsdo do conteiido dus trxtos.

I'assava a estudar-se o direito rornarlo sisternatica rnetite, adaptado a o uso modcrno e preenchendo~se as lacunas d o sistema corn A S leis ttacionais.

144. A lei da B o a RezBo.

TrEs anos antes dos Estatutos da Universidade fBra promttlgada a lei de I8 dc rlgosto de 1769, conhecida

,pel0 nonl t de Iei cia Boa Razao. 0 objecto desta iri e u de regular a interprrtaqao iias

Iris e o suprirt~ento das suas lacunas, r alguirias das suas d ~ s p u s i ~ d e s est%o rsclarecidas nos Eatatutus dil Univetsi- dade, liv. 11, tit.' 5, cap.' 2.'' §$." 12 e seguintes.

Vejamos qua1 6 o sistema d o direito subsidiirio que esta Iei formula etn substitulqlIo d o estabelecido nas Or- denaqdes, I I V . 111, t l tV 64.

n) A. questties devem ser julgadas segundo as leis pbtrias, ou na sun falta, segundo 0s estilos da CArte e o costume ,io Keino.

Mas (5.. 14): - 96 se consideram estitos da CBrte (isto 4, prAti.

cas processuais obrigatbria~) as norrnas estabelecidas e aprovadas por Assentu da Casa da SuplicafAo ;

- e o c.~stunie s6 porferia ser aplicado q u a ~ ~ d o rcii- r~isse os seguintes requisrtos :

1) llao scr cor~ t r i r io i lei escrita, 2) ser coi~forme a boa raz%o, 3) ter mais de cem anos de existincia.

b) Nos casos c>missos aplicam-se a# leis impetiais

iinicdrnente quarldo sejam fundadas em boa razao, isto C, nos aprin-iitivos prir~cipios que contetn vtrdades essc~~ciars, illtrit~secas e inalteraveis que a ktica dos Iriesinos roma- nos havia estabelecido r que os Direitos dlvino e natuyal formalizaram para servirem de regras morais e civis erttre o cristianismos ou naquela boa razgo aque se fu:lda nas outras regras que de u n l n i ~ n e consentimer~to estabeleceu o d ~ r e i t o das gentes para a direccao e govPrno de tbdas as Naqbes civilizadasr . . ( 0 . O 9.")

c) Quando o casa tinirsso r~spl- i tc a materia politics, econdmica, mercantil ou maritirnii recorrer-se-A As ~gleis das naqnes cristas ilnminndas e pol~clas*, isto e, a legls- Ia@o d o s paises civilizadns (.la Europa r nPo a o direiio roman0 (9." Q.., In fin?).

d ) Ptoibe a a;egn@o e dplic,1~5(1 el11 juizo dds gkosas e oprnities de ACORSIO, DE B ~ R T O L O e dos seusda- cIpulos (8." 13) ;

e) Determina que nos tribunais civis nao se ipIique rnais o llireito Car~dtiicv. o qua1 ficaria apenas a ser apli- cad0 110s tribunais eclesiAst~coo visto qrre aos seculares undo toca o conhecimento dos pecadosa (5.V2).

145. RenovaqBo da Jiterdtura jurldica apos a roforma pombalina.

0 s Estatutos da Univcrsidade prescreviarn que os lel~tes elaborassern crtrnp6ndios das hversas caderras. Corno o estudo s i~l t t t ico do lj~reito pdtrio e da sua His-

Page 152: História do direito português Marcello Caetano.pdf

tdtia era novidade, irnp6s.s~ comegat por a t Um profes- sor eminente, G DR. PASCOAL J O S ~ DE MELLO FREIRE DOS REIS deu-nos! assim, 08 primciros corn- pCndios, intitulados : - - Institutiones juris cfvills Iusiloni, 4 vols., 1789-1793, oride expae o sistemado direito pliblico e privado entao vigente ; Instlfuti~nes juris criminalis lusi- t a d , 11 vo l .~ 1794, consagradn ao direito perrdl ; e final- mente, a Hdstdrla juris civflis lusltani, I vol., 1800, em que &e bosqueja a Histdtia do Direito portugu@s.

0 s compendios de PASCOAL DE MELLO tiveram a maior influencia tia forma~ao das geracdes de juriscon- sultos do final do s6culo XVIII e do c o m k ~ o do XIX. Foram seus discipulos o DR. RICARDO RAlMUNDO NOGUEIRA, que deixou valiosas prelec~Qes e o D R , FRA-NCISCO COELHO DE SOUSA SAMPATO de suem estlIo publicadss as Preleccacs d r direito pdtrla ptiblico e purllcular, 2 vols., 1793- 1794, completa das por umas Observo~drs ds pre lcc~ars . . . de 1905, rnujto ~nteressarltes por conterern o desenvolvimcr~to da teo ria d o absolutisrno e do direito divino dos reis.

TBda esta actividade literaria pertencz jb ao reinado de D. MARIA I, no inicio d o quai se resolveu tambkm fazer a reforma das Ordettsqdes A luz das ideias do tempo. Por decreto de 31 de M a r ~ o de 1'178 foi ordenado o inicio dos trabalhov por uma comiss%o, que, como de costume, se mostrou irlcapaz da tarefa. A carta rkgia de 22 de M a r p de 1783 encarrcgou enHo PASCOAL DE AIIELO de preparar urn C6digo do Direito Phbllco (correspon- denie ao Livro I1 das Ord. Fil.1 e urn Ctdigo Criminal korrespondente ao Liv. V."!.

Ao cabo de cinco anns, CJ ilustre prrifrssor apresenlou as dois projectos cotn as respectivas justificaq6es ou

cprovasc, que o Dccreto de 3 de Fcverelro de 1789 mandou submettr A crftica de uma comissao ravisora (Junta de Censura e Revisao) de que fazia parte o lente de Cinones DR. A N T ~ N I O RlBEIRO D(3S SANTOS.

Este grartde jurista cornecou a sua anaiise pclo pro- jecto de Cbdjgo de Direito Peblico e dcaronstrou, nas silas Notas. , . ao Novo C d d i ~ o , que PASCOAL n8o fbrx t i o feliz como legislador quanto era de esperar-da sua fama c o p professor.

P A ~ C O A L UE MELO ainda respottdeu i primeira crftica de Rlbeiri! dos Santns e Cste replicnu, travando-se polbrnica cujo itlterbse reside no facto de o pri~neiro se re- velar partidirio decididct do absoluti~.mo, enquanto quc o se- gundo llreconizava o regresao As mais antigas tradicdes nacionais, nao ocuitando a simpatia pelas idCias novas que entgo surgiarn no horizonte politico europeu

0 s projectos de Pascoal de Melo e as censuras de Ribtiro dos Santos assumem, assim, grands valor docu- mental para o estudo da evoluqao das idkias politicas c juridicas no tranrisao d o sCc. XVIII para o skculp XIX.

Page 153: História do direito português Marcello Caetano.pdf
Page 154: História do direito português Marcello Caetano.pdf

eram os dog t r C ~ Potferes Lcgislativo, I?xecuHvo e Judicial.

0 cidaddo s6 podia ser obrigado a fazer on a deixar de fazer alguma coisa em virtude de uma lei votada pelos representallies da NaCgo: t ~ i s t c ~ consistia a llberdade pdf- fica. A lei devia ter sempre caricter geral, itnpondo-se igualmente a todos quantos estivessem em condiq6es idenkica,:. Assin1 a Iiberdade assentava na legoll~lade.

As constituir;6es portuguesas corn esta orienta~ao sso as seguintes :

C ~ n s t j t u i c ~ ~ de 1822 ; Carta (:onstitucional dr 1826 e seus Actos Adicio~~ais

de 1352, 1855 e 1896. C o n s t i t u i ~ ~ o de 3838; Constitui~go de 191 1.

148. Oireito administrativo.

Ntste rarno de Direito projectam-ae directamente os princlpios do direito constitucional. E assim :

a) Ua doutrina da scpara5go dos paderes rasulta a separa~Bo das fm$6es de admdnisiror e de julgar e a en- tr~ga dc cada urna detas a orgPos especializados ;

b ) a fun@o adrninistrativa teIn de conterbse, no seu exerclcio, dentro dos estritos limites fixados pot lei : - le- galidadc ;

c) 0 ~ndivfduo pode obter- a a~ulaqao dos actos iie- gais da adrnin~stra~ao que tenharn ferido os seus direifos; garmfla du legalidade;

d ) drve deixar.se aos i~tdividuos agrupados dcntro da Na@o 6t faculdade da re adrnit~istrar livremente - tendan.

cia descentrallzndora - mas cnquanto a revoiu~ao liberal rtBo estivesse tr~unfante, era necess6rio in~pedir o predo- minio da ant~ga aristocracia IocaI e do clero- donde re- sultava a tetidtncia centralladora.

0 diploma que lanqou as bases do Oireito Adminis- trativo lihrral foi o Decreto n.' 23 de 16 de Maio de 1832 (da autoria de Mousinho da Silveira). Seguiram.se.lhe v5- rios Cridigos Adrninistrativos que pretenderam adaptar o sistema i s condi~aes nacionais, ora petldendo para a cen- tralizaf30, ora para 3 descentralizaqPo.

0 s principais Cbdigos Administrativcs foram os de: 1836 (PASSOS MANUEL!, 3842 (COSTA CABRAL), 1878 (RODRIGUES SAMPAIO), 1886 (JOS~! LUCIAN0 DE CASTHO) e 18'35.96 JOAO FRANCO),

Sob o regime republicano foi publicada urna impor- tante lei: a n." 88 de 7 de Agosto de 1913.

0 s forars foratn abolidos pelo Ilecreto de 13 de Agosto de 1832 que providenciou tambtm sBbre doa~6es rCgias e bens da corba, set~do colnpletado mais tarde pela Lei de 22 de Iunho de 1846.

149. Direito civil.

A revolu~ao liberal, na legisiacio clvii, operou.se por partes, Hi , assim, que distiliguir 3 fases:

1.' fase ; continuaram 'em vigor as Ordena~dcs, em bora alteradas por leis de orientav3o itidividualista das quais as mais importantes saw as relativas a aboli~go do3 vincutos (tnorgados e cspelas) de 1632, 1860 e 1863.

3.' fase: comega corn a publica~Bo do Cddlgo Civil

Page 155: História do direito português Marcello Caetano.pdf

H I S T O R I A D O DlREITO P O R T U G U E S - - - - - - - -

etn 1867 e vai ate a Iegisla~Bo republicana de 1910 em dianto;

3." fase: Ct a da Iryisla~Htr repubIicana de I Y l O a 1926. As carnctrristicas do intiividuaiismo no direito civil

sdo as seguintes : r r ) todo o direito civil assenta nos direitos naturais

d o hornew (C6d. Civil art. 354 e seg.) C a vida jurfdica d o indlviduo que serve de base a pr6pria sistetnatiza@io d o Cddigo ;

b) a principal Ionte de direilos e obrigaq6es civis 6 a v o n t n d ~ tlo sujeito de direit:) cuja autononi~a a lei declara e garante, e dai a te~iciEt~cia Ipara considerar o coriirato co;:!n a tnais it:?l~ortairte figura de acto juridico;

C) corclari 16gico do respeito da vo~rtade como afir- ma@o da Iibertialle individual. C o reputar-sc a proprie- ria& sirigillur como ,, iliais perfrito direiio subjective: a I:l.rlnem C iivre sobl-etudo ao usar, irurr e disprlr daquilo clue llic pcttence, e o Iiberaliitrio mostra sc cot!trdrio, por isso, a tbdas as forraas de priipriedaile limitada ou afeciada- aos vinculos, a rtlfiteuse, ?I propriedade cotnum, B prirpriedade c1.ilecriva ;

d) Ira fa l i~ i l i a , 1 1 sisteli~a i~iiiividualista tcnde n ver llma associa~au vt~lu~lt i r ra , asstnte 1111 contralo dt cnsn- mento, disrratjvel, culno q~ralquet outro contrato, pclr melo do div6rci0, que foi admitido Ila irossa legisl,dq%~ {lor lei dc 3 de Novenibro de 1910: e pondo de pal te o o tr~tcrCsse ~ i o agl egado fa tr~ilia r, para attlildei sobret~tdo aos intereyses dirs i1:dividuo's reconhece ao, fiiiios ilegi. t~tr~t js us riiejnitts dirtitos q u r aos legitinus e 1~rocla.na a igualdatle juridica ~ius cbnjugei :

e ) quanto so direito sucess6ri0, tatnhim ;i t.?ndCrlcia individualisia C I I O sentido cIr perrnitir ao trstad~rr que

disponi~a livrcmente dos seus bens, restring~ndo-se a parte ind~sponivel, ciu 1egftt11 a , que dcve co1t3i1tulr patrirnri- nio tlos parentes ern litlha recta do falecidci: e ~ ~ r e s r t ~ o a l e g i t ~ ~ n a ~icve ser r e g ~ r t t d ~ tgualrr~ente t r~ t re todos os l l e ~ d e ~ r o s (aumento cla quota d~ponivel, restrictirr da legittma, pattrllia ~gl~aiitaria).

150. Direita econdmice.

No dominio da v~dq econdmica o sistema individua- lists matlifestou-se prirlcipalttrente tins seguii~tes po~itos:

nj dissolufao das corporaq0:s de ai.tes e oficios (dec* de T d e hlaio de IS34) e rcstt-i@o da liberdade de asso- ciafiTo para irtbpetlir que cis i~~div{: l~tos, ilgrupar~do.se, cot~~pronietessen~ a sua plena autono~riia ;

b) afirmaqllo da liberdade di. c: mircio, indtistria, tra- balho e ptofiss2i1. abolindo os regulatltentos existentes;

c ) p r o t e c ~ i o i lilrre itiiciativa e i concurrCncia, para pelo autotllatis~no d o scu j9ytl pcrlnitir que a lei da oferta e da procura estabelecesse o equilibrio econ6mico no mrrca:io ;

d) p r o t r c ~ a o ao capitalismo r fori~er~to das sociedades anbnitnas cotno iiisttu~~!entos dl] proeresso ~naterial.

Qs n~trnu~ilet~tns capitais drsu orientafao, sao os Cd- dig05 Coriierciais de 1333 (FERREIRA BORUES) e de 188s (VEIGA R E I K A O ! .

151. Direito pracassual.

Nede ramo de direito, doniria a cllarnada cancep~do

Page 156: História do direito português Marcello Caetano.pdf

prhalfstica, segundo a qua1 o proces5o t! urna lu t a entre dois intcr@sscs ~~~dividi iars a que o ju~z ajsiste passiva- merate ate ao momento de proferir a s e ~ i t e n ~ a

SBo as partes que conduzel~i e instruem o processo, t s6 a elas cornprte a demonst~a@n dos seus direitos: conforme eias agirtm assim (i processo ap~esentarrl os elen~entos a face dos quais o juiz h i de sei~tencr-ar, fazrn- do j r r ~ t i ~ a fnrrizal, isto 6 , a justica que as reyras rigidas a que abedece a i r~stru~Bu canduz, sem que importe saber se essa 6 a verdadeira justicd.

Disti~lgue.se rlas questfics a julgar a rnaleria de faclo e a materia d . d:reila. Sendn a justi~a unia emanaCLo da soberania e pertel~ccn~lo es ln 6 NacAtr, (1 julgarnento da rnatkria dt. facto competlrd a unl corlselhn de cjdadlos, o juri, limitando-se o juiz toyado a al~licat aos factos assitn apurados a norma jurfdica ell? que eies se enquadrao).

A s leis q u e fazeil; apljcaCBo deste. principios sao: - a Aeft;rma jutiicldria feita prlo Decreto r~." 22 lie

16 de Maio dc 1832 - Ila nll.srna data que a Reiot tna Ad~nit~istrativa;

152. Direito penal.

No dotni~lio d o Direito Penal o irldrvidu tlisrno traqou as segulrltes ~lrierltdqdes :

a) cons~deraram-se u s crirncs contra u ir~dlvi~luo e contra a proprr~dade tnais graves, ou pelo menos t8o

XISTdRIA DO DIREITO PORTUGUGS - ----..- --

graves, do ~ U P 03 cr1nles C O I I ~ I a a socledade .e n Estado , 6 ) a puti.q3o dos critnes era regulada pplo principio

da legrdidade pelti que 11eirhur11 tacto podla ser cor~s~cie- rado c r r rn i l~o~r~ srildo eln vtrtulte de t - i a n t e r m (rr~lirrm crlmeti sine leg?)> nenhu~~la petta ilcld~a ser dpllcaila se nao tivesse antes s ~ d n autorizada pi): l t i (nnlia pclena s;ne Itge), e riinqukrn pjdia ser cut lde~~ado seiiao ell1 processo con- duzido na forma da lei (nemo datnnetur nisi per leg'nle judicbm) ;

c) o acusado dispu~lha de tbdes as garantias de defesa, para procurar atingir-se a ve~.ciade c a jus t lqa;

d ) n fin1 coin q ~ ~ t se puniarn us crimes eril, sohretudo, o , de regewrdr o crimir~oso, e daf uma certa tet~dencia i~un~anitriria qur ciitliluz~u k 111itigaq80 t i as penas e RO

melhoramtnto do sistema priaiotldl. As leis penais debts epoca sbo : - o Cddigo Penal de 1852; -. a Rejarma penal c dos prisges de 1867 ; - a Nova rtjorma penal de 1864; -- o Cddigo Peirai de 1880.

153. No limiar de urn n o ~ o perlodo da Histb- ria d o Direito Portugu8s.

Presentelnellte, etnbora ailrdd vigure111 miritas ltis e persistarn ruuitas irist1tu1~6es do sistemd individuallsta~ esth-se em ple:~o period^ de reforma no senrrdo da ela- bord~Po de urn d~rPi lo soclul c autorttdrio,

Onde o ir~dtvidual~stno pullha o InterPsse d o it~drvi- duo, a nova orienlaqgo coloca o intrrtsse d o grupo (fa*

Page 157: História do direito português Marcello Caetano.pdf

milia, corpura~Po, Nacgo), e~nbora s w : desconhecer ou tlegar 0 valor da pessoa hrrmana.

Onde a liberalistno requeria liberdade dos i11divIduos a nova orientaqlu firn~a a autoridade d m grupcrs sbbra os s e w corr,>one~~tes, ~iando a0 Poder a fun@o cie realizar o bern comum e de manter o equilfbrio do todo embora i custa dos inttresses de alguns.

,4 Cunsiituiqtlo Politica de 1933, o Cddigo Adminis- trativo de 19361940, a legisla~rto corposativa, o C6digo do Processo Civil de 1939, a nova legislaq&o sb t~re o ca- sarneirfo, posterior a Concordats corn a Santa Sk, a Re- forma Prisional de 1936, o Cddigo do Processo Penal de 1929, o Estaiutu Judiciirto . . siio diplomas em que se define a nova OrientaqLo,

NOGOES PRELIMINARES

1. C1 que C o Oireito . . . . . . 2. 0 Direito como produto da Razgo . ,

3. PApel da tradiclIo na formacao dos sistemas juridicos . '. , . . . .

4. Neccssidade e importkncia do tstudo da Histhria do Direito . . . . .

5. Conceito e conteirdo da Hist6ria do Direito,, 6. M6todo de investigaglo e Fontas da Hist6-

ria d o Direito . . . . . . 7. Classificaflo das Fontes da Histbria d o

Direito . . . a . . . . 8. Ragras de Utiliza~Ho das Fontes da Hist6ria

do Direito . . . . q - 9. Suprimel~to das deficibl~cias das Fontes:

recurso ao mktodo dedutivo . , . 10. Cigncias afins e auxiliares da Hist6ria do

Direito. , , , . , . I I . Sistema de exporlqllu da Hist6ria do D~rcito. 12. Sistema dt divis%o em periodos na expo-

sigh0 cronolbgica . . . . .

Page 158: História do direito português Marcello Caetano.pdf

15. Razan de Ordem . . . . . . 33 16. O r g a r ~ i z a ~ l o soc~al e instituY~6es. . . 35 17 . D~reito . . . . . . . . 38

0 DOMINIO ROMANO

20. i) espirito d o direito pfiblico romano. . 21. A comun~diirle romana e 0 4 sells ~cbditcei. 22. C1 divisxcj provinci:~l . : . , .

A) Ijivisao prrwincial da HispBr~ia. ALt 197 A.C. H ) L)ivi\%o de 197 A. C. . . . . . C? DivisBo dr AUGUSTO . . . . , Dl Div~sXo de CBRACALA. . . . E) D~visko de DIOCLECIANO. . . ,

23. Administra~fio das provlncias . . .

24. As cidades das provlcias . . . . 25, ' ~ i d a d e s de t ~ p o iridfgena: A) Cidadeo esii-

pendiirias . , , , , . -

26. Cidades de tipo indlget~a: 3) Cidades livres. 27. C~dades de tipo r o ~ ~ ~ a r i o : Al Col6nias. . 28, Cidades de tip0 romano: 8) Municipio . 29. Municipio (cor~t.) : Organizacao municipal. 30. hlur~lcipio (cont.) : Evolu~ao e decadencia. 3 1 , A s c i d a d e s d a L u s i d n i a . . . - . A) As cidades d o f im do ~ k c u l o I . . . B) A concessgo dn direito do LAcio por Ves-

pazlarro . , , . . , 1:) Concessfiu da cidatlar~ia rorllaria por Caracala.

32. Fontes de direito romano . . . . 73 33. Fontes de direito na peninsula hisplnica . 82 34. Direito ~ndigena . . . . . . 83 35. Jus g e r ~ t ~ u n ~ . . . . . 84 36. Jus ptovir~c~ale . , . . . . . 86 37. Estatutos locais . . I . . 89 38. 0 direito romano vulgar . ~. 89

39. (3s birbaros na Peninsula . . , . Q 1 40. 0 s suevos . . . . . . . 93 41. 0 s visigodos . . . . . 95

5 2 . 0 -- lnsi~~uipi5es poJitica6 e srdm#n&tretivrs da mona~qula viuJgotioa

4 2 . Espirito do direito publico visig6tico. . 98 43. 0 Rei. . , . . , . . 101

Page 159: História do direito português Marcello Caetano.pdf

44. Aula rtgia. , . , . , .

45. Concfiios . . . , , . . 46. Adrninistra~a[o provil~clal , , . . 47. Adrninistra@o das cidades e distritos rurais 48, j u s t i ~ a . , . . . . . .

49. Seuara~lu juri~lica ir~icial ~los godos e his. pano rolnanos . . . , . .

50, Codex Euricianus , . , . , . 51. Lex Rornana Wisigothorum . . . . 52. <Codex revisus. de Leovigildo . , . 53. A 11nifica~30 legislativa e o C6digo Visigdtico 54. CBdlgo Vis~gdiico : A) Forma recesvindiana 55. C6digo Visig6tico : B) Forma ervigiana 56. CQdigo Visigbtico : C) Forma vulgata . . 57. C6digo Visig6tico : sua importlncia . . 58. C3noneo dos concilios . . . , . 59.Fragmentagaudenziana. . * . . 60. F6rmulas visipdticar . , , . .

61. CarPcter da invasllo muqulmana . . . 62. 0 lslio e os estrangeiros . . . . 63. Fontes do direito mu~ulmano . . ,

64. Admi~~istracBo e justica . . . . ,

65. InfluCncia muculmana no extr&mo ocidente

A MONARQUIA LEONESA E 0 CONDADO PORTUCALENSE

66. A rcconquista crlsta . . . . - 67. A f o r m a ~ a o das monarquias neo-gbticas . 68, Caracttr iniciel d t monarquia leonesa . , 69. IntluCncia das idkias feudais na rraliza~Po

das monarquias neo-g6ticas . . ~

70. 0 feudaIlsrno . . . . . $ .

7 1 . Elementos d o regime feudal: recomendac&o, heneffcio, senhorio . . . . .

72 Existiria o feudalismo ria Peninsula? . . 73.C'BriarCgia . . . , . 1

74. Oscondados . . . . . . . 7 5 . A d m i n i s t r a ~ l l o d a J u s t i ~ a . . , . 76. Concessao do condado pol tucalense I D.

H I S T ~ R I A DO DIREITO PORTUGUES

P E R ~ O D O DO DIREITO CONSUETUDI- NARIO E FORALEIRO

7 7 . A Corba . . , . . . 163 78. A Corba e o Papado . . . . I66 79. SucessHo da CorBa . . . , , + 172 80. C&ri& rbgia , . . . . . . 174 81. 0 s Ministroo da Corba . . . . . 175 82. Rendilncntos da Corda , . . . . 177 83.AdrnlnIr t ra~lolocal . . - . . 179

Page 160: História do direito português Marcello Caetano.pdf

54. Sejl~orio. Coutos r h r ~ l ~ ~ a s . . . , 181 83. C. 1ict11i(~s. . ' . ~ . . , . 183 8ti. 0:igem ilas ii~st~tuYqOes r~~ullicipais portu-

t~rguesas . . , . . , 185 87. Organiza~ao rnmicipal . . . , 189 88. Adrnit~istra~an da j r ~ s t i ~ a . . . . 191

89. Cbdigo Vislg6tico , . - , . 193 90. Lels gerais . . . - . 194 91 D ~ r e ~ t o c a n d ~ ~ ~ c n . . . . . 195 92. Testanientos dos reis + - , 197 93 .Cos turnes . . . , . . . 197 94 0 s fora~s . . . 201 95, Cost.~mes ~nuri~cipars ou foros . , I 207 I 96. Docuinentrrs dos actns ~ u ~ i d i c o s . . . 209

PERfODO DO KOMANISMO JUSTINIANEU E DO DIREITO C A N ~ N I C O

I . ~ FASE: DO INlCIO DO REINADO DE D. AFONSO nI ATE AS OQDENACdES MANUELINAS

97. i ) ~ l i ~ n ~ t ~ i ~ Z o dd pnrlletra fase destr period(>. 213 98 0 re'lasci ~,et l to do dlre~to rornano . 216 !U. A escolisticd , . . . , . , 219

100. As Utliversidades . 220 101. 0 5 legistas - . ~ . . 224 102. Equ~lihrir~ entre a Igreja e o Estado . . 225 103. 0 s descobr~mentos. . . . .227

104. Esplrjto do Direito Plrlblico . . . . 227 105. 0 Rei. . , . . . . . 230 1 0 6 . O C o n s e l h o R i p i o . . . . . , 234 107. As Cbrtes . . . , . . . . 236 108. Min~stros da CorBa. . . . . . 244) 109. A adtninistra~do da J u s t i ~ a . . . . 244 110. Administra~iio local. . . . , . 247 111. Concelhos . . . . . , . , 249 113. Mestercs . . , . . . , . 251 113. Senhorios . . . . . . . . 253 114. Rendimentos da Corda . . . . . 259

115.Direi torou1ario . . . . . - 116. Direito econdmico . . . . . . 117. D~rei to castelhano . . . . . . 118, Leis gerais. . . . . . . 119. Costume e jurisprudencia . . . . 110. Conctjrdias e concordatas . . . . 121. Ordenaq6es Afonrinas . . , . . 122. Direito subsidiario segundo as Ord. Afon-

srnas . . , . . .

PER~ODO DO ROMANISMO JUSTINIANEU E DO DIREITO CANONICO

z . ~ FASE: DAS O R D E N A C ~ E S MANUELINAS AO REINADO DE D. Jose I

123. O absolutismo real . . . . . . 27 1 124. Idtiar politicas a culture jurldlcr . . . 273 -

Page 161: História do direito português Marcello Caetano.pdf

125. Conseiho rkgio e Conselha de Estado , . 116. Desembargo do P ~ q o . .. . . . 127. Outros conselhos da Corba . . . . 128. Ministros de Despacho . . . . . 129. Tribunais superiores . . . . . 130. Cartes . . . . . . . . 131. 0 s cc~rtceihos . . . . . . . 132. Senhorios . , . . . . . .

5 2.0 - Foster d m Ol~ol to

133. Ordena~Ges Manuelinas. . . . . 285 134. Colecqau de Duarte Nuncs de LeBo . . 258 135. Ordenacdes Filipinas . . , . 289 136. Legislac30 extravagar~te . . . . . 290 137. Direito cartd~iicu . . . . . . 291

PERIOD0 DO DIREITO NATURAL E DO RACTONALISMO

Cararterlsticas dCate periodo. . . . 0 *us0 rn~der~ lor , . . . . . A escoia do direito naturaf e das g e a t e ~ . 0 ilurulnismo e o encicfopedismo . . Evolucao das idbias em Portugal. . ,

A reforma por:ibalina dos estudos juridlcos A l e i d a B o a R a z % o . , . . . , Rcnovaq;lo da literatura jurfdica apds a re. forma pombalina . . . . . .

146. Caraeter~s gerais do perfndo . . . 147. Direito constitutional . . , . . 148. Direito administrativo . . . , . 149. Direito civil , . . . . . . 150. Direito econ6mico . . . . . . . 151. Direito processual . . . . 152, Direlto penal . . . . . . . 153. No limiar dc urn novo pcriodo ds HisMria

do Direito Portuguts . . , . .

Page 162: História do direito português Marcello Caetano.pdf

Aditamenios e correcqIes msis importantes

Pig . 141 . - 0 reino de Araglo foi fundado em 1035 e uniu-sc ao c~mdado da Baroelona ern 1137,

f a g . 164. - 0 erudito altm%o CARL ERDMANN no stu ertudo intitulada B r come S9. Rpnro J t a n r ~ q u u ossumlu 0 ~ i t u l o dr tr j , re~km- -aparecido, p6e em dirida a autenlicidade do documcnto de 1:39 qut s t julea ser o primeiro que da o titulo r e a l ao noslo primeiro mo- narcr, e inclina-st para a tese trrdicionr; de que Cle comecon a inti- tular-se rci ap6s a vit6rla de Onrique, entre Iulho de 1 1 ~ 9 a Outubro de 1140.

94 7 435 100 17 num dos quartas

' 453 numa das fares

sopuinttm resolddos

1537 produzia

Cor6a ROMANISM0

1885 -