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7 7 OS EMBLÈMES OU DEVISES CHRESTIENNES VANGUARDISTAS DE GEORGETTE DE MONTENAY: UMA RELIGIO CORDIS IMAGÉTICA CALVINISTA Helmut Renders Professor da Faculdade de Teologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).

História e Sociedade -Helmut

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Teologia Acadêmica

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  • 129APRESENTAO

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    OS EMBLMES OU DEVISES CHRESTIENNES VANGUARDISTAS DE

    GEORGETTE DE MONTENAY: UMA RELIGIO CORDIS IMAGTICA CALVINISTA

    Helmut RendersProfessor da Faculdade de Teologia e do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio da Universidade Metodista de So Paulo (Umesp).

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    R E S U M O

    Este ensaio apresenta o livro de Emblmes ou devises chrestiennes, de Georgette de Montenay, como uma extraordinria voz feminina na fase inicial do calvinismo, oferecendo uma releitura da religio cordis na tradio dos refor-madores Lutero e Calvino, no formato de um livro emblemtico. Com isso, a dama de honra de Jeanne dAlbret, a Rainha de Navarra, apresenta para os crculos humanistas e aristocratas da poca as nfases protestantes no momento em que a sociedade francesa estava discutindo seu futuro re-ligioso. Aparece, uma mulher moderna, assumindo o seu papel na histria, competente no domnio de novas tcnicas de comunicao e clara na sua articulao e posio teolgica.

    PA L AV R A S - C H AV E

    Calvinismo; Georgette de Montenay; livros emblemticos; emblmes ou devises chrestiennes; mulher protestante.

    1 . I N T R O D U O

    Como parte da nossa pesquisa de ps-doutorado sobre razes, mentalidades e projetos da religio cordis, da religio do corao (RENDERS, 2011), especialmente em suas expresses iconolgicas, encontramos tambm interessantes exemplos do ambiente calvinista. Entre eles, o caso do braso do prprio

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    Calvino e uma obra inovadora, tanto em termos formais quanto em seu contedo, escrita por uma mulher: Georgette de Montenay (1540-1581). Para entender melhor a sua ex-traordinria contribuio, lembramos, primeiro, da forma religiosa usada por ela, a religio cordis; depois, do formato li-terrio do qual ela se apropriou, o dos livros emblemticos; e, finalmente, introduzimos a sua obra, seus Emblmes ou devises chrestiennes, apontando alguns detalhes.

    2 . R E L I G I O C O R D I S N O C ATO L I C I S M O

    A religio cordis foi um fenmeno importante no cristia-nismo desde Agostinho de Hipona (354-430)1. Oitocentos anos depois, eram mulheres como as cistercienses Mechthild de Magdeburgo (1207-1282), Gertrudes de Hefta (1256-1302) e a dominicana Catarina de Siena (1347-1380) que criavam em suas obras um profundo e durador vnculo entre a religio do corao e a mstica crist (WEISS, 2004, p. 2005-2054). O que foi articulado at a morte de Catarina de Siena somente por textos ganhou, logo depois, uma imensa popula-ridade a partir da representao por pinturas e figuras, espe-cialmente nos sculos XV e XVI. O prximo grande momento da religio cordis no catolicismo ocorreu quando foi usada para expressar a sua essncia confessional diante da reforma protes-tante. Os jesutas formularam sua theologia cordis; Teresa de vila (Figura 2) fundou as carmelitas descalas e referiu-se

    1 Conhecida a sua afirmao do incio das suas Confisses: Fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te (Fizeste-nos para ti e inquieto est nosso corao, enquanto no repousa em ti). Para a iconografia posterior mais relevante, a citao do segundo pargrafo do nono livro das suas confisses: Sagittaveras cor nostrum caritate tua (O nosso corao foi ferido [como por uma flecha] por teu amor). Provavelmente trata-se de uma referncia aos Cnticos 4.9, segundo a traduo da Vulgata: vulnerasti cor meum (Tu feriste o meu corao). Anota-se que essa traduo no se confirma pelo sentido original do verbo bb;l (lavav) usado no hebraico, que pode ser traduzido por fazer bater mais rpido o corao, roubar o corao (essas tradues encontram-se na King James Version e Lutherbibel), encorajar o corao, ou no nvel mais abstrato, tomar conhecimento e sentir.

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    transverberao do corao, j conhecida por Gertrudes de Hefta (Figura 1), e os franciscanos relacionaram a experincia fundante da recepo dos estigmas com a mstica do corao2. Assim chegou tambm ao Brasil colonial.

    Figura 1 Gertrudes de Hefta, sculo 17. Barro cozido, So Paulo

    Figura 2 Forro da Igreja da Nossa Senhora do Carmo em Sabar, MG, 1763

    Fonte: Acervo do Museu de Arte Sacra de So Paulo.

    Fonte: Foto de Marina de Melo Franco Costa Reis.

    No seu quarto momento, no sculo XVII, a religio cordis apareceu em uma variante francesa da ento nova devoo do sagrado corao de Jesus. As vises de Margarida Maria Alaco-que (1647-1690) foram defendidas pelos jesutas e, aos pou-cos, transformadas em uma devoo militante par excellence (MENOZZI, 2001, p. 137). Sofreu uma forte politizao co-mo devoo do rei na luta contra a revoluo francesa, e, depois de 1850, como expresso espiritual da romanizao da Igreja Catlica e da luta ultramontanista contra a perda do lugar privilegiado como igreja na sociedade, foi promovida co-mo a espiritualidade catlica.

    2 Assim, por exemplo, o programa imagtico da fachada da Igreja de So Francisco de Assis, So Joo del Rei, de 1774. Na parte superior, Francisco recebe as chagas; na parte sobre o portal, encontra-se o corao, ferido, cercado pelas mos e ps feridos.

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    3 . R E L I G I O C O R D I S N O P R OT E S TA N T I S M O

    A popularidade da religio cordis no ambiente da reforma protestante evidencia-se pelo fato de que dois dos trs grandes reformadores, Martim Lutero (1483-1546) e Joo Calvino (1509-1564), tinham um braso, ou anel de selo, contendo um corao.3

    Figura 3 Selo de Lutero de 1530 Figura 4 Selo de Calvino de 15403

    Fonte: Selo original (2012). Fonte: Selo pessoal (2012).

    Essa apreciao da religio cordis pelos dois lderes do protestantismo da reforma requer uma explicao. Como ela se relaciona com a nfase da reforma catlica na forma msti-ca da religio cordis como um modelo claramente alternativo proposta protestante, considerado racional? Como ela com-bina com a rejeio inicial do misticismo neoplatnico, es-pecificamente da obra do Pseudo-Dionsio, o Areopagita, pelo protestantismo?

    De fato, apresentam Lutero e Calvino uma releitura sig-nificativa da religio cordis. Sua nfase na vida religiosa cotidia-na levou-os a vincular o aspecto interior normalmente repre-sentado pelo corao com o aspecto exterior da f crist. Com isso, o drama verdadeiro da vida religiosa no acontece predominantemente na intimidade da pessoa com Deus, mas

    3 Em relao mo, os pesquisadores no chegaram a uma concluso. Alguns identificam no selo de Calvino a mo de Deus (SELDERHUIS, 2009, p. 29; GROSSE; SIERSZYN, 2011, p. 29); outros, a mo do prprio Calvino (HENRY, 1853, p. 31; McKEE, 2001, p. xvi). Na linguagem iconolgica estabelecida, existem duas formas claras: uma mo saindo de uma nuvem de Deus (Figura 6), duas mos segurando o corao representam o ser humano (Figura 5). A dvida ento causada pelo fato de ser uma s mo.

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    na execuo da sua crena religiosa no dia a dia. Alm da fides qua e da fides quae, a f em que e com que se acredita, agora entende-se f como algo que leva ao, ou, nas palavras pau-linas, enfatiza-se a f que atua pelo amor4. Corresponde a is-so, em Lutero, a sua nfase na profisso como trabalho no religioso, porm, no esprito do Evangelho, professando no cotidiano suas convices mais profundas e, em Calvino, sua preocupao com a disciplina e a tica, por exemplo, expressa pela sua introduo do tertio usus legis, ou terceiro uso da lei, no sentido de um usus didadcticus ou usus renatis, uma orien-tao prtica para os(as) renascidos(as)5.

    O corao simboliza, para Martim Lutero, no sentido mais restrito, a vida como existncia da pessoa em sua totalidade. Isso perceptvel tambm na sua traduo de cor incorvatum (corao encurvado) de Agostinho por homo incurvatus in se ipsum (ser humano encurvado sobre / em si). Parte dessa exis-tncia plena o no se encurvar sobre si, para fugir do perigo da autodeificao e deificao do mundo (BRUNNER, 2002, p. 25)6, elemento visivelmente antientusiasta ou antimisticista. Da mesma forma, expressa o lema de Calvino uma atitude de servio: cor meum tibi offero domine prompte et sincere (Ofere-o-te meu corao, Senhor, pronta e sinceramente).

    Figura 5 Selo comemorativo 300 anos do nascimento de J. Calvino de 2009

    Fonte: Selo de Calvino (2012).

    4 Temos aqui uma tendncia que j a vertente espiritual da devotio moderna reclamou e que, por sua vez, no por acaso considerada, junto ao movimento humanista, um movimento pr-reformador. Essa relao se manifesta tambm na alta apreciao pelo protestantismo da expresso mxima da devotio moderna, a Imitatio Christi, de Tomas a Kempis.

    5 O que, posteriormente, John Wesley expressaria como religion of heart and life, religio do corao e da vida.

    6 Brunner, como Rubem Alves (1975, p. 135), lia como citao de Lutero cor incurvatum. Isso no nos parece exato (cf. LUTHER, 1968, p. 187).

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    Esta atitude pode ser demonstrada no calvinismo tam-bm por um imaginrio mais teocntrico, iconologicamente articulado pela combinao de uma mo com uma nuvem (DOUMERGUE, 1909, p. 75). Entretanto, tal combinao parece ser rara.

    Figura 6 Selo comemorativo 200 anos do nascimento de J. Calvino

    Fonte: Doumergue (1909, p. 75-76).

    Uma ltima variao disso representa a iconografia en-contrada numa agenda da Igreja Presbiteriana Independente. A iconografia acompanha a descrio de Calvino como te-logo do corao, encontrada, por exemplo, em Partee (2008, p. iv). Na Figura 6, identificamos a tpica combinao entre lema e imagem. A questo do dono da mo depende da identificao ou no de uma manga que nos parece sutil-mente aparecer no desenho. Nesse caso, seria claramente uma mo humana.

    Figura 7 Braso de Calvino do Anurio da IPI de 2009

    Fonte: Calvino (2012).

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    A novidade a reproduo de um corao com chamas (Figura 7). Ela encontra-se mais na iconografia mstica e ca-racterstica para a iconografia jesuta, carmelita, mas, ocasional-mente, tambm luterana (especialmente Jacob Boehme). No sculo seguinte, ainda na fase da sedimentao da reforma pro-testante e da configurao da reforma catlica, a religio cordis seguia novamente por caminhos catlicos e protestantes distin-tos, apesar de que os dois se apropriariam da mesma forma de uma inveno congnere da poca: os livros emblemticos.

    4 . L I V R O S E M B L E M T I C O S

    O formato do livro emblemtico talvez seja a represen-tao mais original do esprito renascentista. Foi o italiano Andrea Alciati (1492-1550)7 quem criou este genre novo, em 1531, na Frana (RUSSEL, 1981, p. 534-554).

    A palavra emblema vem do grego emblhma (emblema) e pode significar a parte da lana onde se encravava o ferro; algo embu-tido; ou mosaico. E , exatamente, isso que temos diante de ns: um amalgamento iconolgico que, semelhana do mosai-co, no pode ser visto num relance como uma mensagem que se abre e logo descartada (BRANDO, 2009, p. 128).

    Segundo Bombassaro (2006, p. 88),

    [...] a emblemtica surge como uma nova forma de linguagem capaz de reunir o elemento figurativo e o elemento reflexivo, a imagem e o conceito, tambm tendo em vista a persuaso e o convencimento do leitor, do ouvinte e do espectador. [...] Estruturalmente, os emblemas so constitudos por trs ele-mentos, que podem ser claramente diferenciados: a) um lema (inscriptio), que d o ttulo ao emblema; b) a imagem simb-lica (pictura), que consiste numa inciso grfica ocupando a

    7 Calvino conhecia Alciati como seu professor em Bourges. Ele era um famoso conhecedor e intrprete da lei romana. No ano da publicao dos Emblemas, 1531, Calvino foi a Paris, abandonando o estudo da advocacia e se dedicando teologia. Provavelmente, ento, tomou conhecimento da sua produo.

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    parte central do emblema; e c) o epigrama (suscriptio), em for-ma de verso, prosa ou dilogo, que explica a imagem. [...] os livros de emblemas devem ser tomados como um caso exem-plar de combinao entre imagem e conceito, pois mostram, de modo inquestionvel, a indissociabilidade entre o signo, o significante e o significado.

    O livro emblemtico de Alciati (Figura 8) representa em muito a forma de pensar da sua poca8, embora seja obra de um indivduo.

    Figura 8 Alciati, 1531, emblema 1

    Fonte: Alciati (2012).

    Alciati envolve seus leitores e suas leitoras na interpretao , no exige ou promove qualquer tipo de uniformidade de leitu-ra. Assim, seus emblemas requerem anlise, conhecimento cul-tural, o uso criativo de fantasia e a fora de sntese, no mera contemplao de palavras e imagens. O olhar se une ao pensar,

    8 Alciati marcou tanto a cultura que, em escolas jesutas, se aprenderia a criar emblemas (RUSSEL, 1981, p. 534).

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    a um movimento investigativo, resultando em uma construo do saber. Talvez seja essa a razo porque o tema especfico do nosso artigo, a religio do corao, no aparece em Alciati, nem atravs do texto, nem por meio dos emblemas9.

    Fica claro que o novo formato com sua combinao in-dissocivel da imagem com o texto representava um desafio interessante para as confisses crists. Consequentemente, o ca-tolicismo optou pela soberania da imagem sobre a escrita, en-quanto o protestantismo favoreceu a palavra antes da imagem.

    Isso fica evidente quando estudamos a obra Emblmes ou devises chrestiennes (1567-1571), de Georgette de Montenay (1540-1581). Criada 30 anos depois da de Alciati, ele repre-sentava em diversos sentidos uma inovao. Alm de ser a primeira mulher a ter criado um livro emblemtico, ela no fez somente parte do grupo dos primeiros criadores do genre dos livros emblemticos cristos10, mas foi a primeira pessoa a de-senvolver nesse formato o tema da religio cordis11. Seu livro ela-borado ao redor de 1561, porm lanado somente depois da paz cedida pelo Edito de Saint-Germain em 1570 (ADAMS, 2003, p. 10) e um ano antes da noite de So Bartolomeu, o massacre entre protestantes em Paris em 1572 , tornou-se po-pular em toda a Europa.

    Em termos iconogrficos, a autora segue o modelo de composio de Alciati e combina inscriptio, pictura e suscriptio. Alm, disso, mantm a tradio da religio cordis dos refor-madores, ou seja,

    a representao do corao de forma macia como repre-sentao da existncia humana na sua totalidade (no de forma oca)12;

    9 A sua obra lista, em grande parte, virtudes e vcios, mas fala tambm de astrologia, prncipes, repblica, cincia e rvores. Uma orientao rpida sobre o seu contedo oferece a pgina Corpus Automatum Multiplex Electorum Neolatinitatis Auctorum (CAMENA) da Universidade Mannheim, Alemanha.

    10 Para o texto em forma expressa veja Reynolds-Cornell (1987). 11 O livro dela 16 anos mais antigo do que o livro de Antnio Wierix. Els Stronks (2010,

    p. 219) refere-se at, de forma geral, ao livro emblemtico religioso mais antigo. 12 A reforma catlica prefere o corao oco ou em chamas, para destacar os processos

    religiosos interiores, invisveis, comoventes e tocantes. Consequentemente, desaparece nessa iconografia o mundo. Veja Renders (2009, p. 137-413).

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    a representao de Deus (extra nos) em distino do ser humano, mas, interagindo com o ser humano;

    a representao do mundo como ambiente da atuao do ser humano.

    Veja a Figura 9:

    Figura 9 Emblema Non tuis vireus (No a sua fora)

    Fonte: Montenay (1570, p. 5).

    O inscriptio o lema: NON TUIS VIREUS inte-grado na pictura. Ela composta por um m, um corao macio, uma paisagem com montanhas, campos e rvores e partes de uma cidade. nesse mundo que o protestante se move pela graa de Deus e pela mesma graa transforma; o m ocupa o centro da gravura; inscriptio, m e corao, a coluna central. O suscriptio afirma essa interpretao:

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    O ferro atrado pela fora do m, e o ser humano, atravs da compaixo de Deus, atrado a Cristo. Ento voc no deve esperar viver por sua prpria fora, mas aprender que a vida foi sendo concedida a voc atravs do dom de Deus13.

    Observe a representao do ser humano pelo corao e do divino, pelo m, ou seja, como fora atraente, a qual cor-responde o evangelho. Dentro desse propsito, existem leves variaes da representao do ser humano. Em diversos em-blemas, pessoas apresentam o seu corao no sentido da sua existncia (figuras 914, 10 e 13).

    Figura 10 Emblema Vae (Aflio)

    Fonte: Montenay (1570, p. 34).

    Nas figuras 9 e 10 aparece Deus de uma forma mais di-reta do que na Figura 8. Considerado morador do cu, preser-va a nuvem seu mistrio. O que se sabe de Deus revelado15.

    13 Texto explicativo original: Comme le fer sesleve par laymant, / Lhomme est de Dieu par Christ tir aussi. / Ne soit donc pas rien de soy presumant: / Car rien ny a de sa nature icy. / Christ vray aymant en haut lesleve ainsi, / Non sa vertu, ny oeuvre, ny merite. / Ce qui est sien, cest mal qui Dieu irrite. / Bref, il na rien que par grace & merci..

    14 A partir desse emblema, reproduzimos somente a pictura com o inscriptio sem o subsriptio.15 Talvez seja isso tambm sinal da rejeio de uma teologia natural e da compreenso

    catlica do livre-arbtrio. A nfase na graa (Figura 8) em contraste com a natureza ou a capacidade natural do ser humano de conhecer e amar Deus indicaria a mesma direo.

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    Assim, aparece ou uma mo16 que surge das nuvens (Figura 10) ou o tetragrama JHWH em hebraico escrito numa nuvem (Figura 11).

    Figura 11 Emblema Impossibile est ( impossvel)

    Fonte: Montenay (1570, p. 29).

    Diferentemente da iconografia catlica, em todo o li-vro o Diabo aparece somente uma vez. Ele retratado em posio entre o ser humano e Deus (Figura 11). Entretanto, segundo esse emblema, o diabo no divide com Deus o poder no mundo. impossvel, fala da impossibilidade do ser humano oferecer seu corao tanto a Deus como a Satans17.

    16 Probes (2009, p. 169-170) v na imagem da mo de Deus um elemento caracterstico da autora: Se incluirmos o emblema em que a mo de Deus compreendida, mas no representada artisticamente, 22 ocorrncias de uma mo ou de mos podem ser encontradas no lbum. Praticamente todos significam a orientao de Deus, a proteo, a redeno e santificao do crente. Designar-nos-amos este elemento como classicamente calvinista, ou que mostraria certa autonomia da iconografia do braso de Calvino.

    17 Texto explicativo original: Voicy qui fait dun seul coeur deux offrandes: / Faisant partage entre Dieu & le diable. / O toy Chrestien, Dieu veut que tu entendes / Quil est jaloux, & nest point supportable / De te souiller en chose abominable: / Car tu ne peux servir deux seigneurs. / Or Dieu veut tout. car, nestant partissable, / Des hommes veut & les corps & les coeurs.

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    Dessa forma, a nfase do emblema est na possibilidade hu-mana de fazer escolhas certas ou erradas, no no poder do Diabo sobre o ser humano18.

    Alm disso, encontramos tambm uma leitura mais cristocntrica do smbolo do corao. Na Figura 12, ele repre-senta Cristo. esse corao que est em chamas, localizado no topo de um pilar.

    Figura 12 Emblema Maxima (A mxima)

    Fonte: Montenay (1570, p. 8).

    Outro emblema cristocntrico do livro (Figura 13) par-te da iconografia das imagens da devoo das chagas, mais precisamente, da missa de Gregrio19.

    No entanto, das chagas no flui mais o sangue salvador, porm, a gua da vida, qual se aproximam pessoas doentes

    18 Isso muito diferente na iconografia catlica, por exemplo, nos livros emblemticos de A. Wierix e J. E. Gossner, nas quais o ser humano retratado conduzido ou por Deus ou pelo Diabo.

    19 Repare-se que da devoo das chagas devoo do corao ferido de Jesus um passo s. O mesmo vale pela identificao do ser humano com o sofrimento de Cristo atravs da recepo de estigmas relacionados e sua nfase na religio cordis. No por acaso refere-se a Mechtild, Gertrudes, Catarina de Siena, Teresa e Joo da Cruz como portadores de estigmas.

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    e necessitadas, talvez em uma combinao de Mateus 11.28 e Apocalipse 22.1.20 De Jesus, nasce uma nova plenitude (se-gundo o inscriptio do emblema). A nfase no est no pecado, mas na renovao ou no renascimento, um imaginrio oportuno para um ser humano renascentista.

    Figura 13 Emblema Plenitudine eius (Sua plenitude)

    Fonte: Montenay (1570, p. 3).

    Na Figura 14, com o ttulo Bem-aventurados os de cora-o puro, a purificao feita pela mo de Deus (das nuvens), que se dirige ao corao ou o acolhe oferecido livremente pe-lo ser humano.

    20 Em uma obra de Benedikt van Haeften (1663, emblema 17) encontra-se uma imagem parecida. Por um lado, sai gua das chagas de um anjo uma caracterstica de Haeften , por outro lado, transforma-se essa gua em uma chama que aparece na parte superior de um corao oferecido a ele. O emblema tem o ttulo A limpeza ou A purificao do corao. Mais antigo do que Haeften Wierix (1585/1586). No emblema 7 (Figura 12) dele, a gua sai das chagas do menino Jesus, que se encontra dentro de um corao, e dois anjos seguram pessoas que recebem a gua. Provavelmente, trata-se de uma referncia a Joo 7.38. Como Wierix, o grande gravurista da reforma catlica, o exemplo catlico mais antigo de uma religio cordis no formato de um livro emblemtico, pertence a Montenay a honra de ter iniciado esta expresso da religio cordis.

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    Figura 14 Emblema Beati mundo corde (Bem-aventurado os puros de corao)

    Fonte: Montenay (1570, p. 81).

    Distingue-se claramente, na interao entre o ser hu-mano e Deus, os papis, mas descreve-se uma relao como colaborao, no uma unio mstica que passa pelo total esva-ziamento do eu em busca de ser plenamente enchido por Deus ou unido a ele. No se troca o corao humano por um cora-o divino, apenas se limpa ou se purifica o mesmo pela mo divina. Resumimos que Montenay apresenta uma viso do sujeito religioso interagindo com Deus, cumprindo o seu pa-pel no mundo, em grande proximidade com os acentos pro-testantes da reforma.

    Pela escolha do meio, Montenay expe essa teologia em-blemtica protestante justamente queles dois grupos-chave da sociedade renascentista francesa para o futuro do protestan-tismo no pas: o intelectual renascentista (o mesmo endereo da obra de Alciati) e, sendo ela dama de honra de Jeanne dAlbret (1528-1572), os crculos aristocrticos21. De fato, o primeiro emblema do livro de Montenay Toda mulher sbia edifica a sua casa dedicado Rainha de Navarra. Ele tinha assumido a f protestante em 1560 e tornou-se uma defenso-ra pblica da f protestante at a sua morte. At l, j havia

    21 Segundo Probes (2009, p. 171), o emblema 30 inclua no grupo dos destinatrios o jovem rei Charles IX, seus sditos e a prpria Frana.

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    mostrado um amplo interesse na religio. Seu poema Espelho de uma alma pecaminosa acabou sendo muito conhecido e, inte-ressantemente, teve seu contedo aprovado por Calvino (1853, p. 38, 205, 207) ao redor de 1533 (enquan to os conselhos da Universidade Sorbone o conde navam). Apesar de essa obra ain-da mostrar uma inclinao para a religio mstica (SOMMERS, 1986, p. 29-39), talvez fosse essa fase justamente a fonte da nfase na religio cordis que Mon te nay reinterpretava no seu li-vro. Porque h indcios que Jeanne dAlbret conhecia as obras das msticas alems Hildegard de Bingen, Elizabete de Schonau e Mechthild de Hefta e, assim, sua religio cordis22. Tudo indica, ento, que a rainha servia como inspirao para a compreenso moderna da mulher. E como Montenay provavelmente sabia da sua aprovao pelo prprio Calvino, deveria sentir-se ainda mais motivada a expressar as suas convices religiosas atravs de um novo meio, reinterpretando, na linha dos reformadores Lutero e Calvino, a tradio da religio cordis.

    Sem dvida, porm, o fato de que seu empreendi men to foi corajoso e inovador, o que levou Mathew-Grieco (1994, p. 80) a destacar que nos emblemas de Montenay transpareciam

    [...] um modelo de uma feminidade formada e racionalmente soberana como uma viso de relaes de gnero justas; ideias, porm, sem eco na sociedade, apesar do tremendo sucesso do seu livro.

    Nesse sentido, Montenay d continuidade inovadora articulao da f de Mechthild e Gertrudes de Helfta23.

    Mais uma vez, uma mulher se sobressai no incio de uma nova fase da religio do corao e encontra na sua articulao

    22 Sommer (1986, p. 30) lembra que Quando Lefevre dEtaples, que seria o proteg humanista de Jeanne dAlbret, incluiu em seu Liber Trium Virorum et Trium Spiritualim Virginum (1513) obras das msticas Hildegarde de Bingen, Elizabeth de Schonau e Mechthild de Hackenborn, DEtaples achou necessrio defender [a incluso de] os textos das mulheres argumentando que mulheres pudessem experimentar vises autnticas da mesma forma como os homens e que tinham feito isso desde os primeiros dias da Igreja. Seu original em latim (CARTHUSIANUS, 1484-1485) tinha sido traduzido para o francs em 1531 como Le miroir de lme pcheresse, o que lembra a poesia de Jeanne dAlbret.

    23 A inovao de Mechthild est em sua aplicao do canto de Minne ou do trovador para descrever a relao entre a mulher e Cristo; a contribuio de Gertrudes, em articular a experincia da transverberao do corao. A maioria dos louvores contemporneos, enquanto articulam a paixo da pessoa por Cristo, seguem o modelo literrio de Mechthild.

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    prpria da religio do corao uma forma de se expressar, o que faz desse livro emblemtico, em mais um sentido, um cone da espiritualidade protestante, a saber, quanto sua valorizao do sacerdcio universal.

    5 . C O N S I D E R A E S F I N A I S

    Em continuidade a Lutero e Calvino, e sua releitura da religio cordis de forma no misticista, mas de uma espiritualida-de prtica, Montenay apropria-se do novo genre dos livros em-blemticos e sua combinao do elemento figurativo com o elemento reflexivo. Atravs dele, articula a f protestante em sua nfase no ser humano colocado por Deus no mundo, de forma responsvel, aberto para o transcendente e fundamentado na graa divina, conduzindo assim os seus passos a partir de uma interao reflexiva e compreensiva. No o sentir ou a paixo so ou esto no foco dos seus emblemas, nem o inexpressvel mis-trio de Deus com o qual se une no xtase. No centro da sua representao, est o profundo saber da presena de Deus na vida por revelao como base da importncia da prpria presen-a humana no mundo. O fato de essas afirmaes teolgicas se apresentarem em um ambiente calvinista de forma imagtica e de serem criao de uma mulher amplia de modo significativo a ideia da fase inicial do prprio calvinismo. Mostra-se a sua capacidade de se apropriar criativamente de uma das expresses mais caractersticas do humanismo renascentista e sublinha-se a importncia de mulheres desde o seu incio da construo do seu discurso religioso e na divulgao das suas convices.

    THE VANGUARD EMBLMES OU DEVISES CHRESTIENNES OF GEORGETTE DE MONTENAY: AN CALVINIST IMAGTIC RELIGIO CORDIS

    A B S T R AC T

    This essay introduces the book Emblmes or devises chrestiennes of Georgette Montenay as an extraordinary female voice in the initial phase of Calvinism,

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    with its reinterpretation of the religio cordis in the tradition of Luther and Calvin in form of an Emblem Book. With this, the bridesmaid of Jeanne dAlbret, Queen of Navarre, presents Protestant emphasis to humanist and aristocrats circles in a time when the French society was discussing its reli-gious future. Behind the text appears a modern woman, assuming her role in history, competent in her dominion of a new communication technique and clear in her articulation of a theological position.

    K E Y W O R D S

    Calvinism; Georgette of Montenay; emblem books; emblmes chres tiennes or devises; protestant woman.

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